EDIÇÃO INFORMATIVA DO SISTEMA CNT
CNT
ANO XV NÚMERO 175 MARÇO 2010
T R A N S P O R T E A T U A L
Exemplo a ser seguido Brasil não tem legislação específica e, por isso, recicla apenas 1,5% dos veículos, índice que chega a 95% na Europa e Estados Unidos. Já o descarte dos pneus é regulado por lei e mostra resultados
LEIA ENTREVISTA COM O ENGENHEIRO JOSÉ AUGUSTO VALENTE
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REPORTAGEM DE CAPA Sem ter uma legislação específica, Brasil recicla apenas 1,5% dos veículos, enquanto na Europa e nos Estados Unidos o índice chega a 95%. Lei que disciplina o descarte de pneus já permitiu o reaproveitamento de 1,2 milhão de toneladas Página 24
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ANO XV | NÚMERO 175 | MARÇO 2010
ENTREVISTA
MARIA BUZINA
José Augusto Valente fala sobre infraestrutura
Artista plástica usa lonas de caminhão para produzir bolsa
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PESQUISA • Estudo realizado pelo Instituto Ilos mostra que 36% dos usuários da malha ferroviária pretendem ampliar o uso do modal em 2010
CAPA IVSON/RECICLANIP/DIVULGAÇÃO
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TRANSPORTE URBANO
AQUAVIÁRIO
EDIÇÃO INFORMATIVA DO SISTEMA CNT CONSELHO EDITORIAL Almerindo Camilo Bernardino Rios Pim Etevaldo Dias Lucimar Coutinho Virgílio Coelho
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Antaq quer ampliar Serviço ganha fiscalização nas eficiência com operações comerciais tecnologias PÁGINA
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Almerindo Camilo [almerindocamilo@sestsenat.org.br] EDITOR-EXECUTIVO Ricardo Ballarine [ricardoballarine@sestsenat.org.br]
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imprensa@cnt.org.br Publicação da CNT (Confederação Nacional do Transporte), registrada no Cartório do 1º Ofício de Registro Civil das Pessoas Jurídicas do Distrito Federal sob o número 053. Tiragem: 40 mil exemplares
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ESCOLA DO TRANSPORTE
Abertas inscrições para três cursos de aperfeiçoamento
Os conceitos emitidos nos artigos assinados não refletem necessariamente a opinião da CNT Transporte Atual
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AVIAÇÃO • Cresce a demanda por viagens aéreas nos
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CICLO DE PALESTRAS Saiba mais sobre os temas de 2010
períodos de alta temporada no país, mas índice de atrasos e cancelamentos permanece alto nos aeroportos PÁGINA
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RESPONSABILIDADE
SEST/SENAT
Educação no trânsito mobiliza e premia empresas gaúchas
Campanha contra a exploração sexual teve blitze pelo país
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INAUGURAÇÕES Confira os detalhes das unidades de Caruaru e Santo Agostinho, que serão abertas para o trabalhador do transporte neste mês. Agora Pernambuco soma cinco unidades – além das novas, Recife, Petrolina e São Caetanos/Auto Posto Lira.
E MAIS Despoluir • Projeto do programas • Noticiário sobre meio ambiente
Canal de Notícias • Pesquisas e Sala de Imprensa • Noticiário do Brasil e do mundo
EDUCAÇÃO
Seções Humor
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Alexandre Garcia
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Mais Transporte
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Boletins
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Debate
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Opinião
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Cartas
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O Sest/Senat lançou três novos cursos do Programa de Formação Especializada em Transporte: passageiros, cargas e taxistas. Veja no site os detalhes dos cursos e como fazer para se inscrever ou indicar para o profissional de sua empresa.
Escola do transporte • Cursos • Estudos e pesquisas
Sest/Senat • Cursos e palestras • Voluntariado e colocação no mercado de trabalho
O portal disponibiliza todas as edições da revista CNT Transporte Atual
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“A dívida pública chilena equivale a 4% do PIB. A nossa é quase metade do PIB. A consequência é que a taxa de juros está em 2,5% ao ano” ALEXANDRE GARCIA
O terremoto e a chuva rasília (Alô) – Cálculos da Nasa mostram que o terremoto no Chile foi tão forte que alterou o eixo e a rotação da Terra. Os dias agora são 1,26 milionésimo de segundo mais curtos. O Brasil tem ainda menos tempo para chegar ao seu futuro, que demora. Não é o caso do Chile, um país latino-americano que conseguiu sair do seu passado, assim como vai sair de mais um terremoto. Cada vez que saio em férias, trago comparações com o país visitado. Já falei aqui das estradas da Itália e Portugal, que absorvem chuva e têm cerca de 20 cm de espessura de asfalto. Pode até haver alguma corrupção, mas sobra muito para o asfalto. Contudo, Portugal e Itália são países da Comunidade Europeia; podem dizer que não vale a comparação, que daqui a pouco vou querer comparar os caminhos brasileiros com as “autobahnen” alemãs. Como voltei do Chile dias antes do terremoto e estive por lá pela sétima vez, e por quase um mês, sinto-me à vontade para comparar o Brasil com outro país sul-americano. Andei pelo Chile de norte a sul – portanto, percorri, de carro, de van, de avião, uma distância equivalente à do Oiapoque ao Chuí. E vou falar um pouco do que senti. Como estamos em ano eleitoral, começo pela política. Por aqui, ainda se discute tamanho do Estado, abertura, liberdade econômica, excesso de impostos. Por lá, esses são assuntos do passado. Pinochet, enquanto detinha o poder político, fez a abertura econômica. Só depois entregou o poder. Por aqui, tivemos prioritariamente uma abertura política e até hoje ficamos sem abertura econômica. Ficou tão bom por lá e deu tão certo a política econômica, que os governos socialistas que se seguiram a Pinochet, por 20 anos, não tiveram o menor constrangimento em manter a economia no mesmo rumo. A dívida pública chilena equivale a 4% do PIB. A nossa é quase metade do PIB. A consequência é que a taxa de juros está em 2,5% ao ano. E o Banco Central, que cuida da moeda, é autônomo por lei, não por concessão presidencial. Um motorista chileno me perguntou por que um veículo importado no Brasil custa no Chile bem menos
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do que custa do Brasil. “Impostos”, respondi. E ele levou um susto quando disse que trabalhamos mais de cinco meses por ano só para pagar impostos. A diferença é gritante entre o custo do porto de Santos e o de Valparaíso. O motorista brasileiro que atravessa a fronteira no Cristo Redentor, nos Andes, com seu caminhão, quando começa a descer para o Valle Central, já percebe que está num país diferente dos demais sul-americanos. A estrada é perfeita. No centro e também na Patagônia ou no deserto do Atacama. Fui reapresentado aos buracos e às sacudidas quando voltei a Brasília. O policiamento das estradas é feito pelos Carabineros, a força policial que também cuida das cidades e das fronteiras. Pois essa polícia é a instituição mais respeitada e mais querida do país. Imaginem: a polícia é a instituição de maior prestígio! Óbvio que não vai se encontrar suborno nas estradas nem roubo de carga. Há a cultura de respeito à lei. As cidades são seguras e as estradas também. Tanto que o sinal Pare, que aqui ninguém obedece, significa parar para o motorista chileno, tal como aconteceria nos Estados Unidos ou na Alemanha. Em organização, o Chile é primeiro mundo. Nem perderia, em bem-estar do povo, para a Itália, França, Espanha ou Portugal, segundo a modesta observação de quem, como eu, costuma andar por lá quase todos os anos. Em vez de mirar-nos na Venezuela e em Cuba, temos o bom exemplo do Chile a nos ensinar. Por sua estabilidade política, pela economia, pelos índices de desenvolvimento humano, o Chile é a estrela da América Latina – o oposto de manias ultrapassadas que vicejam pela região, de demagogia, populismo, autoritarismo e falso socialismo. E é por tudo isso que um terremoto entre os mais fortes da história da humanidade não abala o país organizado, previdente, com reservas para enfrentar sismos. Aqui, as previsíveis chuvas de verão derrubam pontes, viadutos e arrancam a camadinha de asfalto que disfarça de estradas muitas de nossas picadas. Chuva previsível no CentroOeste já é suficiente para atrasar o escoamento de nossas principais riquezas do campo. O país que lida com terremoto pode dar lições ao país que não sabe lidar com as chuvas.
“O TAV tem uma importância estratégica porque, em longo prazo, nós aérea por vários motivos, como poluição e consumo de querosene,
ENTREVISTA
JOSÉ AUGUSTO VALENTE
O grande d POR
esmo com bons resultados alcançados nos últimos anos, a infraestrutura de transporte sempre será o grande desafio para o desenvolvimento do país, acredita José Augusto Valente, engenheiro atuante há 37 anos na área de logística e transporte. Valente foi presidente do DER (Departamento de Estradas de Rodagem) no Rio de Janeiro em 2002 e titular da Secretaria de Política Nacional de Transportes, do Ministério dos Transportes, entre maio de 2004 e junho de 2007. Há três anos, ele mantém o blog Logística e Transporte (http://logisticaetransportes.blogs pot.com/) para discutir os principais assuntos relacionados ao setor no país. De acordo com ele,
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LIVIA CEREZOLI
“são poucos os sites que informam sobre a área de logística e transporte de uma forma sistêmica” e por isso surgiu a ideia do blog. Desde a criação até final de janeiro deste ano, a página havia recebido 683.270 visitas com 1.075.539 page views (acesso a cada uma das páginas disponíveis no blog). Ele conversou com a CNT Transporte Atual sobre a ideia de criar uma página com informações específicas sobre o setor transportador, investimentos em obras e a necessidade da substituição da matriz de transporte. A entrevista foi feita na Biblioteca do Transporte, na sede da CNT, em Brasília. Confira abaixo os principais trechos. Você deixou a vida pública para trabalhar com consultoria
e, desde então, mantém o blog Transporte e Logística. Por que criar um blog para discutir esse assunto? Eu constatei que havia muitos poucos sites que informavam sobre o que estava acontecendo nessa área de uma forma global, sistêmica. Você tem, por exemplo, sites institucionais como o da CNT, da NTC e outros de federações de transporte de carga. Mas é tudo muito localizado. Então, como eu tinha acabado de coordenar no Ministério dos Transportes, em 2006, o PNLT (Plano Nacional de Logística e Transporte), que tem uma visão global e está diretamente ligado à perspectiva de desenvolvimento da economia nos próximos 20 anos, e como a logística vinculase a isso, eu tive a ideia de fazer o
blog. Até onde eu sei, foi o primeiro blog de um dirigente do governo federal. A finalidade era dar uma abordagem diferenciada aos assuntos tratados pela imprensa e pelos sites. Juntando a isso, como eu era do governo, queria passar a visão e as informações internas sobre o assunto. Queria falar para a sociedade, mas também para dentro do próprio ministério. Como você seleciona os assuntos que serão abordados nas postagens do blog? Eu observava as matérias que saíam na grande imprensa e percebia que muitas de logística e transporte mereciam comentários. Os assuntos relacionados ao modal rodoviário são os mais comentados. Foram 334 posts
JÚLIO FERNANDES/NCI-CNT
temos que reduzir a movimentação um combustível não renovável”
esafio desde a criação. Depois, em segundo lugar, está o aeroviário, com 235 posts. Esse assunto acabou entrando muito por conta do período que se dizia que havia um apagão aéreo no país e eu tentava, e acho que consegui, provar que nunca houve caos aéreo no país. Os comentários sobre portos estão em terceiro lugar, com 188 postagens, ferroviário com 185, o aquaviário com 87, e na rabeira, o dutoviário, com apenas 11 postagens. Eu até gostaria de escrever mais sobre o dutoviário, mas como ele não aparece muito na imprensa, não adianta. Minha lógica é tratar de assuntos que estão na mídia no dia a dia.
fazer pesquisas qualitativas. Minha intenção é fazer isso no portal sobre logística e transporte que estou criando e em breve deve estar acessível. O que sei é que muitos jovens acessam o blog, seja para fazer trabalho escolar ou da faculdade. Também acredito, por alguns retornos que tenho, que o pessoal do setor acessa. São dirigentes de federações de transportadores de cargas. A minha ideia sempre foi chegar a todos os congressistas, dirigentes de vários órgãos do governo federal, de algumas prefeituras e de lideranças regionais até o pessoal que atua na área de transporte.
Qual o perfil dos seus seguidores? Eu não tenho recursos para
Levando em conta as discussões do seu blog, o grande desafio para o crescimento
econômico no país ainda é a infraestrutura de transportes? Sempre vai ser. Existe uma correlação, e eu gosto de lembrar isso. As pessoas sempre falaram desse assunto e depois esquecem o que falaram. Em 2003, dizia-se que nós teríamos um apagão logístico e que isso impediria o crescimento do país. Em 2004, 2005 e 2006, as pessoas continuaram falando a mesma coisa. Em 2007, 2008 e 2009, elas também falaram. Em artigo recente que publiquei no blog mostro em números o que aconteceu claramente. No período de 1997 a 2008, houve crescimento do PIB de 80%, saindo de US$ 871 bilhões para US$ 1,573 trilhão. A corrente de comércio exterior cresceu de US$ 112 bilhões em 1997 para US$ 371 bilhões em 2008. Foi um cres-
cimento de 231,5%. E a abertura da economia, que é a corrente de comércio dividida pelo PIB, cresceu de 13% para 24%. Se houve um crescimento expressivo da economia brasileira e da corrente de comércio exterior, isso só seria possível com uma boa infraestrutura. Agora, isso é a primeira coisa e não responde tudo, porque até em países mais desenvolvidos, onde as coisas já estão estabilizadas há muitos anos, ainda é preciso fazer investimentos ou de manutenção ou mesmo de melhorias em infraestrutura. Toda a parte de modernização de equipamento vai ser sempre uma necessidade. Nesse sentido, é um desafio que está colocado, por isso precisamos nos antecipar ao que virá na frente e fazer planejamentos.
Que avaliação pode ser feita do nível de investimentos em infraestrutura de transportes no Brasil nos últimos anos? Eu diria que, por enquanto, ele é adequado. Algumas coisas, se não acontecerem, vão criar algumas deficiências. Por exemplo, as dragagens dos portos que têm previsão para conclusão até 2011. Se até esse prazo as obras forem feitas, nós não teremos surpresas na área portuária, principalmente na parte de contêineres e nos portos públicos. Acredito também que os investimentos necessários estão sendo feitos nas principais rodovias, ferrovias e hidrovias, mesmo que neste último, em volume bem menor do que seria desejável. No aeroviário, também não existem problemas hoje. Pode ser que daqui a dois anos a gente chegue à conclusão de que tudo que estava previsto não aconteceu, mas, por enquanto, o que está em andamento vai dar resposta para a Copa do Mundo e para as Olimpíadas. Nessa análise estão incluídos apenas os investimentos públicos? É importante perceber que os investimentos que estão sendo feitos hoje em infraestrutura não são exclusivos do governo federal e muito menos do que está no Orçamento ou no PAC. Há muitos investimentos que são feitos por
conta de medidas institucionais. Por exemplo, a modernização dos portos e ferrovias acontece por meio de uma lei chamada Reporto. Os operadores privados de terminais públicos podem comprar seus equipamentos com isenção fiscal grande. Isso é um estímulo para eles continuarem investindo. A Copa e as Olimpíadas têm contribuído para a discussão de novas soluções para o transporte no Brasil. Eventos desse tipo são os grandes motivadores para a realização de obras de infraestrutura no país? Vamos dizer que eles são um fator psicossocial muito forte. É algo que mexe com o imaginário da população e, portanto, todo mundo discute o assunto. A imprensa trabalha com esse tema, os governos incluem obras relacionadas a esses eventos em seus programas. Sem dúvida, a Copa e as Olimpíadas criam um grande estímulo, são fatores de sinergia. Quer dizer, ninguém discorda que temos que fazer investimentos para que eles aconteçam. Mas o real mesmo é bem menos do que vem se falando, porque o que norteia o desenvolvimento do país e as obras necessárias são a economia e o comércio exterior. Se o Brasil crescer muito internamente e mantiver o mesmo padrão externo, você vai
MODAL José Augusto Valente defende medidas
precisar muito menos de algumas obras que estão previstas.
“Até em países onde as coisas já estão estabilizadas há muitos anos é preciso investir em melhorias”
O governo federal já sinalizou a elaboração de um novo PAC para ser executado nos próximos anos, independente de quem assuma a Presidência. Quais devem ser as prioridades do novo programa? Precisamos deixar de lado a ideia do olhar individual para esta ou aquela obra e ter uma visão mais sistêmica. Enquanto diretriz geral, na área de logística e transporte, nós temos que aumentar sensivelmente a participação do modal aquaviário na matriz de transporte. O ferroviário também precisa ser aumentado, mas o patamar de hoje já é bastante
JOSÉ HILDE/FOLHA DE RONDÔNIA/FUTURA PRESS
No período de 1997 a 2008, houve crescimento de
institucionais para aumentar a participação de hidrovias e cabotagem
razoável. Na parte de hidrovias e cabotagem ainda precisamos avançar muito. E nem são obras físicas, mas medidas institucionais. É preciso mexer no marco regulatório. Há coisas que dependem de investimentos em infraestrutura e outras até mesmo da criação de novas leis. O governo federal tem olhado de forma satisfatória para as ferrovias, hidrovias e vias marítimas para que seja possível essa redução na utilização do modal rodoviário e crescimento dos demais? Existem algumas dificuldades que ainda não foram superadas. A principal é como funciona o sistema ferroviário brasileiro. Por
conta da maneira como foi feita a concessão de toda a malha, hoje, por exemplo, não existe a possibilidade de um grupo de empresas siderúrgicas escoarem seus produtos por ferrovias por conta própria. Eles têm que conseguir preço com a operadora da malha. É certo que as empresas concessionárias não têm nenhuma responsabilidade sobre como foi feita a concessão. Foi uma regra definida pelo governo. É ela que eu questiono. O modelo permite que as empresas sejam praticamente donas da malha. Para mim, a regra da concessão deveria definir que a via continua sendo da União, como acontece na Europa, na maioria dos países, e nas rodovias brasileiras. A operação é privada, mas as
80% do PIB estradas continuam sendo públicas e seguem as regras estabelecidas pelo governo. A ANTT prepara a renovação dessas concessões ferroviárias. Alguma coisa precisa ser mudada? O primeiro passo que deve ser alterado já está em andamento na ANTT, por orientação da Casa Civil. A agência está estudando como mexer na questão do direito de passagem e do tráfego mútuo. Isso é delicado porque precisa ser alterado, mas as operadoras devem concordar. O governo não tem interesse nem pode acabar com as concessões.
O projeto do TAV (Trem de Alta Velocidade), apresentado pela ANTT, é viável do ponto de vista econômico, mesmo que ele não esteja pronto para os grandes eventos esportivos que o país vai receber? Desde o início, para mim, ficou muito claro, e essa é uma opinião muito pessoal, que o TAV é um projeto estratégico. A importância dele é estratégica. Eu não me pergunto se ele é viável, se é autossustentável ou se a receita gerada pelos usuários vai financiar o projeto. O TAV tem uma importância estratégica porque, em longo prazo, nós temos que reduzir a movimentação aérea por vários motivos, como poluição e consumo de querosene, um combustível não renovável. Temos também que contar a questão geopolítica com resultado econômico. Se o Brasil for pioneiro na América do Sul na implantação desse projeto, tem condições de desenvolver um parque industrial que permita, à medida que se ganha escala e com o avanço da tecnologia, ter índices muito mais baixos de manutenção e implantação. Por isso é tão importante a obrigação da transferência de tecnologia estabelecida pelo governo. O Brasil vai ter autonomia e isso vai ser muito importante para os próximos 25 ou 30 anos no papel que o país deve assumir dentro da América do Sul. l
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MAIS TRANSPORTE SEST/SENAT
Unidade de Curitiba recebe ônibus para treinamento unidade do Sest/Senat de Curitiba adquiriu em dezembro de 2009 um ônibus zero km para realizar as aulas práticas no curso Condução Segura. A compra do veículo Mercedes-Benz OF 1418/52 tem como objetivo treinar profissionais já experientes e que possuem CNH na categoria D. O ônibus com chassi Mercedes-Benz e carroceria Marcopolo irá percorrer as dez unidades do Sest/Senat no Estado. O veículo, que possui o aparelho econovias, instrumento que demonstra a evolução e o aproveitamento do aluno, foi adaptado para atender às necessidades do curso destinado aos motoristas de ônibus urbano. Para realizar as aulas práticas, o ônibus MB foi transformado e os assentos ganharam novas posições. Foram colocadas 16 cadeiras voltadas para frente e 16 para trás do veículo. Segundo a diretora da unidade, Juçara Negreiros, “a adaptação foi necessária para oferecer aos alunos um feedback durante a realização dos percursos”. No curso, com três dias de duração, serão trabalhados os conteúdos de condução segura
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e econômica. A carga horária é de 24 horas/aula e foram divididas entre os conteúdos teóricos e práticos, sendo destinadas 8 horas às orientações teóricas e 16 horas às aulas práticas. No primeiro dia, os alunos terão apenas aulas teóricas e, nos outros dois, as aulas serão ministradas de maneiras alternadas e em três estágios. Durante as aulas práticas, o aluno percorrerá três trajetos, sendo o primeiro de livre esco-
lha do participante. E em seguida será realizada uma aula teórica, onde o instrutor irá corrigir os erros cometidos pelos alunos. Para Juçara, “esse método de ensino tem como proposta observar como o aluno está dirigindo para depois orientá-lo, abordando assim as técnicas corretas de dirigibilidade”. O segundo percurso é determinado pelo professor e o aluno colocará em prática as orientações assimiladas em
sala de aula. O último trajeto é para avaliar o aluno. E, após essa etapa, será montado o perfil do participante com os resultados adquiridos no curso, por exemplo, de como está dirigindo e quanto economizou no trajeto. As turmas do curso serão fechadas com 15 alunos e as aulas começarão após a assinatura do contrato com uma seguradora. (Por Andrea Pinho) WELLINGTON PEDRO/DIVULGAÇÃO
REFORÇO Ônibus que será usado nas aulas práticas do curso Condução Segura
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CICLO DE PALESTRAS
Definidos os temas de 2010 Saúde da mulher e do homem, cuidados com a saúde mental, viva a melhor idade, prevenção de incêndios, manutenção básica veicular, cidadania no transporte urbano e cálculo de frete serão os assuntos abordados em 2010 no Ciclo de Palestras, projeto lançado em 2007 pelo Sest/Senat com o objetivo de contribuir para a disseminação de informações sobre atividades do setor de transporte, saúde e questões sociais e éticas. Com duração média de 1h30, as palestras são apresentadas nas unidades do Sest/Senat em todo o país, por especialistas nos assuntos abordados. Os temas são selecionados considerando a relevância, a atualidade e o interesse do público do setor e da comunidade em geral. Desde 2007, 680.587 pessoas já assistiram ao Ciclo de Palestras nas 133 unidades do Sest/Senat em todo o Brasil.
Entre os 32 temas já trabalhados estão: álcool e drogas, doação de órgãos, prevenção ao roubo de cargas, planejamento e orçamento familiar, logística integrada, depressão, direção preventiva, etiqueta profissional e novas tecnologias no setor de transporte. Para complementar a ação, durante a palestra é exibido um vídeo com depoimentos de quem já vivenciou, tem ou já teve alguma ligação com o assunto abordado e ainda por médicos, professores e instrutores. Visando a propagação e fixação das informações apresentadas, cada participante recebe ao final de cada palestra uma cartilha específica sobre o tema. O Sest/Senat leva também o Ciclo de Palestras a outras instituições, empresas e sindicatos. Mais informações ligue 0800-728 2891. (Katiane Ribeiro)
Carro híbrido A Allison Transmission e a Delphi Automotive fizeram um acordo para a produção de um novo veículo comercial com sistema híbrido – veículo movido por combustível e eletricidade que reduz a produção de poluentes. Segundo as empresas, o foco inicial da parceria é o uso dos
sistemas híbridos em pickups e veículos de entrega, transporte público, utilitários e transporte de resíduos. Um detalhe interessante é que o Departamento de Energia dos Estados Unidos liberou R$ 68 milhões para serem aplicados na produção da Allison Transmission. ALLISON TRANSMISSION/DIVULGAÇÃO
PROJETO Caixa de transmissão do carro com sistema híbrido
Identificação de passageiros
Queda nos furtos veiculares
Desde 1º de março os passageiros de aeroportos brasileiros são obrigados a apresentar, no portão de embarque, documento com foto ao funcionário da companhia aérea. A medida, chamada Identificação Positiva de Passageiros, já é praticada na Europa e na América do Norte. O objetivo é facilitar a vida dos passageiros, uma vez que aqueles
Segundo dados da pesquisa feita pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, houve uma queda de 2,67% no número de crimes contra veículos no último trimestre de 2009 no Estado. O diretor da empresa de tecnologia de segurança FocusMind, Miguel Durante, acredita que um dos motivos para essa queda é a utilização dos rastreadores e
que fazem check in pela internet, nos balcões de autoatendimento ou por celular, não precisarão mais carimbar o cartão de embarque antes de ir para a sala de embarque. As normas foram determinadas pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) com o apoio da Infraero, Polícia Federal, Receita Federal, Anvisa, Ministério da Defesa e das empresas aéreas.
bloqueadores, tanto nos veículos particulares como nas frotas comerciais. Segundo o diretor, o serviço de monitoramento não é muito caro, já que se paga a partir de R$ 55 mensais, além do equipamento a ser instalado, que sai por aproximadamente R$ 600. Para maiores informações acesse www.focusmind.com.br ou ligue 0800 772 1148.
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MAIS TRANSPORTE DIVULGAÇÃO
Brasil – Entre o passado e o futuro Obra busca analisar as transformações ocorridas no Brasil nos últimos sete anos e tenta desvendar sua dinâmica econômica, social, política e cultural. De Emir Sader e Marco Aurélio Garcia (org.). Ed. Fundação Perseu Abramo e Boitempo Editorial, 200 págs, R$ 35
Carreta da saúde atende a população carente
A Classe Média Brasileira Ambições, Valores e Projetos de Sociedade O crescimento da classe média nos países emergentes nas últimas décadas do século 20 e a participação do Brasil nesse processo são analisados. De Amaury Souza e Bolivar Lamounier Ed. Campus, 192 págs, R$ 49
Construída pela TruckVan, a pedido da Associação Beneficente Ebenézer, é equipada com gerador de energia, ar-condicionado, caixas-d’água, portas e elevador para portadores de necessidades especiais. Possui 15 metros de comprimento, banheiros, salas de exames e de descanso e uma cabine de raio X.
Vale testa simulador para trens A Vale inicia este mês, no Centro de Excelência em Logística, em Vitória (ES), os testes com o mais moderno simulador de operação de trens do mundo, desenvolvido em parceria com a Escola Politécnica da USP. O equipamento possibilita a reprodução fiel das
malhas ferroviárias da Vale em tecnologia 3D e recebeu R$ 2,5 milhões. O objetivo é treinar maquinistas com uma tecnologia que resultará em mais segurança, economia de combustível e menos desgaste das locomotivas e vagões. O simulador reproduzirá
as malhas das estradas de ferro Vitória a Minas, Carajás, Norte-Sul e Ferrovia Centro-Atlântica, que, juntas, somam mais de 10 mil km. A imagem em 3D é capaz de mostrar o comportamento do trem, em todo o trajeto, sob diferentes condições climáticas.
Folha Explica - Políticas Públicas Autora analisa a importância da gestão das políticas públicas para a promoção da justiça social e a consolidação da democracia no Brasil. De Marta M. Assumpção Rodrigues Ed. Publifolha, 104 págs, R$ 18,90
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Programa rende prêmios à Fetranspor
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Expansão
SELO VERDE
s ações de adequação da frota de ônibus do Estado do Rio de Janeiro às exigências ambientais em relação à emissão de gases poluentes do Programa Selo Verde renderam em fevereiro mais um prêmio para a Fetranspor (Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro), o Top Social da ADVB, na categoria de melhor projeto de meio ambiente. Conferida pela Associação Brasileira dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil, a
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premiação é um reconhecimento da instituição aos projetos voltados para as melhores práticas de responsabilidade social nas áreas de valorização humana, ambiental e cultural. Em janeiro, dirigentes da federação já haviam participado da solenidade de entrega do 4º Prêmio Brasil de Meio Ambiente, quando a instituição foi agraciada na categoria de melhor projeto de âmbito estadual, também pelas ações do Programa Selo Verde. O prêmio foi concedido pelo “Jornal do Brasil” e pelo “JB Ecológico”.
Instituído em 2007 pela Fetranspor, o Programa Selo Verde integra as ações de monitoramento das emissões de poluentes da frota de ônibus do Rio de Janeiro, realizadas pelos programas Economizar e Despoluir, o Programa Ambiental do Transporte da CNT, às determinações do Procon Fumaça Preta (Programa de Autocontrole de Fumaça Preta em Veículos de Ciclo Diesel), do Inea (Instituto Estadual do Meio Ambiente). (Por Sueli Montenegro)
Foram apresentados em fevereiro os estudos de Acessibilidade e o Plano de Expansão para o Porto de Santos. No evento, encontravam-se diversas autoridades do governo e do setor portuário, como o ministro Pedro Brito, da Secretaria Especial de Portos. Os estudos, feitos a partir de metodologia científica, pesquisas apuradas e amplo detalhamento, permitirão programar com precisão o que será modificado no porto nos próximos 15 anos. A expectativa é de que o porto movimente cerca de 230 milhões de toneladas em 2024, contra 82 milhões em 2009.
FETRANSPOR/DIVULGAÇÃO
Transnordestina
RECONHECIMENTO Dirigentes da Fetranspor recebem o prêmio concedido pela ADVB
A ferrovia Transnordestina – que ligará centros produtivos do semiárido nordestino aos portos de Supae (PE) e Pecém (CE) – deverá ter até 70% da obra concluída neste ano. O término está previsto para 2011. A informação é do presidente do BNDES, Luciano Coutinho, que acredita que a construção da ferrovia entrará num ritmo mais veloz este ano. A obra terá extensão de 1.730 km e ligará os Estados do Ceará, Pernambuco e Piauí. Seu custo está estimado em R$ 5,4 bilhões.
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HELIBRAS/DIVULGAÇÃO
MAIS TRANSPORTE Câmera de ré A empresa de acessórios automotivos DSW Automotive lançou em fevereiro a sua câmera de ré, que pode tornar mais segura as manobras de estacionamento. O produto foi projetado para ser instalado discretamente na placa traseira do veículo, é à prova-d’água e oferece visão noturna. Além da câmera, é necessária a
instalação de um monitor no veículo para a visualização. A DSW oferece também vários modelos de monitores de LCD para uso em automóveis. A câmara de ré da DSW chega ao mercado pelo preço médio de R$ 150, com todos os cabos necessários, e o monitor custa em média R$ 300.
SUCESSO Modelo EC725 vai equipar as Forças Armadas
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Faturamento recorde
SEGURANÇA Câmera facilita manobras em estacionamentos
A Helibras, empresa brasileira fabricante de helicópteros, registrou um recorde em 2009 ao faturar R$ 357 milhões com a entrega de 31 aeronaves, um volume 19% maior que o ano anterior. Além disso, no ano passado, a empresa vendeu 63 aeronaves, somando R$ 1,512 bilhão, resultado impulsionado
pelo contrato para fornecimento de 50 helicópteros EC725 para as Forças Armadas. As três primeiras unidades serão entregues no final de 2010. A empresa tem outro contrato com o Exército Brasileiro para modernizar a frota de 34 aeronaves do modelo Pantera, que dará mais 25 anos de vida útil a eles.
Navio solar faz primeira viagem Venda de caminhões reage O PlanetSolar, maior navio solar do mundo, segundo seus construtores, foi apresentado em Kiel, norte da Alemanha. A embarcação fará uma viagem pela Europa este ano e a volta ao mundo em 2011. Com 30 m de comprimento e 16 m de largura, o navio está equipado com painéis solares fotovoltaicos e será "limpo e silencioso",
segundo a companhia responsável pela embarcação. Poderá alcançar velocidade máxima de 15 nós (25 km/h) e tem capacidade para 50 pessoas. A viagem de 40 mil quilômetros deverá durar 140 dias, atravessando os oceanos Atlântico, Pacífico e Índico e o canal de Panamá até passar pelo canal de Suez para chegar ao mar Mediterrâneo.
O mercado de caminhões teve 109.146 unidades emplacadas em 2009. Segundo a Fenabrave, trata-se de uma queda de 11,47% em relação ao mesmo período do ano anterior. Em dezembro de 2009 foram emplacados 12.702 caminhões. As vendas subiram 14,14% na comparação com novembro do mesmo ano e tiveram um expressivo
crescimento de 50,20% sobre dezembro de 2008. A marca Volkswagen (MAN) liderou as vendas de caminhões em 2009, segundo a Fenabrave, com uma participação de 30,57%. A Mercedes-Benz ficou em segundo, com 28,17%; seguida por Ford (18,12%); Volvo (8,05%); Scania (7,42%) e Iveco (7,12%). Em 2010, previsão é crescer 13,50%.
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Secretário visita nova unidade em Pernambuco
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Licitações
SEST/SENAT
secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, Fernando Bezerra Coelho, visitou, em fevereiro, a nova unidade do Sest/Senat a ser inaugurada em Cabo de Santo Agostinho, a 41 km da capital Recife. Na ocasião, o secretário foi recepcionado pelo vice-presidente da CNT e presidente do Conselho Regional Nordeste III do Sest/Senat, Newton Gibson. Além de Cabo de Santo Agostinho, Caruaru também terá a sua unidade do Sest/Senat. As inaugurações estão marcadas para este mês. As duas unidades oferecerão
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atendimento médico-odontológico e cursos de aperfeiçoamento profissional para os trabalhadores em transporte e seus familiares. A rede física das unidades do Sest/Senat ainda conta com quadras poliesportivas, auditório, salão de festas, salas de aula contempladas com TV e vídeo, sala polivalente, oficina pedagógica, parque infantil, biblioteca, laboratório de informática e ampla área de lazer. Durante a visita, Gibson destacou a importância da construção das novas unidades para a região. “Os dois municípios só têm a ganhar. As rotas são de
grande importância por envolver polos de indústrias e serviços logísticos do Brasil. Por isso, o Sest/Senat vem para contribuir com o bem-estar do trabalhador de transporte e da comunidade”, enfatizou Gibson. Com as novas sedes, o Sest/Senat passa a contar com 135 unidades em todo o país. Dessas, cinco estão em Pernambuco – além de Cabo e Caruaru, Recife, Petrolina e São Caetano já têm unidades. O Conselho Regional do Nordeste III ainda engloba as unidades de Arapiraca e Maceió, em Alagoas. (Por Livia Cerezoli)
A diretoria colegiada da Antaq aprovou, em fevereiro, o edital de licitação e a minuta do contrato de arrendamento de instalações portuárias em Santos (SP) e Imbituba (SC). No porto paulista, a licitação é para arrendamento do terminal de granéis líquidos e, no porto catarinense, do terminal de fertilizantes e ração animal. Nos dois casos, a empresa vencedora assinará um contrato de concessão de 25 anos, prorrogáveis por mais 25. Em Santos, o vencedor da licitação terá de arcar com investimentos de pelo menos R$ 10,8 milhões e desembolsar R$ 33,8 milhões para pagamento da infraestrutura existente. Já em Imbituba, a empresa vencedora terá de fazer um investimento mínimo de R$ 17,8 milhões.
FETRACAN/DIVULGAÇÃO
Nova fábrica
INAUGURAÇÃO Unidade de Cabo de Santo Agostinho será entregue este mês
A nova fabricante de caminhões NC2 Global LLC, formada pela joint venture entre a Navistar International Corporation (NYSE: NAV) e a Caterpillar Inc. (NYSE: CAT), vai operar no Brasil para produção e comercialização de caminhões. A Navistar e a Caterpillar anunciaram a criação da NC2 para desenvolvimento, produção e comercialização global de caminhões fora da América do Norte e Índia em setembro passado.
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RECICLAGEM
Moda de estrada De Juiz de Fora, artista plástica utiliza lonas de caminhão para produzir bolsas femininas POR
olsas femininas que carregam, além de uma infinidade de itens – de documentos e dinheiro aos mais variados tipos de produtos de beleza –, um pouco da história de quem passa a maior parte de suas vidas nas estradas. As lonas usadas pelos caminhoneiros para cobrir diversos tipos de mercadorias transportadas de norte a sul do país ganharam uma nova utilidade e se transformaram na matériaprima essencial para a marca Maria Buzina, criada, em 2004,
B
CATÁLOGO Modelo usa bolsa
LIVIA CEREZOLI
pela artista plástica Gabriela Gonçalves Pereira, em Juiz de Fora (MG). A empresa produz bolsas, carteiras, malas de viagens e cintos com as lonas que já não podem mais ser utilizadas para cobrir a carga dos caminhões devido ao desgaste do uso. A originalidade dos produtos está justamente em preservar as marcas deixadas pelo tempo no material. “As marcas da lona de caminhão contam a história dos caminhoneiros e das estradas, da mesma forma que as marcas
da nossa vida contam as nossas histórias”, afirma Gabi, como a artista é conhecida. Neta e bisneta de caminhoneiros, ela sempre teve o contato com esse mundo. “Quando falo das marcas, da história, lembro do meu avô que tinha muitos queloides (cicatriz) pelo corpo porque foi vítima de um acidente com o combustível que carregava em galões dentro do caminhão. Na época dele, eram escassos os postos de abastecimentos nas estradas.” As marcas não são só físi-
cas. Como as lonas são compradas dos próprios caminhoneiros na beira das estradas, Gabi faz questão de ouvir as histórias de vida que eles têm para contar. “Em uma dessas negociações de compra da lona, ouvi de um caminhoneiro triste, que viajava para o Nordeste, o desabafo por não poder estar presente no momento em que o filho receberia o diploma de advogado. É uma marca de vida”, diz ela. E as histórias são passadas adiante. No momento da venda das peças, a artista plástica faz
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FOTOS MARIA BUZINA / DIVULGAÇÃO
da grife Maria Buzina em foto de divulgação da marca mineira de Juiz de Fora
“As marcas da lona de caminhão contam a história dos caminhoneiros e das estradas”
questão de compartilhar com seus clientes os casos curiosos, tristes ou engraçados relatados pelos caminhoneiros. De acordo com ela, essa também é uma forma de valorizar o trabalho desses profissionais. “Eles têm uma importância enorme nas nossas vidas. São eles que possibilitam a chegada dos mais variados produtos na nossa mão e, na maioria das vezes, não percebemos o quão rico é o trabalho deles.” A iniciativa de trabalhar com o material veio depois do contato com um loneiro, profis-
CORES Bolsa Aconchegante, modelo criado pela artista plástica
sional que conserta os buracos das lonas dos caminhões. No início, Gabriela utilizava o couro na produção das suas bolsas. “Eu ganhei uma lona enorme, de 90 m2, toda suja. Fiquei meio sem saber o que fazer com aquilo por um tempo. Depois, decidi cortar alguns pedaços e fui lavando aos poucos. As bolsas surgiram de forma quase espontânea.” Desde então, o processo de produção permanece o mesmo. Toda a lavagem da lona é feita manualmente, apenas com água e sabão. Dessa forma,
segundo a artista, é possível eliminar a sujeira do material e preservar as marcas conquistadas com o tempo, as mesmas que dão o toque especial às bolsas. Para Gabi, cada marca, cada furo, cada mancha tem muito a dizer. De acordo com ela, os apliques de tecido e tinta feitos nas bolsas, muitas vezes, valorizam essas marcas que o tempo fez nas lonas e na vida dos caminhoneiros por meses, anos ou décadas. Para o consultor de estilo Rodrigo Cezário, as bolsas conservam uma identidade bem
ENVOLVIMENTO
Caminhoneiros e clientes aprovam a ideia O trabalho de reaproveitamento da lona para a fabricação das bolsas é aprovado por quem fornece a matéria-prima e por quem consome os produtos da marca Maria Buzina. De consumidora, a funcionária pública do Estado do Rio de Janeiro Lana Ventura Brito Ramiro passou a revendedora. Ela lembra que as pessoas a paravam na rua para saber onde havia comprado a bolsa. “A partir daí passei a revender e a aceitação é ótima. As bolsas são bem-estilosas. Não é qualquer mulher que usa. Tem que ter muita personalidade”, afirma ela. Foi por meio de uma amiga que a empresária paulista Ana Carolina Vaz conheceu a marca. De acordo com ela, além do estilo do produto, saber que as bolsas reutilizam materiais pesou na sua decisão de compra. “Sou do tipo ‘ecochata’ e para mim é muito mais confortável saber que tenho uma
bolsa produzida com lona ao invés de couro. Muitas vêm com manchas de graxa. Esse é o diferencial. Tenho certeza de que não compro só uma bolsa, compro uma história”, diz. Para os caminhoneiros, além de contribuir com a preservação ambiental, a reutilização da lona ainda rende um extra. Com a venda do material, eles conseguem de R$ 150 a R$ 200 dependendo do estado de conservação e da metragem da lona. “Acho ótima essa iniciativa. É uma forma de reduzir o lixo. Infelizmente, ainda tem muita lona que é jogada fora”, diz o caminhoneiro autônomo João Carlos Calcman, que também já vendeu o material para a produção de avental utilizado em metalúrgicas. Além da reutilização do material, os profissionais também aprovam a nova utilidade encontrada para a lona. Para Jorge Morel Bergmann, caminhoneiro há 19 anos, é gratifi-
cante saber que a lona, mesmo depois de tão usada, pode se transformar num objeto com cores fortes e voltado para o público feminino. “A lona está sempre suja porque a gente arrasta no chão, amarra com corda. Nunca pensei que depois de tudo isso ainda fosse possível dar um novo uso para ela”, diz ele, que semanalmente realiza viagens para Buenos Aires, na Argentina, e São Paulo transportando papel e polietileno (substância plástica utilizada para a fabricação de recipientes, embalagens, tubos e outros materiais). De acordo com ele, em média, a lona tem uma vida útil de três anos. No entanto, esse tempo pode variar para mais ou para menos levando em consideração a forma como se manuseia o material e o tipo de carga que ele protege. “Um carregamento de madeira, por exemplo, maltrata muito mais a lona do que o papel ou polietileno”, diz Bergmann. CUIDADOS Loja com os produtos da
brasileira pela utilização de cores fortes que lembram um pouco a chita. “As composições são muito bem criadas. A mistura de materiais está acima de qualquer tendência e o produto responde diretamente à democracia existente na moda hoje”, afirma. De acordo com ele, as peças podem ser usadas como acessórios em produções mais neutras ou até mesmo em outras mais ousadas. “A bolsa carrega mensagens assim como a roupa. A definição de cada produção tem muito a ver com a
personalidade de quem a usa”, diz o consultor. O nome da marca – Maria Buzina – é uma alusão à buzina do caminhão do avô que Gabriela ouvia ainda criança. “A buzina representa essa alegria da chegada em casa. As pessoas ouvem aquele som e ficam felizes pelo retorno sempre tão esperado. O nome Maria foi para ficar mais sonoro mesmo.” Gabriela, ou a própria Maria Buzina para os mais próximos, preserva viva a memória do seu passado e dos seus avós
por meio do contato direto com a lona, mas trocou a garagem e a oficina do caminhão pelo ateliê, e as latas de graxa pelas tintas que colorem e dão vida ao rústico da lona. Hoje, uma equipe de cinco pessoas produz, em média, de 80 a cem bolsas por mês. Todos os produtos são exclusivos e confeccionados manualmente apenas por encomenda. Como cada lona tem uma característica própria, as bolsas nunca se repetem. “As marcas, os furos e as manchas nunca são iguais nas lonas. Além disso, como
nossa pintura é feita à mão, o traço também não é o mesmo. Procuramos fazer as encomendas o mais parecido possível da peça original”, diz ela, acrescentando que não faz questão de repetir com perfeição cada detalhe de suas bolsas justamente para preservar a individualidade de cada peça e de quem a adquiriu. O meio ambiente também é uma preocupação da grife. O trabalho de reaproveitamento de materiais não se limita apenas à reutilização das lonas. Todos os outros tecidos usados
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marca Maria Buzina, feitos com com métodos que não agridem o meio ambiente
na produção das bolsas são 100% algodão e todo o processo de produção, da lavagem à pintura, não utiliza produtos químicos. De acordo com Gabi, até a decoração da loja segue a mesma proposta. A mesa é feita de capô de caminhão, os quadros são placas de veículos antigas e outros materiais que virariam sucata. “Esse tipo de trabalho sustentável, realizado com matérias-primas que seriam descartadas, ganhou força nos últimos anos. Até a Louis Vuitton (grife francesa, conhecida
A marca produz até
100 bolsas por mês
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PRODUÇÃO Gabi Gonçalves em seu seu ateliê
mundialmente, que produz bolsas, malas e acessórios) lançou, na sua última coleção, uma bolsa produzida com recortes de tecidos de outros produtos da marca. A ideia foi muito bem-aceita pelo mercado”, diz Cezário. Os preços das bolsas variam entre R$ 90 e R$ 360, o das carteiras e cintos entre R$ 40 e 70 e os das malas de viagem, entre R$ 400 e R$ 700. A Maria Buzina mantém uma loja em Juiz de Fora e revendedores no Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo. A marca tam-
bém já rompeu as barreiras das rodovias e hoje fornece seus produtos para Portugal e Estados Unidos. As encomendas podem ser feitas pelo site da empresa. As entregas são realizadas entre 30 e 45 dias. l
SERVIÇO Maria Buzina (www.mariabuzina.com.br) Galeria Pio X, Loja 114 Centro - Juiz de Fora - MG Contatos: (32) 3215-2868 ou mariabuzina@gmail.com
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Problema ain Sem legislação específica, Brasil recicla apenas 1,5% dos ve
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REPORTAGEM DE CAPA
da sem solução ículos. Na Europa e nos Estados Unidos, índice chega a 95%
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epois do papel, do plástico e das latas de alumínio, é a vez de os veículos entrarem na rota da reciclagem. Se nos Estados Unidos, Japão e Europa a prática já é uma realidade, aqui no Brasil, há pelo menos uma década, o assunto não sai do papel. Existem três projetos de lei relacionados à prática da reciclagem de veículos arquivados no Congresso Nacional e cerca de 9 milhões de carros e 400 mil caminhões sucateados pelo país. Os números são de levantamento feito pela InovataFDTE (Fundação para o Desenvolvimento Tecnológico da Engenharia), empresa privada, com sede em São Paulo e que faz convênio com instituições públicas de ensino, cruzando dados do Sindipeças (Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores) e do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito). Nem todos os veículos estão parados, mas a maioria pode ser encontrada nos pátios das seguradoras ou dos Detrans (Departamentos Estaduais de Trânsitos) que, depois de aci-
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MÚLTIPLOS FINS Pneu triturado na esteira, antes de se transformar em novos produtos
A Reciclanip mantém
437 pontos de coleta de pneus em todo o país
dentes ou apreensões, não têm o que fazer com os carros. E esse volume deve continuar crescendo na mesma proporção da indústria automobilística que, em 2009, produziu 3,076 milhões de carros de passeios, comerciais leves, caminhões e ônibus, segundo dados da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores). A previsão da fundação é que, em cinco anos, o total de veículos sucateados no país chegue a 12,3 milhões de unidades.
O que pouca gente sabe é que os danos causados ao meio ambiente pelos veículos abandonados superam os impactos quando os mesmos estão em circulação, segundo Daniel Gaspari Cirne de Toledo, engenheiro mecânico e coordenador de projeto da InovataFDTE. De acordo com ele, o material em deterioração pode contaminar o solo e o lençol freático e contribuir para a proliferação de doenças como a dengue e o tétano. “Além disso, existem os impactos
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PNEUS
Programa já reciclou mais de 1,2 milhão de toneladas Pelo menos quando se trata de descarte de pneus, o Brasil já apresenta alguns resultados. Desde 1999, o Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) obriga os fabricantes e importadores a darem um destino correto para os pneus velhos. No início, a legislação dizia que, para cada quatro pneus novos comercializados para o mercado de reposição, as empresas fabricantes ou importadoras deveriam dar destinação correta a um pneu inservível. A resolução 416/09 alterou a determinação e, desde setembro do ano passado, a proporção é de um pneu novo para cada pneu velho. Para atender à legislação, a
sociais como a desvalorização do entorno onde se encontram os veículos abandonados e a depreciação das condições de trabalho naquele local.” Toledo defende como passo inicial de um programa de reciclagem a destinação correta desses veículos e em seguida a criação de um projeto de renovação de frota, uma vez que carros e caminhões com mais de 20 anos de uso podem trazer não só problemas ambientais como causar mais acidentes e contribuir para o aumen-
Anip (Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos) criou, em 2007, a Reciclanip, uma iniciativa que já deu destino certo para mais de 1,2 milhão de toneladas do material. O trabalho faz parte do Programa Nacional de Coleta e Destinação de Pneus Inservíveis, implantado em 1999 pela associação. Em parceria com as prefeituras, a Reciclanip mantém 437 pontos de coleta de pneus em todo o país. De acordo com gerente-geral da empresa, César Faccio, as prefeituras são responsáveis pela cessão de um terreno dentro de normas específicas de segurança, higiene e armazenamento do material recolhido em borra-
to dos congestionamentos nas grandes cidades. No Brasil, não existem números oficiais sobre os prejuízos que uma frota antiga pode trazer, mas nos Estados Unidos, veículos com dez anos ou mais têm 20% mais chances de causar acidentes. Por aqui, a fundação estima que 10% de toda a frota circulante tenha entre 16 e 20 anos e 6% tenha mais de 20 anos. A CNT, em 2009, apresentou ao governo federal um plano específico sobre essa questão da renovação de frota
charias, revendedoras e dos próprios cidadãos. “Quando o volume nos pontos de coleta ultrapassa os 2.000 pneus de passeios ou 300 de caminhões, nós providenciamos a coleta do material e o enviamos para a reciclagem”, explica Faccio. Depois de coletados, os pneus podem ser usados como combustível alternativo para as indústrias de cimento, na fabricação de solados de sapato, em borrachas de vedação, dutos pluviais, pisos para quadras poliesportivas, pisos industriais, asfalto-borracha e tapetes para automóveis. Em 2009, foram recolhidas 250 mil toneladas do produto, o equivalente a 50 milhões de
de caminhões (leia mais na página 29). Enquanto faltam leis para regulamentar a questão da reciclagem de veículos sucateados no país – apenas o descarte de pneus segue legislação específica (veja mais nesta página) –, algumas empresas privadas investem por conta própria nesse mercado. Segundo dados do Sindinesfa (Sindicato das Empresas de Sucata de Ferro e Aço), atualmente, apenas 1,5% da frota brasileira de veículos que sai de
pneus de veículos leves – cada pneu tem em média 5 kg. A produção de pneus nacional foi de 61,5 milhões de unidades em 2008, de acordo com as estatísticas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Desse total, 97% foram produzidos pelas oito empresas associadas à Anip. Quando descartados inadequadamente, os pneus trazem inúmeros riscos para a saúde e para o meio ambiente, como o acúmulo de água, que contribui para a proliferação do mosquito transmissor da dengue e o assoreamento dos rios. Quando queimados de forma incorreta, produzem fumaça tóxica e levam até 600 anos para se decompor.
“Não podemos correr o risco de utilizar peças que comprometam a segurança dos veículos” JOSÉ EDSON PARRO, PRESIDENTE DA AEA
TREINAMENTO
CNT participa de curso no Japão A CNT participou, entre os dias 4 e 28 de fevereiro, de um treinamento sobre a criação de centros especializados em reciclagem de veículos no Japão. O curso, totalmente gratuito e oferecido pela Jica (Agência de Cooperação Internacional do Japão), foi realizado na cidade de Kanazawa. Ao todo, seis brasileiros, incluindo um técnico do Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e profissionais de empresas privadas estiveram no Japão para realizar o treinamento. O curso também contou com a participação de outros profissionais das américas do Sul e Central.
O programa tem como objetivo principal fornecer conhecimentos sobre leis de reciclagem de automóveis, o sistema empregado em outros países e a forma de gerenciamento das empresas atuantes na área, criando, dessa forma, oportunidade para refletir sobre a implementação de mecanismos de reciclagem nos países da América Latina. O governo japonês já estuda a possibilidade de instalação de dois centros de reciclagem na região. Um deles deve ser sediado no Brasil, país com a maior frota de veículos em circulação da América do Sul e com uma das maiores indústrias automobilísticas do mundo. AMPLIAÇÃO Projeto prevê reciclagem de carros que sofreram
“Precisamos de um sistema bem distribuído e abrangente para coleta e desmontagem dos carros” DANIEL GASPARI CIRNE DE TOLEDO, ENGENHEIRO MECÂNICO
circulação é reciclada. No Japão, o índice é de 70% e na Europa e nos Estados Unidos, chega a 95% dos carros fabricados. O número é resultado de iniciativas como a da Fenseg (Federação Nacional de Seguros Gerais) que, há quatro anos, encaminha os veículos identificados como perda total em incêndios para a reciclagem. “Seguimos a legislação. Os chassis dos carros são recortados, as seguradoras dão baixa na documentação no Denatran e os veículos são destruídos”, explica Adhemar Fujii, assessor da federação. Segundo ele, desde o início do projeto, cerca de 8.000 veículos já passaram por esse pro-
cesso. A Fenseg estuda a possibilidade de ampliar o trabalho e estender a reciclagem aos veículos que tiveram perda total por outros motivos. No entanto, ainda é preciso fazer mais, já que apenas 23% da frota circulante no país é segurada, segundo a federação. O processo de reciclagem de veículos se divide em duas etapas. Na fase de despoluição veicular são retirados todos os resíduos líquidos, como lubrificantes, óleos, combustíveis e fluidos. Logo em seguida, o veículo começa a ser desmontado e as peças são separadas em dois grupos: as que podem ser reutilizadas e as que precisam ser destruídas e encaminhadas para a reciclagem.
O índice de materiais recicláveis nos carros é superior a 90%. De acordo com José Aurélio Ramalho, diretor do Cesvi Brasil (Centro de Experimentação e Segurança Viária), entre 30 e 35 componentes de um veículo podem ser reaproveitados. “Geralmente são peças grandes, não ligadas à segurança como porta, capô, faróis e lanternas”, explica ele. Peças metálicas, alumínios, plásticos, tecidos e fluidos passam por processo de destruição até virarem matéria-prima para a fabricação de qualquer outro produto. O Cesvi conta com outras 26 unidades em todo o mundo e mantém na Espanha e na
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CAMINHÕES
Programa de renovação de frota chega ao governo Como forma de suprir a falta de uma legislação específica sobre a reciclagem de veículos no Brasil, a CNT apresentou ao governo federal, em maio de 2009, o RenovAr, um plano nacional de renovação de frota de caminhões que prevê um conjunto de ações de crédito ao caminhoneiro autônomo e microempresas de transporte, voltado para o sucateamento e a reciclagem dos materiais de forma ambientalmente correta. A primeira fase do RenovAr é dirigida aos proprietários de caminhões com idade superior a 30 anos. O programa tem como premissa a entrega
dos veículos velhos em troca de bônus oferecido pelo governo federal para aquisição de outro caminhão mais novo, com até oito anos. O modal rodoviário corresponde por 65% das operações de transporte de cargas no país, e dados da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), de fevereiro deste ano, mostram que a idade média da frota de 1.969.264 de caminhões é de 18,8 anos (incluindo caminhão simples e caminhão trator). Entre os autônomos, a idade média sobe para 23,5 anos. As empresas têm a frota mais jovem, com média de idade de 11,5
anos, e as cooperativas com 16,5 anos. Pelo programa, para ter direito ao bônus, o veículo entregue pelo transportador deve possuir RNTRC (Registro Nacional de Transporte Rodoviário de Carga) há um ano, ter transportado carga nos últimos 12 meses, ter registro no nome do comprador há mais de um ano, não possuir qualquer ônus ou encargos e ter condições de circular pelos próprios meios. A responsabilidade de organizar e monitorar a rede de recepção e tratamento dos veículos velhos deve ser responsabilidade do governo federal. Os centros de coleta e reciclagem podem ser públicos ou privados.
perda total por motivos além de incêndio
Argentina centros próprios de reciclagem. No Brasil, o órgão elaborou todo o trabalho de consultoria para a montagem do primeiro centro de reciclagem de veículos que deve entrar em funcionamento no segundo semestre deste ano. O grupo Tejofran, responsável pelo investimento, finaliza a implantação da empresa na região de Osasco, em São Paulo. Inicialmente, os carros sucateados serão fornecidos por uma seguradora. De acordo com Clodomir Marcondes, diretor de Relações Institucionais do grupo, o centro se viabilizará comercialmente a partir do momento em que for possível desmontar e vender cerca de 300 veículos mensais. A segu-
radora parceira do projeto tem capacidade para fornecer até 800 carros por mês. O grupo investiu até agora R$ 450 mil em estudos de viabilidade. Todo o projeto tem previsão de custo de R$ 3 milhões. A FDTE também elaborou projeto para a instalação de 150 centros de reciclagem de veículos no país. A primeira fase do programa visa dar destinação correta aos veículos que tiveram perda total e permanecem sem destino no pátio das seguradoras e Detrans. “A reciclagem de veículos é uma questão de saúde pública que precisa ser economicamente viável para o país, por isso precisamos de um sistema bem distribuído e abrangente para a cole-
PROCESSO Etapas nos centros de reciclagem 1 - Descontaminação Retirada de todos os fluidos, gases, restos de combustível e elementos com potencial de contaminação 2 - Análise da reutilização As peças que poderão ser aproveitadas no reparo de outro veículo são selecionadas. São descartadas peças que estejam ligadas à segurança 3 - Reciclagem Peças que não podem ser reutilizada, são encaminhadas para a reciclagem. Passam por processo de retífica ou são destruídas e utilizadas como matérias-primas na fabricação de novos produtos 4 - Estoque As peças são identificadas, embaladas e estocadas para serem vendidas posteriormente Fonte: Cesvi
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“Geralmente são (recicladas) AURÉLIO RAMALHO, DIRETOR DO CESVI BRASIL
Principais poluentes ligados ao automóvel Veja os danos que cada um pode causar Poluente: CO (monóxido de carbono) Fonte: Escapamento dos veículos Dano para a saúde: Diminui a oxigenação do sangue. Causa tontura e vertigens. Causa alterações no sistema nervoso central. Pode levar à morte em doses altas e em ambientes fechados (como uma garagem) Poluente: SO2 (dióxido de enxofre) Fonte: Veículos a diesel Dano para a saúde: Provoca coriza, catarro e danos irreversíveis aos pulmões. Afeta plantas e espécies mais sensíveis, acidifica o solo e a água Poluente: O3 (ozônio) Fonte: Quebra da queima de combustíveis pelos veículos Danos para a saúde:Provoca envelhecimento precoce nas pessoas. Diminui a resistência às infecções. Provoca irritação nos olhos, nariz e garganta e desconforto respiratório Poluente: Materiais particulados Fonte: Veículos a diesel, desgastes dos pneus e freios dos veículos em geral Danos para a saúde: Agrava quadros alérgicos de asma e bronquite. Cancerígeno. Irritação no nariz e garganta e propagação de infecções gripais. Agrava casos de doenças respiratórias e cardíacas
CONTROLE Ferro-velhos deveriam se trans Poluente: HC (hidrocarbonetos) Fonte: Queima incompleta e evaporação dos combustíveis Danos para a saúde: Causa aumento da incidência de câncer no pulmão. Irritação nos olhos, nariz, pele e aparelho respiratório Poluente: Aldeídos Fonte: Veículos Danos para a saúde: Irritação dos olhos, nariz e garganta. Pode provocar câncer Poluente: NO2 (dióxido de nitrogênio) Fonte: Processo de combustão dos veículos Danos para a saúde: Desconforto respiratório, diminuição da resistência a infecções e alterações celulares Fonte: Cesvi
ta e a desmontagem dos carros”, afirma Toledo, coordenador do projeto na fundação. Cada centro deve ter um custo total de instalação de R$ 500 mil e capacidade para desmontar entre dez e 30 veículos por dia. A desmontagem manual dos veículos deve garantir um retorno financeiro maior e a geração de pelo menos 100 mil empregos diretos. O projeto deve funcionar no esquema de franquias e
aguarda o interesse de grupos empresariais para a implantação. Segundo Toledo, a reciclagem de 2 milhões de veículos ao ano pode gerar um lucro de até R$ 1 bilhão, considerando que cada carro de passeio sucateado tenha um valor médio de R$ 500. Esse montante não considera o lucro gerado com o reaproveitamento das peças, um assunto polêmico que divide opiniões.
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peças grandes, não ligadas à segurança” JÚLIO FERNANDES/NCI-CNT
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formar em empresas que reciclam o material descartado, segundo delegado
Reciclagem no Brasil Compare os diferentes produtos reciclados em 2008 Produto
Quantidade reciclada (%)
Latas de alumínio Garrafas pet Veículos
91,5 54,8 1,5
Fontes: Abralatas, Sindinesfa, Abipet
Para José Edson Parro, presidente da AEA (Associação Brasileira de Engenharia Automotiva), o reaproveitamento das peças não pode ser a principal atividade da reciclagem de veículos. “Não podemos correr o risco de utilizar peças que comprometam a segurança dos veículos. Reaproveitar peças também pode caracterizar a atividade de desmanche, que é uma prática ilegal”, afirma ele. A
ÚTIL O lixo ganha novos usos se descartado corretamente
AEA mantém, desde 2009, uma Comissão de Reciclagem que realiza estudos relacionados ao assunto. O delegado-chefe da delegacia de repressão ao roubo e furto de veículos de Brasília, Moisés Martins, defende a desmontagem total dos veículos e a reciclagem do material para fabricação de outros produtos. De acordo com ele, os ferros-velhos são comércios legais, mas a forma como mui-
tos deles agem é o grande problema. “Fazer o controle das peças vendidas é muito difícil e geraria um custo muito alto para as empresas e para o consumidor final. O ideal é acabar com os ferrosvelhos e criar empresas públicas ou privadas que trabalhem na reciclagem. Assim, conseguiremos também coibir a prática do roubo de veículos no país para fins de desmanche e venda de peças.” l
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FERROVIAS
Expectativa otimista Estudo do Instituto Ilos mostra que 36% dos usuários da malha ferroviária pretendem ampliar o uso do modal em 2010 POR
LETICIA SIMÕES
s perspectivas para o modal ferroviário em 2010 são bastante positivas. Pesquisa realizada pelo Instituto Ilos (Instituto de Logística e Supply Chain), divulgada em dezembro passado, mostra que as grandes empresas usuárias da malha ferroviária pretendem ampliar o uso do modal em até 36% este ano. Apesar da probabilidade positiva, usuários e entidades ligadas ao setor ferroviário esperam investimentos para
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que o aumento planejado seja executado. A pesquisa do Instituto Ilos intitulada “Operadores Logísticos e Ferrovias: os melhores na percepção de seus usuários” ouviu 369 profissionais de logística brasileiros, atuantes em 217 grandes indústrias do país. “Normalmente, o Ilos usa como amostra as 500 maiores empresas brasileiras. Elaboramos um questionário com as questões a serem respondidas. Esse questionário pode ser enviado pela internet ou respondido
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PESQUISA CNT DE FERROVIAS
Estudo propõe soluções para sustentar crescimento A Pesquisa CNT de Ferrovias 2009, divulgada em dezembro, apontou os principais gargalos e quanto será preciso investir para que o modal se torne mais eficiente e viável para os operadores logísticos brasileiros. A pesquisa foi dividida em duas etapas: a primeira consistiu em avaliar o desempenho. A segunda avaliou o nível do serviço, ouvindo 131 clientes do modal. O estudo, diante dos entraves detectados, propõe soluções de curto, médio e longo prazo. Foram identificadas 327 invasões de faixa de domínio. A viabilização e a alienação dos imóveis não operacionais da extinta RFFSA (Rede Ferroviária Federal S.A.) para utilização
em programas de regularização fundiária e provisão de habitação de interesse social, além de alternativas para o reassentamento da população que vive às margens das linhas férreas são apontados como alternativas para os gargalos. Do total de 12.289 passagens de nível detectadas, 2.659 foram consideradas críticas. A proposta da pesquisa é de que seja implementado um programa de obras para esses cruzamentos, com a viabilização de recursos físicos e financeiros. A pesquisa indica ainda soluções para entraves como falta de expansão e integração da malha e para a ausência de material rodante e de equipamento.
Apesar de todos os problemas existentes, a Pesquisa CNT de Ferrovias constatou que a atratividade do modal aumentou após o período de concessão, entre 1996 e 1998. “Após a desestatização, a iniciativa privada injetou R$ 30 bilhões ao longo de 12 anos, retomando o setor como alternativa para a movimentação e o escoamento dos produtos brasileiros”, afirma Rodrigo Vilaça. De acordo com a Pesquisa CNT de Ferrovias, para que o modal ferroviário se torne realmente eficaz, é necessário um investimento de pelo menos R$ 54,5 bilhões em 67 projetos prioritários. Para os problemas mais urgentes, pelo menos R$ 25,8 bilhões deverão ser investidos. EFICIÊNCIA O
“Nossa intenção é ampliar essa participação e chegar a 50% de volume transportado” DIMAS BONAFÉ, GERENTE DA CSN
pessoalmente”, explica Paulo Fleury, professor titular da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e diretor-geral do Instituto Ilos. “Os profissionais participam ativamente do processo, pois recebem os resultados e têm, por meio da pesquisa, a percepção do setor”, diz Fleury. No estudo, os profissionais respondentes elegeram a MRS Logística como a melhor ferrovia nacional. Numa escala de 0 a 10, a empresa obteve 6,5 de pontuação, a maior média entre as demais concessionárias. Para 43% dos entrevistados pela pesquisa
do Instituto Ilos, a qualidade do modal ferroviário em 2010 estará melhor. Outros 50% acreditam que não haverá mudança e apenas 7% não confiam que haverá melhoras no setor este ano. A pesquisa abordou as ferrovias como um todo, os criérios de avaliação foram subjetivos e cada respondente avaliou o que julgava mais importante. A pesquisa do Ilos constatou que 36% das empresas usuárias de ferrovias pretendem ampliar sua participação no modal em 2010. Para tanto, investimentos serão necessá-
rios, como confirma Fleury. “A malha ferroviária brasileira não tem a capacidade instalada para a demanda estimada. Ela está deficiente. Hoje, a velocidade média é de 20 km por hora, enquanto no exterior essa velocidade chega a 70 km por hora.” A baixa velocidade do modal foi apontada como um dos entraves por 21% dos usuários ouvidos para justificar a não utilização de ferrovias. A CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) é uma das diversas empresas brasileiras que transporta grandes
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PESQUISA CNT DE FERROVIAS Abrangência • Avaliados 13 corredores ferroviários concessionados à iniciativa privada
Objetivos • Identificar as alterações ocorridas no setor nos últimos anos • Avaliar o desempenho das concessionárias • Verificar o nível de satisfação dos clientes • Identificar os principais entraves e apresentar soluções
Metodologia • Desempenho dos corredores ferroviários: principais indicadores (produção, volume embarcado, extensão, terminais, velocidade média comercial, tempo médio de percurso, peso médio por eixo) • Nível de serviço: pesquisa de opinião dos clientes
Alguns resultados • 327 invasões de faixa de domínio detectadas; • 2.659 passagens de nível consideradas críticas, de um total de 12.289 detectadas; • R$ 54,5 bilhões para investimentos em 67 projetos prioritários; • R$ 25,8 bilhões deverão ser investidos para projetos emergenciais.
modal precisa de R$ 54,5 bilhões, segundo a Pesquisa CNT de Ferrovias
volumes por meio do modal. Atualmente, são transportados minério, carvão e fundente (variações de calcário). Segundo Dimas Bonafé, gerente da seção nacional de transportes da CSN, atualmente, a participação da empresa no modal é de 25%. “Nossa intenção é ampliar essa participação e chegar a 50% de volume transportado por ferrovia”, diz. Bonafé afirma que uma das maiores dificuldades encontradas pela CSN no transporte ferroviário são as “janelas” (denominação dada para os
horários específicos que cada empresa tem para cruzar as passagens de nível) instaladas nos ramais de São Paulo. “A CSN transporta produtos para o sul do país, via São Paulo. Lá existe uma ‘janela’ da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos). Nessa espera, perde-se muito tempo, às vezes, perde-se um dia no prazo da entrega.” A malha ferroviária, segundo o gerente, necessita de investimentos. “O setor tem um trabalho muito forte com o governo. Acredito que a estrutura de todos os modais
deve ser trabalhada. A ferrovia merece um foco especial para alavancar a demanda da indústria nacional.” O Grupo Pão de Açúcar, conglomerado do setor supermercadista e de eletroeletrônicos, reconhece que o ganho no transporte de produtos via ferrovia é maior. O grande empecilho do modal, na opinião do grupo, está no tempo das viagens. De acordo com a assessoria da empresa, o Grupo Pão de Açúcar vem explorando mais o modal ferroviário em virtude dos investimentos na região Centro-
“Estima-se um transporte de 500 milhões de TU em 2010, mesmo com os gargalos existentes” RODRIGO VILAÇA, DIRETOR-EXECUTIVO DA ANTF
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PESQUISA Panorama Instituto Ilos: Até 2010 a participação do modal ferroviário na 2% sua empresa deverá... Aumentar: 36% Diminuir: 2%
32% 62%
Manter: 62%
Nota atribuída a cada ferrovia (média)* MRS:
6,5
FCA:
6,3
EF Carajás:
6,3
EFVM:
6,0
ALL:
5,9
Ferronorte:
5,6
CFN:
5,5
Ferroban:
5,4
EF Norte Sul:
5,4
Novoeste:
5,4
FTC:
5,1
Ferroeste:
5,1
* Nota atribuída às ferrovias brasileiras pelos profissionais de logística, considerando todos os profissionais respondentes, numa escala de 0 a 10. Fonte: Instituto Ilos de Logística e Supply Chain
PERSPECTIVAS Pesquisa do
Oeste, com a abertura de novas lojas. Segundo a assessoria, o aumento de ramais proporcionaria um ganho de tempo no transporte. Esse é um dos pontos que faria o Grupo Pão de Açúcar aumentar sua participação no modal ferroviário. Procurada pela reportagem, a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), responsável pelas concessões ferroviárias, não quis se pronunciar acerca das declarações. Para Rodrigo Vilaça, diretor-executivo da
ANTF (Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários) e presidente da seção de transporte ferroviário da CNT, apesar das limitações do setor, as perspectivas para 2010 têm tudo para serem confirmadas. “O setor será impactante este ano. Estima-se um transporte de 500 milhões de TU (tonelada útil) em 2010, mesmo com os gargalos existentes.” Em 2008 foram 459,7 milhões de TU. Os números de 2009 estão sendo fechados mas devem ultrapassar os 490 milhões de TU.
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FERROESTE/DIVULGAÇÃO
Instituto Ilos indica que 36% das empresas irão aumentar sua participação no modal ferroviário neste ano
A pesquisa do Instituto Ilos ouviu
369 profissionais de logística
Vilaça acredita que o setor está mudando para melhor e isso incentiva as empresas a investirem mais no modal. “O Brasil está conseguindo fazer da ferrovia um modal seguro para o operador, com uma interface aos outros modos do transporte. Espero que a regulamentação do setor tenha continuidade para que a malha possa oferecer novos ramais ao investidor”, diz. Na opinião do dirigente, essa perspectiva de aumento do uso do modal é fruto, principalmente, das concessões
da malha ferroviária à iniciativa privada entre 1996 e 1998. Das empresas ouvidas pela pesquisa, 43% não fazem uso de ferrovia para o transporte de seus produtos. Um dos principais motivos apontados diz respeito à indisponibilidade de rotas, resposta abalizada por 34% dos entrevistados. O fato de o custo total não ser compensatório foi considerado por 28% dos respondentes como uma das justificativas para que as empresas optem por outros modais. Para Vilaça, o mais preponde-
rante no momento é que as empresas “comecem a entender a ferrovia como meio de transporte a ser utilizado”. Ele destaca a iniciativa de entidades que trabalham na execução de pesquisas e estudos acerca do transporte e da logística. “Essas pesquisas fornecem ao setor uma orientação para o planejamento comercial. O setor está sendo consultado e, à medida que há viabilidade e planejamento em médio prazo, as perspectivas são positivas.” Paulo Fleury, do Ilos, aprova o investimento em novos ramais, o que incentiva a indústria nacional a investir no modal ferroviário, mas cobra maior agilidade por parte do governo. “Novos ramais estão sendo criados, mas não tem nada pronto. Portanto, o efeito não será sentido, pois a tendência é de que a demanda aumente.” Vilaça está otimista em relação aos investimentos propostos. “Hoje, o governo propõe uma nova ampliação da malha. O setor iniciará sua busca pelas fronteiras agrícolas e minerais.” l
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AQUAVIÁRIO
m novo regulamento que deve ser aprovado ainda este semestre pela Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários) vai dotar o órgão regulador de instrumentos para reforçar a fiscalização sobre a atuação das empresas brasileiras de navegação detentoras de autorizações para a exploração dos serviços de cabotagem (ao longo da costa), de longo curso e de apoio marítimo e portuário. A proposta de resolução submetida à audiência pública pela agência define critérios para a comprovação da operação comercial das empresas, que poderão ser punidas com a suspensão e até com a cassação da autorização caso atuem em desacordo com a futura regra. “Queremos evitar o armador de papel. Aquele que aparece no site da Antaq como o responsável pela outorga, mas não atua de fato na prestação do serviço para o qual foi autori-
U
Reforço na fiscalização Proposta da Antaq aumenta vistoria sobre operação comercial de empresas de navegação POR SUELI
zado”, explica a superintendente de Navegação Marítima e de Apoio da agência, Ana Maria Canellas. Ela afirma que a ideia é disciplinar a operação das empresas e coibir situações em que operadores autorizados alugam toda a frota para terceiros por determinado período, durante o qual deixam de prestar o serviço previsto na outorga de autorização. Dados da Superintendência de Navegação Marítima da Antaq revelam a existência de 250 empresas brasileiras autori-
MONTENEGRO
zadas para a prestação de serviços de navegação e de apoio marítimo e portuário. A frota total em todas as modalidades atinge 1.249 embarcações, entre próprias e de terceiros. A proposta de resolução da Antaq detalha os critérios para cumprimento das determinações do artigo 15 da resolução 843, de 2007, que estabelece a obrigatoriedade de manutenção, por empresa brasileira de navegação, de pelos menos uma embarcação própria autorizada em operação comercial. A auto-
rização pode ser outorgada também para empresas que tenham a construção de embarcação já contratada. Segundo a norma, uma eventual suspensão do serviço por período superior a 90 dias só pode ser feita com a apresentação de justificativa devidamente comprovada à agência. “A lei diz que a empresa tem que ter regularidade na oferta do serviço”, afirma Canellas. A versão final da nova resolução da Antaq será consolidada pela área técnica e apro-
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“A lei diz que a empresa tem ANA MARIA CANELLAS, SUPERINTENDENTE DA ANTAQ
LEANDRO AMARAL/FUTURA PRESS
FISCALIZAÇÃO A Antaq pretende dar mais
PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS Há 250 empresas brasileiras aptas
“De fato, há empresas que atuam como proprietárias do navio que afretam para terceiros” MARCOS MACHADO SOARES, SECRETÁRIO-EXECUTIVO DA FENAVEGA
vada pela diretoria da agência após a análise das contribuições formuladas por empresas e especialistas do setor durante o período de audiência pública. A proposta da agência reguladora ficou aberta a contribuições entre janeiro e março deste ano. Em fevereiro, a Antaq reuniu cerca de 40 pessoas, entre representantes de companhias de navegação e consultores jurídicos das empresas, em duas audiências presen-
ciais realizadas no Rio de Janeiro e em Brasília. Os interessados em subsidiar as discussões tiveram também a opção de enviar manifestações por escrito para a agência, em meio eletrônico ou pelo correio. Durante a reunião pública em Brasília, Ana Canellas destacou a preocupação da Antaq em dar maior transparência às regras para comprovação da operação das empresas. “Nós queremos as
empresas operando na navegação em que são autorizadas, com embarcações de bandeira brasileira e investindo”, disse. As empresas de navegação são submetidas anualmente à fiscalização da Antaq, na qual são analisados tanto os aspectos operacionais quanto os econômicofinanceiros. Para explicitar as situações que passarão a ser consideradas na comprovação de que a empresa realmente opera o ser-
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que ter regularidade na oferta do serviço”
JOSÈ LUIZ BORGES/FUTURA PRESS
transparência às regras de operações de empresas nos portos brasileiros
viço para o qual foi autorizada, a proposta da Antaq considera a gestão náutica da embarcação, que abrange o controle operacional – tripulação, condução da embarcação, material de bordo, cumprimento de normas de segurança, de meio ambiente e de direito marítimo e manutenção – e a gestão comercial. Este último inclui o controle, pela empresa de navegação, sobre contratos de transporte ou de operações de apoio marítimo e portuário, recebimento e entre-
ga de cargas ou suprimentos, acondicionamento e estivagem e conclusão de contratos de afretamento. A versão preliminar da resolução também define os vários tipos de contratos de afretamento de embarcações, desde os casos em que o afretador tem o controle das gestões náutica e comercial por tempo determinado, o chamado afretamento a casco nu; até situações em que a gestão é compartilhada, com o controle ope-
racional pela companhia que detém a autorização e o comercial pelo afretador. A proposta inclui ainda o contrato de afretamento por viagem, em que a gestão também fica integralmente com a empresa responsável pela embarcação. “De fato, hoje há uma série de empresas que atuam como proprietárias do navio, mas acabam por afretar para terceiros. E outras empresas de navegação, principalmente estrangeiras, acabam alugando essas embarcações para ter acesso ao mercado nacional”, afirma Marcos Machado Soares, secretário-executivo da Fenavega (Federação Nacional das Empresas de Navegação Marítima, Fluvial, Lacustre e de Tráfego Portuário). Soares diz que a desregulamentação do setor promovida pelo governo Collor no início da década de 90 propiciou a entrada no mercado de navegação de empresas com menor estrutura e menor poder de competição que os grandes armadores estrangeiros. Para o secretário-executivo da Fenavega, cabe à Antaq intermediar e buscar maior equilíbrio entre os agentes na regulamentação do setor. Marcos Soares conta que o mercado hoje está dividido, com predominância de capital estrangeiro na navegação de
longo curso e na cabotagem, por meio de participação em tradicionais empresas de navegação brasileiras; e presença maciça de empresas brasileiras na navegação interior (lacustre e fluvial). Nos serviços de apoio marítimo e portuário há também divisão entre empresas nacionais e estrangeiras. Informações da própria Antaq mostram o descompasso entre a oferta de embarcações de bandeira brasileira e a demanda pela contratação dos serviços de navegação marítima e de apoio no país. Em 2009, foram contratados 2.543 afretamentos de embarcações estrangeiras por empresas brasileiras, dos quais 1.017 na navegação de longo curso, 1.305 na cabotagem, 200 no apoio marítimo e 21 no apoio portuário. Em 2008, segundo o último dado disponível, os gastos com afretamento superaram US$ 3 bilhões, dos quais pouco mais de dois terços – US$ 2,1 bilhões – no longo curso, US$ 135,8 milhões na cabotagem, US$ 765,5 milhões no apoio marítimo e US$ 18,6 milhões no apoio portuário. No volume quatro do “Panorama Aquaviário”, publicado pela Antaq em outubro de 2009, a própria agência alerta para a fuga de divisas que essas operações representam para o país. l
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TRANSPORTE PÚBLICO
Benefício para o usuário Sistemas inteligentes atraem usuários com a tecnologia que garante eficiência ao serviço urbano de coletivos POR
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er ágil, confortável, seguro e menos poluente. Essas são as propostas dos novos sistemas de transporte público urbano que já começaram a ser implantados em cidades brasileiras de médio e grande porte. Com o auxílio de tecnologias avançadas é possível controlar as rotas percorridas pelos ônibus, monitorar atrasos devido a problemas no trânsito e transmitir todas as informações em tempo real para os passageiros. Tudo isso garante um serviço mais eficiente e pode até atrair mais usuários, contribuindo de forma significativa para a redução de poluentes, uma vez que os sistemas de
S
transporte público passam a substituir os automóveis particulares. A cidade de Goiânia, no Centro-Oeste do país, é pioneira na implantação de um complexo sistema de informação com vários canais de relacionamento entre os usuários e o serviço de transporte público. O chamado SiM (Serviço de Informação Metropolitano), lançado em 2009, prevê, em sua primeira etapa, a implantação de painéis eletrônicos, serviços de SMS (torpedos), WAP e internet. Com investimentos de R$ 50 milhões, o sistema foi instalado pelo consórcio RMTC (Rede Metropolitana de Transportes Coletivos) na Grande Goiânia, que engloba 18 municípios. A oferta dos serviços
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CONSÓRCIO RMTC/DIVULGAÇÃO
INVESTIMENTOS
Recursos priorizam a Copa-2014
AGILIDADE Quiosque que permite acesso às rotas dos ônibus
faz parte do contrato de concessão assinado em março de 2008, com validade de 20 anos. “O SiM tem como principal função gerir o relacionamento com as partes interessadas na região, assegurando a integridade e a disponibilidade de informações relevantes aos clientes, de modo a simplificar e facilitar a realização de viagens por meio de ônibus”, explica Leomar Avelino Rodrigues, diretor do RMTC. Informações sobre horários dos ônibus, itinerários e frequência das linhas podem ser acessadas pelos usuários nos painéis eletrônicos fixados em pontos de grande movimentação da cidade, nos 20 i-Centers
(quiosques multimídia) instalados nos terminais de integração, no site da operadora do sistema (www.rmtcgoiania.com.br) e ainda pelo celular por meio de SMS ou WAP. “É muito bom saber em qual horário cada ônibus vai passar e em quanto tempo devo chegar no meu destino”, afirma a professora Lucimara Maria Tonon Toniol. De acordo com ela, o acesso às informações facilita a programação de compromissos pessoais e garante sempre o cumprimento da agenda. Para a vigilante Suellem Dayanna Moura, que já utilizou o painel informativo nos terminais de integração, o serviço deve
A falta de investimentos em infraestrutura de transporte nas cidades brasileiras pode impedir o bom desenvolvimento de novos projetos baseados na utilização de tecnologia, segundo Marcos Bicalho Santos, diretor-superintendente da NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos). De acordo com ele, ambas as melhorias precisam caminhar juntas. “Além de inovar em sistemas de comunicação, é preciso permitir uma circulação mais eficiente dos ônibus na cidade por meio de vias exclusivas ou, no mínimo, preferenciais. De nada adianta avançar em apenas uma área”, afirma. Atualmente, existem duas linhas de investimentos com recursos do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) para aplicação nos sistemas de transportes urbanos. O ProTransporte (Programa de Infraestrutura de Transporte e da Mobilidade Urbana), anualmente, tem disponibilizado R$ 1 bilhão para obras de infraestrutura a serem realizadas pelos Estados e municípios. Em janeiro deste ano, com o lançamento do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) da Mobilidade, os recursos disponíveis passaram a priorizar os projetos apresentados pelas 12 cidades que receberão os jogos da Copa de 2014.
A segunda linha é destinada ao investimento realizado pelas empresas que operam os sistemas. Os recursos, também provenientes do FGTS, podem ser adquiridos por meio de fundos de investimentos criados pelas próprias empresas ou pela Caixa Econômica Federal. Em 2009, foram liberados R$ 3 bilhões, dos quais, no mínimo, R$ 1 bilhão deve ser aplicado na renovação da frota e o restante em outras melhorias. Para Victor Castillo, gerente de telemática da Volvo Buses Latin America, renovar a frota é essencial para uma completa integração dos sistemas de tecnologia disponíveis para instalação em serviços de transporte público urbano. A Volvo é uma das empresas detentoras da tecnologia de sistemas inteligentes de transporte que está sendo implantada em cidades brasileiras. De acordo com ele, apenas ônibus novos, com tecnologia embarcada, são capazes de operar um serviço de gestão de frota que engloba informações sobre o consumo de combustível e a velocidade média desenvolvida pelos veículos. “Ônibus mais antigos podem não aceitar o sistema. Atualmente, acredito que apenas 50% da frota nacional esteja preparada para desempenhar esse tipo de serviço”, diz.
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ARQUIVO BHTRANS/DIVULGAÇÃO
ser ampliado na cidade. “As regiões mais distantes, onde o acesso é mais difícil, também precisam desse tipo de serviço.” Segundo o consórcio RMTC, para este ano, estão previstas instalações de novos painéis informativos nos pontos de paradas e terminais de integração e a implantação de áudio com anúncio das paradas dentro dos ônibus, semelhante ao serviço já existente em metrôs. O sistema de ônibus de Goiânia trabalha com 1.371 veículos com idade média de 2,2 anos. No total são 269 linhas, sendo 256 de ônibus convencionais e 13 linhas do Citybus, micro-ônibus com ar-condicionado, wi fi (internet grátis), câmeras, moedeiro e carregador de celular. Nesses veículos, todas as pessoas são transportadas sentadas. São Paulo também já oferece um sistema de transporte inteligente aos seus usuários. Dezenove terminais estão equipados com circuito fechado de TV, sistema para divulgação de mensagens em áudio, informações sobre operação de linhas e vídeos institucionais. Também conhecido como SIM (Sistema Integrado de Monitoramento), o serviço integra as informações dos terminais com os dados das AVLs
NAS RUAS Teste do Sistema de Informações aos Usuários nos pontos de ônibus em Belo Horizonte
(Localização Automática de Veículo, da sigla em inglês), equipamento embarcado para localizar, controlar e comunicar com os veículos. A tecnologia já foi instalada em 14,5 mil ônibus da capital paulista. A cidade tem hoje uma frota de aproximadamente 15 mil veículos, com idade média de 4 anos e 10 meses (concessionários) e 4 anos e 1 mês (permissionários), que operam um total de 1.346 linhas. Segundo a SPTrans (empresa pública que controla o serviço de transporte urbano na cidade), já está em estudo a implantação dos sistemas em novos terminais e corredores da cidade, além da finalização da insta-
lação da tecnologia embarcada no restante da frota. Além disso, em 2007, foram instalados sistemas de TV em 985 ônibus. De acordo com a SPTrans, o serviço é operado por três empresas e não há custo para a prefeitura. O objetivo é oferecer informação e entretenimento para os usuários do sistema de transporte coletivo da cidade. Marcos Bicalho dos Santos, diretor-superintendente da NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos), vê na utilização de novas tecnologias duas grandes oportunidades para o crescimento do setor.
“As regiões mais distantes, onde o acesso é mais difícil, também precisam desse tipo de serviço” SUELLEM DAYANNA MOURA, VIGILANTE
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“É bom saber em qual horário cada ônibus LUCIMARA MARIA TONON TONIOL, PROFESSORA
Sistema de transporte inteligente Veja quais são os serviços oferecidos Displays nos pontos de parada Oferece informações sobre horários de chegada e partida dos ônibus, destinos e tempo de viagem i-Center Quiosque multimídia de informações instalado nos terminais de integração. Permite acesso em tempo real de informações sobre roteiro de viagens, itinerários de linhas e frequência de
ROTA CERTA Terminal Grajaú, em São Paulo, com os
viagens Roteirizador de trajetos (Google Maps) Permite acesso a mapas de rotas para facilitar o percurso do usuário. Pode ser acessado nos i-centers instalados nos terminais ou por meio da internet em qualquer computador WAP e SMS Permite acesso aos horários das viagens pelo celular Áudio nos ônibus e terminais Anuncia as próximas paradas dos veículos, semelhante ao sistema já existente nos metrôs e aeroportos Site Oferece todas as informações do sistema via internet
Fonte: Consórcio RMTC, Volvo
A partir da implantação de sistemas inteligentes de transporte, segundo ele, é possível melhorar o canal de comunicação com os usuários que sempre reclamaram da falta desse tipo de serviço. “Pela distribuição das linhas e pelo grande número de pontos de parada, ficava difícil manter informações disponíveis em todos eles”, diz. Em Belo Horizonte, o contrato de licitação assinado em 2007 exige que as empresas concessionárias implantem os serviços de controle e desempenho da frota e informação ao usuário. Alguns testes foram realizados em 2008 e o sistema está em fase de adaptação. De acordo com Célio Freitas
“O sistema (em Caxias do Sul) é bem parecido com o existente nos aeroportos”
OSVALDO DELLA GIUSTINA DIRETOR-EXECUTIVO DE TRANSPORTES
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vai passar e em quanto tempo devo chegar no meu destino” SPTRANS/DIVULGAÇÃO
CONSÓRCIO RMTC/DIVULGAÇÃO
painéis que informam os itinerários
Bouzada, diretor de planejamento da BHTrans (Empresa de Transporte e Trânsito de Belo Horizonte), o serviço é composto por um conjunto de informações embarcadas nos ônibus, como GPS (Sistema de Posicionamento Global, da sigla em inglês), câmera de vídeo, botão antipânico, central eletrônica e painéis de mensagem, além de central de operação nas sedes das empresas e uma central de fiscalização, operada pela BHTrans. Também devem ser implantados painéis eletrônicos nos pontos de ônibus espalhados pela cidade com informações dos horários de cada linha. No futuro, segundo
NO RUMO Display eletrônico com informações sobre linhas
Bouzada, a expectativa é que os usuários tenham acesso às informações pelo celular. “A grande reclamação dos passageiros é a falta de informação de horário e linhas. Com esse sistema, aliado ao BRT (Ônibus de Trânsito Rápido, da sigla em inglês), que também estamos implantando na cidade, daremos mais velocidade aos nossos ônibus. Essa é a melhor forma para atrair novos usuários”, acredita Bouzada. Segundo ele, todo o custo de implantação do sistema é de responsabilidade das empresas e não existe previsão de reajuste de tarifas nos próximos anos para cobrir os gastos. “A tarifa cobrada hoje
já é estabelecida para pagar esse tipo de serviço que está sendo implantado.” A frota de ônibus de Belo Horizonte é composta atualmente por 2.823 veículos operando em 290 linhas. A idade média dos ônibus é de 4,5 anos. A utilização da tecnologia em sistema de transporte urbano independe do tamanho da cidade ou da frota que opera o serviço. Com apenas 313 ônibus, a cidade de Caxias do Sul (RS) é exemplo. Depois da implantação da bilhetagem eletrônica e do gerenciamento dos veículos via satélite, a Secretaria de Trânsito, Transporte e Mobilidade do município trabalha na forma-
tação de painéis eletrônicos informativos que serão instalados nas estações centrais de integração dos ônibus. “Teremos dados das linhas que operam em determinado terminal, com horários de chegada e saída dos ônibus. O sistema é bem parecido com o existente nos aeroportos”, explica Osvaldo Della Giustina, diretorexecutivo de transportes do município. A previsão para a implantação do primeiro painel era março. Todo o sistema de transporte da cidade deve estar reformulado até 2015. Caxias do Sul tem hoje quatro estações centrais e outras 54 secundárias. O custo operacional do sistema de integração é dividido entre as empresas e a secretaria municipal, segundo Giustina. As empresas respondem pelo sistema de gerenciamento e monitoramento dos veículos enquanto o governo municipal investe na integração do sistema e na ampliação e informatização das estações. “Esperamos com isso dar equilíbrio à questão tarifária e assim reduzir o custo das passagens e ainda garantir que os trajetos urbanos sejam percorridos em menor espaço de tempo”, afirma. l
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ENSINO
Oferecendo soluções Escola do Transporte abre inscrições para três cursos de aperfeiçoamento em Brasília POR
om a proposta de contribuir para o crescimento do setor transportador no Brasil, a Escola do Transporte oferece, a partir deste mês, três cursos de aperfeiçoamento nas áreas empresarial e de logística. Os cursos – instrumental para a elaboração de projetos, aperfeiçoamento em logística e gestão empresarial estratégica – buscam apresentar soluções para o desenvolvimento da sociedade e, em especial, do setor de transportes, em todos os seus setores (rodoviário, ferroviário, aéreo, aquaviário,
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SUPORTE A biblioteca da
LIVIA CEREZOLI
sistema portuário, logística e multimodalidade). As inscrições já estão abertas e assim que as turmas estiverem fechadas as aulas serão iniciadas. A previsão é para a primeira quinzena de abril. Os cursos são todos presenciais e as aulas serão ministradas na sede da Escola do Transporte, no edifício CNT, em Brasília. A metodologia aplicada nos cursos está focada em estudos de caso, debates, troca de experiências, exercícios, simulações em sistemas específicos, interação com profissionais atuantes no
mercado e aplicação dos princípios teóricos. O curso de aperfeiçoamento em logística é destinado a consultores, empreendedores e gestores de logística de empresas públicas e privadas que exercem ou venham a exercer atividades na cadeia logística em todo o tipo de organização, seja ela do segmento varejista, industrial, atacadista, público ou prestadora de serviços. Ao todo, são oito disciplinas distribuídas em uma carga horária de 144 horas, sendo 132 destinadas às disciplinas e 12 horas aos tópicos especiais.
Para atender à necessidade de formação de gestores para o setor, o curso de gestão empresarial estratégica tem como objetivo proporcionar o aperfeiçoamento de profissionais para atuarem segundo um modelo sistêmico, compreendendo a interação e interdependência das áreas funcionais da organização, bem como com o setor, com a comunidade e com o ambiente. A carga horária, de 120 horas, foi estruturada de forma modular, a partir dos principais temas relacionados à gestão empresarial – gestão mercado-
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CONHEÇA OS CURSOS OFERECIDOS • Aperfeiçoamento em logística Carga horária: 144 horas Componentes curriculares: gestão integrada de logística empresarial, custos logísticos, simulação e modelagem em logística, estratégia para o planejamento logístico, gestão ambiental aplicada à logística, marketing na logística, logística internacional, tópicos especiais de logística
• Instrumental para elaboração de projetos Carga horária: 45 horas Componentes curriculares: importância dos projetos e suas definições, fontes de financiamento de projetos, iniciando o projeto de financiamento, estrutura do projeto, riscos do projeto, análises do projeto, tomada de decisão financeira, tópicos especiais
• Gestão empresarial estratégica Carga horária: 120 horas Componentes curriculares: complexidade da gestão, gestão estratégica, gestão de informações estratégicas, organização orientada para o mercado, economia empresarial, finanças, gestão estratégica de pessoas, diagnóstico empresarial (trabalho prático) Inscrições Pelo site www.escoladotransporte.org.br Na secretaria da escola (Setor de Autarquias Sul – Quadra 1 – Bloco J - Edifício CNT/Sest/Senat – Brasília – DF) Informações: 0800 728 2891
Escola do Transporte possui acervo específico sobre o setor transportador
horas, contribui para a estabilidade das empresas no mercado, para a ampliação dos investimentos em aquisições de novas tecnologias, em infraestrutura, para o aumento da capacidade produtiva, contribuindo para o crescimento do setor, gerando renda e emprego. Podem se inscrever profissionais interessados em adquirir conhecimentos diferenciados em elaboração de projetos que já tenham cursado ou estejam cursando o nível superior. É importante também ter conhecimento de informática. A Escola do Transporte tem
como missão preparar pessoas para atuar no setor de transporte com eficiência, visão crítica e comprometimento com resultados. Esse fato leva a um novo modelo de gestão: o de educação empreendedora, que combina ensino, pesquisa e contribuição para o desenvolvimento. A escola é um órgão vinculado ao Sistema CNT com larga experiência na gestão de cursos para a área empresarial e de negócios, em diversos níveis. Sua infraestrutura conta com salas de aula com acesso à internet
banda larga, projetor multimídia, quadro branco, ambiente climatizado por sistema de ar-condicionado central, auditório para mais de 200 pessoas equipado com sistema de áudio e vídeo, laboratório de informática com 30 estações de trabalho e biblioteca com acervo específico sobre o setor de transporte. l
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lógica, gestão financeira, gestão de pessoas – e à sua integração. Os componentes curriculares estão voltados para diretores, gerentes, coordenadores, supervisores, administradores, técnicos e outros profissionais de organizações privadas e públicas. O curso instrumental para a elaboração de projetos visa suprir a falta de profissionais preparados para atuarem na captação de recursos financeiros em diversas entidades por meio de projetos consistentes e bem-elaborados. O conteúdo do curso, de 45
Para saber mais sobre a Escola do Transporte acesse www.escoladotransporte.org.br
Mais voos, velh
LUIZ GUARNIERI/FUTURA PRESS
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Cresce a demanda por viagens aéreas nos períodos de alta temporada, mas índice de atrasos e cancelamentos permanece alto
hos apuros
AVIAÇÃO
POR
LETICIA SIMÕES
Rio de Janeiro e as praias das regiões Norte e Nordeste foram os destinos mais procurados na alta temporada da aviação brasileira. Durante o período, que vai de dezembro a fevereiro, foi registrado aumento gradativo de voos em todo o país, se comparados com a mesma temporada de anos anteriores. Para algumas entidades ligadas ao setor, o desempenho se deve ao crescimento econômico brasileiro e aos investimentos que vêm sendo feitos na área do turismo. Outros órgãos, porém, afirmam que o maior número de voos na alta temporada é habitual e mascara a falta de infraestrutura aérea do país. Dados da Infraero (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária) apontam que entre o mês de dezembro e o dia 17 de fevereiro – Quarta-Feira de Cinzas, data considerada pela aviação o dia de encerramento da temporada de Carnaval –, mais de 157 mil voos foram programados, sendo registrados pouco mais de 8.000 cancelamentos nos 67 aeroportos administrados pela entidade. Entre os meses de dezembro de 2007, janeiro seguinte e o Carnaval de 2008, pouco mais de 120 mil voos haviam sido programados, com 5.362 cancelamentos registrados. Para Carlos Alberto Amorim Ferreira, presidente da Abav (Associação Brasileira de Agências de Viagens), esse crescimento está diretamente ligado à estabilidade econômica e às novas opções de financiamento de passagens aéreas. “O mercado passou a oferecer preços competitivos e opções facilitadas para a compra dos bilhetes, o que reduz ainda mais o
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OLHO NA COPA Investimentos nos aeroportos até 2014 • Aeroporto Internacional Tancredo Neves - Confins (MG) Reforma e modernização do terminal Valor total da obra: R$ 221,13 milhões Data de início: fevereiro/2009 Data de conclusão: outubro/2013 Situação atual: projeto básico em elaboração (55%). Reforma e ampliação da pista de pouso e pátios Valor total da obra: R$ 162,4 milhões Data de início: abril/2010 Data de conclusão: outubro/2013 Situação atual: Elaboração do Termo de Referência pela Infraero para licitação dos projetos básico e executivo.
custo das viagens. Por isso, o consumidor passou a viajar mais.” A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) divulgou em fevereiro índices confirmando o aumento de voos no transporte aéreo doméstico. Segundo o estudo, a demanda pelos voos domésticos cresceu 31,6% em janeiro em comparação ao mesmo mês de 2009. Ainda de acordo com a agência, desde julho de 2009 o setor tem apresentado desempenho expressivo no mercado doméstico com alta de 37,7% em dezembro passado. Na opinião de Cláudio Candiota Filho, presidente da Andep (Associação Nacional em Defesa dos Direitos dos Passageiros do Transporte Aéreo), esse crescimento não mostra a atual realidade da aviação brasileira. “Os aeroportos brasileiros já estão operando acima de sua capacidade, portanto, não estão preparados para qualquer percentual de crescimento. A infraestrutura aeroportuária brasileira, hoje, pode ser comparada à infraestrutura rodoviária, ou seja, péssima e insuficiente para atender adequadamente os usuários dos serviços”, diz.
• Aeroporto Internacional de São Paulo/Guarulhos (SP) Construção do 3º terminal de passageiros (fase 1 - 65%) Valor total da obra: R$ 1,01 bilhão Data de início: fevereiro/2012 Data de conclusão: abril/2014 Situação atual: Licitação internacional. Publicado resultado das habilitações técnicas do 1º lote em 8/1/2010. Construção da pista de táxi – saída rápida Valor total da obra: R$ 19,04 milhões Data de início: dezembro/2009 Data de conclusão: dezembro/2011 Situação atual: Em 30/12/2009 foi assinado contrato dos projetos básico e executivo. Construção do sistema de pista e pátio Valor total da obra: R$ 360,83 milhões Data de início: janeiro/2010 Data de conclusão: janeiro/2012 Situação atual: Contratação do IPT para efetuar a perícia judicial. • Aeroporto Internacional do Rio/Galeão – Antônio Carlos Jobim (RJ) Reformas dos terminais de passageiros 1 e 2 e finalização do terminal de passageiros 2 Valor total: R$ 648,45 milhões Data de início: setembro/2008 Data de conclusão: maio/2012 Situação atual: obra em execução. • Aeroporto de Salvador (BA) Torre de controle Valor total: R$ 15 milhões Data de início: janeiro/2011 Data de conclusão: dezembro/2011
Situação atual: Complementação do projeto executivo pela Infraero. Reforma do terminal de passageiros Valor total: R$ 11,5 milhões Data de início: maio/2011 Data de conclusão: junho/2013 Situação atual: Elaboração do Termo de Referência pela Infraero para licitação dos projetos básico e executivo. Ampliação do pátio Valor total: R$ 16,8 milhões Data de início: março/2011 Data de conclusão: março/2013 Situação atual: Elaboração do Termo de Referência pela Infraero para licitação dos projetos básico e executivo. • Aeroporto Internacional de Porto Alegre – Salgado Filho (RS) Ampliação do terminal de passageiros e pátio (fase 1 – 50%) Valor total: R$ 360,21 milhões Data de início: abril/2010 Data de conclusão: junho/2013 Situação atual: Elaboração do Termo de Referência pela Infraero para licitação dos projetos básico e executivo. • Aeroporto Internacional de São José dos Pinhais/Curitiba – Afonso Pena (PR) Ampliação do pátio e pista de táxi Valor total: R$ 31,2 milhões Data de início: junho/2010 Data de conclusão: março/2011 Situação atual: Elaboração dos projetos básico e executivo (59,1%). Ampliação do terminal de passageiros Valor total: R$ 38,9 milhões Data de início: abril/2010 Data de conclusão: julho/2013 Situação atual: Elaboração do Termo de Referência pela Infraero para licitação dos projetos básico e executivo. • Aeroporto Internacional de Brasília – Presidente Juscelino Kubitschek (DF) Ampliação sul do terminal de passageiros (fase 1 – 70%) Valor total da obra: R$ 524,2 milhões Data de início: fevereiro/2009 Data de conclusão: abril/2013 Situação atual: Elaboração dos projetos básico e executivo (30% do básico). • Aeroporto Internacional de Várzea Grande/Cuiabá – Marechal Rondon (MT) Reforma e ampliação do terminal de passageiros
Valor total: R$ 85,26 milhões Data de início: agosto/2010 Data de conclusão: julho/2013 Situação atual: Elaboração do Termo de Referência pela Infraero para licitação dos projetos básico e executivo. • Aeroporto Internacional de Manaus – Brigadeiro Eduardo Gomes (AM) Reforma e ampliação do terminal de passageiros Valor total da obra: R$ 193,05 milhões Data de início: novembro/2011 Data de conclusão: janeiro/2014 Situação atual: Elaboração do projeto básico (31%). • Aeroporto Internacional do Recife/Guararapes – Gilberto Freyre (PE) Construção da torre de controle Valor: R$ 19,7 milhões Data de início: maio/2011 - Data de conclusão: abril/2012 Situação atual: Elaboração do Termo de Referência pela Infraero para licitação dos projetos básico e executivo. • Aeroporto Internacional de Fortaleza – Pinto Martins (CE) Ampliação do terminal de passageiros (fase 1 - 35%) Valor total da obra: R$ 156,9 milhões Data de início: junho/2012 Data de conclusão: junho/2013 Situação atual: Elaboração do projeto básico (15%). • Aeroporto Internacional de Campinas/Viracopos (SP) Reforma do terminal de passageiros existente Valor total da obra: R$ 40 milhões Data de início: julho/2011 Data de conclusão: julho/2013 Situação atual: planejamento para contratação do projeto executivo Construção do novo terminal de passageiros e pátio (fase 1 - 35%) Valor total da obra: R$ 700 milhões Data de início: março/2012 Data de conclusão: maio/2014 Situação atual: Obtenção da Licença Prévia Ambiental. Elaboração do Relatório de Informações Complementares pela Infraero. Elaboração do Termo de Referência para contratação dos projetos básico e executivo. Fonte: Infraero
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RAFAEL MORAES/AJB/FUTURA PRESS
ALTA TEMPORADA Movimentação nos aeroportos Período 2007-2008 Dezembro 2007 Viagens programadas: 54.898 Voos atrasados: 16.438 (29,94%) Voos cancelados: 3.111 (5,67%) Janeiro 2008 Viagens programadas: 56.905 Voos atrasados: 14.181 (24,92%) Voos cancelados: 1.750 (3,08%) Carnaval 2008 (de 1º a 6 de fevereiro) Viagens programadas: 10.491 Voos atrasados: 1.956 (18,64%) Voos cancelados: 501 (4,78%) Período 2008-2009 Dezembro 2008 Viagens programadas: 60.037 Voos atrasados: 13.125 (21,86%) Voos cancelados: 2.649 (4,41%)
Ferreira, da Abav, exalta os investimentos anunciados. “Mais do que qualquer outro setor, o turismo tem muito a comemorar. É preciso aproveitar essa grande oportunidade para dar uma guinada no Brasil.” Ele, entretanto, cobra urgência nas obras de infraestrutura. “O alto número de viagens não reflete a realidade dos aeroportos, já que muitos trabalham com infraestrutura precária. O governo precisa acelerar os investimentos. Há aeroportos estrangulados, sem contar com as próprias estruturas das cidades-sede que estão a desejar.”
Carnaval 2009 (de 20 a 25 de fevereiro) Viagens programadas: 12.496 Voos atrasados: 815 (6,52%) Voos cancelados: 1.190 (9,52%) Período 2009-2010 Dezembro 2009 Viagens programadas: 71.845 Voos atrasados: 13.119 (18,26%) Voos cancelados: 3.548 (4,94%) Janeiro 2010 Viagens programadas: 71.727 Voos atrasados: 12.800 (17,85%) Voos cancelados: 3.321 (4,63%) Carnaval 2010 (de 12 a 17 de fevereiro) Viagens programadas: 14.265 Voos atrasados: 1.886 (13,22%) Voos cancelados: 1.600 (11,22%) Fonte: Infraero
TUDO CERTO Para a Infraero, os aeroportos estão adequados
A Infraero, por meio de sua assessoria, afirma que os aeroportos brasileiros estão adequados para o aumento da demanda e que, nos últimos dez anos, foram investidos R$ 5,3 bilhões na infraestrutura aeroportuária. A entidade confirma também investimentos de R$ 4,6 bilhões para os aeroportos localizados nas cidades-sede da Copa-2014. Ainda de acordo com a empresa, os recursos previstos buscam oferecer conforto e segurança aos passageiros e maior fluidez às operações de pouso e decolagem, para atender à demanda projetada.
Janeiro 2009 Viagens programadas: 63.125 Voos atrasados: 9.776 (15,49%) Voos cancelados: 2.615 (4,14%)
“Todos os aeroportos envolvidos com a Copa e a Olimpíada têm planos de investimentos” LÉA CAVALLERO SUPERINTENDENTE DE COMUNICAÇÃO DA INFRAERO
O presidente do Snea (Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias), José Márcio Mollo, diz que o aumento da oferta de voos oferece maior comodidade aos passageiros. Contudo, ele corrobora com a opinião daqueles que afirmam que a infraestrutura aeroportuária não acompanhou tal crescimento. “As empresas aeroviárias têm plenas condições de atender o aumento da demanda e de tráfego, mas é preciso investimentos urgentes nos principais aeroportos. Acredito que já no final de 2011 essa falta de estrutura será sentida e chegaremos a um verdadeiro caos.”
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PREÇOS
Aéreas têm liberdade tarifária As companhias que operam no setor aéreo brasileiro atuam sob o regime de liberdade tarifária, que lhes permite alterar o valor das tarifas sem aviso prévio à Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). Maria Inês Dolci, coordenadora institucional da Pro Teste (Associação Brasileira de Defesa do Consumidor), diz que o consumidor deve conhecer as regras de reajuste e se programar com antecedência, garantindo um valor mais acessível. “A Anac deveria realizar audiências públicas para tratar da liberdade tarifária e municiar o usuário de informações que possam lhe orientar acerca de reajustes do setor. Além disso, o próprio usuário deve buscar informações e tentar se programar, pois quem adquire os bilhetes com antecedência encontra melhores condições.” A Anac, por meio de sua assessoria, informa que as companhias não precisam de seu aval para alterar o valor das tarifas, no entanto, a agência acompanha o mercado para se resguardar de possíveis abusos nos reajustes. Ainda de acordo com a assessoria, caso haja algum excesso por parte das empresas, a Anac está habilitada a intervir. Cláudio Candiota Filho, presidente da Andep (Associação Nacional em Defesa dos Direitos dos Passageiros do Transporte
Aéreo), acredita que a liberdade tarifária é uma alternativa para mercados onde há concorrência, o que, em sua opinião, não ocorre no Brasil. “A liberdade tarifária é ótima quando a oferta é maior do que a demanda. Quando não há concorrência e quando a demanda é maior do que a oferta, o consumidor paga mais para voar menos.” Segundo o dirigente, o consumidor tem dificuldades para identificar os aumentos. “As companhias aéreas operam com mais de duas dezenas de diferentes tarifas na classe econômica. Essas tarifas aumentam ou diminuem conforme a ocupação de cada voo. A única maneira de comprar passagens com preço menor é adquiri-las com muita antecedência e não alterar a passagem, pois qualquer mudança gera multa e aumento de tarifa” diz. Apesar das várias taxas cobradas, Candiota não considera os valores abusivos. “Se comparadas com países da Europa e da Ásia, Estados Unidos e Canadá, por exemplo, a tarifa aérea brasileira é abusiva. Mas, o que determina o preço das passagens é o mercado. As companhias aéreas nacionais, assim como as demais empresas brasileiras, carregam a maior carga tributária do mundo. Tudo isso é transferido para o consumidor que, ao final, é quem suporta tudo.”
NECESSIDADE Para o Snea, os aeroportos precisam de inves
A demanda doméstica cresceu
31,6% em janeiro em comparação a 2009
O Snea, em parceria com o TGL (Núcleo de Estudos de Tecnologia, Gestão e Logística), instituição ligada ao Coppe – Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia – da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), elaborou um documento que relata a atual situação dos 12 aeroportos instalados nas capitais que serão sede da Copa-14. O documento foi elaborado segundo números fornecidos pela Infraero, contendo as características e as obras previstas para cada um dos aeroportos.
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GUILHERME GONCALVES/CPDOC JB DIGITAL/FUTURA PRESS
PROJETOS
Obras previstas até a Copa-2014 A Infraero trabalha para que os aeroportos das cidades-sede da Copa-2014 estejam aptos a receber a grande demanda esperada para o evento. Segundo Léa Cavallero, superintendente de comunicação da empresa, as obras contemplarão 16 aeroportos relacionados com os jogos. “Esses investimentos vão atender não apenas à demanda da Copa do Mundo, mas também as Olimpíadas de 2016 e toda a demanda projetada para o setor aéreo no país. Todos os aeroportos envolvidos com esses eventos têm seu planejamento de investimentos”, afirma. Cada aeroporto demandará um investimento distinto proveniente de um montante de R$ 4,6 bilhões, com datas específicas para início e térmi-
no das obras, conforme a necessidade dos terminais. As obras vão da construção de torres de controle, como no caso do Aeroporto Internacional Gilberto Freyre, em Recife (PE), e do Aeroporto de Salvador (BA), à construção e/ou ampliação de terminais de passageiros, como previsto para o Aeroporto Internacional de São Paulo (Guarulhos) e o Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim, no Rio de Janeiro. Segundo levantamento feito pela Infraero, a obra que demandará maior aporte financeiro será a construção do terceiro terminal de passageiros do aeroporto de Guarulhos, com valor total de R$ 1,01 bilhão. A previsão é que a obra seja iniciada em fevereiro de 2012 e concluída
até abril de 2014. A Infraero abriu licitação internacional para definição da empresa que ficará responsável pelas intervenções. Segundo a entidade, os investimentos serão divididos entre a própria Infraero e o governo federal, por meio do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). “Não está descartada a possibilidade de parcerias público-privadas, embora ainda não haja tratativas sobre o assunto”, afirma Léa. A contratação de todos os serviços – desde a elaboração dos projetos à execução das obras – será realizada por meio de processo licitatório. Em alguns casos, informa a Infraero, o Exército Brasileiro auxiliará tanto nos projetos quanto nas obras.
timentos urgentes para atender à demanda
A intenção do Snea é entregar o documento ao governo federal como forma de cobrar maior agilidade no investimento previsto. A audiência para a entrega do estudo ainda será marcada. Na opinião de Candiota, da Andep, o crescimento no número de voos durante a alta temporada e o aumento gradativo das viagens desde setembro passado está sendo supervalorizado . “Comparando os números da Infraero em relação ao movimento doméstico de 2007 com o de 2009, o crescimento de passageiros foi de
17%. Isso não é nada demais. Trata-se de crescimento vegetativo.” Para ele, há ainda muito o que se investir e melhorar para os usuários do transporte aéreo. “Hoje, os passageiros só têm entraves. Desde os balcões de check in, que são insuficientes, até as esteiras para retirar bagagens, que estão subdimensionadas em todos os aeroportos brasileiros.” Além da infraestrutura deficitária, Candiota diz que os passageiros têm outros problemas a serem enfrentados, principalmente na alta tempo-
rada, como os constantes atrasos e cancelamentos. “Os atrasos e os cancelamentos decorrem de uma série de fatores como falta de equipamento, de tripulação, de funcionários de terra, de infraestrutura, de fiscalização e de punição. O usuário está é se acostumando a conviver com os maus serviços, pois eles estão se tornando rotina”, reclama. Segundo dados da Infraero, entre dezembro passado e o Carnaval deste ano foram registrados 27.805 atrasos, de um total de mais de 157 mil voos programados.
O presidente da Andep acredita que, desde o apagão aéreo, não houve na aviação brasileira nenhuma mudança significativa para o passageiro. “Sob o ponto de vista do usuário o que se pode verificar foi uma redução, temporária, do caos absoluto. O caos aéreo deverá retornar, se houver um aumento excepcional da demanda. Desde 2006, com o acidente do avião da Gol, continua tudo da mesma maneira.” O Boeing 737 da Gol colidiu-se com um jato Legacy, em setembro de 2006, deixando 154 mortos. l
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RESPONSABILIDADE SOCIAL
Transporte pela vida Programa de educação no trânsito mobiliza empresas gaúchas em busca da certificação POR
que parecia ser uma ação voltada apenas para a mudança de cultura de transportadores e motoristas de caminhão no Rio Grande do Sul em relação ao comportamento no trânsito hoje desperta interesse e fomenta a competição entre as empresas pelo melhor desempenho na busca pela certificação no programa Transportadora da Vida. Em três anos de existência, o programa – fruto de parceria entre o Setcergs (Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística no Estado do Rio Grande do Sul) e a Fundação
O
SUELI MONTENEGRO
Thiago de Moraes Gonzaga – resultou em mais de 200 ações das transportadoras gaúchas filiadas ao sindicato, entre cursos de reciclagem e aperfeiçoamento de motoristas como direção defensiva e direção econômica; ações de prevenção ao alcoolismo, às doenças venéreas e às drogas; palestras sobre responsabilidade no trânsito dentro e fora das empresas; campanhas em sinais de trânsito à noite; carreatas e outros eventos. O sucesso da iniciativa mostra a força de um conceito que tem sido aos poucos incorporado pelas empresas do setor em
suas atividades cotidianas: a responsabilidade social. Os critérios de participação são rígidos e envolvem comprometimento dos participantes, que são avaliados e certificados de acordo com pontuação dada por técnicos do sindicato e da fundação. A avaliação das empresas considera uma série de quesitos, aos quais são atribuídos diferentes pesos. Entre eles estão a obtenção de certificados de gestão de qualidade (SASSMAQ, PGQP, ISO), a adoção de políticas de segurança no trânsito, de combate ao álcool e às drogas, qualidade de vida,
meio ambiente, monitoramento das condições de saúde dos funcionários, apoio psicológico e readaptação do motorista em caso de acidente, verificação do funcionamento e das condições do veículo, idade média da frota, participação em blitze educativas e em outras atividades do programa. “As empresas certificadas têm auditoria. O fato de ser certificada em um ano não garante que a certificação é permanente. O próprio Setcergs faz essa auditoria em conjunto com a fundação”, explica o presidente do sindicato, José Carlos Silvano. “Somos exigentes. São
SETCERGS/DIVULGAÇÃO
mais de 40 quesitos que acompanhamos na empresa durante o ano. Trabalhamos com funcionários administrativos, com as gerências, caminhoneiros e familiares de caminhoneiros. Tem que levar para dentro da empresa essa cultura”, reforça a presidente da Fundação Thiago Gonzaga, Diza Gonzaga. Criado em 2006, o programa Transportadora da Vida registrou no primeiro ciclo, realizado em 2007, a adesão de 11 transportadoras. Esse número passou para 20 em 2008 e fechou 2009 com 23 empresas. Pelo segundo ciclo consecutivo, a pontuação máxima ficou com a
Transportadora Transmiro, que trabalha com diferentes tipos de carga no Rio Grande do Sul. O programa premiou também 19 motoristas que se destacaram no período. Sócio da Roma Cargo Logística, Silvano explica que o programa inclui ações de proteção aos motoristas de caminhão e de automóveis e contribui para melhorar a imagem das próprias empresas. As atividades envolvem não apenas trabalhadores em transporte e seus familiares, como também toda a comunidade local, para quem são direcionadas campanhas de conscientização. No Rio
Grande do Sul, além de feriados tradicionais, como as comemorações da Revolução Farroupilha, outras datas festivas, como o Dia de São Cristóvão, patrono dos motoristas, entram no calendário de ações da campanha. Diza Gonzaga destaca o grau de prioridade do programa desenvolvido com as transportadoras ao afirmar que a parceria com o Setcergs veio para ficar, pois é um dos projetos mais importantes da fundação. Ambiciosa, a proposta da Fundação Thiago Gonzaga pretende ampliar essa parceria e transformar o Transportadora
da Vida em programa de alcance nacional. “Esse selo Transportador da Vida não é uma coisa pequena. Quero que seja daqui a pouco um Top of Mind. Que possamos fazer isso em todo o país, com as federações de transportadores.” O sócio-diretor da Transportadora Transmiro, Leandro Bortoncello, reafirma o papel do programa na conscientização e no incentivo a práticas e atitudes seguras nas estradas. “Precisamos de um número maior de empresas aderidas com o mesmo objetivo, pois nosso país registra acidentes com alto índice de mor-
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“Após nosso engajamento, aume LEANDRO BORTONCELLO, SÓCIO-DIRETOR DA TRANSPORTADORA TRANSMIRO
FUNDAÇÃO THIAGO GONZAGA
Da tragédia às campanhas educativas de trânsito A força de uma tragédia familiar ocorrida há quase 15 anos em Porto Alegre (RS) mudou a vida do casal Régis e Diza Gonzaga e, certamente, a cabeça de muitos jovens que hoje participam como voluntários das campanhas de educação no trânsito patrocinadas pela Fundação Thiago de Moraes Gonzaga. A instituição foi criada por Régis e Diza em 1996, um ano após a morte do filho Thiago, de 18 anos, em um acidente de trânsito na capital gaúcha, e tem como carro-chefe o programa Vida Urgente. “A Fundação Thiago Gonzaga e o Vida Urgente não nasceram em agência de publicidade ou numa campanha de marketing. Nasceu numa madrugada de 20 de maio quando fui recolher meu filho sem vida”, conta Diza. Da vontade de alertar outras pessoas para que não passassem por experiência semelhante nasceria uma organização não governamental voltada inicialmente para o público jovem, alvo da primeira campanha educativa da fundação – o Madrugada Viva – que realizava blitze nos bares de Porto Alegre. “Começou assim – sem nenhum planejamento, com uma mãe que tinha um grito parado na
garganta”, lembra a fundadora da instituição. Os resultados vieram em seguida: do apoio de uma agência de publicidade local ao Madrugada Viva à adesão de colaboradores. Hoje, são 15 mil voluntários somente no Rio Grande do Sul e outros tantos no Espírito Santo, onde a instituição atua em parceria com o Detran (Departamento Estadual de Trânsito), e nas demais unidades da federação. Em um ano, a fundação ganhou o Prêmio Volvo de Segurança no Trânsito como Destaque Nacional, agregou pessoas à equipe e iniciou um programa que envolve atualmente jovens, idosos e crianças. O reconhecimento ao trabalho da fundação está em uma lista extensa de premiações ao longo dos anos. A última delas – o Prince Michael Road Safety Awards – foi concedida pela Road Safe em 2009. Para Diza Gonzaga, o problema do trânsito é educação. Ela defende a Lei Seca e lembra que 78% dos acidentes com mortes ou lesões graves têm alcoolemia positiva. “É mudança de comportamento. As pessoas estão morrendo não porque desconhecem a sinalização, mas por imprudência.” A atuação da ONG resultou
na aprovação de um projeto de lei pela Câmara Municipal de Porto Alegre que proíbe o consumo de bebidas alcoólicas em lojas de conveniência localizadas em postos de combustíveis. Projetos semelhantes ao da capital também têm sido discutidos por vereadores de outras cidades do Rio Grande do Sul. O trabalho com motoristas de caminhão começou com entrevistas da fundadora da instituição a um programa da rádio Nacional de Brasília. “Comecei a ter contato com caminhoneiros, todos guris, porque hoje a maioria deles é jovem, e a expli-
car e dar conselhos. Um dia comentei em uma entrevista para uma revista especializada em caminhoneiros que adoraria fazer o Vida Urgente na estrada. Fui procurada por uma empresa – a DM Transporte Internacional, hoje do Grupo Gafor, e passamos a fazer blitz educativa nas estradas”, conta Diza Gonzaga. A parceria resultou na confecção de folhetos com explicações específicas para motoristas de caminhão e de carros de passeio e em um prêmio para a transportadora. A fundação foi então procurada por dirigentes do Setcergs e nasceu aí o programa Transportadora da Vida. SETCERGS/DIVULGAÇÃO
ATUAÇÃO Diza Gonzaga diz que falta educação no trânsito
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ntou a conscientização e o comprometimento dos colaboradores”
ADR RODASUL/DIVULGAÇÃO
Saiba mais Confira abaixo algumas das ONGs de trânsito que atuam no país • Trânsito Amigo – Associação de Parentes, Amigos e Vítimas de Trânsito – Criada em 2003 no Rio de Janeiro, organiza e participa de eventos educativos e de discussões sobre segurança no trânsito • Criança Segura – Com bases em Recife, Curitiba e São Paulo, trabalha na prevenção de diferentes tipos de acidentes, inclusive os de trânsito, envolvendo crianças • Rodas da Paz – Formada por ciclistas do Distrito Federal, trabalha com ações de segurança no trânsito como palestras, passeatas e outros eventos públicos, além de acompanhar o trabalho de agentes responsáveis pela segurança das vias na capital federal • Menos Velocidade – Mais Vida – Criada por parentes de vítimas de acidentes, atua em Juiz de Fora (MG) desde a década de 90, onde realiza trabalho educativo e de conscientização • Avitran (Associação das Vítima de Trânsito): Criada em São Paulo pelo psicólogo Salomão Rabinovich, trabalha em ações de prevenção e de apoio às vítimas de acidentes
CONSCIENTIZAÇÃO Prêmio gera envolvimento de funcionários
talidade em nossas estradas, que por sua vez carecem de investimentos e mais atenção dos governantes.” Para Bortoncello, os resultados obtidos pela empresa refletem o envolvimento de todo o corpo de funcionários nas ações propostas pelo programa. “Após nosso engajamento ao Transportadora da Vida, aumentou a conscientização e o comprometimento de todos os colaboradores em práticas e atitu-
des seguras no trânsito, trazendo-nos muita satisfação, felicidade e orgulho por trabalhar em prol da vida”, afirma. O gerente de RH e Qualidade da Minuano Transportadora, Isaías Goethel Rodrigues, conta que a empresa – uma das 19 certificadas no ano passado – desenvolve projetos de educação, palestras e acompanhamento de saúde dos quase 70 motoristas contratados, processo que ocorre desde a seleção
dos profissionais. Há, também, todo um trabalho de conscientização com o corpo de funcionários em eventos como o da Semana do Trânsito, além de atividades interativas que permitem a participação dos motoristas. “A empresa teve melhora consistente no quesito saúde dos funcionários. Nos últimos anos tivemos redução de multas e de pequenos acidentes e do ‘turn over’ (rotatividade) no
quadro de motoristas”, explica Rodrigues. Segundo o gerente, há mais de 15 anos a Minuano não perde vidas no trânsito, seja de funcionários ou de terceiros. A empresa foi uma das primeiras a participar dos cursos do Sest/Senat de especialização prática para motoristas carreteiros no Estado. Com foco inicial no público interno, preparase agora para trabalhar em ações voltadas para o público em geral.
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TRABALHO
ONGs ocupam espaço Espalhadas pelos mais diferentes pontos do país, as organizações não governamentais voltadas para o trânsito têm como traço comum o foco na educação como ponto de partida para a redução dos acidentes nas estradas e nas áreas urbanas e o apoio às pessoas atingidas. Não existem estatísticas organizadas de quantas são, uma vez que muitas delas são formadas por parentes de vítimas ou por vítimas de acidentes e atuam de forma pulverizada. Outro traço característico dessas ONGs é a dependência do trabalho de voluntários e/ou de parcerias com instituições públicas e privadas para executar suas ações. Assim como a Fundação Thiago Gonzaga, instituições como a Trânsito Amigo – Associação de Parentes, Amigos e Vítimas de Trânsito, do Rio de Janeiro; Rodas da Paz, do Distrito Federal; Menos Velocidade-Mais Vida, de Juiz de Fora, Minas Gerais; e Avitran (Associação de Vítimas de Trânsito), de São Paulo nasceram como uma reação da sociedade à violência sobre rodas. Com o tempo e a persistência de voluntários, conquistaram espaço na luta pelo aperfeiçoamento da
legislação e pela conscientização de motoristas e de segmentos sociais mais atingidos, como jovens e crianças. Trânsito Amigo e Menos Velocidade – Mais Vida têm o mesmo histórico de organizações que nasceram da iniciativa de pessoas atingidas direta ou indiretamente por tragédias pessoais. Com participação ativa, as ONGs realizam eventos e palestras e participam de discussões sobre segurança no trânsito em todo o país. Em Brasília, a Rodas da Paz resultou da mobilização de ciclistas contra o aumento dos acidentes e de mortes no trânsito do Distrito Federal. Voltada para a segurança no trânsito, a instituição organiza palestras educativas, protestos, passeios ciclísticos e acompanha as ações de agentes públicos responsáveis por garantir a segurança do tráfego nas vias. Em São Paulo, a Avitran também reúne voluntários em ações de mobilização e de apoio a pessoas vitimadas pelo trânsito. Já em Recife, Curitiba e São Paulo, a Criança Segura tem como ponta de atuação a prevenção de acidentes de diversos tipos com crianças, inclusive ocorrências de trânsito.
HOMENAGEM José da Silva Cardoso, da Raupp Transportes, foi
Estela Branco, da AGR Rodasul Logística e Transporte, diz que os motoristas da empresa – também na lista das certificadas pelo programa em 2009 – são incentivados a mudar o comportamento no trânsito. Ela explica que antes de iniciar suas atividades esses profissionais recebem treinamento de integração teórico e prático e material informativo, como o Manual do Motorista, que contém as regras da empresa e trata de questões como segurança no trânsito, meio ambiente e quali-
dade de vida. Branco dá um exemplo de como as ações que envolvem o conceito de responsabilidade social têm sido recebidas pela direção das empresas quando lembra que “a partir do momento em que os dirigentes entenderam o propósito do programa, perceberam que essas ações, além de trazerem benefícios para a empresa, também estariam fazendo um bem para a sociedade.” Em relação aos funcionários, as consequências práticas
QUALIDADE
Motoristas e empresas que fazem a diferença SETCERGS/DIVULGAÇÃO
A disputa pelo selo Transportador da Vida tem obrigado as empresas que aderem ao programa a aplicar princípios de qualidade que influenciam a atuação de seus funcionários. “Tem vários níveis de cultura. Algumas empresas já têm essa consciência (da questão da responsabilidade social). Outras estão no meio do caminho. Algumas quase nem têm essa filosofia”, explica a presidente da Fundação Thiago de Moraes Gonzaga, Diza Gonzaga. “Não medimos esforços na orientação de nossos motoristas e colaboradores, pois acreditamos que, antes do caminhão, há uma vida que o conduz e essa deve ser cuidada e preservada”, afirma Eliane Miranda, supervisora de Recursos Humanos da Transportadora Transmiro, ganhadora do Troféu Empresa Destaque – Ciclo 2009.
Além da Transmiro, outras 18 empresas receberam a certificação do programa no ano passado. O Setcergs e a Fundação Thiago Gonzaga também homenagearam 19 profissionais ligados a essas transportadoras com certificados de Motorista Destaque do programa Transportadora da Vida. O motorista Valdemir Zini foi indicado como destaque da AGR Rodasul por manter bom relacionamento com os colegas, cuidar bem do veículo, não registrar acidentes de trânsito, não andar com excesso de velocidade e apresentar a melhor média de consumo de combustível por quilômetro rodado. Também destaque do programa, Valdir Vieira da Silva, do Centro Logístico Eichenberg Transeich, considera importante esse reconhecimento. “Foi muito gratificante ser destacado entre um grupo
de colegas tão bons. Certamente isso tem resultado prático no meu trabalho, pois acabo sendo bem mais cuidadoso e detalhista, não só quando estou trabalhando, mas também no final de semana, quando saio com a minha família.” Da Raupp Transportes, José da Silva Cardoso foi o motorista premiado. O presidente do Setcergs, José Carlos Silvano, destaca o retorno para as empresas do investimento na qualidade de vida dos motoristas. Silvano afirma que a estrutura da fundação ainda não atende a todas as 350 empresas filiadas ao sindicato dentro do programa Transportadora da Vida. Acrescenta, porém, que o programa tem crescido aproximadamente 20% ao ano e, anualmente, agrega novas empresas. “Não adianta ter várias empresas sem poder atendê-las”, diz o sindicalista.
premiado na categoria Motorista Destaque
do programa traduziram-se em “maior integração, possibilidade de praticar ações voluntárias que levam à realização pessoal, além do reconhecimento pelos colegas e pela sociedade”. Institucionalmente, o valor da certificação, segundo ela, não é mensurável. “Vale a satisfação da empresa mostrar que está desenvolvendo um trabalho que realmente faz diferença na sociedade.” Envolvida com o programa desde o primeiro ciclo, a equipe do Centro Logístico
Eichenberg Transeich mantém o padrão estabelecido na proposta da parceria Setcergs-Fundação Thiago Gonzaga ao focalizar as ações de educação para o trânsito nos públicos interno e externo. “Realizamos blitze educativas, brincadeiras com sinais de trânsito, palestras e abordagens”, informam Juliane Lima, do setor de Qualidade, e Juliana Picetti, da área de Frota da empresa. As atividades incluem curso de direção defensiva no mínimo semes-
tralmente para os motoristas e avaliações mensais em um programa criado especificamente para avaliá-los. “A motivação e o incentivo se dá por meio de uma premiação de acordo com o desempenho e o comportamento do motorista”, acrescentam as funcionárias. Lima e Picetti garantem que a adesão e a busca da certificação não representaram grande esforço de mudança para a empresa, que já adotava práticas voltadas para uma gestão
mais eficiente. “Na verdade, já trabalhávamos nesse padrão. Por isso foi fácil se integrar ao programa, pois já possuíamos duas outras certificações (ISO 9001 e o SASSMAQ) que nos exigem preocupação com qualidade, saúde e segurança, o que está atrelado ao programa Transportadora da Vida. Mas certamente a participação no programa tem grande valor para a imagem da empresa uma vez que o propósito do programa é muito bem-visto pela sociedade em geral.” l
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SEST/SENAT
Ações por todo o país Unidades deram apoio à campanha contra a exploração sexual de crianças e adolescentes POR
xploração sexual de crianças e adolescentes é crime. Denuncie! Procure o conselho tutelar de sua cidade ou Disque 100”. Esse foi o slogan da campanha realizada durante o período de Carnaval, que contou com a participação de unidades do Sest/Senat em todo o Brasil. O projeto, que está em sua quinta edição, tem como objetivo principal prevenir a violência sexual e estimular as denúncias dos casos ao Disque Denúncia Nacional –
“E
KATIANE RIBEIRO
que atende pelo número 100 – ou aos conselhos tutelares. O Sest/Senat é parceiro do programa desde a primeira edição, lançada em 2006. A campanha foi organizada pela SEDH (Secretaria Especial dos Direitos Humanos) da Presidência da República e contou com a parceria da sociedade civil, além de organizações e organismos internacionais. O lançamento nacional da campanha foi no Rio de Janeiro (RJ), em parceria com o Cedca (Conselho Estadual de Defesa da Criança e do
Adolescente), no dia 8 de fevereiro, no Anfiteatro do Morro da Urca – Pão de Açúcar. Além do Rio, outras 13 cidades participaram da campanha: Belém, Salvador, Recife, Fortaleza, Brasília, São Paulo, Belo Horizonte, Vitória, Corumbá, Porto Alegre, Florianópolis, Porto Velho e Campo Grande. As localidades foram definidas tomando por base os seguintes critérios: número de denúncias feitas ao Disque 100 de cada um desses municípios; abrangência da referi-
da capital pela Agenda Social Criança e Adolescente do governo federal; e a tradicional mobilização carnavalesca de cada uma dessas localidades. De acordo com a SEDH, essa estratégia prima pela integração e participação da comunidade e, mais que isso, a campanha do Carnaval deve ser incorporada como uma ação de cada localidade, pois é desenvolvida dentro das atividades já previstas na cidade. Unidades do Sest/Senat em todo o país participaram da
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LÍLIAN MIRANDA
ENVOLVIMENTO Motorista recebe material de campanha na BR-356, um dos três pontos onde a unidade de Belo Horizonte realizou blitze educativas
campanha e realizaram ações de mobilização e esclarecimento sobre o tema, entre elas, Salvador, Recife, Fortaleza, São Paulo, Florianópolis, Porto Velho e Belo Horizonte. Durante os festejos carnavalescos, foram distribuídas camisetas, bandanas, abanadores, cartazes, adesivos, fitinhas para amarrar no pulso, tatuagens temporárias, além de peças em inglês e espanhol para uso da Polícia Federal com os turistas estrangeiros. Em Recife, o evento acon-
teceu no dia 8 de fevereiro, no Pátio de São Pedro. A unidade também realizou ações educativas sobre o tema nos dias 9 e 10 de fevereiro, no Complexo Portuário de Suape. Durante os dois dias, funcionários de empresas de transporte rodoviário de cargas receberam orientações sobre a exploração sexual de crianças e adolescentes e dicas de saúde. De acordo com Erlene Cabral, coordenadora de promoção social da unidade de Recife, a campanha é muito bem-aceita na cidade, assim
como também em todo o Estado, “entretanto, precisamos cada vez mais disseminar a importância de proteger nossas crianças contra esse crime tão brutal”, afirma. “Temos a campanha como um compromisso, pois somos conscientes da nossa responsabilidade social por trabalhar especialmente com o trabalhador de transporte, na luta contra a exploração infantil em nosso Estado”, diz a coordenadora. Um dos locais mais frequentados por turistas em Salvador, o Pelourinho
(Patrimônio Cultural do Brasil) foi o local escolhido para divulgação da campanha de Carnaval. A abertura do evento aconteceu na praça Tereza Batista e foi finalizado com o Cortejo Afro pelas ruas do Pelourinho, com distribuição de material sobre o tema. De 10 a 14 de fevereiro, também foram distribuídos 300 mil abanadores da campanha, em pontos estratégicos da cidade, como o terminal marítimo, a estação da Lapa, rodoviária, aeroporto e pedágio da Linha Verde. Segundo a coordenadora
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DISQUE 100
Serviço recebe denúncias O Disque Denúncia Nacional – 100 é coordenado pela SEDH/PR, em parceria com a Petrobras e o Cecria (Centro de Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes). A ligação é gratuita e o usuário não precisa se identificar. É um serviço de utilidade pública que recebe e encaminha denúncias de violências contra crianças e adolescentes, de segunda-feira a domingo, inclusive feriados, das 8h às 22h. A denúncia é encaminhada para o órgão mais adequado à situação, como o Conselho Tutelar, delegacias
de proteção ou polícias Civil, Federal, Rodoviária Federal e ainda ao Ministério Público para acompanhamento dos resultados. O Disque 100 tem uma área de extração e tratamento de dados que fornece informações importantes, que servem para subsidiar políticas públicas e orientar tanto os serviços já existentes como novas ações na área da infância. Desde 2003, foram mais de 2 milhões de atendimentos e mais de 100 mil denúncias recebidas e encaminhadas aos órgãos competentes. MULTIMÍDIA No posto São Cristóvão, exibição do filme “Mudança
de promoção social do Sest/Senat de Salvador, Silvia Miranda, “muitas vezes me senti desmotivada, principalmente depois que tomei conhecimento de como os exploradores são organizados e como a Justiça demora para condenar um acusado, isto é, quando ele chega a ser julgado. Não esqueço de uma frase que ouvi de uma secretária de Desenvolvimento Social, ela dizia que sempre em encon-
tros de discussões sobre esse tema, ela concluía os debates com o estômago embrulhado, ao conhecer mais de perto casos de abusos e exploração sexual. Mas de uma coisa ela tinha certeza, voltava sempre para casa se sentindo mais gente", diz. “E é assim que me sinto, já me incluí nessa luta, já faço parte dela”, afirma Silvia. Com 15 ritmistas da Escola de Samba Vai-Vai tocando
marchas carnavalescas e a atuação de malabares da escola de circo, do ator Marcos Frota, foram as atrações da campanha em São Paulo. Também foram distribuídos materiais sobre o tema, durante todo o percurso, que se iniciou na praça do Patriarca e terminou no coreto da praça Antônio Prado. No final do evento, houve ainda uma apresentação musical com o maestro João Carlos
Martins da Fundação Bachiana Filarmônica e Sinfônica de Heliópolis e o músico Bocão da Cuíca, da escola Vai-Vai. Para o coordenador de Promoção Social do Sest/Senat da unidade Parque Novo Mundo, em São Paulo, Fernando Caravieri Erustes, a campanha tem grande valor social, uma vez que expõe o assunto, dissemina informações e gera debates, diz.
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SETS/SENAT/FORTALEZA/DIVULGAÇÃO
SEST/SENAT/PORTO VELHO/DIVULGAÇÃOI
de Rumo” do Sest/Senat em Fortaleza
Em Porto Velho (RO), houve blitz educativa no dia 12 de fevereiro, no posto Carga Pesada e na avenida Jatuara, com distribuição de material de divulgação da campanha aos motoristas que passavam pelo local. De acordo com a coordenadora de Promoção Social do Sest/Senat de Porto Velho, Jucimar Santos, a campanha é de altíssima importância, “entretanto, não deveria ser feita apenas no perío-
NO NORTE Mobilização no posto Carga Pesada, na BR-364, em Porto Velho
do de Carnaval, mas ter uma continuidade durante todo o ano”, afirma. “Vejo que a maior dificuldade é o medo que as pessoas têm de denunciar”, diz Jucimar. Na capital mineira, o evento aconteceu na Feira de Arte e Artesanato, na avenida Afonso Pena, no dia 7 de fevereiro. A equipe da unidade do Sest/Senat de Belo Horizonte também fez blitze educativas na BR-356 e na MG-10. Foram
quase 2.000 veículos abordados, por quase cem voluntários, que deram orientações aos motoristas e distribuíram material educativo. A mobilização contou com a colaboração da Polícia Rodoviária Estadual, que fez o controle do tráfego no local. Para o diretor da unidade de Belo Horizonte, José Vicente Gonçalves, a mobilização é válida, pois, apesar de ser um tema bastante discutido, os
incidentes continuam a ocorrer. O Sest/Senat de Florianópolis participou no dia 11 de fevereiro do lançamento da campanha nacional. O evento aconteceu no centro da cidade, durante cortejo do bloco carnavalesco Enterro da Tristeza, que teve um público estimado de 10 mil pessoas. O encerramento da campanha foi no dia 16 de fevereiro, na praia de
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SEST/SENAT/SÃO CAETANO/DIVULGAÇÃO
PROGRAMA DE ENFRENTAMENTO
Mais de 32 mil abordagens feitas Desde 2004, o Sest/Senat atua no combate à exploração sexual infanto-juvenil. As ações desenvolvidas pelo Programa de Enfrentamento à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes estão baseadas em três principais frentes de trabalho: abordagem de caminhoneiros nas estradas para discussão sobre o assunto, curso preparatório on-line e produção e exibição de um curta-metragem assistido por mais de 11 mil caminhoneiros durante os cursos de capacitação nas 133 unidades do Sistema existentes no país. Em 2009, 124 caminhonei-
ros voluntários foram capacitados para realizarem abordagens pelas estradas e ampliar a discussão do tema entre os colegas de profissão. Os ATS (Agente de Transformação Social), como são conhecidos, até o final de dezembro, haviam realizado mais de 32 mil abordagens. As conversas são realizadas nos momentos de parada para descanso, abastecimento e alimentação. Os resultados dos trabalhos podem ser acessados na página do programa (www.sestsenat.org.br/esca). PERNAMBUCO Equipe da unidade de São Caetano aborda motorista
Sambaqui, com entrega de material de divulgação sobre o tema aos blocos de rua. Ao todo foram distribuídas 200 mil camisetas, 5.000 abanadores, 5.000 adesivos para carros e 1.500 cartazes. “Em nossa cidade a campanha foi muito bem-aceita e houve a efetiva participação de várias entidades e órgãos públicos”, diz a diretora da unidade de Florianópolis, Patrícia
Costa Ferreira. Entretanto, alerta que “a sociedade precisa se unir e se mobilizar para diminuir os números assustadores de violência e abuso sexual contra crianças e adolescentes, e penso que a divulgação do Disque 100 é fundamental para que isso aconteça”. Nos dias 11 e 12 de fevereiro, o Sest/Senat de Fortaleza fez ações de panfletagem e distribuição do material de
divulgação da campanha, na rodoviária João Thomé, em parceria com o Fórum Estadual de Enfrentamento à Exploração Sexual. Também no dia 12, a unidade realizou, no posto São Cristóvão, na BR-116, a exibição do curtametragem “Mudança de Rumo”, produzido pelo Sistema em 2009. Logo após a apresentação, os caminhoneiros receberam informações
sobre a prática criminosa da exploração sexual de meninos e meninas. “Avalio a ação como muito positiva, pois casos de violência sempre acontecem, mas a população tem receio de denunciar, e esse tipo de mobilização serve de encorajamento para que as pessoas denunciem, diz a coordenadora de Promoção Social do Sest/Senat de Fortaleza, Cely Dias.
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AGÊNCIA SENADO/DIVULGAÇÃO
SENADOR MAGNO MALTA
“É importante investir em campanhas explicativas” Presidente da CPI da Pedofilia, o senador Magno Malta (PR-ES) falou sobre o trabalho da comissão Que balanço o senhor faz dos trabalhos da CPI da Pedofilia? A CPI tem tido um grande avanço no combate ao crime e na conscientização da sociedade em defesa da criança, do adolescente e da família brasileira. Embora os números sobre a pedofilia no Brasil sejam difusos, o combate a esse crime mobiliza autoridades, organizações não governamentais e cidadãos, que buscam proteger crianças e adolescentes contra essa praga mundial, potencializada com a difusão e a venda de imagens pela internet. Especialistas dizem que a maioria dos pedófilos é composta por homens e que, em muitos casos, o desvio vem de pessoas "acima de qualquer suspeita" aos olhos da sociedade, o que facilita a atuação do criminoso. A forma de se aproximar das crianças e dos jovens passa geralmente por um comportamento "sedutor", com o qual o criminoso tenta conquistar a confiança de suas potenciais vítimas. O abuso sexual infantil é um problema silencioso e que na maioria das vezes começa dentro de casa.
Estimativas apontam que quatro em cada cinco casos desse tipo de crime contra crianças e adolescentes são cometidos por familiares ou pessoas próximas às crianças, como pais, padrastos, tios e amigos da família. O Distrito Federal lidera o ranking de denúncias de violência contra crianças e adolescentes, em números proporcionais. Os índices incluem exploração e abuso sexual. De acordo com os dados da SEDH (Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República), no Distrito Federal, entre 2003 e setembro de 2007, a média de denúncias chegou a 49,87 por 100 mil habitantes. Em números absolutos, totalizou 1.023. Porém, a liderança no total de denúncias cabe a São Paulo, com 5.437 casos no período. Mas o Estado é o último colocado em números relativos, com média de 14,68 denúncias por 100 mil habitantes. De 2003 a setembro de 2007, a SEDH recebeu 43.613 denúncias, das quais 35.581 foram catalogadas em seis grupos: tráfico de pessoas (0,33%), pornografia (0,66%), exploração sexual comercial (13,95%), abuso sexual (19,11%), negligência (32,8%) e violência psicológica (33,14%). De acordo com Socorro Tabosa, coordena-
dora do Programa Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes da SEDH, a estimativa é de que apenas um em cada dez casos seja denunciado. Depreende-se, portanto, que a situação estatística sobre a pedofilia no Brasil ainda é imprecisa em termos numerários. Importante é que a sociedade continue coesa e atenta no combate ao crime. Um dos objetivos da CPI da Pedofilia é a construção de uma legislação mais eficiente no combate aos crimes sexuais, cometidos contra crianças e adolescentes. O que já foi feito no sentido de atualizar a legislação? A CPI da Pedofilia começou tirando do ar mais de 3.000 páginas sobre pedofilia no site de relacionamento Orkut. Aprovou a lei nº 11.829, de 25 de novembro de 2008 que alterou a Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente – para aprimorar o combate à produção, venda e distribuição de pornografia infantil, bem como criminalizar a aquisição e a posse de tal material e outras condutas relacionadas à pedofilia na internet e assinou o termo de mútua cooperação com as teles e com os cartões de crédito. O
alerta "Denuncie a Pedofilia. Disque 100" deverá estar impresso em embalagens de produtos infantis, segundo o PLS 284/08, aprovado no início de março pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça). Outros projetos estão em tramitação para tornar mais duras as penas daqueles que abusam das crianças em cooperação com a SaferNet (associação civil de direito privado voltada para o combate à pornografia infantil na internet brasileira). Qual é a maior dificuldade enfrentada pela CPI? Inicialmente, a maior dificuldade foi conseguir informações das grandes empresas de internet em relação às páginas e perfis onde os pedófilos atuavam. Mas graças aos esforços da CPI conseguimos quebrar o sigilo dessas páginas e mais adiante assinar um termo de mútua cooperação com o Google, o que avançou as investigações. A falta de informação das pessoas é hoje o maior obstáculo enfrentado. É importante investir em campanhas explicativas a fim de incentil var as denúncias.
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TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE CARGAS - TOTAL Acumulado mês a mês - janeiro 102 Milhões de Toneladas
IDET
99,5
100 98 96
94,2
94
93,1
92 90 88 2008
2009
2010
Fonte: Idet CNT/Fipe-USP
Crise ultrapassada Tendência se observa principalmente no modal ferroviário TRANSPORTE DE PASSAGEIROS - COLETIVO URBANO Acumulado mês a mês - janeiro 900
893 887
890
Milhões de Passageiros
O
(TU) somou 38,61 milhões, enquanto a produção de tonelagem por quilômetros úteis (TKU) registrou 21,41 bilhões, variações em relação ao mês de novembro de 2,58% e 1,93%, respectivamente. O ano de 2009 somou 429,93 milhões de TU e 246,22 bilhões de TKU. Continua uma janela de tempo onde os meses correntes se sobrepõem aos piores períodos do modo ferroviário no ano passado, o que acentua as variações anuais. As tonelagens transportadas, no entanto, encontram-se em patamares de 2006. Ou seja, o pior já passou, mas ainda há um longo caminho a percorrer. O transporte aquaviário apresentou aumento na movimentação acumulada em 2009 de 12,17% em relação ao ano anterior no período de janeiro a dezembro. Cabe lembrar que alguns portos não informaram o total de cargas transportadas e que oportunamente será feita uma retificação dos valores apresentados. Em 2010, o transporte rodo-
880 870 859
860 850 840 2008
2009
2010
Fonte: Idet CNT/Fipe-USP
TRANSPORTE INTERESTADUAL DE PASSAGEIROS Acumulado mês a mês - janeiro Milhões de Passageiros
modo rodoviário de carga apresentou queda no mês de janeiro, com variação de -1,16% na movimentação mensal. A tonelagem industrial por terceiros apresentou, no mesmo período, variação de -3,41%. Comparando os valores com os números obtidos no ano passado, nota-se estabilidade (queda de 0,87%) na variação 12 meses e acumulado anual. Contudo, é preciso lembrar que o crescimento estava consideravelmente acentuado antes da crise. A tonelagem de outros produtos apresentou variação de 0,91% na movimentação mensal. Comparado com janeiro/2009, tem-se uma variação de 2,96%. Em termos de safra agrícola, segundo o IBGE, a primeira previsão de safra para 2010 estima uma produção 7,2% superior ao valor obtido em 2009, com uma área a ser colhida 2,1% maior. Quanto ao transporte ferroviário de cargas, em dezembro, a tonelagem útil transportada
8,0 7,8 7,6 7,4 7,2 7,0 6,8 6,6 6,4 6,2
7,7
7,1 6,8
2008
Fonte: Idet CNT/Fipe-USP
2009
2010
CNT TRANSPORTE ATUAL
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AMAURI NEHN/FUTURA PRESS
TRANSPORTE FERROVIÁRIO DE CARGAS Acumulado mês a mês - janeiro a dezembro
Milhões de Toneladas
490 480 470 460 450 440 430 420 410 400 390
480 465,5
429,9
2007
2008
2009
Fonte: IDET CNT/FIPE-USP
TRANSPORTE AQUAVIÁRIO DE CARGAS ALTA Aeroviário registrou crescimento em janeiro
Acumulado mês a mês - janeiro a dezembro
Para a versão completa da análise, acesse www.cnt.org.br. Para o download dos dados, www.fipe.org.br
500
546,1 511
450,9
400 300 200 100
0
2007
2008
2009
Fonte: Idet CNT/Fipe-USP
TRANSPORTE AÉREO DE PASSAGEIROS Acumulado mês a mês - janeiro 6 5,2
Milhões de Passageiros
No modo de transporte coletivo urbano por ônibus regular, sazonalmente o mês de janeiro é um período de queda. Geralmente, as empresas que trafegam em locais com grande atratividade turística registram movimento intenso, minimizando a queda, o que foi pouco observado em 2010. O número absoluto de passageiros transportados no mês de janeiro totalizou 886,74 milhões, havendo variações de 3,22% em relação a janeiro de 2009. O Idet CNT/Fipe-USP é um indicador mensal do nível de atividade econômica do setor de l transporte no Brasil.
8
viário intermunicipal registrou em janeiro decréscimo de 1,79% no volume de passageiros. Já o segmento rodoviário interestadual apresentou alta de 1,39% nos passageiros transportados. Comparando janeiro de 2009 com janeiro de 2010, verifica-se que no segmento intermunicipal houve elevação de 13,87% nos passageiros transportados, enquanto o segmento interestadual registrou aumento de 8,83%. O modo aeroviário de passageiros teve aumento, em janeiro, de 2,30% na movimentação doméstica e 9,26% na internacional. De forma mais desagregada, a movimentação nacional representou 98,06% do total doméstico, enquanto a movimentação regional representou 1,94%. O acumulado anual apresentou valor expressivo de 25,89%.
Milhões de Toneladas
600
5 4
4
4,2
2008
2009
3 2 1 0
Fonte: Idet CNT/Fipe-USP
2010
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FERROVIÁRIO MALHA FERROVIÁRIA - EXTENSÃO EM KM Total Nacional Total Concedido Concessionárias Malhas concedidas* Fonte: ANTT(relatório 2007)
BOLETIM ESTATÍSTICO
MALHA RODOVIÁRIA - EXTENSÃO EM KM
Federal Estadual Coincidente Estadual Municipal Fonte: PNV-2008 - DNIT Total
Malha rodoviária concessionada Adminstrada por concessionárias privadas* Fonte: ABCR(2009)* e ANTT (jul/06) Administrada por operadoras estaduais FROTA DE VEÍCULOS - UNIDADES Caminhão Cavalo mecânico Reboque Semi-reboque Ônibus interestaduais* Ônibus intermunicipais Ônibus fretamento* Fonte: Denatran (maio/2009), *ANTT(2007) e **NTU(regiões metropolitanas) Ônibus urbanos**
9.863 1.674 7.304 9.473 28.314
Fonte: ANTT(relatório 2007)
NÃO PAVIMENTADA
61.807 17.260 106.548 26.827 212.442
*VALEC é operacionalizada pela Vale do Rio Doce
MALHA POR CONCESSIONÁRIA - EXTENSÃO EM KM Companhia Vale do Rio Doce/FCA MRS Logística S.A. ALL do Brasil S.A. Outras Total
RODOVIÁRIO
PAVIMENTADA
29.817 28.314 11 12
TOTAL
13.773 75.580 6.230 23.490 113.451 219.999 1.234.918 1.261.745 1.368.372 1.580.814 13.810 12.746 1.064
MATERIAL RODANTE - UNIDADES Vagões Locomotivas Carros (passageiros urbanos)
87.150 2.624 1.670
Fonte: ANTF(2007) e Min. Cidades 2003
PASSAGENS DE NÍVEL - UNIDADES Total Críticas
12.273 2.611
Fonte: ANTF 2007
VELOCIDADE MÉDIA OPERACIONAL Brasil EUA
25 km/h 80 km/h
Fonte: AAR - Association of American Railroads
1.969.495 348.998 645.953 563.296 13.907 40.000 25.120 105.000
AEROVIÁRIO AEROPORTOS - UNIDADES Internacionais Domésticos Pequenos e aeródromos
33 33 2.498
Fonte: INFRAERO(2008) e ANAC (2006) Fonte: ANTT 2006
Nº de terminais rodoviários
173
AQUAVIÁRIO
AERONAVES - UNIDADES A jato Turbo Hélice Pistão Total
778 1.638 9.204 11.620
Fonte: ANAC (2009)
INFRAESTRUTURA - UNIDADES Terminais de uso privativo Portos FROTA MERCANTE - UNIDADES Embarcações de cabotagem e longo curso
42 40
141
Fonte: ANTAQ (2009)
HIDROVIA - EXTENSÃO EM KM E FROTA Rede fluvial nacional Vias navegáveis Navegação comercial Embarcações próprias Fonte: ANTAQ (2009)
MATRIZ DO TRANSPORTE DE CARGAS MODAL
44.000 29.000 13.000 1.148
Rodoviário Ferroviário Aquaviário Dutoviário Aéreo Total Fonte: *TKU - tonelada quilômetro útil ANTT(relatório 2007)
MILHÕES
(TKU)* 485.625 164.809 108.000 33.300 3.169 794.903
PARTICIPAÇÃO
(%) 61,1 20,7 13,6 4,2 0,4 100
CNT TRANSPORTE ATUAL
75
MARÇO 2010
BOLETIM ECONÔMICO
INVESTIMENTOS FEDERAIS EM INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES (R$ MILHÕES)
Arrecadação no mês (janeiro) Arrecadação no ano (2010) Total acumulado desde 2002 Investimentos em transportes pagos com CIDE (desde 2002) CIDE não utilizada em transportes (desde 2002)
690* 690 57.301 23.073 (40,3%) 33.538 (59,7%)
R$ bilhões
Arrecadação X Investimentos Pagos: Recursos da CIDE
70 60 50 40 30 20 10 0 2 200
57,3
23,1
3 200
4 200
Arrecadação Acumulada
5 200
6 200
7 200
8 200
9 200
Investimento Pago Acumulado
CIDE - Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico, Lei 10.336 de 19/12/2001. Atualmente é cobrada sobre a comercialização de gasolina (R$ 0,23/liltro) e diesel (R$ 0,07/litro) e a destinação dos recursos engloba o subsídio e transporte de combustíveis, projetos ambientais na indústria de combustíveis e investimentos em transportes.
0 201
CONJUNTURA MACROECONÔMICA - JANEIRO/2010 Valores Expectativa 2009 acumulados Nos últimos para 2010 12 meses em 2010 Inflação IPCA (%) Câmbio (R$/US$) Selic (%a.a.) PIB (% cresc. ao ano) Balança Comercial (US$ bilhões) Reservas Câmbio (US$ bilhões)
4,28
0,75(1)
4,59(1) 1,87(2)
1,74
1,75
(3)
8,75
10,75
8,75 (4)
4,50
(4)
-5,66
-1,65
1,26
5,20
25,3
-166(5)
25,7(5)
10,00
Atualizada 26/fevereiro/2010
241,29
Observações: 1 - Inflação acumulada no ano e em 12 meses até janeiro/2010. 2 - Câmbio de fim de período janeiro/2010, média compra e venda. 3 - Meta Taxa Selic conforme Copom 08/12/2009. 4 - PIB acumulado em 12 meses, até setembro/2009. 5 - Balança Comercial acumulada no ano e em 12 meses até janeiro/2010. Fontes: Receita Federal, COFF - Câmara dos Deputados (acumulado até 05/02/2010), IBGE e Focus - Relatório de Mercado (31/01/10), Banco Central do Brasil.
8
CIDE
* Veja a versão completa deste boletim em www.cnt.org.br
NECESSIDADES DE INVESTIMENTOS DO SETOR DE TRANSPORTES BRASILEIRO: R$ 280 BILHÕES (PLANO CNT DE LOGÍSTICA BRASIL - 2008)
76
CNT TRANSPORTE ATUAL
MARÇO 2010
EMISSÕES DE CO2 NO BRASIL (EM MILHÕES DE TONELADAS - INCLUÍDO MUDANÇA NO USO DA TERRA) EMISSÕES DE CO2 POR SETOR CO2 t/ANO 776,33 94,32 74,07 42,51 25,60 16,87 1.029,71
SETOR
BOLETIM AMBIENTAL DO DESPOLUIR
Mudança no uso da terra Transporte Industrial Outros setores Energia Processos industriais Total
RESULTADOS DO PROJETO DE REDUÇÃO DAS EMISSÕES DE POLUENTES PELOS VEÍCULOS
(%) 75,4% 9,2% 7,2% 4,1% 2,5% 1,6% 100%
PARTICIPAÇÃO
EMISSÕES DE CO2 POR MODAL DE TRANSPORTE NÚMEROS DE AFERIÇÕES JANEIRO A DEZEMBRO 2007 E 2008 DE 2009 100.837
TOTAL
11.181
239.953
127.935
Aprovação no período 83,87 %
86,99 %
CO2 t/ANO 83,30 6,20 3,56 1,26 94,32
MODAL
JANEIRO DE 2010
88,52 %
Rodoviário Aéreo Marítimo Ferroviário Total
(%) 88,3% 6,6% 3,8% 1,3% 100%
PARTICIPAÇÃO
EMISSÕES DE CO2 NO TRANSPORTE RODOVIÁRIO POR TIPO DE VEÍCULO
ESTRUTURA DO DESPOLUIR Federações participantes Unidades de atendimento Empresas atendidas Caminhoneiros autônomos atendidos
CO2 t/ANO 36,65 32,49 8,33 5,83 83,30
VEÍCULO
21 67 4.418 4.666
Caminhões Veículos leves Comerciais leves - Diesel Ônibus Total
(%) 44% 39% 10% 7% 100%
PARTICIPAÇÃO
Fonte: Sistema de Informações do Despoluir, Confederação Nacional do Transporte - CNT, 2010. Fonte: Inventário de Emissões, Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT, 2006.
QUALIDADE DO ÓLEO DIESEL TEOR MÁXIMO DE ENXOFRE (S) NO ÓLEO DIESEL*
CONSUMO DE COMBUSTÍVEIS NO BRASIL
Japão EUA Europa
CONSUMO DE ÓLEO DIESEL POR MODAL DE TRANSPORTE 3 MILHÕES DE m PARTICIPAÇÃO (%) Rodoviário 32,71 96,6% Ferroviário 0,69 2% Hidroviário 0,48 1,4% Total 33,88 100%
10 ppm de S 15 ppm de S 50 ppm de S
Frotas cativas de ônibus urbanos das cidades do Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Salvador, e regiões metropolitanas Brasil de São Paulo, Belém, Fortaleza e Recife Diesel metropolitano (grandes centros urbanos) Diesel interior (substituição de 11% por Diesel 500 ppm de S)
MODAL
50 ppm de S
* Geração de eletricidade. Fonte: Balanço Energético Nacional - BEN, Ministério de Minas e Energia - MME, 2008.
500 ppm de S
CONSUMO POR TIPO DE COMBUSTÍVEL (EM MILHÕES m3) TIPO 2006 2007 2008 2009 2010 (JANEIRO) Diesel 39,01 41,56 44,76 44,29 3,34 Gasolina 24,01 24,32 25,17 25,40 2,44 Álcool 6,19 9,37 13,29 16,47 0,95
1.800 ppm de S
* Em partes por milhão de S - ppm de S Fonte: International Fuel Quality Center - IFQC, 2008.
NÃO-CONFORMIDADES POR NATUREZA NO ÓLEO DIESEL - JANEIRO 2010 5,8%
7,6%
Fonte: Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis - ANP, 2010
17%
Corante 7,6% Aspecto 39,2%
8
0,6%
Pt. Fulgor 29,8% Enxofre 0,6% 29,8%
Teor de Biodiesel 17% Outros 5,8%
39,2%
Para saber mais: www.cntdespoluir.org.br
Fonte: Boletim Mensal da Qualidade dos Combustíveis Líquidos Automotivos Brasileiros. ANP, 2010. Trimestre Anterior Trimestre Atual
3,6 2,8
3
2,9
TO
SP
SE
SC
RS
RR
RO
RN
RJ
PE
Brasil
Fonte: Boletim Mensal da Qualidade dos Combustíveis Líquidos Automotivos Brasileiros. ANP, 2010.
PB
0
0,7
1,1
2
PR
1,4
1,2
3,2
PA
PI
2,1
MT
0,4
2,3
MS
3,2
5,3
6
6,6
MG
MA
GO
ES
0
DF
0
AP
AM
AL
0
1,1
1,7
1,8
CE
3,3
3,1
BA
3,6
2,8
10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
AC
% NC
ÍNDICE TRIMESTRAL DE NÃO-CONFORMIDADES NO ÓLEO DIESEL POR ESTADOS - JANEIRO 2010
“As exportações e as importações deixaram de ser elementos marginais para se tornarem parte fundamental do sistema econômico brasileiro” DEBATE
Há espaço para o Brasil crescer no comércio exterior?
Situações ainda restringem o crescimento sustentado FERNANDO J. RIBEIRO
década atual foi extremamente proveitosa para o comércio exterior brasileiro. Entre 2000 e 2008, a corrente de comércio cresceu à taxa de 14,3% a.a., a participação conjunta das exportações e importações no PIB passou de 15% para 22% e o “marketing share” do país no comércio mundial passou de aproximadamente 0,9% para 1,25%. A crise mundial, obviamente, prejudicou os resultados de 2009, mas ainda assim o saldo final é bastante positivo. Diante desse quadro, é natural que surja a pergunta: o Brasil tem condições de sustentar o crescimento dos fluxos de comércio exterior nos próximos anos ou décadas? É óbvio que isso dependerá, em grande parte, da evolução da economia mundial, que foi o grande motor da expansão recente. Mas quando se fala em crescimento sustentado, fala-se em estabelecer um ambiente que seja fortemente propício ao comércio exterior. Nesse sentido, é gratificante constatar que houve uma importante mudança estrutural na economia brasileira, de forma que, hoje, as exportações e as importações deixa-
A
FERNANDO J. RIBEIRO Economista-chefe da Funcex (Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior)
ram de ser elementos marginais para se tornarem parte fundamental do sistema econômico. As exportações já não são percebidas pelas empresas apenas como mera alternativa de colocação de excedentes de produção não assimilados no mercado interno e fazem parte da estratégia de crescimento de grande parte das empresas do país. E as importações, se antes eram consideradas prejudiciais ao crescimento das empresas brasileiras, hoje são vistas como elemento crucial para permitir que se atinjam níveis de eficiência e produtividade compatíveis com os melhores padrões internacionais. Entretanto, o grau de abertura do Brasil ao comércio internacional ainda é relativamente baixo. Comparado a países de perfil semelhante, uma corrente de comércio equivalente a apenas 22% do PIB é ainda muito baixa, e o “marketing share” de 1,25% está abaixo da participação do país no PIB mundial, que tem girado em torno de 2%. Além disso, o número de empresas que se dedica à exportação não é muito elevado – cerca de 20 mil – e os montantes exportados são concentrados em empresas gran-
des, de forma que as micro e pequenas firmas respondem por pouco mais de 1% do total. Esses números não deixam dúvida de que ainda há muito espaço para o Brasil crescer no comércio internacional. Mas isso só se concretizará mediante a superação de uma série de problemas que, no mínimo, tornam o comércio exterior uma atividade envolvida em grande incerteza. Todas as deficiências de infraestrutura, as ainda elevadas exigências burocráticas dos procedimentos aduaneiros, a alta carga tributária e a ausência de uma política verdadeiramente integrada de comércio exterior juntam-se a fatores conjunturais, como as flutuações da taxa de câmbio e a instabilidade da demanda mundial, para restringir a realização de investimentos voltados à exportação. Sem tais investimentos, o crescimento sustentado das vendas externas esbarrará sempre nas limitações de capacidade produtiva. E sem um crescimento sustentado das exportações, as importações também não poderão crescer, sob o risco de elevar em demasia o déficit externo e gerar uma crise de balanço de pagamentos.
“Deverão ser adotadas pelo menos dez ações básicas que incentivem, simultaneamente, o crescimento econômico e das exportações”
Com menos ideologia, mais educação e competência BENEDICTO FONSECA MOREIRA
im, há muito espaço, é preciso apenas ser competente. Sob uma perspectiva histórica, até 1950, o Brasil, que em 2009 participou com 2,2% do comércio mundial, exportava mais que países de mesmo grau de desenvolvimento relativo, à época, como China, Coreia do Sul e Cingapura, superando, inclusive, o Japão. Nos anos 60 e 70, esses países adotaram educação e treinamento por todos os meios e a qualquer custo, como ações básicas e determinantes para o desenvolvimento econômico e social; e pragmatismo na busca do crescimento econômico como prioridade absoluta, ao tempo em que marginalizaram ideologias, construindo as bases para ultrapassarem o Brasil. Ao longo do tempo, maximizaram as vantagens adquiridas, adotando políticas pragmáticas e programáticas para acrescentar maior grau de transformação e de valor à produção. Em 1980, além do Japão, os demais se aproximavam, ou superavam ligeiramente a participação brasileira, reduzida a 0,9% do total mundial de comércio. A partir de 1990, inicia-se nosso distancia-
S
mento daqueles países, em termos econômicos, por adotarmos o caminho contrário, não priorizando educação e treinamento e enfatizando posições ideológicas que resultaram em crescimento econômico medíocre. A marginalização do Brasil no comércio mundial, em termos relativos, comprova-se nas cifras de 2008, quando as exportações representaram só 1,2% do total mundial, ou US$ 198 bilhões, enquanto as participações de Cingapura, Japão, Hong Kong, China Continental e Coreia do Sul ascendiam, respectivamente, a 3,1%, 4,9%, 4,5%, 8,9% e 2,8% das exportações mundiais. Para reverter esse quadro, deverão ser adotadas pelo menos dez ações básicas que incentivem, simultaneamente, o crescimento econômico e das exportações, como: convencer o governo e sua máquina burocrática, preliminarmente, de que, na atualidade, a exportação de bens e serviços é fator de sustentação do crescimento econômico e de geração de empregos, pelo que deve ser incorporada como política permanente e hegemônica; buscar o aumento perene da produção, para atender, simultanea-
mente, ao crescimento da demanda interna e à expansão da exportação; desenvolver ações para acrescentar maior grau de transformação aos produtos exportados. Além disso, criar condições para maximizar a produção e a exportação de bens de média e alta tecnologia, que apresentam preços estáveis e mais elevados; desburocratizar rotinas e procedimentos; capacitar as micro, pequenas e médias empresas; estimular o desenvolvimento de plataformas de exportação; ter agressividade na comercialização externa, para fornecer produtos com o melhor preço, tecnologia e qualidade, no menor prazo e em condições vantajosas de pagamento; desmontar a burocracia; adequar os sistemas tributário e de financiamentos e garantias; dar salto quantitativo e qualitativo na infraestrutura dos transportes; investir na melhoria e na ampliação dos portos e privatizar suas administrações e dotar o país de política de serviços, informação, promoção, distribuição, logísticos, transportes etc para garantir a ampliação BENEDICTO FONSECA MOREIRA das vendas externas, operando Presidente da AEB (Associação na modalidade “door-to-door”. de Comércio Exterior do Brasil)
CNT TRANSPORTE ATUAL
MARÇO 2010
81
“A construção de um setor de transporte forte só foi possível graças ao empreendedorismo de suas lideranças”
CLÉSIO ANDRADE
OPINIÃO
Ação transformadora
N
o mundo contemporâneo, tudo está mudando muito rapidamente, várias vezes sequer percebemos as evidências de alteração e, como num piscar de olhos, deparamo-nos com uma nova realidade. Isso vale não só para a vida social como também para o mundo dos negócios. Inovação aliada à tecnologia define novos produtos, a forma de produzi-los, de distribuí-los e de consumi-los numa contínua cadeia de inovação e transformação. Um bom exemplo de ações transformadoras está no sistema bancário brasileiro, que, em poucos anos, reformulou totalmente sua forma de atendimento e o tipo de serviço prestado visando mais eficiência, mais qualidade, maior rapidez e segurança nas transações financeiras. Também no setor de transporte se observa um novo patamar de desenvolvimento. A construção de um setor de transporte forte só foi possível graças ao empreendedorismo de suas lideranças, às quais, com competência, determinação e criatividade, estabeleceram cadeias de relacionamento essenciais ao meio empresarial e orientaram as empresas para a busca de resultados efetivos e
para a criação de valor para os clientes. Sem sombra de dúvidas, há uma nova dinâmica no setor transportador, que se apropriou do que há de melhor em técnicas gerenciais, em tecnologia, em gestão de pessoas e de processos, para assimilar o pulsar das necessidades da sociedade e se tornar um sistema vivo que responde com rapidez às demandas, que busca melhoria contínua alimentando as interações sinérgicas entre ação-transformação. Por ser o setor de transporte intensivo em mão de obra, fica evidente que os colaboradores representam a parcela mais significativa do patrimônio da empresa, o capital humano, único capaz de gerar valor e inovação que alimentará a ação-transformação tanto na previsão como na solução de problemas, na captação de oportunidades e na geração de novas formas de relacionamento com clientes. Pessoas, conhecimento e inovação reunidos em torno de objetivos e metas perfeitamente sintonizadas serão, indiscutivelmente, neste século, os fatores críticos de sucesso para a ação transformadora na gestão empresarial.
82
CNT TRANSPORTE ATUAL
CNT CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO TRANSPORTE PRESIDENTE Clésio Soares de Andrade PRESIDENTE DE HONRA DA CNT Thiers Fattori Costa VICE-PRESIDENTES DA CNT
MARÇO 2010
Marcus Vinícius Gravina Tarcísio Schettino Ribeiro José Severiano Chaves Eudo Laranjeiras Costa Antônio Carlos Melgaço Knitell Abrão Abdo Izacc Francisco Saldanha Bezerra Jerson Antonio Picoli José Nolar Schedler Mário Martins
Escreva para CNT TRANSPORTE ATUAL As cartas devem conter nome completo, endereço e telefone dos remetentes
DOS LEITORES imprensa@cnt.org.br
TRANSPORTE DE CARGAS
Newton Jerônimo Gibson Duarte Rodrigues TRANSPORTE AQUAVIÁRIO, FERROVIÁRIO E AÉREO
Meton Soares Júnior TRANSPORTE DE PASSAGEIROS
Marco Antonio Gulin TRANSPORTADORES AUTÔNOMOS, DE PESSOAS E DE BENS
José Fioravanti PRESIDENTES DE SEÇÃO E VICE-PRESIDENTES DE SEÇÃO TRANSPORTE DE PASSAGEIROS
Otávio Vieira da Cunha Filho Ilso Pedro Menta TRANSPORTE DE CARGAS
Flávio Benatti Antônio Pereira de Siqueira
ESCLARECIMENTOS TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE CARGAS
Luiz Anselmo Trombini Eduardo Ferreira Rebuzzi Paulo Brondani Irani Bertolini Pedro José de Oliveira Lopes Oswaldo Dias de Castro Daniel Luís Carvalho Augusto Emílio Dalçóquio Geraldo Aguiar Brito Viana Augusto Dalçóquio Neto Euclides Haiss Paulo Vicente Caleffi Francisco Pelúcio
TRANSPORTADORES AUTÔNOMOS, DE PESSOAS E DE BENS
José da Fonseca Lopes Edgar Ferreira de Sousa TRANSPORTE AQUAVIÁRIO
Glen Gordon Findlay Hernani Goulart Fortuna TRANSPORTE FERROVIÁRIO
Rodrigo Vilaça TRANSPORTE AÉREO
Urubatan Helou José Afonso Assumpção CONSELHO FISCAL (TITULARES) David Lopes de Oliveira Éder Dal’lago Luiz Maldonado Marthos José Hélio Fernandes CONSELHO FISCAL (SUPLENTES) Waldemar Araújo André Luiz Zanin de Oliveira José Veronez
TRANSPORTADORES AUTÔNOMOS, DE PESSOAS E DE BENS
Edgar Ferreira de Sousa José Alexandrino Ferreira Neto José Percides Rodrigues Luiz Maldonado Marthos Sandoval Geraldino dos Santos Dirceu Efigenio Reis Éder Dal’ Lago André Luiz Costa José da Fonseca Lopes Claudinei Natal Pelegrini Getúlio Vargas de Moura Braatz Nilton Noel da Rocha Neirman Moreira da Silva
1. No item Quem opta pela frota, no subitem Desvantagens, quando se fala em “dono da frota”, leia-se empresa de frota. 1.A. No mesmo item, a reportagem não afirmou que apenas os taxistas de frota arcam com pagamentos de multas, mas que eles também teriam que pagar por essa infração, assim como os autônomos e cooperados. Ressaltamos que no caso das frotas, existe a facilidade de contar com um carro reserva, caso haja a impossibilidade do uso do veículo com o qual o taxista trabalha.
TRANSPORTE AQUAVIÁRIO, FERROVIÁRIO E AÉREO
Paulo Duarte Alecrim André Luiz Zanin de Oliveira Moacyr Bonelli José Carlos Ribeiro Gomes Paulo Sergio de Mello Cotta Marcelino José Lobato Nascimento
DIRETORIA
Ronaldo Mattos de Oliveira Lima
TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE PASSAGEIROS
José Eduardo Lopes
Luiz Wagner Chieppe Alfredo José Bezerra Leite Jacob Barata Filho José Augusto Pinheiro
Sobre o quadro Compare as Modalidades, da reportagem “A Escolha do Taxista”, publicado na página 59 da revista CNT Transporte Atual número 174, esclarecemos que:
1.B. Ainda sobre o mesmo item, esclarecemos que após a publicação da matéria, a Adetax nos informou que existem empresas de frotas que trabalham com regime de registro em carteira, o que garante ao motorista direitos trabalhistas.
Fernando Ferreira Becker Pedro Henrique Garcia de Jesus Jorge Afonso Quagliani Pereira Eclésio da Silva
2. No item Quem opta pela cooperativa, subitem Vantagens, a reportagem não afirmou que apenas os cooperados têm
liberdade de escolher dias e horários de trabalho, mas que eles também teriam essa vantagem assim como frotistas e autônomos. 3. No item Quem opta por ser autônomo, subitem Desvantagens, onde está escrito o dono da frota, leia-se o taxista. PARABÉNS Desejo parabenizar a CNT pela excelente revista mensal Transporte Atual. Todas as matérias publicadas são sempre do mais alto nível e de muita utilidade para mim que estou cursando mestrado em Engenharia de transportes no Coppe-UFRJ, assim como, por estar presidindo a Comset (Comissão Municipal de Segurança e Educação para o Trânsito) de Juiz de Fora (MG). Mensalmente pego “carona” nos exemplares das revistas que chegam ao gabinete de um vereador do município de Juiz de Fora do qual sou assessor jurídico. José Luiz Britto Bastos Por e-mail
CARTAS PARA ESTA SEÇÃO
SAUS, quadra 1, bloco J Edifício CNT, entradas 10 e 20, 10º andar 70070-010 - Brasília (DF) E-mail: imprensa@cnt.org.br Por motivo de espaço, as mensagens serão selecionadas e poderão sofrer cortes