EDIÇÃO INFORMATIVA DA CNT
CNT
ANO XVIII NÚMERO 203 AGOSTO 2012
T R A N S P O R T E A T U A L
Hora de agir Conferência da ONU deixa inúmeros desafios ambientais, entre eles a necessidade de se implantar o transporte sustentável
ENTREVISTA COM CLEDORVINO BELINI, PRESIDENTE DA ANFAVEA
4
CNT TRANSPORTE ATUAL
AGOSTO 2012
REPORTAGEM DE CAPA A importância do transporte sustentável foi tema de diversos debates na Rio+20; durante 12 dias, a reportagem da revista CNT Transporte Atual acompanhou as discussões, paralelas e oficiais, da Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável Página 18
CNT TRANSPORTE ATUAL
ANO XVIII | NÚMERO 203 | AGOSTO 2012
ENTREVISTA
Cledorvino Belini analisa a indústria de veículos PÁGINA
8
MARINHEIRO-ESCRITOR • Conheça a história de Joilson Maia, o marinheiro de Una (BA) que já tem 14 livros publicados
CAPA Cynthia Castro
PÁGINA
TRANSPO AMAZÔNIA
EDIÇÃO INFORMATIVA DA CNT CONSELHO EDITORIAL Bernardino Rios Pim Bruno Batista Etevaldo Dias Lucimar Coutinho Tereza Pantoja Virgílio Coelho
FALE COM A REDAÇÃO (61) 3315-7000 • imprensa@cnt.org.br SAUS, quadra 1 - Bloco J - entradas 10 e 20 Edifício CNT • 10º andar CEP 70070-010 • Brasília (DF)
Vanessa Amaral [vanessa@sestsenat.org.br] EDITOR-EXECUTIVO Americo Ventura [americoventura@sestsenat.org.br]
PÁGINA
44
www.cnt.org.br | www.sestsenat.org.br ATUALIZAÇÃO DE ENDEREÇO:
atualizacao@cnt.org.br Publicação da CNT (Confederação Nacional do Transporte), registrada no Cartório do 1º Ofício de Registro Civil das Pessoas Jurídicas do Distrito Federal sob o número 053. Tiragem: 40 mil exemplares
Os conceitos emitidos nos artigos assinados não refletem necessariamente a opinião da CNT Transporte Atual
ASSEMBLEIA CIT
Evento debateu os Representantes de 18 desafios do transporte países se reuniram no Norte do país em Manaus
ESTA REVISTA PODE SER ACESSADA VIA INTERNET:
EDITORA RESPONSÁVEL
36
CULTURA NO TREM
Transbaião leva as festas juninas para o interior da Bahia PÁGINA
52
PÁGINA
48
CNT TRANSPORTE ATUAL
www.
AGOSTO 2012
cnt.org.br
PRÊMIO CNT DE JORNALISMO 2012 As inscrições para o 19º Prêmio CNT de Jornalismo estão abertas até o dia 27 de agosto. No total, R$ 90 mil serão distribuídos aos vencedores das cinco categorias – Impresso, TV, Rádio, Internet e Fotografia - e do Prêmio Especial de Meio Ambiente e Transporte. A CNT preparou um site especial com dados sobre o prêmio, respostas às dúvidas mais frequentes, regulamento, inscrições e notícias. O site ainda tem seção sobre as edições anteriores com vídeos, galeria de fotos e lista dos trabalhos vencedores. Faça uma visita: www.cnt.org.br/premiocnt
AVIAÇÃO • Tendência mundial de fusão entre companhias aéreas reduz a concorrência dentro do país, mas garante serviços mais eficientes PÁGINA
HISTÓRIA DO TRANSPORTE
56
PORTO ITAPOÁ
Terminal completa um ano com bons resultados PÁGINA
62
do prêmio, conversou com os maiores vencedores – nove profissionais ganharam mais de uma vez – e apurou algumas curiosidades sobre a maior premiação jornalística do setor de transporte no país. Confira: http://www.cnt.org.br/paginas /Agencia_Noticia.aspx?n=8381
E MAIS SEMINÁRIO
Seções
Ao longo de quase duas décadas, o Prêmio CNT de Jornalismo registrou os principais fatos que marcaram o setor de transporte e já distribuiu quase R$ 1 milhão em prêmios. Em reportagem especial, a Agência CNT de Notícias resgatou o histórico
Novas regras da profissão de motorista em pauta
Alexandre Garcia
6
Duke
7
Mais Transporte
12
Boletins
72
SEST SENAT
Debate
78
Opinião
81
Cartas
82
Unidades são inauguradas no Ceará e no Maranhão
PÁGINA
PÁGINA
66
70
Programa Despoluir
Canal de Notícias
• Conheça os projetos • Acompanhe as notícias sobre meio ambiente
• Textos, álbuns de fotos, boletins de rádio e matérias em vídeo sobre o setor de transporte no Brasil e no mundo
Escola do Transporte Sest Senat • Conferências, palestras e seminários • Cursos de Aperfeiçoamento • Estudos e pesquisas • Biblioteca do Transporte
• Educação, Saúde, Lazer e Cultura • Notícias das unidades • Conheça o programa de Enfrentamento à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes
O portal disponibiliza todas as edições da revista CNT Transporte Atual
5
“Portos, aeroportos, rodovias, ferrovias – tudo parece estar à espera do despertar do gigante adormecido” ALEXANDRE GARCIA
Nas águas do desperdício
B
rasília (Alô) - Segundo o Ministério do Turismo, o Brasil recebeu 5,5 milhões de estrangeiros no ano passado. A estatística inclui turismo e negócios. Só para comparar, a Torre Eiffel recebe 6 milhões de visitantes por ano, e a Espanha recebeu 56 milhões no ano passado. A Espanha tem 46 milhões de habitantes. Em proporção à população, seria como se o Brasil recebesse 240 milhões de turistas por ano! Chocante, não? Em belezas naturais, não perdemos para a Espanha. Perdemos em História, em monumentos, em museus. E perdemos em estradas. Já percorri as estradas da Espanha três vezes. Sem perigos, sem pistas ruins, sempre com um refúgio para admirar alguma beleza. Ver Gibraltar do alto, por exemplo, com a África ao fundo. E também há boas opções aéreas e ferroviárias. Os aeroportos funcionam e num TGV entre Madri e Bilbao, porque atrasou 12 minutos, recebi de volta uns 30% do preço da passagem. Conto essas historinhas para fazer pensar sobre o imenso potencial que estamos desperdiçando. A maior parte dos nossos visitantes vem da Argentina e todos os anos temos notícias de mortes de argentinos em acidentes. No maravilhoso Nordeste, de mar tépido e água de coco, uma vez por outra se tem notícia de assaltos a ônibus que foram apanhar turistas no aeroporto. A propósito, os nossos aeroportos não são exatamente um portal de boas-vindas aos que estão habituados com serviços civilizados. No Rio, explodem bueiros atingindo turistas, que são esfaqueados na
praia, onde a areia está cheia de lixo, e a água recebe esgoto. O barulho é o que mais choca. Em país civilizado, o som da praia é o som do mar. Essas vítimas não voltam mais e aconselham os amigos a irem para outro lugar. E temos o turismo sexual, que se concentra no litoral. Pode-se notar, de algum modo, a diferença de nível entre o turista que frequenta certas praias e os que preferem a Amazônia, o Pantanal e Foz do Iguaçu. Agora imagine o quanto a Espanha fatura com 56 milhões de turistas. E pense no que estamos deixando de faturar. Num país deste tamanho, temos que ter, em primeiro lugar, estrutura de transportes. A palavra da moda, agora, é a Copa do Mundo, como se o campeonato fosse a grande oportunidade para atrair visitantes. E estamos esquecendo do óbvio, que a oportunidade está entre nós, todos os dias, e a cada dia que passa nós a perdemos. Portos, aeroportos, rodovias, ferrovias – tudo parece estar à espera do despertar do gigante adormecido. A falta de segurança nas rodovias e a bagunça em muitas cidades turísticas espantam até os próprios brasileiros, que poderiam estimular o turismo interno, como faz, por exemplo, a Serra Gaúcha, e forjar uma boa base para atrair estrangeiros. Neste ano, quase meio milhão de brasileiros vão visitar a Espanha. Nas contas do Banco Central, no ano passado, os turistas estrangeiros gastaram aqui 6,7 bilhões de dólares. E os brasileiros deixaram no exterior 21,2 bilhões de dólares – três vezes mais. Investir na infraestrutura de transporte é ganhar até no turismo.
CNT TRANSPORTE ATUAL
Duke
AGOSTO 2012
7
“O que o país precisa é tornar-se competitivo, com mais eficiência desoneração da produção, carga tributária e eliminação do ENTREVISTA
CLEDORVINO BELINI - PRESIDENTE DA ANFAVEA
Mercado em ad POR
mpactada pela redução da venda de veículos nos primeiros meses deste ano, a indústria automobilística brasileira ainda aguarda os resultados das medidas de incentivo adotadas pelo governo federal para recuperar as vendas, principalmente no segmento de veículos pesados. De acordo com Cledorvino Belini, presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) e do Sinfavea (Sindicato Nacional da Indústria de Tratores, Caminhões, Automóveis e Veículos Similares), se por um lado a redução das taxas e a expansão dos prazos do Procaminhoneiro e do PSI (Programa de Sustentação do Investimento) ainda não foram suficientes para equilibrar o mercado de pesados, por outro a redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializa-
I
LIVIA CEREZOLI
dos) e do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) para os veículos leves fez com que a média diária de emplacamentos em junho superasse as 17 mil unidades. “Esperamos que até o final de agosto as medidas reduzam os estoques e que, com maior força da economia no segundo semestre, o ritmo do mercado possa ser retomado e normalizado o nível de produção”, afirma. Aos 60 anos, Belini é mestre em finanças pela USP (Universidade de São Paulo) e possui MBA pelo programa FDC/Insead, uma parceria entre a Fundação Dom Cabral e a escola de negócios europeia. Ele foi diretor de compras da Fiat Automóveis, de 1987 a 1993, e, a partir de 1994, foi diretor-comercial e diretor-geral da empresa. Em fevereiro de 2004, assumiu o cargo de presidente da Fiat Automóveis para a
América Latina e, no ano seguinte, a presidência do grupo Fiat para a América Latina. Desde 2009, é membro do Conselho Executivo do Fiat Group, a mais elevada instância mundial de comando do grupo. O executivo ainda integra o Conselho Superior Estratégico da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e o International Advisory Board, da Fundação Dom Cabral. Acompanhe a seguir os principais trechos da entrevista à revista CNT Transporte Atual. Como está o mercado de venda de caminhões depois da implantação da fase P7 do Proconve em 1º de janeiro? No período janeiro-maio foram vendidos 59,6 mil caminhões, retração de 12,5% em relação a igual período de 2011. As quedas mais acentuadas estão
nos segmentos de caminhões semipesados (13%) e de pesados (21%). Temos que levar em conta duas considerações sobre essa queda: em primeiro lugar, não é possível saber, com os dados disponíveis, quantos desses caminhões são P7 e quantos são P5, visto ainda ser possível a venda de caminhões produzidos até 31 de dezembro do ano passado (é o chamado “estoque de passagem”). Portanto, o mais correto é esperar o comportamento a partir do segundo semestre, quando estarão à venda exclusivamente caminhões P7. Em segundo lugar, em 2011, foram vendidos 173 mil caminhões, 10% de acréscimo sobre 2010, uma venda recorde. Depois do pico de vendas, verificase redução de investimentos nos primeiros cinco meses do ano. Há também o fator crédito. As medidas de estímulo até o momento não chegaram plenamente ao
PEDRO DIAS/DIVULGAÇÃO
de sua infraestrutura, chamado custo Brasil”
aptação mercado. Mas, para além desse momento conjuntural do mercado e da própria economia brasileira, espera-se que sejam retomados níveis de atividade econômica e, consequentemente, as perspectivas de movimentação de cargas e de expansão das frotas. Em médio e longo prazos, o mercado de caminhões tem potencial, considerando-se que a economia estabilizada e em expansão gerará mais investimentos em produção. O modal rodoviário deverá continuar majoritário nos próximos anos. Em todo o Brasil, apenas 4.200 postos estão vendendo o S-50. O combustível mais limpo também tem um preço mais elevado. Qual o impacto disso na venda dos novos caminhões? A P7 foi adotada conforme a legislação ambiental do país, elevan-
do custos para todos os elos da cadeia: fabricantes de veículos, fornecedores e distribuidores de combustível e transportadores. São caminhões com novas tecnologias, novo diesel e novo sistema de distribuição. Todos esses atores enfrentam alguma dificuldade nesta fase de transição. No que se refere especificamente aos caminhões, promoveram-se melhorias tecnológicas gerais nos veículos novos da etapa P7, reduzindo manutenção e aumentando ganhos de produtividade em suas operações. Em todo o mundo, surgem várias alternativas de veículos menos poluentes, como os híbridos e os elétricos. Devido aos preços cobrados, no Brasil ainda é baixíssimo o volume de venda desse tipo de veículo. O que impede o país de participar desse novo mercado? A viabilidade técnica e econô-
mica dos veículos elétricos ainda está sendo testada no mundo. Há o problema dos elevados custos de produção e da baixa autonomia operacional das baterias. A introdução dos veículos elétricos no Brasil deve depender, antes de tudo, de marco legal que inclua a eletricidade na matriz energética veicular no país. Quando se pensa em veículo elétrico, deve-se pensar no desenvolvimento de toda uma nova cadeia econômica, desde a geração e distribuição de energia para tal finalidade até a produção. Veículo elétrico em longa escala deve ser esperado com base em política de Estado. Qual o planejamento das montadoras para a implanta-
ção de novas tecnologias em veículos leves e pesados que auxiliem na redução da emissão de poluentes pelo setor de transporte? Existe um prazo para a implantação? No caso das emissões veiculares, a legislação brasileira para os veículos leves e para os pesados já se equipara à legislação europeia, por exemplo. No que se refere aos leves, um automóvel produzido atualmente no país emite 28 vezes menos que um veículo fabricado no final dos anos 80. Em outras palavras, seriam necessários 28 veículos atuais para gerar o mesmo nível de emissões de um veículo dos anos 80. E quanto aos pesados, a P7 representa uma redução de
96,3% das emissões de material particulado e de 87,3% de óxidos de nitrogênio em relação a um caminhão dos anos 80. Os veículos pesados iniciaram em janeiro a nova etapa P7, com a adoção de novas tecnologias; os veículos leves do ciclo Otto entram em nova etapa (a L6) a partir de 2014, com limites mais rigorosos de emissões veiculares. No Brasil, os preços dos veículos novos são significativamente maiores que os praticados em países vizinhos que, em alguns casos, nem possuem montadoras (como é o caso do Paraguai). Qual a explicação para isso e como reverter esse cenário? É preciso tomar cuidado quando se comparam preços de veículos, país a país. Em primeiro lugar, você tem os custos de fabricação, que variam conforme os custos das contribuições para a produção, como salários, remunerações indiretas e diretas para o pessoal, custo do capital, custos logísticos, tributação, infraestrutura, publicidade, fretes, conteúdo tecnológico do produto, sem falar na questão cambial e também nas tarifas de importação. Em cada lugar, a economia capitalista da livre iniciativa, preservadas as margens, pratica os melhores preços, tendo em conta custos, concorrência e clientela. Produzir no Bra-
sil, hoje, é mais caro, considerando-se desde o custo das matérias-primas até os serviços finais, além da elevada carga de impostos diretos sobre a aquisição de veículos para o consumidor - em média de 30% do preço. Isso não é um problema somente para os automóveis. Tudo por aqui é mais caro para produzir e consumir, desde o Big Mac até qualquer produto ou serviço adquirido. O que o país precisa é tornar-se competitivo, com mais eficiência de sua infraestrutura, desoneração da produção, carga tributária e eliminação do chamado custo Brasil. Para que a renovação da frota seja realmente eficiente, é preciso retirar de circulação os veículos antigos e dar a destinação correta a eles. Por que esse tipo de programa ainda não foi implantado no país e o que a Anfavea e as montadoras têm feito nesse sentido? No caso dos veículos leves, sobretudo, ocorre uma renovação natural da frota pela dinâmica do mercado. Estima-se que a frota brasileira ativa de veículos leves seja da ordem de 30 milhões, e parte dela com menos de 5 anos de uso (a idade média da frota de leves é de 7 anos). Essa é uma tendência que se acentua com o aumento das vendas de veículos novos e
PRODUÇÃO Indústria automotiva brasileira tem capacidade ins
“A indústria de caminhões investe e prepara-se para o futuro. A renovação da frota é um passo necessário e fundamental”
o sucateamento de veículos velhos. Temos um sério problema de veículos velhos na frota de caminhões. Calcula-se que nada menos de 600 mil veículos de carga tenham idade média superior a 20 anos, consumindo mais, quebrando mais, produzindo menos, poluindo mais e mais inseguros. A renovação da frota de caminhões é mais do que necessária, com o sucateamento do veículo velho, antieconômico, inseguro e que emite mais. Qual estratégia deve ser desenvolvida pela Anfavea a partir de setembro para que não haja desaquecimento do
IVECO/DIVULGAÇÃO
“A questão da mobilidade urbana deve ser uma questão de todos: da indústria, do poder público e dos cidadãos” talada de 4,5 milhões de unidades/ano
mercado, já que o prazo dos incentivos termina em 31 de agosto tanto para leves como para pesados? As estratégias são de cada fabricante, e não da Anfavea, que não tem escopo comercial. Acreditamos que as empresas vão continuar seus esforços de vendas, visto que a dinâmica ocorre em qualquer situação de mercado quando a concorrência é acirrada, como na área de veículos: se as vendas estão “fracas”, é preciso lutar pelos poucos compradores que continuam no mercado; se as vendas estão em alta ou “fortes”, é preciso lutar para conquistar novos clientes. De modo que, em caráter
permanente, a estratégia é dedicar-se a continuar a produzir e a vender, sempre em busca de novos produtos e novas tecnologias e soluções, bem como com ampla diversidade de produtos, tendo em conta os mais variados usos e bolsos. Qual a capacidade instalada da indústria brasileira para veículos leves e pesados? A capacidade instalada é de cerca de 4,5 milhões de veículos/ano. Todavia, em função dos investimentos anunciados pelo setor (mais de US$ 22 bilhões somente para o período 20122015) e a construção de novas fábricas, a estimativa geral é de
que por volta de 2020 a indústria automobilística brasileira possa ter capacidade instalada em torno de 6 milhões de veículos/ano, com produtos aptos para o mercado interno e também para exportação. A indústria está preparada para uma possível implantação de um programa de renovação de frota e o consequente crescimento da demanda por veículos pesados? Qual seria o prazo ideal para essa adequação? Temos no Brasil a presença dos maiores fabricantes de caminhões em nível mundial. Portanto, que venham os clientes porque a indústria está e estará preparada para atendê-los. Os produtos têm qualidade global, e estamos prontos para abastecer o mercado brasileiro de caminhões, o qual se situa entre os maiores do mundo. A indústria de caminhões investe e preparase para o futuro. A renovação da frota é um passo necessário e fundamental. O governo federal tem investido em melhorias e ampliação dos serviços de transporte público em várias cidades do Brasil. Ao mesmo tempo, o plano de incentivos econômicos reduziu o IPI de veículos de passeio, incentivando
ainda mais o inchaço das vias urbanas. Qual avaliação a Anfavea faz desse cenário? Acreditamos que as duas metas são conciliáveis e, mais do que isso, ambas necessárias. Os países de economia madura (Estados Unidos, Japão e na Europa) têm taxas de motorização particular bastante densas, com cerca de um veículo para cada um ou dois habitantes (no Brasil temos um veículo para cada 6,5 habitantes). E aqueles países contam com excelentes transportes públicos. Ou seja, o cidadão usa o transporte público, que é eficiente, e utiliza também seu veículo particular, quando é necessário ou para lazer, roteiros especiais, em função da profissão e assim por diante. É perfeitamente possível conciliar o transporte público e o veículo particular. Ambos integram a economia do bemestar social. O setor fabricante de veículos fornece tanto o veículo pessoal como os ônibus e caminhões, e também veículos pequenos de fim empresarial. A questão da mobilidade urbana deve ser uma questão de todos: da indústria, com produtos avançados e adequados; do poder público, com políticas públicas de infraestrutura, de transporte público e de planejamento urbano, e dos cidadãos, com respeito à legislação de trânsito e cidadania. l
12
CNT TRANSPORTE ATUAL
AGOSTO 2012
TRANSPORTADORA AMERICANA/DIVULGAÇÃO
MAIS TRANSPORTE PRÊMIO CNT DE JORNALISMO
Inscrições estão abertas stão abertas as inscrições para o Prêmio CNT de Jornalismo 2012. Os profissionais têm até o dia 27 de agosto para garantir participação na disputa. Podem concorrer fotografias e matérias jornalísticas veiculadas na imprensa nacional, no período de 6 de setembro de 2011 a 27 de agosto de 2012, em jornal, revista, rádio, televisão e Internet. O prêmio é um reconhecimento e um incentivo à produção de reportagens de qualidade que ressaltam a importância do setor transportador no desenvolvimento econômico, social, político e cultural do país.
E
Em sua 19ª edição, o prêmio vai pagar um total de R$ 90 mil, sendo R$ 30 mil para a premiação principal e R$ 10 mil para os primeiros lugares nas categorias: Impresso, Fotografia, Televisão, Rádio, Internet, no Prêmio Especial de Meio Ambiente e Transporte. Todas as matérias inscritas em qualquer uma das cinco categorias ou no prêmio especial devem tratar do tema transporte. A íntegra do regulamento e a ficha de inscrição podem ser acessadas no site www.cnt.org.br/premiocnt. Mais informações pelo telefone 0800 728 2891.
Innotrans 2012 A edição deste ano da Innotrans (Feira Internacional de Tecnologia em Transportes) vai contar, pela segunda vez, com um estande coletivo de empresas brasileiras ligadas ao setor de transportes. O evento, que será realizado de 18 a 21 de setembro, em Berlim, Alemanha, terá 2.200 expositores de 45 países
FILIAL Mais de 2.000 m2 de área construída
Nova sede no Espírito Santo A Transportadora Americana conta com nova filial no Espírito Santo. Instalada em Viana, a aproximadamente 20 km de Vitória, a sede tem mais de 2.000 m2 de área construída e vai centralizar as operações locais da Talog (empresa de logística) e da filial da transportadora. A transportadora responde por quase 12 mil despachos/mês na
filial de Vitória e tem boa parte de seu atendimento voltado aos segmentos de medicamentos, eletroeletrônicos, automotivo e têxtil. De acordo com a empresa, as novas instalações oferecem amplo espaço para armazéns e escritório, melhor infraestrutura e capacidade de atender com mais eficácia os clientes da região.
Semana Metroferroviária reunidos em uma área de 150 mil metros quadrados. A estimativa da organização é de que circulem pelo evento mais de 106 mil visitantes de 110 países. O pavilhão do Brasil terá um estande com 112 metros quadrados, subsidiado pelo Itamaraty, onde os empresários vão poder interagir e trocar experiências com os participantes da feira.
A 18ª edição da Semana de Tecnologia Metroferroviária, que acontece entre 11 a 14 de setembro, no Centro de Convenções Frei Caneca, em São Paulo, vai reunir entidades, empresas e órgãos públicos municipais, estaduais e federal para discutir as novas tecnologias no setor de transportes desenvolvidas no Brasil e no exterior. O evento também propõe o debate de estratégias de investimentos tanto para o
transporte de passageiros como para o de cargas. Realizada pela Aeamesp (Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Metrô), o encontro deste ano tem como tema central “A contribuição dos trilhos para a mobilidade”. Paralelo à semana, será realizada a Metroferr, exposição de produtos e serviços metroferroviários que reúne o que há de mais moderno em termos de equipamentos, sistemas e serviços na área metroferroviária.
CNT TRANSPORTE ATUAL
AGOSTO 2012
13
RECORDE
Maior voo com biodiesel KLM (Royal Dutch Airlines), companhia aérea administrada pela Air France, realizou o voo mais longo movido a biocombustível da história da aviação. O marco foi registrado no dia 20 de junho com o voo KL705, em um Boeing 777-200, que partiu
A
de Amsterdam, às 11h15 (hora local) e chegou às 17h55 (horário oficial de Brasília) no aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro. A aeronave é abastecida parcialmente com combustível sustentável feito de óleo de cozinha usado. De acordo com a
KLM, o projeto vai permitir às companhias aéreas operar parte de seus voos com biocombustível sustentável, estimulando o desenvolvimento de energia limpa para o setor. Segundo a companhia, o biocombustível utilizado atende às mesmas especifi-
cações técnicas do combustível fóssil tradicional, sem que seja necessário realizar qualquer ajuste nos motores ou na infraestrutura das aeronaves. A KLM foi a responsável pelo primeiro voo comercial movido a biocombustível, em junho de 2011. KLM/DIVULGAÇÃO
PROJETO Companhia estimula o desenvolvimento de energias limpas para o setor
AGÊNCIA PETROBRAS/DIVULGAÇÃO
Etanol de bagaço de cana A Petrobras apresentou durante a Rio+20 a tecnologia do etanol de segunda geração desenvolvido pela empresa. O biocombustível abasteceu as 40 minivans que realizaram o transporte de participantes da conferência. A tecnologia aproveita o bagaço de cana como matéria-prima e permite ampliar a produção de etanol em 40% sem utilizar recursos adicionais da natureza.
A Petrobras já produziu 80 mil litros de etanol de segunda geração em uma planta de demonstração localizada nos EUA. A companhia tem como meta iniciar a produção em escala comercial no Brasil em 2015. O investimento no desenvolvimento da tecnologia faz parte dos US$ 300 milhões previstos para pesquisas em biocombustíveis nos próximos anos.
EXPECTATIVA Produção comercial deve começar em 2015
14
CNT TRANSPORTE ATUAL
AGOSTO 2012
MAIS TRANSPORTE IVECO/DIVULGAÇÃO
Transporte Marítimo - Cargas, Navios, Portos e Terminais Trata do transporte de carga geral, dos neogranéis, dos contêineres, dos granéis sólidos e líquidos, além de navios de cruzeiros. De: Petrônio Sá Benevides, Ed. Aduaneiras, 240 págs., R$ 52
Próxima Estação: Contos de Trem, Metrô e Outros Transportes Urbanos Reúne histórias com dramas, suspenses e romances de pessoas que usam o transporte público. Org. Rita Alves e Edson Rossatto, Ed. Andross, 114 págs., R$ 29
Exército recebe Guarani A Iveco entregou o primeiro blindado anfíbio Guarani ao Exército Brasileiro. O veículo faz parte do lote inicial da produção seriada da montadora, programada para os próximos 20 anos. O Guarani será feito na fábrica, ainda em construção, dentro do complexo industrial da Iveco em Sete Lagoas (MG).
Navalshore 2012 A nona edição da Navalshore – Feira e Conferência da Indústria Naval e Offshore será realizada de 1º a 3 de agosto, no Centro de Convenções SulAmérica, no Rio de Janeiro. São mais de 11 mil metros quadrados de
área de exposição, reunindo as últimas novidades em produtos e serviços para a construção e o reparo naval, além de soluções para o setor de petróleo e gás. O evento contará com mais de 350 empresas expositoras
nacionais e internacionais de países, como Argentina, Japão, China, Espanha, Suécia, Coreia do Sul, EUA, Finlândia, Itália, Noruega, Canadá e Holanda. A expectativa é receber 15 mil visitantes.
Engenharia de infraestrutura de transportes – uma integração multimodal Abordagem multimodal dos sistemas de transporte, baseada na engenharia de transportes. De: Lester A. Hoel, Nicholas J. Garber e Adel W. Sadek, Ed. Cengage Learning, 616 págs., R$ 121
CNT TRANSPORTE ATUAL
15
AGOSTO 2012
QUALIDADE DO AR 2012
Empresas são premiadas em Minas Gerais pela Fetram LILIAN MIRANDA
nze empresas participantes do Despoluir Programa Ambiental do Transporte, desenvolvido pela CNT desde 2007, receberam o Prêmio Fetram de Qualidade do Ar 2012. A cerimônia aconteceu no dia 14 de junho, em Belo Horizonte (MG). As empresas homenageadas desenvolvem projetos relacionados com a melhoria da qualidade do ar e com o uso racional do combustível, monitorando suas emissões de poluentes. Foram premiadas empresas de várias cidades do Estado. De Belo Horizonte, receberam o prêmio: Auto Omnibus Floramar Ltda., Auto Omnibus Nova Suissa Ltda., Coletivos São Lucas Ltda., Milênio Transportes Ltda., Urca Auto Ônibus Ltda., Viação Fênix Ltda., Viação Globo Ltda. De Varginha, a premiada foi a empresa de Transportes Santa Terezinha Ltda. A Univale Transportes Ltda., de Coronel Fabriciano, a Viação Pássaro Branco Ltda., de Patos de Minas, e a Viação Princesa do Sul Ltda., de Pouso Alegre, completam a relação das premiadas. Na cerimônia de entrega do prêmio, o presidente da Fetram (Federação das Empresas de Transporte de Passageiros no Estado de Minas Gerais), Waldemar Araújo,
O
DESTAQUE Empresas foram homenageadas pela Fetram
destacou a importância das empresas participarem do Despoluir e se empenharem no cuidado com a frota. “O programa só traz benefícios para as empresas. Quanto mais aferições são feitas na frota, melhor é o funcionamento dos veículos e menor é a emissão de gases no meio ambiente”, ressaltou ele. Os critérios para a premiação são baseados nos resultados das aferições realizadas pela Fetram dentro do programa Despoluir ao longo do ano. As empresas participantes do programa já estão sendo avaliadas para a próxima edição do Prêmio Fetram
de Qualidade do Ar, que será realizado em junho de 2013. Neste ano, a federação alcançou o primeiro lugar no relatório da CNT (Confederação Nacional dos Transportes), com o maior número de aferições realizadas nacionalmente. Em todo o país, mais de 700 mil aferições já foram realizadas nos cinco anos de atuação do programa. Rogério Bertolucci, presidente da Viação Princesa do Sul Ltda., considera a premiação de extrema importância porque valida todos os esforços que a equipe da empresa dedica à preservação do meio ambiente.
“Quando aderimos a esse projeto, tínhamos um ideal: alcançar uma maior solidez com as nossas certificações e contribuir para mudar o cenário ambiental.” Para o diretor-executivo da Univale Transportes Ltda., Luiz Mendes Peixoto, a premiação aumenta a responsabilidade em continuar a adotar boas práticas de manutenção e ser ambientalmente responsável. “O que objetivamos com o programa Despoluir é a busca de eficiência energética, além da contribuição com o meio ambiente, com menores índices de poluição na atmosfera”, diz.
16
CNT TRANSPORTE ATUAL
AGOSTO 2012
MAIS TRANSPORTE RENAULT/DIVULGAÇÃO
Elétrico bate recorde O Renault ZOE bateu o recorde mundial ao percorrer a maior distância em 24 horas para um veículo elétrico de série. Foram 363 voltas realizadas no circuito do Centro Técnico de Aubevoye,
na França, atingindo uma distância de 1.618 quilômetros. A marca anterior era de 1.280 quilômetros. O carregador do veículo, chamado Caméléon, permite que o Zoe seja recarregado
em qualquer tipo de tomada, aceitando todas as amperagens. Isso permite que o carro se beneficie de uma recarga rápida de 43 kw, recuperando 80% de capacidade da bateria em menos de 30
minutos. De acordo com a Renault, o ZOE chega às concessionárias europeias da marca no final deste ano. Os clientes já podem reservar o carro por meio do site www.renault-ze.com.
OSIRIS BERNARDINO/DIVULGAÇÃO
Taxi Point A quinta edição da Taxi Point (Feira Brasileira dos Fornecedores para o Setor de Táxi) será realizada nos dias 18 e 19 de agosto, no Centro de Exposições Imigrante, em São Paulo. De acordo com os organizadores, a feira
tem como objetivo a valorização da categoria por meio da divulgação de informações que interessem aos taxistas. A estimativa é reunir 70 expositores e receber cerca de 5.000 visitantes durante os dois dias do evento.
PREVISÃO Feira deste ano espera atrair 5.000 visitantes
CNT TRANSPORTE ATUAL
AGOSTO 2012
PESQUISA CNT DE RODOVIAS
Fortaleza inaugura metrô Depois de 13 anos de espera, foi inaugurado, em junho, o primeiro trecho do Metrofor (Metrô de Fortaleza). O intervalo tem 24,1 km em via dupla, sendo 18 km de superfície, 3,9 km subterrâneos e outros 2,2 km em elevados. A obra teve investimento total de R$ 1,705 bilhão. A expectativa é de que o sistema atenda, pelo menos, 350 mil pessoas por dia em todo o percurso, que liga o
centro de Fortaleza aos municípios de Pacatuba e Maracanaú, na região metropolitana. O início da operação comercial do metrô está previsto para o primeiro trimestre de 2013. Os testes serão feios até outubro deste ano, quando a segunda parte da Linha Sul (que vai até a estação Chico da Silva, no centro da capital cearense) inicia a avaliação com passageiros. GOVERNO DO CEARÁ/DIVULGAÇÃO
Equipes iniciaram trabalhos ezessete equipes de pesquisadores estão em campo colhendo informações para a 16ª Pesquisa CNT de Rodovias. Este ano, aproximadamente 94,3 mil quilômetros de rodovias pavimentadas em todo o Brasil serão avaliados, um aumento de cerca de 1.500 km em relação ao estudo do ano passado. As equipes saíram simultaneamente de 12 capitais (Brasília, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Campo Grande, Fortaleza, São Luís, Rio Branco e Belém). Os pesquisadores coletarão informações sobre as condições das vias, com relação ao pavimento, à sinalização e à geometria. O levantamento é publicado pela CNT desde 1995 e tem como objetivo percorrer 100% da malha rodoviária federal pavimentada pública e concessionada e os principais corredores
D
estaduais em que se verifica um grande fluxo de cargas e de passageiros. Para o diretor da CNT, Bruno Batista, o trabalho neste ano será ainda mais criterioso. “A pesquisa compõe a maior série histórica de avaliações rodoviárias do país. Nós conseguimos hoje avaliar com muita precisão o estado das rodovias e essa é uma informação importantíssima tanto para o planejamento dos transportadores, como também para a identificação de locais críticos que merecem intervenção rápida do governo”, afirma. A segunda etapa da pesquisa consiste na análise dos dados e na edição do material, considerado o mais completo e criterioso levantamento sobre a conservação das rodovias brasileiras. O estudo será publicado no segundo semestre deste ano. JÚLIO FERNANDES/CNT
TESTES Operação comercial apenas em 2013
Empresa para o trem-bala A presidente Dilma Rousseff assinou decreto que cria a Etav (Empresa de Transporte Ferroviário de Alta Velocidade S.A). A companhia será responsável pela administração do TAV, que vai ligar São Paulo ao Rio de Janeiro. A Etav será uma sociedade anônima com
capital inicial de R$ 50 milhões e ficará subordinada ao Ministério dos Transportes. De acordo com o decreto nº 7.755, que cria a nova empresa, a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional vai convocar assembleia para efetivar a constituição da Etav.
AVALIAÇÃO Estudo teve início no final de junho
17
18
CNT TRANSPORTE ATUAL
AGOSTO 2012
E O TRANSPORTE
O desafio de tornar real
Depois da conferência no Rio de Janeiro, objetivo agora é transformar discurso em ação; texto final da ONU citou a importância do transporte sustentável POR
CYNTHIA CASTRO DO RIO DE JANEIRO
Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, deixou o desafio para governantes, empresas privadas e sociedade civil colocarem em prática medidas que melhorem a qualidade de vida das pessoas e que contribuam para a preservação do planeta. O documento final trouxe frustrações, pois muitos esperavam um comprometimento maior dos países com metas e ações para a sustentabilidade.
A
Mas, na avaliação de profissionais do setor de transporte e da área ambiental, o fato não pode ser desculpa para que cada um não cumpra a sua parte. O grande desafio é passar do discurso, explicitado no texto final “O Futuro que Queremos”, para a ação. “É trazer para a prática das agendas locais o compromisso expresso no documento da ONU (Organização das Nações Unidas). Que os governos, em todos os níveis, implementem de fato o que está escrito no texto”,
afirma o coordenador-executivo da Ilats (Iniciativa Latino-Americana para o Transporte Sustentável), Luiz Antonio Cortez. O documento reconhece que transporte e mobilidade são essenciais para o desenvolvimento sustentável e podem reforçar o crescimento econômico dos países. “Reconhecemos a importância da circulação eficiente de pessoas e mercadorias e do acesso a sistemas de transporte ambientalmente saudáveis, seguros e acessíveis,
como meios de melhorar a equidade social, a saúde, a adaptação das cidades, as ligações urbanas e rurais e a produtividade nas áreas rurais”, diz o documento. Nesse sentido, o texto da ONU afirma apoiar “os sistemas de transporte multimodal, que são eficientes sob o ponto de vista energético, em particular sistemas de transporte público, combustíveis e veículos não poluentes, assim como sistemas melhores nas zonas rurais”. Conforme o documento, há a necessidade de
AGOSTO 2012
19
FOTOS JUSSIARA COSTA
CNT TRANSPORTE ATUAL
FORTE DE COPACABANA Exposição Humanidade teve sala que abordou o transporte de passageiros e de cargas
APRENDIZADO O jornalista Carlos Eduardo e a filha Clara gostaram da parte sobre energia e biocombustíveis
se desenvolver uma integração na formulação das políticas para os serviços e sistemas de transporte, nos planos nacional, regional e local, com o objetivo de promover o desenvolvimento sustentável. E de haver um apoio internacional a países em desenvolvimento. Publicado nas seis línguas oficiais da ONU (inglês, espanhol, francês, russo, chinês e árabe), o texto tem 59 páginas no espanhol. O tema transporte sustentável aparece explicitamente em dois parágrafos, no capítulo que trata
do quadro de ações para diversas áreas temáticas. Mas para alguns que atuam na área, a importância do transporte sustentável foi deixada de lado na maior parte da discussão oficial entre os governantes, ganhando destaque principalmente nas atividades paralelas. Por outro lado, outros consideram um ganho muito importante o fato de haver uma citação explícita sobre o tema no documento final. Também foi considerado como positivo o anúncio feito por oito bancos multilaterais de investi-
20
CNT TRANSPORTE ATUAL
AGOSTO 2012
E O TRANSPORTE mentos de US$ 175 bilhões em projetos de transporte sustentável (leia na página 26). “Consideramos que o transporte passou de uma posição de pouco destaque para um dos temas principais no contexto da sustentabilidade. Esse valor a ser investido é muito importante, mas é preciso agora deixar claro quais são os critérios de avaliação para a obtenção desse recurso”, diz Luis Antonio Lindau, diretor-presidente da Embarq Brasil – uma organização que atua pelo transporte sustentável. O coordenador-executivo da Ilats considera que o fator mais positivo em relação aos recursos anunciados pelos bancos é a vinculação a projetos que se refiram a transporte sustentável. Os US$ 175 bilhões serão destinados na próxima década. Segundo Cortez, o valor anual, US$ 17,5 bilhões, é inferior ao investimento em transporte nos últimos anos. “Temos estimativas de que a média de empréstimos foi de US$ 30 bilhões para transporte, de forma geral. O grande diferencial agora é que o valor fica vinculado a ações sustentáveis”, afirma. A coordenadora técnica da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos), Valeska Peres Pinto, avalia que o tema transporte foi tratado de forma marginal nas discussões oficiais da conferência, que envolveram os chefes de Estado. Os debates mais relevantes sobre o tema aconteceram mesmo em eventos paralelos,
COMPROMISSO Secretário-geral da ONU para a Rio+20, Sha Zukang (à dir.), cobrou ação dos países
muitos promovidos por entidades do setor de transporte. Na avaliação de Valeska, as citações do documento final são extremamente genéricas. “As cidades ainda não são identificadas como o coração do desenvolvimento sustentável”, considera Valeska. Para o presidente da CNT e do Sest Senat, senador Clésio Andrade, é importante tomar medidas eficientes para colocar em prática o transporte sustentável. Ele cita o Despoluir – Programa Ambiental do Transporte,
desenvolvido pela CNT e pelo Sest Senat desde 2007, como uma das ações importantes do setor transportador com esse objetivo. "O Despoluir foi criado a partir da preocupação dos transportadores em intensificar as ações voltadas para a conservação do meio ambiente. E os resultados alcançados desde então fortaleceram a ideia de ampliação da nossa atuação e nos mostraram a necessidade de agregar outros segmentos da sociedade na luta contra a po-
PARQUE DOS ATLETAS Local em
luição local e global”, diz Clésio Andrade. Segundo o presidente da CNT, “é importante que sejam definidas ações no Brasil e no mundo em busca do transporte sustentável” (leia sobre o Despoluir nas páginas 22 e 23). No último dia oficial da conferência, o secretário-geral da ONU para a Rio+20, Sha Zukang, ressaltou a necessidade de os governos colocarem em prática os compromissos e criticou a postura adotada por muitos depois do encontro em Copenhague, em 2009. Ele foi
CNT TRANSPORTE ATUAL
AGOSTO 2012
21
Documento Rio+20 FOTOS CYNTHIA CASTRO
frente ao Riocentro concentrou estandes de países, Estados, universidade, entre outros
MOBILIZAÇÃO Cerca de 190 países participaram da conferência; documento final recebeu muitas críticas
Veja alguns temas abordados: • Transporte sustentável • Erradicação da pobreza • Segurança alimentar e agricultura sustentável • Água e saneamento • Energia • Turismo sustentável • Cidades e assentamentos humanos sustentáveis • Saúde e população • Promoção de emprego pleno e produtivo • Oceanos e mares • Pequenos Estados insulares em desenvolvimento • Países menos desenvolvidos • Países em desenvolvimento sem litoral • África • Iniciativas regionais • Redução do risco de desastres • Mudanças climáticas • Florestas • Biodiversidade • Desertificação • Degradação do solo e seca • Montanhas • Produtos químicos e resíduos • Consumo e produções sustentáveis • Mineração • Educação • Igualdade entre os sexos e autonomia das mulheres
enfático ao dizer que o que realmente fará a diferença são as iniciativas levadas à ação e afirmou que agora começa o desafio. “O trabalho árduo começa agora. Prometer é fácil, mas para manter a promessa é necessário um esforço”, disse Zukang. “Vocês conhecem todos os compromissos dos governos em Copenhague. Perguntem se eles honraram esses compromissos. Eu acho que o que diferencia o compromisso de uma boa intenção é a responsabilidade.”
De forma geral, o texto da Rio+20 diz renovar o compromisso dos países ao tomar medidas que integrem aspectos econômicos, sociais e ambientais. Aponta que a erradicação da pobreza é o maior problema que atinge a humanidade. A economia verde é indicada como um caminho importante para essa erradicação da pobreza e para o crescimento econômico sustentável, pois poderá aumentar a inclusão social e o bem-estar humano, “criando oportunidades de emprego e trabalho decentes para todos e mantendo ao mesmo tempo o funcionamento saudável dos ecossistemas”. Na avaliação do coordenador da campanha de clima e energia do Greenpeace, Pedro Torres, ao se abordar as ações necessárias para tornar real o transporte sustentável é importante que os governos assumam a responsabilidade de criar meios para colocar em prática as tecnologias sustentáveis, como veículos elétricos, ônibus a hidrogênio e inúmeras outras. “A tecnologia está aí. Os pesquisadores já mostraram que é possível. Só falta mesmo o governo priorizar os incentivos para que essas tecnologias, que já existem, sejam viáveis. Para que possam ser fabricadas em escala industrial.” Nas páginas a seguir conheça detalhes de temas sobre transporte sustentável tratados na Rio+20, nos eventos paralelos e também na parte oficial
22
CNT TRANSPORTE ATUAL
AGOSTO 2012
E O TRANSPORTE
CNT e Sest Senat apresentam o programa Despoluir urante toda a programação da Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, a CNT e o Sest Senat apresentaram o Despoluir – Programa Ambiental do Transporte, em um estande no Píer Mauá, na região portuária do Rio de Janeiro. Estudantes, profissionais do transporte e diversos outros participantes da Rio+20 puderam conhecer mais sobre o programa desenvolvido desde 2007, que mobiliza o setor transportador, promovendo ações para reduzir a poluição ambiental, melhorar a eficiência energética e a qualidade dos combustíveis. O programa também atua para incentivar a gestão e a educação ambiental de todo o setor. Um equipamento opacímetro, que mede o nível de fumaça preta, e um veículo foram colocados no estande, simbolizando uma das principais ações do Despoluir: o projeto de Redução da Emissão de Poluentes pelos Veículos. Já foram feitas mais de 700 mil avaliações de ônibus e caminhões para incentivar a redução das emissões. Os veículos que estão em conformidade com as normas ambientais recebem o selo Despoluir. A manutenção correta contribui para a menor emissão de poluentes e para o menor gasto de combustível. Além dos programas ambientais, muitos visitantes do estande também receberam informações
D
sobre outros projetos desenvolvidos pela CNT, pelo Sest Senat e pela Escola do Transporte. O taxista Luciano Santos, 42, gostou de saber que pode participar do programa Taxista Nota 10, que oferece cursos gratuitos de inglês, de espanhol e de gestão, em parceria com o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas). “Todo esse trabalho é muito interessante. Já fiz cursos no Sest Senat e quero fazer mais. Nessa discussão da sustentabilidade, é muito importante saber que o setor de transporte está fazendo algo, como o programa Despoluir”, disse Santos.
Despoluir Alguns projetos: • Redução da Emissão de Poluentes pelos Veículos • Incentivo ao Uso de Energia Limpa pelo Setor Transportador • Aprimoramento da Gestão Ambiental nas Empresas, Garagens e Terminais de Transporte • Caminhoneiro Amigo do Meio Ambiente Algumas publicações: • A Adição do Biodiesel e a Qualidade do Diesel no Brasil • Sondagem Ambiental do Transporte • A Fase P7 do Proconve e o Impacto no Setor de Transporte • Procedimentos para a Preservação da Qualidade do Óleo Diesel B • Impactos da Má Qualidade do Diesel Brasileiro
PARTICIPAÇÃO Milhares de pessoas
Motoristas vigilantes do m as unidades do Sest Senat espalhadas por todo o Brasil, há uma preocupação constante com o incentivo a práticas ambientalmente adequadas. A proposta é transformar os motoristas de caminhão, ônibus ou táxi em vigilantes do meio ambiente e mostrar práticas importantes, especialmente na área de transporte. O curso de Direção Econômica e Segura, por exemplo, ensina os motoristas qual a forma adequada de dirigir para que, assim, gastem menos combustível, emitam menos poluentes e provoquem menor desgaste de peças. Quem participa
N
de alguns outros treinamentos do Sest Senat também poderá aprender sobre o funcionamento e manutenção do veículo, gestão de pneus, condução correta de produtos perigosos. O Sest Senat oferece o curso Noções de Meio Ambiente, gratuito e online. Os objetivos são a divulgação da importância do papel de cada indivíduo para a preservação do meio ambiente, a identificação de práticas prejudiciais e ainda a divulgação de técnicas de reciclagem de lixo doméstico. As unidades também implantaram a coleta seletiva do lixo.
“
CNT TRANSPORTE ATUAL
AGOSTO 2012
23
“
“ O Despoluir foi criado a partir da preocupação dos transportadores em intensificar as ações voltadas para a conservação do meio ambiente
SENADOR CLÉSIO ANDRADE, PRESIDENTE DA CNT E DO SEST SENAT
Incentivo à energia limpa e menos poluição FOTOS JUSSIARA COSTA
programa Despoluir tem trabalhado com diversas medidas que promovem a disseminação de informações importantes que favorecem o meio ambiente e contribuem para reduzir a emissão de poluentes. O incentivo às tecnologias e energias limpas ocorre por meio da publicação de documentos que orientam o setor transportador. Na Rio+20, os participantes tiveram acesso a publicações sobre “Os Impactos da Má Qualidade do Óleo Diesel Brasileiro”, sobre “A Fase P7 do
O
passaram pelo estande no Píer Mauá
Proconve e o Impacto no Setor de Transporte”, entre outras. Esses documentos podem ser consultados no site do programa: www.cntdespoluir.org.br. Nesse endereço eletrônico, também são disponibilizadas diariamente reportagens relevantes que abordam transporte e meio ambiente. Também são desenvolvidos constantemente na sede da CNT, em Brasília, seminários sobre temas essenciais, como logística reversa, reciclagem de veículos e renovação de frota. O Despoluir elaborou em 2009 o RenovAR (Plano
Nacional de Renovação de Frota de Caminhões), que foi entregue ao governo federal. O plano alerta para a importância de se renovar a frota de veículos pesados no país e sugere as medidas necessárias. O Japão discutiu o tema da reciclagem na Rio+20 (leia na página 27). No mês de julho, o Despoluir completou cinco anos, e na próxima edição da revista CNT Transporte Atual haverá uma reportagem especial detalhando as ações do programa ambiental da Confederação Nacional do Transporte.
eio ambiente No projeto Caminhoneiro Amigo do Meio Ambiente, os motoristas são incentivados a serem vigilantes de questões ambientais nas estradas, como, por exemplo, informando às autoridades sobre alguma queimada ou outro problema. Entre as ações ambientais do Sest Senat, está a produção de um curta-metragem, “Próximo Retorno”, que conta a história de um taxista e de um caminhoneiro que tomam as medidas corretas em relação a um incêndio na beira da rodovia e ao encontro de um tamanduá na rua. Quem quiser conhecer mais o trabalho do Sest Senat pode acessar o site www.sestsenat.org.br. CONSCIENTIZAÇÃO Despoluir e Sest Senat orientam setor transportador sobre práticas ambientais
24
CNT TRANSPORTE ATUAL
AGOSTO 2012
“
Modificamos a tração e fizemos uma pro Isso significa que o ônibus está pro PAULO EMÍLIO VALADÃO DE MIRANDA, PROFESSOR DA COPPE
E O TRANSPORTE
Ônibus com emissão zero é lançado o lado de fora, a impressão é de um veículo mais moderno, construído com a preocupação da acessibilidade e pintado de verde em referência ao meio ambiente. Mas no momento em que o motorista liga o motor, qualquer pessoa percebe que há muito mais do que isso no ônibus H2+2, produzido pela Coppe/UFRJ – Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). O ônibus híbrido a hidrogênio com tração elétrica não faz barulho. O som mais marcante para os passageiros é o do ar-condicionado. Para quem está do lado de fora, praticamente não há ruído. E, o mais importante, a emissão de poluentes é zero, conforme informam os idealizadores. Do cano de descarga, só sai vapor de água. Essa nova versão foi lançada no Parque dos Atletas. O nome, H2+2, faz referência ao fato de o primeiro modelo produzido pela Coppe ter sido finalizado há dois anos e também ao nome da própria Rio+20, que aconteceu 20 anos depois da conferência da ONU Rio-92.
D
Segundo o idealizador do projeto, o professor titular do Laboratório de Hidrogênio da Coppe, Paulo Emílio Valadão de Miranda, essa nova versão trouxe o aprimoramento da tecnologia e um resultado bem mais eficiente, além de ter havido redução em torno de 40% no valor do custo de fábrica. “Modificamos a tração e fizemos uma produtização dos equipamentos, que eram artesanais. Isso significa que ele está pronto para ser industrializado e comercializado.” Outro ganho importante ocorreu em relação à autonomia. O primeiro podia trafegar até 300 km, e o mais novo até 500 km. São três fontes de alimentação. A primeira com uma conexão prévia à rede elétrica, que recarrega a bateria. A segunda é a pilha a combustível que utiliza hidrogênio armazenado a bordo e oxigênio do ar, produzindo eletricidade a bordo. E a terceira, conforme explica o pesquisador, é a regeneração da energia cinética em energia elétrica, em processos de desaceleração e frenagem. Esse veículo híbrido a hidrogênio com tração elétrica não tem motor a combustão. CYNTHIA CASTRO
H2+2 Veículo é a segunda versão a hidrogênio produzida pela Coppe/UFRJ
MAGLEV Protótipo demonstrativo de
Coppe vai construir Coppe/UFRJ irá construir o primeiro trem de levitação magnética do país, conhecido como Maglev-Cobra. Esse trem dispensa rodas e não emite gases de efeito estufa nem ruídos. Além disso, as obras de infraestrutura para o seu funcionamento são bem mais baratas do que as obras para o metrô subterrâneo, conforme afirmam os responsáveis pelo projeto. O convênio entre a Coppe e o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), no valor de R$ 5,8 milhões, foi assinado no Parque dos Atletas e permitirá a construção desse primeiro trem no Brasil, que terá quatro módulos, com capacidade para transportar até 30 passageiros. Haverá uma linha regular de 200 metros entre os prédios do Centro de Tecnologia da Coppe.
A
CNT TRANSPORTE ATUAL
AGOSTO 2012
25
“
dutização dos equipamentos, que eram artesanais. nto para ser industrializado e comercializado
COPPE/DIVULGAÇÃO
Sala mostra projeto de energia do mar m uma sala com pouca luz, com o barulho do mar e a projeção de imagens reais, os visitantes do estande da Coppe no Parque dos Atletas puderam conhecer um pouco como é o funcionamento da primeira usina piloto de produção de energia elétrica por meio das ondas. Com tecnologia totalmente nacional, o projeto está sendo implantado pela Coppe no quebra-mar do porto de Pecém, em Fortaleza (CE). A inauguração está prevista para acontecer ainda neste ano. Inicialmente, a usina funcionará como um laboratório de estudos e irá gerar energia para consumo próprio. Os pesquisadores devem avaliar qual o custo de produção e qual o volume produzido, entre outros fatores importantes. Os ventos constantes encontrados no
E
trem que será construído a partir de convênio
Ceará contribuem para a formação de ondas regulares, favorecendo assim a produção de energia. Segundo a Coppe, o diferencial da tecnologia brasileira é o uso de um sistema de alta pressão para movimentar a turbina e o gerador, um conceito desenvolvido e patenteado pela Coppe. O conjunto completo consiste em um flutuador e um braço mecânico que, movimentados pelas ondas, acionam uma bomba para pressurizar a água doce e armazená-la num acumulador conectado a uma câmara hiperbárica. A pressão na câmara equivale à de colunas de água entre 200 metros e 400 metros de altura. A água altamente pressurizada forma um jato que movimenta a turbina. Essa, por sua vez, aciona o gerador de energia elétrica, conforme a Coppe. CYNTHIA CASTRO
trem de levitação O Maglev-Cobra utiliza técnica de levitação, empregando supercondutores e ímãs. Os supercondutores são refrigerados com nitrogênio líquido a uma temperatura negativa de 196 graus Celsius. Um protótipo chamado funcional é utilizado hoje no laboratório de testes e desliza por um trilho de 12 metros, com oito passageiros. De acordo com a Coppe, o Maglev é movido a energia elétrica e possui baixo consumo. O professor Richard Stephan considera que o trem pode representar uma alternativa segura, eficiente e limpa de transporte urbano para uma cidade como o Rio de Janeiro. Uma possibilidade é fazer a ligação do Aeroporto Internacional do Galeão ao Santos Dumont.
ELETRICIDADE Usina piloto de energia a partir das ondas está sendo instalada no Ceará
26
CNT TRANSPORTE ATUAL
AGOSTO 2012
“
Vamos investir em infraestrutura viária e para pe menos poluidores e energia, ferrovias, vias hídri
E O TRANSPORTE CYNTHIA CASTRO
Bancos prometem ito maiores bancos de desenvolvimento multilateral (MDBs, na sigla em inglês) prometeram durante a Rio+20 investir US$ 175 bilhões em sistemas de transporte sustentáveis nos países em desenvolvimento. Os compromissos do Banco Asiático de Desenvolvimento, do Banco Mundial e de outros seis MDBs foram firmados no início da conferência no Rio de Janeiro. O vice-presidente do Banco Asiático de Desenvolvimento, Bindu Lohani, disse que o recurso será destinado a diversas iniciativas em busca do transporte sustentável. “Vamos investir em infraestrutura viária e para pedestres, ciclovias, veículos menos poluidores e energia,
O
ENTREVISTA Ministros Antonio Patriota e Izabella Teixeira comentaram sobre transporte
Ministra destaca renovação de frota ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, reconheceu que no debate do que é necessário fazer para um transporte sustentável no país estão a necessidade de renovar a frota de veículos e a importância de se obter melhorias no transporte coletivo. Sem dar maiores detalhes, a ministra citou esses dois temas na véspera da abertura da Rio+20. “Temos que pensar na opção de renovação de frota para veículos que poluam menos”, disse Izabella. A CNT defende que o Brasil implante um programa efetivo de renovação de frota e reciclagem, com foco nos veículos de carga em final de vida útil. Atualmente, a frota geral de veículos do transporte de carga tem, em média, 13,4 anos, conforme dados do RNTRC (Registro Nacional de Transportadores Rodoviários de Cargas). Se considerar a frota dos
A
motoristas autônomos, a idade sobe para 19,1 anos. Esses veículos antigos, com tecnologia ultrapassada, são muito mais poluentes. IPI Ao ser questionada sobre algumas medidas tomadas pelo governo federal que favorecem o maior número de carros nas ruas, como a redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para o setor automotivo, Izabella negou que sejam contraditórias em relação à sustentabilidade. Segundo a ministra, essas medidas foram tomadas para resolver um problema em curto prazo e evitar o desemprego. O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, também falou da necessidade de ser criar condições seguras e acessíveis para melhorar a situação dos grandes centros urbanos do país.
RIO MADEIRA Bancos devem investir também em hidrovias
“
CNT TRANSPORTE ATUAL
AGOSTO 2012
27
destres, ciclovias, veículos cas, segurança nas estradas BINDU LOHANI, VICE-PRESIDENTE DO BANCO ASIÁTICO DE DESENVOLVIMENTO
VINICIUS LADEIRA
US$ 175 bilhões ferrovias, vias hídricas, segurança nas estradas”, afirmou Lohani. A proposta é impulsionar o desenvolvimento econômico, proteger o ambiente e a saúde pública. “Esses compromissos sem precedentes podem salvar centenas de milhares de vidas, limpando o ar nas cidades, tornando as estradas mais seguras, reduzindo os congestionamentos e diminuindo o efeito nocivo dos transportes nas alterações climáticas”, disse o diretor-executivo do ONU-Habitat, Joan Clos. Segundo ele, o objetivo dessa iniciativa dos bancos é criar uma maior eficiência no transporte de cargas e de passageiros, estimulando o crescimento urbano e econômico sustentável. INICIATIVA Japão é referência na reciclagem de veículos SINDFLUVIAL/DIVULGAÇÃO
Japão discute reciclagem de veículos Japão mostrou a importância de se desenvolver um sistema de reciclagem de veículos. O país é referência mundial no assunto, e a taxa média de reciclagem por unidade é de 95%. Em um veículo que pesa 1,1 tonelada, só não são recuperados 55 kg, que vão para o aterro. A Lei de Reciclagem de Automóveis no Japão é de 2005. O tema foi debatido no Pavilhão do Japão, no Parque dos Atletas, e foi distribuído o livro “Reciclagem e Sustentabilidade na Indústria Automobilística”. Esse livro foi escrito pelo engenheiro aeronáutico Daniel E. Castro, doutor em engenharia de materiais e professor do Cefet-MG (Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais), e lançado em março deste ano na sede da CNT, em Brasília. Um dos capítulos, sobre a situação dos veículos de transporte de cargas no Brasil e a necessidade da
O
reciclagem, tem como autor o engenheiro Vinicius Ladeira, assessor governamental da CNT. A discussão sobre o tema na Rio+20 foi promovida pela Jica (Agência de Cooperação Internacional do Japão) – órgão do governo japonês responsável pela implementação da Assistência Oficial para o Desenvolvimento. A Jica apoia medidas em países em desenvolvimento. Em março, a agência participou de um seminário sobre reciclagem de veículos e renovação de frota promovido na CNT. O presidente da Fetranscarga (Federação do Transporte de Cargas do Estado do Rio de Janeiro), Eduardo Rebuzzi, destacou que o Japão é um exemplo para o Brasil em relação ao tema. “A frota antiga do Brasil causa acidentes, polui, aumenta engarrafamentos. É preciso ter um plano sério no país para se criar incentivos para a renovação e também investir na reciclagem.”
28
CNT TRANSPORTE ATUAL
AGOSTO 2012
E O TRANSPORTE C.ALVIM COSTA/FUTURA PRESS
CONGESTIONAMENTO Veículos particulares contribuem para aumentar gargalos no trânsito
Restrição ao carro e prioridade a pedestres essoas e veículos disputam o mesmo espaço nas grandes cidades. A melhoria da mobilidade e a escolha sobre as intervenções a serem implantadas devem passar necessariamente sobre a resposta à seguinte questão: qual a cidade que queremos? Para o consultor em estratégias urbanas e ex-prefeito de Bogotá, na Colômbia, Enrique Peñalosa, “uma boa cidade não é aquela onde os pobres andam de carro, mas sim aquela onde até os mais ricos
P
usam o transporte público”. Ele participou do evento Megacidades 2012 – Transporte, Energia e Desenvolvimento Urbano no Parque dos Atletas. A qualidade de vida no dia a dia da população, segundo Peñalosa, depende muito das medidas para se dar menos espaço para o carro. “Temos que determinar que tipo de vida nos torna mais felizes. Penso que uma boa cidade é aquela que nos convida a estar ao ar livre, e não em shoppings centers. Estar livre em
espaços públicos. É a cidade que atende nossas necessidades básicas e oferece outras coisas. Tem um sistema eficiente para bicicletas. Nos dá possibilidade de caminhar. Sem poder andar, ficaríamos em uma gaiola”, definiu. Na opinião do ex-prefeito de Bogotá, os veículos – sejam eles mais sustentáveis ou não – prejudicam a qualidade de vida das pessoas, trazem o conflito, a briga pelo espaço. Ele comenta que as vias de grande velocidade funcionam
como espécies de cerca, bloqueiam as cidades, não deixam as pessoas passarem, “fazem mal ao ser humano”. Criar meios que incentivem as caminhadas é essencial para a melhoria da qualidade de vida, avaliou o ex-prefeito de Bogotá. “Precisamos pensar nas pessoas, nas vias para os pedestres. É fundamental haver calçadas nas cidades, priorizar o uso de bicicletas. Onde não há calçada, não há democracia. Um secretário de transporte precisa pensar imediatamente em medidas para se reduzir o uso do carro. Mas muitos pensam exatamente o contrário. Definem meios de aumentar o uso dos veículos”, comentou. Peñalosa mostrou alguns exemplos que têm funcionado em Bogotá, como ruas que priorizam os pedestres e o sistema de ônibus Transmilênio, com seus corredores exclusivos, entre outras iniciativas. “O transporte em massa, metrôs e BRTs ajudam, mas não resolvem os congestionamentos. Congestionamentos só serão resolvidos com a restrição ao uso do carro”, concluiu.
CNT TRANSPORTE ATUAL
“
29
AGOSTO 2012
“
Uma boa cidade não é aquela onde os pobres andam de carro, mas sim aquela onde até os mais ricos usam o transporte público ENRIQUE PEÑALOSA, EX-PREFEITO DE BOGOTÁ
Sustentabilidade contribui para reduzir acidentes JUSSIARA COSTA
nvestir no transporte sustentável - construindo estruturas viárias de maior qualidade, retirando carros das ruas, atraindo a população para a bicicleta e para andar a pé - é importante para se obter ganhos na saúde e na redução de acidentes. “A infraestrutura adequada traz vias mais seguras, com cruzamentos mais seguros, calçadas, ciclovias. Tudo contribui para reduzir o número de mortos. Nos países mais pobres, os atropelamentos são mais comuns. E temos agora a epidemia das motos. É necessário tomar medidas para reduzir a poluição das cidades, que gera doenças”, disse o gerente da área de desenvolvimento sustentável da Opas (Organização Pan-Americana da Saúde), Luiz Augusto Galvão. Ele trabalha no escritório da OMS (Organização Mundial da Saúde), em Washington, nos Estados Unidos, e participou do evento paralelo à Rio+20, o painel Transporte Urbano Sustentável Salva Vidas. O evento foi promovido pela Embarq, uma organização de transporte sustentável, na sede da Fetranspor (Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro). Galvão comentou que a solução do transporte coletivo não é a mesma para todas as cidades e ressaltou que, se fôssemos falar em benefícios concretos para a saúde das pessoas, seria necessário implantar ciclovias. “O ideal mesmo era que todos nós andássemos de bicicleta. Faríamos
I
PEDALADA Uso de bicicleta deve estar inserido em projeto de transporte sustentável
um exercício diário, que seria ótimo também para a saúde mental. Em cidades como Amsterdã (Holanda), a central do metrô é quase um edifíciogaragem de bicicletas.” Segundo o gerente da Opas, nas Américas, o trânsito responde por aproxidamente 140 mil mortes e 5 milhões de feridos por ano. Galvão comentou sobre a Década de Ação para a Segurança Viária, estabelecida pela ONU (Organização das Nações Unidas), de 2011 a 2020. “Foi definido um plano de ações com cinco pilares. Se for aplicado, há uma estimativa de que será possível reduzir em 5 milhões o número de mortes no mundo.” Os pilares são: gestão da segurança no trânsito; infraestrutura viária adequada; segurança veicular; comportamento e segurança do usuário e atendimento pré e pós-hospitalar.
Ilats aponta prejuízos relatório “O Custo do Insustentável” foi lançado pela Ilats (Iniciativa Latino-Americana para o Transporte Sustentável), durante o evento “Transporte Sustentável nas Cidades do Futuro – Recomendações para a Rio+20”, promovido pela UITP (Associação Internacional de Transporte Público) e pela Fetranspor (Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro). A Ilats - que reúne instituições e profissionais do meio ambiente, do urbanismo e do transporte – também começou a atuar durante a Rio+20. Em mais de 50 páginas, estão listados diversos problemas causados pelo investimento inadequado em ações que permitam maior mobilidade e sustentabilidade. Segundo o
O
coordenador da Ilats, Luiz Antonio Cortez Ferreira, o documento agrega informações de externalidades do transporte. Ele explica que são os custos transferidos para outras pessoas que não estão diretamente envolvidas com o setor. “São os acidentes, os custos associados a problemas de saúde devido à poluição. Temos estudos comprovando que em São Paulo morrem mais pessoas a cada dia em consequência da poluição do que em números de acidentes”, disse Ferreira. O relatório traz números sobre as emissões de gases e aponta que “o desenvolvimento sustentável não será possível sem uma rápida evolução para sistemas de transporte de alta eficiência e baixo carbono”.
30
CNT TRANSPORTE ATUAL
AGOSTO 2012
E O TRANSPORTE
Estudo da Embarq mostra diretriz de BRT seguro EMBARQ/DIVULGAÇÃO
estudo “Segurança Viária em Corredores de Ônibus” foi apresentado durante um evento paralelo à Rio+20, pela Embarq – organização que trabalha pelo transporte sustentável. O documento mostra as diretrizes para integrar a segurança viária ao planejamento, projeto e operação de sistemas BRT (Bus Rapid Transit), corredores e faixas exclusivas de ônibus. Segundo o diretor-presidente da Embarq Brasil, Luis Antonio Lindau, doutor em transporte e especialista em mobilidade urbana, se for feita uma auditoria de segurança viária antes e durante a implantação do projeto, a experiência mundial mostra que a redução de acidentes pode ser de 30% a 40%. O Brasil vai passar por um grande programa de implantação de BRTs nos próximos anos. É importante pensar em medidas de engenharia para tornar os projetos mais seguros, ressalta Lindau. Travessia adequada de pedestres é uma das formas de se oferecer segurança. Faixas de BRTs no contrafluxo aumentam os riscos. “Nem todos BRTs vão salvar vidas. Para que isso aconteça, é fundamental pensar na implantação de uma engenharia de segurança”, disse.
O
As diretrizes do estudo estão baseadas em resultados de um projeto de pesquisa que avaliou segurança, operações e acessibilidade em grandes corredores de ônibus e sistemas BRT de várias cidades do mundo. Algumas conclusões principais são que os pedestres correspondem com a maioria das fatalidades e que a segurança depende da concepção global da via, e não apenas da infraestrutura dos ônibus. Os sistemas BRT com corredores centrais e estações fechadas são a opção mais segura. Os tipos mais comuns de colisões de veículos ocorrem quando carros fazem conversões proibidas à esquerda, atravessando os corredores e colidindo com ônibus que vêm em sentido contrário. Conforme o estudo, o BRT Macrobús, em Guadalajara, no México, registrou redução de acidentes em 46%, em média. Em Bogotá, depois da implantação do primeiro corredor Transmilênio, houve redução de 60% das mortes em uma avenida. Mas segundo o estudo, o corredor de ônibus da avenida Cristiano Machado, em Belo Horizonte (MG), “continua sendo a via com as maiores frequências de acidentes em toda a cidade, apesar da presença de
MENOS RISCO Travessias corretas aumentam a segurança em sistema BRT CYNTHIA CASTRO
ALERTA Luis Antonio Lindau apresentou estudo da Embarq durante a Rio+20
um corredor de ônibus em faixas centrais”. De qualquer forma, segundo Lindau, esses problemas da Cristiano Machado foram constatados na versão passada de corredor exclusivo, que ainda
não era BRT. “Agora, a versão BRT que está sendo implantada, com travessias de pedestres, vem com o objetivo de reverter o quadro anterior.” O estudo pode ser consultado no site www.embarqbrasil.org.
“
“
CNT TRANSPORTE ATUAL
AGOSTO 2012
31
A cidade está sendo preparada, e acredito que a implantação do BRS e do BRT será muito positiva para a mobilidade e para o meio ambiente
LELIS MARCOS TEIXEIRA, PRESIDENTE-EXECUTIVO DA FETRANSPOR
Reportagem faz visita guiada ao Transoeste MARIANA GIL/EMBARQ BRASIL/DIVULGAÇÃO
a segunda semana da Rio+20, a revista CNT Transporte Atual e a Agência CNT de Notícias foram convidadas, com jornalistas estrangeiros, a conhecer o BRTTransoeste, que começou a funcionar no início de junho. A previsão é que o Rio de Janeiro implante quatro sistemas de BRT (Bus Rapid Transit). Em 2013, o Transcarioca; em 2014, o Transolímpica, e até 2016, o Transbrasil. A viagem guiada foi em um trecho curto. Saiu da estação Alvorada, na Barra, e seguiu para o Recreio. Ao entrar nas modernas estações, já fica clara uma primeira diferença no conforto em relação aos pontos de ônibus do sistema convencional. Uma característica básica do BRT, o embarque em nível, oferece mais segurança e agilidade aos passageiros, que não precisam subir e descer degraus na hora de entrar no veículo. O pagamento antecipado da passagem contribui para a rapidez no deslocamento, e o corredor exclusivo permite o trânsito livre. O diretor-presidente da Embarq Brasil, Luis Antonio Lindau, comentou que o BRT do Rio é um exemplo importante para a melhoria da mobilidade urbana. “É o início de uma nova geração de BRT que trará grandes benefícios.”
N
BRT TRANSOESTE Sistema começou a operar em junho e já leva mais agilidade a passageiros
Fetranspor destaca ganho ambiental redução de emissões decorrentes da implantação de BRT e também dos BRS foram destacadas durante a Rio+20 pela Fetranspor (Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro). Os BRS são faixas exclusivas de ônibus, mais simples do que os BRTs, que estão sendo implantadas no Rio de Janeiro. “A cidade está sendo preparada, e acredito que a implantação do BRS e do BRT será muito positiva para a mobilidade e para o meio ambiente”,
A
disse o presidente-executivo da Fetranspor, Lelis Marcos Teixeira. No BRS de Copacabana, o gerente de Operações da Mobilidade Urbana, Guilherme Wilson, destaca que houve redução de 15% a 20% no consumo de combustível pelos veículos do transporte de passageiros. “Com a melhoria operacional, o ônibus que levava uma hora para passar no trajeto, agora gasta a metade do tempo, carregando mais passageiros e com velocidade operacional maior. Com isso, diminui o consumo. Gasta-se muito
combustível quando fica andando e parando”, disse Guilherme Wilson. No BRT Transoeste, que começou a operar em junho, Guilherme Wilson diz que houve redução de 65% nas emissões de poluentes locais. Entre os motivos, estão a renovação da frota que opera no BRT, com motores Euro 5, menos poluentes; a redução total de veículos nas ruas, pois os ônibus são articulados, e o aumento da velocidade média operacional, o que contribui para a eficiência energética.
32
CNT TRANSPORTE ATUAL
AGOSTO 2012
“
Os pesquisadores já mostraram priorizar os incentivos para que essas PEDRO TORRES, DO GREENPEACE
E O TRANSPORTE JUSSIARA COSTA
PREOCUPAÇÃO Novo navio do Greenpeace tem características para gastar menos combustível e tratar a água
Navio é construído com foco ambiental Rainbow Warrior (Guerreiro Arco-Íris) – um veleiro híbrido alimentado principalmente pela força dos ventos e energia solar – atraiu centenas de pessoas que passaram pelo Píer Mauá, durante os dias da Rio+20. Crianças e adultos ficaram horas na fila para conhecer o interior da embarcação do Greenpeace, construída com foco na sustentabilidade. Com 58 metros de comprimento e 52 metros de altura de
O
mastro, o navio tem pelo menos cinco características chamadas de pontos verdes. O design do casco foi desenvolvido para permitir alta eficiência, economizando combustível e possibilitando uma velocidade maior. O mastro em formato da letra A também favorece a eficiência energética, de acordo com os membros da organização não governamental. O navio permite um tratamento especial do lixo orgânico e tem tanques de armazena-
mento de resíduos. Há um sistema especial de purificação da água, e a tinta utilizada no calado é especial e não tóxica para não agredir os organismos do meio ambiente, conforme explicou a voluntária e membro da tripulação Elissama Menezes, do Estado da Bahia. Há quatro formas possíveis para movimentar o navio: somente o uso das velas, velas com sistema elétrico, somente elétrico e uso do óleo diesel. Mas, segundo a tripulação, na
maior parte do tempo, o navio utiliza somente as velas. Em condições favoráveis de vento, a velocidade pode chegar a cerca de 30 km/h. “Buscamos aproveitar o vento sempre que possível, diminuindo assim as emissões”, disse o coordenador da campanha de clima e energia do Greenpeace, Pedro Torres. O Rainbow Warrior foi lançado em outubro de 2011. Projetado por um engenheiro holandês e construído durante mais de um ano em Bremen, na Alemanha, foi feito especialmente para ser utilizado nas campanhas do Greenpeace. Nos primeiros meses após o lançamento, o navio-veleiro fez um tour pela Europa e pelos Estados Unidos. No Brasil, chegou primeiro à Amazônia, depois desceu pela costa. No Brasil, o Greenpeace completa duas décadas de atuação neste ano, juntamente com a realização da Rio+20 – 20 anos depois da conferência da ONU sobre meio ambiente na capital fluminense, em 1992. O mote da campanha 2012 no Brasil aborda dois temas principais: Desmatamento Zero e Clima e Energia.
CNT TRANSPORTE ATUAL
AGOSTO 2012
33
“
que é possível. Só falta mesmo o governo tecnologias, que já existem, sejam viáveis
Hamburgo: cidade verde e porto revitalizado projeto de uma cidade extremamente arborizada e que passa por um processo de revitalização da área portuária foi apresentado no Parque dos Atletas, no fórum Megacidades 2012 – Transporte, Energia e Desenvolvimento Urbano. O embaixador de Hamburgo para o Rio de Janeiro, Rolf Bohnhof, mostrou um pouco da proposta implantada na cidade no Norte da Alemanha. Segundo ele, as medidas são um bom exemplo de como uma cidade pode se modificar para levar mais qualidade de vida para a população. “O Hafen City engloba uma área que antes fazia parte do porto e se tornou uma das regiões mais modernas da cidade. São 157 hectares. É uma área muito usada para oferecer cultura para a população, e não há indústria. Quando a cidade começou a pensar em integrar a região, que continha indústrias e uma zona portuária grande, foi necessário criar meios para limpar esse espaço e também pensar no futuro”, disse o embaixador. Veio então a necessidade de implantar medidas que permitiriam maior mobilidade. Houve investimento em pontos para acesso de bicicletas e para integrar os meios de transporte na área urbana. Segundo ele, “não é necessário percorrer gran-
JUSSIARA COSTA
O
DEBATE Fórum Megacidades 2012-Transporte, Energia e Desenvolvimento Urbano ISTOCKPHOTO
des distâncias para se deslocar e ter mobilidade. É possível chegar de trem, de carro, de ônibus, com facilidade”. E há também um metrô de superfície. “Essa região está totalmente integrada ao centro mais antigo.” Segundo o embaixador, o projeto, que começou a ser concebido há duas décadas, ainda precisará de mais 15 anos para ser totalmente implantado. Ele comentou que há uma preocupação constante em deixar Hamburgo mais verde e agradável, com arborização intensa e investimento em transporte. Bohnhof disse que a cidade tem investido em tecnologia e há dez anos desenvolve um
PORTO DE HAMBURGO Região portuária de cidade alemã foi revitalizada
programa que coloca ônibus a hidrogênio nas ruas. Ele citou a instalação de prédios extremamente modernos e preocupados com a sustentabilidade. O embaixador destacou que
Hamburgo é um importante local de negócios do norte da Europa e fica a menos de duas horas e meia de viagem para o Reino Unido, Escandinávia e leste europeu.
CNT TRANSPORTE ATUAL
AGOSTO 2012
“
“
34
A ampliação do comércio com a China é infinita e pode crescer bastante, como mostra essa questão dos aviões MINISTRO DA FAZENDA, GUIDO MANTEGA
E O TRANSPORTE EMBRAER/DIVULGAÇÃO
LEGACY 650 Jato executivo será produzido na cidade de Harbin
Embraer produzirá jatos executivos na China lém das discussões ambientais, a Rio+20 foi palco de realização de acordos comerciais entre países. A Embraer irá produzir na China os jatos executivos Legacy 600 e 650 e deve aumentar as exportações de aeronaves para o gigante asiático. A medida, anunciada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, durante a conferência da ONU, está inserida no Plano Decenal Estratégico de Colaboração entre Brasil e China, firmado pe-
A
la presidente Dilma Rousseff e pelo primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao. O plano reúne um conjunto de iniciativas para a aproximação tecnológica, comercial e agrícola dos dois países. Também foram assinados na Rio+20 protocolos para o lançamento de satélites sino-brasileiros. Um deles está previsto para ser lançado neste ano, conforme o ministro da Fazenda. E o outro, daqui a um ano. "São satélites meteorológicos que pos-
sibilitam o desenvolvimento tecnológico aeroespacial a ser compartilhado pelos dois países", explicou. Sem detalhar, Mantega citou que a China quer implantar projetos automobilísticos no Brasil e investir na área de petróleo e gás. Outra cooperação, segundo o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, será para o programa Ciência sem Fronteira. Também foi anunciada a abertura de vagas de intercâmbio entre os dois países.
Será aberto no Brasil um centro cultural para difundir a cultura chinesa. Os dois ministros brasileiros e outros 13 chineses estiveram presentes durante a oficialização dessas parcerias. "A ampliação do comércio com a China é infinita e pode crescer bastante, como mostra essa questão dos aviões. O que é bom porque hoje exportamos principalmente commodities e queremos exportar produtos manufaturados. Mas, mesmo ao falar das commodities, apesar da crise, a China não diminuiu a importação do Brasil", afirmou Mantega. Ele lembrou que o país asiático é o principal parceiro comercial do Brasil, com um comércio que representa US$ 70 bilhões. A Embraer informou que o acordo foi assinado com a Avic (Aviation Industry Corporation of China) para a fabricação dos jatos, na cidade de Harbin, usando infraestrutura, recursos financeiros e mão de obra da joint venture Harbin Embraer Aircraft Industry Co., Ltd. (Heai), que iniciou as operações em 2002. A entrega do primeiro jato executivo deve ser no final de 2013.
CNT TRANSPORTE ATUAL
AGOSTO 2012
35
FOTOS CYNTHIA CASTRO
RIOCENTRO Local concentrou programação oficial
CÚPULA DOS POVOS Índios participaram
IMPRENSA Mais de 4.000 jornalistas foram credenciados
Conferência reuniu mais de 3.000 eventos ais de 40 mil pessoas passaram pelo Riocentro entre os dias 13 e 22 de junho, onde ficou concentrada a programação oficial da Rio+20. Também teve programação no Parque dos Atletas, Píer Mauá, Aterro do Flamengo, Forte de Copacabana e outros locais. Foram pelo menos 500 eventos oficiais e 3.000 não oficiais. No Riocentro, estiveram presentes delegações de 188 Estados-Membros e três observadores. A conferência reuniu mais de cem chefes de Estado e de
M
governo. Mais de 4.000 jornalistas foram credenciados e 5.000 pessoas trabalharam no Riocentro diariamente. Somente o serviço de segurança teve 4.363 profissionais. As ruas do Rio de Janeiro se transformaram em palco de diversas manifestações. Muitas na região onde ficou a Cúpula dos Povos por Justiça Social e Ambiental - um evento organizado pela sociedade civil. A Rio+20 marca os 20 anos da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
(Rio 92 ou Eco 92). Segundo os representantes da Cúpula dos Povos, “nessas duas décadas, a falta de ações para superar a injustiça social e ambiental tem frustrado expectativas e desacreditado a ONU”. A Cúpula considera que “a pauta prevista para a Rio+20 oficial – a chamada ‘economia verde’ e a institucionalidade global – é considerada como insatisfatória para lidar com a crise do planeta”. No último dia da conferência, a presidente Dilma Rousseff disse que o texto final da
Rio+20 é um ponto de partida. “Um documento de conferência sobre o meio ambiente e sobre desenvolvimento sustentável, biodiversidade, erradicação da pobreza é, necessariamente, um ponto de partida, porque é até onde as nações chegaram no seu conjunto. Agora, o que nós temos de exigir é que, a partir desse documento, as nações avancem. O que nós não podemos conceber é que alguém fique aquém dessa posição, além dessa posição todos devem ir.” l
36
CNT TRANSPORTE ATUAL
AGOSTO 2012
CNT TRANSPORTE ATUAL
AGOSTO 2012
37
FOTOS LIVIA CEREZOLI/DIVULGAÇÃO
PERFIL
Entre o mar e a literatura Marinheiro já tem 14 livros publicados. A maior parte deles trata da importância da preservação ambiental POR
reportagem da CNT Transporte Atual chegou a Una, na Costa do Cacau, litoral sul da Bahia, com a missão de encontrar o marinheiro-escritor Joilson Maia. Uma volta rápida pela pequena cidade de pouco mais de 24 mil habitantes e já estávamos na casa simples, de paredes avermelhadas e grades nas janelas. A recepção foi carregada de entusiasmo por um homem falante e cheio de histórias para contar, mas um pouco tímido em alguns momentos. O objetivo era conhecer a rotina desse pai de família, marinheiro, trabalhador
A
LIVIA CEREZOLI DE UNA (BA)
do setor de transporte, escritor. Joilson é daquelas pessoas que fazem de tudo para realizar o próprio sonho. O dele? Permitir que as gerações futuras vivam em um mundo melhor. Clichê ou não, a verdade é que ele luta, e muito, para isso. Há 19 anos, Joilson trabalha como marinheiro fazendo a travessia de turistas e trabalhadores do continente para o resort Transamérica, na ilha de Comandatuba. Tem habilitação da Capitania dos Portos da Bahia para pilotar pequenas embarcações que naveguem a até 30 milhas náuticas da costa, o equivalente a 55,56 km.
Nascido na terra que inspirou Jorge Amado, Ilhéus, ainda criança foi viver em Colônia, uma região de Una povoada por japoneses. O pai agricultor foi trabalhar nas fazendas de cacau, produto que naquela época movimentava a economia da região. O chamado ouro negro – o cacau era assim conhecido antes do petróleo – hoje já não enriquece tanto a cidade. No final dos anos 1980, o ataque da praga “vassoura de bruxa” destruiu os cacaueiros da região e até hoje a recuperação não foi completa. Esse, inclusive, é o enredo de “Memórias Sofridas”, um dos 13
38
CNT TRANSPORTE ATUAL
AGOSTO 2012
DEDICAÇÃO Nos dias de folga, Joilson Maia desenvolve projetos de incentivo à leitura nas escolas
livros que Joilson já publicou. Contando as agonias reais de muitos moradores da Una durante uma época difícil, o autor consegue ainda ensinar sobre a preservação ambiental ao incluir no livro a história de um garoto que foi morar no lixo. Apaixonado por literatura, de família muito pobre e sem conseguir comprar livros, quando criança, Joilson se virava como podia. Na escola, emprestava os exemplares dos colegas e chegava a decorar as histórias em um único dia para contar aos dez irmãos em casa. “Eles sempre me esperavam ansiosos”, diz. Foi depois disso
que começaram a surgir as próprias histórias. A maioria delas é voltada para o público infantil e trata de questões ambientais. Para ele, é possível mudar a forma como as pessoas se relacionam com o meio ambiente por meio da leitura. “Quero ensinar as crianças a lutarem por um mundo melhor, só que, para isso, elas precisam saber qual é o papel delas aqui. Não podemos simplesmente sair consumindo tudo sem ter o cuidado com o lixo que produzimos, por exemplo.” O marinheiro de 39 anos trabalha oito horas por dia, tem carteira assinada e um salário
que dá para manter a casa bem equipada, mas sem luxos, onde vive com a mulher, Rute, e o filho Júnior, de 13 anos, a inspiração para muitas de suas histórias. “Quando ele nasceu, eu passava horas contando as histórias que eu lia e outras que eu criava.” Numa das travessias de Joilson até a ilha de Comandatuba, na embarcação em que estavam os operários que trabalham na construção de um centro de convenções no resort, o marinheiro assumiu a função de contador de história e, como já é de praxe na região, foi aplaudido pelos ouvintes. “Uma porção de terra improdutiva pediu para
ser desligada de uma montanha. A montanha negou seu pedido, mas depois de um espirro acabou transformando a porção de terra em pó. Quando caiu no mar, ela se transformou novamente em terra e passou a ser chamada de Comandá-Tubá, dando origem à ilha de Comandatuba, onde vocês trabalham hoje”, foi a história que ele contou durante a travessia. Com o propósito de ser um exemplo para as crianças acreditarem nos seus sonhos, o marinheiro-escritor utiliza a sua folga semanal para desenvolver projetos de leitura e contação de histórias nas escolas públicas e
CNT TRANSPORTE ATUAL
AGOSTO 2012
39
LIVROS PUBLICADOS INFANTOJUVENIS “Vida de Adolescente” (2002) “Menino sem Face” (2003) “O Prazer de Viver na Ilha” (2004) “Memórias Sofridas” (2005) INFANTIS “Pulga Mague e Formiga Thuí” (2006) “O Encanto” (2007) “O Espirro da Montanha” (2008) “A Ilha Encantada” (2008) “Um Dia e Meio de Reinado da Formiga Thuí” (2009) “O Dia da Gota-d’Água” (2009) “O Retorno da Formiga Thuí” (2009) “O Jequitibá” (2009) “O Menino e a Gota-d'Água” (2010) “O Menino e a Gota-d'Água II” (2011) FILMES “O Menino e a Gota-d’Água” “O Menino e a Gota-d’Água II” Para adquirir os livros Editora: Via Litterarum - (73) 4141-0748 ou vleditora@gmail.com Com o autor: maiamaiajm@hotmail.com maiabooks@ig.com.br maiabooks@gmail.com
particulares da região de Ilhéus. “Quero ser para essas crianças o exemplo de alguém que acredita em um sonho e vai em busca da realização dele.” E na escola, depois de uma sessão de histórias, dá para ver pelo reconhecimento das crianças que o sonho de Joilson está mesmo sendo realizado. Heloísa Almeida, de 6 anos, revela nos olhos que gostou do que ouviu. Enquanto tenta explicar a mensagem que aprendeu depois de ouvir a história do caçador é interrompida pelo colega Guilherme Marques. “Eu aprendi que não devemos matar os animais”, diz o garoto.
Na sala cheia, gritos pedem que Joilson conte a sua história mais famosa: “O Menino e a Gota-d’Água”, livro lançado em 2010 que já virou filme e foi distribuído no estande da CNT e do Sest Senat durante a Rio+20, Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada em junho, no Rio de Janeiro (leia mais na página 40). “Aprendi muito com as histórias dele. Sei que a água é importante e que não devemos desperdiçá-la”, diz Letícia Matos Cruz. Para a professora Lucileide Alves Santos, esse retorno é o que mais vale. “Esse tipo de ati-
vidade é importante para desenvolver a criatividade e até a escrita das crianças.” O também professor Carlos Magno de Melo Ramos já utilizou alguns livros de Joilson em trabalhos dentro e fora da sala de aula e, de acordo com ele, o fato de as histórias tratarem, além da preservação ambiental, de questões sociais da região de Una, desperta ainda mais o interesse dos alunos e permite que eles conheçam mais o lugar onde vivem. “Temos uma grande deficiência em relação à leitura. Precisamos incentivar nossos alunos a gostar dos livros, e o Joilson tem contribuído para isso.”
Inspirado pelo conterrâneo Jorge Amado, por Lima Barreto, Euclides da Cunha, Odete de Barros, entre tantos outros, o marinheiro-escritor prefere as madrugadas para escrever. Na rotina dele, quando o relógio marca 5h é o momento exato de começar a produzir os textos. Diariamente, são quase três horas de dedicação. “Só mudo essa rotina quando estou no revezamento noturno no meu trabalho.” Sem muito esforço, as ideias fluem e os enredos vão sendo montados, algumas vezes baseados em fatos corriqueiros da cidade. Em outras, na imaginação fértil do escritor. “Tenho muita história na minha cabeça pronta para colocar no papel.” A infância pobre nas fazendas de cacau e a falta de oportunidade de concluir a sonhada faculdade de direito – ele terminou o ensino médio – não foram as maiores dificuldades enfrentadas por Joilson. Segundo ele, o difícil mesmo foi conseguir publicar o primeiro livro (“Vida de Adolescente”, em 2002) e fazer com que as pessoas acreditassem na utilidade dele. Dez anos depois, o desafio continua o mesmo a cada novo livro publicado, mas ele não desiste. “A história que eu ainda quero contar? É uma história de superação, de sucesso, de esperança, porque eu acredito na vida.”
40
CNT TRANSPORTE ATUAL
AGOSTO 2012
Escritor baiano atrai atenção na Rio+20 POR CYNTHIA
e Una (BA), Joilson Maia seguiu para o Rio de Janeiro, onde participou da Rio+20. No estande da CNT e do Sest Senat montado no Píer Mauá, ele distribuiu e autografou o livro infantil “O Menino e a Gota-d´Água” e chamou a atenção de quem passava pelo local. “Estou surpreso com todas as pessoas interessadas na mensagem. O pessoal está encantado”, disse Joilson. O livro narra o encontro do menino Duca e uma gota que representa o res-
D
CASTRO E ÉRICA ABE
tante de água pura da Terra. Ela pede ajuda para que as nascentes não sejam poluídas. Em um primeiro momento, Duca desconfia do pedido, mas depois aceita o desafio. Entre os visitantes do estande que se encantaram com o livro, estão a professora de biologia Poliana Guimarães, 28, e a amiga Fernanda Ilária, 35. Elas são colegas de mestrado em ciências ambientais. Nascidas no sertão baiano, conhecem bem a falta que faz a disponibilidade de água.
E, por isso, destacaram ainda mais a importância do livro de Joilson para conscientizar as crianças. “Estou levando alguns exemplares para distribuir para os meus alunos. Lá onde moro, em Malhada de Pedras (600 km de Salvador), vivemos esse problema. Para lavar roupa e tomar banho, a água é salobra e não é tão limpa. Para beber, usamos a água de caminhão-pipa. É muito importante trabalhar pela preservação desse recurso”, diz Poliana. No ano passado, Joilson
lançou “O Menino e a Gotad’Água II”, que retrata a situação do rio Cachoeira, em Itabuna (BA). “Já estou preparando a sequência da série. Vou falar dos rios Tietê (SP) e São Francisco, que nasce em Minas Gerais e atravessa o Nordeste.” Em maio , os dois livros sobre a água viraram um curta-metragem de animação, de 12 minutos. O filme está sendo distribuído em escolas públicas e instituições que trabalham com a preservação ambiental na região de Ilhéus. l JUSSIARA COSTA
CONSCIENTIZAÇÃO Joilson Maia distribuiu livro infantil sobre a importância da água
44
CNT TRANSPORTE ATUAL
AGOSTO 2012
TRANSPO AMAZÔNIA
POR
LIVIA CEREZOLI DE MANAUS (AM)
reservar a navegabilidade dos rios da bacia amazônica, planejando a construção de eclusas, investir em infraestrutura rodoviária, reduzindo assim o isolamento da região Norte do país e aliar o desenvolvimento econômico com a preservação ambiental. Essas são as principais recomendações para desenvolver o transporte de cargas e de passageiros na região amazônica que constam na Carta de Manaus, documento assinado por representantes do setor de transporte durante a 1ª Transpo Amazônia – Feira e Congresso Internacional de Logística, realizada na capital do Amazonas entre os dias 26 e 28 de junho. Ao todo, a Carta contém 16 propostas de melhorias em infraestrutura e operações consideradas essenciais para a região. O documento foi encaminhado ao governo federal e tem a pretensão de ser a base para os investimentos futuros no Norte do país. Realizada pela Fetramaz (Federação das Empresas de Logística, Transporte e Agenciamento de
P
ABERTURA O presidente da
Propostas Evento em Manaus apresenta os principais desafios Cargas da Amazônia), a Transpo Amazônia contou com o apoio institucional da CNT e reuniu especialistas em logística e representantes de diversas áreas do setor de transporte do país que discutiram os desafios para a realização do transporte em uma área tão complexa e carente de infraestrutura.
A necessidade de integrar os diversos modais, favorecendo o transporte na Amazônia, foi destacada pelo presidente da CNT e do Sest Senat, senador Clésio Andrade, durante a cerimônia de abertura do evento. “Saber utilizar o potencial de cada sistema é o grande segredo para o desen-
volvimento da atividade. A multimodalidade ainda é pouco utilizada no país devido à falta de integração, mas ela é fundamental para a manutenção e a expansão do nosso crescimento econômico”, afirma ele. Abrigando a maior parte da floresta amazônica, a região Norte
VALMIR LIMA
NECESSIDADE
Investimentos ainda são baixos
CNT e do Sest Senat, senador Clésio Andrade, discursa na Transpo Amazônia
A grande cobrança de empresários, representantes do setor de transporte e especialistas em logística durante a 1ª Transpo Amazônia foi a falta de um plano de investimentos mais audacioso para a região Norte. O balanço de um ano do PAC 2, divulgado pelo governo federal em março, mostra que a previsão de investimentos em todos os sete Estados do Norte, entre 2011 e 2014, é de R$ 9,7 bilhões. De acordo com Paulo Fleury, diretor-presidente do Ilos, os valores previstos no PAC 2 são insuficientes para suprir todas as deficiências existentes. “Uma análise desses investimentos realizados e previstos mostra que a região não foi beneficiada à altura de sua importância estratégica para o Brasil”, afirma. Pelo Plano CNT de Transporte e Logística, que teve
sua quarta edição lançada em 2011, o investimento mínimo necessário em infraestrutura de transportes na região é de R$ 55,5 bilhões em obras hidroviárias, rodoviárias, aeroportuárias, ferroviárias e de integração entre os Estados que compõem a região e o restante do país. Dos nove eixos estruturantes propostos pelo plano, sete estão na região Norte. O Pará é o Estado que deveria receber o maior volume de investimentos. Ao todo são R$ 19,4 bilhões, dos quais R$ 5,1 bilhões deveriam ser investidos na abertura de canais hidroviários. No Amazonas, o investimento mínimo previsto pelo Plano CNT de Transporte e Logística é de R$ 10,3 bilhões. A maior parte, R$ 1,7 bilhão, também deve ser aplicada em obras hidroviárias.
para crescer enfrentados pelo transporte de cargas na região Norte do país ocupa quase 45% de todo o território nacional. São aproximadamente 3,8 milhões de quilômetros quadrados cortados por apenas 17,9 mil quilômetros de rodovias pavimentadas. As ferrovias são praticamente inexistentes, os aeroportos e os portos pouco estruturados, e os quase 22 mil qui-
lômetros de rios navegáveis são mal aproveitados. “Nosso grande desafio aqui é chegar o mais rápido com o menor custo possível, mas para isso precisamos investir em infraestrutura. Há muitos anos, o Brasil não faz um plano de desenvolvimento hidroviário. Esse tipo de
transporte é um dos mais baratos, mais econômicos e mais sustentáveis do mundo”, afirma Irani Bertolini, presidente da Fetramaz e diretor-presidente da Transportes Bertolini, empresa que realiza o transporte rodofluvial de mercadorias entre as regiões Sul, Sudeste e Norte.
De acordo com ele, o custo de abertura e de manutenção dos canais fluviais chega a ser até 15% mais barato do que a construção ou a manutenção de rodovias, mas é preciso ter planejamento. A construção de usinas hidrelétricas tem prejudicado a navegabilidade dos rios. “As eclusas devem fazer
46
CNT TRANSPORTE ATUAL
AGOSTO 2012
ZONA FRANCA
Escoar produção é desafio Com faturamento de R$ 21,4 bilhões registrado nos quatro primeiros meses deste ano, o PIM (Polo Industrial de Manaus) tem como principal desafio a logística, que envolve tanto o recebimento de insumos como a entrega de produtos acabados. “O Amazonas é o maior e o menor Estado do país ao mesmo tempo. Com uma área de 1,6 milhão de quilômetros quadrados, toda a sua economia é produzida em uma área de pouco mais de 50 quilômetros quadrados, cercada por rios e com pouquíssimas rodovias. Por isso, discutir as soluções logísticas é tão importante para agregar competitividade ao país, reduzindo as importações e gerando empregos”, afirmou o superintendente da Zona Franca de Manaus, Thomaz Nogueira, durante a abertura da 1ª Transpo Amazônia. De acordo em ele, os insumos utilizados na produção no Polo Industrial che-
gam via Canal do Panamá, são levados até Belém e depois seguem para Manaus. Um trajeto longo e demorado, todo realizado por meio de navios e balsas. Para Nogueira, o ideal seria que esses produtos chegassem por rotas mais curtas, via Equador ou Peru, mas para isso é preciso investir em melhorias na infraestrutura tanto de rodovias como das hidrovias da região. Criada há 45 anos, a Zona Franca de Manaus tem mais de 600 empresas em atuação que geram aproximadamente 120 mil empregos. Entre os principais produtos produzidos estão motocicletas, aparelhos de arcondicionado, micro-ondas e eletroeletrônicos, como televisores, receptor de sinal de TV e telefone celular. A expectativa é que sejam movimentadas 3,7 milhões de toneladas de produtos este ano, um crescimento de 6% em relação a 2011. BALSA Transporte hidroviário é o principal modal para
parte dos projetos de barragens e, além disso, é preciso investir em sinalização das nossas hidrovias”, diz Bertolini. Na visão do executivo, tão essencial quanto os investimentos no transporte fluvial é a conclusão das BR-319, BR-163 e BR-230 para acabar com o isolamento principalmente da cidade de Manaus, onde só se chega de avião ou barco, partindo de outras regiões do Brasil. “Temos certeza que essas rodovias, se finalizadas, mudariam
a logística da Amazônia. A entrega de produtos e o escoamento das mercadorias produzidas na Zona Franca de Manaus ganhariam mais agilidade”, afirma. Atualmente, as cargas que chegam a Belém com destino a Manaus levam até cinco dias para serem transportadas pelas balsas carreteiras da Transportes Bertolini lançadas diariamente no rio Amazonas. No sentido contrário, devido à correnteza do rio, o tempo é menor, mas mes-
mo assim são necessários três dias para a travessia. O sistema de balsas utilizado pela empresa permite o transporte do semirreboque fechado, sem a necessidade de descarregar a mercadoria, o que agiliza o procedimento. Quando as balsas chegam ao porto de Belém, os cavalos mecânicos são engatados e a viagem segue por meio de rodovias para o Sul e Sudeste do país. A Bertolini também realiza o transporte de grãos e matérias-
primas para a fabricação de cimento utilizado na construção de usinas hidrelétricas pelas hidrovias dos rios Madeira e Amazonas, entre Porto Velho e Santarém. Mesmo considerando a importância do modal rodoviário, o consultor em logística e diretor da MB Consultoria, Marx Alexandre Correa Gabriel, acredita que há outras prioridades na região. “Não sou contra a conclusão das rodovias, mas em longo prazo elas não trarão benefícios para a
CNT TRANSPORTE ATUAL
TRANSPORTES BERTOLINI/DIVULGAÇÃO
a movimentação de cargas na região
região. Onde já existe o traçado, e se a legislação ambiental permitir, as rodovias devem ser finalizadas mais pelo desenvolvimento social que podem trazer do que pelas vantagens logísticas. Precisamos ampliar a capacidade de movimentação de cargas dos terminais portuários e aeroportuários”, destaca. Integração modal De acordo com Paulo Fleury, diretor-presidente do Ilos (Instituto
AGOSTO 2012
47
PESQUISA CNT DE RODOVIAS
ANSEIO Região espera pela reinstalação de rodovias, como a BR-319, no Amazonas
de Logística e Supply Chain), o transporte na Amazônia deve ser pensado de forma ampla, e a utilização da multimodalidade pode trazer bons resultados, já que nem sempre é possível abrir estradas ou construir ferrovias e pistas de pouso devido às restrições ambientais e ao isolamento do restante do país. “As péssimas condições de conservação das rodovias e a falta de ferrovias tornam a região altamente dependente da navegação fluvial, mas ainda exis-
tem amplas possibilidades de aumentar o uso dos rios por meio de investimentos que maximizem o aproveitamento da multimodalidade na região.” Como a economia da região tem uma diversidade de produtos que vão desde a produção de eletroeletrônicos e veículos de duas rodas na Zona Franca de Manaus até a exploração de petróleo em Coari (AM) e de minério de ferro na serra dos Carajás (PA), passando pela agropecuá-
ria no Pará e em Rondônia, a utilização de diferentes modais pode garantir até mesmo ganhos de produtividade e redução de custos, acredita Fleury. Levantamento feito pelo Ilos mostra que cada tonelada transportada por 1.000 km em rodovias chega a custar R$ 104. Nas ferrovias, esse custo cai para R$ 62 e nas hidrovias, para R$ 46. “A escolha do modal vai depender do valor agregado de cada produto.” l
48
CNT TRANSPORTE ATUAL
AGOSTO 2012
REUNIÃO DA CIT
O transporte nas Américas A insegurança e a falta de qualificação e de infraestrutura estiveram entre os principais assuntos discutidos em assembleia realizada em Manaus POR LIVIA
epresentantes do setor de transporte de 18 países das três Américas (Sul, Central e Norte) estiveram reunidos para a 17ª Assembleia da CIT (Câmara Interamericana de Transportes), realizada entre os dias 27 e 28 de junho, durante a 1ª Transpo Amazônia, em Manaus (AM), para discutir os principais desafios enfrentados pela atividade transportadora no continente. Temas recorrentes, como o roubo de cargas, a falta de in-
R
CEREZOLI
fraestrutura adequada e de profissionais capacitados, a frota antiga, os altos impostos pagos, a não integração das fronteiras e a falta de uniformidade nos controles de peso e nas medições que dificulta o transporte rodoviário de cargas entre os países membros da CIT, foram debatidos durante a assembleia. Segundo Paulo Vicente Caleffi, secretário-geral da CIT reeleito para o mandato 20122014, mesmo que existam parti-
cularidades, os desafios nos diversos países são muito parecidos e pedem soluções compartilhadas, como é o caso da unificação das fronteiras. “Reduzir o excesso de burocracia nas nossas aduanas poderia aumentar o fluxo de bens circulando na região das Américas e, assim, movimentar ainda mais a economia dos países”, afirma ele. Um estudo apresentado por Martin Rojas, vice-presidente de segurança e opera-
ção da ATA (Associação Americana de Caminhões), sugere que a integração das aduanas seja inicialmente realizada em cada um dos blocos econômicos existentes, como o Mercosul (Mercado Comum do Sul, formado por Brasil, Paraguai, Uruguai, Argentina e Venezuela), o Pacto Andino (Bolívia, Colômbia, Equador e Peru) ou o Nafta (Tratado Norte-Americano de Livre Comércio, que engloba Estados Unidos, México e Canadá), para depois in-
CNT TRANSPORTE ATUAL
AGOSTO 2012
49
VALMIR LIMA
REUNIÃO Paulo Vicente Caleffi, reeleito secretário-geral da CIT, abre a 17ª Assembleia Geral da entidade
tegrar todo o continente. “Essa seria uma ideia inicial para reduzir os atrasos causados nas fronteiras devido à liberação das cargas. Mas é preciso ter vontade e força política para isso acontecer. O transporte impulsiona a competitividade, o progresso, o bem-estar econômico e a paz na América Latina”, diz Rojas. No entanto, ainda não há consenso entre os países para que haja essa integração. O roubo de carga também foi
um dos temas debatidos durante a assembleia da CIT. Assim como o Brasil, a maioria dos países enfrenta esse tipo de problema e busca maneiras de solucioná-lo. No Equador, entre janeiro e agosto de 2011, foram registradas 432 denúncias e 159 pessoas foram presas pelo envolvimento nesse tipo de crime. Segundo Edgar Mora, secretário do Equador na CIT, um sistema de controle por meio de satélite, implantado neste ano pelo governo equatoriano em
parceria com as empresas privadas, já permitiu a redução de 10% no número de roubos de cargas nas estradas do país. “O sistema integrado faz o rastreamento do caminhão, e a qualquer desvio de rota a policia é acionada. O gerenciamento é todo feito pelo governo, e o único custo para as empresas é a implantação do sistema de GPS nos veículos”, explica Mora. No Panamá, a grande preocupação é com a falta de mão de obra especializada. As gran-
des obras que estão sendo realizadas, como a construção de novas eclusas no Canal do Panamá, intensificaram o problema. Há pelo menos dois anos, empresas do setor de transporte estão com caminhões parados nos pátios. “Acredito que temos uma deficiência de pelo menos 1.500 motoristas no país”, diz Oscar Grenald, presidente da CIT Panamá. De acordo com ele, diferentemente do que acontece no Brasil, no Panamá não existe
50
CNT TRANSPORTE ATUAL
AGOSTO 2012
COMEMORAÇÃO
Câmara completa uma década de trabalho Os 10 anos de atuação da CIT também foram lembrados durante a realização da 17ª edição da assembleia. Criada em junho de 2002 pela CNT (Confederação Nacional do Transporte) com o objetivo de fortalecer o transporte realizado nas Américas, a CIT vem promovendo a troca de experiências entre seus países membros. Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela
nenhuma escola de formação profissional voltada para a atividade, e o sistema de habilitação dificulta ainda mais a contratação de motoristas. No Panamá, a licença para dirigir caminhões é obtida por etapas. O motorista primeiro deve saber dirigir veículo de passeio para depois subir de categoria conforme o tamanho do veículo. “Para alguns tipos de caminhões, são exigidos quase oito anos iniciais de licença”, explica Grenald. Para tentar minimizar o problema, representantes do setor de transporte no Panamá conseguiram suspender,
têm representação na CIT. Os Estados Unidos participaram das últimas reuniões como país observador. Nelson Chavez Vallejo, presidente do Capítulo Equador da CIT, lembrou que esses 10 anos têm contribuído para a conquista de uma América integrada, sem ambições e interesses particulares pelo menos na atividade transportadora. “Lutamos juntos pela segurança na atividade e pela formação de nossos profissionais. Hoje, temos certeza que cumprimos nossa missão diante do crescimento econômico registrado em
desde março deste ano, a legislação que determina as regras para a obtenção da licença. Com isso, já foi possível colocar mais mil novos motoristas no mercado, mas Grenald diz que ainda é pouco. “Estamos trabalhando para que a suspensão se estenda por pelo menos mais três meses.” No Brasil, o Sest Senat tem trabalhado, desde 1994, na capacitação do setor. Ao todo, são mais de 20 cursos oferecidos em todas as unidades em funcionamento no país. O programa Formação de Novos Motoristas para o Mercado de Trabalho, lançado no ano pas-
nossos países membros no último ano. Mantemos nosso compromisso de seguir nesse caminho e compartilhar a nossa experiência com as próximas gerações”, afirmou ele. Anualmente, a CIT realiza duas assembleias gerais com a participação dos países membros e convidados, além de desenvolver programas e cursos nacionais e internacionais de pósgraduação em logística e transporte, simpósios e seminários para discutir e elaborar soluções que tenham como objetivo a integração regional.
sado pelo Sest Senat, vem preparando novos profissionais para o mercado. A falta de infraestrutura foi o terceiro tema debatido durante a assembleia. Para Victor Marquina Mauny, presidente da CIT Peru, falta uma ação efetiva dos governos, já que esse é um assunto recorrente em inúmeros países. “O porto de Callao, o mais importante do Peru, registrou crescimento de 17% no último ano, mas a péssima qualidade de nossas rodovias pode frear esse índice”, diz ele. Segundo Mauny, apenas 20% das rodovias peruanas têm as-
falto. O restante são estradas precárias que atravessam regiões montanhosas, provocando uma alta nos custos dos fretes realizados no país. A transposição de alguns trechos só pode ser realizada em caminhões pequenos. ONU Na assembleia ainda foi apresentada a Carta de Manaus, documento divulgado na abertura da Transpo Amazônia e assinado por todas as entidades presentes no evento, recomendando ações efetivas para permitir o desenvolvimento do transporte na região amazônica. A carta foi enviada à ONU (Organização das Nações Unidas) para reforçar o pedido da CIT de ser aceita como organização observadora junto à UNCTAD (Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento). Até o fechamento desta edição, a decisão sobre o pedido não havia sido divulgada. “Já somos membros da OEA (Organização dos Estados Americanos) desde 2011 e queremos reforçar nossa atuação integrando a ONU. Nosso objetivo é ser o interlocutor do transporte com todas essas organizações”, afirma Caleffi. l
52
CNT TRANSPORTE ATUAL
AGOSTO 2012
FERROVIA
Isso aqui está bom demais Projeto conhecido como Transbaião percorre 272 km levando a cultura e a cidadania a municípios baianos POR
turismo ferroviário brasileiro vem conquistando espaço com iniciativas em todo o país. O Transbaião, um dos projetos mais recentes do segmento, atrai e encanta o público do interior baiano, levando a cultura junina para municípios cortados pela malha da FCA (Ferrovia CentroAtlântica) gratuitamente. A concessionária é parceira do empreendimento, que percorre três regiões da Bahia, com paradas em 13 cidades por ano. O projeto atingiu cerca de 100 mil pessoas em seus dois anos de funcionamento. A FCA,
O
LETICIA SIMÕES
responsável pela administração da ferrovia, revitalizou a linha férrea e doou duas locomotivas e três carros de passageiros para que o Transbaião entrasse em operação. A empresa cede profissionais para o trem, que conta também com voluntários. O Transbaião percorre municípios do Recôncavo Baiano, da Região Metropolitana de Salvador e do litoral norte da Bahia, em um percurso total de 272 km. O trem é composto, ao todo, por oito vagões tematizados e pode levar até 400 pessoas por viagem. Em sua segunda temporada,
o Transbaião, que trafega durante o mês de junho, prestou homenagem ao centenário de Luiz Gonzaga, músico e compositor nordestino, conhecido como o Rei do Baião. Shows com participações de artistas que cantaram e conviveram com Gonzagão, além de uma exposição com peças pessoais do artista, foram adicionadas às atividades deste ano. Concebido pelo deputado federal Luiz Argôlo (PP-BA), o projeto levou seis meses para ser concretizado. “Estou certo de que a realidade ferroviária da Bahia pode ser bem melhor. O Transbaião foi idealizado exata-
mente para provocar essa reflexão, com o intuito de elevar o turismo e as atividades lúdicas”, afirma o parlamentar. Argôlo integra a Comissão de Viação da Câmara e a Frente Parlamentar para Acompanhamento da Construção da Fiol (Ferrovia de Integração Oeste-Leste). Para o deputado, a proposta do trem vai além da promoção do turismo ferroviário. “O projeto resgata o transporte de passageiros por trem, agregando cultura, diversão e lazer.” O Transbaião une a música tradicional das festas juninas, as iguarias da culinária baiana e os atrativos turísticos das
CNT TRANSPORTE ATUAL
AGOSTO 2012
53
FOTOS TRANSBAIÃO/DIVULGAÇÃO
localidades à margem da estrada de ferro. Para Sávio Neves, presidente da ABOTTC (Associação Brasileira dos Operadores de Trens Turísticos), um dos méritos da iniciativa é aliar o transporte ferroviário à difusão da cultura local. “Essa soma fortalece o turismo no interior baiano. O trem impacta toda a região e o seu percurso emociona o viajante. Quem viaja e o público que fica nas estações vivenciam as atividades propostas.” O projeto se viabiliza por meio do apoio de empresas privadas de vários segmentos. “Esses colaboradores acredi-
tam que o Transbaião é capaz de fomentar a cultura e o potencial turístico da região onde opera. Por isso, essas instituições buscam reverter o aporte ao projeto em suas respectivas contrapartidas sociais”, diz Argôlo. No trajeto do trem, o público tem a oportunidade de ver de perto as belezas de cidades históricas, como São Félix e Cachoeira, que contam com um conjunto arquitetônico de prédios e monumentos tombados pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e pela Unesco (Organização das Nações Uni-
das para Educação, Ciência e Cultura). Para quem passeia no Transbaião pela Região Metropolitana de Salvador, a atração é o Polo Industrial de Camaçari. Já no litoral norte, a beleza das praias e os redutos naturais encantam os viajantes. Além do passeio, o trem turístico oferece ao público apresentações de grupos folclóricos, feiras de artesanato, comidas típicas, ações de saúde e cidadania, atendimento por meio do SAC Móvel, onde a população recebe orientações sobre diversos serviços, uma biblioteca itinerante, promovida pelo
governo da Bahia, e o Cinema na Praça, com exibição de filmes em logradouros públicos. A culinária baiana também se faz presente no Transbaião. A cada parada, e mesmo dentro do trem, o público pode degustar os quitutes da gastronomia local. A Abrasel-BA (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes – seccional Bahia) participa do projeto mapeando a culinária das cidades do itinerário, identificando pratos característicos de cada local. O objetivo é potencializar o roteiro gastronômico com a utilização de produtos regionais provenientes da agricultura familiar dos municípios. A entidade também fomenta a capacitação e o treinamento da mão de obra local para bares e restaurantes das cidades que recebem o trem. Neves, da ABOTTC, diz que o Transbaião está chamando a atenção dos governantes, demonstrando que projetos semelhantes são viáveis tanto economicamente como socialmente. “O segmento tem condições de ser mais bem explorado Brasil afora. Essas ideias podem transformar novamente o modal ferroviário em uma opção de transporte para a
54
CNT TRANSPORTE ATUAL
AGOSTO 2012
ALCANCE Projeto iniciado em junho do ano passado atingiu cerca de 100 mil pessoas em 13 cidades no Norte baiano
população local e para atrair turistas.” De acordo com ele, existem outros trens com operações sazonais no país, principalmente no Nordeste. “Os idealizadores aproveitam a alta estação turística na região para promover passeios ferroviários entre os municípios, durante os finais de semana.” Segundo o dirigente, hoje, os mais consolidados entre o público nordestino são o Trem do Forró, que opera há dez anos, ligando Recife a Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco, e o Expresso Forrozeiro, na Paraíba, que liga os municípios de Campina Grande e Galante.
Argôlo destaca que o transporte ferroviário de passageiros ainda é pouco explorado na Bahia. “O Transbaião quer incentivar o transporte de passageiros, o turismo ferroviário e o desenvolvimento social e econômico da população de cada uma das cidades por onde passa.” Neves diz que o turismo ferroviário tem crescido “vertiginosamente” no país. “Há cinco anos, tínhamos pouco mais de dez operações regulares no Brasil. Hoje, já são 32 trens e existem mais de 30 pedidos de regularização de trens turísticos e culturais na ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres).”
Por meio de sua assessoria, a ANTT afirma que, atualmente, cinco trechos estão sob análise da autarquia, visando avaliar a viabilidade de se instalar trens turísticos. Dois deles estão no Rio Grande do Sul, na malha operada pela ALL (América Latina Logística). O de Santa Maria foi solicitado pela prefeitura. Já o de Santana do Livramento, foi solicitado pela empresa Giordani Turismo. Também estão sob análise o trecho da Estação Maylasky à Estação Canguera, em São Roque (SP), pedido pela Prefeitura da Estância Turística de São Roque; o trecho Curitiba/Lapa (PR), solicitado pela
Prefeitura de Lapa, ambos na malha operada da ALL; e no município de Rio Acima (MG), elaborado pela empresa GIF Consultoria e Projetos, o Trem das Cachoeiras, na malha concedida à FCA. A ANTT não divulgou o cronograma para definir o destino dos projetos. De acordo com dados da ABOTTC, em 2011, foram mais de 3 milhões de passageiros transportados pelos trens turísticos brasileiros. “A estimativa é que mais de 6 milhões de passageiros utilizem os trens este ano”, diz Neves. Segundo ele, para os próximos dois anos, estão previstos investimentos de mais de R$ 200 milhões no segmento. l
AVIAÇÃO
POR LETICIA
SIMÕES
s mudanças anunciadas na gestão e na estrutura das principais companhias aéreas nacionais alteraram a realidade do mercado brasileiro de aviação. Segundo especialistas, as fusões entre a TAM e a chilena LAN, das domésticas Azul e Trip e da aquisição da Webjet pela Gol seguem uma tendência mundial. Eles ratificam que as operações têm aspectos positivos, como maior eficiência nos serviços prestados, e negativos, com a diminuição do número de companhias aéreas em operação, que resulta na redução de concorrência no setor. O especialista em gestão e finanças Francisco Vidal, professor adjunto do Departamento de Ciências Administrativas da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), afirma que esse tipo de negócio entre empresas aéreas visa a maior eficácia na utilização dos ativos físicos e humanos das organizações envolvidas. “As companhias também avaliam a questão logística, a otimização das operações e a redução de
A
NOVO GRUPO Maurício Amaro (TAM), Ignácio Cueto (LAN), Maria Cláudia Amaro (TAM
Painel de Fusões e aquisições de empresas aéreas podem custos, priorizando a lucratividade e, não necessariamente, uma maior participação de mercado.” De acordo com ele, entre as consequências imediatas a serem sentidas pelos passageiros brasileiros estão a redução do número de voos e o aumento das tarifas. “Isso vai gerar me-
nos opções de horários. A melhoria da qualidade dos serviços não está assegurada com todas essas mudanças, pois as empresas estão muito mais preocupadas com sua saúde financeira em médio e longo prazos.” Luiz Augusto Pacheco, especialista em finanças e gestor da Inva
Capital, empresa com atuação no mercado de finanças corporativas, concorda que o novo cenário da aviação nacional pode ser prejudicial para o consumidor. “Azul e Trip, por exemplo, têm voos regionais para rotas coincidentes. Acredito que as viagens para esses trechos sejam diminuídas. Além dis-
GLADSTONE CAMPOS/REALPHOTOS/DIVULGAÇÃO
e Latam) e Enrique Cueto (LAN e Latan) durante anúncio de fusão das companhias aéreas brasileira e chilena
incertezas melhorar os serviços, mas reduzem a concorrência so, as companhias podem aumentar o valor das tarifas.” Sobre possíveis aumentos tarifários, a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), afirma, por meio de sua assessoria, que considera pouco provável que as novas companhias apliquem práticas prejudiciais ao serviço,
sendo mais admissível que as empresas tragam benefícios aos consumidores. Ainda segundo a autarquia, caso seja verificada qualquer prática anticompetitiva, a Anac vai acionar os órgãos responsáveis para coibi-las. No que diz respeito à elimina-
ção de rotas e criação de novos trechos, a Anac ressalta que independente de haver fusões, a liberdade de escolha de rotas (aeroportos atendidos) e de preços (tarifas aéreas) está definida em lei (nº 11.182/05). De acordo com a assessoria, a liberdade de rotas possibilita que as empre-
sas se adaptem rapidamente ao mercado e que a aprovação dessas operações passa pelo crivo do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), órgão responsável pela análise e aprovação das fusões. A Azul afirma que ainda aguarda a aprovação do Cade para se manifestar sobre os planos de negócio a serem adotados assim que a fusão com a Trip for autorizada pelo órgão regulador. Gianfranco Beting, diretor de Comunicação e Marca da empresa, diz que Azul e Trip vão proporcionar mais força à aviação regional. “As duas companhias atuam com o mesmo tipo de aeronave, possuem culturas e valores em comum e vão oferecer ainda mais conectividade aos clientes.” O executivo não comentou sobre um possível aumento tarifário. “Inicialmente, nada muda para os passageiros das duas companhias. Assim que houver a integração, as vantagens da nova marca serão divulgadas.” Não há previsão para efetivar a junção entre as empresas.
58
CNT TRANSPORTE ATUAL
AGOSTO 2012
PARTICIPAÇÃO ESTRANGEIRA
Proposta aguarda aprovação Há mais de um ano, o deputado federal Carlos Eduardo Cadoca (PSC-PE) apresentou um projeto de lei que propõe o aumento do capital externo de 20% para 49% nas companhias aéreas nacionais. O parlamentar incluiu uma emenda na medida provisória que criou a SAC (Secretaria de Aviação Civil). Mas, apesar de a secretaria ter sido efetivada em março de 2011, o PL de Cadoca ainda tramita no Congresso à espera de aprovação. De acordo com o atual Código Brasileiro de Aviação, as companhias são obrigadas a ter 80% do seu capital nas mãos de brasileiros. Na tentativa de apressar os trâmites e conseguir voltar à carga dos debates para a aceitação de seu parecer, o deputado, que é relator do Estatuto do Estrangeiro, incluiu o tema no documento. O estatuto deve tramitar em duas comissões ainda este ano. “Encontrei um ‘gancho’ que trata da limitação de estrangeiros em atividades aeronáuticas no país. Foi nes-
se trecho que inseri a proposta para provocar a discussão, quando o regulamento for debatido”, afirma Cadoca. Ele diz que o aumento de capital estrangeiro nas empresas é uma aspiração antiga do setor. “A atual porcentagem é um limitador e só traz prejuízo para o país. A participação externa está presente em outras áreas estratégicas da economia, e o setor aéreo convive com a falta de concorrência, que, com as fusões, tende a diminuir ainda mais.” Cadoca defende que a vinda do capital estrangeiro é importante para impulsionar todas as melhorias necessárias ao modal. “É preciso ampliar a malha interna e renovar o serviço prestado. Com os 49% de participação externa, a concorrência tende a aumentar com a abertura da malha e, ainda, proporcionar a integração da aviação regional nessa expansão.” O debate sobre a proposta do deputado pernambucano deve voltar à pauta no segundo semestre, quando o Congresso retorna de recesso.
AQUISIÇÃO A
Depois de dois anos do anúncio da fusão, TAM e LAN oficializaram a incorporação das companhias. No dia 22 de junho, foi apresentado ao mercado o Latam Airlines Group, que já surge como uma das dez maiores empresas do setor em todo o mundo. Segundo a assessoria, a nova holding vai oferecer, aproximadamente, 150 destinos, em 22 países. O transporte de cargas será feito para 169 destinos, em 27 países. “A criação desse grupo vai permitir que ele se posicione para
operar em um cenário cada vez mais competitivo”, disse na ocasião Enrique Cueto, gerente-executivo do Latam Airlines. As companhias vão manter seus centros de operação ativos. A LAN permanece em Santiago (Chile) e a TAM, em São Paulo. As empresas vão continuar operando com suas marcas atuais. Segundo Cueto, as mudanças vão ser incorporadas gradualmente à medida que a integração avançar. O economista Josef Barat, es-
CNT TRANSPORTE ATUAL
AGOSTO 2012
59
DANIEL CARNEIRO/DIVULGAÇÃO
compra da companhia Webjet foi anunciada pela Gol há um ano, mas processo ainda aguarda liberação do Cade
pecialista em transporte e logística, tem uma visão positiva sobre os novos negócios. Para ele, as incorporações e fusões podem representar avanços para companhias e passageiros. “Reestruturações que removam gargalos operacionais e de gestão, em um sistema complexo como o da aviação civil, acabam por beneficiar os usuários.” Ampliações de escala, aumentos de produtividade e inovações tecnológicas estão entre os progressos apontados por Barat. “Es-
sas alianças podem contribuir de forma importante para a redução de custos e para uma maior atratividade do transporte aéreo.” Ele afirma que a associação entre Azul e Trip pode indicar um caminho inovador para a aviação regional. “Com a instituição do regime de liberdade de mercado e da remoção de obstáculos à entrada de novas empresas, deixou de haver uma separação entre as operações de âmbito nacional e regional. Isso resultou na competição predatória das aeronaves de
grande porte nas rotas regionais. Agora, tende a mudar.” O presidente da Abetar (Associação Brasileira das Empresas de Transporte Aéreo Regional), Apostole Chryssafidis, destaca que o impulso da aviação regional não passa apenas pelo processo de fusão entre empresas. “Ainda que seja importante para o ganho de escala das companhias, é preciso executar investimentos nos aeroportos regionais, publicar medidas regulatórias em sintonia com o mercado e adotar uma postura
menos agressiva aos investimentos privados.” Mesmo com o país passando a ter, basicamente, quatro grupos de empresas aéreas, compostos por TAM, Gol, Azul e Avianca, o dirigente acredita que dificilmente novas empresas surjam no setor da aviação regional. “Com a formação dos grupos econômicos, há uma criação de barreira natural à formação de novos competidores.” Vidal afirma que a fusão entre Azul e Trip cria a maior empresa brasileira voltada para o mercado regional. “Como as duas já vinham trabalhando em mercados com crescimento acelerado, espera-se que haja ainda mais investimento e melhoria do padrão de serviço de bordo, horários mais apropriados à demanda dos consumidores do interior e uma maior proximidade com as necessidades do setor.” O professor diz que, diante das possibilidades de incremento, o modal não será prejudicado com o fim da parceria firmada entre TAM e Trip para voos regionais, findada com as novas fusões. Doutor em direito e economia pela universidade francesa de Aix, Adyr da Silva, especialista em aviação civil e gestão aeroportuária da UnB (Universidade de Brasília), ressalta que, a partir das associações, as companhias aéreas vão utilizar melhor suas respectivas frotas.
60
CNT TRANSPORTE ATUAL
AGOSTO 2012
NEGÓCIOS
Aviação executiva é atração Um dos maiores eventos da aviação chega com novidades em 2012. A 9ª edição da Labace (Latin American Business Aviation Conference and Exhibition), considerada a maior do gênero na América Latina, terá sua área ampliada em 3.000 metros quadrados. A feira acontece de 15 a 17 de agosto, no Aeroporto Internacional de Congonhas, em São Paulo. A Labace reúne os maiores fabricantes mundiais de aeronaves executivas, empresas de manutenção, táxi aéreo e comercialização de equipamentos voltados para a aviação executiva. A expectativa para este ano é gerar negócios da ordem de US$ 700 milhões, com a presença de 190 expositores e mais de 70 aeronaves, expostas na área estática da feira. A organização espera receber 16 mil visitantes. Na edição passada, o evento contou com um público de mais de 15 mil pessoas ao longo dos três dias, o que representou um aumento de 4% em relação ao ano anterior. Os dias de exposição foram alterados. Este ano, a feira acontece de quarta a sexta. Nas demais edições, os sá-
bados entravam no calendário, a feira iniciava na quinta. “A mudança atende ao pedido dos expositores que querem mais tempo para receber potenciais compradores e parceiros do Brasil e do exterior. Os clientes preferem visitar a feira durante a semana”, afirma Eduardo Marson, presidente da Abag (Associação Brasileira de Aviação Geral), organizadora do evento. Estão previstos workshops e conferências, com inscrições prévias. Para participar da feira, os visitantes devem realizar o cadastro no site da Labace. Os ingressos custam R$ 200. Estudantes de aviação têm entrada gratuita. Já estudantes de outras áreas pagam meia-entrada. A organização exige a apresentação de registro ou documento que especifique o curso na bilheteria.
SERVIÇO 9ª Labace (Latin American Business Aviation Conference and Exhibition) De 15 a 17 de agosto, no Aeroporto Internacional de Congonhas
EXPOSIÇÃO A 9ª edição da Labace vai apresentar as novidades do
Contudo, Silva conjectura um cenário ruim para o passageiro, com diminuição do número de voos e de horários disponíveis. “Essas medidas resultam na redução da competitividade e vão ‘frear’ o desenvolvimento aéreo do Brasil, caracterizado, até então, pela inclusão de passageiros no setor.” Segundo ele, a demanda de passageiros, que só aumentou ao longo dos anos, pode “desaparecer”. “O mercado vai se tornar pouco competitivo, com tarifas elevadas. Vai haver uma exclusão social na aviação nacional”, diz. O ministro-chefe da SAC (Se-
cretaria de Aviação Civil), Wagner Bittencourt, declarou que o número de aeroportos com voos comerciais deve chegar a 200, em todo o Brasil, até 2014. O número representa uma expansão de 55% da oferta de terminais em todo o país. A intenção da pasta, segundo Bittencourt, é fazer com que 94% da população brasileira tenha um aeroporto com voos comerciais a menos de 100 km de distância de suas residências. Atualmente, 79% dos cidadãos são cobertos pela distância. Chryssafidis afirma que o estudo levado à SAC pela Abetar
CNT TRANSPORTE ATUAL
61
AGOSTO 2012
AZUL/DIVULGAÇÃO
EDSON KUMASAKA/DIVULGAÇÃO
setor em Congonhas
para a adequação de 175 aeroportos brasileiros mostra que as empresas aéreas têm intenção de criar novos voos e aumentar as suas operações. Os investimentos foram avaliados em R$ 2,4 bilhões. “O setor de aviação regional está motivado com o posicionamento da pasta, que tem trabalhado para viabilizar os investimentos do Profaa (Programa Federal de Auxílio aos Aeroportos) e os recursos que serão destinados ao Fundo Nacional de Aviação Civil. O segmento aguarda o início das ações.” A Gol, por meio de sua assessoria, afirma que a aquisição da
APOSTA Azul e Trip se unem focadas no desenvolvimento do mercado aéreo regional
Webjet está ligada ao perfil da companhia, uma empresa de baixo custo e que possui frota comum ao padrão já utilizado pela aérea. O anúncio da aquisição foi divulgado em julho do ano passado. A finalização do processo de compra também aguarda pela aprovação do Cade. De acordo com a assessoria, as operações seguem separadas. A Gol diz que a aquisição foi decidida pela crença da companhia no crescimento do mercado de aviação civil nos próximos anos. Em meados de março, a empresa divulgou balanço financeiro que registrou prejuízo de mais de
R$ 700 milhões em 2011. A TAM anunciou perdas no período da ordem de R$ 335 milhões. A crise afetou o quadro de funcionários da Gol. A partir de abril, a companhia iniciou uma série de demissões de pilotos, copilotos e comissários de bordo. A assessoria afirma que as empresas vão ter quadros condizentes com suas necessidades operacionais e vão estar preparadas para o crescimento da demanda. Barat afirma que o setor aéreo é uma atividade econômica em que prevalecem a competição e as mudanças tecnológicas. “Por isso ele é palco de uma
luta constante entre investimentos vultosos e custos operacionais que devem ser reduzidos por aumentos de produtividade. Daí a busca permanente por vantagens competitivas.” Para Vidal, as novas estratégias são uma alternativa para que as aéreas nacionais estejam preparadas para os “solavancos” da economia mundial, “bastante instável desde 2008”. “É inevitável que o setor tenha grandes players internacionais, atuando globalmente na aviação, e players regionais, que vão atuar em nichos de mercados específicos.” l
62
CNT TRANSPORTE ATUAL
AGOSTO 2012
AQUAVIÁRIO
Eficiente e tecnológico Porto Itapoá, em Santa Catarina, completa 1 ano em operação e já é considerado o mais ágil da América Latina POR
om um ano de operação completado em junho, o Porto Itapoá, terminal privativo de uso misto localizado ao norte de Santa Catarina, é destaque no meio logístico. Considerado um dos mais ágeis da América Latina, seus equipamentos e sistemas, além dos treinamentos realizados pelos colaboradores, são apontados por dirigentes e pelas empresas que operam no porto como fatores determinantes para o sucesso. Com desempenho tecnológico destacado, Itapoá tornou-se rota imprescindí-
C
LETICIA SIMÕES
vel dos contêineres que trafegam pelo continente. A escolha do município de Itapoá para sediar o empreendimento foi motivada pela localização estratégica da cidade, na Baía da Babitonga. O lugar está na divisa do Paraná com Santa Catarina, dois importantes Estados exportadores, com tradição em operações portuárias. A posição geográfica do porto, segundo José Vítor Mamed, conselheiro da Abralog (Associação Brasileira de Logística), foi fundamental para
atrair empresas e garantir a eficiência das operações. “Paraná e Santa Catarina concentram empresas importantes, de grande porte. Antes de Itapoá, essas companhias só contavam com o porto de Itajaí para escoar seus produtos. Além disso, Itapoá possui um acesso aquaviário muito bom.” De acordo com Mamed, a concepção do calado de Itapoá também foi fundamental para o êxito do terminal. O porto tem calado natural de 16 metros, com capacidade para navios Super-Post-Pa-
namax, embarcações que comportam mais de 6.000 contêineres. Além da movimentação de contêineres de longo curso, o porto também atua como um “hub port”, concentrando cargas de importação e exportação, permitindo redistribuir, por cabotagem, mercadorias para outros portos do Brasil e da América do Sul. Itapoá investiu mais de R$ 90 milhões em equipamentos e sistemas provenientes, principalmente, da China, dos Estados Unidos e da Europa. “A tecnologia empregada nesses
CNT TRANSPORTE ATUAL
AGOSTO 2012
63
PORTO ITAPOÁ/DIVULGAÇÃO
aparelhos une o que há de mais moderno no segmento portuário, proporcionando performance, economia de energia elétrica e de óleo diesel e diminuição do impacto ambiental”, afirma o diretor-superintendente Patrício Júnior. De acordo com a direção do porto, enquanto a maioria dos terminais brasileiros atua com uma média de 30 MPH (movimentos por hora), Itapoá manteve uma média acima de 70 MPH, entre dezembro de 2011 e fevereiro deste ano. O terminal chegou a alcançar
índices acima de 130 MPH na operação de alguns navios. Júnior afirma que o projeto, desde sua elaboração, priorizou a tecnologia que seria aplicada. “O porto foi o primeiro a utilizar a última versão do Sistema Operacional Navis–Sparcs N4. Esse software é o mais utilizado nas operações portuárias do mundo. Esse módulo do N4 é o mais atualizado, desenvolvido exclusivamente para as necessidades de Itapoá.” De acordo com o dirigente, o sistema exclusivo levou dois anos para ser concluído. Todo o
processo foi realizado antes do início das operações. “A experiência já pode servir de referência para outros terminais do continente, o que já ocorre em Rio Grande (RS) e no complexo de Santos. Por meio do N4, Itapoá conseguiu congregar todos os processos operacionais, desde a entrada do contêiner no terminal até o faturamento”, afirma. Segundo Júnior, essa amplitude do sistema proporciona grande facilidade para toda a operação, além de possibilitar
dados estatísticos que reforçam o planejamento comercial do porto. A BRF (Brasil Foods), empresa criada a partir da associação de duas gigantes nacionais do setor alimentício, com atuação nos segmentos de carnes (aves, suínos e bovinos), alimentos industrializados (margarinas e massas) e lácteos, é uma das companhias que exportam seus produtos pelo porto. Viviana Garrido, gerente de logística da empresa, afirma que Itapoá foi inserido na es-
64
CNT TRANSPORTE ATUAL
AGOSTO 2012
PORTO ITAPOÁ/DIVULGAÇÃO
RAIO X Características • Capacidade para navios Super-Post-Panamax • Profundidade natural de 16 metros no cais • 150 mil metros quadrados de pátio • 12 milhões de metros quadrados de retroárea • Condições naturais para atracação e evolução • Localização estratégica entre os maiores produtores do país 1.380 tomadas reefers (tomadas para alimentar contêineres utilizados para armazenar cargas perecíveis) • Sistema operacional Navis - Sparcs N4 Investimentos Aporte: R$ 500 milhões Obras civis: R$ 351 milhões Equipamentos: R$ 88 milhões Edificações: R$ 26 milhões Tecnologia e sistemas: R$ 7 milhões Infraestrutura Obras de acesso/estradas: R$ 15 milhões Linha de transmissão de energia: R$ 7 milhões Subestação de alta tensão: R$ 6 milhões Configuração atual Cais: 630 metros de comprimento e 43 metros de largura Profundidade natural: 16 metros no cais e 14,5 metros no canal Berços de atracação: dois para navios Post-Panamax Ponte de acesso: 230 metros Área de pátio (fase 1): 150 mil metros quadrados Gates de acesso: 6 Tomadas reefers: 1.380 Retroárea: 12 milhões de metros quadrados Total de colaboradores: 500 funcionários, aproximadamente Fonte: Porto Itapoá
INVESTIMENTO Equipamentos e sistemas operacionais tiveram custo de R$ 90 milhões
tratégia de volumes da BRF, principalmente em virtude da produtividade do terminal. “A atracação, os carregamentos e os serviços (navios) com rotas e “transit times” (tempo de trânsito) mais ágeis atendem as expectativas dos clientes no exterior.” A BRF exporta alimentos, via Porto Itapoá, para destinos, como Europa, Oriente Médio, Ásia, Japão, África, América Central e Caribe. Segundo Viviana, o plano da empresa é direcionar para Itapoá cargas que proporcionem à companhia economia na cadeia logística e que ofereçam serviços de qualidade aos clien-
tes de outros países.“Este ano, o plano é movimentar em Itapoá, cerca de 9% do volume de exportação da BRF. Com os investimentos do porto em infraestrutura na retroárea (terminais, armazéns), a empresa espera aumentar sua participação”, diz a gerente. A Seara/Marfrig é mais um grupo do setor alimentício que incluiu o Porto Itapoá em suas operações. “A garantia do embarque em um terminal moderno, com excelente calado natural e barra aberta o ano todo, levou a companhia ao porto. Itapoá é uma opção confiável para as exportações”, diz Ramiro Álvaro Mayer, gerente de logística internacional da Seara.
Os principais destinos da empresa, a partir de Itapoá, são Ásia, Oriente Médio e Europa. Os navios levam aves e suínos congelados. “A tecnologia aplicada em todos os sistemas do porto refletem na regularidade das operações, reduzindo ao máximo o risco de perdas e atrasos. Isso faz com que os custos operacionais sejam reduzidos”, afirma Mayer. O complexo tecnológico de Itapoá conta com quatro portêineres com capacidade para fazer até 50 movimentos por hora, o que corresponde ao ciclo de pegar o contêiner no navio e colocar sobre o caminhão, ou vice-versa. A lança do guindaste
CNT TRANSPORTE ATUAL
AGOSTO 2012
65
INVESTIMENTO
Obras de ampliação devem ter início em 2013 A administração do Porto Itapoá estuda novos investimentos. O terminal tem capacidade para movimentar 500 mil TEUs (unidade de carga referente a contêineres). Com o projeto de ampliação do cais de 630 metros para 1.000 metros e do pátio de 150 mil metros quadrados para 450 mil metros quadrados, Itapoá vai poder movimentar até 2 milhões de TEUs por ano. O diretor-superintendente do porto, Patrício Júnior, afirma que o terminal pretende iniciar sua ampliação a partir de 2013. “Os investimentos devem seguir no mesmo ritmo da primeira fase, próximos a R$ 500 milhões.” Até março deste ano, o Porto Itapoá recebeu mais
dos equipamentos faz o movimento do cais para o navio e do navio para o cais, projetando-se do cais do porto até 50 metros sobre o navio. Essa operação possibilita embarcar cargas em navios Post-Panamax, embarcações de última geração, mais compridas e mais largas do que as que operam habitualmente nos portos brasileiros. Outro equipamento que faz a diferença nas operações são os transtêineres. A direção de Itapoá afirma que esses aparelhos têm inúmeras vantagens em relação às empilhadeiras, pois agilizam o processo de organi-
de 210 navios, com movimentação de 90 mil contêineres e, aproximadamente 24 mil transações realizadas. Em dezembro de 2011, o porto alcançou o melhor desempenho operacional entre os terminais portuários brasileiros que possuem até quatro portêineres. A marca recorde de produtividade por navio foi de 136,07 MPH (movimentos por hora). Já a produtividade por equipamento chegou a 49,14 MPH. Afora as tecnologias, Itapoá vem, ao longo de sua recente atuação, consolidando outros projetos que contribuem para eficiência do porto. Em março, o terminal passou a ter acesso próprio, com a conclusão do trecho de 27 quilômetros da SC-
zação das pilhas de contêineres, diminuindo a quantidade de remoções para um carregamento. O equipamento também otimiza a carga e a descarga dos caminhões. Os transtêineres possuem GPS, o que permite que o plano de sequenciamento de carga no pátio seja o mesmo do plano que será carregado no navio. O sistema tecnológico dispõe também de uma ferramenta de controle de operações que, por meio de um código, determina qual terminal deve efetuar o movimento, reduzindo a necessidade de os equipamentos transitarem sem contêineres pelo terminal.
415. A rodovia faz a ligação do terminal à BR-101, uma das principais estradas do país. A linha de transmissão de energia de 138 kV (quilovolts) foi totalmente ativada em fevereiro. O investimento garantiu ao porto o suprimento de energia adequada para abastecer o empreendimento e toda a cidade de Itapoá. Segundo Júnior, as intervenções não contemplam apenas o incremento na área de pátio, berços, sistemas e equipamentos, mas também no alinhamento com exportadores, importadores, transportadoras e armadores. “É uma cadeia ampla e complexa que vai se beneficiar com o potencial que Itapoá tem para oferecer ao cenário logístico brasileiro.”
Todos os equipamentos utilizados em Itapoá são dotados de coletores de dados. As operações são controladas eletronicamente, com mínima comunicação via voz. De acordo com a direção, o procedimento evita, entre outros contratempos, as distrações dos operadores. O sistema possibilita ainda que as operações de navios sejam planejadas em ciclo duplo. Quando a situação dos contêineres a bordo permitir, as linhas dos navios, conhecidas como “rows”, são descarregadas e carregadas simultaneamente, aumentando a produtividade do terminal.
O diretor de operações do porto, Márcio Guiot, diz que algumas das tecnologias empregadas em Itapoá são inéditas nas operações brasileiras. “O sistema do terminal calcula a melhor posição para um contêiner no momento em que ele necessita ser movimentado. Isso destaca os espaços disponíveis tanto nos pátios quanto nos navios e possibilita aumento na ocupação dos slots de maneira organizada, evitando remoções desnecessárias.” Eclésio da Silva, presidente do Sindasc (Sindicato das Agências de Navegação Marítima e Comissários de Despachos do Estado de Santa Catarina), afirma que as expectativas do setor em relação ao Porto Itapoá são as mais positivas. “O terminal tende a ampliar sua atuação. Futuramente, será possível efetuar cargas de transbordo em Itapoá que hoje são executadas em Buenos Aires e Montevidéu.” Para o dirigente, não há dúvidas de que o porto veio para incrementar a logística brasileira. “Santa Catarina também ganhou com o surgimento de Itapoá. O terminal é mais uma opção para os exportadores e importadores do Estado, principalmente os que estão instalados no norte catarinense”, declara Silva. l
66
CNT TRANSPORTE ATUAL
AGOSTO 2012
PROFISSÃO
Encontro discute nova lei Os principais pontos da legislação que regulamenta a atividade de motorista foram apresentados em evento em Brasília POR
lei nº 12.619, que regulamenta a profissão de motorista no Brasil e entrou em vigor em 17 de junho, foi o tema principal da 12ª edição do Seminário Brasileiro do Transporte Rodoviário de Cargas, realizado em 13 de junho, no auditório Nereu Ramos da Câmara dos Deputados, em Brasília. A legislação, aprovada pelo Congresso Nacional, foi sancionada pela Presidência da
A
LIVIA CEREZOLI
República em 30 de abril, com 19 vetos ao texto original. O evento, realizado pela CVT (Comissão de Viação e Transporte) da Câmara em parceria com a NTC&Logística (Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística) e a Fenatac (Federação Interestadual das Empresas de Transporte de Cargas), teve apoio institucional da CNT (Confederação Nacional do Transporte).
Durante todo o dia foram debatidos os principais pontos relacionados às alterações que as novas regras trouxeram para o CTB (Código de Trânsito Brasileiro) e para a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). A cerimônia de abertura contou com a presença do presidente da CNT e do Sest Senat, senador Clésio Andrade, de deputados federais, empresários do setor e representantes dos trabalhadores.
O presidente da NTC&Logística, Flávio Benatti, afirmou que a nova lei é uma grande conquista depois de muitos anos de luta e discussões entre empresários e trabalhadores do setor. “A legislação é moderna e preza pela segurança e pela saúde dos nossos trabalhadores. Ela é necessária para termos um país grande e digno.” Entre os principais pontos da lei estão a definição da jornada de trabalho para motoristas contratados e do tempo de direção para os contratados e os autônomos. As novas regras valem para profissionais que atuam no transporte de escolares, de passageiros - em veículos com mais de dez lugares - e de cargas – em veículos com peso bruto total acima de 4.536 kg. As novas regras definem que motoristas empregados devem cumprir jornada diária de trabalho de 8 horas e intervalos de descanso e refeição entre 30 minutos e 2 horas. A jornada de trabalho poderá ser elevada pelo tempo necessário para sair de uma situação extraordinária e
CNT TRANSPORTE ATUAL
AGOSTO 2012
67
FOTOS JÚLIO FERNANDES/CNT
chegar a um local seguro ou ao destino final da viagem. Motoristas empregados ou autônomos não poderão dirigir por mais de 4 horas ininterruptas, devendo observar intervalos mínimos de descanso definidos pela resolução nº 405, publicada pelo Contran (Conselho Nacional de Trânsito), em 14 de junho, no “Diário Oficial da União”. O prazo para cumprimento da regra é de 45 dias após a publicação, período no qual serão realizadas blitze educativas. Para os motoristas do transporte de cargas, o intervalo obrigatório de 30 minutos a cada 4 horas de direção pode ser fracionado em até três intervalos de 10 minutos. Para os motoristas que trabalham no transporte de passageiros, o fracionamento pode ser realizado em até seis períodos de 5 minutos. O próprio motorista profissional é o responsável pelo controle do tempo de direção. A fiscalização será realizada pelo órgão de trânsito que responde pela via onde ocorrer a abordagem dos motoristas. O principal equipamento uti-
68
CNT TRANSPORTE ATUAL
AGOSTO 2012
SAIBA MAIS SOBRE A REGULAMENTAÇÃO ABRANGÊNCIA A lei é válida para todos os motoristas, autônomos ou empregados que trabalham em rodovias e vias públicas urbanas JORNADA DE TRABALHO • Motoristas empregados devem cumprir jornada diária de trabalho de 8 horas, com no máximo, 4 horas de direção ininterrupta e intervalos de descanso e refeição entre 30 minutos e 2 horas • Viagem com mais de uma semana de duração tem descanso semanal de 36 horas que poderá ser utilizado no retorno do motorista à base ou matriz da empresa • Motorista profissional que trabalha em regime de revezamento deve ter repouso mínimo diário de 6 horas consecutivas fora do veículo, em alojamento externo, ou na cabine, mas com o veículo parado • A jornada de trabalho poderá ser elevada pelo tempo necessário para sair de uma situação extraordinária e chegar a um local seguro ou ao seu destino • Caso aprovado em convenção ou acordo coletivo, poderá haver jornada de trabalho de 12 horas por 36 horas de descanso, em razão de especificidade ou sazonalidade • Será considerado trabalho efetivo o tempo que o motorista estiver à disposição do empregador, excluídos os intervalos para refeição, repouso, espera e descanso • As horas que excederem a jornada de trabalho, quando o motorista ficar aguardando a carga e a descarga no embarcador ou destinatário, ou para fiscalização de mercadoria em barreiras fiscais ou alfandegárias, serão consideradas tempo de espera e indenizadas com base no salário-hora normal, acrescido de 30% • É proibida a remuneração do motorista em função da distância percorrida, do tempo de viagem e/ou da natureza e quantidade de produtos transportados ALTERAÇÕES NO CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO • O motorista empregado ou autônomo não poderá dirigir por mais de 4 horas ininterruptas, devendo observar intervalos mínimos para descanso • Dentro do período de 24 horas, deve haver um intervalo de no mínimo 11 horas, podendo ser fracionada em 9 horas mais 2 horas • O início de uma viagem de mais de um dia só poderá ser feito após o descanso de 11 horas. É considerado início de viagem, a partida logo após carregamento do veículo • O motorista é responsável pelo controle do tempo de direção. Sendo que a forma desse controle ficará a critério da empresa transportadora no caso do motorista empregado. O condutor que não o fizer poderá ser autuado, com multa e retenção do veículo para que realize o descanso obrigatoriamente
OPÇÃO Motoristas utilizam os pátios dos postos de combustí
lizado para a fiscalização será o tacógrafo, mas os órgãos fiscalizadores também poderão analisar o diário de bordo, a papeleta, a ficha de trabalho externo – fornecida pelo empregador – ou a ficha de trabalho do autônomo – o modelo foi publicado com a resolução. Segundo a advogada do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito), Neila Ney, todos os dados deverão ser preenchidos, como hora de saída e de chegada, local de origem e de destino,
além da quilometragem percorrida. “Quem decide sobre a documentação a ser utilizada no controle do tempo de direção é o agente fiscalizador, que pode comparar os dados do tacógrafo e das anotações manuais realizadas pelo motorista”, explicou ela durante o seminário. A resolução do Contran prevê uma tolerância máxima de erro de 2 minutos a cada 24 horas de registro e de 10 minutos a cada sete dias. Quem descumprir a lei está sujeito à multa por infração
CNT TRANSPORTE ATUAL
AGOSTO 2012
69
ALTERNATIVA
Ação judicial pode garantir pontos de parada
veis para descansar durante a viagem
grave e retenção do veículo até que o tempo de descanso obrigatório seja cumprido. Para o presidente da CNTTT (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes Terrestres), Omar José Gomes, o mais importante agora é a aplicação real da nova legislação. “Esperamos mais de 40 anos por isso. Tínhamos profissionais sérios trabalhando em uma função não regulamentada. Depois de muitas discussões, acredito que a lei aprovada defende os interesses
O texto original da lei nº 12.619, que regulamenta a profissão de motorista no Brasil, previa a construção de pontos de parada a cada 200 km nas rodovias públicas e concedidas de todo o país. Porém, os artigos 7, 8 e 10 foram vetados pela Presidência da República sob alegação de que a proposta acarretaria novas obrigações aos concessionários de rodovias, podendo refletir no reajuste das tarifas cobradas nos pedágios. No entanto, o procurador do Ministério Público do Trabalho, Paulo Douglas Almeida de Moraes, afirmou, durante o 12º Seminário Brasileiro do Transporte Rodoviário de Cargas, que o MP pode pedir judicialmente a implementação de políticas públicas
tanto dos empresários como dos trabalhadores”, afirmou ele. Além de determinar o tempo de direção e de descanso, a lei nº 12.619 determina os direitos e os deveres a serem exigidos e cumpridos pelos motoristas. São direitos: o acesso gratuito a programas de formação e aperfeiçoamento profissional; o acesso, por intermédio do SUS (Sistema Único de Saúde), a atendimento médico, especialmente em relação às doenças que mais os acometem na profissão; não respon-
que garantam a eficiência da lei e, com isso, a construção dos pontos de parada nas rodovias. Para Marco Aurélio Ribeiro, diretor-executivo jurídico da NTC&Logística, o veto demonstra uma insensibilidade política. “É uma insensatez obrigar o motorista a parar a cada quatro horas e não oferecer locais adequados para isso. Vamos deixálos aos leões, à margem de assaltos?”, disse ele durante o evento. Ribeiro apresentou um cálculo simples que garantiria a construção desses pontos de parada nas rodovias do Brasil. De acordo com ele, se o pedágio sofresse um pequeno reajuste de R$ 0,10 já seria possível implantar pelo menos 76
der por prejuízo patrimonial decorrente da ação de terceiros; receber proteção do Estado contra ações criminosas durante o exercício de suas funções; ter a jornada de trabalho e o tempo de direção controlados de maneira fidedigna pelo empregador e seguro obrigatório para custear riscos pessoais inerentes à atividade, pago pelo empregador, no valor mínimo correspondente a dez vezes o piso salarial da categoria ou em valor superior fixado em convenção ou acordo coletivo.
pontos de parada nos 15.365 km de rodovias concessionadas existentes hoje no país. Somente em 2011, 1,48 bilhão de veículos pagaram R$ 12,1 bilhões em pedágios nessas rodovias. “O faturamento já é bastante alto e, além disso, todos os anos já pagamos um arredondamento de tarifa que varia entre R$ 0,03 e R$ 0,04. Esse reajuste chega a ser irrisório”, explica ele. O assessor jurídico da CNTTT, Luís Festino, ressaltou que o custo com a construção dos pontos de parada é infinitamente menor aos custos decorrentes dos acidentes de trânsito no país devido a jornadas excessivas de trabalho. “Qual conta vale mais a pena pagar?”
Entre as obrigações a serem cumpridas pelos motoristas estão a atenção às condições de segurança do veículo; a condução de forma prudente, observando aos princípios de direção defensiva; o cumprimento do regulamento patronal sobre tempos de direção e descanso; o zelo pela carga e pelo veículo e a disponibilidade em submeter-se a testes e programas de controle de uso de droga e de bebida alcoólica exigido pelo empregador. l
70
CNT TRANSPORTE ATUAL
AGOSTO 2012
SEST SENAT
Benefícios para o Nordeste Imperatriz (MA) e Crato (CE) ganham unidades para o atendimento do trabalhador em transporte POR KATIANE RIBEIRO E AERTON GUIMARÃES
Sest Senat entregou nos dias 14 e 28 de junho, mais duas unidades aos trabalhadores do setor de transporte. Inauguradas em Imperatriz (MA) e Crato (CE), as unidades vão oferecer aperfeiçoamento e atualização profissional de qualidade, atendimentos na área de saúde e completa infraestrutura para a prática de esporte, lazer e atividades culturais. A inauguração em Imperatriz aconteceu no dia 14 de junho, na rodovia BR-010, no Km 258, bairro Santa Rita. No dia 28 de junho, o Sest Senat entregou a unidade de Crato, na avenida Padre Cícero, nº 4.400, bairro São José.
O
De acordo com o presidente da CNT e do Sest Senat, senador Clésio Andrade, a padronização das estruturas físicas e administrativas, aliada ao modelo de gerenciamento, inovador no Brasil, no qual ocorre a centralização orçamentária e a descentralização dos serviços operacionais, faz com que toda a rede Sest Senat ganhe em eficiência, aumentando a qualidade dos serviços prestados. “Com os nossos atendimentos, auxiliaremos a promoção do bem-estar social dos trabalhadores de Imperatriz, Crato e região, oferecendo mais saúde, maior qualificação profissional, esportes, cultura e lazer”, afir-
ma o presidente do Conselho Regional Nordeste I do Sest Senat, David Lopes. Com uma infraestrutura completa para a realização de cursos, as unidades possuem, cada uma, sete salas de aulas, um laboratório de informática e um auditório para mais de 140 pessoas. Para atendimento na área de saúde, possuem salas de fisioterapia, clínicas psicológicas, consultórios oftalmológicos e odontológicos. As novas unidades têm capacidade para realizar 1.800 atendimentos odontológicos e 1.500 atendimentos nas demais especialidades na área de saúde. O prefeito de Imperatriz, Se-
CRATO David Lopes
bastião Madeira, afirmou que a chegada do Sest Senat é um grande presente para a cidade, que completa 160 anos em 2012. “Estamos vivendo um momento de crescimento, com grandes empresas se instalando na cidade, gerando um desenvolvimento ímpar. O município já é um importante eixo rodoviário e, aos poucos, também se transforma em eixo ferroviário. Esse complexo vai dar suporte para esse crescimento”, reforçou. De acordo com o diretor da unidade de Imperatriz, José Cláudio Ribeiro, a cidade está em festa, pois a unidade do Sest Senat veio não apenas aperfeiçoar a qualificação profissional
CNT TRANSPORTE ATUAL
AGOSTO 2012
71
FOTOS EUDES SOUSA
(2º à esq.), presidente do Conselho Regional Nordeste I, participa da inauguração
IMPERATRIZ Cidade ganha unidade no ano em que festeja seu 160º aniversário
dos trabalhadores em transporte, mas também contribuir para uma melhor qualidade de vida, que, com certeza, irá refletir na realização de um bom trabalho no dia a dia desses profissionais. Para o presidente da Câmara Municipal de Vereadores de Imperatriz, Hamilton Miranda, a unidade vai dar mais conforto, lazer e, principalmente, qualificação profissional para os trabalhadores do transporte. “Os cursos daqui certamente vão ajudar a diminuir o número de acidentes em nossas rodovias e, também, os que envolvem mototaxistas, que representam um grande número de profissionais em nossa cidade”, pontuou. “O transporte é uma atividade fundamental para o desenvolvimento de qualquer economia, pois leva os insumos para a população e as pessoas para que possam produzir. Imperatriz ganha uma unidade do Sest Senat por sua grande relevância para o Estado e para toda essa região. É um sonho do transportador”, afirmou o vice-presidente da Cepimar (Federação das Empresas de Transportes Rodoviários dos Estados do Ceará, Piauí e Maranhão), Dimas Barreira. Para as atividades de lazer e esportivas, as unidades de Crato e Imperatriz mantêm,
cada uma, duas piscinas (semiolímpica e infantil), parque infantil, quatro churrasqueiras, duas quadras poliesportivas e dois campos de futebol soçaite gramado. De acordo com o diretor da unidade de Crato, Kalaman Alencar Liberal, “a chegada dessa unidade do Sest Senat é uma grande conquista para toda a população de Crato, que irá se beneficiar com atendimentos de qualidade na área da saúde e de cursos, e ainda usufruir de uma área admirável de lazer e esportes”, afirma. Para o prefeito de Crato, Samuel Araripe, a unidade é importante porque a cidade está localizada em uma região estratégica entre Crato e Juazeiro do Norte. Graças ao Sest Senat e os seus serviços oferecidos, a população da região do Cariri vai ter uma oportunidade ímpar de se qualificar e, consequentemente, ganhar mais dinheiro e melhorar de vida. Ligado à CNT (Confederação Nacional do Transporte), o Sest Senat, desde sua criação, em setembro de 1993, atua na preparação de mão de obra para o setor transportador e na melhoria da qualidade de vida de trabalhadores no transporte, oferecendo atendimentos em saúde, lazer, esporte, recreação e cultura. l
Estat铆stico, Econ么mico, Despoluir e Ambiental
FERROVIÁRIO MALHA FERROVIÁRIA - EXTENSÃO EM KM Total Nacional Total Concedida Concessionárias Malhas concedidas
30.051 28.614 11 12
BOLETIM ESTATÍSTICO RODOVIÁRIO MALHA RODOVIÁRIA - EXTENSÃO EM KM TIPO
PAVIMENTADA
Federal Estadual Coincidente Estadual Municipal Total
NÃO PAVIMENTADA
63.966 17.073 106.548 26.827 214.414
TOTAL
12.975 76.941 5.234 22.307 113.451 219.999 1.234.918 1.261.745 1.366.578 1.580.992
MALHA RODOVIÁRIA CONCESSIONADA - EXTENSÃO EM KM Adminstrada por concessionárias privadas 15.365 Administrada por operadoras estaduais 1.195 FROTA DE VEÍCULOS Caminhão Cavalo mecânico Reboque Semi-reboque Ônibus interestaduais Ônibus intermunicipais Ônibus fretamento Ônibus urbanos Nº de Terminais Rodoviários
2.303.961 467.101 888.839 682.334 16.136 40.000 25.120 105.000
11.738 8.066 1.674 7.136 28.614
MATERIAL RODANTE - UNIDADES Vagões Locomotivas Carros (passageiros urbanos)
100.924 3.045 1.670
PASSAGENS DE NÍVEL - UNIDADES Total Críticas
12.289 2.659
VELOCIDADE MÉDIA OPERACIONAL Brasil EUA
25 km/h 80 km/h
AEROVIÁRIO AEROPORTOS - UNIDADES Internacionais Domésticos Pequenos e aeródromos
32 35 2.498
173
AQUAVIÁRIO INFRAESTRUTURA - UNIDADES Terminais de uso privativo misto Portos
122 37
FROTA MERCANTE - UNIDADES Embarcações de cabotagem e longo curso
152
HIDROVIA - EXTENSÃO EM KM E FROTA Rede fluvial nacional Vias navegáveis Navegação comercial Embarcações próprias
MALHA POR CONCESSIONÁRIA - EXTENSÃO EM KM ALL do Brasil S.A. FCA - Ferrovia Centro-Atlântica S.A. MRS Logística S.A. Outras Total
AERONAVES REGISTRADAS NO BRASIL - UNIDADES Transporte regular, doméstico ou internacional Transporte não regular: táxi aéreo Privado Outros Total
MATRIZ DO TRANSPORTE DE CARGAS MODAL
44.000 29.000 13.000 1.148
505 918 5.749 6.711 13.883
MILHÕES
(TKU)
PARTICIPAÇÃO
(%)
Rodoviário
485.625
61,1
Ferroviário
164.809
20,7
Aquaviário
108.000
13,6
Dutoviário
33.300
4,2
Aéreo
3.169
0,4
Total
794.903
100
74
CNT TRANSPORTE ATUAL
AGOSTO 2012
BOLETIM ECONÔMICO
INVESTIMENTOS FEDERAIS EM INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES*
R$ bilhões
Investimentos em Transporte da União (dados atualizados junho/2012)
20 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0
Investimentos em Transporte da União por Modal (total pago acumuldado - até junho/2012) (R$ 3,58 bilhões)
17,79
0,325 (9,1%)
3,22
0,229 (6,4%)
3,011 (84,0%)
3,58
0,35
Autorizado Valor Pago do Exercício Total Pago Restos a Pagar Pagos Obs.: O Total Pago inclui valores pagos do exercício atual e restos a pagar pagos de anos anteriores
CIDE - 2012
(R$ Milhões)
Arrecadação no mês maio/2012 395 Arrecadação no ano (2012) 2.083 Investimentos em transportes total pago* em 2012 (com recursos de 2012 e de anos anteriores)1 920 Investimentos em transportes total pago* em 2012 (apenas com recursos de 2012)2 903 CIDE não utilizada em transportes (2012) 1.180 Total Acumulado CIDE (desde 2002) 75.356 O Decreto nº 7.764 (junho de 2012) zerou a alíquota da CIDE. Não haverá arrecadação a partir dessa data. * O Total Pago inclui valores pagos do exercício atual e restos a pagar pagos de anos anteriores. 1 - Inclui investimentos realizados com recursos da CIDE arrecadados no exercício corrente e em anos anteriores. 2 - Inclui investimentos realizados com recursos da CIDE arrecadados apenas no exercício corrente. valores pagos em infraestrutura (CIDE) não utilizado (CIDE)
57%
43%
Obs: são considerados todos os recursos não investidos em infraestrutura de transporte.
Rodoviário
Aquaviário
Ferroviário
Aéreo
CONJUNTURA MACROECONÔMICA - JUNHO/2012
PIB (% cresc a.a.)1 Selic (% a.a.)2 IPCA (%)3 Balança Comercial4 Reservas Internacionais5 Câmbio (R$/US$)6
2011
acumulado em 2012
últimos 12 meses
expectativa para 2012
2,7 11,00 6,50 29,79
0,2
1,9
2,1 7,50 4,93 19,20
8,50 2,24 2,95
352,01
4,99 27,54 372,98
1,87
2,05
2,04
Observações:
Arrecadação X Investimentos Pagos: Recursos da CIDE
1 - Expectativa de crescimento do PIB para 2012
90
75,3
72
3 - Inflação acumulada no ano e em 12 meses até junho/2012 4 - Balança Comercial acumulada no ano e em 12 meses até junho/2012 (US$ bilhões)
54
34,2
36
5 - Posição dezembro/2011 e junho/2012 em US$ bilhões 6 - Câmbio de fim de período 27/06/2012, média entre compra e venda.
18 Fontes: Receita Federal (maio/2012), COFF - Câmara dos Deputados (junho/2012), IBGE e
0
9 6 8 7 5 4 2 3 1 0 200 200 200 200 200 200 200 200 201 201 Arrecadação Acumulada CIDE
2 201
Focus - Relatório de Mercado 29/06/12), Banco Central do Brasil.
Investimento Pago Acumulado
CIDE - A partir do Decreto nº 7.764 de 22.06.2012, as aliquotas da CIDE ficam reduzidas a zero. Os recursos da CIDE são destinados ao subsídio e transporte de combustíveis, projetos ambientais na indústria de combustíveis e investimentos em infraestrutura de transporte. Obs: Alteração da alíquota CIDE conforme decretos vigentes.
8
R$ bilhões
0,017 (0,5%)
* Veja a versão completa deste boletim em www.cnt.org.br
NECESSIDADE DE INVESTIMENTO DO SETOR DE TRANSPORTE BRASILEIRO: R$ 405,0 BILHÕES (PLANO CNT DE TRANSPORTE E LOGÍSTICA 2011)
CNT TRANSPORTE ATUAL
AGOSTO 2012
75
BOLETIM DO DESPOLUIR DESPOLUIR
PROJETOS
A Confederação Nacional do Transporte (CNT) lançou em 2007 o Programa Ambiental do Transporte - DESPOLUIR, com o objetivo de promover o engajamento de empresários, caminhoneiros autônomos, taxistas, trabalhadores em transporte e da sociedade na construção de um desenvolvimento verdadeiramente sustentável.
• Redução da emissão de poluentes pelos veículos • Incentivo ao uso de energia limpa pelo setor transportador • Aprimoramento da gestão ambiental nas empresas, garagens e terminais de transporte • Cidadania para o meio ambiente
RESULTADOS DO PROJETO DE REDUÇÃO DAS EMISSÕES DE POLUENTES PELOS VEÍCULOS ESTRUTURA
NÚMEROS DE AFERIÇÕES 2012
2007 A 2011
ATÉ MAIO
JUNHO
89.667
13.821
590.470 Aprovação no período 87,50%
89,41 %
TOTAL 693.958 87,83%
91,40%
Federações participantes
20
Unidades de atendimento
68
Empresas atendidas
8.507
Caminhoneiros autônomos atendidos
9.865
PUBLICAÇÕES DO DESPOLUIR
INSTITUIÇÕES PARTICIPANTES Para participar do Projeto Redução da Emissão de Poluentes pelos Veículos, entre em contato com a Federação que atende o seu Estado. FEDERAÇÃO FETRANSPORTES
27.2125-7643
BA e SE
71.3341-6238
SP
11.2632-1010
FETRANCESC
SC
48.3248-1104
FETRANSPAR
PR
41.3333-2900
FETRANSUL
RS
51.3374-8080
FETRACAN
AL, CE, PB, PE, PI, RN e MA
81.3441-3614
FETCEMG
MG
31.3490-0330
FENATAC
DF, TO, MS, MT e GO
61.3361-5295
RJ
21.3869-8073
AC, AM, RR, RO, AP e PA
92.2125-1009
ES
27.2125-7643
BA e SE
71.3341-6238
RJ
21.3221-6300
RN, PB, PE e AL
84.3234-2493
FETRAM
MG
31.3274-2727
FEPASC
SC e PR
41.3244-6844
CEPIMAR
CE, MA e PI
85.3261-7066
FETRAMAR
MS, MT e RO
65.3027-2978
AM, AC, PA, RR e AP
92.3584-6504
FETRASUL
DF, GO, SP e TO
62.3598-2677
FETERGS
RS
51.3228-0622
FETRANSCARGA FETRAMAZ FETRANSPORTES FETRABASE FETRANSPOR FETRONOR Passageiros
TELEFONE
ES
FETCESP
FETRABASE
Carga
UFs ATENDIDAS
FETRANORTE
O governo brasileiro adotou o biodiesel na matriz energética nacional, através da criação do Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel e da aprovação da Lei n. 11.097. Atualmente, todo o óleo diesel veicular comercializado ao consumidor final possui biodiesel. Essa mistura é denominada óleo diesel B e apresenta uma série de benefícios ambientais, estratégicos e qualitativos. O objetivo desta publicação é auxiliar na rotina operacional dos transportadores, apresentando subsídios para a efetiva adoção de procedimentos que garantam a qualidade do óleo diesel B, trazendo benefícios ao transportador e, sobretudo, ao meio ambiente.
8
SETOR
Conheça abaixo duas das diversas publicações ambientais que estão disponíveis para download no site do DESPOLUIR:
Para saber mais: www.cntdespoluir.org.br
Em Janeiro de 2012, entrou em vigor a fase P7 do Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve) para veículos pesados. A Confederação Nacional do Transporte (CNT) considera que este fato tem impactos significativos no setor, uma vez que novos elementos fazem parte do dia a dia do transportador rodoviário. Nesse contexto, a CNT elaborou a presente publicação, com o objetivo de disseminar informações importantes a respeito do tema. O trabalho apresenta ao setor as novas tecnologias e as implicações da fase P7 em relação aos veículos, combustíveis e aos ganhos para o meio ambiente.
76
CNT TRANSPORTE ATUAL
AGOSTO 2012
CONSUMO DE COMBUSTÍVEIS NO BRASIL
BOLETIM AMBIENTAL
CONSUMO DE ÓLEO DIESEL POR MODAL DE TRANSPORTE (em milhões de m3)
2009 EMISSÕES DE CO2 NO BRASIL (EM BILHÕES DE TONELADAS - INCLUÍDO MUDANÇA NO USO DA TERRA) CO2 t/ANO 1.202,13 140,05 136,15 48,45 47,76 1.574,54
Mudança no uso da terra Industrial* Transporte Geração de energia Outros setores Total
(%) 76,35 8,90 8,65 3,07 3,03 100,00
PARTICIPAÇÃO
CO t/ANO 123,17 7,68 5,29 136,15
Rodoviário Aéreo Outros meios Total
% 97%
Ferroviário
0,83
2%
1,08
3%
1,18
3%
Hidroviário
0,49
1%
0,14
0%
0,14
0%
35,68 100%
37,7
100%
TIPO
2008
2009
2010
2011
Diesel
44,76
44,29
49,23
51,78
(%) 90,46 5,65 3,88 100,00
PARTICIPAÇÃO
17,07
Gasolina 25,17
25,40
29,84
35,45
12,53
Etanol
16,47
15,07
10,71
3,05
13,29
* Inclui consumo de todos os setores (transporte, indústria, energia, agricultura, etc)
EMISSÕES DE POLUENTES - VEÍCULOS CICLO DIESEL - 2009**
80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0%
60% 50% 40% CO2 NOx CO NMHc MP
30% 20% 10% 0%
Automóveis GNV Comerciais Leves (Otto) Motocicletas * Inclui veículos movidos a gasolina, etanol e GNV ** Dados fornecidos pelo último Inventário Nacional de Emissões Atmosféricas por Veículos Automotores Rodoviários – MMA, 2011.
Ônibus Urbanos
Caminhões Pesados
Japão EUA Europa
Ônibus Caminhões Comerciais Leves Rodoviários (Diesel) médios
10 15 10 a 50 CE: Fortaleza, Aquiraz, Horizonte, Caucaia, Itaitinga, Chorozinho, Maracanaú, Euzébio, Maranguape, Pacajus, Guaiúba, Pacatuba, São Gonçalo do Amarante, Pindoretama e Cascavel. PA: Belém, Ananindeua, Marituba, Santa Bárbara do Pará, Benevides e Santa Isabel do Pará. PE: Recife, Abreu e Lima, Itapissuma, Araçoiaba, Jaboatão dos Guararapes, Cabo de Santo Agostinho, Moreno, Camaragibe, Olinda, Igarassu, Paulista, Ipojuca, Itamaracá e São Lourenço da Mata. Frotas cativas de ônibus dos municípios: Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Curitiba, Salvador, Porto Alegre e São Paulo. RJ: Rio de Janeiro, Belford Roxo, Nilópolis, Duque de Caxias, Niterói, Guapimirim, Nova Iguaçu, Itaboraí, Paracambi, Itaguaí, Queimados, Japeri, São Gonçalo, Magé, São João de Meriti, Mangaratiba, Seropédica, Maricá, Tanguá e Mesquita. SP: São Paulo, Americana, Mairiporã, Artur Nogueira, Mauá, Arujá, Mogi das Cruzes, Barueri, Mongaguá, Bertioga, Monte Mor, Biritibamirim, Nova Odessa, Caçapava, Osasco, Caieiras, Paulínia, Cajamar, Pedreira, Campinas, Peruíbe, Carapicuíba, Pindamonhangaba, Cosmópolis, Pirapora do Bom Jesus, Cotia, Poá, Cubatão, Praia Grande, Diadema, Ribeirão Pires, Embu, Rio Grande da Serra, Embuguaçu, Salesópolis, Engenheiro Coelho, Santa Bárbara d’ Oeste, Ferraz de Vasconcelos, Santa Branca, Francisco Morato, Santa Isabel, Franco da Rocha, Santana de Parnaíba, Guararema, Santo André, Guarujá, Santo Antônio da Posse, Guarulhos, Santos, Holambra, São Bernardo do Campo, Hortolândia, São Caetano do Sul, Igaratá, São José dos Campos, Indaiatuba, São Lourenço da Serra, Itanhaém, São Vicente, Itapecerica da Serra, Sumaré, Itapevi, Suzano, Itaquaquecetuba, Taboão da Serra, Itatiba, Taubaté, Jacareí, Tremembé, Jaguariúna, Valinhos, Jandira, Vargem Grande Paulista, Juquitiba e Vinhedo.
1,3%
2,6%
35,9%
50** 42,7% 4,7% 12,8%
500 ou 1800***
Demais estados e cidades * Em partes por milhão de S – ppm de S ** Municípios com venda exclusiva de S-50 *** Consultar a seção Legislação no Site do DESPOLUIR: www.cntdespoluir.org.br
Teor de Biodiesel Outros
Pt. Fulgor Enxofre
Corante Aspecto
ÍNDICE TRIMESTRAL DE NÃO-CONFORMIDADES NO ÓLEO DIESEL POR ESTADO - MAIO 2012
Trimestre Anterior Trimestre Atual
25 20
% NC
Caminhões Leves
NÃO-CONFORMIDADES POR NATUREZA NO ÓLEO DIESEL - MAIO 2012
QUALIDADE DO ÓLEO DIESEL TEOR MÁXIMO DE ENXOFRE (S) NO ÓLEO DIESEL (em ppm de s)*
Brasil
2012 (ABRIL)
EMISSÕES DE POLUENTES - VEÍCULOS CICLO OTTO* - 2009**
CO2 NOx NMHc CO CH4
39,81 100%
CONSUMO TOTAL POR TIPO DE COMBUSTÍVEL (em milhões de m3)*
EMISSÕES DE CO2 POR MODAL DE TRANSPORTE MODAL
36,38
VOLUME
Total
*Inclui processos industriais e uso de energia
2
34,46
% 97%
VOLUME
38,49
% 97%
VOLUME
Rodoviário
MODAL
EMISSÕES DE CO2 POR SETOR SETOR
2011
2010
16,2
15
9,2
10
0,0
0,0
AP 0,0 0,0
0
AC 0,0 0,0
AL 9,2 7,3
AM 16,2 14,2
0,3
1,3
0,9
BA 0,3 0,5
CE 1,3 1,2
DF 0,9 0,0
3,6
1,7
ES 1,7 2,4
0,2
GO 6,7 1,4
7,4
7,1
6,7
5
MA 0,2 0,2
MG 3,6 3,7
MS 1,4 0,7
Percentual relativo ao número de não-conformidades encontradas no total de amostras coletadas. Cada amostra analisada pode conter uma ou mais não-conformidades.
MT 7,1 4,8
PA 2,1 1,5
PB 7,4 8,9
9,1
8,8
2,1
1,4
PE 8,8 6,9
0,9
1,8
2,6
PI 0,9 0,6
PR 1,8 1,7
RJ 2,6 2,2
5,3
4,3
1,6
0,0
RN 4,3 2,7
RO 0,0 0,0
2,6
3,4
SE 2,6 12,6
SP 3,4 3,2
3,6 0,0
RR 9,1 5,6
RS 1,6 2,0
SC 5,3 4,5
TO 0,0 4,2
Brasil 3,6 3,2
EFEITOS DOS PRINCIPAIS POLUENTES ATMOSFÉRICOS DO TRANSPORTE POLUENTES
PRINCIPAIS FONTES
CARACTERÍSTICAS
EFEITOS SAÚDE HUMANA
1
Monóxido de carbono (CO)
Resultado do processo de combustão de fonte móveis2 e de fontes fixas industriais3.
Gás incolor, inodoro e tóxico.
Diminui a capacidade do sangue em transportar oxigênio. Aspirado em grandes quantidades pode causar a morte.
Dióxido de Carbono (CO2)
Resultado do processo de combustão de fonte móveis2 e de fontes fixas industriais3.
Gás tóxico, sem cor e sem odor.
Provoca confusão mental, prejuízo dos reflexos, inconsciência, parada das funções cerebrais.
Metano (CH4)
Resultado do processo de combustão de fontes móveis2 e fixas3, atividades agrícolas e pecuárias, aterros sanitários e processos industriais4.
Gás tóxico, sem cor, sem odor. Quando adicionado a água torna-se altamente explosivo.
Causa asfixia, parada cardíaca, inconsciência e até mesmo danos no sistema nervoso central, se inalado.
MEIO AMBIENTE
Causam o aquecimento global, por serem gases de efeito estufa.
Compostos orgânicos voláteis (COVs)
Resultado do processo de combustão de fonte móveis2 e processos industriais4.
Composto por uma grande variedade de moléculas a base de carbono, como aldeídos, cetonas e outros hidrocarbonetos leves.
Causa irritação da membrana mucosa, conjuntivite, danos na pele e nos canais respiratórios. Em contato com a pele pode deixar a pele sensível e enrugada e quando ingeridos ou inalados em quantidades elevadas causam lesões no esôfago, traqueia, trato gastro-intestinal, vômitos, perda de consciência e desmaios.
Óxidos de nitrogênio (NOx)
Formado pela reação do óxido de nitrogênio e do oxigênio reativo presentes na atmosfera e queima de biomassa e combustíveis fósseis.
O NO é um gás incolor, solúvel. O NO2 é um gás de cor acastanhada ou castanho avermelhada, de cheiro forte e irritante, muito tóxico. O N2O é um gás incolor, conhecido popularmente como gás do riso.
O NO2 é irritante para os pulmões e Causam o aquecimento global, diminui a resistência às infecções por serem gases de efeito estufa. respiratórias. A exposição continuada ou frequente a níveis elevados pode provocar Causadores da chuva ácida5. tendência para problemas respiratórios.
Formado pela quebra das moléculas dos hidrocarbonetos liberados por alguns poluentes, como combustão de gasolina e diesel. Sua formação é favorecida pela incidência de luz solar e ausência de vento.
Gás azulado à temperatura ambiente, instável, altamente reativo e oxidante.
Provoca problemas respiratórios, irritação aos olhos, nariz e garganta.
Resultado do processo de combustão de fontes móveis2 e processos industriais4.
Provoca irritação e aumento na produção de muco, desconforto na Gás denso, incolor, não inflamável respiração e agravamento de e altamente tóxico. problemas respiratórios e cardiovasculares.
Causa o aquecimento global, por ser um gás de efeito estufa. Causador da chuva ácida5, que deteriora diversos materiais, acidifica corpos d'água e provoca destruição de florestas.
Conjunto de poluentes constituído de poeira, fumaça e todo tipo de material sólido e líquido que se mantém suspenso. Possuem diversos tamanhos em suspensão na atmosfera. O tamanho das partículas está diretamente associado ao seu potencial para causar problemas à saúde, quanto menores, maiores os efeitos provocados.
Altera o pH, os níveis de pigmentação e a fotossíntese das plantas, devido a poeira depositada nas folhas.
Ozônio (O3)
Dióxido de enxofre (SO2)
Material particulado (MP)
Resultado da queima incompleta de combustíveis e de seus aditivos, de processos industriais e do desgaste de pneus e freios.
Incômodo e irritação no nariz e garganta são causados pelas partículas mais grossas. Poeiras mais finas causam danos ao aparelho respiratório e carregam outros poluentes para os alvéolos pulmonares, provocando efeitos crônicos como doenças respiratórias, cardíacas e câncer.
Causa destruição e afeta o desenvolvimento de plantas e animais, devido a sua natureza corrosiva.
8
1. Em 12 de junho de 2012, segundo o Comunicado nº 213, o Centro Internacional de Pesquisas sobre o Câncer (IARC, em inglês), que é uma agência da Organização Mundial da Saúde (OMS), classificou a fumaça do diesel como substância cancerígena (grupo 1), mesma categoria que se encontram o amianto, álcool e cigarro. 2. Fontes móveis: motores a gasolina, diesel, álcool ou GNV. 3. Fontes fixas: Centrais elétricas e termoeléctricas, instalações de produção, incineradores, fornos industriais e domésticos, aparelhos de queima e fontes naturais como vulcões, incêndios florestais ou pântanos. 4. Processos industriais: procedimentos envolvendo passos químicos ou mecânicos que fazem parte da fabricação de um ou vários itens, usualmente em grande escala. 5. Chuva ácida: a chuva ácida, também conhecida como deposição ácida, é provocada por emissões de dióxido de enxofre (SO2) e óxidos de nitrogênio (NOx) de usinas de energia, carros e fábricas. Os ácidos nítrico e sulfúrico resultantes podem cair como deposições secas ou úmidas. A deposição úmida é a precipitação: chuva ácida, neve, granizo ou neblina. A deposição seca cai como particulados ácidos ou gases.
Para saber mais: www.cntdespoluir.org.br
“A qualidade da infraestrutura brasileira vem piorando em relação ao resto do mundo e pode frear o crescimento econômico” DEBATE
Investir em infraestrutura é uma solução para enfrentar a crise?
Investir em infraestrutura é urgente e crucial para o país FERNANDO ARBACHE
Brasil vem sendo percebido como grande oportunidade de crescimento de empresas provenientes de diversos países imersos em uma crise econômica. O motivo dessa percepção está no crescimento econômico do país e, consequentemente, no crescimento da renda da população. Hoje, o Brasil é o sexto maior PIB nominal do planeta, segundo o “The World Factbook/CIA”. Há ainda uma expectativa de que se torne o quinto no final de 2012. O crescimento da renda reflete no índice Gini, que, segundo o Centro de Políticas Sociais da FGV passou de 0,596, em 2001, para 0,519, em janeiro de 2012, uma queda de 12,9%. O Gini nos Estados Unidos é de 0,469 e na Suécia, de 0,25. De acordo com a FGV, a renda dos 50% mais pobres no Brasil cresceu quase seis vezes (580%) mais rápido do que a renda dos 10% mais ricos na década passada. As classes A, B e C somadas saíram de 49% da população total do Brasil, em 2003, para mais de 62% das famílias, em 2012. Crescimento da renda se traduz, entre outras coisas, no aumento do consumo. De acordo
O
FERNANDO ARBACHE Professor de Logística do IDE/FGV (Instituto de Desenvolvimento Educacional da Fundação Getúlio Vargas)
com a Fenabrave, a frota de automóveis no Brasil, por exemplo, cresceu, em média, 10% nos últimos quatro anos. Porém, o aumento da frota sem o investimento proporcional em infraestrutura gerou aumento de congestionamentos acima da média, o que trouxe diversos problemas à população. A falta de investimento em infraestrutura vem reduzindo a capacidade de atendimento dos aeroportos brasileiros. Com mais renda e oferta de crédito, houve uma migração das viagens de ônibus para o avião. O número de passageiros deu um salto de 71 milhões, em 2003, para quase 180 milhões, em 2011, crescimento de 154%. A qualidade da infraestrutura brasileira vem piorando em relação ao resto do mundo. O país caiu 20 posições no ranking global de competitividade do Fórum Econômico Mundial, de 84º para 104º lugar, em 2011. Já havia perdido colocações em 2010 por causa da lentidão do governo em implementar projetos de infraestrutura. Segundo a LCA Consultores, em uma escala de um a sete em qualidade de infraestrutura, o país teve nota 3,4, conceito esse
que está abaixo da média mundial, que é de 4,1. Ao comparar a oferta de infraestrutura e a demanda por ela, percebe-se uma equação que pode fragilizar o crescimento do país. Quando a oferta excede à procura, seu preço tende a cair, porém quando a procura excede à oferta, os preços crescem. A escassez de oferta de infraestrutura gerou aumento de custos produtivos, de ineficiência e, por fim, de inflação. O Brasil tem, em sua memória recente, o histórico dos planos econômicos fracassados para debelar a inflação. A estabilização da moeda brasileira é uma conquista que tem como consequências o crescimento da renda e o enriquecimento da população. A falta de investimento em infraestrutura pode frear o crescimento econômico e levar o país a uma depressão em um espaço de tempo muito menor do que o necessário para o país alcançar seu status atual. O investimento em infraestrutura é urgente e crucial para o país continuar na rota em que se encontra. Esse é um papel que cabe ao governo e às empresas implementar; e à população cobrar.
“No transporte se vê a retomada da inteligência no planejamento, mas ela necessita ser estendida a toda contratação de projetos”
Revitalização passa pelo processo de concessões FRANCISCO ANUATTI NETO
m processo inflacionário é o pior inimigo de uma visão em longo prazo. O Brasil viveu um prolongado período imerso em preocupações de curtíssimo prazo, tendo como consequência um grande esvaziamento das instituições e organizações da administração públicas dedicadas ao planejamento e implantação de projetos de infraestrutura. Com a estabilização econômica que se seguiu a implantação do Plano Real e a consolidação de um novo regime fiscal, este consagrado na Lei de Responsabilidade Fiscal, o país teve a oportunidade de aperfeiçoar, ainda que muito lentamente, um conjunto de instrumentos institucionais necessários à viabilização de investimentos em infraestrutura para que o Brasil possa alcançar os padrões competitivos exigidos pela concorrência internacional. Em parte, a revitalização dos setores de infraestrutura foi obtida por meio do
U
processo de concessões ao setor privado dos serviços de transportes rodoviário, ferroviário e de arrendamentos de terminais portuários (devendo ser incluídos também aqui os resultados alcançados com as privatizações em telefonia e eletricidade). A privatização permitiu o criar uma nova classe de empresas, comprometidas com a operação, manutenção e ampliação da infraestrutura pública, com horizontes contratuais em longo prazo (de 20 a 30 anos). Porém, essa nova indústria, que difere das organizações tradicionais focadas em engenharia e construção, não substitui o estado em suas funções de público, isto é, de planejamento e priorização de novos projetos. Mesmo assim essas concessionárias trouxeram uma contribuição efetiva. Além de recuperar, manter e ampliar os serviços, as concessionárias constituíram-se num novo tipo de agente social que demanda oportunidades de expansão de seu negócio em novas conces-
sões. Assim, ao agregar uma visão em longo prazo, contrastante a mera busca por novas obras, as concessionárias contribuem de forma ativa para o desenvolvimento da infraestrutura do país. Nesse sentido, cabe ao poder público buscar os meios mais eficientes e transparentes de seleção e priorização de projetos, bem como escolher entre as alternativas de contração que valorizem as parcerias em longo prazo. Não se pode negar a existência de avanços institucionais, mas eles parecem ser insuficientes para fazer frente aos desafios do país. Na área de transportes se vê a retomada da inteligência no planejamento, mas ela necessita ser urgentemente estendida a todo o ciclo de vida da contratação de projetos. Somente com a revitalização de instituições dotadas de inteligência será possível retirar a proeminência que os órgãos de controle (CGU) e fiscalização (TCU) têm ganhado nos processos de contratação.
FRANCISCO ANUATTI NETO Doutor em Economia, professor da Fearp/USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto da Universidade de SP)
CNT TRANSPORTE ATUAL
AGOSTO 2012
81
“Devemos gratidão aos caminhoneiros, por tudo que realizam, porque são agentes decisivos no abastecimento e no crescimento deste país” CLÉSIO ANDRADE
OPINIÃO
Profissionais imprescindíveis
D
esde que fez sua opção pelo modal rodoviário, o Brasil tem seu abastecimento interno e os caminhos do mercado internacional dependendo da infraestrutura rodoviária, da qualidade logística das empresas transportadoras e da competência profissional dos motoristas. O Brasil tem uma estrutura gigante de transporte de cargas rodoviárias e um dos componentes principais desse sistema é o motorista. Comprometidos para atender contratos de transporte que determinam prazos de entrega, muitas vezes exíguos, com produtos perecíveis ou perigosos, de seu desempenho profissional depende muito o dinamismo de nossa economia. Um dos traços do perfil do caminhoneiro é a responsabilidade. Em todas as suas diferenças como indivíduos, o que sintetiza o caráter do condutor de caminhões, poucos sabem, é uma vocação solidária e fraterna, indicando sempre a forma mais segura de seguir a todos os que transitam nas estradas brasileiras. O trabalho diário do caminhoneiro é o responsável pelo abastecimento das cidades. Dos principais centros urbanos às fronteiras, até as mais distantes cidades de nosso continental país, percorrendo, pelo seu ofício, distâncias fabulosas. Na sua lida, enfrenta frequentemente a ausência da família, estradas sem conservação e muitas vezes inseguras, além dos riscos de acidentes.
Agentes do desenvolvimento nacional, os caminhoneiros experimentam atualmente uma importante transformação profissional que os distinguem definitivamente das gerações passadas, porém sem que se mude o caráter humano e o espírito fraterno. As novas tecnologias das cabines dos modernos caminhões vêm exigindo conhecimentos básicos de informática, moldando uma categoria altamente especializada. Para enfrentar com mais preparo as mudanças e as adversidades da profissão, o Sest Senat oferece diversos cursos tratando da condução segura e econômica dos veículos, também sobre o transporte de cargas perigosas, perecíveis e fracionadas, tecnologias embarcadas, entre outros tantos. Nos cursos são incluídas noções de cidadania, relações pessoais, meio ambiente, mecânica e muito mais informações para o preparo dos profissionais condutores. Devemos gratidão aos caminhoneiros, por tudo que realizam, porque são agentes decisivos no abastecimento e no crescimento deste país, porque são companheiros nas longas jornadas pelas rodovias. Trafegam pelas estradas brasileiras milhões de caminhões, conduzidos por profissionais dignos e solidários. A eles, nossos agradecimentos e nosso compromisso em manter o Sest Senat como uma terceira casa, sempre pronta para recebê-los, considerando a residência e a boleia do caminhão como as primeiras.
82
CNT TRANSPORTE ATUAL
CNT CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO TRANSPORTE PRESIDENTE Clésio Andrade VICE-PRESIDENTES DA CNT TRANSPORTE DE CARGAS
AGOSTO 2012
José Severiano Chaves Eudo Laranjeiras Costa Antônio Carlos Melgaço Knitell Eurico Galhardi Francisco Saldanha Bezerra Jerson Antonio Picoli João Rezende Filho Mário Martins
Escreva para CNT TRANSPORTE ATUAL As cartas devem conter nome completo, endereço e telefone dos remetentes
DOS LEITORES
Newton Jerônimo Gibson Duarte Rodrigues TRANSPORTE AQUAVIÁRIO, FERROVIÁRIO E AÉREO
Meton Soares Júnior TRANSPORTE DE PASSAGEIROS
Jacob Barata Filho TRANSPORTADORES AUTÔNOMOS, DE PESSOAS E DE BENS
José Fioravanti PRESIDENTES DE SEÇÃO E VICE-PRESIDENTES DE SEÇÃO TRANSPORTE DE PASSAGEIROS
Marco Antonio Gulin Otávio Vieira da Cunha Filho TRANSPORTE DE CARGAS
Flávio Benatti Pedro José de Oliveira Lopes TRANSPORTADORES AUTÔNOMOS, DE PESSOAS E DE BENS
José da Fonseca Lopes Edgar Ferreira de Sousa
TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE CARGAS
Luiz Anselmo Trombini Urubatan Helou Irani Bertolini Pedro José de Oliveira Lopes Paulo Sérgio Ribeiro da Silva Eduardo Ferreira Rebuzzi Oswaldo Dias de Castro Daniel Luís Carvalho Augusto Emílio Dalçóquio Geraldo Aguiar Brito Viana Augusto Dalçóquio Neto Euclides Haiss Paulo Vicente Caleffi Francisco Pelúcio
TRANSPORTE AQUAVIÁRIO
TRANSPORTADORES AUTÔNOMOS, DE PESSOAS E DE BENS
Glen Gordon Findlay Paulo Cabral Rebelo
Edgar Ferreira de Sousa José Alexandrino Ferreira Neto José Percides Rodrigues Luiz Maldonado Marthos Sandoval Geraldino dos Santos Éder Dal’ Lago André Luiz Costa Diumar Deléo Cunha Bueno Claudinei Natal Pelegrini Getúlio Vargas de Moura Bratz Nilton Noel da Rocha Neirman Moreira da Silva
TRANSPORTE FERROVIÁRIO
Rodrigo Vilaça Júlio Fontana Neto TRANSPORTE AÉREO
Urubatan Helou José Afonso Assumpção CONSELHO FISCAL (TITULARES) David Lopes de Oliveira Éder Dal’lago Luiz Maldonado Marthos José Hélio Fernandes CONSELHO FISCAL (SUPLENTES) Waldemar Araújo André Luiz Zanin de Oliveira José Veronez Eduardo Ferreira Rebuzzi DIRETORIA TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE PASSAGEIROS
TRANSPORTE AQUAVIÁRIO, FERROVIÁRIO E AÉREO
Hernani Goulart Fortuna Paulo Duarte Alecrim André Luiz Zanin de Oliveira Moacyr Bonelli George Alberto Takahashi José Carlos Ribeiro Gomes Roberto Sffair Luiz Ivan Janaú Barbosa José Roque
Luiz Wagner Chieppe Alfredo José Bezerra Leite Lelis Marcos Teixeira José Augusto Pinheiro
Fernando Ferreira Becker
Victorino Aldo Saccol
Eclésio da Silva
Raimundo Holanda Cavacante Filho Jorge Afonso Quagliani Pereira Alcy Hagge Cavalcante
AEROPORTOS
COMANDOS DE SAÚDE
Parabéns ao professor Anderson Correia, do ITA, e à reportagem da revista CNT Transporte Atual pela entrevista sobre a falta de aeroportos no Brasil. Há anos convivemos com esse problema, mas nossas autoridades não se importam. Será que vamos esperar o caos aéreo acontecer durante a Copa do Mundo de 2014 para só depois tomar alguma atitude? Parece que sim, já que não temos mais tempo para resolver todos os problemas. Enquanto isso, usuários continuam pagando caro por um serviço ruim.
Sou caminhoneiro há 15 anos e já participei da ação realizada pelo Sest Senat e pela PRF. Acho importante esse trabalho porque é uma forma de cuidarmos da saúde. No dia a dia da estrada nem sempre dá tempo de ir ao médico. Gostei das dicas de cuidados com a coluna publicadas na revista CNT Transporte Atual.
Gerson Sant’anna Sete Lagoas/MG LEI SECA Depois de quatro anos, é bastante agradável saber que muitos motoristas entenderam a importância de não misturar álcool e direção. Por outro lado, percebemos que a fiscalização nem sempre é eficiente, permitindo, portanto o relaxamento de muita gente. Sou a favor de regras cada vez mais rígidas. Só assim teremos um país livre de acidentes e acabaremos com as mais de 38 mil mortes anuais registradas no trânsito de nossas cidades. Maria Luíza Parente Registro/SP
José Dalton Almeida Brasília/DF SUGESTÃO DE REPORTAGEM Gostaria de sugerir uma reportagem sobre a antiga Ferrovia do Aço, em Minas Gerais. Trabalhei lá entre 1980 e 1982 e tenho muita saudade da estação de Engenheiro Gutiérrez que já não existe mais. Ela facilitava bastante as nossas viagens. Meus avós e minhas tias iam até Aparecida (SP) de trem. Tudo era bonito, com aqueles vagões que lembravam os trens dos filmes. europeus. Benedito Adão Queiroz Balsa Nova/PR
CARTAS PARA ESTA SEÇÃO
SAUS, quadra 1, bloco J Edifício CNT, entradas 10 e 20, 10º andar 70070-010 - Brasília (DF) E-mail: imprensa@cnt.org.br Por motivo de espaço, as mensagens serão selecionadas e poderão sofrer cortes