Uma publicação do Grupo Pueri Domus • Ano 5 • nº 16 • Junho / Julho / Agosto
O DNA do
Marketing institucional escolas acordaram para a realidade de que suas marcas são valiosas e devem ser construídas estrategicamente
E mais!
obesidade infantil: a grande vilã do século EDUCAÇÃO física repaginada: a cultura do bem-estar na sala de aula
owen anthony roberts: “O Brasil está incentivando um sistema de dois níveis de ensino”
editorial
Admirável mundo novo É com muita satisfação que inicio, a partir deste número, minha participação no conselho editorial da Super Escola.
conta disso, o consumo desenfreado passou a ser moeda de troca nas próprias famílias.
Falar hoje que o mundo se transforma rapidamente e que o conhecimento avança a cada hora já se tornou lugar-comum. Tempos saudosos aqueles em que a chave do sucesso profissional consistia em se organizar com base em um bom planejamento, ter bom processo de formação, ótimos instrumentos de monitoramento e fiar-se em uma gestão competente.
Como consequência, uma legião de crianças apresenta hoje diversos problemas de saúde, o que nos coloca em estado de alerta. A educação alimentar, por exemplo, traz à tona o desafio de transformar a “geração fast food” em indivíduos capazes de refletir não somente em sua saúde, mas também na saúde do planeta.
O momento atual nos remete a interpretar os novos cenários e nos anteciparmos cada vez mais, por meio de posicionamentos claros e definidos por prioridades. Contudo, temos um grande desafio: como comunicar efetivamente o que somos e o que queremos diante de tantos discursos semelhantes? Essa discussão não deve estar restrita à equipe de marketing de uma instituição escolar. Ao contrário, cabe aos líderes da escola pensar e repensar o que a diferencia das demais instituições e como expressar tais diferenças. A análise desse contexto nos leva a compreender que a escola não pode tudo, que as crianças e os jovens são influenciados por novas mídias, que o controle remoto assumiu importante lugar. Entretanto, nossa responsabilidade vai além dos muros escolares. Pensar com os pais em como lidar com essas situações tornou-se urgente, pois as crianças são “hipnotizadas” pela TV, pelos games e pelas propagandas diariamente. Por
O processo de globalização também nos coloca outro desafio: como garantir a individualidade, convivendo com pessoas de culturas diferentes e mantendo-se receptivo às contribuições de outras culturas? A educação pluricultural vem ao encontro dessa discussão, ao incluir no ensino bilíngue o estudo de diferentes nações e espaços. Para concluir, gostaria de homenagear uma grande educadora brasileira, a professora Maria Ariadine Bacelar de Castro, que acaba de comemorar 25 anos da construção de uma das melhores escolas deste país. Desejo que a Escola Crescimento, de São Luís (MA), permaneça como um centro de referência de qualidade em educação. Esses são alguns dos temas que preparamos para você nesta edição. Boas reflexões! Luis Antonio Laurelli Diretor Geral do Grupo Pueri Domus
EXPEDIENTE A Super Escola é uma publicação trimestral do Grupo Pueri Domus. Site: www.pdea.com.br
Conselho Editorial Altamar Roberto de Carvalho (Diretor Pedagógico) André Bocchetti (Coordenador de Projetos) Denise Bonatto (Gerente de Marketing) Emília Noriko Ohno (Gestora Editorial Executiva) Luís Antonio Laurelli (Diretor Geral) Maísa Dóris (Gerente Nacional de Comunicação Corporativa – Grupo SEB) Vagner Aguilar (Diretor Nacional de Marketing e Estratégia – Grupo SEB)
Coordenadora-Geral: Maísa Dóris (Mtb: 29.952)
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Projeto Editorial: Trama Comunicação Diretora de Redação: Leila Gasparindo (MTb: 23.449) Editora-chefe: Helen Garcia (MTb: 28.969) jun/jul/ago
Editor: Adriano Zanni (MTb: 34.799) Reportagens: Adriano Zanni, Francisco Arruda, Juliana Lanzuolo e Lilian Burgardt
Revisão: Ana Maria de Matos Viegas, Luciana Barbosano e Maria Cecília Zotelli Pinheiro Projeto Gráfico: Arthur Siqueira Design: Arthur Siqueira e Clauton Danelli Produção Gráfica: André Vieira Fotolito e Impressão: EGM Gráfica e Editora LTDA. Tiragem: 20.000
Publicidade e aquisições de exemplares: Denise Bonatto (denise.bonatto@sebsa.com.br) Escreva para a Redação: superescola@pdea.com.br
sumário
Painel do Leitor superescola@pdea.com.br
CAPA
Marketing institucional: de que forma ele pode auxiliar na construção da marca de uma escola
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MERCADO & TENDÊNCIAS As políticas públicas intersetoriais
entrevista Owen Anthony Roberts
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indicação de leitura
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pueri em foco Karen Fraser C. de Mattos
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Gostaria de ver na Super Escola matérias direcionadas a atividades realizadas nas escolas associadas e que possam servir de referência para outras instituições. Também acho interessante trazer depoimentos de professores em relação a algumas atividades que realizaram com seus alunos, visando enriquecer o conteúdo da publicação. Podemos pensar em uma parte direcionada para relatos de trabalhos voltados para alunos com necessidade educativa especial. Grande abraço. Rúbia Uliana Sarmento Coordenadora Pedagógica Centro Educacional Praia da Costa – Vila Velha (ES) Resposta Olá Rúbia, na seção Caso de Sucesso, são
discutidas práticas pedagógicas adotadas por escolas próprias e também associadas do Pueri Domus. É um cantinho bacana para divulgarmos projetos e atividades que contribuam para a qualidade de um centro de ensino. Estamos de olho em sua sugestão e nos comprometemos a trazer mais casos interessantes. Obrigado!
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Alessandra Gimenez Gerente de Relacionamento do Ensino Fundamental 2 Escola Crescimento – São Luís (MA)
sala de aula A educação física repaginada radar história do mantenedor Escola Crescimento
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Resposta Olá Danielle, agradecemos os elogios e ficamos satisfeitos em saber que nossos leitores estão atentos ao perfil editorial de nossa revista. A Super Escola certamente tem esse compromisso de antecipar as discussões do futuro e colocar tendências em debate. Conte sempre conosco!
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Obesidade infantil: a grande vilã do século
Danielle Pimentel Colégio Dominus – Búzios (RJ)
Acredito que a Super Escola seja mais uma das ferramentas que somam no nosso dia a dia escolar. Sempre com matérias interessantes e pertinentes, abordando assuntos atuais para a nossa rotina de educadores e gestores. Acho muito rica essa parceria entre as escolas associadas e a iniciativa de se fazer uma revista voltada para o nosso universo, o qual estamos sempre buscando melhorar a fim de engrandecer a sociedade como um todo. Parabéns! Gostaria também de ler mais sobre cursos e MBAs voltados à área de gestão escolar.
estudo de caso Escola Lápis de Cor
comportamento
Gostaria de agradecer a revista inteligente que vocês nos proporcionam. Ela tem a linha do nosso material didático − Pueri Domus − e a qualidade das reportagens são maravilhosas, atingindo um público que certamente pensa no futuro. Desde já, fica nosso agradecimento.
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Opinião Mauro Fisberg
Resposta Alessandra, nossa equipe agradece os elogios e reafirma o compromisso de fazer uma revista voltada para a construção de uma sociedade cada vez mais capaz e multicultural. Vamos buscar informações sobre cursos de especialização e programas de MBA que possam agregar valor às carreiras de docente e de gestor escolar. Fique atenta às próximas edições. Teremos novidades! Abraços.
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Entrevista
owen anthony roberts
Educação ainda a passos de valsa Para Owen Anthony Roberts, educador norte-americano que esteve recentemente no Brasil, o sistema educacional brasileiro progride lentamente. “Ele carece de vontade política para enfrentar as desigualdades e encarar as tradições. As escolas privadas são para aqueles que podem pagar. As escolas públicas são para o resto da sociedade”, avalia Por Adriano Zanni
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tecnologia é parte da vida das atuais gerações e, até mesmo, das futuras. A grande discussão atualmente diz respeito ao perfil de uma escola que atenda às necessidades dos estudantes inseridos no mundo digital.
Nelson Toledo
Nos últimos 14 anos, Owen Anthony Roberts, pesquisador norte-americano e membro mais antigo do Comitê de Aconselhamento Técnico para Desenvolvimento e Validação de Testes do Departamento de Educação e Avaliação da Flórida (EUA), tem trabalhado intensamente nas áreas de currículo e métricas educacionais com foco em psicometria e avaliação formativa para a melhoria da qualidade do ensino.
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Os estudos levaram à implementação de um sistema integrado de gerenciamento de aprendizagem nas escolas públicas de St. Lucie County, que se tornou referência para outras localidades. Segundo Roberts,
que participou recentemente do II Encontro Saraiva de Gestores da Educação, o Brasil enfrenta atualmente uma situação já superada pelos Estados Unidos: o processo de informatização escolar e a necessidade de capacitação do professor para essa nova realidade. Super Escola − Quais são os principais desafios enfrentados pelos educadores e gestores no que diz respeito à adoção das novas tecnologias? Owen Anthony Roberts − É possível citar vários. Um deles é compreender o processo de mudança, já que mudar leva tempo e requer um investimento no capital humano para formar professores e gestores aptos à utilização de novas tecnologias. Isso passa também pela questão do financiamento. Também são importantes a qualidade dos professores e se eles são receptivos às mudanças, o tempo de desenvolvimento profissional, o acesso à infraestrutura tecnológica, entre outros. Sempre lembrando que os alunos são nativos digitais, enquanto os professores são imigrantes digitais. Daí a dificuldade. Super Escola − Como podemos comparar, nesse sentido, as realidades do Brasil e dos Estados Unidos? Owen Anthony Roberts − O sistema educacional brasileiro carece de vontade política para enfrentar as desigualdades e suas tradições na educação. As escolas privadas são para aqueles que podem pagar. As escolas públicas são para o resto da so-
nos estados unidos, há um compromisso com a melhoria de todas as escolas por meio do investimento em infraestrutura sustentável de qualidade, em tecnologia e capacitação dos educadores ciedade. O Brasil está incentivando um sistema de dois níveis de ensino. O país deve embasar sua crença fundamental sobre a educação das crianças e deve mudar as ações para transformar todas as escolas − públicas e privadas − em centros de excelência. Nos Estados Unidos, há um compromisso com a melhoria de todas as escolas por meio do investimento em infraestrutura sustentável de qualidade, em tecnologia e capacitação dos educadores para instruir os alunos de forma eficaz. A preparação e o desenvolvimento profissional dos professores e dos diretores são essenciais para a melhoria do sistema educacional brasileiro que deve assumir compromisso semelhante ao norte-americano, que institui uma base sólida em tecnologia, avaliação, currículo e desenvolvimento profissional. Super Escola − Como você analisa a educação básica no Brasil? Muitos especialistas dizem que investimos mais no ensino superior e nos esquecemos da base. Nos Estados Uni-
dos, a ótica seria invertida. Você concorda com essa visão? Owen Anthony Roberts − Acredito que a base de qualquer sistema educacional está na qualidade de seu programa para a primeira infância. Aprender a ler, escrever, compreender e aplicar os princípios da matemática é essencial para o sucesso do aluno. A fim de criar uma base sólida para o aprendizado do aluno, todo o sistema educativo deve investir na preparação de professores de alta qualidade. Portanto, os programas de formação no ensino superior devem ser capazes de capacitar docentes com o conhecimento e a pedagogia eficazes para envolver os alunos em todos os níveis rigorosos e relevantes de aprendizagem, com base em padrões de desempenho claramente definidos. A questão da equidade é outra parte importante dessa discussão. Nenhum sistema educacional é bem sucedido se não unir o acesso e a oportunidade para uma educação de qualidade para todos. Super Escola − Como você enxerga os sistemas de classificação atuais? Estamos passando por uma crise relativa à adoção de novos métodos para avaliar os alunos? Owen Anthony Roberts − Eu não acredito que há uma crise, mas sim uma busca pela melhor maneira de conceber uma avaliação do sistema educativo, responsabilizando os agentes de acordo com o que é “justo”, e não meramente direcionado por “punições” para os envolvidos − alunos, professores e pais. A avaliação é positiva quando usada como um método para SUPER ESCOLA 7
owen anthony roberts
Nelson Toledo
Entrevista
melhorar a qualidade do currículo, a entrega do ensino, os programas de formação de professores e o desempenho escolar. Há geralmente três tipos de avaliação: diagnóstica, formativa e sumativa. Cada uma tem sua finalidade específica no processo de aprendizagem. No entanto, os dados das avaliações só serão eficazes quando forem mensurados adequadamente. Portanto, é necessário muito cuidado na concepção da avaliação. Super Escola − Existe uma fórmula correta para avaliar o aluno de hoje? Owen Anthony Roberts − Não sei se existe uma única abordagem correta para avaliar alunos. Acho que há várias abordagens, dependendo do propósito da avaliação. Por exemplo, se a avaliação tem por objetivo o ingresso no próximo nível de educação, é necessário estabelecer um método padronizado com base em normas pré-determinadas. Ou, se a avaliação busca orientar a metodologia de ensino, a definição de uma medida padronizada de diagnóstico seria mais apropriada. Em qualquer caso, o mé-
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todo de avaliação é definido pela finalidade dos dados esperados. Super Escola − Sobre os sistemas de ensino, como você vê o construtivismo nas escolas atuais? Você acredita que os estudiosos como Piaget deixaram importantes contribuições para tomar a frente? Owen Anthony Roberts − Sou adepto das teorias cognitivas de aprendizagem de Jean Piaget. Eu estudei com um de seus alunos em Michigan há vários anos. A abordagem da educação construída com base no saber e na descoberta é provocar profunda reflexão crítica e resolução de problemas. Isso leva a mente a ser criativa. Acho que as contribuições desse pensador estão muito presentes e certamente perdurarão por anos. Super Escola − Qual é o futuro da escola atual? Quais são as principais tendências? Owen Anthony Roberts − As escolas do futuro serão mais abertas ao uso das tecnologias do século XXI. Os professores irão se tornar mais um “guia ao lado”, em vez de um “sábio no palco”.
Os alunos serão mais ativos, projetando seu currículo e métodos de aprendizagem com mais responsabilidade. Isso é autonomia. A tendência é que existam pequenas comunidades de aprendizagem com foco na coletividade, em vez de indivíduos. O uso da tecnologia será fundamental para criar engajamento e qualificação. O estudo será cada vez mais colaborativo e interdisciplinar. As instituições deverão criar ambientes de aprendizagem também na Internet. Super Escola - Como você acredita que nossa educação vai estar daqui a 10 anos? Owen Anthony Roberts − Se o povo brasileiro e seu governo estiverem comprometidos com a equidade e a excelência, acredito que o Brasil será uma potência econômica e social. Eu pressinto um aumento drástico da necessidade de força de trabalho para atender às demandas do século XXI em áreas como tecnologia, engenharia, medicina e outros serviços sociais. Nesse sentido, os cursos técnicos devem ganhar novo impulso. Mas tudo isso calcado em uma educação básica sólida e qualitativa.
indicação de leitura
laNÇamentos
Como fazer uma boa escola? Autores: Tim Brighouse e David Woods Editora: Artmed Nº de páginas: 232 Preço: R$ 54,00
Teoria e prática da formação do leitor Autora: Lena Lois Editora: Artmed Nº de páginas: 151 Preço: R$ 39,00
A obra aborda conteúdos de liderança, estratégias coletivas e de formação de cultura organizacional, além de contar com várias histórias e casos que acontecem em escolas e podem ser utilizados por professores, orientadores, coordenadores e gestores educacionais em prol da melhoria do ensino.
Destinado a professores, alunos e graduandos do curso de Letras e demais áreas relacionadas com o ensino da leitura. O livro apresenta um diálogo com esses públicos sobre suas práticas, sua história como leitores e a maneira como eles podem apresentar a literatura na sala de aula de forma coerente e lúdica. A autora traz para a discussão vários itens tidos como concorrentes da leitura, tais como a tecnologia, e demonstra como um texto literário apela à subjetividade do leitor e não apenas a aspectos cognitivos.
Socialismo no século XX: o que deu errado? Autor: Robério Paulino Nº de páginas: 416 Preço: R$ 39,90 Em sua segunda edição, a obra traça uma visão crítica de toda a experiência socialista no século XX, baseada no caso soviético. Em um trabalho de historiografia econômica, discute o grande impacto da Revolução Russa para a história e a sociedade humana, ao mesmo tempo que busca identificar as causas econômicas, políticas e sociais que levaram a URSS ao colapso, em 1991. O livro também ajuda a entender porque a Rússia atual volta a exigir um papel de destaque na ordem mundial.
A paixão de formar Autora: Maria Cecília Pereira da Silva Editora: Casa do Psicólogo Nº de páginas: 211 Preço: R$ 42,00 O desafio de ensinar e educar é extremamente gratificante para pais, professores e educadores, quando motivados. A obra discute caminhos para ativar os desejos conjuntos de professores e alunos, por meio de experiências em sala de aula. Ao utilizar recursos da psicanálise, a autora é capaz de dissecar as pulsações, os desejos e as ansiedades do professor apaixonado pelo que faz.
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mercado & tendências
Políticas públicas intersetoriais
Parceria pelo progresso Sinergia entre setores público e privado é apontada como saída inteligente para a melhoria da educação básica no Brasil. Jaú e Avaré, cidades no interior paulista, relatam por que adotaram métodos estruturados de ensino concebidos por instituições privadas e comemoram os bons índices de aprendizagem Por Lilian Burgardt
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o mesmo tempo que alcançamos a quase universalização do ensino fundamental, com um índice de frequência escolar de 95%, amargamos a 76ª posição no ranking mundial da educação básica da UNESCO, braço da ONU (Organização das Nações Unidas) para a Educação e Cultura. Diante desse cenário, apontar uma solução imediata para a melhoria da qualidade da educação básica torna-se um grande desafio, não apenas para os agentes públicos, mas também para as próprias instituições de ensino. O problema fica ainda maior se somarmos os índices de evasão escolar entre jovens de 15 e 17 anos − altíssimos 20% − e o desempenho do Brasil em exames
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nacionais, como o Saeb, e internacionais, como o Pisa. Nesse último, nosso desempenho em Matemática, Ciências e Literatura colocou-nos na “lanterna” do ranking entre os 57 países participantes. Quem estuda o assunto há anos diz que falta de tudo um pouco na educação básica brasileira, mas, com otimismo, também concebe ações paliativas que, caso não resolvam, ao menos, amenizam os efeitos de muitas mazelas existentes. É o caso do pesquisador do Ibmec-RJ, Fernando Veloso, autor de livros e artigos sobre o tema, que tem se dedicado a estudar a importância das PPP (Parcerias Público-Privadas) para a oferta de um ensino de qualidade. Nos últimos anos, o Brasil tem seguido exemplos internacionais bem-sucedidos e passado a adotar as PPP, seja para a gestão de recursos, seja para a troca de materiais e projetos pedagógicos, entre outras iniciativas. “São atitudes rápidas para resolver alguns de nossos problemas sem esperar por grandes e onerosas transformações do sistema educacional”, diz Veloso. Segundo ele, é preciso, no entanto, difundir tais ações, consideradas ainda incipientes. Internacionalmente, têm sido obtidos excelentes resultados com as PPP. Exemplos disso são as “escolas -charter”, nos Estados Unidos e na Colômbia. O modelo prevê que escolas privadas, organi-
Um aspecto importante da modalidade de “escolas-charter” é ela beneficiar não somente os alunos que se matriculam na escola submetida ao contrato de gestão, mas também aos que permanecem nas instituições de ensino de origem, já que estas se veem incentivadas a melhorar seu desempenho para não perder mais estudantes e recursos. Outro exemplo são os vouchers ou bolsas de estudo para que alunos da rede pública escolham escolas privadas e sejam transferidos. Essa iniciativa é semelhante ao ProUni (Programa Universidade Para Todos), do governo federal, no Ensino Superior. Tais programas têm sido implantados há anos em países como Chile, Estados Unidos e Colômbia. No Brasil, de acordo com Veloso, merecem destaque o Instituto Ayrton Senna, que mantém parcerias com escolas públicas para o programa Acelera Brasil a fim de
Divulgação
zações não governamentais e, em vários casos, professores e pais de alunos recebam recursos públicos para fornecer gratuitamente serviços educacionais. A concessão dos recursos vincula-se ao cumprimento de metas de desempenho.
Na EMEF Ana Novaes, em Avaré (SP), alunos do 1º ao 5º ano utilizam material do Pueri Domus
reduzir a defasagem série-idade, e instituições como Fundação Bradesco e Itaú Social, com importante papel na capacitação dos gestores de escolas públicas em prol da melhor administração de recursos. “Em muitos casos, os diretores das escolas não têm uma sólida formação administrativa. Dessa forma, tais projetos colaboram para ampliar o conhecimento dos gestores, intercambiando informações importantes, até mesmo de mercado”, analisa. O professor cita também a relevância dos grupos educacionais privados que fornecem material didático e auxiliam na formação dos professores de escolas
públicas. É o caso do Pueri Domus Escolas Associadas. “Embora muitos ainda critiquem o método de apostilas, acredito que adotar esse projeto pedagógico consagrado das instituições privadas, muitas vezes, ajuda a dar um norte para os professores da escola pública, graças a uma metodologia estruturada e qualificada”, acredita.
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A colocação do Brasil no último Programa Internacional para Avaliação de Alunos (Pisa), em 2007, nas disciplinas de Matemática, Ciências e Leitura, foi respectivamente: 54º, 52º e 49º lugares. Em 2007, o Sistema Nacional de Avaliação Básica (Saeb) indicou que apenas 28% dos alunos da 4ª série do ensino fundamental tiveram desempenho compatível com a série cursada. Para os alunos da 8ª série, o percentual foi de 21% e na 3ª série do ensino médio, de 25%. Em Matemática, os percentuais de alunos com desempenho compatível à 4ª e à 8ª série do ensino fundamental e a 3ª série do ensino médio foram, respectivamente, os seguintes: 24%, 14% e 10%
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Capacitação e dinamismo Nesse sentido, o Pueri Domus estabeleceu, desde o início deste ano, duas parcerias importantes com as secretarias municipais de educação de Avaré e Jaú, no interior de São Paulo, fornecendo não só o material didático, como assessoria pedagógica aos professores da rede municipal de ensino. Há seis meses, a Secretaria Municipal de Educação de Avaré recebeu um projeto pedagógico e repassou-o aos coordenadores da rede, que gostaram da proposta. Não tardou para que surgisse uma parceria com o Pueri Domus com vistas à adoção do programa nas escolas do ensino fundamental (10 ao 5º ano) do município. A secretária de Educação, Fátima Zedan, justifica que a qualidade da capacitação oferecida aos professores de toda a rede foi um grande diferencial. “Ainda temos de esperar um pouco mais para avaliar, mas vemos até agora um alto nível de satisfação”, afirma.
do ensino público. “Estamos aprendendo a nos relacionar e abertos para inovações. Claro que defendo a escola pública laica, onde faz muita diferença o professor qualificado e bem remunerado, mas toda iniciativa que tenha o objetivo de elevar a qualidade do ensino é muito bem recebida.” Claudinéia das Graças Batista Benini, coordenadora da Escola Municipal de Ensino Fundamental Ana Novaes, comenta que o material tem sido muito bem recebido. “Não foi algo imposto. Além disso, o conjunto de apostilas tem servido como material de apoio para os planos de aula do professor e trazido novidades para os alunos, como as dicas de experiências. Isso muda a dinâmica do ensino, já que o material permite interação, o que auxilia no processo de aprendizagem”, avalia. Diversidade de temas O município de Jaú já havia experimentado parcerias bem -sucedidas com o setor privado. “Quando fomos procurados pelo Pueri Domus, queríamos
Luiz C. Oliveira
Fátima considera as PPP mais uma forma de melhorar a qualidade
Políticas públicas intersetoriais
Em Jaú, a assessoria pedagógica oferecida aos professores determinou a escolha do material
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garantir que os professores tivessem o apoio necessário para se adaptar ao material e trabalhar com ele na rede toda”, explica o secretário de Educação, Orivaldo Candarolla. Em Jaú, o projeto pedagógico do Pueri Domus foi adotado a partir do Jardim II (Educação Infantil), e do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental em todas as escolas municipais. Apenas uma delas é assistida do 1º ao 9º ano. Com o material aprovado, os professores iniciaram sua imersão. “Buscamos trabalhos de referência na área educacional para melhorar a qualidade do ensino em nosso município e o retorno de nossos professores tem sido favorável”, considera. Coordenadora pedagógica da EMEF Laudelino de Abreu desde 2004, Marlene Ambrósio ressalta que o treinamento dos professores também foi indispensável para que a transição ocorresse de maneira tranquila. “Hoje, eles se mostram confortáveis com a adoção das apostilas em todas as disciplinas, sobretudo por considerarem-nas ricas em diversidade de temas.” Quanto às PPP, ela dá seu testemunho: “As crianças de escola pública, como eu fui, precisam ter oportunidades. No Brasil, a desigualdade social é muito grande, mas isso não significa que alunos carentes não têm potencial. Não podemos privar as crianças do conhecimento. É preciso estimulá-las, afinal, se elas não aprenderem na escola, onde irão aprender?”, pontua.
pueri em foco
karen fraser colby de mattos
Você está no Brasil. Rasgue as vistas! h oje, no país, segundo o linguista Gilvan Müller de Oliveira, são falados por volta de 220 idiomas. As nações indígenas falam cerca de 180 línguas, as comunidades de imigrantes, outras 30, como também podemos verificar a existência de duas línguas de comunidades surdas, a Língua Brasileira de Sinais (Libras) e a Urubu-Kaopór. O Brasil é, portanto, plurilíngue e culturalmente pluralista.
Bernard Charlot, educador francês contemporâneo, diz que “o ato de construir-se e ser construído pelos outros é a própria educação”. Nossos alunos têm o direito de viver e de se expressar em diferentes mundos, como também de perceber que fronteiras não constituem limites. Quando aprendemos como outras pessoas dão significado ao mundo delas, nós ampliamos o sentido que podemos dar ao nosso.
A globalização é um grande perigo, porque induz a uma homogeneização. Todavia, é também uma oportunidade, pois traz a emergência da diversidade, afirma Oliveira. A globalização fez com que o mundo se interligasse, trouxe o direito de interagir com a diversidade cultural, proporcionando contato com outras línguas e outras visões de mundo.
Ser bilíngue, afirma António da Cunha Duarte Justo, professor de Língua e Cultura Portuguesas, “é ser-se processo, processo na mudança, não é ter duas línguas, mas viver em duas línguas, em dois mundos, navegar noutros espaços; é ter vistas mais rasgadas, outras perspectivas do mundo, é participação mais livre, conhecimentos dinámicos; é viver amando, aceitando o outro como ele é, aberto para comunicar, dar e receber”.
O diálogo dos direitos humanos entre as nações e as culturas terá de fazer parte de uma política que trabalhe a globalidade. Em uma cultura da paz, a intolerância, o racismo e a discriminação são incompatíveis. Para desenvolver habilidades e competências indispensáveis à formação de cidadãos desse século, a educação bilíngue constitui-se em um instrumento essencial. Ela é mais ampla do que a aprendizagem de duas línguas, pois legitima o pluralismo cultural, propiciando a todos o conhecimento, a apreciação e o respeito por outras culturas e, ao mesmo tempo, a construção e o aprofundamento de sua própria.
A diversidade não pode apenas ser reconhecida e vista de uma perspectiva monocultural, mas deve ser assumida como recurso enriquecedor. Assim, saímos de uma visão multiculturalista, para enfim admitirmos em uma visão pluriculturalista, como defende o sociolinguista Rainer Enrique Hamel, da Universidade Autônoma do México. Você está no Brasil. Rasgue as vistas!
É coordenadora de ensino do Global Brazilian American Program na rede de escolas Pueri Domus e consultora. Coordenou cursos de formação docente, ministrou inúmeras palestras e prestou assessoria para Unesco, editoras, escolas particulares e públicas no Brasil e nos Estados Unidos. Exerceu o papel de coordenadora em todos os segmentos da educação básica e tem ampla experiência no desenvolvimento de currículo e formação de professores.
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marketing institucional
O importante Nos últimos 10 anos, as instituições de ensino acordaram para a realidade de que suas marcas são valiosas e devem ser construídas de forma estratégica. Em um mercado competitivo, todos precisam se diferenciar da concorrência e o marketing institucional deve responder a essa necessidade Por Adriano Zanni
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om o surgimento e a evolução do chamado marketing societal, apregoado por Philip Kotler, e o crescimento dos programas de responsabilidade social e ambiental, as organizações privadas começaram a formular estratégias a fim de aliarem sua imagem a eventos, projetos e iniciativas que contribuem, de alguma forma, para ampliar e consolidar a percepção de marca perante os mais variados públicos-alvo.
Coautor de Marketing Estratégico para Instituições Educacionais (Editora Atlas, 1998, 448 p.), nasceu em 27 de maio de 1931, em Chicago (EUA). É mestre em Economia pela Universidade de Chicago, doutor em Economia (PhD) pelo MIT e pós-doutor em matemática pela Universidade de Harvard. Em 2008, o Wall Street Journal o listou como a sexta pessoa mais influente no mundo dos negócios
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No que diz respeito às instituições de ensino, essa percepção é bastante recente, garantem os especialistas em marketing. No Brasil, iniciativas bem sucedidas nesse sentido começaram a ser colocadas em prática apenas na virada deste século. “Portanto, não surpreende que, hoje, grandes grupos educacionais invistam nessas atividades e corram atrás do tempo perdido. Pudemos acompanhar um esforço crescente para construir marcas sólidas e de qualidade. Não é à toa que alguns grupos têm se mantido consistentemente entre os maiores anunciantes do país”, diz Alexandre Gracioso, Diretor Nacional de Graduação da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), em São Paulo. Vale o alerta: antes de adentrar o campo do marketing institucional, é preciso fazer internamente a lição de casa e considerar alguns aspectos importantes para
aliado Ana Cristina Fernandes
não correr o risco de “dar um tiro no próprio pé”.
Pueri Domus montou uma sala de aula para receber visitantes durante a Exposição Corpos, na OCA, do Parque Ibirapuera, em São Paulo (SP). Projeções em 3D atraíram pessoas de todas as unidades que puderam compreender melhor o funcionamento do organismo humano
Segundo Gracioso, as instituições precisam se atentar a extensas redes de relacionamento nas quais muitas conexões são relevantes. “Podemos citar como conexões essenciais para as escolas as mantenedoras, os coordenadores de outras escolas, os familiares de alunos, os professores da própria instituição e de outras, os órgãos da imprensa, além do governo”, exemplifica. A importância dessas ligações decorre de dois motivos principais: a decisão por uma ou outra escola segue o modelo complexo de comportamento de compra, em que a procura por informações é intensa; a experiência mostra que as pessoas consultam muitas fontes durante o processo de busca de informações antes de se decidir.
Sandra Daniel
“O ponto fundamental a ser percebido é que cada um dos nós dessa rede de relacionamentos é um formador de opinião em potencial que poderá ou não ter impacto sobre a imagem da escola como um todo e sobre a decisão de um candidato de optar por uma determinada instituição”, avalia. A chave para o sucesso O primeiro passo é definir claramente os objetivos de comunicação e construção de marca para cada público de contato da rede da instituição. Em seguida, é possível determinar as estratégias mais eficazes em cada caso. A comunicação tradicional continua a cumprir um importante papel, porém muiSUPER ESCOLA 15
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marketing institucional
tos, ou até mesmo todos públicos de interesse podem ser trabalhados por estratégias de relacionamento com excelente relação custo-benefício para a escola. Muitas vezes, o principal obstáculo para implantação de uma estratégia de marketing institucional tem início quando a escola deixa de definir um posicionamento claro em relação a sua proposta pedagógica, ou então, quando não há universalização de discursos entre os próprios colaboradores, fatores intimamente ligados à gestão do conhecimento. Para evitar problemas dessa natureza, é preciso investir na sinergia entre as esferas administrativa e pedagógica. A fim de se decidir pelo apoio a um determinado evento de grande repercussão, é interessante considerar os frequentadores daquele espaço, por exemplo, e o modo como a proposta pedagógica da escola e também seu modelo de gestão estão alicerçados naquela iniciativa de cunho cultural, ideológico ou até mesmo comercial. Essa foi a atitude do Pueri Domus ao apoiar Corpos: a Exposição, mostra já vista por 15 milhões de pessoas no mundo todo e que reúne acervo com 20 corpos e 250 órgãos reais, distribuídos em cerca de 9 mil m² na OCA, do Parque do Ibirapuera, em São Paulo. O grupo montou um estande, onde os visitantes são instigados a olhar o corpo humano sob diversos prismas: desde a ótica do médico, passando pela do artista, até a ótica dos esportistas.
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É a primeira vez que a exposição vem à América Latina. Pode ser visitada até o dia 8 de agosto, de segunda a sexta, das 10h às 20h. Sábados e domingos, das 9h às 20h. Valor do ingresso: R$ 40,00. Em 2007, a mostra que se chamava Corpo Humano – Real e Fascinante levou 450 mil pessoas à OCA
“Precisávamos de um espaço que fosse efetivamente educativo, além de possuir um caráter tecnológico muito forte, outra característica de nosso grupo. Assim, elaboramos uma sala de aula com pequenas exposições sobre o corpo humano em 3D que duram cerca de quatro minutos. Somente nos finais de semana, chegamos a receber 400 pessoas no estande de forma espontânea”, detalha André Bocchetti, coordenador de Projetos do Pueri Domus. Bocchetti enfatiza que dois motivos levaram a marca a participar da exposição. Em primeiro lugar, a questão da valorização cultural do aluno como cidadão, agente transformador, de modo a ampliar o interesse dele por universos paralelos a seu processo de aprendizagem. E, em segundo plano, a própria temática da mostra, que se relaciona com outras disciplinas, de maneira direta ou indireta, e com o projeto pedagógico do Pueri.
Sandra Daniel
Para Vagner Aguilar, Diretor Nacional de Marketing e Estratégia do Sistema Educacional Brasileiro (SEB), do qual fazem parte as marcas Pueri Domus, Dom Bosco e COC, ações dessa natureza também ajudam na retenção de alunos, além de fazerem com que os atuais estudantes se sintam orgulhosos ao verem sua escola como parceira de um evento importante, tornando-se disseminadores da iniciativa para as comunidades que costumam frequentar. “É necessário tomar cuidado para que não existam promessas que vão além do próprio core business da organização. Na medida em que mostramos ser uma instituição de qualidade do ponto de vista pedagógico e que lança mão de alta tecnologia para implementar o processo de aprendizagem, deixamos claro ao público receptor da mensagem que estamos na vanguarda desse processo e construímos os diferenciais perante não somente nossos alunos, mas a quem quer que nos visite”, explicita.
Novas mídias Em tempo de novas mídias, como blogs, Twitter, Facebook e afins, é inegável que o marketing institucional também aderiu aos canais digitais, tornando tangíveis conceitos e experiências que anteriormente ficavam restritos apenas a participações em eventos presenciais. “As mídias digitais são fundamentais para a construção da imagem de uma organização e não é diferente para as instituições de ensino. Todas as escolas estão presentes nessas mídias, porém o uso que fazem delas é bastante variado”, alerta o Diretor Nacional de Graduação da ESPM. De acordo com o consultor, existem instituições de ensino superior, por exemplo, que simplesmente transferem seu processo seletivo para as mídias digitais, mas não oferecem maiores possibilidades de interação com o público. Essa seria uma forma limitada de explorar o potencial de envolvimento e criação de comunidades nas novas mídias. “E aqui reside o maior valor dessas novas arenas: criação de comunidades envolvidas com a marca. As instituições mais bem sucedidas serão as que conseguirem fazer isso. É claro que o tom exato da mensagem depende do posicionamento da escola, mas uma boa pista é olhar marcas bem sucedidas de alguns produtos de consumo, como a Nike, que conquista o público jovem com uma linguagem elegante”, contextualiza.
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estudo de caso
Escola lápis de cor
Pintamos com
todas as cores
Por Francisco Arruda
Na Escola Lápis de Cor, em Natal (RN), aprendizagem colaborativa é o foco de um programa pioneiro criado pela instituição, cujo objetivo é aperfeiçoar a gestão do conhecimento e compartilhar experiências entre docentes
p
ense em um quebra-cabeça de grandes proporções; o desafio de encaixar cada peça em seu devido lugar é instigante e contínuo. Agora, imagine que esse mesmo quebra-cabeça seja construído gradativamente com a colaboração de muitas mãos. Cada jogador está apto a trazer sua peça para o jogo, bem como a avaliar em conjunto de que modo a peça de outro jogador pode ser acoplada a sua. Parece mais animador do que a montagem solitária de apenas um quebra-cabeça, não é mesmo?
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Essa filosofia lúdica, de certa forma, dá vida a um programa criado pela Escola Lápis de Cor, em Natal (RN), uma das associadas do Pueri Domus. Desde 2008, a instituição investiu na criação do Ciclo de Aprendizagem que teve sua 4ª edição no mês de julho. A Lápis de Cor possui cerca de 600 alunos, distribuídos do berçário até as séries concluintes do ensino fundamental. Giovana Carla Cardoso Amorim, assessora pedagógica da escola, afirma que o objetivo do
Divulgaçao
Divulgaçao
programa é promover uma formação profissional docente de qualidade, de modo que interajam prática e teoria. “É um casamento de estudos em consonância com as experiências que vivenciamos em sala de aula, no qual todos são convidados a interagir com os temas”, completa. De acordo com a consultora, cada ciclo apresenta um eixo central que norteia todas as atividades. Na última edição, o foco foram as novas resoluções do Conselho Nacional de Educação (CNE) sobre a questão da infância que abordam as mais variadas perspectivas, ao analisar o universo da criança hoje e os princípios dos processos de aprendizagem contemporâneos, também resgatados pelo RCNEI (Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil). Os ciclos de aprendizagem são realizados semestralmente e têm duração de dois dias, com os trabalhos realizados em período integral, sempre em um espaço fora do ambiente da escola. Giovana destaca que as discussões não são estanques, estendendo-se pelo semestre subsequente ao ciclo, em encontros quinzenais. “Na primeira edição, nós estudamos as diferentes dificuldades de apren-
dizagem, como o autismo, a dislexia, entre outras. Levantando essa temática, tornou-se possível mapear mais especificamente alguns educandos da própria escola que apresentam esse tipo de dificuldade, promovendo encaminhamentos até então não realizados. Isso pode ser considerado um desdobramento do ciclo”, detalha a assessora pedagógica. Desafios do século XXI Diante do imediatismo que os atuais meios de comunicação proporcionam e da rapidez de interação entre as pessoas, o grande entrave talvez seja a promoção da chamada gestão do conhecimento, enfrentado não apenas por muitas instituições de ensino, mas também por empresas privadas. O desafio para muitos gestores é circular a informação entre as mais variadas áreas, de modo a universalizar discursos e disseminar a proposta pedagógica da escola. Assim, todos podem compreendê-la. Para resolver o problema, consultores afirmam que é necessário um efetivo engajamento de todos os níveis hierárquicos da escola − dos mantenedores aos colaboradores da área administrativa. Isso
contribui até mesmo para diminuir o turn over e consolidar processos rumo à qualidade total, como é o caso da Lápis de Cor, que caminha para a implantação do ISO 9001.
Na Lápis de Cor, os ciclos de aprendizagem acontecem desde 2008. A quarta edição foi realizada nos dias 15 e 16 de julho deste ano e teve como tema central as novas resoluções do CNE sobre a questão da infância
Anteriormente, um quadro de profissionais fazia reuniões pedagógicas semanais, mas sem um efetivo controle do processo, que se revelava intermitente. Nem sempre todos os professores participavam, revela Giovana. Agora, o corpo docente se sente valorizado por ter suas ideias efetivamente difundidas. Como exemplo, a assessora pedagógica cita os professores da área de Educação Física que, em dado momento, puderam contribuir com seus conhecimentos sobre a coordenação psicomotora da criança e a relação com outras disciplinas. “O objetivo é não haver jamais sobreposição de conteúdo, mas sim complementaridade. Por isso, descartamos nomear esse programa como nivelamento. O que praticamos é um processo de aprendizagem colaborativa”, conclui.
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Sala de aula
A Educação Física repaginada
A interdisciplinaridade é quem faz a força Corpo atlético, habilidade motora e excelente condicionamento físico devem ser apenas consequências das atividades. Com base em um olhar mais humanista, a Educação Física passou por ampla reformulação dentro do projeto pedagógico das instituições a fim de despertar o interesse dos alunos e promover a integração com outros conteúdos escolares Por Juliana Lanzuolo
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oa o apito do professor para o início das partidas. Em uma quadra, meninos conduzem a bola no pé rumo ao gol. Em outra, meninas ajeitam o rabo de cavalo entre um saque e outro, em uma típica jogada de voleibol.
Parece uma narração de uma aula de Educação Física, não é mesmo? É bom que se diga: esse esquema tem ficado cada vez mais no passado. Dentre as disciplinas do Ensino Fundamental, provavelmente a Educação Física sofreu transformações mais profundas nos últimos anos. Mudanças pedagógicas e legislativas levaram a um questionamento da missão dessa disciplina por diversos educadores. Rogério Toto, coordenador do curso de Educação Física da Universidade Metodista de São
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Paulo, destaca que o avanço das discussões filosóficas sobre a disciplina é recente da perspectiva histórica. Nesse sentido, a principal mudança diz respeito às transformações na concepção do curso. “Até a década de 1980, a Educação Física foi marcada por uma visão estritamente voltada ao rendimento esportivo, fruto do desenvolvimento do esporte no mundo. Soma-se a isso o restrito legado das escolas de Educação Física do país, que, somente nos anos 70, tiveram aumento significativo em relação à oferta de cursos”, completa. “Justamente nessa época, tínhamos a influência dos interesses políticos e as aulas eram muito calcadas no preparo físico, condicionamento e resistência. Hoje, a disciplina desviou seus objetivos e suas condutas para uma linha mais humanista,
que privilegia não só os mais hábeis, mas visa criar oportunidades para a participação efetiva de todos alunos e promover o bem-estar”, acrescenta o professor Clodoaldo Colello, do Ensino Fundamental II, da unidade Verbo Divino do Pueri Domus, em São Paulo (SP). O docente explica que, no início, quando a Educação Física foi introduzida nas escolas, havia uma divisão entre corpo e mente e não se concebia o indivíduo de forma integral. Consideravam-se apenas o movimento, a capacidade e a aptidão física, de modo que a percepção lógica e a habilidade de raciocínio eram praticamente esquecidas.
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“Com o nível de informação que a criança recebe nos dias de hoje, ela domina amplamente a tecnologia e é facilmente acessada pelos mais variados meios de comunicação, por isso, a demanda da própria disciplina transfigurou-se”, explica Clodoaldo. Mas esse processo ainda tem muito a evoluir, porque a superação do paradigma da Educação Física voltada ao rendimento esportivo é ainda incipiente, principalmente nas escolas públicas. “Entretanto, com a introdução dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), que preconizam o exercício físico, a ginástica, os jogos, os esportes, as lutas e a dança como conteúdos primordiais da disciplina, tudo isso converge para uma Educação Física mais holística, humana”, avalia Rogério Toto.
Os três eixos Para adequar-se aos moldes contemporâneos, a disciplina não deve estar restrita às atividades práticas. Na opinião de Rogério Aparecido Batista, professor do Colégio Metropolitano, em Piracicaba, interior do Estado de São Paulo, o aluno deve ser instruído a entender, modificar e adaptar-se para que pratique atividades físicas de maneira adequada e prazerosa. Dessa forma, o hábito se estenderá para a vida adulta. “A Educação Física tem por objetivo estudar o movimento humano e nos leva a praticá-lo de forma consciente. É importante entender: os aspectos fisiológicos (quais são as fontes de energia para o corpo, a alimentação e a respiração) e os aspectos sociais (aprender a se relacionar em grupos, times, equipes). Sem contar os aspectos culturais, que influenciam comportamentos, criam modismos. Já as modalidades esportivas, os fundamentos, os jogos e as regras contribuem para as faculdades intelectuais e de formação do cidadão, porque mexem com o corpo, a afetividade, a sociabilidade, a ética, a moral e até a sexualidade dos alunos”, ressalta. Para o professor Paulo Henrique Azzi, da Escola Viverde, em Bragança Paulista, a disciplina auxilia a formação integral do aluno e desenvolve habilidades gerais e específicas, além de melhorar o relacionamento entre colegas. “A maneira como o educador físico elabora a aula pode contribuir para a prevenção de doSUPER ESCOLA 21
Sala de aula
A Educação Física repaginada
enças, estimular a alimentação saudável e a qualidade de vida”, ressalta Paulo Henrique.
Projetos interdisciplinares O conjunto de oportunidades para as propostas de Educação Física não deve se restringir às atividades em quadra. Durante as Olimpíadas de Inverno de Vancouver, Clodoaldo Colello e o professor de Geografia criaram uma atividade em parceria. “A turma assistiu ao filme Jamaica abaixo de zero e, com recortes de jornais e revistas, os alunos confeccionaram painéis com as modalidades presentes no Canadá. Para a atividade destinada à Geografia, eles estudaram o clima e outras características dos países competidores”, conta Clodoaldo.
Seguindo essa tendência, o Pueri Domus reformulou a estrutura do planejamento das aulas e passou a considerar três eixos principais. “Corpo e ludicidade”, representa um dos eixos pedagógicos e diz respeito à proposição de atividades mais lúdicas, as quais, inevitavelmente, colaboram para nivelar um grupo heterogêneo de alunos em torno das iniciativas da disciplina. “Dessa forma, desenvolvemos o intelecto e a capacidade dos alunos de se organizarem para determinadas ações”, complementa o professor Clodoaldo Colello.
Em uma aula bem-sucedida, alinhada às novas tendências da disciplina, o professor sugere introduzir atividades que misturem as técnicas e habilidades. “Um jogo que tem agradado bastante é o badminton, que, por ter uma rede no meio, minimiza o contato físico entre os jogadores. Outra opção é o tênis de mesa”.
“Os jogos adaptados e cooperativos compactuam com a igualdade e a inclusão. O novo educador físico deve ter como objetivo principal levar conhecimentos fundamentais para que os alunos possam, além de realizar atividades nas aulas, também adotar hábitos saudáveis de higiene e alimentação, respeitar o próximo, repudiar a violência e desenvolver espírito crítico em relação à imposição de padrões de beleza, saúde e estética”, complementa Rogério Batista.
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O segundo eixo, “Corpo e movimento”, engloba a habilidade de analisar experiências motoras para que a criança se insira no grupo e perceba as diferenças e as aptidões de cada um, respeite os limites e as diferentes inteligências. O último, “Corpo e cultura”, está atrelado à capacidade de relacionar e apreciar hábitos, características e tradições de outros países.
Aulas diferenciadas Para atingir o objetivo de formar cidadãos autônomos, inovadores e reflexivos, apegados aos valores humanos, Paulo Henrique Azzi propõe os seguintes métodos e adaptações às aulas: • estimule a participação de maneira integral e valorize todos os participantes; • prefira o método cooperativo: esqueça os placares nos jogos; • chame a atenção para a importância de participação e da aprendizagem colaborativa; • explore a cognição, dividindo, por exemplo, a quadra de esportes em espaços reduzidos. Assim, os alunos vão se deparar com novas situações-problema e terão de aprender como resolvê-las rapidamente; • adapte as regras dos jogos para possibilitar maior equilíbrio entre a participação dos alunos, pois é necessário incentivar aqueles com menor capacidade específica e dar oportunidade aos que têm capacidade mais desenvolvida,colocandoos em situações que requerem a vivência de novos desafios.
Essas variações numéricas deram origem a um gráfico em Matemática. Já em Biologia, o tema foi a importância dos alimentos e o funcionamento do coração na atividade física. Em Português, estudaram a linguagem do corpo (físico, simbólico e político) e elaboraram relatórios das etapas trabalhadas”, conta Rogério.
No Colégio Metropolitano, professores da disciplina desenvolveram um projeto com Biologia, Matemática e Português, que rendeu frutos e uma boa avaliação por parte do quadro docente e da direção, pois perceberam o envolvimento dos alunos do Ensino Médio, que passaram a encarar a Educação Física com maior comprometimento.
Para incrementar as aulas de História e Geografia da Escola Viverde, Paulo Henrique Azzi trabalhou em suas aulas a evolução dos esportes, as tendências da Educação Física em diversas épocas e outros fenômenos do mundo esportivo, como as Olimpíadas e a Copa do Mundo. “Isso foi possível com a mescla de atividades práticas e teóricas, utilização de vídeos e textos, debates, avaliações, materiais adaptados e apresentação de grupos”, explica.
“Na minha disciplina, eles estudaram os efeitos positivos e negativos da atividade física, verificaram suas frequências cardíacas em repouso e em movimento.
O coordenador Rogério Toto afirma que as experiências de
Autor de A Educação Física cuida do Corpo... e Mente (Editora Papirus, 2002). Esse livro apresenta uma contribuição ímpar ao propor uma análise crítica das práticas pedagógicas, seguindo uma reflexão orientadora de uma transformação radical dessa prática educativa. É também coordenador do Projeto Universidade do Futebol, lançado no ano de 2009
atividades interdisciplinares envolvendo a Educação Física têm sido recorrentes e bem-sucedidas. Ele chama atenção para a matriz curricular dos cursos de graduação, que contribuem para isso, pois formam um professor generalista, capaz de ampliar o leque de opções e atividades para os alunos. “Nesse sentido, o corpo é o instrumento privilegiado. A consciência corporal permite ao indivíduo perceber melhor a relação com o mundo, suas tra nsformações biológica s, o volume e a intensidade do exercício e outras situações que permitem relacionar a disciplina com qualquer outra área de conhecimento. Destaca-se ainda a importância de superarmos a dicotomia entre corpo e mente, pois, nas palavras do professor João Paulo Medina, corpo sem mente é cadáver. Mente sem corpo é assombração”, conclui Toto. Atividades lúdicas e ampliação do leque de modalidades esportivas oferecidas ao alunos podem contribuir para a integração dos estudantes à disciplina
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Clodoaldo se recorda ainda de uma espécie de “olimpíada cultural” realizada com alunos e professores do Ensino Fundamental em que foi colocada uma questão envolvendo assuntos pertinentes a diversas disciplinas, correlacionando-as, e também do quiz sobre a Copa do Mundo de Futebol, seguindo o mesmo foco.
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Comportamento
OBESIDADE INFANTIL
Educação que h se põe à mesa O excesso de peso pode provocar nas crianças o diabetes e outros problemas de saúde. Pais e professores devem unir forças para evitar o crescimento da chamada diabesidade, considerada por muitos o grande mal do século XXI Por Juliana Lanzuolo
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á muito tempo, o ponteiro da balança deixou de ser preocupação exclusiva de gente grande. Boa parte dos adultos que controla o próprio peso tem dobrado a atenção para o problema, ao perceber que a obesidade começa a dar sinais também na vida de seus filhos, desde a infância. Em 2002, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizou a última pesquisa para conferir a proporção de adolescentes com excesso de peso e, naquela época, o dado já era alarmante: 18%
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dos garotos e mais de 15% das meninas se enquadravam nessa situação. O aumento da incidência da obesidade nas crianças, nos últimos 20 anos, no mundo todo e em todas as classes sociais, deve-se a uma mudança drástica na alimentação e nos hábitos dessa faixa etária. “As nossas crianças andam menos, brincam menos na rua, usufruem mais dos meios de transporte e dos controles remotos. Isso ocorre pela falta de segurança e pelo interesse maior em telas (computador, videogame e TV) do que em brincadeiras e esportes que consomem energia ao ar livre”, justifica Claudia Cozer, Coordenadora do Núcleo Avançado de Obesidade e Transtornos Alimentares do Hospital SírioLibanês, em São Paulo (SP). Nesse cenário, também é necessário considerar as mudanças na estrutura e nos hábitos familiares. As mães modernas conquistaram espaço no mercado de trabalho e o consumo de fast food ou alimentos industrializados não exige o tempo necessário para o preparo de refeições balanceadas. Justamente nesse ponto, segundo os especialistas, encontra-se o problema: a educação alimentar também começa em casa. “As crianças aprendem a comer, saborear e gostar daquilo que elas veem como padrão alimentar de seus pais. Então, elas precisam vivenciar hábitos saudáveis, baseados em uma alimentação variada e balanceada, onde há até mesmo espaço para o fast food”, alerta Claudia.
Inimigo oculto Vale ressaltar: a obesidade é o mal mais aparente por estar ligada também à questão estética. Os problemas mais graves, no entanto, só podem ser detectados por meio de exames periódicos. “O excesso de peso pode levar a uma resistência à ação da insulina − hormônio produzido pelo pâncreas – fundamental para que os níveis de açúcar no sangue fiquem adequados. Assim, a obesidade pode dificultar a ação e a secreção da insulina e causar o diabetes tipo 1”, explica Zuleika Salles Cozzi Halpern, endocrinologista do Departamento de Obesidade Infantil da ABESO – Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica. A médica alerta que as mesmas doenças que podem ser causadas pela obesidade nos adultos, ocorrem também nos pequenos. “Infelizmente, já temos uma grande incidência de diabetes tipo 2 em crianças e adolescentes, assim como de hipertensão e colesterol aumentado”, completa. A escola pode ajudar Dentro de casa, formam-se as bases do comportamento no que diz respeito à alimentação. Na escola, onde geralmente as crianças consomem grande parte das calorias diárias, a conduta é reforçada.. A doutora Claudia Cozer exalta a importância de os educadores sugerirem cardápios saudáveis e nutritivos, proporem atividades educativas ligadas à nutrição e até explicarem aos alunos o funcionamento da pirâmide alimentar. A abordagem desses tópicos pode gerar benefícios
Geralmente, aparece na infância e é também conhecida por Diabetes insulino -dependente, pois o corpo produz pouca ou nenhuma insulina. Essas pessoas precisam tomar doses de insulina diariamente para sobreviver. Menos de 10% dos diabéticos têm tipo 1 dessa doença
Ocorre em 90 a 95% dos casos de diabetes. Conhecida como Diabetes não insulino -dependente, geralmente transcorre na idade adulta pelo excesso de peso e má alimentação
que ultrapassam muros das instituições de ensino. “Muitas dessas atividades devem incluir a participação dos pais para que haja uma união de forças e, como costumamos dizer, todos que dividem a mesma geladeira devem ter os mesmos hábitos. As crianças têm de aprender na escola e conferir a prática em suas casas”, ressalta. SUPER ESCOLA 25
Comportamento
Obesidade INFANTIL
A endocrinologista Zuleika Halpern acredita que as aulas de Educação Física podem incentivar os alunos à prática de atividades em direção ao bem-estar. “Os exercícios são importantes para a saúde física e mental. Os esportes coletivos auxiliam no desenvolvimento da personalidade e no aprendizado da convivência. Para qualquer indivíduo, em qualquer idade, com hábitos alimentares saudáveis e atividades físicas regulares que somem, ao menos, 150 minutos por semana, os resultados serão excelentes”, afirma Zuleika.
Em alguns países europeus, há iniciativas civis sérias que buscam regulamentar a publicidade infantil e contam com a participação democrática dos envolvidos no processo: pais, publicitários e pedagogos. “Eles buscam uma regulamentação da publicidade para crianças de forma mais equilibrada por meio da discussão e não da imposição de leis e mais leis fabricadas às pressas no Brasil. Um ponto interessante é que a publicidade a ser restringida é avaliada antes de ser veiculada e não depois, como acontece em nosso país”, explica o professor João Matta, especialista em Marketing Infantil da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), em São Paulo (SP).
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A TV e sua parcela de culpa Os produtos não indicados a uma vida saudável preenchem a maior parte dos intervalos comerciais dos desenhos e dos programas preferidos pelas crianças. A escolha dos meios de comunicação, das datas e dos horários em que serão veiculados são estrategicamente determinados para atingir o público infantil.
No entanto, para o consultor, não se deve caracterizar a propaganda como única culpada pelos maus hábitos alimentares. “A questão em torno do consumo é bem mais complexa, por isso, necessita de profundidade. Ainda engatinhamos na compreensão da publicidade e do marketing desenvolvido para as crianças. Na falta de estudos mais densos e de energia para a discussão, proíbe-se a publicidade de forma apressada e pouco precisa. É preciso evitar esses riscos”, alerta Matta. É indiscutível, entretanto, a real importância dos pais na educação dos filhos, até mesmo em relação ao consumo. A televisão, a Internet, os DVDs, os games são utilizados frequentemente pelas crianças. Mas os limites impostos fazem toda a diferença. “Os pais precisam estruturar fronteiras claras e coerentes para o
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consumo de seus pequenos, seja ele de TV, jogos, Internet, guloseimas etc. Em uma residência, por exemplo, onde é regra não tomar refrigerante durante os dias da semana, não há propaganda no mundo que consiga incluir a Coca-Cola no hábito alimentar dessa casa”, argumenta o especialista. Para João Matta, a influência midiática é bem mais ampla do que pensam alguns de seus críticos. A mídia − um coletivo dos meios e dos veículos de comunicação contemporâneos − influencia sim nossas crianças (e também adultos), pois passa a ideia de que acesso à informação é o mesmo que conhecimento sobre determinado assunto. “Não foi a publicidade quem inventou os sites de busca. A paixão da sociedade pela informação é quem o faz e é estimulada por outros tipos de narrativas midiáticas que não a publicidade”, contesta. Para exemplificar, ele lembra como o caso Isabela Nardoni foi coberto pela mídia, com exibições de detalhes totalmente dispensáveis da morte da menina – que incluíam simulações do crime que foram assistidas pelas crianças por meio da TV. “Dessa forma, o papel dos pais precisa se intensificar na busca pelos limites do que consumir por meio da TV ou da geladeira. Não basta ser pai, é preciso conseguir dizer ‘não’ quando necessário. Além disso, é papel dos pais desenvolver em seus filhos um consumo crítico da mídia. Eles precisam estar próximos aos filhos no dia a dia midiático. Esse tipo de educação não pode ser terceirizado”, alerta.
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IDEB 2009
Ainda o IDEB
O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) 2009, divulgado em julho, revelou que as taxas de evasão escolar vêm caindo sucessivamente. No entanto, em relação ao desempenho dos alunos, o mesmo IDEB revela que os estudantes da última série do Ensino Médio apresentam nível de aprendizagem abaixo, até mesmo do que se espera para alunos do 9º ano do Ensino Fundamental.
Em todo o país, só 5,7% das escolas públicas do ensino fundamental conseguiram alcançar 6 pontos (numa escala de zero a 10). Essa é a nota que era vista como o mínimo aceitável pelos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico em 2003, embora o governo a tenha fixado como meta para 2021.
Panorama da graduação superior a distância Matrículas por região – mil
Nordeste
67,6
Norte
77,1
Embora as médias nacionais de aproveitamento tenham melhorado entre 2007 e 2009, houve uma queda de desempenho especialmente nas séries finais do ensino fundamental em 1.146 cidades, o equivalente a 21% do total de municípios analisados.
A força do EAD
Centro-Oeste
46,7
Sudeste
232,3 Sul
367,3
Fontes: Ministérios da Educação e Associação Brasileira de Educação a Distância * Considera apenas instituições que responderam o Anuário Estatístico da Educação Aberta e a Distância do Brasil - 2008
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Levantamento realizado pelo Ministério da Educação e pela Associação Brasileira de Educação a Distância revela que 15% dos estudantes universitários no país estão matriculados em cursos a distância, o que representa cerca de 791 mil pessoas, distribuídas em quase 650 graduações. Entre 2002 e 2008, houve um crescimento de 65% nas matrículas para cursos a distância. A região Sul do país é a primeira colocada no ranking do EAD e responde por um contingente de mais de 367 mil universitários matriculados.
Novidades no Enem Pela primeira vez, a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) terá questões de língua estrangeira (inglês ou espanhol), de acordo com a opção do estudante na hora da inscrição. Como no restante da prova, o objetivo é que o candidato seja capaz de aplicar seus conhecimentos às situações do cotidiano. As provas serão realizadas nos dias 6 e 7 de novembro. O exame terá 180 questões de múltipla escolha e uma redação.
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história do mantenedor
escola crescimento
Gestão escolar com visão
empresarial Em São Luís, pioneirismo de educadora e vanguardismo da proposta pedagógica e do modelo de gestão levam adiante missão de formar as futuras gerações. Escola Crescimento completa 25 anos e quer agora ampliar projetos na área de responsabilidade social
Por Adriano Zanni
Em 1980, quando a Internet ainda não existia, não havia telefone celular, o Google, entre outras invenções, e o Brasil ainda era governado por um regime ditatorial, tendo de conviver com o fantasma da inflação galopante, uma jovem educadora sonhava em dar início a uma pequena escola na capital fluminense. Maria Ariadine Bacelar de Cas-
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tro podia ser considerada uma empreendedora para a época. O bairro escolhido para a ousadia da professora era o condomínio Novo Leblon, na Barra da Tijuca. Ali seria fundada a Escolinha das Artes. Em 1984, com a oportunidade de mudança da família para a cidade de São Luís, o sonho de edificar uma escola ainda maior se concretizou. “Lembro como se fosse hoje, o Jardim Escola Crescimento abriu suas portas, em uma casa alugada no bairro do Olho d’Água, com três turmas e apenas 25 alunos. Tudo era motivo de orgulho”, diz a fundadora. Segundo Maria Ariadine, a escolha do nome da escola denotava o cultivo de um valor muito forte:
Fotos: Gustavo Mendonça
e
mbora a distância rodoviária que separa a capital maranhense da cidade maravilhosa possa ser mensurada em extensos 3015 km, São Luís e Rio de Janeiro apresentam similaridades. Essas localidades abrigam histórias de pessoas e instituições capazes de atravessar fronteiras.
Maria Ariadine Bacelar de Castro: 25 anos dedicados à educação e vanguardismo nas propostas pedagógicas
o de evolução. O empreendedorismo era um dos pilares. “Na década de 1980, quando a maior parte das escolas de São Luís localizava-se no centro da cidade, em locais de difícil acesso e inadequados, a Crescimento instalou-se em uma área ampla e arborizada que propiciava um espaço agradável para as crianças. Foi um desafio”, relata.
mental, uma vez que diversos pais queriam que os filhos dessem continuidade aos estudos de acordo com as mesmas metodologias da educação infantil. A expansão foi planejada e gradativa.
Com uma proposta inovadora, que envolvia alunos e famílias em um relacionamento participativo e democrático – o que não era muito comum na época –, a concepção de ensino priorizou a experimentação, a vivência e a compreensão das diferenças e as necessidades de cada criança. Tudo isso permeou o próprio modo de gerir a instituição.
Um ano mais tarde, deu-se início ao Ensino Fundamental, com uma turma de primeira e outra de segunda série. Nesse período, o Jardim Escola Crescimento tornara-se Escola Crescimento.
“Quando só se falava em qualidade total para as indústrias, já estudávamos e implantávamos ferramentas adaptadas à realidade da escola. Iniciava-se um processo de gerir a Crescimento como uma empresa, visando atender melhor às famílias”, comenta a fundadora. Tijolo a tijolo Com o passar dos anos, a escola cresceu consideravelmente e passou a abrigar turmas do Ensino Funda-
A unidade Renascença foi inaugurada em 1993 com o ciclo de maternal e educação infantil completo.
Outro grande salto, segundo Maria Ariadine, ocorreu quando a Crescimento aliou-se ao Pueri Domus Escolas Associadas (PDEA), antecipando-se à reforma educacional desencadeada pela nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação. O Ensino Médio chegou em 2002, momento que coincidiu com a certificação de qualidade recebida na norma ISO 9001:2000. Em 2009, a escola foi certificada novamente com base na revisão mais atual da mesma norma, a ISO 9001:2008. “Os funcionários já adotaram essa cultura empresarial e
sabem que analisar criticamente dados e planejar iniciativas são coisas que devem rondar o cotidiano deles”, avalia Maria Ariadine. Responsabilidade social A implementação do Ensino Médio teve a perspectiva de dar continuidade ao trabalho realizado no Ensino Fundamental. Com o ama-
durecimento da proposta pedagógica e os excelentes resultados no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), consolidou-se na comunidade uma imagem de escola forte e que prepara cidadãos para os vários desafios que encontrarão pela vida. Em 2006, a escola associou-se ao Instituto de Cidadania Empresarial (ICE-MA), iniciando um novo foco na gestão: o da responsabilidade social. “Ao propiciar em nosso universo a aprendizagem da convivência saudável, cumprimos nossa função maior, que é, por um lado, abordar conhecimentos sobre a diversidade da espécie humana e, por outro, levar as pessoas a tomar consciência sobre as semelhanças e a interdependência entre todos. Somos uma escola que aprende e uma equipe de profissionais que sempre busca fazer mais e melhor”, finaliza.
Envie a sugestão de sua história para o e-mail: superescola@pdea.com.br
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opinião
mauro fisberg
Como tratar crianças com dificuldades de alimentação?
c Pediatra, nutrólogo, coordenador clínico e professor associado do Centro de Atendimento e Apoio ao Adolescente, do departamento de Pediatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Autor de seis livros de Nutrição e Pediatria, entre eles: Um, dois, feijão com arroz e Atualização em obesidade infantil e adolescência
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hegada a hora do almoço, começa a batalha entre pais e filhos. Depois de broncas, ameaças, choros e manhas, os adultos se dão por vencidos e deixam que a própria criança escolha o que vai comer ou até mesmo se vai comer. O tormento ocorre, geralmente, a partir dos dois anos. Com o início da fase de autonomia da criança, quando ela passa da alimentação infantil para uma mais adulta, esses tipos de problemas alimentares começam. Chamadas de picky eaters (termo que pode ser traduzido como “comedores seletivos”), essas crianças têm u m compor ta mento a limentar que varia de excluir determinados grupos de alimentos (como verduras, legumes ou peixes) a pular refeições, ou, simplesmente, comer muito pouco. O problema é mais comum do que parece: 50% das crianças na faixa de dois a cinco anos podem ser consideradas
picky eaters. Apesar de passageiro, o comportamento gera transtornos no relacionamento familiar, além de afetar o progresso cognitivo e comprometer o desenvolvimento e o crescimento natural das crianças. Diante desse cenário, surge uma pergunta: como tratar uma criança com dificuldades de alimentação? O primeiro passo é buscar orientação profissional. O pediatra ou o nutricionista sabem como identificar quanto o problema está afetando a criança. Em muitos casos, o uso de suplementos nutricionais é necessário. No entanto, vale a pena prestar atenção no tipo de produto a ser escolhido. Está disponível no mercado grande variedade de produtos, mas nem todos possuem fórmula balanceada e equilibrada. Os suplementos nutricionais verdadeiros
são uma alternativa para incrementar a dieta infantil e evitar que a criança corra risco nutricional, enquanto se adapta a uma dieta mais saudável. Os bons suplementos não interferem no peso da criança, não têm como objetivo abrir o apetite, nem substituir refeições, mas contribuir para equilíbrio da alimentação natural. Além disso, o uso de algumas estratégias para despertar o interesse dos pequenos pela comida pode acalmar os ânimos à mesa. Apresentar pratos coloridos, fazer carinhas com a comida e oferecer o alimento rejeitado pelo menos dez vezes, em refeições e com apresentações diferentes, são boas estratégias. Não vale, porém, enganar, forçar, castigar e nem mesmo premiar. É muito importante também que os pais imponham limites aos filhos: horários e locais apropriados. A escola também tem seu papel nesse processo.
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