ARTIT | Novembro - Dezembro de 2013 R$25,00
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Edição www.artit.com
Entrevista com Andre Arruda
A arte de Lucian Freud
Grafite e Artes Plásticas
Cartas aos Leitores
Enfim a tão esperada 69 Que venha o frango assado!
“O que é uma vida de artista, no mercado comum da vida humana?” Esse questionamento foi feito pelos letristas Suely Costa e Abel Silva numa antiga canção, justamente chamada “Vida de Artista”. Pensando em artistas de trajetória única, verdadeiros expoentes de revoluções estéticas, comportamentais e culturais, a nossa revista abordwwwa na seção temática Fichário, com o sugestivo nome “Malditos?”, quem foram essas pessoas, que em diversas áreas de expressão constituíram caminhos únicos. Os músicos Pedro Luís (do Rio) e Lurdez da Luz (de Sampa) batem um papo, na Entrevista, sobre direitos autorais em tempos de internet, acordes e dissonâncias entre funk carioca e rap paulista e sobre suas carreiras, em diferentes estágios: Pedro há 15 anos à frente do PLAP e Lurdez começando a carreira solo, depois de integrar o Mamelo Sound System. Zé Celso, nossa capa, solta o verbo e manda um recado para Dilma. Para saber qual, leia o Perfil do diretor a partir da página 24. Zé – que não se considera maldito, nem que tenha feito contracultura nos anos 1970: “Nós éramos a cultura, o contra era a ditadura” – foi fotografado num ensaio especial de Bob Wolfenson. E a revista oferece um guia que revela as riquezas culturais do Parque Ibirapuera, em São Paulo. Leve o seu quando visitar esse que é o verdadeiro pulmão da maior cidade brasileira. Além de dar dicas bastante úteis para você se localizar, contamos o que vimos e curtimos em um dia no parque.
Eduardo Sapão Editor Chefe e MC
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SUMÁRIO
Carta aos leitores Enfim a tão esperado 69. Que venha o frango assado! Eduardo Sapão p.03
Academia Conhecer para atuar A importância de estudos e pesquisas na formulação de políticas públicas para a cultura. Ana Letícia Fialho e Ilana Seltzer Goldstein p.05
Escutar George Kornis As especificações do mercado de artes visuais no Brasil do século XXI. Isaura Botelho p.05
Nossa Capa
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Pág. NOSSA CAPA
Grafite e Artes Plásticas
Como as artes plásticas invadiram a rua através de talentosos grafiteiros. p.10
Filosofando Arte, cultura e seus demônios Uma análise contemporânea sobre as manifestações culturais e suas representações. Ana Angélica Albano p.05
Na Ponta da Agulha Quando o todo era mais do que a soma das partes Álbuns, singles e os rumos da música gravada contemporânea. Marcia Tosta Dias p.05
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Sumário Social Media Cinema para quem precisa O cinema como via de inclusão social nas comunidades do Rio de Janeiro pós UPPs. Francisco Alambert p.05
Quinta Arte O direito ao teatro Teatro de direito e direito ao teatro. Dois lados de uma mesma moeda? Sérgio de Carvalho p.05
Esse é do Caralho
Entrevista com Andre Arruda
O fotógrafo carioca Andre Arruda já trabalhou em jornais importantes, como o Jornal do Brasil e O Globo. Cid Costa Neto p.14
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Pág. Andre Arruda
Palco Mundo Música, dança e artes visuais Aspectos do trabalho artístico em discussão em tempos de lei do patrocínio. Liliana Rolfsen Petrilli Segnini p.05
Os Grandes Lucian Freud
Considered one of Europe’s greatest modern artists. He painted unsettling portraits with peculiar focus on the texture of their flesh. p.06
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Pág. Lucian Freud ARTIT | 5
Lucien Freud (Self-Portrait)
os grandEs
Lucien freud
Lucian Freud is considered one of Europe’s greatest modern artists. He painted unsettling portraits and nudes in drab rooms, with peculiar focus on the texture of their flesh. Freud was the grandson of Sigmund Freud. He moved to Britain from Germany with his family in 1933 to escape persecution as a Jew. He spent most of his working life in London’s Paddington, saying that its sleaziness appealed to him.
Freud’s early works, like Girl With A White Dog, were very controlled and formal. Over time his style changed and his later painting were mainly nudes, using coarse, layered dabs of paint to create skin texture. The figures in Freud’s paintings often look distant and depressed. However he had a close relationship with his subjects and claimed his pictures are “to do with hope and memory and sensuality”. One of his best known paintings, Benefits Supervisor Sleeping, was reportedly bought by Russian billionaire Roman Abramovich for $33m at auction. This was a record at the time for a living British artist. Freud provoked public outcry with a portrait of Her Majesty Queen Elizabeth II. Many people said the painting made her look old and unhappy. The Queen refused to comment. Girl with a Kitten
Pregnant Girl
Who is Lucien Freud was born in Berlin in December 1922, and came to England with his family in 1933. He studied briefly at the Central School of Art in London and, to more effect, at Cedric Morris’s East Anglian School of Painting and Drawing in Dedham. Following this, he served as a merchant seaman in an Atlantic convoy in 1941. His fi rst solo exhibition, in 1944 at the Lefevre Gallery, featured the now celebrated The Painter’s Room 1944. In the summer of 1946, he went to Paris before going on to Greece for several months. Since then he has lived and worked in London. Freud’s subjects are often the people in his life; friends, family, fellow painters, lovers, children. As he has said ‘The subject matter is autobiographical, it’s all to do with hope and memory and sensuality and involvement really’. Paintings in the exhibition will range from
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os grandEs | LuCiEn frEud
Girl with a White Dog
Girl with Roses 1948 to Garden, Notting Hill Gate 1997, and highlights include the marvellous series of portraits of his mother, portraits of fellow painters John Minton, Michael Andrews and Frank Auerbach, and other major works including Large Interior W11 (after Watteau) 1981-3. Sharp pictures of his youth will contrast with the works of his maturity, paintings fi lled with life and liveliness, each in its way a celebration. ‘I paint people’, Freud has said, ‘not because of what they are like, not exactly in spite of what they are like, but how they happen to be’.
Lucien biography British painter and draughtsman. Freud spent most of his career in Paddington, London, an inner-city area whose seediness is reflected in Freud’s often sombre and moody interiors and cityscapes. In the 1940s he was principally interested in drawing, especially the face. He experimented with Surrealism. He was also loosely associated with Neo -Romanticism. He established his own artistic identity, however, in meticulously executed realist works, imbued with a pervasive mood of alienation. Two important paintings of 1951 established the themes and preoccupations that dominated the rest of Freud’s career: Interior in Paddington (Liverpool, Walker A.G.) and Girl with a White Dog (London, Tate). Both paintings demonstrate an eagerness to establish a highly charged situation, in which the artist is free to explore formal and optical problems rather than expressive or interpretative ones. By the late 1950s brushmarks became spatial as he began to describe the face and body in
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terms of shape and structure, and often in female nudes the brushstrokes help to suggest shape. Throughout his career Freud’s palette remained distinctly muted. A close relationship with sitters was often important for Freud. His mother sat for an extensive series in the early 1970s after she was widowed, and his daughters Bella and Esther modelled nude, together and individually. Although the human form dominated his output, Freud also executed cityscapes, viewed from his studio window, and obsessively detailed nature studies. The 1980s and early 1990s were marked by increasingly ambitious compositions in terms of both scale and complexity.
Grove Art Online & BBC UK
Sources
lucien freud | os grandes
Man with a Thistle (Self-Portrait)
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Grafite por Minjae Lee
CaPa
grafite e artes Plásticas
Como as artes plásticas invadiram a rua através de talentosos grafiteiros.
De forma planejada ou não, no fi nal dos anos 70 o jovem Jean Michel Basquiat concentrou seus grafites no SoHo e no East Village, regiões das galerias de arte, dos ateliês e por onde circulavam muitos dos mais importantes artistas em Nova Iorque. Era uma época em que o mercado de arte ainda era dominado pela Pop Arte e pela Arte Conceitual. Eram tempos também em que a ligação entre artes visuais, música, moda e vida noturna tornou-se intensa. Nesse ambiente, os grafites de Basquiat chamaram a atenção dos proprietários das galerias de arte e de marchands ávidos por novidades que atendessem à demanda por obras inovadoras, que principalmente reforçassem a aproximação entre alta cultura e a cultura popular. Além disso, o auge do grafite como um movimento anárquico ligado aos garotos pobres já havia passado. O começo dos anos 80 trazia uma nova onda radical chic, onde os yuppies, jovens executivos do mercado fi nanceiro, começaram a se interessar por investir em arte e ajudaram a provocar um boom nesse segmento. Quando Basquiat e outros grafiteiros aderiram ao mundo glamouroso das artes plásticas, eles já haviam se distanciado do radicalismo do grafite. Mas, apesar de não mais colocarem suas marcas em prédios e espaços públicos, esses grafiteiros levaram para
CaPa | grafitE E artEs PLástiCas
Jean-Michel Basquiat as galerias de arte e exposições muito da estética e da ideologia do grafite de rua. O grafite influenciou também gerações de artistas que não fi zeram parte do movimento de arte de rua. Keith Haring foi um deles. Sua obra e também sua atitude incorporaram muitas das idéias do grafite. Como artista e ativista, ele buscou levar sua arte para fora das galerias e dos museus, para espaços alternativos e independentes como as estações de metrô e os clubes noturnos. Em uma de suas mais famosas criações, “Radiante Baby”,há claras referências ao universo estético do grafite. Além de Basquiat e Haring, desde os anos 80, outros artistas ligados ao universo do grafite têm se destacado não só nas paisagens urbanas, mas também em exposições e bienais de arte. Entre eles, está a dupla de artistas brasileiros “Os Gêmeos”. Os irmãos Gustavo e Otávio Pandolfo participavam da cena do hip-hop paulistano no fi nal dos anos 80 quando se interessaram pela arte do grafite. Desde então, das fachadas e viadutos paulistanos, seus grafites chegaram às galerias de arte e também aos muros das grandes cidades dos Estados Unidos, Alemanha, Austrália, China, Itália, Cuba, Japão, Grécia e Argentina, entre outros.
Silvio Anaz
Autor
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Keith Harring
GRAFITE E ARTES PLÁSTICAS | Capa
Os Gêmeos
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Andre Arruda
ESSE É DO CARALHO
Entrevista com Andre Arruda
Carioca, formado em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo Audiovisual, o fotógrafo Andre Arruda já trabalhou em jornais importantes, como o Jornal do Brasil e O Globo. Atualmente trabalha na área publicitária e editorial, mas sem deixar de lado o trabalho autoral, onde tem liberdade de expressar sua criatividade em ensaios como o Fortia Femina e no livro 100 coisas que cem pessoas não vivem sem. Suas fontes de inspiração são as mais váriadas. Como foi o seu primeiro contato com a fotografia e como foi a decisão de se profissionalizar? Meu pai tinha uma TLR BeautyFlex, imitação japonesa da Rolley, e fiz algumas fotos com ela quando criança. Cheguei inclusive a tentar fazer uma estória em quadrinhos com avioes da II guerra, modelos de montar Revell, que é claro, não ficaram técnicamente boas. Me lembro até hoje da imensa sensação de dificuldade daquela tarefa. Um dia a câmera pifou e não tinha conserto. Como a família não tinha recursos, ficou-se sem equipamento mesmo. Depois, somente na faculdade tive contato com fotografia, numa aula de fotojornalismo. Nos foi mostrada uma série de fotos de HCB e aquela imagética foi como se eu tivesse aprendido uma língua nova instantaneamente. No curso de jornalismo comecei a me interar da fotografia e pouco tempo depois resolvi ser fotógrafo. Mal sabia da fria em que estava me metendo.
Como surgiu a oportunidade no meio editorial? Antes tive um experiência amarguíssima. Fui em um determinado jornal levando meu humilde portifolio, basicamente um ensaio sobre Copacabana. Depois de dias tentando, consigo uma hora para conversar com o editor. Chego lá, quem me atende é um coordenador, que abre a pasta, folheia as fotos com o desdém de um delegado de polícia, e ainda vira pro lado, falando com outra pessoa: “O teu vascão ontem, hein?”
Joga a pasta na mesa e diz secamente: “Serve não”. Volto pra casa com a pasta “pesando uns 100 kg” e com uma decepção knock down. Uns dois anos depois, já na lida do jornalismo, encontrei o sujeito do “serve não” numa cobertura qualquer e o pessoal foi almoçar e ele não tinha grana: acabei pagando o almoço dele. O ensaio que não serviu ganhou um prêmio na Funarte, outro da UFF e foi publicado em quatro páginas na Revista de Domingo, do JB, o principal encarte do Rio naquele tempo. Mas voltando: Um amigo trabalhava no extinto Jornal do Brasil e disse que tinha vaga lá. Marquei uma hora com o editor, o caladíssimo Rogério Reis, que viu o portfolio “inútil” e me admitiu. Depois de um ano tentando entrar lá, consegui. Ainda tive a sorte de estar no fim da era de ouro do fotojornalismo, que no JB era capitaneado pelos editores Rogério Reis e Flavio Rodrigues, um período intenso e de muita cobrança, de salários baixos mas de muita criatividade, onde a editoria de fotografia era composta por um time de feras. Impossível não ter saudade daquela época, onde nem se sonhava com a internet. Fiquei lá de 92 a 98 e em outro jornal de 98 a 2000, mas nunca me senti o repórter per se, sempre gostei de features, de fotografia mais “pensada”.
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EssE É do CaraLHo | andrE arruda Qual a importância de um trabalho autoral para quem trabalha apenas comercialmente?
pelos seus objetos. E desde agosto de 2005 venho fazendo o “100”, um desafio logístico muito pesado. E bancado integralmente por mim.
É fundamental, absolutamente. Eu creio – na maioria dos casos - o trabalho comercial deve fi nanciar o trabalho autoral, pois este irá nortear a carreira do fotógrafo. O fotógrafo deve estar atento para não se tornar mais uma peça dentro do mercado.
“Fortia Femina” nasceu antes, em 2003, 2004. Zapeando, paro em uma transmissão de um campeonato Mr. Olimpia, creio, e vi mulheres na competição. Até então não sabia que uma mulher poderia ter um corpo com aquelas proporções e me encantou como o relevo e o volume dos corpos “respondiam” à luz, e como a feminilidade poderia chegar a um extremo tão intenso. Então comecei a pensar numa série de fotos de nu, sem grandes compromissos, mas que fosse distinta do que havia visto até então.
Como é a concepção do trabalho autoral e como funciona o seu processo de criação? No momento tenho dois trabalhos de minha inteira concepção, “Fortia Femina” e um livro chamado “100 Coisas que cem pessoas não vivem sem”. O “Fortia” é um ensaio sobre mulheres adeptas da musculação, em preto e branco, de viés livre de publicação ou lucro. São imagens que não residem num limbo preferencial: ou se ama ou se odeia. Até agora não vendi uma única cópia para coleção. O “100” nasceu da idéia de fazer um livro de retratos, mas não queria um tomo que fosse um compilação de fotos de gente, isso o medium visual está repleto e sinceramente acho repetitivo e um tanto tedioso. Como toquei baixo muitos anos, tive bandas e escrevi muitas letras, creio que títulos/temas são tão importantes quanto a obra. Nome é destino. Comecei a brincar com a idéia de número, de rima, de ritmo, de pessoas e que o conceito de uma pergunta instigaria o leitor. Depois de muita elocubração, veio o título, cujo paradoxal conceito é “arqueologia instantânea”, conhecer um pouco as pessoas
Leandra Leal
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Um ensaio, um trabalho, deve ser adequado às condições de quem o elabora. Adotei o fundo branco para o “Fortia” pela facilidade do suporte (papel branco, pano branco, parede branca existe em qualquer lugar) e pela leveza que o branco fornece ao conteúdo, que talvez seja uma herança do meu tempo de garoto, quando pensava em ser desenhista, cartunista. Sou fanático pelas ilustrações a bico de pena e gravuras de Da Vinci, Vesalius e Henry Gray sobre a anatomia do corpo humano; descobri que me influenciaram bom tempo depois de estar fazendo o Fortia Femina. O “100” também é em fundo branco, retrato e objeto, mas em conjunto com outra inspiração agregada, que são os catálogos de produtos, tão comuns em jornais. Como vivemos em uma época “catalogal”, onde somos reduzidos perfis e frases defi nidoras, o “100 Coisas que cem pessoas não vivem sem” é um comentário pretenso sobre este nosso
andrE arruda | EssE É do CaraLHo metal e muita black music dos 50, 60 e 70. Refuto qualquer discurso que relativise a cultura e a educação e que enalteça o mero empirismo de processos na formação. Aproveito da máxima socrática: “quanto mais sei, mais sei que nada sei.” Quando vou editar um trabalho meu, sempre procuro se há algo bom. Inicialmente, acho tudo medíocre, apressado e raso. Sempre pode ser melhor...
Além das questões gráficas, o ensaio Fortia Femina lida com um tabu da estética feminina. Como foi a recepção desse trabalho? Amor ou Repulsa. Já me disseram que Fortia Femina está à frente do tempo dele. Não sei e não procuro me preocupar com isto. Hoje a estética da mulher muscular é um fator presente na sociedade, uma tendência desde os anos 80, quando explodiram as academias de ginástica e as “aulas de jazz”, que misturavam dança com exercício físico pesado. Fausto Fawcett, um excelente pensador pop, até cita na letra de “Facada Leite Moça” a frase “coxas de quem faz jazz”, no fi m dos 80. Cabe ao autor suscitar e abrir questões. E isso não vem de graça, sempre se paga um preço.
Existe um projeto para publicar o Fortia Femina?
Lívia Lemos tempo. Zeitgeist.
Você busca inspiração em outras mídias, como quadrinhos, música e cinema. Porque considera isso tão importante? Não apenas nas citadas, mas pintura e escultura me são vitais. Todo o tipo de manifestação me atrai. Na literatura ‘O Estrangeiro’, de Camus, teve um profundo impacto quando li. Outro fantástico observador é William Gibson, autor do termo cyberspace em “Neuromancer” e de “Reconhecimento de padrões” um livro importante para qualquer pessoa que trabalhe com imagens; que aliás tem uma tradução eficiente em português brasileiro. Toquei baixo por uns oito anos e até hoje tenho o instrumento, embora quase não toque. A música desempenha um papel fundamental na minha vida, tanto ou mais quanto o cinema; meus mais antigos amigos vêm da música. Não vejo, por exemplo, chance de ter uma namorada que tenha um gosto musical muito diferente do meu. Música é alma. Ouço de Slayer à Cole Porter, passando por bossa nova, industrial, alguns eletrônicos, rock, heavy
O livro em tese está pronto, como fotos já tratadas e prontas para edição, mas falta uma editora com coragem para abraçar o projeto.
Durante o Nu Photo Conference você realizou um ensaio ao vivo para uma platéia de 300 pessoas. Como foi essa experiência? Já tinha feito algo parecido? Com uma platéia tão grande foi a primeira vez. Gostei muito da experiência, embora tenha achado, com o benefício da distância, que a apresentação foi um tanto exagerada em alguns aspectos. Foi um desafio redobrado porque aconteceu diferente do planejado. A minha proposta inicial seria verdadeira sessão do Fortia Femina mas a modelo, uma atleta, desistiu. Então propus que fossem duas modelos e parti do zero. Gostei muito de uma imagem resultante daquela sessão.
Durante a sua palestra você citou a importância de usar o fotômetro de mão. Com o digital, muitos fotógrafos da nova geração dispensam o seu uso. Porque você acha que isso acontece? O fotômetro é um símbolo. Quis ressaltar a importância da técnica, da pesquisa e do estudo constante. Não existe
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EssE É do CaraLHo | andrE arruda
Lívia Lemos fotografia “fácil” e quem está começando não deve crer em soluções simplórias, como se a fotografia fosse uma série de “macetes” que resolvem qualquer situação. Todos os fotógrafos de cinema, cuja fotografia é exponencialmente mais complexa que a still, usam fotômetro, mesmo os fotógrafos com 30, 40 anos de experiência. É saber interpretar, usar a luz e não ser refém dela. Não creio que o fotografo deva se ater a fórmulas e resoluções fi xas; quanto mais conhecimento, melhor; é quase pueril falar isso, mas há quem acredite que a fotografia é simples, quase intuitiva e o Photoshop resolverá tudo depois. O que interessa mesmo é a luz (saber iluminar) e a direção. A câmera, desde que seja manual, minimamente boa e gere arquivos RAW, resolve a maioria dos casos. A grande diferença entre uma câmera Pro e a amadora é que a Pro tem resistência e robustez. Tenho uma objetiva 70-200 2.8 que deve ter uns 10 anos e funciona muito bem, apesar de algumas “cicatrizes”, arranhões na lente e marcas de uso.
Quais fotógrafos cujo trabalho você admira e qual a relevância deles na sua produção? Vários me influenciaram e influenciam. Seria injusto nomear alguns, então fico com o meu trio sagrado, Cartier-Bresson, Avedon e Helmut Newton. E Sebastião Salgado, claro, por ser o maior fotógrafo vivo e por sua visão e sobretudo planejamento. Até o momento acredito que nenhum fotógrafo tem ou terá uma obra como a dele.
É mais complicado ou mais fácil fotografar celebridades? Eu fotografo famosos como se fossem anônimos e anônimos como celebridades. Em geral a fotografia, para a maioria das “celebridades”, é uma atividade aborrecida e que elas querem se livrar o mais rápido possível. Mulheres respondem muito bem a locação, com homens creio que uma certa tensão desenvolve melhor. A mulher tem que ser seduzida o tempo inteiro.
Quem você gostaria de fotografar e ainda não teve oportunidade? Scarlett Johansson, atriz; Yelena Isinbayeva, atleta e Angela Gossow, cantora da banda de heavy metal Arch Enemy. Aqui, Roberto Carlos, o cantor.
O que você diz para quem quer seguir a carreira de fotógrafo ou está começando? Persista. Mais do que nunca fotografia está difícil como negócio rentável. Somente quem tiver talento, senso de oportunidade e principalmente um manifesto sincero de idéias perante o mundo poderá ter sucesso. E procure fazer vídeo também. O futuro caminha inexorável para a imagem em movimento.
Cid Costa Neto
Autor
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Osmar Prado
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SUA REVISTA BIMESTRAL LANÇADA UMA VEZ AO ANO