Revista CNT Transporte Atual-DEZ/2004

Page 1

REVISTA

CNT ÓRGÃO INFORMATIVO CNT - SEST/SENAT | ANO X | NÚMERO 112 | DEZEMBRO 2004

2004

TRANSPORTADOR DESTACA CRESCIMENTO ECONÔMICO E RECUPERAÇÃO DE MODAIS, MAS A INFRA-ESTRUTURA É AINDA O MAIOR ENTRAVE

O RECOMEÇO LEIA ARTIGO EXCLUSIVO DO PRESIDENTE LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA



REVISTA

CNT ANO X | NÚMERO 112 | DEZEMBRO 2004

REPORTAGEM DE CAPA

SENNA EXPERIENCE Exposição sobre o piloto brasileiro acontece em São Paulo. São mais de 600 itens, com simuladores e vídeos em 3D

18

TRANSPORTE EM 2004 As principais vozes do setor transportador fazem uma avaliação do ano de todos os modais, dos investimentos em infra-estrutura realizados e o que será necessário para que o segmento cresça em 2005

10

AVIÃO A ÁLCOOL O Brasil inova e lança em escala comercial aeronave destinada ao agronegócio movida ao combustível da cana-de-açúcar

44 DESTAQUES DO ANO As empresas premiadas pelo uso racional de combustível, a Medalha JK e vencedores do Prêmio CNT de Jornalismo

54

CARTAS EDITORIAL OPINIÃO PORTO SECO PROGRAMA PARE CABOTAGEM CARGA TRIBUTÁRIA ROUBO DE CARGA LOGÍSTICA SALÃO DO AUTOMÓVEL INSPEÇÃO VEICULAR CAMPANHA SEST/SENAT MAIS TRANSPORTE ALEXANDRE GARCIA REDE TRANSPORTE ARTIGO TÉCNICO IDET CHARGE CAPA DUKE

4 7 8 24 25 28 34 36 40 42 48 60 62 65 67 71 72 74


4 CNT REVISTA DEZEMBRO 2004

DO LEITOR doleitor@revistacnt.com.br

PELA PAZ Como instrutor de segurança no trânsito, estudioso e apaixonado pelo assunto, vejo com muita ressalva este esforço do governo para a redução do quadro trágico de acidentes no Brasil, baseado na educação, conforme publicado na edição 110 desta revista. Quando analisamos as causas, verificamos que quase a totalidade dos acidentes ocorre devido à imprudência, e não à ignorância da regulamentação. As principais causas de acidentes são o excesso de velocidade, as ultrapassagens indevidas e o uso de álcool por parte dos motoristas. É muito claro que estas regras não são desconhecidas dos condutores. Sendo assim – e as estatísticas mostram isto com muita clareza –, os índices reduzem sempre quando há rigor na repres são. Edu ca ção fun cio na para as crianças. Para as gerações adultas, infelizmente, só funciona quando se pega pesa do com a fiscalização e multas. Ronaldo Alves Silva Empresário e Instrutor de Segurança no Trânsito Belo Horizonte(MG) PESQUISA RODOVIÁRIA 1 Mais uma vez, a CNT presta um inestimável serviço à sociedade e ao país com a realização e divulgação da Pesquisa Rodoviária, já em sua nona edição, como pode ser conferido na edição 111

“TODAS AS CONSTATAÇÕES LEVAM A CRER QUE A INFRAESTRUTURA RODOVIÁRIA É DESMERECIDA COMO PRIORIDADE EM NOSSO PAÍS”

da Revista CNT. Posso dizer de cadeira sobre a importância desta iniciativa, uma vez que a acompanho desde sua primeira versão, interessado que sou diretamente no assunto. Há que se registrar o fato lamentável de que, ano após ano, todas as constatações levam a crer que a infra-estrutura rodoviária é desmerecida como prioridade em nosso país. Não percebem nossos governantes a importância fundamental que tem para o desenvolvimento de uma nação condições dignas de escoamento e transporte, isso envolvendo todos os modais. Não se faz um país desenvolvido sem estradas, sem portos, aeroportos e ferrovias em con dições que garantam a trafegabilidade. Que mais esta edição da Pesquisa Rodoviária sirva de alerta aos mandatários da nação de que algo precisa ser feito. Eduardo Souza Borges Empresário do setor de transporte de cargas Piracicaba (SP) PESQUISA RODOVIÁRIA 2 Muito interessante a reportagem “Falta de Investimento Acentua Desigualdade”, publicada na Re vista CNT em sua edição 111. Um ângulo de vista inteligente e que muitas vezes passa desapercebido, já que a preocupação com os rincões mais pobres de nosso país não é necessariamente posto na ordem do dia. É uma conseqüência do modelo centralizador e concentrador (de rendas) adotado histori-

camente em nosso país. Com isso, como bem explicado na reportagem, os grandes centros ficam sempre na frente quando o assunto é prioridade de investimentos, sejam eles estatais ou privados. Henrique J. Duarte Estudante universitário Goiânia (GO) MINISTRO O artigo do senhor ministro dos Transportes, Alfredo Nascimen to, pu bli ca do na edi ção 111 desta revista, deixa claro que o governo aposta em uma retomada do crescimento econômico com o necessário investimento em infra-estrutura de transportes para o próximo ano. Fiquei satisfeito ao saber que assim pensam as autoridades centrais, já que, como mostra a mesma revista em uma série de reportagens sobre as condições das estradas brasileiras, está mais do que na hora de a infraestrutura virar prioridade. José Gordilho Transportador autônomo Brasília (DF)

CARTAS PARA ESTA SEÇÃO Rua Tenente Brito Melo, 1.341 - Conjunto 202 Belo Horizonte - Minas Gerais Cep: 30.180-070 Telefax: (31) 3291-1288 E-mail: revistacnt2@uol.com.br As cartas devem conter nome completo, endereço e telefone. Por motivo de espaço, as mensagens serão selecionadas e poderão sofrer cortes



CNT Confederação Nacional do Transporte

6 CNT REVISTA DEZEMBRO 2004

PRESIDENTE Clésio Andrade PRESIDENTE DE HONRA Thiers Fattori Costa

CONSELHO FISCAL Waldemar Araújo, David Lopes de Oliveira, Braz Paulo Salles, Éder Dal’Lago, René Adão Alves Pinto, Getúlio Vargas de Moura Braatz, Robert Cyrill Higgin e Luiz Maldonado Marthos DIRETORIA

VICE-PRESIDENTES SEÇÃO DO TRANSPORTE DE CARGAS

Newton Jerônimo Gibson Duarte Rodrigues SEÇÃO DO TRANSPORTE AQUAVIÁRIO, FERROVIÁRIO E AÉREO

Meton Soares Júnior SEÇÃO DO TRANSPORTE DE PASSAGEIROS

SEÇÃO DO TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE CARGAS

Denisar de Almeida Arneiro, Eduardo Ferreira Rebuzzi, Francisco Pelucio, Irani Bertolini, Jésu Ignácio de Araújo, Jorge Marques Trilha, Oswaldo Dias de Castro, Romeu Natal Pazan, Romeu Nerci Luft, Tânia Drumond, Augusto Dalçoquio Neto, Valmor Weiss, Paulo Vicente Caleffi e José Hélio Fernandes

Benedicto Dario Ferraz SEÇÃO DOS TRANSPORTADORES AUTÔNOMOS, DE PESSOAS E DE BENS

José Fioravanti PRESIDENTES E VICE-PRESIDENTES DE SEÇÃO SEÇÃO DO TRANSPORTE DE PASSAGEIROS

Otávio Vieira da Cunha Filho e Ilso Pedro Menta SEÇÃO DO TRANSPORTE DE CARGAS

Flávio Benatti e Antônio Pereira de Siqueira SEÇÃO DOS TRANSPORTADORES AUTÔNOMOS, DE PESSOAS E DE BENS

José da Fonseca Lopes e Mariano Costa SEÇÃO DO TRANSPORTE AQUAVIÁRIO

Renato Cézar Ferreira Bittencourt Cláudio Roberto Fernandes Decourt SEÇÃO DO TRANSPORTE FERROVIÁRIO

Bernardo José Figueiredo Gonçalves de Oliveira e Clóvis Muniz SEÇÃO DO TRANSPORTE AÉREO

Wolner José Pereira de Aguiar

SEÇÃO DO TRANSPORTE DE PASSAGEIROS

Aylmer Chieppe, Alfredo José Bezerra Leite, Narciso Gonçalves dos Santos, José Augusto Pinheiro, Marcus Vinícius Gravina, Oscar Conte, Tarcísio Schettino Ribeiro, Marco Antônio Gulin, Eudo Laranjeiras Costa, Antônio Carlos Melgaço Knitell, Abrão Abdo Izacc, João de Campos Palma, Francisco Saldanha Bezerra e Jerson Antonio Picoli SEÇÃO DOS TRANSPORTADORES AUTÔNOMOS, DE PESSOAS E DE BENS

Edgar Ferreira de Sousa, José Alexandrino Ferreira Neto, José Percides Rodrigues, Luiz Maldonado Marthos, Sandoval Geraldino dos Santos, José Veronez, Waldemar Stimamilio, André Luiz Costa, Armando Brocco, Heraldo Gomes Andrade, Claudinei Natal Pelegrini, Getúlio Vargas de Moura Braatz, Celso Fernandes Neto e Neirman Moreira da Silva SEÇÃO DO TRANSPORTE AQUAVIÁRIO, FERROVIÁRIO E AÉREO

Luiz Rebelo Neto, Moacyr Bonelli, Alcy Hagge Cavalcante, Carlos Affonso Cerveira, Marcelino José Lobato Nascimento, Maurício Möckel Paschoal, Milton Ferreira Tito, Silvio Vasco Campos Jorge, Cláudio Martins Marote, Jorge Leônidas Pinho, Ronaldo Mattos de Oliveira Lima, Glen Gordon Findlay e Bruno Bastos

FALE COM A CNT Setor de Autarquias Sul, quadra 6, bloco J • Brasília (DF) • CEP 70070-916 • Telefone: (61) 315 7000 Na Internet: www.cnt.org.br • E-mails: cnt@cnt.org.br • info@cnt.org.br

Revista CNT CONSELHO EDITORIAL Aloísio Carlos Nogueira de Carvalho, Bernardino Rios Pim, Etevaldo Dias, Hélcio Zolini, Jorge Sória Canela e Maria Tereza Pantoja

FALE COM A REDAÇÃO

Telefone • (31) 3291-1288 Envio de releases e informações • revistacnt2@uol.com.br Cartas do leitor • revistacnt2@uol.com.br

REDAÇÃO EDITORES-EXECUTIVOS

Ricardo Ballarine e Antonio Seara (Arte) REPÓRTER

Eulene Hemétrio COLABORADORES DESTA EDIÇÃO

Júnia Letícia, Marcelo Nantes, Patricia Giudice e Rogério Maurício (reportagem), João Sampaio (edição), Soraia Piva (arte) e Duke (ilustração) DIAGRAMAÇÃO E PAGINAÇÃO

Antonio Dias e Wanderson Fernando Dias FOTOGRAFIA

ASSINATURAS

Para assinar • 0800-782891 Atualize seu endereço • atualizacao@cnt.org.br PUBLICIDADE Remar Representação comercial S/C Ltda Alameda Jurupis, 452, conjunto 71 - Moema (SP) - CEP 04088-001 CONTATOS E REPRESENTANTES

Diretor comercial • Celso Marino • (11) 9141-2938 Gerente de negócios • Fabio Dantas • (11) 9222-9247 Telefone: (11) 5055-5570 E-mail: cmarino@scmedia.com.br

Paulo Fonseca e Futura Press

Publicação mensal da CNT, registrada no Cartório do 1º Ofício

INFOGRAFIA

de Registro Civil das Pessoas Jurídicas do Distrito Federal sob o número 053,

Agência Graffo • www.graffo.inf.br

editada sob responsabilidade da AC&S Comunicação.

PRODUÇÃO

Rafael Melgaço Alvim • rafaelmelgaco@hotmail.com Sandra Carvalho

Os conceitos emitidos nos artigos assinados não refletem necessariamente a opinião da Revista CNT

ENDEREÇO

Rua Tenente Brito Melo, 1341 – conjunto 202 Santo Agostinho • CEP 30.180-070 • Belo Horizonte (MG)

IMPRESSÃO Esdeva - Juiz de Fora (MG) TIRAGEM DESTA EDIÇÃO 40 mil exemplares


DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 7

EDITORIAL

Ajuda aos governantes CLÉSIO ANDRADE PRESIDENTE DA CNT

É

CREIO QUE SERIA OPORTUNO QUE AS MUDANÇAS, JÁ INICIADAS PELO ATUAL GOVERNO, SE ESTENDESSEM AOS TRÂMITES ADMINISTRATIVOS

fato que o presidente da República tem idéias e propostas da maior relevância tanto para a área social como econômica, muitas vezes já expressas em seus pronunciamentos. É preciso que a sociedade se mobilize para apoiar as propostas de mudan ças, afinal, na maioria das vezes, estas são sempre produtivas, principalmente, quando o objetivo é nobre e se baseia na necessidade de crescimento econômico do país. Estou convencido de que o maior problema de nosso país está na estrutura da administração pública, que o impede de dar ação ao Brasil que se deseja. É fato conhecido que a burocracia é so berana, no setor público, em suas várias instâncias, desde as esferas municipais, o que faz com que a atividade produtiva te nha mais desperdício, perda de tempo, re-trabalho, redução da produtividade e de qualidade, gerando insatisfação entre os envolvidos. E não é só isso, na maior parte das vezes, há necessidade de que as decisões de política econômica ou ações de interesse coletivo aconteçam com celeridade. No entanto, o que, la mentavelmente, ocorre é que caem na teia burocrática, nos milhares de trâmites

e procedimentos administrativos a ponto de, em alguns casos, perderem sua eficá cia e tempestividade, tão somente pela falta de agilidade da administração. A objetividade que caracteriza este governo acaba por ser pulverizada pelo tempo decorrido entre a decisão e o fazer acontecer atendendo às necessidades da sociedade atual. No meu modo de ver, creio que seria oportuno que as mudanças, já iniciadas pelo atual governo, fossem estendidas aos trâmites administrativos, com reorganização da estrutura gerencial, redução de Ministérios, fusão de órgãos, simplificação de procedimentos e maior ênfase à atividade fim. Seria uma ampla e profunda reforma de procedimentos administrativos com aumento da informatização e da qualificação das pessoas, revisão dos papéis de cada função e alocação de pessoas nas áreas que mais carecem de trabalho. Tais medidas, além de serem cruciais na questão política, serão um verdadeiro marco para essa administração, que já está promovendo as devidas modernizações em algumas áreas importantes. Assim, seríamos um país mais eficiente com resultados satisfatórios para a sociedade. É o que desejamos.


8 CNT REVISTA DEZEMBRO 2004

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA PRESIDENTE DA REPÚBLICA

O caminho do desenvolvimento m janeiro de 2003, as sumi a Presidência da República comprome tido com a criação e a implementação de políticas para criar os alicerces de um Brasil sustentável, mais justo e menos desigual. Diante de tamanho desafio histórico e em uma conjuntura de grave crise, o nosso primeiro ano de gestão centrou-se no restabelecimento da normalidade no ambiente econômico – com esforços intensos para a consolidação do controle da inflação e o resgate da credibilidade internacional do país. Esse primeiro objetivo foi atingido com sucesso. Podemos dizer, sem nenhum exagero, que de lá para cá o Brasil criou as condições para um novo ciclo de de senvolvimento sustentado, além de reassumir sua importância no cená rio mundial e da América do Sul. Superado o desafio urgente, passamos a articular o enfrentamento dos entraves à retomada do cresci mento. Todo o esforço do governo passou a ser o de cumprir seu papel na sustentação do parque produtivo brasileiro – perseguindo um modelo distante tanto do velho nacional-de senvolvimentismo das décadas de 50, 60 e 70, quanto do neoliberalis mo que marcou os anos 90. A cons -

E

trução desse novo modelo exige, entre outras premissas, a superação efetiva dos estrangulamentos, ou gargalos, na infra-estrutura do país. É nesse contexto que se insere a questão da melhoria dos transportes. O nosso governo tem tomado as medidas necessárias a uma política nacional de transportes que atenda tanto as demandas do mercado interno e exportador quanto as do cidadão comum que precisa se deslocar. Em nossa avaliação, ao longo de décadas o setor de transportes no Brasil manteve uma excessiva concentração no domínio rodoviário, tanto no que diz respeito à movimentação de carga como de passageiros. Por isso, além da recuperação da malha viária, decidimos ampliar a participação de outras modalidades aptas a transportar grandes volumes de carga, como as ferrovias, a nave gação de cabotagem e as hidrovias. Pavimentar o progresso Os investimentos em transportes deflagrados ao longo de 2004 foram articulados no sentido de recuperar, efetivamente, o patrimônio de infraestrutura federal e criar condições para a ampliação de sua capacida de. Em nossa opinião, é preciso ins tituir no Brasil um modelo multimo-

ALÉM DE RECUPERAR A MALHA VIÁRIA, DECIDIMOS AMPLIAR OS OUTROS MODAIS

dal eficiente, que garanta competitividade ao setor produtivo e segurança e conforto ao cidadão. Principalmente, é preciso fazer baixar os custos logísticos do transporte no Brasil, que hoje representam 20% do nosso Produto Interno Bruto (PIB). Investir em transporte significa au mentar a competitividade de nossos produtos e garantir que sua qualidade original será preservada no destino. Significa pavimentar o caminho do desenvolvimento, contribuindo para a geração e circulação das riquezas de que precisamos para a melhoria da qualidade de vida da população. Esse desafio está sendo enfrentado não apenas pela destinação de um volume maior de recur-


DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 9

ROSE BRASIL/ABR

minimizar as dificuldades de escoamento da safra agrícola. É um plano a um só tempo ambicioso e realista, que envolve investimentos da ordem de R$ 2,2 bilhões. Obras estratégicas como a BR101 Sul e a BR-163 estão saindo do papel ou do estágio de paralisia em que se encontravam. A maioria dessas ações governamentais envolve articulação com a iniciativa privada, que terá o direito de explorar economicamente importantes estradas do Sul e Sudeste, mediante a contraprestação de serviços para capacitação e manutenção da infra-estrutura transferida. Recolocamos em curso o processo de concessões de rodovias federais. Já está prevista a transferência de 2.584 km para exploração da iniciativa privada. Outros trechos que demonstrem viabilidade poderão, futuramente, seguir o mesmo caminho. sos fiscais, mas também na busca de alternativas de investimento que combinem interesses públicos e privados – seja por meio da Parceria Público-Privada (PPP), seja pela retomada das concessões e fórmulas exclusivamente privadas de investi mento em transporte. No ano de 2004 avançamos na retomada das obras de efetiva recuperação das nossas rodovias, patrimônio que não mereceu mais que ações paliativas ao longo dos últimos anos. Criamos o Programa Nacional de Recuperação de Rodovias, do Ministério dos Transportes, que prevê a renovação completa de 7.000 km de estradas federais até março de 2005, de modo a

GASTANDO MAIS E MELHOR, DAREMOS OS PASSOS PARA A REVOLUÇÃO NA INFRAESTRUTURA

Portos seguros, ferrovias eficientes O governo também tem empenhado esforços para melhorar a operação dos nossos portos. Avançamos muito na adequação do sistema portuário brasileiro às normas internacionais de segurança. Iniciamos, no segundo semestre de 2004, uma intervenção cirúrgica nas principais instalações portuárias do País, batizada de Agenda Portos. Essa ação visa identificar problemas e implantar soluções para tornar mais eficientes os dez principais portos brasileiros – responsáveis pelo escoamento de 89% de nossas exportações. Apenas para sanar deficiências de curto prazo, liberamos R$ 57 mi-

lhões adicionais este ano e, até 2006, a previsão de investimentos chega aos R$ 220 milhões. Outro setor que se encontrava praticamente abandonado e ganhou atenção especial do nosso governo foi o sistema ferroviário nacional. Deflagramos um plano de revitalização das ferrovias, para ampliar os corredores de transporte, expandir e modernizar as estradas de ferro – tanto para transporte de carga como de passageiros. Aqui, como nos outros casos, a iniciativa privada também foi chamada a colaborar. Essa decisão estratégica desencadeou o ressurgimento da indústria ferroviária, com seus milhares de empregos, despertando o interesse de grandes grupos empresariais estrangeiros. Obras como as ferrovias Transnordestina e Norte-Sul, por exemplo, outrora reputadas como sonhos distantes, hoje são objetos de investimentos maciços que possibilitarão sua conclusão nos próximos anos. Em resumo, o governo federal trabalha para que 2005 e 2006 sejam anos de notáveis realizações. O desenvolvimento do país virá na esteira da melhoria da infra-estrutura de transportes. Vamos continuar aumentando a disponibilidade orçamentária para o setor no ano que vem, gerando empregos e atendendo às demandas de transporte, sem comprometer o ajuste fiscal ou a solidez dos fundamentos da nossa economia. Gastando mais e melhor, daremos os passos decisivos para uma revolução na infra-estrutura de transportes nacional, construindo uma economia mais competitiva e uma sociedade mais justa e solidária.


2004

APROVADO COM RESSALVAS SETOR TRANSPORTADOR AVALIA O ANO POSITIVAMENTE E PEDE MAIS ATENÇÃO E INVESTIMENTOS DO GOVERNO FEDERAL PARA RECUPERAR SUA TOTAL CAPACIDADE


COMPOSIÇÃO GRÁFICA SORAIA PIVA

DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 11

POR

EULENE HEMÉTRIO

o balanço do que 2004 trouxe para o setor de transpor tes, o sal do que fica é positivo, apesar dos grandes gargalos que ainda persistem, especialmente na área de infra-estrutura. Alguns avanços puderam ser observados em to dos os seg men tos em con se qüên cia, prin ci pal mente, do crescimento da eco no mia na cio nal e da união de forças de todas as categorias. A campanha da CNT pela aplicação dos recursos da Cide, por exem plo, teve adesão generalizada, mobili zan do toda a so cie da de para que o governo federal apli cas se efe ti va men te a verba destinada a projetos de melhoria da infra-estrutura de transportes e também aos relacionados à indústria do petróleo e a subsídios de combustível e gás. A re cu pe ra ção do mer ca do do ál cool com bus tí vel, o au men to do con su mo do GNV e os avan ços na uti li za ção do bio die sel tam bém fo ram pon tos po si ti vos na área de ener gia, a des pei to dos cons tan tes au men tos de pre ços da ga so li na, pro vo ca dos pela alta do bar ril de pe tró leo, que che gou a pa ta ma res su pe rio res a US$ 50. O crescimento da economia brasileira foi uma gran-

N

de notícia para o setor de cargas – o índice de 5,5% em 2004, re cor de des de 1997, soma-se à previsão de alta para 2005 de 3,5% a 4%. O aquecimento da demanda possibilitou uma retomada do frete e trouxe ânimo para as transportadoras rodoviárias. O go ver no fe de ral já anunciou investimentos de R$ 2,2 bilhões para tentar recuperar parte das rodovias. Tanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva como o ministro da Fazenda, Anto nio Palocci, já disseram que os próximos dois anos serão de investimentos em infraestrutura. O pre si den te da ABTC (As so cia ção Bra si lei ra dos Trans por tes de Car gas), New ton Gib son, lem bra, en tre tan to, que mui tas rei vin di ca ções – como a li be ra ção dos re cur sos da Cide e a re for mu la ção do Mo de car ga – não avan ça ram no pla no fe de ral. "Fo mos pu ni dos com a re for ma tri bu tá ria e não ti ve mos ne nhum re tor no em me lho rias da in fra-es tru tu ra das es tra das ou em in cen ti vos para a re no va ção da fro ta." Outros fatos que merecem ser lembrados são a elaboração da Política Nacional do Trânsito, a aplicação do Re gis tro Na cio nal dos Transportadores Rodoviários de Cargas (RNTRC),


PAULO FONSECA

NEWTON GIBSON Presidente da ABTC

o "boom" de investimentos nas ferrovias – R$ 11 bilhões até 2008 – e a união de forças no combate ao roubo de cargas, que teve ação efetiva da Polícia Federal em seminários regionais realizados pelo Brasil. Como pontos negativos, vale ressaltar a demora na apro va ção das Par ce rias Pú bli co-Pri va das (PPP), o fracasso do programa de fi nanciamento para renova ção da frota de caminhões (o Modecarga) e a crise no setor aeroviário. O panorama econômico e político também propiciou um incremento no número de passageiros transporta dos nas empresas de ôni bus in te res ta duais. Nada muito significativo, conforme afirma o presidente da Abrati (Associação Brasilei -

“FOMOS PUNIDOS COM A REFORMA TRIBUTÁRIA E NÃO TIVEMOS RETORNO EM INFRAESTRUTURA OU EM INCENTIVOS PARA A RENOVAÇÃO DA FROTA”

ra das Empresas de Transporte Terrestre de Passagei ros), Sérgio Augusto de Almeida Braga – os números de 2004 ainda não estão fechados –, mas capaz de mostrar claramente que o país está se recuperando. De acordo com Almeida Braga, "é preciso destacar o péssimo estado das rodovias, constatado pela Pesquisa Rodoviária CNT 2004, que representa um custo de até 30% a mais em algumas rotas percorridas pelos ônibus". Segundo o executivo, o setor também continua na expectativa de uma solução para a questão da prorrogação dos contratos, direito assegurado pela Constituição Federal. "Esse fato tem funcionado como um fator de inibição de novos investimentos em volumes significativos. A nossa expectativa é que, em 2005, algumas ques tões de fun da men tal importância para o setor sejam finalmente resolvidas." Há ainda a instituição de gratuidade para os idosos e carentes, benefício que é aplaudido por todo o setor, mas que carece do estabele cimento de fonte de custeio e de um cadastramento rigoroso por parte do governo federal para evitar as fraudes. Essa reivindicação data de longo período e era de se esperar que em 2004 o problema fosse sanado. Como se

vê, mais um problema fica para o ano que vem.

À espera de investimentos O balanço da navegação pode ser resumido na expectativa que se tinha em relação à medida provisória 177, que es ta be le cia pro ce di men tos para o recolhimento e a destinação do Adicional ao Frete para a Renovação da Marinha Mercante (AFRMM). A medida acabou não sendo o ele mento positivo do ano, como se esperava, face aos vetos da presidência da república, orientados pela equipe econômica. Ao todo, foram vetados 14 artigos, caindo por terra toda a esperança de revitalização da indústria naval brasileira. De positivo, o setor aquaviário comemora o crescimen to da ca bo ta gem em mais de 20%, com expectativa de melhores resultados em 2005. Esse avanço, segundo o vice-pre si den te da CNT para o setor aquaviário, Meton Soares Júnior, se deve, principalmente, à visão dos empresários, que estão colocando mais navios para aten der a demanda, especialmen te de carga geral. "No longo curso, entretanto, continuamos com falta de navios, com car gas per ma ne cen do nos portos por falta de contêine res e embarcações entregues à bandeira estrangeira", diz Meton Soares.


CELSO AVILA / FUTURA PRESS

DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 13

METON SOARES JÚNIOR Vice-presidente da CNT para o setor aquaviário

No sistema portuário também não houve avanços, conforme o executivo. "O governo disse que ia investir no setor, mas este ano não aconteceu. Es ta mos preo cu pa dos que esse in ves ti men to não se concretize, o que vai provocar um estrangulamento ainda maior no escoamento da próxima safra."

Problemas nas cidades No transporte público urbano, 2004 foi marcado pela

continuidade da crise que assola o setor há cerca de oito anos, provocada pela perda contínua de demanda e produtividade, com graves reflexos na saúde financeira das empresas operadoras. A avaliação é do presidente da NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos), Otávio Vieira da Cunha Filho. De acordo com Cunha Filho, o setor deu continuidade ao Movimento Nacional pelo

“É PRECISO DESTACAR O PÉSSIMO ESTADO DAS ESTRADAS, CONSTATADO PELA PESQUISA RODOVIÁRIA CNT, QUE REPRESENTA UM CUSTO DE ATÉ 30% A MAIS”

SÉRGIO AUGUSTO DE A. BRAGA Presidente da Abrati

Direito ao Transporte Público com Qualidade para Todos (MDT), no intuito de encontrar soluções para os graves pro ble mas es tru tu rais que afetam o setor oriundos, principalmente, do alto custo dos serviços, da proliferação do transporte ilegal e da falta de investimentos na infra-estrutura. O movimento, iniciado em 2003, reúne os representantes do Poder Público concedente, os operadores rodoviários e metroviários, a indústria fornecedora, os trabalhadores do setor e as representações dos usuários. O dirigente da NTU avalia que os resultados alcançados pelo MDT e pela Frente Parlamentar do Transporte Público ainda estão longe do espera do. "O governo federal, atra vés do Ministério das Cidades e da Secretaria de Coordena ção Política e Assuntos Institucionais, vem trabalhando na construção de um pacto federativo, envolvendo Estados e municípios com o objetivo de baratear as tarifas pela desoneração dos custos do setor. De concreto, até o momento, tem-se a inclusão do transporte público urbano na pauta de prioridades do governo federal e das prefeituras, representadas pela Frente Nacional de Prefeitos." O presidente da Fetacesp (Federação dos Taxistas Autônomos do Estado de São Paulo), José Fioravanti, avalia


NTU/DIVULGAÇÃO

perdemos passageiros. Para conseguir um salário razoável, temos que trabalhar até 20 horas por dia."

Política justa

OTÁVIO VIEIRA DA CUNHA FILHO Presidente da NTU

que a situação está cada vez pior para o setor. "Nós somos a segunda vitima do desemprego. Após receber o dinheiro do Fundo de Garantia, muitos trabalhadores compram veí cu los para en trar para setor, muitas vezes na clan des ti ni da de. Nin guém toma providência porque os desempregados são considerados coitadinhos, que têm que sustentar família. Mas ninguém se lembra que nós também temos família para sustentar", diz o dirigente. Segundo Fioravanti, a úni ca conquista do segmento em 2004 foi a isenção do ICMS na aquisição de carro novo, o que está possibilitando reno var a frota. Com a isenção de IPI, que já era oferecida para o setor, os veículos chegam a ter quase 32% de desconto no total. Ele considera, po rém, que o aumento da gaso lina está prejudicando muito o setor. "Se aumentamos a ta rifa por causa da gasolina,

O setor aeroviário foi marcado por obras nos aeroportos e pela crise do setor aeroviá rio, es pe cial men te da Vasp, que teve um prejuízo de R$ 25,8 milhões no primeiro semestre, 198% maior do que mesmo período de 2003. Atolada em dívidas e com uma frota sucateada, a empresa sofreu, em setem -

bro, uma grande greve de funcionários por falta de pa gamento de salários, o que resultou no cancelamento de dezenas de vôos. A Vasp chegou a anunciar a demissão de 380 funcionários com o objetivo de reduzir custos, e a GE, que faz manuten ção de aviões, pediu a falência da empresa, em outubro. Com a notícia, a Bovespa suspendeu temporariamente os negócios com ações da empresa e os bilhetes de passagem foram até mesmo rejeitados pelas outras operadoras. SNEA/DIVULGAÇÃO

A ISENÇÃO DO ICMS NA AQUISIÇÃO DE CARRO NOVO PARA OS TAXISTAS POSSIBILITA RENOVAR A FROTA, DIZ FIORAVANTI

GEORGE ERMAKOFF Presidente do Snea


CNT/DIVULGAÇÃO

DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 15

JOSÉ FIORAVANTI Presidente da Fetacesp

Para o Snea (Sindicato Nacional das Empresas Aéreas), o setor precisa de condições para atender a demanda sem depender das flutuações do mer ca do eco nô mi co e do combustível. Segundo a assessoria de imprensa da enti dade, presidida por George Ermakoff, "as empresas de transporte aéreo continuam esperando a instituição de uma política de preços justos para o querosene de aviação, pois a atualmente adotada pela Petrobras é abusiva e le siva ao setor". A pre vi são, se gun do o Snea, é pessimista se medi das não forem tomadas: "A crise estrutural se aprofundu rá e o setor viverá novos aba los no futuro." Apesar do tom fúnubre, em alguns pontos o setor ae ro viá rio con se guiu pas sar bem no ano. A Infraero, res ponsável pela administração dos ae ro por tos, con ti nuou seu programa de revitalização dos ter mi nais, pro je to de

mais de R$ 5 bilhões. E a movimentação de passageiros pode crescer entre 10% e 12% em relação a 2003.

Revigoramento Em se tratando de fretamento e turismo, um passo importante está sendo dado em parceria com o governo federal. Com a participação de todos os segmentos (agências de viagens, empresas transportadoras, organizadores de eventos, hotéis), o Ministério do Turismo está ela borando a Política Nacional do Turismo, que define as atribuições da União na coor denação e no estímulo ao setor, como também regula as atividades e o funcionamento dos serviços turísticos. O ob jetivo é facilitar a atividade no Brasil, incentivando a prática do turismo em todas as re giões do país. "Várias minutas já foram apresentadas e tudo o que cria obstáculos para o desen volvimento dos transportado -

O MINISTÉRIO DO TURISMO FOI “UM ACERTO DO GOVERNO FEDERAL”

MARTINHO F. DE MOURA Presidente da Anttur

res está sen do ava lia do, como também estão sendo propostos artigos para proteger o mercado", diz o presidente da Anttur (Associação Nacional de Transportadores de Turismo e Fretamento), Martinho Ferreira de Moura. Segundo ele, hoje existem cerca de 3.000 empresas ca dastradas para esse serviço. Moura frisa também que a ANTT está revendo a resolução que regulamenta a pres tação de serviços e procedimentos do transporte interes tadual e internacional de passageiros, no regime de fretamento, para coibir a operação por parte de empresas clan destinas. Para o dirigente, a criação do Ministério do Turismo foi "um acerto muito grande do governo federal", uma vez que o setor está, finalmente, re ce ben do a aten ção que ANTTUR/DIVULGAÇÃO


CNT/DIVULGAÇÃO

JOSÉ FONSECA LOPES Presidente da Abcam

merece por sua importância estratégica. "Alguns entraves ainda prejudicam o segmento, como a falta de infra-es trutura e de segurança. Mas a in te rio ri za ção do tu ris mo, com municípios sendo responsáveis pelo próprio de sen vol vi men to, vem en vol vendo a comunidade e fazendo brotar vocações. Neste ano, já sentimos um ligeiro aquecimento da demanda e estamos nos preparando para absorver o fluxo gerado."

Reivindicações No setor dos transportadores autônomos e de cargas, lí deres regionais e nacionais dos caminhoneiros se uniram a representantes de empre sas de transportes de cargas e realizaram diversas reu niões com representantes do governo para apresentar suas reivindicações. O presidente da Abcam (As so cia ção Bra si lei ra dos Caminhoneiros), José Fonse ca Lopes, diz que as negocia ções ficaram sem as espera das soluções para os proble -

mas citados. "Boa intenção a gente está vendo de todos os lados, mas alguma coisa está atravancando o processo e tornando as soluções morosas. Mas o setor está unido e não vai ser possível tapar o GERALDO VIANNA sol com a peneira. Vamos co - Presidente da NTC brar várias coisas em 2005, entre elas a reformulação do Modecarga. Também queremos discutir as novas normas de inspeção veicular, pois se for do jeito que está proposto, não teremos mais ninguém para fazer transporte," A Abcam também lançou o serviço de disque-denúncias, que recebe informações, in clusive anônimas, sobre rou bo de cargas e de caminhões, tráfico de drogas e qualquer outra atividade ilícita registra da no setor de transportes. A indústria montadora de caminhões alcançou um dos melhores resultados de sua história, com cerca de 25 mil unidades destinadas à expor tação e 76 mil para abastecer o mercado interno. "Em pouco tempo a indústria preencheu sua capacida -

de ociosa e, nesse momento, está se perguntando se vale a pena fazer investimentos. Os empresários sabem que, se a economia continuar crescendo, o Brasil terá sérios problemas porque o setor não está preparado para isso", diz o presidente da NTC (Associação Nacional dos Transportes de Cargas), entidade do sistema CNT, Geraldo Vianna. Para o dirigente, os garga los de infra-estrutura permanecem, mas ele frisa que todas as campanhas e movi mentos realizados pelo setor de transportes conseguiram, finalmente, sensibilizar o goPAULO FONSECA


DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 17

ANTF/DIVULGAÇÃO

verno federal. "Fizemos baru lho e o recado chegou onde tinha que chegar. O presidente Lula inseriu em seus discursos o que nós vínhamos falando há muito tempo", diz Vianna. "O único pro blema é que o governo está tendo dificuldades de transformar em realidade os projetos a que se propõe, mesmo tendo dinheiro para a realização dos mesmos. Essa falta de arranjo nos deixa preocupados, mas estamos esperançosos de que 2005 seja um ano de boas notícias." Vian na tam bém ava lia como ponto positivo no ano a implantação do RNTRC, com o objetivo de conhecer o conjunto de operadores que atuam no mercado. A fiscalização da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) será rea li za da a par tir de 2005 e o transportador que não estiver registrado terá de pagar uma multa de R$ 500. "Esse trabalho vai possibilitar uma excelente radiografia do setor para podermos planejar melhor as nossas ações. O re gistro é um pré-requisito para qualquer disciplinamento."

Hora da virada Na ava lia ção da ANTF (As so cia ção Na cio nal dos Trans por ta do res Fer ro viá rios), 2004 foi o marco da con cre ti za ção do tra ba lho realizado pelas concessioná rias no setor ferroviário, após

RODRIGO VILAÇA Diretor-executivo da ANTF

O MODAL FERROVIÁRIO CONQUISTOU DESTAQUE POR SUA IMPORTÂNCIA NA CADEIA LOGÍSTICA DO PAÍS

o seu processo de desestatiza ção, atin gin do prin ci pal mente os seguintes resultados: captação de recursos em torno de R$ 2 bilhões para ampliação dos serviços, acréscimo de 16% na produção do primeiro semestre, redução de 18% do índice de acidentes e a transformação do patrimônio líquido negativo para positivo, com exceções de duas das 11 concessões ferroviárias passadas à iniciativa privada. "As concessionárias prestadoras dos serviços públicos de transporte ferroviário conquistaram destaque pela importância dos seus serviços na cadeia logística do país, sendo vital para o escoamento da produção industrial e agrícola, bem como para alavancar a competitividade do país no comércio exterior",

diz o diretor-executivo da entidade, Rodrigo Vilaça. Segundo ele, os recursos captados foram aplicados em infra-estrutura (construção de linhas férreas e terminais, ampliação de pátios e terminais, reconstrução de trechos e recuperação da infra e superestrutura da via permanente), no meio ambiente, em novas tecnologias, na capacitação do pessoal e na aquisição e remodelação de material rodante. Além das conseqüências econômicas, como aumento da produção e geração de empregos indiretos, a atuação das empresas ferroviárias está revitalizando toda a industria nacional de equipamentos ferroviários, que comercializou 104 locomotivas e 4.951 vagões em 2004 para atender o crescimento de vo lume de cargas. l


18 CNT REVISTA DEZEMBRO 2004

UMA VOLTA PELA EXPOSIÇÃO EM SÃO PAULO, QUE CONTA COM PARCERIA DO “ESSE CARRO É DE VERDADE?” criança pergunta ao pai ao se deparar com um McLaren, em pleno shopping center. O carro da Fórmula 1, presente no ima ginário como algo inatingível para muitos e real para poucos, está lá, a centímetros de distância do toque, a não ser pela faixa amarela que lembra à criança, ao pai e a todos os visitantes de uma exposição particularmente especial aos brasileiros que ela é o limite. A mostra “Senna Experience” é uma das principais iniciativas na preservação da memória do piloto Ayrton Senna, e a CNT-Sest/Senat é um dos parceiros que ajudou a viabilizar a exposição. Instalada num dos pisos do Shopping Eldorado (zona oeste de São Paulo), a mostra é um coletivo da carreira e da vida pessoal do tricampeão de F-1. São mais de 600 itens, distribuídos em 15 salas temáticas, cada uma intitulada com um valor importante a Senna, 500 fotos e termi nais de computador com um banco de dados com 210 verbetes sobre o piloto. A organização, capitaneada pelo Instituto Ayrton Senna, uniu peças de arquivo pes soal a material cedido por colecionadores e fãs. Resultado de um trabalho de 18 meses, da idealização até o dia de abertura, a “Sen na Experience” conta com 42 pessoas envolvidas diariamente na exposição, entre

FOTOS INSTITUTO AYRTON SENNA/DIVULGAÇÃO

A

coor de na do res e monitores – todas as salas possuem orientado res exclusivos –, que passaram por um treinamento de 16 dias a partir do banco de dados do IAS, da família do piloto da Base 7, a responsável pela curadoria do evento. O visitante vai encontrar desde repro duções miniaturizadas de todos os carros que Senna pilotou, do pri meiro kart ao último Williams, até peças de roupas de festa, maca cões originais, todos os modelos de capacetes (originais também), tro féus, garrafas de champanhe e os carros, como o McLaren que anunciou o espanto da criança lá de cima. “Brasileiro só aceita título de campeão,


DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 19

VIDA DE SENNA SEST/SENAT, REÚNE MAIS DE 600 ITENS DO PILOTO AS LOTUS O modelo preto da primeira vitória da carreira; abaixo, do triunfo em Mônaco

e eu sou brasileiro.” Essa frase, uma das várias que estão nos painéis que cercam os corredores, define o resultado da exposição, a sensação que toma o visitante quando chega ao final das salas e se de para com a Lotus preta de 1985, o carro original em que Senna venceu sua primeira prova na F-1. É um espaço digno da história do piloto, algo para fazer esquecer a máxima “brasileiro não tem memória”. Deparar-se com um carro de F-1, para quem nunca foi a Interlagos, é um dos grandes atrativos da exposição. O primeiro a aparecer é a Lotus amarela, de 1987, o módulo que ganhou o GP de Mônaco pela primeira vez. Pura História, desse pequeno conjunto saiu a lenda do rei do principado, um dos poucos recordes que Michael Schumacher ainda não ousou superar. O segundo carro é a McLaren, o carro que venceu o GP de Monza de 1990 e que Senna ganhou em uma aposta com Ron Dennis, o chefe da equipe. O brasilei ro chegou à corrida com um carro reserva, sem a con figuração do principal. Dennis disse a Senna que, se ele vencesse a cor ri da, poderia ficar com o carro, desculpandose pelo impre-

POR

RICARDO BALLARINE

visto. Senna topou, venceu e levou o his tórico número 27 que está na exposição. Para fechar a mostra, a Lotus preta, a única peça que pode ser fotografada, cedida por um colecionador italiano. Mônaco se faz presente em outras salas. Uma instalação com capacetes permite assistir a dois vídeos a bordo do carro de Senna. O primeiro é uma volta nar rada em Interlagos (1993). Depois, acompanha-se uma volta em Mônaco (1988), apenas com o som do motor do carro. A sensação nesse caso é asfixiante, tem-se a impressão de plena confusão provocada pelo improvisado circuito de rua europeu, com suas curvas estreitas, guard-rails tão próximos que parecem colados. “É impressionante, na TV a gente tem uma sensação diferente, mas daqui, mesmo num vídeo, parece que correr sem bater é coisa para gênio ou milagre”, diz o engenheiro mecânico Paulo Soares, que “vestiu” um dos capacetes para acompanhar a volta de Senna, vencedor de seis GPs no principado. Na sala chamada “Superação”, o visitante assiste a um vídeo em 3D, com du ração de 4 minutos, que resume as diversas fases de Senna. Do kart ao susto que provocou no mundo ao desafiar a chuva já nos circuitos da F-1, até chegar a um va zio silencioso: o ano, 1994; o carro, a Williams. “Fiquei emocionado, é como acompanhar a carreira de Senna através dos


TECNOLOGIA A sala dos capacetes com vídeos comentados (ao lado), os troféus e o tecnígrafo (abaixo), que leva a chancela CNT-Sest/Senat

seus carros. E quando chega a hora de mostrar a Williams o vídeo acaba quieto. Lembrei do dia em que ele morreu, quando estava assistindo à corrida”, diz o publicitário Márcio Hamilton. A memória de Senna está presente, impregnada em todos os detalhes, em todos os itens expostos. Do macacão de sua primeira vitória à série que vestiu na McLaren, nos diversos vídeos com entrevistas com amigos, jornalistas, pilotos e mem bros das suas equipes – desfilam Ron Dennis, Alain Prost, Frank Williams e Sid Mosca, o designer dos seus capacetes. E, sim, há Galvão Bueno, muitas vezes, a voz é quase onipresente pelos corredores. Mas o motivo é justo e justificado. Nas telas espalhadas pela mostra, o visi tante pode assistir, por exemplo, a todas as suas 65 largadas na pole-position (e dá-lhe Galvão na narração). Pode ver cenas dos duelos com Prost e com Nigel Mansel (tudo narrado...), pode se emocio nar com os trechos das provas que deram os três títulos a Senna – e, em algum mo -

mento da visita, em algum corredor, ecoa o histórico “Eu sabia, eu sabia...”, a “pre monição” de Galvão no momento em que Senna deixa Berger ultrapassá-lo no GP do Japão de 1991, ano do tri. A emoção também dá espaço a outras das obsessões de Senna. No espaço “Co nhecimento”, com o selo CNT, é possível esmiuçar o funcionamento de um carro de F-1. Um aparelho chamado tecnígrafo per mite ao visitante, por exemplo, ver como funciona a suspensão de acordo com a ve locidade empregada. São quatro telas (motor, boxes, exterior do carro e interior do carro), com visão 360º, cada uma com um conjunto de réguas (como um mouse de computador) que amplia o ponto sele cionado: do cockpit aos pneus, da movi mentação nos boxes à troca de marchas. Jóbson Cerqueira, economista que aproveitava um feriado para escapar da Bolsa de Valores, onde trabalha, estava atônito. “Parece um game de simula ção, um programa de computador da queles engenheiros que ficam testando

SENNA EXPERIENCE Shopping Eldorado Av. Rebouças, 3.970, Pinheiros (zona oeste de São Paulo) Informações (11) 6950-8899 Ingressos R$ 10 (ter. a sex.) e R$ 14 (sáb. e dom.) Horários 13h às 19h (ter. e qua.), 13h às 21h (qui. e sex.) e 11h às 21h (sáb. e dom.) Até 12/1/2005


DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 21

carros novos. É a primeira vez que vejo como uma suspensão reage à velocidade. Parece coisa do futuro, aquele filme do (Steven) Spielberg com o Tom Crui se (sugestionado pelo repórter, Cerqueira lem brou do tí tu lo: “Mi no rity Re port”).” Cerqueira é presença constante no GP do Brasil desde que a prova voltou a Interlagos, em 1990. A exposição é algo raro na história da preservação da memória nacional, ao unir intimidade à tecnologia. Bem montada, com orientação clara ao visitante e monitores bem treinados, a Senna Experience traça um circuito da vida do piloto com cuidado e delicadeza, expondo sem vulgarizar, emocionando sem exagerar. As salas com os temas caros ao brasileiro (Superação, Perfeccionismo, Inspiração, entre outros) fazem com que o fã, o curioso ou o interessado no esporte co-

nheça Senna e o Ayrton (copyright Edson e Pelé), faça parte, ainda que por um momento, do universo que tomou conta do país enquanto ele esteve nas pistas. Não por acaso, uma das paradas preferi das do público, segundo um dos monito res, é o telão que exibe a vitória de Senna em Interlagos, em 1993, quando no final a pista foi invadida pelos torcedores e o carro do piloto, cercado. Triunfante, Senna se ergue do meio da multidão e surge, de braços estendidos, vitorioso. Os comentários vão ao extremo: “Nunca vi nada igual”, “Foi impressionante”, “É de arrepiar”, fora outros não-publicáveis. Há também um simulador, pequenos carros em uma sala especial que funciona como um cinema 180º. A volta em Interlagos é exibida num telão, enquanto o carro treme, tomba de lado, mas a sensação ilusória só ganha efeito para quem está na primeira fila – os carros dispostos mais atrás não provocam tal efeito. Senna ainda é um marco, um nome a rondar o circuito da F-1 (seja nas cobranças e comparações a Rubens Barrichello, seja nos recordes que Schumacher vai destruindo), a povoar o imaginário esportivo nacional (freqüentemente abalado com escândalos ao redor de Pelé). A exposição não causa o estímulo de provação, mas deixa o visitante com a sensação de ter passado pela História, com a esperança de que o Brasil é capaz, sim, de preservar e cultivar sua memória. Sem heroísmos. Como diz Senna na frase que abre a exposição: “Os limites estão aí por um único motivo: para serem superados”.


“AS CRIANÇAS SAEM APAIXONADAS” “Sen na Ex pe rien ce” é uma exposição itineran te, mas ainda não encontrou parceiros para viajar pelo país. Sucesso de público – em um mês, mais de 40 mil pessoas passaram pelo espaço –, a mos tra é parte do Ano Ayrton Senna do Brasil, que prevê, para março, a inauguração do Parque das Esculturas Ayrton Senna, em São Paulo, exposição com obras de artistas plásticos renomados inspiradas nos valores do piloto. Os trabalhos ficarão expostos em local a ser definido, que se tornará ponto turístico da cidade. A irmã do piloto e presidente do IAS, Viviane Senna, fala, em entrevista à Revista CNT, sobre o conceito da exposição, as rea ções das pessoas e dos projetos do instituto.

A

Revista CNT: A exposição “Senna Experience” é um exercício de memória, algo incomum no Brasil. Ayrton Senna é um raro caso de esportista que recebe tratamento digno do seu talento e de sua carreira. Qual a importância de se manter viva a história de Senna e seus valores? Viviane Senna – Ayrton Senna, além de um grande esportista, era também uma referência fora das pistas, passando para todos que o admiravam valores como determinação, ousadia, fé, superação e vitória, muitas vezes esquecidos em nosso cotidiano. Ele se tornou um herói em um país com poucos ídolos dessa magnitude e despertou em cada um de nós o orgulho de ser brasileiro. E isso era reforçado cada vez que ele tremulava a nossa bandeira nas pistas e no pódio.

A idéia

A PARCERIA COM A CNTSEST/SENAT, AJUDOU A REALIZAR O GRANDE SONHO DE LEVAR PARA O BRASIL ESSE AYRTON QUE TANTOS ADMIRAM

VIVIANE SENNA À frente do IAS há 10 anos com trabalho social

da “Senna Experience” é mostrar a construção da trajetória de sucesso de Ayrton Senna dentro e fora das pistas, resultado de muito esforço e dedicação, e permitir que os visitantes, por meio das experimentações e sensações provocadas em cada espaço, vivam realmente essa trajetória. Revista CNT: Tecnologicamente, a “Senna Experience” é uma das melhores exposições já vistas no país. Combinada com objetos pessoais, tem-se a impressão de um passeio pelas várias facetas de Ayrton Senna. Tudo isso reflete a personalidade dele? Viviane Senna - O Ayrton foi um tricampeão mundial de F-1 e, ao mesmo tempo, o irmão e amigo de todos os que cruzaram seu caminho. De fato, a exposição mostra essa diversidade, com o forte apelo tecnológico para que as pessoas tenham a chance de experimentar um pouco do que ele viveu dentro e fora das pistas, para que conheçam um pouco mais do homem Ayrton. Na sala Intimidade/Emoção, por exemplo, as pessoas têm a oportunidade de conhecer um Ayrton Senna descontraído, divertido, dedi cado à família, à prática esportiva e ao convívio com amigos, fãs e jornalistas, uma imagem que mui tas ve zes con tras ta com o piloto sério e concentrado dentro do cockpit.


NORIO KOIKE

Revista CNT: Qual a importância dos patrocinadores e parceiros para a “Senna Experience”? Viviane Senna - Nossos parceiros são os grandes responsáveis pela viabilização desse projeto. Fo ram eles que permitiram a realização da exposição, que é única do gênero no Brasil. Com a parceria, como a estabelecida com a CNTSest/Senat, foi possível concretizar esse grande sonho de levar para os brasileiros esse Ayrton que tantos admiram e reacender nos corações os valores vividos pelo tricampeão e que nutrem todos nós. Revista CNT: Quais as reações que a senhora recebe de quem visita a “Senna Experience”? Viviane Senna - As respostas têm sido muito positivas, superando as expectativas. Recebemos muitos elogios de pessoas que saem emocionadas, pois acreditam que a exposição faz uma homenagem realmente à altura do nosso tricampeão. E, principalmente, a reação das crianças e dos adolescentes é um destaque. A maioria deles não teve a oportunidade de conhecer o Ayrton em ação, ape nas conheciam aquilo que é conta do pelos pais e, quando visitam a exposição, saem apaixonadas pelo Senna e por tudo que apresenta mos aqui, mostrando que a “Senna Experience” alcança o seu objetivo. Para os amigos e os que conhe ceram o piloto, seja pela TV ou pes soalmente, é um momento de recor dação, reflexão e respeito. A sala Ex celência tem sido a concretização do que falo: as pessoas sentam-se

TRAJETÓRIA Dos tempos de kart ao tricampeonato na McLaren

para assistir às 41 vitórias que passam no videowall. Você as vê muito emocionadas assistindo aos shows que ele dava aos domingos pela TV. Além desse fato que ocorre diaria mente na exposição, muita gente nos cumprimenta e agradece pela oportunidade de ter um contato tão íntimo com a vida e obra de Senna. Revista CNT: A vontade de Senna de realizar projetos sociais só veio a público após sua morte. O Instituto Ayrton Senna é o caminho e a forma desse desejo. Como o IAS está presente na exposição? Viviane Senna - O Instituto Ayr ton Senna é a realização de um sonho de Ayrton, que acreditava que todas as pessoas podem ser vito riosas em suas vidas se a elas fo rem dadas as oportunidades para o desenvolvimento de seus potenciais. A “Senna Experience” é mais uma forma de apresentar os valores de meu irmão para todo o público, permitindo que seu legado permaneça vivo e influenciando positivamente a vida das pessoas. Na sala Instituto Ayrton Senna/Legado, o visitante consegue co-

nhecer em mais detalhes o valor desse legado nos resultados das ações do Instituto, que já atingiram, em seus dez anos de existência, 3,9 milhões de crianças e jovens, envol vendo 206,7 mil educadores de 1.045 municípios de todo o Brasil. Revista CNT: Quais os próximos projetos de ação social que o IAS planeja colocar em prática? Viviane Senna - O Instituto Ayrton Senna continuará atuando de forma sistemática para criar oportunidades de desenvolvimento humano a crianças e jovens do nosso país. Por meio do Centro Avançado de Tecnologias Sociais Ayrton Senna, preparamos educadores e profissionais do terceiro setor para abraçarem a causa e atuar junto às novas gerações por meio do conhecimento e das tecnologias sociais que criamos nessa década de atuação em todo país. São tecnologias que respondem, em grande escala, ao maior desafio do país: diminuir as desil gualdades sociais.


24 CNT REVISTA DEZEMBRO 2004

INTERMODALIDADE INFRA-ESTRUTURA

O MODELODE CACEQUI PORTOS SECOS PASSAM DE 22 PARA 80 EM CINCO ANOS retomada de investimentos no setor ferroviário traz de carona um ponto importante na in fra-estrutura do transporte e para a eficiência da movimentação de cargas. Desde 1996, funcionam no Brasil os Entrepostos Aduanei ros do Interior, mais conhecidos como portos secos. Hoje, com a alta demanda de movimentação, armazenagem e despacho aduaneiro, eles se multiplicaram. Até 1999, eram 22, instalados principalmente nas regiões Sul e Sudes te. Cinco anos depois, esse núme ro já chega aos 80, espalhados em todo o país. Alguns aguardam licitação para funcionar, outros foram construídos há poucos meses e já dão resultados para os municípios próximos e produtores. O mais recente é o porto seco de Cacequi, inaugurado há pouco mais de dois meses na cidade de mesmo nome, região centro-oeste do Rio Grande do Sul. Resultado de uma parceria entre a ALL (América Latina Logística) e a Tuiuti Comercial de Insumos Agrí colas Ltda, o terminal intermodal ainda está no final de sua fase de implantação e se prepara para a segunda etapa, em 2005. O diretor-executivo da ANTF (Associação Nacional dos Trans portadores Ferroviários), Rodrigo

A

POR

PATRÍCIA GIUDICE

PORTO DE CACEQUI Onde fica Região centro-oeste do RS Zona de influência 38 municípios Área 50 mil m2 Capacidade de armazenamento 9.000 toneladas de grãos em 6 silos verticais Capacidade de carregamento 2.000 toneladas ou 40 vagões de grãos Principais produtos transportados Soja e arroz

Vilaça, compara o porto seco de Cacequi ao de Uberlândia (MG), feito pela Ferrovia Centro-Atlântica. Para ele, construir esses termi nais de operadores logísticos é importante para integrar as formas de transporte de cargas. “É disso que o Brasil precisa. Proporcionar resultados, reduzir custos e criar alternativas para movimentar os produtos”, diz Vilaça. Os portos secos são instalados preferencial mente em regiões adjacentes às produtoras e consumidoras. Vilaça diz que os produtores da região de Cacequi estão satisfeitos com a iniciativa. “O porto está atendendo às demandas dos clientes com serviços otimizados e está minimizando os custos logísticos”, diz o dirigente da ANTF. Ele completa: “Os terminais intermodais significam uso racional do modo de transporte.” Até o momento da construção do terminal, a região de Cacequi era dependente do transporte rodoviário para levar os grãos para os portos de Rio Grande e Santos. Para a região, o porto seco está servindo de fomento também para o comércio e a exportação, já que é um local de intensa produção de grãos. “A cidade virou um centro de oportunidades e o porto está levando receita para a região”, diz o diretor da ANTF.

Outro exemplo de operação de porto seco que deu certo é o de Santo André, em Utinga (SP). As exportações aumentaram 400% entre junho e outubro em relação ao mesmo período de 2003. Antes da criação dos portos secos, as empresas de logística de importação e exportação de cargas tinham que aguardar em filas nos portos convencionais. O resultado era prejuízo para as empresas e possível perda de embarque da carga. Atualmente, somente a conclusão da operação está sen do nos portos. Os armazéns insta lados nos portos do interior ofere cem um conjunto de serviços, desde a coleta da carga até todo o trâmite burocrático. O maior porto seco da América Latina, em Uruguaiana (RS), até agosto deste ano, movimentou em vendas externas US$ 2,65 bilhões. O número é 76% maior do que o registrado no mesmo período de 2003, segundo a Receita Federal. O aumento é reflexo da agilidade nas liberações das mercadorias já que o tempo médio de permanência em Uruguaiana é de duas horas. A expectativa da gerência do porto seco é que mais de 1 milhão de toneladas de produtos passem pelo porto seco neste ano – em 2003, o número ficou em 900 mil toneladas. l


PAULO FONSECA

EDUCAÇÃO PROGRAMA DE TRÂNSITO

PROJETO EM AGONIA SEM APOIO, PARE PERDE FÔLEGO E SÓ SOBREVIVE EM MINAS riado em 1993 pelo Mi nis té rio dos Transportes, o Pare (Programa de Re dução de Acidentes no Trân sito) completou 11 anos em julho e está agonizando. Um dos únicos focos de resistên cia está em Minas Gerais, onde o trabalho se mantém, apesar das dificuldades. O presidente da Fetram (Fede ra ção das Em pre sas de Transportes de Passageiros do Estado de Minas Gerais)

C

POR

ROGÉRIO MAURÍCIO

WALDEMAR JR. Lentidão se deve à transição

e coordenador do Pare-MG, Waldemar Araújo, diz que o programa “praticamente desapareceu em nível nacional por total falta de apoio do governo federal”. “Em Mi nas, foi possível manter o tra ba lho por que con ta mos com um grupo de parceiros que já atuam no sistema de pre ven ção (Po lí cia Mi li tar, Po lí cias Ro do viá rias Es ta dual e Federal, DNIT-MG, DER, Corpo de Bombeiros, Detran-MG, Faculdade New-

ton Paiva, BHTrans, Trascon, Transbetim e Liga Mineira do Trauma).” Segundo Araújo, o programa mineiro não recebe verba federal para “fazer sequer um panfleto educativo”. “Damos corpo ao trabalho de edu ca ção e pre ven ção de acidentes desenvolvido por esses órgãos. Toda a ação de um parceiro tem o apoio dos demais. Cada um conta com uma pequena estrutura, mas to dos atuam em con jun to


26 CNT REVISTA DEZEMBRO 2004

EDUCAR PARA REDUZIR ACIDENTES m dos fatores que poderiam ser apontados como desestimulante pelos agentes que atuam na prevenção de acidentes é o resultado demorado da ação educativa. “É um trabalho gratificante, embora seja de longo prazo. Às vezes, temos até muita decepção. Fazemos um trabalho bonito na véspera de um feriado e um irresponsável causa um acidente com cinco, dez mortos. Isso deixa a gente meio de baixo as tral, mas depois nos reanimamos e recobramos as energias. Temos que massificar cada vez mais as informações para reeducar velhos e educar os jovens”, diz Waldemar Araújo, coordenador do Pare em Minas Gerais. Ele ressalta o envolvimento de várias es colas no programa e o convênio firmado com a Secretaria de Estado da Educação para a inclusão da matéria “trânsito” em 120 escolas de ensino fundamental.

U

sem a preocupação de um se sobrepor ao outro. O PareMG é totalmente independente. Conseguimos ter su cesso porque os parceiros são pessoas que têm ideal e fazem tudo voluntariamente por acreditar na educação para o trânsito”, diz o presi dente da Fetram. O coordenador geral de projetos especiais do Minis tério dos Transportes (MT), Waldemar Fini Júnior, entre tanto, garante que a lentidão das ações do Pare se deve à transição de governo – que já está na metade do mandato. “Toda mudança de go -

O capítulo 4 do Código de Trânsito Brasileiro estabelece uma série de determinações relativas à educação para o trânsito, que são ignoradas em sua grande maioria. O artigo 76, por exemplo, diz “a educação para o trânsito será promovida na pré-escola e nas escolas de 1º, 2º e 3º graus, por meio de planejamento e ações coordenadas entre os órgãos e entidades do Sistema Nacional de Trânsito e de Educação, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, nas respectivas áreas de atuação”. De acordo com Araújo, a educação para o trânsito é a chave principal para reduzir o número de acidentes. “Educando a criança, ela vai cobrar do pai uma conduta melhor no trânsito. É fundamental que as autoridades invistam, mesmo sabendo que o resultado virá em longo prazo.”

“SÓ TEMOS SUCESSO PORQUE OS PARCEIROS TÊM IDEAL”

Mi nis té rio dos Trans por tes está avaliando a estrutura or ga ni za cio nal do Pare. “Essa estrutura ainda é muito modesta em comparação com o tamanho de nosso país e da abrangência da questão acidente de trânsito hoje considerado pela OMS (Or ga ni za ção Mun dial da Saúde) como um problema de saú de pú bli ca”, diz o coordenador do MT.

Recorde negativo

E o Brasil é um dos campeões mundiais de violência do trânsito. Segundo dados da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), o número de mortos no trânsito brasileiro, que vinha diminuindo em 6% ao ano, au mentou na mesma proporção verno leva a uma necessida - pelas estatísticas de 2000 a de de adaptação que pode 2002. Nes se pe río do, a tornar a execução de algu - quantidade de mortes cresmas medidas mais lentas”, ceu 19,5%, pas san do de diz. Segundo ele, as campa- 27.839 para 33.265 por ano nhas permanentes – como (média de 91 por dia ou 3,8 “Amigo da Vez”, “Férias de por hora). Cerca de 350 mil Verão” e “Viaje Bien” – con- pessoas ficam feridas anualtinuam sendo executadas e mente, sendo que 60% delas novos projetos serão imple- adquirem lesões permanentes. Os acidentes custam ao mentados. Para Araújo, a decadência Brasil quase R$ 6 bilhões por do Pare é mais antiga. “Há ano, só nas grandes cidades. uns seis, oito anos, os Esta- As estatísticas apontam que dos começaram a abando - 90% dos acidentes são de nar. Há uma coordenação res pon sa bi li da de dos pró nacional, mas a atuação é prios motoristas, que muitas vezes abusam da velocidade mínima”, afirma. Fini Júnior informa que o e da bebida alcoólica.


Exatamente esses núme ros dramáticos impulsiona ram a criação do Pare. A arma utilizada seria ações de educação para o trânsito já que simplesmente multar in fratores não levaria a uma re dução significativa nos índi ces de acidentes. Em Minas, o calendário de blitze educativas do Pare se estende por todo o ano, prin cipalmente em feriados pro longados e datas comemora tivas. Entre elas: Operação

Car na val (fe ve rei ro/mar ço), Operação Semana Santa e Dia Mundial da Saúde (abril), Dia do Trabalho (maio) e Semana do Meio Ambiente (junho). Além da coordenação estadual, com sede em Belo Horizonte, o Pare-MG conta com coordenações regionais em Pouso Alegre, Uberaba, Uberlândia, Montes Claros, Caratinga, João Monlevade e Sete Lagoas. Araújo diz que, apesar de o nú me ro de mor tos ser

grande, houve redução de acidentes em Minas nos dez anos de trabalho do Pare no Estado, ao mesmo tempo em que o número de veículos aumentou.”Muitos acidentes que acontecem em Minas são com condutores de outros Estados, já que Minas é um corredor e tem a maior malha federal. Esses conduto res não pro cu ra ram co nhecer as deficiências das estradas, que estão em péssimas condições.” l


28 CNT REVISTA DEZEMBRO 2004

ons ventos na costa brasileira. A cabotagem está ganhando um sopro de vida e animando o setor aquaviário com um crescimento superior a 20% ao ano. Mais que um ajuste de índices, esse aquecimento representa o aumento da credibilidade no setor e um maior equilíbrio da matriz de transportes do país. E não é por menos: o Brasil tem cerca de 90% do seu PIB gerado a menos de 500 km do litoral, próximo a portos que estão se esforçando verdadeiramente para melhorar a qualidade dos serviços prestados de Norte a Sul. Segundo o Anuário Estatístico da Navegação Matítima 2002, desenvolvido pela Antaq (Agência Nacio nal de Transportes Aquaviários), foram transportadas 78,26 milhões de toneladas de cargas na cabotagem em 2001 (carga geral e granéis), gerando US$ 327,38 milhões de fretes. O vice-presidente da CNT para o setor aquaviário, Meton Soares Júnior, diz que esse impulso se deve a diversos fatores, entre eles, a abertura de linhas expressas entre as regiões do país, especialmente do Sul para o Norte e do Nordeste para o Norte. “Essa ampliação proporcionou uma maior credibilidade do setor, influenciada pela situação caótica das estradas. Tudo isso contri bui para que o cliente prefira o sistema marí timo, mesmo ainda sendo mais lento, por causa da segurança que ele oferece. Creio que a cabotagem está, enfim, alcançando a sua auto-suficiência.” A preferência pela cabotagem ocorre, entre outras coisas, porque ela apresenta uma grande economia quando se trata de distân cias acima de 1.000 km, chegando a reduzir os fretes em até 50%, dependendo do produto, da origem e do destino final. Como o transporte aquaviário é menos sujeito a roubo de cargas, as alíquotas de seguro também são mais baratas e os produtos não sofrem danos durante a viagem.

B

BONS NE CABOTAGEM TEM CRESCIMENTO DE 20% E


GLOBAL/DIVULGAÇÃO

GÓCIOSÀVISTA CATIVA CLIENTES COM VANTAGENS ECONÔMICAS

POR

EULENE HÉMETRIO


30 CNT REVISTA DEZEMBRO 2004

O diretor-executivo da Mercosul Line, José Carlos Elias Júnior, diz que a cabotagem se torna mais econômica à medida que aumenta o percurso do transporte. “Quanto maior a distância, melhor o benefício para o cliente. A redução de custos não se dá somente no frete em si, mas por meio da diminuição da incidência de avarias e roubos, com conseqüente queda em custos de seguros.”

Indutor A privatização das operações portuárias também trouxe um aumento da produtividade e redução de despesas. Essa mudança passou a viabilizar o transporte de contêineres e estimular, inclusive, um promissor serviço de “feeder” (navios alimentadores), que liga grandes cargueiros a portos menores. Segundo a Antaq, o “feeder service” deverá ser o grande indutor do transporte marítimo, mas ainda não foi implementado de forma eficiente no Brasil. Meton Soares diz que, no setor de granéis, a cabotagem sempre foi “necessária e expressiva”. O crescimento mais significativo, segundo ele, está no transporte de carga geral, uma vez que a cabotagem está incorporando novos mercados. De acordo com a Antaq, as três principais empresas que operaram com o transporte de carga geral (Aliança, Docenave e Mercosul Line) atingiram, em 2002, um volume da ordem de 170 mil TEUs (contêiner de 20 pés). Mas apesar dos avanços, a cabotagem ainda está muito distante das necessidades do país. As outras cargas conteinerizadas, movimentadas pelos demais modais ao longo de 1.000 km ou mais em 2002, por exemplo, situaram-se no patamar de 40 milhões de to neladas, enquanto a cabotagem movimentou apenas 3,1 milhões de toneladas. A baixa freqüência dos navios e a buro cracia que ainda resiste no setor são gran -

BENEFÍCIOS A distância para a cabotagem é fundamental para aumentar seus


DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 31

MERCOSUL LINE/DIVULGAÇÃO

des desmotivadores. Os 11 navios portacontêineres que atuam no mercado não são capazes de oferecer a agilidade que as rodovias proporcionam. Essa limitação característica do setor aquaviário fica clara quando é observado o volume de carga transportada em cada modal. O setor rodoviário carrega 517 milhões de toneladas em um ano, ao mesmo tempo que o de cabotagem carrega 1,2 milhão (0,2% da carga movimentada pe los caminhões). “O sistema portuário precisa se adequar a uma operação mais veloz, mais dinâmica,

com facilidades operacionais. Os navios que hoje estão na cabotagem são os que vieram do longo curso e foram adaptados a esse sistema. Mas o ideal seria ter navios específicos”, diz Meton Soares. Para atravessar zonas portuárias de vigilância da Receita Federal, também são cobrados tantos carimbos, inspeções e autorizações, entre outros requerimentos, que os empresários desanimam de qualquer tentativa (apesar de os armadores tratarem dessas questões em nome de seus clientes). As principais cargas que hoje optam pela cabota-

MERCADO VASTO A SER EXPLORADO pesar de ainda sentirem a resistência do mercado em confiar no transporte aquaviário, os armadores brasileiros estão percebendo de perto o avanço da cabotagem. O gerente geral da área de cabotagem da Aliança, Mathias Staübli, diz que o volume de cargas transportadas pela empresa cresceu 25% de 2003 para 2004. “A lucratividade, porém, ainda não veio na mesma proporção. Estamos inves tindo em novos navios e rotas, acreditando no desenvolvimento do setor”, diz o Staübli. A Global, empresa especializada no transporte de granéis líquidos, também registrou um cresci mento de 15% a 20% na demanda. A necessidade de aumento de espaço nas embarcações fez a em presa estudar a construção de três novos navios (dois químicos e um para carga geral), sendo que um deles deve substituir navio de 27 anos, com capacidade para cerca de 10 mil toneladas. Para o diretor geral da Global, Marco Aurélio Guedes, esse aumento da demanda está atrelado ao crescimento econômico do país. Guedes res -

A

ganhos e consolidar o transporte

salta, entretanto, que é preciso ter igualdade de tratamento com os navios de bandeira estrangeira, para que haja uma concorrência saudável. Segundo ele, a cabotagem precisa ser remunerada para crescer e só vai alavancar de vez com a melhoria na qualidade dos serviços em todos os modais. “O caminho para o desenvolvimento é a própria qualidade do serviço. A logística só vai ser eficiente com portos melhor regulamentados, com bons acessos rodoviários e ferroviários, como também com toda a infra-estrutura necessária ao atracamento dos navios.” Segundo Staübli, muitos clientes ainda não vêem que a cabotagem é uma realidade no Brasil e há um grande mercado para ser desbravado. “O empresário precisa ser pioneiro e arriscar.” Ele frisa, no entanto, que a produtividade dos portos (principalmente do Norte e do Nordeste), a política tributária e a diferenciação de tratamento sobre os outros modais são obstácu los que ainda precisam ser superados para melhorar a qualidade no atendimento.


32 CNT REVISTA DEZEMBRO 2004

gem são produtos alimentícios, siderúrgicos, químicos e eletro-eletrônicos.

Distribuição Outro problema enfrentado pelo setor é que não existe ainda um sistema eficiente de transporte multimodal, no sentido de aprimorar a logística de distribuição e comercialização de mercadorias. Segundo a Antaq, entretanto, o mercado doméstico já se faz integrando 87% da carga movimentada pela cabotagem com os modais rodoviário e ferroviário, a curtas e médias distâncias. O vice-presidente executivo do Syndarma (Sindicato Nacional das Empresas de Nave-

A CABOTAGEM APRESENTA UMA GRANDE ECONOMIA PARA DISTÂNCIAS ACIMA DE 1.000 KM E REDUZ OS FRETES EM ATÉ 50%

gação Marítima), Cláudio Decourt, diz que o crescimento do setor está animando empresas a fazerem operações de cabotagem. “A demanda estava reprimida porque o histórico do modal não dava credibilidade aos empresários. A operação de cabotagem não é simplesmente trocar de modal. É preciso adequar toda a logística da empresa e, algumas vezes, adequar até o fluxo de produção.” De acordo com Decourt, a limitação da frota é um grande empecilho para a expansão da cabotagem. Segundo ele, é necessário expandir e renovar os navios para atender a demanda. “Isso vai gerar aumento da freqüência das viagens, mas, à medida que fo-

“COSTA BRASILEIRA VIROU TERRA DE NINGUÉM” ma grande preocupação do setor aquaviário, com o crescimento da cabotagem, é a possível penetração de navios de bandeira estrangeira no mercado brasileiro. Apesar de serem proibidos por lei navios de outras nações na cabotagem, al gumas brechas estão deixando brancos os cabelos das lideranças do transporte. De acordo com o vice-presidente da CNT para o setor aquaviário, Meton Soares Júnior, há uma enorme briga no exterior pelo mercado brasileiro. “Todos os países querem a abertura da cabotagem brasilei ra, mas isso é inadmissível. Lá fora, eles mantêm sua supremacia e não aceitam a nossa bandeira. O Ministério das Relações Exteriores tem a responsabilidade de evi tar que esse espaço seja ocupado, pois já basta o off-shore ser 75% dominado por embarcações estrangeiras e o longo curso

U

sem nenhuma embarcação brasileira em atividade.” Os Estados Unidos e o Japão só permitem a exploração por empresas nacionais com capital controlado por cidadãos desses países, utilizando navios construídos no próprio país e operados em bandeira nacional. “Desde 1990, a costa brasileira virou terra de ninguém. São mais de US$ 6 bilhões re metidos ao exterior todo ano, relativo a afre tamentos, especialmente no longo curso”, diz Soares. A resolução 193/2004 (Antaq) estabele ce que não é necessária autorização para “o afretamento de embarcação estrangeira a casco nu, com suspensão de bandeira, nes te caso limitado ao dobro da tonelagem de porte bruto das embarcações de tipo seme lhante, encomendadas, pela interessada no afretamento, a estaleiro brasileiro instalado

no país, com contrato de construção em efi cácia, adicionado de metade da tonelagem de porte bruto das embarcações brasileiras de sua propriedade, ressalvado o afretamento de pelo menos uma embarcação de porte equivalente”. A Mercosul Line é hoje a única empresa que afreta embarcações estrangeiras, enquanto o processo de construção de um navio de bandeira brasileira – previsto para 2006 – está em andamento. Mais de US$ 20 milhões já foram investidos. O diretor da empresa, José Carlos Elias Júnior, avalia que o grande problema é “a pouca disponibilidade de navios de bandeira brasileira” no mercado. “A frota brasileira é escassa e antiga. Por outro lado, o investimento na construção de navios brasileiros se revela bastante complexo, caro e, princi palmente, arriscado.”


DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 33

rem oferecidas mais escalas, ficará mais latente o problema do desbalanceamento da carga, pois nem sempre os navios voltam cheios do Nordeste.” Segundo dados do Centro de Estudos em Logística da Coppead/RJ (centro de estudos em gerência de negócios da Universidade Federal do Rio de Janeiro), a carga que vai do Sul e do Sudeste para o Norte e o Nordeste representa cerca de 58% do volume total movimentado, enquanto na via gem inversa esse percentual é de 13%. “Isso tem um custo embutido que não po demos ignorar”, diz Decourt. O dirigente do Syndarma informa que o potencial de contêineres da cabotagem no Brasil é hoje de 1,7 milhão de TEUs, sendo transportados, efetivamente, pouco mais de 10% desse total. Para este ano, a estimati va do Syndarma é que sejam transportados 290 mil TEUs. Na opinião de Meton Soares, é impor tante fomentar a marinha mercante e preparar os estaleiros para a competição internacional. “Nosso sistema de escoa mento está passando por uma crise mui -

MARCO AURÉLIO Executivo da Global quer tratamento igual ao barco de bandeira estrangeira

to séria. A exportação brasileira está crescendo e a produção, aumentando. Mas não estamos conseguindo botar isso para fora.” O diretor da Mercosul Line, Elias Júnior, acredita que um dos problemas para o desenvolvimento da marinha mercante no Brasil é a estreita ligação da mesma com o setor de construção naval. “Os interesses dos dois setores não são necessaria mente convergentes e, ao se atrelar um setor ao outro, estamos sufocando os dois. A um armador interessa ter navios técnica e economicamente eficientes, não importando se o mesmo foi fabricado na Coréia ou no Brasil. O ideal seria o armador ter a liberdade de encomendar o navio onde lhe fosse mais conveniente e co locá-lo sob a bandeira brasileira.” Elias Júnior diz que, na situação atual, os armadores se vêem obrigados a comprar navios mais caros e com prazo de entrega superior ao que se encontra no mercado internacional. “Isso não pode fazer bem à marinha mercante. Para se ter uma idéia, os navios da Mercosul Line são as únicas embarcações mercantes em construção no Brasil.” Para o execu tivo, a empresa está percebendo um nítido crescimento da cabotagem. “Os clientes que já utilizam nossos serviços nos solicitam constantemente o aumento da oferta de espaço.” Atualmente, a Mercosul Line opera com dois navios com capacidade nomi nal para 1500 TEUs. “Estamos estudando opções de expansão para os próximos anos, mas enfrentamos barreiras legislativas e de disponibilidade de embarcações brasileiras. Hoje em dia, mesmo embarcações estrangeiras são difíceis de se encontrar em virtude da alta demanda por transporte marítimo em todo o mundo”, diz Elias Júnior. l


PAULO FONSECA

ECONOMIA POLÍTICA FISCAL

CARGA SUFOCANTE O

FGV: IMPOSTOS PAGOS PELO TRANSPORTADOR CHEGAM A 52%

governo federal vem batendo a cada mês recordes na arrecadação de impostos. Segundo dados da Receita Federal, até ou tubro foram arrecadados R$ 264,19 bilhões. Esse valor repre senta aumento real (descontada a inflação) de 11,22% comparativa mente ao período de janeiro a ou tubro de 2003. Sem contar os efeitos da inflação, o aumento no minal foi de 18%. Só em outubro foram arrecadados R$ 29,3 bi -

POR

ROGÉRIO MAURÍCIO

lhões em tributos federais. Foi o melhor resultado para o mês da história e o segundo maior do ano, atrás apenas dos R$ 29,62 bilhões arrecadados em janeiro. Todo esse crescimento se dá em cima do sacrifício, principalmente, do setor produtivo. Segundo estudo do economista e tributarista Marcos Cintra, vice-presidente da Fundação Getúlio Vargas, a carga tributária (somatória da arrecadação de todos os tributos federais, estaduais e municipais) vem

crescendo no Brasil desde a déca da de 50, quando ela foi, em média, de 16,1% do PIB (Produto In terno Bruto). A previsão para 2004 é de uma carga tributária em torno de 38%. Em pesquisa da Federação de Serviços do Estado de São Paulo (Fesesp) em parceria com a FGV, observa-se que a situação setor de transporte é ainda pior, pois a carga tributária chega a 52% sobre o valor adicionado do próprio setor, ou seja, de cada R$ 100 que entram no caixa das


DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 35

“TEMOS GASTOS TAMBÉM COM PEÇAS E PNEUS DESTRUÍDOS”

empresas, R$ 52 vão para pagamento de impostos. O empresário Vander Francis co Costa, presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga do Estado de Minas Gerais, estima que os impostos consomem entre 40% e 50% do faturamento das transportadoras de carga. “Praticamente, metade da receita das empresas do ramo vai para o governo. O lucro, quando se tem, é muito pequeno”, diz. Costa elenca os principais im postos pagos pelas transportadoras: ICMS (18%, no caso de Minas), Cofins (7,6%), PIS (1,65%) e CPMF (0,38%). Tem ainda o INSS, que chega a 27% do valor total da folha de pagamento, FGTS (8,5% da folha) e a Cide (R$ 0,21 por litro de diesel). “A soma desses tributos ultrapassa 40% do faturamento da empre sa.” Costa lembra que parte do pequeno lucro ainda tem que ser separado para investimentos em equipamentos e sistemas de se gurança. “Temos também que ar car com gastos de peças e pneus destruídos pelas péssimas condi ções das estradas em geral.” De acordo com estudo do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributarista (IBPT), o aumento da carga tributária neste ano foi pu xado, principalmente, pela arre cadação de tributos federais. Do total arrecadado no primeiro se mestre (R$ 311,28 bilhões), 68,57% corresponderam à recei ta com tributos federais, 25,68% RAUL VELLOSO com impostos estaduais e 5,75% Distorção trava a economia foram municipais.

O principal alvo de reclamações dos empresários é o aumento da Cofins, que desde fevereiro teve a alíquota reajustada de 3% para 7,6%. Até outubro, só com a Cofins entraram para os cofres públicos R$ 63 bilhões – um aumento real de 22,84% em relação a janeiro a outubro do ano passado. Segundo cálculos de técnicos da NTC (Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística), a nova alíquota da Cofins representou um impacto de cerca de 9% no custo de transporte rodoviário de mercadorias.

Encargos demais Para o economista e tributarista Raul Velloso, a arrecadação de impostos está distorcida com encargos que travam a economia. Ele cita o PIS e a Cofins, que incidem antes mesmo de a renda ser gerada. Na avaliação de Velloso, o excesso de impostos faz com que as pequenas e

médias empresas acabem indo para a informalidade. Segundo ele, o governo precisa cortar gastos, reduzir a carga tributária e mudar o tipo de imposto, reduzindo os que incidem sobre a movimentação. Velloso defende, entre outras coisas, a adoção do Imposto sobre Valor Agregado (IVA) e a remodelação do Imposto de Renda. O IVA estava previsto no projeto de reforma tributária do governo, que está emperrada no Congresso Nacional. O relator da matéria, deputado Vir gí lio Gui ma rães (PTMG), acredita que a votação pos sa ocor rer ain da nes te ano. Os go ver na do res dos prin ci pais Es ta dos tam bém cobram do governo empenho na aprovação da segunda fase da reforma tributária, que prevê a unificação das alíquotas do ICMS e pode acabar com a guerra fiscal. l J. P. ENGELBRECHT/AJB/FUTURA PRESS


36 CNT REVISTA DEZEMBRO 2004

CRIME ORGANIZADO 3º SEMINÁRIO

NORTE SAQUE EVENTO EM MANAUS REVELA: BANDIDOS ASSALTAM EM RIOS E ESTUPRAM POR

EULENE HEMÉTRIO

região menos atingida pelo roubo de cargas no Brasil mostrou ao país que não há limites físicos para a ação das quadrilhas. O ter ceiro seminário “Repressão ao Crime Organizado: Roubo de Cargas e Valores”, promovido pela Polícia Federal em Manaus em novembro, com o apoio da CNT, bancos e seguradoras, deixou claro que a organização dos bandidos ultrapassa as rodovias e invade os rios. As hidrovias são as principais vias de acesso na região Norte e abastece as cidades e povoados que se situam no coração da Ama zônia. Fortemente armadas, as quadrilhas utilizam botes e sa queiam todo tipo de embarcação de cargas ou passageiros. Além de cigarros, medicamentos, vestuários e eletro-eletrônicos, balsas carregadas com combustível são freqüen temente tomadas. Essa característica geográfica do Norte é um complicador para o combate, segundo a superintendente da Polícia Federal do Amazonas, Maria das Graças Malheiros Monteiro: “Nosso Estado é diferen -

A

SEMINÁRIO EM MANAUS Getúlio Bezerra (PF), Paulo Lacerda (PF), desembargador Hosanah Florêncio Thomáz Bastos (ministro da Justiça), Eduardo Braga (governador do AM), Luiz Fernando Corrêa (secretário de Moreno (deputado estudual do PPS), Newton Gibson (CNT) e Maria das Graças Malheiros


DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 37

0800 JÁ COOPEROU EM 30 AÇÕES

ADO MULHERES DA REGIÃO FOTOS CNT/DIVULGAÇÃO

m pouco mais de um mês de atendimento, o disque-denúncia do roubo de cargas já recebeu mais de 2.000 ligações, auxiliando em mais de 30 ações efetivas contra a criminalidade. Só primeiro dia do serviço, foram recebidas mais de 300 ligações. O serviço é gratuito e pode ser feito de qualquer lugar do país. As informações são recolhidas por pessoal treinado e as denúncias são repassadas diretamente à Divisão de Repressão aos Crimes contra o Patrimônio (DPAT) da Polícia Federal, dirigida pelo delegado Antônio Celso dos Santos, sempre mantendo o anonimato da fonte. Pelo telefo-

E

“SEM ESSA UNIÃO, O COMBATE AO CRIME ORGANIZADO É MERA ILUSÃO”

(Tribunal de Justiça do AM), Márcio Segurança Pública), Liberman (superintendende da PF no Amazonas)

ne 0800-773 1122, o motorista poderá informar à central sobre qualquer movimentação estranha que perceber na estrada. O 0800 faz parte da campanha “Caminhoneiros do Bem”, lançada pela Abcam (Associação Brasileira dos Caminhoneiros), no segundo seminário “Repressão ao Crime Organizado”, em outubro, no Nordeste. Segundo a Abcam, a maioria das ligações até o momento são referentes a denúncias de tráfico de drogas e, em seguida, de roubo de cargas. Além disso, a associação tem recebido muitas denúncias de policiais rodoviários que pedem propina para ficarem calados frente às irregularidades.

te, pois a maioria das cargas é transportada por via fluvial. É mais difícil fazer o monitoramento já que 85% dos rios navegáveis do Brasil estão concentrados na região Norte. Temos que ter um trabalho de inteligência muito forte para driblar as barreiras físicas que encontramos”, diz Maria das Graças. As vítimas não são poupadas, conforme conta o presidente da Fetranorte (Federação das Empresas de Transportes Rodoviários da Região Norte), Francisco Bezerra. Mais que agressões físicas e psico lógicas, as mulheres são estupra das e maltratadas pelos assaltantes. “No roubo, estão inseridos vários outros crimes como lavagem de dinheiro, pirataria, assassinatos e estupros. Discutir esse problema é importante para a cidadania brasileira, e não só pelos prejuízos materiais que são gerados”, diz.

A rodovia Belém-Brasília é outro ponto de grande ocorrência. Se gundo o presidente da Fetramaz (Federação das Empresas de Transportes da Amazônia), Irani Bertolini, as quadrilhas de roubo de cargas “são muito bem organi zadas e geralmente são formadas por pessoas de vários Estados”. O Norte centraliza 2,17% dos roubos de cargas do país – segundo dados da Fetcesp, o prejuízo ficou entre R$ 600 milhões e R$ 650 milhões em todo o Brasil. “Se continuar assim, daqui a pouco os custos vão se tornar tão altos que muitas empresas irão quebrar, como já ocorreu alguns anos atrás. As que sobreviverem terão preços impraticáveis de frete, contribuindo no final para o aumento do Custo Brasil, que já é altíssimo se comparado com o resto do mundo”, diz Bertolini.


38 CNT REVISTA DEZEMBRO 2004

“O nível de organização das quadrilhas impressiona até mesmo a PF. Eles usam aparelhos de alta tecnologia e armas avançadas. Houve casos em que foram construídos túneis de 72 metros abaixo do solo para escaparem dos ras treadores via satélite. Outro exemplo é a provocação de acidentes para saquear produtos após o tombamento do caminhão”, diz o presidente da Fetramaz. Para o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, as quadrilhas estão “cada vez mais intercambiáveis”. “Quando a polícia investe no combate a um determinado tipo de crime, as quadrilhas mudam e atuam em outro tipo de crime”, diz. O seminário serviu para mostrar a necessidade de estrutura forte na região Norte, uma área de frontei ra, difícil de vigiar e com uma geografia limitadora. “O que a gente (a PF) precisa efetivamente é ter mais pessoal para investigar os casos. A superintendência tem poucos agentes e tudo o que chega tem sido feito pela Polícia Civil. Quando a carga ultrapassa os limites do Es tado, no entanto, a responsabilidade é nossa. Mas nem mesmo os equipamentos (aeronaves, embarcações etc) que temos disponíveis são suficientes para a atender todo o Estado”, diz Maria das Graças. De acordo com Bertolini, o gerenciamento de risco passou a ser o novo parceiro das empresas de transporte. “Com ele, podemos prever e visualizar no transporte de cargas onde há maior probabilida de de roubo, como também ter in formação sobre que rodovias de -

EM DEFESA Newton Gibson (ABTC), José Fonseca Lopes (Abcam) e Francisco Bezerra (Fetranorte) no evento

QUADRILHAS CONSTRUÍRAM TÚNEIS DE 72 METROS ABAIXO DO SOLO PARA DESPISTAR OS RASTREADORES VIA SATÉLITE

vemos seguir e horários a utilizar”, diz o presidente da Fetramaz. Os prejuízos, no entanto, são contabilizados durante o ano. Além do valor que é pago para as empresas de gerenciamento de risco e segurança, ainda há o valor dos se guros das cargas que começam a subir devido ao índice de roubos. Para Bertolini, o seminário foi de extrema importância nesse sentido, pois “os policiais federais puderam ver e sentir in loco que a realidade Amazônica é outra”. Para Newton Gibson, representante da CNT no evento e presidente da ABTC (Associação Brasileira dos Transportadores de Cargas), os debates mostraram que a situação do roubo de cargas no meio fluvial “é muito preocupante”. “Os assal tantes tomam os barcos como se fossem piratas, sacrificam a tribulação e deixam barcos a deriva, o que pode até provocar acidentes.” Gibson lembra que, se a Transamazônica for realmente priorida de do Ministério dos Transportes, é preciso tomar cuidado, principalmente, com o tráfico de drogas entre as fronteiras e com as vias de acesso e fuga das quadrilhas. “A Transamazônica vai ser um grande salto para a economia do país e também para o setor de transportes. Mas, paralelamente à constru-

ção da rodovia, será preciso investir fortemente em segurança.”

Investigação Como nos eventos que ocorreram em Belo Horizonte e Recife, uma das soluções apontadas pelos participantes do seminário foi a criação de um banco de dados nacional, alimentado pelas empresas de transporte com ocorrências de roubo de cargas. Com esse sistema, a PF poderá fazer um trabalho de rastreamento e investigação para chegar nas quadrilhas. Outra solução proposta foi a abertura de um canal de comunicação maior e mais eficiente entre as Polícias Federal, Rodoviária, Ci vil e Militar e o Exército, a Marinha e a Aeronáutica. Bertolini acredita que a união de forças de todas as entidades é o único caminho para resolver o problema. “Sem essa união, o combate ao crime organizado é mera ilusão.” O tema união foi defendido pelo ministro da Justiça. “O século 21 não é marcado por iniciativas individuais. Não é possível pensar em combater o crime com iniciativas isoladas. É preciso organização, espírito de um trabalho conjunto, de parceria, de cooperação, de planejamento e de mapeamento estatístico. Esse tra-


DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 39

NAVEGANTES DO BEM NA AMAZÔNIA reocupados com o problema do roubo de cargas no meio fluvial, as empresas de navegação do Norte do país se reuniram no intuito de combater esse tipo de crime na região. Ao mesmo tempo em que as autoridades e representantes do setor de transporte se encontravam para discutir as soluções, trabalhadores e empresários fizeram uma grande fluviata de apoio à iniciativa, com a participação de mais de 30 barcos. Inspirados na campanha lançada pelos caminhoneiros, com a criação de um disque-denúncias, o setor aquaviário promoveu o “Navegantes do Bem”, com o objetivo de ajudar a Polícia Federal e demais entidades responsáveis a elucidar crimes ocorridos no meio fluvial. De acordo com o diretor-presidente do Sindarma (Sindicato das Empresas de Navegação Fluvial no Estado do Amazonas), Paulo Duarte Alecrim, a proposta é aproveitar o 0800 da Marinha. Enquanto o serviço não é disponibilizado, as pessoas estão sendo orientadas a denunciar irregularidades pelo próprio sindicato, no telefone (92) 232-5534 ou pelo e-mail sindarma@sindarma.org.br. Depois do evento em Manaus, uma quadrilha já foi desbaratada por informações do Sindarma e várias denúncias estão chegando à entidade. Segundo Alecrim, o Sindarma já havia emitido, por mais de 80 vezes, ofícios às autoridades locais e federais pedindo providências para o pro-

P

PAULO ALECRIM Lançamento do Navegantes do Bem blema do roubo de cargas nos rios da Amazônia. “A Polícia Federal e a CNT vieram atender os anseios da navegação de interior no Estado e na região Norte”, diz o dirigente. Alecrim frisa, no entanto, que é importante fa zer um trabalho em conjunto com a ANP (Agên cia Nacional do Petróleo) para que seja apreendido todo o combustível irregular que se encontra armazenado ao longo das margens dos rios, em especial do rio Madeira, e nos postos de gasolina. “A expectativa é que haja o combate ao receptador, que é a fonte geradora do problema.” O sindicalista conta que em cada roubo são subtraídos de 100 mil a 230 mil litros de combustível das balsas. “Essas embarcações são deixadas à deriva, com a tripulação amarrada e todos os equipamentos de comunicação danificados. Caso haja uma colisão com outro navio, pode ocorrer uma explosão que vai provocar um acidente ecológico de proporções nunca vistas no mundo”, diz Alecrim.

balho é fundamental ao êxito do combate ao roubo de carga.” O diretor de Combate ao Crime Organizado da PF, Getúlio Bezerra, diz que houve uma grande mobilização na região, com participação dos armadores e proprietários de barcos, que se mostraram dispos tos a ajudar na fiscalização dos rios. “Seguindo a mesma linha dos caminhoneiros, as empresas de navegação estão se organizando para centralizar as informações que podem ajudar nas investiga ções de roubo de cargas para, em seguida, repassá-las à polícia.” O terceiro encontro sobre o combate ao roubo de carga confirmou a conclusão dos eventos anteriores, a necessidade de interação entre todos os órgãos de repressão ao crime. “O seminário foi muito útil para aproximar todos os órgãos. Quando precisarmos de cooperação, já sabemos a quem nos dirigir. Além disso, o evento trouxe conhecimentos técnicos e operacionais de outros Estados”, diz Maria das Graças. Francisco Bezerra diz que a iniciativa já vem dando certo e que o número de ocorrências caiu desde que a integração com a PF começou. “O seminário também incenti va a participação dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, em nível nacional.” Thomaz Bastos acredita que da série de seminários “sairão cami nhos na luta contra o crime organizado, uma guerra que não pode mos perder”. O quarto seminário será em Porto Alegre, com foco na região Sul, em dezembro. l


40 CNT REVISTA DEZEMBRO 2004

LOGISTICA ADMINISTRAÇÃO

FISCALIZAÇÃO DA BOA VIAGEM TRANSPORTE DE ÔNIBUS, REGULAMENTADO PELA ANTT, TEM ATENÇÃO ESPECIAL PELO VOLUME DE PASSAGEIROS SOCICAM/DIVULGAÇÃO

POR

EULENE HEMEETRIO

transporte rodoviário de passageiros é responsável por quase 95% dos deslocamentos realizados no país, sendo a principal modalidade coletiva utilizada pela população nas viagens interestaduais e internacionais. O dinamismo des se serviço, entretanto, torna a regulamentação do setor bastante vulnerável e sujeita a mudanças. Além das alterações burocráticas e admi nistrativas que se sucederam ao longo dos últimos 15 anos, vários fatores contribuem para a oscilação nas normas que regem o serviço. A ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) é hoje o ór gão competente pela outorga de permissão e de autorização para a operação do transporte rodoviário interestadual e internacional de passageiros. Essa função, no en tanto, já passou pelas mãos de di versas siglas – foram pelo menos seis, o que não diminuiu em nada

O


DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 41

REGISTRO NACIONAL EM BUSCA DE CONTROLE transporte rodoviário de cargas opera em regime de mercado livre, sem exigências para entrada e saída do mercado. Diferente da área de passageiros, o setor de cargas não necessita de autorização, permissão e concessão para operar, pois não existe legislação específica no campo dos transportes para o exercício dessa atividade. Para obter o mínimo de controle sobre esse serviço, a ANTT está desenvolvendo o Registro Nacional de Transportadores Rodoviários de Cargas (RNTRC), que vai permitir o conhecimento do conjunto de operadores que atuam no mercado. Esse registro, no entanto, tem o objetivo apenas de facilitar a interação com outros setores que dependem dos serviços de transporte. Segundo informações da ANTT, o registro das Empresas de Transporte Rodoviário de Carga (ETC) e dos Transportadores Rodoviários Autô nomos (TAC) vai possibilitar a caracterização das pessoas físicas e jurídicas, quantidade, porte e distribuição espacial, podendo ainda considerar informações básicas para finalidades esta tísticas, evitando duplicidade de procedimentos, aumento de burocracia e imposição de custos adicionais. As normas existentes no setor dizem respeito apenas ao transporte de produtos e cargas perigosas (Resolução 420/04), como também à re gulamentação dos Operadores de Transporte Multimodal (OTM). O exercício da atividade do OTM depende de prévia habilitação e registro na ANTT e, caso deseje atuar em âmbito interna cional, deverá também se licenciar na Secreta ria da Receita Federal.

O

o rigor em observar as leis e garan tir uma logística que atenda ao passageiro com eficiência. Essa é a avaliação da principal entidade de classe do setor de transporte de passageiro, a Abrati (Associação Brasileira das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros). Até 1990, a gestão desses serviços era responsabilidade do DNER (Departamento Nacional de Estradas de Rodagem). A partir desse período foi criado o DNTR (Departamento Nacional de Transportes Rodoviários), especialmente para essa finalidade. Em 1991, o DNTR foi extinto e a responsabilidade foi transferida para a Coordenação Geral de Transportes. Pelo decreto 502, de 23 de abril de 1992, foi criado o DNTT (Departamento Nacional de Transportes Terrestres), na estrutura do então Mi nistério dos Transportes e Comunicações, que, em outubro do mesmo ano, foi transformado em Ministério dos Transportes. Com a edição do decreto 731/93, foi transferida a competência do DNTT para a Secretaria de Produção, que incluiu, em sua organização, o DTR (Departamento de Transportes Rodoviários). O Ministério dos Transportes foi reestruturado com o decreto 1.642/95, tendo sido criada a STT (Secretaria de Transportes Terrestres). Em 1998, o DTR – que passou a integrar a estrutura da STT – recebeu delegação de competência para praticar atos relativos à organização, coordenação, controle, outorga e fiscalização dos serviços de transporte rodoviário interestadual e internacional coletivo de passagei -

ros. A regulação e supervisão da prestação desses serviços passou para a ANTT em 2001, com a pu blicação da lei 10.233, que deter minou a reestruturação dos transportes aquaviário e terrestre. De acordo com dados preliminares do Anuário Estatístico 2004 (ano base 2003) da ANTT, mais de 200 empresas prestam serviços regulares de transporte rodoviário coletivo interestadual e internacional de passageiros no Brasil. A frota era de 13.147 veículos, e foram realizadas mais de 4 milhões de viagens, transportando cerca de 130 milhões de passageiros no ano. Para absorver 2.670 serviços básicos (linhas), complementares e diferenciados, são necessários quase 22 mil motoristas, que percorrem juntos mais de 1 bilhão de quilômetros todo ano. Isso tudo faz com que o faturamento anual do setor seja acima de R$ 2,5 bilhões. Toda essa logística é controlada pela ANTT. O presidente da Abrati, Sérgio Augusto de Almeida Braga, diz que, devido a essas e outras oscilações, “nenhuma legislação prevista para essa atividade pode ser considerada como definitiva, estando sempre sujeita a revisões regulares que a adapte às novas realidades surgidas”. Outros exemplos dessa volatilidade são a criação do Estatuto do Idoso, que passou a exigir a reser va de assentos gratuitos a maiores de 65 anos, e a emissão de autorizações de viagem de fretamento eventual e/ou turístico on-line, que já está disponível 24 horas por dia, todos os dias da semana, podendo ser feito pela Internet. l


42 CNT REVISTA DEZEMBRO 2004

TECNOLOGIA LANÇAMENTO

PROTEÇÃO, A NOVA MENINA-DOS-OLHOS SEGURANÇA É O DESTAQUE DO 23º SALÃO DO AUTOMÓVEL AUDI/DIVULGAÇÃO

POR

PATRÍCIA GIUDICE

s montadoras de veículos estão sempre pesquisando e buscando adaptar os equipamentos a novas situações. Com a engenharia de segurança não é diferente, e o quesito se tornou um dos itens mais dinâmicos dos veículos. Durante o 23º Salão do Automóvel, evento que aconteceu em São Paulo em outubro, muitos dos novos modelos apresentaram evoluções quando o assunto é segurança. Ao todo, 31 marcas expuseram 400 veículos, entre carros, caminhões e tratores. A evolução ocorreu tanto em relação aos itens de segurança ativa quanto passiva. O primeiro se refere àqueles que são capazes de evitar a ocorrência de um acidente, como freio, retrovisor, iluminação, e o se gundo, àqueles que não evitam, mas dimi nuem o efeito. São airbags, cinto de segu rança e apoio de cabeça, por exemplo. No Salão do Automóvel, foram justamente es ses itens os mais especificados pelas mon tadoras (veja quadro).

A


DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 43

Para o presidente da Anfavea (Asso ciação Nacional dos Fabricantes de Veí culos Automotores), Rogelio Golfarb, a segurança veicular ativa e passiva é tema de atenção da indústria automobilística mundial. “A legislação é rigorosa, e a do Brasil está em linha com a dos grandes cen tros pro du to res e con su mi do res, como Europa e Japão”. Golfarb diz ainda que, ao lado da legislação, está o perma- ROGELIO GOLFARB nente esforço da indústria em desenvol- Segurança é tema ver produtos que incorporem as novas principal das montadoras tecnologias de proteção veicular. Segundo o diretor técnico de veículos leves da AEA (Associação Brasileira de Engenharia Automotiva), Marco Saltini, a evolução dos equipamentos visa aumentar a segurança do usuário. “Há um tem po não existia o freio a disco, e hoje já temos o sistema ABS com controle de pressão para evitar a perda de aderência com o solo”, diz. Outro exemplo é cinto de segurança. A primeira exigência foi o cinto sub-abdominal com duas pontas, ainda presente nos veículos fabricados até 1998. Depois, foi criado o de três pontas que segura o tronco e evita que, em uma coliNOVIDADES DO SALÃO são, a pessoa seja jogada no vidro dian Confira alguns destaques de segurança teiro do veiculo. O primeiro causava des - A Audi apresentou o novo A6 (foto) equipado conforto e foi adaptado para o de três com faróis de xenon plus, que acompanham o traçado das curvas e tornam as pontas retrátil, que permite pequenos viagens noturnas mais seguras movimentos. “Atualmente, criou-se um O modelo Série 1 segmento compact Premium, da BMW, vem com controle de dispositivo que reduz a tensão dos cintos estabilidade dinâmica, controle dinâmico de para dar conforto ao condutor e passa freios e airbags para todos os ocupantes geiros”, exemplifica Saltini. A Chrysler apresentou o 300C, que conta com programa eletrônico de estabilidade, Falta conquistar o público, que ainda oito airbags e controle de tração não se preocupa tanto com esses itens no A Citroën destacou o C4 VTR, com um momento de escolha da compra. As mon - conjunto de sistemas de segurança como alerta de ultrapassagem, faróis xenon tadoras seguem o artigo 103 do Código direcionais de dupla função, piloto automático, limitador de velocidade Nacional de Trânsito, que prevê a obriga e alerta de calibragem baixa toriedade do sistema de segurança, mas No 307, da Peugeot, o destaque fica para Saltini falta “cultura de segurança”. para o acendimento automático de luzes de emergência “Se perguntar para as pessoas o que elas

verificam quando vão comprar um automóvel, a resposta da grande maioria será o conforto, em detrimento da segurança. Se tiver que optar pelo airbag ou sistema de som, ele escolhe o som.” O presidente da Anfavea acredita que essa mentalidade está mudando e avalia que os consumidores estão mais conscientes e exigentes com relação aos itens de segurança veicular e de trânsito. “Certamente, os equipamentos de segurança estão na raiz da prevenção de acidentes, assim como também as demais condições do trânsito saudável, como engenharia, sistema e a formação dos motoristas”, diz Golfarb. Para Saltini, até mesmo as pessoas que adquirem um caminhão para meio de sobrevivência não dão tanta importância ao item segurança. “É uma ferramen ta de trabalho, fatalmente o cliente estará focado em economia de combustível, manutenção barata e conforto. Quem tem veículo de passeio se preocupa mais com o design, desempenho e depois a segurança”, afirma. A segurança veicular está calcada em três pilares: o condutor, o veiculo e a situação da via. “Um acidente ocorre quando um desses itens falha. Não adianta ser o melhor motorista se o veículo estiver com problema ou a via com buracos, mal sinalizada, com condições inadequadas”, diz Saltini. Para que os itens de seguran ça e toda a tecnologia dêem resultado, é necessário seguir os manuais de manutenção e que as condições de tráfego estejam boas. Para Golfarb, os acidentes têm relação direta com descaso com a manutenção tanto do veículo quanto da via. “Nesse aspecto, é fundamental a conscientização do cidadão em manter seu veículo com a manutenção adequada”, diz o presidente da Anfavea. l


ÁLCOOL PARA V

NOVO MODELO DE AERONAVE OBTÉM CERTIFICADO E CHEGA AO AGRI POR

SANDRA CARVALHO


FOTOS EMBRAER/DIVULGAÇÃO

DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 45

MODAL AEROVIÁRIO AGRONEGÓCIOS

Brasil inova mais uma vez. Depois de desenvolver diversas pesquisas, a Indústria Aeronáutica Neiva, subsidiária integral da Embraer, recebeu a certificação de tipo do Centro Técnico Aeroespacial (CTA) para fabricar aeronaves movidas a álcool. O Ipanema será o primeiro avião de série no mundo a sair de fábrica certificado para voar com o álcool hidratado. A utilização desse combustível caiu como uma luva num momento em que o preço do barril de petróleo vive nos US$ 50. Porém, as pers pectivas de venda do novo modelo dependem da continuidade do bom momento que o agronegócio registra hoje no país. A justificativa se dá porque o novo modelo do Ipanema – existe sua versão gasolina – é da linha leve de aviões e destinado exclusivamente à aviação agrícola, série fabricada pela Neiva há quase 30 anos. Com motor a pistão, a aeronave é uma das mais utilizadas por produtores rurais para a aplicação de defensivos agrícolas. Segundo informações da empresa que desenvolveu a tecnologia, entre outras vantagens, o motor a álcool garante aumento de até 5% na potência do avião. Mas a vantagem principal do modelo está relacionada à economia de combustível. Embora seja mais cara – US$ 259 mil contra US$ 255 mil do avião a gasoli na – o novo Ipanema pode gerar uma economia de até 60% no custo do combustível para seu usuário quando se com para o preço da gasolina de aviação, que chega hoje a R$ 5 por litro, contra o do álcool – R$ 1,20 em média. A estimativa é de uma redução de até 20% no custo operacional do avião. Além do fator am biental, pois os gases emitidos na queima do combustível não agridem a natureza já que não contêm resíduos de chumbo, emitidos pelo motor à gasolina.

O

OAR

CULTOR EM 2005

A Neiva investiu aproximadamente R$ 3 milhões no projeto. Da fase de testes à certificação do CTA foram cerca de dois anos de espera. Segundo informações do órgão, a certificação da aeronave desenvolvida com tecnologia nacional garante que o novo Ipanema atende a todas as normas de segurança e condições de aeronavegabilidade, sendo adequado à comercialização. A segurança em relação ao modelo foi tanta que o CTA divulgou recentemente seus planos de estender a tecnologia do motor a álcool a todas as aeronaves com motor a pistão, diminuindo o custo operacional e a agressão ao meio ambiente. Segundo dados da Neiva, o avião movido a álcool já existe nos Estados Unidos, mas o modelo norte-americano usa álcool metanol e não o etanol utilizado nos veículos. Portanto, o Ipanema é o primeiro avião do mundo movido a álcool hidratado (etanol) certificado. Na data de entrega da certificação de tipo do avião à indústria pelo CTA, em outubro, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, enviou uma carta que foi lida na solenidade. No documento, Lula diz que “a tecnologia de ponta consolida a auto-sustentabilidade e a utilização de combustível renovável e de proteção ao meio ambiente”. O avião a álcool só chegará ao consumidor no próximo ano, pois até dezembro a Neiva estará concluindo a montagem das 82 unidades a gasolina que vendeu no exercício de 2004, 78% a mais que em 2003 em função do crescimento do agronegócio. Segundo a Embraer, já existem 15 encomendas feitas para o modelo a álcool.

Acessibilidade A Neiva acredita que a tecnologia a álcool tornará o avião agrícola mais acessível


46 CNT REVISTA DEZEMBRO 2004

aos produtores rurais. É o que também destaca o empresário Jonas Mage. Ele é proprietário de uma empresa que faz aplicações de insumos agrícolas em fazendas, com sede na cidade de Zapezal, interior do Mato Grosso. Ele já encomendou um Ipanema a álcool, que deve ser entregue pela Embraer em maio de 2005. “Optei pelo modelo em função da economia no custo operacional e, principalmente, pela garantia de maior vida útil do motor. Além disso, o álcool é o mesmo utilizado em carros, podendo ser adquirido facilmente”, diz Mage. O empresário diz que está acompanhando o setor e aguarda novidades acer ca da conversão de motores para aviões de modelos diferentes. Se isso se confirmar, Mage pretende fazer a troca de motores nas duas aeronaves que utiliza para pulverizar cerca de 100 mil hectares por ano. Segundo a Embraer, quem já possui a aeronave a gasolina já pode fazer a conversão do motor. A empresa já recebeu neste ano 69 pedidos de conversão que devem ser atendidos até dezembro. Mas o sucesso de vendas do Ipanema a álcool depende da continuidade de crescimento nos agronegócios. As expectativas são as melhores possíveis, conforme informa o assessor técnico do departamento econômico da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), José Ricardo Severo. Segundo ele, que também é assessor da comissão de cana-de-açúcar da CNA, o novo modelo do Ipanema será uma propa ganda institucional do álcool brasileiro em todo o mundo, podendo ser responsável pelo aumento de exportações do produto. Severo destaca que, na produção de grãos, carro-chefe das exportações na agricultura brasileira, apenas 6% dos produtores rurais utilizam aviões agrícolas. “A diminuição do custo operacional pode fa-

PARA A NEIVA, A TECNOLOGIA A ÁLCOOL TORNARÁ O AVIÃO AGRÍCOLA MAIS ACESSÍVEL AOS PRODUTORES

zer com que mais produtores adquiram aeronaves para pulverizar”, diz o técnico da CNA. Mas Severo frisa que é necessário que sejam criadas linhas de financiamento por parte da Embraer para isso. Para Severo, o avião agrícola é a forma mais eficiente de pulverizar a lavoura e também a mais econômica. “É mais eficiente porque o herbicida é colocado na plantação de forma mais rápida e homogênea. E é mais econômico porque necessita de menos insumos para o serviço.”

Abastecimento A descontinuidade das políticas de produção de álcool no país – como ocorreu no final da década de 1980 – poderia representar um risco para as vendas do novo modelo do Ipanema. Segundo a Embraer, caso isso ocorra, é possível reverter o motor a álcool para gasolina ao custo de 30% do montante cobrado hoje para fazer a conversão contrária.


DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 47

O NOVO MODELO DO IPANEMA SERÁ UMA PROPAGANDA DO ÁLCOOL BRASILEIRO EM TODO O MUNDO E PODE AUMENTAR A EXPORTAÇÃO DO PRODUTO

INOVAÇÃO Parte interna do Ipanema movido a álcool

Mas para o consultor da União da Agroindústria Canavieira (Unica), Alfred Szwar, esse risco é quase remoto, já que a produção de álcool no Brasil, país que mais produz o combustível no mundo, tende a crescer. A alta nas vendas dos carros flex (com motores movidos a gasolina e álcool) garante a produção continuada, sem problemas de desabastecimento. A produção do avião, segundo ele, é um nicho de mercado para a indústria alcooleira, mas não deve, num primeiro momento, provocar impacto no setor, já que dos 14,7 bilhões de litros de álcool produzidos por safra, 2 bilhões são exportados, 900 milhões se destinam ao uso industrial e o restante é consumido como combustível. “O álcool na aviação é um mercado que passará a existir daqui para frente e não há ainda como fazer muitas projeções”, diz Szwar. O consultor afirma que um volume de 50 milhões de litros deve ser destinado à aviação por safra. Szwar tam bém es ti ma que a ex por ta ção do mo de lo Ipa ne ma a ál cool vai agre gar va lor ao com bus tí vel bra si lei ro. O Bra sil é o lí der na pro du ção mun dial do ál cool, se gui do pe los Es ta dos Uni dos, que têm uma pro du ção de 12,5 bi lhões de li tros por sa fra. “Há cin co anos, os nor te-ame ri ca nos vêm in ves tin do em pro du ção de ál cool e con tam hoje com 81 des ti la rias pron tas e ou tras 14 em cons tru ção. O Bra sil con ta com 320 uni da des pro du to ras, tem a in dús tria mais an ti ga e gran des pers pec ti vas de cres ci men to”, diz o con sul tor da Uni ca. Se gun do sua ava lia ção, as ex por ta ções das ae ro na ves bra si lei ras de vem ocor rer, prin ci pal men te, para os paí ses que in ves tem na pro du ção do com bus tí vel, como os EUA e a Índia. l


O ARGUMENTO É A PROJETO DE INSPEÇÃO VEICULAR VISA REDUZIR ACIDENTES , MAS


FOTOS PAULO FONSECA

DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 49

POR

inda não será desta vez que o governo federal conseguirá implantar a inspeção técnica veicular (ITV) no Brasil. Desde dezembro de 2001, a comissão de Viação e Transportes da Câmara dos Deputados tenta aprovar um projeto de lei, de sua autoria, que prevê a vistoria de itens de segurança e de emissão de gases poluentes na atmosfera nos cerca de 22 milhões de veículos que circulam no país. Mas, mais uma vez, o projeto, cuja aprovação tem caráter de urgência, está novamente aberto a discussões e não deve passar neste ano, conforme avaliação do seu relator, deputado federal José Mentor (PT-SP). O ob je ti vo da ITV é ga ran tir se gu ran ça nos veí cu los em cir cu la ção, para evi tar aci den tes de trân si to cau sa dos por fa lhas me câ ni cas, além da pre ser va ção do meio am bien te, re du zin do a emis são de mo nó xi do de car bo no e de par ti cu la dos na at mos fe ra. A po lê mi ca re si de so bre a ques tão dos car ros ve lhos, que po de riam sair de cir cu la ção e pre ju di car seus do nos, a maio ria de clas ses mais bai xas. Ou tra dis cus são é so bre a cria ção de uma nova taxa para o ci da dão bra si lei ro, em fun ção da rea li za ção do ser vi ço. Ficará a cargo do Contran (Conselho Nacional de Trânsito) a competência de estabelecer as normas técnicas dos itens de segurança, enquanto o Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) se responsabilizá pelo controle de emissão de gases poluentes e de ruídos. A inspeção irá determinar uma classificação para o veículo e suas implicações (veja quadro). Segundo o diretor do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito), Ailton Brasiliense Pires, os itens de segurança e de emissão de poluentes serão inspecionados

A

SEGURANÇA NOVA TAXA E FROTA ANTIGA GERAM POLÊMICA

SANDRA CARVALHO


50 CNT REVISTA DEZEMBRO 2004

MEDO DE PERDER O CARRO m dos grandes medos da população em relação à implantação da lei da Inspeção Técnica Veicular (ITV) no país é o tratamento do mercado de carros velhos e sua circulação. O diretor do Denatran, Ailton Brasiliense Pires, diz que a ITV vai “moralizar o mercado dos carros usados”. “Um veículo aprovado, qualquer que seja a sua idade, merecerá a confiança de seu comprador”, diz. Brasiliense Pires afirma que não acredita na retirada de mercado de veículos muito antigos. “O fato de um veículo ser velho não significa que ele seja mal conservado. Existem carros novos em piores condições mecânicas ou de controle de emissão de gases poluentes.” A grande preocupação dos motoristas está relacionada à cobrança de uma taxa para a realizar a inspeção. Marcelo Alves, carreteiro e dono de um perua Kombi 79, trabalha na zona leste de São Paulo com pequenas mudanças e cargas: “Acho que isso (a inspeção veicular) vai tirar o emprego

U

de forma a detectar defeitos ou funcionamento inadequado. “Um defeito será detectado conforme parâmetros determinados pelo fabricante do veículo e/ou pelas normas vigentes, para que seja permitida ou não, sua circulação em vias públicas”, diz Brasiliense Pires. Parte da vistoria, chamada de inspe ção mecanizada, será feita com o auxílio de equipamentos específicos, que vão determinar, por meio de medidas de grandezas físicas e químicas, as condi ções de desempenho de componentes dos veículos. Assim será, por exemplo, a verificação dos índices de emissão de po luentes, do alinhamento e da intensidade luminosa dos faróis dos veículos. O restante do processo, chamado de inspeção visual, segundo Brasiliense Pires, será complementado com consulta a bancos de dados e atuação sobre determinados comandos e componentes do veículo, para verificar seu funcionamento adequado ou se existem ruídos, vibrações anormais, folgas excessivas, desgastes, trincas e vazamentos. São exemplos desse tipo de inspeção a checagem da documentação de propriedade do veículo e a verificação da existência e inte gridade dos cintos de segurança. Em mo mento algum, componentes dos veículos serão desmontados na vistoria. O certifi cado de licenciamento anual só será ob tido pelo motorista, após comprovar a aprovação do carro na ITV.

Manutenção Segundo o diretor do Denatran, antes da implantação das inspeções, serão realiza das campanhas de educação para que os proprietários e usuários de veículos adqui ram o hábito de realizar a manutenção preventiva. Para Brasiliense Pires, a mudança de comportamento vai incorporar também

ESTUDO DO DETRAN-PR INDICOU QUE AS FALHAS MECÂNICAS REPRESENTAM 18% DOS ACIDENTES

de muita gente. Como vou conseguir comprar uma perua nova, não sei nem se vou conseguir pagar os prováveis R$ 50 para fazer essa inspeção?”. José Carlos de Alberto Soares, comerciante, proprietário de um Monza 84, tem uma mercearia em Santos (litoral de SP) e concorda com a lei: “Concordo que os carros devem funcionar direito, sem barulho, sem fumaça, com toda a segurança. Mas meu salário não paga um carro novo.” Ele também é contra a cobrança de uma taxa para a ITV. “Não tenho como pagar, e se levar meu carro para a ins peção os caras vão querer tomar.” Dono de um Fusca ano 1975, o comerciário de Belo Horizonte Wanderson Etelvino Borges diz que a manutenção de seu carro é muito cara. “Sei que é popular. Mas tudo estraga com freqüência, pois as peças são mais fracas e antigas. O Fusca é o meio de locomoção de minha família e anda cheio de problemas. Não tenho como consertar e não podemos ficar a pé, pegando esses ônibus que demoram muito e só andam cheios.”

um maior respeito à sinalização e às leis de trânsito em geral. “O objetivo é a redução imediata dos índices absurdos de acidentes, com milhares de mortos e feridos anualmente. Hoje, no Brasil, morrem em acidentes 18 pessoas para cada grupo de 100 mil habitantes”, diz. A ITV, conforme o Código de Trânsito Brasileiro, será realizada exclusivamente por centros de inspeção credenciados pelos órgãos executivos de trânsito, com capacidade técnica reconhecida - hoje, a vistoria é visual e feita nos Detrans. Os centros não poderão ter nenhum tipo de ligação com o setor automotivo, para evitar fraudes e avaliações tendenciosas.


NOS PAÍSES ONDE A INSPEÇÃO FOI ADOTADA, A REDUÇÃO NO NÚMERO GERAL DE ACIDENTES FOI EM MÉDIA DE 15%

Esses locais terão de ser totalmente in formatizados e com acesso direto aos bancos de dados dos Detrans, para sua atualização imediata. “Isso vai eliminar, por exemplo, a ocorrência de clonagem de veículos”, diz Brasiliense Pires. O diretor do Denatran acrescenta que estudos elaborados na Europa e na América do Norte indicam que aproximada mente 15% dos acidentes têm como causas defeitos mecânicos. No Brasil, estudo realizado pelo Detran do Paraná indicou que as falhas mecânicas, associadas a outros fatores, representam 18% dos acidentes. Nos países onde a ITV foi adotada, a redução no número geral de aciden-

tes foi em média de 15%. Nesses mesmos países, os acidentes que tiveram como causa o fator mecânico foram reduzidos em 5%. “Um acidente pode ser causado por falhas mecânicas, humanas e de pista. A ITV se apresenta como prevenção às falhas mecânicas, ou seja, controla uma das variáveis inerentes.” Para realizar o serviço, conforme o projeto, será necessário cobrar uma tarifa do proprietário do veículo. O diretor do Denatran informa que ainda não dá para estimar o valor, mas conforme estudos ABTC (Associação Brasileira de Transporte de Cargas), estima-se um valor de R$ 50 no Brasil, embora nos países onde


do. “Além disso, o momento para se criar a taxa não é propício, já que há queda no poder aquisitivo do brasileiro e não há aumento no salário.”

Competências

PELOS OLHOS Hoje, a inspeção feita no Detran é apenas visual

“IMAGINE O QUANTO A UNIÃO ARRECADARIA COM A FROTA DE 22 MILHÕES DE VEÍCULOS”

a inspeção já é praticada cobra-se algo em torno de US$ 50 (R$ 150 em média). “Imagine o quanto a União arrecadaria com a frota de 22 milhões de veículos”, diz o presidente da ABTC, Newton Gibson, que participou da audiência pública sobre o tema realizada em junho na Câ mara dos Deputados. O deputado federal João Batista Oli veira Araújo (sem partido), o Babá, diz que a finalidade da inspeção veicular é “louvável”, mas que é contra a cobrança da tarifa. “Isso é sobretaxar o brasileiro, que paga imposto de renda, IPTU, IPVA, sendo o cidadão com uma das maiores cargas tributárias do mundo”, diz. Ele sugere que uma parcela do IPVA, impos to que segundo ele é “meramente arre cadatório”, seja destinada à implantação e manutenção da ITV. Babá também diz temer a monopolização do serviço, que, conforme o projeto, pode ser terceiriza -

A inspeção deve ser de competência única da União, segundo informa o relator do projeto, deputado José Mentor. De acordo com ele, se ocorresse a estadualização, não haveria uma uniformização de custos e cada Estado cobraria uma tarifa diferente e poderia estabelecer critérios diferenciados de avaliação dos veículos, com efeitos nocivos à segurança no trânsito. “Além disso, alguns Estados com baixa densidade demográfica e pequena frota de veículos não conseguiriam viabilizar o projeto sem praticar tarifas excessivamente caras.” Após pareceres da Câmara dos Deputados, conforme o relator do projeto, ficou determinado que os recursos arrecadados com a ITV devem ser destinados à manutenção do serviço, ao Fundo Nacional de Segurança e Educação de Trânsito, ao Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, ao Fundo Nacional do Meio Ambiente e aos órgãos executivos de trânsito. A criação da ITV não é um projeto novo no Brasil. Conforme o diretor do Denatran, não se trata de uma nova obrigação que está sendo criada pelo Contran e pelo Conama. A implantação da ITV ocorre em cumprimento ao artigo 104 do Código de Trânsito Brasileiro, de 1997, mas sua história começou em 1968. O antigo Código Nacional de Trânsito (Lei 62127/68), em seu artigo 120, já tratava da necessidade da inspeção obrigatória das condições mecânicas dos veículos. “Ocorreram inúmeras discussões nos mais diversos fóruns técnicos sobre o assunto. De concreto, tiveram duas tentativas de implantar a ITV, a Resolução 809/1995 e a Resolução 84/1998 – ambas do Contran –, com a intenção de re-


DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 53

REPROVAÇÃO DE 70% DA FROTA ntre os caminhoneiros, as principais inimigas da manutenção mecânica de um veículo são as rodovias mal conservadas. Para o autônomo Adão José Alves, o faturamento da categoria hoje não permite gastos altos com a manutenção. “A gente anda no limite. Resolve um problema daqui, outro ali, mas sempre temos algo a resolver na parte mecânica”, diz Alves. Segundo o motorista, os defeitos são continuados e ocorrem em função das más condições das rodovias. “Toda viagem gera um defeito e o frete, competitivo e muito baixo, não paga os custos.” Para Elvércio Ferreira Silva, a idéia de garantir a segurança nos veículos é “boa”, mas critica um novo imposto. “Já andamos em estradas tão ruins que a segurança no carro tem de estar a nosso favor para garantir a vida. Só não concordo com o pagamento de uma taxa para essa inspeção porque hoje o caminhoneiro anda no limite.” O presidente da Abcam (Associação Brasileira de Caminhoneiros), José da

E

Fonseca Lopes, diz que, se a inspeção veicular fosse implantada hoje, 70% da frota nacional de caminhões de autônomos seria reprovada. São veículos com mais de 18 anos de uso e que andam no limite. “O que mais contribui para essa situação são as rodovias, mas o frete predatório não dá condições ao caminhoneiro de manter bem seu cami nhão.” Segundo ele, a entidade prepara um documento que será apresentado à Comissão de Viação e Transportes da Câmara sobre o assunto. “Nesse docu mento, cobramos do governo federal condições melhores de financiamento para a renovação da frota e a melhoria nas condições das rodovias”, diz. A mesma reclamação faz o presidente da ABTC, Newton Gibson. “É necessário que o governo pratique juros menores no Modercarga (programa de financiamento de caminhões), para que as empresas tenham condições de renovar a frota, com veículos mais econômicos, garantindo recursos para manter os caminhões em melhor estado.”

gulamentar as questões relativas aos itens de segurança”, diz Brasiliense Pires. Em meio a essas discussões antigas, segundo o diretor do Denatran, as questões ambientais foram regulamentadas com sucesso, por meio de resoluções elaboradas pelo Conama. “Entretanto, apenas o governo do Estado do Rio de Janeiro implantou parcialmente, em alguns municípios, a inspeção de controle de emissão de gases poluentes e ruídos.” Por isso, a necessidade da implantação de uma política nacional. Mas a adoção da ITV no país ainda tem um longo caminho a trilhar, se rotina de modificações e debates continuarem. Desde 2001, o projeto de lei nº 5.979 é discutido e já passou por modificações nas comissões de Trabalho, Administração do Serviço Público, Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias, de Finanças e Tributação. O projeto foi debatido na Câmara, submeteuse a consultas públicas, mas ainda se encontra em discussão e pode sofrer mais alterações, segundo seu relator. l

ITENS QUE SERÃO AVALIADOS Identificação

ClASSiFiCAção

Equipamentos Obrigatórios

Sem defeito

Sinalização Iluminação

defeito leve

Freios Direção

defeito grave

Eixos e Suspensão Pneus e Rodas Sistemas e Componentes Complementares Emissões de Gases e Ruídos

defeito muito grave

Veículo conforme com a norma e/ou especificação do fabricante Falha que não afeta a identificação e/ou a dirigibilidade e segurança do veículo

ExpERiênCiA intERnACionAl - índiCE dE REpRovAção Ano de Implantação

33% 20%

20%

24%

32%

23% 17%

Problema que afeta a identificação e/ou as condições de segurança do veículo. Implica restrições à sua circulação Falha que afeta a identificação e/ou as condições de segurança do veículo. Implica impedimento à circulação

não disponível Alemanha

Bélgica

Espanha

França

R. Unido

Suécia

1950

1958

1985

1992

1961

1965

Coréia S. Argentina 1981

* A inspeção veicular é feita a cada 2 anos em veículos leves * Dados de 1998 Fonte: www.cidades.gov.br

1991


PRÊMIO NACIONAL ENERGIA E MEIO AMBIENTE

ESFORÇO PREMI EMPRESAS DE TRANSPORTE SÃO RECONHECIDAS PELO USO RACIONAL Prêmio Nacional de Conservação e Uso Racional de Combustível, instituído por decreto da Presidência da Re pública e regulamentado pelo Ministé rio de Minas e Energia, é concedido anualmente sob a coordenação da CNT/Idaq (Instituto de Desenvolvimento, Assistência Técnica e Qualidade em Transporte) e Petrobrás/Conpet (Programa Nacional de Racionalização do Uso dos Deriva dos do Petróleo e do Gás Natural). Como reconhecimento ao esforço das empresas de trans porte na busca pelo aumento de eficiência energética, neste ano, foram concedidas seis premia ções e três menções honrosas. Na categoria Car gas, o vencedor foi a Transportadora Binotto S/A, de Santa Catarina. E na categoria Passageiros, o primeiro lugar coube à empresa de Transportes Flores Ltda, com sede no Rio de Janeiro.

O

POR

MARCELO NANTES

Ambas apresentaram invejáveis índices de aproveitamento do combustível. A Binotto registrou um aumento de 27,53% em sua eficiência energética. O percentual corresponde a uma economia de 7,173 milhões de litros de combustível ao ano. Já a Transportes Flores obteve um aumento de 11,6% em sua eficiência energética, o que corresponde a uma economia de 1,6 milhão de litros ao ano. “Nós encaramos o Prêmio Nacional de Con servação e Uso Racional de Combustível como uma grande honra, um reconhecimento do trabalho que estamos realizando ao enfocar a melhoria contínua da qualidade e a redução de custos. Há três anos que estamos investindo em tecnologia, visando, fundamentalmente, o controle completo de toda a nossa frota”, diz Edilson Binotto, diretor de negócios e logística da empresa.


CELSO AVILA/FUTURA PRESS

DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 55

ADO DE COMBUSTÍVEL

Binotto prefere não falar de quanto foi necessário investir para chegar ao resultado alcançado. Os administradores da empresa firmaram parceria com um sistema de gestão de logística, o Rodocred, para realizar monitoramento de todas as viagens realizadas, tanto do ponto de vista de rota – posicionamento dos veículos e prazos – como dos principais indicadores de desempenho. Segundo o executivo, com as informações disponibilizadas em tempo real, toda vez que o veículo faz um abastecimento é possível obter, imediatamente, sua média de consumo. Outro dado diz respeito à conservação da frota. A manutenção, preventiva e corretiva, a informatização da telemetria (via satélite) e a otimização das viagens sem cargas contribuíram para o desempenho. “Num mercado que conta com mais de 115 provedores de serviços logísticos e um número exorbitante de empresas de transporte, tal economia representa um importante diferencial comercial. Isso nos permite afirmar que estamos à frente de nossos concorrentes. Quanto ao nome da nossa empresa no mercado, podemos mais do que nunca garantir aos nossos TRANSPORTADORA BINOTTO/DIVULGAÇÃO

clientes que o valor que estão nos pagando é bem aplicado”, diz o diretor. Por sua vez, os administradores da Transportes Flores justificam a premiação com o argumento da persistência. Eles dizem que vêm desenvol vendo um trabalho de acompanhamento do consumo de combustível “há muitos anos”. “Nossa empresa está dividida em cinco áreas de atuação na região metropolitana do Rio de Janeiro, sendo que cada uma é composta por um grupo de linhas com seu respectivo instrutor. Eles são responsáveis pelo acompanhamento individual dos motoristas. Os profissionais com baixo desempenho são acompanhados e recebem instruções de como melhorar seus rendimentos. Freqüentemente, são realizadas reuniões visando uniformizar os conhecimentos”, diz Marcos Antônio Pereira Guimarães, gerente de gestão da empresa. Outros dois fatores foram preponderantes para o cumprimento das metas: a manutenção dos veículos e o esforço em reconhecer os méritos dos empregados. Segundo Guimarães, quando o problema é do veículo, o instrutor abre uma ordem de serviço de manutenção e acompanha os procedimentos de correção. “Também temos cuidado em valorizar as iniciativas e atitudes positivas dos nossos funcionários. Os profissionais com os melhores desempenhos no mês, em cada linha, recebem uma carta da diretoria agradecendo o seu comprometimento. Formalizamos nosso reconhecimento, ao final do ano. E como incentivo ao bom profissional, estamos mandando a Brasília, para receber o prêmio, o motorista com o melhor desempenho nos 12 últimos meses.” Guimarães destaca que a média de consumo da empresa vem apresentando padrão unifor me, o que faz a empresa utilizar diversos proces sos de melhorias. Entre eles, inovações tecnológicas, como a aquisição de novos carros. “Mas, normalmente, quando entram na frota, esses BINOTTO Transportadora que venceu o Prêmio Nacional de Conservação e Uso Racional de Combustível - categoria Cargas


56 CNT REVISTA DEZEMBRO 2004

FUTURO MIRA NAS FONTES RENOVÁVEIS etróleo e gás natural são as duas principais fontes energéticas brasileiras de acordo com o plano estratégico da Petrobras – além do álcool como combustível. A tática corporativa da empresa, além de almejar a liderança nos mercados de petróleo e gás da América Latina, considera como um de seus pilares a atuação nos mercados de energia renovável. Os projetos com esse tipo de fonte ainda estão em fase piloto, mas os cálculos e estimativas projetam que em seis anos 0,5% dos investimentos totais da companhia serão destinados à energia renovável: biomassa (biodiesel) e eólica, por exemplo. A biomassa é a menina-dos-olhos, a fonte de energia com maior volume de investimento. Segundo a assessoria de imprensa da Petrobras, “em biomassa devemos estar participando do projeto de biodiesel, assim como de projetos de geração de energia elétrica, também a partir de biomassa”. O plano pode ser feito em consórcio com outras empresas que geram energia, entre outros modelos, a partir do bagaço da cana, “uma matéria-prima que está sendo desperdiçada”. A dependência externa pelo petróleo é considerada pequena, de apenas 10%. Feitos os cálculos, os técnicos da empresa consideram que os preços elevados não estão produzindo perdas de divisas. Partem do princípio que há compensação com as exportações de petróleo e seus derivados, o que implica o equilíbrio das contas externas do setor.

P

Há tanto otimismo por parte da estatal que a auto-suficiência, tão propagada à época em que o Brasil se tornou “o país do futuro” e que era prevista para 2006, “deverá ser alcançada no final do próximo ano, pois a produção cresce, em média, 5,9% ao ano”. A expectativa se reforça com a conclusão das plataformas P-43, P-48, P-47, P-50 e P-34, “quando a produção atingirá 1,78 milhão de barris”, prevêem os técnicos da empresa. Segundo dados fornecidos pela Petrobras, com a produção atual já é possível atender praticamente 90% da demanda nacional. “Não há, portanto, qualquer risco para o Brasil em função da volatilidade dos preços praticados nos últimos me ses”, diz a gerente de comunicação insti tucional, Michelle Hervé. Além do petróleo e seus derivados, o carvão é outro combustível fóssil utilizado no Brasil. Mas a situação dessas fontes não é tão animadora quanto exaltam os técnicos da Petrobras. “Há escassez progressiva. A polêmica gira em torno da per gunta quanto tempo o petróleo vai durar. Mas me parece claro que em algumas dé cadas isso (a escassez) será inevitável. O consumo está aumentando mais que as

reservas encontradas. A curva está na fase descendente quando comparamos consumo com estoque”, diz Ruy de Góes, diretor do Programa de Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente (MMA). Góes explica que há várias reservas que não são economicamente viáveis. “Não me arrisco em falar no fim do petróleo, mas a elevação do preço também é certa”, diz o diretor do MMA. Ele cita o forte crescimento e desenvolvimento da China como um fator novo para o desequilíbrio da demanda. Mas em um ponto ele concorda com as projeções da Petrobras, de que o gás natural está aparecendo como uma alternativa complementar no Brasil. “Atualmente, enfrentamos uma crise ambiental representada no efeito estufa. Para o futuro, é necessário diminuir a emissão de gás carbônico, provocada em grande parte na queima de combustíveis fósseis. Diminuindo essa queima, conseqüentemente se reduz a poluição”, diz o diretor do MMA. Góes vê como grande desafio acabar com a dependência que se tem do petróleo, seja por razões econômicas ou ambientais, e sugere o uso da cana-deaçúcar, “cuja nossa tecnologia não tem rival em qualquer lugar do mundo”.


EMPRESA DE TRANSPORTES FLORES/DIVULGAÇÃO

FLORES Frota da transportadora que economizou 1,6 milhão de litros

DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 57

veículos apresentam um rendimento insatisfatório que é trabalhado ao longo do tempo.” Outras quatro empresas foram premiadas. Na categoria Cargas, o segundo lugar ficou com a Transportes Pesados Minas Ltda, que aumentou em 80,18% sua eficiência energética, percentual que corresponde a uma economia de combustível de 1.540.701 milhões de litros ao ano. Em terceiro lugar ficou a Rios Unidos Transportes de Ferro e Aço, de São Paulo, que economizou 494.689 mil litros. Na categoria Passageiros, a Auto Viação Vera Cruz, do Rio de Janeiro, ficou em segundo lugar após aumentar sua eficiência energética em 11,8%, o que corresponde a uma economia de combustível de 773.385 litros ao ano. O terceiro prêmio ficou com a Auto Viação Fortaleza, que economizou 483.643 mil litros de combustível. Outras três empresas recebem menção honrosa, por apresentarem índices de desempenho energético considerados como nível de referência para o setor: a Transturismo Transportadora Oriental, do Rio de Janeiro, a Turismo Três Amigos, também fluminense, e a Transportadora Rodomeu, de São Paulo. Para a escolha dos vencedores, os critérios de avaliação levaram em consideração os ganhos obtidos com a redução do consumo de óleo diesel e/ou nos custos operacionais, origina lidade e aplicabilidade das medidas, engajamento dos funcionários e a gestão permanente da empresa com o uso racional do combustível. O Prêmio Nacional de Conservação e Uso Racional de Combustível é concedido, anualmente, pela Petrobras, por meio do Programa Nacional da Racionalização do Uso dos Derivados do Petróleo e do Gás Natural (Conpet), sob a coordenação da CNT, representada pelo Idaq. A iniciativa do uso racional de energia no meio empresarial representa economia de recur sos, redução de custos e responsabilidade no consumo de riquezas naturais, tão escassas no planeta, além de elevar os níveis de qualidade dos operadores de transporte de todo o país. l


A FESTA DO TRANSPORTE MEDALHA JK HOMENAGEIA DESTAQUES DE 2004 setor transportador es tará em festa em dezembro, quando o presidente da CNT, Clésio Andrade, confere a Medalha JK – Ordem do Mérito do Transporte. A cerimônia irá premiar os desta ques do ano, que contribuíram para o de sen vol vi men to do transporte brasileiro (confira no quadro ao lado os perfis dos homenageados). Para o presidente da CNT, Clésio Andrade, “as pessoas homenageadas refletem o espírito do brasileiro”. “Um povo que amadurece no convívio com as adver-

O

sidades, dono de um otimismo e uma confiança no futuro que o fazem superar obstáculos.” O vice-presidente da República e ministro da Defesa, José Alencar, receberá a medalha de mais alto grau, a Grã-Cruz. O evento contará com a presença de Ana Cristina Kubitschek, neta do presidente Juscilino. A entrega acontece no dia 7 de dezembro, às 16h30, no Memorial JK, em Brasília. Estarão presentes empresários e representantes de entidades do setor e autoridades de destaque no cenário nacional.

“O DIA” LEVA GRANDE PRÊMIO O jornal “O Dia” (RJ) foi o vencedor do Grande Prêmio CNT de Jornalismo. A reportagem “Transporte preferido: os pés”, feita pela repórter Viviane Barreto e equipe, ganhou na principal categoria (veja no quadro ao lado os vencedores nas outras categorias). A matéria vencedora receberá R$ 15 mil, além de troféu e diploma – para as outras categorias, o prêmio é de R$ 5.000. Para o presidente da CNT, Clésio Andrade, “o Prêmio CNT de Jornalis mo é um reconhecimento aos profissionais que revelam a realidade do setor de transporte e conscientizam a sociedade de sua importância como atividade imprescindível para o desenvolvimento do país”. A festa de premiação acontece em 7 de dezembro, às 20h30, no Hotel Blue Tree Park, em Brasília.

PRÊMIO CNT DE JORNALISMO GRANDE PRÊMIO Viviane Barreto (“O Dia”) “Transporte preferido: os pés” MÍDIA IMPRESSA Luiz Ernesto Magalhães (“O Globo”) “A máfia do transporte pirata no Rio de Janeiro” FOTO Nauro Júnior (“Zero Hora”) “Isolamento” TELEVISÃO Edimilson Ávila (Rede Globo) “Passageiro Cidadão” INTERNET Giuliana Napolitano (Agência Brasil-Árabe) “Brasil gasta com transporte o dobro de países desenvolvidos” RÁDIO Giovani Grizotti (RBS/Rádio Gaúcha) “Exército do crime”

MEDALHA JK - ORDEM DO MÉRITO DO TRANSPORTE José Alencar Gomes da Silva (Grã-Cruz) Vice-Presidente da República e ministro da Defesa, José Alencar é natural de Muriaé ( MG). Tornou-se empresário atuante em seu Estado, tendo o seu trabalho se destacado nos setores do comércio e da indústria. Dentre as diversas atividades classistas das quais participou, está a presidência da Federação das Indústrias do Estado de MG. Destacou-se também por suas atividades políticas. Foi candidato ao governo de Minas Gerais pelo PMDB e eleito senador da República. Participou da CPI do Sistema Financeiro e presidiu a Comissão de Serviços de Infra-estrutura do Senado. Luiz Carlos de Urquiza Nóbrega (Grande Oficial) Atual superintendente da Federação das Empresas de Transportes Rodoviárias do Leste Meridional do Brasil (Fetranspor), Luiz Carlos de Urquiza Nóbrega já exerceu a diretoria de Transporte Rodoviário de Passageiros e Cargas do DNER, de 1974 a 1979, e foi superintendente da Confederação Nacional dos Transportes Terrestres (CNTT), de 1987 a 1989. A convite do governo da Alemanha, participou do curso “Desenvolvimento Urbano e Administração Local” em 1994. Luiz Anselmo Trombini (Grande Oficial) Luiz Anselmo Trombini é presidente do Sindicato das Empre sas de Transporte de Cargas de Guarapuava (SETCGUAR) e da Federação das Empresas de Transporte de Cargas do Estado do Paraná (Fetranspar). É membro representante da Fetranpar no Conselho das Federações do Estado do Paraná, na Seção de Cargas da CNT e na Associação Brasileira do Transporte de Cargas. É também delegado titular da Federação no Conselho de Representantes da CNT. José Veronez (Oficial) Motorista de táxi dos mais antigos de Caxias do Sul (RS), José Veronez tirou sua primeira habilitação em 1955, mesmo ano em que adquiriu um táxi. Desde então, exerce a mesma atividade e é um dos profissionais mais atuantes da categoria na sua cidade. Participou da fundação do Sindicato dos Taxistas em 1962 e da fundação da Federação da Categoria em 1982. Glen Gordon Findlay (Oficial) Desde 1998, Glen Gordon Findlay é responsável pela vice-presidência do Sindicato das Agências de Navegação Marítima de Santos. Em 2001, assumiu a presidência da Federação Nacio nal das Agências de Navegação Marítima. Atualmente, faz parte da diretoria da CNT. Odayr Baptistella Elias (Oficial) Empresário do transporte desde 1960, Odayr desenvolveu a liderança de classe em atividades sindicais e sociais. Foi sóciofundador da Associação das Empresas de Transporte de Cargas de Araraquara e Região (APETCAR). Presidiu o Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas de Araraquara e Região e até hoje integra a diretoria de entidade. Em 1989, fundou a Federação das Empresas de Transporte de Carga do Estado de São Paulo. Eliezer de Freitas Guimarães (Oficial post mortem) Eliezer nasceu no distrito de Canaã, município de Itapipoca (CE), em janeiro de 1917, e morreu em Fortaleza, em setembro de 1981. Empresário reconhecido por seu empenho e perfil empreendedor, começou sua atividade no setor nos anos 1940. Na década seguinte, nascia a Organização Guimarães Ltda. Eliezer ainda serviu à comunidade e à sua classe na direção do Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo.


DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 59


DIREITOS HUMANOS TREINAMENTO

JÚLIO FERNANDES/CNT/DIVULGAÇÃO

60 CNT REVISTA DEZEMBRO 2004

O MOTORISTA COMO AGENTE DA CIDADANIA PROGRAMA QUE COMBATE A EXPLORAÇÃO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES CONTINUA Plano Nacional em Defesa dos Direitos da Criança e do Ado lescente, uma mobi lização nacional contra o tráfico, o abuso e a exploração sexual dos jovens, continua em prática no setor de transportes. Os transportadores entraram nessa luta em maio deste ano, quando foi firmada uma parce ria entre o Sest/Senat e a Se cretaria Especial de Direitos Humanos. A parceria é funda mental para que o objetivo seja alcançado já que o motorista é um importante agente na de núncia da violência sexual con tra os jovens brasileiros. Até setembro de 2005, se gundo o Sest/Senat, 25 mil tra balhadores estarão capacitados para atuarem no combate a esse tipo de crime.

O

A CAPACITAÇÃO SERVIU DE ESTÍMULO PARA A PRÁTICA DA DEFESA DOS DIREITOS DA CRIANÇA

O trabalhador em transporte é um agente importante nessa luta porque leva cargas a várias partes do país e conhece bem a realidade de muitas cidades e estradas do território nacional. O Plano Nacional é estra tégico e composto de dois ei xos. O primeiro foi o lança mento de um manifesto e uma grande mobilização da categoria em 18 de maio – Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Nes se dia, a mo bi li za ção ocorreu em Brasília e nas 104 unidades do Sest/Senat. Foram recolhidas 60 mil assinaturas num abaixo assina do entregue ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pedindo o fim do crime contra os jovens.

O segundo eixo trata das ações de prevenção e tem o objetivo de capacitar 25 mil trabalhadores do transporte até setembro de 2005, tornando-os agentes sociais na defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente. Os motoristas serão treinados por instrutores capacitados em teleconferência que durou uma semana, organizada pela Rede Transporte, canal de televisão da CNT , em setembro. A Rede Transporte transmi tiu todos os dias cinco programas relativos ao tema. As teleconferências contaram com a participação de representantes de entidades de defesa dos direitos das crianças e adolescentes espalhadas por todo o Brasil e de profissionais interessados em discutir o assunto.


DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 61

EM ARAÇATUBA, VÁRIAS ENTIDADES SOCIAIS IRÃO PARTICIPAR VOLUNTARIAMENTE DO PROGRAMA

nhamos condições de difundir esses conhecimentos na co munidade na qual estamos inseridos, em especial para aqueles que atuam no setor de transporte”, diz a coordenadora de desenvolvimento profissional da unidade da capital mineira, Glísia Pinto.

Enfrentamento

UNIÃO A primeira etapa da campanha teve adesão de 65 mil motoristas

Durante o treinamento, os educadores assistiram a conferências com os temas “De senvolvimento da sexualidade das crianças e adolescentes nas dimensões: social, psicológica, biológica e cultural”, “Violência sexual contra crianças e adolescentes com abor da gem de gê ne ro”, “Marcos legais (envolvendo toda a legislação direcionada à defesa e aos direitos da criança e do adolescente)”, “Políticas públicas de enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes” e “Planejamento das oficinas locais com os motoristas”. Participaram do treinamento cerca de 500 pessoas. A coordenadora de promo ção social da unidade de Ara çatuba (interior de São Paulo),

Ivana Módena, diz que o treinamento serviu de estímulo para a prática da defesa dos direitos da criança e do adolescente. “Além dos educadores do Sest Araçatuba, outras entidades, tais como a Diretoria de Ensino do Estado de São Paulo, o Programa Senti nela, o Centro de Re-socializa ção de Araçatuba e a Associação de Re-inserção da Crian ça e do Adolescente de Araça tuba, participaram do treina mento dos motoristas volunta riamente”, afirma Ivana. Na unidade Belo Horizonte, a teleconferência também contou com a participação de representantes de escolas públicas interessados em debater o tema. “Todos nós consideramos que o treinamento foi um alicerce para que te-

SERVIÇO

Inscrições Gratuitas Quem pode participar Motoristas de transportes de passageiros e de cargas Duração 3 horas Onde Unidades do Sest/Senat Informações 0800-990500

Abordar o sexo de forma esclarecedora foi um dos principais pontos positivos da teleconferência apontado pela diretora do Sest/Senat de Goiânia, Joabete Xavier de Souza Costa. “Foi apresentada uma nova forma de ver a questão, que nos proporcionou uma vi são de como fazer esse enfrentamento”, diz. Segundo Joabete, depois de treinados, os motoristas vão saber como fazer a denúncia e passarão a ser vistos como membros participantes no combate ao abuso sexual infanto-juvenil. Ao participar do treinamento, os motoristas terão noções dos direitos da criança e do adolescente baseadas no Esta tuto da Criança e do Adolescente (ECA), verão qual é a sua importância na defesa e combate desses direitos e conhecerão os tipos de violência sexual. Além disso, obterão informações de como denunciar o problema. A atividade será baseada em dinâmicas interativas que simulam situações vivenciadas pelos motoristas em seu cotidiano nas estradas. l


62 CNT REVISTA DEZEMBRO 2004

MAIS TRANSPORTE POR

JOÃO SAMPAIO (sampaio@revistacnt.com.br) DIVULGAÇÃO

NOVA ENTIDADE Vinte empresas do setor de transporte rodoviário de carga se reuniram em novembro para a fundação da ATR-Brasil, associação voltada para o desenvolvimento do agronegócio nacional e de exportação. A ATR Brasil deve representar os interesses comerciais, fiscais, políticos e sociais do setor, acompanhando o desenvolvimento da logística nacional. As empresas que compõe a ATR Brasil atuam no transporte de matéria-prima, principalmente cana de açúcar, soja e laranja. Hoje, estas empresas possuem um faturamento de mais de R$ 700 milhões/ano e geram cerca de 2.500 empregos diretos. “Hoje, o transporte rodoviário de carga enfrenta sérios problemas que comprometem a ampliação de suas atividades, como os altos valores das cargas tributárias, infra-estrutura inadequada nas rodovias e portos, além dos juros abusivos e falta de apoio governamental”, afirma Marcelo Camargo, presidente da associação. A ATR Brasil conta com o apoio de entidades como a NTC, Setesp e Frente Nacional do Transporte.

PARABÉNS - O motorista Francisco da Silva Freire (centro), da Empresa Vitória, do Ceará, foi o grande vencedor da quinta edição do Prêmio Nacional Modelo do Transporte Urbano 2004, uma promoção conjunta da NTU e do Sest/Senat. Pelo primeiro lugar, Francisco recebeu um carro 0 km. O prêmio, que contou com o patrocínio da Mercedes-Benz e Shell, teve a participação de profissionais de 147 empresas. A premiação foi em 19 de novembro, em Brasília. Na foto, Francisco acompanhado do segundo colocado, José Júlio Caetano (esq.), da Viação Itaim Paulista (SP), e do terceiro lugar, Ari Aguiar Júnior (dir.), da Insular Transportes Coletivos (SC)

RÁPIDAS • Com uma logística de transportes responsável por 16% da movimentação de cargas do Brasil, a Companhia Vale do Rio Doce será anfitriã da 8ª Conferência Internacional de Ferrovias de Transporte de Carga Pesada, que ocorrerá em junho de 2005, no Rio. Trata-se do mais importante evento da indústria mundial do setor. • Acidentes de trânsito causaram prejuízo de R$ 480 milhões aos cariocas ano passado. A conta é baseada nas despesas médicas, ações judiciais, danos ao patrimônio e outros dez itens analisados por estudo em parceria entre o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e a Agência Nacional de Transportes Públicos (ANTP).

• Segundo publicado em “O Estado de S. Paulo” de 7 de novembro, nos próximos quatro anos, o governo paulista deve investir, só em transportes ou obras viárias com impacto direto na capital, R$ 8,4 bilhões. Serão R$ 3,7 bilhões na extensão do metrô, R$ 600 milhões na ampliação da CPTM, R$ 2,5 bilhões para o trecho sul do Rodoanel e R$ 1,7 bilhão para o Expresso Aeroporto (Guarulhos-Barra Funda). • Os agentes da BHTrans, empresa que gerencia o trânsito em Belo Horizonte, estão proibidos de atuar à paisana. Toda a fiscalização passará a ser feita por agentes uniformizados, identificados e a bordo de veículos caracterizados. Antes da decisão, a BHTrans usava carros camuflados.

• Projeto do deputado federal Maurício Rands (PT-PE) sugere que os radares em rodovias federais e estaduais ou em vias municipais sejam desligados de 22h às 5h, por questão de segurança. • A equipe do prefeito eleito de São Paulo, José Serra, se comprometeu, no programa de governo do tucano, a fazer mudanças no transporte de cargas na cidade que incluem a autorização para que caminhões maiores circulem em bairros centrais, onde hoje há restrições. Trata-se de uma reivindicação das empresas de transporte, rejeitada na administração Marta Suplicy (PT) sob a alegação de que os veículos acabariam prejudicando a fluidez.


DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 63

LOGÍSTICA

ÚLTIMOS DIAS

O economista Carlos Alberto Mira lançou o livro “Logística – O Último Rincão do Marketing” (ed. Lettera.doc, 120 págs., R$ 25), que pretende ser uma referência para os iniciantes e especialistas no tema. A obra trata das principais questões da logística moderna, passando pela história da técnica no Brasil e seus problemas. O livro conta com depoimentos do presidente da CNT, Clésio Andrade, e do ex-presidente da Fiesp, Horácio Lafer Piva.

Dia 13 de dezembro encerra o prazo para as empresas de transporte, transportadores autônomos e cooperativas de transporte encaminharem o Registro Nacional de Transportadores Rodoviários de Carga (RNTRC). O proprietário do caminhão deve saber que é gratuito e tem validade por quatro anos. A ausência do registro resultará numa notificação de R$ 500. Com validade vencida, R$ 400. A ausência de identificação do registro no veículo, a notificação será de R$ 300.

NOVAS PESQUISAS

OLHO VIVO

A CNT está preparando para 2005 a mais abrangente Pesquisa Rodoviária feita até então, já que toda a malha rodoviária federal pavimentada será avaliada. Também será feita uma inédita pesquisa do modal aquaviário, avaliando os principais portos brasileiros e a percepção da qualidade, pelos usuários, dos serviços e da infra-estrutura disponível.

A Agência Nacional do Petróleo realizou ação de fiscalização em cidades da região de Campinas (SP) e interditou 11 postos por problemas na qualidade dos combustíveis. Este ano já foram realizadas no Brasil 18.780 ações de fiscalização, resultando em 5.920 autuações e 1.458 interdições. As multas podem chegar a R$ 5 milhões.

• O prefeito reeleito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (PT), anunciou em Brasília que o governo federal deverá incluir R$ 80 milhões no Orçamento Geral da União de 2005 para a primeira etapa das obras de recuperação do caótico Anel Rodoviário, prevista para o início do ano que vem.

• Cerca de 400 ônibus são assaltados todos os anos nas rodovias brasileiras, atingindo mais de 15 mil usuários. A Abrati (Associação Brasileira das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros) diz que os números podem ser maiores, pois nem todos os casos são registrados.

• Deu em “O Globo” de 12 de novembro: os chineses estão dispostos a investir US$ 2 bilhões no Brasil em dois projetos na área de infra-estrutura: a ferrovia Norte-Sul e a ampliação do Porto de Itaqui (MA). Mas a lei que cria as PPPs tem de estar aprovada.

• Um processo referente a uma dívida trabalhista calculada em R$ 3,3 milhões se arrasta há 25 anos no TRT-MG, noticiou o “Hoje em Dia”, de Minas. Seis dos sete ex-funcionários da extinta RFFSA que entraram na Justiça morreram sem receber o dinheiro.

FRASES

Desde o período do regime militar, o país está enfraquecido em sua capacidade de investir em infra-estrutura. Não adianta aumentar a produtividade para exportar, sem portos, ferrovias e rodovias adequadas. Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao pedir a aprovação, pelo Congresso, do projeto das Parcerias Público-Privadas (PPPs). No “Correio Braziliense” de 12 de novembro.

Um empresário do setor de carnes me disse que já pagou US$ 3 milhões em multas porque não conseguiu entregar seu produto no prazo por conta de falhas nos portos. É preciso definir logo uma pauta de melhoria de infra-estrutura para acabar com esses gargalos.

Marconi Perillo, governador de Goiás pelo PSDB, ao citar a falta de investimentos em infra-estrutura como um dos principais débitos do governo. Em “O Estado de S. Paulo” de 10 de novembro.

A nossa expectativa é que até junho, julho do próximo ano, todo esse processamento tenha sido concluído, e a gente possa repassar essas rodovias para serem administradas pela iniciativa privada.

Alfredo Nascimento, ministro dos Transportes, ao confirmar que o governo espera concluir o processo de concessão de oito rodovias federais até o final do primeiro semestre de 2005. No “Correio Braziliense” de 20 de novembro.

A média de velocidade das carretas é de 30 km/h, às vezes 20 km/h. Isso atinge o Custo Brasil. Há a demora, o risco de assalto, coisas materiais. E as vidas? Vão desviar do buraco, vem outra carreta, morrem.

Mão Santa, senador pelo PMDB-PI, durante discurso no plenário em que apresentou os resultados da Pesquisa Rodoviária CNT 2004. Na Agência Senado de 26 de novembro



DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 65

OPINIÃO ALEXANDRE GARCIA

Petróleo com preço turbinado

B

“O PETRÓLEO É NOSSO, SIM, E TEMOS RESERVAS PARA SUSTENTAR A AUTO-SUFICIÊNCIA. MAS ATÉ QUANDO? FAZ 30 ANOS QUE A CRISE DO PETRÓLEO NOS DEU O PRIMEIRO SUSTO. JÁ ERA PARA TERMOS APRENDIDO ALGUMA COISA”

rasília (Alô) – O preço do petróleo sobe com Saddam. O preço do petróleo sobe sem Saddam. O preço do petróleo sobe com a vitória de Bush. Sobe por causa da explosão de um oleoduto no sul do Iraque. Sobe por causa da ofensiva em Fallujah. O preço do petróleo vai subir por causa do inverno no Hemisfério Norte, que conso me gasóleo de calefação. Vai subir por causa da demanda de transporte nas viagens de fim de ano, que consomem gasolina nas estradas, querosene nos ares e diesel nas locomotivas e navios. Vai subir no futuro se a China continuar crescendo e enchendo suas cidades de carros coloridos, como acontece com a festa consumista de hoje, que substitui a Era Comunista das bicicletas e dos caminhões azuis. (Já pensaram se 1 bilhão e 300 milhões de chineses tiverem o mesmo número de carros per capita que os americanos? Eles rumam para isso...) Enfim, sobem os preços do petróleo porque a demanda aumenta e as reservas diminuem. O combustível fóssil que levou milhões de anos para ser feito vai acabar com alguma rapidez. Podem apostar que os preços vão continuar subindo e, algum dia, a gente vai ter saudades dos US$ 50 por barril. As oscilações não dependem apenas da guerra no Iraque ou do escândalo na gigante petrolífera russa Yukos. Petróleo escasso faz aumentar os juros e os impostos, embora isso arrepie a espinha de todos nós. Depois das crises de 1974 e 1976, o mundo descobriu que precisava aumentar a produtividade da energia e aproveitar formas alternativas. O Brasil começou, com estardalhaço, o Proálcool. Mas o planeta também descobriu que os donos das jazidas, com juros convidativos, extraíam mais petróleo para aplicar os lucros

e ganhar mais juros. Quando os juros ficam baixos, eles deixam o petróleo embaixo da terra. Assim, os juros subiram. E os governos aproveitaram o pretexto e criaram impostos sobre os combustíveis, com a desculpa de reduzir a demanda. Aí, ganhamos a Cide... No Brasil, como no mundo, aumenta o preço do petróleo, aumentam os preços dos combustíveis e procura-se gastar menos em outros itens para manter os orçamentos. Assim, o IBGE, quando mostra duplicação do IPCA-15 em novembro, descobre que os alimentos caíram de preço (no balanço ofer ta-procura) e os combustíveis foram a causa da elevação dos preços do transporte em geral – de passagens aéreas a fretes – porque, afinal, os custos aumentaram. E não é só isso. Investidores externos seguram seu dinheiro e não mandam para o país carente de poupança interna. Afinal, se os preços do petróleo nos abatem, eles preferem aplicar em lugares mais seguros. Como a China, por exemplo, que vai crescer quase 10% neste ano, embora tenhamos por ela as mesmas dúvidas que temos em relação a nós: afinal, esse sistema de Estado pesado e muita burocracia pode ser considerado economia de mercado? Quando aumenta o petróleo, os economistas ameaçam com o necessário “alinhamento” de preços, para que haja equilíbrio na conta petróleo. Isso significa subir menos a gasolina e mais o diesel. O petróleo é nosso, sim, e temos reservas para sustentar uma auto-suficiência. Mas até quando? O consumo cresce aqui, como no mundo todo. É a maior fonte de energia, mas não é renovável. Ninguém planta um poço de petróleo como se planta uma lavoura de canade-açúcar. Faz 30 anos que a crise do petróleo nos deu o primeiro susto. Já era para termos aprendido alguma coisa.



A TV DA CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO TRANSPORTE • Uma entrevista com Meton Soares Junior, diretor da Fenavega e vice- presidente da CNT, que discute a situação da indústria naval brasileira, hidrovias, navegação de cabotagem, entre outros assuntos.

VOCÊ VAI VER

• O deputado federal Eduardo Gomes fala sobre a Frente Parlamentar para defesa da infra-estrutura nacional, orçamento, obras, PPP. • CNT Responde recebe também neste mês o deputado federal Romeu Queiroz, para falar sobre os trabalhos da Comissão de Viação e Transporte. • E ainda neste mês: Uuma entrevista com o advogado Oswaldo Barbosa, que discute as mudanças do Código Civil.

EM NOVEMBRO

NOVIDADE NA PROGRAMAÇÃO Estréia neste mês o Jornal do Transporte Edições diárias com as notícias do setor de transporte, os fatos mais importantes do dia, as decisões do governo, dicas de trânsito, agenda de eventos, a opinião de autoridades do setor, reportagens especiais e muito mais. 17h45

ASSISTA À REDE TRANSPORTE NA INTERNET Acesse www.cnt.org.br e clique no banner da Rede Transporte, onde está escrito “Ao vivo via web”. É preciso ter o programa Real Player instalado no computador. Este software está disponível para download abaixo da tela da web tv.


15

Telecurso 2000

Idaq

Ensino Fundamental Segunda a Sexta - 7h30 às 8h00 - 19h00 às 19h30

Segunda a Sexta - 8h30 às 10h DIA

TEMA

DIAS

1

Sistema de Informação Gerencial para Gestão da Qualidade e Produtividade (03 aulas) Empresa de Carga Rodoviária: Fazendo Negócios no Mercosul (04 aulas) Análise Econômico-Financeira do Desempenho da Empresa (06 aulas) O Uso de Contêineres no Transporte Rodoviário de Carga (12 min) Controle da Demanda X Oferta no Transporte Rodoviário (06 aulas) Aula 1 a 3 Introdução de Novas Tecnologias no Transporte Urbano (08 aulas) Aula 1 a 4 Controle da Demanda X Oferta no Transporte Rodoviário (06 aulas) Aula 4 a 6 Introdução de Novas Tecnologias no Transporte Urbano (08 aulas) Aula 5 a 8 Privatização, Regulamentação e Licitação no Transporte Urbano (03 aulas) Recursos Humanos: Ferramenta para Aumento de Produtividade (04 aulas) Planejamento Estratégico (05 aulas) Roteirizadores Automáticos e Eletrônica Embarcada (02 aulas) Melhoria na Produtividade de Veículos no Transporte Urbano (06 aulas) Aula 1 a 3 Gestão de Custos e Preços de Fretes (08 aulas) Aula 1 a 4 Melhoria na Produtividade de Veículos no Transporte Urbano (06 aulas) Aula 4 a 6 Gestão de Custos e Preços de Fretes (08 aulas) Aula 5 a 8 Introdução de Novas Tecnologias no Transporte Rodoviário (07 aulas) Marketing e Planejamento Estratégico para Empresas de Transporte Rodoviário de Passageiros (15 aulas) Aula 1 a 7

01 02 03 06 07 08 09 10 13 14 15 16 17 20 21 22 23 24 27 28 29 30 31

Lingua Portuguesa (aulas 37 e 38) Lingua Portuguesa (aulas 39 e 40) Lingua Portuguesa (aulas 39 e 40) Lingua Portuguesa (aulas 41 e 42) Lingua Portuguesa (aulas 41 e 42) Lingua Portuguesa (aulas 43 e 44) Lingua Portuguesa (aulas 43 e 44) Lingua Portuguesa (aulas 45 e 46) Lingua Portuguesa (aulas 45 e 46) Lingua Portuguesa (aulas 47 e 48) Lingua Portuguesa (aulas 47 e 48) Lingua Portuguesa (aulas 49 e 50) Lingua Portuguesa (aulas 49 e 50) Lingua Portuguesa (aulas 51 e 52) Lingua Portuguesa (aulas 51 e 52) Lingua Portuguesa (aulas 53 e 54) Lingua Portuguesa (aulas 53 e 54) Lingua Portuguesa (aulas 55 e 56) Lingua Portuguesa (aulas 55 e 56) Lingua Portuguesa (aulas 57 e 58) Lingua Portuguesa (aulas 57 e 58) Lingua Portuguesa (aulas 59 e 60) Lingua Portuguesa (aulas 59 e 60)

2

3

6

7

Telecurso 2000 Ensino Médio Segunda a Sexta - 8h00 às 8h30 - 19h às 19h30

8

DIAS

01 02 03 06 07 08 09 10 13 14 15 16 17 20 21 22 23 24 27 28 29 30 31

Física (aulas 49 e 50) Física (aulas 49 e 50) Física (aulas 01 e 02) Física (aulas 01 e 02) Inglês(aulas 01 e 02) Inglês(aulas 01 e 02) Inglês(aulas 03 e 04) Inglês(aulas 03 e 04) Inglês(aulas 05 e 06) Inglês(aulas 05 e 06) Inglês(aulas 07 e 08) Inglês(aulas 07 e 08) Inglês(aulas 09 e 10) Inglês(aulas 11 e 12) Inglês(aulas 11 e 12) Inglês(aulas 11 e 12) Inglês(aulas 13 e 14) Inglês(aulas 13 e 14) Inglês (aulas 15 e 16) Inglês(aulas 17 e 18) Inglês(aulas 17 e 18) Inglês(aulas 17 e 18) Inglês(aulas 19 e 20)

9

10

13 14

16

17

20

21

22

23

24

27 28

29

Marketing e Planejamento Estratégico para Empresas de Transporte Rodoviário de Passageiros (15 aulas) Aula 8 a 14 Marketing e Planejamento Estratégico para Empresas de Transporte Rodoviário de Passageiros (15 aulas) Aula 15 Sistemas de Transporte Urbano (03 aulas) Sistemas de Transporte Rodoviário (03 aulas) Melhoria na Produtividade de Veículos no Transporte Rodoviário (07 aulas) Financiamento, Renovação e Gerenciamento da Frota no Transporte Urbano (05 aulas) Código de Barras, EDI e Internet no Transporte Rodoviário de Carga (04 aulas) Aula 1 e 2 Manutenção e Garagem no Transporte Urbano (05 aulas) Código de Barras, EDI e Internet no Transporte Rodoviário de Carga (04 aulas) Aula 3 e 4 Gestão de Recursos Humanos e Seguros (03 aulas) Recursos Humanos: Ferramenta para Aumento de Produtividade (04 aulas) Gestão de Recursos Humanos e Seguros (03 aulas) Definição e Negociação Tarifária no Transporte Urbano (08 aulas) Aula 1 a 4 Armazéns: Localização, Dimensionamento e Estoques (03 aulas) Definição e Negociação Tarifária no Transporte Urbano (08 aulas) Aula 5 a 8 Mecanização da Carga e Descarga (07 aulas) Marketing e Planejamento Estratégico para Empresas de Transporte Urbano de Passageiros (14 aulas) Aula 1 a 7 Marketing e Planejamento Estratégico para Empresas de Transporte Urbano de Passageiros (14 aulas) Aula 8 a 14


DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 69

30 31

Informática (06 aulas) O Uso de Contêineres no Transporte Rodoviário de Carga (12 min) Introdução de Novas Tecnologias no Transporte Rodoviário (07 aulas)

Auto Giro Terça, Quinta - 10h às 10h30 - 16h às 16h30

CNT RESPONDE / CNT E O CONGRESSO Terça, Quinta - 10h30 às 11h e 16h30 às 17h

07 09 14 16 21 23 28 30

CNT RESPONDE//CNT E O CONGRESSO CNT RESPONDE// CNT E O CONGRESSO CNT RESPONDE// CNT E O CONGRESSO CNT RESPONDE// CNT E O CONGRESSO CNT RESPONDE// CNT E O CONGRESSO CNTRESPONDE// CNT E O CONGRESSO CNTRESPONDE// CNT E O CONGRESSO CNTRESPONDE// CNT E O CONGRESSO CNTRESPONDE// CNT E O CONGRESSO

VIVA LEGAL Segunda, Quarta e Sexta - 10 às 10h30 - 16h às 16h30

27 28 29 30 31

Código de trânsito brasileiro (aulas 15 a 19) Código de trânsito brasileiro (aulas 20 a 24) Frentista / Abastecedor (aulas 01 a 05) Motorista de caminhão urbano autônomo (aulas 01 a 05) Motorista de caminhão urbano autônomo (aulas 06 a 10) Motorista de caminhão urbano autônomo (aulas 11 a 15)

Atividade Física Higiene Sono Hipertensão TPM Câncer de Mama Calvície Disfunção Sexual Trombose Venosa Dengue Saúde e Segurança Exposição ao Sol Contracepção Gestação

02 03

06

07 08 09 10 13 14

15 16 17 20 21

VIVA VIDA 22

DIAS

Pimenta Patins In Line Mesa Brasil

Canal Saúde no asfalto

DIAS

01

Segunda, Quarta e Sexta - 10h30 às 11h - 16h30 às 17h

01 03 06

24

Pead SEST/SENAT

DIAS

01 03 06 08 10 13 15 17 20 22 24 27 29 31

Fitoterapia Arte Terapia Hockey Almofada Xadrex Especiarias Chibal Gafieira Queimadura Tapioca Aeromodelismo

Segunda a Sexta - 11:00 às 12:00

DIAS

02

08 10 13 15 17 20 22 24 27 29 31

23

Motorista de ônibus urbano (aulas 01 a 05) Motorista de ônibus urbano (aulas 06 a 10) Motorista de ônibus urbano (aulas 11 a 13) Ajudante de motorista de caminhão/ Ajudante coleta e entrega (aulas 01 a 02) Ajudante de motorista de caminhão/ Ajudante coleta e entrega (aulas 03 a 07) Desenvolvimento gerencial (aulas 01 a 05) Desenvolvimento gerencial (aulas 06 a 10) Desenvolvimento gerencial (aulas 11 a 15) Desenvolvimento gerencial (aulas 16 a 20) Desenvolvimento gerencial (aulas 21 a 25) Desenvolvimento gerencial (aulas 26 a 29) Chefia e expedição (aula 1) Chefia e expedição (aulas 02 a 06) Motorista de ônibus de turismo (aulas 01 a 05) Motorista de ônibus de turismo (aulas 06 a 10) Motorista de ônibus de turismo (aulas 11 a 15) Motorista de ônibus de turismo (aula 16) Código de trânsito brasileiro (aulas 01 a 04) Código de trânsito brasileiro (aulas 05 a 09) Código de trânsito brasileiro (aulas 10 a 14)

Segunda a Sexta - 12h às 13h - 22h30 às 23h30 DIAS

01

02

03

06

07

08

09

10

Ligado em Saúde - Autismo Unidiversidade - Turismo Ecológico - UFMT Cuiabá (MT) Comunidade em Cena - Teatro Roça Caça Cultura É Com Você Cidadão Canal Aberto Bate-Papo - Secretario Estadual de Saúde (MT/MS) Acervo - Trilhas da Sustentabilidade Ligado em Saúde - Canal Saúde 10 anos Check UP - Mapa da Fome TV Pinel Ligado em Saúde - Primeira Infância Viva Legal - Saúde Mental: Desospitalização Programa de Palavra - Trema É Com Você Cidadão - Novos Conselhos de Saúde - Palmas (TO) Canal Saúde - Palmas (TO), Monte Alegre de Goiás, Teresina de Goiás, Goiânia (GO) Ligado em Saúde - Auto-Estima Unidiversidade - Goiânia - UFG (GO) Comunidade em Cena - Teatro Roça Caça Cultura É Com Você Cidadão - Novos Conselhos de Saúde - Palmas (TO) Canal Aberto Bate-Papo - Secretário Estadual de Saúde (GO/TO) Acervo - Vacinar é Preciso Ligado em Saúde - Canal Saúde 10 anos Check UP - Retrato da Aids TV Pinel


13

14 15

16

17

20

21 22

23

24

27

28 29

Ligado em Saúde - Adolescência e Sexualidade Viva Legal - Cuidados com Crianças Pequenas Programa de Palavras - Maçaneta É Com Você Cidadão - Vivendo da Floresta - Presidente Figueiredo (AM) Canal Saúde - Santarém e Belém (PA), Manaus (AM) Ligado em Saúde - Filho Adolescente Unidiversidade Comunidade em Cena - Prevela É Com Você Cidadão - Vivendo da Floresta - Presidente Figueiredo (AM) Canal Aberto Bate-Papo - Secretario Estadual de Saúde (AM/PA) Acervo - Municípios Saudáveis Ligado em Saúde - Canal Saúde 10 anos Check UP - Desperdício de Água TV Pinel Ligado em Saúde - Micoses Viva Legal - Memória Programa de Palavra - Agorafobia É Com Você Cidadão - Cotas para negros na Universidade Canal Saúde - Ciência e Tecnologia Ligado em Saúde - Especial de Natal Unidiversidade Comunidade e Cena - Prevela É Com Você Cidadão - Cotas para negros na Universidade Canal Aberto Bate-Papo Acervo - Família dá Samba Ligado em saúde - Canal Saúde 10 anos Check Up - Medicina Estética TV Pinel Ligado em Saúde - Memória Viva Legal - Depressão Programa de Palavra - Onipotente É Com Você Cidadão - Cotas para negros na Universidade Canal Saúde - Poluição Sonora Ligado em Saúde - Câimbra Unidiversidade Comunidade em Cena É Com Você Cidadão - Cotas para negros na Universidade

30

31

Canal Aberto Bate-Papo - Secretário Estadual de Saúde (GO/TO) Acervo - Vacinar é Preciso Ligado em Saúde - Canal Saúde 10 anos Check Up - Artrite Reumatóide TV Pinel

24 27 28 29 30 31

De onde vem 2 Republica na TV - 1 Republica na TV - 2 Império / Republica Velha Era Vargas / Regime Militar Redemocratização / Brasil Democrático

BRASIL SOLIDÁRIO Segunda a Sexta: 15h às 16h - 21h às 22h

Balaio Brasil Segunda a Sexta - 13h às 14h - 18h às 19h00 DIAS

01 02 03 06 07 08 09 10 13 14 15 16 17 20 21 22 23 24 27 28 29 30 31

TV Muro Guerreiros Abaetetuba Projeto Jaraguá Cultura Capixaba Vila Curiaú Escola de Circo Artesanato Piauí Escola de pesca São Gonçalo Fandango Rock em Goiás Caminhos de pedra Banda Alagoana Trem do Samba Diversidade Brasileira Festa do Ovo Laranjeiras Manezinhos Ilha de Marajó TV Muro Guerreiros Abaetetuba

DIAS

01 02 03 06 07 08 09 10 13 14 15 16 17 20 21 22 23 24 27 28 29 30 31

Zoonoses Informações para o terceiro setor Proteção de florestas Organizações comunitárias Incentivo à leitura Cultura da Paz Doações Tráfico de humano Água Saúde e informação Gestão de projetos sociais Trânsito e cidadania Arte-educação Violência doméstica Desnutrição infantil Paralisia cerebral Profissionalização do terceiro setor Arte e cidadania Ações comunitárias Saúde bucal Comunicação e cidadania Alfabetização solidária Criança na escola

BRASIL AFORA TV ESCOLA Segunda a Sexta: 14h às 15h - 20h às 21h DIAS

01 02 03 06 07 08 09 10 13 14 15 16 17 20 21 22 23

Terça, Quinta : 17h às 17h30 - 22h às 22h30

FILHOS Segunda, Quarta e Sexta: 17h às 17h30 - 22h às 22h30

Escolhi viver aqui / Colônia Império / Republica Velha Era Vargas / Regime Militar Redemocratização Brasil Democrático Rondon e os Índios Cidades Brasileiras De onde vem 1 De onde vem 2 Republica na TV - 1 Republica na TV - 2 Escolhi viver aqui / Colônia Império / Republica Velha Era Vargas / Regime Militar Redemocratização / Brasil Democrático Rondon e os Índios Cidades Brasileiras De onde vem 1

DIAS

01 03 06 08 10 13 15 17 20 22 24 27 29 31

Férias Idade da mãe Morte Talento Precoce TOC Personalidade Agressividade Utopias Mentiras Paternidade precoce Puberdade Separação Obesidade Sexualidade


DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 71

ARTIGO TÉCNICO OSVALDO MARTINES BARGA

Reforma sindical: vitória da negociação stamos comemorando mais um avanço na construção de um país democrático: concluímos a primeira parte das reformas sindical e trabalhista com a entrega da proposta de emenda à Constituição e do anteprojeto de lei da reforma sindical à Casa Civil da Presidência da República. As propostas são resultantes do esforço de negociação de representantes dos trabalhadores, dos empregadores e do governo para estender a democracia às relações de trabalho. Juntos, no Fórum Nacional do Trabalho (FNT), conseguimos definir novas bases para a convivência entre o capital e o trabalho no Brasil. Os consensos do FNT não refletem a posição original do governo. Tampouco os demais atores que se sentaram à mesa para negociar mantiveram suas propostas originais. E esse é um dos maiores méritos do Fórum: conseguimos que as partes abrissem mão de algumas posições de origem em nome do entendimento possível. Esperamos que tal nível de maturidade seja mantido nas negociações da reforma trabalhista, já em curso. Em 16 meses de intensos debates, estabelecemos princípios que fortalecem as entidades sindi cais e a negociação coletiva. Assim, esperamos re solver os conflitos trabalhistas de modo ágil, beneficiando o maior número possível de cidadãos e com a segurança jurídica necessária ao desenvolvimento econômico e social do país. Quando as propostas do FNT forem transformadas em lei, trabalhadores e empregadores terão mais liberdade para criar suas entidades de classe. Terão, também, o direito de decidir quanto pagar às institui ções que os representam e como fazer esse pagamento. A negociação no âmbito das relações de tra balho poderá ser feita em todas as instâncias.

E

UM DOS MAIORES MÉRITOS DO FÓRUM FOI CONSEGUIR QUE AS PARTES ABRISSEM MÃO DE POSIÇÕES DE ORIGEM EM NOME DE UM MELHOR ENTENDIMENTO

Os mecanismos de conciliação, mediação e arbitragem estarão integrados no sistema de solução de conflitos. A Justiça do Trabalho será fortalecida e terá suas funções renovadas, abrindo espaço para atuar como árbitro público. O direito de greve está assegurado, inclusive nos serviços essenciais, mas trabalhadores e empregadores serão responsáveis pela garantia do atendimento das necessidades básicas da comunidade e da integridade do patrimônio das em presas. Os servidores públicos conquistaram, também, o direito à negociação coletiva. Os resultados alcançados nas negociações do Fórum superaram todas as expectativas. Reconhecemos e saudamos o enorme esforço de trabalhadores e empregadores, que souberam fugir das armadilhas ideológicas e nego ciar até o limite da exaustão, em busca de um novo padrão de relações de trabalho. Precisamos agora manter, durante a atuação no Congresso Nacional quando da votação dos projetos, os compromissos firmados, honrar a palavra empenhada na mesa de negociações, garantindo que os acordos feitos serão defendidos nas votações na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. Ou nos movimentamos para garantir a aprovação do que negociamos ou incorreremos no mesmo erro cometido na elaboração da Constituição de 1988, quando alguns setores do mundo do trabalho preferiram manter velhos privilégios e criaram a confusão que impera no sistema que regulamenta a organização sindical brasileira. Osvaldo Martines Bargas é secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego e coordenador-geral do Fórum Nacional do Trabalho


72 CNT REVISTA DEZEMBRO 2004

ESTATÍSTICA IDET

TRAJETÓRIA DE ALTA NA RODOVIA SETOR DE CARGA CONFIRMA CRESCIMENTO NA MOVIMENTAÇÃO, ASSIM COMO O SEGMENTO DE PASSAGEIROS movimentação de cargas pelas empresas de transporte rodoviário atingiu em outubro mais de 40 milhões de toneladas, um aumento de 4,57% sobre a movimentação do mês anterior – cabe ressaltar que setembro possui menos dias úteis que outubro, o que torna o aumento mais significativo. Se comparado com o mesmo período de 2003, também há uma elevação de 1,97% em traje tória ascendente, ao inverso do ano passado. Observa-se que, desde abril, o rodoviário de carga apresenta uma movimentação crescente, o que reflete a recupe ração da atividade no segmento industrial através da distribuição da carga produzida, intensificada nos últimos meses devido à re composição de estoques para as festas de final de ano. Após sucessivos aumentos de movimentação, acumulados em 16,8% desde o início do ano, o modal ferroviário de carga apre sentou uma pequena redução em setembro (4,2%). Ainda assim, o

A

A ATIVIDADE INDUSTRIAL CRESCEU DEVIDO AOS ESTOQUES DE FINAL DE ANO

volume é 7,8% superior a igual período de 2003 e com média, recorde, superior a 30 milhões de toneladas, pelo sétimo mês consecutivo. Um menor número de dias úteis de setembro em relação a agosto e a baixa capilaridade da malha são um dos principais limitadores do modal, fundamental para a eficiência logística. Nesse sentido, vale ressaltar a significativa melhora desde a privatização da rede, em 1996. O es-

MODAL RODOVIÁRIO DE CARGA 40.000

forço por parte das concessionárias e seus clientes e operadores podem gerar investimentos de R$ 3 bilhões até o final de 2004. A movimentação (embarque mais desembarque) de carga nos aeroportos e portos em setembro foi, respectivamente, de 44.849 toneladas (4,3% menor que no mês anterior) e de 36,8 milhões de toneladas (6,4% inferior a agosto). Apesar da queda, a carga movimentada nos aeroportos su-

(TONELADAS TRANSPORTADAS • OUTUBRO/2004)

SUL SUDESTE CENTRO-OESTE NORDESTE NORTE

35.000

9.216 9.141

30.000

9.504

8.836

26.282

26.094

8.854

8.991

8.190

9.307

8.604 7.951

25.000

20.000 24.447

22.927

24.362

23.731

24.960

25.842

27.317

21.957

15.000

10.000

5.000

0

1.637

1.007

1.066

1.083

1.153

1.145

1.138

1.152

1.162

1.637

1.685

1.795

1.850

2.043

2.023

1.886

1.811

2.098

652

607

803

659

739

710

571

653

641

1.200

667

JANEIRO

FEVEREIRO

MARÇO

ABRIL

MAIO

JUNHO

JULHO

AGOSTO

SETEMBRO

OUTUBRO

2.212


MODAL FERROVIÁRIO DE CARGA

(TONELADAS TRANSPORTADAS • SETEMBRO/2004)

SUL SUDESTE CENTRO-OESTE NORDESTE NORTE

35.000

2.344 2.392

2.339 2.049

2.379

2.159

2.395

30.000

DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 73

2.352 2.057

25.000

20.000 20.255

19.614

15.000

10.000

21.116

20.227

22.811

22.116

23.374

22.873

22.293

290

283

277

286

282

302

305

302

297

5.731

5.102

5.593

5.862

5.897

5.796

6.668

6.980

6.742

5.000 1.757

1.758

1.892

1.874

1.858

2.037

2.001

2.123

1.913

JAN/2004

FEV/2004

MAR/2004

ABR/2004

MAI/2004

JUN/2004

JUL/2004

AGO/2004

SET/2004

0

TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE CARGA

(TONELADAS EM MILHARES • SETEMBRO • 1996/2004)

40.000

35.000

33.624 31.188

30.000

25.428 26.608

25.000

22.954

23.719

26.306

22.958

20.925 20.000

15.000

10.000

5.000

MODAL DE TRANSPORTE COLETIVO URBANO MÊS JANEIRO FEVEREIRO MARÇO ABRIL MAIO JUNHO JULHO AGOSTO SETEMBRO OUTUBRO

NORTE 1.813 1.765 1.842 1.822 1.850 1.824 1.792 1.887 1.828 1.865

NORDESTE 1.813 1.811 1.910 1.885 1.904 1.930 1.861 1.929 1.928 1.973

CENTRO/OESTE 1.780 1.929 1.901 1.980 2.053 2.028 1.933 2.095 2.039 2.055

20 04

20 03

(IPK MÉDIO • 2004) SUDESTE 1.464 1.463 1.511 1.493 1.489 1.495 1.442 1.561 1.554 1.543

MODAL DE TRANSPORTE COLETIVO URBANO MÊS /ANO

20 02

20 01

20 00

19 99

19 98

19 97

19 96

0

SUL 1.978 1.992 2.201 2.102 2.113 2.117 1.982 2.119 2.093 2.107

BRASIL 1.627 1.627 1.709 1.677 1.682 1.689 1.621 1.736 1.724 1.728

(IPK MÉDIO • OUTUBRO/2004)

PASSAGEIROS

QUILOMETRAGEM RODADA

IPK MÉDIO

31.906.304

17.111.608

1.865

187.862.243

95.216.545

1.973

31.908.592

15.525.029

2.055

SUDESTE

504.869.029

327.157.225

1.543

SUL

146.360.144

69.473.653

2.107

BRASIL

902.906.311

522.515.226

1.728

NORTE NORDESTE CENTRO-OESTE

FONTES: CNT / FIPE-USP

pera as 424 mil de toneladas nos primeiros três primeiros trimestres de 2004, o que representa um volume 17,5% superior se compara do ao mesmo período de 2003. O modal aquaviário, historicamente, apresenta queda em algumas regiões entre setembro e fevereiro. O modal rodoviário de passageiros (interestadual) registrou em outubro aproximadamente 5,6 milhões de viagen, número 7,71% maior que em setembro, percentual expressivo se comparado com as médias do período (3% de 1997 a 2003). As elevações podem ser explicadas pelos dois feriados prolongados no mês. No transporte coletivo urbano (ônibus), foram registrados aproximadamente de 902,9 milhões de deslocamentos em outubro (38,8 milhões por dia útil) com aumento em todas as regiões (Sudeste com 0,69%, Norte com 2,87%, Centro-Oeste com 0,5%, Nordeste com 2,10% e Sul com 2,45%). A quilometragem rodada pelas concessionárias superou 519,2 milhões no período, com aumento nas regiões, exceto Centro-Oeste (-0,55%) e Nordeste (-0,33%). Portanto, os volumes de passageiros e de quilômetros rodados registraram alta, respectivamente, de 1,33% e 1,21% em outubro. O Índice de Passageiros por Quilômetro (IPK) médio cresceu 0,24% em relação ao mês anterior. l Para maiores esclarecimentos e/ou para download das tabelas completas do Idet, acesse www.cnt.org.br ou www.fipe.com


74 CNT REVISTA DEZEMBRO 2004

HUMOR DUKE




Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.