A1
ID: 33417048
04-01-2011 | Universidades
Tiragem: 21717
Pág: 2
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Semanal
Área: 27,09 x 33,32 cm²
Âmbito: Economia, Negócios e.
Corte: 1 de 5 Regis Duvignau / Reuters
Apoio financeiro privado às Universidades ainda é pouco expressivo
EXEMPLOS INTERNACIONAIS
Apesar de já existirem alguns exemplos pontuais por parte de empresas, de fundações ou de particulares, as universidades dizem que ainda não existe uma cultura de apoio financeiro.
O
consenso é geral. As universidades portuguesas dizem que, em Portugal, ainda não existe uma cultura vincada de mecenato ou filantropia, ao contrário do que acontece nos paísesanglo-saxónicos. Apesardejáexistiremalgumasdoaçõesdeempresas, de fundações e de particulares para as universidades para bolsas de estudo, patrocínios de eventos ou de instalações e para participações em projectos de investigação, “essa cultura é praticamente inexistente em Portugal”, afirma o reitor do ISCTE, Luís Reto. À semelhança de todos os reitores contactados pelo Diário Económico, Luís Reto aponta os EUA como sendo um exemplo a seguirnaculturade‘fundraising’.Emsuaopinião, “é particularmente relevante ver nos EUA os exemplos dos ex-alunos bem sucedidos que retribuem à universidade o que ela fez pela sua carreira, dando assim oportunidade a outros futuros estudantes de poderem vir a usufruir desse contributo da sua universidade”. Visão partilhada pelo reitor da Universidade do Porto (UP), José Carlos dos Santos, que considera que os antigos estudantes“deveriamterumaparticipaçãomaisactivano desenvolvimentodasuauniversidade”. Éesteopanoramaqueasuniversidadesestãoa tentar mudar e, segundo o reitor da Universidade de Lisboa (UL), António Sampaio da Nóvoa, “nos últimos anos o tema tem sido tratado por muitas pessoas, mas a realidade pouco mudou”. Para isso, “é necessário, antes de mais, uma mudança de mentalidades, tanto por parte de doadores como das universidades”, diz José Carlos dos Santos, que acredita que esta é uma mudança “que provavelmente só acontecerá com alguma pedagogia dasuniversidadesjuntodosempresáriosedoadores em nome individual”. Para além disso, o reitor da UP sublinha que também é necessário que as universidades “encarem os peditórios monetários como sendo uma actividade que deve ser levada a cabo por profissionais e de forma séria e competente”. António Sampaio da Nóvoa acredita também que tem de haver uma mudança da atitude de quem recebe. “As universidades também têm de
“As universidades também têm de merecer a confiança das pessoas e das empresas e deve haver uma prestação de contas transparente e com resultados, dos fundos que lhes são atribuídos”, diz o reitor da UL, António Sampaio da Nóvoa.
merecer a confiança das pessoas e das empresas e deve haver uma prestação de contas transparente e com resultados, dos fundos que lhes são atribuídos”, refere o reitor da UL. Já para o pró-reitor da Universidade Técnica de Lisboa, Vitor Gonçalves, é também da responsabilidade das universidades “apresentarem projectos interessantes para serem financiados”. Por sua vez, Luís Reto defende que é essencial “falar e divulgar de forma massiva os bons exemplos que mesmo assim vão surgindo na nossa sociedade”. Só assim o reitor do ISCTE acredita que o ‘fundraising’ entrará na “agenda social e será visto como uma matéria banal e não como algo de extraordinário” para se criar uma “cultura de dar” para além da “cultura de caridade”. É exemplo a Fundação Amadeu Dias, que assinou recentemente novos protocolos de financiamento com a UL (ver entrevista em baixo). Para além da renovação do programa de atribuição de bolsas para alunos de mestrado integrado, previsto até 2013, a fundação celebrou mais dois protocolos de financiamento adicionais. Um deles é o “Prémios Excelência UL”, para a atribuição de prémios de mérito académico, que vai contemplar com 25 mil euros todos os anos as melhores teses de doutoramento em cinco áreas (artes e humanidades, ciências da saúde, ciências e tecnologia, ciências jurídicas e económicas e ciências sociais). O outro protocolo prevê o financiamento de 20 mil euros anuais para apoiar a promoção científica e cultural, como por exemplo a organização de eventos ou patrocínios de publicações. Mas este não é o único exemplo. Também a UP contou recentemente com alguns apoios de empresas como a Porto Editora, a Sonae ou a Unicer para a programação das celebrações do centenário, tendo sido esta não só “a primeira grande experiência de pedido de apoios a pessoas singulares, mas também o mais sério e profissional contactojuntodeempresas”,explicaoreitordaUP. Assim, e apesar do contexto de crise económica e financeira que o País atravessa, os reitores acreditam que estes são passos importantes para que, de futuro, a cultura de ‘fundraising’ se venha a afirmar “como uma actividade permanente e a tempo inteiro” em Portugal. ■ Ana Petronilho
ALGUNS DOS APOIOS QUE AS UNIVERSIDADES RECEBEM
UL
UP
ISCTE
UTL
Até à presente data, a Universidade de Lisboa já recebeu cerca de 325 mil euros da Fundação Amadeu Dias. Para o triénio de 2011 a 2013 está previsto o valor de 350 mil euros dos protocolos estabelecidos para bolsas, teses ou estágios, entre outros, desta instituição de ensino superior e a fundação.
A comemoração do centenário foi o pretexto para a Universidade do Porto fazer o seu primeiro pedido de donativos junto a empresas, fundações ou ex-alunos. O valor doado variou de caso para caso e foram definidas três categorias para as doações: até 25 mil euros, de 25 mil a 49 mil euros e superior a 50 mil euros.
O reitor do ISCTE diz que a instituição de ensino recebe montantes “muito baixos” das empresas. No entanto, são contributos importantes para “viabilizar alguns cursos ou projectos de investigação e que também permitem um aumento de conhecimento e de cooperação entre as empresas e as universidades”.
O pró-reitor da UTL, Vitor Gonçalves, diz que não é política da UTL “andar a captar fundos”. No entanto, a universidade recebe alguns apoios para bolsas de estudo ou para prémios de estudantes de algumas das maiores empresas portuguesas, como por exemplo, a PT, o Santander Totta, a EDP ou o Millennium BCP.
Brad pitt deu cerca de 455 mil euros à Missouri O actor norte-americano Brad Pitt é um dos vários exemplos de personalidades da indústria cinematográfica que fazem doações para as instituições de ensino superior. Em 2009 o actor e o seu irmão fizeram uma doação de cerca de 600 mil dólares, cerca de 455 mil euros, para a Universidade do Missouri. Dinheiro que foi investido na construção de um parque ecológico para actividades desportivas. Assim, Brad Pitt acabou por dar também o seu contributo para o objectivo desta universidade que pretende ganhar o certificado de ouro do Conselho de Liderança em Energia e Design Ambiental.
“A sociedade tem Para o mecenas Amadeu Dias, em Portugal, ainda não existe uma cultura de ‘’fundraising’.
H
á três anos que o mecenas Amadeu Dias, que construiu a sua carreira como empresário na área da restauração, apoia e financia bolsas de estudo e de estágio para os alunos da Universidade de Lisboa. No total, o mecenas já doou cerca de 325 mil euros para a instituição de ensino superior. Uma medida que considera como sendo a “adequada” parapromoveroprogressoeaeconomiadoPaís. Porque financia bolsas na Universidade de Lisboa? Foi minha vontade, ao instituir a Fundação Amadeu Dias, apoiar o desenvolvimento da investigação, a aprendizagem e a valorização humana pelo aprofundamento do conhecimento. Esta é, na minha opinião, a forma adequada de
ID: 33417048
04-01-2011 | Universidades
Tiragem: 21717
Pág: 3
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Semanal
Área: 26,70 x 36,33 cm²
Âmbito: Economia, Negócios e.
Corte: 2 de 5
325 mil
A Fundação Amadeu Dias já doou 325 mil euros à Universidade de Lisboa.
Rick Wilking/Reuters
Jessica Rinaldi/Reuters
Bobby Yip/Reuters
Bill gates fez doações para Harvard, MIT e John Hopkins
Oprah doa milhões a universidade de Nova Iorque
Chinês dá cinco milhões de libras a Oxford
Bill Gates é um dos milionários que mais se destaca como filantropo. Em 1996 criou a Bill & Melinda Gates Foundation para ajudar os estudos de saúde e educação para crianças de todo o mundo e que já doou cerca de três mil milhões de euros. Neste valor não está contabilizado o compromisso que assumiu para financiar bolsas de estudos para mil alunos das minorias com cerca de 760 milhões de euros, ao longo de 20 anos. Entre os vários milhões que também dá para a saúde, Gates também doou 15 milhões de euros ao MIT para construir um novo Laboratório de Ciência da Computação e fez doações para a John Hopkins University para o estudo de vitaminas minerais e para a Universidade de Harvard para o estudo de prevenção da SIDA na Nigéria.
A Fundação Oprah Winfrey deu 2,5 milhões de dólares (cerca de 1,9 milhões de euros) à Escola Wagner de Serviço Público da Universidade de Nova Iorque para a criação do Programa Oprah Winfrey de Académicos para Mulheres Africanas. O programa vai permitir a mulheres africanas prosseguir os seus estudos superiores em políticas públicas e gestão na Escola Wagner e é o primeiro do seu estilo numa universidade americana. A fundação da conhecida apresentadora também atribui bolsas de estudo a alunos de meios desfavorecidos, em várias universidades americanas. Segundo os dados mais recentes, a fundação de Oprah Winfrey teria cerca de 172 milhões de dólares (mais de 130 milhões de euros).
Ka-shing Li, um dos homens mais ricos do mundo e o primeiro chinês a entrar na lista de bilionários da revista ‘Forbes’, doou cinco milhões de libras (cerca de 5,8 milhões de euros) à Universidade de Oxford, para que a universidade alargue e reforce os seus laços com a Ásia, particularmente na China e na área da investigação médica. O programa Ka-shing Li na Universidade de Oxford vai dirigir-se ao combate de doenças infecciosas que ainda ceifam muitas vidas em todo o mundo, como gripe, dengue, malária, tuberculose e HIV. A emergência de novas doenças e o aumento da resistência aos medicamentos são outra das preocupações e a Ásia é um ponto quente em ambos.
de ser mais sensibilizada para o contributo que pode dar” promover o progresso do país e desenvolver o capital humano necessário ao crescimento económico e sucesso empresarial. Em sua opinião, porque é importante apostar na formação? A formação, a investigação e a valorização pessoal atravésdoaprofundamentodoconhecimentosão factores importantíssimos para o progresso do país e para o desenvolvimento e sucesso empresarial. A promoção do interesse pela investigação e pela inovação nos jovens universitários é decisiva paraqueestes,umavezintegradosnavidaactivae como agentes de empreendedorismo, possam potenciar e atingir níveis de excelência nas respectivasactividadeseáreasdeconhecimento. Em Portugal há falta de cultura de ‘fundraising’? Sem dúvida. Do lado dos particulares e das empresasprivadasnãoexisteumaculturadeapoioàs instituições de ensino (nomeadamente de nível superior). Por outro lado, as universidades tam-
“As universidades não dedicam particular atenção ao mecenato como forma de complemento ao seu financiamento”
bém não parecem dedicar uma particular atenção ao mecenato como forma de complemento do seu financiamento para actividades que não se prendem estritamente com as obrigações de ensino curricular. Em vários países estrangeiros, o financiamento privado de origem mecenática é um dos pilares essenciais de financiamento das universidades. Existe aí uma cultura filantrópica, essencialmente por parte dos ex-alunos que, pela formação adquirida nas instituições, se tornaram empresários ou profissionais de sucesso. Nestes casos,oapoioàUniversidadedequefizeramparte funciona no âmbito de uma cultura de reconhecimento e retribuição pela valorização pessoal que obtiveramnainstituiçãoenquantojovens. O que se pode fazer para que se desenvolva esta cultura, em Portugal? Por um lado, as universidades devem dedicar alguma da sua atenção à captação deste tipo de apoios, nomeadamente através da criação de clubes de mecenas baseados, por exemplo, em
associações de antigos alunos – para isso, é necessário abordar directamente aqueles que mais se destacaram pelo seu sucesso patrimonial, motivando-os para tal. Por outro lado, a sociedade portuguesa tem que ser mais sensibilizada para o contributo que pode dar, sobretudo em alturas de crise e de restrições de fundos públicos, como aquela que atravessamos. Há quanto tempo financia as bolsas e qual o montante que já foi disponibilizado para a Universidade de Lisboa? A Fundação iniciou os seus apoios à Universidade de Lisboa com a celebração do primeiro protocolo no final de 2007, e até à presente data o montante global dos apoios foi de 325 mil euros onde, para além das bolsas UL/FAD, se incluíram nesta verba a atribuição de bolsas para realização de estágios curriculares no estrangeiro, a comparticipação para o Programa UL 2009 Consciência Social e ainda o restauro do Piano Petroff da Reitoria da UL. ■ Ana Petronilho
ID: 33417048 TEMA DE CAPA
04-01-2011 | Universidades
Tiragem: 21717
Pág: 4
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Semanal
Área: 26,70 x 36,39 cm²
Âmbito: Economia, Negócios e.
Corte: 3 de 5
3,5
João Paulo Dias
O banco Santander Totta contribuiu, em 2010, com 3,5 milhões de euros para várias universidades.
O restauro da torre da Universidade de Coimbra foi feito com o apoio do Santander.
EMPRESAS
Empresas lamentam falta de cultura de apoio às universidades Algumas das principais empresas portuguesas já apoiam as universidades mas lamentam a falta de consciência da importância do ‘fundraising’.
A
par das universidades, também as empresas portuguesas lamentam a pouca cultura de ‘fundraising’ que existe em Portugal. “Mais do que uma cultura, deveria haver uma maior consciência da importância do ‘fundraising’ e no que pode significar quer para as empresas quer para as universidades”, refere Joana Queiroz, directora de pessoas e comunicação da Unicer. A empresa de bebidas sublinha que tem uma ligação de apoio “quase histórica” com as instituições de ensino superior e Joana Queiroz acredita que “é fundamental que todos se apercebam do valor acrescentado que a partilha de experiências e a prática investigação conjunta traz para ambos”. Assim, a Unicer tem vindo a reforçar a sua ligação com a Universidade do Porto, a Universidade Católica Portuguesa, a Universidade do Minho, a Universidade de
Aveiro ou com o Instituto Superior Técnico através de várias iniciativas, entre as quais “uma doação de capital semente, na forma de pequenas bolsas ou da contratação de investigadores” que tenham projectos de I&D que possam ser aplicados na empresa, explica Joana Queiroz. O banco Santander Totta também faz uma forte aposta na ligação com as instituições de ensino superior e faz doações desde 2002 através de 43 convénios celebrados com universidades e institutos politécnicos. No entanto, Sebastião Beltrão, director da divisão global Santander Universidades Portugal, sublinha que em Portugal o ‘fundraising’ é uma “prática que leva tempo a suscitar” e que também “seria importante” existir uma “política fiscal que proporcione este tipo de colaboração”. No total, o banco já disponibilizou cerca de 12 milhões de euros para as instituições de ensino superior e “sempre de forma crescente de ano para ano”, sublinha. Só no ano 2010 o banco assegura que foram destinados cerca de 3,5 milhões de euros para as universidades. A Universidade do Porto, a Universidade do Algarve, a Universidade Técnica de Lisboa, a Universidade da Madeira, a Universidade Nova e o ISCTE são algumas das instituições de ensino superior que têm vindo a receber apoios “de forma mais
O restauro da torre da Universidade de Coimbra foi feito com o apoio do Santander.
consistente e há mais tempo”, diz Sebastião Beltrão. Mas, durante o ano de 2010, o banco celebrou também acordos com a Universidade de Coimbra e a Universidade da Beira Interior que permitem “apoiar projectos específicos durante os próximos anos”, explica o director da divisão de Universidades do Santander. O restauro da torre da Universidade de Coimbra, a candidatura desta instituição de ensino superior a Património da Humanidade pela UNESCO e o financiamento de uma cátedra internacional da UBI, são alguns dos exemplos dos projectos apoiados pelo “banco das universidades”. Também a Portugal Telecom tem como objectivo “contribuir para uma integração mais global dos cidadãos na sociedade da informação e do conhecimento”. Para atingir essa meta, a empresa de telecomunicações assegura “um conjunto de iniciativas que visam a melhoria da qualidade de vida de alunos do ensino superior”, entre as quais se destacam: o apoio às Universidades Católica e Nova no lançamento do The Lisbon MBA, a atribuição de bolsas de estudo destinadas a apoiar a deslocação de jovens investigadores portugueses aos EUA ou a introdução da Teleaula, para alunos do ensino superior com deficiências motoras, através de um protocolo celebrado com o ISCTE. ■ Ana Petronilho
ID: 33417048
04-01-2011 | Universidades
Tiragem: 21717
Pág: 1
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Semanal
Área: 27,16 x 27,94 cm²
Âmbito: Economia, Negócios e.
Corte: 4 de 5
Saiba como empresas e particulares apoiam as Universidades O sector privado e as universidades portuguesas reclamam uma falta de cultura de recolha de fundos para financiar projectos e instituições, mas há exemplos de mecenato e filantropia. P.2
Conheça os apoios dados por algumas das maiores empresas portuguesas. P. 4
ID: 33417048
04-01-2011 | Universidades
Financiamento Saiba como as empresas e os particulares apoiam as Universidades. ➥ SUPLEMENTO
Tiragem: 21717
Pág: 1(Principal)
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Semanal
Área: 9,39 x 3,15 cm²
Âmbito: Economia, Negócios e.
Corte: 5 de 5