O IMAGINÁRIO DA BRANQUITUDE À LUZ DA TRAJETÓRIA DE GRANDE OTELO: RAÇA, PERSONA E ESTEREÓTIPO EM SUA PERFOMANCE ARTÍSTICA *
Luis Felipe Kojima Hirano** If there are forty million African Americans, then there are forty million ways to be black. Henry Louis Gates Jr.1
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m seus quase 70 anos de carreira, Grande Otelo atuou nos mais diferentes projetos do cinema brasileiro. De Moleque Tião (1943) a Carnaval Atlântida (1953); de Amei um bicheiro (1953) a Rio Zona Norte (1957); de Macunaíma (1969) a Nem tudo é verdade (1983). Otelo conseguiu ultrapassar as barreiras dos gêneros e movimentos cinematográficos, indo da comédia ao drama, das chanchadas ao realismo carioca, do Cinema Novo ao Cinema Marginal. *
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Este artigo é produto de várias versões que foram apresentadas em diversos congressos em que tive a oportunidade de dialogar com professores e pesquisadores a quem agradeço: Fabiano de Souza Gontijo, Laura Moutinho, Peter Fry, Heloísa Pontes, Caroline Cotta de Mello Freitas, Heloísa Buarque de Almeida, Ronaldo Almeida, Lilia Schwarcz, minha orientadora, e aos demais colegas dos núcleos Etnohistória e Numas. Também agradeço a Tatiana Lotierzo pela interlocução intensa e frutífera em diversos momentos da pesquisa e ao parecerista ad hoc pelos comentários e sugestões. Esse artigo se insere em minha pesquisa de Doutorado, no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da USP, intitulada Cinema em negro e branco: brasilidade e imaginário racial na cinematografia brasileira, financiada pela Fapesp. O artigo também se vale de uma série de informações pesquisadas durante o meu estágio de doutorado na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, financiando pela Capes, sob a orientação de Nicolau Sevcenko e Clémence Jouët-Pastré, a quem agradeço pelo apoio e interlocução profícua. E-mail: lfhirano@gmail.com “Se há quarenta milhões de afro-americanos, então há quarenta milhões de modos de ser negro”, tradução minha, de Henry Louis Gates Jr. e Jennifer Burton, Call and Response: Key Debates African American Studies, Nova York: Norton, 2011.
Afro-Ásia, 48 (2013), 77-125
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