O QUE TEM DEBAIXO DA TERRA?
ERICA MIRANDA SUCKOW
Diagramação e projeto gráfico: Thiago Venâncio Capa e Ilustrações: Freepik; Thiago Venâncio Revisão: Thainara Gabardo
Em uma cidade da região central do Brasil, Antônia, uma adolescente muito curiosa, vive com seus familiares e sua cachorra chamada Paçoca.
Após voltar da escola e antes de almoçar, Antônia sempre dá uma olhadinha nos vídeos de seus ídolos de J-pop para verificar as novidades e fofocas.
Mas, em uma segunda-feira que parecia ser normal, uma coisa muito estranha aconteceu.
O que é isso, Paçoca?
Começa um barulho abafado, como se algo estivesse se mexendo debaixo da terra, e tudo começa a sacudir. Paçoca entra correndo no quarto de Antônia muito aflita. 3
Paçoca se esconde embaixo da cama e fica tremendo de tanto medo. Enquanto isso, Antônia vê seus livros caindo da estante e escuta gritos vindos de seus vizinhos apavorados.
Júlio, irmão mais novo de Antônia, entra correndo no quarto e se junta à Antônia esperando que o tremor acabe.
Tônia, o que está acontecendo? Vamos morrer?
Calma, Júlio! Vai dar tudo certo! Já passa!
Depois de alguns segundos, tudo vai voltando ao normal. Cecília, a vizinha da casa da esquerda, sai na janela para ver se o estrago foi grande. Já Clóvis, o vizinho do sobrado da direita, liga para os pais de Tônia, Débora e Roberto, para ver se todos estavam bem. Tudo bem por ai?
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Mas o que pode ter acontecido? O que pode ser visto na cidade é muito pânico e muitos questionamentos sobre o ocorrido. Cecília vai até a casa de Tônia e, ao conversar com os vizinhos, começa a descrever o que sentiu com os tremores.
Nossa, Débora, foi terrível! Eu nunca me senti assim. Eu senti tudo tremer e as coisas começaram a cair no chão. O lustre da minha sala estava balançando e eu não sabia o que estava acontecendo. Até a água do aquário do Bóris ficou se mexendo.
Aqui em casa também sentimos os tremores. Tudo começou a balançar e as coisas caíram das prateleiras. Foi terrível!
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Tônia saiu correndo do quarto com a Paçoca para ver os estragos causados pelos tremores nas redondezas de sua casa e viu todos os seus vizinhos comentando e tentando descobrir o que poderia ter acontecido.
É o fim dos tempos! Onde já se viu, os deuses estão bravos!
João, um senhor que também mora perto da família de Tônia, falou que era o fim dos tempos, atribuindo o acontecido à fúria dos deuses. Outros mencionaram que a Terra estaria em cima de algum animal, que estava em repouso e agora deve ter andado.
Antônia já tinha ouvido falar dos tremores no Japão, já que sempre foi muito curiosa sobre tudo que ocorria lá, mas nunca imaginou que pudesse sentir isso no Brasil. 6
Quando Tônia disse às pessoas que achava que poderia ter acontecido um terremoto, todos começaram a rir dela, pois muitos acreditam que no Brasil não existem terremotos.
Talvez tenha acontecido um terremoto como os que vemos pela TV.
HA HA HA
HA HA HA HA HA HA
Não existem terremotos no Brasil, minha jovem!
Então, Tônia sugeriu que fossem tirar as dúvidas do acontecido com pessoas que estudam esses fenômenos naturais, pois estas podem explicar o que realmente aconteceu na cidade e quais seriam as medidas que poderiam ser tomadas para que isso não acontecesse mais.
Então vamos falar com quem entende do assunto! Ela conseguiu entrar em contato com o aluno Benjamin, que era conhecido de seus pais e estava fazendo mestrado em Geofísica na Universidade localizada nas redondezas da cidade. Marcaram uma conversa para o próximo dia para falar do que havia acontecido.
Benjamin 7
Na terça-feira pela manhã, Antônia, Roberto, Clóvis e mais alguns moradores foram até a Universidade que Benjamin estudava para conversar com ele e com um professor dele.
UNIVERSIDADE
Todos estavam aflitos e muito curiosos com o que aconteceu e já foram perguntando ao professor o que eram os tremores de terra.
Bom dia, professor. Eu sou o Clóvis, vizinho da Antônia, e estou muito curioso para saber o que aconteceu ontem.
Tivemos um grande tremor ontem pela manhã, professor. Sentimos tudo tremer como se estivesse passando algo debaixo da terra. Os lustres balançaram e meus livros das prateleiras caíram todos. O que aconteceu?
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Primeiramente eu gostaria de agradecer por terem vindo até a Universidade para tirarem as suas dúvidas. Essa relação entre Universidade e comunidade é muito importante para o crescimento de ambas.
Sobre a sua pergunta, foi detectado um terremoto de pequena magnitude ontem na parte da manhã.
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Os movimentos das placas tectônicas geram forças nos limites dessas placas. Essas forças podem deformar as rochas pelo processo de tensão, deformação e resistência. Quando as rochas rompem-se ao longo de uma falha geológica, ocorre um terremoto. Vale lembrar que temos terremotos que podem ser provocados por vulcões ou por movimentação dos gases.
Os dois blocos de rochas, em cada lado da falha, deslizam, liberando energia na forma de ondas sísmicas (tremores no solo). Nos limites das placas ocorre a convergência da maior parte da tensão e da deformação causada pelo movimento das placas.
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Limites divergentes: nesse caso, as placas tectônicas afastam-se em direções opostas, formando uma crosta oceânica. A dorsal meso-oceânica é um exemplo.
Limites convergentes: ocorre o choque entre as placas, fazendo com que uma se sobreponha a outra. Um exemplo desse movimento é o Himalaia.
Limites conservativos ou transformantes: o movimento que acontece é o movimento lateral, criando rupturas e deformações nas rochas. Tem como exemplo a Falha de San Andreas
Atividade sísmica
Epicentro: é a região da superfície onde se registra a maior intensidade de um terremoto e geralmente está localizada acima do hipocentro.
Epicentro
Hipocentro Falha Frente de ondas
Hipocentro: este ponto fica localizado no interior da crosta terrestre e é onde o terremoto tem origem. São nesses pontos que são produzidas as ondas sísmicas.
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?
Mas, professor, como podemos saber quando vai acontecer mais um desses tremores?
Um dos motivos pelos quais é tão difícil prever um terremoto é que não conseguimos saber se toda a energia da deformação acumulada desde o último terremoto foi ou não liberada – mudança de tensão do terremoto em uma falha próxima – ou seja, ainda não conseguimos prever de forma assertiva quando um terremoto acontecerá, mas, sim, conseguimos medi-lo. Sabemos em quais regiões esse fenômeno ocorre com maior frequência e, com esses dados, podemos pensar em construções que suportem os abalos e ajudar a preparar a população para esse tipo de evento.
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E o abalo que presenciamos foi muito forte?
Esse abalo que afetou a nossa região foi de uma magnitude baixa. Para sabermos qual foi a magnitude, usamos a escala Richter – escala criada por Gutenberg e Richter lá no ano de 1935 e que relaciona a magnitude e a energia. Ela não mede os efeitos do terremoto, mas indica a sua força. Ela tem base logarítmica e pode ser representada por meio da seguinte equação: log E = 11,8 + 1,5 M Em que E é a energia liberada em erg e M é a magnitude do terremoto.
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Escala de Magnitude Escala Richter Entenda a escala Richter A escala Richter foi batizada em homenagem ao físico Charles F. Richter, em 1935. Ela indica a energia liberada em um sismo e é medida pelos sismógrafos. A escala começa em 1 e, como tem base logarítmica, tem um aumento de 10 vezes na sua amplitude para cada aumento da magnitude. Já a escala Mercalli se baseia em danos produzidos e nos efeitos percebidos pelas pessoas. Escala de magnitude de terremotos Usualmente não percebidos, mas registrados pelo aparelho.
Micro
1,0-1,9
Vibrações detectadas.
Devastação com mortes. Janelas movimentando-se ou quebradas, leves danos. Rachaduras em estruturas.
2.0-2,9 3.0-3,9 4.0-4,9
Menor
Colapso de estruturas e deslizamento de terra.
Leve
5.0-5,9
Moderado
6.0-6,9
7.0-7,9
Forte
Maior
8.0-8,9
9.0 e maior
Grande
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Essa escala logarítmica é muito utilizada em diversos campos e facilitou muito as operações ao transformar algumas operações em outras mais simples.
log E = 11,8 + 1,5 M Nossa, professor, que legal! Gostei muito dessa área de estudo! No vestibular quero fazer algum curso em que eu possa estudar mais os fenômenos que envolvem a Terra.
Isso, Antônia! O Brasil precisa muito de pessoas que fazem pesquisa e que desenvolvem e aplicam seus estudos aqui no país. Se quiser tirar alguma dúvida sobre os cursos, podemos conversar. A Universidade oferece feiras de cursos também.
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Após tirarem as dúvidas do acontecido, Antônia e seus vizinhos voltaram às suas casas e explicaram tudo o que aprenderam para os outros moradores.
Antônia começou a monitorar todos os sismos da região e estudar mais sobre os terremotos e outros fenômenos relacionados.
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