M A I S
V A R I E D A D E S
Dupla de Campo Grande concorre prêmio no Domingão do Faustão
Fim de caso Hebe leva suas mágoas e manias para novo programa
Thiago e Donizeti concorrem a etapa final do quadro “Garagem”, no Duelo de Verão. PÁG. 5
na Rede TV! . PÁG. 2
Mais saúde com homeopatia Longe dos efeitos colaterais da alopatia ela vem se consagrando como uma alternativa segura e eficaz. PÁG. 8
caderno B
Segunda-feira, 4 de abril de 2011
Inclui: Livros
Educação integral O novo método educativo visa assistir aos estudantes de maneira totalizante, rompendo com visões tradicionais de educação THIAGO ANDRADE
Novos tempos exigem novas maneiras de educar. As discussões acerca de novas metodologias pedagógicas têm provocado transformações em meio ao sistema educacional brasileiro e chamado a atenção à necessidade da educação integral. Elas surgem frente aos altos índices de repetência, abandono da escola e analfabetismo brasileiros, que estão entre os maiores da América Latina. Tanto que a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) apontou, em relatório divulgado em 2010, que a qualidade da educação no Brasil ainda é baixa. Propondo maneiras de educar que vão além do aumento de horas dentro da sala de aula, pesquisadores e profissionais ligados à área se reuniram em São Paulo, entre os dias 29 e 30, para discutir o assunto no II Seminário Internacional de Educação Integral. Como lembra o professor César Muñoz, da Universidad Ramón Llull, de Barcelona, que ministrou a conferência de abertura, a educação integral visa assistir aos estudantes de maneira totalizante, rompendo com visões tradicionais de educação, que colocam o aluno como elemento mínimo da estrutura educacional. “Educar integralmente significa ver aquele que estuda como um ser completo e oferecer ferramentas para seu desenvolvimento total. Precisamos, mesmo, de uma transformação nas nomenclaturas que usamos. Aluno, por exemplo, é uma palavra que precisa desaparecer, pois significa ‘ausência de luz’, por si só colocando o estudante em posição negativa”, critica. Por meio de ações que levam a educação para fora da sala de aula, transformando o entorno escolar, a família e a casa em potencializadores da aprendizagem, Cesar acredita que é possível retomar o humanismo no ensino. Ele também alerta para as dificuldades de se discutir educação integral em um ambiente “adultocêntrico”, que não dá voz às crianças e aos adolescentes. “Os jovens precisam ser olhados com respeito se quisermos perceber novas maneiras de educar. Eles são o centro do processo, não elementos descartáveis. Precisamos rever nossa cultura dominante”, aconselha. Aos poucos, mudanças podem ser percebidas no ambiente escolar, que adere às novas propostas e a programas como o Mais Educação, do Ministério da Educação (MEC). O próprio Plano Nacional de Educação 2011-2020, prevê o ensino em tempo integral como meta para todo o Brasil.
Capital mantém duas escolas com educação em tempo integral. As escolas municipais Ana Lúcia de Oliveira Batista, no Bairro Paulo Coelho Machado, e Iracema Maria Vicente, no Rita Vieira, são exemplos de como é possível criar outras maneiras de educar. Segundo Maria Cecilia Amendola da Motta, secretária municipal de educação, ambas escolas partem da ideia de que as crianças precisam descobrir por si próprias conceitos utilizados em sala de aula. “Transformamos o ensino em investigação. Problematiza-se o mundo para aprender”, descreve a secretária. Em ambas as escolas, as crianças entram pela manhã e saem ao final da tarde. Em vez de passar o dia inteiro na sala de aula, atividades lúdicas e extraclasse são desenvolvidas. “A ideia é formar por completo. Levar a criança a refletir sobre suas atividades, relacionandoas aos conteúdos aprendidos em sala”, pontua. Por meio dessa extensão do aprendizado, os alunos percebem os conteúdos de outras maneiras, o que facilita a educação. “Não se trata de estender a aula durante todo o
“Não se trata de estender a aula durante todo o dia. Mas, envolver o maior número de atividades na educação”, afirma
Problematizando a aprendizagem A Prefeitura Municipal da
dia. Mas, envolver o maior número de atividades na educação”, afirma. Contudo, essas duas escolas são exceção na Capital, segundo o professor Antônio Osório, doutor em Educação pela PUC/SP. “A briga pela educação integral no Brasil é antiga. Os modelos criados são ótimos, no entanto, a operacionalização é um problema. Ainda não encontramos maneiras de torná-la efetiva”, acredita. Para o professor a burocracia que existe na transformação da escola tradicional para a escola integral é uma dificuldade que precisa ser resolvida. “Para que as crianças e adolescentes se tornem peçaschaves do processo educacional, não adianta criar uma estrutura excludente que coloca todas as decisões nas mãos de professores ou funcionários públicos e políticos”, lembra. Questões logísticas também dificultariam a implantação da escola em tempo integral de maneira efetiva. “Uma das maiores brigas hoje é a diminuição da carga de trabalho dos professores. Com tempo integral teriam de ser contratados mais profissionais. Isso é uma possibilidade para o Estado?”, questiona.
Somente duas escolas do município de Campo Grande oferecem atividades educativas com ações complementares e atendimento integral
O apoio da família é fundamental Suely Siqueira é mãe de dois filhos. Brenda, de 10 anos, e Breno, de 6. Ambos estudam na Escola Municipal Iracema Maria Vicente. Segundo a mãe, formada em pedagogia, o trabalho pedagógico desenvolvido na escola foi o que lhe chamou a atenção. “Não era o fato de que a criança passaria o dia inteiro na escola que me fez tentar uma vaga, mas as atividades que complementam essa educação”, afirma. Mas, Suely pondera: não são apenas as horas a mais na escola que complementam a aprendizagem. “A família tem papel fundamental nessa relação entre escola e educação integral. A todo momento a criança está aprendendo e a casa é uma extensão desse ambiente”, aponta. Segundo Suely, após as aulas, ela costuma se sentar com os filhos e checar se estão tendo dificuldades, conversar sobre o que está sendo desenvolvido na escola e ajudar nas tarefas. “Por ser contínuo, o processo precisa dos pais. Tem que haver comunicação entre a escola e os pais, pois ambos são
A pedagoga Suely Siqueira mãe de Brenda e Breno enumera as vantagens do ensino em tempo integral elementos fundamentais da aprendizagem”, acredita. Como lembra Maria de Salete Silva, coordenadora do Programa de Educação do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), a educação integral não
pode ser uma ação isolada. “Ela articula diversas áreas do conhecimento. A família precisa mostrar às crianças que o aprendizado continua mesmo depois que a criança deixa o estabelecimento de ensino. É uma maneira
interessante de educar”, descreve. Embora apenas 11 mil escolas públicas no Brasil sejam de tempo integral, Unicef aponta que este número precisa crescer, de maneira que se democratize a educação escolas. (TA)