Lado C

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Nº01

out/2012

povo lindo, povo inteligente entrevista com dj nyack | o brasileiro no oscar

R$3,00

este valor é doado integralmente para o afroreggae e outras instituições de ação cultural e social.




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NÂş01 Lado Conhecer 07 Editorial 08 Aconteceu 09 Contas

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10 Rio de Janeiro - Bloco do Sargento Pimenta 12 TrĂŞs quartos - Garoa 14 Capa - Povo Lindo, Povo Inteligente


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Lado Cultivar

Lado Conversar

22 Grafite - Museu Aberto de Arte Urbana 24 Cinema - Palhaรงo Brasileiro 26 Rรกpidas - Projetos Culturais

28 Entrevista - DJ Nyack 34 Ensaio - Clarisse Souza

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expediente

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04 01 03 Realização:

Revista Lado C Editora Tokusato Gráfica M5 Bauru - SP Out/2012 Número 1 Tiragem 10mil exemplares Idealizadora: Joelma Tokusato Projeto Gráfico Joelma Tokusato

05 Colaboradores desta edição: (01)Clarisse Souza (02)Paula Sacchetta e (03) Peu Robles (04)Isabela Zamboni (05)Celso Tokusato Fernanda Najah DJ Nyack e Discopédia Juliana Colares Patrícia Cornils Julianna Granjeia Marcos Willian Foto da capa: Marcos Willian

Esta Revista é um Projeto de Conclusão de Curso de Joelma Tokusato, no curso de Design Gráfico da FAAC - Unesp Bauru. 2012. A Revista Lado C é uma publicação social e é mantida por patrocínio e venda de cotas de publicidade. Seu valor de capa, descontados os impostos é inteiramente doado ao Instituto Afroreggae e outras Instituições de incentivo à cultura nacional. Os textos aqui publicados não necessariamente refletem a opinião da revista.

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editorial

O início da Lado C extraído da introdução do relatório O design como área de atuação, desde a época do vestibular me fascina por ser tão abrangente e por unir conhecimentos tão diferentes entre si. A ideia de trabalhar com tons artísticos, porém aplicados ao dia a dia, estudar ergonomia e filosofia no mesmo curso, entender de materiais e pessoas me fez entrar na área e gostar dela. Essa percepção do design foi se formando ao poucos, sem um início pontual. Assim como a escolha da profissão, não houve um momento exato em que eu escolhi o tema do TCC. Porém, o que ficam vívidos apesar de tudo são os motivos que me levaram a isso: sempre quis enxergar que o design poderia ir além do seu modo agregador comercial, valorizador estético ou qualquer que fosse a sua função mercadológica. Acreditava que seus poderes de conhecimento e habilidade poderiam ser utilizados para ajudar as pessoas a viverem melhor. Dentre todas as formas possíveis para isso, foi no design aplicado à comunicação que pude encontrar meu caminho. Havia também meu gosto pessoal por tipografia, impressos, cultura e street-art. Porém, resumir as experiências e conhecimentos vividos em 4 anos de faculdade em apenas um trabalho é um processo um tanto cruel. Além de todo aprendizado que queremos inserir, há várias outras vontades, como o de fazer o que se faz de melhor ou experimentar o que nunca fez, o de conhecer coisas novas ou aplicar o que sabe, de inovar ou apenas se formar. Qualquer que sejam as escolhas é certo que na maioria das vezes não será uma tarefa fácil realizá-las e todo aluno universitário sabe disso. Posto tudo isso, escolhas feitas, pesos medidos, e ainda algumas experiências acadêmicas depois, determinei o tema do projeto, que afinal aliaria revista, identidade visual e o assunto cultura urbana. Assim como todo rito de passagem e como esperado, não foi um processo fácil, porém, de extremo valor para o fechamento de um ciclo maravilhoso e importante.

Joelma Tokusato idealizadora

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aconteceu

Você soube?

O Grafiteiro Mundano, já conhecido por seu trabalho e mais recentemente pelo Projeto Pimp My Carroça se tornou figura ativa na cultura de rua e na ação social. Ele foi o único brasileiro e único desengravatado participante do Fórum Global de Construção de Paz e Diplomacia, acontecido no Japão, em outubro deste ano. Ele pode falar sobre o projeto para líderes mundiais e “pimpou” o equipamento de um “engravatado da Unesco”.

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foto: Arquiteturaparalela

foto: Mundano

Algumas notas do que de mais legal aconteceu na cultura, mas que é possível que você não tenha ficado sabendo. Leia mais no nosso site. Cansados da poluição visual que invade as cidades em ano de eleição, Victor Britto e o ilustrador Marco Furtado idealizaram o Cavalete Parade. A ideia é simples: utilizar os cavaletes de propagandas políticas para realizar qualquer intervenção artistica. No dia marcado, o canteiro central da Avenida Paulista foi tomada, qualquer pessoa poderia participar, só chegar e expor. Além de São Paulo, aconteceu em outras 23 capitais brasileiras. Veja as fotos em facebook.com/cavaleteparade


contas

Como é isso de Revista Social? calma, agente explica! da revista, incluindo material e distribuição, permitindo que todo o valor da venda possa ser doado à diversos projetos, sendo o maior deles o AfroReggae. O Grupo Cultural AfroReggae é uma organização que luta pela transformação social e, através da cultura e da arte, desperta potencialidades artísticas que elevam a auto-estima de jovens das camadas populares. Vamos trazer a cada número algumas das ações promovidas pelo projeto e que você que compra a Lado C pôde apoiar!

fotos: Imariaclara.carol fotos: Imariaclara.carol

Isso mesmo, a Lado C não é uma revista comum, assim como seu conteúdo pretende não ser. Tentamos dar um jeitinho para realizar um grande sonho: apoiar efetivamente o desenvolvimento e divulgação da cultura nacional. Para isso, a Petrobras e outros parceiros compraram a briga e hoje são eles que patrocinam a produção

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Conhecer rio de janeiro

O foto: alistadelucas.wordpress.com

vai a passsa ar Texto: Juliana Colares

O carnaval carioca foi buscar no rock britânico inspiração para criar o maior bloco de rua do Brasil. Come On!

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Completando 50 anos do primeiro single lançado com “Love Me Do”, Os Beatles talvez seja a banda mais famosa, cultuada e também copiada de todos os tempos. Com um legado que atravessa gerações, o quarteto de Liverpool é também disparado a maior fonte de inspiração para muitos covers e tributos em todo o planeta. As homenagens aos queridos Paul, John, George e Ringo são as mais diversas possíveis, incluindo desde covers mais “certinhos” (aqueles mais fieis), imitan-


fotos: I Hate Flash

do desde o figurino típico até os trejeitos dos integrantes - a releituras mais “elaboradas” e curiosas. Quem se enquadra no último caso, subvertendo e surpreendendo a obra deixada pelo Fab Four, é o bloco do Sargento Pimenta que, desde 2011, vem angariando foliões em todo o Brasil. E realmente não tem como não simpatizar e não se empolgar com o bloco, que “atualizou” o repertório da banda britânica com a batida brasileiríssima do samba, daí a sua autenticidade. No ano de sua estreia, desfilando pelas ruas do bairro Botafogo (Rio de Janeiro), esse pessoal foi aclamado o melhor bloco pelo voto popular, em concurso promovido pelo jornal O Globo. A trupe de instrumentistas começou com nove amigos - beatlemaníacos apaixonados por Carnaval. Hoje, o bloco evoluiu em qualidade e quantidade e já totaliza 70 membros, carinhosamente chamados de Pimentas, com idade de 20 a 60 anos, divididos entre várias funções: guitarras, baixo, cavaquinho, sopros

A temática deu tão certo que já no seu primeiro ano teve ótima aceitação e se hoje arrasta multidões.

e vocais, além da poderosa- bateria, composta por surdos, caixas, repiques, tamborins, agogôs e pandeirolas. No formato pocket, se apresentam com a banda completa e os 16 instrutores d´O Passo distribuídos harmonicamente na percussão. No set list, o público pode esperar por “I wanna hold your hand” em samba-enredo, “A Hard Day´s Night” funkeado, “Hey Jude” em ciranda, entre outros sucessos dos Beatles. Mesmo com pouco tempo de rua, o Bloco do Sargento Pimenta já acumula feitos invejáveis, além dos desfiles de Carnaval para um público estimado de 100 mil pessoas, apresentações no Réveillon da Praia de Copacabana e na festa de recepção do príncipe Harry, no Morro da Urca, no Rio, em comemoração do jubileu da rainha Elizabeth II e se prepara agora para sua primeira turnê internacional..

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Conhecer

garoa

Texto: Paula Sacchetta Foto: Peu Robles

Aqui vamos contar histórias, apresentando três fotos acompanhadas de um texto. Serão como os três terços de uma imagem, e o texto será a quarta parte.

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A São Paulo do feriado, fria, úmida e com essa chuvinha que não pára de cair nos faz pensar na São Paulo da garoa, do tempo dos nossos avós. Para quem fica na cidade vazia e melancólica resta a solidão dos dias arrastados em algum abrigo, algum lugar. As pessoas ficam mais frias, mais sozinhas, mais em casa. Ficam introspectivas e andam reparando bem onde pisam: com cuidado para não molhar os pés na água e uma mão sempre ocupada pelo guarda-chuva. É a cidade da sexta-feira entre o feriado e o fim-de-semana. Muito tranqüila, tranqüila até demais. Onde há comércio, mas pouco e tímido. Onde há gente na rua, mas sozinha e andando com calma e rapidamente para fugir da chuva. E nas imagens, com reflexos em poças d’água, repletas de guarda-chuvas, e na luz difusa – resultado dos dias cinzas – o Copan, cartão-postal da cidade aparece de uma forma ou de outra, ainda que timidamente. Nele, suas curvas quentes afastam o frio e a umidade. Porém, como retrato da cidade, sempre faz lembrar os dias de frio como esses. No centro da cidade, num lugar onde muita gente passa sozinha e apressada mesmo no feriado, ele é grande imponente e ainda que abrigue tanta gente, abriga todos sozinhos, separados por paredes. Lá moram milhares de pessoas, em mil lares, mas elas também estão sozinhas, cada uma abrigada do seu jeito, protegendo-se de uma forma ou de outra do dia cinza que está lá fora. Muitas pessoas juntas, mas tão separadas, por barreiras de concreto. Cada uma com a sua preguiça, a sua dor, a sua ilusão e a sua televisão.


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Capa

periferia

Povo lindo povo inteligente Por Patrícia Cornils

Movimentos surgidos nas periferias reforçam o papel da cultura no protagonismo desses espaços.

Em 1916, Donga vestiu seu terno, foi à Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, e registrou a autoria da música “Pelo Telefone”, em parceria com Mauro de Almeida, como um “samba arnavalesco”. Ao assumir o papel de autor e, assim, se colocar na posição de receber pelo seu trabalho, ele queria que sua produção cultural fosse reconhecida profissionalmente. Entre os muitos sambistas da época, que eram pobres e vendiam suas músicas ou

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baianos da Guerra de Canudos e a população pobre – e negra – da cidade, deslocada pelas reformas urbanas do prefeito Pereira Passos, que a expulsara da Zona Portuária. Donga morou no Centro do Rio, na Rua Riachuelo, com Pixinguinha e Heitor dos Prazeres. A arte do futebol nasce nas peladas em campinhos de periferia, como mostra Várzea, a Bola Rolada na Beira do Coração

foto: Cassimano

a autoria delas a quem tivesse dinheiro para comprar – e que depois recebiam os louros e mais dinheiro se a música virasse um sucesso –, ele foi pioneiro. Donga, ou Ernesto dos Santos, era negro, filho de Tia Amélia, festeira baiana da Cidade Nova, e frequentava as festas da casa de Tia Ciata, onde os estribilhos que viriam a fazer parte de “Pelo Telefone” eram entoados. A Cidade Nova, também chamada de Pequena África, era a região do Rio de Janeiro onde viviam descendentes dos

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foto: Foto Hélvio Romero | AE

O rapper Rappin’ Hood: “Se você pensar na cidade de São Paulo, a periferia é o próprio espaço urbano”

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Descendente de escravos, vinha da periferia do Brasil. Nessa periferia, em que balançava com lundus, modinhas e choros, foi inventado o samba, que hoje faz parte da identidade nacional. Se a cultura que nasce na periferia determina a identidade do Brasil, por que ainda é vista como “de periferia”? Talvez porque “a mídia e a informação são centralizadas nas mãos de alguns, e o povo não se vê representado pelas redes de comunicação”, constata o rapper Rappin’Hood. A realidade de que há, nesses lugares, “um mundo de coisas, bandas bombando, escritores bombando, assuntos bombando”, diz Hood, também aparece pouco. E esses lugares são um mundo. “Se você pensar na cidade de São Paulo, a periferia é o próprio espaço urbano”, observa Eleilson Leite, coordenador de Cultura da ONG Ação Educativa e editor da Agenda Cultural da Periferia, guia de cultura publicado mensalmente na capital paulista. “Mais de 60% da população de São Paulo vive na periferia. É um universo com características próprias e é natural que também surja daí uma estética própria.” Periferia é periferia em qualquer lugar, constatam os Racionais MCs, e uma das maneiras de definir esse lugar é a exclusão econômica e social. “Dos jovens de periferia sem antecedentes criminais, 60% já sofreram violência policial. A cada quatro pessoas mortas


“Se a cultura que nasce na periferia determina a identidade do Brasil, por que ainda é vista como ‘de periferia’?”

pela polícia, três são negras. Nas universidades brasileiras, apenas 2% dos alunos são negros. A cada quatro horas um jovem negro morre violentamente em São Paulo”, diz a música “Capítulo 4, Versículo 3”, um “manifesto da condição periférica”, de acordo com Leite. A exclusão cultural também existe. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), pesquisados a pedido do Ministério das Comunicações, mostram que somente 13% dos brasileiros vão ao cinema pelo menos uma vez por ano. A museus 92% nunca foram, assim como 93,4% nunca estiveram em uma exposição de arte e 78% jamais assistiram a um espetáculo de dança. Mais de 90% dos municípios do país não têm sala de cinema, teatro, museu ou outros espaços culturais.

Contrariando estatísticas Esse povo, no entanto, adora contrariar as estatísticas. No caso da cultura, a periferia faz isso saindo da negação (aqui não tem nada) e, apesar da dificuldade de acesso a cinemas, teatros, shows, realiza uma produção cultural vigorosa. Os próprios Racionais mostram isso. Em 1997, lançaram Sobrevivendo no Inferno, disco onde está “Capítulo 4, Versículo 3”. Venderam mais de 1 milhão de cópias à margem das gravadoras oficiais. Na periferia. Também em 1997, a Companhia das Letras publicou Cidade de Deus, de Paulo Lins, um escritor de periferia que fala sobre a ação do tráfico nesse bairro da zona oeste carioca. Bombou. “O romance de estreia de Paulo Lins [...] merece ser saudado como um acontecimento. O interesse explosivo do assunto, o tamanho

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da empresa, a sua dificuldade, o ponto de vista interno e diferente, tudo contribui para a aventura artística fora do comum”, apresenta o crítico literário Roberto Schwarz em seu livro de ensaios Sequências Brasileiras (Cia. das Letras, 1999). A produção cultural da periferia não parou depois da década de 1990. Em Belém, toda semana, milhares de pessoas participam das festas de aparelhagem. Em 2006, uma pesquisa da Fundação Getulio Vargas e da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) constatou que as aparelhagens e as bandas de música brega realizavam 3.164 festas e 849 shows por mês na região metropolitana da capital paraense. Criaram um enorme mercado de venda de CDs e DVDs em camelôs e são estudadas até hoje como um novo modelo de produção e venda de música popular. Para dar um exemplo dessa movimentação cultural, na Agenda Cultural da Periferia de São Paulo, em março, havia 14 saraus e rodas de diálogo sobre literatura, 16 rodas de samba, eventos de hip-hop, seis espetáculos de teatro, saraus sertanejos, festas de celebração da cultura negra, como o Panelafro e o Jambaque, e encontros de DJs da Liga do Vinil e do projeto Vitrola’s, que ressaltam a importância do vinil. No Rio de Janeiro, o Grupo Cultural AfroReggae, criado em 1993, tem núcleos de cultura na favela de Vigário Geral, do Cantagalo, de Parada de Lucas, do Complexo de Favelas do Alemão e de Nova Era. Produz um programa de TV para o canal fechado Multishow, cinco programas de rádio e uma revista de cultura e mantém dez bandas (de rock, reggae, samba), uma orquestra de violinos grupos de teatro e de circo. “A cultura de periferia, hoje, é muito ampla”, diz Anderson Sá, vocalista do grupo. “Cada estado tem sua realidade, cada comunidade tem sua cultura”, opina.

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Gaby Amarantos, cantora brega que surgiu nas festas de Belém.


Projeto coletivo

foto: Divulgação

O AfroReggae foi criado para transformar a realidade de jovens moradores de favelas utilizando a educação, a arte e a cultura como instrumentos de inserção social. Essa relação entre a produção cultural e a vontade de mudar seu lugar é uma marca da cultura de periferia dos últimos 20 anos, afirma o professor de estudos comparativos transatlânticos da Universidade de Manchester, João Cezar de Castro Rocha. “O que tem mudado de ma-

intermediários, e “propondo uma interpretação radical da desigualdade no país”. É quase como se todos os músicos da casa de Tia Ciata tivessem decidido registrar suas obras. Donga teria muita companhia, em seu caminho para a Biblioteca Nacional. Essa voz está reconfigurando o conceito de perife-

“somente 13% dos brasileiros vão ao cinema pelo menos uma vez por ano. (...)Mais de 90% dos municípios do país não têm sala de cinema, teatro, museu ou outros espaços culturais.”

neira notável na produção cultural dos últimos 15 anos é que não se trata unicamente de uma solução individual. É um projeto coletivo”, afirmou ele em uma entrevista para a revista Época, em 2007. “Não se trata mais da expressão de uma individualidade privilegiada. Quando você vê a produção do Ferréz, do Paulo Lins, dos Racionais MCs, da Cooperifa e de trabalhos semelhantes em todo o Brasil, percebe que é um projeto coletivo.” Além disso, continua ele, essa periferia está, pela primeira vez na história do Brasil, falando com voz própria, interpretando e imprimindo seus pon-tos de vista sobre a realidade sem

ria, explica Helena Abramo, socióloga e pesquisadora de temas relativos à juventude. Além de valorizar sua própria história, afirmar sua identidade, a periferia “criou um conceito que é mais que territorial, que expressa uma noção de classe, de lugar na estrutura social”. Quando se expressa, hoje, não está dizendo somente que o morro não tem vez. Fala de exclusão, mas não trata somente

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foto: Sergio Vaz

Sarau da Cooperifa coloca as pessoas em contato com a poesia.

da negação da realidade, porém da necessidade de transformá-la. A saída não é sair da periferia, e sim mudar sua situação. “É uma ação política que parte do princípio de que se você não mudar a sua vizinhança você não muda o bairro, o município, o Brasil”, afirma Castro Rocha. Isso acontece, entre outras coisas, porque uma das características da produção cultural da periferia é não separar o cotidiano, o dia a dia, da produção artística. No Sarau da Cooperifa, que acontece desde 2001 todas as quartas-feiras no Bar Zé Batidão, no Capão Redondo, zona sul de São Paulo, um poeta motoboy recita, cruzando o chão do bar de capacete, versos de O Navio Negreiro, de Castro Alves. O que a Cooperifa mudou em seu lugar? “Através da oralidade, muita gente chegou aos livros. Muitos voltaram ou começaram a estudar. Ninguém mais abaixa a cabeça, ali não tem coitadinho, temos dignidade. A poesia é uma ferramenta importante para a cidadania”, diz Sérgio Vaz, poeta e organizador da Cooperifa, em uma entrevista ao Correio Popular, de Campinas.

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Na literatura, com exemplos como Paulo Lins, Ferréz, Sérgio Vaz, criou-se uma linguagem, com denominação de origem. E, nas outras expressões, há algo tão novo como era, em 1916, o samba? “Ainda não se sabe se toda essa produção configura um movimento estético” constata Eleilson Leite. “Mas sabemos que, além da literatura, há uma produção crescente na área de audiovisual, em que ocorre uma enorme apropriação das tecnologias pelos jovens.” Ele cita, como exemplo, o filme Várzea, a Bola Rolada na Beira do Coração, do poeta e arte“É uma ação política que parte do -educador Akins Kinte. Lanprincípio de que se você não mudar çado em fevereiro deste ano, a sua vizinhança você não muda o mostra os campões de barro onde rolam os verdadeiros bairro, o município, o Brasil” campeonatos do futebol brasileiro. Onde os peladeiros arrancam, dão caneta, lençol, pedalam, fazem gol de letra... Como diz o as condições de vida das pesjornalista Xico Sá, é onde se escreve a poesia soas e estabelecerum diálodo futebol, onde os grandes não têm vez e de go positivo entre a periferia onde saem os craques brasileiros, rumo ao e o centro”, diz. Se o verso centro do mundo do futebol. “Quando derem vez ao mor“A tecnologia e a internet estão a favor ro/Toda a cidade vai cantar”, de diversos segmentos da sociedade, e isso do samba “O Morro Não Tem colabora para que o esquecido e o invisível Vez,” de Tom Jobim e Vinicius apareçam”, diz João Carlos Teixeira Chaves, o de Morais, ainda soa como Negro JC. Um dos criadores do Coletivo Ima- realidade a todos, a periferia gens Periféricas, formado na Cidade Tiraden- brasileira da atualidade mostes, periferia de São Paulo, em 2002, ele está tra que o morro criou, sim, desenvolvendo, com a produtora de vídeo sua própria voz. E ela é ouviCorreria Filmes, o Canal Periférico, um web- da em todo o país, que canta, site para exibição de peças audiovisuais cujo escreve, filma, joga futebol, objetivo é ampliar o espaço de difusão das com milhões de instrumenmanifestações culturais na periferia e tam- tos, harmonias, rimas, perbém sua relevância nesses espaços. “A cultura cussões, imagens, passes e pode superar diversas coisas, como melhorar melodias.

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Cultivar grafite

Museu Aberto de Arte Urbana Por Julianna Granjeia Fotos: EME e Rafu

As pilastras sujas e cinzas da avenida Cruzeiro do Sul, na zona norte de São Paulo, vão dar lugar a 68 painéis de grafite. Em outubro, 58 grafiteiros deram início às pinturas do 1º Museu Aberto de Arte Urbana de São Paulo. O projeto surgiu após a detenção de 11 artistas, em abril deste ano, quando eles grafitavam o mesmo local. Dessa vez, eles contam com o apoio da Secretaria do Estado da Cultura e do Metrô, que contribuíram com tinta e spray. “Pensamos na delegacia que não era mais possível responder por crime. Somos artistas, reconhecidos pela cidade. A ZN é o nosso bairro, sempre pintamos na região e ali sempre é muito sujo. Foi uma surpresa para gente receber esse apoio”, afirmou Chivitz, que idealizou o projeto com Binho enquanto estavam na delegacia aguardando o registro da ocorrência de crime ambiental. A pintura deve durar dez dias. Entre os artistas participantes estão Zezão, Tinho, Ri-

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cardo AKN, Minhau, Speto, Presto e Highraff. “Além dos mais experientes, também convidamos artistas jovens, que estão começando, e que são da zona norte. A intenção é que moradores e grafiteiros cuidem da sua região”, explicou Chivitz. O projeto também desenvolverá ações educativas em escolas da região para incentivar o gosto pela arte urbana em crianças e adolescentes. “Reconhecer o valor da arte urbana é promover a diversidade dos olhares sobre a cultura e sobre a cidade. O grafite feito dessa forma organizada ajuda no desenvolvimento de talentos artísticos e a preservar e embelezar um lugar deteriorado. Nem todo mundo gosta de grafite e não é obrigado a gostar, mas nas pilastras públicas não vai incomodar ninguém”, afirma o secretário de Estado da Cultura, Andrea Matarazzo, que confessa já ter mandado apagar muitos grafites que não tinham autorização.

Baixo Ribeiro, curador e proprietário da galeria Choque Cultural que colaborou no projeto, destaca a importância da ação para o modo de se pensar o espaço público urbano. “O grafite não tem a ver com moda. A arte pública, como nesse caso, é importante para aproximar mais a população da arte, desde especialistas até pessoas mais simples. É a democratização do acesso à arte. Grande parte da população vive em centros urbanos, precisamos aprender a lidar com esse espaço público que cada vez mais será dividido por mais pessoas”. Além da avenida Cruzeiro do Sul, outros espaços públicos estão sendo destinados para arte urbana em São Paulo, como o painel de Daniel Melim na Luz e de Osgemeos no Vale do Anhangabaú, ambos na região central. “Berlim é um exemplo de ações nesse gênero. É uma cidade que já tem essa cultura de conciliar a arquitetura com a arte em espaços públicos”, afirmou Ribeiro.

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Cultivar cinema

Palhaço Palhaç b Por Isabela Zamboni

“O Palhaço”, de Selton Mello, além de ser o filme brasileiro selecionado para concorrer a uma vaga na categoria de melhor filme estrangeiro no Oscar 2013, também faturou onze troféus no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro. E não é para menos: o drama sobre um palhaço em crise oferece uma avalanche de emoções aos espectadores. O longa conta a história de uma trupe circense liderada por dois palhaços: Benjamin (Selton Mello) e seu pai Valdemar (Paulo José) que ganham a vida em excursões pelo interior do Brasil. O Circo Esperança, composto por personagens irreverentes e incríveis, sobrevive com uma renda muito baixa arrecadada nas bilheterias e com a hospitalidade das pequenas cidades. A insatisfação de Benjamin só cresce com o tempo, levando o personagem em crise a buscar sua própria identidade: “Quem é que me faz rir?” repete ele ao longo da história. Selton Mello atua, escreve, dirige e produz o longa, mostrando uma excelente per-

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formance em seu segundo trabalho como diretor. Para o autor, o importante da obra não é somente entreter, mas também propor uma reflexão: quem nunca se perguntou se está no caminho certo? Ou se sentiu perdido, sem ambições e com sonhos despedaçados? “O Palhaço” fala da vida, das frustrações e também da possibilidade de um recomeço. O diretor consegue transmitir essa mensagem com maestria, fazendo o público sorrir com uma dramédia sarcástica e encantadora. E não é somente o roteiro que encanta - esteticamente, o filme é espetacular. A trilha sonora de canções divertidas dos anos 70 aliada a


foto: divulgação

uma fotografia impecável de tons amarelados cria um clima que mistura sonho e realidade. O cenário composto por luzes que brilham atrás dos coloridos picadeiros remetem à solidão e tristeza de um palhaço que não sabe mais o que é sorrir. Contudo, a figura de um palhaço triste, confuso e depressivo não é inédita. Em “Os Palhaços” (1970) o cineasta italiano Federico Fellini aborda a mesma melancolia de artistas que fazem o público sorrir, mas que sofrem por dentro. Na verdade, o intuito de Selton Mello não foi impressionar com a originalidade, mas mesclar elementos do humor com uma nova forma de fazer cinema, reinventando o conceito de “cinema de autor”, ideia disseminada pelos cineastas franceses da década de 60. Antes de ser exibido nas telas de todo o Brasil, o filme foi apresentado no Festival de Paulínia e conquistou muitos aplausos dos presentes. Antes da exibição, Mello havia dito no palco que esperava que a delicadeza de “O Palhaço” se manifestasse “como uma coceira” no público. E ele conseguiu. Após a estreia, o diretor recebeu muitas críticas favoráveis e conquistou não somente os fanáticos por cinema, mas também o grande público que se emocionou e se encantou pelo carisma dos personagens circenses. Agora só resta torcer para que o cinema brasileiro emplaque na corrida para o Oscar.

A história divertida e melancólica que rendeu indicação ao Oscar

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Cultivar rápidas

Projetos Culturais Fomos procurar alguns projetos que já são cultivados e espalhados pelas cidades. Vale à pena conhecer mais e quem sabe inspirar você à colocar suas ideias em prática? Confira!

Coletivo Chá Fomos por cinco meninas que cansaram do cinza da cidade de Joinville, o coletivo chá resolveu colorir e dar um pouco mais de alegria às ruas com mensagens e desenhos em seus lambe-lambes e stickers. Com muita personalidade, usam a street-art para fazerem do lugar onde moram mais agradável. conheça mais: coletivocha.com

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Projeto 3Km A idéia dos três amigos que criaram o projeto é que as pessoas pudessem observar mais o lugar onde vivem, resgatando detalhes e fotografando. Quem quiser, envia as fotos e a cidade onde mora, e aparece no site. Além de várias cidades brasileiras retratadas lá, já existem contribuições até de lugares como Bangkok, na Tailândia e Treviso, Itália. conheça mais: tresquilometros.tumblr.com

Discopédia No centro da Cidade de São Paulo, no bairro da República, acontece um encontro todas as quartas-feiras para quem gosta de música black, rap e funk do bom. O projeto Discopédia é a celebração da música discotecada no vinil e foi idealizada por 3 DJ’s de peso. Quem foi que disse “Que tempo bom, que não volta nunca mais”? conheça mais: facebook.com/Discopedia

Tem algum projeto de cultura legal no seu bairro? Escreve para contar como é! Vai que aparece aqui pra todo mundo conhecer!? cultivar@ladoc.com.br

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Conversar entrevista

DJ Nyack Por Celso Tokusato

Fernando Carlos Silva, 23 anos, morador do Jardim Brasil, Zona Norte de São Paulo é conhecido na cena Undergraund do rap nacional como DJ Nyack. Em conjunto com seu parceiro, o rapper Emicida nas Pickups, seu trabalho vem ganhando espaço para o grande público. Nyack se mostra bem acessível aos que passam pelo bairro da República no centro de São Paulo, onde toca como DJ e no intervalo entre as discotecagens conversamos.

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foto: Marcos Willian


O que te inspirou a trabalhar com este seguimento da musica e quais são as suas principais influencias? O que me levou a ser DJ foi gostar de musica em primeiro lugar, na minha quebrada havia um projeto com varias oficinas. Inclusive de DJ, na qual me interessei. E as minhas influencias de vida é minha família, minha mãe, na musica tem muita gente como Jorge Ben, Djavan. Na gringa tem Little Brothers, Michael Jackson, James Brown tem muita gente. Não faço grafite porque eu não sei desenhar, queria muito saber desenhar, e DJ foi onde eu me encontrei, desde pequeno eu ficava mexendo nos discos do meu pai e do meu tio, e hoje eu faço aquilo que gosto e estou me dando bem. Como você usa as redes sócias em favor do seu trabalho? Como a internet é muito rápida e rola 300 coisas ao mesmo tempo procuro divulgar algumas coisas pra servir de referencia.

As influências fizeram o estilo musical de Nyack se destacar

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Eu uso pra caramba o Face para divulgar a cultura urbana, como as coisas boas que estão acontecendo na cidade não são divulgadas na grande mídia, como festas, mostras e até cinema, acredito que assim fortaleço a cultura urbana em geral. Como você conheceu o Emicida? Nós freqüentávamos as mesmas festas de Rap em 2004 e 2005 ele mora na zona norte também, e uma época ele estava sem DJ e me chamou pra fazer uns shows com ele e estou até hoje. No Trabalho com o Emicida há um transito entre o Undergraund e Meanstrean, como é lidar com isso? Esse diálogo não é forçado, ele aconteceu naturalmente, acho que a musica não pode ter barreiras. Foi a qualidade do trabalho que levou a isso, acredito que o Hip hop(em visua-

É possível viver de arte? Bom ta difícil, mais tudo depende se você acredita no que você faz, é difícil pra caramba mais é possível ainda mais aqui no Brasil, devido a gente não ter a infra-estrutura que tem lá fora e a dificuldade de enxergar rap como musica e grafite como arte, que ainda não é visto como. A gente tem que trabalhar e trabalhar que uma hora certeza agente chega.

“Acredito que o Hip hop ainda está meio atrasado aqui no Brasil devido à certos preconceitos que estamos quebrando junto com o Projota, Hashid e estamos conquistando o mercado com muito sucesso.” lização) ainda está meio atrasado aqui no Brasil devido a certos preconceitos que estamos quebrando junto com o Projota, Hashid e estamos conquistando o mercado mainstream com muito sucesso, o Projota ta com musica na novela das 7 agora, então eu acho que agora agente ta começando a ser visto pela midia e isso só tem a somar. Rola até certo ponto o preconceito do Underground, vai muito do que a pessoa pensa não podemos julgar as pessoas, sabe.

Em relação ao passado, você acha que está mais fácil ou mais difícil viver de arte e cultural alternativa? De um tempo pra cá ta muito mais fácil você divulgar seu trabalho, porém existe muito mais concorrência, existem varias formas que você pode conseguir, mais tem muita concorrência, por isso tem que trabalhar dobrado. Não digo que hoje é mais difícil, mas a intenção do seu trabalho tem que continuar da mesma forma.

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foto: arquivo Discopédia

Tocando na festa Discopédia, projeto que contempla música dos discos de vinil.

Qual a sua perspectiva para um futuro próximo na cena Alternativa? Tem muita gente nova chegando, o que é bom pois mantém uma concorrência saudável. Agente não se acomoda, tem muito muleque bom chegando e isso dá um gás não só que já estão fazendo, mas na cultura, com mais nomes e bons talentos formamos no mercado uma cena que não existia. Essa galera vai somar e ainda vai aparecer muita gente, por isso, independentemente de qualquer coisa, você tem que continuar tentando criar a sua identidade pra não ser mais um. E essa concorrência toda é positiva, pois só tem a somar com gente e com a musica.

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Atualmente quais são seus projetos e o que você planeja realizar? Além de trabalhar com o Emicida eu tenho a minha festa que é o Discopédia que rola todas as quartas no Executivo Club que fica na Sete de Abril 425, tenho um projeto com o Kamau que o ZNSS(Zona Norte Sistema de Som) que são mix de vídeos com musicas interligadas, com samplers e tal é bem interessante. E eu tenho desejo de gravar o meu próprio disco com Mcs convidados, esse será meu projeto para 2013. O que você diria para cara que esta começando agora? Tem que pesquisar e ter Fé, acreditar no que você faz, se você ama o que você faz tem que acreditar e lutar por isso, com todas as suas forças, independentemente se você conseguiu ou não pelo menos você tentou, foi assim que eu fiz. Eu amo que eu faço e isso transparece para as pessoas que me vêem toca e acho que por isso eu to ai até hoje.


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Ensaio Clarisse Souza

ilustração: Pal

Uma homenagem aos construtores da cidade Imagens de multidão na Avenida Paulista são mais comuns do que o inverso. Estranha-se quando as calçadas estão vazias e as vias desocupadas. Mas não. Ainda não foi desta vez. Nesta quarta-feira, quando subi as escadas do metrô Consolação, mais uma vez, estava lá a tal aglomeração ao redor de quatro jovens com instrumentos nas mãos, próximo a uma banca de jornal, na altura do número 2200 da Avenida Paulista. Mas o “acontecido” não era tão comum assim. A união dos instrumentos trazia o baião, o xote e o xaxado. O arrasta-pé, o bate-chinela. Lá do sertão nordestino, a chafurda provocada pela sanfona, o triângulo e a zabumba não aperriou ninguém. Ao contrário, os amostrados não usavam alpercatas e mesmo assim gingavam e cantavam o ritmo consagrado e popularizado por Luiz Gonzaga, sem descansar. “Êta forró arretado!”, dizia o cantor. Às seis e meia da tarde, a Avenida tinha figurinos de todo tipo e para todos os gostos. Era um tal de “chegue aqui” e “um cheiro ali” dos homi nas mulé, que escanchadas balançavam os cabelos para todos os lados… Mas sem saimento. Mesmo cas’botinas e saltos altos, ternos, camisas com pregas e gravatas enlaçadas nos pescoços, sem a farda apropriada – calça larga e camiseta florida – os meninos não sossegaram durante uma hora e meia de show. Mais um cheiro e um agradecimento aos nordestinos que fizeram essa cidade. Vixe, Maria! Era tanta gente descendo dos prédios espelhados e invadindo o ralabuxo que, aos poucos, a roda foi crescendo, crescendo, crescendo… Até se via gente do outro lado da rua erguendo os braços com câmeras ou celulares nas mãos, registrando o balançar dos quadris. Ao lado da banda que tocava, Ó do Forró, recostada na banca de jornal, uma pilha de bolsas, mochilas e blusas aumentava a todo instante. Quando chegavam, os mais fanáticos se desprendiam de qualquer objeto. Agarravam as cinturas das moças e emendavam duas, três ou quatro músicas… Galegos tentavam, mas as coreografias judiavam. Levantar braço, rodopiar, esticar e dobrar pernas, cruzar, voltar para o lugar e um passo pra cá e outro pra lá… “Oxente que é difícil demais!”. Ninguém aperreado, pois o que valia mesmo era a diversão no maior salão a céu aberto.

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