MINUTO DA SAÚDE DEZEMBRO 2021
volume.1
alzheimer
cuidadores
Sobre a doença
CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA - CAMPUS GUAJAJARAS UC PROCESSOS BIOLÓGICOS Lívia Avelar e Juliano Albergaria
Discentes: Ana Beatriz Martins Adrieli Rodrigues da Silva Emamanuelle Alexandra Fernanda Lima Carneiro Fernanda Batista Fernanda Pereira da Silva Shara Alves Moreira
Júlia de Cássia Lopes Rodrigo Sofia Peixoto Manuelle Leroy Silva Marina de Oliveira Nicolly Gabriela Rocha Paola Gabrielli Teixeira Walayna Abreu
Belo Horizonte, 2021
RES DO RCA MA BIO
TR AT AM EN TO
Essa revista é destinada para todas as pessoas que cuidam de alguém na situação do Alzheimer: Profissionais da Saúde, parentes e amigos.
DIAGNÓTICO
ANATOMIA
ASPECTOS CLÍNICOS
PROFIL AXIA
VOL. 1 EDIÇÃO 2021
ANATOMIA DO CERÉBRO
O cérebro humano, é importante para a compreensão e o relacionamento do ser, é a parte do sistema nervoso mais relevante, a mais visível do encéfalo. Sendo o que organiza, reconhece um desejo, e mobiliza estruturas corporais e neurais.
O encéfalo está relacionado ao tecido nervoso, encontrado dentro da caixa craniana. O cérebro é formado por algumas partes do encéfalo, quais sejam: o córtex cerebral e o diencéfalo (tálamo e hipotálamo), entre ambos estão os núcleos da base:
caudado, putamem, globo pálido, amigdala, claustrum, accumbens e núcleos septais (NOGUEIRA, FERREIRA, 2016). Figura 1- Cérebro Humano
Fonte: Cunha et al., 2004
No decorrer dos parágrafos falaremos melhor sobre a anatomia do cérebro que possui a doença de Alzheimer. A neurodegeneração significa a perda progressiva da massa, estrutura ou função de neurônios. Conseguindo atingir qualquer região do sistema nervoso e pode ocorrer de diferentes formas. Se atingir as regiões do cérebro que é responsável pelas funções cognitivas, isso pode ocorrer uma síndrome demencial de causa neurodegenerativa (DOMINGUEZ, BURLI; 2010). Na doença de Alzheimer, ocorre as alterações neuropatológicas, como a atrofia cerebral, no nível macroscopicamente, e presença de placas neuríticas, deposição de substancia amiloide e também tranças neurofibrilhares no nível microscópico (KUMER, et al., 2010). A Doença de Alzheimer ou DA típica, tem seu inicio no hipocampo do cérebro, que tem uma atrofia temporal medial, é pode se estender até depois das amigdala, restante sistema límbico, para hipocampo, córtex temporal e todo o córtex cerebral (K. A. Johnson, N. C. Fox et al., 2012; S. Lehericy et al.;1994; . R. J. Killiany RJ et al.; 2002). Mas algumas das pessoas podem apresentar a DA atípica, com diferentes tipos de padrões de atrofia.
Estas placas podem ser visualizadas por meio da coloração de rotina com hematoxilina e eosina, mas são mais nitidamente observadas com colorações de prata. No paciente com DA típico, as placas neuríticas são numerosas e estão localizadas em muitas partes do córtex cerebral. Evidências convincentes mostram que as próprias placas contendo beta-amiloide agregado insolúvel são como “lápides” inertes, enquanto algumas formas oligoméricas solúveis de beta-amiloide que surgem mais cedo são neurotóxicas. Outro
aspecto
histológico
importante
na
DA
são
os
emaranhados neurofibrilares intracelulares como mostra a figura abaixo:
Figura 6
Emanharados neurofibrilares intracelulares
Além desses tipos de padrões de atrofia, também pode se ter a relação com o fenótipo clinico (C. R. Jack et al.; 2004). Esses subgrupos estão relacionados com os doentes DA que são precoces, ou seja, antes dos 65 anos. Onde esses doentes têm graus elevadas de disfunção cognitiva extra memória com progressão rápida destes défices e atrofia cerebral com início e predomínio parietal (K. A. Johnson, N. C. Fox et al.; 2012). Para visualizarmos melhor a Doença de Alzheimer temos exames que podem ser utilizados é um deles e pelas imagens de Ressonância Magnética ou imagens de ressonância magnética estruturais (MRIs). Essa imagem faz o uso de um campo magnético forte e ondas de rádio para produzir as imagens estruturais detalhadas de órgãos. MRIs podem ser utilizadas para produzir imagens 3-D permitindo sua visualização sob diferentes ângulos. (IGLESIAS et al., 2011; CHUPIN et al., 2009b; GORYAWALA et al., 2015; YANG et al., 2013). Figura 2Atrofia cerebral de um cérebro humano na doença de Alzheimer em estágio avançado.
Fonte: Adaptado pelo autor de BAGAD; CHOWDHURY; KHAN, 2013
Genética 4-Qual é a contribuição genética para a manifestação dessa patologia? De acordo com os artigos podemos verificar que a Doença de Alzheimer apresenta duas formas de manifestação, uma forma é mais rara e grave conhecida como familiar, e segue o padrão de herança mendeliano, com idade inferior a 60 a 65 anos, sendo considerado uma doença mais precoce. A segunda forma é de início tardio, ou seja, idade superior de 60 a 65 anos. Tem um componente genética substancial com hereditariedade estimada em 58-79% (PEREIRA, 2013).
Até agora o único gene que foi comprovado a forma multifatorial da DA foi o gene apoE, que codifica a apolipoproteina E, sendo uma proteína que tem como função de transportar o colesterol no cérebro para serem reutilizados em lipídeos de membrana e reparo neuronal (VILLELA, 2014). O apoE possui três tipos de alelos comuns, como o ε2, ε3 e ε4, que assim correspondentes a seis tipos de fenótipos. A doença de Alzheimer está relacionada ao alelo ε4, esse alelo tem um aumento de risco e diminuição da idade média de início da doença de forma dose-dependente. (PEREIRA,2013).
Esses três tipos de alelos têm como função importante no metabolismo de Aβ, tem como um dos fatores cruciais do desenvolvimento da DA, podendo seus níveis estar relacionados com o desenvolvimento ou não da doença. Fazendo com a análise ao genótipo apoE possa funcionar como um marcador para o diagnóstico da doença, ou de outra forma, como um fator que influencie outros biomarcadores já mencionado (BRUXO, 2016) REFERENCIA BRUXO, Catarina de Almeida. Novas Abordagens no Diagnostico precoce da Doença de Alzheimer. Dissertaçao da faculdade de Ciencias e Tecnologia da Universidade do Algarve, 2016. PEREIRA, Pedro Miguel Cabral de Melo. Doença de Alzheimer. Perspectivas de tratamento. Disertação para obtenção do Grau de Mestre em Medicina (ciclo de estudos integrado). Universidade da Beira Interior, Ciencias da Saude. Corvilhã, 2013. VILLELA, Darine Chritina Maia. Alterações genômicas e epigenomicas nas manifestações anatomopatologicas e cognitivas da Doença de Alzheimer. Tese do departamento de Genetica e Bioogia Evolutiva do Instituto de Biociencias da Universidade de Sao paulo, 2014.
Na Figura 2, é possível observar lado a lado imagens de ressonância magnética de um idoso saudável (à direita) e um paciente diagnosticado com Alzheimer (à esquerda). Nota-se o alargamento dos ventrículos devido a perda de tecido na MRI da esquerda e também um adelgaçamento do córtex caracterizado pelo alargamento dos sulcos do cérebro.
ALZHEIMER A doença de Alzheimer (DA), descrita em 1906 por Alois Alzheimer, é a principal causa de demência irreversível. Com o aumento da expectativa de vida, tem subido também a probabilidade de pacientes com DA até 2050 no mundo, tendo em vista que o maior fator de risco é a idade avançada. No Brasil percebemos que a prevalência de pessoas acometidas por esta demência ou até de formas mistas também tem aumentado, de acordo com um estudo feito na cidade de Catanduva. Ainda é difícil dar um diagnóstico precoce para pessoas que possam possivelmente desenvolver a DA, dentro desse contexto, identificar possíveis biomarcadores poderão ser de extrema importância para avaliar a progressão da doença, e observar como serão as respostas referente à terapia farmacológica.
Patogenia da doença de Alzheimer Essa neuropatia corresponde ao acúmulo de proteínas beta amilóides e emaranhados de proteínas tau hiperfosforilados ocasionando edema e distrofia dos microtúbulos e a consequente morte celular. No alzheimer, a liberação do peptídeo betaamilóide ocorre a partir da atividade das enzimas beta-secretase e gama-secretase, levando a agregação e deposição desse peptídeo no córtex cerebral podendo, dessa forma, interferir nas sinapses. Nós emaranhados neurofibrilares são lesões intraneurais compostas por elementos do citoesqueleto anormais, sendo o seu componente principal a proteína tau. Atualmente a doença de Alzheimer é responsável por 60 a 80% dos casos de demência. Sabemos que a demência também pode ser causada por problemas vasculares ou anatômicos. Antes do aparecimento dos primeiros sintomas da doença acontece o acúmulo de placas amilóides protéicas e oligômeros tau.
Em circunstâncias normais, proteínas danificadas são eliminadas do cérebro, durante seu metabolismo normal. Contudo, o estresse oxidativo, a inflamação e alterações genéticas podem dificultar o processo, gerando apoptose e morte neuronal.
Fonte: Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas. Doença de AlzheimerMinistério da saúde.
DIAGNÓSTICO O diagnóstico definitivo de Alzheimer requer o diagnóstico clínico e detecção 'post mortem'. Para avaliar, é preciso levar em consideração critérios clínicos, como a história médica do paciente, testes laboratoriais, de imagem e avaliação neuropsicológica. Figura 3
PRIMEIROS SINTOMAS
A perda de neurônios, a terceira principal característica do Alzheimer, além do acúmulo de beta-amiloide e de tau, leva o cérebro a encolher, literalmente, em algumas áreas. A primeira região afetada é o hipocampo, responsável pela memória e o aprendizado. Nossas lembranças mais importantes são consolidadas em outra parte do cérebro, e não são implicadas tão cedo. Mas a formação de novas memórias é comprometida
Alguns sinais de alerta: •Problema de memória que chega a afetar as atividades e o trabalho; •Dificuldade para realizar tarefas habituais Dificuldade para se comunicar; • Desorientação no tempo e no espaço; •Diminuição da capacidade de juízo e de crítica; •Dificuldade de raciocínio Colocar coisas no lugar errado, muito frequentemente; •Alterações frequentes do humor e do comportamento; • Mudanças na personalidade; •Perda de iniciativa para fazer as coisas.
Os sinais de Alzheimer podem também variar de acordo com a doença que a pessoa se encontra: A doença de Alzheimer costuma evoluir para vários estágios de forma lenta e inexorável, ou seja, não há o que possa ser feito para barrar o avanço da doença. A partir do diagnóstico, a sobrevida média das pessoas acometidas por Alzheimer oscila entre 8 e 10 anos. O quadro clínico costuma ser dividido em quatro estágios: •Estágio 1 (forma inicial): alterações na memória, na personalidade e nas habilidades visuais e espaciais. •Estágio 2 (forma moderada): dificuldade para falar, realizar tarefas simples e coordenar movimentos. Agitação e insônia. •Estágio 3 (forma grave): resistência à execução de tarefas diárias. Incontinência urinária e fecal. Dificuldade para comer. Deficiência motora progressiva. •Estágio 4 (terminal): restrição ao leito. Mutismo. Dor à deglutição. Infecções intercorrentes. Desta forma é muito importante que pessoas com Alzheimer tenham cuidadores, que as incentivem a colaborar com tarefas diárias, como familiares que podem acompanhar e ajudar a pessoa. E também, profissionais da saúde para acompanhar o caso.
Atividades como ler e fazer palavras cruzadas, podem exercitar o cérebro, ajudando a retardar o avanço da doença. Outro importante hábito são os exercícios físicos, (como fisioterapia, pilates e caminhada), pois são benéficos e existem estudos clínicos que indicam a diminuição do ritmo de declínio das capacidades em médio e longo prazo. Praticar atividades lúdicas, cozinhar e participar de grupos de discussões, também podem ser muito importantes para a pessoa, principalmente nos estágios iniciais.
“Tudo isso tem o potencial de aumentar a ‘reserva cognitiva’ das áreas cerebrais ainda não afetadas, ainda que se trate de uma doença degenerativa. Ou seja, mesmo sabendo que haverá deterioração, a estratégia é reduzir a velocidade do declínio”, explica a médica. Dra. Maramélia Para Drauzio Varella.
Aspectos clínicos: Os aspectos clínicos da doença de Alzheimer refletem um envolvimento relativamente seletivo das regiões parietal, temporal medial, convexidade frontal e basal da parte anterior do cérebro encontrados em autópsias. As alterações neuropatológicas características da doença de Alzheimer incluem a perda neuronal, glicose, abundância de placas "senis", emaranhados neurofibrilares e degeneração granulovacuolar (SERENIKI, 2008). Um dos principais achado histopatológicos da DA são as perdas neuronais, presença de placas neuríticas (constituídas por depósitos extracelulares de proteínas beta-amilóide), e emaranhados neurofibrilares intraneuronais (compostos por filamentos de uma forma fosforilada da proteína tau). Sendo assim, existem alguns marcadores fisiopatológicos que contemplam uma importância relevante para o desenvolvimento da DA. Entretanto são crescentes os indícios de outros mecanismos relevantes, que incluem o estresse oxidativo, a neuroinflamação e a disfunção mitocondrial (UNESC, 2011). Um dos fatores ditos como predisponentes para o desenvolvimento da doença é a existência de um tipo específico de apolipoproteina E (ApoE), que é a principal apolipoproteina carregadora de colesterol para o cérebro.
A base anatômica da deficiência colinérgica é a atrofia e a degeneração dos neurônios colinérgicos subcorticais que fornecem inervação colinérgica para todo o córtex cerebral. Este neurotransmissor é especialmente importante, pois é o maior responsável pela formação da memória e do aprendizado. Além disso, nesta patologia há destruição não apenas dos neurônios colinérgicos, mas também das células corticais e hipocampais que recebem estímulos colinérgicos. Entretanto, a DA promove a degeneração de vários outros sistemas de neurotransmissores, como serotonina, glutamato e neuropeptídeos (UNESC, 2011). Figura 4: Esquema da atrofia cerebral aliada à presença de placas neuríticas.
Fonte: Alzheimer’s Disease Research, acesso em 01/06/2011.
BIOMARCADORES
Biomarcadores ou marcadores biológicos são fatores analisados para que se possa perceber experimentalmente e indicar a ocorrência de uma função específica para entender se esse organismo analisado está normal ou se sofre de alguma patologia, de acordo com esses biomarcadores é que será possível fazer uma análise. E também a resposta do organismo diante de um agente farmacológico. Biomarcadores podem ser de vários tipos, como fisiológicos (avaliam as funções dos órgãos), físicos (avaliam alterações características em estruturas biológicas), histológicos (avaliam amostras de tecido obtidas por biópsia), anatômicos (através da anatomia), e bioquímicos (obtidos a partir de fluidos corporais e que estão ao dispor dos investigadores).
MARCADORES HISTOLÓGICOS DA DOENÇA DE ALZHEIMER:
Um marcador histológico é a placa amilóide. Existem várias formas de placas, sendo as 2 mais importantes a placa difusa e a placa neurítica. As placas difusas são depósitos extracelulares de peptídeo beta-amiloide que não incluem nenhum elemento neural degenerativo. As placas neuríticas são estruturas extracelulares contendo um core constituído por peptídeo beta-amiloide e circundadas por processos dendríticos e axonais degenerados, como mostrado na figura abaixo.
Figura 5
As placas neuríticas são estruturas extracelulares contendo um core constituído por peptídeo beta-amiloide e circundadas por processos dendríticos e axonais degenerados.
Os emaranhados neurofibrilares são encontrados dentro dos neurônios e são constituídos por uma proteína conhecida como proteína tau microtúbulo-associada (MAPT). A proteína tau é a molécula mais importante presente nos emaranhados neurofibrilares. Esta proteína geralmente está envolvida na estabilização de elementos do citoesqueleto dentro dos neurônios (isto é, microtúbulos). Na DA, a tau está excessivamente fosforilada e agregada. A tau hiperfosforilada promove rompimento dos microtúbulos. Os emaranhados neurofibrilares podem ser observados no córtex entorrinal e no hipocampo de idosos sem demência. Entretanto, quando os emaranhados neurofibrilares são encontrados em números maiores no neocórtex dos lobos temporal e parietal, o indivíduo quase invariavelmente tem demência de DA.
O substrato neuropatológico da doença de Alzheimer é a presença de placas amiloides e emaranhados neurofibrilares, bem como as perdas sinápticas, degeneração neuronal (apoptose), infiltrado inflamatório e angiopatia amiloide. As placas senis são depósitos extracelulares esféricos de agregados insolúveis da proteína beta-amiloide, localizadas, inicialmente, no sistema límbico (hipocampo, córtex entorrinal, amígdala e em algumas áreas corticais e subcorticais).
Os emaranhados neurofibrilares são agregados intracitoplasmáticos de filamentos helicoidais pareados, compostos pela proteína Tau hiperfosforilada. As placas senis são derivadas de peptídeos A-beta (beta-amiloides) formados a partir da clivagem da proteína precursora amiloide (APP) pela enzima alfa-secretase seguida da gama-secretase (via amiloidogênica), gerando fragmentos peptídicos com alto potencial tóxico, pois podem se agregar, levando à formação de placas amiloides insolúveis. Na doença de Alzheimer, a Abeta40 (ou seja, o peptídeo beta-amiloide de 40 aminoácidos de extensão) é produzida em pequenas quantidades, enquanto há uma superprodução de A-beta42, que é mais tóxico que A-beta40, pois seu potencial de agregação é superior. A proteína Tau é responsável pela estabilidade e o funcionamento adequado do sistema microtubular intraneuronal. Figura 7
Fonte: imagem da internet
A hipótese amiloide propõe que a doença de Alzheimer seja deflagrada por excesso de produção, deposição e agregação da proteína beta-amiloide40/42, levando à disfunção neuronal, oxidação, excitotoxicidade e neuroinflamação, responsáveis pela apoptose. O resultado final, decorrido da morte neuronal, é o déficit na neurotransmissão colinérgica, serotoninérgica, dopaminérgica e noradrenérgica, com predomínio da disfunção colinérgica.5 A hipótese da cascata amiloide é a mais aceita, porém não se pode subestimar a importância da hiperfosforilação da proteína Tau. Os emaranhados neurofibrilares são descritos, também, na demência frontotemporal, degeneração corticobasal, paralisia supranuclear progressiva e em idosos normais. Na doença de Alzheimer, são diretamente proporcionais à gravidade da demência.5 A disfunção de estruturas neurovasculares, processos inflamatórios, estresse oxidativo e disfunção mitocondrial também são também alterações conhecidas. Marcadores bioquímicos Moléculas relacionadas à inflamação e ao metabolismo neuronal na DA têm sido extensivamente consideradas no sentido de evidenciar os mecanismos de degeneração neuronal e a sua relação com o declínio cognitivo de maneira temporal.
Biomarcadores no líquido cefalorraquidiano (LCR) A importante característica patológica da DA - o acúmulo de Abeta42 -, pode ser iniciada não apenas pela produção excessiva deste peptídeo, mas também ser inicialmente causada por defeitos em mecanismos fisiológicos de limpeza (clearance) ou drenagem destes peptídeos do cérebro. A limpeza e drenagem fisiológica destes peptídeos é feita por micróglia, astrócitos e macrófagos, que fagocitam os peptídeos e drenam para os espaços perivasculares. Pacientes com DA possuem uma fagocitose deficiente em relação a indivíduos idosos não dementes, consequentemente uma limpeza pior de A-beta42. Pacientes com DA exibem menores níveis de A-beta42 no LCR e isto parece ocorrer devido à deposição de moléculas nas placas amiloides ou também pode ser correlacionado com uma limpeza deficiente de A-beta42 do parênquima cerebral destes pacientes. Há indícios de que idade e níveis de expressão de Abeta42 no LCR correlacionam-se inversamente em indivíduos positivos para o alelo ε42 da Apolipoproteína E (ApoE), ou seja, quanto maior a idade do paciente menores os níveis de Abeta42 no líquor. Novamente, isto pode ser devido à piora do processo de fagocitose que acontece com a idade, sendo que a ApoE também participa do processo de limpeza de A-beta42.
Fagan e colaboradores em 2010, mostraram que são expressos níveis médios de A-beta42 no LCR em pacientes com DA leve e níveis ainda menores em pacientes com DA muito leve (clinical dementia rating-CDR de 0,5 e 1,0, respectivamente). Eles concluíram que este biomarcador está presente em ambos os pacientes com DA de sintomatologia leve e avançada, e que a relação Tau/A-beta42 no LCR poderia prever o desenvolvimento da doença no futuro em adultos normais. Mattsson et al.11 avaliaram a acurácia de A-beta42, p-Tau (proteína Tau fosforilada) e t-Tau (proteína Tau total) no LCR na prevenção do desenvolvimento de DA em pacientes com MCI. Os pacientes com MCI que desenvolveram DA apresentavam menores índices de A-beta42 e maiores níveis de p-Tau e t-Tau que os pacientes com MCI que não desenvolveram DA. O valor preditivo positivo utilizando-se estes fatores analisados em conjunto foi de 62%, enquanto o valor preditivo negativo foi de 88%. Esse estudo multicêntrico mostrou que A-beta42, p-Tau e t-Tau são fatores que apresentam boa acurácia na predição de desenvolvimento de DA em pacientes com MCI. Figura 8: FORMAÇÃO DO LRC
Marcadores inflamatórios
Proteínas inflamatórias podem ser alvo para o diagnóstico de DA ou alvos terapêuticos? Isso depende da magnitude da morte neuronal e do declínio cognitivo ocorridos devido ao processo inflamatório, sendo que concentrações aumentadas de fator de necrose tumoral TNF-alfa estão associadas com o aumento da mortalidade. Holmes et al. sugerem que o aumento de TNF-alfa periférico pode ser um fator de risco para a DA, além de estar relacionado com a progressão da doença. A produção sistêmica de TNF-alfa, ligada à inflamação aguda e crônica, parece estar associada com declínio cognitivo em pacientes com DA leve e grave. Menores concentrações de TNF- lfa parecem estar correlacionadas a menores mudanças na Alzheimer's Disease Assessment Scale (Adas-COG) - escala de avaliação da doença -, e um aumento na linha de base está associado ao aumento de quatro vezes do declínio cognitivo. No contexto inflamatório, CXCR218 e MIP-1-alfa foram encontrados super expressos em células T periféricas de pacientes com DA e podem influenciar a permeabilidade da barreira hematoencefálica (BHE) para essas células. O receptor de quimiocina CCR5 também foi encontrado suprarregulado pela A-beta em células endoteliais e parece promover a migração transendotelial de células T.
Marcadores gerais A glicoproteína Dickkopf homolog 3 (Dkk-3) foi encontrada em altas concentrações no LCR de pacientes com DA, comparado com indivíduos com MCI e controle. A hemeoxigenase 1 é outra proteína encontra da alterada, superexpressa, correlacionada com as concentrações de colesterol em tecido cerebral de pacientes com DA e MCI. Uma correlação negativa fraca foi encontrada entre altas concentrações de colesterol total e menores notas no Meem. No plasma e nas células mononucleares de sangue periférico, maiores concentrações de lipídeos neutros e proteína ACAT-1 (modula formação de A-beta) foram encontradas em pacientes com DA e parentes de primeiro grau com alto risco de desenvolver DA. Uma variedade de marcadores no plasma tem sido avaliada por meio de estudos de proteômica. Alguns desses marcadores incluem a proteínas Tau, alfa-1-antitripsina, galectina-7, apolipoproteínas e outras, que são reguladas de forma alterada na DA.
Marcadores genéticos O único gene bem conhecido relacionado com a DA é o alelo APO ε4. Carreadores deste alelo parecem ter uma menor concentração média de A-beta42 no líquor do que não carreadores em grupos-controle. Na forma usual da doença, cujo início se dá após os sessenta anos, a importância dos fatores genéticos é menor e está relacionada ao gene codificador da apolipoproteína E, localizada no cromossomo esse gene é composto por três alelos comuns (ε2, ε3 e ε4). A presença do alelo ε4 do gene da ApoE aumenta o risco das formas tardias ou esporádicas da DA, de modo dosedependente. A presença de um alelo ε4 aumenta o risco em 3 a 4 vezes, enquanto o genótipo ε4/ε4 está associado a um risco quinze vezes maior. Estima-se que 50% dos pacientes portadores da doença de Alzheimer não apresentam este genótipo. Além disso, cerca de 14% das pessoas apresentam o alelo ε4 e, provavelmente, mais de 50% poderá envelhecer sem a doença. Outros polimorfismos associados com o risco de DA têm sido reportados recentemente, como o gene para a interleucina 33 (IL-33). Polimorfismos deste gene estão associados com menor angiopatia amiloide cerebral ou menor risco para DA em não carreadores do alelo ε4. Outros genes relacionados com o desenvolvimento da DA são os que codificam a presenilina-1 (PS-1), presenilina-2 (PS-2) e a proteína precursora amiloide (amyloid precursor protein - APP). Mutações dominantes destes genes estão presentes na maioria dos casos de DA familiar de início precoce, mas correspondem a menos de 1% de todos os casos da DA.
Redes neurais He et al. revisaram várias pesquisas baseadas nas evidências de que conectividade neuronal entre áreas cerebrais na DA dão origem à "noção da DA como uma síndrome de desconexão". Essa abordagem utiliza ferramentas de imagem, neurofisiologia, simulação computacional e teoria de exposição gráfica para criar modelos de descrição de redes neurais, incluindo dados de eletroencefalograma (EEG), magnetoencefalografia (MEG), IRM funcional (IRMf), como os expostos previamente. O modelo de redes small-word (SW) é um método para descrever sistemas cerebrais complexos, de forma funcional e estrutural. Na DA, foram encontrados padrões anormais com perda de caracteres das redes SW, usados para explicar as alterações cognitivas funcionais. É necessária a avaliação da existência ou não de alterações em pacientes antes e após o desenvolvimento da DA, com a possibilidade de reconhecer um possível marcador ou uma predisposição.
TRATAMENTO Ao longo da evolução da doença de Alzheimer diferentes mecanismos de neurodegeneração atuam nas distintas regiões cerebrais. As neurais que compõem o sistema colinérgicos são a mais atingidas pela doença de Alzheimer, ocorrem alterações nas placas senis (ou neuríticas) e os emaranhados neurofibrilares, resultando na redução colinérgica central, principalmente em áreas límbicas e temporoparietais.
O tratamento da doença de Alzheimer pode ser feito por meio do uso de fármacos e intervenções psicossociais para o paciente e seus familiares. O tratamento farmacológico é usado com o objetivo de reverter processos patofisiológicos que levam a morte neuronal e a demência, visam retardar o início da demência ou prevenir o seu avanço, restaurar parcialmente as capacidades cognitivas e as habilidades funcionais comprometidas.
O tratamento farmacológico tem evoluído a cada dia com a descoberta de novos fármacos que prometem preservar ou restabelecer a cognição e habilidades e comportamentos do paciente com demência. Entretanto, ainda não se tem a cura para a doença de Alzheimer, todas esses fármacos disponíveis no mercado para o tratamento da doença limitam-se ao retardo na evolução da doença, promovendo aos pacientes apenas uma melhora temporária do seu estado clínico. As principais drogas licenciadas usadas no tratamento da Alzheimer são os inibidores das colinesterases (I-ChE). São usados visando aumentar a disponibilidade sináptica de acetilcolina, por meio da inibição das suas principais enzimas catalíticas, a acetil e a butirilcolinesterase. Os inibidores mais usados são a Tacrina, Galantamina e Donepezil são inibidores reversíveis da acetilcolinesterase, respectivamente de duração curta, intermediária e longa, possuem efeito sintomático discreto sobre a cognição, algumas vezes beneficiando também certas alterações nãocognitivas da demência. As respostas aos inibidores é diferente para cada paciente, alguns apresentam melhoras significativas entanto outros nem tanto. De acordo com estudos essa melhoria no quadro clinico são evidentes a partir de 12 a 18 semanas, e desaparecem após seis a oito semanas após a interrupção do tratamento.
Além do tratamento farmacológico, é recomendado também que o idoso receba tratamentos não farmacológicos. A doença de Alzheimer gera alterações de humor, dificuldade no desempenho das atividades diárias, perda de autonomia e independência, métodos voltados para minimizar essas alterações tornam-se necessárias para uma boa qualidade de vida tanto do idoso quanto de sua família e cuidadores. A estimulação constante do idoso por meio de atividades físicas e mentais, participação em atividades sociais com outras pessoas, exercícios de memória são estratégias relevantes para o tratamento do Alzheimer. Antioxidantes também entram como tratamentos. A vitamina E, também conhecida como alfa-tocoferol, é um antioxidante que tem sido usado para tratar os sintomas cognitivos da DA. Sua aplicação nessa doença baseia-se principalmente em um estudo realizado em 1997, que mostrou que altas doses desse composto em poucos meses podem retardar a capacidade de realizar atividades diárias. No entanto, nos anos seguintes a este estudo, recentemente, em 2014, um estudo mostrou que indivíduos com DA leve a moderada tiveram uma redução de 19% na taxa de declínio funcional no recebimento de altas doses de vitamina E.
REFERÊNCIAS:
https://www.medicinanet.com.br/conteudos/acpmedicine/5726/doenca_de_alzheimer_e_outras_demencias_s ignificativas.htm https://www.corporate.roche.pt/pt/inovacao-edesenvolvimento0/ensaios-clinicos/ensaios-clinicos-paraprofissionais-de-saude/o-que-sao-biomarcadores-.html http://ggaging.com/details/191/pt-BR https://portalarquivos2.saude.gov.br , acessado no dia 12/10/2021 às 18:00h. http://assinantes.medicinanet.com.br/m/conteudos/revisoes/5 934/demencia_de_alzheimer_vascular_e_mista.htm SERENIKI, Adriana; APARECIDA, Maria; FRAZÃO, Barbato; et al. A doença de Alzheimer: aspectos fisiopatológicos e farmacológicos Alzheimer’s disease: pathophysiological and pharmacological features. [s.l.: s.n., s.d.]. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/rprs/a/LNQzKPVKxLSsjbTnBCps4XM/? format=pdf&lang=pt>. UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE -UNESC CURSO DE GRADUAÇÃO EM FARMÁCIA FRANCIELLE MOLARI ALZHEIMER: EVIDÊNCIAS FISIOPATOLÓGICAS, DIAGNÓSTICO E TERAPIA. [s.l.: s.n., s.d.]. Disponível em: <http://repositorio.unesc.net/bitstream/1/627/1/Francielle%20 Molari.pdf>.
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