Projeto Individual de Leitura-1º Período

Page 1


Índice TEXTO INICIAL ........................................................................................................... 2 RELAÇÃO COM A LEITURA E AUTOBIOGRAFIA............................................................3 1º PERÍODO .............................................................................................................. 3 Herberto Hélder Biografia.......................................................................................................................... 4 Ficha de Leitura............................................................................................................... 6


Neste portefólio, criado no âmbito do Projeto Individual de Leitura (PIL), apresentarei todos os trabalhos (biografias, fichas de leitura, opiniões, etc.) em relação às obras que serão apresentadas nas aulas de Literatura Portuguesa. Tenho como objetivo, para este meu primeiro ano de Literatura Portuguesa, concluir com sucesso este portefólio trabalhando nele de forma metódica e consecutiva.


Relação com a leitura e autobiografia O meu nome é Tiago Sousa, nasci em 2002 e desde muito cedo que não só a leitura como também a escrita se tornaram algo importante na minha vida dado o que gosto que tenho por essas atividades. Durante a minha infância ocupava muito do meu tempo livre a escrever e a ler. Para ser sincero, apesar de ler bastante, nunca fui adepto (talvez por serem demasiado exigentes intelectualmente, não sendo compatível com a minha idade) de obras muito pesadas como os clássicos portugueses tais como obras de Eça de Queirós, José Saramago, etc. A par de leitura, desenvolvi um hábito de escrita que tento à medida do tempo melhorar. Penso que este gosto pelas letras surge devido ao meu fascínio pela língua portuguesa e pela sua beleza única. Sinceramente, no âmbito da minha relação com a leitura não há muito mais que possa dizer.



HERBERTO HELDER

“O ofuscante poder da escrita é que ela possui uma capacidade de persuasão e violentação de que a coisa real se encontra subtraída. O talento de saber tornar verdadeira a verdade.”

Heberto Helder, in Photomaton & Vox (1979)


Herberto Helder nasceu a 23 de novembro de 1930, no Funchal na ilha da Madeira e faleceu aos 84 anos em Cascais no dia 23 de março de 2015. Frequentou a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, e é considerado por muito “o maior poeta da segunda metade do século XX”. Data de 1954 a publicação do seu primeiro poema em Coimbra, regressa à Madeira onde trabalha como meteorologista, seguindo depois para a ilha de Porto Santo. Quando em 1955 regressa a Lisboa, frequenta o grupo do Café Gelo, de que fazem parte nomes como Mário Cesariny, Luiz Pacheco, António José Forte, João Vieira e Hélder Macedo. Dos vários prémios ganhos por este grande escritor destacase o Prémio Pessoa em 1984 que, apesar da sua importância, recusou receber. Em 1970 viaja por Espanha, França, Bélgica, Holanda e Dinamarca, publicando nesse ano a terceira edição de Os Passos em Volta, obra que li e apresentarei.


F I C HADEL E I T URA-


A obra Os Passos em Volta apresenta-se como a primeira obra em prosa de Herberto Helder. Esta obra, apesar de aparentar ser constituída por 23 contos com enredos simples e de fácil compreensão, contém contos romanticamente transcendentes onde o corpo, o divino, o espiritual e o prodigioso são elevados.

O título O título Os Passos em Volta é o título escohido pois, apesar da disparidade de assuntos dos contos, identifica-se um linha narrativa protagonizada pelos passos de um homem em torno da sua existência, sem respostas paradigmáticas, e no meio da vida do homem surge um vazio, vazio este que ele procura transformar em matéria.

O narrador Quando se analisa esta obra, uma das maiores dificuldades que se enfrenta é a identificação do tipo de narrador presente tendo em conta que a obra apresenta vários narradores, tornado-se assim muito difícil identificar em quem Heberto Helder se terá inspirado para criar cada um dos narradores. Devido a essa complexidade da prosa de Heberto Helder, torna-se necessário analisar os contos de forma individual para nos apercebermos do contexto em que foram escritos e, consecutivamente através dos conhecimentos que temos acerca da vida do autor, deduzir a quem Herberto Helder se refere através desse narrador-personagem. Em alguns casos conseguimos apercebermo-nos facilmente que o narrador é o próprio autor, não só através do uso da 1ª pessoa mas também devido ao contexto em que a ação decorre e à autocaracterização feita pelo narrador, como por exemplo no conto ESTILO em que facilmente nos apercebemos da caracterização feita pelo narrador de si

mesmo que se identifica com a autocaracterização que Herberto Helder fez. Sabe ao menos do que estive a falar? Da vida? da maneira de se desembaraçar dela? Bem, o senhor não é estúpido, mas também não é muito inteligente. Conheço. Conheço muito bem esse gênero. (Heberto Helder. ESTILO– Os Passos em Volta) Noutros casos essa tarefa complica-se pois, a personagem principal não apresenta quaisquer tipos de características, ou as que apresenta em nada se identificam com Herberto Helder ou outra qualquer pessoa que possa ter servido de inspiração para o escritor. Nestes casos, eu penso que o autor tem como objetivo principal fazer os leitores fazerem questões filosóficas sobre a vida, o seu sentido e a qualidade das decisões tomadas durante a mesma ao invés de se focarem em quem poderá ser o narrador, ou até qual o contexto em que o conto foi escrito como é o caso do conto Teoria das Cores em que nos é apresentado um pintor que está a pintar numa tela o seu peixe vermelho (este peixe representa a vida que temos) mas surge um problema que o pintor tem que enfrentar, o peixe torna-se gradualmente preto (este problema representa os problemas enfrentados durante a nossa vida), perante isto o pintor decide deixar o vermelho que já teria preparado previamente para pintar o peixe, não faz o preto para pintar o peixe com a sua nova cor e, pinta o peixe de amarelo. O que o narrador quer dizer com isto é que não devemos, perante as adversidades na nossa vida, insistir no regresso de uma vida que já não existiu mas que não existe mais e já não volta mas, apesar disso, não devemos baixar a cabeça e aceitar que essa adversidade se apodere da nossa vida e ao pintar o peixe de amarelo o escritor mostra que devemos, perante adversidades que mudam a nossa vida, seguir um novo rumo diferente de tudo que já tenhamos experenciado até então.


O problema do artista era que, obrigado a interromper o quadro onde estava a chegar o vermelho do peixe, não sabia que fazer da cor preta que ele agora lhe ensinava (Herberto Helder. A TEORIA DAS CORESOs Passos em Volta)

ESTILO O conto Estilo é sem dúvida um dos contos mais marcantes para mim dada toda a sua complexidade e enredo. Por ser o primeiro conto desta obra, torna-se evidentemente uma introdução àquilo que o leitor poderá estar à espera no resto dos contos. Este conto apresenta-nos o ponto de vista de um homem acerca da importância da posse de um estilo na nossa vida. Este estilo referido por este homem é de certa forma aquilo que chamamos vulgarmente de “estilo de vida”. Maior parte das pessoas considera que assumir um estilo de vida é fácil, instantâneo mas, pelo contrário um estilo de vida é algo que necessita de amadurecimento, de tempo e de ser descoberto. É errado optar pelo nosso estilo de vida entre vários estilos de vida já assumidos por outras pessoas, devemos ser nós a descobrir o nosso próprio estilo de vida por isso, o aparecimento de um estilo na nossa vida deve ser procurado por nós (nunca escolhido) de modo a que, quando o nosso estilo chegar nós nos apercebamos da sua existência e nos baseemos nele. O conto inicia-se com um diálogo da personagem principal (o homem suprarreferido) com alguém desconhecido e silencioso. Apesar do silêncio do interlocutor, o homem insiste em convidá-lo a participar no diálogo através de várias questões ao longo do seu discurso: Porque, sabe?[...] Está a ver? [...]compreende? [...]Não calcula o que seja? [...] Faço-me entender? Não? [...] Percebe? [...] (Herberto Helder, ESTILO, Os Passos em Volta)

Todas estas questões, além de servirem de convite ao interlocutor para intervir na conversa, servem também como teste da qualidade do que está a ser dito pelo homem de modo a que possa ser compreendido ou para que o homem perceba, pelo menos, se está a ser escutado. Esta linguagem que tem como objetivo não tanto informar o interlocutor mas sim manter e estimular a comunicação e esta é sem dúvida uma característica inerente a Herberto Helder, que tinha como uma das suas maiores preocupações a comunicação e interação do mundo contemporâneo. Do discurso da personagem principal tornase importante realçar a forma como o protagonista tenta perceber a resposta do ‘Outro’ (interlocutor desconhecido e silencioso) em relação a perguntas sem resposta e explicações acerca do que não pode ser explicado, e é nessa tentativa de perceber o que o Outro diria, que é abordado, pela primeira vez (ainda que ironicamente), o estilo que é visto neste caso como solução a todos essas enigmas irreplicáveis. – Vejamos: o estilo é um modo sutil de transferir a confusão e violência da vida para o plano mental de uma unidade de significação (Herberto Helder, ESTILO, Os Passos em Volta) A forma como a própria organizção do pensamento que tem como objetivo definir o “Estilo” é de certa forma violenta, violência esta comparável com outras situações forjadas por nós através de esquemas mentais complexos para tentar atribuir um sentido às coisas. Desta forma, entre a irracionalidade acerca do que é a realidade e a forma como tentamos racionalizar sobre a realidade, por via dos esquemas mentais complexos por nós criados, torna-se impossível escolher uma ou outra posição, posicionando-nos numa margem oscilante e de tensão entre esses dois campos do pensamento.


Essa margem oscilante e de tensão, é tida pelo narrador como motivo da loucura de muitas pessoas e neste caso, da sua própria loucura (que acha não ter, mas que coloca como possibilidade) -Se eu quisesse enlouquecia (Herberto Helder, ESTILO, Os Passos em Volta) A possibilidade de ter enlouquecido é realmente de extrema importância para o narrador que conta até uma ida ao médico, em que lhe são receitados remédios para essa loucura. Nesta história a que o narrador alude para exemplificar a sua preocupação é também percebido o seu sentido de humor quando o doutor lhe pergunta acerca da existência de loucos na família, ele lhe responde de forma ironicamente e de forma caricata: – Sim, senhor. O pior. Loucos, alcoólicos, sifilíticos, místicos, prostitutas, homossexuais. Estarei louco? Os remédios (barbitúricos) receitados pelo médico são visto pela personagem principal como inúteis, pois são receitados para curar ou amenizar a incapacidade do homem moderno de lidar com a dor, a desordem da vida e de tolerar os caoticidade de viver, cura esta que o protagonista considera desnecessária e sem efeito quando se sabe “histórias sobre a vida” -Não preciso de remédios-disse eu.- Sei histórias tenebrosas acerca da vida. De que me servem barbitúricos? (Herberto Helder, ESTILO, Os Passos em Volta) Todo este ‘processo de enlouquecimento’ fruto de outro processo que é o de encontrar a definição de “Estilo” não é em vão, permitindo ao leitor realmente supor um siginificado de “Estilo”. O “Estilo” é definido como uma forma de ordenar, simplificar e até mesmo compreender a vida e tudo isto relacionado com a atividades de abstração do mundo racional, chato, rotineiro e repetitivo a que

nos habituamos. Alguns dos exemplos apresentados pela personagem principal de atividades que proporcionam essa abstração são ouvir Bach, resolver equações a três incógnitas, esvaziar palavras do sentido através da repetição ou fazer poesia. Arranjei o meu estilo estudando matemática e ouvindo um pouco de música.-João Sebastião Bach. Conhece o Concerto Brandeburguês nº5? Conhece com certeza essa coisa tão simples, tão harmoniosa e definitiva que é um sistema de três equações a três incógnitas. [...] Resolvi milhares de equações. Depois ouvia Bach. Consegui um estilo. [...] Às vezes uso o processo de esvaziar as palavras. [...] Pego numa palavra fundamental [...] Digoa baixo vinte vezes. Já nada significa. [...] Gosta de poesia? Sabe o que é poesia? Tem medo de poesia? Tem o demoníaco júbilo da poesia? Pois veja. É também um estilo. (Herberto Helder, ESTILO, Os Passos em Volta) Em suma, este conto apresenta-se como uma introdução realmente captante de modo a “colar”o leitor sendo por isso também o primeiro conto. Outra característica que capta o leitor devido a questões sobre a existência humana, de forma a organizar a arrumar um vazio dentro de nós, sendo por isso bastante interessante.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.