Semanário Angolense Nº 421

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Kz 250,00 EDIÇÃO 421 · ANO VII

DIRECTOR INTERINO

SALAS NETO salasnetosa09@gmail.com

W W W. S EM A N A R I O -A N G O L EN S E . CO M

SÁBADO  •  18 de Junho de 2011

POLÍCIA DE LUANDA

CASO QUIM RIBEIRO

«Barraca» entre PGR Comandante Bety finalmente e advogados de defesa MPLA e UNITA já em pré-campanha eleitoral?

OS «PORTE-PAROLES»

DESCARAMENTO

Emprego só com a «dupla»

• Página 39 ELEIÇÕES NA FAF

P. Neto «varre» Artur Almeida

Por alguma coincidência, os «porta-vozes» dos dois principais partidos angolanos decidiram entrar em cena nesta semana, «abrindo o livro» sobre a vida das respectivas organizações e sobre os projectos de nação que têm. Um (Rui Falcão) falou para o SA e o outro (Alcides Sakala) deu uma entrevista inédita a centenas de jovens via Facebook. Sucessão, catarse, democracia interna, caso Cabinda, manifestações e eleições são pontos comuns nos dois discursos. E ambos estão «sumarentos»…

• Página 45 TEMPO

Pacote legislativo da Comunicação Social

Fim prematuro das consultas preocupa Sindicato dos Jornalistas

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Sábado, 18 de Junho de 2011.

Em Foco

Jogo limpo, senhores! A

s eleições são o processo pelo qual os cidadãos designam os responsáveis pelos destinos de um país (ou de uma instituição) durante um tempo determinado pelo seu estatuto jurídico-político (Constituição) vigente. No que ao nosso país diz respeito, as próximas eleições estão já aí ao virar da esquina. Há partidos que já começaram (com o apoio de alguns órgãos de Comunicação Social) a desencadear a sua campanha eleitoral de forma velada, o que é, convenhamos, ilegítimo, porquanto atropela a Lei Eleitoral vigente. Dizíamos que já começou a contagem decrescente para os angolanos exercerem pela terceira vez (a primeira, de triste memória, é para esquecer, na medida em que só mesmo à História colectiva política deste país interessa) o seu Direito de voto para legitimar quem os vai governar nos próximos cinco anos a contar de 2012. Nem todos os partidos políticos existentes poderão participar do jogo. Uns não poderão fazê-lo por impedimento jurídico-legal (porquanto não conseguirão certamente os requisitos determinados por lei), outros por não possuírem condições materiais necessários e suficientes para as exigências de um processo eleitoral caro como o que se advinha. Ora bem! As eleições, no nosso continente, têm sido, regra geral, sinónimo de confusão, tragédia mesmo. É por demais consabido que elas (as eleições)

não resolvem, em muitos casos (e o angolano é o produto acabado desta demonstração), os problemas básicos dos cidadãos. Logo, em muitos países do nosso continente, as eleições não passam de um período carnavalesco em que uns (políticos, no caso) têm mais consciência da importância do voto do que uma boa parte dos cidadãoseleitores, a tal ponto que boa parte deles prefere nem participar do pleito. É por estas e outras que os políticos (todos eles sem excepção), quando se aproximam as eleições, partem à caça do voto nos lugares mais recônditos do país, onde muitas vezes em circunstâncias normais jamais quereriam pisar. Mas fazem-

Há partidos que já começaram (com o apoio de alguns órgãos de Comunicação Social) a desencadear a sua campanha eleitoral de forma velada, o que é, convenhamos, ilegítimo, porquanto atropela a Lei Eleitoral vigente

no na esperança de conseguir o voto do cidadão-eleitor para que, desta forma, se perpetuem no poder ou consigam chegar até lá, que a outra face da moeda. São capazes de beijar crianças com ranho a escorrer pelo rosto, beijar velhos ou velhas com ramelas, ou seja, irem ao encontro dos mais desfavorecidos para mostrar que estão e sempre estiveram com o povo. No entanto, cabe ao povo, abrir o olho e saber a importância do voto que vai depositar na urna. Em face disso, em muitos países hodiernos, os cidadãos já não fazem apelo à sua «paixão ideológica», mas, isto sim, depositam confiança naqueles que apresentam programas de Governo convincentes, na esperança de que a sua vida venha a melhorar, o que nem sempre acontece, há que se reconhecer. Seja como for, a partir desta tribuna, gostaríamos de apelar aos partidos que vão ao jogo eleitoral para observarem a continência verbal durante as suas campanhas, coibindo-se de prometer aquilo que não poderão dar ao povo durante o seu consulado. É também muito importante que se evite comportamentos e discursos que possam ter o condão de virem a «incendiar a pradaria», algo que já não interessa a todos os angolanos de bem que, acreditamos, serão a esmagadora maioria do povo. Povo este que tem de estar bem atento e cauteloso com as escolhas que vier a fazer. Afinal, cautela e caldo de galinha nunca fizeram mal a ninguém…

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QUA Director Interino: Salas Neto Editores — Editor Chefe: Salas Neto; Política: Salas Neto; Economia: Cristóvão de Sousa Neto; Sociedade: Pascoal Mukuna; Cultura: Ilídio Manuel; Desporto: Paulo Possas Redacção: Rui Albino, Baldino Miranda e Adriano de Sousa Colaboradores: Sousa Jamba, Fernando Macedo, Kanzala Filho, Manuel Rui, Luís Kandjimbo, Kenneth Muanji, Anastácio Ndunduma, Josué Sapalo, Kajim-Bangala, Peter James, Adriano Botelho de Vasconcelos e Celso Malavoloneke Paginação e Design: Sónia Júnior (Chefe), Patrick Ferreira e Carlos Inácio Fotografia: Nunes Ambriz e Virgílio Pinto Impressão: Lito Tipo Secretária de Redacção: Antónia de Almeida Adminstracção e Vendas: Marta Pisaterra Publicidade e Marketing: Antónia de Almeida (Chefe) e Oswaldo Graça António Feliciano de Castilho n.o 119 A • Luanda Registro MCS337/B/03 Contribuinte n.o 0.168.147.00-9 Propriedade: Media Investe, SA. República de Angola Direcção: direccao@semanario-angolense.com; Edição: edição@semanario-angolense.com; Política: politica@semanario-angolense.com; Economia: economia@semanario-angolense.com; Sociedade: sociedade@semanario-angolense.com; Cultura: cultura@semanario-angolense.com; Desporto: desporto@@semanario-angolense.com; Redacção: redaccao@semanario-angolense.com; Administracção e Vendas: administraccao@semanario-angolense.com; Publicidade e Marketing: publicidade@semanario-angolense.com; sítio: www.semanario-angolense.com As opiniões expressas pelos colunistas e colaboradores do SA não engajam o Jornal.

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INDISCIPLINA, FORA

Mais de 800 professores que foram admitidos através de concursos públicos realizados no ano passado, na Huíla, serão expulsos, nos próximos meses, por indisciplina no local de trabalho. A informação é de José Arão, vice-governador para esfera política e social daquela província.

MAIS EMPREENDEDORISMO

Um relatório sobre empreendedorismo, denominado «Global Entrepreneurship Monitor Angola» divulgou que, no ano passado, cerca de dois milhões de jovens iniciaram um negócio. Mas muitos deles são negócio por necessidade e não virados à eficiência e inovação.

MAIS TRIBUNAL

O presidente do Tribunal de Contas, Julião António, disse, em Ndalatando, que a partir de 2012 serão criadas representações regionais daquele órgão com «vista garantir uma maior celeridade e eficiência» nas acções do organismo. As primeiras serão edificadas em Malange e Benguela.

MAIS PARA JUVENTUDE

O ministro da Juventude e Desportos, Gonçalves Muandumba, anunciou que o Executivo pretende criar, ainda este ano, «um instituto de dinamização de acções específicas para a solução dos principais problemas com que os jovens». Mais uma «casa da juventude»?

COMBOIO EM MARCHA

O ministro dos Transportes, Augusto da Silva Tomás, assegurou ,no Huambo, que o comboio do Caminho-de-Ferro de Benguela vai apitar dentro de 60 dias no Planalto Central, 27 anos depois. Será bom percorrer os mais de 300 Km que ligam as cidades do Lobito e do Huambo.

TAAGCOMNOVOSAVIÕES

Estava previsto para esse dia a chegada da nova aeronave da TAAG adquirida nos E.U.A. Trata-se de um avião do tipo 777-300 ER. O aparelho é o primeiro de dois encomendados e tem uma capacidade para 368 passageiros nas três classes (primeira, executiva e económica).

FIM DE UM CICLO

O ciclo iniciado pelo PR, José Eduardo dos Santos, quando discursou na III sessão legislativa da II legislatura da AN acaba de terminar. Neste ano legislativo foram aprovadas importantes leis e outras aguardam a sua vez. É o caso da proposta de lei Contra a Violência Doméstica.

RENOVAÇÃO NA FAF

Realizou-se neste dia a eleição do futuro sucessor de Justino Fernandes na federação Angolana de Futebol. Os resultados provisórios apontavam para a vitória do candidato da lista A de Pedro Neto com 58 votos, contra 27 do seu opositor, Artur de Almeida e Silva (lista B).


3 Em Foco

Sábado, 18 de Junho de 2011.

Pacote legislativo da Comunicação Social

Sindicato dos jornalistas preocupado com final prematuro das consultas O

Sindicato dos Jornalistas Angolanos, em nota de imprensa, datada de 14 de Junho e assinada pela sua secretária-geral, Luísa Rogério, dá a conhecer aos seus associados, a todos os jornalistas e à opinião pública em geral que foi com bastante preocupação que tomou nota das declarações contraditórias de um responsável afecto ao actual processo de consulta pública do pacote legislativo da comunicação social. De acordo com esta fonte oficial, não haverá mais nada para negociar no que toca ao conteúdo da proposta referente ao Projecto de Decreto sobre o Estatuto do Jornalista, a traduzir propósitos semelhantes extensivos a todos os restantes diplomas do pacote. Não é este, certamente, o espírito que anima o actual processo de consulta, a ter em conta as reiteradas e bastante positivas declarações da Ministra da Comunicação Social, Dra. Carolina Cerqueira, sobre os seus grandes objectivos. Tais desideratos estão relacionados com a boa fé e a total disponibilidade do Executivo em dar o melhor tratamento a todas as contribuições que venham a ser produzidas neste âmbito, que muito tem a ver com o aprofundamento da democracia participativa entre nós. A necessidade de tornar pública esta preocupação foi reforçada com a existência de um conjunto de informações sensíveis que chegaram recentemente ao conhecimento

da direcção do SJA e que põem em causa o princípio da independência editorial com todas as consequências negativas que se adivinham para o conjunto da actividade jornalística em termos de transparência particularmente nesta altura. Tais elementos apontam para um aumento das pressões político-partidárias sobre os jornalistas que trabalham, sobretudo, para a comunicação social pública e que estão reflectidas no tratamento menos profissional que tem sido dispensado a alguns factos protagonizados pela oposição

e por sectores mais críticos da sociedade civil, que vão do puro silenciamento à mais completa e perigosa desinformação. Como parceiro do Governo e muito particularmente do Ministério da Comunicação Social, o Sindicato dos Jornalistas Angolanos, apesar de manter as suas expectativas iniciais e de reafirmar a sua disposição em continuar a participar activamente na actual consulta pública, não pode deixar de antecipar alguns sérios receios quanto à existência efectiva de um espírito de compromisso a condicionar desde logo a

qualidade, a abrangência e a inclusividade do resultado final deste processo. A direcção do SJA, aproveitando a ocasião, gostaria de exortar os jornalistas de uma forma geral e os seus associados em particular, a terem sempre bem presente como bússola diária da sua actividade os valores da ética profissional que recusam a manipulação e a partidarização, a par do recurso ao legítimo direito de resistência assente na cláusula de consciência prevista no projecto de Estatuto que está em consulta. De acordo com esta disposição, nenhum jornalista pode ser constrangido a exprimir ou subscrever opiniões, nem a desempenhar tarefas contrárias à sua consciência, nem de ser alvo de medida disciplinar em virtude de recusa dessa expressão ou subscrição. O SJA está a seguir atentamente o processo judicial, já em fase de julgamento, movido contra o Director do Folha-8 por três altas patentes militares, reiterando aqui a sua firme determinação em prosseguir a sua campanha a favor da descriminalização da actividade jornalística em Angola. Como pressuposto desta cruzada está a salvaguarda de um bem maior que é a protecção e a prossecução do interesse público que, por deliberada e incompreensível omissão, nunca é tido em devida conta pelo poder judicial na avaliação das queixas apresentadas contra os profissionais da imprensa.

Caso BNA

Álvaro Sobrinho diz que não é arguido O

Ministério Público português garantiu, quarta-feira, 15, à Agência Lusa, que o presidente do Banco Espírito Santo Angola (BESA) não é arguido em qualquer processo em investigação no Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) luso em que o Estado angolano é queixoso. Num esclarecimento público, o procurador Orlando Figueira, do DCIAP, assegura ainda que relativamente ao presidente do BES A, Álvaro Sobrinho, «não foram efectuadas nenhumas buscas nem apreendidos quaisquer carros ou motos». No entanto, fonte ligada ao processo revelou à Lusa que Álvaro Sobrinho foi ouvido pelo Ministério Público português há alguns meses na qualidade de testemunha do processo que tem como queixoso o Estado angolano. Entretanto, Álvaro Sobrinho desmentiu, no mesmo dia em Luanda, as acusações que constam da notícia

publicada pelo jornal português «Correio da Manhã». Sobrinho nega que tenha sido constituído arguido. Em causa está a investigação de um processo de fraude no Banco Nacional de Angola (BNA). Álvaro Sobrinho declarou em comunicado o seguinte: «Foi divulgada na edição de hoje, dia 14 de Junho de 2011, do jornal Correio da Manhã, uma notícia relativa à investigação em curso de um processo de fraude no Banco Nacional de Angola, no âmbito do qual o Presidente da Comissão Executiva do Espírito Santo Angola, Dr. Álvaro Sobrinho, teria sido constituído arguido pelas autoridades portuguesas. O ora signatário repudia, por não corresponderem à verdade, todos os factos que lhe foram imputados. É falso que tenha sido constituído arguido, como é também falso que tenha havido lugar a quaisquer diligências policiais que culminassem na apreensão de um automóvel e uma moto, no valor de 200 mil euros, conforme divulgado».


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Sábado, 18 de Junho de 2011.

Em Foco Como comandante da Polícia de Luanda

Finalmente, temos Bety! Ministro do Interior manifesta confiança na primeira mulher em tão elevado cargo para a diminuição da criminalidade na cidade capital

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ustou, mas foi. Assim se pode resumir a tomada de posse de Elizabeth Rank Frank, a comandante Bety, como nova chefe do Comando Provincial de Luanda da Polícia Nacional, algo que demorou a acontecer, tendo o acto sido adiado pelo menos em duas ocasiões, por razões não esclarecidas, apesar de estar mais que indicada para o cargo há um bom tempo. Na última terça-feira, Bety seria finalmente elevada à categoria de comissária-chefe por inerência de funções, para desalento dos seus detractores, que não a queriam ver confirmada no cargo que já ocupava interinamente após a defecção oficial de Joaquim Ribeiro, pelos motivos já sobejamente conhecidos. O posto de comandante de Luanda, um dos mais apetecidos no seio da corporação, é disputado rijamente entre aqueles que se sentem em condições para ocupálo, pelo que quase tudo vale para se chegar até lá. Mesmo depois de indicada, a comandante Bety terá enfrentado sérias resistências para ser confirmada, acabando porém por superar todos os obstáculos que se lhe colocaram, sendo o destaque das últimas campanhas movidas contra ela as informações de que estaria por detrás da morte de um seu subordinado, algo que, como se viu, não pesou mais do que os argumentos a seu favor. De resto, o próprio Semanário Angolense comentava há dias que era líquido que um dos factores que concorreram a favor de Elisabeth Rank Frank, após a estrondosa queda de Quim Ribeiro, tinha a ver com o facto de ela ser mulher, uma condição que terá, certamente, pesado na «balança do género» nesta sua elevação ao posto de comando dos polícias de Luanda. Uma condição que terá levado, inclusive, a colher simpatias nos meios femininos, embora haja também informações de que Elisabeth Rank Frank que tenha movido, em vésperas da sua «campanha eleitoral», uma série de corredores junto à OMA, o braço feminino do MPLA, a fim de obter apoios à sua «candidatura». Uma campanha «no feminino»

que, convenhamos, terá igualmente se estendido à Associação Angolana da Mulheres Polícia, à qual «Bety» faz parte, sendo também um dos seus membros mais activos, além de ser membro da Rede da Mulher Polícia da SADC. Descrita como uma mulher «dura», o que de certo modo contraria o carácter de bonomia geralmente atribuído as mulheres, mesmo às que vestem a farda azul, «Bety» notabilizou-se ao longo da sua carreira como a mulher-polícia que mais privilegiou os argumentos de força, em detrimento dos argumentos da razão. O seu carácter de dureza, com laivos de musculatura à mistura, ficou bem registado aquando da sua passagem pela Polícia de Trânsito, havendo mesmo relatos de que já chegou a enfiar galhetas a «homens grandes», em plena via pública, após estes terem «pisado a linha vermelha do trânsito».

Dados biográficos De acordo com o site Club-K, «Bety», que ficou igualmente

conhecida em alguns círculos como a «dama-de-ferro» da polícia, nasceu em Benguela, mas é em Cabinda onde estão as suas origens. Quando era jovem, denotava queda pelo desporto, tendo jogado basquetebol por algum tempo, mas foi no voleibol que mais se identificou e notabilizou, chegando a servir a selecção nacional durante 7 anos. Com a «moda» em voga dos Movimentos de libertação Nacional, após o 25 de Abril, «Bety» fugiu de casa, com um grupo de quatro pessoas. Tomaram um comboio que fazia o trajecto Benguela/Huambo, para de seguida embarcarem num autocarro rumou a Luanda, com o intuído de chegarem a localidade do Úkua, na província do Bengo. Nesta localidade, ingressou no Centro de Instrução Revolucionária (CIR) do MPLA, tendo esse gesto representado o fim da sua carreira desportiva e o começo de uma nova era na sua vida. No período dos acordos de Alvor fez parte do primeiro destacamento feminino da pri-

meira região militar do MPLA, baseado no norte do país, que ajudou a criar. Foi por esta via que participou nos combates para a libertação de Caxito, como integrante da 9ª brigada de infantaria motorizada. Aquando do anúncio da independência nacional foi uma das integrantes do esquadrão feminino que combateu contra a FNLA, na conhecida Batalha do Kifangondo. Nos dias de hoje, generais das FAA estimam-lhe pelo seu voluntarismo na defesa da pátria. A sua passagem pelas forças armadas ter-lhe-á consumido ano e meio. Depois foi chamada para ingressar num grupo que se tornou conhecido com o das «primeiras 200 mulheres polícias em Angola». Foi enviada para Roménia, onde ficou durante dois anos em formação policial. Fez carreira na Polícia de Trânsito, tendo sido ela a fazer a escolta que conduziu a caravana da primeira cosmonauta da história, a russa Vladimirovna Tereshkova, quando visitou Angola. Terá feito ainda parte da escolta de Agostinho Neto, tendo ficado conhecida

como a «dama do último carro». Naquela altura era uma das poucas mulheres que conduziam motorizadas em Luanda. Elisabeth Rank Frank passa por ser sobrinha do fundador da FLEC, Luís Rank Frank. Porém, os cabindas desconsideram esta particularidade por ter um convívio algo distante com eles. Em vida, o então Ministro da Defesa, general Pedro Maria Tonha «Pédale», tentava puxar por ela atraindo-a para o círculo das suas raízes. Certo dia, teria feito parte de uma festa em casa do malogrado general, ao Miramar, e este aproveitou a ocasião para lhe apresentar algumas figuras do enclave, com realce a Belchior Tati e Osvaldo Buela, hoje membro do gabinete de Nzita Tiago. Outro cabinda que revelava certo apreço por ela é o antigo comandante geral da polícia, André Pitra «Petroff». Em 1986, «Petroff» integrou-a numa delegação oficial que, com ele, se deslocou à Argélia. Era o marco da sua ascensão acompanhada de formações que a levaram a ser a chefe da regulação do trânsito.


5 Em Foco

Sábado, 18 de Junho de 2011.

Tomada de posse de novos chefes na Polícia

Martins diz que será implacável contra todos que prevaricarem O

ministro do Interior, Sebastião Martins, disse, terça-feira, que a direcção do seu pelouro será implacável e rigorosa na punição dos actos indecorosos e comportamentos pouco abonatórios praticados por efectivos da corporação, noticiou a Angop. Martins fez este aviso quando discursava na cerimónia de tomada de posse de oficiais comissários nomeados para o preenchimento de vários cargos no seio da Polícia Nacional, que vão desde direcções nacionais a comandos provinciais da corporação. O ministro do Interior, Sebastião Martins, conferia posse à nova comandante provincial de Luanda e ao director nacional de investigação criminal (DNIC), respectivamente Elisabeth Maria Rank Frank «Bety» e Eugénio Pedro Alexandre. Elisabeth Rank Frank exercia já interinamente a chefia do comando de Luanda, enquanto Eugénio Pedro Alexandre antes da sua nomeação para director da DNIC, chefiava o Gabinete jurídico do Comando-Geral da Polícia Nacional. O sub-comissário Manuel Chima, antigo chefe de Estado Maior da Polícia Fiscal, passou a exercer o cargo de director nacional adjunto da DNIC, enquanto os oficiais comissários Francisco Ribas e Dias do Nascimento foram empossados nos cargos de segundos comandantes provinciais de Luanda da Polícia Nacional. Já o antigo segundo comandante da corporação em Luanda, comissário António Simão Leitão Ribeiro é o novo comandante provincial da Polícia Nacional no Uíge. O ministro do Interior conferiu igualmente posse aos conselheiros do comandante-geral da Polícia Nacional para as áreas jurídicas e do ensino superior, respectivamente Eduardo Sambo e Carlos Burity da Silva. O ministro disse ser urgente e um imperativo incutir uma nova mentalidade aos efectivos, «sendo que o sector será implacável e rigoroso na punição dos actos indecorosos e comportamentos pouco abonatórios praticados por efectivos das

nossas forças, através do exercício da fiscalização, inspecção e avaliação permanente do desempenho destes». Fez saber que a Polícia Nacional, enquanto força de segurança com natureza de serviço público, encarregue de assegurar a legalidade democrática, a segurança e direitos dos cidadãos, deve intensificar as acções de prevenção e combate aos homicídios, violações, roubo de viaturas, assaltos à mão armada, tráfico de drogas, imigração ilegal, fuga ao fisco, entre outros. Para si, tais acções devem estar no centro das atenções e assim tornarem-se no núcleo de tarefas que as forças policiais devem desenvolver com vista a garantir que a população viva e circule em segurança e tranquilidade. Para o efeito, defendeu uma maior articulação e coordenação das componentes de proximidade, de ordem pública, de investigação criminal, bem como de informações e inteligência policial. Entretanto, dirigindo-se para a nova comandante da polícia em Luanda, Elisabeth Rank Frank, o ministro do

Detidos alguns dos quenianos «perdidos» no bairro Palanca

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Polícia Nacional (PN) já localizou e deteve parte dos oito integrantes da claque da selecção queniana que se tinham «perdido», no passado dia 04, no bairro Palanca em Luanda, revelou uma fonte policial que acompanha o processo. A fonte do Semanário Angolense, que não revelou o número exacto dos quenianos já sob seu controlo, disse que a PN continua no encalço dos restantes fugitivos, que, nesta altura, erram por Luanda para fixarem residência no nosso país. Oito integrantes da selecção queniana driblaram as autoridades angolanas e empreenderam uma «fuga para oportunidade» ao terem saído a correr (mas

a bom correr mesmo) de mochilas às costas pelos becos e ruas do bairro Palanca onde deveriam ficar alojados no Centro de Formação Profissional «Hojiya-Henda»,apurou o SA junto de fonte policial. Segundo a fonte deste jornal, tudo aconteceu quando os referidos elementos se preparavam para fazer o chek-in no local onde ficariam alojados. «Aquilo foi muito rápido, até parecia que havia um ‘comité de recepção’ à espera. Eles nem sequer chegaram ao balcão. Mal desceram do autocarro, apareceram dois indivíduos aquem seguiram, depois de uma breve troca de palavras, numa correria desenfreada» relata a fonte do SA.

Interior disse contar com ela para trabalhar no âmbito da proximidade para aumentar o policiamento de visibilidade e reforçar a relação polícia-cidadão na capital do país. «Contamos consigo senhora comandante na resolução de ocorrências e conflitos que surjam no seio das comunidades, bem como trabalhar preventivamente para a detecção de situações várias que ao não serem resolvidas possam evoluir para problemas sociais ou fomentar práticas criminais no seio da população», asseverou. Disse esperar que a nova comandante dedique ainda uma especial atenção à avaliação do funcionamento actual da Brigada de Segurança Escolar a nível do território de Luanda. «Posso lhe dizer que não estou satisfeito com a eficiência funcional desta importante estrutura de segurança e vigilância nas áreas escolares e que, se funcionar melhor, pode contribuir positivamente para um maior sucesso da nossa estratégia de prevenção da delinquência juvenil», notou. Quanto à DNIC, Sebastião Martins ressaltou a necessidade da reorganização funcional e mesmo organizacional, do esforço para apetrechamento em meios técnicos e materiais e de infra-estruturas adequadas, a fim de melhor estar capacitada para combater o crime. A seu ver, investir na formação do homem possibilitará dotar os recursos humanos de ferramentas que serão necessárias para o combate às acções criminais complexas que hoje são praticadas por elementos que recorrem a métodos cada vez mais sofisticados. Quanto à província do Uíge, disse ser imperativo de dever, o novo comandante manter ou elevar os níveis de prontidão e resposta das forças para se pôr cobro ao fenómeno da imigração ilegal naquela região. Segundo disse, a província do Uíge por ser uma região fronteiriça, é uma área pressionada pelo fenómeno de imigração ilegal. «Logo, esta parcela do território nacional requer uma atenção e cuidado nesta matéria», sublinhou o ministro do Interior.


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Sábado, 18 de Junho de 2011.

Em Foco A informação é do «África Monitor»

KK e Moxico podem ter petróleo A publicação diz ainda que as autoridades angolanas já estarão a par do assunto, que antes tinha sido comunicado em primeira mão a Jonas Savimbi

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s províncias angolanas do Kuando Kubango e Moxico, no interior do país, também pode ter importantes jazidas de petróleo, a fazer fé em informações postas a circular pelo newsletter «África Monitor», numa da suas últimas edições, as quais o Semanário Angolense, com a devida vénia, retoma. Segundo a publicação, que é editada em Lisboa, sob direcção do jornalista Xavier de Figueiredo, o anúncio da descoberta de reservas de petróleo e gás numa área da Zâmbia territorialmente contígua a Angola, província do Barotze, confirma indícios há cerca de 20 anos detectados pelos EUA relativamente à existência na área de uma bacia sedimentar, que se estende às províncias angolanas do Kuando Kubango e Moxico. O «África Monitor» diz ainda que os referidos indícios foram dados a conhecer a Jonas Savimbi, líder da UNITA, que à data controlava partes consideráveis de ambas as províncias. Foram assinalados por satélites milita-

res norte-americanos que então procediam ao reconhecimento do território de Angola com o objectivo de seguir movimentos das forças governamentais. As aptidões tecnológicas dos satélites empregados na missão permitiam fazer “identificações preliminares” de ocorrências geológicas e mineiras. A repre-

sentação de tais ocorrências nas imagens dos satélites (imageries) foi em 1988 explicada pessoalmente a J Savimbi como correspondendo a depósitos de petróleo, gás e carvão. Estudos técnicos e científicos posteriores, incluindo levantamentos aeromagnéticos efectuados no lado da Zâmbia, permi-

tiram corroborar a existência da referida bacia sedimentar – considerada «gémea (ou de perfil geológico semelhante) à de outras detectadas na região dos Grandes Lagos. A Zâmbia, que em 2006 havia anunciado publicamente a descoberta de reservas de petróleo e gás no noroeste do seu território,

correspondente à bacia sedimentar, lançou agora um concurso internacional destinado a determinar o potencial das mesmas, tendo em vista a sua futura exploração, no caso de serem consideradas de valor comercial. Segundo ainda a publicação, a Sonangol, a petrolífera estatal angolana, já está a par do assunto desde há cerca de 10 anos, mas não lhe são conhecidos planos próprios ou em articulação com a Zâmbia tendo em vista o estudo da bacia em toda a sua vastidão, incluindo a parte situada em Angola. Os estudos a efectuar agora na parte zambiana são de prospecção sísmica (ou estratigráficos). A Zâmbia não produz petróleo, embora seja um país exportador de combustíveis refinados; a RD Congo e Zimbabué são os principais compradores. O crude respectivo, importado na totalidade do Médio Oriente, é processado na refinaria de Indeni/Ndola (não apetrechada para processar petróleo originário de Angola, mais pesado).

Na província do Cunene

Avião de guerra enterrado impede aulas a mil alunos M

ais de mil alunos de uma escola primária, na cidade de Ondjiva, província do Cunene, estão há duas semanas impedidos de assistir às aulas por ter sido encontrado enterrado dentro do recinto escolar um avião de guerra. De acordo com a Angop, o aparelho foi descoberto no dia 28 de Maio, quando um grupo de trabalhadores da escola Okapacopaco, na cidade de Ondjiva, cavava um buraco para depositar lixo.

Nesse dia, a direcção da escola resolveu suspender as aulas, sobretudo porque foi encontrado perto do local um míssil de fabrico sul-africano, entretanto já removido por uma brigada de desminagem das Forças Armadas Angolanas (FAA). O director da escola, Eduardo Shahuapala, disse que os trabalhos de escavação para a remoção do avião estão concluídos, aguardando-se apenas a chegada de técnicos afectos à brigada de desminagem das FAA para a retirada do aparelho.

Segundo o director, retirar apenas o aparelho do recinto escolar não vai tranquilizar as pessoas, defendendo que é necessário que se faça depois de uma vistoria mais minuciosa ao local, para se apurar a existência ou não de mais engenhos explosivos, que não ponha em risco a vida dos alunos e dos moradores ao redor da escola. «Enquanto não chegarem os técnicos especialistas, a direcção da escola não permite que os alunos estudem, tendo em conta que é um grande risco», disse o director, em

declarações à Angop. De acordo com Eduardo Shahuapala, o avião parece ter sido enterrado há vários anos naquele local, onde em 1997 foi construída a escola, no âmbito do programa do Fundo de Apoio Social (FAS). Angola chegou a ser considerado um dos países mais minados do mundo e a província do Cunene, palco de várias batalhas durante a Guerra Civil, foi uma das mais minadas do país, estando ainda a decorrer trabalhos de desminagem.


7 Em Foco

Sábado, 18 de Junho de 2011.

Por comentários que julgam desabonatórios a eles

Boeing 777-330ER reforça frota

Trabalhadores da TAAG contestam analista Justino Pinto de Andrade Um grupo de trabalhadores da companhia aérea nacional contesta, em carta endereçada ao Semanário Angolense, os comentários desse político e analista, no programa «Revista de Imprensa», da Rádio Ecclesia, que é transmitido todas as manhas de segunda-feira, no qual faz a «leitura» dos principais «jornais de fim-de-semana», em relação a uma matéria estampada na nossa última edição, sob o título «Voos de rapina»

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a missiva, datada de 16 de Junho, o grupo, que se diz constituído por «trabalhadores patriotas» da TAAG, companhia aérea de bandeira, considera que o referido comentarista residente da «Ecclesia» terá sido bastante parcial na sua análise à matéria em causa, por não se ter dignado a ouvir a verdadeira versão dos alegados visados pela suposta má gestão de Pimentel Araújo, tida por eles como bastante prejudicial aos interesses do Estado. Segundo eles, Justino Pinto de Andrade, que é também líder do Bloco Democrático, «fez uma triste figura como dirigente de um partido que diz querer lutar contra as injustiças». E questionam: «Falou com os trabalhadores de base da TAAG e tripulantes? Falou com os trabalhadores que praticamente foram amedrontados para fazer a rescisão ‘voluntária’ dos seus contratos de trabalho?». Dizem na missiva que caso o comentarista residente da «Ecclesia» tivesse ouvido alguns trabalhadores nacionais, teria compreendido melhor a situação de frustração e marginalização que eles atravessam. Segundo os funcionários descontes, «não se trata de perseguição aos estrangeiros na TAAG, porque a empresa precisa deles, mas tão-só contra a forma como esses estrangeiros tomaram a

TAAG de assalto, como se os nacionais fossem os culpados da crise que se vive em Portugal ou da falência da VARIG». Os signatários, que pediram o anonimato, por temerem represálias, questionam ainda se Justino Pinto de Andrade se deixou influenciar por eventuais relações de amizade para tomar partido pela direcção da companhia. Antes de enumerarem uma série de problemas que a empresa enfrenta, os funcionários convidam Justino Pinto de Andrade a retratar-se, fazendo uma «auto-

crítica», ao invés de se deixar «manipular por quem detém o poder na TAAG e intimida os trabalhadores». Contactado, na quinta-feira, 16, para se pronunciar sobre o teor da missiva, Justino Pinto de Andrade, que é amigo desta casa, onde presta colaboração eventual a título gratuito, disse que não tinha comentários a fazer, considerando o caso como «um assunto interno» da companhia, que nada tinha a ver com ele. «É um problema dos trabalhadores da TAAG e da sua direcção», disse secamente.

Na óptica dos reivindicadores

Causas do descontentamento

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a óptica dos subscritores da carta, a gestão do Presidente do Conselho da Administração (PCA) da TAAG, Pimentel Araújo, tem sido «pessoal, individualista e de se rodear de estrangeiros ou de amigos vindos da «Air Gemini». Consideram que o gestor máximo da empresa estará a interferir em pelouros reservados a outros administradores da companhia. Ele «de-

posita apenas confiança nos quadros que vieram de outras companhias aéreas e que por sinal faliram por culpa dele [Pimentel Araújo]». Embora eles reconheçam em Pimentel Araújo um «bom técnico», não deixam, porém, de tecer críticas ao PCA da TAAG que estará a «fugir às reuniões convocadas pelos trabalhadores». «Ele identifica-se melhor com os estrangeiros do que com os nacionais», sustentam os contestatários.

«Sagrada Esperança» já em Luanda

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primeiro dos dois Boeing’s 777300ER comprados pela TAAG (Linhas Aéreas de Angola) ao famoso fabricante aeronáutico norte-americano, para reforçar a sua frota, e entregue formalmente na última terça-feira em Seatlle, já se encontra em Luanda desde esta sexta-feira. Segundo uma fonte da companhia angolana, o aparelho, baptizado com o nome de «Sagrada Esperança», o primeiro de dois encomendados pela transportadora em Abril de 2010, tem uma capacidade para 293 passageiros nas três classes (primeira, executiva e económica). Com a matrícula D2-TEG, a aeronave pintada e personalizada com o símbolo da TAAG, a Palanca Negra, tinha saída prevista de Seattle às 10horas de quinta-feira, 18 horas em Angola, num voo sem escala que teria a duração de aproximadamente 16 horas. O 777, também conhecido por «Triple Seven» é um avião de longo alcance, projectado e fabricado pela companhia norte-americana Boeing. É o maior avião bi-jacto do mundo, com o motor mais potente já pro-

duzido. Pode transportar entre 283 e 368 passageiros na configuração de três classes, por até 17.000 km, ligando as principais capitais sem escala. As principais características visuais do «Boeing 777» que o diferem dos demais aviões, são o diâmetro de suas turbinas turbofan (as maiores do mundo), o seu trem de pouso com seis pneus cada (total de 12) e sua fuselagem tipicamente circular e comprida. A TAAG é a primeira companhia aérea em África detentora de um Boeing 777-300ER, que identificou como primeira escolha para viagens de longo curso, aguardando para o próximo mês de Julho a entrega pela construtora aeronáutica americana de outro aparelho semelhante. A TAAG recepcionou os últimos Boeing777-200 e 737-700 a 11 de Novembro de 2006. Actualmente, a companhia aérea de bandeira opera com três Boeing 777200ER nas linhas de Lisboa, Pequim, Dubai, Rio de Janeiro, São Paulo, Pretoria e Joanesburgo e com quatro Boeing737-700 em rotas domésticas e regionais.


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Sábado, 18 de Junho de 2011.

Política Em assuntos que dizem respeito aos africanos

Líder tocoísta diz-se «fatigado» com paternalismo do Ocidente Dom Afonso Nunes apela por instituições e líderes africanos comprometidos com a causa africana e não por líderes fracos e incapazes, que «só esperam ser espancados pelas nações que sempre se sentem superiores» e se portam como se fossem nossos pais... N. Talapaxi S.

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sumo bispo da Igreja Tocoísta, Dom Afonso Nunes, mostrou-se agastado com os países ocidentais a cerca dos problemas que dizem respeito à África, em carta que enviou do Reino da Espanha, divulgada no culto dominical da sua denominação, recentemente, para um quórum de mais de 18 mil fiéis, na sede da comunidade, localizada no Golfe II, em Luanda. Na carta extensiva a «todos, tanto para os homens da ciência, como para os iletrados», o líder religioso declara que «a África precisa não só de instituições fortes, mas também de líderes fortes e comprometidos com a causa africana», devendo estar munidos «de profundo sentido humano». No prosseguimento da epístola, o dirigente da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo no Mundo acrescentou que são escusados «os líderes fracos, incapazes, que só esperam ser espancados pelas nações que sempre se sentem superiores, batendo no filho dos outros como se fosse seu». Nesse contexto, o bispo faz referência a um poder «paternal» que muitos países do chamado «Primeiro Mundo» procuram exercer sobre os africanos, com a anuência de muitos dirigentes do continente, levando em conta o teor ainda actual, embora desaconselhável, das relações parentescas onde bater os filhos é um recurso vigente de repreensão e educação. Para o mandatário tocoísta, «a África precisa de uma união de líderes fortes que podem criar instituições fortes, embora alguns pensem que a África só precisa de instituições fortes». E somou as considerações afirmando que «havendo homens bons, honestos, disciplinados, competentes e comprometidos para uma determinada causa, também teremos instituições fortes e um continen-

te forte, respeitado e temido». «É hora de mudar as consciências e pensarmos como nós mesmos, amarmo-nos uns aos outros, deixando o orgulho e a desonestidade», frisou o líder cristão. «O resultado do amor será a paz, segurança, força e a prosperidade entre as nações africanas», declarou. E inferiu que «todos poderão governar, uns após outros». «Vamos para os campos, veremos aí os mortos; vamos para as cidades africanas, encontraremos aí os debilitados pela fome», denotou. E lamentou, dizendo que «até mesmo homens de Deus e sacerdotes deixaram de pensar como podiam e andam todos vagueando; não sabem onde ir nem mesmo o que fazer». Terá sido sob essa presunção que Dom Afonso Nunes disse que são a honestidade, a disciplina, a competência e o comprometimento a natureza da liderança e os valores de que o continente precisa, tanto no campo político assim, como no campo religioso,

reiterando que «a religião deve agora reentrar em cena». O bispo supremo do tocoísmo justifica a declaração expondo que têm de ser os próprios africanos a educar ou punir aqueles que falham «e não deixar os vizinhos, que também têm os seus problemas, virem à África tomar medidas como se de nossos pais se tratassem». «Alguns menos atentos e cegos pensam que a atitude dos ocidentais é boa», ponderou o dirigente

da comunidade que o tem como encarnação do alegado profeta angolano Simão Tôco. «Será que a África já se esqueceu dos milhares que partiram forçosamente para o Ocidente e dos quais muitos descendentes por aí padecem?! Que tristeza!», consternou-se. Em dado ponto do seu escrito, o bispo da Igreja Tocoista afirma militantemente que «Deus nos fez e enviou-nos como africanos e vamos continuar a sê-lo até à consumação dos séculos». E, na sequência, estabelece que «muitos querem nos confundir na nossa missão; tentam pintar-nos de outras cores; enganam-se; vamos continuar a ser os mesmos de ontem, mantendo os nossos ideais». Entretanto, ao final das suas considerações o dirigente da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo no Mundo ressalva que a sua intenção «não é insinuar a inimizade com o ocidente mas pretender tão-somente que sejamos tratados de igual maneira, assim como Deus nos fez» e, em seguida arre-

mata que «temos que conquistar este nosso prestígio perdido». «Não sei se falei política, mas também nada me impede de tocar nestes assuntos», escreveu o pastor-mor da congregação tocoista. Dom Afonso Nunes, que se encontra no Reino da Espanha há pouco mais de um mês, em viagem de carácter privado, para a «reabilitação da carcaça», conforme reza a sua missiva, apela «a todos os homens e mulheres de bem a orarem muito», pois acredita que «a oração feita com fé é bem capaz de mudar as coisas». A Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo no Mundo, com sede em Luanda, é presumidamente a maior denominação cristã entre as fundadas em Angola e, além de se alastrar pelas nações vizinhas, também mantém filiais em alguns países da Europa - Portugal, França, Holanda, Inglaterra e Reino da Espanha - maioritariamente frequentadas por imigrantes e descendentes de africanos na diáspora.


9 Política

Sábado, 18 de Junho de 2011.

Insta OAA a colocar no «lugar» seus filiados

PGR adverte advogados de Q. Ribeiro Os pronunciamentos feitos à imprensa na semana passada pelos advogados do antigo comandante provincial da Polícia de Luanda e de outros co-arguidos, detidos no mediático «Processo Quim Ribeiro» geraram desconforto na Procuradoria-geral da República (PGR), fazendo com que este órgão apelasse à Ordem dos Advogados de Angola (OAA), no sentido de esta colocar os seus filiados no «devido lugar». Diz a PGR que eles podem exercer os seus direitos, mas devem também observar os seus deveres, «porque a liberdade de expressão tem limites» à dignidade e consideração devidas aos magistrados e aos tribunais. «Podem os advogados, nos termos do artigo 11° 2 al. c) da Lei de Imprensa utilizar os meios de comunicação social para prestar informações com vista a salvaguardar a objectividade, o rigor e a isenção nas causas que lhes são confiadas», adiciona a PGR. O referido órgão judicial contesta no seu comunicado a actuação dos referidos advogados e dos órgãos de comunicação social, porque, em seu entender, «procuram perturbar a normal tramitação dos processos-crime, manipulam a opinião pública e criam obstáculos para que o tribunal possa realizar o seu trabalho de forma imparcial, com coerência e sem pressões, para que a justiça seja feita».

Kim Alves

A

advertência está expressa num comunicado de imprensa emitido pelo gabinete do vice-procurador geral da República e procurador das Forças Armadas Angolanas (FAA), e refere que os advogados devem respeitar as instituições judiciais do país e os magistrados, assim como os direitos e liberdades de outros entes legais e constitucionalmente tutelados. De acordo com a ANGOP, a «atribuições da OAA é zelar pela função social, dignidade e prestígio da profissão no exercício da advocacia e promover o respeito pelos respectivos princípios deontológicos, pelo que está obrigada a pugnar para que o exercício de advocacia não se misture nunca com o exercício de jornalismo como em alguns casos vem publicamente acontecendo». O documento salienta que «de há uns tempos a esta parte vários órgãos de comunicação social públicos e privados (jornais, rádios e televisão) têm estado a difundir notícias com base em entrevistas e conferência de imprensa concedidas pelos advogados dos processos-crime em que figuram como arguidos o comissário Joaquim Vieira Ribeiro, vulgo Quim Ribeiro, e outros oficiais da Polícia Nacional, cuja tramitação corre no Supremo Tribunal Militar». Os advogados esgrimiram não só questões de facto e de direito, como também puseram em causa a credibilidade e idoneidade dos órgãos de justiça militar, com particular incidência do Supremo Tribunal Militar, difundidos em extractos pelos órgãos de comunicação social, lê-se na missiva. Nesta conformidade, refere, os órgãos de comunicação social, públicos e privados foram utilizados pelos advogados para destratarem e procurarem descredibilizar aquelas instituições trazendo para hasta pública questões que só devem ser tratadas em foro próprio, ou seja nos tribunais constitucionalmente consagrados.

Causídicos contestam Diz o comunicado que os artigos 64°,66°,67°,70° e 71° do estatuto da OAA impõem aos advo-

gados o dever de não divulgarem, através dos meios de comunicação social, entre outras, questões

processuais ou profissionais a si confiadas, não devendo utilizar expressões injuriosas e ofensivas

W. Tonet versus D. Mendes

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epois de ter terminado o seu estágio de advogado nos escritórios da Associação Mãos Livres, William Tonet optou agora por caminhar pelo seu próprio pé, ao criar um escritório próprio que, segundo algumas fontes, está localizado nos Coqueiros. No entanto, o aparecimento de W. Tonet no chamado «Caso Quim Ribeiro», no qual assume a defesa de um dos arguidos envolvidos nesse processo poderá gerar polémica. Acontece que David Mendes e William Tonet

já estiveram de mãos dadas durante um certo período de tempo, quando ambos partilhavam o mesmo escritório, à Kinanga, ou seja nas «Mãos Livres». No «caso Quim Ribeiro», os dois estarão em extremos opostos, já que David Mendes assumirá a defesa da família das vítimas do crime de homicídio e William Tonet encarregar-se-á da defesa de um dos arguidos que é acusado de ter sido o autor material desse mesmo homicídio.

IM

Entretanto, os advogados disseram ao Semanário Angolense que só recorreram à imprensa como uma «reacção de defesa», já que as suas vidas corriam perigo, face às ameaças de que têm sido alvos. «Quem começou por utilizar a comunicação social para vazar material em segredo de justiça atentatório à dignidade dos seus constituintes, desde a fase de instrução preparatória dos processos, foram os competentes órgãos judiciais, que não respeitaram o dever da contenção verbal e optaram por inflamar a opinião pública com inverdades processuais» alegaram em sua defesa. Os causídicos disseram que sempre respeitaram as normas e nunca destrataram nem ofenderam os magistrados e os tribunais, porque acreditam que eles estão comprometidos exclusivamente com o Direito e com a Lei, embora haja sectores que «não pensem assim e não respeitem as regras processuais quanto à instrução e preparação, fazendo à margem da lei condenações antecipadas e tentam impedir o exercício do Direito de Defesa de cidadãos na condição de arguidos».


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Sábado, 18 de Junho de 2011.

Política Secretários do PRS e da UNITA na Lunda-Norte reforçam

A maldição dos diamantes O Estado quer acabar com a actividade ilegal e criou os caminhos para a legalização. O PRS e a UNITA alegam que a liberação da exploração artesanal está longe de acontecer. Depois da crise económica de 2008/2009, a clandestinidade «voltou» aos garimpos. Há rumores de repreensão inclusive com mortes. E a oposição acusa o governo de estar por trás da atrocidade contra os garimpeiros. A maldição dos diamantes continua sem exorcismo cidadão estrangeiro», argumenta o secretário lunda-nortenho dos «maninhos», que na sequência declara ser preciso deter os infractores e encaminhá-los as estâncias superiores. «Não há mecanismo de detenção dessas pessoas para apresenta-las à justiça? Temos de matar discriminadamente?», protestou. Não obstante o registo desses episódios nefastos, «depois de morrerem centenas e centenas de jovens» que queriam ver suas necessidades satisfeitas, «o governo entende que afinal a UNITA tinha razão quando dizia que não é pelo diamante que o angolano deveria morrer», disse Domingos de Oliveira.

N. Talapaxi S. «Os diamantes brilham mas não trazem brilho para o povo da Lunda-Norte. Trazem sofrimento. Aqui se sofre e se mata por causa do diamante», assim afirma, como um certa dose de consternação, Augusto Paulino Kalumbula, responsável máximo do Partido da Renovação Social (PRS), na província das «brilhas». E os que compartilham com ele esse juízo constituem uma legião digna de respeito. Para Kalumbula, o estatuto especial atribuído às Lundas, tanto na era colonial como depois da independência, nunca se reverteu em desenvolvimento para os povos da região, em especial os norte-lundenses.«Quem explora e não investe na área a que pertence o diamante é garimpeiro. Então o garimpeiro é o Estado. A população é garimpeira e o governo é outro garimpeiro», considerou Augusto Kalambula, que é secretário provincial do seu partido desde 2005. Lembra que o diamante, sendo uma riqueza não renovável, um dia há-de acabar. E expressou o receio de «quando acabarem os diamantes só ficarem ravinas para a população», porquanto «de onde saem e para onde vão ninguém sabe». No entender do representante do PRS no Dundo, «os beneficiários são os membros do governo da República» Entretanto, questiona: «E o resto?».

«Culpa e desculpa»

da oposição, que actualmente é coronel reformado das FAA, declarou que não há nenhum grupo de exploração artesanal oficializado para trabalhar. «Estão agora para incrementar essa medida (de livre exploração); até falaram que o arranque, duma forma oficial, será na área do Kuango, mas já depois de morrer muita gente», salientou «o mano-chefe» da Lunda-norte.

Conforme adiantou Domingos de Oliveira, «está a morrer muita gente nas áreas de exploração artesanal de diamantes; a tropa e a polícia que vão pra lá não tem piedade nem dó». O mandatário norte-lundense do «galo negro» revelou que essas acções aconteceram na área do kalonda – município do Lukapa. «No Kalonda, corpos flutuaram no rio Tchikapa;

no Fukauma, flutuaram com o rio Tchiumbwe», fez saber o responsável da UNITA na Lunda Norte. «Se estão a matar congoleses, estrangeiros, também os angolanos estão lá», lamenta Domingos Oliveira. «Se a nossa Constituição proíbe a pena de morte, ninguém tem o direito de tirar a vida a quem quer que seja; nem que seja a um

Repressão e mortes A escavação artesanal de diamantes é um recurso que voltou a atrair perigosamente uma grande massa de jovens desempregados, depois que passou a depressão da crise económica mundial que havia diminuído a actividade das empresas mineradoras. O secretário provincial da UNITA na província da Lunda Norte, Domingos de Oliveira, informou esse facto e alegou que «em contrapartida, o governo, quando vai lá, se surpreende jovens a cavar, mata indiscriminadamente». O secretário do maior partido

Domingos de Oliveira, secretario Provincial da Unita; Augusto Paulino Kalumbula, secretario provincial do PRS e Ernesto Muangala, governador da Lunda-Norte e secretario provincial do MPLA

O governador da Lunda Norte, Ernesto Muangala, na entrevista prestada ao SA e levada ao público na semana passada, imputou as mortes que tem acontecido no seio dos garimpeiros à acção dos seguranças particulares das empresas diamantíferas ali estabelecidas legalmente. Para Muangala, isto terá em consideração a directriz da Constituição que determina a propriedade originária da terra ao Estado, cabendo a este, então, repassar a terra a destemidos projectos mineiros para a exploração de diamantes. «Acontece porém que muitas pessoas tanto nacionais como estrangeiras têm estado a invadir as terras consideradas reservas do Estado. Estas áreas estão protegidas pelas empresas de segurança privada, que têm a missão de protege-las contra o garimpo; impedir que os diamantes sejam subtraídos de forma ilegal», assim explicou o governador os incidentes mortais nas minas das «brilhas». Ernesto Muangala reconhecera na ocasião que a lei da exploração artesanal de diamantes tem a aplicação prática quase nula, por ter sido aprovada há pouco tempo. Mas enfatizou que o seu interesse se assenta na prioridade da concessão de exploração aos cidadãos nacionais organizados em cooperativas e associações.



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Sábado, 18 de Junho de 2011.

Capa «Fogo Cruzado» - indirecto - sem tabus entre o MPLA e a UNITA

Respostas e projectos nas vozes de Alcides Sakala e Rui Falcão Celso Malavoloneke

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Semanário Angolense traz nesta edição duas entrevistas de luxo dos porta-vozes dos dois maiores partidos angolanos, eternos rivais da nossa cena política: Rui Falcão Pinto de Andrade do MPLA e Alcides Sakala da UNITA. Ambos decidiram falar sem restrições, abordando assuntos que, não sendo tabu (tanto no maioritário como no rival) são no entanto abordados à boca pequena nas funjadas de sábado, apesar de serem de interesse público nacional. É o caso do «27 de Maio» no MPLA e «as bruxas da Jamba» para a UNITA. Curiosamente, os dois concordam que as respectivas purgas foram o resultado de uma conjuntura histórica infeliz, que criou dor e luto desnecessários em muitas famílias. Num país em que nunca aconteceu um debate político entre altos dirigentes dos dois partidos, estas duas entrevistas ficam como que o mais próximo disso. Talvez por não ter sido em directo, o «bilo« e os mimos foram minimizados para dar lugar – felizmente, diga-se de passagem – à explicação detalhada da visão e dos projectos que cada formação política tem para a Nação, caso ganhe as próximas eleições. E o resultado é deveras interessante: se para Cabinda, o MPLA diz que «a posição é a mesma» (subentendendo-se que Cabinda é parte integrante do território nacional e como tal deve ter o mesmo tratamento que as outras províncias), a UNITA defende que, embora sendo parte integrante de Angola, o território deve ter uma autonomia do género dos Açores e Madeira em Portugal. Uma similitude interessante nos dois partidos: não é neste momento claro que os seus actuais líderes venham a ser candidatos

às presidenciais em 2012. Outra similitude: os dois porta-vozes tergiversam quando falam da sucessão. Sakala ficou claramente pouco à vontade quando o nome de Abel Chivukuvuku foi avançado por uma internauta e Rui Pinto de Andrade nem deu tempo que os entrevistadores explorassem mais o assunto, remetendo-o à próxima reunião do CC e à disponibilidade do próprio JES. Outra comparação importante é o que os dois partidos pensam em relação às manifestações que, na ressaca das outras do Magrebe, mexeram com a capital nas últimas semanas. Enquanto a UNITA acha que o maioritário está a coarctar o direito dos cidadãos a manifestar-se (salvaguarda entretanto que as manifestações têm que ter rosto), o MPLA diz que a media e a oposição estão a dar importância demais a manifestações que visam tão-somente ofender altos dignitários do seu partido e do país. E assim por diante. E de esquebra, os galhardetes de costume: enquanto Sakala diz que

o problema de Angola é entre o povo e o Chefe do Executivo, Rui Pinto de Andrade diz com todas as letras que quem partiu o país, partiu mesmo e ponto final…! A grande diferença entre os dois partidos reside na ênfase a dar à gestão do país se forem Governo. Enquanto o MPLA afirma querer continuar a consolidação dos ganhos macro-económicos para alicerçar depois o desenvolvimento humano, a UNITA propõe precisamente o contrário: gastar os dinheiros que o país já acumulou para o sector social e por via disso melhorar os índices de desenvolvimento humano que relatórios especializados internacionais apontam como os mais baixos do planeta. E de esquebra vai dizendo que combaterá a corrupção em todo o terreno. Quanto aos quadros para fazer este «milagre» diz que trabalhará com todos aqueles que demonstrem competência, independentemente da sua filiação partidária. O MPLA, esse, quanto a isso, denota uma certa sobranceria que toca as raias

da arrogância de quem parte e reparte e fica com a melhor parte: diz, pela boca de Rui Falcão, em relação aos tecnocratas na periferia que não são aproveitados, o seguinte: «As pessoas têm de ter a perspectiva de que cada um é bom na sua área. E que deve dar o melhor de si lá onde estiver, seja no aparelho governativo, seja na área do empresariado privado ou ainda na Sociedade Civil». O leitor deve estar a perguntarse: e como surgiram estas duas entrevistas numa mesma semana. A resposta é: foi completamente fortuito. Rui Pinto de Andrade acedeu em conceder uma entrevista ao SA (oportunidade a que andávamos à coca há um bom tempo). Até aí nada de anormal. O inusitado – histórico mesmo no que diz respeito à História da Comunicação Social angolana – foi o «tête-à-tête» on line de oito horas repartidas em cinco horas no domingo, dia 12, e três na segunda , 13 de Junho, entre Alcides Sakala e centenas, senão milhares, de internautas dentro e fora do País via

Facebook. O «encontro-entrevista-mesa redonda» virtual foi organizado por uma jovem na diáspora, a Vanessa Mayomona. Sendo uma das mais activas facebooquianas das páginas de Angola, teve a ideia de convidar Alcides Sakala para esse bate-papo sem tabus, pois, queriase saber mais sobre a UNITA do passado, da actualidade e quais os seus projectos de futuro para o país. Sakala aceitou o desafio e saiu-se muito bem, como se pode ver nos extractos que o SA traz à estampa. É o contexto pré-eleitoral. Ainda não está ao rubro, mas já está bastante quente. A continuar assim, a campanha eleitoral de 2012 não terá nada a ver com a «softeza» que vimos em 2008. Tudo indica que essa será mesmo campanha a valer. Se os programas eleitorais contiverem a mesma qualidade dos de 2008 – e tudo indica que terão – o país só ficará a ganhar. E a nossa jovem democracia também!


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Rui Falcão Pinto de Andrade «abre o livro» ao SA

«A democracia interna no MPLA vai bem (muito bem), obrigado!» Jorge Eurico, Adriano de Sousa e Nunes Ambriz (fotos)

O Semanário Angolense confabulou, durante hora e meia, terça-feira (14), no terceiro andar do «Kremlin», com aquele que é considerado em muitos círculos como a maior «vaidade» da família Pinto de Andrade no MPLA: Rui Falcão, que ocupa o cargo de secretário para Informação do Bureau Político do também chamado «partido da situação». Ao contrário do que aconteceu em outras tentativas (falhadas), desta vez ele aceitou a conversa sem quaisquer rebuços, se bem que a data inicial não tivesse sido cumprida (adiou-se por um dia), devido a compromissos sociais do «porta-voz» do MPLA. Com este escuteiro, de 50 anos, entregue de corpo e alma ao serviço da «Grande Família», abordamos essencialmente questões de índole política e social, sem esquecer, é claro, temas como as manifestações que têm tido lugar no país por influência daquelas que varrem alguns países do norte do nosso continente também foram passadas em revista. Em relação à sucessão de José Eduardo dos Santos, um tema caro para todos os angolanos, Rui Falcão não nos deu qualquer novidade. Disse apenas o que já se sabia: que o assunto será discutido em reunião do Comité Central do seu partido, em data a anunciar, mas que deverá ocorrer até um pouco antes das eleições de 2012. Diz ainda que a decisão de continuar ou não, dependerá da vontade do próprio José Eduardo dos Santos. No entanto, deixa a entender que o partido sequer está preocupado ou está preparado para uma eventual recusa sua. Confira, já a seguir, o essencial da conversa. Semanário Angolense (SA) O MPLA hoje tem um Governo absoluto saído das eleições de 2008. É-lhe mais fácil governar agora, contrariamente aos tempos do Governo de Uni-

dade e Reconciliação Nacional (GURN)?

Rui Falcão Pinto de Andrade (RFPA) – Julgo que sim. SA– Porquê?

RFPA– Porque hoje estamos mais sintonizados, a equipa é única. Essa é a diferença entre uma equipa e uma selecção (de futebol). Uma equipa treina sempre junta, uma selecção é como uma manta de retalhos que precisa de ser unida. Essa é a diferença entre um Governo de Unidade e Reconciliação Nacional e um Governo liderado por uma maioria. SA – O GURN não funcionou como devia?

RFPA – Funcionou. Tanto é que hoje estamos aqui. Só que qualquer partido político, tendo um programa próprio, tendo experiência e sendo sufi-

cientemente capaz de o fazer, prefere fazê-lo sozinho do que acompanhado. Aliás, você tem uma experiência prática. Se o PSD, em Portugal, pudesse, formava o Governo sozinho. Não o fez porque a democracia não o permitiu. Vai ter que o fazer com o CDS. A vida é assim. Nós, num determinado período da nossa História, tivemos que fazer uma aliança governativa. Espero que no futuro não seja necessário. Quer para nós, quer para outros que venham a ser poder. SA – Há muitos tecnocratas na periferia do MPLA que não são aproveitados?

RFPA - As pessoas têm de ter a perspectiva de que cada um é bom na sua área. E que deve dar o melhor de si lá onde estiver, seja no aparelho governativo, seja na área do empresariado privado ou ainda na Sociedade Civil. Nós não somos hegemónicos. Temos


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Capa consciência de que estamos numa sociedade democrática onde há opiniões diferentes e por isso mesmo há organizações diferentes. Temos de ter a capacidade de fazer conviver toda esta disponibilidade de conhecimentos em prol do país. Sabe, há tempos, toda gente dizia que não era possível crescermos no domínio do Ensino Superior. Nós passamos de uma universidade pública para sete. Nós acreditamos em nós. Há muitos angolanos que não acreditam neles próprios. Não é no país, neles próprios. SA – Estas universidades têm qualidade?

RFPA - Temos que começar. A criança quando nasce, não começa logo a correr. SA – Não importa a qualidade?

RFPA – Não é que não importe. Temos noção exacta de que há riscos que se correm. Temos que ser competentes e exigentes naquilo que fazemos. SA – Acha que estas universidades têm estruturas para serem dignas deste nome, quando muitas delas não têm sequer uma biblioteca?

RFPA – É o que lhe digo. Temos que continuar a trabalhar em prol do país. Ninguém vai fazer nada por nós. Temos que ser nós a fazer. Não basta criticar, é preciso contribuir também. É preciso trazer mais

Temos que continuar a trabalhar em prol do país. Ninguém vai fazer nada por nós. Temos que ser nós a fazer. Não basta criticar, é preciso contribuir também. É preciso trazer mais ideias, mais opinião, mais acções.Há muitos aqui que só ficam a criticar

Sou deputado há 19 anos. E isso faz com que deixe de respeitaras regras que eu próprio aprovo no Parlamento? Não, pelo contrário! E quando eu prevaricar, assumirei as responsabilidades dos meus actos. SA – Admite que tem havido excessos?

RFPA- Admito. Há excessos diariamente. ideias, mais opinião, mais acções. Há muitos aqui que só ficam a criticar. Mas quando o país tem uma catástrofe, como aconteceu há pouco tempo, não conseguem, a nível das suas organizações, arregimentar vontades e meios para apoiar aqueles concidadãos que estão a passar mal, mas continuam a criticar como se fossemos nós os causadores destas intempéries. Enfim, é uma acção pedagógica, que temos de continuar a desenvolver. SA – Isto é uma indirecta para…?

RFPA- Não, eu não sou um homem de indirectas e fui bem claro. Só não me entende quem não quer. SA – Para quando a apresentação pública de uma lista nominal das vítimas do «27 de Maio» e a instituição de um «Tribunal da Verdade e Justiça», tal como na África do Sul, para se acabar com a dor suspensa de uma das páginas políticas mais negras do país?

RFPA – Acha que este seria o

caminho? Não sei se temos hoje condições para fazermos um trabalho acabado neste domínio. Compete ao Ministério da Justiça emitir certidões de óbito, etc, e o país tem condições para o fazer. Há que criar outras condições. Agora, se me falar da necessidade de reconciliar as pessoas, é um processo que, na minha óptica, deve ser ponderado. Agora nada vai trazer solução para um problema de sentimento. O «27de Maio» é um problema de sentimento que vai ser difícil esbater. Se calhar, perdemos muito tempo. Se tivéssemos sido mais acutilantes na vontade de conversar e apaziguar os espíritos, se calhar teríamos dado mais alguns passos. SA – Nunca houve vontade conversar sobre isso?

RFPA – Julgo que, durante muito tempo, todos nós coibimo-nos de falar desta matéria. Todos nós, uns e outros. SA – Isso prejudicou o país?

RFPA– Directamente não, indirectamente sim. Mas o país continuou a sua marcha. SA – Volte e meia, ouve-se relatos de casos de abusos de imprensa feitos à pala de se ser militante do MPLA.

RFPA – Eu próprio disse isso há dias numa entrevista. Não podemos criar um «Estado de Excepção». Não podemos permitir que alguém pense que está acima da Lei. SA – Os militantes do MPLA não estão acima da Lei?

RFPA – De maneira nenhuma! Eu continuo a dizer que, quer seja ou não militante do MPLA, aquele que desrespeitar a Lei deve responder pelos seus actos. Ponto final! Estamos num país democrático e num país democrático as coisas são feitas no estrito respeito pela Lei. SA – Imunidade não é sinónimo de impunidade no MPLA?

RFPA – De maneira nenhumal!

«Temos no partido gente bem mais radical que Marcolino Moco» SA- A critica que se faz ao 1.º secretário do MPLA de Luanda também pode ser feita aos seus homólogos no interior do país?

RFPA- Há diferentes níveis de desenvolvimento da democracia. É isso que procuramos esbater todos os dias. Temos que ser os mesmos em todo o território nacional. SA – Como está a democracia interna no seio do seu partido?

RFPA- Felizmente, está de (boa) saúde. Temos estado a dar saltos qualitativos muito grandes. SA – O que é que quer com «saltos qualitativos»?

RFPA – Quer dizer que temos um partido com uma direcção vertical. Estamos a engajar cada vez mais as pessoas nas soluções internas dos nossos problemas e inclusive na própria comparticipação para o desenvolvimento do país. Hoje há uma dinâmica muito diferente no seio do partido do que tempo do partido único. Somos cada vez mais democráticos internamente. Quanto mais o MPLA se democratizar, mais a sociedade se democratiza. SA – Isto quer dizer que militantes como Marcolino Moco e Lopo do Nascimento estão «perdoados»?

RFPA – Eles nunca foram castigados! Perdoados porquê? São perdoados aqueles que cometeram crimes. Que eu saiba, estes camaradas (Lopo doci-

mento e Marcolino Moco) não cometeram crime nenhum. Agora, o facto de terem deixado de ser secretários-gerais é algum dilema? SA – Mas são ou não marginalizados?

RFPA – Eu tenho o camarada Lopo do Nascimento como um exemplo a seguir. Um camarada que, tendo deixado a direcção do partido, continua a ser um militante activo, participa no Grupo Parlamentar, dá o seu contributo. Isso é que valoriza o homem. Eu hoje sou membro do secretariado (Bureau Político), ontem não era e amanhã não hei-de ser. Mas uma coisa lhe garanto: continuarei a ser do MPLA. SA – Como é que o seu partido encara as criticas e intervenções públicas de Marcolino Moco?

RFPA- Muito bem. É a opinião de um militante. Perdeu tempo a dizer algumas coisas. Devia tê-las dito cá dentro e quando esteve no exercício de determinadas funções. SA – Porquê que não o fez?

RFPA – Ah, isso terá que perguntar ao (Marcolino) Carlos Moco. Somos muito amigos e camaradas. Encontramo-nos, conversamos, somos amigos, poderia dizer-lhe, de dedo e unha. SA – Não há anticorpos contra ele no seio do seu partido?

RFPA – No MPLA?! O Marcolino Moco está agastado com algumas coisas. Se isto vai passar? Não faço ideia. Ele ainda não me disse. Quando ele me disser e autorizar-me a dizer publicamente, di-lo-ei. Como amigo dele, não tenho que revelar publicamente aquilo que são nossas conversas. SA – Há tolerância política, neste aspecto?

RFPA- Olhe, aqui dentro há gente com posições bem mais radicais sobre todos os pontos de vista que o camarada Marcolino Moco. Vou dar-lhe uma ideia. Sempre fiz questão de nunca pertencer a grupos. Não faço parte de nenhum grupo no seio do partido. No Grupo Parlamentar anterior, tendo aquela coesão que toda gente conhecia, havia sete correntes de opinião. E que em função dos objectivos e dos momentos, posicionavam-se claramente. E sempre convivemos muito bem e ganhamos as eleições. Ninguém que não esteja dentro desta máquina faz ideia do que é a democracia interna no MPLA. Sou membro de um Comité de Acção onde me sinto feliz quando os camaradas criticam de forma aberta. E mesmo não sendo aceites pela opinião maioritária, devemos ter a coragem de dizer o que nos vai na alma. Isso evita que nos autoafastemos. Digo sempre o que penso nas reuniões. No MPLA temos que nos habituar a dizer tudo quanto pensamos, desde que seja em prol da melhoria da nossa vida interna.

SA – O que é que o MPLA está a fazer para contornar esta situação?

RFPA – Se está atento, temos estado a trabalhar no seio do partido no sentido de resgatar os valores. Temos estado a reviver parte do nosso passado, os valores que estiveram na base da criação do nosso partido. SA – A metodologia encontrada para desencadear a campanha de resgate dos valores morais e cívicos é a mais adequada?

RFPA – Naturalmente. Temos estado a levar o diálogo às pessoas, trazer à discussão, analisar o comportamento das pessoas, fazer reviver a crítica e auto-crítica. Nós chegamos a um ponto em que criticar o 1.º secretário era quase um drama. Não, não. Independentemente da função que cada um exerça no partido, somos todos iguais. Hoje estou no secretariado (do Bureau Político), amanhã estará outro. A vida é assim.


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Sábado, 18 de Junho de 2011.

«Não entramos em jogos baixos» RFPA- Sempre que necessário dialogamos e quando há coisas relevantes para o país.

SA – Quer dizer que no MPLA pode-se criticar sem se temer represálias?

RFPA – Costuma ouvir dizer que alguém foi sancionado no MPLA? Há tanto tempo que você está atrás desta pergunta (risos). Agora, se um militante cometer um crime, pode crer que no MPLA vai ser sancionado. Se matar alguém, pode crer que o MPLA vai expulsá-lo. Porque este não é um comportamento que dignifique o MPLA. Agora, delito de opinião, isso não existe no MPLA. Eu digo o que penso todos os dias e nunca vi ninguém preocupado em sancionar-me. Agora, falo de forma séria. Falo nos momentos certos perante quem devo falar. E espero que todos os militantes se comportem assim. Não porque eu seja um exemplo, mas porque acho que estou no rumo certo e que o MPLA deve ser assim mesmo. No MPLA há esta abertura. SA – Por isso é que é mal compreendido muitas vezes?

RFPA – Não sei se sou mal compreendido. Algumas conveniências às vezes levam a que se crie a imagem daquilo que não somos. Mas nós também conhecemos estas estratégias. SA – Mas sabe que é conhecido como sendo radical?

RFPA – Radical em relação a quê?! Sabe, estamos num país onde a mentira transformou-se em virtude, onde a deturpação dos princípios e dos valores pode alcandorarnos a determinados postos. Eu não me revejo nisso. Para mim, o que importa é a verdade. E enquanto puder dizer a verdade, di-la-ei sem problema nenhum. Seja a quem for e doa a quem doer. Sabe porquê? Porque não tenho problemas de vínculos, não estou vinculado a coisa nenhuma, a não ser os princípios que norteiam a minha própria vida. SA – Vida pessoal?

RFPA – E política. Respeito escrupulosamente o meu partido. No em dia que não me rever nos estatutos e programas do meu partido, retirar-me-ei voluntariamente da direcção. Não tenho este tipo de complexos. Sou profissional. Então tenho que dizer aquilo que penso. Sempre tive esta trajectória no MPLA. Nunca ninguém disse que fui diferente em alguma etapa da minha vida. Sempre fui assim, com esta frontalidade. SA – Então aceita que o chamem de radical?

RFPA – Se entender a verdade como algo radical, então eu sou ra-

SA – Foi constituída uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para o Huambo. Não acha que o trabalho dela deveria ser extensivo a todo o país, na medida em que se vai falando de casos de intolerância política por todo o território nacional, incluindo aqui em Luanda?

via considerar demodê a tentativa de branquear o passado. O que temos hoje é produto do passado. Temos que conhecer o passado para podermos projectar o futuro com qualidade.

meu raciocínio não é este. Não faço apelo a este tipo de questões. Agora sei bem de onde venho, onde estou e para onde quero ir.

RFPA – É positivo. Que eu saiba, não há problemas a nível das direcções dos partidos.

SA – Não é um discurso muito demodê?

SA – Não acha que ainda há feridas que sangram e cicatrizes que doem quando se recorre ao passado para dizer que este esfolou e aquele matou?

RFPA – Olhe, também já se de-

RFPA – Não, não é por aí. O

dical porque sou pela verdade. Não sou pela mentira nem pelo branqueamento de algumas questões. É isso aí: não vale a pena tentar inverter o meu pensamento, não vai conseguir. Não espere que um dia diga que quem partiu este país fez bem. Aconteça o que acontecer, nunca o direi.

SA – Como está o relacionamento do seu partido com a UNITA?

SA – Tem havido diálogo entre o MPLA e a UNITA?

RFPA – Acredito que haja em todo território nacional, aqui e ali, alguns casos de intolerância política. Há quezílias partidárias, temos que reconhecer. Não devemos é branquear o comportamento de alguns indivíduos, a pretexto de serem mais papistas que o Papa, que pretendem vender a ideia de que são santos. Nunca o foram e nós conhecemo-los bem. Sabemos com que linhas nos cosemos. Não significa isso que não haja, aqui e ali, problemas que têm que ser resolvidos. Mas hoje um problema entre vizinhos pode ser transportado para a política. Uma maka entre vizinhos pode transformar-se em problemas entre o MPLA e a UNITA. Agora, há outras questões que nos preocupam. E quando se põe em causa a segurança das pessoas, isso deve preocupar-nos seja onde for. Nós estamos muito vigilantes. Aliás, sabe

«O que se está a passar na Líbia é vergonhoso» SA – O que se está a passar em alguns países no norte de África preocupa o MPLA?

RFPA – Deveríamos estar muito preocupados com o que se está a passar na Líbia. A Líbia é um território africano. Quem está a fazer aquilo não são africanos. Já parou para pensar nisso? Estamos a ficar sem vergonha ou pelo menos com mais vergonha de sermos africanos. Isto é muito mau para o continente. Muito mau mesmo. E espero que um dia não nos arrependamos por causa disso. SA – Angola desempenha um papel importante no contexto da União Africana…

RFPA - ... E Angola teve sempre uma posição muito clara em relação a esta matéria. Somos contra a ingerência interna em qualquer circunstância. E ver aquilo que está a ser feito na Líbia deveria doer-nos a todos e não apenas a alguns. Sabe que o petróleo tem muitas coisas escondidas. Estamos a fingir que não percebemos. Quando chegarmos à conclusão que o que se passa aí tem a ver com a guerra da energia, vamos perceber que

estão a massacrar o povo africano apenas por ter petróleo. SA – Acha que as escaramuças….

RFPA – Não, isto são coisas que depois vêm à jusante. Isto são coisas que depois se criam para justificar os actos. Sabe que Angola tem uma realidade completamente distinta dos países do Norte de África e do Médio Oriente. Aqui em

Angola quem quiser disputar o poder político, vai disputá-lo nas urnas. Estar a pagar gente para fazer manifestações, não é solução para o nosso país. Nós desviamo-nos do assunto fundamental. O que se está a passar no Norte de África, neste momento, não tem a ver com os africanos, tem a ver com a disponibilização de energia para os países desenvolvidos.


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Sábado, 18 de Junho de 2011.

Capa que já coarctamos muitas atitudes aqui. SA – As manifestações que têm acontecido em Luanda despertou-vos para a vigilância?

RFPA – Não, vocês é que estão a valorizar demais esta questão. A nossa Constituição permite que os cidadãos se manifestem. Mas há uma regra basilar em democracia: os seus direitos terminam onde começam os meus. Você tem o direito de dizer o que sente e não o de me ofender. As pessoas podem manifestar-se livremente, aliás têm-no feito. Até já sei que há quem esteja a pagar para as pessoas se manifestarem. Mas isso vocês não relevam, porque não vos interessa. SA – Tem conhecimento da manifestação que houve recentemente em Luanda contra dois activistas cívico-políticos, nomeadamente Luaty Beirão (Mata Frakuzx) e David Mendes….

RFPA – Ah, já são activistas políticos? Puxa! Vocês são rápidos a criar adjectivos para as pessoas. Estão ao serviço de quem? Os activistas políticos têm sempre objectivos políticos. SA – Uma coisa é ser político outra é ser político partidário.

RFPA – Ah, está bem. Procure você próprio a diferença. Força! (risos) SA – Acredita mesmo que as manifestações que aconteceram foram pagas?

RFPA – É fácil fazer uma manifestação quando se paga quem está carente. Sempre pensei que estas manifestações eram espontâneas. Pelo menos alguns tiveram a coragem de trazer isso a público. SA – Mas acredita que houve remuneração?

RFPA – Ah, eu não sei! Não fui eu que me manifestei à frente das casas daqueles que prometeram pagar. Eu não estava lá. Pode crer que não estava lá. Sou acusado de estar em muitos sítios, mas nesta manifestação eu não estava lá de certeza. Felizmente ninguém apareceu a dizer que aqueles jovens tinham sido mandados pelo MPLA. Graças a Deus houve aqui um milagre. Porque pensei que quem se tinha ido lá manifestar, a reclamara dinheiro, tinha sido mandados pelo MPLA. Ninguém falou de nós. Não se apercebeu?! Estranhei que não tivessem falado de nós. Afinal era só uma maka entre eles. Nós fazemos democracia séria e não entramos em jogos baixos e sujos, sem qualidade. Fazemos democracia séria.

Sobre a questão de Cabinda

«A posição é a mesma» vai continuar a ser a mesma. Mesmo aqui (em Luanda). Você pensa que não há, no mundo, quem não esteja preocupado com a qualidade de vida que estamos a registar? Você acredita nisso? Eu não! Há quem não nos queira ver, de facto, em paz e a melhorar a qualidade de vida das pessoas.

SA – Já imaginou o «caso Cabinda» resvalar para uma situação similar?

RFPA – Sabe que nós vivemos permanentemente esta pressão. O que lhe estou a dizer, com todas as letras, dá para fazer todo o tipo de extrapolação, faça-as! Se você fala do nível de Desenvolvimento Humano, independentemente da gestão política, não sei se existia algum povo africano com mais qualidade de vida do que o povo líbio. E veja o que estão a fazer na Líbia. É hora dos africanos unirem-se de facto e começarem a pensar. A continuarmos assim, vamos perder a independência dos nossos países. Pode crer! SA – A posição do MPLA relativamente a Cabinda evoluiu ou continua a ser a mesma?

RFPA – Continua a ser a mesma. O MPLA sempre teve Cabinda como território angolano. Fazemos a gestão necessária. Continuamos a envidar esforços para melhorar a qualidade de vida das pessoas naquela região e vamos conti-

SA – Estas pessoas estão identificadas?

RFPA – Conhecemo-las há muitos anos. Muitas delas convivem connosco todos os dias. Agora, em estratégia, há dados que não se revelam. nuar. Agora, não cedemos nos nossos princípios. SA – Há interesses estrangeiros….

RFPA – Sempre houve. Não é novidade. E vai continuar a haver. Ninguém faz uma guerra de guerrilha senão tiver apoio externo. Portanto, não faça este tipo de perguntas que a resposta

SA – Como é que o MPLA lida com a questão da «União de Tendências»?

RFPA – Não temos conhecimento deste grupo e não tem nada a ver com as estruturas do MPLA. Não tem vínculos com o MPLA. Quando houve eleições, vimos os vínculos que têm, não é connosco.

«Ainda não foi criado o cenário para a sucessão do Presidente» SA – Uma questão incontornável. O líder do seu partido, caso este ganhe as eleições, vai ou não terminar o mandato como Presidente da República?

RFPA – Há gente fora do MPLA a querer decidir por nós (risos). É uma questão que ainda não discutimos. Acredito que vamos começar a discuti-la no quadro das eleições, aliás está no nosso programa. Será a partir da discussão interna, a nível da direcção superior do partido, que vamos delinear o rumo a seguir. Mas ainda não há a cenários. SA – Mas o MPLA está preparado para indicar um nome para a sucessão, no caso de...?

RFPA – Se essa for a decisão, em primeiro lugar, da Direcção superior do partido, e, em segundo lugar, da pessoa do engenheiro José Eduardo dos Santos, enquanto cidadão, compete-lhe a ele dizer ao partido se está ou não disponível para continuar a exercer as suas funções. Estando disponível, competirá à Direcção criar o cenário envolvente no sentido de o tornar candidato e submete-lo às estruturas competentes do partido para decisão. Este é o rumo a seguir. SA – Como é que estão a «cozinhar» a vossa estratégia eleitoral?

RFPA – Ainda estamos na fase de adquirir os «ingredientes». SA – Os «ingredientes» são Bento Kangamba, Riquinho e outras figuras do género como cabos eleitorais?

RFPA – Alguma vez tivemos dificuldade em arranjar «cabos eleitorais»? Sejam quais forem...


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Sábado, 18 de Junho de 2011.

Rui Falcão é o que melhor está posicionado no MPLA no momento

A ascensão e queda dos Pinto de Andrade É uma das famílias que esteve na fundação do MPLA. Já tivemos um familiar que foi presidente do partido, outro que foi presidente honorário. Mas não ocupo esta função por ser Pinto de Andrade. A vida é assim mesmo. Os meus camaradas reconheceram em mim qualidades como militante, com uma trajectória de quase 40 anos

SA – Atendendo à saga dos Pinto de Andrade no MPLA, você neste momento é o Pinto de Andrade mais bem sucedido no partido no poder.

RFPA– Isto não tem a ver com o nome. Tem a ver com a militância. SA – Mas a família Pinto de Andrade tem tradição no MPLA?

RFPA – É uma das famílias que esteve na fundação do MPLA. Já tivemos um familiar que foi presidente do partido, outro que foi presidente honorário. Mas não ocupo esta função por ser Pinto de Andrade. A vida é assim mesmo. Os meus camaradas reconheceram em mim qualidades como militante, com uma trajectória de quase 40 anos. Mas estou a dar o melhor que posso e sei. E estou onde estou por ser um militante com alguma capacidade de intervenção pública. A minha família tem outras qualidades que não tenho. SA – Recorrendo a Historia, podemos falar da ascensão e queda dos Pinto de Andrade no MPLA?

RFPA – Sem problemas nenhuns. Não

temos que ter tabus em relação a nada. No MPLA, as pessoas ascendem e descem a cada etapa e em função do seu empenho individual e posicionamento. Não sou o único Pinto de Andrade no Comité Central do MPLA. Tenho outros parentes neste órgão, outros no Parlamento. SA – Sente-se um bom escuteiro ao serviço do MPLA?

RFPA - Não misturo as águas. Os meus irmãos escutas consideraram-me um bom dirigente. Por isso mantiveram-me como seu líder durante 20 anos. Quando estou fardado como escuteiro, sou escuteiro. Estou na base do surgimento do escutismo em Angola e tenho orgulho nisso. Faço parte da Direcção do MPLA. Sou militante do MPLA desde o dia 4 de Fevereiro de 1975 e nunca tive apetência para o exercício de cargos de Direcção. Na JMPLA, onde poderia ter ascendido rapidamente, sempre optei por estar nas organizações de base. Sirvo o MPLA em qualquer circunstância. E também sou professor e, como tal, dou o melhor que posso fazer.

Bilhete de Identidade

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ui Falcão Pinto de Andrade nasceu, orgulhosamente, como diz, em Moçamedes (hoje Namibe), no dia 2 de Dezembro de1960. Aderiu ao MPLA em 1975, tendo o engenheiro José Eduardo dos Santos, actual líder do partido, como seu ídolo. Licenciado em Psicologia, Rui Falcão é professor universitário, função que divide com a sua ocupação no MPLA, no qual tem o cargo de secretário para a Informação do seu Bureau Político, como quem diz, é o porta-voz do partido. Sobre a sua infância e adolescência, diz o seguinte: «O meu pai por razões políticas foi desterrado. Felizmente não o puseram no campo de São Nicolau, mas o colocaram temporariamente com residência fixa no Namibe e por esse facto eu nasci lá. Sou o único que nasci lá, a minha família é basicamente do Kwanza Norte, do Gulungo Alto, propriamente dito, e de Luanda. Eu nasci lá longe no Namibe. Fiz lá o meu ensino primário e secundário, na escola Portugal N.º 55 e depois na escola Barão de Moçamedes. Vim para Luanda e estudei na escola Óscar Ribas, fui para o Liceu Paulo Dias de Novais que depois se transformou em Ngola Kiluage, já lá eu não estava. Depois fiz o curso médio de educação física, e mais tarde licenciei-me em Psicologia e por aí vamos». Tem como equipa de eleição o Petro de Luanda. O aeromodelismo é o seu passatempo favorito. Gosta de semba e «rega» o funge de sábado com Coca-cola, por não gostar do sabor do álcool. Casado, tem um filho já trintão.


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Capa Alcides Sakala em entrevista directa a centenas de jovens no Facebook

O problema já não é entre a UNITA e o MPLA mas entre o Presidente e o Povo de Angola

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ode ser que, «de tanto apanhar», saiu à luta. Ou que tenha aberto um novo campo na sua estratégia de luta política rumo às próximas eleições. Ou ainda que, atenta aos sinais dos tempos e aproveitando o remoinho que atravessa o planeta de lés a lés com a «coisa» das redes sociais, decidiu criar um verdadeiro – esse sim – facto político. Seja pelo que for, ao conceder uma entrevista de oito horas (cinco horas no domingo e três na segunda-feira) directamente a centenas, senão milhares, de jovens na diáspora e não só, Alcides Sakala, o portavoz UNITA, terá protagonizado em política o que em jornalismo chamar-se-ia um «furo». Uma «cacha». Um exclusivo. Enfim. A entrevista – que já entra para a História da Comunicação Social angolana como a primeira do género – foi organizada por uma jovem angolana residente na Holanda, chamada Vanessa Mayomona. Natural do Zaire, terse-á mudado para a diáspora na companhia da família. Inspirada certamente pelo que viu Barack Obama e Lula da Silva fazerem, lembrou-se de convidar Alcides Sakala para o que ela própria chamou «uma grande mesa redonda virtual». Mesa redonda que foi um estrondoso sucesso. Jovens dos 18 aos 80 anos ficaram horas e horas literalmente colados aos computadores, seguindo uma interacção a todos os títulos interessantíssima. Pela primeira vez, depois das eleições de 2008, a UNITA, pela voz de Alcides Sakala, falou do seu projecto de Nação. Como pensa a Angola do futuro. Abordou sem tergiversar assuntos até agora tabus, como as purgas na Jamba. Também não titubeou quando foi chamado a dizer da sua verdade em relação à polémica questão de Cabinda. E de «esquebra» – vá-se lá saber porquê – separa José Eduardo dos Santos do MPLA e faz dele o alvo principal da sua crítica política, ao dizer que o problema não é mais entre o MPLA e a UNITA (?!), mas sim entre o Chefe do Executivo e o Povo Angolano. Por um discurso que lembra o pendor programáti-

co de Abel Chivukuvuku – e talvez por isso mesmo – o humilde e discreto Alcides Sakala de repente se vê na grelha dos possíveis substitutos de Isaías Samakuva. Devido ao alto grau de interesse de que esta entrevista se reveste, o SA retoma-a com a devida vénia e agradecimentos à Vanessa Mayomona e à Mila Malavoloneke, que nos forneceram as partes mais «suculentas» nela constantes. Fazemos ligeiros toques para corrigir as gralhas naturais nesse tipo de entrevista, em que os textos são digitados na hora. Vamos, pois à Ermelinda Freitas - Dr. Alcides Sakala, o que pensa deste descontrolo do governo, a começar na corrupção, na Polícia sem instrução nenhuma, nem educação, nos funcionários públicos que não tem educação para falar com o povo... e muito mais? Alcides Sakala - Como disse ontem, esta postura, que não é deliberada, depende da natureza do próprio regime, profundamente insensível aos problemas sociais das camadas mais desfavorecidas do nosso país. Existe, de facto, uma relação difícil, do ponto de vista ético, no quadro das relações humanas, entre governados e governantes. Em vez de servirem o povo, muitos governantes

servem-se a si próprios, têm, de facto, Angola nos bolsos e não no «coração». Esta insensibilidade no tratamento com a população em geral, verifica-se no dia-adia, particularmente em locais de atendimento público, como nos hospitais, onde cidadãos sem recurso ficam submetidos a situações humilhantes, como aconteceu há tempos atrás com o caso Mingota, para citar apenas este. Nelito Yambi - Dr., acusação feita ao executivo da UNITA, sobre uns fundos, é verídica? É que, por sinal, esta acusação foi feita por alguém que esteve dentro do partido. Que se lhe oferece dizer a esta questão? Alcides Sakala - Não tem fundamento. A UNITA continua a gerir os seus parcos recursos com muito rigor, sempre escassos para responder aos desafios que enfrenta no seu dia-a-dia. A UNITA continua aberta a qualquer auditoria credível para auditar as suas contas, como também tem apresentado regularmente os seus relatórios financeiros à Assembleia Nacional, ao Comité Permanente e à Comissão Política. Se assim não fosse, teríamos muitas dificuldades. Artur Kalupe Paulo - Dr Sakala, caso a UNITA ganhe as elei-

ções de 2012, tem este partido quadros suficientes para formar o Governo? Grato pela iniciativa e oportunidade que me foi dada em participar. Alcides Sakala - Para além dos seus próprios quadros espalhados pelo país, a UNITA vai trabalhar com todos os angolanos já inseridos nas estruturas e instituições do Estado, assim como contar com os angolanos no exterior, que quiserem dar a sua contribuição. Faremos o contrário da prática do actual Executivo de se trabalhar apenas com quadros do partido actualmente no poder, excluindo outros que não sejam militantes dessa formação política. Vamos ter de evoluir para a profissionalização das carreiras públicas, integrando todos os angolanos no sistema de emprego, particularmente público, independente da cor partidária de cada um. Todos juntos faremos melhor para responder aos desafios da governação. Augusto Maquembo C. Gunza - Dr. Alcides, boa noite! A UNITA, volta e meia, afirma que há falta de transparência na gestão do país por parte do Executivo! Quais são os sinais de transparência que imprimem carácter à UNITA e, ao mesmo tempo,

visíveis para os angolanos e convincentes, para o povo pensar que um governo da UNITA seria diferente ao do MPLA? Ou o povo iria apenas pela fé, acreditar sem ver nada, num mundo cada vez mais prático? Alcides Sakala - Terá de se forçar a política de auditorias às contas públicas, por exemplo, por órgãos competentes, credíveis e apartidários. Haverá a necessidade de se reforçar o papel fiscalizador da Assembleia Nacional, suspenso até ao momento por ordem do seu Presidente (Paulo Kassoma), o que mereceu vários protestos, não só da sociedade civil, como também dos partidos políticos. Um dos papéis essenciais de um deputado é a fiscalização, suspensa por ordem da Direcção da Assembleia Nacional. Nelito Yambi - Alguns historiadores alegam que o Dr. Savimbi criou a UNITA depois da sua tentativa de assumir a presidência do GRAE. Será verdade? Alcides Sakala - Não corresponde à verdade. O Dr. Savimbi era, nessa altura, Secretário dos Negócios Estrangeiros do GRAE, quando deixou a organização, discordando com os seus métodos de luta. Defendia na altura, e como o fez até a sua morte em combate, que a Direcção dos Movimentos de Libertação Nacional não deviam ficar confortavelmente instaladas no estrangeiro, mas sim no interior do país, lutando lado a lado com o povo. Mila Malavoloneke - Boa noite Dr.Sakala. Primeiramente, saúdo-lhe por ter aceitado este convite com prontidão. A minha primeira pergunta tem a ver com um artigo que li há dias do Dr. Celso Malavoloneke, jornalista do Semanário Angolense, que citava algo dito aqui no Facebook. Tinha a ver com o facto de em Angola não haver um partido de oposição, o que tem resultado em jovens como o brigadeiro Mata Frakuzx, dentre outros (frustrados), a agir como se fossem eles a oposição. O Dr. Celso disse que em uma das entrevistas do Presidente do partido, Sr. Samakuva, ele afirmava que pretendem terminar com a maior parte dos problemas sociais que nos cercam,


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mas não dizia como. Dr. Sakala, o que tem a argumentar sobre isso? Quais são os planos que o seu partido tem para terminar com a pobreza, falta de energia eléctrica e saneamento básico na maior parte da população? E o que o senhor tem a dizer sobre a pergunta: Cadê a oposição? Alcides Sakala - Não sei qual é o conceito que o Dr. Celso Malavoloneke tem de partido da oposição. Seja como for, os verdadeiros partidos têm estratégias próprias para atingir objectivos políticos, sendo, para a UNITA, a vitória nas próximas eleições. Fazer lembrar que a UNITA é uma força política com presença nacional, nas aldeias, comunas, municípios e em todas as capitais provinciais. Ocupa espaço e tem presença nessas localidades com símbolos e estruturas, que o sistema procura destruir, nessa disputa de espaço político. Temos uma plataforma eleitoral que será apresentada quando for oportuno, que dá a visão da UNITA, enquanto partido alternativo. Iniciamos em Fevereiro deste ano, na localidade do Bailundo, novas formas de luta consagradas constitucionalmente, como a protagonizada pelo Deputado Numa, quebrando a partir daí o medo no seio de milhares de jovens que se têm manifestado em Luanda. O problema hoje já não entre a UNITA e o MPLA, como foi no passado, mas entre o Chefe do Executivo e o Povo de Angola. Rafael Marques Morais - Caro Sakala, em função da sua resposta, tenho mais duas questões a colocar. Para quando um esclarecimento final sobre as circunstâncias ou eventuais formas de justiça aplicadas nas mortes de Ornelas Sangumba, Chindondo, Tito Chingunji... Alcides Sakala - Grato pela sua questão. Levanta uma questão, recorrente, e eminentemente política, fruto de convulsões internas, com profundos contornos ideológicos que ocorreram num contexto de guerra. Temos é a lamentar as mortes e as feridas que se abriram com a forma de justiça aplicada na época. Precisar-se-á de muito tempo para sarar as feridas abertas com este drama humano. É uma questão que a própria história se encarregará de julgar um dia. Alguns livros vão sendo já publicados e que levantam o véu sobre estas tristes ocorrências. Ana Silva – Ontem, quando lhe foi questionado sobre se era possível a entrada de um não Ovimbundu na liderança da UNITA, afirmou ser possível e deixou algo no ar: «alguns partidos não o fariam». A que partido se estava a referir? Alcides Sakala – Ana, grato pela sua reflexão, que me faz lembrar a forma como o Dr. Marcolino Moco, então primeiro-ministro, foi tratado pelo movimento espontâneo do Partido-Estado. São questões importantes, comuns em África, infelizmente, que devemos ultrapassar. Erika, a Poderosa - Agradeço a oportunidade e começo por cumprimentar o Dr. Alcides Sakala pela grande oportunidade. A minha questão é esta: as eleições estão a caminho e eu já não vejo porque razão votaria no MPLA, mas também não me revejo em nenhum partido na oposição. Então pergunto ao Dr. Sakala: em que partido me aconselha a votar e porque? Obrigada. Alcides Sakala - Naturalmente, no nosso partido, enquanto força política para a mudança. Aconselho-a a ler o nosso projecto de sociedade, na base do qual vamos governar o nosso país.

Entrevista organizada por Vanessa Mayomona. Compilação de Celso Malavoloneke

As manifestações são bem-vindas… …Mas, a grande manifestação terá de ser a adesão no acto da votação para a mudança… e foi a UNITA quem iniciou as manifestações!

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enata Massoxi - Boa-noite Dr. Sakala. Gostaria de saber porque é que a UNITA permanece um partido muito fechado do povo? Exemplo: só reclama quando um militante seu é injustiçado. Q uando é que vão por exemplo realizar uma manifestação contra a falta de água e luz que a todos nós afecta, em vez de só se preocuparem convosco mesmo? Obrigada. Alcides Sakala - Não somos um partido fechado. Somos um partido aberto à sociedade. Temos um projecto de sociedade que defende profundas mudanças sociais para Angola, em que o problema da falta de água e de energia, por exemplo, são prioridades. Somos, assim, um partido aberto à sociedade, que durante muito tempo foi vítima da diabolização do Partido-Estado. Assim, as manifestações são importantes, porque constitucionalmente consagradas, como as de este ano que ocorreram em Fevereiro no Bailundo em que participou com uma greve de fome o Deputado Numa, em sinal de protesto às violações aos Direitos Humanos. Logo, todas as manifestações para se reivindicar direitos são bem-vindas, que a UNITA encoraja, mas a grande manifestação terá de ser a adesão dos milhões no acto da votação para a mudança. Délcio Bettencourt Mateus - Dr. Alcides Sakala, no primeiro round, respondendo a uma pergunta da Vanessa sobre a sua posição ou a posição da UNITA em relação às recentes manifestações, disse: encorajamos os jovens a manifestarem-se pelos seus direitos, para fazerem ouvir a sua voz. Entretanto, um dia antes da manifestação do 7 de Março, o Presidente da Unita, Isaías Samakuva, referindo-se à mesma, disse em Portugal: «...é esta manifestação que, na nossa maneira de ver, é uma armadilha ou um teste que o regime está a realizar». E disse mais: «Portanto, quando digo que não acredito que se irá realizar essa manifestação, não é só porque a sua convocatória não está representada por ninguém, mas também porque o regime não está preparado para deixar este tipo de coisas acontecer. O regime não está suficientemente democratizado para permitir tais actividades». Todavia a manifestação aconteceu, a despeito da incredibilidade e desencorajamento de Samakuva. Qual a posição da UNITA, afinal?

Alcides Sakala - Nunca houve desencorajamento porque as manifestações estão constitucionalmente consagradas. O que temos defendido é que manifestações que se realizam tenham um rosto para serem credíveis, e com objectivos bem definidos. Não foi o caso da manifestação de 7 de Março, contrariamente às outras que se seguiram, já com propósitos e objectivos claros. Ironicamente, foi nesta altura, à volta do dia 7 de Março, como bem se lembrará, que o regime lançou uma forte campanha de diabolização contra a UNITA, acusando-a de ter encomendado armas, que se encontravam detidas no porto do Lobito, num barco que as transportava para o Quénia. Muitos angolanos nessa altura quiseram deixar o país, pensando que a guerra iria novamente começar. Assim, que se façam manifestações, mas que tenham rosto. Fernando Tomás - Boa noite, Dr. Alcides Sakala. O que me traz por cá, além de si (um cavalheiro, e eu sou do Andulo, por isso sei porque o digo), é saber se, além da nota de protesto a nível institucional, da UNITA (a qual representa) acerca da perseguição, espancamento e tentativa de invasão ao domicílio perpetuado por pessoas manobradas por afectos ao regime (MPLA) ao jovem músico Luaty Beirão e aos organizadores da manifestação do dia 25 (dia de África), houve da sua parte ou da UNITA um empenhamento a nível pessoal, do tipo visitar os agredidos, deixar-se fotografar com eles, e assim mostrar que ao tocarem neles, tocavam em vocês e na UNITA? Ou por último, pergunto eu: a UNITA preferiu não sacrificar a sua imagem

de partido de Estado em sacrifício de um maior envolvimento na protecção desses jovens? Da parte do Bloco Democrático, houve esse empenhamento e da UNITA qual foi além do institucional? Alcides Sakala - Caro Fernando Tomás, temos tido o cuidado de gerir este processo com sentido de história; por isso, insistimos no encorajamento de se realizarem manifestações, mas com rosto. De facto, hoje o problema foi deslocado. Já não é entre a UNITA e o MPLA, como foi no passado, mas entre o Chefe do Executivo e a sociedade global, que clama por mudanças. José Vieira ‎- Boa noite Dr. Alcides e todos os presentes! A questão que lhe coloco tem a ver com a diabolização que o governo utilizou para com a UNITA, acusando-a de querer dar início a uma nova guerra. Como isso não «colou» na inteligência dos angolanos, não é motivo mais do que suficiente para a UNITA agora fazer-se representar por alguns dos seus dirigentes e deputados nas manifestações de índole civil, dando a cara em apoio a causas que a todos dizem respeito? É que se fica com a impressão de que na UNITA o único que dá a cara é o General Numa e mais ninguém aparece na contestação ao regime! Alcides Sakala - Foi de facto a UNITA que iniciou na Bailundo com as manifestações que se alastraram para o resto do país. Vamos dar, assim, tempo ao tempo. O é importante é que as manifestações que se realizam tenham rosto e com objectivos claros, como foi esta última realizada «contra a pobreza».


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Só se fala de Agostinho Neto e não de Savimbi e H. Roberto S

tella Constantina - Boa noite Dr. Alcides Sakala. Aa minha primeira pergunta é a seguinte: tendo em conta que 4 anos de mandato é muito pouco tempo para se resolver todos os problemas que assolam o nosso país, se a Unita vencer as eleições de 2012, quais serão as suas três prioridades? Alcides Sakala - Boa questão Stella. O partido irá, naturalmente, aprofundar esta matéria, mas podemos eleger, como primeira tentativa de abordagem, a área social como um dos pilares mais importantes da governação. Seguir-se-ia o processo de democratização, com vista ao seu aprofundamento, na perspectiva da separação de poderes, realçando a reconciliação nacional, a reinserção social dos ex-militares e de suas famílias. Por outras palavras, a construção da Nação angolana, inclusiva, multiétnica, multirracial e multicultural. Por último, eleger a necessidade de se criarem fortes instituições do Estado, instituições despartidarizadas. Mais do que homens fortes, Angola e a África precisam de instituições

fortes para se criar a estabilidade. Os governos passam, mas os Estados ficam. Mila Malavoloneque - Dr. Alcides, mais uma vez boa noite. Tal como a maior parte dos jovens aqui presentes, sou de uma geração que não viveu directamente a história da guerra civil no nosso país. A guerra cessou há quase uma década e ainda assim a mi-

nha geração pouco sabe sobre a verdadeira história por detrás dela. Por isso, somos muitas vezes obrigados a recorrer aos arquivos da «imprensa internacional». Será que o Dr. pode dizer quando teremos livros oficiais a relatar o assunto? Será que, tal como a história do apartheid que hoje é discutida abertamente em escolas sul-africanas a história da guer-

ra civil em Angola também será abordada nas nossas escolas do ponto de vista dos principais partidos envolvidos? O que a UNITA tem feito acerca disso? Alcides Sakala - Mila, grato pela sua pergunta. Penso que os sul-africanos foram abençoados por terem nesta fase da sua transição Nelson Mandela, um líder visionário e patrio-

ta, que foi capaz de imprimir profundas mudanças com vista à reconciliação nacional entre negros, brancos e mestiços. Mudou os símbolos e criou a nação «Rainbow» (Arco-Íris). O nosso problema em Angola é que ainda se olha para um certo segmento da sociedade como inimigos e não como cidadãos. Enquanto as elites dominantes não forem capazes de ultrapassar este dilema, teremos o nosso país a caminhar para a consolidação de um sistema permanente de subversão dos valores da democracia. Assim se poder entender em relação aos símbolos nacionais; a história que ainda se ensina nas escolas, que só fala de Ngangula e não dos outros; só fala de Agostinho Neto, e não de Jonas Savimbi e Holdem Roberto. Enquanto não se interiorizar a necessidade de uma conivência sã, continuaremos a ter livros oficiais apenas com a história do partido no poder, a ser ensinada nas escolas, incluindo o hino nacional, que evoca apenas os heróis de 4 de Fevereiro. E os outros, onde ficam?

«Esquindiva» na questão Chivukuvuku

Todos os que quiserem concorrer terão as mesmas oportunidades

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linda Flor do Bíe - Agradeço a oportunidade que já me foi dada porque esperava há séculos por esse momento. A minha questão ao Dr. Sakala é a de muitos angolanos, e é a seguinte: acredito que a UNITA é um partido que acredita que para ganhar tem de ter o povo ao seu lado, e para ter o povo ao seu lado deve dar ao povo, sobretudo à juventude, aquilo que ela quer. E o que o povo, sobretudo a juventude, quer é ver o Chivukuvuku na liderança da UNITA e não o senhor Samakuva. Sabendo disso, a UNITA dará ao povo aquilo que o povo quer ou em vez disso preferirá agradar a si mesma com o senhor Samakuva? Obrigada! Alcides Sakala - Grato pela sua questão. Os estatutos da UNITA são claros e ela adoptou em 2003 o sistema de candidaturas múltiplas. Todos os que quiserem concorrer terão as mesmas oportunidades, como aconteceu nos últimos congressos. Logo, como entenderá, a última vontade cabe aos militantes do partido, delegados ao Congresso, sendo, no entanto, legítima a sua

preocupação. Pedro Pinto - Saudações a todos. Dr. Sakala, espero que me responda esta pergunta como cidadão e não como militante. Atendendo que o próximo ano teremos eleições no nosso país, se o Dr. tivesse o poder de decidir sobre quem seria o futuro presidente de Angola, a quem o senhor atribuiria este cargo? Quem o Dr. acha que tem perfil ideal e está em melhores condições de dirigir o nosso país? Alcides Sakala - Meu caro Pedro Pinto, posso lhe responder, se me permitir, sem ferir susceptibilidades, dizendo que não existirá certamente uma pessoa ideal. Mas na conjuntura actual, Angola tem a necessidade de ser dirigida por uma figura que se situe acima dos partidos políticos, com capacidade de reconciliar a sociedade angolana, trabalhar para uma real democratização do país, sem apetência de longevidade no poder, visionário, capaz de implementar políticas de desenvolvimento e de estabilização social. Alguém que inspire confiança pelo seu exemplo.


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Sobre José Eduardo dos Santos Podia ter feito melhor neste período do pósguerra, mas não conseguiu situar-se acima do seu próprio partido e apresentar-se como Presidente de todos os Angolanos

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edella Chilombo - Boa noite Dr. Sakala. A minha questão é a que se segue. Qual a sua opinião em relação ao presidente José Eduardo dos Santos e o que acha do seu estilo de governação? Alcides Sakala – Chilombo, grato pela sua pergunta. Podia ter feito melhor neste período do pós-guerra, mas não conseguiu situar-se acima do seu próprio partido e apresentar-se como Presidente de todos os angolanos. A nova Constituição é reflexo desta sua vontade política. Tem um estilo próprio de governação que lhe caracteriza. Contudo, o balanço da sua longa governação está muito aquém do desejável em matéria de respeito pelos direitos humanos e boa governação. Angola continua a ser citada em relatórios internacionais como um dos países mais corruptos do mundo, que se confronta com sérios problemas sociais, subalternizando os desafios de desenvolvimento humano. Não tem sido capaz de combater a pobreza, partindo do pressuposto de que a pobreza é um problema herdado do colonialismo, tal como se pronunciou muito recentemente. Logo, as políticas do actual Executivo estão na origem do aprofundamento do fosso entre ricos e pobres, que são a maioria. Ao ritmo da actual governação, Angola não será capaz de responder positivamente aos desafios da Agenda do Milénio das Nações Unidas.

A CNE é dominada pelo MPLA C orreia Sassonde - Boa noite Sr. Dr. Alcides Sakala. Referiu-se à necessidade de uma CNE independente, sendo fundamental para a justiça eleitoral e processo de aprofundamento da democracia. Considera a actual CNE dependente? De quem? Qual é o papel dos comissários da UNITA na actual CNE? Alcides Sakala - Caro Sassonde, naturalmente, do Executivo. A maioria dos membros deste órgão é do partido no poder e vimos em 2008 qual foi o papel que ela exerceu. Ficou praticamente subordinada ao poder executivo. Há que se alterar este quadro politico-jurídico, e conformá-lo à nova Constituição, para que seja de facto um órgão independente, com capacidade de tomar decisões políticas e administravas. Correia Sassonde - Sr. Alcides Sakala, que perspectiva tem sobre a intervenção da Comissão Nacional Eleitoral (CNE), no próximo pleito eleitoral de 2012? Alcides Sakala - Esta questão é muito importante. É fundamental para a justiça eleitoral e processo de aprofundamento da democracia. Só uma comissão nacional eleitoral independente garante um processo equidistante e transparente de organização administrativa e política do processo e dos actos eleitorais. Doravante as eleições serão regulares, mesmo sem eleições presidenciais directas, anuladas por vontade do Chefe do Executivo. Teremos eleições legislativas e autárquicas, numa base regular. Por outro lado, também existem as recomendações da missão de observação da União Europeia às eleições de 2008, que devem ser incorporadas no pacote legislativo eleitoral que vai agora à discussão na Assembleia Nacional.

Cabinda é Angola! «Defendemos, em primeiro lugar, o fim das hostilidades, para se dar lugar a seguir a negociações directas entre representantes do povo de Cabinda e do Governo angolano»

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artolomeu Capita - Dr. Sakala, o MPLA já mostrou que enquanto Angola manter o seu poder colonial sobre Cabinda, a democracia e o desenvolvimento integral em Angola e nos dois Congos jamais serão realidades. Porém, a UNITA defende para Cabinda uma autonomia como a dos Açores com Portugal. Posso saber se UNITA iria combater os cabindas caso esses rejeitem a oferta (autonomia) da UNITA? Alcides Sakala – Nunca faríamos isso. Temos um sentido profundo da história e Cabinda tem particularidades. Temos, assim, sido consequentes com as posições que temos assumido ao longo dos anos em relação à Cabinda. Defendemos, em primeiro lugar, o fim das hostilidades, para se dar a seguir lugar a negociações directas entre represen-

tantes do Povo de Cabinda e do Governo angolano. Defendemos para Cabinda uma autonomia ampla. Afinal, Cabinda não é só o petróleo; é um espaço onde existe uma população que pugna pela liberdade e justiça social. Por conseguinte, enquanto Cabinda estiver em guerra, Angola não está em paz. Bartolomeu Capita - Dr. Sakala, sabemos hoje que antes de ser assassinado, o Presidente Marien Ngouabi do CongoBrazzaville, foi vítima de fortes pressões exercidas por potências europeias que queriam que o Congo anexasse Cabinda. A minha questão é de saber se a UNITA nunca conheceu pressões no sentido de jamais permitir a desvinculação de Cabinda, caso ganhe as eleições; e, se existem, pergunto se a UNITA não pensa denunciá-las à Administração Obama?

Alcides Sakala - Sempre considerámos Cabinda como sendo parte do território angolano, que tem especificidades próprias decorrentes da sua história e localização geográfica. Infelizmente, o continente africano herdou fronteiras impostas pelas potenciais coloniais, o quem dificultado a construção dos estados e nações africanas. Por isso, defendemos para Cabinda uma autonomia ampla que permita às populações da região usufruírem das suas riquezas. De facto, é conhecido por todos os apetites dos Estados vizinhos em relação à Cabinda. Mas, Cabinda é parte integrante do território angolano. É neste contexto que tem de ser aproximado o problema. Logo, qualquer pressão que eventualmente venha a existir, será um atentado à nossa soberania e independência nacional.


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Opinião

Sotaques e Identidade P

ara os aficionados angolanos da Internet, a grande história da semana foi a entrevista da jovem académica Vanessa Mayomona com o Secretário dos Negócios Estrangeiros da Unita, Alcides Sakala. Há, nisto tudo, uma outra estrela angolana que surgiu: o Al Felix, que é um angolano que vive no Brasil há muitos anos. Ele faz comentários em vídeo que são publicados no Facebook. Na última semana, depois de vários vídeos, o Al Félix foi severamente criticado, não pelo conteúdo das suas intervenções, mas pelo seu sotaque. Muita gente não se sentia confortável pelo facto deste angolano ter um sotaque abrasileirado. Muitos acusaram-lhe de pretender ser um daqueles pastores angolanos que, ao integrarem uma seita com origem brasileira, mudam logo o seu sotaque. O Al Félix passou a defender o seu sotaque dizendo que vive no Brasil há dezasseis anos. Os críticos não estão nada convencidos; para eles, o angolano que adopta um sotaque brasileiro é quase um falsificador. Será que o Al Félix seria assim tão criticado se tivesse um sotaque português? Acho que não. Isto é porque, para muitos angolanos, o sotaque português é algo que se adquire com esforço – e uma certa formação. A um certo nível, o domínio da Língua Portuguesa, incluindo uma pronúncia altamente requintada e refinada, representa, para certos angolanos, uma certa vingança contra o colono, numa lógica de que se eles colonizaram a nossa terra, agora vamos colonizar a língua deles. Mas este «diálogo» só pode ser mesmo travado com Portugueses. Há alguns atrás, havia uma anedota que fazia os mwangolé rirem bastante. Era assim: um angolano aterra no aeroporto de Lisboa e mostra o seu passaporte ao oficial da imigração. O oficial vai à página da foto e vira-se para o angolano dizendo: «Isto é bocê?». O angolano abana a cabeça, ri-se, e diz: «Não, é você!». Para certos angolanos, descobrir os vários «portugueses» falados em Portugal passa a ser algo com muito significado. Eles dizem a si próprio s que afinal dominam a melhor versão – a mais polida - da Língua Portuguesa. E isto, como já disse, resulta de um esforço académico tremendo. Conheci um angolano que, em Lisboa, sempre entrava em makas com portugueses porque não resistia a corrigir o seu Português. Na Vila Nova de Gaia, no Porto, ele chegou mesmo a trocar socos com alguém, depois de um «acalorado debate» sobre a Língua Portuguesa. Diz-se que este angolano mandava cartas para a Edith Estrela, uma personagem

política que também tinha um programa sobre a Língua Portuguesa, para reclamar do estado deveras lamentável em que se encontrava o Português falado em Portugal. Este angolano não podia com as expressões inglesas e até angolanas (bwé, fixe, camba, cota, etc.) que, na sua opinião, estavam a diluir a pureza da língua de Camões. Para muitos angolanos, o «sotaque de autoridade» ainda é o sotaque português – ou o que eles imaginam ser um sotaque português. Diz-se que o famoso sotaque dos jornalistas da rádio e televisão angolana foi algo inventado, em parte, pelo falecido Francisco Simon. Os angolanos adoram e respeitam este sotaque português. Muitos angolanos já não têm o mesmo sentimento em relação ao sotaque brasileiro. Sim, há expressões brasileiras que são cada vez mais usados pelos angolanos – «bacana», «cadê», «bisneiro», etc, – porém, evita-se adoptar o sotaque completo. Alguém me disse que quando, em Angola, se vê um mwangolê a falar completamente à brasileira significa que passou muito tempo a ver televisão brasileira. Não só a ver, mas ingerindo, sem crítica, tudo que vê e ouve. Os angolanos ficam um pouco inquietos quando ouvem um seu compatriota a falar com um sotaque brasileiro porque se vê, nisso, o que alguns caracterizam como uma adulação muito servil da cultura brasileira. Da mesma forma que há angolanos que adoram a cultura popular brasileira, noto, sobretudo na classe dos intelectuais, uma certa reacção negativa contra ela. E isto está a manifestar-se muito através de uma certa

antipatia contra determinadas seitas religiosas brasileiras. Há certos angolanos, por exemplo, que não podem com o que eles vêem como uma guerra que certos evangelistas estão a travar contra o candomblé – algo que liga os afro-brasileiros às suas raízes africanas. Suspeita-se que um dia, angolanos completamente transformado em brasileiros, com sotaques e muito mais, virão à África para desfazerem, em nome do Cristianismo, certos aspectos da cultura Africana. Para esses angolanos, do Brasil não saem apenas obsessões com «bumbuns dourados»; saem, também, valores que ameaçam a própria identidade angolana. Certos analistas sugerem que a cultura e a identidade das pessoas têm que ser vistas como um icebergue: em cima estão as manifestações óbvias que identificam a pessoa – raça, língua, trajos, etc.; e em baixo há os valores das pessoas – como encaram a vida, as teias psicológicas que os ajudam a ter sentido do mundo. O que está em cima do icebergue, muitas vezes, serve como pista ao que está debaixo. Um angolano que fala com um sotaque português adquirido através de estudos (ter sido, por exemplo, seminarista) terá, também, de ser exposto a vários aspectos da cultura europeia. Quem domina Camões passa a saber um pouco sobre a Literatura clássica Ocidental. O mesmo já não se pode dizer do angolano com um sotaque brasileiro. Estamos aqui, claro, a tratar de um mundo de percepções que, em muitos casos, pouco tem a ver com a realidade. Porém, o que ocorre nas mentes das

pessoas é uma realidade. Os críticos do sotaque brasileiro do Al Félix insistem que ele fala como um pastor angolano de uma seita brasileira. Para certos angolanos essas seitas estão mesmo cheias de charlatães – indivíduos que dizem aos seus seguidores para darem dinheiro que, através das suas orações, será multiplicado. O sotaque brasileiro passou, então, para certos angolanos, a ser identificado com um certo sofisma. O humorista Pedro Nzagi tem uma cena cómica, que esta no Youtube, de um pastor desonesto e libidinoso. Claro que este pastor angolano fala com um sotaque brasileiro forte. Parece ser mais fácil mentir e ludibriar os angolanos, usando um sotaque brasileiro. No Youtube, há um clipe em quem um artista de música rap é entrevistado por um jornalista angolano e ele responde em Inglês. Bem, não num Inglês normal, mas num «ghetto talk» - ou calão dos negros. O artista insiste, no seu «street talk» que ele nasceu e cresceu em Angola. Porém, ele recusava responder às perguntas em Português, continuando a falar em «ebonics» – como é também conhecida a gíria dos afroamericanos. Os comentários por debaixo desta entrevista são mesmo iguais às críticas ao Al Félix. As pessoas não podem com ideia de que este mwangole se está apresentar como um autentico angolano, mas persiste em falar como um negro americano. O homem é insultado e chamado por todos os tipos de nomes. Quando se trata de questões de identidade, temos uma escolha. Podemos evidenciar certos traços que revelam a que classe pretendemos pertencer. Mas a sociedade também coloca-nos no devido lugar. Quando eu vivia na Inglaterra, havia o Trevor MacDonald, um negro vindo de Trinidad, que lia o noticiário e falava com sotaque muito requintado. Os cómicos adoravam imitar este negro que se expressava como um branco. Em privado, muita gente dizia que havia algo fingido com o Trevor MacDonald. Para complicar as coisas, sempre tive muito interesse num outro jornalista negro da BBC, Wesley Kerr. O distintivo nele era que falava o Inglês com um sotaque marcadamente das Caraíbas. Soube, depois, que o Wesley Kerr não só tinha nascido na Inglaterra, como tinha sido adoptado por uma família branca; ele sempre teve acesso a instituições de elite, incluindo a universidade de Cambridge. Temos aqui, então, um negro que teria toda razão em falar como um branco, mas que faz tudo para ter sotaque de negro. Estamos, sem dúvida, em territórios complicadíssimos nesta matéria.


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E dição A ngola

No Brasil, banco estatal parece ir na contra-mão do BC BLOOMBERG NEWS

PAULO PRADA The Wall Street Journal, do Rio Por trás da expansão econômica do Brasil há um banco estatal que mantém crédito para as empresas. Agora esse motor de crescimento está colidindo com outra necessidade: controlar a inflação. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social anunciou semana passada um empréstimo de R$ 2,7 bilhões à Eldorado Celulose e Papel, do grupo JBS, com juro abaixo das taxas de mercado. Dois dias depois, o Banco Central aumentou a taxa de juros pela quarta vez no ano, para 12,25%, a mais alta de qualquer grande economia. As medidas contrastantes ressaltam o papel de protagonista, cada vez mais controverso, do BNDES. Embora o sucesso econômico do Brasil nos últimos anos seja conhecido em todo o mundo, pouco se reconhece o quanto isso se deve a enormes financiamentos públicos. Para ter uma ideia da escala, os empréstimos concedidos pelo BNDES ano passado, só no Brasil, são o triplo do montante que o Banco Mundial emprestou para mais de cem países. O problema, dizem os que questionam a sensatez disso, é que, ao alimentar a demanda numa economia já em rápido crescimento, esse crédito todo acaba impulsionando a inflação e deixando o Banco Central sem alternativas que não a de impor juros estratosféricos — que oneram outros tomadores de empréstimos e valorizam a moeda, prejudicando as exportações. O real subiu quase 40% em relação ao dólar em dois anos. “O governo está tentando aquecer e resfriar a economia ao mesmo tempo”, disse Marcos Mendes, economista que assessora o Senado. “As autoridades monetárias têm poucas opções que não seja manter a rigidez enquanto o governo continua despejando dinheiro em veículos como o BNDES.” O debate sobre o papel do BNDES tem ficado mais intenso agora que o Brasil começa a ver alguns dados econômicos menos favoráveis. As

Luciano Coutinho: ‘Ou o BNDES financia ou [o crédito de longo prazo] não acontece

previsões de crescimento para 2011 foram cortadas para a faixa de 3,5% a 4%, cerca de metade do índice do ano passado. A expansão no primeiro trimestre foi de 4,2% sobre igual período de 2010. Embora o desemprego seja de modestos 6,4% e esteja em declínio, a inflação subiu substancialmente, para uma estimativa de 6,5%, mais de um ponto porcentual acima do ano passado. O mercado imobiliário está cheio de especuladores, provocando altas de dois dígitos nos preços em algumas cidades e alimentando temores de uma bolha. Alimentos básicos como arroz e feijão praticamente dobraram de preço em três anos. “As coisas ficaram melhores por um tempo, pois há mais trabalho para todos”, diz Rosângela Oliveira, de 47 anos, ex-operária em São Paulo atualmente afastada por invalidez. “Mas agora as coisas estão tão caras que os ganhos estão desaparecendo.” O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, defende a grande oferta

de crédito do banco, dizendo que ele só está preenchendo o vácuo deixado pelo setor privado. Por causa do histórico de volatilidade econômica do Brasil, diz ele, os bancos brasileiros tinham tradicionalmente pouca disposição em apostar no futuro concedendo crédito de longo prazo. “Ou o BNDES financia ou ele não acontece”, afirma. De qualquer modo, o financiamento estatal é para o governo mais que questão de estímulo econômico. Para o governo do Partido dos Trabalhadores, no poder há mais de oito anos, o crédito estatal é também um meio de atingir metas mais amplas, como a de projetar o crescente poderio econômico brasileiro no exterior. O banco quer fomentar grandes empresas brasileiras com ampla abrangência mundial. A ideia, inspirada, em parte, por um estudo de anos atrás e de que Coutinho foi um dos autores, é que o Brasil precisa de multinacionais conhecidas para concorrer com os

países ricos e gigantes emergentes como a China. “O Brasil tem, relativamente a outras economias em desenvolvimento, um número pequeno de empresas de porte global”, disse Coutinho ao Wall Street Journal. A maioria são “formiguinhas”, disse. Para corrigir isso, o banco financia grandes fusões e aquisições, ajudando as empresas brasileiras que provaram ter competência para abocanhar concorrentes. De 2007 a 2009, o BNDES emprestou mais de R$ 4,5 bilhões para um frigorífico que antes era de propriedade familiar, o JBS SA, para ajudálo a adquirir o controle de outras empresas de alimentos, como as americanas Swift & Co. e Pilgrim’s Pride Corp. A isso se somou o financiamento anunciado semana passada para a Eldorado Celulose. Com essas decisões, o banco é “a única instituição no Brasil em que a ideologia do governo é claramente visível”, diz um de seus ex-presidentes, Luiz Carlos Men-

donça de Barros. Lembrando como o regime militar usou o BNDES para promover a industrialização, ele acrescenta: “Na época, como agora, o objetivo era moldar o capitalismo brasileiro.” Os dirigentes do BNDES dizem que é errôneo culpar o crédito do banco pela alta da inflação e dos juros. Pelo contrário, argumentam, a inflação mostra como o crédito dele é necessário. A alta dos preços ao consumidor, dizem os dirigentes do banco, simplesmente prova que o país precisa de mais investimento — para garantir que a oferta futura de bens e serviços atenda à demanda. “A maneira de sustentar crescimento é expandir a oferta mais que a demanda”, diz João Carlos Ferraz, recentemente promovido a vicepresidente do BNDES. “Isso nos torna o parceiro mais estratégico e de longo prazo do banco central, porque ajudamos a evitar gargalos inflacionários.” O banco é a força financeira por trás de inúmeros projetos de infraestrutura e de outros tipos no Brasil. Suas iniciais são exibidas em canteiros de obras que vão de rodovias amazônicas ao centro do Rio. O banco já emprestou R$ 5,8 bilhões para empresas controladas pelo homem mais rico do Brasil, o bilionário Eike Batista, para projetos como dois portos. “Não há nenhum recanto da economia em que não tenha se envolvido”, diz João Roberto Lopes Pinto, um cientista político que mora no Rio e ajudou a convencer o banco a divulgar mais dados sobre seus empréstimos, que são tantos que até mesmo outras partes do governo às vezes reclamam que não conseguem entendê-los totalmente. O banco mostrou seu valor depois que a crise financeira secou o crédito mundial, em 2008. O banco abriu as torneiras. O resultado para o Brasil foi um 2009 meramente estagnado — e seguido por uma bela recuperação em 2010, graças, em parte, ao papel do Brasil como exportador de commodities à China. Os contribuintes bancam parte


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The Wall Street Journal dessa conta. Os brasileiros já pagam o FAT, o Fundo de Amparo ao Trabalhador, para financiar o banco. Para suplementar isso e o faturamento com a carteira de crédito, o governo injetou R$ 185 bilhões do Tesouro nos cofres do banco nos últimos dois anos. O Tesouro também banca a diferença entre os juros que o banco cobra — que podem ser de 6% — e as taxas de até 14% pelas quais o governo capta para o BNDES nos mercados mundiais. Essa diferença custa ao governo cerca de R$ 20 bilhões por ano, de acordo com uma estimativa. O banco foi fundado em 1952, para apoiar grandes projetos necessários para elevar o Brasil ao mundo desenvolvido. Financiou estradas e represas e ajudou a trazer uma fábrica da Volkswagen ao país. O regime militar usou o banco para industrializar o país ainda mais. O governo centrista dos anos 90 alterou seu papel, usando-o para supervisionar a privatização de monopólios estatais como a Vale SA. Mas a partir de 2002 o governo esquerdista de Luiz Inácio Lula da Silva, para quem vender ativos públicos era heresia, mudou o papel do banco novamente e passou a usá-lo para reafirmar a participação do Estado nas principais empresas brasileiras. Quando um grupo de empregados da Vale vendeu suas ações, em 2003, o BNDES exerceu o direito de comprá-las em vez de deixar que investidores privados o fizessem. Mais recentemente, o banco apoiou a saída de Roger Agnelli da presidência da Vale. Agnelli resistia à pressão do governo para que a empresa se diversificasse para além da mineração para criar mais empregos. Em troca dos empréstimos, o banco às vezes ganha uma participação ou assentos no conselho, o que aumenta a influência do governo nessas grandes empresas. Coutinho, que está na presidência do BNDES desde 2007, está nos conselhos da Vale e da Petróleo Brasileiro SA, cuja sede fica ao lado do prédio em que trabalha no Rio. O banco tem debêntures conversíveis da JBS que logo lhe propiciarão 31% da empresa. Alguns críticos alegam que

um banco de desenvolvimento deveria fazer menos para titãs empresariais e mais para nutrir pequenas empresas e setores econômicos nascentes, em parte para diversificar a economia brasileira, dependente das commodities. Apenas um quarto dos empréstimos do BNDES no ano passado foram para empresas com faturamento inferior a R$ 60 milhões. Coutinho diz que o banco reserva seus empréstimos mais baratos para empresas em setores “inovadores”, mas que eles não são tão abundantes quanto ele gostaria. Outros criticam o financiamento de aquisições empresariais no exterior. “Como é que o Brasil se beneficia quando a JBS compra uma empresa americana que vende comida americana a consumidores americanos? Isso nem aumenta nossas exportações”, diz Mansueto Almeida, técnico do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, o Ipea. O principal ponto do crédito do BNDES que preocupa alguns é que ele continua a um ritmo bem superior ao de antes da crise, apesar da recuperação da economia brasileira. O banco concedeu R$ 168,4 bilhões ano passado, o maior valor de sua história. “Uma coisa é ter um plano de emergência para um momento de crise mundial, outra é tornar isso a política normal”, diz Gustavo Loyola, ex-presidente do BC. O governo reduziu seu aporte ao banco a R$ 55 bilhões este ano e quer reduzi-lo mais, embora esse valor também continue bem acima do nível de antes da crise. Coutinho definiu planos para reduzir lentamente o papel do BNDES na economia, diminuindo a porcentagem que financiará de grandes projetos. Realisticamente, esse papel só pode diminuir até um certo ponto, por causa dos grandes projetos de infraestrutura previstos para a Copa do Mundo e a Olimpíada de 2016. Estádios e outras instalações terão de ser erguidos. O governo também quer modernizar redes de energia, estradas e ferrovias. Só para a planejada linha férrea que deve ligar São Paulo a Rio, o BNDES deve emprestar R$ 20 bilhões.

Xerox aposta em serviços e busca expansão no Brasil DANA MATTIOLI The Wall Street Journal Para a diretora-presidente da Xerox Corp., Ursula Burns, o futuro da fabricante de impressoras e fotocopiadoras não está em fazer cópias. Burns passou os quase dois anos em que está no cargo tentando transformar a Xerox numa empresa de serviços, já que a ascensão da tecnologia digital prejudicou a linha tradicional de hardware dela. Em três anos, dois terços da receita da Xerox deverão vir de “serviços”, ou contratos para administrar as operações de retaguarda das empresas, como impressão, recursos humanos e outras, diz ela. A pedra de toque da estratégia de Burns, a aquisição em 2010 da Affiliated Computer Services por US$ 6,4 bilhões, foi inicialmente criticada pelos acionistas e analistas que a consideraram cara demais em meio a uma recessão e também grande demais — a ACS tinha 74.000 empregados na época, e a Xerox, 54.000. Um ano depois, Burns, de 52 anos, tem sido elogiada pela decisão. A parte de serviços da empresa produz quase metade da receita total. Os lucros no segmento de serviços foram de US$ 266 milhões no primeiro trimestre, ante US$ 203 milhões no ano passado. Parte do primeiro trimestre de 2010 não inclui os resultados da ACS, já que o acordo não havia ainda sido fechado. Burns, que está na Xerox desde 1980, quando começou como estagiária, falou ao Wall Street Journal sobre o futuro da indústria de impressão, a alta dos custos do petróleo e a investida da empresa nos mercados emergentes. Trechos editados: WSJ: O que [a investida em serviços] significa para o lado de hardware da empresa? Ursula Burns: Não vamos jogar nada fora enquanto os cliente precisarem imprimir. É preciso ter uma foto, é preciso ter uma etiqueta num pacote em algum lugar, é preciso criar um pacote — esse é um negócio de impressão. A maioria das pessoas olha para isso como uma folha de 21 por 29 cm que é em preto e branco e impressa no escritório. Isso há muito deixou de ser a principal fonte de crescimento de páginas. WSJ: Então o hardware continuará sendo parte da equação para a Xerox? Burns: O hardware de impressão em cores continuará, com certeza. Acho que o mercado de hardware em preto e branco vai se transformar num mercado em cores. Aí a questão é o que acontece com esse mercado

Ursula Burns tem como prioridade o Brasil, onde ela que quer que a Xerox cresça em serviços de terceirização

em cores. WSJ: A área de serviços está aquecida agora, com muitos concorrentes, pequenos e grandes, entrando. Como a sra. protege suas margens? Burns: Há dois tipos diferentes de serviços com os quais estamos preocupados. Um é um conjunto de serviços de impressão administrados que estão realmente próximos da tecnologia de documento, que é a nossa divisão Document Outsourcing. A Dell e a Lexmark estão entrando ali, mas somos as maiores no negócio. Temos US$ 3,3 bilhões na operação e estamos crescendo. A outra parte, a que cresce mais rápido para nós, é a terceirização de processos de negócios. Esse mercado diversificado está maduro para a inovação e consolidação, que é por que adquirimos um pouco todos os anos. WSJ: À medida que a empresa avance mais e mais em serviços, devemos esperar margens brutas menores? Burns: Sim. Você verá maiores margens operacionais. A única maneira de pensar logicamente sobre esse negócio é pensar a partir de uma perspectiva de margem operacional. Vamos continuar a divulgar a margem bruta porque as pessoas ainda querem sabê-la. Mas seria literalmente como falar em francês quando todo mundo está escutando em inglês. WSJ: Onde a Xerox quer maior presença? Burns: Brasil. Temos uma boa marca no Brasil, mas nossa capacidade de ampliar a presença no espaço de terceirização de tecnologia de documento e decididamente em processos de negócios é algo que estamos promovendo bastante. É um mercado relativamente inexplorado, pouco desenvolvido, e temos uma boa posição lá. O México é o próximo. Estamos bem posicionados e temos uma equipe sólida operando lá, por isso faremos exatamente a

mesma coisa. WSJ: Os países que a sra. menciona são atraentes porque têm multinacionais ou por causa das empresas locais, pequenas? Burns: Eles têm multinacionais, têm governos que são razoavelmente bem organizados e a lei conta, e eles precisam desses serviços. Eles também têm um bom crescimento das pequenas e médias empresas. Uma das maiores prestadoras de serviços [no Brasil e no México] é a Telefónica. Ela é enorme. Deveríamos ser capazes de fazer negócio lá com a Telefónica, que é o que estamos tentando fazer. Outro negócio é o Banco Santander. Por isso vamos seguir a Telefónica e o Banco Santander e prestar serviços a eles. WSJ: As empresas têm enfrentado custos mais altos de commodities numa série de setores. A quais a Xerox está mais exposta? Burns: Petróleo. É uma commodity básica que é usada em alguns de nossos toners e tintas. E transportamos muito material pelo mundo. É uma pressão significativa sobre os custos da cadeia de fornecimento. A outra “commodity” que está em alta é a mão de obra em quase todas as partes do mundo fora dos EUA. WSJ: A sra. considera aumentar os preços? Burns: Muita gente acha que dá simplesmente para aumentar os preços [risos]. Se você não é competitivo, os clientes irão para o cara que é. Por isso não podemos aumentar os preços a não ser que haja algum movimento significativo por todos os demais do mercado. Aumentaremos os preços ocasionalmente se tivermos de fazê-lo, mas olhando para o resto da estrutura de custo na empresa e continuando a espremer isso. Tudo da cadeia de suprimento, renegociação de contratos, tentar analisar nossos processos e enxugálos, tentar automatizar o máximo que dê. WSJ: Ou seja, vocês usarão a tecnologia para diminuir a força de trabalho? Burns: Diminuir a força de trabalho é criticado, mas faremos um pouco disso com certeza. Mas, mais importante, à medida que nossas operações cresçam, é que queremos ter mais volume com o mesmo número de pessoas. WSJ: Qual o maior obstáculo que a Xerox enfrenta agora? Burns: O maior problema para nós em 2010 e neste trimestre, até agora, que está diminuindo um pouco agora, são os movimentos cambiais. [Somos afetados pelo] iene em relação ao euro e ao dólar, e o euro em relação ao dólar. Nos últimos quatro anos tivemos US$ 2 bilhões em custos extras que tivemos de compensar e o fizemos.


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Empresas chinesas vão às compras no mercado europeu JOHN W. MILLER The Wall Street Journal, de Bruxelas O presidente do conselho da maior empresa de alimentos da China foi direto. “Precisamos comprar uma das três maiores empresas europeias de alimentos”, disse Wang Zong Nan a dois consultores num brunch dominical num hotel Sheraton no centro de Bruxelas. Wang, presidente do conselho da Bright Food Group, está entre os líderes empresariais chineses à caça de empresas europeias. Suas ambições, encorajadas pelo governo em Pequim, têm o potencial de mudar os contornos do comércio e dos fluxos de investimento mundiais nos próximos anos e já cria nervosismo na União Europeia. O país que mais exporta no mundo acumulou US$ 2,7 trilhões em poupança doméstica agregada até o fim de 2009, um cofrinho que deve aumentar seis vezes até 2020, segundo o Banco Mundial. Especialistas preveem um forte aumento das aquisições internacionais por parte de empresas chinesas ao longo da década. Um plano de cinco anos que o governo chinês aprovou em março prevê o estabelecimento de “redes de vendas e marcas internacionais”. O investimento das empresas chinesas em negócios europeus, que totalizou apenas US$ 853 milhões em 2003-05, subiu para US$ 43,9 bilhões entre 2008 e 2010, de acordo com a Dealogic, uma consultoria londrina. O aumento deu às empresas chinesas o controle de 118 empresas europeias. Na mais recente transação, a fabricante de computadores Lenovo Group Ltd. fechou acordo na semana passada para adquirir 37% da Medion AG, uma empresa alemã de computadores e outros eletrônicos, e vai fazer uma oferta pública por mais ações para obter o controle. Enquanto alguns dos negócios ganham destaque, como a compra no ano passado da montadora de carros Volvo, que era da Ford Motor Co., pela Zhejiang Geely Holding Group, as empresas chinesas também adquiriram discretamente o controle de mais de cem empresas europeias menores, de uma fabricante de cigarros checa e uma farmacêutica holandesa. A frequência dessas aquisições está aumentando. Thilo Hanemann, diretor de pesquisa da consultoria nova-iorquina Rhodium Group, prevê que as empresas chinesas investirão mais de US$ 1 trilhão até 2020 e diz que, além de seu conhecido interesse em recursos naturais, as empresas chinesas “estão cada vez mais buscando oportunidades em mercados maduros”. Isso faz da UE um foco. Com milhares de fabricantes e comerciantes de

produtos que vão de carros a vidro — num mercado de 27 países que é o mais rico do mundo em produção econômica —, a Europa tornou-se silenciosamente o principal alvo para fusões e aquisições da China. Um terço de 3.000 grandes empresas chinesas consultadas numa pesquisa de 2009 do governo afirmou que tinha investido em países da UE, em comparação com 28% que citaram os Estados Unidos. Na maior parte, o investimento chinês tem sido bem recebido na Europa como fonte de capital, mas em alguns lugares fez eclodir tensões. O comissário da indústria da UE, Antonio Tajani, e algumas autoridades de países do sul como Espanha, Itália e França dizem temer que as empresas chinesas estejam comprando as europeias para tirar a tecnologia delas. Um motivo que os líderes empresariais chineses citam para preferir a Europa é que, diferentemente dos EUA, onde o Comitê de Investimento Estrangeiro pode impedir transações com base em argumentos de segurança nacional, as autoridades europeias não podem interferir no dinheiro que entra para a compra de empresas. “Há centenas de empresas atraentes [na Europa] e há menos sensibilidade em questões de segurança nacional comparada aos EUA e outras economias”, diz Hanemann. Um negócio feito anos atrás acabou rendendo um casamento atribulado. A chinesa Qianjing Group adquiriu a fabricante italiana de motocicletas Benelli do Gruppo Merloni. Com vendas em queda, a diretoria chinesa decidiu fazer com que os trabalhadores italianos cumprissem jornadas de meio-período. De acordo com uma reportagem de uma revista chamada “Motocross Action”, um diretor da Qianjing na China disse que a Benelli era prejudicada pela “forte burocracia italiana, o complicado sistema de obter várias permissões e processos empresariais caóticos”. O diretor-presidente da Benelli, Pierluigi Marconi, pediu demissão em meados do ano passado — em protesto, segundo pessoas a par da questão. Ele disse a uma revista de motocicletas chamada “AMCN” que as mudanças que a empresa precisava fazer levavam tempo, “mas o mercado não vai esperar por você, e tem sido difícil explicar isso aos chineses”. Marconi não respondeu a um pedido de comentários, e um representante da Qianjing se negou a comentar. O investimento chinês é tema de intenso debate na UE, com opiniões diferentes sobre se ele é positivo ou negativo. O comissário da indústria Tajani está particularmente ciente do poder comercial e de investimento da China e está entre os preocu-

pados com a perda de tecnologia. Ele gostaria de dar poder à UE para impedir investimentos e sugeriu a criação de uma versão europeia do Comitê de Investimento Estrangeiro dos EUA. “A hora de preparar sua casa para um incêndio é antes de ela pegar fogo”, diz Tajani. “Queremos nos assegurar de que sabemos quem está investindo na Europa, e por quê.” Tajani se pronunciou contra uma transação chinesa delicada no fim do ano passado. Uma fabricante italiana de cabos de fibra óptica havia fechado acordo para adquirir uma rival holandesa por US$ 1 bilhão. Executivos da empresa italiana, a milanesa Prysmian SpA, celebraram com champanhe. Mas uma semana depois, do nada, surgiu uma empresa chinesa afirmando que poderia pagar US$ 1,3 bilhão pela firma holandesa. “Ficamos chocados”, diz Lorenzo Caruso, o diretor de marketing da empresa italiana. Suspeitando que a empresa chinesa, a Tianjin Xinmao S&T Investment Corp., poderia fazer uma oferta daquelas apenas com a ajuda do governo chinês, a Prysmian contraatacou. Seus diretores contraram uma firma de lobby, deram entrevistas expressando suas suspeitas e recorreram à Comissão Europeia em Bruxelas. Tajani e outras autoridades da UE estavam preocupados porque a empresa holandesa, chamada Draka Holding NV, tinha uma subsidiária que fornecia cabos de fibra óptica a várias forças armadas ocidentais, entre elas a marinha americana. Eles ameaçaram bloquear a compra chinesa, embora não estivesse claro como poderia fazê-lo, já que o go-

verno holandês não se opunha a ela e a UE não têm um comitê que possa analisar aquisições sob argumentos de segurança nacional. De todo modo, a pressão acabou sendo demais para a empresa chinesa. Ela abandonou sua oferta, citando um problema com o tempo para obter aprovação do governo chinês. O setor de alimentos pode não parecer tão estratégico quanto o de fibra óptica, mas o governo chinês o identificou como uma área na qual as empresas do país devem adquirir tecnologias e procurar tornarem-se mais eficientes. A Bright Food, de Xangai, teve receita equivalente a US$ 7 bilhões no ano passado e quer dobrá-la até 2015. “Não há tantas alternativas para conseguir isso que não seja por meio de aquisição”, diz Chen Gang, um analista do setor de alimentos e bebidas da corretora Sinolink Securities em Xangai. Ele diz que a Bright Food está interessada em comprar empresas e manter as diretorias delas “porque não tem muita experiência em administrar empresas internacionais”. A Bright Food concordou com essa análise. Para fazer negócio na Europa, a Bright Food recorreu a Yufang Guo, um consultor em Roterdã que diz ter cerca de cem clientes chineses interessados em comprar operações na Europa Ocidental. Para seduzir os vendedores, diz Guo, as empresas chinesas usam os argumentos de que têm capital de sobra para investir, podem oferecer um mercado consumidor maior e manterão as diretorias. Guo, um filho de professores da China rural, foi para a Europa como estudante de pós-graduação 25 anos atrás e ficou para estudar direito.

Depois de trabalhar para grandes firmas de auditoria, criou seu próprio negócio prestando serviços como contabilidade tributária e tradução. Num dia de fevereiro, Wang, da Bright Food, voou a Bruxelas com dois colegas, Ji Lu Qing e Tang Zhi Jian, e foi ao Sheraton para um brunch com Guo. Servindose de fruta, café e ovos, Wang descreveu suas ambições a Guo e a um advogado europeu de investimento e comércio, Laurent Ruessmann, permitindo que um repórter estivesse presente. O que eles buscavam, disseram os executivos chineses, eram empresas europeias ricas em marcas e tecnologia. Eles queriam comprar uma participação majoritária. Um exemplo citado por Wang: “Empresas belgas e italianas de chocolate. Mas conseguir que vendam é difícil. São familiares e querem continuar sendo.” Empresas europeias de nicho são atraentes para as chinesas porque costumam ter marcas familiares e bastante know-how. Guo e Ruessmann explicaram a seus visitantes chineses que a Europa é dividida em muitos mercados. “Cuidado se for tentar comprar algo que seja muito conhecido”, aconselhou Ruessmann. “Há sensibilidades na Europa, como na China ou em qualquer lugar, quanto a grandes aquisições por empresas estrangeiras.” Ele advertiu os visitantes que poderiam encontrar alguma oposição a uma aquisição chinesa. “As empresas europeias antecipam uma onda de investimento chinês e, se ouvirem que o comprador é uma empresa chinesa, podem tentar obter mais”, disse. “O preço automaticamente sobe.” A resistência ficou evidente para os executivos chineses pouco tempo mais tarde. Depois da reunião em Bruxelas, Wang foi a Paris. Logo fez uma oferta por uma participação de 50% da fabricante francesa de iogurtes Yoplait, pertencente à cooperativa Sodiaal. Mas havia outros candidatos à compra, e a americana General Mills Inc. venceu com uma oferta de US$ 1,1 bilhão. Ainda que a oferta da Bright Food fosse maior, o governo francês avalizou o acordo com a General Mills. “O governo reafirma sua preocupação com a preservação de empregos e o futuro da indústria de laticínuios na França”, disse o ministro francês da Agricultura, Bruno Le Maire, num comunicado. A Bright Food não desiste. “Não temos planos de mudar nossa estratégia para expansão internacional”, disse seu presidente, Cao Shumin, ao jornal “Shanghai Daily”.


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The Wall Street Journal

IBM prepara plano para a sucessão de Palmisano SPENCER E. ANTE E JOANN S. LUBLIN

The Wall Street Journal Enquanto a International Business Machines Corp. comemora seu centenário, começa a esquentar a disputa pelo cargo de nono diretorpresidente da empresa. Pessoas a par do pensamento do diretor-presidente, Samuel J. Palmisano, dizem que ele tem pedido conselhos sobre como lidar com a transição. Elas esperam que ele indique um sucessor nos próximos 12 a 18 meses, promovendo alguém para diretor-geral ou diretor operacional. Quem assumir o cargo enfrentará o desafio de manter a ação da empresa em alta e continuar uma série de trimestres lucrativos, ao mesmo tempo em que lida com as mudanças na computação portátil e nos mercados emergentes. A principal candidata é a diretora de vendas, Virgina M. Rometty. A executiva de 53 anos começou a se destacar do resto no último ano, segundo profissionais de recrutamento e ex-executivos da IBM. O diretor de Serviços Globais, Michael E. Daniels, de 56 anos, é visto como a segunda escolha. Rodney C. Adkins, 52 anos, diretor de hardware, é o que tem menos chances. Nenhum dos candidatos

estava disponível para comentar. Rometty “é uma das principais estrelas deles há pelo menos uma década”, diz Jim Steele, ex-executivo da IBM. “Não vejo mais ninguém que seja um candidato tão bom e forte”, acrescenta Steele, hoje diretor de atendimento ao cliente da Salesforce.com Inc. Rometty, que tem 30 anos de casa, se destacou no comando da integração em 2002 da divisão de consultoria da PriceWaterhouseCoopers LLP, que transformou a IBM de uma empresa puramente provedora de tecnologia para uma importante consultoria de estratégia. Rometty comandou mais recentemente a divisão de serviços da IBM, empresa que completou cem anos quinta-feira. Ela foi promovida em julho para comandar a parte de vendas da IBM, tornando-se responsável pelos resultados mundiais da empresa. O faturamento, que analistas dizem que precisa crescer mais vigorosamente, subiu 5,8% nos três trimestres em que ela cuidou das vendas. Ela também cuida agora da estratégia e do marketing. Rometty ocupa “a plataforma perfeita para marcar um golaço com um bom desempenho — ou para escorregar e cair”, diz Gerald Czarnecki, ex-diretor de recursos

IMAGINECHINA/ASSOCIATED PRESS(2)

Os dois principais candidatos: a diretora de vendas Virginia Rometty e o diretor de Serviços Globais Michael Daniels

humanos da IBM. Rometty foi criticada no início de sua carreira na IBM por se concentrar demais no próprio sucesso, diz uma pessoa que a conhece há muito tempo. Mas ela levou a sério os comentários. Um executivo da IBM lembra que, depois de a empresa não conseguir atingir uma meta de vendas, em vez de dar um carão na equipe, Rometty realizou uma oficina para ensinar aos empregados como melhorar os resultados. “Ela nos treinou para sair daquela”, diz o executivo. “Ela é muito boa em fazer todo mundo refletir sobre o que precisa fazer.”

Como uma das mulheres mais poderosas na indústria de tecnologia, ela foi abordada recentemente por recrutadores com convites para dirigir várias empresas de alta tecnologia com faturamento anual de pelo menos US$ 10 bilhões, disse uma das pessoas familiarizadas com a situação. Daniels, outro que trabalhou a vida toda na IBM, tem ampla experiência em vendas e serviços, como um período de três anos dirigindo a divisão de Serviços Globais na Ásia e Oceania. Quando a IBM separou a divisão em segmentos de consultoria e tecnologia, em 2005, ele assumiu a última, focada em

terceirização. Daniels foi promovido em julho e passou a comandar toda a parte de Serviços Globais, cuja direção compartilhava com Rometty e que respondeu por 57% do faturamento da empresa ano passado. Ele “inspira a tropa e tem gente disposta a segui-lo”, diz uma pessoa que conhece Daniels. Seus assessores diretos “o consideram a melhor pessoa para quem já trabalharam”. Antigos executivos da IBM dizem que ele tem capacidade soberba de administrar operações, mas pode ser velho demais e sem o verniz necessário para o comando da empresa. Daniels faz 57 anos em agosto, um mês depois do aniversário de 60 anos de Palmisano. Adkins é apontado como o responsável por manter o negócio de hardware da empresa nos trilhos depois da prisão de Robert Moffat no caso de negociação de ações com informações privilegiadas no fundo Galleon Group. Os lançamentos de novos sistemas mainframe e servidores Unix foram bem recentemente. Ele é respeitado e foi convidado recentemente a liderar a expansão da empresa na África. Mas executivos da IBM dizem que ele não tem a experiência necessária em serviços.

Fabricantes deixam lixo mais perfumado nos EUA SARAH NASSAUER The Wall Street Journal Os fabricantes de sacos de lixo dos Estados Unidos estão na esperança de que os consumidores obedeçam ao nariz e cheguem a seus mais novos produtos. A Glad Products Co. começou a aumentar sua oferta de sacos que incorporam uma tecnologia que promete bloquear os odores, depois de lançar uma linha chamada Odorshield with Febreze, o desodorizador, no ano passado. A rival Hefty também aumentou a linha de sacos que usam sua tecnologia Odor Block, mas aposta que muitos consumidores vão preferir sua versão sem perfume. Em abril, a Simplehuman LLC lançou seus primeiros sacos que controlam odor usando plástico revestido com carbono que absorve o cheiro. Até as fabricantes de latas de lixo estão inovando em torno do cheiro. A Simplehuman adicionou cartuchos de carbono a suas latas mais novas. A iTouchless Housewares & Products Inc. os está colocando em suas latas com sensores, que se abrem automaticamente. “Como fazer com que o lixo não cheire mal?”, pergunta Dawn Willoughby, gerente geral da Glad Products Co., a maior fabricante de sacos de lixo de cozinha nos EUA. “Tem sido um grande problema para nós solucionarmos.” É um bocado de inovação hi-tech para um dos

produtos mais desprezados da casa e um item comprado para ser jogado fora. Numa pesquisa, 76% dos americanos dizem que o lixo é a coisa mais fedida na casa, à frente de animais de estimação, sapatos, maridos e crianças, segundo uma pesquisa feita em 2010 pela Glad, que pertence à Clorox Co. Fraldas são o pior, seguidas por comida estragada no refrigerador. Amanda Kogut congela seu lixo antes de jogá-lo fora. Uma analista de 34 anos que trabalha para uma agência de empregos de Nova York, ela diz que é melhor do que colocar coisas fedidas como peixe ou carne no lixo por dias. Quando o noivo leva o lixo para fora, ela lembra a ele: “Ei, tem o saco no congelador também”, diz Kogut.

De fato, a Glad constatou que 44% dos americanos usam o que chama de “comportamentos compensadores” como embalar o lixo num saco separado menor ou congelá-lo antes de jogá-lo fora. As tecnologias de redução do odor têm o objetivo, em parte, de persuadir as pessoas a continuar gastando e pagar mais pelos sacos. Os preços dos sacos de lixo subiram porque o custo da resina usada na fabricação do plástico aumentou. A Clorox aumentou recentemente os preços de todos os sacos Glad em 10% e afirma que planeja aumentar mais. Para poupar, os consumidores estão enchendo mais as latas de lixo e reusando sacos como os de supermercado, afirmam os fabricantes de sacos.

Embora as vendas de sacos de lixo tenham caído ou ficado estagnadas desde 2009, as vendas dos sacos Ruffies, perfumados ou que neutralizam o odor, cresceram cerca de 2,5% nos 12 meses até fevereiro passado, em comparação com o ano anterior, diz Janice Meissbach, diretora de marketing de varejo da Berry Plastics Corp., dona da marca Ruffies. Na Glad, enquanto as vendas gerais de sacos caíram em 2010, o segmento perfumado aumentou em volume, diz uma porta-voz. A Hefty, que pertence à Reynolds Group Holdings, afirma que a demanda por sacos controladores de odor cresceu. A empresa não quis fornecer dados de vendas. Algumas pessoas na indústria atribuem ao Febreze a criação de um mercado maior para produtos que eliminam odores. O lançamento do spray da Procter & Gamble Co., no fim dos anos 90, lentamente “produziu consciência e aceitação do consumidor” para o conceito de que desodorizadores podem funcionar, diz Eric Albee, diretor-presidente da Aromatic Fusion Inc., que fabrica fragrâncias e plásticos. Para reduzir o odor, a Ruffies usa um derivado de bicarbonato de sódio espalhado na superfície do saco, diz Meissbach. O Febreze é ensanduichado entre duas camadas de plástico que fazem os sacos da Glad, diz uma porta-voz. A Hefty afirma que sua tecnologia para odores é misturada com o plástico num nível molecular.


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«Geração Saca Fácil» Se non é vero, é bem trovato» - «Se não é verdade, ao menos é bem achado, é plausível» - máxima latina

Artur do Nascimento *

N

uma visão sociológica, passaremos em revista alguns aspectos da nossa sociedade (talvez a ponta do iceberg) que é constituída por várias gerações de angolanos, na qual predomina os que nasceram e/ ou cresceram depois da proclamação da independência nacional, em 11 de Novembro de 1975. Isto é, debaixo de uma feroz guerra civil, de miséria e de conflitos permanentes de baixa e de alta intensidade. Estes factos devem ser levados em consideração quando se procurar enquadrar os comportamentos sociológicos ou interpretar o psicodinamismo da actual sociedade. É sabido que os referidos comportamentos estão indubitavelmente ligados a nossa história e cultura, mas também ao estado económico, social e educacional. Os costumes e os hábitos são reflexos deste estado e estão profundamente arreigados. A esta irreverente sociedade, muitíssimo heterogénea, marcada por padrões éticos e morais pouco ortodoxos e bizarros, na qual imperam o egoísmo, a intolerância de toda a espécie, o servilismo, o facilitismo e o alcoolismo desenfreado, etc., e que faz da excentricidade e dos excessos as suas principais armas de remesso; a fértil sabedoria popular alcunhou-a de «Geração saca fácil». Provavelmente por analogia com a gigantesca, ambígua e pouco educativa publicidade comercial da Super Bock mini. Devido à grande complexidade desta geração, é deveras complicado fazer-se uma avaliação moral e cívica, da mesma forma que é problemática a sua rápida transformação. Será o «feitiço do colonialismo» ou a «maldição do petróleo»? Ou, talvez, chegou a hora de se colher o que se semeou? O tempo o dirá... Quem é quem Quem vos escreve este modesto trabalho, para reflexão, é um pacato cidadão que muito sofreu e continua a sofrer, mas mesmo assim quer contribuir humildemente na construção da Nação

angolana, onde todos se sintam bem e possam desfrutar das suas riquezas com paz e tranquilidade. Trata-se de um sobrevivente e órfão da guerra colonial (o pai foi assassinado pela PIDE em 1961 no Uíge), ex-vendedor do mercado de São Paulo em Luanda (1961-1963) e que logo após o «25 de Abril» de 1974 regressou ao País, respondendo de imediato aos apelos das lideranças políticas preocupadas com a carência de quadros nacionais, competentes, para suprirem os lugares deixados pela administração colonial. Nesta altura, cumpria o serviço militar no exército português com a patente de Furriel Miliciano, no

Regimento de Infantaria 16 (RI 16) em Évora – Portugal, e já tinha concluído o exame de aptidão à Faculdade de Medicina (Hospital Santa Maria em Lisboa). Em Angola, teve o primeiro emprego no ex-Banco de Angola, em 8 de Julho de 1975, na classe F, tendo sido colocado na Direcção Geral como 3.º Escriturário. Em 2 de Fevereiro de 1976, foi demitido dos quadros do pessoal do referido Banco sem qualquer explicação, apenas 6 meses e 24 dias de serviço efectivo. Pouco depois, foi admitido na ex-Escola Industrial Bula Matadi, actual Instituto Médio Industrial de Luanda, onde leccionava a disciplina de física

(1975-1981), ao mesmo tempo que frequentava o curso médicocirúrgico dos Estudos Gerais Universitário de Angola. De 1 de Junho de 1978 a 31 de Dezembro de 1982, trabalhava também na Biblioteca da Faculdade de Ciências da Universidade Agostinho Neto (aproveitamos para expressar a nossa gratidão ao Dr. Jerónimo Belo pelos seus préstimos em tão difíceis momentos do início de uma nova vida). Um mês depois de concluir o curso de Medicina (em 26 de Julho de 1982) já estava mobilizado para as FAPLA e no dia 18 de Novembro de 1982 tinha sido empossado como Director do Hospital

Nota de Redacção

O

Semanário Angolense inicia a partir deste número a publicação dum ensaio sociológico deste médico reformado, que quer continuar a contribuir para que Angola seja um bom lugar para se viver. E depois de dar o litro como tratador da nossa saúde, ele estreia-se nesse novo «metier», analisando os fenómenos sociais negati-

vos que têm surgido na nossa sociedade, com consequências gravosas especialmente para os mais jovens, algo que o preocupa, tal como a todas as outras pessoas de bem. Esta é a sua contribuição, a que o SA dá o necessário respaldo. Esta primeira parte é dedicada à introdução do tema, bem como à apresentação do autor. Boa leitura!

Militar Regional de Cabinda – II Região Militar, mas como simples soldado. Como militar, teve o privilégio de conhecer várias províncias da nossa maravilhosa Angola, tendo lá deixado muitas horas de trabalho e de continuados sacrifícios, sem esperar qualquer tipo de recompensa. Cinco anos depois, passou à situação de reserva, por motivo de grave doença. Mesmo assim, ainda deu o contributo possível durante 23 anos no Serviço Nacional de Saúde, passando depois à reforma com a convicção do dever cumprido e, certamente, deixará o mundo dos vivos com a cabeça erguida. E não está nada preocupado que se lhe reconheça ou não a sua contribuição pela Pátria. Um outro aspecto ainda, que vale a pena pôr em relevo é o facto de ter levado a sua experiência para vários cantos do mundo, aproveitando e hipertrofiando as parcas oportunidades que teve, participando em várias actividades científicas em Moçambique, São Tomé e Príncipe, Portugal, Espanha, Áustria, Holanda e Austrália. (*) Médico reformado


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Opinião As duas escolhas do «cabo eleitoral»

Ou Mullah Omar ou Joseph Goebbels

Justino P. Andrade 1. Com o aproximar das eleições, vão se multiplicando já as acções de «diabolização» dos partidos da oposição e de figuras da sociedade civil. Vão, também, surgindo «análises» aparentemente isentas, mas, afinal, feitas apenas com o fito de debilitar a imagem da oposição. Essa é ainda, e somente, a parte visível de uma mais vasta ofensiva devidamente concertada. 2. Pelo seu lado, agitam-se os tradicionais cabos eleitorais desferindo os seus ataques, caluniando e/ou até mesmo estimulando a agressão física. Pelo outro lado, alguns intelectuais disponíveis e sempre de serviço exercitam discursos subtis mas verrinosos, passando a mensagem de que toda a oposição é incapaz, inapta e inconsequente. Acrescentam depois

que uma parte da oposição anda à reboque da sociedade civil, porque não sabe por si própria criar factos políticos e desenvolver acções mobilizadoras. São, na verdade, duas faces de uma mesma moeda. Ou melhor, são elementos de uma única ofensiva política. 3. Até há pouco tempo, os cabos eleitorais lançaram mãos de «manifestações», alegadamente para a cobrança de «dívidas» contraídas pelos organizadores de outras manifestações. Nesta altura, os mesmos cabos eleitorais começam já a maturar as condições psicológicas para o desencadeamento das acções seguintes. Elas que ainda são um mistério, pelo menos, para quem não está dentro desse conluio maquiavélico. 4. Recordo que as primeiras «manifestações» culminaram (pelo menos uma delas) na agressão física ao jovem activista – ultimamente muito mediatizado – entre nós conhecido por «Brigadeiro Mata Frackusz». 5. Os mesmos «manifestantes» que foram cobrar a «dívida» ao «Brigadeiro Mata Frackusz» quase que invadiram depois a resi-

dência do activista e advogado Dr. David Mendes. E só não o agrediram porque, na altura, ele estava ausente. Senão, teria pela certa sido mimoseado com uns sopapos iguais aos que levou o «Brigadeiro Mata Frackusz». «Manifestaram», pois, desse modo, o carácter «democrático e justo» das suas «reivindicações». 6. Saiu, porém, agora da «cartola» de um dos mais afoitos cabos eleitorais do regime a ideia de que a oposição estará a «experimentar algumas acções com vista a criar distúrbios para criar um clima de instabilidade no país, e em particular na capital, utilizando como vítimas dos seus intentos os jovens de rua, vendedores, roboteiros, lavadores de carros, entre outros». Para remate final, e como se o citado cabo eleitoral possuísse o dom da adivinhação (ou será que já fabricaram os resultados eleitorais?), o homem lá foi também afirmando que os tais «agitadores» (leia-se: a oposição) agem assim «porque sabem que nunca vão ganhar as eleições». 7. É, pois, espantoso como o cabo eleitoral (reconhecido es-

pecialista na organização de maratonas alcoólicas) já sabe quem vai ganhar as eleições de 2012… Só faltou ao cabo eleitoral dizer qual será a percentagem dos votos a obter por cada um dos contendores… 8. Como o seu Chefe há dias já disse que «ninguém irá votar neles» – portanto, na oposição – receio que o resultado final da próxima contenda política já esteja cozinhado e que possa até ser idêntico ao que, por norma, se verifica nos regimes comunistas, onde o partido único obtém, quase que invariavelmente, 99,99% dos votos. 9. Ninguém me retira agora o direito de vislumbrar nesses dois discursos a irresistível tentação de para aí nos fazerem caminhar… Caso se descontrolem, podem mesmo ultrapassar os 100%... O que seria hilariante. É que, nas cercanias deste «score» eleitoral, não estranho se vierem a mexer novamente na Constituição para a ajustar a uma Monarquia… Será assim mais fácil efectuar a sucessão presidencial por simples «transfusão de san-

gue», ou então por meio da colocação de uma fotocópia… 10. Depois de ouvir atentamente o discurso do cabo eleitoral, ficou-me na garganta a seguinte questão de que procuro resposta adequada: Será que os jovens que se «manifestaram» defronte da residência do «Brigadeiro Mata Frackusz», e também frente à residência do Dr. David Mendes, eram «estudantes» que, por exemplo, para pagarem as suas propinas em atraso, aceitaram fazer um «trabalhinho remunerado», de que apenas terão recebido uma parte do preço? Ou será que eram os tais jovens de rua, vendedores, roboteiros, lavadores de carros referidos pelo mediático cabo eleitoral? 11. Sendo «estudantes», então o «Brigadeiro Mata Frackusz» e o Dr. David Mendes prestaram um muito mau serviço ao país, pois, ao não pagarem a totalidade do preço pelo «servicinho prestado», prejudicaram os «estudos» de jovens tão abnegados e tão aplicados que tanto arriscaram indo para a rua manifestar-se contra o governo… E mais: Pelo


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que a nossa televisão mostrou, os tais «estudantes» recrutados pelo «brigadeiro» e pelo advogado seriam também portadores de panfletos onde se incitava à violência (e mesmo a morte) «contra todos quantos simpatizem com o MPLA», também para se «assaltar bancos e incendiar igrejas». 12. Sendo eles «estudantes», então só posso acreditar que sejam «talibans». Ou, no mínimo, que tenham sido formados em «escolas» semelhantes às «madrassas», de onde saem, devidamente capacitados em religião e no uso das armas, os radicais e fanáticos que espalham a dor e o luto no Afeganistão e no Paquistão… Pelos vistos, o Mullah Omar, o chefe máximo dos «talibans» do Afeganistão, tem entre nós fiéis seguidores… 13. Mas resiste ainda a segunda hipótese, a de os «manifestantes» serem «jovens de rua, vendedores, roboteiros, lavadores de carros», tal como se pode depreender das recentes afirmações do sempre afoito cabo eleitoral que, recentemente, se pronunciou num comício. A ser assim, o «brigadeiro» e o advogado incumpriram uma obrigação que extravasa o âmbito da responsabilidade civil. O seu acto quase que roça o pecado… Isto porque, não pagando o prometido, os dois activistas preju-

dicaram gravemente os direitos de dedicados trabalhadores que vivem tão-somente de esquemas eventuais para, assim, garantirem a sua própria sustentação e, claro, a das suas pobres famílias. E como muitos destes jovens se arriscam diariamente a ser «depenados» por polícias e por fiscais que lhes levam os parcos haveres, então o «brigadeiro» e o advogado têm que pagar a sua falta longe da terra… Merecem um severo castigo divino. Roubar um pobre não é delito civil – é pecado, quase sem remissão! 14. Agora, voltemos ao nosso cabo eleitoral. Ele tem duas referências políticas das quais pode escolher apenas uma: Ou passa a usar um turbante e deixa crescer as barbas – afigurando-se ao Mullah Omar; ou então, veste aquela farda que ficou muito célebre durante a II Guerra Mundial – e assume publicamente a postura de Goebbels, um dos mais eloquentes líderes da Alemanha de Hitler. Aquele a quem se deve a seguinte frase: «Uma mentira repetida cem vezes torna-se verdade». 15. Como até 2012, o cabo eleitoral irá repetir inúmeras vezes as suas mentiras, vai seguramente chegar ao ponto em que ele próprio pensará que aquilo que está a dizer é mesmo verdade…

Deliberação do CNCS

«Censura registada» à Media pública O

Conselho Nacional de Comunicação Social (CNCS), reunido em plenária, na capital do país, no dia 10 de Junho de 2011, decidiu, em conformidade com o seu mandato, aprovar e fazer divulgar a seguinte deliberação: 1. Alertar os órgãos de comunicação social e os seus editores e repórteres para a imperiosa necessidade que se reveste a cobertura equilibrada e objectiva da actividade da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre a IntolerânciaPolítica, tendo em conta as reclamações que têm surgido a propósito de um desempenho menos isento dos jornalistas que têm estado a cobrir a agenda da referida CPI. 2. Depois de recentes notas positivas atribuídas ao desempenho da média estatal pela sua cobertura abrangente do debate político em curso no país, o Conselho Nacionalde Comuni-

cação Social constatou com preocupação o regresso ao seu quotidiano da utilização de critérios editoriais pouco transparentes e

nada consentâneos com a isenção, o rigor e a objectividade que se requer dainformação jornalística.

3. O princípio do contraditório como um dos garantes da credibilidade da informação jornalística esteve particular-

mente ausente da cobertura que os médias estatais efectuaram de algumas movimentações de rua que envolveram sobretudo jovens, ao ponto de terem sido acusados de manipulação grosseira da realidade dos factos. 4. O CNCS é oprimeiro a lamentar o facto de até agora ainda não ter sido possível a renovação do mandato dos seus actuais Conselheiros, por razões que se prendem,fundamentalmente, com a revisão e actualização do seu estatuto orgânico que só agora parece ter entrado na recta final. 5. Com base no que reza a Lei, a plenária está convencida que o desempenho do CNCS não está ferido por nenhuma ilegalidade, pois o ponto 4 do artigo 9.º da Lei n.º 7/92, de16 de Abril, segundo o qual o «exercício do mandato dos membros cessantes do Conselho prolonga-se até à tomada de posse dos substitutos», não permite uma outra interpretação.


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Crónicas

O meu amigo Pablo Dreyfus e a questão do desarmamento S

abe-se agora muito mais do que há dois anos atrás sobre o acidente com o voo 447 da Air France, Rio de Janeiro/Paris. O que o Comandante fazia, por exemplo, horas antes do início dos problemas com a estabilização da aeronave. Foram apenas 3 minutos e meio de uma intensa sessão de esforços da tripulação, até o avião cair. Entre os passageiros contavase o meu amigo Pablo Dreyfus. O Pablo era um argentino e tinha casado com a senhora dona Ana Carolina fazia dois anos antes da tragédia: ambos entregaram-se à causa da redução do número de mortes resultante do uso indevido de armas de fogo. Dona Carolina trabalhava com as camadas jovens das favelas do Rio de Janeiro. Ambos trabalhavam para a ONG «Viva Rio». E ambos viajavam para a Europa no âmbito de uma conferência internacional justamente dedicada ao tema do desarmamento, sob os auspícios da revista «Small Arms Survey». Aproveitariam então a ocasião para, à margem dos trabalhos ou a seguir a eles, passarem momentos livres em jeito de lua-de-mel que nunca haviam desfrutado desde o casamento. Pablo esteve em Angola em Abril de 2009, um mês antes da queda do avião da companhia francesa e aqui participou como conferencista do simpósio internacional sobre o desarmamento da população civil, uma promoção da Comissão Nacional Para o Desarmamento da População Civil em Angola. Este mecanismo inter-disciplinar foi instituído pelo senhor Presidente da República. Pablo não se limitou a estudar o tema. Uma das missões que abraçou foi a de investigar a vida das armas no Mundo inteiro: como elas tinham um berço,

após ao que começavam a tecer as suas próprias biografias ou percursos, até pararem nas mãos do crime. Como a caneta para os jornalistas, a arma é para o bandido um macabro instrumento de… trabalho! Mas, de regresso ao acidente com o avião da Air France, o que se comenta agora é que tudo se deveu a uma súbita falência dos instrumentos electrónicos de navegação e a tripulação enfrentou dificuldades insanáveis para a superar em tempo hábil. A princípio especulava-se que o equipamento teria sido deitado abaixo por um «culunimbus». Pode ser que a sucessão dos eventos tenha sido ditada a partir do momento em que o avião começou a atravessar uma nuvem carregada. E os amantes da aviação costumam passar-nos uma pomada

de acordo com a qual os aviões são… infalíveis! Os aviões são seguros, mais seguros que os carros e os barcos e até mais do que as bicicletas, gaba-se sempre um meu amigo Comandante da TAAG, porém, quando um deles cai, as justificações costumam ser… falíveis! A partir da altura em que ficou decidido que o «bicho» dispensa, para ser orientado, da «caixa humana», as tripulações também passaram a dedicar-se mais ao «relacho». O Comandante do voo 447 gozava em pleno voo do seu regulamentar coxilo. As companhias aéreas carregam nos horários das tripulações e sempre de olho nos lucros, disso sei eu, mas o meu amigo da TAAG finge que esta parte não lhe interessa e vira o foco da conversa para os prazeres da aviação, «uma delícia»,

defende-se. Assim que, quando conheci o Pablo no Rio de Janeiro, não imaginei que essa «djilícia» de viajar de avião terminasse no que sabemos hoje. Sentados lado a lado ao jantar no «Mariu’s», que fica ali no Leme ou Posto n.º1 da orla marítima de Copacabana, estávamos à conversa desgarrada, a falar de Jorge Luís Borges, Estela Canto, Bioy Casares. E outras coisas mais, como ecologia. Mas, a personalidade do Pablo era toda moldada para a questão das armas. Ele era, ademais, um dos editores de uma revista que se ocupava deste assunto. Interessava-se muito pela biografia das armas, singularmente, e conhecia de cor marcas e fabricantes e qual o trajecto que faziam até atingirem, uma ou várias pessoas, mortalmente.

O Brasil, nesta segunda empreitada que visa o desarmamento dos civis, começou impulsionado pela tragédia de Realengo, quando um miúdo entrou numa escola e matou dez alunos. Nesta segunda fase, adoptou uma novidade: a arma que estiver envolvida num crime não volta mais ao circuito policial ou militar e é esmagada por uma lagarta, imediatamente. Muito se fala da recompensa a quem entrega a arma, mas o caso do Brasil é diferente de Angola. Recentemente, um caso chamou a atenção no Brasil. Um «defesa» do Corintians de São Paulo estava com uns amigos a espairecer e resolve indutivamente pegar numa pistola de ar comprimido, para brincar. A brincadeira saiu mal. A arma disparou inadvertidamente quase atingindo mortalmente o pulmão de um amigo. Felizmente este sobreviveu, ainda que o chumbo continue alojado perto do órgão vital: que pode ficar comprometido, no futuro. Aí temos o custo, alto custo, de termos armas guardadas em casa. Portanto, se a bala o tivesse atingido fatalmente, as coisas seriam vistas doutra maneira. Desencadearia uma série de eventos trágicos. Desaparecia, é um exemplo, um cidadão que no futuro seria um engenheiro, um médico, um jornalista, um cientista, sabe-se lá, um futuro… Presidente! O cantor angolano Gaby Moi fez uma música em que alerta: «guardar uma arma em casa/ é o mesmo que guardar a desgraça em casa» e isso cantado em Kimbundu. Uma bala que custa menos de cem «kêzês» pode porém causar prejuízos de milhares de dólares: suponhamos que o bandido dispare fatalmente contra o chefe de uma família.


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Kanzala Filho

Elas pensam que matar marido à facada cuia!

H

á mulheres que ao invés de aprenderem a cozi¬nhar carne com funge, aprenderam a cozinhar marido com funge! Não se sabe agora aonde foi que elas aprenderam a preparar facas de ponta com cabo de madeira e serra na lâmina, para começarem a es¬quartejar os seus respectivos mari¬dos. Alguns dizem que se tratam de ex-faplas do ex-destacamento femi¬nino e outros desmentem dizendo que são raparigas que trabalham em talhos de carne e outros ainda dizem que anda por aí uma tal Associação AMCL – Associação das Mulheres Ciumentas de Luanda – cuja missão é dar treinos aos seus membros (às suas membras melhor dito) para auto-defesa, com uma preparação especial em uso de faca e navalha, para quando os respectivos maridos forem apanhados com a boca na bo¬tija, serem capados. Capados como os porcos. De acordo com fontes inseguras mas bem posicionadas, consta dos regulamentos da referida Associação uma cláusula punitiva que alude ao esfaqueamento sem piedade nem dó ao marido infiel, mas apenas diz respeito aos seus pertences carnais reprodutivos. Só que elas, as membras mais audazes, atacam pelo peito, pelas costas, pelo pescoço e tudo o mais, à maneira neriquista - que toda a Luanda ou¬viu e viu a ser julgada pelo Tribunal como a primeira secretária geral da associação de mulheres esfaqueado¬ras, praticantes de esfaqueamentos não previstos na nova constituição e portanto puníveis nos termos da lei em vigor. Foi nestes moldes que a referida autora e precursora – que aprendeu a técnica de perder a fala e «disse» que esqueceu a fala e o pró¬prio nome, e que foi imediatamente encarcerada para evitar futuras víti¬mas dentre outros homens da cida¬de, tendo sido também proibida de arranjar marido por 17 anos conse¬cutivos, e tendo-lhe sido atribuído o cargo de representante legítima das mulheres ciumentas de Luanda, as quais agora têm sido referenciadas como as mulheres da moda que esfaqueiam e mostram a faca, tipo mata-a-cobra e mostra-o-pau.

De acordo entretanto com outras fontes também menos credíveis, trata-se de uma onda luandina que visa desencorajar os restantes mari¬dos que arregimentam catorzinhas e quinzinhas e dezasseizinhas, de modo a travar a tendência dos ma¬ridos curtirem impunemente: ou se comportam ou são esquartejados a sangue frio com direito a repor¬tagem televisiva e tudo. Segundo a fonte, também este procedimento consta dos manuais de actuação da referida Associação e só para este ano estão previstos mais de duzen¬tos assassinatos conjugais, com fa¬cas de cozinha e facas de matar por¬cos, mulheres que já fizeram chegar os nomes dos seus maridos para constarem das listas futuras. Por sorte deste jornal, uma cópia desta lista veio parar à redacção, e prometemos para a próxima sema¬na publicar a lista completa com os nomes dos cidadãos-maridos cons¬tantes da referida listagem, uma série de 150 nomes para a primeira fase. Dada a extensão de nomes, por hoje apenas podemos enumerar 15 nomes que representam 10% dos fu¬turos cadáveres passionais. Para o domínio público devemos informar que da referida lista 2 deles são presidentes de partidos políti¬cos; 6 nomes são de empresários; 4 nomes são de jornalistas e 3 são portugueses. Dos 15 que serão bre¬vemente esfaqueados e que constam desta lista secreta que felizmente o nosso jornal teve acesso, apenas um é culpado. To-

dos os demais, de acordo com a nossa pesquisa, são absolutamente inocentes, vítimas de fofocas de amigas intriguistas que pretendem colocar na cadeia as suas próprias amigas, motivo pelo qual deram pistas erradas, e esperam pe¬los golpes fatais para depois ficarem no gozo e a rir fartamente, já quan¬do elas estiverem sentadas com bata de presas sentadas num daqueles bancos utilizado pela cidadã Não Rica que morava no Nova Vida Boa Vida, Velha Vida Má Vida. De acordo ainda com o que con¬seguimos apurar, do grupo de 15 que serão brevemente talhados pelas respectivas esposas, consta um que é jornalista dum dos semanários da capital ao qual tivemos já a missão de o alertar e que, ontem mesmo o referido jornalista mandou retirar da cozinha todas as facas e admitiu mais um guarda-costas como refor¬ço

da sua guarda pessoal. Estamos também desenvolvendo esforços no sentido de remeter cópia da lista para os empresários visados e cujas esposas se aprestam a desferir-lhes o golpe facal pelos respectivos pes¬coços, sendo que a um dos citados a esposa planea cravar-lhe a faca pelo rabo primeiro e depois pelas costas e depois a última facada será na bar¬riga pois diz a mesma esposa que ele só é barrigudo porque nunca mais teve tempo de ir ao ginásio devido a grande ocupação que tem com a recente namoradinha do bairro, que não lhe sobra tempo, só tem tempo para ginásticas proibitivas no fundo da ilha. Mas há também notícias de um presidente de partido político que foi acusado de malandro pela es¬posa, a qual aguarda apenas por luz verde da Associação para furar-lhe as nádegas e cortar-lhe a língua pois alega que ele não pre-

Leitor felicita Kanzala Sr. Kanzala!

O

brigado por ter voltado ao SA com as suas crónicas estonteantes, que fazem o bom leitor «lambuzar-se». Até o homem aborrecido, e talvez por não ter o que comer, tem a oportunidade de alimentar-se do prato (crónica) posto à mesa, à sua disposição, numa tarde de sábado. À crónica em questão foi de partir de rir. Todos os senhores, colegas, familiares e amigos que estavam à minha volta não puderam conter as lágrimas de tanto rir.

Vamos pacificar os espíritos também com crónicas dessas. Uma maneira algo diferente de chamar a atenção das mulheres e das pessoas em geral. A vida é uma dádiva de Deus. Deixemos que seja Ele a decidir quando retirá-la. Não façamos mal a ninguém para o bem do próximo e de toda a humanidade. Contudo, no fim do texto, os responsáveis pela paginação cometeram uma «gaffe», que acabou por truncar o conteúdo. Ainda assim, obrigado mais uma vez kota Kanzala. Luther Santana

cisa da língua para nada, dado que mesmo sendo deputado fala muito pouco e não precisa das nádegas porque faz mui¬to pouco recurso a elas para dar-lhe o prazer de uma noite bem gozada. São vários os motivos das mulheres ciumentas que apenas passaremos um pequeno extracto de uma carta que nos foi enviada por um cidadão anónimo, Mais adiante. Falta ex¬plicar que os portugueses visados, têm morada desconhecida pelo que é mais provável que levarão facadas de suas esposas angolanas, o que seria uma vergonha para todos nós pois vai correr a fama em Lisboa de que as angolanas são canibais confundem carne de marido com carne de bicho para fazerem bife e comerem com funge. Mas vejamos ainda o teor da carta da amiga da Genoveva: Minha grande amiga Genoveva. Te escrevo esta carta não para criar problemas no teu lar. Mas como tua amiga que sempre fui não podia deixar de te informar que o teu marido lhe vi mesmo com os meus olhos que um dia a terra a de comer, estava antionte no restau¬rante Fiado perto da minha casa com uma tipa de saia preta e azul, e estava a lhe pôr a mão em baxo da saia não sei se era para prucurar o qué, mas eu vi mesmo com a minha cara toda, ele depois de meter a mão em baxo, a lhe dar dinheiro numa cartera branca e ela a vaca dimerda a receber depois lhe deu um bejo na boca dele. Do teu marido. E quando o meu filho chegou em casa também confirmou que era o teu marido. Por isso não digas que eu não só tua amiga e só espero que não ficas burra, tens que atuar já en¬quanto é cedo. Sempre sua amiga Fatita da Conceição. É assim que elas agem, as amigas que estão na base dos esfaqueamen¬tos selváticos. São elas que incitam a violência e depois, na hora da justi¬ça... dão o fora!

NR: Esta crónica teve de ser republicada por ter saído truncada e após reclamação de alguns leitores. Pelo facto, pedimos desculpas aos leitores e ao seu autor.


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Crónicas

O Largo dos Poetas Periféricos \ António dos Santos «Kidá» (*)

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o ano 2000, o autor dessas linhas assinalava duas décadas de percurso artístico, iniciado no limiar dos anos oitenta. Nessa altura, e embora fosse seu desejo realizar uma exposição de gravura artística para assinalar a efeméride, tal não fora possível, uma vez que esbarrara liminarmente no «muro» onde os pedidos de apoio foram remetidos: nos patrocinadores, cuja falta de «sensibilidade artística» é assinalável. Em Angola, é ainda muito difícil conseguir-se apoios para a realização de eventos culturais e artísticos. Quando muito, vão surgindo entidades empresariais que amiúde apostam, sobretudo, em músicos da nova vaga, uma vez que, por essa via, o retorno dos investimentos se pode afigurar mais rápido, do que, por exemplo, numa actividade ligada às artes plásticas. Daí que, e em função dessas dificuldades, tive que adiar a data da realização da referida exposição artística projectada. No entanto, dois anos mais tarde, ou seja em 2002, pude, depois de grande ginástica, realizar esse desiderato, que foi o de apresentar ao público uma mega exposição artística denominada «Kidá: 20 Anos de Gravura/ Exposição Retrospectiva», que esteve patente em Março daquele ano no Salão Internacional de Exposições de Arte, do Museu Nacional de História Natural, em Luanda. A ginástica, engendrada na altura, com vista à mobilização de apoios, foi mais ou menos a seguinte: 1) Para «Comissário» da exposição, contei com o apoio desinteressado do antropólogo Virgílio Coelho, que fez um excelentíssimo trabalho de pesquisa formal em torno da gravura artística em Angola, e cujo contributo descritivo certamente ajudará, no futuro, num melhor entendimento da história das artes plásticas angolanas; 2) Contamos também, para o referido catálogo, com um texto assinado pelo Historiador e Crítico de Arte Adriano Mixinge; 3) O amigo Álvaro Macieira, jornalista e artista plástico,

«encarregou-se» de pôr toda a máquina publicitária a funcionar, e até alguns «troquitos» me terá dispensado (retirados da sua algibeira), com vista a suprir a carência monetária que se fazia sentir, particularmente na aquisição de molduras (com vidros) para suporte e protecção das gravuras; 4) Para a impressão das avultadas matrizes (entre placas de linóleo e de xilogravuras), contei com o apoio de alguns estudantes finalistas da Escola Nacional de Artes Plásticas, com os quais partilhei experiências de técnicas de impressão gráfica na Oficina de Gravura da União Nacional de Artistas Plásticos (UNAP), da qual sou membro efectivo desde 1980; 5) Na selecção das molduras com vidro e aplicação do «spartpartou», contei com o apoio assinalável do Sr. Marçal, das Galerias Nucha; 6) Ora, depois de ultrapassadas essas e outras questões, faltava algo fundamental para uma exibição daquela dimensão, e que se transformou num verdadeiro calcanhar de Aquiles: ter um catálogo condigno, que reflectisse os vinte anos de percurso artístico. Metemo-nos em campo, batendo portas, à busca de eventuais patrocinadores. Debalde. Quase todos insensíveis! As esperanças estavam quase perdidas, quando alguém sugeriu

que fossemos bater as portas da Gráfica Offset. Escolha certa. Foi ali que encontramos sensibilidade suficiente, nomeadamente dos irmãos Brock (Werner e Wolfram), alemães residentes no país há longos anos, que nos concederam um patrocínio exclusivo do catálogo com 32 páginas impressas com textos e imagens, sendo a capa completamente a cores. Aliás, a paixão destes pelas artes gráficas é de tradição – lembremo-nos que foi na Alemanha onde foram feitas as primeiras impressões gráficas por via da tipografia, invenção atribuída ao alemão Gutenberg por volta de 1439. Para nós, foi uma atitude louvável. Tivemos inclusive o privilégio de os ter presentes por altura da exposição, acompanhados dos pais (era a família Brock em peso), tendo ela sido inaugurada por Fragata de Morais, então Vice-Ministro da Educação e Cultura. Tivemos também o privilégio de contar com a presença da escritora Maria Eugénia Neto, viúva do primeiro presidente angolano, o Dr. António Agostinho Neto. Segundo observadores, a exposição foi um êxito, não obstante as difíceis condições técnicas e materiais, e até mesmo financeiras, em que ela acabaria por ser realizada. Foi um marco deveras importante, não só para o autor, mas também, e sobretudo, para

a valorização das artes plásticas nacionais, particularmente na disciplina da gravura artística. É óbvio que depois da odisseia, isso requeria uma comemoração. Ainda que modesta. E assim foi. No dia combinado, todos os caminhos foram dar no meu cubículo no Golfe I, nas redondezas do Bairro Malanjino. Foram poucos os convidados. E escolhidos a dedo, porque a logística não dava para muitas flores. Tive o privilégio de contar com a presença de todos a quem havia endereçado o convite para a «tertúlia» em minha casa, em pleno areal. E lá apareceram o malogrado Professor Jorge Macedo, o antropólogo Virgílio Coelho e os jornalistas Álvaro Macieira e Salas Neto (este último na altura Editor de Sociedade no Semanário Angolense, e do qual é actualmente o seu Director Interino). A «almoçarada restrita», regada naturalmente com um bom tintol das Terras de Xisto (boa parte das «ngalas» havia sido trazida pelo bom do Macieira, que as retirou da sua garrafeira), foi memorável. Teve até uma nota, com foto e tudo, no Semanário Angolense, numa crónica social assinada pelo amigo Salas Neto. Durante o almoço, a conversa «deambulou» por vários assuntos, da política ao desporto, passando inevitavelmente pela literatura. Às tantas, o Macieira fez questão

de lembrar, aos demais presentes, que o autor dessas linhas sempre se dedicou à escrita de alguns poemas, que gostaria de ver publicados, depois de revistos por quem sabia. E a escolha recaíra precisamente sobre Jorge Macedo, que não se fez de rogado, aceitando o «desafio» lançado. O professor Jorge Macedo era um homem de Cultura de grande dimensão e de sensibilidade extraordinária. E era modesto demais! Daí a sua anuência em revisar incondicionalmente os meus «pobres» textos poéticos. Até o título da eventual obra já o Álvaro Macieira acabou por sugerir logo-logo: «O Largo dos Poetas Periféricos». «Mas porquê esse titulo?». À questão, Macieira explica que, ao chegar à minha casa, naquele dia (por estar situada num beco, depois da rua ser engolida por construções anárquicas, tive de indicar um largo próximo como referência), ele havia notado numa parede a seguinte inscrição: «Os poetas periféricos». Daí para a composição do título, foi canja. Porém, espantosamente, nem mesmo eu, que já lá vivia há «séculos», havia dado conta da inscrição. Assim, movidos pela curiosidade, fizemos um intervalo no almoço para lá irmos confirmar. Era verdade. Tratei de fazer uma foto da inscrição, para que constasse. É provável que jovens do bairro com certa veia poética fizessem aí as tertúlias à sua maneira e tivessem «grafitado» a inscrição lapidar: «Poetas periféricos». Só podia ser. Não havia uma outra explicação. Infelizmente, e com o decorrer do tempo, o largo deixou de ser largo: no mural adjacente à escola primária nas cercanias da minha casa, foram erguidos outros «casebres» e a grafite «descoberta» pelo Álvaro Macieira na sua «viagem histórica» ao Bairro Malanjino acabou por desaparecer. Para sempre! Mas, ao menos, fica aqui registada a foto, que eu tivera o cuidado de tirar na altura, para a memória colectiva, nesta crónica escrita sobre o «nosso» areal. P.S.: O desejo da publicação da obra literária mantém-se, embora, para o efeito, outra grande ginástica já se projecte no horizonte, na busca de eventuais patrocinadores.

(*) Artista Plástico e Sociólogo


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«Cheiro» de aumento salarial faz disparar preços O Conselho de Ministros apreciou, recentemente, em sessão extraordinária, orientada pelo Chefe de Estado, vários Decretos Presidenciais, que encerram um conjunto de medidas que vão resultar no ajustamento salarial da Função Pública e no aumento do salário mínimo nacional, em 15 por cento. O ajuste salarial, a ser feito já a partir de Julho, tem como base o princípio da diferenciação positiva, segundo o qual, beneficiam de aumentos mais elevados os salários mais baixos. Kim Alves

O

s salários dos auxiliares, operários, escriturários, dactilógrafos e aspirantes da carreira administrativa vão ter um aumento de 40 por cento, enquanto os das categorias do grupo de pessoal de técnicos médios crescem 20 por cento. Os soldos dos funcionários e agentes administrativos beneficiarão de ajustes na ordem dos 5 por cento. No mesmo âmbito, serão aumentadas as pensões atribuídas em regime especial aos antigos combatentes, deficientes de guerra e familiares de combatentes tombados ou perecidos. A novidade foi bem recebida pela população, sobretudo para os que auferem salários mais baixos, embora algumas pessoas tenham mostrado algum cepticismo quanto à medida. Especialistas

em economia não deixaram de vir a público dizer que o aumento, nas proporções anunciadas, poderá causar sérios embaraços à actual política económica do Governo. A população receia que, como já aconteceu em outras ocasiões, com o aumento salarial, sem que haja medidas complementares por parte do Governo, os preços de bens e serviços disparem igualmente, fazendo com que o aumento de nada sirva. Gina Gama, enfermeira de profissão, disse que a medida é bemvinda, porque, no seu ramo, os salários são muito baixos. «Não entendo como é possível num país como o nosso, uma enfermeira profissional, com o nível médio, ainda auferir a miséria de 30 mil Kwanzas, sem contar a falta de condições de trabalho, sobretudo nos centros de saúde municipais. Por isso é que se trabalha muito mal nos hospitais, porque não há

incentivo nem condições para se fazer melhor», desabafou. Contudo, ela é de opinião que aumentar o salário só, não basta, «porque mal se falou em aumento dos salários, alguns produtos básicos começaram a aumentar de preço nos mercados e já vai acontecer a mesma coisa de sempre: sobe o preço do combustível e sobe tudo no mercado, dos transportes, da comida, da roupa, etc. Sobe o salário e tudo aumenta de preço porque o Governo não fiscaliza e só faz política de deixa andar, isso não beneficia o povo». Augusto Neves, motorista de pesados, é da mesma opinião: «quando ouvimos falar em aumento salarial, todos gostamos, começamos a fazer planos, mas no nosso país, mesmo que o Governo aumente os salários a cem por cento, em nada vai melhorar a vida da população. Os aproveitadores estão atentos e, basta aumentar alguma coisa, imedia-

tamente, tudo sobe. Assim já vai aumentar o câmbio do dólar e quando as kinguilas aumentam, todo o mercado mexe, até parece que essas pessoas é que mandam na economia do país, não é o Governo», sublinhou o cidadão. De facto, com o anúncio do aumento do salário mínimo e o das outras categorias profissionais, questão que está a fazer alguma confusão nas pessoas pouco entendidas na matéria, pelos números percentuais apresentados, nos armazéns e lojas, alguns produtos começaram de facto a subir de preço. É assim que 1 litro de óleo alimentar, que custava entre 180 e 200 Kwanzas, já está a ser comercializado a Kz 300. Um kg de açúcar, anteriormente vendido a 150 ou 200 Kwanzas, passou para Kz 250, enquanto um rolo de papel higiénico, passou de Kz. 40 para 60. Ana Santos, doméstica, considera que «não vale nada alguém

ter um grande salário só pelos números e quantidades de notas que vai receber, para não ter grande valor no mercado. Já sabemos como é que as coisas funcionam aqui, foi sempre assim das outras vezes e não duvido nada que não vai ser a mesma coisa agora. É só ir ao mercado e ver que o preço do peixe, até da sardinha lambula, já subiu, assim como a carne e outras coisas básicas, como será então quando as pessoas começarem a receber mesmo o aumento?», questionou a mulher. Estes são apenas alguns pequenos exemplos do que vai acontecer quando realmente se proceder aos aumentos salariais, caso o Governo não decrete medidas punitivas ou não estabeleça regras do jogo. É preciso que instituições como a Polícia Económica, a Fiscalização e até o Instituto do Consumidor sejam envolvidas, para que o cidadão seja de facto beneficiado pelas medidas do Executivo.

Edel estende serviços ao Panguila A

Empresa de Distribuição de Electricidade de Luanda (EDEL) vai expandir a sua actividade à comuna do Panguila, Cacuaco, província de Luanda. Neste sentido, com vista a manter os primeiros contactos com a comunidade e inteirar-se das condições das infra-estruturas eléctricas existentes, uma delegação composta de gestores da EDEL, encabeçada pela administradora para a Área de Planeamento e Engenharia, Clara Sanches, efectuou quarta-feira, 15, uma visita ao local. Na ocasião, o representante do coordenador do Panguila, Sousa Manuel, aproveitou para apresentar as futuras instalações da EDEL, além de ter dissertado aos membros da delegação sobre as necessidades que a localidade tem no sector eléctrico. Por seu turno, Clara Sanches assegurou que, a nível da EDEL, já está em marcha o processo que culminará com a sua implementação no Panguila, explicando que a visita ora efectuada é um marco para o cumprimento desse propósito. « Há todo um processo burocrático que deve ser seguido, mas, paralelamente a isso, haverá necessidade de

se fazer um levantamento da rede existente para termos uma percepção dos investimentos que teremos de fazer», disse Clara Sanches. No final da visita, os moradores disseram estar satisfeitos com a presença dos gestores da EDEL, visto que, para eles, isso vai representar melhorias futuras no fornecimento de energia eléctrica. Álvaro Costa, presidente da Comissão de Moradores do Panguila, disse estar expectante quanto à implementação da EDEL na sua comuna. «Conhecemos o potencial da EDEL, sabemos que é uma empresa parceira do Governo de Luanda no que diz respeito à energia eléctrica, por isso, a expectativa é grande. A população está alegre, porque acreditamos que, doravante, vai haver melhorias. Podemos dizer que o abastecimento da energia aqui no Panguila, ainda não é dos melhores. Há sectores que estão sem energia há mais de quatro anos», afirmou. Na Comuna do Panguila estão edificadas 10.500 residências. O contacto desta quarta-feira surge na sequência de uma visita efectuada anteriormente por membros do GPL e do Conselho de Administração da EDEL.


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Economia Acomodação de veículos na Baixa de Luanda

Estacionamento «vertical» com auto-atendimento A máquina instalada «por acaso» à entrada do parque-edifício ganha a simpatia dos clientes e a atracção da empresa gestora do estacionamento. Abre-se, no mercado angolano, outra uma via para o «testemunho» da marca lusitana de parqueamentos, a Multifrota. número de carros que entram e saem e as receitas», facto que se reverte em melhorias na satisfação do público.

N. Talapaxi S. Nunes Ambriz (Foto)

C

om um cartão pré-pago para o uso do parque de estacionamento por um determinado período, conforme as necessidades, o cliente ganha mais tempo e mais conforto. Não tem que esperar pelos atendentes. Pode apanhar o seu carro, passar pelas chancelas de segurança depois de reconhecer o crédito com o próprio cartão numa caixa electrónica - chamada de «estação» - postada no acesso aos veículos. Uma «caixa» para a entrada e outra para a saída. E pronto! O sistema, que não é nenhuma novidade para «nós», é o recurso no qual investiu recentemente o primeiro Parque «vertical» de estacionamento de Luanda, conhecido por «Silo Parque», localizado na região da Marginal, entre a avenida «4 de Fevereiro» e a rua Major Kanhangulo, no município das Ingombotas – por trás do Ministério dos Petróleos. Um equipamento para o mesmo fim, que havia sido instalado com a construção do prédio, danificou-se e foi desactivado por falta de assistência técnica, quase dez meses depois da inauguração, que ocorreu em Maio de 2009.

Facilidade A actual máquina, assim como outras modificações feitas no local, é resultado das diligências feitas pela nova empresa gestora do parque - a «Spauto», há três meses em actividade, conforme a declaração de um dos responsáveis, Olímpio Silva. Além de facilitar a vida da clientela, maioritariamente constituída por funcionários que trabalham naquelas imediações da Baixa de Luanda, o novo equipamento facilita a gestão do estacionamento e permite um balanço mais satisfatório das rentabilidades, de acordo com Carlos Lima, engenheiro electrónico industrial, que falou em exclusivo ao Semanário Angolense.

Máquina de trocos

Um dos responsáveis pela programação e a instalação da máquina no parqueamento, o engenheiro Carlos Lima acentuou que «as receitas aumentaram porque consegue-se controlar tudo: as vagas para estacionar, o

De fabricação suíça e ajustada tecnicamente ao mercado angolano, o engenho é dotado de um sensor programado para reconhecer até notas mais «sacrificadas» pelo excessivo uso (salvo as excepções). Este aspecto foi ponderado observando-se que grande parte do dinheiro impresso circula manualmente no mercado e por muito tempo em condições que o «deterioram» impetuosamente. O cliente pode introduzir no aparelho notas de 50, 100, 200, 500, 1000 e 2000 kwanzas. A máquina não aceita notas de 5 e 10 kwanzas pois, para os preços praticados no estebelecimento, requer-se uma grande quantidade dessas notas; o armazenamento desses volumes diminuiria a rentabilidade da máquina.

Para dar o troco, antes de depositar o dinheiro no cofre interno, o aparelho tem a capacidade de acumular até cem notas de 50, 100 e 200 – cada valor no seu compartimento, levando em conta que o preço por uma hora de

Caro, mas cómodo O

parque «vertical» de estacionamento, feito de estrutura metálica com laje betonada, é propriedade do Governo Provincial de Luanda (GPL) e é explorado em regime de concessão, pela gestora «Spauto», por tempo indeterminado, revelou Olímpio Silva, um dos gerentes. A estrutura possui 217 vagas das quais, actualmente, 36 são ocupadas por clientes mensalistas. Tem seis pisos (o térreo mais cinco andares) e 20 funcionários. O custo do serviço de parqueamento varia entre 200 kwanzas (por cada hora) a 1.450 kwanzas (por 8 horas).

Por sua vez, a taxa diária é de 1.400 kwanzas e a mensal de 42.000 kwanzas. Todavia, apesar da satisfação dos usuários pelos préstimos, duma maneira geral, os preços parecem ser no momento a maior reclamação. Assim o deixou bem claro a funcionária da ENSA, Catarina Sousa, que sai da Vila Alice e parqueia o seu veículo das oito às 16 horas. Para a cliente o preço alto do serviço se revela cada vez que é obrigada a pagar 200 kwanzas quando passa um minuto sequer do tempo de tolerância (de dez minutos) que deve retirar o carro. No entanto, a comodi-

dade é a melhor vantagem do uso do estacionamento. Manuel Diogo é outro freguês do «Silo Parque». Ele vem do bairro do Benfica e deixa o automóvel por oito horas no estacionamento das quais o valor que paga considera caro mas acha que acompanha o mercado. Por outro lado, tendo em conta os benefícios e a pouca existência desse tipo de serviço na cidade, a taxa cobrada é tolerável, julga o cliente, para que o uso da máquina de autoatendimento é uma tecnologia a serviço da qualidade.

N.T.S.

estacionamento é de 200 kwanzas e muitos pagamentos são feitos com as notas acima das de 200 kwanzas. Nessa configuração as restantes notas são directamente armazenadas nos seus respectivos lugares. No caso do «Silo Parque», consoante as declarações do técnico superior, este equipamento é capaz de amealhar o correspondente a mil a 1.500 dólares, dependendo também do movimento e do valor das notas a serem usadas pelos utentes.

Convencimento O uso da máquina, com o cartão pré-pago, não dispensa a alternativa do pagamento no caixa como é convencional, referiu Carlos Lima. A máquina foi uma proposta para experiência que a empresa «Multifrota Angola» fez e que poderia ser paga consoante condições de amortização estabelecidas pelas partes. A «Multifrota Angola», com a qual Carlos Lima alinhou uma parceria, em princípio apenas forneceu e instalou as estações de entrada e de saída pelas chancelas de segurança no acesso ao parque, dentro da aplicação do novo sistema informático. No entanto, atento às vantagens no uso do equipamento durante o período de experiência, segundo o engenheiro, os gestores do empre-


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endimento, em vista disso, mostraram-se propensos a adquiri-la. À «Multifrota Angola» além da venda, encarrega-se da manutenção. No que concerne à comercialização, a «Multifrota Angola» detém a representação da marca sueca «ZEAG» e vende este modelo de engenho sob encomenda por aproximadamente USD 37 mil. O equipamento é fabricado sob medida por isso leva mais ou menos trinta a 45 dias do pedido a entrega. Consoante Carlos Lima, o pessoal técnico necessário para lidar com o serviço de manutenção, dum modo geral é de nível médio, e precisa ter conhecimentos essencialmente de electricidade e computadores. No entanto, faz-se uma «moldagem» da mão-de-obra para responder determinadas áreas. Proximamente, conforme o engenheiro, alguns quadros serão enviados a Portugal para uma formação específica. Antes do «Silo Parque», Carlos Lima buscou introduzir, sem sucesso, o sistema das «suas» máquinas no estacionamento do Aeroporto Internacional «4 de Fevereiro», antes das reformas que lhe deram o novo visual, e no parqueamento do Belas Shopping. Em perspectiva o engenheiro conta com o funcionamento dos equipamentos no futuro parque do «Empreendimento Comandante Gika» – omega centro empresarial, habitacional e de negócios, considerado o maior projecto imobiliário do país, do qual faz parte o Luanda Shopping.

Para abordar segurança e higiene no trabalho

Ministério dos Petróleos reúne com petrolíferas O

Ministério dos Petróleos reuniu-se, quinta-feira, 16, em Luanda, em seminário, com cinco companhias petrolíferas que operam no país (ESSO, Total, BP, Chevron e Sonangol PP), para troca de experiência sobre «Higiene Industrial no Sector Petrolífero em Angola». A realização de uma reunião plurianual entre a Associação das Companhias de Exploração e Produção de Petróleo de Angola (ACEPA) e o Ministério dos Petróleos, para uma melhoria significativa da saúde dos trabalhadores angolanos no sector petrolífero, em especial os contratados, estiveram na base da realização do seminário. O seminário visou igualmente me-

lhorar o nível de implementação dos requisitos técnico-profissionais durante as operações petrolíferas. Na abertura do seminário, o vice-ministro dos Petróleos, Aníbal Silva, salientou que falar da higiene industrial é relacioná-la com a saúde ocupacional e com a segurança dos trabalhadores. De acordo com Aníbal Silva, a prevenção no uso de produtos químicos, a protecção dos trabalhadores na exposição de determinados agentes nocivos, o ambiente de trabalho apropriado e adequado, aos trabalhadores, são práticas que as operadoras e demais companhia devem, obrigatoriamente, implementar, sem prejuízo da aplicação da legislação nacional ou internacional.

Segundo a directora do INADEC

Serviços de telecomunicações são os campeões de reclamações

A

directora-geral do Instituto Nacional de Defesa do Consumidor (INADEC), Elsa Bárber, disse, quarta-feira, 15, que os consumidores angolanos têm apresentado muitas reclamações em torno da prestação de serviços de telecomunicações, comércio de electrodomésticos e de bens alimentares. Segundo a gestora em declarações à Angop, o INADEC tem recebido também muitas reclamações sobre as concessionárias de veículos automóveis e algumas relativas a área de seguros, em contrapartida, informou que, nessa altura, não tem nenhuma queixa sobre a banca, porque têm sido bem resolvidos os conflitos sobre esse sector. Elsa Bárber informou que grande parte das reclamações prendem-se com a falta de assistência técnica pós-venda, no comércio de electrodomésticos, desrespeito dos prazos de garantia, rejeição de devolução de bens assim como a falta de trocos no acto

da compra de produtos. «Em suma, disse a responsável do INADEC, os direitos do consumidor no país ainda não são observados na sua plenitude porque constatam-se muitas violações nas relações de consumo». Para conter tais situações, a directora disse que a instituição tem levado a cabo campanhas de sensibilização a todos sectores da sociedade assim como realizado visitas a estabelecimentos para avaliar, entre outras, as condições de acondicionamento e de produção de bens. Relativamente à pirataria, referiu que recebem muitas reclamações de empresários, sobretudo de produtos contrafeitos, e nesses casos o INADEC limita-se a recolher amostras e enviá-las a laboratórios nacionais ou estrangeiros, caso seja necessário, para apurar a qualidade do bem, porque assuntos de contrafacção é uma matéria da competência da Polícia Económica.


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Sociedade No restaurante Cais de Quatro

Funcionários acusam patrões de racismo e maus tratos

U

m grupo de funcionários entrou com uma acção na justiça, contra a direcção do restaurante Cais de Quatro, à Ilha de Luanda, devido a um alegado caso de despedimentos arbitrários, tacismo e maus tratos no local de trabalho, soube o Semanário Angolense. De acordo com relatos dos trabalhadores daquele restaurante, eles convivem há oito anos, praticamente desde a criação, com uma série de maus tratos, protagonizados pelos proprietários do restaurante e o gerente – identificado unicamente por Daniel –, todos de nacionalidade portuguesa. Os despedimentos tidos como arbitrários tiveram como base os acontecimentos do dia 23 de Abril do corrente ano, em que três empregados entraram em choque com os patrões. Segundo as nossas fontes, naquele dia eles foram obrigados a trabalhar debaixo de chuva e sob condições péssimas, tanto que foram os próprios clientes que reclamaram, argumentando que não podiam ser atendidos nas condições em

que se encontravam os empregados: completamente molhados pela chuva, com as calças enroladas até ao joelho e as mangas arregaçadas. «Na hotelaria, o funcionário é um elemento muito sensível, pois lida com alimentos. Por isso, a sua imagem e os utensílios que usa devem merecer muita atenção», observa um dos elementos do grupo dos despedidos. No referido dia, dois empregados reclamaram junto do patrão, dizendo que não podiam trabalhar naquelas condições, em resposta, ouviram o cidadão luso dizer, de forma arrogante: «quem manda aqui sou eu e quem não quiser trabalhar, vai para casa”. Chegou a mandar os seguranças expulsarem os jovens, mesmo debaixo de forte chuva. Um deles foi despedido na mesma hora e os demais ainda voltaram no dia seguinte para a habitual substituição dos turnos, mas também foram surpreendidos com a ordem de demissão e consequente expulsão do estabelecimento. Dois dias depois, à lista dos despedidos, sem nenhuma jus-

tificação, foram adicionados nomes de outros funcionários, que já se encontravam suspensos por tempo indeterminado. Os funcionários do restaurante Cais de Quatro reclamam ainda dos actos de crueldade e racismo de que eram vítimas. A gerência diz que o negro naquele restaurante só tem deveres, não tem direitos. «Os funcionários são obrigados a comer em pratos de plástico, para que não contaminem os pratos dos clientes (conforme dito pelos patrões)», segundo a nossa fonte. Além do salário, os funcionários angolanos não têm nenhum outro benefício, como segurança social, ajudas de custos em caso de algum infortúnio, não podendo, sequer, ser transportados pelo carro da empresa, que é de uso exclusivo dos trabalhadores expatriados. Como se isso não bastasse, os descontos são frequentes. Há desconto para tudo. «Já vivemos uma situação em que um colega foi descontado por ter faltado para assistir ao enterro da própria mãe»(?!), lamentaram-se

António Vieira, co-proprietário, ironiza

«Isso é para rir» E

m declarações ao Semanário Angolense, António Vieira, co-proprietário do restaurante Cais de Quatro, disse que as acusações são infundadas e que os funcionários nem sequer estão despedidos. «Os funcionários em causa simplesmente recusaram-se a trabalhar. Essa é uma situação que decorre há dois meses, e há um mês que esses funcionários estão suspensos, no âmbito de um processo disciplinar», justificou-se António Vieira. Ele fez saber que a situação está a ser tratada pelos advogados das duas partes. «Ainda ontem esteve cá o advogado deles a falar com a nossa advogada. Foi na semana passada que a nossa advogada esteve no Ministério da Administração Pública, Emprego e Segurança Social (MAPSS) a tratar justamente desse assunto. Portanto, o processo está a decorrer», revelou.

Quando aos alegados casos de racismo e maus tratos, António Vieira desvalorizou completamente, dizendo que é apenas um artifício que está a ser usado pelos funcionários para «atingirem os seus fins. Isso é para rir, então você é vítima de maus tratos e racismo e ainda assim trabalha 8 anos? Muitos desses funcionários estão connosco desde o primeiro dia. Sabe que quando não se consegue de uma forma tenta-se de outra. É isso que estão a fazer», argumentou. O gestor mostrou-se confiante na resolução do caso pela justiça, esperando que a situação seja resolvida com a maior brevidade possível. «Nós fazemos o que a lei manda, não estamos acima da lei. O empregado tem obrigações e deveres, assim com o empregador tem, é nessa base que trabalhamos», declarou António Vieira.


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No bairro Petrangol, moradores sem protecção

Jovem assassinado por meliantes Manuel Malanga informou que apresentou queixa à Policia Nacional. «Pensamos que, com essas informações, a DINIC poderia investigar o caso, apanhando os meliantes que terminaram com a vida do meu filho, mas, infelizmente, não estamos a ver nada, nem sequer a presença da polícia cá para se inteirar se, desde que morreu o Jojó, o bairro está ainda a sofrer ameaças», lamentou. Telma Dias

M

ais um caso de assassinato, por meliantes, ocorreu na madrugada de sábado, 11, no bairro Petrangol, município do Sambizanga, tendo a vítima sido João Malanga, também conhecido por Jojó, de apenas 18 anos de idade, estudante da quinta classe, na escola da Misericórdia, e lavador de carro. A vítima foi baleada por seis meliantes, que invadiram a sua residência. O jovem, primogénito dos pais, vivia ainda em casa dos progenitores, num quintal comum, quando os ladrões arrombaram a residência em que vivia, numa altura em que Jojó se encontrava a dormir, na sala, com um irmão mais novo. «Eles entraram e roubaram uma botija de gás, de seguida pediram dinheiro ao Jojó, que ele não possuía. No momento em que ele saia da sala em direcção ao quarto da mãe, os malfeitores manipularam as armas e alvejaram-no na parte traseira da cabeça», afirmou Manuel Malonga, o pai. Ferido, Jojó permaneceu prostrado em casa a esvair-se em sangue e só minutos depois foi transportado para um centro de saúde, «Agostinho Neto», próximo de casa, onde recebeu os primeiros socorros. Transferido para o Hospital Américo Boavida, o jovem não resistiu aos graves ferimentos. O pai do falecido informou que eram seis criminosos, quatro dos quais cercaram a residência e dois entraram, armados com uma metralhadora de marca «Miniuse» e mascarados com panos de cores diversas. Precisou que se recorda das vozes dos assaltantes, pois foi a segunda acção à mão armada que os mesmos meliantes perpetraram contra a sua casa. Segundo informações colhidas pelo Semanário Angolense no local, tudo indica que Jojó já estava a ser perseguido pelos seus algozes, porque meses antes havia alugado um quarto no quintal em que os pais vivem, Os assaltantes chegaram, arrombaram a porta e exigiram a

quantia de cinco mil Kwanzas, no mês seguinte, os meliantes voltaram, mas não conseguiram realizar os seus intentos, devido a que a família gritou por «socorro». Manuel Malanga informou que apresentou queixa à Policia Nacional. «Pensamos que, com essas informações, a DINIC poderia investigar o caso, apa-

nhando os meliantes que terminaram com a vida do meu filho, mas, infelizmente, não estamos a ver nada, nem sequer a presença da polícia cá dentro do bairro para se inteirar se, desde que morreu o Jojó, o bairro está ainda a sofrer ameaças», lamentou. A vizinhança contou que, ultimamente, o bairro vive de perturbações e desassossego,

devido aos grandes grupos de bandidos que se estão a formar, pois o local está às escuras há um mês, logo, o número de meliantes tende a aumentar. Todos os dias ocorrem assaltos, os bandidos invadem a mesma casa mais de duas vezes, como aconteceu com um exmorador, conhecido por Zé, que vivia no referido conglomerado

mas que, devido aos constantes ataques à sua residência, foi forçado a mudar de bairro. «Agora sou morador de Cacuaco, mudei de residência há já duas semanas, fui a vítima número um dos bandidos. Assaltaram a minha residência por três vezes. Na primeira vez, levaram a botija, a seguir, a geleira e à última vez vieram buscar dinheiro, no valor de 10 mil Kwanzas só para que me deixassem com vida», recordou com amargura. Os munícipes daquela periferia queixaram-se também da ausência de uma esquadra policial móvel no local e que raramente passa um carro da patrulha acima das vinte duas horas, o que facilita a prática do elevado índice de actos criminosos. Eva Dala, solteira, moradora há mais de 30 anos, contou que foi igualmente assaltada em três ocasiões, a última das quais na semana passada, em que intervieram três meliantes, também mascarados. Primeiro levaram uma botija, a seguir, um aparelho, depois, como já não encontrassem algo de valor, furiosos, agrediram a indefesa mulher. «Como vivo sozinha, pegaram-me no cabelo, arrastaramme até ao quintal e disseramme que não gritasse, pedindo dinheiro. Eu disse-lhes que não tinha, então continuaram a bater-me, deram-me um pontapé no rosto, em direcção às vistas, ao ponto de cobrir de sangue. Rasgaram-me a roupa toda e disseram-me: ‘tens muita sorte que estamos com muita pressa, porque senão, iríamos te violar’. Daí eles retiraram-se e mandaram-me entrar», salientou. Até às 22 horas, já ninguém circula pelo bairro e caso se ande, tem necessariamente de ser acompanhado por um grupo de pessoas. O silêncio, o medo e a penumbra tomam conta dos munícipes. Os meliantes, na falta de arma de fogo, usam armas brancas ou garrafas, para agredir e assassinar sem piedade, é assim o cenário de todos os dias no bairro Petrangol. Contactada por este jornal, a esquadra do S. Pedro da Barra, o comandante, conhecido por «bate feio», disse não ter conhecimento da ocorrência.


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Sociedade Para dar lugar a um projecto habitacional e comercial

Mais uma escola histórica à baixa de Luanda em vias de ser «varrida» Depois de a escola 3006, localizada à avenida 1.º Congresso do MPLA, em pleno coração de Luanda, ter sido «competentemente varrida» para dar lugar a um projecto habitacional de cunho privado, mais uma instituição de ensino poderá proximamente conhecer o mesmo fim. A confirmar-se a cidade capital perderá mais um edifício histórico, que tem mais de meio século de existência. Ilídio Manuel

O

projecto está, ainda no «segredo dos deuses», mas tudo aponta que a escola 3007, localizada defronte ao Governo Provincial de Luanda, venha a ser derrubada para, no seu lugar, ser erguido mais um arranha-céus. Mais uma das muitas «torres» que enxameiam a cidade de Luanda, no quadro da política do «Betão armado» em curso ou, antes, o tão propalado «Canteiro de obras». À semelhança do que aconteceu com a sua congénere localizada no gaveto da avenida 1.º Congresso do MPLA, esta escola história, cuja existência remonta aos anos 50, poderá também sucumbir, vergada ao peso de interesses imobiliários de carácter privado. A concretizar-se este projecto, não só uma parte importante da nossa história se apagará, como também milhares de alunos correrão o risco de ficar sem aulas. Os dados são escassos sobre o assunto, mas fontes conhecedoras dos meandros do «negócio» juraram a pés junto ao Semanário Angolense que a escola 3007 «está por um fio». «Não me admira que, cedo ou tarde, seja erguido naquele espaço

um prédio, depois do que aconteceu com a escola que ficava junto à esquina do Palácio dos Congressos», afirma um antigo estudante da escola 7, agora denominada

«escola 307». Ele, que diz ter concluído a 4.ª classe na referida escola, é de opinião que, ao invés de ceder o espaço à gestão privada, o «a escola devia ser ampliada para

Responsáveis contradizem-se

JATALIA, Lda a duas vozes

N

a quarta-feira, 15, o autor destas linhas deslocou-se aos escritórios da referida empresa, localizados ao Bairro Azul, onde foi informado que o director-geral da JATALIA, Teodoro Poulson, se encontrava reunido, tendo para o efeito indicado o seu imediato para substitui-lo no contacto com o jornalista. Abordado sobre o assunto, Jorge Muteka Rocha, director-geral adjunto da empresa, afirmou que a notícia «não correspondia à verdade», ten-

do, no entanto, solicitado «uns minutos, para se informar junto à área Imobiliária da JATALIA». De volta, disse que a sua empresa nada tinha a ver com o caso. Volvidos 45 minutos, Teodoro Poulson entra em contacto com o jornalista, por via telefónica, para lhe informar que a JATALIA «não actuava no ramo imobiliário e que a notícia era infundada». Deixando transparecer uma certa inquietação, parte para a ameaça directa: «A JOTALIA irá processarlhe judicialmente, se a notícia for publicada».

construção de mais salas de aula». «Neste andar da carruagem, não admira que o próprio edifício do GPL venha um dia também abaixo», prognosticou o

ex-estudante da escola 7, visivelmente revoltado. No GPL, mais concretamente no seu Instituto de Gestão Urbana de Luanda (IPGUL) fala-se, à boca pequena, mas ninguém assume diante do jornalista a notícia sobre se a escola será mesmo «varrida». Na tentativa de cruzar as informações, o SA abordou, na terçafeira, 14, por telefone, o chefe de Departamento de Cadastros dessa instituição, arquitecto Soares de Campos, que disse não ter «conhecimento do assunto». Como que a «sacudir a água do capote», remeteu o jornalista para tratar do assunto a um «outro nível». Contactado na quinta-feira, 16, o director-geral do IPGUL, arquitecto Hélder José, disse que não tinha «nenhum conhecimento oficial sobre o assunto». Uma fonte afecta ao órgão reitor da Educação revelou ao SA que tinha apenas «conhecimento oficioso» do assunto, mas que não estava em condições de avançar mais elementos. Fontes convergentes revelaram, entretanto, ao SA que as negociações para cedência do espaço estavam a cargo da JATALIA, Lda, uma empresa de direito angolano que actua em vários ramos do mercado.


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Assaltantes munidos de armas de fogo

Cidadão «aliviado» à saída do banco ao «Lar do Patriota» U

m cidadão foi assaltado, ao meio da manhã de quarta-feira, 15, minutos depois de ter abandonado as instalações do Banco Internacional de Crédito (BIC), localizado na estrada do Lar do Patriota, ao Benfica. O assalto ocorreu quando o referido homen se encontrava já no interior da sua viatura, um Kia, de cor branca, com a chapa de matrícula LD-43-77, CZ, e se aprestava a colocá-la em marcha. Os meliantes, que se faziam transportar numa carrinha de marca Mitsubishi, cuja matrícula não foi possível apurar, abeiraram-se da vítima, e, sob ameaça de duas armas de fogo, obrigaram-no a entregar os valores que trazia consigo. Depois da «colheita», eles meteram-se em fuga, sem deixar rasto do crime. Soube-se que o lesado foi tam-

bém «empacotado» pelos meliantes, que lhe reviraram os bolsos das calças. A vítima, que não quis revelar a sua identidade ao SA, disse, entretanto, que os assaltantes sub-

traíram-lhe a quantia de KZ cinquenta (50) mil, dois telemóveis e as chaves da sua viatura. No recontro com os assaltantes, a vítima acabou por ser ferida na cabeça, por acção de uma co-

ronhada que foi desferida por um dos meliantes. Testemunhas disseram que o lesado terá ainda oposto uma certa resistência, mas que não foi suficiente para demover os assal-

tantes. «Foi tudo muito rápido», descreveu uma das testemunhas, ainda mal refeita do abalo. Segundo informações colhidas no terreno, os assaltantes encontravam-se, antes do assalto estacionados defronte ao banco e terão acompanhado todos os movimentos da vítima, quando esta ainda se encontrava no interior do referido balcão do BIC. Suspeita-se que eles terão contado com a colaboração de um cúmplice que, eventualmente, poderia ter estado no interior do banco e, depois, reportado os movimentos da vítima. Alertados por um telefonema, dois agentes da polícia, que se faziam transportar numa motorizada particular, deslocaram-se ao local, limitando-se a confirmar a evidência dos factos.

Ilídio Manuel

Empresário angolano tem preferência por expatriados lusos

Oferta discriminatória de emprego no Jornal de Angola Ilídio Manuel

U

m anúncio de oferta de emprego estampado na edição de quartafeira, 15, no Jornal de Angola está a ser considerado não só discriminatório, como também bastante ofensivo para os angolanos. O anúncio, que terá, certamente, passado despercebido aos leitores, solicita aos candidatos a um determinado emprego a «Dupla nacionalidade», dentre outros requisitos. Segundo o anúncio, a vaga destina-se ao provimento de um lugar de Gestor Hoteleiro, à qual os candidatos deverão ainda possuir uma «experiência na função (3 /4 anos Gestão), foco nas vendas, conhecimentos contabilísticos, ser bom comunicador». O futuro Gestor hoteleiro terá como tarefas a «gestão financeira da empresa, gestão do quadro RH, controlo de vendas, foco em objectivos e controlo do caixa». Embora não tenha sido possível apurar o nome da empresa que fez publicar o anúncio nos classificados do Jornal de Angola, já que tal foi divulgado através da Sélect,

Recursos Humanos, uma empresa intermediária na contratação de mão-de-obra, é dado

adquirido que a empresa empregadora é, curiosamente, pertença de um cidadão angolano.

«Um absurdo», considera jurista

A

bordada sobre o anúncio, a Select, Recursos Humanos diz que ainda tentou chamar à razão o referido empresário no sentido de este alterar o conteúdo do concurso, mas, surpreendentemente, ele terá dito que preferia um português, com dupla nacionalidade, ao invés de um angolano com o mesmo estatuto. Numa linguagem terra-a-terra, teria dito: «Quero um branco e não um negro». Um jurista contactado a propósito pelo Semanário Angolense nesse mesmo dia disse que o requisito imposto pelo anúncio constituía um «acto discriminatório para os angolanos, sobretudo para os detentores de uma única

nacionalidade». Considerou que a Lei da Nacionalidade Angolana, embora não admita expressamente a «Dupla Nacionalidade», também não a proibe, daí que ao exigir a duplicidade de nacionalidade aos candidatos, como condição para a obtenção desse posto de trabalho, o anúncio estava a colidir frontalmente com a Lei Geral do Trabalho em Angola (LGT). Frisou ainda que o anúncio era um «tanto quanto absurdo», já que o poderia ser entendido como «um certificado de incompetência colectiva aos angolanos»,recordando, que o Direito ao Trabalho estava consagrado na Constituição e que esta não faz referência à dupla nacionalidade.

Isto mesmo foi confirmado ao Semanário Angolense na quarta-feira, 15, por uma fonte daquela empresa que, como se sabe, tem como objecto social o recrutamento e encaminhamento de trabalhadores para distintas empresas do mercado do trabalho. À primeira vista, ficou-se com a ideia de que o «inovador» requisito «Dupla nacionalidade» poderia estar relacionado com a necessidade de se contornar eventuais barreiras migratórias por parte dos candidatos ao emprego, numa perspectiva de que ele viajaria constantemente para o estrangeiro em missão de serviço. Neste ângulo de leitura, o futuro Gestor hoteleiro teria a missão facilitada, visto que dispensaria a solicitação constante de vistos de entrada junto dos distintos consulados dos sedeados em Luanda. Ledo engano! Mas, uma leitura atenta ao anúncio levou-nos a afastar esta hipótese, visto que, no âmbito das competências a serem atribuídas ao futuro Gestor hoteleiro, as eventuais viagens ao estrangeiro não faziam parte do «pacote».


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Sábado, 18 de Junho de 2011.

Sociedade Desta feita em Cacuaco

Crianças desmaiam por inalação de produto tóxico Com estes 18 alunos, contabilizam-se 128 vítimas, desde que começou a onda de desmaios por inalação de produtos tóxicos em escolas, não tendo, até ao momento, sido descoberto o nome e a proveniência do produto nem quem o esteja a disseminar. Romão Brandão

P

elo menos, 18 alunos da escola do primeiro ciclo nº 8084, denominada São João e Deus, no município de Cacuaco, desmaiaram, na passada quartafeira, 15, depois de terem inalado um produto tóxico, até agora desconhecido. Julga-se que seja o mesmo produto surgido nas demais escolas luandenses, e não só, onde ocorreram situações idênticas. Nos últimos tempos, tornouse frequente, nos meios de Comunicação Social, a veiculação de notícias sobre desmaios de alunos em escolas, devido à inalação de produtos químicos de proveniência desconhecida. Segundo a directora daquele estabelecimento de ensino, Verónica Miguel, eram precisamente 16 horas, quando algumas crianças começaram a ter dificuldade de respirar e, posteriormente, «bem no momento em que elas se dirigiam ao portão principal para abandonar o recinto, foram desmaiando.» Acrescentou que, no mesmo dia, um total de 17 crianças que haviam desmaiado foram socorridas e levadas ao hospital municipal e, na manhã do dia seguinte, mais um rapaz também afectado foi levado para o centro médico mais próximo. Deste número, 15 são do sexo feminino e três rapazes. A nossa interlocutora deu a conhecer que a DNIC (Direcção Nacional de Investigação Criminal) está a averiguar o caso, mas continua sem resposta. Enquanto isso, as aulas continuarão normalmente. É a primeira vez que este incidente ocorre naquela escola, de acordo com a responsável, que considerou «muito estranho», porque os seus alunos não lidam com produtos químicos, pois o estabelecimento está desprovido de

laboratórios. «Pode-se dar o caso de alguém ter trazido tal produto para dentro do recinto, não sei quem teria essa coragem, porque assim se põe a vida das crianças em risco», disse a concluir. Com estes 18 alunos, contabilizam-se 128 vítimas, desde que começou a onda de desmaios por inalação de produtos tóxicos em escolas, não tendo, até ao momento, sido descoberto o nome e a proveniência do produto nem quem o esteja a disseminar. Os desmaios por acção do estranho veneno começaram a registar-se, primeiramente, no instituto politécnico nº 6052, no Nova Vida, tendo na altura as suspeitas recaído sobre os laboratórios da referida escola, que foi reaberto um dia antes da ocorrência, na véspera da visita do vice-

ministro da Educação. Um total de 110 estudantes da referida escola e das outras adjacentes, nomeadamente, o Instituto de Administração e o Puniv, passaram mal devido à inalação de tal substância tóxica. Mesmo depois de os três institutos terem fechado as portas, durante sensivelmente um mês, e transferido alguns dos seus alunos para o colégio Pitruca e outros para a escola de ensino secundário Pedalé, para o início dos exames do 1º trimestre, ainda houve relatos de desmaios na última instituição, que envolveram uma professora e duas empregadas de limpeza. As autoridades policiais deduzem que o produto tenham sido posto por alguém e que não venha dos laboratórios reabertos, mas até agora, não se provou esta hi-

pótese, tendo os alunos dos três institutos retomado já as aulas. As direcções adoptaram o sistema de passar em revista os materiais que os estudantes trazem nas mochilas. Das mais de mil substâncias que possuem potencial para causar intoxicações, algumas completam o quadro dos PTA (Poluentes Atmosféricos Tóxicos) e as suas principais consequências. Os poluentes atmosféricos tóxicos são conhecidos ou suspeitos por constituírem uma séria ameaça para a saúde humana e o ambiente. São eles: dioxinas, amianto, tolueno e metais como cádmio, mercúrio, cromo e compostos de chumbo. A exposição a estes poluentes pode produzir vários efeitos crónicos a curto ou longo prazo

efeitos crónicos. Os efeitos agudos incluem irritação dos olhos, náuseas, dificuldade de respirar, enquanto os crónicos incluem danos ao sistema respiratório e nervoso, defeitos de nascimento graves e que necessitam atendimento de emergência. É importante que as autoridades policiais e a equipa de investigação ajam com celeridade e rigor para que sejam descobertos tal produto e os possíveis indivíduos que o possuam. A gravidade do efeito causado é determinada pela toxicidade do poluente, a sua quantidade, duração e a frequência de exposição, da saúde geral e nível de resistência ou susceptibilidade da pessoa exposta. Quanto mais exposta estiver a pessoa, maior será a probabilidade de morte.


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Paquistão

Detidos cinco informadores da CIA O

Governo paquistanês deteve cinco agentes da CIA que colaboraram com as autoridades americanas para ajudar à captura de Osama Bin Laden, relata o jornal «The New York Times». Um dos detidos seria um oficial do exército paquistanês que deu a sua contribuição às forças americanas copiando as matrículas de todos os carros que visitavam o complexo do líder da al-Qaeda em Abottabad. Segundo o jornal norte-americano, Leon Panetta, o director da CIA, levantou a questão da detenção dos informadores quando, na semana passada, se encontrou em Islamabad com militares paquistaneses e membros dos serviços de espionagem. A detenção representa mais um sinal de fractura entre os EUA e o Paquistão cujas relações atravessam um período difícil desde a captura e morte de Bin Laden no passado dia 2 de Maio. Muitos paquistaneses viram a operação de captura do líder da al-Qaeda, por uma unidade especial da Marinha

americana, como uma violação inaceitável no seu território. Na semana passada, Michael J. Morell, o vice-director da CIA, no âmbito de uma reunião com membros dos serviços secretos, classificou a cooperação do Paquistão com os EUA na luta contra o terrorismo como um «três», numa escala de 1 a

10, segundo avança o Times. Mas outros responsáveis terão tentado explicar que os comentários de Morell não representavam a posição dos serviços secretos americanos. «Temos uma forte relação com os nossos correspondentes paquistaneses e tratamos dos problemas quando eles aparecem», disse a porta-voz da CIA,

Marie Harf. «O director Panetta teve reuniões produtivas em Islamabad. É uma parceria crucial e vamos continuar a trabalhar juntos na luta contra a al-Qaeda e contra outros grupos terroristas que ameaçam o nosso país e o deles», acrescentou Harf. Sobre a notícia avançada pelo «The New York Times», a porta-

voz não quis fazer qualquer tipo de comentário. Na altura da detenção de Bin Laden, o Presidente norte-americano, Barack Obama, declarou que «alguém» estava proteger o líder da al-Qaeda. O Paquistão negou veemente ter conhecimento de que Bin Laden estivesse em território paquistanês e numa recente visita ao país, a secretária de Estado norteamericana, Hillary Clinton, sublinhou que «não havia qualquer tipo de prova de que alguém ao mais alto nível do Governo do Paquistão» soubesse onde estava aquele que era o homem mais procurado do mundo. Pouco tempo depois da intrusão americana em território paquistanês para matar Bin Laden, a presença militar dos EUA no Paquistão foi bruscamente reduzida. «Não precisamos de pessoas desnecessárias aqui. Elas causam-nos problemas em vez de serem prestáveis», afirmou na altura um responsável da segurança paquistanesa citado pela agência Reuters.

«Contínuos bombardeamentos» no Sul do país

ONU acusa Sudão de ter provocado a morte de 1500 pessoas desde Janeiro A Organização das Nações Unidas acusa o Governo do Sudão de permitir uma «campanha intensa de bombardeamentos» próxima da fronteira entre a zona sul e norte do país que pode ter causado a morte de 1500 pessoas e que põe em perigo a ajuda humanitária. Os bombardeamentos provocaram um «grande sofrimento» para os civis da região de Kordofan, uma província no centro do país e, de acordo com a ONU, as forças da zona norte procuram atacar os grupos a favor da independência do sul que deverá ser proclamada oficialmente no dia 9 de Julho. Quarta-feira, 16, os ataques aéreos incidiram sobre as montanhas Nuba – uma ofensiva que a All Africa Conference of Churches (AACC) classificou como uma «deliberada limpeza étnica». Os combates

opõem as Forças Armadas Sudanesas ao Exército Popular de Libertação do Sudão (SPLA) - do Sudão Sul. O norte nega ter civis como alvo e o porta-voz do Exército, Sawarmi Khaled, diz que os raides aéreos visam atingir rebeldes que lutam contra a região. Mas segundo o organismo internacional, mais de 1500 pessoas já morreram no sul do país desde o início do ano. «O intenso bombardeamento sudanês que começou na semana passada ainda continua nos arredores das cidades de Kaduqli e Kauda», declarou o porta-voz da ONU, Quider Zeruq, à imprensa em Jerum, citado pelo «El País». «Na manhã de terça-feira dois aviões deixaram cair onze bombas contra alguns alvos, entre os quais um aeroporto», acrescentou. A ONU precisou que dois dos explosivos atingiram as proximidades da sede

da missão das Nações Unidas, a cerca de 150 metros do aeroporto de Kaduqli. Zeruq sublinhou que a «campanha de ataques aéreos causou um grande sofrimento a civis e ameaça o envio de ajuda

SUDANESES num campo da ONU

humanitária» e pediu a todos os grupos armados que permitissem a entrada imediata das organizações humanitárias e o fim dos ataques indiscriminados contra civis. Na segunda-feira, o Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, exprimiu num comunicado a sua preocupação pela escalada da violência no estado sudanês de Kordofan. No final de Maio, o Exército do Norte do Sudão ocupou a cidade disputada de Abyei, levando milhares de pessoas a fugir. O Sul, que votou em Janeiro pela secessão, denunciou um «acto de guerra». O ataque foi condenado por vários países, incluindo os Estados Unidos, que dizem ter acontecido «em violação directa» do acordo assinado em Janeiro entre as duas partes para «retirar todas as forças não autorizadas» da região.


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Cultura «Indigentes» trabalham em explorações agrícolas do país vizinho

Portugal, século XXI: há escravos levados das Beiras para Espanha O

s novos «negreiros» são famílias que encaminham indigentes para explorações agrícolas espanholas. Dormem acorrentados, passam fome e não recebem. Portugueses levados para explorações agrícolas em Espanha: vida de miséria (Miguel Madeira) A imagem de pessoas agrilhoadas, espalhadas pelo chão, espancadas, doentes e famintas remete o imaginário para outros séculos, quando navios sulcavam o Atlântico carregados de negros que, já na América ou na Europa, haveriam de trabalhar como escravos até morrerem. Mas não é aos séculos XVI ou XVII que este relato se refere. Nesta história, não há um oceano pelo meio. Não se salta de continente para continente. Há apenas Portugal e Espanha. Não foi há 300 ou 400 anos. Acontece nos dias de hoje. Há escravos portugueses em Espanha. São 12 os escravos desta história e quatro os «negreiros». É uma história de miséria, de maldade premeditada. O relato do abandono a que estão votados os mais desfavorecidos. Um retrato de uma zona do país que muitos não sabem existir e em que, porventura, não vão acreditar. Mas é dele que fala o acórdão de 7 de Abril deste ano lavrado no Tribunal do Fundão, que resultou na primeira condenação de sempre por escravatura sentenciada em Portugal. Há nesta história um grupo de pessoas más. Uma família (os pais nascidos em Portugal, o filho em Espanha, onde todos residem) que mantém ligações à Beira Baixa. Que corre as cidades, vilas e aldeias em demanda de gente pobre. De «indigentes», diz a Judiciária, referindo-se a um leque de homens de «fracos conhecimentos cognitivos», com «hábitos alcoólicos» e «provenientes de famílias desestruturadas». António José Fortunato Maria, vulgarmente conhecido por «Tó Zé Cigano», é o principal membro da família esclavagista. Enquanto os seus pais estão em Espanha, na zona de Valladolid, ele ciranda de carro à procura de quem levar para as herdades espanholas, que precisam de mão-de-obra.

caso de alguém reclamar das condições, da falta de pagamento quando alguém, desiludido, dizia que queria regressar a Portugal -, então avançava Tó Zé, com uma bengala de junco com uma moca numa extremidade. A contestação era calada à pancada. Pela quinta de Iscar passaram o capataz José António Rodrigues, os irmãos Rui e Carlos Horta, Bruno Esteves, mais conhecido por «Inchado», Ricardo Santos, Luís de Sousa, José Silva, José da Cruz, o «P»«ró», e Joaquim Henriques, o «Sardini». Todos foram roubados, ameaçados e a maior parte espancados. Alguns conseguiram fugir e relatar as suas desventuras. Mas nem sempre os seus relatos terão sido escutados com a atenção devida. Isso faz parte da história de Ricardo dos Santos.

Quatro anos de cativeiro

Estamos em 2001, numa data não apurada e num lugar não especificado. Os pais de Tó Zé estão em Portugal e recrutam a pessoa que, durante anos, há-de funcionar como uma espécie de capataz. Abordam uma mulher que já conheciam de outras andanças e convencem-na a entregar-lhes o filho, José António Rodrigues. Acenam-lhe com um tarefa digna, na agricultura, onde há-de ganhar 250 euros mensais, mais comida, dormida e tabaco. Um luxo para quem nada tem. José António, que entre os 12 escravos é o único que refere nunca ter sido espancado, aceita a oferta e durante dois anos ganha o combinado. Mais tarde, até Fevereiro de 2007, quando consegue fugir para Portugal, passa apenas a ganhar 150 euros por mês. É ele quem, em tribunal, relata as crueldades vividas num barracão de uma herdade por onde, ao longo dos anos, sobreviveram os escravos. Entre o período de escravatura e a fuga, os seus carcereiros tra-

zem-no uma vez a Portugal, para renovar o bilhete de identidade entretanto caducado. Tó Zé chega a dar 50 euros à mãe de José António, dizendo-lhe que o filho estava bem mas que não podia vir a Portugal por se encontrar «fugido à tropa».

A quinta de Iscar, Valladolid As pessoas arregimentadas em Portugal para trabalharem na agricultura espanhola chegavam de carro. Tó Zé, de 35 anos, entregava-os ao cuidado dos pais, Francisco José Maria, de 68, e Maria Clotilde Fortunato, de 69. Eram estes quem lhes mostravam a futura residência em Iscar, Valladolid. «Ali chegados, aos trabalhadores eram-lhes retirados todos os documentos de identificação, pelos arguidos, e instalados num armazém, que servia de galinheiro, onde havia galinhas e pombos, sem quaisquer condições

de higiene e salubridade», diz o texto da sentença. A descrição do local e do que espera as pessoas para ali levadas piora nas linhas seguintes: «Dormiam em velhos colchões retirados do lixo, no chão, sendo presos pelos pulsos, por uma corrente de ferro e cadeado, todos aqueles que os arguidos António, Francisco e Maria suspeitassem que pretendiam fugir, sendo ainda o armazém fechado pelos mesmos arguidos, para que nenhum daqueles trabalhadores pudesse sair». Depois, «todos os indivíduos eram obrigados a trabalhar na lavoura, contra a sua vontade, quase sempre desde o nascer do sol até ao anoitecer, por vezes pela noite dentro, todos os dias, na sementeira ou na apanha de batata, cenoura, cebola e alho, quase sempre 12, 14 ou 16 horas diárias e por vezes 18 e 20 horas diárias, sempre sob a vigilância atenta e permanente dos arguidos, descansando apenas nos dias e períodos em que as máquinas avariavam». Quando se dava o

A sua aventura começa em Setembro ou Outubro de 2003. Ainda menor de idade, sai da casa da mãe, em Coja, Arganil, e passa a vaguear pelas ruas do Fundão. É numa dessas noites que é abordado pelo quarto arguido da história. João Carlos Carrola aborda-o e diz-lhe: «Ouve lá, andas aqui a passar fome. Não queres ir para Espanha? Eu arranjo-te lá trabalho». Vão os dois para um bar, onde falam das condições. Uma hora depois, após Carrola fazer um telefonema, surge Tó Zé. Este e o jovem voltam a falar do futuro trabalho. Acordam todos os pormenores e resolvem ir festejar para um bar de alterne, em Teixoso. Quando dali saem, voltam ao Fundão, onde os espera Maria Clotilde. Saem os três em direcção ao aeródromo da Covilhã. É nesse momento que Ricardo diz não querer ir de imediato para Espanha, porque precisa de avisar a família. Tó Zé vai ao carro e volta com a bengala de junco. Agride o jovem nas costas e nas pernas, ao mesmo tempo que grita que a partir daquele momento é ele quem manda. Ricardo entra para o carro dos


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Sábado, 18 de Junho de 2011.

esclavagistas. Dorme no banco de trás, trancado e transido com medo. Mãe e filho ocupam os bancos da frente. Ainda de madrugada, vão até Castelo Branco, onde Tó Zé diz que tem de entregar a carta de condução à GNR. Depois empreendem nova viagem, desta vez para Espanha. Ricardo fica sem os documentos e é de imediato encaminhado para o campo, para trabalhar. Não almoça. Só come algo à noite, para ser de imediato agrilhoado pelos pulsos. Estão nessa situação Bruno Esteves e também Joaquim, de Santa Margarida (Idanha-a-Nova), e David, de Valverde (Fundão). Ricardo, a quem nem sequer foi permitido fazer um telefonema, passa o primeiro ano a dormir acorrentado e outros três em que, mesmo livre das correntes, não escapa aos espancamentos sempre que diz ter frio e fome ou que está doente e não consegue deslocar-se para os campos dos agricultores espanhóis que pagam a mão-deobra escrava à família de Tó Zé. Os dias passam e o jovem, tal como os restantes companheiros de cativeiro, é alimentado, de manhã, a café e pão, com uma sandes ao almoço, e com arroz ou massa e frango ao jantar. Recebe, como todos os que fumam, um maço de cigarros por dia. Dos 250 euros mensais, nunca viu um só cêntimo. A 5 de Janeiro de 2007, a Guardia Civil prende Tó Zé por outros crimes que não a escravatura. A vigilância na quinta, agora apenas a cargo dos seus pais, afrouxa. Dois dias mais tarde, à noite, Ricardo pede para ir urinar (a família vigiava os escravos a partir de um anexo ao armazém onde estes pernoitavam) e aproveita para fugir. Corre durante seis quilómetros até chegar à aldeia de Mojados, onde pede ajuda à Guardia Civil, que o encaminha para a Cruz Vermelha. Tanto quanto se sabe, ninguém foi, nessa ocasião, à quinta de Iscar. Ricardo passa a primeira noite na Cruz Vermelha e só três dias depois da fuga, no dia 5 de Fevereiro, consegue regressar a Portugal. Chega à boleia, num camião TIR, conduzido por um homem de Castelo Branco que o há-de deixar numa área de serviço na A23, próximo do Fundão.

«Parto-vos as pernas» No início de Abril deste ano, aquando do julgamento, foram inúmeras as histórias narradas pelos escravos. Luís Sousa, que foi para Espanha em Agosto de 2004, conta que fugiu no Natal desse ano. Aproveitou o facto de lhe terem retirado as correntes

para as colocarem num jovem chamado Leonel para fugir. Foi até Valladolid e dali viajou para Portugal à boleia. Nunca apresentou queixa por temer represálias. A reclusão de Mário Silva durou de Junho de 2006 a Fevereiro do ano seguinte. Foi recrutado por Tó Zé num bar do Fundão. Nos oito meses em que teve de trabalhar «noite e dia», nada recebeu, a não ser o maço de cigarros diário e sovas várias. A 10 de Fevereiro, na companhia do amigo «P» «ro» (escravizado, durante cerca de sete anos, desde Maio de 2001), consegue evadir-se da quinta. Passam uma semana escondidos num armazém próximo. Durante esse período, são ajudados por um cidadão espanhol. Finalmente, conseguem regressar a Portugal de comboio. O rol de escravos identificados inclui o doente psiquiátrico Joaquim Henriques, mais conhecido por «Sardini». É levado para Espanha no Natal de 2003, depois de interromper o tratamento num hospital de Castelo Branco, e ali fica até Abril de 2007, quando consegue evadirse. Diz o tribunal, baseado nas investigações da Judiciária da Guarda, que «Sardini» convive nesse período com outros homens só identificados como António, o «Becas», de Aldeia Nova do Cabo (Fundão), Ricardo, também conhecido por «Zarolho», e David, de Valverde, a quem os demais chamavam o «Gorila». Todos foram espancados, roubados e obrigados a fazer uma espécie de reza diária, à meia-noite. Tó Zé, apesar de já estar a contas com a justiça espanhola, faz ameaças aos escravos portugueses, jurando que, com a sua fiel bengala de junco, irá partir as pernas a todos quando sair da cadeia. Tenta, com essa ameaça, evitar mais denúncias quando tiver de depor no Tribunal do Fundão. É com o regresso dos escravos a Portugal que as diversas pontas da investigação começam a encaixar. A Judiciária, em conjunto com a Guardia Civil, consegue identificar dezenas de pessoas e acaba por deter os pais de Tó Zé. O caso dos escravos de Iscar encerra mas, entretanto, noutras zonas de Portugal, prosseguem outras averiguações. Espanha é novamente o destino de diversos indigentes da Beira Interior. Assim o refere um novo processo remetido ainda esta semana a tribunal com proposta de acusação. Há sete arguidos e mais de 20 vítimas, arregimentados nos concelhos de Tábua, Oliveira do Hospital, Seia, Nelas e Mangualde

Obra literária de Deolinda Rodrigues

Exílio Sem Regresso Barros Neto (*)

N

a história da literatura ocidental, alguns «Diários» mereceram páginas de exaltação inesquecível como, por exemplo, o «Diário de Ana Frank» e o «Diário de um pároco de aldeia». Entre nós, porém, tal subgénero memorialístico ainda é desconhecido pelo que a obra supra citada, mesmo sendo póstuma, deve-se ter como pioneira. «Diário – de Um Exílio Sem Regresso» são apontamentos intimistas da imortalizada nacionalista angolana Deolinda Rodrigues – aliás, Deolinda Rodrigues Francisco de Almeida – a «miss Sambizanga» (18.5.1958). Num tricô, de cerca de 216 páginas, ela expõe – de modo sincero, claro e palpitante, com expressões de um revolucionarismo contagiante – as suas vivências e peripécias experimentadas dia após dia, naqueles conturbados tempos em que, com o fim das duas «grandes guerras mundiais», África respirava um clima de generalizado esplendor revolucionário. Discorrer sobre o «Diário» de Deolinda Rodrigues é falar necessariamente da revolução angolana e, por inerência, do MPLA de que fora militante activa. E é exactamente esta faceta de revolucionária e nacionalista que a faz assumir sobre os seus ombros as fraquezas dos mais necessitados, dos espezinhados numa palavra do «indígena», que «vegeta» sob as botas do colonialismo, a fim de restituirlhes voz, dignidade, identidade, respeito. Sinceridade, singeleza e audácia verbal são características que ela escalpeliza ao longo das suas reflexões. O espírito revolucionário, resultado evidente do ambiente onde cresceu e se formou - na altura (1956) já era detentora do diploma do sétimo ano do liceu, então caso raro para o negro e sobretudo para uma mulher negra - ressente-se logo desde as primeiras páginas (9 e 17. 9.1956). Com a sua aceitação pelo «movimento», Deolinda, a exemplo do que já se vivia noutras paragens do continente africano, empolga-se, dedicando-se inteiramente às tarefas da revolução (22.2.1957). Nas actividades clandestinas (1956-1959) – de se recordar que o 4.2. e o 15.3 só teriam lugar em 1961 – Deolinda emprega toda energia em traduções e contactos vários não ignorando, contudo,

a presença da PIDE, a espiar por tudo quanto é canto. Por vezes desvia-se da temática principal – os meandros da revolução no espaço da clandestinidade – para descrever pormenores da situação angolana dos colonizados: as rusgas, os patrulhamentos, as surras, os espiões, o ter que engolir sapos. A dado momento da trajectória, regista-se um verdadeiro drama na sua personalidade inconformada e que se transforma num verdadeiro dilema: ir ou ficar. Os do movimento deram-lhe na ocasião farra de despedida em casa do Ti Nobre (31.1.1959) mas custa-lhe deixar esta Angola onde sempre viveu. «O meu Povo vai ficar a sofrer e vou safar-me, abandoná-lo. Que traição!» exclama ela (2.2.1959). Esta observação reveste-se de uma ressonância de grande alcance porquanto - de modo plástico, nacionalista - ela consegue esbater a barreira de exclusão entre os que ficam (os maus da fita) e os que partem (os heróis). De um modo geral, quem partia via os que ficavam como os aliados dos colonialistas, os viventes à grande e à francesa. Deolinda, pelo contrário, e já liminarmente, desmonta este mito, confidenciando que traidores e oportunistas sempre os houve, tanto entre os que ficavam como entre os que partiam, sendo mais importante a consciência do dever patriótico, tanto dentro como fora do país. Expressandose, reforça: «Vai ser lindo viver bem no estrangeiro enquanto a nossa gente vegeta sob uma PIDE destas. Que fatalidade!» (3.2.1959). Aos 12.3.1959 obtém, finalmente, o visto para o Brasil graças à intervenção missionária metodista e à sua trás começam as prisões de vários nacionalistas. No exílio não cruza os braços. Alertada por D. Dina «a não fazer política…para não arranjar encrencas aos missionários, à igreja e ao instituto», ela reage, pronta-

mente: «Onde for, vou sempre falar das condições da terra. Lixem-se lá as Missões e o resto. A minha família, o meu Povo vale mais que todo o resto» (28.5.1960) e face à hipótese aventada de os brasileiros assinarem um acordo de extradição com os «lusitos», ela projecta ter de «cavar» dali «antes disso» (2.8.1960). Vai parar até Chicago, numa favela com a amiga Carolyn cujo pai negro norte-americano é guarda-nocturno, a mãe quase paralítica (11.11.1960). Entretanto ali a onda da saudade familiar inunda-lhe: «Onde está a minha família por esta hora?», interroga-se, emocionada (25.12.1960). Escrevinhar sobre «Diários», uma das modalidades do género literário denominado «memorialismo», não é tarefa fácil. No «Diário» - mais do que em qualquer outro género - o factor psicológico atinge índices de elevada profundidade emotiva, gotejando intermitentes flashes de subjectividade intimista, de difícil percepção: vivências sentidas e sofridas calam no âmago das consciências de quem as cria de modo difuso, tornando cada «Diário» único e inconfundível, do mesmo modo que, em todo o globo terrestre, cada pessoa é una e irrepetível. «Diário de Um Exílio Sem Regresso» – não aborda somente revolução; há também registos do dia-a-dia em que se patenteia o verdadeiro espírito humanista e altruísta de que Deolinda era dotada, embora por vezes use uma linguagem mais propensa a hábitos masculinos mas que no entanto define o temperamento de uma personalidade decidida, indómita (3.1.1959). Já nos Estados Unidos chega-lhe a notícia sobre o 4.2 e o 15.3 de 1961 e ela acolhe-a como uma chamada («richiamo») da terra, a ponto de reconhecer: «… Este (EUA) não é o meu lugar» (28.12.1961) e com o passaporte a caducar pensa «dar o fora», fazendo figas para que Mário de Andrade consiga resolver-lhe esta bicuda situação. Entretanto a suspirada ajuda virá do estrangeiro Diallo Telli, guineense na ONU e a fuga concretiza-se aos 29.1.1962. «Fora dos EUA, ÁFRICA, finalmente» exclama, triunfante. Conakry, Accra, Leopoldville, Matadi e , por fim Boma, (29.1.1962). É a partir desse momento que para ela terá início o verdadeiro «baptismo de fogo», na «confusão do Congo» (24.9.1962). (Continua) Luanda, 02.06.2011

(*) Jurista e escritor


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Sábado, 18 de Junho de 2011.

Por: Makiadi

Vendeu rim para comprar iPad Autoridades pedem cautela a zombies O desejo ardente de um jovem chinês de 17 anos ter um iPad levou-o a vender um dos seus dois rins, sem conhecimento dos seus pais. A estação Euronews noticia esta ocorrência insólita, que teve lugar em Abril último, na província chinesa de Anhui. O jovem estabeleceu contacto com os compradores via internet, tendo-lhe sido retirado o rim direito. Depois de três dias de internamento, teve alta e recebeu pouco mais de 2,3 mil euros (325 mil kwanzas). Só depois de tudo ter ocorrido, a mãe soube da transacção. Indagado sobre se um iPad valia o preço de um rim, o jovem respondeu que o dinheiro lhe permitiu comprar também um iPhone

Proibido enterro de humanos em cemitério de animais

O

Departamento de Cemitérios da Câmara Municipal de Nova Iorque determinou a proibição de enterro de cinzas dos donos ao lado das covas dos seus animais (gatos, cães e pássaros). Esta decisão deveu-se ao facto de um número cada vez maior de americanos estar a decidir dividir a sua última morada com os respectivos animais de estimação. Rhona Levy, uma americana de 61 anos, que tinha programado ser enterrada ao lado dos seus 5 animais (quatro deles já enterrados no cemitério de animais de Hartsdale), diz que a medida fez com que perdesse a paz que tinha. Queria repousar ao lado dos seus animais, que sempre tratou como se fossem filhos

H

abitantes da província tailandesa de Narathiwat tomaram parte do torneio de canto de pássaros, que se realizou no passado domingo. A agência Associated Press noticia que se trata de um concurso de periodicidade anual, onde os concorrentes suspendem as gaiolas com os seus pássaros (veja-se a foto), para que o júri avalie a qualidade das melodias e do cantarolar dos pássaros. Participaram no concurso, centenas de concorrentes

dicação adiante”. De acordo com a estação televisiva WSVM, a in-

tenção das autoridades não é assustar os cidadãos. O que se passa é que se regista realmente a aparição de zombies no local, devido à filmagem da série televisiva “The WalkingDead”, que aborda um mundo devastado e dominado por zombies

Titanic-II naufraga na Inglaterra

U

Torneio de canto de pássaros na Tailândia

A

pareceram nos subúrbios da cidade americana de Atlanta, placas com a in“Cuidado! Zombies

Cães assassinos em Washington

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âmaras de segurança revelaram que os animais que têm aparecido mortos em Deer Park (nos Estados Unidos da América) têm sido abatidos por cães. De acordo com a agência Associated Press, há três meses que a matilha de cães actua na área de montanhas e vales dessa pequena cidade, registando-se já a morte de acima de 100 animais. As autoridades policiais locais estão convencidas que os cães matam por diversão.

ma pequena embarcação baptizada com o nome “Titanic-II”, em memória do navio que afundou em 1912, sofreu idêntico destino trágico logo na viagem inaugural. A diferença é que, desta vez, não houve vítimas. O seu proprietário, Mark Wilkinson, foi pescar em

Dorset (sul de Inglaterra) e, ao regressar a West Bay, o barco começou a encher de água. A sorte foi que recebeu pronto auxílio do capitão do porto, de modo que não chegou a naufragar. A partir do dia do incidente, as pessoas perguntam a Wilkinson se o “Titanic-II” também terá chocado contra um iceberg


45 Desporto

Sábado, 18 de Junho de 2011.

Eleições na FAF já eram, mas...

Substituto de Justino Fernandes só será conhecido oficialmente a 23 Ninguém pode «cantar vitória» antes do anúncio oficial dos resultados, que será feito na próxima quinta-feira Paulo Possas

N

a passada segunda-feira, 13, Pedro Neto e Artur Almeidas, concorrentes à presidência da Federação Angolana de Futebol (FAF), terminaram ,oficialmente, as suas campanhas. Cada alvitrou a vitória a pender a seu favor, mas, para tal, terão de aguardar por mais quatro dias, a ver se o sonho se concretiza, já que só às 9 horas de terça-feira, 21, é que a Comissão Eleitoral, liderada pelo experimentado dirigente desportivo Rogério Silva, tratará de fechar os relatórios dos círculos eleitoral para, depois, na quinta-feira, 23, anunciar a lista vencedora. Isto é, vai dizer se a FAF passará a ser presidida por Pedro Neto ou por Artur Almeida, os dois aspirantes ao apetecido cargo máximo do futebol nacional. Na quinta-feira, dia das eleições, os dois saíram da Cidadela Desportiva altamente confiantes que a preferência das 18 associações e 63 clubes que constituíram a «população votante» terá recaído a si. Os dois candidatos fecharam as suas campanhas em Luanda, considerada a maior praça do futebol nacional. O candidato da lista A, Pedro Neto, qualificou de positiva a sua mobilização. Segundo ele, o futebol se encontra num processo atípico, sendo a principal tarefa da lista A, caso vença, o início da reestruturação da federação, para que se crie os aspectos organizativos e estruturas visando um funcionamento correcto da instituição. Diz ainda que, durante a campanha nas

províncias, foi alvo de perguntas curiosas sobre o que faria a sua direcção para mudar o actual quadro negativo do futebol angolano. Pedro Neto reforçou que foi uma campanha muito profunda, feita a um ritmo acelerado, em que esteve submetido a viagens estafantes para mostrar, amostrar e demonstrar em como executará o seu programa caso no dia 23 seja anunciado como presidente da Federação Angolana de Futebol. Falando em nome da equipa, o antigo presidente do 1.º de Agosto sublinhou: «A nossa meta é a de recuperar o futebol em todas as latitudes, facto que nos levou a traçar um conjunto de acções que fazem com que a modalidade seja praticada a todos os níveis e que os resultados sejam a consequência de todas essas acções».

Por seu lado, Artur Almeida, pela lista B, embora tenha se saído com um discurso comedido, à francesa, digamos, algo como a dizer que «ne chant pas avant la vitoire» ou não se canta antes da vitória, nem por isso deixou de reafirmar a sua peculiar retórica de optimismo: «Estamos confiantes na nossa vitória». Recapitulando a sua campanha, este bem sucedido homem de negócios chamou os jornalistas para lhes dizer também que «fomos muito bem recebidos em todas as províncias por onde passamos e pudemos constatar que houve um interesse muito grande por parte das pessoas do futebol em prestar atenção ao que tínhamos para apresentar». E em função disso, confessou: «sentimos uma grande receptividade dos associados

ao nosso projecto, o que nos permite estar confiantes na nossa vitória no pleito eleitoral». Desde o dia em que deu o pontapé de saída da sua campanha, nas instalações do Instituto Médio de Economia (IMEL), até ao encerramento em Luanda, Artur Almeida não se cansou de repetir em alto e bom som que «podem esperar muito por nós, pois a minha lista é composta por elementos que vão trazer também novos elementos ao futebol de Angola». E aos que gostam de bom futebol, aquele projectado e jogado com rigor, recordou que «temos a consciência de que o futebol não é só selecção nacional, pois é muito mais do que isso; futebol também é factor de unidade nacional e, como tal, o nosso projecto é em que todos se revêem» .

Última hora

O

Pedro «varre» Artur

general Pedro Neto deverá ser o próximo presidente da Federação Angolana de Futebol, em substituição de Justino Fernandes, depois de «varrer» Artur Almeida e Silva nas eleições antecipadas da instituição, realizadas na última quinta-feira, de acordo com os resultados provisórios já divulgados pela própria Comissão Eleitoral, baseada em informações fornecidas pela Rádio Nacional de Angola, que acompanhou a votação em todas as províncias do país. Segundo estes resultados, a lista de Artur Almeida e Silva foi «cilindrada» por 27 votos contra 58 dos conseguidos pela «chapa» de Pedro Neto, que era supostamente a favorita, em face de beneficiar de uma preferência do regi-

me, sendo que isto, como a história sempre demonstrou, pesa muito na hora das decisões. É como que uma vitória esperada esta a de Pedro Neto, não obstante o triunfalismo demonstrado por Artur Almeida e Silva, que se fartou de dizer que ganharia com mais de 60 por cento dos votos, se calhar em função das promessas que foi recebendo aqui e ali, mas que acabaram por se revelar «traídas», até porque o voto é secreto. Não há informações se o candidato derrotado, segundo os resultados provisórios, pensa em impugnar o processo, uma vez que se alteraram as regras do jogo em termos de população votante, em desrespeito às disposições da FIFA, que não permitem que os clubes votem, como

acabou por acontecer nessas eleições antecipadas da FAF. Contudo, há informações de Artur Almeida e Silva aceitou concorrer com esta inovação à angolana, pelo que terá pouco por onde se pegar, a não ser que consiga descobrir agora alguma irregularidade eventualmente registada em qualquer dos 18 círculos eleitorais. A confirmar-se a vitória, Pedro Neto tem um ano para mostrar o que vale, no que será um verdadeiro teste à sua capacidade de organização e gestão, antes de se submeter às próximas eleições regulares, que serão realizadas em 2012.

Lucas Adão


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Sábado, 18 de Junho de 2011.

Desporto

As duas têm «pesos pesados» da sociedade

Uma olhadela pelas listas Paulo Possas

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lhando bem, como vezes sem conta já observamos, há nas duas listas rostos de figuras com muitos anos de andanças no nosso futebol doméstico e não só. Muitos deles, por onde passaram - clubes, associações e mesmo federação – deixaram obra feita, mas outros nem por isso. Se não vaiados ou hostilizados, pelos menos saíram cabisbaixos por nada lá terem feito. Por isso, desde que ressurgiram no dia em que a Comissão Eleitoral abriu as listas e, a seguir, durante a campanha, muitos agentes do futebol franziram o cenho. «O que fará na FAF gente que antes prometeu boa coisa e nada fez», é a interrogação que muitos daqueles terão feito aos seus botões. De resto, a própria população votante questionou isso a Pedro Neto e Artur Almeida, devendo ter atribuído a sua preferência à lista que desse mais garantias de ser um «mal menor» ou um «mal necessário». De resto, se muitos deles são ou não pára-quedistas, o juízo final, este, coube mesmo aos votantes. Vamos apenas recordar a composição das duas listas. Lista A Mesa da Assembleia: Presidente – António dos Santos França «Ndalu»; Vice-presidente – Carla Maria Ribeiro de Sousa; e Secretário - Ilda Jorge Francisco Bessa. Direcção: Presidente – Pedro de Morais; Vice-presidentes – Teresa Filomena, Fernando Trindade Jordão,

Francisco João Carvalho Neto, José Luís Prata, Hélio Machado Lafayette, João Lusevi Kueno e Raul Neves Chipenda; Secretario geral – José Cardoso; Vogais – Maria Stela Soares, Eugénio Carlos Bamby, José Vieira Dias Paulino do Carmo, Manuel António Loth e Francisco Teixeira de Oliveira Conselho Jurisdicional: Presidente – Hélder Fernando Pitta Gróz; Vice-presidente – Aníbal Martinho Tungo; e Vogal – Domingas Lourenço Cristóvão Custodio Conselho Central de Árbitros: Presidente – Francisco João Carvalho Neto, Vice-presidente – Agostinho Muluta Prata; e Vogais - Manuel Silva da Cunha , Muanza Bassa Romano, Pedro João Neto , Zinga Carlos, Carlos Lopes, Ângelo Seca Casimiro e Luís João Cazola Conselho de Disciplina: Presidente – Alberto de Jesus Ferreira de Sousa; e Vogais - Lourenço Adão Agostinho, Ernesto Maiato, Sebastião Silva e Alexandre Paulo Quinda Conselho Técnico Desportivo: Presidente – Fernando Trindade Jordão; e Vogais - Santos António Miguel e Manuel Kinzembo. Conselho Fiscal: Presidente – Amílcar Silva; e Vogais Mbiavanga Filipe, Maria João de Almeida, Renato Borges e Maria do Carmo Bastos. Lista B Mesa da Assembleia: Presidente – Albina Assis; Vicepresidente – António Mosquito; e Secretario – Rosa Luís Micolo.

Direcção: Presidente – Artur de Almeida e Silva; Vicepresidentes – Mário Jorge de Carvalho, Célio Eduardo Mendes, Kanda Nimi Kassoma, João Ernesto Lino e José Alexandre Canelas. Secretario – Hugo Nguina Fuema; e Vogais - António Manuel Fiel, Paulo Alexandre de Jesus Arrais, Arlindo Manuel Macedo de Oliveira, José Júlio e José Manuel Quitamba de Oliveira Conselho Jurisdicional: Presidente - Luís de Assunção Pedro da Mota Liz. Vice – Presidente – Carlos de Alberto Cavuquila; e Vogais -Coutinho Nobre Miguel, Júnior Francisco Artur Kassucula e Bráulio Kutena Bonfim Gonçalves. Conselho Central de Árbitros: Presidente – José Fernando Mação; Vice -presidente – Dibondo Abrão; e Vogais - Teresa Dukuivaluka Leitão, Emília Capanda Dias, Manuel Pimentel, Idoluviz de Fátima Dias, Frederico Cachiquengue, Vladimir Felipe Abrão Quengue, Teófilo Moniz, Laércio Breno de Lemos Patrício e José Alexandre Casimiro. Conselho de Disciplina: Presidente – Leão Chiminh; e Vogais - Ducércio de Almeida Fernandes, Berta Kagiza Cahombo Tomé, Manuel António Freire e Abrão Catarino Bundo Massambo. Conselho Técnico Disciplinar: Presidente – João Osvaldo Conceição Marcelino; e Vogais - Ndungidi Gonçalves Daniel, Eurídice Leonilda Miguel Neto, Andrea Irís Merino Luís Vilar e Joaquim António Dinis. Conselho Fiscal: Presidente – Ulanga de Jesus Gaspar Martins; e Vogais - Isabel Manto Inglês Van-Dúnen, António Augusto Miguel Soares, Nelson Duarte Teixeira de Carvalho e Sara Mónica Moutinho Kuerk.


47 Desporto

Sábado, 18 de Junho de 2011.

«Saga» começou em 1979

Quinto líder da FAF entre «brigas e intrigas» Paulo Possas

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esmo desde os tempos em que, claramente, por confiança política e ideológica, eram avaliados, escolhidos e, depois, indicados à frente da federação, houve sempre brigas e intrigas para os cargos mais apetecidos da Federação Angolana de Futebol, nomeadamente os de presidente e de secretário-geral. Contas feitas, o eleito, entre Pedro Neto e Artur Almeida, será o quinto presidente em 32 anos de existência da Federação Angolana de Futebol. O secretário-geral, Hugo Fueme, pela lista de Artur Almeida, ou José Cardoso, pela de Pedro Neto, será o sexto no cargo. Fundada a 9 de Agosto de 1979, a FAF teve como primeiro presidente nomeado o médico Eduardo dos Santos, que teve Nicolau Silva como secretário-geral. Eduardo dos Santos deixou a presidência em 1983, sendo substituído por Luís Gomes, que ficou até 1989. O seu secretário-geral daquele, Nicolau Silva, foi servir a TAAG, hoje ASA. Para o seu lugar na federação foi indi-

cado Carlos Bastos de Almeida «Likas». Este executivo que antes se saíra bem a conduzir os destinos dos Independentes do Rangel, ficou no cargo até 1988, ano em que, devido a algumas brigas e intrigas na direcção, acabou substituído por Paulo Will, que era o seu adjunto, após sair de director do 1.º de Agosto. Em 1990, parte da direcção da federa-

ção cessa mandato por grandes problemas de organização e competitividade vivido pelo futebol nacional. Ninguém quis assumir a culpa e então Marcolino Moco, na altura na pele de ministro da Juventude e Desportos, indica uma Comissão de Gestão presidida por José Fernandes. Em 1991, realizam-se as primeiras «eleições democrárticas». Armando Machado,

vindo da Associação Provincial de Futebol do Huambo, que subscreve a sua lista, derrota Daniel Simas, candidato indicado por Luanda, por 11 votos contra um. Geovetty Barros foi o seu secretário-geral. Ambos, Machado e Geovetty, mais visíveis, dirigiram a federação até Dezembro de 2000, ano e que Justino Fernandes assumiu a presidência num processo eleitoral tido por confuso, sem transparência, devido a alegados apoios velados prestados ao «candidato do regime» por instituições com poder decisório no país. Armando Machado ainda hoje sempre que é questionado, como ainda aconteceu há duas emanas em entrevista a este jornal , diz com evasivas, mas perfeitamente perceptível, que saiu a contra-gosto da federação onde, reconheça-se, deixou obra feita. Justino Fernandes está há três mandatos na federação. Também com obra feita, mas o facto de, em cada um deles, se ter rodeado de diversos vice-presidentes, como José Luís Prata, no primeiro cargo, Délcio Costa e Augusto Silva «Alvarito’», no segundo, indica que não teve equipas coesas, motivo que precipitou a realização das eleições, uma vez que o seu mandato só terminaria no próximo ano.

TAÇA CAF

Martinez quer InterClube na final Paulo Possas

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direcção do Interclube, liderada por José Martinez, pretende que a sua equipa de futebol, fracassada que foi a continuidade na Liga dos Campeões, consiga agora voltar a atingir a final da Taça CAF, ou Nelson Mandela como também é designada, ao cabo da fase de grupos em que chegou no último sábado, ao empatar (2-2) em casa do Difaa Hassan El Jadida do Marrocos, depois da confortável vantagem (3-0) que já levava de Luanda. Falando para a imprensa angolana que foi a Marrocos, o presidente do Interclube, ao ver a sua equipa na condição de único representante na prova, devido ao inglório afastamento do 1º de Agosto, pelo Asec Mimosas da Côte d´Ivoire, disse: « Isso não esmorece a nossa determinação em dignificar o nome de Angola, vamos procurar igualar o desempenho que o clube teve em 2001». A primeira vez que o Interclube escancarou as portas da final deste segundo torneio mais importante sob a égide da CAF foi em 2011, quando defrontou e perdeu para o Kaizer Chiefs da África do Sul, por um agregado de 2 a 1.

Voltou a atingir a fase de grupos em 2006, sob a orientação do técnico brasileiro Djalma Cavalcanti, mas quedou-se num irremediável quinto lugar, com um pecúlio nada abonatório para uma equipa que cinco anos antes ganhara celebridade ao che-

gar àquela histórica final. Desta vez, com o português António Caldas, a intenção é pois atingir os píncaros da glória, que não é outra coisa senão lograr a final e, melhor ainda, arrebatar o ceptro.

Os seus adversários da fase de grupos, todos eles conhecidíssimos e respeitados em África, são: Asec Mimosas de Abidjan (Côte d´Ivoire), JS Kabylie (Argélia) Club Africain (Tunísia) e Kaduna United (Nigéria), com quem calhou no grupo A desta etapa final da competição. Como se vê, o Interclube calhou num agrupamento em que figuram dois ex-campeões africanos de clubes, nomeadamente o Asec e Club Africain. O clube do seu «campeonato» é apenas o Kaduna United, que terá ambições modestas por se estrear na prova, a não ser que protagonize uma surpresa daquelas. Por outro lado, o grupo B é o mais equilibrado, dado não existir equipas que tenham conquistado o troféu nas anteriores edições. O Sunshine Stars (Nigéria), é a grande estreante entre as experientes equipas do JS Kabylie (Argélia), MAS (Marrocos), e o vencedor do jogo decisivo entre o Simba (Tanzânia) e o Motema Pembe (RD Congo). Os tanzanianos levam vantagem sobre os congoleses democráticos na eliminatória, após vencerem por 1-0 na primeira-mão da última eliminatória. O embate decisivo acontece no próximo dia 26 do corrente mês.


Sábado, 18 de Junho de 2011.

Chefe

Beto

Pode ser que tenha sido já movido por algum interesse eleitoralista, mas o facto do Chefe do Executivo, José Eduardo dos Santos, ter ido ao Menongue, coisa que não fazia desde há muitos anos, é digno de destaque. O Presidente foi às chamadas «terras do fim do mundo» nesta quinta-feira, onde orientou a primeira sessão extraordinária da comissão permanente do Conselho de Ministros, algo que nos faz lembrar a «presidência aberta» a que a dado momento ele fazia questão de promover com viagens do género. Com isto, ele deixa o «casulo» da Cidade Alta, mostrando-se mais ao país e aos cidadãos, coisa que lhe dá certamente uma imagem bem melhor. Foi bom.

Ao contrário do que se esperava, como desfile de helicópteros e outros grandes luxos, em sinal de ostentação, também a partir do pressuposto da condição da noiva -ela é sobrinha do PR -, o casamento do empresário, político e dirigente desportivo Bento Kangamba foi mais modesto do que se pensava. Não obstante o «copo d’água» se ter realizado no Palácio Presidencial, na presença de gente escolhida a dedo, o acto foi humilde e normal, a fazer jus ao carácter do noivo, que diz ser pessoa modesta, mesmo com o «algum» e «peso» que tem na sociedade. No fundo, contou mais a vontade de constituir família com a senhora Avelina dos Santos. Que sejam felizes!

do Executivo

Kangamba

Pedro

Neto

Polícia

Pimental

Agentes da Polícia Nacional são acusados de estarem a permitir que a criminalidade some e segue em algumas zonas da cidade, o que é decididamente contrário à utilidade que norteia o seu objecto social: a protecção dos cidadãos. É incompreensível que os gatunos façam das suas diante das suas barbas, como tem acontecido nas imediações do eixo viário, onde eles assaltam os cidadãos e/ou as suas viaturas em plena luz do dia, sem que os agentes normalmente aí estacionados em patrulha façam algo para evitá-lo. Um dia desses, alertados sobre um roubo que se estava a desenrolar aí próximo, um deles disse: «Nós sabemos». E deixaram-se estar. Isto é sério?

Estão ainda por apurar as razões que levaram o antigo «premier», Paulo Kassoma, em apostar em Pimentel Araújo para dirigir a TAAG, uma companhia que muitos dos seus trabalhadores acreditam estar a caminhar para o abismo. Acontece que esse economista, antes de «aterrar» na nossa companhia aérea de bandeira, onde exerce as funções de PCA da TAAG, já «sobrevoara» outras companhias aéreas, nomeadamente a Transafrik, Planar, SAL e Air Gemini, empresas que declararam falência. Sintomático, nê? A TAAG, para não variar, poderá ter o mesmo destino trágico, caso o Executivo não tome medidas urgentes para eliminar os males que por lá grassam.

Nacional

Embora se esteja ainda a alguns dias da data marcada para o anúncio dos resultados das eleições antecipadas da Federação Angolana de Futebol realizadas nesta quinta-feira, já se sabe que elas foram ganhas pelo general Pedro Neto, e com uma margem muito folgada (58 contra 27), varrendo literalmente a concorrência de Artur Almeida e Silva. É possível que o facto de se ter permitido que os clubes votassem tenha pesado muito em desfavor do jovem empresário, mas o certo é que ele não tem que se queixar, por ter aceitado em ir ao jogo nestas condições. Pedro Neto será o quinto presidente da FAF, tendo à espera um «montão» de trabalho para reorganizar a casa.

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NCR

Araújo

A NCR Angola é indiscutivelmente das empresas que praticam normalmente preços concorrenciais em relação a equipamento e material informático. Há, contudo, um senão que nos obriga a colocá-la deste lado da barricada. Um cliente comprou, em tempos, uma máquina fotográfica que se revelou estar estragada. Não funcionou uma única vez. Nestes casos, o que a empresa tem a fazer é pedir desculpas ao consumidor e proceder à entrega de outra máquina. Mas, ao invés disso, a NCR fez o cliente aguardar 2 semanas, para depois lhe dizer que reclamou junto do fabricante estrangeiro, devendo ele aguardar mais 2 semanas até que este se pronuncie. Onde estamos, afinal?


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