EDIÇÃO INFORMATIVA DA CNT
ANO XXIII NÚMERO 267 FEV 2018
NO COMANDO Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, Revista CNT mostra presença feminina no transporte ENTREVISTA: Roberto Leoncini, da Mercedes-Benz, e José Ricardo Alouche, da MAN, falam do mercado
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Transformar vidas, essa é a nossa missão.
O SEST SENAT tem como missão fazer a diferença na vida de milhares de trabalhadores do transporte. Completar 25 anos nos faz pensar no futuro e na vontade de estarmos cada vez mais próximos desses profissionais que movimentam o nosso país. Por isso, estamos em processo de modernização da infraestrutura das Unidades Operacionais, a fim de inovar as atividades e qualificar ainda mais os atendimentos. Estamos presentes em todas as regiões do Brasil, então conte com a gente onde quer que você esteja.
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CNT TRANSPORTE ATUAL
FEV 2018
REPORTAGEM DE CAPA Revista CNT Transporte Atual mostra a presença feminina no setor de transporte a partir de histórias marcantes. Participação ainda é baixa (17%), mas procura por qualificação na área tem aumentado Página 20
T R A N S P O R T E A T U A L ANO XXIII | NÚMERO 267 | FEV 2018 ENTREVISTA
Representantes da MAN e da Mercedes-Benz comentam sobre o mercado de veículos no Brasil página
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eSOCIAL
Empresas devem aderir ao novo sistema de envio de informações página
NO COMANDO CAPA MOSAICO CNT
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MEDALHA JK • CNT entrega Ordem do Mérito do Transporte a 15 personalidades página
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AÉREO
Movimentação de passageiros registra altas consecutivas após crise
EDIÇÃO INFORMATIVA DA CNT FALE COM A REDAÇÃO (61) 3315-7000 SAUS, Quadra 1 - Bloco J - entradas 10 e 20 Edifício CNT • 10º andar CEP 70070-010 • Brasília (DF)
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edição
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Cynthia Castro - MTB 06303/MG Livia Cerezoli - MTB 42700/SP diagramação
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Débora Shimoda
Publicação da CNT (Confederação Nacional do Transporte), registrada no Cartório do
revisão
1º Ofício de Registro Civil das Pessoas Jurídicas do Distrito Federal sob o número 053.
Filipe Linhares
Tiragem: 60 mil exemplares
Os conceitos emitidos nos artigos assinados não refletem necessariamente a opinião da CNT Transporte Atual
página
FERROVIÁRIO
Tecnologia do monotrilho está sendo implantada em São Paulo página
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CNT TRANSPORTE ATUAL
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AGÊNCIA CNT DE NOTÍCIAS: INFORMAÇÕES RELEVANTES PARA O TRANSPORTE RODOVIÁRIO
Doenças e uso de medicamentos podem oferecer riscos no trânsito página
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AQUAVIÁRIO
Segurança no transporte de cargas é desafio na região Amazônica página
56 SEST SENAT
Escola de Motoristas Profissionais amplia oferta de vagas página
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PASSAGEIROS
Campanha vai combater o abuso sexual no transporte coletivo página
O setor cada vez mais conectado.
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Seções
Atendimentos do SEST SENAT têm mais de 90% de aprovação
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Editorial
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Mais Transporte
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ITL
Boas Práticas
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CIT
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Tema do mês
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Alexandre Garcia
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Começa a primeira turma da certificação internacional para o setor ferroviário
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“Realizar fortes investimentos em infraestrutura. Esse deve ser o compromisso de 2018 e dos próximos anos” EDITORIAL
CLÉSIO ANDRADE
Aceleração do crescimento depende de infraestrutura
A
economia brasileira voltou para os trilhos. Os sinais de recuperação percebidos no final do ano passado ganharam consistência, confirmando a tendência de aceleração do crescimento nos próximos meses. As projeções do Banco Central indicam que a economia deverá crescer em torno de 2,8% em 2018 e será impulsionada pelo consumo das famílias, pela agricultura e pelo investimento, que irá aumentar depois de quatro anos de quedas consecutivas. Esse é um cenário promissor para o setor de transporte, que vem demandando fortes investimentos em infraestrutura como estratégia de crescimento econômico acelerado e sustentável. O Brasil precisa tirar 40 anos de atraso em infraestrutura de transporte e logística para destravar a roda do desenvolvimento. A modernização e a construção de novas estradas, a expansão dos portos e aeroportos, novas ferrovias e hidrovias são a melhor estratégia para dar impulso à economia e promover um ciclo de desenvolvimento de longo prazo. Obras de infraestrutura estimulam o desenvolvendo regional, movimentam toda a indústria de construção, geram renda e favorecem a criação de empregos. A infraestrutura garante a base de expansão de todas as atividades produtivas, do agronegócio à indústria e ao serviço, elevando a produtividade e a competitividade das empresas no mercado internacional. Mas como realizar fortes investimentos em infraestrutura, com a rapidez e a abrangência de que o país necessita, se os recursos públicos são cada vez mais restritos e escassos?
Para realizar um volume tão grande de investimentos, o Brasil precisará contar com a participação da iniciativa privada nacional e estrangeira. Mas, para isso, será necessário recuperar a imagem do país no mercado internacional a partir do fortalecimento do ambiente de negócios, que precisa oferecer segurança jurídica e condições atraentes para os investidores. As bases desse novo ambiente já estão assentadas. O teto de gastos públicos, a Reforma Trabalhista, a Reforma do Ensino Médio e a terceirização da mão de obra foram grandes avanços. Agora, governo e Congresso Nacional devem prosseguir com a modernização do Estado, concluindo as reformas estruturais para que as contas públicas sejam reequilibradas e o poder público possa voltar a investir em infraestrutura. É hora de aproveitar as oportunidades que estão surgindo e pisar no acelerador. O cenário econômico é bom, mas ainda há muito a se fazer para que o Brasil possa recuperar sua posição entre os mercados mais promissores do mundo. Realizar fortes investimentos em infraestrutura. Esse deve ser o compromisso de 2018 e dos próximos anos. É com uma base ampla e diversificada de infraestrutura de transporte e logística que o Brasil conseguirá ampliar a produtividade e a competitividade das empresas, criar empregos e promover o desenvolvimento regional. Essa é a meta que o país deve perseguir como forma de retomar o desenvolvimento sustentável e superar os atrasos e as desigualdades para garantir distribuição de renda e qualidade de vida para todos.
ENTREVISTA
Pesados em
expansão por DIEGO
O
s representantes do mercado de caminhão e ônibus estão otimistas com o cenário brasileiro. Com a expansão acima da esperada nas vendas do último trimestre de 2017, as projeções de crescimento no mercado de pesados para 2018 variam de 20% a 30%. Líderes em vendas de ônibus e caminhões no ano passado, a Mercedes-Benz e a MAN/Volkswagen estão incrementando suas linhas de produção para lidar com a nova perspectiva mercadológica. Em entrevista à revista CNT Transporte Atual, José Ricardo Alouche, vice-presidente de vendas, marketing e pós-vendas da MAN/ Volkswagen, e Roberto Leoncini, vice-presidente de vendas, marketing e peças & serviços da Mercedes-Benz do Brasil, citam a necessidade de renovação da
frota e a melhoria da economia como os principais fatores que impulsionarão as vendas neste ano. Confira os principais trechos das conversas com os executivos. O desempenho dos negócios de veículos pesados em 2017 foi uma surpresa para o setor? A que se deve essa recuperação? Afinal, a crise, na indústria automobilística, ficou para trás? José Ricardo Alouche - O desempenho dos negócios em 2017 era esperado, mas, na verdade, não teve uma expansão tão acima do previsto se considerarmos os 12 meses. No ano inteiro, o crescimento foi tímido em relação a 2016. O último trimestre do ano passado, contudo, foi bastante emblemático. Nós crescemos no emplacamento diário, se compararmos janeiro com dezembro de 2017, na casa
GOMES
de 150%. Isso mostra realmente que o setor começou a ter recuperação. Parte dela se deve a mais uma safra de grãos recorde. Quando a gente considera somente o setor de caminhões, embora tenha sido um ano relativamente bom em relação a 2016, nota-se que ainda houve queda em 2017. Então, quando se analisa o mercado total, ele apontou um crescimento, embora tímido, mas já reverteu a curva de queda. Roberto Leoncini - As renovações de frota estão movimentando o mercado de caminhões no Brasil. Notamos isso especialmente em setores como agronegócio, logística, transporte de combustíveis e químicos, mineração e madeira. As licitações no transporte escolar e as renovações de frota nos segmentos urbano e
rodoviário puxam as vendas de ônibus. Há claros sinais de retomada gradual da economia, e isso gera uma expectativa muito positiva no mercado de veículos comerciais. Diante desse cenário de retomada do crescimento econômico, o que esperar de 2018 no âmbito dos pesados? Quais as projeções para ônibus e caminhões? Alouche - Este ano deverá ter um crescimento acima de dois dígitos. Se o PIB cresce, existem mais mercadorias circulando no país, portanto, a produção também cresce. Precisa-se então de caminhões para transportar os produtos e, naturalmente, também são necessários ônibus para levar as pessoas ao trabalho. Esse é um raciocínio bastante simplório, mas mostra que há
MAN/DIVULGAÇÃO
JOSÉ RICARDO ALOUCHE VICE-PRESIDENTE DE VENDAS, MARKETING E PÓS-VENDAS DA MAN/VOLKSWAGEN uma aderência entre as duas coisas e, por conta disso também, a gente acha que o mercado terá essa recuperação em 2018. O setor de ônibus, que teve sérias dificuldades nos últimos anos por causa da falta de reajuste de tarifas, será fortemente aquecido. Além da necessidade de renovação da frota, as licitações de governos estaduais e federal, como as do programa "Caminhos da Escola", contribuirão para um volume comercializado superior ao do ano passado. Leoncini - Projetamos um crescimento de 30% nas vendas de caminhões no Brasil, em 2018. Para os negócios de ônibus, prevemos um aumento de 15%.
MERCEDES-BENZ/DIVULGAÇÃO
ROBERTO LEONCINI VICE-PRESIDENTE DE VENDAS, MARKETING E PEÇAS & SERVIÇOS, CAMINHÕES E ÔNIBUS DA MERCEDES-BENZ DO BRASIL
Alouche – A situação de instabilidade política, gerada nos últimos anos, afetou fortemente o nosso segmento. Agora, querendo ou não, o empresário está sendo obrigado a renovar a frota para proteger o patrimônio e os contratos, independentemente de qualquer situação política, salvo se houver alguma mudança dramática, seja para a direita ou para a esquerda, que sinalize uma interferência drástica na economia. O segmento de ônibus é fortemente impactado quando das eleições municipais, o que não é o caso deste ano. Leoncini - O mercado brasileiro está em ritmo de crescimento. Vamos apostar nos resultados positivos que temos observado De que maneira as indefinições no segmento de veículos comerno cenário político, sobretudo ciais nos últimos meses. Com por estarmos em ano eleitoral, essa situação atual, esperamos que o próximo presidente do país podem afetar o mercado?
mantenha o ritmo de recuperação da economia brasileira: inflação e juros controlados e maior disponibilidade de crédito no mercado. Com a melhora nas expectativas do mercado, já há um esquema para ampliar a produção no país? O que a montadora reserva de novidade para este ano em relação a caminhões e ônibus? Alouche - Estamos trabalhando para ampliar a produção. Em termos efetivos, na nossa linha de produção em Resende (RJ), para se ter uma ideia, chegamos a produzir, até o ano passado, em apenas quatro dias por semana e num turno, com capacidade reduzidíssima. Diante das perspectivas de melhoria do mercado, já voltamos a trabalhar cinco dias por semana,
ainda em um turno, mas, agora, um turno cheio, incluindo horas extras. Na questão específica do agronegócio, entendemos que o mercado continuará crescendo de forma bastante substancial, especialmente no primeiro trimestre deste ano. Deverá haver um incremento significativo no segmento de extrapesados. Estamos entrando num novo segmento de caminhões leves abaixo de 5 toneladas (ou um veículo de 3,5 toneladas), que é o novo Delivery Express. Já vendemos mais de 1.200 unidades de outubro para cá. Leoncini - Com o aumento da demanda do mercado, a Mercedes-Benz está contratando cerca de 350 colaboradores para as fábricas de São Bernardo do Campo (SP) e Juiz de Fora (MG). Com relação a novidades, a empresa renovou toda a linha de caminhões. São mais de 30 novos recursos de tecnologia, conforto, segurança, desempenho e economia para as famílias Accelo, Atego, Axor e Actros. Cada linha de caminhão traz novidades derivadas dos pedidos dos clientes. Para o segmento de ônibus, introduzimos novas tecnologias, como o sistema de desligamento automático do motor e o módulo de recuperação de energia elétrica. Atendemos a todas as demandas dos sistemas de transporte coletivo urbano, como corredores, faixas exclusivas e BRT. A crise econômica, de alguma forma, modificou o perfil dos consumidores brasileiros?
MERCEDES-BENZ/DIVULGAÇÃO
Mercedes-Benz projeta alta de 15% nas vendas de ônibus
Alouche - Não houve, de fato, uma mudança de segmentação no mercado. O que houve, porém, foi um crescimento do extrapesado, uma vez que todos os outros segmentos estavam caindo e a agricultura impulsionou esse segmento, com crescimento de oito pontos percentuais. No caso do perfil do consumidor, o que modificou foi que, hoje, ele se preocupa muito mais com o custo de operação do veículo do que há alguns anos. Leoncini - O desenvolvimento dos sistemas de transporte de carga e logística independe da crise econômica. O foco em maior eficiência, otimização e redução
de custos operacionais é permanente e envolve todos os agentes do processo. A Mercedes-Benz, como fornecedora de veículos comerciais, oferece modelos cada vez mais econômicos e rentáveis, como também uma série de serviços que ajudam o cliente a obter um menor custo operacional nas atividades de transporte. Mesmo enfrentando uma das mais rigorosas recessões econômicas, as exportações se mantiveram em alta, contribuindo para equilibrar a balança. Quais são os nossos principais mercados consumidores? E o que tem chamado atenção
deles no mercado brasileiro? Alouche - O produto brasileiro foi desenvolvido com uma robustez necessária para atuar num país que tem situações de rodovias diversas, sem gerar um custo extraordinário. As indústrias que aqui estão aprenderam a desenvolver esse produto num custo relativamente adequado para o cliente brasileiro. Assim, esse produto tem elevada competitividade em mercados semelhantes ao brasileiro, como Argentina, México e Chile. Esses países também estão em processo de recuperação econômica, o que impulsiona as nossas exportações. Leoncini – Somos a maior exportadora de veículos comerciais do Brasil e, em 2017, tivemos aumento de 11% nas vendas de caminhões e ônibus para o mercado externo. Entre os principais destinos dos veículos da marca, destacam-se a Argentina e o Chile. A representação da exportação na produção saltou de 10% em 2014 para 40% em 2017. Podemos afirmar que os veículos brasileiros são mais caros? Até que ponto a carga tributária e problemas relacionados à regulação comprometem a competitividade do país? Alouche - Eu não diria que os veículos brasileiros são mais caros, mas, sem dúvida alguma, a carga tributária os torna menos competitivos. Se otimizássemos os tributos, especialmente no nosso setor, poderíamos fornecer veículos muito mais em conta. Em
termos gerais, daria para levar mais competitividade para esse cliente que usa o caminhão ou ônibus e, consequentemente, eles poderiam custar menos. É claro que não é simplesmente o país abrir mão de tributos. Além disso, a frota brasileira tem 17 anos de idade média. Se o impacto dos tributos nos caminhões fosse menor, certamente o preço poderia ser menor, o que facilitaria um programa de renovação de frota, algo altamente necessário. O país tem registrado aumentos sucessivos nas ocorrências de roubos de carga. A indústria, de alguma forma, está atenta a essa problemática? No desenvolvimento das tecnologias embarcadas, é possível pensar soluções à luz dessa realidade? Alouche - É justamente nesse ponto que o nosso país vai ter um desenvolvimento muito rápido e expressivo nos próximos anos. Não só no rastreamento da carga em si, mas também do próprio veículo. As montadoras estão trabalhando ativamente nessa questão. Existem determinados tipos de operação, como caminhões blindados e com segurança particular, que são inviáveis para a maioria das empresas. Nesse contexto, a MAN tem investido no rastreamento do veículo atrelado ao rastreamento da carga, quando o cliente assim necessita. Leoncini - Para garantir ainda mais segurança no transporte de cargas, a Mercedes-Benz disponi-
MAN/DIVULGAÇÃO
biliza aos clientes o sistema completo de telemetria Fleetboard, que atua como rastreador e bloqueio remoto do veículo. O principal diferencial dessa tecnologia é que, por ser desenvolvido junto ao veículo, caso o sistema seja violado, o modelo é bloqueado instantaneamente. No caso dos ônibus, segundo a NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos), nos últimos 13 anos, foram mais de 2.000 veículos incendiados, contabilizando aproximadamente R$ 1,3 bilhão em custos ao setor. Como as montadoras veem esse quadro? Hoje em dia, já são implementados produtos com menor potencial inflamatório? Alouche - Essa é uma questão mais complexa do que a da segurança do veículo ou a da carga, porque tem o elemento do imponderável. A MAN tem investido bastante na tecnologia do rastreamento do veículo e na adequação à rota. Mas é muito difícil a montadora e as empresas complementarem uma ação de segurança contra, por exemplo, um indivíduo que entra no veículo munido de coquetel Molotov e coloca fogo lá. Por mais blindado que seja o ônibus, nele, existem combustível, parte elétrica, peças inflamáveis, plástico e tudo mais que não tem como controlar. É claro que chama atenção da indústria, tanto das montadoras de chassi quanto das encarroçadoras, desenvolver novos materiais
e novas alternativas de componentes a fim de minimizar o problema, mas não para evitá-lo. Leoncini - Sobre esse tema, em 2015, a Mercedes-Benz lançou a campanha “Eu uso, eu cuido” nas redes sociais, com o objetivo de motivar o usuário a se sentir coproprietário do ônibus, além de disseminar na sociedade os efeitos prejudiciais à população com a queima de ônibus, que tira o veículo de circulação nas cidades. Essa é uma triste realidade que provoca não apenas prejuízos financeiros, mas principalmente sociais, uma vez que impede o ir e vir da população. Todos os ônibus Mercedes-Benz atendem às normas da NBR 15.570 que são as especificações técnicas para fabricação de veículos de características urbanas para o transporte coletivo de passageiros. O Brasil e o mundo estão comprometidos com tratados internacionais de redução da emissão de gases poluentes, e o mercado e a sociedade já valorizam práticas sustentáveis. Como a montadora lida com essa questão? Alouche - Fomos a primeira empresa a liberar os nossos veículos para rodarem com 2% de biodiesel e depois com 5%. Já realizamos testes e aprovamos a utilização de 100% de biodiesel em nossos veículos. Porém, esse projeto ainda não é economicamente viável, porque esse combustível custa caro e acabaria gerando um custo adicional,
MAN defende redução de tributos sobre veículos
mas a tecnologia em si está desenvolvida. Também já criamos protótipos de veículos híbridos, como o compactador de lixo que gera energia na frenagem – o diesel hidráulico. Mas o custo para o desenvolvimento dessas tecnologias no Brasil ainda não é viável, porém acreditamos que chegaremos lá. Não vai ser da noite para o dia, porque temos um caminho a ser percorrido. Uma solução seria, por exemplo, desenvolver um caminhão ou ônibus a álcool. O Brasil dá aula e serve de exemplo na produção de etanol para todo o mundo. Para isso, no entanto, é preciso ter decisão política, investimento
adequado e volume de produção. O veículo a álcool não teria o custo de um híbrido e poderia trazer ganho significativo para o meio ambiente. Alouche - Sempre lideramos o desenvolvimento de soluções alternativas ao diesel de petróleo no Brasil. A Mercedes-Benz foi a primeira a desenvolver, testar e utilizar biodiesel e diesel de cana em frotas de ônibus e caminhões. Recentemente, também desenvolveu e testou o motor biocombustível Diesel+GNV. Também somos fornecedores de chassis para veículos com tração elétrica, como trólebus, híbrido, e-bus e dual bus.
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MAIS TRANSPORTE Spaceman SPACEX/DIVULGAÇÃO
A SpaceX – empresa estadunidense de sistemas aeroespaciais e de serviços de transporte espacial – enviou ao espaço o carro Tesla Roadster no último dia 6 de fevereiro. Trata-se da primeira investida dessa natureza na história. A previsão é que o veículo leve seis meses para chegar à órbita de Marte, onde ficará em definitivo. Há câmeras instaladas que fotografaram o carro com um boneco vestido de astronauta no banco do motorista, viajando pelo espaço. O evento é considerado o principal teste do novo foguete jumbo Falcon Heavy, que deverá ser classificado como o veículo espacial mais potente do mundo.
Fim dos carros movidos a gasolina Os carros movidos a gasolina e a diesel passarão a ser mais escassos na Europa até 2040, revela relatório da ECF (European Climate Foundation). Segundo a fundação, até lá, as fabricantes
adotarão tecnologias com emissão zero de poluentes, e os veículos elétricos se tornarão cada vez mais acessíveis. Em 2015, os motores de combustão tradicionais representavam
quase a totalidade das vendas de automóveis no continente. Essa proporção, porém, deverá encolher para 20% até 2035. A previsão é que os veículos convencionais saiam de
circulação completamente em 2040. Com isso, as emissões de dióxido de carbono teriam redução drástica de 88% até 2050 na comparação com os níveis atuais.
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Movimentação portuária cresce 8,3% em 2017 ARQUIVO CNT
A movimentação de cargas nos portos brasileiros, incluindo terminais públicos e privados, cresceu 8,3% em 2017, em relação ao ano anterior. Segundo dados apresentados pela Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários) em fevereiro, o setor movimentou 1,086 bilhão de toneladas em todo o ano passado. Os terminais de uso privado movimentaram 721,6 milhões de toneladas, o que gerou um crescimento de 9,3% em relação ao ano anterior, quando foram movimentados 660 milhões de toneladas. Já os portos públicos
foram responsáveis pela movimentação de 364,5 milhões de toneladas, um aumento de 6,3% sobre 2016 (342,8 milhões de toneladas movimentadas). A agência também avaliou a movimentação de cargas entre 2010 e 2017. O crescimento geral foi de 29,3%. No período, a movimentação nos portos públicos registrou alta de 22,7%, e nos privados, de 32,9%. Para Murillo Barbosa, presidente da ATP (Associação de Terminais Portuários Privados), os terminais privados são essenciais para a
continuidade do crescimento da movimentação portuária. “Eles chegaram para ficar. A solução logística do segmento portuário passa por eles. Nossos portos organizados estão limitados, e acredito que criar novos não seja intenção do governo. Isso está sendo feito pelos complexos portuários privados. Estão vindo grandes complexos que irão criar novos modelos dentro do setor portuário brasileiro”. Cargas Em relação ao tipo de carga movimentada, um dos destaques
do balanço divulgado pela Antaq foi o granel sólido, com 695,4 milhões de toneladas. Alta de 10,3% em relação a 2016. Já o milho teve crescimento de 71,8%, enquanto a soja teve um acréscimo de 31,5%, ambos sobre 2016. A movimentação de contêineres também registrou aumento na movimentação tanto em tonelagem quanto em TEUs (unidade de medida de volume de contêiner). Em 2017, foram 106,2 milhões de toneladas (acréscimo de 6,1%) e 9,3 milhões de TEUs (acréscimo de 5,7%) em relação ao ano anterior.
Consumo de Arla 32 fecha 2017 em queda Em 2017, o consumo de Arla 32 ficou 45% abaixo do necessário para a frota brasileira de pesados, de acordo com a Afeevas (Associação dos Fabricantes de Equipamentos para Controle de
Emissões Veiculares da América do Sul). Utilizado em veículos de carga com sistema SCR (Redução Catalítica Seletiva), o Arla 32 é um reagente químico à base de ureia extra pura,
necessário para atender à fase P7 do Proconve (Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores), cujo objetivo é reduzir a emissão de poluentes. Para reverter esse
quadro, a Polícia Rodoviária Federal e o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) realizam ações de fiscalização e inteligência.
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MAIS TRANSPORTE A vida dos caminhoneiros em forma de samba ROSAS DE OURO/DIVULGAÇÃO
Com o enredo “Pelas estradas da vida – sonhos e aventuras de um herói brasileiro”, a Rosas de Ouro levou para o Sambódromo do Anhembi, no desfile das escolas de samba de São Paulo em 2018, a história de vida dos caminhoneiros brasileiros. As alegorias retrataram as dificuldades e emoções vivenciadas por esses profissionais ao cruzarem o Brasil de Norte a Sul, transportando produtos essenciais para a vida de cada brasileiro. “E no volante o vento sopra o meu rosto. Feito um amante, ameniza a minha dor. Eu levo sonhos do asfalto para o campo. O horizonte de um futuro promissor”, diz um dos trechos do samba. De acordo com a direção da escola, trabalhar o tema era um sonho antigo do carnavalesco André Machado, que é sobrinho de caminhoneiro
e está à frente da escola pelo segundo ano. Os cinco carros alegóricos que a Rosas de Ouro levou para a avenida apresentaram símbolos e personagens presentes na rotina desses profissionais. O abre-alas trouxe São Cristóvão, santo católico, padroeiro dos caminhoneiros; o quarto carro contou com a presença da cantora Sula Miranda e dos filhos dos atores Antônio Fagundes e Stênio Garcia, que deram vida aos personagens Pedro e Bino da série Carga Pesada, exibida na TV Globo entre 1979 e 1981 e depois entre 2003 e 2007. A Rosas de Ouro ficou na oitava colocação no desfile deste ano. A Liga de São Paulo é composta por 13 escolas. A vencedora do Carnaval de 2018 foi a Acadêmicos do Tatuapé, com um samba sobre o Estado do Maranhão.
Ferramenta para o transporte rodoviário internacional Com o objetivo de aprimorar a regulação e a fiscalização do transporte rodoviário internacional de cargas e de passageiros, foi lançado o Sistema TRI (tri.antt.gov.br). Desenvolvido pela ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) e pelo LabTrans, da Universidade Federal de Santa Catarina, o sistema funciona
como um repositório de documentos e informações relacionados ao transporte internacional, estruturado e de fácil consulta. Até o momento, já estão disponíveis na base mais de 2.000 documentos, entre atas de reuniões, acordos, resoluções e legislação em geral.
ABTI/DIVULGAÇÃO
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Brasil compra porta-helicópteros britânico PRASIT-GETTY IMAGES/DIVULGAÇÃO
A Marinha do Brasil confirmou a assinatura do contrato de transferência do navio portahelicópteros HMS Ocean, do Reino Unido. A embarcação foi vendida por cerca de £ 84 milhões (aproximadamente R$ 380 milhões). O HMS Ocean será o maior navio da marinha brasileira, com 203,43 metros de comprimento e 21.578 toneladas de deslocamento (totalmente carregado). A embarcação será utilizada em operações aéreas com helicópteros, operações anfíbias e servirá para conduzir atividades de apoio logístico e de caráter humanitário.
Aprovado plano de outorga da Norte-Sul A ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) aprovou, em fevereiro, o plano de outorga e as minutas de edital e contrato da subconcessão da Ferrovia Norte-Sul, que ligará São Paulo a Tocantins. Com isso, o plano deverá ser aprovado pelo Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil, e os estudos técnicos e documentos jurídicos serão
ARQUIVO CNT
encaminhados para análise do TCU (Tribunal de Contas da União). Posteriormente, serão publicados no site da ANTT para que sejam submetidos à audiência pública. O processo de subconcessão será realizado por licitação, na modalidade leilão, com participação internacional. O edital deve ser publicado no segundo trimestre de 2018.
Anac restringe embarque com arma de fogo A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) publicou, no final de janeiro, resolução que dispõe sobre os processos de embarque de passageiros armados, envio de armas de fogo e de munição
e transporte de passageiros sob custódia a bordo de aeronaves civis. O embarque portando arma de fogo só poderá ser feito por agentes públicos que comprovem estar realizando
atividades específicas. O procedimento de autorização é feito pela Polícia Federal, responsável pelo policiamento aeroportuário. Com isso, a agência busca aumentar o
nível de segurança a bordo das aeronaves civis. As novas regras serão de aplicação obrigatória e passarão a vigorar a partir do dia 23 de julho.
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MAIS TRANSPORTE Scania espera crescimento de 30% nas vendas em 2018 SCANIA/DIVULGAÇÃO
Montadora investe em veículos movidos a combustíveis alternativos
Foi com otimismo e apostando na recuperação do setor que a montadora Scania apresentou, no fim de fevereiro, em São Paulo (SP), os resultados de 2017 e as projeções para 2018. No ano passado, a divisão de ônibus da marca registrou crescimento de 80% com a venda de 522 unidades. No segmento de caminhões, foram comercializados 5.754 veículos – alta de 9% em relação a 2016 –, quando foram vendidas 4.245 unidades. Para este ano, a expectativa é que haja acréscimo de 30% nas vendas de pesados. Durante o evento destinado a jornalistas, o vice-presidente de operações da Scania Brasil, Roberto Barral, destacou que já existe um reaquecimento da economia com o aumento da confiança do consumidor devido ao descolamento do cenário político e que a montadora aposta nesse cenário para 2018. “Temos uma melhora gradativa do mercado e contamos com alguns fatores que poderão ser decisivos para um ano melhor, como a baixa dos juros e uma renovação da frota Euro 5”. Barral também ressalta que, mesmo durante o período de instabilidade vivido pelo Brasil, a empresa não deixou de apostar no crescimento das operações. “Investimos R$ 2,6 bilhões em 2017, o que demonstra nossa aposta na retomada da economia. A expectativa é que o mercado nacional de pesados, no segmento acima de 16 toneladas, supere a marca de 40 mil unidades este ano.” A montadora também fechou o ano de 2017 com 8.000 veículos ligados aos Serviços Conectados Scania. O sistema serve de auxílio à gestão da frota por meio do uso da telemetria. Os dados são enviados por um módulo instalado no veículo e analisados por profissionais que oferecem para os clientes soluções para problemas em termos de
condução, economia de equipamentos e custos de operação. O especialista em serviços da Scania, Gustavo Andrade, ressaltou que a economia gerada pelo sistema já vem trazendo, além de redução do custo, benefícios para os motoristas. De acordo com ele, existem relatos de empresas que utilizam 100% das informações e estão fazendo uma gestão de remuneração do motorista. Combustíveis alternativos A Scania também tem investido em veículos movidos a combustíveis alternativos, como o gás natural e o biometano. De acordo com o diretor de vendas da empresa, Silvio Munhoz, o ônibus movido a combustíveis alternativos é um projeto estratégico para o país e que, além da redução da emissão de poluentes, o veículo oferece um menor custo operacional para o transportador. “Analisando a realidade brasileira, o ônibus movido a gás e biometano é economicamente o mais viável. Quaisquer outras alternativas requerem aumento de tarifa ou subsídio. Nossa unidade de gás natural já mostrou resultados preliminares positivos que vão da redução da emissão de poluentes ao custo operacional.” Munhoz também salientou que o ônibus já roda há mais de um ano em São Paulo, em Minas Gerais e no Paraná e que, em todos os Estados, foi possível observar reduções de emissões e de custo. “Em São Paulo, a redução do custo operacional foi de 28%.” Para este ano, a montadora deve investir em três configurações de ônibus com motores a gás natural e biometano. A previsão das entregas é a partir de novembro. Leia mais sobre o mercado de veículos na página 8. (Carlos Teixeira - o repórter viajou a convite da montadora)
Voando para e
salvar
transformar Volt.Ag
cada vez mais vidas
Foto: Arquivo ABEAR
VEJA COMO A INICIATIVA ASAS DO BEM AJUDA A TRANSFORMAR VIDAS
O sucesso de um transplante depende do tempo entre a captação de um órgão doado e a realização da cirurgia no receptor. A iniciativa Asas do Bem transporta gratuitamente órgãos e equipes médicas nos aviões das companhias associadas à ABEAR e ajuda a salvar 7 mil vidas por ano no Brasil.
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BOAS PRÁTICAS NO TRANSPORTE
Para garantir o bem-estar A DHL Express, empresa mundial de logística, desenvolve programa de qualidade de vida com a oferta de alimentação saudável e massagem para aliviar o estresse diário de seus empregados por
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ncentivar hábitos de vida saudáveis, com a oferta de uma alimentação balanceada e sessões de massagem para aliviar o estresse diário, tornando a rotina no ambiente de trabalho mais leve e agradável. É dessa forma que a DHL Express, empresa especializada em logística, vem investindo no bem-estar dos seus empregados para aumentar a
CARLOS TEIXEIRA
satisfação e a produtividade. Seguindo essa premissa, a empresa criou o Programa Harmonia, que oferece aos seus empregados atendimentos nutricionais, lanches saudáveis e quick massages (técnica de massagem que visa ao alívio imediato de dores musculares). A diretora de Recursos Humanos da DHL, Kelly El Kadi, explica que a empresa sempre
desenvolveu ações de saúde e bem-estar para os seus profissionais e que a ideia de lançamento do programa, que ocorreu há aproximadamente três anos, veio para reforçar isso. “Era preciso estabelecer um padrão e focar em uma especialidade para que fosse possível consolidar os resultados. O Harmonia surgiu com o intuito de ampliar a cultura
fit to work, que é o incentivo a práticas saudáveis no ambiente de trabalho. Contamos com diferentes parceiros e profissionais que nos auxiliam em várias filiais do Brasil. A gestão do programa é feita pela área de Recursos Humanos.” O programa nutricional é realizado por um profissional que monta um cardápio individual e personalizado de acordo
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FOTOS DHL/DIVULGAÇÃO
Programa Harmonia preza pelo bem-estar dos funcionários
com as necessidades e os objetivos de cada pessoa. Também é feita a distribuição de uma fruta por dia no período da tarde, sendo reforçada a importância do seu consumo com uma etiqueta explicativa sobre os nutrientes do alimento. Segundo Kelly, cada empregado ainda recebe acompanhamento periódico para mensurar os resultados da alimentação mais saudável. “A oferta de lanches, em todas as tardes, é uma das iniciativas mais apreciadas. Com essa ação, acreditamos que, além de estimular a alimentação saudável, incentivamos os empregados a fazerem uma pausa para renovar e recarregar as energias. Assim, eles serão ainda mais produtivos”. A preocupação da DHL vai além da alimentação. Para aliviar o estresse diário, a empresa também oferece sessões de quick massages,
que são realizadas de acordo com a necessidade de cada pessoa. As sessões têm duração de 15 minutos. A diretora de Recursos Humanos afirma que a adesão ao programa foi bastante positiva e que é possível perceber um interesse dos profissionais cada vez maior nas atividades. “Nenhuma ação é obrigatória. Chegamos a ter fila de espera para as consultas de nutrição e sessões de massagem. O que começou timidamente ganhou uma excelente proporção, fazendo com que ampliássemos os serviços.” Na empresa ainda não existe um sistema de medição do impacto da adoção de hábitos saudáveis na produtividade dos empregados, mas as ações são avaliadas, segundo Kelly, na pesquisa de clima organizacional. “Sabemos que funcionários motivados e saudáveis entregam uma excelente qua-
lidade no serviço, por isso, a empresa realiza esse tipo de investimento. Todos esses programas são medidos em nossa pesquisa de clima organizacional, que vem apresentando excelentes resultados”. E para reforçar a cultura do fit to work, a empresa também desenvolve o programa Gestão de Horas, que visa otimizar a produtividade no horário de trabalho e reduzir as horas-extras. Segundo Kelly, o programa é realizado pelos gestores das diferentes áreas, e semanalmente as equipes revisam as marcações de pontos e conversam sobre horas extras e a necessidade perante as rotinas diárias. “Tivemos uma redução de 45% de horas extras, impactando os custos e promovendo ainda mais os hábitos saudáveis além do ambiente empresarial.” Eleita em 2017 como uma das melhores empregadoras
do mundo pela entidade de certificação global Top Employer Institute, a DHL foi fundada em São Francisco, nos Estados Unidos. Atualmente, a rede internacional conecta mais de 220 países e territórios e possui mais de 90 mil colaboradores em todas as suas filiais. No Brasil, a empresa possui aproximadamente 1.000 empregados e tem, na cidade de São Paulo, o seu maior centro operacional do país. Também está presente com estações próprias nas principais capitais e aeroportos brasileiros, como Porto Alegre e Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, Joinville (SC) e Curitiba (PR), e possui escritórios corporativos em Guarulhos, Campinas, Santos e Ribeirão Preto, em São Paulo, Belo Horizonte (MG), Rio de Janeiro (RJ), Vitória (ES), Brasília (DF), Salvador (BA), Recife (PE) l e Manaus (AM).
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REPORTAGEM DE CAPA
Mulheres
no comando Participação feminina no transporte é de 17%, mas procura por treinamentos na área tem aumentado; revista CNT traz histórias marcantes de mulheres no setor por
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ahyra, 88, caminhoneira. Patrícia, 24, pilota de avião. Vanessa, 35, comandante de navio. Solange, 45, motorista de ônibus. Maria
EVIE GONÇALVES
Elisabeth, 61, operadora de metrô. Márcia, 46, taxista. Em comum, o fato de estarem no comando de diferentes veículos de transporte. Algumas há 60 anos. Outras
há somente três. Na bagagem da vida, experiências felizes e tristes de quem já cruzou as barreiras da cidade ou até mesmo do país para cumprir sua missão. Mulheres que luta-
ram – e ainda lutam – para conciliar família e trabalho e enfrentar os obstáculos de trabalhar em um universo predominantemente masculino, carregado de preconceitos e
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estigmas. Com a chegada do Dia Internacional da Mulher, a revista CNT Transporte Atual traz histórias marcantes para homenagear aquelas que fazem parte do setor de transporte. Atualmente, o setor conta com mais de 2 milhões de profissionais, sendo 17% do sexo feminino. A maior parte das mulheres possui entre 30 e 39 anos e ensino médio completo. Os dados são da Rais (Relação Anual de Informações Sociais), do Ministério do Trabalho. O
órgão não tem levantamento do percentual de motoristas mulheres no Brasil, mas os números ainda são baixos. Os sistemas de trens e metrôs, por exemplo, possuem cerca de 7.000 empregadas mulheres, sendo que, segundo a ANPTrilhos (Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos), apenas 500 atuam como condutoras e maquinistas. Já no modal aéreo, apenas 2,5% de todas as licenças de piloto são
obtidas por mulheres, sendo que a participação feminina na cabine de comando dos aviões comerciais é de 2,7%, de acordo com a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). Ainda que seja tímida, a procura feminina pelos cargos de condução já começa a despontar. O projeto Habilitação Profissional para o Transporte – Inserção de Novos Motoristas, do SEST SENAT, que visa inserir motoristas profissionais no mercado por meio da mudan-
ça da categoria da Carteira Nacional de Habilitação para C, D ou E, registrou a participação de 2.311 mulheres desde 2015. Além disso, em cinco anos, a demanda feminina cresceu 60,4% nos cursos voltados para o transporte de passageiros, de produtos perigosos e de transporte escolar da instituição. Em 2017, os cursos mais procurados pelas mulheres foram Cuidados Especiais no Transporte de Escolares, Custos Operacionais
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FOTOS MARCOS BORGES
SEST SENAT
Forte presença feminina O SEST SENAT é uma instituição com forte presença feminina. Além de oferecer cursos que ampliam o acesso ao setor de transporte, com atendimentos voltados ao desenvolvimento profissional, à saúde e à qualidade de vida do trabalhador, também possui maioria de mulheres, tanto no número total de empregados quanto nos cargos de chefia do Departamento Executivo, em Brasília. Dos 6.462 emprega-
dos em todo o país, 3.634 (56%) são mulheres e 2.828 são homens (44%). Além disso, a sede possui 21 cargos de chefia ocupados por mulheres e 16 por homens. “Sabemos que o setor de transporte ainda é predominantemente masculino. Mas acreditamos em um mercado de trabalho democrático e com amplo acesso”, diz a diretoraexecutiva nacional da instituição, Nicole Goulart. Agda Oliver administra oficina para mulheres, no Distrito Federal
do Transporte de Cargas e A Precificação no Transporte Rodoviário de Cargas. De acordo com a doutora em sociologia pela UnB (Universidade de Brasília), Ana Liesi Thurler, não é de se estranhar que algumas áreas mais procuradas pelas mulheres estejam ligadas ao cuidado. “Historicamente, enquanto os homens foram ensinados a trabalhar, da mulher se esperava o cuidado com o espaço doméstico e com a família. Isso justifica a grande busca por profissões na área de transporte escolar, por exemplo. O contato com crianças remonta ao ambiente de costumes”, acredita. Para ela, as relações de gênero são sociais e culturais e foram construídas no interior da sociedade patriar-
cal, que estabeleceu o lugar da mulher e o do homem. “Por mais que as mulheres venham batalhando para sair do espaço privado e ir para o público, a ascensão é uma luta”. A professora avalia que, mesmo que estejam no processo de rompimento dessas dificuldades, poucas mulheres consideram a possibilidade de ingressar no setor de transporte porque ele ainda é tido como um ambiente masculino. “A mulher que alcança esse espaço é uma referência, porque deixa de repetir a vida da avó. Está provado que uma mulher pode pilotar avião ou trem. Essas condutoras tendem a puxar uma nova tendência e atrair motoristas com a sua coragem”, acrescenta. É o caso da proprietária da Oficina da Mulher, Agda Oliver.
Após considerar que pagou um valor que não correspondia ao serviço contratado numa oficina mecânica e ter ouvido de amigos que “passaram a perna nela, porque lugar de mulher não é em uma oficina”, ela começou a estudar a possibilidade de abrir um espaço voltado para mulheres. Há oito anos, administra a oficina em Ceilândia, região administrativa a 30 km de Brasília. “Senti a necessidade de ter uma oficina mecânica para mulheres. O nosso diferencial é o fato de termos profissionais que conversam de igual para igual com as clientes. Quando explicam os problemas do carro, elas não têm tanto receio de fazer uma pergunta boba, porque se sentem mais representadas”, conta. Apesar de preferir contratar
mulheres, Agda fala da dificuldade de recrutar mecânicas para o trabalho. Atualmente ela conta somente com uma profissional do sexo feminino e três homens. “Só não tenho mais mulheres porque não encontro no mercado. Muitas não fazem o curso de mecânica, que dura dois anos, por conta do paradigma de que não darão conta. As que vencem essa barreira são duplamente guerreiras. É uma profissão que exige peito, força de vontade e que se goste do que se faz”, avalia Agda. Preconceito O mesmo entrave é observado na Transpes, empresa de transporte de cargas pesadas com sede em Betim (MG). Apenas uma carreteira é contratada, embora seja intenção da
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Confira o vídeo da oficina aqui
https://youtu.be/AS9x4rl_SsI
Estabelecimento em Ceilândia, região administrativa do DF, funciona há oito anos
“A mulher que alcança esse espaço é uma referência, porque deixa de repetir a vida da avó. Está provado que uma mulher pode pilotar avião ou trem" ANA LIESI THURLER, DOUTORA EM SOCIOLOGIA
diretoria atrair mais mulheres para a condução. Para a acionista e presidente do Conselho de Administração, Tárcia Gonzales, a mulher deve procurar emprego na área que se sentir mais confortável, porque o preconceito sempre existirá. Ela relembra as diversas situações desconfortáveis por que passou por ser mulher e por estar à frente de um cargo de chefia. “Foram muitas propostas indecentes durante toda a minha vida profissional. Homens que me chamavam para sair depois do expediente. Você fica refém de uma sociedade machista, onde é preciso provar o seu valor a todo tempo. A mulher sofre independentemente de ser carreteira ou presidente da empresa. Sem falar que, muitas vezes, ganha menos. Tive
que brigar muito para conseguir ganhar um salário igual ao dos meus companheiros”, lamenta. Ela agradece todo o apoio do pai e dos irmãos durante a trajetória, mas tem convicção de que o mercado de trabalho não foi tão amistoso. “Quantas vezes eu cheguei para uma reunião e, até mesmo, outras mulheres me disseram ‘mas é você?’” Para a socióloga, Ana Liesi Thurler, quando vacilam ao entrar em um ônibus ou metrô, as mulheres estão duvidando das próprias capacidades. “Isso é algo que está no inconsciente delas. As pessoas não questionam se tem um condutor. Elas só pensam que é uma mulher. As questões cultural, educativa
e pedagógica são peças-chaves para a presença ou ausência feminina no setor”. Ana ressalta ainda a importância do engajamento das áreas de recursos humanos e gestão de pessoas das empresas para provocar a mudança de mentalidade no momento de contratação e no dia a dia corporativo. “Como poucas mulheres consideram a opção de se apresentarem para cargos de condução, é necessário o chamamento motivador para que as profissionais se matriculem em cursos de transporte e se candidatem às vagas nas empresas. Só assim vamos reduzir a resistência e provocar uma mudança de mentalidade”.
Confira os depoimentos das mulheres do transporte nas páginas a seguir
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MATHEUS BRUXEL/AGÊNCIA RBS
A caminhoneira mais antiga do Brasil Nahyra Schwanke, 88 A alemã Nahyra Schwanke, que chegou ao Brasil ainda bebê, tem 88 anos de vida e 60 de estrada. Não é à toa que carrega o título de caminhoneira mais antiga do Brasil. Subiu pela primeira vez em um caminhão aos 28 anos por necessidades familiares e, eventualmente, dirige até hoje. A mãe tinha um comércio pequeno, que cresceu rapidamente, no município de Não-Me-Toque (RS). Daí surgiu a obrigação da compra de um veículo para otimizar a distribuição do que era plantado na roça. “Como eu já dirigia trator, ela me disse para eu tirar uma licença, porque, dali em diante, eu faria as entregas”.
Desde que começou, não parou mais. Rodou o Brasil de ponta a ponta. A cada dia, se tornava mais conhecida. Passou a ser contratada por transportadoras para fazer o deslocamento das cargas – na maior parte das vezes, leite, arroz e cevada. Da vida na estrada, tem recordações felizes e tristes. “Passei muita fome, porque não conhecia as cidades, pegava muito frete barato e sempre ia sozinha. Mas tudo tem um lado bom. Fiz bastantes amizades. Hoje eu demoro para voltar para as cidades, mas, quando retorno, sempre me perguntam com carinho por onde eu andava”, lembra. A caminhoneira teve que con-
ciliar a profissão com o papel de mãe da filha Saleti. “Quando viajava, eram cerca de cinco dias para ir e mais cinco para voltar. Tinha que deixar a menina com meus pais. Naquele tempo, não havia celular. Esperava encontrar um posto de gasolina para ligar para casa e ter notícias”. Na estrada, sofreu preconceito. “Sempre faziam brincadeiras e me perguntavam se eu sabia dirigir ou até mesmo se eu não tinha vontade de me casar. Eu não ligava. Eram poucos os comentários e, na maioria das vezes, os homens me ajudavam”, ressalta. Hoje, a agilidade já não é mais a mesma, nem a saúde. Nahyra passou recentemente
por problemas sérios no pé e correu o risco de ter as pernas amputadas. Mas, mesmo com mais dificuldade, assim que se recuperou, voltou para o caminhão, hoje automático. As viagens também diminuíram, mas ainda acontecem. A receita para a longevidade sempre foi não discutir com ninguém e dirigir dentro da lei. “Nunca tombei nem virei o caminhão. Multas foram poucas. Também não me envolvi em acidentes. Eu gosto mesmo é de dirigir”. O atual caminhão é novo. E, apesar de ter capacidade para 40 toneladas, ganhou um apelido da dona. “Quando eu saio com ele, sempre falo: ‘vamos, trenzinho!’. E sigo viagem”.
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dos outros que acenavam ou até mesmo das demonstrações de carinho que recebi pelo pioneirismo na posição”, ressalta a operadora. Com o passar dos anos, o número de mulheres na função cresceu bastante. Atualmente, cerca de 50 trabalham na linha em que ela atua. “Mesmo assim, existem muito mais homens. Na minha escala, de 40 empregados, apenas quatro ou cinco são mulheres.” Dos entraves da profissão, ela menciona a conciliação do trabalho com a família. “Muitas vezes, deixei de passar o Natal e o Ano-Novo com eles. Tive que me adaptar. Uma vez meu filho ligou para o meu supervisor e pediu para ele me dispensar no Natal para ficar com ele. Ele tinha 8 anos. O chefe conseguiu alterar a minha escala só por causa do pedido dele”, lembra. Mas isso não desanimou a operadora de prosseguir. Hoje ela e a família têm orgulho da profissão. “Teve um dia em que o meu neto mais novo falou para a professora: ‘você sabia que a minha vó dirige metrô?’. Meus filhos também gostam do que faço, porque sabem da batalha que foi”, diz. Ao falar do ofício, os olhos brilham: “Carrego 2.000 pessoas dentro do metrô. Quando eu paro na estação, observo no espelho aquele monte de gente saindo, cada um com a sua vida. É recompensador saber que eu ajudo todos aqueles passageiros a se locomoverem todos os dias.”
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Primeira operadora de metrô do país Maria Elisabeth de Oliveira, 61
METRÔ DE SP/DIVULGAÇÃO
Quando a operadora do metrô de São Paulo Maria Elisabeth de Oliveira decidiu entrar para o ramo, em 1986, não havia nenhuma mulher em posição de comando de trens no Brasil. Ela já era empregada e sabia que havia muitas pessoas do sexo feminino brigando para serem operadoras. Foi aí que participou de um concurso interno e passou. Na ocasião, três mulheres foram admitidas para o cargo. Foram seis meses de curso. “Muita gente pensa que o operador só fica ali na cabine, e não faz mais nada. Mas, na verdade, tem que sanar todas as falhas. Você aprende as partes teórica e técnica e tem que resolver qualquer coisa que aconteça no trem, nem que seja para ele ser rebocado”, conta. Ela lembra das dificuldades no início da profissão, porque os homens que trabalhavam no metrô não aceitavam a presença feminina. “Eles achavam que a gente ia tomar o lugar deles e que não íamos acrescentar. Era um pensamento machista. Muitos operadores achavam que não era serviço para mulher. A gente provou, com o decorrer dos anos, que isso não era verdade”. A pressão era tanta que a operadora perdeu as contas de quantas vezes chorou por esse problema. O preconceito também vinha dos passageiros, que, muitas vezes, esperavam um operador do sexo masculino na cabine. “Isso mudou muito de lá para cá. E não posso deixar de lembrar
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“Fui a pilota mais jovem da Azul” Patrícia Ramanauskas, 24
https://youtu.be/eOaJpbo-QHc
ARQUIVO PESSOAL
Confira o vídeo da Patrícia aqui
A história da pilota Patrícia Ramanauskas com a aviação vem do berço. Desde pequena, acompanhava o pai, também piloto. Quando concluiu o ensino médio, não teve dúvida do seu rumo profissional. Aos 16, começou a fazer cursos. Aos 17, já pilotava sozinha aviões do tipo monomotor acrobático. Aos 19, tirou o brevê para a aviação comercial. Entrou, em seguida, na faculdade de ciências aeronáuticas com o objetivo de ingressar em uma companhia aérea. Hoje, aos 24, está há três na Azul e foi a pilota mais jovem da empresa. Apesar do incentivo e apoio dos pais, a escolha não foi fácil. Ela teve que provar duplamente que era capaz de comandar uma aeronave por ser jovem e por ser mulher. “A gente sempre acaba ouvindo uma piadinha ou outra. Teve um episódio em que eu tive que arremeter devido a um forte vento. É um procedimento de segurança previsto e alheio à vontade do piloto. Eu expliquei aos passageiros os motivos pelos quais arremeti, mas uma senhora falou para a comissária que o fato ocorreu porque eu não tinha sido capaz de pousar o avião por ser mulher. Achei uma pena. Se eu não conse-
guisse pousar ou decolar, não teria sido contratada por uma empresa aérea”, lamenta. Ela conta que já houve casos em que, mesmo usando os acessórios dos pilotos, os passageiros acharam que ela era comissária. “Já chegaram a parabenizar o comissário pelo pouso, e não a mim”, lembra. Ainda assim, Patrícia incentiva outras meninas a realizarem o sonho. Ela acredita que, quanto mais as mulheres romperem as barreiras desse universo, predominantemente masculino, mais elas servirão de inspiração. “Eu percebo que a procura das mulheres pela aviação ainda não é grande, porque falta motivação da família e da sociedade. Mas se eu consegui, por que outras não conseguiriam?” Entre um voo comercial e outro, Patrícia se dedica aos voos acrobáticos. A vontade é participar de campeonatos, mas, para isso, precisa de patrocínio. A vida no setor aéreo está toda registrada na sua conta no Instagram por meio de fotos e vídeos. “Tenho 40 mil seguidores. A maioria é composta por mulheres que pretendem ingressar na carreira. Quem quiser acompanhar o meu trabalho para se motivar pode acessar o meu perfil: paty.inthesky”.
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De praticante a comandante de navio petroleiro A comandante Vanessa Cunha, 35, ingressou na Transpetro em 2005, como praticante, e foi admitida como oficial em 2006. Em 2017, a carioca foi promovida a comandante. Desde janeiro deste ano, está à frente do navio Nara. "Quando entrei na escola, nem sabia o que era Marinha Mercante. Descobri o que seria da minha história ouvindo experiências de ex-alunos que sempre voltavam do mar e nos contavam sobre como era viajar. Ao realizar uma pequena viagem em um navio graneleiro que transportava bauxita no rio Amazonas, eu me apaixonei pela profissão. Além de amar o que faço, o retorno financeiro é muito bom”, comemora. Durante vários anos, a bordo de um navio, tem muitas histórias para contar. A mais desafiadora foi cruzar o oceano Índico, na costa Africana, com a presença de um severo ciclone tropical se aproximando do rastro da embarcação. “Fomos atingidos por ventos de 120 km/h e ondas com mais de oito metros, enquanto todo o convés era engolido pelas águas. Foram três dias de tensão, mas o navio seguia firmemente. É uma imagem que nunca vai sair da minha cabeça.” Entre uma viagem e outra, a comandante teve que se acostumar com os períodos longe
de casa e da família. Ela diz que é muito complicado conciliar datas de aniversários, viagens e eventos, mas contou com o apoio do marido, que é da mesma profissão e trabalha em outra empresa. “Ele sempre me apoiou e me deu força nas minhas escolhas. Além de tudo, tenho grande apoio dos meus pais e do meu irmão, que assumem nossos filhos quando nós dois estamos longe de casa”. Vanessa ressalta o amor ao ofício e ao significado do trabalho. “Toda vez que alguém me pergunta o que se faz em um navio petroleiro, eu digo para lembrar de uma coisa simples, que é entrar num posto de gasolina e encher o tanque. Somos nós, marítimos, que estamos longe de casa produzindo e transportando esses produtos essenciais para o cotidiano para que milhões possam usar seus automóveis em suas cidades”, explica a comandante. Ela lembra que já viveu muito preconceito no seu meio de trabalho, mas que, com o decorrer dos anos, isso vem diminuindo. “Retruquei tudo que ouvi com trabalho. Até hoje, o meu foco é aprender, fazer e ser reconhecida. Não se pode acomodar quando se tem uma meta. A minha é ir sempre além.”
TRANSPETRO/DIVULGAÇÃO
Vanessa Cunha, 35
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Tradição de família inspira motorista de ônibus Solange Correa, 45 Desde criança, Solange Correa já sabia a sua vocação. “Eu olhava para o ônibus e dizia: um dia vou ser motorista. Minha mãe perguntava se eu tinha certeza, e eu dizia que era o meu sonho. Hoje estou aqui”, diz. São 27 anos no modal rodoviário, sendo 18 como motorista. Começou como cobradora, foi manobrista e depois se tornou condutora. A família de irmãos carreteiros e de irmã motorista foi o incentivo necessário para que ela seguisse na profissão. Coragem não faltou para lidar com o universo essencialmente masculino. “Aqui tem muito homem. Geralmente, nas reuniões da empresa, vão uns 30 homens e só eu de mulher. Inclusive, quando eu vim fazer o teste, só havia eu de mulher e 29 homens. Eles perguntavam se eu ia dar conta. Resultado: dez homens foram reprovados e eu passei”, lembra. Segundo ela, além do estigma de que a profissão “é de homem”, é preciso pulso para lidar com o preconceito da sociedade. “Já teve passa-
https://youtu.be/Eb_RYfh97k4
MARCOS BORGES
Confira o vídeo da Solange aqui
geiro que, quando viu que eu estava dirigindo, falou que não ia seguir viagem. Eu percebo muita hostilidade, inclusive das próprias mulheres. Só lamento por elas. Perderam uma grande motorista.” Solange acredita que as profissionais do sexo feminino devem ter mais coragem para ingressarem no setor, mesmo com todos os estigmas. “Falta mulher de peito para dizer: ‘eu quero, eu vou’. Existe muita cobradora que quer ser motorista. Eu falo: vai à luta. Se eu passei, você também consegue.” O amor pela profissão está estampado nas palavras da motorista. “Eu me sinto muito responsável pelo ônibus. Transporto vidas ali. Algumas vezes, levo 135 pessoas em uma viagem. Qualquer vacilo pode ser fatal. A gente deve ter atenção, responsabilidade e firmeza”, pondera. E finaliza ao dizer como se sente ao dirigir: “Eu me sinto livre, leve e solta. Conduzo melhor que muito homem aqui. São meus próprios colegas de trabalho que dizem”, brinca.
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Mais que taxista, conselheira dos passageiros Márcia de Almeida, 46 Na maior parte das vezes, as lembranças do ofício são boas, até mesmo do casamento com outro taxista e da filha de 6 anos, fruto da relação. Para conciliar a rotina, a mãe dela cuida da menina. Márcia leva a criança todos os dias para a escola às 7h40 e trabalha até as 21h. Ela conta que, depois da era dos aplicativos, o número de casos de assédio no táxi cresceu porque os passageiros acabam tendo o número dela registrado no celular. “Quando eu percebo que a aproximação ultrapassa as relações profissionais, eu me posiciono e digo que estou fazendo um serviço de transporte e que é o meu trabalho. Rapidamente eles param”, enfatiza a motorista. E assim ela segue conduzindo seu carro diariamente e lutando pelos direitos da categoria na vida pública e política. Também batalha para que mais mulheres ingressem na profissão. Quando começou, eram somente 12 taxistas em Brasília. Em outros momentos, o número chegou a 80. Mas, após a crise econômica que atingiu o país, houve queda significativa desse número e, atualmente, cerca de 25 mulheres trafegam pelas ruas da capital federal.
Confira o vídeo da Márcia aqui
MARCOS BORGES
A taxista Márcia de Almeida começou na profissão por acaso. Após o falecimento do pai, também taxista, e de o irmão não ter levado o ofício adiante, a mãe resolveu passar a licença do veículo para ela. O amor pelo táxi foi instantâneo. “É algo que eu faço com gosto. O trânsito não me estressa. Cada dia é uma novidade. Você acaba virando psicólogo porque ajuda o passageiro a resolver as coisas dele”, diz. Nesses 22 anos de profissão, já viu de tudo. “Teve história de amor e casamento desfeito. Já peguei passageira para seguir o marido com a amante. Já corri para ajudar uma pessoa que ia fazer uma entrevista de emprego. Já levei gente para velório e dei palavra de conforto. Já comprei remédio. São pequenos detalhes que te confortam e que dão prazer para trabalhar”. Ao mesmo tempo em que teve passageiros amistosos, também foi vítima de preconceito. “Algumas mulheres não quiseram entrar no meu táxi pelo fato de eu ser do sexo feminino. A explicação que eu tenho é que elas não devem ter conseguido dirigir ou têm medo do trânsito”, comenta Márcia, que não se importa com esse tipo de análise.
https://youtu.be/CM4icKqQ6N8
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Gestão simplificada Empresas precisam aderir ao eSocial, sistema que unifica envio de informações fiscais, trabalhistas e previdenciárias; empregadores enfrentam dificuldades em organizar dados por
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Brasil está passando por um processo estrutural de modernização de suas práticas e culturas a fim de melhorar o ambiente de negócios e fomentar o caminho para a retomada do pleno desenvolvimento socioeconômico. São reformas, novos marcos regulatórios e ações de saneamento de contas e desburocratização visando ao aumento da competitividade do país. Nesse campo, uma iniciativa vem despontando como um importante indutor de uma nova cultura de gestão de pessoas. Obrigatório desde janeiro
DIEGO GOMES
deste ano, o programa eSocial é a nova forma de prestação de informações relacionadas ao universo do trabalho, integrando a rotina de mais de 18 milhões de empregadores e 44 milhões de trabalhadores. Trata-se de um projeto conjunto do governo federal que conjuga Receita Federal, Ministério do Trabalho e Caixa Econômica Federal. A iniciativa possibilitará que todas as empresas brasileiras cumpram suas obrigações fiscais, trabalhistas e previdenciárias de forma unificada e organizada. Quando for totalmente implementado, no lugar de pre-
encher 15 obrigações separadamente – como Rais (Relação Anual de Informações Sociais) e Dirf (Declaração do Imposto de Renda Retido na Fonte) –, as empresas precisarão abastecer um único grande sistema (confira a lista completa na página seguinte). Atualmente, os empregadores já são obrigados a repassarem informações dos seus empregados para o governo federal. A diferença, porém, é que os dados são fragmentados. Muitos deles são duplicados, sendo necessário enviar a mesma informação para o INSS (Instituto
Nacional de Seguridade Social) e o Ministério do Trabalho. Além disso, cada órgão tem um prazo diferente. Com o eSocial, há uma unificação de datas. Nos dois primeiros meses de 2018, as mais de 14.400 empresas com faturamento superior a R$ 78 milhões foram obrigadas a fornecer seus dados cadastrais pelo eSocial. A partir de 16 de julho, as demais empresas brasileiras devem se adequar ao programa, incluindo os integrantes do Simples Nacional, MEIs (microempreendedores individuais) com funcionários e empregadores pessoas físicas.
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ARQUIVO CNT
GPS Em 2019, ingressarão os órgãos públicos. O assessor especial para o eSocial e auditor-fiscal da Receita Federal, Altemir Linhares de Melo, explica que o programa é muito mais que um novo sistema tecnológico, e sim “uma importante ferramenta de desburocratização para as empresas e para o governo”. Segundo ele, o programa não introduz nenhuma nova obrigação ao setor empresarial. Fases O envio de dados está sendo feito por partes, em cinco fases. Na primeira, o sistema rece-
be apenas as informações GRF cadastrais dos empregadores e as relativas Folha de às suas tabelas, tais pagamento como estabelecimentos, rubricas, cargos etc. Na segunda, que Manad passa a valer a partir de março para as empresas com faturamento superior a QHT R$ 78 milhões, é feito o envio dos eventos não periódicos – dados sobre DCTF os trabalhadores e seus vínculos trabalhistas (admissões e desligamentos, por exemplo). Na sequência, passa a ser obri-
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Caged Rais LRE CAT CD
Dirf
PPP
CTPS
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CONFIRA O CRONOGRAMA DE IMPLANTAÇÃO DO Cadastros do empregador e tabelas
Dados dos trabalhadores e seus vínculos com as empresas (Eventos não periódicos)
Folha de Pagamento
Substituição da GFIP (Guia de informações à Previdência Social)
Dados de segurança e saúde do trabalhador
gatório o envio das folhas de pagamento, e, em uma quarta fase, a Guia de Informações à Previdência Social será substituída pelo novo sistema. Na última fase, deverão ser enviados os dados de segurança e saúde do trabalhador. Confira acima o cronograma de implantação. A migração completa para o eSocial requer que as empresas atualizem bancos de dados, adéquem softwares e passem
GRANDES EMPRESAS*
DEMAIS EMPRESAS**
ÓRGÃOS PÚBLICOS
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JULHO
*Empresas com faturamento anual maior que R$ 78 milhões **Inclusive micro, pequenas e MEIs que tenham empregados
a coletar informações que hoje não são necessárias. Por esse motivo, Melo salienta que é importante se preparar desde já (mesmo aqueles que só começarão a fornecer as informações a partir de julho). “Contribuintes podem, e devem, se antecipar à exigência governamental. Algumas recomendações são importantes, como atualizar seus sistemas internos de informática. Essa reco-
mendação só vale para aqueles que já possuam sistemas para controlar os registros trabalhistas e a folha de pagamento.” O auditor-fiscal reforça que os demais empregadores que não disponham de uma estrutura tecnológica mais robusta poderão utilizar a página do eSocial (portal.esocial.gov.br), onde irão inserir as informações diretamente no sistema. “Outra recomendação impor-
tante é a necessidade de atualizar os seus cadastros de trabalhadores. Para isso, é interessante realizar uma qualificação cadastral prévia disponível no site do eSocial.” A maior dificuldade para o cumprimento do prazo, até então, têm sido os processos que necessitam do auxílio de terceiros, como o saneamento da base de dados. Nesse sentido, o programa possui um ambiente
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de testes que permite às empresas enviar as informações para o governo sem ter nenhum efeito jurídico e testar se os dados exportados pelo sistema são compatíveis com o modelo exigido. Também é possível tirar dúvidas e fazer críticas no Fale Conosco disponível no portal. A diretora institucional da CNT (Confederação Nacional do Transporte), Olívia Pinheiro, destaca que o eSocial traz ganhos significativos para toda a sociedade brasileira, melhorando o ambiente de negócios e aumentando a competitividade das empresas do país. “A iniciativa reduzirá custos e tempo gastos no processamento e na transmissão dos dados pelas empresas. É importante que os transportadores estejam atentos a essa nova realidade e procurem mudar suas culturas de gestão de pessoas e de informações.” A CNT integra o grupo de trabalho do eSocial, composto por representantes das confederações empresariais e dos órgãos federais envolvidos nesse processo. Na avaliação da diretora, o governo passará a contar com informações de mais qualidade, padronizadas para todos os órgãos, melhorando sua capacidade de fiscalização e permitindo o planejamento de políticas públicas com muito mais assertividade. “No caso dos empresários, haverá mais transparência nas suas relações trabalhistas e maior segurança jurídica para seus direitos trabalhistas e previdenciários.”
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MARCOS BORGES
Empresas com faturamento inferior a R$ 78 milhões devem aderir a partir de julho
A MRS Logística S.A. – concessionária que opera a malha ferroviária nos Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo – é uma das empresas que está no grupo da primeira etapa da migração. Em nota, a assessoria de comunicação da concessionária informa que conseguiu se preparar bem para a nova realidade que o eSocial representa. “O segredo foi ter antecipado o processo e ter dado o devido peso para a importância do tema, que mexe, de fato, com aspectos fundamentais de gestão de pessoas e até mesmo numa dimensão individual, já que parece haver uma tendência para que o cadastro profissional de cada um seja integrado, no futuro, numa base única. Temos um bom suporte com relação a processos e ferramentas e houve,
nesse último mês, um período de intensificação da comunicação com os colaboradores.” A MRS não enfrentou dificuldades com o novo sistema porque antecipou seus processos internos de reestruturação para a nova realidade. As empresas que estão deixando para última hora estão tendo problemas devido às diferenças de informações. Implicações As empresas que não enviarem os dados estão sujeitas a multa e penalidades. A multa é de R$ 1.500 pelo não envio da escrituração digital, mas esse valor pode ser acumulado com as penalidades previstas pelas omissões das declarações que estarão sendo substituídas pelo eSocial. O auditor-fiscal da Receita Federal, Altemir
Linhares de Melo, explica que práticas em desacordo com a legislação e que, por ventura, sejam atualmente realizadas serão criticadas nas diversas validações que o eSocial faz. “Um exemplo clássico: uma nova admissão somente poderá ser inserida no sistema se a empresa e o trabalhador tiverem cumprido todas as etapas prévias exigidas, como laudos admissionais, cadastros profissionais, quando for o caso, e, o mais importante: não será possível realizar uma admissão com data retroativa.” Melo orienta que as empresas façam uma avaliação do quanto os seus procedimentos estão aderentes à legislação e, se for o caso, busquem melhorar suas práticas de forma a permitir a adesão ao novo sistema de l forma tranquila.
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RECONHECIMENTO
Personalidades
do transporte CNT concede honraria a 15 profissionais que empenharam esforços e dedicaram vidas para alavancar o setor; retomada da economia e otimismo estão na pauta dos homenageados por
O
otimista pode até errar, mas o pessimista já começa errando”. A célebre frase proferida pelo ex-presidente Juscelino Kubitscheck ilustra o sentimento que paira sobre o setor transportador para o ano de 2018: o otimismo de que a grave crise econômica dos últimos três anos está em fase de superação e de que os indicadores econômicos começam a ser recuperados.
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EVIE GONÇALVES
Esse foi o tom da solenidade da Ordem do Mérito do Transporte Brasileiro Medalha JK, honraria entregue pela CNT (Confederação Nacional do Transporte) a personalidades que se dedicam ao desenvolvimento do setor de transporte em quaisquer de suas modalidades. No evento deste ano, realizado no fim de fevereiro, na sede da CNT, em Brasília, 15 profissionais foram homenageados.
O ponto alto da cerimônia foi a reverência a José Fioravanti, empresário que dedicou a vida ao setor e que recebeu a mais alta honraria da premiação: GrãCruz. O grande homenageado da Medalha JK, além de ter ocupado os cargos de vice-presidente da CNT, também foi presidente da Seção dos Transportadores Autônomos de Passageiros e de Cargas da Confederação. Ele não pôde
comparecer ao evento por motivo de saúde. “A José Fioravanti – empreendedor, líder dedicado e parceiro de tantas jornadas em defesa dos interesses dos autônomos e de todo o setor de transporte – damos nosso profundo agradecimento e nossos votos de melhora”, disse Eurico Galhardi, vice-presidente da CNT, em discurso representando o presidente da Confederação,
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FOTOS GUILHERME KARDEL
Clésio Andrade. Galhardi ressaltou que, como o setor de transporte é um dos mais fortes e relevantes da economia brasileira, é preciso reconhecer o trabalho e a persistência dos empresários, que enfrentaram os desafios de gerir, empreender e investir no Brasil. As outras honrarias entregues foram Grande Oficial e Oficial. O vice-presidente afirmou ainda que a inteligência, a
capacidade empreendedora e a confiança de cada um dos homenageados têm permitido ao setor transportador vencer os obstáculos e seguir prestando serviços de qualidade ao Brasil e aos brasileiros. “São esses atributos que nos ajudaram a resistir durante a grande recessão dos últimos anos e que, agora, estão impulsionando a retomada do crescimento econômico, trazendo de volta a pujança do
setor de transporte”. Galhardi também destacou que o país entra em um novo ciclo de prosperidade e que cada empresário, no seu respectivo campo de atuação, está fazendo a sua parte. “O que nós queremos é inovar, promover desenvolvimento, gerar riquezas, criar empregos e contribuir para o crescimento e o bem-estar de todos os brasileiros”, concluiu.
Premiação A Medalha JK é o símbolo maior do reconhecimento dos transportadores brasileiros àqueles que doaram talentos, competências e esforços pessoais em busca da melhoria do setor no Brasil. Instituída em 1991, tem como patrono o ex-presidente Juscelino Kubitschek, fundador de Brasília e um dos principais incentivadores do desenvolvimento do país.
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JOSÉ FIORAVANTI | GRÃ-CRUZ Presidente de Honra da CNT
Dedicou toda a vida ao setor de transporte. Como representante dos transportadores autônomos, atuou para a obtenção da isenção de IPI e do ICMS para veículos novos e de IPVA para taxistas. Além de ter ocupado os cargos de vice-presidente da CNT, também foi presidente da Seção dos Transportadores Autônomos de Passageiros e de Cargas da Confederação. Ele aposta que o setor deve voltar a crescer em 2018. “A crise atingiu todo mundo e diminuiu o volume de transporte. É importante que a indústria e o comércio funcionem bem para impulsionar o trabalho dos transportadores. Esses ramos já estão funcionando melhor. Só precisam pegar um embalo.” ARQUIVO PESSOAL
JOÃO ANTONIO SETTI BRAGA | GRANDE OFICIAL Vice-presidente metropolitano da Federação das Empresas de Transportes de Transportes de Passageiros do Estado de São Paulo e presidente do Conselho Diretor do Consórcio Metropolitano de Transportes de São Paulo. É também conselheiro da NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos) para o Estado de São Paulo.
O agraciado não pôde comparecer à cerimônia
ARI RABAIOLLI | GRANDE OFICIAL Presidente da Fetrancesc (Federação das Empresas de Transporte de Carga e Logística no Estado de Santa Catarina)
“A esperança é que o volume de carga seja recuperado. Nossa principal demanda é a aprovação do marco regulatório do setor no Congresso Nacional. Também somos a favor das concessões das rodovias federais e estaduais. Não defendemos o pedágio, mas defendemos rodovias de qualidade. Na prática, pagamos um ‘pedágio’ mais caro, que está escondido nos custos da falta de infraestrutura.” Flávio Benatti, presidente da Seção do Transporte Rodoviário de Cargas da CNT, e Ari Rabaiolli
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APARECIDO FAGUNDES DA SILVA | GRANDE OFICIAL Presidente do Sinditáxi-JF (Sindicato dos Taxistas e Transportadores Autônomos de Passageiros de Juiz de Fora e Região)
“A clandestinidade vem trazendo graves prejuízos aos taxistas. Espero que os serviços dos motoristas que utilizam aplicativos sejam regulamentados, mas esses profissionais devem ser melhor preparados. O poder púbico precisa acompanhar as condições dos veículos e monitorar quem exerce essa profissão. Transportamos vidas. Se temos regras, o transporte por aplicativos também precisa funcionar de forma segura.” Edgar Ferreira de Sousa, presidente da Seção de Transportadores Autônomos da CNT, e Aparecido Fagundes da Silva
LAIRA VANESSA LAGE GONÇALVES | GRANDE OFICIAL Ex-diretora do Departamento da Marinha Mercante do Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil
“Precisamos aumentar a participação do transporte de cargas pelo modal aquaviário. Temos potencial para crescer muito mais, sobretudo na cabotagem e na navegação interior. O desafio do setor privado é atrair clientes para esse modal. Sabemos que o transporte pelo Arco Norte teve um boom e foi responsável por desafogar os portos do Sul. Uma saída é aumentar a navegabilidade das hidrovias explorando mais a região Norte.” Luís Fernando Resano*, diretor-executivo do Syndarma, e Laira Vanessa Gonçalves
JOSÉ EDUARDO RIBEIRO COPELLO | GRANDE OFICIAL Diretor-presidente da CTB (Companhia de Transportes do Estado da Bahia)
“Metrôs, trens urbanos e VLTs não são soluções únicas e isoladas, mas são essenciais para a mobilidade. O desafio é aperfeiçoar os modelos gerenciais, garantindo a participação da iniciativa privada no compartilhamento de riscos e nas novas linhas. É necessária a implantação da autoridade metropolitana, para que o transporte seja integrado nos grandes centros urbanos.”
Rodrigo Vilaça, presidente da Seção de Transporte Ferroviário da CNT, e José Eduardo Copello
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DARIO RAIS LOPES | GRANDE OFICIAL Secretário Nacional de Aviação Civil do Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil
“Precisamos disponibilizar mais infraestrutura nos grandes e pequenos aeroportos. Temos projetos para conceder 13 terminais neste ano. Na aviação regional, temos 30 aeroportos em obras e pretendemos chegar a 50 no fim de 2018. Para que mais passageiros se beneficiem, precisamos reduzir o custo da operação, diminuindo as alíquotas de ICMS que incidem sobre o combustível da aviação.” Eduardo Sanovicz, vice-presidente da CNT, e Dario Lopes
OSWALDO DIAS DE CASTRO JÚNIOR | GRANDE OFICIAL 1º Vice-presidente do Conselho Deliberativo da Abol (Associação Brasileira de Operadores Logísticos)
“2018 é um ano de muita expectativa, porque o setor de logística sentiu a crise econômica. Quando a indústria vai bem, seguimos juntos. Quando há retração, as operações também se retraem. No momento, temos que buscar soluções que produzam ganho de produtividade e competividade para os nossos clientes. Nosso desafio é oferecer mais a custos inferiores. O setor está otimista para o ano eleitoral. O pior já passou.” Glen Gordon, presidente da Seção da Infraestrutura de Transporte e Logística da CNT, e Oswaldo Dias Júnior
ALBERT ANDRADE | OFICIAL Diretor de tecnologia e modernidade do SetraBH (Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte)
“O grande desafio do setor é a retomada de passageiros no transporte urbano. O novo governo deve trabalhar as tarifas na maioria das cidades, pois sabemos que o custo do sistema é financiado pelos bilhetes pagos pelos usuários. Esse modelo se exauriu. Precisamos ter um novo modo de financiamento. O usuário precisa de modernização. Para isso, é preciso investimentos nos sistemas.” Eudo Laranjeiras, presidente da Seção do Transporte Rodoviário de Passageiros da CNT, e Albert Andrade
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BALDOMERO TAQUES FILHO | OFICIAL Diretor-geral da Utilíssimo Transportes
“O marco regulatório é essencial para o transporte rodoviário de cargas. Outro ponto fundamental é a redução da carga tributária. Também lutamos por pedágios mais justos, porque esse custo vem sacrificando muito as empresas e os transportadores autônomos. O combate ao roubo de cargas é outra pauta sensível, sobretudo no Rio de Janeiro.”
Flávio Benatti, presidente da Seção do Transporte Rodoviário de Cargas da CNT, e Baldomero Taques Filho
ANTÔNIO RODRIGUES DA SILVA | OFICIAL Presidente do Sindicato dos Taxistas Autônomos de Sorocaba
“Estamos otimistas para que aconteça a regulamentação do serviço de transporte de passageiros por meio de aplicativos. Precisamos ter regras para garantir segurança. Temos visto muitos roubos e estupros nesses veículos. Também pretendemos lutar para que as prefeituras tornem obrigatória a regulamentação. Onde existe regra, existe mais respeito.”
Edgar Ferreira de Sousa, presidente da Seção de Transportadores Autônomos da CNT, e Antônio Rodrigues da Silva
JORGE AFONSO PEREIRA | OFICIAL Presidente do Syngamar (Sindicato das Agências de Navegação do Estado do Maranhão)
“O valor que pagamos para o fundo de Marinha Mercante deveria ser investido dentro do território nacional para gerar crescimento do setor. Entendemos que os recursos deveriam ser aplicados na construção de navios de Marinha Mercante com bandeira brasileira e não fossem revertidos para toda a atividade, como ocorre atualmente. Outra demanda é o investimento em infraestrutura portuária.” Luís Fernando Resano*, diretor-executivo do Syndarma, e Jorge Afonso Pereira
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JOSÉ OSVALDO CRUZ | OFICIAL Especialista técnico de relações institucionais da VLI S.A.
“Nunca tivemos um momento em que a sociedade, governantes, operadores e reguladores estivessem tão alinhados quanto à necessidade de maior participação do modo ferroviário na matriz de transporte, que hoje gira em torno de 25%. As ferrovias precisam crescer e contribuir com a melhoria da qualidade e competitividade do produto brasileiro. Para isso, as renovações antecipadas e as novas licitações precisam ser viabilizadas.” Rodrigo Vilaça, presidente da Seção de Transporte Ferroviário da CNT, e José Osvaldo Cruz ARQUIVO PESSOAL
FELIPE CARRERAS | OFICIAL Secretário de Turismo, Esportes e Lazer de Pernambuco
“É necessário manter o Brasil no rumo da ampliação da competitividade e da concorrência na aviação e em todos os segmentos ligados ao desenvolvimento econômico, em especial no turismo.”
O agraciado não pôde comparecer à cerimônia
CELSO DELLE DONNE LUCHIARI | OFICIAL Presidente e sócio da Transportadora Americana Ltda.
“O desafio para o ano de 2018 é consolidar a saída da grande crise que enfrentamos nos últimos três anos. O setor saiu muito machucado. Este é um ano de recuperação, de recomposição dos nossos ativos e de olhar para a frente. Precisamos recompor nossa frota e fazer com que as empresas voltem a transferir o transporte de cargas para os operadores logísticos. Este é um ano de recomposição e aprendizado.” Glen Gordon, presidente da Seção da Infraestrutura de Transporte e Logística da CNT, e Celso Delle Luchiari * Representando o presidente da Seção do Transporte Aquaviário de Cargas e de Passageiros da CNT
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AÉREO
Turbinas aquecidas
Companhias aéreas brasileiras transportam mais de 98 milhões de passageiros em 2017 e fecham o ano com crescimento de 2,9%; expectativa é de cenário equilibrado em 2018 por
CARLOS TEIXEIRA
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C
riatividade. Essa foi a palavra de ordem das companhias aéreas em 2017 para superar o período de crise e fechar o ano com índices positivos. Ao longo de todo o ano passado, as empresas investiram em novas rotas e serviços, garantindo o aquecimento do mercado.
Segundo balanço divulgado em fevereiro pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), foram transportados 98,9 milhões de passageiros em voos domésticos e internacionais em 2017. O número representa uma alta de 2,93% em relação a 2016, quando foram transportados 96,1 milhões de passageiros. E o setor também começou o ano de 2018 com crescimento. Em janeiro, foram transportados 9,6 milhões de passageiros, o que representa uma alta de 3,3% em relação a janeiro de 2017.
No mercado doméstico, os embarques cresceram 2,2% em 2017, passando de 88,6 milhões de passageiros para 90,6 milhões. A alta no mercado internacional ultrapassou os dois dígitos: 11,7%. De acordo com a agência, no ano passado, foram 8,3 milhões de passageiros transportados por empresas brasileiras em voos internacionais com origem ou destino no Brasil. No ano de 2017, a demanda por voos domésticos acumulou alta de 3,2%, e a oferta, um crescimento acumulado de 1,4%. Com isso, a taxa de apro-
veitamento dos assentos das aeronaves nos voos domésticos foi de 81,5%, com variação positiva de 1,8% em relação ao mesmo período de 2016 e também foi um recorde anual, considerada a série histórica iniciada em 2000. De acordo com o diretor de vendas da Azul, Antonio Camara Americo, o crescimento em 2017 decorreu principalmente da aposta na melhoria dos serviços e realização de promoções. “Apostamos na oferta de serviços com mais qualidade e na introdução de novos aviões na frota, com preços competitivos.
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AZUL/DIVULGAÇÃO
Assim, conseguimos aumentar as frequências para localidades consideradas importantes para a companhia e pudemos investir em novos destinos e mercados. Também voltamos a oferecer promoções”. Americo ainda destaca que a companhia passou a investir em outras formas de aquisição de passagens, como a compra por meio de agentes de viagens; pela internet; pelo programa Azul Viagens; pelo call center; e por meio do programa de vantagens. Sobre as expectativas para 2018, Camara traça uma perspectiva de um cenário mais equilibrado e próspero. “Com o aumento da confiança dos empresários e a retomada do crescimento econômico, estamos otimistas e apostamos em um ano de crescimento para a aviação, tanto no segmento doméstico como no internacional”, destaca. Na participação do mercado doméstico, a Azul registrou alta de 4,5% em 2017, respondendo por 17,8%. A participação da Gol cresceu 0,5%, o que corresponde a 36,2% do total. A Avianca teve a maior alta: 12,8%. Isso fez com que a companhia assu-
Em 2017, a demanda por voos domésticos cresceu 3,2%
misse uma fatia de 12,9% do mercado nacional de voos. A Latam foi a única que registrou queda na participação (-6,2%), mas, mesmo assim, a empresa ainda está na segunda colocação, com 32,6% da movimentação. Juntas, as quatro empresas respondem por 99,5% do mercado brasileiro de aviação. Para o vice-presidente comercial de marketing e cargas da Avianca Brasil, Tarcisio Gargioni, o resultado positivo de 2017 se deve ao plano de negócios sustentável da com-
panhia, que deve continuar sendo executado agora em 2018. “Competiremos nos destinos em que já operamos, oferecendo produto diferenciado e de qualidade, lançando novas rotas e aumentando frequências em destinos domésticos e internacionais. Trabalhamos continuamente no desenvolvimento e na entrega do melhor produto da aviação brasileira. A companhia tem os investimentos voltados para a qualidade dos produtos como uma de suas prioridades”, finaliza.
A Latam, por meio de sua assessoria de imprensa, informou que, entre as medidas adotadas pela empresa em 2017, está o incremento da capilaridade de sua malha aérea a partir do fortalecimento dos hubs (centros de conexões) da companhia em Guarulhos e com o anúncio de novos voos no Brasil, a partir de março de 2018. Ao todo, são seis novas rotas domésticas e mais frequências em oito mercados nacionais. A companhia ainda ressalta que, com a iniciativa,
CARGAS
Crescimento em voos internacionais é recorde O reaquecimento da economia refletiu também no transporte aéreo de cargas. No mercado internacional, o crescimento registrado em 2017 foi
recorde: 23,4%. No total, as empresas brasileiras transportaram 226,7 mil toneladas em todo o ano passado. Somente no mês de dezembro, foram
23.232 toneladas, alta de 21,4% sobre dezembro de 2016. No mercado doméstico, o crescimento foi de 1,8%, atingindo 426,1 mil toneladas.
No mês de dezembro, o crescimento foi de 7,9%, quando comparado com dezembro de 2016. Essa foi a quinta alta consecutiva no setor.
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ARQUIVO CNT
A oferta de novos destinos internacionais refletiu em crescimento para o setor
Em janeiro deste ano, o número de voos já cresceu
3,3%
a empresa teve uma ampliação de 17% do volume de operações no Aeroporto Internacional de Guarulhos e 7% no de Brasília. Além disso, a Latam também implementou seu programa de fidelidade, que oferece entre os benefícios acesso à sala VIP e upgrade de cabine. A partir do primeiro trimestre deste ano,
a empresa irá oferecer o serviço de internet a bordo em seus voos no Brasil e, até o fim do primeiro semestre de 2019, será oferecido Wi-Fi a bordo dos voos que ligam o Brasil ao restante da América Latina. Internacional No mercado internacional, a tendência também é de alta. O mercado de voos internacionais realizados por companhias brasileiras atingiu, em dezembro de 2017, o 15º crescimento consecutivo na demanda e no volume de passageiros. No acumulado do ano, em comparação com igual período de 2016, a demanda internacional das empresas brasileiras cresceu 12%, e a oferta avançou 10,6%, maior nível para o período na série histórica iniciada em 2000. A taxa de aproveitamento de assentos nos voos internacionais cresceu 1,3% em 2017, na
comparação com o ano anterior, atingindo o patamar de 84,8%, maior nível anual da série histórica iniciada em 2000. O crescimento se deve, em grande parte, às ações das companhias que passaram a oferecer novos destinos em 2017. O vice-presidente da Avianca, Tarcisio Gargioni, conta que a companhia, mesmo em meio ao cenário econômico desfavorável dos últimos anos, expandiu sua oferta de rotas internacionais e iniciou operações regulares para as cidades de Miami e Nova York, nos Estados Unidos, e Santiago, no Chile. “Os resultados superaram nossas expectativas, com bons índices de ocupação. Em dezembro, começamos as operações em Nova York, pois identificamos uma demanda por clientes que viajam a lazer e a negócios para esse destino”. Ele ainda destaca que 2018 será um ano
de transição para o Brasil, e a companhia espera continuar crescendo de forma constante. “Esperamos ver melhorias mais significativas e melhores resultados em 2019”, afirma. Antonio Camara Americo, da Azul, salienta que em 2017 houve uma retomada da demanda para os voos internacionais e que a empresa criou novas rotas para atender o público. “Iniciamos em 2017 novas rotas nesse segmento, como foram os casos de Belo Horizonte/Buenos Aires, Recife/Orlando e Belém/ Fort Lauderdale (cidade próxima a Miami). A qualidade dos nossos serviços, a conectividade da nossa malha e os preços competitivos, aliados a promoções, nos permitiram alcançar níveis satisfatórios de aproveitamento nessas rotas. Iremos crescer em mercados já atendidos e introduziremos ainda novas rotas internacionais”, conclui. Diante do mercado aquecido em 2017, a Latam informou que prepara novos destinos para este ano. A empresa deve lançar em breve novas rotas, como São Paulo/Roma, São Paulo/Lisboa, São Paulo/Boston e Santiago/ São Paulo/Tel Aviv, além de oferecer voos temporários de verão nas rotas Salvador/ Buenos Aires e Florianópolis/ Montevidéu e retomar a rota Brasília/Punta Cana. A Gol também foi procurada pela CNT Transporte Atual, mas, até o fechamento desta edição, não respondeu à l reportagem.
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FERROVIÁRIO
Monotrilho no Brasil Tecnologia de pequena e média capacidade já existe em São Paulo, mas implantação ainda não foi concluída; uma das linhas ligará aeroporto de Congonhas ao Morumbi por
EVIE GONÇALVES
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METRÔ SÃO PAULO/DIVULGAÇÃO
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rojetados para atender a um grande volume de passageiros, os trens e metrôs são comumente localizados nas grandes metrópoles. Tecnologias metroferroviárias para pequenas e médias demandas, como o monotrilho, não são tão frequentes no Brasil, mas já existem em cidades como Tóquio (Japão), Kuala Lumpur (Malásia) e Las Vegas (Estados Unidos). Desde 2014, uma linha
começou a operar, parcialmente, em São Paulo, mas ainda não é possível fazer uma avaliação precisa sobre o seu funcionamento, uma vez que o sistema não está totalmente implementado. Na prática, a tecnologia é composta por trens que trafegam com pneus de borracha em via elevada, os viadutos. Os trens devem garantir capacidade de transporte entre 25 mil e 45 mil passageiros/hora/senti-
do, e a velocidade comercial vai até 80 km/h. Sem a necessidade de condutor, os monotrilhos podem ser suspensos ou apoiados e funcionam por meio de força motriz elétrica, a partir de estruturas de concreto ou aço. De acordo com a superintendente da ANPTrilhos (Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos), Roberta Marchesi, o monotrilho faz parte da família dos siste-
mas metroferroviários mundiais, como metrô, trens urbanos, trens regionais e VLTs (Veículos Leves sobre Trilhos). Segundo ela, a tecnologia complementa os grandes sistemas de transporte de massa e contribui não só para melhoria da mobilidade urbana, mas também para a qualidade ambiental e de vida da população”, diz. Roberta destaca ainda que os monotrilhos podem proporcionar um serviço rápido, seguro e efi-
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Japão é um dos países que utiliza o monotrilho em seu sistema de transporte; alternativa deve ser integrada a outros modais
ciente para os passageiros que optam pelo seu uso. A principal diferença entre sistemas como o monotrilho e o metrô, por exemplo, é a capacidade. Especialistas afirmam que, enquanto o primeiro transporta até 40 mil passageiros/hora/ sentido, o outro pode deslocar entre 40 mil e 80 mil passageiros/hora/sentido. Além disso, geralmente, o metrô funciona de forma subterrânea, nas zonas mais populosas, e em elevado ou superfície, nas zonas menos adensadas. Ele é o meio mais adequado para os centros das cidades. Já o monotrilho é mais apropriado para regiões periféricas. Quanto ao custo, o metrô é mais caro por causa das obras e pelo fato de, muitas vezes, ser subterrâneo. Entretanto a sua manutenção é menos onerosa. “Não existe melhor ou pior opção. O que rege a escolha do modo de transporte é a
demanda”, afirma o engenheiro e mestre em Transportes da FGV (Fundação Getúlio Vargas), Marcus Vinicius Quintella. “É importante que o gestor público de mobilidade urbana conheça as alternativas tecnológicas para que possa contar com elas na hora da elaboração do planejamento urbano de sua cidade”, pondera Roberta Marchesi. São Paulo O início da operação do monotrilho de São Paulo se deu de forma parcelada. A Linha 15-Prata foi inaugurada em 2014, em um trecho de 2,3 km e com duas estações na zona leste da cidade. Esse ramal está sendo ampliado para 15 km, devendo passar a operar com essa configuração ainda no primeiro semestre deste ano. De acordo com a assessoria do Metrô de São Paulo, responsável pela operação do trecho, quando
for concluído, o ramal deverá alcançar a capacidade de transporte de 40 mil passageiros hora/sentido. Outro trecho, de 7,7 km da Linha 17-Ouro, encontra-se em construção e deverá operar a partir de 2019 na zona sul, ligando o aeroporto de Congonhas ao bairro do Morumbi. O governo do Estado optou pelo modal porque, segundo a assessoria do Metrô, os estudos de demanda (Pesquisa Origem Destino do Metrô e Pesquisa de Mobilidade do Metrô) apontaram a necessidade de um transporte de média capacidade e sem interferências físicas, capaz de vencer cruzamentos de avenidas e manter regularidade em sua velocidade, permitindo baixo intervalo de circulação entre os trens. Outro fator foi a pequena necessidade de desapropriações pelo fato de ele ser construído sobre o canteiro central das grandes avenidas.
Entretanto especialistas temem que, em longo prazo, o monotrilho não atenda à demanda, que tende a aumentar. Para Quintella, os estudos levaram em consideração a necessidade do momento, assim como o menor custo. “Ao longo do tempo, a capacidade do modal não vai suportar o crescimento da cidade e de passageiros. Receio que, no futuro, tenhamos uma estrutura suspensa obsoleta. Estimativas para as metrópoles têm que levar em consideração um horizonte de 50 anos”, alerta. Segundo ele, os sistemas precisam ser integrados com metrôs e sistemas de ônibus, inclusive BRT. O professor de mobilidade urbana da Faculdade Anhanguera, Marcos Kiyoto, ressalta que há uma deficiência no projeto da linha 15. Ele explica que, da maneira como está desenhado, o monotrilho buscará os passageiros em um ponto e vai
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AEROMÓVEL DE PORTO ALEGRE/DIVULGAÇÃO
AEROMÓVEL
Tecnologia funciona há quatro anos em Porto Alegre Uma tecnologia de baixa capacidade deu agilidade à chegada de passageiros ao aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre. Antes do aeromóvel, inaugurado em 2014, os viajantes que optavam por ir de metrô até o terminal aéreo tinham que desembarcar na última estação e buscar outra forma para finalizar o trajeto de 1 km de ônibus, táxi ou a pé. Com o novo modo, ganharam mais uma opção. Basicamente, o aeromóvel é movido a ar gerado por um ventilador que alimenta o sistema, por
meio de energia elétrica. Ele se diferencia dos trens comuns, pois sua tração não é na roda de ferro, mas sim na placa de propulsão. Por isso, o aeromóvel dispensa motor embarcado no veículo. Outra característica é que se trata de um veículo muito leve, o que resulta em economia de energia. Isso faz com que ele tenha facilidade de vencer aclives, podendo subir rampas mais elevadas que os trens comuns. Assim como o monotrilho, também é suspenso e passa por cima das vias, sendo oca a
sua viga de sustentação. Uma das vantagens da tecnologia é a capilaridade. “Ele é capaz de contornar ruas sem precisar entrar nas cidades, porque as curvas são pequenas, entre 25 m e 30 m. Essa característica dispensa a necessidade de desapropriação”, explica o ge-rente da linha do aeromóvel em Porto Alegre, Davi Vital. Na capital gaúcha, o aeromóvel funciona com dois trens, sendo um com capacidade para 150 pessoas e outro que transporta o dobro dessa quantidade.
A capacidade total é de 1.800 passageiros por hora/sentido, com partida de trens a cada dez minutos. A velocidade média gira em torno de 40 km/h. O gerente da linha lembra que a tecnologia do aeromóvel é brasileira e foi projetada na década de 1970. É uma tecnologia compartilhada desde 1988 com um parque temático de Jacarta, na Indonésia. Há estudos para expandir o modo em Porto Alegre, e a prefeitura de Canoas (RS) também trabalha na construção de uma linha de 6 km.
desembarcar todos na estação de metrô de Vila Prudente, combinando um modal de alta capacidade com um de média. Ele também acredita ainda que a estrutura elevada pode repre-
sentar impacto visual à cidade. A assessoria do Metrô de São Paulo diz que os viadutos foram construídos com espaçamento entre as vigas, sem fechamento de concreto entre elas, o que
permite a passagem de luz solar e de chuva. Outra justificativa é que um projeto paisagístico de espécies arbóreas diversas será implementado sob as vias elevadas, assim como ciclovias que
acompanharão todo o traçado da linha. A assessoria informa ainda que o método construtivo foi o mais adequado para as regiões por onde as duas linhas l vão passar.
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RODOVIÁRIO
Combinação
arriscada
Recentes acidentes com condutores que sofreram algum mal súbito chamam atenção para os riscos que determinadas doenças e medicamentos oferecem à direção de veículos por
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onge de ser uma atividade relativamente simples, o ato de dirigir é uma tarefa complexa. O condutor recebe informações continuamente, analisa-as, identifica situações de risco e toma decisões. Dessa forma, é necessário que o motorista não esteja com as atividades motoras e cognitivas comprometidas de alguma maneira. Nesse espectro, há doenças que impedem definitivamente o condutor de tirar ou renovar
DIEGO GOMES
a CNH (Carteira Nacional de Habilitação). Outras causam inaptidão temporária. Além disso, qualquer uso de substâncias que interferem ou influenciam nas funções cerebrais ou nos processos mentais envolvidos na condução veicular certamente afeta o desempenho do condutor. A questão veio à tona com intensidade, em janeiro deste ano, em decorrência de dois casos que alarmaram os brasileiros. Luciana Pupe Vieira,
46 anos, atropelou um casal de idosos no Lago Norte, em Brasília (DF). A família alega que ela sofreu um mal súbito por causa de uma crise de hipoglicemia, já que é diabética. A brasiliense, desde então, não teve melhora no quadro de saúde, e, até o fechamento desta edição, permanecia em coma induzido, em estado gravíssimo. Ainda não há certeza em relação à versão apresentada pela defesa da motorista. A Justiça do Distrito
Federal trabalha para determinar se ela poderia estar embriagada ou se tinha feito uso de drogas. No Rio de Janeiro, outro caso ganhou as manchetes dos jornais brasileiros. Antonio de Almeida Anaquim, 41 anos, atropelou pedestres ao invadir o calçadão de Copacabana, na Zona Sul carioca. Um bebê de 8 meses morreu, e outras 17 pessoas ficaram feridas – algumas em estado grave. O motorista foi detido e levado para a dele-
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FOTOS ARQUIVO CNT
gacia, onde disse que perdeu o controle do carro porque "apagou" após sofrer um ataque epilético. A Polícia Civil abriu inquérito para investigar a omissão do motorista ao não relatar ao Detran-RJ sobre sua condição médica. O condutor também não poderia estar dirigindo, pois estava com a habilitação suspensa. Licença Os dois acidentes chamam atenção para a importância
dos procedimentos adotados no ato de tirar ou renovar a CNH. A médica e diretora da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego), Rita Moura, explica que, caso a pessoa possua alguma doença que a torna inapta definitiva ou temporariamente a dirigir, deve informar o fato nos formulários dos Detrans (Departamentos de Trânsito) no momento de tirar ou renovar a habilitação. Segundo ela, isso pode ser feito listando os remé-
dios de uso contínuo que utiliza. “O médico responsável, então, tomará conhecimento da doença e pedirá que o candidato forneça um relatório médico afirmando que ele está bem.” Rita ressalta, nesse sentido, que o Detran não pode ter controle sobre as doenças. Ela esclarece, porém, que, se a pessoa mentir ou omitir informações no formulário, pode ser enquadrada no artigo 299 do Código Penal, que prevê de um a cinco anos de
“O médico pedirá que o candidato forneça um relatório afirmando que ele está bem” RITA MOURA, MÉDICA E DIRETORA DA ABRAMET
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Segundo a Anvisa, não existe uma lista fechada de medicamentos incompatíveis com a direção
reclusão em caso de informações falsas ou faltantes em documento público com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante. “Isso é falsidade ideológica”. Em situações de cirurgia, fica a cargo do médico que acompanha o paciente determinar quando ele pode voltar a dirigir. "Se a pessoa se nega a dizer que tem alguma doença, não cabe ao médico do tráfego pedir comprovantes de que ela está falando a verdade", argumenta a dire-
tora da Abramet. De acordo com ela, o questionário a ser respondido não tem o objetivo de vetar o fornecimento da licença, mas sim conceder ao condutor uma dirigibilidade mais segura tanto para ele e outras pessoas ocupantes do veículo quanto para todos os usuários do sistema de trânsito. O Denatran (Departamento Nacional de Trânsito) informa que os condutores ou candidatos a tirar a CNH em todas as categorias passam por avaliações cardiológicas, auditivas, neurológicas
e oftalmológicas. No caso de motoristas profissionais – habilitados nas categorias C (caminhão), D (ônibus) e E (reboque) –, eles são submetidos a exame para detectar distúrbios de sono. Todos são obrigados a preencher um questionário com dez perguntas que abordam se a pessoa faz uso excessivo de álcool e/ou drogas, já sofreu acidentes, tem diabetes, toma remédios ou faz tratamento de saúde. Respostas falsas, se comprovadas pelo envolvimento posterior do motorista em um acidente
por uso de drogas, por exemplo, implicarão responsabilidade criminal. A depender da avaliação, um condutor pode ser considerado apto, apto com restrições (nesse caso, pode ser obrigado a passar até por avaliações anuais para renovação da CNH), inapto temporário (por causa de pressão alta, por exemplo) ou inapto. Interferência O Código de Trânsito Brasileiro não traz regra específica sobre o uso de medicamentos e direção de
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SEST SENAT
Atendimentos ajudam quase 300 mil motoristas profissionais Uma rotina com hábitos saudáveis impõe um importante desafio aos motoristas profissionais. O dia a dia de caminhoneiros, taxistas e motoristas de ônibus exige disposição e atenção ao volante, além de boas condições de saúde. Outro requisito é respeitar os limites do corpo e ter repouso, o que inclui boas noites de sono. A alimentação adequada também exerce papel decisivo no bom funcionamento do corpo.
Nesse sentido, o SEST SENAT, há quatro anos, oferece atendimentos nutricionais gratuitos aos trabalhadores do transporte, com foco na educação alimentar e na prevenção de doenças crônicas não transmissíveis. No período, mais de 300 mil motoristas profissionais já foram atendidos. O objetivo é proporcionar ao trabalhador do transporte condições de melhora no desempenho de suas atividades, assim como
prevenir a obesidade e todas as possíveis doenças que podem ser desencadeadas pela má alimentação. Além do atendimento nas clínicas das unidades operacionais, o SEST SENAT mantém atividades e orientações de educação alimentar nas empresas do setor visando à promoção de hábitos alimentares saudáveis também nos locais de trabalho. Nas unidades operacionais espalhadas por todo o
país, os motoristas profissionais ainda têm à disposição assistência psicológica, fisioterápica e odontológica e estrutura para a prática de atividades físicas. A instituição também investe em ações de caráter instrutivo e de difusão de conhecimentos sobre bem-estar e saúde, como o Programa de Prevenção de Acidentes, desenvolvido desde 2017 em parceria com a CNT. No ano de 2018, a meta é realizar 1 milhão de abordagens.
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LEGISLAÇÃO
Lei Seca ainda enfrenta o desafio da fiscalização Os artigos do Código de Trânsito Brasileiro que fazem menção ao uso de álcool e outras substâncias psicoativas podem gerar confusão quanto à interpretação. De acordo com a Lei nº 12.760, de 2012 – conhecida como Nova Lei Seca –, dirigir sob a influência de álcool ou de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência é infração gravíssima. A mesma lei estipula como crime, punível com pena de detenção, a condução
de “veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa”. O desafio, contudo, está na identificação e na comprovação desse estado. A legislação determina que o consumo de álcool e outras substâncias que alterem a capacidade de dirigir do motorista pode ser comprovado por vídeo e provas testemunhais, além dos testes de alcoolemia e exames periciais. Contudo não existe uma lista
veículos. Mas, segundo a professora da Faculdade de Medicina do Tráfego da USP (Universidade de São Paulo), Vilma Leyton, a utilização de certos medicamentos tem efeitos nocivos sobre a concentração, a coordenação motora, a vigília e os reflexos. Os efeitos podem ser semelhantes aos provocados pela ingestão de bebida alcoólica. Essa questão também abarca os pedestres, já que falta de atenção ao atravessar uma via, por exemplo, pode causar acidentes. Entre os medicamentos que podem interferir nas habilidades necessárias para uma direção e tráfego seguros no trânsito estão os antidepressivos (fluoxetina,
amitriptilina), ansiolíticos e sedativos (diazepam, lorazepam), antialérgicos (dexclorfeniramina), anticonvulsivantes (carbamazepina, fenobarbital), medicamentos que reduzem a glicose no sangue (glibenclamida, gliclazida), analgésicos opioides (tramadol, metadona), relaxantes musculares (ciclobenzaprina, orfenadrina) e alguns antiparasitários (praziquantel). “Alguns deles estão entre os remédios conhecidos como ‘tarja preta’. Outros, como os antialérgicos e relaxantes musculares, podem conter, na sua composição, substâncias que podem provocar efeitos indesejados. Esses efeitos variam entre indivíduos, dependem
de substâncias proibidas. “Em vários países, essas substâncias são elencadas em lei, aqui não”, informa a professora da Faculdade de Medicina do Tráfego da USP, Vilma Leyton. Por esse motivo, a professora considera que a fiscalização tem sido adequada. “O agente de trânsito, se identificar algum infrator que esteja dirigindo sob o efeito de álcool e/ou outra substância, ou o autua, como dita a lei, ou o conduz para realizar outros exames,
“Os usuários de medicamentos devem estar atentos ao que sentem após tomá-los” VILMA LEYTON, PROFESSORA DA USP
como o clínico, que é realizado por médico perito. Se o médico perceber alguma alteração, solicita um toxicológico, que é realizado em laboratório de perícias. O melhor material para ser analisado é o sangue.” Segundo ela, em outros países, o procedimento não é muito diferente, ou seja, o policial aborda e, se percebe que o motorista está dirigindo sob o efeito de álcool e/ ou outra substância proibida, toma as providências.
da dose e podem ser exacerbados se associados com álcool ou outras substâncias psicoativas. Assim, é preciso ter precauções e cuidados”, explica a professora. Recomenda-se, portanto, que as pessoas que fazem uso de medicamentos busquem sempre a orientação de farmacêuticos, incluindo quanto aos cuidados que devem adotar em relação à condução de veículos. “Os usuários de medicamentos devem estar atentos ao que sentem após tomá-los. Se apresentarem algum sintoma que coloque em dúvida seu desempenho seguro ao volante, o recomendado é evitar dirigir. É importante frisar que nenhum tratamen-
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Remédios podem interferir na atenção
» Doenças que impedem definitivamente o motorista de tirar ou renovar a CNH • Labirintopatias graves e irreversíveis • Mal de Alzheimer com atestado de inaptidão definitiva • Mal de Parkinson ou esclerose múltipla em estágios moderados e/ou avançados • Epilepsia mioclônica juvenil • Malformações congênitas múltiplas • Retinose pigmentar
» Condições médicas que impedem de tirar ou renovar a CNH temporariamente • Pacientes com pressão arterial maior ou igual a 18x11 (a máxima permitida é 16x11) • Portadores de insuficiência cardíaca congestiva • Pacientes com epilepsia, em uso de medicamentos, que apresentaram episódio convulsivo no último ano • Pacientes diabéticos que apresentaram episódios de hipoglicemia grave (como desmaios) nos últimos 12 meses • Pessoas com deficits de audição com possibilidade de tratamento • Portadores de arritmias com repercussão hemodinâmica Fonte: Abramet/Contran
to deve ser interrompido sem orientação profissional”, ressalta Vilma. A diretora da Abramet, Rita Moura, salienta que é preciso ampliar as orientações sobre os riscos que o uso de alguns medicamentos, considerados simples, pode causar. “Qualquer paciente deve ser informado sobre as reações dos remédios que estão sendo receitados. E, muitas vezes, isso não é explicado nas consultas.” Para ela, essa sensibilidade deve partir tanto do profissional de saúde quanto do paciente, que precisa informar sobre a atividade que exerce. “O médico precisa ter o cuidado em informar, porém o motorista
também precisa analisar sua situação antes de pegar o carro e dirigir.” De acordo com a assessoria de imprensa da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), todas as informações relativas aos riscos de determinados medicamentos estão previstas na bula, mas não há uma lista fechada de medicamentos que são incompatíveis com o ato de dirigir, pois isso varia caso a caso. Há alguns anos, a Abramet apresentou proposta de projeto de lei que obrigaria as indústrias farmacêuticas a inserirem na caixa dos remédios o símbolo de “proibido dirigir”, mas o texto não seguiu l adiante no Legislativo.
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AQUAVIÁRIO
Falta polícia,
sobram piratas Prisão de quadrilha que furta combustível na Amazônia reacende debate sobre pirataria; estrutura policial é pífia, e complexidade da região dificulta ações por
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Quadrilhas saqueiam embarcações e furtam grande variedade de cargas
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esmo com constantes denúncias sobre as ações das quadrilhas que praticam pirataria nos rios da Amazônia, o olhar policial para o local ainda parece tímido. Criminosos vêm intensificando o modus operandi para furtar e roubar toda a sorte de cargas nos rios da região, especialmente combustível. Recentemente, só depois de ocorrer o maior furto de gasolina a uma embarca-
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ção que se teve notícias no Estado, é que um grupo de quatro assaltantes foi preso em Manaus (AM), gerando um prejuízo de mais de R$ 2 milhões e 642 mil litros furtados. A operação Alfeu, da Polícia Civil, foi considerada exitosa pelos empresários da região, ainda que os bandidos tenham sido presos somente três meses após o ocorrido. Outros roubos e furtos de menor proporção, entretanto, nem sequer chegam
a ser investigados, de acordo com donos das embarcações vítimas dos ataques. A própria polícia da região e o Ministério Público reconhecem que a estrutura de combate é insuficiente. “Além de precisarmos de mais policiais, viaturas, lanchas e helicópteros, também esbarramos na dificuldade de obter imagens para a resolução dos crimes. Sem falar na própria internet, que não funciona, apresentando constantes problemas
de sinal. Muitas vezes, enviamos equipes para o interior, mas nos deparamos com o impasse de comunicação com os nossos agentes”, admite o delegado Adriano Félix, da Delegacia de Roubos, Furtos e Defraudações, da Polícia Civil do Amazonas. Outro problema da região é a má distribuição dos policiais. De acordo com o promotor de Justiça do Ministério Público do Amazonas, Weslei Machado, que atua em Coari, enquanto o local
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VENEZUELA ROTA DA CRIMINALIDADE
GUIANA FRANCESA
SURINAME
POLÍCIA CIVIL AM/DIVULGAÇÃO
COLÔMBIA GUIANA
RR
AP
RIO NEGRO
Santarém Manaus RIO SOLIMÕES
Tefé
Itacoatiara
Anamã Manicoré
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MAZO
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Humaitá
Porto Velho MT
Operação Alfeu prendeu quadrilha em Manaus INVESTIGAÇÃO
Combustível furtado é usado em garimpo e tráfico A quadrilha presa em Manaus, no início de fevereiro, agiu da seguinte forma: os assaltantes furtaram o combustível utilizando duas barcas menores como depósito da gasolina. A embarcação estava estacionada em um porto privado na orla e ia para Santarém e Itaituba, no Pará. A quadrilha pagou R$ 1.500 para um vigilante facilitar o acesso enquanto. A ação durou três noites. Após perceber o furto, o dono da embarcação denunciou o crime. As investigações revelaram que o combustível teve três destinos: um posto flutuante em Manaus, outro posto na zona rural e um
PERU
garimpo em Manicoré (AM). “Além de abastecer as dragas do garimpo, que são movidas a gasolina, o combustível revendido nos postos flutuantes serviu como insumo para a compra e venda de drogas no local”, lamenta o presidente do Sindarma, Galdino Alencar Júnior. A Delegacia Especializada em Furtos, Roubos e Defraudações, da Polícia Civil, desvendou o crime após monitorar 15 pessoas. Chegou aos quatro acusados, que já foram soltos. O presidente do sindicato considera que o episódio foi investigado devido à magnitude, mas, em geral, pequenos furtos não recebem a mesma atenção.
conta com somente 39 policiais para 100 mil habitantes, alguns municípios não tão estratégicos possuem menos habitantes e um efetivo que chega a 250 policiais. Coari é um dos pontos mais perigosos do BOLÍVIA Estado por ser rota dos piratas e de traficantes. Segundo Machado, o pequeno número de profissionais dificulta ações preventivas e repressivas nos rios. “Nos últimos 12 meses, não houve nenhuma ação da polícia em Coari”, CHILE lamenta. Há oito meses à frente do cargo, ele explica que conseguiu detectar ações de dois tipos de criminosos. “Um grupo, mais organizado, possui armaARGENTINA mento pesado, como fuzis que podem derrubar até mesmo aviões, coletes à prova de balas e embarcações com motores potentes. O outro é mais desorganizado, sendo composto por moradores das comunidades ribeirinhas. Geralmente, esses ladrões cometem pequenos fur-
tos para atender às necessidades familiares”, explica. “Coari é tida como área vermelha. Lá, as embarcações têm que passar com escolta, senão são assaltadas”, alerta Alencar Júnior, presidente do Sindarma (Sindicato das Empresas de Navegação Fluvial no Estado do Amazonas). Devido à gravidade da situação, o Ministério Público entrou com uma ação civil contra o Estado, em 2016, para aumentar o efetivo de policiais da região, assim comoPARAGUAI a estrutura de armamento, viaturas e barcos. No fim do ano passado, após a trágica morte de uma turista inglesa que estava andando de caiaque e foi estuprada e esquartejada por assaltantes que pensaram que ela estava trazendo drogas da fronteira, houve um pedido de intervenção federal no município. “Ao invés de acatar a demanda, o presidente do TribunalURUGUAI de Justiça indeferiu com o argumento de que aumentar o policiamen-
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EXCLUSIVIDADE
PRÊMIO CNT
Revista e Agência CNT denunciaram crime em 2016 34
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ANTAQ/DIVULGAÇÃO
por
“E
NATÁLIA PIANEGONDA E EVIE GONÇALVES
u vi o comandante de uma embarcação morrer ao meu lado durante um assalto”. A lembrança ainda assusta o marinheiro de máquinas João Moreira, que há 27 anos atua no transporte aquaviário na região Norte do país. O episódio ocorreu há dez anos na rota Manaus - Belém, no rio Amazonas, quando cerca de 30 assaltantes a bordo de pequenos barcos invadiram a barcaça armados com pistolas, escopetas e facas, renderam a tripulação e obrigaram os trabalhadores a cair na água. O objetivo dos criminosos era saquear o pescado transportado. Moreira conta que ficou três horas boiando nas águas do rio, uma longa agonia durante a qual viu o chefe da embarcação perder as forças e se afogar sem que fosse, possível socorrê-lo. Desde os trágicos acontecimentos de dez anos atrás, a insegurança nas águas do Norte só aumentou. Os assaltantes aperfeiçoaram os métodos de assalto a embarcações tanto de cargas, quanto de
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passageiros. Moreira relata que, no ano passado, enfrentou o que tanto temia que se repetisse. “Dessa vez, eu estava dormindo quando criminosos renderam toda a tripulação, trancando o grupo no camarote da embarcação. Ficamos cerca de sete horas sem saber o que estava acontecendo. Tenho pânico de lembrar ainda hoje”, conta. A violência e a rapidez são típicas desse tipo de assalto nos rios amazônicos, por isso, a região é chamada de Somália brasileira, em uma referência à temida pirataria que aterroriza e causa prejuízos milionários ao transporte mundial de cargas na rota que passa pela costa do país africano. A ação dos piratas do Norte tem sido motivo de grande preocupação dos operadores do transporte aquaviário uma vez que o número de ocorrências cresce a cada ano. Cálculos da Fenavega (Federação Nacional das Empresas de Navegação Aquaviária) apontam que, em 2015, os transportadores perderam cerca de R$ 100 milhões em produtos e equipamentos roubados das embarcações. “É
Além dos assaltos a balsas, embarcações de passageiros estão entre os alvos dos bandidos
um problema grave, trágico e constante. Algumas empresas de menor porte correm o risco de parar de navegar”, diz o presidente da entidade, Raimundo Holanda. Além da situação no rio Amazonas, um grande número de assaltos está sendo registrado no rio Madeira, entre Manaus (AM) e Porto Velho (RO). “Eles são muito violentos e atuam em duas modalidades: a primeira é o assalto a embarcações de passageiros
e barcos de pesca, e a outra é o assalto a balsas”, relata o delegado Dilermando Dantas Júnior, diretor do Grupamento Fluvial de Segurança Pública do Pará, o Gflu – órgão criado pela Secretaria Estadual de Segurança em 2011. Segundo ele, as balsas são mais visadas. “A balsa é mais lenta, mais fácil de ser abordada. Antes do assalto, passa um grupo em pequenos barcos com hélice na parte traseira, conhecidos como rabetas, para analisar
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as condições de segurança da embarcação. Esse grupo, composto até de crianças, leva a informação aos bandidos que, logo em seguida, fazem o cerco e saqueiam a carga”. Os produtos mais visados são os combustíveis (diesel e gasolina) e os eletroeletrônicos. “Chegamos ao ponto de os piratas desacoplarem a balsa de um comboio com três milhões de litros de combustíveis. A mesma coisa eles fazem com embarcações car-
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“Empresas de menor porte correm o risco de parar” RAIMUNDO HOLANDA, prESIdENTE FENaVEGa
regadas de equipamentos da Zona Franca de Manaus. Os bandidos pegam uma barcaça transportando 40 carretas de eletroeletrônicos e levam tudo o que puderem. Chegam com armamento pesado e a tripulação não tem como reagir”, diz o presidente da Fenavega. “Eles estão se armando e se profissionalizando cada vez mais, enquanto não tem uma ação forte do Estado”, complementa. A vulnerabilidade do trans-
porte fluvial na Região Norte está afetando a confiança da atividade, minando toda a cadeia produtiva do setor. “Clientes migraram para outros modais e empresas seguradoras aumentaram seus valores de cobertura ou mesmo desistiram do negócio na região”, relata o presidente do Sindarpa (Sindicato das Empresas de Navegação Fluvial e Lacustre e das Agências de Navegação no Estado do Pará), José Rebelo III. Conforme a
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A Agência CNT de Notícias e a revista CNT Transporte Atual denunciaram os ataques de piratas na região amazônica no final de 2016. A agência fez uma série de três matérias explicando como funcionava o esquema e informando sobre o prejuízo de cerca de R$ 100 milhões somente em um ano. O assunto foi aprofundado na revista. As reportagens indicaram medidas para o enfrentamento da criminalidade na região e mostraram o temor da população, dos empresários e dos trabalhadores do setor diante desse grave problema. to iria trazer grave prejuízo à ordem econômica do Estado. Na prática, estamos à mercê da própria sorte por aqui”, lamenta o promotor. Competência A Polícia Federal e a Marinha atuam na região quando provocadas, ainda que o combate a furtos e roubos de piratas não
seja competência dos órgãos. De acordo com o delegado regional executivo da Polícia Federal no Pará, Olavo Pimentel, em alguns momentos, ocorrem ações conjuntas com as corporações estaduais, mas elas são mais preventivas do que repressivas. “Temos 300 policiais federais no Estado para dar conta de todo tipo de infração. Gostaríamos
No Prêmio CNT de Jornalismo 2017, a reportagem vencedora da categoria Impresso também abordou o problema da pirataria na Amazônia. A repórter Karla Mendes publicou a série “Perigo nos Rios” no jornal O Estado de S.Paulo. A apuração durou três meses, incluindo três semanas no Amazonas e em Rondônia. A repórter visitou um garimpo ilegal em Porto Velho, principal consumidor do combustível furtado. Também atravessou a fronteira de Rondônia com a Bolívia, onde há transporte ilegal de cargas e de passageiros. que houvesse maior estrutura para esse tipo de investigação, com reforço ostensivo, bases integradas e auxílio no trabalho de inteligência. Mas as distâncias da região dificultam muito. Às vezes, um barco passa três dias navegando. Pelas próprias características locais, é impossível que tenhamos polícia com frequência nos rios amazôni-
cos”, reconhece Pimentel. A Marinha informou que está presente nos rios da Amazônia Ocidental, cumprindo suas atribuições legais e atuando sempre em coordenação com os demais órgãos públicos na condução dos assuntos relacionados ao enfrentamento de atividades ilegais nas águas jurisdicionais brasileiras.
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Rota A rota dos ataques na região envolve principalmente os rios Solimões, Amazonas e Madeira – nos Estados do Pará, Amazonas e Rondônia - a partir da tríplice fronteira entre Brasil, Peru e Colômbia, tendo como principais pontos críticos as regiões dos estreitos e alguns municípios que beiram os rios. Os roubos e furtos são tão volumosos que chegaram a prejuízos de R$ 100 milhões, em 2016, segundo cálculos da Fenavega (Federação Nacional das Empresas de Navegação Aquaviária). Para o presidente da entidade, Raimundo Holanda, a investiga-
ção policial é difícil não somente devido à grande extensão territorial da Amazônia, mas, sobretudo, pela característica local dos rios, que possuem muitos braços, afluentes e igarapés. Sem falar no efetivo e na estrutura policial, ambos pequenos para atender às crescentes demandas locais. “Os roubos e furtos têm aumentado constantemente, e percebemos que as polícias não possuem condições de investigar de forma eficaz. Já solicitamos a presença da Polícia Federal a diversos órgãos do governo, mas até o momento não vimos uma ação mais efetiva de combate à criminalida-
de nos nossos rios. O furto de Manaus preocupa porque os assaltantes agiram não somente no interior, mas também às margens da cidade”, alerta. A Polícia Federal possui bases de atuação nos Estados, mas a sua atribuição originária é o combate ao tráfico de drogas, e não as ações dos piratas. Atualmente, esse tipo de investigação está a cargo dos grupamentos fluviais das polícias Civil e Militar do Amazonas e do Pará. Entretanto, eles contam com estruturas pequenas de inteligência para desvendar os crimes. A expectativa é que, até
o fim de março, seja inaugurada uma delegacia fluvial em Manaus para auxiliar no suporte junto à área metropolitana e às regiões mais distantes. A delegacia especializada da Polícia Civil só atuou no crime de Manaus pelo fato de ele ter ocorrido na cidade. Mesmo assim, a estrutura disponível foi de somente 30 policiais para toda a investigação. “A atuação dos empresários foi essencial para o sucesso da operação, uma vez que eles chegaram a fretar um helicóptero para que a polícia conseguisse localizar os criminosos”, afirma Alencar l Júnior, do Sindarma.
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SEST SENAT
Treinamento de qualidade Escola de Motoristas Profissionais abre 10 mil vagas para aperfeiçoamento de condutores habilitados nas categorias D e E; oferta de cursos também foi ampliada por
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ara aumentar a empregabilidade, a qualidade dos serviços prestados à sociedade e a segurança no trânsito, o SEST SENAT amplia o projeto Escola de Motoristas Profissionais. Ao todo, 10 mil oportunidades estão disponíveis para motoristas habilitados nas categorias D e E que atuam nos setores de cargas e de passageiros.
CARLOS TEIXEIRA
O número de cursos também cresceu. Em 2018, a Escola de Motoristas Profissionais passa a ofertar cursos especializados e atualizações relacionadas ao transporte rodoviário, regulamentados pelo Contran (Conselho Nacional de Trânsito). No segmento de cargas, o projeto agora contempla, além do treinamento para o transporte de produtos perigosos, o de cargas e
o de cargas indivisíveis. No segmento de passageiros, foi incluído o curso específico de transporte escolar. Em todo o Brasil, 84 unidades operacionais do SEST SENAT oferecem os treinamentos do projeto seguindo as demandas locais. Para a diretora-executiva nacional do SEST SENAT, Nicole Goulart, a ampliação da oferta de vagas e de cursos demonstra como a instituição se mantém
atenta às necessidades do mercado de trabalho em relação à capacitação dos trabalhadores do transporte. “Ser um motorista profissional vai muito além de ter uma habilitação. É preciso ter conhecimento teórico e prático. É isso que a Escola de Motoristas Profissionais do SEST SENAT oferece. Nosso trabalho está diretamente voltado para a questão da segurança no trânsito e a redução de custos no transporte.”
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Os conteúdos alinham teoria e prática e trabalham temas como visão sistêmica do setor de transporte, condução segura e econômica, transporte de pessoas com deficiência, relacionamento interpessoal e ética no trabalho, procedimento de engate e desengate de semirreboque e análise e leitura de tacógrafo. Desde outubro de 2016, quando a Escola de Motoristas foi lançada, é possível perceber uma
redução de 29% da incidência de erros ao dirigir e de 9% de economia de combustível depois dos treinamentos práticos. O instrutor da unidade de Campo Grande (MS), Emerson Luciano, ressalta que o rápido avanço tecnológico dos veículos de cargas e de passageiros têm exigido profissionais cada vez mais qualificados e, nesse sentido, o projeto do SEST SENAT garante destaque aos profissio-
nais que participam dele. “Com a enorme concorrência no mercado de trabalho, um motorista qualificado se destaca e sai na frente dos demais. A grade curricular dos cursos ultrapassa a questão operacional. Isso é um diferencial na hora da seleção de um profissional.” Luciano ainda frisa a questão dos benefícios para as empresas ao selecionarem profissionais bem treinados e atualizados em
relação às necessidades do mercado. “Um motorista bem qualificado traz diversos benefícios para a empresa, pois pratica o correto manuseio dos veículos e dos demais componentes, como os pneus, o consumo consciente de combustível, desonerando o custo operacional e consequentemente alavancando a rentabilidade da empresa.” Foi exatamente isso que despertou o interesse do Grupo
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Aulas teóricas abordam temas, como visão sistêmica do transporte
Chibatão, que atua no segmento de transporte de cargas em Manaus (AM). De acordo com a assistente de recursos humanos, Valéria Sabino, a empresa procura dar preferência por contratar motoristas que realizam treinamentos no SEST SENAT. “A expertise da instituição confere ao profissional um selo de qualidade. Ao contratarmos motoristas, sempre procuramos aqueles que fazem os cursos do SEST SENAT, porque sabemos da referência que a instituição é em termos de treinamentos e qualificação. Os treinamentos vão ao encontro do que a empresa necessita em termos de segurança e economia”.
Segundo Valéria, o Grupo Chibatão contratou mais de 300 motoristas que tiveram, em seus currículos, treinamentos do SEST SENAT e cita o exemplo dos candidatos à vaga de motorista carreteiro, que largam à frente dos concorrentes por possuírem treinamentos da instituição. “Os motoristas já vêm com um comportamento melhor na parte operacional e na postura profissional. Temos a garantia de contratarmos os melhores profissionais para o setor”, ressalta ela. Mateus Gonzaga da Silva, motorista do transporte de cargas em Manaus (AM), é um exemplo disso. Ele destaca que o
curso oferecido pelo SEST SENAT o recolocou no mercado de trabalho. “Eu troquei a minha habilitação da categoria B para a categoria E com a ajuda do SEST SENAT, em um outro projeto. Logo depois, participei da Escola de Motoristas e consegui uma recolocação no mercado. Já estou no emprego há quase um ano.” Segundo Silva, os treinamentos foram essenciais para a manutenção dele no atual emprego. “As empresas exigem hoje um profissional que esteja atento à questão da economia e da manutenção do veículo e que pratique uma direção mais técnica. Isso só se aprende com
treinamento. Com os cursos, a gente muda a nossa visão da profissão”, ressalta. Tecnologia A Escola de Motoristas oferece aulas teóricas e treinamentos práticos em veículos com tecnologia embarcada, onde os alunos têm a oportunidade de testar os conhecimentos recebidos em sala de aula por meio de manobras e circuitos de condução nas condições reais encontradas nas rodovias e nas vias urbanas. Para os treinamentos práticos, o SEST SENAT dispõe de veículos próprios, entre ônibus
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ESCOLA DE MOTORISTAS PROFISSIONAIS » Requisitos para inscrição - Ser motorista profissional habilitado nas categorias D ou E - Ter mais de 21 anos de idade na data de inscrição - O candidato somente poderá se inscrever na unidade do SEST SENAT localizada na área do Detran em que a CNH for válida » Unidades participantes do projeto São 84 unidades participantes em todo o país. A lista completa com os endereços pode ser acessada em www.sestsenat.org.br/Paginas/escola-motoristas » Cursos (gratuitos para os motoristas contribuintes do SEST SENAT, que também têm prioridade na seleção) Transporte de cargas - Motorista Profissional de Veículos de Transporte de Produtos Perigosos - Motorista Profissional de Veículos de Transporte de Cargas Indivisíveis - Motorista Profissional de Veículos de Transporte de Carga Transporte de passageiros - Motorista Profissional de Veículos de Transporte Coletivo de Passageiros - Motorista Profissional de Veículos de Transporte Escolar
Mais informações: www.sestsenat.org.br 0800 728 2891
Treinamentos práticos são realizados com tecnologia embarcada
e caminhões, em algumas unidades, e ainda mantém uma parceria com a Mercedes-Benz, que disponibiliza caminhões. Aluno do curso de produtos perigosos na unidade Jardim Vitória, em Belo Horizonte (MG), Amilton Gonçalves Pereira afirma que principalmente as aulas práticas fizeram ele mudar o comportamento enquanto motorista. “Tive uma mudança de consciência e de postura como condutor. Depois dos treinamentos, no nosso dia a dia, a gente lembra do que aprendeu na sala de aula e automaticamente atua de forma melhor e mais segura. Por isso, toda vez que eu
puder fazer um treinamento para melhorar como profissional, irei fazer”, finaliza. Para participar da Escola de Motoristas, os interessados devem ter mais de 21 anos de idade, possuir CNH (Carteira Nacional de Habilitação) na categoria D (para o curso de motoristas de ônibus) ou E (para o curso de condutores de caminhão) e residir na área de abrangência da circunscrição regional de trânsito correspondente à unidade operacional do SEST SENAT onde cursarão os treinamentos. Os cursos são gratuitos gratuitos para os motoristas contribuintes do SEST SENAT, que também têm l prioridade na seleção.
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RODOVIÁRIO DE PASSAGEIROS
Responsabilidade
de todos
Campanha da NTU, em parceria com o SEST SENAT e a ONU, busca engajar profissionais do transporte e a sociedade no combate à violência de gênero e ao abuso sexual nos ônibus por
Ô
nibus é lugar de respeito! Chega de abusos!” Esse é o slogan da Campanha contra a Violência de Gênero e o Abuso Sexual no Transporte Público, que será lançada oficialmente a partir de março, em Brasília (DF). Segundo a pesquisa “Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil”, realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e pelo Instituto Datafolha em 2017, uma em cada três mulheres sofreu algum tipo de violência no último ano; 40% das bra-
"
DIEGO GOMES
sileiras com mais de 16 anos sofreram assédio; 36% receberam comentários desrespeitosos ao andar na rua (20,4 milhões de mulheres); 10,4% foram assediadas fisicamente em transporte público (5,2 milhões de mulheres); e cerca de 52% das mulheres vítimas de assédio dentro do transporte público não denunciaram. Esses números endossam uma realidade que, ainda nos dias de hoje, subjuga mulheres e as relegam a uma condição de inferioridade. E é nesse contexto que se insere a iniciativa da NTU (Associação
Nacional das Empresas de Transporte Urbano), que conta com o apoio do SEST SENAT e da UNFPA/ONU (Fundo de População das Nações Unidas); e, nessa primeira fase, com a colaboração do Governo do Distrito Federal (Secretaria de Mobilidade, Secretaria Adjunta de Políticas para Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos, Secretaria de Segurança) e das empresas de transporte coletivo urbano de Brasília (Marechal, Piracicabana, Pioneira, São José, TCB e Urbi). A campanha prevê a afixa-
ção de cartazes em todos os ônibus das empresas, a distribuição de folhetos nos coletivos e nos terminais de passageiros, busdoor, com a opção de conteúdo para uso interno e externo, adesivação dos veículos, entre outras ações. Nessa primeira etapa, somente a frota de Brasília receberá as intervenções. Posteriormente, a iniciativa será estendida a outras cidades brasileiras. Além das peças publicitárias, a campanha abrange a capacitação de cobradores e motoristas profissionais de ônibus no combate a esse tipo de vio-
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NTU/DIVULGAÇÃO
Exemplo de intervenção em ônibus com as peças publicitárias da campanha
Pesquisa mostra que
10,4% das mulheres foram assediadas no transporte público
lência. Para isso, o SEST SENAT está desenvolvendo um curso sobre a temática, cuja oferta da turma-piloto está prevista para junho na unidade de Brasília. O material didático e o curso estão sendo preparados pelo SEST SENAT, em parceria com a NTU e a UNFPA/ONU. O diretor administrativo da NTU, Marcos Bicalho, destaca que os ônibus são espaços de convivência social e, por esse motivo, devem ser percebidos como lugares seguros e acolhedores, de uso coletivo, onde as regras da boa convivência devem ser aplicadas por todos,
e onde atitudes abusivas não serão toleradas. Ele rechaça a errônea máxima de que o transporte público urbano coletivo é “terra de ninguém”, onde não há regras ou comportamentos mínimos a se seguir. “Essa questão do abuso diz respeito a toda a sociedade. Por isso, a campanha não é centrada no estímulo à denúncia, mas na promoção do respeito às usuárias”, diz. A ideia é promover uma mudança cultural que estimule vítimas de abuso sexual nos transportes e/ou pessoas que presenciem algum episódio
de violência a denunciarem os agressores e, assim, inibir a prática desse tipo de crime. Para a diretora-executiva nacional do SEST SENAT, Nicole Goulart, a violência contra a mulher não se limita à esfera privada ou familiar, uma vez que guarda características de problema social. À luz dessa percepção, a diretora reforça o caráter didático da campanha, que dialoga diretamente com quem está na linha de frente da questão. “Queremos preparar os profissionais para o primeiro atendimento das vítimas, a fim de que não ocorra
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TONINHO TAVARES/AGÊNCIA BRASÍLIA/DIVULGAÇÃO
“Estamos todos coexistindo no mundo e precisamos promover a igualdade de gêneros” ANA CLÁUDIA PEREIRA, OFICIAL DE PROJETO EM GÊNERO E RAÇA E ETNIA DA UNFPA/ONU
Brasília será a primeira cidade a receber as ações da campanha
nenhum pré-julgamento. Nós, do SEST SENAT, estamos engajados em sensibilizar e capacitar esses trabalhadores para que eles sejam importantes referências no setor.” Questão de gênero Gênero diz respeito a papéis, comportamentos, atividades e atributos que uma sociedade, em um determinado momento, considera apropriado para homens e mulheres, conceitua a oficial de projeto em gênero e raça e etnia da UNFPA/ONU, Ana Cláudia Pereira. Ela explica que essas características, oportunidades e relações são socialmente construídas e aprendidas por meio de pro-
cessos de socialização. Elas são específicas a um contexto e a um tempo, bem como são mutáveis. A representante da UNFPA/ ONU comenta que é preciso entender a conceituação de gênero para apreender a origem da violência motivada por essa natureza. Segundo a Convenção da ONU sobre a Eliminação da Violência contra a Mulher, a violência contra as mulheres significa qualquer ato baseado em gênero do qual resulte – ou possa resultar – dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico, incluindo ameaças, coação ou privação de liberdade, que ocorram na vida pública ou pri-
vada. “Estamos todos coexistindo no mundo e precisamos promover a igualdade de gêneros.” Ela ressalta a importância do papel dos profissionais do transporte na difusão do escopo da campanha: “Eles podem ser multiplicadores desse respeito. O importante é não ficar calado diante da violência, não naturalizá-la.” No Brasil, a Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340, de 2006) define violência doméstica e familiar contra a mulher como qualquer ação ou omissão baseada no gênero que cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial, seja no ambiente doméstico familiar
ou em espaços de convívio, em relação íntima de afeto. Nesse sentido, a diretora de ações afirmativas da SecretariaAdjunta de Políticas para Mulheres, Direitos Humanos e Igualdade Racial do Distrito Federal, Rosimeri Melo Pereira, reitera que qualquer pessoa pode denunciar às autoridades competentes o abuso contra as mulheres. “Sejamos multiplicadores de uma mentalidade libertadora e igualitária.” Segundo ela, foi definida a utilização do termo “abuso” na campanha pelo fato de assédio, legalmente, pressupor relação de hierarquia. O analista de treinamento e desenvolvimento da Viação
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NTU/DIVULGAÇÃO
Em casos de abuso, o motorista deve parar o veículo e acionar a polícia
Marechal, Rodrigo Cyrillo Rodrigues, fala do potencial multiplicador dos cobradores e motoristas, que, na visão dele, são uma espécie de “balizadores morais” no contexto dos veículos. “O colaborador do transporte já atua normalmente como agente social e, portanto, aquilo que ele demonstrar ou fizer diante dos passageiros fará com que ele seja um multiplicador muito forte, já que alcançará facilmente umas 45 pessoas.” O que diz a lei No dia 29 de agosto de 2017, em um ônibus que transitava na avenida Paulista, em São Paulo (SP), um homem ejacu-
lou no ombro de uma mulher. O caso ganhou repercussão nacional e abriu debate sobre a cobertura jurídica de proteção a vítimas de crimes sexuais. O assunto foi tratado na edição 263 da revista CNT Transporte Atual. Atualmente, segundo o Código Penal e a Lei de Dignidade Sexual, casos como esse podem ser enquadrados como importunação ofensiva ao pudor – importunar alguém, em lugar público ou acessível ao público, de modo ofensivo. Contudo o sargento da Polícia Militar do DF Gmayeel Wistermann, do setor especializado em violência doméstica, explica
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GUELDON BRITO
Reunião em unidade do SEST SENAT definiu pontos da campanha
que o caso também poderia ter sido enquadrado no crime de estupro, que consiste em “constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal, praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso.” No espaço dos ônibus, o sargento esclarece que ainda há possibilidade de o agressor incorrer em ato obsceno. No caso de assédio sexual, ele comenta que é mais complexo de se encaixar nesse contexto, já que a legislação define o crime como “constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecen-
do-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função.” Mesmo considerando a legislação branda em determinadas circunstâncias, Wistermann fala dos procedimentos a serem adotados nesses casos. “O ônibus pode ser deslocado até a delegacia para que seja feito o registro de ocorrência; ou o veículo pode permanecer no local e ser acionado o 190, então, a polícia vai até o local; ou ainda, é possível informar, via telefone, que, durante o percurso, uma viatura irá abordar mais à frente l o veículo.”
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PESQUISA DE SATISFAÇÃO
Mais de 90% de aprovação Atendimentos nas áreas de desenvolvimento profissional e de promoção social do SEST SENAT recebem avaliação ótima e boa da maioria dos trabalhadores que utilizaram os serviços em 2017 da
O
s atendimentos nas áreas de desenvolvimento profissional e de promoção social e as instalações das Unidades Operacionais do SEST SENAT tiveram mais de 90% de avaliação ótima e boa entre os usuários dos serviços. A Pesquisa de Satisfação realizou 2.134 entrevistas com os trabalhadores do transporte que participaram das ações do SEST SENAT em 2017. O levantamento foi realizado por formulário eletrônico enviado aos participantes entre os dias 29 de janeiro e 14 de fevereiro de 2018. Os dados comprovam que
REDAÇÃO
SEST SENAT permanece cumprindo a sua missão de promover a melhoria da qualidade de vida e o desenvolvimento profissional dos trabalhadores do setor e dos seus dependentes, com responsabilidade socioambiental. Em 2017, foram realizados mais de 8,6 milhões de atendimentos. Os serviços oferecidos nas áreas de promoção social e de desenvolvimento profissional foram considerados ótimos ou bons por 91,3% dos entrevistados; 6,7% disseram que são regulares; 1,4% classificou como ruins; e 0,6%, como péssimos. Em relação às instalações das unidades operacionais, que
envolvem as salas de aula, as clínicas de odontologia, fisioterapia, nutrição e psicologia, e os espaços de lazer, a avaliação também é positiva: 91,8% consideraram as instalações ótimas ou boas. Para 7,1%, elas são regulares; 0,9% as considera ruins ou péssimas; 0,2% não soube avaliar. Para promover o desenvolvimento profissional dos trabalhadores do setor, o SEST SENAT oferece um portfólio de 433 cursos presenciais gratuitos, além de mais de 207 cursos a distância. A qualidade dos cursos foi considerada ótima e boa por 96,1% dos entrevistados, e a estrutura física das salas
de aula, por 92,2%. Entre os entrevistados, 96,2% avaliaram os instrutores dos cursos como ótimos ou bons; 93,6% pensam que a metodologia utilizada também é ótima ou boa. E para garantir maior bem-estar físico e mental aos trabalhadores, o SEST SENAT também realiza atendimentos nas áreas de saúde e atividades de esporte, lazer e cultura. Na pesquisa realizada no início deste ano, os atendimentos de fisioterapia receberam avaliação ótima e boa de 93,9% dos usuários; os de odontologia, de 88,5%; os de nutrição, 92,9%; e os de psicologia, 91,3%.
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AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DOS ATENDIMENTOS DE SAÚDE AVALIAÇÃO SOBRE A QUALIDADE DOS ATENDIMENTOS Ruim
1,4% 0,6%
30,5% 33,5% 34,4% 37,6% Péssimo
Regular
Péssimo
6,7% Ótimo
Ótimo + Bom
31,9% 35,9% 41,7% 46,4% 48,1%
Péssimo Não sabe avaliar
Regular
Péssimo
7,1%
Ruim
64,3% 60,2% 50,5% 47,2% 40,8% Ótimo
Regular Bom
Carga horária
Ótimo + Bom
Metodologias
91,8%
Salas de cursos e outros ambientes
Ótimo
Qualidade dos cursos
43,2% 48,6%
Instrutores dos cursos
Bom
91,6%
AVALIAÇÃO SOBRE A QUALIDADE DOS CURSOS
AVALIAÇÃO SOBRE A QUALIDADE DAS INSTALAÇÕES
Ruim
Bom
Assistência Nutricional
Ótimo + Bom
Assistência Psicológica
91,3%
0,2% 0,7% 0,2%
Regular Ótimo
Assistência Fisioterápica
29% 62,3%
58% 60,4% 56,9% 55,3% Assistência Odontológica
Bom
Ruim
93,4% Ótimo + Bom
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ITL
Certificação internacional
ITL e SEST SENAT iniciam o primeiro curso oferecido a profissionais do setor ferroviário e metroferroviário; capacitação é ministrada pela Deutsche Bahn Rail Academy por
DIEGO GOMES
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73 MARCOS BORGES
U
m dos grandes gargalos logísticos da atualidade no Brasil é a falta de uma estrutura intermodal para conectar importantes pontos de escoamento de cargas e assegurar mobilidade urbana nas cidades. E a resposta para tal desafio passa, necessariamente, pelo investimento no modal ferroviário. Contudo, para atrair investimento de qualidade e
desenvolver o setor, é necessário produzir conhecimento e pensar soluções para esses problemas. À luz dessa realidade, teve início, no mês de fevereiro, em Brasília, o primeiro curso de Certificação Internacional em Gestão de Sistemas Ferroviários e Metroferroviários, oferecido pelo ITL (Instituto de Transporte e Logística) e pelo SEST SENAT. A capacitação é ministrada pela Deutsche Bahn
Rail Academy, organização do Grupo DB (Deutsche Bahn), um dos maiores operadores de transporte multimodal de cargas e de passageiros do mundo. O curso – que terá duração de 18 meses – será realizado em encontros presenciais e a distância. O objetivo é capacitar profissionais para garantir mais produtividade, eficiência e redução de custos ao setor ferroviário de cargas e de pas-
sageiros. Essa primeira turma conta com 35 especialistas/gestores das áreas de operação e manutenção do setor ferroviário e metroferroviário. O diretor-executivo do ITL, João Victor Mendes, ressalta a importância de ter o apoio de todas as entidades do setor para desenvolver uma capacitação que atenda aos anseios do modal. “Estamos falando de uma área que tem o desafio de
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ANTF/DIVULGAÇÃO
aumentar a eficiência visando à excelência na prestação de serviços. Por esse motivo, precisamos investir na geração de conhecimento, aprimoramento do capital humano e inovação da atividade transportadora. E o curso é ministrado por um corpo docente altamente capacitado, com formação acadêmica sólida, de uma instituição que é referência em todo o mundo.” Ele ressalta o trabalho que o ITL já vem realizando, há anos, com a Especialização em Gestão de Negócios, oferecida aos gestores das empresas de transporte de todos os modais e ministrada pela Fundação Dom Cabral, além da Certificação Internacional Aviation Management, oferecida aos gestores do setor aéreo e ministrada pela Embry-Riddle Aeronautical University. As capacitações do ITL e do SEST SENAT têm buscado contemplar todos os modais de forma a influenciar de maneira decisiva na agenda do transporte. Essa é a percepção da diretora-executiva nacional do SEST SENAT, Nicole Goulart. “Nosso propósito é elevar o nível de formação dos participantes a padrões internacionais, possibilitando o acesso a benchmarks de ponta e o contato com inovações tecnológicas na operação e na gestão”, explica. Segundo ela, a certificação voltada aos gestores ferroviários contribui para uma maior especialização da mão de obra, agregando valor e aumentando a competitividade e a produtividade do setor.
Capacitação deve aprimorar o nível dos serviços oferecidos
Para o diretor-executivo da CNT, Bruno Batista, a especialização configura oportunidade única aos participantes – que, segundo ele, são pioneiros – por possibilitar a expansão da sua rede de contatos, algo imprescindível na busca de soluções para problemas complexos. “Essa capacitação é simbólica por mostrar que o sistema está comprometido com a formação gerencial de alto nível. Nosso papel é traduzir os problemas do setor e buscar transformá-los em soluções sob a ótica da integração do sistema de logística e de mobilidade urbana.” A certificação conta com a cooperação da ANPTrilhos (Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos) e da ANTF (Associação Nacional dos Transportes Ferroviários) na
divulgação da seleção entre os empregados das companhias associadas. As duas instituições têm como missão defender e promover o desenvolvimento e aprimoramento do transporte de carga e de passageiros por trilhos no país. O diretor institucional da ANTF, Ticiano Bragatto, sublinha a importância da iniciativa para aprimorar o nível de capacitação e de excelência do setor, diversificar a matriz de transporte e incentivar a multimodalidade. Na aula inaugural, ao se dirigir aos alunos, Bragatto reiterou o caráter pioneiro da certificação. “Estamos dando um novo passo rumo ao desenvolvimento do setor. Por isso, aproveitem a chance de lidar com a maior academia ferroviária que existe no mundo.” Ao destacar a parceria com a DB, o diretor de planejamento
da ANPTrilhos, Conrado Grava de Souza, lamentou o ainda baixo investimento brasileiro no setor e chamou atenção para o papel do modal ferroviário que, em função de suas características, é um importante instrumento de transformação socioeconômica, além de ser um meio fundamental para a preservação do meio ambiente. “Infelizmente, o Brasil, um país de dimensões continentais, ainda tem números muito tímidos. Hoje, a malha tem apenas 1.034 km de extensão e é responsável por apenas 4% do transporte de usuários urbanos no país. As cidades chinesas de Xangai e Pequim, somadas, têm uma rede maior que a brasileira.” Expectativa Os alunos da certificação almejam refletir sobre os desa-
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ARQUIVO CNT
Brasil tem pouco mais de 1.000 km de linhas de sistemas metroferroviários
fios do setor e propor soluções para as questões estruturantes da área. O gerente de planejamento e controle de manutenção de via permanente da VLI, Cesar de Castro Toniolo, destaca o ineditismo da qualificação e a sua relevância estratégica. “Além de poder participar de um curso oferecido por uma instituição com o know-how e o tamanho da DB, temos contato com outras pessoas do setor.” Para ele, os principais desafios do setor ferroviário de cargas no país são ser mais eficiente e buscar formas de atrair mais investimentos, especialmente no atual período, em que os operadores estão às voltas das discussões relacionadas às renovações de contratos. “A gente tem uma infraestrutura antiga, que passou por uma fase de desinvestimento antes
da privatização, principalmente nas décadas de 1980 e 1990. Desde então, as concessionárias investiram grandes valores, mas ainda existe um gap quando falamos em atender à demanda dos nossos clientes e melhorar as velocidades comerciais”, diz Toniolo. Com uma malha considerada pequena se comparada às principais metrópoles do mundo e dada a dimensão continental do Brasil, o ferroviário de passageiros busca sensibilizar o poder público de que essa é a alternativa mais viável para melhorar a mobilidade nas cidades brasileiras. Essa é a avaliação da engenheira e chefe de divisão de sistemas fixos do Metrô-DF, Fernanda de Oliveira Soares de Souza. Ela lembra que, no Brasil, há poucas oportunidades de especializações voltadas para
o setor ferroviário, em que o conhecimento possa ser alinhado e o network reforçado. “Além dos desafios tecnológicos, precisamos levar a importância do transporte sobre trilhos para os governantes para que consigamos financiamento de modo a modernizar a infraestrutura e prestar sempre um serviço melhor para a população”, comenta Fernanda. Nesse sentido, ela avalia que a especialização contribui para a formação de gestores de alto nível, “que estarão bem munidos de conhecimento para discutir essa questão com governos e empresários e garantir gestões transparentes, com alta qualidade técnica. Isso é muito importante para o planejamento, a implantação e a execução”.
Deutsche Bahn O grupo alemão Deutsche Bahn é um dos líderes mundiais em operação e serviços de mobilidade de passageiros e logística. O diretor institucional do grupo no Brasil, Peter Mirow, informou, na abertura do curso, que a Deutsche Bahn opera globalmente nos modais ferroviário, rodoviário, marítimo e aeroviário em mais de 130 países, ocupando posições de liderança no mercado da Europa e no restante do mundo. A empresa, que conta com uma malha de 33 mil km de extensão – a brasileira, no total, é de aproximadamente 30 mil km –, é responsável por transportar 12 milhões de passageiros por dia e 440 toneladas de cargas por ano. Segundo ele, o grupo, por meio da sua academia, fornece conhecimento em operação ferroviária e logística a partir de projetos de treinamento integrado e soluções de aprimoramento profissional. “Estamos felizes em poder compartilhar esse know-how com os brasileiros e queremos um feedback dos alunos, que são pioneiros e poderão ser replicadores para outras gerações de profissionais.” O diretor global da Deutsche Bahn Rail Academy, Heiko Scholz, salientou que é uma honra iniciar esse trabalho no Brasil e explicou que o método dos cursos da academia utiliza diferentes ferramentas e busca contemplar tanto a parte teórica quanto a prática, com o uso de simuladores, por exemplo. l
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Câmara Interamericana de Transportes condecora autoridades civis e militares do continente americano
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Câmara Interamericana de Transportes – CIT, durante sua XXIX Assembleia Geral Ordinária, uma edição inédita na sede da Confederação Nacional do Transporte – CNT, contou com a participação de Embaixadores e Cônsules dos seus países integrantes e outras autoridades civis e militares. O General de Exército Joaquim Silva e Luna, Ministro da Defesa do Brasil, colaborou com o desenvolvimento dos transportes por mais de 30 anos de sua vida militar, sendo agraciado com a medalha Grau Embaixador, da Ordem do Mérito Interamericano dos Transportes. Nos assuntos técnicos da Assembleia Geral Ordinária, o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços do Brasil aportou impor-
tantes considerações, dando início a um trabalho conjunto com a CIT no tratamento dos corredores internacionais e passagem de fronteiras, visando à facilitação do trânsito nas fronteiras. Ainda em destaque, a CIT iniciou nessa Assembleia trabalhos de formação de jovens no setor de transporte internacional dos países componentes da Câmara, trazendo uma visão do continente em 2028. A Câmara Interamericana de Transportes (CIT) foi criada no dia 25 de maio de 2002 e é composta por entidades de 18 países das Américas, com o objetivo de ser um foro de discussão e indicação das tendências para o setor de transporte. Os trabalhos da XXIX Assembleia Geral Ordinária foram realizados nos dias 26, 27 e 28 de fevereiro. FOTOS CIT/DIVULGAÇÃO
Ministro da Defesa do Brasil foi condecorado com a Medalha da Ordem do Mérito Interamericano dos Transportes Ministro de la Defensa de Brasil fue condecorado con la Medalla del Orden del Merito Interamericano de Transportes
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Abertura da XXIX Assembleia Geral Ordinária da CIT Apertura de la XXIX Asamblea General Ordinaria de la CIT
Cámara interamericana de transportes condecora autoridades civil y militares del continente americano
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a Cámara Interamericana de Transportes - CIT, durante su XXIX Asamblea General Ordinaria, una edición inédita en la sede de la Confederación Nacional del Transporte - CNT, contó con la participación de Embajadores y Cónsules de sus países integrantes y otras autoridades civiles y militares. El General de Ejército Joaquim Silva y Luna, Ministro de Defensa de Brasil, colaboró con el desarrollo de los transportes por más de 30 años de su vida militar, siendo agraciado con la medalla Grado Embajador, de la Orden del Mérito Interamericano de los Transportes. En los asuntos técnicos de la Asamblea General Ordinaria, el Ministerio de Industria, Comercio Exterior y Servicios de Brasil aportó importantes consideraciones, dando inicio a un trabajo
conjunto con la CIT en el tratamiento de los corredores internacionales y paso de fronteras, con miras a facilitar el tránsito en las fronteras. La CIT inició en esa Asamblea, trabajos de formación de jóvenes en el sector de transporte internacional de los países componentes de la Cámara, trayendo una visión del continente en 2028. La Cámara Interamericana de Transportes (CIT) fue creada el 25 de mayo de 2002, y está compuesta por entidades de 18 países de las Américas, con el objetivo de ser un foro de discusión e indicación de las tendencias para el sector del transporte. Los trabajos de la XXIX Asamblea General Ordinaria se desarrollaron en los días 26, 27 y 28 de febrero.
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CIT presente nos 50 anos da FADEEAC FOTOS FADEEAC/DIVULGAÇÃO
Paulo Vicente Caleffi, Secretário-Geral da CIT
O Secretário-Geral da CIT, Paulo Vicente Caleffi, foi convidado em caráter de autoridade internacional na celebração dos 50 anos da FADEEAC - Federación Argentina de Entidades Empresarias del Autotransporte de Cargas, em Buenos Aires, junto à autoridades do governo argentino, como o Ministro do Transporte, Guillermo Dietrich, e de representantes do setor empresarial do transporte rodoviário de carga do país. Na ocasião, Paulo Caleffi enfatizou a importância da trajetória da instituição durante essas cinco décadas e dos logros alcançados para o setor. Durante o evento, o fundador da FADEEAC, Rogelio Cavalieri Iribarne, foi homenageado com uma medalha em agradecimento ao desenvolvimento do setor de transporte. O presidente da FADEEAC, Daniel R. Intart, ocupa o cargo de presidente do Capítulo Argentina.
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CIT presente en los 50 años de la FADEEAC
Daniel Indart e Rogelio Cavalieri Iribarne
El Secretario General de la CIT, Paulo Vicente Caleffi, fue invitado en carácter de autoridad internacional en la celebración de los 50 años de la FADEEAC - Federación Argentina de Entidades Empresarias del Autotransporte de Cargas, en Buenos Aires, junto a las autoridades del gobierno argentino, como el Ministro del Transporte, Guillermo Dietrich, y de representantes del sector empresarial del transporte por carretera de carga del país. En la ocasión, Paulo Caleffi de enfatizó la importancia de la trayectoria de la institución durante esas cinco décadas y de los logros alcanzados para el sector. Durante el evento, el fundador de la FADEEAC, Rogelio Cavalieri Iribarne, fue homenajeado con una medalla en agradecimiento al desarrollo del sector del transporte. El presidente de la FADEEAC, Daniel R. Intart, ocupa el cargo de presidente del Capítulo Argentina. Guillermo, Hugo Membrive, Margaret e Paulo Vicente Caleffi, Daniel Indart e Juan Aguilar
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TEMA DO MÊS
O aquecimento da economia mundial e os reflexos para o transporte do Brasil
Aquecimento da economia mundial: desenvolvimento para todos os países JOSÉ AUGUSTO DE CASTRO
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JOSÉ AUGUSTO DE CASTRO Presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil)
Brasil é um país exportador de peso. Segundo dados do MDIC, os números dos últimos anos, cujos destaques são os produtos básicos (commodities), mostram a contínua expansão das quantidades exportadas, em milhões de toneladas. As exportações brasileiras de produtos manufaturados estão imobilizadas há mais de 10 anos e assim permanecerão enquanto não forem aprovadas e implementadas as indispensáveis reformas estruturais nas áreas tributária e previdenciária e não forem viabilizados maciços investimentos em infraestrutura, condições essenciais para reduzir o elevado "Custo Brasil". Mas, com todas essas deficiências, como se explica a constante e crescente expansão quantitativa das exportações brasileiras? A resposta é o famoso jeitinho brasileiro, em que abnegados e criativos empresários do segmento de transporte buscam alternativas para atender à demanda internacional, e que, não sendo atendida, pode dar margem para perda de clientes. Neste ano de 2018, uma vez mais, o mundo econômico, representado pela União Europeia,
Estados Unidos e China, sinaliza que suas atividades deverão ter expressiva expansão, cenário que projeta elevação da demanda pela importação de mercadorias que fazem parte da pauta brasileira de exportação. E o Brasil está preparado para atender a essa nova demanda adicional? A recessão que atingiu o país nos últimos anos afetou a capacidade das empresas brasileiras de continuar utilizando o jeitinho para suprir o crescimento do volume de transporte? Mesmo enfrentando dificuldades internas de toda ordem, novamente, o Brasil não está preparado, mas vai atender a essa nova demanda internacional. O projetado aquecimento da economia mundial nas principais nações e blocos econômicos vai irradiar desenvolvimento para todos os países e, certamente, proporcionará reflexos positivos nos tradicionais países supridores de matérias-primas, que é o caso do Brasil, o qual possui destacada atuação em setores do agronegócio, minerais metálicos e extração de petróleo, beneficiando diretamente o segmento transportador. Ainda que de forma pontual e indireta, também as vendas
externas de produtos manufaturados destinados à América do Sul deverão ser beneficiadas, pois o crescimento da economia mundial abre espaço para a maior expansão das exportações de commodities desses países, criando perspectivas de elevação das exportações brasileiras de produtos manufaturados para aquelas nações e provocará maior nível de atividade econômica para o segmento transportador. Porém, se o Brasil fizer seu dever de casa, vai gerar competitividade externa para todos os seus produtos, principalmente os manufaturados; reduzirá a elevada dependência das commodities; deixará a desconfortável posição de 32º exportador de manufaturados; sairá da quase fixa participação de 1% nas exportações mundiais; gerará milhares de novos empregos; criará previsibilidade no comércio exterior e estabilidade nas operações de exportação, entre outros fatores positivos. E tudo isso depende apenas e exclusivamente de decisões internas no Brasil, em que todos, e não apenas empresários do setor de transporte, mas também industriais, políticos e governo, tenham os mesmos objetivos e a mesma perseverança.
O reaquecimento da economia coloca o transporte em destaque JORGE ARBACHE
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epois de três anos de uma custosa recessão, a economia começa a se recuperar. Estimativas apontam para um crescimento em torno de 3% do PIB em 2018. Indicadores de confiança do consumidor e dos empresários já capturam sinais positivos nas lojas e nas encomendas de bens de capitais. Tudo isso movimenta a economia e, consequentemente, as atividades associadas, como o transporte. De fato, a reativação da economia terá enormes repercussões no setor de transporte. De acordo com a Pesquisa Anual de Serviços do IBGE, o segmento de “transporte, serviços auxiliares de transporte e correio” representa cerca de 14% das empresas e emprega 21% da força de trabalho de todo o setor de serviços, o maior da economia. Nesse segmento, os transportes rodoviários destacam-se pela sua larga predominância em termos de número de empresas, pessoal ocupado, massa salarial e receita líquida. Logo, a reativação dos transportes terá enormes impactos, inclusive sociais. Mas talvez tão importante quanto reativar o setor é tê-lo como aliado na luta pelo aumento da competitividade e
da produtividade da economia. A Pesquisa Industrial Anual do IBGE mostra que os serviços de “fretes e cargas” são o terceiro maior componente de serviços na matriz de custos da indústria manufatureira, respondendo por cerca de 15% dos dispêndios totais do setor com serviços. No caso da mineração e da agricultura, a participação dos fretes e cargas também é alta, embora volátil, em razão da variação dos preços das commodities. Logo, ter um transporte moderno, ágil e competitivo é requisito fundamental para o crescimento econômico e para a inserção internacional. Para que o setor de transporte possa contribuir cada vez mais para a competitividade, vários elementos são necessários, incluindo a modernização dos marcos regulatórios do setor, a Reforma Tributária e os investimentos em infraestrutura. Esse é um tema especialmente relevante. Hoje, menos de 2% do PIB é alocado para investimentos em infraestrutura – seriam necessários ao menos 5%, e por muitos anos, para o atendimento das nossas carências básicas. Reconhecendo as dificuldades presentes e futuras de capacidade de investimentos públicos em infraestrutura, o
governo está implementando, por meio do PPI, um ambicioso programa, o Avançar, que promoverá os tão necessários investimentos em transporte com a participação do setor privado. Neste ano e no próximo, já estão programados leilões de importantes ferrovias, rodovias, portos e aeroportos que terão impactos substanciais nos investimentos e na oferta de serviços de logística e transporte. Como as demandas e a pressa são grandes, mas os recursos são escassos, será preciso racionalizar a agenda de investimentos no setor. Seletividade dos investimentos, integração de modais, emprego de novas tecnologias de construção e manutenção e otimização logística devem ser parte do guia que nos orientará nessa jornada. Numa economia mundial cada vez mais integrada e em que as cadeias globais de valor exercem papel determinante no comércio e nos investimentos, ter um setor de transporte sofisticado é “condição de entrada” para um país poder ambicionar participar da economia global pela porta da frente e melhorar a qualidade de vida dos seus cidadãos. Por isso, o setor deve ser parte da agenda prioritária do país.
JORGE ARBACHE Secretário de Assuntos Internacionais do Ministério do Planejamento
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CNT TRANSPORTE ATUAL
FEV 2018
ALEXANDRE GARCIA
Gordura e asfalto
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o início dos anos 1970, um batalhão de engenharia do Exército desbravava o sertão, abrindo caminho para o trecho norte da BR-163, entre Cuiabá e Santarém. Quase meio século depois, a engenharia do Exército tem que continuar abrindo caminho, desenterrando caminhões atolados na lama, para manter o fluxo de uma estrada federal, por onde se escoa a imensa riqueza agrícola da região até o porto de Santarém. Se contarmos sobre isso no exterior, vão pensar que somos loucos masoquistas, que temos riqueza e a jogamos fora – como fazemos desde sempre. Os produtores da região disseram ao Globo Rural (programa semanal da TV Globo) que a perda diária é de R$ 10 milhões. Em muitas outras regiões do país, por falta de escoamento da colheita, os produtores simplesmente desistem. O Brasil real tem velocidade, mas carrega o peso da lentidão do Estado. O Estado é bom em inchar. Fica cada vez mais pesado e sobrecarrega o motor de impostos que o empurra. Como gasta quase todo o combustível para mover a si próprio, pouco sobra de impostos para investir. Enquanto nos Estados Unidos até as estradas vicinais de fazendas são pavimentadas, aqui só 13% da malha rodoviária é pavimentada. As duplicações necessárias e gritantemente urgentes estão à espera de investimento. O ritmo de duplicações é igual ao de congestionamentos: avança e para. Como exceção, podemos citar São Paulo, onde estão as dez melhores estradas do país. Como tudo mais no Brasil, também nas estradas há um abismo tecnológico. Cerca de
40 anos nos separam das estradas de Portugal, por exemplo. Lá se levam em conta três climas diferentes. Aqui não se considera que o Norte é quente e úmido; que o Centro-Oeste, por meio ano, é seco e, por meio ano, é chuvoso; e que o Sul é frio e úmido. São Paulo, a exceção, tem estradas com asfalto misturado com borracha de pneu velho. A preparação do leito, a fundação e o alicerce também são coisas do passado por aqui, e o aumento da frota e do peso dos caminhões semeia buracos nacionais. Fico imaginando pontes e viadutos feitos na época em que havia poucos caminhões, e com peso de 12 toneladas. Como eles suportam hoje bem mais caminhões e com peso que pode chegar a 90 toneladas? Dá um frio na espinha pensar nisso em época de queda de viaduto no coração da capital do país e da repetição de queda de ciclovia na antiga capital. Como será que anda a inspeção e a manutenção de pontes e viadutos neste país continental? Entre as estradas mantidas pelo poder público, cerca de 70% estão com deficiências, segundo a pesquisa anual da CNT. Isso se inverte nas rodovias sob concessão: 70% estão em condições boas ou ótimas – o que não deveria ser aceitável pelos que pagam pedágio. Essas rodovias pedagiadas deveriam ser 100% – ou perto disso – ótimas. Mas nós, brasileiros, aceitamos, porque não conhecemos boas estradas – talvez nos falte dar uma rodada pelas dez melhores, em São Paulo, para ficarmos mais exigentes. Como o investimento em rodovias vem despencando, “botar mais a boca no mundo” pode fazer o governo cortar mais gordura para sobrar mais para o asfalto.
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