ANO 6 | EDIÇÃO Nº 18 | MAIO 2009 Aramis Assis
JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL - UFV
A cor da pele Quais são as cores do seu preconceito?
Conheça os benefícios da Terapia Natural página 7
comportamento Saiba mais sobre a reeducação alimentar
Rica flora
O que fazer com nossa biodiversidade?
página 13
página 9
Pedro Nunes
Os cuidados na hora da caminhada
ciência & tecnologia
Maristela Leão
Jéssica Marçal
página 15
Skate nas mãos Jovens não tem onde praticar esporte em Viçosa página 11
página 5
opinião opinião
AO LEITOR
O direito à informação
Com mais essa edição, o OutrOlhar se consolida em Viçosa como o melhor jornal da cidade, quiçá da região. Se alguém duvida, é só dá uma olhada na qualidade das pautas, nas boas análises opinativas, nas perspectivas em relação aos fatos e no cuidado de professores e estudantes de Jornalismo com as imagens e o design gráfico. Tudo isso são provas de que só se faz jornalismo com profissionais de formação superior. O jornalista por formação superior não é um simples produtor e editor de conteúdos jornalísticos, mas especialmente um mediador preocupado em fazersaber a partir do mar de informação existente na sociedade. A consolidação da formação do jornalista se deu após a ditadura militar e a profissão teve papel fundamental na redemocratização do país. Mas o fantasma ainda assombra. Alguns políticos torcem o nariz e dificultam o acesso da imprensa às informações sobre as mordomias dos deputados. São os mesmos setores da sociedade que desejam a extinção do diploma de jornalista e que aplaudem a destruição de oito toneladas de equipamentos de rádios comunitárias em São Paulo, sob o discurso falacioso de estar “coibindo atividades ilegais”. São os mesmos que também fazem côro à extinção total da lei de imprensa. A Federação Nacional dos Jornalistas defende a revogação parcial da Lei 5.250/67 e cobra do Congresso uma nova legislação, de caráter democrático. Todos nós precisamos ficar atentos às manobras, ao lobby e aos interesses que vão de encontro à democracia construída neste país. Estão à solta os indícios de que o fantasma da censura continua bafejando nossos olhos e orelhas. Precisamos de jornalistas com diploma: são eles que nos dão olhos para ver e ouvidos para ouvir por trás das aparências, bem como nos mostram as formas de censura e as tentativas de descredenciamento do jornalista enquanto mantenedor das lamparinas dos juízos da sociedade.
prof. Ricardo Duarte
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Quem ganha com o Bolsa família? falta nada. “O DVD, o som e o computador foi tudo do nosso trabalho”, diz ela. Isto em resposta aos críticos que acusam programas assistencialistas de acomodar seus beneficiados. Pepeu até concorda com esta crítica, mas ressalva: “depende da pessoa, aqui na minha na minha casa não é assim”. O marido dela é servente de pedreiro, não fichado; e ela, além de manicure, ainda faz faxinas em casa de estudantes. A renda mensal da família chega perto dos quatrocentos reais por mês (incluindo o Bolsa Família). Para continuar no programa ela tem que pesar as crianças todo mês e manter a frequência de seus filhos acima dos 85%.
forma indevida. A burocracia no cadastro é um empecilho à Às cinco da manhã ela já fiscalização está de pé. Às seis, acorda os Quem concorda com a opitrês filhos. Despachadas as nião dos críticos do Bolsa Facrianças para a escola, é hora mília é a fiscal do programa em “matar um leão”. Já que faxinas Viçosa, Patricia Ferreira. Ela nas casas de estudantes não são ainda aponta outras duas graves o suficiente, vale também fazer conseqüências do programa – a pé e mão. Só chega em casa dificuldade de fiscalizar e o uso ao fim da tarde, depois de uma para fins políticos. A falta de longa caminhada até o bairro fiscalização gera o problema do Bom Jesus, em Viçosa. Com recebimento indevido. um otimismo contagiante, AuE sobre o uso político Patrireliana Cristina (Pepeu, para os cia afirma que “chegaram muiamigos) não reclama da vida e tos benefícios antes da eleição planeja lutar, sempre. [presidencial], depois veio um Começou a receber ajuda do ou outro”. Ela também explica governo a pouco mais de oito que os recursos do programa anos. A história de Pepeu é paresão, na sua maior parte, direciocida com a de tantos outros branados a locais onde partidos da sileiros que, por necessidade, base do governo estão no poder. começaram a trabalhar ainda Não é a toa que a populacriança. Aos quatorze anos ridade do governo é maior de idade veio para Viçosa e áreas onde mais se disO DVD, o som e o nas acabou por engravidar. Por tribui Bolsa Família. este motivo, largou os estuOs defensores do procomputador foi tudo do dos e teve problemas com a grama alegam que, além família – seu pai a proibiu de nosso trabalho. de trazer alívio, a renda aparecer em casa. distribuída contribui para Pepeu sabe o que é não Aureliana Cristina a redução das desigualdater nada para comer. Tamdes de renda. Mas quantas bém conhece de perto o pessoas que, ao receberem medo de milhares de mães que, o benefício durante algum se pudessem, guardariam seus Em Viçosa há aproximada- tempo, deixaram de necessitar filhos debaixo de uma asa, só mente 6.370 famílias cadas- da ajuda? A julgar pelo caso de pra não deixar que a falta do que tradas, porém, o número que Pepeu, que recebe o benefício fazer nas periferias faça de seus realmente estaria recebendo há quase uma década, dá para filhos “aviõezinhos” do tráfico. o benefício é de apenas 3.044 se ver que o programa não conCatólica fervorosa, às vezes ela famílias (quase a metade). Por tribui para a expectativa de uma reclama com Deus: “ou, olha aí dá para se ter uma idéia de renda maior no futuro. eu aqui”, diz ela, e acrescenta, como a fiscalização de um proE quem está ganhando com “depois a gente se entende, é grama tão grande é extrema- esta situação? Bem, na mesa que nem pai e filha” mente ineficiente. Há muitos de Pepeu não tem faltado nada. Os R$112,00 que Pepeu re- casos em que pessoas, com ca- Na mesa de quem não precisa, cebe do programa Bolsa Famí- sas relativamente confortáveis pode sobrar. O governo federal lia vão direto para o supermer- (proprietárias de carro e moto), continua com índices de popucado. Não dá pra comprar tudo estão recebendo o programa de laridade nunca vistos antes. do bom e do melhor, mas não
Felipe Mendes
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Coordenadora do Curso de Comunicação Social/Jornalsimo Profª. Soraya Ferreira
Jornal-laboratório produzido pela turma de 2007 do curso de Comunicação Social - Jornalismo da Universidade Federal de Viçosa. Endereço: Vila Giannetti, Casa 39, Campus Universitário - 36570-000 - Viçosa, MG | Tel: 3899-2878 Reitor: Prof. Luiz Cláudio Costa Diretor do Centro de Ciências Humanas Letras e Artes Prof. Walmer Faroni
Editor Chefe Prof. Ricardo Duarte (Interino) Registro: MTB 3123 Assistente de Edição Thiago Araújo Redação e Revisão André Pacheco, André Vince, Andriza de Andrade, Bárbara Gergeiheimer, Daniel Leite, Daniela Araújo, Daniela Silva, Dênny Sivieiro, Diego Oliveira, Elizângela Arêas, Elder Barbosa, Eloah Monteiro, Éverton Oliveira, Felipe Cardoso, Fernanda Monteiro, Fernanda Pônzio, Fernanda Reis, Fernanda Viegas, Fernando Nardy, Geanini Hackbardt, Jéssica
Marçal, Lara Carlette, Lívia Alcântara, Lorena Tolomelli, Luan Henriques, Luciana Melo, Luciana Pereira, Luiz de Moraes, Luiz Nemer Neto, Marília Cabral, Maísa Oliveira, Maria Antônia Perdigão, Maristela Leão, Mateus dos Santos, Michelly Oda, Nízea Coelho, Oswaldo Botrel, Pedro Nunes, Raul Gondin, Roselly Rodrigues, Samanta Nogueira, Talita Aquino, Thaís Castro, Thiago Araújo, Titina Maia e Victor Godoi Diagramação: André Pacheco e Luan Henriques (Opinião), Elder Barbosa, Lívia Moreira (Ciência e Tecnologia), Fernanda Reis (Esportes), Thiago Araújo (Meio Ambiente e finalização). Os alunos de Comportamento, Entrevista e Cultura compartilham os créditos de suas respectivas diagramações. Finalização: Ricardo Duarte e Thiago Araújo
Inferno na escola André Pacheco
Começa como uma brincadeira e quando se vê, o que antes era esporádico se torna repetitivo. Existe a relação de poder. Em todos os corredores das escolas ele está à espreita. Ele é o bullying, que compreende uma série de agressões psicológicas e físicas praticadas constantemente. E essas agressões podem ter outros nomes, e em alguns casos são crimes. Nas escolas os alunos em sua maioria não podem ser punidos judicialmente. Mas a escola deve estar atenta e tomar as medidas para deixar o ambiente mais harmônico. As vítimas, além de agüentarem humilhações, podem desenvolver problemas de convivência e em alguns casos chegarem ao extremismo. Quando atos extremos acontecem o jovem, antes a vítima, é posto novamente como inferior. E os agressores, verdadeiros vilões, continuam espalhando o terror psicológico. Mas as vítimas de bullying não precisam enlouquecer. Elas devem noticiar as agressões para os covardes serem advertidos e punidos. É vergonhoso assumir ser a vítima? Sim! Mas tem hora que para o nosso próprio bem precisamos denunciar os pecados dos outros, e assim evitarmos que o inferno arda mais. Impressão Divisão Gráfica Universitária Tiragem 1500 Exemplares Os textos assinados não refletem a opinião da Instituição ou do Curso, sendo de inteira responsabilidade de seus autores
opinião
Uma atitude pró-dignidade mulher, pode denunciar uma agressão – física, psicológica ou sexual – cometida por pessoas de ambos os sexos que convivam com a vítima em seu ambiente doméstico, seja por laços sanguíneos ou afetivos. Então cai por terra esse negócio de perseguir o homem. Eis aí uma questão fundamental. Este artigo é feminino, e não feminista, e fala principalmente da diferença entre ser dedicada e, ser subjugada.
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não é uma revolução sexual. É uma atitude antiviolência, próLi algo na internet, em que dignidade. A exclusividade que um homem diz que a Lei Maria ela garante às mulheres é apenas da Penha promoveu a criminano tratamento do processo, para lização do masculino, como se garantir a integridade física e a as mulheres estivessem agora segurança da vítima e de seus munidas de um poder desigual, filhos, por exemplo, em uma sique coloca todos os homens tuação de natural desvantagem no mesmo patamar de vilões. física perante o agressor. É esOra, criar uma lei que proteja tatisticamente comprovado que exclusivamente às mulheres, o agressor doméstico persegue, dentro de uma sociedade em nega o crime, dá desculpas e que a cultura sempre favoreceu reincide. E é fato que a maioria os homens, faz muito sentido. das agressões nesse nível é coO homem manda, faz, provê, A lei Maria da Pemetida por homens. trabalha. E por tudo isso, ainQuem vai negar? Por tudo da há homens se achando no nha não é uma conspi- isso muitas mulheres ainda direito de bater, de ofender, vivem no medo, apenas sude estuprar, dentro de casa. ração anti-homem, nem portando as ofensas verbais, Porque a casa é do homem, escondendo ferimentos, omie o homem tudo pode no lar uma revolução sexual. tindo estupros, temendo o que governa. Mesmo depois que pode vir depois de denunda queima de sutiãs, do direito Nem toda mulher quer se ciar. São as chamadas medidas ao voto, da diminuição no ta- livrar do sabão em pó, das loumanho dos biquínis, de todas as ças, das fraldas; muitas gostam protetivas dessa lei de gênero revoluções femininas. Pois essa de se dedicar aos afazeres do- que garantem ainda orientalei veio tarde. Mas antes tarde mésticos. Mas todas as mulhe- ção psicológica e até auxílio do que nunca. res querem o direito à sua inte- em dinheiro para que a mulher A Lei Maria da Penha não gridade física e moral; querem fique completamente indepentransforma todos os homens em o direito de se dedicar ou não dente da presença de quem a suspeitos de agredir, mas garan- ao companheiro, à família e ao aterroriza, para que nenhuma te às mulheres que são vítimas lar por prazer, e não por obri- ameaça interfira no seu direito de violência (constantes ou es- gação. de denunciar, de expor as siporádicas) se sintam suficienteA Constituição diz que “ho- tuações vergonhosas às quais mente seguras para denunciar o mens e mulheres são iguais em é submetida dentro do seu lar. agressor. Ou agressora. Porque direitos e deveres”. Portanto, Isso não é mais simplesmenas pessoas precisam saber que lesão corporal é o mesmo crime te uma ideologia. Agora é lei. essa lei não enquadra apenas o para todos, homens e mulheres. Pode chamar também de lei da homem como réu. A Lei Maria da Penha não é compensação. Desde que a vítima seja uma conspiração anti-homem,
Fernanda Monteiro Alves
A invasão das mulheres frutas
Lara Carlette Thiengo
“Pêra, Uva, Maçã, Salada Mista, diz o que você quer sem eu dar nenhuma pista”. Bem se vê que não é de hoje que as frutas fazem sucesso no mundo midiático, ou melhor, na vida de todo mundo. A famosa canção da Xuxa, lançada na década de 90, já fazia muito sucesso entre a garotada das mais variadas faixas etárias e, ainda hoje, não há quem diga que nunca brincou de salada mista. Mas todo esse sucesso das saudáveis e saborosas frutas vem ganhando, ultimamente, uma conotação um tanto mais
ousada. Se a salada mista foi criticada por influenciar a sexualidade infantil e juvenil a ser mais precoce, imagine as atuais mulheres frutas veiculadas pela mídia? A pêra, que antes “dava as mãos” agora é símbolo de tronco fino e bumbum grande. A uva deixa o abraço de lado para “viver enroscada em algum cacho”. Essas definições foram retiradas do site Bacaninha e também representa algumas das 34 definições de uma página de e-mail massivamente veiculada na internet nos últimos meses. O uso da mulher na mídia como objeto do desejo masculino pervertido cria um imaginá-
opinião
rio pornográfico em relação ao sexo feminino, a banalização da atividade sexual e a formação de estereótipos de beleza. Penso que a tevê está prestando um deserviço às pessoas, ao pautar na tela as tais mulheres fruta. Em enquete realizada no Calçadão, centro comercial de Viçosa, foram questionados 20 jovens na faixa etária de 14 a 20 anos, sobre a opinião em relação às mulheres frutas. Dos 20 adolescentes, 17(82%) aprovaram as “frutas” em questão. Felizmente, não é sempre que toda essa vulgarização faz tanto sucesso. O estudante Gualberto Silva, 20, representa a opinião
Vítimas ou cúmplices da futilidade Roselly Gonçalves
Jovens bonitos dispostos a quase tudo por sucesso, fama e muito dinheiro num jogo sem regras e o público como árbitro principal. Difícil resistir? Há quase uma década os realities shows fazem parte da rotina dos telespectadores brasileiros. A iniciativa veio em 2001, e poucos se lembram que a pioneira foi a SBT, com a polêmica “Casa dos Artistas”. Mas coube a sua concorrente a missão de lançar esse novo modelo televisivo nas graças e garras do público. Março de 2002, a Globo apresentou um programa enigmático, com nome estrangeiro, e feito por “gente como a gente”, é o show da vida real bem diante do nosso sofá, o Big Brother Brasil. Quase inerente ao sucesso dessa nova estrela da telinha, as críticas e questionamentos fazem-se presente: por que um programa que expõe seres humanos lutando entre si e passeando no limite da moralidade é tão irresistível? “O fascínio desses programas é observar as atitudes humanas, de cidadãos que são levados ao seu extremo psicológico.” A justificativa do estudante Altair Carrasco, fã assíduo dos realities shows, explicita a nossa curiosidade,
contrária. “Mulher na cultura brasileira é algo que dá audiência/dinheiro. Na falta de algo interessante aparece alguém, como uma mulher de peito ou bunda grande pra virar atração. Isso é ridículo”. As diretrizes econômicosociais desse processo citadas pelo Gualberto, também podem ser verificadas nas palavras de Michel Focault, renomado teórico da Comunicação. “Constituiu-se uma aparelhagem para produzir discursos sobre o sexo suscetíveis de funcionar e de serem efeito de sua própria economia.”
o nosso desejo de saber o que acontece com pessoas que não conhecemos ou que até mesmo que não existem, é o caso das novelas. A atração global não trouxe nada novo, apenas colocou elementos que já atraíam o público numa mansão. Intrigas, romances, brigas, complôs, sexo, disputas acirradas e a participação ativa do espectador já habitavam a programação da TV. Numa sociedade, na qual as revistas de celebridades estão entre as mais vendidas, em que as tragédias viram micro folhetins nos jornais – os casos Eloá e Isabella Nardoni não me deixam mentir – não é difícil entender o porquê dessa preferência “global”. O problema não é acompanhar um programa durante três meses, votar e entreter-se com as aventuras de desconhecidos, a questão é quando isso se torna a nossa principal opção. É preocupante perceber que a maioria da programação das TVs abertas é composta por programas de entretenimento, sem uma base educativa ou informativa. Os telespectadores sabem o que querem assistir, talvez ainda não tenham consciência que em alguns casos querer é sinônimo de poder.
O “culto ao bumbum” tem raízes profundas e permanentes na cultura brasileira. Basta observar desde a literatura romântica do século XIX até, atualmente, as telenovelas, as publicidades, o carnaval... Rita Cadilac e Gretchen, pioneiras de tal “bundalização midiática”, que o diga. Mas, cabe exclusivamente às mulheres a auto-valorização de seu corpo e de sua identidade feminina, restando aos homens, o discernimento. Como diria, maravilhosamente, Rita Lee na música Pagu, “nem toda brasileira é bunda, meu peito não é de silicone, sou mais macho que muito homem”.
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cidade cidade
Crescimento acelerado mostra falta de planejamento Dênny Siviero
Cidade universitária, muitos estudantes, centro congestionado, prédios e mais prédios construídos lado a lado. Uma confusão de pessoas, em calçadas muitas vezes apertadas e muitos carros em ruas nem sempre tão largas. O rápido crescimento de Viçosa geralmente é notado devido ao trânsito caótico de uma cidade que apesar de ter 70 mil habitantes, parece ter um trânsito de um município com no mínimo 200 mil pessoas. O que muitas vezes não reparamos é que esse crescimento rápido não se reflete somente nas ruas da cidade, e sim na nos-
sa vizinhança. Viçosa não para, e a cada dia mais prédios começam a ser erguidos numa velocidade impressionante. Mas, não se pode simplesmente sair erguendo prédios sem os parâmetros legais do poder público. São precisas autorizações do poder público. Quem dita as regras e aprova ou não os projetos é o Iplam (Instituto de Planejamento do Município de Viçosa), órgão que planeja a cidade na área urbana e regulamenta o uso do solo, ou seja, determina o que pode ser construído em cada região. Segundo o diretor do Iplam, José Antônio dos Reis, o instituto vem fazendo sua parte, através da análise dos projetos
que passam por lá, além de colocar em prática projetos de revitalização do centro da cidade. Para o diretor, o que ocorreu com Viçosa anos antes é um reflexo das leis, que eram menos rígidas, e por isso tantas construções foram erguidas sem planejamento adequado. Além disso, José Antônio afirma que “há algum tempo, faltava uma política ambiental, então a prefeitura ou o governo não podiam fazer nada se as leis tinham muitas brechas”. Para o arquiteto e professor Paulo Tadeu Leite Arantes, o grande problema é que “o poder público no Brasil deveria
Muita gente para pouca água Titina Maia
Ao final do longo período de férias e início dos primeiros dias de aula, o retorno em massa dos universitários à Viçosa tem trazido um grande problema: a falta de água na cidade. Segundo o engenheiro do Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Viçosa (SAAE), Sânzio José Borges, a chegada em massa desses estudantes foi um dos responsáveis pelo problema: “A cidade estava vazia, um período muito chuvoso. Quando começaram as aulas, eu acredito que chegaram em torno de duas mil pessoas aqui em Viçosa. Ficaram três meses fora e chegaram todos de uma vez nessa região que é abastecida pela ETA 1 [Estação de Tratamento de Água 1, que abastece a parte antiga da cidade, principalmente o Centro]. Houve um super consumo de água nessa região: gente chegando, limpando apartamento que estava fechado, família veio junto”. Além do grande consumo, outro motivo para a falta de água em certos pontos da cidade é que os prédios localizados na principal avenida, a P. H. Rolfs, e em suas proximidades, possuem grandes reservatórios no subsolo. Assim, a água desce da estação em queda livre e enche primeiro esses reservatórios, perdendo a pressão para atingir as caixasd’água das construções mais antigas, que ficam instaladas
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Pedro Nunes
ser quem orienta o que pode ou não ser feito, pensando no benefício da maioria da população, mas muitas vezes em muitas cidades do país ele é omisso por falta de competência e de interesse.” Para ele, a iniciativa privada tem interesse em construir na maior área possível do terreno pra aumentar seu lucro. O que cabe ao poder público é regular o quanto se pode construir e o quanto deve ser deixado de área livre. O arquiteto afirma que esse papel não é exercido, seja pelo fato do poder público nem sempre fazer valer o interesse do povo ou pela falta de especialistas que possam dar uma orientação profissional.
Ônibus em Viçosa tem tarifa mais cara Samanta Nogueira
Problemas na distribuição tendem a diminuir com a obra na P. H. Rolfs
em suas partes superiores ou nos telhados dos prédios. O dono de um restaurante no centro da cidade, Hélio Roberto de Paula, foi um dos mais prejudicados pelo problema. Por vários dias, o seu estabelecimento ficou sem água justamente no horário de almoço. A solução foi utilizar água mineral para lavar a louça (fato presenciado pela reportagem). Mesmo assim, segundo o comerciante, ficava muita coisa suja até a hora que a água voltasse, por volta das 20h, e os funcionários da noite ficavam sobrecarregados. “A minha caixa-d’água é muito pequena. Eu estou colocando outra para poder suprir essa ne-
cessidade. Eu espero que, com as duas caixas-d’água cheias, dê para eu trabalhar sem problema”, disse ele. A recomendação do SAAE é que todos os proprietários instalem reservatórios inferiores em seus imóveis, mas, segundo o engenheiro Sânzio José Borges, com o fim da obra de instalação de novas redes de abastecimento na P. H. Rolfs, a situação tende a se normalizar. Futuramente, será necessária a ampliação da Estação de Tratamento de Água 2 (ETA 2), que abastece as regiões mais novas da cidade: Cantinho do Céu, Silvestre, Barrinha, entre outros bairros da cidade.
No dia 9 de março, as pessoas que utilizam o transporte público em Viçosa se depararam com o aumento da tarifa, que passou de R$ 1,25 para R$ 1,50. Um reajuste de 20% após três anos sem aumento. A empresa Viação União, que desde 2004 possui a concessão do transporte público na cidade, requisitou uma revisão no valor da passagem, já que os custos para manter os ônibus funcionando também aumentaram. Esse pedido de revisão para aumentar a passagem foi baseado em uma planilha de custos, de acordo com o diretor da empresa União, Roberto Cordeiro Júnior, e enviado para o Conselho Municipal de Trânsito (que é composto por membros de diversas classes da sociedade civil de Viçosa). A princípio, o valor de equilíbrio proposto pela empresa seria de R$ 1,65. Mas, após um cálculo realizado pelo professor do Departamento de Economia da UFV e coordenador do IPC – Viçosa (Índice de Preços ao Consumidor), Adriano Provezano Gomes, determinou-se um aumento entre R$ 1,48 e R$ 1,61. Dessa forma, o Conselho de Trânsito aprovou o aumento de R$ 1,50,
que foi sancionado pelo prefeito Raimundo Nonato. “Para uma cidade com transporte organizado no porte de Viçosa, a passagem, mesmo com o aumento, ainda é a mais barata de Minas”, acredita Roberto. Confirmando essa idéia, o chefe do Departamento de Segurança Pública, Operação e Fiscalização de Trânsito, Renato da Silveira Ribeiro afirma que “na região, pelo menos, desconheço um local onde o valor da passagem é nesse piso.” Renato ainda complementa que o transporte público em Viçosa não é uma excelência, mas já possui avanços como sistema interno de tv e os cartões eletrônicos. A estudante de Bioquímica e moradora do bairro Silvestre, Mayara Apolinário, diz que o aumento da passagem afetou muito a sua renda familiar, já que ela, a irmã e a mãe precisam utilizar o transporte público cerca de duas vezes por dia. “Achei que o aumento no preço foi abusivo e que foi fruto da falta de políticas sociais da prefeitura. Em grandes centros, onde o preço pago pela passagem é bem próximo ao preço que pagamos aqui, existem inúmeros benefícios, como meia passagem a estudantes”, analisou a estudante.
cidade cidade
Pé no chão e skate debaixo do braço Pedro Nunes
Ramon Freitas Guilherme tem 16 anos e faz o 1º ano do Ensino Médio no Effie Rolfs. Ele geralmente usa um boné de aba larga, sempre anda com calça rasgada e um tênis grande. O estudante tem os pés habilidosos, mas ele encontra dificuldades para praticar seu esporte favorito. “Não tem lugar para andar.”, essa foi a resposta do estudante ao falar da falta de opções para se andar de skate em Viçosa. Mas não é só o Ramon e seu grupo de amigos que são prejudicados pela falta de espaços para o lazer e esporte na cidade. A opção que resta a muitos adolescentes são os pontos comerciais, como o calçadão. A aglomeração de pessoas no local incomoda bastante os comerciantes: “As pessoas deveriam sair do calçadão, ir para uma área de lazer. Calçadão é lugar para compras.” diz a comerciante Dalva Maria Dias. Ela reclama que a concentração de pessoas atrapalha a entrada e saída de clientes da loja. Dalva ainda reconhece a falta de
opções na cidade e acha que a Prefeitura tem que tomar providências como a criação de projetos sociais e investimento em atividades esportivas. Outro ponto prejudicado pela falta de um espaço adequado para a prática do esporte é o estacionamento de um shopping no centro. Andar de skate no estacionamento é proibido. Segundo a secretária da Associação de Lojistas do local, Fabrícia Martins, os jovens acabam depredando o espaço. Ela acredita que o problema não é pontual, e todos os comerciantes que se sentem prejudicados, além de reclamar, deveriam cobrar da Prefeitura a construção de um lugar adequado para os skatistas. Sem lugares para andar, o grupo de amigos recorre a locais que possibilitem a realização de manobras. Entretanto, nos espaços que o grupo considera mais apropriados, a circulação de skates é proibida. Além do estacionamento do shopping, o calçadão e a UFV estão na lista. A relação desses jovens com os comerciantes, vigias, segu-
Pedro Nunes
Jovens skatistas esperam a construção de um lugar adequado a prática do esporte na cidade de Viçosa
ranças, vigilantes da UFV e até mesmo a Polícia Militar muitas vezes é tensa. Segundo os próprios jovens, eles se envolveram em inúmeras discussões, alguns já sofreram tentativa de agressão, e outros até tiveram o skate tomado. A Polícia Militar disse que não tem registros de ocorrências ou reclamações a respeito do assunto e considera
que o controle das áreas é feito de maneira tranqüila. A carência em estrutura para lazer e esporte não é um problema isolado, ela afeta várias áreas da cidade. A importância desses setores é reconhecida, tanto que existe uma secretaria municipal para tratar o assunto. As proibições têm suas razões, mas os adeptos da prancha com rodas
têm direito à diversão e não podem ficar parados esperando providências das autoridades com o skate debaixo do braço. O responsável pelo Departamento de Promoção e Lazer da Secretaria de Cultura de Viçosa, Antônio Luiz de Miranda, foi procurado várias vezes pelo OutrOlhar, mas não quis atender a reportagem.
Excesso de chuvas no verão muda o cenário viçosense André Vince
As chuvas de verão causam muitos problemas no início do ano em várias cidades e em Viçosa não é diferente. A grande precipitação dos meses de dezembro e janeiro, juntamente com a ocupação desordenada do espaço urbano, trouxeram para a cidade inundações, deslizamentos e desabamentos. O professor do curso Geografia da UFV Rafael de Ávila Rodrigues, relata que Viçosa sofreu um crescimento rápido e desordenado a partir da década de 90. Isso provocou um intenso povoamento da área central e por conseqüência a ocupação de encostas, topos de morro e leitos de rios, contribuindo para que os problemas causados por excesso de chuvas pudessem aparecer.
De acordo com a chefe da ria da cidade, os maiores proDefesa Civil de Viçosa Aline blemas em residências foram Fialho Rubim, 90% dos pro- infiltrações e mofo. Os mais blemas em Viçosa no período afetados por esses danos foram de chuvas foram os desmorona- os imóveis ocupados por esmentos. Aline afirma ainda que tudantes, que devido às férias ficaram três meses 20 casas foram destruídas e fechados. 20 casas foram Alguns efeique a cabedestruídas e a tos das águas do ceira de uma ainda poponte foi cabeceira de uma verão dem ser sentidos levada pela água. Para ponte foi levada em Viçosa, como por exemplo enreparar e prepela água garrafamentos venir novos diários na Av. danos no próximo verão foi estabelecido um Marechal Castelo Branco, onde convênio com a UFV através um barranco caiu e dificulta o de um projeto de contenção de trânsito nos horários de pico. Vale destacar que não exisencostas. Os moradores de uma cida- tem rios sem enchentes. Esse de afetada pelas chuvas sofrem fenômeno causa complicações com os prejuízos causados. devido a má ocupação do esSegundo Jussimar dos Santos, paço, como por exemplo a área funcionaria de uma imobiliá- natural de inundação dos rios.
As drásticas conseqüências causadas pelas chuvas podem ser explicadas pelo processo de urbanização e pela impermeabilização do solo, que não possibilita que as águas das chuvas penetrem no solo, cau-
sando as cheias que arrasam as cidades. Para amenizar a situação e necessário a implementação de políticas de uso e ocupação do solo bem como a preservação do leito dos rios. André Vince
Desmoronamento bloqueia parte da Avenida Marechal Castelo Branco
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ciência e ciência e tecnologia
Os desafios da educação à distância Thaís Faria
O modelo educacional tradicional brasileiro atende a maioria de sua população até o ensino médio e tem o formato de aulas presenciais, contudo a tecnologia, através do Ensino à Distância (EAD), tem mudado a perspectiva e o alcance do aprendizado, tentando abarcar uma maior parte das pessoas. Como uma tentativa de solucionar o problema, o ensino a distância tem, em teoria, o objetivo de abrir as possibilidades para uma acessibilidade a educação para quem não tem tempo. Os cursos são disponibilizados via internet, por satélite - através de teleconferências- e pela televisão aberta - Telecurso 2000 - com a vantagem de ter um horizonte muito maior e uma riqueza de informações que são proporcionadas pela tecnologia. No Brasil, 39 universidades federais e muitas instituições particulares possuem esse sistema. Em Viçosa, a UFV já oferece o curso de Administração com uma turma desde 2006, além possibilitar a disponibilidade de disciplinas de cursos presenciais pela internet. O Coordenador da CEAD/
UFV (Coordenação de Educação à Distância), Frederico Passos, afirma que o ensino a distância pode ter a mesma qualidade que o ensino presencial, pois tem a vantagem de utilizar materiais muito mais interativos com filmes e animações, acesso a uma biblioteca virtual, sendo exigida a presença dos alunos apenas nas avaliações.
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Não tive muito rigor nos meus estudos, até mesmo porque não há uma forma de controle deste modelo de educação e nem da qualidade deste ensino. Isso acontece também em instituições particulares da cidade, como a Ead Com e a Unopar, que realizam suas aulas por meio de teleconferências, onde os alunos podem estar muito longe da fonte da informação, com as aulas em tempo real e tem todos os
Estrela de Rock na sala de casa
Elder Barbosa
Os jogos eletrônicos não são os mesmos. Como bem define o estudante de educação física Plauto Macedo, um dos usuários desse tipo de tecnologia: “A inovação agora é a bola da vez, a tendência é os jogos se tornarem cada vez mais reais, passando a sensação de que fazemos parte da ação que vemos na tela”. Plauto diz isso por ter jogado nas férias o novo videogame Wii da Nintendo, que possuí um controle especial usado para captar os movimentos horizontais e verticais realizados pelas mãos e reproduzi-los na televisão. Assim, o controle pode se transformar desde uma raquete em um jogo de tênis até um revólver em um jogo de ação. O Wii revela uma nova tática das grandes empresas de jogos eletrônicos: fazer com que o jogador imite a realidade com o máximo de interatividade possível. Aquela velha cena de um adolescente deitado no sofá jogando videogame está prestes a acabar, como se pode ver com o novo produto lançado para o
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aparatos da universidade que os ampara. A Diretora da Unopar, Mercês Guimarães, diz que os estudantes formados em sua instituição tem grande inserção no mercado de trabalho e que a metodologia de trabalho usada favorece o acesso a palestras e conteúdos, o que é mais difícil para os alunos de escolas presenciais. Ex-aluno do Telecurso 2000, Felipe Flitz, teve suas aulas de ensino médio veiculadas na tevê aberta através de vídeos, complementados por apostilas. Ele afirma que o EAD é um sistema complicado. “Não tive muito rigor nos meus estudos, até mesmo porque não há uma forma de controle deste modelo de educação e nem da qualidade deste ensino”. Por enfrentar muitas críticas de vários educadores, além de favorecer quem está dentro de instituições de ensino superior e no sistema público, o EAD ainda esbarra em muitos problemas para se democratizar. Com custos pouco acessíveis, por sua tecnologia atender a poucos, encontrandose ainda elitizado e sem visibilidade para a maioria da população, essa iniciativa está longe de atingir seu objetivos de tornar-se popular.
Elder Barbosa
Jogadores simulam a realidade sem sair do sofá de sala de estar
console chamado “Wii Fit”. Esse jogo se comporta como seu personal trainer e oferece exercícios diários usando o controle do Wii de acordo com
sua condição física, medida por uma balança que acompanha o jogo. Um sonho de grande parte dos adolescentes, ser um gran-
de astro do Rock, também é outra novidade dos videogames. O jogo Guitar Hero dá a chance de qualquer um encarnar na pele de alguma lenda da música, com o controle em forma de guitarra vendida separadamente. O estudante do Coluni, Lucas Chagas, se diz fã de Rock’n Roll e afirma: “O jogo lembra a realização um grande show sim, e assim como na guitarra de verdade é preciso pegar o tempo e o ritmo de cada música”. Além de simular muito bem o instrumento, o jogo eletrônico pode encorajar adolescentes a tocar guitarra, como foi no caso de Lucas, que citou Guitar Hero como um dos fatores que o incentivaram a investir na música. O ponto negativo desse avanço na simulação da realidade é o difícil acesso a esses novos videogames, devido aos altos preços desse tipo de tecnologia. A funcionária Érica Moraes de uma loja de eletrônicos de Viçosa diz que a procura por jogos como Guitar Hero é alta, mas se resume a um público adolescente de maior poder aquisitivo.
200 anos de Charles Darwin
Daniela Fonseca
Parabéns! Pode se considerar um vencedor. Isso graças a um cientista inglês chamado Charles Darwin. Ele era um aristocrata, religioso que, no século XIX, se dedicou ao estudo da natureza. Este ano Darwin completa 200 anos. O fato de estar vivo significa que você descende de uma combinação genética bem sucedida no processo evolutivo. Os seres vivos são selecionados ao longo de várias mutações genéticas que resultam na sobrevivência dos mais aptos. Essa é a base da teoria da evolução de Darwin. A partir das pesquisas dele, o ser humano deixou de ser visto como uma criatura isolada e privilegiada da natureza e passou a ser interpretado como parte de um processo de evolução histórico. Essa idéia choca-se com o criacionismo, segundo o qual, o homem é fruto de um ato de criação. Mas há quem consiga conciliar religião e ciência. A estudante de Agronomia, Sinara Simões, disse que reconhece a importância de Charles Darwin, entretanto, não permite que suas convicções religiosas sejam abaladas e sentencia: “Depois de Adão e Eva, prevalece Darwin.” A teoria da evolução, desenvolvida a mais de um século, se mostra um consciente viés ideológico, pois, em tempos de aquecimento global, o homem encara a si próprio como apenas mais um ser vivo que participa da Natureza, é uma responsável atitude para nortear seu comportamento dentro da perspectiva de preservar o meio ambiente e a si próprio enquanto espécie. O impacto das descobertas de Darwin foram tão grandes que fizeram dele um dos maiores pensadores ocidentais. De acordo com a pós doutoranda em Entomologia, Tathiana Guerra Sobrinho, o jargão que rege a biologia é: “em biologia nada faz sentido sem a luz da evolução”.
tecnologia ciência e tecnologia
Navegadores de internet escondem diferenças entre si Fernanda Pônzio
As opções de navegadores disponíveis aos usuários da rede mundial de computadores são variadas. Se há alguns anos o predomínio absoluto era do Internet Explorer (IE), de uns tempos para cá, a concorrência vem se acirrando e outros navegadores ocupam parcelas mais significativas do mercado. Segundo a consultoria Predicta, no ano passado no INTERNET EXPLORER Brasil o predomínio ainda era do IE, seguido pelo FiPraticidade e refox e pelo Google Chrome. Popularidade Diante dessas opções, resta a dúvida: Há, de fato, diferenças significativas entre eles? Vulnerabilidade e Instabilidade
FIREFOX GOOGLE CHROME Relação de sites mais visitados Gerenciamento de abas Rapidez*
*Eficiência ainda não comprovada
Segurança Personalização Muitas extensões
Incompatível com alguns recursos em Flash e de JavaScript
(uma linguagem de programação)
Por que procurar uma terapia natural ? Marília Cabral
Tratar o sintoma, ou a causa de seu aparecimento? Pode parecer que não há diferença, mas é dessa questão que partem duas diferentes formas de tratamentos médicos: a alopática e a terapia natural. O termo alopatia vem justamente para distinguir-se do termo homeopatia, que quer dizer semelhantes são curados por semelhantes e é uma das terapias naturais mais conhecidas, considerada prática medica desde 1983 e no Brasil desde o século XIX. “Por que você vai tomar um remédio contra uma doença ao invés de se tratar para que seu organismo se equilibre e a doença desapareça?”. O médico homeopata e acupunturista, Evandro Oliveira, que está há 20 anos em Viçosa explica que a Medicina alopática trata as doenças de uma forma sintomática. “Em geral o médico tradicional, ele tá preocupado com o
diagnóstico e a patologia, nós estamos preocupados com a saúde, em reestabelecer a saúde.” Os pacientes que o procuram, chegam ao seu consultório com as mais diversas queixas: Depressão enxaqueca asma, rinite, stress, cólica menstrual, etc.
Por que você vai tomar um remédio contra uma doença ao invés de se tratar para que seu organismo se equilibre e a doença desapareça? Reginalda Lopes, bióloga e presidente da ONG Entre Folhas, que trabalha com terapias naturais, buscando dar embasamento científico aos usos tradicionais das plantas medicinais. Lá, terapeutas voluntários
Tecnologias Alternativas para a agricultura Lívia Alcântara Localizado no bairro Violeira, zona rural de Viçosa, o Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata Mineira (CTA-ZM) é um lugar que já de início desperta curiosidade para quem vai pela primeira vez. No meio de árvores, barulho de animais, cascalho e muita água, duas redes e o cheiro de incenso revelam outro mundo. O CTA é uma organização civil, criada em 1987, que desenvolve trabalhos com agricultores e agricultoras para fortalecer as comunidades e as organizações rurais. Além disto, tem como meta promover o debate sobre a equidade de gêneros no âmbito familiar e sobre a conservação da natureza e desenvolvimento local. Assim, suas ações se encaixam na área tecnologia social, ou seja, utiliza métodos e técnicas de baixos custos e de fácil aplicabilidade com
o fim de resolver problemas sociais e desenvolver comunidades. O CTA desenvolve vários projetos, que são colocados em prática a partir de articulações com movimentos sociais, sindicatos, comunidades e com a Universidade Federal de Viçosa. Um dos projetos do qual é colaborador, por exemplo, chamase “Vacas para o Café”. O técnico do CTA, Breno de Mello Silva, explica que a experiência acontece no município de Araponga e consiste no reaproveitamento de estrumes dos bovinos nas plantações. O estudante de agronomia e participante do projeto, Aroldo Felipe Freitas, avalia positivamente a participação do CTA. Para ele “o CTA contribui no projeto metodologicamente e estruturalmente, ajudando com a confiança que as famílias têm no trabalho do CTA”. Aroldo ressalta ainda, as conquistas das famílias com o projeto, que passaram a colher mais
atendem a população indicando os tratamentos. Segundo ela, uma das vantagens da terapia natural é que ela é de baixo custo e não apresenta efeitos colaterais ou contra-indicações quando usada com orientação adequada. O grupo entre folhas chega a oferecer atendimento a 400 pessoas por mês, que dão contribuição de 5 a 10 reais quando podem, pelas consultas. Lá são oferecidos atendimentos terapêuticos de homeopatia, método de diagnóstico Biodigital (que ajuda na escolha das ervas certas para cada enfermidade e paciente), Florais de Bach. Reequilibrar a mente, o emocional, o corpo. Essas são as bases das terapias naturais. A estudante Ana Maria Pereira procurou primeiramente a terapia de florais de Bach, por estar com problemas de concentração, fez também uso de homeopatia: Não me sentia bem utilizando a alopatia pois ficava refém de remédios e as dores de cabeça sempre voltavam. Lívia Alcantara
esterco, a diversificar a plantação e conseqüentemente aumentaram suas vendas. O apoio técnico do CTA junto aos agricultores busca o desenvolvimento da agricultura agroecológica, que se desenvolve a partir da necessidade de um sistema de produção mais justo. Na agroecologia o homem e a natureza são integrados a partir de relações sustentáveis. E seus princípios são a agricultura familiar, o trabalho coletivo, a busca de um mercado mais solidário e o intercambio entre os saberes científicos e populares. Breno, explica que o trabalho com a agroecologia também renta dificuldades. Para ele, além de a agroecologia precisar encarar a força do sistema de produção vigente, há sempre necessidade de ampliar seu alcance. E este é o sonho e a busca do Centro de Tecnologias Alternativas da Zona na Mata.
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meio ambie meio ambiente
Foto: Gustavo Baxter
Ecoturismo: preservação e lazer
Maristela Leão
Ver o sol n a s c e r, sentir o vento no rosto e refrescar-se na água. Caminhar, escalar, descer corredeiras, deixar o suor escorrer e o sorriso transparecer no rosto: isto é só um pouco do que o Ecoturismo representa. Diferente do turismo clássico, essa modalidade prevê o “turismo de lazer, esportivo ou educacional, em áreas naturais, que se utiliza de forma sustentável dos patrimônios natural e cultural, incentiva a sua conservação, promove a formação de consciência ambientalista e garante o bem estar das populações envolvidas” conforme o Instituto de Ecoturismo no Brasil.
Essa denominação sugiu na década de 80 e vem encontrando cada vez mais seguidores. De forma equilibrada, os irmãos Matheus e Thiago Veloso são adeptos desde os 16 anos a prática da escalada esportiva. Paulistas e atualmente estudantes da Universidade Federal de Viçosa, os dois já visitaram a Patagônia, no Chile, e a Chapada Diamantina, na Bahia, praticando esse esporte. Sempre com atitudes ecologicamente corretas, como preservar as trilhas e limpar das rochas o magnésio utilizado após a prática da escalada, Matheus incentiva esse estilo de vida e também garante que o contato direto com a natureza possibilita uma mudança nos valores das pessoas. O professor do Colégio de Aplicação da UFV – Coluni, Mário Alino Barduni Borges ainda defende “que a observação ao vivo propiciada por esse tipo de atividade é bem mais marcante do que somente o estudo em sala de aula”. Ele chegou a essa conclusão
por ser um dos coordenadores do projeto Cicloturismo. Uma vez por mês, um grupo de aproximadamente 25 alunos, de diversas escolas públicas de Viçosa reunia-se de bicicleta para percorrer locais de estudo, como a Mata do Paraíso e a estação de tratamento de água da cidade (ETA). No ano em que ocorreu, o projeto foi um sucesso e deve servir como modelo para futuros projetos que conscientizem a preservação da natureza. Para quem pensa que o turismo verde está distante, se engana. Neste ano de 2009 os editores da revista National Geographic Adventure avaliaram o Brasil como o melhor destino de turismo de aventura. Nosso país é rico em diversidade de ecossistemas. Possui praias, florestas, dunas, montanhas e ainda vem passando por melhorias na infraestrutura, tudo para promover ainda mais o Ecoturismo.
Chá de Carqueja *
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Ingredientes: - 1 colher de sopa da planta seca (desidratada) - 1 copo de 250 ml de água
Modo de preparar: Ferver a água até entrar em ebulição. Despejar a água sobre a planta e deixar por 15 minutos. Depois coar e tomá-lo quente.
Ajudar o planeta, um clique por vez O que uma enorme faixa pendurada no Elevador Lacerda, na Bahia, e o ato de milhões de pessoas terem apagado as luzes por uma hora em 28 de Março na chamada Hora do Planeta têm em comum? Além de claras tentativas em chamar nossa atenção para o problema do aquecimento global, esses acontecimentos tiveram sua repercussão ampliada por pessoas comuns, que mesmo distantes um dos outros, se uniram por meio de ações ciberativistas. Mas, o que é isso? Qualquer tipo de atuação em defesa do meio ambiente pode ser classificada como ativismo verde. Manifestações em praças públicas, abaixo-assinados e até esses criativos protestos citados acima estão inclusos. Antes limitadas a áreas específicas, essas ações podem agora, utilizando os meios eletrônicos como a internet e o celular, contar com voluntários de vários locais do planeta para alcançar seu principal objetivo: conscientizar a sociedade sobre os problemas ambientais. Esses são os ciberativistas. A forma mais primária de ciberativismo é o enxameamento, que nada mais é que o boca a boca. “O Orkut, Twitter, fóruns e grupos de discussão são ótimas ferramentas de mobilização”, diz o publicitário João Caribé, criador da rede social Ciberativismo no site Ning. com. É nesse mesmo espírito, que simples e-mails ou aplicativos mais complexos como o amazônia.vc podem
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dar início a uma reação em cadeia e atingirem várias pessoas. Nesse tipo de ação o que importa é espalhar a mensagem. Desde 1998, o Greenpeace, ONG global também na luta pelo ambiente, tem na internet presença massiva. Possui atualmente comunidade no orkut, canal no youtube, perfil no Twitter e uma área específica no site oficial que orienta como participar de ciberações. Sobre isso a gerente de marketing online da ONG, Mariana Schwarz, diz: “Hoje seria até estúpido se ignorar o poder da web. As redes sociais revolucionaram a maneira como nos comunicamos.”. Das ações promovidas uma grande vitória foi a Moratória do Soja. “Depois de um tempo de campanha com cyberações e banners, conseguimos agendar uma conversa com as principais traders da soja, até então, maior vetor de desmatamento da Amazônia. Pedimos que se comprometessem a não desmatar novas áreas para plantar - que o fizessem apenas em áreas já desmatadas. Esse acordo prevalece desde 2006”, afirma Mariana. Outro tipo de ciberação são projetos como o ClickÁrvore. Ao acessar o site o usuário é convidado a clicar em um simples botão para que uma empresa patrocinadora pague uma muda para o reflorestamento da Mata Atlântica. Já foram mais de 19 milhões de doações de mudas desde criação do site no ano 2000. Esses são apenas alguns exemplos de atividades ciberativistas verdes. Existem outras ações que mobilizam pessoas em torno de temas como a política, por exemplo. A rede não para nunca e o trabalho continua.
Tomar a noite após o jantar (por 15 a 20 dias)
* Indicado contra a obesidade
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Thiago Araújo
Pratique o ciberativismo www
greenpeace.org/brasil/participe/ciberativismo Nesse site você pode participar de várias ações promovidas pela ONG, podendo ajudar na divulgação das mesmas utilizando emails, comunidades no orkut e outras ferramentas.
clickarvore.com.br O Click Árvore é uma iniciativa da SOS Mata Atlântica em parceria com empresas que pagam o plantio de mudas que ajudam no relforestamento da maior biodiversidade do mundo, a Mata Atlântica.
globoamazonia.com Esse é o site das organizações Globo que monitora notícias relacionadas à Amazônia. Você pode protestar contras as queimadas usando o aplicativo para orkut, amazônia.vc. ciberativismo.ning.com
Rede social que organiza e divulga ciberações relacionadas à varias temáticas, incluindo direitos civís e o meio ambiente.
ente
Pequenas atitudes ecológicas
Fernanda Viegas
Daniela Araújo
A cidade de Viçosa e região tem sua economia ligada as questões naturais. Muitas famílias vivem das produções agrícolas, aproveitando as condições favoráveis do clima, solo e recursos hidrícos. Além disso, a região da Zona da Mata Mineira, onde Viçosa está situada, possui uma grande biodiversidade vegetal que pode ser utilizada pela população local, de modo a encontrar uma forma de manuntenção da renda. A dificuldade, no entanto, está em um aproveitamento protencionista da riqueza natural. O farmacêutico e professor do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular da UFV, João Paulo Viana Leite, acredita que por Viçosa estar em uma região de Mata Atlântica, onde ainda se encontram matas preservadas, manter as florestas em pé ou não realizar uma derrubada excessiva, visando o faturamento econômico com a criação de gado e comercialização da madeira, trará mais benefícios para a população regional. “São produtos do campo farmacêutico, do campo cosmético, alimentos, são óleos, resinas, polpas, que para a extração, precisa-se da floresta em pé”, diz o professor. Uma atividade que se pode desenvolver a partir da variedade vegetal é a sua utilização na produção de remédios. A bióloga Reginalda Célia Lopes explica que “plantas medicinais são plantas que possuem compostos químicos, os princípios ativos, que conferem a elas propriedades terapêuticas”. Se uma pessoa possui uma horta em casa, ela mesma pode produzir remédios caseiros e não depender de drogarias. Mas Reginalda alerta para os cuidados com o cultivo da planta e com a necessidade de se conhecer o mínimo sobre ela, para utilizá-la de modo a não ter efeitos contrários. Outro motivo para ficar atento é com as várias ações terapêuticas diferentes que uma mesma planta pode apresentar. A hortelã, por exemplo, é boa para digestão, redução de gases intestinais e expulsão de vermes do intestino. Já para o engenheiro agrônomo e pesquisador em Agroecologia, José Mário Lobo Ferreira, o modo como a população de certa localidade se comporta está diretamente relacionado com a biodiversidade local. Logo, muitas festas religiosas e folclóricas surgiram a partir do que o ambiente apresenta e fornece às pessoas. Respeitar as leis ambientais significa também não lesar a cultura regional. Conhecer a biodiversidade é o primeiro passo para a conscientização à adequação dessa vegetação às necessidades humanas.
Travesseiro Aromático em 4 Passos
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Horta
Secagem
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A discussão a respeito da urgência e importância da preservação ambiental toma conta da sociedade. Fala-se muito na necessidade dessa preservação, mas poucas são as orientações para alcançála de forma eficaz. Atitudes simples podem ser tomadas em casa, na escola, no bairro e, somadas, podem transformar o seu espaço. O consumo consciente é o primeiro passo e a reciclagem surge como forma de reduzir o desperdício, reaproveitando os materiais. Tudo começa por meio da separação do lixo úmido do seco. O lixo úmido ou orgânico é constituído por restos de alimentos, cascas de frutas e outros materiais que armazenados possam produzir água. O lixo seco ou inorgânico inclui o papel, o vidro, o plástico e o alumínio. O participante do Projeto Reciclar, Mauro César Cruz, ressalta que o lixo inorgânico deve estar limpo e bem seco, porque as reações químicas produzidas entre os componentes pode contaminálos e assim impedir ou prejudicar a reciclagem. Com o papel é preciso ter ainda outro cuidado, ao jogar fora rasgue as folhas, porque ao amassar suas fibras são quebradas. A segunda questão é o recolhimento desse material. Esse procedimento ainda é deficiente em Viçosa e realizado principalmente por cooperativas populares e projetos da UFV. Os catadores
de material reciclável já possuem uma organização mais estruturada, com instrumentos para o trabalho e um local para armazenamento. Outra iniciativa é realizada pelo Projeto Interação, que implementou a coleta seletiva em poucas áreas residenciais, mas em curto prazo poderá ser estendido a outros locais. Conhecer e entrar em contato com esses projetos é uma maneira de articular a coleta seletiva também no seu bairro. Integrante da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP) da UFV, Laura Reis, trabalha a cinco anos com a Associação dos Trabalhadores da Usina de Triagem e Reciclagem de Viçosa (Acamare) e afirma: “é importante pautar dentro da cidade uma política de resíduos sólidos para a prefeitura, para que o lixo venha já separado, pelo menos o orgânico do seco”. A Acamare é a responsável pela triagem, organização e prensamento do material reciclável até atingir um volume suficiente para ser vendido. Em Viçosa não existe uma indústria de reciclagem, tudo o que é recolhido é vendido para indústrias de cidades próximas. O trabalho desenvolvido pela ITCP com essa associação tem como intuito a emancipação social e econômica do grupo. Incentivar a reciclagem já ultrapassou a questão do meio ambiente. Hoje é uma atividade econômica, da qual dependem muitas famílias viçosenses.
Novas perspectivas para o futuro Michelly Oda
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Armazenamento
Um produto final Fotos: Maristela Leão Arte: Thiago Araújo
A maior parte da energia consumida no planeta vem dos derivados de petróleo, gás natural e carvão. Todas essas fontes são encontradas em quantidades limitadas na natureza. Daí a necessidade de busca por fontes alternativas de energia. Você conhece ou já deve ter ouvido falar da mamona, do girassol, da soja, do babaçu, mas o que eles tem haver com as fontes de energia? Todos eles são matéria-prima do biodiesel. O biodiesel é um composto ambientalmente correto, renovável e biodegradável, originado por óleos vegetais ou gorduras animais, que pode ser utilizado para substituir total ou parcialmente o óleo diesel em motores, como explica o professor do Departamento de Economia Rural da UFV, Aziz Galvão. No Brasil, a fonte principal de matériaprima para produzir o biodiesel é a soja. A capacidade de produção instalada no país já ultrapassa três bilhões de litros anuais e esse número pode aumentar. O pesquisador da EMBRAPA/PR, Márcio Ávila, destaca que o Brasil possui potencial para ser o maior produtor
Foto: Michelly Oda Arte: Thiago Araújo
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Flora é riqueza cultural
de biodiesel do mundo, devido à extensão territorial, às condições climáticas e à disponibilidade de chuvas. Para o país desenvolver toda a sua capacidade produtiva em relação ao biodiesel há uma distância entre o potencial agronômico e a realidade brasileira. “Há necessidade de implantação de uma cadeia de produção e comercialização do produto, incluindo a criação de sementes selecionadas e melhoradas, o desenvolvimento de máquinas e tecnologias de cultivo e o treinamento de mão de obra devidamente qualificada”, afirma Aziz Galvão. O biodiesel permite ganhos ambientais para todo o planeta. O professor do Departamento de Tecnologia de Alimentos da UFV, Ronaldo Perez, cita como principais: a diversificação da matriz energética, com a introdução de uma nova fonte de energia; a diminuição da poluição do ar e do efeito estufa, causados pela queima de combustíveis derivados de petróleo; a geração de emprego e renda no campo, desenvolvendo a agricultura familiar. Além disso, o país seria ainda menos dependente da importação do petróleo e das oscilações de preço que os combustíveis derivados dele sofrem. Reprodução flickr.com/rtarga
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esportes esportes
Parece um esporte, mas não é
Fernanda Reis
Aulas de axé em academias de ginástica, programas de tv com quadros em que famosos bailam ao som da música, festivais em que se disputam a melhor coreografia. A dança aparece de diversas formas, em diferentes situações. E é aí que surge a dúvida: a dança é um esporte? De acordo com a professora do curso de Educação Física da UFV, Jaqueline Zeferino e com a estudante Flávia Magalhães, a dança não poderia ser considerada um esporte. As duas explicam que para uma atividade física ser classificada como esporte, ela deve ter uma confederação que lhe dê suporte e que determine regras específicas que precisam ser cumpridas da mesma maneira no mundo inteiro. Flávia ainda completa dizendo que o esporte necessita de um sistema de jogos, com juiz e regras próprias, para acontecer. O uso de movimentos com o corpo e a presença de
técnicas para realizá-los, não fazem da dança um esporte. Ambas as atividades envolvem o trabalho com o corpo, mas com objetivos diferentes. A professora do curso de Dança da UFV, Evanize Siviero, diz que nos dois casos, é necessária uma técnica para se realizar corretamente os movimentos. A dança, porém, envolve a expressividade, o poder artístico e a criação. Jaqueline concorda com essa opinião e afirma: “o esporte é a atividade em si, não tem nada sendo representado, é o movimento pelo movimento.” Quanto à prática de alguns ritmos em academias, (axé, forró e funk) esses podem fazer parte de um tipo de atividade em que se exercita o corpo. Flávia, que trabalha com aulas de axé em uma academia da cidade, diz que se combinar à dança, os exercícios corporais corretos, é possível melhorar o físico do corpo. Essas aulas podem ser uma forma de se exercitar, mas de um jeito em que se perceba os benefícios da atividade, sem o aluno perceber
o esforço que é feito. Mas essa questão não é fechada. Esporte e dança compartilham alguns elementos, mas se distanciam quanto a certas questões. Ela pode ser considerada uma atividade física, mas seria uma forma de arte. Como afirma a bailarina e professora do curso de Dança da UFV, Solange Caldeira, o objetivo maior é
causar uma sensação, uma comoção em quem assiste a um espetáculo: “a função da dança é fazer o público refletir sobre determinada situação”. Dançar é, portanto, conseguir transmitir o significado de alguma coisa, utilizando uma linguagem que não é falada e nem é escrita. É expressar por meio do corpo algo relacionado à sociedade, às vivências e à história. Jéssica Marçal
Aulas de ritmos em academias permitem juntar dança e exercícios físicos
O esporte como empresa lucrativa Jéssica Marçal
Quando se fala em esporte se pensa logo em jogos, competições e saúde. Mas no esporte profissional se pensa também na questão do marketing esportivo. Este acaba sendo uma via de mão dupla: considera-se tanto o que o esporte representa dentro da estratégia de marketing da empresa quanto a importância da empresa para o esporte. Isso de acordo com o professor do curso de Educação Física da UFV, Paulo Lanes Lobato. Ele completa essa relação entre empresa e esporte explicando: “Um jogo de futebol é uma atividade de marketing do esporte e, ao mesmo tempo, é utilizado como vitrine para as empresas projetarem suas marcas e seus nomes por meio do evento em si e do veículo que o
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transmite, que seria uma terceira via dentro dessa relação”. Essas transações envolvem dinheiro alto. Segundo o site Arena Sports, a indústria esportiva chega a movimentar cerca de R$31 bilhões por ano no Brasil. Tendo em vista o alto valor, Paulo afirmou que o esporte é uma empresa como as outras, tendo grande impacto na economia. Ele também ressaltou a questão da economia informal, que se aproveita dos jogos para vender, como os vendedores ambulantes nos estádios de futebol. Outro exemplo da intensa movimentação econômica presente no esporte é o último contrato que o Corinthians fechou com seu novo patrocinador, a Batavo. O acordo firmou-se em R$18 milhões. E é aí que se percebe a importância do
marketing esportivo: o clube recebe recursos para manter sua estrutura e a empresa adquire visibilidade através das camisas dos jogadores. Essa é apenas uma das formas de se adquirir visibilidade, sendo que isso também pode ser feito através da tv. Tanto dinheiro e divulgação são mais gritantes no futebol. O professor de Educação Física do Colégio de Aplicação da UFV (Coluni) Próspero Brum Paoli, reconhece esse fato e o exemplifica: “Quando você abre os jornais, o que você vai perceber no caderno de esportes é que 70% do espaço é destinado ao futebol”. A visibilidade e propaganda em torno do futebol e do sucesso dos jogadores alimentam o sonho que muitos garotos tem de se tornarem jogadores. “Só que isso é tudo uma grande
ilusão, porque apenas 3,2% dos jogadores profissionais hoje no Brasil estão ganhando acima de 20 salários mínimos. 58,2% ganham abaixo de três salários mínimos”. Ele ressalta também que a principal fonte de renda dos clubes atualmente é a cota de patrocínio da tv, e diz que, hoje, o futebol é sua refém. Por outro lado, isso acaba contribuindo para a questão de marketing dos clubes. O último assunto falado em massa na mídia foi a contratação de Ronaldo Fenômeno pelo Corinthians. Essa foi eleita a melhor jogada de marketing de 2008. A imagem de Ronaldo serviu para levantar o time, que acaba de voltar da segunda divisão do campeonato brasileiro. Um reflexo direto da contratação foi o aumento nas vendas da camisa, que também constituem parte de sua renda.
O karatê também quer uma vaga Fernando Nardy
Só daqui a três anos o mundo vai acompanhar o maior evento esportivo do planeta, os jogos olímpicos, mas já há esportes buscando uma vaga no seleto grupo de modalidades que participam das olimpíadas. Squash, golfe e karatê são alguns esportes que desejam se tornar olímpicos. A Comissão Executiva do Comitê Olímpico Internacional é o órgão que inclui novos esportes nos jogos. Essa comissão analisa critérios como número de praticantes e grau de disseminação do esporte pelo mundo para decidir as possíveis entradas. Professor do Departamento de Educação Física da UFV, Adilson Osés, acha improvável mudar o quadro de esportes. Para ele, a maioria das modalidades que quer fazer parte dos jogos é regionalizada, praticada em poucas regiões do mundo. Ele acredita que só o karatê possua chances de se tornar um esporte olímpico, já que sua prática não está condicionada a instalações físicas e aspectos geográficos específicos, podendo ser disseminado pelo mundo. Muita gente defende a presença do karatê nas olimpíadas. O lutador de artes marciais Gilberto Corrêa praticou o esporte por três anos e afirma: “É muito importante que o karatê entre para os jogos olímpicos. Assim poderemos desmistificar a idéia preconceituosa de que a prática de uma arte marcial gera violência”. Ele ainda ressalta que o karatê traz benefícios tanto físicos (força e resistência) quanto psicológicos (agregação de valores como o respeito e o coleguismo).
esportes esportes
Dicas para uma boa caminhada Mateus dos Santos
A pressa, tão comum em nosso cotidiano, muitas vezes nos deixa sem tempo para a prática de esportes coletivos. Reunir amigos e colegas para jogar um esporte qualquer também pode não ser do agrado de todos. A alternativa seria a caminhada, logo pela manhã ou ao final da tarde, num local
agradável e na companhia de alguém. É o que muitos fazem todos os dias na avenida principal da UFV, conhecida como reta. Os estudantes de pósgraduação Joice Martins e Fabiano da Silva começaram há mais de um ano a caminhar durante a tarde no campus. Os dois namorados acreditam que se exercitar na companhia de alguém dá a impressão de que
o tempo passa mais rápido, pois há com quem conversar durante o trajeto. “Isso alivia bastante o estresse dos estudos, além do prazer e bem-estar que a gente sente ao se movimentar depois de um dia inteiro parado, só estudando”, diz Joice. É preciso estar atento a diversos fatores antes de iniciar qualquer atividade física. A dica é sempre ter
Jéssica Marçal
As orientações de profissionais da saúde e o uso de roupas e calçados adequados são essenciais para quem faz caminhada
o acompanhamento de pelo menos dois profissionais: um preparador físico e um médico. Formado em educação física, o preparador poderá indicar os melhores tipos de exercícios para cada pessoa, enquanto o médico avaliará a saúde do indivíduo, considerando até a faixa etária de quem pretende iniciar uma corrida ou caminhada. O cardiologista Fabrício Costa Bandeira alerta para os riscos da prática esportiva sem os devidos cuidados médicos: “O médico deve orientar o paciente sobre problemas cardiovasculares que possam limitar suas atividades, por meios de exames como o teste ergométrico. Indivíduos hipertensos, ou com arritmia cardíaca, podem chegar a ter até uma parada cardíaca ou infarto do miocárdio durante o exercício, caso não tenham se preparado para praticálo naquela intensidade. É importante também uma avaliação ortopédica, pois, no caso de artroses já existentes no quadril e nos joelhos, estas tendem a piorar, principalmente no caso da corrida, se isso for feito sem um acompanhamento adequado”, garante Fabrício, que já participou de diversos circuitos e meias-maratonas pelo país.
Professor do Departamento de Educação Física da UFV, João Carlos Bouzas Marins orienta como deve ser a alimentação de quem vai fazer exercícios físicos. A orientação é começar a caminhada três horas após o almoço ou o jantar, devido à digestão dos alimentos que ainda está ocorrendo no organismo. “O melhor mesmo é correr ou caminhar antes dessas refeições, especialmente quando há menor incidência de radiação solar e calor, ou seja, de manhãzinha ou no final da tarde e início da noite. Durante o exercício é necessário haver uma hidratação contínua, à base de água e bebidas carboidratadas, como os isotônicos encontrados no mercado”, afirma. A escolha de um calçado com amortecimento de impacto também é um dos elementos importantes para a prática de um esporte ou qualquer exercício físico, pois contribui para diminuir o cansaço nas pernas e o risco de lesões. Deve-se correr ou caminhar com roupas leves e claras, pois estas não esquentam demais, além de utilizar filtro solar em tempos de sol. Por fim, o ideal para os idosos, segundo os fisioterapeutas, é caminhar em locais planos, para evitar quedas.
e a esposa são apaixonados por times diferentes. A professora de Língua Portuguesa Alcilene Souza é torcedora do Flamengo e garante que nem por isso desentende-se com o companheiro, torcedor do Fluminense. “Aqui em casa, nós assistimos aos jogos juntos e não temos nenhuma espécie de problema. Inclusive, ele (o marido, Genedilson) já comprou uma camisa do Flamengo para mim, e eu, uma do Fluminense para ele”, conta. Com a autoridade de quem sabe se divertir em paz, o técnico de operação Genedilson deu a receita para acabar com a hostilidade entre torcedores:
“em muitas coisas da vida, há opiniões divergentes, e as pessoas aceitam. No futebol, a tolerância é menor. Para resolver isso, é preciso respeitar as preferências dos outros”. A violência no futebol preocupa o Governo Federal. O ministro do Esporte, Orlando Silva Júnior, anunciou em março uma série de propostas para combater o problema. A principal delas é o cadastramento do torcedor, obrigatório para quem quiser ir aos estádios a partir de 2010. Esta medida ainda será discutida. Entretanto, você não precisa esperar para torcer em paz.
O orgulho do torcedor dispensa a violência Daniel Leite
A paixão por um clube de futebol leva as pessoas ao contato com diversas sensações. A alegria e a tristeza são apenas algumas das emoções com as quais os torcedores têm de lidar. Aqueles que acompanham o esporte precisam controlar seus impulsos para que não ocorra a violência. Porém, algumas pessoas ainda preferem a briga à comemoração saudável. Por isso, há muito tempo, o futebol deixou de ser somente lazer para representar também um palco de batalhas. Ao contrário do que muitos imaginam, a violência no
esporte não é promovida apenas por grandes grupos. “É claro que as torcidas organizadas têm um traço de hostilidade, o que motiva e dá suporte a violências de todo tipo. No entanto, é comum vermos brigas isoladas, nas quais não existe um grande número de torcedores envolvidos”, destacou a professora na área de Psicologia do Esporte Jaqueline Zeferino. A afirmação deixa ainda mais difícil a explicação para a violência nos estádios. Além da rivalidade entre os times, as necessidades pessoais podem transformar um indivíduo num torcedor
brigão. Jaqueline diz que isso depende muito da intensidade do fanatismo. “É possível especular que o indivíduo que nutre pelo time uma paixão desmedida pode encontrar no estádio, ou até mesmo nas partidas televisionadas, uma válvula de escape de emoções, muitas vezes sob a forma de violência”, afirma. No entanto, paz e futebol podem caminhar juntos. Para isso, os torcedores devem ser tolerantes e conscientes de que o esporte visa a promover na sociedade a alegria e a integração entre as pessoas. Um exemplo interessante é a relação de um casal em que o marido
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omportamento comportamento
A hora do Vestibular Lorena Tolomelli
Que o vestibular deixa a maioria dos alunos do último ano do Ensino Médio bem preocupados não é novidade, mas nem todos se comportam da mesma forma em relação ao exame. As reações dos estudantes são muitas, e começam logo no principio, na primeira série do 2º grau. Para compreender melhor como os estudantes encaram o tão temido vestibular, o OutrOlhar conversou com alunos do 1º e 3º ano do Ensino Médio. Uma das reações mais evidentes frente ao vestibular é o estudo. Muitos alunos começam desde o 1º ano, como Maria Fernanda Fernandes, do Colégio Universitário - Coluni. Ela acredita que estudar desde o princípio evita
que a matéria acumule para o fim do Ensino Médio. Outros alunos preferem ficar atentos à matéria que é dada no colégio, para ter um bom rendimento nos vestibulares seriados. É o caso de Matheus Lessa que está no 1º ano no mesmo colégio. Para ele, este primeiro semestre ainda não vem com grande foco no vestibular, mas o estudante tem certeza que no último ano, a preocupação aumenta muito – “No 3º ano a gente preocupa mais, já tenho que decidir o que vou fazer, tentar abranger mais as áreas que vou trabalhar...” E a terceira série não pede apenas um maior esforço nos estudos, exige um forte controle emocional. Sarah Barbosa quer fazer cursinho e tem certeza que
O efeito “créu” Luiz Moraes
“Sexualização na mídia afeta saúde mental de meninas”, alertava uma pesquisa publicada nos Estados Unidos em 2007. E em fevereiro deste ano saiu outra que constatou: “Jovens que ouvem músicas com conteúdo sexual depreciativo iniciam vida sexual mais cedo”. As composições estariam ficando banais e com letras vulgares que tratam o sexo como ato relacionado a demonstrações de poder e cinismo. As músicas falam de relações sem compromissos nem sentimentos, e a mulher aparece como objeto descartável de prazer. A psicóloga especializada em educação profa. Rita de Cássia de Souza diz que os adolescentes são naturalmente mais influenciáveis e seguem os modismos da Mídia mais facilmente, inclusive nos namoros. Porém, ela esclarece que não se pode atribuir esta precocidade sexual só ao estímulo da música. Os bens de consumo voltados para essa faixa etária, como as roupas e revistas teen, convergem na propaganda da superexposição do corpo. “É um grande movimento [de de-
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gradação] no qual as músicas estão inseridas”, afirma Rita. A psicóloga Andréa Drumont, que trabalha com jovens carentes no Centro de Referência de Assistência Social 2, diz que existem músicas com ritmos e sons que, mesmo sem palavras vulgares, provocam sensações corporais impulsivas e levam à excitação por si só, em prejuízo da capacidade de raciocinar. Muitas músicas que rolam nas festas e pelas ruas da cidade têm carga negativa suficiente para gerar os tais “escravos do impulso”. Com o seu imenso potencial de influenciar comportamentos e consciências, algumas mídias perpetuam um quadro de deterioração cultural, moral e social, estimulando os vícios e enfraquecendo a noção de autocontrole e domínio de si em todas as camadas sociais. Andréa afirma que a falta de contato com expressões culturais mais elevadas é o que abre espaço para as más influências. Ela ajuda num projeto de lazer e educação musical chamado “Quem canta, seus males espanta!”, que visa apurar os gostos e a sensibilidade artística das pessoas.
vai ter mais sono, menor rendimento no colégio e um nível de estresse superior. É importante levar em consideração também o turno em que os alunos estudam. A supervisora da Escola Estadual Effie Rolfs, Tatiana Sant’Ana, diz que o turno da noite é o mais afetado: “Eles lnão são piores do que os da manhã... Mas muitos trabalham, ou cuidam da casa, e chegam ao colégio bem mais cansados.” Mesmo mais cansados, os estudantes do turno noturno não perdem o vestibular do alcance. Tuanny dos Reis, de 18 anos, vai fazer cursinho no segundo semestre e já decidiu o que tentar no vestibular: Ciências Contábeis. A estudante faz planos de estudo para este último ano, e quer uma vaga na UFV. O vestibular é um dos moments mais tensos da adolescência, e deixa muita gente nervosa quando vai se aproximando. Para todos os comportamentos, o melhor é manter a calma e se preparar emocionalmente para o exame.
Lorena Tolomelli
Ansiedade pré-vestibular afeta alunos de escolas públicas e particulares
Excessos que causam angústia Maísa Oliveira
Na sociedade atual, é cada vez maior o número de pessoas acometidas por doenças psíquicas. O estresse e a depressão não são mais os únicos a preocupar. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Transtorno Obsessivo-compulsivo (TOC), é uma doença mental grave, estando entre as dez maiores causas de incapacitação. O TOC é um transtorno de ansiedade, que se manifesta geralmente na infância ou na adolescência. Dentre as possíveis causas para o surgimento da doença estão os fatores psicológicos, e a influência genética. Sua principal característica é a presença de obsessões e compulsões, levadas ao exagero. As obsessões são “cenas” que invadem a mente do indivíduo, causando-lhe desconforto. Já as compulsões são comportamentos e atos mentais repetitivos, a que a pessoa se auto-impõe, na
tentativa de neutralizar a tensão gerada pela obsessão. Por exemplo, dúvidas (obsessão) seguidas de verificação (compulsão). Comportamentos excessivos como evitar tocar corrimãos, macetas ou dinheiro, preocuparse demais com ordem, simetria ou alinhamento, podem constituir sintomas do TOC. Mas é preciso ter em mente que nem todas as manias indicam sintomas da doença. No dia a dia é comum que as pessoas sigam hábitos e comportamentos como lavar as mãos antes das refeições ou cuidar dos bebês. Tais ações são naturais, não devendo ser vistas como indicadores do transtorno. Segundo a psicóloga Fernanda Lima, o que configura o TOC é quando essas “manias” passam a interferir direta e negativamente na vida do sujeito, tornando-se um problema, impedindo-o de desempenhar atividades rotineiras.
Os sintomas do TOC interferem bastante na vida familiar. Vitor Secchin, que já teve a doença conta: “Eu sempre fui muito detalhista, quando algum detalhe não estava de acordo com a minha concepção, eu ficava muito irritado. E era algo que eu passava para as pessoas que estavam ao meu redor, principalmente a minha mãe”. Na opinião de Lima, o melhor tratamento é aquele que combina medicação, terapia comportamental e orientação familiar. Para ela o apoio da família é fundamental, pois se deve considerar que o sujeito portador de TOC não decidiu se encontrar nesta condição. “Muitos familiares não compreendem e acabam por tomar atitudes como criticar, cobrar e zombar, o que pode negativizar ainda mais a situação. Ao contrário, é importante valorizar seus pequenos feitos e incentivar suas habilidades”, completa.
comportamento O hábito de se alimentar bem comportamento Luciana Castro
Luciana Castro
Hábitos são ações que repetimos constantemente e nem percebemos que as fazemos. Comer é uma destas ações as quais se tornam rotineiras e, acima de tudo, essencias para a sobrevivência. Mas quando essa repetição se torna compulsiva ou inadequada, há a necessidade de ser repensada. Ao reconhecerem a má alimentação, muitas pessoas optam por mudanças no modo de se alimentarem. A reeducação alimentar é a mudança responsável pela readaptação da forma de como nós utilizamos os alimentos. É uma maneira de planejar o que se pode e quando se pode comer. De acordo com a Nutricionista do Departamento de Nutrição da UFV, Margarida Silva, “o hábito é quando você deixa o nível racional e passa para o nível irracional”. Com esta afirmação ela evidencia que para o processo reeducacional acontecer é preciso
A readucação alimentar permite comer “um pouco de tudo”. Sem exageros, é possível mudar sua rotina aos poucos.
deixar o novo comportamento se tornar um hábito, assim ele será um costume que passará a fazer parte do cotidiano. Margarida assegura, no entanto, o quanto é fundamental o acompanhamento de um nutricionista para o bom êxito da aderência desta nova rotina.
A reeducação não é um método temporário, é uma mudança que só dá certo se for contínua. Este é o grande problema enfrentado por quem decide mudar os hábitos só por algum tempo. A dona de casa, Maria Ely Riani, que fez reeducação alimentar com acompanha-
mento profissional, conta que teve resultados positivos. No entanto, após um ano e meio, deixou de lado o tratamento e voltou a engordar. Ao iniciar o processo reeducacional, a psicóloga do Serviço Psicossocial da UFV, Rosana Cognalato, ressalta
que é importante se fazer um estudo sobre a condição biológica, ou seja, uma avaliação da saúde. É relevante também observar o lado psíquico, as relações familiares e o lado social. O ser humano tem de ser analisado como um todo. Mas, cada caso é um caso, por isso não é possível generalizar como será a reação comportamental de cada indivíduo ao tratamento. O leite materno, por exemplo, é por nós consumido desde que nascemos, e isso faz termos com ele uma forte ligação emocional. Após esta fase, nossa nutrição se dá devido a fatores sociais, como o que é comestível e o que não é comestível. Seguimos também o costume de familiares e da cultura. Contudo, a alteração na qualidade e quantidade alimentar que ingerimos depende de nossa decisão. Educar o nosso comportamento exige persistência e, sobretudo, coragem para mudança.
Por que não dar valor a seus estudos? LUGARES QUE PODEM TE AJUDAR
NEAd O Núcleo de Educação de Adultos se localiza na Vila Gianetti, casa 33, no Campus da UFV. Telefone de contato: 31 3899 2461
CESEC O Centro Estadual de Educação Continuada Doutor Altamiro Saraiva fica na Rua Afonso Pena, 97 - Centro. Telefone de contato: 31 3891 6182
Luiz Nemer
A educação é hoje um dos caminhos mais promissores para o progresso de uma sociedade. Através da escola o conhecimento é trocado entre professor e aluno. Esse conhecimento, se bem aproveitado, pode aumentar a qualidade de vida de qualquer cidadão. Entretanto, frequentemente encontramos pessoas que não veem importância nos estudos e por isso não se dedicam o suficiente dentro de sala, não sendo rara a evasão escolar. Como resultado, vemos cidadãos despreparados para enfrentar o ensino superior ou o mercado de trabalho, o que gera desemprego e problemas sociais. Para muitos, estudar é sinônimo de coisa chata e que não serve pra muita coisa. Porém, existem alunos que encontram nos estudos uma forma de conseguir se sustentar e melhorar
suas vidas, como conta o aluno de Química da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Ériton Luís Santolin, 21 anos, que quando mais novo cursou o ensino fundamental em uma escola pública: “Alguns professores perceberam que eu gostava de estudar e que eu me sentia entusiasmado quando aprendia alguma coisa, então eles sem-
pre me incentivaram muito e eu acho que isso me motivou”. Ele ainda afirma que “para ter um bom emprego, tem que ter um bom estudo”. Também existem pessoas que ao começaram a valorizar o estudo após muitos anos. Técnico do Departamento de Solos da UFV, Renato Viana tem 43 anos e retornou à sala de aula Luiz Nemer
Renato Viana (esquerda) voltou a estudar depois de 24 anos no NEAd
em fevereiro de 2009. Os amigos sempre diziam o quanto seria bom para ele se voltasse a estudar. Dessa forma, acabaram estimulando Renato, que tomou essa decisão para o seu bem estar, e não para conseguir um alto cargo de trabalho ou mais dinheiro. Muitos outros se interessam em retornar aos bancos escolares, como é o caso dos alunos do Núcleo de Educação de Adultos (NEAd), da UFV. Uns dizem que é por prazer, outros por melhoras salariais ou, ainda, para conseguirem um emprego. De acordo com a estagiária do NEAd e estudante do curso de Letras da UFV, Poliana Ferreira dos Santos, 20 anos, “essa demanda crescente levou a administração a oferecer novas turmas em mais horários”. Lembrando as palavras do economista Arthur Lewis, “Educação nunca foi despesa. Sempre foi investimento com retorno garantido”.
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entrevista entrevista Diariamente sobre rodas Talita Aquino
Todo mundo já deve ter reclamado uma vez na vida da rotina de ir à aula ou ao trabalho. Todo o processo de se arrumar, deixar tudo prontinho e caminhar até lá, às vezes, causa certa preguiça nos mais dispostos. Porém, existem pessoas que tem uma dificuldade a mais. Precisam percorrer longas distancias e, em alguns casos, utilizam o transporte público. A estudante de Bioquímica da UFV, Thábata Ellen Campos, mora em Ubá, estuda em Viçosa e trabalha no Bairro Violeira. Em entrevista ao OutrOlhar ela fala um pouco sobre seu cotidiano, da situação do serviço de transporte público e em como driblar esses empecilhos. A administração do Terminal Rodoviário de Viçosa é terceirizada. Por isso, qualquer tipo de reclamação, denúncia ou elogio devem ser levados aos funcionários da rodoviária (sempre com jalecos alaranjados) ou ao Procon, que opera na sala 05 do próprio Terminal. Como alertou a Thábata, “quem não corre atrás acaba cedendo seu direito
sem reclamar!”. E agora? Melhor pensar melhor antes de sentir aquela preguiçazinha ao sair de casa. OutrOlhar: Como é a sua semana? Quais caminhos você tem que percorrer? Thábata: No domingo eu pego um ônibus, à noite, de Ubá para Viçosa. Durante a semana eu preciso ir trabalhar na Violeira e pego o “circular” pela manhã e no horário do almoço. Às vezes eu vou à tarde também, então pego o ônibus das 14 horas e volto no das 18. Mas o problema é que são poucas alternativas de horário, então você acaba ficando preso. Mas na sexta eu volto para Ubá à noite também. OutrOlhar: Você disse que um dos problemas é a questão dos horários. Quais as outras dificuldades encontradas? Thábata: Outra dificuldade é a questão dos preços. As tarifas em Viçosa são muito caras, nos horários da tarde o ônibus normalmente está cheio e muitos passageiros ficam de pé. Acredito que são necessários mais horários de ônibus para os bairros mais afastados de Viço-
sa, essa é uma deficiência básica. Além disso, os terminais rodoviários não contribuem nenhum pouco para o conforto do usuário e eficiência no atendimento. OutrOlhar: Fale mais sobre o problema dos terminais rodoviários. Thábata: Pelo que eu posso perceber, e é o que eu passo diariamente, alguns problemas como a tarifa dos banheiros, que é muito alta; a falta de assentos para todos os passageiros, muitos esperam horas em pé ou sentados nos degraus das escadas. A escada, propriamente dita. Na verdade a ausência de uma rampa para deficientes. E a própria aparência da rodoviária, que parece suja e mal cuidada. OutrOlhar: Como você minimiza essas dificuldades cotidianas? Thábata: É uma necessidade, para mim, fazer todo esse trajeto e utilizar os serviços rodoviários. Não faria tudo isso se não precisasse. Mas tento aproveitar o momento para prestar atenção na paisagem e nas pessoas. Conhecer gente nova,
Arte e educação para todos Bárbara Gegenheimer
A Humanizarte, criada em 2002, é uma ONG atuante em Viçosa cujo principal objetivo é promover ações e atividades sócio-culturais para a população carente. Mas, afinal, você sabe o que é uma ONG? Segundo dados da Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (ABONG), existem no Brasil cerca de 270 mil ONGs e a principal função dessas organizações, como explica o sociólogo Kelson Bueno, é servir como auxílio ao Estado na execução de seus objetivos, isto é, promover ações como cidadania, educação, educação ambiental, saúde entre outras atividades e não possuir qualquer fim lucrativo. O termo ONG foi usado pela
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primeira vez em 1950 pela Organização das Nações Unidas, ONU. Diante da ausência de políticas públicas para resolver diversos problemas, em grande parte, as ONGs surgiram na tentativa de promover uma conscientização ou elaboração de trabalhos que melhorem ou mostrem à opinião pública fatores relevantes à vida de um determinado grupo. “As ONG´s vão assim desempenhar um papel motivador, isto é, um papel de enunciação de problemas necessários a evidência de tais mudanças” diz Kelson. Fruto de um sonho e convicção de que arte e o esporte são ferramentas poderosas para a educação, o viçosense Marcelo Soares de Andrade fundou a Humanizarte e se desafio a propor novos olhares em relação à cultura. Através da parceria com a empresa TIM, a
prefeitura de Viçosa e recursos da Lei Estadual de Incentivo a Cultura, Marcelo diz que são quatro os grandes projetos matrizes e potencializadores das
“
Todas as crian-
ças, jovens e adolescentes de baixa renda podem se inserir nas atividades propostas. atividades da “Humanizarte”: o programa “Grandes Escritores”, o “Minas Olímpica”, “TIM ArtEducação” e “Reciclar”, que concentra suas ações tanto em Viçosa, como em out-
mesmo que por poucos minutos que eu fique no ônibus. Mas, também, sempre tento correr atrás dos meus direitos e recla-
mar quando me sinto lesada. O transporte é um direito de todo cidadão e nós pagamos muito por ele, para que seja eficiente. Talita Aquino
Passageiros enfrentam falta de estrutura na rodoviária.
ras cidades mineiras e estados do país. O programa ArtEducação “Educar para o futuro. Isso é arteducação.” oferece aos alunos da rede pública de ensino oficinas artístico-pedagógicas nas linguagens de teatro, dança, artes plásticas, literatura, música e folclore e beneficia cerca de 5 mil crianças e adolescentes a cada ano, com oficinas de arte distribuídas nos dois semestres letivos. Ao final de cada ano, são realizadas mostras artísticas dos trabalhos desenvolvidos pelos alunos e arte-educadores. Seja através da valorização das expressões artísticas locais, promovendo capacitação e oportunidade de trabalho; e integração social, estimulando o aprendizado, a socialização; o projeto ArtEducação cumpre um dos objetivos centrais
da ONG, a promoção de cidadania e exercício plena da democracia através da cultura. Marcelo salienta a importância das ONGs em Viçosa e diz que “todas as crianças, Jovens e adolescentes de baixa renda podem se inserir nas atividades propostas e procurar conhecer o trabalho que as ONGs fazem para ajudar as crianças, jovens e adolescentes na tentativa de combater as desigualdades sociais.” Segundo o presidente da Humanizarte “O maior ganho do Programa TIM ArtEducação é a possibilidade de resgatar a auto-estima de crianças e adolescentes. A parceria entre o poder público e a iniciativa privada agiliza um processo que, em princípio, seria dificultado pela burocracia, mas que está sendo colocado em prática com muito sucesso.”
entrevista
Somos racistas, e agora? Eloah Monteiro
O Brasil é um país miscigenado, abundante em diversidade cultural e étnica. Porém, a mesma população que esbanja pluralidade pode, muitas vezes, discriminar-se pela cor da pele. Em entrevista com Márcia Cristina de Almeida, 32, pedagoga e professora na rede municipal de ensino de Ponte nova (MG) e membro do FOPPIR ( Fórum pela Promoção da Igualdade Racial), o Jornal Laboratório OutrOlhar questiona como identificar e combater esta prática incoerente com o nosso povo. Segundo Márcia, o racismo da nossa sociedade é um reflexo da formação histórica que a cerca, “nossa sociedade foi educada numa cultura racista. Por muito tempo era natural ver
o negro como inferior, como escravo, como bicho” afirma, apontando a limitações de uma mudança de mentalidade “o processo de reeducação é lento e esbarra em estruturas sociais rígidas que foram criadas dentro desta cultura racista.” Afirma também que é extremamente comum a prática do racismo no nosso dia-a-dia “as práticas racistas estão presentes desde as brincadeiras e piadinhas do tipo tinha que ser preto... ta na pele! até práticas mais agressivas. A polícia, por exemplo, identifica [agressivamente] sem problemas quem é negro e quem não é”, diz ela. A Educação, para Márcia, assume um papel importante nesta mudança de pensamento e postura, “as Escolas têm uma arma importante nesta luta, arma que infelizmente nem to-
dos se dão ao trabalho de usar: a lei 10.639. Esta lei institui a obrigatoriedade do ensino da cultura e história africanas e afro brasileiras nas escolas e nos dá a oportunidade de buscar uma história mais próxima da verdade, não aquela contada pelos escravizadores. Tão ou mais importante é discutir as origens do nosso povo, suas raízes históricas e culturais e reconhecê-las em nosso dia-adia. Nossa crianças – negras, brancas e indígenas – precisam aprender a escrever uma nova história de reconhecimento e valorização do povo brasileiro”, mas “o que ainda falta é educação dos professores para que isto se torne uma prática efetiva nas escolas” Por fim, nossa entrevistada convida toda a sociedade a combater preconceito racial.
entrevista
Enquete
“O primeiro passo é reconhecer o racismo. Depois, é repensar nossa conduta, identificar até onde as idéias, os valores, os conceitos e preconceitos que defendemos são nossos. Se não, onde os apreendemos?, Pois reconhecer a origem de nossas condutas é o primeiro passo para a reconstrução dessas práticas. Daí em diante, a escolha entre ser racista ou não será de sua total responsabilidade, terá consciência do seu racismo. O que é inadmissível é que as pessoas se neguem a discutir tal questão, finjam que o racismo não exista, pratiquem o pior: o racismo velado. Chega de hipocrisia, de discursos vazios de fraternidade e igualdade. Está mais que na hora de cada um apontar pra si mesmo o dedo e perguntar: onde você guarda o seu racismo?”, finaliza.
O que você acha da posição/situação do Terminal Rodoviário de Viçosa?
Arthur Fontgaland Gomes, 18 anos, estudante. Acho que a rodoviária está mal-cuidada, e passa uma má primeira-impressão da cidade. Mas está bem localizada, dá pra quem não conhece a cidade se virar sem se perder quando chega aqui.
O MST entre a Terra e a Poesia Geanini Hackbardt
Quando a mídia aborda o MST sempre há um contexto de ações que são noticiadas ora como vandalismo ora como radicais lutando por direitos. Essa imagem das chamadas “lutas” fica cristalizada em nossa mente e nos esquecemos que qualquer movimento social é composto por seres humanos. Segundo dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT), em 2003, cerca de 100 mil famílias restavam acampadas pelo movimento, sem contar aquelas que ainda estão em beira de estrada ou irregulares em terras de ocupação. Edilei Cirilo da Silva, nosso entrevistado, é uma dessas pessoas. Nascido na Zona da Mata, apreciador de poesias, trabalhador rural sem terra, morador do assentamento Olga Benário em Visconde do Rio Branco ele afirma que a luta pela reforma agrária tomou conta de sua vida. “Sem a luta, minha vida seria completamente difer-
ente do que é hoje, com certeza não teria brilho e tanta razão de ser.” Ele nasceu em Ubá, cursou apenas ensino fundamental e se diz apaixonado por autores como Maiakóvski, Brecht e Drummond: “foi no movimento que tive oportunidade de estudar mais e ter contato com a literatura, gosto mesmo de poesias de luta e de amor”. Casado com Rosângela Bernardes Faria Silva, tem uma filha a quem ensina o amor pela leitura e pela terra: “sempre estudamos juntos, quando sobra tempo. Recito poesias para ela e ensino o valor que a terra tem.” Sobre seu lote no assentamento ele afirma orgulhoso: “demorei 11 anos para estar aqui e foi até pouco, comparado com alguns companheiros.” Edilei tem convicção de seus direitos, “esta terra é de todos, não é mais que nosso direito poder trabalhar nela. É desse chão que tiramos o sustento nosso e da cidade tam-
Cirléia Clara, anos, secretária.
Não tenho do que reclamar da rodoviária, sempre consegui usufruir sem problemas dos serviços no qual precisei dela.
Brecht
bém. Como dizem, se o campo não planta a cidade não janta.” Além de ler poesias, ele também escreve, mas não revela sua obra “essas aqui são para a posteridade” brinca. Sua força e sensibilidade mostram que ele é mais um grande brasileiro, porém destaca-se por ser dono da própria história. Acha que política se faz no dia a dia e lembra “O Analfabeto Político” de Brecht, enfatizando “eu sei o preço do meu feijão, eu ouço, falo e participo e é isso que nos diferencia, nós do MST.”
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“
O pior anal-
fabeto é o analfabeto
político.
Ele
não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele
não
sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe...” (Brecht)
Marcelo Montanha de Paiva, 23 anos, professor. Faço uso constante da rodoviária e, embora não tenha nenhuma grande reclamação, acho que o calçamento da entrada bem precário, e atrapalha bastante para carregar as malas, principalmente as de rodinhas
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cultura cultura
Mais apoio e incentivo à cultura
Preconceito contra a fé
Quem conhece a vida cultural de Viçosa sabe que o apoio e o incentivo a cultura na cidade tem melhorado bastante. Muitos artistas e espetáculos têm sido apoiados pelas leis de incentivo a cultura. E essa iniciativa não parte apenas do Governo Federal, mas também da comunidade acadêmica da UFV. A chefe da Divisão de Assuntos Culturais, Alba Vieira do Departamento de Dança, deseja implantar uma política de res-
É muito comum ouvir o termo pejorativo “macumba” para designar as práticas de religiões afro-descendentes. Muitos costumam relacionar essas práticas com coisas ruins que fazem mal às pessoas, mas o que muita gente não sabe é que “macumba” é o nome de um instrumento musical. O historiador e pesquisador em religião e cultura, Ângelo Assis, diz que a falta de conhecimento é o que leva as pessoas a pensarem que toda e qualquer manifestação de cultura religiosa afro-brasileira é tida como macumba, já que “quando a gente não conhece, a gente tende a demonizar”. Quando os europeus chegaram ao continente africano, conquistadores e missionários católicos assustaram- se com os altares dedicados a exu. Diante deles, viram as cores preto e vermelho, as mesmas designadas ao “demônio ocidental”. Mas, Exu é considerado o mais humano dos orixás. Segundo o umbandista José Antônio Inácio, “Exu é justiceiro e não gosta de nada errado”. No Brasil, a rejeição contra essas práticas religiosas teve inicio no século XIX. “Apesar
Andriza Andrade
gate cultural que estabeleça um vínculo da comunidade viçosense com a universitária. Uma de suas primeiras medidas foi a retomada de apresentações artísticas na estação da UFV, projeto que começou no inicio do período letivo e que agora reaparece com o nome de “Sarau Cultural”. Outra iniciativa seria trabalhar com a arte nas escolas públicas da cidade. “É um grande desafio, pois o ensino tradicional, sistematizado nas nossas
escolas ainda impede o apoio e entendimento deste tipo de ensino, a arte ainda não é vista como educadora” afirma. Segundo a estudante do curso de dança Estela do Vale, essas iniciativas trarão grandes benefícios para a vida cultural na cidade e também para o curso de dança, que entre outras limitações não possui um espaço adequado para o desenvolvimento das artes plásticas que é essencial para os estudantes.
A batida eletrônica dos malabares Raul Gondim
Quem, no tempo de criança, foi ao circo e não se encantou com o colorido e a destreza de um malabarista? O ritmo mágico das bolas, claves e argolas prendiam nossos olhares, que acompanhavam o seu sobe e desce. Contudo, malabares não é apenas brincadeira de criança. Nos dias de hoje, a prática do malabarismo invadiu a vida noturna, se fazendo presente entre as mais diversas tribos urbanas, mas atingindo principalmente um público em especial: os fãs de música eletrônica. O malabarismo, surgiu oficialmente na China. Contudo,
estudos arqueológicos registram pinturas rupestres em túmulos egípcios datados de 4000 a.C. que já traziam referências a essa prática. Tratados até há pouco tempo apenas como brincadeira, foi a partir da popularização das chamadas “raves”, que os malabares ganharam conotação artística. “Esse tipo de festa valoriza muito a questão estética e é visualmente bonito o brilho dos malabares” explica o estudante e malabarista nas horas vagas Luiz Gustavo Neiva. Misturando música eletrônica e cultura circense, os malabares encontraram nas festas “raves”
seu espaço ideal. “O malabares é uma arte rítmica, que pode se expressar através da música. E a música eletrônica propicia isso” conta o estudante Aramis Assis. Muitos malabaristas não se sentem contemplados com a associação entre raves e malabares, alegando uma banalização desta prática, tratada por eles como profissão. Ainda assim, os malabares continuam trazendo irreverência e arte ao universo coloridos das festas noturnas, encantando cada vez mais os apreciadores desta arte.
Maria Antônia Perdição
de ser um país cultural e multireligioso, o Brasil mantém o preconceito que existia desde a época da escravidão e como essas religiões são de matriz afro, elas carregam em si, esse mesmo preconceito” afirma o pesquisador. Há 32 anos comandando um terreiro de Umbanda, Dona Maria do Carmo Inácio afirma nunca ter sido diretamente discriminada e acredita que “cada um toca aquilo que achar melhor, desde que não faça nada contra Deus”.
FIQUE LIGADO! Esse ano, o Cine Clube Carcará completará 40 anos de história. Para comemorar o aniversário, grandes novidades: festa à fantasia e exposições de objetos relacionados ao cinema. Fundado à época da ditadura militar, o Carcará está aberto à comunidade universitária e viçosense. O cinema funciona no subsolo do Centro de Vivência da UFV. A entrada é gratuita. Para ter acesso à programação completa acesse o blog: http://cinecarcara.blogspot.com e para as escolas que queiram marcar uma sessão, basta ligar no telefone 3899-2756 e agendar.
Elizangela Viana
Montagem Tiago Padovan sob fotos de reprodução
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