Revista CNT Transporte Atual - Fev/2010

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EDIÇÃO INFORMATIVA DO SISTEMA CNT

CNT

ANO XV NÚMERO 174 FEVEREIRO 2010

T R A N S P O R T E A T U A L

Trabalhadores que chegaram a Brasília e ficaram conhecidos como candangos, na construção do Congresso Nacional

Brasília, 50 anos Reportagem especial mostra como foi o processo de criação da capital. Pioneiros falam sobre a aventura de construir uma cidade

LEIA ENTREVISTA COM A ARQUITETA MARIA ELISA COSTA




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CNT TRANSPORTE ATUAL

FEVEREIRO 2010

REPORTAGEM DE CAPA No ano em que Brasília completa meio século, reportagem mostra o processo de criação de cidade, a aventura de construir a nova capital do Brasil no Centro-Oeste e a importância do transporte no seu desenvolvimento Página 18

CNT TRANSPORTE ATUAL

ANO XV | NÚMERO 174 | FEVEREIRO 2010

ENTREVISTA

CENGONHEIROS

Motoristas falam Maria Elisa Costa diz que projeto de sobre a rotina Brasilia se mantém da profissão PÁGINA

CAPA ARQUIVO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL/DIVULGAÇÃO

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PÁGINA

TRENS TURÍSTICOS • Operadores enfrentam dificuldade para expandir negócios em um cenário dominado pelo transporte de cargas PÁGINA

AQUAVIÁRIO

EDIÇÃO INFORMATIVA DO SISTEMA CNT CONSELHO EDITORIAL Almerindo Camilo Bernardino Rios Pim Etevaldo Dias Lucimar Coutinho Virgílio Coelho

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Dragagem aumenta em 30% capacidade dos terminais PÁGINA

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Almerindo Camilo [almerindocamilo@sestsenat.org.br] EDITOR-EXECUTIVO Ricardo Ballarine [ricardoballarine@sestsenat.org.br]

www.cnt.org.br | www.sestsenat.org.br ATUALIZAÇÃO DE ENDEREÇO:

cnt@cnt.org.br Publicação da CNT (Confederação Nacional do Transporte), registrada no Cartório do 1º Ofício de Registro Civil das Pessoas Jurídicas do Distrito Federal sob o número 053. Tiragem: 40 mil exemplares

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TRANSPORTE DE CARGA

Profissionais são capacitados para emitir novo RNTRC

Os conceitos emitidos nos artigos assinados não refletem necessariamente a opinião da CNT Transporte Atual

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MEIO AMBIENTE

Fracasso da COP-15 influencia encontro no México PÁGINA

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CNT TRANSPORTE ATUAL

www.

AVIAÇÃO • Brasil desenvolve pesquisas para a utilizacão de cana-de-açúcar para a produção de um biocombustível com capacidade para substituir o querosene nos aviões PÁGINA

TAXISTA

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CARNAVAL

As opções para CNT e Sest/Senat os que querem apoiam campanha exercer a profissão contra exploração PÁGINA

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FEVEREIRO 2010

cnt.org.br

55 ANOS: Confira o vídeo que comemora os 55 anos da CNT.

100 VEZES No portal, estão disponíveis para baixar as íntegras dos relatórios da pesquisa CNT/Sensus, que chegou à centésima edição em fevereiro. Confira os resultados de aprovação do governo, do cenário político e de satisfação do cidadão.

E MAIS Despoluir • Projeto do programas • Noticiário sobre meio ambiente

Canal de Notícias • Pesquisas e Sala de Imprensa • Noticiário do Brasil e do mundo

CAMPANHA

Seções Humor

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Alexandre Garcia

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Mais Transporte

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Boletins

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Debate

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Opinião

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Cartas

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SEST/SENAT

Mobilização ajuda a reduzir mortes após início da Lei Seca PÁGINA

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O Sest/Senat participa ativamente da campanha contra a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Em ww.sestsenat.org.br/esca, é possível assistir a um curta-metragem e obter informações de como denunciar o crime.

Escola do transporte • Cursos • Estudos e pesquisas

Sest/Senat • Cursos e palestras • Voluntariado e colocação no mercado de trabalho

O portal disponibiliza todas as edições da revista CNT Transporte Atual

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CNT TRANSPORTE ATUAL

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CNT TRANSPORTE ATUAL

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“A poupança pública brasileira é em torno de 1% do PIB quando deveria

ser de 25% para assegurar a sustentabilidade do desenvolvimento” ALEXANDRE GARCIA

Nós que pagamos

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rasília (Alô) – Conheci o empresário Paulo Vellinho há 40 anos, quando ele era presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul e da Springer-Admiral. Hoje, é conselheiro do presidente Lula, como integrante do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. Do alto de sua experiência, ele afirma que nossos impostos mudam de nome para "cofres públicos" para "pagar a estrutura dos Poderes, os desperdícios, os mensalões, as megalomanias e o custo da máquina pública, inclusive sua remuneração." Esse exemplar empresário, patriota e idealista diz que a consequência é que "nos sentimos perfeitos idiotas, pois a quase subserviência com que tratamos os servidores públicos é desnecessária, pois não só pagamos os seus salários como todas as mordomias daqueles que residem no andar de cima. Os prédios públicos monumentais, confortáveis e luxuosos tão presentes, por exemplo, em nossa maravilhosa Brasília, somos nós que pagamos. O Senado perdulário e escandaloso, com seus 10 mil intocáveis funcionários, 181 diretores e a distribuição generosa de passagens aéreas, nós pagamos. A nossa Câmara Federal, papel carbono do Senado sob todos os aspectos, nós a sustentamos. O nosso Poder Judiciário, confortavelmente acomodado em prédios espelhados e gabinetes luxuosos, que rege leis complexas que quando aplicadas geram intermináveis processos com marchas e contramarchas que fazem a alegria dos bolsos dos advogados de defesa e acusação, também são pagos por nós."

Paulo Vellinho já passou dos 80 anos de vida e é dessas pessoas que, tendo uma vida empresarial impoluta, tem moral para fazer a crítica justa. Agora desabafa: "a eficiência ou ineficiência das empresas estatais monopolísticas, seus salários, gratificações e múltiplos décimos terceiros, com suas grandes estruturas de comunicação, constituem-se em poderosos clientes da multimídia, nós que pagamos. Os gastos sem retorno dos poderes constitucionais, e o mau trato que emprestam ao patrimônio móvel e imóvel que administram e fazem a alegria dos fornecedores, nós pagamos. Os ladrões públicos e privados sobejamente conhecidos, quando denunciados e processados, jamais são condenados e não devolvem o que roubaram. Suas obras obviamente mais caras geram os serviços também mais caros, e nós pagamos a conta." A poupança pública brasileira é em torno de 1% do PIB quando deveria ser de 25% para assegurar a sustentabilidade do desenvolvimento, calcula ele. Cada real desviado ou desperdiçado representa R$ 2 de investimento que falta para dar infraestrutura às conhecidas carências do nosso país. O empresário lamenta que, para convivermos com essa realidade, comportamo-nos como um avestruz, alimentando o nosso ego com a história de que somos integrantes do Bric e que estaremos entre as maiores potências em poucos anos, enquanto 12 milhões de famílias dependentes do Bolsa Família recebem dinheiro para poder comer. Isso também pagamos.


“Brasília foi feita como se fosse uma roupa de gente grande dentro da crescendo e enchendo a roupa. O desenvolvimento urbano do Distrito

ENTREVISTA

MARIA ELISA COSTA

“Projeto para sob POR

arquiteta Maria Elisa Costa, filha do homem que inventou o Plano Piloto da capital federal, falou com a reportagem da CNT Transporte Atual sobre a cinquentenária Brasília. Na opinião de Maria Elisa, o plano idealizado por Lucio Costa sobreviveu depois de tantos anos e ela cita como exemplo o funcionamento da praça dos Três Poderes, onde estão o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal e o Palácio do Planalto. Indica ainda as vias conhecidas como eixão e eixinhos, que se estendem ao longo das asas Sul e Norte, a rodoviária, as superquadras, onde se concentram os prédios residenciais. A proposta de Lucio Costa venceu, em março de 1957, o

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CYNTHIA CASTRO

concurso com 26 inscritos. Na justificativa, os jurados disseram que “o projeto que melhor integra os elementos monumentais na vida quotidiana da cidade como capital federal, apresentando composição coerente, racional, de essência urbana, uma obra de arte, é o 22, de Lucio Costa”. Conforme os documentos do Arquivo Público do Distrito Federal, o concurso foi elaborado pela Comissão de Localização da Nova Capital Federal e a redação contou com a assessoria de Oscar Niemeyer. Ao descrever um pouco a concepção de sua ideia, Lucio Costa disse que o projeto “nasceu de um gesto primário de quem assinala um lugar e dele toma posse: dois

eixos cruzando-se em ângulo reto, ou seja, o próprio sinal da cruz”. São o Eixo Monumental (onde fica a Esplanada dos Ministérios) e o eixão. O urbanista nasceu em 1902, em Toulon, na França. Filho de brasileiros, o pai engenheiro naval e a mãe professora, ele veio para o Brasil em 1916. Morreu em 1998. A filha Maria Elisa se formou em arquitetura na época da construção de Brasília, em 1958. Participou do desenvolvimento do Plano Piloto com Lucio Costa, e anos depois trabalhou em Brasília como assessora do secretário de Obras, Carlos Magalhães da Silveira, no governo de José Aparecido de Oliveira. Ela foi presidente do Iphan (Instituto do Patrimônio

Histórico e Artístico Nacional), em 2003, e coordena a organização dos documentos da Casa de Lucio Costa (www.casadeluciocosta.org). Maria Elisa mora no Rio de Janeiro e concedeu a entrevista por e-mail, em duas conversas. Cinquenta anos depois da inauguração, o que você diria sobre a Brasília idealizada por Lucio Costa? O projeto original sobreviveu? Sem a menor dúvida. Aliás, Lucio não entrou no concurso para o Plano de Brasília apenas para defender uma ideia. Entrou, exatamente, para ajudar, com seu projeto, a mudança definitiva da capital a dar certo – ou seja, para sobreviver.


qual se colocou um bebê, que foi Federal aconteceu por conta própria”

BETO MONTEIRO/ARQUIVO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL/DIVULGAÇÃO

reviver” O que citaria como um bom exemplo de fidelidade à ideia pensada há mais de 50 anos? A praça dos Três Poderes (que ele não apenas inventou como batizou com esse nome), a Esplanada (dos Ministérios), a rodoviária, as superquadras (onde ficam os prédios residenciais), a torre de TV, o eixão e os eixinhos, os comércios locais, o horizonte aberto e um modo de ser próprio da cidade – Brasília "tem o seu", não imita ninguém. E o que se desvirtuou? Por exemplo, o Setor Comercial Norte. O projeto da implantação do setor não "captou a mensagem" contida na Memória Descritiva do Plano Piloto, ou a tolice de não haver comércio nos (Setores)

Hoteleiros. Mas o essencial se manteve. Você considera que algumas mudanças em relação à ideia inicial fazem parte da própria evolução da cidade? Ou o que deveria ter sido diferente? Brasília foi feita como se fosse uma roupa de gente grande dentro da qual se colocou um bebê, que foi crescendo e enchendo a roupa. O desenvolvimento urbano do Distrito Federal aconteceu por conta própria, em função da evolução da cidade, da revelação que foi para o país o potencial do Centro-Oeste. A ocupação do entorno do lago Paranoá, principalmente

o Lago Sul, que fica mais restrito aos moradores de alto poder aquisitivo, seria um exemplo de algo que se distanciou da ideia original? Claro que não se distanciou da ideia original, que era simplesmente ter lotes para casas individuais. Se o Lago Sul ficou restrito a moradores de alto poder aquisitivo, isso não é problema de Brasília, o país é assim – seja no Lago Sul, na beira da praia no Rio ou nos Jardins em São Paulo. Quem manda na ocupação é a estrutura social, não o projeto urbano. Mas a ideia de Lucio Costa não era que toda a população pudesse ter acesso ao lago e que só chegariam à beira da água os clubes esportivos,

restaurantes, núcleos de pesca? Hoje o que se vê é que em grande parte do lago somente os moradores da orla têm esse acesso, com as casas que chegam à beira da água. Em termos legais, a orla do lago (à exceção de clubes) é área pública, ou seja, os lotes do Lago Sul não vão até a orla do lago – mas os proprietários das "pontas de picolé" tendem a invadir a área pública. Somente as chamadas "mansões do lago", que são poucas, no Lago Norte, é que vão até a água. (Ponta do picolé é o nome que se dá para o local onde ficam as casas construídas no final dos conjuntos residenciais, às margens do lago. O projeto dessas quadras criou um formato que, em planta, assemelha-


se à figura de um picolé, conforme a Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente do Governo do Distrito Federal. A rua seria o palito e as casas, a ponta) Já houve tentativa de tornar o lago mais acessível nos últimos anos? No governo José Aparecido de Oliveira (anos 80), quando Carlos Magalhães era secretário de Obras, ele lutou para a implantação de uma ciclovia ao longo de toda a orla, no Lago Sul – que até chegou a existir, mas foi abandonada. Aliás, nessa mesma época, Lucio sugeriu ao governador José Aparecido que o Palácio do Jaburu (residência oficial do vice-presidente) fosse transformado em clube das cidades satélites dentro do Plano Piloto. Ele achava um absurdo existir "palácio de vice-presidente". "Vice mora na casa dele", dizia. Como se sabe, a sugestão não teve sucesso. Em relação às superquadras das Asas Sul e Norte (onde reside grande parte da população), qual a avaliação você faz sobre o que foi pensado e o funcionamento desses espaços atualmente? Acho as superquadras talvez a maior contribuição de Lucio para que Brasília tenha adquiri-

do um modo próprio de ser. Lamento que as entrequadras destinadas aos clubes de vizinhança não sejam ocupadas pelos moradores das quatro quadras adjacentes, que fariam seu clube com seus próprios meios, sem megalomania. E o gerenciariam, por meio das quatro prefeituras – cuja sede seria exatamente ali. Quem quisesse piscina faria piscina. Quem quisesse lugar para festa barulhenta de adolescente, ou para encontro dos mais velhos, ou para academia faria o que fosse do interesse e da vontade dos moradores, livremente. Seria um grande ganho, para os moradores e para a cidade. É uma espécie de "capacidade ociosa" da proposta do Plano Piloto. Seria ótimo as pessoas reivindicarem esse direito. Ao longo dos anos, a cidade criou uma maior dependência do automóvel. Você faria alguma consideração sobre isso, ao pensar na ideia original e nas possíveis soluções para o problema? A dependência do automóvel em Brasília é maior do que em outras cidades porque de carro o tempo rende mil vezes mais do que no Rio, por exemplo, e as pessoas não se acostumam a coisas normais nas outras cidades, como esperar

MODELO Quadra 308, na Asa Sul, preserva carac

“Acho as superquadras talvez a maior contribuição de Lucio para que Brasília tenha adquirido um modo próprio de ser”

o ônibus, andar a pé do ponto do ônibus até o lugar onde se vai, coisas assim. Aliás, acho que uma das razões para o transporte coletivo ainda não ser satisfatório é exatamente essa: quem tem carro não reivindica bom transporte coletivo. Com o aumento da população na periferia do Plano Piloto, espero que Brasília como um todo finalmente adquira um transporte público de qualidade. O Distrito Federal sofre também com o inchaço populacional e a maioria dos empregos concentrada no Plano Piloto. O que poderia


JÚLIO FERNANDES/NCI-CNT

“Se o Lago Sul ficou restrito a moradores de alto poder aquisitivo, isso não é problema de Brasília, o país é assim” terísticas do projeto original do Plano Piloto do urbanista Lucio Costa

ser feito para amenizar os problemas atuais? Descobrir atividades geradoras de emprego e compatíveis com o Distrito Federal. E estimular sua implantação além de Taguatinga, Ceilândia, Samambaia (cidades satélites do Distrito Federal). Qual é o seu olhar sobre o Noroeste (o novo bairro que está sendo construído em Brasília), que aumentará a população residente no Plano Piloto e especula-se que quitinetes seriam vendidas por até R$ 500 mil? A proposta da existência do Noroeste faz parte de Brasília

Revisitada, trabalho apresentado por Lucio Costa ao governador José Aparecido, em 1985. Nesse trabalho, foram propostos o Sudoeste (bairro que já existe em Brasília) e o Noroeste, porque na implantação de Brasília a distância prevista entre a rodoviária e a rodoferroviária simplesmente dobrou. E Lucio sugeriu uma ocupação para o excesso de área com a intenção de evitar que se fizessem coisas incompatíveis com o Plano. Só que a proposta dele foi fazer mais superquadras – iguais às normais do Plano. Mas o projeto feito, de superquadra, só tem o que menos importa. Ou seja, o nome e a forma de quadrado. Não são cercadas pela faixa

verde arborizada, e têm duas entradas para carros (na superquadra das Asas Sul e Norte, só há uma entrada para carro). Acho uma pena perder a oportunidade de fazer a superquadra como ela é, que só existe em Brasília. Sobre os preços, o meu comentário é o mesmo que fiz sobre o Lago Sul. A maneira correta de baixar os preços no Plano teria sido fazer implantações tão boas como o Plano na periferia. As pessoas gostam do que é bom. Há críticas de que Brasília é uma cidade que exclui, principalmente pelo alto valor dos imóveis no Plano Piloto. Essa seria uma característica

inevitável, devido ao tombamento da cidade e à concentração de alguns empregos com salários muito altos? Ou poderia haver outro caminho para que não houvesse essa exclusão? Mais uma vez essa mania de atribuir a Brasília uma responsabilidade que é da nossa estrutura social. Não tem nada a ver com projeto urbano, e sobretudo não tem nada a ver com o tombamento. Como eu disse antes, os caminhos seriam fazer implantações de boa qualidade no Distrito Federal e melhorar a distribuição de renda. E não esquecer do que Tom Jobim disse uma vez: democracia mesmo só seria possível se todo mundo pudesse morar em Ipanema, só que não cabe. No aniversário de 50 anos, o que você daria de presente para Brasília? Cuidado e carinho. E, no mínimo, a reposição do trabalho de Athos Bulcão (artista plástico) nas laterais do Teatro Nacional. Gostaria de registrar meu protesto pelo fato de não terem refeito as fachadas laterais do teatro, projetadas por Athos Bulcão, tão bonitas e de presença tão importante na cidade. l Leia mais sobre a construção de Brasília na página 18


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JOEL ROCHA/SMCS/DIVULGAÇÃO

MAIS TRANSPORTE Check-in na internet A Trip Linhas Aéreas conta agora com o serviço de Web Check-In em seu endereço na internet. Os passageiros da companhia encontram mais rapidez, facilidade e conforto, uma vez que podem reservar assentos e imprimir seus cartões de embarque com dois dias de antecedência, ou até 90

minutos antes do horário do voo. O serviço é completamente seguro e permite ao passageiro ter certeza sobre os dados fornecidos. O sistema já está disponível em 11 aeroportos de todo o país. A expectativa é que todos os aeroportos onde a Trip opera passem a contar com esse serviço. ESCOLHIDA Capital paranaense receberá entidade

Garantia prorrogada A Michelin estendeu o prazo para compras do pneu XZE2+ com garantia estendida para até o dia 31 de março deste ano. Em agosto de 2009, a empresa lançou o pneu com garantia gratuita para compras até o fim do ano, porém, o sucesso da ação levou à prorrogação. A garantia cobre qualquer dano acidental que ocorra

na primeira vida útil do pneu, como furos, penetrações, rasgos, quebra da carcaça ou bolhas no flanco, causadas por impactos. O XZE2+ é voltado para o profissional autônomo que faz transporte rodoviário de carga e passageiros, público que representa 55% da frota brasileira.

Nova sede em Curitiba Curitiba foi escolhida para ser sede da Associação de Sistemas de Ônibus Rápidos da América Latina. A entidade conta com 60 sistemas semelhantes ao da cidade, sendo 13 na América Latina. A previsão é que os números sejam triplicados nos próximos cinco anos. O

anúncio da escolha foi feito pelo prefeito de Curitiba, Beto Richa (PSDB), mas só será formalizado em abril, em um encontro na cidade. Segundo especialistas, somente nas cidades latino-americanas existe uma demanda de 8.000 km de vias exclusivas para ônibus.

Etanol seguirá por ferrovia

Sindmar constrói novo centro

A Vale firmou um acordo de 11 anos com a multinacional holandesa Bunge para transportar, por meio do trecho sob sua responsabilidade da Ferrovia Norte-Sul, 200 milhões de litros de etanol por ano. O etanol sairá do terminal da multinacional no município de Tupirama (TO)

O Sindmar (Sindicato Nacional dos Oficiais de Marinha Mercante) comprou em janeiro um terreno de 845 mil metros quadrados, um investimento de R$ 1,5 milhão, onde será construído um novo centro de treinamento. A área vai abrigar auditórios, dormitórios, salas de conferências, áreas de lazer, refeitórios e, também, as novas

até Guaraí (TO). De lá seguirá de trem pela NorteSul e pela Estrada de Ferro Carajás até São Luiz (MA), de onde será exportado pelo Porto de Itaqui. Segundo a mineradora, o acordo com a Bunge vai evitar a circulação de 700 caminhões por mês nas estradas brasileiras.

instalações do CSA (Centro de Simulação Aquaviária), que atualmente se encontra na sede do sindicato. O plano é que o local esteja pronto para funcionar no início de 2013. Somente nos últimos três anos mais de 400 oficiais mercantes brasileiros e estrangeiros foram qualificados pelo CSA.


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HELENA COSTA/SETCEMG/DIVULGAÇÃO

Escola de pilotagem

AMPLIAÇÃO Minas ganha nova unidade móvel

O piloto brasileiro de motovelocidade Alex Barros inaugurou no início de fevereiro uma escola de pilotagem com estrutura e programação inovadoras. A Alex Barros Riding School terá sua primeira etapa em São Paulo, no autódromo de Interlagos, e depois outras

capitais do Sudeste, Sul e Centro-Oeste devem receber a escola de pilotagem. O curso vai de março a agosto e possui três módulos: Alumínio (Básico), Carbono (Intermediário) e Titânio (Avançado). Mais informações no site www.alexbarros.com.br ou pelo telefone (11) 3055-1399.

Cresce a frota do Despoluir DIVULGAÇÃO

Em janeiro, Belo Horizonte recebeu a mais nova unidade móvel do Programa Despoluir. O veículo é um Fiat Palio equipado com o opacímetro e outros instrumentos necessários para fazer a medição da emissão de gases poluentes na atmosfera por caminhões. O Despoluir foi lançado em 2007 pela CNT e tem como

objetivo promover o engajamento de empresários, trabalhadores em transporte e da sociedade na construção de um desenvolvimento verdadeiramente sustentável. Em Minas, a Fetcemg (Federação das Empresas de Transportes de Carga de Minas Gerais) é a gestora do Despoluir no setor de transporte rodoviário de cargas. VELOCIDADE Piloto brasileiro Alexandre Barros lança curso

Trem capixaba O Trem das Montanhas Capixabas, que roda entre os municípios de Viana e Marechal Floriano (ES), foi lançado em janeiro, após 20 anos desativado. O trem capixaba faz um trajeto de 46 km por pontes, túneis e cachoeiras pela serra, com vistas do mar e da Mata Atlântica. O projeto é uma parceria da

Terminal multiuso em Santos Secretaria de Estado do Turismo (Setur) com as Prefeituras de Viana, Domingos Martins, Marechal Floriano e a Ferrovia Centro-Atlântica. A operação da linha será realizada pela Serra Verde Express. Leia mais sobre trens turísticos na pág. 34

A BTP (Brasil Terminal Portuário) e a Construtora Andrade Gutierrez assinaram contrato para a construção do terminal multiuso da BTP no Porto de Santos. As obras terão início em abril, com previsão de término em março de 2012. Na primeira fase, ao final de um ano, o empreendimento terá capacidade para movimentar 1,2 milhão de

TEUs – dobrando o atual potencial da Margem Direita de Santos – e 1,2 milhão de toneladas de líquidos, aumentando em 30% a oferta no escoamento do granel. O empreendimento será construído em uma área arrendada de 342 mil metros quadrados e terá 1.108 metros de cais acostável, com possibilidade inicial para quatro berços de atracação.


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MAIS TRANSPORTE JOSÉ MELGAÇO

Padre Cícero – Poder, Fé e Guerra no Sertão O autor pesquisa a vida do líder religioso e procura apresentar novas visões sobre Cícero Romão Batista. Sua vida política merece destaque na biografia. De Lira Neto. Companhia das Letras, 544 págs, R$ 49

Ônibus personalizado para Atlético e Cruzeiro

Brasil Pós-Crise – Agenda para a próxima década Coletânea de artigos sobre os desafios do país para manter um crescimento anual de 5% até 2020 em um cenário posterior à crise financeira mundial. De Fábio Giambiagi e Otávio de Barros (org.) Ed. Campus-Elsevier, 384 págs, R$ 80

Atlético-MG e Cruzeiro receberam em janeiro ônibus personalizado da Volkswagen para o transporte de suas equipes. O contrato tem a duração de dois anos e, em troca, a montadora terá espaço publicitário nos centros de treinamento e direito a ingressos para jogos de mando de campo dos dois clubes mineiros.

Morre o presidente da Fenavega Morreu no dia 25 de janeiro de 2010, em um acidente aéreo no Pará, o empresário Luiz Rebelo Neto, presidente da Fenavega (Federação Nacional das Empresas de Navegação Marítima, Fluvial, Lacustre e de Tráfego Portuário). O avião bimotor em que ele estava

sofreu uma pane depois de ter saído de Belém com destino à fazenda Rosinha, localizada entre os municípios de Vitória do Xingu e Senador José Porfírio. Rebelo era membro da diretoria de transporte aquaviário da CNT, tinha 55 anos e deixou mulher e três filhos.

JÚLIO FERNANDES/NCI-CNT

Cabeza de Vaca História do fidalgo espanhol que, no século 16, desbravou a América a pé e chegou a tomar posse de Santa Catarina. Paulo Markun investigou depoimentos de testemunhas ouvidas na época. De Paulo Markun. Companhia das Letras, 288 págs, R$ 42


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FORD/DIVULGAÇÃO

Calhambeque da Nestlé A Nestlé, empresa mundial de alimentos e nutrição, está sorteando 50 calhambeques de uma série exclusiva, produzidos artesanalmente e desenvolvidos sob a supervisão do bicampeão de Fórmula 1 Emerson Fittipaldi. A promoção Em Ritmo de Prêmios, que se iniciou no dia 19 de janeiro, entrega a 50 sortudos uma recriação do Chevy 1933

Coupe, equipado com um motor 2.4, cinco marchas e direção hidráulica, veículo inspirado no calhambeque do cantor Roberto Carlos. Além deles, serão sorteados joias da coleção do cantor, milhares de DVDs e, no fim da promoção, R$ 1 milhão. Os interessados na promoção devem ver os regulamentos no site www.nestle.com.br/calhambeque.

SEGURANÇA Sugestões podem ser enviadas para site da Ford

MARIE HIPPENMEYER/DIVULGAÇÃO

Boneco de teste virtual

PRÊMIO Nestlé sorteará 50 recriacões do Chevy 1933 Coupe

A Ford Motor Company, em parceria com as universidades norte-americanas Wake Forest e Virginia Tech, vem pesquisando há três anos no intuito de criar um novo sistema virtual para simular acidentes automotivos. O teste computadorizado pretende mostrar como as estruturas do esqueleto, os órgãos internos e o cérebro são afetadas por uma

colisão frontal, com o objetivo de melhorar as condições de sobrevivência, principalmente de mulheres grávidas em caso de colisão. Por ser um assunto de muito interesse para a indústria automobilística, a Ford criou um site em que qualquer pessoa pode dar sugestões sobre segurança, o www.fordnewideas.com .

Encontros destacam ferrovias Cidades inovadoras A Associação Brasileira da Indústria Ferroviária promove dois eventos em abril. O 1º Seminário Internacional de Suprimentos ocorre nos dias 29 e 30 e objetiva promover a troca de experiências e a exposição das melhores práticas de suprimentos das principais ferrovias heavy-haul. Será no Parque Botânico Vale – Complexo Industrial de Tubarão

(ES). O 2º Encontro de Ferrovias objetiva promover o intercâmbio de conhecimento entre as ferrovias brasileiras, por meio da divulgação de trabalhos técnicos e científicos desenvolvidos nas empresas, na indústria ferroviária e no meio acadêmico. O encontro será de 28 a 30, no Centro de Excelência em Logística – Sede da Vale – em Vitória (ES).

Curitiba recebe entre os dias 10 e 13 de março a CI-CI 2010 (Conferência Internacional de Cidades Inovadoras) para debater temas que envolvem a reconstrução das cidades, a sustentabilidade e a globalização. O evento conta com o apoio institucional da CNT e tem

como objetivo principal articular uma rede global de pessoas envolvidas com inovações em cidades, ensejando a troca permanente de tecnologias inovadoras entre as cidades conectadas. As inscrições podem ser feitas pelo site www.cidadesinovadoras.org.b


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MAIS TRANSPORTE PORTOS

Recorde de movimentação em Santos Porto de Santos encerrou 2009 com um movimento recorde de 83,194 milhões de toneladas, a melhor marca anual de sua história, resultado 2,6% acima da registrada em 2008, apesar da crise que afetou o comércio internacional. A expectativa da Autoridade Portuária é em 2010 movimentar um volume 5,3% superior ao registrado em 2009. As exportações atingiram 59,334 milhões de toneladas, 11,6% acima dos embarques efetuados em 2008. Entre as principais cargas exportadas estão o açúcar (+30,0%), o farelo de laranja (+68,1%), óleos de origem vegetal (+17,9%), farelo de soja (+16,0%), café (+14,5%), milho (+8,7%) e soja em grãos (+3,1%), óleo combustível (+85,6%), gasolina (+27,1%), óleo diesel e gasóleo (+26,7%). As importações apresentaram retração de 14,5% em relação a 2008, totalizando 23,859 milhões de toneladas, destacando-se as descargas de gás liquefeito de

O

petróleo (+216,8%), sal (+35,5%) e amônia (+13,2%). Segundo dados da Secex/Depla/MDIC, a participação do Porto de Santos na balança comercial em 2009 foi de 26,37%, enquanto em 2008 chegou a 24,74%. Essa participação nas exportações brasileiras chegou a 26,7% (US$ 40,8 bilhões), contra 25,2% em 2008. Já nas importações foi de

26,0% (US$ 33,2 bilhões), contra 24,1% em 2008. Cerca de 14,4% dos embarques efetuados em Santos tiveram como destino a China, 7,1% a Índia, 6,8% os Países Baixos e 4,4% os Estados Unidos. Já as descargas tiveram como proveniência os Estados Unidos (18,0%), China (14,6%), Alemanha (12,0%), Japão (7,8%) e Itália (3,9%).

A movimentação de contêineres atingiu 2,252 milhões de TEU (unidade relativa a um contêiner de 20 pés), registrando a queda já esperada de 15,6% em relação ao ano de 2008 (2,674 milhões TEU). Em 2009, atracaram no Porto de Santos 5.731 navios, 0,6% a menos que em 2008 (5.763), sendo 894 atracações de navios de cabotagem e 4.837 de longo curso. SÉRGIO COELHO/CODESP/DIVULGAÇÃO

DEMANDA Porto de Santos registrou crescimento de 2,6% em 2009 em comparação a 2008


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GM/DIVULGAÇÃO

TAP prestigia São Paulo

CONSCIENTIZAÇÃO GM quer reciclar 100%

No último dia 25 de janeiro, o aniversário de 456 anos de São Paulo, a TAP presenteou as pessoas que estavam no Aeroporto de Guarulhos – Governador André Franco Montoro de uma forma bastante inusitada. A empresa lusitana promoveu

um encontro marcado por uma série de ritmos e danças que valorizaram a diversidade histórico-cultural da cidade. O objetivo era homenagear as dezenas de etnias presentes em São Paulo, a cidade mais cosmopolita do Brasil.

Reciclagem industrial

Internet nos aeroportos

A General Motors do Brasil já recicla 97% dos resíduos industriais gerados durante a produção no país, mas ainda pretende atingir a marca dos 100%. Segundo os dados da empresa, todas as suas unidades brasileiras geram mais de 160 mil toneladas de resíduos todos os anos. Para isso,

A Pro-Teste (Associação Brasileira de Defesa do Consumidor), com sede em São Paulo, enviou em janeiro um ofício à Infraero (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária) cobrando o cumprimento da promessa feita pela estatal de que, até o fim de 2009, 12 aeroportos do país teriam acesso à internet gratuita. A ONG alega que a rede sem fio grátis permite

a GM faz um trabalho de conscientização com os funcionários, transformando assim a reciclagem em uma cultura de quem trabalha na empresa. Alguns desses materiais enviados para a reciclagem são transformados em peças que são reaproveitadas no processo de produção dos veículos.

Bagagem Porta a Porta

Defesa do TAV

A TAM lançou em janeiro o novo serviço de transporte de bagagens Porta a Porta para os clientes da companhia. Por meio de sua unidade de cargas, a TAM Cargo, as malas podem ser coletadas na casa do cliente e entregues no local de destino escolhido por ele. O serviço está disponível todos os dias, inclusive feriados, e sem cobrança de taxa

O superintendente-executivo da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), Hélio Mauro França, afirmou em janeiro que a implementação do TAV (Trem de Alta Velocidade) é possível. Ainda segundo o superintendente, os estudos realizados mostram que o

para a coleta e entrega em horários especiais. A princípio apenas Belo Horizonte, Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo terão o Bagagem Porta a Porta. O preço é de R$49,90 para bagagens de até 23 kg e R$ 99,80 para cargas a partir desse peso, sendo que cada cliente pode solicitar o deslocamento de até dois volumes somando um total de 46 kg.

visualizar somente páginas do governo, o que seria uma cobertura muito restrita, já que o consumidor paga em média R$ 20 pela taxa de embarque. A assessoria da Infraero afirmou em nota que desde o primeiro semestre de 2009 já tornou pública a decisão de, inicialmente, disponibilizar apenas os sites .gov por motivos técnicos, jurídicos, comerciais e de segurança.

empreendimento tem sustentabilidade financeira e é economicamente viável, tornando desnecessário que o governo libere mais recursos além do estimado, de R$ 34,6 bilhões. A previsão é que o trem tenha capacidade para transportar 32,6 milhões de pessoas por ano.


ARQUIVO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL/DIVULGAÇÃO

REPORTAGEM DE CAPA

O caminho d Nos 50 anos de Brasília, pioneiros lembram histórias das ob


MÁRIO FONTENELLE/ARQUIVO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL/DIVULGAÇÃO

ARQUIVO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL/DIVULGAÇÃO

a construção ras e contam como era o transporte de materiais e pessoas


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“Deste Planalto Central, desta decisões nacionais, lanço os ol alvorada com uma fé inquebra JUSCELINO KUBITSCHEK ARQUIVO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL/DIVULGAÇÃO

ARQUIVO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL/DIVULGAÇÃO

MONUMENTAL Construção da cúpula do Senado Federal

POR CYNTHIA

CASTRO

ma luminosidade intensa do sol no nascer do dia, em um horizonte que parecia não ter fim. Céu de azul forte e densas nuvens brancas. E a vegetação virgem do cerrado, com suas árvores retorcidas. Ao recordar o dia em que conheceu o Planalto Central, são essas as lembranças marcantes que o historiador e jornalista Adirson Vasconcelos, 73, descreve com entusiasmo. “Nunca tinha visto nada

U

assim, nem no Nordeste. A luz do sol me deixou completamente atônito. E o céu, aberto, grande, era realmente lindo e impressionante.” Era maio de 1957 e ele havia deixado a cidade onde morava, Recife (PE), para fazer a cobertura jornalística da primeira missa na região da nova capital federal. Em ritmo mais que acelerado, a cidade começava a ser construída para ser inaugurada em 21 de abril de 1960. Naquele momento, conta Vasconcelos, era quase inimaginável a possibilidade de se

IMPROVISO Alimentação na Esplanada dos Ministérios

levar para ali – para o distante e desabitado sertão goiano – todos os materiais, máquinas e pessoas que seriam necessários para erguer a cidade. Era realmente difícil acreditar, lembra, que uma região tão inóspita poderia se transformar em pouco tempo no centro político do país. A própria viagem inicial de Vasconcelos deu mostras de que a proposta a ser colocada em prática pelo então presidente Juscelino Kubitschek era desafiadora. De Recife a Goiânia, ele seguiu de avião. Mas da capital de Goiás até

Brasília foram 12 horas em um trajeto cansativo e precário. O meio de transporte era uma jardineira. “A terra daqui é muito fina e na estrada era só poeira. Lembro que meu cabelo chegou completamente duro de tanta poeira.” Hoje, de Goiânia a Brasília, os 209 km podem ser percorridos de ônibus em aproximadamente três horas. Na época em que chegou ao Planalto Central, uma pergunta não saía da cabeça do jovem repórter, que se tornou um dos maiores pesquisadores da história da cidade, com


solidão que em breve se transformará em cérebro das altas hos mais uma vez sobre o amanhã do meu país e antevejo esta ntável e uma confiança sem limites no seu grande destino”

TRANSPORTE

ARQUIVO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL/DIVULGAÇÃO

História guardada em revistas Uma visita ao Arquivo Público do Distrito Federal é uma verdadeira viagem ao tempo da construção. São mais de 850 mil negativos fotográficos e uma infinidade de documentos. Entre eles, os exemplares da “Revista Brasília”, lançada em 1957. A publicação, editada pela Novacap, divulgou todos os detalhes da obra e contou um pouco a história do desenvolvimento da infraestrutura para o transporte. Foram 85 edições, até 1964. De 5.000 exemplares inicialmente, passou a 10 mil. Era uma forma de divulgação do trabalho e de prestação de contas. Na edição de novembro de 1957, o texto diz que a localização da nova capital acelerou a execução de um sistema de comunicações rodoferroviárias, ligando o Centro-Oeste aos centros econômicos e industriais do país. “As ligações ferroviárias com a nova capital comunicarão os dois grandes centros industriais, São Paulo e Belo Horizonte, com Brasília. A ligação Belo Horizonte-Brasília se fará com o prolongamento da E.F.Central do Brasil, partindo de Pirapora”, diz um trecho. Sobre as rodovias, “os estudos da Novacap determi-

naram prioridade para a construção do trecho BrasíliaAnápolis, ponto obrigatório de passagem da BR-14, uma vez que esta fará ligação imediata com São Paulo”. Já havia sido iniciada, em 1957, a rota Brasília-Belo Horizonte, passando por Luziânia, Cristalina e Sete Lagoas. Em março de 1958, a Novacap havia construído mais de 220 km de estradas em torno de Brasília. Os veículos em serviço eram 136 caminhões, 35 jipes, 42 autopatróis e tratores, 14 camionetas e cinco rolos compressores. “De Brasília partem quatro estradas principais, orientadas para os quatro pontos cardeais: um para Belo Horizonte, um para Anápolis, para Manaus e Planaltina.” Pouco antes da inauguração da capital, em fevereiro de 1960, a reportagem informa que em dezembro de 1959 Brasília estava integrada ao sistema rodoferroviário nacional. “A conclusão das linhas Brasília-Anápolis e Brasília–Belo Horizonte veio assegurar as comunicações para qualquer ponto do país. A rodovia Belém–Brasília, cobrindo uma extensão de 2.194 km, teve o seu término antecipado.”

DESABITADO Juscelino Kubitschek visita o Planalto Central

35 livros publicados: por que construir ali a capital do Brasil? “Parecia uma utopia. Como seria possível chegar cimento, tijolo e tudo mais em uma região completamente deserta?” Foi pela estrada de ferro que grande parte de Brasília chegou ao Planalto Central. O historiador conta que muitos materiais, como cimento, tábuas, pregos e metal eram transportados pela ferrovia, até Anápolis, cidade que fica no caminho entre Goiânia e Brasília. De Anápolis para a nova

capital, o meio de transporte era o caminhão, que levava de nove a dez horas para chegar ao destino. “A areia era buscada, também de caminhão, nos rios da região”, diz Vasconcelos. Um documento oficial da Novacap (Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil), de agosto de 1957, diz que “Brasília não se ressente da dificuldade de abastecimento de material básico (areia, pedra etc) na própria região da futura capital. Há vários depósitos desses materiais que a natureza fornece a pouca distância do centro urbano. São


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CONHEÇA A CAPITAL Principais pontos turísticos de Brasília Catedral

Memorial JK

A Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida foi inaugurada em 1970. Em formato circular, tem vitrais azuis que formam o teto

Do lado de fora, há uma escultura do presidente JK, suspensa sobre a cidade que ele criou. Dentro do memorial, estão fotografias, a biblioteca de JK, objetos pessoais e vários documentos. Também está lá a câmara mortuária, com o túmulo do ex-presidente

Torre de TV Projetada por Lucio Costa, tem um mirante panorâmico a 75 m de altura, com capacidade para 150 pessoas

Congresso Nacional Sede do Poder Legislativo. Os blocos em forma de H têm 28 andares e abrigam atividades administrativas. Sob as cúpulas, estão os plenários da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Ao redor, ficam os anexos de cada Casa

Palácio do Planalto Abriga a sede do Poder Executivo, na praça dos Três Poderes

Ponte JK Inaugurada em dezembro de 2002. Com os seus três arcos assimétricos, a estrutura foi inspirada pelo movimento de uma pedra quicando sobre o espelho d´água. Fica sobre o lago Paranoá e o arquiteto da obra é Alexandre Chan

Esplanada dos Ministérios Localiza-se no Eixo Monumental. Conjunto de 17 edifícios distribuídos harmoniosamente e com regularidade arquitetônica em um vasto gramado

Catedral Metropolitana

Panteão da Pátria Construído em homenagem ao ex-presidente Tancredo Neves e aos heróis da pátria, sua forma sugere uma pomba. No salão vermelho, há um painel de Athos Bulcão, e no salão principal, um painel de João Câmara e vitral de Marianne Peretti

Catetinho Primeira residência oficial do presidente JK no Distrito Federal. Nome dado pelo músico Dilermando Reis, em alusão ao Palácio do Catete, no Rio de Janeiro

Torre de TV

Palácio do Itamaraty Sede do Ministério das Relações Exteriores. No espelho d´água à frente, está a escultura de mármore "Meteoro", que representa os cinco continentes (de Bruno Giorgi). Possui jardins internos e salas com obras de arte

Palácio da Alvorada Residência oficial do presidente, às margens do lago Paranoá. Suas colunas são o símbolo da cidade. Projeto de Niemeyer, é o primeiro prédio de alvenaria de Brasília. Lá estão as esculturas "As Laras" (Ceschiatti) e "O Rio dos Ritmos" (Maria Martins)

Congresso Nacional


INFRAESTRUTURA FOTOS JÚLIO FERNANDES/NCI-CNT

Palácio do Planalto

Ponte JK

Palácio do Itamaraty Fontes: Governo do Distrito Federal/Arquivo Público do Distrito Federal

Obstáculos para a construção Algumas dificuldades iniciais de se viabilizar materiais e máquinas para a construção da primeira edificação que abrigou o presidente Juscelino Kubitschek na região da nova capital estão descritas em trechos do livro “A Epopeia da Construção de Brasília”, do historiador e jornalista Adirson Vasconcelos. Em apenas dez dias, foi erguido o Catetinho, na época chamado de Palácio de Tábuas. O presidente e outras autoridades ficavam hospedados lá, na região conhecida como Fazenda do Gama, a cerca de 10 km de onde fica o Plano Piloto de Brasília. Pelo projeto de Oscar Niemeyer, os aposentos presidenciais e a sala de despachos ficaram em uma posição elevada, no segundo andar, oferecendo uma visão panorâmica da região. No térreo, estava a área de serviço. O projeto teve uma preocupação inicial de proporcionar meios para ser executado em apenas dez dias. Tendo como base a madeira, e não o concreto e tijolos, seria possível executá-lo com alguns recursos materiais da própria região. Mesmo assim, era necessário trazer materiais básicos e máquinas. “Num contato com o engenheiro Bretas Bhering, director da Fertisa – uma fábrica de adubos que o então governador Juscelino Kubitschek havia criado em Araxá (Minas Gerais), Roberto Pena (engenheiro) consegue, por empréstimo, uma patrol, um jipe e um grupo gerador”, diz trecho do livro.

Assim, alguns homens que trabalhariam no projeto (engenheiro, mestre de obras, radioamador) partiram de Minas Gerais em um jipe. Em seguida, vinha um caminhão carregando farto material para a primeira obra, inclusive tábuas, sacos de cimento e gêneros alimentícios. O livro descreve a chegada da primeira patrol à região, vinda de Araxá. “No trajeto entre Luziânia e a Fazenda do Gama, o tratorista baixa a lâmina e vem ‘melhorando a estrada’. No local (o Catetinho), seu primeiro trabalho é, naquele mesmo dia, ampliar a pista do campo de pouso próximo ao Palácio de Tábuas.” Na inauguração do Catetinho, JK chegou no avião presidencial. O pouso foi possível porque a patrol ampliou e melhorou consideravelmente a pista. E os serviços de rádio farol e telegrafia ofereceram melhores condições ao tráfego aéreo. Hoje, essa primeira residência do presidente no Planalto Central é ponto turístico. O quarto onde ficava JK, os aposentos dos hóspedes, a cozinha, tudo pode ser visitado. Há diversas fotografias contando um pouco da história do início de Brasília. Imagens de jipes, pequenos aviões, de ônibus que trouxeram os primeiros trabalhadores. Uma das fotografias mostra a visita de Vinicius de Moraes e Tom Jobim à inóspita região da futura capital.


O PLANO PILOTO Veja algumas ideias originais do Plano Piloto concebido por Lucio Costa • O projeto parte da construção de dois eixos cruzando-se em ângulo reto, como o sinal da cruz (são as avenidas conhecidas como Eixo Monumental, onde ficam os ministérios, e Eixo Rodoviário ou eixão, que se estendem ao longo das asas Sul e Norte) • Houve o propósito de aplicar os princípios da técnica rodoviária (com eliminação de cruzamentos) à técnica urbanística • No eixão, há pistas centrais de velocidade alta, pistas laterais para tráfego local. • Em vários pontos do Eixo Rodoviário há três trevos completos. Dessa forma, o tráfego de automóveis e ônibus se dá sem cruzamentos • Para a questão residencial, o projeto propõe a criação de uma sequência de grandes quadras dispostas de ambos os lados da faixa do Eixo Rodoviário e emolduradas por uma larga cinta densamente arborizada • Dentro dessas “superquadras”, os blocos residenciais podem dispor-se da maneira mais variada, obedecendo aos princípios gerais de uniformidade (seis pavimentos e pilotis) e tráfego de veículos separado do trânsito de pedestres • Evitou-se a localização dos bairros residenciais na orla da lagoa, a fim de preservá-la intacta • Apenas os clubes esportivos, os restaurantes, os lugares de recreio, os balneários e núcleos de pesca poderão chegar à beira d´água Fonte: Revista “Brasília”

diversas as fontes de produção de areia em Brasília”. Conforme o documento, funcionava uma olaria na cidade, com duas instalações modernas. A primeira destinada à produção de tijolos maciço e a segunda, de tijolos furados. Uma fotografia mostra uma pedreira situada a 8 km da praça dos Três Poderes. No início da construção, muitos materiais foram transportados de avião. Entretanto, o historiador afirma que dizer que o cimento chegava pela via aérea é um dos mitos que envolvem a construção. Segundo ele, vinham pelos ares alguns materiais mais leves. Em um artigo veiculado em março de 1958 em uma publicação oficial, o autor comentou que diziam na época que pedras e tijolos teriam sido transportados de

avião para Brasília. “Não estive lá no começo e por conseguinte nada posso afirmar nem negar. Mas admito que nos primeiros tempos, em casos excepcionais, se tenha feito. Agora, porém, não me parece isso possível nem necessário.” O presidente do Clube dos Pioneiros, Roosevelt Dias Beltrão, 69, lembra que o jipe era o meio de transporte comum para conseguir desbravar a terra desabitada. No início, os veículos entravam no sertão virgem, ainda sem vias, e iam deixando o rastro para trás, formando um caminho. Mas quando Beltrão chegou à cidade, em 1959, já havia ônibus em circulação. Ele conta que no período da construção, as botas se transformaram nos sapatos de ordem. “Era muita poeira e

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PLANO PILOTO Projeto idealizado pelo urbanista Lucio Costa

barro. Tinha o tal do Lacerdinha, como ficou conhecido um redemoinho que levantava metros de poeira. Em meia hora, a roupa da gente ficava completamente suja.” Beltrão veio a Brasília para trabalhar em um banco na antiga Cidade Livre, hoje Núcleo Bandeirante, e acabou ficando. Ele foi um dos responsáveis pelo lançamento do Conjunto Nacional, em Brasília, em meados de 1968. Hoje, o centro de lojas, escritórios e clínicas é um dos mais movimentados no Plano Piloto. Na época da construção, foi a Cidade Livre que acolheu os milhares de brasileiros das mais distantes regiões do país. Grande parte vinha de trem até Anápolis e seguia para Brasília de ônibus. Beltrão veio de avião. As poucas instalações do aeroporto

eram todas de madeira. Hoje, ao olhar para a cidade construída há meio século, o sentimento é de orgulho. “A gente fica feliz em saber que fez parte da construção de tudo isso. No início, não foi nada fácil”, diz o mineiro de São João del Rei. E, ao se lembrar do dia da festa da inauguração, faz um comentário, com um sorriso saudoso. “Era uma mistura de chinelo e casaca. Casaca das autoridades e chinelo dos trabalhadores. Lembro-me de Juscelino. Ouvir a fala dele dava uma emoção enorme. Ele falava muito bem.” O Clube dos Pioneiros foi fundado pelo próprio JK, em 1974. Atualmente, são 4.000 associados, sendo mil ativos. Um deles, Geraldo Resende de Carvalho, 77, também colocou a mão na terra vermelha para


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INÍCIO Cruzamento do Eixo Monumental com o Eixo Rodoviário

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PROJETO Oscar Niemeyer, Israel Pinheiro, Lucio Costa e JK ARQUIVO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL/DIVULGAÇÃO

ajudar a erguer a capital. Sobre o transporte de materiais, máquinas e de pessoal, ele reforça que o principal caminho era mesmo a estrada de ferro até Anápolis. “Vim de trem. Do Rio de Janeiro para Anápolis, foram três dias e três noites. Tinha muita lama e poeira.” O ano em que chegou a Brasília era 1957. Também sempre com bom humor, Carvalho diz que veio para a nova capital sem ter a menor ideia do que iria fazer. Chegou sozinho, aos 24 anos, e no mesmo dia já conseguiu trabalho em uma construtora. Trabalhou alguns dias diretamente na obra, depois foi para o almoxarifado. Também mineiro de São João del Rei, Carvalho mora em Brasília no bairro conhecido como Vila Planalto, próxi-

mo ao Congresso Nacional. “Naquela época, a mão de obra que chegava aqui era contratada logo. Eles precisavam de muitos braços para erguer a cidade.” A empresa Rápido 900 Transportes Rodoviários trabalhou na construção da capital, levando telhas, caixas-d´água e outros materiais. O transporte era feito em caminhões, da região do ABC paulista para o Rio de Janeiro. E de lá para o Centro-Oeste do país. O atual diretor da empresa, André Ferreira, diz que havia poucas opções de rotas rodoviárias e as estradas de terra eram extremamente precárias. “Temos muito orgulho de ter contribuído em nossa trajetória para um projeto tão grandioso como a construção de Brasília.” Nos documentos do Arquivo Público do Distrito Federal,

CHEGADA Cidade Livre, hoje Núcleo Bandeirante


FATOS IMPORTANTES ATÉ A INAUGURAÇÃO 1751

1789

Marquês de Pombal manifesta a possibilidade de transferir a capital da colônia para o interior. O cartógrafo italiano Francesco Tosi Colombina elabora carta geográfica de Goiás e realça o valor estratégico do Planalto Central

Inconfidentes mineiros, liderados por Tiradentes, reivindicam à Corte de Lisboa fixar a capital em São João Del Rei. Alegam vantagem estratégica (segurança) e demográfica (povoamento do interior)

1823 José Bonifácio de Andrada e Silva propõe à Assembléia Constituinte que a capital do Império seja transferida para a comarca de Paracatu do Príncipe, Minas Gerais. Sugere os nomes Brasília ou Petrópolis

1893

1922

1953

Mapa do Brasil mostra, no planalto de Goiás, pela primeira vez, um retângulo com a inscrição “Futuro Distrito Federal”, conhecido como “Quadrilátero Cruls”

Na comemoração do centenário da Independência, é lançada próximo de Planaltina a pedra fundamental da futura capital

5/1: Presidente Getúlio Vargas cria a Comissão de Planejamento e Coordenação da Mudança da Capital Federal

MOBILIDADE

Crescimento desordenado e carros em excesso Quase meio século após a inauguração, a reportagem da CNT Transporte Atual perguntou a profissionais de urbanismo e transporte sobre o que dizer desta Brasília de hoje. O crescimento desordenado do entorno do Plano Piloto é apontado como um dos problemas mais graves e o excesso de carros. No Distrito Federal, (incluindo as cidades-satélites), moram hoje 2,6 milhões de pessoas, segundo a Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente. O Plano Piloto concentra 220 mil moradores e a maioria dos empregos. “Hoje, o Plano é a área central de uma metrópole”, diz o urbanista Geraldo Sá Nogueira Batista, professor aposentado da UnB (Universidade de Brasília). Segundo ele, a expansão do Distrito Federal, no entorno do

Plano Piloto, foi meio aleatória. “Temos um modelo de cidade dispersa, espraiada. Isso traz uma série de consequências. Uma delas é deixar o transporte coletivo mais caro, dificultando um transporte de qualidade. A opção é o automóvel”, afirma. Como as cidades satélites são espalhadas, o IPK (índice de passageiro por quilômetro quadrado) é baixo. E quanto mais baixo, mais caro é o sistema. “O IPK de Brasília é o mais baixo do Brasil. Um ônibus que sai de Ceilândia, por exemplo, costuma completar a lotação na origem e vem cheio até o destino final.” Como não ocorre o fenômeno conhecido como pingapinga, explica o professor, o número de passagens pagas em um trajeto como esse é bem

menor do que em uma cidade em que há atividades ao longo do percurso, como atividades de trabalho, lazer, educação. E o transporte precisa de uma densidade mínima para funcionar de forma mais eficiente. Além desse problema que desfavorece o uso do transporte coletivo, há no Plano Piloto em si um certo “rodoviarismo”, conforme o urbanista, fazendo com que o modo predominante na cidade seja o automóvel. “Sou admirador de Lucio Costa, mas uma crítica que faço é que tudo na cidade é pensado para fazer fluir o trânsito. Fluir o trânsito é importante, mas não pode concentrar a atenção somente nisso.” O engenheiro Paulo Cesar, professor do programa de pósgraduação em transportes da UnB, diz que o Plano Piloto pre-

viu que o carro “faria parte da família, mas não com a dependência do automóvel que existe hoje”. Nas áreas residenciais, explica, há o espaço para as pessoas andarem a pé, sem barreiras. Por isso, o pavimento térreo não é fechado. De qualquer forma, o engenheiro cita que a concepção do Eixo Rodoviário, por exemplo, com trânsito rápido e interseções em diferentes níveis (as tesourinhas), traz facilidades para o veículo, mas é um tormento para o pedestre. “As pessoas acabaram sendo expulsas desses espaços, que são dos automóveis”, diz. O professor ressalta ainda que na concepção original do Plano Piloto, foram criados os espaços para andar a pé, mas, com o tempo, prevaleceu a concepção rodoviária.


1822

1891

1892

Após a Independência, é proposta a criação de uma província central para a construção da capital definitiva e sugerido o nome Pedrália, em homenagem ao imperador Dom Pedro I

Primeira Constituição da República, art. 3º: “Fica pertencendo à União, no Planalto Central da República, uma zona de 14.400 km2, que será oportunamente demarcada, para nela estabelecer-se a futura capital federal”

O presidente Floriano Peixoto constitui a Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil, que irá estudar e demarcar a área da nova capital. Mais de 22 membros viajam do Rio de Janeiro, em lombo de mula e cavalo

1956

1957

1958

19/9: JK sanciona lei que dispõe sobre a transferência da capital para o Planalto Central. Dá o nome de Brasília e cria a Novacap. A ela cabia o controle das terras, planejamento e execução das obras, contratos e concorrências, aquisição de materiais

16/3: Vence o projeto de Lucio Costa. Justificativa dos jurados: “O projeto que melhor integra elementos monumentais da vida quotidiana da cidade como capital federal, apresentando composição coerente, racional, de essência humana, uma obra de arte, é o 22”

Inauguração do Palácio da Alvorada, a casa oficial do presidente

1960 Brasília é inaugurada no dia 21 de abril

JÚLIO FERNANDES/NCI-CNT

MEMORIAL JK Ponto turístico localizado no Eixo Monumental JÚLIO FERNANDES/NCI-CNT

PLANEJAMENTO Esplanada dos Ministérios e Congresso Nacional

consta que desde o século 18 já havia a ideia de transferir a capital para o interior do país. JK decidiu colocar essa ideia em prática e obedecer inclusive o que estava definido na Constituição de 1891. “Fica pertencendo à União, no planalto central da República, uma zona de 14.400 km2, que será oportunamente demarcada para nela estabelecer-se a futura capital federal”, diz trecho da Constituição. Em um documento do Arquivo Público do Distrito Federal constam fatos importantes até 21 de abril de 1960. Há um relato curioso sobre séculos atrás. Em 1892, foi constituída pelo presidente Floriano Peixoto a “Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil”, para estudar e demarcar a área da nova capital. A comissão, com 22 membros, partiu do Rio de Janeiro. Até Uberaba (MG), viajou na Estrada de Ferro Mogiana. “De lá, seguiu em lombo de mula e

cavalo.” Todo o material científico, incluindo barracas, armas e mantimentos, ocupava 206 caixas e era transportado em burros de carga. Já na época do início da obra, os documentos do Arquivo Público indicavam que em 2 de outubro de 1956 aconteceu a primeira viagem de Juscelino Kubitischek à região. O avião pousou em uma pista onde se encontra hoje a rodoferroviária, na saída do Plano Piloto. Brasília surgiu com a proposta de integrar as diferentes regiões do país e estimular o desenvolvimento. E hoje, 50 anos depois da inauguração, na opinião do historiador Adirson Vasconcelos, não há dúvidas de que esse propósito se concretizou. “Um território deserto foi ocupado e Brasília é o grande polo irradiador do desenvolvimento do Centro-Oeste, do Norte. Levou desenvolvimento para o interior de Goiás, Mato Grosso e outras regiões. Tanto desenvolvimento econômico, como social e cultural”, diz o historiador. l


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CEGONHEIROS

O desafio de ser grande Profissionais falam do seu trabalho, das dificuldades de transitar e de como se relacionam com a profissão POR

SUELI MONTENEGRO

que pode ser aventura também significa dor de cabeça na vida de um cegonheiro. Pouco visado por ladrões de carga, o transporte de veículos novos enfrenta, em contrapartida, desafios como a inadequação de boa parte das rodovias brasileiras e dos acessos às áreas urbanas devido às dimensões dos veículos. Os profissionais que atuam no segmento colecionam, no entanto, uma série de boas histórias, originadas de situações difíceis para quem passa a maior parte do tempo na estrada. Autônomos ou com registro empregatício em transportadoras menores, terceirizadas por grandes grupos de transporte e logística que têm contrato com as montadoras, os cegonheiros formam um segmento à parte

O

entre os caminhoneiros. Têm restrições de horário para circulação – só podem dirigir das 6h às 18h em pistas simples, e, à noite, somente em estradas com pista dupla. As características do veículo, que tem 22,4 metros de comprimento e atinge altura de 4,25 metros com a carga, justificam as limitações. Interdição de trechos de rodovias em obras ou por queda de barreiras durante o período de chuvas, manifestações de trabalhadores rurais semterra e de moradores de áreas urbanas, problemas com licenças para circulação por estradas federais e estaduais e árvores não podadas nas rodovias são algumas das situações às quais qualquer cegonheiro está sujeito no trabalho diário. A experiência, no entanto, faz com que muitos deles


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“Somos uma categoria bem-apri CARLOS DONIZETI ROSSETTI, SINDICATO NACIONAL DOS CEGONHEIROS

SEST/SENAT

Curso capacita cegonheiros Valorizar o profissional, para o pesquisador Paulo Resende, da Fundação Dom Cabral, significa investir em capacitação. E é o que ele sugere às empresas. “Capacitar não é custo, é investimento. Muitas empresas ainda têm resistências”, diz Resende, ao argumentar que o país está preparado para entrar em uma nova fase na qual o caminhoneiro deve deixar de ser considerado mero instrumento operacional e passar a ser visto como importante elemento na cadeia de valor das empresas. “Concordo que o Brasil deve ter uma massa de caminhoneiros um pouco mais sofisticada do que hoje temos.” Na opinião do professor, isso demanda mudanças para que não se chegue a uma situação em que os profissionais existentes não consigam atender à demanda do mercado por falta de mão de obra qualificada, como já acontece na construção civil.

Um exemplo de curso já disponível no mercado para condutores de diversos tipos de carga – inclusive para cegonheiros – é o Itinerário Formativo de Transporte de Cargas, oferecido por unidades do Sest/Senat. Incluído no Programa de Formação Especializada em Transporte do Sest/Senat, o curso tem os módulos Básico, Intermediário e de Especialização, com carga horária de 148 a 208 horas. A formação inclui conteúdo relacionado ao condutor, qualidade no transporte, operação do veículo, tecnologia embarcada e particularidades dos diferentes tipos de carga. As informações estão disponíveis no site do sistema. Lá, o interessado encontra a unidade mais próxima, os contatos e as datas dos cursos.

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Acesse www.sestsenat.org.br

“Capacitar não é custo, é investimento. O Brasil deve ter uma massa de caminhoneiros mais sofisticada” PAULO TARSO VILELA DE RESENDE, FUNDAÇÃO DOM CABRAL

evitem determinadas cargas para se resguardar de problemas com a lei e garantir a própria integridade física, como o transporte de carros usados, que tanto podem ser produto de roubo como instrumento de traficantes para o transporte de drogas, por exemplo. Contratado para transportar um carro novo para um deputado, Anderson Cordeiro

PERFIL

foi vítima de um desses esquemas ilegais, ao ficar preso por um dia em Taguatinga (DF) por levar, sem saber, um veículo adquirido com dinheiro público desviado. “Em 99% das vezes volto vazio”, afirma Cordeiro, ao lembrar o episódio. Luis Bianchi Giglio viveu experiência semelhante em Mato Grosso do Sul, quando levava uma carga de veículos


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morada. Temos cursos para operar o equipamento”

ARQUIVO ENTRE-VIAS/DIVULGAÇÃO

JÚLIO FERNANDES/ASCOM/CNT

Pesquisa da Fundação Dom Cabral mostra aumento de jovens na categoria

usados retida no posto da Polícia Rodoviária em Miranda com drogas acondicionadas em seu interior. Assim como Cordeiro, o cegonheiro nem de longe cogita mudar de profissão. “Tenho oportunidade de fazer o que realmente gosto”, afirma Luis Bianchi, paulista de 38 anos, 20 dos quais dedicados ao ofício de transportador. Originário de uma família de

cegonheiros, Bianchi já dirigiu caminhão-baú. Começou com o pai, motorista de cegonha, que tinha também experiência com outros tipos de carga. ”Antes de levar automóveis transportei carvão por dois anos, como meu pai fazia”, diz o mineiro Anderson Cordeiro. A experiência de ambos confirma um traço comum a muitos caminhoneiros no Brasil: a influência

MUDANÇA Roberto Chaves está satisfeito com a nova profissão

paterna ou de outros familiares na escolha da profissão. Há, porém, quem tenha começado a vida profissional de maneira diferente, como o carreteiro paraibano Roberto Claudio Chaves, 28 anos, que trocou a plantação de tomate e o caminhão em que transportava o produto para vender na Ceasa de João Pessoa pelo emprego de motorista de cegonha. “É melhor pegar

estrada que plantar tomate. Agricultura é assim: você ganha hoje e perde amanhã”, diz Chaves, que trabalha atualmente em uma pequena transportadora com carteira assinada. Casado, residente em São Bernardo do Campo (SP), o cegonheiro viaja o Brasil inteiro transportando veículos que têm como destinos Estados como Maranhão, Piauí, Rio Grande do Norte e Ceará.


MEMÓRIA

Passo a passo com a indústria A história do transporte de veículos novos no Brasil acompanha a instalação das primeiras montadoras no país. A indústria automobilística – concebida por Getúlio Vargas para reduzir os gastos com a importação de caminhões e impulsionada no governo Juscelino Kubitscheck – nasceu em 1957 com os primeiros veículos de carga de fabricação nacional. No final da década de 60, os veículos chegavam ao destino rodando na mão dos chamados “caravanistas” ou em caminhões de carga seca que transportavam geladeiras. O nome cegonha nasceu também na década de 60 com os primeiros caminhões “toco” com carroceria de madeira, adaptados para o transporte de veículos novos fabricados em São Bernardo do Campo. Dados da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) mostram que nos três primeiros anos (19571960) as montadoras fabricaram no país 321,1 mil veículos, dos quais 48,10% eram caminhões e apenas 16% automóveis de passeio. Gennaro Oddone, diretorpresidente da Tegma Transporte e Logística, lembra que o mercado evoluiu muito desde os anos 60. “O transporte era feito pelos caminhões Mercedes 1113, que levavam de quatro a cinco veículos. Hoje, são transportados 11 veículos por viagem, as carretas são hidráulicas e o processo de carga e descarga é mais rápido, o que dá eficiência opera-

cional maior.” Em relação ao sistema, ele explica que tudo é automatizado e a frota, rastreada, com informações em tempo real, controle de rotas e comunicação com o motorista. A organização sindical dos cegonheiros surgiu na década de 70, com as primeiras associações. O primeiro sindicato da categoria, o Sindicam ABCD (Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens do ABCD), nasceu nos anos 80, em São Paulo. Atualmente, 2.600 associados que representam 67% dos transportadores de veículos zero km no país são ligados ao Sindicato Nacional dos Cegonheiros, com sede em São Bernardo do Campo e regionais em São José dos Campos (SP), São José dos Pinhais (PR), Gravataí (RS), Porto Real (RJ), Catalão (GO) e Camaçari (BA). Em São Bernardo, berço da indústria automobilística, também funciona o Simoc (Sindicato dos Motoristas Caminhoneiros), formado por trabalhadores. Há também entidades em Betim (Sindicato dos Cegonheiros de Minas Gerais) e Carapina (Sindicato dos Cegonheiros Autônomos de Espírito Santo). Dados do Sindicato Nacional dos Cegonheiros mostram que no ano passado a categoria transportou 3,186 milhões de veículos novos pelo Brasil. A estimativa das montadoras, segundo o diretor da entidade, Carlos Donizetti Rossetti, é que esse número atinja 3,5 milhões de unidades em 2010, somente no mercado interno.

“Tenho oportunidade LUIS BIANCHI, CEGONHEIRO

DESEMPENHO Os cegonheiros têm restrições de horário para

Segundo o Sindicato Nacional dos Cegonheiros,

3,2 mi de carros novos foram transportados em 2009

Levantamento realizado no primeiro semestre de 2009 pelo Núcleo de Infraestrutura e Logística da FDC (Fundação Dom Cabral), com 513 caminhoneiros de várias partes do Brasil, mostra o aumento do número de motoristas jovens nas rodovias. “Quanto mais sofisticado o transporte, mais jovens ele atrai, como no caso dos cegonheiros. São pessoas instruídas, com grau de conhecimento maior”, afirma o professor Paulo Tarso Vilela de Resende, coordenador do Núcleo e responsável pela Pesquisa Nacional Caminhoneiros. A evolução do perfil da categoria é apontada também pelo diretor do Sindicato Nacional


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de fazer o que realmente gosto” ARQUIVO ENTRE-VIAS/DIVULGAÇÃO

circulação, só podem dirigir das 6h às 18h em pista simples e à noite em pista dupla

dos Cegonheiros, Carlos Donizeti Rossetti. Formado em química, Rossetti lembra que existem motoristas bem preparados na profissão, apesar do preconceito que ainda associa o caminhoneiro de um modo geral à imagem de um profissional mal cuidado. “Hoje somos uma categoria limpa, bem-aprimorada. Somos a terceira ou a quarta geração avô-neto. Acompanhamos a tecnologia. Temos cursos para operar o equipamento. Não somos mais aquele truculento que se dopa, que se droga”, diz o sindicalista. Em Minas, Anderson Cordeiro, de 37 anos, já se preocupa em rodar menos e acompanhar o crescimento

dos filhos – um de 12 e outro de 5 anos –, além de tocar o projeto pessoal de voltar a estudar. Rossetti afirma que o transporte de automóveis tem acompanhado a evolução da própria indústria automobilística no Brasil. O tempo de vida útil dos veículos que puxam a carga, por exemplo, é de aproximadamente três anos. Mas ainda é necessário evoluir para atingir o nível de organização e de profissionalização existente em países como os Estados Unidos. “Temos um longo caminho a percorrer, até por questões de cultura e por problemas estruturais.” Rossetti reforça crítica

recorrente na categoria em relação à qualidade das estradas que não foram privatizadas, tanto no que diz respeito às condições de tráfego quanto ao manejo da vegetação ao longo das faixas de domínio. “Temos três equipes de poda de árvores permanentemente em rodovias, em todo o território”, diz. Paulo Resende, da FDC, cita como exemplo regiões de fronteira agrícola como o Centro-Oeste, onde a atividade do agronegócio avança para locais onde a infraestrutura é deficiente, gera aumento do poder de compra local e cria demanda por novos veículos, suprida por cegonheiros do Sul e do Sudeste que trafegam em condições precárias. Anderson Cordeiro reclama justamente desse tipo de condição, encontrada durante os longos trajetos da cegonha. “Somos cobrados e não temos amparo do Estado. Temos buracos, árvores sem poda, viadutos baixos, fiação dos postes. Muitas vezes somos obrigados a entrar na contramão por causa do acesso. O problema maior agora é a infraestrutura.” Bianchi conta que em algumas cidades do interior o cegonheiro é obrigado a parar no trevo e dirigir os veí-

culos até a concessionária, o que aumenta a responsabilidade em relação à carga. Roberto Chaves fala de dificuldades também nos postos de beira de estrada e de interrupções – que considera necessárias – para obras nas rodovias. Lembra que para driblar os problemas na chegada aos locais de entrega é possível recorrer à ajuda de um profissional da região que trabalha como “chapa” (auxiliar). “Em toda cidade tem sempre alguém que trabalha para a gente.” Para Bianchi, existem ainda outros agravantes, como o aumento do fluxo de veículos nas rodovias. “O tráfego nas estradas aumentou demais. Carros de passeio e também caminhões. Há também a questão da segurança pessoal, já que, pelo tipo de carga que transporta, o cegonheiro tem um volume maior de dinheiro em mãos por conta de adiantamentos.” Rossetti afirma que, embora em menor proporção, existem riscos para o motorista, que pode ser vítima de assalto por causa do dinheiro que eventualmente carrega. Ou, especificamente em São Paulo, para o roubo da própria cegonha. “Temos nos defendido com rastreadores.” l


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FERROVIÁRIO

Crescimento no sufoco Com praticamente toda a malha voltada para o transporte de cargas, operadoras de turismo têm dificuldades para expandir negócio POR LIVIA

mbora o número de trens turísticos no Brasil tenha registrado crescimento nos últimos anos, esse tipo de serviço ainda passa por dificuldades de ampliação devido a pouca oferta de linhas férreas no país. Dados da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) mostram que, em 2009, 21 linhas operavam passeios turísticos, contra apenas quatro em 2004. Das linhas autorizadas atualmente pela agência, sete operam em malhas por onde também circulam cargas e dez em linhas desativa-

E

CEREZOLI

das. Três mantinham as operações suspensas até dezembro de 2009. Outras sete solicitações de novos trajetos estão em andamento na ANTT e devem entrar em operação ainda este ano. Dos 29.817 km de trilhos existentes na malha nacional, 28.314 km estão sob responsabilidade das concessionárias de cargas. Sem espaço para trafegar, o trem turístico só encontra uma forma para existir: pedir permissão às concessionárias para usar as linhas em horários e dias especiais, além de pagar tarifas pelo aluguel dos trilhos.

A Serra Verde Express é uma das operadoras turísticas que mantém trajetos ferroviários no país. O trecho Curitiba-Paranaguá (PR) é o único que oferece um serviço regular – com duas linhas diárias – de transporte de passageiros. O trem utiliza a malha da ALL (América Latina Logística) e, segundo Adonai Arruda Filho, diretor-comercial da Serra Verde Express, paga 30,2% da tarifa cobrada de cada passageiro para a concessionária, que é responsável pela operação, manutenção e segurança da locomotiva e da via. “Além disso, como nosso contrato

prevê um serviço regular de transporte de passageiros, também pagamos ao governo federal R$ 177 mil por mês pela concessão do serviço”, diz ele. No passeio oferecido pela Serra Verde, o valor das tarifas pode variar entre R$ 15 e R$ 250 dependendo do tipo de trem – econômico até as litorinas (carro ferroviário dotado de motor próprio) de luxo. No chamado Trem de Luxo, também operado pela Serra Verde nas linhas Curitiba-Morretes (PR) – aos finais de semana – e Ponta Grossa-Cascavel (RS) – duas vezes por mês –, o valor pago mensal-


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GIORDANI TURISMO/DIVULGAÇÃO

mente para a realização das viagens é de R$ 10 mil para as concessionárias ALL e Ferroeste, detentoras da posse da malha ferroviária, além dos custos com maquinista e combustível. De acordo com Arruda Filho, devido ao custo alto, as operações no trajeto Ponta Grossa-Cascavel durante o segundo semestre de 2009 foram suspensas. A próxima viagem está programada para fevereiro deste ano. No ano passado, foram transportadas 151 mil pessoas nos três trajetos, 9% a mais do que em 2008, quando 139 mil pessoas realizaram as viagens.

“O trem turístico, nas condições que operamos, por si só, não dá lucro. Pagamos tarifas altíssimas pelo serviço. Nós conseguimos obter rentabilidade porque incrementamos nosso serviço. Passamos a vender pacotes turísticos com passagens aéreas, hospedagem e outros passeios rodoviários nas cidades por onde o trem passa”, diz o diretor-comercial da Serra Verde Express. Segundo a ALL, as tarifas são referentes ao direito de passagem estabelecido pela ANTT. A taxa é cobrada dos operadores turísticos pela utilização da linha, que é

mantida pela concessionária e pela qual é pago um valor de arrendamento à União. “Os valores são negociados com os interessados, sendo muitos deles trocados por serviços, para facilitar ao operador”, diz a concessionária, por meio de sua assessoria de imprensa. Se por um lado operadoras de turismo reclamam das altas taxas cobradas pelo aluguel da linha, concessionárias de carga se respaldam na lei. Desde 2003, a resolução 359 da ANTT, que regulamenta o serviço, determina que seja estabelecido um contrato

operacional específico, contendo, entre outros itens, o “valor acordado entre as partes para a remuneração do uso da infraestrutura ferroviária e das instalações”. Para Rodrigo Vilaça, presidente da seção de transporte ferroviário da CNT e diretor-executivo da ANTF (Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários), o aluguel das linhas não rende lucros extras para as concessionárias, que cumprem a determinação de cessão da linha muito mais pelo valor social do serviço do que pelo comercial. É o que acontece na parceria entre a Salv (Sociedade Amigos da Locomotiva a Vapor) e a concessionária FTC (Ferrovia Tereza Cristina) para a operação do Trem de Tubarão, em Santa Catarina. “A concessionária é nossa madrinha. Se não fosse por eles, o museu que mantemos aqui na estação não sairia do lugar”, afirma Dorival Mateus Oliveira, diretoradministrativo da Salv. As viagens são realizadas mensalmente e de acordo com o calendário de feriados nacionais no trecho de 120 km entre Tubarão e Imbituba ou Tubarão e Urussanga. Considerando ida e volta, são 4h40min de viagem. Além da linha, a FTC também disponibiliza para a Salv o maquinário e as oficinas para manutenção das locomotivas a vapor que realizam os passeios. Em cada via-


LOGÍSTICA DIVULGAÇÃO

Para ANTF, valor é “social” Mesmo que o valor pago pela utilização da linha férrea seja alto para as operadoras de turismo, para as concessionárias, a liberação do serviço não representa grandes lucros. Para o diretor-executivo da ANTF, Rodrigo Vilaça, o valor é mais social. “Com esse tipo de serviço, nós damos mobilidade aos passageiros no país e valorizamos o lado social, da preservação da história. A receita adquirida com essa liberação da malha é mínima”, diz ele. Não existe uma regra para o pagamento da utilização da linha, o acordo é feito entre as operadoras e as concessionárias e depende muito da frequência do trem e da extensão percorrida.

Geralmente, os trechos utilizados para os passeios turísticos são pouco atrativos comercialmente. “A malha existente hoje, por ser centenária, muito sinuosa e não permitir uma velocidade muito alta, tem características mais viáveis aos trens de turismos do que ao de passageiros”, explica Vilaça. De acordo com ele, nas novas linhas que estão sendo construídas com recursos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), como a Transnordestina, a NorteSul e a Leste-Oeste, vai ser possível estabelecer um acordo para o transporte de passageiros, já que os trens deverão desempenhar velocidades entre 80 km/h e 120 km/h. CONFORTO Interior do Great Brazil Express

gem, são transportadas 227 pessoas. Em 2009, foram realizados 22 passeios. O Trem do Pantanal, que iniciou as atividades em maio do ano passado e também é operado pela Serra Verde Express, é outro exemplo de parceria que está dando resultados. O serviço funciona nos mesmos moldes de cessão da linha, mas o acordo mantido entre a operadora e a concessionária prevê um desconto no aluguel. O serviço utiliza 220 km – entre Campo Grande e Miranda, no Mato Grosso do Sul – de trilhos da ALL. De acordo com Arruda Filho, o contrato estabelece pagamento de R$ 7.000 por viagem realizada, mas, nos seis primeiros meses, a ALL

“Com esse tipo de serviço, nós damos mobilidade aos passageiros no país e valorizamos o lado social, da preservação da história” RODRIGO VILAÇA, DA ANTF

isentou a operadora da cobrança e até fevereiro deste ano está fechado um acordo para desconto de 50% do valor a ser pago. “Esse acordo foi fundamental para a manutenção do serviço. Precisamos da vontade das concessionárias para colocar o trem para funcionar”, diz o diretor da operadora. Um projeto prevê a expansão da linha em mais 200 km, até Corumbá. O trem, que funciona aos sábados, domingos e feriados, até dezembro passado, havia transportado 4.000 passageiros. Para este ano, a Serra Verde Express já prepara a expansão da oferta de passeios. Um dos novos trechos já autorizado pela ANTT é a ligação de 46 km

entre Viana e Marechal Floriano, no Espírito Santo. O Trem das Montanhas, a ser operado na malha da FCA (Ferrovia Centro Atlântica), funciona aos sábados, domingos e feriados, em dois horários. O passeio é realizado em uma litorina e, a cada viagem, a operadora deverá pagar uma taxa de R$ 400 para a concessionária. “Esse valor é um pagamento justo e por isso será possível criar este novo passeio”, afirma Arruda Filho. Ele reconhece os custos que as concessionárias têm com as operações de segurança, mas argumenta que as operadoras de turismo não podem arcar com taxas tão altas. Situação diferente é a do


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Em 2009,

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151 mil pessoas viajaram no Trem de Luxo

DIVISÃO DE TURISMO Linhas em operação nas rotas de carga EM LINHAS DE CARGA DESATIVADAS Trecho São João Del Rei- Tiradentes (MG) São Lourenço-Soledade de Minas (MG) Passa Quatro-Coronel Fulgêncio (MG) Ouro Preto-Mariana (MG) Bento Gonçalves-Carlos Barbosa (RS) Piratuba (SC)-Marcelino Ramos (RS) Morrretes-Antonina (PR) Paraíba do Sul-Cavaru (RJ) Campinas-Jaguariúna (SP) Corcovado-Cosme Velho (RJ)

Extensão 12 km 10 km 10 km 18 km 48 km 26 km 17 km 14 km 23,5 km 3,8 km

Operadora de turismo FCA ABPF ABPF FCA Empresa Giordani ABPF ABPF Prefeitura de Paraíba do Sul ABPF Esfeco

Concessionária de carga RFFSA (extinta) FCA ALL ALL ALL FCA -

EM LINHAS DE CARGA ATIVAS Trecho Curitiba-Paranaguá (PR) CampoGrande-Miranda (MS) Tubarão-Urussanga (SC)

Extensão 110 km 220 km 159 km

Concessionária de carga ALL ALL FTC

Rio Negrinho-Rio Natal (SC) Brás-Mooca (CPTM) São José do Rio Preto-Eng. Schmitt (SP)

42 km 3 km 10,5 km

Assis-Quatá (SP) Viana-Marechal Floriano (ES)

60 km 46 km

Operadora de turismo Serra Verde Express Serra Verde Express Sociedade Amigos da Locomotiva a Vapor ABPF ABPF Prefeitura de São José do Rio Preto Prefeitura de Paraguaçu Serra Verde Express

NOVOS TRECHOS* Trecho Ribeirão Preto-Tambaú (SP) Angra dos Reis (RJ)-Rio Claro (SP) Museu Ferroviário de Bauru (SP) Altinópolis (SP)-Guardinha (MG) Curitiba-Lapa (PR) Matias Barbosa-Barbacena (MG) Rio Acima (MG)

Requerente Prefeitura de São Simão (SP) Fundação de Turismo de Angra dos Reis Prefeitura de Bauru (SP) Associação São Paulo Minas de Preservação Ferroviária Prefeitura de Lapa (PR) Movimento Nacional Amigos do Trem GIF Consultoria e Projetos LTDA

ALL MRS Ferroban ALL FCA

Concessionária de carga FCA FCA Ferrovia Novoeste FCA ALL MRS FCA

* Todos solicitados em 2009. Ainda em análise, aguardando envio de documentação para complementação dos processos, segundo a ANTT Fontes: ANTF, ABOTCC e ANTT

Expresso Turístico, operado pela CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) desde abril do ano passado. De acordo com Ayrton Camargo e Silva, gerente de projetos funcional da estatal paulista, a operadora é quem recebe da concessionária pela cessão da malha. Os dois passeios semanais – com saída da Estação da Luz, em São Paulo, e destino a Jundiaí e Mogi das Cruzes, integrando os Circuitos das Flores e das Frutas – mantidos pela estatal são realizados em malha própria, que também é utilizada pela concessionária MRS dentro do trecho que corta a região metropolitana de São Paulo. O valor é referente à tonelada transportada por cada quilômetro. “Vivemos uma situação inversa do restante das operadoras. Não temos gastos com o aluguel da linha nem das locomotivas e ainda contamos com três carros cedidos pela ABPF (Associação Brasileira de Preservação Ferroviária) para a realização dos passeios”, diz Silva. No entanto, com o projeto de expansão da linha a ser concretizado ainda no primeiro semestre deste ano, a CPTM também deverá pagar aluguel por usar um trecho de 10 km até Paranapiacaba, sob concessão da MRS. O pagamento do serviço deve ser estabelecido nos mesmos moldes das linhas já existentes, levando em consideração o peso da composição. l


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AQUAVIÁRIO

pesar do atraso em relação aos primeiros prazos anunciados pelo governo federal, quando as obras de dragagem de aprofundamento estiverem concluídas nos portos incluídos no PND (Programa Nacional de Dragagem), haverá um incremento na capacidade operacional de 30%, em média. A estimativa foi feita em meados de janeiro pela SEP (Secretaria Especial de Portos), durante o workshop “Portos – Avanços em Questão”, promovido em Brasília. Se a previsão se confirmar, a movimentação de 780 milhões de toneladas de carga por ano no país deve passar para mais de 1 bilhão. Esse número inclui as movimentações do comércio exterior (importação e exportação) e da cabotagem (na costa brasileira). A previsão da SEP, em 2008, era que até o final deste ano todas as obras deveriam estar prontas. Entretanto, o prazo agora se estende para meados de 2011 (veja o quadro). Durante o workshop em Brasília, a SEP informou como está o andamento das principais inter-

A

Mais capacidade operacional Secretaria Especial de Portos diz que dragagem aumentará em 30% a capacidade dos terminais POR CYNTHIA

venções. Dezessete portos brasileiros têm recursos garantidos no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Os trabalhos tiveram início em apenas dois, até o final de janeiro. No Recife, as intervenções estão concluídas, e no Rio Grande (RS) terminam em agosto. As próximas obras previstas no cronograma são no Porto de Santos, o maior do Brasil. Segundo o ministro da SEP, Pedro Brito, as intervenções começam a partir de 15 de fevereiro. O subsecretário de Planejamento e Desenvolvimento Portuário, Fabrizio Pierdomenico, afirmou que em Santos o canal de acesso é de mão única e um navio precisa esperar o outro sair. Com a dragagem de aprofundamento, as

CASTRO

embarcações poderão entrar e sair ao mesmo tempo, dando mais agilidade ao processo. “O porto também poderá receber navios maiores, com calados maiores. Isso significa mais mercadoria concentrada em um único espaço. Com mais rapidez, há redução de custo”, disse Pierdomenico. Dentro do PAC, está destinado à dragagem R$ 1,5 bilhão. Segundo o subsecretário, em março e abril a maioria das obras estará iniciada. A conclusão das últimas intervenções, conforme o cronograma apresentado pela SEP, está prevista para ocorrer no Porto de São Francisco do Sul (SC), com data para 30 de agosto de 2011. Imbituba (SC) e Itajaí (SC) estão, por enquanto, sem data

para o início das obras e conclusão. “Não há falta de recurso. Mas no PND aprovamos um pacote e alguns portos alteraram esses projetos, como Imbituba e Itajaí. Isso requer uma liturgia, de revisão do projeto e de valores”, disse o subsecretário. As obras de dragagem são consideradas prioritárias pela SEP. Brito destacou também a importância do projeto Porto sem Papel, que dará mais agilidade às operações portuárias, desburocratizando o processo de liberação das cargas. A experiência piloto começará em Santos, a partir de 8 de abril. Neste primeiro ano, o sistema de janela única, via internet, que concentra vários dados para a liberação da carga, funcionará simulta-


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CIA DOCAS DO RIO DE JANEIRO/DIVULGAÇÃO

neamente ao uso de papéis. Mas a ideia é que em um ano tudo esteja informatizado. De todos os órgãos que atuam na liberação da carga nos portos brasileiros, há seis principais: Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), autoridade portuária, Receita Federal, Marinha, Ministério da Agricultura e Polícia Federal. Cada navio precisa prestar 935 informações por operação, de acordo com a SEP. E, atualmente, com o papel, muitas informações iguais são prestadas mais de uma vez para órgãos diferentes. No Porto sem Papel, haverá um concentrador de dados portuários, que por meio de um sistema de janela única repassará as informações para todos os órgãos envolvidos na operação. Conforme o diretor do Departamento de Sistemas de Informações Portuárias, Luís Fernando Resano, há uma estimativa de que com a implantação do sistema haja redução no tempo de estadia das embarcações no Porto de Santos em torno de 25%. “Também deve haver uma melhora de 60% no desempenho das operações portuárias.” O Brasil amarga hoje uma péssima posição no ranking de um estudo feito pelo Banco Mundial, sobre logística portuá-


COPA-2014

Investimento para turistas

“O porto poderá receber navios FABRIZIO PIERDOMENICO, DA SEP

Sete portos brasileiros receberão R$ 700 milhões, no total, para serem investidos em melhorias e construção de terminais dedicados ao receptivo de turistas de transatlânticos. Os recursos, provenientes do PAC da Copa, começam a ser investidos neste ano. Algumas obras terão início em 2010, mas a maioria deve acontecer em 2011 e ficar pronta em 2012, conforme a SEP. Diante da falta de vagas na rede hoteleira, a ideia do governo federal é acomodar turistas em navios de cruzeiro durante a Copa do Mundo, em 2014. O projeto ainda está em estudo. Os portos que receberão investimentos são os do Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Fortaleza, Manaus e Natal – Santos, apesar de não ser sede, receberá verba por ficar perto de São Paulo e ser o porto mais importante. O ministro afirma que as melhorias portuárias terão utilidade pós-Copa.

ria. De 150 países avaliados, o Brasil ficou classificado como o 61º. A demora nas operações de exportação e importação (5,8 dias em média) contribuiu para esse resultado ruim. Na comparação geral, o Brasil perdeu para países como Peru (59), Argentina (45), Chile (32) e Austrália (17). Em relação ao número de dias para a liberação dos documentos, na Argentina, por exemplo, a média é de 1,6; no Chile, 1; e na Alemanha, 0,7. O estudo é de 2007.

Ele citou que no Porto do Rio de Janeiro serão construídos três novos píeres. “O Rio de Janeiro tem capacidade de atender três navios simultaneamente, mas há dias que o número chega a sete. Como navio de passageiro tem prioridade, temos que deslocar píer que é dedicado à carga especificamente para atender esses navios de passageiros. Há prejuízos para a área de exportação e importação” disse Pedro Brito. O secretário-executivo da Fenavega, Marcos Machado Soares, afirma que a infraestrutura portuária para os turistas é extremamente precária no Brasil. “Na Flórida, por exemplo, a estrutura se assemelha à de aeroportos. Aqui no Brasil não existe praticamente nada.” Na avaliação de Soares, no Brasil a estrutura portuária para atender navios de carga acaba sendo adaptada para receber os navios de passageiros.

A própria SEP reconhece que o processo portuário brasileiro apresenta um desempenho que necessita de mudanças urgentes. “O Brasil tem um tempo muito ruim (de liberação de carga) quando comparado a outros portos do mundo. Isso acontece exatamente porque há a carência de um sistema como esse. Hoje, cada um dos órgãos intervenientes tem a sua própria atuação na liberação das cargas, exigindo mais tempo e um custo que impacta a produtividade”, disse o ministro.

ANDAMENTO DAS OBRAS Veja o cronograma das intervenções dentro do PND PORTO

PUBLICAÇÃO DO EDITAL DA OBRA

1 - Recife (PE) 2 - Rio Grande (RS) 3 - Santos (dragagem) 4 - Aratu/Salvador 5 - Rio de Janeiro (RJ) 6 - Santos (derrocagem) 7 - Natal (RN) 8 - Angra dos Reis (RJ) 9 - Vitória (ES) 10 - Itaguaí (RJ) 11 - Suape/Ilha de Tatuoca (PE) 12 - S.F. do Sul (SC) 13 - Cabedelo (PB) 14 - Fortaleza (CE) 15 - Suape (canal externo) 16 - Paranaguá (PR)

6/10/08 7/11/08 14/11/08 6/3/09 27/3/09 27/5/09 27/5/09 3/6/09 25/6/09 22/7/09 31/8/09 8/10/09 11/11/09 25/1/10 18/2/10 26/2/10

INÍCIO DAS OBRAS

CONCLUSÃO DAS OBRAS

17/3/09 23/8/09 15/2/10 30/3/10 15/2/10 15/2/10 18/2/10 28/2/09 15/3/10 18/2/10 5/1/10 30/3/10 1/4/10 30/5/10 30/6/10 28/5/10

12/12/09 30/8/10 22/3/11 23/9/10 27/2/11 27/7/11 30/7/10 31/3/10 30/4/11 31/12/10 20/11/10 30/8/11 30/9/10 28/2/11 30/7/11 30/11/10

* Os projetos de Itajaí (SC) e Imbituba (SC) estão em discussão devido às alterações apresentadas pelos portos Fonte: SEP

Ao comentar sobre os possíveis benefícios do Porto sem Papel, o diretor do Departamento de Sistemas de Informações Portuárias salienta também que haverá ganhos ambientais. A SEP fez uma estimativa da possível economia de papel, quando o programa estiver funcionando de fato. No Porto de Santos, a quantidade estimada de folhas de papel enviadas aos órgãos anuentes é de 3,7 milhões (tamanho A4) por ano.

Com isso, a previsão anual em Santos, com a eliminação do papel, é de preservação de 17,4 toneladas de papel, o que equivaleria a 340 eucaliptos, segundo a SEP. Entretanto, a economia para o meio ambiente só será possível quando o papel estiver totalmente descartado, o que não deve ocorrer antes de abril de 2011. No balanço dos trabalhos, o ministro disse ainda que em fevereiro teriam início as ações para a elaboração do plano estratégico para os portos brasileiros.


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maiores. Isso significa mais mercadoria em um único espaço”

SÉRGIO COELHO/CODESP/DIVULGAÇÃO

LIMITAÇÃO DOS ACESSOS Veja algumas consequências da falta de dragagem nos portos brasileiros • Assoreamento progressivo dos canais de acesso, bacias de evolução e berços de atracação • Redução do calado autorizado pela autoridade marítima • Insuficiência da capacidade operacional e logística dos portos para atender à crescente demanda de cargas e embarcações • Altos custos de demurrage (multa por atrasos) para importadores e exportadores • Aumento dos custos de fretes e seguros • Perda de competitividade dos produtos brasileiros no mercado internacional Fonte: SEP

ACESSO Porto de Santos vai inaugurar projeto Porto sem Papel

Esse plano deverá apontar quais são as necessidades de investimentos, público e privado, nos próximos 20 anos, conforme a expectativa de crescimento da economia brasileira. Na avaliação do secretárioexecutivo da Fenavega (Federação Nacional das Empresas de Navegação Marítima, Fluvial, Lacustre e de Tráfego Portuário), Marcos Machado Soares, é de fundamental importância a aplicação de medidas para desburocratizar as operações portuárias. Ele con-

sidera que, se o projeto Porto sem Papel apresentar resultados positivos, a proposta deve ser estendida para outros principais portos do país. Por enquanto, além de Santos, a SEP pretende implementar o projeto em Vitória (ES) e Rio de Janeiro, também em 2010. Porém, o cronograma ainda não está definido. Segundo Soares, uma reclamação antiga dos armadores é exatamente a dificuldade encontrada na liberação da carga devido à atuação, sem integração, das

diversas autoridades. “O navio é um só e muitas informações são as mesmas, para diferentes órgãos. O problema é que eles não trabalham de forma integrada e isso dificulta muito todo o processo”, considera. De acordo com Soares, é importante que a fiscalização seja efetiva, mas ele reforça a necessidade de haver uma troca de informações entre os órgãos para que o processo possa ser mais ágil. Sobre as obras de dragagem nos portos brasileiros, o vice-pre-

sidente da CNT Meton Soares diz que a necessidade desse tipo de intervenção é “antiga”. Na opinião de Soares, é importante agir para executar esse trabalho. E ele alerta para a necessidade de haver mais recursos disponíveis porque o Brasil precisa expandir a atuação do PND. “Atrasadas as obras estão. Mas isso já está em atraso há tantos anos. Sabemos da intenção do ministro Pedro Brito de acelerar o máximo essas obras. É difícil tirar todo o atraso em dois anos. Mas o que está previsto (no PND) ainda é pouco. Precisamos de muito mais e de um trabalho constante. O assoreamento é constante. Então, a dragagem não pode parar”, afirma Meton Soares, que também é diretor da Fenavega. O PND inclui os principais portos do Brasil em termos de movimentação. No total, há 34 portos públicos no país. O ministro Pedro Brito informou que todos os ministérios estão preparando suas propostas para tentarem recursos no PAC 2. Essas propostas devem ser apresentadas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda em fevereiro. Além dos 17 portos que estão com recursos garantidos, são analisados agora outros três para serem incluídos no programa. O PAC 2 deve ser lançado pela Presidência em março. Os recursos deverão sair do orçamento de 2011. Até agora, foram concluídas 32,9% das obras do PAC. l




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MEIO AMBIENTE

Incerteza para o clima Especialistas temem que fracasso da COP-15 interfira na próxima conferência , no México POR

Governo brasileiro estipula meta de redução de até

38,9% para 2020

CYNTHIA CASTRO

epois do fiasco que foi a conferência do clima, em Copenhague, na Dinamarca, no final de 2009, a expectativa agora é se os países farão mesmo algo diferente para que a COP-16, no México, no final deste ano, tenha um resultado mais positivo. Para alguns envolvidos com a questão climática, o fracasso de Copenhague expôs o risco de que a próxima reunião entre os líderes mundiais possa não ter tanto

D

sucesso. Para outros, o importante é cada país, inclusive o Brasil, investir em ações próprias, independentemente da ação dos outros. Este início de ano servirá como um termômetro sobre como será o posicionamento de algumas nações, na avaliação do coordenador do Programa de Mudanças Climáticas e Energia do WWFBrasil, Carlos Rittl. Ele explica que o secretariado da Convenção-Quadro das

Nações Unidas sobre Mudança do Clima solicitou aos países participantes da COP-15 que enviassem até 31 de janeiro (depois do fechamento desta edição) quais seriam as metas de redução (para os países desenvolvidos) e quais os compromissos (dos em desenvolvimento). As propostas seriam incluídas no documento chamado Acordo de Copenhague. Uma das principais evidências do fracasso da COP-15 é que não


DUKE

ficou estabelecida a obrigatoriedade de metas de redução para os países ricos. Também não ficaram especificados no documento quais serão os compromissos dos países em desenvolvimento, que precisam ainda emitir para se desenvolverem. Porém, espera-se que eles reduzam suas curvas de emissões nos próximos anos, implantando ações de mitigação dos efeitos. “Estamos em um ano de incerteza. Mas vamos ver

agora, com as propostas a serem enviadas ao secretariado, como está o engajamento dos países”, diz Rittl, mestre e doutor em ecologia. O WWFBrasil é uma ONG dedicada à conservação da natureza. Integra a Rede WWF, com atuação em mais de cem países Segundo Rittl, é necessário em 2010 haver clareza do secretariado da convenção e do governo do México, que presidirá a COP-16, sobre

como serão os procedimentos. Essa clareza passa, por exemplo, pela necessidade de definir metas de redução de emissões de gases de efeito estufa. As reuniões dos países ao longo deste ano e durante a próxima conferência precisam ter objetivos concretos, conforme o coordenador do programa do WWF-Brasil. Em meados deste ano, ocorrerá uma reunião preparatória, em Bonn, na Alemanha, onde fica

a sede do secretariado. O pesquisador Gustavo Luedemann, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), diz que em 2010 devem ocorrer alguns avanços na COP-16 em relação à COP-15. Entretanto, ele imagina que não será um acordo tão ambicioso, como se imaginava que pudesse acontecer. De acordo com Luedemann, um dos caminhos importantes que as discussões climáticas precisam definir é sobre a arquitetura


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TRANSPORTE

Setor terá mais espaço no PNMC Até abril deste ano, o governo federal deve concluir a atualização do PNMC (Plano Nacional sobre Mudança do Clima), lançado no final de 2008. No documento inicial do plano, com 129 páginas, o setor de transporte tem apenas três páginas específicas. Entre as medidas definidas, pelo menos duas foram incluídas no plano a partir de sugestões da CNT: o incentivo ao transporte coletivo e a necessidade de modernização da frota a diesel. O plano aponta ainda a intenção de expandir os sistemas ferroviários e aquaviários, proposta também defendida pela CNT. Em outros capítulos do documento do clima, há alguns assuntos ligados a transporte, como os biocombustíveis. Entretanto, na opinião de ambientalistas, e conforme reconhece o próprio Ministério do Meio Ambiente, é necessário definir mais ações voltadas para o setor. “O plano é um instrumento da política de meio ambiente.

Algumas medidas serão detalhadas e outras, incorporadas. A atualização está sendo feita”, diz a coordenadora do Departamento de Mudança Climática da Secretaria de Mudança Climática e Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, Andréa Santos. Há um ano, a secretária-executiva do ministério, Izabella Teixeira, também afirmou à CNT Transporte Atual que o setor de transporte ganharia mais espaço no plano, quando houvesse a atualização. O coordenador do Programa de Mudanças Climáticas e Energia do WWF-Brasil, Carlos Rittl, destaca que é primordial haver no Brasil um maior investimento na multimodalidade de transporte. “Espero que nessa atualização o setor de transporte ganhe mais espaço no plano. Se o governo investir mais nos modais ferroviário e hidroviário, por exemplo, haverá ganhos para o clima e também para a redução de custos.”

COPENHAGUE Andréa Santos, do Ministério do Meio

do financiamento das ações contra o aquecimento global. Ele ressalta que na conferência de Copenhague não ficaram determinados quais serão e como serão os mecanismos de financiamento. “As partes da convenção (os países) precisam chegar a um denominador comum para que haja compromissos obrigatórios de redução de emissões mais ambiciosos por parte dos países listados no Anexo 1 (desen-

volvidos)”, diz o pesquisador, que é biólogo e doutor em ecologia. Segundo Luedemann, é imprescindível que os países em desenvolvimento se comprometam também em promover suas ações. Mas o pesquisador do Ipea considera que os governos do Brasil e do mundo precisam estar atentos a outros problemas ambientais, além da questão climática.


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MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE/DIVULGAÇÃO

OPINIÃO Veja o que alguns profissionais da área ambiental pensam sobre os resultados da COP-15 Gustavo Luedemann, biólogo e pesquisador do Ipea

Ambiente, durante a conferência do clima

Ele cita, por exemplo, a perda da biodiversidade. “Não podemos esquecer que 2010 é o ano internacional da biodiversidade e vários eventos importantes estarão acontecendo nesse sentido. A biodiversidade sofre perdas consideráveis e irreversíveis, merecendo maior atenção dos tomadores de decisão e da mídia”, diz. Em relação à postura que o Brasil deve adotar neste ano,

Eiiti Sato, economista e professor de relações internacionais da UnB

Positivo “Ficou mais claro onde não será possível atingir um consenso, o que não será possível fazer. Apesar de a essência desse ponto positivo ser uma informação ruim, é importante ter essa clareza porque aumentam as chances de se tentar de novo chegar ao consenso.”

Positivo “A própria reunião em si. O fato de os governantes se reunirem em uma conferência internacional para falar sobre clima. Isso demonstra que há uma disposição mundial no sentido de mobilizar em torno da questão ambiental, principalmente a climática.”

Negativo “Faltou comprometimento político para se alcançar um documento ambicioso e legalmente vinculante, com metas de redução. Os presidentes e primeiros-ministros não conseguiram dar uma resposta à altura da esperada pela ciência e sociedade civil.”

Negativo “O debate em torno do aumento da temperatura entre 1,5ºC ou 2ºC é ridículo. Não há nenhum poder capaz de definir qual será o aumento. Outro ponto negativo foi alguns governos enfatizarem a culpa de alguém, sem olhar para a própria responsabilidade.”

Ficou na mesma “A maior parte das decisões foi empurrada para a COP-16. Além da falta de metas, não ficou definido qual será o mecanismo de financiamento. Há valores previstos, mas quem vai pagar, quanto, para qual fundo, quem vai gerir o fundo? Não há definição.”

Ficou na mesma “O evento teve como efeito ruim o fato de deixar as coisas como estão. Os governantes foram lá, falaram muito e voltaram satisfeitos. Não se mexeu em um lado importante: o de cada país olhar para dentro, para as suas ações, independentemente do outro.”

Andréa Santos, coordenadora do Departamento de Mudanças Climáticas do Ministério do Meio Ambiente

Carlos Rittl, coordenador do Programa de Mudanças Climáticas e Energia do WWF-Brasil

Positivo “A amplitude da discussão do tema meio ambiente. Houve uma mobilização muito forte da sociedade civil e do setor privado, além de órgãos públicos, delegações de governos. As manifestações aconteceram por todo o mundo.”

Positivo “A mobilização mundial da sociedade em torno do clima. Diferentes setores se envolveram, cientistas se mobilizaram. É algo que devemos esperar para 2010. Apesar do fracasso, da frustração, o nível de envolvimento das pessoas está bem maior.”

Negativo “Falta de organização na conferência, que levou ao não andamento do trabalho dos grupos. Faltou transparência nos procedimentos, no âmbito das negociações. O presidente da COP tem o papel de puxar os trabalhos e isso também não aconteceu.”

Negativo “Nunca tantos chefes de Estado se mobilizaram para participar de uma reunião, com um tema específico. Foi a reunião mais importante desde a Segunda Guerra. E, apesar disso, saímos sem uma resposta clara, sem um acordo. Foi um desperdício de oportunidade.”

Ficou na mesma “Alguns grupos de trabalho conseguiram fechar textos, mas todas as decisões acabaram ficando para a COP-16, na Cidade do México, neste ano. Os trabalhos realizados pelos grupos acabaram ficando estagnados.”

Ficou na mesma “Saíram de lá algumas indicações de recursos que poderiam surtir resultado. Mas não houve clareza sobre quem de fato vai financiar, qual será a fonte, quanto é o recurso público, como será acessado, quem vai gerir. Temos somente indicações de números.”


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PROMESSA DO BRASIL O país se comprometeu em reduzir suas emissões entre 36,1% e 38,9% até 2020. Veja em quais áreas há reduções previstas Ações de mitigação

Proporção de redução mínima (em %)

Proporção de redução máxima (em %)

Uso da terra

24,7

24,7

Redução desmatamento Amazônia (80%)*

20,9

20,9

Redução desmatamento cerrado (40%)*

3,9

3,9

Agropecuária

4,9

6,1

Recuperação de pastos

3,1

3,8

Integração lavoura pecuária

0,7

0,8

Plantio direto

0,6

0,7

Fixação biológica de nitrogênio

0,6

0,7

Energia

6,1

7,7

Eficiência energética

0,4

0,6

Uso de biocombustíveis

1,8

2,2

Expansão da oferta de energia por hidroelétricas

2,9

3,7

Fontes alternativas (bioeletricidade, eólica etc)

1

1,2

Outras

0,3

0,4

Siderurgia (substituir carvão de desmate por plantado)

0,3

0,4

* A redução de 80% do desmatamento da Amazônia corresponde a 20,9% de redução nas emissões previstas no país até 2020. E a redução de 40% de desmatamento no cerrado a 3,9% Fonte: Ministério do Meio Ambiente

MOBILIZAÇÃO

“Os países precisam ter compromissos obrigatórios de redução de emissões mais ambiciosos” GUSTAVO LUEDEMANN, IPEA

o pesquisador considera que em 2010 o governo deve de fato começar a implantar as medidas propostas de redução de emissões. No final do ano passado, o governo brasileiro estipulou a meta de redução das emissões, até 2020, entre 36,1% e 38,9%. As ações para se chegar a essa redução devem incluir medidas relacionadas ao uso da terra, agropecuária, energia e outras. A principal delas é a meta de redução do desmatamento da Amazônia em 80%.

O coordenador do WWFBrasil diz que o governo precisa definir melhor como cumprirá as metas anunciadas. Para ele, a posição do Brasil é positiva ao compararmos as metas do país com os compromissos internacionais. Entretanto, ele considera que, ao pensar internamente, é necessário fazer uma reflexão maior sobre esses compromissos assumidos. “Internamente, podemos refletir se reduzir 80% o desmatamento da Amazônia e 40% do cerrado é

suficiente ou não. A projeção de emissões no setor de energia é apropriada ou não?” A coordenadora do Departamento de Mudanças Climáticas da Secretaria de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, Andréa Santos, diz que uma prioridade para 2010, que será de “fundamental importância para as questões climáticas”, é a regulamentação da Política Nacional de Mudança do Clima. “Essa política já foi


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WWF-BRASIL/DIVULGAÇÃO

“Registramos o menor desmatamento nos últimos 21 anos. O Brasil está reduzindo suas emissões e pode reduzir ainda mais” Carlos Rittl, do Programa de Mudanças Climáticas e Energia do WWF-Brasil

sancionada pelo presidente (Luiz Inácio Lula da Silva) e nossa prioridade é fazer cumprir o que está estabelecido”, diz Andréa. Outra medida importante para 2010 é a atualização do PNMC (Plano Nacional sobre Mudança do Clima), lançado em 2008 pelo governo federal. A coordenadora do departamento do MMA afirma que as medidas colocadas pelo Brasil, de redução de desmatamento na Amazônia e no cerrado, são fundamentais

para reduzir as emissões. Ela lembra que o Brasil conseguiu uma redução significativa do desmatamento da Amazônia nos últimos anos. De agosto de 2008 a julho de 2009, houve redução de 45% no desmatamento, ao comparar com o período anterior, conforme dados do ministério. “Registramos o menor desmatamento nos últimos 21 anos. O Brasil está reduzindo suas emissões e pode reduzir ainda mais”, diz Andréa, ao ressaltar que o país foi pionei-

ANDRÉA SANTOS, MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE

ro ao apresentar suas medidas de mitigação. Ao analisar alguns resultados da COP-15, o economista e professor de relações internacionais Eiiti Sato, da UnB (Universidade de Brasília), considera que a conferência teria muitos avanços se o foco das discussões mudasse um pouco. O professor considera que cada país deveria ficar mais atento para as próprias ações. Em relação ao Brasil, Sato cita medidas urgentes que precisam ser tomadas,

mesmo que outros países não tenham metas ou não tenham qualquer comprometimento. São medidas, conforme ele faz questão de reforçar, que afetam diretamente a qualidade de vida e saúde da população. E por isso devem ser priorizadas, independentemente de discussões sobre aquecimento global. “Quando você chega a São Paulo, de avião, dependendo do horário, enxerga uma capa marrom na cidade, o ar fica pesado. Esse tipo de coisa não pode ser tolerada. E a necessidade de fazer algo urgente não tem nenhuma ligação com a postura de outros países ou com os resultados de uma conferência internacional. Temos que acabar com a poluição, reduzir as emissões porque isso não faz bem para ninguém”, diz Sato. De acordo com o professor da UnB, o poder público precisa agir para pôr fim a problemas como esse, oferecendo, por exemplo, um transporte público de maior qualidade e com maior alcance. “O governo é responsável por isso. O cidadão comum é vítima. São Paulo tem o melhor sistema metroviário do Brasil, mas se compararmos com outras cidades, como Londres (Inglaterra), ainda está muito atrasado.” l


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TRANSPORTE DE CARGA

Treinamento pela eficiência Escola de Transportes capacita profissionais para utilização do Sicat e a emissão do novo RNTRC POR LIVIA

s exigências legais para a emissão do RNTRC (Registro Nacional de Tra n s p o r t a d o re s Rodoviário de Carga) foram apresentadas em treinamento realizado pela Escola do Transporte, para atendentes das associações e sindicatos filiados à CNT que estão credenciados a realizar o registro. O curso, gratuito e elaborado em parceria com a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), aconteceu em Brasília na última semana de janeiro. As entidades participantes foram habilitadas a

A

CEREZOLI

realizarem o cadastramento dos transportadores rodoviários de carga do país depois do acordo firmado em 2009 entre a CNT e a agência reguladora. A resolução nº 3.056, editada em março do ano passado, regulamenta a lei nº 11.442 que está em vigor desde 2007. Cem profissionais – divididos em duas turmas – foram capacitados para utilizarem o Sicat /RNTRC (Sistema de Cadastro de Transportadores de Carga). O sistema on-line permite o preenchimento dos dados necessários para a emissão do RNTRC pelas

entidades cadastradas em qualquer região do país. O treinamento foi realizado em duas etapas. No primeiro dia, os profissionais receberam orientações sobre a legislação vigente que regulamenta o setor e a documentação necessária para a emissão do registro pelas entidades que são os pontos de atendimento para esse fim no país. No segundo dia, foi ministrada aula prática em um simulador do sistema de cadastro. “Esses profissionais serão multiplicadores do serviço em suas localidades. Precisamos deles

para alcançar a meta de recadastrar quase 1,8 milhão de caminhões em todo o país”, afirma Flávio Benatti, presidente da seção de transporte de cargas da CNT, da Fetcesp (Federação das Empresas de Transporte de Cargas do Estado de São Paulo) e também da NTC&Logística (Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística). Para a assistente-administrativa e responsável pelo setor de registro do Setcergs (Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística no Estado do Rio Grande do Sul), entidade


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JÚLIO FERNANDES/ASCOM/CNT

CALENDÁRIO DE RECADASTRAMENTO 2010 Número final do RNTRC 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Data final para recadastramento 31 de março 30 de abril 31 de maio 30 de junho 31 de julho 31 de agosto 30 de setembro 31 de outubro 30 de novembro 31 de dezembro Fonte: ANTT

filiada à Fetransul (Federação das Empresas de Transporte de Cargas no Estado do Rio Grande do Sul), Caroline Zanoni, com o curso, vai ser possível eliminar os erros de interpretação que possam interferir no preenchimento correto do cadastro. Ela participou da primeira turma do treinamento. José da Fonseca Lopes, presidente da seção de transportadores autônomos, de pessoas e de bens da CNT e da Abcam (Associação Brasileira dos Caminhoneiros), acredita que, além do cumprimento das regras,

a parceria com a ANTT dá liberdade ao caminhoneiro de realizar seu recadastramento em qualquer parte do país por meio dos sindicatos e associações. “Podemos, assim, garantir uma adesão muito maior e um setor mais disciplinado. Esperamos poder colocar ordem na casa”, afirma. Constavam no levantamento divulgado no site da ANTT até 26 de janeiro 1.198.248 registros, dos quais 1.008.758 de profissionais autônomos, 188.613 de empresas e 877 de cooperativas. O número de veículos existente é de 876.150 nas empresas, 1.083.670 entre os autô-

nomos e 9.444 nas cooperativas. Lideranças do setor e a própria ANTT afirmam que esses números não correspondem à realidade e, por isso, as novas regras são necessárias. “No primeiro registro emitido, foram incluídas empresas que não tinham o transporte como sua principal atividade. Esse é um erro que precisa ser corrigido”, afirma Benatti. De acordo com João dos Santos Nery, gerente de transporte autorizado de cargas da agência, o setor ficou por 60 anos sem regulamentação e a primeira emissão do registro não atendeu

às expectativas do governo e da sociedade. Os prazos para o recadastramento foram definidos no ano passado pela ANTT. Pelo calendário, todos os transportadores cadastrados até 15 de maio de 2009 devem atualizar os dados. Os registros com final 1 começam a ser fiscalizados a partir de 1º de abril (veja calendário completo nesta página). As novas regras exigem do transportador autônomo, além da documentação pessoal, a comprovação de três anos de experiência na atividade ou aprovação em


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O QUE DIZ A RESOLUÇÃO VOLKSWAGEN/DIVULGAÇÃO

Veja quais são os principais requisitos para inscrição no RNTRC Transportador autônomo de cargas • Possuir documento de identidade e CPF ativo • Ter sido aprovado em curso específico ou ter no mínimo três anos de experiência na atividade • Estar em dia com a contribuição sindical • Ser proprietário, coproprietário ou arrendatário de, no mínimo, um veículo com capacidade de carga útil igual ou superior a 500 kg, registrado em seu nome Empresas e cooperativas de transporte rodoviário de cargas • Possuir CNPJ ativo • Estar constituída como pessoa jurídica, tendo no transporte rodoviário de cargas a sua atividade principal • Ter responsável técnico com, pelo menos, três anos na atividade, ou aprovado em curso específico • Estar em dia com sua contribuição sindical • Ser proprietário ou arrendatário de, no mínimo, um veículo com capacidade de carga útil igual ou superior a 500 kg, registrado em seu nome Fonte: ANTT

FACILIDADE Recadastramento pode ser feito em todo o país

curso específico e estar em dia com sua contribuição sindical. Das empresas, exige-se CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica) ativo, ter no transporte rodoviário de cargas a sua atividade principal e possuir responsável técnico idôneo com, pelo menos, três anos na atividade, ou aprovado em curso específico, além de estar em dia com sua contribuição sindical. As regras também valem para as cooperativas. Em todos os casos deve ser apresentada a documentação de veículo com capacidade de carga

útil igual ou superior a 500 quilos, registrado no órgão de trânsito como categoria “aluguel” em nome do transportador, da empresa ou dos cooperados (veja detalhes no quadro nesta página). O sistema, integrado com a Receita Federal, permite a conferência de dados do CPF (Cadastro de Pessoa Física) e do CNPJ dos transportadores no momento do cadastro. “Essa é mais uma forma de evitar fraudes”, explica Nery, da ANTT. De acordo com ele, a agência também avalia a possibilidade de firmar convênio

nos mesmos moldes com o Denatran (Departamento Nacional de Trânsito) para possibilitar a checagem de informações sobre o veículo. Pelas novas regras, os cursos de qualificação, exigidos dos autônomos e responsáveis técnicos em caso de não comprovação de experiência, podem ser ministrados por qualquer instituição do Sistema S ou entidades de ensino cadastradas nas secretarias estaduais de Educação. O Sest/Senat já disponibiliza, nas suas 133 unidades, todo o conteúdo programáti-

co com a carga horária definida pela ANTT. Para o transportador autônomo são 84 horas/aula divididas em quatro módulos, e para o responsável técnico, 125 horas/aula em três módulos. A validade do RNTRC é de cinco anos. O certificado do registro é documento de porte obrigatório e sua não apresentação pode gerar multas que variam de R$ 550 a R$ 5.000, podendo, na reincidência, chegar ao valor máximo da lei, de R$ 10,5 mil, além da suspensão e cassação do registro junto à ANTT. l



AVIAÇÃO

POR

LIVIA CEREZOLI

avanço das lavouras de cana-de-açúcar pelo país pode ter uma justificativa ainda maior do que apenas a produção de álcool para abastecer automóveis leves. A planta e um de seus principais derivados, o etanol, passam agora a fazer parte de pesquisas brasileiras para o desenvolvimento de um biocombustível capaz de abastecer aeronaves, atualmente movidas a querosene. O produto pode ser uma das soluções encontradas para resolver o problema da escassez do combustível de origem fóssil e ajudar a reduzir a quantidade de CO2 emitidas pelo setor aéreo no mundo. Dados do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) mostram que a atividade responde por 2% do total global de emissões de dióxido de carbono, com projeções de chegar até 3% em 2050. Uma das pesquisas para a criação do novo combustível para aviação, chamado de bioquerosene, foi desenvolvida dentro do laboratório da Faculdade de Engenharia Química da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). O produto, patenteado em 2009, já está disponível para negociação com empresas que se interessa-

O

Cana-de-açúc Pesquisas desenvolvidas no Brasil já utilizam a planta rem na produção em larga escala. Os testes em bancada estão previstos para maio deste ano. Também existe a expectativa de realização de um voo experimental, mas ainda sem data definida. Depois de dois anos e meio de trabalho, os pesquisadores conseguiram chegar à fórmula que tem como reagentes principais o etanol e óleos vegetais retirados de diversas fontes como o pinhão manso, a soja, o coco, o babaçu, a mamona e até micro-algas. “Essa diversidade

de matrizes permite que a produção do combustível seja realizada em diversas regiões do país, movimentando as economias locais”, afirma Rubens Maciel Filho, Ph.D em engenharia química e professor titular da Faculdade de Engenharia da Unicamp, um dos responsáveis pela pesquisa. De acordo com ele, três desafios precisaram ser vencidos durante o desenvolvimento do trabalho: produzir um combustível barato e economicamente viável, capaz de

reduzir as emissões de CO2 e que não fosse agressivo à vida humana. “Foram essas as nossas motivações para optar pelo etanol e pela não utilização de micro-organismos geneticamente modificados”, diz o professor. O processo para a obtenção do combustível foi realizado em duas etapas: reação e purificação. Na primeira, depois de extraído da planta e refinado para a retirada de impurezas, o óleo vegetal é colocado em um reator, junta-


ALLARD DE WITTE/CAPITAL PHOTOS/DIVULGAÇÃO

POLUIÇÃO NO AR Por viagem • Paulo/Paris/São Paulo Emissão de CO2 por passageiro 1,730 tonelada • São Paulo/Rio de Janeiro/São Paulo Emissão de CO2 por passageiro 0,13 tonelada * A combustão de cada tonelada de querosene produz 3,15 toneladas de CO2 * Cada passageiro é responsável pela emissão de 88,1 g de CO2 por quilômetro voado, independente da origem e destino Fontes: Air France e FEQ/Unicamp

ar ganha os ares para a produção de um biocombustível capaz de substituir o querosene mente com uma quantidade predeterminada de etanol e um catalisador. Segundo Maciel Filho, o papel do catalisador é acelerar a reação química e fazer com que ela ocorra em uma temperatura mais baixa, reduzindo assim gasto com energia. Nessa etapa, foi possível atingir 98,5% de conversão das matrizes em bioquerosene. O tempo médio de reação gira em torno de 6 a 10 minutos. A segunda fase consiste em um processo intensificado de

separação que permite a obtenção do biocombustível com pureza de até 99,9% a um custo que torna o produto mais barato do que o querosene de origem fóssil. De acordo com Maciel Filho, esse nível de pureza representa uma das etapas mais importantes de todo o processo. “O bioquerosene, quando não está puro, pode congelar em altitudes acima de 10 mil metros.” Para Maciel Filho, esse era um dos principais problemas que inviabilizaram, ao longo dos

anos, o desenvolvimento de um biocombustível para aviação capaz de reproduzir a mesma eficiência do querosene de origem fóssil. “Atingir esse nível de pureza é muito complexo e exige uma tecnologia cara. Nossa pesquisa permitiu reduzir esse custo”, diz. O novo combustível pode ser utilizado diretamente nos motores das aeronaves sem a necessidade de alterações ou adaptações das turbinas, o que, no futuro, deve facilitar o abastecimento em localida-

des onde não existir a produção do produto. O bioquerosene mantém o nível de consumo e desempenho do querosene de origem fóssil, o que não altera os níveis de emissão de CO2. No entanto, o produto é menos poluente porque no momento do cultivo da matriz – tanto a cana-de-açúcar, que gera o etanol, como os óleos vegetais – existe a absorção da substância. Além disso, segundo o pesquisador, o bioquerosene desenvolvido pela


PIONEIRISMO

Álcool já é utilizado desde 2004

Unicamp é livre de enxofre e não emite particulados. Segundo os dados da pesquisa, a combustão de cada tonelada de querosene gera 3,15 toneladas de CO2. Em média, cada passageiro é responsável pela emissão de 88,1 gramas de dióxido de carbono por quilômetro voado, independente da origem e destino. Para reverter esse quadro, a Iata (Associação Internacional de Transporte Aéreo, da sigla em inglês) apresentou durante a COP-15, em Copenhague, em dezembro de 2009, metas de redução da emissão de CO2. A associação, que congrega 230 companhias aéreas responsáveis por 93% do tráfego aéreo internacional, pretende melhorar a eficiência dos combustíveis a uma média de 1,5% ao ano até 2020, estabilizar as emissões de carbono a partir de 2020 e ainda contribuir para uma redução das emissões em 50% até 2050, tendo como base o ano de 2005. O bioquerosene produzido a partir da cana-de-açúcar também faz parte dos planos da parceria estabelecida entre as empresas Amyris, GE, Embraer e a Azul Linhas Aéreas, no final do ano passado. As pesquisas coordenadas pela Amyris, empresa norteamericana que há dois anos e meio mantém sede em

O etanol, desde 2004, já é o combustível utilizado pelo Ipanema, avião agrícola fabricado pela Neiva, subsidiária da Embraer. O avião era homologado desde a década de 70 para voar na versão a gasolina e passou por alterações no motor que permitem uma economia de até 38% no custo operacional da aeronave. De acordo com a Embraer, o Ipanema é o primeiro avião de série no mundo a sair de fábrica certificado para voar com álcool hidratado, o mesmo álcool automotivo encontrado nos postos de combustíveis de todo o Brasil. Desde o início da produção do modelo – ainda movido a gasolina de aviação –, o Ipanema já vendeu mais de 1.050 unidades. Na versão a álcool, foram entregues ao mercado 80 aeronaves e outros 180 pedidos de conversão de motor chegaram até a Neiva.

A fabricante brasileira afirma que a escolha do álcool como combustível baseou-se, principalmente, no fato de o Brasil ser um grande produtor desse tipo de produto e esse ser menos poluente do que a gasolina de aviação porque não possui chumbo em sua composição. Além disso, destaca a Embraer, “a aeronave movida a álcool tem 5% a mais de potência que seu equivalente movido a gasolina, representando um verdadeiro salto tecnológico, pois alia redução de custo com aumento de produtividade.” No entanto, uma das dificuldades para o crescimento da utilização do combustível em aeronaves é o menor rendimento que ele oferece, impossibilitando voos de longas distâncias. O Ipanema é utilizado para a pulverização agrícola e cada voo tem duração média de 10 a 15 minutos. HABILITADA

Campinas (SP), estão baseadas em processos fermentativos da cana-de-açúcar por meio de leveduras geneticamente modificadas. Os micro-organismos, desenvolvidos na sede da empresa na Califórnia (EUA), são acrescentados à cana-de-açúcar logo após o processo de moagem, criando um óleo. “Conseguimos chegar a um hidrocarboneto muito próximo ao de origem fóssil. Quimicamente, o combustível que produziremos tem as mes-

mas características do querosene”, diz Roel Collier, diretorgeral da Amyris no Brasil. A empresa também trabalha no desenvolvimento de outros biocombustíveis a partir da mesma matriz. Da mesma forma que o bioquerosene desenvolvido pela Unicamp, o produto da Amyris não permite mistura, mas pode ser utilizado nos motores atuais das aeronaves sem nenhuma alteração. Porém, para Guilherme Freire, diretor de

estratégias e tecnologias para o meio ambiente da Embraer, é possível que em 20 ou 30 anos, com os recursos naturais ainda mais escassos, haja necessidade de se trabalhar no desenvolvimento de um motor flex para a aviação. “Temos o papel de acompanhar e prover a sustentabilidade, não só pela questão ambiental, mas também como forma de manter o negócio da aviação viável num futuro próximo”, afirma ele. A expectativa é que o com-


PESQUISAS

Foco mundial no biocombustível EMBRAER/DIVULGAÇÃO

Outras iniciativas para tornar possível a utilização de biocombustível na aviação também estão sendo desenvolvidas no Brasil e no mundo. Em janeiro deste ano, a empresa aérea holandesa KLM realizou o primeiro voo de demonstração no mundo com passageiros em uma aeronave abastecida com bioquerosene produzido a partir de óleos vegetais. O Boeing 747 foi abastecido com 50% de biocombustível e 50% de querosene tradicional em um de seus motores. O voo, com duração de uma hora, aconteceu nos arredores do aeroporto de Amsterdã e transportou 40 passageiros. No Brasil, as duas maiores empresas aéreas do país – Gol e TAM – aderiram, em 2009, ao Safug (Grupo de Usuários de Combustível de Aviação Sustentável, da sigla em inglês). O grupo internacional, formado por grandes companhias aéreas internacionais e desenvolvedoras de tecnologia, tem como finalidade acelerar o desenvolvi-

mento e a comercialização de combustíveis sustentáveis para a aviação. De acordo com Viggo Thisted, gerente de projetos de operações da Gol, a companhia deve apresentar ao programa pesquisas que estão sendo desenvolvidas sobre o assunto no país. Inicialmente, o grupo está trabalhando em dois projetos preliminares baseados no cultivo do pinhão manso e de algas para a produção de biocombustível. “Defendemos a geração do biocombustível por meio de culturas que não competem diretamente com a produção alimentar”, diz Thisted. A TAM, também no ano passado, por requisito do EU ETS (European Union Emission Trade System), entregou à direção geral da aviação civil da França o seu plano de adequação do monitoramento das emissões de CO2 de suas aeronaves nas rotas de Londres, Paris, Madri, Frankfurt e Milão, para atender aos requisitos ambientais da União Europeia.

Presidente Lula observa a aeronave Ipanema, apta a voar com álcool

bustível esteja disponível para a utilização comercial a partir de 2013. O primeiro voo experimental está previsto para acontecer no início de 2012, depois da finalização dos testes de bancada. O voo teste está programado para acontecer em um dos modelos Embraer – 190 ou 195 – utilizados hoje pela Azul. “Reconhecemos o peso que a aviação tem na emissão de gases do efeito estufa e, por isso, entendemos que é impor-

tante atuar nessa área de pesquisa. Esse projeto se alinha aos valores da companhia. Sempre buscamos a inovação”, afirma Miguel Dau, vice-presidente técnico operacional da Azul. De acordo com ele, a companhia dará todo o suporte necessário ao desenvolvimento das pesquisas como operador de aviação. Neste primeiro momento, a empresa não tem programado investimento direto no projeto. Dau faz apenas uma ressalva

quanto aos meios para a distribuição do combustível. “Temos todas as possibilidades para desenvolver o projeto. Minha única preocupação é ainda quanto à logística de produção e distribuição desse novo combustível em grande escala.” Segundo a assessoria de imprensa da ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), não há, no momento, nenhum pedido para uso de biocombustível para aviação em testes no

país. O produto deve ter autorização quando o consumo mensal for superior a 10 mil litros. A utilização dessas substâncias é regulamentada pela resolução 19/2007 da agência. O documento estabelece os requisitos básicos para a utilização de combustíveis não especificados (produto ou mistura, contendo um ou mais combustíveis especificados pela ANP, utilizado em substituição a algum combustível regulado) para uso experimental. l


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PASSAGEIROS

A escolha do taxista Motoristas falam sobre as opções de exercer a profissão, suas vantagens e desvantagens POR

ais do que ser conhecedor das ruas da cidade e responsável por transportar pessoas com segurança, os taxistas são conhecidos também como guias turísticos. São bons indicadores de hotéis, bares e restaurantes da cidade onde trabalham. De acordo com a Fencavir (Federação Nacional de Condutores Autônomos de Veículos), a estimativa é que existam ao todo cerca de 300 mil veículos da categoria e 900 mil taxistas em todo o país. Entretanto, segundo o presidente da Fencavir, Edgar Ferreira de Sousa, ainda não há um número oficial distinto de permissionários e locatários no Brasil, “mas esta-

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KATIANE RIBEIRO

mos trabalhando para que esse número seja levantado o mais rápido possível”. Números que dividem o taxista em categorias distintas, como autônomo, frotista ou cooperado. Pesquisa realizada pelo Sest/Senat em 2009 mostra que 70,9% dos taxistas entrevistados disseram que não faziam parte de nenhuma cooperativa e 27,5% afirmaram serem cooperados. Entre os motivos da filiação estão mais proteção pessoal, aumento do ganho mensal e benefícios para manutenção do veículo. De acordo com o levantamento, 41% dos taxistas são sindicalizados. Falta de boa liderança e preferência pelas cooperativas estão

entre os motivos da não filiação de 58,7% dos entrevistados. Para quem já possui carro e licença existe a opção de ser autônomo. Quem trabalha por conta própria tem a liberdade de fazer sua escala de trabalho sem vínculo empregatício ou subordinação. Já quem tem carro próprio e não possui licença, pode encontrar mais dificuldade para entrar no ramo. Como em qualquer lugar do mundo, o mercado de taxis é restrito e a emissão de alvarás é controlada pelo órgão público. No Brasil, esse controle cabe ao município, segundo o presidente da Fencavir. “Hoje, em cidades como Rio, São Paulo, Brasília, Porto Alegre e Belo Horizonte, e até em

outras cidades menores, não são concedidas mais permissões”, afirma Sousa. A opção seria o taxista trabalhar como coproprietário ou auxiliar de um outro taxista que possua a licença. Prevista em lei, essa combinação prevê um acordo contratual entre dois motoristas autônomos, na qual um deles é o titular do alvará e o segundo motorista pode ser um coproprietário ou um motorista auxiliar, tendo autorização para dividir o carro com o titular. Sem condições de obter uma licença, o taxista Mário Marcelo Correia, 39 anos, trabalha há 21 anos como coproprietário pelas ruas de Florianópolis. “Não vejo


ADETAX/DIVULGAÇÃO

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COMPARE AS MODALIDADES QUEM OPTA PELA COOPERATIVA Vantagens • Clientes garantidos, não precisa disputar com outros taxistas da cidade • Liberdade para escolher o horário e os dias de trabalho • Não há vínculo empregatício ou subordinação Desvantagens • Se a corrida for paga em voucher (boleto), uma porcentagem fica com a cooperativa • O cooperado precisa pagar um valor fixo mensal para despesas da cooperativa, como água, aluguel, luz, telefone, telefonistas etc • O taxista precisa comprar ações para entrar na cooperativa

vantagem nenhuma nesse tipo de vínculo de trabalho, pois tenho meu horário a cumprir, que são de 14 horas diárias, em seis dias semanais, não tenho direitos trabalhistas como carteira assinada, recolhimento de INSS, férias e 13º salário”, afirma. De acordo com Correia, o autônomo deveria ter seus direitos constituídos e reconhecidos. “Mas adoro ser taxista, poder estar no meio do povo, servir, ser útil. É com essa profissão que constitui e sustento até hoje minha família e ainda pude ver o desenvolvimento de minha cidade”, diz o taxista. Para o presidente da Fetacesp (Federação dos Taxistas Autônomos do Estado de São

Paulo), José Fioravanti, “com os esforços da federação, hoje a categoria de taxistas autônomos é a mais privilegiada do Brasil, pois é isenta de todos os impostos para adquirir carro novo”, afirma – IPI e ICMS. De acordo com ele, “com muito trabalho, conseguimos limitar o número de táxis em todas as cidades do Brasil e a isenção do IPVA (Imposto de Propriedade de Veículo Automotor) em algumas cidades para o taxista”, diz o dirigente. “Ainda enfrentamos problemas, como falta de legislação que regulamente a profissão, falta de segurança nas ruas, crescimento dos táxis clandestinos e de carros particulares fazendo transporte de passageiros”, afirma.

QUEM OPTA PELA FROTA Vantagens • O taxista não precisa ter carro próprio • O dono da frota é responsável pelo pagamento de taxas municipais tais como renovação de alvarás e vistoria do taxímetro, além dos estaduais e federais • Os carros têm manutenção gratuita e as oficinas contam com equipes de socorro Desvantagens • O motorista é responsável pelo pagamento de multas e conserto do carro em caso de acidentes em que se comprove a culpa do taxista • O motorista paga uma taxa fixa diária para o dono da frota • Não existem direitos trabalhistas como recolhimento de INSS, férias e 13º salário QUEM OPTA POR SER AUTÔNOMO Vantagens • O taxista é dono do seu carro • Liberdade na escolha de dias e horários de trabalho • Não há vínculo empregatício ou subordinação Desvantagens • O taxista é responsável por pagamento de multas, conserto e manutenção do carro • O dono da frota é responsável pelo pagamento de taxas municipais tais como renovação de alvarás e vistoria do taxímetro, além dos estaduais e federais • O taxista precisa ter carro próprio

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REGULAMENTAÇÃO

“Se o taxista tiver disposição e

Sest/Senat oferece curso

CÉLIO BATISTA DE ARAÚJO, PRESIDENTE DA COOBRÁS

a falta de segurança nas ruas, além do alto custo de manutenção de um veículo, a falta de uma remuneração condizente com a realidade do país e, principalmente, o trânsito caótico das grandes cidades”, afirma Natalicio. Para quem quiser ingressar na carreira, o Sest/Senat oferece curso de condutores de táxi. Com carga horária de 104 horas, o programa é dividido por módulos, para facilitar o planejamento de acordo com a disponibilidade de tempo do aluno. Confira no site quais unidades possuem o curso, as datas e as vagas disponíveis. Na página do Sest/Senat, o interessado também pode se informar sobre como se inscrever.

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Não há lei que regulamente a profissão. Tramita na Câmara dos Deputados o projeto de lei nº 253/2009, que prevê que o detentor da permissão para explorar o serviço de táxi possa transferir a sua titularidade à outra pessoa, seja gratuitamente ou por cobrança, ou ainda por herança em caso de óbito. O projeto também prevê que o permissionário possa locar sua permissão. De acordo com Edgar Ferreira de Sousa, presidente da Fecanvir, “a insegurança jurídica é o que mais preocupa o taxista hoje. Precisamos da aprovação de uma legislação federal, que discipline a profissão para que o profissional autônomo possa ter tranquilidade para trabalhar e sustentar sua família”, diz. Para o presidente do Sindicato dos Taxistas de São Paulo, Natalicio Bezerra, “as maiores dificuldades dos taxistas hoje são sem dúvida

Para mais informações acesse www.sestsenat.org.br ou ligue 0800 728 28 91 OPÇÃO Leopoldo Rodrigues Ferreira é taxista em Brasília

A outra forma de trabalho para quem possui carro próprio e licença é se tornar sócio de uma cooperativa. Os novos associados devem pagar uma taxa de admissão ou comprar ações da cooperativa e, em alguns casos, pagar uma tarifa de administração. Ao se associar, o taxista aumenta suas chances de conseguir mais clientes, já que a visibilidade é maior. Os custos com impostos, emissões de nota e contador também diminuem porque são divididos entre todos os sócios. “Hoje somos 180 donos com

os mesmos direitos”, afirma o presidente da cooperativa Coobrás de Brasília, Célio Batista de Araújo. De acordo com Araújo, a Coobrás possui contrato com mais de 400 empresas e transporta em média 2.000 clientes por dia. “Se o taxista tiver disposição e disponibilidade para trabalhar, ele pode ter um ganho médio e fixo por mês de até R$ 3.800”, afirma. Segundo Araújo, ao final do exercício, se os gastos da cooperativa forem menores que o previsto, os cooperados decidem em assembleia o que

fazer com a sobra. “No final de 2009, decidimos fazer uma festa de fim de ano”, diz Araújo. Para quem não possui carro próprio ou licença, a opção é a frota. Segundo o presidente da Adetax (Associação das Empresas de Táxi de Frota do Município de São Paulo), Ricardo Auriemma, o perfil do taxista de frota é diversificado e inclui recém-formados, ex-taxistas que resolvem voltar à praça, motoristas que venderam seu próprio táxi ou estão trocando de veículo e querem continuar trabalhando e aqueles que têm seu

próprio táxi ou são prepostos, mas que momentaneamente estão sem seus carros por motivos como furto, roubo, batidas ou problemas mecânicos. De acordo com Auriemma, em recente pesquisa realizada em escolas de formação de condutores em São Paulo, encomendada pela associação, trabalhar em frota foi a opção preferida para 59 dos 135 alunos entrevistados, enquanto 36 responderam que preferiam trabalhar por conta própria e 28 disseram que gostariam de trabalhar como prepos-


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disponibilidade para trabalhar, ele pode ganhar até R$ 3.800” JÚLIO FERNANDES/NCI-CNT

DEPOIMENTOS COOPERADO “Tenho liberdade e vantagens” “Consegui minha permissão em 1994. Logo senti as primeiras dificuldades ficando no ponto de táxi. A clientela não era fixa e existia uma certa preocupação com relação à insegurança das ruas, me sentia sozinho. Em 1997, me associei a uma cooperativa e não deixei mais de ser cooperado. Apesar da cobrança de um valor fixo para pagamento de despesas da cooperativa, os benefícios oferecidos eram inúmeros, como clientela fixa e cadastrada, remuneração praticamente fixa, por causa dos contratos com empresas, e ainda voz ativa na empresa, pois todos eram sócios. Um cooperado tem toda a liberdade de quem trabalha por conta própria, mais as vantagens que a cooperativa proporciona.” (Leopoldo Rodrigues Ferreira, 49 anos, trabalha em Brasília)

desde 1994 e é cooperado desde 1997

to. “Os recém-formados dos cursos para taxistas têm a possibilidade de iniciar a profissão em frotas até conseguirem adquirir veículo próprio”, afirma Auriemma. Segundo o presidente da Adetax, “muitos encontram nas frotas a primeira oportunidade de trabalhar com táxi e centenas de taxistas recorrem às frotas a cada ano, quando não podem contar com seu próprio táxi”, diz o presidente. As frotas servem também para que o taxista possa ter experiência antes de decidir pela

FROTISTA “As frotas não me deixaram sem trabalho” “Trabalhar com táxi é um vício. Levanto às 4h e não tenho hora para voltar. Essa é minha rotina há 40 anos. Comecei na profissão em 1970, como não tinha carro próprio na época, iniciei trabalhando com frota. Após um período inicial de quatro anos como taxista de frota, comprei meu primeiro veículo financiado. Queria ficar mais livre, e com ele trabalhei dez anos por conta própria. Perdi o carro em uma batida e voltei a trabalhar com frota. Comprei outro carro, dessa vez usado, e tive que vender para ajudar meu filho, que estava com dificuldades financeiras. Voltei a trabalhar para a frota e estou até hoje. As frotas me ajudaram a não ficar sem trabalho quando mais precisei.” (Pedro Menezes de Andrade, 62 anos, trabalha em São Paulo) AUTÔNOMO “Não queria ser empregado de ninguém” “Comecei a trabalhar como taxista em 1986 para complementar a renda da família. Optei por trabalhar por conta própria pela flexibilidade de horário e porque não queria ser empregado de ninguém. No início, comprei um carro fraco, mas já troquei de carro quatro vezes e hoje estou com um zero. Tenho mais ou menos uns 20 clientes fixos, que conquistei na base da cordialidade e bom atendimento. Acho que em qualquer trabalho a pessoa tem que se dedicar e fazer benfeito, mesmo que não goste. Que não é o meu caso, pois gosto de conhecer pessoas e fazer amizades, e o táxi me proporciona as duas coisas.” (Antônio Alves Ferreira, 55 anos, trabalha em Uberlândia)

compra de seu próprio táxi. “Ao invés de disponibilizar todo o seu capital na compra do veículo e alvará, ele pode deixar seu dinheiro aplicado e trabalhar numa frota”, afirma Auriemma. “Se gostar da nova profissão escolhida, ele já terá adquirido experiência necessária e terá certeza de que o investimento é bom. Sabemos que muitos dos atuais taxistas particulares já trabalharam em uma frota.” Trabalhar com frota foi a solução que Rose Mary Rodrigues, 50 anos, encontrou para sair da profissão de comerciante que tanto a cansava. A ideia era mudar de trabalho, mas continuar atuando com o público e ter liberdade de horário. Com dificuldade de adquirir a permissão, Rose Mary informou-se com amigos e taxistas e resolveu procurar por frotas de táxi. “Não fui aceita em várias frotas. Por ser mulher, diziam que eu não ia conseguir pagar nem a diária”, diz. Mas ela conseguiu e está há três anos na profissão. “A insegurança existe sim e é consequência de trabalhar nas ruas. Fui assaltada quando fazia apenas seis dias que tinha começado a trabalhar, mas nunca pensei em desistir. Vou até o fim para chegar ao meu objetivo, que é comprar o meu táxi, conseguir o alvará e trabalhar por conta própria”, afirma a taxista. l




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CARNAVAL

Conscientizar é o caminho CNT e Sest/Senat apoiam campanha contra exploração sexual de crianças e adolescentes POR LIVIA

esde a criação do Programa Permanente de Enfrentamento à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, em 2004, a CNT e o Sest/Senat mantêm participação ativa na comissão intersetorial que discute o tema no país e vêm, a cada ano, ampliando os projetos desenvolvidos na área. Prova disso é o apoio constante que as entidades têm dado às ações desenvolvidas pelo governo federal para combater a violência sexual praticada contra meninos e

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PARCERIA Reunião da Comissão

CEREZOLI

meninas e garantir os seus direitos. A mais recente parceria acontece na realização da campanha nacional do Carnaval 2010. Com o slogan “Exploração sexual de crianças e adolescentes é crime. Denuncie! Procure o conselho tutelar de sua cidade ou Disque 100”, a campanha relaciona o enfrentamento da violência sexual com imagens típicas do Carnaval. Em todo o material produzido para a divulgação, um pierrô – personagem característico da festa – apa-

rece com uma lágrima no rosto para representar a dor e o sofrimento de crianças e adolescentes vítimas desse tipo de crime. O projeto, que está em sua quinta edição, tem como objetivo principal prevenir a violência sexual e estimular as denúncias dos casos ao Disque Denúncia Nacional – que atende pelo número 100 – ou aos conselhos tutelares. As ações, coordenadas pela SEDH (Secretaria Especial dos Direitos Humanos) da Presidência da República em

parceria com a sociedade civil, organizações e organismos internacionais, previam a abordagem dos foliões durante blitze educativas nas estradas, aeroportos, rodoviárias e nos eventos relacionados ao Carnaval para esclarecimento sobre o assunto. Somente nas estradas brasileiras, existem atualmente 1.819 pontos vulneráveis à exploração sexual de crianças e adolescentes, segundo levantamento da Polícia Rodoviária Federal, realizado em parceria com a OIT


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JÚLIO FERNANDES/NCI-CNT

Intersetorial para discutir as ações da campanha de enfrentamento à exploração sexual de crianças e adolescentes

(Organização Internacional do Trabalho), em 2007. Além da CNT e do Sest/Senat, a campanha do Carnaval 2010 também conta com o apoio das polícias Federal e Rodoviária Federal, OIT, Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), Conanda (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente), Infraero (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária), entre outras entidades e empresas privadas. De acordo com a coorde-

nadora do Programa Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual de Crianças e Adolescentes da Secretaria, Leila Paiva, é esse tipo de integração que garante os bons resultados alcançados pelo programa ao longo dos anos. “Nós não temos capilaridade para chegar a todos os públicos. O máximo que conseguimos atingir, além do governo, são algumas ONGs que já estão envolvidas nesse trabalho. Com os parceiros, conquistamos grandes defensores da

causa nos mais variados setores”, afirma ela. Neste ano, os trabalhos de abordagem e divulgação do tema estão programados para acontecer em 14 cidades: Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Fortaleza, Manaus, Belém, São Paulo, Vitória, Corumbá (MS), Porto Alegre, Brasília, Florianópolis, Porto Velho e Belo Horizonte. Em cada uma delas estavam previstas atividades específicas para os lançamentos oficiais da mobilização, levando em consideração as tradições locais durante a folia.

Como nos anos anteriores, para a escolha das localidades foram observados alguns fatores, como a incidência do fenômeno na região, com destaque para o tráfico de pessoas com fins sexuais e a exploração sexual no turismo, as organizações e mobilizações carnavalescas locais e o número de denúncias recebidas pelo Disque 100. De acordo com Edilberto Sastre, coordenador do projeto de prevenção e enfrentamento ao tráfico de pessoas da OIT, uma das entidades parceiras da campanha, o objetivo não é lutar contra o Carnaval, mas trazer para a discussão e tentar modificar a ideia de que durante a festa tudo pode. “É uma época de alegria sim, as pessoas extravasam, mas tudo que afeta moralmente o ser humano não deve acontecer. Precisamos resgatar a cultura do Carnaval e garantir que a liberdade sexual de nossas crianças e adolescentes não seja ultrajada”, afirma ele. Para o delegado da divisão de direitos humanos da Polícia Federal, Stenio Santos Souza, embora exista a caracterização do crime, a exploração sexual de crianças e adolescentes ainda acontece em grande quantidade no país.


RETRATO DA VIOLÊNCIA Veja balanço das denúncias recebidas pelo Disque 100* TOTAL GERAL DE DENÚNCIAS POR ANO 2003 4.494 2004 3.774 2005 5.138 2006 13.830 2007 24.942 2008 32.589 2009 27.159 POR REGIÃO Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul

11.181 38.529

POR TIPO DE DENÚNCIA (%) Negligência Violência física e psicológica Violência sexual 32%

34% 34%

POR TIPO DE VIOLÊNCIA SEXUAL Tráfico de crianças e adolescentes Pornografia Exploração sexual 38,83 Abuso sexual 1,58 0,67

11.060 35.679

58,92

14.399

RANKING POR ESTADO Posição 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º 10º 11º 12º 13º 14º 15º 16º 17º 18º 19º 20º 21º 22º 23º 24º 25º 26º 27º

Estado DF MA MS PA AM CE BA RN RO ES PE MT GO TO AC RS RJ PI AL PB SC PR MG RR SE SP AP

Denúncias 2.707 5.944 2.185 5.839 2.591 6.462 11.055 2.360 1.085 2.444 6.162 2.072 4.096 863 440 6.738 9.692 1.822 1.815 2.079 2.911 4.750 8.900 182 830 14.643 181

Média por grupo de 100 mil hab. 110,22 97,14 96,46 82,64 80,42 78,95 78,51 78,31 74,63 72,92 72,62 72,58 72,53 69,39 67,14 63,67 62,85 60,08 59,76 57,09 49,62 46,19 46,18 45,99 42,80 36,77 30,82

DIVULGAÇÃO

“Com os parceiros, conquistamos grandes defensores da causa nos mais variados setores”

* Até novembro de 2009 Fonte: SEDH

LEILA PAIVA, DA SEDH


SEDH/DIVULGAÇÃO

DEFINIÇÃO DE CONCEITOS O QUE É VIOLÊNCIA SEXUAL • É a violação dos direitos e da liberdade sexual e/ou exploração do corpo e da sexualidade. Ocorre em duas formas: 1. Abuso sexual • Pode acontecer dentro ou fora da família • É a utilização do corpo da criança ou adolescente, por adulto ou adolescente, para a prática de qualquer ato de natureza sexual 2. Exploração sexual • Utilização sexual de crianças e adolescentes visando lucro ou qualquer outra forma de troca financeira ou de outra espécie • São usados meios de coação ou persuasão • Pode existir a figura de um intermediário que age como aliciador COMO DENUNCIAR • Conselhos tutelares municipais • Delegacias especializadas ou comuns • Disque 100 ou disque denúncias locais (ligação gratuita) • Polícias Militar, Federal, Rodoviária Federal • Em todos os casos, a identidade do denunciante é mantida em sigilo absoluto PERFIL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES EXPLORADOS • São oriundas de família de baixa renda • Estão em situação de vulnerabilidade social • Têm familiares com problemas de álcool ou drogas • Vivem em ambientes com violência doméstica e/ou abuso sexual • Têm pouco ou nenhum vínculo com a escola Fontes: SEDH e cartilha Esca/Sest/Senat

Cartaz oficial da campanha que conta com a participação do Sest/Senat

ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente). Porém, foi só a partir de 2000, com a inclusão do artigo 244-A no documento, que a prática da exploração sexual infantojuvenil passou a ser considerada crime, com pena de quatro a dez anos de reclusão e multa. Pelo artigo, também “incorrem nas mesmas penas o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifique a submissão de criança ou adolescente às práticas referidas”.

O Disque 100, coordenado pela SEDH, em parceria com a Petrobras e o Cecria (Centro de Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes), é um dos principais canais encontrados pelo governo para o combate a esse tipo de crime. Desde 2003, o serviço recebe e encaminha denúncias de violência contra crianças e adolescentes para a rede de proteção e responsabilização do local onde a vítima se encontra. A ligação é gratuita e o usuário

não precisa se identificar. O atendimento é realizado diariamente, inclusive durante os feriados, das 8h às 22h. Desde sua criação até novembro do ano passado, o serviço já havia recebido 111.926 denúncias de violência sexual contra meninos e meninas. l

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Segundo ele, a campanha no Carnaval, além de fazer o alerta sobre o crime, esclarece as formas de denúncias existentes e apresenta os órgãos que agem na fiscalização e repressão a esse tipo de violência. “Muitas vezes, a denúncia não é feita ou acontece de forma incorreta porque falta esclarecimento sobre a quem recorrer”, diz. O tema da violência sexual praticada contra crianças e adolescentes ganhou destaque em 1990 com a criação do

Para conhecer o programa desenvolvido pelo Sest/Senat, acesse www.sestsenat.org.br/esca


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CNT TRANSPORTE ATUAL

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SEST/SENAT

Um projeto para a vida Mobilização debate uso de álcool e drogas e vê queda de mortes no trânsito após 18 meses de Lei Seca POR

esde 19 de junho de 2008, quando foi sancionada a Lei Seca, na qual motoristas pegos dirigindo com quantidade de bebida alcoólica superior a 0,1 mg de álcool por litro de ar expelido no exame do bafômetro (ou 2 dg de álcool por litro de sangue) podem ser punidos com multa de R$ 957, suspensão da carteira e até prisão. Mas a quantidade de motoristas autuados e presos por embriaguez continua alta. Segundo estatística da PRF (Polícia Rodoviária Federal), o consumo de bebidas alcoólicas ocupa a sétima posição

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KATIANE RIBEIRO

no ranking e ainda é uma das principais causas de acidentes automobilísticos no país. A boa notícia é que o número de mortes diminuiu. Levantamento da PRF mostra que, nos primeiros seis meses da lei, cerca de 40 mil motoristas foram submetidos ao teste de alcoolemia. Em 2009, mais de 320 mil condutores sopraram o bafômetro. Ao longo de um ano, a Polícia Rodoviária Federal reprovou mais de 14 mil motoristas embriagados, dos quais mais de 9.000 foram presos em flagrante. O cruzamento das estatísticas de trânsito rodoviário com a frota

ENVOLVIMENTO Sest/Senat

nacional feito pela polícia revela redução de 10,5% no índice de mortes e de 11,5% no total de desastres com vítima fatal no primeiro ano da lei. Acidentes e feridos também apresentaram queda de 1,5% e 5,1%, respectivamente. Baseado nas estatísticas e atento à necessidade de discutir o tema, o Sest/Senat lançou em 2009 a campanha “Pela Vida nas Estradas”, parte do projeto de mobilização lançado em 2007. O objetivo da campanha foi envolver empresários, empregados do setor de transportes, motoristas autônomos e comunidade em atividades sociais, de saúde e educa-

cionais e proporcionar a disseminação de informações de como o uso de álcool e drogas pode trazer sérios riscos à saúde e a forte relação de acidentes de trânsito com o uso dessas substâncias. Para a coordenadora de promoção social e desenvolvimento profissional do Sest/Senat, Cláudia Moreno, fatores como veículo e via podem ter influência na causa de acidentes, mas o “fator humano tem relação direta”. “O Sest/Senat está dando sua contribuição para tentar reduzir o número de acidentes provocados por condutores alcoolizados. O objetivo é agir de maneira preven-


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LÍLIAN MIRANDA

promove frentes de trabalho, como palestras e seminários, para disseminar informações sobre os perigos do álcool nas estradas

tiva, conscientizando motoristas por meio de atividades educativas. Sem dúvida, por meio da educação no trânsito e de medidas preventivas contra o consumo dessas substâncias por motoristas, é que será possível tentar minimizar a triste realidade que vivemos atualmente nas estradas brasileiras”, diz Cláudia. Para a polícia, mais do que dados, o grande resultado da Lei Seca ao volante pode ser aferido pela mudança de comportamento nas rodovias federais. Em junho de 2008, quando a lei entrou em vigor, a PRF registrava um flagrante de embriaguez a cada seis tes-

tes realizados. Atualmente, são necessários 40 testes ou mais para identificar um condutor embriagado. Os dados levantados pela PRF também comprovam que a sociedade está mais receptiva em relação ao endurecimento da legislação de trânsito. Desde a publicação da lei 11.705, o percentual de autuações correspondente a motoristas que se recusaram a soprar o bafômetro caiu de 18% para 13%. No cotidiano do trânsito, é frequente a observação de atitudes inadequadas por parte de alguns condutores, que prejudicam o

bom desempenho do trânsito, representando riscos a eles próprios e aos demais usuários da via pública. Mas existe ainda outro lado dos acidentes de trânsito, além da dor e do sofrimento. Do ponto de vista econômico, o aspecto mais relevante são os gastos públicos. Segundo o coordenador de Meio Ambiente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Aroudo Mota, os gastos anuais com acidentes de trânsito no Brasil, em rodovias estaduais e urbanas é de 1,3% do PIB. O custo médio de gastos com o atendimento médico hospitalar, internações, cirurgias,

tratamentos das vítimas de acidentes de trânsito em todo o país, atinge a cifra de R$ 1 bilhão por ano, afirma. A assessora de comunicação do Ministério da Saúde, Alethea Muniz, afirma que em 2008 os acidentes de trânsito tiraram a vida de 36.666 pessoas em todo o país. Para alcançar o maior número de envolvidos, o projeto do Sest/Senat contou com várias frentes de trabalho, como realização de palestras, eventos, seminários nas empresas, produção de vídeo e spot de rádio educativos, contratação de profissionais na área de psicologia nas unidades do Sest/Senat em todo o país, produção e distribuição de camisetas, bonés, panfletos, banners e faixas. O vídeo educativo de 30 minutos abordou a existência do problema por meio de relatos verídicos de famílias que perderam familiares em acidentes de trânsito, nos quais os condutores haviam utilizado álcool ou drogas antes de dirigir. O vídeo foi veiculado nas unidades do Sest/Senat em todo o Brasil. Já o spot de rádio, divulgado em rádios locais em todos os Estados, contou com a participação especial do cantor Sérgio Reis. Em empresas de transporte foram realizados 14 seminários, com a participação total de 1.400 pessoas, nas cidades de Porto Alegre, Rio de Janeiro, Cariacica (ES), Curitiba, Contagem (MG),


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FEVEREIRO 2010

EM 2010

Meio ambiente é próximo tema do Sest/Senat O aquecimento global e suas consequências hoje se tornaram tema de discussão envolvendo todos os setores da sociedade. Com o desmatamento e a queima de combustíveis fósseis cada vez mais intensos, em todo o mundo, a possibilidade de ocorrerem catástrofes devastadoras por causa da elevação da temperatura no planeta é tema obrigatório de reflexão. O Sest/Senat, consciente da sua responsabilidade e da necessidade de construir um desenvolvimento sustentável, escolheu o tema meio ambiente para dar continuidade ao projeto de mobilização este ano. “O objetivo é desenvolver ações de sensibilização e orientação visando promover o engajamento de empresários, caminhoneiros autônomos, trabalhadores em transporte e da sociedade em adotar práticas ambientalmente corretas”, afirma Cláudia Moreno. Entre as principais ações, estão capacitar e conscientizar todos os colaboradores internos quanto à importância de práticas de preservação ambiental, reduzir o consumo de energia elétrica e consumo de água nas unidades do Sest/Senat em todo o Brasil em 5%, sensibilizar motoristas, empresários, autônomos e a sociedade em geral sobre o tema por meio de seminários e capacitar alunos em curso online sobre o assunto.

MOBILIZAÇÃO 2010 Ações previstas sobre o tema meio ambiente • Capacitar os colaboradores internos sobre o tema, por meio de palestra com distribuição de cartilhas • Capacitar os trabalhadores em transporte sobre o tema • Participar de eventos relacionados ao meio ambiente e levar o tema aos eventos nacionais já promovidos pelo Sest/Senat • Transformar as unidades em locais ambientalmente corretos, incentivando a plantação de árvores e cultivo de hortas, com mensagens de economia de água e luz • Promover concursos entre os motoristas como incentivo às boas práticas ambientais • Promover concurso interno entre as unidades para redução do consumo de água e energia • Transformar as unidades em ecopontos para coletas de pilhas, baterias, pneus • Distribuição de canecas ecológicas a todos os colaboradores internos, para redução do uso de copos plásticos • Criar curso online gratuito sobre o tema • Realizar seminário sobre o tema em unidades do Sest/Senat • Instalar lixeiras para coleta seletiva do lixo em todas as unidades • Produção de um curta metragem sobre o tema para sensibilização de todos os públicos • Utilizar os programas de rádio para caminhoneiros para conscientização sobre o tema

APOIO Blitz realizada pela

Manaus, Recife, Fortaleza, Simões Filho (BA), Florianópolis, João Pessoa, Campo Grande, Santo André (SP) e Palmas, com o objetivo de informar gestores sobre o assunto, abordando temas como drogas, alcoolismo e medicina do trabalho. Dentro do Programa Ciclo de Palestras do Sest/Senat, que visa promover a conscientização dos trabalhadores do setor de transportes, seus familiares e comunidade em geral para temas relevantes à promoção social, foi incluída a palestra com o tema “Álcool e Drogas”. A cartilha sobre o assunto foi escrita em parceria com a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. O Ciclo de Palestras é executado por meio de palestras presenciais, ministradas por especialistas nos temas,


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SEST/SENAT SÃO CAETANO/DIVULGAÇÃO

unidade de São Caetano (PE) com a entrega de material de campanha

“A iniciativa é muito boa, pois somente com projetos como esse é que teremos cidadãos mais conscientes” CLÁUDIO BONFANTE, PARTICIPANTE DA PALESTRA

com a utilização de recursos audiovisuais – cartilhas, vídeos e slides. Ao todo mais de 50 mi pessoas participaram das palestras sobre o tema em 2009. Na unidade do Sest/Senat de Três Rios (RJ), a palestra foi apresentada pelo médico Fernando Duarte Lopes Moreira, especialista em medicina de tráfego e consultor em segurança no trânsito e medicina de tráfego da Fetranspor (Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro) e incluída em todas as turmas de capacitação para Motoristas de Condutores de Produtos Perigosos e Transporte Coletivo de Passageiros. Ao término do módulo de Direção Defensiva, os alunos tiveram a oportunidade de debater e refletir sobre o tema.

De acordo com Moreira, campanhas como essa do Sest/Senat sinalizam a “importância da preservação da vida” nas estradas. “Elas nos lembram dos principais temas e falam da necessidade de manter um comportamento voltado para a segurança no trânsito.” Para o bombeiro e professor de matemática Cláudio Bonfante, que participou da palestra em Três Rios, “a iniciativa do Sest/Senat é muito boa, pois somente com projetos como esse é que teremos cidadãos mais conscientes”. De acordo com a gerente da unidade de Três Rios, Maristela Spinelis Costa, toda campanha de educação tem como objetivo “trazer para conhecimento da população em geral as questões positivas e/ou negativas relacionadas ao tema sugerido”. “A mobilização nacional pela vida nas estradas do Sest/Senat estende-se um pouco mais, pois permite que as pessoas possam refletir sobre o tema. Uma vez que o tema é tratado com destaque pela lei da Alcoolemia Zero, a mobilização passa a ser fundamental, pois tem como foco a saúde do condutor e a orientação e encaminhamento dos que necessitarem a grupos de apoios”, afirma Maristela. Para a diretora do Sest/Senat de São José do Rio Preto (SP), Rosmeire Regina Oliveira Volpe, “o instrutor não pode achar que

suas palavras bonitas serão suficientes para quem as ouve se tornar da noite pro dia prudente e responsável”. “Projetos como o do Sest/Senat agregam valor e complementam o que é dito pelo educador. O nosso objetivo com os projetos de prevenção é transformar discussão, reflexão em ação”, diz a diretora. A supervisora de filial da distribuidora Martins Comércio e Serviço de Distribuição, Lilian Patrícia Lourenço, participou da palestra e assistiu ao vídeo educativo “Álcool e Drogas”, no Sest/Senat de São José do Rio Preto (SP). Segundo ela, o vídeo foi “impactante” e a fez questionar: “E se fosse comigo?”. “Antes eu já tinha o hábito de alertar as pessoas próximas, principalmente os motoristas da empresa em que trabalho, sobre o perigo da mistura álcool e direção. Agora, quero intensificar e contribuir disseminando as informações que obtive”, afirma. A campanha foi divulgada ainda em eventos do Sest/Senat, em todo o Brasil, como o Dia do Motorista e Dia do Trabalhador. Nos eventos e em locais de grande circulação de pessoas como sala de espera, murais, postos de gasolina e restaurantes, foram distribuídos um total de 30 mil bonés, 30 mil camisetas e 800 mil folderes. l


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FEVEREIRO 2010

TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE CARGAS - TOTAL Acumulado janeiro a dezembro

Milhões de Toneladas

1.180 1.160 1.160 1.150 1.140 1.130 1.120 1.110 1.100 1.090

IDET

1.173,8

1.137,2 1.121,3

2007

2008

2009

Fonte: Idet CNT/Fipe-USP

Balanço de 2009 Transporte de cargas confirma reflexos da crise financeira TRANSPORTE DE PASSAGEIROS - COLETIVO URBANO Acumulado janeiro a dezembro 11.500 Milhões de Passageiros

A

apresentou variação positiva de 1,1% em relação a 2008. Em termos de safra agrícola, segundo o IBGE, em relação à safra das três principais culturas em termos de área plantada (arroz, milho e soja), apenas o arroz apresentou variação positiva. Já a produção de soja apresentou retração de 4,8% e o milho queda de 13,5%. Como um todo, o IBGE computou redução de 8,3% na safra. Quanto ao transporte ferroviário de cargas, o total acumulado do ano até novembro está 14,1% abaixo do realizado no mesmo período de 2008, refletindo o impacto da crise mundial na demanda de commodities brasileiras. Apesar disto, as ferrovias Estrada de Ferro Carajás e a MRS Logística apresentaram recorde de tonelada-útil movimentada no mês de novembro. O transporte aquaviário apresentou um incremento de 18,15% em relação ao ano anterior no período de janeiro a novembro. Cabe lembrar que alguns portos não informaram o total de cargas transporta-

11.442

11.450

11.384

11.400 11.350 11.300

11.271

11.250 11.200 11.150 2007

2008

2009

Fonte: Idet CNT/Fipe-USP

TRANSPORTE INTERESTADUAL DE PASSAGEIROS Acumulado janeiro a dezembro Milhões de Passageiros

o longo do ano de 2009, o país se projetou economicamente de forma a superar as dificuldades ocasionadas pela crise mundial. Mesmo assim, a produção brasileira ficou aquém da projetada para 2009 antes do desencadeamento dessa crise, quando o país apresentava um crescimento considerado acentuado. A movimentação de cargas no Brasil refletiu esse cenário, em que o total de carga transportada ao longo de 2009 foi inferior ao valor acumulado durante os dois anos anteriores, apesar das perspectivas de recuperação para este ano. Em 2009, o transporte rodoviário total de cargas (em toneladas) foi 4,5% menor do que o verificado no ano anterior. Através do gráfico, pode-se perceber que a movimentação de cargas por rodovias também é inferior ao ano de 2007. Em relação ao volume de produtos industriais por terceiros, a queda foi de 9,8%. Porém, a tonelagem de outros produtos, que inclui a carga agrícola,

74 73 72 71 70 69 68 67 66 65 64

73

70,3

67,5

2007

Fonte: Idet CNT/Fipe-USP

2008

2009


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VOLVO/DIVULGAÇÃO

TRANSPORTE FERROVIÁRIO DE CARGAS Acumulado janeiro a novembro 460

447,8

Milhões de Toneladas

440 425,2

420 400 384

380 360 340

2007

2008

2009

Fonte: IDET CNT/FIPE-USP

TRANSPORTE AQUAVIÁRIO DE CARGAS REFLEXO Transporte de carga sentiu efeitos da crise

Acumulado janeiro a novembro 566,7

Para a versão completa da análise, acesse www.cnt.org.br. Para o download dos dados, www.fipe.org.br

481,4

500 416,6

400 300 200 100

0

2007

2008

2009

Fonte: Idet CNT/Fipe-USP

TRANSPORTE AÉREO DE PASSAGEIROS Acumulado janeiro a dezembro 60 Milhões de Passageiros

ao transporte aéreo registrou uma aumento de 11,84% na quantidade de passageiros transportados, ficando acima também dos valores registrados em 2007, como pode ser visto no gráfico. Quanto ao transporte metroferroviário de passageiros, percebe-se uma elevação de 2,67% em relação ao mesmo período de 2008 (janeiro a novembro), o que mostra uma demanda crescente para este meio de transporte. O Idet CNT/Fipe-USP é um indicador mensal do nível de atividade econômica do setor de transporte no Brasil. l

8

das e que oportunamente será feita uma retificação dos valores apresentados. Em relação ao transporte de passageiros em 2009, observase que a situação é diferente da encontrada no transporte de cargas. Pode-se observar um crescimento de 5,34% e 3,79% no transporte rodoviário intermunicipal e interestadual respectivamente. Houve, porém, uma pequena redução no total de passageiros transportados por coletivos urbanos, 0,5% em relação a 2008. Em razão do período de férias e das festas de final de ano, observou-se um crescimento no mês de dezembro (em relação a novembro) de 15,4% no transporte rodoviário intermunicipal, de 32,3% no transporte rodoviário interestadual e de 8,4% no transporte aéreo de passageiros. O valor acumulado no ano em relação

Milhões de Toneladas

600

46,4

50

51,7

42,9

40 30 20 10 0

2007

Fonte: Idet CNT/Fipe-USP

2008

2009

73


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FERROVIÁRIO MALHA FERROVIÁRIA - EXTENSÃO EM KM Total Nacional Total Concedido Concessionárias Malhas concedidas* Fonte: ANTT(relatório 2007)

BOLETIM ESTATÍSTICO

MALHA RODOVIÁRIA - EXTENSÃO EM KM Federal Estadual Coincidente Estadual Municipal Total

TOTAL

13.773 75.580 6.230 23.490 113.451 219.999 1.234.918 1.261.745 1.368.372 1.580.814

Fonte: PNV-2008 - DNIT

Malha rodoviária concessionada Adminstrada por concessionárias privadas* Administrada por operadoras estaduais

13.810 12.746 1.064

Fonte: ABCR(2009)* e ANTT (jul/06)

FROTA DE VEÍCULOS - UNIDADES Caminhão Cavalo mecânico Reboque Semi-reboque Ônibus interestaduais* Ônibus intermunicipais Ônibus fretamento* Ônibus urbanos**

1.969.495 348.998 645.953 563.296 13.907 40.000 25.120 105.000

Fonte: Denatran (maio/2009), *ANTT(2007) e **NTU(regiões metropolitanas)

Nº de terminais rodoviários

9.863 1.674 7.304 9.473 28.314

Fonte: ANTT(relatório 2007)

NÃO PAVIMENTADA

61.807 17.260 106.548 26.827 212.442

*VALEC é operacionalizada pela Vale do Rio Doce

MALHA POR CONCESSIONÁRIA - EXTENSÃO EM KM Companhia Vale do Rio Doce/FCA MRS Logística S.A. ALL do Brasil S.A. Outras Total

RODOVIÁRIO

PAVIMENTADA

29.817 28.314 11 12

173

MATERIAL RODANTE - UNIDADES Vagões Locomotivas Carros (passageiros urbanos)

87.150 2.624 1.670

Fonte: ANTF(2007) e Min. Cidades 2003

PASSAGENS DE NÍVEL - UNIDADES Total Críticas

12.273 2.611

Fonte: ANTF 2007

VELOCIDADE MÉDIA OPERACIONAL Brasil EUA

25 km/h 80 km/h

Fonte: AAR - Association of American Railroads

AEROVIÁRIO AEROPORTOS - UNIDADES Internacionais Domésticos Pequenos e aeródromos

33 33 2.498

Fonte: INFRAERO(2008) e ANAC (2006)

AERONAVES - UNIDADES A jato Turbo Hélice Pistão Total

Fonte: ANTT 2006

AQUAVIÁRIO

778 1.638 9.204 11.620

Fonte: ANAC (2009)

INFRAESTRUTURA - UNIDADES Terminais de uso privativo Portos FROTA MERCANTE - UNIDADES Embarcações de cabotagem e longo curso

42 40

141

Fonte: ANTAQ (2009)

HIDROVIA - EXTENSÃO EM KM E FROTA Rede fluvial nacional Vias navegáveis Navegação comercial Embarcações próprias Fonte: ANTAQ (2009)

MATRIZ DO TRANSPORTE DE CARGAS MODAL

44.000 29.000 13.000 1.148

Rodoviário Ferroviário Aquaviário Dutoviário Aéreo Total Fonte: *TKU - tonelada quilômetro útil ANTT(relatório 2007)

MILHÕES

(TKU)* 485.625 164.809 108.000 33.300 3.169 794.903

PARTICIPAÇÃO

(%) 61,1 20,7 13,6 4,2 0,4 100


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FEVEREIRO 2010

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BOLETIM ECONÔMICO

INVESTIMENTOS FEDERAIS EM INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES

R$ bilhões

Investimentos Federais em Transportes (janeiro a dezembro/2009)

14 12 10 8 6 4 2 0

Investimentos Liquidados por Modal (R$ 4,8 milhões) - Governo Federal (janeiro a dezembro/2009)

12,2 9,7 R$ 356,8 mi (7,5%)

4,8

R$ 3,7bi (77,8%)

R$ 697,4 mi (14,6%)

Autorizado Total pago Investimento liquidado Obs.: O Total Pago inclui valores pagos do exercício atual e restos a pagar pagos do ano anterior.

Ferroviário

(R$ MILHÕES)

Arrecadação no mês (dezembro) Arrecadação no ano (2009) Total acumulado desde 2002 Investimentos em transportes pagos com CIDE (desde 2002) CIDE não utilizada em transportes (desde 2002)

632* 4.828,0 56.611,0 23.073,0 (40,8%) 33.538,0 (59,2%)

R$ bilhões

Arrecadação X Investimentos Pagos: Recursos da CIDE

60 50 40 30

56,6

23,1

20 10 0 2 200

3 200

4 200

Arrecadação Acumulada

5 200

6 200

7 200

8 200

Investimento Pago Acumulado

CIDE - Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico, Lei 10.336 de 19/12/2001. Atualmente é cobrada sobre a comercialização de gasolina (R$ 0,23/liltro) e diesel (R$ 0,07/litro) e a destinação dos recursos engloba o subsídio e transporte de combustíveis, projetos ambientais na indústria de combustíveis e investimentos em transportes.

9 200

Aquaviário

CONJUNTURA MACROECONÔMICA - DEZEMBRO/2009 Valores Expectativa 2008 acumulados Nos últimos para 2009 12 meses em 2009 Inflação 5,9 IPCA (%) Câmbio 2,34 (R$/US$) Selic (%a.a.) 13,75 PIB 5,08 (% cresc. ao ano) Balança Comercial 24,7 (US$ bilhões)

4,31(1)

4,31(1) 1,74(2)

1,74

(3)

8,75

8,75 (4)

4,28

-1,65

(4)

1,05

0,24

25,3(5)

25,3(5)

24,2

Observações: 1 - Inflação acumulada no ano e em 12 meses até dezembro/2009. 2 - Câmbio de fim de período dezembro/2009, média entre compra e venda. 3 - Meta Taxa Selic conforme Copom 09/12/2009. 4 - PIB acumulado em 12 meses, até setembro/2009. 5 - Balança Comercial acumulada no ano e em 12 meses até dez/2009. Fontes: Receita Federal, COFF - Câmara dos Deputados (acumulado até 31/12/2009), IBGE e Focus - Relatório de Mercado (31/12/09), Banco Central do Brasil.

8

CIDE

Rodoviário

* Veja a versão completa deste boletim em www.cnt.org.br

NECESSIDADES DE INVESTIMENTOS DO SETOR DE TRANSPORTES BRASILEIRO: R$ 280 BILHÕES (PLANO CNT DE LOGÍSTICA BRASIL - 2008)


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CNT TRANSPORTE ATUAL

FEVEREIRO 2010

EMISSÕES DE CO2 NO BRASIL (EM MILHÕES DE TONELADAS - INCLUÍDO MUDANÇA NO USO DA TERRA) EMISSÕES DE CO2 POR SETOR CO2 t/ANO 776,33 94,32 74,07 42,51 25,60 16,87 1.029,71

SETOR

BOLETIM AMBIENTAL DO DESPOLUIR

Mudança no uso da terra Transporte Industrial Outros setores Energia Processos industriais Total

RESULTADOS DO PROJETO DE REDUÇÃO DAS EMISSÕES DE POLUENTES PELOS VEÍCULOS

(%) 75,4% 9,2% 7,2% 4,1% 2,5% 1,6% 100%

PARTICIPAÇÃO

EMISSÕES DE CO2 POR MODAL DE TRANSPORTE NÚMEROS DE AFERIÇÕES JANEIRO A NOVEMBRO 2007 E 2008 DE 2009 100.837 Aprovação no período 83,87 %

CO2 t/ANO 83,30 6,20 3,56 1,26 94,32

MODAL

DEZEMBRO DE 2009

TOTAL

118.868

9.052

228.757

87,01 %

86,71 %

Rodoviário Aéreo Marítimo Ferroviário Total

(%) 88,3% 6,6% 3,8% 1,3% 100%

PARTICIPAÇÃO

EMISSÕES DE CO2 NO TRANSPORTE RODOVIÁRIO POR TIPO DE VEÍCULO

ESTRUTURA DO DESPOLUIR Federações participantes Unidades de atendimento Empresas atendidas Caminhoneiros autônomos atendidos

CO2 t/ANO 36,65 32,49 8,33 5,83 83,30

VEÍCULO

21 67 4.315 4.422

Caminhões Veículos leves Comerciais leves - Diesel Ônibus Total

(%) 44% 39% 10% 7% 100%

PARTICIPAÇÃO

Fonte: Sistema de Informações do Despoluir, Confederação Nacional do Transporte - CNT, 2010. Fonte: Inventário de Emissões, Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT, 2006.

QUALIDADE DO ÓLEO DIESEL TEOR MÁXIMO DE ENXOFRE (S) NO ÓLEO DIESEL*

CONSUMO DE COMBUSTÍVEIS NO BRASIL

Japão EUA Europa

CONSUMO DE ÓLEO DIESEL POR MODAL DE TRANSPORTE 3 MILHÕES DE m PARTICIPAÇÃO (%) Rodoviário 32,71 96,6% Ferroviário 0,69 2% Hidroviário 0,48 1,4% Total 33,88 100%

10 ppm de S 15 ppm de S 50 ppm de S

Frotas cativas de ônibus urbanos das cidades do Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Salvador, e regiões metropolitanas Brasil de São Paulo, Belém, Fortaleza e Recife Diesel metropolitano (grandes centros urbanos) Diesel interior (substituição de 11% por Diesel 500 ppm de S)

MODAL

50 ppm de S

* Geração de eletricidade. Fonte: Balanço Energético Nacional - BEN, Ministério de Minas e Energia - MME, 2008.

500 ppm de S 1.800 ppm de S

CONSUMO POR TIPO DE COMBUSTÍVEL (EM MILHÕES m3) TIPO 2006 2007 2008 2009 (ATÉ NOVEMBRO) Diesel 39,01 41,56 44,76 40,49 Gasolina 24,01 24,32 25,17 22,78 Álcool 6,19 9,37 13,29 14,83

* Em partes por milhão de S - ppm de S Fonte: International Fuel Quality Center - IFQC, 2008.

NÃO-CONFORMIDADES POR NATUREZA NO ÓLEO DIESEL - JANEIRO 2010 0%

6,3%

Fonte: Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis - ANP, 2010

Corante 0% Aspecto 26,2%

8

26,2% 42,5%

Pt. Fulgor 22,6% Enxofre 2,3% Teor de Biodiesel 42,5% Outros 6,3%

Para saber mais: www.cntdespoluir.org.br

22,6% 2,3%

Fonte: Boletim Mensal da Qualidade dos Combustíveis Líquidos Automotivos Brasileiros. ANP, 2010. Trimestre Anterior

SE

3,9

SC

Brasil

2,7

RS

5,6

1,3

3,2

0 RR

TO

2,9 RO

6,1 1,4 RN

SP

Trimestre Atual

6,5 1,9 PR

RJ

1,9 PI

3,5 PE

0,7 PB

4,4

1,5 MT

Fonte: Boletim Mensal da Qualidade dos Combustíveis Líquidos Automotivos Brasileiros. ANP, 2009.

PA

1,1 MS

6,4 1,5 MA

MG

0 ES

DF

GO

2,8

2,6 CE

0

3,2 0 AP

BA

2,3 AM

5,8 AL

0

25 20 15 10 5 0

AC

% NC

ÍNDICE TRIMESTRAL DE NÃO-CONFORMIDADES NO ÓLEO DIESEL POR ESTADOS - DEZEMBRO 2009



“Precisamos de mais portos, a economia está crescendo, temos novas fronteiras econômicas surgindo. E precisamos dos portos atuais” DEBATE

Qual a solução para o sistema portuário: abrir novos portos

Questão transcende a polarização apresentada CARLOS PIMENTEL MENDES

em sempre a solução está em uma das opções apresentadas, é preciso procurar mais além. Novos portos podem ser necessários, em lugares onde as perspectivas de acesso terrestre e marítimo sejam mais favoráveis, menos congestionadas. Também é preciso garantir condições operacionais aos já existentes, não se pode abandonar os vultosos investimentos já feitos. Mas a questão transcende essa polarização, o problema no setor portuário está muito mais na questão humana, em quem é colocado para administrar as instalações. São técnicos de carreira, com ampla experiência prática e talvez alguns cursos MBA em administração portuária? Sabemos que não, com alguma honrosa exceção. Quem tudo decide num porto é alguém que talvez nunca tenha entrado num navio, e arrisco até dizer que alguns nunca tenham pisado num cais. São políticos profissionais, descomprometidos com resultados, com a

N

CARLOS PIMENTEL MENDES Jornalista especializado em transportes, colunista dos sites portogente.com.br e portfolk.com e autor do site novomilenio.inf.br.

economia nacional e os problemas locais, ali colocados às vezes até porque sua região de origem não os suportasse mais e era preciso arrumar uma colocação para o "afilhado". Ante um planeta que há 20 anos debate as questões ambientais com intensidade cada vez maior, a própria Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários) reconhece, numa pesquisa, que raro é o porto nacional com um gerente ambiental, muito menos uma política ambiental. Então, na hora de se fazer uma dragagem, sequer se sabe como preparar a documentação e obter as aprovações necessárias, e por dois anos o porto culpa a autoridade ambiental, até descobrir que ela não podia liberar uma documentação que sequer lhe foi encaminhada. E se a legislação do setor é confusa, a ponto de termos um Ministério de Transportes, uma secretaria especial em nível de ministério e uma Antaq flutuando entre os dois setores decisórios. Nos portos temos um conselho de autoridade

portuária que na prática se subordina aos subordinados e judicialmente é cobrado por decisões que legalmente não pode tomar, órgãos gerenciadores de mão de obra com sérios problemas por enfrentar e uma política de concessões de áreas que simplesmente ignora a lei e as licitações, com aditivos imorais. Completando o quadro, administradores que por decisões no mínimo insensatas estão criando enormes problemas legais e financeiros no setor, seja por erros grosseiros na área trabalhista, seja por decisões espúrias na relação com o empresariado. Não é difícil adivinhar quem vai pagar essa enorme conta, a ser apresentada mui breve. Enfim, precisamos de mais portos, a economia está crescendo, temos novas fronteiras econômicas surgindo. Precisamos dos portos atuais, é um investimento importante já feito e que não pode ser abandonado. Precisamos, porém, muito mais, de seriedade no trato com o erário e com o setor. Talvez só isso já bastasse, e por muito tempo.


“No terreno da logística há muito por fazer, e padecemos de um atraso em função de problemas de articulação entre os órgãos públicos”

ou garantir logística aos atuais?

Mercado deve sinalizar as suas necessidades WILEN MANTELI

té a década de 80, a mentalidade que prevalecia no setor portuário brasileiro, então operado quase exclusivamente pelo Estado, era a de empregar os recursos disponíveis na construção de novos portos. A Portobrás, autoridade portuária central, e também as Companhias Docas, que lhe eram subordinadas, colocavam engenheiros nos postos de alta gerência e privilegiavam as obras e a expansão da infraestrutura em detrimento da melhoria da produtividade. Esse modelo pode ter tido alguns méritos no tempo em que havia poucos portos no país, mas hoje está completamente ultrapassado. Isso não significa, evidentemente, que devemos inverter a equação e privilegiar investimentos em logística em detrimento da construção de novas instalações portuárias. Apenas, é importante entender que se trata de um falso dilema. Investir em logística e melhorias gerenciais, com foco na produtivi-

A

dade e na eficiência, é uma medida fundamental para maximizar o aproveitamento da atual capacidade instalada. Mas, à medida que a economia brasileira cresce, também é importante que o Brasil ofereça infraestrutura portuária à altura dos desafios do comércio exterior. Hoje, há uma relativa abertura para o capital privado no setor portuário, a concorrência é crescente, e a tendência é que o próprio mercado passe a sinalizar suas necessidades no que diz respeito aos serviços portuários. No terreno da logística há muito por fazer, e padecemos de um preocupante atraso em função de problemas de articulação entre os órgãos públicos com ingerência nos portos. Um dos maiores inimigos da eficiência logística, infelizmente, é o próprio governo, que não consegue fazer com que seus órgãos fiscalizadores – por exemplo nas áreas da alfândega, vigilância sanitária e trabalho – funcionem em sinergia.

Na verdade, há numerosos e graves problemas envolvendo, ainda que indiretamente, a logística portuária e que são de responsabilidade do governo. Por exemplo: é preciso melhorar os acessos terrestres e aquaviários aos portos e terminais, licitar as áreas públicas ainda disponíveis, e descentralizar e profissionalizar as administrações portuárias, que permanecem sujeitas a nefastas interferências político-partidárias. Por esses e outros motivos, o tempo de espera nas operações portuárias brasileiras ainda é excessivo quando comparado aos países desenvolvidos. Nesse sentido, a produtividade e a eficiência logística devem merecer, sim, atenção prioritária. Não adianta construir novos portos se o governo não fizer a sua parte, seja promovendo a necessária sinergia entre os órgãos fiscalizadores, seja controlando o “grevismo” dos servidores atuantes no setor portuário. Será jogar dinheiro fora.

WILEN MANTELI Presidente da Associação Brasileira dos Terminais Portuários



CNT TRANSPORTE ATUAL

FEVEREIRO 2010

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“Os trabalhadores em transporte, com o apoio do Sest/Senat, também investiram em desenvolvimento pessoal e profissional”

CLÉSIO ANDRADE

OPINIÃO

Nova era de prosperidade Brasil pós-crise se consolida como a nação do futuro. A economia prospera, a atividade empresarial se acelera e os investimentos são retomados pelos empreendedores, isso sem mencionar o forte incentivo e a contribuição que representam as obras governamentais e os investimentos previstos para preparar o país para a Copa de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. Acredito que uma nova onda de prosperidade ronda nosso país. A nosso favor também está o cenário internacional. O país demonstrou que atingiu a maturidade, com economia estável, contas externas ajustadas, perspectivas promissoras de crescimento sustentável e, o mais importante, com ações concretas em prol da preservação ambiental, revelando à comunidade internacional seus compromissos e contribuição ao nosso futuro em comum. Em poucos anos, o país se sobressaiu no cenário mundial, ganhou a confiança de investidores externos e provou ao mundo que possui sistema financeiro forte, com reservas internacionais e indicadores socioeconômicos em níveis de conforto e estabilidade. Esta será a década de prosperidade para o Brasil. Como não poderia deixar de ser, o setor de transporte participa ativamente desse processo de arrancada da economia, todos os modais estão prontos a participar do desenvolvimento da nação, empresários investiram em ampliação e modernização das empresas,

O

em equipamentos que proporcionem mais produtividade, em tecnologia de última geração, em gestão moderna e eficiente e em preparação gerencial de seus executivos. Os profissionais autônomos do transporte, taxistas e caminhoneiros também investiram em veículos mais modernos, com mais tecnologia embarcada, prepararam-se e se profissionalizaram de modo a gerir seu veículo com maior eficácia e eficiência. Os trabalhadores em transporte, com o apoio do Sest/Senat, cujo Conselho Nacional eu tenho a honra de presidir, também investiram em seu desenvolvimento pessoal e profissional. Na última década houve a conscientização de que sem educação não há futuro, portanto, nossos profissionais elevaram sua escolaridade, aumentaram sua qualificação e especialização, profissionalização e empregabilidade. Como transportador, posso afirmar que nosso setor hoje participa com 15% da formação do PIB, contribuindo para a riqueza nacional, acompanhando e dando suporte ao ritmo da atividade econômica. O transporte é acima de tudo um importante indicador do ritmo e grau de aquecimento da economia doméstica, das exportações e importações do país, está presente em todos os elos da cadeia produtiva. Sem ele não há distribuição nem circulação de insumos, bens e pessoas, sendo essencial para o novo ciclo de prosperidade brasileira que caracterizará esta década.


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CNT TRANSPORTE ATUAL

CNT CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO TRANSPORTE PRESIDENTE Clésio Soares de Andrade PRESIDENTE DE HONRA DA CNT Thiers Fattori Costa VICE-PRESIDENTES DA CNT

FEVEREIRO 2010

Marcus Vinícius Gravina Tarcísio Schettino Ribeiro José Severiano Chaves Eudo Laranjeiras Costa Antônio Carlos Melgaço Knitell Abrão Abdo Izacc Francisco Saldanha Bezerra Jerson Antonio Picoli José Nolar Schedler Mário Martins

Escreva para CNT TRANSPORTE ATUAL As cartas devem conter nome completo, endereço e telefone dos remetentes

DOS LEITORES imprensa@cnt.org.br

TRANSPORTE DE CARGAS

Newton Jerônimo Gibson Duarte Rodrigues TRANSPORTE AQUAVIÁRIO, FERROVIÁRIO E AÉREO

Meton Soares Júnior TRANSPORTE DE PASSAGEIROS

Marco Antonio Gulin TRANSPORTADORES AUTÔNOMOS, DE PESSOAS E DE BENS

José Fioravanti PRESIDENTES DE SEÇÃO E VICE-PRESIDENTES DE SEÇÃO TRANSPORTE DE PASSAGEIROS

Otávio Vieira da Cunha Filho Ilso Pedro Menta TRANSPORTE DE CARGAS

Flávio Benatti Antônio Pereira de Siqueira

ESQUADRILHA DA FUMAÇA TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE CARGAS

Luiz Anselmo Trombini Eduardo Ferreira Rebuzzi Paulo Brondani Irani Bertolini Pedro José de Oliveira Lopes Oswaldo Dias de Castro Daniel Luís Carvalho Augusto Emílio Dalçóquio Geraldo Aguiar Brito Viana Augusto Dalçóquio Neto Euclides Haiss Paulo Vicente Caleffi Francisco Pelúcio

TRANSPORTADORES AUTÔNOMOS, DE PESSOAS E DE BENS

José da Fonseca Lopes Edgar Ferreira de Sousa TRANSPORTE AQUAVIÁRIO

Glen Gordon Findlay Hernani Goulart Fortuna TRANSPORTE FERROVIÁRIO

Rodrigo Vilaça TRANSPORTE AÉREO

Urubatan Helou José Afonso Assumpção CONSELHO FISCAL (TITULARES) David Lopes de Oliveira Éder Dal’lago Luiz Maldonado Marthos José Hélio Fernandes CONSELHO FISCAL (SUPLENTES) Waldemar Araújo André Luiz Zanin de Oliveira José Veronez

TRANSPORTADORES AUTÔNOMOS, DE PESSOAS E DE BENS

Edgar Ferreira de Sousa José Alexandrino Ferreira Neto José Percides Rodrigues Luiz Maldonado Marthos Sandoval Geraldino dos Santos Dirceu Efigenio Reis Éder Dal’ Lago André Luiz Costa José da Fonseca Lopes Claudinei Natal Pelegrini Getúlio Vargas de Moura Braatz Nilton Noel da Rocha Neirman Moreira da Silva TRANSPORTE AQUAVIÁRIO, FERROVIÁRIO E AÉREO

Paulo Duarte Alecrim André Luiz Zanin de Oliveira Moacyr Bonelli José Carlos Ribeiro Gomes Paulo Sergio de Mello Cotta Marcelino José Lobato Nascimento

DIRETORIA

Ronaldo Mattos de Oliveira Lima

TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE PASSAGEIROS

José Eduardo Lopes

Luiz Wagner Chieppe Alfredo José Bezerra Leite Jacob Barata Filho José Augusto Pinheiro

Fernando Ferreira Becker Pedro Henrique Garcia de Jesus Jorge Afonso Quagliani Pereira Eclésio da Silva

Muito boa a reportagem publicada na última edição da revista CNT Transporte Atual sobre a Esquadrilha da Fumaça. Tive o prazer de presenciar uma apresentação dela e posso garantir que é realmente um show à parte. A matéria mostrou um lado que quem apenas assiste a uma apresentação não tem como saber, os bastidores da esquadrilha. Agora, é só aguardar para ver quando terei a oportunidade de assistir outra apresentação, dessa vez entendendo mais sobre as dificuldades que os pilotos, muito corajosos por sinal, tem na carreira. João Vítor de Castro João Monlevade – MG COP-15 A revista CNT Transporte Atual publicou uma excelente matéria sobre o fiasco que foi a COP-15 (15ª Conferência das Partes), que aconteceu em Copenhague, na Dinamarca. A reportagem ficou completa, principalmente com a entrevista feita com o pesquisador Carlos Nobre, que participou da conferência e pôde dar uma visão mais coerente sobre os motivos de o encontro ter frustrado tanta gente. Parabéns à revista pelo ótimo trabalho quando se trata

do meio ambiente, já que os automóveis são um dos principais poluidores. Torço para que esses trabalhos continuem. Marília Baeta Rio Branco – AC PESQUISA DE FERROVIAS Parabéns à revista CNT Transporte Atual pela Pesquisa de Ferrovias 2009. O levantamento apresenta dados precisos que mostram a necessidade de investimentos no setor, um dos mais importantes no Brasil. A Pesquisa CNT serve como alerta aos órgãos responsáveis no sentido de se tomar atitudes com relação a problemas sérios como as passagens de nível críticas, que são grandes entraves quando se fala na eficiência do transporte ferroviário. Que a CNT continue sempre com as pesquisas que são tão úteis para os trabalhadores na área dos transportes. Vicente Ferreira Ponta Grossa –PR

CARTAS PARA ESTA SEÇÃO

SAUS, quadra 1, bloco J Edifício CNT, entradas 10 e 20, 11º andar 70070-010 - Brasília (DF) E-mail: imprensa@cnt.org.br Por motivo de espaço, as mensagens serão selecionadas e poderão sofrer cortes




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