EDIÇÃO INFORMATIVA DO SEST/SENAT ANO XIII ESPECIAL
CNT T R A N S P O R T E
A T U A L
LEIA ENTREVISTA COM CLÉSIO ANDRADE, PRESIDENTE DA CNT
CNT CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO TRANSPORTE PRESIDENTE Clésio Soares de Andrade PRESIDENTE DE HONRA DA CNT Thiers Fattori Costa VICE-PRESIDENTES DA CNT
Pedro José de Oliveira Lopes Oswaldo Dias de Castro Daniel Luís Carvalho Augosto Emílio Dalçóquio Geraldo Aguiar Brito Viana Augusto Dalçóquio Neto Euclides Haiss Paulo Vicente Caleffi Francisco Pelúcio
TRANSPORTE DE CARGAS
Newton Jerônimo Gibson Duarte Rodrigues TRANSPORTE AQUAVIÁRIO, FERROVIÁRIO E AÉREO
Meton Soares Júnior TRANSPORTE DE PASSAGEIROS
Marco Antonio Gulin TRANSPORTADORES AUTÔNOMOS, DE PESSOAS E DE BENS
José Fioravanti PRESIDENTES DE SEÇÃO E VICE-PRESIDENTES DE SEÇÃO TRANSPORTE DE PASSAGEIROS
Otávio Vieira da Cunha Filho Ilso Pedro Menta TRANSPORTE DE CARGAS
Flávio Benatti Antônio Pereira de Siqueira
TRANSPORTE DE PASSAGEIROS
Luiz Wagner Chieppe Alfredo José Bezerra Leite Jacob Barata Filho José Augusto Pinheiro Marcus Vinícius Gravina Tarcísio Schettino Ribeiro José Severiano Chaves Eudo Laranjeiras Costa Antônio Carlos Melgaço Knitell Abrão Abdo Izacc Francisco Saldanha Bezerra Jerson Antonio Picoli José Nolar Schedler Mário Martins
TRANSPORTADORES AUTÔNOMOS, DE PESSOAS E DE BENS
José da Fonseca Lopes Mariano Costa TRANSPORTE AQUAVIÁRIO
Glen Gordon Findlay Hernani Goulart Fortuna TRANSPORTE FERROVIÁRIO
Rodrigo Vilaça Nélio Celso Carneiro Tavares TRANSPORTE AÉREO
Wolner José Pereira de Aguiar José Afonso Assumpção CONSELHO FISCAL (TITULARES) David Lopes de Oliveira Éder Dal’lago Luiz Maldonado Marthos José Hélio Fernandes CONSELHO FISCAL (SUPLENTES) Waldemar Araújo André Luiz Zanin de Oliveira José Veronez DIRETORIA TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE CARGAS
Luiz Anselmo Trombini Eduardo Ferreira Rebuzzi Paulo Brondani Irani Bertolini
TRANSPORTADORES AUTÔNOMOS, DE PESSOAS E DE BENS
Edgar Ferreira de Sousa José Alexandrino Ferreira Neto José Percides Rodrigues Luiz Maldonado Marthos Sandoval Geraldino dos Santos Dirceu Efigenio Reis Éder Dal’ Lago André Luiz Costa Mariano Costa José da Fonseca Lopes Claudinei Natal Pelegrini Getúlio Vargas de Moura Braatz Nilton Noel da Rocha Neirman Moreira da Silva TRANSPORTE AQUAVIÁRIO, FERROVIÁRIO E AÉREO
Luiz Rebelo Neto Paulo Duarte Alecrim André Luiz Zanin de Oliveira Moacyr Bonelli José Carlos Ribeiro Gomes Paulo Sergio de Mello Cotta Marcelino José Lobato Nascimento Ronaldo Mattos de Oliveira Lima José Eduardo Lopes Fernando Ferreira Becker Pedro Henrique Garcia de Jesus Jorge Afonso Quagliani Pereira Claudio Roberto Fernandes Decourt Pedro Lopes de Oliveira
Virgílio Coelho
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Os conceitos emitidos nos artigos assinados não refletem necessariamente a opinião da CNT Transporte Atual
[ AS IMAGENS DA NATUREZA BRASILEIRA QUE ILUSTRAM AS ABERTURAS DE MATÉRIAS DA
CNT TRANSPORTE ATUAL ANO XIII | EDIÇÃO ESPECIAL
PROGRAMA DESPOLUIR A CNT está lançando o Programa Despoluir, que tem entre suas principais metas reduzir as emissões de gases que provocam o aquecimento global e incentivar a consciência e a gestão ambiental no setor transportador. ENTREVISTA CLÉSIO ANDRADE O presidente da CNT fala sobre o Programa Despoluir e o papel do setor na conservação ambiental.
EDIÇÃO FORAM CEDIDAS PELA CONSERVAÇÃO INTERNACIONAL BRASIL] FOTO CAPA ISTOCKPHOTO
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ENTREVISTA CLÉSIO ANDRADE
CONTRIBUIÇÃO
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EFETIVAPARA
PLANETA O PRESIDENTE DA CNT FALA SOBRE O PROGRAMA DESPOLUIR E COMO O SETOR TRANSPORTADOR PODE AJUDAR A COMBATER O AQUECIMENTO GLOBAL O que é o Programa Despoluir? CLÉSIO ANDRADE - O Despoluir é o programa de mobilização ambiental do transporte. Ele se propõe a ser prioritariamente um programa de conscientização e de mobilização. Queremos despoluir mentes; oferecer às pessoas uma cultura do ecologicamente correta, da responsabilidade para com o meio ambiente. E vamos começar com os transportadores
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e seus colaboradores, ou seja, com o nosso público interno. Como nasceu o programa? Já há alguns anos os transportadores brasileiros vinham demonstrando preocupações com a questão ambiental. Assim, em 1996 a CNT lançou, em parceira com a Petrobras, um projeto que foi precursor do Despoluir. O projeto inicial aju-
FOTOS JÚLIO FERNANDES/CNT/DIVULGAÇÃO
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estará coordenando em âmbito nacional. De que maneira o transportador pode ajudar no combate ao aquecimento global? Os meios de transporte respondem por grande parte da emissão de gases no meio ambiente, uma vez que utilizam em, sua atividade, combustíveis fósseis. Os dados de que dispomos mostram que no Brasil o transporte responde por cerca de 9% da emissão de CO2, um dos principais gases causadores do efeito estufa. Por isso resolvemos lançar o Despoluir, que está sendo instituído como um programa permanente da CNT e que abrange 140 mil empresas de transporte de carga e de passageiros e 733 mil transportadores autônomos em todo o país. É uma forma de a CNT dar sua parcela de contribuição neste esforço contra o aquecimento global. Que estrutura a CNT vai oferecer para ajudar o transportador no esforço pela redução da emissão de poluentes? Adquirimos veículos que serão
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O Programa Despoluir éa contribuição imediata do setor de transporte para a conservação do meio ambiente
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dou o transportador a economizar combustível e a aumentar, assim, sua competitividade no mercado. Evidentemente, o uso racional do combustível implica na diminuição da emissão de poluentes na atmosfera. Conseguimos evitar a emissão de mais de 300 mil toneladas de CO2 só em 2006. Vimos, então, a necessidade de nos associarmos aos demais segmentos da sociedade na luta contra o aquecimento global. Nossa proposta visa, prioritariamente, inserir o transportador brasileiro nessa luta que, na verdade, é de todos, indistintamente. Podemos dizer, então, que o Despoluir é a contribuição efetiva e imediata do transportador para a melhoria da qualidade do ar e da conservação do meio ambiente. Nossa meta é conseguir uma grande mobilização do sistema de transporte em torno da questão ambiental. Para tanto, contamos com o apoio indispensável das federações de transporte dos 27 Estados brasileiros. Em todas elas, o Programa Despoluir pretende contar com um comitê gestor regional, que vai ajudar a multiplicar, nos Estados, as iniciativas que a CNT
equipados com opacímetros e demais equipamentos, que se transformarão em unidades móveis de inspeção. Essa frota será gerenciada pelas federações regionais, que atenderão às empresas a elas ligadas em sua área de atuação. Também criaremos postos fixos para atender caminhoneiros autônomos e taxistas. Esses postos serão instalados em unidades operacionais do Sest/Senat e em locais de grande concentração de caminhoneiros, como portos, pólos industriais, incentivando a regulagem da frota de veículos movidos a combustíveis de origens fósseis em todo o país.
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Com o auxílio das federações, pretendemos realizar aferições de veículos, que irão ajudar o transportador a contribuir, cada vez mais, com o esforço mundial em favor do meio ambiente. A CNT estará disseminando a cultura de princípios e valores ambientais para a conscientização e comprometimento dos transportadores brasileiros pela causa. Nosso programa ambiental será dinâmico e vai se adaptar às novas necessidades que por ventura surjam ao longo do tempo em que for se desenvolvendo. Estamos falando de um
programa que visa resultados objetivos, que serão mensurados ao longo de sua execução. Está prevista a realização de parcerias? Nossos esforços na área ambiental sempre contaram com a participação de parceiros importantes, não só as federações regionais, como também órgãos governamentais. Temos certeza de que agora não será diferente. Temos a expectativa de que essas parcerias serão intensificadas. Vamos incentivar o estabelecimento de parcerias com órgãos ambientais com vistas a estabelecer transparência e a for-
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Como serão as ações de aferição?
Se não mudarmos nossa relação com o meio ambiente não teremos planeta para legar para nossos filhos e netos
talecer a credibilidade das ações promovidas sob a chancela do Programa Despoluir. Como as atividades do Despoluir vão ajudar a conscientizar os agentes envolvidos na atividade de transporte? Nossa meta com o Despoluir é, acima de tudo, criar consciência ambiental. Primeiramente junto ao nosso público interno — os transportadores, caminhoneiros, taxistas, autônomos e os trabalhadores de empresas de
transporte. É claro que várias ações que serão implementadas pelo Programa Despoluir vão contribuir para a redução da emissão de poluentes. Vemos isso com muito bons olhos. Mas, acima de tudo, vemos alguns dos agentes do setor transportador como potenciais multiplicadores da nova consciência ambiental que, acreditamos, irá sensibilizar toda a sociedade. É uma tendência irreversível para a qual o homem parece estar despertando: a consciência de que se ele não mudar a forma de se relacionar com o ambiente não teremos planeta para legar a nossos filhos e netos. Como um caminhoneiro ou um taxista pode ajudar a criar uma nova consciência ambiental na sociedade brasileira? Se considerarmos que o caminhoneiro é na realidade econômica e social do Brasil atual um agente de integração nacional, na medida em que percorre um país de dimensões continentais todos os dias, você passará a ver nesse profissional mais que um simples trabalhador. Ele é uma verdadeira fonte natural de inte-
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gração e difusão de idéias e costumes. É nessa função que esperamos que o caminhoneiro participe do esforço mundial contra o aquecimento global. Estudos brasileiros mostram que os desmatamentos e as queimadas contribuem mais para o aquecimento do planeta do que a emissão de poluentes, e poucas pessoas têm mais condições de ajudar a combater os desmatamentos ilegais e as queimadas criminosas do que os motoristas de caminhão, exatamente porque cortam nossas estradas dia e noite e podem ajudar, avisando as autoridades tão logo identifiquem uma ação de queimada ou desmatamento ilegal, por exemplo. E os taxistas? Todos sabem que os taxistas são grandes formadores de opinião em nossas cidades. São pessoas que se relacionam com os cidadãos de todos os níveis de uma sociedade urbana. Eles têm, portanto, condições de disseminar idéias positivas de combate à poluição e conservação do meio ambiente. Partimos do princípio de que cada um de nós tem contribuições a dar para conservar
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Já existem casos concretos de autoridades se engajando nesse esforço? Creio que isso de certa forma já está acontecendo. Vemos muitos casos de autoridades públicas desenvolvendo atividades que vão contribuir. A esse propósito merece elogios a iniciativa do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, que elegeu a questão da poluição veicular como prioridade de sua administração. Iniciativas como essa vêm ao encontro do que os transportadores pretendem ao empreender o Programa Despoluir.
Há, no Despoluir, alguma proposta voltada para a qualidade dos combustíveis convencionais atualmente consumidos no Brasil?
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Estudos mostram que os desmates e queimadas contribuem mais para o aquecimento do planeta do que a emissão de poluentes
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o meio ambiente. Por isso, o Programa Despoluir prevê a criação de cursos de capacitação do que estamos chamando “Caminhoneiro Amigo do Meio Ambiente” e “Taxista Amigo do Meio Ambiente”. Eles serão agentes de campanhas especiais a serem desenvolvidas pela CNT através do nosso programa ambiental permanente, participando de ações que ajudarão a despertar neles a consciência de que têm muito a contribuir no esforço contra o aquecimento do planeta.
Pretendemos estabelecer parcerias com entidades do mundo acadêmico para o desenvolvimento de ferramentas que permitam aferir a qualidade do combustível vendido no Brasil. Acreditamos que há muito que melhorar nesse item, e a melhora será benéfica para todos, inclusive as distribuidoras e refinarias. Também deverão se beneficiar de uma eventual melhoria da qualidade dos combustíveis de petróleo as montadoras, os fabricantes de autopeças e os consumidores de uma maneira geral. O que o Despoluir proporá em relação ao uso de combustíveis alternativos? Temos a intenção de estabelecer parcerias para a avaliação da produção e distribuição e incentivo do uso de biocombustível, gás natural e outros combustíveis renováveis, visando ampliar a rede de fornecimento ao longo
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O caminhoneiro e o taxista são fontes naturais de difusão de idéias. É assim que esperamos que participem da luta contra o aquecimento global
das principais rodovias e nos centros urbanos. Queremos mostrar as vantagens econômicas, sociais, ambientais e operacionais do uso de energia limpa no transporte.
presas transportadoras, bem como apresentar recomendações no que diz respeito à gestão de resíduos, como pneus e óleos automotivos lubrificantes, em terminais e garagens.
A gestão das empresas também deve acompanhar essa nova consciência ambiental?
A CNT vai desenvolver ações de educação ambiental?
Certamente que sim. Hoje, qualquer empresário bem sucedido sabe que, além de técnicas de administração financeira e de talentos humanos eficientes, é preciso ter foco também na variável ambiental para assegurar mais competitividade para as empresas. Antigamente, a maioria das empresas mantinha um departamento de ferro-velho, onde eram jogadas as peças danificadas retiradas dos veículos. Hoje, a maioria transformou esse setor em departamentos de material reciclável. Não se trata de uma simples mudança de nome. Trata-se, na verdade, de um reflexo da mudança de consciência que permeia o setor transportador já há algum tempo. Nosso programa pretende incentivar a adoção de sistemas de gestão ambiental pelas em-
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Sim. Aliás, a questão educativa é um dos esteios do programa. Nós pretendemos promover atividades para capacitar profissionais e divulgar intensamente as ações ambientais de transportadores que estejam sendo empreendidas com sucesso. Vamos elaborar um manual técnico específico para a execução do Programa, estabelecendo rotinas para consolidarmos o conceito de empresas ambientalmente corretas, empresas que se empenhem em realizar sistematicamente a inspeção de seus veículos visando ao atendimento das normas e padrões exigidos no que se refere à emissão de poluentes. Paralelamente, a Escola do Transporte, do IDT (Instituto de Desenvolvimento do Transporte), órgão da CNT, vai desenvolver cursos adaptados às necessidades dos empresá-
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Qual o papel do sistema Sest/ Senat no Despoluir? A CNT criou o Sest (Serviço Social do Transporte) e o Senat (Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte) para atender os transportadores autônomos e trabalhadores do setor de transporte. O Sest/Senat tem o desafio de construir um setor de transporte qualificado, produtivo e eficaz, com constante evolução e busca de resultados práticos, visando à melhoria do bemestar de seus trabalhadores, assim como dos serviços prestados à sociedade. A instituição é parte
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O Programa Despoluir vai incentivar a adoção de sistemas de gestão ambiental por parte das empresas de transporte
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rios, em conformidade com a realidade de cada região. Também estará a cargo do IDT o suporte necessário no que diz respeito a recursos educativos, tais como cartilhas, cartazes, folders etc. Essas peças, aliás, serão também fartamente utilizadas como apoio às campanhas de mobilização do nosso público interno, ou seja, os motoristas, funcionários de transportadores, fornecedores, parceiros e todos os demais agentes envolvidos na atividade transportadora.
integrante da mudança que ocorre no segmento de transporte, participando da melhoria na qualidade de vida dos trabalhadores. Há 124 unidades espalhadas por todo o território nacional para o desenvolvimento de suas atividades. As questões ambientais irão se incorporar naturalmente à busca de melhores índices de qualidade de vida e à temática da qualificação profissional dos agentes do setor. Por que o transportador deveria participar do Despoluir? Porque o Despoluir é um programa social e ambientalmente responsável. É um programa que, ao realizar ações no setor de transporte para a melhoria do meio ambiente e ao incentivar a responsabilidade ambiental de cada um e da sociedade, influencia diretamente na qualidade de vida de todo cidadão. O mais importante para nós, homens do século 21, é a certeza de que devemos legar à posteridade um planeta melhor do que recebemos de nossos antepassados. Essa deve ser a maior preocupação de todos, e não apenas dos transportadores. ●
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DESPOLUIR
OTRANSPORTEDÁO
EXEMPLO PROJETO DESPOLUIR, O PROGRAMA DE REDUÇÃO DE EMISSÃO DE GASES DA CNT, MOBILIZA TODO O SETOR NO PAÍS POR
RICARDO RODRIGUES
que parece um desafio para o Brasil, na visão de muitos especialistas, começa a mobilizar um setor econômico responsável pela geração de renda correspondente a 6,5% do Produto Interno Bruto. A Confederação Nacional do Transporte está lançando o Programa Despoluir, que tem entre suas principais metas reduzir as emissões de gases que provocam o aquecimento global e incentivar a consciência e a gestão ambiental no setor transportador. O Despoluir tem a participação de 31 federações regionais vinculadas ao Sistema CNT. Uma estrutu-
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ra que compreende 70 mil empresas de transporte e 700 mil caminhoneiros e taxistas autônomos ou cerca de 2,5 milhões de trabalhadores, que, ao lado das empresas, serão os motores do programa. A responsabilidade ambiental do transporte está ancorada no incentivo à redução das emissões veiculares. Muitos filiados da CNT têm história de sucesso na área e são referência em proteção ambiental na comunidade onde atuam. Por isso, uma das etapas do programa é identificar e estimular ações que já vêm sendo aplicadas com êxito. A presidente do conselho de administração da TAM Linhas Aéreas, Maria Cláudia Amaro, as-
HAROLDO CASTRO/CI E ADRIANO JEROZOLIMSKI/CI-BRASIL
AMAZテ年IA A floresta Amazテエnica representa um terテァo das florestas tropicais do mundo e abriga cerca de 50% da biodiversidade do planeta. Detalhe: Gafanhoto (Orthoptera)
sinou recentemente uma carta de intenções com a WWF, organização não-governamental presente em mais de cem países, para implementar um programa de compensação de emissões de gases do efeito estufa e conscientização sobre mudanças climáticas. Por um valor estimado entre R$ 4 e R$ 5 a mais para comprar créditos de carbono, o passageiro poderá, voluntariamente, contribuir para compensar as emissões de seu vôo e neutralizar a emissão de CO2 na totalidade das operações da empresa, a maior do setor de transporte aéreo no país. Mas, quando se trata de proteção ambiental, tamanho não é documento. Em Paulínia (SP), a Transcelestial Transportes adota medidas para a destinação final de resíduos poluentes e obteve, em 2005, a certificação no programa de qualidade SSASMAQ (segurança, saúde, meio ambiente e qualidade). Pneus, lâmpadas, óleos e baterias são encaminhados para reciclagem sem contaminar a natureza. A Transcelestial implantou e mantém, dentro dos terrenos da empresa, uma área verde inteiramente reflorestada. No Rio de Janeiro, a Fetranspor pretende compensar o equivalente a 24% das emissões totais de CO2,
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ou seja, 4.300 ônibus de uma frota de 18.300 passarão a ter emissão zero. “Trata-se de uma tomada de posição em defesa do meio ambiente, de um compromisso com a sociedade e de uma filosofia desse segmento empresarial, que tem consciência de que ainda é impossível transportar por meios rodoviários com ausência total de poluentes, por mais que a tecnologia tenha permitido grandes reduções nesses índices”, afirma o presidente executivo da Fetranspor, Lélis Marcos Teixeira. Segundo ele, o transporte coletivo de passageiros quer ser reconhecido como aquele que mais tra-
balha pela compensação ambiental dessas emissões. GESTÃO AMBIENTAL Apesar de muito importante, reduzir emissões é apenas uma das metas do Despoluir. O programa vai também apoiar as pesquisas, o desenvolvimento e a implantação de tecnologias e modelos de gestão voltados à utilização racional de recursos naturais e que visem minimizar os impactos adversos ao ar, ao solo e à água, advindos das atividades do setor transportador. Além disso,
vai fomentar a conscientização ambiental em toda a cadeia do transporte, do trabalhador e sua família aos fornecedores, parceiros comerciais e usuários. São metas ambiciosas que visam estimular ações de gestão ambiental a serem empreendidas pelas empresas, que vão da identificação dos impactos ambientais decorrentes de suas instalações, processos, produtos e serviços até a adoção de ações preventivas para eliminar ou minimizar esses impactos, através do fomento às atividades de educação e capacitação ambiental. Não se trata apenas de economizar com-
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BENEFÍCIOS Para a CNT, os maiores benefícios do programa reverterão para a comunidade, sobretudo aquela que vive em grandes centros urbanos, que sentirá, mais diretamente, os efeitos da melhoria do meio am-
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bustível: as empresas precisam adotar ações que promovam a gestão ambiental de forma ampla. O valor ambiental deve ser disseminado entre todos os profissionais, tornando-os vigilantes do meio ambiente, dentro e fora das empresas.
biente e da qualidade do ar. O programa é fundamentado na missão, na visão e nos objetivos da CNT e na política de meio ambiente já estabelecida para o setor de transporte. Traduz uma posição clara e transparente, que reflete a necessidade do setor de participar do compartilhamento global da responsabilidade para a melhoria da qualidade ambiental. A busca do desenvolvimento sustentável exige a participação do setor de transporte, fortalecendo a imagem próativa do empresariado na questão ambiental. Para Isabela Santos, diretora de comunicação no Brasil da ONG Conservação Internacional, uma das mais importantes do mundo na área ambiental, é valioso que uma entidade do porte da CNT lidere essa campanha. “Isso prova que a sociedade está mais consciente dos sérios problemas que nos afetam e que atores sociais importantes, como os empresários, estão se mobilizando para propor o debate, ações e soluções viáveis e ao seu alcance para contribuir efetivamente para a melhoria da qualidade de vida do planeta, através de formas de desen-
Os maiores benefícios do programa reverterão para a comunidade, que sentirá os efeitos da melhoria do meio ambiente
volvimento que sejam verdadeiramente sustentáveis”, afirma. De acordo com Isabela Santos, a CNT tem enorme capacidade de mobilização e atuação propositiva para o combate a fatores sérios, como a poluição emitida por veículos ou o atropelamento de animais silvestres por excesso de velocidade nas rodovias. “O programa Despoluir parece-me um excelente aporte rumo à sensibilização de motoristas e população em geral sobre os impactos do aquecimento global e, o mais importante, sobre que tipo de contribuição pró-ativa cada cidadão
pode ter para somar-se a esse esforço que é de toda a sociedade”, ressalta. Projetos de gestão ambiental podem também representar benefícios econômicos para o empresariado. “Hoje já existem metodologias para a área de transporte, mas faltam os projetos. O setor carece de atuação mais efetiva no mercado de créditos de carbono”, afirma o biólogo Pablo Fernandez de Mello e Souza, gerente de implementação de projetos de MDL (mecanismo de desenvolvimento limpo) na EcoSecurities, maior empresa internacional especializada em negócios com certificados de carbono, gerenciando um portfólio de mais de 50 projetos no país. “No setor de transporte há apenas um projeto no mundo, na Colômbia, empreendido por uma empresa pública em Bogotá”, diz. Segundo Fernandez, o desafio do setor está em elaborar projetos em grande escala, reunindo um número expressivo de empresas ou de veículos, pois a questão é sempre de tamanho. “É preciso grandes frotas para monitorar a redução de 50 mil a 100 mil toneladas de gases, numa proporção de 100 toneladas/ano por ônibus”. ●
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RUSSEL MITTERMEIER/CI E ISTOCKPHOTO
EMISSÃO DE POLUENTES
LONGO
UM
CAMINHO PERCORRER
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AÇÕES PARA A PRESERVAÇÃO DO PLANETA AINDA SÃO INSUFICIENTES PARA REDUZIR EFEITOS DO AQUECIMENTO POR
mbaladas pela onda verde, as ações para a preservação do planeta são cada vez mais consistentes no Brasil, o país do etanol. Governo, empresas e sociedade trabalham em busca de um modelo de desenvolvimento sustentável que agrida menos o ambiente, no qual o setor transportador tem grande rele-
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ALINE RESKALLA
vância. Desde a implantação do Proconve (Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores), há 20 anos, as emissões de gases poluentes foram reduzidas em 94%, segundo balanço divulgado no final de 2006. Além da evolução tecnológica e melhor manutenção preventiva nos veículos, também contribuíram
para a redução a melhora da qualidade do combustível vendido no país, a redução do nível de enxofre e a adição do álcool à gasolina. No entanto, especialistas e autoridades são unânimes em afirmar que ainda há muito por fazer. O coordenador da Campanha de Clima do Greenpeace no Brasil, Carlos Rittl, lembra que,
MATA ATLÂNTICA Além do papel importante para a história brasileira, é considerado um dos mais ameaçados ecossistemas do mundo. No detalhe: o tucano
Houve uma sensível melhora na qualidade dos combustíveis, mas o diesel pode ser menos poluente HOMERO CARVALHO, GERENTE DE ENGENHARIA E FISCALIZAÇÃO DE VEÍCULOS DA CETESB/SP
no país, o setor de transportes continua sendo a segunda maior fonte de geração de gases de efeito estufa (aquecimento artificial da Terra). "O dióxido de carbono é o principal gás responsável pelo aquecimento global, o que ameaça a saúde e a vida de pessoas em todo o planeta", afirma. No caso do gás carbônico (CO2), o automóvel brasileiro emite em média 15 g/km, enquanto o ônibus, cerca de 17 g/km. Estimativas de especialistas em meio ambiente indicam que são despejadas na atmosfera anualmente cerca de 7 bilhões de toneladas de gases causadores do efeito estufa, principalmente o gás carbônico (CO2), um dos mais nocivos ao meio ambiente. O ano de 2007, porém, deve marcar um avanço importante no Brasil. Entraram em vigor novos limites para emissão de poluentes, que incluem também veículos automotores de passageiros e comerciais leves de até 1,7 tonelada. Desde janeiro, todos os veículos novos vendidos no Brasil devem sair de fábrica atendendo a limites sujeitos à fiscalização pelos Estados (ver quadro ao lado). Homero Carvalho, gerente de Engenharia e Fiscalização de
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LIMITES PARA EMISSÃO DE POLUENTES (EM G/KM) Monóxido de carbono (CO)
2,00
Hidrocarbonetos totais (para veículos a gás natural)
0,30
Hidrocarbonetos não metano
0,16
Óxidos de nitrogênio (NO) para motores ciclo Otto
0,25
Óxidos de nitrogênio (NO) para motores ciclo Diesel
0,60
Aldeídos do álcool (HCO) para motores ciclo Otto
0,03
Material particulado (MP) para motores ciclo Diesel
0,05
O teor de monóxido de carbono em marcha lenta, para motores ciclo Otto, não pode exceder 0,50% vol.
Veículos da Cetesb, empresa de controle ambiental de São Paulo, diz que o maior desafio agora é reduzir a presença de material particulado, emitido pelos motores a diesel, na atmosfera. "Houve uma sensível melhora na qualidade dos combustíveis, mas o óleo pode ser menos poluente. A equação é simples: se tivermos diesel melhor, o ar também será melhor. Uma opção viável é o uso do diesel com 50 ppm, ou seja, com dez vezes menos partículas poluentes do que temos atual-
mente", diz. Aqui, o biodiesel deve entrar como iniciativa de sucesso. Para Carvalho, a indústria não encontrará grandes dificuldades de se adaptar às novas regras, pois as matrizes das montadoras presentes no Brasil já possuem know-how e adotam a tecnologia na Europa e nos Estados Unidos. Se depender das montadoras, o carro do futuro deve ser "verde", como mostrou o Salão do Automóvel de Detroit 2007, nos EUA, em janeiro. Os visi-
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SÃO DESPEJADAS NA ATMOSFERA ANUALMENTE CERCA DE
7 BILHÕES DE TONELADAS DE GASES CAUSADORES DO EFEITO ESTUFA tantes tiveram a oportunidade de conferir o novo protótipo do carro movido a células de combustível da General Motors. Também chamou a atenção do público o Volt, da mesma GM, que permite que um motor carregue baterias feitas com íon de lítio, material usado também em telefones celulares. De acordo com a fabricante norte-america-
DESPOLUINDO BRASPRESS/DIVULGAÇÃO
na, a expectativa é começar a produzir automóveis híbridos até 2010. Já a japonesa Toyota aproveitou o Salão para lançar seu automóvel elétrico, que também funciona a gasolina. Mas o consumidor terá que esperar até 2009 para encontrá-lo no mercado. Uma pesquisa da Universidade de São Paulo mostra que a substituição da atual frota nacional de veículos leves por veículos híbridos reduziria a poluição veicular em até 80%, gerando economia de mais de R$ 450 bilhões por ano aos cofres públicos nacionais. Os híbridos utilizam duas fontes de energia para se movimentar e, geralmente, adotam o motor elétrico como alternativa. Se a troca ocorresse apenas na Grande São Paulo, ou
seja, em 7,4 milhões de veículos, representaria uma economia anual de R$ 132,5 bilhões. A idéia foi defendida pela engenheira Juliana de Freitas Queiroz, no projeto “Introdução do Veículo Híbrido no Brasil: Avanço Tecnológico aliado à Qualidade de Vida”, desenvolvido na Escola Politécnica da USP, sob a orientação do professor Marcelo Massarani. Segundo Juliana, cada veículo convencional substituído pela tecnologia híbrida representa economia de R$ 18 mil por unidade durante sua vida útil. Esse valor leva em conta o consumo menor de combustível, economia nos créditos de carbono do Protocolo de Kyoto e gastos com doenças respiratórias pelo sistema de saúde pública. "Receita que, devidamente aplicada em
BRASPRESS O grupo Braspress é pioneiro no uso de biodiesel. Toda a frota da empresa, de 780 caminhões, começou a ser abastecida com B2 (mistura de 2% de biodiesel ao diesel) há um ano. Os resultados são “excepcionais”, segundo o presidente do grupo, Urubatan Helou. O ganho ambiental não acarretou redução no desempenho dos caminhões, nem elevação no custo do combustível ou da manutenção dos veículos. “Nós, transportadores de carga e passageiros, precisamos nos adequar. Exige-se agora um compromisso muito sério das empresas com a questão ambiental”, diz Helou. “É preciso mudar a matriz energética mundial e o Brasil sai na frente nesse processo, ao trocar o óleo preto pelo óleo verde.” O grupo tem planos de investir em culturas de oleaginosas e produzir biodiesel para consumo da frota.
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DESPOLUINDO HAMBURGSUD/ALIANÇA/DIVULGAÇÃO
A HamburgSud/Aliança Logística, empresa especializada em transporte marítimo de cargas, investe desde 1997 em iniciativas de qualidade, segurança e proteção ambiental. Além de um plano de gerenciamento para a operação de troca de água de lastro em seus navios, a empresa adota procedimentos sistematizados para a coleta seletiva de lixo, limpeza permanente de resíduos de óleo nas embarcações e o controle do teor de enxofre no óleo combustível.
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O dióxido de carbono, é também uma ameaça à saúde e à vida das pessoas em todo o planeta CARLOS RITTL, COORDENADOR DA CAMPANHA DE CLIMA DO GREENPEACE NO BRASIL
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HAMBURGSUD/ALIANÇA
programas sociais, pode contribuir para melhorar a qualidade de vida do brasileiro", diz a engenheira. No estudo, Juliana trata as emissões como um problema social que se alastra mundialmente. De acordo com pesquisas internacionais, os veículos híbridos chegam a gerar de 50% a 80% menos poluentes que os convencionais. A engenheira sugere, ainda, incentivos governamentais para motivar a indústria e a população a utilizá-los.
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A substituição da frota de veículos leves por veículos híbridos reduziria a poluição veicular em até 80%
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JULIANA QUEIROZ, ENGENHEIRA E PESQUISADORA DA POLI/USP
A INDÚSTRIA TAMBÉM FAZ SUA PARTE
Montadora tem experiências bem-sucedidas Medidas adotadas pela fábrica da Volkswagen em Taubaté (SP) permitiram a redução de 13,4% na emissão de gás carbônico (CO2) pela unidade nos últimos cinco anos. Em termos absolutos, as mudanças representam 2.700 toneladas a menos de CO2 lançadas no ar. O gerente de Engenharia e Manutenção da fábrica, Carlos Henrique dos Santos, diz que a redução ocorreu graças à substituição do óleo diesel pelo gás natural como combustível alimentador das caldeiras e estufas. E, também, pela conscientização
dos empregados da área de energia sobre a necessidade de combate ao desperdício. Durante o verão, a unidade de Taubaté atrasa em três horas o acionamento das caldeiras, para aproveitar melhor o calor natural do ambiente. As mudanças, que consumiram R$ 22 milhões em investimentos nos últimos sete anos, passam também pelo departamento de pintura, onde houve redução de 33% na geração de material particulado. Santos explica que isso foi possível com a substituição das pistolas conven-
cionais de pintura por modelos eletrostáticos importados dos Estados Unidos, que usam menos 22% de solventes e outros insumos, como o verniz. O consumo menor de solvente reduz em 25% a emissão de compostos orgânicos voláteis. Apenas no ano passado, mais de 44 toneladas de gases deste tipo deixaram de ser geradas. Segundo a Volkswagen, o capital investido na compra do equipamento e no treinamento dos pintores, além dos benefícios para o meio ambiente, foi amortizado em menos de três meses. VOLKSWAGEN/DIVULGAÇÃO
Um outro estudo, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), sustenta que o Brasil tem potencial para expandir a economia e, paralelamente, reduzir a taxa de crescimento das emissões de CO2 na área energética. O país poderia chegar a 2020 com emissões 29% menores com o investimento em alternativas ao petróleo no setor energético. Para Emílio La Rovere, do Programa de Planejamento Energético da Coordenação do Coope/UFRJ (Programas de Pósgraduação de Engenharia), matrizes como o álcool e o biodiesel permitiram que as emissões de CO2 no setor energético fossem 14% menores do que seriam em 2020, caso elas não existissem. Segundo Rovere, o Coppe dispõe de projeções demonstrando que o aumento do investimento em novos programas de fontes alternativas de energia e eficiência energética pode levar a outros 15% de redução na taxa de crescimento das emissões em 2020. ●
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Depois de vários testes, a Vale constatou que o desempenho das ferrovias não será prejudicado com a utilização do B20 EDUARDO BARTOLOMEU DIRETOR-EXECUTIVO DE LOGÍSTICA DA CVRD
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PIONEIRISMO
U
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TRILHOS
VERDES
VALE DO RIO DOCE USA COMBUSTÍVEL COM 20% DE BIODIESEL NA VITÓRIA A MINAS E EM CARAJÁS POR SANDRA
a comercialização do B2. A Vale planeja estender o uso do B20 à Ferrovia Centro-Atlântica em 2008. O volume de partículas não emitido, segundo a empresa, equivale à emissão anual de dióxido de carbono de uma cidade com 27 mil habitantes. De acordo com levantamentos realizados pela Vale, para que essa quantidade de gás carbônico fosse ser absorvida com reflorestamento, seria necessário plantar anualmente uma área equi-
CARVALHO
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O B20 confirma o amplo comprometimento das duas empresas com o programa nacional de uso do biodiesel
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ma empresa atuante no setor ferroviário e que se destaca por adotar procedimentos para a redução da emissão de dióxido de carbono na atmosfera é a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD). Desde janeiro, antecipando-se à lei nº 11.907/2005 (que torna obrigatória a adição de 2% de biodiesel ao diesel), a empresa já utiliza o combustível, chamado de B2, em locomotivas, caminhões e geradores de energia elétrica. Em maio, a Vale avançou mais no sentido da preservação ambiental ao anunciar a utilização do B20 (diesel com adição de 20% de biodiesel) na Estrada de Ferro Vitória a Minas e na Estrada de Ferro Carajás. Trata-se de uma ação pioneira que nasceu de parceria entre a Vale e a Petrobras. Com a iniciativa, a CVRD, além de entrar no ranking das maiores consumidoras de biodiesel do mundo, passa a deixar de emitir, apenas este ano, 224 mil toneladas de partículas de CO2 na atmosfera, de acordo com estimativas da empresa. A Vale submeteu o projeto à avaliação da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), que autorizou a adição de 20% de biodiesel ao combustível. Segundo a agência, esse percentual é o maior já autorizado para uma frota cativa no país. Nos postos de combustível, a ANP permite apenas
GRAÇA FOSTER, PRESIDENTE DA PETROBRAS DISTRIBUIDORA
valente a 369 estádios do Maracanã de mata nativa ou a um sexto da Floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro. Segundo o diretor-executivo de logística da CVRD, Eduardo Bartolomeu, o problema ambiental foi o principal motivo para a utilização do B20 pela companhia. Depois de diversos testes feitos no ano passado sob a orientação de empresas especializadas em análise do transporte, estrutura logística e emissão de CO2, a Vale constatou que o de-
CVRD/DIVULGAÇÃO
OS IMPACTOS DO B20 NA VALE • Cada tonelada consumida evita a emissão de 3,5 toneladas de CO2 na atmosfera • As ferrovias emitem 16 vezes menos CO2 do que os caminhões • Até o final do ano, mais de 247 mil toneladas de CO2 deixarão de ser lançadas no ar. Esse volume é igual à emissão anual de CO2 de uma cidade com 27 mil habitantes ou a 15 mil estádios do Maracanã de área reflorestada com eucaliptos por ano • A utilização de B20 e B2 gera empregos para até 80,5 mil famílias/ano no campo, em uma cultura de mamona
sempenho das linhas Vitória a Minas e Carajás não será alterado pela utilização do combustível alternativo. O acordo com a BR Distribuidora prevê fornecimento, a partir do primeiro mês de contrato, de 1,7 milhão de litros de B20 para atender às duas ferrovias da Vale — até o final do ano, o fornecimento da mistura deverá chegar a 33 milhões de litros/mês para as duas estradas de ferro. O volume é equivalente a 67%
do combustível utilizado em todas as ferrovias da Vale mensalmente, incluindo a Centro-Atlântica. Para receber, armazenar e distribuir o grande volume de B20 para a CVRD, os terminais da BR Distribuidora em Betim (MG), Duque de Caxias (RJ), São Luís (MA) e Vitória (ES), além das bases de Açailândia (MA), Marabá (PA) e Ebiruçu (MG), estão passando por reformas estruturais.
A BR considera o acordo com a Vale uma referência internacional para o consumo e produção de biodiesel. “Nossa parceria com a Vale é um marco. O abastecimento das locomotivas com B20 vem apenas confirmar o amplo comprometimento das duas empresas com o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel do governo federal”, afirma Graça Foster, presidente da Petrobras Distribuidora.
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PANTANAL Uma das maiores planícies inundáveis do mundo, abriga grande concentração de vida silvestre. No detalhe: o tuiuiú
ENERGIA LIMPA
CONTRIBUIÇÕES
AS
BRASIL
DO
INICIATIVAS COMO A CAMIONETE “PASTELEIRA”, MOVIDA A ÓLEO DE FRITURA REPROCESSADO, MOSTRAM QUE O PAÍS É PIONEIRO EM DESENVOLVER TECNOLOGIAS AMBIENTAIS POR
epois de estrelar uma reportagem do “Globo Repórter”, o gaúcho Paulo Lenhardt tornouse celebridade. Passou a ser cumprimentado em toda parte, graças a uma façanha ecológica. A Transporte Atual o encontrou na estrada, via telefone celular, quando ele deixava São José do Rio Preto (SP) e seguia para Maringá (PR), de volta para casa em Montenegro, cidade a 70 km de Porto Alegre. Ele e equipe encerravam mais uma viagem de quase 4.000 km
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ANTONIO SIUVES
para testar a Pasteleira, como ele mesmo apelidou a Chevrolet S10, modelo 2001, movida a óleo de fritura reprocessado. O que no começo parecia extravagância de um cinqüentão, ecólogo antes de a ecologia virar moda, se tornou coisa séria e respeitada. Ele já rodou 100 mil quilômetros com a Pasteleira e garante que o kit adaptado ao motor da camionete, que ele próprio desenvolveu, é um sucesso. Diz que o segredo é simples: basta aquecer o óleo em pré-combustão
entre 85ºC e 90ºC. O projeto de Lenhardt é financiado por uma fundação suíça e apoiado pelo governo federal. Depois de reunir-se em Brasília com autoridades do Programa Nacional do Biodiesel, ele espera que o experimento seja cientificamente avaliado por uma universidade ou centro tecnológico. “Quando jogado no esgoto, o óleo de fritura vai parar no rio. E um litro de óleo na água equivale, mais ou menos, a um milhão de litros de água contaminada”, o que explicaria em parte o reco-
nhecimento popular da iniciativa. Lenhardt é um elo exemplar ligado à corrente da nova agenda ambiental, que está gradualmente se transformando em grande negócio planetário. Estima-se que no ano passado os investimentos em energia limpa alcançaram US$ 63 bilhões em todo o planeta. O Brasil é protagonista importante do novo ciclo de desenvolvimento e o perfil da matriz energética nacional já começa a ser redesenhado. Dados do Ministério de Minas e Energia indicam que na conta do setor de transporte pesam atualmente 52% do consumo de todo o diesel do país e o débito ambiental de 25% das emissões de gás carbônico. Enquanto isso, a corrida global rumo ao biodiesel vai se consolidando com aportes de grandes conglomerados e fundos de investimento, e o Brasil parece disposto a assumir a proa desse movimento. As projeções do governo federal dão conta de que, com o incremento da produção de biodiesel, já em 2010 será possível adicionar 5% de óleo vegetal (B5) ao diesel, meta que deveria ser alcançada apenas em 2013. Algumas transportadoras já estão abastecendo suas frotas com diesel misturado a 2% de biodiesel (B2), composto cujo uso
FOTOS ISTOCKPHOTO
se tornará compulsório a partir de janeiro de 2008. A mistura do diesel vegetal em maiores proporções, ou mesmo o uso puro do biodiesel, o B100, está em testes em programas pioneiros de cidades como Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro. Grandes transportadoras já se alinham com o futuro e se adian-
tam às metas do programa federal. Um projeto da maior transportadora de veículos da América Latina, o Grupo Sada, através da Sada Bioenergia, envolve a plantação de 11 mil hectares de cana e 5.000 hectares de pinhão-manso em Jaíba (MG), o que permitirá abastecer integralmente sua frota de 2.000 caminhões até 2010. A maior
parte do álcool destilado será empregada na produção de biodiesel puro, o B100, pelo processo etílico, uma tecnologia ecologicamente recomendada. Nos Jogos Pan-Americanos, deverá ser lançado no Rio de Janeiro o mais abrangente projeto de uso do biodiesel no transporte coletivo brasileiro, através de convênio
criado entre a BR Distribuidora, a Fetranspor (Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro) e alguns fabricantes de motores. Já na primeira fase da iniciativa, prevista para terminar em setembro, 3.000 ônibus serão abastecidos com a mistura de 5% de biodiesel ao diesel, antecipando em seis
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O biodiesel já é competitivo. Com o aumento da produção, os preços vão baixar. GUILHERME WILSON DIRETOR DA FETRANSPOR
CRÉDITOS DE CARBONO
Medida estimula energia limpa Créditos de carbono são uma espécie de moeda ambiental, criada com o Protocolo de Kyoto, em 1988, para tentar regular as emissões de poluentes causadoras do efeito estufa. O mecanismo funciona em âmbito global. A compra de créditos de carbono autoriza o direito de poluir. Se uma empresa ou instituição recebe um desses créditos, significa que deixou de despejar na atmosfera 1 tonelada de C02. Quem pagou pelo crédito, que é negociado em bolsa, geralmente uma indústria instalada em país desenvolvido, adquiriu o direito de poluir na mesma proporção. No ano passado, o mercado de créditos de carbono movimentou US$ 24 milhões. Agências de proteção ambiental reguladoras emitem os certificados que legalizam, por assim dizer, a poluição. O princípio estabelecido pela ONU - o chamado MDL (Mecanismo de Desenvolvi-
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mento Limpo) — destina-se a obrigar as indústrias dos países ricos a reduzirem os níveis de suas emissões. A obrigação de comprar créditos de carbono se relaciona ao descumprimento das metas, estabelecidas por lei, de redução gradativa do processo de agressão ambiental. Na outra ponta estão as empresas estabelecidas em países em desenvolvimento, como o Brasil, que adotam o MDL, ou seja, desenvolvem boas práticas ambientais como o emprego de energias limpas, projetos de reciclagem de lixo e reflorestamento. Com isso, se credenciam a receber os créditos. Segundo o ministério da Ciência e Tecnologia, Brasil é o terceiro país em desenvolvimento em número de projetos (226 ao todo) que reivindicam créditos de carbono. Vem logo depois da Índia, com 673 projetos e da China, com 547.
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anos a previsão do Plano Nacional de Biocombustíveis para o B5. Depois de avaliados os resultados, toda a frota de 18 mil coletivos filiados à entidade no Estado deverá rodar com a mistura. “Testes estão sendo feitos pelas montadoras há dois anos e meio e são todos favoráveis. Não há perda de desempenho nem de eficiência com o B5”, diz o engenheiro Guilherme Wilson, diretor da Fetranspor. Wilson é otimista com o futuro do diesel vegetal e prevê que vai seguir a mesma trajetória do álcool, que disputou mercado com a gasolina. “É um combustível competitivo com o diesel de petróleo. Com o aumento da produção, os preços vão baixar.” Desde outubro do ano passado, 1.880 dos 7.000 ônibus da empresa Itaim Paulista estão rodando em São Paulo com um composto desenvolvido pelo Instituto Nacional de Tecnologia. O combustível, de cor laranja, agrega 30% de biodiesel de soja, 8% de álcool e 62% de diesel comum. A B100, empresa do Grupo VIP fabricante de biodiesel, e a BR Distribuidora participam do projeto. “Os resultados iniciais são muito bons”, diz o engenheiro químico Maurício Henriques, chefe da divisão de energia do INT. Os primeiros testes indicaram
redução de até 60% de emissões de fumaça preta e de três poluidores: óxidos de enxofre, monóxido de carbono e hidrocarbonetos pesados. Uma pequena elevação nos níveis de óxidos de nitrogênio também foi observada. O governo do Paraná, através do seu instituto de tecnologia, o Tecpar, mantém linhas de pesquisa com o biodiesel, do cultivo de sementes aos processos mecânicos de prensagem do óleo vegetal. Com recursos do Fundo de Tecnologia do Estado, foi investido R$ 1 milhão
DESPOLUINDO SANTA EDWIGES/DIVULGAÇÃO
mantém entendimentos com a Petrobras e montadoras de ônibus para avaliar o uso do biodiesel puro no transporte coletivo. “Nos primeiros 18 meses”, diz Élcio Karas, gerente da URBS, “30 ônibus articulados que circulam na capital serão abastecidos com B100 e B70. Conforme as avaliações mecânicas e ambientais, o programa poderá ser estendido a toda a frota de ônibus da metrópole.” GÁS NATURAL
SANTA EDWIGES A Viação Santa Edwiges converteu sua frota para a utilização de B2 (diesel com adição de 2% de biodiesel). Para isso, a empresa estabeleceu parceria com a Regap (Refinaria Gabriel Passos), da Petrobras, para o abastecimento diário de seus ônibus. Criada há 50 anos, a Santa Edwiges é a primeira empresa do setor a utilizar combustível derivado de fontes renováveis em toda a frota, composta por 479 ônibus.
numa unidade piloto que vai produzir, a partir de junho, até mil litros de combustível por dia extraídos de diferentes matrizes. “O óleo apurado será cedido a agricultores ou poderá ser utilizado em veículos do governo estadual”, diz Bill Jorge Costa, diretor de tecnologia do Tecpar. A URBS, empresa da prefeitura que gerencia o transporte na região metropolitana de Curitiba, desde 1998 analisa o rendimento de misturas de álcool e diesel em diferentes proporções. Agora,
O Rio é também pioneiro em experimentos com gás natural veicular em ônibus. Atualmente duas tecnologias são testadas. A primeira, conhecida como gás dedicado, teve o veículo montado na fábrica para ser abastecido com o combustível. Na segunda, o ônibus utiliza o processo dualfuel, em que o motor a diesel é convertido para queimar GNV. As avaliações ainda não são conclusivas. Experiências com gás natural veicular em ônibus, como as do Rio de Janeiro, ou com veículos híbridos movidos a gás e eletricidade são raras ou foram abandonadas diante de resultados ainda pouco promissores. Entretanto, o uso de GNV em utilitários e táxis é
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DESPOLUINDO TAM/DIVULGAÇÃO
TAM Desde 2005, a TAM desenvolve ações e investe em projetos ligados à preservação do meio ambiente, como o plantio e manutenção de viveiros de árvores e o tratamento de águas residuais. Recentemente, a empresa anunciou a adoção de um projeto inovador no mercado de créditos de carbono, baseado na doação voluntária de passageiros na compra de tickets aéreos. A TAM patrocina também o projeto Patrulha Ecológica em Caravelas (BA), que reúne jovens em ações de conscientização para a preservação do meio ambiente e o monitoramento das praias e mangues da região (foto).
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uma realidade. No país, 1,3 milhão de veículos são movidos a gás, o que torna o Brasil o segundo maior consumidor mundial do produto em transporte, logo atrás da Argentina, que optou pela matriz energética há dez anos. Em São Paulo, por exemplo, cerca de 70% dos 37 mil táxis em circulação utilizam o GNV, e o restante mantém motores movidos a álcool. “Entre os taxistas, cresce a preocupação com a necessidade de se mudar o padrão de emissões que produzem efeito estufa: não é só uma questão de preço”, diz Ricardo Auriema, presidente da Associação dos Táxis de Frota de São Paulo.
Segundo a Gasmig, empresa mineira subsidiária da Cemig com participação da Petrobras, metade dos cerca de 6.500 táxis da região metropolitana de Belo Horizonte é abastecida com GNV. Para o Sincavir (Sindicato Intermunicipal dos Condutores Autônomos de Veículos Rodoviários, Taxistas e Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens de Minas Gerais) o número atualmente não passa de um quarto da frota. “O GNV ainda é mais vantajoso”, diz Dirceu Efigênio Reis, presidente do Sincavir. O consumo de GNV por taxistas na região metropolitana de Belo Horizonte é estimado pela Gasmig
Um litro de óleo na água equivale a um milhão de litros de água contaminada PAULO LENHARDT, INVENTOR DA PASTELEIRA, CAMINHONETE MOVIDA A ÓLEO DE FRITURA
AVIÃO A ALCÓOL
Ipanema conquista o mercado O primeiro avião a álcool brasileiro voa há quase três anos e domina o mercado em sua categoria. O Ipanema, produzido pela Indústria Aeronáutica Neiva, subsidiária da Embraer, é utilizado em pulverizações agrícolas. Já foram vendidas 1.029 unidades, do seu lançamento, em outubro de 2004, até este semestre. A Neiva também oferece um conjunto de peças para conversão de modelos a gasolina para o álcool, com boa demanda, segundo Almir Borges, diretor industrial da Embraer em Botucatu (SP). Só no ano passado foram comercializados 143 desses kits. O desempenho técnico do motor a álcool é superior ao convencional e custa menos abastecê-lo. O Ipanema a etanol apresenta um ganho de potência em torno de 5%, o que melhora o desempenho
do avião com a redução da distância de decolagem, aumento da razão de subida, velocidade e altitude máximas. Segundo a Embraer, o álcool permite ampliar em até 80% o ciclo de manutenção do motor. Embora o motor a álcool consuma 40% a mais, o custo operacional da gasolina de aviação é três vezes maior. “O ganho de produtividade chega a 10%”, diz Borges. O álcool, combustível produzido com cana de açúcar, uma fonte renovável, não agrava o efeito estufa. O Ipanema também é avião ecologicamente correto porque suas emissões são menos prejudiciais à saúde que as da gasolina de aviação. O álcool combustível não possui chumbo tetraetila, composto de efeito comprovadamente tóxico para o organismo humano.
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em 1 milhão de metros cúbicos por mês. Em todo o Estado de Minas Gerais, com 60 mil veículos abastecidos com GNV, o consumo médio é de 7,5 milhões de metros cúbicos de gás por mês. José Góis Júnior, gerente de captação de clientes da Gasmig, diz que, num prazo de 12 meses, começarão a ser instalados postos de gás ao longo de toda a rodovia Fernão Dias e a BR-040, no sentido Brasília. HIDROGÊNIO A Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) estuda o hidrogênio, a mais limpa das energias limpas que, aos poucos — prevêem os cientistas —, permitirá ao mundo mudar de vez a matriz energética e abandonar o petróleo. O professor Ennio Peres da Silva, coordenador do Nipe (Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Estratégico) e do Laboratório de Hidrogênio da universidade, afirma que o hidrogênio vive seus dias de Proálcool. Na Unicamp, são desenvolvidas duas linhas de pesquisa com o hidrogênio. Em uma delas se utiliza o chamado hidrano, mistura do hidrogênio com metano (principal componente do gás natural). Os motores alimentados com o composto apresentam várias vantagens
técnicas, melhor combustão e rendimento. A mistura poderá ser usada em veículos convencionais convertidos para GNV. Em outra linha, a tecnologia empregada é denominada célula de hidrogênio. Nesse dispositivo, o gás é convertido em energia elétrica e a eletricidade aciona o motor. O desempenho do motor é duas vezes melhor que com combustível convencional. Com quantidade de hidrogênio equivalente à de gasolina, um veículo faz o dobro de quilometragem. E não polui, nem faz barulho. Peres da Silva considera promissoras ambas as tecnologias. No curto prazo, a célula de combustível é mais viável. Os postos de abastecimento poderão fornecer hidrogênio obtido através de hidrólise da água ou pelo processo conhecido como reforma, uma reação química entre álcool e água, que gera hidrogênio e gás carbônico. Ainda este ano deverá ser retomado em São Paulo o projeto do Ônibus Brasileiro a Hidrogênio, iniciativa do governo federal e da Empresa Municipal de Transportes Urbanos, com financiamento do Global Environment Facility (GEF). Em São Bernardo do Campo (SP) será construída pela Petrobras a primeira estação de fornecimento ● de hidrogênio do país.
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ABROLHOS Parque nacional marinho que abriga a maior biodiversidade do Atl창ntico sul. No detalhe: a gaivota
AROLDO CASTRO/CI E ISTOCKPHOTO
SUSTENTABILIDADE
GESTÃO RESPONSÁVEL EMPRESAS ADOTAM MEDIDAS NO DIA-A-DIA VOLTADAS PARA A ECONOMIA DE COMBUSTÍVEL E A REDUÇÃO DE GASES POLUENTES POR
RICARDO RODRIGUES
importância estratégica da gestão ambiental para a competitividade do setor de transporte em muitas empresas brasileiras há muito deixou de ser mera figura de retórica. Individualmente ou em parceria com entidades do Sistema CNT, elas se engajam no processo de construção de um futuro melhor adotando medidas simples praticadas no dia-a-dia. A educação ambiental e o aprimoramento da gestão ambiental
A
voltada para o desenvolvimento sustentável são o foco de várias dessas iniciativas. A Cepimar (Federação das Empresas de Transportes Rodoviários dos Estados do Ceará, Piauí e Maranhão) premiou em junho as empresas cearenses Santo Antônio, Vitória, Veja Transportes Urbanos, Viação Máxima, Viação Urbana e Viação Dragão do Mar (de transporte de passageiros) e Daniel Transportes (de cargas). Os critérios para a premiação le-
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DESPOLUINDO
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Estamos em fase de implantação da ISO 14000 e temos que ter nossa frota 100% dentro dos padrões exigidos pelo Conama
varam em conta o percentual de aprovação da frota nos testes de emissão de fumaça, seu sistema de tancagem (com auditoria da armazenagem de combustível), projetos ambientais desenvolvidos pela empresa (como a coleta seletiva, reutilização de sucata, tratamento de água para reuso e coleta de água pluvial), projetos sociais e ambientais desenvolvidos na comunidade (como a arborização de praças) e a situação da empresa nos órgãos fiscalizadores do meio ambiente. Em Pernambuco, a Fetronor
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PAULO AIRTON THOMAZ, PRESIDENTE DA COOPERTRANSCARGAS
(Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Nordeste) fez parceria com a CPRH (Agência estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos) para fazer a medição da emissão de fumaça preta no Estado. A emissão de gases poluentes dos veículos da Coopertranscargas (Cooperativa de Transporte de Cargas de Santa Catarina) está sendo monitorada desde maio. A ação faz parte de programa do Setcom (Sindicato das Empresas de Transporte do Oeste e Meio-Oeste Catarinense), em parceria com a CNT.
FTC Desde o ano passado, a FTC (Ferrovia Tereza Cristina), que atua na região carbonífera de Santa Catarina, está utilizando em suas composições, em caráter experimental, um modelo de vagão produzido com plástico reciclado. Os testes com o novo vagão fazem parte de um programa ambiental que inclui ainda a realização de mutirões de limpeza ao longo da linha férrea, projetos para a redução de ruídos e consumo de combustível, além de parceria com empresas mineradoras para a eliminação de resíduos sólidos nas caixas de embarque de carvão mineral.
PIATAM FTC/DIVULGAÇÃO
Segundo dados da Petrobras, apenas com o acompanhamento periódico da frota, pode-se economizar 148 milhões de litros de óleo diesel por ano, e 406 mil toneladas de gás carbônico e 8.700 toneladas de particulados deixariam de ser lançadas na atmosfera. LOGÍSTICA VERDE Incentivadas pelas normas ISO 14000 e preocupadas com a gestão ambiental, a “logística verde”, algumas empresas começaram a reciclar materiais e embalagens descartáveis que passaram a ser tratados
Gestão ambiental na Amazônia Na maior província petrolífera terrestre do país, localizada em plena floresta Amazônica, desenvolve-se o mais importante modelo de gestão ambiental do modal aquaviário brasileiro. O Piatam é um programa de pesquisa sócio-ambiental, criado em 1999, para monitorar as atividades de produção e transporte de petróleo e gás natural ao longo do rio Solimões, entre Coari e Manaus. Na região são produzidos, diariamente, 48 mil barris de óleo, 9 milhões de metros cúbicos de gás natural e 350 toneladas de gás de cozinha. Como o transporte até a refinaria é feito por via fluvial, a área mais próxima ao Solimões seria a primeira a ser afetada por qualquer impacto ambiental. Coordenado pela Ufam (Universidade Federal do Amazonas) e pela Petrobras, o Piatam (Potenciais Impactos Ambientais do Transporte de Petróleo e Derivados na Zona Costeira
Amazônica) reúne pesquisadores das maiores instituições de ensino e pesquisa do Brasil. Com mais de R$ 7 milhões para investimento em trabalhos e estudos e com metas que se prolongam até novembro de 2008, o projeto resultará na geração de mapas tão abrangentes de sensibilidade ao derramamento de óleo em terminais de abastecimento e unidades de conservação que cobrirão até mesmo áreas costeiras bem mais distantes como as do Pará, Amapá e Maranhão. Quatro vezes por ano, durante as diferentes estações hidrológicas do rio (enchente, cheia, vazante e seca), um barco de pesquisa percorre cerca de 400 km e nove comunidades ribeirinhas durante dez dias. Armazenadas em um banco de dados integrado ao Sipam (Sistema de Proteção da Amazônia) produzem informações importantes para a gestão ambiental da Amazônia. Paralelamente, as pes-
quisas produzidas pelo Piatam vêm aprofundando o conhecimento científico sobre a região. Uma das vitrines do Piatam é o Robô Ambiental Híbrido, construído para monitorar o futuro gasoduto Coari-Manaus. Resultado da tecnologia que compõe uma das linhas de pesquisa do projeto Cognitus (Ferramentas Cognitivas para Amazônia), tem aplicativos sofisticados como o painel fotovoltaico flexível que gera a energia para sua locomoção, sensores que possibilitam análise da água e coleta de amostras de larvas de mosquitos, além de equipamentos que permitem o envio de imagens e dados em tempo real. O pesquisador Ney Robinson, coordenador do laboratório de Robótica do Cenpes-Petrobras, diz que o projeto além de produzir ferramentas para pesquisa e proteção ambiental, preocupa-se principalmente em servir às populações ribeirinhas da Amazônia. PIATAM/DIVULGAÇÃO
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como matéria-prima e não mais como lixo. Trata-se de um dos mais poderosos instrumentos para a implantação de ações sustentáveis, tanto na produção como no consumo. O uso de pneus inservíveis na fabricação de pavimento asfáltico tem pelo menos um grande defensor: o presidente da ABTC (Associação Brasileira dos Transportadores de Cargas), Newton Gibson, também vice-presidente da CNT. Para ele, a utilização desse resíduo em estradas construídas na década de 1970 pela Sudene, em Natal e Mossoró, no Piauí, com equipamentos e mão-de-obra do Exército, comprova sua durabilidade. “Há estradas construídas com pneus há 50 anos, que apenas agora estão sendo recuperadas. Só é preciso seriedade. A resistência e durabilidade são boas, roda ma-cio”, diz Gibson. Segundo o diretor de projetos do Decanato de Pesquisa e Pós-Graduação da UnB (Universidade de Brasília), Armando de Azevedo Caldeira Pires, dois mercados se destacam quanto ao potencial para o consumo significativo de pneus: a geração de energia e a incorporação em misturas asfálti-
Há estradas construídas com pneus há 50 anos. A resistência e a durabilidade são boas. Não há dificuldade para implantar NEWTON GIBSON, PRESIDENTE DA ABTC ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS TRANSPORTADORES DE CARGA
cas. “Os custos envolvidos na instalação de equipamentos favorecem o uso da borracha triturada em obras de pavimentação”, afirma. Estima-se que haja potencial para o consumo de 10 milhões de pneus por ano. Por outro lado, lembra Gibson, o Brasil ocupa o 2º lugar no ranking mundial de reciclagem de pneus, o que lhe oferece uma posição vantajosa junto aos vários países na luta
pela conservação ambiental. Na opinião de especialistas, as empresas precisam aprender a reutilizar materiais porque o Brasil tem potencial para registrar altos índices de reaproveitamento de resíduos. Para Carmo Ramos, da Fetracan, o setor de transporte precisa aderir à logística verde, um fator tão importante que pode diferenciar o futuro de qualquer empresa. “Ou você se preocupa com a questão
do meio ambiente, ou deixará de ser lembrado pelo mercado.” A preocupação com o meio ambiente, a poluição e o uso responsável dos recursos hídricos permitiu à Gol Linhas Aéreas obter, em 2006, o licenciamento ambiental para realizar de maneira responsável suas atividades de manutenção de aeronaves no Centro de Manutenção, ao lado do Aeroporto Internacional de Confins, em
DESPOLUINDO TOTAL LINHAS AEREAS/DIVULGAÇÃO
TOTAL LINHAS AÉREAS Na Total a coleta seletiva de lixo, o tratamento de água e a reciclagem já são consideradas atividades operacionais auxiliares para a redução de resíduos na manutenção de aeronaves. Além disso, a empresa desenvolve ações de educação ambiental para seus funcionários.
Minas Gerais. A licença foi emitida pela Feam (Fundação Estadual do Meio Ambiente), com anuência do Ibama. Com 17,3 mil metros quadrados de área construída, o Centro de Manutenção é o mais avançado no país em tecnologia e proteção ao ambiente. Seu sistema de tratamento de efluentes químicos reaproveita 100% da água contaminada nos processos de lavagem de aviões e peças, bem como em serviços de manu-
tenção geral. Com esse procedimento, desde julho de 2006, a Gol já economizou cerca de 700 mil litros de água. Os hangares, que têm capacidade para fazer simultaneamente manutenção em quatro aeronaves, liberam apenas efluentes biológicos, gerados por sanitários e pias, e efluentes pluviais, provenientes das chuvas. Dessa maneira, o solo e o lençol freático não correm riscos de ● contaminação.
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CERRADO Segundo maior bioma brasileiro, ocupa uma grande área do Brasil Central. No detalhe: a iguana
NOVAS TECNOLOGIAS
CIENTISTAS ACELERAM
PESQUISAS O PAÍS NÃO PODE MAIS ADIAR O ESTABELECIMENTO DE UMA AGENDA PARA O TRANSPORTE SUSTENTÁVEL POR
RICARDO RODRIGUES
binômio transporte e meio ambiente tem ocupado lugar relevante em universidades e centros de desenvolvimento tecnológico de norte a sul do país. É cada vez mais intensa a demanda por pesquisas e projetos sobre o tema, que podem contribuir para a tomada de decisões no presente e que também ajudem a fornecer respostas a indagações que ainda se escondem nas incertezas do futuro. Debruçados em estudos sobre poluição veicular, biocombustíveis ou reaproveitamento de resíduos, pesquisadores não parecem ter dúvidas de que o mundo deve se preparar para enfrentar o pesadelo das mudanças climáticas.
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Os cientistas estão alertas para o fato de que o país não pode mais adiar o estabelecimento de uma agenda própria de transporte sustentável, capaz de adotar medidas de eficiência energética, substituir combustíveis e alterar os atuais padrões de consumo. Por enquanto, os números ainda apontam para o aumento no consumo de combustíveis fósseis, responsáveis pelas mudanças climáticas e pelo aquecimento da Terra. Estima-se que, apenas em São Paulo, a poluição tem sido responsável pelo crescimento de 13% na mortalidade de crianças e idosos, além de perdas da ordem de 4% do PIB com congestionamentos, acidentes e poluição causados pelos veículos.
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DESPOLUINDO
“Infelizmente, parte das empresas ainda não tem a consciência necessária e negligenciam a questão ambiental”, afirma o professor Nicolau Fares Gualda, do departamento de engenharia de transporte da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo) que tem uma frota de ônibus interna movida a gás, e investiga novos métodos de projeção da demanda de modo a compreender melhor a mobilidade e os desafios impostos ao transporte de carga e de passageiros. Segundo ele, a logística tem auxiliado o estudo de locali-
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zação de terminais intermodais, rotas alternativas e mais econômicas, e programação para a circulação de veículos. A professora Liedi Bariani Bernucci, do curso de engenharia civil da Poli/USP, cita, como exemplo, as pesquisas de reuso e reciclagem de entulho de construção ou de escória da indústria siderúrgica para construção de pavimentos. O departamento, com 19 professores, tem desde 2005, várias disciplinas voltadas à gestão ambiental. Os pesquisadores da Poli/USP usam recursos de sensoriamento
RYDER A Ryder, empresa de logística integrada, implantou este ano, em Indaiatuba (SP), um sistema ambientalmente responsável para lavagem da frota . Além do emprego de produtos biodegradáveis, o sistema utiliza água que passa por tratamento antes de ser escoada. Luiz Fernando Quintana, gerente da área de saúde, segurança e meio ambiente da Ryder, acredita que, a partir da adoção do novo sistema, são devolvidos por mês aos lençóis freáticos da região aproximadamente 120 mil litros de água reciclada e limpa.
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O setor é um dos mais complexos. É impossível impedir que os chineses, por exemplo, produzam e comprem cada vez mais automóveis SUZANA KAHN PROFESSORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
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RYDER LOGÍSTICA/DIVULGAÇÃO
CLIMA
remoto para estudar o uso e ocupação do solo e monitorar a as interferências decorrentes de construção de ruas e rodovias. “Nossos estudos de segurança viária e engenharia de tráfego buscam soluções para a melhoria das características das vias de modo a reduzir acidentes”, diz a pesquisadora. PIONEIRISMO BAIANO A interação entre transporte e meio ambiente vem sendo também pesquisada desde 2002 no
Centro de Estudos de Transportes e Meio Ambiente (Cetrama), fundado na Universidade Federal da Bahia pelo engenheiro e professor Wellington Correia de Figueiredo, PhD em transportes pela Universidade da Flórida. O Cetrama é ligado à Escola Politécnica e ao mestrado de engenharia ambiental urbana da UFBA. Seu laboratório ambiental, construído com participação da construtora Norberto Odebrecht, tornou-se ponto de excelência no campus da UFBA. Os projetos do laboratório utilizam tecnologia moderna para a avaliação dos impactos ambientais dos sistemas de transporte, tais como simuladores, GIS (sistemas de informações geográficas) e tecnologias de geoprocessamento. “É objetivo do Cetrama a produção de pesquisas, o desenvolvimento, geração e disseminação do conhecimento em planejamento e operação de sistemas de transportes, sob uma ótica que contemple a sustentabilidade ambiental”, diz Figueiredo, atual coordenador do Centro. Uma das principais linhas de pesquisa investiga o gerenciamento da mobilidade urbana, uma técnica de planejamento que privilegia a demanda de transportes, em oposição às linhas tradicionais de pesquisa voltadas principalmente
Indecisão vai custar caro O adiamento de medidas para reduzir as emissões de gás de efeito estufa comprometerá as metas para estabilização da temperatura global da Terra. Quanto mais tarde, mais caro será. Medidas de mitigação e adaptação são decisões necessárias para evitar riscos futuros e incertos, recomendam os pesquisadores Emílio La Rovere, Roberto Schaeffer e Suzana Kahn, da Coppe/UFRJ (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro). Os três cientistas brasileiros são co-autores do 4º Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima (IPCC) da ONU. “O setor de transportes é um dos mais complexos para reduções significativas nas emissões de gases do efeito estufa, dada a multiplicidade de agentes envolvidos e o ônus político para implantar as mudanças. Impossível impedir que os chineses, por exemplo, produzam e comprem cada vez mais automóveis”, afirma
Suzana Kahn. Mais incentivos ao transporte público, medidas restritivas ao uso do automóvel particular através de pedágios urbanos e do aumento das taxações, estímulo ao uso de veículos híbridos (gasolina/eletricidade) e biocombustíveis e o aumento da eficiência dos motores são algumas das recomendações do estudo. Uma das inovações do relatório é a inversão da análise sobre a relação entre desenvolvimento e mudanças climáticas. Enquanto no passado recente investir em proteção ambiental era visto como barreira ao desenvolvimento, hoje prevalece a opinião de que não enfrentar de frente o problema acaba saindo bem mais caro. Para o secretário-executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas e também professor da UFRJ, Luiz Pinguelli Rosa, o governo brasileiro deveria adotar um plano imediato de ação de mitigação e adaptação nas regiões do país já afetadas pelas mudanças climáticas.
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Infelizmente, uma parte das empresas ainda não tem a consciência necessária e negligencia a questão ambiental NICOLAU GUALDA PROFESSOR DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
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NA SALA DE AULA CURSOS, PROJETOS E INFRA-ESTRUTURA DE PESQUISA EM TRANSPORTE E MEIO AMBIENTE ➔ REGIÃO NORTE
PARAÍBA Universidade Federal da Paraíba Oferece cursos de mestrado e PARÁ doutorado em engenharia mecânica, Grupo de Pesquisa em Transporte além de alguns grupos de pesquisa e Meio Ambiente (Trama) Cidade Universitária Prof. Augusto Brasil João Pessoa - PB - CEP - 58051-900 UFPA - Centro Tecnológico Departamento de Hidráulica e Saneamento Fone: (83) 3216-7200 Fones: (91) 3183 1959 e (91) 3201 7253 RIO GRANDE DO NORTE e-mail: ambrasil@ufpa.br Universidade Federal do Rio Grande do Norte AMAZONAS Programa de Pós-Graduação em Universidade Federal do Amazonas Ciência e Engenharia do Petróleo Coordena, ao lado da Petrobras, o Campus Universitário projeto Piatam (Potenciais Impactos Ambientais do Transporte de Petróleo e CEP: 59078 970 - Natal (RN)l Derivados na Zona Costeira Amazônica) Fone: (84) 3215-3696 / 3215-3717 e-mail: wilson@ppgcep.ufrn.br Prof. Alexandre Rivas e-mail: alex@ufam.edu.br
➔ REGIÃO CENTRO-OESTE ➔ REGIÃO NORDESTE PERNAMBUCO Grupos de Pesquisa na Universidade Federal de Pernambuco Rede de Estudos de Engenharia e Socioeconômicos de Transportes BAHIA Centro de Transporte e Meio Ambiente (Cetrama) Site: www.eng.ufba.br/cetrama Wellington Figueiredo e-mail: wcf@ufba.br Fone: (71) 3283-9834 CEARÁ Universidade Federal do Ceará Programa de Pós-graduação em Engenharia de Transportes. Centro de Tecnologia - Campus do Pici Bloco 703 - CEP 60455-760 Fortaleza - CE Fone: (85) 3366-9488 ramal 218 e-mail: petran@det.ufc.br
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DISTRITO FEDERAL Universidade de Brasília Cursos de mestrado e doutorado em Transportes Prof. Paulo César Marques da Silva Fone: (61) 3307 2714 e-mail: pcmsilva@unb.br MATO GROSSO DO SUL Universidade Federal do Mato Grosso do Sul Cursos de mestrado em Tecnologias Ambientais e de especialização em Engenharia Ambiental. Cidade Universitária Caixa Postal 549 - CEP 79070-900 Fone: (67) 3345-7000 GOIÁS Universidade Federal de Goiás Cursos de mestrado em Engenharia do Meio Ambiente e doutorado em Ciências Ambientais Fone: (62) 521-1001 /1002
➔ REGIÃO SUDESTE SÃO PAULO Universidade de São Paulo (USP) • Departamento de Engenharia de Transportes Prof. Nicolau Fares Gualda e-mail: ngualda@usp.br Fone: (11) 3091.5731 / 5732 / 5488 • Departamento de Engenharia Mecânica da Escola Politécnica Mestrado Profissional em Engenharia Automotiva Prof. Ronaldo Salvagni Centro de Engenharia Automotiva Fone:(11) 3817-5488 Instituto Tecnológico de Aeronáutica Especialização, mestrado e doutorado Praça Marechal Eduardo Gomes, 50 Vila das Acácias - CEP 12228-900 São José dos Campos - SP - Brasil Fone: (12) 3947 5970 / 5920 Universidade Estadual de Campinas Especialização, mestrado e doutorado Avenida Albert Einstein, 951 Caixa Postal 6021 - CEP 13084-971 Cidade Universitária - Campinas - SP Fone: (19) 3521-2314 MINAS GERAIS Universidade Federal de Minas Gerais Centro Tecnológico de Controle de Emissões Veiculares Prof. Ramon Molina Valle e-mail: ramon@demec.ufmg.br Fone: (31) 3499-5140 Pontifícia Universidade Católica Prof. José Ricardo Sodré e-mail: ricardo@pucminas.br Av. Dom José Gaspar, 500 30535-610 - Belo Horizonte - MG Telefax: (31) 3319-4910 e-mail: mengmec@pucminas.br
RIO DE JANEIRO Universidade Federal do Rio de Janeiro • Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe/UFRJ) Mestrado e Doutorado e Master in Transport Business • Núcleo de Planejamento Estratégico em Transportes (Planet) Fone: (21) 560-4697 / 560-8832 R.433 e-mail: planet@pet.coppe.ufrj.br Pontifícia Universidade Católica Cursos de mestrado e doutorado em engenharia mecânica Prof. Hans Ingo Weber Rua Marquês de São Vicente, 225 1º andar - Gávea 22453-900 - Rio de Janeiro - RJ Fone: (21) 3527-1162 / 1164 Instituto Militar de Engenharia (IME) Praça General Tibúrcio 80 Praia Vermelha - CEP 22290-270 Rio de Janeiro - RJ Fone: (21) 2546-7080
➔ REGIÃO SUL RIO GRANDE DO SUL Universidade Federal do Rio Grande do Sul Programa de Pós-graduação em Engenharia Mecânica Rua Sarmento Leite, 425 - 3º andar CEP 90.050-170 - Porto Alegre-RS Fone: (51) 3316.3255 SANTA CATARINA Universidade Federal de Santa Catarina Programa de Pós-graduação em Engenharia Mecânica Fone: (48) 3721 9339/ 9340/ 9343
PERFIL PROFISSIONAL O mestrado profissional em engenharia automotiva da USP já formou mais de uma centena de especialistas. Os candidatos são geralmente engenheiros com boa experiência profissional, que buscam aprofundar, como projetos das disciplinas, os conhecimentos adquiridos a partir de problemas reais enfrentados nas empresas em que trabalham.
O supervisor técnico da Ford, Eude Cezar de Oliveira, aluno do mestrado, desenvolveu estudos sobre o uso de veículos elétricos híbridos e comprovou ser possível reduzir emissões de poluentes e economizar até 15% em combustível. Seu projeto obteve menção honrosa como melhor trabalho sobre o tema no congresso brasileiro da SAE (Sociedade de Engenheiros da Mobilidade) em 2006. Em abril, Eude participou também do SAE 2007 World Congress, em Detroit, nos EUA. A procura por engenheiros com formação ambiental já é grande, atesta o professor Ronaldo Salvagni, coordenador do Centro de Engenharia Automotiva da Poli/USP. Segundo ele, a General Motors do Brasil pretende abrir 250 vagas este ano. “Profissionais que acumulam diferenciais são os mais cobiçados”, diz. Pesquisadores brasileiros que participaram do Grupo de Trabalho III do Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima da ONU, compartilham da opinião de que os governos já dispõem hoje de tecnologias e informações para adotar, no curto e médio prazos, ações eficazes para reduzir as conseqüências do impacto ambiental. São medidas que vão da adoção de práticas de eficiência energética a mudanças no
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EMILIO LA ROVERE PROFESSOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
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para a ampliação da oferta (construção de rodovias, anéis viários, viadutos e túneis) que acarretam investimentos maiores. Também são desenvolvidos estudos sobre o impacto diretos dos sistemas de transporte no ambiente urbano, como a poluição sonora, a poluição do ar e a poluição hidrológica. Na Universidade Federal do Pará, o Trama, grupo de pesquisa em transporte e meio ambiente é resultado de uma parceria pioneira entre a UFPA, o Instituto Superior Técnico e a North Carolina State University, dos EUA. As principais linhas de investigação estão voltadas para o consumo de combustíveis e a emissões de poluentes, em busca de respostas concretas para a implantação de um sistema de transporte urbano sustentável.
No passado, investir em proteção ambiental era visto como barreira ao desenvolvimento. Hoje, se não enfrentarmos de frente o problema vai acabar saindo mais caro
comportamento em relação ao consumo. Além da adoção de políticas públicas adequadas, é possível agir em outras esferas para reduzir as emissões de gases. No caso do setor de transporte, que responde mundialmente por 23% das emissões de CO2 e é o que mais cresce (2% ao ano), o maior problema para a redução é o alto custo político das medidas a serem tomadas. Todas as soluções logísticas e tecnológicas para mitigar o problema, no curto prazo, já existem e não precisam ser reinventa-
das, sustenta um relatório coordenado pela professora do Programa de Engenharia de Transportes da Coppe/UFRJ, Suzana Kahn Ribeiro, e pelo cientista japonês Shigeki Kobayashi, ligado ao setor automobilístico. O documento alerta para a necessidade dos governos adotarem medidas mais rígidas, apesar de impopulares, em relação aos veículos automotores. Exemplos recentes em alguns países europeus demonstram como medidas simples podem ser eficientes. A taxação imposta pelas autoridades suecas para restringir o acesso de veículos ao centro da capital, Estocolmo, reduziu em 13% as emissões de dióxido de carbono entre 2005 e 2006. Em Londres, a adoção do pedágio urbano em algumas regiões da cidade fez com que, em 2005, um quinto do CO2 normalmente emitido deixasse de ser lançado na atmosfera. De acordo com o relatório do IPCC, ações voltadas para tornar mais eficiente o uso da energia podem reduzir em cerca de 30% a emissão de gases responsáveis pelo efeito estufa proveniente do uso de todas as formas de energia. No caso do transporte, por exemplo, medidas de eficiência energética podem reduzir de 5% a ● 20% os níveis de emissão. CNT TRANSPORTE ATUAL 53
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É na educação que vamos atuar. Ninguém emite mais fumaça porque quer DIUMAR BUENO, PRESIDENTE DA FENACAM
NOVA ETAPA
PRESERVAÇÃO
GANHA AS RUAS ANTES RESTRITA ÀS SALAS DE AULAS, PREOCUPAÇÃO COM O PLANETA SE DISSEMINA ENTRE PROFISSIONAIS DO TRANSPORTE POR
ALINE RESKALLA
agravamento da degradação ambiental está transportando a discussão sobre a conservação do planeta do mundo acadêmico para as ruas e estradas do país, onde os caminhoneiros têm papel importante no controle da emissão de poluentes e na vigilância diária contra os crimes ambientais. O presidente da Fenacam (Federação Interestadual dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens), Diumar Bueno, diz que a entidade está começando a tornar mais sistemática sua atuação na luta para a conservação do meio ambiente. Bueno acredita que o caminhoneiro pode dar con-
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tribuição decisiva à campanha para a conservação do ambiente porque está na linha de frente: é comum que caminhoneiros estejam entre os primeiros a testemunhar acidentes ecológicos como queimadas, tombamento de cargas químicas ou o tráfico de animais silvestres. “Desde que haja estrutura e o poder público esteja preparado, é possível agilizar o atendimento a essas emergências acionando as autoridades de forma rápida”, afirma. Bueno sabe, porém, que o alcance das dessas ações precisa ser ampliado, porque o caminhoneiro tem também outros aspectos importantes a observar, como manter o veículo regu-
ADRIANO JEROZOLIMSKI/CI/BRASIL E RUSSELL MITTERMEIER/CI
AMAZÔNIA Pôr do sol no Rio Jutaí, Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Cujubim. No detalhe: a arara azul
lado para não emitir fumaça em excesso, não abandonar pneus velhos ou lixo nas estradas. “É na educação que vamos atuar. Ninguém emite fumaça porque quer. Se o caminhão está desregulado, o próprio motorista vai gastar mais diesel. Muitas vezes são pequenos os ajustes que precisam ser feitos, e nós, como entidade, podemos ajudar com ainda mais informação.” No Paraná, o projeto pioneiro “Rios por onde passo” do Mater Natura - Instituto de Estudos Ambientais, ONG com sede em Curitiba, está promovendo uma exposição itinerante com registros do olhar dos caminhoneiros sobre a paisagem natural. Mais de 100 mil profissionais que circulam pelo Estado estão sendo estimulados a enviar fotos, desenhos, pinturas, casos escritos ou gravados e poesias sobre o que vêem nas viagens. “Ao mesmo tempo em que valorizamos e divulgamos o conhecimento do caminhoneiro sobre o território que percorre, alertamos para a importância de conservação do meio ambiente”, diz o biólogo Lélis Ribeiro, um dos técnicos do projeto. Ribeiro diz
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DESPOLUINDO ESTRADAS
Concessionárias recolhem lixo A quantidade de lixo jogada nas estradas é um sintoma de que a consciência ecológica de motoristas e passageiros ainda engatinha no país. O taxista José Geraldo de Castro, 55 anos, paulista de Jundiaí, fica indignado com a falta de educação. “Pessoas que compram salgadinhos e bebidas não hesitam em jogar embalagens pela janela, ignorando os riscos dessa atitude.” O motorista relata que já enfrentou até situações perigosas. Durante uma viagem pela rodovia Nova Dutra, o passageiro de um ônibus jogou uma lata de refrigerante pela janela contra o vidro do seu carro. “O susto desconcentra e pode levar a um acidente. Isso sem falar na sujeira da estrada”, diz Castro. Concessionárias como a Renovias, obrigadas a recolher diariamente milhares de toneladas de lixo das estradas, tentam reduzir as conseqüências do problema através de campanhas educativas. No início de junho, a empresa distribuiu 100 mil folhetos alertando os motoristas para os riscos decorrentes do lixo jogado nas estradas, como a degradação da natureza e da saúde
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das pessoas ou o impacto na segurança do trânsito, diz o gerente de Operações de Tráfego, engenheiro Rogério Cezar Bahú. O entupimento de bueiros, o assoreamento e a poluição dos rios, a transmissão de doenças e os incêndios provocados por pontas de cigarro acesas são alguns dos problemas concretos enfrentados pela Renovias, segundo Bahú. A multa para este tipo de delito, pelo Código de Trânsito Brasileiro, é de R$ 85, além da perda de quatro pontos na carteira de habilitação. A Ecovias informa que recolhe, por mês, cerca de 110 toneladas de lixo, o equivalente a uma montanha de 25 metros de altura, nas rodovias do sistema Anchieta-Imigrantes, um dos mais movimentados de São Paulo. A Viaoeste, que controla seis concessionárias no Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná, recolhe diariamente dois caminhões basculantes de lixo apenas nas rodovias do sistema Castelo-Raposo, ou 6 toneladas de detritos que, segundo a empresa, entopem sistematicamente os dispositivos de drenagem da água das chuvas na estrada.
METRÔ DE SP O Metrô de São Paulo implantou em abril sua Assessoria de Gestão Ambiental e Sustentabilidade para desenvolver e acompanhar as ações sócioambientais da empresa. Já começou a funcionar, na Estação Sé, o Telemedidor, sistema eletrônico que permite a identificação imediata de vazamentos na tubulação de água, para evitar desperdício. Por meio de ciclos de palestras, o Metrô tem oferecido aos usuários explicações, experiências e relatos de casos práticos sobre a importância do transporte público eficiente e não poluente para o desenvolvimento sustentável das cidades.
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ARQUIVO METRÔ/DIVULGAÇÃO
Em toda a parte por onde passo, vejo covardia contra o meio ambiente ELEOMAR JOSÉ DE QUADROS CAMINHONEIRO
BONS EXEMPLOS
Empresas aproveitam água de chuva
que a mostra será montada com base em pesquisa qualitativa realizada entre os caminhoneiros, para identificar seu conhecimento sobre as características dos ambientes, com foco nos rios. O trabalho será complementado com o registro fotográfico dos principais rios e seus entornos, além de informações técnicocientíficas sobre aspectos relevantes da flora e da fauna. O material iconográfico da exposição itinerante será também editado em livro para os visitantes. Para o caminhoneiro Eleomar José de Quadros, 38 anos, o projeto é muito bem-vindo, es-
Além de pioneiras no uso do biodiesel, as concessionárias de transporte coletivo de Campinas, em São Paulo, se tornaram referência também nas medidas de proteção ambiental adotadas em operações do dia-a-dia. A Transportes Itajaí implantou um sistema que aproveita a água da chuva para a lavar os veículos. Além de proteger o meio ambiente, a Itajaí poupa recursos que podem ser investidos em outros setores. “O único custo que temos aqui com água é para a higiene pessoal dos colaboradores”, diz Maria Zélia, responsável pelo Controle de Manutenção da empresa. Os pneus são reciclados para a fabricação de tapetes para automóveis e solados de sapatos. O óleo retirado das caixas separadoras é vendido às empresas refinadoras e as baterias usadas retornam para os fabricantes. Nas duas garagens da VB, que têm a certificação ambiental ISO 14001, as lâmpadas fluorescentes utilizadas nos escri-
tórios são descartadas para evitar a ação poluidora do mercúrio, uma das substâncias mais nocivas ao meio ambiente. “A empresa toma cuidado com o descarte de todos os tipos de resíduos”, diz Valdete Aparecida de Almeida Barbosa, coordenadora de Treinamento. Já na garagem da Pádova, que acaba de passar por reforma para se adequar aos padrões de proteção ambiental, o tanque de gasolina foi suspenso para evitar a poluição do solo nos casos de vazamento e foram construídas canaletas que escoam a água da lavagem dos veículos para caixas de decantação. A Expresso Campibus, assim como a VB, fazem nas garagens a coleta seletiva do lixo, que é encaminhado para uma cooperativa de reciclagem. Segundo a Transurc (Associação das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Campinas) além das medidas de reutilização de materiais, os motoristas das concessionárias da cidade passam por treinamento para dirigir de maneira econômica e racional.
pecialmente diante da “falta de consciência ecológica das pessoas”, o que o deixa “assustado e triste”. “Em toda a parte por onde passo, vejo covardia contra o meio ambiente. É lixo nas estradas, matas destruídas por queimadas ou mesmo para extração de madeira. Os pinhais, araucárias e angicos, antes tradicionais na região, estão cada vez mais raros. Se continuar assim, daqui a dez anos não vai ter mais nada”, diz Quadros. Ele faz transporte de cereais do Sudeste até Paranaguá e se diz revoltado com a sujeira do porto. “Quando chove, vai tudo para o mar. Onde isso vai parar?” O caminhoneiro, que afirma manter o Scania 124/2006 sempre regulado, acha também que se cada um fizer sua parte os resultados serão significativos para o meio ambiente. “É simples. Basta denunciar situações irregulares como queimadas, desmatamento ou tráfico de animais, e não jogar lixo na estrada.” ●
PROJETO RIOS POR ONDE PASSO Rua Lamenha Lins, 1080 - Rebouças CEP 80250-020 - Curitiba - PR Fone/Fax: (41) 3013-7185 E-mail: caminhoneiro@maternatura.org.br
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MATA ATLÂNTICA Parque Nacional da Serra dos Órgãos No detalhe: a bromélia
FOTOS HAROLDO CASTRO/CI
BOM EXEMPLO
VIGÍLIA EDUCATIVA ESTUDANTES E MOTORISTAS INCENTIVAM PRÁTICAS DE CONSERVAÇÃO AMBIENTAL POR
ALINE RESKALLA
otoristas, atenção. Perigo à frente. Não, não se trata de um buraco na pista, uma curva perigosa ou de um acidente, mas de uma corrida contra o tempo para salvar o planeta do aquecimento global. Se a educação ambiental ainda é incipiente no país, pelo menos já começam a pipocar pelo Brasil afora alertas e campanhas que, mesmo isolados, procuram despertar nos condutores de veículos a consciência de que precisam fazer algo. No início de junho, por exemplo, mo-
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toristas que passaram por Ipatinga (MG), mais precisamente na Avenida Burle Max, foram parados por uma blitz ambiental, promovida pelo município em parceria com a Polícia Militar do Meio Ambiente. Muitos receberam mudas de árvores e água mineral, além de material educativo com orientação sobre a importância de se ter cuidados com a água, o lixo e as matas. As orientações para os condutores foram repassadas por 35 alunos de uma escola municipal. O estudante Jhonathan Rosa de Souza, 13 anos, participou da blitz e disse ter
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DESPOLUINDO MARCELLO LOBO
gostado da experiência. Segundo ele, foi uma oportunidade para reforçar e praticar o que aprendeu sobre o assunto. “Nós já temos uma consciência da necessidade de preservação, que aprendemos na escola. Agora, temos a chance de repassá-las”. O motorista Saulo Teixeira, de Água Limpa (GO), estava em Ipatinga a passeio e gostou de ser abordado. “É assim que a gente aprende”, disse. Teixeira garante que planta árvores em uma propriedade que possui, e que, como motorista, tem o dever de zelar pelo meio ambiente por onde passa. Para o sargento José Carlos, da Polícia Ambiental, as blitze são um instrumento educativo que trazem resultados importantes. Segundo ele, se realizadas com certa freqüência, as abordagens acabam fixando na memória das pessoas a importância do assunto. “E a participação dos jovens é um investimento em multiplicadores”, disse. No Rio de Janeiro, campanhas semelhantes têm alertado os motoristas sobre a necessidade de não se jogar lixo nas vias públicas. Condutores que passaram pela Linha Amarela, no mês passado, receberam 43 mil sacos plásticos “oxi-biodegradáveis”, próprios para lixo de automóveis, distribuídos pela Cavo Serviços e Meio Ambiente, empresa especializada em gestão ambiental
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de resíduos, águas e efluentes. Os sacos oxi-biodegradáveis são utilizados na prestação do serviço de varrição e conservação de Curitiba (PR) e começam a ser usados também no Rio. O diferencial desse material está no tempo que leva para ser decomposto. Enquanto os sacos tradicionais precisam de 450 anos, os oxi-biodegradáveis se decompõem em 18 meses, 1% do tempo gasto pelo plástico comum. Outra ação voltada para motoristas ocorreu no Posto-Escola Lagoa, na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio. Condutores que passaram pelo posto, localizado no Parque da Catacumba, puderam utilizar gratuitamente os serviços de aferição da emissão de poluentes, limpeza dos
CPTM Há seis anos, a CPTM (Companhia Paulista de Trens Urbanos), que opera cerca de 250 km de linhas em 22 municípios da Grande São Paulo, implantou vários programas de conservação ambiental. Mutirões de recolhimento de lixo e material reciclável, sistemas de captação e reutilização das águas das chuvas e programas de treinamento para conscientização ambiental de funcionários já fazem parte do cotidiano operacional da empresa. Estão em fase de implantação uma Estação de Tratamento de Efluentes Líquidos e um projeto para destinação segura de materiais contaminados nas atividades de manutenção dos trens.
TÁXI ECOLÓGICO
Motorista planta árvores causa do seu simbolismo na história do país”, disse. As primeiras 20 árvores foram plantadas em uma praça da capital paulista, em maio. A contribuição de João Batista para a qualidade de vida dos paulistanos não se restringe ao plantio de árvores - recurso que permite a fixação do gás carbônico na atmosfera, evitando o efeito estufa na camada de ozônio. Em tempos de congestionamentos recordes, pegar o táxi ecológico de João Batista significa também fazer uma pausa na correria e no estresse. Afinal, ele oferece água de côco e revistas para seus clientes durante a viagem. E quer mais. “Pretendo instalar um notebook com impressora no carro para que as pessoas possam trabalhar”, garante. Por essas e outras mordomias que o cliente precisa agendar a corrida com até 24 horas de antecedência. Mas não pense que o biólogo e ex-corretor de imóveis pretende se aposentar como taxista. Seu sonho é estudar Direito, e atuar, claro, nas causas ambientais. O alagoano saiu de casa aos 15 anos para estudar, formouse em biologia em 1998, mas como não conseguiu um bom emprego, comprou o táxi do irmão, que ficava encostado na garagem. Foi quando essa história de sucesso começou.
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Para arborizar uma praça em São Paulo, escolhi o pau-brasil por causa do seu simbolismo na história do país JOÃO BATISTA SANTOS, TAXISTA
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Com uma boa idéia na cabeça e um carro nas mãos, o taxista João Batista Santos, 44 anos, conquistou a fama e 2.700 clientes fiéis em São Paulo. Não, ele não fez um filme. Na verdade, João Batista protagoniza uma história real, que mostra a importância de cada um no combate ao aquecimento global. Com a ajuda de especialistas voluntários, ele desenvolveu uma tabela de emissões de gás carbônico (CO2) por tempo de viagem, mostrando ao cliente o impacto da corrida no meio ambiente. Com o número na manga, o taxista ecológico sugere ao passageiro uma determinada contribuição em dinheiro para a compra de mudas de árvores que o próprio João Batista planta. Quinze minutos de percurso representam R$ 0,25 em árvores, ou dois quilos de CO2. No final do expediente, o taxista fotografa a muda adquirida e envia a foto para o “contribuinte” voluntário. “Às vezes um cliente me dá R$ 10, às vezes não dá nada”, diz ele, que já plantou dez mudas de pau-brasil e dez de palmito juçara, ambas raríssimas pelo avançado processo de extinção. Para se ter uma idéia, cada muda de pau-brasil, conta o taxista, chega a custar até R$ 40, por ser difícil de encontrar. “Escolhi o pau-brasil por
bicos injetores e do reservatório de combustível. Com o motor desregulado, os carros emitem até 25% a mais de poluentes atmosféricos. A cidade do Rio de Janeiro conta com cerca de 1,6 milhão de carros, a maioria desregulada e emitindo 130 mil toneladas de gases poluentes. Destas, 32 mil toneladas/ano podem ser retiradas da atmosfera com a regulagem dos motores. Em Bebedouro (SP), mais blitz educativa para conscientizar os motoristas sobre a importância da limpeza de vias públicas e rodovias. Sessenta patrulheiros de 8 a 17 anos distribuíram, em junho, panfletos educativos e sacolas de lixo para câmbios de carros. Um furgão da Polícia Ambiental transmitiu filmes so-
bre a conservação ambiental. Para o coordenador da Patrulha Ecológica, João Antonio dos Reis Granda, o primeiro passo é não jogar lixo nas ruas e rodovias. O presidente da Associação das Empresas de Táxi de São Paulo, Ricardo Auriemma, diz que a entidade iniciou um projeto de orientação aos motoristas e às empresas filiadas com objetivo de reduzir a emissão de gases poluentes. Isso significa, segundo ele, usar combustíveis confiáveis e sem solventes, manter o carro sempre regulado e não jogar lixo pelas janelas. Mas a maior contribuição do setor ao meio ambiente, diz Auriemma, tem sido o crescimento do uso de veículos flex. “Oitenta e cinco por cento da frota ligada à associação, que é de 3.500 táxis, é movida a álcool, considerado um combustível limpo. Ao mesmo tempo em que gastamos menos, deixamos de poluir o ar”, frisa. O economista José Cícero Ramos da Silva, diretor da ONG Patrulha Ecológica, diz que evita ao máximo usar o carro. Recorre a carona de amigos e ao transporte público, sempre que pode. Quando está no volante, não joga lixo pela janela. E vive atento ao que vê. “Qualquer irregularidade, é preciso denunciar”. Para ele, pequenas ações podem fazer grande diferen● ça no final das contas.
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SEST/SENAT
CONSCIENTIZAÇÃO
AMBIENTAL CAMPANHA EDUCATIVA E CURSOS FAZEM PARTE DE PROJETO QUE SERÁ DESENVOLVIDO COM PROFISSIONAIS E USUÁRIOS DO TRANSPORTE POR
m papel relevante no Programa Despoluir está reservado ao Sest/ Senat. Uma campanha educativa para os profissionais e usuários do transporte pretende transformar empresários, trabalhadores em transporte, caminhoneiros autônomos e taxistas em agentes de promoção de cidadania e conscientização ambiental e ecológica.
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MAÍRA LIMA
Estão sendo desenvolvidos no Sest/Senat três projetos específicos de capacitação. O primeiro, destinado aos caminhoneiros, visa estimular a prática da vigilância ambiental para evitar queimadas, o tráfico de animais silvestres e de madeira ao longo das estradas, além de disseminar idéias sobre a importância da conservação do meio ambiente. Para isso, os caminhoneiros dispõem
do 0800 Ambiental da CNT (0800-7282891), um serviço pronto para receber comunicações sobre danos ao meio ambiente. O 0800 Ambiental já começou a funcionar e está disponível 24 horas por dia, durante os sete dias da semana. Todas as informações recebidas no telefone serão imediatamente retransmitidas para os órgãos regionais competentes.
SEST/SENAT/DIVULGAÇÃO
O segundo projeto é o “Taxista Amigo do Meio Ambiente”. Assim como para os caminhoneiros, serão oferecidos aos motoristas de táxi cursos sobre conservação ambiental, com a finalidade de torná-los agentes multiplicadores das idéias centrais do programa. O terceiro projeto será destinado aos trabalhadores da área de transporte. Com o objetivo similar ao oferecido a caminhoneiros e taxistas, o projeto pretende promover por meio dos trabalhadores a conscientização sobre o uso responsável dos recursos naturais entre os usuários do transporte. Todas as atividades terão apoio em cartilhas, folhetos e outras peças informativas que divulgarão as práticas de cons-cientização ambiental, tanto para uso nos treinamentos quanto para distribuição aos usuários dos ● meios de transporte.
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MAIS TRANSPORTE URUBUPUNGÁ/DIVULGAÇÃO
AL GORE Ex-vice-presidente dos EUA, Al Gore disse que o governo Bush falhou em não agir rápido para deter o efeito estufa. No prefácio do livro Earth in the balance, ele afirma que apesar de o tempo ser curto, a batalha não está perdida. O texto é anterior ao anúncio feito por Bush de convocar reunião entre os maiores produtores mundiais para discutir cortes a longo prazo das emissões de carbono, uma forma de minar o Protocolo de Kyoto.
BORRACHA O governo brasileiro avaliou como favorável a decisão do relatório final do painel da OMC (Organização Mundial do Comércio) que analisou restrições brasileiras à importação de pneus reformados a partir do contencioso proposto pela Comunidade Européia. A OMC permitiu que o Brasil proibisse a importação de reformados, desde que o país garantisse que os pneus usados tivessem sua importação barrada em definitivo pelo governo do país. Uma das justificativas para a proibição brasileira se refere ao acúmulo e transporte de resíduos de pneus.
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CATALISADOR A Urubupungá, empresa de ônibus do Estado de São Paulo, participou dos testes do sistema Retrofit, desenvolvido pela empresa Johnson Mater, que visa reduzir a emissão de poluentes dos ônibus da EMTU (Empresa Metropolitana de Transporte Urbano), em São Paulo. Esse sistema funciona como um catalisador implantado no escapamento do veículo que retém as partículas poluentes. Para realizar os testes, foi exigido o uso de dois tipos de diesel, entre eles o diesel metropolitano com 500 ppm (partes por milhão) de enxofre, já utilizado pela Urubupungá. Os testes atendem às exigências do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente), que definem regras para a montagem de motores pelas indústrias automotivas.
“A melhoria mais significativa foi a redução de acidentes com caminhões contratados pela BR Petrobras Distribuidora” JORGE LUÍS ALVES
ENTREVISTA FRANCISCO JORGE LUÍS MADEIRA ALVES
BIOCOMBUSTÍVEIS A Shell, em parceria com o canal internacional de televisão CNBC, fizeram a gravação do programa " Questions for the future" no final de junho, em São Paulo. O principal assunto foi o futuro da indústria do transporte e a importância dos
biocombustíveis para o setor e para a agricultura. O programa já foi gravado em diversas cidades do mundo e é uma iniciativa para o debate sobre as questões mais relevantes relacionadas às matrizes energéticas.
POLUENTES VIRAM PNEUS Resíduos tóxicos gerados a partir da queima de óleo diesel podem virar pneu. A novidade foi desenvolvida pelo engenheiro mecânico Sergio Sangiovani, com ajuda do físico Paulo Roberto da Conceição. Há oito anos, eles desenvolvem um filtro de
poluentes para ônibus. A invenção já funciona experimentalmente há dois anos em 60 ônibus em Diadema (SP) e retém até 70% dos poluentes gerados a partir da queima de óleo diesel. O pó preto que fica preso nos filtros acabou virando matéria-prima para pneu. MAURO PEDROSO
BR oferece programa de reparo POR ROBERTA DUTRA
A BR Petrobras Distribuidora realiza desde o final de 2006 o Programa Transporte Responsável. Os veículos da empresa foram equipados com ferramentas e peças de reposição para prestar eventuais serviços de reparos. Como norma, os veículos são conduzidos por técnicos habilitados em mecânica em motores a diesel e primeiros socorros. Todos esses cuidados têm a finalidade de oferecer mais uma ferramenta de gerenciamento de risco e aumentar a segurança do transporte de seus produtos e, conseqüentemente, prevenir acidentes. Em entrevista à CNT Transporte Atual, o coordenador do Programa Transporte Responsável, Jorge Luís Alves, fala mais sobre o assunto. Qual o diferencial desse programa? Para atuar no projeto, buscamos profissionais com excelente formação e grande capacidade de comunicação para que, além do suporte técnico, transmitam aos motoristas orientações sobre as diretrizes de qualidade, segurança, meio ambiente e saúde adotadas pela BR. A idéia é que seja feito um trabalho educativo em relação aos motoristas e também ao público em geral, reforçando a preocupação sócio-ambiental da Petrobras Distribuidora. Quais as principais melhorias observadas com a implantação do programa? A melhoria mais significativa foi a redução de acidentes com caminhões contratados pela BR, tendo como parâmetro os Indicadores de Segurança, Meio Ambiente e Saúde no Transporte do Sindicom (Sindicato das Distribuidoras de Combustíveis) e do Inar (Índice Nacional de Acidentes Rodoviários), nos quais alcançamos níveis de excelência este ano. A BR tem outros projetos ambientais? Por ser uma empresa que prima pela responsabilidade sócio-ambiental, a BR Petrobras Distribuidora tem vários programas ambientais como, por exemplo, o Projeto Tamar, voltado à preservação de tartarugas ao longo do litoral brasileiro.
BOA IDÉIA O pó preto dos filtros anti-poluentes viram pneu
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MAIS TRANSPORTE CHAPÉU CIDADE LIMPA
São Paulo vai controlar poluição veicular Prefeitura de São Paulo está desenvolvendo uma série de ações para tornar a cidade menos poluída. Pelo Projeto Cidade Limpa, a partir de setembro, estarão funcionando os equipamentos para medir a poluição emitida pelos veículos. Além disso serão efetuadas várias medidas que pretendem reduzir os índices de poluição na cidade em até 30% com ações como inspeção veicular. Os principais pontos do projeto serão a medição e identificação dos veículos poluentes. Somente a partir do próximo ano será feita a inspeção dos veículos e o proprietário terá até 30 dias para se adequar. Uma das novidades do projeto é o moderno sistema de sensoriamento remoto que irá fotografar o veículo através de raios infravermelhos e fazer a medição da fumaça que ele emite. Com o equipamento, será possível fazer a medição à distancia de mais de 2.000 veículos por hora. De posse dessas informações, será possível traçar um panorama dos veículos que trafegam na capital.
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Por enquanto os motoristas não têm que se preocupar. Os veículos serão só serão inspecionados a partir de maio de 2008. Para fazer a medição, aproximadamente 52 pontos em todo município estarão equipados. Inicialmente, a medição será uma ferramenta para identificar o perfil dos veículos que poluem mais. O motorista, que já teve seu carro inspecionado, e não se adequar dentro do prazo, poderá ser multado em até 300 Ufirs (R$ 524 85). Uma pesquisa realizada pela Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) em 2006 apontou que os veícu-
los são responsáveis por 98% das emissões de monóxido de carbono, 93% de hidrocarbonetos, 96% de óxidos de nitrogênio, 35% de óxido de enxofre e 40% de material particulado. De acordo com um estudo realizado em 2005 pelo laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), o gasto na rede de saúde da capital com atendimento a vítimas da poluição chega a R$ 3 bilhões por ano. A mesma pesquisa revelou que a exposição à poluição diminui a expectativa de vida dos paulistanos em dois anos.
O ex-vice presidente americano Al Gore relata as palestras que fez pelo mundo sobre a crise climática, que geraram também o documentário homônimo vencedor do Oscar deste ano. De Al Gore. Ed. Manole, 328 págs, R$ 64
Reunião de artigos e ensaios inspirados em Fritjof Capra, do Centro de Eco-Alfabetização. Os textos mostram projetos estudantis que usam a consciência ecológica na formação de crianças e adolescentes De Fritjof Capra. Ed. Cultrix, 312 págs, R$ 45
[POR ÉRICA ALVES] RICARDO FONSECA/SECOM
FUMAÇA A fiscalização é feita em 52 pontos da cidade
Coletânea de artigos enfatiza a necessidade de um novo desenvolvimento, baseado na abertura simultânea da economia à ecologia humana. O autor preside o grupo Iniciativa dos Biocombustíveis da Unctad/ONU. De Ignacy Sachs. Ed. Cortez, 472 págs, R$ 57
SUPERVIA/DIVULGAÇÃO
LINHA ECONÔMICA
TREM COREANO As novas máquinas consomem 30% a menos de energia elétrica
A Supervia, concessionária de trens urbanos do Rio de Janeiro, já colocou em atividade 15 trens coreanos. As máquinas consomem 30% a menos de energia elétrica do que outros modelos. Entre as novidades, estão o ar-condicionado computadorizado, computador de bordo para fechamento das portas com três níveis de força e sistema de freios que controla a força de frenagem em função da quantidade de passageiros embarcados.
MAIS TRANSPORTE URBANISMO
Curitiba é destaque nos Estados Unidos SMCS/DIVULGAÇÃO
ransporte público eficiente, reciclagem de lixo, grandes espaços verdes e proteção ambiental são alguns aspectos que dão notoriedade a Curitiba. Para o presidente da Mater Natura – Instituto de Estudos Ambientais, Paulo Pizzi, a reciclagem em Curitiba é muito adequada como educação ambiental. "A cidade é pioneira e pode servir como modelo para outros municípios. O único ponto a aperfeiçoar é a ampliação dos projetos existentes para atender uma maior parcela da população", diz Pizzi. Karina de Souza Taborda, moradora da região metropolitana de Curitiba, elogia o transporte público da capital do Paraná. "O deslocamento é rápido e tem vários ônibus da mesma linha disponíveis. Com apenas uma passagem, damos volta em Curitiba inteira", diz Karina, mencionando o fato de os ônibus curiti-
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banos realizarem conexões. A boa fama da cidade não fica apenas entre os moradores da região. O "The New York Times", principal jornal diário dos Estados Unidos, dedicou recentemente oito páginas à capital paranaense. "Curitiba continua sendo o destino de peregrinação de urbanistas de várias partes do mundo, fascinados com o sistema de transporte público, o programa de reciclagem de lixo e a rede de parques da cidade", escreveu o autor da reportagem, Arthur Lubow. O município foi elogiado em relação às ações de preservação ambiental. A matéria foi publicada em 20 de maio, na mesma semana em que Curitiba ocupou espaço em diversos veículos de comunicação norte-americanos pela participação do prefeito Beto Richa na Cúpula Mundial das Grandes Cidades para o Clima em Nova York. [POR IONE MARIA]
TRANSPORTE PÚBLICO elogiado por especialistas e usuários
BOA IMAGEM JOSÉ ISRAEL ABRANTES
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