performance vĂdeo fotografia
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apresenta
performance vídeo fotografia
Black Indices
performance video photography
7 de outubro a 17 de dezembro de 2017 CAIXA Cultural São Paulo
Roberto Conduru curadoria
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São Paulo Espaço Donas Marcianas Arte e Comunicação 2017
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Desde 1861, a CAIXA está presente na história de cada brasileiro, seja na concessão de crédito acessível, no financiamento habitacional, no desenvolvimento das cidades – por meio de investimento em projetos para infraestrutura e saneamento básico –, seja na execução e administração de programas sociais do Governo Federal. Como instituição financeira, agente de políticas públicas e parceira estratégica do Estado brasileiro, sua missão é atuar na promoção da cidadania e do desenvolvimento sustentável do país. A CAIXA vislumbra em sua atribuição a motivação para estar presente em todos os momentos da vida do brasileiro, aproximando-se das suas necessidades e anseios e participando das suas realizações. Nesse contexto, nada mais natural que a CAIXA se aproxime da cultura nacional, propiciando acesso às mais variadas manifestações artísticas e intelectuais e contribuindo para a preservação do patrimônio histórico brasileiro. Por meio de sua programação nos espaços da CAIXA Cultural, presentes em sete capitais do país, a instituição vem, ao longo das últimas décadas, viabilizando projetos que promovem a formação intelectual e cultural da população. O Museu e o Programa Educativo Caixa Gente Arteira complementam esse esforço na formação de público e na difusão de saberes e práticas artísticas e culturais. É com essa conjuntura que a CAIXA patrocina a exposição Negros Indícios, que reúne a produção contemporânea de 12 artistas afrodescendentes de diferentes regiões do país que trabalham no campo da performance. A mostra apresenta seleções de vídeos e fotografias articulados por afinidades poéticas. Completa a programação um ciclo de performances que acontece próximo ao dia 20 de novembro, data em que é celebrado no Brasil o Dia Nacional da Consciência Negra. Com este projeto, a CAIXA ratifica a sua política cultural, a sua vocação social e o seu propósito de democratização do acesso aos seus espaços e à sua programação artística. Desta forma, ela cumpre seu papel institucional de estímulo à difusão e ao intercâmbio do conhecimento, contribuindo para a valorização da identidade brasileira, bem como para o fortalecimento, a renovação e ampliação das artes no Brasil e da cultura do nosso povo. Caixa Econômica Federal 2
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sumário
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Índices negros – entre o (in)visível e o futuro, Roberto Conduru
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Antônio Obá
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Ayrson Heráclito
26
Caetano Dias
34
Dalton Paula
42
João Manoel Feliciano
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Moisés Patrício
58
Musa Michelle Mattiuzzi
66
Priscila Rezende
74
Renata Felinto
82
Rommulo Vieira Conceição
90
Rubiane Maia
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Tiago Sant’Ana
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Versão em inglês
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Ciclo de performances
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Índices negros – entre o (in)visível e o futuro Roberto Conduru 1
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Gravador, escultor, editor, curador e museólogo, Emanoel Araújo nunca realizou performances. Contudo, é difícil imaginar quem tenha lutado para a afirmação da negritude no meio de arte de São Paulo mais do que ele, com suas ações desde os anos 1980 e sobretudo a partir de 2004, quando cravou no parque do Ibirapuera o Museu Afro Brasil. Também Rosana Paulino, artista negra não dedicada à performance, vem amplificando, desde os anos 1990, com suas obras, falas e curadorias, espaços
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e sentidos para a arte a partir de São Paulo. Entre os artistas afrodescendentes das gerações mais recentes que não lidam com performance, é possível destacar a ação combativa de Jaime Lauriano. Ele é outro que vem empenhando sua obra na reflexão artística sobre a história do tráfico negreiro, da escravidão e do colonialismo, bem como as práticas sociais e o imaginário cultural entranhados no Brasil a partir da transposição forçada de pessoas da África para serem escravizadas desde o século XVI.
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Às obras e ações de Emanoel Araújo, Rosana Paulino e Jaime Lauriano, bem como de outros artistas e agentes, vêm se somando realizações de algumas instituições. Trata-se de um processo que, nos últimos anos, adensou-se de modo notável, singular mesmo, no país. Antes, a questão da negritude, embora evidente na população e em sua convivência nos espaços urbanos, parecia marginal no meio artístico e cultural da capital paulista. Agora, o ritmo e a concentração são outros. Não foram os negros e as negras que acordaram; ao contrário, nunca estiveram a dormir. Foi São Paulo que, a partir de
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um acúmulo de intervenções pessoais e institucionais, atentou para a negritude que é sua, do Brasil, do mundo. Além da trajetória de treze anos do Museu Afro Brasil, outras instituições de arte e cultura de São Paulo vêm redefinindo recentemente os modos de interação com os afrodescendentes e sua presença artística na metrópole. Desde 2010, há a revista O Menelick 2˚ Ato: Afrobrasilidades e Afins, iniciativa independente fundada por Nabor
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Jr.1. Entre as muitas ações do Serviço Social do Comércio, pode ser destacada a exposição Afro como Ascendência, Arte como Procedência, curada por Alexandre Araújo Bispo, no Sesc Pinheiro, em 20132. Do Itaú Cultural, há as séries Ocupações, que desde 2015 focou as trajetórias e obras de Dona Ivone Lara, Cartola, Abdias Nascimento e Conceição Evaristo3, e Diálogos Ausentes, que desde 2016 tem realizado encontros “sobre a produção e a presença de artistas negros em diferentes áreas de expressão”4,
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1. Ayrson Heráclito; 2. Tiago Sant’Ana; 3.Caetano Dias; 4. Rommulo Vieira Conceição; 5. Rubiane Maia; 6. Renata Felinto; 7. Musa Michelle Mattiuzzi; 8. Priscila Rezende; 9. Moisés Patrício; 10. Dalton Paula; 11. João Manoel Feliciano; 12. Antônio Obá.
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tendo gerado uma exposição homônima, com curadoria de Diane Lima e Rosana
Bqueer e Le Noir, Sérgio Adriano H e seu projeto O Visível do Invisível, Sara Panamby
Paulino5. Além de terem curado a mostra Histórias Mestiças no Instituto Tomie Ohtake,
e Tiago Gualberto e sua Lembrança de Nhô Tim. Para não falar de artistas atuantes
em 2014 , Adriano Pedrosa e Lilia Moritz Schwarz vêm redimensionando a questão afro
com outros meios, em cujas obras seria possível pensar dimensões performáticas. As
no acervo e nas exposições de longa e curta duração do Museu de Arte de São Paulo,
exposições nunca são completas. Negros Indícios não foi pensada como uma mostra
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realizaram o seminário Histórias da Escravidão em 2016 e preparam exposição sobre o
totalizante e definitiva das articulações recentes de performance, vídeo e fotografia feitas
tema para o próximo ano. A partir de 2014, Moisés Patrício e Peter de Brito mobilizaram
por afrodescendentes a partir do Brasil. Como exposição, pretende ser uma ação, em
pessoas negras a intervir no circuito artístico na série de performances Presença
meio a muitas às quais reage e a outras tantas que espera ajudar a fomentar.
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Negra . No mesmo ano, o Centro Cultural São Paulo apresentou a exposição Medo, 8
Fascínio e Repressão na Missão de Pesquisas Folclóricas 1938-2015, com objetos da cultura afro-brasileira em curadoria de Alexandre Araújo Bispo. Revendo a história da negritude na Pinacoteca do Estado de São Paulo, Tadeu Chiarelli curou a exposição Territórios - Artistas Afrodescendentes no Acervo da Pinacoteca, em 2015-20169. Outro marco deste processo é a mostra Agora Somos Todxs Negrxs?, com curadoria de Daniel Lima, apresentada na Associação Cultural Videobrasil entre agosto e dezembro de 201710. Desde 2016, há o sítio eletrônico Contracondutas, da Escola da Cidade11. Há muito mais12. São Paulo não é um santo negro, mas sua cidade vem enegrecendo a olhos vistos. Com ações de artistas, curadores, críticos, historiadores e outras tantas pessoas, o estado que deu à nação a padroeira do Brasil, uma virgem Maria negra, agora tem explicitado, artística e institucionalmente, sua negritude. A CAIXA Cultural São Paulo, que em 2015 apresentou a exposição Terciliano Jr. – 50 Anos, a mostra de cinema 100 Anos de Grande Othelo, a peça teatral Galanga, Chico Rei e a mostra de cinema e música Afrofuturismo, agora acolhe Negros Indícios, que apresenta performances, fotografias e vídeos de artistas afrodescendentes provenientes de diferentes regiões brasileiras. A exposição oferece uma pequena amostra de uma das tendências recentes da arte no Brasil: a crescente e intensa presença de artistas negros que, com suas reflexões e ações artísticas, nos fazem pensar a arte, a sociedade brasileira, o mundo.
território configurado pelas variadas articulações de performance, fotografia e vídeo. Com registros mais ou menos objetivos, ficcionais ou não, performances, fotoperformances, videoperformances, reperformances e seus desdobramentos, exploram (des) continuidades entre corpos e imagens, que rebatem e persistem uns nos outros e além. Potencializam, seja exaltando ou tensionando, os fluxos e repuxos entre os corpos, suas reverberações imagéticas e a corporeidade das imagens. Antes de tudo, os corpos negros, pois para esses artistas interessam as potencialidades da performance e de suas extensões como modos de ativar questões da negritude. Corpos negros que, onipresentes durante e após a vigência do sistema escravista e colonial no Brasil, eram e são explorados, vivendo no dia a dia o paradoxo da maioria que tenta torná-los invisíveis social e culturalmente. É contra a desautorização dos corpos negros, princípio fundante do regime escravista, e sua persistência contemporânea que agem esses artistas. Os jogos entre performances e imagens constituem, portanto, uma estratégia de contra-ataque – não por acaso, para Musa Michelle Mattiuzzi o corpo é “meio expressivo e máquina de guerra”14. Partem da necessidade de sobrevivência em um ambiente adversário, inóspito, inviável. Reagem. Lutam contra a impermanência, a invisibilidade, a desaparição. Refutam de modo veemente a condição imposta às pessoas escravizadas: ser quase coisa ou animal, disponível a explorações laborais, sádicas, afetivas, sexuais. Atuando, atestam a vitalidade e a potência de seus corpos. Agem. Para tanto, engajam-se, ativando variadas
São expostas obras e ações de Antônio Obá, Ayrson Heráclito, Caetano Dias, Dalton
dimensões políticas da arte. Autorizam-se, reafirmam autoridade e autoria, conquistam
Paula, João Manoel Feliciano, Moisés Patrício, Musa Michelle Mattiuzzi, Priscila
visibilidade, exaltam o próprio valor. Corpos negros que, em suas ações e reverberações,
Rezende, Renata Felinto, Rommulo Vieira Conceição, Rubiane Maia e Tiago Sant’Ana.
experimentam. Imaginam, fabricam, reinventam, criam, propagam – a si e o mundo.
Obviamente, há ausências; não poucas. Também poderiam participar da exposição Artur Leandro e o grupo Nós de Aruanda, o coletivo Casa Grande13, a Frente 3 de Fevereiro, Janaina Barros, Jorge dos Anjos e suas sessões de desenho com pólvora e fogo, Jorge Lopes, Luiz de Abreu e seu Samba do Crioulo Doido, Marepe com Pérola de Água Doce, Olyvia Bynum e O Esclarecimento, as andanças e intervenções de Paulo Nazareth, Rafel 12
Um traço em comum entre os artistas participantes desta mostra é transitarem no
Artisticamente, interessa pensar os indícios que a performance produz ou que são produzidos a partir dela por quem a fez (idealizou e/ou realizou) e/ou por outrem. Interessam os indícios da performance e, sobretudo, a performance como indício. Portanto, tanto o que a sucede quanto o que a antecede e circunda. O foco não é tanto a performance como indício do processo criador e/ou da obra artística em processo, da 13
trajetória do artista. O que implica pensar menos a interioridade do processo criativo
escravidão. Implantar anamú, de Dalton Paula, e Refino, de Tiago Sant’Ana, também nos
e mais o que lhe é exterior. Assim, interessa a performance como índice de sujeitos,
fazem refletir sobre corpos antes escravizados ou ainda hoje aviltantemente explorados,
processos e fatos além do artista e de sua obra. Com o que emerge o campo artístico e,
obrigados a agir segundo desígnios alheios. Alienação e desorientação involuntárias,
sobretudo, o social, com suas estruturas e relações, espaços, instituições, redes, modos
porém calculadas pelos opressores, ainda persistentes, que são também aludidas em
de operar e interagir. Interessa a performance que, enquanto indício, não é simples,
Canto doce – pequeno labirinto, de Caetano Dias.
intencional, obrigatório e direto resultado de acontecimentos individuais e/ou coletivos, artísticos e/ou sociais. A performance na qual o artista força a existência do indício, criando-o. E na qual há vínculos de continuidade entre ela e alguns fenômenos sociais. O que permite vê-la como índice, como referência de algo outro, ao mesmo tempo anterior e coexistente. Por meio da performance, o artista produz, embora nem sempre de modo voluntário e consciente, o efeito que a causa disfarça, vela, oculta. Com a performance, são explicitadas certas ideias e práticas socais, obrigando a ver o que, mesmo existindo culturalmente, estando à tona na sociedade, sendo visível pelas pessoas e por elas experimentado, vivido, precisa ser chamado à percepção, à consciência, porque usualmente não é visto, ou se finge não ver. Constituindo-se como rastro do (in)visível, a performance torna-se índice singular, pois, ao acontecer, anima os demais elementos do
autoimpostos: Experimentando o vermelho em dilúvio, de Musa Michelle Mattiuzzi, (...) dos sofrimentos físicos e morais de minha vida, e do penoso esforço de ascensão na escala social, de Moisés Patrício, e Gênesis 09:25, Laços, Purificação II e Vem... pra ser infeliz, de Priscila Rezende. Extenuantes e doloridos ritos artísticos que remetem a torturas, castigos e arbitrariedades constitutivas do regime escravocrata, bem como de seus desdobramentos até hoje. Violência física e visual imposta aos corpos negros que ecoa em Corpo em quadrado P e Corpo em quadrado B, séries de fotoperformances de Dalton Paula, de 2012, nas quais sua cabeça desaparece, parecendo ter sido decepada. O que traz à tona a questão da invisibilidade sociocultural.
processo sociocultural: exibe fenômenos, referências, e mobiliza pessoas, interpretantes,
Neste caminho, Merci beacoup, blanco!, de Musa Michelle Mattiuzzi, A notícia, de Dalton
demandando a exploração, a dúvida sobre o que permanece silenciado. Desse modo, a
Paula, e Atos da transfiguração, de Antônio Obá, explicitam o desejo de branqueamento
performance é indício crítico, na medida em que cristaliza situações que as forças em
ainda difuso, renitente, na sociedade brasileira. Não com pigmento como aqueles, mas
jogo no campo social geram apenas excepcionalmente, quando, por exacerbação ou
com perucas, cosméticos e roupas, também Renata Felinto, em White face and blonde
descuido, irrompem em meio à inércia da dinâmica cultural vigente. Também é índice
hair, branqueia-se propositalmente, assim como Priscila Rezende alisa o cabelo em
criativo, pois explicita essa tensão de modo inusitado, artístico15.
Deformação. De um modo ou de outro, explicitam o desejo de apagamento, dissolução
Na contramão dos segmentos sociais que almejam ocultar, mas mal escondem alguns
e extermínio da negritude, que permanece corroendo a sociedade brasileira.
aspectos da história, certos ideais e preconceitos, estes artistas os explicitam. Com seus
Se exibem à luz do sol ou dos refletores doenças persistentes, chagas antigas ainda
corpos mais os de outrem, iluminam o passado e materializam ideias e práticas sociais
abertas, como Apagamento #1, de Tiago Sant’Ana, essas performances também
que, informando mentes e corpos, afetam as relações culturais no país.
indicam resistência e reação, reafirmando a potência do que é considerado fraco.
Conectando a Maison des Esclaves, no Senegal, um lugar de memória do tráfico negreiro, e a Casa da Torre de Garcia d’Ávila, no Brasil, a ruína de uma casa senhorial da economia do açúcar, o par de performances Os sacudimentos, de Ayrson Heráclito, revê a história do tráfico negreiro, da escravidão e do colonialismo nas duas margens do Atlântico.
Além de muitas das performances antes indicadas, a altiva resistência dos corpos negros é perceptível n’O mundo de Janiele, de Caetano Dias. A emancipação também é propagada por Renata Felinto, ao se despir da persona feminina ocidental, em Haliaeetus Leucocephalus Female Africanus ou Caminho reverso com versos de ardor. Sim, essas performances denunciam, põem em discussão o que é comumente silenciado, criticam
O mesmo Heráclito, em Transmutação da carne, e Priscila Rezende, em Barganha,
o que supostamente não existiria, dada a persistência do mito da democracia racial no
reencenam a violência conceitual e física inerente à transformação de seres em
país. Mas também expõem e defendem outros valores.
propriedades de outros seres, no regime da escravidão. Objetificação também atualizada por Priscila e João Manoel Feliciano, em Bombril e Barca Capillus, respectivamente, nas quais emprestam seus corpos para tornar visíveis as preconceituosas associações de cabelos e corpos negros a materiais inanimados e a animais, durante e após a duração da 14
Além de algumas dessas, há outras performances constituídas por sacrifícios
Nesses artísticos contra-ataques, um lugar especial é reservado às práticas religiosas afro-brasileiras. É da regeneração espiritual de indivíduos e do todo social que tratam Bori e Os sacudimentos, de Heráclito. Em Atos da transfiguração, de Obá, branquear também tem sentido de cuidar, curar, sacralizar. Com a série Aceita?, Moisés Patrício, 15
associado a Exu, nos dá a ver o sentido combativo entre as múltiplas ressonâncias
Referências
da oferenda religiosa. É o senhor das portas e da comunicação quem também rege o Brunch para Exu, que Renata Felinto oferece como tática para aproximar, nutrir, irmanar
1. http://omenelick2ato.com. Acesso em 08/06/2017.
e fomentar a ação dos que estão à margem. Incorporando os ibeji, os sagrados gêmeos
2. http://omenelick2ato.com/artes-plasticas/AFRO-COMO-ANSCENDENCIA/. Acesso em 08/06/2017.
afro-brasileiros em Bejé Orò, Tiago Sant’Ana também recorre à vitalidade da infância e sua capacidade de vencer a morte em suas mais diversas modalidades16. Se nos confrontam com questões da negritude, essas performances não se restringem a elas, pois lidam com questões outras, de cunho individual, muitas vezes autobiográfico,
3. http://www.itaucultural.org.br/ocupacao/. Acesso em 08/06/2017. 4. http://www.itaucultural.org.br/dialogos-ausentes. Acesso em 08/06/2017.
coletivo e até universal. Fala-se não apenas da condição das negras, mas das mulheres,
5. http://www.itaucultural.org.br/dialogos-ausentes-mostra. Acesso em 08/06/2017.
assim como de negros, em particular, e de homens, em geral. E de gênero e sexualidade em suas diversidades. Tratar de negritude e branqueamento é também discutir tópicos
6. SCHWARCZ, Lilia Moritz; PEDROSA, Adriano (orgs.). Histórias Mestiças. Rio de Janeiro: Cobogó; São Paulo: Instituto Tomie Ohtake, 2015.
como etnia, identidade, marginalização. A partir da afrodescendência no Brasil, alcança-
7. http://maspinscricoes.org.br/Seminarios/detalhes/74. Acesso em 08/06/2017.
se a diáspora africana, as diásporas. Com a macumba e outras religiões com matrizes africanas praticadas no Brasil, discute-se o sagrado, a espiritualidade, as guerras religiosas. Rever o tráfico negreiro e a escravidão é pôr em xeque as vigentes condições de trabalho e sobrevivência. Refletem sobre o existir e a arte. Seres do mundo, esses artistas estão atuantes no Brasil, conectados à África e além. Assim, são mobilizados por questões de hoje e antes, conjunturais ou não. É de ganância e desastre ambiental que trata Caetano Dias em Rio Doce. Mas ele também fala da clássica cultura greco-romana ao aludir ao mito de Sísifo em Mar de dentro, assim como João Manoel Feliciano, que revitaliza uma inanimada e marmórea imagem grega ao conectar-se a ela com seu negro, plurívoco e vivo cabelo, em Apollo Capillus IV. Irrestrito a culturas específicas, é o afeto conquistado pelo corpo no mundo que mobiliza Rommulo Vieira Conceição em O espaço se torna lugar na medida em que eu me familiarizo com ele. Epifanias e experiências sublimes possíveis na interação das pessoas com outros seres no mundo que também motivam Rubiane Maia em Baile. Nos atraindo para ver, experimentar e pensar a negritude, entre outras questões, no país e para além dele, esses artistas nos convidam e nos convocam a participar de uma luta que não pode ser apenas deles. Contra-atacando, propõem e começam a instituir outra realidade. Paradoxalmente, essas performances anunciam o índice como signo também referente a algo que ele antecipa e gera, a uma situação imaginada, posterior. Corporificando de modo crítico e utópico outra conjuntura sociocultural, essas performances tornam-se artísticos indícios do futuro.
8. http://www1.folha.uol.com.br/multimidia/tvfolha/2015/02/1586370-negros-setravestem-de-branco-na-busca-por-espaco-em-circuito-artistico.shtml. Acesso em 08/06/2017. 9. http://pinacoteca.org.br/programacao/territorios-artistas-afrodescendentes-no-acervo-dapinacoteca/. Acesso em 08/06/2017. 10. http://site.videobrasil.org.br/exposicoes/galpaovb/agorasomostodxsnegrxs. Acesso em 31/08/2017. 11. http://www.ct-escoladacidade.org/contracondutas/. Acesso em 08/06/2017. 12. O processo de relação entre artistas, curadores, críticos e instituições em São Paulo nos últimos anos é um capítulo especial da história da arte e da cultura na cidade e no país, ainda em processo, que demanda uma reflexão particular. 13. Composto por Estêvão Haeser, Giuliano Lucas, Leandro Machado, Luísa Gabriela, Marcelo Monteiro, Michele Zgiet, Rafa Élis, Silvana Rodrigues e Waldemar Max. A este respeito, ver SILVEIRA, Rafael. Gestos de invenção de si: deslocamentos de um artista minoritário (dissertação). Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2017, p. 119-142. 14. BISPO, Alexandre Araújo, LOPES, Fabiana. “Presenças: a performance negra como corpo político”. Harper’s Bazaar Art, n. 4, abril 2015, p. 109. 15. A partir de elaboração prévia em CONDURU, Roberto. “Índices do (in)visível: performance, afro-brasilidade, política”. In ARAÚJO, Inês de (org.). Indícios. Rio de Janeiro: UERJ, 2016, p. 76-85. 16. A este respeito, ver ZACCARIA, Tadeu Mourão dos Santos Lopes. De médicos a meninos: vitalidade gemelar na escultura doméstica popular dos santos Cosme e Damião no Brasil (tese). Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2017, p. 195-196, 210-212.
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história. Obá situa o mesmo em tradições as quais não o reduz à constatação de uma memória, um passado; antes, o corpo (consciente das histórias que o situam) se assume, reflete e reverbera outros (con)textos. Problematiza os sincretismos, a religiosidade quase erótica, a dita identidade brasileira demarcada no indivíduo. Suas ações provocam a tensão em aspectos caros à tradição nacional: etnia, gênero, religião, política. Entende que o imaginário, o símbolo a ideologias de tais características atuam vivamente na mentalidade coletiva e disso tira a potência para suas obras. Intensifica a crítica por reduzi-la a um gesto, um objeto, um desenho, nos quais todo o fazer tende para um ritual; um encantamento de questões duras, violentas, que marcam grande parte de sua pesquisa. Uma violência do ato: a repetição (tão perceptível em suas performances), o cansaço físico que faz o corpo falhar, mas também o sublima e
Antônio Obá
O corpo, o ser inserido na profundidade do rito e que nos é dado como evidência da
ritualiza; uma violência estrutural que toca a historiografia brasileira e não deixa incólumes abusos relacionados ao preconceito étnico, à dominação cultural, à marginalização do diferente. A suposta profanação de ícones conhecidos (ralar a imagem de uma santa, encher de cachaça um cálice eucarístico, tecer um rosário com sisal) tende a apresentar uma conciliação intranquila dos matizes essencialmente diversos entre si que compõem a formação brasileira e vão desde o aspecto religioso (negros escravizados erguendo igrejas em Ouro Preto, a perseguição social aos terreiros de candomblé) a situações político-sociais (a substituição obrigatória de nomes africanos por nomes de santos, numa relação de anulação identitária, o embranquecimento da “raça”). Um sincretismo ampliado expoente tanto das feridas que colonizaram e insistem em colonizar os corpos, mas que também traz certa reverência acerca das influências que, afinal, o artista reconhece em suas raízes familiares e afetivas. Mítica intimista, suas performances nos lançam num abismo mudo, onde cada respiração profunda do artista propõe e conduz a um percurso no qual cada um também constrói e vive intimamente suas memórias e, no entanto, memória do povo. Envolve a todos num drama, numa trama evocativa de sentido, de sentir o que nos torna potência: resistir para existir. Antônio Obá
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Malungo, Galeria Luciana Caravello, Rio de Janeiro, RJ, 2016 Foto: Miguel Pinheiro
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AntĂ´nio ObĂĄ Malungo, Galeria Luciana Caravello, Rio de Janeiro, RJ, 2016 Fotos: Miguel Pinheiro
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Antônio Obá Malungo, Galeria Luciana Caravello, Rio de Janeiro, RJ, 2016 Foto: Miguel Pinheiro 22
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Foto: Mário Grisoli
Antônio Obá
Referências bibliográficas
Ceilândia, Distrito Federal, 1983
BARBOSA, Cinara. Antônio Obá. Prêmio Pipa – a janela para a arte contemporânea
www.antoniooba.com
brasileira – Ano 8, mai. 2017. Disponível em: <http://www.premiopipa.com/pag/ artistas/antonio-oba>.
Vive e trabalha em Brasília, Distrito Federal. Graduado em Artes
CONDURU, Roberto. Sacra imagem, corpo vital. In: OBA, Antônio. (In)Corporações
Visuais/Licenciatura pela Faculdade de Artes Dulcina de Moraes
/ Antônio Obá, curadoria Roberto Conduru - Rio de Janeiro: UERJ, DECULT, Galeria
(FADM), 2010. Artista visual, há mais de 10 anos trabalha na área de
Candido Portinari, 2016, p. 4-7. Catálogo de exposição.
Arte-Educação e atua como professor de Artes Visuais da Secretaria
CONDURU, Roberto. Índices do (in)visível - performance, afro-brasilidade, política. In:
de Educação do Distrito Federal em Taguatinga desde 2012.
ARAUJO, Inês (Org.). Índices. Rio de Janeiro: UERJ, Instituto de Artes, 2016, p. 76-85. SILVA, Carlos. Anotações sobre a obra de Antônio Obá. Brasília, mar. 2017. Disponível em: <https://www.antoniooba.com/notes-on-antonio-oba/>.
Exposições individuais Antonio Obá, Galeria Mendes Wood DM, São Paulo, 2017. Carnagem, Galeria de Arte XXX, Brasília, 2016. (In)corporações, Galeria Candido Portinari, Rio de Janeiro, 2016. Verônica, Elefante Centro Cultural, Brasília, 2013. Cultura Afro em alta, Espaço Cultura Inglesa, Brasília, 2009. Exposições coletivas South-South: Let me begin again, Goodman Gallery, Cape Town, África do Sul, 2017. 2º Salão Transborda, CAIXA Cultural, Brasília, 2016. My body is a cage, Galeria Luciana Caravello, Rio de Janeiro, 2016. ENTRE, Casa da América Latina, Brasília, 2016. ONDEANDAAONDA, Museu Nacional do Conjunto Cultural da República, Brasília, 2015. Performances Malungo, My body is a cage, Galeria Luciana Caravello, Rio de Janeiro, 2016. Nós, Carnagem, Galeria de Arte XXX, Brasília, 2016. Atos da transfiguração: desaparição ou receita para fazer um santo, Temporada Elefante,
Antônio Obá Nós, Galeria Antônio Cañizares, UFBA Salvador, BA, 2017
Elefante Centro Cultural, Brasília, 2015. Verônica, Verônica, Elefante Centro Cultural, Brasília, 2013. Vídeos e registros de performances Malungo, 2016. Nós, 2016. (https://www.youtube.com/watch?v=a0gObNm2uyk / https://www.youtube.com/watch?v=N7Dmr7YSOks) Atos da transfiguração: desaparição ou receita para fazer um santo, 2015.
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Obras na exposição Fotos
Vídeo
Malungo, Galeria Luciana Caravello, Rio de Janeiro, RJ, 2016 Fotos: Miguel Pinheiro
Nós, 2’50’’, Galeria de Arte XXX, Brasília, DF, 2016
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dos anos noventa na Bahia, em parceria com a artista Monica Medina. Destacaria dois trabalhos desse período: primeiro, a performance As Meninas, de 1988, uma crítica à hegemonia europeia presente na história da arte universal, enquanto que afirmava a minha opção pelo trágico, concebido como uma aceitação do “problemático”, do “terrível”, do dionisíaco, como características inerentes ao ser humano; segundo, o vídeo de 1993, em VHS, intitulado Olhos de Lince, uma pequena antologia sobre a miséria e os preconceitos raciais em Vitória da Conquista. Através da seleção de imagens diversas de famílias carentes dos bairros pobres e periféricos da cidade, animadas pela dicotomia entre religiosidade popular e discurso étnico de Martin Luther King, a estrutura dramática e antirracista criava uma ponte discursiva entre Vitória da Conquista e o Mississipi. Esses dois trabalhos quase que anunciam o meu incessante interesse pelas abordagens de questões de ordem civil e, em particular, raciais. Em 2000, o projeto polifônico Transmutação da Carne – que se estende até os dias de hoje, onde roupas de carne servem como suporte para as ações de “marcar a ferro” – reproduzia o hábito senhorial-escravista de marcar peças de escravos, a ferro quente, com as insígnias do seu senhor.
Ayrson Heráclito
Comecei a realizar performances e áudios visuais no final dos anos oitenta e início
Uma numerosa produção de áudios visuais e performances também irão abordar mitos, rituais e práticas oriundas do candomblé e elementos da cultura afro-brasileira e suas conexões entre a África e a sua diáspora na América. O trabalho Bori, realizado inicialmente no TCA em 2008, ganhou visibilidade nacional em 2009, no MIP 2 em Belo Horizonte. A ação consiste em oferecer comida sacrificial à cabeça de doze performers, sendo esses representações votivas e iconográficas dos doze principais orixás. Recentemente realizo O Sacudimento da Casa da Torre e O Sacudimento da Maison des Esclaves em Gorée, performances que formam um díptico cuja temática central é o “sacudimento” ou o “exorcismo” de dois grandes monumentos arquitetônicos ligados ao tráfico atlântico de escravos e à colonização. Ayrson Heráclito
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Transmutação da carne, Sesc Pompeia, São Paulo, SP, 2015 Foto: Christian Cravo
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Ayrson Heráclito As mãos do Epô, Salvador, BA, 2004
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Ayrson Heráclito Transmutação da carne, Sesc Pompeia, São Paulo, SP, 2015 Foto: Christian Cravo (à esquerda)
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Ayrson Heráclito Bori, Belo Horizonte, MG, 2009 Foto: Marcelo Terça-Nada
Ayrson Heráclito O sacudimento da Maison des Esclaves em Gorée, still de vídeo, Dakar, Senegal, 2015 (à direita, em cima)
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Ayrson Heráclito O sacudimento da Casa da Torre, still de vídeo, Salvador, BA, 2015 (à direita, embaixo)
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Ayrson Heráclito
Vídeos e registros de performances
Macaúbas, Bahia, 1968
Transmutação da Carne, Terra Comunal - Marina Abramovic + MAI, 2015; Galeria do ICBA, 2000.
Vive e trabalha entre Salvador e Cachoeira, Bahia. Doutor em
Os Sacudimentos, 2015.
Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica
Batendo Amalá, 2014.
de São Paulo, 2016. Mestre em Artes Visuais pela Universidade
Saudação ao Vodum Agbê, 2014.
Federal da Bahia, 1998. Licenciado em Artes pela Universidade
Buruburu, 2010.
Católica do Salvador, 1989. É artista visual, curador e professor
As Mãos do Epô, 2007.
do curso de Artes Visuais da Universidade Federal do Recôncavo Referências bibliográficas
da Bahia desde 2006.
CONDURU, Roberto. Arte Afro-Brasileira. Belo Horizonte: C/Arte, 2007. Exposições individuais
HERÁCLITO, Ayrson. Espaços e ações. Salvador: o Autor, 2003.
Pérola Negra, Blau Projects Galeria, São Paulo, 2016.
VOLZ, Jochen; REBOUÇAS, Júlia. Terra Comunal: Marina Abramovic + MAI. São Paulo:
Genealogy of Materials/Généalogie des Matières, Raw Material Company, Dakar, Senegal, 2015.
Edições Sesc São Paulo, 2016.
Atlântico Negro, Central Gallery, São Paulo, 2013.
Obras na exposição
MIP 2 - International Performance Manifestation, Belo Horizonte, 2009. Ecologia de Pertencimento, Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador, 2002. Exposições coletivas 57ª Edição da Bienal de Veneza, Veneza, Itália, 2017.
Fotos
Vídeos
Transmutação da carne, Sesc Pompeia, São Paulo, SP, 2015 Foto: Christian Cravo
Os sacudimentos, 8’38’’, 2015
Bori, Belo Horizonte, MG, 2009 Fotos: Marcelo Terça-Nada
10 Rencontres de Bamako, Bienal Africana de Fotografia, Bamako, Mali, 2015. Miroir-Effacement, Galeria Imane Farès, Paris, França, 2015. A Nova Mão Afro-Brasileira, Museu Afro Brasil, São Paulo, 2013.
Buruburu, 2’26’’, 2010 Transmutação da carne, 4’36’’, Terra Comunal - Marina Abramovic + MAI, 2015
Buruburu, Salvador, BA, 2010
Incorporation: Afro-Brazilian Contemporary Art, Europalia-Brasil, Centrale for Contemporary Art, Bruxelas, Bélgica, 2011-2012.
O sacudimento da Casa da Torre, still de vídeo, Salvador, BA, 2015
Performances
O sacudimento da Maison des Esclaves em Gorée, still de vídeo, Dakar, Senegal, 2015
Buruburu, The incantation of the disquieting muse, SAVVY Contemporary, Berlim, Alemanha, 2016. A fogueira, Bienal Internacional de Curitiba, Curitiba, 2015. Embostando o Museu de Etnologia de Viena, Weltmuseum Wien, Áustria, 2015. Os Sacudimentos, da Maison des Esclaves em Gorée, Dakar, 2015; da Casa da Torre, Bahia, 2015. Transmutação da Carne, Terra Comunal - Marina Abramovic + MAI: Oito Performances, Sesc Pompeia, São Paulo, 2015; Galeria do ICBA, Salvador, 2000. Batendo Amalá, Memórias Inapagáveis: Um Olhar Histórico no Acervo do Videobrasil, Sesc Pompeia, São Paulo, 2014. Bori, Full Brazilian and other rituals, Museumnacht, Oude Kerk, Amsterdam, Holanda, 2012; Manifestação Internacional de Performance, Belo Horizonte, 2009; Teatro Castro Alves, Salvador, 2008.
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Ayrson Heráclito Buruburu, Salvador, BA, 2010
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sempre puxa os fatos para si, como um redemoinho que centrifuga o tempo em lapsos de memória. Envolver e ser envolvido na obra em curso é sentir os desdobramentos rompendo delicadamente as fronteiras, ampliando-as como em um mar incessante com margens aprofundadas em direção ao que cada obra reivindica para si. Mas o sentido de tudo isso está no fazer acontecer a obra e isso só acontece estando na fronteira, no abismo que separa e une pessoas, grupos, culturas. A ideia de corpo expandido para identidades compartilhadas é o meio para a conformação de um outro espaço que não é território e, sim, fronteira coabitada. Tempo, versos, memórias que se mestiçam na obra para indicar realidades invisíveis que movem o processo, levando em consideração o que existe em qualquer tempo. Para o que ainda permanece latente e ainda não tem forma, perceber estruturas não reconhecíveis, que estão por trás do que é dito ou visto. É um embate desmontar estruturas antigas que se atualizam continuamente para retirar os véus de estruturas sem forma e vazias que drenam a potência vital. Então, discutir as forças que
Caetano Dias
Perceber o estranhamento é recuperar o incômodo para sentir. O que faço vem do cotidiano, das histórias não contadas, de lugares aparentemente indistintos. A história nem
mantêm o poder ao discutir corpo e identidade é pôr em xeque essas estruturas que tentam pacificar e anular os sentidos. A pesquisa para realizar um projeto em vídeo é o mergulho. Geralmente escolho uma situação, lugar ou pessoa como canal para esse mergulho nas filmagens para documentário e ficções. É preciso compartilhar o existir para perceber, sentir o universo em questão, sobretudo quando o que transcorre é a vida do outro, é uma tentativa de imprimir no filme aspectos subjacentes do outro. Uma relação direta entre as subjetividades que são o objeto da ação. O real é sempre ficção de alguém em seu modo de perceber e construir o mundo. Esses modos de percepção e operação são o que são e implicam em múltiplos véus de aparências e subjetividades. A intuição é o meio que permite alinhar minhas subjetividades às subjetividades do outro, é uma negociação que pode permitir esse mergulho e, com isso, gerar a percepção de coisas, ainda que realidades latentes. Esta discussão sobre as realidades pode ser entendida como o transtorno nos processos de estranhamentos, onde realidades simultâneas podem ser versões incessantes e, talvez por isso, faz-se uma tentativa de romper o lacre dos véus para deixar vazar versões de estranhamentos que se dão entre o real e a ficção. O momento tal qual aparenta, visto apenas como se apresenta, parece pobre por tentar se encerrar em si. O que é não é o que aparenta ser! Retirar os véus é descortinar estranhamentos que lubrificam a nossa percepção. Caetano Dias 34
Águas, videoperformance, Salvador, BA, 2010 35
Caetano Dias Rio Doce, urucum sobre corpo, Mariana, MG, 2016 Caetano Dias In Corpore Santo, 2017 (abaixo)
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Caetano Dias Amanhecer céu de chumbo, urucum sobre a paisagem, Rio Paraguacu, BA, 2017 (à direita)
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Caetano Dias Canto doce - Pequeno labirinto Estação Ferroviária da Calçada, Salvador, BA, 2006 38
Caetano Dias O mundo de Janiele Janiele’s world, vídeoperformance, Salvador, BA, 2007 39
Feira de Santana, Bahia, 1959 www.caetanodias.wordpress.com
Foto: Eliezer Bezerra
Caetano Dias
O mundo de Janiele, 2007. (https://vimeo.com/67191458) Canto doce - Pequeno labirinto, 2007. (Parte 1: https://vimeo.com/123972560, Parte 2: https://vimeo.com/124784807) Oxalá, 2006. (https://vimeo.com/123962002)
Vive e trabalha em Salvador, Bahia. Artista visual, cineasta e curador.
Uma, 2005.
Exposições individuais Céu de Chumbo, Blau Projects, São Paulo, 2015. Bicho Geográfico, Projeto Ocupa, Museu Palácio da Aclamação, Salvador, 2010. Transverso, Paulo Darzé Galeria de Arte, Salvador, 2010. Vestígios, Galerias de Arte Marília Razuk, São Paulo, 2006. Sobre a Virgem: estratégias para a perda de sentido, Museu de Arte Moderna,
Referências bibliográficas FILLOT, Emmanuel. Un Brésil “de muitos brasileiros” - itinéraires métis dans l’histoire et l’actualité des arts au Brésil. Africultures, França, n. 62, p. 127-132, jan./mar. 2005. Frestas - Trienal de Artes / O que seria do mundo sem as coisas que não existem?, Sesc São Paulo: São Paulo, 2015. Catálogo de exposição. MACIEL, Katia. (Org.). Transcinemas. Rio de Janeiro: Contracapa, 2009. PARENT, Sylvie. De ce monde. Revue d’art contemporain ETC, Québec, n. 85, p. 4-5, mar./maio 2009. PARENTE, André. Cinema em trânsito: Cinema, Arte contemporânea e Novas mídias.
Rio de Janeiro, 2003. Exposições coletivas I Frestas - Trienal de Artes, Sesc, Sorocaba, 2015. Incorporation: Afro-Brazilian Contemporary Art, Europalia-Brasil, Centrale for Contemporary Art, Bruxelas, Bélgica, 2011-2012. Bienal de Valência, Convento del Carmen, Valência, Espanha, 2007. Art Supernova, Art Basel, Galeria de Arte Marília Razuk, Miami, Estados Unidos, 2007. 29ª Panorama da Arte Brasileira, Museu de Arte Moderna, São Paulo, 2006 .
Rio de Janeiro: Azougue, 2012. Obras na exposição Fotos Águas, videoperformance, Salvador, BA, 2010
III Bienal de Artes Visuais do Mercosul, Santander Cultural, Porto Alegre, 2001.
Rio Doce, urucum sobre corpo, Mariana, MG, 2016
Performances Rio Doce, margens do rio Doce, Minas Gerais, 2016. Recôncavo, Salvador, 2016. Canudos, Canudos, 2016. Paraguaçu, margens do rio Paraguaçu, Bahia, 2016. Águas, videoperformance, Salvador, 2010. O mundo de Janiele, videoperformance, Salvador, 2007. Canto doce - Pequeno labirinto, Estação Ferroviária da Calçada, Salvador, 2006. Mar de dentro, videoperformance, bairro de São Cristóvão, Salvador, 2005.
Canto doce - Pequeno labirinto, Estação Ferroviária da Calçada, Salvador, BA, 2006 O mundo de Janiele, videoperformance, Salvador, BA, 2007 Mar de dentro, videoperformance, bairro de São Cristóvão, Salvador, BA, 2005 Vídeos
Religar, Metacorpos, Paço das Artes, São Paulo, 2003. Vídeos e filmes Rabeca, 2012. (https://vimeo.com/65499492) Bicho Geográfico, 2010. (https://vimeo.com/124969967) 1978 - Cidade Submersa, 2010. (https://vimeo.com/67180759) Águas, 2010. (https://vimeo.com/123949114) Passeio Neoconcreto, 2010. (https://vimeo.com/67195363) Lago, 2009. Apartamento 503, 2009. 40
Águas, 3’, vídeo, Salvador, BA, 2010 O mundo de Janiele, 3’50”, videoperformance, Salvador, BA, 2007 Caetano Dias Mar de dentro, videoperformance, bairro de São Cristóvão, Salvador, BA, 2005
Canto doce - Pequeno labirinto, 18’27”, vídeo registro, Estação Ferroviária da Calçada, Antiga Leste, Salvador, BA, 2006
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personagens que aparecem com o tronco despido, destacando o corpo negro, fora dos estereótipos e padrões sociais de beleza. Diante dos muros, discuto os limites, o que cerceia, divide o público e o privado, delimita as margens, institui o não-lugar. Os aspectos pictóricos direcionam a seleção dos muros, de forma literal, já que entre sobreposições de camadas de tinta existem veladuras, lodo, descascados, rachaduras e interferências humanas ou causadas por intempéries; e também de forma simbólica, considerando as conotações sociais e raciais atribuídas às cores. Esse corpo é um corpo silenciado pelo medo, pela insegurança, pela individualidade e efemeridade. Logo, tal silêncio é uma forma de enfermidade social, que perdura desde o período colonial. Nas fotoperformances são trabalhadas situações de enclausuramento desse corpo pela caixa de mármore e resina ou pelo excesso de informação difundida
Dalton Paula
Entre os espaços urbanos, nas ruas das cidades, elaboro com meu próprio corpo
pelos meios de comunicação. A partir de tais aspectos, investigo processos de cura relacionados aos usos e ritos litúrgicos e místicos das culturas populares, nas quais direciono um olhar atento para benzeduras, pajelanças e xamanismos, conhecimentos milenares (normalmente nãoreconhecidos) que são fundamentos das comunidades tradicionais e nos permitem pensar questões contemporâneas. Com eles, crio um jogo entre a ação, o corpo, os objetos e as plantas medicinais contidas nesse herbário negro popular, a partir do qual constroem-se possibilidades de cura, capazes de articular tais práticas populares, valores ancestrais e o corpo físico e espiritual. Essa investigação guia o trabalho Implantar Anamú, que alia os significados dessa planta (conhecida no Brasil como guiné) e o lugar onde a ação foi executada, o Forte de San Carlos de La Cabaña, em Havana/Cuba, cenário de disputas coloniais, também transformado em prisão e um importante marco, território físico e simbólico afrodiaspórico. Dalton Paula
A notícia, fotoperformance, 2013 Foto: Heloá Fernandes 42
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Dalton Paula A notícia, fotoperformance, 2013 Fotos: Heloá Fernandes
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Dalton Paula Implantar anamú, still de vídeo, Fortaleza de San Carlos de la Cabaña, Havana, Cuba, 2016 (à direita)
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Dalton Paula Corpo em quadrado B, fotoperformance, 2012 Foto: Heloรก Fernandes
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Dalton Paula Corpo em quadrado P, fotoperformance, 2012 Foto: Heloรก Fernandes
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Brasília, Distrito Federal, 1982 www.daltonpaula.com
Foto: Paulo Resende
Dalton Paula
Referências bibliográficas SCHWARCZ, L. Dalton Paula ou a arte de criar territórios negros e silenciosos. Jornal Nexo, 25 de outubro de 2016. Disponível em: <https://www.nexojornal.com.br/colunistas/2016/Dalton-Paula-ou-a-arte-de-criar-ter-
Vive e trabalha em Goiânia, Goiás. Artista visual, graduado pela
rit%C3%B3rios-negros-e-silenciosos>.
Universidade Federal de Goiás (UFG), 2011.
SOBRAL, D. Dalton Paula e a rebelião negra. Goiânia, ago. de 2016. Texto curatorial. Disponível em: <https://daltonpaula.com/dalton-paula-e-a-rebeliao-negra/>.
Exposições coletivas
SOBRAL, D. Dalton Paula e a arte de amansar senhores. Goiânia, ago. de 2016.
The Atlantic Triangle, Goethe Institut, Lagos, Nigéria, 2017.
Texto curatorial. Disponível em:
2nd Changjiang International Photography and Video Biennale, Chongquing Museum of
<https://daltonpaula.com/dalton-paula-a-a-arte-de-amansar-senhores/>.
Contemporary Art, China, 2017. BERLIN SHOW #5 – Collectors’ Loop, Galeria Plan B, Berlim, Alemanha, 2017. Incerteza viva, 32ª Bienal de São Paulo, Pavilhão da Bienal, São Paulo, 2016. Histórias Mestiças, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, 2014. Exposições individuais A irmã de São Cosme e São Damião, Galeria Alfinete, Brasília, 2016. A rebelião negra, R3 Gabinete, Goiânia, 2016. Amansa-senhor, Sé, São Paulo, 2015. E um terremoto sereno e imperceptível arrasou a cidade…, Sé, São Paulo, 2014. O Álbum, Museu de Arte Contemporânea, Sala Samuel Costa, Goiânia, 2010. Fotoperformances A notícia, 2013. Corpo em quadrado P, 2012. Corpo em quadrado B, 2012. Videoperformances Implantar anamú, Fortaleza de San Carlos de la Cabaña, Havana, Cuba, 2016. (https://vimeo.com/171020192) Unguento, Lençóis, Bahia, 2015. (https://vimeo.com/126625381) Bispo do Rosário, Cidade de Goiás, 2013. (https://vimeo.com/67433427) Coronel Castelo Negro A, Itaberaí, Goiás, 2013. (https://vimeo.com/67433424) Coronel Castelo Negro B, Itaberaí, Goiás, 2013. (https://vimeo.com/67433425) Nilo Peçanha, Brasília, 2013. (https://vimeo.com/67433426) O batedor de bolsa, Goiânia, 2011. (https://vimeo.com/139789042)
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Dalton Paula Implantar anamú, still de vídeo, Fortaleza de San Carlos de la Cabaña, Havana, Cuba, 2016
Obras na exposição Fotos
Vídeo
A notícia, fotoperformance, 2013 Fotos: Heloá Fernandes
Implantar anamú, 50’14’’, vídeo, Fortaleza de San Carlos de la Cabaña, Havana, Cuba, 2016
Corpo em quadrado P, fotoperformance, 2012 Foto: Heloá Fernandes Corpo em quadrado B, fotoperformance, 2012 Foto: Heloá Fernandes
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outros objetos criam diálogos dentro de uma trajetória humano-intelectual, refletindo a crise de identidade da sociedade pós-colonial e pós-escravocrata. Crise esta muito mais visível nas classes média e alta de países como o Brasil, que na prática não assumem a condição étnica e cultural não branca ou mestiça. Meu trabalho sugere que o cabelo exerce um efeito inegável (tanto no artista quanto no público) quando se trata de assuntos psicológicos, sociais, raciais e/ou políticos. Além disso, muito de minhas obras incorporam, de maneira física ou poética, animais, árvores, ossos e materiais orgânicos. Esses elementos aparecem nas minhas fotos, performances, desenhos e instalações pontuando minha trajetória pessoal, incorporando e recodificando elementos da cultura onde vivo, fazendo de meu trabalho um reflexo e uma metáfora de um imigrante ocidental (homem afrodescendente/mestiço “latino”) dentro do que, em teoria, seria a matriz dessa cultura clássica o continente europeu. Os trabalhos exploram este conceito não apenas com as imagens, mas também com os títulos, que são todos em latim, como na série Capillus (que significa cabelo). A ideia é dar forma poética a toda a cultura orgânica e imagética que provém do choque e da relação cultural. Esses motivos, recorrentes em minhas obras, sugerem que a arte, a mitologia em ge ral, os materiais orgânicos e a “vida cotidiana” são, em última instância, inseparáveis. Principalmente as performances e vídeos, que refletem o conceito de espaço/tempo que está conectado ou não com natureza e sociedade. João Manoel Feliciano
João Manoel Feliciano
As performances – quase sempre fotos e vídeos – com o meu cabelo interagindo com
Apollo Capillus IV, Madri, Espanha, 2016 Foto com colaboração de Marijn Van Iterson 50
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João Manoel Feliciano Carta Capillus, Olinda, PE, 2008 Foto com colaboração de Manoel Feliciano e Thiago Vieira Feliciano João Manoel Feliciano Barca Capillus, Olinda, PE, 2008 Foto com colaboração de Thiago Vieira Feliciano (à esquerda)
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João Manoel Feliciano Taurus Capillus, 2016
João Manoel Feliciano Cuprum Capillus, fotoperformance, 2008 Foto com colaboração de Thiago Vieira Feliciano 54
João Manoel Feliciano Apollo and Daphne, 2014 João Manoel Feliciano Ogum Georgius Capillus, 2017 55
Foto: Pete Purnell
João Manoel Feliciano
Referências bibliográficas Entre Trópicos - 46º05’: Cuba/Brasil CAIXA Cultural do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Tisara, 2012. 84 p. Catálogo de exposição. FLÓRIDO, Marisa. (Org). Transperformance 2: Inventários de gestos. Rio de Janeiro: F10 Editora, 2015. 190 p. Catálogo de exposição. FLÓRIDO, Marisa. Nós, o outro, o distante na arte brasileira contemporânea. Rio de Janeiro: Editora Circuito, 2014. Lat 8s Long 34w. Pernambuco: FUNDARPE, 2009. 79 p. Catálogo de exposição.
Recife, Pernambuco, 1978 www.joaomanoelfeliciano.com Vive e trabalha em Madri, Espanha. Artista. Mestrando em Arte-Terapia pela Universidad Complutense de Madrid. Graduado em Artes Plásticas pela Universidade Federal de Pernambuco (Ufpe), 2002. Exposições individuais Sonus, Instituto de Arte Contemporânea (IAC), Sesc, Ufpe, 2012. Mensagem, Galeria de Arte Dumaresq, Recife, 2012. La Performance Chorda, Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (MAMAM no Pátio), Recife, 2010. Capillus Corpus, Lokaal WV15 Gallery, Amsterdam, Holanda, 2010. Vídeo de Artista, IAC, UFPE, Recife, 2009. Capillus, Projeto Trajetórias da Fundação Joaquim Nabuco, Recife, 2008. Exposições coletivas Capillary, WM Gallery, Amsterdam, Holanda, 2017. Coloquios, Galeria Antonio de Suñer, Madri, Espanha, 2017. ULTIMÍSIMOS, Galeria Antonio de Suñer, Madri, Espanha, 2013. Transperformance 2, Oi Futuro, Rio de Janeiro, 2012. Entre Trópicos - 46º05’: Cuba/Brasil, CAIXA Cultural, Rio de Janeiro, 2012. Performances Auctarium Capillus, WM Gallery, Amsterdam, Holanda, 2017. Opus Capillus, Madri, Espanha, 2016. Mare Capillus, Praia de Serrambi, Pernambuco, 2012. Chorda, MAMAM no Pátio, Recife, 2010. Barca Capillus, Olinda, 2008. Crystallus Capillus, SPA das Artes, Recife, 2008. Mateus 6:26, 27, Tardes Performáticas com Performance, Recife, 2008. Holomentabolos, SPA das Artes, Recife, 2006.
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Vídeos e registros de performances Auctarium Capillus, 2017. (http://joaomanoelfeliciano.com/auctarium-capillus-2017/) Opus Capillus, 2016. (http://joaomanoelfeliciano.com/opus-capillus/) Draconis Capillus, 2012. (http://joaomanoelfeliciano.com/draconis-capillus-2012/) Mare Capillus, 2012. (http://joaomanoelfeliciano.com/mare-capillus-2012/) Barca Capillus, 2008. (http://joaomanoelfeliciano.com/inicio/) Mateus 6:26, 27, 2008. (https://www.youtube.com/watch?v=iSjhp496JIs) Crystallus Capillus, 2007. (http://joaomanoelfeliciano.com/crystallus-capillus-20072008/) Holomentabolos, 2005.
João Manoel Feliciano Crystallus Capillus, SPA das Artes, Recife, PE, 2007 Registro: Helder Tavares
Obras na exposição Fotos
Vídeos
Apollo Capillus IV, Madri, Espanha, 2016 Foto com colaboração de Marijn Van Iterson
Auctarium Capillus, 3’46’’, WM Gallery, Amsterdam, Holanda, 2017 Registro: Sascha Verstegen
Crystallus Capillus, SPA das Artes, Recife, PE, 2007 Registro: Helder Tavares Cuprum Capillus, fotoperformance, 2008 Foto com colaboração de Thiago Vieira Feliciano Barca Capillus, Olinda, PE, 2008 Foto com colaboração de Thiago Vieira Feliciano Carta Capillus, Olinda, PE, 2008 Foto com colaboração de Manoel Feliciano e Thiago Vieira Feliciano
Barca Capillus, 3’19’’, Olinda, PE, 2008 Vídeo: Bruno Vieira Crystallus Capillus, 7’29’’, Projeto Kairos, 2007 Fotografia/edição: Gê Carvalho Mare Capillus, 2’48’’, Praia de Serrambi, PE, 2012 Registro: Iason Pachos
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cotidiano urbano contemporâneo. Para tratar deste assunto caro não apenas para mim, mas para a população negra brasileira de modo geral, venho, há aproximadamente cinco anos, mobilizando diferentes recursos técnicos e expressivos, como instalações, esculturas, desenhos, fotografias, vídeos e performances. O tema aparece de diferentes formas, configurando, assim, a minha poética, e cada obra é um comentário crítico sobre noções como diáspora, negritude e racismo estrutural, mas também sobre a beleza de fazeres afro-orientados, como a elaboração de oferendas dedicadas aos orixás e a outros deuses de origem africana. Embora meu trabalho possa carregar, em alguns casos, forte conteúdo autobiográfico – afinal, não há como fugir da própria experiência pessoal –, busco sempre uma linguagem universal por meio de soluções plásticas que ultrapassem minhas referências culturais imediatas. Preocupo-me em pensar relações humanas positivas e respeitosas onde a troca afetiva seja possível para muito além da mercantilização da vida, algo que cada vez mais ocorre no mundo contemporâneo, onde as trocas são reduzidas apenas à moeda. Nesse sentido, sou consciente do quanto posso contribuir com minha obra para melhor integrar pessoas, no sentido de promover novas relações sociais.
Moisés Patrício
A minha pesquisa artística tem como foco principal a relação entre corpos negros e o
Comecei bem cedo – aos nove anos de idade – a ser atraído pelo fazer artístico. Lembrome da oficina de desenho e pintura promovida pelo artista argentino Juan José Balzi, o qual acompanhei durante uma década. Mas foi a partir da graduação em Artes Visuais na ECA-USP, que ingressei definitivamente no meio profissional das artes plásticas. Lá, tive a oportunidade de estudar com Carlos Fajardo, Marco Gianotti, Geraldo de Souza Dias, Ana Maria Tavares e Neide Marcondes, entre outros. Paralelamente, frequentei inúmeros cursos com artistas e críticos como Paulo Miyada, Pedro França, Sandra Cinto e outros. Moisés Patrício
Aceita?, 2013/2017 58
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Moisés Patrício Aceita?, 2013/2017 60
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Moisés Patrício Aceita?, 2013/2017 62
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São Paulo, São Paulo, 1984 www.moisespatricio.weebly.com
Foto: Marcelo Salvador
Moisés Patrício
Referências bibliográficas BISPO, Alexandre Araújo; Gomes, Christiane (colab.). O que oferecer: Moisés Patrício e as potencialidades políticas do gestor criador. In Omenelick, 2º ato, Ano IV, edição ZER015, 2015.
Vive e trabalha em São Paulo. Graduado em Artes Vi-
PATRICIO, Moisés; BRITO, Peter. A presença negra - Manifesto. In Omenelick, 2º ato,
suais pela Universidade de São Paulo, 2014. Artista
Ano IV, edição ZER015, 2015.
visual e arte-educador, trabalha com performance,
COSTA, Patrícia. A arte e o candomblé nas mãos de Moisés Patrício, Aceita?.
fotografia, vídeo, rituais e instalações em obras que lidam com elementos da cultura
Projeto Afreaka. Disponível em: <http://www.afreaka.com.br/notas/arte-e-o-can-
latina e afro-brasileira.
domble-nas-maos-de-moises-patricio-aceita/>.
Exposições individuais Aceita?, Casa Criar, Ribeirão Preto, 2017. Aceita?, Red Bull Station, São Paulo, 2016.
Obras na exposição
Aceita?, Casa do Olhar Luiz Sacilotto, Santo André, 2016. Obras Recentes, Galeria de arte Gabinet D Imagem, São Paulo, 2015.
Fotos
Vídeos
Exposições coletivas
Aceita?, 2013/2017
Vídeo arte II, 6’17’’, 2014
Metrópole: Experiência Paulistana, Estação Pinacoteca. São Paulo, 2017.
(…) dos sofrimentos físicos e morais de minha vida, e do penoso esforço de ascensão na escala social, 1’40’’, 2014
Tristes Trópicos, Galeria Mezanino, São Paulo, 2017. Bienal de Dakar, Museum of African Arts, Senegal, 2016. A Nova Mão Afro-Brasileira, Museu Afro Brasil, São Paulo, 2014. Papel de Seda, Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos - IPN Museu Memorial, Rio de Janeiro, 2014. Performances A presença negra, Instituto Tomie Ohtake, 2016; Galeria Nara Roesler, 2016; Pinacoteca do Estado de São Paulo, 2015; Galeria Luisa Strina, 2015; entre outras instituições de São Paulo. Vídeos e registros de performances Aquele que ergue o galho da árvore, 2014. (https://youtu.be/6HaxWRXufAA) Padê de Exu libertador, 2014. (https://youtu.be/DZPuB2BdHxw) Meu perfil 2, 2013. (https://vimeo.com/15437838) Meu perfil, 2013. (https://vimeo.com/15427384)
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Moisés Patrício (…) dos sofrimentos físicos e morais de minha vida, e do penoso esforço de ascenção na escala social, frame de vídeo, 2014 65
Fotografia: Hirosuke Kitamura | Criação e Performance: Michelle Mattiuzzi Andar com a cor vermelha no corpo. A tentativa é criar imagens. Ao propor uma ação na casa XIS, fico intrigada com as paredes. As chuvas em Salvador durante os últimos dias foram torrenciais, por isso, muitas lembranças foram acionadas com tanta água pela casa... As goteiras fazem parte do meu imaginário. Quando criança, minha casa alagava. Me lembro quando íamos sem nada para o pátio de um colégio público. Eram sempre dias de pânico. As paredes eram movediças. Agora faço um procedimento de tortura, na tentativa de ritualizar esse momento, que foi muito conflitante na minha vida. Um balde cheio de groselha com uma torneira goteja sobre minha cabeça. A imagem pra quem chega é chocante... Ao se aproximarem, os interlocutores sentem o cheiro doce, de modo a perceberem o vermelho-sangue do nosso imaginário violento... Com duração de cinco horas e cinquenta minutos, recebo três gotas por minuto na cabeça. Nas primeiras duas horas, sinto a temperatura do corpo cair. Aos poucos, vou entrando num estado alterado de consciência. Meu corpo fica entregue aos sintomas de embriaguez sem álcool. Luan e Oske permaneceram comigo, de modo que foram minhas referências reais na casa... Maio de 2013 Musa Michelle Mattiuzzi
Musa Michelle Mattiuzzi
Experimento II – Estudando o vermelho em dilúvio, relato de experiência
Experimentando o vermelho em dilúvio, Salvador, BA, 2013 Foto: Hirosuke Kitamura 66
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Musa Michelle Mattiuzzi Experimentando o vermelho em dilĂşvio, Salvador, BA, 2013 Fotos: Hirosuke Kitamura 68
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Musa Michelle Mattiuzzi Experimentando o vermelho em dilĂşvio, Salvador, BA, 2013 Fotos: Hirosuke Kitamura 70
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Foto: Opavivará
Musa Michelle Mattiuzzi
Referências bibliográficas
São Paulo, São Paulo, 1983
BACELLAR, Camila Bastos. Performance e feminismos: diálogos para habitar o cor-
www.musamattiuzzi.wix.com/musamattiuzzi
po-encruzilhada. Urdimento, v. 2, n. 27, p. 62-77, dezembro de 2016. BISPO, Alexandre Araújo. Corpo, festa e dor. Ativismo, estereótipos raciais e história
Musa Michelle Mattiuzzi tornou-se devir
social da arte em Michelle Mattiuzzi. In Omenelick, 2º ato, dezembro de 2013. Dis-
Musa em meados dos anos dois mil, numa
ponível em:<http://omenelick2ato.com/artes-plasticas/michelle-mattiuzzi/>.
cidade muito próspera localizada ao nordeste
BISPO, Alexandre Araújo; LOPES, Fabiana. Presenças: A performance negra como
do Brasil: Salvador de Bahia. E foi daí que ela ganhou o mundo. Hoje vive sem pedir passagem. Agora
corpo político. Harper’s Bazaar Art Brasil, abril de 2015.
está em Atenas, mirando e desobedecendo com orgulho e graça, fazendo outro corpo em referência à música de um cantor carioca. Popular ela, concorre ao prêmio Pipa na categoria online (2017). É uma garota grosseiramente fofa, gosta de desobediência, vive as luzes do fracasso. (Des)empoderada, lidera o crime desorganizado da vida. Viva, corre do medo da morte. Em comunidade, vive o patriarcado
Obras na exposição
assolado pelo discurso coletivo. É preta, é mulher, e lésbica... Vive nas ruínas, sob a paisagem da
Fotos
Vídeo
desordem do mundo.
Experimentando o vermelho em dilúvio, Salvador, BA, 2013 Fotos: Hirosuke Kitamura
Experimentando o vermelho em dilúvio, 7’35’’, Salvador, BA, 2013 Câmera: Hirosuke Kitamura
Exposições coletivas Programm Night School, WienFest Wochen, Viena, Áustria 2017. AMOQA, Museu de Arte Queer, Atenas, Grécia 2017. Oficina de Imaginação Política - Bienal de São Paulo, São Paulo, 2016. Mostra de Performance Casa da Luz, São Paulo, 2016. Exposição Multitudes, Sesc Pompeia, São Paulo, 2015. Performances
Musa Michelle Mattiuzzi Experimentando o vermelho em dilúvio, Salvador, BA, 2013 Fotos: Hirosuke Kitamura
Merci beaucoup, blanco!, Programm Night School, WienFest Wochen, Viena, Áustria, 2017; Exposição Multitudes, Sesc Pompeia, São Paulo, 2015. Experimentando o vermelho em dilúvio II, AMOQA, Museu de arte Queer, Atenas, Grécia, 2017. Performance negra, presença política nos espaços de arte, Oficina de Imaginação Política, Bienal de São Paulo, São Paulo, 2016. Experimentando o vermelho em dilúvio, Mostra de Performance Casa da Luz, São Paulo, 2016. Vídeos e registros de performances Experimentando o vermelho em dilúvio II, 2016. Merci beaucoup, blanco!, 2015. É tudo fake, 2008.
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pirâmide social brasileira. Sou mulher, e negra. Diante de tal condição, considero necessário, e até mesmo vital, que meu trabalho reflita este lugar. Discriminações, opressões, limitações que a nós são impostas, estereótipos aos quais somos enclausurados, a inserção e presença do indivíduo negro nesta sociedade atuam como principais norteadores e questionamentos presentes em meus trabalhos. Nossas experiências e vivências como sujeito negro na sociedade brasileira são ao mesmo tempo semelhantes, pois determinadas vivências de discriminação são institucionalizadas, impostas a nós em todos os nossos ambientes de convívio, negando direitos e espaços, mas são também singulares, pois somos indivíduos únicos, dotados de particularidades e subjetividades ímpares. Partindo de minhas próprias experiências, meu trabalho atua como uma espécie de enfrentamento, pois, através de ações corporais viscerais, com abordagens profundas, busco estabelecer com o público um diálogo direto e objetivo. A subalternização, redução do corpo negro a um objeto que serve, tentativa de inferiorização e menosprezo, autoestima fragilizada e os conflitos internos estão
Priscila Rezende
Eu, Priscila Rezende, juntamente a milhares de outros indivíduos, ocupo a base da
presentes nos trabalhos Bombril e Deformação, onde o cabelo, constante foco de deboches enfrentados por pessoas negras, é a matéria central dessas discussões. Por serem detentoras de uma imagem que não figura como padrão de “boa aparência”, a não representatividade e a permanência em posições de subalternidade são situações de comum conhecimento entre mulheres negras. Tais adversidades são dilaceradas em ambos os trabalhos, criando imagens potentes e intensas, que devolvem ao espectador de forma visível e concreta as ofensas internalizadas por essas mulheres. O corpo negro, em especial o feminino, é representado em estereótipos pejorativos, de hiperssexualização e mercantilização, como um corpo de fácil acesso, vendável, desfrutável, desprovido de sua privacidade e controle, como um corpo livre. Em meu trabalho, mais especificamente nas performances Barganha, Vem... pra ser infeliz e Purificação, busco me apropriar destes lugares não como representação de fraqueza, onde este corpo se mantém sobrepujado e limitado a estes lugares a ele elencados, mas sim como um corpo emancipado, que recusa tais representações e carrega em si força e poder, capaz de se impor em posição de resistência e confronto. Priscila Rezende 74
Vem... pra ser infeliz Perfura Ateliê de Performance, Sesc Palladium, Belo Horizonte, MG, 2017 Foto: Luiza Palhares 75
Priscila Rezende Barganha, Ceasa, Contagem, 2014 Fotos: Marcelo Baioto 76
Priscila Rezende Bombril, Belo Horizonte, MG, 2010 Priscila Rezende Deformação, Projeto “Empoderadas - Gritem-me, negra” Sesc Pompeia, São Paulo, 2016 Foto: Renata Martins e Nuna
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Priscila Rezende Purificação I, Centro de Artes da Maré, Rio de Janeiro, 2013 Foto: Davi Marcos
Priscila Rezende Purificação II, Mostra Entre!, Belo Horizonte, 2014 Foto: Felipe Messias
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Priscila Rezende Gênesis 09:25, Saldo de Performance, Centro Cultural BDMG, Belo Horizonte, MG, 2015 Foto: Luiza Palhares
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Priscila Rezende
Referências bibliográficas BISPO, Alexandre Araújo; LOPES, Fabiana. Presenças: A performance negra como corpo político. Harper’s Bazaar Art Brasil, abril de 2015. LOPES, Fabiana. A arte contemporânea no Brasil e as coisas que (não) existem. Omenelick, 2º ato, Ano IV, edição ZER015, 2015. MATA, Paulo Aureliano da; FREY, Tales. (Orgs.). Evocações da Arte Performática
Belo Horizonte, Minas Gerais, 1985 https://www.facebook.com/art.priscilarezende/ Vive e trabalha em Belo Horizonte, Minas Gerais. Artista visual, performer, questionadora, crítica, mulher, negra. Graduada em Artes Plásticas pela
(2010-2013). 1ª edição. Jundiaí: Paco Editorial, 2016.
Universidade do Estado de Minas Gerais, 2011. Atuou como arte-educadora no Instituto Inhotim, em Brumadinho, no Museu das Minas e do Metal, no Palácio das Artes, no Museu de Arte da Pampulha e em projetos de oficinas artísticas na rede pública de ensino de Belo Horizonte. Atualmente, é monitora no Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB), em Belo Horizonte. Exposições coletivas Perfura Ateliê de Performance, Sesc Palladium, Belo Horizonte, 2017. Divinity, Supra-Realities or the Exorcisement of Witchery, SAVVY Contemporary, Berlim, Alemanha, 2016. Saldo de Performance, Centro Cultural BDMG, Belo Horizonte, 2015. Limite Zero, Galeria Rabieh, São Paulo, 2014.
Priscila Rezende Laços, Mostra Outra Presença, Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte, MG, 2013 Foto: Luiza Palhares
Mostra Outra Presença, Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte, 2013. Performances Vem... pra ser infeliz, Perfura Ateliê de Performance, Sesc Palladium, Belo Horizonte, 2017. Re-education, The Incantation of the Disquieting Muse: On Divinity, Supra-Realities or the Exorcisement of Witchery, Galeria SAVVY Contemporary, Berlim, 2016. Gênesis 09:25, Saldo de Performance, Centro Cultural BDMG, Belo Horizonte, 2015. Deformação, Edifício Arcângelo Maletta, Belo Horizonte, 2015. Purificação III, Galeria Mama/Cadela, Belo Horizonte, 2014. Barganha, Ceasa, Contagem, 2014. Purificação II, Mostra Entre!, Belo Horizonte, 2014. Purificação I, Centro de Artes da Maré, Rio de Janeiro, 2013. Bombril, Escola Guignard, Belo Horizonte, 2010. Laços, Escola Guignard, Belo Horizonte, 2010. Vídeos e registros de performances Deformação, 2016. (https://www.facebook.com/art.priscilarezende/videos/1695537614077059/) Gênesis 09:25, 2015. (https://www.youtube.com/watch?v=s-rpf7QZOTI&t=116s) Bombril, Museu Capixaba do Negro, Vitória, 2015. (https://www.youtube.com/watch?v=AGXeK5Car-U&t=4s) Barganha, 2014. (https://vimeo.com/213462950) Bombril, Museu Memorial Minas Gerais Vale, Belo Horizonte, 2013. (https://www.youtube.com/ watch?v=2uEWS9eNPmE&t=10s)
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Obras na exposição Fotos
Vídeos
Vem... pra ser infeliz Perfura Ateliê de Performance, Sesc Palladium, Belo Horizonte, MG, 2017 Foto: Luiza Palhares
Barganha, 2’59’’, Às Se7e Filmes, 2014
Laços, Mostra Outra Presença, Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte, MG, 2013 Foto: Luiza Palhares Deformação, Projeto “Empoderadas - Gritem-me, negra” Sesc Pompeia, São Paulo, 2016 Foto: Renata Martins e Nuna Gênesis 09:25, Saldo de Performance, Centro Cultural BDMG, Belo Horizonte, MG, 2015 Foto: Luiza Palhares Bombril, Belo Horizonte, MG, 2010
Bombril, 35’’, Galeria Rabieh, São Paulo, SP, 2014 Registro: Fabiana Lopes Deformação, 1’07’’, Projeto “Empoderadas Gritem-me, negra”, de Renata Martins, 2016 Gênesis 09:25, 4’51’’, Centro Cultural BDMG, Belo Horizonte, MG, 2015 Registro: Saldo de Performance
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Sou paulistana, de família de cinco filhxs, crescida na periferia. Deparei-me com a marginalização imposta ao ser mulher, negra e periférica por volta dos 15 anos. Logo percebi que não ser padrão não cabia na minha existência. Então, minhas vivências são polarizadas, da doçura à amargura, por vezes sem a transição suave destes sabores. Provavelmente, desde sempre eu performe porque me recordo de pessoas que diziam que eu deveria ser “atriz”. Porque era engraçada, extrovertida, sagaz, simpática. Todas qualidades, ou melhor, artimanhas desenvolvidas e potencializadas para viver de forma menos tensa. Da experiência na educação formal até a finalização do doutorado, bem uns 30 anos se passaram e consegui me encontrar, juntamente com um imenso prazer nisso, ao que essas experiências forjaram. Paralelamente, convivo com o fato de ser hoje uma mulher absolutamente fora dos ideais a mim imputados, por ser acadêmica, por ser artista, por recusar a necessidade de um homem ao meu lado como um motivo para estar no mundo, por ser mãe e tratar abertamente da carga financeira, afetiva e psicológica que
Renata Felinto
Performar a vida
envolve sê-la sozinha. O meu modo de ser sempre veio acompanhado de comentários pouco criativos e generalistas como “louca”. Sim, porque mulheres que questionam são as loucas. Assim, nas artes visuais exercitei a minha sanidade a partir do que xs outrxs denominaram enquanto loucura. Meus trabalhos sempre partiram de meus incômodos, problematizações, constatações, reflexões acerca de mim no mundo, da minha relação com as pessoas, que são os seres mais interessantes que existem neste planeta. Cada pessoa como um universo. Entre 2010 e 2011, desliguei-me/desligaram-me de um emprego formal e Afro Retratos surgiu aí. Uma série de pinturas nas quais me desvinculei propositalmente da tradição da pintura produzida no Brasil, me representei como mulher de vários lugares. Foi o pontapé para pensar-me na performance como linguagem em diálogo constante com a (minha) vida, com o que pulsa, respira, transpira. Da crítica aos padrões de beleza, comportamento e consumo de White Face and Blonde Hair (2012) à minha metamorfose territorial e interna promovida pela abrupta mudança de São Paulo para o Ceará em 2016, sozinha com dois bebês em Haliaeetus Leucocephalus Female Africanus ou Caminho Reverso com Versos de Ardor (2017), estou sempre ressignificando-me como mulher vitruviana, sendo eu a medida de todas as coisas. No que produzo não existe uma distância formal e conceitual em relação à vida, performo a vida. 82
Renata Felinto
White face and blonde hair, São Paulo, SP, 2012 Foto: Crioulla Oliveira 83
Renata Felinto White face and blonde hair, SĂŁo Paulo, SP, 2012 Fotos: Crioulla Oliveira
Renata Felinto Haliaeetus Leucocephalus Female Africanus ou Caminho reverso com versos de ardor, Juazeiro do Norte, CE, 2017 Fotos: Carlene Cavalcante
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Renata Felinto Danço na terra em que piso, Sesc do Carmo, São Paulo, SP, 2013 Foto: Marina Arruda 86
Renata Felinto Brunch para Exu, São Paulo, SP, 2013 Foto: Marina Arruda 87
São Paulo, São Paulo, 1978
Foto: Gabi Trevisan
Renata Felinto
Vive e trabalha no Crato, Ceará. Doutora em Artes Visuais pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), 2016. Especialista em Curadoria e Educação em Museus de Arte pelo Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, 2009. Mestra em Artes Visuais pela Unesp, 2004. Graduada em Artes Plásticas pela Unesp, 2002. É artista visual, pesquisadora e professora adjunta no Setor de Teoria da Arte da Universidade Regional do Cariri. Exposições coletivas Metrópole: Experiência Paulistana, Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo, 2017. Diálogos Ausentes, Instituto Itaú Cultural, São Paulo, 2016. Afro como Ascendência, Arte como Procedência, Sesc Pinheiros, São Paulo, 2013. Tempos de Abolição, Tempos de Escravidão: Iconografias e Textos, Museu Afro Brasil, São Paulo, 2010. São Paulo SP, Imagens Perversas e Inocentes, Museu Afro Brasil, São Paulo, 2007.
Referências bibliográficas ARAUJO, Emanoel (Org.) A mão afro-brasileira: significado da contribuição artística e histórica. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo; Museu Afro Brasil, 2010. BISPO, Alexandre Araújo; LOPES, Fabiana. Presenças: A performance negra como corpo político. Harper’s Bazaar Art Brasil, abril de 2015. BOUSSO, Daniela. Quem são os artistas negros da arte contemporânea. Revista Select, agosto de 2016. Disponível em: <http://www.select.art.br/quem-sao-os-artistas-negros-de-arte-contemporanea/>. BRITO, Maira de Deus. Saiba quais são os artistas plásticos negros reagem à segregação do mercado. Correio Braziliense, fevereiro de 2015. Disponível em: <http:// www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/diversao-e-arte/2015/02/28/interna_diversao_arte,473273/saiba-quais-sao-os-artistas-plasticos-negros-reagem-a-segregacaodo-mercado.shtml>. DIALLO, Aicha. Race, Art and Publishing in Contemporary Brazil: The Art of the Black Atlantic I. Contemporary And, março de 2016. Disponível em: <http://www.contemporaryand.com/magazines/the-art-of-the-black-atlantic-ii/>.
Exposições individuais White Face and Blonde Hair, exposição itinerante pelas unidades do Sesi do Estado de São Paulo, 2016. Afro Retratos, 1ª Mostra Cultural da Mulher Afro, Latino-Americana e Caribenha, Centro de Cultura e Formação da Cidade Tiradentes, São Paulo, 2015. Afro Retratos: A Identidade de Nós, Sesc Carmo, São Paulo, 2014. Afro Retratos, II Prêmio Expressões Culturais Afro-Brasileiras, Tracker Tower, São Paulo, 2012. Penso, logo resisto, Sesc Bauru, Bauru, 2004.
Obras na exposição Fotos White face and blonde hair, São Paulo, SP, 2012 Fotos: Crioulla Oliveira Haliaeetus Leucocephalus Female Africanus ou Caminho reverso com versos de ardor, Juazeiro do Norte, CE, 2017 Fotos: Carlene Cavalcante
Performances Haliaeetus Leucocephalus Female Africanus ou Caminho Reverso com Versos de Ardor, Juazeiro do Norte, 2017. Danço na Terra em que piso, São Paulo, 2013. Brunch para Exu, São Paulo, 2013.
Brunch para Exu, São Paulo, SP, 2013 Fotos: Marina Arruda
White Face and Blonde Hair, São Paulo, 2012. Vídeos e registros de performances Haliaeetus Leucocephalus Female Africanus ou Caminho Reverso com Versos de Ardor, 2017. Danço na terra em que piso, 2013. (https://vimeo.com/105755526) Brunch para Exu, 2013. (https://vimeo.com/107784579) White Face and Blonde Hair, 2012. (https://www.youtube.com/watch?v=r1WqvnAhE6Q)
Renata Felinto Brunch para Exu, São Paulo, SP, 2013 Fotos: Marina Arruda
Danço na terra em que piso, Sesc do Carmo, São Paulo, SP, 2013 Foto: Marina Arruda Vídeos Haliaeetus Leucocephalus Female Africanus ou Caminho reverso com versos de ardor, 4’25’’, 2017 Danço na terra que piso, 9’24’’, Sesc do Carmo, São Paulo, SP, 2013 Filmagem, edição e trilha sonora: Marcos Felinto
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Desde o ano 2000, os trabalhos que tenho criado remetem à percepção do homem contemporâneo ao espaço físico que ele ocupa. A organização, a percepção e a utilização do espaço físico caracterizam o comportamento social e demonstram características da identidade do homem no espaço/tempo da sua existência. Dessa forma, ao sobrepor diferentes espaços, desde espaços domésticos e íntimos – como quartos e cozinhas (quarto-cozinha/2006) – até institucionais – como supermercado e cinema (SuperCine ma/2011) –, eu imagino, dentre outras coisas, estar trabalhando também com as características da identidade do homem contemporâneo, que são complexas, simultâneas e atravessadas pela sobreposição de interesses e conteúdos da sua época. A representação do espaço, sua funcionalização e desfuncionalização, sempre presentes em meus trabalhos, abordam esses interesses. O trabalho O espaço se torna lugar na medida em que eu me familiarizo com ele/2016-2017 é composto por várias fotos que são realizadas na medida em que eu caminho para dentro de uma paisagem na qual eu nunca estive antes. Durante essa caminhada, eu olho para os quatro cantos com o objetivo de me apropriar de sua vastidão e desse espaço. Na medida em que executo este procedimento, o espaço torna-se familiar. Começo a me situar dentro dele, a achar pontos de referências (árvore, pedra, montanha) que tornem mais fáceis a minha localização. Dessa forma, o espaço se torna lugar, na medida em que eu me aproprio dos elementos que o compõem. Além das fotos, compõem o trabalho formas de representação espacial do lugar onde as fotos foram realizadas (como mapas topográficos com curvas de nível e imagens de satélites coordenadas geográficas do lugar), bem como a orientação da caminhada em relação ao norte geográfico (o azimute). Uma trilha sonora é realizada a partir da linha da paisagem, derivando em uma outra forma de representação do espaço/lugar apresentado. As paisa gens selecionadas para o trabalho foram escolhidas de forma aleatória, durante viagens de carro pela América Latina que têm sido realizadas partindo e chegando a Porto Alegre. A escolha pela América Latina se dá porque, embora vários países tenham fronteiras amplas entre si e as histórias desses países se cruzem ao longo desses 500 anos, as interações entre eles, culminadas, por exemplo, no tratado do Mercosul, sempre finalizam em fracasso. Ultimamente, as características político-econômicas do mundo contemporâneo tornam a relação entre esses países propositadamente mais frágil, de forma que o cidadão sul-americano nunca se apropria desse espaço. Foucault e vários geógrafos (e.g. Yi-Fu-Tuan) sugerem que a diferença entre espaço e lugar se dá não apenas na organização dos objetos que os compõem, mas também no grau de familiarização que cada um tem em relação ao espaço que o circunda. Dessa forma, o espaço pode se tornar lugar na medida em que cada um se familiariza com esse espaço. Lugar requer afeto, íntima relação, reconhecimento da organização espacial. Rommulo Vieira Conceição 90
Rommulo Vieira Conceição
O espaço se torna lugar na medida em que eu me familiarizo com ele/2015-2017
Calingasta, Uspallata Argentina 2015 Foto: Cláudio G. Becker 91
Rommulo Vieira Conceição Calingasta, Uspallata Argentina 2015 Fotos: Cláudio G. Becker 92
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Rommulo Vieira Conceição O espaço se torna lugar na medida em que eu me familiarizo com ele, still de vídeo, 2015/2017 94
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Rommulo Vieira Conceição
Referências bibliográficas
Salvador, Bahia, 1968
ALBUQUERQUE, Fernanda. Vitrine: Rommulo Conceição. 8ª Bienal do Mercosul:
www.rommulo.com
Ensaios de Geopoética; Fundação Bienal do Mercosul, Porto Alegre, RS, setembro de 2011. Catálogo de exposição.
Vive em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Trabalha em Porto Alegre
CARVALHO, Osvaldo. O Arquiteto do Óbvio e do Ambíguo. Folder da exposição “Na
e São Paulo. Mestre em Artes Visuais pela Universidade Federal
Ausência do Primeiro, Preencha com o Segundo”. Arte & Ensaios, 2013.
do Rio Grande do Sul (UFRGS), 2007. Doutor em Ciências pela
CHIARELLI, Tadeu. Sobre a mostra Territórios: artistas afrodescendentes no acervo da
UFRGS, 1999. Graduado em Geologia pela Universidade Federal
Pinacoteca. São Paulo: Pinacoteca do Estado, 2016, 128 p. Catálogo de exposição.
da Bahia, 1992. Artista visual que trabalha com diversos meios,
FARIAS, Agnaldo. Rommulo Vieira Conceição. Revista DasArtes, n. 36, 2014, p. 28-32.
como instalação, objetos, escultura, desenho e fotografia,
Disponível em: <dasartes.com.br/materias/rommulo-vieira-conceicao/>.
explorando as sutilezas de percepção do espaço na contemporaneidade e as relações do homem
LOPES, F. Território silenciado, território minado: contranarrativa da produção de artistas
contemporâneo no mundo atual.
afro-brasileiros contemporâneos. São Paulo: Pinacoteca do Estado, 2016, 128 p. Catálogo de exposição.
Exposições individuais O meu e o seu espaços se encontram em área de cor tênue, Instituto Goethe, Porto Alegre, 2015. Qualquer Lugar, Galeria Casa Triângulo, São Paulo, 2013. Cuidadosamente, Através, Galeria Mario Schenberg, Funarte, São Paulo, 2012. Carefully Through, ProArtibus Art-residence Gallery, Ekenäs, Tammisaari, Finlândia, 2009. Número 5 - Torreão, Torreão, Porto Alegre, 2003. Exposições coletivas Territórios: artistas afrodescendentes no acervo da Pinacoteca, Estação Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo, 2016. What’s Your Location?, Contemporary Art Plataform, Kuwait, 2016. Biografia da Vida Urbana - X Bienal do MERCOSUL, Memorial do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2015. Singularidades/Anotações: Rumos Artes Visuais 1998-2013, Itaú Cultural, São Paulo, 2014. O Agora o Antes, uma Síntese do Acervo do MAC, Museu de Arte Contemporânea da USP, São Paulo, 2013. Agora: Simultâneo/Instantâneo, Santander Cultural, Porto Alegre, 2011. Videoperformance
Rommulo Vieira Conceição Córdoba, Argentina 2015 Foto: Cláudio G. Becker
O espaço se torna lugar na medida em que eu me familiarizo com ele, 2015/2017. Obras na exposição
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Fotos
Vídeo
O espaço se torna lugar na medida em que eu me familiarizo com ele, still de vídeo, 2015/2017
O espaço se torna lugar na medida em que eu me familiarizo com ele, 37’49’’, 2015/2017 97
Espírito Santo, Brasil. Durante anos trabalhei como professora de Arte com adolescentes, jovens e adultos em escolas públicas de Vitória. Em 2007, iniciei experiências de ação e intervenção urbana e, alguns anos depois, passei a me dedicar à performance. Uma boa parte da minha prática artística ganhou contornos através de jornadas temporárias e imersivas em festivais e residências, pois, nessa época, me dividia entre ser professora e artista, atividades que, em alguns momentos, se integravam e, em outros, se distanciavam completamente. Desde então, a base do meu trabalho tem sido a performance, que cresceu sustentada por essa necessidade de ação, deslocamento e, ao mesmo tempo, resistência. Ao longo do percurso, inúmeras transformações me fizeram também seguir por outras vias, que hoje perpassam por produção de filmes e vídeos, objetos, desenhos, colagens etc. Me interessa pensar o fazer artístico de maneira ampla para tentar extrair o máximo de qualquer tema que me proponho a investigar como ponto de partida. Aprecio mais o site-time specific do que o ateliê, pois me interessa justamente o desafio de transportar conceitos para locais estranhos e desconhecidos, onde inevitavelmente terei que lidar com o imprevisível, com o que está à disposição, por vezes incluindo a
Rubiane Maia
Estudei Artes Visuais e mestrado em Psicologia Institucional na Universidade Federal do
precariedade. Diante disso, ocupo-me em (re)elaborar constantemente a minha noção de território existencial (espacial, temporal, social, cognitivo etc.), cultivando uma atração por estados de sinergia e fazendo uso do corpo para ampliar essas percepções para além do habitual. Com isso, considero importante relações de afeto e fluxo que nem sempre são visíveis, incluindo a poesia, um intercessor constante que tem me levado a crer que exerço algum tipo de militância pelo sensível e adotando uma premissa contínua de que a vida sempre pode operar numa potência mais expandida. Interessa-me o detalhe, tudo aquilo que sobra, que não cabe numa imagem, nem mesmo numa ação, e me debato numa eterna tentativa de alcançar o inalcançável. Inevitavelmente, o que exponho como obra são rastros temporários desses questionamentos, dessa incompletude. Atualmente, dedico-me ao estudo de processos telecinéticos (manipulação consciente de energia, campos de força); à interdependência entre corpos, objetos (coisas) e forças da natureza; e à resiliência silenciosa perante às incontáveis microrrevoluções cotidianas. Rubiane Maia
Baile, still de vídeo, vídeo experimental, performance, Cemitério do Peixe, Conceição do Mato Dentro, MG, 2015 (fotos seguintes) 98
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Foto: Tete Rocha
Rubiane Maia Caratinga, Minas Gerais, 1979 www.rubianemaia.com Vive e trabalha entre Vitória, Espírito Santo, e Londres, Inglaterra. Mestre em Psicologia Institucional pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), 2011. Graduada em Artes Visuais pela Ufes, 2004. É artista e trabalha no cruzamento entre a performance, a instalação e o vídeo, além de flertar com o desenho, a colagem, o cinema e a literatura. Exposições individuais À Primeira Vista: uma maçã e duas cadeiras, Sesc Vila Mariana, São Paulo, 2015. Exposições coletivas Das Virgens em Cardumes e da Cor da Auras, Museu Bispo do Rosário, Rio de Janeiro, 2016. Passe/Impasse, Blueproject Foundation, Barcelona, Espanha, 2016. Terra Comunal - Marina Abramovich + MAI, Sesc Pompeia, São Paulo, 2015. Modos de Usar, Museu de Arte do Espírito Santo, Vitória, 2015. 9th Kaunas Biennial UNITEXT, National Museum of M. K. Ciurlionis, Kaunas, Lituânia, 2013. Performances La Mesa, Instituto de Artes Gráficas de Oaxaca - IAGO, Oaxaca, México, 2016. Cartas de Vento, Galeria Península, Porto Alegre, 2016. Próximo a uma direção invisível, Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea, Rio de Janeiro, 2016. Where everyone sees, Ongoing, Embassy of Brazil in London, Londres, UK, 2016. Caminho do Chá, PER-FORMA, Sesc Bom Retiro, São Paulo, 2016. Banquete, p.ARTE, Bicicletaria Cultural, Curitiba, 2015. Exercícios Aéreos, Corpo Contínuo, Sesc Santana, São Paulo, 2015 Span, Performapa, Sesc Ipiranga, São Paulo, 2015. Anamnese, Performance em Encontro, Sesc Campinas, Campinas, 2015. O Jardim, Sesc Pompeia, São Paulo, 2015. Travessia, V Bienal de Performance Deformes, Santiago e Valdivia, Chile, 2014; Espírito Mundo Paris, Paris, França, 2012. Delírio, Central Galeria - Mostra Performatus #1, São Paulo, 2014; TRAMPOLIM Plataforma de Encontro com a Arte da Performance, Vitória, Rio de Janeiro e Fortaleza, 2011. Decanto, até quando for preciso esquecer, Exchange Dublin, Dublin, Irlanda, 2013; Espírito Mundo Portugal, Porto, Portugal, 2013; Hacklab LIS - Ufes, Vitória, 2013. Observatório, Laboratório Curatorial: SP Arte, São Paulo, 2013. Transferência. Talvez o nascimento das lágrimas, Boom Global Creative Action, Rio de Janeiro, 2012; I Venice International Performance Art Week, Veneza, Itália, 2012. Incubação. Transbordamento para corpo d’água, XI Festival de Apartamento, Campinas, 2012. 104
Vermelho-bicho (Interlúdio), Sarau Literário Cronópio - UFES, Vitória, 2012. Observatório, II Circuito de Performance Bode Arte, Natal, 2012. Caminho do Chá, Olhares sobre o Corpo, Uberlândia, 2012. Labirinto, Espírito Brum Festival, Birmingham, Inglaterra, 2012. À Flor da Pele, 10° SPA das Artes, Recife, 2011; TRAMPOLIM Plataforma de Encontro com a Arte da Performance, Vitória, Rio de Janeiro e Fortaleza, 2011. Vídeos e registros de performances Janela Temporária. À Luz das Sombras, 2016. (https://vimeo.com/227758491) Apanhador de Vento, 2016. (https://vimeo.com/187504788) Preparação para Exercício Aéreo, o Deserto - I, II e III, 2016. (https://vimeo. com/163156315)(https://vimeo.com/163159242)(https://vimeo.com/164831630) Baile, 2015. (https://vimeo.com/132151531) - (Fragmento), (https://vimeo. com/164831655) 386 Passos além, 2015. (https://vimeo.com/133099953) Antes que eu esqueça, 2014. (https://vimeo.com/131291488) Esboços de um corpo desconhecido - N˚ 1 e N˚ 2, 2014. (https://vimeo.com/130802193)(https://vimeo.com/133410409) Delírio, 2014. (https://vimeo.com/159926694) Transferência. Talvez o nascimento das lágrimas, Nuvem - Estação Rural de Arte e Tecnologia, Residência de Verão, Visconde de Mauá, 2013. (https://vimeo. com/135178536); I Venice International Performance Art Week, Palazzo Bembo, Veneza, Itália, 2012. (https://vimeo.com/172835211) Entre Nós, 2012. (https://vimeo.com/225134790) Vermelho-bicho (interlúdio), 2012. (https://vimeo.com/135180949) Encuentro. Entonces yo digo sí, lo acepto, 2011. (https://vimeo.com/225134686) À Flor da Pele, 2011. (https://vimeo.com/225134595) Obras na exposição Fotos
Vídeos
Baile, still de vídeo, vídeo experimental, performance, Cemitério do Peixe, Conceição do Mato Dentro, MG, 2015
Baile, 8’8’’, vídeo experimental, performance, duração: 10 dias, Cemitério do Peixe, Conceição do Mato Dentro, MG, 2015 Baile (fragmento I), 9’14’’, vídeo experimental, performance, duração: 10 dias, Cemitério do Peixe, Conceição do Mato Dentro, MG, 2015 Baile (fragmento II), 9’14’’, vídeo experimental, performance, duração: 10 dias, Cemitério do Peixe, Conceição do Mato Dentro, MG, 2015 105
nas palavras do outro. Pois sabe que não é um animal. E, justamente, no instante mesmo em que descobre sua humanidade, começa a polir as armas para fazê-la triunfar. Frantz Fanon, em Os condenados da Terra O meu processo de composição artística imerge nos contextos socioculturais da Bahia (local em que fui gerado) como uma perspectiva de refletir sobre a produção das afrobrasilidades e seus possíveis desdobramentos poéticos. Nas obras, a performance é utilizada como ponto de partida e, para além de ser uma ação no tempo e espaço, essa linguagem exprime a presença de complexas inscrições identitárias que atravessam meu corpo e minha existência. Numa primeira fase, estava empenhado em entender como a arte contemporânea poderia operar numa interface com outros tipos de produções protagonizadas pelo povo em cenas populares do Recôncavo da Bahia. Existia ali uma cercania com as simbologias religiosas das populações negras, numa tentativa de repensar imagens e narrativas através de deslocamentos e estranhamentos provocados pela performance.
Tiago Sant’Ana
O colonizado dá uma gargalhada cada vez que aparece como animal
Atualmente, o meu campo de investigação poética está circunscrito num esforço de compreender como ainda vivemos sob uma égide colonial, mesmo depois do desembarque do violento sistema de exploração português das terras brasileiras. Os processos históricos vividos numa nação que sofreu anos de exploração e de violências sistêmicas deixaram feridas abertas e deram/dão sustentação a um conjunto de hierarquizações sociais e raciais. A cidadania negra continua a ser negada de forma estrutural e a materialidade dos corpos negros é considerada como desimportante. Em Apagamento #1, a partir de uma ação que durou 30 dias, registro o meu cabelo crescendo e cobrindo a inscrição “Cabula”, gravado em minha cabeça – nome de um bairro de Salvador onde 12 jovens negros foram assassinados pela polícia em janeiro de 2015. A partir de 2016, começo a compor a série Manufatura e colonialidade. Nela, o açúcar como material orgânico e a força de trabalho como compulsoriedade compõem ações que rememoram a permanência dessa chaga colonial e seus sistemas de hierarquização. Essa série continua através da ativação de ruínas de antigos espaços coloniais na região do Recôncavo por meio de performances. A série parte da consciência de que o próprio sistema colonial é estruturado em cima de ruínas, de precarização de subjetividades e corpos – mas, felizmente, nós não nos conformamos nunca. Tiago Sant’Ana
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Apagamento #1, still de vídeo, 2017
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Tiago Sant’Ana Bejè Oró #3, fotografia (díptico), 2013
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Tiago Sant’Ana Composições simples para ouvir ancestrais, fotoperformance, 2013 Tiago Sant’Ana Refino (série Manufatura e colonialidade), Festival de Performance da Luz, Centro Cultural Casa da Luz, São Paulo, SP, 2016 Fotos: Marcelo Paixão 110
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Tiago Sant’ana
Anunciação, 2016. (https://vimeo.com/173402508) Desígnio, 2016. (https://vimeo.com/180444334) Doce X (Bala para Cosme e Damião), 2012-2013. (https://vimeo.com/76832831) Como explicar Rousseau, a origem da propriedade privada e o homem em estado de natureza para 20 quilos de peixe fresco, 2012. (https://vimeo.com/76832831) Chagas #2, 2012. (https://vimeo.com/65183088)
Santo Antônio de Jesus, Bahia, 1990 www.tiagosantanaarte.wordpress.com Vive e trabalha em Salvador, Bahia. É artista da performance e doutorando em Cultura e Sociedade na Universidade Federal da Bahia (Ufba). Mestre em Cultura e Sociedade pela Ufba, 2016. Graduado em Comunicação
Referências bibliográficas HERÁCLITO, Ayrson Novato Ferreira e MARTINEZ, Violeta. Grupo Mandu performanceart: uma experiência de intercâmbios estéticos. ANPAP, 19º Encontro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas, “Entre Territórios”, 20 a 25/09/2010 Cachoeira - Bahia - Brasil. HERÁCLITO, Ayrson Novato Ferreira e SANT’ANA, Tiago. Axés e pertencimentos: marchetaria entre mitologias contemporâneas afro-brasileiras e performance-arte. ANPAP, 22º Encontro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas, “Ecossistemas Estéticos”, 15 a 20/10/2013, Belém - Pará - Brasil. LOPES, Tadeu. De médicos a meninos: vitalidade gemelar na escultura doméstica popular dos santos Cosme e Damião no Brasil. Disponível em: <https://drive.google. com/open?id=0B-9SrK_S19meZmwyZGVOc08tWFpWRWgwTkFJZ2FlXzVvTFIw>.
Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, 2012. É integrante do Coletivo OSSO de Performances Urbanas, no qual é curador e organiza MOLA – Mostra OSSO Latino Americana de Performances Urbanas – e Incorpora – encontros virtuais em performance. Foi curador-assistente da 3a. Bienal da Bahia, 2014. Exposições coletivas Axé Bahia - The Power of Art in an Afro-Brazilian Metropolis, Fowler Museum at UCLA, Los Angeles, 2017. Orixás, Casa França-Brasil, Rio de Janeiro, 2016. Reply All, Grosvenor Gallery, Manchester, 2016. Salão de Artes Visuais da Bahia, Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador, 2014. 13º Salão Nacional de Artes de Itajaí, Casa da Cultura, Itajaí, 2013. Performances Refino (série Manufatura e colonialidade), Festival de Performance da Luz, Centro Cultural Casa da Luz, São Paulo, 2016. Fundanga - Sozinho a gente não vale nada, Casa Ibriza, Rio de Janeiro, 2016. Atravessando Estácio - Sozinho a gente não vale nada, Casa Ibriza, Rio de Janeiro, 2016. Doce X (Bala para Cosme e Damião), Salões de Artes Visuais da Bahia - Galeria da Cidade do Saber, Camaçari, 2014. Como explicar Rousseau, a origem da propriedade privada e o homem em estado de natureza para 20 quilos de peixe fresco, Mostra OSSO Latino Americana de Performances Urbanas, Trancoso, 2013. Chagas #2, Mostra OSSO Latino Americana de Performances Urbanas, Arraial D’Ajuda, 2013. Chagas, Mostra de performances urbanas com Tiago Sant’Ana e Zmário, Estação da Lapa, Salvador, 2011. Proposições para o Recôncavo #2, Corpo aberto Corpo fechado, Galeria Cañizares, Salvador, 2011. Proposições para o Recôncavo #1, I Virada Cultural do Recôncavo, Centro Cultural Dannemann, São Félix, 2010. Nas coxas, Mostra MANDU de Performances Urbanas, Casa de Câmara e Cadeia, Cachoeira, 2010. Bejè Oró, Caruru dos 7 poetas em Cachoeira (com grupo Mandu), 2009. Reencantamento de um discurso do corpo, Centro Cultural Dannemann, São Félix (com grupo Mandu), 2009. Vídeos e registros de performances Refino #2 (Da série Manufatura e colonialidade), 2017. (https://youtu.be/cf6qk0f0JoQ) Apagamento #1, 2017. (https://vimeo.com/209109625) Refino (Da série Manufatura e colonialidade), 2016. (https://vimeo.com/191866957) Fundanga, 2016. (https://vimeo.com/185552045) 112
Obras na exposição Fotos Bejè Oró #3, fotografia (díptico), 2013 Apagamento #1, still de vídeo, 2017 Composições simples para ouvir ancestrais, fotoperformance, 2013 Desígnio, still de vídeo, 2016 Vídeos Apagamento #1, 1’17’’, 2017 Fundanga, 2’46’’, 2016 Desígnio, 5’48’’, 2016 Tiago Sant’Ana Desígnio, still de vídeo, 2016
Refino (da série Manufatura e colonialidade), 7’1’’, 2016 113
Versão em inglês / English version
Black indices – between the (in)visible and the future Roberto Conduru
Since 1861, CAIXA has been present in the history of every Brazilian, granting affordable credit, providing financing for housing, the development of cities – through investing in infrastructure and basic sanitation projects – or in executing and administering Federal Government social programs. As a financial institution, an agent of public policies and strategic partner of the Brazilian State, its mission is to act to promote citizenship and sustainable development of this country. CAIXA sees its duties as motivation to be present at times in the life of the Brazilian people, getting closer to their needs and concerns and participating in their achievements. In this context, nothing more natural than CAIXA getting up close to Brazilian culture, providing access to the most varied artistic and intellectual expressions and contributing to the preservation of Brazil’s historical heritage. Through its programs in the CAIXA cultural spaces, present in seven Brazilian capital cities, over the last decades, the institution has run projects that promote the intellectual and cultural education of the population. The Museum and the Caixa Gente Arteira Educational Program complement this effort in educating the public and disseminating artistic and cultural knowledge and practices. 114
This is the background to CAIXA sponsoring the exhibition Negros Indícios (Black Indices), bringing together the contemporary production of 12 Afro-descendent artists from different regions of the country, who work in the field of performance. The exhibition features selections of videos and photographs connected by poetic affinities. The program completes a cycle of performances that takes place next to November 20, when National Black Consciousness Day is celebrated in Brazil. With this project, CAIXA is confirming its cultural policy, its social vocation and its purpose of democratizing access to its spaces and its artistic programming. This way, it is fulfilling its institutional role of stimulating the dissemination and exchange of knowledge, contributing to the affirmation of the Brazilian identity, as well as to the strengthening, renewal and expansion of the arts in Brazil and the culture of our people. Caixa Econômica Federal
The writer, sculptor, editor, curator and museologist, Emanoel Araújo has never done performances. However, it is difficult to imagine anyone who has fought for the affirmation of blackness in the art milieu of São Paulo more than he, with his actions since the 1980s and especially since 2004, when he set up Museu Afro Brazil in Ibirapuera Park. Also, since the 1990s, Rosana Paulino, a black artist not dedicated to performance art, has been increasing the number of her works, speeches and curatorships, spaces and senses for art from São Paulo. Among the Afrodescendant artists of the most recent generations who don’t do performances, one can highlight the pugnacious action of Jaime Lauriano. He is another one who has been engaged in artistic reflection on the history of the slave trade, slavery and colonialism, as well as the social practices and cultural imagery embedded in Brazil through the forced removal of people from Africa to be enslaved, ever since the sixteenth century. The achievements of some institutions have been added to the works and actions of Emanoel Araújo, Rosana Paulino and Jaime Lauriano, as well as other artists and agents. It is a process that, in recent years, has grown significantly, remarkably even, in this country. Previously, the issue of blackness, although evident in the population and in their coexistence in urban spaces, seemed marginal in the artistic and cultural milieu of the state capital. Now, the rhythm and concentration are different. It was not black men and women waking up; on the contrary, they were never asleep. It was from an accumulation of personal and institutional interventions that São Paulo came to see the blackness that is its very own, that of Brazil, that of the world.
In addition to the thirteen-year trajectory of Museu Afro Brasil, other art and culture institutions in São Paulo have recently redefined their modes of interaction with Afro-descendants and their artistic presence in the metropolis. Since 2010, there has been the magazine O Menelick 2˚ Ato: Afrobrasilidades e Afins (The Menelick 2nd Act: Afrobrasilidades and the Like), an independent initiative founded by Nabor Jr.1. Among the many initiatives from Serviço Social do Comércio, especially noteworthy is the exhibition Afro como Ascendência, Arte como Procedência (Afro as Ancestry, Art as Provenance), curated by Alexandre Araújo Bispo, at Sesc Pinheiro, in 20132. From Itaú Cultural, there are the series Ocupações (Occupations), which since 2015 has focused on the trajectories and works of Dona Ivone Lara, Cartola, Abdias Nascimento and Conceição Evaristo3, and Diálogos Ausentes (Absent Dialogues), which since 2016 has held encounters “on the production and the presence of black artists in different areas of expression”4, which generated an exhibition of the same name, curated by Diane Lima and Rosana Paulino5. In addition to having curated the Histórias Mestiças (Mestizo Histories) exhibition at Instituto Tomie Ohtake in 20146, Adriano Pedrosa and Lilia Moritz Schwarz have been increasing the Afro aspects in the collection and in the long and short duration exhibitions at Museu de Arte de São Paulo, and ran the seminar Histórias da Escravidão (Stories of Slavery) in 20167 and are preparing an exhibition on the subject for next year. Starting in 2014, Moisés Patrício and Peter de Brito mobilized black people to intervene on the artistic circuit, in the series of performances Presença Negra (Black Presence)8. In the same year, Centro Cultural de 115
São Paulo held the exhibition Medo, Fascínio e Repressão na Missão de Pesquisas Folclóricas 1938-2015 (Fear, Fascination and Repression in the Folklore Research Mission 1938-2015), with objects from Afro-Brazilian culture curated by Alexandre Araújo Bispo. Taking a fresh look at the history of black people in Pinacoteca do Estado de São Paulo, Tadeu Chiarelli curated the exhibition Territórios - Artistas Afrodescendentes no Acervo da Pinacoteca (Territories - Afrodescendant Artists in the Pinacoteca Collection), in 2015-20169. Another milestone in this process is the exhibition Agora Somos Todxs Negrxs? (So, Are We All Black Now?), curated by Daniel Lima, at Associação Cultural Videobrasil between August and December 201710. Since 2016, there has been the website Contracondutas (Counterconduct) from Escola da Cidade11. And there is much more12. São Paulo is not a black saint, but his city has been turning black, quite visibly. With the actions of artists, curators, critics, historians and many others, the State that gave the nation the patron saint of Brazil, a black Virgin Mary, has now, explicitly, artistically and institutionally, laid claim to its blackness. CAIXA Cultural São Paulo, which in 2015 presented the exhibition Terciliano Jr. - 50 Anos (Terciliano Jr. - 50 Years), the cinema exhibition 100 Anos de Grande Othelo (100 years of Grande Othelo), the play Galanga, Chico Rei and the cinema and music exhibition Afrofuturismo (Afro-futurism), now welcomes Negros Indícios (Black Indices), which features performances, photographs and videos by Afro-descendant artists from different regions of Brazil. The exhibition offers a small sample of one of the recent art trends in Brazil: the growing and ever-stronger presence of black artists who, through their reflections and artistic actions, make us think about art, Brazilian society, the world. The works and actions of Antônio Obá, Ayrson Heráclito, Caetano Dias, Dalton Paula, João 116
Manoel Feliciano, Moisés Patrício, Musa Michelle Mattiuzzi, Priscila Rezende, Renata Felinto, Rommulo Vieira Conceição, Rubiane Maia and Tiago Sant’Ana are being exhibited. Obviously, there are some absences, indeed not just a few. We could mention Artur Leandro and the group Nós de Aruanda (We from Aruanda), the collective Casa Grande (Manor House)13, Frente 3 de Fevereiro (February 3 Front), Janaina Barros, Jorge dos Anjos and his drawing sessions with gunpowder and fire, Jorge Lopes, Luiz de Abreu with his Samba do Crioulo Doido (Crazy Black Man’s Samba), Marepe with Pérola de Água Doce (Sweet Water’s Pearl), Olyvia Bynum and O Esclarecimento (The Clarification), the wanderings and interventions of Paulo Nazareth, Rafel Bqueer and Le Noir (The Black), Sérgio Adriano H and his project O Visível do Invisível (The Visible of the Invisible), Sara Panamby and Tiago Gualberto and his Lembrança de Nhô Tim (Remembering/Souvenir from Nhô Tim). Not to mention artists employing other media, in whose works one can think about performance dimensions. The exhibitions are never complete. Negros Indícios was not conceived as a totalizing, definitive show with the recent expressions in performance, video and photography done by Afro-descendants from Brazil. As an exhibition, the intention is to be one action, one among many, to which people react, along with so many others that it hopes to help foment. One common feature among the artists participating in this show is the fact that they circulate among this territory, made up of the many kinds of performance, photography and video articulations. As more or less objective records, whether fictional or not, performances, photo performances, video performances, reperformances and their developments, they explore (dis)continuities between bodies and images, which rebound off each other and persist, and beyond. They enhance, either by exalting or creating tension the flows back and forth between
bodies, their imagery reverberations and the corporeality of images. First and foremost, black bodies, because these artists are interested in the potentialities of performance and its extensions as ways of activating issues of blackness. Black bodies which, ubiquitous during and after the slavery and colonial system in Brazil, were and are still exploited, living their day to day lives within the paradox of the majority is made invisible socially and culturally. It is against the disavowal of black bodies, the founding principle of the slave regime, and its persistence today that these artists are working. The interplay between performances and images are therefore a counterattack strategy – and not by accident, according to Musa Michelle Mattiuzzi, the body is “the means of expression and a war machine”14. They start with the need for survival in an adversarial, inhospitable, unfeasible environment. They react. They fight against impermanence, invisibility and disappearance. They vehemently refute the condition imposed on enslaved peoples: to be almost a thing or animal, available for work, sadistic, emotional and sexual exploitation. By performing, they attest to the vitality and power of their bodies. They act. To this end, they become committed, activating the many political dimensions of art. They authorize themselves, they reaffirm authority and authorship, win visibility, exalt their own value. Black bodies that experience, in their actions and reverberations. They imagine, manufacture, reinvent, create, propagate both – themselves and the world. Artistically, it is important to think of the indices that the performance produces or that are produced from it by those who made it (idealized and/or realized) and/or by others. The interest is in the indices of performance and, above all, in performance as an index. Therefore, both what happens and what precedes and what surrounds
it. The focus is not so much the performance as an index of the creative process and/or the artistic work in process, of the trajectory of the artist. This implies thinking less about the interiorizing of the creative process and thinking more about what is external to it. Thus, performance is of interest because it is an index of subjects, processes and facts beyond the artist and their work. From which the artistic realm emerges and, above all, the social field, with its structures and relations, spaces, institutions, networks, ways of operating and interacting. The interest of performance is being as an index that it is not simple, intentional, obligatory and the direct result of individual and/or collective, artistic and/or social events. Performance in which the artist forces the index to come into existence, creating it. It contains links and continuity between it and certain social phenomena. This allows one to see it as an index, as a reference to something else, at the same time previous and coexistent. Through performance, the artist produces the effect that the cause disguises, veils, conceals, although not always voluntarily and consciously. With performance, certain ideas and social practices are made explicit, obliging one to see those things which, even though they exist culturally, are at the surface of society, visible to people and experienced by them, needs to be called to our attention, to consciousness, because it isn’t usually seen, or people pretend not to see it. Constituting a trace of the (in)visible, performance becomes a unique index, because, when it takes place, it animates the other elements of the sociocultural process: it exhibits phenomena, references, and mobilizes people and the interpreters, demanding exploration and doubts about something which is veiled in silence. Therefore, performance is a critical index, insofar as it crystallizes situations that the forces at play in the social field generate only exceptionally when, through exacerbation or carelessness, they erupt amid the inertia of the 117
present-day cultural dynamic. It is also a creative index, since it expresses this tension in an unusual and artistic manner15. Contrary to the social segments that seek to hide, but barely conceal certain aspects of history, some ideals and prejudices, these artists show them explicitly. With their bodies, plus those of others, they illuminate the past and make concrete social ideas and practices that, by informing minds and bodies, affect cultural relations in this country. Connecting Maison des Esclaves, in Senegal, a place of memory of slave trade, and Casa da Torre de Garcia d’Ávila, in Brazil, the ruin of a manor house built by the sugar economy, the pair of performances Os sacudimentos (The shakings), by Ayrson Heráclito, reviews the history of the slave trade, slavery and colonialism on both sides of the Atlantic. This same Heráclito, in Transmutação da carne (Transmutation of the flesh), and Priscilla Rezende, in Barganha (Bargain), reenact the conceptual and physical violence inherent in the transformation of beings into the property of other beings under a slave regime. This objectification is also brought up to date by Priscila and João Manoel Feliciano, in Bombril and Barca capillus, respectively, in which they lend their bodies to make visible the prejudice associating hair and black bodies with inanimate materials and animals, both during and after the duration of slavery. Implantar anamú (Implanting anamú), by Dalton Paula, and Refino (Refining), by Tiago Sant’Ana, also make us reflect on bodies previously enslaved or those still debauched exploited, forced to act according to other people’s desires today. Involuntary alienation and disorientation, but calculated on the part of the oppressors, which is still persistent, are also alluded to in Canto doce - pequeno labirinto (Sweet corner - little labyrinth), by Caetano Dias. In addition to some of these, there are other performances made up of self-imposed sacrifices: Experimentando o vermelho em dilúvio (Studying 118
red in a flood), by Musa Michelle Mattiuzzi, (...) dos sofrimentos físicos e morais de minha vida, e do penoso esforço de ascensão na escala social ((...) the physical and moral sufferings of my life, and the painful effort of ascending the social ladder), by Moisés Patrício, and Gênesis 09:25, Laços, Purificação II and Vem... pra ser infeliz (Genesis 09:25, Ribbons, Purification II and Come... and be unhappy), by Priscila Rezende. Strenuous and painful artistic rites that refer back to the tortures, punishments and arbitrary cruelty of the slave regime, as well as its consequences until the present day. Physical and visual violence imposed on black bodies are echoed in Corpo em quadrado P e Corpo em quadrado B (Body in square B and Body in square W), a series of photo performances by Dalton Paula from 2012, in which his head disappears, looking like it has been severed. This brings the question of sociocultural invisibility to the fore. In this journey, Merci beacoup, blanco! (Thank you very much, white!), by Musa Michelle Mattiuzzi, A notícia (The news), by Dalton Paula, and Atos da transfiguração (Acts of the transfiguration), by Antônio Obá, explain the desire for whitening that is still both widespread and persistent in Brazilian society. Not with pigment, like some others, but with wigs, cosmetics and clothes, Renata Felinto, in White face and blonde hair, purposely whitens herself, just as Priscila Rezende straightens her hair in Deformação (Deformation). In one way or another, they transmit a desire for erasure, dissolution and extermination of their blackness, something which continues to erode Brazilian society. If they exhibit persistent diseases, old wounds that are still wide open, whether in daylight or floodlights, such as Apagamento #1 (Erasure #1), by Tiago Sant’Ana, these performances also indicate resistance and reaction, reaffirming the potency of something that is usually considered weak. In addition to many of the above-mentioned performances, the illustrious resistance of the
black bodies can be observed in Caetano Dias’ O mundo de Janiele (Janiele’s world). Emancipation is also propagated by Renata Felinto when she takes off her western female persona, in Haliaeetus Leucocephalus Female Africanus ou caminho reverso com versos de ardor (Haliaeetus Leucocephalus Female Africanus or reverse path with burning verses). Yes, these performances denounce and get people to discuss something that is commonly kept quiet, and criticize things that aren’t supposed to exist, given the persistence of the myth of racial democracy in this country. But they also show and defend other values. In these artistic counterattacks, a special place is reserved for Afro-Brazilian religious practices. It is the spiritual regeneration of individuals and of the social whole which are dealt with in Bori and Os sacudimentos (The shakings), by Heráclito. In Atos da transfiguração (Acts the transfiguration), by Obá, whitening also has a sense of caring, healing, making sacred. With the series Aceita? (Do you accept?), Moisés Patrício, who is associated with the Afro-Brazilian deity Exu, lets us see the combat between the multiple resonances of the religious offering. Exu is the Lord of doorways and communication and who also rules over Brunch para Exu (Brunch for Exu), which Renata Felinto offers as a tactic to approach, nurture, fraternize and foster the action of those who are sidelined. Incorporating the ibeji, the sacred Afro-Brazilian twins in Bejé Orò, Tiago Sant’Ana also uses the vitality of childhood and their ability to overcome death in its most diverse modalities16. If they confront us with questions of blackness, these performances are not restricted to this, because they deal with other, individual, many times autobiographical, collective and even universal issues. They address not only the condition of black women, but women in general, as well as blacks in particular, and men in general. And gender and sexuality in all their
diversity. To deal with blackness and whitening is also to discuss topics such as ethnicity, identity and marginalization. From the Afro-descendant phenomenon in Brazil, one reaches the African diasporas and thus diasporas in general. With macumba and other religions with African origins practiced in Brazil, the sacred, spirituality, religious wars are discussed. To revisit the slave trade and slavery is to combat the current conditions of work and survival. They reflect on existence and art. As beings of the world, these artists are active in Brazil, connected to Africa and beyond. They are therefore mobilized by today’s and past issues, whether conjunctural or not. It is greed and environmental disaster that Caetano Dias deals with in Rio Doce. But he also speaks of classical GrecoRoman culture by alluding to the myth of Sisyphus in Mar de dentro (Inside sea) as well as João Manoel Feliciano, who revitalizes an inanimate but marvelous Greek image by connecting to it with his black, multi-voiced and living hair, in Apollo Capillus IV. Unrestricted to specific cultures, it is the affection conquered by the body in the world that mobilizes Rommulo Vieira Conceição in O espaço se torna lugar na medida em que eu me familiarizo com ele (The space becomes place as I become familiar with it). Epiphanies and sublime experiences possible in the interaction of people with other beings in the world that also motivate Rubiane Maia in Baile (Ball). Attracting us to see, experience and think blackness, among other issues, in this country and beyond, these artists invite us and call us to participate in a struggle that cannot be theirs only. Counter-attacking, they propose and begin to establish another reality. Paradoxically, these performances announce the index as a sign that also refers to something that it anticipates and generates, to an imagined, later situation. Critical and utopian, embodying another sociocultural conjuncture, these performances become artistic indices of the future. 119
References 1. http://omenelick2ato.com. Accessed on 8 June 2017. 2. http://omenelick2ato.com/artes-plasticas/AFROCOMO-ANSCENDENCIA/. Accessed on 8 June 2017. 3. http://www.itaucultural.org.br/ocupacao/. Accessed on 8 June 2017. 4. http://www.itaucultural.org.br/dialogos-ausentes. Accessed on 8 June 2017. 5. http://www.itaucultural.org.br/dialogos-ausentesmostra. Accessed on 8 June 2017. 6. SCHWARCZ, Lilia Moritz; PEDROSA, Adriano (orgs.). Histórias Mestiças (Mestizo Histories). Rio de Janeiro: Cobogó; São Paulo: Instituto Tomie Ohtake, 2015. 7. http://maspinscricoes.org.br/Seminarios/ detalhes/74. Accessed on 8 June 2017. 8. http://www1.folha.uol.com.br/multimidia/ tvfolha/2015/02/1586370-negros-se-travestemde-branco-na-busca-por-espaco-em-circuitoartistico.shtml. Accessed on 8 June 2017. 9. http://pinacoteca.org.br/programacao/ territorios-artistas-afrodescendentes-no-acervo-dapinacoteca/. Accessed on 8 June 2017. 10. http://site.videobrasil.org.br/exposicoes/ galpaovb/agorasomostodxsnegrxs. Accessed on August 31 2017. 11. http://www.ct-escoladacidade.org/ contracondutas/. Accessed on 8 June 2017. 12. The process of relationship between artists, curators, critics and institutions in São Paulo in recent years is a special chapter in the history of art and culture in the city and in Brazil, still in progress, which demands a special reflection. 13. Made up of Estêvão Haeser, Giuliano Lucas, Leandro Machado, Luísa Gabriela, Marcelo Monteiro, Michele Zgiet, Rafa Élis, Silvana Rodrigues and Waldemar Max. In this regard, see SILVEIRA, Rafael. Gestos de invenção de si: deslocamentos de um 120
artista minoritário (Gestures of self-invention: travels of a minority artist) (dissertation). Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2017, p. 119-142. 14. BISPO, Alexandre Araújo, LOPES, Fabiana. “Presenças: a performance negra como corpo político” (Presences: the black performance as a body politic). Harper’s Bazaar Art, n. 4, April 2015, p. 109. 15. From previous work in CONDURU, Roberto. “Índices do (in)visível: performance, afrobrasilidade, política” (Indices of (in)visible: performance, afro-brazilian-ness, politics)). In ARAÚJO, Inês de (org.). Indícios. Rio de Janeiro: UERJ, 2016, p. 76-85. 16. In this regard, see ZACCARIA, Tadeu Mourão dos Santos Lopes. De médicos a meninos: vitalidade gemelar na escultura doméstica popular dos santos Cosme e Damião no Brasil (tese). (From physicians to little boys: twin vitality in the popular domestic sculpture of the saints Cosme and Damião in Brazil) (thesis)). Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2017, p. 195-196, 210-212.
Antônio Obá The body, the being inserted into the depth of a rite and that given to us as evidence of history. Obá situates it in traditions in which it does not reduce it to the realization of a memory, a past; rather, the body (aware of the stories that situate it) assumes, reflects and reverberates other (con)texts. It problematizes syncretisms, the almost erotic religiosity, the socalled Brazilian identity demarcated in the individual. Their actions provoke tension in aspects dear to the national tradition: ethnicity, gender, religion, politics. It understands that the imaginary, the symbol and the ideologies of such characteristics act strongly in the collective mentality and this is where the power for their works comes from. Intensifying criticism by reducing it to a gesture, an object, a drawing, in which everything that is done tends towards a ritual; an incantation of harsh, violent questions that mark much of their research. A violence of the act: the repetition (so perceptible in their performances), the physical fatigue that causes the body to fail, but also sublimates and ritualizes it; a structural violence that touches the Brazilian historiography and does not leave unscathed abuses related to ethnic prejudice, cultural domination, the marginalization of those who are different. The supposed profanation of well-known icons (scratching the image of a saint, filling a Eucharistic chalice with cachaça, weaving a rosary with sisal) tends to present an uneasy conciliation of the essentially different hues that make up the Brazilian formation, ranging from the religious aspect (enslaved blacks building churches in Ouro Preto, social persecution of candomblé sites (terreiros) to political and social situations (the obligatory replacement of African names by the names of saints, in a relationship of annulment of identity, the whitening of the “race”). An expanded syncretism exposing the wounds that colonized and insist on colonizing bodies, but which also brings a certain reverence about the influences, which, after all, the artist recognizes in his family and affective roots. Mythical and intimist, their performances throw us
into a mute abyss, where each deep breath of the artist proposes and leads to a journey in which each one of us also builds and lives closely their memories and yet at the same time the memory of the people. It involves everyone in a drama, in a plot evocative of meaning, of feeling what it is that makes us become power: resisting to exist. Antônio Obá Ceilândia, Distrito Federal, 1983 www.antoniooba.com Antônio lives and works in Brasília, Distrito Federal. He graduated in Visual Arts with a Bachelor’s degree from the Faculty of Arts Dulcina de Moraes (FADM) in 2010. A visual artist, he has worked in Art Education for more than 10 years and has worked as a Visual Arts teacher at the Education Department of the Federal District in Taguatinga since 2012. Individual exhibitions Antônio Obá, Mendes Wood DM Gallery, São Paulo, 2017. Carnagem (Carnage), Galeria de Arte XXX, Brasília, 2016. (In)corporações ((In)Corporations), Galeria Candido Portinari, Rio de Janeiro, 2016. Verônica, Elefante Centro Cultural, Brasília, 2013. Cultura Afro em alta (Afro Culture in increase), Espaço Cultura Inglesa, Brasília, 2009. Collective exhibitions South-South: Let me begin again, Goodman Gallery, Cape Town, South Africa, 2017. 2nd Salão Transborda, Caixa Cultural, Brasília, 2016. My body is a cage, Galeria Luciana Caravello, Rio de Janeiro, 2016. ENTRE, Casa da América Latina, Brasília, 2016. ONDEANDAAONDA, Museu Nacional do Conjunto Cultural da República, Brasília, 2015. Performances Malungo, My body is a cage, Galeria Luciana Caravello, Rio de Janeiro, 2016. 121
Nós (Knots), Carnagem (Carnage), Galeria de Arte XXX, Brasília, 2016. Atos da transfiguração: desaparição ou receita para fazer um santo (Acts of the transfiguration: disappearance or recipe to make a saint), Elefante Season, Elefante Centro Cultural, Brasília, 2015. Verônica, Verônica Elefante Centro Cultural, Brasília, 2013. Videos and recordings of performances Malungo, 2016. Nós (Knots), 2016. (https://www.youtube.com/ watch?v=a0gObNm2uyk / https://www.youtube. com/watch?v=N7Dmr7YSOks) Atos da transfiguração: desaparição ou receita para fazer um santo (Acts of the transfiguration: disappearance or recipe to make a saint), 2015. Bibliographic references BARBOSA, Cinara. Antônio Obá. Prêmio Pipa - the window for Brazilian contemporary art - Year 8, May. 2017. Available from: <http://www.premiopipa. com/pag/artistas/antonio-oba>. CONDURU, Roberto. Sacra imagem, corpo vital (Sacred image, vital body). In: OBA, Antônio. (In)Corporações (In)Corporations / Antônio Obá, curator Roberto Conduru - Rio de Janeiro: UERJ, DECULT, Galeria Candido Portinari, 2016, p. 4-7. Exhibition catalog. CONDURU, Roberto. Índices do (in)visível (Indexes of the (in)visible)) - performance, afro-brazilian, politics. In: ARAUJO, Inês (Org.). Índices (Indexes). Rio de Janeiro: UERJ, Instituto de Artes, 2016, p. 76-85. SILVA, Carlos. Anotações sobre a obra de Antônio Obá (Notes on the work of Antônio Obá). Brasília, March 2017. Available from: <https://www. antoniooba.com/notes-on-antonio-oba/>. Works on show Photos Malungo, Luciana Caravello Gallery, Rio de Janeiro, RJ, 2016. Photos: Miguel Pinheiro
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Video Nós (Knots), 2’50’’, Galeria de Arte XXX, Brasília, DF, 2016
Ayrson Heráclito I began to do performances and visual audios in the late eighties and early nineties in Bahia, in partnership with the artist Monica Medina. I should emphasize two works from this period: first, the performance in As Meninas (The Girls), 1988, a critique of European hegemony present in the history of universal art, while affirming my choice for the tragic, conceived as an acceptance of the “problem”, of the “terrible”, of the Dionysian as inherent characteristics of the human being; secondly, the 1993 video (in VHS) entitled Olhos de Lince (Eyes of the Lynx), a small anthology about poverty and racial prejudice in Vitória da Conquista. Through a selection of diverse images of needy families from the poor and peripheral districts of the city, animated by the dichotomy between popular religiosity and Martin Luther King’s ethnic discourse, the dramatic and antiracist structure created a discursive bridge between Vitória da Conquista and the Mississippi. These two works almost announce my incessant interest in approaches to civil, and in particular, racial issues. In 2000, the polyphonic project Transmutação da Carne (Transmutation of the Flesh) – which is still ongoing, where clothes made of meat serve as a support for the actions of “branding with iron” – reproduced the master-slave practice of branding slaves with the insignia of their masters with a hot iron. This production with a large number of visual audios and performances will also address myths, rituals and practices stemming from candomblé and elements of Afro-Brazilian culture and their connections between Africa and its diaspora in America. The work Bori, initially done at TCA in 2008, gained national visibility in 2009 at MIP 2 in Belo Horizonte. The action consists in offering sacrificial
food to the heads of twelve performers, these being votive and iconographic representations of the twelve main orixás (Afro-Brazilian deities). I recently performed O Sacudimento da Casa da Torre (The Shaking of the Tower House) and O Sacudimento da Maison des Esclaves em Gorée (The Shaking of the Maison des Esclaves in Gorée), performances that form a diptych, the central theme of which is the “shaking” or “exorcism” of two great architectural monuments linked to the Atlantic traffic slavery and colonization. Ayrson Heráclito Macaúbas, Bahia 1968 He lives and works between Salvador and Cachoeira, Bahia. Ha has a PhD in Communication and Semiotics, from Pontifical Catholic University of São Paulo, 2016. Master’s in Visual Arts, Federal University of Bahia, 1998. Degree in Arts from the Catholic University of Salvador, 1989. Visual artist, curator and teacher of the Visual Arts course of the Federal University of Recôncavo da Bahia since 2006. Individual exhibitions Pérola Negra (Black Pearl), Blau Projects Galeria, São Paulo, 2016. Genealogy of Materials/Généalogie des Matières, Raw Material Company, Dakar, Senegal, 2015. Atlântico Negro (Black Atlantic), Central Gallery, São Paulo, 2013. MIP 2 - International Performance Manifestation, Belo Horizonte, 2009. Ecologia de Pertencimento (Ecology of Belonging), Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador, 2002. Collective exhibitions 57th edition of La Biennale di Venezia, Venice, Italy, 2017. 10 Rencontres de Bamako, Bienal Africana de Fotografia, Bamako, Mali, 2015. Miroir-Effacement, Galeria Imane Farès, Paris, France, 2015.
A Nova Mão Afro-Brasileira (The New Afro-Brazilian Hand), Museu Afro Brasil, São Paulo, 2013. Incorporation: Afro-Brazilian Contemporary art, Europalia-Brasil, Centrale for Contemporary Art, Brussels, Belgium, 2011-2012. Performances Buruburu, The incantation of the disquieting muse, SAVVY Contemporary, Berlin, Germany, 2016. A fogueira (The bonfire), Bienal Internacional de Curitiba, Curitiba, 2015. Embostando o Museu de Etnologia de Viena (Daubing the Vienna Museum of Ethnologyb with Dung), Weltmuseum Vienna, Austria, 2015. Os sacudimentos (Maison des Esclaves em Gorée e Casa da Torre) (The shakings (Maison des Esclaves in Gorée), Dakar, 2015; (Casa da Torre)), Bahia, 2015. Transmutação da Carne (Transmutation of the flesh), Terra Comunal - Marina Abramovic + MAI: Oito Performances, Sesc Pompeia, São Paulo, 2015; Galeria do ICBA, Salvador, 2000. Batendo Amalá (Beating Amalá), Memórias Inapagáveis: Um Olhar Histórico no Acervo do Videobrasil (Indelible Memories: A Historical Look at the Videobrasil Collection), Sesc Pompeia, São Paulo, 2014. Bori, Full Brazilian and other rituals, Museumnacht, Oude Kerk, Amsterdam, The Netherlands, 2012; Manifestação Internacional de Performance, Belo Horizonte, 2009; Teatro Castro Alves, Salvador, 2008. Videos and recordings of performances Transmutação da Carne (Transmutation of the flesh), Terra Comunal - Marina Abramovic + MAI, 2015; Galeria do ICBA, 2000. Os Sacudimentos (The Shakings), 2015. Batendo Amalá (Beating Amalá), 2014. Saudação ao Vodum Agbê (Greeting to Vodum Agbê), 2014. Buruburu, 2010. As Mãos do Epô (The Hands of Epô,), 2007.
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Bibliographic references CONDURU, Roberto. Arte Afro-Brasileira (AfroBrazilian Art). Belo Horizonte: W/Art, 2007. HERÁCLITO, Ayrson. Espaços e ações (Spaces and actions). Salvador: Publ. by the author, 2003. VOLZ, Jochen; REBOUÇAS, Júlia. Terra Comunal: Marina Abramovic + MAI. São Paulo: Publ. Edições Sesc São Paulo, 2016. Works on show Photos Transmutação da carne (Transmutation of the flesh), Sesc Pompeia, São Paulo, SP, 2015 Photos: Christian Cravo Bori, Belo Horizonte, MG, 2009 Photos: Marcelo Terça-Nada Buruburu, Salvador, BA, 2010 O sacudimento da Casa da Torre (The shaking of the Tower House), still video, Salvador, BA, 2015 O sacudimento da Maison des Esclaves em Gorée (The shaking Maison des Esclaves in Gorée), still video, Dakar, Senegal, 2015 Videos Os sacudimentos (The shakings), 8’38’’, 2015 Buruburu, 2’26’’, 2010 Transmutação da carne (Transmutation of the flesh), 4’36’’, Terra Comunal - Marina Abramovic + MAI, 2015
Caetano Dias To notice strangeness is to recover the discomfort in order to feel. What I do comes from my daily life, untold stories, seemingly indistinct places. History does not always draw the facts to itself, like a whirlwind that spins time in memory lapses. Involving and being involved in the work in progress is to feel the unfolding, delicately breaking boundaries, stretching them as in an incessant sea, with deep margins, in a direction that each work claims for itself. But the meaning of all this is in making the work happen and this only happens when 124
one is at the frontier, in the abyss that separates and unites people, groups and cultures. The idea of an expanded body for shared identities is the means for constituting another space that is not a territory but rather, a cohabiting frontier. Time, verses, memories that mingle in the work to indicate invisible realities that move the process forward, taking into account what exists at any time. For that which still remains latent and still has no form, perceiving unrecognizable structures that are behind what is said or seen. It is a struggle to dismantle old structures that continually update themselves to remove the veils of formless and empty structures that drain vital power. So to discuss the forces that hold power by discussing body and identity is to question those structures that attempt to pacify and nullify the senses. The research to carry out a video project is like diving. I usually choose a situation, place or person as a channel for this dive, when filming for documentary and fiction. It is necessary to share existing in order to perceive, to feel the universe in question, especially when what happens is the life of someone else; it is an attempt to print on film the underlying aspects of the other. A direct relationship between the subjectivities that are the object of the action. The real is always someone’s fiction, in their way of perceiving and building the world. These modes of perception and operation are what they are and imply multiple veils of the other’s appearances and subjectivities. Intuition is the medium that allows me to align my subjectivities to the subjectivities of the other, it is a negotiation that can allow me to dive in like that and, with that, generate the perception of things, even latent realities. This discussion of the realities can be understood as the trouble in the processes of estrangement, where simultaneous realities can be incessant versions and perhaps, therefore, an attempt is made to break the seal of the veils, to let versions of strangles that occur between the real and the fiction escape. The moment as it appears, seen only as it presents itself, seems poor, trying to close in on itself. That which is, is not what it appears to be! Removing the veils is to reveal the strangeness that lubricates our perception.
Caetano Dias Feira de Santana, Bahia, 1959 www.caetanodias.wordpress.com Lives and works in Salvador, Bahia. He is a visual artist, filmmaker and curator. Individual exhibitions Céu de Chumbo (Leaden Sky), Blau Projects, São Paulo, 2015. Bicho Geográfico (Geographical Animal), Projeto Ocupa, Museu Palácio da Aclamação, Salvador, 2010. Transverso (Transverse), Paulo Darzé Galeria de Arte, Salvador, 2010. Vestígios (Vestiges), Galerias de Arte Marília Razuk, São Paulo, 2006. Sobre a Virgem: estratégias para a perda de sentido (About the Virgin: strategies for loss of sense), Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro, 2003. Collective exhibitions I Frestas (I Nooks) - Trienal de Artes, Sesc, Sorocaba, 2015. Incorporation: Afro-Brazilian Contemporary Art, Europalia-Brasil, Centrale for Contemporary Art, Brussels, Belgium, 2011-2012. Bienal de Valência, Convento del Carmen, Valencia, Spain, 2007. Art Supernova, Art Basel, Galeria de Arte Marília Razuk, Miami, USA, 2007. 29th Panorama of Brazilian Art, Museu de Arte Moderna, São Paulo, 2006 . III Bienal de Artes Visuais do Mercosul, Santander Cultural, Porto Alegre, 2001. Performances Rio Doce, the banks of the Rio Doce river, Minas Gerais, 2016. Recôncavo, Salvador, 2016. Canudos, Canudos, 2016. Paraguaçu, banks of the Rio Paraguaçu river, Bahia, 2016. Águas (Waters), video performance, Salvador, 2010.
O Mundo de Janiele (Janiele’s World), video performance, Salvador, 2007. Canto Doce - Pequeno Labirinto (Sweet Corner Little Labyrinth), Estação Ferroviária da Calçada, Salvador, 2006. Mar de Dentro (Inside Sea), video performance, bairro de São Cristóvão, Salvador, 2005. Religar (Turn back on), Metacorpos, Paço das Artes, São Paulo, 2003. Videos and films Rabeca (Fiddle), 2012. (https://vimeo. com/65499492) Bicho Geográfico (Geographical Animal), 2010. (https://vimeo.com/124969967) 1978 - Cidade Submersa (1978 - Submerged City), 2010. (https://vimeo.com/67180759) Águas (Waters), 2010. (https://vimeo. com/123949114) Passeio Neoconcreto (Neo-concrete joyride), 2010. (https://vimeo.com/67195363) Lago (Lake), 2009. Apartamento 503 (Apartment 503), 2009. O Mundo de Janiele (Janiele’s World), 2007. (https://vimeo.com/67191458) Canto Doce - Pequeno Labirinto (Sweet Corner - Little Labyrinth), 2007. (Part 1: https:// vimeo.com/123972560, Part 2: https://vimeo. com/124784807) Oxalá, 2006. (https://vimeo.com/123962002) Uma, 2005. Bibliographic references FILLOT, Emmanuel. Un Brésil “de muitos brasileiros” - itinéraires métis dans l’histoire et l’actualité des arts au Brésil. Africultures, France, n. 62, p. 127-132, Jan./Mar. 2005. Frestas - Trienal de Artes / O que seria do mundo sem as coisas que não existem? (What would the world be without the things that do not exist?), Sesc São Paulo: São Paulo, 2015. Exhibition catalog. MACIEL, Katia. (Org.). Transcinemas. Rio de Janeiro: Back cover, 2009. PARENT, Sylvie. De ce monde. Revue d’art 125
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Dalton Paula Between urban spaces, in the streets of the cities, I create with my own body characters that appear with a naked trunk, highlighting the black body, outside of the stereotypes and social standards of beauty. In front of the walls, I discuss the limits, that which is all around, dividing the public and the private, delimits the edges and establishes the non-place. The pictorial aspects guide the selection of walls, quite literally, since between overlays of ink layers there are glazes, sludge, peeling paint, cracks and human interference or that caused by bad weather; and also in a symbolic form, considering the social and racial connotations attributed to the colors. 126
This body is a body silenced by fear, insecurity, individuality and ephemerality. Therefore, such silence is a form of social infirmity, which has lasted since the colonial period. In the photo performances, the artist worked on situations involving enclosing this body in a marble and resin chest or in a surfeit of information disseminated by the communications media. From these aspects, I investigate healing processes related to liturgical and mystical customs and rituals of popular cultures, where I take a close look at blessings, indigenous rituals and shamanism, millenarian (usually unacknowledged) knowledge that is the foundation of traditional communities and allows us reflect on contemporary questions. With them, I create an interplay between the action, the body, objects and medicinal plants contained in this popular black herbarium, from which possibilities of healing are constructed, capable of articulating such popular practices, ancestral values and the physical and spiritual body. This investigation guides the work Implantar Anamú (Implanting Anamú), which combines the meanings of this plant (known in Brazil as guiné) and the place where the action is carried out - the Fort of San Carlos de La Cabaña in Havana/Cuba, the scene of colonial disputes, also transformed into prison and an important landmark, a physical and symbolic afrodiaspora territory. Dalton Paula Brasília, Distrito Federal, 1982 www.daltonpaula.com Lives and works in Goiânia, Goiás. Visual artist, graduated from the Federal University of Goiás (UFG), 2011. Collective exhibitions The Atlantic Triangle, Goethe Institut, Lagos, Nigeria, 2017. 2nd Changjiang International Photography and Video Biennale, Chongquing Museum of Contemporary Art, China, 2017.
BERLIN SHOW #5 – Collectors’ Loop, Galeria Plan B, Berlin, Germany, 2017. Incerteza viva (Live uncertainty), 32nd Bienal de São Paulo, Pavilhão da Bienal, São Paulo, 2016. Histórias Mestiças (Mestizo Histories), Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, 2014. Individual exhibitions A irmã de São Cosme e São Damião (The sister of saint Cosmas and saint Damian), Galeria Alfinete, Brasília, 2016. A rebelião negra (The black rebellion), R3 Gabinete, Goiânia, 2016. Amansa-senhor (Taming Lord) Sé, São Paulo, 2015. E um terremoto sereno e imperceptível arrasou a cidade... (And a serene and imperceptible earthquake devastated the city...), Sé, São Paulo, 2014. O Álbum (The Album), Museum of Contemporary Art, Sala Samuel Costa, Goiânia, 2010. Photo performances A notícia (The News), 2013. Corpo em quadrado P (Body in square B), 2012. Corpo em quadrado B (Body in square W), 2012. Video performances Implantar anamú (Implanting anamú), Fortaleza de San Carlos de la Cabaña, Havana, Cuba, 2016. (https://vimeo.com/171020192) Unguento (Ointment), Lençóis, Bahia, 2015. (https://vimeo.com/126625381) Bispo do Rosário (The Bishop of Rosário), Cidade de Goiás, 2013. (https://vimeo.com/67433427) Coronel Castelo Negro A (Colonel Castelo Negro A), Itaberaí, Goiás, 2013. (https://vimeo. com/67433424) Coronel Castelo Negro B (Colonel Castelo Negro B), Itaberaí, Goiás, 2013. (https://vimeo. com/67433425) Nilo Peçanha, Brasília, 2013. (https://vimeo. com/67433426) O batedor de bolsa (Purse snatcher), Goiânia, 2011. (https://vimeo.com/139789042)
Bibliographic references SCHWARCZ, L. Dalton Paula ou a arte de criar territórios negros e silenciosos (Dalton Paula or the art of creating black and silent territories). Journal Nexo, October 25, 2016. Available from: <https://www.nexojornal.com.br/colunistas/2016/ Dalton-Paula-ou-a-arte-de-criar-territ%C3%B3riosnegros-e-silenciosos>. SOBRAL, D. Dalton Paula e a rebelião negra (Dalton Paula and the rlack rebellion). Goiânia, August 2016. Curator text. Available from: <https:// daltonpaula.com/dalton-paula-e-a-rebeliaonegra/>. SOBRAL, D. Dalton Paula e a arte de amansar senhores (Dalton Paula and the art of taming lords). Goiânia, ago. de 2016. Curator text. Available from: <https://daltonpaula.com/dalton-paula-a-a-artede-amansar-senhores/>. Works on show Photos A notícia (The news), photo performance, 2013 Photos: Heloá Fernandes Corpo em quadrado P (Body in square B), photo performance, 2012. Photo: Heloá Fernandes Corpo em quadrado B (Body in square W), photo performance, 2012. Photo: Heloá Fernandes Video Implantar anamú (Implanting anamú), 50’14’’, video, Fortaleza de San Carlos de la Cabaña, Havana, Cuba, 2016
João Manoel Feliciano The performances – almost always photos and videos – with my hair interacting with other objects, create dialogues within a human-intellectual trajectory, reflecting the identity crisis of postcolonial and post-slaveowner-régime society. The crisis is much more visible in the middle and upper classes of countries like Brazil, who, in practice, have not come to terms with their non-white or mestizo ethnic and cultural condition. 127
My work suggests that hair has an undeniable effect (both on the artist and the audience) when it comes to psychological, social, racial, and/or political issues. In addition, much of my work incorporates animals, trees, bones and organic materials in a physical or poetic way. These elements appear in my photos, performances, drawings and installations, punctuating my personal trajectory, incorporating and recoding elements of the culture where I live, making my work a reflection and a metaphor of a Western immigrant (Afro-descendant/“latino” mestizo) within what is theoretically the cradle of this classical culture: the European continent. The works explore this concept with not only images, but also with their titles, which are all in Latin, as in the series Capillus (meaning hair). The idea is to give poetic form to all the organic and imagistic culture that comes from the cultural shock and relationship. These themes, always present in my works, suggest that art, mythology in general, organic materials and “everyday life” are ultimately inseparable. Mainly the performances and videos, which reflect the concept of space/time that is connected or not with nature and society. João Manoel Feliciano Recife, Pernambuco, 1978 www.joaomanoelfeliciano.com Lives and works in Madrid, Spain. Artist. He is currently doing a Master’s in Art Therapy from the Universidad Complutense de Madrid. He graduated in Fine Arts from the Federal University of Pernambuco (Ufpe) in 2002. Individual exhibitions Sonus, Instituto de Arte Contemporânea (IAC), Sesc, Ufpe, 2012. Mensagem (Message), Galeria de Arte Dumaresq, Recife, 2012. La Performance Chorda, Museu de Arte Moderno Aloísio Magalhães (MAMAM no Pátio), Recife, 2010. 128
Capillus Corpus, Lokaal WV15 Gallery, Amsterdam, The Netherlands, 2010. Vídeo de Artista (Video by the Artist), IAC, UFPE, Recife, 2009. Capillus, Trajectories Project at the Fundação Joaquim Nabuco, Recife, 2008.
Mateus 6:26, 27, (Matthew 6:26, 27) 2008. (https://www.youtube.com/watch?v=iSjhp496JIs) Crystallus Capillus, 2007. (http:// joaomanoelfeliciano.com/crystalluscapillus-20072008/) Holomentabolos, 2005.
Collective exhibitions Capillary, WM Gallery, Amsterdam, The Netherlands, 2017. Coloquios, Galeria Antonio de Suñer, Madrid, Spain, 2017. ULTIMÍSIMOS, Galeria Antonio de Suñer, Madrid, Spain, 2013. Transperformance 2, Oi Futuro, Rio de Janeiro, 2012. Entre Trópicos - 46º05’ (Between the Tropics - 46º05’): Cuba/Brazil, CAIXA Cultural, Rio de Janeiro, 2012.
Bibliographic references Entre Trópicos - 46º05’ (Between Tropics 46º05’): Cuba/Brazil CAIXA Cultural do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Tisara, 2012. 84 p. Exhibition catalog. FLÓRIDO, Marisa. (Org). Transperformance 2: Inventários de gestos (Transperformance 2: Inventory of gestures.). Rio de Janeiro: Publ. F10 Editora, 2015. 190 p. Exhibition catalog. FLÓRIDO, Marisa. Nós, o outro, o distante na arte brasileira contemporânea (We, the other, the distant in contemporary Brazilian art). Rio de Janeiro: Publ. Editora Circuito, 2014. Lat 8s Long 34w. Pernambuco: FUNDARPE, 2009. 79 p. Exhibition catalog.
Performances Auctarium Capillus, WM Gallery, Amsterdam, The Netherlands, 2017. Opus Capillus, Madrid, Spain, 2016. Mare Capillus, Praia de Serrambi, Pernambuco, 2012. Chorda, MAMAM no Pátio, Recife, 2010. Barca Capillus, Olinda, 2008. Crystallus Capillus, SPA das Artes, Recife, 2008. Mateus 6:26, 27, Performatic Evenings with Performance, Recife, 2008. Holomentabolos, SPA das Artes, Recife, 2006. Videos and recordings of performances Auctarium Capillus, 2017. (http:// joaomanoelfeliciano.com/auctarium-capillus-2017/) Opus Capillus, 2016. (http://joaomanoelfeliciano. com/opus-capillus/) Draconis Capillus, 2012. (http:// joaomanoelfeliciano.com/draconis-capillus-2012/) Mare Capillus, 2012. (http://joaomanoelfeliciano. com/mare-capillus-2012/) Barca Capillus, 2008. (http://joaomanoelfeliciano. com/inicio/)
Works on show Photos Apollo Capillus IV, Madrid, Spain, 2016 Photo with collaboration of Marijn Van Iterson Crystallus Capillus, SPA das Artes, Recife, PE, 2007 Register: Helder Tavares Cuprum Capillus, photo performance, 2008 Photo with collaboration of Thiago Vieira Feliciano Barca Capillus, Olinda, PE, 2008 Photo with collaboration of Thiago Vieira Feliciano Carta Capillus, Olinda, PE, 2008 Photo with collaboration of Manoel Feliciano and Thiago Vieira Feliciano Videos Auctarium Capillus, 3’46’’, WM Gallery, Amsterdam, Holanda, 2017, register: Sascha Verstegen Barca Capillus, 3’19’’, Olinda, PE, 2008, video: Bruno Vieira
Crystallus Capillus, 7’29’’, Kairos Project, 2007 fotography/edition: Gê Carvalho Mare Capillus, 2’48’’, Praia de Serrambi, PE, 2012, register: Iason Pachos
Moisés Patrício My artistic research has as its main focus the relationship between black bodies and contemporary urban daily life. To deal with this subject which is dear not only to me, but to Brazilian black population in general, for the last five years or so, I have been mobilizing different technical and other resources to express myself, such as installations, sculptures, drawings, photographs, videos and performances. The subject appears in different forms, constituting my poetic side, and each work is a critical commentary on notions such as diaspora, negritude and structural racism, but also on the beauty of Afro-oriented practices, such as the preparation of offerings dedicated to orixás and other deities of African origin. Although my work may in some cases possess strong autobiographical content – after all, there is no escape from one’s personal experience – I always look for a universal language through plastic solutions that go beyond my immediate cultural references. I am anxious to think of positive and respectful human relationships where affective exchange is possible far beyond the commodification of life, which is increasingly occurring in the contemporary world, where exchanges are reduced to mere money alone. Therefore, I am aware of how much I can contribute with my work to integrating people better, by promoting new social relations. I started to be attracted to artistic production very early – at nine years of age. I remember the design and painting workshop held by the Argentine artist Juan José Balzi, who I followed for a decade. But it was after my graduation in Visual Arts at ECAUSP that I entered the professional medium of the plastic arts for good. There, I had the opportunity to study with Carlos Fajardo, Marco Gianotti, Geraldo 129
de Souza Dias, Ana Maria Tavares and Neide Marcondes, among others. At the same time, I attended a number of courses with artists and critics such as Paulo Miyada, Pedro França, Sandra Cinto and others. Moisés Patrício São Paulo, São Paulo, 1984 www.moisespatricio.weebly.com He lives and works in São Paulo. He graduated in Visual Arts from the University of São Paulo, 2014. A visual artist and art educator, he works with performance, photography, video, rituals and installations, in works that deal with elements of Latin and Afro-Brazilian culture. Individual exhibitions Aceita? (Do you accept?) Casa Criar, Ribeirão Preto, 2017. Aceita?, Red Bull Station, São Paulo, 2016. Aceita?, Casa do Olhar Luiz Sacilotto, Santo André, 2016. Obras Recentes (Recent Works), Galeria de arte Gabinet D Imagem, São Paulo, 2015. Collective exhibitions Metrópole: Experiência Paulistana (Metropolis: The São Paulo Experience), Estação Pinacoteca. São Paulo, 2017. Tristes Trópicos (Sad Tropics), Galeria Mezanino, São Paulo, 2017. Bienal de Dakar, Museum of African Arts, Senegal, 2016. A Nova Mão Afro-Brasileira (The new Afro-Brazilian Hand), Museu Afro Brasil, São Paulo, 2014. Papel de Seda (Rice Paper), Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos - IPN Museu Memorial, Rio de Janeiro, 2014. Performances A presença Negra (The Black presence), Instituto Tomie Ohtake, 2016; Galeria Nara Roesler, 2016; Pinacoteca do Estado de São Paulo, 2015; Galeria 130
Luisa Strina, 2015; along with a number of other institutions in São Paulo. Videos and recordings of performances Aquele que ergue o galho da árvore (He who raises the tree branch), 2014. (https://youtu. be/6HaxWRXufAA) Padê de Exu libertador (Offering to Exu the liberator), 2014. (https://youtu.be/DZPuB2BdHxw) Meu perfil 2 (My profile 2), 2013. (https://vimeo. com/15437838) Meu perfil (My profile), 2013. (https://vimeo. com/15427384) Bibliographic references BISPO, Alexandre Araújo; Gomes, Christiane (collab.). O que oferecer: Moisés Patrício e as potencialidades políticas do gestor criador (What to offer: Moisés Patrício and the political potentialities of the creative manager). In Omenelick, 2nd act, Year IV, edition ZER015, 2015. PATRICIO, Moisés; BRITO, Peter. The black presence - Manifesto. In Omenelick, 2nd act, Year IV, edition ZER015, 2015. COSTA, Patrícia. A arte e o candomblé nas mãos de Moisés Patrício, Aceita? (Art and candomblé in the hands of Moisés Patrício, Do you accept?). Project Afreaka. Available from: <http://www.afreaka. com.br/notas/arte-e-o-candomble-nas-maos-demoises-patricio-aceita/>. Works on show Photos Aceita? (Do you accept?), 2013/2017 Videos Vídeo arte II (Video art II), 6’17’’, 2014 (…) dos sofrimentos físicos e morais de minha vida, e do penoso esforço de ascensão na escala social ((...) of the physical and moral sufferings of my life, and of the painful effort of ascension up the social ladder), 1’40’’, 2014
Musa Michelle Mattiuzzi Experimento II – Estudando o vermelho em dilúvio, relato de experiência (Experiment II - Studying red in a flood, experiment report) Photography: Hirosuke Kitamura | Creation and Performance: Michelle Mattiuzzi Walking around wearing the color red on one’s body. The attempt is to create images. While proposing an initiative at casa XIS, I am intrigued by the walls. The rains in Salvador during the last days had been torrential, so many memories were triggered with so much water in the house... The gutters are part of my imagination. When I was a child, my house used to flood, I remember when we went to a public school yard, taking nothing at all. These were always days of panic. The walls were shifting. Now I do a torture procedure, in an attempt to ritualize this moment, which was full of conflict in my life. A bucket full of gooseberries with a faucet dripping onto my head. The image for those arriving is a shock... As they approach, the interlocutors can smell the sweet odour, so that they can grasp the blood red of our violent imaginary world... For a duration of 5 hours and 50 minutes, three drops per minute drip onto my head. For the first two hours, I feel my body temperature drop. Gradually, I fall into an altered state of consciousness. My body gets addicted to alcohol-free drunkenness. Luan and Oske stayed with me, so they were my real references in the house... May 2013 Musa Michelle Mattiuzzi São Paulo, São Paulo, 1983 www.musamattiuzzi.wix.com/musamattiuzzi Musa Michelle Mattiuzzi became Musa in the middle of the year two thousand, in a very prosperous city located to the northeast of Brazil: Salvador de Bahia. And that’s where she conquered the world. Today she lives without asking permission from anyone. Right now she is in Athens, looking and disobeying with pride and grace, making another body, a reference to the music of a carioca singer.
She’s popular and competing for the Pipa prize in the online category (2017). She is a chubby girl, she likes disobedience, she lives in the limellight of failure. (Des)empowered, she leads the disorganized crime that is her life. Alive, she runs from the fear of death. In the community, she lives the patriarchy that has been plagued by the collective discourse. She is black, a woman, and a lesbian... She lives in the ruins, under the landscape of the disorder of the world. Collective exhibitions Programm Night School, WienFest Wochen, Vienna, Austria 2017. AMOQA, Queer Art Museum, Athens, Greece 2017. Political Imagination Workshop - Bienal de São Paulo, São Paulo, 2016. Performance Exhibition Casa da Luz, São Paulo, 2016. Multitudes Exhibition, Sesc Pompeia, São Paulo, 2015. Performances Merci beaucoup, blanco! (Thank you very much, white!) Programm Night School, WienFest Wochen, Vienna, Austria 2017; Exhibition Multitudes, Sesc Pompeia, São Paulo, 2015. Experimentando o vermelho em dilúvio II (Studying red in a flood II), AMOQA, Queer Art Museum, Athens, Greece 2017. Performance negra, presença política nos espaços de arte (Black performance, political presence in art spaces), Political Imagination workshop, Bienal de São Paulo, São Paulo, 2016. Experimentando o vermelho em dilúvio (Studying red in a flood), Casa da Luz Performance Exhibition, São Paulo, 2016. Videos and recordings of performances Experimentando o vermelho em dilúvio II (Studying red in a flood II), 2016. Merci beaucoup, blanco! (Thank you very much, white!), 2015. É tudo fake (It’s all fake), 2008. 131
Bibliographic references BACELLAR, Camila Bastos. Performance e feminismos: diálogos para habitar o corpoencruzilhada (Performance and feminisms: dialogues to inhabit the body-crossroads). Urdimento, v. 2, n. 27, p. 62-77, December 2016. BISPO, Alexandre Araújo. Corpo, festa e dor. Ativismo, estereótipos raciais e história social da arte em Michelle Mattiuzzi (Body, party and pain. Activism, racial stereotypes and social history of art in Michelle Mattiuzzi). In Omenelick, 2nd act, December 2013. Available from:<http:// omenelick2ato.com/artes-plasticas/michellemattiuzzi/>. BISPO, Alexandre Araújo; LOPES, Fabiana. Presenças: A performance negra como corpo político (Black performance as a body politic). Harper’s Bazaar Art Brasil, April 2015. Works on show Photos Experimentando o vermelho em dilúvio (Studying red in a flood), Salvador, BA, 2013 Photos: Hirosuke Kitamura Video Experimentando o vermelho em dilúvio (Studying red in a flood), 7’35’’, Salvador, BA, 2013 Camera: Hirosuke Kitamura
Priscila Rezende I, Priscila Rezende, together with thousands of other individuals, occupy the base of the Brazilian social pyramid. I’m a woman, and I’m black. Faced with our situation, I consider it necessary and even vital that my work should reflect this position. Discrimination, oppression, limitations imposed on us, stereotypes imprisoning us, the insertion and presence of the black individual in this society act as the main guiding force behind the questioning present in my work. Our lives and experiences as black subjects in Brazilian society are at the same time similar, 132
because certain experiences of discrimination are institutionalized, imposed on us in all our living environments, denying rights and spaces, but are also unique, because we are unique individuals, endowed with unique peculiarities and subjectivities. Starting from my own experiences, my work acts as a kind of confrontation, because through visceral corporal actions, with profound approaches, I seek to establish a direct and objective dialogue with the audience. Dire poverty, reduction of the black body to an object that serves, attempts to inferiorize and disparage, weakened self-esteem and internal conflicts are present in the works Bombril and Deformação (Deformation) where hair, a constant butt of jokes faced by black people, is the central issue in these discussions. Because they have an image that does not conform to the standard for “good-looking”, and their non-representativeness and permanence in positions of inferiority, these are situations that are common knowledge among black women. Such adversities are torn apart in both works, creating powerful and intense images that visibly and concretely throw the insults suffered in silence by these women back into the faces of the viewers. The black body, especially the female body, is represented – in pejorative stereotypes, hypersexualization and commodification, as an easily accessible, sellable, enjoyable body deprived of its privacy and control – as a free body. In my work, more specifically in the performances Barganha (Bargain), Vem... pra ser infeliz (Come... and be unhappy) and Purificação (Purification), I seek to appropriate these places, not as a representation of weakness, where this body is kept oppressed and limited to those places where it’s allowed, but rather as an emancipated body that refuses such representations and carries within itself the strength and power capable of imposing itself in a posture of resistance and confrontation. Priscila Rezende Belo Horizonte, Minas Gerais, 1985 https://www.facebook.com/art.priscilarezende/
Priscila lives and works in Belo Horizonte, Minas Gerais. A visual artist, performer, questioner, critic, woman, black, she graduated in Fine Arts from the State University of Minas Gerais, 2011. She has worked as an art educator in the Inhotim Institute in Brumadinho, in the Museum of Mines and Metal, in the Palace of Arts, in the Pampulha Art Museum and in artistic workshop projects in the public school system of Belo Horizonte. She is currently a lecturer at Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB) in Belo Horizonte. Collective exhibitions Perfura Ateliê de Performance, Sesc Palladium, Belo Horizonte, 2017. Divinity, Supra-Realities or the Exorcisement of Witchery, SAVVY Contemporary, Berlin, Germany, 2016. Saldo de Performance, Centro Cultural BDMG, Belo Horizonte, 2015. Limite Zero (Zero Limit), Galeria Rabieh, São Paulo, 2014. Mostra Outra Presença (Show Another Presence), Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte, 2013. Performances Vem... pra ser infeliz (Come... and be unhappy), Perfura Ateliê de Performance, Sesc Palladium, Belo Horizonte, 2017. Re-education, The Incantation of the Disquieting Muse: On Divinity, Supra-Realities or the Exorcisement of Witchery, Galeria SAVVY Contemporary, Berlin, 2016. Gênesis 09:25, Saldo de Performance, Centro Cultural BDMG, Belo Horizonte, 2015. Deformação (Deformation), Edifício Arcângelo Maletta, Belo Horizonte, 2015. Purificação III (Purification III), Galeria Mama/ Cadela, Belo Horizonte, 2014. Barganha (Bargain), Ceasa, Contagem, 2014. Purificação II (Purification II), Mostra Entre!, Belo Horizonte, 2014. Purificação I (Purification I), Centro de Artes da Maré, Rio de Janeiro, 2013. Bombril, Escola Guignard, Belo Horizonte, 2010.
Laços (Ribbons), Escola Guignard, Belo Horizonte, 2010. Videos and recordings of performances Deformação (Deformation), 2016. (https:// www.facebook.com/art.priscilarezende/ videos/1695537614077059/) Gênesis 09:25, 2015. (https://www.youtube.com/ watch?v=s-rpf7QZOTI&t=116s) Bombril, Museu Capixaba do Negro, Vitória, 2015. (https://www.youtube.com/watch?v=AGXeK5CarU&t=4s) Barganha (Bargain), 2014. (https://vimeo. com/213462950) Bombril, Museu Memorial Minas Gerais Vale, Belo Horizonte, 2013. (https://www.youtube.com/ watch?v=2uEWS9eNPmE&t=10s) Bibliographic references BISPO, Alexandre Araújo; LOPES, Fabiana. Presenças: A performance negra como corpo político (Presences: Black performance as a body politic). Harper’s Bazaar Art Brasil, April 2015. LOPES, Fabiana. A arte contemporânea no Brasil e as coisas que (não) existem (Contemporary art in Brazil and the things that do (not) exist)). Omenelick, 2nd act, Year IV, edition ZER015, 2015. MATA, Paulo Aureliano da; FREY, Tales. (Orgs.). Evocações da Arte Performática (Evocations of Performing Art) (2010-2013). 1st edition. Jundiaí: Paco Editorial, 2016. Works on show Photos Vem... pra ser infeliz (Come... to be unhappy), Perfura Performance Studio, Sesc Palladium, Belo Horizonte, MG, 2017 Photo: Luiza Palhares Laços (Ribbons), Mostra Outra Presença, Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte, MG, 2013 Photo: Luiza Palhares Deformação (Deformation), “Empoderadas - Gritemme, negra” project, Sesc Pompéia, São Paulo, 2016 Photo: Renata Martins e Nuna 133
Gênesis 09:25, Saldo de Performance, BDMG Cultural Center, Belo Horizonte, MG, 2015 Photo: Luiza Palhares Bombril, Belo Horizonte, MG, 2010 Videos Barganha (Bargain), 2’59’’, Às Se7e Filmes, 2014 Bombril, 35’’, Rabieh Gallery, São Paulo, SP, 2014, register: Fabiana Lopes Deformação (Deformation), 1’07’’, “Empoderadas Gritem-me, negra” project, of Renata Martins, 2016 Gênesis 09:25, 4’51’’, BDMG Cultural Center, Belo Horizonte, MG, 2015, register: Saldo de Performance
Renata Felinto Performing life I am from São Paulo, born in a family of five children, raised in the periphery. I came across the marginalization imposed on women, black and peripheral populations around the age of 15. I soon realized that not being standard did not fit into my existence. So my experiences are polarized, from sweetness to bitterness, sometimes without a smooth transition between these flavors. Probably, I’ve always been performing because I remember people saying that I should be an “actress”. Because I was funny, outgoing, wise and nice. All qualities, or rather, tricks developed and potentialized to live less tensely. From my experience in formal education to the completion of my doctorate, well over 30 years have passed and I have been able to find myself, along with an immense pleasure in this, what these experiences have forged. In parallel, I live with the fact that today I am a woman absolutely outside of the ideals imputed to me, for being an academic, for being an artist, for refusing the need for a man by my side as a reason to be in the world, for being a mother and to deal openly with the financial, emotional and psychological burden involved in being alone. My way of being was always accompanied by uncreative and generic comments like “crazy”. Yes, 134
because women who question things are crazy. So through the visual arts I exercised my sanity from what others have termed madness. My work has always started with my annoyances, problematizations, observations, reflections about me in the world, my relationship with people, who are the most interesting beings on this planet. Each person as a universe. Between 2010 and 2011, I left my formal job and Afro Retratos (Afro Portraits) came along. It was a series of paintings in which I deliberately disassociated myself from the tradition of painting produced in Brazil, I represented myself as a woman from several places. This was when I started to think of performance as a language in constant dialogue with (my) life, with which it pulsates, breathes, perspires. From the critique of beauty standards, behavior and consumption patterns, White Face and Blonde Hair (2012) to my territorial and internal metamorphosis caused by the abrupt move from São Paulo to Ceará in 2016, by myself with two babies, in Haliaeetus Leucocephalus Female Africanus ou Caminho Reverso com Versos de Ardor (Haliaeetus Leucocephalus Female Africanus or Reverse Path with Burning Verses) (2017), I am always resignifying myself as a Vitruvian woman, with myself as the measure of all things. In what I produce there is no formal and conceptual distance in relation to life, I perform life. Renata Felinto São Paulo, São Paulo, 1978 She lives and works in Crato, Ceará. She has a PhD in Visual Arts from the University of São Paulo (Unesp), 2016, and is a specialist in Curatorship and Education in Art Museums from the Museum of Contemporary Art at Unesp, 2009. Master’s in Visual Arts from Unesp, 2004. She graduated in Fine Arts from Unesp, 2002. She is a visual artist, researcher and assistant professor in the Theory of Art Sector of the Regional University of Cariri.
Collective exhibitions Metrópole: Experiência Paulistana (Metropolis: The São Paulo Experience), Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo, 2017. Diálogos Ausentes (Absent Dialogues), Instituto Itaú Cultural, São Paulo, 2016. Afro como Ascendência, Arte como Procedência (Afro as Ancestry, Art as Provenance), Sesc Pinheiros, São Paulo, 2013. Tempos de Abolição Tempos de Escravidão: Iconografias e Textos, (Times of Abolition, Times of Slavery: Iconographies and Texts), Museu Afro Brasil, São Paulo, 2010. São Paulo SP, Imagens Perversas e Inocentes (Perverse and Innocent Images), Museu Afro Brasil, São Paulo, 2007. Individual exhibitions White Face and Blonde Hair, traveling exhibition by the Sesi units of the State of São Paulo, 2016. Afro Retratos (Afro Portraits), 1ª Mostra Cultural da Mulher Afro, Latino-Americana e Caribenha (1st Cultural Show of Afro, Latin American and Caribbean Women) Centro de Cultura e Formação da Cidade Tiradentes, São Paulo, 2015. Afro Retratos: A Identidade de Nós (Afro Portraits: The Identity of Us), Sesc Carmo, São Paulo, 2014. Afro Retratos II (Afro Portraits II) Prêmio Expressões Culturais Afro-Brasileiras (Afro-Brazilian Cultural Expressions Award), Tracker Tower, São Paulo, 2012. Penso, logo resisto (I think, therefore I resist), Sesc Bauru, Bauru, 2004. Performances Haliaeetus Leucocephalus Female Africanus ou Caminho Reverso com Versos de Ardor (Haliaeetus Leucocephalus Female Africanus or Reverse Path with Burning Verses), Juazeiro do Norte, 2017. Danço na Terra em que Piso (I Dance on the Earth that I Step on), São Paulo, 2013. Brunch para Exu (Brunch for Exu), São Paulo, 2013. White Face and Blonde Hair, São Paulo, 2012.
Videos and recordings of performances Haliaeetus Leucocephalus Female Africanus ou Caminho Reverso com Versos de Ardor (Haliaeetus Leucocephalus Female Africanus or Reverse path with Burning Verses), 2017. Danço na Terra em que piso (I Dance on the Earth that I Step on), 2013. (https://vimeo. com/105755526) Brunch para Exu (Brunch for Exu), 2013. (https:// vimeo.com/107784579) White Face and Blonde Hair, 2012. (https://www. youtube.com/watch?v=r1WqvnAhE6Q) Bibliographic references ARAUJO, Emanoel (Org.) A mão afro-brasileira: significado da contribuição artística e histórica (The Afro-Brazilian hand: meaning of its artistic and historical contribution). São Paulo: Official press of the State of São Paulo; Museu Afro Brasil, 2010. BISPO, Alexandre Araújo; LOPES, Fabiana. Presenças: A performance negra como corpo político (Presences: Black performance as a body politic). Harper’s Bazaar Art Brasil, April 2015. BOUSSO, Daniela. Quem são os artistas negros da arte contemporânea (Who the black artists are in contemporary art). Revista Select, August 2016. Available from: <http://www.select.art.br/quemsao-os-artistas-negros-de-arte-contemporanea/>. BRITO, Maira de Deus. Saiba quais são os artistas plásticos negros reagem à segregação do mercado (Find out how black plastic artists react to market segregation). Correio Braziliense, February 2015. Available from: <http://www.correiobraziliense. com.br/app/noticia/diversao-e-arte/2015/02/28/ interna_diversao_arte,473273/saiba-quais-sao-osartistas-plasticos-negros-reagem-a-segregacaodo-mercado.shtml>. DIALLO, Aicha. Race, Art and Publishing in Contemporary Brazil: The Art of the Black Atlantic I. Contemporary And, March 2016. Available from: <http://www.contemporaryand.com/magazines/ the-art-of-the-black-atlantic-ii/>.
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Works on show Photos White face and blonde hair, São Paulo, SP, 2012 Photos: Crioulla Oliveira Haliaeetus Leucocephalus Female Africanus ou Caminho reverso com versos de ardor (Haliaeetus Leucocephalus Female Africanus or Reverse path with burning verses), Juazeiro do Norte, CE, 2017 Photos: Carlene Cavalcante Brunch para Exu (Brunch for Exu), São Paulo, SP, 2013 Photos: Marina Arruda Danço na terra em que piso (I dance on the Earth that I step on), Sesc do Carmo, São Paulo, SP, 2013 Photo: Marina Arruda Videos Haliaeetus Leucocephalus Female Africanus ou Caminho Reverso com Versos de Ardor (Haliaeetus Leucocephalus Female Africanus or Reverse path with burning verses), 4’25’’, 2017 Danço na terra em que piso (I dance on the Earth that I step on), 9’24’’, SESC do Carmo, São Paulo, SP, 2013. Filming, edition and soundtrack: Marcos Felinto
Rommulo Vieira Conceição O espaço se torna lugar na medida em que eu me familiarizo com ele (The space becomes place as I become familiar with it)/2015-2017 Since the year 2000, the works that I have created refer to contemporary man’s perception of the physical space he occupies. The organization, perception and use of physical space characterize social behavior and demonstrate characteristics of the identity of man in the time and space of his existence. Thus, by superimposing different spaces, from domestic and intimate spaces – such as rooms and kitchens (quarto/cozinha / bedroom-kitchen/2006) – to institutional spaces – such as a supermarket and a cinema (SuperCinema/2011) – I imagine, among other things, that I’m also working with the characteristics of contemporary man’s identity, which are complex, simultaneous and crisscrossed by the overlapping interests and contents of his epoch. The representation of space, its functionalization and 136
dysfunctionalization, which are always present in my works, address these interests. The work O espaço se torna lugar na medida em que eu me familiarizo com ele (The space becomes place as I become familiar with it)/2016-2017 consists of a number of photos that were taken as I walked into a landscape in a place I’d never been before. During this walk, I look at the four corners in order to appropriate their vastness and this space. As I perform this procedure, the space becomes familiar. I begin to situate myself within it, finding points of reference (a tree, a stone, a mountain) that make locating myself easier. In this way, space becomes a place, as I appropriate the elements that it is composed of. In addition to the photos, the work contains forms of spatial representations of the place where the photos were taken, such as topographic maps with contour lines, satellite images and the coordinates of the place, as well as the orientation of the walk in relation to geographic north (the azimuth). A soundtrack is produced from the trace of the landscape, deriving from another form of representation of the space/ place being presented. The landscapes selected for the work were chosen in at random, during trips by car around Latin America taken when travelling to and from Porto Alegre. The choice of Latin America was because, although several countries have wide borders and the history of these countries crisscross over these 500 years, the interactions between them, culminating for example in the Mercosur treaty, always end in failure. Ultimately, the politicaleconomic characteristics of the contemporary world make the relationship between these countries purposely more fragile, so that the South American citizen never appropriates this space. Foucault and several geographers (e.g. Yi-Fu-Tuan) suggest that the difference between space and place occurs not only in the organization of the objects that compose them, but also in the degree of familiarity each has with respect to the space that surrounds them. In this way, space can become a place as each one becomes familiar with this space. Place requires affection, an intimate relationship, recognition of the spatial organization.
Rommulo Vieira Conceição Salvador, Bahia, 1968 www.rommulo.com He lives in Porto Alegre, Rio Grande do Sul, and works in Porto Alegre and São Paulo. He has a Master’s degree in Visual Arts from the Federal University of Rio Grande do Sul (UFRGS), 2007, and a doctorate in Science from UFRGS, 1999. He graduated in Geology from the Federal University of Bahia, 1992. He is a visual artist who works with various media such as installation, sculpture, drawing and photography, exploring the subtleties of perception of space in contemporary life and the relations of contemporary man in the world today. Individual exhibitions O meu e o seu espaços se encontram em área de cor tênue (My and your spaces are in a light colored area), Instituto Goethe, Porto Alegre, 2015. Qualquer Lugar (Anyplace), Galeria Casa Triângulo, São Paulo, 2013. Cuidadosamente, Através (Carefully, Through), Galeria Mario Schenberg, Funarte, São Paulo, 2012. Carefully Through, ProArtibus Art-residence Gallery, Ekenäs, Tammisaari, Finlândia, 2009. Número 5 - Torreão (Number 5 - Torreão). Torreão, Porto Alegre, 2003. Collective exhibitions Territórios: artistas afrodescendentes no acervo da Pinacoteca (Territories: Afrodescendant artists in the Pinacoteca collection , Estação Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo, 2016. What’s Your Location?, Contemporary Art Plataform, Kuwait, 2016. Biografia da Vida Urbana (Biography of Urban Life) - X Bienal do MERCOSUL, Memorial do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2015. Singularidades/Anotações (Singularities/ Annotations): Rumos Artes Visuais 1998-2013, Itaú Cultural, São Paulo, 2014. O Agora o Antes, uma Síntese do Acervo do MAC (Now and Before, a Summary of the MAC
Collection), Museu de Arte Contemporânea da USP, São Paulo, 2013. Agora: Simultâneo/Instantâneo (Now: Simultaneous/Instant), Santander Cultural, Porto Alegre, 2011. Video performance O espaço se torna lugar na medida em que eu me familiarizo com ele (The space becomes place as I become familiar with it), 2015/2017. Bibliographic references ALBUQUERQUE, Fernanda. Vitrine: Rommulo Conceição. 8th Bienal do Mercosul: Ensaios de Geopoética (Geopoetical Tests); Fundação Bienal do Mercosul, Porto Alegre, RS, Setember 2011. Exhibition catalog. CARVALHO, Osvaldo. O Arquiteto do Óbvio e do Ambíguo (The Architect of the Obvious and the Ambiguous). Folder of the exhibition “Na Ausência do Primeiro, Preencha com o Segundo” (“In the Absence of the First, Fill in with the Second”). Arte & Ensaios, 2013. CHIARELLI, Tadeu. Sobre a mostra Territórios: artistas afrodescendentes no acervo da Pinacoteca (About the exhibition Territories: Afro-descendant artists in the Pinacoteca collection). São Paulo: Pinacoteca do Estado, 2016, 128 p. Exhibition catalog. FARIAS, Agnaldo. Rommulo Vieira Conceição. Revista DasArtes, n. 36, 2014, p. 28-32. Available from: <dasartes.com.br/materias/ rommulo-vieira-conceicao/>. LOPES, F. Território silenciado, território minado: contranarrativa da produção de artistas afrobrasileiros contemporâneos (Silenced territory, mined territory: counter-narrative of the production of contemporary Afro-Brazilian artists). São Paulo: Pinacoteca do Estado, 2016, 128 p. Exhibition catalog.
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Works on show Photos O espaço se torna lugar na medida em que eu me familiarizo com ele (The space becomes place as I become familiar with it), still video, 2015/2017 Video O espaço se torna lugar na medida em que eu me familiarizo com ele (The space becomes place as I become familiar with it), 37’49’’, 2015/2017
Rubiane Maia I studied Visual Arts and got a Master’s in Institutional Psychology from the Federal University of Espírito Santo, Brazil. For years I worked as an art teacher with teenagers, young people and adults in public schools in Vitória. In 2007, I began the experiences of action and urban intervention and, a few years later, I began to dedicate myself to performance. A good part of my artistic practice gained shape through temporary and immersive days in festivals and artist-in-residence programs, because in those days I was dividing my time between being a teacher and an artist, activities that, at certain times, were well integrated, but, at other times, were poles apart. Since then, the basis of my work has been performance, which has been sustained by this need for action, movement and, at the same time, resistance. Along the way, a number of transformations have made me also follow other paths, which nowadays include producing films and videos, objects, drawings, collages etc. I am interested in thinking about the artistic work in a broad manner, to try to extract the maximum out of any subject that I propose to investigate as a starting point. I appreciate site-specific more than studio art, because I am interested in the challenge of transporting concepts to strange unknown places, where I will inevitably have to deal with the unpredictable and with what is available, sometimes including precariousness. In view of this, I am constantly (re)creating my notion of existential territory (spatial, temporal, social, cognitive etc.), cultivating an attraction for states of synergy and making use of my body to 138
extend these perceptions beyond the usual. Thus, I consider relationships of affection and flow that are not always visible as being important, including poetry, a constant intercessor that has led me to believe that I am a militant for sensibility and adopting a continuous premise that life can always operate at greatly expanded power. I am interested in the detail, everything that is left over, that does not fit into an image, not even into an action, and I struggle in an eternal attempt to reach the unreachable. Inevitably, what I present as work are temporary traces of these questions, of this incompleteness. Currently, I am dedicated to the study of telekinetic processes (conscious manipulation of energy, force fields); the interdependence between bodies, objects (things) and forces of nature; and silent resilience when faced with the countless daily micro-revolutions. Rubiane Maia Caratinga, Minas Gerais, 1979 www.rubianemaia.com She lives and works between Vitória, Espírito Santo, and London, England. Master’s in Institutional Psychology from the Federal University of Espírito Santo (Ufes), 2011. She graduated in Visual Arts from the Ufes, 2004. She is an artist working at the intersection between performance, installation and video, as well as flirting with drawing, collage, cinema and literature. Individual exhibitions À Primeira Vista: uma maçã e duas cadeiras (At First Sight: an apple and two chairs), Sesc Vila Mariana, São Paulo, 2015. Collective exhibitions Das Virgens em Cardumes e da Cor da Auras (Of the Virgins in Shoals and the Color of Auras), Museu Bispo do Rosário, Rio de Janeiro, 2016. Passe/Impasse, (Pass/Impasse) Blueproject Foundation, Barcelona, Spain, 2016. Terra Comunal - Marina Abramovich + MAI, Sesc Pompeia, São Paulo, 2015.
Modos de Usar (Instructions for Use), Museu de Arte do Espírito Santo, Vitória, 2015. 9th Kaunas Biennial UNITEXT, National Museum of M. K. Ciurlionis, Kaunas, Lithuania, 2013. Performances La Mesa, Instituto de Artes Gráficas de Oaxaca IAGO, Oaxaca, México, 2016. Cartas de Vento (Wind Letters), Galeria Península, Porto Alegre, 2016. Próximo a uma direção invisível (Close to an imaginary direction), Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea, Rio de Janeiro, 2016. Where everyone sees, Ongoing, Embassy of Brazil in London, UK, 2016. Caminho do Chá (Tea Road), PER-FORMA, Sesc Bom Retiro, São Paulo, 2016. Banquete (Banquet), p.ARTE, Bicicletaria Cultural, Curitiba, 2015. Exercícios Aéreos (Air Exercises), Corpo Contínuo, Sesc Santana, São Paulo, 2015 Span, Performapa, Sesc Ipiranga, São Paulo, 2015. Anamnese, Performance em Encontro (Performance in Meeting), Sesc Campinas, Campinas, 2015. O Jardim (The Garden), Sesc Pompeia, São Paulo, 2015. Travessia (Crossing), V Bienal de Performance Deformes, Santiago e Valdivia, Chile, 2014; Espírito Mundo Paris, Paris, France, 2012. Delírio (Delirium), Central Galeria - Mostra Performatus #1, São Paulo, 2014; TRAMPOLIM Platform for Meetings with the Art of Performance Vitória, Rio de Janeiro and Fortaleza, 2011. Decanto, até quando for preciso esquecer (I decant, even when it is necessary to forget), Exchange Dublin, Dublin, Irleand, 2013; Espírito Mundo Portugal, Porto, Portugal, 2013; Hacklab LIS - Ufes, Vitória, 2013. Observatório (Observatory), Laboratório Curatorial: SP Arte, São Paulo, 2013. Transferência. Talvez o nascimento das lágrimas (Transfer. Perhaps the birth of tears), Boom Global Creative Action, Rio de Janeiro, 2012; I Venice International Performance Art Week,
Venice, Italy, 2012. Incubação. Transbordamento para corpo d’água (Incubation. Overflow to water body), XI Festival de Apartamento, Campinas, 2012. Vermelho-bicho (Interlúdio) (Animal red) (Interlude)), Sarau Literário Cronópio - UFES, Vitória, 2012. Observatório (Observatory), II Circuito de Performance Bode Arte, Natal, 2012. Caminho do Chá (Tea Road), Olhares sobre o Corpo (Perspectives on the Body), Uberlândia, 2012. Labirinto (Labyrinth), Espírito Brum Festival, Birmingham, UK, 2012. À Flor da Pele (Under the Skin), 10th SPA das Artes, Recife, 2011; TRAMPOLIM Platform for Meetings with the Art of Performance, Vitória, Rio de Janeiro and Fortaleza, 2011. Videos and recordings of performances Janela Temporária. À Luz das Sombras (Temporary Window. In the Light of Shadows), 2016. (https://vimeo.com/227758491) Apanhador de Vento (Wind Catcher), 2016. (https://vimeo.com/187504788) Preparação para Exercício Aéreo, a Montanha (Preparation for Aerial Exercise, the Mountain) I, II, 2016. (https://vimeo.com/172295565) (https://vimeo.com/172295636) Preparação para Exercício Aéreo, o Deserto (Preparation for Aerial Exercise, the Desert) I, II, III, 2016. (https://vimeo.com/163156315) (https://vimeo.com/163159242) (https://vimeo.com/164831630) Baile (Ball), 2015. (Fragmento) (Fragment), (https://vimeo.com/164831655) Baile, 2015. (https://vimeo.com/132151531) 386 Passos além (386 Steps beyond), 2015. (https://vimeo.com/133099953) Antes que eu esqueça (Before I forget), 2014. (https://vimeo.com/131291488) Esboços de um corpo desconhecido (Sketches of an unknown body) N˚ 1, N˚ 2, 2014. (https://vimeo.com/130802193) (https://vimeo.com/133410409) 139
Delírio (Delirium), 2014. (https://vimeo.com/159926694) Transferência. Talvez o nascimento das lágrimas (Transfer. Perhaps the birth of tears), Nuvem Estação Rural de Arte e Tecnologia, Residência de Verão, Visconde de Mauá, 2013. (https://vimeo.com/135178536) Transferência. Talvez o nascimento das lágrimas, I Venice International Performance Art Week, Palazzo Bembo, Veneza, Italy, 2012. (https://vimeo.com/172835211) Nós (Knots), 2012. (https://vimeo.com/225134790) Vermelho-bicho (interlúdio) (Animal red (Interlude)), 2012. (https://vimeo.com/135180949) Encuentro. Entonces yo digo sí, lo acepto (Meeting. So, I say yes, I accept), 2011. (https://vimeo.com/225134686) À Flor da Pele (Under the Skin), 2011. (https://vimeo.com/225134595) Works on show Photos Baile (Ball), still video, experimental video, performance, Cemitério do Peixe, Conceição do Mato Dentro, MG, 2015 Videos Baile (Ball), 8’8’’, experimental video, performance, duration: 10 days, Cemitério do Peixe, Conceição do Mato Dentro, MG, 2015 Baile (Fragmento I) (Ball (Fragment I)), 9’14’’, experimental video, performance, duration: 10 days, Cemitério do Peixe, Conceição do Mato Dentro, MG, 2015 Baile (Fragmento II) (Ball (Fragment II)), 9’14’’, experimental video, performance, duration: 10 days, Cemitério do Peixe, Conceição do Mato Dentro, MG, 2015
Tiago Sant’Ana The colonized laugh out loud every time he appears as an animal in the words of the other. For he knows he is not an animal. And it is just at the instant when he discovers his humanity, 140
he begins to polish his weapons to make it succeed. Frantz Fanon, in The wretched of the Earth My process of artistic composition is immersed in the sociocultural contexts of Bahia (where I was brought up) as a perspective to reflect on the production of Afro-Brazilians and their possible poetic consequences. In works, performance is used as a starting point and, besides being an action in time and space, this language expresses the presence of complex identity inscriptions that cross my body and my existence. In a first phase, it was committed to understanding how contemporary art could operate in an interface with other types of productions involving the population, in popular scenes in the Recôncavo of Bahia region. There was a closeness with the religious symbologies of the black population, in an attempt to rethink images and narratives through displacements and estrangements provoked by the performance. Nowadays, my field of poetic investigation is circumscribed in an effort to understand how we still live under a colonial aegis, even after the ending of the violent system of Portuguese exploitation of the Brazilian lands. The historical processes experienced in a nation that has suffered years of exploitation and systemic violence have left open wounds and lent support to a set of social and racial hierarchies. Black citizenship continues to be structurally denied and the materiality of black bodies is considered as unimportant. In Apagamento #1 (Erasure # 1), from an action that lasted 30 days, I recorded my hair growing and covering the inscription “Cabula”, inscribed on my head – the name of the Salvador neighborhood where 12 young black men were murdered by the police in January 2015. From 2016, I begin to compose the series Manufatura e Colonialidade (Manufacturing and Coloniality). In it, sugar as an organic material and the forced labor are used to make up actions that recall the permanence of this scourge: colonial and its hierarchical systems. This series continues through the activation of the ruins of former colonial spaces
in the Recôncavo region, through performances. The starting point of the series is the realization that the colonial system itself is structured on top of ruins, on the precariousness of subjectivities and bodies – but, fortunately, we never bow to it. Tiago Sant’ana Santo Antônio de Jesus, Bahia, 1990 www.tiagosantanaarte.wordpress.com Tiago lives and works in Salvador, Bahia. He is a performance artist and doctoral student in Culture and Society at the Federal University of Bahia (Ufba). He has a Master’s in Culture and Society from Ufba, 2016. He graduated in Social Communication with a degree in Journalism from the Federal University of the Recôncavo of Bahia, 2012. He is a member of the OSSO Urban Performance Collective, of which he is the curator and organizes MOLA - OSSO Latin American Urban Performances - and Incorpora - encontros virtuais em performance (virtual encounters in performance). He was assistant curator of the 3rd Bienal of Bahia, 2014. Collective exhibitions Axé Bahia - The Power of Art in an Afro-Brazilian Metropolis, Fowler Museum at UCLA, Los Angeles, 2017. Orixás, Casa França-Brasil, Rio de Janeiro, 2016. Reply All, Grosvenor Gallery, Manchester, 2016. Salão de Artes Visuais da Bahia, Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador, 2014. 13th Salão Nacional de Artes de Itajaí, Casa da Cultura, Itajaí, 2013. Performances Refino (série Manufatura e colonialidade) (Refining (from the Manufacturing and Coloniality series)), Festival de Performance da Luz, Centro Cultural Casa da Luz, São Paulo, 2016. Fundanga - Sozinho a gente não vale nada (Fundanga - Alone we are not worth anything), Casa Ibriza, Rio de Janeiro, 2016. Atravessando Estácio - Sozinho a gente não vale
nada ((Crossing Estácio - Alone we are not worth anything), Casa Ibriza, Rio de Janeiro, 2016. Doce X (Bala para Cosme e Damião) (Sweet X (Candy for Cosmas and Damian)), Salões de Artes Visuais da Bahia - Galeria da Cidade do Saber, Camaçari, 2014. Como explicar Rousseau, a origem da propriedade privada e o homem em estado de natureza para 20 quilos de peixe fresco (How to explain Rousseau, the origin of private property and man in the state of nature to 20 kilos of fresh fish), Mostra OSSO Latino Americana de Performances Urbanas, Trancoso, 2013. Chagas #2 (Wounds #2), Latin American OSSO Exhibition of Urban Performances, Arraial D’Ajuda, 2013. Chagas (Wounds), exhibition of Urban Performances with Tiago Sant’Ana and Zmário, Estação da Lapa, Salvador, 2011. Proposições para o Recôncavo #2 e #1, Corpo aberto Corpo fechado (Propositions for the Recôncavo #2 e #1, Open body Closed body), Galeria Cañizares, Salvador, 2011, I Virada Cultural do Recôncavo, Centro Cultural Dannemann, São Félix, 2010. Nas coxas (In the thighs), MANDU Urban Performances exhibition, Casa de Câmara e Cadeia, Cachoeira, 2010. Bejè Oró, Caruru dos 7 poetas em Cachoeira (Caruru of the 7 poets in Cachoeira) (with Mandu group), 2009. Reencantamento de um discurso do corpo (Reenchantment of a discourse of the body), Centro Cultural Dannemann, São Félix (with Mandu group), 2009. Videos and recordings of performances Refino #2 (Da série Manufatura e colonialidade) (Refining #2 (From the Manufacturing and coloniality series)), 2017. (https://youtu.be/ cf6qk0f0JoQ) Apagamento #1 (Erasure #1), 2017. (https:// vimeo.com/209109625) Refino (Da série Manufatura e colonialidade) 141
(Refining) (From the Manufacturing and coloniality series)), 2016. (https://vimeo.com/191866957) Fundanga, 2016. (https://vimeo.com/185552045) Anunciação (Annunciation), 2016. (https://vimeo. com/173402508) Desígnio (Intent), 2016. (https://vimeo. com/180444334) Doce X (Bala para Cosme e Damião) (Sweet X (Candy for Cosmas and Damian)), 2012-2013. (https://vimeo.com/76832831) Como explicar Rousseau, a origem da propriedade privada e o homem em estado de natureza para 20 quilos de peixe fresco (How to explain Rousseau, the origin of private property and man in the state of nature to 20 kilos of fresh fish), 2012. (https://vimeo.com/76832831) Chagas #2 (Wounds #2), 2012. (https://vimeo.com/65183088) Bibliographic references HERÁCLITO, Ayrson Novato Ferreira e MARTINEZ, Violeta. Grupo Mandu performance-art: uma experiência de intercâmbios estéticos (Mandu group performance-art: an experience of aesthetic exchanges). ANPAP, 19th Meeting of the National Association of Researchers in Plastic Arts, “Entre Territórios”, 20 to 25 September 2010 - Cachoeira - Bahia - Brasil. HERÁCLITO, Ayrson Novato Ferreira e SANT’ANA, Tiago. Axés e pertencimentos: marchetaria entre mitologias contemporâneas afro-brasileiras e performance-arte (Axés and belongings: marquetry between Afro-Brazilian contemporary mythologies and performance-art). ANPAP, 22nd Meeting of the National Association of Researchers in Plastic Arts, “Ecossistemas Estéticos” (“Aesthetic Ecosystems”), 15 to 20 October 2013, Belém Pará - Brazil. LOPES, Tadeu. De médicos a meninos: vitalidade gemelar na escultura doméstica popular dos santos Cosme e Damião no Brasil (From doctors to boys: twin vitality in popular domestic sculptures of saints Cosmas and Damian in Brazil). Available from: <https://drive.google.com/open?id=0B->. 142
Works on show Photos Bejè Oró #3, photography (diptic), 2013 Apagamento #1 (Erasure #1), still video, 2017
Negros Indícios
performance vídeo fotografia
Black Indices
performance video photography
Composições simples para ouvir ancestrais (Simple compositions for listening to ancestors), photo performance, 2013
Ciclo de performances / Cycle of performances
Desígnio (Intent), still vdeo, 2016
A partir das 15 horas / From 15 pm
Videos Apagamento #1 (Erasure #1), 1’17’’, 2017 Fundanga, 2’46’’, 2016 Desígnio (Intent), 5’48’’, 2016 Refino (Da série Manufatura e colonialidade) (Refining (From the Manufacturing and coloniality series)), 7’1’’, 2016
18 de novembro / November 18 Rommulo Vieira Conceição O espaço se torna lugar na medida em que eu me familiarizo com ele/2015-2017 The space becomes place as I become familiar with it/2015-2017 Participação / With participation of Cláudia Nascimento: flauta/flute Marialbi Trisolio: violoncelo/cello
Moisés Patrício Pregando a palavra Nailing/preaching the word
Ayrson Heráclito Fazendo e falando comida de santo Making and talking saint’s food
19 de novembro / November 19 A partir das 15 horas / From 15 pm
Tiago Sant’Ana Nas coxas #2 (Da série Manufatura e colonialidade) In the thighs #2 (From the Manufacturing and coloniality series)
Priscila Rezende Laços Ribbons As informações sobre as trajetórias e obras dos artistas foram fornecidas por cada um deles e objetivam oferecer um panorama sintético das suas realizações, respeitando as especificidades de seus discursos e trabalhos. The information on the trajectories and works of the artists was provided by each of them and aim to offer a synthetic panorama of their achievements, respecting the specificities of their speeches and works. 143
Curadoria / Curator: Roberto Conduru Assistente de curadoria, coordenação editorial e direção de produção / Assistant curator, editorial coordination and production director: Gabriela Caspary Assistente de produção / Production assistant: Debora Seger Produção local / Local production: Leandro de Santana Selva Expografia / Expography: Adriana Milhomem & Roberto Conduru Iluminação / Light design: Djalma Amaral Montagem de expografia / Expography installation: 4 ONE SENOTECNICA Programação visual / Graphic design: Gabriela Caspary & Roberto Conduru Tratamento de imagens / Image treatment: Paola Terranova Fotos da exposição / Photos of the exibition: Barbara Cunha Produção gráfica / Graphic prodution: Laboratório de Ideias Formatação de conteúdos / Content formatting: Debora Seger & Joyce Delfim Revisão de textos e versões em inglês / Text editing and English versions: Gigi Silva & Simon Evans Vídeos na exposição / Videos on show Edição / Edition: Wallace Cardia Produção / Production: Carla Vilardo Computação gráfica / Graphic computer: Felipe Facini Montagem e manutenção de equipamentos / Assembly and maintenance of equipment: MMV.MONTAGEMVIDEO Assessoria de imprensa / Press agency: Martim Pelisson Clipagem / Clipping: Oficina Brasileira de Clipping Produção / Production: Espaço Donas Marcianas Arte e Comunicação Agradecimentos / Thanks to: Antônio de Pádua Pires, Cristina Nunes, Luciana Grings, Paulo C. Fernandes, Neuza e Antônio Stasi & Rafael Muniz N394 Negros indícios : performance vídeo fotografia = Black indices : performance video photography / curadoria Roberto Conduru . – São Paulo : Espaço Donas Marcianas, 2017.
144 p. : il. col. ; 23cm.
Curadoria: Roberto Conduru. Texto em português com versão em inglês. Catálogo da exposição realizada na Caixa Cultural São Paulo entre 7 de outubro e 17 de dezembro de 2017. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-64564-02-2 1. Arte negra – Brasil - Exposições. 2. Arte brasileira – Influências africanas – Exposições. I. Conduru, Roberto. CDD 22. ed. 700.981 144
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A CAIXA está com o Brasil no combate ao mosquito. CAIXA is with Brazil in the fight against the mosquito.
#MOSQUITONÃO
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Jogue o lixo no lixo.
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