Hindi tiago caderno tgi ii

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entre fragmentos e conexões proposta de intervenção no conjunto MCMV Abdelnur - São Carlos/SP Tiago de Mattos Chafik Hindi



entre fragmentos e conexões proposta de intervenção no conjunto MCMV Abdelnur - São Carlos/SP

TRABALHO DE GRADUAÇÃO INTEGRADO II Tiago de Mattos Chafik Hindi Universidade de São Paulo - São Carlos Insituto de Arquitetura e Urbanismo Caps David Moreno Sperling Fabio Lopes De Souza Santos Lucia Zanin Shimbo Luciana Bongiovanni Martins Schenk Orientação de GT Fabio Lopes De Souza Santos

Dezembro, 2017

E, no campo da (re)invenção das práticas de urbanismo, a idéia de cidade cinética – que sucede das experiências informais de ocupação do espaço urbano – enquanto uma cidade em constante transformação e em contínuo movimento – permite destacar o âmbito geral que enquadra o presente texto. Isto porque, a compreensão da cidade cinética dá-se sobretudo a partir dos modelos de ocupação do espaço (enquanto espacialidades e ambiências sociais, maioritariamente identificadas com os espaços públicos e coletivos), valores e suportes de vida, do que propriamente da arquitetura.

Marluci Menezes


Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio, convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca do Instituto de Arquitetura e Urbanismo com os dados forneceidos pelo(a) autor(a).


folha de aprovação Candidato: Tiago de Mattos Chafik Hindi Trabalho de Graduação Integrado defendido e julgado no dia 06 de dezembro de 2017 perante a banca examinadora:

Prof. Dr. David Moreno Sperling

Orientador CAP (Comissão de Apoio Permanente) - IAU USP

Prof. Dr. Fabio Lopes de Souza Santos Coordenador de GT (Grupo Temático) - IAU USP

Prof. Me. Rafael Goffinet de Almeida Convidado externo


agradecimentos


À minha familia, pelo apoio, amor, e carinho que sempre me proporcionaram. Aos meus amigos, que sempre estiveram ao meu lado, mesmo eu sendo teimoso. Aos meus professores e orientadores, mestres que se tornaram amigos neste percurso. Às pessoas com quem tive contato na universidade, e que contribuiram para a minha formação. Aos momentos bons e ruins, que tive com essas pessoas, que me fizeram quem sou hoje.


resumo


O presente Trabalho de Graduação Integrado (TGI) é o resultado das reflexões desenvolvidas ao longo do curso, articuladas pelo viés arquitetônico e urbanístico da produção das cidades. A questão que dispara este projeto parte da vivência de alguns aspectos da produção contemporãnea das cidades brasileras, e como eles constituem e espacializam elementos do cotidiano através do território. Tratou-se inicialmente da questão do emprego, voltada ao trabalho produtivo industrial e a sua finalidade, tendo em mente o grande deslocamento da força produtiva para as concentrações de trabalho formal nos centros urbanos. As vivências e visitas às periferias transformaram o objeto do trabalho na medida em que abriram uma nova perspectiva sobre inúmeras outras necessidades e potencialidades dos espaços em questão. A moradia, os espaços livres, a carência de equipamentos públicos e coletivos, assim como o trabalho se mostraram igualmente importantes e relevantes. Dessa forma, levando em consideração a perda da noção polítca do sujeito e do território, buscou-se manifestar na arquitetura elementos que pudessem tensionar essas perdas, como por exemplo a autoconstrução, técnicas construtivas tradicionais e programas que refletissem necessidades cotidianas ou abrigassem práticas já recorrentes espontanemante. Em função disto, propõe-se neste TGI um conjunto estrutural capaz de abrigar diferentes usos em diferentes escalas, para que as necessidades do cotidiano sejam supridas, mantidas, e construidas por seus próprios usuários, na busca de amenizar processos de exclusão socioespacial causados pela falta de mobilidade e equidade urbana. palavras chave: autoconstrução, sistema estrutural, abdelnur, MCMV


Ă­ndice


questão

12

intervenção

30

espacialização

62

referências

98


questão


Uma vez que, nestes últimos

quarenta anos, nunca parou de se

produzir normas ou recomendações específicas, e tentar tornar mais racionais processos de

programação e projeto, percebe-se muitas vezes uma incompatibilidade dos espaços construídos em relação as práticas cotidianas dos moradores ou usuários, que podem levar ao fracasso de apropriação ou à degradação acelerada de certos lugares.

Zetlaoui-Léger


Inquietações A partir de todas as transformações dos últimos séculos, do desenvolvimento e frustração das apostas modernas, nota-se um cenário de carência de identidade tanto coletiva quanto individual. As grandes guerras do século XX e as crises econõmicas do último século colocam em questão - cada uma a seu tempo - não somente um meio de produção, mas toda uma lógica produtiva de geração de capital. Destas tensões se desenvolve um processo financeiro de produção, chegando ao seu limite nas décadas de 70 e 80, provando-se inconsistente e insustentável. Contundo, esse processo se mostrou bastante ativo tanto em momentos de crise quanto em momentos de prosperidade (Rolnik, 2015). Isso levou a ampliação do poder da financeirização influenciando políticas que afetam a produção das cidades contemporãneas. Essa apropriação feita pelo capital financeiro o coloca como principal agente transformador e gestor dos centros urbanos principalmente a partir da década de 90, influindo sobre custos e uso do território, como discute Raquel Rolnik (2014): Com o apoio da força política da ideologia da casa própria,

profundamente enraizada em algumas sociedades e recentemente infiltrada em outras, e da “socialização do crédito”, a inclusão de

consumidores de média e baixa rendas nos circuitos financeiros e a tomada do setor habitacional pelas finanças globais abriram uma nova fronteira para a acumulação de capital. Isso permitiu a livre

circulação de valores através de praticamente toda a terra urbana.

Raquel Rolnik

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Essa especulação sobre o solo urbano recoloca toda uma noção de cidade em crise, uma vez que a gestão e função da cidade se


Essa especulação sobre o solo urbano recoloca toda uma noção de cidade em crise, uma vez que a gestão e função da cidade se convertem em ativos financeiros. Nesse sentido, a noção de território assume o significado do que entendemos por cidade (Cacciari, 2009), uma vez que o espaço urbano adquire fronteiras difusas, e sua própria constituição se torna mecanismo de valorização de acordo com lógicas financeiras. Nesse sentido Cacciari tensiona: “Como podemos falar de cidade, tentando dar a este termo uma valência comunitária, se a cidade é regulada por formas de direito privado?” Observando esse contexto global de intensa transformação urbana, com foco a partir do fim do século XX, e de crises generalizadas, sejam econômicas, políticas e sociais é perceptível o desgaste político instaurado, como presenciado em cidades europeias, norte-americanas e também latino-americanas. A crise de representatividade política, extremismos religiosos e movimentos sociais que se espalharam por diversos países são fenômenos emergentes que estão elucidando uma transformação estrutural na sociedade (Harvey, 2013). Para Slavoj Žižek (2012) vive-se um momento de desconexão social e emergência de radicalismos, no qual a formação de laços sociais depende de projetos que sejam comuns a diferentes grupos. Sua proposta consistiu-se em abandonar o discurso da tolerância e construir causas comuns para que a população se engaje, refletindo a desconstrução do sujeito político. Mais do que discutir a tolerância, deve-se discutir quais os pontos de convergência pelos quais ideologias comuns possam aparecer. Ao pensarem-se em projetos comuns, capazes de articular diferentes grupos, pode-se colocar o espaço urbano como

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22°53’7.02”S 43°35’49.87”O

12°53’39.55”S 38°21’42.96”O

12°53’39.55”S 38°21’42.96”O

27°38’46.21”S 48°42’42.00”O

23°29’32.16”S 47°31’58.61”O

23°29’32.16”S 47°31’58.61”O

12°53’39.55”S 38°21’42.96”O

30° 9’12.14”S 51° 9’50.94”O

22°59’8.05”S 47° 5’52.13”O

2°58’33.05”S 59°59’43.93”O

20°23’58.95”S 50° 0’6.11”O

11°55’25.87”S 55°29’50.00”O

15°41’11.78”S 56° 1’38.54”O

19°44’45.83”S 48° 0’0.77”O

9°32’59.44”S 35°48’36.62”O

20°30’15.24”S 55°47’32.73”O


0° 6’1.95”N 51° 3’51.82”O

9°24’12.62”S 40°33’21.33”O

22° 2’28.21”S 47°55’49.11”O

16°22’39.07”S 48°59’9.62”O

5°46’38.70”S 35°17’19.31”O

2°33’50.84”S 44° 6’3.85”O

3°46’1.26”S 38°39’23.97”O

10°52’11.26”S 37° 3’7.11”O

16°40’38.79”S 43°50’10.82”O

20°32’46.71”S 54°38’13.99”O

14°50’2.40”S 40°53’24.74”O

7° 7’31.53”S 34°57’32.69”O

29°42’57.30”S 53°46’56.69”O

2°34’16.07”S 44° 9’8.65”O

20°44’58.02”S 49°22’8.25”O

20° 4’19.75”S 51° 4’55.36”O

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protagonista. Não que as intervenções urbanas sejam unilaterais ou consigam atender a todos os interesses, tampouco se espera amenizar totalmente os conflitos sociais presentes na cidade. A existência de conflitos é a base das estruturas urbanas. O grande desafio é construir causas comuns com as partes conflituosas. O que se percebe é que, embora em medidas desiguais, o espaço urbano assume um papel constante na mediação de conflitos para garantir a convivência (Blanc, 1998). As políticas públicas voltadas para habitação se tornaram mecanismos de agenciamento dos interesses do mercado sobre o solo urbano, ao invés de contribuir para a coesão social e equacionamento das questões políticas do sujeito contemporãneo. São exemplos destas iniciativas estatais voltadas para o mercado o fomento a propriedade privada, que acabou com os estoques de habitação social pública após a metade do século XX, que implicou na redução drástica de sua produção, o aumento do crédito e subsídio estatal para compra de moradias privadas. No contexto brasileiro, a produção de habitação social que já se voltava para a produção de habitação privada desde a década de 30 e 40, adquire maior volume a partir da década de 60 (com o golpe militar de 64). Nas primeiras décadas, embora o aluguel fosse a prática corrente, este se dava apenas pela falta de autonomia dos órgãos reponsáveis (Bonduki, 2014), o que revela que a mercantilização sempre foi consenso entre os produtores de habitação no Brasil.

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A recente inserção do Brasil nesse contexto é notável pelas políticas de habitação colocadas em prática durante o governo Lula e Dilma. Abertamente desenvolvimentistas e econômicas, essas produções massivas de habitação produziram espaços muitas vezes destituídos de qualquer qualidade urbana, são nada além de um teto sob o qual se abrigar. Para Bonduki (2014), essas produções


são incoerentes com a dimensão de um país como o Brasil, onde existem inúmeras regionalidades e especificidades:

Em um país imenso como o Brasil, implementar programas e projetos habitacionais de maneira centralizada a partir do governo federal é, ainda hoje, um problema difícil de ser equacionado, além de ser um equívoco.

Com dimensões continentais e abrigando climas, culturas e modos de morar muito diferentes, parece ser bastante problemático desenvolver soluções habitacionais uniformizadas para o imenso territorio nacional

Nabil Bonduki Em contraparida a este cenário generalizado, existem iniciativas, no âmbito do planejamento urbano, que colocam em questão o espaço urbano e sua função social discutindo se os processos políticos e sociais que testemunhamos hoje são de fato democráticos, na medida em que, por serem mais representativos que participativos, estão destinados a agentes urbanos que obterão lucro direto ou indireto de intervenções públicas. Estas novas formas de pensar a produção da cidade, como aponta Zétlaoui-Léger, são uma reintrodução do sujeito político ao planejamento urbano:

Na verdade, se trata hoje, para o Estado e coletividades locais, não apenas ‘re- interessar’ os cidadãos no exercício da democracia, mas através dele, trazer a legitimidade das decisões tomadas.

Zetlaoui-Léger

Inúmeras formas de rever os processos de construção de cidades estão sendo retomadas, na intenção de retomar o indivíduo como objeto central do projeto arquitetônico e urbano. Dentre essas iniciativas surgem novas formas de habitar a cidade, principalmente a partir da década de 70, na Europa e na América do Norte, como as iniciativas cooperativistas em habitação e produção.

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As políticas urbanas brasileiras voltadas para habitação nos últimos anos têm gerado espaços destituídos de qualidades urbanas, em inúmeros aspectos: mobilidade, serviços, etc., no entanto, inúmeras pessoas já foram deslocadas para essas áreas, e nelas vivem já há muito tempo. Configuram-se como espaços sem qualquer potencial de vivência ou convivência, tolhendo qualquer iniciativa de uso do espaço urbano e a possível transformação deste em lugar. Propositalmente, são construídos distantes das cidades, através de processos especulativos e mercantis. Considerando que espaços como este existem em profusão no Brasil, e não serão facilmente desmantelados para darem lugar a ambientes melhores urbanística, arquitetônica e socialmente, como pensar uma opção que retome a apropriação dos espaços residuais deixados para a utilização coletiva, destinada ao uso político do espaço público? Apesar de ser inviável idealizar a questão da habitação por motivos de viabilização financeira da produção de habitação popular - ainda que hajam exemplos concretos de mutirões, e financiamentos alternativos - é preciso repensar as formas de apropriação dos espaços públicos e a produção habitacional Dessa maneira, o processo cooperativo como forma de gestão e produção da cidade pode ser aplicado a qualquer obra ou objeto arquitetônico? É possível, através da mobilização e implicação política do corpo social, reverter processos financeirizados de urbanização, gentrificação e especulação?

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Portanto, repensar a função social de objetos arquitetônicos para devolvê-los ao domínio coletivo, é condição fundamental para esse discurso. Nesse sentido, é interessante pensar sobre questões de base. O objeto aqui proposto tem como objetivo reintroduzir o


sujeito em uma identidade coletiva e política a partir de sua própria interação e apropriação do espaço, de forma que os centros já construídos (mas precários) possam ser ativados e qualificados, exercendo função social e associando múltiplos programas.

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São Carlos Para o exercício deste TGI, propõe-se como caso específico a cidade de São Carlos, na região central do estado de São Paulo (figura 01). A cidade, que possui uma concentração de universidades, públicas e privadas, também possui questões particulares em relação aos conjuntos habitacionais recentes. São Carlos possui uma população estimada de 243.765 habitantes segundo o IBGE, e ao mesmo tempo que possui vazios urbanos diretamente conectados à sua região central, foram implantados loteamentos com pouco acesso a cidade que comportam um grande contingente habitacional. Em oposição aos 26 loteamentos privados e fechados próximos ao centro, ou próximos a vias de acesso rápido ao centro (Tragante, 2014), existem loteamentos de baixa renda na região sul, com pouquíssimo acesso a cidade, e que comportam um enorme contingente habitacional. Os condomínios fechados de alta renda que, ainda segundo Cinthia Tragante, que estão possivelmente ligados aos núcleos universitários e possuem uma configuração urbana distinta daqueles propostos pelo poder público, ou dos loteamentos precários localizados ao sul da cidade (figura 02). Esta configuração urbana ilustra o fenômeno recorrente nas cidades brasileiras explicado anteriormente: trata-se da exclusão sócio espacial agenciada recentemente pelo poder público, materializado pelas políticas públicas recentes de habitação social. O desenho urbano e as “conexões” propostas para estes novos empreendimentos colocam uma grande porcentagem da população em áreas “semi-urbanas” distantes do centro (e consequência da vida urbana) que, por consequência da morosidade do poder público, demoram a se tornar cidade de fato. Isso denota a 22

figura 01: Cidade de São Carlos/SP (Fonte: Google Earth)

rios e córregos curvas de nivel distância em relação ao centro


1km 2km 3km 4km 5km 6km

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situação exposta anteriormente, na qual a lógica financeira dita a espacialização e a evolução do território, que já não se pode ser caracterizado como urbano ou rural, uma vez que se cria uma zona difusa de expansão em função das áreas valorizadas do centro e da valorização de áreas periféricas. Os mapas disponibilizados pela lei do Plano Diretor Estratégico de São Carlos/SP (Lei número 13.691/2005), datados de 2005, denotam uma realidade que, nesses últimos doze anos, apenas se acentuou: a concentração de atividades, equipamentos, comércios, serviços e trabalhos formais num centro urbano esvaziado, em oposição ao adensamento populacional sem mobilidade nas periferias. O mapa 01, que apresenta a densidade demográfica da cidade de São Carlos em 2005 corresponde não somente a densidade média, mas também a densidade de pessoas por unidade habitacional, o que significa que núcleos familiares mais numerosas residem nas porções sul do município. Nas áreas de maior valor desses mapas também se concentra a população mais jovem da cidade e, portanto, o maior contingente de força de trabalho e necessidade de equipamentos como creches, escolas e equipamentos de lazer. Se contrapormos a essa configuração as informações que nos traz o mapa 02, onde são espacializados os usos formais da cidade, perceberemos que a grande concentração de comércios e serviços, e consequentemente do trabalho formal, está localizada no centro da cidade. Embora hajam pequenas aglomeções nos bairros mais afastados, elas são insuficientes para abranger o contingente populacional que habita essas regiões, forçando grande parte dessas pessoas a se deslocarem até regiões centrais para encontrar empregos, comérios, serviços, etc.

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O fenômeno urbano descrito é recorente nas cidades brasileiras, e confere um movimento pendular aos fluxos sociais urbanos,


acentuado cada vez mais pelos bairros dormitório (de alta e baixa renda), implantados em áreas periféricas, enquanto áreas próximas ao centro se mantém rarefeitas (como as ilustrado pelo mapa 04) para serem usadas como forma de especulação imobiliária. Enquanto essa necessidade se depara com conexões diretas com a cidade e uma mobilidade urbana capaz de suportar esses fluxos populacionais o problema urbano tende a se equacionar. Contudo, situações como as que se encontra na porção sul da cidade reforçam essa problemática. A região onde se localiza o bairro Cidade Aracy, e os loteamentos Antenor Garcia, Zavaglia e Eduardo Abdelnur possuem poucas conexões com o centro, onde está concentrado o trabalho formal e atividades comerciais. Elencam-se três conexões apenas: a estrada municipal Domingos Zanota, que conecta o conjunto Abdelnur e Zavaglia; a avenida Integração, que conecta o bairro Cidade Aracy; e por fim, a rodovia Washignton Luis (imagem 02). Objetivamente, existem apenas duas conexões urbanas - colocase a rodovia Washignton Luis de lado por questões de transporte público -, que conectam uma área intensamente povoada e destituída de infraestrutura, serviços públicos e trabalhos formais que suportem o contingente habitacional da regionalidade, as necessidades urbanas. Essa configuração ilustra o cenário contemporãneo da produção urbana levada a cabo pelo capital. A mercantilização e a generalização da propriedade privada concretizada pelo Estado, a favor de uma política neoliberal é amplamente reconhecida na cidade de São Carlos, que apesar de ser relativamente pequena já reflete processos financeiros de uso do solo.

25


500m

26

500m

ATÉ 45 HAB/HA

Uso industrial

Uso residencial

45 a 96 HAB/HA

Distrito industrial

Uso comercial

96 a 410 HAB/HA

Incubadora de base tecnológica

Uso público

Mapa 01: densidade demográfica da cidade de São Carlos. (Fonte: Plano Diretor Estratégido de São Carlos)

Mapa 02: usos formais da cidade de São Carlos. (Fonte: Plano Diretor Estratégido de São Carlos)


500m

As cores presentes no mapa representam as distintas linhas de transporte público da cidade de São Carlos.

Mapa 03: linhas de ônibus da cidade de São Carlos.

(Fonte: http://www.tudodeonibus.com/2011/08/linhas-de-onibus-de-sao-carlos.html)

500m

Vazios urbanos

Mapa 04: vazios urbanos da cidade de São Carlos. (Fonte: Plano Diretor Estratégido de São Carlos)

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O presente TGI vem portanto, tensionar esses processos de constituição urbana que se manifestam nas cidades brasileiras, com o recorte feito na cidade de São Carlos, e em que medida a intervenção do arquiteto pode agenciar a transformação de espaços destituídos de estrutura urbana em lugares de grande vitalidade. Buscou-se refletir de que maneira insere-se uma obra arquitetônica, tendo consciência de todo o contexto que a envolve. Como o usuário se coloca perante a obra, e como a obra aborda o sujeito contemporãneo, na sua condição contraditória de almejar a coletividade em uma sociedade pautada na propriedade privada e no uso individualizado do espaço.

figura 02: Região sudoeste da cidade de São Carlos/SP (Fonte: Google Earth) área bastante consolidada área de consolidação recente área em processo de consolidação pontos de conexão urbana rios e córregos curvas de nivel Cidade Aracy Antenor Garcia Conjunto Habitacional Zavaglia Conjunto Habitacional Eduardo Abdelnur

.01 .02 .03 .04

Leva-se em conta por exemplo a forma de construção, a espacialização, a localização, para que a condição do sujeito urbano seja repensada, e o espaço público refuncionalizado, considerando-se uma espacialização que entenda o corpo social como uma entidade coletiva, ao invés do empreendedorismo social que se observa na cidade mercantilizada. figura 01: Cidade de São Carlos/SP (Fonte: Google Earth)

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04

03

02

01

500m

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intervenção


As interrelações entre espaços criam espacialidades dinâmicas, flexíveis e híbridas, enfim cinéticas. Um espaço sobrante pode ser ponto de encontro de vizinhos, local de atividade económica ou de circulação. Assim, o interesse em captar a dinâmica social que confere sentido e significados às espacialidades, já que destacam a capacidade contínua de adaptação para interagir com o meio.

Marluci Menezes


O lugar O conjunto Minha Casa Minha Vida Eduardo Abdelnur (figura 04) foi recentemente construído e está em vias de consolidação. Ele é, contudo, um exemplo recorrente na realidade brasileira da implantação deste tipo de política. Localizado longe da malha urbana e com pouca estrutura, ele se configura como uma bolha de habitação no meio rural. Devido a precária conexão com a cidade, por um lado a estrada municipal Domingos Zanota, que conecta o conjunto com o perímetro urbano de São Carlos, e por outro uma via que o conecta com o conjunto habitacional Zavaglia.

Figura 04: Conjunto habitacional Minha Casa Minha Vida - Abdelnur, localizado no sudoeste da cidade de São Carlos/SP (Fonte: Google Earth)

Compõe-se de 986 unidades habitacionais, localizando numa região que possui densidade habitacional por domicilio de aproximadamente 5 hab/unid, segundo dados do Plano Diretor Estratégico da cidade de São Carlos de 2005. Não somente densamente povoado, a faixa etária que predomina na área é jovem, contrariamente ao que acontece na região central, que, por sua vez, concentra equipamentos, comércios e serviços. Durante os percursos pela região percebeu-se a desertificação causada pela falta de qualificação dos espaços residuais e institucionais, pela falta de equipamentos e diversificação de usos, etc. Somada a isso, a falta de mobilidade e o distanciamento em relação ao centro impõe um movimento pendular em relação as zonas de concentração de trabalho formal, que dura em torno de uma hora. Os espaços livres se mostram negligenciados, assim como os espaços de lazer. Isso se dá pela falta de identidade com o lugar por parte dos moradores que, dada a natureza impositiva do projeto, não se apropriam ou zelam pelo espaço conjunto.

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Ao mesmo tempo, é notável a resiliência dos habitantes ao

figura 03: Região sudoeste da cidade de São Carlos/SP (Fonte: Google Earth)


100m

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desenvolver espontaneamente programas que rompem o monofuncionalismo do projeto. Programas de lazer, como quadras improvisadas, refuncionalização dos leitos carroçáveis e das calçadas para crianças que brincam, transformação de unidades habitacionais em centros de comércio, serviços, entretenimento e abastecimento, etc. Estas reprogramações da área se mostram fundamentais para a subsistência urbana desta população, conforme se evidencia o relatório fotográfico a seguir. Apesar da distância e do isolamento, a cidade irrompe de dentro para fora neste espaço ambiental e socialmente vulnerável. Como elemento de estudo sobre o lugar foi desenvolvido uma cartografia fotográfica, que buscou mapear elementos de projeto que pudessem representar as necessidades da área. O relatório fotográfico a seguir pretende ilustrar e tensionar as questões abordadas até agora: o quanto a necessidade humana ativa espaços, e como eles podem ser usados para qualificar e urbanizar áreas artificiosamente isoladas. Estes espaços, como foi possível verificar, são interfaces híbridas entre o espaço público da calçada - que nesse caso possui um valor vernacular - e o espaço privado da moradia. Existe uma zona difusa entre o que é estritamente privado e o que é estritamente público, que é passível de exploração e de ativação através do projeto arquitetônico.

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Mapa 05: Densidade demográfica por faixa etária no território da cidade de São Carlos. (Fonte: PDE)


20 a 24 anos

25 a 29 anos

30 a 34 anos

35 a 39 anos

40 a 44 anos

45 a 49 anos

50 a 54 anos

55 a 59 anos

menor quantidade

maior quantidade 35


Vista do conjunto habitacional Minha Casa Minha Vida Abdelnur a partir do bairro Jardim Medeiros. (Fonte: acervo pessoal)

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Poste na entrada do conjunto habitacional Minha Casa Minha Vida Abdelnur propagandeando comĂŠrcios locais. (Fonte: acervo pessoal)

38



Rua do conjunto habitacional Minha Casa Minha Vida Abdelnur. (Fonte: acervo pessoal)

40



Unidade habitacinal do conjunto habitacional Minha Casa Minha Vida Abdelnur convertida em sorveteria. (Fonte: acervo pessoal)

42



Unidade habitacinal do conjunto habitacional Minha Casa Minha Vida Zavaglia convertida em distribuição de bebidas e oficina de bicicletas. (Fonte: acervo pessoal)

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Unidade habitacinal do conjunto habitacional Minha Casa Minha Vida Abdelnur convertida em bar e distribuição de bebidas. (Fonte: acervo pessoal)

46



Unidade habitacinal do conjunto habitacional Minha Casa Minha Vida Abdelnur convertida em lanchonete e revenda de salgados (Fonte: acervo pessoal)

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Análise A visita à área escolhida permitiu, além de uma percepção real do contexto da intervenção, a leitura da área de um ponto de vista menos teórico. Permitiu portanto, alterar o desenolvimento da proposta de trabalho, pelo entendimento das necessidades reais, e das apropriações naturais dos moradores da região. Percebe-se que a subsistência permeia todo o conjunto, e a residência, assim que é entregue, sofre alterações de forma e função, abrangendo também necessidades básicas de trabalho e renda. Foi possível verificar que a lógica do improviso individual é generalizada, talvez pela desorganização social envolvida na política urbana por trás do programa Minha Casa Minha Vida. No caso, o programa habitacional em estudo, como já explanado é explícitamente econômico, não deixando margem para o papel político da habitação e do território. Isso implica, no processo de projeto, numa iniciativa de organização das diversas necessidades, e unificação da intervenção de forma que ela permita a variabilidade, versatibilidade e adaptabilidade da forma. Para tanto, vislumbrou-se um conjunto de peças estruturais que permitisse a autoconstrução para, acima de tudo, permitir a alteração do modelo produtivo e a lógica constituinte nas práticas urbanas do conjunto. Dessa forma, enquanto o processo pelo qual o PMCMV toma forma é contraposto a um processo coletivizante que visa a qualificação do espaço e a sua gestão comunitária.

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O sistema adaptável permite que o edifício evolua ao longo do tempo abraçando as necessidades do coletivo, em função da evolução da piramide etária da região ou o aumento/redução da


população. Este conjunto estrutural também permite os diversos usos dos quais alguns tiveram a necessidade verificada ou foram propostos em função da análise do contexto urbano no qual se insere o local. Dessa maneira objetivou-se contemplar as pequenas lojas e comércios - que ativam as calçadas e criam espaços de estar num lugar ermo e desértico -, a expansão e/ou reconfiguração da moradia existe, ou ainda os grandes equipamentos propostos que trariam uma nova forma de habitar e gerir o solo urbano. Identificou-se na madeira o material ideal para a solução estrutural, haja vista que é um material abundante na região de São Carlos, sustentável, de fácil manuseio e que pode ser trabalhado no local de aplicação (com uma pequena marcenaria), mantendo o canteiro seco e otimizado. Tendo isso em vista, o processo existente de produção habitacional se readequaria a uma forma mais participativa, envolvendo - em função da técnica construtiva utilizada - processos de autoconstrução. Essa readequação viria a reconfigurar a forma de apropriação e utilização dos espaços e equipamentos comunitários, dando a eles um novo sentido político e urbano.

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processo existente de produção habitacional popular poder público

contratação

subsídios e financiamento

contrutoras privadas venda usuários

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processo proposto de requalificação dos espaços

usuários arquiteto

acompanhamento e/ou manutenção

autoconstrução

capacitação técnica

gestão coletiva ou individual

produto 53


elementos estruturais

pilar

vigas e terças

paineis de esquadria

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paineis horizontais

vedação externa


paineis de vedação

paineis verticais

painel estrutural triangular

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encontro do pilar com a fundação - perspectiva e corte

composição de paineis - perspectiva e corte

01

07

02 03

08

04

09 08

01 05

09

02 03

07

04

encontro de pilares e vigas - perspectiva e corte

conexão entre paineis - perspectiva e vista 07

01

08 06

01 05

08

06 08

conexão vigas-barrotes

esquadria - perspectiva e corte 14

06

07 17 11

08 15

12 14 12 13 06 01

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15 16 17 07 08 09


revestimento externo - perspectiva e corte

encontro pilar-cobertura 01 - perspectiva e corte 14

22

06 23 15

12

18

01 22 24 06 18 16

18 16 06 07 08

14 15 08 23

14

fechamento do siding sobre o pilar - perspectiva e planta

encontro pilar-cobertura 02 - perspectiva e corte 22

15 07

06 23

14

24

16

22 06 23

08 14 07

16 01

18

15

07

forro - perspectiva e corte

06 12 19

20 08 21 12 06

01. pilar de madeira, perfil quadrado, composto por quatro elementos de perfil 2”x2” 02. conector metálico perfil “T” e=7,5mm 03. parabolts - e=19mm 04. fundação em estaca de concreto ou sapata 05. parafuso sextavado 1/2”x6” 06. pilar de madeira, perfil quadrado, composto por quatro elementos de perfil 2”x2” 07. painel de vedação em madeira, composto por ossatura de perfis de pinus ou eucalipto (2”x4”) 08. revestimento de vedação em chapa de OSB - e=10mm 09. preenchimento interno em lã de rocha ou outro material isolante 10. viga de madeira perfil “I”, composta por alma de OSB (e=10mm) e mesas de pinus ou eucalipto (1”x2”) 11. perfil de pinus ou eucalipto (2”x2”) para fixação da alma das terças

12. barrotes de madeira perfil “I”, composta por alma de OSB (e=10mm) e mesas de pinus ou eucalipto (1”x2”) 13. parafuso sextavado 1/2”x4” 14. sidings 1”x3” chanfrados a 45º 15. perfil em pinus ou eucalipto (1”x2”), para suporte dos sidings 16. manda impermeabilizante 17. parapeito em compensado - e = 10mm 18. rufo em chapa de zinco - e 2mm 19. forro em chapa de compensado ou OSB - e= 4mm 20. revestimento de piso interno e=20mm 21. feltro de isolamento 22. telha metálica sanduíche e=66mm 23. painel oitão autoportante em madeira, composto por ossatura de perfis de pinus ou eucalipto (2”x4”) e revestimento em OSB - e=10mm 24. suporte em madeira eucalipto para as terças da cobertura

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mรณdulos bรกsicos

mรณdulo bรกsico

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pergolado

deck

fechamentos


cobertura

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espacialização


O envolvimento dos habitantes no diagnóstico de suas necessidades e na pesquisa de soluções com a assessoria de profissionais e o apoio do poder público pode trazer um novo modo de cidade, específico, vivaz, adaptado a cada localidade, a cada coletividade específica et menos “centralizado”. O desenvolvimento desse processo pode despertar outas iniciativas, através da pequena escala de um primeiro projeto que se torna exemplar.

Brigitte Métra


planta de situação ruas estradas de terra calçadas árvores curvas de nível

100m 64


65


leitura de áreas livres

50m

66

50m

Calçadas

Fundos de lotes ou áreas residuais

Percebe-se nas calçadas um grande potencial de ativação espacial, verificado nos comércios e serviços que atraem pessoas e experiências do cotidiano local.

Embora os fundos de lote sejam estreitos e de difícil apropriação, possuem grande potencial de abrigar atividades que demandem pequenos edifícios.


50m

50m

Áreas com potencial uso institucional e/ou verde

Áreas de expansão potencial

As áreas centrais são de grande potencial paisagístico e urbano, e podem abrigar equipamentos maiores.

As áreas idenficadas com potencial de expansão se referem a análise do contexto urbano, e para onde existem potenciais conexões e costuras com tecidos urbanos existentes para a configuração de uma cidade coesa.

67


diretrizes de uso ruas estradas de terra calçadas árvores curvas de nível

usos comércio e serviços profissionalizante manufaturas usos comunitários educacional lazer quadras alteradas

100m 68


69


Desenho viรกrio atual

70

Proposta de desenho viรกrio


diretrizes de requalificação viária Além da estrutura proposta, é preciso atentar a qualidade do espaço urbano no qual ela se insere. Em função das visitas e da experimentação do conjunto, percebe-se a drástica falta de arborização que resulta na desertificação e impermeabilização das áreas livres. Dessa maneira, propõe-se, em detrimento da redução do leito carroçável e não das calçadas, canteiros que possam permitir uma requalificação das ruas, trazendo arborização e áreas permeáveis ao conjunto.

espaço privado interface híbrido espaço público área verde viária leito carroçável 71


implantaçao

ruas calçadas árvores curvas de nível recorte

100m 72


73


recorte 01. centro comunitรกrio 02. cozinha comuniatรกria 03. creche 04. biblioteca 05. coberturas e marquises 06. teatro de arena 07.incubadora e centro de estudos

estudos de caso

05

03 05

04

02

05

01

05 05 06

05

05

05 02 05 07

74


25m

75




O detalhamento das espacialidades foi elaborado em função de sua necessidade imediata, como verificada in locuo. Para tanto, o primeiro exemplo abordado trata da questão do trabalho, que irrompe espontaneamente no lugar, muitas vezes conectada com a moradia, partilhando estruturas semelhantes a ambas as funções, como a cozinha e núcleos hidráulicos. O espaço ativado da calçada se torna, dessa maneira, espaço vivo de comércios, trocas, experiências e congregação.

78

implantação detalhe 01


1,2m 79


1.2m

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81


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O segundo exemplo a ser detalhado foi a moradia. O processo de consolidação destes espaços geralmente implicam na autoconstrução de anexos as moradias, que não são suficientes para as demandas de seus usuários. Com isso em mente, estabelecem-se possibilidades de expansão com o mesmo sistema construtivo, de forma que, a medida que o núcleo familiar se transforma o espaço construído também pode se modificar, abrigando as diversas necessidades dos usuários.

84

implantação detalhe 02


1,2m 85


1.2m

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88


89


Por fim, propõe-se um uso do espaço público com finalidade coletiva, de forma que este seja usado para a formação política da população envolvida.

03

05

04

05

05

Para isso, estipulam-se edifícios de cunho político (centro comunitário), educacional (creche e biblioteca) ou coletivo (cozinha comunitárias e salas multiusos) nesta área, valorizada pela sua centralidade no conjunto.

02 01 05 05 06

Coloca-se, dessa forma, a importância da identidade coletiva acima da individual, de forma que a gestão do espaço e de sua construção possa ser um bem coletivo e político. 01. centro comunitário 02. cozinha comuniatária 03. creche 04. biblioteca 05. coberturas e marquises 06. teatro de arena 07.incubadora e centro de estudos

05

05

07

90

implantação detalhe 03

05

02

05


7,2m

91


3,6m

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93


94


95


conclusĂŁo

96


O percurso que marcou este TGI trouxe novos olhares sobre a complexidade das questões inerentes a Arquitetura e ao Urbanismo. Demonstrou - acima de ser um processo que se conclui - estar sempre em constante desenvolvimento, sob influência de inúmeras variáveis inconstantes que se interferem mutuamente. A íntima conexão entre essas váriaveis, como por exemplo a técnica, a teoria, a pesquisa, os usuários, o projeto ou a prática é amplamente verificada. Como foi perceptível ao longo da pesquisa que compõe este caderno, por exemplo, a técnica utilizada no programa MCMV, implica diretamente numa forma de produzir arquitetura, que por sua vez produz cidade - ou a falta dela. O resultado final obtido do desenvolvimento deste trabalho demonstrou como o amadurecimento de questões como estas ocorrem e seus reflexos no ato de projetar. A consciência destas implicações mútuas entre as diversas áreas tangidas pelo campo de estudo da Arquitetura e do Urbanismo pode permitir a tensão das práticas contemporãneas e a proposição de novas práticas. Isso implica diretamente na consciência do papel do arquiteto e na definição de novas práticas sociais, especialmente entendendo a situação sociopolítica atual. Nesse sentido, o resultado aqui presente representa mais do que um projeto, mas uma ótica sobre a prática profissional da arquitetura, que envolve o uso da técnica e sua aplicação política, construindo práticas, cotidianos e lugares, pela emergência do usuário como centro do projeto. Ele representa, além disso, uma reflexão sobre uma questão evoluida através de anos sobre a condição social do sujeito contemporãneo. 97


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