Uma outra forma de procurar contato com seres extraterrestres
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busca por outras civilizações e inteligências no universo não é exclusividade da Ufologia. A irresistível tentação que o ser humano tem pelos mistérios do espaço sideral há muito permeia também a comunidade científica, que, de forma diversa da ufológica, tem aparatos de grandes proporções e outros meios para tentar responder à pergunta crucial – estamos sós no universo? Nas últimas cinco décadas, vários foram os programas científicos para se tentar dar um ponto final a esta questão, a partir de métodos amparados e reconhecidos pelos meios acadêmicos. Os resultados de tanto esforço, no entanto, são quase imperceptíveis. Praticamente nenhum sinal relevante foi recebido pelas centenas de antenas espalhadas pelo mundo. Enquanto isso, a Ufologia, com sua metodologia própria – muitas vezes criticada pela ciência acadêmica –, tem mostrado bastante vigor ao buscar a resposta para o mesmo questionamento. Entretanto, seus resultados são muitas vezes questionáveis. Esta edição traça um paralelo entre os dois métodos, a partir do ponto de vista do primeiro segmento, o acadêmico. É interessante conhecer seus resultados, como se verá a seguir.
Editorial Convidado:
Propondo a pesquisa da vida extraterrestre por meio de microondas
A procura por nossos vizinhos cósmicos
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A tecnologia do SETI está ao alcance de todos os interessados
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Os caminhos que levam à pesquisa de vida no universo ao nosso redor
“Sinal candidato”: a possível resposta dos ETs às nossas mensagens
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Veja a seção Suprimentos de Ufologia, com edições anteriores, livros, DVDs e vários outros produtos na página
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EDITORIAL CONVIDADO
A procura por F
oi com enorme satisfação que recebi a incumbência de preparar uma edição de UFO Especial sobre o Projeto SETI [Search for Extraterrestrial Intelligence at Home – Pesquisa de Inteligência Extraterrestre]. Pela primeira vez no Brasil um espaço desse porte está sendo aberto à questão da busca por vida inteligente extraterrestre. Vivemos em uma realidade diferente. Enquanto países do primeiro mundo têm dezenas de estações operacionais montadas, aqui se trabalha arduamente para criara primeira e talvez única estação brasileira. No exterior, por exemplo, obtêm-se com facilidade equipamentos de rádio, feedhorns [Dispositivo que fica no foco da antena e se destina a transmitir o sinal coletado ao sistema de análise] e préamplificadores. Em nosso país tudo precisa ser importado a alto custo, com exceção da antena parabólica e dos microcomputadores, que são encontrados no mercado nacional com facilidade. Fazer o SETI é um grande desafio. Trabalhar nesse projeto fora do primeiro mundo é um desafio maior ainda. E as dificuldades não param por aí. Tal pesquisa pode ser enquadrada na radioastronomia, já que é uma análise que utiliza mecanismos como as ondas de rádio e radiotelescópios. Porém, nessa ci-
ência o SETI é visto com reservas.Afinal, que trabalho mais estranho é esse de procurar sinais de rádio emitidos por extraterrestres? Na astronomia, a radioastronomia também é vista com outros olhos, já que o astrônomo convencional trabalha na janela da luz visível, embora, com proporções restritas, constitui uma atividade clássica e mais aceita do ramo. Eles também acham muito estranho esse fascínio por ouvir estrelas... Na preparação dessa edição senti dificuldade em incluir o trabalho de autores convidados. O motivo: puro preconceito, fruto de uma visão limitada. Grande parte deles sequer respondeu ao convite, pois, afinal, o SETI seria tratado em uma revista de Ufologia. Claro que a esmagadora maioria das pessoas não vê sentido em procurar sinais das estrelas se as naves e os extraterrestres já estão rondando por aqui. Será? Talvez tal projeto seja a única forma da ciência enxergar essa realidade. A partir do instante que se comprovar que existem outras civilizações no universo, além da nossa, ficará mais fácil aceitar que muitas delas possam ser bem mais evoluídas e estão enviando suas naves e tripulantes para nosso planeta. Por que não? Se nos limitarmos a pensar que somos a única forma de vida inteligente no
universo, se considerarmos que não podem existir civilizações mais avançadas capazes de realizar viagens interplanetárias, ou talvez até mesmo interdimensionais, para que nos preocuparmos com o SETI? Para que a busca?
Expansão da consciência — É muito co-
mum ouvirmos que as viagens interplanetárias são impossíveis por causa das grandes distâncias interestelares. Afinal, realmente, uma de nossas naves demoraria cerca de 76 mil anos para chegar à Próxima Centauri, estrela localizada mais perto da Terra, à cerca de 4,3 anos luz. Mas não podem existir civilizações com tecnologia mais avançada? Também é comum escutar que tal planeta não tem condições de abrigar formas de vida, mas só se leva em conta nessas afirmações seres parecidos conosco, humanóides constituídos basicamente de carbono. Num universo tão imenso, não será possível existir seres diferentes, que não sejam necessariamente da mesma base que a nossa e bípedes, capazes de viver numa atmosfera diferente da terrestre ou em condições inóspitas? Por que sempre precisamos procurar formas de vida parecidas conosco? O desafio maior do que fazer SETI ou procurar por outras formas de vida,
Cláudio Brasil, editor convidado
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Outubro 2005 – Edição Especial 37
O Projeto SETI
r vizinhos cósmicos Agradeço a Fábio Branco, companheiro de pesquisas no SETI, pela incansável ajuda na preparação desta edição, para a qual também contribuiu com valorosos artigos, e ao colega Paulo Santos, da Equipe UFO, pela grande colaboração traduzindo os textos estrangeiros.
Quem é Cláudio Brasil
C
láudio Brasil é físico e mestre em tecnologia nuclear, astrônomo amador e dedica-se ao SETI desde 1995, sendo um dos pioneiros do projeto Argus da SETI League e coordenador até 2001. Atualmente, trabalha na montagem da estação SETI brasileira e no projeto Comunidade SETI, além de realizar pesquisas em Ufologia e parapsicologia. É coordenador da Área de Planetas Inferiores da Rede de Astronomia Observacional (REA), sendo um dos seus fundadores e membro do conselho diretor da entidade, na qual tem realizado estudos do Efeito Schroeter, a discrepância de fases observada em Mercúrio e Vênus, até hoje sem uma explicação satisfatória. Realiza pesquisas em Transcomunicação Instrumental (TCI), que é o contato com outros planos da existência através de aparelhos, desde 2000, com o objetivo de comprovar cientificamente o fenômeno através da análise matemática dos áudios paranormais. É assessor da Entidade Brasileira de Estudos Extraterrestres (EBE-ET) e consultor da Revista UFO. E-mail: claudio.brasil@ufo.com.br. Os convidados de Cláudio Brasil nesta edição serão apresentados ao fim de seus artigos.
Arquivo do Autor
lidam com eles, além de conhecer mais do famoso sinal Wow!, captado nos Estados Unidos, em 1977, e sem explicação até hoje. Também serão discutidas as descobertas da ciência sobre os planetas extra-solares. Esta edição de UFO Especial é um convite a você leitor para fazer parte dessa aventura, seja construindo sua estação, participando do SETI@Home ou simplesmente divulgando essa empreitada magnífica conhecida como SETI. Junte-se a nós e boa leitura!
Alan Kearney
é mudar a maneira que temos de pensar. É também não limitar a mente e permitir uma expansão da consciência, necessária para entender um universo muito mais rico e complexo do que conseguimos imaginar. A Terra não é mais o centro de tudo há séculos e já não se queimam pessoas por terem formas de pensamentos diferentes, como ocorreu com Giordano Bruno (15481600), monge dominicano que morreu na fogueira por defender a idéia da pluralidade dos mundos habitados. Sempre designei o SETI como a maior aventura do homem. Nesta edição vamos encontrar os motivos da busca, as técnicas, os diferentes projetos, instruções para montagem de uma estação caseira, entre outras coisas. Vamos saber o que são os sinais candidatos e como os responsáveis pelo projeto
Edição Edição Especial Especial 37 37 –– Outubro Outubro 2005 2005
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Propondo a pe em microonda
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Philip Morrison, texto especial
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o terminar meus serviços como engenheiro especialista em radiação de nêutrons, lá pelos anos 50, tinha aberto o meu caminho para a astronomia de altas energias. Após o sucesso da radioastronomia, a idéia de explorar novos canais era muito convidativa. Em 1958, percebi que os raios gama eram mais uma possibilidade promissora, que correspondia às expectativas levantadas. Um ponto a favor era a sua facilidade, ao serem comparados com a luz das estrelas, de cruzar o empoeirado plano da galáxia na velocidade da luz. Foi quando meu genial amigo e colega da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, Giuseppe Cocconi, me veio com a seguinte pergunta: “Nós já somos capazes de gerar raios gama e o sincroton eletrônico de Cornell, inclusive, tinha acabado de ser construído. Por que não enviá-los através do espaço para ver se alguém por lá consegue detectá-los?”
NRAO Image Gallery
Antenas do campo de estudos radioastronômicos Very Large Array, no sul dos Estados Unidos, como as mostradas no filme Contato
Era um questionamento surpreendente, mas muito estimulante. A minha resposta foi que nós deveríamos analisar todo o espectro, desde as ondas de rádio até os raios gama, e escolher a melhor freqüência para enviar aquele tipo de sinal. Em 1959, já tínhamos realizado estudos suficientes para propor as microondas como a banda eletromagnética mais apropriada para ouvir, e não enviar, sinais de outras fontes tão pequenas como nós mesmos. A própria antena gigante de Cornell, próxima à de Arecibo, em Porto Rico, em breve seria capaz de detectar alguma outra antena como ela, localizada a distâncias interestelares, transmitindo para a Terra todas as informações. Isso se fosse bem apontada e alimentada com energia suficiente. Além do mais, um sósia do transmissor disponível em Arecibo, situado num hipotético planeta, seria capaz de alcançar boas distâncias através da galáxia. Apesar da tecnologia para emissão de raios gama ser mais difícil de se dominar, já que supera a luz comum, que tem que enfrentar a interferência da luz das estrelas, é muito mais limitada em alcance e penetração. As microondas de Arecibo, num feixe bem direcionado e sintonizado, se sobreporiam com facilidade às difusas microondas emitidas pelo Sol e pela própria galáxia, transmitindo a 1.420 MHz (21 cm) a linha do hidrogênio, a mais bem estudada das emissões de rádio naturais. A nossa galáxia mudou pouco nos últimos 40 anos, mas nossa tecnologia e capacidade de criar coisas evoluíram bastante. Outubro 2005 – Edição Especial 37
O Projeto SETI
É estranho, mas é verdade, que entre as várias antenas parabólicas de rádio na Terra, Arecibo continua sendo a maior e a melhor para se fazer pesquisas. Os receptores de microondas fizeram progressos, mas não na mesma intensidade. Interferências em microondas são bem mais numerosas hoje em dia, mas a experiência nos demonstrou diversas maneiras de reduzir seu impacto – talvez até, um dia quem sabe, sejamos capazes de ouvir somente o fundo de uma cratera no lado escuro da Lua, bloqueando as interferências mais intensas!
Interferências transientes — Antes de iniciar
a busca, você precisa decidir para onde e quando apontar a antena, por quanto tempo manter o foco naquela direção, quais freqüências sintonizar, o quão fraco será o sinal esperado e qual o seu tipo. Somente umas poucas buscas organizadas têm sido feitas, apontando sempre para fontes próximas, na tentativa de cumprir uma tarefa que ainda está sendo definida. Nós temos diversas limitações, tanto pelas características conhecidas do mundo natural, quanto pelas escolhas que poderiam ser assumidas por um hipotético transmissor. O primeiro de todos os esforços do SETI aconteceu em 1960 – independente da nossa proposta, mas totalmente compatível com ela –, graças a Frank Drake na cidade de Green Bank, na Virgínia Ocidental, nos Estados Unidos, um radioastrônomo de verdade. Ele apontou uma antena parabólica de razoáveis proporções para algumas das estrelas mais próximas e parecidas com o Sol, uma por uma, e obteve interferências transientes [Fenômenos eletromagnéticos rápidos], oriundas de fontes humanas não identificadas. Pense na proporção da tarefa proposta. É possível procurar numa larga faixa de céu sem uma antena grande, mas isso exigiria uma potência incrível por parte do hipotético sinal enviado pelo transmissor, o que, caso realmente venha a acontecer, resultará em interEdição Especial 37 – Outubro 2005
parte dos corpos celestes da galáxia está muito distante de nós. Entretanto, dentre estes corpos mais longínquos deve haver alguns poucos e raros transmissores capazes de enviar sinais muito potentes, justificando uma busca menos específica naquele pedaço de céu, ao mesmo tempo em que temos uma pequena quantidade de estrelas mais próximas, que não exigem tanta potência para que um hipotético sinal oriundo delas seja detectado aqui na Terra e, portanto, justificam uma atenção maior durante a busca.
Buscando sinais entre as estrelas — A física
ferências numa grande quantidade de direções celestes ao mesmo tempo. A antena de recepção de microondas em Arecibo consegue distinguir milhares de direções num mesmo pedaço de céu, compreendido dentro de um quadrado com um grau em cada lado. Cerca de 40 mil pedaços desses compreendem todo o céu visível, mas não se esqueça da parte correspondente ao hemisfério Sul, onde também têm sido feitas algumas buscas. Pense bem, você optaria por olhar em todas as direções ou se concentraria somente em alguns pontos? Até agora, parece que a melhor opção é fazer as duas coisas: concentrar o foco ao analisar diversos alvos conhecidos, como as estrelas mais próximas, e depois realizar uma busca completa naquele mesmo pedaço do céu, sem focar em nenhum ponto especificamente. Não é nada fácil prever a potência que os nossos ambiciosos e desconhecidos companheiros cósmicos podem utilizar nas suas transmissões em busca de outras formas de vida inteligentes. Também, devido à nossa posição na Via Láctea, é óbvio que a maior
SETI@Home
esquisa as
O avanço tecnológico pode estar nos levando a passos largos para a detecção de civilizações extraterrestres
Frank Drake, famoso astrônomo norte-americano, pioneiro na busca por sinais de outras civilizações planetárias através de instrumentos
dos bolsões de gases espalhados entre as estrelas da Via Láctea diz que até mesmo os sinais mais claros sofreriam variações de freqüência assim que começassem a viagem, talvez assumindo uma flutuação de 0.1 hertz. Se isso realmente acontecer, não terá nenhuma utilidade procurar por sinais menores. Mesmo que aceitemos a recomendação inicial de utilizar a banda de 1.420 MHz, uns 100 milhões de sintonias não seriam muito para procurar. Multiplicando isso pela quantidade de direções possíveis, chegaremos à conclusão de que uma busca completa exige pelo menos um trilhão de pequenos períodos de escuta. É claro que poderemos considerar também sinais de laser infravermelho e bandas visíveis – uma tentativa modesta neste sentido está sendo feita agora –, além de seguir outras pistas ao longo de todo o espectro. Mas, seria plausível termos somente uma visita a cada opção possível? Um hipotético transmissor varrendo as estrelas para economizar energia tem que enfrentar a fatal possibilidade de que a sua escolha cega de momento e direção corretas, além da freqüência, pode sepultar qualquer possibilidade de sucesso na sua empreitada de sinalizar a existência de vida para o cosmos. A melhor alternativa seria repetir, repetir e repetir ou gastar energia de maneira contínua. Isso já tem sido estudado e escolhas direcionadas às alternativas mais plausíveis foram feitas. Sem dúvida, tais opções serão revistas à medida que aprendermos mais. Foram os próprios participantes do SETI@Home que realizaram uma grande mudança na tecnologia de pesquisa desde 1960. Nada de novas antenas, receptores e nem mesmo novos conhecimentos sobre as estrelas e seu meio. Mas sim, a diversidade de opções possibilitada pela impressionante ascensão em poder computacional. As primeiras propostas eram de mil canais gravando ao mesmo tempo durante as buscas. Um bom início para tentar reduzir o tempo de procura. Hoje em dia, operamos com sistemas mais baratos que podem receber dados de 100 milhões de canais ao mesmo tempo. E nem mesmo esse limite está bem definido. Os milhões ou mais de voluntários que disponi:: www.ufo.com.br ::
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O Projeto SETI
Procurando no tempo — O SETI pretende um dia realizar uma busca completa em nossa galáxia, que é o lar de 100 milhões de sóis bastante promissores. Entretanto, a perspectiva de pesquisar fora da nossa galáxia abre tantas possibilidades que mesmo uma pessoa experimente chega a ficar desanimada diante do desafio proposto. Mesmo que ele não se concentre em nenhum ponto em especial, e abra o foco da sua busca cobrindo uma larga área do céu cheia de estrelas, olhando-as todas de uma só vez... O problema é que todas elas estão a milhões de anos de luz de distância. Qualquer transmissor situado por lá teria que esperar um tempo significativo até obter alguma resposta. Um tempo tão grande que chega a transcender o da nossa existência como seres humanos – a nossa espécie tem talvez uns 100 mil anos de idade –, e por isso é muito difícil de se esperar que algo assim aconteça. Uma rápida experiência foi feita há alguns anos utilizando a antena de Arecibo e apontando-a para uma das grandes galáxias mais próximas, a Espiral de Andrômeda. Nenhum sinal foi encontrado. É impressionante o quão pouco nós sabemos sobre o que esperar e como agir diante de intervalos de tempo tão grandes. Mas mesmo dentro de nossa galáxia um hipotético transmissor ainda seria obrigado a esperar um intervalo de tempo considerável. Para ilustrar isso, basta lembrar que as 100 estrelas mais próximas, a maioria delas anãs vermelhas, muito mais fracas que o nosso Sol, ocupam uma esfera com cerca de 50 anos luz de diâmetro, o que corresponderia a um tempo máximo de 100 anos para que um sinal enviado retorne a sua origem, considerando que foi respondido imediatamente pelo receptor. Se levarmos em conta que, mais ou menos antes de 1960 – uns 50 anos atrás–, nós não tínhamos nenhuma maneira de saber se uma dessas estrelas próximas estava de fato transmitindo algo para nós, teremos uma idéia do impacto que o tempo tem numa possível comunicação interestelar. Hoje em dia, a nossa preocupação não está na provável quantidade de transmissores. Essas anãs vermelhas, estrelas com pouca luminosidade, não prometem muito. Na realidade, parece improvável que consigam aquecer algum planeta de maneira contínua. Mas há muitas estrelas parecidas com Sol, bilhões delas, em localizações mais distantes, e é por isso que o tempo total de uma hipotética comunicação estelar – transmissão do sinal, 8
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semelhantes aos nossos em objetivo, mas não necessariamente em aparência. Para encontrar 100 candidatos – a transmissores – precisamos examinar muitos sistemas planetários, mesmo que façamos a mais otimista aposta de que planetas como a Terra serão um dia encontrados e não somente como Júpiter, em órbitas muito próximas à sua estrela. Portanto, um otimista proporia que procurássemos, entre as 100 bilhões de estrelas num raio de mil anos-luz de distância, os nossos vizinhos galácticos. Mas, até encontrarmos algum possível transmissor, isso implicará em continuarmos a ouvir por centenas de anos antes de tentar enviar algum sinal. Isso se não levarmos em conta a possibilidade de que somos os primeiros astrônomos entre a possível centena de planetas semelhantes à Terra e aquecidos por uma estrela. Robert Gendler
bilizam suas CPUs para ajudar a analisar os registros mais recentes de Arecibo são somente um pequeno exemplo do que nós poderemos ter mais à frente neste século XXI, em termos de processamento de sinal.
Diversas experiências utilizando a antena de Arecibo, em Porto Rico, foram realizadas com a galáxia de Andrômeda, mas nenhum sinal foi encontrado
recepção e transmissão da resposta – se torna tão importante. A maravilhosa descoberta, em 1999, de um planeta em órbita de uma estrela distante, estável e semelhante ao Sol, mostrou Busca por companheiros cósmicos — Não que planetas semelhantes ao nosso vizinho Jú- podemos excluir a possibilidade de nossa prepiter, um gigante gasoso, acompanham uma pe- cedência, e muito menos levantar nenhuma eviquena percentagem das estrelas já examinadas dência efetiva para ela, além da nossa própria existência. Por isso, faz sentido que continuemos parecidas com o nosso Sol. a ouvir por mais um ou dois séculos antes de Todas próximas a nós e situadas num raio de tentar um consenso que permita enviar sinais. 150 anos-luz mais ou menos. Conhecemos cerca de duas dúzias de sistemas planetários como esse, A transmissão sistemática de sinais é muitíssimo mais cara do que a escuta. Então, dizemos: mas ainda não fomos capazes de identificar um planeta como a Terra [Nota do editor: Em junho “Continue ouvindo”. E aumente seus esforços, desse ano, por exemplo, os astrônomos norte- possivelmente incluindo outros tipos de sinais, até que, talvez em 2100, a idéia de transmitir americanos anunciaram a detecção de um astro possa ser levantada. A única coisa que podemos do tipo terrestre fora do Sistema Solar: o planeta dizer, com certeza, é que não começamos a radioorbita em torno da estrela Gisele 876, uma anã astronomia – ou os lasers, raios gama, neutrinos vermelha situada a 15 anos-luz de distância na Constelação de Aquário. A notícia veio do maior ou o que seja – num outro planeta. A vida cresceu aqui na Terra por cerca da grupo de caçadores de planetas do mundo, lidemetade do tempo de existência desta galáxia, rado pelos americanos Geoffrey Marcy e Paul Butler, respectivamente da Universidade da Ca- bem antes de nós humanos conseguirmos nos dar conta de que o Sol é uma entre muitas outras lifórnia em Berkeley e da Instituição Carnegie de estrelas. E a nossa espécie levou 500 séculos Washington. A descoberta foi feita com a ajuda até que fosse capaz de identificar o nosso ludo Observatório Keck, no Havaí]. gar no céu. Minhas reflexões têm me levado a Sistemas planetários identificados — Isso por- crer que foi necessário chegarmos à ordem de bilhões de seres inteligentes até que o planeta que os métodos de detecção atuais são ainda muito rudimentares para conseguir localizar pudesse abrigar aparelhos tão sensíveis como um planeta pequeno e rochoso como o nosso, receptores de microondas, e mais tempo ainda mesmo que eles estejam presentes nesses sis- para descobrir outras alternativas de comunicatemas já analisados. Atualmente, conseguimos ção. Somente uma população dessa ordem de detectar somente gigantes gasosos. Mas isso deve grandeza poderia criar e desenvolver todas as descobertas, habilidades, idéias e recursos que mudar dentro das próximas décadas, à medida constituem a tecnologia moderna: da moeda que lançarmos ao espaço novos instrumentos à matemática, da teoria à prática mundial que capazes de detectar planetas como a Terra, caso embasou a existência da astronomia e seus soeles existam [Nota do Tradutor: Atualmente, já nhos imaginativos. foram encontrados alguns semelhantes ao nosso Mas será que esse nível de especialização em outros sistemas solares, e a contagem total poderia existir se uma quantidade maior ainda de planetas descobertos fora do nosso Sistema de pessoas não tivesse passado tanto tempo Solar já chega à casa das centenas]. cultivando a terra, cavando minas, viajando, Comecemos pela simetria, que promete a possibilidade da existência de vida e astrônomos escrevendo, desenhando e, é claro, sonhando? Outubro 2005 – Edição Especial 37
O Projeto SETI Um grupo de caçadores, apesar de poderem ser inteligentes a nível individual, não é uma base realista para justificar a existência de mensagens interestelares, o nosso SETI. Para entender isso basta lembrar que cerca de 1 bilhão de seres humanos viviam na Terra por volta do ano 1800. E a tecnologia é um fenômeno social difundido através de bilhões de pessoas, cujos diversos tipos de trabalho levaram ao que nós somos capazes de fazer hoje. Um quociente de inteligência alto, por si só, não é capaz de criar meios de detectar sinais oriundos das estrelas. A inteligência é necessária, mas não é tudo. Os primeiros homens das cavernas, que descobriram o fogo, as pedras lascadas de Cro-Magnon, os europeus como Galileu Galilei e Isaac Newton, são todos descobridores admiráveis, mas nenhum deles foi capaz de realizar uma busca interestelar com sucesso.
Existência de vida fora da Terra — Por-
tanto, uma estimativa inicial para a existência de uma espécie gregária [Indivíduos que vivem em pequenos grupos], competente e inteligente, com bilhões de membros, implica em alguns bilhões de anos de evolução, até onde sabemos. Isso define, então, uma estimativa de tempo aproximada para a existência de um transmissor capaz de nos enviar sinais. E sem alguma dessas características, que ainda não encontramos em nenhum outro lugar da galáxia, não podemos achar um bom par para o nosso relativamente novo status, levando em conta que só tomamos conhecimento da ra-
dioastronomia à cerca de meio século, após toda a nossa história terrestre, com milhares de anos. A partir da comparação entre o momento que vivemos, pouco mais de 50 anos, e o tempo de existência da civilização, que são milhares de anos, podemos concluir que os possíveis companheiros detectáveis no universo estão provavelmente bem à frente da nossa tecnologia atual, enquanto o resto deles, ainda silenciosos e impossíveis de serem detectados, estão bem atrás na escala de desenvolvimento humano. A possibilidade que estamos levando em conta é um projeto ambicioso, bem antigo para os padrões humanos, para que possamos detectá-lo agora, definido por uma escala de tempo que nós não conhecemos e realizado talvez de maneira intermitente por alguma espécie curiosa, produtiva e não muito poderosa, constituída por bilhões de seres com uma tecnologia semelhante a nossa e morando em algum lugar entre muitas e muitas estrelas. Eles também têm que pagar suas contas de energia e esperar por uma resposta, talvez não pela primeira vez. Mas sua existência é somente uma conjectura. Eles devem provavelmente residir entre os 10 milhões de sistemas planetários, que nós agora esperamos enxergar através de uma muito pequena amostra de uns poucos planetas gasosos fora do nosso Sistema Solar. Um planeta próximo a um Sol estável é somente o degrau mais baixo de uma escala de natureza ainda totalmente conjectural e que continua subindo gradativamente até um planeta
como a Terra, assim como a existência de vida, evolução e, finalmente, até a consciência, curiosidade e habilidade. O SETI é uma busca audaciosa e direcionada para o último degrau desta longa escada. Procurando por mais evidências para isso, pelos sinais físicos que esperamos encontrar, o SETI é a tarefa do nosso tempo. E vai levar muitos anos até que sejamos bem sucedidos ou pelo menos cheguemos à surpreendente conclusão de que somos os primeiros a tentar uma troca de mensagens entre as 400 bilhões de estrelas da Via Láctea. Afinal de contas, se realmente conseguirmos captar algum sinal entre as diversas estrelas que funcionalmente lembram a nossa, isso provará não só que as conjecturas atuais estão corretas, mas também que elas se transformaram em realidade, há muito tempo, em algum lugar do universo. Termino com uma saudação muito antiga entre os nossos hábeis antepassados: boa caçada!
Philip Morrison foi um dos pioneiros do Pro-
jeto SETI. Juntamente com Giuseppe Cocconi escreveu um artigo publicado na revista Nature intitulado Searching for Interestellar Communication [Procurando por Comunicações Interestelares]. Morrison faleceu este ano, deixando a comunidade SETI de luto. Este texto foi extraído do site Projeto SETI@Home [http://setiathome.ssl. berkeley.edu/]. A tradução foi feita por Paulo Santos, da Equipe UFO.
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Edição Especial 37 – Outubro 2005
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Os radiostelescópios de ampla captação de sinais processam milhares de informações sobre a nossa galáxia
Rogério Chola, convidado
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A tecnologia d ao alcance de
stamos mesmo sozinhos no universo? Somos a única forma de vida inteligente e com capacidade de viajar pela galáxia em busca de outros mundos e formas de vida? Existem inúmeras espalhadas pelo universo que já nos detectaram e tentam, de alguma forma, se comunicar conosco? Estas e muitas outras questões intrigantes sempre incentivaram cientistas, educadores e pesquisadores que assim decidiram fundar, em 1984, o Instituto SETI [Search for Extraterrestrial Intelligence], que emprega hoje mais de 100 cientistas espalhados pelo mundo e tem como principal fonte inspiradora os trabalhos do doutor Frank Drake, atual diretor do Centro de Estudos da Vida no Universo. Como no filme Contato [1997] em que a astrofísica Ellie Arroway, interpretada pela atriz Jodie Foster, os cientistas do SETI vasculham os céus com sofisticados e enormes radiotelescópios na esperança de
conseguir captar um sinal de rádio de uma civilização extraterrestre, que habite algum sistema planetário distante e que esteja orbitando algumas das bilhões de estrelas que existem somente na Via Láctea. Embora o SETI seja um empreendimento científico extremamente controverso, pois alguns cientistas acreditam que procurar sinais de rádio de civilizações extraterrestres seja um grande desperdício de tempo e dinheiro, outros crêem que esta descoberta seja “apenas” uma questão de tempo, dinheiro e tecnologia. Sem dúvida que algo dessa natureza produziria profundas implicações na humanidade terrestre. Neste artigo abordaremos sobre a tecnologia por trás do SETI e como qualquer pessoa pode, com certo conhecimento, tempo e recursos financeiros, construir seu próprio radiotelescópio e participar desta excitante aventura. Para isso, são necessários antes alguns esclarecimentos sobre conhecimentos envolvidos na tecnologia da detecção de sinais de rádio que fazem parte do espectro de radiações eletromagnéticas e do ambiente espacial, que será o objeto de observação. Uma onda eletromagnética consiste em linhas de força elétrica e magnética, que se cruzam num plano perpendicular e que se propagam na velocidade da luz, no vácuo. O espectro eletromagnético é composto por vários tipos de ondas eletromagnéticas, desde as mais energéticas, que conseguem se propagar por bilhões de quilômetros, até as mais fracas. Portanto, os dois componentes de uma onda eletromagnética são o campo magnético e elétrico, que sempre são perpendiculares um ao outro e à direção da propagação. Eles não necessitam de um meio material para se propagar como o som, por exemplo, e por isso são ideais para comunicações espaciais a longas distâncias. Existem sete características fundamentais de uma onda eletromagnética: Outubro 2005 – Edição Especial 37
O Projeto SETI
Direção — É o sentido no qual a onda pelo símbolo “f” ou “v” e medida em hertz – cieletromagnética viaja e que sempre é per- clos por segundo. Outra medida de freqüência é pendicular às direções de ambos os campos o período de uma onda, que é a quantidade magnéticos e elétricos. Quando uma onda de tempo que ela leva para completar um eletromagnética reflete em algum objeto, ciclo. O período é obtido dividindo-se um como uma antena parabólica de um radio- segundo pelo número de ciclos por segundo telescópio, sua direção é invertida de acordo – freqüência. Por exemplo: se a freqüência da com o ângulo de incidência. onda é de 1 MHz – um milhão de ciclos por Velocidade — No vácuo, uma onda ele- segundo –, o período será de um milionésitromagnética se propaga a uma velocida- mo de segundo –1 microsegundo. de constante, igual a da luz, representada Fase — É a relação entre a frente e a pela letra “c”. A velocidade de propagação parte final da onda eletromagnética com varia de acordo com o meio que a onda respeito a uma freqüência de referência do atravessa. Por exemplo, a velocidade de mesmo comuma onda eletromagnética de rádio, cru- primento de zando a atmosfera terrestre, varia de acordo onda. Está com a freqüência da onda. normalmente Polarização — Refere-se à orientação do plano dos campos magnético e elétrico. Por convenção é descrita na direção do campo elétrico. Quando o mesmo está na vertical, a onda eletromagnética está polarizada verticalmente e quando está na horizontal, diz-se que está polarizada horizontalmente. Se os campos elétricos e magnéticos estão em rotação, a onda está polarizada de forma circular. Intensidade — É a quantidade de energia que se propaga ao longo da onda. A intensidade é uma função da potência associada aos campos magnético e elétrico. Comprimento — Uma onda se propaga e varia com movimentos ascendentes e descendentes, como acontece no mar. O seu comprimento é a distância entre dois cumes sucessivos na onda, também denominadas de forma senoidal. Vista aérea do radiotelescópio de Arecibo, utilizado Freqüência — É a quantidade de cumes por Sagan na década de 80 para a pesquisa SETI. que se propagam num certo espaço e em de- Tem 305 m de diâmetro e capacidade para analisar terminado período de tempo. É representada vastas extensões do céu em busca de sinais Edição Especial 37 – Outubro 2005
definida como o giro da onda. É expressa em graus, sendo que 360° correspondem a um giro completo de onda. Por exemplo, uma fase de 1/4 de onda 90°. Os astrônomos utilizam a temperatura para representar a energia da radiação eletromagnética. Qualquer corpo com uma temperatura acima de -273 °C, aproximadamente 0° absoluto, apresenta radiação eletromagnética (EM), que é emitida por todas as ondas que compõem o espectro eletromagnético. Por exemplo, corpos que estão com uma temperatura de 2.000 K (Kelvin) emitem radiação eletromagnética principalmente na região do infravermelho, enquanto que um a 6.000 K fica na faixa visível do espectro. A relação entre a quantidade de energia emitida por um corpo, o comprimento de onda ou freqüência desta radiação e a temperatura do corpo é uma equação conhecida como Lei de Planck. O físico alemão Wilhelm Wien também descobriu uma relação simples entre a temperatura de um corpo negro e o comprimento de onda máximo da energia que ele emite. Essa relação ficou conhecida como Lei de Wien, que estabelece que o comprimento de onda no qual um determinado corpo irradia mais fortemente é inversamente proporcional à temperatura do mesmo. Desse modo ficamos sabendo que corpos mais quentes irradiam mais fortemente em comprimentos de onda mais curtos. Quando a temperatura diminui, duas coisas acontecem. Primeiro, o cume – pico – da onda muda para comprimentos mais longos e, em segundo lugar, ele emite menos radiação eletromagnética em todos os comprimentos de onda. Isso é algo extremamente útil para nossos propósitos. Quando um radioastrônomo observa um ponto em particular no espaço e percebe uma temperatura de fundo ou ruído de 1.500 K, ele não está se referindo à temperatura quente de um corpo, mas sim fornecendo uma medida da quantidade de energia da fonte emissora na freqüência observada – lembra da relação entre energia e temperatura? Um problema para radioastrônomos é que a fonte emissora observada não é a única que emite radiação térmica que, por conseqüência, pode ter sua energia, comprimento e freqüência determinados. Os equipamentos utilizados para realizar as observações – antenas, amplificadores, cabos, receptores etc – e o ambiente local, que pode ser o terreno ou a atmosfera, também emitem radiação térmica Fotos Arecibo Observatory
do SETI todos
Embora o SETI seja um projeto controverso, muitos acreditam na vida extraterrestre
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O Projeto SETI e interferem nos resultados. Para ser realizada com precisão, a observação necessita que um radioastrônomo subtraia, ou isole, toda a transmissão eletromagnética do ambiente local e dos equipamentos utilizados (ruído térmico), bem como os vários ruídos de fundo existente no meio espacial. Por isso que equipamentos utilizados em radioastronomia necessitam ser refrigerados a temperaturas muito baixas.
Meio interestelar — Em 1963, os astrônomos Arno Penzias e Robert Wilson trabalhavam com uma antena e equipamentos buscando obter a melhor eficiência possível para o projeto Telstar. Esta antena também iria ser utilizada posteriormente para a radioastronomia. Eles a apontaram para uma faixa silenciosa do céu e realizaram várias medidas. Quando subtraíram e isolaram todas as fontes conhecidas de ruído, encontraram uma fonte de radiação eletromagnética intermitente na faixa de 3 K. Passaram a revisar todos os procedimentos e tentaram de todas as formas eliminar a interferência, sem sucesso. Essa misteriosa fonte de radiação térmica parecia estar em qualquer direção do espaço para onde se apontava o equipamento. O que na verdade eles tinham descoberto era o ruído de fundo de microondas [Cosmic Microwave Background], gerado a aproximadamente 300 mil anos após o hipotético Big Bang. Isso seria uma prova direta do fantástico evento. Outro esclarecimento que faz-se necessário é com relação ao meio interestelar. Entre as galáxias e estrelas existe um imenso “vazio”. Porém, esse espaço não está completamente vazio, pois está cheio de um meio difuso de gás e poeira denominado Meio Interestelar (ISM). Ele é formado por gás hidrogênio neutro e gás molecular – principalmente hidrogênio ionizado e grãos de poeira cósmica. Embora esse meio possa parecer imenso, corresponde à cerca de 5% da massa da parte visível de nossa galáxia. O átomo é eletricamente neutro e, assim, a própria galáxia está repleta de uma distribuição difusa de gás de hidrogênio neutro. Esse elemento tem densidade de aproximadamente um átomo por centímetro quadrado. Uma de suas características é a produção de ondas de rádio de 21 cm de comprimento, devido às propriedades de giro [Spin] do átomo. Este hidrogênio neutro é distribuído em regiões mais densas e frias denominadas de “nuvens”. Muito mais denso do que regiões vizinhas, as nuvens de hidrogênio molecular e poeira são o local de nascimento das estrelas. Não podemos descobrir hidrogênio molecular diretamente, porém conseguimos deduzir suas características através de outras moléculas presentes – normalmente o monóxido de carbono. Mais de 50 moléculas diferentes já foram descobertas nestas nuvens, inclusive NH3, CH, OH, CS etc. Algumas delas podem ser tão grandes quanto 150 anos-luz 12 :: www.ufo.com.br ::
de diâmetro. Há milhares em nossa galáxia, de linhas de emissão. Os átomos de hidrogênio normalmente estão situadas nos braços es- absorvem fótons e são ionizados com a energia pirais e concentradas no centro. “extra”. Esta e outras características produzem reações como emissão do hidrogênio e hélio na Nuvens de poeira no espaço — O hidrogênio nebulosa visível. Cerca de 1% do meio interesteionizado consiste nas sobras da formação das es- lar se apresenta como minúsculos grãos de poeira, trelas mais quentes e jovens. Aglomerados deste aproximadamente do tamanho de uma partícula gás produzem uma nebulosa mais visível como de fumaça de cigarro. Isso bloqueia a visão total a Nebulosa de Órion. Estrelas das classes O e B da galáxia a partir de nosso plano de visão. formadas em nuvens moleculares recentes ioniPodemos determinar a composição das nuzam o gás restante, que tem uma temperatura de vens de poeira pela forma que afetam as diferencerca de 10.000 K, fazendo surgir um espectro tes freqüências de emissão de fótons. Um dos
SETI@Home: a procur Cláudio Brasil, editor convidado
O
Projeto SETI@Home é, sem sombra de dúvida, o mais bemsucedido empreendimento do SETI. A idéia é simples: milhões de computadores no mundo ficam ociosos quando seus usuários executam tarefas corriqueiras como tomar um café ou atender à campainha. Porque não utilizar esse tempo do equipamento para o Projeto SETI? De que forma isso é feito? Um dos grandes problemas do SETI é a quantidade de dados que precisam ser processados. A pesquisa tradicional utiliza a região do Buraco d’Água, que vai de 1,4 a 1,7 GHz. Se a dividirmos em intervalos de 10 KHz, teríamos 30.000 janelas para serem analisadas em cada ciclo e que são varridas constantemente. Imagine a quantidade de informações coletadas. Mesmo um computador dedicado somente à tarefa de analisar esses dados levaria um tempo enorme para processá-los. A grande idéia de David Gedye, um cientista de computação de Seattle, Estados Unidos, foi dividir esses arquivos em pequenos pacotes, para que pudessem ser analisados por diversos computadores, aumentando a capacidade de processamento e diminuindo o tempo gasto nessa tarefa. Esse procedimento se chama computação distribuída e está sendo utilizado também em outras áreas da ciência. O SETI@Home analisa as informações coletadas pela antena gigante de Arecibo. Construída num vale natural, é o maior radiotelescópio do planeta, com 305 m de diâmetro. É uma antena fixa, que aponta sempre para o zênite [Veja o Glossário nesta edição]. Embora seja utilizada para inúmeros projetos radioastronômicos, instrumentos para a pesquisa SETI estão acoplados nela e analisam as freqüências captadas com a finalidade de procurar por sinais de vida inteligente extra-
terrestre. Os sinais coletados pelo radiotelescópio são divididos em pequenos “pacotinhos” de dados, os chamados work units. Cada um tem cerca de 350 Kb e é enviado aos usuários pela internet. O SETI@Home é um programa de computador que funciona como um salva-telas.
Funcionamento do programa — A finalidade de
ser um recurso desse tipo é que ele pode ser executado quando o computador do usuário ficar ocioso, jogando imagens aleatórias no monitor do aparelho visando protegê-lo, uma vez que uma imagem fixa que fique por muito tempo inalterada pode causar danos na tela do monitor. O SETI@Home, tal qual um protetor de tela, entra em ação quando o micro não está sendo usado e utiliza esse tempo para processar os sinais provenientes da central em Arecibo. Além disso, os work units são recebidos pela internet. Quando o programa termina seu processamento e detecta que o usuário está conectado, o software recebe um novo pacote para processar e envia o resultado do anterior. Isso tudo leva menos de um minuto. Ao contrário do que se pensa, não há necessidade de se ficar conectado à rede o tempo todo, pois são necessários apenas alguns segundos de conexão para o envio dos resultados e o recebimento de um novo work unit. Após isso, o processamento pode ser feito “off-line”, com o micro desconectado da rede mundial de computadores. À medida que o processamento é feito aparece no monitor do computador um gráfico do sinal que está sendo processado naquele instante, assim como as coordenadas celestes da região onde o sinal foi captado, o dia e a hora em que foi gravado. Uma barra de progresso indica o andamento das atividades do pacote de dados, que pode demorar desde algumas horas até alguns dias, dependendo da velocidade do computador e do tempo que o mesmo permanece ocioso. Cada work unit representa 107 segundos de tempo de captação de Arecibo e cerca de 10 KHz de largura de banda. São necessários 256 deles para cobrir a faixa de 2,5 MHz em menos de dois minutos. Outubro 2005 – Edição Especial 37
O Projeto SETI efeitos é a redução da luz oriunda de objetos distantes, denominada de “extinção interestelar”. Isso também deixa a cor emitida num tom desviado para o vermelho, devido ao fato de que a luz dessa cor não se espalha facilmente como a luz azul. As características das nuvens de poeira variam em cada galáxia. Entretanto, um grão de poeira típico é composto de carbono misturado com silicatos. Quase todos os elementos como o carbono, que nos forma, e o silício, que está no meio interestelar, também são encontrados nas partículas de poeira cósmica.
O universo é um lugar muito grande. Como então se pode procurar um sinal de rádio extraterrestre? Há três questões fundamentais: como monitorar uma vasta área de observação do espaço? Qual a freqüência a ser observada e como fazer o melhor uso dos limitados recursos dos radiotelescópios? Como o espaço é imenso, existem dois métodos que podem ser utilizados. O primeiro é a largura do campo de visão, em que são inspecionadas grandes áreas do céu, uma de cada vez, à procura de sinais de rádio. Uma busca desse tipo permite vasculhar
o céu inteiro, em baixa resolução e num curto período de tempo. Porém, se um sinal é descoberto, não seria possível definir sua origem exata sem uma pesquisa mais acurada. Outro mecanismo é buscar a fonte emissora. Nesse procedimento é realizada uma observação intensiva de alta resolução num número limitado de estrelas (mil a 2 mil) parecidas com o Sol, na procura por sinais de rádio artificiais. Esse método permite uma análise mais detalhada de áreas pequenas, com condições mais favoráveis para se encontrar vida como a
ra por alienígenas em cada lar sário para participar do SETI@Home? Basicamente um microcomputador com conexão à internet. Não há necessidade de conexão permanente e nem acesso por banda larga, já que ela é usada pelo programa durante alguns minutos apenas para a troca das informações captadas. O computador deve ser no mínimo um Pentium II com 32 Mb de memória RAM. O programa SETI@Home tem menos de um 1 Mb de tamanho – cabe num disquete – e pode ser obtido através da internet. Sua instalação é fácil e não requer cuidados nem conhecimentos especiais [O programa pode ser obtido através do site http://boinc.berkeley.edu/download.php]. Quando o projeto foi iniciado em 1999, cerca de 942 mil pessoas baixaram o programa e 61% delas retornaram pelo menos um work unit processado. A contribuição dessas pessoas foi equivalente a 41.900 anos de processamento. Atualmente, temos 5.436.301 usuários que colaboraram com 1.935.997.150 work units. Os dados são provenientes de 226 países. Atualmente, o que mais apresenta resultados são os Estados Unidos, com mais de 2 milhões de usuários. O Brasil ocupa a 29ª posição com cerca de 69 mil usuários. Hoje, o SETI@Home está sendo migrado para um projeto mais abrangente denominado Berkeley Open Infrastructure for Networking Computing [BOINC – Infra-estrutura Aberta de Berkeley para Computação em Rede]. Ele expande a utilização do computador, com o consentimento do proprietário, para outros tipos de pesquisa que utilizam a computação distribuída, tais como estudo de variações do clima, busca por sinais gravitacionais oriundos de pulsares e pesquisas biomédicas. Existem planos para a Fase II do SETI@Home, que terá como objetivo observar novamente sinais candidatos Edição Especial 37 – Outubro 2005
captados ao longo de seu desenvolvimento. Durante seis anos, milhões de pessoas têm colaborado com o projeto através do empréstimo de seus computadores pessoais para a análise dos dados coletados pelo radiotelescópio de Arecibo. Nada menos do que 5 bilhões de sinais candidatos têm se acumulado no centro de comando do projeto nesse período. Cada um deles pode ser um sinal real de uma civilização alienígena. A primeira reobservação do SETI@Home foi feita entre os dias 18 e 25 de março de 2003. Os cientistas tiveram por oito horas em cada dia acesso total ao radiotelescópio, de modo a verificarem 166 locais no céu onde fortes, claros e promissores sinais candidatos foram captados.
O futuro do SETI@Home — Um único sinal
que seja revisado e confirmado dessa maneira poderá ser considerado uma potencial transmissão inteligente vinda das estrelas. Em uma primeira análise, não se encontrou evidências de algum sinal extraterrestre, mas os dados coletados na
reobservação serão ainda analisados por muito tempo. Atualmente, o SETI@Home trabalha somente com o radiotelescópio de Arecibo como fonte de dados, aproveitando 70% de seu tempo – o restante é utilizado para manutenção. Devido à sua posição e ao fato de ser uma antena fixa, o gigante de Arecibo consegue observar apenas um terço de todo o firmamento. Existem planos para estender o programa para o hemisfério Sul, o que permitiria uma cobertura mais abrangente do céu. Essas possibilidades envolvem ainda a utilização de 13 pontos de coleta de dados, ao invés de apenas um como é feito hoje. Um dos observatórios a serem utilizados nessa fase seria o de Parkes, na Austrália. Outro projeto que está nos planos é o astro-pulse, que tem como objetivo vasculhar as fitas de dados coletados pelo SETI@Home em busca de pulsos com duração de microssegundos, ao invés dos tradicionalmente procurados. Os sinais pulsados teriam possivelmente três origens. Podem estar sendo emitidos pelos pulsares, que são estrelas de nêutrons que giram em torno de seu eixo em alta velocidade ou por uma civilização extraterrestre inteligente. Dessa forma, o astro-pulse seria um projeto complementar ao SETI@Home na busca por sinais extraterrestres. Uma terceira alternativa é que eles sejam gerados por buracos negros que estejam se dissipando. Mesmo que não se consiga detectar alguma forma de vida inteligente, tal procedimento nos permitirá uma diferente visão do universo. Editoria de arte
Usuários em todo o mundo — O que é neces-
O SETI@Home é um programa de computador que cabe num disquete e processa sinais provenientes do radiotelescópio de Arecibo
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O Projeto SETI
Stuart A. Kingsley
conhecemos. No entanto, ignora grandes áre- programa SETI, munidos de aparelhos relaas do céu e também depende de que nossas tivamente de baixo custo, como antenas de premissas sobre as “condições favoráveis” recepção de satélites, computadores e equiestejam corretas. pamentos eletrônicos diversos. Um programa E com relação à freqüência, como escolher amador bem-sucedido é o projeto BAMBI a correta? Quando se está em um local desco- [Bob And Mike’s Big Investment – http:// nhecido e se deseja sintonizar uma estação no www.bambi.net], que utiliza dois computarádio do carro, você tem de girar o botão do dores Pentium-Pro 200 Dual. As máquinas aparelho até encontrar alguma transmitindo que usam o sistema operacional Linux são em determinada freqüência. Também pode conectadas a equipamentos que podem moutilizar a busca automática, se o rádio possuir nitorar cerca de 3,1 milhões de canais de este recurso. No caso da procura por sinais de freqüências distintas, analisando por 20 serádio exógenos a questão é: qual freqüência gundos cada uma com um intervalo de um os supostos extraterrestres estariam utilizando segundo. No site também é possível enconem suas transmissões? Esta é uma excelente trar informações detalhadas e até esquemas pergunta, pois existem bilhões de freqüên- eletrônicos para montar uma estação de rádio cias. Para dificultar ainda mais o trabalho, o observação. Assim como os equipamentos universo está repleto do ruído da radiação utilizados profissionalmente pelo SETI, quem cósmica de fundo, além de infinitos ruídos e pretende construir seu laboratório de rádio sinais de rádio provenientes dos mais variados escuta espacial necessita conhecer todos os fenômenos. Felizmente, existe uma “janela” equipamentos que terá de utilizar: de observação para ondas de rádio em que os ruídos térmicos são mínimos. Na faixa de Disco ou refletor parabólico — Cujo únifreqüências entre 1 e 10 GHz, há uma queda co objetivo é recolher ondas eletromagnéticas acentuada no ruído térmico de fundo. Nesta – no caso, ondas de rádio – e focalizá-las em um região, existem duas freqüências distintas único ponto central. Antigamente eram necesque são formadas por átomos e moléculas sárias imensas antenas dotadas de telescópios excitadas: a causada pelo hidrogênio exci- refletores potentes para captar os sinais distantes. tado (1,42 GHz) e pelo radical da hidroxila Hoje, graças à popularização e ao barateamento (1,65 GHz). Devido ao fato de tais elementos dos equipamentos eletrônicos, é possível utilizar serem componentes da água, esta “janela” é as parabólicas usadas que captam sinais de satédenominada de Buraco d´Água. lites de TV (3,60 m), ou ainda outras menores. A quase totalidade da busca atual por Nesse caso é aconselhável usar as técnicas de sinais de rádio se limita a essas freqüências, interferometria, que consiste no arranjo de vápois se presume que uma civilização extra- rias antenas pequenas dispostas em formação, terrestre com tecnologia similar ou superior que funcionam como uma única antena giganà terrestre também utilizaria sinais de rádio te. Isso reduz sobremaneira os custos e torna a e saberia que estas regiões do espectro ele- tecnologia acessível a amadores. tromagnético são as mais livres de ruídos Antena — Fica no foco do disco parabótérmicos e interferências. Embora outras fre- lico e recebe os sinais de rádio captados. É qüências consideradas “mágicas” tenham sido formada por um metal envolto em uma bobina propostas, ainda não que converte os fracos existe consenso sobre pulsos de ondas de ráqual a melhor. Outra dio em corrente elétriabordagem seria não ca, quando sintonizado limitar a busca por sina freqüência correta. nais em uma pequena As ondas causam o mofaixa de freqüências, vimento de elétrons na mas sim continuar inantena, que são levados vestindo em processaà próxima etapa. dores de sinal de capaSintonizador — É cidade múltipla, que o equipamento eletrôpoderiam vasculhar nico responsável por milhões ou bilhões separar um único sisimultaneamente. nal de rádio desejado dos milhares captados Rádio observação — pelo conjunto refleCom a popularização tor e antena. Funciona das tecnologias, ascomo um “casador”, trônomos amadores e ajustando a freqüência simpatizantes também Telescópio do Observatório COSETI, localiza- da antena à específipodem realizar esse ca de ondas de rádio do em Bexley, Estados Unidos. Tem 25 cm de tipo de observação e que se deseja separar. abertura e realiza buscas tanto por pulsos de construir seu próprio Existem sintonizadoluz como por feixes contínuos 14 :: www.ufo.com.br ::
res multicanal que possuem a capacidade de analisar milhares de freqüências diferentes de forma simultânea. Amplificador — É também um equipamento eletrônico que recebe o fraco sinal de rádio – agora convertido em sinal elétrico – selecionado e o amplifica para ser devidamente analisado por computadores e pesquisadores. Gravador — Equipamento eletrônico que grava os sinais amplificados para posterior análise. Pode ser de fita ou disco magnético. Equipamentos auxiliares — Ajudam a garantir a idoneidade das pesquisas, minimizando erros e interferências. São analisadores de espectro, relógio atômico, filtros de banda, GPS [Global Positioning System], conversor analógico e digital, receptores de satélite, geradores de freqüência base etc. Computadores — Recebem os dados amplificados e realizam todo o complicado trabalho de análise através de técnicas matemáticas, denominadas de Transformações Rápidas de Fourier [Fast Fourier Transformations – FFT], que procuram por picos nos sinais captados que indiquem algum tipo de variação causada por fontes “não naturais”. Mesmo que seja captada uma oscilação na freqüência, testes são realizados para se eliminar a origem terrestre, natural ou gerada por satélites em órbita da Terra. Se mesmo após as verificações o sinal permanecer desconhecido, uma análise ainda mais apurada é iniciada na mesma posição do céu onde o sinal suspeito foi detectado. Os computadores também podem ser utilizados para controlar automaticamente os dispositivos mecânicos – motores de ajuste vertical e horizontal do conjunto refletor e antena. Assim como a interferometria combina a informação captada por inúmeras antenas pequenas, vários compuOutubro 2005 – Edição Especial 37
O Projeto SETI Em 1963, os astrônomos do projeto Telstar apontaram uma antena para a faixa silênciosa do céu e encontraram uma fonte misteriosa de radiação térmica. Tratava-se do ruído de fundo de microndas gerado a aproximadamente 300 mil anos após o hipotético Big Bang
Cortesia Gary S Chapman
Um cuidado vital para os amadores que desejam construir seu próprio sistema é com relação à refrigeração dos equipamentos. Como vimos, existe uma relação direta entre a quantidade de energia e a temperatura. Quanto maior for a temperatura de um objeto, mais energia ele emite. Os aparelhos eletrônicos utilizados pelo SETI para captar e amplificar os sinais – amplificador, sintonizador, antena etc – são refrigerados com nitrogênio ou hélio em estado líquido, justamente para reduzir o ruído aleatório térmico e as interferências causadas pelos transientes de energia elétrica. Quanto menor for o ruído e interferência, mais fácil será a detecção de sinais fracos que representam interesse. tadores podem ser conectados em paralelo Para o amador, a utilização dos refrie assim formar um supercomputador [Cluster computer], capaz de realizar o trabalho geradores líquidos não é fácil nem barata. de dias ou anos em algumas horas. Essa é A solução é aplicar as mesmas técnicas recomendadas para refrigerar CPU’s de a idéia aderida pelo projeto SETI@Home quando um protetor de tela utiliza as horas computadores, ou seja, pequenos e médios vagas de milhares de micros espalhados ao ventiladores acoplados a dissipadores de redor do mundo para analisar dados capta- calor. Com certa habilidade, qualquer pessoa poderá encontrar soluções criativas para dos pelas antenas do SETI.
refrigerar adequadamente os equipamentos, sendo que também poderão ser utilizados sistemas compactos que funcionam com água e que já são usados em computadores pessoais. Esta mesma técnica é aconselhada para quem deseja fazer observações astronômicas com câmeras dotadas de CCD’s – Charge Coupled Device, o dispositivo que “vê” a imagem – acopladas a telescópios. Utilizo, por exemplo, uma pequena webcam [QuickCam da Logitech] acoplada a um telescópio. Para reduzir o ruído térmico que gera chuviscos e distorções na imagem, provocado pelo aquecimento do chip CCD, instalei um dissipador acoplado a um pequeno ventilador. Não vou entrar nos detalhes técnicos de como montar estes esquemas de refrigeração, pois o artigo ficaria extremamente longo. Na internet podemos encontrar uma vasta literatura a respeito. Desejo a todos sucesso na empreitada e que possamos, algum dia, de alguma forma, ter a certeza de que não estamos sozinhos!
Rogério Chola é formado em eletrônica e ciências
da computação, membro fundador do Instituto de Pesquisa Científico Militares de OVNIS (IPECOM). É ombudsman da Revista UFO e consultor técnico para a National Aviation Reporting Center on Anomalous Phenomena (NARCAP). E-mail: rogerio. chola@ufo.com.br.
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Edição Especial 37 – Outubro 2005
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Os caminhos a pesquisa SE
C
Fábio Branco Vaz de Oliveira, convidado
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omo em todo trabalho de pesquisa sério, os cientistas do SETI devem orientar-se tomando por base critérios firmemente estabelecidos pelo conhecimento científico humano. Estes serão aqui apresentados, no sentido de orientar o leitor a compreender que, por menor que seja a capacidade que temos de buscar indícios de vida inteligente em outros lugares do universo “in loco”, a ciência deve ser, para o SETI, sempre o melhor guia. Para tanto, a pesquisa por vida inteligente extraterrestre é realizada tomando-se como ponto de partida algumas hipóteses, baseadas em nosso conhecimento científico. Elas servem de suporte para pro-
Pete Turner
O Projeto SETI é uma das formas científicas mais apropriadas para provar a existência de civilizações inteligentes na galáxia
var a tese que os entusiastas e cientistas do SETI se propõem a demonstrar, e que aqui enunciarei como um teorema. Ao longo deste artigo, verificarei quais os meios científicos que possuímos para prová-lo e suas implicações para a pesquisa por vida inteligente extraterrestre. Assim, o teorema fundamental dessa pesquisa pode ser enunciado como: “Existe em algum lugar do universo, distinto da Terra, um outro planeta onde a vida evoluiu para uma civilização com nível tecnológico no mínimo semelhante ao nosso”. A semelhança aqui indica que essa civilização hipotética deve ser capaz de gerar sinais eletromagnéticos coerentes, modulados, característicos das Outubro 2005 – Edição Especial 37
O Projeto SETI
para ETI
O papel da ciência na pesquisa por vida extraterrestre inteligente na Via Láctea e em outras galáxias do universo
transmissões humanas e, portanto, distintos dos gerados por fenômenos naturais no universo, como por exemplo os provenientes de quasares, radiogaláxias, de Júpiter, colisão entre galáxias etc. Para a pesquisa SETI, que se concentra na obtenção de sinais na região das ondas de rádio do espectro eletromagnético – para as quais a nossa atmosfera é, afortunadamente, transparente –, esta é uma premissa muito importante, pois é o que irá diferenciar um possível sinal candidato de um outro qualquer. A única forma de vida que conhecemos capaz de gerar tais tipos de sinais é a humana. Por incrível que pareça, esta constatação é fundamental para este grupo de cientistas, pois é por meio dela que antenas e telescópios ópticos são direcionados para o céu. Para o tipo de pesquisa orientada para alvos – target-survey –, a escolha das “melhores” estrelas é fundamental, e deve obedecer a alguns critérios. Presume-se com grande probabilidade que estrelas como o Sol possuam um sistema planetário e que em um ou alguns de seus planetas a vida surgiu, em algum momento. Assim como na Terra, é de se esperar que nesses planetas hipotéticos a vida tenha evoluído e sido criada uma civilização com algum nível tecnológico, no mínimo próximo ao nosso, no intervalo de tempo dado pela passagem da estrela pela fase de seu ciclo evolutivo chamada de seqüência principal.
Evolução estelar e estrelas candidatas — Ob-
servo que esta civilização pode ou não ter sucumbida por qualquer provável acidente natural, guerras ou, até mesmo e inevitavelmente, pela extinção da própria estrela. Prevê-se que o Sol, ao final de sua vida, ejetará suas camadas mais externas, e assim os planetas mais próximos serão engolfados por esta “bolha” gasosa incandescente em expansão. Nestas condições, a chance de que qualquer forma de vida perduEdição Especial 37 – Outubro 2005
re será mínima. O importante, para que uma civilização seja detectada, é a necessidade de que o sinal tenha sido emitido antes de tais eventos.Assim, a partir de considerações como estas é que alguns critérios são estabelecidos, para que se realize a pesquisa SETI do tipo target-survey, e que sirva de orientação aos seus pesquisadores e entusiastas. Vejamos a seguir quais são os principais. Nosso teorema fundamental pode ser dividido em três partes, cada uma das quais responsáveis, isoladamente, por parte da prova. A primeira delas pode ser considerada, ao pé da letra, como um teorema de existência, contido na afirmação “existe em algum lugar do universo, distinto do nosso, um outro planeta”, e complementando, “com condições de abrigar a vida”, frase a ele implícita. Assim, vejamos como selecionar potenciais candidatos para a pesquisa, estrelas que com grande probabilidade podem abrigar civilizações capazes de comunicação. Devemos, para tanto, lançar mão de nossa premissa fundamental. O Sol é uma estrela típica da chamada seqüência principal, de tipo espectral G2V [Lê-se “gê dois cinco”], do diagrama de Hertzprung-Russel [Diagrama H-R], que é um gráfico onde nas ordenadas são colocados os valores de luminosidade e na abscissa os da classe espectral ou temperatura. Por meio do gráfico os astrônomos podem chegar a conclusões importantes sobre o ciclo evolutivo e propriedades físicas das estrelas. A grande maioria das estrelas encontrada no universo cai em alguma das quatro regiões principais deste diagrama, sendo assim classificadas como estrelas super gigantes, gigantes, da seqüência principal, ou anãs brancas, cada uma das quais representando também fases do ciclo evolutivo estelar. Estrelas da seqüência principal representam 90% do número total, o que torna o nosso Sol um astro bem comum. Em termos de valor médio de massa,
entretanto, estima-se que o mesmo encontrese ao redor de 0,2 massas solares, sendo o Sol então um pouco mais massivo que a média. Das teorias sobre evolução estelar, sabemos que o tempo de vida de uma estrela depende de sua massa e, portanto, o seu conhecimento é importante para determinarmos quais os eventos principais em seu ciclo de vida. Descreve-se a seguir, em linhas gerais, o ciclo de vida de uma estrela, do seu nascimento até a sua morte. [Veja no box na página 20, que serve de auxílio para a discussão]. Considera-se que uma estrela começa a ser formada a partir de uma massa difusa de gás, um globo com aproximadamente um ano-luz de diâmetro. Com o passar do tempo este se contrai devido à sua própria gravidade, comprimindo o gás. Esta compressão continua até que, em dado instante, esta massa em colapso torna-se incandescente, havendo emissão de luz na região infravermelha do espectro eletromagnético. A luminosidade da estrela cresce ao passo que a energia devido a esta compressão começa a ser convertida em calor. Objetos como este são observados no universo, sendo identificados como estrelas do tipo T-Tauri. Esta incandescência inicial marca o nascimento da estrela. Quando a temperatura da massa de gás é suficiente para a produção das primeiras reações nucleares, a contração cessa. Chega-se então a um estágio em que há equilíbrio entre a força de compressão gravitacional, dada pela massa em colapso direto para o centro, e as forças de expansão, a partir das reações nucleares e perdas radioativas. A isso dá-se o nome de equilíbrio hidrostático.
Fusões nucleares — O tempo de perma-
nência de uma estrela na seqüência principal é proporcional à quantidade de material disponível para as reações nucleares e, portanto, à sua massa, e inversamente proporcional à sua luminosidade, ou seja, à quantidade de energia liberada pela mesma. Assim, uma estrela muito luminosa e massiva tende a gastar mais rapidamente o seu combustível nuclear, passando menos tempo na seqüência principal. Para o Sol, estima-se em 12 bilhões de anos o seu tempo de vida em tal estágio, com base nas determinações de sua luminosidade e massa. Quando as reações nucleares cessam, não há mais liberação de energia pela estrela. O núcleo que resta, de hélio puro, entra em colapso devido às forças gravitacionais, liberando grande quantidade de energia, que se propaga para o exterior da mesma. O aumento de temperatura provocado pela liberação de energia aumenta a taxa de fusões nucleares entre átomos de hidrogênio rema:: www.ufo.com.br :: 17
O Projeto SETI nescentes, que absorvem e irradiam este novo aporte de energia. Com a expansão das camadas mais externas da estrela, há obviamente um resfriamento do gás, que passa a emitir luz no comprimento de onda do vermelho. Quando estes processos tornam-se estáveis, diz-se que a estrela chegou no estágio de gigante vermelha. A esta estabilidade segue-se uma nova contração, que tende novamente a aumentar a taxa de fusões nucleares. Entretanto, não há material suficiente para que as mesmas se mantenham por muito tempo. Após o esgotamento há uma violenta contração, em que as forças de expansão não são mais capazes de suportar o colapso. Com a impossibilidade da contração gerar mais reações nucleares, a estrela sai da fase de gigante vermelha, com seu destino final dependendo fortemente de sua massa original. A estrela pode entrar numa fase pulsante, onde periodicamente ejeta suas camadas mais externas, ou, mais freqüentemente, torna-se uma anã branca, com todo seu material comprimido em uma esfera de tamanho próximo ao de nosso planeta, mas com temperaturas superficiais da ordem de 6.000 a 12.000 ° C.
Ecosferas — Toda esta seqüência de eventos
centram sua atenção e apontam as antenas para as estrelas do tipo espectral F, G e K, todas da seqüência principal e com propriedades semelhantes às do Sol [Veja a tabela na página 20 desta edição]. Entretanto, podemos restringir ainda mais a busca pelos alvos corretos. Se levarmos em conta a multiplicidade de estrelas que se agrupam em sistemas binários e ternários, e se eventualmente estes sistemas possuírem planetas, as leis da mecânica newtoniana nos dizem que as órbitas destes planetas seriam muito instáveis para que os mesmos possam ser considerados habitáveis. Assim, estrelas dos tipos espectrais F, G e K mas pertencentes a sistemas estelares múltiplos são também usualmente excluídas. Determinadas as “melhores” estrelas, e assumindo que a maioria delas tenha, assim como o Sol, um sistema planetário, devemos agora nos perguntar a que distância se encontram os planetas onde a vida teria grande probabilidade de surgir. Observando o nosso Sistema Solar vemos que planetas muito próximos e distantes do Sol são inóspitos, os primeiros muito quentes, os últimos congelados. Mas na Terra, a vida teve condições de se desenvolver. Com base nisso, os cientis-
tas definem então a chamada ecosfera, que seria a região ao redor da estrela em que as condições planetárias podem ser as melhores para o surgimento da vida. Esta ecosfera tem seus limites definidos pela luminosidade ou potência irradiada da estrela, quanto maior a luminosidade, mais distante da estrela ela se situa. Conforme as teorias sobre evolução estelar, estrelas muito luminosas têm tempo de vida na seqüência principal muito curto face a do Sol – aqui mais uma restrição à busca por candidatos é lançada. Se levarmos em conta que, segundo estimativas, a vida no planeta surgiu e evolui num período de aproximadamente 4 a 5 bilhões de anos, estrelas com tempo de vida inferior ou semelhante podem não ter tido tempo para abrigar vida inteligente, devendo então ser excluídas da busca.
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é importante na escolha de uma estrela candidata a abrigar vida inteligente, e vejamos agora o porquê. Com base em nossa premissa fundamental e ao analisarmos as relações entre tempo na seqüência principal e massas estelares, chegamos à conclusão de que a grande maioria das estrelas que se encontra nesta região do Diagrama H-R possui idade suficiente para que Estrelas mais quentes — Assim, estrelas a vida, dado que em algum de seus planetas ela mais quentes que as do tipo espectral F4, tenha surgido, evoluído e dado origem a seres que vivem de 4 a 4,5 bilhões de anos nesta inteligentes. Ou seja, quanto maior o tempo na fase, podem ser também descartadas, sendo seqüência principal, maior a chance de que a este tipo o considerado como limite superior estrela abrigue vida inteligente. Podemos prepelos cientistas SETI para sua pesquisa. Por sumir também que, se houve surgimento de outro lado, numa estrela pouco luminosa vida, esta se deu quando a estrela estava nesta e com pouca massa, forças necessárias à fase de seu ciclo, pois conmanutenção da rotação forme mostramos os eventos do planeta e, portanto, da catastróficos que ocorrem alternância entre dia e noiem sua fase final são impróte, podem ser muito fracas, prios para a sua manutenção. criando oscilações muito Ao expelirem suas camadas grandes de temperatura mais externas, os planetas entre o lado iluminado e o que eventualmente estejam não iluminado do planeta, em sua órbita são engolfao que pode ser prejudicial dos por uma nuvem de gás para que formas de vida aquecida a temperaturas da como as que conhecemos ordem de 1.000 ° C, não surjam ou se mantenham. se conhecendo ainda forParâmetros como estes mas de vida que perdurem são estimados para outros nestas condições. hipotéticos sistemas esteUtilizando nosso conhelares, levando-se em conta cimento científico, obtiveos dados que temos para o A formação de uma estrela se inicia com a nebulosa primordial. Após um certo mos as primeiras condições Sol. Sabe-se também que restritivas à pesquisa por es- período de tempo, a luz de gás começa a emitir raios infravermelhos. O penúl- a atividade da coroa solar, trelas candidatas. Com isso, timo estágio é a formação do disco de acresção. Logo depois iniciam as reações responsável pela produção os pesquisadores SETI con- nucleares, momento em que a estrela começa a emitir luz de raios-X e ultravioleta, 18 :: www.ufo.com.br ::
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O Projeto SETI
cresce dos tipos G para K para M, e com isso, os cientistas estimam o tipo espectral K7 como o seu limite inferior. Estrelas do tipo G são, então, as mais apropriadas para a evolução da vida, segundo nossos conhecimentos científicos. Até aqui estabelecemos as bases para a prova experimental da primeira parte de nosso teorema. Afortunadamente, avanços nos equipamentos de medida e detecção de sinais vêm mostrando que estrelas com sistemas planetários, ao contrário do que se acreditava antigamente, são a regra e não a exceção, preparando o caminho para a prova definitiva.
Origem e evolução da vida — Definidas
quais as “melhores” estrelas para o surgimento e evolução da vida, o que irá nos garantir que, mesmo possuindo planetas em sua ecosfera, a vida possa, na pior das hipóteses, ter ali surgido? Novamente, o único modelo de que dispomos para estudo sobre a origem e evolução da vida é o terráqueo, e é sobre ele que teceremos as hipóteses sobre o surgimento de vida extra-Sistema Solar. Como principal teoria, os cientistas acreditam que os primeiros sistemas vivos tenham sido formados por moléculas orgânicas complexas. Sabemos da complexidade apresentada pelas moléculas de ácido ribonucléico (RNA) e desoxirribonucléico (DNA), portadoras do código genético. Vários experimentos, simulando as condições semelhantes às que se acreditam que a Terra possuía há bilhões de anos, tiveram sucesso na produção de moléculas orgânicas precursoras do RNA e DNA, a partir de pequenas moléculas inorgânicas como as de gás carbônico, amônia e metano, fornecendo como fonte de energia luz ultravioleta, calor e descargas elétricas. Os experimentos provaram que nas condições primitivas encontradas no planeta, moléculas complexas poderiam ter sido sintetizadas. Entretanto, os mecanismos pelos quais elas se associaram para formar os primeiros organismos unicelulares são ainda pouco claros. Acredita-se que as primeiras formas vivas tenham origem nos chamados sistemas Edição Especial 37 – Outubro 2005
autocatalíticos – a união de duas ou mais moléculas capazes de auto-sustentação por meio de reações químicas e outros processos energéticos. Material e energia consumidos durante estas reações são utilizados para retroalimentar o sistema, dando suporte às reações que os geraram. Presume-se assim que, sendo esta uma configuração energeticamente favorável, estes sistemas se organizaram independentemente, e a união destes, cada um com um determinado nível de especialização, originou os primeiros seres unicelulares. Embora se saiba que a probabilidade de que dois ou mais destes mecanismos independentes se associem seja mínima, o seu grande número, a ilimitada disponibilidade de recursos energéticos disponíveis àquela época e o grande intervalo de tempo atuaram favoravelmente ao aparecimento dos primeiros organismos vivos. Alguns deles evoluíram, por meio de mutações, e passaram a captar a energia luminosa e transformá-la em energia química para a manutenção de seus processos, retirando o gás carbônico da atmosfera, consumindo-o e liberando oxigênio nos primeiros processos fotossintéticos. O oxigênio é o material que a maioria dos seres vivos hoje em nosso planeta utiliza como fonte de energia, o que atesta a eficiência deste processo, chamado de aeróbico, face ao que prevalecia quando da origem da vida no planeta, os anaeróbicos.
O surgimento da inteligência — A cres-
cente especialização e organização destes sistemas em unidades cada vez mais complexas, bem como o concurso das mutações genéticas e a seleção natural, deram origem à variada gama de seres viventes em nosso planeta. No caso do ser humano, acredita-se que os eventos essenciais para o aumento progressivo, de sua massa cerebral, em relação às outras espécies, tenha sido, num primeiro estágio, o desenvolvimento da capacidade de viver em árvores. Esse tipo de situação requer um sistema nervoso capaz de controlar operações complexas como orientação, grande precisão de movimentos e, principalmente, o
equilíbrio. Isso serviu de base para que passássemos a descer gradualmente das árvores, este novo tipo de vida, requerendo, num segundo estágio, novas adaptações: postura ereta, vida em pequenos grupos para competir de maneira mais eficiente pelos recursos existentes e melhor se defender dos predadores terrestres. Foi esta mesma vida em grupo que nos permitiu o desenvolvimento de formas de comunicação e representação do mundo externo, através das pinturas rupestres. É o cérebro que permite que nos adaptemos cada vez melhor, ou de maneira mais inteligente, às restrições impostas pelo ambiente externo. Permite também que este tipo de informação seja transmitida aos nossos descendentes, ao contrário do que ocorre com os animais inferiores. Nestes, as novas experiências assimiladas e características são transmitidas às gerações futuras apenas por mutações genéticas. A comunicação, a troca de informações via linguagem oral e escrita, permite que a adaptação seja mais rápida e eficiente. A vida em grupo permitiu um maior intercâmbio de informações, além de tornar mais fácil a busca por recursos energéticos e a proteção de cada um dos membros. Com o crescimento destes grupos, cada indivíduo passou a ser um especialista em alguma tarefa útil a todos, e a capacidade que adquirimos para atuar sobre o meio externo aumentou, a inteligência surgiu. A prova da segunda parte de nosso teorema deve dar conta disso, ou seja, se a vida teve condições de surgir e evoluiu em algum outro lugar do universo, ela pode ter gerado seres dotados de inteligência. O nosso é ainda o único exemplo que temos. Com o nosso conhecimento de biologia e algumas evidências de vida mesmo em condições consideradas até há pouco tempo adversas, como por exemplo as recentemente encontradas no fundo do mar, em regiões com grande concentração de elementos redutores e temperaturas de 300 ° C, e com a provável evidência de nanofósseis no meteorito marciano ALH84001, é bem possível que a prova esteja próxima. A atuação sobre o meio externo no sentido de controlá-lo e diminuir seus danos é uma característica da inteligência humana. Do ponto de vista termodinâmico, podemos dizer que a inteligência desenvolveu-se em nossa espécie como uma ferramenta para a luta contra o constante aumento de entropia ou, grosseiramente falando, a desordem ou caos. A segunda Lei da Termodinâmica diz que a natureza atua no sentido do aumento da entropia. Portanto se quisermos nos manter em um estado organizado devemos “lutar” contra ela. Como sistemas individuais podemos localmente diminuir nossa entropia, embora isso sempre se dê com um compensatório aumento na desordem global. A segunda lei nunca é contrariada. :: www.ufo.com.br :: 19
O Projeto SETI planeta nos limites da Mundos na galáxia — ecosfera do Sol, pode A inteligência humana ser a primeira prova de permitiu que as formas vida extraterrestre. Se de atuação sobre a natuTipo espectral Temperatura efetiva (K) Exemplos partirmos do exemplo reza e a exploração de O ≥ 25.000 10 Lacertae de evolução da vida em seus recursos fossem nosso Sistema Solar, cada vez mais eficienB 11.000 a 25.000 Rigel (β Orionis) uma resposta positiva tes. Assim, já vivendo A 7.500 a 11.000 Sirius (α Canis Maioris) à questão “as nanoesem grandes cidades, F 6.000 a 7.500 Canopus (α Carinae) truturas encontradas passamos – pelo menos no meteorito marciano alguns seres humanos G 5.000 a 6.000 Sol são fósseis de nanoor– a ter mais tempo para a K 3.500 a 5.000 Arcturus (α Bootes) ganismos?” dobra o contemplação exterior valor do termo fl, aue interior. A filosofia, a M < 3.500 Antares (α Scorpii) mentando também o arte, bem como a manúmero N. Entretanto, temática, astronomia e outras ciências surgiram e começaram a cientista foi o primeiro a propor uma equação indícios de vida inteligente e a prova final de que ela existe em outros lugares do universo se desenvolver. Gradualmente os meios de para a realização de uma estimativa sobre o já em fase comunicativa, é objeto sobre o transporte e novos recursos de comunicação número N de civilizações tecnologicamente qual somente a radioastronomia e o SETI nos colocaram em contato com novas culturas, capazes de comunicação com a nossa [Veja outras formas de ver e atuar sobre a natureza. no box a fórmula representada matematica- têm condições de provar. Esperamos logo ter a resposta para o que Hoje, em plena globalização e com todas as mente]. Os cientistas SETI acreditam que suas vantagens e problemas, é possível à nossa N esteja entre 10 e 1.000, ou seja, existem eu penso ser, nesta era, a última das grandes questões levantadas pela revolução copernicivilização escutar os céus na busca pela res- civilizações na galáxia com condições de cana. Se levarmos em conta as estimativas posta a uma das últimas grandes dúvidas que estabelecer contato conosco. a humanidade ainda não esclareceu. A terceira Com os avanços na astronomia, já des- mais pessimistas, podem existir pelo menos parte do teorema está aqui implícita, ou seja, cobrimos um número muito grande de siste- 10 civilizações capazes de comunicação e, no mínimo, no mesmo estágio evolutivo que o a de que o desenvolvimento da inteligência mas planetários extra-solares, tudo indicando nosso. Se assumirmos ainda que estejam não implica no aperfeiçoamento de formas cada que esta seja a regra, e não a exceção. O seu muito distantes, nossa probabilidade de contato, vez mais complexas de comunicação. número vem crescendo ao passo que vamos Entretanto, ao assumirmos que em outro examinando cada vez mais estrelas. Portanto, de detecção de um sinal inteligente, torna-se planeta uma civilização inteligente evoluiu o termo fp, que representa a fração destas estre- ainda maior. É por este sinal que os pesquisadores SETI esperam ansiosamente, provando de maneira semelhante à nossa ou, ao me- las que possui planetas na Equação de Drake definitivamente o teorema. nos, que seu ciclo evolutivo convergiu para – que por ora é o único parâmetro, dada a nossa algo semelhante ao que somos em termos atual capacidade de observação, sobre o qual tecnológicos, devemos nos perguntar se tal podemos efetuar estimativas –, está aumentado Fábio Branco Vaz de Oliveira é formaespécie tem o desejo de se comunicar com cada vez mais, o que por sua vez torna o termo outras.Assumindo como afirmativa a resposta, N cada vez maior. Do aspecto biológico, evi- do em engenharia química, bacharel em torna-se interessante estimarmos o número dências de que formas de vida podem existir física e mestre em ciências na área nuclear. de civilizações na galáxia disponíveis para a mesmo em condições inóspitas já vão sendo Coordena a SETI League no Brasil, carcomunicação. Para isso, os cientistas da SETI adquiridas. O meteorito de Marte ALH84001, go que assumiu no ano de 2001. E-mail: fbvo@terra.com.br. utilizam-se da famosa Equação de Drake. Tal objeto ainda de controvérsias e oriundo de um
TIPOS ESPECIAIS DE ESTRELAS
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O Projeto SETI
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O
Cláudio Brasil, editor convidado
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Jim Krantz
O sinal mais famoso recebido até hoje foi o Wow!, batizado com este nome porque o operador do radiotelescópio não conseguiu decifrar a mensagem
SETI lida com um mar de sinais e interferências. Nossa civilização emite ondas de rádio em diversas freqüências. Satélites de comunicação cruzam o céu constantemente e são detectados pelas antenas parabólicas. Os piores são os satélites Iridium, que transmitem numa região muito próxima ao do Buraco d’Água [Water hole], sendo uma preocupação especial para os pesquisadores SETI. Não bastassem as fontes artificiais, existem também as naturais: planetas, estrelas e galáxias que emitem ondas de rádio normalmente em função dos processos que neles ocorrem. Júpiter é um poderoso emissor. Quando o planeta está acima do horizonte detectam-se com facilidade seus sinais. O pesquisador SETI precisa lidar com essa infinidade de sinais e “garimpar” neles aqueles que podem ser de origem extraterrestre. Mas como isso é feito? Como será o sinal esperado pelo SETI?
O sinal candidato é aquele que tem as características de uma freqüência extraterrestre, mas que ainda não foi confirmado como tal. Há uma lei no SETI que diz: “Sinais não confirmados não provam nada”. Ou seja, para ter valor tal dado precisa ser confirmado, sendo captado pelo menos por mais uma estação SETI. Ao contrário do que se imagina, apesar de trabalhar com freqüências de rádio, o pesquisador não precisa ouvir nada. No filme Contato [1997], uma belíssima adaptação para o cinema do livro homônimo de Carl Sagan, estrelado pela atriz Jodie Foster, a protagonista da história usa um fone de ouvido para realizar a pesquisa. Na realidade, o pesquisador SETI não ouve o sinal, mas vê na tela do computador uma representação do mesmo. Um dos programas mais acessíveis que grava e analisa os sinais oriundos da antena é o FFTDSP, do americano Mike Cook. Esse programa é muito similar ao utilizado nos rádio observatórios profissionais. Nele o sinal é representado através de uma escala temporal vertical e de freqüências na horizontal. Nessa representação, uma interferência surge como uma linha reta, paralela ao eixo do tempo. Um sinal candidato apareceria nesse programa como uma linha curva. Em um gráfico de intensidade versus freqüência, o sinal candidato deve aparecer como um espigão estreito, de uma certa altura. Ou seja, ele deve ter uma intensidade específica e ser estreito. Os sinais de origem natural sempre são largos, pois existe emissão ao longo de uma faixa de freqüência bastante grande. Ao se detectar algo suspeito, a primeira providência é confirmá-lo através do deslocamento da antena para outra área do céu e reposicioná-la novamente na fonte emissora do sinal suspeito, tentando recaptá-lo. Normalmente esse teste é feito com grandes radiotelescópios e tem como objetivo verificar se tal dado captado vem realmente da esfera celeste e não se trata de nenhum tipo de interferência. Em seguida é preciso checar se não Outubro 2005 – Edição Especial 37
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existe nenhuma radiofonte – emissor natural de rádio – nessa região do céu. Para isso, analisa-se uma lista de radiofontes e se compara suas coordenadas celestes – ascensão reta e declinação [Veja Glossário] – com as coordenadas do local onde a antena está apontada. Se esse resultado for negativo, uma terceira verificação deve ser feita: a de satélites artificiais. Há de se descartar a possibilidade de que, naquele instante, algum satélite artificial tenha passado na direção da antena, fazendo com que seu sinal fosse registrado.
Rastreamento de satélites — Existem softwa-
res na internet que servem para o rastreamento de satélites artificiais tais como o WinOrbit e o saudoso IT, um simples mas eficiente programa que rodava no sistema operacional DOS. Realizadas essas três verificações e descartando-se as possibilidades acima, é hora de comunicar a captação do sinal candidato na rede da SETI League. A entidade trabalha com três listas de e-mail que permitem a comunicação entre os membros e simpatizantes do SETI a nível mundial. A primeira é pública e qualquer um que se interesse pode participar, pois não existe nenhuma restrição. Todos podem enviar e ler as mensagens. A segunda lista é restrita aos coordenadores regionais, os membros da SETI League que têm a função de coordenar as atividades SETI em sua área ou país. Existe também uma terceira relação de nomes, ainda mais restrita, da qual só podem fazer parte aqueles membros da SETI League que construíram uma estação que tenha passado pelo teste inicial de sensibilidade do sistema. Poucos sabem, mas diversos protocolos regem o SETI. Ao se lidar com uma possível mensagem de uma forma de vida alienígena estamos tratando de um assunto que diz respeito a todos os seres humanos no planeta. Edição Especial 37 – Outubro 2005
Ao responder uma mensagem alienígena, estamos representando toda a humanidade. Por ser uma questão delicada, a captação de um sinal candidato, sua divulgação na comunidade científica, a comunicação à imprensa e a decisão de respondê-lo ou não segue uma série de protocolos que devem ser cumpridos à risca. A SETI League tem seu livro de protocolos, que é distribuído a todos os coordenadores da entidade. Tal obra dita as regras que devem ser seguidas para todas as atividades da Liga, desde a construção da estação, passando pelos testes de sensibilidade para sua homologação e abordando a forma de se proceder com relação a um sinal candidato. O mais famoso sinal recebido até hoje foi o Wow!, batizado com esse nome porque era tão forte que o operador escreveu essa palavra na listagem do computador onde foi registrado. Foi captado em 15 de agosto de 1977, no radiotelescópio Big Ear, em Ohio, pelo radioastrônomo Jerry R. Ehman. Até hoje não foi satisfatoriamente explicado e nunca confirmado. A seqüência 6EQUJ que o identifica é uma me-
dida de intensidade do sinal em relação ao ruído de fundo [Veja box]. Ou seja, tivemos um sinal de intensidade considerável que chegou a ser 31 vezes maior que o ruído de fundo! Segundo o computador do observatório, o sinal foi originário de um ponto na Constelação de Sagitário, de coordenada ascensão reta 19h17m24s e declinação negativa 27 graus e 3 minutos. Em 1997, por ocasião do 20º aniversário da captação do sinal, Ehman escreveu um artigo intitulado The Big Ear Wow! Signal – What We Know and Don´t Know About it After 20 Years [O Sinal Wow! do Big Ear – O que sabemos e o que não sabemos após 20 anos], que apresenta detalhes, analisando e descartando diversas explicações que poderiam ser dadas como origem desse intrigante sinal – não havia nenhum planeta, asteróide ou satélite artificial na região celeste onde o mesmo foi captado.
O mistério do sinal Wow! — Além disso,
não podia ser um avião, porque eles não transmitem em 1.420 MHz e geram um padrão de uma fonte que se desloca rapidamente na esfera celeste, o que não foi constatado no Wow! Outro questionamento revelado era que não havia nenhuma espaçonave terrestre na direção onde o sinal foi captado. Pode-se descartar também que um sinal de origem terrestre pudesse ser captado pelo observatório após ser refletido em destroços em órbita do planeta: primeiro, pois nenhum transmissor terrestre utiliza a freqüência protegida de 1.420 MHz e segundo, porque os destroços deveriam estar parados com relação à esfera celeste para produzir o padrão observado. O Wow! é o mais intrigante e misterioso sinal candidato já captado em toda a história do SETI. É tão importante que sobreviveu inclusive ao radiotelescópio que o captou. Infelizmente o Big Ear foi desativado em 1998, porque no local em que estava seriam construídos campos de golfe para um curso. Tudo que resta hoje do grande radiotelescópio são pedaços, alguns dos quais são vendidos pela SETI League em uma placa comemorativa para arrecadar fundos para a pesquisa. Em 1987, apoiado pela Universidade de Harvard, teve início o projeto Million Channel Extraterrestrial Assay (META). Tal pesquisa foi desenvolvida para observar os objetos em seu trânsito meridiano, cobrindo da declinação - 30° até a + 60°. Utilizou-se um analisador de espectro de 8,4 milhões de canais acoplado a uma antena de 26 m de diâmetro, operando na linha do hidrogênio (1.420 MHz) e em uma de suas harmônicas (2.840 MHz). Os dados eram processados por 128 computadores, SETI@Home
to”, posta
O estágio inicial da confirmação de um sinal vindo do universo pode ser um indício que traga surpresas
Comparação de um sinal natural de rádio [Cor preta] e um artificial [Cor vermelha], que seria esperado de uma civilização extraterrestre
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O Projeto SETI divididos em oito núcleum suposto sinal receos. O projeto conseguia bido através do projeto monitorar 66% do céu, SETI@Home e que foi numa taxa de 0,5 graus logo divulgado como ivemos em um mar de sinais eletromagnéticos e ondas de rádio. Motores, como os de aupor dia, demorando 210 sendo um sinal de oritomóveis, geram fortes interferências. Temos diversas estações transmitindo seus programas, dias para cada freqüêngem extraterrestre. Esassim como satélites metereológicos, militares e de outros tipos transmitem seus dados ao cia escolhida. sa notícia foi divulgada planeta através de rádio. Não bastasse essa enxurrada de sinais, os objetos celestes também emitem Em seis anos de pela conceituada revista uma radiação natural. Júpiter, por exemplo, é um forte emissor. Quando o planeta está acima do operação, foram detecNew Scientist, além de horizonte é fácil detectar os sinais emitidos por ele, experiência que pode ser realizada por qualquer tados 37 sinais canditer sido veiculada em aficionado por radioastronomia. Galáxias, quasares e pulsares também emitem suas ondas. Então datos, mas que jamais diversas listas de Ufocomo diferenciar um sinal natural de algo enviado por uma civilização alienígena? foram captados numa logia e na internet. Dan Que sinal estamos procurando no SETI? Todos os objetos celestes que são emissores naturais integração adjacente Whertimer, diretor do de rádio emitem sinais de banda larga, ou seja, onde o mesmo se espalha por um largo de freqüência. (cerca de três minutos). SETI@Home, disse que Já uma transmissão alienígena, gerada por algum equipamento transmissor, seria de banda estreita As regiões celestes coro sinal em questão não – espalhando-se por um intervalo de freqüência bastante curto –, uma vez que seria um desperdício respondentes a esses 37 passava de um ruído. de energia um sinal de banda larga. Esse é o diferencial. Uma freqüência extraterrestre esperada seria sinais foram observaO único sinal cancomo um espigão. Nos gráficos gerados pelo projeto SETI@Home também teríamos algo similar a das em outras ocasiões didato recebido até hoje um espigão. Em alguns filmes temos uma correta representação do sinal que é esperado como, por e o sinal suspeito não pela SETI League foi exemplo, em A Invasão [1996]. Logo no início da película uma ótima seqüência mostra a detecção foi encontrado novadetectado pela estação de um sinal extraterrestre e as conseqüentes etapas de verificação. mente. Mas nem só de do membro Daniel Fox, sinais candidatos vive em 01 de dezembro de o SETI. Temos também casos de falsos sinais do assunto. A fraude foi elaborada de tal forma 1996, porém, nunca foi confirmado. Fox é um e fraudes deliberadas. Os motivos podem ser que uma imagem do programa de computador assíduo colaborador da SETI League, autor do vários: obtenção de fama em cima de uma FFTDSP, utilizado no processamento de sinais, programa de processamento de sinal chamado descoberta falsa – a notícia da detecção de foi adulterada com comandos “copiar” e “co- SetiFox e já foi agraciado em março de 1997, um sinal extraterrestre correria o mundo ra- lar” para simular a freqüência falsa. com o prêmio Bruno Award que a entidade pidamente –, ou até mesmo pregar uma “peça” confere àqueles que prestaram contribuições nos cientistas do SETI. Um caso recente que Fraude descartada — A farsa pode ser perce- relevantes para o seu projeto Argus. O sinal teve bastante repercussão foi o de EQ Pegasi. bida através da análise do padrão de ruídos que candidato faz parte da rotina do pesquisador Em 1998, o projeto Phoenix captou um sinal aparece na tela e que se repete de forma idêntica e cabe a ele ter acesso a todas as ferramentas candidato que, descobriu-se mais tarde, tratar- em dias diferentes, algo totalmente impossível. necessárias para analisá-lo, classificá-lo cose de uma interferência terrestre. Alguém se O autor da fraude chegou a alegar que o suposto mo autêntico ou descartá-lo, sem esquecer de aproveitou desse fato e simulou a captação respeitar todos os protocolos da comunidade sinal extraterrestre havia sido confirmado pelo de um falso sinal, que foi divulgada em uma radiotelescópio de 100 m do Instituto Max Planck¸ SETI. A busca continua. E os sinais candidalista fechada da SETI League. O caso teve informação que foi imediatamente negada pelo tos, fraudes e falsos alarmes continuarão no tais proporções que a detecção do sinal che- doutor Rolf Schwartz, dessa instituição. Diversos dia a dia dos pesquisadores, da imprensa e dos gou a ser noticiada no programa dominical entusiastas que acompanham o desenrolar da membros da SETI League tentaram confirmar a Fantástico. Inúmeras listas na internet e sites veracidade da detecção, inclusive com radioteles- pesquisa, até o tão esperado dia em que a pridivulgaram a falsa informação, entre eles o cópios de grande porte, com resultado negativo, meira mensagem comprovadamente alienígena conhecido Enterprise Mission, que possui uma e de origem inteligente marque a história da desmascarando completamente a fraude. Um página repleta de links, ainda no ar, tratando outro caso acontecido recentemente envolveu humanidade para sempre.
Como deve ser um sinal extraterrestre
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O Projeto SETI
SETI Ótico: uma nova ferramenta Cláudio Brasil, editor convidado
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maior parte das pessoas já ouviu falar da pesquisa SETI e conhece a tradicional busca por sinais de rádio feita com radiotelescópios. Poucos, no entanto, têm conhecimento que tal projeto também pode ser realizado na janela da luz visível, pesquisa denominada de SETI Ótico. A idéia surgiu apenas dois anos após o clássico artigo de Giuseppe Cocconi e Philip Morrison, publicado na conceituada revista britânica Nature, em 1959. Schwartz e Towes no artigo Interestelar and Interplanetary Communication by Optical Masers [Comunicação Interestelar e Interplanetária por Masers Óticos], também divulgado na publicação inglesa, propuseram que a pesquisa SETI incluísse também o espectro ótico. O espectro das ondas eletromagnéticas compreende desde os raios gama, com comprimento de onda de 0,1 angstron [Unidade de medida do comprimento de onda que equivale a 0,00000001 m], até as microondas, com comprimento de onda de 1 mm a vários centímetros, passando por uma estreita janela cujos limites são 4 mil e 8 mil angstrons, denominada de janela da luz visível. É nessa região do espectro que estão as luzes oriundas de todas as estrelas e objetos celestes, local onde a astronomia convencional trabalha com seus telescópios. O SETI pode ser realizado em luz visível, e seus adeptos apontam várias vantagens em relação ao SETI tradicional. Quais as vantagens do SETI Ótico? Segundo seus defensores, a principal é o maior ganho dos telescópios óticos em relação ao radiotelescópio. Por exemplo, o ganho do telescópio Keck no comprimento de onda de 330 nm é da ordem de 1 bilhão de vezes maior que o do radiotelescópio de Arecibo. Os feixes óticos estreitos podem ser focalizados nos sistemas planetários e compensados pela alta energia dos fótons relativamente às microondas. Uma grande desvantagem é que a pesquisa SETI em microondas pode ser feita com o céu nublado, que é transparente às ondas de rádio. O mesmo não ocorre com o SETI Ótico, que exige céu aberto para realizar a análise.
Particularidades astrofísicas — Enquanto o SETI
tradicional busca por sinais de rádio intensos e estreitos, o ótico procura por linhas de laser estreitas em espectros de alta resolução de objetos de interesse, sob o ponto de vista astrofísico. Os projetos dos observatórios de SETI Ótico nas universidades Columbus, Berkeley e Harvard monitoram estrelas individuais usando a faixa de freqüência de 300 a 600 nm (nanometro = 0,000000001 m). A busca pode ser realizada, tal qual no SETI tradicional, pelo modo all sky survey [Veja Glossário nesta edição], no qual o instrumento fica fixo numa determinada posição enquanto os objetos celestes passam por seu foco, como também pelo método target survey [Veja Glossário], que consiste em acompanhar e observar Edição Especial 37 – Outubro 2005
objetos alvo obtidos em lista de astros de interesse por suas particularidades astrofísicas. Em Harvard, o projeto de busca funciona como piggyback no telescópio de 1,5 m em Harvard Massachussets. Tal procedimento é um sistema de observação em que instrumentos secundários são colocados como “parasitas” no principal. Dessa forma, enquanto o telescópio faz as observações rotineiras do observatório, outros que são colocados em seu foco fazem a busca por sinais óticos de origem extraterrestre, sem interferir na rotina de pesquisa astronômica. O famoso projeto Fênix, do Instituto SETI, assim como o SETI@Home, funciona no sistema piggyback no observatório de Arecibo. Enquanto o gigante radiotelescópio faz suas pesquisas convencionais, instrumentos colocados em seu foco coletam dados para a pesquisa SETI. Dessa forma não se monopoliza o uso de instrumentos para o SETI e utiliza-se modernos equipamentos quase em tempo integral. A lista alvo do projeto em Harvard contém objetos celestes que atendem tanto a interesses astrofísicos quanto do SETI. O pesquisador Dave Latham e seus colegas caracterizaram recentemente 11 mil estrelas anãs de classes espectrais F, G e K para serem alvos de projetos SETI nos anos futuros [Veja sobre as classes espectrais no box da página 20 desta edição]. Não se surpreenda leitor com o interesse em estrelas anãs para a pesquisa SETI. A estrela de nosso sistema planetário, o Sol, que dentre seus planetas tem um astro rico em diversas formas de vida, a Terra, é uma estrela anã amarela de quinta grandeza. E, além disso, situada na periferia da galáxia, em um de seus braços mais externos. Como podemos ver, não estamos numa situação privilegiada. A vida pode surgir nas condições mais inesperadas que conseguimos imaginar.
Feixes de pulsos óticos extraterrestres — De outubro de 1998 até setembro de 2000 foram pesquisados 15 mil objetos alvo e 4 mil estrelas, totalizando 80 dias de observação. Não foi encontrada nenhuma evidência de feixes de pulsos óticos provenientes de civilizações extraterrestres. Apesar dos esforços na pesquisa pelo método target survey, após quase dois anos de observações, o projeto conseguiu cobrir somente um milionésimo do céu. Com cerca de um milhão de estrelas do tipo do Sol num raio de mil anos luz. Uma nova estratégia SETI deve ser considerada para pesquisar espaços vazios entre as estrelas, o que aumentaria muito as possibilidades de sucesso do SETI Ótico. Essa estratégia foi objeto de uma comunicação pessoal de Frank Dyson ao professor Paul Horowitz, de Harvard. A busca seria efetuada pelo método all sky survey. O sistema de processamento de sinal do SETI Ótico não é simples e seu pacote de detecção inclui divisores de feixe, elementos óticos, detetores de fótons, chips e outros equipamentos eletrônicos. O primeiro componente do sistema é um tubo foto-multiplicador multipixel, que tem a finalidade de servir como um amplificador do feixe de luz captado pelo telescópio. Em seguida temos o processador de sinal, constituído por quatro chips, que tem a função de procurar por pulsos de grande amplitude. A eletrônica restante está alojada em um microcomputador e controla o
fluxo de dados entre o processador de sinal e uma porta serial conectada a um computador externo. O sistema é ainda completado com um software para finalidade de processamento astronômico, detecção e arquivo. O SETI tradicional, que pesquisa raios microondas na freqüência do hidrogênio, não é o único que está sujeito a interferências ou sinais naturais que possam gerar falsos alarmes. O SETI Ótico também apresenta esse problema, como muito bem demonstrado no artigo de Andrew Howard and Paul Horowitz, ambos da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Existem vários tipos de objetos astronômicos que podem emitir pulsos de luz – entre eles o mais famoso é o pulsar –, como podemos ver abaixo: 1) Instabilidades de plasma e estruturas finas em acresção [que é o atrito da matéria ou viscosidade no disco, que faz com que uma parte dela perca energia e caia até a atmosfera da anã branca] em estrelas anãs e de nêutrons. 2) Instabilidades hidrodinâmicas de pequena escala em discos de acresção em objetos compactos. 3) Oscilações radiais em estrelas anãs brancas e não radiais em estrelas de nêutrons. 4) Emissão ótica de milisegundos originárias de pulsares. 5) Estrutura fina de emissão de pulsares e outros objetos compactos (chuveiro de prótons). 6) Turbulência foto-hidrodinâmica em estrelas de alta luminosidade. 7) Emissão estimulada de objetos magnéticos. Embora esses objetos produzam pulsos de luz, não são os de nano-segundos, que são procurados no SETI Ótico. Porém, existe também a possibilidade de interferências através de emissões terrestres geradas por comunicações através de laser – embora com baixa probabilidade. São vários os mecanismos de busca por vida inteligente extraterrestre, cada uma com suas limitações e com vantagens e desvantagens. Existe, inclusive, o projeto SETI que opera nas freqüências de infravermelho. No entanto, o importante é que as diferentes pesquisas ampliem a procura e nos tragam mais chances de detectar vida extraterrestre. Embora a clássica busca na freqüência do hidrogênio seja a preferida dos pesquisadores, ninguém pode garantir que será exatamente essa a utilizada em uma transmissão oriunda de uma civilização alienígena. Aqui também precisamos ampliar os horizontes, nossas mentes, e fazer SETI de todas as formas possíveis. :: www.ufo.com.br :: 25
O grande silên dos alienígena
Ad Astra
A amplitude do universo faz com que as possibilidades de se obter sucesso com os sinais extraterrestres sejam mínimas. No entanto, esta busca é uma das maiores aventuras já realizadas pela humanidade
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Cláudio Brasil, editor convidado
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á se passaram 45 anos desde a primeira tentativa de se buscar um sinal de origem extraterrestre realizada por Frank Drake, em 1960. Nesse tempo, muitas pesquisas foram criadas e aperfeiçoadas, como é o caso da Agência Espacial Norte-americana (NASA) que coletou dados por cerca de um ano com a pesquisa HRMS [High Resolution Microwave Survey – Pesquisa de Alta Resolução em Microondas ]. O projeto Fênix, por exemplo, surgiu das cinzas do HRMS e observa o espaço desde 1995. Já o SETI@Home, sucesso absoluto da computação distribuída, tem cerca de 6 milhões de usuários e processa dados do radiotelescópio
de Arecibo continuamente. No entanto, apesar da captação de alguns sinais candidatos, entre eles o famoso Wow!, não tivemos nenhuma freqüência que possa ter sido emitida por uma civilização extraterrestre desejosa de comunicação. O que está acontecendo? Será que afinal estamos sozinhos no universo? O trabalho no SETI é árduo e com baixíssimas probabilidades. Alguém já o definiu muito bem comparando o projeto à tarefa de procurar um gato preto num quarto escuro. O universo é tão amplo e são tantas as possibilidades de busca que jogam a probabilidade de se obter sucesso a patamares mínimos. Em 1959, Giuseppe Cocconi e Philip Morrison sugeriram, através de um artigo na revista Nature, que a busca fosse realizada na região do Buraco d´Água, que compreendesse as freqüências de 1,4 a 1,7 GHz. Essa região é muito cotada para uma transmissão alienígena, em virtude de representar o elemento mais abundante do universo, o hidrogênio. Além disso, o ruído cósmico natural é bem mais baixo. Mas e se o ET escolher outra freqüência? Para o engenheiro eletrônico Cleomir Bretherick Longo, consultor do Projeto Comunidade SETI, a busca deveria ser realizada em freqüências baixas, de algumas centenas de megahertz. Para ele o ideal seria o radiotelescópio estar na face oculta da Lua, que agiria como um permanente e potente escudo contra o mar de interferências geradas pela Terra. Nos projetos que utilizam o método target survey [Veja glossário], estrelas escolhidas previamente são monitoradas nas buscas. E se a transmissão de uma civilização alienígena estiver vindo de um astro a poucos graus dali, mas que não está na lista de estrelas alvo? Se as transmissões oriundas daquela estrela se encerraram um ano antes de nossa pesquisa? E se o extraterrestre escolheu enviar sua mensagem através de pulsos de luz? São tantas as variáveis que, para se obter sucesso, precisa haver uma Outubro 2005 – Edição Especial 37
O Projeto SETI
convergência de todos esses fatores. Ou seja, precisamos estar apontando para a estrela certa, na hora certa e usando a mesma freqüência da suposta transmissão. Simplesmente podemos não estar recebendo mensagem alguma por termos deixado de acertar todos os parâmetros para ouvir as demais civilizações.
Civilizações galácticas — Pode ser também,
como defendem os pessimistas, que a raça humana seja a única civilização existente no universo. Claro que os cientistas do SETI não querem nem de longe pensar nessa possibilidade.Afinal, como disse Carl Sagan, seria um tremendo desperdício de espaço. Porém, há na comunidade científica, acreditem, idéias que equivalem a considerar a Terra ainda como centro do universo. Existem muitas teorias e sugestões para se tentar explicar o grande silêncio, a ausência de contato por parte das civilizações extraterrestres. Uma delas, defendida por John Ball é de que nosso planeta seria uma espécie de jardim zoológico ou uma “reserva animal”. Ball afirma que seres extraterrestres andem entre nós e observem nossos passos ou que já tenham feito isso no passado. Podemos também estar numa espécie de quarentena e as civilizações extraterrestres aguardando que atinjamos um determinado grau de amadurecimento para nos contatar. Ou, quem sabe, esperando que não matemos mais nossos semelhantes ou que deixemos de agredir o planeta que nos acolhe e permite a vida. Talvez tenham de esperar bastante... ou não. A idéia defendida por Ball é a primeira sugestão feita por um cientista de que a Terra pode estar sendo visitada por seres de outro planeta, embora a ciência continue a rejeitar a existência ou evidências de discos voadores. Já se cogitou também que os ETs sigam a regra Edição Especial 37 – Outubro 2005
da “não interferência”, procurando sempre se ocultar de outras civilizações, evitando o contato. Thomas Bernardus Henricus Kuiper e M. Morris sugeriram, em 1997, que os ETs que nos observam evitariam ser descobertos cedo demais, enquanto estudam o nosso comportamento e desenvolvimento. W. I. Newman e Carl Sagan defendem que a taxa de ocupação da galáxia possa ser muito lenta de forma que uma “bolha de colonização ou expansão” não tenha chegado até nós ainda. Newman e Sagan afirmaram que “a Terra não foi colonizada, não porque sejam raras as sociedades que viajam entre as estrelas, mas sim por existirem mundos demais a serem colonizados durante a vida plausível da fase colonizadora de civilizações galácticas próximas. Fase essa que acreditamos seja, eventualmente,
ultrapassada. Concluímos, ainda, que exceto possivelmente muito cedo na história da galáxia, não existam civilizações galácticas bem antigas, com uma política consistente de conquista de mundos desabitados: não existe império galáctico algum”. Por outro lado, os otimistas sugerem que civilizações avançadas talvez desenvolvam ocupações que não os motivem a procurar qualquer forma de contato com outras espécies. Existe a idéia de que possa haver civilizações “exclusivistas”, tal que sua motivação maior seja a de ficar sozinha, isolada na galáxia, sem procurar contato com outras formas de vida. Julgo pouco provável que uma civilização, que atingiu sua fase comunicativa, procure se manter isolada sem tentar se comunicar com outros possíveis habitantes da galáxia. Mas essa é uma hipótese que não podemos descartar. Eu considero que a espécie humana atingiu sua fase comunicativa quando Karl Jansky detectou acidentalmente, em 1932, ondas de rádio oriundas da esfera celeste e descobriu que se tratavam de emissões de rádio naturais provenientes dos astros. Assim teve início a radioastronomia. Passamos a ter ouvidos gigantes para “escutar” o cosmos. E com a inquietante questão “estaremos sós no universo?” a nos perseguir. O desenvolvimento do SETI e a transmissão de uma mensagem interestelar foram inevitáveis.
Autodestruição das espécies — Nossa pri-
meira mensagem ao espaço foi transmitida em 1974, na direção do aglomerado de Hércules. Continha dados sobre a nossa espécie, o Sistema Solar e do equipamento que a enviou. Tal região foi escolhida por ser uma densa condensação de estrelas, aumentando a probabilidade de ocorrência de planetas com possíveis civilizações. Se considerarmos que o aglomerado está a 26 mil anos-luz de distância, não devemos esperar algum sinal antes de 52 mil anos – tempo que a mensagem demoraria para chegar até lá, mais o tempo do retorno de uma resposta –, trabalhando com a hipótese de que essa informação não seja interceptada antes por alguma civilização inteligente que esteja no caminho. O grande silêncio pode estar ocorrendo devido à forma de comunicação escolhida. Os cientistas optaram pela freqüência de rádio por dois motivos: primeiramente, em função da velocidade de propagação igual a da luz e, em segundo, devido ao fato de ser possível concentrá-la em feixes estreitos. No entanto, não se pode esquecer de um problema muito sério: a absorção das ondas de rádio pelo meio interestelar e pela própria atmosfera planetária. Steven Hurt
ncio as
Existem inúmeras teorias para explicar a ausência do contato. Porém, até agora, nenhuma é satisfatória
“
Eles estão no meio de nós, nos observando em todos os instantes. Quando a raça humana desenvolver o verdadeiro amor ao próximo eles vão se integrar à nossa raça
”
— Comentário deixado no site
da Comunidade SETI
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O Projeto SETI Isso pode limitar o alcance do sinal, talvez a algumas centenas de anos-luz, o que restringiria a pesquisa às vizinhanças do Sistema Solar. Uma outra possível causa para o grande silêncio traz uma inquietação muito grande. Já foi sugerido que o problema seja talvez a baixa duração de uma civilização tecnológica. Pode ser que uma espécie em desenvolvimento não dure o bastante para realizar contatos ou viagens de exploração, tendendo antes a um fim através de sua autodestruição. Os humanos entraram na fase comunicativa em 1932. Antes disso, já havíamos passado por uma guerra mundial e em 1939, ocorreu a segunda, já no início da Era Atômica. Certa vez, questionado sobre esse assunto Albert Einstein respondeu: “A terceira guerra eu não sei, mas a seguinte será com pedras e tacapes”. Como já foi calculada, a quantidade de armamento atômico no planeta seria suficiente para destruí-lo cerca de 40 vezes. Mas
basta uma única vez para que a espécie acabe. Não podemos deixar de temer a possibilidade da autodestruição de uma civilização à medida que seu desenvolvimento tecnológico cresce. A duração de uma civilização tecnológica é um dos parâmetros mais importantes ao se levar em conta a possibilidade de contatar outras formas de vida inteligentes.
Espécies inteligentes — Frank Drake, pio-
neiro do SETI, foi o idealizador de uma famosa equação que permite estimar o número de espécies inteligentes, desejosas de comunicação, existentes em nossa galáxia [Veja na página 18 desta edição a Equação de Drake]. Segundo A. L. L. Videira, os números tipicamente considerados são os seguintes: R*pode chegar a umas 20 estrelas por ano. Fb é em torno de 0,1. Fp corresponde a cerca de 0,5. Ne é considerado pelos otimistas como maior que 1. Fv tem
o valor de 1 – ou seja, considera-se que a vida tende a surgir sempre onde haja oportunidade. Fi é um valor em torno de 0,1 – ou, numa condição bem otimista, igual a 1. Fc é arbitrariamente tido como 0,1. E L é a grande incógnita da equação, para o qual deixamos, por enquanto, um valor em aberto. Assim a Equação de Drake, considerando as possibilidades mais pessimistas, poderia ser escrita como: 20 x 0,1 x 0,5 x 1 x 1 x 0,1 x 0,1 x L = 0,01 L. Ou seja, considerando como fixos os parâmetros acima, temos que o número de civilizações inteligentes existentes na galáxia depende unicamente do parâmetro L, a duração média de uma espécie como a nossa. Quanto tempo deve durar uma civilização que alcança a fase comunicativa? Um século? Talvez dois? Ou será que pode durar mil anos? Será que com desenvolvimento tecnológico duraria 10 séculos? Seria talvez aniquilada ou autodestruída antes
A busca por planetas extra-solares Fábio Branco Vaz de Oliveira, convidado
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crescente descoberta de planetas fora do Sistema Solar tem nos revelado grandes surpresas. A primeira delas, e mais óbvia, é a da existência de um grande número deles, o que até bem pouco tempo atrás era uma hipótese defendida somente por alguns pesquisadores. Com o desenvolvimento das técnicas já existentes e a criação de novos métodos de detecção, o que antes se pensava ser uma exceção está se tornando regra para os cientistas. Ou seja, estrelas que possuem sistemas planetários estão espalhadas por toda galáxia. As outras revelações importantes referem-se às peculiaridades de cada planeta ou sistema estelar ao qual fazem parte. A notícia recente da descoberta de um planeta com massa da ordem de Júpiter, na Constelação do Cisne, não causaria impacto tão grande se não levássemos em conta suas características. Trabalhando com o telescópio ótico Keck, um gigante com espelho de 10 m de diâmetro, situado no Havaí, o pesquisador do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech) Maciej Konacki detectou, em junho deste ano, o bamboleio [Oscilação na posição da estrela causada pela gravidade do planeta durante um período completo de tempo que leva para que um planeta complete uma órbita. Esse bamboleio indica aos astrônomos a presença de astros orbitando essas estrelas] provocado por este planeta num sistema composto não somente por uma, mas por três estrelas. Trata-se do sistema ternário catalogado como HD188753, situado a 149 anos-luz de distância da 28 :: www.ufo.com.br ::
Terra. O planeta descoberto está numa órbita muito próxima à da estrela-mãe, estimando-se seu período orbital em somente três dias. Essa descoberta foi vista com grande surpresa, pois, até o momento, se considerava pouco provável ou impossível a existência de planetas em sistemas estelares múltiplos, segundo as teorias vigentes sobre formação planetária, fortemente baseadas nas propriedades do próprio Sistema Solar. Ainda segundo as hipóteses, a existência de um planeta como Júpiter tão próximo à estrela-mãe, também era impossível. Observando as características do nosso sistema, notamos que os planetas mais próximos do Sol – pela ordem, Mercúrio, Vênus, Terra e Marte – são mais densos, formados por rochas e com pouca atmosfera face aos gigantes gasosos, situados além da órbita de Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno.
Sistemas recém descobertos — Modelos de formação de sistemas planetários que situam os planetas gasosos em suas regiões mais externas não podem mais ser considerados como gerais e adotados indiscriminadamente, ao menos para a explicação da formação dos sistemas recém descobertos. Sabendo-se que aproximadamente 60% das estrelas estão em sistemas múltiplos (binários, ternários etc), como o de HD188753, e dada a descoberta de Konacki, talvez um novo modelo tenha que ser desenvolvido. Devemos levar em conta a real formação de planetas também ao redor de sistemas como estes, com seus respectivos discos proto-planetários interagindo de modo a formarem e comportarem planetas. Enquanto isso, a principal hipótese para a explicação da existência deste recém descoberto corpo gasoso tão próximo à estrela é a de que o mesmo tenha sido formado concomitantemente à mesma. Independente de isso ser verdade ou não, o importante é que as opiniões
para a formação do Sistema Solar devem ser consideradas como um caso particular de uma teoria mais abrangente. A pesquisa por planetas extra-solares pode auxiliar na elaboração de análises mais completas. É interessante mencionar que a busca por planetas extra-solares se deu um pouco por acidente, incentivada pela descoberta do astrônomo E.E. Barnard, em setembro de 1916, de uma estrela que, segundo ele, apresentava “um movimento próprio jamais visto entre as estrelas”. Movimento próprio é, por definição, a movimentação aparente angular anual de uma estrela projetada sobre a esfera celeste, numa direção perpendicular à linha de observação. Isso é o que irá alterar, após obviamente milênios, a aparência das constelações que hoje observamos no céu. Assim, há milhares de anos, Escorpião, Órion e todas as outras constelações certamente apresentavam-se de maneira diferente. Da mesma forma, possuirão outra aparência num futuro distante. A importância da descoberta de Barnard incentivou os astrônomos a procurarem mais minuciosamente por perturbações nos movimentos das estrelas. Tornou-se interessante, assim, saber se uma dada estrela se movia em linha reta ou de maneira senoidal [Balanço]. Neste último caso, este movimento poderia ser explicado pela presença, junto à estrela, de um astro companheiro, uma estrela pouco visível ou, por que não, um planeta. Com isso em mente, o astrônomo Peter Van de Kamp, trabalhando no Observatório de Sproul, iniciou em 1938 um trabalho de investigação de milhares de chapas fotográficas da estrela de Barnard. Foi o primeiro a publicar, em 1962, um artigo sobre a existência de um corpo de massa 1,6 vezes maior que a de Júpiter e com período orbital de 24 anos. Ao longo dos anos Van de Kamp aprimorou várias vezes seus cálculos, sempre considerando as perturbações ou balanços como sendo devidos à presença de corpos Outubro 2005 – Edição Especial 37
O Projeto SETI
Arquivo UFO
Muitos pesquisadores acreditam que o grande silêncio pode estar ocorrendo devido a forma de comunicação escolhida. Mas os ETs continuam aparecendo em grandes cidades...
semelhantes a planetas ao redor destas estrelas. Embora confiante em sua descoberta, muitos dos seus resultados foram questionados. Assim, por meio da utilização de instrumentos mais sensíveis, em 1973, os astrônomos Gatewood e Eichhorn não detectaram perturbação no movimento da estrela de Barnard.
A primeira grande descoberta — Entretanto, no
mesmo ano, o astrônomo John Hershey analisando as placas fotográficas de Van de Kamp e comparando-as com as de outras estrelas tomadas também no Observatório Sproul, confirmou a existência de perturbação em todas elas. Com a confusão estabelecida, muitas discussões se seguiram e nada a princípio se concluiu a respeito da exatidão dos resultados de Van de Kamp. Apesar disso, abriu-se um novo campo de pesquisas na área astronômica, o da exploração planetária extra-solar, que teve como ápice a descoberta de um planeta em 1995 – ano da morte de Van de Kamp. O fato foi anunciado em novembro daquele mesmo ano com a publicação de um artigo na revista Nature pelos astrônomos americanos M. Mayor e D. Queloz. O planeta orbita a estrela 51 da Constelação de Pegasus, também catalogada como HD217014, usando-se a técnica da variação espectral. Um fato marcante que ocorreu em abril deste ano foi a primeira imagem obtida de um planeta extra-solar, orbitando a estrela GP Lupi, mostrando o quanto o alto nível das técnicas para a detecção de sistemas extra-solares pode contribuir para a pesquisa SETI e astronômica. São vários os métodos utilizados. O mais antigo é a astrometria, que toma por base o fato de que se há um corpo orbitando uma estrela que se move, ele provoca uma perturbação em seu movimento próprio, em que o conjunto deve ser entendido como a soma entre a movimentação da estrela em relação ao seu próprio centro de massa e o movimento de todo o sistema no espaço. Isso dá como resultado um movimento “espiralado”, perturbado, possível de ser detectado. Edição Especial 37 – Outubro 2005
desse período? Com os valores que fixamos acima, se considerarmos que a duração média na fase comunicativa é de 100 anos, a fórmula de Drake nos fornece como resultado igual a 1, ou seja, seríamos a única espécie inteligente na galáxia. Se tomarmos como L = 200 anos, encontramos como resultado duas civilizações. Os parâmetros que fixamos para esse cálculo rápido podem mudar de acordo com uma visão mais otimista ou pessimista. Assim, podemos inclusive encontrar uma galáxia repleta de formas de vida que desejam se comunicar. Convido o leitor a fazer suas
A técnica da variação espectral leva em conta o fato de que no espectro de uma estrela em movimento as linhas aparecem desviadas para o vermelho quando o movimento de afastamento é em relação ao nosso ponto de observação, indicando velocidade radial positiva. Ao contrário, as linhas do espectro de uma estrela que se aproxima de nós são levemente desviadas para o azul, o que indica velocidade radial negativa. Estes desvios podem ser explicados pelo conhecido Efeito Doppler [Variação do comprimento de onda devido ao movimento da fonte emissora]. Assim, se houver um planeta orbitando uma estrela, seu movimento periódico afeta o espectro da mesma tornando-o ora desviado para o vermelho, ora para o azul, com este padrão, ao se repetir periodicamente, revelando a presença de um corpo próximo à estrela. Os equipamentos utilizados para verificar tais características são os espectrógrafos. Pode ser citado ainda o método da fotometria, que assim como nos trânsitos de Mercúrio, Vênus e eclipses observados aqui na Terra, um planeta ofusca parcialmente a luz da estrela ao passar em frente ao seu disco, desde que este fenômeno se dê sobre a linha de observação que nos une a mesma. Já na técnica da imagem direta, tornase por princípio o fato de que os planetas refletem a luz que recebem da estrela a qual orbitam, procurando-se identificá-los por meio de imagens. O seu problema é a grande luminosidade da estrela quando comparada a do planeta, tornando-o uma alternativa aplicável somente na detecção de corpos muito grandes.
Novas descobertas e a pesquisa SETI — Até a data
da finalização deste artigo, o número de planetas descobertos era de 161 – a grande maioria com características semelhantes às de Júpiter –, com 137 sistemas planetários no total, sendo que 18 desses sistemas compostos por múltiplos planetas, se levarmos em conta somente os que orbitam as estrelas da seqüência principal [Veja tabela com alguns dos planetas no site de UFO]. Presume-se também a existência de planetas ao redor de pulsares, mas muitos ainda em estágio de confirmação.
próprias estimativas. Além de estimar o número de formas de vida existentes em nosso sistema galáctico, a Equação de Drake nos deixa a inquietante questão da duração da fase comunicativa e a tendência de civilizações tecnológicas se autodestruírem. Mas, afinal, qual será o motivo do grande silêncio? Será que estamos sozinhos na galáxia ou as outras civilizações existentes não desejam o contato? Há de se considerar também que o SETI tem apenas 46 anos. Segundo uma enquete publicada no site Comunidade SETI, cerca de 40% dos internautas acham que o contato ocorrerá num prazo de 10 anos e 20% deles acreditam que ainda vai demorar um século. Para se captar uma mensagem, diversos fatores devem concorrer de forma positiva. Fazer SETI não é fácil. As chances são pequenas e ainda é cedo para cobrar um resultado. Só o tempo nos dará a resposta.
Tudo isso mostra que, ao examinarmos a Equação de Drake para o número N de civilizações na galáxia [Veja fórmula na página 18 desta edição], o termo fp está aumentando gradualmente, pois um número cada vez maior de estrelas com sistemas planetários está sendo encontrado. Para os pesquisadores SETI, saber que há um grande número de planetas orbitando outras estrelas é um fato muito importante, pois isso permite que se continue a trabalhar em modelos teóricos de modo a melhorar a estimativa dos termos da Equação de Drake. Por exemplo, o conceito de ecosfera, hoje somente exemplificado e estudado com base no modelo do nosso Sistema Solar, pode encontrar respaldo para um subseqüente aperfeiçoamento a cada novo sistema planetário múltiplo descoberto, seus limites de ajustamento, ou até mesmo aumentando, conforme as características particulares de cada um deles, o que pode elevar o valor estimado para o termo ne da referida equação. Com o conhecimento atual, sabemos que planetas como Júpiter provavelmente não tenham condições de abrigar formas de vida conhecidas. Entretanto, como Júpiter e Terra fazem parte do mesmo sistema, podemos inferir que civilizações inteligentes como a nossa possam também existir em outros lugares. O descobrimento de planetas extra-solares foi, inegavelmente, um dos grandes marcos da história da humanidade, e está servindo de apoio ao SETI, já que há um grande número deles na galáxia, qual a razão do ceticismo quanto à crença de que em nenhum surgiu vida inteligente? Qual a razão para não procurarmos por inteligências nestes e em outros sistemas, assim como o fez Van de Kamp em sua busca por planetas ao redor da estrela de Barnard? O número crescente de planetas encontrados somente reforça a necessidade de pesquisarmos por sinais inteligentes extraterrestres. :: www.ufo.com.br :: 29
Deve haver no universo bilhões de planetas com espécies semelhantes e diferentes da nossa, porém a única coisa que temos certeza é que sabemos pouco sobre esse assunto
Cláudio Brasil, editor convidado
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Brian Sturrock
Construção de u estação SETI am
astronomia é uma das raras ciências que o amador pode fazer contribuições científicas de valor para o seu desenvolvimento. A expressão “amador” aqui é utilizada no sentido de “aquele que faz por amor” e não significa inexperiência ou recursos deficientes. Ao contrário do astrônomo profissional, que faz suas pesquisas e recebe um salário por seu trabalho, o amador observa os astros, pois essa é uma atividade que lhe dá prazer, e não recebe um único centavo por isso. Tais pessoas contribuem muito nessa área. Inúmeras descobertas de cometas, por exemplo, são feitas por eles. O mesmo ocorre com estrelas novas e supernovas. Em 1999, Renato Levai e Márcio Mendes, astrônomos amadores brasileiros, foram um dos descobridores da Nova Velorum, sendo Mendes o primeiro a conseguir uma imagem. Existem pessoas que se dedicam continuamente a observar estrelas
variáveis, planetas e se engajam em buscas sistemáticas por cometas ou supernovas. A importância desse trabalho é tão grande que os amadores são procurados e assessorados por diversos profissionais. O SETI é também uma ciência que tais indivíduos podem contribuir. Apesar do equipamento ser caro e dispendioso montar uma estação SETI amadora, mais até que um observatório, essa é uma atividade que está ao alcance de muitos. Com o corte de verbas destinado ao projeto HRMS [High Resolution Microwave Survey – Pesquisa de Microondas de Alta Resolução] da NASA em 1993, surgiram muitos esforços no sentido de dar continuidade à pesquisa. O projeto Fênix do Instituto SETI é um deles. Existem duas formas nas quais o amador ou entusiasta da pesquisa pode colaborar. Uma delas é através do SETI@Home, abordado em matéria nesta edição [Veja página 12], que consiste em um programa salva-telas que usa o tempo ocioso do computador para vasculhar os dados recebidos pelo telescópio de Arecibo, em busca de sinais emitidos por civilizações extraterrestres. Uma outra forma, com certeza gratificante, porém mais dispendiosa, é a construção de uma estação SETI amadora. A SETI League, que surgiu em 1995 com a meta de preencher a lacuna deixada pela extinção do projeto HRMS, é uma associação de amadores, sem fins lucrativos, que visa coordenar a montagem de estações caseiras em todo o mundo. Seu objetivo é ter 5 mil antenas parabólicas rastreando os céus pelo método all-sky survey [Veja glossário], na qual a mesma fica fixa e o movimento natural da abóbada celeste faz com que diferentes regiões do céu passem na direção de seu foco. Embora a Liga não financie os custos de montagem das estações, fornece todo suporte com informações de hardware e software envolvidos no projeto. Outubro 2005 – Edição Especial 37
O Projeto SETI
A montagem da estação — Para tornar o
custo mais acessível, a estação é construída com equipamentos domésticos ou com preços mais baixos. A antena utilizada é uma parabólica comum para recepção de satélites, com diâmetro mínimo de 3 m, já que as pequenas, de 60 cm, não servem para essa finalidade. Com a popularização das mini antenas, as maiores tiveram seu preço reduzido e muitas vezes podem ser encontradas até mesmo abandonadas ou desativadas por seus antigos proprietários. Apesar de podermos usar uma parabólica comum na montagem da estação, o feedhorn deve ser trocado por um adequado à freqüência utilizada no SETI. Feedhorn, que em português poderia ser chamado de “corneta de alimentação”, é aquele dispositivo que fica no foco da antena e tem a finalidade de capturar o sinal refletido pela parabólica e transmiti-lo para o sistema de recepção e processamento de sinal. Tal equipamento deve ser importado, pois não existe no Brasil e custa cerca de US$ 60,00 (R$ 140,00). Devido à baixa intensidade, o sinal proveniente do feedhorn deve ser amplificado antes de passar para o receptor de rádio. Quem faz essa tarefa é o LNA [Low Noise Amplifier], ou seja, um amplificador de baixo ruído. O componente que possivelmente será o mais caro é o receptor de rádio, o coração de qualquer estação SETI. É através dele que vamos escolher a freqüência que será analisada. Um receptor comercial como os feitos pela ICOM, um dos maiores fabricantes de rádio do mundo, custa cerca de US$ 2.000,00 Edição Especial 37 – Outubro 2005
(R$ 4.500,00), um valor inacessível para muitos. O preço é alto devido à freqüência que o aparelho é capaz de alcançar, que é de 2 GHz, além de todo acabamento de luxo que um equipamento comercial deve ter como display de led [Pequeno componente, no qual podem ser representados diferentes signos ou símbolos], botões e circuitos específicos. É importante lembrar que existem alternativas mais baratas. A SETI League desenvolveu um receptor de linha de hidrogênio, batizado dessa forma porque é construído especificamente para a freqüência que trabalhamos na pesquisa: 1,42 GHz. Como usa essa única freqüência e dispensa display e botões, seu custo é muito mais baixo, cerca de US$ 400,00 (R$ 900,00). Uma alternativa intermediária é o WinRadio que, como o nome diz, é um rádio que trabalha no ambiente Windows. A idéia é excelente,
uma vez que todos os apetrechos do painel é que encarecem o rádio. Esses itens são visualizados na tela do computador, através de um software que contém todas as funções do aparelho, incluindo as memórias de estações e demais ajustes. O WinRadio é uma caixa preta que tem somente a entrada para a antena e a saída para o computador, que deve ser plugado na porta de comunicação.
Processamento de sinais — A busca do SETI por sinais não é feita através de um rádio e fone de ouvido, como romanticamente representado no filme Contato [1977], estrelado pela bela Jodie Foster. Após passar pelo receptor, o sinal deve ir para um sistema DSP [Digital Sign Processing], que em português significa Processamento Digital de Sinais. Existem diversos softwares na internet criados com a finalidade de serem utilizados nesse trabalho. Sua tarefa é exibir na tela do computador uma representação gráfica do sinal que está sendo recebido pela antena, ao mesmo tempo que armazena os dados captados. A maioria desses softwares é distribuída pelo sistema shareware, no qual é possível testar o programa antes de pagar por ele. Para a Estação Giordano Bruno, a ser construída no interior do Estado de São Paulo, foi testado e adquirido o FFTDSP, cuja autoria é de Mike Cook. É um pequeno programa que roda em ambiente DOS, funcionando mesmo em máquinas antigas como um computador 486. Sua tela mostra um gráfico de freqüência versus tempo, muito parecido com os programas utilizados nas grandes buscas, como do Instituto SETI. Nesse tipo de gráfico, uma interferência terrestre aparece como uma linha vertical na tela enquanto que um possível sinal extraterrestre apresentará uma inclinação ou ligeira curva. Seu preço é bastante acessível, apenas US$ 32,00 (R$ 75,00). Existem softwares com mais recursos, como o Spectra Plus, que funciona em ambiente windows e pode exibir vários gráficos na tela ao mesmo tempo. Também é distribuído pelo sistema shareware e custa US$ 300,00 (R$ 680,00). Para que o sistema de coleta, processamento e armazenamento dos dados provenientes da antena funcionem o computador deve possuir uma boa placa NASA
uma madora
A atual tecnologia permite que qualquer pessoa vasculhe uma parte de nossa galáxia em busca de ETs
Após montada a estação SETI, o astrônomo amador poderá testá-la captando freqüências emitidas pelas antigas mas ainda ativas sondas Voyagers
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O Projeto SETI
Custo de uma estação SETI feita em casa Cláudio Brasil, editor convidado
cionamento. Para instalar uma estação SETI, seguindo os procedimentos da instituição, são necessários um computador ma das formas mais gratificantes de para coleta de dados (R$ 2.000,00); uma se participar da pesquisa SETI é a construção de uma estação caseira. antena parabólica com no mínimo 3 m de diâmetro (R$ 400,00); uma corneta de aliAo contrário do que se imagina, ela pode mentação, conhecida como feedhorn (R$ ser criada com equipamentos relativamente comuns ou que são facilmente encontra- 140,00); um amplificador de baixo ruído LNA (R$ 230,00); um receptor de rádio dos. A SETI League, entidade que congrega amadores interessados na busca por vida (R$ 900,00 a R$ 4.500,00 dependendo da marca e modelo) e um gerador de sinais (R$ extraterrestre inteligente, fornece todo o suporte técnico para a elaboração de uma 140,00). Os últimos quatro itens geralmente são importados. O custo final para o deestação, entretanto, não custeia ou patrocina de nenhuma forma a construção. Cada as- senvolvimento de uma estação é entre R$ 4.000,00 a R$ 8.000,00, sem levar em sociado deve custear e montar seu próprio conta impostos de radiotelescópio. importação. Nos Os técnicos da Estados Unidos SETI estão traexistem empresas balhando consespecializadas em tantemente radioastronomia no aperfeiçoacomo a Radio Asmento de novos tronomy Supplies equipamentos. e a Down East MiA Liga tem crowave que veno papel de oriendem até radiotetar e coordenar Aparelho receptor de linha de hidrogênio desen- lescópios complea montagem das volvido pela Liga SETI para o uso de seus membros tos por cerca de estações e seu R$ 3.400,00. posterior fun- na busca por sinais no Sistema Solar de som, que utilizada em conjunto com o software DSP faz o papel do analisador multicanal, equipamento caríssimo utilizado nas estações profissionais, que pode chegar até US$ 20.000 (R$ 45.300,00). O computador a ser utilizado na estação, como vimos, não precisa ser de última geração já que até micros antigos rodam softwares leves como o FFTDSP. Mas é aconselhável ter um ótimo monitor, para a adequada visualização dos gráficos dos sinais, uma boa placa de som, indispensável para o funcionamento do software DSP e um disco rígido de alta capacidade para armazenamento dos dados. É interessante ter ainda algum dispositivo de gravação de CD ou DVD para que os dados possam ser guardados em segurança. O computador deverá estar preparado para funcionar 32 :: www.ufo.com.br ::
Beaver Muss
Liga SETI
U
continuamente, uma vez que essa é a melhor forma de otimizar o funcionamento da estação evitando que determinadas regiões do céu não sejam observadas.
Entrando em operação — Uma vez mon-
tada a estação, é necessário testá-la e verificar se tudo está funcionando corretamente. Todo o processo desenvolvido pela SETI League para a montagem da mesma segue padrões testados por engenheiros, para que tudo funcione corretamente, garantindo ao sistema a sensibilidade necessária para captar os fracos sinais provenientes do firmamento. O primeiro teste utilizará um aparelho que produzirá um padrão que será analisado pelo sistema. Trata-se do hidrogen line weak signal source, um pequeno dispositivo eletrônico que gera um sinal de baixa intensidade com a freqüên-
cia do hidrogênio (1.420 MHz). Este deve ser introduzido no sistema e devidamente acusado pelo software de processamento de sinais da estação. Se isso não ocorrer é porque algum componente não está funcionando adequadamente. O aparelho deve ser importado, mas seu custo é baixo, da ordem de US$ 60,00 (R$ 140,00), fornecido em forma de kit para montagem. Uma outra experiência, complementar e definitiva, é bem mais prática: capturar os sinais de alguma sonda distante em nosso Sistema Solar. Um bom teste é buscar por freqüências das sondas Voyagers, lançadas na década de 70. Elas ainda estão em operação, apesar de não mais estarem no Sistema Solar, e podem ser usadas na verificação dos equipamentos da estação, que só será reconhecida pela Liga após a realização desses testes de sensibilidade e detecção de sinais fracos. Com tal instalação homologada, o seu responsável passa a acessar uma lista de e-mail fechada da SETI League que somente participam os membros que já têm sua estação operacional. Ela tem a finalidade de servir de meio de comunicação e distribuição de alertas de eventuais sinais candidatos, recebidos em qualquer uma das estações. A princípio, cada participante pode direcionar sua antena para onde quiser. Posteriormente, a SETI League irá definir as posições que as antenas deverão assumir. Uma excelente posição de busca a ser adotada por uma estação que trabalhe no sistema all-sky survey é apontar diretamente para o zênite [Veja glossário]. Além da facilidade de direcionamento, essa posição minimiza as interferências terrestres captadas pela antena. Aconstrução de uma estação SETI caseira é, com certeza, a forma mais gratificante de se participar da pesquisa. No entanto, também é o meio mais dispendioso uma vez que exige a compra de diversos equipamentos e somente a antena parabólica e o computador são encontrados no mercado brasileiro. É necessário lembrar também que irá exigir uma parcela de dedicação. Se a estação trabalhar 24 horas diariamente serão geradas centenas de megabytes de informações, que precisam ser analisadas. O ideal é que no mínimo uma vez por dia os dados coletados sejam verificados em busca de sinais candidatos. Cada potencial sinal extraterrestre exigirá uma delicada análise do operador para determinar de que posição celeste o mesmo foi proveniente, se havia alguma radiofonte nessa região ou se coincidiu com a passagem de um satélite. A estação exigirá do pesquisador uma atenção muito grande para seu efetivo funcionamento. O entusiasta do SETI, aquele que se dedica a esta ciência por amor, vai encontrar a melhor forma que lhe convém para participar da maior aventura do homem, a busca por sinais de inteligências extraterrestres. Outubro 2005 – Edição Especial 37
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CRON
Fonte: SETI League
Dos primeiros mom ingressar a human
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959 e 1960 — Os doutores Philip 1971 — Uma equipe de estudos daAgência tigo é do doutor Carl Sagan, que aborda soMorrison e Giuseppe Coconni pu- Espacial Norte-Americana (NASA), denomi- bre as questões da inteligência extraterrestre blicam na revista Nature o primeiro nada de projeto Cyclops, é convencida a criar [The Quest for Extraterrestrial Intelligence]. artigo moderno sobre o SETI, inti- uma pesquisa com mil radiotelescópios para Já em 1979, Sagan, Bruce Murray e Louis tulado Searching for Insterstellar a detecção de sinais de rádio semelhantes aos Friedman fundam a Sociedade Planetária. Communication [Procurando por Comuni- gerados na Terra a distâncias maiores que mil Além disso, neste mesmo ano, foi lançado o cações Interestelares], que abordava sobre anos-luz. Os altos custos do empreendimento projeto Serendip [Search for Extraterrestrial o uso das ondas de rádio e microondas impediram que a proposta fosse desenvolvida. Radio from Nearby Developed Populations para comunicações extraterrestres. Já em Nesse período, os doutores Carl Sagan, Frank – Busca por Sinais de Rádio de Civilizações 1960, o primeiro projeto SETI, chamado Drake e Philip Morrison encontram-se com Extraterrestres Próximas]. de OZMA, é conduzido pelo doutor Frank cientistas russos na Conferência SETI USDrake no Observatório Nacional de Ra- USSR, em Byurakan, União Soviética para 981 e 1982 — O senador William dioastronomia em Green Bank, Virginia discutir o assunto. Proxmire desintegra o suporte do Ocidental, Estados Unidos, usando uma 1972 a 1974 —ANASApublica dados sobre Congresso dos Estados Unidos para antena de 85 pés [Cerca de 26 m]. o projeto Cyclops [A Design Study of a System desenvolver a pesquisa SETI pela 1961 — A técnica ótica para o SETI, usan- for Detecting Extraterrestrial Intelligent Life NASA. Durante a Conferência Interdo feixes contínuos de ondas laser, é proposta – Projeto de um Sistema para Detectar Vida nacional SETI, em Talliinn, União Soviética, pelos doutores Robert Schwartz e Charles Inteligente Extraterrestre]. Na ocasião foram muitos cientistas norte-americanos não comTownes. Neste mesmo ano, também foi rea- distribuídas 10 mil cópias do documento. Nes- pareceram e a Sociedade Planetária enviou lizada no Observatório Nacional de Radio- ta época, as placas da Pioneer contendo uma representantes ao encontro. Neste período, a astronomia a conferência sobre SETI, Ordem mensagem sobre nosso planeta, destinada a entidade começa uma forte campanha para do Delfim. Na oportunidade, o doutor Drake localidades além de nosso Sistema Solar, fo- que a NASA conduza as pesquisas por sinais apresentou um novo método estatístico para ram lançadas nas sondas espaciais Pioneer extraterrestres. Após diversas conversas, Saestimar o número de civilizações tecnologica- 10 e 11. Em 1973, a Universidade Estadual gan, então presidente da Sociedade, persuadiu mente avançadas na Via Láctea, conhecido de Ohio dá início ao Projeto SETI, em seu o senador Proxmire a parar a oposição contra a hoje como Equação de Drake. Observatório Big Ear, em Delaware (EUA). proposta. Então, em 1982 a agência começa as 1962 — Seguindo os estudos da estrela do No ano de 1974, o radiotelescópio de Arecibo análises com a Pesquisa de Microondas deAlta tipo Barnard [Descoberta em 1916 e sendo a tem sua capacidade de recebimento de sinais Resolução [The High Resolution Microwave mais conhecida na área científica devido a seu aumentada e o doutor Drake envia a primei- Survey – HRMS]. Neste mesmo ano, o doutor movimento próprio, cerca de 10 segundos de ra transmissão para testar o equipamento, o George Gatewood conduz uma investigação arco por ano, o que representa 1 grau em 350 que marcou o início das atividades. por planetas extra-solares no Observatório anos], odoutorPeterVandeKampconcluiqueo 1977 a 1979 — O Big Ear, telescópio esta- Allegheny em Pittsburgh, Pensilvânia. movimentoprópriodestesastrospodesermelhor dual de Ohio, detecta o famoso Wow!, um sinal 1983 a 1984 — A pasta SETI do doutor explicado pela presença de um ou mais planetas. de banda estreita proveniente da Constelação Paul Horowitz é testada no radiotelescópio Hoje, a questão dos planetas ao redordas estrelas de Sagitário. Nesse período as sondas espa- de Arecibo, Porto Rico. Nesse período, a de Barnard permanece não resolvida. No ano de ciais Voyager 1 e 2 são lançadas carregando União Astronômica Internacional estabelece 1966, os doutores Carl Sagan e I. S. Shkolovskyi discos de ouro contendo imagens e sons da a Comissão 51, dedicada à bioastronomia e publicaram o livro Intelligent Life in the Universe Terra. Em 1978, a revista Cosmic Search é à pesquisa por vida extraterrestre. Em 1983, [Vida Inteligente no Universo]. publicada por John Kraus e o primeiro ar- os doutores Samuel Gulkis e Thomas Kuiper
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O Projeto SETI
NOLOGIA DO SETI
mentos até os tempos atuais, tudo o que se fez para nidade no “clube cósmico” de raças avançadas
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Ótica na Busca por Inteligência Extraterrestre [Optical Search for Extraterrestrial Intelligence – OSETI], sob a orientação do doutor Stuart A. Kingsley. Tal instituição tornou-se a primeira instalação para a pesquisa ótica SETI na América do Norte. Já perto de Buenos Aires, Argentina, o projeto META-II torna-se operacional, com o apoio da Sociedade Planetária. Em 1992, é lançado o Serendip III e as observações em HRMS da NASA são apresentadas no Observatório de Goldstone, Califórnia, e no radiotelescópio de Arecibo, em Porto Rico.
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993 a 1995 — O orçamento para as pesquisas HRMS da NASA é cortado pelo Congresso norte-americano. Em 1994, a The SETI League [Liga SETI] é fundada por Richard Factor, que indica o doutor H. Paul Shuch como diretor executivo. Tal instituição tornar-se-ia o maior programa observacional SETI da iniciativa privatizada. Neste mesmo ano é criada também a revista SETIQuest, fundada por Carl Helmers e Larry Klaes. No ano de 1995, a Liga aceitou pela primeira vez a entrada de membros amadores provenientes de mais de 56 países. O Instituto SETI lança o projeto Phoenix, na Austrália, uma continuação privatizada do HRMS, trabalho orientado da NASA. Nesse período também começa o projeto BETA[BillionChannel Extraterrestrial Assay]. O 51 Pegasi B foi o primeiro planeta encontrado redorde uma estrela como o Sol, anunciado porMichel Mayor e Dedier Queloz [Em 1999, a lista de exoplanetas confirmados já chegava a 20]. 1996 — A SETI League lança o projeto Argus, com cinco estações para ampla pesquisa no céu.Atualmente, existem mais de 80, sendo
o maior grupo organizado de telescópios rádioamadores.ASociedade Planetária lança o projeto Serendip IV na Universidade de Berkeley, que após ter sido fechada devido a problemas em seus equipamentos, também apresenta o META II para refinar as pesquisas do céu na Argentina. Enquanto isso, o projeto Phoenix do Instituto SETI aprimora suas análises no Observatório Nacional de Radioastronomia, Green Bank, Virgínia Ocidental. 1997 a 1998 — Na Universidade da Califórnia, em Berkeley, o Observatório Leuschner começa a pesquisa SETI Ótica Pulsada, dirigida por Dan Werthimer. Neste mesmo ano, o projeto SETI Big Ear da Universidade de Ohio é listado no Guiness Book [Livros dos Recordes] como a maior pesquisa da história, justamente quando o mesmo foi demolido para dar lugar a um campo de golf. Em 1998, o SETI Ótico começa a ser aceito pelos pesquisadores. Além disso o Instituto SETI e a Sociedade Planetária iniciam pesquisas com sinais de luz. O projeto Phoenix continua suas investigações enquanto o programa SETI Ótico da Harvard, dirigido por Horowitz, torna-se operacional no Observatório de Oak Ridge. 1999 a 2005 — É criado um novo mecanismo de busca que visa uma maior integração entre os internautas e os cientistas. Trata-se do SETI@Home, um protetor de telas que se baseia na potência dos computadores caseiros para análise dos dados coletados pelo Projeto SETI. Em 2005, morre Philip Morrison, astrofísico norte-americano que participou na construção da primeira bomba atômica antes de lutar contra a corrida nuclear, deixando a comunidade SETI de luto.
Phillip Chairman
começaram a pesquisa no hemisfério Sul focalizada em linhas de vapor d’água numa antena de 64 m, do Deep Space Network [A rede internacional de antenas da NASA – DSN], localizado na Austrália. Também é lançado por Michael Papagiannis o Bioastronomy News, um informativo oficial da Comissão 51 da União Astronômica Internacional. O doutor Horowitz apresenta em Harvard, Massachussets (EUA), o projeto Sentinel, com a ajuda da Sociedade Planetária, usando o telescópio de 26 m de diâmetro. Em 1984, o Instituto SETI é criado visando o aprimoramento de pesquisas relacionadas a todos os aspectos de vida no universo. Inicialmente, as atividades da instituição foram promovidas pela NASA. 1985 a 1988 — Começa o projeto META [Megachannel Extraterrestrial Assay] no Observatório Oak Ridge, em Harvard, Massachussets, financiado por uma contribuição generosa do diretor de filmes Steven Spielberg. Neste período, Robert Stephens inicia uma pesquisa a partir do Rádio Observatório de Hay River, no Canadá. Sua análise recebe suporte da Sociedade Planetária, mas termina em 1988 devido à falta de investimentos. Em 1986, o Serendip II da Universidade da Califórnia Berkeley começa a varrer os céus. Robert Stephens estabelece o projeto TARGET [Telescope Antenna Researching Galactic Extraterrestrial Transmission] dentro do Programa SETI, no Rádio Observatório Algonquin. Tal empreendimento opera pesquisas em 21 cm da galáxia até 1991. 1989 a 1992 — A Sociedade Planetária cancela a publicação do Bioastronomy News. Em 1990, o Observatório COSETI [Columbus Optical SETI], desenvolveu a Pesquisa
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O Projeto SETI
Glossário do Projeto SETI All sky survey — Método de pesquisa normalmente utilizado por estações amadoras ou de pequeno porte, que consiste em deixar uma antena fixa enquanto os objetos celestes, em seu movimento natural, passam pelo seu campo.
Analisador multicanal — Equipamento caríssimo
utilizado em rádio observatórios profissionais que permite analisar diversas faixas de freqüência ao mesmo tempo.
Ano-luz — Distância que a luz percorre no espaço
de um ano, a uma velocidade de 300.000 km por segundo. Equivale à cerca de 10 trilhões de quilômetros. A estrela mais próxima de nosso Sistema Solar está a 4,4 anos luz, portanto, a mais de 40 trilhões de quilômetros de distância.
Ascensão Reta e Declinação — Coordenadas
do Sistema Equatorial utilizadas nas cartas celestes, catálogos de astros e radiofontes. A ascensão reta mede a posição do objeto celeste em horas, minutos e segundos. Já a declinação mede o ângulo do objeto em relação ao equador celeste.
Buraco negro — Resultante do colapso gravitacional
de uma estrela, quando já se exauriu todo seu combustível termonuclear. São regiões do espaço onde existe a gravitação muito alta, causando distorções no espaço-tempo à nossa volta.
DSP [Digital Signal Processing] — É o processamento digital do sinal captado pelo radiotelescópio buscando por freqüências de alta intensidade e banda estreita.
Feedhorn — Dispositivo colocado no foco da antena parabólica que tem a função de converter os sinais de rádio em impulsos elétricos, para uma posterior amplificação e tratamento com softwares especializados.
Fóton — Partícula constituinte da radiação eletromagnética
– incluindo a luz –, que viaja sempre na velocidade da luz. Desapareceria se tivesse seu movimento cessado, pois sua massa quando está em repouso é igual a zero.
LNA [Low Noise Amplifier] — Amplificador dos sinais
de baixa intensidade captados pela antena e é instalado antes do receptor de rádio.
Plasma — É a chamada matéria degenerada, em que
átomos se desintegraram e deram origem a uma mistura de prótons, nêutrons e elétrons, que são partículas constituintes dos átomos.
Pulsar — Objeto astronômico que emite curtos pulsos
genos, independente de sua região espectral ou método de pesquisa.
SETI Ótico — Pesquisa SETI realizada através de telescópios óticos, visando à detecção de feixes de laser de largura estreita [Veja artigo na página 25].
SETI@Home — A forma de pesquisa SETI mais difundida no mundo. Trata-se de um software que processa sinais de rádio oriundos do radiotelescópio de Arecibo, em Porto Rico [Veja artigo na página 12].
Sinal candidato — É um sinal de possível origem
extraterrestre, que passou pelos testes básicos de satélites artificiais, interferências e radiofontes naturais, mas que não foi confirmado, ou seja, captado por outras estações SETI.
Target survey — Técnica usada em grandes radio-
de luz devido às suas características de campo eletromagnético e alta velocidade de rotação em torno do seu eixo.
telescópios que consiste em acompanhar um determinado objeto celeste (objeto alvo) em sua trajetória pelo firmamento.
Radiofonte — Objeto celeste de qualquer tipo, estrela,
Water Hole [Buraco d’Água] — Região do es-
planeta ou nebulosa, que emite ondas de rádio.
Receiver — Principal componente do sistema SETI, que
recebe ondas de rádio numa determinada freqüência a ser rastreada pela estação. Pode ser comercial (abrangendo uma grande faixa) ou desenvolvido especificamente para a freqüência de trabalho do SETI.
SETI [Search Extraterrestrial Inteligence] — É
a busca por vida inteligente extraterrestre. Tal sigla engloba todos os projetos de procura por sinais exó-
pectro eletromagnético compreendida entre as freqüências de hidrogênio e hidroxila, sugerida como local onde deveriam ser realizadas as buscas por sinais extraterrestres devido ao fato do ruído de fundo ser o composto básico essencial dos elementos vivos conhecidos.
Zênite — Região mais alta do firmamento. Corresponde à elevação ou altitude de 90° no Sistema Horizontal, que são as coordenadas baseadas em medições feitas em relação ao horizonte.
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O Projeto SETI
Edição Especial 37 – Outubro 2005
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Tradutores voluntários Andrea Zorzetto Ângelo Miranda Edson Ovídio Alves Edgar Indalécio Smaniotto Eduardo Rado Eric Boutin Fernando Fratezi
UFO Especial é um dos veículos de divulgação das atividades do Centro Brasileiro de Pesquisas de Discos Voadores (CBPDV), produzido em parceria com a Mythos Editora Ltda. Mythos Editora Ltda.: Redação e administração: Rua Andrade Fernandes 283, 05449-050 São Paulo (SP) – Fone/fax: (11) 3021-6607. E-mail: mythosed@uol.com.br – Website: www.mythoseditora.com.br. Impressão: Esta revista foi impressa sem uso de fotolitos pela Gráfica São Francisco. Distribuidor exclusivo para todo o Brasil: Fernando Chinaglia Distribuidora S. A. Distribuidor exclusivo para Portugal: Midesa. Os artigos publicados são escolhidos pelo CBPDV, sendo que as matérias assinadas são de responsabilidade de seus autores e não representam, necessariamente, a opinião da direção da revista.