Foto: Internet
nas Artes
A arte e o social se misturam Crianças e adolescentes da cidade encontram perspectiva em projetos sociais. Mais ainda, na arte. PÁG. 03
Jornal Laboratório da Faculdade Cearense | Curso de Jornalismo | Quinto Semestre 2012.1 | Turno Noite
Foto: Andrea Araujo
Opinão
Porque todo mundo tem algo a dizer sobre arte a arte tem um significado diferente para cada um de nós. P. 02
Educação
A arte nas salas de aula
Muro da Reitoria da Universidade Federal do Ceará
Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça
Do ensino de educação artística aos cursos nas universidades, a arte é institucionalizada e ensinada. PÁG. 04
A arte usada para prostestar e demonstrar indignação. Conheça os Aparecidos Políticos, que querem dar nome aos que merecem. PÁG. 06 e 07
Meio Ambiente
Diversidade
Reciclar é fazer arte
A arte transformista
Sustentável e ecologicamente correto, a arte feita com materiais reciclados é fonte de renda. PÁG. 05
Travestis: fazem arte ou não? P.ÁG 12
LITERATURA
Foto: Internet
Foto: Nilo Saraiva
Cordéis ou E-Books 13° edição do Dragão Fashion Brasil
À moda antiga ou com tecnologia de ponta, o importate é ler. PÁG. 09 Travestis que trabalham na noite de Fortaleza
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Focas nas Artes Jornal Laboratório
EDITORIAL
OMBUDSMAN
Arte em todo lugar
D
efinições, parâmetros e regras não dão conta de explicar a arte. Ela é dinâmica, é social, é econômica e é histórica. É isso que o Focas traz nesta edição: a arte sob vários enfoques na cidade de Fortaleza. A arte que procura os desaparecidos políticos da ditadura. A arte dos travestis quebrando os padrões. A arte institucionalizada das universidades. A arte dos projetos sociais que colocam pra dançar as crianças da periferia. Qualquer arte e em qualquer parte. Quando uma comunidade utiliza o lixo, dentre outros utensílios, para produzir arte e esta vira renda, essa ação ultrapassa categorias e vira item econômico, item social, além de item artístico. Focas nas Artes traz ainda a reflexão sobre esta arte que está espalhada em todo lugar, por quem ela é feita; além da transformação que ela pode trazer para a vida das pessoas. E é papel nosso, todos os dias, questionar esta arte, para quem ela serve e de onde ela vem. Começa daí a tal definição de arte que os teóricos ou críticos tanto desejam. A arte só faz sentido se entendida dentro do processo histórico e social no qual ela foi gerada. É arte contextualizada.
U
m jornal laboratório é antes e mais nada espaço de experimentação. Momento em que a linha tênue que separa o acerto do erro desaparece. O certo é fazer o bom jornalismo. O errado é não dar vazão à pluralidade de opiniões, ao confronto de ideias, à apuração precisa, à edição sedutora e jornalísticamente ética. Os bancos da sala de aula nos dão o norte. As leituras, os debates, a formação ofertada pela instituição e seus professores servem-nos de bússula a nos sinalizar o caminho. O Focas é um desses espaços oportunizado aos alunos da Faculdade Cearense. No entanto, é preciso mais. A edição que escolheu como tema a ARTE é um exemplo claro de que os muros da universidade não dão conta da pluralidade da rua, da vida e também
*Este jornal foi produzido durante o semestre 2012.1, sendo sua impressão viabilizada somente em novembro de 2012.
EXPEDIENTE Focas nas Artes é uma publicação da disciplina Laboratório de Jornalismo Impresso, da Faculdade Cearense. Os textos assinados refletem o trabalho jornalísticos dos estudantes da disciplina. Conselho editorial Andréa Araújo // Fábio Nobre // Fidel Relson // Girlane Arruda // Joyce Marçal // Rhodinelles Braga Projeto gráfico André Luís Cavalcanti Diagramação Thiago Bezerra Ombudsman Profa. Joana D’arc Dutra Orientação e revisão da edição Profa. Klycia Fontenele Coordenador do Curso de Jornalismo Prof. Edmundo Benigno Gestor Acadêmico Prof. Marco Antonio Diretor Geral Prof. José Luiz Torres Mota Tiragem: 500 exemplares Faculdade Cearense - Campus I: Av. João Pessoa, 3884 Damas. Fortaleza - Ceará. Fone: (85) 3201.7000. www.faculdadescearenses.edu.br
los, legendas e quadros/boxes é tão importante quanto apurar. Esta edição do Focas traz a rebeldia que a experimentação permite. Em suas falhas, mas também em seus méritos. Porque desconstrói o conceito clássico de arte. Traz o marginal para o protagonismo. Dá voz às minorias e comemora o belo na sua versão radical. Quando leio sobre a arte e sua relação com a ditadura, com a rebeldia, com a transgressão penso: ah! esses são os meus meninos, são os meus focas queridos e interessados. Vida longa a este projeto que tive a alegria de dar início e que festejo cada nova fase.
Joana D’arc Dutra Jornalista, professora e mãe da Ana Sofia
O QUE SE DIZ POR AÍ A LIBERDADE OCULTA Thaíla Cavalcante
Boa leitura.
do que se chama arte. Alguns textos são tão iguais ao que foi enviado pelas fontes oficiais que chegam a divulgar o telefone da assessoria de imprensa, como no caso do texto sobre o Cuca. O texto jornalístico pulsante também deve ser mais do que o que já está disponivel aos olhos dos mais atentos. É preciso personalizar nossos textos. Quando ocupamos o jornal com aspectos históricos que estão em fontes secundárias, como internet ou os livros, perdemos a oportunidade de pulsar o cotidiano. Jornalismo é cotidiano. Este aspecto não é tão simples, atualmente. Em tempos de jornalismo sentado, um telefone e o acesso à rede parecem resolver tudo, mas não resolvem. Além disso, é preciso apreço pela edição. Cuidar das imagens e do títu-
Arte é viajar pelo mundo das cores, da comunicação através de sinais, de símbolos ocultos. De alguns que gritam com toda a força e vontade de expor sua opinião, seus pensamentos, sua visão de mundo. Outros representam os seus receios, sua vontade de libertar sentimentos, de viver, de descobrir novos horizontes, vivenciar novos mundos, ideias, realizar sonhos e planos. Um misto de sentimentos desordenados, que percorre passado, presente e sem dúvida fará parte de um futuro não muito distante. Linguagem que nos leva à reflexão, que nos faz pensar sobre nossos atos; os caminhos que surgem diante de nossos pés, o destino traçado para alguns, o acaso buscado por outros. Vidas saltando de tintas, sons, imagens, desenhos. Vidas sendo construídas e um passado muito presente sendo representado por esses elementos que ajudam a construir um futuro quem sabe melhor. É difícil definir o sentindo de Arte, mas como ela é tão complexa e abrangente, podemos considerar como algo que junta emoção e perplexidade, a paz e o belo, a harmonia e a desordem. Uma forma de representar o tempo, de contar histórias e encantar a vida. Arte é ser, sentir, pensar e agir. Arte é viver o ontem como se ele fosse o hoje. O amanhã como se ele não tivesse fim.
A ARTE QUE VENCEU O MEDO
ONDE MORA A ARTE?
Inês Alves da Silva
Andrea Araujo
Aos vinte e três anos Maria Sofia da Silva teve coragem para enfrentar os medos e porque não dizer os fantasmas que povoam a mente humana. Ela buscava no palco um espaço para atuar como atriz e descobriu que até para ser artista era necessário passar por aprovações, não só físicas, mas também psicológicas vindas de si mesma. Quando houve uma seleção para um grupo de teatro no colégio Fênix Caixeral, um grande número de cearenses se inscreveu e a jovem convicta dos seus objetivos não ia deixar essa chance passar, pois quem fosse aprovado naqueles testes teria a chance de fazer um curso de teatro gratuitamente. No final do processo seletivo, veio a surpresa. Sofia, com apenas 23 anos, tinha sido aprovada para atuar nos palcos do Theatro José de Alencar. A notícia veio acompanhada de uma grande emoção, pois ela alcançou o seu ideal. Hoje, Sofia não vive do teatro, mas ama a arte de representar.
Vernissages, esculturas da Roma antiga, Matisse, Mondrian, Monet. A arte dos museus é a arte que se vê atrás da vitrine. A arte que está nos catálogos e nos livros de história da arte. Famosos escultores, artistas renomados e muito dinheiro envolvido. Quando se pensa em arte, se pensa nessa arte maior. Maior porque a colocaram num pedestal, explico. Maior em espaço no mundo. Mas onde está localizada a arte dos grafiteiros e dos músicos dos metrôs? Onde encaixar, em qual catálogo estará a música dos guetos, que ecoam a realidade social da maioria dos que vivem nesse mundo moldado pela arte ‘oficial’? Deixa de ser arte porque não está exposto ao lado da Monalisa de Da Vinci? A arte é arte em todo lugar. Arte no sentido amplo. Arte que é feita nas ruas ou nos ateliês. É inspiração vinda de todo lugar e feita por qualquer pessoa. O que muda é o discurso dessa arte. Arte que está sempre vestida de classe social.
Quer falar conosco?! Escreva-nos jornalfocas@gmail.com
Focas nas Artes Jornal Laboratório
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PROJETOS SOCIAIS
A arte que transforma vidas com educação, lazer e trabalho, organizações sociais mudam a vida de jovens e crianças pobres de Fortaleza
BCAD - Bailarinos de Cristo Amor e Doações Foto: Arquivo BCAD
VIDANÇA
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projeto Vidança (Associação Vidança Cia. de Dança do Ceará) é um ponto de cultura localizado no bairro Vila Velha em Fortaleza. Trabalha com crianças e jovens desde 1981, realizando trabalhos com dança. Sob a direção da coreografa Anália Timbó, também oferece diversos cursos como percussão, corte e costura, bordado, carpintaria, artes manuais, hip hop e capoeira. O projeto vem mudando os pensamentos de crianças e jovens do bairro e adjacências. John Vitor (13) é um dos exemplos. Aprendeu a bordar nas aulas do projeto, que para a maioria dos meninos de sua idade “é coisa para meninas”. Além das aulas de dança, a ONG trabalha com a leitura, música e o desenvolvimento da cidadania para as crianças. Mantém, ainda, uma biblioteca comunitária. Informações: Vidança: Av. Francisco Sá, 7880. Barra do Ceará. Fortaleza/CE. Tel. 3485-3435
EDISCA
E Crianças e adolescentes em apresentação do grupo BCAD
Claudyane Oliveira Diego Amorim
F
undado em 1994 pela professora de balé e coreógrafa Janne Ruth, o BCAD é destinado à prestação de serviços gratuitos para comunidade nas imediações da entidade. A forma de realizar os espetáculos é através dos festivais, mostras de dança e teatro, que transformam a vida dos participantes.
O objetivo do projeto é proporcionar educação, arte e cultura a comunidades carentes de Fortaleza, através da dança, teatro, manifestações culturais, bem como, através das diversas modalidades de esportes. Durante os 11 anos de existência do projeto, 150 premiações foram conquistadas no Brasil e no exterior. Dentre elas, o Prêmio de Melhor Expressão Corporal no V Festival Internacional de Danza de Mar del Plata (Uruguai).
Tainá França integra o corpo docente do projeto. Ela começou a fazer balé no BCAD em 2004 e, com esforço e dedicação, passou a ensinar baby class em 2011. Na Instituição, cerca de 400 crianças já frequentaram o espaço, diz Tânia Fonseca, secretária da Cia. de dança. Informações: BCAD: Rua Paraná, 3. Bela Vista. Fortaleza/CE Tel. 3482-0510
disca (Escola de Dança e Integração Social para Crianças e Adolescentes) é uma organização não-governamental sem fins lucrativos. Desde 1991, promove o desenvolvimento de crianças, adolescentes e jovens que se encontram em circunstância de vulnerabilidade social. Através da educação centralizada na arte, a ONG já atendeu 400 crianças e adolescentes diretamente, além de outras 2,4 mil pessoas da comunidade, indiretamente. Oferece cursos que vão desde o ensino de dança, teatro, artes plásticas até informática e programas de estágios. “Eu era muito tímida, mas com as aulas de dança consegui me soltar.”, conta Alessandra Alves (12). Informações: Edisca: Rua Des. Feliciano Ataíde, 2309. Luciano Cavalcante. Fortaleza/CE. Tel. 3278-1611
Cuca Barra do Ceará é referência na vida de jovens e adolescentes Foto: Internet Roberta Santos
O
s projetos sociais têm por finalidade formar cidadãos para uma sociedade melhor; capacitando e envolvendo o jovem ou adolescente em atividades que o façam refletir e pensar. O Cuca da Barra do Ceará é um exemplo disso. O primeiro Centro Urbano de Cultura e Arte municipal foi inaugurado pela Prefeitura de Fortaleza em 10 de setembro de 2009. Desde a sua inauguração, tem oferecido cursos gratuitos para todos os jovens da comunidade nas áreas de: teatro, cinema, fotografia, dança e música. Conta, ainda, com
um ginásio, teatro, anfiteatro, pistas de esportes radicais, piscina semiolímpica campo de futebol de areia, salas de aula e laboratórios de fotografia, vídeo e rádio. Tornou-se um espaço recreativo onde os jovens se encontram para estudar, praticar esportes e passar o tempo. Projetos como esse têm contribuído para o desenvolvimento de jovens que poderiam estar marginalizados. No Cuca, eles ocupam o tempo aprendendo a fazer arte e praticando esportes. O Cuca foi criado para beneficiar jovens de todas as classes sociais. Atualmente, possui 14 mil jovens matriculados. O Centro funciona de segunda à sexta, de 8h às 18h; e aos sábados de 8h às 12h. Para participar basta, ter ente 15 e 19 anos. Mais informações: 3237 4688. Centro Urbano de Cultura e Arte (Cuca) da Barra do Ceará
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Focas nas Artes Jornal Laboratório
EDUCAÇÃO
Arte também se aprende na universidade
LEIS A FAVOR DA ARTE
DA TRAJETÓRIA HISTÓRICA DO ENSINO DA ARTE NO BRASIL AO CURSO SUPERIOR NAS UNIVERSIDADES CEARENSES
• Antes das leis
Hsiu Lin Hwang
U
niversidade Federal do Ceará (UFC) é uma das instituições que oferece o maior número de cursos no estado. São ao todo nove cursos disponíveis para quem pretende ingressar na área da arte. A UFC disponibiliza os cursos de cinema, teatro, música e design de moda, porém, a demanda
Karine Alencar
maior na procura é pelo curso de artes cênicas. Em julho de 2003, surge o ICA – Instituto de Cultura e Arte. Desde então, o órgão passa a reunir projetos e grupos de extensão na área artística. Para o diretor do ICA, Sandro Gouveia, “os cursos na área da arte nas universidades surgem para não apenas formar os artistas, mas para trazer uma nova visão do que é a arte, é o saber interpretar, criar, e ler seu próprio pensamento”. Designado como unidade acadêmica, o ICA
desenvolve atividades de ensino (graduação e pós-graduação), pesquisa e extensão nos cursos de cultura e arte. Hoje esses cursos apresentam disciplinas específicas para cada área e os alunos recebem aulas teórico-científicas e cadeiras práticas para a formação e atuação no mercado de trabalho. A professora, Inês Cândido diz que “ser professora de arte e artista ao mesmo tempo é buscar os sentidos da alma. É fugir dos estilos tradicionais e fazer a leitura do mundo a partir da paixão”.
da Arte Moderna de 1922, cujo ápice foi a Semana de Arte Moderna, realizada nos dias 13 a 17 de fevereiro, em São Paulo, no Teatro Municipal. O evento reuniu acontecimentos e pensamentos importantes, que mais tarde contribuiriam para o ensino da arte como livre-expressão. O evento é considerado, por muitos historiadores, um dos movimentos definidores da cultura brasileira. Na época, intelectuais do Brasil tiveram ideias revolucionárias após a experiência vivenciada com as vanguardas artísticas euro-
peias, destacando o futurismo, o surrealismo e o expressionismo. Vale ressaltar, também, que o ensino da arte como livre expressão no Brasil teve forte influencia da psicanálise de Sigmund Freud. Influenciados pelo boom destes evento históricos e impulsionados pelo imperativo da inovação e adaptação de novos cursos para ingressar no ensino superior, faculdades particulares e públicas aderem a novos bacharelados e novas modalidades de cursos voltados à arte.
Um pouco da história A faculdade pioneira de arte no Brasil foi a Academia Imperial de Belas-Artes, criada através de decreto-lei datado de 1816. Em março do mesmo ano, chegaram ao Rio de Janeiro vários artistas com o objetivo de fundar e colocar em prática a Escola Real de Ciência, Artes e Ofícios que, depois da Proclamação da República (1889), teve seu nome mudado definitivamente para Escola Nacional de Belas-Artes. Um marco importante da arte no Brasil foi caracterizado, a partir do movimento
Antes, os professores que lecionavam Educação Artística e Arte não possuíam formação acadêmica na área, as atividades focavam em trabalhos manuais e na prática de eventos em datas comemorativas.
• Lei nº 9.394 (de 20/12/1996) O artigo 26ª determina que, nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, é obrigatório o ensino de História e Cultura Afrobrasileira (Incluído pela Lei nº 10.639, de 09/01/2003). Art. § 26. 2º. O ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos. Entre os conteúdos para desenho destacam-se: linhas retas e suas combinações, princípios de desenho, circunferências, polígonos, rosáceas estreladas, curvas, desenho de figura, desenhos do natural e de paisagem.
• Lei nº 11.769 (de 18/08/2008)
MEMÓRIA
Um Maestro da Vida Foto: Tobias Saldanha
Maestro Costa Holanda no seu momento de descanso
Regina Lúcia
E
m 1964, aos doze anos de idade, Holanda teve a oportunidade de conhecer a música através de um projeto artístico do Colégio Piamarta, no qual os alunos tinham aulas de música e participavam da banda instrumental da escola. Garoto de família humilde, jamais pensou que um dia se tornaria um grande maestro. Nos anos 60, o Piamarta trouxe para Fortaleza uma nova proposta de educação, educar por
intermédio da arte, além de atender a crianças carentes. "Para participarmos da banda tínhamos que ser bons alunos, pois ter disciplina era fundamental para aprendermos a tocar os instrumentos. Com a banda tivemos a oportunidade de conhecer outros estados e países, vivenciamos um intercâmbio cultural inesquecível.”, relembra Holanda. Aluno aplicado, Holanda apaixona-se pela música e aos 15 anos é convidado pelo padre Luis Repuffini, um dos fundadores da escola, para auxiliar o maestro Antônio Estanilau de Oliveira que, na época, regia a banda. Em 1972, torna-se maestro da banda Dona Luíza Távora,
projeto ligado à escola Piamarta, com o qual se apresentou em todo o Brasil e no mundo. Francisco José Costa Holanda é mestre em música pela Interinstitucional de Música Minter Educacional. Há 29 anos é professor do curso técnico de música do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE). O músico foi maestro da banda do Colégio Piamarta até 2010. “A música transformou a minha vida e me deu a oportunidade de fazer o mesmo com os meus alunos. Alguns deles não tinham boas perspectivas de vida e através da banda, se tornaram grandes músicos e me dão muito orgulho.”, finaliza Holanda.
O presidente Lula sancionou lei Nº 11.769 que estabelece a obrigatoriedade do ensino de música nas escolas de educação básica. Para música, constam cânticos escolares, conhecimento e leitura de notas, compassos, claves, cânticos e coro.
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MEIO AMBIENTE
Arte com materiais recicláveis gera lucro e renda no Ceará FAMÍLIAS E COMUNIDADES VEEM, NO ARTESANATO COM MATERIAL RECICLÁVEL, A OPORTUNIDADE PARA GARANTIR O SUSTENTO E PRESERVAR O AMBIENTE
C
riar objetos com material reciclado é como ter duas aventuras ao mesmo tempo. Uma leva a cuidar do planeta, diminuindo a poluição gerada por plásticos, vidros e outros materiais que podem ser reciclados. A segunda aventura é a capacidade de usar a criatividade e imaginação para dar uma nova função e forma a estes materiais. Este trabalho é reconhecido por muitos como uma forma de arte. Em Fortaleza, a arte realizada com materiais recicláveis é uma atividade que vem crescendo. Ela traz o objetivo de garantir o sustento de famílias e comunidades e também de preservar a natureza pensando em uma cidade melhor. O homem moderno se relaciona com a natureza, apropriando-se, muitas vezes de forma predatória, transformando os recursos naturais. Isso é característico do modelo de desenvolvimento econômico do sistema capitalista. Foi por meio da reciclagem que o descarte de materiais passou a servir para ser reconsumido, não causando problemas para o meio ambiente. A Sociedade Comunitária de Reciclagem de Lixo do Pirambu (Socrelp), que atua desde 1994, trabalha com a coleta seletiva. Eles contam com a ajuda de diversos parceiros como a Secretaria de Meio Ambiente do Ceará (Semace). Assim, papéis e papelões se transformam em blocos, cartões, álbuns de fotografia e pastas para eventos. Garrafas pet em fios para fazer blusas e calças jeans. Bacias e baldes, garrafas de detergente e desinfetante voltam ao mesmo formato como
novas embalagens. As atividades garantem renda a mais de 60 famílias (cerca de 300 pessoas) da comunidade. A produção na associação ainda é pequena. Mesmo pequena, há uma produção interna para venda local e sob encomenda, inclusive, produtos já foram exportados para a Europa. “Já chegamos a enviar blocos para a Itália e fornecemos embalagens e papéis para duas lojas de shoppings da cidade.”, revela Francinete Cabral Lima, tesoureira e fundadora da Socrelp Negócios Pequenos empresários vêm investindo no estado em produtos ecológicos, gerados pelo artesanato de reciclagem. O investimento em sustentabilidade gera bons resultados para empresas de pequeno porte. Os produtos com materiais reciclados têm uma clientela cada vez maior. O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) vem ajudando esses empreendedores a transformarem boas ideias em negócios lucrativos. Além da inovação de produto, não é só o interesse no lucro que a maioria destas empresas está interessada. Elas apostam em despertar a consciência ecológica nos clientes. Com o investimento de microempresários na área de artesanato com material reciclável, Fortaleza se consolida como uma cidade que se destaca nessa atividade. Para atender à demanda de consumidores que é cada vez maior, existem lojas de artesanato por toda a cidade. Os dois melhores locais para se pesquisar preços e fazer compras dos trabalhos artísticos realizados na cidade são a Feirinha da Beira-Mar e o Mercado Central de Artesanato.
Foto: Nilo Saraiva
Moda sustentável Eliza Fontes
A
Moda que se mistura à arte
moda cria peças e tendências, mas o que se pode observar hoje no mundo da moda é sua união com a sustentabilidade. Em sua 13ª Edição, o Dragão Fashion Brasil veio em mais um ano com esse objetivo. Um evento de moda que tem como característica o Ceará como arte e expressão, é um verdadeiro exército de materiais ecológicos que fazem brotar ideias maravilhosas em cabeças pensantes, visando à diminuição do impacto ambiental. É possível ver um mundo de criatividade dentro de um só lugar. Obras de arte com materiais recicláveis nos fazem ter uma reflexão sobre o que tudo aquilo quer nos mostrar. Como artistas conseguem fazer de um simples pote de isopor de sorvete, uma obra que faz com que todos fiquem admirados. O tema do DFB esse ano foi “Consciência Criativa”, o que estilistas e artistas conseguiam fazer com um tema que envolve a criatividade com a simplicidade dos materiais. Tendo a moda como exemplo, podemos utilizar dessa ideia “Ecofashion” e transformar peças e objetos que não são mais utilizados, em algo novo.
Foto: Samia Saraiva
Rhodinelles Braga Samia Saraiva
Francinete Cabral, fundadora da Socrelp, exibe com orgulho alguns dos trabalhos realizados na associação
ENTREVISTA
Fábrica que é do bem A Fábrica do Bem é um projeto socioambiental do Shopping Benfica que, desde 2005, ensina através de cursos gratuitos, a reciclagem como arte. Os voluntários aprendem a fazer materiais artesanais com garrafas Pet e ajudam na preservação do meio ambiente, descobrindo uma nova forma de renda e os benefícios para o ecossistema. Focas: Como surgiu a intenção do projeto? Fábrica do Bem: Inicialmente o projeto tinha uma intenção cultural, mas adquiriu uma forma social pela integração entre os participantes, estimulando a solidariedade, através dos voluntários, do sentimento de fraternidade, autoestima e da possibilidade de renda extra. Focas: Quais os objetivos principais da Fábrica do Bem? Fábrica do Bem: Os principais são a conscientização da população, promovendo a reciclagem, contribuir para a redução do lixo nas ruas, valorizar a criatividade, através da arte de reciclar e aumentar a renda familiar. Os produtos transformados em artesanatos não são expostos à venda e sim doados para instituições carentes. Focas: Qual o público que procura pelo curso gratuito? Como os interessados podem participar? Fábrica do Bem: A grande parte da procura é feita por mulheres que desejam aumentar a renda familiar. Em segundo lugar, percebemos o interesse na arte como terapia. O curso é totalmente gratuito e os interessados podem nos procurar de segunda à sexta, das 14hs às 22hs, no 1º piso do Shopping Benfica (Av. Carapinima, nº 2200, Benfica, em Fortaleza.Tel: 85 3243.1000). Focas: Qual o tipo de material utilizado? Vocês recebem doações? Fábrica do Bem: Nosso principal material são as garrafas Pet, sacos plásticos, tampas de garrafas e outros produtos que possam ser reciclados e transformados em artesanato. As doações são muito importantes já que contribuem para nosso trabalho que é gratuito.
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Focas nas Artes Jornal Laboratório
INTERVENÇÃO
Arte nos porões da m
“PARA QUE NÃO SE ESQUEÇA, PARA QUE NUNCA MAIS ACONTEÇA” É O LEMA DOS QUE LUTAM PARA DESVELADOS. SEJA COM A COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE OU COM A ARTE DOS APARECIDOS P
Andrea Araujo Joyce Marçal
O
s 21 anos de Ditadura Militar, regime que comandou o Brasil de 1964 a 1985, ainda são motivo de entrave para o atual processo de democratização e de busca pela identidade do país. Os fantasmas da tortura e dos crimes políticos ainda vagam e arrastam correntes. Mas, um passo à frente foi dado no dia 16 de maio deste ano, com a instalação da Comissão da Verdade pela presidenta Dilma Rousseff. Segundo a lei 12.528, que rege a Comissão, o objetivo é “examinar e esclarecer graves violações de direitos humanos”. Sete membros compõem a comissão: Gilson Dipp, ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), João Paulo Cavalcanti Filho, ex -presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica, Rosa Maria Cardoso da Cunha, doutora em Ciência Política, Paulo Sérgio Pinheiro, relator da Infância da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, Cláudio Fonteles, membro do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa, Maria Rita Kehl, doutora em Psicanálise e José Carlos Dias, conselheiro da Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo. No momento em que é anunciada a Comissão, alegram-se os que lutam pela causa e se enchem de esperanças os que ainda hoje tentam achar os corpos – ou esclarecer as condições reais das mortes – de seus parentes. Tema delicado e polêmico, ainda há muito que se explicar e entender sobre esse recente passado histórico.
Intervenção e protesto Mas o que a política não consegue explicar ou resolver, a arte tenta. Quando as liberdades são limitadas, seja em qualquer época, a arte toma lugar de importância ao dar voz aos que não se conformam com a violação de qualquer direito. A luta pela verdade não precisaria estar institucionalizada numa Comissão com ares de lei. É o caso do coletivo de artistas Aparecidos Políticos, que usa a arte como intervenção social e de protesto. Formado por estudantes de artes visuais e audiovisuais de Fortaleza, o grupo surgiu em 2010 com o intuito de fazer intervenções urbanas com arte ativista. “Acreditamos que a arte não é somente um instrumento de política, ela é a própria política.”, diz Alexandre de Albuquerque Mourão, integrante do grupo. A ideia de montar o grupo surgiu quando os restos mortais do cearense Bergson Gurjão, morto na guerrilha do Araguaia, chegou a Fortaleza no dia 6 de outubro de 2009. Alexandre ficou sensibilizado ao ver a nova sepultura do guerrilheiro após 37 anos de sua morte e decidiu que algo precisaria ser dito sobre essas mortes e esses casos ainda sem solução. Na primeira intervenção, espalharam na cidade colagens, retratos de desaparecidos políticos e pedaços de madeira com formato de partes do corpo humano – fazendo alusão aos ex votos religiosos. “No Ceará é muito comum que os devotos, quando conseguem um milagre, façam oferendas aos santos como um testemunho público de gratidão. Queríamos fazer uma crítica às graças não alcançadas, como o aparecimento dos corpos dos desaparecidos políticos.”, explica Gelirton Almeida, artista integrante do coletivo.
PERFIL
Descartes: o artista expõe suas vivências Andrea Araujo Joyce Marçal
N
ascido em 18 de junho de 1943, o pintor, escultor, escritor e músico cearense Descartes Gadelha nos mostra que a arte transforma. Ao produzir várias obras retratando problemas sociais de Fortaleza, afirma que a sua produção não surge do nada, como se fosse mera inspiração. Na exposição Catadores do Jangurussu, de 1989, o pintor conta que na tentativa de pintar um pôr do sol para presentear uma amiga, sentiu um cheiro de azedume na região. Perguntou para uma criança de onde vinha aquele mau cheiro e o menino apontou para o lixão do Jangurussu. “Resolvi ir até o local e quando me deparei com aquela realidade me senti no mundo de Dante, em seus livros. Era
inacreditável ver aquelas pessoas comendo os restos de comida dentro do próprio saco de lixo foi chocante.”, relembra. Profundamente sensibilizado, Descartes morou um ano no lixão, retratando a vida daquelas pessoas que moravam ali. “De alguma forma queria ajudá-las... mas, na verdade, foram elas que me ensinaram a ser mais forte e amar ao próximo.”, conta. Além dos Catadores, Descartes expôs outras obras que mostravam pessoas à margem da sociedade cearense. Com linguagem expressionista, pintou De um Alguém para Outro Alguém (1990), Cicatrizes Submersas (1997), Iracemas, Morenos e Coca-colas (2004). Participou de exposições coletivas em São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Venezuela. Apaixonado pela arte, ele finaliza dizendo que “a arte é uma forma de viver. Ela é minha família, minha religião, meu alimento.”.
Obra do artista inspirada em La Pietá de Michelanelo, a Pietá do Lixo | Foto: internet
Arte-intervenção do grupo Aparecidos Políticos na Av. 13 de Maio
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memória
A VER OS FATOS DA ÉPOCA DA DITADURA MILITAR POLÍTICOS, NÃO HÁ SILÊNCIO NOS TAIS PORÕES Foto: Inês Alves
Os Aparecidos Políticos ousaram mais ainda. Em 2011, decidiram rebatizar as instituições que levavam nomes de militares. O Centro Social Urbano Presidente Médici foi renomeado como Edson Luís, estudante assassinado pela Ditadura em março de 1968; e a praça do 23º Batalhão de Caçadores, o 23BC, na Av. 13 de Maio, ganhou novo nome: Praça do Preso Político Desaparecido. Sobre a Comissão Nacional da Verdade, o coletivo faz críticas sérias. “A comissão dá nome aos torturadores, mas os anistiam, logo, é de meia verdade.”, protesta Marcos Venícius, artista que assina suas obras com o nome do desaparecido político Mariano Joaquim. Prática, inclusive, adotada pelos demais integrantes do grupo. O desaparecido político Bergson Gurjão empresta seu nome ao artista Gelirton, já Oswaldão nomeia o artista Alexandre. Lúcia Petit é o codinome de Viviane e Arildo Valadão tem o nome nas obras de Bruno Mosquito. Eles usam pseudônimos para homenagear os desaparecidos políticos, como se assim pudessem trazê-los de volta.
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ENTREVISTA
Caminhando contra o vento ÁPIO PONTES É MÚSICO, COMPOSITOR E PESQUISADOR
Litay Montenegro
Focas: Você viveu a ditadura militar? Ápio Pontes - Quando a ditadura acabou eu tinha 20 anos . Mas ainda vivi essa época. Senti mais os reflexos e efeitos dela depois do fim. Focas: Como funcionava a censura? Ápio Pontes - Havia uma liberdade restrita. Até para entrar no cinema havia aqueles homens de paletó do Juizado de Menores, regrando a entrada de cada pessoa. Quem tentasse burlar a idade para assistir a filmes impróprios simplesmente era preso. E nos programas de TV e rádio não se falava tudo que pensava, como hoje em dia. Havia também risco de prisão. As palavras tinham triplo sentido e o governo militar regrava o que se dizia, o que se escrevia e até as expressões e os gestos. Por um lado era bom, por outro ruim. Ninguém saía às ruas depois das 22 horas. Por outro lado, havia uma certa segurança que hoje já não existe.
PCdoB. Um partido que era totalmente contra os partidos da época, como Arena e MDB. Lula liderava o PT e a história dele todo mundo sabe. Na época da Ditadura, havia políticos que batalhavam por melhores dias. Hoje, vivemos uma época de vale-tudo. Desapareceram os grandes homens públicos, foram substituídos pelos políticos profissionais. Todos querem enriquecer a qualquer preço. Garantidos pela impunidade, sabem que se forem apanhados têm sempre uma banca de advogados regiamente pagos para livrá-los de alguma condenação. Essa é a verdade. E isso reflete nas músicas, que não têm mais o mesmo teor que tinham. Hoje, a juventude está ligada em forró e gêneros musicais que só fazem alienar as pessoas. Focas: Então, quer dizer que era para haver postura dos jovens de hoje perante a política? Ápio Pontes - Hoje não se vê mais motivos, não se vê protestos. Quer dizer, era pra haver... Mas a juventude está alienada com outros motivos, não se pensa mais em mudanças como pensava a juventude dos anos 80. Hoje é cada um por si e Deus por todos.
Foto: Inês Alves Focas: Como as pessoas protestavam através da música? Ápio Pontes - As letras das músicas tinham duplo sentido. Havia um movimento chamado Tropicália em que participavam Caetano Veloso, Maria Bethania, Tom Zé, Gil, Gal Costa. No conteúdo dessas músicas, sempre havia um protesto escondido em relação aos militares.
Aparecidos políticos: intervenção urbana
OPINIÃO A VIDA NECESSITA DA ARTE Joyce Marçal
“A arte existe porque a vida não basta”, essa frase do grande poeta Ferreira Gullar nos leva a uma reflexão. O que seria da vida humana sem a arte? Ela é a forma mais bela que o homem tem para expressar a sua subjetividade, o seu universo particular e coletivo. Vivemos em um sistema que nos leva a sermos objetivos e individualistas fazendo com que sejamos engolidos pelo nosso cotidiano, sem questionarmos o que nos é imposto. Quando produzimos ou consumimos a arte seja na literatura, pintura, música, dentre outras expressões artísticas, nos tornamos seres mais completos e produtivos. A arte também é uma preciosa ferramenta para manifestarmos nossas indignações, questionamentos e reflexões quanto ao mundo em que vivemos. Um país que investe nas artes tem uma cultura mais rica e uma sociedade atuante, pois seus cidadãos conseguem enxergar além da sua realidade e aprendem a conviver com a diversidade humana. Através da arte o homem e a mulher constroem um mundo melhor de se viver.
Focas: Como os jovens se comportavam perante a política? Ápio Pontes - Eu participei de vários protestos contra a ditadura militar. Eu era filiado ao
Aula de arte e cidadania Andrea Araujo Joyce Marçal Quando chegou à Escola Municipal Antônio Diogo Siqueira, no Bom Sucesso, em agosto de 2011, a professora Patrícia Forte foi informada que os alunos não tinham aula de educação física há mais de um ano. A quadra era utilizada para o lazer das crianças, mas as condições eram precárias. Pintura desgastada, problemas de infiltração. Não era um ambiente agradável para nenhuma atividade. Patrícia, então, teve a iniciativa de estimular seus alunos do 6º ao 9º ano a fazer arte na quadra do colégio. Em fevereiro deste ano, a professora reuniu os alunos para fazer grafites nas paredes internas da quadra. Cada série teve um espaço para grafitar temas relacionados à saúde e ao meio ambiente. “O objetivo era tentar mudar o hábito dos alunos que já usavam o local para a pichação, usando sua habilidade para algo produtivo. Valeu à pena. Todos conseguiram captar a ideia, passando a respeitar o espaço.”, diz Patrícia. O curioso é que nenhum aluno assinou sua obra. Eles entenderam o ato como uma produção coletiva da escola e da comunidade.
Professora Patrícia e seus alunos: unidos pela arte
Ilustração: Pedrinho da Rocha
Caetano e Gil na Tropicália
Foto: Inês Alves
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Focas nas Artes Jornal Laboratório
CULTURA POPULAR
Histórias de sanfoneiros OS MÚSICOS Messias Holanda e JORGE LEVI FALAM SOBRE UM MESMO AMOR: A SANFONA
“TOQUE” SANFONEIRO Gleydes Sales
cas. É inexplicável a emoção de subir ao palco e ouvir aplausos de pessoas que realmente gostavam do meu trabalho. Minha carreira hoje não é a mesma de antes, as pessoas esqueceram um pouco daquele velho forró. Mas mesmo assim, continuo me dedicando. Apesar de tudo, ainda existem pessoas que gostam.
Caroline Guimarães Melka Sampaio Rafaela Lira
S
etenta anos e alguns problemas ocasionados por uma queda não permitem que o compositor, cantor e apaixonado por sanfona Messias Holanda consiga “Trepar no pé de coco”. Porém, nada consegue tirar desse artista o amor que ele sente pelo autêntico forró. Com 31 anos de vida, Jorge Levi Lopes Holanda teve o primeiro contato com a sanfona aos 11 anos de idade. Jamais ousou imaginar que o amor pelo instrumento seria tão intenso. Focas - O que a sanfona significa pra você? Messias Holanda – A sanfona é uma cultura original, bem nordestina. Não gosto de teclado, o som não é a mesma coisa. Esse instrumento faz parte da minha vida. Pra mim, o mais importante é minha mulher, meus filhos e minha sanfona. Hoje, tô em pé graças ao meu amor pela música. Jorge Levi – Ela faz parte da minha vida! É como se fosse a minha cabeça, meu coração. Se estou ruim, consequentemente, ela está e se estou feliz passo a minha emoção. Ela é meu trabalho. Focas - Você já passou por alguma situação ruim em cima do palco? Messias Holanda – Sim, depois do acidente tive um problema urinário. Tive que parar no meio do show e explicar que precisava ir ao banheiro. Quando voltei, as pessoas me aplaudiram. Deu pra resolver. Jorge Levi – Já, várias! A sanfona quebrar no
meio do show. Ter crises de enxaqueca fortíssimas a ponto de ir parar no hospital. Discussão antes de começar o show por conta de passagem de som, enfim. Focas - Quais são os maiores desafios que a música regional do Nordeste, dita de raiz, tem pela frente? Messias Holanda – Esses desafios na verdade já estão acontecendo. O nosso forró não é tão valorizado como antes. Acho que o grande desafio será não deixar a sanfona cair. Jorge Levi – Esse desafio já existe a algum tempo devido ao forró eletrônico que conquistou e vem conquistando espaço entre o público forrozeiro e também pela falta de artistas que preservem o forró de raiz. Acredito ainda que o forró estilo “de raiz” possa voltar a conquistar seu espaço, sem prejudicar o espaço dos outros, pois é nesse forró que vemos a verdadeira cultura nordestina. Focas – Como você se sente ao lembrar que já fez muito sucesso? Messias Holanda – Me sinto muito feliz em saber que as pessoas gostavam das minhas músi-
Focas – Qual foi a maior experiência na sua vida musical? Jorge Levi – Já toquei com Dorgival Dantas, Forró Real, Banda do Pirata, Forró do muído entre outras. Já tenho alguns anos de estrada, já passei por muitas coisas. Mas algo que marcou minha carreira profissional foram minhas viagens para outros países, como Cabo Verde, França, Espanha, Portugal e Argentina. Porque pude levar a cultura do nosso Nordeste e aprender a cultura desses países. Focas - Você costuma sair muito e curtir um bom forró? Messias Holanda – Quando era novo saía muito. Hoje, já não consigo fazer isso. Minha idade não permite... me sinto cansado quando passo a noite em um forró. Só vou a trabalho, para ganhar dinheiro. Jorge Levi – Como eu tenho uma vida agitada por conta do trabalho, quando chego em casa, meu destino é fazer programas mais tranquilos. Tocar minha sanfona enfim, nada de muita bagunça. No início, tudo é muito bom, os lugares, as pessoas. Mas, quando você tem muitos anos de estrada, tudo fica mais cansativo, sem graça... e o melhor lugar do mundo é sua casa, a sua cama.
No Brasil, a sanfona é conhecida por vários nomes populares, como por exemplo: fole ou acordeom, pé de bode substantivos de um mesmo elemento que contagia diferentes gerações. Dos extremos do nosso país a sanfona é o instrumento mais ‘esperado’ num salão de festa. Tornou-se muito popular devido seu tamanho e beleza. Em qualquer lugar faz levantar poeira, junto ao ritmo típico nordestino, que é o forró. E uma das figuras mais importantes que faz lembrar de um arrasta pé é o Rei do BaiãoLuiz Gonzaga. Maior influência que tivemos na música popular brasileira. Autor de Assum-preto, Cintura fina, Baião, bem como outras que contam a história de um povo que com bravura sobrevive na seca. Luiz Gonzaga, homem simples, trabalhou na lavoura quando menino e nas suas folgas, ia aprender tocar sanfona com o pai, o imortalizado Januário da canção. Gonzagão revelou ao Brasil um ritmo nordestino em que na época era muito preconceituoso. No sul do país era um momento de urbanização em que o ‘cabeça chata’ era encarado como o peão de obra. O Rei do Baião fez sucesso nos anos 50 aos 80. Ele criou a ideia de chamar o forró de “pé-de-serra”. E apesar dos inúmeros gêneros que se tem conhecimento, Luiz Gonzaga faz manter através de seus fãs, o forró autêntico que temos. Santo Luiz Gonzaga! Hoje temos grandes artistas, descendentes de Gonzagão que é sucesso. O negócio é ouvir a sanfona e dançar ao ritmo da sanfona.
A arte de Raimundo Cela Tobias Saldanha
A
obra do artista, pintor e gravador Raimundo Cela procura retratar as características e o trabalho dos viventes do seu local de origem, Sobral, e Camocim, terra que o escritor adotara como sua segunda cidade nos últimos dias de sua vida. Depois de concluir os estudos em Fortaleza, Raimundo parte para o Rio de Janeiro onde encontrará o caminho no qual vai desenvolver suas técnicas e inclinação para o mundo das artes. Matricula-se na Escola Nacional de Belas Artes como aluno livre. São temas constantes em sua produção as paisagens, os tipos populares e o trabalho de vaqueiros e pescadores de sua terra natal. Artista premiado em diversas categorias, tanto no Brasil, como na Europa, Raimundo Cela, para muitos estudiosos da arte, tanto aqui, como no exterior, é reconhecido como
um dos maiores pintores do século XX. Entre suas obras consagradas estão motivos regionais cearenses – pescadores, jangadeiros, beiras de praias com coqueiros, tipos nordestinos – tratados com grande realismo, com auxílio de um desenho correto e de um colorido subordinado à realidade. Certo rústico expressionismo se evola dessas obras sólidas, que estilisticamente se situam à margem do modernismo, mas que ainda assim conseguem convencer pelo que possuem de íntima energia, de sinceridade e de emoção. Falar em Arte cearense deve conter a obra de Raimundo Cela. Seus feitos, além de bem escritos e produzidos, retratam perfeitamente o sertão nordestino e os seus trabalhadores da região. Esses registros rodaram o mundo e hoje, quando alguém falar das artes nordestinas, certamente se lembrará das pinturas e gravuras feitas por esse artista e pintor sobralense.
Foto: Internet
Título: Pescador, pintado em 1944
Focas nas Artes Jornal Laboratório
MEMÓRIA
LITERATURA
Do Cordel ao E-Book “Eu sou de uma terra que o povo padece // Mas nunca esmorece, procura vencê, // Da terra adorada, que a bela cabôca // De riso na bôca zomba no sofrê.” Ilustração: internet Girlane Arruda
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trecho do poema Sou cabra da Peste de Patativa do Assaré é um exemplar da literatura de cordel. Essa literatura se tornou cada vez mais popular, principalmente na região Nordeste. O nome cordel se deu porque eles eram expostos para venda pendurados em corda. Com uma linguagem bem popular e escrita em forma de rimas, o cordel tem um baixo custo e geralmente é vendido pelos próprios autores. Eles retratam fatos da vida cotidiana, regiões e pessoas, como brigas políticas, seca, festas e milagres. São nomes de destaque no cordel cearense: Cego Aderaldo, Patativa do Assaré, Expedito Sebastião da Silva, Raimundo Santa Helena. Mas, existem várias formas de literatura. Atualmente, existem os E-Books, livros digitalizados. Foi criado um aparelho para que se possa editar textos: o Rocket E-Book (TM), pioneiro para livros eletrônicos. Logo depois, surgiram novos aplicativos. Tudo foi se modernizando, chegando hoje ao novo sucesso de mercado, o Tablet. Qualquer pessoa, de
qualquer lugar do mundo pode ler um livro diante do computador. Para isso, basta estar conectada à internet. Para autores que não conseguem ter suas obras publicadas, os E-Books podem ser a melhor ferramenta e a melhor maneira de divulgar e ver sua obra lida. Uma das características dos E-Books é a sua portabilidade. Eles são facilmente transportados em pen-drives e cartões de memória. O preço também abre vantagem em cima de livros tradicionais que ficam em torno de 80% mais caros que os eletrônicos. Cordeis e E-books fazem parte não só da nossa história como também do nosso cotidiano. Mesmo sendo dois modelos distintos de leitura, eles se interligam quando o assunto é a literatura. Mesmo sendo um modelo antigo de literatura, os cordéis ainda são produzidos e sempre podem ser encontrados em vários locais de Fortaleza, sem esquecer que a leitura é super divertida. Os E-Books são encontrados na internet, com uma vasta lista de títulos. Mas independente do que você escolher, o importante é o trabalho feito por esses artistas que unem palavras e fazem textos diversos, deixando os leitores fascinados.
Rede social para leitores permite que usuários criem a sua estante virtual Girlane Arruda
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om 420 mil usuários cadastrados em seu banco de dados, o Skoob é a primeira rede social brasileira voltada para leitura. Fundada em janeiro de 2009, pelo desenvolvedor Lindenberg Moreira, o Skoob (livros em inglês escrito ao contrário) permite que seus usuários criem a sua estante virtual por meio de cadastro no site. Cadastrado, o leitor automaticamente tem o seu perfil no sistema onde é possível listar o que está lendo no momento, o que já leu e o que pretende ler, ou até mesmo o que está relendo e quais leituras foram abandonadas, formando assim uma estante virtual. Dentro do seu perfil, o leitor discute sobre obras literárias, opina sobre clássicos, e escreve resenhas dos livros favoritos. A interatividade com outras redes sociais, como Facebook e Twitter, também é possível, expandindo dessa forma o círculo de leitores e as possíveis amizades que cada usuário pode fazer por meio da leitura. Outro fator positivo de estar nessa rede, é que ela contribui para a divulgação de novos autores. Possibilita ainda que cada leitor adicione exemplares que ainda não estejam cadastrados no banco de dados do site. O Skoob proporciona conhecimento sobre
livros que você ainda não leu, a partir do depoimento de pessoas que já os leram, consequentemente despertando seu interesse. Além disso, pode compartilhar sua opinião sobre obras que já conhece e compará-las com a de outros leitores. "O mais legal de tudo é também conhecer novas pessoas, que se interessam por assuntos semelhantes.”, diz a jornalista Talita Cavalcante, usuária da rede. Para Viviane Lordello, co-fundadora do Skoob, a plataforma foi criada para atender a um grupo de amigos que queriam uma alternativa online para falar de livros. Logo na primeira semana conseguiu mais de 2,5 mil usuários cadastrados e fecharam o primeiro mês com mais de 7,6 mil usuários cadastrados. Foi nesse momento que Viviane Lordello e Lindenberg Moreira perceberam que o Skoob poderia se tornar um negócio. A proximidade com os usuários desde o início faz com que o desenvolvimento da rede seja voltado às necessidades deles. Muitas das funcionalidades existentes hoje foram sugeridas pelos próprios usuários, como o sistema de trocas de livros, que, com apenas três meses, já viabilizou mais de 18 mil transações. A visão futura dos fundadores para o sbook, é disponibilizar meios de acesso em celulares e tablets. Isso pode aumentar o acesso à rede, já que os usuários podem acessar a plataforma em qualquer local.
“Prefiro o impresso pelo fato de que no mundo de hoje é muito arriscado andar com aparelho eletrônico. Em poucos lugares temos liberdade de mostrá-lo.” - Marcos Costa
PADARIA ESPIRITUAL: ESCRITA QUE ALIMENTA A ALMA CEARENSE Fábio Nobre Girlane Arruda Tamires Rodrigues Thyliana Lima
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MERCADO É RESTRITO PARA ESCRITORES CEARENSES Fábio Nobre Girlane Arruda Tamires Rodrigues Thyliana Lima
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o Ceará, temos grandes autores que com seus textos poderiam encantar e ganhar grande destaque regional e nacional. Mas , por questões financeiras, a maioria dessas obras ficam apenas em gavetas. Este é o caso do professor universitário, Paulo Paiva, que após escrever o livro “Uma vida sem segredos” se deparou em não ter condições financeiras para fazer cópias de seu livro. Segundo ele, o valor é muito alto e o retorno talvez pode não ser o esperado, já que é muito difícil ter o apoio de alguma editora. Atualmente para que um autor possa fazer cópias de sua obra, é necessário desembolsar uma quantia entre 6 e 12 mil reais. Valor que varia de acordo com a quantidade de páginas e exemplares. Segundo representante de uma das maiores editoras do Ceará, cada vez mais fica difícil as editoras lançarem obras da literatura cearense, pois o investimento é alto, já que a venda de livros cearenses representa apenas 15% da venda de todos os livros vendidos.
O que eles pensam sobre o E-Book “O E-Book é mais fácil de carregar. Não ocupa espaço e você pode ter vários livros em uma pequena pasta.” Rochelle de Araújo
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“Adoro tecnologia. Acho o E-Book mais rápido, prático e instantâneo, leio livro e depois acesso a internet.” Sara Ribeiro
oi na arte de criar textos que grandes autores da literatura cearense foram se reunindo e obtendo grande destaque e uma forte repercussão nacional. O movimento foi ganhando adeptos e em 1892 nascia a Padaria Espiritual, uma espécie de agremiação cultural formada por jovens rapazes intelectuais, que preconizava que seu objetivo era “fornecer pão de espírito aos sócios em particular e ao povo em geral.”. A época em que viviam os jovens rapazes definiria o regulamento do movimento em que era proibido o uso de expressões estrangeiras ao vernáculo e vetava as obras literárias que fizessem referência a animais ou plantas estranhas à flora e a fauna brasileira. Com ironia e irreverência a padaria criticava a sociedade burguesa e as instituições que mantinham uma apreciação ideológica. Os padeiros eram, em sua maioria, das classes média e baixa da população cearense e se mostravam insatisfeitos com a classe burguesa, por vários motivos, em especial pelo seu exagero à cultura europeia. Desse movimento participaram grandes nomes da literatura cearense. Antônio Sales (fundador e idealizador do programa de instalação); Lívio Barreto, Adolfo Caminha, Raimundo Teófilo de Moura, Lopes Filho e muitos outros. Todos os sócios, ou seja, todos os “padeiros” assinavam suas obras com pseudônimos. Assim, Lívio Barreto era Lucas Bizarro, Adolfo Caminha era Félix Guanabarino, Antônio Sales era Moacir Jurema. Ao longo de toda a sua trajetória, foram 34 autores, cada um com um pseudônimo. A Padaria se preocupava também com a educação cearense e por isso previa em seu regulamento, a nomeação de comissões para averiguar as condições dos estabelecimentos de instrução pública e particular de Fortaleza. A Padaria manifestava também o desejo de “criar aulas noturnas para a infância desvalida”. Sabendo que as dificuldades seriam muitas, os integrantes se comprometiam a lutar pela obrigatoriedade de instrução pública primária. A primeira fase da Padaria durou seis anos onde foram produzidos 36 exemplares d’O Pão, jornal que era produzido pelos integrantes do movimento. Composta por 20 rapazes, essa primeira fase traz nomes como Antonio Sales e Adolfo Caminha. Com o tempo, alguns integrantes mudaram para o Rio de Janeiro, outros ingressaram na carreira política e alguns mergulharam no anonimato. Desde essa época já se verificava as dificuldades que os grandes autores enfrentavam para divulgar suas obras. Mesmo assim, conseguiram ter repercussão nacional no eixo Rio-São Paulo.
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CINEMA
Iracemas em um céu de Ishtar
A nova estrela é Rania Antônio Laudenir
MULHERES DO CENTRO DE FORTALEZA SE MISTURAM À FiCÇÃO DO FILME CÉU DE SUELY Foto: Magno da Silva Esdras Gomes
Foto: Internet
Cena do filme Céu de Suely
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o vídeo de clipes que anima o salão, Cindy Lauper estava no auge. Das invisíveis caixas de som sua voz afirma que “garotas querem apenas se divertir”. Os lasers iluminam e dançam com o escuro onde homens e mulheres se refugiam. Mulheres do Centro de Fortaleza se misturam com a ficção do Céu de Suely O ofício é muitas vezes chamado de “a profissão mais antiga da humanidade”. Afirma-se que no templo da deusa Astarte, também conhecida como Belili ou Ishtar, na antiga Babilônia, todas as mulheres deviam pelo menos uma vez em vida sentir a luxúria e o desconhecido, entregando-se a outro homem em troca de uma moeda de ouro. Atualmente, a prostituição feminina deixou os templos, ocupou as estradas, postos de combustível, casas de massagem, boates, cabarés, calçadões e está presente em anúncios de classificados. Mulheres que vendem seus corpos, por prazer ou necessidade, são sedutoras ao olhar dos artistas. Observadores da realidade ou criadores de sonhos, descrevem e representam essas “filhas de Ishtar” em suas obras, traduzindo o prazer e a dor que o oficio exige. Na vida real, a jovem Patrícia (22) se prostitui na Praia de Iracema. Enquanto se prepara para a noite, come um espetinho de carne. De salto alto e blusa apertada que mal esconde o sutiã vermelho, descreve com olhar carregado que não assume como “ganha a vida” para seus vizinhos em Maracanaú. Mas a fofoca rende e gera preconceitos. Ainda assim, a jovem afirma que seus filhos entendem o esforço de mãe para sustentá-los. A dor maior vem do fato de sua mãe não falar
Boate no centro de Fortaleza mais com ela. “Quando passei uma barra, ela não me apoiou. Tenho três filhos, um mora comigo e os dois com minha mãe que mora na casa atrás da minha.”, diz. Patrícia não usa drogas e nem se orgulha do ofício, faz curso de costura e pretende “arrumar a vida”. Na arte, o filme Ceú de Suely (2006) do conhecido e premiado diretor cearense Karim Aïnouz, narra a história da personagem Hermila cujo nome de guerra é Suely. Após ser abandonada por seu companheiro, Suely acaba por rifar para os homens de Iguatu, cidade cearense, uma noite “no paraíso”. Seu intuito é comprar uma passagem para o Rio Grande do Sul. “Xuxinha” já fez programas e ainda sonha com o amor. Está grávida, levou um tiro de raspão e é dependente química. Os braços magros tatuados e o short rosa trazem sinais de quem já foi presidiária. Sua história parece um filme e pode se dizer que como Suely, a ex-prostituta, de olhar agitado, parece sempre estar em busca de uma história de paixão. Chega até a falar em casamento. No filme em trama paralela, Suely vive às voltas com um velho romance com um mototaxista. A história tem correspondência com a
realidade. Em frente à boate Scalla, no Centro de Fortaleza, mototaxista há cinco anos, Vianey* afirma que vez por outra amigos seus de ofício acabam se apaixonando por mulheres de programa. “Um amigo meu se apaixonou e não conseguia mais trabalhar. Ficava a noite cuidando dela”, conta o trabalhador da noite, Vianey. Também em frente ao Scalla, arte e realidade se misturam quando a ex-prostituta Mirela* declara que assistiu a Eu, Christiane F. - 13 Anos, Drogada e Prostituída. “É muito triste o filme, a forma como ela se droga e sente a necessidade de entrar nessa vida.”. Relembra, séria, ao conversar sobre o assunto, que demonstra conhecer com propriedade. Mirela escapou do cenário que a incomoda. Agora vende churrasquinho em frente à boate e fez curso de cabeleireira. Relata que muitas conhecidas entraram na prostituição por causa de drogas como pó e crack. “São as mais usadas”, afirma a mulher que aprecia outra obra dos cinemas: Gia – Fama e Destruição. São esses os segredos da noite. *Nomes fictícios a pedido dos entrevistados.
O Morro Santa Terezinha é o ponto natural em Fortaleza mais próximo do céu. Em suas vielas, a morena adolescente de corpo ainda por desenvolver caminha e vive sua história. Se fisicamente lhe falta, em sonhos, há fartura. Seu nome é Rania. Nome também do primeiro longa-metragem da cineasta cearense Roberta Marques. Em sua jornada, a jovem deseja o balé como expressão de seu corpo. Mas por conta de uma realidade mais complexa e dura, a jovem alcança outro norte: através de sua inseparável amiga Zizi, ela passa a frequentar o “Sereia da Noite”, uma boate onde farra, dança e dinheiro se misturam. Rania participou do Festival do Rio, onde foi eleito o melhor filme da mostra Novos Rumos e do International Film Festival em Rotterdam. Com locações no próprio Santa Terezinha, Praia do Mucuripe e Centro da cidade, o filme foi exibido na mostra competitiva do 22º Cine Ceará 2012. Após Fortaleza, a produção segue para Los Angeles, para participar do Hollywood Brazilian Film Festival. Existência, desejos e carne. Balé e boates. O que Raina quer dizer, seja próximo do céu ou do purgatório, é que a arte segue seu caminho pelos altos e baixos da vida. Como em um passo de dança. Como em um passe de mágica.
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ARQUITETURA
Arte que constrói o centro de uma cidade Com 286 anos de história, Fortaleza reflete suas raízes nas obras de arquitetura que possui Fotos: Tobias Saldanha e Camila Sara
O TJA teve fortes influências europeias em sua construção
Fidel Relson Rafaele Silva
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onstruções mostram o passado e o contemporâneo de um povo que vive sob várias influências. Verifica-se claramente este aspecto, através das contradições entre grandes e pequenos; novos e antigos prédios que enfeitam o grande Centro. O bairro Centro é símbolo histórico da capital cearense. Lá estão as principais construções que relembram as décadas de 30 e de 40 que iniciaram a arte cearense nos bordados e rendas expostos no Mercado Central e nas variedades de frutas e peixes que caracterizam o estado, comercializados no Mercado São Sebastião. No Museu de Arte do Ceará, os visitantes fazem uma viagem no tempo, começando pelo Império até hoje, para entender como se deu o crescimento de um povo simples, mas cheio de humor e inteligência para se fazer como a própria história de sua cidade. Está localizado próximo à Catedral. A crença também faz parte da arte, aquela que emociona no olhar as imagens e admira a vista daqueles que a visitam. É a terceira maior Igreja do país. Sua construção finalizou-se em 1978. Ao falar de prédios artísticos o Theatro José de Alencar é o principal representante desta temática. Foi inaugurado em 1910 e sua história de 102 anos está repleta de grandes espetáculos e movimentos que caracterizam o cearense e demarcam a Terra do Sol, como é conhecida Fortaleza. Como qualquer outro município, Fortaleza possui inúmeros locais públicos, contudo, alguns marcaram épocas, como as praças do Centro. Praça dos Leões possui a estátua da renomada escritora cearense Rachel de Queiroz. A José de Alencar abriga o grande TJA, a da Bandeira já foi cenário de muitos movimentos do povo a favor de seus direitos. A Praça do Ferreira é símbolo da boemia e descontração. Até hoje, pessoas a frenquentam com o simples motivo do descanso e da observação do considerado coração de Fortaleza. Por fim, a Praça dos Mártires também retrata os tempos da ditadura no país. O Forte caracteriza o sistema militar e a segurança da cidade na época da imigração dos holandeses em busca da cana-de-açúcar e do algodão.
Preservação
O Museu do Ceará retrata toda a história do povo cearense
O Passeio Público é ponto de encontro para amigos e familiares nos fins de semana
SERVIÇOS Visita Guiada ao Theatro O TJA está aberto à visitação guiada de terça à sexta, de 8h às 16h Sábados, domingos e feriados a partir das 13h às 16h Inclui a edificação de 1910, os jardins de Burle Marx e o Centro de Artes Cênicas do Ceará – Cena, anexo ao prédio histórico. R$ 2,00 (meia) e R$ 4,00 (inteira) Visitação gratuita para grupos de escolas públicas, ongs e projetos sociais previamente agendados: 3101.2567 com Tito ou Ana Marlene.
Visita Guiada à Catedral Rua Sobral 01 – Centro – 3231 4196 Missas a partir de terça 12h e 17h / Sábados 12h / Domingo 8h30, 10h30, 12h, 18h30 e 20h
O órgão do governo responsável pela preservação de patrimônios culturais é o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Preocupa-se em elaborar programas e projetos que integrem a sociedade civil com os objetivos do Instituto e busca linhas de financiamento e parcerias para auxiliar na execução das ações planejadas. Atualmente, alguns desses patrimônios mencionados, como a Praça José de Alencar, o TJA e a Catedral, já foram restaurados pelo órgão referido. São inúmeras as obras de arquitetura que denotam a cultura cearense. Estes foram os que, por algum motivo, ocasião especial, show de algum ídolo ou um simples encontro, ficaram gravados na memória daqueles que moram e visitam a Terra do Sol, ou como já disse o cantor: “O lugar perfeito, um paraíso.”.
Endereço IPHAN
Rua Liberato Barroso, 525 - Praça José de Alencar - Centro. Fortaleza-CE Telefones: (85) 3221-6263 | 3221-2180
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Focas nas Artes Jornal Laboratório
ARTE TRANSFORMISTA
Travestis fazem da arte sonhos de liberdade e igualdade social Peruca, maquiagem e figurinos coloridos. Com esses instrumentos, Transformistas e travestis são homens que se travestem de mulher Foto: Divulgação
Grupo de teatro “Fabrica de Travestis” encena a peça “Engenharia Erótica”
Monalisa Vasconcelos Rodrigo Duarte Suyane Costa Thaíla Cavalcante
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comunidade LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e travestis) possui uma grande diversidade de artistas inseridos em diversos campos de atuação. Esta arte está presente e muitas vezes é banalizada e julgada. Mas existem aqueles que deixam o preconceito de lado para conhecer o trabalho que eles realizam. “Às vezes quando falamos a palavra travesti as pessoas levam logo para um âmbito ruim, pensam em prostituição, desrespeito. E no GRAB (Grupo de Resistência Asa Branca) eu pude perceber também que muitas vezes as pessoas podem até seguir um caminho ruim por conta da exclusão da sociedade, da própria família e amigos.”. Relata Weilla Lee (19) assistente de cobrança e ex- participante do GRAB. O GRAB foi fundado em 1989. É uma das mais antigas organizações LGBT existentes no Brasil. Lee conta qual a sua visão sobre a Arte Travesti. “Sim eu considero uma Arte, porque uma pessoa ter coragem de todos os dias, ao
acordar, fazer tudo o que eles fazem em uma só noite ou no dia, é fantástico. Então, pra mim existe Arte na maquiagem, na dança, em tudo.” Já, para Francisco (50), heterossexual e gerente de vendas, depende do trabalho e do que eles fazem. “Se for dublagem não é arte, mas se for outros trabalhos criados por eles mesmos, é arte sim.”. Arte ou Entretenimento O membro do Conselho de Política Cultural de Fortaleza e professor de Comunicação Social, Henrique Rocha, explica que existe um espaço tanto para aqueles que atuam com performance e dublagem, como para aqueles que fazem suas próprias criações. Para o estudioso, independente de opção sexual, podem exercer um bom trabalho. “A postura do artista, independente da opção sexual, é a mesma. E mesmo aqueles que trabalham na área [LGBT] podem também atuar em outras coisas e não só com dublagens. Tem os que trabalham com música como cantor, compositor ou um pintor. Existem várias formas de Arte.”, avalia. Segundo o professor, arte seria qualquer forma de mostrar a criação de um trabalho, que, toca direta ou indiretamente alguém. Existem diferentes maneiras de manifestar esse dom e
ser um artista ultrapassa qualquer barreira de tempo, mundo, geração, cor ou opção sexual. Então, ainda para Henrique Rocha, tudo que for criado pelos Transformistas e Travestis – figurinos, maquiagens e coreografias – é considerado arte, mas ao copiarem outros artistas não estão fazendo arte e sim a reproduzindo. Evelin (22), lésbica e atendente de telemarketing diz que é arte sim. “A maquiagem, a dança, as performances, tudo reflete arte e é criação deles.”. Mas Thaís (24), heterossexual e gerente de vendas acredita que não, pois é, “apenas dublagem e imitação.”. A dublagem e imitação que alguns travestis exibem em seus shows e apresentações são como uma representação de artistas que têm destaque e influência artística nessa comunidade. Portanto, é bastante questionado se o que eles realizam nessa área seria arte ou não. Rocha explica que essa forma de atuação não se encaixa no conceito de arte. Seria algo mais voltado para o entretenimento. Em Fortaleza, é comum encontrarmos, em shows noturnos em boates ou eventos LGBTs, travestis dublando e criando papéis que reúnem teatro, dança e canto. É a junção desses fatores que prende a atenção do público e diverte a todos que querem descontração sem preconceitos.
QUARTA CULTURAL LGBT A Quarta Cultural LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Travestis) existe a pouco mais de três anos e é um evento itinerante organizado pela Coordenadoria da Diversidade Sexual da Secretaria de Direitos Humanos de Fortaleza. Sendo realizada na segunda e na última quarta-feira de todos os meses. Segundo Flávia Fontenelle, transformista, atriz e participante da Quarta LGBT o evento possui temas diferenciados como: divas negras, transexualidade, entre outros. Dependerá da criatividade dos artistas e conta com apresentações de dança, dublagens e desfiles com figurinos produzidos pelos próprios artistas. Para ela este evento visa ao aumento do mercado de trabalho dos Transformistas e Travestis; que as pessoas que trabalham na noite, em boates e casas de show saiam da zona de conforto e procurem novos públicos e principalmente para combater a lesbofobia, a homofobia e a transfobia* na cidade de Fortaleza. * Preconceito contra lésbicas, homossexuais, travestis ou transexuais.