Berrar ordens simplesmente não resulta

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ID: 30410560

01-06-2010 | Universidades

Tiragem: 26368

Pág: VI

País: Portugal

Cores: Cor

Period.: Semanal

Área: 26,55 x 36,63 cm²

Âmbito: Economia, Negócios e.

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FO R M A Ç Ã O D E E X ECU T I VOS

ENTREVISTA JONATHAN LEHRICH director de projectos especiais da MIT-Sloan

“Berrar ordens simplesmente não resulta”

Jonathan Lehrich deu, em Lisboa, uma aula no ‘Friday Forum, para os estudantes do Lisbon MBA.

Muitos pensam que ou temos ou não temos um bom patrão e não há nada que possamos fazer, o que é completamente errado, defende Jonathan Lehrich. PEDRO QUEDAS pedro.quedas@economico.pt

Como lidar com uma má relação com o nosso patrão? Como aprender a dar ordens a um amigo? Serão os portugueses verdadeiramente empreendedores? Estas foram algumas das questões colocadas pelos estudantes do The Lisbon MBA a Jonathan Lehrich, director de projectos especiais da MIT-Sloan, que esteve em Portugal a 7 de Maio, para dar uma aula especial, integrada no Friday Forum, um dia diferente no programa de MBA realizado em parceria pela Católica e a Nova. Um dia em que se pretende retirar os MBA da sua zona de conforto e forçá-los a trabalhar numa área que não dominam. O que esteve na raiz desta parceria entre a MIT-Sloan e o The Lisbon MBA? As escolas científicas do MIT já têm uma relação de sete anos com o Governo português e com várias escolas técnicas, maioritariamente em Lisboa. Enquanto essa relação se ia consolidando, pensámos “então e a Ciência da Gestão?”. A MIT-Sloan envolveu-se no processo e decidimos que seria mais adequado trabalhar com a Católica e a Nova e ajudá-las a ultrapassar a rivalidade amigável que tinham e contribuir para criar um único programa de MBA de qualidade mundial, para evitar os problemas de escala. Por melhores que as escolas portuguesas sejam, e estas são, há sempre esse problema de escala. Assim, o MIT pode ser o catalisador para esta relação. Em que áreas se move a MIT-Sloan, no contexto desta parceria? Esta relação envolve quatro partes. A possibilidade para professores da Católica e da Nova poderem vir para o MIT e desenvolver as suas capacidades como investigadores e como professores. Em segundo lugar, os nossos professores também aproveitam oportunidades de ensino em Portugal, como o Friday Forum. Depois temos o Summer Imersion, uma imersão académica intensa na qual tentamos reproduzir, com a maior fidelidade possível, a experiência de tirar um MBA na MIT-Sloan, de modo a permitir aos MBA portugueses a possibilidade de “sentir” duas experiências de MBA numa só. E, finalmente, apoio constante a todos os projectos que tenhamos em comum. O que é o Friday Forum? É geralmente um dia em que se tenta ir além do normal. As sextas são a oportunidade para algo diferente, fora do normal para um programa de MBA. Pode ir desde o cinema à dança, à publicidade. O meu, “Getting Results Through Others”, concentra-se tanto em técnicas para fazer as pessoas fazerem o que tu queres – porque berrar ordens simplesmente não resulta –, como em formas de gerir a, por vezes complicada, relação

que temos com o nosso patrão. Muitos pensam que ou temos ou não temos um bom patrão e não há nada que possamos fazer, o que é completamente errado. De que forma se tenta passar esta mensagem aos alunos? Começamos com um caso específico. Um jovem MBA que está a ter terríveis discussões com o seu patrão. Estamos aqui a falar de uma relação entre dois seres humanos falíveis. Utilizo jogos em que cada um assume papéis distintos para tentar resolver as situações mais complicadas. Situações como um colega que era teu amigo e agora trabalha para ti e a desconfiança que daí surge. Ou chegar a uma empresa e ter de dar ordens a um funcionário com mais 15 anos de experiência. Alguns lidam muito bem com essas situações, outros muito mal. Aprende-se muito com estas simulações. Como avaliaria a qualidade dos docentes portugueses?

PERFIL O EMPREENDEDOR INTERNACIONAL Ex-aluno da MIT Sloan, para a qual agora trabalha, Jonathan Lehrich ensina temas como empreendedorismo internacional e gestão de projectos e trabalha como coordenador de cursos para a universidade norte-americana. É responsável também pelas iniciativas formativas internacionais da MIT Sloan, nas quais se inclui a parceria com o The Lisbon MBA. Antes de regressar ao MIT, Lehrich trabalhou para a Linkage Inc. e deu aulas na Universidade de Chicago.

Os professores portugueses são muito bons. São acolhidos no MIT como pares, não é uma relação de professor e aprendiz. Já as técnicas de ensino são um pouco diferentes. Nas universidades americanas utiliza-se mais o método de caso, com exemplos práticos. Cá focam-se mais na exposição teórica, mas também isso está a mudar. O objectivo deste programa não é tornar as escolas mais competitivas no mercado nacional, mas antes poderem começar a ser comparadas com escolas como o Insead. E olhando para os estudantes, pode-se dizer que os portugueses são empreendedores? Acho que há mais vontade entre os estudantes portugueses para serem empreendedores do que para trabalharem noutro projecto de empreendedorismo. Ou querem trabalhar para empresas muito grandes ou criar uma de raiz. O que não tem mal nenhum. Lembro-me de alguns estudantes o ano passado que queriam falar e pedir conselhos a todos os empreendedores que conseguissem encontrar. O MBA é uma ponte para avançarem para os seus próprios projectos. Se se quer ser um empreendedor o melhor que se tem a fazer é rodearem-se de óptimas pessoas que construam coisas. Fazer um esforço para conhecer os melhores cientistas e investigadores. A formação executiva é uma aposta cada vez mais presente no mundo universitário. Como se pode explicar esta evolução? Uma das razões para a maior importância que está a ser dada à formação executiva deve-se à imprensa, mas o The Lisbon MBA está certamente a fazer um bom trabalho nessa promoção. Eu não diria que as empresas estão a encorajar os seus funcionários a tirar um MBA, porque sabem que estes podem nunca mais voltar, mas as empresas inteligentes estão a escolher os seus funcionários com maior potencial para apostarem nestes cursos. Não é inteligente tentar prender um funcionário à empresa, seja por tornar muito difícil ou mesmo impossível que estes tirem um MBA, porque assim perdem-nos na mesma. De que forma se pode compreender um aumento da procura pela formação numa conjuntura de crise? A crise faz nascer a oportunidade. Não há melhor altura para fazer uma mudança do que quando o mundo está instável. E vemos isso na MIT-Sloan. Os últimos anos não têm sido bons para a economia mas têm sido fantásticos para os nossos números. Pessoas que são despedidas e olham para o seu futuro com incerteza precisam de melhorar as suas capacidades agora, para estarem numa posição melhor quando a economia recuperar.■

“Agora, a glo Noção de que expandir a inves

Olhar para a relação entre o mundo académico e o mundo empresarial como uma de total desconfiança ou total dependência é um erro e impedenos de tirar os maiores proveitos da investigação científica, avisa Jonathan Lehrich. O especialista em empreendedorismo internacional da MIT-Sloan avalia também o impacto das novas tecnologias na globalização da educação e da actividade económica, cada vez menos preso ao local de origem de uma determinada empresa. Como se deve lidar com a potencial resistência das universidades à maior participação das empresas na investigação científica? A dicotomia entre o mundo académico e o empresarial é uma falsa dicotomia. A


ID: 30410560

01-06-2010 | Universidades

Tiragem: 26368

Pág: VII

País: Portugal

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Period.: Semanal

Área: 26,85 x 35,39 cm²

Âmbito: Economia, Negócios e.

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Foto cedida por The Lisbon MBA

Como sair da zona de conforto A visita de Jonathan Lehrich teve como contexto a realização de mais um dia do Friday Forum, programa que integra o The Lisbon MBA e decorre até Dezembro. Trata-se de uma iniciativa composta por 18 aulas práticas diferentes com base em actividades que desafiam os alunos a sair da sua zona de conforto, levando-os a desenvolver competências interpessoais como a criatividade, capacidade de liderança ou a integração. Os alunos vêm-se obrigados a enfrentar novas situações e a resolver problemas em áreas como desenho, teatro, arquitectura ou vídeo, mantendo sempre, no entanto, um paralelismo com a gestão.

O Friday Forum é uma iniciativa composta por 18 aulas práticas diferentes com base em actividades que desafiam os alunos a sair da sua zona de conforto, trabalhando em áreas como desenho teatro ou vídeo.

balização é inescapável” tigação significa diluir a sua importância está a desaparecer.

maioria dos investigadores está a tentar trabalhar numa questão que seja interessante não só para ele mas também para os gestores e para as empresas. Há sempre um meio-termo que se pode encontrar. Não estamos aqui a falar de investigação por encomenda. Mas estamos a assistir a uma evolução, na medida em que os novos investigadores se preocupam que os seus resultados sejam úteis não só para outros investigadores mas para uma audiência mais vasta. A noção de que expandir a investigação para fora do meio académico significa diluir a sua importância está a desaparecer. Mas também não vejo essa noção de uma investigação destinada exclusivamente a interesses empresariais. A globalização é cada vez mais uma

constante no mundo universitário. As novas tecnologias ajudam a explicar esta tendência? Não é só uma questão da velocidade com que se consegue informação globalmente, mas a quantidade. As pessoas estão cada vez mais conscientes das culturas internacionais, o que leva a que o local de origem de uma empresa tenha cada vez menos importância. A não ser que seja uma oferta que exija contacto pessoal, não interessa de onde vem o produto ou a tecnologia, pode ser distribuído em Portugal, no Brasil ou em Xangai, não faz qualquer diferença. Onde nós vivemos é só onde pousamos o casaco, não onde fazemos negócios. Esta forma de pensar faz-se sentir também na composição das turmas

nestes cursos? A percentagem de alunos estrangeiros neste curso cresceu drasticamente, já chegaram aos 38%. Já é um programa muito internacional, de uma forma que anteriores programas de MBA portugueses não eram. É uma percentagem que já se tornou idêntica ao do MIT Sloan. Onde vão parar estes estudantes? Muitos preferem ficar em Portugal, outros querem ir para países estrangeiros de língua portuguesa, como o Brasil, ou mesmo outros países estrangeiros. A globalização é, agora, inescapável. Qualquer pessoa que pense é que possível trabalhar em Portugal sem ter de pensar em nada fora do seu país, ou mesmo da Península Ibérica, vai ter uma vida e uma carreira muito limitadas. ■ PEDRO QUEDAS

A sessão liderada pelo professor da MITSloan, “Getting Results Through Others”, procura ensinar os alunos a lidar com situações potencialmente desconfortáveis como entrar numa empresa e ter de dar ordens a funcionários com mais anos de experiência ou ser promovido para uma posição de chefia e o impacto que isso pode ter nas relações de amizade que se mantinham com os antigos colegas. Perceber que uma relação patrão/funcionário deteriorada não tem de ser um problema sem solução é uma das principais mensagens que Jonathan Lehrich procura passar na sua aula, que procura resolver este problema com encenações de problemas concretos, com os alunos a alternarem de papel entre patrão e funcionário. O Friday Forum força os MBA a lidarem com especialidades e técnicas completamente diferentes da rotina habitual de um gestor e um bom exemplo disso mesmo foi o trabalho desenvolvido para a sessão “Producing a Persuasive Film”, que levou os alunos do The Lisbon MBA a apresentar os seus projectos ao presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa. Neste projecto os alunos tiveram de desenvolver um vídeo promocional para a cidade de Lisboa, com o objectivo de atrair investimento estrangeiro. Este foi o resultado final de uma aula prática em que os alunos receberam um briefing da InvestLisboa e assistiram uma aula de videografia dada pela empresa Videonomics, ambas parceiras oficiais desta sessão. Outros temas incluídos no programa do Friday Forum incluem técnicas para lidar com o stress, estratégias publicitárias ou mesmo aulas de fado. ■ PEDRO QUEDAS


ID: 30410560

01-06-2010 | Universidades

Tiragem: 26368

Pág: I

País: Portugal

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Period.: Semanal

Área: 6,70 x 2,77 cm²

Âmbito: Economia, Negócios e.

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ENTREVISTA A JONATHAN LEHRICH

Professor do MIT veio a Lisboa para ensinar a resolver conflitos com o patrão. P.VI


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