Livro de TCC Theodoro Araujo

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Teodoro Figueiredo Murta de Araujo

AS VINHETAS DA MTV: UM RESGATE AOS ANOS 80

FAAP - FUNDAÇÃO ARMANDO ALVARES PENTEADO São Paulo 2010

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Teodoro Figueiredo Murta de Araujo

AS VINHETAS DA MTV: UM RESGATE AOS ANOS 80 Trabalho de conclusão da graduação como parte obrigatória para obtenção do grau de Bacharel em DESENHO INDUSTRIAL com Habilitação em DESIGN GRÁFICO.

FAAP - FUNDAÇÃO ARMANDO ALVARES PENTEADO São Paulo 2010



Professores de TCC PROF. MESTRE CARLOS EDUARDO L. PERRONE PROF ª. MESTRE MARIA CECILIA CONSOLO PROF. MESTRE MIGUEL DE FRIAS E VASCONCELLOS FILHO PROF. PAULO CESAR SOUZA SAMPAIO Professor Orientador PROF. FLAVIO LUIZ MATANGRANO


DEDICATÓRIA Pai e mãe, isto é pra vocês.


AGRADECIMENTOS Ao professor Flávio Luiz Matangrano, meu orientador neste trabalho, que me ajudou muito durante a escolha do tema e nas inúmeras dificuldades e mudanças na linha de pesquisa que apresentei a ele desde o início. Aos professores de TCC Carlos Perrone, Maria Cecila Consolo, Miguel Frias e Paulo Sampaio, por me ajudarem e incentivarem na realização deste trabalho. A todos os professores e funcionários do curso, que me ensinaram muito e que me deram todo o suporte técnico necessário. À minha família, minha namorada Nina e amigos, que sempre estiveram comigo e me acompanharam em todas as dificuldades acadêmicas pelas quais passei até chegar aqui. E a Deus, por mais esta conquista.


RESUMO Este trabalho resgata a história da vinheta e sua importância dentro do canal MTV. Desde sua origem nas artes gráficas, ela sofreu transformações, mas nunca perdeu sua função básica, que é a de ornamentar formas já estabelecidas. Essas vinhetas, chamadas de ID pela emissora, compõem sua identidade televisiva, comunicando o perfil do canal para seu público-alvo. Seu aspecto insólito transmite o posicionamento da MTV, que deseja ser vista como uma emissora contestadora com estética voltada para um público jovem. Palavras-chave: design gráfico; comunicão visual; MTV; vinhetas; televisão; design pósmoderno.


ABSTRACT This project study MTV’s vignettes history and its meaning to the channel itself. Despite though over time it had suffered some change, has never lost its basic function.Those vignettes, which are called ID’s by the station, broadcast the channel’s profile to the audience. Its unusual aspects reflects MTV’s aesthetic position as a channel which elect a young audience as it’s main target.

Key words: graphic design; visual communication; MTV; vignettes; television; post-modern design.



SUMÁRIO INTRODUÇÃO

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A IDENTIDADE TELEVISIVA

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A MTV MTV Brasil

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AS VINHETAS As vinhetas na TV brasileira

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AS VINHETAS DA MTV Influência pós-moderna O insólito nas vinhetas da MTV

35 45 49

PROJETO Cenário Pesquisa Conceito e projeto A rotoscopia O surrealismo nas vinhetas Pré-produção Produção Storyboard Desenvolvimento Resultado

55 56 57 59 60 61 62 63 64 66 72

CONSIDERAÇÕES FINAIS

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BIBLIOGRAFIA

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INTRODUÇÃO Desde sua criação, no início dos anos 1980, a MTV, primeiro canal segmentado de televisão, tem veiculado vinhetas com forte impacto. Essas vinhetas, chamadas de ID pela emissora, compõem sua identidade televisiva, comunicando o perfil do canal para seu público-alvo. Seu aspecto insólito transmite o posicionamento da MTV, que deseja ser vista como uma emissora contestadora com estética voltada para o público jovem. Na pós-modernidade, a interatividade dos meios de comunicação, permitida graças ao desenvolvimento tecnológico, tem atraído cada vez mais esse público. Parte dele é formado por integrantes das classes média e alta, na faixa dos 25 anos, também chamada de “Geração MTV”, por ter nascido e convivido com o advento da tecnologia de captação, reprodução e transmissão de imagens. O objetivo da pesquisa foi o estudo de um tema pouco explorado em abordagens teóricas. Procura-se organizar, ilustrar, analisar, identificar e tecer analogias com outros tipos de materiais para tornar mais clara a definição do que vêm a ser as vinheta da MTV, pois o seu estudo não pode deixar lacunas inexploradas que ainda possam causar dúvidas ou provocar contradições sobre sua função nos meios de comunicação.

Figura 1

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A IDENTIDADE TELEVISIVA

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A identidade televisiva é a identidade corporativa de uma emissora de televisão. Através de vinhetas, seu design tem como objetivo identificar o canal de televisão, organizar a programação e o principal: transmitir os conceitos de marca da emissora. Além de transmitir, de maneira mais popular, a “cara da emissora”, ela possui um valor mercadológico muito decisivo, pois busca gerar a identificação com o telespectador, a fim de garantir a audiência da programação e, assim, gerar lucros. Em pesquisa bibliográfica sobre o assunto, encontra-se uma grande dificuldade em uniformizar os termos utilizados na área de Design voltados para imagens em movimento, já dito por Mizuguti (2002:9). Uma nomenclatura muito utilizada é motion graphics que “(...) são textos, grafismos ou uma combinação entre eles, que se movem no tempo e no espaço e usam ritmo e movimento para se comunicar” (Gallender & Paddy, 2006:3), e união de mídias de cinema, televisão, vídeos, games, interfaces etc. faz com que esse tipo de profissional tenha um amplo mercado de atuação. Outra nomenclatura utilizada, criada por Hans Donner, da Rede Globo, é a videographics, diferenciando-se da anterior porque tem o objetivo de desenvolver vinhetas de abertura e encerramento de programas com imagens geradas por computador, utilizadas pelo canal em sua programação. A aplicação do design audiovisual vem crescendo com o desenvolvimento dos meios audiovisuais nas últimas décadas. Primeiramente utilizado no cinema, a partir da década de 1950, nas inovadoras aberturas de filme do designer Saul Bass (1920-1996), foi rapidamente incorporado à televisão, que também comportava imagem em movimento e som.

Figura 2: Identidade visual: Cult [Rebrand, 2009].

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Essas duas nomenclaturas referem-se apenas a técnicas utilizadas em televisão. Devido ao aspecto audiovisual de todos os meios a que o motion graphics se aplica, surgiu a expressão “design audiovisual”. Citada por Rafols e Colomer (2006), essa nova disciplina do Design nasceu com o cinema, desenvolveu-se com a televisão e está alcançando sua plenitude com o avanço dos meios digitais. A identidade televisiva é de grande importância para a estratégia de uma emissora. Desenvolver a lealdade à marca faz com que clientes, que se sentem seguros, não busquem experimentar outros canais de televisão. Ao assistir habitualmente a um canal, o público passa a conhecer a grade de programação, aprendendo a lógica de sua emissora. Porém, essa lealdade alcançada não decorre apenas do conhecimento do canal, nem da satisfação que o programa pode gerar, nem de uma imagem organizacional sólida. Uma das principais funções da identidade televisiva é a apresentação de signos que veiculam significados os quais os consumidores possam compartilhar. Como exemplo, tem-se o canal italiano Fox Cult, que, com a produção da agência Pool Worldwide, renovou sua identidade visual. As chamadas caracterizam-se essencialmente pelo minimalismo e pela sofisticação através de cores sóbrias e chapadas e fontes modernas e asserifadas. Todas as vinhetas têm uma dinâmica própria que deixam cada trabalho ainda mais interessante e surpreendente.

Figura 3: Identidade visual: Cult [Rebrand, 2009].

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A MTV

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Foi em 1981 a fundação do primeiro canal de televisão exclusivamente voltado para a música. No dia 1º de agosto daquele ano, o canal foi ao ar ao som do videoclipe “Killed the radio star”, da banda new wave The Buggles, com um dos seus criadores, Jonh Lack, dizendo: “Ladies and gentlemen, rock and roll”. A MTV representou uma revolução para as empresas ligadas ao meio musical. Ela foi criada para conter as crises da indústria de rádio americana e a baixa nas vendas da indústria fonográfica durante a década de 1970. Além do som, foi possível transmitir a imagem dos músicos, alavancando assim suas carreiras e a venda de LPs. Foi assim com Madonna e Michael Jackson, que usaram essa superexposição para impulsionar suas carreiras. Como diz Teixeira (2006:25): “Não foi à toa que eles se tornaram grandes ídolos da ‘geração MTV’”. Transformar a televisão num meio musical significou, a partir de sua natural disposição audiovisual, potencializar a sua característica de ‘áudio’, fazendo com que o ‘visual’ fosse atrelado a uma dinâmica dos artistas da música popular massiva (SOARES, 2008:8).

O slogan “I want my MTV” infiltrou-se no modo de pensar da sociedade e ficou conhecido nas vinhetas do canal ao ser narrado por astros da música internacional. A frase inaugurou a primeira estratégia de marketing da emissora, estando presente em camisetas e na música “Money for nothing”, do grupo Dire Straits.

Figura 4: Identidades da MTV na década de 80.

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... Now that ain’t workin’ that’s the way you do it You play the guitar on the MTV That ain’t workin’ that’s the way you do it Money for nothin’ and your chicks for free Money for nothin’ and chicks for free...

Mark Knopfler & Sting “Money For Nothing”, Dire Straits

Os videoclipes que compunham a programação se sucediam, em contraste com os programas das televisões tradicionais que tinham relevância sobre a população. Por isso, os apresentadores dos clipes eram chamados de VJs (videojóqueis), como referência aos DJs (disc jockeys) (NIEMEYER, 2009:11). A MTV foi um dos primeiros canais segmentados com uma programação voltada para jovens na faixa etária de 12 a 34 anos (TEIXEIRA, 2006:20) que geravam grande consumo. Por isso, mesmo com a dificuldade financeira que teve no início de sua criação, ela logo se popularizou e gerou US$ 7 milhões em receita de anúncios nos oito primeiros meses. No final daquele ano, empresas como PepsiCo e Kellogg´s faziam parte dos 125 anunciantes, que divulgavam 200 produtos (NIEMEYER, 2009:11). Atualmente, a MTV possui filiais espalhadas em 164 países, são elas: MTV Europa, sediada em Londres; MTV Latina, sediada em Miami; MTV Japão; MTV Ásia; MTV

Figura 5: Jovem consumidor da MTV.

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Mandarim, para China e Hong Kong; MTV África do Sul; MTV Austrália; e MTV Rússia. O objetivo é adaptar a emissora a cada estilo e característica de determinado país. Como escreve Teixeira (2006:21): “[...] há um constante intercâmbio de ideias e programas entre as diversas filiais”, além de uma comunicação constante com o público-alvo a fim de captar os principais interesses e se manter constantemente atualizada.

Figura 6: Canais pertecentes à MTV Networks.

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MTV Brasil

“Oi, eu sou a Astrid e é com o maior prazer que estou aqui para anunciar para vocês que está no ar a MTV Brasil!” Frase da VJ Astrid Fontenelle ao anunciar a MTV (LYRA, 2008:54).

Figura 8: Imagem do site Portal MTV Brasil.

Figura 7: Primeira equipe da MTV Brasil em 1990.

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Foi com essa frase que a MTV Brasil chegou ao país em 20 de outubro de 1990, pelas mãos do Grupo Abril e da MTV Networks, com um licensing que permitia a um licenciado utilizar uma marca mediante o pagamento de royalties. Quando foi inaugurada em São Paulo, a MTV Brasil ocupava o antigo prédio da TV Tupi. O slogan “I want my MTV” foi substituído por “Te vejo na MTV”, pois a agência DPZ, que coordenou a campanha de lançamento, julgou ser muito apelativa e agressiva para o público brasileiro (Niemeyer, 2008:12). As vinhetas feitas por brasileiros, americanos e europeus traziam artistas dando depoimentos e finalizando-os com o slogan da emissora. “Garota de Ipanema”, na interpretação da cantora Marina Lima, foi o primeiro videoclipe veiculado na MTV Brasil e anunciado pela VJ Cuca Lazzarotto. A produção do clipe de Marina e do clipe “Pólvora”, do grupo Paralamas do Sucesso, foram pagos pelo próprio canal, em razão da baixa produção nacional de videoclipes, pois não havia muito espaço para os músicos brasileiros na programação. Com o aumento da produção de videoclipes, em 1º de abril de 1995, a MTV tornouse de fato a primeira emissora de televisão brasileira a transmitir sua programação durante 24 horas ininterruptas todos os dias, para todas as suas retransmissoras e afiliadas. Assim, finalmente inaugurada, ela acenou com a promessa de promover um autêntico intercâmbio cultural entre a música popular estrangeira e a nacional. “O investimento custou ao grupo cerca de R$ 20 milhões” (LUSVARGHI, 2007:49). Por exigência da

Figura 9: Atual fachada do prédio da MTV Brasil.

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legislação brasileira, TVs e rádios são obrigados a colocar 50% de música nacional em seu horário nobre, das 19 às 22 horas, o que certamente foi responsável, num primeiro momento, pela cobrança de “estimular a produção nacional” desencadeada pela mídia. Como primeiro passo significativo da abertura de espaço para a produção nacional, foi criado o VMA Brasil (Video Music Awards Brasil). Naquele ano, foram premiados os melhores videoclipes nacionais em dez categorias diferentes, incluindo rock, pop, MPB e rap. O VMA Brasil, na sua segunda edição nacional, em 1995, foi renomeado para VMB (Video Music Brasil), quando todos os 128 trabalhos inscritos eram essencialmente nacionais e, em poucos meses, esse número subiu para 260. “O fato foi saudado pela mídia como uma conquista e uma consequência do trabalho pioneiro da MTV Brasil” (LUSVARGHI, 2007:54). Em 1999, houve uma reformulação na programação a fim de aumentar a lucratividade da empresa. O incremento do número de canais oferecidos nessa época tornou o setor mais competitivo, o que deixou o perfil da emissora ainda mais comercial (NIEMEYER, 2008:12). Um ano antes, havia o risco de a MTV Brasil ser retirada do ar caso não gerasse lucro para o grupo Abril e para a Viacom.

Figura 10: Trófeu da premiação do VMB.

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André Mantovani, novo diretor geral do canal, optou por popularizar a emissora, estabelecendo uma grade de programação com faixas de horário para cada programa, instituindo o padrão tradicional de televisão. Foram incorporados programas de humor e entretenimento no horário nobre para aumentar a audiência e houve uma diminuição do número de clipes veiculados (NIEMEYER, 2008:13). O espaço dedicado à música brasileira aumentou de 30% para 50%, o que gerou mais trabalho para as produtoras nacionais e impulsionou a carreira de novos artistas, que agora dispunham de um espaço para se promoverem. Houve uma incorporação de ritmos mais populares – sertanejo, axé, pagode e funk –, antes marginalizados pela emissora, que exibia fundamentalmente rock e pop. Para isso, foi necessário mudar o time de VJs. Em vez de conhecedores de música, foram incluídos modelos e atores, “[...] que não se importam em apresentar clipes que sejam de artistas fora do seu gosto musical” (TEIXEIRA, 2006:37). A emissora passou a ser autossustentável quando os comerciais passaram a ser integrados com a programação, fazendo com que isso ajudasse a vender melhor os produtos, dobrando de 1999 para 2000. Atualmente completando 20 anos, a MTV Brasil está deixando bem claro que já não é mais uma emissora dedicada à música. Em 2010, o canal decidiu investir pesado em programas de humor e diminuir a quantidade de horas dedicadas aos clipes. Não é à toa que, na nova programação, existem dez atrações de estilo cômico contra seis musicais.

Figura 11: Crachá do evento em comemoração aos 20 anos da MTV Brasil.

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Atualmente, a grade de programas é a seguinte:

• 15 Minutos

• MTV Debate

• Acesso MTV

• MTV Gringa

• Badalhoca

• MTV Lab

• Baú da MTV

• MTV Sports

• Comédia MTV

• Notícias MTV

• Didiabólico

• Plano MTV

• Fiz na MTV

• Quinta Categoria

• Fudêncio e Seus Amigos

• Rockgame

• Furo MTV

• Rockgol

• Infortúnio

• Scrap MTV

• IT MTV

• Show MTV

• Lobotomia

• Top 10 MTV

• Minha MTV

• Top Top MTV

• MTV Especial

• Viva! MTV

• 6 Musical • 10 Humor • 12 Outros

Figura 12: O VJ Marcelo Adnet.

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Figura 13: “Fudêncio e Seus Amigos” é um desenho de comédia. Sua essência é a crítica social e o politicamente incorreto, o que faz com que ele seja recomendado apenas para maiores de 14 anos.

Figura 14: “15 Minutos” é um programa da MTV apresentado por Marcelo Adnet e Rafael Queiroga. Os apresentadores fazem imitações, versões de músicas, piadas e divagações insanas sobre o mundo.

Figura 15: “Furo MTV” é um programa humorístico exibido no canal MTV. É apresentado por Dani Calabresa e Bento Ribeiro.

Figura 16: “Hermes e Renato” foi um programa humorístico. Com um grupo e dois personagens do mesmo programa, tinha como base situações engraçadas, além de palavras de baixo calão e sátiras.


AS VINHETAS

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As vinhetas desempenham um papel de extrema relevância na comunicação, pois elas significam um elemento gráfico e decorativo altamente significativo desde seu surgimento nas artes. A necessidade do ser humano de decorar e ornamentar figuras e formas já estabelecidas nos remete aos primórdios das artes gráficas e da escrita. O conceito de vinheta é atualmente atribuído à forma eletrônica, sendo usada igualmente nas realizações impressas, personificado na abertura e passagens de programas de curta duração.

Figura 17: As vinhetas nas iluminuras.

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Para um estudo ideal da vinheta na cultura brasileira, temos que deixar evidenciada sua função básica: elemento decorativo que, aparecendo em uma forma pronta ou estabelecida, tem função de arte decorativa só quando está integrada àquela. A vinheta nunca será a linguagem própria de um estilo de arte ou de um veículo de comunicação. Ela apenas reforçará uma das formas que caracterizam um estilo de arte (Aznar, 1990:125).

À medida que a vinheta migrava de uma forma de arte para outra através dos tempos, desde as iluminuras e saltérios até a arquitetura e a confecção de escudos e brasões, ela também mantinha a mesma função básica em todas as suas manifestações artísticas. A vinheta precisou ser adaptada a um novo ambiente com o surgimento dos meios de comunicação, desempenhando o mesmo papel que desempenhava: o de enfeitar figura já estabelecida ou finalizada. Elas começaram a surgir na TV, rádio, cinema e internet e, justamente nessas imagens ou sons, no caso do rádio e dos sinais sonoros, constituem-se algumas chamadas que são acrescentadas às vinhetas eletrônicas, podendo ser fixas, animadas ou sonoras. Segundo Freitas (2007:53), no rádio, a vinheta sonora cumpre um papel semelhante, porém, também podemos considerar como vinheta sonora todo e qualquer som ou efeito acrescentado a uma narração com a finalidade de reforçar a marca de algum anunciante ou até mesmo o nome da própria estação, lembrando insistentemente ao ouvinte em que estação está ocorrendo a sintonia.

Figura 18: Sequência da vinheta de identificação da Rede Globo.

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Na TV, as vinhetas eram inicialmente feitas com a câmera focalizando um cartaz, enquanto o locutor anunciava a atração que estava por vir. Segundo Aznar (1990:44), a vinheta tinha um apelo decorativo sonoro que identificava a emissora de forma característica e a auxiliava a vender seu produto. Mas foi no cinema norte-americano que ela se originou, nos anos 1950, para quebrar a monotonia da apresentação dos créditos, feitas por artistas gráficos ou mesmo por artistas plásticos. “Alguns desses profissionais realizaram um trabalho de tal impacto que não foram raros os casos em que as aberturas se tornaram mais importantes do que os próprios filmes” (MACHADO, 2001:197). Com o tempo, as vinhetas televisivas começaram a adquirir uma linguagem própria. Enquanto no cinema elas reproduzem trechos do filme ou contam uma breve história, na televisão, elas ganham forma, volume e design, além do uso dos avanços tecnológicos.

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A vinheta na TV brasileira Na TV brasileira, as primeiras vinhetas eram feitas em cartolina. Criadas por Mário Fanucchi, diretor cenográfico da TV Tupi, elas eram colocadas em estantes de partituras que serviam como suporte e, posteriormente, eram captadas pelas câmeras ao vivo. Quando era necessário focalizar um conjunto de cartões, utilizava-se um aparelho chamado flip-stand (estante de “virar depressa”), que permitia que os cartões, perfurados e acoplados ao parelho, mudassem rapidamente os letreiros quando focalizados pelas câmeras.

A TV Tupi foi a primeira emissora do país e da América Latina. Ela foi implantada por Assis Chateaubriand, indo ao ar em 18 de setembro de 1950. Segundo Florentino (2004:41), a pedido dos telespectadores, que não estavam felizes com o visual anterior, criou-se um novo design da logomarca da TV Tupi. Um índio adulto, que era símbolo e ícone de identificação da emissora, deu lugar a um índio criança, que passou a ser utilizado em boa parte das vinhetas. Na década de 1970, a TV Tupi importou dos EUA um aparelho projetor chamado Gray Tellop, que permitia o deslocamento de imagens desenhadas e funcionava como suporte para elas, embora continuassem paradas (FLORENTINO, 2004:44).

Figura 19: Vinhetas exibidas na extinta TV Tupi.

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Figura 20: Primeiras vinhetas exibidas na extinta TV Tupi.

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Um dos grandes desenvolvimentos tecnológicos foi o surgimento do videoteipe, que era usado para registro e reprodução de imagens geralmente associadas com o som, contribuindo muito para o avanço das vinhetas, já que possibilitava a edição das imagens. “Com isso foi possível empregar novos elementos visuais e sonoros à vinheta” (FLORENTINO, 2004:44). Um dos impulsionadores das vinhetas no Brasil foi a emissora de TV Rede Globo, com a contratação do designer alemão Hans Donner em 1975. “Ele e seu amigo Rudi Bohm revolucionaram as vinhetas, incorporando a tecnologia para a animação e simulação de tridimensionalidade, transparência, além de estilização do globo e da ideia de janela para o mundo” (FLORENTINO, 2004:45). Donner criou um estilo próprio de vinhetas e ditou uma certa tendência na televisão, que foi copiada por um período por muitas emissoras (FLORENTINO, 2004:45).

Dentre as vinhetas mais famosas de Donner estão as de identificação da Rede Globo e de abertura do Fantástico.

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Figura 21: Vinhetas de abertura do programa Fantástico e de identificação da Rede Globo.

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AS VINHETAS DA MTV

Figura 18: Ilustração para adesivos da MTV.

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As vinhetas da MTV, por serem direcionadas para a música e voltadas para o público jovem, questionam os valores tradicionais e propõem uma nova forma de pensar, transmitindo tais conceitos por meio de signos visuais e sonoros, fugindo dos padrões normalmente utilizados por outros canais. “A inconstância é marca registrada das vinhetas pelos cortes bruscos, mudanças de estilo sem motivo aparente e inserção de ruídos audiovisuais” (NIEMEYER, 2006:13). Essa falta de uniformidade da identidade nas vinhetas da MTV foi uma grande novidade no campo do design, pois, normalmente, a identidade visual mantém a uniformidade a fim de ser melhor fixada por seu público. A seguir, os tipos de vinhetas usadas pela MTV segundo entrevista com Jimmy Leroy, antigo diretor de arte da MTV Brasil. Promocionais ou Promoimagem São aquelas que promovem a personalidade da marca, não precisando ser necessariamente sobre música. Normalmente buscam coisas que se alinhem à personalidade da marca, para que as pessoas se identifiquem com ela.

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Figura 22: Exemplo de vinheta promocional.

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Serviços de utilidade pública São aquelas que promovem campanhas sobre assuntos sociais importantes, como AIDS, guerra, educação etc.

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Figura 23: Exemplos de vinhetas de utilidade pĂşblica.

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Aberturas São aquelas exibidas no início ou no fim de um programa e geralmente estão relacionadas a seu conteúdo.

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Figura 24: Exemplo de vinheta de abertura.

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IDs ou vinhetas de identificação São aquelas que promovem a logomarca, a empresa, e que possibilitam, consequentemente, uma clara e imediata identificação da emissora. Por ser a MTV uma emissora totalmente voltada para a música, essas vinhetas precisam necessariamente ter alguma relação com ela. A emissora, para isso, possui várias vinhetas de identificação, cada uma delas remetendo a um estilo musical. No caso do exemplo a seguir, houve uma preocupação com a caracterização dentro de um estilo popular entre os esqueitistas. A seguir, um exemplo de vinheta de identificação:

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Figura 25: Exemplo de vinheta de identificação.

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Direcionadas a um público jovem, a criação das vinhetas da MTV, tanto no Brasil como no resto do mundo, utiliza-se de uma linguagem própria para melhor comunicar-se com seu espectador, garantindo que suas necessidades e desejos sejam atendidos. Essa é uma forma de garantir seu público e captar novos espectadores, a fim de incrementar sua audiência e gerar maior lucro (NIEMEYER, 2006:12). No final da década de 1990, Jimmy Leroy anunciou no 11º NDesign que a MTV sofreria uma evolução visual na TV, adotando um design mais limpo, mais estudado, porém, com algumas misturas do limpo com o trash. A reformulação visual do canal foi influenciada pela estética tecno, nascida de uma linguagem eletrônica. Atualmente, o visual da MTV Brasil é cuidado pela equipe de “promo” (responsável pelas filmagens, produção, edição para vinhetas ou chamadas de programação) e pela equipe de “gráficos” (responsável por ilustrações, marcas de programas, computação gráfica etc.). Ambas foram comandadas por muito tempo pelo designer Jimmy Leroy.

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Influência pós-moderna Na década de 1960, na França, os conceitos de pós-modernidade surgiram em trabalhos de autores como Foucault, Derrida, Deleuze, Rorty, Baudrillard e Saussure. A partir de então, um discurso mais flexível e de ideias que iam contra a exatidão do raciocínio moderno se tornou mais comum na linguística (LYRA, 2008:53).

O Pós-Modernismo surgiu consumindo, englobando e aceitando tudo e assim tornando-se um grande “liquidificador pós-moderno”, em que se podem encontrar fragmentos de várias épocas (HARVEY, 1999:67). A mudança do centro econômico e intelectual mundial da Europa para os Estados Unidos foi um fato importante para o surgimento do Pós-Modernismo. A fuga da comunidade europeia para os Estados Unidos no fim da guerra, aliada ao crescimento econômico americano gerado pela venda de recursos à Europa, fizeram esse país tornar-se o novo centro do mundo, assim nascendo um território fértil para novas ideias.

Figura 26: Imagem do quadro O Grito, do artista Edward Munch.

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O design gráfico sofreu mudanças na passagem da modernidade para a pósmodernidade, refletindo na parte gráfica o pensamento de cada período. No início do século XX, o progresso industrial moderno trouxe mais possibilidades ao design e o distanciou de estilos mais antigos como o vitoriano, artes e ofícios e art nouveau. Surgiu o conceito determinante do design moderno: “less is more’’ ou “menos é mais”. Depois, o design pós-moderno surge e agrega tudo rejeitado pela modernidade, assim criando o “more is more” (LYRA, 2008:54).

Tendo nascido para ser uma televisão com a programação focada nos jovens, é comum encontrar na MTV novos videoclipes, desenhos animados um tanto diferentes, variados tipos de reality shows, apresentadores que têm maneiras esquisitas de fazer seus programas e vários espaços abertos para a participação popular. Com todas essas características, não é difícil achar a essência do Pós-Modernismo na Music Television. Uma característica pós-moderna que é essência da MTV é o multiculturalismo. Essa emissora se mostrou multicultural desde sempre, ao misturar culturas diversas com videoclipes de reggae jamaicano, do rock norte-americano e inglês, do funk dos afro-americanos e do punk inglês, entre outros. Atualmente esse multiculturalismo se encontra mais forte, já que existe uma Music Television em quase todos os países do mundo e ainda mais para minorias americanas específicas, como a MTV Country, a MTV Latina e a MTV Gay (LYRA, 2008:55).

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A MTV Brasil acompanha essa característica pós-modernista com sua quantidade de informação visual nas vinhetas cheias de desconstrução, imagens rápidas e chamadas com vários cortes de câmera, o que gera um resultado visual que a distingue das outras TVs brasileiras. Análise de uma vinheta da MTV:

Figura 27: Sequência de duas vinhetas da MTV Brasil de 1997.

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São narradas duas histórias de temas diferentes. Na primeira vinheta, há uma comunicação entre dois homens vestidos com ternos; eles se movem e piam como pássaros, em vez de falar.A segunda mostra dois homens, um sentado e outro mexendo no cabelo, o que acaba em uma briga de tapas. São características das três vinhetas as pessoas em desenhos feitos sobre um vídeo gravado com pessoas reais (rotoscopia). Nas três vinhetas há, também, troncos de árvores secas, tijolos e chão de azulejo caracterizando um cenário surrealista. A marca da MTV aparece grande, bem visível no centro da tela e com cores complementares do color bar, ou com textura de tijolos e aspecto tridimensional no início da vinheta da briga de tapas. As três vinhetas fazem a exposição de vários significantes sem preocupação com o significado, o que caracteriza uma linguagem esquizofrênica.

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O insólito nas vinhetas da MTV No Dicionário Michaelis (1998), o verbete é assim caracterizado:

Insólito adj (lat insolitu) 1 Que não é habitual. 2 Estranho. 3 Que é contrário ao uso, às regras, aos hábitos; extraordinário. 4 Incrível.

Sob a visão da semiótica de Charles Sanders Peirce (1839-1914), esse é um exemplo do insólito como uma reversão do simbólico, pois ele objetiva romper padrões, criando sentimentos inusitados no intérprete, portanto, faz-se presente em toda ruptura de costumes, quebrando as expectativas que decorrem do hábito. Como escreveu o pintor surrealista Salvador Dalí: Como querem que os demais compreendam os meus quadros, quando eu mesmo, que os faço, não os compreendo. O fato de eu mesmo, no momento de pintar, não os compreender, não quer dizer que não possuam nenhuma significação. Ao contrário, o significado deles é de tal maneira profundo, complexo, incoerente, involuntário, que escapa à análise da intuição lógica... (apud CAVALCANTI, 1978:177).

Figura 28: Ilustração insólita da artista Eclipsy.

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Figuras 29, 30 e 31: A Lâmpada Filosófica, de René Magritte, 1936. Telefone de Lagosta, de Salvador Dalí, 1938. A Tentação de Santo Antônio, de Salvador Dalí, 1973.

O insólito nas cores, nas formas, nas relações entre os elementos advinha das experiências alucinógenas, que ofereciam novas percepções sensoriais, que não ocorriam no dia a dia. Muitos designers escolhiam suas paletas de cores a partir do efeito visual do LSD. Com esse ácido,

[...] o usuário entra num estado de grande sugestionabilidade: sua capacidade de receber e analisar de forma estrutural as informações do ambiente fica distorcida. A experiência pode induzir a um estado de cruzamento dos sentidos [...]. A percepção espacial também é alterada e as cores têm suas intensidades realçadas; imagens caleidoscópicas e tridimensionais flutuam no vazio (DEMPSEY: 2003:85).

Figura 32: Cartazes da banda The Cream.

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O design, que utiliza signos visuais, também pode incorporar uma estética do absurdo, desde que ela seja adequada à comunicação de uma peça com seu público-alvo específico. Por ser uma atividade projetual, o design deve identificar a conformidade entre o uso do insólito em um produto e seu receptor, a fim de utilizá-lo como um importante ferramental que vise gerar uma identificação entre a peça de design e o consumidor, satisfazendo suas necessidades e seus desejos. O canal segmentado MTV – Music Television, por meio de pesquisas, identificou que os interesses de seu público-alvo atualmente já estão mais familiarizados com o insólito, que vem sendo usado há quase um século nos meios visuais. Ainda há reações à quebra das convenções nas significações, que ora são relacionadas ao humor, ora aos pesadelos. A seguir, uma vinheta que a emissora fez para a programação especial de verão. Não há ícones dos elementos mais convencionadamente representativos dessa estação: sol, praia, biquíni, cores quentes, água etc.

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Figura 33: Vinheta de Ver達o da MTV Brasil em 2008 .

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Eles são estilizados e surrealistas, tais como o urso com um olho só, as caveiras com asas, um ser incompreensível com uma seta transpassando seu corpo, um rosto de macaco com fones de ouvido, entre outros. Além de cada figura ser nonsense em si mesma, as relações entre elas são absurdas e a sua falta de conformidade com o tema verão, insólita. Os efeitos sonoros distorcidos em sintetizador reforçam o clima fora do comum. O insólito sempre esteve presente nas vinhetas, desde a criação do canal, ainda que sua estética tenha sofrido algumas alterações. No início dos anos 1980, “a MTV foge da limpeza e do minimalismo, rompendo com pensamentos modernistas e das escolas tradicionais de design e chega até a uma proposital poluição visual através da disposição de elementos e cores em demasia, conferindo certo aspecto caótico e underground” (NIEMEYER, 2009:14), influenciada pelos movimentos alternativos ligados à música, como o punk, o psicodelismo e o new wave. No final dos anos 1980, o estilo grunge, nascido em Seattle, nos Estados Unidos, e relacionado ao movimento musical de bandas como Nirvana, Alice in Chains e Pearl Jam, influenciou a identidade televisiva da MTV (LYRA, 2008:56). Foram usadas tipografias desconstruídas, ruídos visuais, imagens sujas feitas com colagens e figuras fotocopiadas, gerando peças pouco legíveis a fim de demonstrar a sintonia da emissora com o movimento rebelde da época (NIEMEYER, 2009:14).

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Com o início da moda tecno no final da década de 1990, a estética das vinhetas mudou para se adequar à novidade. Foram utilizadas imagens computadorizadas, com quadriculados que remetiam ao pixel e efeitos dos programas gráficos. Mas essa estética não aparece em todas as vinhetas atuais. Hoje há muito mais uma mistura de estilos, o que aumenta ainda mais a inconstância visual. Isso decorre do fato de a MTV sempre ter primado pelas experimentações em animações e em computação gráfica na busca do novo no audiovisual. Essa mistura de estilos na identidade televisiva deixa evidente a importância que a emissora dá ao diálogo com seu público jovem, ao responder aos interesses de cada momento.

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PROJETO

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Cenário O cenário que encontramos na atual MTV Brasil deixa bem claro que ela já não é mais uma emissora dedicada à música. Assim, entendo que ela quer acompanhar a juventude, mas sem esquecer de quem está crescendo. Não seria a hora de o canal amadurecer com o público? Ou melhor, a ideia é manter um canal para os préadolescentes com seus cabelos lisos jogados sobre os olhos, não se esquecendo dos jovens que cresceram vendo e ouvindo a MTV. Lembro-me de anos nostálgicos (não tão longínquos), quando parava algumas horas em frente à televisão para assistir ao canal e ficava até altas horas da madrugada assistindo aos videoclipes da emissora. Afinal, aquele era o canal voltado para os jovens adolescentes que viviam ao som de Nirvana e outras centenas de bandas. Muitos videoclipes, muito rock do bom, rock de verdade, rock das antigas... desenhos espetaculares como Beavis and Butt Head e South Park, dentre vários outros programas bacanas. A pergunta que me vem à cabeça é: será que a marca está falando com o seu público ou seria questionável um dos maiores prêmios de música brasileira – o VMB Brasil – ter o grande vencedor da noite vaiado? (Para quem não acompanhou, a banda Restart ganhou vários prêmios, mas foi vaiada pela plateia). Com isso, a pergunta que me motivou a realizar este trabalho foi: “como acompanhar a juventude e ainda cativar aqueles que cresceram?”.

Figura 34: Banda Restart.

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Pesquisa Fiz um levantamento do pĂşblico atual da MTV Brasil. Mais de 100 pessoas foram entrevistadas, e o resultado foi o seguinte:

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Questionou-se também qual o interesse desse público pela programação da emissora, e o resultado foi esse:

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Conceito e projeto Fazendo essa pesquisa e ouvindo diversas pessoas e suas opiniões, aquilo sobre o que mais ouvi falar foi a vontade dos jovens de 20 a 30 anos de rever aquela MTV que eles cresceram vendo. E a palavra mais comentada foi “nostalgia”. O que é nostalgia? Segundo o Wikipédia, a nostalgia descreve uma sensação de saudades de um tempo vivido, frequentemente idealizado e irreal. É um sentimento que surge a partir da sensação de não poder mais reviver certos momentos da vida. Então como acompanhar a juventude e ainda cativar os que cresceram? Resgatando uma fase que se foi para os mais velhos e mostrando parte dela para os mais novos, que nunca tiveram a chance de presenciá-la. Propus, então, um conjunto de vinhetas que tem essas características nostálgicas usando nelas a rotoscopia e o surrealismo.

Figuras 35, 36, 37 e 38: Disco de vinil de 1948, Boneco Fofão de 1983, Pense Bem de 1981, Genius de 1980.

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A rotoscopia A MTV foi uma grade usuária dessa técnica durante toda a década de 1980, produzindo vários videoclipes e vinhetas e fazendo com que a rotoscopia se tornasse uma grande característica do canal nessa época. A rotoscopia é uma técnica de animação em que se usa como referência a filmagem de um modelo vivo, aproveitando-se então cada frame filmado para desenhar o movimento do que se deseja animar. O aparelho, criado em 1915, foi logo utilizado para a realização de filmes de treinamento para o exército americano e posteriormente foi incorporado pelos maiores estúdios de animação em diversas ocasiões. Em 1932, os próprios irmãos Fleischer “rotoscopiaram” o cantor Cab Calloway dançando para dar vida ao fantasma de uma morsa que contracena com a personagem Betty Boop no episódio “Minnie the Moocher”. Durante os anos seguintes, a equipe de Walt Disney usou o aparelho para compor cenas de “Branca de Neve e os Sete Anões” (Disney, 1937). Em 1940, Tex Avery, trabalhando para os irmãos Warner, rotoscopiou uma cena de striptease para compor um lagarto que vai perdendo a própria pele (TOLEDO: 2006).

O traçado quadro a quadro se assemelhava ao recorte com máscara, mas era possível ignorar colares, pulseiras, penas e outros acessórios, bem como descartar a informação de matiz de cor e luminosidade. A reconstituição do movimento se dava pela justaposição dos desenhos e animando-os.

Figura 39: Sequência demonstrativa da técnica de rotoscopia.

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O surrealismo nas vinhetas As características desse estilo são que, segundo os surrealistas, a arte deve se libertar das exigências da lógica e da razão e ir além da consciência cotidiana, buscando expressar o mundo do inconsciente e dos sonhos. As raízes do Surrealismo nas artes visuais emprestam características do Dadaísmo e do Cubismo, assim como da abstração de Wassily Kandinsky e do Expressionismo, bem como do PósImpressionismo. Como já dito anteriormente, a MTV Brasil acompanhava essa característica surrealista usando uma combinação do representativo, do abstrato, do irreal e do inconsciente nas vinhetas cheias de desconstrução. Imagens rápidas e chamadas com vários cortes de câmera, o que gerava um resultado visual que a distinguia das outras TVs brasileiras. Mas, com o tempo, a emissora deixou de usar essa sua característica marcante, que hoje já não se vê mais em sua programação. Aquelas vinhetas que não eram entendidas e que se esperava para ver o que ia acontecer, com o logo da MTV aparecendo de repente no final não existem mais.

Figuras 40, 41, 42 e 43: Everlong, de Felipe S. Morin. The Eye, de Martyn Robertshaw. Hands, de Jane Wynn. Desperation, de Josh Sommers.

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Pré-produção Definidas as técnicas de desenho e a concepção das histórias, comecei a pesquisar técnicas de desenho para a rotoscopia. Encontrei nos trabalhos do jovem artista Lauren Simkin Berke traços bem rústicos e cores bastante saturadas, uma técnica com a cara da MTV Brasil.

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Produção Partindo para a produção, trabalhei a ideia das histórias que iriam envolver as vinhetas e os planos de imagem para compor a sequência. Comecei por um brainstorming, desenvolvendo um sistema de objetos e ações que poderiam compor uma sequência aleatória.

Objeto

CARRO

MENINO

CADEIRA

HOMEM

MESA

Ação

CORRER

VIBRAR

ANDAR

QUEBRAR

MULHER

CAIR

VOAR

VASO

ROUPA

PULAR

EQUILIBRAR

MOCHILA

SAPATO

TORCER

GRITAR

Exemplo: “VASO CAI E MULHER QUEBRA”

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Storyboard Vinheta 1 Palmas Um homem em um ambiente qualquer começa a bater palmas compulsivamente, até que de repente suas mãos se separam do antebraço, batendo asas e voando.

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Vinheta 2 Lavanderia A hist贸ria acontece em uma lavanderia. Um homem chega para lavar suas roupas e, quando pensamos que ele vai colocar a roupa para lavar, ele pr贸prio entra na m谩quina.

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Vinheta 3 A Flor Em uma sala, uma mulher entra e pega um vaso de flor que está em cima de uma mesa. Ela o segura na frente do corpo e o solta, fazendo com que ele caia no chão. O vaso, ao chegar ao chão, não quebra. Quem quebra é a mulher que o estava segurando.

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Vinheta 4 O Olho Um olho normal olha para os lados procurando alguÊm. Ele olha para um lado, para o outro, quando aparece uma pessoa no canto direito do globo e começa a empurrar a íris, fazendo com que o globo ocular gire, trazendo a marca da emissora.

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Desenvolvimento Ap贸s ter definido as hist贸rias das vinhetas, o primeiro processo foi filmar as sequ锚ncias em chroma key para o melhor definir os movimentos na hora da rotoscopia.

Agradecimentos especiais a: Maria Auxiliadora, Masayoshi Ninomiya e Marina Pelosi pelas imagens cedidas para as filmagens.

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O processo de rotoscopia foi desenvolvido a partir do programa Corel Painter, pois os programas atuais que o mercado utiliza para chegar a esse efeito de rotoscopia apresentam uma aparência de “vetorizados”, que não era o resultado esperado.

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Em alguns dos vĂ­deos foi utilizado o programa After Effects, por conter cenas impossĂ­veis de se realizar, como a de um homem dentro de um olho.

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Com os movimentos e o processo de rotoscopia nos vídeos, passei a colori-los.

O painel semântico foi obtido através das cores atuais da MTV Brasil. Cores bem saturadas e com boa aceitação pelo público, não só mais novo, mas o mais velho também.

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Resultado

Screenshots da vinheta A Flor

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Screenshots da vinheta Lavanderia

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Screenshots da vinheta O Olho

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Screenshots da vinheta Palmas

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Screenshots da vinheta O Ovo

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Screenshots da vinheta Rolamento

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CONSIDERAÇÕES FINAIS As vinhetas da MTV consistem em um canal de comunicação com seu espectador. Cada emissora tem um jeito diferente de construir esse canal. O que aprendi com esta pesquisa foi conhecer essa arte para que eu mesmo consiga subsídios para projetar um novo estilo de comunicação para a emissora. Meu objetivo nesta pesquisa foi conseguir o máximo de informações sobre as vinhetas da MTV, estabelecer critérios e eleger temas para construir uma nova grade de vinhetas para o canal MTV Brasil. Para conseguir propor uma nova identidade para as vinhetas da MTV Brasil, realizei o levantamento do histórico do canal, procurei entender a importância das vinhetas para um canal de TV, aprendi como e por que elas são produzidas, os critérios de produção e, por fim, entendi a metodologia utilizadas para criá-las. As vinhetas são um meio de comunicação um tanto quanto questionável, principalmente as da MTV. Para conseguir atingir esse público tão exigente, foi preciso entender a fundo seu processo de elaboração e construção. Com todos esses ingredientes, é possível produzir uma vinheta inovadora e propor um novo tipo de discussão na frente da TV e das rodas de amigos. Minha motivação para realizar esta pesquisa é que a maioria das pessoas já ficou intrigada e perplexa com as vinhetas da MTV. Eu sou uma delas. Desde pequeno, elas Figura 44

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me chamaram a atenção e aguçaram minha curiosidade sobre como eram pensadas e produzidas. A maior dificuldade encontrada na pesquisa foi, indiscutivelmente, a falta de material bibliográfico relacionado diretamente ao objeto enfocado. Apenas o livro de Aznar abordava especificamente a vinheta. Nas demais obras utilizadas durante a pesquisa, somente eram feitas algumas menções sobre o objeto, sem os esperados aprofundamentos. O objeto final aqui apresentado foi, na minha opinião, muito gratificante. Durante todo o processo de produção dessas vinhetas, amadureci muito meus pensamentos, aprendi muito com tentativas e erros, ouvi muitos conselhos de professores e amigos e, no produto final, consegui envolver características de desenho minhas, nunca antes testadas, com um enredo forte nas vinhetas, em que as referências históricas estão bem claras e ainda envolvi técnicas de animação diferentes, o que dava margem a brincadeiras do tipo: “A falta de equipamentos avançados é que faz o trabalho original”. Hoje, com o trabalho em mãos, vejo que consegui o que queria: um trabalho bem original e com a minha cara.

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Figura 45

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