O desempenho do terminal de contentores: modelo conceptual

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O desempenho do terminal de contentores: modelo conceptual Como aumentar o nĂ­vel de desempenho e que explica o sucesso dos terminais de contentores?

VĂ­tor Caldeirinha

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Título: O desempenho do terminal de contentores: modelo conceptual Autor: Vítor Caldeirinha Coordenação editorial: Transportes & Negócios / Riscos Editora Foto da capa: APSS

escreva sobre transportes NÓS PUBLICAMOS é uma iniciativa da ADFERSIT, com a colaboração do Transportes & Negócios como media partner

Os textos publicados são da exclusiva responsabilidade dos seus autores e não vinculam nem a ADFERSIT nem o TRANSPORTES & NEGÓCIOS

Janeiro 2013 2


O desempenho do terminal de contentores: modelo conceptual

VĂ­tor Caldeirinha

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Esta análise pretende aprofundar a investigação existente sobre o desempenho dos terminais de contentores, face à sua crescente importância para os portos e às lacunas de conhecimento que ainda perduram. Procura-se responder às seguintes questões: – Como se pode aumentar o nível de desempenho de um terminal de contentores novo ou existente? – O que explica o maior ou menor sucesso dos terminais de contentores? O mercado de contentores tem vindo a crescer de importância: • A história dos contentores tem 50 anos; • O mercado está em rápido crescimento (10% ao ano); • Os portos modernizaram-se muito, os navios tocam rapidamente os portos, já não ficam dias; • Melhoram as acessibilidades terrestres, alargando o hinterland dos portos; • Aumentou a importância das cadeias logísticas e da intermodalidade para os portos; • O transhipment ganhou peso, bem como a competição pelo papel de hub; • A contentorização levou a duas mudanças principais nos portos (Cullinane et al., 2004): – Integração horizontal (operadores e armadores); – Integração vertical (armadores) • Têm surgido parques logísticos e bipolaridades com os portos (Q. Dias, 2010); • Verifica-se crescente dimensão dos navios; • Verifica-se a seleção para escala apenas dos grandes “hub-ports” 5


• Os hinterlands dos portos são cada vez maiores (Wang e Cullinane, 2006). Em súmula, a concorrência e o desempenho do terminal, são uma preocupação crescente na investigação portuária. Para perceber o desempenho é necessário saber quem escolhe o porto e porquê. Quem é o cliente do porto? Quem escolhe o terminal de contentores? Os navios e os armadores procuram: • Localização estratégica face às rotas e às origens e destinos das cargas nos Hinterlands; • Minimização de custos de escala, minimizando preços, tempos de estadia; • Maximização da produtividade. Na perspetiva do dono da carga (cada vez mais a empresa logística), a escolha do terminal de contentores depende muito da: • Distância ao mercado, do destino; • Custos portuários e do frete marítimo; • Tempo em porto; • Valor e volume da carga; • Frequência dos serviços marítimos e das alternativas (Yap e Notteboom, 2011).

Como se tem desenvolvido a investigação científica sobre portos • O estudo económico dos portos começou nos anos 60. Os primeiros estudos sobre eficiência portuária apenas surgiram nos anos 90; • O desempenho dos portos não tem recebido a atenção 6


que merece por parte dos investigadores (Gonzalez & Trujillo, 2008); • A literatura sobre o desempenho dos terminais de contentores é relativamente recente (Gonzalez & Trujillo, 2008); • Fortes mudanças estruturais despertam o interesse recente, dimensão dos navios, o desenvolvimento do transporte intermodal e a integração com a logística terrestre (Gonzalez & Trujillo, 2008); • Muitos estudos apenas medem e comparam o desempenho dos portos e terminais portuários, mas não explicam as diferenças; • Pando et al. (2005) restringiu-se aos instrumentos de marketing manipuláveis pelos terminais e pelos portos na fase operacional; • Tongzon & Sawant (2007) analisam o desempenho dos portos enquanto resultado dos fatores de escolha dos armadores de contentores, esquecendo que esses fatores resultam em grande medida de características do próprio porto e do terminal (ex. a produtividade resulta em parte das características); • Bichou (2007) orienta a visão do desempenho do porto para a cadeia de abastecimento, em especial terrestre, esquecendo que nos portos ainda dominam os aspetos marítimos pesados; • Muitos autores medem a eficiência DEA dos portos, mas esquecem em que medida as características do porto influenciam uma maior ou menor eficiência e um maior ou menor desempenho; • Trujillo e Tovar (2007) compararam a eficiência de um conjunto alargado de portos europeus e concluíram que o seu trabalho falha na explicação dos fatores que determinam os diferentes níveis de eficiência; 7


• Os estudos têm como base amostras limitadas no número e no espaço geográfico; • Incidência apenas em variáveis qualitativas ou quantitativas, não cruzando todas as fontes de informação existentes (Woo et al., 2011; Chang et al., 2008); • Os estudos sobre o desempenho dos portos e dos terminais não entram na análise confirmatória dos modelos estruturais (ficam pelos modelos de medida) com o sentido e peso das relações causais entre latentes (Woo et al., 2011; Chang et al., 2008); • Os estudos têm-se centrado na relação entre a eficiência e: – as reformas nos portos, – o investimento, – a propriedade dos portos, – a dimensão, – o transhipment e os hub ports (Notteboom et al., 2000) ea – eficiência no tempo (Cullinane et al., 2004). • Existe a necessidade de uma abordagem holística/multidimensional (Bichou, 2007). A literatura sobre portos pode ser classificada em estudos sobre (Pallis et al., 2011): • Terminais, operação, eficiência; • Portos e cadeias logísticas, integração e hubs; • Governação, gestão, planeamento, desenvolvimento; • Política portuária e regulação, shortsea shipping, concessões e mão-de-obra; • Competitividade e concorrência entre portos e análise espacial. Os estudos realizados sobre os portos podem também ser 8


divididos nos seguintes tipos (Chang e Lee, 2007): • Fatores de seleção de portos - modelos de escolha pelos armadores dos navios e pelas cargas, recaindo a maioria na escolha pelos navios (Slack, 1985; Veldman e Buckman, 2003; Chang e Lee, 2007); • Competitividade, que por exemplo Robinson (2002) estudou no âmbito da cadeia de transportes; • Cooperação, alianças e aquisições (Chang e Lee, 2007; Heaver et al., 2001; Song e Cullinane, 2002; Yap e Lam, 2006; Christidis, 2001). • Medidas de eficiência, desempenho e produtividade (Cullinane et al., 2004; Tongzon, 2000; Estache et al. , 2001; Song e Yeo, 2004).

Principais teorias do desempenho dos portos e dos terminais portuários

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No que respeita aos fatores que influenciam o desempenho do terminal de contentores, Chang et al. (2008) identificaram fatores latentes do desempenho portuário: • Desenvolvimento dos serviços do porto; • Aspetos físicos do porto; • Serviços marítimos que escalam o porto; • Orientação para o mercado; • Taxas portuárias. Já Cullinane e Wang (2009) identificaram três categorias de fatores: • Rota; • Custo; • Serviço. Defendendo a perspetiva que considera mais global da gestão da cadeia de abastecimento (SCM – Supply Chain Managment), Bichou (2007) afirma que a análise dos fatores inclui as perspetivas: • Macroeconómica, de governação, geográfica, cidade-porto; • Logística, mar-terra e das unidades de negócios; • Análises multiempresa, multidimensionais e interdisciplinares. Onut et al. (2011) referiram como principais fatores do desempenho: • Localização geográfica; • Características físicas; • Custo e taxas portuárias; • Eficiência e produtividade; • Dimensão do porto; • Capacidade; • Segurança; 10


• • • • • • • • • • • •

Frequência de navios; Proximidade a áreas de importação e exportação; Proximidade a hubs marítimos; Proximidade a rotas de navegação; Economia do hinterland; Volume de cargas e transhipment; Infraestrutura e equipamentos; Ligações intermodais; Custos do transporte terrestre; Tempo em cais; Capacidade de expansão futura; Sistema de informação.

Notteboom (2011) referiu fatores relacionados com a procura do porto: • Qualidade; • Ligações feeder, serviços intermodais; • Transhipment, oferta do porto; • Geografia face aos mercados e rotas de comércio; • Fundos do acesso marítimo; • Cais e taxas; • Sistemas de informação; • Fiabilidade e disponibilidade dos serviços; • Tempo em porto, tempo de trabalho; • Reputação do porto; • Comunidade portuária; • Logística e segurança; • Linhas marítimas e armadores. Desta análise, parece que a principal divisão destes multifatores poderá ser: • Geografia; 11


• Características físicas; • Aspetos não físicos ou serviços do porto e do terminal de contentores. Ou seja, os fatores de caracterização dos portos e dos terminais que influenciam o desempenho dos terminais de contentores podem ser agrupados nos seguintes constructos: – “Position-port”, ou relativos à localização do porto e do terminal; – “Hard-port”, ou relativos às infraestruturas do porto; – “Soft-port”, ou relativos ao serviço do porto; – “Hard-terminal”, ou relativos à infraestrutura do terminal e – “Soft-terminal”, ou relativos ao serviço do terminal. O desempenho pode ser medido de várias formas. Bichou (2007) refere que o desempenho dos portos é representado pelos diversos autores com : • Variáveis financeiras ou de produtividade financeira; • Medidas de atividade e produtividade física dos portos ou terminais; • Medidas de produtividade multifator; • Estudos de impacto económico; • Medidas de eficiência relativa. Refere ainda que o desempenho do porto deve ser analisado como um todo na cadeia logística de abastecimento. Parece-nos que o desempenho do terminal pode ser medido da seguinte forma: – Atividade, movimento de contentores hinterland e de transhipment (múltiplos autores); – Eficiência e produtividade do terminal (Chou, 2010; Acochrane, 2008; Onut et al., 2011; Turner et al., 2004; Tongzon et al., 2009; Onut et al., 2011; Notteboom et al., 2000); – Satisfação dos clientes (Robinson, 2002; Liu et al., 12


2009; Magala e Sammons, 2008). Como conclusĂŁo desta anĂĄlise, apresenta-se na figura seguinte um modelo teĂłrico de desempenho do terminal de contentores.

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V ítor Caldeirinha Licenciado em Economia pelo ISEG. Pós-graduado em Gestão Portuária. Mestre em Gestão. Doutorando na Universidade de Évora. Director de Desenvolvimento Estratégico na Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra (APSS). Professor no ISEG.. Presidente da Adfersit.

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Títulos publicados: * JUP - Janela Única Portuária, o Simplex do Mar Fernanda Nunes Ferreira * O sucesso financeiro dos Caminhos de Ferro da Índia Luís Manuel Lopes Ascensão * Sines como ativo geoestratégico nacional Paulo Jorge Pires Moreira * A economia do Transporte público na acessibilidade urbana Carlos Gaivoto

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