Excelência no transporte

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EDIÇÃO INFORMATIVA DA CNT

CNT

ANO XXI NÚMERO 247 ABRIL 2016

T R A N S P O R T E A T U A L

Excelência no transporte SEST SENAT é referência na formação profissional e no desenvolvimento de ações que proporcionam mais qualidade de vida aos trabalhadores do setor

LEIA ENTREVISTA COM O JORNALISTA PEDRO TRUCÃO




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CNT TRANSPORTE ATUAL

ABRIL 2016

REPORTAGEM DE CAPA Ações dos programas de desenvolvimento profissional e de promoção social do SEST SENAT alcançam 8,7 milhões de atendimentos em 2015 e consolidam o trabalho da instituição como referência para o trabalhador do transporte Página 20

CNT TRANSPORTE ATUAL ANO XXI | NÚMERO 247 | ABRIL 2016

ENTREVISTA

Pedro Trucão fala da sua trajetória no transporte PÁGINA

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AQUAVIÁRIO • Especialistas discutem novas tecnologias para aumentar a eficiência energética em embarcações PÁGINA

CAPA SERGIO ALBERTO/CNT

GESTÃO

EDIÇÃO INFORMATIVA DA CNT CONSELHO EDITORIAL Aloisio Carvalho Americo Ventura Bruno Batista Lucimar Coutinho Myriam Caetano Nicole Goulart

FALE COM A REDAÇÃO (61) 3315-7000 • imprensa@cnt.org.br SAUS, quadra 1 - Bloco J - entradas 10 e 20 Edifício CNT • 10º andar CEP 70070-010 • Brasília (DF) ESTA REVISTA PODE SER ACESSADA VIA INTERNET: www.cnt.org.br | www.sestsenat.org.br

EDITOR

ATUALIZAÇÃO DE ENDEREÇO:

Americo Ventura Mtb 5125 [americoventura@sestsenat.org.br]

atualizacao@cnt.org.br Publicação da CNT (Confederação Nacional do Transporte), registrada no Cartório do 1º Ofício de Registro Civil das Pessoas Jurídicas do Distrito Federal sob o número 053. Tiragem: 40 mil exemplares

Os conceitos emitidos nos artigos assinados não refletem necessariamente a opinião da CNT Transporte Atual

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LOGÍSTICA

Parceria capacita Novo corredor profissionais do para escoar a setor aéreo safra de grãos PÁGINA

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FERROVIÁRIO

TÁXIS

Transiberiana: a maior ferrovia do mundo

Serviços especiais para conquistar mais clientes

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www.

cnt.org.br

Paralisia no governo atrasa concessões

AÉREO • Empresas enfrentam desafios para expandir a capacidade dos terminais de passageiros; novas concessões devem ser realizadas ainda este ano PÁGINA

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RODOVIÁRIO

Para reduzir custos, empresas compartilham carga PÁGINA

60 INICIATIVA

Seções Duke

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Opinião

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Mais Transporte

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Boas Práticas

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Boletins

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Tema do mês

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Alexandre Garcia

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Cartas

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SEST SENAT e Childhood Brasil assinam acordo PÁGINA

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Praticamente paralisado em razão da crise política e econômica, o governo federal não tem conseguido realizar os leilões de infraestruturas de transporte planejados para 2015 e 2016, como parte do PIL (Programa de Investimento em Logística). Em junho do ano passado, quando lançou a segunda fase do Programa, o Palácio do Planalto anunciou a previsão de concretizar 15 concessões rodoviárias até o final deste ano. Quatro leilões deveriam ter sido realizados ainda em 2015, com R$ 19,6 bilhões em investimentos. Nenhum ocorreu. Leia a reportagem completa em: www.cnt.org.br ou http://bit.ly/agenciacnt2242


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Duke

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“Valorizar e apoiar a capacidade de trabalho e o empreendedorismo dos empresários será a chave para o sucesso da reconstrução de nosso Brasil” CLÉSIO ANDRADE

OPINIÃO

Reconstruir a nação

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osso país passa por uma crise sem precedentes que envolve todas as dimensões do Estado brasileiro. Não há setor para o qual se possa afirmar que esteja indo bem. Arrumar o país não será uma tarefa fácil e exigirá não só muita habilidade política como também muita capacidade técnica, coragem, determinação, apoio político e governança. Desnecessário mencionar que o governo precisa cortar gastos e custos, definir prioridades, racionalizar os programas de governo, estabelecer metas de produtividade e diminuir o tamanho da máquina administrativa, cuidando para que haja mais pessoas atuando na atividadefim do Estado e apenas o indispensável na área meio. Não se deve esquecer de que, para a sociedade brasileira o mais importante é ter emprego, saúde, educação, segurança e infraestrutura. Não há mágica nessa questão. Se não houver coragem para atacar de frente os problemas, não se chegará a lugar nenhum, será chover no molhado e a fazer mais do mesmo. Isso a nação não suportará mais. Há que se adicionar ao elenco de medidas necessárias para a retomada do crescimento a recuperação da credibilidade do gestor público, o resgate da confiança do cidadão brasileiro nas instituições brasileiras e a retomada da governabilidade do país com mão firme. Igualmente importante se faz promover as reformas de base, sem as quais não se poderá retomar o crescimento econômico, e estimular novos investimentos públicos e privados em infraestrutura. Para que o emprego volte a crescer, para que a massa salarial recupere seu poder de compra e de poupança, para que o país resgate sua imagem no exterior e se torne atraente ao capital externo e volte a ser visto como nação grandiosa e potência do futuro, será indispensável realizar uma efetiva, verdadeira e profunda reforma tributária, que retire do setor produtivo o excesso tributário que trava a produção e a geração de empregos, que onera as exportações e reduz a competitividade do país. Igualmente importante e indispensável será a realização de uma profunda reforma trabalhista, que modernize a legislação, que considere a perspectiva plural da sociedade contemporânea, a tecnologia que entremeia a vida moderna, as diferentes formas de trabalho e emprego, segurança

jurídica e os novos significados presentes nas relações de trabalho. As consequências disso serão novas oportunidades no mercado de trabalho, ganhos de produtividade e a geração de novos e melhores empregos e salários. A construção de um novo Brasil requer não só o redesenho da economia brasileira como também uma ampla e irrestrita reforma na previdência social, que inclusive já tratei aqui neste espaço em edição anterior. Assim sendo, tomo a liberdade de fazer apenas esta rápida menção de modo a completar a ideia em relação ao elenco de reformas de base que precisam ser postas em prática para que o país recupere a sua capacidade de crescer. Valorizar e apoiar a capacidade de trabalho, a criatividade, a determinação e o empreendedorismo dos empresários brasileiros será a importante chave para o sucesso da reconstrução de nosso Brasil. Ouvir aqueles que sabem como trabalhar na adversidade, que não fogem à luta, que movem a economia, gerando bens e serviços, exportando, investindo e gerando empregos, salários e renda agregará valor às ações de reconstrução da nação. A falta de infraestrutura arrasta o país para a não sustentabilidade à medida que onera os custos de produção, aumenta o Custo Brasil, reduz a produtividade e a competividade, onera as exportações entre outros fatores limitantes. Faltam portos e aeroportos, não há o aproveitamento pleno do potencial hídrico para a navegação e para o escoamento da produção e, para completar, temos uma malha viária sucateada e em precárias condições de trafegabilidade e segurança. A Confederação Nacional do Transporte, que tenho a honra de dirigir, possui importantes contribuições para a solução dos problemas estruturantes do país. Em seu Plano CNT de Transporte e Logística estão mapeados os gargalos de infraestrutura e indicados, em detalhes, os investimentos necessários para superar as deficiências da infraestrutura de transportes. Esta é a contribuição do transportador para a retomada do crescimento econômico. O empresariado está a postos para fazer a sua parte e a colaborar para reconstruir a nação e para moldar o país que desejamos para o futuro. Reconstruir o Brasil é o desafio que se impõe para os próximos anos, não só aos governantes, aos políticos e aos gestores públicos, como também a todos os brasileiros.


“Percebi que a sociedade não sabia a importância desse profissional, não sabia como ele é essencial para a economia e para a vida de cada um” ENTREVISTA

PEDRO TRUCÃO - JORNALISTA

Amigo do caminhoneiro POR

oi na infância, aos 7 anos, que o jornalista Pedro da Silva Lopes, 62, começou a descobrir a importância do transporte. Da janela de casa, quando Osasco ainda era um bairro de São Paulo, ele observava os caminhões que passavam levando gado e ficava fascinado em perceber como o veículo facilitava os deslocamentos. Na época, Pedro ainda não era o Trucão, como é conhecido hoje, o amigo dos caminhoneiros e apresentador do programa Globo Estrada, na Rádio Globo, e do programa Pé Na Estrada, pela TV Bandeirantes, os dois em rede nacional. O nome Trucão foi dado por ele mesmo, nos primeiros

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CYNTHIA CASTRO

anos de trabalho em rádio, em alusão à forma como os caminhoneiros se referiam aos seus veículos na época. Desde aquelas primeiras lembranças de Osasco, uma convicção foi se fortalecendo. Ele queria mostrar para as pessoas como o transporte e o profissional que movimenta esse setor são importantes, não só para o país, mas também para a vida de todo mundo. Da convicção, veio a ideia de seguir no jornalismo para levar a voz do caminhoneiro à sociedade. Hoje, com mais de 30 anos de atuação, o trabalho de Trucão extrapola a elaboração de reportagens. Ele está à frente de outras atividades na defesa de temas relevan-

tes para a área de transporte. Em 2008, tornou-se embaixador da Childhood Brasil, organização com sede na Suécia que trabalha pela proteção da infância. A instituição assinou em abril um acordo de cooperação com o SEST SENAT pelo combate à exploração sexual de crianças e adolescentes. Trucão também foi homenageado na última Medalha JK, concedida pela CNT. Ao longo de tantos anos na estrada, trazendo o jornalismo para perto do transporte, são muitas histórias. Na entrevista a seguir, ele fala um pouco sobre suas experiências no transporte e se emociona ao lembrar casos marcantes de sua trajetória.

Você trabalha com jornalismo e transporte há anos. Como se interessou pelo setor? Desde moleque, sempre gostei de caminhão, de transporte. Quando eu tinha 7 anos, morava na periferia. Osasco pertencia a São Paulo. Perto da minha casa, passava a Estrada da Boiada. Lá do alto, eu via a boiada passar e adorava. Com o tempo, os bois começaram a ser levados em caminhões. Um dia, vi quatro caminhões com bois. Um deles parou e os outros pararam para dar apoio. Eu nunca tinha percebido um caminhão carregando de oito a dez bois. Achei interessante, fiquei curioso e fui ver de perto. Era um Mercedes Benz LP 312, fabricado


FOTOS SERGIO ALBERTO/CNT

Pensei que seria interessante, para um programa de rádio, adotar esse nome. Você compôs músicas ligadas a transporte? Não sou compositor, mas tenho duas letras prontas. Falam da importância do transporte para a sociedade. Não é sobre o motorista em si. Mostram a preocupação com o transporte e a economia.

em 1957, na Alemanha. Nunca esqueci. Entrei na cabine e, naquele momento, o caminhão entrou em mim. A possibilidade de poder transportar algo em um veículo me deu uma sensação muito boa. Pensei: quando eu crescer, vou dirigir isso. Tirei a carteira profissional e sempre quis fazer mais. Queria mostrar para a sociedade a importância do transporte. Surgiu a ideia do jornalismo? Percebi que as pessoas não sabiam a importância do caminhoneiro, não sabiam como ele é essencial para a economia e para a vida de cada um. Tudo que a gente imagina tem um caminhão envolvido. Fiz faculdade de comuni-

cação. Trabalhei na editora Abril, na Globo. Veio, então, a ideia de criar um programa no rádio. Eu tinha uns 24 anos. O programa era o “Trucão e os Caminhoneiros do Brasil”, na Difusora Oeste de Osasco. Mas era um programa local. Como eu queria falar mais, tinha que ser uma emissora maior. Depois, foram vários outros. Hoje, sou produtor, apresentador e repórter de alguns programas, como o Globo Estrada, da Rádio Globo, todos os dias, das 5h às 6h e das 15h às 17h. E do Pé na Estrada, na TV Bandeirantes, aos domingos ao meio-dia. E tem o portal www.penaestrada.com.br. Com isso, consegui mostrar um pouco a importância do transporte.

De que forma o jornalismo auxilia ou pode auxiliar o desenvolvimento do transporte? O jornalismo ajuda, mas pode ajudar mais. Temos revistas segmentadas que contribuem, mas o “grosso” do jornalismo, na grande mídia, precisa dar mais espaço. Quando aborda o transporte, costuma ser sempre do lado pejorativo. Deveria abrir mais espaço para as boas iniciativas. Por que o nome Trucão? Quando comecei a fazer as viagens de pesquisa, na década de 1980, a maior parte dos motoristas se referia ao caminhão como trucão, pelo caminhão trucado, com terceiro eixo.

Como é o trabalho de embaixador da Childhood Brasil, que combate a exploração sexual de crianças e adolescentes? O trabalho de jornalismo me levou à estrada, trazendo à tona situações atuais. Em 2008, assinamos um pacto. A Childhood precisa de informações. Como estou sempre com os caminhoneiros, acabo conhecendo a área. Tentamos mostrar o dia a dia deles para a sociedade e trazer informações para eles. Qual a importância do acordo da Childhood e SEST SENAT? Existe um foco importante, o combate à exploração sexual infanto-juvenil nas estradas. Antes de conhecer a Childhood, lembro


o trabalho de algumas entidades. Geralmente, o motorista de caminhão era colocado como o vilão. Mas, quando comecei a perceber isso, pensei que havia algo errado. Eu sempre estou na estrada e não enxergava dessa forma. O motorista não é o vilão. Acho interessante essa visão da Childhood e do SEST SENAT de fortalecer a ideia de que o caminhoneiro pode ser o agente de proteção. Como será o trabalho da parceria? A Childhood Brasil tem uma preocupação muito grande com esse tipo de exploração e tem know-how. O SEST SENAT atua diretamente no setor. A Childhood surgiu a partir de uma preocupação da Suécia, voltada para combater esse e outros problemas em relação às crianças. A rainha Sílvia, de descendência brasileira, resolveu estender isso ao Brasil. Mas por si só a Childhood não tem toda a expertise necessária para estar ponto a ponto. O SEST SENAT tem como fazer isso, tem agentes em todo o Brasil. Então, nada melhor do que utilizar essa infraestrutura aliada à ideia da Childhood Brasil. O SEST SENAT receberá mais informações, e as equipes serão multiplicadoras. Como deve ocorrer o envolvimento com o caminhoneiro? O caminhoneiro deve ser o agente. Ele está na estrada, de olho no que acontece. Eu penso

que o motorista consumidor dessa situação (de exploração sexual) não se sensibilizará muito com campanhas. Mas esse motorista representa a minoria. A maioria sensibilizada poderá ser grande parceira. Se o caminhoneiro perceber alguém fazendo algo suspeito ou se perceber alguma criança ou adolescente em situação de risco no pátio de posto, por exemplo, deve denunciar. Quem está enxergando essas situações diariamente é o motorista. Se ele for orientado, poderá ser um excelente agente. Situação das rodovias do Brasil e do caminhoneiro são sempre

Qual a sua avaliação sobre as mudanças na profissão de caminhoneiro? Passamos por várias transições. Há algumas décadas, o condutor era autônomo e ganhava muito bem para trabalhar com o caminhão. Era o dono do negócio dele e levava 3, 4, 6 ou 10 toneladas, no máximo. Da década de 1960 para cá, começou a mudar. Aumentou muito a concorrência. Com rendimento cada vez menor, o motorista foi perdendo o poder de compra e de qualificação. Com o tempo, a preocupação passou a ser a de ter que trabalhar para ganhar alguma coisa e sustentar a família, de trabalhar para pagar as contas. Hoje, as empresas estão exigindo muito mais desse profissional, o mercado exige mais. Estamos com um problema sério no país. Faltam motoristas.

“A grande mídia deveria abrir mais espaço para as boas iniciativas no setor”

Por que faltam profissionais? Antes, existia glamour. A profissão era ligada à aventura, ganhavase bem. As condições eram melhores. Hoje, ele ganha menos, não encontra infraestrutura, não tem pontos de parada, há insegurança. Para atrair, tem que pagar mais. Os embarcadores precisam remunerar melhor as transportadoras para os motoristas ganharem mais. Qual é a principal queixa? As principais queixas dos caminhoneiros são que se ganha pouco e que não há infraestrutura. São muitas rodovias de pista simples e mão dupla, sem a menor condição de tráfego seguro. A Polícia Rodoviária Federal diz que a maior parte dos acidentes está ligada à falha humana. Mas por que há essa falha? Porque faltam pontos seguros


porque dirigia um caminhão carregado com 33 toneladas. Tocou o caminhão como um automóvel, com muita facilidade.

“Eu queria mostrar para a sociedade a importância do transporte” abordadas pelo jornalista Pedro Trucão

de ultrapassagens e tantas outras condições. Em alguns casos, o motorista pode ficar 30 km sem um ponto de ultrapassagem. Com horário para chegar, muitos fazem besteira. Tem que ter planejamento para melhorar as rodovias. A tecnologia dos veículos é um desafio? Nossos equipamentos foram evoluindo. O mesmo que está lá na Europa está aqui no Brasil. Mas o nosso motorista profissional não se preparou. E não é porque ele não quis. É porque não foi remunerado para isso. Se a remuneração não é boa, no tempo que sobra, tem que trabalhar mais para sustentar a família. Eu acho que os embarcadores, os donos da carga, têm que mudar a remuneração. A partir do momento em

que o embarcador faz um contrato com o transportador, ele tem que enxergar que se não pagar bem, a transportadora não poderá pagar bem ao motorista. Em tantos anos de jornalismo e transporte, qual a história você não vai esquecer? Algumas coisas nos marcam muito. Uma vez, entrevistei uma senhora caminhoneira no Rio Grande do Sul, de 67 anos. Foi em 1997 e era raro nos depararmos com mulheres dirigindo caminhões grandes. Quando cheguei ao local, achei que a senhora era dona de concessionária. Pensei: “essa mulher dirige mesmo um caminhão”? Começamos a conversar e ela queria mostrar o quanto sabia. Me surpreendeu

Por que te marcou tanto? Porque hoje ela ainda dirige caminhão. Já não faz trechos tão longos. Antes ia para o Sul, Sudeste e Nordeste. Hoje, só para o Sul. Mas tem um caminhão novo, com tecnologia embarcada. Ela nunca quis deixar de ser motorista. Dona Naira continua dirigindo. Eu a chamo de minha mãe postiça. Ela virou um símbolo para mim. É a mulher motorista mais experiente do planeta. Não conheço outra, com a idade dela, dirigindo caminhão. Assim como dona Naira, você fez muitos amigos? Muitos. No WhatsApp, tenho vários caminhoneiros. Muitos sempre me mandam informação, há uma troca. Eles são minhas fontes. Boa parte deles, eu nunca vi. Mas é interessante porque, quando me encontram, me cumprimentam como se fôssemos velhos amigos. Nos sentimos de casa. Isso é gratificante. Qual outra não esquece? Uma bem marcante foi na Bahia. Passei em uma estrada deserta, o calor era forte. Vi uma barraca cheia de pimentas. No meio do nada, havia uma mulher vendendo pimentas. Parei para fazer algumas imagens com caminhão ao fundo. A se-

nhora começou a contar a vida dela. Percebi que ela também vendia pássaros e falei: sabia que é proibido vender pássaros? A senhora começou a chorar, e eu me questionei por que a pergunta a fez chorar. E por quê? Ela disse assim: “eu vendo pássaro porque a minha pimenta ninguém quer comprar. Tenho cinco filhos. O senhor está vendo aquela serra? Meus filhos trabalham lá. Eles estão agora quebrando paralelepípedo, na perna. O senhor está vendo esse monte de pedra aqui? Eles quebram lá e trazem para eu tentar vender alguma coisa. Mas o dinheiro não é nosso. Eles ganham R$ 1 por dia de trabalho, para quebrar pedra das sete da manhã às sete da noite. Passarinho, as pessoas compram. Eu vendo um passarinho por R$ 5 ou R$ 10. Quando vendo um por R$ 10, penso que deixei um dos meus filhos sem trabalhar quebrando pedra por dez dias”. E o que você disse a ela? Abri a boca junto com a senhora. Chorei muito. Esqueci a pimenta, esqueci as imagens, esqueci tudo. Essa é a realidade da estrada. E quem vive isso todos os dias? O motorista de caminhão. Ele vive essas experiências emocionantes. Isso aconteceu em 2001 ou 2002. São muitas histórias. Essa foi bem forte e não tem como esquecer. l


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CMTU-LD/DIVULGAÇÃO

MAIS TRANSPORTE Wi-Fi free em coletivos O sistema de transporte coletivo em Londrina, no Paraná, terá serviço de internet gratuito para os passageiros. A CMTU-LD (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização de Londrina) e as concessionárias que operam o transporte na cidade, Grande Londrina e Londrisul, lançaram, em abril, o "Wi-Fi Free", com internet 4G. Inicialmente, o serviço gratuito será disponibilizado em 280

carros em mais de 60 linhas. Segundo o gerente de transportes da CMTU, Wilson de Jesus, o critério de seleção considerou a demanda (número de clientes) por regiões. Os carros também foram personalizados com um adesivo que identifica o benefício. A CMTU planeja outros avanços para este ano, como um aplicativo com informações em tempo real para os usuários.

Passageiro testa novo serviço oferecido nos ônibus de Londrina (PR)

CSN/DIVULGAÇÃO

Capacidade duplicada

Companhia vai investir R$ 2,51 bilhões em terminal no Rio de Janeiro

A SEP (Secretaria de Portos) autorizou a prorrogação antecipada do contrato de exploração do terminal de granéis minerais da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) no Porto de Itaguaí, no Rio de Janeiro. Para isso, a CSN se compromete a aportar R$ 2,51 bilhões no empreendimento (R$ 1 bilhão para novas obras e R$ 1,51 bilhão para manter as

condições operacionais do terminal). Com os investimentos, a CSN deve dobrar a sua capacidade de movimentação de carga, passando de 30 milhões para 60 milhões de toneladas por ano, até dezembro de 2017. Os recursos serão aplicados nas áreas de armazenagem, atracação, dragagem, movimentação de carga e acessos ferroviários. VLI/DIVULGAÇÃO

Frete mais barato Dois novos terminais de cargas da Ferrovia Norte-Sul, em Porto Nacional e Palmeirante (TO), pretendem facilitar o escoamento da produção de grãos e reduzir o preço do frete. As plataformas foram inauguradas no final de março. A aposta é do governo federal e da empresa VLI, que tem a concessão de 720 km da ferrovia. A meta é movimentar cerca de

6 milhões de toneladas de soja, milho e farelo por ano. As obras começaram há 30 anos. Problemas nas licitações e irregularidades estão entre os motivos do atraso. O trecho que liga a ferrovia até Anápolis (GO), de responsabilidade da Valec, inaugurado em 2014, ainda tem problemas. Há obras quase finalizadas, mas em ritmo lento.

Promessa para crescimento do transporte de grãos


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MUSEU

Empresas podem ajudar a preservar a memória do transporte transporte poderá contar com um espaço destinado especialmente para sua história no Museu Brasileiro do Transporte. O projeto é grandioso e poderá assumir, após concluído, um importante papel como equipamento cultural do país. Único em sua concepção, ele reunirá a memória de todos os modais: rodoviário, aeroviário, ferroviário e aquaviário, retratando a importância do transporte no cenário nacional. Para ser concretizada, a iniciativa depende de doações vitais para o empreendimento, mas que não impactam no bolso ou no caixa dos apoiadores e patrocinadores. Isso porque a primeira fase do projeto foi aprovada pela Lei Rouanet, do Ministério da Cultura. Dessa forma, o valor da colaboração pode ser integralmente abatido do IR (Imposto de Renda). Se for pessoa física, o apoiador pode contribuir com até 6% do

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valor devido à Receita Federal. Se for pessoa jurídica, tributada com base no lucro real, a contribuição pode chegar a 4% e a empresa se tornará uma patrocinadora da iniciativa. O Museu Brasileiro do Transporte será construído em terreno próprio, com quase 19 mil metros quadrados, às margens da rodovia Dom Pedro I – km 143, na cidade de Campinas (SP), próximo a importantes rodovias da malha viária do Estado de São Paulo. A busca por recursos para o Museu Brasileiro do Transporte tem sido pauta prioritária da FuMTran (Fundação Memória do Transporte), que corre contra o tempo para garantir que os recursos já angariados não sejam perdidos. A aprovação pela Lei Rouanet, em 2013, autorizou a captação de R$ 10,8 milhões para a primeira etapa, que contempla os pré-projetos e projetos executivos de ar-

quitetura e engenharia, licenças, alvarás e preparação do terreno. Por enquanto, foi arrecadado R$ 1,2 milhão. Mas o recurso ainda não está disponível, porque, para ter acesso ao valor e dar início aos trabalhos, é preciso ter, ao menos, 20% do que foi autorizado. Ou seja, ainda é necessário reunir mais R$ 1 milhão. O problema é que o prazo para obter o restante e iniciar a execução com os recursos da Lei Rouanet se esgota neste ano. Por isso, conforme a presidente da FuMTran, Elza Lúcia Panzan, o esforço é para reunir o valor que falta até junho de 2016 e, no segundo semestre, iniciar a primeira etapa do empreendimento. Do contrário, o projeto não poderá mais contar com a verba já arrecadada. O projeto também obteve aprovação para captar, por meio dos incentivos do ProAC/ICMS-SP, o valor de R$ 999,9 mil. Empresas sediadas em São Paulo que qui-

serem patrocinar o Museu Brasileiro do Transporte também poderão destinar valores via renúncia fiscal no ICMS. Como colaborar Para colaborar é simples: basta efetuar o depósito na conta – que é destinada exclusivamente para pagar as despesas do projeto - e enviar o comprovante para o e-mail fumtran@fumtran.org.br. A pessoa ou empresa receberá, em seguida, um recibo, que servirá como comprovante para que o valor seja deduzido do Imposto de Renda. (Natália Pianegonda)

MAIS INFORMAÇÕES (19) 3281-1928 (11) 7814-6425

DIVULGAÇÃO

Projeto de construção do Museu Brasileiro do Transporte


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MAIS TRANSPORTE HYPERLOOPTECH/DIVULGAÇÃO

Cinco horas trocadas por 30 minutos Imagine fazer uma viagem de Los Angeles a São Francisco, nos Estados Unidos, ou do Rio de Janeiro a São Paulo, no Brasil, em cerca de 30 minutos? Isso é o que o novo projeto de transporte terrestre em alta velocidade pretende: o Hyperloop. Desenvolvido pelo empreendedor Elom Musk, co-fundador da SpaceX, empresa americana de transporte espacial, o sistema deverá ser implementado de forma experimental em Las Vegas (EUA), até o final de 2016. As instalações já estão sendo construídas. A projeção é que, em 2025, o sistema já opere a viagem de 600 km entre Los Angeles e São Francisco. Formado por tubos de baixa pressão por onde cápsulas pressurizadas circulam, o sistema pode chegar a 1.200 km por hora. O transporte também permite carregar automóveis. Para saber mais acesse http://hyperlooptech.com/

SAC/PR/ARQUIVO

Concessão na aviação regional Mais um aeroporto regional será concedido à iniciativa privada. Em abril, o governo do Estado da Bahia foi autorizado pela Secretaria de Aviação Civil à exploração comercial do aeródromo de Barreiras.

O terminal passará de 98 mil passageiros em 2025 para 191 mil em 2035, segundo projeção da secretaria. Onze aeroportos já tiveram a concessão autorizada e cinco aguardam aprovação ainda para 2016.

Aeroportos regionais apostam em concessões para melhorar infraestrutura


PORTAL DA COPA/ME/DIVULGAÇÃO

Mais um leilão à vista O terminal de passageiros do Porto de Salvador (BA) será leiloado no dia 24 de maio. O edital foi publicado pela Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários), em 3 de abril, no “Diário Oficial da

União”. Com uma previsão de cerca de R$ 7 milhões em investimentos, o espaço tem uma área construída de mais de 7.000 m2. Além das salas de embarque e desembarque, despacho

e recebimento de bagagens, controle de migração e operações alfandegárias, o terminal também contará com serviços para os usuários, como restaurantes e lojas de conveniência.

FOTOS PÚBLICAS/DIVULGAÇÃO

Para não se atrasar Portugal adere ao novo aplicativo móvel de trânsito, Moovit, que prevê o tempo de espera do tráfego no transporte público. O serviço pretende ajudar os usuários dos coletivos com informações em tempo real. Já funciona em quatro cidades do país: Lisboa, Porto, Coimbra e Funchal. Gratuito para os dispositivos com sistemas iOS e Android, o serviço on-line foi criado pela

Transit App Moovit, aplicativo líder em transporte público no mundo, já utilizado por mais de 30 milhões de usuários em mais de 800 cidades e 60 países. A ferramenta permite ainda aos usuários enviar relatórios sobre experiências de viagem, como congestionamento, limpeza e alterações nos serviços, no intuito de melhorar as ações dos administradores do sistema.

Novo aplicativo poupa tempo do passageiro no metrô de Portugal

Novidade na China Peças automotivas, vinhos e produtos agrícolas, eletrônicos e químicos serão importados para Wuhan no centro da China de Lion (França) por um novo trem que fará o

percurso mais rápido. Com operação desde 5 de abril, o transporte vai percorrer em apenas 16 dias cerca de 11,3 mil quilômetros, diferentemente dos 50 ou 60 dias necessários

para realizar o mesmo trajeto pelo mar, como era feito anteriormente. A nova rota faz parte da iniciativa “Um Cinturão e Uma Rota”, que tem por objetivo estreitar a cooperação entre a

China e os países euroasiáticos. Várias outras cidades chinesas, incluindo Chongqing, Zhengzhou, Changsha e Shenyang têm ligação ferroviária de cargas com a Europa.


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MAIS TRANSPORTE

SERGIO ALBERTO/CNT

Exportação de soja bate recorde O escoamento da safra no país, estimada em mais de 100 milhões de toneladas no ciclo 2015/2016, entrou, no mês de março, em seu período mais movimentado e bateu recorde. Uma das maiores concessionárias de ferrovias do Brasil, a Rumo, vem exportando – somente de Mato Grosso até o Porto de

Santos (SP) – cerca de 50 mil toneladas de soja, volume suficiente para encher 1.400 caminhões ou um navio graneleiro por dia. Sete comboios de cerca de 80 vagões partem diariamente dos terminais de Rondonópolis e outros dois saem de Alto Araguaia, ambas cidades localizadas no sudeste mato-grossense.

Mesmo em cenário de crise econômica, soja exportada bate recorde

SERGIO ALBERTO/CNT

Fiscalização retomada

Ação volta de forma gradual nas rodovias do país

Com a inspeção parada desde julho de 2014, o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) voltou a fiscalizar o peso dos veículos de cargas nas rodovias do país. Sete postos já entraram em funcionamento. Após questionamentos do MPT (Ministério Público do Trabalho) sobre a

terceirização dos funcionários que faziam a vistoria, agora o serviço será realizado exclusivamente por agentes de trânsito. A retomada das atividades será feita de forma gradual. A princípio, a ação será de conscientização. Posteriormente, multas e medidas administrativas serão adotadas. SERGIO ALBERTO/CNT

Rodoviário de cargas em pauta Mais de 200 empresários e lideranças do transporte rodoviário de cargas de Minas Gerais e do Rio de Janeiro se reuniram, no mês de março, para o lançamento oficial do 17° EMTRC (Encontro Mineiro dos Transportadores Rodoviários de Cargas) e da Feira RioMinastranspor 2016, que serão realizados em agosto, no Expominas, na capital mineira. A temática principal será “Adaptar,

Profissionalizar e Evoluir”, como uma alusão ao momento de crise econômica pelo qual o país passa e os desafios necessários para alavancar ainda mais o setor. Os eventos são coordenados pela Fetcemg (Federação das Empresas de Transportes de Carga do Estado de Minas Gerais) e pela Fetranscarga (Federação do Transporte de Cargas do Estado do Rio de Janeiro).

Evento vai discutir os desafios do setor


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PREMIAÇÃO

Empresas gaúchas promovem transporte sustentável inte e uma empresas de transporte coletivo do Rio Grande do Sul receberam o Prêmio Gaúcho Despoluir 2015 durante solenidade no último dia 30 de março. Promovida pela Fetergs (Federação das Empresas de Transportes Rodoviários do Estado do Rio Grande do Sul), a premiação foi realizada no SEST SENAT de Porto Alegre (RS) e contemplou três categorias: transporte urbano, metropolitano e de longa distância.

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Nessa edição, cada categoria foi avaliada conforme o tamanho da frota: até 70 veículos; de 71 a 150 veículos; e mais de 150 veículos. A ação valoriza empresas do setor que aplicam em suas atividades operacionais métodos e ferramentas para minimizar os efeitos da poluição. Assim, incentiva-se a participação das organizações no Despoluir - Programa Ambiental do Transporte, desenvolvido e executado pelo SEST SENAT com o apoio da CNT, que visa a promover o engajamento

de transportadores, caminhoneiros autônomos, taxistas e sociedade em ações de conservação do meio ambiente, como forma de colaborar para a construção de um modelo sustentável de desenvolvimento. No ano passado, a Fetergs, por meio do Despoluir, inspecionou mais de 21 mil aferições em veículos de 133 empresas e verificou se estavam de acordo com as normas do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente). “Os resultados obtidos na avaliação

dos veículos é a demonstração de que, para o setor, a preservação do meio ambiente não é retórica. O trabalho da federação, a adesão voluntária das empresas e a disponibilização da frota para duas aferições anuais são claros indicativos de ações práticas para evitar a emissão de gases poluentes. Hoje, a emissão de fumaça preta é algo que não mais se vê nos ônibus das empresas gaúchas”, explica o presidente da Fetergs, Pedro Antonio Teixeira. MATHIAS CRAMER/DIVULGAÇÃO

Pedro Antonio Teixeira, Presidente da Fetergs, conduziu a cerimônia de entrega do prêmio

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BOAS PRÁTICAS NO TRANSPORTE - COMBATE AO USO DE DROGAS

No rumo certo Braspress é referência na prevenção ao uso de drogas entre seus funcionários; caminhoneiros fazem exames toxicológicos e testes do bafômetro periodicamente POR

motorista Solange Emmendorfer trabalha há 14 anos na Braspress, transportadora de cargas que atua em todo o país. Semestralmente, ela e os colegas precisam realizar o exame toxicológico de larga janela, que detecta se o condutor utilizou algum tipo de substância ilícita em um intervalo de 90 dias. A empresa também realiza o teste na admissão e na demissão dos funcionários. E essa é apenas uma das medidas adotadas pela transportadora para evitar o consumo de drogas entre os seus motoristas.

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EVIE GONÇALVES

A obrigatoriedade do exame entrou em vigor em março deste ano, mas, na Braspress, a prática já é utilizada desde 2012. A lei nº 13.103/15, conhecida como Nova Lei do Motorista, obriga empresas a fazerem os testes em motoristas profissionais do transporte rodoviário coletivo de passageiros e de cargas. O exame capta uma amostra de pelo ou cabelo dos profissionais e somente poderá ser realizado por laboratórios autorizados. O trabalhador terá direito à contraprova, à confidencialidade dos resultados e à

consideração do uso de medicamento prescrito. Segundo Luiz Carlos Lopes, diretor de operações da Braspress, caso o exame detecte o uso de drogas, o motorista nem sequer chega a ser contratado. Entretanto, se algum funcionário estiver consumindo substâncias ilícitas, ele é entrevistado por um assistente social da empresa, que, dependendo da quantidade utilizada, encaminha o profissional para a recuperação. “Nós ajudamos os que querem se livrar desse mal, mas o caminho é a prevenção.”

Além do exame toxicológico, na empresa, antes de cada partida, os motoristas fazem o teste de etilômetro – mais conhecido como bafômetro –, medem a pressão arterial, o nível de glicose no sangue e a temperatura do corpo. “Temos que ter responsabilidade ao colocar um caminhão nas mãos de um funcionário que não esteja em condições”, afirma o diretor Lopes. Caso seja detectado algum problema com o profissional, ele nem chega a iniciar a viagem.


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BRASPRESS/DIVULGAÇÃO

O motorista Genivaldo Luiz da Silva realiza o teste do bafômetro antes de iniciar o trabalho

“O uso de drogas é algo absurdo para quem trabalha nesse setor. Os caminhoneiros podem causar acidentes. Por isso, todas as empresas tinham que adotar medidas de prevenção”, acredita Genivaldo Luiz da Silva, motorista da Braspress há 12 anos. Ele lembra que, no ano passado, a empresa ofereceu uma palestra sobre o tema aos funcionários. Na ocasião, um especialista mostrou os diversos tipos de drogas que podem ser encontradas nas rodovias e os efeitos causados a um motorista no momento da direção.

Atualmente, a empresa realiza 10 mil viagens por mês, em um total de 1 milhão de entregas. No quadro de colaboradores, 5.300 funcionários, sendo 880 motoristas, conduzem 1.850 caminhões. Para prevenir o uso de drogas em todo esse contingente de profissionais, só em 2015, foram realizados quase 30 mil testes de bafômetro e cerca de 2.400 exames toxicológicos, todos custeados pela empresa. Estrutura A Braspress também é conhecida no mercado pelas boas condi-

ções de trabalho oferecidas aos seus profissionais. A começar pela idade média dos caminhões, que não ultrapassa três anos e meio. Os veículos possuem ar-condicionado e são monitorados por meio de um recurso chamado telemetria, que informa ao motorista detalhes da condução, como força em relação à curva, aceleração, frenagem e rotação. Se o condutor obtiver um resultado ruim na telemetria, ele passa por reciclagem em um aparelho simulador a fim de que os profissionais melhorem sua dire-

ção. A empresa mensura mensalmente os índices de cada caminhoneiro, com estatísticas como número de viagens e elabora um ranking com os dez melhores motoristas. A maior parte das filiais é equipada com dormitórios, além de academias com esteiras e bicicletas ergométricas. A transportadora ainda oferece atendimentos de saúde, realizados por médicos e enfermeiros. “Temos todo o interesse de que o funcionário esteja na sua melhor condição para dirigir um caminhão”, garante Lopes. Com isso, o interesse em usar drogas para fugir das condições ruins de trabalho fica minimizado. “Infelizmente, alguns motoristas têm que cumprir uma jornada de trabalho mais longa e, com isso, acabam abusando das drogas para se manterem acordados. Na Braspress, entretanto, as leis trabalhistas são cumpridas rigorosamente”, garante a motorista Solange. Os profissionais só podem realizar viagens de, no máximo, 600 km e têm que fazer intervalos de 11 horas entre cada jornada. As regras estão amarradas sistemicamente para que os profissionais não recorram ao uso das substâncias. l


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REPORTAGEM DE CAPA

Trabalho consolidado Ações desenvolvidas pelo SEST SENAT contribuem para a formação de profissionais e garantem a melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores do transporte POR

ais uma vez, a atuação do SEST SENAT contribuiu para a melhoria da qualidade de vida e para o aumento da empregabilidade no setor de transporte, mesmo em um período de crise e de retração da demanda dos setores produtivos. Os resultados das ações realizadas em 2015 apontam para a

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LIVIA CEREZOLI E DIEGO GOMES

consolidação de um trabalho iniciado há 22 anos. Somente no ano passado, foram realizados 8,7 milhões de atendimentos nos programas de desenvolvimento profissional e de promoção social nas 149 unidades localizadas nas cinco regiões do país. Durante todo o ano, os cursos, as campanhas e as palestras de desenvolvimento pro-

fissional contabilizaram 1,5 milhão de atendimentos. As ações garantiram a formação, a qualificação, a atualização e o aperfeiçoamento dos trabalhadores para desempenhar diferentes ocupações no mercado de trabalho. No programa de promoção social, foram 7,2 milhões de atendimentos voltados à melho-

ria das condições de qualidade de vida e bem-estar, ao crescimento pessoal e à integração dos trabalhadores do setor na sociedade. As atividades do programa estão distribuídas pelas áreas de saúde, esporte, lazer, cultura e cidadania. “O SEST SENAT tem se consolidado, nos últimos anos, como referência na formação


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FOTOS SERGIO ALBERTO/CNT

profissional e no desenvolvimento de ações que proporcionam mais qualidade de vida aos trabalhadores do transporte. Os resultados dos últimos anos mostram que a instituição atua de forma consciente de sua responsabilidade pela eficácia dos serviços de transporte a serem prestados à sociedade”, afirma Nico-

le Goulart, diretora-executiva nacional do SEST SENAT. A atuação da instituição nas áreas de qualidade de vida, lazer e cultura está focada em ações preventivas, promovendo novas formas de convivência e experiências que convergem para a inclusão social dos trabalhadores do setor. Para isso, as unidades mantêm infraestruturas físi-

cas que compreendem consultórios equipados para os atendimentos nas especialidades de fisioterapia, nutrição, odontologia e psicologia, além de parque aquático, ginásios, quadras esportivas e auditórios. No desenvolvimento profissional, o portfólio nacional de cursos contempla mais de 130 conteúdos voltados à formação

e à capacitação de profissionais para atuação nas diferentes funções da atividade transportadora. Todos os treinamentos atendem às necessidades do mercado, que exige cada vez mais trabalhadores qualificados. Confira a seguir detalhes das ações realizadas pelo SEST SENAT em 2015.


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SALA DE AULA

Cursos presenciais recebem mais de 690 mil matrículas or meio da capacitação que fiz no SEST SENAT, aprofundei meus conhecimentos sobre o trânsito, entendi na teoria e na prática a importância da direção defensiva e trabalhei minha capacidade de relação interpessoal. Aprendi a lidar com o cliente da melhor maneira possível”, relata Marinaldo dos Santos, 46, motorista do transporte coletivo de passageiros em Campina Grande (PB), há mais de 25 anos.

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A busca por treinamento e capacitação tem se tornado um importante diferencial no setor do transporte. Com um mercado cada vez mais globalizado e competitivo, os trabalhadores têm objetivado aprimorar suas competências profissionais. Em 2015, foram realizadas 690.912 matrículas nos cursos presenciais oferecidos nas 149 unidades operacionais do SEST SENAT distribuídas pelo país, o que representou um crescimento de 9% em relação ao ano anterior. O curso mais procurado foi justamente o frequentado por Santos: Condutores de Veículos de Transporte Coletivo de Passageiros. Ao todo, 80.532 profissionais participaram da forma-

ção no ano passado. “O tratamento que recebi no SEST SENAT foi extraordinário. A estrutura e os profissionais são incríveis. Sempre aconselho meus colegas a investirem no aprimoramento profissional, porque é essencial para a manutenção do nosso emprego”, diz. O ano de 2015 também teve ações bastante produtivas voltadas ao setor aéreo. Foram atendidos 537 alunos nos cursos de qualificação para Limpeza de Aeronaves e técnicos de nível médio em Manutenção de Aeronaves (especialidades de Célula, Grupo Motopropulsor e Aviôni-

cos) realizados nas unidades de Brasília (DF) e de Belo Horizonte (MG). Além disso, foi iniciada a produção de livros técnicos para a formatação do Curso Técnico de Mecânicos de Manutenção de Aeronaves. Os conteúdos são exigidos pela legislação vigente e incluem temas atuais de interesse das empresas aéreas necessários para a formação dos profissionais. O SEST SENAT também desenvolveu ações voltadas para os setores ferroviário e aquaviário. O Conselho Nacional instituiu uma comissão para viabilizar a implantação de Centros de Treina-

mento para os Trabalhadores do Transporte Aquaviário e Ferroviário. O objetivo é dar suporte estratégico e direcionamento à equipe técnica para o desenvolvimento do projeto. Nesse sentido, já foi iniciado o curso Marinheiro Fluvial de Convés – Nível 3, que formará 60 profissionais para atuação no transporte fluvial, atendendo a uma demanda específica do modal aquaviário. O treinamento está sendo custeado pelo SEST SENAT e realizado pela Fatec-Jahu (Faculdade de Tecnologia) de Jaú, em São Paulo.


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SAÚDE

Ações para melhorar a qualidade de vida têm aumento significativo m alguns meses, seguindo as recomendações da nutricionista, percebi uma melhora de 100%. Perdi uns 5 kg, meu sono melhorou muito e minha disposição para o trabalho aumentou bastante”, comemora Maurício Costa, motorista de ônibus rodoviário em Imperatriz (MA).

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Aos 40 anos, após perceber que estava acima do peso e que a qualidade do seu sono estava comprometida, ele procurou o SEST SENAT para iniciar um acompanhamento nutricional. Costa aprendeu que, quando um nutricionista planeja o programa alimentar do paciente, aspectos de sua individualidade são respeitados, como história clínica, familiar e social. Implantada em 2014, a assistência nutricional registrou o maior crescimento entre todas as especialidades de saúde oferecidas pelo SEST SENAT em 2015. O número de atendimentos chegou a 70.550, aumento de 73% em relação ao ano anterior. O serviço busca minimizar os problemas relacionados à

má alimentação do trabalhador do transporte. Durante o tratamento, os pacientes recebem orientações e um plano de reeducação alimentar, visando o bem-estar, melhor desempenho laboral e consequentemente mais qualidade de vida. Com o segundo maior índice de crescimento (21%) na área de saúde, a especialidade de fisioterapia realizou, no ano passado, 236.652 atendimentos. Com o objetivo de prevenir e de restabelecer a saúde do trabalhador do transporte, a assistência fisioterápica é oferecida com ênfase no tratamento das lesões e doenças da coluna oriundas do exercício laboral cotidiano relacionado à atividade transportadora. Aos 63 anos, Antônio Boaventura da Silva Brandão carrega no corpo as marcas de ter conduzido, por mais de quatro décadas, um caminhão de cargas pelas rodovias de todo o Brasil. As longas jornadas de trabalho cobraram seu preço: uma artrose crônica no joelho direito e o rompimento dos tendões do ombro também do lado direito. Por conta

disso, o profissional realiza acompanhamento fisioterápico no SEST SENAT de Feira de Santana (BA). “Se não fosse esse tratamento, eu tenho certeza de que hoje não conseguiria andar nem levantar o braço.” Em todo o ano passado, nas ações do Programa Saúde e Qualidade de Vida do SEST SE-

NAT, foram realizados 1.395.333 atendimentos, número 12% superior ao de 2014. Além da fisioterapia e da nutrição, as unidades também oferecem tratamentos de odontologia, com 993.701 atendimentos em 2015, e psicologia, com foco na prevenção e no tratamento do uso de álcool e outras drogas. Neste, foram 94.430 atendimentos.


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RODOVIAS E PORTOS

Ações reforçam a necessidade dos cuidados com a saúde niciativas como essa despertam nossa consciência para sermos mais atentos com a nossa saúde”, afirma Aziel da Costa Aranha, 59, caminhoneiro que transporta galões de água em Santarém (PA) e participou de uma das etapas do Comandos de Saúde nas Rodovias realizada na BR-163 em 2015.

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O projeto, lançado em 2006, já teve a participação de mais de 92 mil caminhoneiros. No ano passado, 12.307 profissionais foram atendidos em aproximadamente 120 pontos de trânsito intenso de caminhões nas principais rodovias brasileiras. Desenvolvido em parceria com o DPRF (Departamento de Polícia Rodoviária Federal), secretarias de saúde e demais órgãos apoiadores, o projeto Comandos de Saúde realiza exames e reforça, junto aos caminhoneiros, a necessidade dos cuidados com a saúde. Durante a ação, também são passadas orientações sobre alongamento para a coluna, segurança no trabalho, tabagismo, combate ao

colesterol e alimentação saudável. “Já falei para os meus colegas que é importante parar no posto de atendimento, fazer todos os exames possíveis e acompanhar os esclarecimentos dos profissionais”, relata Aranha. Mas não são apenas os motoristas que estão em trânsito nas rodovias que receberam atenção em 2015. Com o lan-

çamento do projeto Saúde nos Portos, desenvolvido em parceria com a SEP (Secretaria de Portos) e com o Ministério da Saúde, o SEST SENAT também proporcionou atendimentos aos profissionais que trabalham no setor portuário. Realizada em nove portos, a iniciativa levou orientações a 12.674 trabalhadores portuários e motoristas de cami-

nhão. Foram oferecidos, de maneira gratuita, exames de glicose, aferição de pressão arterial, cálculo de IMC, testes rápidos de HIV, sífilis e hepatite, vacinação, além da realização de exercícios de alongamento, aulas de ginástica laboral e orientações gerais sobre saúde bucal, sobre o perigo do uso de álcool e outras drogas nas rodovias.


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OPORTUNIDADE

Projetos garantem a inserção de profissionais no mercado de trabalho eu sonho sempre foi ser motorista, mas por conta de dificuldades financeiras, eu não conseguia tirar a CNH (Carteira Nacional de Habilitação). Quando fiquei sabendo do projeto do SEST SENAT, me inscrevi na hora e pensei que essa seria a minha grande chance”, afirma Bruno Sanderson, 24, um dos 14.029 jovens que foram beneficiados pelo projeto Primeira Habilitação para o Transporte – CNH Social no ano passado.

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Lançado pelo SEST SENAT em 2014, o projeto tem como objetivo favorecer a inserção de jovens de baixa renda no mercado de trabalho, por meio do financiamento de 30 mil CNHs, na categoria “B”, e a oferta de curso de qualificação para os participantes, contribuindo assim para o aumento da empregabilidade no setor. Sanderson, que trabalha como temporário na Prefeitura de Santo André (SP), aguarda agora a emissão da CNH definitiva para realizar o seu sonho de ser motorista profissional. “Vejo o meu tio e o meu sogro trabalhando no setor e fico imaginando que logo será a minha vez. Estou muito satis-

feito por ter conseguido participar do projeto”, afirma ele. Assim como o jovem, Marcos José Curti, 44, também comemora a conquista da CNH, mas na categoria E. Ele, que já atua como motorista do transporte urbano de passageiros em Londrina (PR), participou do projeto Habilitação Profissional para o Transporte: Inserção de Novos Motoristas, também desenvolvido pelo SEST SENAT para reduzir o deficit de

profissionais qualificados no setor de transporte de cargas e de passageiros. No ano passado, 14.075 pessoas foram selecionadas para realizar a mudança da CNH nas categorias C, D e E. O projeto, que já recebeu 67.103 inscrições, tem como meta inserir 30 mil novos profissionais no mercado de trabalho. Ao saber que a empresa onde trabalha adquiriu uma frota de ônibus articulados, Curti não

teve dúvidas em passar da categoria D para E. “Minha família e eu sempre frequentamos o SEST SENAT nos atendimentos odontológicos, nas palestras, nos cursos. Assim que soube do projeto, logo ingressei. Foi tudo muito prático e, hoje, além de conduzir os novos ônibus, posso também treinar motoristas contratados pela empresa”, comemora o profissional que está entusiasmado com a promoção.


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EAD

Inovação para gerar mais conhecimento aos trabalhadores do setor om o curso a distância pude gerenciar o tempo dos estudos de acordo com a minha rotina. É claro que isso só foi possível em função da plataforma de fácil acesso e da linguagem simples utilizada nos materiais didáticos. Como estou ingressando no transporte agora, pretendo fazer mais atividades do SEST SENAT dessa natureza”, diz Taciane Fátima de Camargo Mocelim, 33, de Ponta Grossa (PR).

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Prestes a abrir uma empresa de transporte de grãos com seu marido, a professora de química viu, no curso on-line, a oportunidade de se capacitar e conciliar a atividade com seu atual trabalho. Em 2015, ela optou por fazer o curso de RT (Responsável Técnico). Em todo o ano passado, 45.360 alunos participaram dos cursos a distância oferecidos pelo SEST SENAT. Somente nos cursos on-line foram 30.373 matrículas. As provas eletrônicas para TAC (Transportadores Autônomos de Cargas) e RT somaram quase 3.000 inscrições. Foram disponibilizados ainda

cursos on-line gratuitos sobre temas variados, como Logística – Gestão de Estoque e Armazenagem, Custos e Nível de Serviços, Gestão do Tempo, DST/AIDS e Meio Ambiente. Além da plataforma on-line, o SEST SENAT também capacitou profissionais por meio da

EaD com materiais impressos dentro do projeto Gestão de Negócios para MPE (Microempresas e para Empreendedores Individuais de Transporte), realizado em parceria com o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas). Ao todo, 14.887 pessoas participa-

ram do programa direcionado aos gestores das empresas de transporte de cargas e de passageiros, como Gestão de Negócios para o Transporte de Cargas, Gestão de Negócios para o Transporte Escolar e Gestão de Negócios para o Transporte de Fretamento e Turismo.


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ESPORTE

Atividades oferecem bem-estar físico enho uma nova rotina de vida. Consegui vencer o alcoolismo, e a qualidade de vida hoje não tem nem comparação. Sinto-me mais preparado para encarar as longas jornadas de trabalho e de viagens”, relata o motorista de ônibus Eustáquio Mariano, 54, morador do Distrito Federal, depois de participar pela segunda vez do Circuito SEST SENAT de Caminhada e Corrida de Rua, em 2015.

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Vencedor da prova de 5 km em 2014 e segundo colocado em 2015, Mariano mudou sua vida a fim de garantir o seu bem-estar e o da sua família. Ele é adepto das corridas de rua há mais de 11 anos e acredita que iniciativas como a do SEST SENAT são fundamentais para incentivar outros profissionais do setor a também mudarem de vida. O Circuito já reuniu 50 mil pessoas nas 21 cidades onde ele foi realizado. Agora, em 2016, as provas acontecem em 14 cidades, de norte a sul do país. Mas não são só as provas de caminhada e corrida de rua que têm proporcionado melhoria na qualidade de vida dos trabalhadores do setor de transporte. Em

2015, todas as ações voltadas para a prática de atividades físicas no SEST SENAT contaram com a participação de 782.157 profissionais. O número representa um crescimento de 4% em relação ao ano anterior. A Copa SEST SENAT de Futebol 7 Society reuniu 6.600 trabalhadores do transporte, como motoristas de ônibus e de caminhão, cobradores, mecânicos, taxistas, motofretistas e profissionais do setor aéreo. Divididos em 540 equipes, eles participaram de 1.072 jogos durante os nove meses de competição.

O Pedalando – Passeio Ciclístico do SEST SENAT promoveu, em um único dia, em 26 cidades de quatro regiões do Brasil, uma ação de mobilização que incentivou a utilização da bicicleta como forma de realizar atividade física e cuidar da saúde de forma coletiva. O projeto teve a participação de 25.400 pessoas. O incentivo à prática esportiva também está presente nas demais ações realizadas pelo SEST SENAT. As unidades operacionais possuem infraestrutura para o treinamento de diversas modalidades esportivas, como futebol

de campo, natação, vôlei, ciclismo, artes marciais, basquete e handebol. Em 2015, os resultados do projeto Escolas de Esporte apresentaram crescimento de 9% em relação ao ano anterior. No total, foram 448.337 atendimentos. No projeto Polos Olímpicos, foram implantados 14 centros de excelência para o desenvolvimento e a descoberta de novos talentos nas diversas modalidades olímpicas. No ano passado, 12.780 alunos participaram das aulas de esporte bem como de competições locais, regionais e nacionais. l


AQUAVIÁRIO

POR EVIE

GONÇALVES

redução da quantidade de carbono na atmosfera está entre as principais pautas internacionais do momento. A todo tempo, países lançam metas para diminuir os gases do efeito estufa no planeta. O Brasil, por exemplo, anunciou, durante a COP 21 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas), em 2015, a intenção de reduzir essas emissões em 43% até 2030. Quando o assunto é transportes, o grande vilão ao meio ambiente ainda é o modal rodoviário devido ao excesso de caminhões, veículos, motos e ônibus nas ruas. Entretanto, uma preocupação começa a surgir em relação ao aquaviário, que responde por 3% das emissões mundiais e que é responsável por 85% dos bens transportados internacionalmente. Diante desse cenário, especialistas se reuniram, no Rio de Janeiro, em abril, para debaterem alternativas para tornar as embarcações mais eficientes e, assim, desempenharem deslocamentos usando o menor gasto de energia

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Embarcações Especialistas se reúnem para debater sobre tecnologias possível. Durante seminário organizado pela Sobena (Sociedade Brasileira de Energia Naval), discutiram sobre tecnologias limpas, combustíveis alternativos, além da regulamentação internacional concernente ao tema. Para o presidente da entidade, Agenor Junqueira, é necessário

otimizar a relação transporte x consumo de combustível nas embarcações. “Quando você tem melhor emprego da energia, o custo da operação diminui e, com isso, o mercado se torna mais competitivo, além de contribuir com o meio ambiente”, afirmou. Segundo ele, o investimento em

tecnologias que emitem menos carbono faz parte de um ciclo desde a fabricação das embarcações até o transporte das mercadorias. O investimento de capital e a lucratividade são peças fundamentais nesse processo. Estudos da Coppe (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Gra-


MOL/DIVILGAÇÃO

Para-brisa na proa do navio reduz o impacto dos ventos e diminui o peso da embarcação. Com isso, a força necessária para navegar é menor, assim como o consumo de combustível. Logo, a emissão de gás carbônico ao meio ambiente também é reduzida

mais eficientes limpas, combustíveis alternativos e regulamentação internacional duação e Pesquisa de Engenharia), da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), demonstram que o aproveitamento da energia solar e eólica é eficaz e pode contribuir com a redução de emissões. De acordo com o especialista em logística e transporte, Lino Guimarães, a combi-

nação entre sistemas convencionais, auxiliares e energia solar pode contribuir com redução de até 20% de combustível. Já a substituição pela energia eólica pode ser ainda mais proveitosa, gerando queda de até 40% no consumo de combustível. Várias embarcações já adotam

tecnologias limpas. As que possuem velas recobertas de painéis solares flexíveis e que aproveitam, portanto, a energia solar foram destacadas durante o seminário. Em navios cargueiros, elas são responsáveis pela redução de 20% de combustível. Já os sistemas que aproveitam a energia eó-

lica podem usar velas (15% de economia de combustível), kites – pipas infláveis a até 200 metros de altura que fazem a embarcação se locomover por meio da força dos ventos e que podem gerar até 30% de redução de combustível – e rotores – turbinas que giram em seu próprio eixo e que geram até


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TECNOLOGIA

Ferry 100% elétrico faz transporte sustentável na Noruega Desde fevereiro de 2015, opera na Noruega uma tecnologia 100% elétrica: o ferry Norled Ampere, de cargas e passageiros, totalmente movido à bateria. A embarcação – que faz a travessia de 7 km entre as cidades de Lavik e Oppdal a uma velocidade de 15 nós, ou 30 km/h - tem capacidade para 250 passageiros, 120 automóveis e oito caminhões e não tem tanque de combustível algum. As duas baterias ficam armazenadas em contêineres e são carregadas em dez minutos assim que a barca chega às cidades. A vida útil delas é de dez anos. A tecnologia não polui e requer menos manutenção, o

40% de queda no consumo de combustível. Esses rotores possuem 27 metros de altura e 4 metros de diâmetro e desempenham velocidade de 16 nós, o equivalente a 30 km/h. “Já existem alguns navios em operação no Atlântico Norte que usam energia eólica, mas são poucos exemplares. E estão em fase de testes protótipos de velas que usariam tanto a energia dos ventos quanto painéis voltaicos para geração de ener-

que implica menor custo de reparo. O casco é todo de alumínio. Com isso, o tempo de vida da embarcação também aumenta. Outra novidade é um aparelho chamado pantógrafo, que faz um vácuo para a atracação do ferry. Assim que chega às cidades, o próprio sistema manda um sinal de rádio para a cabine e a desconexão da carga é feita em dez minutos – tempo suficiente para o carregamento das baterias. “O ferry já ganhou três prêmios mundiais, entre eles o de navio mais eficiente”, afirmou o gerente de gestão de negócios da Siemens, Luiz Antônio Campagnac, o qual assegurou que, dos 180 ferries da Norue-

gia por meio do sol”, explicou Guimarães. Outras tecnologias interessantes são navios 100% elétricos, avanços nas proas, bulbos, lemes e hélices, além de tintas anti-incrustantes à base de silicone, que evitam o acúmulo de sujeira nos navios e que geram economia de até 6% de combustível. Segundo o especialista, apenas o investimento em tecnologias limpas não basta. Combustíveis alternativos também são solução

ga, 127 podem ser substituídos por bateria ou por sistemas híbridos (bateria e diesel), o que significa que 70% da frota do país tem potencial para se tornar mais verde. Isso implicaria uma redução de 100 mil litros de diesel por ano. O gerente acredita que modelos totalmente elétricos ou híbridos estão sendo testados em todo mundo para que as exigências da IMO (International Maritime Organization) sejam cumpridas. “Vamos viver uma melhoria da eficiência dos modelos mundo afora nos próximos dois anos. Essa regulação ainda não está no Brasil, mas vai chegar e devemos estar preparados”, ressaltou.

para a emissão de carbono. Segundo dados da Coppe/UFRJ, em 2010, só na navegação de longo curso foram emitidas cerca de 1.000 teps (toneladas equivalentes de petróleo - unidade de energia definida como o calor liberado na combustão de uma tonelada de petróleo cru) de óleo combustível. Já a navegação interior emitiu um pouco menos: cerca de 400 teps de óleo diesel. Esse último é responsável por 46,2% de toda a produção brasileira.

O Norled Ampere possui

“Hoje, é impensável um país existir sem o transporte marítimo por causa do comércio exterior, transporte de passageiros e navegação interior. Basicamente, todo o processo é centrado no óleo diesel. Precisamos mudar essa lógica de que tudo é petróleo. Existem outros combustíveis que também são fontes de energia”, acredita. Ele avalia que o biodiesel é o substituto ideal para o diesel. Porém, a sua capacidade de produção ainda é mui-


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SIEMENS/DIVULGAÇÃO

ções, como seriam transferidos? “Ainda há muito o que se descobrir, mas convencer um armador a mudar a tecnologia já existente, com risco de limitar seu carregamento, é quase utópico. O Brasil ainda está muito atrasado nesse assunto”, concluiu Guimarães.

duas baterias armazenadas em contêineres que são carregadas em dez minutos

to limitada no Brasil e responde por apenas 2,4% do que é produzido nacionalmente. Outras fontes alternativas são etanol, biogás, óleos vegetais ou minerais e combustíveis sintéticos, além do hidrogênio. O etanol possui restrições de segurança no uso, com riscos de incêndios. O biogás, por sua vez, embora tenha alto potencial de energia elétrica, tem custo elevado e dificuldade de armazenamento. Já os óleos também são promissores a longo prazo,

mas têm produção limitada, assim como o biodiesel. Já o hidrogênio possui grande potencial de mitigação de externalidades ambientais, apesar de grande dificuldade de armazenamento, viabilidade apenas na forma comprimida e tecnologia ainda não consolidada. Outra questão levantada no seminário é a dificuldade para armazenagem de energia. Combustíveis embarcados demandam grande espaço físico. E em caso de não estarem a bordo das embarca-

Legislação Atualmente, existem duas regras internacionais vigentes sobre eficiência energética nas embarcações. A IMO (International Maritime Organization) definiu índices para a redução de CO2 baseados no consumo de combustível dos navios. O EEDI (Índice de Eficiência de Projetos) é válido para novas embarcações. Já o EEOI (Indicador de Eficiência Energética Operacional) vale para as já existentes. O primeiro leva em conta o consumo de combustível previsto no motor assim como a velocidade e a capacidade de carga de cada tipo de navio. O valor é obtido por meio de uma prova de mar prévia. Caso não seja alcançado, a embarcação não é aceita pela organização. Além disso, prevê melhoria de 10% na eficiência nos navios a cada cinco anos. Já o segundo é mais flexível, uma vez que os armadores precisam fazer

um plano de gerenciamento e informar, em seguida, as medidas para emitirem menos. “Podem ser feitas melhorias na parte de controle, com redução de combustível, menor velocidade, rotas otimizadas, limpeza de casco para diminuir o atrito, entre outras soluções. A ideia é que o processo seja contínuo, mas não existe uma punição em caso de descumprimento da meta”, explicou o especialista em regras da IMO, Nilton Marroig. O problema é que o Brasil não assinou essas regras de eficiência energética. A única medida foi o envio de uma carta à organização dizendo que depende da aprovação do Congresso Nacional. “Se o Brasil não assinou, não se pode ter um certificado internacional para as embarcações. E não há nenhum órgão autorizado a reconhecer isso”. Isso significa que navios brasileiros podem ser impedidos de entrar em outros países pelo fato de não terem a documentação necessária. Uma medida paliativa que vem sendo adotada pelos armadores é o pedido de “cartas de conformidade” às sociedades classificadoras, contendo informações de que o navio atende aos itens requeridos pela regulamentação da IMO. l


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GESTÃO

Sistema CNT firma

parceria com

universidade dos EUA Acordo assinado com a Embry-Riddle Aeronautical University vai capacitar e certificar pilotos e outros profissionais do setor aéreo POR CYNTHIA

Sistema CNT e a Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas) assinaram um acordo de cooperação técnica com a Embry-Riddle Aeronautical University, dos Estados Unidos, para a realização do Projeto de Certificação Internacional com foco em Gestão de Aviação, especialmente

O

para pilotos. A assinatura da parceria promovida na sede da CNT, em Brasília, em abril, contou com a participação do presidente da CNT, Clésio Andrade, do representante da universidade norte-americana, Fabio Campos, do presidente da Abear, Eduardo Sanovicz, e de representantes das empresas aéreas Avianca, Azul, Gol e Tam.

CASTRO

O curso com duração de 21 meses começará em São Paulo no segundo semestre deste ano. Pelo menos 30 profissionais do setor aéreo deverão participar. A Embry-Riddle Aeronautical University, com sede na Flórida, é a única universidade do mundo voltada especificamente para a educação aeronáutica e

aeroespacial, conforme destaca Fabio Campos, representante da instituição. “Todos os nossos cursos têm foco na aviação. A universidade tem faculdade de engenharia, de gestão em negócios, de artes e ciências, de segurança e segurança digital. Todas capacitam os profissionais para atuarem em aviação.”


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SERGIO ALBERTO/CNT

Presidente da CNT, Clésio Andrade (no centro), participou da assinatura de acordo entre Sistema CNT e universidade dos Estados Unidos; cursos serão em São Paulo

De acordo com o representante da Embry, a instituição atua há 90 anos e tem hoje mais de cem unidades espalhadas por diferentes países. São mais de 80 programas disponíveis. No curso que será ministrado em parceria com o Sistema CNT, os professores virão dos Estados Unidos. Fabio Campos comenta que a

proposta é trazer para o Brasil a expertise de tantos anos nesse mercado. “É uma visão internacional sobre esse campo de atuação. A proposta é capacitar profissionais em nível de gestão e elevar ainda mais a qualidade da aviação.” O presidente da CNT, Clésio Andrade, também destacou a importância da parceria com

“A proposta é elevar ainda mais a qualidade da aviação” FABIO CAMPOS, EMBRY-RIDDLE AERONAUTICAL UNIVERSITY

a Abear e com a universidade para o crescimento do setor transportador no Brasil. “A chegada da Abear ao Sistema CNT traz instrumentos poderosíssimos, como esse que nós assinamos hoje: um convênio que consideramos de primeira linha. O desenvolvimento profissional e a capacitação farão a diferença no fu-


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Aeronave é utilizada FUNDAÇÃO DOM CABRAL

Curso forma 200 profissionais Outra iniciativa importante do Sistema CNT na área de formação gerencial dos profissionais do setor transportador tem rendido resultados positivos nos dois últimos anos. Cerca de 200 profissionais que atuam em todos os modais já se formaram no curso Especialização em Gestão de Negócios, realizado por meio de uma parceria entre o ITL (Instituto de Transporte e Logística) e a Fundação Dom Cabral. Cinco turmas foram finalizadas em Brasília, São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Outras seis estão em andamento no Recife, Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro. E, para este ano, deverão ser ofertadas mais quatro turmas em Brasília, Recife, Belo Horizonte e São Paulo. A proposta é capacitar os profissionais, especialmente os que atuam em nível gerencial, visando o aumento da eficiência dos processos e a competitividade das empresas de

transporte. Todos os projetos aplicativos desenvolvidos pelos alunos são voltados para a melhoria do setor transportador nos modais rodoviário, ferroviário, aquaviário e aéreo. Para a elaboração do conteúdo do curso, buscou-se avaliar métodos de gestão dos transportes nas organizações, conciliando a teoria com a prática e desenvolvendo nos participantes uma visão empreendedora e criativa. Na avaliação do Sistema CNT, a educação executiva é uma necessidade para os trabalhadores das organizações do setor de transporte. Profissionais mais especializados aumentam sua produtividade e elevam a competitividade das empresas. No cenário de crise econômica pelo qual passa o Brasil, aliado à falta de mão de obra especializada em diversos setores, a qualificação profissional tornase um fator estratégico para o melhor posicionamento dentro das empresas.

“A capacitação profissional fará a diferença no futuro do país” CLÉSIO ANDRADE, PRESIDENTE DA CNT

turo do país e do mundo. Esse curso cumpre o objetivo do SEST SENAT de preparar a mão de obra do transporte”, afirmou Clésio Andrade. O Brasil é hoje o terceiro maior mercado doméstico de aviação, perdendo apenas para os Estados Unidos e para a China. Em março, foram 7,2 milhões de passageiros transportados em quase 3.000 voos diários. Por isso, investir no treinamento dos profissionais

é fundamental. O SEST SENAT tem um trabalho consolidado na formação e na qualificação de trabalhadores que atuam no transporte de cargas e de passageiros. As diversas pesquisas e os estudos realizados pela CNT também têm contribuído para o desenvolvimento do setor, conforme destaca Clésio Andrade. Agora, essa nova parceria do Sistema com uma universidade dos Estados Unidos amplia a


EMBRY-RIDDLE/DIVULGAÇÃO

pela Embry-Riddle Aeronautical University nos treinamentos de piloto comercial, voo por instrumentos e outros

Universidade de Embry-Riddle, em Daytona Beach, na Flórida

atuação pelo transporte de qualidade. “A área de formação gerencial é realmente muito importante. Com esse curso teremos excelentes resultados para o setor aéreo.” Na avaliação do presidente da Abear, a participação do Sistema CNT é fundamental para a qualidade do processo de treinamento de profissionais do setor aéreo. “O SEST SENAT significa um atestado de seriedade, um atestado de

que esse programa de trabalho vai ser levado até o fim e com uma qualidade indiscutível. Para nós, do setor aéreo, isso é importantíssimo. É coerente com o cotidiano da aviação”, disse Sanovicz. O presidente da Abear destaca ainda que a segurança é algo primordial. Essa indústria requer mão de obra muito especializada, risco zero e erro zero. Isso torna todo treinamento de qualidade mais es-

“O SEST SENAT significa um atestado de seriedade” EDUARDO SANOVICZ, PRESIDENTE DA ABEAR

sencial. “Toda vez que um passageiro sobe em um avião, ele precisa ter a certeza de que está tudo 100% em ordem.” Nesse contexto, estar em contato com uma instituição de ensino dos Estados Unidos também trará resultados positivos para o Brasil. “Teremos acesso à informação de primeira linha de um dos mercados mais desenvolvidos do mundo, que é o norte-americano. Portanto, esse acordo reúne a formação, a capacitação e o desenvolvimento com o contato com essa importante indústria global de altíssima qualidade”, afirmou Sanovicz. Ele cita também a importância de preparar a mão de obra para enfrentar esse grave momento de crise pelo qual passa o Brasil. “Entendemos que, em dois anos, isso vai estar superado. Queremos que as empresas estejam mais fortes, mais capacitadas e com mais gente trabalhando, para que, quando superarmos essa crise, possamos estar melhor do que estávamos quando ela começou.” l


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LOGÍSTICA

Uma rota alternativa

Iniciativa privada investe em infraestrutura e logística para escoamento da produção de grãos pelo Estado do Pará; novos terminais têm potencial para reduzir custos POR

safra de grãos 2015/2016 será menor do que se esperava, mas ainda assim alcançará nível recorde, na avaliação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) informou que a produção brasileira de grãos no período deve chegar a 210,3 mi-

A

Estação de

DIEGO GOMES

lhões de toneladas, 1,3% acima da safra anterior (207,7 milhões de toneladas). A maior parte dessa produção é oriunda do Centro-Oeste brasileiro, com destaque para o Mato Grosso. Mesmo com sucessivos recordes e alta produtividade no campo, a logística de escoamento ainda é apontada como um dos grandes de-

safios para os produtores da região. Entre os motivos desse problema crônico, está a grande distância em relação aos principais portos do país. O de Santos (SP), por exemplo, fica a mais de 2.000 quilômetros do Estado. Essa realidade, contudo, pode estar sendo reescrita a partir de investimentos maciços da iniciativa privada em in-

fraestrutura portuária no Pará, que tem, nos rios Tapajós e Amazonas, as portas de saída para o oceano. Assim, uma rota alternativa para o escoamento da produção tem surgido como opção para agricultores e transportadores. A via tem tudo para baratear o custo logístico da soja e do milho com destino à exportação.


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AGÊNCIA PARÁ/DIVULGAÇÃO

Transbordo em Miritituba

O ponto central dessa nova rota está no distrito de Miritituba, localizado no município de Itaituba (PA). Ladeada pelo Rio Tapajós, a região, antes marcada pela predominância do verde da Floresta Amazônica, agora tem silos e outras estruturas metálicas compondo a paisagem. São as estações de transbordo de cargas, que

recebem a soja dos caminhões e despejam nas barcaças. Como o rio não comporta navios, essas embarcações levam os grãos nesse trecho. Tudo isso começou em 2014, quando a Bunge, gigante norte-americana de alimentos, investiu R$ 700 milhões na concretização de um complexo formado por dois terminais

portuários e uma empresa de navegação. Em uma ponta, fica a Estação de Transbordo de Miritituba; na outra, o Terfron (Terminal Portuário Fronteira Norte), no Porto de Vila do Conde, em Barcarena (PA). Para fazer o transporte, foi criada uma empresa de navegação, em parceria com o grupo Maggi. A frota da companhia é

composta por 50 barcaças e dois empurradores (máquinas que empurram as barcaças). O corredor está sendo utilizado para a exportação da soja e do milho colhidos no entorno dos municípios mato-grossenses de Sinop, Sorriso, Nova Mutum e Lucas do Rio do Verde, cortados pela BR-163. Hoje, mais de 70% da safra mato-


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FERROVIA

Estrada de ferro até Miritituba Com o objetivo de conseguir leiloar a primeira ferrovia de seus programas de concessão, o governo federal pretende permitir que uma empresa construa e opere a via por até 60 anos. A inovação prevista no modelo de concessões, que antes só pressupunha o repasse das vias à iniciativa privada por até 35 anos, está na consulta pública lançada no início de abril deste ano para a licitação da chamada Ferrogrão, estrada de ferro que ligará Sinop (MT) a Miritituba (PA) e deverá atender ao escoamento principalmente de soja. A consulta pública, na

qual o governo receberá propostas para melhorias ou mudanças nessa concessão, deverá terminar em maio. Depois, o governo analisará as contribuições e levará uma proposta ao TCU (Tribunal de Contas da União), que deve aprová-la antes do leilão. Esses prazos, em geral, consomem entre quatro e seis meses, no mínimo. A via seria usada para levar a produção agrícola de Mato Grosso para terminais portuários da região Norte do país e, de lá, para o exterior. A avaliação é de que esse caminho poderia levar a uma redução de custos de transportes de até 40%. Complexo formado por dois terminais portuários

grossense é escoada pelos portos de Santos (SP) e de Paranaguá (PR). Alguns caminhões vão ainda mais longe, até São Francisco do Sul (SC) e Rio Grande (RS). Pela nova rota, os grãos provenientes do Mato Grosso seguem por caminhão pela BR163 até a Estação de Transbordo em Miritituba, no oeste do Pará, percorrendo uma distância de 1.100 km. No terminal, a carga é colocada em barcaças, navega pelo Rio Tapajós, passa

Hoje, mais de

70%

da safra de grãos é escoada pela região Sudeste

pelo estreito de Breves e chega ao Terfron, em Vila do Conde – um percurso de mais 1.000 km -, onde é armazenada para posterior embarque em navios graneleiros, rumo ao exterior. Segundo a Aprosoja (Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso), no ano passado, já foram transportados cerca de 3 milhões de toneladas de grãos pelo novo corredor. Neste ano, a expectativa é de que esse número dobre.

“É uma nova alternativa, um novo paradigma para os produtores brasileiros. Em vez de escoar a produção de Mato Grosso pelo Sudeste do país, estamos escoando pelo Norte, muito mais próximo dos portos de destino, como Europa e China. Isso realmente é um marco importantíssimo. É extremamente relevante para o produtor brasileiro, para o país. Mais divisas, mais exportação”, declara o presidente e CEO da Bunge, Pedro Parente.


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FOTOS PÚBLICAS/DIVULGAÇÃO

movimenta o distrito de Miritituba

O potencial econômico da região continua atraindo novos negócios. Bilhões também estão sendo investidos em infraestrutura por outras empresas, como Transportes Bertolini, Cianport (Companhia Norte de Navegação e Portos), Hidrovias do Brasil, Cargill, LDC (Louis Dreyfus Commodities), Grupo Chibatão, Brick Logística e Amaggi. Um total de 11 terminais portuários estão sendo erguidos em Miritituba e Santarém (PA), para dar suporte ao

A BR-163 ainda tem 237 km não pavimentados em direção aos terminais

transporte de grãos por meio de barcaças até Barcarena. Irani Bertolini, diretor-presidente da Transportes Bertolini e presidente da Fetramaz (Federação das Empresas de Logística, Transporte e Agenciamento de Cargas do Amazônia), avalia que, em função do atual momento de engessamento da economia brasileira, a participação da iniciativa privada na viabilização desses empreendimentos é imprescindível. “Trata-se de uma rota

“Nossa expectativa, até 2020, é descer 30 milhões de toneladas de grãos pelo Arco Norte” IRANI BERTONI, PRESIDENTE DA FETRAMAZ

muito importante para o Brasil. Vai reduzir o custo logístico do grão, que, apesar de ser um produto de baixo valor agregado, é essencial para a nossa economia. É o agronegócio que está sustentando este país. Esse novo caminho diminui o custo de logística, de combustível e o congestionamento nos portos do Sudeste, além de reduzir o trânsito nas rodovias. Ao retirar esse peso das rodovias, também há contribuição para aumentar a vida útil delas. Nossa expectativa, até 2020, é ‘descer’ 30 milhões de toneladas de grãos pelo Arco Norte.” De acordo com o presidente da NTC&Logística (Associação Nacional do Transportes de Cargas e Logística), José Hélio Fernandes, a nova rota tem tudo para ser o principal corredor de escoamento dos municípios do Mato Grosso, maior produtor de grãos do país. “Antes disso, tudo ia para Santos e Paranaguá. Esse investimento cria uma alternativa rentável, que fica mais perto dos produtores e desafoga os portos do Sul e Sudeste”, destaca. A expectativa é de que a infraestrutura portuária na região esteja em plena atividade


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NOVO CORREDOR

Porto de Santana

AP

ao longo de 2017. Mas o corredor logístico que ligará a produção agrícola do Mato Grosso ao Atlântico pelo Norte ainda aguarda o asfaltamento da BR163 e a construção de uma ferrovia ligando Lucas do Rio Verde (MT) à Itaituba (PA), onde está localizado o terminal de Miritituba. A BR-163, principal rota de escoamento do polo produtor de grãos de Mato Grosso, ainda tem 237 km não pavimentados em direção aos novos terminais fluviais, além de trechos em péssimas condições. Entre Sinop e o distrito de Miritituba, por exemplo, há 126 km não contínuos sem asfalto. De Miritituba até Santarém, trecho que muitos caminhões precisam percorrer para alcançar o terminal exportador da Cargill, são outros 111 km não pavimentados. O trecho paraense da BR-163 foi aberto no meio da selva amazônica na década de 1970. As obras de asfaltamento começaram em 2009, com conclusão adiada diversas vezes pelo governo federal. "Nós temos que buscar formas de garantir a trafegabilidade. Existe o compromisso do Ministério dos Transportes e do Dnit (De-

Porto de Santarém

Rio Tapajós

Porto de Vila do Conde

BR-230 Transamazônica

Santarém Itaituba

MA Distrito de Miritituba Interligação rodo-hidroviária

AM TO PA

Sinop

Rodovia

Sorriso RO

Hidrovia

Lucas do Rio Verde Nova Mutum

MT

BR-163

GO

MS


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Em 2015, já foram transportadas cerca de 3 milhões de toneladas de grãos pelo novo corredor

partamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) em não deixar faltar recursos para dar continuidade às obras de asfaltamento. Eu acredito que, não havendo interrupção, ela será concluída em 2017, porque, paralelemente às questões de pavimentação e manutenção, está sendo discutida a concessão da via", explica Edeon Vaz Ferreira, diretor do Movimento Pró-Logística, fundado por entidades de produtores, e consultor da Aprosoja.

De acordo com o cronograma da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), o leilão deve ser realizado em setembro deste ano. Devido às condições da rodovia, os produtores ainda não sentiram os efeitos da redução de custo decorrente da instituição do novo corredor. Na prática, essa rota poderia representar uma economia no custo do frete, em comparação com o transporte até o Porto de Santos, da ordem de

“A redução do custo do frete melhora a rentabilidade do produtor” EDEON VAZ FERREIRA, CONSULTOR DA APROSOJA

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34%. “Essa redução do custo do frete melhora a rentabilidade do produtor, uma vez que o valor do produto é definido no porto, onde é descontado o valor do frete. Por exemplo, vai ser definido o valor do produto lá em Barcarena, menos o transporte aquaviário até Miritituba e menos o terrestre até a propriedade, resultando no valor líquido que o produtor recebe. Nós entendemos que esse processo ainda levará de dois a três anos, porque precisa terminar a rodovia”, justifica Ferreira. Na avaliação do consultor, enquanto as obras de pavimentação da BR-163 não forem concluídas, não será possível baixar o frete rodoviário. “Se o caminhão, em vez de fazer uma viagem a cada três dias, tiver de fazer o percurso em sete dias, não há como ter redução. Além disso, há necessidade de que mais empresas trabalhem e disponibilizem o produto dessa região. Portanto, somente com esse aumento da concorrência e a melhoria da infraestrutura será possível tornar o transporte mais rentável para o produtor.” l


Com quase 10 mil quilômetros de extensão, maior ferrovia do mundo cruza a Ásia em uma rota que vai de Moscou a Vladivostok; trajeto possui relevância territorial, comercial e turística para a Rússia FERROVIÁRIO

POR

EVIE GONÇALVES

ificuldades financeiras e estratégia militar. Esses foram os principais motivos para a decisão do czar Alexandre II de dar ordens para a construção de uma ferrovia faraônica no final do século 19, abrangendo todo o território russo, mais precisamente a região da Sibéria. Com 9.288 km de extensão, passando por sete fusos horários, a Transiberiana liga a Rússia europeia ao Extremo Oriente asiático, indo de Moscou a Vladivostok, e é hoje a maior ferrovia do mundo. A ideia surgiu quando o império russo estava com dificuldades financeiras por conta da Guerra da Crimeia (1853-1856). O governo percebeu que a Sibéria dispunha de riquezas ainda não exploradas, entre elas enormes jazidas de ouro. A única maneira de transportálas seria por meio de uma ferrovia. Além disso, as autoridades czaristas observaram a importância estratégica de um trem que chegasse a Vladivos-

D


CREATIVE COMMONS CCO INTO THE PUBLIC DOMAIN

Além da

Sibéria


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SERGEI MIKHAILOVICH PROKUDIN-GORSKII

tok – jovem cidade construída próxima ao Japão, rival histórico da Rússia. Em caso de guerra com os japoneses, a ferrovia seria um meio eficaz de transportar as tropas. Em artigo publicado na revista “História Viva”, o jornalista francês Claude Mossé, autor de livro sobre a ferrovia, conta que o primeiro trilho foi instalado em 1891 em meio a empecilhos, como a definição do traçado, o transporte de materiais e a contratação de operários, que precisariam

A ferrovia foi construída por

85 mil trabalhadores Ferrovia passa por uma ponte sobre o rio Kama, em Perm

CONHEÇA A ROTA DA TRANSIBERIANA

Yaroslavl Moscou

Rússia

Kirov Perm Ekaterinburg Tyumen

Skovrodino arsk noy Kras Tayshet

Omsk Novosibirsk

Irkutsk

k ovs bar a Kh

Belogorsk de n-U Ula

Chita Vladivostok


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SIMON PIELOW

A rota possui vagões simples e de luxo, com restaurantes e serviços de bordo incluídos

ser alimentados, alojados e ainda trabalhariam em condições climáticas extremas. No inverno, a temperatura pode chegar a -50ºC na Sibéria. Mesmo assim, a obra foi construída em tempo recorde – algo próximo a 15 anos. “A Transiberiana teve papel fundamental na Primeira Guerra Mundial (1914-1918). O transporte das tropas foi todo feito por trilhos. Antes, o deslocamento era feito a cavalo. Entretanto, era quase impossível atravessar a região no frio. Quem arriscasse morreria”, relata o coordenador do núcleo de infraestrutura da Fundação Dom Cabral e estudioso sobre a ferrovia, Paulo Re-

sende. A importância do traçado para a guerra também foi observada por causa da bitola mais larga utilizada na construção: a largura dos trilhos foi expandida em 11 centímetros para que trens de outros países não pudessem invadi-la. Segundo ele, se por um lado, a Transiberiana foi útil para a proteção territorial, por outro, foi frágil pelo grande número de mortes durante a sua construção. A tecnologia ferroviária era quase inexistente e os 85 mil trabalhadores construíram, em média, 1.000 km de trilhos por ano. O ataque constante de mosquitos e o abastecimento de provimentos, como água potável e

“A Transiberiana teve papel fundamental na Primeira Guerra Mundial” PAULO RESENDE, FUNDAÇÃO DOM CABRAL

vodca - a bebida mais tradicional da Rússia – também eram problemas encontrados pelos profissionais que erguiam a obra. Milhares de operários ficaram cegos por causa das picadas dos insetos. Tudo devidamente escondido da imprensa que, à época, noticiava “a fabulosa Sibéria” que estava por vir. Resende conta que a ferrovia ganhou uma nova dimensão após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e sobretudo durante a Guerra Fria, mais precisamente entre as décadas de 1950 e 1970. O motivo foi a fronteira com a China e a Coreia do Norte, corredor estratégico de extrema importância comercial, com destaque para o transbordo de cargas e de passageiros nas capitais Pequim e Pyongyang. Além disso, segundo ele, o traçado passa por cidades relevantes para a economia russa, como Omsk e UlanUde, que possui um ramal de interligação entre a Transiberiana e Pequim. A partir da década de 1980, investidores privados se interessaram pela exploração dos serviços da ferrovia. Além disso, o governo russo possibilitou a entrada de investimentos estrangeiros por meio da abertura do capital da Russian Railways, empresa que administra a Tran-


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siberiana. Vale destacar que o processo de eletrificação só foi concluído em 2002. Atualmente, a ferrovia transporta cargas e passageiros. De acordo com a embaixada da Rússia, são escoadas cerca de 100 milhões de toneladas por ano, sobretudo minério e granéis. Os trens passam por 120 pontos em 87 cidades no trecho Moscou-Vladivostok. O trajeto completo, que é feito em oito dias a uma velocidade de 50 km/h, em média, custa cerca de R$ 1.000, mas o valor depende do número de paradas. A embaixada não informou o número de passageiros transportados pela linha. De acordo com Resende, a Rússia trabalha em projetos de modernização e investimento em ferrovias no valor de US$ 353 bilhões. Entre as propostas está a construção de 2.500 km de linhas de alta velocidade, até 2030. Para a Transiberiana, a ideia é aumentar a velocidade dos trens para 80 km/h, até 2020. “Os

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Com 1.642 metros, o lago Baikal, o mais profundo do

Trens viajam a

50 km/h, em média, no trajeto

russos querem que o trajeto completo passe de oito dias para cinco. Com isso, a velocidade teria que praticamente dobrar”, acredita. Em termos de cargas, a ideia é aumentar o volume transportado por contêineres. Brasil Embora tenha dimensões continentais, assim como a Rússia, no Brasil, a maior fer-

rovia teria a metade da quilometragem da Transiberiana, caso estivesse concluída. Entretanto, dos cerca de 4.400 km iniciais previstos para a Norte-Sul, que pretendem ligar o porto de Barcarena, no Pará, ao Rio Grande do Sul, apenas 1.000 km estão finalizados. Isso depois de 30 anos de obras. Não há previsão para a conclusão da quilometragem restante. A análise é do


LINHA DO TEMPO 1901 Início oficial das construções1

Início do funcionamento regular

DANILO TEÓFILO COSTA/ARQUIVO PESSOAL

1903

1905

1914 a 1918

Ferrovia transporta tropas e equipamentos durante a Primeira Guerra Mundial

Início do serviço contínuo da ferrovia2

Construção foi concluída

1916

1939 a 1945 Retomada dos investimentos após a queda do muro de Berlim

1980

planeta, é uma das principais vistas da rota

consultor em logística e transporte, Marcelo Perrupato. A ferrovia começou a ser construída no governo Sarney, em 1985. Desde então, apenas os trechos de 314 km entre Açailândia (MA) e Palmas (TO) e de 764 km entre Palmas (TO) e Estrela d’Oeste (SP) estão finalizados, o que possibilita o transporte de 10 milhões de toneladas anualmente, cerca de um décimo do que é escoado pela Transiberiana.

Conclusão da eletrificação da linha

Ferrovia volta a ser utilizada para o deslocamento de tropas na Segunda Guerra Mundial

2002 Abertura para investimento privado e internacional

2016 Aumento da velocidade para 80 km/h

1

O trajeto Moscou – Tcheliabinsk foi iniciado em 1891 2 Até então, os vagões eram transportados por balsa através do lago Baikal 3 Previsão

2020

Ícone: Freepik.com


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TURISMO

Brasileiro completa trajeto em um mês Em meio a quilômetros de floresta, além da imponente vista do lago Baikal, o diplomata Danilo Téofilo Costa completou a rota da Transiberiana em 2010. A viagem durou um mês, na época da Copa do Mundo da África do Sul. “Comprei todas as passagens antecipadamente para não perder jogo algum”, conta ao lembrar a derrota do Brasil para a Holanda por 2x1 nas quartas de final. O roteiro do brasileiro, que viajou com um amigo, incluiu 14 cidades e alguns vilarejos. Os dois começaram o percurso em Moscou e terminaram em Vladivostok. Uma das cidades que mais chamaram a atenção do viajante foi Kazan. “Foi ali que Ivan, o terrível, derrotou os mongóis. A Catedral, na Praça Vermelha, em Moscou, foi construída em razão dessa vitória. É uma cidade linda, patrimônio histórico da Unesco, com uma igreja ortodoxa e uma mesquita, lado a lado”, lembra ele, fazendo referência à batalha travada entre o czar russo e os mongóis para a conquista de território. O lago Baikal, que fica a 4.500 km de Moscou, também impressiona pelos su-

perlativos. Ele contém um oitavo da água doce mundial e é o mais profundo do planeta, com 1.642 metros de profundidade. “É bonito chegar de trem e ver o lago da janela. Ele congela completamente no inverno”, diz. Segundo Costa, após a passagem pelo Baikal, é possível perceber mudanças na paisagem com a proximidade da Mongólia. As pessoas, ressalta, são diferentes fisicamente dos russos e passam a ter os olhos mais puxados. “Você pensa que está na China, mas está na Rússia.” O diplomata também lembra dos vagões durante a viagem. “Os trens se modernizaram bastante, mas ainda existem alguns antigos, bem soviéticos. Eles não andam tão rápido, o que para mim foi bom, pois gosto de ver a paisagem”, relata. Além disso, os compartimentos variam durante o percurso: desde os de luxo àqueles que possuem ambientes divididos entre duas, quatro e seis pessoas, com uma cama para cada viajante. Dentro dos trens, existe ainda restaurante e a alimentação está incluída na passagem. A comida ser-

vida é tipicamente russa. “A minha preferida é o strogonoff, muito conhecido dos brasileiros. Só que, por lá, eles não comem com batata palha”, lamenta. Outra lembrança é das pessoas que encontrou pelo caminho, desde estudantes a grupos completos de famílias. Costa conta que se surpreendeu com os russos e que a fama de serem malhumorados é falsa. “Em geral as pessoas são simples, hospitaleiras e de fácil comunicação, embora a maioria não fale inglês.” Para ele, um dos principais aprendizados que a Transiberiana trouxe foi em relação à história do país. O diplomata relembra os 25 milhões de russos mortos durante a Segunda Guerra Mundial e a importância da ferrovia nesse contexto. “Muitas fábricas e linhas de montagem foram transferidas para a Sibéria para que a União Soviética se protegesse dos nazistas. É uma viagem fascinante. Uma espécie de aula de história e de geografia física e humana. Os diferentes povos, ao longo desse trecho, fazem da Transiberiana uma viagem multicultural”, conclui.

O diplomata Danilo

Segundo Perrupato, as obras da Norte-Sul avançaram a partir de 2003 por conta da situação econômica favorável, em que a exportação de produtos agrícolas e minérios estava em alta, sobretudo para a China. “Mesmo assim, trechos como Açailândia (MA) Belém (PA) já passaram por licitação sem que nenhum investidor tenha manifestado interesse”, diz. Para o consultor, o que diferencia as ferrovias brasileiras da Transiberiana é a falta de foco e


DANILO TEÓFILO COSTA/ARQUIVO PESSOAL

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CURIOSIDADES SOBRE A TRANSIBERIANA David Bowie – O cantor, compositor, ator e produtor musical inglês, que morreu em janeiro deste ano, fez a rota na primavera de 1973. Segundo a “Gazeta Russa”, Bowie tinha fobia de andar de avião, o que explica a opção pelo trem. Fragmento de um texto escrito por ele diz que “a Sibéria nos pareceu incrivelmente impressionante. Durante dias a fio, o trem corria ao longo de florestas imperiais, rios e extensos vales. Nunca pensei que, no mundo, houvesse ainda tantas extensões de natureza virgem, intocada”. Paulo Coelho - O escritor brasileiro também viajou pela Transiberiana em 2006. "É um sonho que tinha desde 1982, mas, em tempos de União Soviética, foi impossível realizar", disse em entrevista coletiva em Moscou, na época. O romance “O Aleph” foi escrito após a viagem que durou 40 dias em companhia de uma leitora e fã. O Livro “A Journey to the End of the Russian Empire” (A jornada para o fim do império russo, na tradução em inglês) de Anton Chekhov, famoso dramaturgo, foi escrito quando o autor trabalhava como censor do império russo. A Transiberiana é pano de fundo para o desenrolar da obra.

Teófilo Costa concluiu a rota em Vladivostok, em 2010, após um mês de viagem

de decisão política. “Como houve forte determinação, a Rússia conseguiu a proeza de construir uma linha férrea sem qualquer tecnologia avançada. A estrutura era mais frágil, as pontes eram de madeira, os trens descarrilhavam, mas, do ponto de vista de engenharia, foi um grande feito para a época”, acredita. Perrupato avalia que o Brasil precisa de investimentos públicos para garantir a evolução dos trilhos. Além disso, em caso de

concessões, deve entender que o prazo de reembolso nesse tipo de projeto é longo. Segundo ele, o período de 35 anos minimiza a margem de lucro dos investidores. “Ferrovias são diferentes das rodovias, que dão retorno a partir do quinto ano. Essas propostas são de longa duração, em que a empresa investe por um bom tempo e não tem retorno enquanto o trem não passar.” “Não sei se a Transiberiana seria construída hoje. Trata-se

“Quando a decisão é tomada, o projeto sai do papel” MARCELO PERRUPATO, CONSULTOR

de uma epopeia, mas, quando a decisão é tomada, o projeto sai.” A necessidade do Brasil, de acordo com o consultor, é dar mobilidade às cargas agrícolas produzidas no Centro-Oeste em direção aos portos do Norte do país. Atualmente, os terminais de Paranaguá (PR) e de Rio Grande (RS) estão sobrecarregados por escoarem grande parte dessa produção, o que encarece o custo logístico desse tipo de transporte. l


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TÁXIS

ara amenizar os prejuízos da crise econômica e driblar a concorrência com o aplicativo Uber, muitos taxistas estão investindo na melhoria da qualidade do serviço oferecido. Pequenos “luxos”, que vão desde ar-condicionado, internet e cartão de crédito até o oferecimento de bebidas durante a corrida, têm fidelizado os passageiros e feito os profissionais sobreviverem à perda de corridas. Pesquisa CNT Perfil dos Taxistas, divulgada neste ano, revela que 94,9% dos profissionais entrevistados disseram que houve queda na demanda por serviços de táxis em 2015. Entre esses trabalhadores, 43% afirmaram que o que mais influenciou a redução foi a crise econômica e 30,3% atribuem a diminuição do número de passageiros ao transporte clandestino. Além disso, 59,9% dos entrevistados consideram ofere-

P

Drible na concorrência Profissionais têm oferecido serviços diferenciados para reconquistar passageiros, aponta a Pesquisa CNT Perfil dos Taxistas POR

cer em seu táxi serviço diferenciado para torná-lo mais vantajoso em concorrência com o Uber. Nas cidades onde o aplicativo opera (Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Brasília), 68,6% dos taxistas perceberam impacto negativo em sua atividade. O serviço diferenciado vem sendo adotado pelo motorista Wagner Caetano, em São Paulo

EVIE GONÇALVES

(SP). Ele é taxista há 21 anos e já oferecia pequenas vantagens aos clientes antes mesmo do surgimento do Uber. “No meu veículo, tenho televisão digital, Wi-Fi, tecnologia 4G, cabos para carregamento de todos os celulares e tablets. Além disso, ofereço balas com o logotipo táxi”, conta. Segundo o motorista, o Uber fez com que a categoria saísse do comodismo e perce-

besse que era preciso melhorar a ferramenta de trabalho: o carro. Além de vantagens tecnológicas, o condutor – que recebe o patrocínio de uma empresa de energético – oferece a bebida gelada pelas manhãs aos passageiros em uma bolsa térmica. “Com esse tipo de serviço, fidelizei meus clientes. Às vezes, fica difícil coordenar a agenda”, afirma. Para


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ARQUIVO CNT

Caetano, taxistas que aderiram às melhorias mantiveram os clientes. Já os que foram em movimento contrário perderam demanda em até 40%. O presidente da Fencavir (Federação Nacional dos Taxistas e Transportadores Autônomos de Passageiros), Edgar Ferreira de Sousa, explica que o conceito luxo veio para mostrar que a população quer um serviço de

qualidade. “Os passageiros desejam ar-condicionado, carro limpo, bom atendimento, fluência em outras línguas, cartão de crédito. Nós estamos nos adequando ao mercado. Somos servidores da população”, ressalta. A passageira Cláudia Rosane já observou essas melhorias. Em uma viagem a Recife (PE), em fevereiro, gostou do tratamento recebido. “O taxista era

muito bem educado. Ele me perguntou se eu queria ar-condicionado e me serviu água. E ainda havia internet no táxi”, conta. Ela tinha o hábito de chamar o Uber, mas, depois do atendimento cortês no táxi legalizado, passou a intercalar as chamadas. De acordo com o presidente da Fencavir, a resistência em incorporar novas vantagens

ainda existe, embora precise ser vencida. Segundo ele, na época da sanção da lei 8.000/90, que concede isenção do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para a aquisição de automóveis de passageiros, uma das exigências para os táxis era que os veículos tivessem quatro portas. “Muita gente na categoria brigou, pois não queria fazer a adap-


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QUALIFICAÇÃO

SEST SENAT capacita taxistas Para melhor capacitar taxistas de todo o país, o SEST SENAT oferece cursos que vão desde os exigidos pela regulamentação nacional da profissão até o treinamento continuado dos trabalhadores. O Curso de Taxista, por exemplo, visa certificar motoristas para o exercício regular da profissão. O conteúdo é estabelecido pelo Contran (Conselho Nacional de Trânsito) e contempla legislação específica, relações humanas, direção defensiva e primeiros socorros. A instituição também

tação. Mas a maioria fez, e os táxis passaram a ser melhor vistos pela sociedade”, relata. Segundo Edgar de Sousa, os taxistas devem optar ainda pela padronização das cores, além de aprender a se comunicar por meio de linguagem para deficientes auditivos. Sobre o Uber, ele é enfático ao dizer que se trata de um veículo particular para locomoção particular. “O Uber nasceu do con-

oferece o Programa de Formação Especializada – Itinerário Formativo para Taxistas. Trata-se de uma iniciativa para qualificar e especializar os profissionais para enfrentarem os desafios do mundo do trabalho e prestar serviços de qualidade aos clientes. O Itinerário possui seis módulos e aborda conteúdos variados, como legislação de trânsito, gestão financeira, direção preventiva, fidelização de clientes, inglês instrumental, primeiros socorros e qualidade na prestação de serviços.

Tecnologias como televisão a bordo, Wi-Fi e carregadores de

CONSIDERA OFERECER SERVIÇO DIFERENCIADO Taxistas

%

Sim

553

59,9

Não

303

32,9

NS/NR

66

7,2

Total

922

100,0

Apenas para taxistas que já ouviram falar da Uber Fonte: Pesquisa CNT Perfil dos Taxistas

ceito de carona compartilhada, que pressupõe a gratuidade. A partir do momento em que você cobra pela corrida, isso deixa de ser carona. O táxi é uma opção internacional e isso é uma segurança para qualquer cidadão que transite pelo mundo”, avalia. Outras mudanças Em Belo Horizonte, os taxistas também fizeram adapta-


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FOTOS WAGNER CAETANO/ARQUIVO PESSOAL

celular são adotadas por taxistas para atrair clientes perdidos para o Uber

ções para aumentar a competividade em relação ao Uber. As mudanças foram desde a repaginação dos uniformes ao oferecimento do cartão de crédito. “Ligamos para os passageiros para saber se foram bem atendidos ou não, passamos a buscá-los em lugares de difícil acesso. Em alguns casos, levo até filhos de clientes na escola. Isso está trazendo os passageiros de volta”, con-

ta o taxista João Carlos de Andrade. Segundo ele, com a chegada do aplicativo Uber, o movimento caiu na capital mineira, mas o trabalho de resgate de confiança tem feito a demanda aumentar. André Oliveira, taxista do Rio de Janeiro, aposta na boa educação para fidelizar passageiros. “Não é o carro. Não é a marca do veículo. O que importa é a forma com que o

O taxista Wagner Caetano oferece balas aos passageiros, em SP

profissional atende. E esse será o nosso foco. Serviço de excelência é você ter a certeza de que vai ligar para determinada central e vai vir um táxi com um mínimo de padrão. Hoje, o passageiro pega tanto o bom profissional, quanto o ruim, que não liga o ar-condicionado, que fuma dentro do carro ou que tenta cobrar mais caro. Isso é um absurdo.”

Ele conta que um novo aplicativo chamado Táxi Legal está sendo desenvolvido na cidade. Umas das possibilidades é que os clientes estabeleçam os taxistas favoritos e, quando chamarem pela corrida, terão prioridade. Outra iniciativa é a capacitação com foco nos Jogos Olímpicos por meio de curso de formação a fim de que os serviços oferecidos sejam padronizados. l


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GRU AIRPORT/DIVULGAÇÃO

AÉREO

Próximos desafios

Prestes a realizar nova rodada de concessões, setor teve ganhos de capacidade e qualidade com o atual modelo. Aéreas pedem menos regulação POR

setor aéreo brasileiro experimentou um alto crescimento nos últimos anos, com média anual de 10% de aumento no número de passageiros e significativa expansão da infraestrutura aeroportuária em virtude do sucesso do programa de concessões. Há espaço, contudo, para crescer mais, tendo em vista que

O

DIEGO GOMES

o índice de brasileiros que viajam anualmente – apesar de ter registrado aumento de mais de 160%, entre 2000 e 2014, conforme dados do estudo Transporte e Economia - Transporte Aéreo de Passageiros divulgado pela CNT – ainda é bem inferior ao de países como Estados Unidos, Austrália e Canadá. Em relação à cobertura de infraestrutura e de malha aé-

rea, na comparação com padrões internacionais, o país não apresenta deficit na intensidade de utilização do modal, mas precisa avançar nas rotas de menor densidade e investir na construção de alguns aeroportos menores. O desafio, agora, é expandir a capacidade do sistema, já que diversos aeroportos se encontram no limite de sua capacidade de


PPPs

Aeroportos regionais com potencial Diversos municípios possuem aeroportos com potencial de se desenvolverem, mas não possuem subsídio necessário para investir em reformas para atender a mais passageiros e companhias aéreas. Uma solução para esse impasse é a gestão dos aeroportos pelos municípios e por empresas privadas por meio de PPPs (Parcerias Público-Privadas). Durante o Airport Infra Expo, foi apresentado um ranking, feito em parceria com as empresas de consultoria Urban Systems e Radar PPP, que revela cem aeroportos regionais do Brasil que possuem maior potencial de desenvolvimento por meio de PPPs.

movimentação de passageiros e/ou aeronaves. Além disso, se mantido o crescimento histórico da demanda, o país teria que adicionar até 200 milhões de passageiros/ano em capacidade até 2030, de acordo com estimativas do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social). Em paralelo a isso, o Brasil sofre uma grave crise econômica, que tem afetado a aviação civil. Com o dólar alto e a recessão econômica, especialistas preveem retração na demanda por voos neste ano, algo que não acontece desde 2003. Representantes do segmento, no entanto, identificam, nesse cenário, desafios e oportunidades de investimentos, especialmente quanto às novas concessões. Essa foi a tônica da sexta edição do Airport Infra Expo, um dos maiores eventos de infraestrutura aeroportuária da América Latina, realizado em Brasília (DF).

Na lista, destacam-se os aeroportos de São José dos Campos (SP), Sorocaba (SP) e Uberaba (MG) – confira no quadro abaixo os 20 mais bem posicionados. Para chegar ao resultado do ranking, foram analisados indicadores, como a receita corrente líquida do município no qual o aeroporto estava inserido, levando em consideração que apenas 5% da receita líquida podem ser destinados a PPPs; também foi importante para os pesquisadores levarem em consideração municípios que já possuem leis de regulamentação de PPPs e o status destes aeroportos perante a Secretaria de

Aviação Civil. “O ranking é uma ferramenta importante para encontrar alternativas de crescimento do setor aeroportuário em um período no qual não há previsão de investimento por parte do setor público” pontua Thomaz Assumpção, Presidente da Urban Systems. As consultorias avaliaram os 270 aeroportos regionais listados no Programa de Aviação Regional, da SAC. Bruno Pereira, sócio da Radar PPP, afirma que “utilizar PPPs para expansão dos aeroportos também trará benefícios para o desenvolvimento dos municípios em que os aeroportos estão inseridos”.

AEROPORTOS REGIONAIS COM POTENCIAL DE DESENVOLVIMENTO – 2016 Posição 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º 10º 11º 12º 13º 14º 15º 16º 17º 18º 19º 20º

Município Sorocaba Uberaba São José dos Campos Montes Claros Ribeirão Preto Juiz de Fora Campos dos Goytacazes Uberlândia Maringá Feira de Santana Foz do Iguaçu Governador Valadares Londrina Presidente Prudente Bauru Cascavel Joinville Campina Grande Sinop Parauapebas

Estado SP MG SP MG SP MG RJ MG PR BA PR RJ PR SP SP PR SC PB MT PA

Fonte: Airport Infra Expo e Urban Systems

Aeroporto de

“Continuamos com o mesmo desafio [expandir infraestrutura e oferecer serviços de mais qualidade] e não podemos pensar em qualquer impedimento em decorrência da crise econômica”, disse Guilherme Ramalho, ministro interino da SAC (Secretaria de Aviação Civil). “Estamos num ciclo extenso de expansão forte da aviação civil, de uns 30 a 35 anos. Temos meses seguidos de queda na demanda. Mas o desafio de médio e longo prazos continua. Uma vez que a economia comece a dar sinais de recuperação, o setor também terá


INFRAERO/DIVULGAÇÃO

INVESTIMENTOS DE R$ 7,1 BILHÕES EM QUATRO AEROPORTOS

RR

R$ 1,8 BILHÃO FORTALEZA

AP

AM

PA

CE

MA PI

AC TO

RO

BA

MT DF

RN PB PE AL SE

R$ 2,8 BILHÕES SALVADOR

GO MG MS

ES SP

R$ 1,7 BILHÃO PORTO ALEGRE

RJ

PR SC RS

R$ 918 MILHÕES FLORIANÓPOLIS

OBRAS

Expansão das pistas de pouso e decolagem

Ampliação das áreas de pátio das aeronaves

Fortaleza está entre os quatro que serão concessionados neste ano

uma recuperação mais forte e mais pujante. Nosso papel é deixar as condições adequadas para esse momento”, complementou. A SAC deve leiloar, até o final deste ano, mais quatro aeroportos à iniciativa privada: Porto Alegre (RS), Florianópolis (SC), Salvador (BA) e Fortaleza (CE). Conforme a pasta, uma demonstração da confiança no futuro do setor, no país, é que já foram realizadas 40 visitas por empresas estrangeiras e nacionais interessadas em participar do arremate desses terminais nos próximos leilões.

Victor Rafael Celestino, consultor técnico da Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas), no entanto, destacou que resultados positivos para o setor dependem, também, da oferta de condições adequadas para a operação das companhias aéreas. Ele defendeu medidas anunciadas recentemente pelo governo federal, que aproximam as regras do mercado aéreo brasileiro às aplicadas em outros países, como a possibilidade de aumentar o capital estrangeiro nas empresas nacionais, mas defende que o Brasil

Novos terminais ou expansão dos já existentes

Ampliação dos terminais de cargas

Fonte: SAC

precisa ir mais longe. “O país precisa perguntar que aviação deseja: como na década de 1990 ou uma aviação moderna, de baixo custo. E se é a segunda opção, precisamos de uma nova regulação. As propostas ainda estão tímidas.” A Abear defende o Estado eficiente, com referência aos órgãos de aviação no Brasil, para crescimento e aumento da produtividade do espaço aéreo. Em contrapartida, a limitação orçamentária representa um desafio a novos investimentos e ao custeio público da atividade. Segundo

o diretor-geral do Decea (Departamento de Controle do Espaço Aéreo), tenente-brigadeiro do ar Carlos Vuyk de Aquino, “para manter uma estrutura com visão de primeiro mundo, precisamos de recursos. E temos que fazer mágica com o que temos disponível para oferecer serviço de qualidade aos nossos usuários”, disse ele. Presidente da Infraero, Gustavo do Vale acredita que a atual retração econômica não comprometerá o desenvolvimento do setor. “Crises passam, e o país fica. E a área passou por um processo sóli-


TECNOLOGIA

Galeão: controle de pátio O Aeroporto Internacional do Galeão (RJ) deve inaugurar, em maio, o Apron Control, sistema que tem a finalidade de organizar o movimento de aeronaves, equipamentos, veículos e pessoas no pátio dos aeroportos. Será o primeiro terminal brasileiro a implantar esse serviço, o que aumenta a segurança e a agilidade na movimentação dos aviões durante o taxiamento. “Isso deve ajudar a reduzir atrasos. Às vezes, a demanda impede que se consiga trasladar um avião no tempo necessário. Isso resulta em atrasos significativos”, explica o gestor do Apron Control da RIOgaleão, concessionária responsável pelo aeroporto, Paulo Barcellos. Ele apresentou o novo serviço durante o Airport Infra Expo 2016. Agora, diz Barcellos, a administração aeroportuária terá uma ação coercitiva para fazer valer os tempos

do de regulamentação e modernização. Nesse sentido, a decisão de abrir nossos aeroportos à iniciativa privada foi importante e vitoriosa. Nossa intenção é conviver com a iniciativa privada na administração e na participação desses aeroportos. Apesar do momento que vivemos, é importante discutir esse mercado. Não tenho dúvida de que a nossa aviação já é a maior da América Latina e tem um futuro muito grande”, comentou. Concessões Ao todo, seis aeroportos bra-

definidos para seguir o planejamento. Além de elevar segurança, reduzindo risco de conflitos. Atualmente, controladores de tráfego aéreo assumem a gestão do pátio dos aeroportos para viabilizar a continuidade do fluxo de aviões pousando e decolando. Isso aumenta a carga de trabalho e de responsabilidade desses profissionais. “Isso é feito sob o risco de algum sinistro. E, se isso ocorrer, as responsabilidades serão cobradas. Em aeroportos de grande movimento, especialmente nas horas de pico, percebe-se como é importante que os pátios tenham agilidade”, complementa Paulo Barcellos. Segundo ele, a estimativa é de que até 35% do trabalho que era feito por controladores de tráfego aéreo ficará sob a responsabilidade de gestores do pátio depois que o sistema começar a funcionar.

sileiros foram concedidos à iniciativa privada. Entre 2013 e 2014, o investimento nas concessões chegou a R$ 6,85 bilhões. Em 2016, a previsão é de que mais quatro sejam concedidos, com uma estimativa de mais de R$ 8 bilhões em investimentos. No primeiro semestre deste ano, duas medidas importantes foram tomadas pelo governo federal em relação à concessão de aeroportos: o aumento da participação de capital estrangeiro nas empresas e a concessão de dois dos mais movimentados aeroportos

Novo terminal do Galeão deve ser inaugurado

do país, Congonhas (SP) e Santos Dumont (RJ), à Infraero, que, apesar de ser uma estatal, seguirá as normas como as empresas privadas. Após aumento dos investimentos nos aeroportos concessionados e na rede Infraero, o Brasil melhorou 18 posições no ranking do Fórum Econômico Mundial. Em 2015, o país passou a ocupar a posição número 95 entre 140 países avaliados, contra a posição 113ª, no ano anterior. Um estudo feito pela SAC mostrou que os seis terminais concessionados movimentaram,

em 2015, cerca de 98,5 milhões de passageiros, que representam 45,4% do fluxo total do país. O Aeroporto de Guarulhos foi responsável por quase 40% do trânsito de viajantes de avião no período. O secretário de política regulatória da SAC, Rogério Coimbra, explica que o processo de concessões proporcionou ganhos de capacidade e qualidade de serviços e ilustrou isso por meio de casos bem-sucedidos. “Temos o Terminal 3 de Guarulhos, já em operação antes da Copa do Mundo, com um padrão


GALEÃO /DIVULGAÇÃO

JOGOS OLÍMPICOS

Terminais se preparam

em maio, a tempo da Olimpíada

de excelência; o aeroporto de Viracopos, que, no próximo dia 23 de maio, migrará suas operações para um novo terminal; o novo aeroporto de Natal; e a inauguração, no final de abril, do novo terminal do Galeão.” Além dos investimentos, o secretário destacou o índice de satisfação dos usuários. “Esse é o nosso principal termômetro: a avaliação dos passageiros. Desde 2013, já realizamos mais de 200 mil entrevistas, e a satisfação vem crescendo sistematicamente. Numa escala que vai de 0 a 5,

Os preparativos do setor aéreo para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio 2016 também foram tema de destaque do Airport Infra Expo, realizado em Brasília. De acordo com o diretor de Gestão Aeroportuária da SAC, Paulo Henrique Possas, o Brasil já acumulou experiência com grandes eventos, como na Rio+20, Jornada Mundial da Juventude, Copa das Confederações e Copa do Mundo. No entanto, uma série de preparativos e simulações estão em andamento para garantir a normalidade das operações e o atendimento satisfatório aos passageiros. Isso decorre, por exemplo, das zonas de exclusão do espaço aéreo e fechamentos de aeroportos, da necessidade de garantir acessibilidade – em especial com a chegada dos atletas paralímpicos – e dos cuidados diferenciados com bagagens e cargas em

atualmente está em 4,16, o que é motivo de muita satisfação”, comemorou. Para Clarissa Barros, superintendente de regulação econômica de aeroportos da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), ainda há muito espaço para crescimento e investimento. “As novas concessões vêm com três grandes objetivos: expansão da infraestrutura para atendimento da demanda de passageiros aliada à redução das tarifas; melhoria dos serviços prestados à sociedade; e introdução da compe-

geral, devido ao transporte de equipamentos utilizados nas disputas esportivas. “Os aeroportos de Guarulhos (SP), Santos Dumont (RJ) e Galeão (RJ), que serão os principais aeroportos, estão fazendo diversos simulados. Precisamos conhecer os fluxos de terminais, de atletas e de equipamentos”. Segundo ele, ao todo, serão 39 aeroportos e três bases aéreas envolvidas no planejamento para esse período. O gerente de Operações da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), Marcelo Lima, destacou que, assim como na Copa do Mundo de 2014, a reguladora vai intensificar a fiscalização sobre o cumprimento dos slots (janelas para pousos e decolagens). Desde 2014, a agência agravou a punição em caso de desrespeito aos horários. As multas chegam a R$ 90 mil para empresas comerciais e jatinhos.

titividade no setor, outrora controlado pelo ‘monopolismo’. O cenário econômico hoje não é tão favorável e traz pressão por redução de custos tanto do governo quanto do operador. Porém, há o apelo pela universalização do serviço, com todos o utilizando”, explicou. Nessa nova rodada de concessões, a novidade é que não haverá participação da Infraero como sócia, o que, na avaliação de Clarissa, é uma sinalização de comprometimento e confiança no trabalho dos operadores.

“Os estrangeiros que não confiarem no Brasil, quebrarão a cara.” A afirmação é do comandante Miguel Dau, diretor de operações do GRU Airport, empresa que administra o Aeroporto Internacional de Guarulhos, em alusão às novas concessões. Segundo ele, o setor aéreo precisa estar preparado para quando a economia voltar a crescer, uma vez que a área, diante da atual conjuntura, é uma das primeiras a reagir. O dirigente ressalta a expertise adquirida com a primeira rodada de leilões. “Em 2014, tínhamos a Copa do Mundo e precisávamos entregar um terminal de 200 mil m2, com sistema diferenciado de distribuição de bagagens. Conseguimos, e foi um sucesso durante o torneio. Isso foi um tremendo desafio, e, contrariando todas as expectativas, entregamos, em 19 meses, um terminal de excelência no âmbito da aviação, com capacidade para mais de 12 milhões de passageiros. Eu desafio qualquer país do mundo que tenha construído um terminal com essa complexidade, e tenha colocado para rodar em tão pouco tempo”. No ano passado, o grupo Latam elegeu o aeroporto de Guarulhos como seu principal centro de conexões internacionais. l


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RODOVIÁRIO

Transporte colaborativo Caminhões passam a conduzir carregamentos de empresas parceiras. Iniciativa contribui para eficiência logística e energética do setor POR

ransportadoras brasileiras se uniram contra a queda da rentabilidade do segmento rodoviário. Isso porque a circulação de caminhões sem carga tem gerado grandes prejuízos ao setor. Para resolver o problema, as empresas adotaram sistemas de compartilhamento de veículo. Também conhecido como transporte colaborativo, caminhões de uma empresa passam a transportar carregamentos de parceiras e, com isso, promovem uma melhoria

T

JANE ROCHA

nos processos de busca e de oferta de carga. Rodar com o veículo vazio diminui o potencial de prestação do serviço de transporte com o mesmo número de ativos, reduz a capacidade da empresa em diluir os custos fixos e, consequentemente, há queda na geração de receita. Além isso, a parceria entre as empresas de transporte contribui para melhorar as operações logísticas, aumenta a economia de insumos e colabora para o setor atingir

melhores índices de eficiência energética. A primeira Sondagem CNT de Eficiência Energética no Transporte Rodoviário de Cargas revelou que o sistema colaborativo já é opção para 22,9% das transportadoras consultadas para evitar gastos excessivos. É o caso da TMC Transporte Multimodal de Cargas Ltda. A empresa de Joinville (SC) transporta geladeiras, eletrodomésticos, tubos e conexões para Rio Claro (SP), Camaçari (BA), Escada (PE), Contagem (MG) e Gravataí (RS).


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SERGIO ALBERTO/CNT


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EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

Caminhões circulam vazios A primeira Sondagem CNT de Eficiência Energética no Transporte Rodoviário de Cargas também apontou que 82,5% das empresas ainda fazem operações com os veículos sem carga. Do total de empresas ouvidas, 19,2% circulam com o veículo vazio na metade dos quilômetros percorridos mensalmente e 16% circulam vazios em 30% das distâncias percorridas. Foram realizadas 292 entrevistas com proprietários, diretores, gerentes ou profissionais com conhecimento da rotina administrativa, operacional e ambiental de transportadoras de todo o Brasil. O público-alvo foram empresas de transporte com frotas maiores ou iguais a 50 veículos, sendo caminhões próprios ou agregados, aqueles que contam com a participação

de veículos de caminhoneiros autônomos. Para o coordenador nacional do Despoluir – Programa Ambiental do Transporte, desenvolvido e executado pelo SEST SENAT com o apoio da CNT, Vinícius Ladeira, a eficiência energética do transporte está fortemente ligada à utilização completa da capacidade dos veículos. “Os dados apurados na sondagem indicam a necessidade de aprimoramento dos processos de busca de cargas a fim de contribuir para uma melhor eficiência nas operações logísticas. O percentual de veículos que circulam vazios deve ser minimizado para que as empresas obtenham uma maior eficiência operacional e, consequentemente, maiores receitas”, reforça. Ambev

Para não retornar com os caminhões vazios, a transportadora fechou parcerias com empresas das cinco cidades que precisam fazer entregas de plástico em Joinville (SC). “Há três anos, os 62 caminhões da empresa fazem transporte colaborativo. Nesse tipo de acordo não há lucro, mas ameniza o prejuízo do retorno com o caminhão vazio”, explica o assistente de frota, Michael Krieger.

A Transportadora Rodomeu, de Piracicaba (SP), também adotou o transporte colaborativo há 20 anos. Atualmente, 50% dos 450 caminhões que fazem parte da frota já circulam em parceria com outras empresas. Segundo o gerente comercial da Rodomeu, Marco Antônio Macheto, quando não há transporte no retorno das entregas, a empresa busca em sites especializados em com-

SONDAGEM CNT DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA • Transportadoras consultadas que utilizam o transporte colaborativo - 22,9% • Empresas que fazem operações de seus veículos sem carga - 82,5% • Transportadoras que circulam com o veículo vazio na metade dos quilômetros percorridos mensalmente - 19,2% • Empresas que circulam com caminhões vazios em 30% das distâncias percorridas - 16% Fonte: Confederação Nacional do Transporte


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AMBEV/DIVULGAÇÃO

EXPERIÊNCIA

Companhia adota modelo A Ambev também embarcou no transporte colaborativo. O projeto Frota Compartilhada, criado em 2009, é um programa em parceria com outras empresas para otimizar as viagens dos caminhões. Os veículos, que retornariam às fábricas da Ambev vazios depois de abastecer os centros de distribuição, passam a fazer os trajetos de volta com cargas das empresas parceiras. O Frota Compartilhada faz parte de um conjunto de ações da companhia voltado

a alcançar a meta da empresa de reduzir em 15% as suas emissões de carbono na área de logística até 2017. De janeiro a outubro de 2015, a Ambev deixou de lançar na atmosfera 22,3 mil toneladas de CO2. Atualmente, são realizadas 2,5 mil viagens por mês em média em todo o território nacional. Em 2015, P&G, Aramóveis, J. Macêdo e ASA se juntaram a JBS, BRFoods, Heinz, Unilever, Pepsico e Stora Enzo, que já faziam parte do projeto.

investe no compartilhamento da frota para reduzir a emissão de carbono

partilhamento de fretes outras transportadoras que tenham interesse em enviar mercadorias para a mesma região. “Com a parceria, todos ganham. O valor do frete fica mais baixo para a empresa que contrata, o caminhão não retorna vazio, minimizando o tráfego de veículos e reduzindo a emissão de gases poluentes”, enumera. O diretor técnico e executivo

da NTC&Logística (Associação Nacional do Transporte de Cargas & Logística), Neuto Gonçalves dos Reis, acredita que o percentual de veículos que circulam vazios é minimizado com a adoção do modelo colaborativo, gerando maior eficiência nas operações logísticas e, consequentemente, maiores receitas para as empresas. “Atualmente, poucas empresas no Brasil utilizam o transporte co-

laborativo, porém, a tendência é que a modalidade cresça cada vez mais”, afirma. O presidente da ABTC (Associação Brasileira de Logística e Transporte de Carga), Newton Gibson, afirma que, para ampliar o transporte de mercadorias compartilhadas, é necessário um estudo em conjunto com as empresas que trabalham com fretes regionais e percorrem a distância de um raio até 800 km.

“O restante do trajeto teria que ser feito por empresas locais, sem deixar de lembrar que a maior concentração de cargas do país está localizada na região Sudeste”, explica. Gibson defende também a participação do governo na iniciativa. “É importante desburocratizar a emissão da nota de conhecimento de frete e fazer com que ela possa ser compartilhada por várias empresas”, completa. l


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INICIATIVA

ara intensificar as ações de enfrentamento à exploração sexual de crianças e adolescentes, o SEST SENAT e a Childhood Brasil assinaram acordo de cooperação técnica. A solenidade aconteceu em abril , em Brasília (DF), durante encontro técnico dos coordenadores de promoção social e de desenvolvimento social da instituição. A iniciativa vai fortalecer o Projeto Proteger, do SEST SENAT, e o Programa Na Mão Certa, da Childhood Brasil, organização internacional criada em 1999 pela Rainha Silvia da Suécia com o objetivo de proteger a infância. Entre as ações previstas no acordo, estão a troca de conhecimentos técnicos sobre violência sexual, a produção de conteúdos didáticos, a formação de

P

Pela proteção da infância SEST SENAT e Childhood assinam acordo para ações de enfrentamento à exploração sexual de crianças e adolescentes POR LIVIA

profissionais e a realização de pesquisas. “Essa iniciativa fortalece as ações sociais já desenvolvidas pela nossa instituição e enfrenta uma das mais graves formas de violação dos direitos humanos”, diz Nicole Goulart, diretora-executiva nacional do SEST SENAT. A partir desse acordo, a

CEREZOLI

Childhood compartilhará com o SEST SENAT a sua expertise técnica na área. A instituição já trabalha há pelo menos dez anos oferecendo informações, soluções e estratégias referentes ao tema para os diferentes setores da sociedade. De acordo com Eva Cristina Dengler, gerente de progra-

mas e relações empresariais da Childhood Brasil, a ação conjunta com o SEST SENAT é fundamental para ampliar os resultados dessas ações. “Somente a união de esforços e o trabalho em rede garantem o sucesso da abordagem de um tema tão complexo. Não teríamos hoje outro parceiro com


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ABRIL 2016

SERGIO ALBERTO/CNT

Assinatura do acordo entre SEST SENAT e a Childhood Brasil foi realizada em Brasília

tanto valor para a nossa causa como o SEST SENAT, principalmente pela capilaridade da instituição”, afirma. Levantamento elaborado pela PRF (Polícia Rodoviária Federal), no Projeto Mapear, identificou 1.969 pontos vulneráveis à exploração sexual de crianças e adolescentes em

rodovias federais, entre os anos de 2013 e 2014. Por estar presente nesses locais, o trabalhador do setor de transporte é um agente fundamental no desenvolvimento de ações que enfrentem esse crime. Pela característica do seu trabalho, os caminhoneiros são potenciais agentes de

proteção da infância e da adolescência e, por isso, serão os primeiros a ser sensibilizados. Desde 2004, o SEST SENAT já desenvolve ações para combater esse tipo de crime. Mais de 150 mil pessoas já foram sensibilizadas. Neste ano, com o projeto Proteger, a instituição está intensificando seu

trabalho na área. O objetivo é conscientizar os trabalhadores do transporte sobre a importância da adoção de medidas no enfrentamento à essa prática criminosa, chamando atenção para a necessidade da denúncia. A meta do Proteger é formar 30 multiplicadores e 360 APSs (Agentes de


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O personagem principal do Projeto Proteger é um super-herói, uma referência para que os profissionais do setor de transporte também se sintam como ele ao atuar na proteção de crianças e adolescentes. O personagem estará presente em todos os materiais de divulgação e orientação distribuídos pelo SEST SENAT dentro do projeto

Proteção Social) e sensibilizar 75 mil pessoas. A apresentação do projeto foi realizada em Brasília e contou com a participação do jornalista Pedro Trucão, que trabalha há mais de 30 anos produzindo reportagens focadas no setor de transporte. “É importante ter esse apoio dos caminhoneiros. Eles cruzam o Brasil de Norte a Sul e são fundamentais na luta contra essa prática criminosa. São esses profissionais que po-

dem sensibilizar as pessoas envolvidas nessas histórias tristes e dar um novo rumo para elas.” O Proteger vai atuar em duas frentes, segundo Jamile Branco Antunes, coordenadora nacional de promoção social do SEST SENAT. Inicialmente serão formados os agentes multiplicadores, colaboradores da instituição ou de empresas parceiras, que atuarão como ponto focal nas unidades operacionais para atender

a demandas sobre o projeto e sua temática, bem como conduzir reuniões e ações pontuais. As unidades do SEST SENAT que possuírem colaboradores com treinamento de multiplicador receberão o título de Unidade Protetora. Em um segundo momento, serão formados os APSs. “Cada unidade protetora disponibilizará um formulário para o cadastramento de trabalhadores do setor de transporte que queiram participar de

ações voltadas ao tema. Os APSs participarão de palestras sistemáticas sobre o assunto, ministradas pelo agente multiplicador, e disseminarão as informações entre os seus colegas de profissão”, explica Jamile. Dentro do projeto, serão desenvolvidas ações como rodas de bate-papo, exibição de filmes sobre a temática, distribuição de material informativo durante os eventos e programas nacionais já desenvolvi-


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SERGIO ALBERTO/CNT

COMO DENUNCIAR Disque 100 O que é Serviço de utilidade pública da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República destinado a receber demandas relativas a violações de Direitos Humanos Horário de funcionamento Diariamente, 24 horas por dia, incluindo sábados, domingos e feriados Como funciona As ligações podem ser feitas de todo o Brasil por meio de discagem direta e gratuita, de qualquer terminal telefônico fixo ou móvel Sigilo As denúncias podem ser anônimas, e o sigilo das informações é garantido quando solicitado pelo demandante Fonte: SDH

Caminhoneiros podem se inscrever para participar de ações do projeto

dos pelo SEST SENAT. Além disso, haverá oferta de cursos online sobre o assunto, abordando a legislação vigente, os problemas causados, orientações sobre a denúncia e a abordagem de pessoas envolvidas no problema. Para divulgar os resultados em âmbito nacional também está em desenvolvimento um hotsite onde serão apresentadas as ações desenvolvidas pelas unidades operacionais do SEST SENAT. No espaço estará disponível todo o

material informativo relacionado ao tema. “Utilizaremos a nossa estrutura em todo o país, para sensibilizar o maior número possível de profissionais do transporte. Eles são peças fundamentais no trabalho de combate a esse tipo de crime”, destaca Nicole Goulart, diretora-executiva nacional do SEST SENAT. A primeira ação nacional do Proteger está marcada para o próximo dia 18 de maio.

Na data é comemorado o Dia Nacional de Combate à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Caminhoneiros de todo o país serão abordados dentro do projeto Comandos de Saúde nas Rodovias e receberão orientações sobre o tema, além de poderem realizar os já tradicionais exames gratuitos de saúde. O tema da violência sexual praticada contra crianças e adolescentes ganhou destaque em 1990 com a criação do ECA

(Estatuto da Criança e do Adolescente). Porém, foi só a partir de 2000, com a inclusão do artigo 244-A ao documento, que a prática da exploração sexual infanto-juvenil passou a ser considerada crime, com penas de quatro a dez anos de reclusão e multa. Pelo artigo, também “incorrem nas mesmas penas o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifique a submissão de criança ou adolescente às práticas referidas”. l



FERROVIÁRIO MALHA FERROVIÁRIA - EXTENSÃO EM KM Total Nacional Total Concedida Concessionárias Malhas concedidas

30.576 29.165 11 12

MALHA POR CONCESSIONÁRIA - EXTENSÃO EM KM ALL do Brasil S.A. FCA - Ferrovia Centro-Atlântica S.A. MRS Logística S.A. Outras Total

12.018 7.215 1.799 8.133 29.165

BOLETIM ESTATÍSTICO RODOVIÁRIO MALHA RODOVIÁRIA - EXTENSÃO EM KM TIPO

PAVIMENTADA

NÃO PAVIMENTADA

TOTAL

64.596 119.747 26.827 211.170

11.511 105.601 1.234.918 1.352.030

7 6.107 225.348 1.261.745 157.534 1.720.734

Federal Estadual Municipal Rede Planejada Total

MALHA RODOVIÁRIA CONCESSIONADA - EXTENSÃO EM KM Adminstrada por concessionárias privadas Administrada por operadoras estaduais FROTA DE VEÍCULOS Caminhão Cavalo mecânico Reboque Semi-reboque Ônibus interestaduais Ônibus intermunicipais Ônibus fretamento Ônibus urbanos Nº de Terminais Rodoviários

19.463 1.195

2.641.816 592.410 1.286.732 870.605 19.923 57.000 25.834 107.000 173

AQUAVIÁRIO INFRAESTRUTURA - UNIDADES Terminais de uso privativo misto Portos

35

PASSAGENS DE NÍVEL - UNIDADES Total Críticas

12.289 2.659

VELOCIDADE MÉDIA OPERACIONAL Brasil EUA

25 km/h 80 km/h

AEROVIÁRIO AERÓDROMOS - UNIDADES Aeroportos Internacionais Aeroportos Domésticos Outros aeródromos - públicos e privados

34 29 2.519

AERONAVES REGISTRADAS NO BRASIL - UNIDADES Transporte regular, doméstico ou internacional Transporte não regular: táxi aéreo Privado Outros Total

1.141 1.766 10.916 10.635 24.458

MATRIZ DO TRANSPORTE DE CARGAS MODAL

177

HIDROVIA - EXTENSÃO EM KM E FROTA Vias Navegáveis Vias economicamente navegadas Embarcações próprias

99.515 3.424

122

FROTA MERCANTE - UNIDADES Embarcações de cabotagem e longo curso

MATERIAL RODANTE - UNIDADES Vagões Locomotivas

41.635 22.037 2.038

MILHÕES

(TKU)

PARTICIPAÇÃO

(%)

Rodoviário

485.625

61,1

Ferroviário

164.809

20,7

Aquaviário

108.000

13,6

Dutoviário

33.300

4,2

Aéreo

3.169

0,4

Total

794.903

100


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BOLETIM ECONÔMICO

INVESTIMENTOS FEDERAIS EM INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTE* Investimentos em transporte da União por Modal (Total Pago acumulado até março/2016 - R$ 3,71 bilhões)

Investimentos em Transporte da União (Orçamento Fiscal) (dados acumulados até março/2016)

0,30 (8,0%)

25

R$ bilhões

0,05 (1,3%)

3,05 (82,3%)

20 15

0,31 (8,4%)

10,81

10

3,71

3,66

5 0,05

0 Autorizado

Valores Pagos do Exercício

Rodoviário Restos a Pagar Pagos

Aquaviário

Ferroviário

Aéreo

Total Pago

Obs.: O Total Pago inclui valores pagos do exercício atual e restos a pagar pagos de anos anteriores.

CONJUNTURA MACROECONÔMICA - MARÇO/2016

RECURSOS DISPONÍVEIS E INVESTIMENTO FEDERAL ORÇAMENTO FISCAL E ESTATAIS (INFRAERO E CIA DOCAS) (R$ milhões correntes - acumulados até março de 2016) Recursos Disponíveis Autorizado União Autorizado das Estatais (Infraero e Cia Docas) Total de Recursos Disponíveis Investimento Realizado Rodoviário Ferroviário Aquaviário (União + Cia Docas) Aéreo (União + Infraero) Investimento Total (Total Pago)

10.815,67 1.275,03 12.090,70 3.049,84 296,27 89,57 433,10 3.868,78

Fonte: Orçamento Fiscal da União e Orçamento de Investimentos das Empresas Estatais (SIGA BRASIL - Senado Federal).

2015 PIB (% cresc a.a.)1 Selic (% a.a.)2 IPCA (%)3 Balança Comercial6 Reservas Internacionais4 Câmbio (R$/US$)5

Acumulado Expectativa Expectativa em 2016 para 2016 para 2017

-3,85 14,25 10,67 19,67

14,25 2,62 8,40

356,46

357,70

3,34

3,90

-3,66 13,75 7,31 43,53

0,35 12,50 6,00 47,50

-

-

4,15

4,20

Fontes: Receita Federal, SIGA BRASIL - Senado Federal, IBGE e Focus (Relatório de Mercado 24/03/16), Banco Central do Brasil. Observações: (1) Expectativa de crescimento do PIB. (2) Taxa Selic conforme Copom 02/03/2016 e Boletim Focus. (3) Inflação acumulada no ano e expectativas segundo o Boletim Focus. (4) Posição dezembro/2015 e março/2016 em US$ bilhões.

Notas: (A) Atualizado em 05.04.2016 com dados acumulados SIGA BRASIL até 01.04.2016.

(5) Câmbio de fim de período, média entre compra e venda.

(B) Para fins de cálculos do investimento realizado, utilizou-se o filtro GND = 4 (investimento).

(6) Saldo da balança comercial até março/2016.

(C) Os investimentos em transporte aéreo passaram a incorporar os desembolsos realizados para melhoria e

* A taxa de crescimento do PIB para 2015 diz respeito ao desempenho econômico entre janeiro e dezembro de 2015 a

adequação dos sistemas de controle de tráfego aéreo e de navegação, descrito nas ações 20XV, 118T,3133, e 2923.

preços de mercado, os valores de 2016 ainda não foram divulgados.

EVOLUÇÃO DO INVESTIMENTO FEDERAL EM INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTE 18,0 16,0 14,0 12,0 10,0 8,0 6,0 4,0 2,0 0 2011 Investimento Total

ORÇAMENTO FISCAL DA UNIÃO E ORÇAMENTO DAS ESTATAIS (INFRAERO E CIA DOCAS) (valores em R$ bilhões correntes) 2011 2012 2013 2014 11,2 9,4 8,4 9,1 Rodoviário 1,6 1,1 2,3 2,7 Ferroviário 1,0 0,8 0,6 0,8 Aquaviário (União+Cia Docas) 1,8 2,4 2,9 3,3 Aéreo (União+Infraero) 15,6 13,7 14,2 15,8 Investimento Total

2012

2013 Rodoviário

Ferroviário

2014 Aquaviário

2015 Aéreo

2015 6,0 1,6 0,5 3,0 11,0

Fonte: Orçamento Fiscal da União e Orçamento de Investimentos das Empresas Estatais (SIGA BRASIL - Senado Federal)

8

R$ bilhões correntes

Orçamento Fiscal da União e Orçamento das Estatais (Infraero e Cia Docas)

* Veja a versão completa deste boletim em www.cnt.org.br


REGIÕES3

Estados

INVESTIMENTO PÚBLICO FEDERAL EM INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTE POR ESTADOS E REGIÕES (valores em R$ milhões correntes)1 Orçamento Fiscal (Total Pago2 por modal de transporte) Acre Alagoas Amapá Amazonas Bahia Ceará Distrito Federal Espírito Santo Goiás Maranhão Mato Grosso Mato Grosso do Sul Minas Gerais Pará Paraíba Paraná Pernambuco Piauí Rio de Janeiro Rio Grande do Norte Rio Grande do Sul Rondônia Roraima Santa Catarina São Paulo Sergipe Tocantins Centro Oeste Nordeste Norte Sudeste Sul Nacional Não informado Total

Rodoviário 37,75 71,91 33,90 0,00 192,25 28,53 0,00 14,07 7,31 11,34 106,11 87,03 314,11 124,95 1,54 18,59 120,84 0,43 2,70 4,93 163,92 15,69 13,69 195,48 3,67 24,49 41,53 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 1.412,98 0,09 3.049,84

Ferroviário 0,00 0,00 0,00 0,00 10,00 0,00 0,00 0,00 3,51 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 16,79 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 265,98 0,00 296,27

Aquaviário 0,00 0,00 0,00 1,28 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 2,60 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 14,22 0,00 0,00 10,95 2,01 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 18,96 0,00 50,01

Aéreo 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,01 0,00 0,00 0,00 1,59 0,00 0,01 4,77 0,01 0,00 0,00 0,00 1,59 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,01 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 303,55 0,00 311,52

Total 37,75 71,91 33,90 1,28 202,25 28,53 0,00 14,07 10,83 11,34 106,11 87,03 315,70 127,55 1,55 23,36 120,85 0,43 2,70 4,93 179,73 15,69 13,69 206,43 22,47 24,49 41,54 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 2.001,47 0,09 3.707,64

Maiores Desembolsos4 (Total Pago acumulado até março de 2016)5

Ranking

Ações orçamentárias7 Manutenção de Trechos Rodoviários na Região Norte Manutenção de Trechos Rodoviários na Região Nordeste Manutenção de Trechos Rodoviários na Região Sul Manutenção de Trechos Rodoviários na Região Centro-Oeste Recomposição do Equilibrio Econômico - Financeiro do Contrato de Concessão da BR-290/RS 5º Osório - Porto Alegre Entrocamento BR- 116/RS (Entrada p/Guaiba) Manutenção de Trechos Rodoviários na Região Sudeste 6º Construção da Ferrovia de Integração Oeste-Leste - Ilhéus/BA - Caetite/BA - EF 334 7º Adequação de Trecho Rodoviário - Entrocamento BR - 116/259/451 (Governador Valadadres) - Entrocamento MG-020 - Na BR-381/MG 8º Construção de Trecho Rodoviário - Divisa MT/PA - Santarém - Na BR-163/PA 9º Construção da Segunda Ponte Sobre o Rio Guaiba e Acessos - Na BR 116/290/RS 10º Total Part. (%) no Total Pago do Orçamento Fiscal da União até março - 2016 Elaboração: Confederação Nacional do Transporte *Orçamento Fiscal da União, atualizado em 05.04.2016 com dados acumulados SIGA BRASIL até 01.04.2016. Ordem 1º 2º 3º 4º

R$ milhões6 505,15 416,75 385,97 258,32 241,69 230,48 139,20 134,18 110,77 89,80 2.512,31 67,8%

Notas: (1) Foram utilizados os seguintes filtros: função (26), subfunção (781=aéreo, 782=rodoviário, 783=ferroviário, 784=aquaviário), GND (4=investimentos). Para a subfunção 781 (aéreo), não foi aplicado nenhum filtro para a função. Fonte: SIGA BRASIL (Execução do Orçamento Fiscal da União). (2) O Total Pago é igual ao valor pago no exercício acrescido de Restos a Pagar Pagos. (3) O valor investido em cada região não é igual ao somatório do valor gasto nos respectivos estados. As obras classificadas por região são aquelas que atendem a mais de um estado e por isso não foram desagregadas. Algumas obras atendem a mais de uma região, por isso recebem a classificação Nacional. (4) As obras foram classificadas pelo critério de maior desembolso (Valor Pago + Restos a Pagar Pagos) em 2016. (5) Ações de infraestrutura de transporte contempladas com os maiores desembolsos do Orçamento Fiscal da União no acumulado até março 2016. (6) Os valores expressos na tabela dizem respeito apenas ao Total Pago pela União no período em análise. Não foram incluídos os desembolsos realizados pelas Empresas Estatais. (7) As ações orçamentárias são definidas como operações das quais resultam produtos (bens ou serviços) que contribuem para atender o objetivo de um programa segundo o Manual de Técnico de Orçamento 2016.

Para consultar a execução detalhada, acesse o link http://www.cnt.org.br/Paginas/Boletim-economico.aspx


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CNT TRANSPORTE ATUAL

ABRIL 2016

BOLETIM DO DESPOLUIR DESPOLUIR

PROJETOS

A Confederação Nacional do Transporte (CNT) e o Sest Senat lançaram em 2007 o Programa Ambiental do Transporte DESPOLUIR, com o objetivo de promover o engajamento de caminhoneiros autônomos, taxistas, trabalhadores em transporte e da sociedade na construção de um desenvolvimento verdadeiramente sustentável.

• Redução da emissão de poluentes pelos veículos • Incentivo ao uso de energia limpa pelo setor transportador • Aprimoramento da gestão ambiental nas empresas, garagens e terminais de transporte • Cidadania para o meio ambiente

RESULTADOS DO PROJETO DE REDUÇÃO DAS EMISSÕES DE POLUENTES PELOS VEÍCULOS * ESTRUTURA

RESULTADOS

Federações participantes 27

Avaliações ambientais (até mar/2016) 1.581.511

AVALIAÇÕES AMBIENTAIS - Acumulado 2007-2016 (até março)

Aprovação no período

85,55%

Unidades de atendimento Empresas atendidas 98 Caminhoneiros autônomos atendidos * Dados preliminares, sujeitos a alterações.

13.959 16.587

1.600.000 1.400.000 1.200.000 1.000.000 800.000 600.000 400.000 200.000 4.734 0 2007

1.507.447

1.581.511

2015

2016

1.235.589 1.033.455 820.587 590.470 392.524 100.839

2008

228.860

2009

2010

2011

2012

2013

2014

INSTITUIÇÕES PARTICIPANTES Para participar do Projeto Redução da Emissão de Poluentes pelos Veículos, entre em contato com a Federação que atende o seu estado. SETOR FEDERAÇÃO UFs ATENDIDAS

COORDENAÇÃO

FETRAMAZ AC, AM, AP, PA, RO e RR Raimundo Augusto de Araújo FETRACAN AL, CE, MA, PB, PE, PI, e RN Jorge do Carmo Ramos Patrícia Dante FENATAC DF, GO, MS, MT e TO Marta Gusmão Morais FETCEMG MG Carga Solange Caumo FETRANSPAR PR (empresas) Renato Nery FETRANSCARGA RJ Carlos Becker FETRANSUL RS Rodrigo Oda FETRANCESC SC Sandra Caravieri FETCESP SP Claudinei Natal Pelegrini FECAM-SP SP Jean Biazotto FECAM-SC SC Carga Danna Campos Vieira FECAM-RS RS (autônomos) FECAM-RJ Thompson Bahiense RJ Felipe Cuchaba FETAC-PR PR Regiane Reis FETAC-MG MG Rafhael Pina FETRANORTE AC, AM, AP, PA e RR Adriana Fernandes Dias FETRONOR AL, PB, PE e RN Marcelo Brasil FETRANS* CE, PI e MA Vilma Silva de Oliveira FETRASUL DF, GO, SP e TO Milene Rodrigues Souza FETRAM MG Passageiros Carlos Alberto da Silva Corso FETRAMAR MS, MT e RO Roberto Luiz Harth T. de Freitas FEPASC PR e SC Guilherme Wilson FETRANSPOR RJ Aloisio Bremm FETERGS RS João Carlos Thomaz FETPESP SP João Paulo da F. Lamas ES Carga e FETRANSPORTES Passageiros FETRABASE Cleide da Silva Cerqueira BA e SE * A FETRANS corresponde à antiga CEPIMAR, conforme atualização em julho de 2015.

TELEFONE (92) 3658-6080 (81) 3441-3614 (61) 3361-5295 (31) 3490-0330 (41) 3333-2900 (21) 3869-8073 (51) 3374-8080 (48) 3248-1104 (11) 2632-1010 (19) 3585-3345 (49) 3222-4681 (51) 3232-3407 (21) 3495-2726 (42) 3027-1314 (31) 3531-1730 (92) 3584-6504 (84) 3234-2493 (85) 3261-7066 (62) 3233-0977 (31) 3274-2727 (65) 3027-2978 (41) 3244-6844 (21) 3221-6300 (51) 3228-0622 (11) 3179-1077 (27) 2125-7643 (71) 3341-6238

E-MAIL fetramaz@fetramaz.com.br fetracan@veloxmail.com.br coordenacao.despoluir@fenatac.org.br despoluir@fetcemg.org.br despoluir@fetranspar.org.br despoluir@fetranscarga.org.br cbecker@sestsenat.org.br financeiro2@fetrancesc.com.br despoluir@fetcesp.com.br fillipedespoluir@fecamsp.org.br jeanbiazotto@hotmail.com dannavieira@fecamrs.com.br thompbc@gmail.com fetacpr@hotmail.com coordenadoradespoluir@gmail.com despoluir.fetranorte.am@hotmail.com despoluir@fetronor.com.br marcelobrasil@fetrans.org.br federacao.despoluir@gmail.com despoluir@fetram.org.br fetramar@terra.com.br despoluir@fepasc.org.br meioambiente@fetranspor.com.br despoluir-rs@fetergs.org.br financeiro@setpesp.org.br coordenacaodespoluir@fetransportes.org.br despoluir@fetrabase.org.br


PUBLICAÇÕES DO DESPOLUIR Conheça as diversas publicações ambientais disponíveis para download no site do DESPOLUIR: Materiais institucionais do Despoluir folder e portfólio

Série educativa de cartilhas com temas ambientais • Os impactos da má qualidade do óleo diesel brasileiro • Meio Ambiente: responsabilidade de cada um • Caminhoneiro Amigo do Meio Ambiente • Queimadas: o que fazer? • Lixo: faça a sua parte! • Aquecimento Global • Plante Árvores

Sondagem Ambiental do Transporte Demonstra as ações ambientais desenvolvidas pelas empresas de transporte rodoviário.

Caderno Oficina Nacional Transporte e Mudanças Climáticas Exibe o resultado dos trabalhos de 89 representantes de 56 organizações, com recomendações referentes à mitigação das emissões, mobilidade urbana, transferência modal e tecnologias veiculares.

A mudança Climática e o Transporte Rumo à COP 15 Apresenta a sua contribuição para a atuação da delegação brasileira na Conferência das Partes das Nacões Unidas para Mudança do Clima.

A Adição do Biodiesel e a Qualidade do Diesel no Brasil Descreve as implicações da adição de biodiesel ao diesel fóssil e a avaliação quanto ao consumo e manutenção dos veículos.

Sondagem CNT de Eficiência Energética no Transporte Rodoviário de Cargas Identifica as perspectivas dos transportadores sobre o assunto e as medidas que podem ser implementadas para a redução do consumo de combustível, para a conservação dos recursos naturais e para a diminuição das emissões e dos custos das empresas.

Seminário Internacional sobre Reciclagem de Veículos e Renovação de Frota Apresenta as diretrizes levantadas sobre o assunto no evento realizado pela CNT com a participação de especialistas da Espanha, Argentina e México.

A Fase P7 do Proconve e o impacto no Setor de Transporte Apresenta as novas tecnologias e as implicações da fase P7 para os veículos, combustíveis e para o meio ambiente. Procedimentos para preservação da qualidade do Óleo Diesel B Elaborada para auxiliar a rotina operacional dos transportadores, apresentando subsídios a adoção de procedimentos para garantir a qualidade do óleo diesel B.

8

Caminhoneiros no Brasil: Relatório Síntese de Informações Ambientais – autônomos e empregados de frota Presta informações econômicas, sociais, financeiras e ambientais dos profissionais deste setor de transporte.

Para saber mais: www.cntdespoluir.org.br


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CNT TRANSPORTE ATUAL

ABRIL 2016

BOLETIM AMBIENTAL CONSUMO DE COMBUSTÍVEIS NO BRASIL CONSUMO TOTAL POR TIPO DE COMBUSTÍVEL (em milhões de m3)* TIPO

2010

2011

2012

2013

2014

2015

Diesel

49,23

52,26

55,90

58,57

60,03

57,21

Gasolina

29,84

35,49

39,69

41,42

44,36

41,14

Etanol

15,07

10,89

9,85

11,75

12,99

17,86

CONSUMO PARCIAL - ATÉ FEV/2016 ** Etanol 13,5% Diesel 47,4%

Gasolina 39,1%

* Inclui consumo de todos os setores (transporte, indústria, energia, agricultura, etc). ** Dados atualizados em 18 de março de 2016.

CONSUMO DE ÓLEO DIESEL POR MODAL DE TRANSPORTE (em milhões de m3) CONSUMO DE ÓLEO DIESEL - 2010 A 2015 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0

2010

Rodoviário

2011

2012 Ferroviário

2013

2014

MODAL

2010

2011

2012

2013

2014

Rodoviário

34,46

36,38

38,60

40,68

41,40

40,20

Ferroviário

1,08

1,18

1,21

1,20

1,18

1,14

Hidroviário

0,13

0,14

0,16

0,18

0,18

0,18

35,67

37,70

39,97

42,06

2015

2015

Hidroviário

Total

42,76 41,52

MISTURA OBRIGATÓRIA DE BIODIESEL AO DIESEL FÓSSIL (% em volume)*

BIODIESEL • Biodiesel é um combustível biodegradável derivado de fontes renováveis como óleos vegetais e gorduras animais. • No Brasil, as principais matérias-primas são a soja (77,4%), o sebo bovino (18,5%) e óleo de algodão (2,0%). • Atualmente, o diesel comercializado no Brasil é o B7, isto é, composto por 7% de biodiesel e 93% de diesel fóssil. A Lei federal nº 13.263/2016 dispõe sobre os novos percentuais de adição de biodiesel ao óleo diesel fóssil. Confira o infográfico.

2017 março

2016

2018 março

Após 2019 março

2019 março

8% 7% 9% * Conforme Lei Federal nº 13.263/2016. ** Após a validação por testes e ensaios em motores.

10%

Até 15%**

PRODUÇÃO ANUAL DE BIODIESEL - B100 (em milhões de m3) * 4,50 4,00 3,50 3,00 2,50 2,00 1,50 1,00 0,50 0

2,39

2,67

3,42

2,92

2,72

3,94

0,57

2010

2011

2012

2013

2014

2015

PARTICIPAÇÃO DAS EMISSÕES DE CO2 POR SETOR Industrial 8,9%

Mudança no uso da terra 76,3%

Geração de energia 3,1%

2016 (até fev)

* Dados atualizados em 31 de março de 2016.

Outros setores 3,0%

Rodoviário 7,8% Aéreo 0,5% Outros meios de transporte 0,4%

Transporte 8,7%


CNT TRANSPORTE ATUAL

75

ABRIL 2016

MONITORAMENTO DA QUALIDADE DO ÓLEO DIESEL TEOR DE ENXOFRE NO DIESEL - BRASIL E MUNDO FASES PAÍSES

P1

P2

P3

-

0

I

Brasil* Japão União Europeia Austrália EUA Rússia

P5

P6

P7

II III PROCONVE

IV

V

P4

• Proconve - Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores. Criado pelo CONAMA, tem o objetivo de reduzir e controlar a contaminação atmosférica gerada pelos veículos automotores. O programa tem como base a regulamentação praticada na União Europeia (EURO) para veículos pesados.

S (ppm)

10

15

EURO

50

China México Índia África do Sul

500 - 2000

* De acordo com o artigo 5º da Resolução ANP nº 50 de 23.12.2013, o diesel S500 é comercializado obrigatoriamente em todo território nacional, salvo em determinados municípios e regiões metropolitanas. No entanto, constata-se que o S10 já é comercializado em todos os estados brasileiros.

NÚMERO DE POSTOS QUE COMERCIALIZAM DIESEL S10 POR ESTADO - DEZEMBRO 2015* 5.500

5.159

5.000 4.500 4.000 3.500 3.000

2.355

2.500

2.049

2.000 1.500

0

936 791

1.037

1.000 500

1.714

1.429 336 258 103

194

47 AC AL AM AP BA CE DF

438

448 719

ES GO MA MG MS MT

412 PA PB PE

1.447 1.126

1.086

756

503

321 346

PI

59 PR RJ RN RO RR RS

* Aumento do número de postos em aproximadamente 13% em relação ao total contabilizado na última atualização (março/2015).

NÃO-CONFORMIDADES POR NATUREZA NO ÓLEO DIESEL - BRASIL - FEVEREIRO 2016 Outros Aspecto Corante 0,0% * (massa específica, destilação) 0,0% (*) Percentual de reprovação em 'Aspecto' por região: 10,3% Teor de Biodiesel 20,7% Enxofre 6,9%

8

0,1% (Sudeste). Nas demais Regiões não constam reprovações em Aspecto.

Para saber mais: www.cntdespoluir.org.br

Ponto de Fulgor 62,1%

268 220 SC

SE SP TO


CONTRIBUIÇÃO RELATIVA DE CADA CATEGORIA DE VEÍCULOS NA EMISSÃO DE POLUENTES - BRASIL 100% 90%

Comerciais leves Caminhões semileves Caminhões leves Caminhões médios Caminhões semipesados Caminhões pesados Ônibus urbanos Micro-ônibus Motocicletas Ônibus rodoviários Automóveis

80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0%

CO

NMHC

NOX

MP

CH4

RCHO

CO - monóxido de carbono; MP - material particulado incluindo o MP proveniente da combustão e do desgaste do veículo; NMHC - hidrocarbonetos não-metano; CH4 - metano; NOx – óxidos de nitrogênio; RCHO - aldeídos.

EFEITOS DOS PRINCIPAIS POLUENTES ATMOSFÉRICOS DO TRANSPORTE

Poluentes Monóxido de carbono (CO) Dióxido de Carbono (CO2)

Principais fontes Resultado da queima de combustíveis e de processos industriais1.

Gás incolor, inodoro e tóxico.

Efeitos Saúde humana

Provoca confusão mental, prejuízo dos reflexos, inconsciência, parada das funções cerebrais.

Resultado da queima de combustíveis, além de atividades Gás tóxico, incolor, inodoro. agrícolas, pecuária, aterros Explosivo ao adicionar a água. sanitários e processos industriais1.

Causa asfixia se inalado, além de parada cardíaca, inconsciência e até mesmo danos no sistema nervoso central.

Aldeídos (RCHO)

Resultado da queima de combustíveis e de processos industriais1.

Composto por aldeídos, cetonas e outros hidrocarbonetos leves.

Causa irritação das mucosas, vômitos e perda de consciência. Aumenta a sensibilidade da pele. Causa lesões no esôfago, traqueia e trato gastro-intestinal.

Formado pela reação do óxido de nitrogênio e do oxigênio reativo presentes na atmosfera e por meio da queima de biomassa e combustíveis fósseis.

O NO é um gás incolor, solúvel em água; O NO2 é um gás de cor castanho-avermelhada, tóxico e irritante;O N2O é um gás incolor, conhecido popularmente como gás do riso.

O NO2 provoca irritação nos pulmões. É capaz de provocar infecções respiratórias quando em contato constante.

Resultado da queima de combustíveis e de processos industriais1.

Provoca irritação e aumento na produção Gás denso, incolor, não-inflamável de muco, desconforto na respiração e agravamento de problemas e altamente tóxico. respiratórios e cardiovasculares.

Dióxido de enxofre (SO2)

Ozônio (O3)

Poluente secundário, resultado de Gás azulado à temperatura reações químicas em presença da radiação solar. Os hidrocarbonetos ambiente, instável, altamente não-metano (NMHC) são precursores reativo e oxidante. do ozônio troposférico.

Resultado da queima incompleta Material particulado de combustíveis e de seus aditivos, de processos industriais (MP) e do desgaste de pneus e freios.

Material escuro, composto de partículas de diferentes dimensões. Sua ocorrência está relacionada a queima do diesel.

Meio ambiente

Diminui a capacidade do sangue em transportar oxigênio. Em grandes quantidades pode levar à morte.

Metano (CH4)

Óxidos de nitrogênio (NOx)

Provoca problemas respiratórios, irritação aos olhos, nariz e garganta.

Causa o aquecimento global, por ser um gás de efeito estufa.

Gases de efeito estufa que causam o aquecimento global. Estes óxidos, em contato com a umidade do ar, formam ácidos causadores da chuva ácida.

Causa destruição de bioma e afeta o desenvolvimento de plantas e animais, devido a sua natureza corrosiva.

Causa irritação no nariz e garganta. Altera o pH, os níveis de Está relacionado a doenças respiratórias e pigmentação e a fotossíntese nos casos mais graves, ao câncer de pulmão. das plantas.

Processos industriais: processos químicos ou mecânicos que fazem parte da fabricação de um ou vários itens, usualmente em grande escala.

8

1

Características

Para saber mais: www.cntdespoluir.org.br



“A falta de planejamento nos últimos 20 anos não foi capaz de acompanhar a expansão e as necessidades da atividade econômica nacional” TEMA DO MÊS

A redução de investimentos em infraestrutura e as suas

Investimentos em transportes e a crise econômica brasileira ANA CLÁUDIA ARRUDA

Brasil vive um momento de grande incerteza política e econômica. O atual desempenho econômico e fiscal no país é fortemente inseguro. A atuação política conflituosa do Congresso Nacional junto às sérias denúncias desestabilizadoras de muitas de suas lideranças, a expansão das investigações da Petrobras e os riscos de impeachment tumultuam o ambiente político e criam desafios de governabilidade, aumentando o grau de incerteza para o atual momento histórico do país. A recessão econômica que começou em 2014 acentuouse no corrente ano. Nesse quadro de dificuldades, o desajuste fiscal passa a ser o maior desafio da economia brasileira, considerando-se que a diminuição da atividade econômica e a correlativa redução da base tributária geram uma espécie de círculo vicioso da crise, com a perspectiva de diminuição das receitas do governo, em que pese aumento de gastos governamentais. Nesse contexto, os investimentos na infraestrutura de transportes, que vinham numa performance positiva dentro dos projetos dos PACs 1 e 2, desde o ano de 2003, tiveram

O

ANA CLÁUDIA ARRUDA É doutora em Desenvolvimento Urbano e presidente do Corecon (Conselho Regional de Economistas) de Pernambuco.

sua trajetória de crescimento fortemente atingida a partir de 2014, acentuando-se em 2015. No Brasil, a falta de adequado planejamento e investimentos essenciais à infraestrutura de transportes, nos últimos 20 anos, não foi capaz de acompanhar a expansão e as necessidades da atividade econômica nacional, sobretudo em relação ao agronegócio. Todavia, cumpre reconhecer que, ao longo dos últimos 12 anos, vêm sendo feitos esforços efetivos para a retomada do planejamento e também de investimentos na infraestrutura de transportes do país, não só por meio da estruturação dos marcos regulatórios mais claros e operativos, como também em decorrência de investimentos diretos públicos e privados, mediante concessão. Não obstante a realidade de perspectivas negativas de comportamento para a economia brasileira para o ano de 2016 e anos vindouros, existem fundadas expectativas e apostas de reversão desse quadro no médio prazo e de retomada dos investimentos produtivos e de infraestrutura, haja vista as potencialidades do país. O pacote de con-

cessões na área de infraestrutura e logística anunciado pelo governo federal no início de junho de 2015, estimado em R$ 198,4 bilhões, terá um papel fundamental para a superação desses gargalos e o alcance desses objetivos de integração da malha viária. Na esteira da expectativa de retomada do processo de desenvolvimento brasileiro, impõe-se consolidar a efetivação desses investimentos pelos efeitos e benefícios macroeconômicos deles resultantes, para o que se requer vontade política decisiva, ação cooperativa e união dos interessados na sua execução. Por seu turno, o Brasil precisa retomar seu ritmo desenvolvimentista em ambiente de sustentabilidade e geração de emprego. Isso exige certamente uma nova estratégia de ação, a estruturação de uma malha de transportes eficiente a fim de proporcionar condições de escoamento e transporte das matérias-primas e produtos finais, bem como melhores padrões de eficiência e competitividade das atividades exportadoras e o fortalecimento do mercado interno, fatores decisivos e essenciais para o crescimento econômico.


“Os benefícios do ciclo de commodities ficaram restritos ao setor de consumo em detrimento dos investimentos e do aumento da poupança do governo”

consequências para o setor de transporte

Os impactos da queda de investimentos no transporte LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

stamos vivendo, nos últimos anos, um período de imensas dificuldades na economia brasileira. Depois de quase dez anos de grande dinamismo, chegando em alguns momentos até a euforia, entramos, a partir de 2012, em um ciclo de desaceleração do crescimento econômico e perda de nos investimentos. Hoje, sabemos que o ciclo de expansão do período 2004/2012 esteve associado ao chamado ciclo das commodities criado pela incrível demanda chinesa por metais, petróleo e outros produtos primários. Esse ciclo começou a desacelerar quando a China mudou o foco de sua economia, reduzindo os gastos em infraestrutura e focando esforços na expansão dos serviços e do consumo de bens. Hoje, temos uma ideia mais clara da intensidade dessas transformações quando olhamos para a curva de nossos termos de troca no período. Em 2003, quando o presidente Lula assumiu o governo, os termos de troca do Brasil apresentavam um índice de 90 pontos; esse indicador chegou a 130 no início do governo Dilma: um crescimento incrível de quase 50% em poucos anos. Relembro

E

ao leitor que um índice de 90 pontos, nos termos de troca de um país, mostra que cada US$ 100 exportados equivalem em valor a US$ 90 de importação. Por outro lado, um índice de 130 mostra que, para cada US$ 100 exportados, o país é capaz de pagar por US$ 130 de importação. Esse período de bonança externa, que ocorreu também em outros países do mundo emergente, permitiu ao governo expandir seus gastos a taxas reais crescentes, pois a arrecadação de impostos crescia mais de 12% ao ano. Por sua decisão, a maior parte desses recursos foi utilizada para expandir os gastos sociais, ficando os investimentos em infraestrutura com uma parcela marginal de seu aumento. Em outras palavras, os benefícios do ciclo de commodities ficaram restritos ao setor de consumo em detrimento dos investimentos e do aumento da poupança do governo para serem usados nos períodos de “vacas magras”. Mas a euforia daqueles anos maravilhosos, para todos os setores da sociedade, inclusive empresários, cegou-nos e caminhamos celeremente desarmados e sem preparo para a volta aos anos de termos de troca em ní-

veis históricos para países como o Brasil. Nem mesmo os benefícios de tempos tão favoráveis foram alocados no setor de infraestrutura, pois o governo praticamente paralisou os programas de privatização ao impor, nas concessões, condições inviáveis para que o capital privado se aproveitasse das elevadas taxas de crescimento econômico de então. Quando o governo Dilma passou a encontrar dificuldades em seu orçamento fiscal, em função da mudança de ciclo, as decisões tomadas foram aumentar o endividamento do país, principalmente com o setor bancário público (as chamadas pedaladas fiscais), e reduzir seus investimentos em infraestrutura. Quando tentou buscar os investimentos privados, via-se uma política de concessões mais realista do ponto de vista do investidor, em que o sentimento de otimismo já estava desaparecendo no turbilhão dos números fiscais desastrosos que começaram a vir a público. Vivemos agora a esperança de que um novo governo recoloque a economia em movimento de crescimento e que a prioridade dos investimentos em infraestrutura seja retomada.

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS Empresário e doutor em economia pela Unicamp. Foi presidente do BNDES e diretor do Banco Central do Brasil, além de Ministro das Comunicações em 1998.



CNT TRANSPORTE ATUAL

ABRIL 2016

81

“É gravíssimo, é um crime contra a natureza e as pessoas, não usar o reagente correto nos gases resultantes da combustão do motor diesel” ALEXANDRE GARCIA

Fumaça no nosso ar m 1975, eu entrevistava o ministro das Minas e Energia Shigeaki Ueki, e achei divertido ele dizer que os motoristas de caminhão estavam poluindo as estradas e gastando mais diesel porque “desreguravam uma várvura” do sistema de alimentação e injeção do motor. Filho de japoneses, trazia a principal característica da língua materna: a inexistência do som da letra “L”. Passados mais de 40 anos, Ueki está ainda mais sábio e a cultura de provocar poluição com motor diesel continua a mesma. Avançou a tecnologia, mas muitas cabeças não acompanharam a evolução. Desde janeiro de 2012, as fábricas estão produzindo caminhões e ônibus com a tecnologia SCR (Redução Catalítica Seletiva), que significa mais rendimento e menos poluição. Para isso, é preciso usar o reagente Arla-32 (Agente Redutor Líquido Automotivo com 32% de ureia), que vai em tanque separado, feito de ureia de alta pureza e água desmineralizada. O sistema evita emissões de óxidos de nitrogênio altamente nocivos à saúde humana e ao meio ambiente. Calcula-se que para cada 100 litros de diesel queimados, são injetados 5 litros do Arla na exaustão que vai para o catalisador. Sem o reagente, o resultado é a poluição. Para impor seu uso, se não houver Arla no depósito, o sistema provoca redução da potência em até 40%. Calcula-se que 530 mil veículos já circulam com esse avanço. Mas se descobriu, pelo consumo do Arla, que o despoluidor só está sendo usado pela metade do que seria necessário. Quer dizer, está havendo uma adulteração de emissões

E

equivalente a 50%. Para tapear o sistema que reduz a potência 48 horas depois de rodar sem Arla, o motorista compra um chip que neutraliza o redutor de potência. Paga até R$ 3.000 para poluir o mundo onde vive ou põe água no tanquinho, em vez do Arla. Deve criticar políticos que prejudicam o Brasil, mas age da mesma forma. Nenhum avanço em relação a isso a 40 anos... Logo acaba com o catalisador, depois provoca a perda da garantia de fábrica. Tudo isso está sujeito a multas pelo Código de Trânsito e pelo Ibama, pois o motorista estará contribuindo para formar aquela nuvem marrom de poluição que forma uma cúpula sobre as cidades, isso sem falar na chuva ácida. Os asmáticos agradecem o uso do Arla-32, pois são os que mais sofrem com a poluição, ainda que nem vejam os causadores. Os óxidos de nitrogênio são causadores de enfarto, doenças pulmonares, inclusive câncer. Calcula-se em 1.800 mortes por ano, no Brasil. Por isso, é gravíssimo, é um crime contra a natureza e as pessoas, não usar o reagente correto nos gases resultantes da combustão do motor diesel. A redução dos óxidos de nitrogênio é de quase 100%. Agora que temos a bênção do S-10, isto é, diesel com 10 partículas de enxofre (Sulfur) por milhão, não usar o Arla 32 não é economia, é um crime contra a vida. Metade da poluição das grandes cidades é provocada por motoristas sem responsabilidade social. Para os que procuram tapear a vida com um chip ou com água, a resposta deveria vir de quem paga o frete: não usar caminhão poluidor.


82

CNT TRANSPORTE ATUAL

ABRIL 2016

CNT CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO TRANSPORTE PRESIDENTE Clésio Soares de Andrade PRESIDENTE DE HONRA José Fioravanti VICE-PRESIDENTES DA CNT TRANSPORTE DE CARGAS

Newton Jerônimo Gibson Duarte Rodrigues

Lelis Marcos Teixeira José Augusto Pinheiro Victorino Aldo Saccol Eudo Laranjeiras Costa Antônio Carlos Melgaço Knittel José Luís Santolin Francisco Saldanha Bezerra João Rezende Filho Dante José Gulin Mário Martins

TRANSPORTE AQUAVIÁRIO, FERROVIÁRIO E AÉREO

Meton Soares Júnior

TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE CARGAS

TRANSPORTE DE PASSAGEIROS

Luiz Anselmo Trombini Urubatan Helou Irani Bertolini Paulo Sergio Ribeiro da Silva Oswaldo Dias de Castro Daniel Luís Carvalho Augusto Emilio Dalçóquio Geraldo Aguiar Brito Vianna Augusto Dalçóquio Neto Euclides Haiss Paulo Vicente Caleffi Francisco Pelúcio

Jacob Barata Filho TRANSPORTADORES AUTÔNOMOS, DE PESSOAS E DE BENS

José da Fonseca Lopes PRESIDENTES DE SEÇÃO E VICE-PRESIDENTES DE SEÇÃO TRANSPORTE DE PASSAGEIROS

Eurico Divon Galhardi Paulo Alencar Porto Lima TRANSPORTE DE CARGAS

Flávio Benatti Pedro José de Oliveira Lopes TRANSPORTADORES AUTÔNOMOS, DE PESSOAS E DE BENS

Edgar Ferreira de Sousa Norival de Almeida Silva TRANSPORTE AQUAVIÁRIO

Edson Palmesan TRANSPORTE FERROVIÁRIO

Rodrigo Vilaça Joubert Fortes Flores Filho TRANSPORTE AÉREO

Eduardo Sanovicz Wolner José Pereira de Aguiar INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTE E LOGÍSTICA

Escreva para CNT TRANSPORTE ATUAL As mensagens devem conter nome completo, endereço e telefone dos remetentes

TRANSPORTADORES AUTÔNOMOS, DE PESSOAS E DE BENS

Moacir da Silva Sergio Antonio Oliveira José Alexandrino Ferreira Neto José Percides Rodrigues Sandoval Geraldino dos Santos Renato Ramos Pereira Nilton Noel da Rocha Neirman Moreira da Silva

DOS LEITORES MAIS TRANSPORTE

FERROVIÁRIO

A queda de 4,2% de passageiros que utilizam ônibus urbano revela que o desemprego e a desaceleração econômica atingem diretamente o cidadão brasileiro. É fundamental que medidas sejam adotadas para não refletir no bolso do consumidor.

Incrível a iniciativa dos holandeses em investir em energia eólica. Além de evitar o aquecimento global a medida também diminui a emissões de poluentes no ar. Lamentável o Brasil não investir em transportes movidos a energia eólica. Faltam projetos, estudos e investimentos que poderiam ser a solução do transporte no futuro.

Luana Amorim Rio de Janeiro (RJ) MERCOSUL A burocracia nas fronteiras brasileiras com países que fazem parte do Mercosul atinge diretamente a livre circulação de mercadorias e gera atrasos para as economias envolvidas. Lamentável saber que, mesmo com 20 anos de acordo assinado, as regras continuam antigas.

Glen Gordon Findlay TRANSPORTE AQUAVIÁRIO, FERROVIÁRIO E AÉREO

CONSELHO FISCAL (TITULARES) Luiz Maldonado Marthos José Hélio Fernandes Jerson Antonio Pícoli Eduardo Ferreira Rebuzzi CONSELHO FISCAL (SUPLENTES) André Luiz Zanin de Oliveira José Veronez André Luis Costa DIRETORIA TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE PASSAGEIROS

Luiz Wagner Chieppe Alfredo José Bezerra Leite

Marcos Machado Soares Claudomiro Picanço Carvalho Filho Moacyr Bonelli George Alberto Takahashi José Carlos Ribeiro Gomes Aloísio Sobreira José Rebello III José Roque Fernando Ferreira Becker Raimundo Holanda Cavalcante Filho Jorge Afonso Quagliani Pereira

Rafael Lisboa Uberaba (MG) REPORTAGEM DE CAPA Achei muito interessante saber as peculiaridades de cada cidade em relação a gratuidade das tarifas do transporte coletivo de passageiros. Não sabia que em São Paulo os desempregados podem andar de graça nos ônibus. Parabéns pela reportagem.

Eclésio da Silva André Luiz Macena de Lima

Antônia Moreira Pindamonhangaba (SP)

Renato Valente Maceió (AL) SEST SENAT Que bom saber que a presença feminina tem aumentado no setor de transporte. Cursos de qualificação profissional ofertados pelo SEST SENAT têm contribuído para esse crescimento. No escritório, na cabine do ônibus ou na boleia, a presença delas é fundamental. Luiz Antônio Albuquerque Araxá (MG)

Cartas: SAUS, quadra 1, bloco J Edifício CNT, entradas 10 e 20, 11º andar 70070-010 - Brasília (DF) E-mail: imprensa@cnt.org.br Por motivo de espaço, as mensagens serão selecionadas e poderão sofrer cortes




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