Rubem Valentim – Construção e Fé

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Rubem Valentim CONSTRUÇÃO E FÉ curadoria | curatorship Marcus de Lontra Costa

CAIXA Cultural SÃO PAULO 6 de outubro a 16 de dezembro de 2018 October 6 - December 16, 2018


BLACK LIGHT on revealed truths “Sadness is sovereign Since samba is samba it’s thus Pale teardrop on dark skin, Night, the rain falling outside (...) Samba is still to be born Samba has not yet arrived Samba will not die I see the day has not yet dawned” Caetano Veloso “Since samba is samba”

Initially presented last year in Brasilia, the exhibition entitled Construction and Faith (Construção e Fé) features works by Rubem Valentim from the 1970s onwards, when he settled in Brazil’s futuristic capital city. The horizontal landscapes of the cerrado savannas, their imposing skies alight with shades of colour, the clean lines of its urban layout and the operatic architecture of Niemeyer undoubtedly buttressed symbolic and monumental elements in the work of this artist. This is the city where Valentim found his own terroir, where he created works that that are substantively affirmed in contemporary Brazilian visuality. Breaking away from traditional designations, he scorned anachronistic borders between pop and classical, domestic and international, reason and emotion. In the contemporary world, his work appears as a tool of liberation. “The people make their presence felt in terms of culture only when endowed with national and also political awareness.” In contrast to the purist discourse of Modernism, Rubem Valentim represents the real possibility of constructing a language that is universal while also reflecting specific aspects of Brazil; he believes in cultural contamination, the capability of entwining a wide variety of influences into the formation of a work that offers its own truth in the world. For him, art challenges time and frees humankind, while geometry is merely a means, a paved path where concern and passion flourish. Far more than shape and colour, Valentim pursues structure and light, and the works that he produces trigger a strange dialogue with nature and culture. 4


NEGRA LUZ sobre verdades reveladas A tristeza é senhora Desde que o samba é samba é assim A lágrima clara sobre a pele escura A noite, a chuva que cai lá fora [...] O samba ainda vai nascer O samba ainda não chegou O samba não vai morrer Veja o dia ainda não raiou Caetano Veloso “Desde que o samba é samba”

A mostra “Construção e Fé” foi inicialmente apresentada no ano passado em Brasília e reúne obras criadas a partir de 1970, quando o artista fixou residência na cidade. A paisagem horizontal do Cerrado, a imponência do céu repleto de luz e de nuances cromáticas, a clareza do plano urbanístico e a operística arquitetural de Niemeyer, sem dúvida, colaboraram para reforçar elementos simbólicos e monumentais na obra do artista. Rubem Valentim encontrou na cidade o seu terreiro e nele criou obras que se afirmam substantivamente na visualidade contemporânea brasileira. Ele rompeu as designações tradicionais; desprezou anacrônicas fronteiras entre o popular e o erudito, entre o nacional e o internacional, entre razão e emoção. No mundo contemporâneo a sua obra se revela como instrumento de libertação. “O povo só se impõe em termos de cultura quando ele tem consciência nacional e também política”. Diferentemente no discurso purista do modernismo, Valentim representa a possibilidade real de construção de uma linguagem que reflita especificidades brasileiras; ele acredita na contaminação cultural, na capacidade de fazer conviver influências variadas para a formação de uma obra que traga a sua verdade no mundo. Para ele a arte desafia o tempo, liberta o homem, e a geometria é apenas um meio, um caminho pavimentado para fazer aflorar a inquietude e a paixão. Muito mais do que a forma e a cor, Valentim persegue a estrutura e a luz e os trabalhos por ele produzidos provocam um curioso diálogo com a natureza e a cultura. 5


Gathering these works together in São Paulo also transports the voice and power of Brazil’s black population to the nation’s artistic hub. For a long time, mainstream criticism strove to justify the career of this artist through Modernistic movements rooted in Constructivism, scorning the ancestral, totemic, symbolic and religious aspects spotlighted in the shapes and shades forming the language used by Valentim on any support and with any technique. The presence of this small but significant set of works prompts a reunion with obliterated parts of our own selves. At a time when many artistic institutions in Brazil are turning their attention to aspects related to political actions steered by gender and race, it is important to rebut conservative discourses attempting to justify the violence and oppression imposed by white colonists. Religious syncretism is a response to the persecution of cults and cultures stretching back to Africa, together with the process of miscegenation that was often driven by violence and rape. As long as Afro-Brazilian beliefs are persecuted in Brazil, as long as black women are disrespected, and as long as young black leaders are murdered as they fight for freedom and democracy, the works of Rubem Valentim – displayed in the Praça da Sé square between institutionalised monuments to the white man’s Justice and Faith – are emblems of beauty and courage, everlasting symbols of the black blood running through all our veins. The holy woman warrior – this work is the offspring of rite and ritual, fêtes and festivities, lore and love. She brings back our black smile, embraces and affection that caresses us and fills us with pride. In difficult times, the timeless truth of the works by Valentim reveal the best of us. It is always worth recalling the wise words of this outstanding artist: “The lands of a people may be conquered by weapons, but it cannot be forced to yield its soul, its feelings, its poetics, its raison d’être. This is why, here in Brazil, we must defend our soul. This is what I do by transposing these poetics to a contemporary language.” In this Exhibition, the black royalty of Rubem Valentim is showcased in all its glory, affirmed through the unwavering message of freedom and daring that flows through the time of Man on Earth. Marcus de Lontra Costa Curator 6


Reunir essas obras em São Paulo é também trazer ao principal centro artístico brasileiro a voz e a força do negro brasileiro. Durante muito tempo a crítica oficial procurou justificar a trajetória do artista através dos movimentos modernistas de origem construtiva, desprezando o caráter ancestral, totêmico, simbólico e religioso evidenciado nas formas e cores da linguagem de Valentim, em qualquer técnica ou suporte. A presença desse pequeno, porém significativo, conjunto de obras provoca o reencontro com partes obliteradas de nós mesmos. No momento em que várias instituições artísticas brasileiras dirigem a atenção para aspectos relacionados a ações políticas de gênero e raça é importante recusar discursos conservadores que procuram justificar a violência e a opressão do homem branco colonizador. O sincretismo religioso é uma resposta à perseguição de seus cultos e culturas e o processo de miscigenação ocorre muitas vezes por atos de estupro e violência. Quando permanece no Brasil a perseguição aos cultos afro-brasileiros, quando mulheres negras continuam a ser desrespeitadas e jovens lideranças negras são assassinadas quando lutam pela liberdade e pela democracia, a obra de Rubem Valentim, presente em plena praça da Sé, entre os monumentos institucionalizados da Justiça e da Fé do homem branco, é um marco de beleza e coragem, símbolo perene do sangue negro que circula em todos nós. Santa guerreira, a obra de Rubem Valentim é filha do rito, da festa e do amor. Ela nos faz reencontrar o nosso sorriso negro, nosso abraço e nosso afeto negro que nos acaricia e orgulha. Em tempos difíceis a verdade atemporal das obras de Valentim revela o que temos de melhor. E sempre vale a pena as sábias palavras desse artista exemplar. “O território de um povo pode ser conquistado pelas armas, mas o que ele não pode fazer é entregar a sua alma, seu sentir, sua poética, sua razão de ser. Por isso no Brasil, temos que defender nossa alma. É o que faço transpondo essa poética para uma linguagem contemporânea.” Nesta mostra a negra realeza de Rubem Valentim se revela em sua plenitude e se afirma na constante mensagem de liberdade e audácia que perpassa o tempo do homem sobre a terra. Marcus de Lontra Costa Curador 7


Emblema 86, 1986 Acrílica s/tela | Acrylic on canvas, 41 x 27 cm Coleção | Collection Almeida e Dale Galeria de Arte, São Paulo, SP 8


Emblema 79, 1979 Acrílica s/tela | Acrylic on canvas, 100 x 73 cm Coleção particular | Private Collection, Rio de Janeiro, RJ 9


Emblema, 1979 Acrílica s/tela | Acrylic on canvas, 70 x 50 cm Coleção | Collection Maria Helena e Francisco Lacerda, Brasília, DF 10


Emblema 81, 1981 Acrílica s/tela | Acrylic on canvas, 50 x 35 cm Coleção | Collection Onice Moraes e José Rosildete de Oliveira, Brasília, DF 11


Emblema 86, 1986 Acrílica s/tela | Acrylic on canvas, 41 x 27 cm Coleção | Collection Almeida e Dale Galeria de Arte, São Paulo, SP

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Emblema 85, 1985 Acrílica s/tela | Acrylic on canvas, 18 x 14 cm Coleção | Collection Almeida e Dale Galeria de Arte, São Paulo, SP

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Emblema, 1978 Acrílica s/tela | Acrylic on canvas, 35 x 50 cm Coleção | Collection Diógenes Paixão, Rio de Janeiro, RJ

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Emblema, 1978 Acrílica s/tela | Acrylic on canvas, 35 x 50 cm Coleção | Collection Diógenes Paixão, Rio de Janeiro, RJ

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Variação I – 87, 1987 Acrílica s/tela | Acrylic on canvas, 35 x 50 cm Coleção | Collection Almeida e Dale Galeria de Arte, São Paulo, SP

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Emblema 84, 1984 Acrílica s/tela | Acrylic on canvas, 50 x 70 cm Coleção | Collection Almeida e Dale Galeria de Arte, São Paulo, SP

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Emblema Logotipo Poetico 85, 1985 Acrílica s/tela | Acrylic on canvas, 50 x 70 cm Coleção | Collection Almeida e Dale Galeria de Arte, São Paulo, SP

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Emblemágico 80, 1980 Acrílica s/tela | Acrylic on canvas, 100 x 73 cm Coleção | Collection Onice Moraes e José Rosildete de Oliveira, Brasília, DF

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Poema Visual V, 1984 Colagem s/papel | Collage on paper, 45 x 32,5 cm Coleção | Collection Almeida e Dale Galeria de Arte, São Paulo, SP

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Poema Visual, 1984 Colagem s/papel | Collage on paper, 45 x 32 cm Coleção | Collection Almeida e Dale Galeria de Arte, São Paulo, SP

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Emblema 87, 1987 Acrílica s/tela | Acrylic on canvas, 41 x 27 cm Coleção | Collection Diógenes Paixão, Rio de Janeiro, RJ

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Emblema 87, 1987 Acrílica s/tela | Acrylic on canvas, 41 x 27 cm Coleção | Collection Almeida e Dale Galeria de Arte, São Paulo, SP

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Relevo Emblema 79, 1979 Acrílica s/madeira | Acrylic on wood, 70 x 50 cm Coleção | Collection Onice Moraes e José Rosildete de Oliveira, Brasília, DF

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Emblema 85, 1985 Acrílica s/tela | Acrylic on canvas, 41 x 21 cm Coleção | Collection Diógenes Paixão, Rio de Janeiro, RJ

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Emblema 85, 1985 Acrílica s/tela | Acrylic on canvas, 41 x 27 cm Coleção | Collection Almeida e Dale Galeria de Arte, São Paulo, SP

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Emblema 87, 1987 Acrílica s/tela | Acrylic on canvas, 41 x 27 cm Coleção | Collection Almeida e Dale Galeria de Arte, São Paulo, SP

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Emblema 83 Pegí, 1983 Acrílica s/tela | Acrylic on canvas, 41 x 27 cm Coleção | Collection Almeida e Dale Galeria de Arte, São Paulo, SP

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Emblema 86, 1986 Acrílica s/tela | Acrylic on canvas, 41 x 27 cm Coleção | Collection Almeida e Dale Galeria de Arte, São Paulo, SP

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Emblema 85, 1985 Acrílica s/tela | Acrylic on canvas, 50 x 35 cm Coleção | Collection Almeida e Dale Galeria de Arte, São Paulo, SP

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Emblema 87, 1987 Acrílica s/eucatex | Acrylic on eucatex, 30 x 44 cm Coleção | Collection Almeida e Dale Galeria de Arte, São Paulo, SP

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Emblema 83, 1983 Acrílica s/tela | Acrylic on canvas, 70 x 50 cm Coleção | Collection Almeida e Dale Galeria de Arte, São Paulo, SP

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Emblema 85, 1985 Acrílica s/tela | Acrylic on canvas, 70 x 50 cm Coleção | Collection Almeida e Dale Galeria de Arte, São Paulo, SP

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EXPOSIÇÃO | EXHIBIT Curadoria | Curatorship Marcus de Lontra Costa Coordenação Geral | General Coordination Anderson Eleotério Produção | Production Izabel Ferreira Programação Visual | Art Direction Mauro Campello Comunicação | Communication Raquel Silva Assessoria de Imprensa | Press Office Décio Di Giorgi - Adelante Comunicação Assistente de Produção | Production Assistant Felipe Paladini Fotógrafos | Photographer Haruo Mikami Leonardo Ramadinha Sérgio Guerini Revisão de Textos | Text Revision Claudia Ajuz Rosalina Gouveia Versão Inglês | English Version Carolyn Brissett Design de Montagem | Exhibition Design Anderson Eleotério Museologia | Museology Lucia Mafra – DF Cláudia Costa – RJ Mariane Tommi Sato – SP Sonoplastia | Sound Design Cantigas de Candomblé Fogueira de Xangô Montagem | Art Mounting Manuseio – Mário Bibiano Iluminação | Lighting Somlux – Judy Spencer Cenotécnica | Cenotechnical André Semplicio Pires Seguro | Insurance Pro Affinite – Chubb Seguros Brasil

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Transporte | Transportation Art Quality International Fine Arts Projeto | Project Anderson Eleotério FLUA Produções Culturais Ltda. Produção Executiva | Executive Production ADUPLA Produção Cultural Ltda. AGRADECIMENTOS | ACKNOWLEDGMENTS Roberto Bicca de Alencastro Almeida e Dale Galeria de Arte Celso Albano Costa Cely Mesquita (in memoriam) Conrado Mesquita Diógenes Paixão Fundação Marcos Amaro Galeria Referência Luis Eduardo Costa Carvalho Maria Helena e Francisco Lacerda Onice Moraes e José Rosildete de Oliveira Ronie Mesquita Adriana Araujo Pereira Afrisio Vieira Lima Filho Aristos Rodopoulos Bené Fonteles Bolsa de Arte Bruna Araújo Canvas Galeria Daniel Rutkauska Fernanda D’Agostino Fernando Queiroz João Bastos Jones Bergamim José Celso Gontijo Luciana e Renato Mosca Luis Paulo Montenegro Magda Nunes Maria Silvia Barbin Laurindo Max Perlingeiro Monica Tachotte Museu Nacional do Conjunto Cultural da República Natasha R. Bergottini Pavlos Rodopoulos Pinacoteca de São Paulo Pinakotheke Cultural Roberto Rosas Simão José Abrahão dos Santos (in memoriam) Tadeu Chiarelli Taissa Campello Uébio Luiz Salazar Vivian Perez Wagner Barja


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