Fragmentos Coloniais

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! E A ST N

RABA T E M

TERM



thiago liberdade fbaup.2022


índice


1500:

p. 10

e se mais mundo houvera, lá chegara ou deixa lá, isso foi há muito tempo p. 51

anti-amnésia azul

"Outro":

p. 68

determinação do "selvagem" ou mimeses non-sense p. 147

anti-amnésia vermelho

Mitos:

p. 168

corolário de mitos requentados

p. 211

anti-amnésia verde


este livro dedica um agradecimento especial à Inês Costa, Diogo Henrique, Mário Moura e Nuno Coelho que com as suas presenças e conversas foram pilares.


“Três palavras resumem toda história da humanidade: civilização, colonização e extermínio. Não, não é conhecimento que nos falta, é coragem de enfrentar o que já sabemos.”

Raoul Peck "Exterminate all the brutes" [2022]


introdução

10


Fragmentos Coloniais, consistiu em explorar

mitir os valores da civilização europeia através

a relação da imagem com um discurso co-

da colonização em África. Aqui refiro, sobre-

lonial de identidade nacional portuguesa,

tudo, o papel do Secretariado da Propaganda

moldado por sonhos de travessias do mar,

Nacional (SPN) e Secretariado Nacional de

determinação do outro e da reconstrução

Informação, Cultura Popular e Turismo (SNI)

de um império além-mar. Estas são as bases

na preconização através da propaganda de

de todo levantamento realizado por mim ao

uma teoria de dominação social e racial sobre

longo do último semestre da Licenciatura

povos vistos como "inferiores". Também sobre

em Design na Faculdade de Belas Artes da

a realização de verdadeiros zoos humanos na

Universidade do Porto. É uma mais valia res-

"Primeira exposição colonial Portuguesa", no

saltar que muitas imagens ficaram de fora

Porto (1934); e na "Exposição do mundo por-

desta edição seja por curadoria, tempo de

tuguês", em Lisboa (1940) como preocupação

obtê-las com qualidade ou por apresenta-

ideológico-propagandística para projetar

rem pessoas completamente expostas.

visões imperiais de deleite para a população

Este ensaio visual, pretende criar uma reflexão crítica destas imagens e da sua pre-

portuguesa, justificado num falso devaneio civilizatório. A minha pesquisa tomou forma a partir

sença na cultura visual do país. Como diz Samuel Johnson "The two offices of memory are

do contacto com outros investigadores deste

collection and distribution".

tema. Arquivos públicos, feiras, museus, lojas

O primeiro capítulo, 1500, aborda as

de velharias e a própria cidade foram impor-

embarcações da morte: caravelas e navios

tantes no levantamento das imagens, para

negreiros; também pixações no Padrão dos

darem corpo à publicação. Pretende-se, assim,

Descobrimentos e na estátua do Padre António criar um ponto de partida para uma pesquisa Vieira, o desaparecimento de duas coleiras es-

mais alargada no futuro, seja por mim ou por

cravagistas no Museu Nacional de Arqueologia outras pessoas interessadas em debater critie por fim, o luso-tropicalismo abraçado pelo

camente imagens coloniais que fazem parte

Estado Novo. Mostrando como o Estado portu-

da nossa história e cultura visual. Vale ressaltar

guês, através da imagem, adoçou a narrativa

a importância do acervo da Hemeroteca Digi-

do "bom colonizador".

tal, que serviu como principal fonte de acervo,

No segundo, intitulado de "Outro" explora a Conferência de Berlim (1884-1885) que

conseguinte as imagens que não estão identificadas pertencem ao banco virtual da mesma.

talhou o continente africano feito uma fatia de

O projeto é um ensaio inicial que ex-

bolo entre países europeus. Depois, debruça

plora práticas editoriais, crítica do design e da

na determinação do português sobre o "outro"

imagem e a própria criação artística enquanto

com a catalogação de imagens racistas usa-

prática investigativa, procurando promover

das em marcas e publicidades.

o interesse e debate dentro da nossa área de

E por último, Mitos onde termina o livro mostrando o exacerbado nacionalismo que

estudos, a partir de uma perspectiva política e social do design.

criou um mística imperial onde advogou à Portugal do Estado Novo o "papel" de trans-

Porto, 20 de junho de 2022

11


12


1

1500:

e se mais mundo houvera, lá chegara ou deixa lá, isso foi há muito tempo

Qual é a necessidade de atravessar o mar que nos separa do passado? Essa travessia faz parte de mim, eu próprio a fiz em 2018 quando vim concluir minha primeira licenciatura, diretamente da "ex-colônia" emancipada à "nação irmã" para a "metrópole". Foi, é e há de ser uma jornada onde não se passa incólume, no primeiro dia dentro da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto o primeiro comentário institucional que ouvi foi "deixa lá, isso já faz muito tempo", em uma referência aos "descobrimentos" portugueses. Realmente, faz muito tempo mas de onde eu venho, os Brasis que conheço, as mazelas desta tal descoberta são feridas abertas condicionantes na formação da estrutura social, cultural, política e econômica do país. Por isso, essa fatídica frase dá luz ao título deste caderno em casamento com o excerto da estância 14, Canto VII, do Lusíadas de Camões "e se mais mundo houvera, lá chegara". Ainda bem, que só temos um mundo. Daqui pra frente, a título de posicionamento, os "descobrimentos" aqui neste ensaio visual passa a ser "encobrimentos", expressão proposta por Edward Said no livro Culture and Imperialism (1993), onde o próprio afirma que os apelos do passado são uma das estratégias mais comuns de interpretação do presente. E é impressionante, em pleno século XXI, o ímpeto com que Portugal defende tais apelos, perpetua-se de forma turva e adocicada. Parece não querer fazer as pazes com seu passado, as imagens referentes a esta primeira colonização portuguesa (1500-1822) são intocáveis, da matéria ao discurso. O que não se quer sedimentado é o outro lado da história, não tenho pretensões maniqueístas, mas o lado onde que recebeu os crimes — crimes de violência, crimes de eliminação e crimes de consciência. O movimento anti-colonial presente em Portugal, desenvolve toda uma luta, reflexões e posicionamento na revisão da história que enaltece unicamente honras e glórias desse passado. "O Império Português na primeira Exposição Colonial Portuguesa: documentário histórico, agrícola, industrial e comercial, paisagens, monumentos e costumes" (p.33) [Porto: Mario Antunes Leitão e Vitorino Coimbra, 1934]

1313- 1500 1500


"Diário da Manhã: número comemorativo do duplo centenário" (p. capa) [01.Dez. 1940]

14


"O que inspira

É o caso da publicação especial "Diário da Manhã: número comemorativo do duplo centenário" interligando a Fundação (1140) e a Restauração da Independência de Portugal (1640), manejadas na celebração da Exposição do Mundo Português (1940) realizada pelo Estado Novo Salazarista. A história não é uma abstração, é um artigo de luxo valiosíssimo sob constante disputa. É importante ressaltar o desenvolvimento da impressão litográfica durante o século XIX. A litografia viria a ser um marco para o Design, a qualidade da impressão melhorou juntamente com a velocidade industrial da produção gráfica, assim proliferando símbolos, marcas, embalagens, letreiros etc. Com isso, o que fazemos e produzimos acompanha

tais apelos não é apenas a divergência quanto ao que ocorreu no passado e o que teria sido esse passado, mas também a incerteza se o passado é de fato passado, morto e enterrado, ou se persiste, mesmo que talvez sob outras formas." Edward Said "Culture and Imperialism" [1993]

o que somos e o como nos vemos e enxergamos aos outros. Foi na tentativa de um país pequeno não cair no esquecimento que talvez o símbolo máximo português tenha se transformado na Caravela dos Encobrimentos, momento ápice enquanto o país desfilava de "dono do mundo" na apoteose "Theatrum Orbis Terrarum".

15 - 1500


A Caravela é indubitavelmente o símbolo máximo português e está enraizada na história deste país de forma "positiva" sem margem de manobra e de contra argumentação, para alguns. Peça chave nos encobrimentos do século XV, é o artefato que sustenta o ponto de partida da usurpação, assassínio e escravização de povos autóctones presentes em outras partes do mundo. Seis séculos se passaram, mas o escrutínio parece ir a nado contra-corrente.

16


"O Século: suplemento dedicado ao império colonial português e às comemorações nas províncias ultramarinas, dos centenários da fundação e da restauração de Portugal" (p. 02-03) Mapa do império português [Lisboa: Sociedade Nacional de Tipografia, Jun. 1940]

17 - 1500


1934

"O Império Português na primeira Exposição Colonial Portuguesa" Texto de Quirino da Fonseca (p. 39) [Porto: Mario Antunes Leitão e Vitorino Coimbra, 1934]

18


2017

"Império marítimo português deu início à primeira etapa da globalização." Texto institucional do site www.portugal.gov.pt para a exposição [2017]

19 19 19--1500 1500 1500


"Boletim da Sociedade Luso-Africana do Rio de Janeiro" N.º13 (p. 101) [Abr.-Jun. 1935] "O Império Português na primeira Exposição Colonial Portuguesa" Texto de Quirino da Fonseca (p. 35) [Porto: Mario Antunes Leitão e Vitorino Coimbra, 1934]

20 20


21 21 21--1500 1500 1500


civilização

22

=


=

dizimação

23 - 1500


Meme de Internet "Padrão dos Descobrimentos em risco?" https://diariodistrito.pt [Jun. 2020]

24


Brochura: "O Padrão dos Descobrimentos" Ministério das Obras Públicas (Comissão Administrativa do Plano de Obras da Praça do Império) [1960]

25 - 1500


26


"Revista dos Centenários" N.º 14 (p. 12) [Fev. 1940]

Fotografia da interveção no Padrão dos Descobrimentos Foto: António Cotrim (LUSA) [Lisboa, 2017]

27 27 -- 1500 1500


Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos filhos em vão rezaram! Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, ó mar!

"O Barco" Grada Kilomba Monotone da maquete [2019]

"A Mensagem" Fernando Pessoa (Excerto) [1913-1934]

28


Era todo um povo / Guiado pelos céus Espalhou-se pelo mundo / Seguindo os seus heróis / E levaram a luz da cultura Semearam laços de ternura / Foram mil epopeias / Vidas tão cheias Foram oceanos de amor

"O Conquistador " Da Vinci (Excerto) [1989]

29 - 1500

"O Século: suplemento dedicado ao império colonial português e às comemorações nas províncias ultramarinas, dos centenários da fundação e da restauração de Portugal" Extrato da capa [Lisboa : Sociedade Nacional de Tipografia, Jun. 1940]


embarcaçõe da morte das caravelas aos navios negreiros

"O Barco" Grada Kilomba Proposta para o Memorial de homenagem às pessoas escravizadas Foto de Moses Leo [2019]

30


es e "Atlas of the Transatlantic Slave Trade" David Eltis and David Richardson Mapa: Visão geral do tráfico de escravos partindo da África, 1500-1900 [New Haven, 2010]

31 - 1500


Mural em Lisboa Foto: Thiago Liberdade [2022]

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33 33 -- 1500 1500


Navio negreiro britânico, "Brookes" [1788]

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'STAMOS EM PLENO MAR! Tanto os navios negreiros como as caravelas figuram como embarcações da morte do expansionismo imperial português no fomento do horror. Ambas máquinas de guerra que singraram os mares, sobretudo o Atlântico, com um devir que deixou significativas marcas na história. O levantamento destas imagens servem-nos para não esquecer e refletir que verdades foram forjadas. No caso dos "tumbeiros" totalizaram um número de 18 milhões 835 pessoas escravizadas, tratadas como mercadoria e destituídas de humanidade segundo o site slavevoyages.org. Na página ao lado, um desenho esquemático de um dessas várias embarcações, o "Brookes" que desfilava sob a flâmula britânica. Já ao abrigo da bandeira portuguesa e brasileira é curioso ressaltar o sadismo e ironia de alguns nomes de negreiros, como: "Amável Donzela" — 3 mil 838 vivos / 298 mortos, "Boa Intenção" — 845 vivos / 76 mortos, "Brinquedo dos Meninos" — 3 mil 179 vivos / 220 mortos, "Caridade" — 6 mil 263 vivos / 392 mortos, "Feliz Destino" — 1 mil 139 vivos / 104 mortos, "Feliz Dia a Pobrezinhos" — 355 vivos / 120 mortos, "Graciosa Vingativa" — 1 mil 257 vivos / 125 mortos, "Regeneradora" — 1 mil 959 vivos / 159 mortos.

O desenho ao lado, destas argolas, fazem parte da catalogação de duas coleiras de latão e banhadas a ouro que permaneceram embrulhadas escondidas em papel, num envelope de papel, nas instalações do Museu de Arqueologia (MNA). Adormeceram durante 60 anos e foram vistas pela última vez, provavelmente, em 1954. As coleiras encontradas não estavam inventariadas no acervo, foi então que em 2017 foram encontradas por um funcionário do Museu. Uma diz "este preto", referindo-se à origem, a outra diz "este escravo", refere-se à condição do indivíduo". As peças com o intuito de redução do ser humano à dimensão animalesca serviam de bilhete de identidade do escravizado enquanto mercadoria, para em caso de fuga ou outras determinações. Desenho de coleiras escravagistas Museu Nacional de Arqueologia [± anos 40]

35 - 1500


Imigrantes africanos na tentativa de uma vida melhor na Europa Foto: Google Imagens [2015]

36


37 37 -- 1500 1500


38


fé cega amolada que imola a carne com a cruz

39 39 -- 1500 1500


40


"Um dos maiores problemas da estátua do

Padre António Vieira não tem nada que ver com a sua postura sobre a escravatura, tem que ver com a própria estátua. No sentido literal, aquilo não é uma estátua do PAV mas a de quatro pessoas, três delas funcionando como símbolos do que se imagina ser nativo brasileiro e da atitude do Padre com eles. É uma figuração paternalista típica. Um tropo, um chavão, uma representação preguiçosa que infantiliza aqueles que o padre defendia reduzindo-os a acessórios. É mau gosto, no fim de contas. Uma gafe. Um monumento a um paizinho branco, a um salvador branco. Não admira que a extrema direita a defenda, acto que não faz apenas porque a esquerda a ataca. Seria de resto útil deixar de encarar a extrema direita como um reflexo simétrico da esquerda, que só levanta a mão quando uma mão de esquerda se levanta. É uma estátua embaraçosa, tal como as há aos magotes por aí." Mário Moura [post rede social - 2020]

41 - 1500


Em torno de 1630, um frade da Orden de São "Francisco nascido em Macau (cidade chinesa que fez parte dos domínios asiáticos portugueGravura de Charles Legrand Biblioteca Nacional de Portugal [1839]

42


ses) declarava o quanto as armas lusitanas e a pregação do Evangelho estiveram unidas na conquista do Oriente. Este frade, chamado Paulo da Trindade, declarou que «as armas entravam [...] onde a pregação da Fé lhes dava lugar», enquanto o Evangelho era pregado «onde as armas abriam as portas» aos missionários que o anunciavam¹.

"

Patricia Souza de Faria "A conquista das almas do oriente" [2013]

1. Trindade, Paulo da. Conquista do Oriente: em que se dá relação cousas mais notáveis que fizeram os Frades Menores da Santa Província de S. Tomé da Índia Oriental em a pregação da fá e conversão dos infiéis, em mais de trinta reinos, do Cabo de Boa Esperança até as remotíssimas Ilhas do Japão. Lisboa: Centro de Estudos Históricos Ultramarinos, 1962, v.1, (p. 52—53)

43 - 1500

Intervenção em estátua "PSP procura identificar autores de vandalismo em estátua do Padre António Vieira" https://jornaldoluxemburgo.com [2020]


um alvará régio, um mosquete e um canhão, um libambo e um açoite, uma Bíblia ou um Projeto de Emenda Constitucional é assim que as nações unidas foram exterminando

"Revista Bip-bip" Nº6 (p. 03) [1961]

44


"

A civilização chamava aquela gente de bárbaros e

imprimiu uma guerra sem fim contra eles, com o objetivo de transformá-los em civilizados que poderiam integrar o clube da humanidade. Muitas dessas pessoas não são indivíduos, mas "pessoas coletivas", células que conseguem transmitir através do tempo suas visões sobre o mundo. Há centenas de narrativas de povos que estão vivos, contam histórias, cantam, viajam, conversam e nos ensinam mais do que aprendemos nessa humanidade. Em 2018, quando estávamos na iminência de ser assaltados por uma situação nova no Brasil, me per-

guntaram: "Como os índios vão fazer diante disso tudo?". Eu falei: "Tem quinhentos anos que os índios estão resistindo, eu estou preocupado é com os brancos, como que vão fazer para escapar dessa". A gente resistiu expandindo a nossa subjetividade, não aceitando essa ideia de que nós somos todos iguais. Ainda existem aproximadamente 250 etnias que querem ser diferentes umas das outras no Brasil, que falam mais de 150 línguas e dialeto

Ailton Krenak "Ideias para adiar o fim do mundo" [2019] Calendário d Papelaria no Porto Adquirido na Feira da Ladra em 2022 [1986]

45 45 45--1500 1500 1500

"


"Duas Pátrias: Revista documentário luso-brasileira" N.º 1 (p. 69) [Jul. 1954]

46 46


"

Há povos indígenas no Brasil, na África, na

Ásia, na Oceania, e até mesmo na Europa.

condição de inimigo, sejam bastante diferentes dos nossos — ou o eram até chegarem os

O antônimo de "indígena" é "aliení-

brancos —, não custa registrar que a

gena", ao passo que o antônimo de

palavra mais próxima que temos

índio, no Brasil, é "branco", ou me-

para traduzir diretamente essas

lhor, as muitas palavras das mais

palavras indígenas seja esta

de 250 línguas índias faladas

mesma: "inimigo". Inimigo,

dentro do território brasileiro que

antes, era o Outro que definia

se costumam traduzir em portu-

o Eu por auto-determinação

guês por "branco", mas que se

recíproca (o processo que

referem a todas aquelas pessoas

chamamos impropriamente de

e instituições que não são índias.

"guerra" indígena). Agora, sob

Branco é um conceito político,

a forma do Branco, o inimigo é

não cromático ou "racial", ainda

o Outro que nega o Eu, ao se pôr

que a escolha da cor branca nada

como proprietário eminente da

tenha de arbitrário no batismo do con-

condição de Sujeito e definir o índio

ceito. ("Os brancos", como disse um pen-

como Objeto — objeto de uma empresa

sador karajá, povo do Brasil Central, "são

caridosa de sujeição subjetivante que lhe

um povo que se caracteriza por não ter

acena com a miragem de que um dia

cultura.") As palavras índias que os índios

ele deixará de ser indígena e atingirá o

traduzem por "branco" têm vários significa-

invejável estatuto de cidadão.

"

dos descritivos, mas um dos mais comuns é "inimigo", como no caso do yanomami napë, do kayapó kuben ou do araweté awin. Ainda que os conceitos índios sobre a inimizade, ou

Eduardo Viveiros Castro "Involuntários da Pátria" [2017]

"O Século: número comemorativo dos Centenários (1140-1640-1940)" (p. 42) [Lisboa: Sociedade Nacional de Tipografia, Jun. 1940]

47 - 1500


"Diário Popular" (p. 15 ) Publicidade da Lotaria [Lisboa: 27.Abr. 1974] Ilustração de brancos matando indígenas. TonyBaggett (Getty Images) [desconhecido]

48 48


"Duas Pátrias: Revista documentário luso-brasileira" N.º 1 (p. 70) [Jul. 1954]

49 49 -- 1500 1500


"Duas Pátrias: revista documentário luso-brasileira" Vol. 2 (p. 58) Anúncio Hotel Amazonas [1955-1956]

50


"Duas Pátrias: revista documentário lusobrasileira" Vol. 2 (p. 31) "Cultura Luso-brasileira" Texto por Dr. Coelho de Sousa [1955-1956]

"Engenhocas e Coisas Prácticas" N.º 1 (p. 02) "Orientar, Simplificar, Instruir" [15.Ago. 1942]

51 - 1500


"Duas Pátrias: revista documentário luso-brasileira" Vol. 2 (p. 51) Excerto do texto "Bandeirantes: Caçadores de homens e riquezas" [1955-1956]

Mapa: Terra Brasilis Tesouro dos Mapas Instituto Cultural Banco Santos, 2000 [1519]

52


1

antiamnésia azul

53 53 -- 1500 1500


Calendário Kyaia Adquirido na Feira da Ladra, 2022 [1991]

Calendário José Correia Pimenta Lda. Adquirido na Feira da Ladra, 2022 [1988]

54

Calendário Fernando G. Cardoso Adquirido na Feira da Ladra, 2022 [1988]


Embalagem dos fósforos Caravela Adquirido na Feira da Ladra, 2022 [não identificada]

Rótulo Aguardente de Aniz "Progresso" Adquirido na Feira da Ladra, 2022 [não identificada]

55 - Azul


Lotaria Comemorativa do Descobrimento do Brasil Adquirido na Feira da Vandoma, 2022 [1986]

Lotaria Comemorativa do Descobrimento do Brasil Adquirido na Feira da Vandoma, 2022 [1983]

56


Capa da "Ilustração Portugueza" [1922]

57 - Azul


"Boletim da Sociedade Luso-Africana do Rio de Janeiro" N.º3 [1932]

58


"Duas Pátrias" N.º1 [1958]

59 - Azul


"O Século: número extraordinário comemorativo do duplo centenário da fundação e restauração de Portugal" [1940]

60


"O Século: número extraordinário comemorativo do duplo centenário da fundação e restauração de Portugal" [1940]

61 - Azul


"O Século: suplemento dedicado ao império colonial português e às comemorações nas províncias ultramarinas, dos centenários da fundação e da restauração de Portugal" [1940]

62


"O Século: suplemento dedicado ao império colonial português e às comemorações nas províncias ultramarinas, dos centenários da fundação e da restauração de Portugal" [1940]

63 - Azul


"Panorama: revista portuguesa de arte e turismo" [1918-1997]

"Portugal colonial: Revista de propaganda e expansão colonial" [1895-1970]

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"Portugal colonial: Revista de propaganda e expansão colonial" [1895-1970]

65 - Azul


"Revista dos centenários" [1939-1940]

66


"Atlântico: revista luso-brasileira" [1939-1940]

67 - Azul


"O Mundo que os portugueses criaram" [1937]

68


"O Império Português na primeira Exposição Colonial Portuguesa" [1934]

69 - Azul


70


2

"Outro":

determinação do "selvagem" ou mimeses non-sense

Segundo o dicionário online Priberam, o sétimo tópico da definição de selvagem é "Diz-se do homem ou do povo que vive sem mais noções sociais do que as que o instinto lhe sugere". E eu continuo a me perguntar incessantemente, Quem foi o selvagem na história? A determinação do outro é uma invenção com objetivos bem desenhados, e no campo da representação gráfica o que aconteceu é um jogo binário funesto que mediou toda uma construção do "outro" pelo português, seja ele índigena, negro ou asiático. Portugal e outros países europeus, reivindicavam através de estratégias governativas toda uma estrutura de superioridade cultural e industrial perante suas colônias, embrenhados por um devaneio de "universalidade" para os povos. E foi através deste mito civilizatório, que, por meio da representação gráfica categorizaram os "indígenas" na tentativa de domesticação identitária. Este capítulo versa sobre essa mimeses non-sense empreitada por Portugal na caracterização de seus indivíduos colonizados, sobretudo dos povos africanos. As imagens a seguir são recolhas de uma pesquisa e intituladas de imagens brancas, subdividida: em humilhantes; abstratizante; objetificante e exotizante. O sufixo ante reforça a ideia de agente da ação, de um sujeito externo que determina nomes, estados ou adjetivos. As distintas formas de ridicularizar tanto fizeram parte da nefasta propaganda que se multiplicaram durante o século XX, devido à evolução litográfica: jornais,revistas, bandas desenhadas, anúncios publicitários, marcas etc. O léxico gráfico mudou conforme o veículo ou o objetivo lato da mensagem. Por vezes, explorava-se uma animalidade primitiva desprovida de humanidade, ou posturas de subserviência refletiam demonstrar dominação, algumas em diálogos subalternizados em relação aos brancos. No que tange às mulheres, uma forte componente sexualizante por parte dos europeus, assim objetificando-as através de nudez ou de cariz sexual, a exemplo da perseguição à "Rosinha" por parte do público e até mesmo pelo Domingos Alvão, fotógrafo oficial na Exposição Colonial do Porto, em 1934. Também, houve uma forte figuração abstrata reduzindo rostos e corpos a formas geométricas ou disformes acentuando as partes do corpo com monstruosidade. Por fim, o ambiente através do conceito de exótico construído por fantasias coloniais e o nativo vinculado como mais um elemento da natureza. Este caderno de forma visual aborda estas questões que aqui em Portugal enfrentam resistências, mas precisam urgentemente serem levantadas à discussão, pois algumas continuam em circulação até aos dias de hoje. Frontispício representando os quatro continentes "Theatrum Orbis Terrarum" Abraão Ortélio Boston Public Library [Antuérpia, 1570]

71 71 71--"Outro" ”Outro” "Outro"


"

que lhe revelam o corpo. Está descalça e tem

As figuras alegóricas encontram-se cla-

um turíbulo na mão esquerda.

ramente dispostas segundo uma hierarquia.

A terceira posição, à frente da coluna

A Europa, de coroa imperial, está no topo, sentada diante do frontão. Segura um cetro

à esquerda da Europa, é destinada à África,

na mão direita e, na esquerda, qual um leme,

com uma posição simétrica à da Ásia. A Áfri-

tem uma cruz assente no topo de um gran-

ca é representada como uma mulher quase

de globo. Atrás dela crescem parras e uvas

nua, com uma fita na cabeça e um pedaço

sobre uma treliça em arco, sublinhando-lhe

de tecido largo transparente à volta das an-

a fertilidade e a riqueza. A figura da Europa é

cas que mal lhe cobre o sexo. Os raios do sol

a única sentada, totalmente vestida e calça-

rodeiam-lhe a cabeça, sublinhando a etimo-

da. A posição de domínio é ainda definida

logia grega da palavra "etíope" como rosto

pela representação de dois globos (celestial

queimado. Na mão direita segura um ramo

e terreno) em cada lado do frontão, com os

de madeira perfumada — uma referência ao

símbolos da prodigalidade e do trabalho (o

Egito retirada diretamente da Cosmographia

prato e a cabeça de boi) no entablamento

de Sebastian Münster. O único fenótipo este-

imediatamente abaixo.

reotipado é o nariz. A África está representada

A Ásia ocupa a segunda posição, bas-

"representações anteriores, mas aquilo que no

tante abaixo, mas à direita da Europa, de pé

longo prazo é mais marcante é o impacto que

no pedestal de "mármore" do portal, à frente

o frontispício viria a ter, até o século XIX, nas

de uma coluna. Usa um toucado elegante,

subsequentes personificações dos continen-

está adornada com pedras preciosas e enver-

tes. Essa página funcionou como a matriz que

ga roupas belas, embora semitransparentes,

seria usada, com algumas variantes, em dife-

que lhe revelam o corpo. Está descalça e tem

rentes formas da cultura visual e performática

um turíbulo na mão esquerda.

— mapas, desenhos, gravuras, registros reais,

A terceira posição, à frente da coluna

pinturas, monumentos e esculturas públicas

à esquerda da Europa, é destinada à África,

—, sem que os pressupostos patentes no sim-

com uma posição simétrica à da Ásia. A Áfri-

bolismo fossem desafiados. A razão para isso

ca é representada como uma mulher quase

era simples: o frontispício sublinhava a posição

nua e calçada. A posição de domínio é ainda

superior da Europa. Se analisarmos com mais atenção

definida pela representação de dois globos (celestial e terreno) em cada lado do frontão,

a iconografia do frontispício, veremos que a

com os símbolos da prodigalidade e do tra-

representação da Europa concentra as ideias

balho (o prato e a cabeça de boi) no entabla-

de sabedoria, justiça, ética e trabalho. As figu-

mento imediatamente abaixo.

ras alegóricas restantes carecem claramente

A Ásia ocupa a segunda posição, bas-

desses atributos. O contraste vertical entre a

tante abaixo, mas à direita da Europa, de pé

Europa e a América, estando esta literalmente

no pedestal de "mármore" do portal, à frente

tão abaixo quanto possível dos pés da primei-

de uma coluna. Usa um toucado elegante,

ra, é o mais revelador. O cetro é um símbolo

está adornada com pedras preciosas e enver-

de autoridade real ou imperial que implica o

ga roupas belas, embora semitransparentes,

exercício legítimo da justiça. A América usa

72


uma borduna estilizada em vez de um cetro

uma vez, as roupas são um elemento de suma

para representar a total ausência de justiça ou

importância na identificação e transmissoras

de autoridade moral. A ideia de que depende

de preconceitos.

unicamente da lei da brutalidade, algo enfa-

No entanto, a oposição vai mais longe,

tizado pela cabeça da vítima, um idoso sábio

já que a Europa é apresentada como exemplo

barbado, acentua o contraste com a Europa.

do trabalho e da decência, com "No entanto,

A oposição horizontal da Ásia em relação

a oposição vai mais longe, já que a Europa é

à África também foi algo cuidadosamente

apresentada como exemplo do trabalho e da

encenado: a primeira com belas roupas e

decência, com vestes e calçado sóbrio, num

um toucado elegante, que insinuam luxo e

grande contraste com a Ásia sensual e indo-

indolência; e a segunda mostrando dureza e

lente, descalça e de roupas transparentes. O

selvageria ao surgir desnuda e com adornos

significado simbólico dos quatro elementos

descuidados na cabeça. A oposição entre as

também está em jogo nessa iconografia, em

duas figuras é reforçada pelo contraste entre

que cada pormenor foi escolhido a dedo: o

o ramo de madeira perfumada arrancado de

fogo está justaposto à figura da África e ligado

uma árvore e o turíbulo que queima produtos

à figura da América para representar a na-

aromáticos refinados. Existe uma derradeira

tureza extrema do clima e a correspondente

oposição diagonal entre revelador. O cetro

selvageria dos habitantes. Por fim, deve-se no-

é um símbolo de autoridade real ou imperial

tar que, enquanto a Europa está cercada pelo

que implica o exercício legítimo da justiça. A

elemento terra (a videira), que significa raízes

América usa uma borduna estilizada em vez

firmes e um ambiente equilibrado e frutuoso, a

de um cetro para representar a total ausência

Ásia está cercada pelo elemento ar, destaca-

de justiça ou de autoridade moral. A ideia de

do pelo incenso, o que significa leviandade ou,

que depende unicamente da lei da brutali-

melhor ainda, falta de seriedade.

dade, algo enfatizado pela cabeça da vítima, um idoso sábio barbado, acentua o contraste

"

com a Europa. A oposição horizontal da Ásia em relação à África também foi algo cuidadosamente encenado: a primeira com belas roupas e um toucado elegante, que insinuam luxo e indolência; e a segunda mostrando dureza e selvageria ao surgir desnuda e com adornos descuidados na cabeça. A oposição entre as duas figuras é reforçada pelo contraste entre o ramo de madeira perfumada arrancado de uma árvore e o turíbulo que queima produtos aromáticos refinados. Existe uma derradeira oposição diagonal entre Europa-Ásia e África-América, definida pelo vestido contra o despido, e pelo decoro contra a nudez. Mais

Francisco Bethencourt "Racismos: das Cruzadas ao século XX" [2013]

"O Século: número comemorativo dos Centenários (11401640-1940)" (p. guarda) [Lisboa: Sociedade Nacional de Tipografia, Jun. 1940]

73 - ”Outro”


" Nem o imperialismo,

nem o colonialismo é um simples ato de acumulação e aquisição. Ambos são sustentados e talvez impelidos por potentes formações ideológicas que incluem a noção de que certos territórios e povos precisam e imploram pela dominação, bem como formas de conhecimento filiadas à dominação: o vocabulário da cultura imperial oitocentista clássica está repleto de palavras e conceitos como "raças servis" ou "inferiores", "povos subordinados", "dependência", "expansão" e "autoridade". E as ideias sobre a cultura eram explicitadas, reforçadas, criticadas ou rejeitadas a partir das experiências imperiais. " Edward Said "Culture and Imperialism" [1993]

Cartaz do Estado Novo "Homens e Mulheres de várias raças, cores e credos, vivendo em harmonia, em igualdade, perante a lei e à sombra da bandeira comum que estremecem: a de Portugal" Autoria de José Machado [1961]

74


"Portugal colonial: Revista de propaganda e expansão colonial" N. 6 (p. 38) Publicidade de livro Autoria de Henrique Galvão [1931]

75 - ”Outro”


76


ganância selvagem que talha e subjulga a terra e a imagem de "outros"

77 - "Outro"


"

Um aspecto importante do argumento de que as fronteiras moder-

nas do continente africano são "artificiais" é a afirmação de que ou as fronteiras políticas em si mesmas, ou o conceito de fronteira como linha reta, não existiam na África pré-colonial. Uma fonte do argumento da diferença entre fronteiras pré-coloniais e modernas é a suposição de que, na época pré-colonial, o "bem escasso" não era a terra mas o homem, e que a competição política e as guerras focalizavam a captura de população e não de terras. Dominação política, jurisdição e construção de identidades teriam se baseado nas relações entre pessoas e não estariam vinculadas a território. Zartman, por exemplo, argumenta que era o povo quem demarcava a extensão geográfica de um Estado africano pré-colonial e que não eram os limites territoriais que determinavam a lealdade do povo. O que realmente foi decidido na Conferência

conferência da morte de Berlim e qual a sua relevância para a Partilha da África? A Confe-

rência foi inaugurada por Bismarck no sábado, dia 15 de novembro de

1884, e encerrou-se no dia 26 de fevereiro de 1885. As 15 nações participantes, a maior parte delas sem interesses coloniais ou comerciaisnaÁfrica,estavamrepresentadas pelos seusembaixadores. Arazão inicial da Conferência foi a recusa da França e da Alemanha em reconhecerem o acordo anglo-português de junho de 1884. Neste acordo, que foi precedido por uma disputa entre a França, Portugal e a Associação Internacional da África do Rei Leopoldo II sobre a região do rio Congo e a sua foz, a Inglaterra reconheceu as antigas e constantes reivindicações de Portugal de exercer hegemonia histórica sobre a região do Congo.

Wolfgang Döpcke "A vida longa das linhas retas: cinco mitos sobre as fronteiras na África Negra" [1999]

78

"


a e "Todo mundo recebe a sua parte" Conferência de Berlim Charge francesa [não identificada]

79 - "Outro"


"

Data de 20 de março de 1883 uma importante conferência sobre proprie-

dade industrial, organizada na capital francesa, que ficou conhecida como a Convenção da União de Paris e que tinha tido o seu início sob a forma de anteprojeto redigido numa Conferência Diplomática realizada também em Paris no ano de 1880. O texto aprovado, assinado por 11 países, entre os quais Portugal (os signatários atuais são 164), instituiu a União Internacional para a Protecção da Propriedade Industrial, com o objetivo de "harmonizar internacionalmente os diferentes sistemas jurídicos nacionais relativos à Propriedade Industrial, com vista a garantir aos nacionais a possibilidade de obter no estrangeiro a devida proteção das suas criações ou invenções". Para além da Convenção da União de Paris, convém também referir a entrada em vigor em 22 de Maio de 1895 de uma nova lei, em Portugal, sobre a propriedade industrial "que refundiu e ampliou consideravelmente este importante ramo do serviço publico".4 A partir desta data a legislação passa a compreender tudo quanto se refira às invenções e à sua exploração, nomeadamente aos desenhos e modelos; às marcas; e aos nomes industriais e comerciais. Os pedidos de registo de desenhos descritos por palavras vai ser a prática mais comum ao longo do último lustro do século XIX e da primeira década do século XX, tornando-se o registo de desenhos gradual com o passar dos anos, através do empréstimo de "clichés" (zinco-gravuras) da parte dos produtores. Por esta altura, a Conferência de Berlim, realizada entre Novembro de 1884 e Fevereiro de 1885, teve como principal objetivo reorganizar a ocupação do continente africano pelas potências coloniais, resultando na discussão de questões fundamentais relativas aos interesses europeus e que resultou na configuração de um novo mapa geopolítico cujo desenho das fronteiras não respeitou nem antecedentes históricos, nem as relações étnicas no terreno. Proliferaram as reivindicações europeias que se traduziram num reforço de fantasias e projecções imperiais. Estas fantasias e projecções encontraram eco no imaginário visual colectivo então produzido, onde se incluem as marcas e os respetivos desenhos, que então eram registados na Repartição de Propriedade Industrial. Estes dois acontecimentos – Convenção da União de Paris e Conferência de Berlim – representam o início de dois fenómenos históricos distintos mas que se encontram intrinsecamente interligados: "a ascenção da cultura publicitária moderna e da subjuga-

"

ção dos povos colonizados" (Ciarlo, 2011).

Nuno Coelho "África® – Representações raciais nas marcas comerciais registadas em Portugal nas primeiras décadas do século XX" [2016]

80


"Revista da Convenção de Paris para a proteção de Propriedade Industrial " (p. capa) https://www.wipo.int/edocs/pubdocs/pt/wipo_pub_201.pdf [20.Mar. 1883]

81 - "Outro"


" Para nós, portu-

gueses (e não só), África era como uma folha de papel em branco onde se poderia imaginar ou forjar qualquer narrativa fantasiosa,pois estas encontravam-se deslocadas para uma terra remota e bastante diferente." Eduardo Lourenço "Do Colonialismo como Nosso Impensado" [2014] "Mapa cor-de-rosa" Biblioteca Nacional de Lisboa [± 1884]

82


"O Século: número comemorativo dos Centenários (1140-1640-1940)" (p. guarda) [Lisboa: Sociedade Nacional de Tipografia, Jun. 1940]

83 - ”Outro”


"Diário de Lisboa" Nº 18455 Ano: 54 Ilustração de capa [12.Mai. 1974]


25 de abril vs. colonização Foto: Thiago Liberdade [2020]


86


imagens brancas

humilhantes

87 87 -- ”Outro” "Outro"


Pó de arroz "Caricias de Negro" (1928) "Representações raciais nas marcas comerciais registadas em Portugal nas primeiras décadas do século XX" Cescontexto - Volume 2 (p. 57) Texto e acervo: Nuno Coelho [2016]

Doce regional "Pretinhos" "Representações raciais nas marcas comerciais registadas em Portugal nas primeiras décadas do século XX" Cescontexto - Volume 2 (p. 57) Texto e acervo: Nuno Coelho [2016]

88


"Boletim da Sociedade Luso-Africana do Rio de Janeiro" N.º 9 (p. 67) "Mais fumo" [Abr.-Jul. 1934]

"A Província de Angola" N.º extraordinário para a Exposição Colonial do Porto (p. 14) "Caricatura de Luiz Kol" [15.Ago. 1934]

"Duas Pátrias: revista documentário lusobrasileira" Vol. 2 (p. 49) "O negro contribuição brasileira para seu estudo" [1955-1956]

89 - ”Outro”

"Maria Rita: semanário humorístico" N.º 14 (p. 08) [23.Jul. 1932]


"O Ilustrado" N.º 13 (p. 246) Ilustração para os "Contos Africanos" [01.Out. 1933]

"O Ilustrado" N.º 7 (p. 131) Cartoon [01.Jul. 1933]

90


"O Ilustrado" N.º 19 (p. 449) "Como eu vejo o «Notícias» por dentro" [15.Jan. 1934]

"O Ilustrado" N.º 19 (p. 449) "Como eu vejo o «Notícias» por dentro" [15.Jan. 1934]

"O Ilustrado" N.º 9 (p. 167) Desenhado por Santana [01.Ago. 1933]

91 - ”Outro”

"O Ilustrado" N.º 7 (p. 117) Cartoon Desenhado por Santana [01.Jul. 1933]


"O Ilustrado" N.º 13 (p. 251) Cartoon [01.Out. 1933]

92


93 - ”Outro”


Sabonete Dinizes Saboaria e Perfumaria Confiança Instagram da Marca @confianca1894 [Jun. 2022]

"Cinearte" N.º 106 (p. publicidade) Publicidade [07.Mar. 1928]

"lllustração Portugueza" N.º 296 (p. contra-capa) Publicidade [23.Out. 1911]

94

"Acção Colonial: Número Comemorativo da Exposição Colonial do Porto" (p. 49) Publicidade [1934]


"O Ilustrado" N.º 13 (p. contra-capa) Publicidade [01.Out. 1933]

95 - ”Outro”


Casa Africana Publicidade https://restosdecoleccao.blogspot.com [início séc XX]

Casa Africana Publicidade https://restosdecoleccao.blogspot.com [início séc XX]

96


Passeio da Rua Augusta, Lisboa Publicidade https://restosdecoleccao.blogspot.com [1905]

Casa Africana Publicidade https://restosdecoleccao.blogspot.com [início séc XX]

97 - ”Outro”

Casa Africana Publicidade https://restosdecoleccao.blogspot.com [1941]


"Casa Freitas", Porto (1933) "Representações raciais nas marcas comerciais registadas em Portugal nas primeiras décadas do século XX" Cescontexto - Volume 2 (p. 60) Texto e acervo: Nuno Coelho [2016]

Estabelecimento comercial "Africana", Olhão (1916) "Representações raciais nas marcas comerciais registadas em Portugal nas primeiras décadas do século XX" Cescontexto - Volume 2 (p. 60) Texto e acervo: Nuno Coelho [2016]

98


"Portugal colonial: Revista de propaganda e expansão colonial" N. 2 (p. verso) autoria de Henrique Galvão [1931]

99 - ”Outro”


"Portugal colonial: Revista de propaganda e expansão colonial" N. 10 (p. publicidade) autoria de Henrique Galvão [Ago. 1942]

100


Calendário do Café "Tenco" Adquirido na Feira da Vandoma em 2022 [1986]

Rótulo do licor "Cacauzinho" Adquirido na Feira da Ladra em 2022 [1937]

101 - ”Outro”


"Casa Oriental", Porto (1914) "Representações raciais nas marcas comerciais registadas em Portugal nas primeiras décadas do século XX" Cescontexto - Volume 2 (p. 60) Texto e acervo: Nuno Coelho [2016]

102


Detalhe da fachada da "Casa Oriental", Porto Foto: Thiago Liberdade [2021]

103 - ”Outro”


104


imagens brancas

abstratizantes

105 105 -- ”Outro” "Outro"


"Panorama: revista portuguesa de arte e turismo" N.º 3 (p. publicidade) Secretariado de Propaganda Nacional [Ago. 1941]

106


Publicidade da Bic"Negro da China" Foto: Google Imagens [não identificada]

107 - ”Outro”


Café "O Rei dos Cafés" (1937) "Representações raciais nas marcas comerciais registadas em Portugal nas primeiras décadas do século XX" Cescontexto - Volume 2 (p. 58) Texto e acervo: Nuno Coelho [2016]

"A Província de Angola" N.º extraordinário para a Exposição Colonial do Porto (p. 73) [15.Ago. 1934]

Sabão higiénico "Negrito" (1934) "Representações raciais nas marcas comerciais registadas em Portugal nas primeiras décadas do século XX" Cescontexto - Volume 2 (p. 58) Texto e acervo: Nuno Coelho [2016]

108


"lllustração Portugueza" N.º 775 (p. publicidade) Publicidade de pasta dentrífica [25.Dez. 1920]

109 - ”Outro”


Ilustração "Do cravo ao jazz" Loucos anos 20 https://qualeatuaomeu.com [± 1920]

"Ilustração" N.º 83 (p. 04) [01.Jun. 1929]

110


"Boletim da Sociedade LusoAfricana do Rio de Janeiro" N.º6 (p. 61) [Jul.-Set. 1933]

Calendário "Café Lotus" Adquirido na Feira da Vandoma em 2022 [1990]

111 - ”Outro”


112


"Maria Rita: semanário humorístico" Edição Especial (p. 08) [04.Ago. 1934]

"O Ilustrado" N.º 8 (p. 147) "Porque se separam" [15.Jul. 1933]

113 - ”Outro”

"O Senhor Doutor" N.º 46 (p. ?) "O almoço do antropófago" museudigitalafroportugues.wordpress.com [27.Jan. 1934]


Chocolate "Conguitos" Empresa LACASA Fonte: Google Imagens [± 1960-2022]

Cevada "Moreninha" Fonte: Google Imagens [2022]

114


"Portugal colonial: Revista de propaganda e expansão colonial" N. 15 (p. 45) autoria de Henrique Galvão [Mai. 1932]

115 - ”Outro”



" Nosso masco-

te em escultura que ficava em cima da fachada do café foi arrancada a cabeça naquele tal 25 de abril! Não foi possível reparar, visto que a escultura era de gesso e as chuvas começaram a deteriorar a estrutura da estátua. Então, nós fizemos este mural de azulejos para ficar com uma lembrança do mascote." Café Preto dos Anjos [Lisboa] "Relato obtido em uma conversa informal com um trabalhador antigo do Café Preto dos Anjos"

Painel no Café Preto dos Anjos Mural de mosaicos Foto: Thiago Liberdade [2022]

117 - ”Outro”


118


imagens brancas

objetificantes

119 119 -- ”Outro” "Outro"


"Gazeta dos Caminhos de Ferro" N.º 1753 (p- 76) [01.Jan. 1961]

"Atlântico: revista luso brasileira" N.º 1 (p. 04) "Ana Lúcia, por Fernanda de Castro, desenho por Manuel Lapa" [23.Mai. 1942]

120


"Acção Colonial: Número Comemorativo da Exposição Colonial do Porto" (p. capa) [01.Out. 1949]

121 - ”Outro”


"Emissão filatélica comemorativa da Exposição Colonial de 1934" Desenho de Almada Negreiros Gravura de Arnaldo Fragoso [Porto. 1934]

122

"Postal: 1ª Exposição Colonial Portuguesa" Nº 44 Indígenas Balantas (Guiné) Foto: Domingos Alvão [Porto. 1934]


"Maria Rita: semanário humorístico" Edição Especial (p. capa) [04.Ago. 1934]

123 - ”Outro”


Pacote do açúcar "Negrita" Foto: Thiago Liberdade [Lisboa, 2022]

Chavena "Negrita" Foto: Thiago Liberdade [Lisboa, 2022]

124


Casa de torrefação "Negrita" Foto: Thiago Liberdade [Lisboa, 2022]

125 - ”Outro”


"O Ilustrado" N.º 22 (p. 516) Texto "Homens e feras", Luiz de Sá Cardoso [01.Mar. 1934]

"A Província de Angola" N.º extraordinário para a Exposição Colonial do Porto (p. 50) Poema de Tomaz Vieira da Costa Desenho de Vasco Vieira da Costa [15.Ago. 1934]

126


127 - ”Outro”

Produto indeterminado "Miss Angola" (1928) "Representações raciais nas marcas comerciais registadas em Portugal nas primeiras décadas do século XX" Cescontexto - Volume 2 (p. 59) Texto e acervo: Nuno Coelho [2016]


Pós de goma "Pretinha" (1932) "Representações raciais nas marcas comerciais registadas em Portugal nas primeiras décadas do século XX" Cescontexto - Volume 2 (p. 57) Texto e acervo: Nuno Coelho [2016]

"Maria Rita: semanário humorístico" Edição Especial (p. 02) [23.Jul. 1932]

128


"Panorama: revista portuguesa de arte e turismo" N.º 12 (p. publicidade) Secretariado de Propaganda Nacional [Dez. 1942]

129 - ”Outro”


130


imagens brancas

exotizantes

131 131 -- ”Outro” "Outro"


"Boletim da Sociedade Luso-Africana do Rio de Janeiro" N.º 6 (p. 37) Brasão da Província de Angola [Jul.-Set. 1933]

132


"Ilustração" N.º 14 (p. 42) Publicidade da Shell [16.Jul. 1926]

133 - ”Outro”


"Diário da Manhã: número comemorativo do duplo centenário" (p. 128) Publicidade A Mulatinha [01.Dez. 1940]

"O Ilustrado" N.º 6 (p. 101) Texto "Homens e feras", Luiz de Sá Cardoso [15.Jun. 1933]

Vinhos licorosos "Landim" (1910) "Representações raciais nas marcas comerciais registadas em Portugal nas primeiras décadas do século XX" Cescontexto - Volume 2 (p. 60) Texto e acervo: Nuno Coelho [2016]

134


"O Ilustrado" N.º 6 (p. 101) Texto "Homens e feras", Luiz de Sá Cardoso [15.Jun. 1933]

135 - ”Outro”


"Diário popular: dedicado ao ultramar português" (p. 34) Caderno Angola [Lisboa, 1961]

136


"Panorama: revista portuguesa de arte e turismo" N.º 4 (p. publicidade) Secretariado de Propaganda Nacional [Jun. 1944]

"Illustração portugueza" N.º 45 (p. publicidade) [31.Dez. 1906]

137 - ”Outro”


Vinho África (1906) "Representações raciais nas marcas comerciais registadas em Portugal nas primeiras décadas do século XX" Cescontexto - Volume 2 (p. 57) Texto e acervo: Nuno Coelho [2016]

138


"A Província de Angola" N.º Extraordinário para a Exposição Colonial do Porto (p. 127) [15.Ago. 1934]

139 - ”Outro”


"Panorama: revista portuguesa de arte e turismo" N.º 30 (p. 12-ilustração) Secretariado de Propaganda Nacional [Jun. 1946]

140


"Índia: suplemento português quinzenal" N.º 1 (p. capa) [15.Ago. 1932]

141 - ”Outro”


"A Província de Angola" N.º Extraordinário para a Exposição Colonial do Porto (p. 56) [15.Ago. 1934]

"Revista Municipal" Nº 16 (p. publicidade 21) [2º trimestre, 1943]

142


"A Terra: revista portuguesa de geofísica" N.º 14 (p. capa) Edição Colonial [Mai. 1934]

143 - ”Outro”


"Panorama: revista portuguesa de arte e turismo" N.º 21 (p. publicidade) Secretariado de Propaganda Nacional [Jun. 1944]

144


"O Ilustrado" N.º 2 (p. 21) Publicidade [15.Abr. 1933]

145 - ”Outro”


146


147 - ”Outro”

"O Império Português na primeira Exposição Colonial Portuguesa: documentário histórico, agrícola, industrial e comercial, paisagens, monumentos e costumes" (p. publicidade XVI) [Porto: Mario Antunes Leitão e Vitorino Coimbra, 1934]


148


2

antiamnésia vermelha

"Portugal Colonial: revista de propaganda e expansão colonial" N.º1 (p. capa) Org. Henrique Galvão [Mar. 1931]

149 149 -- ”Outro” "Outro"


"Contemporânea" Ilustração de Almada Negreiros Fábrica de chocolates e bombons "Suissa" [1922]

150


"Ilustração" [1927]

151 - Vermelho


Calendário "Palanca Negra" António Esteves Araújo Adquirido na Feira da Vandoma, 2022 [1985]

Calendário Figueira Lda. Importador e exportador de frutas Adquirido na Feira da Ladra, 2022 [1990]

Calendário "Tenco" Adquirido na Feira da Ladra, 2022 [1986]

Calendário Café "Polanca" Adquirido na Feira da Vandoma, 2022 [1985]

Calendário Torrefação "Pérola Negra" A. Martins & Martins Lda. Adquirido na Feira da Ladra, 2022 [1986]

Calendário "Sotocal" Adquirido na Feira da Ladra, 2022 [1991]

152


Rótulo "Rhum Pretinha" Fábrica Victoria Adquirido na Feira da Ladra, 2022 [não identificada]

Rótulo "Ponche Chinez" Fábrica Pérez Lda. Adquirido na Feira da Ladra, 2022 [não identificada]

Rótulo Creme de Cacao "À La Vanille" Fábrica Ancora museudigitalafroportugues.wordpress.com [1882]

153 - Vermelho


Rótulo "Rhum Velho" Fábrica Ancora museudigitalafroportugues.wordpress.com [1897]

Rótulo "Rhum Pretinha" Fábrica Victoria museudigitalafroportugues.wordpress.com [não identificada]

154


Rótulo "Rhum Pretinha" Fábrica Victoria Adquirido na Feira da Ladra, 2022 [não identificada]

Rótulo "Africano" Adquirido na Feira da Ladra, 2022 [não identificada]

155 - Vermelho


Diploma de Remissão para "Conversão dos Pretos" museudigitalafroportugues.wordpress.com [1972]

156


157 - Vermelho


"Pim pam pum!: suplemento infantil do jornal O Século" [1939]

158


"Preto Papusse Papão" Augusto Santa Rita Poema ilustrado para assustar crianças mal-comportadas museudigitalafroportugues.wordpress.com [1920]

159 - Vermelho


Poster do sabonete "Arêgos" Design Raul Caldevilla museudigitalafroportugues.wordpress.com [1917]

160


Bombons de Chocolates Coleção Empreza do Bulhão museudigitalafroportugues.wordpress.com [± 1920]

161 - Vermelho


"Jornal António Maria" Caricatura: A árvore da liberdade Autoria: Raphael Bordallo Pinheiro Museu Rafael Bordalo Pinheiro [1884]

162


163 - Vermelho


"A parodia" Caricatura: A Herança Histórica Autoria: Raphael Bordallo Pinheiro Museu Rafael Bordalo Pinheiro [1900]

164


"A parodia" Caricatura: Pater Familias Autoria: Raphael Bordallo Pinheiro [1903]

165 - Vermelho


Publicação não identificada Desenho de Alceu [não identificada]

166


"Ilustração" [1934]

167 - Vermelho


Bolacha "Mulata" FinanÇor - Agro-Alimentar, S.A. | Moaçor [2021]

168


Bolacha "Mulata" "A música que andas a cantar ultimamente" FinanÇor - Agro-Alimentar, S.A. | Moaçor [2021]

169 - Vermelho


170


3

Mitos:

corolário de mitos requentados

O Estado Novo Português (1933 – 1974) foi um dos períodos ditatoriais mais extensos e herdeiro do neo-colonialismo que fatiou o continente africano durante a Conferência de Berlim invadiu (mais uma vez na história) e colonizou o "seu pedaço do bolo" de forma prático-objetiva (guerra) e mítica-subjetiva (missões civilizatórias e propagandísticas). Era morte ou subjugação! Através de um mood "Português Way of Life" viria trazer todos os mitos de glória do passado e reaquecê-los dentro de um microondas radioativo, trazendo de volta fantasmas do passado. A retomada do discurso Imperial que coaduna com o capitalismo selvagem, o luso-tropicalismo, a catequização de povos "inferiores" e o mito da civilização de "raças" subalternizadas serviram a propagandas deste período. Em análise gráfica tanto o "Mapa cor de rosa" (1886), onde Portugal reivindicou terras que ligavam Angola a Moçambique quanto o mapa "Portugal não é um país pequeno" (1934) possuíam a mesma sintaxe gráfica, serviam como uma espécie de cartão de visita para demonstrar seus territórios "ultramarinos" e a seu poderio à outros países europeus. Foram inúmeras publicações comandadas pelo Estado Novo que produziram conteúdos gráficos na manutenção de uma verdade colonial. Verdades estas, nacionalistas e imperialistas, que introjetaram um pensamento racista na sociedade portuguesa até hoje. Contudo, por via de um aparelhamento ideológico, Portugal realizou duas exposições coloniais em seu território. Em 1934, "A primeira Exposição Colonial do Porto", organizada por Henrique Galvão e sediada no Palácio de Cristal realizou verdadeiros zoológicos humanos trazendo "nativos" de povos africanos e asiáticos para mostrar seus domínios de além-mar. A segunda já ocorreu em Lisboa, em 1940, "Exposição do Mundo Português"sob a batuta de António Ferro, então diretor do SPN - Secretariado de Propaganda Nacional (1933-1944) que erigiu uma cenografia efémera para dizer ao mundo e aos portugueses, que em Portugal não havia guerra e também conquistar a opinião portuguesa sobre as maravilhas da Nação. Em ambas, a desumanização e exotização foi enorme. Por fim, nas páginas que compõem este caderno se faz presente a produção gráfica acerca da Guerra Colonial, informativos para os colonos portugueses que lá viviam e para os "nativos" africanos se renderem. "Boletim da Sociedade Luso-Africana do Rio de Janeiro" N.º12 (p. capa) [Jan.-Mar. 1935]

171 - Mitos


"Boletim da Sociedade LusoAfricana do Rio de Janeiro" N.º2 (p. 71) Orçamento geral das colónias para 1931-1932 [Mai. 1932]

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"O Império Português na primeira Exposição Colonial Portuguesa: documentário histórico, agrícola, industrial e comercial, paisagens, monumentos e costumes" (p. capa) Álbum-catálogo oficial [Porto: Mario Antunes Leitão e Vitorino Coimbra, 1934]

173 - Mitos


O cartaz "Portugal Não É um País Pequeno" Edição de iniciativa da Câmara Municipal de Penafiel Org. Henrique Galvão [1934]

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"Há Há um elefante na sala" sala é uma expressão utilizada na língua portuguesa para se referir a um assunto que todos conhecem mas sobre o qual ninguém quer falar, por ser incómodo. A expressão teve origem na fábula "O Homem Curioso" (1814) do russo Ivan Krylov, a qual conta a história de um homem que vai a um museu e nota todo o tipo de coisas, excepto um enorme elefante numa sala. A expressão é frequentemente usada com ironia, nomeadamente quando os problemas são intencional ou desleixadamente ignorados por quem, ou não tem interesse em notá-los e valorizá-los, ou não se interessa por eles e negligencia-os. Mas há um elefante nas salas portuguesas que não pode mais ser esquecido, que trobeteia sem parar. É o ELEFANTE DA COLONIZAÇÃO, que foi o mascote da COLONIZAÇÃO exposição colonial de 1934, no Porto e serviu de motivo decorativo na fachada do Pálacio das Colónias (Palácio de Cristal) até bibelôs como recordação desse "zoológico" em pleno séc XX.

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Elefante Paliteiro, com inscrição "Mascote Comemorativa", altura: 14 cm Porcelana de Vista Alegre, Recordação da Exposição Colonial do Porto [1934]

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Pequena aneleira, decorada com elefante, diâmetro: 9 cm Porcelana de Vista Alegre, Recordação da Exposição Colonial do Porto [1934]

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"Portugal colonial: Revista de propaganda e expansão colonial" N.º 38-39 (p. 49) Publicidade de livro autoria de Henrique Galvão [Abr.-Mai. 1934]

"Boletim da Sociedade Luso-Africana do Rio de Janeiro" N.º 07 (p. 44) [Out.-Dez. 1933]

179 - Mitos


"Ilustração" N.º 205 — 9º ano (p. 21) [01.Jul. 1934]

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181 - Mitos


"O Império Português na primeira Exposição Colonial Portuguesa: documentário histórico, agrícola, industrial e comercial, paisagens, monumentos e costumes" (p. rosto) [Porto: Mario Antunes Leitão e Vitorino Coimbra, 1934]

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"Ultramar: órgão oficial da I Exposição Colonial" N. 10 (p. capa) org. de Henrique Galvão [15.Jun. 1934]

"Ultramar: órgão oficial da I Exposição Colonial" N.º 4 (p. capa) Org. de Henrique Galvão [15.Mar. 1934]

"O Império Português na primeira Exposição Colonial Portuguesa: documentário histórico, agrícola, industrial e comercial, paisagens, monumentos e costumes" (p. 91) Publicidade da Kodak [Porto: Mario Antunes Leitão e Vitorino Coimbra, 1934]

183 - Mitos

"Portugal colonial: Revista de propaganda e expansão colonial" N.º 42 (p. 31) [Ago. 1934]


Prospecto da "Exposição do Mundo Português" [1940]

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"Revista Municipal" Ediçao especial (p. 14) [Jan. 1944]

185 - Mitos


"Boletim da Sociedade Luso-Africana do Rio de Janeiro" N.º 12 (p. 50-51) [Jan.-Mar. 1935]

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187 - Mitos


"Diário da Manhã: número comemorativo do duplo centenário" (p. 54) [01.Dez. 1940]

"Exposição do Mundo Português" Pavilhão de Honra e de Lisboa Foto: Mário Novais Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian https://www.flickr.com/photos/biblarte [1940]

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"Revista Municipal" Ediçao especial (p. 14) [Jan. 1944]

189 - Mitos


"Diário da Manhã: número comemorativo do duplo centenário" (p. 47) [01.Dez. 1940]

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191 - Mitos


"Diário da Manhã: número comemorativo do duplo centenário" (p. 47) [01.Dez. 1940]

"Exposição do Mundo Português" Envelope para postais — Série D Adquirido na Feira da Ladra em 2022 [1940]

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"Exposição do Mundo Português" Mapa desdobrável da brochura Autoria de Eduardo Anahory Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian https://www.flickr.com/photos/biblarte [1940]

193 - Mitos


"Exposição do Mundo Português" Pavilhão dos Portugueses no Mundo - Sala Camões Foto: Mário Novais Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian https://www.flickr.com/photos/biblarte [1940]

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"Exposição do Mundo Português" Aldeamento na Secção Colonial Autoria: desconhecida [1940]

"Exposição do Mundo Português" Lago e Pavilhão da Honra e de Lisboa Foto: Mário Novais Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian https://www.flickr.com/photos/biblarte [1940]

195 - Mitos


"Exposição do Mundo Português" Porta da Fundação Foto: Mário Novais Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian https://www.flickr.com/photos/biblarte [1940]

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197 - Mitos


Propaganda do Estado Novo Difundida em Angola, encorajando as forças rebeldes à rendição https://www.reddit.com/r/ HistoriaEmPortugues [1973]

"Boletim da Sociedade Luso-Africana do Rio de Janeiro" N.º 9 (p. 74) A instrução militar em Moçambique, por Eduardo de Azambuja Martins [Abr.-Jul. 1934]

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"Deixa a Frelimo. Vem viver em paz na tua terra. Apresenta-te às autoridades portuguesas e serás bem tratado" Propaganda de guerra Fonte: A Conquista das almas: cartazes e panfletos da acção psicológica na guerra colonial, Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes [não identificada]

199 - Mitos


Mocidade Portuguesa Foto por Bernard Hoffman [1940]

200


Caderno escolar "Lusito" Ilustração final de Manuel Lapa https://almanaquesilva.wordpress.com [± 1940]

201 - Mitos


"Chama" Nº 10 (p. capa) [25.Mai. 1963]

202


"Diário Poular" N.º 11319 (p. capa) Sociedade Industrial de Imprensa [27.Abr. 1974]

203 - Mitos


"Boletim da Sociedade Luso-Africana do Rio de Janeiro" N.º 20-21 (p. 32) "Colonos", por Augusto Casimiro [Jan—Jun. 1937]

Manchete do jornal "Diário popular: dedicado ao ultramar português" (p. 27) Caderno Angola [Lisboa, 1961]

"O Ilustrado" N.º 15 (p. 302) Bosquejo histórico da colonização de Moçambique Empresa Tipográfica (Lourenço Marques) [01.Nov. 1933]

Manchete do jornal "Diário popular: dedicado ao ultramar português" (p. 17) Caderno Angola [Lisboa, 1961]

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Intervenção na capa da "Semana Ilustrada" por Jorge Trabulo Marques https://canoasdomar.blogspot.com [1934]


Postal "Avenida Marginal" http://postaismundo.blogspot.com [Lourenço Marques, 1965]

Postal "Praia Polana" http://postaismundo.blogspot.com [Lourenço Marques, ± 1940-50]

Foto de Manifestantes em Angola à protestar contra detenções ilegais https://radioangola.org [2020]

205 - Mitos

Manchete do jornal "Diário popular: dedicado ao ultramar português" (p. 17) Caderno Angola [Lisboa, 1961]


"Boletim da Sociedade Luso-Africana do Rio de Janeiro" N.º 20-21 (p. 33) "Colonos", por Augusto Casimiro [Jan.-Jun. 1937]

"Boletim da Sociedade Luso-Africana do Rio de Janeiro" N.º 20-21 (p. capa) Emblemas das antigas colónias [Jan.-Jun. 1937]

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Ilustração "Aqui é Portugal" http://oliveirasalazar.org [não identificada]

207 - Mitos


"Gazeta das colonias: semanario de propaganda e defesa das colonias" N.º 1 — Especimen (p. capa) [19.Jun. 1924]

"Gazeta das colonias: semanario de propaganda e defesa das colonias" N.º 41 — Especimen (p. 27) [25.Nov. 1926]

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"Estudar a singularidade desta presença e desta herança, que modelou o património cultural e histórico português, obriga a uma análise tão ampla quanto rigorosa do percurso multifacetado dos africanos em Portugal. Mobilizando a história e a memória, esta reflexão deve contribuir para dar a conhecer o teor de uma herança muito diversa e pouco estudada, marcada pela criação de formas sincréticas inéditas e de uma "contra-herança" — que é também uma herança —, que se traduziu na consolidação de imagens, de estereótipos e de preconceitos resultantes da natureza das relações seculares entre portugueses e africanos. Se a dificuldade em entender o africano não pôde deixar de se registar, dadas as diferenças civilizacionais, podemos verificar, através dos documentos, a complexidade dos processos de integração/rejeição deste Outro, que participou de maneira constante nas inevitáveis dinâmicas de mudança da sociedade portuguesa." Isabel Castro Henriques Africanos na sociedade portuguesa [2011]

209 - Mitos


"Chama" Nº 2 (p. 04-05) [25.Nov. 1960]

"Diogo-Caão: revista ilustrada de assuntos históricos" Série IV (p. 11) [15.Ago. 1948]

210


"Diário Poular" N.º 11319 (p. capa) Sociedade Industrial de Imprensa [27.Abr. 1974]

211 - Mitos


212


3

antiamnésia verde

"Exposição do Mundo Português" Em primeiro plano um pormenor do Pavilhão das Artes e Indústrias Ao fundo (dir.) o Padrão dos Descobrimentos e a Nau Portugal (esq.) Foto: Mário Novais Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian https://www.flickr.com/photos/biblarte [1940]

213 - Mitos


"O Império Português na primeira Exposição Colonial Portuguesa" Publicidade [1934]

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Poster da "Exposição Colonial do Porto de 1934" museudigitalafroportugues.wordpress.com [1934]

215 - Verde


"Maria Rita: semanário humorístico" [1934]

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217 - Verde


Brochura "Exposição Colonial do Porto [1934]

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219 - Verde


"O Império Português na primeira Exposição Colonial Portuguesa" [1934]

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"O Império Português na primeira Exposição Colonial Portuguesa" [1934]

221 - Verde


"O Império Português na primeira Exposição Colonial Portuguesa" [1934]

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"O Império Português na primeira Exposição Colonial Portuguesa" [1934]

223 - Verde


"O Império Português na primeira Exposição Colonial Portuguesa" [1934]

"Album Fotográfico da 1º Exposição Colonial Portuguesa" Domingos Alvão [1934]

"Revista Municipal" [1943]

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"InvictaCine" [1933]

"Diário Popular: dedicado ao ultramar português" [1961]

225 - Verde


Jornal "Ultramar" [1934]

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Jornal "Ultramar" [1934]

227 - Verde


"Escola Portuguesa" Boletim de Acção Educativa e de Difusão de Cultura Popular [1960]

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Imagem "Exposição Colonial Portuguesa em Paris" Design Fred Kradolfer [1931]

229 - Verde


Bilhetes da "Exposição do Mundo Português" [1940]

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Brochuras da "Exposição do Mundo Português" [1940]

231 - Verde


"Diário da Manhã" [1940]

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"Revista dos Centenários" [1939]

Caixa para doces em folha de Flandres Decoração Recordação da Exposição do Mundo Português de 1940 [1940]

233 - Verde


"A Província de Angola" [1934]

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"A Província de Angola" [1934]

235 - Verde


Cartaz de propaganda das Forças Armadas Portuguesas [1969-1971]

Cartaz de propaganda das Forças Armadas Portuguesas [1969-1971]

Cartaz de propaganda das Forças Armadas Portuguesas [1969-1971]

Cartaz de propaganda das Forças Armadas Portuguesas [1969-1971]

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Propaganda da Guerra Colonial delagoabayworld.wordpress.com [não identificada]

Cartaz turístico de Lourenço Marques DETA Airways delagoabayworld.wordpress.com [±1950]

Cartazes Publicitário DETA Airways delagoabayworld.wordpress.com [±1940]

237 - Verde


Cartaz turístico de Lourenço Marques Design Santana delagoabayworld.wordpress.com [±1934]

Cartaz turístico de Lourenço Marques delagoabayworld.wordpress.com [±1950]

238


Cartaz turístico de Lourenço Marques museudigitalafroportugues.wordpress.com [1956]

Cartaz turístico de Lourenço Marques delagoabayworld.wordpress.com [±1950]

239 - Verde


bibliografia

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foi composto com as famílias tipográficas Scandia e Mixta Pro, impresso no Papel Munken Pure 90 g. em junho de 2022.


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