Instituição tem transformado a realidade do transporte brasileiro com a prestação de serviços aos trabalhadores do setor, aos seus dependentes e à comunidade
10:30 AM
100%
Nenhuma mensagem vale mais que a vida. CELULAR E DIREÇÃO NÃO COMBINAM.
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Não deslize no trânsito.
A segurança no trânsito é responsabilidade de todos e está diretamente relacionada ao bem-estar dos motoristas. Por isso, a CNT (Confederação Nacional do Transporte) e o SEST SENAT desenvolvem o Programa CNT SEST SENAT de Prevenção de Acidentes, uma grande iniciativa que trará mais qualidade de vida aos trabalhadores do transporte de norte a sul do país. Nossos profissionais levam até os trabalhadores do setor orientações e informações sobre práticas e hábitos que tornam o trânsito mais seguro. É o SEST SENAT cada vez mais perto do trabalhador. Como a conscientização e a educação são também caminhos para promover o bem-estar no trânsito, é importante estar atento a estas dicas de segurança ao lado.
Fique atento! O uso do cinto de segurança é obrigatório (no banco traseiro também).
Desacelere! A pressa é uma grande inimiga dos condutores nas estradas.
Desconecte-se! Celular e direção nunca combinaram.
Tenha cuidado! Ultrapasse apenas quando for permitido.
Descanse! É importante ter boas noites de sono antes de dirigir e fazer pausas nas viagens.
Alimente-se bem! Uma alimentação saudável proporciona disposição ao motorista nas estradas.
Previna-se! Viaje apenas com o veículo revisado e informe-se sobre as condições das estradas.
Não use álcool e drogas! Ao usá-los, o motorista perde os reflexos e a coordenação, habilidades essenciais para quem dirige.
sestsenat.org.br | 0800 728 2891 |
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REPORTAGEM DE CAPA Há 25 anos, o SEST SENAT tem transformado a vida de milhões de profissionais do transporte, dos seus dependentes e da comunidade em geral. A instituição hoje é referência na prestação de serviços de qualificação profissional e de assistência à saúde PÁGINA 16
T R A N S P O R T E A T U A L ANO XXIV | NÚMERO 274 | SETEMBRO 2018 ENTREVISTA
Antonio Lavareda, cientista político, avalia o cenário político brasileiro página
TECNOLOGIA • As novidades do transporte presentes no Salão de Hannover, na Alemanha página
EDIÇÃO INFORMATIVA DA CNT FALE COM A REDAÇÃO (61) 3315-7000 SAUS, Quadra 1 - Bloco J - entradas 10 e 20 Edifício CNT • 10º andar CEP: 70070-010 • Brasília (DF)
CONSELHO EDITORIAL Bruno Batista Helenise Brant João Victor Mendes Myriam Caetano Nicole Goulart Olívia Pinheiro
esta revista pode ser acessada via internet:
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Cynthia Castro - MTB 06303/MG Livia Cerezoli - MTB 42700/SP Natália Pianegonda - MTB 14695/RS
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diagramação
Publicação da CNT (Confederação Nacional do Transporte), registrada no Cartório do
Gueldon Brito e Jorge A. Dieb revisão
1º Ofício de Registro Civil das Pessoas Jurídicas do Distrito Federal sob o número 053. Tiragem: 60 mil exemplares
Filipe Linhares Os conceitos emitidos nos artigos assinados não refletem necessariamente a opinião da CNT Transporte Atual
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INSTITUCIONAL • CNT apresenta propostas aos candidatos à presidência página
FERROVIÁRIO
Portas automáticas nas estações de metrô garantem segurança e eficiência página
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AGÊNCIA CNT DE NOTÍCIAS: INFORMAÇÕES RELEVANTES PARA O TRANSPORTE AQUAVIÁRIO
Os riscos dos ataques de piratas digitais página
AÉREO
RODOVIÁRIO
Conheça as diferentes reações do corpo humano durante os voos
A arte da filetagem presente nas carrocerias dos caminhões
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O setor cada vez mais conectado.
SERVIÇO
Central de atendimento esclarece dúvidas sobre o eSocial página
Acesse: www.cnt.org.br
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Seções Duke
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Editorial
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Mais Transporte
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Tema do mês
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CIT
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Alexandre Garcia
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Gestores do transporte participam de visita ao Vale do Silício página
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ITL
Projeto de compartilhamento de transporte garante redução de custos página
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Ao longo desta edição, você vai encontrar vários QR Codes como este. Para acessar o conteúdo multimídia, basta direcionar a câmera do celular ou utilizar um aplicativo próprio.
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CNT TRANSPORTE ATUAL
Duke
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CNT TRANSPORTE ATUAL
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“Nossa missão é contribuir cada vez mais para o crescimento e a valorização dos profissionais do transporte.” EDITORIAL
CLÉSIO ANDRADE
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SEST SENAT comemora 25 anos de avanços
desempenho e a qualidade de vida dos trabalhadores do transporte se dividem entre antes e depois do SEST SENAT. O sucesso dos transportadores também. Nos 25 anos de existência do SEST SENAT, que comemoramos neste mês de setembro, contribuímos decisivamente para a profissionalização e para a empregabilidade dos trabalhadores do setor. Sem dúvida, esse foi um grande passo para o desenvolvimento e a modernização do transporte no Brasil. Olhar para trás e constatar todas as conquistas que registramos até aqui reforça a minha crença de que sonhar vale a pena. O sonho de oferecer aos trabalhadores do transporte mais oportunidades e mais qualidade de vida hoje é uma realidade que superou todas as minhas expectativas de 25 anos trás. O SEST SENAT é reconhecido pela excelência na prestação de serviços 100% gratuitos para os trabalhadores do transporte e seus familiares. Em 25 anos realizamos mais de 118 milhões de atendimentos. Na área de saúde o SEST SENAT oferece especialidades como fisioterapia, psicologia, nutrição e odontologia. Em educação profissional, ofertamos mais de 650 cursos presenciais e a distância. A gestão também foi aprimorada. Destaco a ampliação da transparência alcançada com a criação do Compliance e com a adoção de critérios e procedimentos que tornaram a prestação de contas mais clara e eficiente.
Como parte das comemorações, estamos ampliando a capacidade operacional do SEST SENAT. Nos próximos dois anos teremos 206 Unidades operando em todo o Brasil. Todas modernas e equipadas com tecnologia de ponta. Nos últimos anos, preparamos o SEST SENAT para ser o condutor dos trabalhadores do transporte na travessia para as grandes transformações tecnológicas que estão em andamento. A busca do conhecimento, o desenvolvimento da capacidade inovadora e o estímulo à criatividade dos profissionais são as linhas mestras que orientam os programas e projetos da instituição. Nosso desejo é que cada Unidade Operacional do SEST SENAT seja uma janela para o futuro dos trabalhadores, de seus familiares e da comunidade ao redor. Nossa missão é contribuir cada vez mais para o crescimento e a valorização dos profissionais do transporte. É com mais qualidade e produtividade que vamos construir um setor transportador forte, eficiente e relevante para o desenvolvimento do nosso país. O transporte move o Brasil e o SEST SENAT dá mais impulso a esse movimento. Meus parabéns a todos que participaram e participam desta grande construção. Estou orgulhoso do caminho que percorremos até aqui e otimista com o futuro que projetamos para o setor. Parabéns, SEST SENAT! Que venham mais 25 anos de grandes realizações.
ENTREVISTA
ANTONIO LAVAREDA SOCIÓLOGO E CIENTISTA POLÍTICO
O Brasil corre contra o relógio por
A
s incertezas envolvendo o futuro político do Brasil não assustam o sociólogo e cientista político Antonio Lavareda. Consultor de comunicação institucional para governos, corporações públicas e privadas e agências de marketing e publicidade, ele se tornou um requisitado intérprete de cenários eleitorais. Nesta entrevista à CNT Transporte Atual, propusemos algo diferente: uma visão pós-eleição. No entender do professor, que também é colunista da BandNews TV e da rádio BandNews FM, os ânimos terão
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de se acalmar em prol do bem comum, pois “o modelo presidencialista não comporta muito estresse durante quatro anos”. Ele desacredita na “aposentadoria” da Constituição de 1988. “Isso geraria demasiada incerteza em todos os atores sociais, políticos e econômicos. Mais viável será um roteiro de reformas constitucionais que atualizem a Carta de 1988.” Entretanto, o sistema de governo presidencialista merece uma reflexão. Para Lavareda, a fragilidade de mandatos presidenciais em períodos democráticos da história brasileira
revela a necessidade de se encarar esse debate. Aos empresários seu recado é direto: independentemente de quem assuma a presidência do Brasil em 1º de janeiro, deve-se buscar o diálogo prontamente – com o governo e com o Congresso –, especialmente porque a governabilidade é que permitirá a realização de reformas e a implementação de políticas consideradas essenciais para que o país retome o curso de crescimento. Ele ressalta a necessidade de novas concessões e privatizações, em particular para que se viabilizem investimen-
tos na infraestrutura e seus consequentes efeitos sobre a expansão da economia nacional, a geração de empregos e o ganho de competitividade. A alienação eleitoral (votos brancos, nulos e abstenções) tende a ser um fator preponderante neste segundo turno? O apelo aos votos válidos surtiu efeito? A alienação terá um papel importantíssimo no segundo turno. Lembremos que, nesses momentos, uma parcela dos eleitores dos candidatos que não chegaram lá – e nessa eleição são onze – optam por
“A governabilidade nesse sistema requer algum grau de tolerância e aceitação da legitimidade dos resultados do jogo eleitoral por parte dos vencidos”
não participar do processo, estreitando, assim, o mercado eleitoral disputado pelos dois finalistas. Cada vez mais o voto do Nordeste parece definidor do tabuleiro eleitoral. O que isso diz sobre o país? Como isso deve ser interpretado? Essa é uma realidade sociológica inescapável. Concentra-se na região, por questões que têm raízes históricas que não serão abordadas aqui, uma parte substancial da pobreza do país. Esse eleitorado reagiu a políticas públicas como o Bolsa Família, fidelizando seu
voto de apoio, principalmente, ao Lula e aos seus candidatos. O descrédito da classe política, a chamada crise de representatividade, se agravou com sucessivos casos de corrupção. Os políticos aprenderam a lição? O senhor vê uma mudança de comportamento? A mudança virá inexoravelmente. O país não voltará às práticas políticas tradicionais que atravessaram gerações de políticos até agora. Mas ela terá maior ou menor profundidade e capacidade de gerar ou não uma nova cultura política a depender do sistema eleitoral
ARQUIVO CNT
que seja adotado na reforma política que, aliás, foi prometida por todos os candidatos. Que país emergirá em 1º de janeiro? O senhor vislumbra algum tipo de pacificação entre os brasileiros? Ou a polarização continua? Passadas as eleições, no período entre a definição do novo presidente e a sua posse, espero que haja um certo desarmamento dos espíritos e que as diversas forças da sociedade civil se articulem influenciando os atores na direção de um distensionamento. O modelo presidencialista não comporta muito estresse durante quatro anos. A governabilidade nesse sistema requer algum grau de tolerância e aceitação da legitimidade dos resultados do jogo eleitoral por parte dos vencidos. O presidencialismo de coalisão se esgotou? Como o futuro presidente pode conquistar governabilidade? Todos os analistas são praticamente unânimes em destacar a necessidade de algumas reformas urgentes a serem encaminhadas logo no início do mandato. Além da reforma Política, a reforma da Previdência é indispensável para enfrentar o déficit fiscal. É urgente também uma reforma tributária capaz de reduzir a complexidade do sistema tributário, aliviando as
empresas — e capaz de evitar o efeito cascata sobre os preços de produtos e serviços pagos pela população. A gente caminha para uma nova Assembleia Constituinte? Acredito que, embora possa parecer ideal uma iniciativa desse tipo, seria de difícil operação. Geraria demasiada incerteza em todos os atores sociais, políticos e econômicos. Mais viável será um roteiro de reformas constitucionais que atualizem a Carta de 1988. E um arranjo semiparlamentarista capaz de “moderar” o Poder Executivo parece viável? Parece inadiável o país enfrentar a debilidade intrínseca ao modelo presidencialista que temos. Não pode ser mero acaso o fato de registrarmos o mesmo desempenho, comparando-se a taxa de insucesso dos presidentes eleitos – ou seja, a não conclusão dos respectivos mandatos – na quarta República (1945-1964) e na Nova República, inaugurada em 1985 e que vem até os dias atuais. 50% dos presidentes, nos dois períodos, não conseguiram concluir seus mandatos. Em que pese o estilo mais reticente do atual presidente do Supremo, Dias Toffoli, o Judiciário continuará sendo um player político?
Com certeza. Isso deriva do fato de que a Constituição de 1988 atribuiu ao Judiciário e ao Ministério Público um certo papel moderador. Vários analistas, como o sociólogo espanhol Manuel Castells, acusam o declínio da democracia liberal em escala global. O senhor adere a essa ideia? Chegamos ao fim de um ciclo? Faz sentido. Mas isso tem muito a ver com a crise econômica que começou a se esboçar no fim dos anos 1970, no século passado, até atingir a gravidade máxima em 2008, com a ruína debacle de parte importante do sistema financeiro do mundo ocidental. Quando a democracia deixa de assegurar a progressiva melhoria de vida dos trabalhadores e da classe média; quando as dívidas pública e privada só aumentam; e quando aumenta também a desigualdade que estivera em queda sobretudo nas três décadas de ouro que sucederam a Segunda Guerra Mundial; o sistema político se vê fragilizado e seus atores, deslegitimados. Independentemente de quem assumir, o senhor vê compromisso do presidente eleito em tocar as reformas necessárias ao país, como a da Previdência?
Acho que o encaminhamento das reformas não dependerá apenas da vontade política do presidente eleito. As reformas dependerão da governabilidade, com ela, da sustentabilidade do novo governo. A CNT divulgou o Plano de Transporte e Logística, que aponta a necessidade de investimentos na ordem de R$ 1,7 trilhão para resolver gargalos e ampliar a integração do siste-
“O setor público no novo governo terá que rapidamente deflagrar uma nova leva de concessões e privatizações. Somente uma ação vigorosa nessa direção poderá girar a manivela do crescimento da economia”
“O processo político é de extrema importância na vida da sociedade para ser deixado apenas, exclusivamente, para os políticos profissionais” ARQUIVO PESSOAL
ma de transporte. Como os recursos estão contingenciados, nada indica que o poder público terá fôlego para projetos dessa magnitude. Há uma saída? O setor privado pode fazer as vezes do Executivo? O setor público no novo governo terá que rapidamente deflagrar uma nova leva de concessões e privatizações. Sem tempo a perder. Somente uma ação vigorosa nessa direção poderá girar a manivela do crescimento da economia e, com ela, reduzir a níveis suportáveis o desemprego. A atualização da nossa infraestrutura defasada e desfocada dos novos centros geográficos da produção de riquezas no país é inadiável. Sem ela, não virão novos investimentos de vulto e continuaremos patinando como nação de renda média. O Brasil corre contra o relógio. Haverá clima e segurança jurídica para atrair investidores? O novo governo deverá estar atento a isso. Sem o qual, não haverá credibilidade para investir no país, e a recuperação da recessão se dará em ritmo tão
lento que não será percebida pela sociedade, tomada pelo mau humor e pelos sentimentos negativos que desafiarão a legitimidade do nosso sistema político. Diante disso, o senhor daria algum conselho ao empresariado? Em que ele poderia contribuir para a retomada do crescimento e para a estabilidade institucional? Apostar no diálogo com o novo governo e o novo Congresso. Esforçar-se para ser partícipe efetivo do processo de mudanças que ocorrerão a partir das reformas. Debatê-las, acompanhar a sua tramitação, pressionando no bom sentido a representação política no Congresso. Em suma, aumentar sua taxa de participação na discussão dos grandes temas nacionais. Nós já constatamos que o processo político é de extrema importância na vida da sociedade para ser deixado apenas, exclusivamente, para os políticos profissionais. A participação de todos é o nome do jogo que deve ser praticado daqui para a frente. l
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MAIS TRANSPORTE DIVULGAÇÃO: MERCEDES-BENZ
Vendas de caminhões voltam a crescer
DIVULGAÇÃO: PORSCHE
De janeiro a agosto deste ano, as vendas de caminhões cresceram 49,5% no Brasil, um indicativo do aquecimento da atividade econômica, ainda que os resultados do setor, em números absolutos, sejam considerados fracos. Nos oito meses, foram vendidas 46,1 mil unidades. E apesar da incerteza do cenário que se desenhará após as eleições, as montadoras estão otimistas. “A gente vai crescer. É óbvio que, a depender do candidato eleito, esse crescimento poderá ter velocidades diferentes. Mas já começamos a sentir a recuperação. Nos primeiros oito meses deste ano, tivemos um crescimento de 50% em vendas, na comparação com o ano passado. E o que vende caminhão é o PIB”, diz Roberto Cortes, CEO e presidente da Volkswagen Caminhões e Ônibus para a América Latina. As empresas sustentam, também, a necessidade de renovação da frota de caminhões em circulação no Brasil e de investimentos na infraestrutura rodoviária, medidas que podem ser decisivas para acelerar a produção no segmento. “Ninguém fala que a crise brasileira passou. Mas há um setor de transporte que está funcionando. Há necessidade de renovação da frota, de colocar um certo número de veículos no parque”, analisa Mathias Carlbaum, vice-presidente executivo e chefe de operações comerciais da Scania, que projeta crescimento de 30% nas vendas para este ano.
Porsche 100% elétrico A marca alemã Porsche anunciou que, até 2025, todos os seus carros terão, ao menos, uma versão elétrica ou híbrida. E já para o ano que vem, o modelo Taycan será o primeiro Porsche 100% elétrico. Sua autonomia é de 500 km. Com apenas quatro minutos na tomada, é possível carregar o necessário para rodar 100 km.
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Flutuando sobre trilhos nitrogênio líquido, que tem a propriedade de repelir um campo magnético gerado nos trilhos. O veículo aguarda o resultado de um pedido de certificação internacional, que deve ocorrer em 2020. A estimativa é que a invenção possua custo de implantação por quilômetro três vezes menor do que o de um metrô subterrâneo.
DIVULGAÇÃO: ESCOLA POLITÉCNICA
A UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) está prestes a terminar os ajustes finais do seu protótipo de um trem que pode flutuar sobre os trilhos. O Maglev-Cobra é alimentado por quatro painéis de energia solar e, para flutuar, no lugar das rodas, o trem possui sapatas com cerâmicas supercondutoras que são resfriadas com
Antaq lança estudo sobre hidrovia Paraguai-Paraná O Brasil utiliza, atualmente, apenas 10% do potencial de transporte de cargas da hidrovia Paraguai-Paraná. No entanto, aumentar o volume do transporte realizado pela hidrovia pode
ARQUIVO CNT
gerar uma economia de cerca de 25% nos custos logísticos para o trecho de mil quilômetros, se comparado ao custo rodoviário. Os dados e a análise são do estudo da UFPR (Universidade
Federal do Paraná) sobre vantagens competitivas, oferta e demanda de cargas da hidrovia, apresentado em setembro pela Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários), em
Brasília. O estudo foi feito pelo ITTI (Instituto Tecnológico de Transportes e Infraestrutura), da UFPR, e dividido em três eixos: infraestrutura, mercado e regulatório.
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MAIS TRANSPORTE ARQUIVO CNTA
Falta de infraestrutura afeta a fiscalização na pesagem dos veículos
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qualidade da malha rodoviária é fator essencial para a segurança de quem trafega nas rodovias. No entanto, mesmo sendo um país dependente do transporte rodoviário, o Brasil possui apenas 12% das suas rodovias pavimentadas. Segundo a Pesquisa CNT de Rodovias de 2017, 61,8% dos trechos avaliados (totalidade da malha federal pavimentada e os principais trechos estaduais também pavimentados) apresentam problemas. Para a CNTA (Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos), entre os agentes desse cenário, estão a má qualidade nas obras de pavimentação, a precariedade na manutenção e a deficiência no controle de pesagem de caminhões. As resoluções 210 e 258 do Contran (Conselho Nacional de Trânsito)
normatizam a fiscalização dos caminhões por meio da pesagem e conferência do documento fiscal do transportador, a fim de evitar excesso de peso. Isso porque um veículo com peso excedente pode acarretar prejuízos, como degradação da malha asfáltica, poluição excessiva causada pela fumaça, aumento da distância de frenagem e redução da estabilidade do veículo. Os dados disponibilizados pelo Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), por meio do mapa de distribuição dos postos de pesagem, tiveram a última atualização em 2010 e mostram que, em 11 estados, não há balanças do órgão. O mapa também aponta que existem em operação 28 postos fixos e 19 postos móveis. O motorista carreteiro José Claudemir Rodrigues
conta que realmente há falhas no sistema de pesagem e que isso impacta diretamente a sua rotina e segurança. “Há escassez nos postos de pesagem. Percorro o Brasil todo e vejo postos que não funcionam com frequência e muitas obras paradas. Essa falta de controle traz muitos problemas, porque o excesso de peso de alguns veículos detona o asfalto e atrapalha o trânsito”, conta. Se constatado, o excesso de peso pode acarretar multa para o transportador ou embarcador. E, ainda, o artigo 18, da lei nº 13.103/2015, determina que o embarcador deve indenizar o transportador por todos os prejuízos decorrentes de infração pelo motivo de o veículo transportar carga com peso além do permitido em contradição com a nota fiscal.
A CNTA entende que há deficiências no sistema de fiscalização e na infraestrutura. O presidente da entidade, Diumar Bueno, afirma que o tema está na pauta de demandas a serem apresentadas ao próximo governo. “Além da qualidade da rodovia, precisamos de reforço em várias outras questões estruturais que, se não forem resolvidas, degradarão ainda mais as condições de trabalho de quem está nas estradas e aumentarão os custos do transporte. As inspeções na pesagem dos veículos são ações de vital importância para a conservação das rodovias. A falta de atualização nos dados de balanças ativas levanta a hipótese de a realidade atual ser ainda pior”, destaca. Conteúdo de responsabilidade da CNTA (Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos)
P i U C omuni c a
VOOS QUE SALVAM VIDAS A s c o m p a n hias a ér ea s n a c i o n a i s co ntribu em pa r a o ma i or sistema p ú b l ic o d e tra nspla ntes d o mu n d o , tr a ns p o rtando gr a t u i t a m e n te ma is de 9 m il ó rg ã o s e tecidos p o r a n o n o Bra sil.
Saiba mais sobre o programa Asas do Bem: a s a s d o b e m .c o m . b r a b e a r.c o m . b r
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FOTOS: ARQUIVO CNT
CAPA
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25 anos
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de conquistas SEST SENAT completa duas décadas e meia de prestação de serviços aos trabalhadores do transporte brasileiro; no período, instituição realizou mais de 118 milhões de atendimentos por
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SEST SENAT é um filho temporão do Sistema S. Nasceu em 14 de setembro de 1993, sob o manto da Constituição Cidadã. Embora pequeno, o caçula tinha pela frente uma missão arrojada. “Há 25 anos, colocamos em prática um plano ousado de criar uma rede nacional de desenvolvimento profissional, com assistência social para os trabalhadores do transporte.
Os resultados que alcançamos superam, e muito, o projeto inicial”, reconhece Clésio Andrade, presidente da CNT e dos Conselhos Nacionais do SEST e do SENAT. A entidade se firmou pouco a pouco, com a confiança do empresariado. A arrecadação compulsória, instituída pela lei n° 8.706/93, garantiu a robustez financeira necessária para erguer as instalações físicas. Assim, em 1994, era inaugura-
da a primeira unidade, em Vila Jaguara (SP). Hoje, 148 estão em funcionamento em todo o país. A expectativa é ultrapassar 200 muito em breve. Tamanha expansão só foi possível graças ao reconhecimento do principal beneficiado, o trabalhador do transporte e seus dependentes, que usufruem gratuitamente dos serviços. Ao longo de sua história, o SEST SENAT já realizou mais de 118 milhões de
Mercado de trabalho Com a missão de contribuir para a transformação do setor de transporte, o SEST SENAT também desenvolveu o Emprega Transporte, uma ferramenta que tem o objetivo de facilitar a integração entre empresas transportadoras e profissionais qualificados. O sistema online (empregatransporte.sestsenat.org.br) permite aos trabalhadores que participaram dos cursos de qualificação do SEST SENAT cadastrarem seus currículos e terem acesso a oportunidades de trabalho. Por outro lado, as empresas também registram as vagas abertas e buscam profissionais com o perfil mais adequado.
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atendimentos. A assistência em saúde engloba as áreas de odontologia, fisioterapia, nutrição e psicologia. A excelência dos serviços é amplamente reconhecida. Os esforços em formação e qualificação de mão de obra são um capítulo à parte. Sempre alinhados às exigências do mercado, os treinamentos contemplam diversas funções da atividade transportadora, tanto de cargas como de passageiros.
Entre cursos presenciais e a distância, a instituição disponibiliza mais de 650 conteúdos. O uso pioneiro de novas tecnologias é um trunfo e motivo de orgulho. Além disso, há um investimento direcionado à capacitação de gestores: o SEST SENAT prega o surgimento de um novo perfil de profissional, capaz de atuar em um ambiente complexo, altamente tecnológico e em constan-
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te transformação. Em outras palavras, o sistema valoriza o capital humano e se prepara para os cenários desafiadores que estão no horizonte. Essa foi a estrada até aqui. E agora, quais caminhos trilhar? A perspectiva dos próximos 25 anos não parece angustiar a diretora-executiva nacional do SEST SENAT, Nicole Goulart. “É que o passado nos fez sólidos para enfrentar o futuro”, sintetiza ela.
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CONHEÇA MAIS
Atendimento rápido e integrado O compromisso com a qualidade dos serviços oferecidos pelo SEST SENAT é garantido desde o primeiro contato dos usuários com a Unidade. Um sistema implantado em 2017 permite que a emissão da carteirinha, que dá acesso aos serviços oferecidos pela instituição, seja feita no momento do cadastro. Por ter validade nacional, o documento garante aos usuários a continuidade do atendimento em qualquer região do país.
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Um passo à frente No setor do transporte, o futuro que se descortina é tecnológico, ambientalmente responsável e voltado para a inovação constante. O SEST SENAT desbrava essas três frentes sem descuidar do objetivo principal, que é o amparo ao trabalhador. Um bom exemplo é o projeto dos simuladores de direção, iniciado em 2016, com 60 exemplares, e que está prestes a dar um salto quantitativo e qualitativo. Até o momento, 105 unidades já possuem o equipamento. “Trata-se de uma ferramenta didático-pedagógica que permite aliar teoria e prática, de modo que o aluno possa captar melhor a mensagem. O equipamento facilita a percepção do perigo e das reais necessidades de uma condução de forma segura”, descreve Alysson de
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Souza, instrutor do SEST SENAT. Rica em recursos e passível de adaptações, a máquina é usada em 30 cursos diferentes, sobretudo naqueles de direção defensiva e condução econômica. Com o tempo, o simulador se tornou um item padrão na estrutura das unidades e estima-se que mais de 50 mil indivíduos passarão pelo treinamento até 2020. Dados do projeto Escola de Motoristas Profissionais mostram que as simulações com transporte de passageiros e cargas perigosas ajudam a reduzir em 29% a incidência de erros ao volante e em 9% o consumo de combustível, o que reduz o custo do transporte e os índices de emissões de poluentes. A expertise adquirida nesse processo abriu um horizonte de possibilidades para o SEST
SENAT. “Até então, os simuladores híbridos eram inéditos no Brasil. A ideia é que a gente consiga estar à frente no mercado e possa oferecer outras ferramentas de ponta em desenvolvimento profissional para auxiliar as empresas. E mais: nenhuma outra instituição tem a capilaridade que a gente tem”, afirma o presidente Clésio Andrade. O SEST SENAT também tem contribuído para a aceitação de novas tecnologias no setor de transporte incluindo o uso de lousas digitais em sala de aula. O recurso trouxe para o cotidiano do trabalhador o que há de mais avançado em pedagogia e o prepara para enfrentar uma nova realidade. O empresário Sulaimen Bittar conta que essa ambientação tende a fazer grande diferença
em seu negócio. A Transmasut Transportes, especializada em transporte de combustíveis e de cargas perigosas, trabalha com tabletes para fazer o check list dos caminhões nas trocas de turnos. “Tínhamos muito dificuldade nisso e na marcação de ponto, na gestão da jornada de trabalho, que também é feita no tablete. O trabalhador mais antigo se sentia intimidado com a tecnologia”, descreve. Segundo ele, a abordagem do SEST SENAT alavanca o treinamento dado pela própria empresa. Entre os lançamentos que estão “na fila”, destaca-se o simulador de empilhadeira. Em fase de licitação, ele responde a uma antiga demanda dos empresários e renova o fôlego dos cursos presenciais para operar esse tipo de equipamento.
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Mais eficiência Para se manter na vanguarda, o SEST SENAT busca inspiração nas experiências exitosas de outros países. Foi assim com o Programa de Aperfeiçoamento para Eficiência Energética, que deu os primeiros passos em 2017. Na ocasião, foi fechado um importante acordo de cooperação envolvendo a CNT, o ICCT (Conselho Internacional de Transporte Limpo) e o Ministério dos Recursos Naturais do Canadá. O treinamento dos condutores, baseado na metodologia canadense, pode se reverter em até 12% de economia no consumo de combustível e reduzir as despesas com
manutenção de frota. “Hoje o motorista tem de ser um smart driver, ou seja, dirigir com inteligência, aproveitando o máximo do veículo com menos esforço pessoal. Com os empresários, a gente trabalha o conceito de ecocondução. Muitos deles já buscavam o aspecto econômico, então a gente agrega a questão do meio ambiente, porque a emissão de CO2 diminui muito”, explica Adenilson Veiga dos Santos, instrutor. Na visão do diretor-executivo da CNT, Bruno Batista, investir em um programa de eficiência energética é estratégico para o setor de transporte rodoviário. “O modal tem
grande participação na movimentação de cargas e de passageiros no país e melhorar o desempenho ambiental desse segmento garante economia e sustentabilidade para a atividade”, avalia ele. Além do treinamento, o SEST SENAT inova ao propor um aplicativo de trânsito similar ao Waze. Provisoriamente batizado de EcoSENAT, o app ajudará o motorista a conduzir de forma mais consciente, produzindo métricas em tempo real quanto ao consumo, à distância percorrida e à quantidade de poluentes que deixou de ser lançada na natureza. Uma primeira versão já foi testada e estará disponível em breve.
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Pegada verde Não é de hoje o compromisso do SEST SENAT com práticas ambientalmente responsáveis. Em parceira com a CNT, a entidade mantém, há mais de uma década, o Despoluir – Programa Ambiental do Transporte. Ao longo desses anos, a iniciativa atendeu cerca de 45 mil transportadores e realizou mais de 2,3 milhões de avaliações veiculares. As ações visam, sobretudo, melhorar a qualidade do ar e a saúde do trabalhador. No Brasil, o Despoluir é pioneiro no trato da questão do uso racional do combustível – o que faz dele um precursor do Programa de Aperfeiçoamento para Eficiência Energética.
INICIATIVA
Líderes da mudança O SEST SENAT tem a consciência de que o círculo virtuoso da inovação e da responsabilidade ambiental só se completa com o empenho dos gestores. Nesse intuito, une esforços com parceiros nacionais e internacionais e com o ITL (Instituto de Transporte e Logística), criado em 2013 pela CNT, para implementar projetos voltados à formação executiva e com viés mais acadêmico. O fruto mais recente dessa visão foi a imersão, neste mês, de uma comitiva de gestores no Vale do Silício, nos EUA (veja mais na página 64).
“Penso que, em anos recentes, o SEST SENAT deu uma guinada muito interessante, que é trabalhar em nível estratégico”, analisa Daniela Costa França, gerente de RH, Qualidade, Saúde, Segurança e Meio Ambiente da Tora Transportes Industriais. “O transporte, principalmente o de cargas, está passando por uma transformação grande, então a gente precisa se atualizar e pensar em novas soluções constantemente”, pontua.
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Christian Goes, diretor da Sambaíba Transportes Urbanos, de São Paulo, acredita que o SEST SENAT está cada vez mais próximo do empresariado. Ele lembra que o ramo do transporte tem muitas empresas familiares, que têm sofrido com a transição de gerações. “Por isso, uma visão ‘pra frente’ é importante. Nas visitas internacionais, a gente enxerga novidades e vê que elas não estão tão distantes da nossa realidade”, acredita.
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INICIATIVA
O destino é a origem Pergunte a um caminhoneiro. A viagem só fica completa na volta pra casa. Em 25 anos de estrada, o SEST SENAT buscou honrar a missão original, sempre trazendo de volta para a base tudo o que foi aprendido no caminho. Essa filosofia tornou possível a excelência em atendimento, reconhecida hoje tanto pelos trabalhadores quanto pelo patronato. “O trabalhador do transporte encontra no SEST SENAT o seu porto seguro, o apoio de que precisa para exercer sua profissão com saúde, capacitação e dignidade”, expõe Paulo Gaba Júnior, presidente da empresa de transporte de passageiros Eurocap, especializada em locação de veículos, e da Fenaloc (Federação Nacional das Empresas de Locadoras de Veículos Automotores). Não é à toa que os profissionais das unidades adotam o mote “nosso trabalho transforma vidas”. Essa é uma percepção real de quem trabalha no sistema e coleciona diariamente histórias de superação. “Se
não fosse pela minha fisioterapeuta, nem andando eu estava”, conta à reportagem Felipe Santiago, 23 anos, morador de Santo Antônio do Descoberto, no estado de Goiás. A história do jovem cobrador é dura. Em janeiro deste ano, o ônibus em que trabalhava colidiu em outro veículo. Com o choque, sua coluna vertebral foi lesionada. “Fui perdendo gradativamente a força e a mobilidade da perna direita. Minha vida era só deitado. Eu não imaginava que chegaria a esse ponto”, lamenta. Naquele mesmo mês, ele iniciou as sessões de fisioterapia, no SEST SENAT. “O tratamento foi amenizando a dor aos poucos”, relata. A batalha está só no começo, mas a esperança da recuperação plena só existe graças ao compromisso da profissional que o acompanha. Do ponto de vista da capacitação profissional, não é diferente. As salas de aula efetivamente fazem diferença na vida das pessoas. Maurício dos Reis Teixeira, 46 anos – 23 deles como motorista profissio-
nal é quase um colecionador de cursos e treinamentos do SEST SENAT. “Da resolução 168, só faltou transporte escolar”, diz, orgulhoso, referindo-se à famosa normativa do Contran (Conselho Nacional de Trânsito). Do portfólio ela já viu conteúdos de cargas indivisíveis, movimentação de produtos perigosos; transporte coletivo de passageiros; direção defensiva; empilhadeira; transporte de emergência etc. A “fome” de Teixeira tem uma razão de ser. “Eu só tenho o ensino fundamental completo, passei muito tempo só trabalhando. Conversando com meu filho, comecei a pensar em voltar a estudar e ele me incentivou muito”, revela. Teixeira encontrou no SEST SENAT um lugar para dar vazão a esse anseio e, de quebra conquistou um cabedal que o ajudou a se reposicionar profissionalmente. Teixeira tem dois filhos. O Roberto, 26 anos, é publicitário. A Raquel tem 24 anos e está terminando o bacharelado em nutrição. Esse é o legado do carreteiro.
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A concretização de um sonho O presidente da CNT e dos Conselhos Nacionais do SEST e do SENAT, Clésio Andrade, fala, na entrevista abaixo, das conquistas e dos desafios futuros da instituição. O senhor idealizou e participou ativamente destes 25 anos de história do SEST SENAT. Qual balanço pode ser feito dessas duas décadas e meia de atuação da instituição? O SEST SENAT nasceu de um desejo de oferecer aos trabalhadores do transporte oportunidades de desenvolvimento profissional de alto nível, assim como assistência social e de saúde de ótima qualidade. A profissionalização foi um dos fatores que levaram ao rápido desenvolvimento do setor de transporte nas últimas duas décadas. O SEST SENAT, sem dúvida, teve um papel decisivo na modernização e no
Clésio Andrade Presidente da CNT e dos Conselhos Nacionais do SEST e do SENAT
desenvolvimento do setor. Essa é uma grande conquista dos trabalhadores e dos transportadores. Para mim é motivo de grande orgulho. Quais as principais conquistas desse período que o senhor citaria para o trabalhador do transporte e para os transportadores? Hoje, o SEST SENAT é um centro de excelência nas áreas de desenvolvimento profissional e prestação de serviços de saúde, lazer e cultura aos trabalhadores do transporte e seus familiares. O SEST SENAT tem presença relevante na vida dos trabalhadores e nas empresas de transporte. É nítida a contribuição do SEST SENAT na transformação da vida das pessoas. Aquilo que foi projetado há 25 anos está realizado? Eu diria que fomos além daquilo que projetamos 25 anos atrás. O SEST SENAT foi capaz de se adaptar e até de antecipar muitas das mudanças provocadas pelo rápido avanço tecnológico ocorrido nas últimas décadas. Graças a essa visão e à sua agilidade, a instituição manteve o trabalhador do transporte em linha com o que há de mais moderno, tanto no campo técnico-operacional, quanto na
área de gestão. Hoje, os motoristas, por exemplo, fazem treinamento em modernos simuladores de direção. Nas salas de aula do SEST SENAT, os alunos encontram tecnologia de ponta, como as lousas digitais conectadas à internet. E quem prefere se aperfeiçoar sem sair da estrada ou de casa tem centenas de cursos online disponíveis. O SEST SENAT abriu uma enorme janela para aumentar a empregabilidade e as competências dos trabalhadores do transporte. A tecnologia tem imposto novos desafios a empresários e trabalhadores. Como o SEST SENAT tem olhado para esse futuro? O SEST SENAT, em parceria com o ITL e sob a coordenação da CNT, tem investido pesadamente em conhecimento, tecnologia e inovação. A instituição vem combinando diversas ações, como as parcerias formalizadas com instituições globais, a modernização da gestão e os equipamentos de ponta à disposição dos trabalhadores. A proposta é manter os profissionais em contato com as transformações que estão ocorrendo no mundo para que eles se desenvolvam no mesmo ritmo e conquistem maior empregabilidade. Nossa expectativa é contribuir para o desenvolvimento
permanente dos trabalhadores e para acelerar o processo de inovação no setor transportador brasileiro. Na sua visão, o que o SEST SENAT pode ainda agregar para o futuro do setor transportador e do país? O SEST SENAT tem uma grande missão nos próximos anos. O século 21 está apenas começando e sabemos que as transformações tecnológicas disruptivas ainda estão por vir. Esse é um processo revolucionário que está alterando de forma profunda os meios de produção, as empresas e o mundo do trabalho. Os profissionais do transporte brasileiro precisam estar cada vez mais atualizados, familiarizados com as novas tecnologias e capacitados para inovar. O SEST SENAT é a janela do setor transportador para esse novo mundo. Temos convicção da importância da nossa atividade para o desenvolvimento do Brasil. O que nós precisamos é superar os gargalos de infraestrutura e modernizar o Estado para atrair investimentos e dar impulso à criatividade e à capacidade empreendedora dos trabalhadores e dos transportadores. É assim que as empresas vão produzir mais, gerar emprego e renda para a população. l
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EXPANSÃO
SEST SENAT inaugura nova unidade em Goiás Estrutura localizada em Itumbiara tem capacidade para realizar mais de 36 mil atendimentos por ano nas áreas de capacitação profissional, saúde, esporte e lazer da
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SEST SENAT inaugurou, em setembro, sua mais nova Unidade Operacional. Localizada em Itumbiara (GO), região de grande movimentação de cargas, a nova Unidade tem capacidade para realizar
mais de 36 mil atendimentos anuais. Essa é a quinta unidade do SEST SENAT em Goiás, que já conta com instalações em Goiânia, Anápolis, Luziânia e Rio Verde. A nova estrutura integra o plano de expansão da insti-
REDAÇÃO
tuição iniciado em 2017 e que deve ultrapassar 200 unidades em funcionamento em todo o país, nos próximos dois anos. Desde dezembro do ano passado, outras onze unidades operacionais também foram inauguradas: Porto Ferreira (SP),
Para encontrar a unidade do SEST SENAT mais próxima de você, acesse:
Paragominas (PA), Duque de Caxias (RJ), Limeira (SP), Picos (PI), Carazinho (RS), Mossoró (RN), Teotônio Vilela (AL), Serra Talhada (PE), Lages (RS) e Sobral (CE). Em 25 anos de atuação, o SEST SENAT tem investido na
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SEST SENAT Itumbiara Av. Celso Maeda, S/N - Setor Santa Rita Contato: 0800 728 2891 ampliação da oferta de serviços oferecidos aos trabalhadores do transporte. Neste ano, as oportunidades de desenvolvimento profissional terão acréscimo de 30%. A oferta chegará a mais de 500 cursos presenciais e a cerca de 300 cursos a distância. Na área da saúde, a expectativa é ultrapassar a marca de 1,7 milhão de atendimentos por ano. Em Itumbiara, a estrutura conta com uma infraestrutura completa para a realização de cursos. A unidade possui nove salas de aula e dois laborató-
rios de informática, com capacidade para 25 alunos cada sala. Também conta com sala para 40 alunos do treinamento de MOPP (Movimentação de Produtos Perigosos) e três salas de atividades práticas da Oficina Pedagógica. Na área da saúde, o SEST SENAT de Itumbiara está equipado para prestar atendimentos em fisioterapia, psicologia, nutrição e odontologia clínica em oito consultórios. Conta ainda com um centro de eventos, quadra poliesportiva e
palco para atividades de esporte e lazer. O presidente do Conselho Regional Centro-Oeste do SEST SENAT, José Hélio Fernandes, destacou a localização estratégica de Itumbiara para a movimentação de cargas no país, principalmente as agrícolas. “Temos aqui corredores importantes para o escoamento da produção nacional. A implantação do SEST SENAT nessa região é estratégica para melhorar a eficiência dos sistemas de transporte”, afirma.
José Hélio também ressaltou a qualidade dos serviços oferecidos pelo SEST SENAT. De acordo com ele, o envolvimento de todos os profissionais, a dedicação e a responsabilidade de cada um deles é o que faz o diferencial da instituição. “Para trabalhar no SEST SENAT, é preciso ter uma característica fundamental: gostar de gente. É isso que garante a qualidade dos nossos serviços. Essa é a razão de ser da nossa instituição: cuidar das pessoas,” afirma ele. l
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TECNOLOGIA
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Para dirigir
amanhã O IAA, maior salão de veículos comerciais do mundo, chegou à 67ª edição com destaque para conectividade, automação e eletromobilidade; evento trouxe a certeza de que o futuro chega cada vez mais depressa por NATALIA PIANEGONDA De Hannover, Alemanha
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ransformação é palavra de ordem na indústria de veículos comerciais. Ao mesmo tempo em que o segmento absorve as demandas e desenvolve produtos capazes de atender às necessidades mais proeminentes de transportadores e da sociedade no mundo todo, dita tendências para o amanhã. Durante o IAA 2018, o maior salão de veículos comerciais do mundo, realizado em Hannover, na Alemanha, estas tendências ficaram bem claras: conectividade, automação e eletromobilidade. Como a aposta é que a demanda pelo deslocamento de cargas ARQUIVO CNT
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e de pessoas cresça em escala global, assim como a população em zonas urbanas, os fabricantes estão lançando e desenvolvendo produtos capazes de tornar a atividade transportadora mais simples, eficiente e sustentável. Assim, com o slogan “Driving tomorrow”, reunindo mais de 2.100 expositores de quase 50 países, a 67ª edição do salão deu o tom da mudança no transporte e de como quem transporta poderá se beneficiar ao mudar também. O futuro é agora O motorista já não está mais sozinho ao volante. A tecnologia
embarcada em novos caminhões, ônibus e vans pode deixá-lo permanentemente conectado com sua base ou com seus clientes. Os sistemas de novos veículos apresentados no salão podem “conversar” com o do celular. Da palma da mão, é possível travar e destravar portas, abrir e fechar janelas. As informações sobre o desempenho do condutor ou sobre as condições mecânicas do veículo são monitoradas em tempo real, o que permite que a manutenção seja realizada de forma assertiva, sem gastos desnecessários e sem riscos. Aliada à automação, a conectividade permite operações de
transporte mais seguras e eficientes. Novidade na Europa, o truck platooning, algo como comboio de caminhões, é exemplo disso. Um veículo conecta-se, virtualmente, a outro e, em fila, ambos rodam com a mesma velocidade e com uma distância segura entre eles. A vantagem da operação é que a resistência do ar para o comboio é inferior, o que reduz o consumo de combustível, além de elevar o aproveitamento da capacidade da rodovia. Sensores detectam a presença de algum obstáculo. Se um carro, por exemplo, se posicionar entre dois caminhões, a conexão entre eles é desfei-
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Do celular, motorista acompanha inform do veículo além de travar e destravar
ta automaticamente, até que as condições adequadas sejam restabelecidas. Câmeras e telas começam a substituir espelhos retrovisores, o que garante visibilidade total do entorno. Radares, sensores e sistemas inteligentes atuam para ajudar a evitar acidentes – como sistemas auxiliares de freio e de curva. São esses equipamentos que detectam ameaças e alertam o motorista do risco por meio de sinais sonoros ou físicos, como o aumento da pressão do cinto de segurança. Caso o condutor não reaja, o veículo reduz a velocidade ou para totalmen-
te, sem qualquer intervenção humana. Esse tipo de tecnologia, contudo, deve demorar um pouco para se popularizar no Brasil. Wilson Bricio, presidente, na América Latina, do grupo ZF – uma das grandes sistemistas do mundo, fornecedora de tecnologias para as montadoras – afirma que a indústria possui condições de produzir as novidades. Porém, há desafios. “É necessário um ambiente de negócios favorável para termos esses avanços. Hoje, enfrentamos uma fraqueza na cadeia de fornecedores, entraves logísticos, burocracia e elevada carga tributária”, diz.
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ELETROMOBILIDADE
Rumo a um transporte com zero emissão Formas alternativas de propulsão tornam os motores cada vez menos ruidosos e menos poluentes. O desafio das montadoras é alcançar um transporte com zero emissão. Por isso, ganharam destaque, no IAA 2018, modelos elétricos e híbridos de caminhões e ônibus. Mas também se sabe que, para massificar esse tipo de propulsão, há obstáculos, como a infraestrutura para recarga e a fabricação de baterias mais duradouras, leves e, principalmente, baratas. Por isso, o desafio é lançar produtos que tornem o transporte mais sustentável desde já. Nesse sentido, a novidade, especialmente para o mercado brasileiro, são caminhões a gás (GNV e biometano, gerado a partir de matéria orgânica), lançados pela Scania, que estarão disponíveis a partir do ano que vem. Porém, a eletrificação não é algo tão distante da realidade do país. A Volkswagen Caminhões e Ônibus já fabrica o primeiro caminhão 100% elétrico produzido no Brasil, o e-Delivery, com autonomia de cerca de 200 km, voltado para entregas urbanas. A empresa acredita que esse tipo de modelo é uma alternativa para empresas com frota numerosa e que podem dispor da própria infraestrutura para a recarga das baterias.
Vision Urbanetic, veículo autônomo da Mercedes-Benz
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mações portas
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VEÍCULOS AUTÔNOMOS
Quem dirige? As montadoras estão investindo no desenvolvimento de veículos totalmente autônomos. Ainda há, no entanto, debates éticos e legais a serem travados antes de vermos esse tipo de novidade rodando por aí. Até lá, a tecnologia deve ser implementada aos poucos: ela começa na forma de sistemas auxiliares e já avança para veículos que fazem certas operações sozinhos, projetados para uso em áreas restritas – como agricultura e mineração. No Brasil, esse tipo de inovação já é uma realidade. Os primeiros caminhões com tecnologia autônoma foram comercializados neste ano e estão em funcionamento em plantações de cana de açúcar no estado do Paraná. Fabricado pela Volvo, o VM sai da garagem nas mãos de um condutor. Ao chegar à plantação, roda sozinho, sob o monitoramento do motorista. A velocidade é baixa, cerca de 5 km/h. A vantagem da operação é a alta precisão, ou seja, o caminhão anda em DIVULGAÇÃO: VOLVO
um trecho delimitado e não oscila mais do que 2,5 cm para os lados. Isso reduz o dano das rodas sobre a plantação, o que aumenta a produtividade. Em Hannover, a Mercedes-Benz também anunciou o desenvolvimento de um modelo, o Axor 3131, com tecnologia autônoma para uso na agricultura. Segundo a empresa, dois veículos estão em fase de testes no estado de São Paulo, e a venda de 16 unidades já foi negociada. Acredita-se que o passo seguinte será levar veículos com autonomia para operação em trechos repetitivos. Mas vislumbra-se um horizonte bem mais distante até que possamos vê-los rodando em cidades e rodovias. Mesmo assim, como investimento em inovação faz parte das estratégias de negócios, as montadoras aproveitaram o salão de Hannover para lançar seus autônomos (todos ainda em fase de testes) e expor, assim, os conceitos por meio dos quais devem trabalhar seus modelos no ARQUIVO CNT
futuro. A Volvo lançou o Vera, um elétrico que sequer tem espaço para motorista ou passageiro. Nele pode ser acoplado o reboque para o transporte de cargas. A Mercedes-Benz apresentou o Vision Urbanetic, também elétrico e que traz conceitos de multifuncionalidade e de compartilhamento. Com isso, o projeto é para que ele seja utilizado para transportar cargas e passageiros. A Volkswagen levou o ID Bus, cujo design foi inspirado na clássica Kombi. Também elétrico, ele seria utilizado somente para o transporte de cargas. A DAF, em parceria com a ZF, demonstrou o Innovation Truck e a Innovation Van. O primeiro é um caminhão que, sozinho, roda, acopla e desacopla o reboque. A segunda é uma van que pode andar e estacionar sozinha. Entretanto, mais que isso, ela se comunica com o entregador (por meio de um par de óculos) para deixá-lo a par das informações necessárias à realização do trabalho.
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Tanta inovação desperta a seguinte dúvida: como deverão ser os motoristas do futuro? Quais serão as habilidades necessárias para operar os verdadeiros computadores em que já estão se transformando os veículos? Veja o que dizem executivos de algumas das montadoras com mais representatividade no Brasil.
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Caminhões com tecnologia autônoma já operam no Brasil
Ser motorista no futuro
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Conectividade: truck platooning aumenta a eficiência do transporte
As qualificações serão bem maiores do que as de hoje. Será necessário conhecer mais sobre computação, usar o laptop, os sistemas e as soluções para que o caminhão seja mais eficiente. É isto que vemos na Europa hoje: o caminhoneiro tem formação, muitas técnicas, e a remuneração é relativamente mais alta por causa dessa demanda. Roberto Cortes, CEO e presidente da Volkswagen Caminhões e Ônibus O motorista vai ser uma pessoa que monitorará todos os sistemas. E também terá que desenvolver a habilidade de ser um operador logístico. A gente passa por uma transformação muito grande da expectativa da formação que esse motorista precisará ter. Marcos Andrade, gerente de produto caminhão da Mercedes-Benz do Brasil As novas tecnologias têm foco na produtividade e na qualidade de vida do motorista dentro da cabine. Naturalmente que demandam mais conhecimento, maior preparo para entender as funções do veículo e para que o motorista consiga tirar o máximo do que o equipamento pode proporcionar. Alan Holzman, diretor de planejamento estratégico de produto da Volvo América Latina O motorista deverá adquirir um novo nível de conhecimento, de conectividade, de como é possível controlá-lo de fora do caminhão, de como fazer com que a operação seja mais eficiente. Terá que se interessar pelo processo e pelo sistema. Deixar de ser apenas um motorista e passar a ser um operador, com uma visão mais abrangente. Isso será fundamental. Silvio Munhoz, diretor comercial da Scania Brasil
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Veja a seguir algumas das principais novidades apresentadas no IAA 2018 Cabine do New Actros, lançado pela Mercedes-Benz e disponível, inicialmente, na Europa. Entre os destaques do caminhão, estão sistema de assistente de freio, conectividade na cabine e câmeras em vez de espelhos retrovisores.
DIVULGAÇÃO: VOLVO
FH 25 é a edição especial dos 25 anos do caminhão FH, campeão de vendas da Volvo. Com direção dinâmica, assistência de estabilidade e de manutenção na faixa de rolagem, o veículo terá edições limitadas no Brasil.
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A Scania lançou uma nova linha de caminhões híbridos, disponíveis, por enquanto, no mercado europeu. Se o veículo entrar em uma zona de restrição de emissões de ruídos, por exemplo, automaticamente o caminhão passará a rodar somente com a bateria. Para o mercado brasileiro, a novidade são caminhões a gás.
ARQUIVO CNT
Uma das novidades da Volkswagen Caminhões e Ônibus é o e-Delivery, 100% elétrico, o primeiro fabricado no Brasil. A autonomia da bateria é de cerca de 200 km, e a recarga total pode ser feita em até três horas. DIVULGAÇÃO: ZF
Tecnologia desenvolvida pela ZF em parceria com a DAF permite que o caminhão, sem um motorista, rode, acople e desacople o reboque. A jornalista viajou a convite da Anfavea
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INSTITUCIONAL
Documento entregue aos candidatos à presidência destaca as medidas essenciais ao desenvolvimento do país; propostas incluem ações de desburocratização e projetos de infraestrutura por
EVIE GONÇALVES
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uais as prioridades do próximo governo para o setor de transporte? Como os novos gestores públicos trabalharão as necessidades dos modais rodoviário, ferroviário, aquaviário e aéreo? Para além da infraestrutura, que lugar o meio ambiente, a desburocratização e a eficiência do Estado ocuparão na agenda dos poderes Executivo e Legislativo para que se crie um ambiente jurídico forte e atrativo para os investidores? São muitas as preocupações. Por isso, a Confederação Nacional do Transporte lançou, em setembro, o documento “O Transporte Move o Brasil – Propostas da CNT aos Candidatos”. O material, entregue a todos os presidenciáveis, destaca temas prioritários e sensíveis que merecem atenção durante a gestão 2019-2022, além de listar 60 projetos de infraestrutura considerados como primordiais para que o sistema de transporte se torne cada vez mais eficiente. “O transporte é um dos pilares básicos do desenvolvimento de um país. Pensar no Brasil sem um sistema de transporte eficiente e robusto é mantê-lo estagnado, ou pior, é deixá-lo preso ao passado. E o Brasil precisa se movimentar em direção ao futuro. A CNT acredita que este é o momento propício para isso”, ressalta o presidente da Confederação, Clésio Andrade. FOTOS: ARQUIVO CNT
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Segundo a CNT, é imperativo o compromisso com a redução dos gastos e com a transparência, além da capacidade de planejamento e de execução de investimentos e de políticas públicas. A CNT defende a manutenção das inovações e regulamentações necessárias em relação à Lei de Modernização Trabalhista e acredita que a aprovação da reforma da Previdência é pauta obrigatória para o próximo governo. Outro pleito é a simplificação do Sistema Tributário Nacional, uma vez que as empresas do setor de transporte gastam cerca de 1,5% do seu faturamento anual para administrar 63 tributos e 97 obrigações acessórias. Outra pauta sensível à atividade transportadora é a política de preços de combustíveis da Petrobras. Para a CNT, é necessário definir um período mais amplo para os reajustes, além do desenvolvimento de mecanismos de precificação alternativos, de forma a permitir que o repasse ao consumidor final contemple todas as flutuações do período. O documento, elaborado em parceria com o SEST SENAT, também elenca propostas para ampliar a capacitação profissional no setor de transporte e, assim, possibilitar a prestação de serviços mais eficientes, contribuindo para a competitividade do país. “O transporte move o Brasil. Essa é a oportunidade de se corrigirem os erros do passado e de preparar o país para um novo ciclo de crescimento econômico sustentado”, alerta Clésio Andrade. Confira a seguir um detalhamento das principais propostas:
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INDICADOR DE DESEMPENHO POSSIBILITA ACOMPANHAMENTO DE OBRAS O acompanhamento da execução e da conclusão das obras de infraestrutura de transporte é fator preponderante para o sucesso dos projetos em todas as suas etapas. Para tanto, a CNT sugere a criação do Indicador de Desempenho das Obras de Infraestrutura. A ferramenta tem o objetivo de mostrar se a obra cumpriu as projeções de quatro variáveis importantes na execução dos projetos: custo, tempo, qualida-
de e segurança/meio ambiente. O “custo” avalia o orçamento pré-definido para a obra. O fator “tempo” leva em consideração os atrasos no processo de disponibilização da infraestrutura. A variável “qualidade” verifica se a infraestrutura está em conformidade com as normas definidas em contrato e na legislação brasileira. E, por fim, no fator “segurança/meio ambiente”, é analisado o compromisso do construtor em forne-
cer aos colaboradores e demais cidadãos a segurança durante as obras. Adicionalmente, contempla o respeito à legislação ambiental brasileira. Além do acompanhamento, para a CNT é essencial que as obras sejam escolhidas com base em regras que priorizem a integração modal e a melhor relação custo-benefício para o Estado. Para isso, o governo deve adotar uma regra de priorização de investi-
mentos, entre eles o atrelamento a objetivos setoriais e a contribuição para o desenvolvimento do sistema de transporte.
PROGRAMA DE PPPS GARANTE MANUTENÇÃO RODOVIÁRIA
Um dos grandes problemas da malha rodoviária brasileira é a falta de manutenção. Boa parte das carências de sinalização e de pavimento das rodovias federais, por exemplo,
poderia ter sido solucionada com ações preventivas que evitariam a evolução para graves defeitos. Pensando nisso, a CNT propõe a criação de um programa de PPPs (Parcerias Público-Privadas) voltado exclusivamente para esse tipo de ação. Para viabilizá-las, o governo usaria recursos da Cide-combustíveis (tributo
pago por contribuintes que abastecem seus veículos com qualquer tipo de combustível). O valor financiaria a contrapartida do Estado. Por outro lado, o usuário pagaria pedágios nas rodovias públicas federais mantidas pelo programa. As praças teriam distâncias menores do que as praticadas atualmente nas rodovias concessionadas, de
forma que os valores unitários desembolsados pelos motoristas também seriam menores. A proposta da CNT viabilzaria um subsídio cruzado entre as rodovias de maior e de menor fluxo de veículos, possibilitando ao usuário pagar um valor de pedágio mais compatível com a distância, de fato, percorrida por ele.
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AMPLIAÇÃO DA MALHA FERROVIÁRIA DEPENDE DA INICIATIVA PRIVADA
Com participação de apenas 20,7% da matriz do transporte brasileiro, o setor ferroviário tem potencial para escoar muito além das 375,2 milhões de toneladas-úteis por quilômetro movimentadas em 2017. Para que isso
ocorra, entretanto, é essencial que se amplie a participação da iniciativa privada. A CNT defende a realização de concessões de novos trechos e a prorrogação daquelas com os contratos ainda vigentes, com a revisão das responsabilidades das concessionárias no que tange aos investimentos em expansão da malha. Segundo a Confederação, a
renovação dos contratos tem a capacidade de elevar imediatamente os investimentos em infraestrutura ferroviária, possibilitando o aumento da participação do modal na movimentação de cargas do país. O governo já vem lançando mão da estratégia e editou a lei nº 13.448/17. A partir da legislação, cinco operadoras poderão ter seus contratos
renovados por mais 30 anos: Rumo Malha Paulista, Estrada de Ferro Carajás, Estrada de Ferro Vitória-Minas, Ferrovia Centro-Atlântica e MRS Logística. As empresas prometem investimentos da ordem de R$ 25 bilhões nas linhas férreas, além de construírem outros trechos rodoviários cujas operações serão, posteriormente, licitadas.
PORTO SEM PAPEL É ESSENCIAL PARA RESOLVER GARGALOS Questões de natureza burocrática são um dos principais entraves ao modal aquaviário. Uma das reclamações mais recorrentes do setor diz respeito ao excesso de trâmites e de documentos necessários para a conclusão das operações portuárias. Para que os processos se tornem mais simplificados nos portos e TUPs (Terminais de Uso Privativo), a CNT considera primordial a efetivação do programa Porto sem Papel.
O programa consiste na implantação de um sistema único de gestão de informação e de documentos necessários à liberação de mercadorias nos portos brasileiros. No total, a iniciativa, lançada em 2011, foi implementada em 35 portos, sendo 34 públicos e um privado – Terminal Portuário de Pecém (CE), que é um TUP. Entretanto, o país possui 266 instalações portuárias, incluindo portos públicos marítimos, portos públi-
cos fluviais, TUPs e instalações portuárias públicas de pequeno porte. Segundo o portfólio do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), a segunda fase do programa está em fase de execução. Ela prevê a instalação do sistema nos demais terminais de uso privado do país, além do aumento da integração com os sistemas dos órgãos anuentes e modernização tecnológica para
melhoria na experiência do usuário. O investimento previsto é de R$ 153,2 milhões, com abrangência em 16 estados brasileiros.
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NOVO MODELO DE CONCESSÕES DE AEROPORTOS GARANTE MAIOR EFICIÊNCIA
Alterar a modelagem das concessões aeroportuárias é essencial para garantir mais eficiência ao setor aéreo. Por esse motivo, a CNT acredita que
o modelo aplicado na quinta rodada de concessões se destaca por possuir instrumentos como a livre participação, ou seja, possibilitar que uma empresa compre todos os blocos e até mesmo que grupos que já possuem direito de exploração de outros aeroportos participem da concorrência. Outro ponto positivo do novo modelo, na avaliação da Confe-
deração, é a extinção da outorga fixa. Com isso, as empresas vão pagar um percentual anual sobre a receita bruta. Haverá cinco anos de carência para o pagamento da parcela variável, seguido de pagamentos crescentes do 6º ao 10º ano, quando, só então, elas vão desembolsar valores fixos pela outorga. O governo federal já anunciou a concessão de três blo-
cos seguindo esses parâmetros: Nordeste, composto pelos aeroportos de Recife (PE), Maceió (AL), Aracaju (SE), João Pessoa (PB), Campina Grande (PB) e Juazeiro do Norte (CE); Centro-Oeste, formado pelos terminais de Várzea Grande (MT), Sinop (MT), Rondonópolis (MT) e Alta Floresta (MT); e Sudeste, composto pelos aeroportos de Vitória (ES) e Macaé (RJ).
TERMINAIS MULTIMODAIS SÃO SOLUÇÃO PARA DISTRIBUIÇÃO DE CARGAS A política de incentivo aos terminais multimodais é pauta essencial para a distribuição das cargas entre os diversos modais do setor de transporte. A CNT avalia que o governo deve incentivar a atividade dos OTMs (Operadores de Transporte Multimodal), pessoas jurídicas habilitadas a realizar operações de transporte de carga nessa modalidade.
O problema é que os operadores dependem da existência de pontos de conexão entre os modais para exercer seu trabalho. Por isso, a Confederação considera que o uso dos terminais deve ser estimulado e facilitado, a fim de provocar uma mudança de comportamento dos fornecedores e demandantes dos serviços, de modo a contribuir para uma maior eficiência do transporte.
Uma das maneiras de incentivo à política de investimentos nos terminais multimodais seria a isenção do pagamento do IPTU (Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana) referente à área que ocupam. A justificativa é baseada na relevância que esses locais possuem para o interesse público, uma vez que eles cooperam para movi-
mentar a economia, tornando os produtos brasileiros mais competitivos.
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PAÍS PRECISA IMPLANTAR PROGRAMA NACIONAL DE RENOVAÇÃO DE FROTA Assim como vários segmentos econômicos, a atividade transportadora tem participação na emissão de poluentes atmosféricos. Para mitigar esse impacto, a CNT considera essencial a criação de um programa nacional de renovação de frota de veículos pesados, com taxa de financiamento diferenciada, que retire de circulação veículos com mais de 20 anos
de uso. Dentre os caminhões pesados, com Peso Bruto Total de 8 a 29 toneladas, a idade média da frota nacional é de 23,4 anos. Esse tipo de veículo consome mais combustível, é poluente e apresenta menos segurança para o condutor. Na avaliação da CNT, a Política Nacional de Resíduos Sólidos, conciliada com um processo de reciclagem automotiva,
é uma solução vantajosa que gera insumos proveitosos para diversas cadeias produtivas incluindo aço, borracha, vidros e plásticos, além de gerar novas oportunidades de empregos e de renda para a população. A renovação de frota é essencial para o setor e para o meio ambiente, vez que acarreta no aumento de eficiência energética do segmento rodoviário,
reduzindo as emissões de poluentes atmosféricos.
CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL CONTRIBUI PARA O DESENVOLVIMENTO DO PAÍS
O SEST SENAT tem papel estratégico no processo de formação dos profissionais que atuam no setor de transporte. Com 25 anos de atuação, a instituição acredita que tem potencial para
assumir um protagonismo maior nas ações de desenvolvimento profissional em todo o país. A instituição reivindica a autorização para formar motoristas que desejam mudar de categoria de habilitação para tornarem-se profissionais. Atualmente, apenas os CFCs (Centros de Formação de Condutores) têm a competência para a realização do processo de formação, o que torna a mudança de categoria cara e, em alguns casos, inaces-
sível, inviabilizando a entrada de novos condutores no mercado de trabalho. O SEST SENAT também pleiteia autorização da Marinha do Brasil para formar profissionais do setor aquaviário em suas unidades. Além disso, a instituição considera imperativo o investimento em ações adequadas de formação de condutores de veículos automotivos e elétricos, em especial quando se trata de motoristas profissionais. l
ACESSE O CONTEÚDO NA ÍNTEGRA:
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Mais eficiência e segurança Instalação de portas de plataformas nos metrôs preserva usuários e impede que operações sejam interrompidas por invasão nos trilhos; Metrô-SP lança edital para ampliar tecnologia em suas estações por
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ais comuns nos metrôs da Europa e da Ásia, as portas de plataforma podem ser um importante ativo às estações brasileiras. Os equipamentos são capazes de evitar atrasos por conta de interferências de usuários no fechamento das portas dos trens e, principalmente, impedir quedas nas vias e acidentes graves. A implantação dos dispositivos, porém, não é tão simples. É preciso preparar a plataforma para receber todo o peso do equipamento, além de adaptar sistemas que interajam com os trens para sincronizar a abertura e o fechamento de ambas as portas.
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No Brasil, apenas a cidade de São Paulo conta com tal tecnologia. As linhas 4-Amarela e 15-Prata possuem portas em toda a sua extensão. A Linha 2 e a Linha 5 têm, respectivamente, três e duas estações com o equipamento, enquanto a Linha 3, apenas uma estação. Mas a capital paulista pode ir além nos próximos anos. Para reduzir as interferências provocadas por invasões aos trilhos e aumentar a segurança, o MetrôSão Paulo planeja retomar um antigo projeto de instalação de portas automáticas nas plataformas das estações. Isso se deve ao fato de, entre 2015 e 2017, o metrô paulista ter
registrado aumento de 41% dos casos de invasão nas linhas de metrô da capital paulista, conforme levantamento da própria companhia. São pelo menos dois casos por dia em razão de quedas de usuários ou objetos, vandalismo, imprudência ou tentativas de suicídio. A ocorrência desses fatos prejudica as operações e traz insegurança aos usuários. No ano passado, cada interrupção da via paralisou a circulação de trens na linha em quatro minutos, em média. Para mitigar o problema, o Metrô-SP lançou edital de licitação internacional para a instalação dos dispositivos de segurança em 36 estações das linhas
1-Azul, 2-Verde e 3-Vermelha, as mais antigas do sistema paulista — inauguradas em 1974, 1991 e 1979, respectivamente. O custo estimado chega a R$ 70 milhões. O Metrô afirma já ter previsão orçamentária para o projeto em 2019. O prazo para implantação é de 56 meses. Outro contrato prevê a instalação das mesmas portas em outras cinco estações da rede até 2021. Em nota, a companhia informa que “as portas serão implantadas nas estações de maior demanda e permitirão a redução do número de interferências na via, aumentando a regularidade da circulação dos trens e a segurança dos usuá-
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rios”. A licitação também engloba fornecimento de simuladores para testes e implantação de centros de monitoramento das operações. O diretor-executivo da ANPTrilhos (Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos), João Gouveia, afirma que a porta de plataforma aumenta a eficiência, pois torna quase impossível que o passageiro provoque interferência nos trilhos. “Qualquer incidente na via pode provocar um efeito cascata, atrasar todas as viagens e levar ao caos. Quando se reduz a chance de incidentes, as viagens ocorrem dentro
do planejado, e o sistema funciona melhor.” Necessidade Gouveia explica que o mais comum é instalar as portas quando há o automatismo integral da via, como ocorre na Linha 4 de São Paulo, mas salienta que já existe uma tendência de lançar mão da tecnologia em linhas mais antigas. “Os ganhos são bastante importantes por evitarem fatores de perturbação operacional por conta de qualquer objeto na linha. As portas, além de aumentarem substancialmente os índices de segurança, contribuem significativamente para organizar o embarque e
o desembarque, aperfeiçoando a movimentação e permitindo a realização de manobras automáticas, sem que haja essa perturbação nas estações.” Em grandes eventos, Gouveia exemplifica que é possível reduzir eventuais tumultos e pânicos. Para a implementação da tecnologia, no entanto, ele esclarece que é necessário avaliar a demanda de cada estação e a segurança operacional e dos usuários. “O Metrô de São Paulo tem uma demanda altíssima, transportando 4 milhões de passageiros por dia. Ou seja, conta com estações muito cheias, com riscos de tumulto ou de perturbação da operação.”
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Viabilidade As novas portas nas plataformas do Metrô-São Paulo deverão ter, no mínimo, 2,10 metros de altura e só deverão abrir depois da parada do trem na plataforma, para permitir a entrada e a saída de passageiros dos vagões. No novo contrato, uma preocupação está ligada ao peso das portas. Grande parte das plataformas foi projetada ainda na década de 1970 e não contava que estruturas tão pesadas como as portas automáticas fossem colocadas sobre elas. Uma solução de engenharia terá que ser planejada. Outro desafio é como montar as portas sem atrapalhar as
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operações do Metrô. Para isso, a companhia reservou à futura contratada apenas a madrugada — no intervalo entre 1h30 e 3h45. O Metrô acredita que a instalação das portas em módulos, como se fossem blocos de montar, deve agilizar toda a operação. Outros estados Apesar de São Paulo ser a única localidade do país que conta com a tecnologia e com projetos em andamento para a implementação em novas estações, outros operadores reconhecem a importância do sis-
tema. Segundo o Metrô-DF, só neste ano, foram 236 ocorrências de invasão nos trilhos que acarretaram a interrupção da operação. Há casos em que os usuários invadiram intencionalmente a via – isso ocorre, principalmente, quando há grandes eventos na cidade, como no Carnaval. “Nesses eventos, quando temos as estações cheias, usuários tentam atravessar os trilhos, fugir de brigas, gerando caos e atrapalhando todo mundo”, informa o diretor de Operação e Manutenção do Metrô-DF, Carlos Alexandre Cunha.
Também há situações em que o usuário caiu acidentalmente seja por mal súbito, seja por desequilíbrio. A maior incidência, contudo, é a de objetos que caíram na via. Cunha diz que, nesses casos, toda a linha precisa ser desenergizada, independentemente do tamanho do objeto. “Isso representa prejuízo tanto para o operador quanto para a população, que tem a operação interrompida. Cada estação conta com ‘pegadores’ específicos, que são treinados para realizar a desobstrução da via.”
O diretor reconhece que a instalação de portas de plataforma otimizaria bastante a operação e ofereceria mais segurança aos usuários, em que pese a maior parte das estações na capital federal não seja subterrânea (são 30 km de vias a céu aberto), o que torna as linhas mais vulneráveis a interferências externas. “Trata-se de um investimento de grande monta e não está no nosso plano de negócios para o próximo ano, que já soma montante de R$ 400 milhões. Nossa prioridade, no próximo ciclo, é fazer uma modernização dos nossos trens.” l
Confira os projetos essenciais para o transporte no Brasil e os investimentos necessĂĄrios para solucionar os problemas do setor.
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2.600
projetos
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em águas desconhecidas Ataques de piratas digitais a sistemas de navios podem colocar a segurança de embarcações em risco. Falta de informação e de legislação deixa cenário ainda mais turvo por
CARLOS TEIXEIRA
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s piratas já não atacam mais os navios somente em alto-mar. Na era da informação, hackers deram início a um novo modelo de crime: a pirataria digital. No fim de julho deste ano, um dos casos mais recentes de ciberataque, a companhia de navegação chinesa Cosco (China Ocean Shipping Company) foi surpreendida pelo Ransomware – um código malicioso que criptografa dados de computadores e que cobra um resgate em bitcoins para liberá-los. O vírus contaminou e isolou a comunicação eletrônica de vários dos seus escritórios nos Estados Unidos. A infecção pelo Ransomware pode levar à perda de dados caso a vítima fracasse na tentativa de descriptografar os arquivos afetados. Além disso, o código malicioso pode se propagar pelas redes internas da empre-
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sa, o que aumenta significativamente o potencial destrutivo do ataque, destaca Sandro Süffert, CEO da Apura Cybersecurity Intelligence, empresa especializada em segurança cibernética e investigação em meios digitais. “Os maiores riscos são interrupção de serviços, atrasos de viagens e comprometimento de sistemas que podem afetar o transporte de cargas. Também existe a ameaça de danos financeiros e de imagem devido ao vazamento de informações de clientes e de transações. Os problemas ainda podem gerar multas relacionadas ao não cumprimento de normas e legislações internacionais”, explica. Outras grandes empresas de navegação já foram alvo desses piratas digitais. Entre elas, a dinamarquesa Maersk, que controla 25% dos contêineres empregados na rota que vai da Ásia para a Europa. Em junho
de 2017, a empresa sofreu uma ofensiva em seus sistemas que atingiu os servidores de diversas unidades na Europa e na Índia. À época, divulgou-se um prejuízo estimado em US$ 300 milhões. Süffert ressalta que, para enfrentar a ameaça, é necessário agir preventivamente, com atualizações permanentes, conhecimento e correção das vulnerabilidades dos sistemas utilizados. “Os principais controles para evitar danos como o sofrido pela empresa chinesa são um processo de backup bem executado e também a atualização de sistemas. Isso ajuda a evitar que vulnerabilidades conhecidas sejam exploradas. Também é preciso ter uma correta segregação das redes corporativas e das redes de operação, o que evita um dano maior por impedir a propagação de ameaças”, esclarece.
Fragilidade Os detalhes das ações dos piratas digitais não foram divulgados pelas empresas. A falta de informação é um dos fatores que dificultam a adoção de medidas contra os hackers no setor. “O que temos procurado fazer é instruir os agentes marítimos a manterem o ambiente de suas instalações seguro e, ao mesmo tempo, estarem atentos ao aumento de tentativas de fraudes envolvendo a contratação dos seus serviços”, diz André Zanin, diretor-executivo da Fenamar (Federação Nacional das Agências de Navegação Marítima). Segundo ele, nem a Marinha do Brasil revela dados sobre possíveis ações de hackers contra sistemas de embarcações em águas brasileiras. Em nota enviada à revista CNT Transporte Atual, o CDCiber (Centro de Defesa
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Cibernética do Exército), da Marinha do Brasil, afirma que “as informações são sigilosas, tendo em vista que a divulgação desses dados poderia pôr em risco a soberania nacional, expondo navios da Marinha a ataques cibernéticos”. Outro desafio é o fato de que o sistema jurídico ainda não oferece mecanismos efetivos para enfrentar o problema. A legislação que atualmente abarca o tema é a Lei de Proteção de Dados (lei nº 13.709/2018), sancionada em agosto deste ano e que entrará em vigor em 2020. Ela estabelece que as empresas tenham padrões mínimos de segurança de banco de dados. Contudo não traz especificações para o setor de transporte, explica o doutor em direito político e econômico Kristian Pscheidt. “Temos um vácuo na legislação, o que torna o assunto bastante
polêmico. A lei previa a criação de uma entidade para regular esses aspectos, mas isso foi vetado. Então, cada setor terá que criar sua regulação. Hoje, o ataque de hackers aos sistemas da navegação é uma possibilidade real. A empresa pode perder todo o seu histórico de navegação, rotas, produtividade, e é um prejuízo que não se pode mensurar.” Pscheidt destaca, ainda, que a legislação não evolui na mesma velocidade que as tecnologias. Portos se previnem Os portos também podem estar na mira de ciberataques, pois detêm informações sobre tudo o que envolve a movimentação do setor marítimo. Por isso, a segurança da informação vem sendo tratada como uma das prioridades. O PSP (Porto sem Papel), conta com correções aplicadas
à medida que surgem novas vulnerabilidades, conforme o gerente do departamento de soluções de transporte do Serpro (Serviço Federal de Processamento do Dados), que desenvolveu o sistema, Everson Campos dos Santos. Segundo ele, “existem equipes dedicadas ao tratamento de incidentes de segurança e à realização de testes de invasão controlados. Isso visa identificar e corrigir, de forma antecipada, possíveis falhas e vulnerabilidades”. Além disso, são utilizados sistemas que barram possíveis códigos maliciosos. Caso o sistema seja alvo de hackers, Campos esclarece que uma equipe de resposta é acionada para identificar a origem, conter a ação e verificar a extensão. Então, são adotadas medidas de recuperação e correção. O Ministério dos Transportes, Portos e Aviação
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Civil, em nota, disse que, apesar do grande nível de segurança que o Serpro oferece ao PSP, um possível ataque traria prejuízos significativos. “Alguns dados sobre carga perigosa poderiam representar risco se parassem em mãos erradas”, diz a pasta. No porto de Santos (SP), o maior do país, o diretor de operações logísticas, Carlos Henrique Poço, afirma que os sistemas utilizados são seguros e que todos os acessos são filtrados e supervisionados. O porto utiliza o VTMS (Sistema de Gestão de Tráfego de Embarcações) para controlar o fluxo dos navios, semelhante ao sistema de controle de tráfego aéreo. Em caso de uma ação de hackers, o diretor sustenta que o sistema de comunicação via rádio pode ser acionado para que as operações sejam realizadas normalmente. l
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Sensações inevitáveis
Falta de ar; ouvidos tampados; cansaço; ressecamento da pele, do nariz e da boca; conheça as reações experimentadas por quem viaja de avião e as possíveis formas de minimizar esses efeitos no corpo humano por
EVIE GONÇALVES
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iajar de avião é sempre uma situação que deixa a designer de interiores Maria Fernanda Seixas no limite do desconforto. O simples ato de entrar em uma aeronave faz com que a passageira fique insegura não somente pelo fato de saber que não tem controle algum em situações imprevistas mas também porque esses episódios, por si só, podem despertar sensações ruins. “Eu já passei por momentos extremamente difíceis viajando, como turbulências fortes, em que o bagageiro abriu e machucou pessoas, e as bandejas de comida servidas pelos comissários caíram no chão. Foi um exercício árduo para conseguir conter o pânico ”, lembra.
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O medo gerado pela turbulência é apenas um tipo de sensação de desconforto causado em passageiros que viajam de avião. Várias outras podem ocorrer durante um voo, como falta de ar; ouvidos tampados; cansaço; ressecamento da pele, do nariz e da boca. Todas possuem explicações fisiológicas e podem ser minimizadas por meio de simples medidas de prevenção adotadas pelos próprios passageiros. Além disso, as companhias aéreas vêm investindo cada vez mais em tecnologias para mitigar esses impactos negativos. Basicamente, as sensações ocorrem porque, em altitudes próximas a 15 mil metros – que são as sobrevoadas pelas aero-
naves –, a pressão atmosférica exterior é próxima a zero, ou seja, o volume de moléculas de oxigênio é praticamente inexistente. Essas restrições inviabilizariam a respiração humana dentro do avião se não fosse um mecanismo chamado de pressurização, que nada mais é do que um sistema de injeção de ar dentro da cabine. “Essa técnica permite que as pessoas consigam respirar, mesmo que em condições anormais, e faz com que a sensação da altitude caia para algo em torno de 2.600 metros, a mesma percebida em Machu Picchu, no Peru, por exemplo. Ainda assim, isso impõe limites aos passageiros”, explica o presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Aeroespacial, Marco Cantero.
Segundo o médico, a falta de ar ocorre porque, como a quantidade de oxigênio é menor em altitudes elevadas, em vez de o passageiro inspirar 12 vezes por minuto dentro do avião – respiração em condições normais –, ele precisa inspirar 14 vezes por minuto, ou seja, tem que fazer mais esforço para obter o oxigênio necessário. Mesmo com essa peculiaridade, Cantero observa que as pessoas costumam resistir bem a esse tipo de situação. A exceção se dá para quem tem algum tipo de doença pulmonar, como enfisema. Nesses casos, o passageiro deve comunicar a situação à empresa no ato da compra do bilhete por meio de um formulário chamado
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Medif (Formulário de Informações Médicas, na sigla em inglês). Trata-se de um documento com orientações médicas sobre a situação do paciente. “Em casos severos, nós não autorizamos o voo. Mas, se a pessoa for asmática, por exemplo, sugerimos o uso da ‘bombinha’ ou até mesmo do oxigênio a bordo. As companhias devem ser informadas desses casos particulares para trabalharem de forma preventiva”, adverte o médico. Ele lembra que as aeronaves seguem protocolos internacionais e são munidas de bombas de oxigênio à parte, além de maleta de primeiros socorros com remédios, inclusive, de ambiente hospitalar.
Cientes da ocorrência de casos excepcionais, as empresas vêm pensando em diversas soluções tecnológicas para reduzir esses desconfortos aos passageiros. O piloto e diretor-executivo para a América Central e do Sul da Embry-Riddle Aeronautical University, Fábio Campos, cita aeronaves mais modernas, como o Boeing 787 e o Airbus 350, cujas estruturas são feitas basicamente de fibra de carbono. Nesses aviões, os sistemas de pressurização conseguem oferecer aos passageiros a sensação de altitude de cerca de 1.800 metros. “Pode parecer pouca diferença em relação a uma aeronave comum, mas o corpo humano reage melhor. O
resultado é que o passageiro conclui o voo bem menos cansado”, explica. Além da falta de ar, outra sensação bastante comum sofrida pelos passageiros é a de ouvidos tampados. O presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Aeroespacial explica que ela ocorre porque a baixa pressão faz com que os gases se expandam no organismo, por isso acontecem as dores de ouvido ou até mesmo as cólicas intestinais. “A recomendação, nesse caso, é que, durante o procedimento de descida, o passageiro tampe o nariz com a mão, feche a boca e engula saliva. O procedimento deve ser repetido durante seis vezes. A tendência é que a pressão do ambiente seja
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equalizada com a de dentro do ouvido. Outra técnica eficiente é o uso de chicletes.” Já o ressecamento de pele, nariz e boca ocorre devido ao sistema de ar-condicionado. De acordo com o médico, para equiparar a diferença de temperatura dentro e fora da aeronave – enquanto a temperatura exterior é de -60°C, a interior é de 20°C –, o equipamento retira moléculas de água do ar, o que faz com que a umidade chegue a cerca de 10% no interior dos aviões. “Todos os passageiros devem tomar, pelo menos, um litro de água antes de entrar na aeronave. E durante a viagem, devem consumir cerca de um copo de água por hora para ficarem hidratados”, orienta.
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Três dicas para reduzir sensações de desconforto e aumentar a segurança nas aeronaves:
Tampe o nariz com a mão, feche a boca e engula saliva por seis vezes durante o pouso. Fonte: Sociedade Brasileira de Medicina Aeroespacial
Tome, pelo menos, um litro de água antes de entrar no avião e um copo de água por hora durante a viagem.
Mantenha o cinto de segurança afivelado.
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Outro fenômeno bastante conhecido dos viajantes, sobretudo daqueles habituados a voos internacionais, é o jet lag, sensação de fadiga e cansaço causada pela mudança de fusos horários. Segundo Marco Cantero, a recomendação é que os passageiros se adaptem ao fuso do país de chegada. Na prática, eles devem buscar dormir no horário padrão do local em que se encontram. Isso faz com que o desconforto seja amenizado ao longo dos dias. Algumas tecnologias também ajudam a minimizar os efeitos colaterais de viagens mais longas. Os aviões modelo A350 XWB, do grupo Latam, por exemplo, têm o ar renovado a cada dois ou três minutos, e a iluminação em led permite combinações de cores diferentes para ambientações personalizadas. Isso auxilia na redução da fadiga ocasionada pelo jet lag e pode aumentar a sensação de bem-estar para quem está a bordo. A mesma situação ocorre nos modelos Airbus A330 da Azul, em que lâmpadas de led iluminam toda a cabine de acordo com os diferentes momentos do voo. A Gol e a Avianca foram procuradas pela reportagem, mas não enviaram contribuições até o fechamento desta edição da revista CNT Transporte Atual. l
Iluminação em led DIVULGAÇÃO: AIRBUS
Um dos vilões para os passageiros, a turbulência não provoca alterações fisiológicas, mas, sim, reações emocionais. Segundo o médico, o avião é seguro e está preparado para o incidente, podendo cair cerca de dois metros, o que não é suficiente para desnivelar a pressão no interior do corpo humano. “A tontura, o vômito ou até mesmo a queda de pressão ocorrem pelo medo que o viajante sente”, explica. Ele ressalta a importância de manter o cinto de segurança afivelado durante todo o voo para que a pessoa se mantenha presa à cadeira e não se machuque. Fábio Campos, da EmbryRiddle, ressalta que as aeronaves possuem radares meteorológicos capazes de medir a concentração de partículas de água nas redondezas. Em caso de nuvens pesadas, os pilotos são treinados para desviarem a rota. “A turbulência ocorre justamente quando não conseguimos desviar de todas as nuvens carregadas. Mas as evitamos ao máximo”, explica. Ele diz que a única formação que não é prevista pelo comandante é um fenômeno chamado de turbulência de céu claro, que ocorre quando existem fortes correntes de ar sem nuvens associadas a elas. “Isso ocorre quando a atmosfera está rarefeita. Não tem como prever com tecnologia”, diz.
DIVULGAÇÃO: AZUL
Turbulência e sono
Aeronave com radar meteorológico
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Se esse parachoque falasse Os caminhões, com suas pinturas decorativas e frases espirituosas, são fonte de inspiração para designers e ilustradores por
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FOTOS: DAMIÃO SANTANA
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capricho dos caminhoneiros com relação às suas máquinas alcança os detalhes. O diferencial pode estar em um escapamento cromado, uma manopla de câmbio personalizada, uma tampa de cubo imponente. Até recentemente, porém, a grande estrela era a pintura. Motorista que se prezava cobria a carroceria com filetagens – adornos feitos com pincel, estêncil ou carretilha. E ainda ostentava no parachoque frases bem-humoradas do tipo: “Não sou mágico, mas vivo de truck”.
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Hoje, os ornamentos feitos à mão são raros. E mesmo os trocadilhos irreverentes perderam lugar para mensagens de cunho motivacional ou religioso. Antes que esse universo desapareça por completo, pesquisadores e artistas gráficos de diversas partes do país têm feito um importante trabalho de registro. Para esses profissionais, a criatividade popular é uma fonte de inspiração e merece ser tratada com todo o respeito. As obras espontâneas, produzidas sem estudo formal, como a pintura de placas e letreiros, são exemplos de design vernacular.
Padrões descobertos Fátima Finizola é uma das pioneiras nesses estudos. A designer e professora da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) reuniu um vasto material para o projeto “Iconografia das carrocerias de Pernambuco”, lançado em 2013 com o apoio do Funcultura (Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura). Ao lado do fotógrafo e designer Damião Santana, ela percorreu Recife, Olinda, Caruaru e Jaboatão dos Guararapes em busca das derradeiras oficinas de carroceria, onde os caminhoneiros tradi-
cionalmente “customizavam” seus veículos. “Na época, a cultura da ornamentação já estava caindo um pouco. Hoje, é difícil encontrá-la. Havia também uma perda nas inscrições de textos, com predomínio de citações religiosas”, conta Finizola. “Era uma produção efêmera e sem registro até então. A ideia era valorizar e colocar em jogo como obra de design. Para isso, tentamos traçar um perfil. O primeiro critério eram as placas serem de Pernambuco”, recorda. Durante o processo, a dupla identificou dezenas de padrões
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são comuns imagens de Jesus Cristo ou de Sol.” Da carroceria para o texto Vários dos achados de Fátima e Santana foram sintetizados na forma de uma fonte composta de símbolos e desenhos – a “Dingbat Carroceria” –, que pode ser baixada gratuitamente no site do projeto (www.designvernacular.com.br). Desse modo, as filetagens ganhariam uma sobrevida virtual. Essa também é a aposta do designer e professor Rafael Hoffmann, da Faculdade SATC, de Criciúma (SC). Inspirado nas
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de filetagem. “Visitamos as empresas de reforma e fabricação de carroceria para aprender os processos e vimos que o uso de estêncil era muito forte”, recorda. “É difícil encarar esse trabalho como autoral, pois uma empresa pega o estilo da outra e faz adaptações em cima”, ressalta. Segundo a pesquisadora, os desenhos são, em geral, abstratos e repetitivos, aproveitando ao máximo os moldes vazados. “A gente não vê elementos pictóricos. A exceção são as quinas, onde, por vezes, eles botam um cavalinho, uma flor de lis. E, nas lameiras,
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famosas frases de caminhão, ele criou a família de fontes “Mantenha distância”, disponível para download (rafaelhoffmann. com/mantenhadistancia).
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Hoffmann teve essa ideia a partir de uma experiência prosaica. “Eu estava na rodovia, dirigindo até Porto Alegre para um encontro de designers, e
fiquei observando os caminhões. Como estava no clima de tipografia, liguei uma coisa a outra: percebi que já tinha visto aquilo, que existia um padrão muito uniforme nas pinturas de carroceria, e resolvi pesquisar”, lembra o designer, que cresceu cercado de caminhões, pois o avô tinha um posto de gasolina. O resultado foi a “Mantenha distância”, uma coleção dessas letras de base quadrada, traço pesado e cantos cortados em linha curva ou reta. Na verdade, Rafael capturou a essência de um tipo de trabalho popularmente conhecido como “degra-
dê”. O nome vem da transição grosseira de cores que serve de base para as frases escritas nos caminhões. “Parece ser uma tendência esse estudo do popular, que busca preservar e trazer para um meio mais formal algo que antes estava na periferia do design”, analisa o professor. “Esse tipo de trabalho é quase oculto. Pesquisei bastante, e não encontrei quase nada sobre o assunto”, reforça Felipe Monoyume. O ilustrador e designer brasiliense foi instigado por uma encomenda inusitada do violeiro Fábio Miranda, um declarado admirador da arte da
DIVULGAÇÃO:RAFAEL HOFFMANN
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filetagem. “Fábio veio com essa ideia para ser capa de disco. Ele me passou uma apostila com exemplos de padrões. A partir daí, criei 42 gráficos diferentes”, revela Monoyume, que se dedicou à empreitada por quase oito meses. Tanta dedicação veio à tona com o “Chamamento”, em 2016. O CD conta com a participação de 33 músicos convidados. Monoyume pensou que essa reunião de artistas poderia ser simbolizada por uma multiplicidade de filetagens, como se fosse um comboio de caminhões. “Depois, percebi que
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dava para fazer mandalas com os padrões, o que, por conta da forma circular, cria um link com as rosetas típicas das violas caipiras”, revela o artista, referindo-se aos enfeites que rodeiam a “boca” do instrumento. Os esforços de Monoyume, Hoffmann e Fátima não são isolados. Os departamentos de arte e desenho industrial das faculdades estão repletos de projetos semelhantes. A modernização pode ter alcançado os caminhões, mas a arte associada às antigas carrocerias continua rodando em alta velocidade no imaginário do brasileiro. l DIVULGAÇÃO:FELIPE MONOYUME
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SERVIÇO
Canal direto FOTOS: ARQUIVO CNT
Programa eSocial disponibiliza Central de Atendimento para orientar empresas; ferramenta é exclusiva para tirar dúvidas técnicas sobre o sistema por
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m processo de implementação desde janeiro deste ano, o eSocial é a nova forma de prestação de informações relacionadas ao universo do trabalho, integrando a rotina de mais de 18 milhões de empregadores e 44 milhões de trabalhadores. O programa – que possibilita que todas as empresas brasileiras cumpram suas obrigações fiscais, trabalhistas e previdenciárias de forma unificada e organizada – agora conta com uma Central de Atendimento, que esclarece dúvidas operacionais relacionadas ao envio, à consulta e à edição de eventos transmitidos, além da utilização dos seus módulos Web (Web Empresas, MEI – Microempreendedores Individuais e Web Doméstico). O governo federal informa que o canal foi desenvolvido para atendimento exclusivo de questões técnicas sobre o sistema. Nesse sentido, explica que a ferramenta não dirimirá dúvidas a respeito de direito material (aplicação ou interpretação
da lei, no caso concreto). Nessas situações, a orientação é que as empresas busquem informações diretamente nos órgãos integrantes do eSocial (Receita Federal, Ministério do Trabalho e Emprego e Caixa Econômica Federal) ou com suas próprias equipes contábeis ou jurídicas. Além da assistência telefônica, o eSocial disponibiliza atendimento online. Os empregadores podem enviar suas dúvidas na área do Fale Conosco do portal do sistema. A partir de então, receberão as respostas, por e-mail, informadas no preenchimento do formulário. Já as empresas que utilizam o ambiente de testes (produção restrita) podem encaminhar suas questões por meio de formulário próprio. Nesse caso, as perguntas não serão respondidas individualmente, mas poderão compor a área de Perguntas Frequentes, disponível a todos os usuários. Cronograma O envio de dados está sendo feito em três etapas (empresas
com faturamento anual superior a R$ 78 milhões; demais empresas privadas; e entes públicos), cada qual com cinco fases. Na primeira fase, o sistema recebe apenas as informações cadastrais dos empregadores e as relativas às suas tabelas, tais como estabelecimentos, rubricas, cargos etc. Na segunda, é feito o envio dos eventos não periódicos – dados sobre os trabalhadores e seus vínculos trabalhistas (admissões e desligamentos, por exemplo). Na sequência, passa a ser obrigatório o envio das folhas de pagamento e, na quarta fase, a Guia de Informações à Previdência Social será substituída pelo novo sistema. Na última fase, deverão ser enviados os dados de segurança e saúde do trabalhador. Em setembro, de acordo com o cronograma, todas as empresas com faturamento até R$ 78 milhões, incluindo os integrantes do Simples Nacional e MEIs, entraram na fase de envio dos eventos não periódicos. A partir de novembro, será a vez de
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inserir as informações referentes à folha de pagamento. De acordo com a Receita Federal, é importante que as empresas se antecipem à exigência governamental. Para isso, o sistema conta com uma etapa preparatória de qualificação cadastral, na qual é possível enviar as informações para o governo sem ter nenhum efeito jurídico. Quando for totalmente implementado, em vez de preencher 15 obrigações separadamente – como Rais (Relação Anual de Informações Sociais) e Dirf (Declaração do Imposto de Renda Retido na Fonte) –, o abastecimento de dados será feito em um único sistema. As empresas que não enviarem os dados em atendimento ao cronograma estão sujeitas a multa e a penalidades legais. Segundo a Receita Federal, as práticas em desacordo com a legislação – realizadas em qualquer uma das cinco fases – impossibilitarão a empresa de seguir adiante no processo de envio de obrigações. l
Central de Atendimento do eSocial 0800 730 0888 Funcionamento: atendimentos de segunda a sexta-feira, das 7h às 19h (apenas chamadas provenientes de telefones fixos)
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INOVAÇÃO
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Sem medo de
mudar
Gestores do transporte brasileiro participam de extensão no Vale do Silício (EUA); iniciativa contou com apresentações e visitas aos principais players em inovação e tecnologia por
EVIE GONÇALVES
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inovação vem sendo considerada um dos mais importantes ativos intelectuais do mundo. No Vale do Silício, localizado na Califórnia (EUA), um dos principais polos globais do assunto, mentes privilegiadas pensam em problemas sob diferentes óticas e apresentam soluções criativas para resolvê-los. Além disso, abraçam o novo sem medo e entendem erros como oportunidades. Buscando compreender os mecanismos da inovação e a melhor maneira de aplicá-los para solucionar os problemas do
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transporte brasileiro, uma comitiva de gestores do setor participou, em setembro, da Extensão Internacional Vale do Silício 2018, iniciativa promovida pela CNT, pelo SEST SENAT e pelo ITL e organizada pela HSM. A extensão faz parte do projeto Inovação e Tecnologias Exponenciais para a Transformação do Setor de Transporte e incluiu, no roteiro, apresentações e visitas técnicas ao tradi-
cional polo de tecnologia. Esse foi o quarto evento promovido pelo Sistema CNT junto com a HSM. Três outros encontros com a mesma temática já foram realizados, em São Paulo, e um último está previsto para ocorrer em novembro, também na capital paulista. “Esses encontros são importantes para conectar os transportadores brasileiros com o que há de mais moderno e
inovador no mundo. Mergulhar nessa combinação de conhecimento, capital financeiro e ousadia faz com que os gestores tenham uma compreensão mais ampla e precisa das mudanças exponenciais que a revolução tecnológica está provocando e promovam, assim, a modernização das empresas brasileiras”, acredita o presidente da CNT, Clésio Andrade. Entre as iniciativas compartilhadas, destaca-se, por exemplo, a Mediar, empresa mineira atuante no Vale do Silício desde 2008 e desenvolvedora de uma
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Durante a visita ao Vale do Silício, os gestores do transporte tiveram a oportunidade ainda de conhecer a Plug & Play, uma mistura de incubadora e aceleradora que permite a interação entre startups, investidores e empresas tradicionais que querem aprender novas maneiras de fazer negócios. A Plug & Play foi a empresa escolhida para realizar o treinamento da fase
final do Conecta – Impulso a Startups, programa desenvolvido pela CNT em parceria com o BMG UpTech, com o objetivo de atrair soluções criativas para o setor de transporte e logística do Brasil. O Conecta está em sua terceira fase, na qual 25 startups participam de capacitação na Fundação Dom Cabral. Na fase final, cinco empresas
são selecionadas para participar do treinamento no Vale do Silício. O programa recebeu mais de 400 inscrições de startups que apresentam soluções para sistemas de mobilidade urbana até tecnologias ecologicamente sustentáveis, passando por aplicativos que gerenciam sistemas de recursos humanos nas empresas.
“O Conecta faz parte dessa onda de inovação, modernização e fortalecimento do ecossistema de transporte brasileiro. Estamos possibilitando acesso a alternativas inovadoras em mobilidade de passageiros e de cargas. Isso é fundamental para o desenvolvimento do nosso setor”, comenta Harley Andrade, diretor para Assuntos Internacionais da CNT.
plataforma que usa análise de dados e algoritmos para prover serviços de previsibilidade de vendas em varejo e incrementar os modelos de logística e distribuição conectados. Os gestores brasileiros também tiveram a oportunidade de aprender com o managing director da Flixbus, empresa que desenvolveu uma combinação de startup de tecnologia, plataforma de e-commerce e transporte sustentável. Para a diretora-executiva nacional do SEST SENAT, Nicole Goulart, encontros como esse são uma oportunidade para pen-
sar o futuro do transporte. “Nosso intuito, ao permitir que gestores do transporte participem de eventos desse porte, é proporcionar uma reflexão sobre o caminho que precisamos seguir para garantir o desenvolvimento do setor, em termos operacionais e gerenciais”, afirma ela. Na visão do diretor-executivo da CNT, Bruno Batista, as discussões realizadas durante as visitas ao Vale do Silício revelam a necessidade de se criar um ambiente de inovação dentro das empresas e das organizações. “A inovação já está acontecendo
agora. Não é um futuro distante. Precisamos estar atentos às transformações e proporcionar um ambiente favorável à busca de soluções alternativas e criativas para os antigos problemas que enfrentamos.” O roteiro dos gestores incluiu ainda visitas a locais como Foxtrot Systems, empresa que trabalha com inteligência artificial na análise de diversas variáveis para otimizar rotas de entrega em tempo real; Geospago, que usa geolocalização para criar uma visibilidade única e integrada para diferentes processos de
negócios; e outras empresas e organizações reconhecidas pela experiência em inovação como Tesla, Google, IBM e Singularity University – referência mundial no assunto. “O setor de transporte brasileiro ainda tem um longo caminho a percorrer quando se trata de inovação. No entanto, as experiências vivenciadas nos mostram que seguimos na direção certa, alinhados com o que o mundo prepara e espera para o futuro próximo”, destaca o diretor-executivo do ITL, João Victor Mendes.
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Pascal Finette é cofundador da cadeira de empreendedorismo e inovação da Singularity University. Seu trabalho tem foco nos impactos globais e culturais da tecnologia. Durante a missão dos gestores do transporte ao Vale do Silício, ele proferiu uma palestra sobre modelos exponenciais. A tecnologia evolui de forma exponencial, mas o nosso pensamento se projeta linearmente. Qual o impacto disso na forma como percebemos e nos adaptamos às tecnologias em nossa vida? Recentemente, a tecnologia avançou e passou a se mover numa curva exponencial acelerada. Isso significa que existe esse hiato entre a habilidade de entender de forma intuitiva e o futuro que nós atualmente buscamos. Nós necessitamos fazer duas coisas. A primeira é nos educar e fazer uma rígida combinação por trás da tecnologia para compreender como ela parecerá em cinco ou dez
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Entrevista
Pensamento exponencial anos. Mas o que eu acho mais importante é que precisamos nos forçar a fazer uma pausa e acessar o que isso significa atualmente. É muito fácil dizer o que os computadores irão se tornar, já que eles se modificam muito rapidamente a cada dois anos. Então, em dez anos, eles serão até cem vezes melhores. Mas a questão é: o que isso realmente significa para mim e para o meu negócio? Eu acredito que essas são as duas habilidades que precisamos aprender como líderes no mundo. É possível pensar exponencialmente?
Eu acredito que podemos nos treinar a pausar, parar e exercitar o pensamento exponencial para os problemas que vemos no mundo. A única coisa necessária é que entendamos e vejamos essas mudanças exponenciais e confiemos em como nos sentimos, algo próximo da nossa intuição. Então, pare, pause e depois reflita sobre os problemas do futuro. Como isso impacta as organizações? Uma grande necessidade para nós, como seres humanos, é mudar nossos pensamentos e modelos para esse novo
mundo. Isso se torna cada vez mais importante no contexto de uma empresa, comunidade ou sociedade. Você precisa entender essas forças. Elas são tão poderosas e podem vir tão repentinamente que, se você não estiver preparado, esbarrará em uma questão proposta por Ernest Hemingway. O escritor disse que essas mudanças estão vindo tão repentinamente que nos sentimos lineares no começo, mas, depois, apenas por causa da curva exponencial, começamos a perceber um forte movimento em direção ascendente no fim do processo. O exemplo clássi-
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co para mim é o smartphone. Antes de termos o iPhone, os telefones pareceram iguais por muito tempo. O iPhone não foi o primeiro smartphone, mas eles não eram muito inovadores. Depois, algo aconteceu. Acho que foi a combinação da maneira certa de se fazer, no lugar certo: computadores tecnológicos, bons softwares. Tudo isso veio junto e se tornou uma disrupção tão massiva que abriu toda a indústria. Eu acredito que é importante, no mundo corporativo, que aprendamos a ver esses sinais e os combinemos para que eles se tornem interessantes e disruptivos.
O que são organizações exponenciais? Quais são suas características? O que as diferencia das organizações lineares? São empresas que possuem ferramentas, práticas e mentalidade para trabalharem nesse novo mundo. Eu acredito que a maneira mais fácil de pensar as organizações exponenciais é entender que elas realmente têm força, empoderamento e mentalidade para reconhecerem as mudanças do mundo. Elas também criaram uma cultura interna, com processos e ferramentas que permitem trabalhar essas tecnologias. Isso gerou a possibilidade de expe-
rimentar muitas ideias. Além disso, elas puderam ver o que está acontecendo no mundo, gastaram tempo compreendendo o futuro e, também, aprenderam com esses experimentos. Outra característica é a habilidade de entender que as falhas são aprendizado e que isso transforma a organização. Qual é o papel das lideranças nesses cenários? Eu acredito que as pessoas são a parte mais importante que existe em uma empresa, são as condutoras para promover essas mudanças. Sem pessoas, nada acontece. Então, como liderança, você deve
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realmente pensar sobre como alcançar os desafios corretos, como manter os talentos da organização felizes e produtivos e como você os empodera para que eles façam o seu melhor. Pessoas têm um incrível poder e o mais importante aspecto de um negócio. Existe uma citação feita por Herb Kelleher, fundador da South West Airlines: “os negócios são as pessoas de ontem, hoje e amanhã”. Isso é como uma verdade universal sobre negócios. Nós vemos muitas tecnologias atualmente, como a inteligência artificial, por exemplo, mas elas realmente dependem de pessoas. l
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ITL
Redução de custos Implantação de projeto desenvolvido no curso Especialização em Gestão de Negócios possibilita economia para empresas aéreas
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CARLOS TEIXEIRA
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ncentivar a busca de soluções para os problemas do transporte, reduzindo custos, aumentando a eficiência das empresas e a qualidade dos serviços. É com esse objetivo que o ITL (Instituto de Transporte e Logística) e o SEST SENAT vêm capacitando gestores do setor nas mais modernas técnicas de gestão, a fim de promover a integração e a troca de experiências. A aplicação dos conteúdos da Especialização em Gestão de Negócios, oferecida desde 2013 e ministrada pela FDC (Fundação Dom Cabral), tem proporcionado resultados bastante positivos para as empresas de transporte e logística de todo o país. Alunos da 12ª turma apresentaram um projeto de compartilhamento do transporte de tripulantes, demais colaboradores e passageiros das empresas aéreas entre os aeroportos de Congonhas e de Guarulhos, em São Paulo. O trabalho, inspirado
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em práticas adotadas por companhias aéreas de outras partes do mundo, como Air France, em Paris, e Emirates, em Dubai e em Tóquio, tem como objetivos incrementar a frequência, simplificar o processo de embarque e reduzir os custos e o volume de veículos utilizados. Há dois meses, duas companhias aéreas – Latam e Avianca – já aderiram à iniciativa e passaram a compartilhar o transporte dos seus empregados em um mesmo veículo. Nesse período, segundo o gerente de logística da Avianca e aluno do curso, Klaus Ludeman, já foi possível contabilizar uma economia de 30% nos gastos com o transporte dos colaboradores. O gerente destaca ainda que, com a redução de custos, foi possível ampliar a oferta de transporte para os tripulantes, o que impacta diretamente a pontualidade da crescente quantidade de voos que decolam dos aeroportos de São Paulo. “Nossa preocupação foi encon-
trar um modelo que trouxesse benefícios para as empresas. O feedback que temos recebido dos usuários é muito positivo. Conseguimos aumentar a oferta, melhorar a satisfação dos colaboradores e contribuir para a eficiência financeira das empresas. Internamente, esse trabalho tem sido usado como exemplo para incentivar a busca de novas oportunidades de negócio, de otimizar recursos e inovar”, destaca Ludeman. Para que o projeto avançasse, as empresas criaram um grupo de trabalho com as equipes das áreas de logística, operações, compras e aeroportos para desenvolver uma solução que combinasse a melhora de serviço com ganhos de escala. O compartilhamento está sendo realizado em ônibus exclusivos que saem de hora em hora dos dois aeroportos, durante todo o dia, para otimizar o trajeto de quem trabalha nas companhias aéreas. “Nossa proposta era reduzir o tempo entre as via-
gens, oferecendo partidas a cada meia hora. Com isso, ganham os colaboradores; as empresas que, continuamente, buscam eficiência operacional; e também os clientes”, afirma o comandante da Latam e também aluno da especialização, Celso Alexandre Giannini Oliveira. Além disso, um fator importante, segundo Oliveira, é que os tripulantes agora têm passe livre para utilizar os ônibus, desde que estejam uniformizados. Os traslados são operados por uma empresa privada. Para facilitar o acesso, os ônibus foram identificados com uma placa posicionada no para-brisa, onde está escrito “Funcionários Latam e Avianca”. Os embarques são liberados cinco minutos antes da partida. Com os resultados positivos da iniciativa implantada em São Paulo, as companhias aéreas já avaliam a possibilidade de expandir o compartilhamento para outras capitais, como Rio de Janeiro (RJ) e Belo Horizonte (MG).
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Aplicação prática Com mais de 20 anos de experiência em logística, o professor da FDC e orientador do projeto, Paulo Renato de Souza, frisa a importância de se alinhar a teoria com a prática no desenvolvimento de um projeto aplicativo de alto impacto e, também, o aprendizado para ambas as partes. “O aprendizado é mútuo e recíproco. O projeto aplicativo é uma troca de informações constante entre os participantes e os professores, o que gera mais conhecimento. Inicialmente, tínhamos três ideias. Optamos pelo compartilhamento dos
ônibus pelo impacto financeiro”, explica ele. A Especialização em Gestão de Negócios é promovida pelo SEST SENAT e coordenada pelo ITL desde 2013. Nesse período, mais de 1.400 gestores do transporte de todos os modais já foram capacitados. O índice de implantação integral ou parcial dos projetos aplicativos supera 68%. Para o diretor-executivo do ITL, João Victor Mendes, o índice elevado de projetos aplicativos que têm sido implantados nas empresas de transporte mostra que o ITL tem cumprido a sua missão de promover
a geração do conhecimento, o aprimoramento do capital humano e a competitividade do setor de transporte. “Isso demonstra que o serviço que estamos prestando tem aderência com as demandas do setor e estamos proporcionando aos gestores pensar e agir de maneiras diferentes. Sempre com o pensamento voltado para a melhoria dos resultados e do desempenho das empresas”, finaliza. Essa opinião é compartilhada pelo professor Souza, que ainda ressalta que o curso tem o objetivo de desenvolver os profissionais para os desa-
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fios que o setor de transporte enfrenta, além de prepará-los para a identificação de novas oportunidades. “O projeto aplicativo visa estimular a criatividade dos participantes, buscando soluções inovadoras e processos mais eficientes para empresas de transporte e logística. Eles também têm o objetivo de fomentar a aplicação dos conceitos aprendidos durante o programa em situações reais da gestão, proporcionando a integração entre teoria e prática, por meio do tratamento de uma questão relevante para o participante e para a empresa”, finaliza. l
SAIBA MAIS Especialização em Gestão de Negócios ÌÌ Voltada para gestores de empresas do setor de transporte de cargas e de passageiros dos modais rodoviário, aquaviário, ferroviário, aéreo e operadores logísticos ÌÌ Ministrada pela Fundação Dom Cabral ÌÌ 370 horas ÌÌ Inscrições online ÌÌ Seleção: entrevista realizada pela equipe técnica do ITL e análise da documentação, do currículo e do desempenho do candidato durante a realização de entrevista
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ACESSE:
TEMA DO MÊS
A lógica dos investimentos cruzados nas ferrovias brasileiras
Investimentos cruzados podem acelerar o desenvolvimento do país FERNANDO S. MARCATO
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FERNANDO S. MARCATO Professor da FGV Direito - SP, e sócio da GO Associados
studo realizado pelo Grupo de Economia de Infraestrutura e Soluções Ambientais da FGV-SP indica que a prorrogação antecipada das cinco concessões ferroviárias atualmente em discussão (Vitória-Minas, Carajás, FCA, MRS e Malha Paulista) trará benefícios de R$ 42,5 bilhões para o PIB nacional, 696.863 empregos, R$ 7 bilhões em massa salarial e R$ 3 bilhões em arrecadação tributária. A decisão do governo federal de negociar a prorrogação antecipada das concessões ferroviárias, em vigor, está amparada, portanto, por benefícios macro e socioeconômicos que poderão ser gerados à sociedade. Um outro conjunto de benefícios que serão gerados com essas prorrogações diz respeito aos valores de outorga recolhidos pelo Tesouro, a serem pagos pelas concessionárias em razão do direito de continuar explorando suas concessões. Esse tipo de outorga pode ser pago em pecúnia mas também por meio da realização de
investimentos indicados pelo poder concedente a serem feitos em outras ferrovias, por exemplo, investimentos cruzados. É justamente esse mecanismo que vem sendo negociado pela Vale com o governo federal como uma das contrapartidas para a renovação da Estrada de Ferro Vitória-Minas. Nessa hipótese, a Vale se comprometeria a realizar a construção da Fico (Ferrovia de Integração do Centro-Oeste) e entregá-la ao governo federal para que a operasse ou organizasse a concessão da sua operação por um terceiro, por meio de um processo licitatório. Esse mecanismo traz benefícios importantes na perspectiva de políticas públicas. O primeiro deles é que se cria uma forma de garantir que os recursos gerados pelo sistema ferroviário (outorga) serão destinados para o próprio sistema. Naturalmente, poderia ser depositada essa outorga em um fundo ferroviário federal para que fosse utilizada, posteriormente, em projetos ferroviários. Porém, nessa hipótese, o governo deveria contratar os
projetos para realização das obras, bem como passar por um moroso processo de concorrência pública, o que, no Brasil, sabidamente é um dos principais gargalos para destravar investimentos em infraestrutura. Além disso, em períodos de crise fiscal, os recursos desses fundos poderiam ser contingenciados. Outro benefício do mecanismo é que o investimento será realizado por uma concessionária que terá um vínculo contratual com o governo por mais 30 anos, garantindo os incentivos corretos para que as obras sejam concluídas dentro dos prazos e da qualidade exigidos. Os investimentos cruzados para as concessões ferroviárias são fundamentais para acelerar o desenvolvimento das ferrovias no país, promovendo a necessária mudança na matriz de transportes nacional e garantindo o seu rápido crescimento. Não aproveitar os investimentos cruzados é criar mais um obstáculo para o crescimento das ferrovias no país.
Medida permite resgatar o processo de crescimento do país TARCÍSIO GOMES DE FREITAS
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necessidade de expandir e melhorar a malha ferroviária brasileira está hoje no centro das atenções. O assunto ganhou força depois da greve dos caminhoneiros e, mais ainda, com os anúncios recentes do governo federal sobre investimentos a serem gerados mediante a prorrogação antecipada de contratos de concessão existentes. Poucas pessoas se dão conta disso, mas está em lei a mecânica que permite ao governo negociar a prorrogação dos contratos. Trata-se da lei nº 13.448/17, proveniente da medida provisória nº 752, de 2016. Atualmente, cinco concessões estão em processo de negociação dos prazos. É muito engenhosa a alternativa que admite trazer para o momento presente a repactuação do prazo de tais contratos. Duas vantagens, pelo menos, decorrem daí. Primeiro, os contratos prorrogados passarão por uma importante melhoria regulatória, com a inclusão, por exemplo, de novas metas de segurança e de qualidade dos serviços. Segundo, será
possível obter, como contrapartida, investimentos imediatos nas malhas concedidas ou, até mesmo, em outras malhas do Subsistema Ferroviário Nacional. Esse último caso traduz o que se chama de “investimentos cruzados”. Por meio deles, concessionárias cujos contratos serão prorrogados assumirão a obrigação de construir novas linhas, mesmo em outras regiões. Essas linhas, uma vez construídas, passarão para as mãos do poder público, que poderá licitá-las para outro concessionário. Assim, o governo poderá auferir valores com a outorga dessas concessões – os quais ainda poderão ser aplicados, novamente, na malha ferroviária. Haja vista a escassez orçamentária, permitir que recursos privados irriguem a construção de novos trechos é uma boa sacada. As concessionárias, ao invés de pagarem valores em dinheiro ao governo, assumirão, com maior flexibilidade e menor burocracia, a realização das novas obras. E é claro que os montantes a serem empregados decorrem de estudos detalhados, os quais serão avaliados pelo TCU. Não há milagre, tampouco seria admitido que o
investimento fosse menor do que se esperaria que as concessionárias pagassem pelo novo período de exploração dos contratos. Para as empresas será uma obrigação adicional às demais que elas deverão observar no contrato. Além disso, se houver falha na construção dos trechos ou atrasos, as empresas sofrerão penalidades e poderão até mesmo perder o contrato. Para o poder público isso significará uma chance de ouro, pois poderá contar com novos trechos ferroviários em um curto espaço de tempo, e sem o risco de interrupção do empreendimento por falta de disponibilidade financeira, contingenciamentos ou mudanças no planejamento orçamentário. De fato, é chegada a hora de se conjugarem todos os esforços necessários para transformar a infraestrutura ferroviária do Brasil. E os atores relevantes – gestores públicos, controladores, empresariado e a sociedade civil – precisam se unir, definitivamente, em prol disto: resgatar o processo de crescimento do país e fazer com que ele se mantenha nos trilhos.
TARCÍSIO GOMES DE FREITAS Secretário do PPI (Programa de Parceria de Investimentos)
www.sestsenat.org.br | 0800 728 2891
Transformar vidas, essa é a nossa missão.
O SEST SENAT tem como missão fazer a diferença na vida de milhares de trabalhadores do transporte. Completar 25 anos nos faz pensar no futuro e na vontade de estarmos cada vez mais próximos desses profissionais que movimentam o nosso país. Por isso, estamos em processo de modernização da infraestrutura das Unidades Operacionais, a fim de inovar as atividades e qualificar ainda mais os atendimentos. Estamos presentes em todas as regiões do Brasil, então, conte com a gente onde quer que você esteja.
O SEST SENAT É SEU. USE-O!
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Empresa familiar MARIA CECILIA ANAN
COORDENADORA DE JOVENS EMPRESÁRIOS DA FADEEAC CAPÍTULO ARGENTINA
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s empresas familiares são realidades multidimensionais e é por isso que existem múltiplas definições sobre elas, apoiadas por vários fatores. Empresas familiares são o setor dominante em qualquer economia, daí a importância de estudá-las. Mais de dois terços das empresas no mundo e mais da metade das que estão nas diferentes bolsas de valores são controladas por empresas familiares. Sempre se busca enfatizar a seguinte frase: “As empresas familiares têm alma, dado que o coração das famílias está nelas”. Se nos determos a pensar no que isso significa, muitos de nós nos sentiremos identificados. É habitual que, quando uma família nuclear é titular de uma empresa (pai, mãe e filhos), a incorporação desses no negócio acontece em detrimento das inquietações dos filhos, das suas diversas capacidades, das necessidades de preencher cargos na empresa, bem como do atendimento às expectativas dos mais velhos. Por outro lado, quando há sócios na empresa com diferentes famílias nucleares – ou porque na primeira geração existe mais de um titular, ou porque a empresa já se encontra na segunda geração –, as regras são claras a respeito das pautas para o ingresso, a permanência e o egresso dos membros das famílias proprietárias, resultando uma das chaves fundamentais para evitar conflitos. Responder a todas essas questões e chegar a um consenso entre titulares atuais da empresa são um primeiro passo para poder escrever esses acordos em um protocolo empresário-família e, logo, poder transmitir as pautas definidas aos integrantes da família que virão incorporar a empresa. As relações entre familiares e trabalho são muito delicadas, porque, dependendo de onde colocamos o eixo (solidez da empresa, a felicidade da família), as soluções serão diferentes. Uma família empresária requer critérios compartilhados para evitar conflitos e poder encarar os desafios do futuro, tudo isso unido a um forte sentimento de pertencimento. É fundamental analisar quais são os desafios em uma empresa familiar, as vantagens de fazer parte dela e, ainda, estabelecer
uma correta forma de governo e definição da sucessão e do futuro da empresa, considerando necessário um foco integral para poder transferir a empresa a gerações vindouras, logrando a continuidade e sustentabilidade dessa, evitando a quebra e desaparição. Não existem receitas para dirigir empresas. Cada uma é única e irrepetível, mas existem ferramentas para deixá-las o mais distante possível dos conflitos, levando as empresas familiares, que dificilmente chegam à terceira geração, a sobreviverem e crescerem. O tema Empresa Familiar será um dos enfoques da Comissão de Jovens CIT na XXX Assembleia Geral Ordinária, no Panamá, nos dias 17 e 18 de outubro deste ano.
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Empresa familiar MARIA CECILIA ANAN
COORDINADORA DE JÓVENES EMPRESARIOS DE LA FADEEAC – CAPÍTULO ARGENTINA.
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as empresas de familia son realidades multidimensionales por ello existen múltiples definiciones acerca de ellas apoyadas en diversos factores. Las empresas de familia son el sector dominante en cualquier economía, de ello la importancia de estudiarlas. Más de las 2/3 partes de las empresas en el mundo y más de la mitad de las empresas que cotizan en Bolsa, son controladas por empresas familiares. Utilizo y me gusta esta frase: «Las empresas de familia son empresas con alma, dado que el corazón de las familias esta en ellas». Si nos detenemos a pensar lo que esto significa, muchos nos sentimos identificados.
Es muy habitual, que cuando una familia nuclear es titular de una empresa (papá, mamá, y sus hijos), la incorporación de estos a trabajar, se gradúe en función de las inquietudes de los hijos, sus diversas capacidades, las necesidades de cubrir puestos en la empresa, y las propias expectativas de los mayores. En cambio, cuando en la empresa hay socios que tienen diversas familias nucleares - sea porque en primera generación hay más de un titular, o porque la empresa ya se encuentra en segunda generación - las reglas claras respecto de las pautas para el ingreso, la permanencia y el egreso de los miembros de las familias propietarias resulta una de las claves fundamentales para evitar conflictos. Responder a todos estos interrogantes y llegar a un consenso entre titulares actuales de la empresa es un primer paso para poder escribir esos acuerdos en un protocolo empresario-familiar, y luego poder transmitir las pautas definidas a los integrantes de la familia que habrán de incorporarse en la empresa. Las relaciones entre familiares y trabajo son muy delicadas, porque dependiendo donde ponemos el eje (solidez de la empresa, la felicidad de la familia), las soluciones van a ser disímiles. Y una familia empresaria requiere de criterios compartidos, para evitar conflictos y poder encarar los desafíos del futuro cohesionados y con un fuerte sentido de pertenencia. Es fundamental analizar cuáles son los retos en una empresa familiar, las ventajas de formar parte de ella y más aún, establecer una correcta forma de gobierno y definir la sucesión y el futuro de la empresa, por lo que, considerar un enfoque integral para poder transferir la empresa a generaciones venideras logrando la continuidad y sostenibilidad de la misma y evitando su quiebre y desaparición, es necesario. No existen recetas para dirigir empresas, cada una es un ente único e irrepetible, pero si existen herramientas para concluir lo más lejos posible de los conflictos, e intentar que las empresas familiares, que muy difícilmente llegan a la tercera generación, puedan sobrevivir y crecer. El tema Empresa Familiar será uno de os enfoques de la Comisión de Jóvenes CIT en la XXX Asamblea General Ordinaria, en Panamá, el próximo 17 y 18 de octubre de este año.
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Transportes: a infraestrutura pública PROF. DR. MARCELO AUGUSTO DE FELIPPES
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a história recente, poucos governantes desafiaram o proselitismo e a hipocrisia do inchamento do Estado em detrimento dos investimentos fundamentais em infraestrutura de transporte em diferentes partes do mundo. Margareth Thatcher (Reino Unido) e Ronald Reagan (EUA) foram vozes que enfrentaram a atuação de grupos de interesses na esfrangalhada e denominada “Democracia dos Estados”, que se autoalimentam de ineficácia, prestando serviços cada vez piores à população e deixando de realizar os necessários e imprescindíveis investimentos em infraestrutura de transporte. Nos Estados inchados, os déficits fiscais tendem a crescer, sem planos e metas definidas, emergindo muito populismo. Mas quem paga por tudo isso? Não existem recursos públicos, mas, sim, os que vêm do bolso dos trabalhadores e das empresas, que têm por expectativa encontrar retornos que justifiquem as pesadas e onerosas cargas tributárias obrigatórias, que, na maioria das vezes, retiram toda e qualquer possibilidade de investimento do ente privado. As organizações e estruturas governamentais carecem de tecnocracia. Urge a premente necessidade de a sociedade contar com pessoas em diferentes áreas legislativas, executivas e decisórias que conheçam o tema. A atividade de transporte tem sido vítima permanente da falta de tecnocracia e do excesso de Burocracia. Associações, agremiações e câmaras têm sido ainda a grande tábua de salvação para a sobrevivência da função transporte. A atividade de transporte vem tomando seu rumo próprio na maioria dos países. Naqueles em que a sociedade se faz ouvir, a inteligência artificial vem ocupando o espaço de humanos e diminuindo a corrupção e desperdícios de tempo e recursos financeiros. Singapura, após a Segunda Guerra Mundial, era paupérrima e subordinada ao império britânico. Hoje, rica e exemplo de eficiência estatal. Os países escandinavos, que até a década de 90 eram compostos de Estados inchados, hoje, são um exemplo. O mais inebriante exemplo é o chinês, que vem mostrando um amadurecimento crescente em gestão estatal, destinando
investimentos em infraestrutura de transporte, como o projeto da “Rota da Seda 2”. A evolução da gestão e a diminuição do Estado tiveram como consequências, nesses países, o aumento de infraestruturas públicas de transporte, que se tornaramrealidade em pouco tempo. Encerrando com William Shakespeare: “...o tempo é algo que não volta atrás, portanto plante seu jardim e decore sua alma ao invés de esperar que alguém lhe mande flores...”. As infraestruturas públicas de transporte do amanhã dependem das atitudes e decisões de hoje. Torna-se imperiosa a necessidade de representações parlamentares nos diferentes países que compõem a CIT, os quais sejam parte ou conhecedores da atividade de transporte, para que possam defender os interesses da sociedade em prol de políticas públicas que desenvolvam as necessárias infraestruturas.
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Transportes: La infraestructura pública PROF. DR. MARCELO AUGUSTO DE FELIPPES
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n la historia reciente, pocos gobernantes desafiaron el proselitismo y la hipocresía de la hinchazón del Estado en detrimento de las inversiones fundamentales en infraestructura de transporte en diferentes partes del mundo. Margaret Thatcher (Reino Unido) y Ronald Reagan (EEUU) fueron voces que se enfrentaron a la actuación de grupos de intereses en la despedazada y denominada “Democracia de los Estados” que se auto alimentan de ineficacia, prestando servicios cada vez peores a la población y dejando de realizar necesarias e imprescindibles inversiones en infraestructura de transportes. En los Estados hinchados los déficits fiscales tienden a crecer, sin planes y metas definidas, emergiendo más populismo. ¿Pero quién paga todo eso? No existen recursos públicos, sino los que vienen del bolsillo de los trabajadores y de las empresas, que tienen por expectativa encontrar retornos que justifiquen las pesadas y costosas cargas tributarias obligatorias,
que, en la mayoría de las veces, retiran toda posibilidad de inversión del ente privado. Las organizaciones y estructuras gubernamentales carecen de Tecnocracia. Urge la inmediata necesidad de que la sociedad cuente con personas en diferentes áreas legislativas, ejecutivas y decisivas que conozcan el tema. La actividad del Transporte ha sido víctima permanente de la falta de Tecnocracia y del exceso de Burocracia. Las asociaciones, gremios y cámaras han sido todavía la gran tabla de salvación para la supervivencia de la función Transporte. La actividad del Transporte viene tomando su propio rumbo en la mayoría de los países. En aquellos en que la sociedad se oye, la inteligencia artificial viene ocupando el espacio de humanos y disminuyendo la corrupción y desperdicios de tiempo y recursos financieros. Singapur, después de la Segunda Guerra Mundial, era paupérrima y subordinada al imperio británico. Hoy, rico y ejemplo de eficiencia estatal. Los países escandinavos, que hasta la década de los 90 estaban compuestos de Estados hinchados, hoy, son un ejemplo. El más insignificante ejemplo es el chino, que viene mostrando una maduración creciente en gestión estatal, destinando inversiones en infraestructura de transporte, como el ejemplo de la “Ruta de la Seda 2”. La evolución de la gestión y la disminución del Estado tuvieron como consecuencia en estos países el aumento de infraestructuras públicas de transportes que se han convertido en realidades en muy poco tiempo. Concluyendo con William Shakespeare: “... El tiempo es algo que no vuelve atrás, por lo tanto, planta tu jardín y adorna tu alma en vez de esperar a que alguien te traiga flores...” Las infraestructuras públicas de transporte del mañana dependen de las actitudes y decisiones de hoy. Se hace imperiosa la necesidad de representaciones parlamentarias en los diferentes países que componen la CIT, los cuales son parte o conocedores de la actividad del Transporte, para que puedan defender los intereses de la Sociedad en pro de políticas públicas que desarrollen las necesarias infraestructuras.
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CNT TRANSPORTE ATUAL
SETEMBRO 2018
ALEXANDRE GARCIA
O futuro nas urnas
A
inda bem que somos um país sempre abraçado pela esperança, que nos mantém confiantes ainda que vivamos frustrações periódicas. Nas campanhas eleitorais, os candidatos nos enchem de expectativas, mas, ao longo dos seus mandatos, vão esquecendo do que nos disseram e nós vamos esquecendo do que ouvimos. As repetidas promessas de estradas, pontes, viadutos, pavimento, duplicação, ferrovias, renovação de aeroportos, dragagens, equipamentos portuários são a prova das necessidades não atendidas, porque, a cada quatro anos, a demanda é reconhecida e as promessas são renovadas. No entanto, tudo é tão óbvio: é um investimento com retorno certo para o país, diferente de tantos que vão para fundo perdido. Pense no que ganhamos com aquela dinheirama toda jogada nos estádios, como se fôssemos um país rico. Somos um país gastador, e talvez não sejamos ricos por esse motivo. Se a poupança (isto é, o investimento) fosse para o transporte, que faz circular a riqueza, seríamos mais saudáveis, como se fôssemos revigorados pelos nutrientes que se transportam nas artérias, veias e capilares do país. Mas somos perdulários, gastamos dinheiro em investimentos sem retorno e em burocracia que inventamos para garantir lugar a apaniguados políticos, fingindo que estamos criando empregos, quando, na verdade, estamos criando ralos para consumir recursos que poderiam estar em investimentos que geram – esses, sim – empregos e riqueza.
Investir em transporte, senhoras e senhores futuros governantes e legisladores, é criar um círculo virtuoso de criação de renda. É claro que o investimento não cairá do céu. Como a dinheirama também desaparece para rolar a gigantesca dívida pública, parcerias e concessões são necessárias. E essas serão mais fáceis de serem contratadas se houver segurança institucional, política e jurídica. Não se atraem capitais de risco mudando regras a todo momento, nem em disputas judiciais que nunca acabam. A atualização das leis trabalhistas foi um passo positivo, mas é preciso mais. As empresas do ramo de transporte, como as outras, têm que se ocupar com sua atividade e não gastar boa parte das suas energias com emaranhados fiscais e burocráticos. É uma triste ironia constatar que 5% da safra de grãos se perde por más condições das estradas e que o custo do transporte rodoviário, responsável por mais de 60% da carga nacional, tenha crescido quase 30%. Estou convencido de que somos um país masoquista. Parece que nos prejudicamos de propósito. Um inimigo do país não faria melhor: nos asfixiar exatamente onde circula a nossa riqueza, criadora de empregos e de esperança. Mas ter apenas esperança pacifica, mas não resolve. Agir resolve, juntando as vozes e enchendo os ouvidos dos legisladores e governantes que saem das urnas para que, nesses quatro anos, não esqueçam do essencial: na guerra ou na paz, sem logística não há vitória.
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