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SALVADOR QUINTA-FEIRA 2/2/2012
MEMÓRIA Cineasta morto na segunda-feira está entre os pioneiros do filme etnográfico
Iyá Ogunté: o lugar da mãe guerreira Marlon Marcos Jornalista e antropólogo ogunte21@yahoo.com.br
Iemanjá é a senhora das águas do mundo. Abrigo e gerência de tudo que é vivo, sentido profundo das fragrâncias do feminino no que salta aos olhos e, também, no intraduzível. É a mãe belicosa que arrebenta as marés, debate-se em rochas, empunha o alfanje, socorre e mata, em nome do amor que a orienta. Energia aquática soberana de peixes e sereias, reflexo das donzelas querendo amar nas areias, símbolo da mulher-mãe que comanda seu lar. Iemanjá é o mito que transborda a essência das águas, desperta a vida, cuida sem parar do infante humano em sua caminhada de abandonos. Ela habita as algas, transmuta-se em polvo, arraia, golfinho; às vezes, é a poderosa baleia; outras, sereia; do mar, no íntimo da água salgada, ela zela poeticamente pela existência potável do que mata a sede e dá vida ao que pode viver no território terrestre. Ela é a dança do sossego. E a fúria intempestiva dos mares. Espalha oxigênio pelo mundo segurando as cabeças que compõem a humanidade. Qualidades da mulher que adolesce e da que envelhece em contrapartida. Equilíbrio entre beleza e segurança, ela toma conta de tudo que lhe afeta e se ilumina na força que a traduz: os elementos aquáticos.
Forte como a pedra do absoluto, translúcida e aderente como suas águas, delírio de pescador, uma senhora do cotidiano e quando mais perigo, ela é o mistério difuso que amedronta e afasta como os oceanos longínquos. O negro feminino que pariu a Terra nascida da grandeza dos mares. Iemanjá é puro encanto. O que se desliza e atinge; alcance e representação da esperança. Sua energia ocupa qualquer lugar e ela imprime pro-
“A dona do mundo faz do alcance o seu dizer/ Ter água no corpo é merecer” TIGANÁ SANTANA, cantor e compositor
teção na alma de quem a entende. É quem aglutina gente e desintegra os desertos. Mulher que se abastece nos vestígios de fé que perfumam e enfeitam sua casa e se enfurece com o dessentido da poluição. Iemanjá baixa nos terreiros no frescor da generosidade e da vaidade que a definem. Destacado alicerce da fé do povo do candomblé e musa sagrada inconteste das ressignificações que deram à sua personalidade divina. Ela é a dona
do mundo. Uma canção divina que nos embala para cuidar-nos. Segredos dos pescadores – Odô Iyá – frente a rios e mares, o pratear do xaréu nas manhãs baianas que alimentam a vida. Mulher de partilhas e abrigo no ventre. O feminino se ordenando – o comando político certeiro para que haja coexistência. A mulher ninando a cria com a mão de poesia na cabeça dos filhos sonhando. A mulher banhando cada sorte, cada caminho.
Iyá Ogunté nesses atalhos do Brasil. Deusa iorubana incrustada no Rio Ogum – avalanche de águas doces e salgadas nessa esfera mítica do humano viver. Deusa negra e original da afro-brasilidade. Seios fartos de leite e procura, divindade condutora da saúde dos pensamentos. Iemanjá – serena representação no bairro do Rio Vermelho. Aquela mãe de todos nós que inspirou o poeta: “ter água no corpo é merecer”. Erú Iyá. Raul Spinassé / Ag. A TARDE / 2.2.2011
Procurado por pesquisadores e até colegas cineastas interessados em utilizar trechos de Aruanda, o cineasta sempre dizia: “Isso já é de domínio público”. Sabia que sua obra ocupava um
O Palavra Cantada surgiu em 1994 devido a uma necessidade pessoal dos músicos
Palavra Cantada retorna a Salvador com show carnavalesco para as crianças
panteão único e consagrado. O próprio Glauber Rochar, talvez o maior ícone que o cinema brasileiro criou, reconhecia como Linduarte Noronha o influenciou e se tornou um dos pilares para o surgimento do Cinema Novo. Aruanda foi filmado em preto e branco e filme 35mm, com uma câmera emprestada pelo Instituto Nacional de Cinema Educativo (INCE), cedida diretamente pelo diretor do órgão, o também lendário cineasta Humberto Mauro. Em companhia do fotógrafo pernambucano Rucker Vieira, apenas com a tal câmera e sem nenhum jogo especial de lentes ou qualquer tipo de filtro, Linduarte filmou o sertão cru, iluminado pelo sol inclemente. Mesmo em contraluz, as imagens são únicas. Comparando-as, por exemplo, com as silhuetas de O Cangaceiro (1953), de Lima Barreto, continuam soberanas e pioneiras. Antes era um sertão que imitava a luz dos werterns norte-americanos. Com o Aruanda de Linduarte Noronha fez-se um monocromático quase sem tons de cinza, enquadrando tipos humanos com uma verdade cotidiana que somente muitos anos depois ganharia o nome de “filme etnográfico”.
O cineasta Linduarte Noronha, que morreu aos 81 anos, em João Pessoa, se tornou um dos pilares para o surgimento do Cinema Novo Divulgação
Aruanda é referência para uma geração de cineastas brasileiros A estética de Aruanda é facilmente identificada em filmes como Vidas Secas (1963), de Nelson Pereira dos Santos, e Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), de Glauber Rocha. Ambos trazem aquele tipo de fotografia estourada, que matiza a secura, a pobreza, a sensação de desconforto. Linduarte Noronha se impôs como uma referência para toda uma geração de realizadores, criando um cinema de observação, que acredita na força da imagem.
Cena de Aruanda, filme sobre comunidade quilombola paraibana
Seguidores
Seu assistente de direção no fil-
me, Vladimir Carvalho, tornou-se um dos grandes nomes do documentário nacional, fazendo parte de um valoroso grupo paraibano, que inclui João Ramiro Melo, Ipojuca Pontes e o irmão Walter Carvalho, todos discípulos do autor de Aruanda em linha direta. Inúmeros outros, Brasil a fora, seguiriam a cartilha do mestre pernambucano. Linduarte Noronha dirigiu ainda o curta-metragem Cajueiro Nordestino (1962) e o longa Salário da Morte (1971), sobre um pistoleiro de aluguel, mas sua obra imortal já havia sido cometida anos antes.
Melhor CD Infantil e o Prêmio APCA de Melhor Show, em 2008. A discografia da dupla é recheada com mais de 13 CDs, incluindo um em espanhol e seis DVDs. “É muito bom trabalhar para criança, porque ela é muito genuína, é tudo muito puro”, destaca Sandra, sobre a experiência de fazer música voltada para o público infantil.
Fortes aliados
O cuidado com a música que Paulo e Sandra fazem, além da preocupação com o público, é característica marcante do Palavra Cantada. Embora não façam um trabalho com intenção pedagógica, com exceção da coleção O Livro de Brincadeiras Musicais da Palavra Cantada, primeiro projeto com essa vertente, a dupla conta com os educadores e pais como fortes aliados, ajudando na divulgação do trabalho nas salas de aula e acompanhando os filhos nos shows. “O Palavra Cantada é uma música que pais e educa-
dores gostam muito, então acabamos, de certa forma, fazendo parte da família”, diz Sandra. Segundo ela, a música do Palavra não tem a intenção de ensinar, mas acaba adquirindo um caráter educacional ao transmitir conceitos, que mais tarde serão repetidos pelas crianças. Por esta razão, é importante que os pais tenham cuidado com o que os filhos ouvem, selecionando o repertório musical do menor. “O adulto tem uma responsabilidade muito grande, ele quem tem que escolher o que a criança vai ouvir, pois existem músicas que não são feitas para crianças”, enfatiza. No final de 2011, o show Palavra Cantada 3D – Brincadeiras Musicais foi lançado nos cinemas, sendo o primeiro show infantil filmado em terceira dimensão no Brasil, posteriormente também lançado em DVD e Blu Ray 3D. CARNAVAL & SUCESSOS / PALAVRA CANTADA / SÁB, ÀS 16H / BARRA SALVADOR HALL
Concha recebe Rodrigo Sant'anna Comício Gargalhada com Rodrigo Sant'anna é o nome do show que o ator traz a Salvador dia 4 de março, às 19 horas, na Concha Acústica do TCA. Rodrigo Sant'anna ficou popularmente conhecido ao dar vida a Valéria, personagem do Zorra Total. No palco, ele fará uma sátira aos comícios eleitorais, em que o voto não é obrigatório, mas o riso é garantido. Informações: (71) 3117-4889
A dupla de músicos Sandra Peres e Paulo Tatit cantam o repertório do CD Carnaval Palavra Cantada
“Estamos muito contentes de irmos para Salvador, que é a terra do Carnaval” Sandra Peres e Paulo Tatit comandam o espetáculo infantil
SANDRA PERES, cantora
CURTAS
CURTAS
Vanity Fair elege as "novas" de Hollywood Patton, com 36 anos. As 11 estrelas escolhidas junto com Mara e Chastain incluem Jennifer Lawrence e Mia Wasikowa.
O ensaio com estilo art-déco, com as mulheres usando vestidos inspirados na era do Jazz, é de Mario Testino
Canto dos Malditos volta a fazer show A banda Canto dos Malditos na Terra do Nunca, revelação do rock baiano que esteve na ativa entre 2003 e 2007 e lançou disco pela gravadora Warner, voltará a se apresentar com a formação original. O show, que reúne Andréa Martins (voz), Helinho Sampaio (guitarra), Danilo Castor (guitarra), David Castor (baixo) e Leo Cebola (bateria), está marcado para o dia 3 de março, no Groove Bar. Quanto ao futuro da banda, não há nada definido, segundo Danilo. “Pensamos em fazer esse show para nos divertir”.
Cedida por Clara Marques Comunicação / Divulgação
A banda baiana se apresentará no dia 3 de março, no Groove Bar
Numa coisa todas as torcidas concordam: informação é aqui. A TARDE Esporte Clube. Todos os dias no seu jornal A TARDE.
Matheus Cabral / TV Globo / Divulgação
A revista Vanity Fair divulgou na terça-feira a capa de sua edição anual de Hollywood, que terá as “novas estrelas 2012”. Entre as escolhidas pelo impacto que tiveram em filmes recentes estão as indicadas ao Oscar Rooney Mara e Jessica Chastain. “Estamos procurando atrizes que estejam fazendo um excelente trabalho nas telas. E se elas são jovens e bonitas, bom, isso também não machuca”, disse a editora de reportagem da Vanity Fair, Jane Sarkin, em um email à Reuters. A maioria das mulheres estão na casa dos 20 anos. A mais velha é Paula
Francisco França/ Jornal da Paraíba/ Folhapress
Arnaldo JG Torres / Divulgação
MÚSICA
O espetáculo musical infantil Palavra Cantada retorna à cidade com show temático de Carnaval, neste sábado, às 18 horas. A dupla de músicos Sandra Peres e Paulo Tatit cantam o repertório do CD Carnaval Palavra Cantada, lançado em 2008, com músicas como Hoje é Dia de Carnaval, Carnaval na Língua do Pê e Carnaval das Minhocas, além de outros sucessos. O disco foi premiado no mesmo ano como o Melhor CD Infantil no Prêmio da Música Brasileira. “Estamos muito contentes de irmos para Salvador, que é a terra do Carnaval”, comenta Sandra Peres, em entrevista dada ao A TARDE, por telefone. O Palavra Cantada surgiu em 1994 devido a uma necessidade pessoal dos músicos em criar canções inéditas voltadas especialmente para o público mais jovem e, desde então, o selo recebeu inúmeros prêmios, como em 2006, o Prêmio TIM de
JOÃO CARLOS SAMPAIO
Público
Mistério difuso
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Linduarte foi um antecipador de linguagens cinematográficas
Antes de se cunhar o termo “Cinema Novo” e do realismo das terras áridas do sertão se tornar cenário de alguns de nossos principais filmes, o jornalista pernambucano, radicado na Paraíba, Linduarte Noronha resolveu registrar com imagens em movimento um Brasil que permanecia parado. Filmou a vida primitiva na comunidade quilombola de Serra do Talhado (PB), criando o curta-metragem Aruanda (1960), audiovisual inestimável à memória brasileira. Linduarte Noronha faleceu na última segunda-feira, aos 81 anos, vítima de uma parada respiratória. Ele estava internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Memorial São Francisco, em João Pessoa, já com dificuldade de respirar. Tinha enfrentado uma pneumonia e a idade avançada não o ajudou. Seu legado, entretanto, já havia sido entregue antes, como ele mesmo gostava de dizer.
Oferendas para Iemanjá nos festejos do Rio Vermelho
Escorre dela também doçura. Seus movimentos são lentos e oportunos, ela sabe chegar em sua majestade e marcar sua presença na luminosidade dos seus símbolos.
THUANNE SILVA
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SALVADOR QUINTA-FEIRA 2/2/2012
Jessica Alba lança marca de produtos
Arrocha Chic com a banda Kart Love
Kinho Xavier dia 9, no Centro Histórico
Banda 5% faz shows no Sushimaki
A atriz Jessica Alba está se lançando na carreira empresarial, com a criação de uma marca que se propõe a oferecer produtos ecológicos e naturais para lares e bebês. Casada desde 2008 com Cash Warren, Alba decidiu se dedicar de corpo e alma à maternidade das filhas Honor, de 4 anos, e Haven, recém-nascida. E disso surgiu o seu empreendedorismo. “A maternidade me afetou enormemente e de muitas maneiras”, disse a atriz de Quarteto Fantástico, de 30 anos, à Reuters.
Neste domingo, 5 de fevereiro, às 18 horas, a banda Kart Love se apresenta tocando músicas próprias e já tradicionais do arrocha em formato acústico, no Padaria Bar, no projeto batizado como Arrocha Chic. A banda liderada por Lucas Kart foi a primeira banda de arrocha a se apresentar em eventos como Sauípe Folia e Ensaio do Harém. Ao mesmo tempo, se destaca em eventos em Periperi e Candeias – berço do arrocha, com a parceria que firmou com Pablo. Couvert: R$ 20 (feminino) e R$ 25 (masculino).
O bandolinista Kinho Xavier faz show na praça Tereza Batista, Pelourinho, no dia 9, às 21 horas, com entrada franca. No repertório estão músicas autorais e com parceiros como Armandinho Macêdo, Hamilton de Holanda, Aldir Blanc e nomes da MPB como Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti, Pixinguinha, Jacob do Bandolim e Paulinho da Viola. Xavier será acompanhado por Kito Matos (violão), Luiz Almiro (baixo) e Giba Conceição (percussão). Nesse show, o músico lança o bandolim com 12 cordas.
A banda 5% apresenta-se às quartas-feiras, no restaurante Sushimaki (Pituba), com o show Axé na Mesa. Formada por Topera (voz e guitarra), Nau (baixo), Pedrinho (teclado), Bruninho (percussão) e Shanon (bateria), a banda transita entre o axé e o samba, apresentando-se ao redor de uma mesa. As próximas apresentações acontecem nos dias 8 e 15. Ingressos, R$ 40 (homens) e R$ 30 (mulheres) ou R$ 30 (homens) e R $20 (mulheres) com o nome na lista. Telefone de acesso à lista: 3011-3911.