Revista Pitoco: Direita Volver

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Cascavel, Cascavel,23 19de denovembro outubro de de2018 2018- -Ano AnoXXII XXII- -Nº Nº2170 2175- -R$ R$12,00 12,00

DIREITA, VOLVER! SOB NOVA DIREÇÃO

Como será Itaipu com Jair Bolsonaro?

SOB NOVA PROFISSÃO

Filme queimado, mas comida bem servida

“Alemanha do Oeste” varreu o Tucanistão do mapa e expôs a face conservadora de um eleitor enojado com tudo que está aí

DE FATO E DE DIREITO

Aluga-se o aprazível sítio dos doutores


ELEIÇÕES 2018

DIREITA, VOLVER! O crepúsculo do Tucanistão na “Alemanha do Oeste”, a região mais antipetista do Estado do Paraná Jairo Eduardo

N

o Brasil, Jair Bolsonaro fez 55,5% dos votos, pouco mais de a metade. No Paraná esse número cresceu para 68%. Mas no enclave germânico do Oeste do Paraná, o desempenho do capitão ficou acima de 80%. Foi assim em Maripá (82,3%); Quatro Pontes (86,1%) e na campeoníssima, terceira maior votação proporcional de Bolsonaro entre os mais de 5 mil municípios brasileiros, Nova Santa Rosa, com 86,7% (apenas 2% a menos que Treze de Maio, em Santa Catarina, dona da maior votação ao 17 em todo o País). Em comum as cidades citadas têm o município-mãe, Marechal Cândido Rondon, e a colonização por descendentes de alemães oriundos do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. A diferença para Rondon (77% dos votos para o Jair) é sutil, mas visível: como 04 | www.pitoco.com.br

n Em Nova Santa Rosa, a terceira cidade mais “bolsonariana” do Brasil, jipe ornado com o pavilhão nacional. Aqui, bandeiras vermelhas não são bem-vindas. No detalhe, a Igreja de Confissão Luterana, que indica a forte presença de descendentes de alemães

polo-microrregional, a agroindustrializada Rondon “mestiçou”. Já as cidades satélites permaneceram mais “germânicas”. O Pitoco visitou a região que varreu o PT e o PSDB do mapa. Em Nova Santa Rosa, Haddad fez o seu número: 13% dos votos. Em Quatro Pontes, ninguém apareceu em público fazendo campanha para o professor petista. A missão da reportagem não era das mais fáceis: desvendar, entre as opções abaixo, o que foi determinante para os satélites de Rondon ombrearem com Santa Catarina entre os municípios de maior votação proporcional ao capitão. Vamos às opções: 1) Fator “chutar o balde”: saturação com a violência, a corrupção, a velhacaria geral da República (instituição centenária) e “tudo o que está aí”. Voto de protesto, mudança, fatores potencializados pelo IDH elevado e espírito crítico dos “satélites” de Rondon. 2) Anti-petismo visceral inflado pelo discurso de que Dilma e o PT “quebraram o país” (depois de oito anos de vacas gordas na era Lula), que o petismo é uma variante do comunismo, e que o partido e seus principais caciques inventaram a corrupção em escala

industrial no Brasil. 3) Fator étnico-cultural: estariam no DNA do alemão e de seus descendentes brasileiros valores como disciplina prussiana e um certo conservadorismo político (vale lembrar que no período da ditadura, a Arena - partido de sustentação do regime - durante um bom tempo fez barba e cabelo nas eleições municipais de Rondon). 4) Fator religioso: a doutrina evangélica luterana é incompatível com os escândalos de corrupção da era temer-petista. É a chamada ética luterana. Em qual destes você cravaria sua opção? O Pitoco ouviu lideranças da região. Um deles, é o jovem líder do Movimento Brasil Livre (MBL) em Marechal Rondon, Elias Glassmann. Para ele, existe uma combinação dos fatores elencados aqui (ver depoimento na página seguinte). Segundo o menino do MBL, há uma nítida conversão à direita do eleitorado. “Jair Bolsonaro despertou o interesse de setores conservadores. Com posicionamento cristão, ele trouxe questões morais e enfrentou com firmeza aqueles que buscavam atingir a família tradicional e o conservadorismo”, diz Glassmann.

Pitoco


DEPOIMENTOS

Cristão conservador com discurso firme

n Ex-prefeitos da germânica Quatro Pontes: Paulo Brandt e Paulo Feiy

Lutero fora

Tucanistão já era

O pastor luterano de Nova Santa Rosa, Milton Tribess, conhece bem seu rebanho. Em seus 67 anos de idade, dedicou 45 a pastorear a “alemãozada” da região.

A avalanche Bolsonaro gerou outro fenômeno na “Alemanha do Oeste”: varreu a tucanada do mapa. Os três municípios estudados nesta reportagem foram tucanos em pelo menos quatro turnos presidenciais consecutivos em 2010 e 2014.

Ele relativiza a presença de Lutero nos números gigantes de Bolsonaro no município. Relativiza inclusive a força individual do capitão no imaginário do eleitor. Para Tribess, a ansiedade pela mudança teve papel central no resultado. No entendimento do pastor, isso não significa uma identificação política incondicional com o credo bolsonariano. Ou seja, se o adversário do “tudo que está aí” fosse outro, também seria bem votado. Paulo Brandt, ex-prefeito de Quatro Pontes, comenta que não havia ninguém fazendo campanha para o PT na cidade. E que o perfil econômico do município foi determinante. “Aqui praticamente não existe Bolsa Família, cesta básica; a posição econômica das pessoas é muito boa”, relata.

A predominância do azul no mapa germânico oestino, a exemplo de São Paulo, é pejorativamente chamada de “Tucanistão”. Vejamos: No segundo turno de 2010, entre Dilma e Serra, o tucano venceu em Maripá (63%), Nova Santa Rosa (63%) e Quatro Pontes (50,7%). Em 2014, o Tucanistão firmou o pulso, com Aécio Neves: 71% em Nova Santa Rosa, 64% em Quatro Pontes e 67% em Maripá. O fenômeno dá alguma razão para o sábio pastor luterano de Nova Santa Rosa e para o ex-prefeito petista de Quatro Ponte, Paulo Fey (ver depoimento ao lado): Bolsonaro é forte, sim, mas qualquer um que tenha condições de vencer o PT será bem votado em Maripá, Quatro Pontes e Nova Santa Rosa.

Emerge das urnas o “Bolsonazistão” Como, enfim, o Tucanistão deu lugar ao bolsonarismo nestas pacatas cidades? Um irado professor baiano, Wilson Gomes, doutor pela UFBA, cansado de ver o Nordeste ser chamado de “Cuba do Sul”, desabafou assim: “Como o Tucanistão se transformou tão rapidamente em um Bolsonazistão, se era a sua avançada mentalidade progressista, capitalista, globalista, antiestatista e antenada com o mercado internacional, o fator que o distinguia do atrasado Nordeste brasileiro? Este, sim, é um enigma digno de uma reportagem em profundidade”.

Adesivo de Bolsonaro em camioneta: mais de 82% dos votos em Maripá foram para o capitão

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Bom, não temos profundidade suficiente aqui no Pitoco para responder ao desafio do baiano. Verdade é que neste recanto sulista, encravado 70 poucos quilômetros ao norte de Cascavel, na “Alemanha do Oeste”, petista não se cria.

“Muitos foram os fatores que determinaram uma votação expressiva para o Jair Bolsonaro em Marechal Cândido Rondon e microrregião, onde o PSDB sempre ocupou um lugar de destaque nas votações presidenciais. Um anseio muito grande de mudança, por parte da população surgiu nesse período eleitoral, e Bolsonaro chegou com um discurso firme, com um forte posicionamento em relação às questões polêmicas (das quais políticos tradicionais buscaram se esquivar), com um jeito autêntico e verdadeiro. “Jair Bolsonaro despertou o interesse do conservadorismo em suas propostas, com um posicionamento conservador e cristão nas questões morais... enfrentou com firmeza aqueles que buscavam atingir à família tradicional e o conservadorismo. Citou passagens bíblicas que tornavam seu discurso mais sólido... Um jeito autêntico de fazer política, dizendo o que muitos queriam dizer, mas não podiam. A oportunidade de votar em um cristão e com posicionamento conservador fez toda a diferença para o eleitor de Marechal Cândido Rondon e microrregião.” l Elias Glassmann – coordenador do Movimento Brasil Livre em Marechal C. Rondon)

Anti-petismo inflou a votação de Bolsonaro “O anti-petismo foi determinante para a votação de Bolsonaro aqui na região. Quando ganhei a eleição pelo PT, posso dizer que fui eleito apesar do partido. As pessoas chegavam e diziam: - Paulo, você é muito gente boa para estar no PT. “Saí do PT, e ainda assim meus adversários continuaram me associando ao partido. Tenho muitos amigos no PT. E tenho amigos no PSL também. Mas jamais apoiaria o Bolsonaro. Sou contra o radicalismo dele. Antes da eleição, Bolsonaro dizia que a Bolsa Família era cabresto eleitoral. Na campanha, ofereceu 13º para os beneficiados do programa. “Foram essas artimanhas da campanha que explicam em parte a votação dele. Artimanhas como abandonar o catolicismo e migrar para a igreja evangélica, surfando no crescimento da onda evangélica, aliando-se a Edir Macedo e Silas Malafaia, este investigado por corrupção. Mas é assim mesmo. É fácil apontar o dedo, difícil é olhar-se no espelho. Política é algo meio irracional, eu me recuso a fazer parte do efeito manada.” l Paulo Cesar Feyh – ex-prefeito de Quatro Pontes, analista sênior de negócios do Sebrae em São Paulo

23 de novembro de 2018 | 05


Cidades tranquilas, pacatos cidadãos Caminhar por Maripá, Nova Santa Rosa, Quatro Pontes é uma experiência recomendável para todos que andam estressados com a buzina, a fumaça, a pressa maluca das médias e grandes cidades. Cidades limpas, tranquilas, gente bem humorada, hospitaleira, trabalhadora. Mas o ritmo do relógio parece outro. O tempo passa mais devagar. São municípios de poucas almas. Nenhum deles tem mais moradores que um único conjunto residencial de Cascavel, o Riviera, na região Norte do município. Passeie conosco nestas fotos, e deguste os encantos e recantos da “Alemanha do Oeste”:

n As irmãs Zimmermann passeiam com o cão Caramelo: segurança e tranquilidade

Família Bilk reunida em uma bela morada de Maripá: tempo para uma boa prosa

n Família Niedermeyer na praça principal de Nova Santa Rosa: jardins bem cuidados, limpeza e sossego

n Placa na rua exige silêncio. Ao fundo, o prédio da Câmara de Vereadores de Maripá: conservadorismo nos costumes 06 | www.pitoco.com.br

n Mulheres passeiam de bike com os bebês no cesto, no centro de Nova Santa Rosa: trânsito amigável

n Geraldo Busse, descendente de alemães e russos, oferece o doce extrato da cana: hospitalidade

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