a (re)inserção de edifícios simbóblicos na dimensão urbana: complexo cultural e recreativo para a cidade de jahu (sp)
Thiago Conti
Trabalho Final de Graduação em Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP Faculdade de Arquitetura, Artes, Comunicação e Design (FAAC)
a (re)inserção de edifícios simbólicos na dimensão urbana: complexo cultural e recreativo para a cidade de jahu (sp)
Thiago Victor Conti
Orientadora: Profª Drª Silvana Aparecida Alves Coorientador: Profº Drº Paulo Roberto Masseran
Bauru, 2022
“O centro é a única parte da cidade que pertence a todos. Não importa onde você more: o centro também é seu.”
Jeff Speck
agradecimentos
Primeiramente à minha família, devo tudo a vocês. Em especial aos meus pais, Sergio e Zilda, e ao meu irmão Matheus. Obrigado por sempre estarem presentes, por todo o esforço, apoio e incentivo, não somente durante a minha formação como arquiteto, mas em todas as etapas e momentos de minha vida.
À minha orientadora, professora Silvana, por toda oportunidade de aprendizado, por toda a confiança e por ter me acompanhado neste trabalho e tantos outros durante a minha graduação. Foi um prazer imenso! A todos os professores pelos quais tive o privilégio de conviver e aprender tanto durante essa jornada.
A todos os amigos que fiz durante esse período e que o tornaram tão especial e inesquecível. Aos amigos mais do que queridos, Camila T., Carol, Daniela, Enrico, Isabela I. Isabela R., e João Pedro. Juntos somos invencíveis! Obrigado Camila M., Marcos e Pedro por todos os momentos compartilhados! Vocês todos se tornaram minha família em Bauru!
E por fim, à minha tão querida UNESP, universidade pública pelo qual tive a honra e prazer de estudar, crescer e viver.
resumo
O município de Jahu, localizado no interior do estado de São Paulo, possui grande relevância histórica e cultural devido ao seu vasto repertório arquitetônico, urbanístico e paisagístico que transparecem a arquitetura além do tempo, remetendo aos mais variados períodos da história. Devido ao esvaziamento e abandono de alguns desses espaços urbanos e edificações históricas, associados à escassez de equipamentos de cultura na cidade, propõe-se, portanto, a reinserção desses locais a partir da requalificação da arquitetura, do urbanismo e do paisagismo da região central do município. Deste modo, este estudo apresenta diretrizes - embasadas pelo levantamento historiográfico e da situação atual do local - e uma proposta projetual de um complexo de cultura e recreação, que objetiva a reintegração e requalificação do centro urbano da cidade.
Palavras-chaves: Espaços urbanos; Patrimônio cultural; Caminhabilidade.
sumário introdução 13
objetivo 14 metodologia 15 referencial teórico 17 morfologia urbana 18 percepção ambiental 20 caminhabilidade 23 epaços livres 25 patrimônio cultural 27
referências projetuais 31 SESC Pompéia / Lina Bo Bardi 32 Museu MAR / Bernardes Arquitetura 34 Divisão de Ciências Fundamentais do ITA / METRO Arquitetos 36 Biblioteca Santa Cruz / Andrade Morettin Arquitetos 37
o município de jahu 39 história da cidade 40 a construção e estrutura urbana de jahu 42 arquitetura, urbanismo e paisagismo em jahu 47 equipamentos de cultura em jahu 50
área de intervenção 53 antigo armazém do café 58 praça tancredo neves 60 praça oswaldo galvão de frança 61 rodoviária de jahu 62 ruas major prado e edgard ferraz 63
proposta projetual 65 diretrizes urbanísticas 67 readequação do desenho urbano 70 complexo cultural e recreativo da cidade de jahu 74 praça tancredo neves 92 museu da memória jauense 98 praça da rodoviária 108 centro de cultura e artes 114
considerações finais 147 referências bibliográficas 148 lista de figuras 150
introdução
A cidade de Jahu compreende grande importância na dimensão arquitetônica, urbanística e paisagística devido as suas obras que revelam a materialização da história e da cultura das mais distintas épocas e tempos. Embora seja considerado um município de pequeno porte, possui um acervo de mais de 400 bens patrimoniais tombados que representam diversos períodos na história da arquitetura, com destaque aos antigos casarões ecléticos dos barões do café, a Igreja Matriz de conjuntura neogótica e a rodoviária de Vilanova Artigas.
O progresso e avanço econômico de Jahu remete à época da cultura cafeeira, momento da história conhecido por impulsionar melhorias urbanas nas cidades brasileiras, como as reformas sanitaristas que ocorriam nas cidades do Rio de Janeiro e de Paris. Essas intervenções compõem, hoje, grande parte do patrimônio material da cidade: edifícios que expressam o poder da aristocracia rural da época e que simbolizavam o progresso da comunidade. Esse período também foi marcado pela expansão das ferrovias e indústrias no país, que produziram um abundante patrimônio histórico e cultural, atualmente denominado como patrimônio industrial. Em relação á essa área de estudo, Kühl destaca:
As definições [de patrimônio industrial] englobam também as unidades de produção de energia, a sistematização dos meios de transporte e todo o complexo de elementos relacionados à fábrica, e não apenas o local de produção em si. Isso se dá pelo fato de esses dados serem considerados essenciais para a compreensão do processo de industrialização em sua inteireza, a que almejam os estudos dessa temática. Ademais, o interesse volta-se também aos produtos do processo de industrialização, o que, no que concerne às edificações, implica que construções pré fabricadas sejam também consideradas patrimônio da industrialização, a exemplo de mercados, igrejas, teatros, pavilhões, caixas-d’água e viadutos. (KÜHL, 2010).
O edifício industrial conhecido como Armazém do Café, um dos mais emblemáticos símbolos do apogeu da cultura cafeeira na cidade de Jahu, atualmente se encontra degradado e abandonado, mesmo sendo tombado pelo conselho de patrimônio do município. Por estar localizado no centro urbano da cidade, em meio a outros patrimônios, o prédio apresenta grande potencial em se tornar um elemento de requalificação e reintegração da área central, se tornando um núcleo cultural municipal, suprindo a carência de equipamentos de cultura da cidade.
Essa reintegração urbana também se daria a partir do eixo verde presente no centro da cidade, que tem seu ponto de partida na praça Oswaldo Galvão de França (praça da rodoviária) e se encerra às margens do Rio Jahu. A conexão desses pontos seria feita através da requalificação na mobilidade urbana da região central, a partir dos conceitos de caminhabilidade, tornando a rua mais atraente e oferecendo maior conforto e segurança aos pedestres e ciclistas.
Dessa forma, a partir desse estudo e dos levantamentos históricos e bibliográficos, promove-se a discussão em relação à má conservação e apropriação de elementos que compõem a dimensão arquitetônica, urbanística e paisagística e suas conexões com o entorno e a memória coletiva da população da cidade. Por fim, com diretrizes e uma proposta de novos usos, este trabalho visa reintegrar o centro urbano da cidade de Jahu em suas diversas escalas e abordagens.
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objetivo
Este trabalho tem por objetivo levantar dados e informações bibliográficas, historiográficas e físicas das áreas que compõem o centro urbano da cidade de Jahu, localizada no interior do estado de São Paulo. A partir deste levantamento, procurou-se fundamentar e relacionar conceitos que serviram de base para a segunda etapa do estudo que apresenta uma proposta projetual.
A proposta visa um projeto de requalificação urbanística, arquitetônica e paisagística do centro de Jaú, a partir de um programa de novos usos para alguns prédios dessa área, com ênfase na requalificação arquitetônica do edifício tombado pelo município “Armazém do Café” e o projeto de uma nova edificação destinada a ser um centro cultura e artes, localizado na praça Oswaldo Galvão de França, adjacente à rodoviária da cidade. Também são propostas diretrizes para a reformulação do desenho urbano da área central da cidade.
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metodologia
Para a realização deste trabalho foram utilizadas metodologias de pesquisa que possibilitam a compreensão e interpretação do espaço urbano do município de Jahu ao longo de suas épocas. Para tal fim, os métodos utilizados foram a Pesquisa Bibliográfica, a Pesquisa Documental e o Estudo de Caso.
Segundo Gil, a pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado, “constituído principalmente de livros e artigos científicos. Embora em quase todos os estudos seja exigido algum tipo de trabalho desta natureza, há pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliográfica.” (GIL, 2002, p.50). Em relação a Pesquisa Bibliográfica, o autor também destaca:
A principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente. Esta vantagem se torna particularmente importante quando o problema de pesquisa requer dados muito dispersos pelo espaço. Por exemplo, seria impossível a um pesquisador percorrer todo o território brasileiro em busca de dados sobre a população ou renda per capita; todavia, se tem à sua disposição uma bibliografia adequada, não terá maiores obstáculos para contar com as informações requeridas. A pesquisa bibliográfica também é indispensável nos estudos históricos. Em muitas situações, não há outra maneira de conhecer os fatos passados senão com base em dados secundários. (GIL, 2002, p.50).
Associado à Pesquisa Bibliográfica, o método da Pesquisa Documental “vale-se de materiais que não receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa.” (GIL, 2002, p.51). Para Gil, a pesquisa documental assemelha-se muito à pesquisa bibliográfica. A única diferença entre ambas está na natureza das fontes.
O desenvolvimento da pesquisa documental segue os mesmos passos da pesquisa bibliográfica. Apenas há que se considerar que o primeiro passo consiste na exploração das fontes documentais, que são em grande número. Existem, de um lado, os documentos de primeira mão, que não receberam qualquer tratamento analítico, tais como: documentos oficiais, reportagens de jornal, cartas, contratos, diários, filmes, fotografias, gravações etc. De outro lado, existem os documentos de segunda mão, que de alguma forma já foram analisados, tais como: relatórios de pesquisa, relatórios de empresas, tabelas estatísticas etc. (GIL, 2002, p.51).
Por fim, a fim de contribuir para a proposta de projeto, o Estudo de Caso também será um dos métodos utilizados. “O estudo de caso é caracterizado pelo estudo profundo e exaustivo de um ou de poucos objetos, de maneira a permitir o seu conhecimento amplo e detalhado” (GIL, 2002, p.57). Segundo Gil, o Estudo de Caso contribui para a pesquisa em diversos propósitos, permitindo explorar situações da vida real cujos limites não estão claramente definidos; “descrever a situação do contexto em que está sendo feita determinada investigação; e explicar as variáveis causais de determinado fenômeno em situações muito complexas que não possibilitam a utilização de levantamentos e experimentos.” (GIL, 2002, p.58)
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02
referencial teórico
Para o desenvolvimento deste trabalho, as referências teóricas utilizadas abarcam os conceitos de morfologia urbana, percepção ambiental, caminhabilidade, espaços livres e patrimônio cultural, de modo que, associados, contribuem para a proposta projetual do objeto de estudo.
3.1 Morfologia Urbana
Os estudos que abordam a estrutura formal dos espaços urbanos foram ampliados a partir dos anos 60 com as contribuições de Kevin Lynch e Gordon Cullen. Os autores buscaram estudar os aspectos visuais e formais das cidades e suas relações com seus usuários e observadores.
Para Cullen, o conceito de paisagem urbana corresponde ao modo como o emaranhado de edifícios, ruas e espaços que estabelecem o ambiente urbano se tornam organizados visualmente, obtendo um grande poder de atração visual. (CULLEN, 1961). Segundo o autor, a cidade se forma a partir de “uma aglomeração de pessoas, que, dessa forma, permite a criação de equipamentos coletivos, sendo essa uma geradora de um excedente de bem-estar e de facilidades” (CULLEN, 1961, p. 9).
Para investigar a formação da paisagem urbana, Cullen sugere a análise de três aspectos fundamentais: ótica, local e conteúdo. O primeiro deles, a ótica se refere a visão serial, uma sequência de percepções da visão a partir do deslocamento do observador no espaço urbano. A paisagem urbana é captada a partir dessa experimentação do percurso na cidade. “Embora o transeunte possa atravessar a cidade a passo uniforme, a paisagem urbana surge na maioria das vezes como uma sucessão de surpresas ou revelações súbitas. É o que se entende por ‘visão serial” (CULLEN, 1961, p. 11).
O local se refere às reações do observador diante de sua posição no espaço. Este aspecto está relacionado com as sensações do indivíduo e seu senso de localização em espaços abertos e espaços fechados. “À beira de um precipício de 150 metros tem-se uma percepção de localização bem definida, enquanto no fundo de uma caverna se experimenta certamente uma sensação de clausura” (CULLEN, 1961, p. 11).
Por fim, o conteúdo se relaciona com a própria constituição da cidade. São qualidades da cidade, como sua cor, sua textura, seu estilo, sua escala, sua personalidade e todos os elementos que a individualizam. Para Cullen, a maioria das cidades é de fundação antiga, e “apresenta em sua morfologia provas dos diferentes períodos de construção, patentes nos diferentes estilos arquitetônicos e nas irregularidades do traçado é natural que evidenciem uma amálgama de materiais, estilos e escalas.” (CULLEN, 1961, p. 29).
Já segundo Lynch, em sua obra “A Imagem da Cidade’’, o autor sugere outros três conceitos para a análise e compreensão da paisagem urbana: legibilidade, imageabilidade e estrutura e identidade. A Legibilidade pode ser compreendida como a “facilidade com a qual as partes podem ser reconhecidas e organizadas numa estrutura coerente” (LYNCH, 1960, p.13). O autor ainda acrescenta:
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referencial teórico
Um ambiente característico e legível não oferece apenas segurança, mas também reforça a profundidade e a intensidade potenciais da experiência humana. Embora a vida esteja longe de ser impossível no caos visual da cidade moderna, a mesma ação cotidiana poderia assumir um novo significado se fosse praticada num cenário de maior clareza. Potencialmente, a cidade é em si o símbolo poderoso de uma sociedade complexa. Se bem organizada em termos visuais, ela também pode ter um forte significado expressivo. (LYNCH, 1960, p. 05)
O conceito da Imageabilidade está relacionado com o de clareza, é a forma como os elementos da cidade são facilmente reconhecíveis e memorizados através das qualidades físicas, como considera Lynch:
Uma vez que colocamos o ênfase no meio ambiente físico como uma variável independente, este estudo procurará qualidades físicas que estão relacionadas com os atributos da identidade e estrutura da imagem mental. Isto leva a definição daquilo que podemos chamar imageabilidade: aquela qualidade de um objeto físico que lhe dá uma grande probabilidade de evocar uma imagem forte num observador. É essa forma, cor, disposição que facilita a produção de imagens mentais vivamente identificadas, poderosamente estruturadas e altamente úteis no meio ambiente. (LYNCH, 1960, p.20)
A Estrutura e Identidade está relacionada com a diferenciação e o reconhecimento do objeto enquanto entidade separável e individual. A imagem da cidade deve estar inserida na relação espacial ou paradigmática do objeto com o observador, proporcionando um significado, prático ou emocional. Um objeto ou lugar que apresenta uma boa imagem é também aquele compreendido como único pelo usuário, se diferenciando facilmente de outros por características próprias e únicas. (LYNCH, 1960).
Através dos conceitos apresentados, Lynch também estabelece elementos morfológicos que fazem parte da construção da imagem da paisagem urbana, definidos como caminhos, nós, marcos, limites e bairros.
Os caminhos ou percursos “são canais ao longo dos quais o observador costumeiramente, ocasionalmente, ou potencialmente se move. Podem ser ruas, calçadas, linhas de trânsito, canais, estradas-de- ferro” (LYNCH, 1960, p. 47). É ao longo dos caminhos e dos percursos que os outros elementos se localizam e se relacionam, observamos e percebemos a cidade à medida que nos deslocamos a partir deles. Os caminhos podem adquirir maior qualidade quando apresentam continuidade, concentração de usos, arborização e quando são visíveis de outras partes da cidade.
Os nós são definidos como pontos estratégicos na cidade, junções, cruzamentos, convergências de vias, concentração de usos, núcleos. São locais onde o pedestre pode entrar, e que são importantes focos para onde vai e de onde se vem. Podem ser esquinas, praças, estações de ônibus etc.
Os marcos ou referências são elementos pontuais em que o observador não entra e que possuem uma forma clara e de fácil localização, servindo de orientação. Podem ser representados por elementos de diversas escalas, como torres, domos, edifícios e esculturas. A importância de um marco é acentuada quando pode colaborar com decisão e clareza do usuário quanto ao trajeto a ser percorrido (LYNCH, 1960). Uma característica importante dos marcos é ser um ponto memorável no contexto, que pode ser visto de muitos lugares e estabelece um contraste com as unidades próximas.
Os limites, como diz o autor, são elementos lineares constituídos pelas bordas de duas regiões distintas, que configuram quebras lineares na continuidade. Os limites podem ser considerados
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barreiras, como rios, estradas, viadutos, ou elementos de ligação, como praças lineares, ruas de pedestres. Podem ter qualidades direcionais, assim como os caminhos. Os limites também podem exercer um efeito de segregação nas cidades, atuando como barreiras ao invés de elementos de ligação, separando excessivamente as partes da cidade prejudicando a visão de um todo (LYNCH, 1960).
Por último, se tem os bairros, que são definidos como áreas razoavelmente grandes da cidade, e por sua extensão, o observador a identifica como sendo morador de dentro da cidade, são reconhecíveis por possuírem características comuns que os identificam (LYNCH, 1960).
3.2 Percepção Ambiental
A Percepção Ambiental pode ser definida como a forma do homem de perceber e se relacionar com o espaço onde está localizado. Pode ser considerada um campo de estudo interdisciplinar entre áreas como a psicologia, geografia, sociologia, filosofia e arquitetura, uma vez que abrange o comportamento humano em diferentes ambientes.
Segundo Tuan (1980) a superfície da terra é extremamente variada, mas são mais variadas as maneiras como as pessoas percebem e avaliam essa superfície. Duas pessoas não vêem a mesma realidade. Nem dois grupos sociais fazem exatamente a mesma avaliação do meio ambiente. Ainda em relação a percepção, o autor define que “Dos cinco sentidos tradicionais, o homem depende mais conscientemente da visão do que dos demais sentidos para progredir no mundo. Ele é predominantemente um animal visual. Um mundo mais amplo se lhe abre e muito mais informação, que é espacialmente detalhada e específica, chega até ele através dos olhos, do que através dos sistemas sensoriais da audição, olfato, paladar e tato.” (TUAN, 1980; p. 07).
Para Vicente Del Rio (1996) “Entendemos a percepção ambiental como um processo mental de interação do indivíduo com o meio ambiente que se dá através de mecanismos perceptivos propriamente ditos e, principalmente, cognitivos.” (DEL RIO, 1996, p.3). O autor destaca os mecanismos perceptivos como os captados pelos cinco sentidos, e os cognitivos incluem motivações, humores, necessidades, conhecimentos prévios, valores, julgamentos e expectativas. (DEL RIO, p. 03, 1996).
Em “Percepção Ambiental e Comportamento”, Okamoto (1996) discorre também sobre a percepção do espaço arquitetônico. Para o autor, a forma com que nos relacionamos com o ambiente ocorre por meio de receptores e estímulos sensoriais, não somente através da visão, mas de todos os sentidos:
Além do espaço sequencial e contínuo, o espaço é texturado, proporcionado, trabalhado para conter todos os estímulos que tocam os nossos sentidos, possibilitando a leitura do espaço simbólico, cujo significado orienta nossas atividades e dá sentido à nossa vivência social. [...] A criação do espaço arquitetônico é a criação do espaço vivencial, tanto para o indivíduo quanto para o meio social, onde está em permanente deslocamento de uma atividade para outra. Para criá-lo utilizam-se os sentidos perceptivos, o sistema de visão, de audição, do tato, do sistema cinestésico (OKAMOTO, 1996, p.112)
Lynch (1997) em “A Imagem da Cidade”, relaciona os aspectos visuais da cidade com a percepção dos habitantes e, apresenta o conceito de Legibilidade, que pode ser compreendido como a “facilidade com a qual as partes podem ser reconhecidas e organizadas numa estrutura coerente” (LYNCH, 1997,
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p.13). Outro conceito apresentado pelo autor a ser considerado na análise da percepção ambiental é o da Imaginabilidade:
Uma vez que colocamos o ênfase no meio ambiente físico como uma variável independente, este estudo procurará qualidades físicas que estão relacionadas com os atributos da identidade e estrutura da imagem mental. Isto leva a definição daquilo que podemos chamar imaginabilidade: aquela qualidade de um objeto físico que lhe dá uma grande probabilidade de evocar uma imagem forte num observador. É essa forma, cor, disposição que facilita a produção de imagens mentais vivamente identificadas, poderosamente estruturadas e altamente úteis no meio ambiente. (LYNCH, 1997, p.20)
Okamoto diz que “a relação entre homem e espaço, no contexto do meio ambiente, tem sido objeto de questionamento para a formação do comportamento, pois o homem é constituído de dois universos: um exterior, em constante processo de adaptação ao meio, e outro interior, cujo “leit motiv” se exterioriza em ações como resposta à interpretação dessa realidade”. (OKAMOTO, 1996, p. 10). Para o autor, “as percepções decorrentes das sensações vão além das simples reações aos estímulos externos, pois são acrescidas de outros estímulos internos, que intervêm e conduzem o comportamento”. (OKAMOTO, 1996, p. 11).
No campo da pesquisa, o antropólogo Edward Hall é um dos principais nomes no estudo da relação do homem com o espaço social e pessoal, uma vez que desenvolveu um método definido como Proxemia: “Proxemia é um neologismo que criei para designar o conjunto das observações e teorias referentes ao uso que o homem faz do espaço enquanto produto cultural específico” (HALL, 1966; p.11). O autor ainda prossegue com o conceito de Territorialidade: “a territorialidade é geralmente definida como o comportamento característico adaptado por um organismo para tomar posse de um território, defendendo-o contra os membros da sua própria espécie.” (HALL, 1966; p. 19).
Já o psicólogo Sommer, apresenta o conceito de Espaço Pessoal que pode ser compreendido como “uma área com limites invisíveis que cercam o corpo da pessoa, e na qual os estranhos não podem entrar. Não tem exatamente a forma esférica, e nem se expande em todas as direções. Ela se ajusta conforme situações de presença de outras pessoas no local” (SOMMER, 1973; p. 33). O autor apresenta também o conceito do Espaço Individual, que difere do espaço pessoal, uma vez que “A distância individual existe apenas quando dois ou mais membros da mesma espécie estão presentes (...) A violação da distância individual é violação das expectativas da sociedade; a invasão do espaço pessoal é uma intrusão nas fronteiras do eu da pessoa.” (SOMMER, 1973; p. 34). Em sua pesquisa realizada no Rio de Janeiro, Cohen (2020) constatou que “a troca de olhares, os encontros e os contatos humanos, a empatia, exercem influência importante na maneira como as pessoas são percebidas e na maneira como percebem o ambiente social e urbano” (COHEN, 2020, p.241)
Sommer ainda apresenta quatro tipos de territórios em sociedades humanas, baseado na especificação dos autores Lyman e Scott: territórios públicos, territórios domésticos, territórios de interação e territórios corporais. (SOMMER, 1973, p. 55).
Os territórios públicos - por exemplo, pátios e parques - dão liberdade de acesso ao cidadão, mas não lhe dão, necessariamente, liberdade de ação. Os territórios domésticos são áreas públicas invadidas por grupos ou indivíduos. Os territórios de interação são áreas em que podem ocorrer reuniões sociais, têm fronteiras claramente demarcadas e regras de acesso e saída. Finalmente, há os territórios que abrangem o corpo, denominados espaço social, e que constituem o espaço mais íntimo e íntegro que pertence ao indivíduo (SOMMER, 1973; p. 55).
Ainda no campo da percepção ambiental, destaca-se o termo “Ambiência”. Para Duarte e Pinheiro “As ambiências representam o ambiente construído organizado e animado, que constitui um meio físico e, ao mesmo tempo, estético e psicológico, especialmente preparado para o exercício de atividades humanas –
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que por sua vez constroem um processo dinâmico de interpretação dos espaços” (DUARTE; PINHEIRO, 2013 apud LIMA, 2020, p.86).
Segundo o sociólogo Jean Paul Thibaud:
O ambiente construído é constituído por uma ambiência própria, com aspectos físicos, culturais, sociais, de uso e de temporalidade (THIBAUD, 2004) e, cada um destes compõe parte do todo dimensionado e funcional. Nestes ambientes, a ambiência será revelada no processo de apropriação, envolvendo a interação recíproca entre homem e ambiente, onde o primeiro age no sentido de moldar os atributos do segundo, conforme as suas necessidades. (THIBAUD 2004, apud DISCHINGER; SAVI, 2016, p. 42)
Em relação às ambiências, Lima destaca “a possibilidade de um mesmo lugar físico abrigar simultaneamente lugares emocionais e subjetivos diversos e, por vezes, até contraditórios.” (LIMA, 2020, p. 86). Sendo assim, torna-se importante levar em consideração as diferentes ambiências existentes em um mesmo ambiente construído.
Apesar de os estímulos externos virem a influenciar o comportamento dos usuários em determinado ambiente, para os pesquisadores Nikolopoulou e Steemers (2003), esses estímulos são também a principal razão para que as pessoas usufruam de um espaço urbano. Em sua pesquisa, os autores constataram que a maioria dos usuários desses espaços apreciavam sensações térmicas de frio ou calor, e isso se justificaria pela existência de um ambiente variado, com presença de sol, sombra, vento e ar fresco. (NIKOLOPOULOU, STEEMERS, 2003).
Para Nikolopoulou, um ambiente diversificado e com maior presença de áreas naturais, faz com que as pessoas demonstrem maior grau de tolerância térmica e consequentemente passem mais tempo nele, devido ao maior controle sobre as condições térmicas experimentadas. (NIKOLOPOULOU, 2003). A autora denomina esse tipo de interação do usuário com o ambiente de “adaptação psicológica”. Devido a isso, a adaptação psicológica está diretamente ligada a percepção ambiental das pessoas, sendo de extrema importância para a compreensão da relação dos usuários com os espaços livres.
Okamoto afirma que a arquitetura vai além do abrigo das necessidades e atividades e seria um meio de favorecer e desenvolver o equilíbrio, a harmonia e a evolução espiritual do homem, atendendo às suas aspirações, acalentando seu sonhos, instigando as emoções de se sentir vivo, desenvolvendo nele um sentido afetivo em relação ao “locus”1 e ao “topos”.2 (OKAMOTO, 1996, p 14). O autor então destaca a importância dos arquitetos compreenderem os locais como territórios psicológicos, atendendo ao modo como são percebidos pelas pessoas em cada atividade pública, semi pública ou privada. (OKAMOTO, 1996, p. 134).
Para Vicente Del Rio, “embora essas percepções sejam subjetivas para cada indivíduo, admite-se que existam recorrências comuns, seja em relação às percepções e imagens, seja em relação às condutas possíveis. Por isto, também se admite que a consideração a repertórios de imagens e expectativas compartidas pela população, assim como a sua operacionalização consciente por meio de políticas e programas urbanísticos, são fundamentais para nortear a ação pública”. (DEL RIO, p. 04, 1996).
Portanto, compreender a interrelação entre todos esses fatores, contribui no processo de
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O termo ”Locus” se trata de uma expressão latina que designa paisagem e ambiente natural.
2 Do grego τοπος, a palavra “Tópos” está ligada ao conceito de espaço físico.
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planejamento e projeto de espaços urbanos, uma vez que eles influenciam na qualidade do ambiente e, consequentemente, em seu uso.
3.3 Caminhabilidade
A caminhabilidade, do inglês walkability, está inserida como qualidade no campo da mobilidade do pedestre no meio urbano. “É um conceito também sobre a facilidade de ter acesso a bens e serviços através do espaço público, sobre proximidade e interação entre pessoas, sobre sentir-se seguro e livre” (FAJARDO, 2015 apud LUCENA, 2016). O termo surgiu após os estudos de Jane Jacobs, Kevin Lynch e Gordon Cullen contribuírem para que novas pesquisas fossem desenvolvidas, culminando no surgimento de movimentos que são direcionados às cidades atuais, repensando seu desenho urbano, para promover a urbanidade, a caminhabilidade e a vitalidade urbana.
Para que haja progresso em direção a espaços caminháveis e cidades sustentáveis, “é primordial estudar os fatores que influenciam na experiência do pedestre e que podem contribuir para projetos de vizinhanças mais atrativas, políticas urbanas mais igualitárias e transporte mais acessível.” (LUCENA, 2016).
Caminhar é o início, o ponto de partida. O homem foi criado para caminhar e todos os eventos da vida - grandes e pequenos - ocorrem quando caminhamos entre outras pessoas. A vida em toda a sua diversidade se desdobra diante de nós quando estamos a pé. (GEHL, 2017, p. 19)
A caminhabilidade não só contribui com a vitalidade urbana, como é também indicador dessa vitalidade, como salienta Jeff Speck: “Recupere a rua e você conseguirá todo o resto, ou algo perto disso” (SPECK, 2019, p. 220). Para Speck, a qualidade do pedestre não está ligada somente à questão da mobilidade urbana e da segurança nas ruas, pois “pedestres precisam sentir-se seguros e confortáveis mas também tem necessidade de serem entretidos, caso contrário, aqueles que têm escolha, escolherão dirigir” (SPECK, 2019, p. 205).
Em cidades vivas, seguras, sustentáveis e saudáveis, o pré-requisito para a existência da vida urbana é oferecer boas oportunidades de caminhar. Contudo, a perspectiva mais ampla é que uma infinidade de valiosas oportunidades sociais e recreativas apareça quando se reforça a vida a pé. [...] Mas nas cidades, há muito mais em caminhar do que simplesmente andar! Há um contato direto entre as pessoas e a comunidade do entorno,o ar fresco, o estar ao ar livre, os prazeres gratuitos da vida, experiências e informação. Em essência, caminhar é uma forma especial de comunhão entre pessoas que compartilham o espaço público como uma plataforma e estrutura. (GEHL, 2017; p. 19).
Alguns dos fatores e condições que tornam a caminhada mais agradável e atrativa para o pedestre podem ser a forma dos edifícios, o mobiliário urbano, a vegetação, a sinalização, a qualidade das calçadas e o tratamento dos espaços públicos são “aspectos que podem indicar a satisfação do pedestre com o ambiente e a viabilidade de realizar viagens a pé que a acessibilidade viária, as atividades e a densidade potencialmente induzem” (VARGAS, 2015, p. 25). Para o autor Jan Gehl, “há muitos exemplos de como a renovação de um único espaço, ou mesmo a mudança no mobiliário urbano e outros detalhes podem convidar as pessoas a desenvolver um padrão de uso totalmente novo.” (GEHL, 2017, p. 16)
Um dos principais aspectos que contribuem para a habitabilidade urbana é a infraestrutura cicloviária da cidade. O desenho urbano tem um papel crucial também na criação de um ambiente urbano atraente para pessoas que querem pedalar, sair dos seus carros, mudar o seu comportamento. Com um processo efetivo de design, as ciclovias e ciclofaixas cativam as pessoas a usá-la. Faz com que a bicicleta seja o caminho mais rápido e fácil. (KARSSENBERG et al, 2015)
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Em sua obra Cidades Para Pessoas, Jan Gehl discorre sobre os centros urbanos bem-sucedidos e aborda até mesmo a geometria das fachadas, destacando, por exemplo, que uma orientação mais vertical, como a fornecida por pilares, torna a caminhada mais curta. Em contrapartida, fachadas com longas linhas horizontais fazem com que as distâncias pareçam mais longas e cansativas. O autor ainda acrescenta que, no mundo todo, lojas em ruas comerciais ativas e prósperas tem uma fachada de cinco ou seis metros de comprimento, o que indica que, a cada cinco segundos, há novas atrações para serem vistas. (GEHL, 2017).
Ainda em relação às fachadas, Jane Jacobs reforçava que enxergar o interior e o exterior de prédios conecta atividades visualmente. Segundo a autora, o contato visual pelos pedestres nas calçadas é próximo e pessoal, então o ritmo dos detalhes é fundamental para a riqueza da experiência do pedestre. O número de portas, janelas, recuos, colunas, as janelas das lojas, detalhes das vitrines, letreiros das lojas e decorações é, portanto, muito importante. (JACOBS, 1961)
Entretanto, segundo Speck, o predomínio do detalhe na escala humana ainda não é suficiente se a paisagem da rua não mostrar variedade:
Por mais delicada e agradável que seja a fachada de um edifício, há muito pouco para atrair um caminhante colocado a 150 m de distância. Como Jane Jacobs observou, quase ninguém caminha, de boa vontade, da mesmice para a mesmice e da repetição para a repetição, mesmo se for mínimo o esforço exigido. Escolher a escala certa do detalhe é apenas meio caminho andado; o que importa, mais ainda, é escolher a escala correta do edifício, de modo que cada quadra contenha tantos edifícios diferentes quanto razoavelmente possível. Só dessa forma, é que o pedestre vai sentir-se recompensado com o panorama que se desdobra continuamente e que vem do trabalho de inúmeras mãos. (SPECK, 2019; p. 215).
Desenvolver espaços públicos que incentivem interações das pessoas com a cidade, promovendo maior qualidade e habitabilidade, é um dos conceitos atuais que estimulam a vitalidade urbana, chamado Placemaking:
Placemaking é um processo através do qual um lugar é concebido e gerado. De um espaço particular – uma rua, uma vaga de estacionamento, um parque antigo, uma viela esquecida, um lote vazio – para um lugar onde as pessoas queiram se reunir e se encontrar umas com as outras. Placemaking é fazer lugares onde as pessoas queiram estar e, juntas, compartilhar a vida. [...] O objetivo do placemaking não é chegar a um fim, e finalizar projetos de construção, mas sim ser capaz de pensar, criar, melhorar, e depois disso, repensar e melhorar novamente, para nosso bem-estar, felicidade, e cidades melhores para viver. (KARSSENBERG et al, 2015; p. 282284).
As ações espontâneas, aleatórias e sem planejamento constituem parte daquilo que torna “a movimentação e a permanência no espaço da cidade tão fascinantes. Enquanto caminhamos para o nosso destino, observamos pessoas e acontecimentos, somos inspirados a parar e olhar mais detidamente ou mesmo parar e participar.” (GEHL, 2017, p. 20). Gehl ainda destaca que “A maior parte das atividades urbanas mais atrativas e populares pertence ao grupo de atividades opcionais e por isso uma boa qualidade urbana é pré-requisito.” (GEHL, 2017, p. 20).
Um dos principais elementos que embasam o conceito da caminhabilidade e da habitabilidade urbana é a arborização. Muitas vezes os primeiros itens cortados em um orçamento, as árvores de rua são fundamentais das mais diversas formas para o conforto do pedestre. Além de oferecerem sombra, reduzem a temperatura ambiente no calor, absorvem água da chuva e emissões de gás carbônico. “Uma cobertura arbórea consistente pode fazer muito para aprimorar o que poderia ser
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uma caminhada ruim. [...] Um trajeto numa rua sem árvores é percebido, significativamente, como mais longo do que um trajeto de igual distância numa rua arborizada” (SPECK, 2019, p. 198).
Em relação aos espaços de áreas verdes, o autor também destaca que toda cidade precisa fornecer acesso fácil à natureza, como trilhas regionais para caminhada, escalada e ciclismo, assim como pequenos bolsõ es ou zonas verdes e parques infantis, são elementos-chave para reter na cidade pais com filhos ainda pequenos. (SPECK, 2019). Entretanto, o autor salienta:
Espaços verdes nas cidades são encantadores, saudáveis e necessários. Mas também podem ser monótonos, ao menos se comparados com as vitrines das lojas e barracas de rua. Nossas crianças talvez estejam sofrendo do transtorno do déficit de natureza, mas, instintivamente, elas também sabem o que fomos ensinados a ignorar, que as paisagens verdejantes não nos entretêm. [...] Grandes áreas abertas podem estimular algumas pessoas a caminhar. Mas se o objetivo for fazer com que as pessoas adotem a caminhada como forma de transporte prático, espaços verdes superdimensionados podem ser, na verdade, contraproducentes (SPECK, 2019; p. 218).
Para Gehl, “as palavras-chave para estimular a vida na cidade são: rotas diretas, lógicas e compactas; espaços de modesta dimensões, e uma clara hierarquia segundo a qual foram tomadas decisões para a escolha dos espaços mais importantes.” (GEHL, 2017, p 67). Entretanto, é necessário detectar os locais com maior relevância para as intervenções antes de se investir em caminhabilidade nos centros urbanos atuais.
Em relação a isso, pode-se concluir que são as ruas que são “emolduradas por edifícios que têm potencial de atrair e garantir vitalidade, [...] nos lugares onde já existe uma esfera privada disposta a dar conforto e se interessar por uma esfera pública melhorada.” (SPECK, 2019; p. 220). A maior parte das cidades possuem ruas onde existem fachadas de edificações históricas e outras construções atraentes ao longo de calçadas, mas que são arruinados por vias sem árvores e com veículos em alta velocidade. (SPECK, 2019). Com uma crítica às gestões municipais, o autor ainda complementa:
A maioria dos prefeitos, administradores e urbanistas municipais sentem responsabilidade em relação à cidade como um todo. O resultado é que tendem a espalhar a caminhabilidade, indiscriminadamente, por toda a cidade. Também são otimistas e querem acreditar que, um dia, irão conseguir uma cidade excelente como um todo. A ideia é fascinante, mas contraproducente. Ao tentar ser universalmente excelente, a maior parte acaba sendo universalmente medíocre. A caminhabilidade está provavelmente naqueles lugares que concentram o melhor que uma cidade pode oferecer em uma área. Concentração, não dispersão, é o elixir da urbanidade. (SPECK, 2019; p. 225).
Dessa forma, investir em pontos estratégicos, como os centros urbanos da cidades, é uma das formas de dar início à mudanças que favoreçam a caminhabilidade e a qualidade de vida urbana nas comunidades. “A reputação de cada cidade está, em grande parte, nos atributos físicos de sua área central. Se o seu centro não parece bom, a cidade não parece boa. Este é o lugar onde começar.” (SPECK, 2019; p. 226).
3.4 Espaços Livres
No âmbito da arquitetura, urbanismo e paisagismo, os espaços livres urbanos podem ser definidos como “todos aqueles não contidos entre as paredes e tetos dos edifícios construídos pela sociedade para sua moradia e trabalho”. (Macedo, 1995 apud Minda, 2009, p. 21). Já Barcellos (1999, p.34) diz que “costuma-se definir espaço livre pelo seu oposto, o espaço fechado, o qual é determinado pela
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existência dos planos das paredes e tetos das edificações. O espaço livre é entendido, assim, como todo espaço não ocupado pelo volume das edificações destinadas ao abrigo das atividades humanas”. Sendo assim, todo espaço livre de edificação, como as ruas, praças, e parques, por exemplo, são espaços públicos urbanos.
Os espaços livres são os locais onde todas as pessoas têm acesso livre, sem custo, além de possuir áreas abertas para lazer, descanso (canchas de esporte, campos, passeios, parques), ou quaisquer espaços que não são de propriedade particular. Podem ser consideradas as ruas, as praças. São espaços livres administrados por órgãos públicos destinados ao uso geral da população. 3
No contexto de espaço público urbano, surge o conceito de praça, que segundo Mendonça, “são espaços livres públicos, com função de convívio social, inseridos na malha urbana como elemento organizador da circulação e de amenização pública, com área equivalente à da quadra, geralmente contendo expressiva cobertura vegetal, mobiliário lúdico, canteiros e bancos. (CARNEIRO; MESQUITA, 2000, p.29 apud MENDONÇA, 2007).
Historicamente, a tipologia praça, ao longo da história tem assumido distintas conformações em respostas a distintos fatores tais como: evolução urbana x natureza, entre outros. A praça poderia ser caracterizada fisicamente como uma manifestação espacial resultante da malha urbana e tradicionalmente presente desde a cidade medieval ou mais remotamente, desde a ágora grega e o fórum romano, assumindo diversas formas de expressão, porém sempre produto de uma necessidade funcional mais ou menos evidente, de caráter civil, militar ou religioso. É um local de reuniões, notícias e intercâmbios. (MACEDO, 2003).
Lamas, complementa que a praça “é o lugar intencional do encontro, da permanência, dos acontecimentos, de práticas sociais, de manifestações de vida urbana e comunitária e de prestígio, e, consequentemente, de funções estruturantes e arquiteturas significativas” (LAMAS, 2000, p. 102).
Ainda sobre espaços públicos, Oliveira e Mascaró destacam:
Os espaços públicos abertos de lazer trazem inúmeros benefícios para a melhoria da habitabilidade do ambiente urbano, entre eles a possibilidade do acontecimento de práticas sociais, momentos de lazer, encontros ao ar livre e manifestações de vida urbana e comunitária, que favorecem o desenvolvimento humano e o relacionamento entre as pessoas. Além disso, a vegetação que geralmente está presente nesses espaços favorece psicologicamente o bem-estar do homem, além de influenciar no microclima mediante a amenização da temperatura, o aumento da umidade relativa do ar e a absorção de poluentes, além de incrementar a biodiversidade. (OLIVEIRA, L. A.; MASCARÓ, J. J., 2007, p.60).
Os espaços públicos também estão diretamente relacionados à questão de habitabilidade e à qualidade de vida na cidade, de acordo com Loboda e Angelis (2005) “a qualidade de vida urbana está diretamente atrelada a vários fatores que estão reunidos na infraestrutura, no desenvolvimento econômico-social e àqueles ligados à questão ambiental” (LOBODA; ANGELIS, 2005, p. 131). Nesse caso, os espaços públicos urbanos e as áreas verdes públicas constituem-se elementos imprescindíveis para o bem estar da população, pois influencia diretamente a saúde física e mental da população. (PEREIRA, 2015, p. 96). A praça mostra-se então um elemento de grande importância nas cidades, sendo um local no qual
3 MACEDO, C. F. Avaliação dos atributos determinantes na escolha de ambientes de permanência em espaço livre público a partir do Método da Grade de Atributos. (Dissertação de Mestrado). UFSC, Florianópolis, 2003.
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a população usa e se apropria de diversas maneiras, onde ocorre a interação das pessoas com meio urbano, com a natureza e também com as outras pessoas, contribuindo para a qualidade de vida dessa população, e por conta disso esses espaços precisam ter um bom funcionamento. Nesse sentido, Shaftoe (2008) menciona aspectos para um espaço de convívio bem-sucedido, que depende de fatores físicos, geográficos, administrativos, psicológicos e sensoriais, como manutenção, segurança, diversidade de usos, além de elementos construtivos com cores, texturas, que despertam a curiosidade e instigam o uso do espaço.
3.4 Patrimônio Cultural
Segundo o Artigo 1º do Decreto de Lei nº 25 de 1937, Patrimônio Cultural pode ser definido como “o conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico. ” (BRASIL, 1937)
A preocupação com a preservação do patrimônio histórico teve início a partir da década de 1920, como salienta Choay:
A preocupação com a definição de políticas para a salvaguarda dos bens que conformam o patrimônio cultural de um povo remonta ao final do século XVIII, mais particularmente à Revolução Francesa, quando se desenvolveu uma outra sensibilidade em relação aos monumentos destinados a invocar a memória e a impedir o esquecimento dos feitos do passado. Implementaram-se, a partir de então, as primeiras ações políticas para a conservação dos bens que denotassem o poder, a grandeza da nação que os portava, entre as quais uma administração encarregada de elaborar os instrumentos jurídicos e técnicos para a salvaguarda, assim como procedimentos técnicos necessários para a conservação e o restauro de monumentos. (CHOAY, 2001, p. 27).
Em relação ao conceito de Patrimônio Cultural, os autores Zanirato e Ribeiro destacam:
Nos últimos anos, o conceito “patrimônio cultural” adquiriu um peso significativo no mundo ocidental. De um discurso patrimonial referido aos grandes monumentos artísticos do passado, interpretados como fatos destacados de uma civilização, se avançou para uma concepção do patrimônio entendido como o conjunto dos bens culturais, referente às identidades coletivas. Desta maneira, múltiplas paisagens, arquiteturas, tradições, gastronomias, expressões de arte, documentos e sítios arqueológicos passaram a ser reconhecidos e valorizados pelas comunidades e organismos governamentais na esfera local, estadual, nacional ou internacional. (ZANIRATO, RIBEIRO, 2006).
No âmbito arquitetônico, o patrimônio cultural se manifesta na forma de monumentos, edifícios e espaços que possuem grande relevância histórica. Esses espaços são capazes de evocar sentimentos e sensações que revivem momentos e fatos que ali foram vividos, ao mesmo tempo que fundamentam e explicam a realidade presente. Através de sua materialidade, lugares e edificações são capazes de despertar a memória da forma de vida daqueles que no passado utilizaram esses espaços. “Cada edificação carrega em si não apenas o material de que é composto, mas toda uma gama de significados e vivências ali experimentados.” (TOMAZ, 2010)
Para Chartier, o que justifica a preservação de um bem com valor patrimonial é a atribuição de sentidos ou significados para determinado grupo social, justificando assim sua preservação. “É necessário compreender que os múltiplos bens possuem significados diferentes, dependendo do seu contexto histórico, do tempo e momento em que estejam inseridos.” (CHARTIER, 1990, apud TOMAZ, 2010).
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Os bens materiais e imateriais, tangíveis e intangíveis que compreendem o patrimônio cultural são considerados “manifestações ou testemunho significativo da cultura humana, reputados como imprescindíveis para a conformação da identidade cultural de um povo.” (ZANIRATO, RIBEIRO, 2006).
O estudo do patrimônio promove a valorização e a consagração desses bens. Em relação a isso, Choay destaca:
A expressão que designa um bem destinado ao usufruto de uma comunidade que se ampliou a dimensões planetárias, constituído pela acumulação contínua de uma diversidade de objetos que se congregam por seu passado comum: obras e obras-primas das belas artes e das artes aplicadas, trabalhos e produtos de todos os saberes dos seres humano. (CHOAY, 2001, p.11).
No que se refere à preservação e conservação de bens patrimoniais e suas finalidades, o autor Tomaz destaca:
A preservação de bens patrimoniais deve ter por finalidade conservar traços da vida comum, cotidiana, e mostrar como vivia a sociedade em determinada época, pois o que tende a ser conservado sempre será o objeto considerado valioso, seja pelo valor do material de que é composto, seja por uma herança histórica ligada a uma personalidade ilustre e por isso mesmo dominadora. A conservação de bens patrimoniais deve ter por objeto edificações que tenham um significado coletivo para determinada comunidade, pois se perpetua a memória de uma sociedade preservando-se os espaços utilizados por ela na construção de sua história (TOMAZ, 2010, p.05).
Uma das formas de se preservar e conservar um bem patrimonial é através do processo de restauro. Sobre esse processo, a autora Beatriz Kühl salienta:
Entende-se nesse trabalho o restauro – ou a intervenção no patrimônio edificado – como ato crítico, que respeita os vários períodos da obra e procurar preservar as marcas do tempo presente nela; definição esta que ganha força em meados do século XX. Ressalta-se a realidade figurativa do patrimônio, visto que qualquer intervenção feita nele, por menor que seja, modifica sua leitura. Dessa forma, a “restauração assume para si a tarefa de prefigurar e controlar, justificar e fundamentar essas alterações respeitando seus aspectos documentais, materiais e formais (KÜHL, 2007, p. 199).
Um dos mecanismos criados para auxiliar na questão da preservação de um patrimônio são as Cartas Patrimoniais. Elaboradas por especialistas na área, as cartas são documentos que apresentam diretrizes e medidas que auxiliam no processo de preservação, conservação, manutenção e restauro de um bem. Kühl ainda destaca que “as cartas são documentos concisos e sintetizam os pontos a respeito dos quais foi possível obter consenso, oferecendo indicações de caráter geral.” (KÜHL, 2010).
Ainda no campo da preservação, a conservação dos bens patrimoniais é realizada a partir de diferentes órgãos que se operam em instâncias específicas. O principal órgão atuante no âmbito nacional se trata do IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, definido como uma autarquia federal vinculada ao Ministério do Turismo, que responde pela preservação do Patrimônio Cultural Brasileiro. “Cabe ao Iphan proteger e promover os bens culturais do País, assegurando sua permanência e usufruto para as gerações presentes e futuras”4 No domínio estadual atuante no Estado de São Paulo, têm-se o CONDEPHAAT - Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo, que tem por 4 Retirado do site do IPHAN, disponível em: <portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/872>, Acesso em:
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função proteger, valorizar e divulgar o patrimônio cultural no Estado de São Paulo. “Nessa categoria se encaixam bens móveis, imóveis, edificações, monumentos, bairros, núcleos históricos, áreas naturais, bens imateriais, dentre outros.5” O CONDEPHAAT já tombou mais de 500 bens desde 1968. Os bens tombados formam um conjunto de representações da história e da cultura no Estado de São Paulo dos séculos passados.
A cidade de Jahu, local onde é desenvolvido esse Trabalho Final de Graduação (TFG), possui o CONPACC - Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Arquitetônico e Cultural, criado em dezembro de 2003 pela Lei Municipal Nº3.833. Segundo a Lei, cabe ao CONPACC formular e definir as diretrizes para a política municipal de valorização e preservação do patrimônio cultural, compreendendo o histórico, artístico, arqueológico, arquitetônico, documental, museológico, paisagístico, ambiental, dentre outros, além de coordenar e integrar as atividades públicas referentes a essa política (Lei 3.833 de 03 de Dezembro de 2003).
Os órgãos e instâncias apresentados acima também são responsáveis pelo processo de tombamento dos bens considerados patrimoniais. O tombamento é o instrumento de reconhecimento e proteção do patrimônio cultural mais conhecido, e pode ser feito pela administração federal, estadual e municipal. Sob a tutela do Iphan, os bens tombados se subdividem em bens móveis e imóveis, entre os quais estão conjuntos urbanos, edificações, coleções e acervos, equipamentos urbanos e de infraestrutura, paisagens, ruínas, jardins e parques históricos, terreiros e sítios arqueológicos. O objetivo do tombamento de um bem cultural é impedir sua destruição ou mutilação, mantendo-o preservado para as gerações futuras.6
5 Retirado do site do CONDEPHAAT, disponível em: <condephaat.sp.gov.br/o-condephaat-e-a-upph/>, Acesso em: 30/08/2021
6 Retirado do site do IPHAN, disponível em: <portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/126>, Acesso em: 30/08/2021
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referências projetuais
referencias projetuais
Como referências projetuais para este trabalho, foram selecionados projetos realizados no Brasil que envolvem os conceitos de requalificação arquitetônica, urbanística e paisagística, além de projetos contemporâneos referentes à arquitetura cultural.
4.1 Sesc Pompéia / Lina Bo Bardi
Localizado na capital paulista, o projeto de 1986 de Lina Bo Bardi é considerado ícone da arquitetura moderna e brutalista nacional. O projeto consiste na reforma e requalificação dos antigos galpões da fábrica de tambores da Pompéia e na construção de dois grandes prismas retangulares de concreto que abrigam as áreas esportivas e uma torre cilíndrica onde se localiza a caixa d’água do conjunto – todos de concreto aparente. Tem grande relevância no âmbito da arquitetura e do patrimônio industrial devido ao processo de preservação, requalificação e novos usos, se tornando um dos maiores complexos de cultura e esporte da cidade de São Paulo. A reabilitação de uma antiga fábrica, local de trabalho duro, sofrimento de muitos, testemunho
do trabalho humano, e sua transformação em centro de lazer, sem o apagamento dessa história pregressa, fazem do SESC Pompéia um espaço especial. O cuidado da recuperação em deixar todos os vestígios da antiga fábrica evidentes aos olhos dos freqüentadores – seja nas paredes, nos pisos, telhados e estruturas, seja na linguagem das novas instalações –, fez com que o espaço iniciasse sua nova vida de Centro de Lazer já pleno de calor e animação. Com alma e personalidade. A própria linguagem arquitetônica das novas edificações reforçava o lado fabril e industrial do conjunto. Ela está no despojamento da aplicação dos materiais e, principalmente, em sua escala. Sim, os edifícios novos rompem a delicadeza e a escala “bem composta” dos galpões de tijolinhos e telhas de barro, e se apresenta como grandes containers ou silos industriais; as passarelas se assemelham a pontes
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Área externa do complexo.
ou esteiras rolantes para transportar grãos ou minérios. E nada disso buscava o mimetismo, um estilo ou arremedo decorativo. Tudo está lá para atender plenamente às suas funções de centro de lazer. Uma velha fábrica em desuso, que não serve mais às funções para as quais foi concebida, renasce com toques contundentes e até violentos, como as torres de concreto, ou delicados, como as canaletas de águas pluviais da rua central ou as treliças de madeira das janelas.7
7 Retirado da publicação “Numa velha fábrica de tambores. Sesc Pompeia comemora 25 anos” Marcelo Carvalho Ferraz, disponível em: <vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/08.093/1897>, Acesso em: 30/08/2021
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[2]
[3]
Interior do edifício.
4.2
MAR - Museu de Arte do Rio / Bernardes + Jacobsen Arquitetura
O projeto foi selecionado por se tratar de uma proposta que unifica três construções existentes de características arquitetônicas distintas - situação semelhante à área de intervenção que será trabalhada neste trabalho - com o objetivo de abrigar o Museu de Arte do Rio, a Escola do Olhar e espaços para cultura e lazer. O Palacete Dom João, o prédio da Polícia e a antiga rodoviária do Rio, conectados, fazem parte da grande intervenção na região central e antiga da cidade.
As salas de exposição do museu foram destinadas ao edifício do palacete, em função de seus grandes pés-direitos e da planta livre de estrutura. O prédio da Policia foi utilizado para a Escola do Olhar, além do auditório, salas de exposição multimídia e as áreas de administração e funcionários do complexo. Os pilotis, que eram utilizados como acesso para a rodoviária, se transformaram em um grande foyer, comportando também áreas de exposição de esculturas. O acesso controlado se dá entre as duas construções, caracterizando este vazio como espaço interno aberto e coberto. A marquise da Rodoviária, elemento tombado pelo patrimônio da Cidade, será utilizada para banheiros, loja e região de carga, descarga e depósitos.
Maquete volumétrica do edifício.
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[4] [5]
A ênfase do projeto se dá na cobertura da praça, suspensa e com um formato abstrato e orgânico. Uma estrutura fluida, extremamente leve, que simula as ondas do mar. A equipe do projeto descreve a obra como uma arquitetura de caráter poético e carregada de significado, simples e ao mesmo tempo moderna na questão de cálculo estrutural. A cobertura é vista de todos os ângulos e distâncias, para quem está chegando à Praça Mauá, e para quem está no Morro da Conceição. Foi uma forma encontrada para unificar e integrar os dois edifícios, criando uma conexão física entre eles, algo semelhante que será apresentado na proposta de intervenção deste trabalho.
Setorização do museu.
Contexto urbano do projeto.
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4.3 Divisão de Ciências Fundamentais do ITA / METRO Arquitetos
Localizado em São José dos Campos, o edifício concluído em 2017 faz parte do plano de expansão do campus do ITA , que comporta um conjunto de edifícios projetados a ser construído. Os projetos para os edifícios dessa expansão se relacionam com o contexto deste trabalho uma vez que estão inseridos em um contexto arquitetônico relevante - o projeto do campus e dos edifícios, de 1947, são de autoria de Oscar Niemeyer.
Através de sua implantação buscam articular os edifícios existentes com as novas construções de forma e complementar e potencializar seus usos mutuamente. Foram utilizados sistemas préfabricados, de montagem rápida, como estruturas metálicas e painéis pré-moldados em concreto, com a finalidade de reduzir prazos e desperdícios em obra.
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[8] [9]
Novo complexo de edifícios propostos.
Edifícios já existentes de Oscar Niemeyer.
4.4 Biblioteca Santa Cruz / Andrade Morettin Arquitetos Associados
O projeto da nova biblioteca do tradicional Colégio Santa Cruz, localizado na cidade de São Paulo, foi concluído no ano de 2020. As instalações do colégio abrigam alunos da educação infantil até o ensino médio e estão distribuídas por um campus amplamente arborizado, em edificações de baixo gabarito, com no máximo dez metros de altura. Há um eixo central, ligando as duas principais ruas de acesso, que organiza o conjunto. No centro deste eixo, junto à praça que congrega os seus principais edifícios, está a biblioteca.
Parte externa do edifício.
Interior da biblioteca.
Brises e estrutura metálica.
O projeto mantém a posição do novo edifício no campus, mas transforma totalmente sua relação com o entorno. Optamos por suspender o volume principal da biblioteca, criando uma arena central e amplas varandas integradas à praça e aos jardins do colégio. O gesto é claro: a biblioteca, hoje, deve funcionar como ponto de encontro e reunião da comunidade escolar, verdadeiro centro de convergência, tanto do ponto de vista físico-funcional, quanto do ponto de vista simbólico.1
8 Retirado do site Archdaily Brasil, disponível em: <www.archdaily.com.br/br/960820/biblioteca-santa-cruz-andrade-morettin-arquitetos-associados>, Acesso em: 30/08/2021
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[10] [11] [12]
o município de jahu
o município de jahu
O município de Jahu está localizado na região central do estado de São Paulo e está a aproximadamente 296 quilômetros da capital, com uma população estimada pelo IBGE em 151.881 habitantes no ano de 2020. A cidade pertence a Mesorregião de Bauru e é servida por rodovias estaduais e municipais, sendo banhado pelo rio Tietê, beneficiando-se da Hidrovia Tietê-Paraná através do transporte intermodal hidro-ferro-rodoviário (Prefeitura Municipal de Jahu, 2015). O município é um importante pólo de desenvolvimento industrial e agrícola, com destaque na produção calçadista, sendo conhecida como a capital do calçado feminino.
Com destaque pela sua riqueza econômica e histórica, a cidade de Jahu tem sua fundação datada no ano de 1853 e esteve profundamente associada à expansão cafeeira do oeste paulista. A sociedade era composta por uma aristocracia agrária, tendo seu crescimento econômico e social atrelado à comercialização do café, seguindo padrões europeus de modernidade que se manifestam até os dias atuais em sua arquitetura, urbanismo e paisagismo.
O nome Jahu vem do tempo das expedições bandeirantes e tem ampla significação na língua TupiGuarani-Kaingangue. Ya-hu quer dizer peixe guloso, grande bagre comedor, mas também pode significar “o corpo do filho rebelde” segundo conta a lenda do peixe Jahu. Ya-hu era um guerreiro Kaingang, o qual após uma guerra com a tribo dos Coroados, volta para casa sendo perseguido e cercado pelo inimigo. Vendo que não tinha mais espaço para fuga, para que seu corpo não fosse comido e para que sua cabeça não fosse cortada e erguida como troféu, o jovem guerreiro Kaingangue preferiu afogar-se num ribeirão, de onde ressurgiu mais tarde, transformado em peixe. Esse nome, que mais tarde passou ao rio e ao Município, significa o corpo do filho rebelde, justamente porque o referido peixe mostrava no dorso uma mancha irregular na cor vermelha, iguais às que usava o jovem guerreiro, que jamais voltou de sua guerra contra os Coroados. 8
5.1 História da Cidade
O início da formação da cidade de Jahu se dá em 1722 com as Monções, expedições fluviais do tempo das bandeiras paulistas, de São Paulo até Cuiabá em busca de minerais preciosos. Devido ao longo percurso, a colônia de Potunduva foi fundada para servir de parada para os bandeirantes, que viria a se tornar futuramente o distrito de Potunduva, atualmente pertencente ao município de Jahu.
O desenvolvimento do povoado tem início em 1842 com Antônio Dutra, um fugitivo que, ao se deparar com a região, toma posse das terras próximas ao Rio Jahu, se tornando o primeiro habitante da aldeia. Após sua morte, as terras do Jahu foram vendidas em dois grandes lotes e as divisas das primeiras fazendas ocorreram exatamente onde passam atualmente as ruas Major Prado e Edgard Ferraz. Foi somente em 1853 que, a partir da organização de uma comissão de moradores do povoado, uma capela foi instalada nas margens do Rio Jahu simbolizando a fundação do município.
Municipal de Jahu, disponível em: <www.jau.sp.gov.br/historia.php>, Acesso em: 31/08/2021
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8 Prefeitura
Registro da cidade de Jahu no ano de 1888.
Após sua fundação, a prosperidade econômica da cidade de Jahu se deu logo em seguida com a ascensão da cultura do café, tendo seu primeiro registro da produção jauense realizado no ano de 1877, que viria a atingir seu apogeu em 1935. Os lucros da cultura cafeeira financiaram a rápida modernização da vila e no mesmo período foi inaugurada a estrada de ferro em Jahu. Com a chegada da ferrovia o desenvolvimento se intensificou, trazendo para a cidade o serviço telefônico em 1897 e a eletricidade em 1901. Com o avanço da comercialização do café, o crescimento da economia jauense e a chegada dos imigrantes, os ideais de uma cidade moderna, bem higienizada, arborizada e com bela arquitetura, aos moldes que se construíam as cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Paris, se tornaram uma das principais preocupações da aristocracia agrária da cidade de Jahu. Segundo a historiadora Maria Beatriz Vidal de Negreiros Paiva: “Tornar a cidade de Jahu moderna, higienizada, embelezada, e habitada por uma população que possuía um comportamento civilizado era o sonho dos segmentos elitizados da sociedade local. As reformas modernizadoras efetuadas em outras cidades importantes do país e do mundo serviram como exemplos para cidades interioranas como Jahu, que vivenciava uma intensificação no processo de urbanização no início do século XX.” (PAIVA, 2001, p.264).
As primeiras décadas do século XX, portanto, são consideradas um período de intervenção no espaço urbano da cidade de Jahu a partir dos ideais de modernização, higienização e embelezamento da época. Devido a esse processo, muitas edificações foram construídas e reconstruídas seguindo o padrão de arquitetura eclético, que hoje formam o patrimônio arquitetônico do município.
A modernização, com a implantação do novo padrão arquitetônico da cidade, foi se concretizando pelo trabalho e influência de técnicos e artesãos imigrantes principalmente os italianos, que dominavam o conhecimento para a implementação dos modelos europeus de construções numa cidade que ainda era pequena no início do século XX, mas detentora de capital para tal projeto. A preocupação da aristocracia agrária e dos grandes comerciantes bem sucedidos era ostentar a riqueza através das suas moradias, pois em muitas casas existia um excesso de
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[13]
decoração e uma mistura de estilos, objetivando destacar ainda mais o edifício, e assim o poder econômico do seu proprietário. Como em São Paulo e no Rio de Janeiro, o ecletismo foi um estilo marcante na arquitetura local, estando presentes nessas construções a influência dos estilos francês, inglês, italiano, austríaco e suíço. (PAIVA, 2001, p.33).
No ano de 1927, a cidade de Jahu obteve reconhecimento internacional devido ao ato de proeza do comandante jauense João Ribeiro de Barros, que realizou a primeira travessia aérea do Oceano Atlântico, se tornando uma grande conquista para a história da aviação. João Ribeiro de Barros atravessou o Oceano Atlântico em 28 de abril de 1927 a bordo de um hidroavião, um tipo de avião que pode pousar em água, pois possui casco. O nome era JAHU, que também ficou conhecido como “o pássaro vermelho”.
A prosperidade e o desenvolvimento econômico da cidade de Jahu, até então conhecida como a “Capital da Terra Roxa”, se manteve nos anos seguintes, e no ano de 1929, com a crise econômica e a depressão mundial, a comercialização do café, chamado de “ouro verde”, chega a sua decadência e a produção cafeeira perde seu esplendor e glória. Os barões do café rapidamente abandonam a cultura que lhes rendeu por tanto tempo prestígio e riqueza.
Na década de 40, as primeiras fábricas chegaram ao município, dando início ao processo de industrialização da cidade, que futuramente viria a se especializar na produção de calçados. O destaque do setor calçadista jauense, entretanto, veio a ocorrer somente décadas depois com a produção do calçado feminino, culminando no que hoje se constitui um dos maiores centros calçadistas do país. A “Capital da Terra Roxa” torna-se então a “Capital do Calçado Feminino”.
5.2 A Construção da Estrutura Urbana de Jahu
A expansão urbana da cidade teve dois momentos distintos, o primeiro vai do seu núcleo inicial de fundação em 1853 até 1970, onde novos loteamentos são essencialmente contíguos à área de urbanização já consolidada. Observa-se também certa continuidade da malha viária, formando quarteirões quadrados de 100 metros por 100 metros de comprimento. A partir da década de 70, é possível observar um processo de fragmentação da malha urbana, em decorrência do aparecimento de loteamentos não contíguos e distantes do núcleo consolidado da cidade.
42
[15] [14]
Casarões da rua Major Prado. Hidroavião JAHU, década de 30.
Segundo o Plano de Mobilidade de Jaú, essa fragmentação cria vazios urbanos dentro do perímetro urbano que é cada vez mais “alargado”, costumando se tornar um problema para o poder público, que se vê obrigado a levar infraestrutura e serviços cada vez mais longe. Esse fenômeno de alargamento com vazios urbanos e descontinuidade da malha viária, comprometem a mobilidade urbana, pois acabam dificultando a acessibilidade desses novos bairros, que vão surgindo em áreas mais isoladas, localizadas “depois da linha férrea” ou “depois da autoestrada”, por exemplo. Seus acessos costumam ser limitados, muitas vezes únicos. (PlanMob Jahu, 2016)
Mapa de evolução do perímetro urbano da cidade de Jahu.
43
[16] [17]
Mapa de evolução urbana da cidade de Jahu.
Em relação à infraestrutura do município de Jahu, o abastecimento de água e energia elétrica e o sistema de coleta de resíduos sólidos e de esgoto abrangem quase toda a totalidade do território e dos domicílios. A drenagem urbana, feita a partir da presença de bueiros e bocas-de-lobo, se dá em quase toda a cidade, com maior cobertura em áreas próximas aos Rios Tietê, Ave Maria e Jahu.
Os Polos de comércio e serviços contam com Shopping Centers, Supermercados e Bancos. A atividade comercial é muito influente na economia do Município. Ela não se restringe ao Município exercendo atratividade de toda região. Os bancos e os supermercados estão concentrados próximo ao centro de Jaú. Embora exista a concentração de estabelecimentos que são polos de comércio e serviços na área central, ao analisar o uso do solo real dessa atividade observa-se uma concentração de pequenos pólos geradores de viagens em distintos locais do Município. Apesar da dispersão desse uso, há na revisão do plano diretor (Lei complementar nº 389, de 29 de dezembro de 2010), no artigo 4º, a criação de corredores urbano-territoriais e unidades de passagem que possibilitarão a reconexão do território, e também estratégias de transformação do seu entorno. Foram designados 7 eixos para implantação dessas vias como uma solução policêntrica. (PlanMob Jahu, 2016)
Mapa de uso e ocupação do solo da cidade de Jahu.
44
[18]
Ao analisar a localização, em conjunto, desses equipamentos, conforme ilustra a Figura xx, observase que há concentração intensa na região denominada como centro do Município ou próxima a ele. Nele estão presentes equipamentos institucionais, comércio e serviços, equipamentos de educação, equipamentos de saúde e equipamentos de cultura. O fato do centro histórico também estar localizado no centro, assim como a presença de importantes equipamentos urbanos, como a Prefeitura do Município, permite concluir que o Centro Institucional se encontra nessa área. Essa tendência de concentrar a oferta dos equipamentos no centro da cidade tem como consequência uma maior atratividade, culminando num aumento na geração de viagens e circulação viária de forma radial. Além dos efeitos na mobilidade e acessibilidade de pessoas e veículos, também gera o aumento da demanda de estacionamento em sua área de influência. (PlanMob Jahu, 2016)
Mapa de pólos geradores de viagem da cidade de Jahu.
45
[19]
Em relação a distribuição espacial na cidade de Jahu, nota-se menor concentração da população no centro da cidade, devido a predominância de equipamentos institucionais, comércio e serviços, enquanto na região mais periférica, encontra-se a maior densidade populacional devido a fragmentação da malha urbana após a década de 70, com a produção de conjuntos habitacionais e expansão do perímetro urbano.
Mapa de população da cidade de Jahu.
46
[20]
A densidade de pessoas por domicílio é baixa na região central da município, no entanto existem áreas nos extremos da cidade com uma baixa densidade de moradores também. É interessante notar que alguns bairros onde a concentração da população é baixa apresentam as maiores taxas de concentração de moradores por domicílio. Se trata de uma distribuição bem heterogênea, normalmente o esperado é terem altas taxas de densidade nas áreas mais afastadas do centro, contudo Jahu apresenta taxas baixas em bairros mais afastados, mesmo assim as maiores densidades continuam em áreas mais afastadas do centro do município. (PlanMob Jahu, 2016)
5.3 Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo em Jahu
O município de Jahu destaca-se pelo seu vasto repertório arquitetônico e cultural, possuindo centenas de edifícios de grande relevância histórica, símbolos que evidenciam a arquitetura, o urbanismo e o paisagismo além do tempo e que permitem vivenciar a história através das edificações das mais diferentes épocas e períodos.
Com a prosperidade da produção cafeeira no final do Século XIX, o desenvolvimento econômico da cidade de Jahu possibilitou investimentos urbanísticos e arquitetônicos no município que resultaram em grandes casarões e palacetes, que seguiam os padrões do estilo eclético, considerado moderno na época. As edificações emblemáticas ostentavam o poder e a riqueza da aristocracia que detinha o poder político e econômico da cidade.
Além dos casarões do ecletismo, a Igreja Matriz Nossa Senhora do Patrocínio, projeto do engenheiro belga João Lourenço Madein, concluído no ano de 1905, se destaca pela sua grandiosidade e seu estilo neogótico. O templo foi construído objetivando corresponder ao esplendor e prosperidade da economia da cidade de Jahu nos tempos do café. Possui a planta em formato de cruz como uma manifestação de fé, com dimensões de 40 metros de comprimento por 19 metros de largura, com sua maior torre atingindo 60 metros de altura.
47
[21] [22]
Rua Major Prado, 1925.
Igreja Matriz, 1920.
Na área do urbanismo e do paisagismo, a cidade de Jahu se destaca devido às reformas urbanas ocorridas no final do Século XIX, seguindo os padrões de modernidade e embelezamento de Hausmann e Pereira Passos, nas cidades de Paris e Rio de Janeiro, respectivamente. Dentre essas obras, pode-se destacar a Praça da República, localizada no centro da cidade, seguindo os moldes dos jardins franceses, com canteiros de desenhos geométricos, parterres, elementos decorativos e fontes de água.
Planta da Praça da República, 1910.
A cidade de Jahu também se destaca pela grande produção arquitetônica durante o período modernista, destacando os projetos do arquiteto Vilanova Artigas, que realizou 16 projetos no município de Jahu, entre os anos de 1968 e 1978, momento em que esteve afastado da Universidade de São Paulo pelo regime militar. O envolvimento de Artigas com a cidade se deu principalmente pela relação com Waldemar Bauab, prefeito da cidade entre os anos de 1973 e 1977, que convida o arquiteto a desenvolver as diretrizes urbanísticas de sua gestão, o chamado Plano de Desenvolvimento Acelerado. Segundo Iwamizu:
O plano diretor realizado no início da gestão previa um novo zoneamento para a cidade que pretendia ordenar seu crescimento, amparado por inúmeras obras viárias que tinham como objetivo aprimorar a circulação da cidade e melhorar seus acessos em relação às rodovias. Além disso, o Plano era complementado por projetos de importância fundamental para a cidade, como a Estação Rodoviária e o Parque Municipal ao longo do Rio Jaú. No decorrer dos trabalhos da Rodoviária, estabeleceu-se uma relação de confiança mútua entre o prefeito e o arquiteto. Enquanto realizava projetos como o Ginásio Esportivo (1973), os Balneários Municipais (1975) e o Conjunto Habitacional CECAP João da Velha (1976), Artigas amparava Bauab nas questões urbanísticas de Jaú (IWAMIZU, 2008, p.133).
Dentre os principais projetos do arquiteto na cidade de Jahu, destaca-se a Rodoviária da cidade, projeto de 1973, um dos edifícios mais importantes da carreira de Vilanova Artigas: “Realizado na
48
[23]
última fase de projetos de sua vasta obra, sua importância reside no fato de que o edifício sintetiza uma série de procedimentos que fazem parte da trajetória de Artigas como arquiteto.” (IWAMIZU, 2008, p. 29). O edifício seria a peça chave no plano modernizador da cidade e, devido a isso, foi implantado na região central de Jahu, no local onde se encontrava a antiga estação ferroviária do ramal oeste da Companhia Paulista de Vias Férreas. “Tais ações justificavam a substituição de um edifício do início do século – símbolo da urbanização promovida pelo desenvolvimento da produção cafeeira em Jaú – por uma construção atrelada aos novos planos para a cidade, adequada aos ‘novos tempos’’’ (IWAMIZU, 2008, p. 29)
49
[24] [25]
Rodoviária de Jahu, 1973.
Maquete da rodoviária de Jahu, 1973.
A atuação de Artigas na cidade de Jaú também conta com outros projetos emblemáticos como o Balneário de Jahu (1975) e a Escola Estadual Professor Túlio Espíndola de Castro (1968). O arquiteto também se envolveu em projetos urbanísticos no município, como o Plano de Renovação Urbana do Rio Jahu (1974), o Conjunto Habitacional João da Velha (1976) e o Parque Municipal de Jahu (1977).
5.4 Equipamentos de cultura em Jahu
Segundo o Plano de Mobilidade de Jahu, “os equipamentos de cultura estão localizados, em sua maioria, próximos a faixa central do Município, se destacando dos demais, localizado bem ao Sul, o Recinto de Exposições Sebastião Ferraz de Camargo Penteado. Fazem parte desses equipamentos o Museu Municipal de Jaú, o Teatro Municipal Elza Muneratto, Cinema Municipal de Jaú, a Casa de Cultura Dr. Henrique Pacheco de Almeida Prado, a Galeria de Arte Déborah Barros de Almeida Prado, e a Estação Cultura, além do citado Recinto de Exposições. No Distrito de Potunduva há um
50
Modelo tridimensional do Plano de Renovação Urbana do Vale do Rio Jahu, Vilanova Artigas.
[26] [27]
[28]
Modelo estudo de Escola, 1968. Balneário de Jahu, 1975.
equipamento que é o Espaço Cultural do Distrito de Potunduva, já os bairros de Vila Ribeiro e Pouso Alegre não apresentam equipamentos desse tipo.” Entretanto, atualmente a maior parte desses equipamentos se encontram fechados ou desativados, alguns deles até demolidos, como é o caso do Teatro Municipal.
A partir dos dados obtidos, é possível constatar que o município de Jahu carece de equipamentos que forneçam um programa cultural que supra a demanda da população. Equipamentos desse tipo são extremamente necessários, pois contribuem para o acesso à práticas que contribuem para o desenvolvimento cultural e político da população.
51
[29]
Mapa de Equipamentos de Cultura em Jahu.
área de intervenção: o centro urbano de jahu
área
de intervenção: o centro urbano de jahu
54 06
55
Para o desenvolvimento deste trabalho foi selecionado um recorte que abrange a área central do município de Jahu, compreendendo o eixo composto pelos principais equipamentos urbanos da região, partindo da Rodoviária da cidade, incorporando as ruas Major Prado e Edgard Ferraz e se encerrando às margens do Rio Jahu.
56
[30] [31]
Imagem da área de estudo compreendida pelo eixo urbano.
Praça da República e Paça Siqueira Campos, respectivamente.
O trecho foi selecionado devido, principalmente, à sua centralidade urbana, apresentando as mais diversas escalas arquitetônicas, urbanísticas e paisagísticas. A grande concentração do patrimônio cultural do município - compreendendo, somente no recorte, mais de 60 edifícios tombados nas mais diferentes instâncias - também foi um dos fatores levados em consideração na escolha da área.
57
[32] [33]
Ruas Major Prado e Edgard Ferraz, Prefeitura e Igreja Matriz.
Rodoviária de Jahu.
6.1 Antigo Armazém do Café
O antigo edifício conhecido como “Armazém do Café” está localizado no centro urbano de Jahu, compreendido nas ruas Humaitá, Quintina Bocaiúva e Tenente Lopes, adjacente à Praça Tancredo Neves, na quadra ao lado da Rodoviária de Jahu. Seguindo o padrão arquitetônico dos galpões industriais, o edifício é tombado pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Arquitetônico e Cultural da cidade de Jahu (CONPACC) devido à sua grande relevância histórica e cultural para o município, representando o apogeu da cultura cafeeira na época. Tinha por função armazenar o café que seria transportado para outras localidades através da linha férrea.
58
[34] [35]
Antigo Armazém do Café, 1910.
Armazém do Café atualmente.
Iterior do edifício atualmente.
Apesar de sua relevância histórica e embora esteja situado em uma área privilegiada no centro da cidade, atualmente o edifício encontra-se abandonado e deteriorado, e devido ao seu esvaziamento, tornou-se um ambiente hostil que abriga moradores de rua e inclui atividades indesejadas que geram uma sensação de insegurança na área. Em relação ao patrimônio industrial nos dias atuais, Kühl destaca:
O patrimônio industrial é ameaçado, principalmente, pelo capital especulativo/imobiliário no contexto de expansão da cidade, visto que antigos sítios industriais estão localizados em áreas urbanas de grande valor estratégico e 24 econômico. No entanto, quando este bem não é demolido para dar local para um novo empreendimento, uma intervenção nele pode constituir uma alternativa viável, ecologicamente sustentável e contribuir para o desenvolvimento da área onde a complexo fabril se encontra. Por fim, ressalta-se a necessidade de superar a intervenção voltada somente para o uso – visto sua qualidade versátil, e considerar as instâncias estéticas e históricas da obra, abraçando seu valor documental para que esse bem não seja descaracterizado e a intervenção seja bem fundamentada. (KÜHL, 2010).
59
[36]
6.2 Praça Tancredo Neves
A Praça Tancredo Neves está delimitada pelas Ruas Quintino Bocaiúva, Saldanha Marinho, Tenente Lopes e pelo edifício Armazém do Café. A praça possui alguns equipamentos, como uma concha acústica, uma arquibancada, uma quadra esportiva, além de uma área de permanência com bancos diferenciados. Seu principal atrativo é uma pista de skate improvisada que comporta alguns usuários dependendo do horário do dia. Passou por algumas reformas durante sua história e possui vegetação de grande porte, concentrada principalmente na região dos bancos.
Nos dias atuais, a Praça Tancredo Neves abriga alguns eventos pontuais durante o ano, como apresentações musicais e feiras, mas seu principal uso diurno ainda se dá pela presença de skatistas. Entretanto, é considerada uma espaço urbano sem uso significativo, e a partir dos anos 90, teve a sua usabilidade diminuída e hoje se encontra esvaziada, sendo tida como pouco segura devido à presença de moradores de rua e usuários de drogas no local.
60
[37] [38]
Praça Tancredo Neves. Uso improvisado de quadra esportiva como pista de skate.
Praça Tancredo Neves esvaziada e ocupada por moradores de rua.
6.3
Praça Oswaldo Galvão de França (Praça da Rodoviária)
A Praça Oswaldo Galvão de França, também conhecida como “praça da rodoviária”, está localizada entre as ruas Humaitá, Tenente Lopes Rodrigues, Saldanha Marinho e Marechal Bitencourt, no centro da cidade de Jahu. Assim como a rodoviária, é um projeto de Vilanova Artigas, porém não possui sua característica original devido às alterações que ocorreram ao longo dos anos. A praça era conhecida por abrigar uma feira de produtos livres de impostos, chamada também de “camelódromo”, transferida para outro local em 2008. Desde a desocupação da feira, a praça sofre com abandono, descaso e esvaziamento, tornando- se um local deteriorado e sem um uso.
Atualmente o local é abrigo de moradores de ruas e usuários de droga, fatores que trazem a sensação de insegurança para a praça. A praça possui vegetação densa e de grande e médio porte, com poucos mobiliários localizados em apenas alguns pontos de sua extensão.
61
[39] [40]
Projeto original de Vilanova Artigas para a Praça Oswaldo Galvão de França.
Praça Oswaldo Galvão de França atualmente.
6.4 Rodoviária de Jahu
A Rodoviária de Jahu, implantada na Praça Oswaldo Galvão de França, é um marco na história da arquitetura moderna paulista, como descrito anteriormente, por representar a síntese da trajetória de Vilanova Artigas como arquiteto. Executada em 1973, o projeto previa o edifício como uma conexão urbanística para a cidade de Jahu.
Plantas, cortes e estudos para a implantação da rodoviária.
62
[41] [42] [43]
O terreno original apresenta um acentuado declive topográfico, que dele surgem os cinco níveis principais construídos à meia altura entre eles e conectados por rampas. As três fileiras de seis pilares criam dois vazios transversais no edifício. Um deles dá lugar às rampas que conectam os pavimentos. O outro é por onde entram os ônibus e lugar dos embarques e desembarques. Para Iwamizu:
O edifício da Estação Rodoviária de Jahu não só estabelece relações de continuidade com a malha urbana da cidade de Jahu, ampliando seus espaços públicos, como também apresenta uma enorme coerência no desenho de suas estruturas, nas escolhas de materiais de grande simplicidade construtiva e na realização de precisos e singelos pormenores (IWAMIZU, 2008, p.404).
O prédio da rodoviária sofreu algumas modificações ao longo dos anos, podendo-se destacar seu restauro realizado entre 1996 e 1997, sob coordenação do arquiteto Paulo Roberto Masseran. Neste processo de restauro foi realizada a pintura azul no volume das rampas. Outra modificação ocorrida foi a implantação de uma cobertura em estrutura metálica posicionada junto à estação rodoviária, em seu último pavimento. Além disso, foram realizados alguns estudos para transformar o edifício em um centro cultural.
6.5 Ruas Major Prado e Edgard Ferraz
As ruas paralelas Major Prado e Edgard Ferraz são as principais vias do centro urbano de Jahu e estruturam o eixo que compõem o recorte da área de intervenção do projeto, concentrando grande parte do patrimônio arquitetônico da cidade - cerca de 60 edifícios - além de seu uso e ocupação do solo predominantemente comercial e de serviços.
63
[44]
Rodoviária de Jahu atualmente.
proposta projetual
proposta projetual
A partir do recorte estabelecido, este trabalho propõe novos usos para a cidade de Jahu, partindo de diretrizes urbanísticas e propostas de requalificação de sua região central, como a reabilitação do edifício histórico Armazém do Café e das praças de seu entorno - Praça Tancredo Neves e Praça Oswaldo Galvão de França. Nesta última, conhecida também como praça da rodoviária, é proposto o projeto de um centro de cultura, arte e lazer com capacidade para atender a demanda de todo o município. Todas as propostas apresentadas acima têm por objetivo conectar e reintegrar a região do centro urbano da cidade a partir da arquitetura em sua dimensão urbana.
7.1
Diretrizes Urbanísticas
As diretrizes urbanísticas aqui propostas estão focadas no desenvolvimento e melhora do desenho urbano do centro da cidade de Jahu. As intervenções e adequações do desenho urbano no recorte estabelecido para a implantação do projeto deverão ser seguidas como um padrão a ser replicado nas quadras que abrangem as principais ruas do centro urbano da cidade, ruas Major Prado e Edgard Ferraz.
A melhoria do desenho urbano desta área se justifica na readequação do eixo verde, destacado na figura xx, que contempla mais de 60 edificações tombadas. A proposta de reabilitação dessas vias promoverá um melhor aproveitamento do passeio público ao pedestre, gerando um percurso que se direciona aos principais equipamentos da área, articulados e integrados pelo projeto que será apresentado neste trabalho.
೮
Espaço de caminhar desobstruído e contínuo para pedestres (pelo menos 1,80 metro de área livre na calçada, sem mesas e cadeiras, para permitir a livre movimentação dos pedestres). ೮
Travessias e cruzamentos de ruas seguros.
೮
೮
Implantação de ciclovias e ciclofaixas nas vias do centro.
Projetar a rua como um espaço público que permita a organização de atividades sociais.
೮
Plantar árvores, arbustos e trepadeiras onde possível para sombreamento natural e tentar manter as árvores existentes ao reformar uma rua.
೮
Elementos de descanso, como bancos, tem de ser sombreados nos horários de calor mais intenso.
೮
Na pavimentação das calçadas, usar diferentes tipos ou padrões de revestimento para dividir as áreas em espaços reconhecíveis, como: espaço para caminhar, de recreaçã, etc.
೮ Prever iluminação nas vias, tanto para os automóveis quanto para os pedestres.
೮
Ações de políticas públicas em parceria com a prefeitura para sanar o problema de saúde pública dos moradores de rua e usuários de droga que ocupam atualmente alguns espaços da área de intervenção.
67
07
68
RUAMAJORPRADO
RUAEDGARDFERRAZ
69
7.2 Readequação do Desenho Urbano
As diretrizes apresentadas foram aplicadas em um trecho da Rua Humaitá, na qual está situada o edifício da rodoviária. A rua apresenta diversos problemas em seu desenho, principalmente no passeio público e na travessia de pedestres, como mostrado nas imagens abaixo.
70
[45]
71 [46]
Implantação das diretrizes
DILATAÇÃO DA CALÇADA PARA TRAVESSIA E CRUZAMENTOS MAIS SEGUROS
ESPAÇO DE CAMINHAR DESOBSTRUÍDO (3,00m)
IMPLANTAÇÃO DE CICLOVIA
72
RUA COMO ESPAÇO PÚBLICO
RUAHUMAITÁ
ILUMINAÇÃO PÚBLICA
ÁRVORES E ARBUSTOS PARA SOMBREAMENTO ELEMENTOS DE DESCANSO
73
7.3
Complexo Cultural e Recreativo da Cidade de Jahu (SP)
O projeto integra e articula as quadras que acomodam as praças Tancredo Neves e Oswaldo Galvão de França, onde estão inseridos os edifícios do antigo armazém do café e do terminal rodoviário, respectivamente.
74
Quadras que abrigam as praças Tancredo Neves e Oswaldo
75
Oswaldo Galvão de França, áreas estabelecidas para intervenção projetual.
PRAÇA DA REPÚBLICA
RUAMAJORPRADO RUAEDGARDFERRAZ
PRAÇA SIQUEIRA CAMPOS
IGREJA MATRIZ
76
PREFEITURA
PRAÇA DA RODOVIÁRIA
RODOVIÁRIA NOVO EDIFÍCIO ARMAZÉM DO CAFÉ
PRAÇA TANCREDO NEVES
77
PLAYGROUND PRAÇA RODOVIÁRIA AUDITÓRIO PRAÇA
78
Fluxograma
CONVIVÊNCIA
BIBLIOTECA CAFÉ SALA DANÇA
BRINQUEDOTECA
SALAS MULTIUSO
FUNCIONÁRIOS
CONVIVÊNCIA
BIBLIOTECA SALAS / OFICINAS
COWORKING
PALCO MUSEU
SKATE
TÉRREO LIVRE PRAÇA / MUSEU
79
ESTACIONAMENTO
LAJE TÉCNICA CONVIVÊNCIA CIRCULAÇÃO CIRCULAÇÃO CIRCULAÇÃO EDIFÍCIO ARTICULADOR MIRANTE
Projeto
RODOVIÁRIA
PRAÇA
DA RODOVIÁRIA
espaços de convivência lazer e descanso playground acesso à rodoviária
PRAÇA
DA RODOVIÁRIA
lazer e descanso acesso à rodoviária acesso ao auditório
80
CENTRO DE
CULTURA E ARTES
biblioteca coworking café brinquedoteca
dança artes marciais / multiuso oficinas / laboratórios mirante
MUSEU DA MEMÓRIA JAUENSE
espaços de convivência lazer e descanso acesso à rodoviária
PRAÇA TANCREDO NEVES palco e arquibancada pista de skate lazer e descanso museu de arte contemporânea
81
82
0 15 30 90 IMPLANTAÇÃO A RUA
RUA EDGARD FERRAZ RUA SALDANHA MARINHO RUA MARECHAL BITTENCOURT
111.00 111.00 111.00 109.00 112.00 112.00 115.00
HUMAITÁ
83
A RUA QUINTINO BOCAIÚVA RUA MAJOR PRADO RUA TENENTE LOPES
108.00 105.00 108.00 105.50 107.00 102.00 105.00 103.00 105.00
84
PAVIMENTO TÉRREO 0 15 30 90 1 2 A RUA HUMAITÁ RUA EDGARD FERRAZ RUA SALDANHA MARINHO RUA MARECHAL BITTENCOURT
111.00 111.00 111.00 109.00 112.00 112.00 115.00
85 108.00
108.00
107.00
2.
3.
4.
5.
6.
3 4 5 6 A RUA QUINTINO BOCAIÚVA RUA MAJOR PRADO RUA TENENTE LOPES
105.00
105.50
102.00 105.00 103.00 105.00 1. PRAÇA DA RODOVIÁRIA
RODOVIÁRIA
PRAÇA DA RODOVIÁRIA
CENTRO CULTURAL
APRAÇA TANCREDO NEVES
MUSEU
86 104.50 SUBSOLO 0 15 30 90 1
A
RUA HUMAITÁ RUA EDGARD FERRAZ
RUA SALDANHA MARINHO
RUA MARECHAL BITTENCOURT
87 101.00 102.50 102.00 1. AUDITÓRIO 2. ESTACIONAMENTO 3. GALERIA DE ARTE 4. MUSEU 2 3 4 A RUA QUINTINO BOCAIÚVA RUA MAJOR PRADO RUA TENENTE LOPES
A
88
0 15 30 90
111.00 111.00 111.00 109.00 112.00 112.00 115.00 108.00 109.00 110.00 111.00 112.00 112.00 113.00 113.00 114.00 114.00 115.00 115.00 REMANEJAMENTO TOPOGRÁFICO
108.00
108.00 105.00
107.00 108.00 109.00 110.00 111.00 112.00 103.00
105.00 107.00
107.00 102.00
105.00 103.00 105.00 106.00
104.00 105.00
105.50
106.00 104.00
103.00 102.00
102.00 101.00
A
101.00 100.00
89
90 CORTE A 0 15 30 90
91
7.3.1
Praça Tancredo Neves
A proposta para a praça Tancredo Neves teve como ponto de partida a readequação de seus usos. O principal partido arquitetônico levado em consideração no processo de concepção foi o uso da topografia. Além de acomodar o antigo armazém do café destinado agora ao museu, também conta com uma pista de skate e uma área com arquibancada e palco para apresentações diversas, usos já consolidados na área,
MUSEU DA MEMÓRIA JAUENSE
92
GALERIA DE ARTE CONTEMPORÂNEA
porém inviabilizados devido à deterioração do espaço atual. Conta também com espaços de permanência e contemplação. Além desses usos, com o objetivo de ampliar o programa cultural, foi criado um espaço com exposições transitórias para acervos de arte contemporânea, implantado no mesmo nível do museu, garantindo uma continuidade no percurso.
PALCO E ARQUIBANCADA
DE SKATE
93
PISTA
94
PAVIMENTO
0 5 10 40
RUA HUMAITÁ
RUA SALDANHA MARINHO
101.00 102.00
SUBSOLO
1 2
RUA TENENTE LOPES
RUA QUINTINO BOCAIÚVA
1. GALERIA DE ARTE
2. ACESSO MUSEU
95
HUMAITÁ
MARINHO
PAVIMENTO TÉRREO
96
RUA HUMAITÁ
RUA SALDANHA MARINHO 1 3 4 0 5 10 40
105.50 107.00 105.00 105.00
RUA TENENTE LOPES
ACESSO GALERIA DE ARTE
97
103.00 SAÍDA HUMAITÁ
MARINHO 2
3.
4.
102.00
RUA QUINTINO BOCAIÚVA
1. ARQUIBANCADA E PALCO 2. PISTA DE SKATE
MUSEU
7.3.2 Museu da Memória Jauense
Para o antigo armazém do café foi destinado o uso de museu da história de Jahu, de forma a resgatar a memória dos períodos e épocas do município. A requalificação parte do conceito do contraste histórico e arquitetônico, propondo assim o restauro de sua fachada original em cores e materialidade, contrapondo-se com seu interior, neutro e minimalista. Um dos partidos foi uso de materiais e técnicas contemporâneas, como a substituição da estrutura de madeira da cobertura pela estrutura metálica.
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O programa conta com exposições fixas que remetem a história da cidade. Através do já existente escalonamento dos níveis, o espaço foi setorizado em três principais acervos. O primeiro acervo destina-se ao período cafeeiro da cidade, com exposições que remetem a história do importante período para o desenvolvimento do município. O segundo, trata da história da arquitetura, do urbanismo e do paisagismo da cidade, apresentando os principais marcos e projetos, executados e não executados na cidade, com ênfase na produção arquitetônica de Vilanova Artigas. O último setor refere-se à exposição dos principais fatos históricos do município de Jahu, além da exposição do Hidroavião Jahu original, que hoje se encontra em um depósito fechado.
99
DEPÓSITO RECEPÇÃO convivência acesso museu
SANITÁRIOS ADMINISTRAÇÃO
100
COBERTURA
telha metálica termoacústica com estrutura metálica
ACERVO 03 marcos da aviação em Jahu e exposição do Hidroavião JAHU original
ACERVO 02 arquitetura, urbanismo e paisagismo em Jahu
ACERVO 01 período cafeeiro na cidade de Jahu
101
RUA TENENTE LOPES
1 A RUA HUMAITÁ
PAVIMENTO TÉRREO
100.00 103.00
102
103.00 0 2.5 5 20
103
102.00 102.00
2 3 4 5 6 7
HUMAITÁ
1. ACERVO ARQUITETURA 2. ACERVO AVIAÇÃO 3. ÁREA FUNCIONÁRIOS 4. SANITÁRIOS 5. D.M.L 6. DEPÓSITO 7. SAÍDA
A
RUA QUINTINO BOCAIÚVA
104
0 2.5 5 20
101.00 PAVIMENTO SUBSOLO
1 2 3 A RUA HUMAITÁ RUA TENENTE LOPES
105
1. ACESSO MUSEU 2. RECEPÇÃO 3. ACERVO PERÍODO CAFÉ A HUMAITÁ RUA QUINTINO BOCAIÚVA
106 CORTE A 0 2.5 5 20
107
7.3.3 Praça da Rodoviária
A praça Oswaldo Galvão de França, também conhecida como Praça da Rodoviária, foi requalificada de modo a garantir a função de lazer e recreação, além de articular e estruturar todo o complexo cultural e recreativo, integrando e conectando os edifícios existentes e equipamentos propostos. Assim como na Praça Tancredo Neves, a topografia e os desníveis foram os principais determinantes no processo de espacialização do projeto. O programa conta com praças e áreas de permanência, um
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PLAYGROUND ALIMENTAÇÃO
TERMINAL RODOVIÁRIO RODOVIÁRIA
playground, acesso à rodoviária e comporta o auditório do complexo cultural, situado no nível do subsolo. O desenho de piso geométrico foi inspirado no projeto original não executado de Vilanova Artigas, apresentado no capítulo anterior.
Devido ao seu atual esvaziamento e abandono, a proposta de implantar um novo edifício em sua área se mostra como uma alternativa a trazer maior funcionalidade ao equipamento como um todo, além de trazer vida e usabilidade á área, impedindo sua degradação. A vegetação remanescente não será suprimida, mas sim transplantada.
AUDITÓRIO
DE CULTURA E ARTES
PRAÇA
109
CENTRO
PERMANÊNCIA CONTEMPLAÇÃO
110
0 10 20 60
RUA HUMAITÁ RUA
RUA
RUA MARECHAL BITTENCOURT
111.00 109.00 115.00
PAVIMENTO TÉRREO 1 2
EDGARD FERRAZ
SALDANHA MARINHO
111 108.00 111.00 105.00 108.00 ELEVADOR ELEVADOR WC WC 1. PRAÇA /PLAYGROUND 2. RODOVIÁRIA 3. ACESSO AUDITÓRIO 4. CENTRO CULTURAL 5. ACESSO ESTACIONAMENTO 3 4 5 RUA MAJOR PRADO RUA TENENTE LOPES
112
0 10 20 60
RUA
RUA
RUA
RUA MARECHAL BITTENCOURT
111.00 109.00 115.00
PAVIMENTO SUBSOLO
HUMAITÁ
EDGARD FERRAZ
SALDANHA MARINHO
113 104.50 102.50 1. AUDITÓRIO 2. ESTACIONAMENTO 1 2 RUA MAJOR PRADO RUA TENENTE LOPES
7.3.4 Centro de Cultura, Artes e Lazer de Jahu
A proposta projetual desta edificação tem como objetivo principal integrar os edifícios já existentes na área - Rodoviária de Jahu e Armazém do Café - a partir do conceito da arquitetura através do tempo e do programa de atividades culturais e artísticas que lá serão desenvolvidas.
114
Como já citado, o conceito principal trabalhado no projeto aborda a relação da arquitetura e o tempo, fator que se tornou um grande desafio, uma vez que o recorte estabelecido da área conta com duas edificações já existentes e com características arquitetônicas totalmente distintas, o terminal rodoviário e o antigo armazém do café, de período modernista e eclético, respectivamente.
115
Devido a localização privilegiada da área, situada em uma cota mais alta do município, optou-se pela verticalização do edifício, proporcionando acesso à visual da cidade e do eixo que configura o centro urbano da cidade, respeitando ao máximo as relações de volumetria e gabarito estabelecidas com os edifícios existentes.
Levando em consideração esses fatores, desde o início do processo projetual, um dos conceitos trabalhados foi o de uma arquitetura nova, porém isenta. Uma edificação contemporânea, mas que não gerasse conflito com os outros edifícios de seu entorno, e sim os complementasse na paisagem. Para isso foram adotados partidos arquitetônicos que estabelecessem relações com uma arquitetura contemporânea, como o sistema estrutural e a materialidade do edifício, bem como a sua proporção e volumetria.
116
PROPORÇÃO
NOVO EDIFÍCIO
EDIFÍCIO DA RODOVIÁRIA
E VOLUMETRIA
O programa conta com quatro pavimentos, sendo eles o subsolo, que abriga o estacionamento, o pavimento térreo que oferece acesso ao museu e aos pavimentos superiores, além de um café e espelhos d’água. Os pavimentos superiores são destinados às atividades de arte e cultura, como biblioteca, espaço para dança e atividades físicas, brinquedoteca, espaço coworking e áreas de convivência e contemplação. O acesso à cobertura também é livre, abrigando uma praça para convivência e descanso.
Todos os pavimentos são conectados por um núcleo que comporta a circulação vertical, com os elevadores e a escada de emergência, além dos sanitários.
COBERTURA
mirante praça laje técnica
2º PAVIMENTO
biblioteca brinquedoteca convivência salas multiuso alimentação dança
1º PAVIMENTO
biblioteca coworking convivência salas multiuso
PAVIMENTO TÉRREO
convivência café acesso museu
117
O edifício é composto por um sistema estrutural misto, no qual a fundação e seu embasamento são executados em concreto, enquanto os pavimentos superiores são em estrutura metálica. Esse tipo de sistema estrutural garante maior viabilidade na execução da obra, além de proporcionar uma construção mais flexível e com maior
NÚCLEO circulação vertical
LAJE TÉCNICA
reservatórios de água e condensadores
COBERTURA ÁTRIO
caixilhos envidraçados com vidro fosco
CAIXILHOS caixilhos envidraçãdos com vidro temperado incolor
ESTRUTURA MISTA
térreo e fundação executados em concreto e pavimentos superiores executados em estrutura metálica
BRISES HORIZONTAIS
brises horizontais em material metálico cinza
118
durabilidade. A associação do aço e o do concreto também agrega valor estético à obra, uma vez que unifica e equilibra a densidade do concreto com a leveza da estrutura metálica.
JARDIM jardim de pedrisco
GUARDA-CORPO guarda-corpo em vidro
ESCADA METÁLICA
escada helicoidal metálica com pintura em vermelho fosco
PELE pele em chapas de aço perfuradas cor cinza
119
EPELHO D´’AGUA
RUA HUMAITÁ
120
0 2.5 5 20
2
105.00
PAVIMENTO SUBSOLO
A
121
105.00 102.50 1. ESTACIONAMENTO 2. CIRCULAÇÃO VERTICAL 1 A RUA TENENTE LOPES
122 105.00 PAVIMENTO TÉRREO 0 2.5 5 20 1 6 2 2 A
RUA HUMAITÁ
123
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
6 5 2 4 3 7 A RUA
105.00
RECEPÇÃO
CIRCULAÇÃO VERTICAL
SANITÁRIOS
CAFÉ
RAMPA ACESSO MUSEU
ESPELHO D’ÁGUA
JARDIM DE PEDRISCO
TENENTE LOPES
124
1 2 3 PRIMEIRO PAVIMENTO 0 2.5 5 20 1 7 8 10 A
105.00
RUA HUMAITÁ
125 105.00 4 5 A B C 1. BIBLIOTECA 2. CONVIVÊNCIA 3. ÁREA
4. ADMINISTRAÇÃO 5. ESPAÇO COWORKING 6 5 4 2 3 6 6 6 9 10 6. SALAS MULTIUSO 7. D.M.L. 8. CIRCULAÇÃO VERTICAL 9. SANITÁRIOS 10. ÁTRIO A RUA TENENTE LOPES
FUNCIONÁRIOS
126
1 2 3 SEGUNDO PAVIMENTO 0 2.5 5 20 1 2 7 8 10
105.00
A RUA HUMAITÁ
127 105.00 4 5 A B C
2.
3.
4. BRINQUEDOTECA 5.
6. SALA
7.
8.
9.
10.
11.
6 5 4 3 9 10 5 11 A RUA TENENTE LOPES
1. BIBLIOTECA
CONVIVÊNCIA
ENFERMARIA
ESPAÇO MULTIUSO
DANÇA
D.M.L.
CIRCULAÇÃO VERTICAL
SANITÁRIOS
ÁTRIO
ALIMENTAÇÃO
128
1 2 3 PRIMEIRO
0 2.5 5 20 1
6 7
105.00
PAVIMENTO
2
A RUA HUMAITÁ
129 105.00 4 5 A B C
2.
3.
4.
5.
6.
7.
5 4 3 2 A RUA TENENTE LOPES
1. LAJE TÉCNICA
CONVIVÊNCIA
ESPELHO D’ÁGUA
MIRANTE
JARDIM DE PEDRISCO
CIRCULAÇÃO VERTICAL
COBERTURA ÁTRIO
130 CORTE A 0 2.5 5 15
131
considerações finais
A partir da etapa de pesquisa e embasamento teórico, foi possível constatar que a cidade de Jahu apresenta um vasto acervo de patrimônio material e imaterial, enquanto carece de equipamentos de cultura, artes e recreação. As intervenções e diretrizes propostas neste trabalho se mostram de extrema importância, uma vez que unificam, reintegram e ressignificam espaços que hoje se encontram em desuso. A associação desses espaços a um programa cultural e recreativo surge como uma solução cabível e necessária para o contexto do município.
Além de restabelecer a centralidade na área de estudo, a reinserção de antigos símbolos como equipamentos de cultura e educação não só resgata a conexão da população com a memória e história do município, como também a garante acesso à práticas e meios que proporcionam desenvolvimento cultural, político e social do indivíduo, contribuindo, dessa forma, para uma sociedade mais próxima do ideal.
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[1] Fonte: Archdaily Brasil (www.archdaily.com.br/br/01-153205/classicos-da-arquitetura-sescpompeia-slash-lina-bo-bardi).
[2] [3] Fonte: Archdaily Brasil (www.archdaily.com.br/br/01-153205/classicos-da-arquitetura-sescpompeia-slash-lina-bo-bardi).
[4] [5] [6] [7] Fonte: Archdaily Brasil (https://www.archdaily.com.br/br/01-108254/mar-museu-dearte-do-rio-bernardes-jacobsen-arquitetura?ad_source=search&ad_medium=projects_tab).
[8] [9] Fonte: Archdaily Brasil (https://www.archdaily.com.br/br/960820/biblioteca-santa-cruzandrade-morettin-arquitetos-associados).
[10] [11] [12] Fonte: Archdaily Brasil (https://www.archdaily.com.br/br/889456/divisao-de-cienciasfundamentais-do-ita-metro-arquitetos).
[13] Fonte: História de Jahu (historiadejahu.blogspot.com)
[14] [15] [21] [22] Fonte: Prefeitura de Jahu
[16] [17] Fonte: Gisela C. V. Leonelli - De glebas a lotes: a insustentável produção da cidade, 2008.
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