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Uma publicação do Pueri Domus Escolas Associadas • Ano 5 • nº 15 • Março / Abril / Maio

Onde está O FUTURO?

CINCO ESPECIALISTAS ANALISAM OS RUMOS DA EDUCAÇÃO NO BRASIL E APONTAM AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS PARA O SETOR

E mais! A DIVERSIDADE NA SALA DE AULA

EDUCAÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

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ricardo amorim: “brasil investe mais no ensino superior do que em educação básica”


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Acompanhamento pedagógico exclusivo e contínuo a partir da adoção do programa. • Tecnologia como aliada do trabalho docente. Material que ajuda a alinhar o projeto da escola, mas não enrijece o trabalho do professor. • Suporte total aos professores e alunos para enfrentar o ENEM e os Vestibulares. • Programa que proporciona a aplicação de conhecimentos aprendidos em contextos variados. Referências em grandes pesquisadores, cientistas e pensadores. • Oficinas temáticas e palestras abertas para professores e pais. MAR/ABR/MAI Programa exclusivo de formação docente.


Pode parecer redundância, mas sim: nós somos pela educação. A diferença é que vemos a educação como um processo. Que leva tempo. Que envolve a escola e seus profissionais, a família, a comunidade. Somos pela educação que traz a capacidade de inovar – e que começa por inovar-se sempre. Nós temos (e valorizamos) uma história de cinco décadas para atestar isso. Inovando, projetamos, construímos, empreendemos. Somos pela educação que acredita no rigor acadêmico. E quanto deve haver de criatividade nisso! Somos pela educação que entende que indivíduos se relacionam – e é da qualidade de seus relacionamentos que nasce a qualidade de sua educação. Somos pela educação conectada com a realidade, justamente porque é dessa conexão que nasce a capacidade de mudar, de tornar tangível o que antes era apenas sonho. Somos, acima de tudo, pela educação que acontece, que evolui da concepção para a ação. E educação só acontece quando a instituição é sustentável. É por isso que o nosso processo de educação começa por educar a instituição. É vital, para uma escola, ser capaz de sobreviver de forma saudável, sabendo valorizar seus profissionais, seus colaboradores, seus mantenedores. Uma escola privada é muito mais do que uma empresa. Mas é também uma empresa que precisa ser saudável para se desenvolver como escola. Pode parecer redundância. Mas nós somos pela educação. Por uma educação que seja transformadora para o aluno e sua família, estruturante para a instituição e relevante para a sociedade. Em suma, educação.

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Somos pela educação.

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sumário

10 CAPA

Um olhar para o futuro: especialistas analisam o cenário educacional e revelam tendências

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comportamento A diversidade dentro da escola

16 sala de aula

Educação baseada em evidências

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entrevista Ricardo Amorim

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Radar

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estudo de caso Externato São Judas

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gestão/marketing Endomarketing

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indicação de leitura

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Opinião José Pacheco

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história do mantenedor Colégio Farroupilha, Campinas (SP)

EXPEDIENTE A Super Escola é uma publicação do Pueri Domus Escolas Associadas. www.pdea.com.br

Conselho Editorial Altamar Roberto de Carvalho (Diretor Pedagógico) Carlos Eduardo Ferrari (Gerente de Marketing) Guilhermino Figueira Neto (Diretor-Geral) Maísa Dóris (Gerente Nacional de Comunicação Corporativa — Grupo SEB)

Coordenador-Geral: Carlos Eduardo Ferrari Projeto Editorial: Trama Comunicação Diretora de Redação: Leila Gasparindo MTb: 23.449 Editora-chefe: Helen Garcia MTb: 28.969 Editor: Adriano Zanni MTb: 34.799 Reportagens: Juliana Lanzuolo, Larissa Leiros Baroni e Simone Bernardes

Revisão: Márcia Menin Projeto Gráfico: Arthur Siqueira Design: Arthur Siqueira Produção Gráfica: André Vieira Fotolito e Impressão: EGM Gráfica e Editora LTDA. Tiragem: 20.000 Contatos: Publicidade: carlos.ferrari@pdea.com.br Redação: superescola@tramaweb.com.br

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editorial

Um ano de definições Até o fim de 2010, o Congresso terá pela frente uma nobre e desafiadora missão: em pleno ano eleitoral, precisará aprovar o novo Plano Nacional de Educação (PNE), que vigorará entre 2011 e 2020. As bases desse documento foram traçadas na última Conferência Nacional de Educação, ocorrida em março, em Brasília (DF), que reuniu gestores, representantes de movimentos acadêmicos e educadores. O PNE, como muitos sabem, orienta quais serão os investimentos e as prioridades do país na área para os próximos dez anos. Reflete, portanto, um olhar lançado em direção ao futuro. De modo geral, os educadores esperam que o novo plano seja mais enxuto do que o documento em vigor, formado por 295 metas, muitas das quais, diga-se de passagem, distantes de serem cumpridas. Mais importante que o tamanho do novo PNE será seu efeito perante o cenário. Para produzir mudanças na sociedade, o plano precisa ter indicadores claros, definir efetivamente vocações, assumir compromissos. Afinal, se somos pela educação, não basta apenas implementar quantitativamente o acesso da população aos bancos escolares. É fundamental angariar recursos e somar esforços para resolver equações que há tempos insistem em figurar nos livros de gestão das inúmeras esferas de governo, como a que expomos na entrevista com o economista Ricardo Amorim a essa publicação. Ele traça um comparativo entre o panorama educacional brasileiro e o norte-americano, considerando os investimentos em educação básica versus ensino superior. Fato é que, se desejamos uma sociedade melhor, povoada de pessoas solidárias, devemos dar o melhor de nós no desenvolvimento das crianças e dos jovens. A educação é um processo social e global. Ela não se resolve apenas com giz, papel e caneta. Precisa ser constantemente oxigenada, abrir-se para o novo, para o enfrentamento das diversidades a partir da própria pedagogia de sala de aula. Novos caminhos estão surgindo: a educação baseada em evidências é uma dessas correntes inovadoras. Mas é preciso cautela nas análises e adoções de métodos, assim como o engajamento de todos os entes nas mudanças que se propõem, incluindo a participação dos conselhos de classe e dos próprios pais de alunos. Só assim cumpriremos as diretrizes qualitativas de uma educação transformadora para o estudante e sua família, estruturante para a instituição e relevante para a sociedade. Guilhermino Figueira Neto Diretor-Geral do Pueri Domus Escolas Associadas


Entrevista

RICARDO AMORIM

Educação e economia: cada vez mais próximas Diferenças nos sistemas de ensino brasileiro e norte-americano contribuem para justificar as desigualdades econômicas existentes. Para o economista Ricardo Amorim, investe-se muito mais no ensino superior no Brasil do que em educação básica

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Por Larissa Leiros Baroni

rasil e Estados Unidos. De um lado, um país emergente que começa a se destacar entre as dez maiores economias do mundo. Do outro, aquele que trava uma verdadeira batalha pós-crise econômica para permanecer no topo do ranking e garantir o rótulo de maior potência mundial. Enquanto o Produto Interno Bruto de um é estimado em apenas US$ 2 trilhões, a fortuna do outro é sete vezes maior e atinge a casa dos US$ 14,2 trilhões. Mas as diferenças entre as duas nações não se limitam ao poderio econômico. O setor educacional também apresenta particularidades que, em uma análise mais aprofundada, podem justificar as desigualdades verificadas entre a realidade brasileira e a norte-americana.

Paulo Pampolin / Hype

Para destrinchar essa correlação entre educação e desenvolvimento econômico sustentável, a Super Escola entrevistou o economista e também apresentador do programa Manhattan Connection, da GNT, Ricardo Amorim. Além de traçar um comparativo entre o Brasil e os Estados Unidos, o economista aponta as principais deficiências do sistema educacional brasileiro e as medidas efetivas que devem ser tomadas para que o país possa assumir de vez o papel de protagonista, não apenas no cenário econômico. Super Escola – Quais as diferenças entre o sistema educacional brasileiro e o norte-americano, sobretudo no tocante à qualidade do ensino médio e ao acesso à universidade? Ricardo Amorim – A primeira diferença entre os dois ensinos é o foco, bem como a proporção de atenção e de gastos existentes entre a educação básica e a universitária. No Brasil, gasta-se muito mais dinheiro público no ensino superior do que no básico. SUPER ESCOLA 5


RICARDO AMORIM

Disparidade não só em relação aos Estados Unidos, mas a qualquer outro país desenvolvido. E quem está fora da curva mais uma vez somos nós. Além disso, o ensino médio norte-americano é mais próximo ao acesso universitário. Já o sistema de ensino da graduação é muito mais generalista do que o brasileiro. A especialização só é adquirida na pós, onde os estudantes vão se concentrar em um campo específico com mais profundidade do que aqui no Brasil. Super Escola – Essas diferenças explicam as disparidades econômicas entre os dois países? Por quê? Ricardo Amorim – Há, sim, uma relação direta. Mas, ainda que as diferenças educacionais expliquem as divergências econômicas e de renda, as disparidades da educação também são reflexo das desigualdades de renda. Como os Estados Unidos são um país rico, logo investem mais no ensino do que o Brasil. Quanto maior o investimento, melhor a qualidade de ensino, melhor a capacitação da mão de obra, maiores as possibilidades de desenvolvimento e, consequentemente, maior a geração de riquezas. Além desse ciclo vicioso, falta no Brasil melhor direcionamento de seus recursos, fator que influencia a baixa qualidade da educação brasileira, comprovada nos exames internacionais. Super Escola – Qual é o atual panorama do ensino brasileiro? Como ele pode explicar as deficiências da educação básica e superior no país?

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Ricardo Amorim – Um movimento de generalização do ensino no Brasil foi iniciado na época do governo Fernando Henrique, na gestão do ex-ministro Paulo Renato, e se estendeu ao mandato do Partido dos Trabalhadores (PT). O índice de acessibilidade ao sistema educacional brasileiro – nos ensinos fundamental, básico e superior – foi ampliado significativamente nesses últimos anos. A massificação, no entanto, piorou a qualidade. Espera-se que o país dê um segundo passo e invista na melhoria da estrutura e da formação docente, sobretudo na base do ensino. Isso não aconteceu até agora. Super Escola – De que forma o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) pode contribuir para atenuar as deficiências do sistema educacional brasileiro? Ricardo Amorim – O Enem é um termômetro. Termômetro não melhora a qualidade da saúde de ninguém, mas pode ser muito útil para diagnosticar a febre e contribuir para uma medicação correta. É um engano colossal acreditar que sozinho o exame possa resolver os problemas. Por outro lado, ele pode, sim, apontar onde estão as falhas. Com o diagnóstico correto, podem -se identificar as soluções necessárias. Super Escola – É possível que algumas nuances do sistema de ensino norte-americano sejam incorporadas à realidade brasileira? O que é preciso fazer para que isso se torne viável? Ricardo Amorim – Em curto prazo, duvido que haja possibilidades de incorporar o modelo

norte-americano ao do Brasil. Até porque as realidades dos dois países, tanto econômica como estrutural, são totalmente diferentes. Em vez de copiar, podemos, no entanto, aprender com as experiências dos Estados Unidos. A mudança deve começar pelo direcionamento dos investimentos. Hoje, os recursos da educação brasileira estão concentrados excessivamente no ensino superior. E o pior: o grosso dessa verba não está direcionado aos professores. Gasta-se muito com um funcionalismo totalmente inchado. Segundo estudos, cerca de 95% dos recursos das instituições públicas vão para pagamento de aposentadorias, dinheiro que poderia ser muito mais útil se estivesse empregado na educação básica. Super Escola – Sem a possibilidade de incorporar o modelo norte-americano no Brasil em curto prazo, quais são as medidas emergenciais que devem ser adotadas para que haja uma elevação no nível? Ricardo Amorim – Deve-se investir mais em educação básica. Até porque é preciso mudar a base para que de fato haja melhora na qualidade do sistema educacional brasileiro como um todo. É importante também remunerar bem os professores, recompensando aqueles que obtiverem melhores rendimentos dentro da sala de aula. Há iniciativas sendo implantadas nesse sentido, como observamos no Estado de São Paulo, onde os professores terão acesso a um plano de carreira e salários com base em princípios da chamada

Paulo Pampolin / Hype

Entrevista


meritocracia. É preciso investir no treinamento e na formação dos docentes e melhorar a infraestrutura das escolas e faculdades. Mesmo que não haja uma solução em curto prazo, essas ações já trariam um impacto importante para a educação do país.

o enem é um termômetro. termômetro não melhora a qualidade da saúde de ninguém

Super Escola – Mas, mesmo sem melhora substancial em curto prazo no sistema educacional, o Brasil conquistou lugar privilegiado na lista das dez maiores potências econômicas do mundo. Quais são os fatores que justificam esse crescimento? Ricardo Amorim – O Brasil foi favorecido por uma mudança da economia mundial que tem evidenciado a importância dos países emergentes. Situação similar também é vivenciada pela China e Índia. Não se sabe, no entanto, até quando o setor econômico vai continuar caminhando nessa direção. Pode até ser que perdure pelos próximos 15 ou 20 anos, tempo que, mesmo sem uma mudança educacional profunda, será suficiente para manter o país em um papel de destaque. Mas, se não aproveitarmos essas janelas de oportunidades para garantir sustentabilidade por meio da melhora do sistema de ensino, não teremos condições de manter esse crescimento quando a “maré de sorte” passar. É importante ressaltar que essa situação não vai durar para sempre. Super Escola – Qual é sua avaliação dos mandatos do governo Lula? As eleições presidenciais marcadas para 2010

podem trazer grandes mudanças para o sistema educacional e econômico do país? Ricardo Amorim – Enquanto o governo Fernando Henrique iniciou um processo de generalização da educação básica com a ampliação do número de crianças na escola, os mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva propiciaram maior acesso à universidade graças ao crescimento de renda da população e à expansão de créditos educacionais. O que vai acontecer, daqui para frente, é a manutenção dessas duas tendências. Gostaria, no entanto, de ver algo muito além. A verdadeira mudança está no investimento maciço na qualidade educacional. É importante que o próximo governo enxergue que a ineficiência da educação vai fazer com que o Brasil cresça menos no futuro próximo e, consequentemente, desenvolva menos riquezas e commodities do que estaria apto a produzir se tivesse um sistema de ensino melhor, fator que também justifica a má distribuição de renda. Para nos tornarmos verdadeiramente potência, temos de mudar culturas, investir em pesquisa e desenvolvimento dentro das universidades, fomentar a inovação, formar uma nova geração de empreendedores advinda dos bancos escolares. Só assim teremos tecnologia de ponta e diminuiremos o ritmo de importação de insumos, componentes básicos eletrônicos e outros suplementos indispensáveis para nossas indústrias, que sofrem consideravelmente com esse gargalo. SUPER ESCOLA 7


RADAR

Em declínio Os jovens estão deixando os blogs de lado e buscando ferramentas mais rápidas para se comunicar. É o que aponta um estudo feito pelo Pew Research Center, um dos principais centros de pesquisa de opinião pública dos Estados Unidos. Entre 2006 e 2008, o número de internautas norte-americanos de 12 a 17 anos que escrevem em blogs caiu de 28% para 14% e o de adolescentes que disseram ter feito comentários em blogs de amigos diminuiu de 76% para 52%.

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Disseminação do inglês Os governos do Brasil e dos Estados Unidos renovaram um acordo de cooperação na área de educação que pretende fortalecer o ensino da língua inglesa nas escolas brasileiras. O documento assinado pelo ministro da Educação, Fernando Haddad, e pelo vice-secretário de Educação dos Estados Unidos, Anthony Wilder Miller, trata ainda de parcerias no campo de educação profissional.

Espaço para leitura A Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania da Câmara dos Deputados aprovou por unanimidade a proposta da ex-deputada federal Esther Grossi (PT-RS) para que todas as escolas, públicas e privadas, tenham, obrigatoriamente, uma biblioteca. O projeto, anteriormente aprovado pela Comissão de Educação e Cultura, determina que cada biblioteca possua pelo menos quatro livros por aluno matriculado. Shutterstock

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O valor da atividade física Uma pesquisa publicada recentemente na revista especializada The Journal of Pediatrics, nos Estados Unidos, aponta que os alunos em boa forma tendem a apresentar melhores notas na escola. Uma equipe de especialistas comparou o peso, as medidas e os resultados de um teste físico com as notas de um exame escolar padrão, que incluía matemática, leitura e conhecimentos da língua, de quase 2 mil alunos do 5º ao 9º ano do Ensino Fundamental II. Os pesquisadores descobriram que 65% dos estudantes estavam abaixo do padrão físico da idade e do gênero. Comparados com esses alunos, aqueles que responderam ou superaram o padrão apresentaram melhores notas no exame escolar.


O melhor parceiro para sua escola!

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2010. Chegou sua vez de ir ao NR! Com 57 anos de experiência o NR tem sido um aliado de escolas em todo o Brasil que sabem da seriedade e competência de nosso trabalho e este tem sido um forte argumento para fidelizar seus alunos. Aproveite o momento para escolher a melhor data com as melhores condições para vir ao NR em 2010.

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cenário educacional 2010

De volta para o

futuro Especialistas de diversos setores avaliam a atual conjuntura do sistema educacional brasileiro e traçam perspectivas para 2010. Em um aspecto todos concordam: o país ainda precisa fazer a lição de casa com eficiência quando o assunto é educação básica e inclusiva Por Larissa Leiros Baroni

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mbora as reflexões do calendário pedagógico recaiam sobre o planejamento das atividades escolares para o segundo semestre, nunca é tarde para fazer uma série de reflexões a respeito daquilo que passou e, principalmente, sobre os desafios para os próximos períodos. Milhares de questões rondam a cabeça de gestores de ensino e educadores: será que houve mais oportunidades no setor? E o aproveitamento dos alunos e professores, tornou-se mais efetivo? Como inspirar novas mentalidades com vista à construção de uma realidade ainda melhor para os próximos anos? A Super Escola entrevistou expoentes das mais variadas áreas para aferir suas percepções em relação ao sis-

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tema educacional brasileiro, levantando os principais avanços e desafios em ano de eleição presidencial e fechamento de década. Confira os depoimentos da ambientalista e presidente do Instituto Chico Mendes, Elenira Mendes, do economista Gilson Schwartz, do empresário e presidente da Fundação Telefónica, Sérgio Ephim Mindlin, do educador e presidente do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade, Simon Schwartzman, e do comunicador Gilberto Dimenstein. Super Escola – Quais foram as principais conquistas do setor educacional em 2009? E, se expandirmos a avaliação para todo o período do governo Lula, quais foram os avanços e as falhas de sua gestão? Elenira Mendes – Foi possível identificar avanços bastante signifi-


cativos na educação, principalmente referentes à expansão do ensino rural no país – uma das grandes lutas levantadas por meu pai (Chico Mendes). Hoje, até mesmo os lugares mais distantes, desde o interior do sertão até os seringais, contam com ao menos uma escola. Em contrapartida, muito ainda precisa ser feito para suprir a deficiência no ensino médio das escolas rurais. Gilson Schwartz – Em 2009, o setor, tanto no Brasil como no mundo, ficou marcado por sua digitalização. A polêmica que o tema gerava até os últimos dois anos começou a ser desmistificada por meio de experiências e práticas bem-sucedidas. O desafio, agora, está na inclusão digital das escolas públicas brasileiras. Apesar de o assunto ser considerado prioridade pelo governo, muito pouco tem sido feito para expandir o acesso eletrônico no país. Faltam estratégias mais definidas para efetivar a inclusão no setor público. Sérgio Ephim Mindlin – Houve continuidade na política de inclusão no sistema de ensino brasileiro. No governo Lula, os avanços foram efetivos, porém não na velocidade esperada. Segundo o estudo do movimento Todos pela Educação, há mais brasileiros de 4 a 17 anos na escola. No entanto, o aprendizado deles ainda não está dentro do esperado. Há também mais jovens ingressando no ensino médio, mas apenas 44% deles conseguem obter o diploma até os 19 anos. Simon Schwartzman – Apesar da falta de novidades no setor, podemos destacar o desenvolvimento dos indicadores na educação básica. O projeto de formação de professores desenvolvido pela Capes (Coorde-

nação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), ainda que ambicioso, também merece ênfase, afinal visa suprir uma carência brasileira, fundamental para o desenvolvimento de todo um sistema. No ensino superior, há ainda o ProUni (Programa Universidade para Todos) e o projeto de criação de novas universidades federais. Em contrapartida, o ensino básico do país ainda continua muito ruim, com redução das matrículas nos últimos anos e baixos índices de qualidade. Gilberto Dimenstein – Entre os destaques do ano estão o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) como referência para o vestibular, a aprovação do projeto de compensação do governo condicionado à frequência nas escolas dos municípios brasileiros e a obrigatoriedade de ensino até 17 anos. Mesmo assim, as notas dos alunos do ensino básico ainda permanecem abaixo da média. Super Escola – De que maneira a expansão econômica do país, sua posição no cenário competitivo internacional e seu desenvolvimento sustentável têm contribuído para os rumos da educação? Esses fatores podem influenciar positivamente o cenário em 2010? Elenira – Ao mesmo tempo que o desenvolvimento sustentável impulsiona o sistema educacional de qualquer país, a educação também contribui para a expansão econômica de uma nação – seja ela de primeiro mundo ou subdesenvolvida. Ambos contribuem diretamente para o crescimento do Brasil, mas juntos podem trazer reflexos ainda mais duradouros e expressivos ao país. Schwartz – A atual situação

brasileira pode e deve ser considerada dramática. Isso porque o país, apesar da boa repercussão no cenário internacional e de sua visibilidade por ser sede de Jogos Olímpicos e Copa, não tem mão de obra qualificada para sustentar toda essa fama. O dinheiro está chegando, mas não há educação para utilizá-lo com um salto ao desenvolvimento. É preciso que o Brasil abandone o rótulo de país do futuro e assuma a responsabilidade de oferecer educação de qualidade. Mindlin – Os investimentos em educação não têm seguido o ritmo de expansão econômica do país. O percentual do PIB destinado ao setor ainda é baixo para conseguir um atendimento universal e com qualidade. Enquanto a publicação “Financiamento da Educação no Governo Lula” registra uma queda na porcentagem dedicada à educação no quadro de despesas do país (2,88%, em 2003; 2,67%, em 2004 e 2005; 2,44%, em 2006; e 2,87%, em 2007), a receita total da União aumentou 32,1%, chegando em 2007 a R$ 954,5 bilhões. Schwartzman – A expansão econômica do Brasil não tem contribuído muito para o desenvolvimento educacional no país. Pode-se perceber que não estamos acompanhando as tendências internacionais na área de ciência e tecnologia, tampouco na criação de uma educação básica de qualidade. O crescimento está única e exclusivamente concentrado na exportação, não na capacitação da população. Metodologia fadada ao fracasso. Dimenstein – A expansão econômica do Brasil contribui diretamente para o desenvolvimento do setor educacional. Isso porque há uma SUPER ESCOLA 11


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cenário educacional 2010

unanimidade em relação à percepção de que a educação é a base para a inovação e o desenvolvimento de uma nação sustentável. Além disso, diminui o índice de violência e aumenta a empregabilidade e a remuneração. Paralelamente a isso, cresce a pressão dos pais, dos empresários e da mídia para a ampliação do setor. Super Escola – Como a eleição presidencial de 2010 poderá influenciar o desenvolvimento da educação no Brasil? As influências serão positivas ou negativas? Por quê? Elenira – O debate político levantado a partir da candidatura da senadora Marina Silva (PV-AC) será positivo para elevar o nível de discussões sobre a educação ambiental no país. Ainda que as discussões sobre as eleições possam retardar um pouco o desenvolvimento do Brasil, deverão trazer grandes ganhos para o futuro. Schwartz – Até agora, todos os governos (não somente o petista) têm concentrado suas discussões no Brasil produtor de petróleo e biodiesel. Ou seja, a saída para o desenvolvimento está limitada exclusivamente às fontes de riqueza natural. Grande equívoco. Mindlin – A eleição presidencial é uma boa oportunidade para ampliar a discussão com toda a sociedade civil a respeito da importância da educação para o crescimento de um país que pretende ocupar lugar de destaque no cenário internacional e alavancar o desenvolvimento social. Schwartzman – Não vejo uma relação direta entre eleições e desenvolvimento do setor educacional. Ainda que a educação seja reconhecida como um ponto importante

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para a expansão de qualquer país, são poucas as discussões públicas sobre a questão realizadas nessa época. E, quando colocadas em pauta, abordam temas de maneira superficial. Dimenstein – Há alguns anos a educação não fazia parte dos debates políticos. Mas aos poucos esse cenário foi se modificando e o tema foi ganhando espaços cada vez mais significativos na pauta. Acredito que, em 2010, não será diferente, e assuntos como o rendimento dos alunos do ensino básico serão abordados pelos futuros candidatos. Não há divergência no que é preciso fazer para o desenvolvimento do setor, tampouco sobre sua importância para o crescimento do país. Portanto, nos discursos, ao menos, a educação está garantida. Super Escola – Como avalia o volume de investimentos em infraestrutura no país? Houve crescimento? Foram significativos para avanços? Por quê? De que maneira influenciou o setor educacional? Elenira – Não há como negar que o volume de investimentos em infraestrutura tem crescido bastante nos últimos anos. Os recursos, impulsionados principalmente pela expansão econômica do Brasil, têm contribuído para o desenvolvimento de cidades jamais imaginadas, algumas até excluídas do mapa. E, como infraestrutura também inclui educação, a verba, direta e indiretamente, se destina à criação de escolas e à expansão do ensino. Schwartz – Cresce aquém do que se planeja. O governo demonstra dificuldades em fazer o PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) decolar. Suas metas estão muito

aquém do planejamento e seus resultados ainda não conseguiram ser quantificados. Há recursos, mas não se sabe como direcioná-los para alcançar a realidade brasileira. A teoria é válida tanto para a educação como para a infraestrutura. Mindlin – Uma das preocupações do setor educacional, em termos de infraestrutura, é fazer chegar às escolas o acesso à internet, com velocidade que permita aos usuários acessar os conteúdos disponibilizados pela rede. Nesse sentido, os investimentos em banda larga poderão proporcionar aos educadores a incorporação das tecnologias de informação e comunicação no processo de ensino e aprendizagem, tornando-o mais atrativo, mais motivador e com melhores resultados para os alunos. Schwartzman – A impressão é que os investimentos em infraestrutura são pequenos. Além de ter demorado a sair, o PAC ainda anda muito lento. Os níveis de investimento em educação seguem os mesmos passos e continuam estabilizados. Com a limitação dos recursos públicos e com a expansão do setor privado, é preciso usufruir essa potencialidade para desenvolver o sistema educacional brasileiro. O ProUni é um bom exemplo nesse sentido. Dimenstein – O aumento foi mais significativo no ensino médio técnico, nas instituições federais de ensino superior e na educação a distância. Os recursos, no entanto, foram mais significativos no setor privado, que foi impulsionado pelos processos de avaliação institucional do governo federal. Não se pode negar que o volume ainda é pequeno.


Não se comparado à realidade de outro país, mas se considerado o tamanho de nossa juventude. Super Escola – Em sua opinião, quais os principais desafios que o setor deve encarar em 2010? O Brasil está preparado para enfrentar essa agenda de desafios? Quais são as soluções básicas que propõe? Elenira – O principal desafio está na garantia da qualidade do ensino básico, bem como na expansão do ensino médio. O Brasil tem capacidade, sim, para atingir essas metas essenciais. Basta, no entanto, que a prioridade – muitas vezes enfatizada nos discursos – faça parte da realidade política. É preciso usufruir a infraestrutura brasileira a favor da educação, começando principalmente pela qualificação de professores de todos os níveis escolares. Schwartz – Em 2010, será o momento de pensar e refletir sobre os novos rumos do país. Será possível comprovar se os candidatos ao cargo presidencial vão priorizar a educação como fonte de desenvolvimento. Até porque, por enquanto, só se fala de pré-sal. Mindlin – Os mesmos desafios se mantêm já há bastante tempo. Em 2010, não será diferente. É preciso que se criem políticas que diminuam o atraso escolar, ampliem o atendimento e combatam a evasão, tanto no ensino fundamental como no médio. Com conquistas quantitativas do ponto de vista do acesso das crianças à escola, a melhoria da qualidade do ensino passa a ser um desafio premente e que requer forte investimento na formação e qualificação de professores.

Schwartzman – Os desafios para 2010 serão os mesmos impostos em 2009. A educação básica brasileira precisa de uma reformulação que priorize a qualidade do sistema de ensino, processo que depende de uma ampla parceria entre estados, municípios e governo federal. Nada disso, no entanto, será resolvido em curto prazo. É preciso, porém, ter pesquisas, projetos e experimentos para aos poucos colher resultados. Dimenstein – O principal desafio é fazer as crianças aprenderem a ler e a escrever, assim como atrair os melhores talentos para a própria academia. Isso porque a definição de uma escola se resume à figura do professor. O Brasil tem, sim, condições para enfrentar esses desafios. Algumas ações isoladas já começam a se destacar em algumas cidades do país. Um caminho nessa direção é a gestão integrada à comunidade e à escola. Super Escola – No próximo ano, chega ao fim o prazo das metas do Plano Nacional de Educação, proposto em 2000. Acredita que o Brasil será capaz de cumprir suas metas ou, pelo menos, a maioria delas? Quais deveriam ser as metas prioritárias para a próxima década? Elenira – As metas, em geral, funcionam como um planejamento estratégico. O momento é de reavaliar o que foi ou não executado e qualificar todas as ações. Assim, será possível estabelecer para a próxima década metas mais palpáveis. É preciso estabelecer prioridades, já que as deficiências são imensas. E essa relação não pode excluir a qualidade da educação no Brasil.

Schwartz – Sou bastante cauteloso em relação às metas; portanto, prefiro aguardar os resultados para emitir qualquer parecer. Os indícios, porém, demonstram que os esforços não foram direcionados com clareza a seus respectivos objetivos. Para a próxima década, é preciso incluir o desenvolvimento digital da educação brasileira na meta governamental. Mindlin – O movimento Todos pela Educação estipulou cinco metas a serem atingidas até 2022 que, acredito, poderão recuperar o atraso histórico do setor: toda criança e jovem de 4 a 17 anos na escola; toda criança plenamente alfabetizada até os 8 anos; todo aluno com aprendizagem adequada a sua série; todo aluno com ensino médio concluído até os 19 anos; e investimento em educação ampliado e bem gerido. Schwartzman – Esse documento é bastante fictício. Não precisamos apenas de metas quantitativas, mas sim de projetos que viabilizem a qualidade da educação e a formação acadêmica. A educação pré-escolar, a base para o desenvolvimento de todo um sistema, também precisa entrar na agenda de discussões. Dimenstein – Não estou acompanhando todas as metas, mas posso garantir que a maioria delas ainda está muito longe de ser atingida. Ainda que o número de matrículas no ensino superior tenha se expandido, essa ampliação não atingiu o esperado. O mesmo se repetiu no ensino médio, mas em menor proporção. Para a próxima década, as políticas deveriam se concentrar na aprendizagem adequada para as crianças, ou seja, que elas possam concluir o ensino no tempo certo, dominando a leitura e códigos contemporâneos. SUPER ESCOLA 13


estudo de caso

Externato São Judas

Isso é coisa do passado. Será? Projeto resgata os acontecimentos marcantes do século XX e instiga os alunos a compreender melhor os desdobramentos desses fatos

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oda vez que se fala, em sala de aula, a respeito do século passado, tem-se a ideia de um período longínquo da história, dos tempos de nossos bisavós. No entanto, a proximidade com o período é bem maior que a correlação, quase imediata, traçada por nosso cérebro. Para atenuar essa ligeira distorção – se é que podemos classificar dessa forma –, um colégio localizado na capital paulista inovou. Os principais fatos do século XX, que vai de 1901 ao ano 2000, como a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais, ficarão para sempre na memória de 30 alunos

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do 9º ano do Ensino Fundamental II do Externato São Judas. Como em uma viagem pelo túnel do tempo, os estudantes foram convidados a experimentar os sentimentos de quem participou, direta e indiretamente, desses conflitos por meio do projeto “Diários”, criado pelo professor de História Alexandre da Costa. Ao longo de quase três meses, os alunos, divididos em grupos, receberam a missão de se transportar para as décadas de 1930 e 1940 e, por meio de pesquisas e conteúdos desenvolvidos em sala, descrever seus olhares para o contexto do conflito, do ponto de vis-

Fundado em 1969 com um pequeno grupo de crianças na Educação Infantil, está localizado no Parque Novo Mundo, em São Paulo (SP). Site: www.esj.com.br

ta de um personagem alemão e seus relatos em um diário. “Pensei estar vivendo naquele período, sentindo as emoções, tristezas e alegrias daqueles que estiveram ligados ao período de guerras”, conta Natália Torres dos Santos, 15 anos, que criou, com os demais colegas, a personagem


Hana, enfermeira alemã que deixa o filho para ajudar as equipes de salvamento das vítimas dos conflitos bélicos. Vinícius Santiago Mota, 15 anos, também terminou o trabalho com a sensação de ter vivido uma experiência única ao contar as histórias da personagem Olga, médica que se dedicou aos cuidados dos feridos na Segunda Guerra Mundial e perdeu muitos de seus entes queridos. “O projeto como um todo nos estimulou a estudar ainda mais a história desses grandes conflitos e a entender por que eles aconteceram e seus desdobramentos na sociedade atual”, comenta.

Diários, como o escrito pela aluna Natália Torres, trouxeram à tona relatos de personagens fictícios que teriam vivido as consequências da Primeira e Segunda Guerras Mundiais

Fotos: Divulgação

De acordo com o docente Alexandre da Costa, os resultados da iniciativa mostram que os alunos abraçaram a proposta, assimilando os processos históricos trazidos pelos conflitos por meio de um trabalho lúdico. “É um desafio fazer com que o estudo da história não fique preso ao passado. Além de aproximar a disciplina de suas realidades, a atividade faz com que os alunos reflitam sobre as marcas e legados que cada cidadão deixa para seus descendentes, bem como que aquilo que faz parte do cotidiano de nosso país e do mundo na atualidade é puro reflexo do passado”, complementa. E foi esse desafio que estimulou a criatividade de Renata Barandas Mendes, 15 anos, ao criar a personagem Cristine, uma jovem que conta suas experiências

ao ver seu pai e seus irmãos a deixarem para viver nos campos de batalha. “Foi um desafio poder reviver os sentimentos das pessoas que passaram pelo conflito e entender de que forma isso se refletiu na vida delas. Antes, eu não tinha essa dimensão”, diz. Além da imaginação O universo dos personagens se fez tão real nos diários produzidos pelos alunos que é quase possível dar vida a cada um deles à medida que se leem as histórias. Para imprimir um caráter ainda mais realístico a cada relato, os estudantes trabalharam com pesquisas aprofundadas sobre a Alemanha daqueles tempos de modo a inserir nas páginas dos diários a letra do hino alemão e até cópias das moedas utilizadas no país durante as guerras. O tom envelhecido das páginas dos diários foi feito com borra de café e os textos com caneta nanquim, imitando os escritos antigos feitos com bico de pena. Para Sandra Mota Aguiar, coordenadora pedagógica dos Ensinos Fundamental II e Médio do Externato São Judas, a iniciativa acaba envolvendo diversas disciplinas. “Ao longo do trabalho, nota-se o desenvolvimento de atividades ligadas à Língua Portuguesa e à Literatura, na escrita, às Artes, na confecção das peças, e também à Geografia. É por meio de iniciativas interdisciplinares que o aluno consegue estabelecer relações com o conteúdo trabalhado em sala”, afirma a educadora. SUPER ESCOLA 15


sala de aula

educação baseada em evidências

educação baseada em evidências

Bastante utilizada em áreas como medicina e psicologia, teoria propõe parceria entre ciência e educação para a criação de práticas em sala de aula e métodos de avaliação mais eficazes Por Larissa Leiros Baroni

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e a ciência é capaz de desenvolver curas para doenças totalmente desconhecidas e criar tecnologias complexas que substituem a inteligência humana, por que não pode ser incorporada ao sistema educacional como propulsora da transformação?

Problemas para serem solucionados não faltam. Segundo dados do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), o setor ainda mantém resultados de qualidade preocupantes. Enquanto a média das notas dos alunos de 5º e


9º anos é calculada em 3,5 pontos, o desempenho do Ensino Médio está definido em apenas 3,4.

É uma ong, sem fins econômicos, criada em 2006 com a finalidade de disseminar e promover políticas e práticas de educação baseada em evidências. site: www.alfaebeto.com.br

O movimento rumo às práticas educacionais baseadas em evidências científicas aposta no poder dessa parceria entre educação e ciência, potencialidade que, na opinião de João Batista Araújo e Oliveira, doutor em educação e diretor-presidente do Instituto Alfa e Beto, pode até mesmo reverter o cenário brasileiro. “Por meio da ciência, é possível criar metodologias de ensino fundamentadas e mais eficazes”, garante. Ele acrescenta ainda a contribuição da teoria para o aumento do nível de racionalidade das decisões e para a oferta de parâmetros de avaliação aos resultados práticos de intervenções e políticas educacionais. Como o próprio nome diz, “educação baseada em evidências” refere-se aos argumentos utilizados para fundamentar práticas educacionais construídas com base em evidências científicas sólidas. A metodologia, no en-

tanto, não é nenhuma inovação deste século. “Foi aplicada na medicina há algumas décadas e conquistou gradativamente espaços em diversas profissões, tais como psicologia e saúde pública. Porém, em educação, os dados científicos ainda são pouco explorados”, relata Adriana Corrêa Costa, doutora em Educação e professora da Faculdade Porto-Alegrense (Fapa) e do Centro Universitário La Salle (Unilasalle). Para ela, o ofício de professor ainda é baseado fundamentalmente nas qualidades pessoais, intuições, experiências e tradições. “É raro, nas outras profissões, que as crenças e as ideologias ocupem lugar tão importante ou que a base de pesquisa seja tão pouco utilizada”, compara Adriana, que, assim como Araújo e Oliveira, relaciona a ausência de perspectiva científica à deficiência de obter melhoria da qualidade da educação e da profissionalização do ensino. As próprias ideologias enraizadas na educação emperram o desenvolvimento. É o que evidencia o diretor-presidente do Instituto Alfa e Beto. “São ideias predefinidas que acabam virando verdade e se propagando com facilidade”, justifica. De acordo com o pesquisador, acaba se tornando muito mais

é muito mais cômodo aceitar uma teoria empírica do que buscar ir além. até porque as pesquisas dão trabalho e demandam muito tempo joão batista araújo e oliveira, doutor em educação

cômodo aceitar uma teoria empírica do que buscar ir além. “Até porque as pesquisas dão trabalho e demandam muito tempo”, ironiza ele. Apesar da polêmica, a teoria já começa a ganhar representatividade internacional. O próprio livro Educação baseada em evidências: a utilização dos achados científicos para a qualificação da prática pedagógica, organizado pelos educadores ingleses Gary Thomas e Richard Pring e lançado no Brasil pela Artmed Editora, apresenta casos comprovados de que essa prática funciona e traz retornos em sala de aula. SUPER ESCOLA 17


sala de aula

De acordo com a obra, o aumento da adesão ao movimento tem sido reflexo das necessidades da própria sociedade. “Nunca houve tamanha pressão para que tanto as políticas educacionais como as práticas profissionais se tornem cada vez mais baseadas em evidências do que em opinião, na tradição ou no velho bom senso”, relata Pring. Embora essa pressão não seja tão expressiva no Brasil, Araújo e Oliveira acredita que ela possa ser impulsionada a partir dos resultados das pesquisas educacionais nacionais e internacionais. “Os números por si sós comprovam a real necessidade de mudança no setor, que também já é consenso entre todos os agentes educacionais – governo, escola, professores e alunos”, diz ele, que cita a eficiência do Saeb nesse processo, mas questiona a validade do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes). “Trata-se de métodos de avaliação que, em vez de contribuírem para a criação de melhorias, são vítimas de ranqueamentos desnecessários”, acredita. A verdadeira mudança, segundo o diretor-presidente do Instituto Alfa e Beto, está ancorada em uma transformação cultural. “O movimento deve ser iniciado pelas próprias universidades, com a criação de um

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educação baseada em evidências

ensino pedagógico fundamentado na ciência”, sugere. Ele, porém, não descarta a necessidade de adaptações nas próprias políticas educacionais. “As ações isoladas de professores e escolas, ainda que em menor proporção, também têm poder de desenvolvimento do setor, bem como de propagação do potencial da teoria baseada em evidências”, acrescenta. Como aderir ao método O primeiro passo para os educadores que querem romper com o tradicionalismo e incorporar a nova teoria a suas atividades é o amparo na bibliografia científica. As evidências, segundo Araújo e Oliveira, podem ser compostas com base em argumentos lógicos, testes de desempenho de alunos, artigos publicados em revistas científicas e práticas educativas ancoradas em argumentos científicos sólidos. “Não é válido, no entanto, fundamentar-se em um único estudo. É preciso que se faça uma meta-análise de várias pesquisas, considerando até mesmo análises de outros países. Quanto mais fontes, mais sólida será a aplicação”, orienta. Não é por falta de pesquisas na área que o processo não será viabilizado. “A lém da multiplicidade de periódicos reconhecidos, a internet tem facilitado o acesso a estudos

das mais variadas correntes”, aponta o estudioso, que recomenda aos professores maior interação com o mundo científico. “Fazer parte dele, até para conhecer suas vantagens e aproveitá-las dentro da sala de aula.” Além das pesquisas, Adriana também defende a existência da experiência profissional, “aspecto fundamental para pôr em prática a conduta baseada em evidências”, alerta. Mas, de acordo com ela, é necessário o uso equilibrado de práticas e evidências científicas. “Sem o saber profissional, a educação não pode realizar as adaptações necessárias para cada realidade escolar, nem operar nas áreas em que as pesquisas científicas estão ausentes ou incompletas. Por outro lado, sem as evidências baseadas em pesquisa, a educação não pode decidir entre abordagens concorrentes, nem evitar abordagens da moda”, considera. E mais, uma teoria não é científica só por ter sido proposta. “Para ser científica, ela precisa ser testada”, completa Araújo e Oliveira. Portanto, após a meta-análise de todo o acervo científico e a definição de uma prática baseada em evidências, propõe-se a criação de projetos-piloto. “Essa medida avaliará a metodologia e medirá os resultados”, justifica.


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história do mantenedor

Colégio Farroupilha

Legado duradouro Família abraça a causa de educadora que projetou a escola dos sonhos e apostou no conhecimento como forma de transformação do ser humano

Por Simone Bernardes

o Divulgação

Colégio Farroupilha, em Campinas, no interior de São Paulo, carrega em seu nome fragmentos da trajetória de sua fundadora, Marlene Aparecida Cassoli Leite. Assim como os gaúchos que se mostraram desbravadores na luta por seus ideais na revolução que dá o nome à instituição, ocorrida em 1835, a educadora também arregaçou as mangas para concretizar, com o marido, José Flávio Malheiros Leite, o sonho que a acompanhava desde a adolescência: construir uma escola com projeto pedagógico diferenciado.

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“Ela sempre defendeu a ideia de que o ser humano tem tudo para evoluir por meio da educação. Um de seus ditados dizia que só é possível transformar informações em conhecimento quando se trabalha o lado humano”, relata a também educadora e irmã de Marlene, Maria Laura Cassoli Macedo. Ao longo de 35 anos de dedicação, Marlene sempre apostou na educação sob o enfoque construtivista, respeitando a individualidade de cada aluno e sua maneira de olhar o mundo. Priorizou a qualidade por meio de um sistema de aprendizagem que trabalha com um número reduzido de estudantes por sala. Inovou, criando metodologias reconhe-


Fotos: Divulgação

O civismo e a preocupação com a cidadania inspiraram não apenas o nome da instituição, mas as práticas pedagógicas adotadas

cidas pela comunidade que norteiam a pedagogia do colégio até os dias atuais. Foi com esse espírito que, a convite do diretor-geral do Farroupilha, marido de Marlene, José Flávio, Maria Laura e o irmão, Oswaldo Cassoli Júnior, assumiram a direção pedagógica e financeira, respectivamente, em razão do afastamento da educadora, que foi diagnosticada com mal de Alzheimer, doença degenerativa que prejudica gradativamente a memória e outras funções cerebrais. “Ela era visionária e esteve à frente de seu tempo. Marlene respirou educação, por isso sua história, ensinamentos e modelos de ensino estão retratados e vivos em cada livro que guardamos no espaço dedicado a ela na escola”, diz a irmã. Atualmente, o Colégio Farroupilha, que há uma década associou-se ao Pueri Domus Escolas Associadas, abriga mais de 500 alunos nos Ensinos Infantil, Fundamental I e II e Médio, em três unidades. Além da formação regular, a escola prioriza a arte como complemento na pre-

paração dos estudantes. Além das disciplinas tradicionais, os alunos têm acesso a sessões de reforço escolar, aulas de dança, ioga, hip-hop, inglês, nutrição, capoeira e musicalização. Espírito empreendedor Pode-se dizer que a paixão de Marlene pela educação nasceu quando ainda era garota. Junto de seus irmãos, ela cresceu assistindo às aulas de arte e desenho que a mãe, Niceas, lecionava para uma turma de alunos na própria residência, em Araraquara, no interior de São Paulo. Embora sua primeira formação superior tenha sido em Farmácia e Bioquímica, a vocação falou mais alto e Marlene buscou a Pedagogia, fazendo posteriormente diversos cursos de especialização. De lá para cá, lecionou disciplinas da educação básica em escolas municipais e privadas. No entanto, foi no final da década de 60 que ela deu vez ao empreendedorismo para fundar sua primeira instituição de ensi-

no. Logo que casaram, a educadora e seu marido mudaram-se para Porto Alegre (RS). Depois de dois anos lecionando disciplinas do supletivo em casa, Marlene e Flávio criaram o Centro Feminino de Ensino (Cefen), voltado à educação de mulheres que não tiveram a oportunidade de frequentar os bancos escolares. Quando a escola começou a dar os primeiros passos rumo à expansão, decidiram viver em Campinas (SP), em 1974, e, no ano seguinte, fundaram o Colégio Farroupilha. Assim como os irmãos, os pais da educadora de alguma forma também sempre se fizeram presentes na história da instituição. Osvaldo Cassoli, já falecido, ajudava, com a esposa, Niceas, hoje com 85 anos, a comprar os alimentos e materiais servidos e usados na escola. Foi no Colégio Farroupilha que Marlene viu seus filhos e sobrinhos dar os primeiros passos e se preparar para o futuro profissional. Um legado, sem dúvida, que será conduzido ainda por outras gerações.

Envie a sugestão de sua história para o e-mail: superescola@pdea.com.br

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Comportamento

A diversidade dentro da escola

Com quais lentes enxergamos o mundo? Lidar com as diversidades dos tempos “modernos” e compreendê-las melhor é tarefa que requer parceria cada vez mais estreita entre escola e família. Em um país multicultural como o Brasil, seja qual for “o grau de miopia ou astigmatismo”, é possível observar a realidade em suas múltiplas facetas e de diferentes formas Por Juliana Lanzuolo

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ilhos de pais separados, mães solteiras, viúvas que assumem sozinhas a educação dos pequenos. A sociedade contemporânea apresenta diferentes formações de família. Além disso, convivemos com a miscigenação de culturas e raças, religiões e comportamentos – fruto da globalização e consequência de aspectos que compreendem um processo de modernização natural entre os povos. O convívio com a diversidade deve ser construído também pelo educador ao conduzir os trabalhos em sala de aula, é o que defendem especialistas.

cutida, desmistificada. É essencial também que se reconheça que a diversidade não é um privilégio daqui. Ela faz parte de um processo global e revela-se facilitada pelos recursos tecnológicos como a internet. Entretanto, é importante não nos limitarmos a ela”, recomenda Janete Schmidt, especialista em psicopedagogia e educação pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Camp) e coordenadora do Núcleo de Investigação Psicopedagógica dos Problemas de Desenvolvimento e Aprendizagem (Nippad), da Universidade de Campinas (Unicamp).

“Em um país multicultural como o nosso, é fundamental que a diversidade em suas múltiplas facetas esteja representada, seja dis-

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Segundo a docente, aceitar a opinião do outro é um processo construtivo, pois no início a criança tende a ser egocêntrica e para ela é difícil admitir que haja uma verdade diferente da sua. “Por isso, ao contemplar as diferenças em atividades em grupo, incitamos a superação do egocentrismo para a construção do respeito mútuo e aceitação das diversidades. Quando propomos atividades assim, favorecemos o debate e que os alunos construam a própria identidade – o que inclui o orgulho de ser o que se é”, ressalta. Elizabeth Fernandes, diretora de uma rede municipal de educação, comenta sobre a origem do preconceito, fator que pode dificultar a abordagem de determinados temas em sala de aula. Ela diz que nas escolas públicas o professor é orientado a perceber que o preconceito é um aspecto humano, inerente a qualquer um, e recomenda que o educador se autoavalie, percebendo o que o incomoda no outro, e faça um exercício

para que aquilo não interfira em seu trabalho. “Porque, se a criança percebe que não é aceita pelo profissional, pode haver um bloqueio em seu processo de aprendizagem e socialização. Quando o professor reconhece quais são suas limitações, tem condições de trabalhar contra elas”, aconselha. Há situações que inspiram mais cuidados, como a apresentação das famílias na Educação Infantil, em que pode surgir nos desenhos ou no diálogo entre os pequenos uma formação pouco comum – de um casal homossexual, por exemplo. “Situações como essa costumam permanecer no âmbito privado da família, mas, quando emergem em uma discussão em sala, nossa conduta é tratar qualquer que seja a composição familiar de maneira igualitária”, atesta Lady Christina Sabadell, diretora da unidade Itaim da Escola Pueri Domus, em São Paulo (SP). No mesmo sentido, Felix Lopez, autor do livro Homossexualidade e família, chama a atenção para os benefícios da diversidade para a formação do indivíduo quando encarada de maneira não preconceituosa. “É fundamental trabalhar com professores, pais e alunos o fato de que a diversidade nos permite ser como somos e que podemos somar uns aos outros com as diferenças. Assim, o tema deixa de ser um problema para se tornar rico em conteúdo”, afirma. Recursos em sala de aula O tema família tem de constar no currículo escolar desde a Educação Infantil até o Ensino Médio e a abordagem dos assuntos SUPER ESCOLA 23


Comportamento

A diversidade dentro da escola

Para isso, os professores podem se valer de elementos culturais, como o cinema e a literatura, discutindo essas representações. Lady Christina cita como exemplo o filme Cidade de Deus, que apresenta um mote para que o professor debata a quebra de algumas convenções sociais e como elas se manifestam. “Podemos trabalhar a reflexão no aluno, fazendo-o pensar sobre a sociedade e os outros de maneira menos preconceituosa, menos discriminatória. O filme ajuda a generalizar o tema e nos permite debater as diferenças não de forma nominal, atribuída à criança, mas como possibilidade de organização social. Além do quê, assistindo ao filme, você está fora de uma situação de tensão, o que resulta em um debate mais rico”, recomenda a diretora da unidade Itaim do Pueri. O alfabeto que ajuda “Defendo atividades que coloquem o aluno como principal ator de seu processo de aprendizagem, que privilegiem a invenção e a descoberta em vez da simples transmissão de conhecimentos, pois acredito que tudo o que aprendemos com o corpo e

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também precisa se adequar à faixa etária. “Os educadores devem exaltar os valores de convivência dentro da escola e na sociedade para que os alunos percebam desde pequenos o respeito às diferentes composições familiares e suas características e, sobretudo, o que é possível a cada colega mediante seu talento individual”, comenta Lady Christina.

com a mente nunca será esquecido”, ressalta Janete Schmidt.

O drama lançado em 2002, dirigido por Fernando Meirelles e Kátia Lund, se passa em um conjunto habitacional na zona oeste do Rio de Janeiro e expõe as deficiências da sociedade nas décadas de 1960 e 1970

Para exemplificar, a educadora cita uma atividade do projeto “O Lugar da Afetividade no Fracasso Escolar” realizada em uma escola municipal de Pirassununga, no interior de São Paulo, cujo objetivo era desenvolver a convivência entre crianças do 1º ano do Ensino Fundamental que apresentavam dificuldades no trabalho em pequenos grupos. No jogo “Alfabeto Vivo”, cada criança representava uma letra, que era desenhada em uma folha e pendurada em seu pescoço. “O objetivo era levar todos a perceber a importância do outro, sem o qual as palavras propostas não poderiam ser formadas. Ao término do jogo, em círculo, os participantes foram convidados

a refletir sobre os comportamentos necessários para que o jogo transcorresse de forma prazerosa e harmoniosa”, explica. Em um segundo momento, com base nas reflexões suscitadas pelo debate, eles recorreram ao livro O que fazer? Falando de convivência, de Liliana Iacocca e Michelle Iacocca, para enfatizar a origem e a necessidade das regras de convivência. Em seguida, foram distribuídos cartões extraídos do livro que continham situações do cotidiano das crianças, e elas tiveram de responder o que fariam se estivessem vivendo aquelas situações. “As experiências desencadeadas foram enriquecedoras e mostraram que é possível e viável trabalhar com a diversidade no espaço escolar”, conclui Janete Schmidt.


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gestão/marketing

endomarketing

Quando o público interno fala a

mesma língua

Professores e diretores, sem dúvida, são espelho de uma instituição de ensino para muitos pais e alunos. Com o objetivo de uniformizar discursos e melhorar o fluxo de comunicação com seus clientes, escolas investem cada vez mais no endomarketing

e

m 2009, Patrícia Alcântara Verde, diretora administrativa do Colégio Conexão Aquarela, de Macapá (AP), decidiu dar um passo importante rumo à transformação da maneira de gerir a instituição de ensino, alinhando as estratégias de negócio às habilidades e competências de seus colaboradores.

Por Simone Bernardes

Semanalmente, um coach realiza encontros com professores, coordenadores pedagógicos e diretores para definir metas, estabelecer novos projetos com base em um brainstorming e desenvolver

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as potencialidades de cada um de acordo com o posicionamento pretendido pelo colégio. “A iniciativa faz com que esses profissionais sintam-se cada vez mais participantes do processo construtivo da organização. A interação entre as equipes é o que ajuda a consolidar a imagem que os pais e os alunos têm e terão da escola. É um processo trabalhoso, mas dá resultados”, afirma Patrícia. Iniciativas como as desenvolvidas pelo colégio macapaense

mostram que o endomarketing – ação que consiste em disseminar ao público interno de uma organização as mais variadas informações e decisões estratégicas da empresa, uniformizando conceitos – é ótima ferramenta a ser utilizada em prol do crescimento de uma instituição de ensino. De acordo com Analisa de Medeiros Brum, publicitária pioneira nas pesquisas sobre endomarketing no Brasil e autora de diversas obras, as ações estratégicas que envolvem essa ferramenta respondem pelo fortalecimento

Analisa de Medeiros Brum estuda e trabalha com endomarketing desde o início da década de 1990 e é uma das pioneiras do mercado editorial sobre esse tema, com o lançamento de diversos livros. As obras tornaram-se referência no assunto e passaram a ser utilizadas nos cursos de Comunicação Social e de Administração de Empresas de universidades nacionais e internacionais

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gestão/marketing

endomarketing

Divulgação

Coordenadores e professores do Colégio Conexão Aquarela, durante brainstorming: prática constante na instituição

de uma marca ou de um conceito porque fidelizam, em primeiro lugar, os colaboradores, que têm contato direto com o público -alvo da empresa. “A informação é considerada o principal elemento das ações de endomarketing. Quanto melhor e mais apurado for o conteúdo repassado, maiores serão a interação e o comprometimento desses profissionais, e os resultados se tornarão visíveis”, destaca. No caminho certo E foi o bom direcionamento da informação que levou ao sucesso da campanha “Uma escola que vale por duas”, a primeira realizada pelo Colégio Criarte, de Maringá (PR), também em 2009. Antes de colocar os planos em ação, Cristiane Strozzi, mantenedora da instituição, reuniu

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sua equipe de coordenadores e professores para repassar todas as questões que envolviam a campanha, bem como para alinhar as ideias ao planejamento da escola. O resultado não poderia ser melhor. Os colaboradores sentiram -se tão motivados que, ao longo de 45 dias, prontificaram-se a participar das estratégias traçadas, arregaçaram as mangas e foram a diversos locais, como supermercados, escolas de idiomas, academias de ginástica e cinemas da cidade, para levar informações sobre o colégio. “Essa experiência nos ensinou que, quando a comunicação interna flui, os resultados e a maneira como a imagem da escola chega ao público externo são excelentes”, completa Cristiane. A mantenedora calcula que a iniciativa aumentou em 20% o número de matrículas no Criarte.

O que uma estratégia de endomarketing deve ter? A consultora Analisa de Medeiros Brum aborda essa e todas as demais questões que envolvem t al ferrament a em sua mais re c ente obra, Endomarketing de A a Z, lançada em março pela editora Integrare. A consultora listou os cinco principais elementos que devem compor uma campanha que traga resultados eficazes. Confira! – Caráter informativo ou motivacional. – Conceito que se alinhe à cultura e à política da empresa. – Elementos emocionais que façam com que os colaboradores se identifiquem com as ideias. – Criatividade para estimular a participação e colaboração dos profissionais. – Campanha com início, meio e fim, ou seja, um processo que envolva planejamento, desenvolvimento e, o mais importante, feedback.


indicação de leitura

laNÇamentos

Fundamentos da Educação Infantil: enfrentando o desafio Autores: Janet Moyles e colaboradores Editora: Artmed Nº de páginas: 320 Preço: R$ 54,00 A obra auxilia aqueles que trabalham com crianças a lidar com questões e desafios de forma sensível, sem deixar de ser profissional e sem perder o foco do atendimento personalizado aos pequenos.

Teoria da aprendizagem na obra de Jean Piaget Autor: Adrian Oscar Dongo-Montoya Editora: Unesp Nº de páginas: 222 Preço: R$ 42,00 Dongo-Montoya apresenta um resgate profundo e uma análise detalhada das obras de Piaget sobre aprendizagem e desenvolvimento. Para o filósofo francês, a aprendizagem não se resume a absorver o que o mundo exterior traz de conhecimento, mas capacita o indivíduo a criar as próprias estruturas de pensamento.

Família acima de tudo Autor: Stephen Kanitz Editora: Thomas Nelson Nº de páginas: 184 Preço: R$ 29,90 O que fazer quando o convívio familiar e a atenção necessária aos filhos e ao cônjuge disputam a prioridade com a carreira profissional? Em resposta a essa pergunta, o autor resgata a importância e a prioridade da família para que o leitor possa lidar com as dificuldades de manter família e emprego em equilíbrio.

As sete competências básicas para educar em valores Autores: Xus Martín García e Josep Maria Puig Editora: Summus Páginas: 184 Preço: R$ 54,90 Especialistas em educação na Espanha apresentam as sete competências pessoais e profissionais para que o professor eduque em valores. Os autores abordam os diversos problemas do ensino e as causas e os desafios da revolução educacional, defendendo o princípio da educação para a construção da cidadania.

Educação a distância: da legislação ao pedagógico Autoras: Rosilâna Aparecida Dias e Lígia Silva Leite Editora: Vozes Páginas: 128 Preço: R$ 21,00 A expansão da educação a distância e os desafios atrelados a ela é que permeiam as discussões apresentadas na obra. Os educadores encontram o embasamento para compreender melhor os aspectos legais, pedagógicos e tecnológicos da educação a distância para uma prática mais consistente.

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opinião

A preocupação com o termômetro não fará baixar a temperatura... Por José Francisco de Almeida Pacheco

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que poderei dizer que já não tenha sido dito em meu país de adoção? O que direi, se o conselho de classe já foi objeto de inúmeros artigos, dissertações e teses? O que poderei acrescentar de útil, se já nele participei, se já o testamos na Ponte, ao longo de mais de duas décadas, e o dispensamos?

José Francisco de Almeida Pacheco é licenciado em Ciências da Educação e mestre em Educação da Criança pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, em Portugal. Autor de diversas obras, como Caminhos para a inclusão (Porto Alegre: Artmed, 2006) e Escola da Ponte: formação e transformação (São Paulo: Vozes, 2007), foi um dos precursores da Escola da Ponte

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Ressalvadas as exceções, as reuniões desse órgão são rituais absurdos, decorrentes de um absurdo maior. Não é somente o conselho de classe que deve ser substituído por algo que faça sentido. É toda a escola que deve interpelar e reelaborar sua cultura. É vasto o conjunto de suas atribuições (deliberar sobre objetivos, metodologias, formas e critérios de avaliação, a inter-relação com a família, adaptações curriculares para alunos com necessidades especiais). Poderia constituir-se em um espaço de gestão democrática, mas predominam atitudes autoritárias e discriminatórias. São nítidas as diferenças entre o espírito dos normativos que regem o funcionamento do conselho de classe e sua prática. É um órgão pesado e burocratizado. Junta professores das diversas disciplinas com

coordenadores pedagógicos, supervisores, orientadores educacionais e até alunos. Ao contrário do que a lei estabelece, na prática, a preocupação do conselho não é a de dinamizar a gestão pedagógica, mas a de classificar alunos. E classificar de modo ingênuo e inútil. Confunde-se avaliar com aplicar prova; confunde-se avaliação com classificação. A organização interdisciplinar e a centralidade da avaliação como foco de trabalho estão ausentes. Prevalece um ritual que se restringe ao veredicto de aprovado ou reprovado. O resto é o “fechar as notas”, queixas e encaminhamentos para especialistas. Cito registros de observação de uma reunião de Conselho de Classe, onde se faz uso e abuso de apreciações subjetivas: Ele é muito desorganizado, ele é muito disperso, não faz nenhuma tarefa. Não seria um PPDA? Ele é atirado. O próprio jeito de ele caminhar. Caminha assim, ó! Com os pés arrastando. Então, a gente pode fazer um PPDA e colocar no PPDA isso. Deve ser PSAE...

Cito um normativo: O Conselho de Classe reunir -se-á, ordinariamente, conforme calendário anual divulgado pelo nível central da Secretaria Municipal de Educação; o Conselho de Classe Extraordinário reunir-se-á conforme previsto na Deliberação E/CME n° 16/2008, desconsiderando a Resolução SME mencionada no preâmbulo da referida legislação. Cito, por fim, algumas das tarefas impostas a um Conselho de Classe, no ano letivo de 2009: Índices de Aprovação [...] dos dois últimos anos. Os dados devem ser apresentados através de números e porcentagens. Última pontuação obtida no IDEB. Meta proposta pelo IDEB para 2009 [...]. Se não fosse grave, seria hilariante. É preciso alguém que “ponha o dedo na ferida”, para que não se continue a estigmatizar o doente, sem que se faça a etiologia da doença. Quando se discutem os graus de uma febre malsã, parece que ninguém entende que não é a preocupação com o termômetro que fará baixar a temperatura...


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Em um mundo conectado, não podem existir barreiras para a educação. O Projeto Rede Vivo Educação é uma rede aberta de informações para discutir os novos rumos da educação nos tempos modernos. A proposta da rede é trazer novas formas de educar em uma época em que as crianças têm acesso irrestrito à informação. Conheça mais sobre o projeto no site http://vivoeduca.ning.com Participe das discussões e compartilhe projetos e ações de forma colaborativa.


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