Revista Mosaico - 46

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Volume 15 - nº. 1 - 1º. Semestre

Revista Caminhando

Lançamentos Editeo 1º. semestre 2010

Todos falam da centralidade do tema da salvação em John Wesley, entretanto, sem conseguir um acordo sobre a forma da missão. O livro oferece um novo olhar que contempla a vida e obra de John Wesley de forma ampla. Transparece a salvação como social, na dinâmica da sinergia divinohumana, por meio da comunhão eclesiástica em prol do compromisso com a humanidade e a criação.

Série Teologia Wesleyana Brasileira

Nos últimos 50 anos, nota-se o esforço para enquadrar a reflexão wesleyana sobre a igreja em algum esquema prévio de interpretação. De conservador a radical, quase todas as qualificações já foram atribuídas a Wesley. Essa obra se concentra em sua eclesiologia prática e funcional, examinando tanto o que se encontra explícito em seus escritos sobre a igreja, quanto o que está implícito em sua práxis social e missionária.

ISSN 1676-1170

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NESTA EDIÇÃO

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Os 100 ano de Edimburgo Magali do Nascimento Cunha pág. 3 Evangelho + ismo ou + ação? Nicanor Lopes pág. 7 Missão na Bíblia Paulo Garcia pág. 10 Missão e diaconia Jane Blackburn pág. 13 Missão e unidade Jacques Matthey pág. 15 Sermão Luiz Carlos Ramos pág. 18 Oração pela Palestina Suzel Tunes pág. 21

DE TE ADE OL LD O

Dia do Meio Ambiente Natanael Garcia Marques pág. 23

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Missão de Deus hoje D

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Mosaico Apoio Pastoral — Ano 18, nº. 46 — Faculdade de Teologia da Igreja Metodista — UMESP — janeiro/junho de 2010 — ISSN 1676-1170-43

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Informações e Vendas • Livraria da Editeo: Tel (11) 4366-5982 / 4366-5787 • Fax (11) 4366-5988 E-mail: livrariaediteo@metodista.br Rua do Sacramento, 230 – Rudge Ramos 09640-000 – São Bernardo do Campo – SP

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Editorial Festa com reflexĂŁo Mosaico Apoio Pastoral

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MOSAICO APOIO PASTORAL oferece uma contribuição à Semana Wesleyana, cujo tema Ê A Missão de Deus hoje.

s 100 anos da ConferĂŞncia Mundial de MissĂŁo de Edimburgo sĂŁo excelente oportunidade para festejar e para refletir sobre um tema fundamental para a Pastoral: a missĂŁo. A revista MOSAICO APOIO PASTORAL oferece uma contribuição a este momento e Ă Semana Wesleyana promovida tradicionalmente, pela FATEO, cujo tema ĂŠ A MISSĂƒO DE DEUS HOJE. A MissĂŁo ĂŠ a razĂŁo de ser da igreja; as pessoas que realizaram aquela conferĂŞncia em 1910 ainda nĂŁo tinham plena consciĂŞncia desta afirmação teolĂłgica. Sabiam, sim, que tinham algo importante por realizar como cumprimento da vontade Deus. De lĂĄ para cĂĄ muita coisa se transformou tanto na compreensĂŁo do sentido da MissĂŁo quanto na prĂłpria prĂĄtica,

mas o desafio continua no horizonte: participar dos propósitos salvíficos de Deus. Nas påginas de M OSAICO , hå reflexþes muito ricas que apontam caminhos para a reflexão deste tema na caminhada do sÊculo XXI. Outras contribuiçþes tambÊm são oferecidas neste número da revista, e que podem ser tambÊm diretamente relacionadas ao seu tema central: um sermão que leva a pensar sobre o compromisso cristão, uma chamada à oração pela paz com justiça na Palestina e em Israel e um apelo ao engajamento nas açþes de cuidado com o meio ambiente. Desta forma, nossos/as leitores/as envolvidos na ação pastoral podem, mais uma vez, contar com o apoio de MOSAICO. Boa leitura!

Ano 18, nº 46, Janeiro/Junho de 2010 Publicação da Faculdade de Teologia da Igreja Metodista/Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Universidade Metodista de São Paulo - Reitor: Mårcio de Moraes Faculdade de Teologia: Reitor/Diretor: Rui de Souza Josgrilberg Vice-Reitor: Paulo Roberto Garcia Diretor Administrativo: Otoniel Luciano Ribeiro Editeo - Comissão Editorial Blanches de Paula, Helmut Renders (coordenador), JosÊ Carlos de Souza, Magali do Nascimento Cunha, TÊrcio Machado Siqueira Editora do Mosaico: Magali do Nascimento Cunha Projeto gråfico: Luiz Carlos Ramos; Editoração e Arte final: Marcos Brescovici; Capa: Marcos Brescovici Edição e montagem de imagens: Marcos Brescovici; Imagens: sites: www.corbis.com, www.sxc.hu, www. oikoumene.org, www.vozderondonia. com.br Tiragem deste número: 2.000 exemplares. Distribuição gratuita. * *** * Mosaico Apoio Pastoral EDITEO Caixa Postal 5151, Rudge Ramos, São Bernardo do Campo, CEP 09731-970 Fone: (0__11) 4366-5958

editeo@metodista.br

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Festa e revisão de caminhos em pauta A propósito dos 100 anos da Conferência Missionária de Edimburgo Magali do Nascimento Cunha minaram “o escândalo da ção de descrença. Buscadivisão dos cristãos”. va-se, nestes primórdios, Essa consciência se práticas que tornassem explica pelo fato de o possível a dimensão da movimento missionário unidade visível do corpo protestante ter tornado de Cristo, com base na possível não só a presença oração de Jesus expressa e a expansão dos protes- no Evangelho de João tantes por todo o planeta capítulo 17, versículo 21: como também que a divisão entre os cristãos se tornasse mais visível. O despertar para a consciência do escândalo da divisão e a necessidade de cooperação e unidade no trabalho evangelístico representou a gênese do que hoje conhecemos como movimento ecumênico. Nomes como Robert Wilder, John Mott, Robert Speer, J. H. Oldman, Martin Kähler, Hugh Clarence Tucker fazem parte da lista “... que eles sejam um para de pessoas que, engajadas que o mundo creia”. no trabalho missionário, O espírito de se defrontaram com a necessidade de superar Edimburgo o divisionismo entre os A Conferência Miscristãos em nome de um sionária Internacional de testemunho mais coerente Edimburgo abriu camida proposta do Evangelho nho para a realização de diante do mundo. Nesse outras que construíram espírito, reconheceram uma teologia da missão que a unidade era uma e caminhos de unidade questão de fé e passaram a no trabalho missionário. afirmar que a desunião re- Convocada pelas sociepresentava mais dades missionáuma manifestaMissão Hoje rias européias e

norte-americanas refletia a hegemonia destes dois continentes no campo da missão. Foram 1400 delegados de grande parte dos países da Europa e da América do Norte; apenas 17 eram do hemisfério sul. Nela se revelou a busca de Imagem: www.oikoumene.org

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ste 2010, que fecha a primeira década do século XXI, será marcado pelo centenário da Conferência Missionária Mundial, realizada em Edimburgo (Escócia). Este evento é paradigmático para a reflexão em torno da missão cristã e seus desafios contemporâneos, e também, e com maior destaque, para os esforços em torno da busca pela unidade visível do corpo de Cristo, tendo sido Edimburgo 1910 a primeira grande reunião formal de cristãos de diferentes continentes, em torno de uma causa comum. O século XIX foi o período em que o movimento missionário protestante deflagrado no século XVIII, em direção aos continentes não-cristianizados, se consolida e se amplia. Missionários, muitos formados em escolas de teologia que se abriram para o liberalismo teológico, experimentam o cotidiano de uma nova realidade sociopolítica, econômica e cultural, e refletem sobre ele, e constroem uma consciência do que deno-

caminhos de cooperação entre as sociedades missionárias e de minimização do escândalo da divisão. A conferência contribuiu também na ultrapassagem dos interesses institucionais limitados e imediatos e tornou-se marco no processo de afirmação da missão como desejo redentor de Deus e natureza do ser Igreja. O tema geral foi: “A evangelização do mundo nesta geração” e a partir dele foram debati-

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dos os seguintes subtemas: Levando o trabalho a todo o mundo não-cristão; A Igreja no campo missionário; Educação relacionada com a cristianização da vida nacional; A preparação de missionários; A rede das missões; Missões e governos; Cooperação e promoção da unidade; A mensagem missionária em relação com as religiões não-cristãs. A partir desta temática, pode-se perceber como Edimburgo foi, de fato, uma reunião com intenções pragmáticas: unidade em busca de resultados. Denotou um espírito otimista dos missionários com a propagação do Evangelho pelo mundo: a missão ocidental é avaliada com sucesso e como um poder incontestado da Igreja. Duas das consequências fortes de Edimburgo foram criação da I NTERNATIONAL R EVIEW OF M ISSION [Revista Internacional de Missão], em 1912, e a inauguração do processo de criação do Conselho Missionário Internacional (EUA, 1921). É desta forma que Edimburgo 1910, a propósito da causa missionária, e dos acordos em torno da cooperação para se espalhar o Evangelho pela face da terra sem escandalizar os “missionados” com as divisões entre os

cristãos, em especial os protestantes, passa a ser compreendida como a gênese do movimento ecumênico contemporâneo. A decisão pela nãoparticipação de missionários atuantes na América Latina (entendido como continente já cristianizado) tem como conseqüência a articulação missionária latino-americana: o Congresso Missionário do Panamá (1916), marco do movimento ecumênico no continente.

para a Promoção da Amizade Internacional através das Igrejas e Vida e Ação, ambos gerados pelos movimentos internacionais cristãos pela paz, que intensificaram suas ações durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). É fato que a tradição ocidental predominantemente individualista, da pregação da separação igreja e mundo e da não preocupação com as “questões terrenas”, havia fortalecido a tendência de pensar a missão da igreja como a

pregação espiritualizada da mensagem cristã, com fins de conversão e adeAlém do movimento são de novos fiéis. Isto missionário, dois outros se refletiu nas atividades serão responsáveis pela das igrejas, cuja maioria concretização dos es- estava voltada para a sua forços por unidade do vida interna. No entanto, expresinício do século XX, e contribuíram para a con- sões teológicas como a solidação do movimento do Evangelho Social nos ecumênico tal como o EUA na passagem do século XIX para o séconhecemos hoje. Recordemos, pois, culo XX, influenciaram na transformaos movimentos Aliança Mundial Missão Hoje ção desse qua-

Caminho antes traçado

dro. Filho do liberalismo teológico, o Evangelho Social nasceu como uma resposta à crise urbana resultante das transformações econômicas nos EUA após a Guerra de Secessão. Teólogos como Walter Rauschenbusch, entre outros, buscavam elaborar uma reflexão teológica que respondesse à situação dos pobres e dos trabalhadores explorados nas grandes cidades estadunidenses. Surgem por intermédio dessa reflexão conceitos como “a implantação do reino de Deus na terra”, “a sociedade redimida” e “transformação da sociedade por meio da ação cristã”, conceitos baseados numa releitura dos evangelhos e do ministério de Jesus Cristo. As ações desses movimentos levaram, ao final da Primeira Guerra, à realização da Conferência Cristã Internacional sobre Vida e Trabalho (Estocolmo, 1925, 600 delegados, de 37 países), e motivaram as igrejas a atentarem para a necessidade de se buscar um cristianismo prático como testemunho de unidade para o mundo. Desenvolveu-se então o conceito que marcaria a trajetória do movimento ecumênico que é o da responsabilidade social cristã, ou, a responsabi-

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lidade cristã em realizar a vontade de Deus na sociedade. Outro movimento que vai trabalhar a dimensão do diálogo e da cooperação em outra direção, é o Movimento Fé e Ordem, que tem origens em 1910, a partir das articulações em Edimburgo, cujo momento marcante foi a realização da Conferência Mundial sobre Fé e Ordem, em 1927, na cidade suíça de Lausanne. Os princípios deste movimento baseavam-se no diálogo teológico com a finalidade de identificar acordos e desacordos em questões doutrinárias entre as diferentes famílias confessionais. Dali nasceu a Comissão Fé e Ordem, organizadora de novas conferências, promotora de diálogos bi e multilaterais (estes já em curso desde 1717). Uma forte consequência deste processo foram as influências teológicas mútuas tanto das famílias confessionais nas bases teológicas do movimento ecumênico quanto na formação de tendências na reflexão teológica no interior das famílias confessionais. Desde 1910, o movimento, depois, Comissão Fé e Ordem, dedica-se ao tratamento de temas controversos entre os cristãos: a compreensão e a prática

do batismo, da eucaristia e do ministério ordenado; a igreja e os conceitos de sua unidade; a intercomunhão; Escritura e tradição; o papel e a importância dos credos e confissões; a ordenação de mulheres; influência dos chamados fatores não-teológicos sobre os esforços para a unidade das igrejas. Fé e Ordem também trabalha temas de interesse comum ou fundamentais para a comunhão, tais

Lima (Peru), em 1982. Destaca-se ainda uma a produção nos estudos da eclesiologia: A natureza e a missão da Igreja – uma etapa no caminho para uma declaração comum.

Um processo que gera frutos Um dos frutos mais destacados deste processo é o Conselho Mundial de Igrejas, resultante da articulação do Movimento Vida e Ação e da Comis-

como: Culto e espiritua- são de Fé e Ordem com lidade; Esperança cristã o, que avaliando positivapara hoje; Interrelação mente a experiência ecuentre os diálogos bi e mul- mênica que vivenciavam, tilaterais; além de oferecer envolvendo as igrejas, assessoria às igrejas unidas formam um comitê, em ou em união. 1937, com sete membros O documento mais de cada segmento, para importante, resultante trabalhar pela criação de desses esforços, é BATIS- um Conselho Ecumênico MO, EUCARISTIA E MINIS- de Igrejas. Em 1961, ConTÉRIO, finalizado selho Missionário e aprovado em Missão Hoje Internacional que

até então participava em apoio mantendo sua autonomia, decide pela adesão ao CMI e torna-se a Comissão de Missão e Evangelização do organismo. O CMI completou 60 anos de existência em 2008 em meio a celebrações e discussões tensas quanto ao seu lugar num mundo de marcante pluralidade de experiências eclesiais que não está numericamente representada no organismo, em especial no que diz respeito aos grupos pentecostais. O próprio movimento ecumênico revela-se bastante plural, com uma diversidade extensa de grupos e organizações que expressam formas as mais distintas de cooperação e atuação conjunta, muitos deles não formalmente atrelados ao CMI, como ocorreu com movimentos do passado. Entretanto, os frutos não podem deixar de ser nominados. A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, desde l908, revela-se uma prática exemplar de segmento do desejo de Jesus revelado em João 17.21. Ações diaconais, herança de Vida e Ação, continuam a revelar que a unidade pode acontecer na prática concreta de promoção da vida, por meio do CMI e de muitas outras organizações e grupos.

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Diálogos bi e multilaterais continuam a acontecer entre as famílias confessionais com a produção de estudos e pronunciamentos comuns.

E a Igreja Católica Romana? Quando recordarmos a história destes 100 anos desde Edimburgo, é preciso registrar que boa parte dela não conta com a participação dos católicosromanos. O movimento ecumênico é idealizado e consolidado pelos grupos protestantes, com adesão dos cristãos ortodoxos, no período inicial. A Igreja Católica Romana se mantém distante destas iniciativas por décadas, quadro que é alterado somente nos anos 60, com o Concilio Vaticano II que gera a criação do Secretariado para a Promoção da Unidade dos Cristãos (1960), seguido da publicação do Decreto sobre Ecumenismo Unitatis Reintegratio (1965). Em 1989, o Secretariado é elevado à Categoria de Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos. Estas ações representam uma “virada de página” na atitude dos católicos-romanos em relação à unidade visível do corpo de Cristo, a começar pela

consideração da pluralidade deste corpo e pelo incentivo ao encontro e à ação conjunta. A partir daí a Igreja Católica passou a ser membro de vários conselhos e de igrejas e organizações ecumênicas em países e continentes. Não se tornou membro do CMI mas participa como observadora em Assembléias e reuniões importantes, tendo representação plena na Comissão de Fé e Ordem.

blicados como a Declaração Dominus Iesus, acaba por alimentar estas tensões. Segmentos católicos mais abertos ao ecumenismo, ainda aprendendo desta história, e buscando criar identidade própria nela, acabam também alimentando tensões quando defendem compreensões de ecumenismo que terminam por minimizar a base da unidade cristã, classificando-a como “microecumenismo”, desde que é

Esta relação de pouco cunhado o termo “macromais de quatro décadas ecumenismo” entre esses também não acontece sem segmentos para expressar tensões. Segmentos mais uma dimensão consideratradicionalistas do catoli- da mais ampla que inclui o cismo advogam fidelidade diálogo interreligioso. Terao princípio de “única mo que dificilmente entra igreja”, à classificação das no vocabulário dos grupos demais experiências ecle- protestantes e ortodoxos siais como “seitas”, e à herdeiros de Edimburgo compreensão de que a e seus desdobramentos unidade passa pelo Papa. E que enxergam o princídocumentos repio ecumênico centemente puMissão Hoje construído pela

história como um princípio que traz no seu sentido três dimensões: a unidade cristã, a promoção da vida e o diálogo interreligioso como testemunho da fidelidade a Cristo.

Daqui para a frente... Os 100 anos celebrados em 2010 são excelente oportunidade para aprender, de novo, do fato de que a missão foi uma causa comum que gerou iniciativas pró-unidade cristã, especialmente num tempo em que a concorrência entre grupos cristãos e os conflitos no campo religioso estão acirrados. Tempo de rever caminhos: um kairós. São também momento de afirmar a causa da unidade visível e que, apesar de tantas tensões, o movimento ecumênico é fato que não se restringe ao desejo de participação deste ou daquele grupo mas se abre cada vez mais às diferentes expressões que brotam da sensibilidade de cristãos àquele desejo um dia expresso em oração e que continua ecoando: “que eles sejam um...” M AGALI DO N ASCIMENTO C UNHA é jornalista metodista, professora da FATEO e membro do Comitê Central do Conselho Mundial de Igrejas representando a Igreja Metodista e as igrejas-membro da América Latina.

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Qual prática deve a Igreja exercitar: Evangelho + ismo ou Evangelho + ação? Nicanor Lopes

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fé cristã é uma fé em ação. As reflexões em torno da ação missionária da Igreja cristã gerou uma pequena confusão na compreensão desta fé em ação. Não é possível negar o problema conceitual entre os termos Evangelismo e Evangelização. Alguns missiólogos afirmam que a utilização do termo Evangelismo é desaconselhável. As razões para este tipo de compreensão é que, geralmente, o uso do sufixo “ismo” se disseminou para designar movimentos sociais, ideológicos, políticos, opinativos, religiosos e personativos, através dos nomes próprios representativos, ou de nomes locativos de origem, e se chegou ao fato concreto de que potencialmente há para cada nome próprio um derivado. Para os que defendem esta posição, o correto é utilizar o termo Evangelização que significa “ação de difundir o Evangelho; ato ou efeito de evangelizar” . Porém, como não há consenso nesta discussão e o termo evangelismo já se disseminou pela igreja Igreja Cristã. Por sinal te-

mos uma infinidade complementos, por exemplo, quem nunca ouviu falar de: Evangelismo pessoal, evangelismo criativo, evangelismo infantil, evangelismo explosivo, evangelismo de rua, evangelismo urbano e por último, temo ouvido falar de evangelismo por fogo [livro de Reinhard Bonnke]. Em outras

Evangelismo no contexto da missão O primeiro destaque na reflexão é que necessitamos entender a missão como algo mais abrangente que o Evangelismo. Se por um lado a tarefa do Evangelismo é construir fundamentos para a ação

palavras evangelismo se evangelizadora, por outro tornou, como se diz nos lado a missão tem um espaços eclesiásticos, “uma caráter mais global que o estratégia” para o cresci- Evangelismo. A missão mento das denominações não é uma estratégia hueclesiásticas. mana ou das igrejas para Portanto no contexto conquistar fiéis para as das reflexões desta revista denominações, ela é um pretendo oferecer alguns desejo amoroso de Deus. pontos de vista para o nosso E, a resposta humana crescimento quanto ao tema para este amor ficou reda Evangelização ou do gistrado na instrução de Evangelismo. Para Jesus aos seus isso vou transitar discípulos em Missão Hoje nos dois termos. João 13., 34-35:

“Novo mandamento vos dou, que vos ameis uns aos outros. Como eu vos amei amai-vos também uns aos outros. Nisso conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos outros.”. Por isso, evangelismo não pode ser praticado como estratégia para seduzir pessoas para projetos eclesiásticos. O evangelismo não deveria ser colocado no mesmo pé de igualdade com a missão, é necessário manter as devidas proporções, uma vez que é impossível dissociá-lo da missão mais ampla da Igreja. Porém, o evangelismo é tema essencial da missão. E, este conceito firmase com consistência, em especial para a América Latina, a partir do Congresso da Obra Cristã na América Latina (conhecido como Congresso do Panamá), em 1916. Este evento representa um marco missiológico para os protestantes da América Latina, uma vez que definiu a presença e as estratégias de ação para a expansão do protestantismo latino-americano. Pois, “a evangelização pro-

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testante anterior a esse acontecimento dependia em grande parte da visão de pequenas sociedades missionárias, em particular da iniciativa de indivíduos. Somente após 1916 procuraram consolidar esses esforços” (Arturo Piedra).

Outro evento significativo que relaciona Evangelismo no contexto da missão foi o Congresso Internacional de Evangelização, realizado em Lausanne, Suíça, em 1974. Dentro de suas teses principais estão: a Natureza da Evangelização; a Igreja e a Evangelização; Cooperação na Evangelização; Esforço

Conjugado de Igreja na Evangelização; Urgência na tarefa Evangelística e Evangelização e Cultura. Visto que o Evangelismo procura construir um conhecimento na ação evangelizadora da Igreja, e que muitas vezes esta construção é negligencia-

Evangelização como estilo de vida da comunidade cristã

Partindo do paradigma que a Evangelização consiste na tarefa de proclamar a boa notícia, cabe-nos refletir sobre a relação entre a Missão e a Evangelização. Por isso, pretende-se avançar com o conceito de que as ações missionárias são ações evangelizadoras. Refletir sobre quais são essas ações e a quem elas se destinam são tarefas da Igreja de Cristo. A Evangelização é uma tarefa intransferível. O povo de Deus que acolhe a mensagem de salvação num gesto de gratidão testemunha para o mundo os feitos da por reducionismo da de Deus e como parte experiência religiosa, onde integrante da identidade as comunidades de fé em cristã, tem no testemuseus contextos próprios nho seu estilo de vida. por razões culturais cons- Po r t a n t o, é n e c e s s á tituem-se numa comuni- rio que a Igreja Cristã, dade de iguais, o missió- na sua tarefa reflexiva logo David Bosch oferece possa oferecer “pistas” um referencial importan- para as ações evangete, a saber: “a pessoa que lizadoras, isto então nos remete a evangeliza é uma reflexão sobre testemunha, não Missão Hoje Evangelismo. um juiz”.

Evangelização e encarnação A encarnação, na teologia de missão, significa ponto de partida para toda a discussão missionária. O Evangelho de João, que não faz parte dos evangelhos sinóticos, revela na introdução de sua teologia a dimensão da encarnação: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus [...]. E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo 1. 1 e 14). A própria encarnação é evangelização, no contexto da literatura joanina é o amor de Deus que o torna humano e vem habitar com a humanidade, porém “o grande desafio do Cristianismo é a encarnação, diante da tentação permanente da ‘desencarnação’. A encarnação do Verbo não se reduz à natureza humana de Cristo, mas envolve uma realidade humana mais ampla e per manente” (Tadeu Grings). A evangelização na dinâmica da encarnação permite que as dimensões culturais, no processo evangelizador, sejam respeitadas.

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Por exemplo, as dimensões continentais do Brasil, revelam, em alguns casos, que as igrejas cristãs se articulam de forma desencarnada. Não é sem motivos que muitos historiadores, antropólogos entre outros, fazem críticas ácidas aos processos de evangelização de nosso continente quando milhares de culturas foram dizimadas. Este equívoco chamado aqui de ‘desencarnação’ foi praticado tanto pelo catolicismo romano no período do império como pelas missões protestantes no final do século XIX e início do século XX. Hoje procuramos uma evangelização sem rupturas com a cultura, uma evangelização encarnada pelos laços do amor, como revela João em seu evangelho.

Evangelização e inculturação Em especial, no mundo evangélico, ainda está presente o espírito de evangelização ou missionário na perspectiva da aventura. Muitos divulgam, promovem e buscam recursos para manter missionários em culturas diferentes do missionário. Há uma paixão por uma evan-

gelização em culturas não do Evangelho os separa e nativas do missionário. O impõe disputas? grande problema é como Indicações se realiza esta evangelização levando-se em conta Os paradigmas da o tema da inculturação. evangelização e do evanA exemplo do continente gelismo como prática mislatino-americano muitas outras culturas sofreram sionária da Igreja contemagressões no processo plam temas essenciais da evangelizador. No contexto desta reflexão, foi muito mais uma estratégia ideológica que uma ação evangelizadora. Esse equívoco é observado em dois grandes momentos: Se por um lado a ação evangelizadora dos católicos, no século XVI, foi motivada pelas estratégias de colonização do continente, por outro lado, a ação protestante, no final do século XIX e inicio do século XX, foi motivada pelo interesse estadunidense em dominar o “novo continente”. Pastoralmente eu tenho a vida cristã, tais como os suspeita que as disputas temas da cultura da encarreligiosas no Brasil refle- nação e do amor de Deus. tem esses dois momentos. Muitas vezes as estratégias E, a pergunta, ainda em missionárias não sensíveis tom pastoral, que faço é: aos paradigmas acima se quando teremos sensibili- utilizaram de ideologias dade cristã para uma ação dominantes para proclamissionária que contemple mar suas “boas novas”., Para aferir se esta miuma proposta de reconciliação? Pois, qual a razão nha afirmação faz sentido de uma estratégia evange- de vida em nossos tempos, reserve um tempo para a lística que em vez seguinte reflexão: de reconciliar os Missão Hoje o que as pessoas proclamadores

estão lendo, ouvindo e assistindo nas mídias religiosas de nossos dias? Esses areópagos virtuais proclamam um estilo de vida anunciado por Jesus como o “novo mandamento” ou se utilizam de estratégias de dominação ideológicas para fazer com

que pessoas mudem a sua “bandeira” denominacional? Peço a Deus em oração que nos ensine a viver o Evangelho como fruto da ação da Graça Divina em nosso meio. NICANOR LOPES é pastor metodista, coordenador do Curso de Teologia EAD e professor de Missão e Evangelização na FaTeo.

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Os desafios da Missão para o discipulado Uma abordagem a partir de Mateus 28.16-20 Paulo Roberto Garcia

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lguns textos bíblicos são conhecidos universalmente entre os cristãos das mais diversas Igrejas e Movimentos. Textos como o Salmo 23, a oração do Pai Nosso, e outros, são conhecidos e citados, inclusive, por pessoas de religiões nãocristãs. No cristianismo, o texto de Mateus 28.1920, conhecido como a

“grande comissão”, é um destes que todos citam e conhecem. Se por um lado, isso é positivo, tornando o texto bíblico conhecido, por outro lado, acaba determinando um sentido e um uso para o texto que não permitem novas abordagens. Deste modo, o tex-

to da grande comissão está sempre vinculado ao desafio missionário. É ligado às grandes missões e, em geral, sustenta os sermões e as publicações que desafiam os cristãos a deixar a cidade, o país e dirigirem-se a novas fronteiras para evangelizar. Será que a grande comissão pode ser vista somente neste ângulo? Que novas abordagens

caminho de exame do texto bíblico.

Dois desafios para a compreensão

Como o texto de Mateus 28.19-20 é citado normalmente isolado do restante do capítulo, acaba-se por não discutir a delimitação da perícope (nome técnico para seção ou parágrafo de texto sagrado). Embora muitos dividam o texto a partir do v. 18, onde principia a fala de Jesus, entendemos que a perícope tem início no v. 16. Esse versículo marca uma ruptura com a perícope anterior, mudando o espaço da ação (de Jerusalém para a Galiléia), os personagens (das autoridades da Judéia para os discípulos). Com isso, podemos perceber ela nos aponta? Esse é que a última perícope do o desafio deste artigo. evangelho de Mateus tem Abordar o texto de Ma- início no versículo 16. O teus na busca de novos que nos chama a atenção sentidos e desafios para nessa perícope, que é a o cotidiano da vida cris- da despedida de Jesus, é tã, tendo como chave que o cenário é um monhermenêutica a pergunta te na Galiléia. Em Mapelo discipulado. Para teus, a geografia aparece sempre com um isso, precisamos percorrer um Missão Hoje papel teológico

importante. As referências topográficas sempre desempenham uma função complementar importante na transmissão da mensagem. Nessa discussão sobre a topografia, ganha destaque a importância dos montes. O ministério de Jesus tem início com o Sermão do Monte (capítulos 5-7) que é proferido na Galiléia. Ao final do sermão as multidões ficaram maravilhadas com o ensino (didach) dele, pois ele ensinava com autoridade (exousia). Do mesmo modo, a última instrução aos discípulos acontece em um monte da Galiléia (“foram ... para o monte o qual ordenou”) e Jesus afirma ter autoridade (exousia) e, também, envia os discípulos para ensinar (ensinando – dida,skontej). Há uma relação direta de topografia e de temas. Porém, a preferência de Mateus pelos montes, tem uma razão teológica. Na tradição judaica, o monte é o lugar da manifestação de Deus. Grandes envios e grandes instruções divinas estão ligadas a esse espaço privilegiado.

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Mateus, localizando essas duas instruções de Jesus no monte, afirma para sua comunidade o caráter revelatório da instrução divina para os ouvintes, ou seja, essas instruções são fala de Jesus que revela a vontade de Deus para os discípulos. Com isso, estamos com uma perícope que se reveste de um significado especial. É a última instrução de Jesus, acontece em um espaço que é entendido pela tradição como o lugar onde Deus se revela (para instruir e desafiar seu povo), e tem sua base na autoridade de Jesus. Ou seja, é um texto de transmissão de autoridade (de Jesus para os discípulos) que acontece em um espaço da manifestação desafiadora de Deus. Com isso, percebemos que a introdução ao comissionamento dos discípulos vem marcada por signos de fé da comunidade. Na tradição veterotestamentária, ninguém sai de um encontro com Deus em um monte sem um desafio que muda radicalmente sua vida. O comissionamento dos discípulos irá transformar a vida deles. Isso é o que nos aponta os versículos 19 e 20.

A grande comissão – um problema de tradução Quando trabalhamos com o texto de Mateus 28.19-20, ele é chamado, muitas vezes, do “grande ide”, enfatizando o “ide” como uma ordenança missionária para os discípulos. O problema é que temos quatro verbos principais

Vejamos um pouco mais detalhadamente cada um desses verbos. Discipular: este verbo (maqhteu,sate) aparece em nossas Bíblias traduzido como “fazei discípulos” na frase “fazei discípulos de todas as nações” (maqhteu, s ate pa,nta ta. }eqnh). Essa é uma opção correta de tradução, mas esconde um pouco o processo

nesses versículos: o verbo ir (v. 19); o verbo discipular (v. 19); o verbo batizar (v. 19) e o verbo ensinar (v. 20). O único verbo que aparece no imperativo é o verbo discipular, os demais verbos aparecem todos no particípio grego. Deste modo, o verbo ir deve ser traduzido na dinâmica do verbo batizar e ensinar.

dinâmico e contínuo do discipular. Dá uma impressão estanque da ação missionária. A ação de fazer discípulos pode levar a uma interpretação equivocada do final de que o final da ação discipuladora se dá na profissão de fé daquele ou daquela que foi alvo da ação do discípulo. Por outro

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lado, quando traduzimos por discipular (discipulai todas as nações) isso coloca o caráter mais contínuo e permanente da ação, a qual tem outras dimensões que são expressas nos outros verbos desses versículos. Resumindo, podemos afirmar que o grande imperativo desta comissão é o de discipular – ato contínuo e processual. Ir, Batizar e Ensinar: Os demais três verbos principais desses versículos aparecem no particípio grego. Temos então as traduções possíveis como “indo” (poreuqe,ntej); “batizando” (baptizontej); “ensinando” (dida,skontej). O particípio grego pode ser traduzido em português na forma de nosso particípio ou como gerúndio (que é a forma que cabe nesses verbos). Uma característica do particípio grego é a ênfase ao habito, à repetição. O uso do particípio grego, portanto, apresenta o conceito da cotidianidade desses verbos. Deste modo o imperativo do discipular se dá na cotidianidade do indo, do batizando e do ensinando.

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Discipular em três dimensões Essas dimensões do cotidiano apresentam desafios que se complementam. A pergunta pode ser, por que esses três verbos? Podemos afirmar que esses verbos apontam dimensões distintas do cotidiano dos discípulos. Vejamos essas dimensões, abordando os verbos a partir do que aparece por último. Ensinando: Essa é uma dimensão facilmente percebida. A dimensão da didaquê, do ensino. No Sermão do Monte, em seu final, percebemos as multidões maravilhadas com o ensino de Jesus. O ensino é uma dimensão importante do discipulado, é a continuidade da própria ação de Jesus. O discipulado tem uma importante faceta didática. Batizando: Nesse ponto aparece a dimensão sacramental. O batismo, como marca do ingresso no movimento de Jesus, é marca do discipulado. Batizar é proporcionar o ingresso, o acolhimento daqueles que, sendo parte de todas as etnias, são alcançados na ação discipuladora dos/as discípulos/as de Jesus.

Indo: Finalmente, o verbo que geralmente é traduzido no imperativo. Deixamos esse verbo para o final uma vez que é o verbo que tem um número maior de pré-interpretações. Normalmente ele é usado para justificar a ação discipuladora como uma ruptura com um lugar e um tempo. Ide! acaba por significar saia de um lugar e vá para outro. Quando

paço da ação que dá sentido ao discipulado. Deste modo, embora se enfatize muito a ação sacramental – do batismo – e a ação didática – do ensino – a dinâmica do fazer discípulos se inscreve no cotidiano da realidade humana. Com isso, o imperativo fazer discípulo ganha uma abrangência universal – afinal o alvo são todas as etnias – e uma abrangência

traduzimos por indo, essa idéia estanque acaba por dar lugar a uma outra concepção. A ação discipuladora é uma constante na vida do povo cristão. O que se enfatiza, portanto, é a dimensão do cotidiano. O imperativo para discipular se concretiza na dimensão do cotidiano. No dia-a-dia encontra-se o es-

na vida do povo de Deus, isso por que todas as ações são discipuladoras. Não é só o ensino (que é importante), não são só os atos sacramentais (que são igualmente importantes) mas todas as atividades das comunidades de fé e do povo que compõe essas comunidades são atividades discipuladoras. Fi-

nalmente, o discipulado não tem como final do processo a profissão de fé. Ele continua sendo um desafio por toda a vida dos/as discípulos/as. Deste modo, fazer discípulos é uma ação integradora. Integra a comunidade em todas as suas dinâmicas do cotidiano. Integra os participantes da comunidade, fazendo com que as práticas comunitárias e as práticas do cotidiano ganham igual importância no ato de testemunhar a fé e proclamar o Cristo. Integra, finalmente, todos os povos, na medida em que cada um e cada uma das pessoas das mais diversas etnias são alvo da ação testemunhadora e proclamadora do Cristo, a partir da vida cotidiana das comunidades de fé e de seus participantes que são, portanto, desafiadas a fazerem discípulos, indo entre todas as pessoas, batizando e ensinando. Uma ação que se desenvolve por toda a vida cristã. Paulo Roberto Garcia é pastor metodista, professor de Bíblia (novo Testamento) e coordenador do Curso de Teologia (Presencial) da FATEO. Adaptado de texto publicado na revista VOZ MISSIONÁRIA.

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Missão e Diaconia Jane Menezes Blackburn

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á uns seis anos, uma Igreja Evangélica situada num bairro da periferia de Recife me convidou para ajudar a escrever um projeto de ação social. A idéia era a distribuição de uma sopa uma vez por semana para uma população muito pobre com a finalidade de “evangelização”. Sugeri que eles convidassem alguém da comunidade que receberia a sopa para participar do planejamento. Maria (aqui um codinome), uma catadora de lixo que precisava lutar com garra pela vida cada dia, chegou e as perguntas que essa mulher fez durante a reunião foram realmente evangelizadoras. Ela achou a idéia da sopa muito boa, mas levantou questões como: “por que vocês estão querendo dar essa sopa pra gente?”; “por que vocês querem que quem vai receber a sopa entre na Igreja?”; “como a gente vai achar que Deus gosta da gente se vocês dão a sopa e não muda nada? Vocês continuam ricos e nós no maior sufoco?”; “por que a gente ia querer assistir um culto depois, se nesse culto não tiver mais sopa?” E ela tentava entender o projeto e continuava a fazer co-

mentários de uma maneira muito simples que nunca vamos esquecer. A partir dessa experiência, da minha caminhada como diaconisa na Igreja Metodista – Região Missionária do Nordeste e claro, da palavra de Deus, gostaria de pensar algumas coisas sobre Missão e Diaconia.

A razão de ser da Igreja

para a vida. “... Jesus lhe perguntou: Simão, filho de João, tu me amas? .... E respondeu-lhe: Senhor, tu sabes todas as coisas, tu sabes que eu te amo. Jesus lhe disse: Apascenta as minhas ovelhas.” (João 21:17) A nossa fé se expressa num contexto de Igreja como organização humana e numa realidade onde esta Igreja está inserida.

A missão é a razão de ser da Igreja e diferentemente das outras instituições, a missão da Igreja não é dela mesma, mas de Deus. Pensar em missão é reconhecer o movimento de Deus entre nós e através de nós na sociedade. É interessante como chamamos cada área de ação da Igreja de ministérios. Somos uma Igreja de dons e ministérios e somos ministros/as da Vivemos numa sociedade boa notícia do Reino de onde a prática é animada Deus. Isso não pode ser por uma ideologia de isolauma oferta de acomoda- mento, de individualismo, ção, de paz espiritual ou de de consumo, de mercado, mobilidade social e econô- e dentro dessa realidade mica, mas de valorização as Igrejas precisam de forda vida, das pessoas e um talecimento institucional desafio para que conhe- para sobreviver e se volcendo e amando a Deus as tam muito para si mesmas. pessoas cuidem umas das Nós, cristãos/ãs somos inseridos/as aí outras. Precisa ser boa notícia Missão Hoje para vivermos o

modelo de Jesus onde nunca houve separação da fé e da ação em favor de quem sofre. Não podemos dizer que a comunidade de fé onde congregamos seja um lugar fácil, mas sabemos que é o melhor lugar pra se viver. É um espaço onde quando as pessoas erram não é porque escolheram o erro como um valor. Mesmo assim,

animar a atitude de servir dentro da Igreja é hoje um desafio porque é um enfrentamento da ideologia de consumo tão presente na cultura religiosa atual. Fora deste espaço os problemas parecem tão grandes e impossíveis de resolver e é um grande desafio animar a atitude de servir fora da Igreja. Como servir uma juven-

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tude envolvida em drogas e roubos, sem esperança para o futuro? Como servir mulheres que sofrem violência? As crianças que carecem de vínculos afetivos seguros e de limites? Como garantir a implementação das políticas públicas especialmente nas áreas de saúde e educação? Sabendo que o serviço/ diaconia muda a vida de quem serve e de quem é alcançado pelo serviço, sentimo-nos impotentes e temos a tentação de voltarmos para o espaço mais seguro da Igreja. A tendência é nos limitarmos a pequenas ações assistencialistas como entrega de cestas básicas, reconstrução de casas etc.

Para a nossa consideração urgente Sem negar a importância destas ações, nós precisamos considerar: 1. Servir é a identidade da pessoa que segue a Cristo. Servir é uma opção de vida, uma atitude. Servir em cada coisa que fazemos ou participamos. Como servir é muito confundido com “servil”, e inclui a idéia de inferioridade, muitas vezes temos dificuldade de nos convertermos e assumirmos a identidade de servidor/a,

mas precisamos saber que servir à nova aliança. (2 é isso que queremos ser: Co 3. 5- 6) 4. O serviço precisa servos/as. E Deus me escolheu para ser servo da ser efetivo. Quando deseIgreja e me deu uma mis- jamos muito alguma coisa, são que devo cumprir em nós focalizamos o objetifavor de vocês. Essa mis- vo, os meios para alcançásão é anunciar, de modo lo e se alguma coisa não dá completo, a mensagem certo, procuramos criar as dele. (Cl 1.25). condições para conseguir. 2. Servir é a identidade Se o nosso coração estiver de Cristo. É muito bom ler no projeto missionário, lá a Bíblia e ir percebendo, na estarão nossos recursos, forma como Cristo se re- nosso tempo e o acomlacionava com as pessoas, panhamento para que o um modelo possível. Claro resultado seja “sobremoque a realidade de hoje é do excelente” para a glória diferente, mas o amor que de Deus. “... procurai, com permeia os relacionamen- zelo, os melhores dons. tos na prática de Jesus é a E eu passo a mostrarnossa referência. Porque vos ainda um caminho até o Filho do Homem sobremodo excelente”. (1 não veio para ser servido, Co 12.31); “Se é o dom mas para servir e dar a de servir, então devemos sua vida para salvar muita servir”. ( Rm 12.7). 5. O serviço é relaciogente .(Mc 10.45) 3. Servir é a identi- nal e comunitário. Precisadade da Igreja, como no mos cuidar uns dos outros lema: “Igreja Metodista, porque o serviço não é Comunidade Missionária uma atividade de uma pesa serviço do povo”. Ser- soa. Deus não é apenas o vir a Deus só se reflete meu Deus, mas um Deus no serviço às pessoas e que ama a todos e o Seu serviço não supõe troca Reino supõe uma vida cocomo questionou Maria munitária com base no seu no projeto da sopa. Ser- amor. “Portanto, acolheiviço é serviço, de graça vos uns aos outros”. (Rm como a graça de Deus. 15.7); “Perdoando-vos uns Em nós não há nada que aos outros”. (Ef 4.32); nos permita afirmar que Sujeitando-vos uns aos ousomos capazes de fazer tros no temor de Cristo”. esse trabalho, pois a nossa (Ef 5.21) Quando Maria percapacidade vem de Deus. guntava por que É ele quem nos torna capazes de Missão Hoje q u e r i a m q u e

quem recebesse a sopa entrasse na Igreja, tentava compreender o que estava por trás do projeto: se estavam interessadas no bem de quem receberia a sopa ou em fortalecer a sua Igreja/denominação? Compreender se era uma troca ou se era um serviço por amor. A conversa nos lembrou que: • Se há inferiorização de um grupo, não comunicamos a ele o amor de Deus; • Se tivermos a compreensão de que somos iguais diante de Deus e juntos/ as debaixo da Sua graça nós podemos enfrentar os desafios desta sociedade, poderemos exercer a diaconia; • Os problemas são complexos, mas podemos desenvolver uma ação efetiva para intervir; • O lugar do serviço é onde as pessoas estão sofrendo e Deus está lá antes de nós; • É Deus quem nos sustenta na missão. JANE MENEZES BLACKBURN é diaconisa metodista, agente da organização Diaconia, em Recife/PE.

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Ecumenismo e missão: conceitos indissociáveis Jacques Matthey

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ou um teólogo suíço, pastor da Igreja Protestante de Genebra e trabalhando com o CONSELHO MUNDIAL DE IGREJAS (CMI) na área de Missão e Evangelização. Tenho alguma experiência de ecumenismo, já que tenho estado envolvido em uma série de conferências mundiais de missão do CMI desde 1973. Também trabalhei por 18 anos no departamento de missão das Igrejas Protestantes Suíças, onde experimentei as alegrias e as dificuldades da parceria em missão entre o Norte e o Sul. Para mim, a missão é fiel quando também é um testemunho da unidade que Deus tornou possível em Cristo.

Missão: três definições O que eu quero dizer quando falo de “missão”? O termo tem muitos significados, alguns dos quais tentarei explicar brevemente. PRIMEIRO: missão refere-se à própria identidade de Deus como relacional, trinitário; um Deus que oferece total comunhão e relações reconciliadas

a todos os seres humanos que as aceitam. O mundo no qual vivemos é permeado pelas dinâmicas da própria missão de Deus que visa a “reunir todas as coisas em Cristo” (Ef 1.9-10) no final dos tempos. O horizonte da missio Dei, então, é a total unidade e comunhão com Deus e entre os seres humanos, apesar da realidade do mal e do julgamento de Deus. SEGUNDO: há um segundo significado do termo, também muito valorizado em círculos ecumênicos. Como parte da missão mais ampla de Deus, queremos falar da “missão da igreja”, querendo significar a sua apostolicidade, o seu envio. Missão, então, é a dinâmica que permeia tudo o que as igrejas vivem, pensam e fazem: pregar, ensinar, curar, celebrar, lutar por justiça, por paz e pelo respeito à criação de Deus. TERCEIRO: agora, quero me concentrar num terceiro, mais limitado, uso do termo “missão”. Quero me referir a três tarefas específicas da igreja, que são parte do seu chamado geral, mas são freqüente-

mente negligenciados ou praticadas de uma forma que parece infiel para mim.

Missão como cura e reconciliação Cada igreja é chamada em Cristo para se tornar uma comunidade de cura e reconciliação. No movimento ecumênico, enfatizamos agora o evangelho como uma oferta de reconciliação, de cura de relacionamentos, com Deus, entre nós e com a criação. O pecado, como líderes ortodoxos e ecumênicos reafirmam, tem a ver com relacionamentos destruídos. A missão local da igreja significa tornar possível uma vida comunitária moldada pelo poder curador do Espírito e a ação reconciliadora de Cristo. Tais espaços seguros de espiritualidade permitem que pessoas encontrem significado na vida, abrigo do mal e da miséria, nova força para testemunhar e se envolver na família, no trabalho, na sociedade e na política. Manter e aumentar a atração irradiadora de igrejas locais já foi o eixo das preocupações dos

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apóstolos em suas cartas. Uma igreja, porém, compromete a credibilidade do evangelho quando pratica sua missão local em conflito com ou em oposição a outras igrejas que crêem no mesmo Deus Promotor da Paz. Como podemos pretender ser reconciliados em fé por Cristo, se nós não somos capazes de trabalhar seriamente pela reconciliação entre igrejas, denominações e movimentos de missão conflitantes? Nossa desunião coloca o corpo de Cristo em risco.

Evangelismo vs. proselitismo O evangelho não pode ser apenas vivido, mas também partilhado. Eu, então, enfatizo a importância do “evangelismo”, entendido como uma expressão intencional da mensagem de Cristo, convidando todos a considerá-lo como uma oferta de mudança e modelagem de vida. Evangelismo é convite, não obrigação. Oferta, não imposição. Graça, não julgamento. Na missão da igreja, há uma forma de proclamação que é mais crítica, mais aguda. É a “profecia”, a denúncia do

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pecado pessoal, do coletivo ou do estrutural. Evangelismo, enquanto carrega um apelo por transformação, principalmente anuncia “boas-novas”, isto é, a proximidade a Deus de graça e cuidado que derrama uma luz nova sobre a minha e a sua vida e permite mudança. Muitas igrejas grandes tradicionais envolvidas no movimento ecumênico perderam o gosto e o amor pela partilha do evangelho com aqueles que não o conhecem e são hesitantes sobre evangelismo, em princípio. Penso que elas não são fiéis ao seu chamado. Se você crê que Cristo faz diferença, por que não partilhar sua mensagem? Num outro lado do spectrum, há um problema diferente: aquele em que a paixão missionária e a militância freqüentemente levam à agressividade e ao proselitismo. Por “proselitismo” quero referir-me a dois diferentes, mas relacionados, anti-testemunhos: um é visar conscientemente a trazer cristãos de uma igreja para a minha própria. Como se não houvesse pessoas suficientes no mundo que nunca tivessem ouvido de Cristo, muitos cha-

mados “evangelistas” A Missão dirigem suas mensagens Mundial a cristãos! Isto cria tenTerceiro, penso que são e hostilidade, e até inimizade entre igrejas. cada igreja tem que fazer parte no que chamaPara qual resultado? O segundo significado mos “missão mundial”. de proselitismo é o uso A grande comissão (Mt de métodos contrários à 28) é dirigida a “todos os forma como o próprio discípulos”. É, então, a Cristo viveu e agiu. Ele se tarefa comum de todos recusou a usar poder para os cristãos e igrejas. A reforçar o reconhecimen- missão mundial tem a to de sua messianidade, ver com a consciência de como a história da tenta- que o evangelho de Jesus ção nos fala claramente. Cristo, o caminho de vida Algumas tentações mis- e dos valores do Reino de sionárias são verdadeira- Deus, seja partilhado a tantos lugares geográficos, mente satânicas! Então, eu apelo por espaços de vida e a tantas um evangelismo que seja pessoas quanto possível. uma partilha autêntica da Os principais atores são graça de Deus, da vida em as igrejas que estão mais abundância oferecida em próximas dos lugares e das Cristo por meio do Espí- pessoas em questão. Igrerito, e que não pode des- jas em outras partes do truir a comunidade nem mundo devem cooperar aumentar o ódio. Como com essas igrejas locais, o CMI disse em 1982: por exemplo, intercambiando recursos e missão na forma Missão Hoje testemunhos inde Cristo.

terculturais. Eu tenho experimentado por mais de 15 anos como isso pode ser feito. É necessário ter paciência, sensibilidade intercultural e muita oração e diálogo para evitar o uso equivocado do poder. O mundo se tornou um lugar de competição quanto à caridade e à religião, um mercado onde você cresce se você alarga a sua identidade e sabe como mostrar que você é melhor do que outros. Esta não é a lógica do evangelho, que nos chama “em humildade, a considerar os outros como melhores que nós mesmos” (Fl 2.3). A forma de cooperarmos com outras igrejas mostra o Deus em quem acreditamos. Forçar a porta de outros lugares, onde igrejas pacientemente lutaram por anos para fazer a diferença, pode destruir o trabalho de missão por décadas, apesar de história aparentemente bem-sucedidas. Para quê? Busca de unidade visível como parte do evangelho integral Para quê, na verdade? Minha compreensão é a seguinte: a Missão pode ser bem-sucedida em termos de números quando feita agressivamente, seguindo os métodos “do mundo”, baseada nas estratégias de marketing,

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atingindo povos específicos, oferecendo vantagens materiais e por aí em diante. Se tais métodos ganham convertidos, mas arruínam relacionamentos com outras igrejas, eu digo que eles trabalham contra a Missão de Deus. Porque eles não testemunham “o evangelho integral”. Permita-me tentar explicar isto em três pontos.

Unidade como resultado da Unidade e da Diversidade de Deus Na sua oração final, Jesus chama os discípulos a serem um, não pela unidade simplesmente, mas para que “eles fossem um assim como nós somos um” e para que o mundo pudesse crer “que tu me enviaste” (Jo 17). A unidade visível entre cristãos e entre igrejas cristãs aponta para a realidade de Deus como um em três pessoas, Pai, Filho e Espírito Santo. Igrejas separadas de facto apontam para um Deus dividido, e dão a imagem de um evangelho parcial e deteriorado. A Missão não apenas chama à fé, mas à fé e vida em comunhão com Deus e outros cristãos. A comunhão entre igrejas é um sinal e conseqüência

da comunhão em e com Deus. A desunião não permite que os humanos se apropriem mais do mistério da própria unidade e diversidade de Deus.

A cruz com fim das divisões

afirma: faça discípulos de “todas as nações”. Isto implica também igrejas compostas por pessoas de todas as nações e origens, que superaram divisões humanas.

O amor é a essência da Quando leio os hinos unidade

das cartas aos Colossenses e aos Efésios, tomo consciência de que a morte e a ressurreição de Jesus não apenas traz perdão para os meus pecados pessoais – sim, traz, graças a Deus! Por meio de sua morte, Cristo quebrou os muros que dividem a humanidade em grupos de conflito com desrespeito e ódio entre si. Na cruz, as divisões humanas perdem o seu caráter absoluto. Que testemunho à unificadora morte na cruz nós damos como cristãos divididos, quando nossa própria identidade denominacional é mais importante para nós do que o amor por nossos irmãos e irmãs em fé?! O evangelho integral da morte e ressurreição de Jesus implica mais do que conversão pessoal e crença individual. Claro, Cristo vence o meu (e o seu) pecado. Mas ele também torna possível que pessoas de todas as origens vivam juntas em comunidade, como Mateus 28

O Cristo ressurreto envia do Espírito Santo de Deus para manifestar a presença curadora de Deus e dá poder às igrejas para testemunhar. Como sabemos, uma variedade de dons de graça, os “carismas”, são dados aos crentes em e depois de Pentecostes. Muitas igrejas precisam recapturar essa ampla variedade e riqueza de dons de Deus, que inclui cura divina e exorcismo, falar em línguas, profecia, discernimento etc. Divisões entre igrejas têm resultado da negligência da variedade de carismas. Mas, novamente, vamos distinguir o que realmente faz diferença, em termos do evangelho. A marca final da autenticidade é perdão e amor. Este é o dom último do Espírito que jamais acaba (I Co 13). O vínculo da unidade é o amor como o Novo Testamento afirma. Somos até chamados a amar

os nossos inimigos. Então por que não começar com a nossa família cristã? A Missão que não prega amor não leva ao perdão e à unidade não testemunha o “evangelho integral” mas uma versão da mensagem salvadora de Cristo parcial e distorcida.

A título de conclusão Para mim, missão em unidade tem prioridade sobre o sucesso. A fidelidade para a qual nós fomos chamados pode nem sempre levar ao crescimento numérico – olhemos para o próprio ministério de Jesus. Mas pode, sim. De qualquer forma, esta não é a questão mais importante. O ponto que quero ressaltar é que a real paixão pela missão ligada à real paixão pela unidade será mais fiel ao evangelho integral do Reino do que ecumenismo sem missão ou missão sem unidade. JACQUES MATTHEY é pastor da Igreja Protestante de Genebra, missiólogo, diretor do Programa Unidade, Missão, Evangelização e Espiritualidade do Conselho Mundial de Igrejas. Como integrante da equipe do CMI liderou a Conferência Missionária Mundial de Atenas (2005). Este texto é a palestra que Matthey proferiu no Congresso Ecumênico Latino-Americano de Estudantes de Teologia (São Leopoldo/RS, 10 a 25 de fevereiro de 2006). Tradução do inglês por Magali do Nascimento Cunha.

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Crer com os dedos (Sermão baseado no texto de João 20.19-31) Luiz Carlos Ramos

Introdução Pela leitura dos primeiros versículos do capítulo 20 de João, podemos perceber os conflitos que transparecem na narrativa, dando-nos conta de que, desde os inícios, o cristianismo teve que aprender a lidar com diferenças e preferências: uns atendiam à liderança de Pedro, outros, à do pequeno João, mas outros se espelhavam em Maria Madalena. A leitura dos versículos finais do mesmo capítulo nos permite ampliar essa rede de intrigas e disputas. É que agora entra em cena Tomé. José Saramago, no seu livro, “O evangelho segundo Jesus Cristo”, respaldado por pesquisas e consultas aos textos apócrifos atribuídos a Tomé, insere em sua ficção literária, uma lenda a respeito de Jesus e Tomé: Certa feita, Jesus e os discípulos estariam na praia e o assunto a respeito do qual conversavam era a vocação messiânica de Jesus. Tomé tentava dissuadi-lo dessa missão impossível. Então, Jesus começou a esculpir pássaros com a areia da praia. Depois, jogou uma rede de pesca sobre os pássaros de areia e, voltando-se para Tomé, disse-lhe: “Tomé, liberte

os passarinhos.” Tomé, tentou, meio sem jeito, poupar Jesus também desse constrangimento. Mas Jesus insistiu: “Tomé, liberte os passarinhos.” Como Tomé não tivesse alternativa, num gesto rápido, tirou a rede. No mesmo instante, os passarinhos saíram voando. Então, escreve Saramago, Tomé caiu aos pés de Jesus, e confessou: “Senhor meu e Deus meu!” Ao que Jesus lhe respondeu: “Por causa do milagre você crê? Pois eu lhe digo que maior milagre seria você não precisar de milagres para crer!” (Reconstrução não literal)

O primeiro encontro do ressuscitado com o grupo de discípulos, mas sem Tomé (vv. 19-25); e o segundo encontro, oito dias depois, desta vez estando Tomé com os demais (26-29). Essa estrutura sugere a tensão entre os que crêem para compreender, de um lado, e os que querem compreender para crer, de outro — foi Santo Agostinho (354-430), quem primeiro pôs a questão nesses termos: Intellige

Ao longo da história, ut credas, crede ut intelliTomé sempre foi consi- ga — “Entende e crerás, derado uma personalidade crê e entenderás” (Sercontrovertida. Depreciado mão 43). Questão essa por uns, como sendo cé- tratada reiteradamente tico e incrédulo e, pelas pelos principais teólogos mesmas razões, respeitado em diferentes épocas da história da Igreja. e honrado por outros. Analisemos com atenA perícope se estrutução essas duas ra em duas partes Sermão classes de pesmuito evidentes:

soas. Comecemos com os seguidores de João…

Os que crêem para compreender Vale a pena voltarmos uns poucos versículos. Lembram-se que, na madrugada daquele domingo, todos correram para o sepulcro onde deveria estar o corpo de Jesus? Vocês se lembram também de um detalhe, pequeno, mas de modo algum insignificante a respeito do menino João que, justamente por ser o mais jovem, chegou primeiro, mas que não entrara imediatamente no sepulcro? (cf. Jo 20.4-8). João é o primeiro a crer. Conquanto o texto afirme que ele “viu e creu”, parece muito mais descrever antes o que ele não viu, pois o túmulo estava vazio, lá havia somente a mortalha e o sudário. Poderíamos, portando, reescrever o verso oito assim: “Então, entrou também o outro discípulo, que chegara primeiro ao sepulcro, e [não] viu [Jesus], e creu.” (v. 8) Retomando: À noitinha do mesmo domingo, os discípulos estavam reunidos no cenáculo, com as portas bem trancadas, por-

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que estavam com medo de uma iminente perseguição. Então… o inesperado, o impensável, acontece: “Veio Jesus, pôs-se no meio” (v. 19). Em pé, na postura que desde então se tornou simbólica do ressuscitado, braços estendidos, mãos espalmadas, Jesus lhes oferece a paz, e sem que ninguém lhe peça, mostra-lhes as marcas em suas mãos e a ferida no peito (v. 20). É surpreendente que, de acordo com a narrativa, o que teria chamado a atenção dos discípulos, não foram as cicatrizes. Pois o texto diz: “Alegraram-se, portanto, os discípulos ao verem o Senhor” (no mesmo v. 20). Os discípulos, e certamente João entre eles, tiveram mais prazer em ver o seu amigo e Senhor vivo do que em contemplar as feias chagas da cruz. Ao longo da história, muitos exercitaram dessa mesma forma a sua fé. Atribui-se a Tertuliano (155-222) a máxima: “Credo quia absurdum”, que pode ser traduzida por “Creio, mesmo que absurdo”, ou ainda melhor: “Creio, justamente porque é absurdo”. Na verdade, a fé é necessária justamente quando não há evidências. Havendo

provas, não é preciso crer, que reviram seu amigo basta constatar. e reencontraram o seu Quem se contenta Senhor. com provas, ou sinais, Mas não nos precié como aquele que olha pitemos, e não sejamos para o dedo que aponta injustos ou demasiadaas estrelas, e deixa de ver mente severos com Tomé. as estrelas, que são muito Procuremos conhecer mais bonitas que o dedo. melhor, agora, os que lhe Uma religião que não seguem o exemplo… necessite, que não cobre, Os que querem e que não dependa de evidencias, de sinais, ou compreender de milagres, é constituída para crer de fiéis mais felizes. Essa Vejamos: oito dias fé é duradoura, ao passo que aquela que depende depois, isto é, no segunde sinais estará sempre do domingo depois da em busca de mais, cada Páscoa (como o que covez mais, sinais. Superavit memoramos hoje), no de milagres, não impli- mesmo cenáculo, se dá um ca necessariamente em novo encontro… Desta abundância de fé. É o vez Tomé está com os evangelista João mesmo outros. Jesus repete sua quem o diz: “E, embora visita e, ao que parece, só tivesse feito tantos sinais pra satisfazer o capricho na sua presença, não cre- de Tomé, que antes havia, ram nele” (Jo 12.37). Além com bravatas, afirmado: do que, prodígios podem “Se eu não vir nas suas ser feitos por qualquer mãos o sinal dos cravos, e um, inclusive por inimigos ali não puser o dedo, e não de Cristo, isto está dito puser a mão no seu lado, por São Mateus: “porque de modo algum acreditasurgirão falsos cristos e rei” (v. 25). Jesus toma a iniciativa falsos profetas operando grandes sinais e prodígios e se dirige a Tomé. Dá-lhe para enganar, se possível, a esperada ocasião para os próprios eleitos” (Mt ver com os dedos: “Põe aqui o dedo e vê” (v. 27). 24.24). Os discípulos alegra- E então lhe pede para ram-se — literalmente, que não seja incrédulo, ficaram “felizes” — não mas que seja crente. Note porque viram provas e que não lhe pede que seja crédulo, pois ser obtiveram evicrente é muito dências, mas porSermão

mais do que ser crédulo. Jesus respeita a dúvida de Tomé, que é a de quem quer compreender para crer. O contraponto é que a credulidade também pode ser uma forma de descrença, uma vez que coloca no mesmo nível dos grandes sinais divinos outros fenômenos menores, ingenua-

mente entendidos (ou, não tão ingenuamente assim, desentendidos). O poeta inglês Alfred Tennyson certa vez escreveu: “Há mais fé em uma dúvida honesta, / Creiamme, do que em metade dos credos”.

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E Tomé tinha essa virtude: “Negava-se completamente a dizer que cria quando isso não era verdade. Jamais diria que entendia o que cria quando não entendia, [ou] quando não cria. […] Jamais apaziguaria as dúvidas simulando que elas não existem. Jamais repetiria um credo, como se fosse um papagaio, sem entender o que dizia. Tinha que estar certo, e de que tinha razão” (1974, p. 301-302).

Hoje, os que buscam milagres não precisam se esforçar muito pra os encontrar. Em cada esquina, dezenas de taumaturgos e prestidigitadores travestidos de pastores, bispos, apóstolos, patriarcas, papas e sabe-se lá o que mais hão de inventar, em cada esquina, repito, estão a performar fenômenos mal-explicados, numa banalização sem precedentes das coisas de Deus. Tomé, no fundo, era uma criança que sempre está a perguntar: O que é isso? Como assim? Mas Por quê? As crianças exercitam o mesmo tipo de dúvida que, ao final, pode conduzir à certeza mais límpida. E é justamente da boca de Tomé que sai a mais bela fórmula ou afirmação de fé de todo o Novo Testamento: “Senhor meu e Deus Meu!” É a primeira grande síntese teológica das duas natu-

rezas de Cristo: a humana (Senhor meu), e a divina (e Deus meu). Esse maravilhoso relato evangélico seria muito importante para os cristãos de segunda geração, posto que estes não herdaram somente uma fé hipotética, mas uma fé que havia sido testada e havia sobrevivido ao ceticismo de gente inteligente como Tomé. Também é fundamental para nós, hoje, pois oscilamos entre o ceticismo estéril e a credulidade ingênua, que nos cercam e nos angustiam. E o exemplo de Tomé nos ajuda a exercitarmos uma fé inteligente, como é inteligente o Criador do Universo, a formularmos um credo digno da inteligência do nosso Senhor Jesus Cristo, e a praticarmos uma fé igualmente consistente com a inteligência do Espírito soprado por Cristo sobre seus discípulos, naquele ato recriador que inaugurou um novo gênesis na história da salvação do universo.

a Índia por um rei para construir um palácio. Recebeu uma grande soma em dinheiro para realizar a obra. Mas diz-se que Tomé distribuiu todo o dinheiro entre os pobres. De tempos em tempos o rei mandava chamá-lo para saber como ia o andamento da construção. “Vai bem”, dizia ele. Até que o rei desconfiou e foi tirar a cisma. Quando descobriu o que tinha acontecido com seu dinheiro, a princípio ficou furioso, e perguntou: “Onde está o meu palácio”. Tomé teria respondido: “Agora o senhor não pode vê-lo, mas o verá um dia na glória”. O rei acabou abraçando o Evangelho. Daí em diante, Tomé se dedicaria a pastorear aquele rebanho em terras longínquas. Até o dia em que, enquanto viajava pelo interior da Índia pregando o evangelho, seria traspassado por uma lança, tal como a que um dia, na cruz, traspassara o corpo do seu Senhor e Deus, corpo que, num certo domingo de primavera, Conclusão ele mesmo havia tocado Reza a lenda que Tomé com seus próprios dedos. foi o apóstolo que levou Mostrou, finalmente, quão o Evangelho para a Ín- sincero tinha sido quando dia. Dizem que, como disse, um dia: “Vamos Jesus, era carpinteiro de nós também para morrermos com ele” (Jo profissão. Teria 11.16). sido levado para Sermão

Quem de nós poderá dizer que alguém assim como Tomé tem uma fé débil ou frágil? Nós, hoje, podemos nos considerar bem-aventurados e felizes porque não vimos, contudo, cremos, mas, pela graça de Deus, temos pra nós o testemunho de alguém que teve a coragem e a dignidade de apresentar suas dúvidas honestas diante do Senhor da Vida, para que, com ele, pudéssemos também nós, com confiança, sem a necessidade de milagres, afirmar diante do ressuscitado: “Senhor meu, e Deus Meu!” Graças a esse Salvador, divino-e-humano, que nos visita em nossas dúvidas, nós podemos hoje compreender para crer e crer para compreender. LUIZ CALOS RAMOS é pastor metodista e professor de Homilética na FATEO onde coordena a Coordenação de Liturgia e Arte. Sermão pregado pela primeira vez na FATEO, no culto do dia 7 de abril de 2010, a propósito do Segundo Domingo de Páscoa. Referência bibliográfica: BARCLAY, W. O Novo Testamento Comentado por William Barclay: Juan II, v. 6 (caps. Viii AL xxi). Buenos Aires: Editorial La Aurora.

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Ações pela Paz na Palestina e em Israel Suzel Tunes

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Semana Mundial de Oração: 29 de maio a 4 de junho de 2009

Ação conjunta por uma paz justa convocada pelo Conselho Mundial de Igrejas

uando as pala- álogo para a Paz: ações vras “Palestina” para superar o conflito em e “Israel” estão Palestina e Israel”. juntas em uma mesma Michel Nseir atua notícia, é muito provável como executivo de proque uma terceira palavra grama do FÓRUM ECUMÊas acompanhe: conflito. NICO P ALESTINA -I SRAEL , Existem, porém, novas uma plataforma criada palavras florescendo no pelo CMI em 2007 para Oriente Médio, a partir coordenar as iniciativas do diálogo promovido das igrejas em favor da por lideranças religiosas paz. Nascido no Líbano e de todo o mundo, sobre formado em teologia, ele as quais, lamentavelmente, trabalha na sede do Conpouco ou nada sabemos. selho Mundial de Igrejas, Foi para trazer infor- em Genebra. Em sua pamações e proporcionar lestra, ele falou da situação a reflexão sobre o tema das igrejas cristãs que que a FACULDADE DE TE- existem na região desde OLOGIA DA UNIVERSIDADE que surgiram os primeiros METODISTA DE SÃO PAULO seguidores de Jesus. São trouxe à sua tradicional igrejas que, espalhadas atividade Diálogo Comu- por Israel, Líbano, Síria, nitário, promovida pelo Jordânia, Egito e Iraque Programa de Extensão, aprenderam a conviver dois representantes dos num contexto multirreliesforços de paz entre Is- gioso e multicultural. rael e Palestina: Michel Hoje, os cristãos paNseir, membro da IGREJA lestinos são marginaliORTODOXA ANTIOQUINA, zados sob o rótulo de e Manuel Quintero Pérez, “terroristas” que a mídia membro da Igreja Presbi- internacional ajudou a teriana Reformada, ambos criar, especialmente após representantes do CONSE- o 11 de Setembro. “Vivem LHO MUNDIAL DE IGREJAS, uma situação de desespeCMI. Eles estiveram na Fa- ro, pois todas as tentativas culdade de Teologia no dia de negociação falharam 23 de março de 2010 para até agora. No entanto, momentos de diálogo com eles ainda pronunciam a comunidade acadêmica uma palavra de fé, amor e convidados/as e esperança, em Oração sob o tema: “Dium documento

chamado Kairós Palestina”, diz Michel. Neste documento, eles falam da dura vida sob a ocupação israelense: Nosotros, un grupo de palestinos cristianos, después de haber rezado, reflexionado e intercambiado opiniones delante de Dios sobre la prueba que vivimos sobre nuestra tierra, bajo ocupación israelí, hacemos oír hoy nuestro grito, un grito de esperanza en ausencia de toda esperanza, unido a nuestro ruego y nuestra fe en Dios que vela, en su Divina Providencia, sobre todos los habitantes de esta tierra. Movidos por el misterio del amor de Dios por todos y de aquel de su presencia divina en la historia de los pueblos y, más particularmente, en esta nuestra tierra, queremos decir hoy nuestra palabra como cristianos y como palestinos, una palabra de fe, de esperanza y de amor. Manuel Quintero é coordenador internacional do PROGRAMA ECUMÊNICO DE A COMPANHAMENTO À PALESTINA E ISRAEL (EAPPI, da sigla em inglês), uma iniciativa do CMI que tem como objetivo apoiar os esforços locais e internacionais para por fim à ocupação israelense, com base nas resoluções da ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Cubano, formado

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em Comunicação Social, Quintero foi diretor de comunicações do Conselho Latinoamericano de Igrejas (CLAI). Ele explicou que o programa E APPI recebe voluntários do mundo todo. Eles monitoram e informam sobre a violação de direitos humanos e as leis humanitárias internacionais. Uma das tarefas destes voluntários é acompanhar os palestinos que passam pelos postos de controle todas as vezes em que, para ir de uma cidade palestina a outra, são obrigados a ingressar em terra israelense (as áreas palestinas vistas no mapa, parecem pequenas ilhas em meio ao solo israelense). Os voluntários chegam até mesmo a acompanhar crianças palestinas que vão a escola e sentem medo de passar pelos postos de controle, onde costumam ser hostilizadas pelos colonos israelenses. “Não há mocinhos nem bandidos. Todos sofrem”, diz Quintero, que faz questão de lembrar que o Conselho Mundial de Igrejas não está tomando partido de nenhum grupo, mas buscando a paz. É também o que afir-

ma o Código de Conduta do PROGRAMA ECUMÊNICO DE A COMPANHAMENTO À

manitário internacional. Estamos fielmente com os pobres, os oprimidos e os

Como parte deste processo de promoção da paz com justiça, o Conselho Mundial de Igrejas convida as igrejas a unirem-se à semana de sensibillização e ação a favor de uma paz justa na Palestina e em Israel e pela cura das feridas pelas quais sofrem os dois povos. A semana que unirá cristãos em oração será a de 29 de maio a 4 de junho. Para saber mais sobre a Semana de Oração e acessar materiais que podem subsidiar este momento veja http://www.oikoumene.org/es/events-sections/semanamundial-para-la-paz.html. PALESTINA E ISRAEL, o EAP- marginalizados. Queremos PI: “Não tomamos partido servir a todas as partes, de neste conflito e não dis- maneira justa e imparcial, criminamos ninguém, po- em palavras e ações”. rém, não somos neutros “Nossas metas baquanto aos princípios dos seiam-se na convicção de direitos humanos que a ocupação Oração e do direito hué prejudicial não

apenas para os palestinos, mas também para os israelenses, e derivam de nossa preocupação pelo sofrimento que experimentam ambos os povos. O programa demonstra nossa solidariedade com as pessoas de ambos os lados deste conflito que se esforçam de maneira não violenta para por fim à ocupação e alcançar uma paz justa”, diz o site do EAPPI. A partir do diálogo do E APPI com igrejas cristãs da América Latina, o EAPPI abrirá vagas para voluntários latinoamericanos. Para participar do programa, os voluntários terão que passar por um treinamento que inclui conhecimentos históricos e geográficos da região, direito internacional e técnicas de “não violência”. Para ler o documento Kairós Palestina, acesse: http://www.metodista. br/fateo/noticias/fateo/ noticias/kairos_palestina. doc SUZEL TUNES é jornalista metodista e atua na Assessoria de Comunicação da FATEO. É também editora do JORNAL EXPOSITOR CRISTÃO, da Igreja Metodista.

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Cuidar do planeta – uma prática cristã A propósito do Dia Mundial do Meio-Ambiente (5 de junho) Natanael Garcia Marques, pastor metodista da 6ª Região Eclesiástica

Alegrai-vos, pois, e regozijaivos para sempre com aquilo que estou para criar. (Isaias 65.18)

A

vida em sociedade exige o cumprimento de certas regras, que são os deveres. Afinal, do mesmo modo que têm direitos, todas as pessoas têm também obrigações. Respeitar as outras pessoas, suas escolhas e opiniões é uma delas.. Jogar lixo nos lugares apropriados, preservar a natureza também são deveres de todos nós. No Antigo Testamento a justiça (sedaqad) e o direito (michipat) não andam sozinhos; com eles caminha: a fidelidade, a fé, a confiança, a bondade, a graça, a honradez, a correção, a paz, a vida plena, o estatuto, a instrução e a integridade. O povo de Deus no Antigo Testamento estava visivelmente preocupado com a presença da justiça no dia-a-dia. Para eles e elas a implementação da

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ordem do mundo acontecia através da sedaqad (justiça), michipat (direito), hesed (bondade), emunah (fidelidade), shalom (paz, vida plena), aplicados em cada âmbito da sociedade. A preocupação com a justiça foi comum aos historiadores, sábios, legisladores, profetas e o povo simples que experimentavam a fé, seja no culto, seja nas crises do dia-a-dia. O que vimos acima foram exemplos de como é possível trabalhar a partir da Bíblia o tema atual dos Direitos Humanos, da prática da justiça, do desejo de vida digna e abundante. Existem muitas possibilidade quando partimos deste eixo, porque esse é tema central na Bíblia, entre elas a consciência universal sobre a importância do cuidado com o meio ambiente. Nunca se proclamaram tão alto esses cuidados e ao mesmo tempo nunca foram tão sistematicamente violados como nos nossos tempos. A luta para conservá-las firmemente na consciência dos indivíduos e dos povos passa obrigatoriamente pelo processo educativo. A fé metodista desperta nas pessoas a inconfor-

midade com as situações degenerativas da vida, seja por meio da destruição do meio ambiente, da miséria, da exploração do trabalhor/a, da desintegração de valores como a solidariedade e a justiça e de tantas outras situações aviltantes à vida. A responsabilidade pelas outras pessoas, pela sociedade, pela natureza, implica na organização de um mundo com vida saudável. A identidade desta organização se constrói prioritariamente com propósito público. Ou seja, não haverá sobrevivência da sociedade humana sem uma ética, sem uma experiência de coletividade, voltada para o bem estar de todas as pessoas e do planeta. Temos que ter um cuidado todo especial com nosso planeta, pois só o temos para viver e morar. Portanto, cada ser humano precisa descobrir-se como parte do ecossistema e desenvolver uma consciência coletiva que pesa sobre o nosso belo planeta e para cuidar dele precisamos passar por uma alfabetização ecológica e rever nossos hábitos de consumo, ao mesmo tempo desenvolver uma ética do cuidado.

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