tvPRIME

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EDITORIAL

Para quem conhece bem o projecto tvPRIME, sabe que a sua génese sempre foi o universo digital. O universo impresso foi, desde sempre, uma forma de rentabilizar o investimento a curto prazo, trazendo ainda alguma notoriedade ao título. No entanto, o processo da versão impressa acabou por ganhar uma dimensão primordial, ficando a versão digital como o projecto secundário.

THE WALKING DEAD pág. 4

SUMÁRIO 4 ESPECIAL THE WALKING DEAD 8 RUBICON 10 NO ORDINARY FAMILY CRÍTICAS CINEMA 12 É A VIDA! 14 RED PERIGOSOS 15 A REDE SOCIAL

E este é um mal que assola quase todas as actuais publicações. Legitimamente vêem na versão impressa uma fonte de receitas imediata e esquecem-se de olhar um pouco mais além, de pensar como estaremos a ler dentro de 5/10 anos. Num estudo da Marketest, o crescimento de leitores online em Portugal tem vindo a crescer de forma sustentada, tendo atingido os dois milhões de acessos a sites de informação no mês de Julho. Por outro lado, temos a UIT que prevê 2 mil milhões de utilizadores de Internet no final de 2010. É inegável e irreversível o caminho da imprensa ao encontro do universo digital. Surgem variadíssimos suportes todos os dias. Agora assistimos a uma revolução dos tablets, liderados pela Apple e o seu iPad. Antes haviam sido os smartphones e o líder iPhone. Uns têm uns defeitos, outros terão outros, mas a realidade é que daqui por cinco anos (já nem falo em 10) mais de 80% da leitura de informação será feita através da plataforma digital.

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EDIÇÃO DIGITAL 1 / NOVEMBRO 2010 / I SÉRIE

FICHA TÉCNICA

DIRECÇÃO Marco António dos Reis ARTE Pedro Mateus MARKETING Rúben Baía COLABORAÇÃO Vinícius Silva, Rui Fragoso; Marta Rosa; Hugo Pagani (Cinema) IMAGENS ABC, AMC, Atlanta Filmes, Catello Lopes Multimedia, CBS, Colombia

Tristar Warner Portugal, Costa do Castelo Filmes, FIC, HBO, LNK Audiovisuais, Midas Filmes, NBC, New Lineo Cinemas, Prisvídeo, RTP, SIC, Sony Pictures Portugal, TVI, Universal Pictures Portugal, Valentim de Carvalho Multimédia, Vitória Filmes, ZON Lusomundo Audiovisuais

PARCERIA D’Magia Para qualquer esclarecimento ou informação: geral@tvprime.pt © 2010 tvPRIME - O Mundo das Séries e dos Filmes Todos os direitos reservados

E é aqui que voltamos ao nosso querido projecto. Graças à ajuda e incentivo de alguns amigos, a tvPRIME ganhou novo fôlego – digital, naturalmente. Temos um site absolutamente renovado, com novos conteúdos e notícias frescas todos os dias, a página de Facebook mais dinâmica, com muitos prémios para todos e este “mimo” que muito nos orgulha: a edição em formato digital, de modo a poder ser descarregado para um qualquer dispositivo, onde juntamos uma série de textos já publicados online, mas com um tratamento e enquadramento diferente. Ficam desde já os agradecimentos aos amigos que têm ajudado a reenquadrar este projecto que, estou certo, poderá encarar o futuro sem os vícios do passado. Um forte abraço a todos, Marco António dos Reis If it’s Primetime TV, it’s on TV Prime!

As imagens usadas têm direitos reservados e são propriedade dos seus respectivos donos.

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THE WALKING

DEAD por MARCO ANTÓNIO DOS REIS

CHEGADA À TELEVISÃO Estávamos em Junho de 2010 quando ficámos a saber que a FOX International Channels (FIC) e a AMC tinham assinado um acordo, onde a FIC iria deter todos os direitos internacionais para televisão e homevideo da série original The Walking Dead, baseada num popular conceito de banda desenhada criada por Robert Kirkman. O acordo contemplava a estreia da série em todas as plataformas de distribuição FIC, bem como a totalidade dos direitos de distribuição durante o tempo de vida da série, fora dos Estados Unidos da América e Canadá, incluindo Portugal. Este acordo assinalava a primeira vez que a FIC detinha os direitos internacionais de uma série não pertencente ao universo dos seus canais.

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AS VOZES DO PODER «The Walking Dead representa uma verdadeira transformação para a AMC, uma vez que assinala a primeira vez que trabalhamos quer como estúdio quer como rede; esta parceria marca um ponto de expansão no nosso negócio, marca e modelo de programação», disse Charlie Collier, Presidente da AMC. «A capacidade da FIC desempenhar o papel de programador global para esta série, bem como a sua distribuição a nível mundial, permite-nos maximizar a visibilidade e o interesse global deste produto único.»

David Haslingden, CEO da FOX International Channels acrescentou ainda «Esta parceria representa o compromisso da FIC em assegurar conteúdos de alta qualidade a nível global, ao colaborar com parceiros como a AMC». A AMC estreou assim a primeira temporada de The Walking Dead, composta por seis episódios com uma hora de duração cada, durante o mês de Outubro do presente ano, tendo em seguida estreado globalmente no universo FIC, onde se inclui Portugal. Estas duas empresas juntaram forças para assim maximizarem a exposição mundial e a presença desta série, que está actualmente a ser produzida em Atlanta, Geórgia. Novembro 2010 tvPRIME • 5


BEM-VINDOS À ZOOMBIELAND The Walking Dead conta a história dos meses e anos que se seguiram a um apocalipse zombie. No que para muitos representa a ascensão do universo Zombie sobre o modelo esgotado dos Vampiros e Bruxas na orla do fantástico, este título é uma aposta inteligente por ir beber ao melhor que se fez dentro do género, num veículo que só agora encontra eco. Seguramente que não será estranho a esta situação o facto de que os antigos leitores adolescentes das novelas gráficas, são agora adultos e pais de família, consumindo avidamente séries e filmes. Neste século, o pontapé de partida foi dado pelo filme de Ruben Fleisher ZOMBIELAND, onde dois homens conseguem encontrar uma forma de sobreviver num Mundo repleto de zombies.

A HISTÓRIA DE ‘THE WALKING DEAD’ Esta série, que combina cenas de grande intensidade e suspense com drama e compaixão humana, acompanha um grupo de sobreviventes, dirigidos pelo agente policial Rick Grimes (Andrew Lincoln ), que viaja em busca de um local seguro. A série conta com uma vertente cómica, presente nos desafios da vida num mundo controlado por zombies, que muitas vezes levam a melhor sobre os sobreviventes,

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sendo que os conflitos interpessoais representam o perigo a que a sua sobrevivência está associada. Com o passar do tempo, as personagens vão sofrendo alterações, à medida que vão sendo expostas à morte, e algumas acabam mesmo por se dispor a fazer o que quer que seja para garantirem a sua sobrevivência.

POR DETRÁS DAS CÂMARAS The Walking Dead foi baseada nos livros de banda desenhada de Robert Kirkman, publicados pela Image Comics. Kirkman é um dos produtores executivos do projecto conjuntamente com Frank Darabont, nomeado três vezes pela Academia (The Shawshank Redemption), que também é guionista e realizador desta primeira temporada. Gale Anne Hurd (The Terminator e The Incredible Hulk), presidente da Valhalla Motion Pictures, é outra das produtoras executivas. Também como produtores executivos estão David Alpert, da Circle of Confusion, e Charles “Chic” Eglee.

EM EXIBIÇÃO NA FOX 3ª FEIRAS ÀS 21H30


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RUBICON «Eu não durmo mais. Este trabalho faz com que a gente não se cuide» – Will Travers Rubicon foi uma aposta do canal AMC nesta temporada que conseguiu conquistar a crítica, mas não parece ter atraído o grande público. As pessoas talvez ainda não estejam realmente habituadas a narrativas mais lentas e enredos que tiram o espectador do lugar comum, aquele lugar convencional em que ele apenas assiste, digerindo tudo o que está a ser mostrado. O enredo foi criado e concebido por Jason Horwitch, que depois largou a série dando lugar a Henry Bromell, que vislumbrou as possibilidades que antes poderiam não ter sido imaginadas, quando o primeiro episódio foi para o ar. [REVELAÇÕES] No episódio piloto, o espectador conhece Will Travers e o seu quotidiano no Instituto de Inteligência Policial (API), um prédio em Nova York que funciona sem fins lucrativos para ajudar o governo a prevenir ataques terroristas. Pelo menos é isso que as pessoas que trabalham lá sabem. Will é um grande amigo de David Hadas, o chefe da equipa de que ele faz parte, muito por conta também do casamento que Will teve com a sua filha. Vivendo a partir dos fantasmas do passado, onde perdeu a esposa e filha nos ataques terroristas do 11 de Setembro, Will dedica-se ao trabalho para tentar esquecer as mágoas que ficaram e os arrependimentos que tomaram conta da sua vida.

O Instituto para o qual Will trabalha surge com esta responsabilidade de, não somente investigar, mas acompanhar as actividades dos terroristas mais perigosos que foram registados pelos serviços de inteligência americana. É como se o IPA montasse dossiers que serviriam para que a segurança americana estivesse, de alguma forma, sempre à frente das acções destas pessoas. Mas o que fazer, por exemplo, quando são os próprios indivíduos de dentro do governo que planeiam as acções?

Sentindo a falta da sua família, Will não consegue relacionar-se com mais nenhuma pessoa, vivendo atarefado com o trabalho. Esse mesmo trabalho que desempenha no meio da desorganização do seu escritório – muito bem construída pela direcção de arte da série –, sugerindo também aí uma interpretação sobre a sua vida conturbada e complicada.

Num determinado dia descobre, a partir de palavras cruzadas publicadas nos principais jornais de Nova York, uma chave que se abre para uma conspiração e uma teia de espionagem muito maior e mais perigosa do que poderia imaginar.

O mesmo acontece com Tanya, uma outra analista, que se entrega ao álcool para conseguir suportar a pressão do dia-a-dia do API. Miles segue pelo mesmo caminho, mas a sua degradação é reflectida no seu rosto sempre cansado, como se ele nunca tivesse tempo para dormir.

A morte repentina de David Hadas, que ele próprio já sabia que poderia acontecer, leva Will Travers a investigar os altos escalões do governo que contribuem para financiar a guerra que se instaurou nos Estados Unidos. Vemos assim reflectido o medo evidente que ganhou força com os ataques do 11 de Setembro, quando as Torres Gémeas do World Trade Center vieram abaixo.

No meio destes complexos personagens, a história ainda apresenta Truxton Spangler, um homem ambicioso e extremamente inteligente, dono de uma percepção e de uma presença que deixa qualquer pessoa com medo. A sua personagem é intimidadora, misteriosa, assim como é Kale Ingram, um dos chefes do API que já serviu o Exército americano e que, agora, dedica o seu tempo a anal-

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isar os mesmos casos de Will. A construção e composição destes personagens são vistos ao longo dos 13 episódios da temporada, que apresenta diversas surpresas e caminhos surpreendentes. Outros elementos também ajudam na concepção de mistério e investigação que a série possui. E o mais presente deles é a banda sonora, muito bem “costurada” nas cenas. Alternando entre o piano e o violino, sucedendo de momentos mais agitados com outros mais agonizantes, a trilha é cheia de concepções líricas, melancólicas e clássicas. A direcção de arte também exerce um papel fundamental na concepção dos cenários. Os corredores e as salas do API, por exemplo, foram projectados como um espaçamento bastante pequeno, dando-lhe um significado que, não somente todos estão a ser observados, mas que todos parecem sentir-se sufocados no meio daquele lugar. Estão claramente presentes as características do cinema-documentário de Jason Horwitch em muitos dos momentos de Rubicon , apesar da sua saída da série. Ele, um confesso fã do cinema político produzido nos anos 70, não cai no excesso de soar nostálgico em relação àqueles momentos áureos do cinema americano. Mas, naquela época, cineastas como Martin Scorsese, Francis Ford Coppola, Brian de Palma, Terrence Malick

e outros, traziam uma nova identidade ao cinema americano e também uma linguagem diferente a tudo aquilo que era produzido.


por VINÍCIUS SILVA Novembro 2010 tvPRIME • 9


DIÁLOGO CONTEMPORÂNEO Recentemente, foram descobertos, dentro dos Estados Unidos, espiões russos que se passavam por americanos e mantinham a famosa “forma de viver americana”, com o objectivo de se infiltrarem em órgãos públicos. Eles foram deportados para a Rússia e, há algumas semanas atrás, o Presidente da Rússia Vladimir Putin, que fez carreira na inteligência russa do

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KGB, condecorou os espiões pelos trabalhos realizados em solo americano. A veracidade deRubicon quanto ao que se vê nos episódios e ao longo desta temporada é a sua principal característica. A série está atenta aos fatos e, principalmente, encaixa-se no actual contexto político. Esta espionagem que é vista em Rubicon assemelha-se exactamente ao que os russos vinham fazendo, pois não é somente os americanos que se infiltram em outros

governos ou que ficam a monitorizá-los a partir do trabalho de inteligência do FBI e da CIA. O facto dos serviços de segurança russos de hoje não reportarem a ninguém, aliado aos seus métodos cada vez mais brutais — justificados por uma guerra interna sangrenta contra a militância islâmica — torna-os mais semelhantes à temida mukhabarat (polícia secreta) do mundo árabe que às velhas agências de espionagem soviéticas.


Mas Rubicon não dialoga apenas com este facto ocorrido envolvendo a Rússia. Tal como a série apresenta ao longo da temporada, com as pessoas de dentro do governo americano a utilizarem o Instituto contra os Estados Unidos, recentemente um site chamado Wikileaks divulgou documentos secretos que indicariam que as Forças Armadas dos Estados Unidos praticaram no Iraque execuções sumárias, crimes de guerra e omitiram-se diante de denúncias de tortura praticadas por autoridades iraquianas desde a invasão do país, em 2003. As suspeitas sobre a divulgação dos arquivos recaem, mais uma vez, sobre Bradley Manem (que pediu demissão recentemente), o mesmo analista de inteligência do Exército americano que é investigado por supostamente ter repassado ao Wikileaks, em Julho, mais de 70 mil documentos secretos sobre o envolvimento dos Estados Unidos na Guerra do Afeganistão. E este site possui o mesmo tipo de trabalho que é realizado na API, explicando a maneira como o Irão serve de bode expiatório para as acções, que são vistas dentro da série ao longo desta primeira temporada. E tudo isto faz parte de um jogo político que se parece (ou equivale) ao que os Estados Unidos praticam.

FACTOS HISTÓRICOS Recorde-se que, no final do ano passado, na realização da Convenção da COP-15 para discutir as questões ambientais, o presidente Barack Obama demorou até o último momento para confirmar a sua presença em Copenhaga. Enquanto isso, os países participantes tentavam discutir quais seriam as melhores maneiras de proteger o meio ambiente, enquanto que os americanos não davam o braço a torcer porque, obviamente, estavam a preocupar-se apenas consigo próprios. Já naquela

época, as relações entre Estados Unidos e Irão estavam estremecidas, assim como toda a relação americana se deteriorou com o Médio Oriente. E não é apenas porque o Irão tem um projecto nuclear, mas também pelo país ser um grande produtor de petróleo.

QUARTO PODER A conspiração é um dos temas que mais se vê em filmes e séries, mesmo que não esteja directamente ligada à história. Em relação à Rubicon, a produção possui um leque de outras produções que dialogam entre si. Algumas vezes, o quotidiano da equipa de Will Travers parece-se com a rotina dos jornalistas Bob Woodward e Carl Bernstein, repórteres do jornal Washington Post e que foram os responsáveis pela descoberta da ligação entre a invasão ao prédio Watergate e Richard Nixon, o Presidente dos Estados Unidos naquela época. Nixon foi levado, pelas provas e pelos acontecimentos, a renunciar ao cargo. O realizador Alan J. Pakula relata a investigação dos jornalistas no excelente filme All the President’s Men (1976). O filme mostra o trabalho do jornalista para conseguir uma informação, mas uma informação que seja verdadeira. O trabalhode Bernstein e Woodward não é muito diferente do mesmo que Will Travers passa a fazer quando começa a investigar a relação da morte de David Hadas, com a representação dos quatro poderes e também com o próprio instituto em que ele trabalha, desconfiando dos seus empregadores. A história vista em All the President’s Men é extremamente emocionante, assim como a jornada que é vista em Rubicon, que surpreende o seu espectador a cada episódio. Por outro lado, o facto das personagens se sentirem perseguidas e

terem as suas vidas observadas, acaba por nos remeter para uma prática comum na Alemanha Oriental, tomada pelo Socialismo e que foi muito bem mostrada pelo premiado filme Das Leben der Anderen (2006). A história da longa--metragem alemã dirigida por Florian Henckel von Donnersmack passa-se na época da Guerra Fria, quando a Alemanha havia sido dividida em duas. A trama mostra a diferença entre os dois lados, tanto que a fotografia é um contraste entre o desenvolvimento (Ocidental) e a resignação (Oriental). Do lado das pessoas que viviam o modelo socialista, era uma prática “comum” que os intelectuais e artistas fossem “escutados”, pois o governo alemão tinha medo do que eles poderiam escrever ou fazer, temendo uma revolta por parte deles em relação ao modelo que havia sido implantado. Em Rubicon o medo é bastante parecido. Mesmo não tendo uma relação de espionagem como o que é visto em Rubicon, o personagem de Wagner Moura vê-se refém do próprio sistema em que ele trabalha e, mais do que isso, que ele mata. Por isso é que ele se pergunta no filme: “Por quê e por quem eu mato?” Agora, refaça esta pergunta para Will Travers: “por quê e por quem eu trabalho”? Talvez somente uma nova temporada para que estas perguntas viessem à tona e, assim, ele conseguisse que se revelasse a configuração do sistema político no qual está inserido. No entanto, e para grande pena de todos os seguidores da série, foi anunciado o cancelamento da mesma, não deixando espaço para uma segunda temporada. É assim que funcionam as coisas no mundo capitalista e de interesses meramente financeiros, deixando o público de ter acesso a histórias de qualidade, em detrimento dos Big Brothers desta vida. Novembro 2010 tvPRIME • 11


por MAR

ÓNIO D CO ANT

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OS REIS


Os Super-Heróis estão de volta numa forma muito improvável. No Ordinary Family ganha o nome Os Incríveis Powell em Portugal e traz-nos uma simples família de subúrbios que procura apenas aquilo que todos procuramos… a felicidade. A estação ABC estreou esta semana nos EUA a série No Ordinary Family. Criada por Greg Berlanti (Brothers & Sisters) e Jon Harmon Feldman (Dirty Sexy Money), a produção tem sido rotulada pela imprensa americana como uma versão com actores do filme de animação Os Incríveis. A aposta em actores em ascensão é clara e notória. Por um lado está Michael Chiklis, estrela da série The Shield, que conquistou a crítica depois da sua participação nos filmes dos Fantastic Four, como “A Coisa”. De notar ainda que, quando em 2008 a série The Shield foi cancelada, o actor apresentou ao canal FX a série House of Cards, baseado num esquema de fraude financeira. O canal não seguiu para produção com esta série, mas revisitou a ideia mais tarde, depois de conhecida a fraude promovida por Bernard Madoff, dando origem à aclamada série Damages, em 2010. [REVELAÇÕES] Por outro lado, a aposta para estrela feminina recaiu em Julie Benz. A actriz ganhou notoriedade através do seu papel na série Dexter, introduzindo um elemento romântico e conquistando a simpatia dos americanos. No final da última temporada da série, e para choque de todos os fãs, a sua personagem morre. Com essa morte, Julie abraçou um período de solicitações, a mais notória como actriz convidada em Desperate Housewives. Apresentado à ABC em 2009, a série No Ordinary Fa mily cativou as atenções dos executivos da estação que encomendaram o episódio piloto em Janeiro desse ano. Em Maio, e já com os guionistas Allison Adler (Chuck), Darren Swimmer e Todd Slavikin (ambos de Smallville) a bordo, foram encomendados os primeiros 13 episódios. A história, introduzida como confissões na primeira pessoa

(filme The Incredibles, Modern Family), conta a história da família Powell, constituída por Jim (Chiklis), um artista que trabalha para a polícia desenhando os rostos de suspeitos descritos por testemunhas, casado há 16 anos com Stephanie (Julie Benz), uma cientista mundialmente reconhecida. Têm ainda dois filhos adolescentes, Daphne (Kay Panabaker) e JJ (Jimmy Bennett). Jim vive frustrado entre ter de conviver com o sucesso (e ausência) da mulher, a adolescência difícil dos dois filhos e a sua impotência em ajudar a combater o crime na sua esquadra. Depois de uma viagem à Amazónia, com o intuito de reaproximar a família, sofrem um acidente de avião. Estranhamente, e depois da aeronave se despenhar sobre um rio, a família sobrevive. Mais tarde e de regresso a solo Americano, a família começa a aperceber-se de estranhas alterações: Jim tem uma força irresistível e Stephanie corre a mais de 700 milhas/hora (1120km/h). Além disso, a sua filha Daphne consegue ouvir os pensamentos dos outros. A partir dos seus superpoderes, a família sente a necessidade de se reagrupar, de perceber onde cada um estava a negligenciar os restantes. Aliados em segredo a dois civis, os amigos George (Romany Malco) e Katie (Autumn Reeser), iniciam a exploração dos seus novos limites que, inevitavelmente, servirão para combater o crime. Para além deles, cedo se descobre que mais pessoas possuem superpoderes e que deverá existir uma ligação ao local onde Stephanie trabalha. Mais tarde serão introduzidos na série Bruce McGill (Rizolli & Isles) e Cybill Shepherd (Moonlighting), no papel de pais de Stephanie. Naturalmente que este tipo de séries esbarra, inevitavelmente, na comparação com a recentemente terminada Heroes. A série difere, no entanto, bastante da anteriormente exibida pela NBC. Esta apresenta os heróis desde o momento da sua “criação”, acompanhando a magia da descoberta, a partir do seio familiar. Estes heróis são essencialmente pessoas comuns, moradores dos subúrbios, com os problemas de todos os dias. Mais, esta é uma série muito mais leve, com fortes momentos de comic relief, aproveitando particularmente a forma desajustada com que os amigos apoiam estes heróis. No Ordinary Family é uma das mais fortes apostas para esta temporada na programação da ABC, com a expectativa de conseguir bater-se com séries como Glee e NCIS na luta pelas audiências. O episódio piloto foi acompanhado por mais de 50 mil pessoas, via Internet, num site que a ABC disponibilizou antes de o estrear em televisão.

EM EXIBIÇÃO NO AXN 3ª FEIRAS ÀS 21H30 Novembro 2010 tvPRIME • 13


CINEMA TEXTOS: Marco António dos Reis e Hugo Pagani

EM DESTAQUE

É A VIDA! LIFE AS WE KNOW IT

Num mundo em que procuramos incessantemente controlar as variáveis da felicidade, “É A Vida” prova que às vezes é melhor deixar tudo, pura e simplesmente, acontecer. REALIZAÇÃO: GREG BERLANTI | INTERPRETAÇÃO: KATHERINE HEIGL, JOSH DUHAMEL, JOSH LUCAS, CHRISTINA HENDRICKS E HAYES MACARTHUR | GÉNERO: COMÉDIA / ROMANCE / DRAMA

SINOPSE: Após um primeiro encontro desastroso, aquilo que Holly Berenson e Eric Messer menos pretendem é voltarem a encontrar-se. A única coisa que une Berenson e Messer é o amor que sentem pela sua afilhada, Sophie. Mas quando os pais de Sophie falecem num acidente, estes dois são tudo o que resta à criança, assim sendo, para cuidar da criança terão de colocar as suas diferenças de lado, conjugar as suas ambições profissionais com este novo elemento e encontrar algo em comum para poderem viver sobre o mesmo tecto. Apesar de não ser muito fã de comédias românticas, tive a possibilidade de ir ver este filme numa antestreia (porque não!?!). No fim da projecção, admito que fiquei de certa forma surpreso com o resultado deste

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filme dedicado ao consumo de pipocas. A morte não é o tema mais usual para criar laços entre parceiros que pouco têm a ver um com o outro, mas em “É a Vida!”, é uma tragédia que gera um desencadear de eventos bem balanceados entre a comédia e o romance. Aparte do engenho criado para juntar estas duas personagens tão diferentes, É a Vida! dá-nos tudo o que esperamos de uma comédia romântica: riso, lágrimas, romance, e um sem número de momentos de ternura. O elenco, tanto secundário como principal, apresenta-se bastante coeso, transmitindo uma sensação de realidade, projectada pela boa química entre Katherine Heigl e Josh Duhamel.


Graças a um elenco alegre e comprometido, e a uma história que consegue ser não tão previsível quanto se julga, não contando com os habituais clichés obrigatórios em filmes do género, “É a Vida!” dá-nos uma visão humorística das adversidades inesperadas, que por vezes mudam o rumo das nossas vidas. Prós: Uma visão humorística das adversidades inesperadas, que por vezes mudam o rumo das nossas vidas. Um elenco alegre e comprometido. Contras: Os habituais clichés obrigatórios em filmes do género.

NOTA: 6/10 Novembro 2010 tvPRIME • 15


CINEMA TEXTOS: Marco António dos Reis e Hugo Pagani

A REDE SOCIAL

THE SOCIAL NETWORK

O realizador de “Seven” e “Fight Club” David Fincher está de volta com o filme “A Rede Social”, um filme que nos dá a conhecer a história da criação do Facebook.

passam-se a uma velocidade estonteante, onde nos seguramos a flashbacks para entendermos as razões destas disputas. Jesse Eisenberg é fabuloso como Mark Zuckerberg, que retrata um estudante arrogante e socialmente retardado, mas de um talento enorme. O restante elenco (com especial referência a Andrew Garfield e Justin Timberlake) é simplesmente fantástico. Fincher complementa todo este quadro com uma banda sonora intensa e sombria, criada por Trent Reznor e Atticus Ross, em perfeita harmonia com a cinematografia de Jeff Cronenweth.

REALIZAÇÃO: DAVID FINCHER | GUIÃO: AARON SORKIN, BEN MEZRICH | INTERPRETAÇÃO: JESSE EISENBERG, ANDREW GARFIELD, JUSTIN TIMBERLAKE | GÉNERO: DRAMA / BIOGRÁFICO | ESTREIA: 4 NOV. 2010 (PT) Com “A Rede Social”, David Fincher contrói um con-

to magnifico sobre um jovem génio (narcisista) com Cada novo projecto de David Fincher é sinal de algo único no pa- um desejo enorme de reconhecimento, magnifinorama cinematográfico, e com a “ARede Social” não é diferente. camente enquadrado no espírito de uma geração. Neste, Fincher consegue criar uma história empolgante, que Pros: Um conto magnifico que captura na perfeição o espíretrata o espírito de uma geração, tornando um filme so- rito de uma geração. Uma interpretação fabulosa de Jesse bre a criação de um website em algo dramático e genuino. Eisenberg. Uma história empolgante sobre a criação de um dos marcos na evolução da internet, o Facebook. Uma fabuloEsta história (alegadamente) verdadeira sobre a criação do sa banda sonora, composta por Trent Reznor e Atticus Ross. Facebook, tem como base um drama juridico focado na disputa entre Mark Zuckerberg e outros alunos da Universidade de Contras: A criação de um website pode não ser um assunto Harvard, que clamam ter influência na criação deste website. atractivo a todos. Aaron Sorkin adaptou o livro de Ben Mezrich, The Accidental Billionaires, com diálogos densos e rápidos, que nos prendem a cada frase proferida por este fantástico elenco. Os diálogos

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NOTA: 9/10


RED - PERIGOSOS RED

Junta Bruce Willis a Morgan Freeman, Helen Mirren e John Malkovich, com a promoção da “Sra. Weeds” Mary-Louise Parker ao cinema.

Quanto ao elenco, Bruce Willis tem uma interpretação ao nível do que nos tem habituado em muitos dos filmes da sua carreira: uma personagem dura, subtil e com uma boa dose de humor. Mary-Louise Parker tem uma interpretação agradável, de uma sonhadora que vê as suas fantasias tornarem-se realidade quando menos espera.

Morgan Freeman, que ultimamente não parece ser muito selectivo quanto aos projectos escolhidos, tem uma boa interpretação, mas que dos quatro ex-agentes, é a que mais passa despercebida. Helen Mirren apresenta aqui um registo diferen“RED – Perigosos” é baseado numa banda desenhada, te (e totalmente convincente), ao interpretar uma assassina criada por Warren Ellis e Cully Hamner para a DC Comics, que não se habitua à vida pacata que a reforma lhe oferece. que nos relata a história de um ex-agente secreto reformado, que subitamente sofre uma tentativa de assassinato, o Mas a cereja no topo do bolo é mesmo John Malkoque o leva a procurar respostas ao longo de três fascículos. vich, com uma fabulosa interpretação de um veteraAs semelhanças relativas a esta banda desenhada ficam por aqui, no extremamente paranóico e desconfiado, proporcionesta adaptação livre de Jon e Erich Hoeber para o grande ecrã. nando-nos alguns dos melhores momentos deste filme. REALIZAÇÃO: ROBERT SCHWENTKE | GUIÃO: JON HOEBER & ERICH HOEBER | INTERPRETAÇÃO: BRUCE WILLIS; HELEN MIRREN; MORGAN FREEMAN | GÉNERO: ACÇÃO | ESTREIA: 11 NOV. 2010 (PT)

Esta comédia de acção funciona, essencialmente, devido ao “RED – Perigosos” é uma sólida comédia de acção que não elenco de luxo que apresenta, onde temos um quarteto de prima pelo argumento, deixando-nos com a sensação de que ex-agentes que se vêm forçados a regressar à actividade, de- este elenco poderia ter sido muito mais bem aproveitado. vido a uma conspiração. Com cenas de acção elevadas ao absurdo, apercebemo--nos que “RED – Perigosos” pretende ser tudo menos um filme sério, tornando-se numa comédia despretensiosa que nos proporciona alguns bons momentos.

NOTA: 6/10 Novembro 2010 tvPRIME • 17



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