EDIÇÃO INFORMATIVA DA CNT
INTERNET DAS COISAS A revolução tecnológica que permite a interconectividade e o compartilhamento de dados entre máquinas já traz mais eficiência a diversos serviços do setor de transporte
ANO XXIII NÚMERO 265 NOV/DEZ 2017
SĂŠrgio Reis Amigo do trabalhador do transporte
TRABALHADOR DO TRANSPORTE
Por meio do Serviço Social do Transporte (SEST) e do Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (SENAT), a instituição ultrapassou a marca de 100 milhões de atendimentos aos trabalhadores do transporte do Brasil. O SEST SENAT é referência no desenvolvimento profissional e na qualidade dos serviços prestados nas áreas de odontologia, nutrição, psicologia e fisioterapia, além de oferecer atividades esportivas, culturais e de lazer. Com Unidades Operacionais em todo o país, a instituição possibilita que os profissionais do transporte contribuintes e seus dependentes tenham atendimentos 100% gratuitos onde quer que estejam. Procure a Unidade mais próxima a você!
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REPORTAGEM DE CAPA A Internet das Coisas permite a interconectividade e o compartilhamento de dados entre máquinas; a revolução tecnológica já garante mais eficiência aos diversos serviços oferecidos pelas transportadoras de cargas e de passageiros Página 20
T R A N S P O R T E A T U A L ANO XXIII | NÚMERO 265 | NOV/DEZ 2017 ENTREVISTA
Ives Gandra Filho, ministro do TST, fala sobre a nova legislação trabalhista página
PRÊMIO CNT DE JORNALISMO • CNT valoriza trabalhos jornalísticos sobre transporte página
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ECONOMIA
INTERNET DAS COISAS
Empresas podem escolher forma de contribuição previdenciária página
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CAPA ARQUIVO CNT
EDIÇÃO INFORMATIVA DA CNT FALE COM A REDAÇÃO (61) 3315-7000 SAUS, Quadra 1 - Bloco J - entradas 10 e 20 Edifício CNT • 10º andar CEP 70070-010 • Brasília (DF)
RODOVIÁRIO
CONSELHO EDITORIAL Bruno Batista Helenise Brant João Victor Mendes Myriam Caetano Nicole Goulart Olívia Pinheiro
esta revista pode ser acessada via internet:
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AÉREO
atualização de endereço:
Novo sistema de navegação prevê redução do tempo de voos página 44
Cynthia Castro - MTB 06303/MG Livia Cerezoli - MTB 42700/SP diagramação
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Débora Shimoda
Publicação da CNT (Confederação Nacional do Transporte), registrada no Cartório do
revisão
1º Ofício de Registro Civil das Pessoas Jurídicas do Distrito Federal sob o número 053.
Filipe Linhares
Tiragem: 40 mil exemplares
Os conceitos emitidos nos artigos assinados não refletem necessariamente a opinião da CNT Transporte Atual
Pesquisa CNT de Rodovias mostra as condições das pontes e dos viadutos do país página
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FERROVIÁRIO
Concessionárias investem na segurança das linhas; número de acidentes caiu 85% em 19 anos página
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AQUAVIÁRIO
Estiagem e uso das águas para geração de energia comprometem hidrovias página
52 SEST SENAT
Simuladores híbridos de direção oferecem segurança e economia ao setor página 60 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
SEST SENAT oferece mais de 200 opções de cursos on-line gratuitos página
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Seções Duke
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Editorial
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Mais Transporte
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Boas Práticas
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Homenagem
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CIT
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Tema do mês
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Alexandre Garcia
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Parceria com grupo alemão garante capacitação de gestores ferroviários página
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INTERNACIONAL
CNT conhece experiências do setor de transporte na China e na Alemanha página
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“Uma infraestrutura moderna dará impulso ao crescimento, com aumento da produtividade e da competitividade das empresas” EDITORIAL
CLÉSIO ANDRADE
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2018 tem que ser o ano da infraestrutura
m 2017 registramos muitas conquistas e alguns retrocessos. No balanço geral, o ano foi positivo. O país superou a pior crise econômica da sua história e abriu caminhos para uma retomada vigorosa do crescimento econômico a partir de 2018. Entre os avanços mais relevantes, estão o teto de gastos, a Reforma do Ensino Médio, a terceirização da mão de obra, a nova Lei Trabalhista e os debates sobre a reforma da Previdência. As mudanças estão trazendo modernidade ao Estado brasileiro, colocando o país em linha com o que há de mais eficiente e inovador na economia mundial. Aos poucos, o Brasil vem reconquistando credibilidade no mercado internacional, mas, para se expandir, o investimento produtivo também precisa de infraestrutura e foi exatamente nessa área que foram registrados retrocessos em 2017. A 21ª Pesquisa CNT de Rodovias mostrou que a qualidade da infraestrutura rodoviária do país piorou. Apenas 38,2% dos trechos percorridos receberam classificação boa ou ótima, enquanto em 2016 esse índice era 41,8%. As rodovias pioraram na proporção da redução dos investimentos públicos federais que, no ano passado, praticamente regrediram aos níveis de 2008. Historicamente, a precariedade das rodovias tem sido um entrave ao desenvolvimento, já que o modal rodoviário responde pelo tráfego de mais de 60% da carga e de 95% dos
passageiros que transitam no país. Para reverter essa situação e consolidar a tendência de crescimento econômico observada nos últimos meses, será preciso realizar fortes investimentos em infraestrutura. O Brasil precisa construir, duplicar e recuperar sua malha rodoviária, mas não é só isso. Para sair do atraso, é fundamental diversificar e integrar a matriz de transporte do país. Investir em portos, aeroportos, ferrovias e hidrovias — um esforço da ordem de R$ 1 trilhão, segundo estimativas do Plano CNT de Transporte e Logística. Com demandas crescentes e recursos escassos, o poder público depende, cada vez mais, da parceria com o setor privado. Por isso é tão importante completar as reformas do Estado. Quanto mais estável e seguro o Brasil se posicionar no mercado externo, mais rápido os grandes investidores voltarão a aplicar seus recursos em nosso país. Uma infraestrutura ampla e moderna dará impulso ao crescimento econômico, com aumento da produtividade e da competitividade das empresas. Só assim, o Brasil irá produzir mais riquezas e ampliar as oportunidades de emprego e renda para a população. É esse círculo virtuoso que queremos alcançar. O ano de 2018 precisa ser dedicado à infraestrutura para que possamos inaugurar um ciclo duradouro de desenvolvimento sustentável, com distribuição de renda e melhores condições de vida para todos os brasileiros. Feliz Ano-Novo!
“Afirmar que a nova lei precariza as relações de trabalho é uma mistura de ignorância e preconceito. Foram regulamentadas novas formas de trabalho” ENTREVISTA
MINISTRO IVES GANDRA MARTINS FILHO PRESIDENTE DO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO E DO CONSELHO SUPERIOR DA JUSTIÇA DO TRABALHO
A nova legislação
trabalhista é constitucional por DIEGO
A
s novas regras aprovadas pela Reforma Trabalhista passaram a vigorar no Brasil desde 11 de novembro. Ao todo, a Lei nº 13.467/2017 alterou mais de cem pontos da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). O novo regramento, porém, ainda tem sido objeto de divergências, com alguns setores da sociedade questionando certos pontos do arcabouço. Nesse sentido, o presidente do TST (Tribunal Superior do Trabalho) e do CSJT (Conselho Superior da Justiça do Trabalho), ministro Ives Gandra Martins Filho, é enfático ao afirmar que as eventuais dúvidas em relação à constituciona-
lidade da lei já foram dirimidas. “A medida provisória 808, editada em face do acordo firmado com o Senado Federal, promoveu a sintonia fina da reforma, de modo a eliminar as pretensas inconstitucionalidades da lei”, declara. O presidente da República, Michel Temer, editou, no dia 14 de novembro, a medida provisória 808/2017, que modifica pontos da Reforma Trabalhista. Em entrevista à CNT Transporte Atual, o ministro Ives Gandra Filho explica que o eixo estrutural da nova legislação está relacionado à ampliação do peso das negociações entre empresas e sindicatos ou empregados, permitindo que esses
GOMES
acordos se sobreponham ao legislado. Com isso, a negociação entre patrões e empregados passa a valer mais do que a lei em situações específicas, como a decisão sobre a jornada de trabalho e o fracionamento das férias. Na avaliação do jurista, haverá um período de adaptação às novas regras, mas ele espera que os magistrados cumpram “o dever constitucional de aplicar a lei, preservando a harmonia entre os poderes”. À frente do TST desde 1999, o ministro atribui eventuais resistências ao novo regramento a uma minoria, judicialmente ativista, que, para ele, “tem uma concepção muito ampliativa da
“Os magistrados vão cumprir o dever constitucional de aplicar a lei”
TST/DIVULGAÇÃO
“A espinha dorsal da reforma é o prestígio à negociação coletiva”
indisponibilidade de direitos trabalhistas, os quais não representam toda a Justiça do Trabalho”. Gandra Filho também refuta o argumento de que a lei trabalhista precariza as relações de trabalho. Para ele, os terceirizados agora têm as mesmas condições ambientais dos trabalhadores contratados diretamente. Como consequência, abre-se espaço para a geração de novos empregos, tendo em vista que os empregadores têm mais segurança jurídica para contratar. A Justiça do Trabalho, por sua vez, será fortalecida, na interpretação do ministro, já que julgará as causas que realmente impactam as re-
lações de trabalho e, com regras va legislação? Como esse proclaras, poderá também solucio- cesso deve se concretizar? nar os casos com maior rapidez. Obviamente haverá um período de adaptação às novas regras. A nova legislação trabalhista O TST já aprovou um novo regientrou em vigor neste mês. mento interno, com adequações Qual é a principal inovação ao novo CPC (Código de Processo Civil) e à Reforma Trabatrazida por ela? A espinha dorsal da Reforma é o lhista. O próximo passo é rever prestígio à negociação coletiva, a jurisprudência por meio da que vai permitir aos trabalhado- alteração de súmulas. res, por meio dos sindicatos, e aos empregadores decidirem o Acredita que, com o novo arque é melhor para cada segmen- cabouço de regras, será posto, seguindo claramente o que sível gerar mais empregos? está na lei quanto ao que pode Poderia exemplificar como ou não ser negociado. isso se daria? Acredito que sim, porque os Como projeta estes primeiros empregadores terão mais semeses de transição para a no- gurança jurídica para contratar.
As novas modalidades de trabalho que foram regulamentadas, como o trabalho intermitente, também têm potencial para atrair muita gente ao mercado formal de trabalho. De que forma os meios que empregam maciça mão de obra, como o transporte, podem se beneficiar com as novas regras? E no caso dos autônomos, o que muda? Vejo como uma grande vantagem a possibilidade de negociação coletiva das condições de prestação de serviços, sobretudo no que diz respeito à jornada de trabalho. Com relação aos autônomos, a medida provisó-
“O próximo passo é rever a jurisprudência”
ria editada pelo governo deixa explícito que não há vínculo de emprego quando há prestação de serviços por autônomos, mesmo que seja para apenas um empregador ou em atividade relacionada ao negócio da empresa, o que dá mais segurança aos empregadores.
dicatos já estão acostumados às negociações coletivas, que agora têm um alcance maior. Creio que os empregadores terão mais confiança para contratar, e os empregados contarão com uma proteção real, claramente definida na legislação e nos acordos coletivos.
Como prevê que serão as primeiras convenções e acordos? Qual deve ser a postura dos empregadores nestes primeiros meses? E a dos empregados? Acredito que não haverá grandes resistências, porque os sin-
Segundo entidades, até mesmo do meio jurídico, a nova legislação subverte o sistema constitucional de direitos trabalhistas e sociais. Afinal, o novo regramento pode ser considerado inconstitucional?
Creio que, na hipótese de decisões arguindo a inconstitucionalidade de dispositivos da Reforma, a AGU (Advocacia-Geral da União) poderá ingressar com ação declaratória de constitucionalidade no STF, para pacificar rapidamente o entendimento. A PGR (Procuradoria-Geral da República) já atuou, arguindo a inconstitucionalidade apenas de dois dispositivos, ligados à gratuidade de justiça. E a medida provisória 808, editada em face do acordo firmado com o Senado Federal, promoveu a sintonia fina da Reforma, de modo a eliminar
as pretensas inconstitucionalidades da lei nº 13.467. Na sua avaliação, por que há uma forte reação negativa de juízes, procuradores e fiscais à Reforma Trabalhista? Acredito que eventuais resistências partem de uma minoria, judicialmente ativista, que tem uma concepção muito ampliativa da indisponibilidade de direitos trabalhistas, os quais não representam toda a Justiça do Trabalho. Os magistrados vão cumprir o dever constitucional de aplicar a lei,
RAFAEL NEDDERMEYER /FOTOS PÚBLICAS/DIVULGAÇÃO
ra têm as mesmas condições ambientais dos trabalhadores contratados diretamente.
“Creio que os empregadores terão mais confiança para contratar”
preservando a harmonia entre os Poderes. A Reforma foi aprovada em menos de seis meses no Congresso Nacional. Em função da sua complexidade e amplitude, essa rápida tramitação pode fazer com que juízes adotem posturas divergentes nas suas sentenças? A Reforma tramitou no Congresso Nacional seguindo o regular processo legislativo e foi aprovada legitimamente pela maioria. Isso não seria argumento para não aplicar a legislação.
Para críticos da nova legislação, a regulamentação da terceirização legitima o chamado processo de “pejotização”. Como o senhor avalia essa questão? Há de fato uma precarização? Afirmar que a nova lei trabalhista precariza as relações de trabalho é uma mistura de ignorância e preconceito. Em vez de retirar, foram criados direitos e regulamentadas novas formas de trabalho e modalidades atípicas de contratação, trazendo muita gente para o mercado formal. E os terceirizados ago-
As relações de trabalho no Brasil são suficientemente maduras para assentarem a opção dos contratos intermitentes? Há o risco de essas jornadas serem contestadas judicialmente? A medida provisória 808 especificou melhor a questão do trabalho intermitente. Acredito que, seguindo os parâmetros definidos, as empresas brasileiras vão sim conseguir implementar essa modalidade de trabalho pelo bem dos trabalhadores. De que forma a nova legislação simplificou o processo de rescisão? Isso é positivo? A rescisão foi simplificada, uma vez que não há necessidade de homologação perante os sindicatos. Os empregadores, se quiserem se prevenir de ações trabalhistas futuras, poderão homologar a quitação das verbas devidas perante a Justiça do Trabalho. Como avalia o fim do imposto sindical? A estrutura sindical no país se enfraquecerá? O governo recuou da decisão de recriar o imposto por meio de MP... Acho que o fim do imposto sindical fortalece os sindicatos, que agora terão de atuar efetivamente na defesa das diversas categorias, sempre com responsabilidade, de modo a atrair novos associados.
É correta a visão de alguns críticos que, à luz da flexibilização da jornada, o trabalhador possa ser compelido a cumprir jornada excessiva sem conseguir compensar de forma justa? Não, porque as horas extras continuarão a ser pagas ou compensadas, a depender do que as partes estabelecerem. Como fica, a partir de agora, a Justiça do Trabalho no Brasil? Haverá uma reconfiguração das demandas que chegam a ela? A Justiça do Trabalho será fortalecida na medida em que julgará as causas que realmente impactam as relações de trabalho e, com regras claras, poderá também solucionar os casos com maior rapidez. Agora o processo do trabalho passa a ser mais racional, simplificado e responsável, desestimulando “aventuras judiciais”. A Espanha passou, há cinco anos, por reforma semelhante, e também em meio a uma crise econômica. Nesse período, houve redução de salários e acentuação da desigualdade de renda. Isso pode ocorrer no Brasil? Por quê? O que se verificou na Espanha foi a diminuição do desemprego com a Reforma, considerada constitucional naquele país, que tem como princípio fundamental o pleno emprego.
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MAIS TRANSPORTE Os elétricos e o futuro do transporte
TESLA/DIVULGAÇÃO
A Tesla apresentou oficialmente, em novembro, seu primeiro caminhão elétrico, batizado de Semi. O veículo, com design futurista e lançamento previsto para 2019, é semiautomático e equipado, de fábrica, com o sistema Autopilot. De acordo com a montadora, o caminhão consegue rodar até 800 quilômetros com uma única carga de bateria, ao mesmo tempo em que consegue carregar até 36 toneladas de cargas. Os custos, segundo a Tesla, correspondem a um terço do gasto com um caminhão movido a diesel, nas mesmas condições de velocidade e potência.
Latam terá mais de mil voos extras A Latam Brasil anunciou o incremento de sua malha aérea com mais de mil voos extras entre dezembro de 2017 e janeiro de 2018, período
considerado de alta temporada. A aérea prevê transportar 5 milhões de passageiros em voos domésticos e 1 milhão em voos internacionais partindo
e chegando no Brasil. Desses voos extras, 650 operações contemplarão as rotas nacionais — com destaque para os destinos do Nordeste — e outros 400 voos
visam destinos internacionais, com mais frequências de voos para as capitais sul-americanas, além de Madri, Milão, Miami e Orlando.
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Reprogramação de investimentos em BRs concedidas O Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil publicou as regras para reprogramação de investimentos em concessões rodoviárias federais, prevista na Medida Provisória 800/2017. A reprogramação poderá ser realizada uma única vez pela ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), de comum acordo com as concessionárias. E somente
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Ferrogrão começa a sair do papel A ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) publicou, no final de outubro, os estudos para o leilão de construção da Ferrogrão — ferrovia que ligará Sinop (MT) a Miritituba (PA), em 934 quilômetros de extensão, e que está dentro do PPI (Programa de Parceria de Investimentos). A concessão será de 65 anos e o leilão terá lance mínimo
será possível nos casos em que mais da metade da execução financeira das obras de ampliação de capacidade e de melhorias deveria ocorrer nos primeiros dez anos do contrato. Os investimentos reprogramados deverão ser integralmente executados até o 14º ano da concessão. A manifestação de interesse deverá ocorrer até setembro do ano que vem. ARQUIVO CNT
de R$ 0,01. A obra terá de ser inteiramente construída pela concessionária, que ficará responsável pela implantação da infraestrutura e também pela operação dos trens. O investimento previsto é de mais de R$ 12 bilhões. O governo deve publicar o edital no primeiro trimestre de 2018 e promover o leilão no trimestre seguinte.
Denatran avalia sinalização 3D GIH/DIVULGAÇÃO
O Denatran (Departamento Nacional de Trânsito) está desenvolvendo um estudo técnico sobre a implantação de sinalização horizontal que provoca efeito tridimensional. A decisão foi tomada após o órgão tomar conhecimento de que, em algumas localidades brasileiras, gestores estão utilizando o mesmo tipo de recurso. Na edição passada da CNT Transporte Atual, divulgamos que uma cidade, na Finlândia, implementou faixas
de pedestres 3D, cujo efeito com blocos suspensos sobre a pista faz com que motoristas reduzam a velocidade e parem. O Denatran informa, porém, que, até a conclusão da análise, os órgãos de trânsito dos Estados e municípios não estão autorizados a adotar a estratégia, já que o CTB (Código de Trânsito Brasileiro) veda a utilização de qualquer tipo de sinalização de trânsito que não esteja prevista em lei.
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MAIS TRANSPORTE Movimentação de cargas nos portos cresce 6% Os portos organizados e os TUPs (Terminais de Uso Privado) do país movimentaram 279,3 milhões de toneladas no terceiro trimestre de 2017 — um aumento de 6,6% e acréscimo de 17,3 milhões de toneladas em relação a igual período de 2016. Segundo a Antaq (Agência Nacional de
IVAN BUENO/APPA/DIVULGAÇÃO
Transportes Aquaviários), os TUPs movimentaram 182,5 milhões de toneladas brutas no período de julho a setembro, uma elevação de 6% na comparação com o ano passado. Nos portos organizados, a movimentação cresceu 7,8% no trimestre em relação ao mesmo período de 2016, com 96,8 milhões de toneladas movimentadas.
Consórcios têm prazo para apresentar estudos TÂNIA RÊGO/AGÊNCIA BRASIL/DIVULGAÇÃO
Oito consórcios foram autorizados pelo governo federal a realizarem os EVTEAs (Estudos de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental) para as concessões de mais 13 aeroportos. Os grupos terão prazo de 120 dias para elaborarem e apresentarem os estudos ao Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil. A avaliação dos estudos será feita por uma comissão
composta por membros da SAC (Secretaria de Aviação Civil) e da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). Após a seleção, terá início a elaboração das minutas do edital e do contrato para serem submetidas a consulta pública. Em seguida, a documentação segue para o TCU (Tribunal de Contas da União). O leilão está previsto para o quarto trimestre de 2018.
Mercedes-Benz investirá R$ 2,4 bilhões no Brasil A montadora alemã anunciou um investimento de R$ 2,4 bilhões no Brasil entre 2018 e 2022 para modernização das fábricas de São Bernardo do Campo (SP) e Juiz de Fora (MG). Em 2010, a Mercedes já havia destinado
R$ 2,5 bilhões para um período de cinco anos. Desde março, oito montadoras, incluindo a Mercedes-Benz, anunciaram que vão colocar no país quase R$ 15 bilhões até 2022.
MERCEDES-BENZ/DIVULGAÇÃO
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gestão, as informações e a documentação necessárias para agilizar a análise e a liberação de mercadorias. Além disso, com a adoção da iniciativa nos TUPs, todos os procedimentos de concessão de anuência nos portos brasileiros serão padronizados e disponibilizados em um só sistema.
Multas para pedestres e ciclistas A partir de maio do ano ANDRÉ TAMBUCCI/FOTOS PÚBLICAS/DIVULGAÇÃO
Semáforos inteligentes O Detran-DF pretende iniciar em fevereiro de 2018 a primeira etapa do projeto de implantação de semáforos inteligentes no Distrito Federal, que contemplará 200 pontos da capital do Brasil. Segundo o órgão, a medida reduzirá congestionamentos, minimizará a emissão de gases poluentes e aumentará a segurança de tráfego nas
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APPA/DIVULGAÇÃO
Porto sem Papel nos TUPs O projeto Porto sem Papel será implementado em todos os TUPs (Terminais de Uso Privado) do Brasil até o final de 2018, segundo o Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil. A exemplo do que já ocorre nos portos públicos, os terminais privados poderão reunir, em um único meio de
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vias brasilienses. Uma vez implantada, a tecnologia possibilitará que o controle seja feito de qualquer lugar e em tempo real, permitindo intervenções imediatas. Além disso, o Detran informa que as peças têm custo mais baixo e haverá uma economia de 90% no consumo de energia.
que vem, pedestres e ciclistas poderão ser punidos por infrações de trânsito. Isso porque o Contran (Conselho Nacional de Trânsito) regulamentou as autuações previstas pelo CTB (Código de Trânsito Brasileiro) nos artigos 254 e 255. A resolução 706/2017 prevê autuar, por exemplo, o pedestre que permanecer nas pistas por
onde passam os veículos ou que atravessar pistas em viadutos, pontes, túneis ou áreas de cruzamento, exceto se houver permissão para isso. Já os ciclistas poderão ser autuados caso trafeguem onde não é permitido ou guiem de forma agressiva. Caberá aos órgãos e às entidades de trânsito implementarem o modelo de auto de infração. ARQUIVO CNT
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MAIS TRANSPORTE NTU lança livro comemorativo de 30 anos da instituição NTU/DIVULGAÇÃO
José Roberto Generoso, secretário Nacional de Mobilidade Urbana; Eurico Galhardi e Otávio Cunha, da NTU (da esq. para a dir.)
Em comemoração aos seus 30 anos de atuação, a NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos) lançou em novembro, em Brasília (DF), um livro comemorativo. A publicação traz histórias e conquistas do setor de transporte público no Brasil, registra as mudanças ocorridas no período e o desenvolvimento do segmento responsável pelos deslocamentos de 86,3% dos passageiros do transporte coletivo no país. De acordo com o presidente do Conselho Diretor da NTU, Eurico Galhardi, a publicação tem por objetivo servir como instrumento de pesquisa sobre a evolução do transporte urbano no Brasil. “Trinta anos não são 30 dias, nem 30 horas. Temos aqui uma vida contada. Tivemos produtos semelhantes nos 10 e nos 20 anos da instituição. Porém, essa publicação se diferencia das demais por não estar focada apenas na descrição de fatos históricos que marcaram o setor, mas em uma narrativa dos eventos e das realizações desses últimos 30 anos.” Para o presidente-executivo da NTU, Otávio Cunha, uma das maiores vitórias da instituição nessas três décadas é a credibilidade alcançada por meio da atuação em favor da melhoria do transporte público urbano brasileiro. “Nesses 30 anos, temos alguns marcos importantes, como é o caso do vale-transporte, que, a meu ver, foi a maior conquista social do trabalhador brasileiro depois da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). O nosso primeiro presidente,
Clésio Andrade, hoje à frente da CNT, foi o grande condutor desse trabalho que tornou o vale-transporte uma realidade no país.” O benefício passou a ser obrigatório em 1987 e atualmente beneficia 35% dos usuários do transporte público urbano. Cunha ainda citou a Lei de Concessões, que trouxe segurança jurídica para os contratos e consequentemente mais qualidade para os serviços oferecidos. Hoje, 87% das cidades que têm serviços de transporte público urbano já dispõem de processos licitatórios para a contratação das empresas. Na cerimônia de lançamento do livro, o presidente da NTU também destacou os desafios dos transportadores urbanos para os próximos anos. “Estamos enfrentando uma crise sem precedentes no Brasil, e o setor de transporte, assim como todos os setores da economia, foi muito afetado. Tivemos uma perda de demanda de quase 50% nos últimos 22 anos e agora o setor precisa se reposicionar com inovação e criatividade. Precisamos rever a nossa postura enquanto iniciativa privada. A exemplo do que é feito em outros países, temos um papel fundamental junto ao poder público na definição de estratégias que possibilitem a prestação de um serviço mais eficiente.” O conteúdo digital do livro está disponível no site da NTU (www.ntu.org.br).
O caminho para a segurança nas estradas é a prevenção Quem percorre as rodovias brasileiras encontra vários desafios diariamente. Nos últimos anos, o aumento do número de acidentes, roubos de cargas e de passageiros nas estradas trouxe uma grande preocupação aos motoristas e às empresas de transporte do país. Ao pensar nisso, foi desenvolvido o Programa CNT SEST SENAT - Prevenção de Acidentes a fim de proporcionar maior qualidade de vida aos trabalhadores do setor de transporte e contribuir para um trânsito mais seguro. CAMPANHA DE REDUÇÃO DE ACIDENTES E ROUBOS DE CARGAS E PASSAGEIROS NAS RODOVIAS
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BOAS PRÁTICAS NO TRANSPORTE – INOVAÇÃO E TECNOLOGIA
Compensação ambiental Transportes Cavalinho atua em diversas ações de preservação do meio ambiente; a principal delas é uma área de reflorestamento com 165 milhões de m2 na Amazônia por
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iente da quantidade de partículas que o setor rodoviário de cargas emite à atmosfera e da necessidade de preservação do meio ambiente, a Transportes Cavalinho – empresa especializada no transporte de granéis líquidos e sediada em Vacaria (RS) – opta por ações de educação, plantio de árvores e de compensação ambiental para mitigar os impactos dos 38 milhões de toneladas de CO2 que emite anualmente por meio da queima de combustíveis e da utilização de graxas, óleos e até mesmo pneus e baterias.
EVIE GONÇALVES
A principal ação da empresa foi a aquisição, em 2010, de uma área de reflorestamento de 16,5 mil hectares, área equivalente a 16 mil campos de futebol, na Amazônia, mais precisamente na região das Anavilhanas (AM). A reserva tem capacidade de neutralização de 120 milhões de toneladas de gás carbônico por ano, três vezes mais do que a Cavalinho emite ao meio ambiente. A decisão pela aquisição de uma reserva legal surgiu a partir dos resultados obtidos por um sistema que monitora e controla as emissões de gases do efeito
estufa emitidos pelas frotas de veículos e unidades operacionais, assim como pelos insumos e resíduos, totalizando 11 fontes de emissão monitoradas. De acordo com o diretor-executivo, Paulo Ricardo Ossani, a empresa preserva e mantém a área na Amazônia intacta, ou seja, nenhuma árvore é retirada do local. “Pelo tamanho da floresta e das árvores, conseguimos saber quanto a região absorve do gás carbônico que emitimos ao meio ambiente. Se a vegetação fica intacta, criamos um mecanismo de compensação”,
explica. Para a preservação da mata, a empresa conta com empregados e toda uma estrutura de barcos na região, além da patrulha da comunidade ribeirinha. “É nosso interesse que eles continuem lá. Eles são os guardiões da floresta”, diz Ossoni. Outra ação da Cavalinho trata-se do centro de treinamento, que existe há 15 anos, em que todos os motoristas da empresa passam por cursos não somente em relação à condução econômica, mas também quanto à correta consciência ambiental. “O condutor aprende sobre a importância
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FOTOS CAVALINHO/DIVULGAÇÃO
Ações em parceria com escolas conscientizam comunidade sobre preservação ambiental
“O condutor aprende sobre a importância da sua participação na preservação do meio ambiente” PAULO RICARDO OSSANI, DIRETOR-EXECUTIVO DA CAVALINHO
da sua participação na preservação do meio ambiente e que não deve lançar nenhum resíduo na natureza. Não dá para deixar óleo vazando no chão. É uma questão de educação”, diz Ossani. A empresa também possui, desde 2005, ações em parceria com o poder público, escolas e entidades do município de Vacaria que já contaram com a participação de mais de 6 mil alunos. O projeto Lixo Limpo, por exemplo, organiza grupos de crianças e agenda visitas ao comércio e à indústria locais para que eles identifiquem empresas comprometidas com a responsabilidade socioambiental na comunidade onde estão inseridos e conheçam o destino dado aos resíduos produzidos. Após o projeto, 15% da população do município começou a separar seu próprio lixo.
A Cavalinho também optou pelo plantio de mudas ao longo do acostamento das rodovias BR-116 e BR-285, assim como no aterro sanitário municipal e em canteiros e praças do município. No total, foram plantadas 210 mil mudas. Outra ação são os encontros semanais com alunos das escolas das redes municipal, estadual e particular de ensino para a formação de agentes multiplicadores de preservação ambiental, por meio de palestras educativas, peças teatrais, sensibilização, músicas e trilhas ecológicas na mata. Outra forma de atuação é o programa Olho no Óleo, em que o óleo comestível é coletado em garrafas pet, junto ao lixo seco, e encaminhado à Pastoral da Criança, que confecciona barras de sabão junto às famílias carentes do município. De acordo com
Ossani, em médio prazo, esse tipo de atividade será uma exigência dos negócios. “Se não forem sustentáveis, as empresas estão fadadas a quebrar. A cada dia, o ser humano vai olhar mais para as questões ambientais. Não queremos consumir produtos que prejudiquem a natureza”, observa. Cargas A Cavalinho é uma empresa do transporte rodoviário de cargas, com foco em granéis líquidos, mais precisamente produtos químicos. Atua no mercado há 35 anos e possui 800 empregados, sendo 500 motoristas. Além disso, conta com uma frota de 450 caminhões, que rodam, em média, 3,5 milhões de quilômetros por mês. A maior atuação da empresa é nas regiões Nordeste, Sudeste, Sul e l em países do Mercosul.
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REPORTAGEM DE CAPA
Conectividade
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ARQUIVO CNT
no transporte Tecnologias diversas que permitem a comunicação e o compartilhamento de dados já estão inseridas no setor transportador; BNDES disponibiliza R$ 500 milhões para financiar projetos de IoT por
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ida como uma revolução silenciosa, a IoT (Internet das Coisas, da sigla em inglês Internet of Things) é considerada uma inovação do presente. Consta em diversos sistemas mundo afora e no Brasil, com destaque para o setor de transporte. O tema é tão relevante que recente estudo da consultoria norte-americana McKinsey projetou investimentos globais (públicos e privados) que variam entre US$ 4 trilhões e US$ 11 trilhões até 2025. Desse total, entre US$ 50 bilhões e US$ 200 bilhões devem ser aplicados no Brasil, no mesmo período. Além disso, o governo federal deve publicar, em breve, um decreto instituindo o Plano Nacional de Internet das Coisas, fruto de um estudo desenvolvido pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), em parceria com o MCTIC (Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações). Na prática, a Internet das Coisas é um conjunto de tecnologias que devem permitir a comunicação e o compartilhamento de dados entre “coisas”, como sensores, carros, celulares, eletrodomésticos, sem que haja a interferência do ser humano. A integração, dependendo do meio em que ocorre, deve ser feita por meio da internet e visa atender a objetivos diversos. “Estamos falando de conectividade. Em vez de conectarmos pessoas, fazemos
Caminhão roda sem intervenção de motorista nas linhas de plantação
o processo por meio de máquinas”, explica o presidente do Conselho Consultivo Superior da Abranet (Associação Brasileira de Internet), Eduardo Neger. No setor de transporte, essa revolução pode ser observada em aplicativos de trânsito e mapas de localização, no monitoramento de cargas, de contêineres e de caminhões e, até mesmo, de turbinas de aviões, entre vários outros exemplos. Embora tenha sido popularizado recentemente, o termo começou a ser usado ainda
na década de 1980, em Boston (Estados Unidos), quando pesquisadores norte-americanos fizeram um projeto para a utilização de chips de radiofrequência com o intuito de controlar os ciclos de serviços de varejo, desde a fabricação dos produtos até a chegada à casa dos consumidores. “Na época, deram o nome de machine to machine (máquina à máquina, na tradução livre). A Internet das Coisas surgiu depois, e entendo que a expressão é bem mais ampla devido à conectividade
com a internet”, pondera o presidente do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas, Gabriel Marão. No Brasil, empresas já utilizam a Internet das Coisas nos mais distintos projetos. Atualmente, o BNDES possui R$ 500 milhões disponíveis em fundos para financiamento de propostas de IoT nos próximos três anos. O valor é inferior à previsão da McKinsey, que chega a cerca de 10% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro, mas, segundo a engenheira do banco, Maria Luiza Cunha, o número
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VOLVO/DIVULGAÇÃO
“Temos que entender o potencial da IoT. É uma questão de retirar as barreiras para que o sistema floresça” MARIA LUIZA CUNHA, ENGENHEIRA DO BNDES
é desafiador. “Trata-se de uma estimativa baseada numa série de premissas. Temos que olhar como aspiração e entender o potencial da IoT. As condições são muito favoráveis neste momento. É uma questão de retirar as barreiras para que o sistema floresça”, acredita. O plano de IoT desenvolvido pelo banco foi concebido para o período entre 2018 e 2022 e prevê atuações em quatro ambientes: cidades, saúde, rural e indústria. Na área de cidades, um dos objetivos estratégicos
tem foco na mobilidade urbana e prevê a redução de tempos de deslocamento e o aumento da atratividade dos transportes públicos. Maria Luiza reforça que, entre as linhas previstas, estão a capacitação de gestores públicos, o lançamento de uma cartilha de cidades inteligentes para orientar prefeitos sobre possíveis ações a serem desempenhadas, além de um observatório de IoT, uma espécie de página para consulta na internet com portfólio de soluções já disponíveis.
Transporte O plano vai incentivar ainda mais o desenvolvimento de ações de IoT no Brasil. Diversas são as aplicabilidades da inovação nos modais de transporte. Na área de mobilidade urbana, o surgimento do Waze — aplicativo de trânsito que permite o monitoramento do tráfego de vias em tempo real — é um exemplo. “Trata-se de um GPS que alimenta informações 24 horas por dia. Os próprios celulares geram os dados por meio de sensores que analisam a velocidade dos
veículos e detectam pontos de lentidão”, explica Neger. As tags utilizadas nas praças de pedágio em todo o país são outro caso de Internet das Coisas. Os adesivos identificam os veículos e, assim que a leitura é realizada, a cobrança é gerada no cartão de crédito do condutor. A comunicação, nesse caso, é feita entre a tag dos carros e o leitor das cabines, sem interferência humana. No setor rodoviário, outro caso de IoT são os sensores para monitorar cargas nos caminhões. Os dispositivos são capazes de conferir o peso do material durante todo o trajeto e, com isso, detectam se houve roubo ou não. Segundo o presidente da Abranet, o Brasil é um dos países que mais possuem esses sistemas devido ao grande número de assaltos a cargas. Os veículos autônomos são outro caso em que a inovação pode ser observada. Na última Fenatran — 21º Salão Internacional do Transporte Rodoviário de Cargas —, ocorrida em outubro, em São Paulo, a Volvo apresentou um caminhão autônomo, projetado para reduzir as perdas de produtividade provocadas pelo pisoteamento de brotos de cana de açúcar durante a colheita. Segundo a montadora, o caminhão autônomo elimina até 5% dessa perda. Conduzido sem a intervenção do motorista, roda por si próprio ao longo das linhas da plantação, sem passar por cima dos brotos. Todo o mapeamento da região é feito previamente via GPS. O
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TRANSPORTE
Empresas do setor aplicam inovações As inovações da Internet das Coisas são realidade nas empresas de transporte. Embora o termo soe como algo contemporâneo, a tecnologia já é abraçada pelo setor, em todos os modais, há vários anos. Confira alguns exemplos de empresas que adotam a IoT em suas rotinas:
RODOVIÁRIO
MERCEDES-BENZ/DIVULGAÇÃO
A Patrus, empresa de transporte de cargas fracionadas, monitora a frota de 700 carretas e 280 cavalos-mecânicos por meio de um rastreador, que utiliza tecnologia 4G e satélite. O computador a bordo acompanha informações para a segurança das cargas, como o local do veículo na rodovia e a velocidade de condução. Os dados são enviados para um sistema. Se forem detectadas anormalidades, um responsável AUTOTRAC/DIVULGAÇÃO
é comunicado. “Em um futuro próximo, histórico do motorista, disponibilidade de veículos e clima serão levados em consideração na definição do trajeto. O ser humano vai monitorar o que a máquina decidir”, explica o superintendente de tecnologia da informação e inovação da empresa, Manuel Landeiro. Outro caso de sucesso é o da Mercedes-Benz, que monitora a frota de 5.000 caminhões, remotamente, por
PATRUS/DIVULGAÇÃO
meio de um sistema chamado fleetboard, via internet. Com a tecnologia, os donos dos veículos têm acesso a um raio-X do caminhão no momento em que ele está sendo conduzido. “O cliente consegue ver, entre outras coisas, se o motorista passa a marcha de forma errada e, a partir desses dados, pode orientá-lo para uma condução correta”, diz o gerente de soluções digitais da montadora, Luciano Abrahão.
AQUAVIÁRIO Atuante no setor aquaviário no Norte do país, a empresa de transporte de derivados de petróleo, Ed Lopes Transporte Ltda., adquiriu um sistema capaz de monitorar sua frota, por satélite, em tempo real. Além de uma antena em cada embarcação, o sistema conta com um teclado para comunicação com a tripulação por men-
sagens de texto de até 140 caracteres e um botão de emergência para alerta em caso de incidentes. “A maior vantagem é a segurança de sabermos onde estão as nossas embarcações e de podermos dar uma previsão exata de chegada da carga para os nossos clientes”, ressalta o sócio da empresa, Elzio Júnior.
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FOTOS VIAQUATRO/DIVULGAÇÃO
FERROVIÁRIO A concessionária ViaQuatro, que opera nove quilômetros da Linha 4 do metrô de São Paulo, da Estação Butantã à Estação da Luz, utiliza a Internet das Coisas no seu cotidiano. Uma das principais inovações é um sistema que avisa aos passageiros, no local de embarque, o tempo de demora dos próximos trens e a situação de lotação deles. As informações são obtidas a partir do
GOL/DIVULGAÇÃO
AÉREO Dois anos após o lançamento do recurso gratuito de geolocalização da GOL Linhas Aéreas, 12 milhões de notificações foram enviadas aos clientes, informando sobre o tempo previsto de locomoção até o aeroporto, medida que proporcionou a realização de mais de um milhão de antecipações e postergações de voos, diretamente pelo celular. A tecnologia é possível porque o celular funciona como um sensor
peso dos metrôs. “Instituímos um mecanismo de cores na plataforma. O verde indica que o passageiro terá local para sentar. O amarelo mostra que ele poderá ficar em pé, e o vermelho indica que o trem estará lotado. Com isso, os usuários podem decidir em qual carro preferem embarcar”, conta o diretor de operações da empresa, Maurício Dimitrov.
no momento em que o passageiro faz o check-in pelo aplicativo que, considerando o trânsito da região, envia alertas e indica a remarcação da viagem, se necessário. “O sucesso da iniciativa acompanha a evolução tecnológica e valoriza o tempo do cliente ao proporcionar a comodidade do recebimento de informações sobre o horário estimado de chegada ao aeroporto”, diz nota da companhia.
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FÁBIO ARANTES/SECOM/DIVILGAÇÃO
condutor fica dentro do veículo, mas não interfere na direção. Passageiros Já no transporte rodoviário de passageiros, o bilhete único, que integra sistemas de transporte como ônibus e metrôs, também pode ser considerado uma forma de IoT. Por meio da inovação, as operadoras conseguem detectar o local onde o passageiro se encontra, assim como o exato momento em que ele passou o cartão no validador. Essas informações subsidiam as empresas para planejamentos, como o dimensionamento da frota necessária para determinado horário. Outro setor impactado pelo mercado da Internet das Coisas é o aéreo. Algumas Bilhete único é exemplo de aplicação da Internet das Coisas
VIAQUATRO/DIVULGAÇÃO
INSTITUCIONAL
CNT reconhece inovações da IoT na Alemanha e na China Ciente da relevância da Internet das Coisas para o setor de transporte, a CNT está atenta às inovações que ocorrem no mundo, especialmente na Europa e na Ásia, onde estão localizados os escritórios internacionais da Confederação. Segundo o diretor para assuntos internacionais da CNT, Harley Andrade, “a disponibilidade das informações e o potencial de comunicação entre os dispositivos permite que
se automatizem processos de negócios, eliminando intervenções humanas e reduzindo, dessa forma, falhas e custos, aumentando ao mesmo tempo a qualidade e a previsibilidade dos serviços”. De acordo com o diretor do escritório da CNT na Alemanha, Thiago Ramos, os benefícios que a IoT pode trazer se estendem por toda a cadeia de valor da logística. “Essa visibilidade que a IoT propicia mudará a forma como opera-
dores de logística e transporte tomam decisões, considerando que cargas são monitoradas, armazenadas, roteadas e entregues aos clientes.” Luiz Vidal, diretor do escritório da CNT na China, cita alguns exemplos de Internet das Coisas que estão sendo utilizados no país. A empresa Alibaba desenvolveu um sistema para auxiliar companhias que prestam serviços de logística e entregas. Os motoboys são
comunicados pela cozinha do restaurante quando a comida está pronta, evitando esperas indesejadas e aumentando a eficiência da entrega. Uma empresa de ônibus de Xiamen usa um sistema de GPS para facilitar a comunicação com passageiros e motorista. O sistema alerta sobre a próxima parada e avisa sobre cruzamentos movimentados e semáforos, além de monitorar excesso de velocidade e condições da rota.
No transporte sobre trilhos, IoT otimiza monitoramento de vagões de trens e metrôs
companhias já conseguem cruzar dados dos aplicativos de celulares, da localização dos passageiros e das condições de trânsito nas cidades para saber se eles vão chegar a tempo dos voos ou não. Outra possibilidade é avisar os viajantes, em tempo real, sobre mudanças nos portões de embarque e quanto tempo eles vão levar para embarcarem a partir da posição no aeroporto. “A inovação, além de agregar benefícios para os usuários, otimiza a operação das empresas”, opina Neger. No aquaviário, uma importante atuação da IoT é o transporte de passageiros e
de cargas no Norte do país. Como a região possui rede de telecomunicação limitada, as embarcações vêm sendo monitoradas por satélites a partir de sensores. Dessa maneira, os transportadores conseguem saber exatamente a posição das barcaças nos rios e igarapés locais. Outra importante aplicação é o monitoramento dos contêineres de cargas no setor ferroviário, assim como de vagões de trens e metrôs. (Confira aplicações da IOT em algumas empresas brasileiras nas páginas 22 e 23). Prós e contras Neger acrescenta
que
as principais vantagens da Internet das Coisas são a otimização das operações, economia, segurança e aumento do nível de satisfação dos usuários. Mas também ressalta que há barreiras. A principal delas é que, para estarem conectados, os usuários precisam abrir mão da privacidade. Outros entraves são acordos de interoperabilidade, leis de regulação, formação de recursos humanos, financiamento, participação em fóruns internacionais e articulação entre as empresas. “O Brasil não vai avançar se as instituições não aprenderem a colaborar. Elas tendem a se fechar, e esse é um tema que
demanda parceria. Propomos redes de colaboração para que os setores público e privado, juntos, cheguem a um resultado maior”, enfatiza a engenheira do BNDES, Maria Luiza Cunha. Outro grande problema, segundo ela, é a implementação de redes de comunicação que comportem o avanço da tecnologia. “Hoje, as operadoras construíram redes em locais habitados. Construir redes onde não tem gente é um grande desafio. No futuro, teremos trilhões de dispositivos conectados, mas com pouca capacidade de transmissão. O grande gargalo é levar a comunicação para os lugares l mais vazios”, conclui.
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PRÊMIO CNT DE JORNALISMO
Desafios e soluções para o transporte Roubo de cargas, necessidade de mais segurança e problemas de infraestrutura são temas presentes nas reportagens vencedoras da 24ª edição do prêmio oferecido pela CNT por
O
roubo de cargas, um dos problemas mais graves enfrentados pelo setor transportador atualmente, foi o tema abordado em alguns trabalhos vencedores do 24º Prêmio CNT de Jornalismo. O Grande Prêmio desta edição é novamente do jornal Extra, do Rio de Janeiro. Com a série “O Rio sem entrega”, o repórter Luã Marinatto e equipe mostram que esse tipo de violência se tornou um dos principais crimes cometidos no Estado fluminense. Os outros trabalhos vencedores das seis categorias
CYNTHIA CASTRO
(Impresso, Internet, Televisão, Rádio, Fotografia, Meio Ambiente e Transporte) abordam problemas e soluções para assuntos, como o roubo de cargas de barcaças na região amazônica, a insegurança no Rio de Janeiro e a queima de caminhões e ônibus, a falta de infraestrutura ferroviária e a insegurança devido a situações diversas em rodovias e nas cidades. Consolidado como uma das mais importantes premiações para a imprensa brasileira, o Prêmio da CNT oferece R$ 270 mil aos jornalistas vencedores. São R$ 60 mil para o
Grande Prêmio e R$ 35 mil para o ganhador de cada categoria. “Valorizamos as reportagens que estimulam a evolução do setor de transporte ao apontar problemas e soluções para situações das áreas de cargas e de passageiros, em todos os modais”, diz o presidente da Confederação, Clésio Andrade. Em 2018, a premiação chegará à 25ª edição. “Queremos continuar incentivando a produção de conteúdo de qualidade em relação ao transporte, um setor tão importante para o desenvolvimento do Brasil e para a qualidade de vida das pessoas”, afirma.
Neste ano, o corpo de jurados foi formado pelos jornalistas Cristiano Romero, editor-executivo do Valor Econômico; Silvia Salek, diretora de redação da BBC Brasil em Londres; Dimmi Amora, editor-executivo da Agência Infra; Helcio Zolini, diretor de conteúdo digital e institucional da Record Minas TV; e pelo pesquisador de infraestrutura do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Carlos Campos Neto. Conheça os trabalhos vencedores da edição de 2017.
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GRANDE PRÊMIO - EXTRA
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“Para que os consumidores de produtos roubados consigam adquirir um produto mais barato, um motorista de caminhão seguiu diante de uma arma, ficou ferido ou morreu”
O Rio sem entrega
O olhar atento de um repórter enquanto fazia o caminho de ida e volta para o trabalho nos trens metropolitanos do Rio de Janeiro instigou uma reportagem que rendeu ao Extra o segundo Grande Prêmio CNT de Jornalismo em anos consecutivos. Por oito dias, a série "O Rio sem entrega" revelou detalhes de um esquema de roubo de cargas, receptação e venda dos produtos dentro dos vagões. “O repórter Marcos Nunes, que fez a matéria comigo e com a Pollyana Brêtas, usa regularmen-
te o sistema e reparou a mudança no perfil dos camelôs. Eles não ofereciam balas ou chocolates, mas sacos de feijão, produtos congelados, embutidos. Produtos que, usualmente, não eram vendidos dentro dos trens. Tivemos, então, a ideia de adquirir essas mercadorias e fazer o rastreio para descobrir a origem”, conta o vencedor Luã Marinatto. Depois de dois meses e cem viagens nos ramais do Rio de Janeiro, o jornal revelou que, em alguns casos, os produtos tinham sido roubados menos de duas
horas antes. Durante o rastreamento, a reportagem contatou 25 empresas e mostrou que mais de 90% dessas mercadorias eram roubadas. O Extra revelou também o medo que os caminhoneiros sentem ao realizar fretes para o Rio de Janeiro. Em alguns casos, o preço do transporte chega a ser 50% mais caro. “E os consumidores são afetados com o aumento dos preços e a falta de produtos nos supermercados”, diz Marinatto. Segundo ele, o grande dife-
rencial da série foi construir uma linha condutora sobre os receptadores e as consequências dos atos de quem adquire produtos roubados. “Tanto o receptador de médio porte, aquele que vende o produto roubado para o comércio; quanto o de pequeno porte, que são os ambulantes; e, até mesmo, os consumidores, mais ou menos desavisados, têm que pensar. Para que eles consigam adquirir um produto mais barato, um motorista de caminhão seguiu diante de uma arma, ficou ferido ou morreu.”
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IMPRESSO - O ESTADO DE S. PAULO
“Ganhar esse prêmio foi uma injeção de ânimo para mostrar que o trabalho como freelancer no jornalismo dá certo”
Perigo nos rios “A era dos piratas não acabou. Ela apenas mudou de rota: da costa brasileira foi para os rios da Amazônia. Em vez de olho tapado e espadas, capuz, metralhadoras e fuzis AR 15. Para comunicação, sistema de rádio VHF. A nova ´caça ao tesouro´ agora é por combustível, que representa 70% do prejuízo de R$ 100 milhões por ano para as empresas que fazem transporte de carga pelos rios da floresta amazônica. Também chamados de ´ratos d’água´, os piratas atuam sempre em grupos” O texto acima é a abertura da série de reportagens “Perigo nos rios”, publicada pela jornalista Karla Mendes no jornal O Estado de S.Paulo. O trabalho mostra um problema que afeta diariamente o setor transportador na região amazônica, especialmente no rio Madeira. O ataque de piratas às embarcações, muitas vezes ligado ao tráfico de drogas, representa um grande desafio à segurança pública. Além de combustível, eles roubam produtos eletrônicos da Zona Franca de Manaus. Nos trechos Manaus-Belém e Manaus-Porto Velho, de 2015 para 2016, o número de assaltos quadruplicou de 50 casos para mais de 200. E o crime já chegou ao eixo Rio-São Paulo. A ideia da reportagem surgiu quando Karla Mendes estava na Amazônia fazendo outra matéria sobre garimpo ilegal. A jornalista já trabalhou em grandes jornais nacionais e hoje atua
como freelancer. “Comecei a apurar a pirataria sem saber onde publicaria. Foi uma matéria feita na raça. Como já havia trabalhado no jornal O Estado de S.Paulo, cobrindo infraestrutura, fiz o contato e deu certo. Ganhar esse prêmio foi uma injeção de ânimo para mostrar que o trabalho como freelancer no jornalismo dá certo.” Foram três meses de apuração, incluindo três semanas no Amazonas e em Rondônia. Em
Porto Velho, a repórter conseguiu ter acesso a áreas de garimpo ilegal, principal consumidor do combustível roubado, e visitou dragas e balsas no rio Madeira. Também atravessou a fronteira de Rondônia com a Bolívia, onde constatou o transporte ilegal de cargas e passageiros. “Eu acho que grande parte das políticas públicas de transporte olha somente para as rodovias. Mas, na Amazônia, os rios são estradas e têm uma
importância enorme para o escoamento do agronegócio e de outros produtos e também para o transporte de pessoas.” O assunto chamou a atenção da imprensa internacional quando Karla Mendes participava de um congresso da Sociedade de Jornalistas Ambientais, em Petersburg. “Foi muito interessante falar lá nos Estados Unidos sobre esse problema do Brasil. A Amazônia é um tema que chama a atenção da mídia internacional.”
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INTERNET - METRÓPOLES
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“A reportagem também teve como objetivo conscientizar os passageiros sobre os riscos que eles correm ao optarem por transportes clandestinos”
Transbrasil, um embarque para o crime nas rodovias brasileiras
O portal Metrópoles foi o vencedor da categoria Internet, com a reportagem especial "Transbrasil, um embarque para o crime nas rodovias brasileiras". De acordo com a apuração, a empresa de ônibus pirata opera entre Foz do Iguaçu (PR) e São Luís (MA) com ônibus sem condições de rodar, colocando em risco a vida de milhões de pessoas. A equipe vencedora, formada por 17 profissio-
nais, mostrou um esquema de venda de liminares, que permite a atuação da empresa. Os tentáculos da organização criminosa se espalharam para a sonegação fiscal e o tráfico de armas e drogas. “A reportagem foi um desafio do começo ao fim. Mesmo na pré-apuração, comecei a entender o quanto seria arriscado mergulhar no submundo do transporte irregular de passageiros. Ouvi de
autoridades que minha vida poderia estar em risco. Isso me assustou muito. Mas o caso é tão grave e absurdo, que topei o desafio”, diz a repórter Mirelle Pinheiro. De acordo com a jornalista, “a reportagem também teve como objetivo conscientizar os passageiros sobre os riscos que eles correm ao optarem por transportes clandestinos”. Os repórteres percorreram 10 mil
quilômetros, entre Distrito Federal, Goiás, São Paulo, Bahia, Piauí, Maranhão e Minas Gerais. “Viajamos em ônibus que não tinham a menor condição de circular. Gravamos o percurso, conversamos com passageiros, órgãos de fiscalização, motoristas e famílias que até hoje carregam cicatrizes de acidentes que sofreram nas estradas a bordo de coletivos irregulares.”
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“As obras começaram em 2006 e, no início, andaram bem. Mas, com os anos, as promessas relacionadas à ferrovia ficaram para trás”
TELEVISÃO - TV GLOBO RECIFE
Nos caminhos da Transnordestina Promessa de desenvolvimento do Nordeste brasileiro, com integração e fortalecimento da economia da região, a Ferrovia Transnordestina já consumiu cerca de R$ 6 bilhões, e somente a metade foi concluída. As obras se arrastam há mais de dez anos. Foi esse o foco da matéria vencedora da categoria Televisão, do Prêmio CNT de Jornalismo 2017. A série “Nos caminhos da Transnordestina”, produzida pela TV Globo de Recife (PE), foi exibida em três telejornais nacionais da emissora: Jornal Nacional, Jornal da Globo e Jornal Hoje. Os repórteres viajaram pelo Ceará, Piauí e Pernambuco para mostrar os atrasos e os prejuízos causados. “As obras começaram em 2006 e, no início, andaram bem. Mas, com os anos, as promessas de geração de empregos no Nordeste e de chegada de tecnologias por causa da ferrovia ficaram para trás”, afirma o repórter Bruno Grubertt. A série mostrou o abandono da obra, as possibilidades econômicas que a Transnordestina traria para a região e as decepções das pessoas que tiveram prejuízos. “Mostramos as frustrações de quem acreditou nessa obra quando ela foi anunciada. Fomos atrás de empresas que investiram para prestar serviços. Pequenos produtores rurais tiveram suas propriedades destruídas e ficaram sem indenizações.” Foram 12 dias de viagem e cerca de 3.000 quilômetros per-
corridos. “Temos grandes dificuldades logísticas no Nordeste, as rodovias são ruins. Essa fer-
rovia seria muito importante. Alguns produtores do Piauí disseram que o custo do transpor-
te do grão reduziria 60% se a Transnordestina funcionasse”, diz o repórter vencedor.
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“A violência aumenta, e o setor de transporte sofre as consequências”
FOTOGRAFIA - O GLOBO
Fora de controle
Uma imagem forte, que reúne diversos problemas atuais enfrentados pelo Rio de Janeiro: a violência urbana com a atuação do tráfico de drogas e a ineficiência da segurança pública; o crime recorrente de incendiar ônibus e caminhões; o drama social das comunidades carentes, agravado pelo desemprego. A fotografia “Fora de controle”, publicada pelo jornal O Globo em maio deste ano e vencedora do Prêmio CNT de Jornalismo 2017, leva o leitor a refletir sobre como a “cidade maravilhosa” vive um dos seus piores momentos, que exige ação efetiva do poder público. “A imagem mostra uma
situação triste, de falta total de segurança e de problemas sociais. Espero que a foto ajude a sensibilizar as autoridades para que algo melhore”, afirma o fotógrafo vencedor, Guilherme Pinto. Nascido no Pará e morador do Rio de Janeiro desde os 3 anos de idade, ele considera que os dois últimos anos foram, talvez, os mais violentos que presenciou. “É arrastão, bala perdida, roubo de caminhão. A violência aumenta, e o setor de transporte sofre as consequências. O roubo de cargas é um dos crimes que mais crescem por aqui. As autoridades não conseguem conter a violência, e o Estado não executa os projetos sociais necessários para
melhorar a vida da população mais carente”, avalia. A foto vencedora foi feita no dia em que pelo menos nove ônibus e dois caminhões foram incendiados na capital fluminense por ordem de traficantes. Os crimes ocorreram depois de uma operação policial na Cidade Alta, na zona norte. “Eu estava na avenida Brasil, na Cidade Alta, quando vi uma fumaça forte, um pouco mais distante. Corri para o carro e, quando cheguei lá, ainda deu para pegar a imagem do fogo. Percebi que as pessoas da comunidade foram se aglomerando. Assim que os bombeiros controlaram a situação, a população invadiu e começou
a saquear a carga, de pasta de dente e sabonete. Ficaram uns 45 minutos.” O fato ocorreu no bairro da Penha, na própria avenida Brasil, na entrada do Mercado São Sebastião. Essa é a primeira vez que Guilherme Pinto ganha o Prêmio CNT de Jornalismo. Ele comenta que a categoria Fotografia é muito importante para dar mais visibilidade ao trabalho desses profissionais que estão no dia a dia das cidades, retratando e tentando sensibilizar o poder público e toda a sociedade para os principais problemas que precisam de soluções urgentes. “Esse prêmio é um grande incentivo para a nossa profissão de fotógrafo.”
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“Os caminhoneiros acabam sendo, muitas vezes, estigmatizados e marginalizados. Mas são trabalhadores e desempenham um trabalho fundamental para a economia do país”
RÁDIO - CBN SÃO PAULO
Estrada de risco A reportagem da CBN São Paulo, vencedora da categoria Rádio, aborda as controvérsias sobre a eficácia do exame toxicológico de motoristas profissionais para o controle do consumo de drogas. O jornalista Guilherme Balza traz números que indicam a fragilidade da medida e mostra, também, casos de corrupção envolvendo autoescolas. Além disso, ouve motoristas que já usaram ou usam algum tipo de substância entorpecente. “A ideia da pauta era abordar a exigência do exame toxicológico de motoristas profissionais, que ia completar um ano. Queria saber sobre a efetividade desse exame, mas fui descobrindo várias outras coisas, e muitos especialistas disseram que não era tornando o exame obrigatório que se resolveria o problema do uso de drogas. Essa solução proposta acaba servindo só para pressionar mais a categoria”, conta. Na série de três capítulos, o repórter mostrou dados inéditos sobre os resultados da aplicação do exame: apenas 1,3% de quase 1 milhão de motoristas submetidos ao teste foram reprovados. “Ainda assim, a aplicação do exame movimentou cerca de R$ 300 milhões em apenas um ano, montante dividido por oito laboratórios.” Na segunda parte, a reportagem revelou um esquema de corrupção nas autoescolas para vender resultados. O último capítulo trouxe depoimentos de caminhoneiros.
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“Acho que a matéria colabora para o debate sobre o tema a fim de que ocorra uma discussão mais qualificada sobre o que se deve ou não ser feito.
Acho importante pensar que lá na ponta existe um ser humano. Os caminhoneiros acabam sendo, muitas vezes, estigmatizados e marginalizados. Mas
são trabalhadores e desempenham um trabalho fundamental para a economia do país. Se eles não estiverem bem, todo um sistema pode ruir.”
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“A rede de transporte precisa conectar a bicicleta ao metrô e ao ônibus. É necessário disponibilizar um bicicletário MEIO AMBIENTE E TRANSPORTE - CORREIO BRAZILIENSE no metrô, entre outras medidas”
Ciclovias em busca de uma cidade
Em uma conversa na redação entre repórter e editor sobre o sistema cicloviário de Brasília, surgiu a ideia da reportagem vencedora da categoria Meio Ambiente e Transporte de 2017. No especial “Ciclovias em busca de uma cidade”, o Correio Braziliense mostra que a substituição de parte dos carros por bicicletas poderia ajudar na redução das emissões dos gases de efeito estufa, na melhoria da qualidade do ar e da saúde da população. “O editor (Leonardo Cavalcanti) anda muito de bici-
cleta em Brasília, e eu gosto de andar também, mas tenho medo por causa do trânsito. Sempre peço dicas a ele e, nesse bate-papo, começamos a conversar que Brasília é uma cidade que tem tudo para estimular a bicicleta. É plana, tem ruas largas. Em mais da metade do ano, não há chuvas. As distâncias não são muito longas no Plano Piloto. Mas, apesar disso tudo, ainda não conseguimos ter ciclovias adequadas”, avalia a vencedora Natália Lambert. Ela cita que o problema vai
além das ciclovias. “Tem que mudar a visão em relação ao carro. Em vez de aumentar a velocidade das vias, tem que diminuí-la. É preciso entender que as pistas também são dos ciclistas e aumentar a segurança para eles.” De acordo com Natália, é necessário promover a integração da bicicleta com os outros meios de transporte. Assim, poderia haver um estímulo também para as pessoas que utilizam os sistemas entre as regiões administrativas e o Plano Piloto. “A rede de transporte nas cidades precisa
conectar a bicicleta ao metrô e ao ônibus. É necessário, por exemplo, disponibilizar um bicicletário no metrô, entre outras medidas. Há um projeto para adotar essa integração em Brasília, mas ainda é muito embrionário.” A reportagem do Correio Braziliense mostra que são mais de 400 quilômetros de ciclovias na capital federal, mas com uma distribuição inadequada, sem conexão e com falta de segurança. Em 2017, até junho, 11 ciclistas morreram atropelados. l
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previdenciária Mesmo com projeto de lei propondo o fim do benefício da desoneração, empresas ainda podem optar pela melhor forma de recolhimento: folha de pagamento ou receita bruta por
EVIE GONÇALVES e NATÁLIA PIANEGONDA
A
s empresas de transporte devem ficar atentas, pois, em janeiro, deverão optar pela forma como farão o recolhimento da contribuição previdenciária em 2018: 20% sobre a folha de pagamento dos empregados e contribuintes individuais (sócios e autônomos) ou uma alíquota incidente sobre a receita bruta, que varia entre 1,5% e 2,5%, dependendo da atividade em que atuam. Por enquanto, a chance de escolher pela forma mais vantajosa de pagar o tributo segue válida apesar das tentativas feitas pelo governo fede-
ral de pôr fim à desoneração e obrigar a maioria das empresas a recolher a contribuição sobre a folha de pagamento. Pelas normas ainda vigentes, empresas de transporte rodoviário, ferroviário e metroferroviário de passageiros têm a possibilidade de contribuir com uma alíquota de 2% sobre a receita bruta; no transporte rodoviário de cargas, aéreo de cargas e de passageiros e marítimo, as empresas podem optar pela contribuição de 1,5% sobre a receita bruta; já o setor de navegação de apoio, pela alíquota de 2,5%. O benefício da desoneração,
que começou a valer em 2012, foi essencial para proporcionar maior fôlego às empresas no contexto de crise econômica. Somente no ano passado, a medida possibilitou economia de R$ 3,6 bilhões no setor de transporte. De janeiro a maio deste ano, isso significou uma isenção de R$ 1,4 bilhão para os transportadores. Os dados são da Receita Federal. Entretanto, o governo federal quer extingui-lo por entender que a medida é essencial para aumentar a arrecadação no país. Na prática, almeja que a maioria das empresas recolha
a contribuição previdenciária obrigatoriamente sobre a folha de pagamento, e não mais sobre a receita bruta. Em março deste ano, foi editada uma MP (Medida Provisória) que colocava fim à desoneração para a maior parte dos segmentos até então contemplados. Após pressão de diversos setores, entre os quais o de transporte, que temem os impactos negativos da mudança, como demissões em massa, a medida foi revogada. Em setembro, o Executivo apresentou um projeto de lei (PL 8.456/2017) com o mesmo
ARQUIVO CNT
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texto da medida provisória. Conforme a proposta, no setor de transporte, somente o segmento de passageiros dos modais rodoviário, ferroviário e metroferroviário permaneceria com a possibilidade de contribuir sobre a receita bruta. Para os demais, o cálculo voltaria a ser feito, necessariamente, sobre a folha. O projeto de lei foi debatido em duas audiências públicas no fim de novembro, na Câmara dos Deputados. Nelas, foram apre-
sentados números que demonstram as perdas com o possível fim da desoneração. O setor rodoviário de cargas, que responde por 61% de todo o transporte brasileiro, estima que a reoneração poderá levar ao fechamento de até 10% das empresas, além de 250 mil a 500 mil postos de trabalho. Outra possibilidade é o aumento do custo do frete, que poderá, em última instância, gerar impacto de preço nos produtos que chegam ao consumidor final.
“A desoneração trouxe um alívio real para as empresas. O governo tem outros instrumentos para recuperar a arrecadação do país. Não dá para penalizar aqueles setores que geram empregos. O setor de serviços é o maior arrecadador de tributos. Não entendo como ele pode ser o mais visado com a medida”, afirmou o diretor-jurídico da NTC&Logística (Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística), Marcos Aurélio Ribeiro, durante o debate no Legislativo. Outro setor que poderá ser fortemente afetado com a medida é o aéreo. Levantamento da Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas) aponta que, caso sejam reoneradas, as empresas sofrerão perdas de R$ 115 milhões. Além disso, há risco de fechamento de 15,5 mil postos de trabalho. A entidade teme, ainda, que a perda do benefício seja responsável por dobrar os gastos das companhias aéreas. “A contribuição pela folha de pagamento gera um peso maior dos tributos para empresas que possuem maior número de empregados. Por isso, optamos pelo recolhimento pela receita bruta. A reoneração vai penalizar a variável que a gente mais precisa incentivar, que é a produção de postos formais de mercado de trabalho”, explicou a consultora da LCA Consultoria, responsável pelo levantamento
Acesse: www.cnt.org.br/Paginas/simulador-cnt-contribuicao-previdenciaria
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dos dados, Cláudia Viegas. A Comissão Especial criada para analisar o projeto da reoneração na Câmara dos Deputados apreciará o PL em caráter conclusivo. Por isso, se o texto for aprovado, seguirá diretamente para o Senado Federal, sem votação do Plenário da Câmara. Caso o projeto de lei seja aprovado nas duas Casas, só pode entrar em vigor 90 dias após a sanção do presidente da República. Simulador A CNT (Confederação Nacional do Transporte) oferece uma ferramenta que auxilia as empresas a realizar o cálculo a fim de identificar a forma mais vantajosa de contribuir para a Previdência. No Simulador CNT de Contribuição Previdenciária, disponível gratuitamente no site da instituição, o empresário preenche informações sobre a atividade da empresa, a receita bruta mensal e o gasto mensal com a folha de pagamento. A ferramenta, então, gera o valor do que seria devido em cada uma das opções, considerando os valores informados. Os dados utilizados para as simulações são confidenciais, e os valores não poderão ser salvos, devendo ser informados a cada análise. A utilização dos resultados obtidos na simulação é uma opção de cada empresa, não possuindo a CNT, portanto, qualquer tipo de responsabilidade sobre interpretações e decisões tomadas a l partir dos resultados.
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RODOVIÁRIO
Riscos em pontes
O Ponte sobre o rio Moju, no Pará, classificada como ponto crítico pela Pesquisa CNT de Rodovias por dois anos seguidos, em 2015 e em 2016
ficialmente batizado como viaduto Vila Rica, mas conhecido como viaduto das Almas, o elevado localizado na BR-040, em Itabirito (MG), faz jus ao apelido. Inaugurado em 1957, foi desativado em 2010 após sucessivas tragédias. Estreito, erguido em curva, sem acostamento e sem divisão das pistas de sentidos opostos,
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e viadutos
Pesquisa CNT de Rodovias mostra que a maior parte das obras de arte avaliadas em todo o país não possui acostamentos ou defensas laterais por
levou mais de 200 pessoas à morte. O acidente mais grave ocorreu em agosto de 1969, quando um ônibus não conseguiu atravessá-lo. Trinta pessoas morreram. Dois anos antes, em setembro de 1967, outro coletivo despencou de lá, e este foi o resultado: 14 vítimas. No Pará, outro acidente emblemático. Em 2014, uma balsa que transportava óleo
EVIE GONÇALVES
colidiu com um dos pilares de sustentação da ponte que cruzava o rio Moju, na rodovia PA-483, que possuía 900 metros de extensão e ligava Belém à região do Baixo Amazonas e ao sul do Estado. Após o acidente, um trecho de 50 metros despencou, interrompendo a passagem de veículos por mais de dois anos. Ninguém ficou ferido, mas a situação gerou
crise econômica no município devido à diminuição do volume de carros na cidade. Em novembro deste ano, ocorreu outro caso envolvendo pontes. Dessa vez, na BR-319. As condições de infraestrutura das edificações, ainda de madeira, fizeram o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) proibir o tráfego de veículos de passageiros e de
cargas acima de 23 toneladas na rodovia, mais precisamente no trecho compreendido entre Manaus (AM) e Porto Velho (RO). A medida levou em conta não somente a condição estrutural das pontes, que, segundo o órgão, não têm condições de suportar o tráfego pesado de carretas, bitrens e rodotrens, mas também, a inexistência de balanças para controle de peso na rodovia.
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Na cidade de Batalha (PI), queda de ponte impede o tráfego na BR-222
Esses três casos são exemplos que retratam a real situação de grande parte das pontes e dos viadutos no Brasil, chamados oficialmente de obras de arte. De acordo com a 21ª Pesquisa CNT de Rodovias, divulgada no começo de novembro pela Confederação Nacional do Transporte, das 10.447 pontes ou viadutos pesquisados em todo o país, 58,6% não possuem acostamentos ou defensas e 7,6% não possuem nenhum dos dois mecanismos de segurança. Além disso, 1.429 estão localizados em cidades, por onde as rodovias
avaliadas atravessam áreas comerciais ou residenciais. Dessas, 79,8% não possuem passagem de pedestre, dificultando a mobilidade local. Os pesquisadores localizaram cinco pontes caídas, em trechos considerados críticos, nos municípios de Chaval (CE), Nova Venécia (ES), Alcântara (MA), Batalha (PI) e São Desidério (BA). De acordo com o estudo, 94,9% das obras de arte avaliadas são construídas em concreto e 56,6% possuem dimensão entre 10 e 50 metros de comprimento. As pontes são
projetadas e construídas para sobrepor barreiras físicas, tais como cursos d’água. Já os viadutos sobrepõem outras vias ou desníveis topográficos. A pesquisa da Confederação também revelou que os investimentos para manutenção e adequação das obras de arte, assim como para a construção de novas pontes e viadutos, caíram substancialmente entre 2016 e 2017. Enquanto no ano passado, foram investidos R$ 6,77 milhões para manutenção e adequação de pontes e viadutos, até novembro deste
ano, foram somente R$ 330 mil. O valor também caiu sensivelmente na construção: R$ 304,13 milhões, em 2016, contra R$ 33,44 milhões neste ano. “Os números demonstram baixa prioridade do governo em relação a esse tipo de construção. Isso representa perdas para a infraestrutura brasileira e acaba contribuindo para o aumento do Custo Brasil, gerando grandes riscos de acidentes nas rodovias”, alerta o diretor-executivo da CNT, Bruno Batista. Segundo dados da PRF (Polícia Rodoviária Federal), entre janei-
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Pesquisa CNT de Rodovias Condição das obras de arte em 2017 (pontes e viadutos)
%
Obra de arte com acostamento e com defensas
3.530
33,8%
Obra de arte sem acostamento ou sem defensas
6.124
58,6%
793
7,6%
10.447
100,0%
Obra de arte sem acostamento e sem defensas Total geral
Ponte de madeira sobre curso d’água na BR-163, no Pará
Quantidade
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Queda de ponte em Chaval (CE), na CE-085/BR-402, próximo à divisa com o Piauí
“Infraestrutura em más condições acaba contribuindo para o aumento do Custo Brasil, gerando riscos de acidentes” BRUNO BATISTA, DIRETOR-EXECUTIVO DA CNT
ro e outubro deste ano, foram registrados 841 acidentes em pontes e viadutos de todo o país. De acordo com o órgão, “um dos agravantes relacionados aos acidentes em pontes e viadutos é o fato de que, nessas obras de arte, normalmente não há área de escape. Tal característica, somada à velocidade incompatível ou à falta de atenção, amplia o risco de queda e, consequentemente, de lesões graves ou mortes”. A PRF informou ainda que trabalha com duas ações principais para coibir acidentes nesses pontos específicos: educação para o
trânsito realizada em todas as Unidades da Federação – tanto junto aos motoristas quanto em escolas, empresas e comunidade – e fiscalização ostensiva com base em pontos críticos de ocorrências de acidentes de trânsito, com vistas a coibir comportamentos perigosos. Para o especialista em infraestrutura de transporte da UnB (Universidade de Brasília), Dickran Berberian, as condições da infraestrutura são determinantes para acidentes envolvendo obras de arte. “As pontes geralmente são mais estreitas que as rodo-
vias, o que já representa riscos aos motoristas e passageiros. Quando não possuem acostamento, implicam grande perigo em momentos de ultrapassagem. A ausência de barreiras laterais é outro problema porque, em caso de acidentes, elas servem para redirecionar o carro para dentro da pista, evitando que ele caia em rios ou precipícios”, ressalta. Segundo Berberian, a construção das obras de arte deve atender a normas estruturais e funcionais, com regras específicas sobre a existência de acostamentos e defensas. O especia-
lista explica que as obras de arte devem ser vistoriadas a cada três anos e passar por análises mais detalhadas a cada seis anos. “Como essas vistorias não são realizadas com a frequência necessária, usualmente são detectados problemas por falta de manutenção, recalques nas fundações e corrosões causadas por enchentes”, explica. A manutenção, de acordo com Berberian, é importante para identificar se as obras de arte possuem trincas e corrosões nas ferragens. Outro ponto observado são os afundamentos
PONTE RIO-NITERÓI
Maior obra de arte do hemisfério sul A ponte Rio-Niterói, no Rio de Janeiro, é atualmente a maior obra de arte do hemisfério sul e possui o maior vão em viga reta contínua do mundo. Inaugurada em 1974, a ponte possui 13,2 km de extensão e 72 metros de altura. Diariamente, 150 mil veículos passam pelo local. Desde 2015, o trecho é administrado pelo Grupo EcoRodovias. A edificação é grandiosa
e possui superlativos. Tratase da mais importante estrutura protendida das Américas (técnica que visa melhorar o desempenho das estruturas e utilizar todo o potencial do concreto à compressão, minimizando ou até eliminando as fissuras geradas pela tração). Sua estrutura, composta por mais de 2.150 km de cabos, formaria uma linha que daria uma volta à Terra, com sobras.
A construção durou cinco anos e empregou mais de 10 mil operários, liderados por uma equipe de 130 engenheiros. A areia empregada daria para aterrar metade da praia de Copacabana. Já o cimento utilizado — mais de 4,6 milhões de sacos —, se deitados, formariam 1.500 pilhas, que chegariam à altura do morro do Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro.
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PRÊMIO CNT DE JORNALISMO
Situação de pontes e viadutos são pauta recorrente na mídia Problemas em pontes e viadutos foram retratados em diversos momentos nas matérias vencedoras ou finalistas do Prêmio CNT de Jornalismo. Em 1998, o fotógrafo João Cerqueira, do Jornal do Brasil, venceu na categoria Fotografia, com a ima-
gem “Acidente da Ponte”. Em 2004, o fotógrafo Nauro Júnior, do Zero Hora, também ganhou na mesma categoria com a foto “Isolamento”. A imagem retrata o rompimento de uma ponte na BR-116, provocado por uma enchente em Pelotas (RS).
Vaz esteve entre os finalistas da categoria Fotografia com a reportagem “Pontes do atraso”, publicada no site Congresso em Foco. A matéria trouxe casos e imagens emblemáticas da falta de infraestrutura de pontes no país.
Em 2011, a fotografia “Pé no freio na Ponte Rio-Niterói”, do fotógrafo Marcos Tristão, do jornal O Globo, também foi vencedora. O registro foi feito durante uma obra de manutenção nos pilares da estrutura. No ano passado, o jornalista Lúcio
JOÃO CERQUEIRA/DIVULGAÇÃO
NAURO JÚNIOR/DIVULGAÇÃO
“Isolamento”, vencedora em 2004
“Acidente na Ponte”, vencedora em 1998
“Pé no freio na Ponte Rio-Niterói” vencedora em 2011
MARCOS TRISTÃO/DIVULGAÇÃO
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“São detectados problemas por falta de manutenção, recalques nas fundações e corrosões causadas por enchentes” DICKRAN BERBERIAN, ESPECIALISTA EM INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTE DA UNB
no solo devido ao mau dimensionamento ou excesso de carga. Por fim, ele sinaliza a importância de um planejamento de controle hidrogeológico para previsão de futuras enchentes. “Fica difícil dimensionar um problema se não sabemos o momento em que os rios vão encher”, lamenta o especialista. Ele cita que conhece mais de 50 casos em que ônibus caíram nos rios à noite porque estava chovendo e os motoristas não conseguiram perceber que as pontes não estavam com os trechos completos. Pontes antigas O analista de infraestrutura do Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil, Issa Miguel, diz que a maior parte das rodovias do Brasil foi projetada entre as décadas de 1960 e 1970. “Quando iam construir uma ponte naquela época, os
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engenheiros levavam em conta um trecho estreito do rio em linha reta e depois encaixavam a rodovia na obra de arte. Por isso, o traçado da rodovia nas proximidades da ponte pode apresentar curvas acentuadas. Hoje, elas são construídas sob outra ótica: acompanham os tamanhos e padrões das rodovias”, acrescenta. Ele também pondera que a maioria dos projetos não previa acostamentos. “Só havia meio-fio e barreira. Dos anos 1980 para cá, as obras mudaram e passaram a considerar esses aspectos de segurança.” Outro problema, segundo ele, foi o envelhecimento das obras de arte sem manutenção. Recentemente, o Dnit criou o Proarte (Programa de Manutenção e Reabilitação de Estruturas), que tem como objetivo eliminar as deficiências estruturais e funcionais das pontes e dos viadutos por meio de reabilitação e manutenção. “Se uma obra precisar de algum reforço, o órgão aproveita e faz o alargamento abrangendo acostamentos e barreiras”, detalha. Miguel completa dizendo que houve uma classificação das pontes e que a prioridade para os reparos ocorre em situações mais críticas. A reportagem da revista CNT Transporte Atual entrou em contato com o Dnit para saber detalhes do programa e a previsão de valores a serem investidos em todo o país, mas, até o fechamento desta edição, o órgão não l havia respondido.
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AÉREO
Eficiência
nos ares
Novo sistema de navegação de aviões prevê otimização de rotas e redução das emissões e do tempo de voos; companhias ainda estão cautelosas em relação aos benefícios práticos por
DIEGO GOMES
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PIXABAY/DIVULGAÇÃO
O
Brasil caminha para ter um dos espaços aéreos mais modernos do hemisfério sul. Foi concretizada, no mês de outubro, a implantação do maior projeto de reestruturação de um espaço aéreo controlado já empreendido no país. Toda a região Sul conta, agora, com a chamada PBN (Navegação Baseada em Performance, da sigla em inglês Performance Based Navigation), implementada pelo Decea (Departamento de Controle do Espaço Aéreo). A medida impactará, segundo o departamento, aproximadamente 300 mil voos por ano. De acordo com os cálculos do Subdepartamento de Operações do Decea, a
redistribuição dessas aerovias reduzirá o consumo de combustível das aeronaves em 2.000 toneladas por ano, o que representaria por volta de 6.500 toneladas de gás carbônico a menos na atmosfera. Segundo a FAB (Força Aérea Brasileira), o primeiro voo beneficiado com a mudança realizou um transporte de órgãos para transplante e decolou de Dourados (MS) para Guarulhos (SP). Com as novas rotas, foi registrada diminuição de 15 minutos no tempo de percurso. O PBN é uma das iniciativas do Programa Sirius, como é chamado no Brasil o conceito de gerenciamento do tráfego aéreo baseado em satélites e comunicação digital. Ao lado dos Estados Unidos, da Europa
e do Japão, o país integra o grupo que está mais avançado na implantação da navegação baseada em performance. O sistema permite que pilotos e controladores utilizem informações via satélite para saber a exata posição dos aviões durante os voos. No convencional, a localização das aeronaves é feita por equipamentos instalados no solo com centenas de antenas transmitindo sinais por ondas eletromagnéticas. Para ter os sinais captados, as aeronaves precisam sobrevoar a área de alcance das antenas, que demarcam a trajetória do voo. Com isso, os aviões não voam, necessariamente,
em uma linha reta, sendo obrigados, muitas vezes, a desviar e fazer curvas para alcançar esses equipamentos em solo. No PBN, por sua vez, a rota não é determinada pela localização dos equipamentos em solo, e as informações das aeronaves são transmitidas via satélite, tornando os trajetos percorridos mais retilíneos. Isso, na avaliação do gerente do projeto na região Sul e chefe da Divisão de Operações do Instituto de Cartografia Aeronáutica do Decea, major Eduardo Sardella da Silva, além de conferir dimensão mais confiável aos voos, torna os procedimentos mais simples e baratos. Ele destaca que a fluidez entre as áreas de controle
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Navegação por PBN
Sistema convencional
INTERCÂMBIO
Brasil auxilia Argentina a reestruturar espaço aéreo A Força Aérea Brasileira está auxiliando a Eana (Empresa Argentina de Navegação Aérea) na atualização de procedimentos de navegação aérea e reestruturação do espaço aéreo argentino, por meio da elaboração de procedimentos de navegação aérea baseada em performance. Desde setembro de 2016, foram confeccionadas, com o apoio de especialistas do Instituto de Cartografia Aeronáutica do Decea, 60 cartas aeronáu-
ticas para diversos aeródromos argentinos, incluindo as usadas em aeroportos mais movimentados, como Ezeiza e Aeroparque. O projeto do PBN Argentina, estendido recentemente para outros terminais do país, utiliza as mesmas ferramentas computacionais utilizadas pelo Brasil. Custeados pela Eana, os profissionais do Brasil realizam o treinamento prático final dos técnicos argentinos.
Fonte: Decea
terminal (situadas geralmente na confluência de rotas de tráfego aéreo e nas imediações de um ou mais aeródromos) será aprimorada com a medida. “Além dos encurtamentos de trajetórias, a medida possibilita a acessibilidade a localidades anteriormente não contempladas e a expansão de operações sem exigência de grandes alterações”. Segundo o major, rotas mais curtas impactam outras variáveis importantes, especialmente na sensível diminuição do consumo de combustível. “A quantidade é significativa porque a queima de querosene está diretamente relacionada à emissão de dióxido de carbono na atmosfera. Para se ter uma ideia do corte, do total do antigo composto de rotas, foram reduzidas 1.430 milhas (2.650
Km) em trajetórias de voo na região, uma distância equivalente a um voo entre o Rio de Janeiro e Macapá.” O sistema, contudo, não é algo inédito no país. Desde 2009, São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte e Salvador — as áreas de controle terminal mais movimentadas — já dispõem de procedimentos de navegação aérea operando no conceito. Nas aerovias, a implementação também vem ocorrendo gradualmente. O trecho correspondente à ponte aérea Rio-São Paulo, por exemplo, opera nesses termos desde dezembro de 2013 e vem obtendo benefícios na redução dos trajetos e de ruídos nas vizinhanças de importantes aeroportos, como o Santos Dumont.
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SUSTENTABILIDADE
Rotas mais curtas ajudam no cumprimento das metas ambientais A 39ª Assembleia da Oaci (Organização da Aviação Civil Internacional), no ano passado, reunida em Montreal, no Canadá, aprovou uma resolução que define as diretrizes regulatórias para um esquema global de compensação de emissões de carbono (CO2) para o transporte aéreo internacional. A iniciativa, conhecida como GMBM (Global Market-Based Benefícios As principais companhias receberam bem a redistribuição das rotas no Sul, mas seus representantes preferem aguardar a consolidação do novo sistema para fazerem previsões acerca da economia e dos benefícios diretos e indiretos. O especialista em Segurança e Operações de Voo da Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas), Paulo Roberto Alonso, comenta que o setor encara com normalidade a transição para o modelo de navegação baseada em performance, por se tratar de uma prática internacionalmente reconhecida. Segundo ele, a frota das quatro principais empresas aéreas dispõe de tecnologia embarcada suficiente para operar tanto no novo sis-
Measure), busca apoiar o objetivo da promoção do crescimento neutro de CO2 da aviação civil internacional já a partir de 2020. Na avaliação do chefe da Divisão de Operações do Instituto de Cartografia Aeronáutica do Decea, major Eduardo Sardella da Silva, a implementação do PBN na região Sul avaliza o comprometimento do Estado tema quanto no convencional. Alonso diz, no entanto, que a implantação, por si, não assegura de imediato os benefícios anunciados pelo Decea. De acordo com ele, há outros fatores que interferem na aviação comercial que devem ser levados em consideração. “Muitas vezes, quem está ali voltado apenas para os números não consegue entender por que um voo real teve um tempo maior ou menor do que o que havia sido planejado. É o vento de calda que a aeronave pega, isso e reduz o tempo. Ou uma solicitação do próprio piloto para ir de um ponto a outro e, assim, encurtar a distância, algo que não estava no planejamento. Na hora de computar esses números, deve-se ter muito cuidado”, explica Alonso, destacando,
brasileiro com a resolução da Oaci e para o cumprimento dos objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU. Para ele, com a iniciativa, haverá mais eficiência na gerência do espaço aéreo brasileiro, emitindo menos CO2, tendo em vista que o transporte aéreo exerce papel vital na redução em emissões de poluentes na atmosfera do planeta. porém, que a implementação é benéfica para todos. Reestruturação Para a implementação do novo sistema na região Sul, foram elaboradas mais de 300 novas cartas aeronáuticas de procedimentos de voo. A carta, no setor, tem a função de orientar o piloto da decolagem até o pouso, fornecendo instruções, como limitações de altitude e velocidade além de um caminho/rota planejado previamente. No PBN-Sul, as novas cartas, segundo Sardella, priorizaram o preceito euclidiano de que a reta é a menor distância entre dois pontos. Ele explica que, a partir das novas rotas, as subidas e descidas dos voos, igualmente, passam a ser executadas de
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modo contínuo, sem variações bruscas de aceleração e nivelamento de altitude. Além disso, para o melhor aproveitamento dos voos, alguns limites de áreas de controle terminal foram alterados. Nas de menor movimento, que ainda não dispunham da tutela de um radar terminal, foram anexadas às mais movimentadas. Foi o caso de Joinville (SC), que agora passa a pertencer à de Curitiba (PR), e de Navegantes (SC), anexada à de Florianópolis (SC), estabelecendo, assim, um grande corredor entre as duas capitais. A área de controle de Porto Alegre também passou por ajustes. Seus setores foram reconfigurados de modo a atender aos fluxos tanto do aeroporto internacional de Porto Alegre quanto da base aérea de Canoas. Para uma melhor harmonização entre voos militares e civis, os procedimentos de chegada e saída foram concebidos de modo a permitir fluxos de tráfego aéreo específicos para cada operação, com separações lateral/vertical e regiões de abrangência distintas. São Paulo, apesar da distância, também precisou adequar-se à nova circulação. O oeste da área de controle terminal mais movimentada do país ganha agora um novo ponto de chegada dedicado às aeronaves oriundas do Sul, encurtando suas descidas e aproximações aos aeroportos paulistanos. l
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FERROVIÁRIO
Linhas
seguras
Número de acidentes nas ferrovias caiu 85% em 19 anos; concessionárias investem em campanhas de prevenção e em melhorias na infraestrutura das linhas férreas por
EVIE GONÇALVES
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P
edestres cruzando a linha férrea a poucos segundos de o trem passar, crianças soltando pipa nos trilhos, motoristas desrespeitando a sinalização ferroviária, pessoas desafiando os maquinistas, agentes de segurança impedindo atitudes imprudentes. Essas são algumas das imagens flagradas frequentemente pelas câmeras de segurança das concessionárias de ferrovias de cargas. Em boa parte dos casos, os usuários saem ilesos. Em outros episódios, porém, os acidentes e as mortes são inevitáveis. Comportamentos imprudentes estão entre as principais causas dos acidentes nas linhas férreas. Também existem aqueles em decorrência das condições de infraestrutura, como fraturas nos trilhos,
que geram descarrilamento dos vagões e provocam danos. Para reverter esse cenário e reduzir os índices de acidentes, as empresas do transporte ferroviário de cargas vêm investindo, ano a ano, em mais segurança. Dados da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) apontam queda significativa no número de ocorrências entre 1997 e 2016. Enquanto naquele ano a taxa ficou na casa de 75,5 acidentes por milhão de trens.km (índice de segurança operacional que expressa a relação entre o número total de acidentes com a frota em tráfego e a quilometragem percorrida), no ano passado, foram 11,3 acidentes por milhão de trens.km, o que significa queda de mais de 85%. “A redução do número de acidentes se deve, em grande
medida, ao enorme esforço das empresas em busca da melhoria contínua de suas operações. Isso se traduz num rigoroso controle de manutenção de equipamentos, no desenvolvimento de novas tecnologias, no ininterrupto treinamento das equipes envolvidas, nas campanhas educativas, cada vez mais amplas e recorrentes, e na preocupação permanente em tornar sustentável e de baixo impacto toda e qualquer movimentação de trens em nossas malhas”, afirma o diretor-executivo da ANTF (Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários), Fernando Paes. De acordo com a ANTT, “com o aumento da circulação de trens, os pontos de cruzamento com rodovias e vias urbanas passam a constituir áreas de risco. Os acidentes, como atropelamentos e abalroamen-
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tos, tornam-se mais comuns devido à falta de respeito ao trem. Muitas vezes, as populações lindeiras desconhecem a impossibilidade de se frear um trem a curta distância e, mesmo assim, o desafiam, tentando cruzar a via férrea com veículos automotores ou a pé.” O CTB (Código de Trânsito Brasileiro) preconiza que o trem tem prioridade em relação aos pedestres e motoristas. Isso significa que esses precisam, necessariamente, parar e verificar se podem ultrapassar a linha férrea em condições seguras. Entretanto, muitas vezes, a regra é descumprida. Na malha da MRS Logística, por exemplo, mesmo com a redução do índice de acidentes de 60 episódios por bilhão de trens.km, em 1996, para 2,1 por bilhão de trens.km, no ano passado, mais de 80% das ocorrências está ligada à MRS/DIVULGAÇÃO
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RUMO/DIVULGAÇÃO
MANUAL DE CRUZAMENTOS RODOFERROVIÁRIOS
CNT participa da atualização do documento Até o fim do ano que vem, o Manual de Cruzamentos Rodoferroviários do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito), vigente desde 1984, deverá ser atualizado. A CNT participa da redação do texto, que está sendo conduzida pela Câmara Temática de Engenharia de Tráfego, da Sinalização e da Via. As alterações no documento, que prevê, entre outras normas, a segurança imprudência, à desatenção e ao uso de álcool e drogas nas proximidades das ferrovias. Segundo o gerente-geral de comunicação da MRS, Marcelo Kanhan, há casos recorrentes de passageiros que, por acharem que dará tempo para atravessar, voluntariamente se colocam em risco e desafiam o sistema. “São pessoas que se
nos serviços ferroviários, deverão estabelecer adequações nas tecnologias dos atuais sistemas, além de unificar as sinalizações horizontais (pavimento) e verticais (placas e sinais) nas passagens em nível. Atualmente, cada concessionária adota seu padrão. A mudança também vai levar em consideração a sinalização para motoristas, pedestres e ciclistas. deixam levar pela pressa por acreditarem que estão muito acostumadas com o local. Elas nem imaginam que, numa situação de alerta, o trem não vai conseguir parar a tempo por causa do seu peso. Uma composição varia entre 10 mil e 15 mil toneladas, que equivale a 15 mil fuscas. Mesmo que o maquinista acione o sistema completo
Técnicos monitoram condição dos trilhos
de freio, ele pode levar até 1 km para conseguir parar totalmente. Ou seja, o acidente vai acontecer”, ressalta. O uso de álcool e drogas nas proximidades das linhas férreas também é um problema enfrentado pelas concessionárias. Kanhan cita a situação de fragilidade dos usuários, sobretudo em relação aos dependentes
Confira algumas imagens das câmeras de segurança da MRS envolvendo trens
de crack, que usam e comercializam drogas nas imediações das passagens em nível (cruzamento de ferrovias e rodovias em um mesmo nível). Com isso, as pessoas ficam em situação de incapacidade em relação à chegada do trem. “Também existem os casos dos passageiros que bebem e dormem nos trilhos. Às vezes, o maquinista
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até enxerga o corpo caído, mas não consegue frear a tempo”, lamenta o gerente da MRS. Acidentes atrelados ao uso de smartphones, fones de ouvido e, até mesmo, som alto dentro dos veículos, o que acaba impedindo os passageiros e motoristas de ouvirem alertas sonoros e visuais emitidos pelos trens, como buzinas, luzes e, até mesmo, a sinalização e as pinturas do chão dos cruzamentos ferroviários, também são recorrentes. De acordo com o Regulamento dos Transportes Ferroviários, vigente desde 1996, a responsabilidade de sinalizar as passagens em nível é da via mais recente. Ou seja, se o município é mais novo que a linha férrea, a obrigação seria dele. Contudo, a ANTT entende que há responsabilidade compartilhada entre as concessionárias, os municípios, os Estados e a União. A agência reguladora também estipula que é obrigação das concessionárias reduzir o número de acidentes a cada
cinco anos. Para isso, informou que está desenvolvendo um novo tipo de inspeção denominado “Plano de Ação em Áreas de Risco”, que visa identificar regiões com alto potencial de acidentes e buscar atuação prévia, com a participação de todos os envolvidos, para que se possa prevenir e evitar acidentes. Campanhas Com esse propósito, as concessionárias já têm realizado campanhas diretamente com os municípios próximos às ferrovias. A VLI atua, sobretudo, em escolas. Além disso, redobra sua atenção em datas com maior risco, como Carnaval e festas juninas. “Nessas ocasiões, intensificamos os contatos nos bares e nas rotas mais movimentadas. Também alertamos nossos maquinistas em relação às suas obrigações de reduzir a velocidade e buzinar”, afirma o gerente-geral de gestão integrada da concessionária, Gustavo Mucci. Entre 2012 e 2016, a empresa reduziu seu índice de acidentes em 20%.
Outra ação de grande impacto das concessionárias é o projeto “Linha da Vida”, parceria iniciada em janeiro deste ano entre a FTC (Ferrovia Tereza Cristina), a Vale, a MRS, além de prefeituras e da própria ANTF. A ideia é gerar mudança de comportamento a partir de uma discussão orgânica, na própria comunidade, a respeito de comportamentos de risco nas proximidades das ferrovias. Com isso, as empresas passam a ter mais um canal para o diálogo e mais oportunidades para discutir a necessidade de inserção harmoniosa dos trens nas cidades. Infraestrutura Outra preocupação constante das empresas se dá em relação à infraestrutura física das linhas férreas. Desde 2015, quando se fundiu com a ALL, a Rumo já investiu R$ 5 bilhões em novas tecnologias para evitar acidentes. Enquanto naquele ano a concessionária registrou 907 acidentes, neste ano contabilizou 553,
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número 30% menor. Uma das principais frentes de atuação da empresa é o Projeto de Segurança Ferroviária, espécie de inspeção diagnóstica em 4.000 km de linhas, dando origem a um plano de guerra para detectar pontos críticos e mais passíveis de trilhos quebrados. “Já tivemos grandes acidentes por quebra de trilhos. Por isso, fazemos investimentos, como compra de trilhos novos e soldas. A Rumo também desenvolveu um detector de trilho quebrado há seis meses. Tratase de uma espécie de corrente elétrica que monitora o trilho, detecta o problema e alerta o maquinista para que ele não passe pelo local”, explica o gerente de segurança e riscos operacionais, Alexandre Bicalho. Outras ações da concessionária são o treinamento de prevenção e investigação de descarrilamentos junto a empregados estratégicos e a instalação de detectores de descarrilamento de vagões, equipamentos que diminuem a gravidade com a l rápida parada do trem.
AQUAVIÁRIO
Tietê-Paraná
novamente sob risco FOTOS GILBERTO MARQUES/DIVULGAÇÃO
Acordo manteve a navegação na via até a segunda quinzena de dezembro, mas estiagem e priorização do uso da água para geração de energia comprometem funcionamento por
P
ouco menos de dois anos após ter sido reaberta, a hidrovia Tietê-Paraná se vê novamente em meio a um impasse em relação à navegabilidade na via e aos níveis hídricos necessários para a geração de energia nas hidrelétricas da região. Com a estiagem dos últimos
DIEGO GOMES
meses, surgiu o risco de parte da água dos trechos navegáveis ter de ser, mais uma vez, desviada para os reservatórios hidrelétricos. Em novembro, o setor aquaviário temia a interrupção da navegação na hidrovia. Contudo, até o fechamento desta reportagem, em uma reunião coordenada pela
ANA (Agência Nacional das Águas), foi acordada a manutenção, pelo menos até 15 de dezembro, de uma cota mínima de 325,4 metros de profundidade nos reservatórios de Ilha Solteira e Três Irmãos. Esse limite é necessário para permitir a navegabilidade em razão da existência de um pedregal nesse trecho.
Com a decisão, evitou-se a interrupção como aconteceu em 2014, por ora. Armadores da região, porém, alegam que o problema continua em função da governabilidade problemática do setor energético. Além da ANA, participam desse processo o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), o Ministério dos Transportes,
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“O Operador Nacional do Sistema Elétrico se apropria dos recursos hídricos como se fosse o único usuário”
RAIMUNDO HOLANDA, PRESIDENTE DA FENAVEGA
Portos e Aviação Civil, a Fenavega (Federação Nacional das Empresas de Navegação Aquaviária), o Sindasp (Sindicato dos Armadores de Navegação Fluvial do Estado de São Paulo), a Capitania dos Portos, o DH (Departamento Hidroviário do Estado de São Paulo), a prefeitura de Pederneiras (SP), o Ministério do Meio Ambiente e demais atores envolvidos no processo. Tratamento desigual Por quase dois anos, a via amargou um longo período de interdição que causou prejuízos de pelo menos R$ 1 bilhão às empresas de navegação, tirando o emprego de
cerca de 1.600 pessoas, além de comprometer o transporte aquaviário brasileiro. Segundo o presidente da Fenavega, Raimundo Holanda, o ONS, diante da informação de que o índice de chuvas estava abaixo da média histórica para o período, neste final de ano, havia tomado uma decisão unilateral, sem comunicar ninguém, de rebaixar o nível da hidrovia para priorizar a produção de energia. “Nós, enquanto representantes do setor, enviamos ofício à ANA, notificando a respeito desse acontecimento, e, para nossa surpresa, nem mesmo a Agência tinha conhecimento da decisão do ONS. A partir disso, a ANA convocou
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reunião com todos os órgãos e entidades competentes para buscar alternativas.” Na avaliação de Holanda, o transporte aquaviário está à mercê dos desígnios do setor elétrico, que tem no ONS a figura do "dono dos rios". “O Operador se apropria dos recursos hídricos como se fosse o único usuário. Para que um dia possamos reverter tal situação, de forma a ficarmos em posição de equilíbrio com o setor elétrico, é necessário que aprofundemos a discussão sobre a outorga para as hidrovias, instrumento que nos conferirá, por meio da ANA, um nível mínimo operacional, que então deverá ser respeitado
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Interdição da Tietê-Paraná causou
R$ 1 bilhão de prejuízo e
1.600 desempregos
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pelos demais usuários”, destaca o presidente da Fenavega, salientando ainda a necessidade de se cumprir a Lei de Uso Múltiplo das Águas. Presidente do Sindasp (Sindicato dos Armadores de Navegação Fluvial do Estado de São Paulo), Edson Palmesan informa que, diferentemente da primeira crise hídrica, há dois anos, o setor se antecipou diante da iminente interdição da via navegável. “A crise de 2014 nos ensinou algumas lições. Recorremos às instâncias superiores responsáveis pela gestão da hidrovia. Para isso, envolvemos as prefeituras do Vale do Tietê, principalmente a do porto de Pederneiras. A ideia é buscar uma alternativa, juntamente à ONS, de gerar energia, por exemplo, em outros lagos, hidrelétricas e por outros meios, como as energias eólica, térmica e nuclear.” Palmesan acrescenta que os transportadores propuseram alternativas ao Operador Nacional. “Hoje, nós vemos o lago de Porto Primavera, no Rio Paraná, e o de Itaipu, na fronteira Brasil-Paraguai, onde não há navegação, que poderiam ser depreciados para produzir energia elétrica, até que volte a época das chuvas.” De
acordo com ele, houve períodos, em outubro, em que as comportas de Itaipu estavam abertas, porque o lago acumulou mais de 103% da sua capacidade. “Então, dava para ter gerado energia nas usinas de Itaipu e Porto Primavera, e não numa cadeia de usinas, que é a que fica entre Ilha Solteira e Três Irmãos, onde justamente estão as obras do pedral. Ali, na realidade, não pode baixar nada. Cada centímetro que baixar no reservatório de Ilha Solteira, abaixo da cota de 325,40 metros, começa a complicar, com acidentes, com as rochas aparecendo.” Além das necessárias obras de infraestrutura, tanto para a viabilização da hidrovia quanto para a expansão da matriz energética, e da aplicação do uso múltiplo das águas, o pleito do setor é justamente para manter o nível mínimo de navegação até o final da safra de grãos 2017/2018. “Nós pedimos até o dia 15 de dezembro, porque, em janeiro, todo o sistema da Tietê-Paraná é paralisado para manutenção geral das eclusas”, explica Palmesan. Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa do Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil reconhece, em nota, que a questão do
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RONI CARVALHO/DIVULGAÇÃO
INTERRUPÇÃO
Rio Madeira sofre com a seca Prejudicado pela escassez hídrica da região e assoreado em alguns trechos, o rio Madeira é atualmente o principal entrave do escoamento da produção brasileira por meio de hidrovias, na avaliação de Raimundo Holanda, presidente da Fenavega (Federação Nacional das Empresas de Navegação Aquaviária). A navegação na via tem sido, desde setembro, interrompida parcialmente. No Nordeste, mais da metade dos municípios estão em situação de emergência por causa da seca, que chega ao seu quinto ano consecutivo na Região.
A estiagem, diz Holanda, é um dos motivos para o problema no Madeira, mas o rio também é prejudicado pelas barragens de Santo Antônio e Jirau. A profundidade chegou a 1,98 metros (o mínimo para a navegação é de 3 metros), o que impede o transporte de grãos e derivados de petróleo. “No caso dos grãos, paramos totalmente no início de setembro e retomamos, entre aspas, em meados de outubro, com uma viagem de apenas 8.000 toneladas, quando o normal seria transportar 40 mil, em
períodos de águas fartas.” O assoreamento faz com que paisagens semelhantes a praias brotem no meio do rio, e a criação das usinas gerou desvio no curso do rio, com desbarrancamento e perda da corredeira. De acordo com Holanda, o Madeira transporta sedimentos naturalmente, porém, quando perde a corredeira (o que acontece neste ano), decanta bastante essa água. “É um rio totalmente barrento, por natureza, mas hoje a água está verdinha, o que mostra o tanto que mudou.” A previsão é que,
até o final do ano, o transporte fluvial volte a ser feito com certa normalidade. Para começar a reverter o problema, o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) iniciou, em agosto deste ano, o processo de dragagem de alguns pontos do rio Madeira em Porto Velho, a fim de assegurar a navegabilidade. Serão investidos pelo governo federal R$ 68,7 milhões pelos próximos cinco anos para manter a profundidade mínima de 3,5 metros, nível estabelecido pelo Gabarito Hidroviário do Madeira.
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Setor de transporte defende o equilíbrio no uso das águas
complexo hidroviário do TietêParaná envolve conflito entre usuários das águas, ou seja, entre o Operador Nacional do Sistema Elétrico e as empresas de navegação. Mas destaca que o órgão tem interesse na manutenção da navegação devido ao fato de o complexo hidroviário do Tietê-Paraná ser um importante corredor para escoamento da safra até o Porto de Santos. Planejamento O presidente do Sindasp destaca que a falta de planejamento ainda é o fator determinante para esse contexto de incertezas tanto no setor aquaviário quanto no energético. “O consumo cresceu absurdamente, e o investimento em produção de energia não anda. Nós, armadores,
preocupados com a navegação, temos que nos atentar também para a geração de energia. O Sindasp, por exemplo, tem recorrido a entidades e especialistas em matriz energética para nos ajudar a propor soluções.” Atualmente, está sendo realizado o derrocamento do Pedral de Nova Avanhandava na hidrovia, próximo às hidrelétricas Três Irmãos e Ilha Solteira, que consiste em retirar rochas ao longo de 10 quilômetros do rio, garantindo uma profundidade de pelo menos três metros. Com ela, será possível o rebaixamento para a cota de 323,0 metros de profundidade nos reservatórios sem causar restrição ou paralisação à navegação. A percepção dos transportadores, entretanto, é de que a
obra é de longo prazo e também significa um paliativo. “Se não investir em outras matrizes energéticas no Brasil, a água vai continuar sendo a mesma; a chuva, a mesma; e a demanda só vai aumentar. Daí, só rebaixar a calha do rio para uma cota que não interfira não vai adiantar, porque os lagos secarão novamente.” O superintendente de Operações e Eventos Críticos da ANA, Joaquim Guedes Corrêa Gondim Filho, informou que, de 8 de janeiro a 6 de fevereiro de 2018, a TietêParaná estará interrompida para manutenção. “Em função disso, foi proposta pela ANA uma nova reunião — com as instituições envolvidas no tema — a ser realizada antes da retomada da hidrovia.” O DH, responsável pelo tre-
cho da hidrovia no Estado de São Paulo, já trabalha para viabilizar a transferência hídrica e a consequente interrupção na hidrovia a partir de 15 de dezembro, quando, com o final da safra agrícola, o volume desse tipo de carga em direção ao Porto de Santos tende a diminuir. Segundo a assessoria, o Departamento tem empreendido todos os esforços de forma a preservar o uso múltiplo das águas dos rios Tietê e Paraná, o que inclui a preservação da navegabilidade e a geração elétrica, entre outras questões. Em nota, o órgão declarou que “o problema estará plenamente resolvido tão logo o volume de chuvas permita a recuperação do nível dos reservatórios.” Para Holanda, no entanto, o problema está longe de encontrar uma solução. “Essa situação que se repete na Hidrovia Tietê Paraná é o retrato fiel daquilo que se passa em todos os rios navegáveis nos quais há barramento com empreendimentos do setor elétrico. A falta de equilíbrio para o uso múltiplo das águas é um problema histórico que prejudica o transporte hidroviário. A priorização da utilização dos rios pelo setor elétrico tem causado inúmeros problemas para o transporte de cargas e de passageiros.” Procurado pela reportagem, o ONS não se manifestou a respeito l dessa questão.
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HOMENAGEM
Presidente da CNT é eleito personalidade do transporte Prêmio foi concedido pela Revista Transporte Moderno a Clésio Andrade por sua contribuição ao transporte ao longo das últimas décadas por
O
presidente da CNT (Confederação Nacional do Transporte) e dos Conselhos Nacionais do SEST e do SENAT, Clésio Andrade, foi homenageado como a personalidade do transporte pela Revista Transporte Moderno, no dia 28 de novembro, em São Paulo. A premiação representa o reconhecimento ao trabalho que Clésio Andrade vem empreendendo, em prol do setor, desde a década de 1960, quando começou sua relação com o
DIEGO GOMES
transporte, e que culminou, nos anos 1990, com a presidência da CNT. De lá para cá, sua atuação contribuiu para conquistas e avanços do setor, conferindo representatividade e relevância nacional ao transporte. Em seu discurso, Clésio Andrade declarou estar honrado com a homenagem, agradeceu a publicação e revisitou as conquistas do transporte brasileiro nas últimas décadas, exaltando o papel da CNT nesse processo. “Acredito que nosso maior mérito, meu e de meus companhei-
ros, foi criar uma estratégia de sustentação política, de trabalhos técnicos e de apoio ao nosso transportador e aos nossos trabalhadores, com valorização e representatividade.” Segundo ele, no âmbito institucional, a Confederação buscou, ao longo dos anos, inserir os transportadores nos grandes debates nacionais, valorizando-os na atuação e na representatividade junto aos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. O presidente explicou que, ao assumir a CNT, não havia
informações sistematizadas sobre o setor de transporte nem políticas públicas estruturadas. “Não havia estudos técnicos para amparar as obras. Diante disso, a CNT passou a produzir informações sobre o setor. Elaboramos o Plano CNT de Transporte e Logística, as Pesquisas CNT de Rodovias e de Ferrovias, a Pesquisa Aquaviária, o Anuário Estatístico, além de vários outros estudos técnicos que hoje estão consolidados. Esses trabalhos, além de servirem de orientação para os
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MARCIO BRUNO PHOTO/DIVULGAÇÃO
conhecimento. Relembrou ainda as parcerias com a Embry-Riddle University, para Certificação Profissional Internacional em Aviação, e com a Deustsche Bahn, renomado grupo líder em educação na Europa, e a Universidade de Jiao Tong, para o modal metroferroviário. Também mencionou os projetos com a Universidade de Stanford, dos Estados Unidos, e com o governo do Canadá. “Com essas parcerias, nos unimos ao que há de melhor no mundo em conhecimento, meio ambiente, eficiência energética, inovação e tecnologia.”
transportadores, informam a sociedade e auxiliam no planejamento dos governos.” Capacitação e qualidade de vida Durante a homenagem concedida pela Transporte Moderno — publicação especializada em transporte de carga e de passageiros lançada no Brasil, com mais de meio século de existência —, Clésio Andrade destacou ainda que, nas últimas décadas, o Sistema CNT também contribuiu para
qualificação, profissionalização e modernização do setor de transporte e logística. Em 1993, foi criado o SEST SENAT, que já realizou mais de 110 milhões de atendimentos a trabalhadores e aos seus dependentes. “Nosso setor se orgulha de ter construído instituições, como o SEST e o SENAT, que são reconhecidas e aplaudidas como modelos de inovação em gestão de organizações não governamentais, que privilegiam a economia e a racionalidade no uso de
recursos, centralizam atividades-meio, e descentralizam e focam na atividade-fim e nos objetivos sociais e profissionais das instituições.” Na área de gestão e inovação, o presidente frisou a criação do ITL (Instituto de Transporte e Logística) como referência em educação, pesquisa e inteligência para o segmento. Também citou a bem-sucedida parceria com a Fundação Dom Cabral, por meio da qual é promovida formação de executivos focados em inovação e
Otimismo O presidente da CNT salientou que, apesar da crise financeira que afetou diretamente o setor nos últimos anos, os transportadores vêm fazendo a sua parte. “Temos de ser otimistas e reconhecer que a economia começa a se recuperar. A crise política está passando, e o governo está cumprindo a sua parte, realizando reformas estruturais, como a do teto dos gastos públicos, a do ensino médio e Trabalhista. Há outras a serem feitas, como a da Previdência e a Tributária, que serão pilares para o crescimento sustentado e para a geração de empregos”, disse Clésio Andrade, reforçando o papel da Confederação e do setor, como um todo, na reconstrução desse novo Brasil. (Colaborou Myriam Caetano)
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SEST SENAT
Segurança e para o
Simuladores de direção estão sendo utilizados no treinamento de motoristas profissionais; até 2019, serão 200 equipamentos nas unidades operacionais por
CARLOS TEIXEIRA
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FOTOS ARQUIVO SEST SENAT
economia transporte D
irigir de forma segura e econômica e aprimorar a forma de condução dos motoristas profissionais de cargas e de passageiros em busca da prevenção de acidentes, do aumento da segurança e da redução dos custos dos transportadores: essa é a proposta do SEST SENAT ao oferecer treinamentos com simuladores de direção. O projeto, inaugurado em 2016, vem permitindo a qualificação de motoristas autônomos e funcionários das empresas de transporte que buscam melhorias na gestão de suas frotas e também maior capacitação para seus colaboradores. Em todo o Brasil, já estão instalados 75
simuladores. A previsão é que, até 2019, outros 130 equipamentos estejam em funcionamento. Essa ampliação do projeto contará com investimento de quase R$ 90 milhões. O presidente dos Conselhos Nacionais do SEST e do SENAT e da CNT, Clésio Andrade, destaca que os simuladores são os sistemas de mais alta tecnologia para o treinamento de motoristas que existem no Brasil. “Esse é um dos projetos mais importantes desenvolvidos pelo SEST SENAT ao longo de sua história. Entendemos que a tecnologia é essencial na área de transporte e no atual mercado de trabalho. A prática no simulador possibilita redução
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Motoristas profissionais que participaram dos cursos no simulador em Goiânia
de custos dos transportadores por meio do aperfeiçoamento das práticas de direção. Temos trabalhos que indicam a redução de mais de 10% do consumo de combustível”, afirma. Atualmente, o SEST SENAT oferece 30 cursos que são realizados nos simuladores instalados em todo o país. Os conteúdos estão divididos em dois módulos: ônibus e caminhão/ carreta. Para atender as diferentes necessidades dos transportadores, são oferecidos treinamentos com carga horária variável entre 8h e 22h. Nicole Goulart, diretora-executiva-nacional do SEST SENAT, ressalta que a iniciativa vai ao encontro das necessidades das empresas do setor. “Os simuladores trazem o que existe de mais moderno no desenvolvimento profissional para o transporte, tanto para empresas de passa-
geiros quanto de cargas. Nossos treinamentos buscam melhorar a performance dos motoristas e promover soluções que somente a prática simulada pode proporcionar. Este é o papel do SEST SENAT: melhorar o setor do transporte no Brasil”, conclui. O pesquisador da área de tecnologia da Universidade de Stanford, Greg Nuyens, destaca que o uso dos simuladores de direção é fundamental para aperfeiçoar a forma de condução do veículo. “Mesmo as pessoas mais hábeis podem melhorar seu desempenho. Quando você se torna especialista em algo, acredita que já sabe tudo o que precisa saber. Mas ao ver o resultado do seu desempenho no simulador, descobre que, de fato, cometeu algum erro que nem havia percebido. Esse é o valor da simulação”, conclui. Os resultados positivos já
são percebidos em empresas que apostam na nova tecnologia para capacitar sua mão de obra. Na Pássaro Verde, que atua com o transporte de passageiros em Belo Horizonte (MG), por exemplo, a coordenadora de recursos humanos, Rejane Rodrigues Aguiar, destaca que as aulas com os simuladores de direção aproximaram o treinamento da realidade cotidiana e aumentaram a qualidade das operações e do serviço prestado aos usuários. “Capacitamos nossos motoristas para conduzir veículos com segurança, praticando a direção defensiva e econômica, e prestar um atendimento com excelência. Sem contar que é uma oportunidade de ter uma aprendizagem inovadora.” A coordenadora destaca o SEST SENAT como parte fundamental desse processo. “Essa parceria é de extrema impor-
“A prática no simulador possibilita redução de custos dos transportadores por meio do aperfeiçoamento das práticas de direção”
CLÉSIO ANDRADE, PRESIDENTE DOS CONSELHOS NACIONAIS DO SEST E DO SENAT E DA CNT
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NOVIDADES
SEST SENAT terá simuladores de navegação e de empilhadeiras Para aprimorar a capacitação dos profissionais do setor de transporte, o SEST SENAT prepara, para 2018, a instalação também de simuladores aquaviários, modal que responde por, aproximadamente, 13% da movimentação de cargas no Brasil. As cidades escolhidas
para receberem os primeiros simuladores são Manaus (AM), Belém e Santarém (PA). Já em 2019, será a vez das cidades de Bauru (SP) e Porto Alegre (RS) receberem os equipamentos. Os investimentos para as instalações dos simuladores serão de quase R$ 8 milhões.
Outra novidade do SEST SENAT são os simuladores de empilhadeiras. A previsão é que, no próximo ano, sejam instalados 25 equipamentos nas unidades operacionais e, em 2019, outros 59. Nesse projeto serão investidos R$ 22 milhões.
Alunos recebem orientação antes do treinamento no simulador
tância. Por meio dela, conseguimos fornecer uma formação de qualidade, atrelando a teoria à prática. No nosso dia a dia, não teríamos como fazer esse treinamento, pois demandaria um custo alto e tempo. Com o simulador, temos redução de
tempo e um treinamento bem próximo da realidade”, finaliza. A relevância da capacitação para os profissionais do setor pode ser vista no caso de Júlio César, motorista na empresa Vallourec, que concluiu o curso Aperfeiçoamento de Motorista
para Condução Antecipatória (Segura e Econômica), com uso do simulador. De acordo com ele, isso aumentou o leque de oportunidades profissionais e trouxe um novo olhar para a forma de dirigir. “O curso foi muito bom para o meu currículo. Hoje
“Nossos treinamentos buscam melhorar a performance dos motoristas”
NICOLE GOULART, DIRETORA-EXECUTIVA NACIONAL DO SEST SENAT
sou um motorista bem melhor e mais atento. Foi uma grande experiência, aprendi a usar melhor os freios e melhorar a condução econômica do veículo. Aconselho todos os motoristas a participar. Todo mundo que trabalha na área do transporte precisa fazer”, afirma. Em Goiânia, a Metrobus, empresa de transporte coletivo, observou redução de 21% no número de acidentes três meses após o treinamento realizado com empregados nos simuladores do SEST SENAT. O coordenador de operações da empresa, Vinícius Ferreira da Costa, destaca que a capacitação refletiu positivamente para a segurança de motoristas e de passageiros. Para ele, as simulações proporcionam experiências quase reais aos condutores. “A possibilidade de o motorista viver inúmeras situações que seriam inimagi-
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CURSOS OFERECIDOS PELO SEST SENAT NO SIMULADOR DE DIREÇÃO » Módulo carga e passageiros Condução antecipatória (segurança econômica) • Aperfeiçoamento de Motorista para a Condução Antecipatória Segura e Econômica • Aperfeiçoamento de Motorista para a Condução Antecipatória Segura • Aperfeiçoamento de Motorista para a Condução Antecipatória Econômica Condução em situações de risco • Aperfeiçoamento de Motorista para a Condução em Situações de Risco • Aperfeiçoamento de Motorista para a Condução em Situações de Risco no Tráfego • Aperfeiçoamento de Motorista para Condução em Situações de Risco sob condições diversas Tecnologias embarcadas no veículo • Aperfeiçoamento de Motorista para o uso de Tecnologias Embarcadas no Veículo • Aperfeiçoamento de Motorista para o uso de Sistemas de Tecnologias Embarcadas no Veículo • Aperfeiçoamento de Motorista para uso de Dispositivos de Tecnologias Embarcadas Manobra de Veículos • Aperfeiçoamento de Motorista para a Manobra do Veículo • Aperfeiçoamento de Motorista para Manobra do Veículo em condições urbanas • Aperfeiçoamento de Motorista para Manobra do Veículo em condições rodoviárias » Módulo carga Aperfeiçoamento de motoristas para transporte de cargas especiais • Aperfeiçoamento de Motorista para o Transporte de Cargas Especiais • Aperfeiçoamento de Motorista para a Segurança no Transporte de Cargas Especiais • Aperfeiçoamento de Motorista para as Normas de Condução e Legislação para Cargas Especiais » Módulo passageiros Aperfeiçoamento de motoristas para transporte de passageiros • Aperfeiçoamento de Motorista para o Transporte de Passageiros • Aperfeiçoamento de Motorista para a Segurança no Transporte de Passageiros • Aperfeiçoamento de Motorista para as Normas de Condução e Legislação para Passageiros
A Metrobus, empresa de transporte coletivo de Goiânia, registrou redução de
21% no número de acidentes depois dos treinamentos
náveis num treinamento prático num veículo, em uma garagem ou mesmo na rua, é essencial para o desenvolvimento do seu trabalho.” Outro ganho, garante ele, é econômico e ambiental: nos últimos três meses, a Metrobus teve redução média de 2% no consumo de combustível. Isso significa economia de, aproximadamente, 9.000 litros por mês. “À medida que todos os outros motoristas forem concluindo o curso, acreditamos que essa média deve aumentar”, afirma. Ferreira também ressalta que houve aumento da qualidade do trabalho e da satisfação dos condutores. “Os cursos em parceria com o SEST SENAT são extremamente positivos, pois
“Com a direção defensiva, temos um meio de redução dos altos riscos de nossa atividade” FREDERICO FERNANDES NETO, GERENTE DA AUTO VIAÇÃO DRAGÃO DO MAR
Simulador instalado no SEST SENAT Brasília
visam principalmente à prestação do melhor serviço ao cidadão, valorizam o profissional e dão a ele melhores condições de aprendizado”, avalia o coordenador de operações da Metrobus. Na Auto Viação Dragão do Mar, de Fortaleza (CE), o gerente administrativo Frederico Lopes Fernandes Neto observa que os treinamentos com simuladores têm auxiliado a empresa a conquistar algumas metas importantes. “Profissionais qualificados contribuem com a organização em diversas perspectivas. Com a direção defensiva, temos um meio de redução dos altos riscos de nossa atividade e, com a condução econômica, uma forma de agregar resultados à organização e colaborar com a preservação do meio ambiente”. E complementa: “todo esse esforço vem trazendo uma evolução significativa nos últimos dois anos, nos indicadores de consumo de combustível, acidentes, l avarias e rotatividade”.
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SEST SENAT
A
nderson Arruda trabalha no setor de transporte, mais precisamente na área de controle de armazenagem e carga do Porto de Pecém (CE). A movimentação por contêineres faz parte da sua rotina diária, assim como a verificação da documentação das cargas
e as informações referentes a cada cliente do porto. Por trabalhar em uma atividade essencialmente técnica, ele sentiu necessidade de aperfeiçoar o conhecimento. Foi quando conheceu os cursos a distância oferecidos pelo SEST SENAT e teve a oportunidade de se capacitar.
“Só este ano fiz os cursos de unitização e movimentação de contêineres e de administração de terminais portuários. E ainda pretendo fazer outros dez.” Ele explica que, como trabalha em regime de plantão, considera a educação a distância mais adequada à sua realidade. “Sou disciplinado.
Plataforma já registra mais de
15 milhões de acessos
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FOTOS ARQUIVO SEST SENAT
Encurtando distâncias Cursos a distância são instrumentos eficazes para empresas que desejam implementar estratégias de educação corporativa; SEST SENAT oferece mais de 200 opções por
Quando decidi cursar os módulos, escolhi um horário fixo e me comprometi com a atividade”, lembra. Segundo Arruda, a parte visual assim como a navegabilidade e o conteúdo do portal são ótimos. “O site é bem intuitivo. Adorei e venho aplicando os conhecimentos no meu trabalho”, acrescenta.
EVIE GONÇALVES e NATÁLIA PIANEGONDA
Arruda é apenas um dos usuários que utilizam a ferramenta do SEST SENAT. Entre janeiro e outubro deste ano, a plataforma já registrou mais de 15 milhões de acessos. A instituição vem inovando e ampliando a cada dia a oferta de treinamentos a distância. Em 2015, eram sete cursos; em
2017, já são mais de 200. Todos certificados e gratuitos nas áreas de transporte, gestão, educação, saúde e aspectos comportamentais. Os cursos são autoinstrucionais, ou seja, o aluno estuda quando e onde quiser. “A educação a distância é uma forma de agregar conhecimento e de democra-
tizar o acesso ao ensino. O nosso objetivo é levar o processo de aprendizagem para um número cada vez maior de pessoas e empresas”, afirma a diretora-executiva nacional do SEST SENAT, Nicole Goulart. Além de ser um instrumento de universalização do conhecimento, a educação a distância
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também pode ser uma importante ferramenta para empresas que pretendem instituir ações de educação corporativa. De acordo com o diretor da Abed (Associação Brasileira de Educação a Distância), Stavros Xanthopoylos, as instituições perceberam rapidamente o poder da ferramenta na complementação profissional. “Quando sabem usar os cursos dentro de uma estratégia educacional, além de permitirem a aprendizagem, as corporações criam um sistema extremamente dinâmico e integrado de gestão do conhecimento, que vai muito além da formação”, explica. As empresas aéreas, por exemplo, são grandes beneficiárias dos cursos oferecidos pelo SEST SENAT. A instituição possui mais de 30 cursos a distância voltados exclusivamente para o setor. Entre eles estão os de conceito de aerodinâmica e de controle de voo, trabalho em oficinas e até mesmo manuseio de aeronaves em solo e procedimentos de pista. De acordo com o diretor de Segurança e Operações de Voos da Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas), Ronaldo Jenkins, boa parte dos colaboradores das companhias tem o hábito de se capacitar por iniciativa própria. “É muito importante ter os cursos do SEST SENAT à nossa disposição. Precisamos difundir isso para que a nossa mão de obra se beneficie de qualificação extra e do acesso
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ENTREVISTA
LUIZ ERNESTO MIGLIORA PRESIDENTE DA FGV IN COMPANY
SENTIMENTO DE EQUIPE Para o presidente da FGV in Company (Diretoria de Educação Executiva Corporativa da Fundação Getúlio Vargas), Luiz Ernesto Migliora, a educação corporativa permite às empresas identificarem os pontos fortes e fracos a fim de se atingir melhores níveis de produtividade e eficiência, podendo, até mesmo, melhorar a interação das equipes. “A educação corporativa cria sentimento de equipe”, afirma. Qual a importância da educação coorporativa para as empresas? É uma forma de treinar todos os funcionários e colaboradores de maneira uniforme para que recebam as mesmas informações e melhorem os processos. O principal objetivo é alinhar a equipe. Empresas que realizam ações de educação corporativa formam melhores gestores e empregados? É uma consequência. Mas as empresas precisam atentar para manter um horizonte de carreira para os funcionários. Não adianta investir em capacitação se a pessoa fizer sempre o mesmo trabalho. Sentindo-se mais capacitada, ela pode querer mais. Se não a esse tipo de informação”, diz. Em recente parceria, o Grupo Protege, representante do setor de Logística de Valores, também aderiu aos cursos oferecidos pela instituição. Após divulgação em uma plataforma interna para os empregados, o grupo oferecerá os cursos do SEST SENAT a partir de janei-
encontrar, corre o risco de procurar sair da empresa. Como as empresas devem fazer para planejar suas ações de desenvolvimento profissional? Primeiro, elas precisam fazer um trabalho interno para identificar pontos fortes e fracos da equipe e quais as competências a serem reforçadas. Em seguida, devem fazer um briefing com as suas necessidades. Depois, devem disponibilizar um programa educacional com a metodologia apropriada à situação da empresa. Que tipo de diferencial uma empresa que investe em educação corporativa consegue agregar? Educação corporativa é uma forma de treinar as pessoas para que elas façam um trabalho de acordo com o que a empresa considera correto. Todos os melhores profissionais estão querendo ser treinados. Muitas vezes, eles não têm condições de pagar por um curso. A educação corporativa é uma forma de retenção e capacitação. O resultado vem no ganho de eficiência da empresa.
ro de 2018 como mais uma opção da universidade corporativa já existente na empresa. “Enxergamos uma oportunidade de agregar conteúdo para os nossos 18 mil colaboradores. Há cursos categorizados e ainda estamos avaliando aqueles que são comportamentais ou técnicos que terão aderência com a
nossa realidade", explica o executivo corporativo de Recursos Humanos e Comunicação, Jorge Almeida. Ele lembra que a intenção do grupo ao fechar a parceria foi de se aproximar de uma instituição de reconhecida excelência. Almeida acrescenta ainda a preocupação em investimen-
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EAD SEST SENAT OBJETIVO » Facilitar a capacitação constante de pessoas que não conseguem participar regularmente de aulas presenciais ou que precisam conciliar família, estudos e trabalho CURSOS » São mais de 200 conteúdos nas áreas de transporte, gestão, educação, saúde e aspectos comportamentais Mais procurados em 2017 Administração de pessoas Português Excel descomplicado Administração financeira Responsável técnico - RT Transportador Autônomo de Cargas - TAC Redação técnica Gestão de estoques e armazenagem Comunicação interpessoal e atendimento ao cliente Administração de materiais
Acesse: ead.sestsenat.org.br tos constantes em recursos humanos. A plataforma de cursos a distância, segundo ele, é um dos pilares dessa estratégia de melhor capacitação dos colaboradores. “O treinamento presencial é positivo, mas de certa forma impede a democratização do conhecimento”, pondera.
Maturidade Questionado sobre o preconceito que algumas pessoas possuem em relação à educação a distância, o diretor da Abed, Stavros Xanthopoylos, é enfático: “ter preconceito com a EaD significa ‘preconceituar’ a forma pela qual a pessoa adquire
conhecimento?”, questiona. Entre os pontos positivos da metodologia, segundo ele, estão a flexibilidade de tempo, o melhor aprendizado sobre o uso das ferramentas, o incentivo à disciplina, a adaptação para trabalhos em grupo, além do fato de o aluno ler e escrever mais.
As empresas interessadas em capacitar seus empregados nos cursos a distância gratuitos oferecidos pelo SEST SENAT podem acessar o portal e conhecer os cursos disponíveis. Além das corporações, qualquer pessoa pode ter acesso aos l cursos gratuitos.
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ITL
Futuro
sobre trilhos
Instituto de Transporte e Logística oferece curso com certificação internacional para gestores do setor ferroviário; conteúdo será ministrado por instituição alemã por
CARLOS TEIXEIRA
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apacitar profissionais em novas técnicas para garantir mais produtividade, eficiência e redução de custos ao setor ferroviário de cargas e de passageiros. É com essa premissa que o ITL (Instituto de Transporte e Logística) e o SEST SENAT oferecem, a partir de dezembro, o curso Gestão de Sistemas Ferroviários e Metroferroviários no Brasil. A capacitação com certificação internacional é voltada para gestores das empresas do setor ferroviário e será ministrada pela Deutsche Bahn Rail Academy, organização do Grupo DB (Deutsche Bahn), um dos maiores operadores de transporte multimodal de cargas e de passageiros do mundo e da maior rede ferroviária da Europa, que tem sede em Berlim, na Alemanha. De acordo com o diretor-executivo do ITL, João Victor Mendes, o curso tem o objetivo de elevar o nível de capacitação dos gestores das concessionárias e operadoras ferroviárias de carga e de passageiros para padrões internacionais, possibilitando acesso a conhecimentos e aumentando a complexidade tecnológica na operação e na gestão das empresas. “Estamos oferecendo ao setor ferroviário capacitação semelhante à que já ofertamos para o setor aéreo desde 2016. Com a realização dessas ações, cumprimos os nossos objetivos de gerar conhecimento, aprimorar o
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FOTOS DEUTSCHE BAHN AG/DIVULGAÇÃO
Capacitação será ministrada pela Deutsche Bahn Rail Academy
capital humano e promover a inovação em todos os modais da atividade transportadora”. Para a diretora-executiva do SEST SENAT, Nicole Goulart, o curso consolida a atuação da instituição no setor transportador ao qualificar também gestores das empresas. “Além da parte operacional, precisamos cuidar da gestão das organizações. Nosso olhar está sempre direcio-
nado para o futuro do transporte no Brasil, por isso, tão importante quanto capacitar quem executa é capacitar quem pensa e está à frente das decisões estratégicas do setor. A parceria com uma instituição tão qualificada e dedicada especificamente ao setor ferroviário é fundamental para que isso aconteça”. O curso tem duração aproximada de 18 meses, com
encontros presenciais de cinco dias que ocorrem a cada dois meses, na sede do ITL, em Brasília (DF). A aula inaugural da primeira turma está prevista para janeiro. A carga horária total do curso é de 420 horas/aula, incluindo as atividades presenciais e as horas de estudo na ferramenta e-learning (exercício on-line), fóruns de
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discussões sobre temas de relevância e eventuais visitas técnicas. A capacitação é dividida em sete módulos: Operações ferroviárias; Sistemas ferroviários e metroferroviários; Material rodante e manutenção; Infraestrutura e manutenção; Gestão de pessoas, recursos humanos e ergonomia; Gestão e liderança; e Economia. Segundo o diretor-executivo da DB International no Brasil, Peter Mirow, a parceria com o ITL e o SEST SENAT é fundamental para o desenvolvimento dos setores ferroviário de cargas e metroferroviário de passageiros no país. “O curso possibilitará o compartilhamento de conhecimentos e as melhores práticas
internacionais de um dos operadores ferroviários mais bem reconhecidos pela sua excelência em operação e manutenção no cenário internacional”. Na visão de Mirow, as instituições têm papel fundamental no desenvolvimento dessa iniciativa porque possuem visão de futuro, uma moderna estrutura dedicada ao treinamento e um excelente relacionamento com as empresas do setor. “Acreditamos que a iniciativa é o marco inicial de uma longa parceria, que poderá ainda desenvolver diversas outras ações para atender às demandas do setor ferroviário, tão importante para o desenvolvimento do Brasil”, ressalta ele.
Podem participar do curso profissionais que ocupem cargos de gestão nas empresas do setor ferroviário associadas à ANPTrilhos (Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos) e à ANTF (Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários). O processo seletivo é realizado em três etapas: inscrição e submissão de documentos por meio do site do ITL; entrevista, em inglês; e análise da documentação, do currículo e do desempenho do candidato durante a realização de entrevista. A superintendente da ANPTrilhos, Roberta Marchesi, destaca que o curso é uma antiga demanda do setor metroferroviário, e que só pôde ser
“O curso possibilitará o compartilhamento de conhecimentos e as melhores práticas internacionais”
PETER MIROW, DIRETOR-EXECUTIVO DA DB INTERNATIONAL NO BRASIL
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ENCERRAMENTO
Primeira turma de gestores aéreos é formada O ITL e o SEST SENAT também oferecem capacitação semelhante para gestores do setor aéreo. O curso Certificação Internacional Aviation Management é ministrado pela Embry-Riddle Aeronautical University e teve a sua primeira turma formada em novembro, no campus de Daytona Beach, na Flórida, nos Estados Unidos. O curso tem como objetivo capacitar profissionais de média e alta gestão das empresas aéreas brasileiras, desenvolvendo as competências necessárias para tornar o setor mais competitivo, além de aprimorar o sistema de transporte aéreo brasileiro.
“Essa participação trouxe uma grande evolução para a minha carreira. Com o conhecimento adquirido, tenho aprimorado as atividades exercidas por mim, o que tem ampliado os resultados da empresa”, afirma Sabrina Santos, gerente de segurança da GOL e formada na primeira turma. Na visão de Fábio Campos, diretor-executivo para a América Central e do Sul da EmbryRiddle Aeronautical University, essa primeira turma mostra a importância do comprometimento dos atores envolvidos nesse processo. “Até hoje, no Brasil, não existia um curso as-
sim, focado na gestão da aviação. Esses 30 profissionais vão continuar no mercado de trabalho com um conhecimento diversificado. São eles que vão guiar o futuro do setor aéreo no Brasil.” De acordo com o presidente da Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas), Eduardo Sanovicz, a aviação é um setor que exige risco zero e conhecimentos muito específicos. Nesse cenário, os profissionais em cargos de gestão demandam acesso contínuo à inovação e às melhores práticas internacionais. “O curso contribui para
essa dinâmica, inserindo-a no dia a dia dos profissionais. A formatura dessa primeira turma tem importantes significados. Efetiva uma das missões da nossa instituição, que é contribuir para impulsionar o transporte aéreo no país. Consolida a parceria firmada entre a Abear e a CNT na área de qualificação, iniciada em 2014 com o SEST SENAT e os cursos de gestão dos transportes e ampliada em 2016 no ITL com essa formação internacional.” A segunda turma da Certificação Internacional Aviation Management já está em andamento.
concretizada por meio da iniciativa do ITL e do SEST SENAT. “Essa certificação internacional é única no Brasil e contribuirá para a formação dos profissionais das empresas ferroviárias, especialmente aqueles que têm como objetivo ocupar posições de destaque dentro do setor. Outro ponto de destaque é a parceria com o Grupo Deutsche Bahn, que ocupa posição de liderança mundial em operação metroferroviária de passageiros e de cargas e possui vasta experiência no treinamento integrado de profissionais em todo o mundo. Temos a certeza de que nossos alunos terão acesso ao que há de mais moderno em termos de conhecimento e técnica
de ensino”, destaca ela. De acordo com o diretor-executivo da ANTF, Fernando Paes, o curso atende a uma necessidade específica do setor que, segundo ele, é carente de treinamentos técnicos nesse nível. “O curso oferecido pelo ITL vai proporcionar o contato com profissionais altamente capacitados, com o background de uma entidade como a DB, que se destaca por ser a líder mundial de treinamentos em assuntos ferroviários e de mobilidade. Com essa iniciativa, o setor espera ganhos em transferência de know-how internacional e os colaboradores, por sua vez, uma certificação reconhecida l internacionalmente.”
INTERNACIONAL
CNT realiza missão na China e na Representantes da Confederação conhecem soluções tecnológicas relacionadas ao setor de transporte de cargas e de passageiros na Europa e na Ásia por
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om o objetivo de identificar tecnologias inovadoras, novos serviços e modelos de negócios para os setores de transporte e de logística, a CNT (Confederação Nacional do Transporte) realizou, entre outubro e novembro, uma missão empresarial na China e na Alemanha. Os representantes da Confederação tiveram acesso
LIVIA CEREZOLI
às novidades que estão sendo utilizadas nesses dois países e que podem ser soluções para os entraves do setor enfrentados no Brasil. Durante a missão, foram realizadas visitas às empresas que desenvolvem tecnologias aplicadas ao transporte, novas soluções de mobilidade urbana e fontes de geração de energia limpa e renovável. De acordo com o presidente
da CNT, Clésio Andrade, a presença da Confederação em países como a China e a Alemanha tem contribuído para inserir o transporte brasileiro no cenário mundial de inovação tecnológica. “Nosso objetivo é conhecer as inovações e as novas técnicas desenvolvidas no mundo que podem ser aplicadas no Brasil para aumentar a produtividade e reduzir os custos.”
Desde 2014, a Confederação mantém um escritório em Pequim, na China, e, em 2016, foi aberta a representação em Berlim, na Alemanha. Segundo o diretor para Assuntos Internacionais da CNT, Harley Andrade, os escritórios, além de contribuírem para o intercâmbio tecnológico, estimulam a atração de investidores estrangeiros para o Brasil. “Nossa missão é apresentar ao Brasil
DEUTSCHE BAHN/DIVULGAÇÃO
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empresarial Alemanha “Nosso objetivo é conhecer as inovações e as novas técnicas desenvolvidas no mundo que podem ser aplicadas no Brasil para aumentar a produtividade e reduzir os custos” CLÉSIO ANDRADE, PRESIDENTE DA CNT
o que está sendo realizado no mundo de mais inovador, mas também apresentar o Brasil ao mundo como um país com potencial para receber investimentos em infraestrutura de transporte.” A China tem desenvolvido e incentivado a produção de veículos movidos a energia elétrica, como um fator de redução da poluição nos grandes centros urbanos e de diminuição da dependência de combustíveis fósseis. Durante a missão da CNT, foram conhecidas as experiências de empresas como a Yunwai Automotive, fabricante de veículos elétricos; a Evokee Eletric Motorcycles, fabricante de motocicletas elétricas; a TUS-
Clean Energy e a Haier Energy, focadas em matrizes de geração de energia limpa para redução do consumo de combustíveis fósseis; e a Bluegogo, que atua no aluguel de bicicletas. Para Luiz Vidal, diretor do escritório da CNT na China, o maior valor de missões como essa realizada pela CNT é explorar como outros países têm desenvolvido sua infraestrutura e quais tecnologias poderiam ser adaptadas para a realidade do Brasil e no seu planejamento de futuro. “Assim como o Brasil, a China também é um país de grande extensão territorial e em desenvolvimento, o que torna rico o intercâmbio não só de
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conhecimento, mas também de experiências.” Na Alemanha, as visitas também foram focadas em empresas que atuam no desenvolvimento de veículos elétricos e geração de energia limpa, como a Hubject, a MINT Engineering e a Bax Energy. Os representantes da CNT também puderam conhecer a EUREF, um campus de inovação e tecnologia onde várias empresas estão alocadas visando desenvolver novas tecnologias, startups que desenvolvem soluções tecnológicas para o setor de transporte; a Deutsche Bahn Engineering & Consulting, maior operador de ferrovias e infraestrutura ferroviária da Alemanha; e a Deutsche Bahn Academy, instituição que firmou parceria com o ITL (Instituto de Transporte e Logística) e o SEST SENAT para oferecer curso de especialização para gestores do setor ferroviário (leia mais sobre a parceria na página 70). Na visão do diretor do escritório da CNT na Alemanha, Thiago Ramos, visitas como essa são essenciais para que se desenvolva uma visão globalizada do transporte. “O Brasil ainda tem muito o que aprender com a Alemanha. Enquanto no Brasil ainda estamos muito dependentes das questões de investimentos em infraestrutura, na Alemanha, os novos serviços, produtos e modelos de negócios mostram que transporte não é só infraestrutura. Muitas melhorias se conseguem utilizando os recursos disponíveis de forma l inteligente”, destaca ele.
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50 años de FADEEAC: un camino transcurrido, un futuro de desafíos
50 anos de FADEEAC: um caminho percorrido, um futuro de desafios A Câmara Interamericana de Transportes – CIT, congratula a FADEEAC - Federação Argentina de Entidades Empresarias de Autotransporte de Cargas, entidade filiada, pelas suas cinco décadas de trabalho e compromisso com o setor de transportes. Fundada em 5 de dezembro de 1967, sob o comando de Rogelio Cavalieri Iribarne, surgiu para unir as demandas e objetivos do setor em toda Argentina, bem como o de assessorar os empresários no desenvolvimento de suas atividades. Atualmente representada pelo presidente Daniel R. Indart, a FADEEAC consolidou-se como referência no setor empresarial e incorporou sua vocação para o treinamento de motoristas através da criação da Fundação Profissional para o Transporte, fundada em 1992. A FADEEAC renova ano após ano seu compromisso de estar ao lado daqueles que geram emprego e permitem que o transporte de cargas funcione como um elo fundamental na economia, garantindo que os produtos e insumos básicos alcancem todas as famílias argentinas. Para isso, dedica-se a estudar a composição dos custos do setor para transmitir, através de campanhas de comunicação nacionais, que o frete não é responsável pelos preços finais pagos na gôndola. Também está em sintonia com os tempos: propõe, através do seu programa “Rango Verde”, treinamento para que o transporte assuma uma visão sustentável.
La Cámara Interamericana de Transportes – CIT, congratula a la FADEEAC - Federación Argentina de Entidades Empresarias del Autotransporte de Cargas, entidad afiliada, por sus cinco décadas de trabajo y compromiso con el sector de transportes. Fundada el 5 de diciembre de 1967, comandada por Rogelio Cavalieri Iribarne para cohesionar las demandas y los objetivos del sector en toda Argentina. Actualmente representada por su presidente Daniel R. Indart, FADEEAC se consolidó como referencia en el sector empresarial e incorporó su vocación por la formación de choferes mediante la creación de la Fundación Profesional para el Transporte en 1992. La FADEEAC renueva año tras año su compromiso de estar del lado de quienes generan empleo y permiten que el transporte de cargas funcione como eslabón fundamental de la economía, al garantizar que los productos y bienes básicos lleguen a todas las familias argentinas. Para ello, se dedica a estudiar la composición de los costos del sector para transmitir, mediante campañas de comunicación nacionales, que el flete no es responsable de los precios finales abonados en góndola. También está a ritmo con los tiempos: propone, a partir de su programa Rango Verde, capacitación para que el transporte asuma una mirada sustentable.
Rogelio Cavalieri Iribarne, fundador da FADEEAC, foi homenageado com a medalha OMITrans durante a XXIV Assembleia Ordinária da CIT em Buenos Aires, novembro de 2015 (arquivo da CIT) Rogelio Cavalieri Iribarne, fundador de la FADEEAC, fue galardonado con la medalla OMITrans durante la XXIV Asamblea Ordinaria de la CIT en Buenos Aires, noviembre de 2015 (archivo de la CIT)
CIT/DIVULGAÇÃO
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LUCAS ARALDI/JORNAL SEMANÁRIO
FECAM homenageia Secretário-geral da CIT
FECAM galardona al Secretario general de la CIT
Paulo Vicente Caleffi, Secretário-Geral da Câmara Interamericana de Transportes (CIT), foi homenageado com o Diploma “Amigo do Caminhoneiro”, durante o 1º Encontro Estadual de Caminhoneiros no Rio Grande do Sul, pela Federação dos Caminhoneiros Autônomos do Rio Grande do Sul (FECAM-RS), no dia 21 de outubro de 2017, no município de Esteio/RS. Na ocasião, a FECAM, entidade filiada à CIT desde 2016, comemorava seu 22º aniversário.
Paulo Vicente Caleffi, Secretario General de la Cámara Interamericana de Transportes (CIT), fue galardonado con el Diploma “Amigo del Camionero”, durante el 1º Encuentro Estadual de Camioneros de Rio Grande del Sur, por la Federación de Camioneros Autónomos de Rio Grande del Sur (FECAM-RS), el día 21 de octubre de 2017, en el Municipio de Esteio/RS. En la oportunidad, la FECAM, entidad filiada a la CIT desde 2016, celebraba su 22º aniversario.
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PROF. DR. MARCELO AUGUSTO DE FELIPPES Os algoritmos estão trazendo um novo mundo aos transportadores. Em alguns casos, novas concorrências. Exemplos como Uber, Cabify, entre outros, retratam uma tendência de uma comunicação digital irreversível. Se procurarmos o conceito de algoritmo, podemos encontrar como um conjunto de passos que deve ser seguido para obter o resultado esperado. Uma programação de toda e qualquer tecnologia se dá por um algoritmo, pois toda linguagem de programação é um algoritmo. O algoritmo PageRank do Google tornou-se hegemônico por muitos anos para programações de buscas, mas nada é eterno. Na atualidade, o Google corresponde à 66,7% do comércio por busca nos Estados Unidos, seguido pela Microsoft (18,1%), o Yahoo (11,2%), o Ask (2,6%) e a AOL (1,4%), mas outros mecanismos de buscas estão surgindo e talvez o alcancem algum dia. Um outro exemplo é a ferramenta chamada Economizator, no mercado desde 2011, que proporciona ao próprio consumidor gerar descontos por meio de ferramenta acessada com exclusividade pelos seus seguidores no Facebook, que envia um código da mercadoria e recebe automaticamente um link com o desconto. Junto com os descontos, seguem uma
Los algoritmos están trayendo un nuevo mundo a los transportistas. En algunos casos, nuevas competencias. Ejemplos como Uber, Cabify, entre otros, retratan una tendencia de una comunicación digital irreversible. Si buscamos el concepto de algoritmo, podemos encontrar como un conjunto de pasos que debe ser seguido para obtener el resultado esperado. Una programación de cualquier tecnología se da por un algoritmo, pues todo lenguaje de programación es un algoritmo. El algoritmo PageRank de Google se ha convertido en hegemónico durante muchos años para los programas de búsqueda, pero nada es eterno. En la actualidad, Google corresponde a 66,7% del comercio mediante la búsqueda en los Estados Unidos, seguido de Microsoft (18,1%), Yahoo (11,2%), el Ask (2,6%) y AOL (1,4%), pero otros mecanismos de búsqueda están surgiendo y tal vez lo alcancen algún día. Un otro ejemplo es la herramienta denominada Economizator, en el mercado desde 2011, que proporciona al propio consumidor generar descuentos por medio de herramienta accesada con exclusividad por sus seguidores en Facebook, la cual envía un código de la mercancía y recibe automáticamente un enlace con el descuento. Junto con los descuentos, siguen una gama de informaciones digi-
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gama de informações digitais estruturadas de acordo com o perfil do comprador. Essas comunicações digitais são infinitamente superiores a qualquer outro tipo de comunicação tradicional já conhecida e é parte integrante do novo Marketing Digital. Assim, nós transportadores, não vemos o que os algoritmos estão fazendo, mas seguramente um agente oculto está programando e conduzindo-os aos interesses de alguém. Comunicação digital invisível e envolvente entra no nosso dia a dia sem pedir permissão. O seu imediatismo é facilitado pela internet, com retornos quase instantâneos. Os custos são muito mais baixos, com repercussões extraordinárias. Os próprios clientes propagam a satisfação pelas redes, o que atrai novos públicos. Diversas ferramentas da comunicação digital podem realizar estatísticas, controles, etc, tudo imediatamente após a cada ocorrência. Comunicação Digital é o último estágio do Marketing Digital. A comunicação serve ao propósito de expor ao consumidor o interesse da empresa em vender o produto ou serviço. Portanto, os transportadores não devem concorrer com os algoritmos, mas associarem-se a eles, ampliando, assim, as infinitas possibilidades de fazer o seu negócio gerar maiores e melhores retornos.
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tales estructuradas de acuerdo con el perfil del comprador. Estas comunicaciones digitales son infinitamente superiores a cualquier otro tipo de comunicación tradicional ya conocida y es parte integrante del nuevo Marketing Digital. Así, los transportistas, no vemos lo que los algoritmos están haciendo, pero seguramente un agente oculto está programando y conduciéndolos a los intereses de alguien. La comunicación digital invisible y envolvente entra en nuestro día a día sin pedir permiso. Su inmediatez es facilitada por Internet, con retornos casi instantáneos. Los costos son mucho más bajos, con repercusiones extraordinarias. Los propios clientes propagan la satisfacción por las redes, lo que atrae nuevos públicos. Diversas herramientas de la comunicación digital pueden realizar estadísticas, controles, etc, todo inmediatamente después de cada ocurrencia. La comunicación digital es la última etapa del Marketing Digital. La comunicación se refiere al propósito de exponer al consumidor el interés de la empresa en vender el producto o servicio. Por lo tanto, los transportistas no deben competir con los algoritmos, sino que deben asociarse a ellos, ampliando así las infinitas posibilidades de hacer su negocio generar mayores y mejores retornos.
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Biocombustíveis e o cumprimento das metas do Acordo de Paris
Incentivo aos biocombustíveis: inovação em nome da vida ERASMO BATTISTELLA
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ERASMO CARLOS BATTISTELLA Presidente da Aprobio (Associação dos Produtores de Biodiesel do Brasil)
Brasil se comprometeu na COP 21, a Conferência do Clima das Nações Unidas, realizada em Paris em 2015, a reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 43% até 2030, com uma meta intermediária de 37% em 2025. Em volume absoluto, segundo a PNMC (Política Nacional sobre Mudança do Clima), que oficializou o compromisso, a redução estimada será de 3,236 gigatoneladas de gás carbônico equivalente (GtCO2-eq), ainda em 2020. Mas para a questão ambiental ter de fato o enfoque da economia verde, ela precisa estar na pauta nacional de desenvolvimento, indústria e comércio, muito além de ministérios e órgãos de licenciamento ambiental. A transição da economia baseada no consumo de energia fóssil para a de baixo carbono se dá com investimentos privados em inovação tecnológica e políticas públicas que lhe propiciem escala industrial e comercial. O modelo revela possibilidades e comprometimentos de cada setor
na exploração sustentada que preserve e assegure a renovação dos recursos naturais. O país não conseguirá cumprir o compromisso assumido com a comunidade internacional de redução das emissões sem as fontes renováveis de energia. A proposta apresentada em Paris cita o incremento de etanol e biodiesel na matriz energética veicular. No ano passado, o Ministério das Minas e Energia criou o RenovaBio, programa de incentivo ao uso de biocombustíveis até 2030 a fim de contribuir para o cumprimento das metas, com o apoio de todo o setor produtivo. O país da matriz energética mais limpa do mundo não pode deixar de inovar nessa direção. Já o fizemos com o etanol e, pouco a pouco, estamos introduzindo alternativas, como a energia eólica, que hoje já responde por 7% da geração elétrica, e a solar, com muito a crescer. O biodiesel gira ao redor de 1% da matriz energética, mas já move 4% da frota de veículos e inova em matéria de tecnologia. Vendido na pro-
porção de 8% por litro do óleo diesel, seus benefícios estão em várias áreas. Na econômica, com a geração de 113% mais empregos que o refino do derivado de petróleo, conforme estudo da Fipe/USP. Na social, com a inclusão de milhares de famílias de pequenos agricultores na cadeia produtiva, com fornecimento de matérias-primas. No ano passado, as vendas chegaram a R$ 4,27 bilhões, de acordo com a Secretaria Especial de Agricultura e do Desenvolvimento Agrário. É o maior programa de transferência de renda para o homem do campo. E na ambiental, estudo do Instituto Saúde e Sustentabilidade em seis capitais brasileiras mostra que o aumento progressivo do uso do biodiesel pode evitar 51.188 internações hospitalares por problemas respiratórios e salvar quase 9.000 vidas até 2025, uma economia de mais de R$ 2 bilhões para os sistemas municipais e estaduais de saúde pública. Não se trata apenas de preservar o meio ambiente, mas de fazê-lo para preservar a vida.
Biocombustíveis: as contradições da política pública brasileira JORGE MADEIRA NOGUEIRA
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ouco mais de quadro décadas de políticas e de regulações brasileiras relacionadas a biocombustíveis não eliminaram desafios técnicos e econômicos para o melhor aproveitamento das oportunidades que se colocam ao país. Entre essas, o potencial dos biocombustíveis no combate aos desafios causados pelas mudanças climáticas foi incorporado como objetivo de políticas públicas do Brasil. Em novembro, o país foi agraciado com o “Troféu Fóssil do Dia” durante a Conferência das Partes (COP-23) em Bonn. A premiação às avessas é concedida pela rede de organizações não-governamentais CAN (Climate Action Network) aos países que mais atrapalham as negociações climáticas internacionais. O motivo: a chamada MP do trilhão, enviada pelo presidente Michel Temer ao Congresso. A proposta, que tem prazo para ser votada até 15 de dezembro, amplia uma série de isenções fiscais a empresas de petróleo que explorem o pré-sal. O total de subsídio pode chegar a US$ 300 bilhões. Para tornar a participação brasileira na COP 23 ainda mais
esdrúxula, o ministro do Meio Ambiente apresentou o Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa e prometeu estabelecer uma nova política nacional de biocombustíveis, o RenovaBio. Esses seriam os dois pilares do despertar da ação climática no governo brasileiro, ação essa adormecida apesar do expresso em nossa Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC na sigla em inglês): reduzir as emissões de gases do efeito estufa em 37% até 2025 (em relação aos níveis de 2005), podendo chegar a 43% até 2030. Esse é um claro exemplo de incoerência e inconsistência, com efeitos nefastos sobre o andamento das intervenções públicas. Qual a escolha estratégica? Aquela de incentivar a exploração de petróleo no pré-sal por meio de expressivas isenções fiscais ou aquela desenhada em uma nova política nacional de biocombustíveis? Há uma significativa possibilidade de que a implementação de uma inviabilize a outra. O RenovaBio é, sem dúvida, ambicioso. Para o aumento da participação dos biocombustíveis é fundamental sua competitividade frente aos análogos fósseis. O pro-
grama não contrapõe biocombustíveis aos combustíveis de origem fóssil, mas estimula - pelo menos nas intenções - a meritocracia na produção de biocombustíveis, premiando a crescente eficiência na produção e no uso. Nesse sentido, é relevante uma avaliação técnico-econômica de todas as etapas da cadeia produtiva de biocombustíveis para identificar as principais ações para a redução de custos de produção e dos preços finais dos biocombustíveis. Redução de custos de produção requer avanços científicos e tecnológicos nos diversos elos da cadeia produtiva dos diferentes biocombustíveis. Isso significa ações planejadas em horizontes temporais longos. Essas ações são, contudo, afetadas por decisões de curto prazo, entre as quais destacam-se as relacionadas com preços administrados pelo governo. A história recente brasileira, ao longo dos últimos oito anos, evidencia uma certa irresponsabilidade com a gestão desses preços. Será um desafio convencer o setor produtivo que ações de longo prazo serão mantidas e que populismos de curto prazo serão evitados em uma nova política brasileira de biocombustíveis.
JORGE MADEIRA NOGUEIRA Professor titular em Economia Ambiental do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (ECO/UnB)
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ALEXANDRE GARCIA
Indústria da multa
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Conselho Nacional de Trânsito, regulamentando a lei, acaba de estabelecer mais severidade na punição aos motoristas que tiverem chegado aos 20 pontos na carteira em um ano. A suspensão mínima da licença para dirigir autoveículos será de seis meses, e não mais de 30 dias. E vai até dois anos. À medida que vão crescendo os acidentes e as barbaridades no trânsito, vai aumentando a severidade da lei. Tenho ouvido motoristas reagindo a isso, argumentando que é preciso primeiro educar, para depois punir. Ora, me engana que eu gosto. Educar é no curso para motoristas. Mas instrutores têm me contado que muitos dos futuros motoristas não têm o menor interesse pelas aulas ou por educação para o trânsito. Estão interessados na concessão que o Estado lhes dá para dirigir. Então, a maneira de educar é cobrando multas e punindo com a pontuação na carteira. Punir é a única forma de educar quem não está disposto a ser civilizado no asfalto. Há motoristas que argumentam haver uma indústria de multas. Para esses, respondo: “Vocês têm o poder de acabar com essa indústria. Basta educar o pé direito, não fazer ultrapassagem não permitida, não estacionar em locais proibidos, não passar no sinal vermelho, segurar o volante com as duas mãos, não se preocupar com o celular enquanto dirige,
não dirigir se beber”. Pronto! Está terminada a indústria da multa. O principal industrial desse produto é o infrator. Sim, há o achaque, a propina, a mordida. Para esses, deve haver a denúncia. Afinal, é a Constituição que estabelece que todos somos responsáveis pela segurança pública. Denuncie nas redes sociais, fotografe, filme a ação de eventuais policiais corruptos! Assim, estarão prestando um serviço às suas próprias corporações, que se envergonham dessa banda podre. As corregedorias das polícias rodoviárias precisam se livrar dessas podridões que tantos caminhoneiros conhecem – e têm até o mapa de onde isso mais acontece. Além disso, propina não vai para a melhoria da sinalização e para a engenharia de tráfego; as multas, legalmente, têm que ir. A propósito, a lei diz que a Cide vai também para a infraestrutura de transportes. Mas há cada vez menos verba orçamentária para isso. A última pesquisa da CNT sobre a condição das rodovias mostra que a situação continua a piorar, pela falta de investimentos. Como é pelas rodovias que circula a riqueza do país, não investir nelas é criar prejuízos e criar prejuízos é diminuir a arrecadação. Então, fazer cortes nesses investimentos é um círculo vicioso. Investir em rodovias não é despesa, é investimento. E não é supérfluo, como tantas e tantas despesas do poder público.
Inspirados no sentimento renovador do Natal, desejamos um novo ano repleto de saĂşde e prosperidade. Que em 2018 possamos desempenhar mais uma vez um trabalho de excelĂŞncia para o setor de transporte.