TWISSST - ISSUE NUMBER TWO - PORTUGUESE EDITION

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Fotografia de Sonny Vendevelde AW 2013 Dior Homme Backstage, Paris



Índice Diana Vreeland Entrevista com Amanda Mackenzie Stuart, autora da bíografia sobre a percursora do movimento moda Pag. 16 – 20

Mr Sonny Vendevelde O mestre dos backstage revela à Twissst o que no se vê nas semanas de moda de Paris e Milão. Pag. 30 -37

Mr Kris Schmitz O modelo que trocou os flashes pelo amor à fotografia Pag. 46 - 57

Balenciaga après Balenciaga Resumimos o legado do quiçá mais relevante e completo criador de moda de todos os tempos e o seu mais recente embaixador, Mr Wang. Pag 64 - 77


Sarah Kane O drama da depressão personificado numa desgarradora visão do teatro. Pag. 82 – 89

Thom Mayne A fusão (perfeita) entre o design e a funcionalidade Pag. 99 – 107

Wilfredo Lam De Cuba à Ville Lumière: uma viagem pela vida artística do mais versátil artista caribenho do século XX. Pag. 113 – 119

Williamsburg Onde late o coração hipster de Nova Iorque ... e parte do nosso também! Pag. 128 – 139

Euskadi Bilbao - São Sebastião, 104 km de algumas das mais belas vistas europeias. Pag. 142 – 149

Culture Calendar De Londres a Veneza, passando por Madrid, Viena ou Turim, un check-list de alguns “pit-stops” a não perder. Pag. 152 - 156


Staff Editor in Chief & Creative Director Norberto Lopes Cabaço norberto.lopes@twissst.com Foreign Editors Director Mauro Parisi mauro.parisi@twissst.com Twissst Polish Edition Responsible Weselina Gacińska wese.gacinska@twissst.com Editorial Coordinator Chloe Yakuza Architecture & Art Director Mauro Parisi mauro.parisi@twissst.com Senior Graphic Designer David Lariño Torrens david.larino@twissst.com Graphic designers Claire Marie O’Donnell claire.odonnell@twissst.com Lucia Garcia Garcia de Castro lucia.garcia@twissst.com

Foto: Dino Modern50.com

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Editors Twissst English Edition Clare Hodgson Ana María Oliver Daniela Cataldo Twissst Italian Edition Giulia Chiaravallotti Francesco Marangon Twissst Polish Edition Weselina Gacińska Anna Golias Marcin Paszko Twissst Portuguese Edition Translation Responsible Elis Porfírio elis.porfirio@twissst.com Bernardo Saavedra Twissst Spanish Edition Elena Arteaga Benedicta Moya

Contributors

Antonio Palma, Bartosz Ka Nachtigal, Carlos Ferra, Carlota Branco, Eleonora Maggioni, James Massoud, Jose Manuel Delgado Ortiz, Kris Schimtz, Ricardo González Naranjo, Ruth Gaillard, Simon Lorenzin, Sonny Vendevelde.

Twissst Magazine - Head Office Calle Gran Via, 57 7 F 28013, Madrid, Spain Tel: 34 910 072 973 hello@twissst.com www.twissst.com

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Fotografia de Sonny Vendevelde AW 2013 G. Armani Backstage, Milan


Fotografia de Sonny Vendevelde AW 2013 Emporio Armani Backstage, Milan



IN &

OUT

photo: Bartosz Ka Nachtigal (www.bartosz-ka.manifo.com)

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All people are born equal... then some become

Photo by : Antonio Palma Model: Nuno Silva

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Diana Vreeland, a Emperatriz da Moda Entrevista por James Massoud* com Amanda Mackenzie Stuart, autora de “Diana Vreeland, Empress of Fashion”

Tradução: Carlota Branco

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*Colaborador da TWISSST em Londres.


“Imperatriz do Mundo da Moda”. Aparte do óbvio e mútuo interesse na área da moda, Diana superou inúmeros obstáculosna sua vida para

anos de duro trabalho, imaginação e dedicação.

informação. Diana Vreeland - Empress of Fashion”. Escrito

Alva, em “Consuelo and Alva Vanderbilt: The Story of a Daughter and Mother in the Gilded Age”. A

entrevista com Amanda para conhecer de primeira mão as suas impressões sobre Diana documentação prévio ao manuscrito.

amante dos círculos mundanos e de Frederick Young Dalziel. Com o inicio da Primeira Guerra onde vão residir a maior parte das suas vidas. Diana viveu uma infância infeliz devido a uma

irmã mais nova de Diana, pelo simples facto de a considerar mais...agraciada.

própria linha de lingerie. Mas apesar de que

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Bazaar; tudo começou por uma casualidade.

ícone da indústria da moda. Durante este período escalou posições até se assentar como

Museum of Art de Nova Iorque. A sua imaginação e espírito jovial inspiraram gerações de mulheres a que se reinventaram, de igual forma que nós o fazemos, como a mesmíssima Diana o fez com a sua própria vida. de histórias para serem reveladas. Amanda Mackenzie escritora.

P Diana Vreeland? sobre Consuelo Vanderbilt e sua mãe Alva(Consuelo and Alva: the story of a daughter and a mother in the Gilded Age. Harper Collins

Então ao aprofundar apesquisa para esse livro a protagonista para o meu seguinte livro surgiu naturalmente perante os meus olhos!

Amanda McKenzie Stuart, autora del libro.

Quanto tempo necessitou para recompilar todas as informações e completar o livro? Quase quatro anos.

Como organizou a pesquisa de informações sobre a sua vida?

Evidentemente, tive que analisar todos os documentos de Diana Vreelan da sala de manuscritos da biblioteca pública de New York, o que levou imenso tempo.

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com ela. Além de muitas outras tarefas, incluindo pesquisas em muita outra documentação.

arquivo.

O

que aprendeu acerca dela que ainda desconhecesse? Muitas coisas. Veja bem, eu comecei pela base, uma

a pesquisa no decorrer do livro sobre Vanderbilt, eu estava convencida que se tratava de um senhora tremendamente hip e um pouco perturbadora, que Mas o mais surpreendente foi o seu impacto sobre a Moda e a Cultura Americana durante a Segunda Guerra Mundial – e a incrível consistência da sua meiros anos de adolescência até à morte. Foi dito muitas vezes que ela constantemente se reinven tavaa si mesma. Mas, isso realmente não é verdade.

A sua abordagem sobre Diana mudou com a evolução de sua pesquisa? Sim. Eu pensei que era interessante, claro, ou caso contrário não teria iniciado este projecto. Eu também

Você acha que uma infância infeliz moldou a mulher que ela era, ou se deve unicamente àsua imaginação e talento? Eu acho que a sua imaginação e seu talento foram muitas vezes o refugio da sua infância infeliz. E a a sua carreira.

Você acha que Diana teria alcançado o mesmo nível de sucesso no mundo da moda atual? Mas, não tenho a certeza que actualmente no mundo global dos negócios da moda, qualquer

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Se você pudesse ter efectuado uma pergunta a Diana, o que seria? certa?

O que você espera que os leitores aprendam com este livro?

V Ainda não, ainda me estou recuperando deste!

Diana Vreeland – Empress of Fashion


Model: Carlos Ferra Agency: Major Paris

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Editor´s letter Março é um mês intenso, e também um mês de opostos. Inicio de primavera, apresen-

tação das colecções de Inverno, o tempo prima pela inconstância, frio, calor, sol, neve, início das semanas de moda, boom de apresentações, apanham-se aviões como metros e táxis como se não houvesse amanhã. Há que estar em todos os sítios praticamente em todo o momento e nesta ocasião pensamos que aquele abono de Yoga que deixámos caducar e que nunca o confessamos a ninguém, neste momento tinha alcançado o seu expoente máximo! Na TWISSST quisemos celebrar o numero 2 liberando-nos da tensão, remar contra a maré, que é algo que nos provoca um prazer imenso. Queríamos fazer algo “light”, de atitude, de conceito, mas que no entanto fosse rigoroso e artisticamente revelador. Não resultava muito simples, como esboçar conceitos “sérios”, de forma “não séria” pretendendo ser tomados em consideração?.... tic tac...tic tac...pois! Foi aí que surgiu o contacto com Sonny.Divulgar as semanas de moda através do Backstage???? Quebrar uma imagem perfeita através dos seus protagonistas resultava brilhante e a partir desse momento tudo parecia que podia funcionar. Depois contactamos com Mr Schmitz, fotografo belga e que nos disponibilizou um compêndio fotográfico a condizer, reunimos os colaboradores e surgiu a ideia de visitar Williamsburg, um “hipster mood” invadiu a redacção da TWISSST. Tudo parecia ir sobre rodas e fomos contactos por Mr James Massoud, um leitor da TWISSST em Londres e que confessava o interesse em ser o nosso colaborador no reino de sua Majestade (a propósito, desejamos-lhes uma rápida recuperação!) Mr Massoud entrevistou a Amanda Mackenzie Stuart, autora da bíografia sobre Diana Vreeland, a percursora do movimento moda no sentido “latu sensu”. O livro, publicado por Thames & Hudson, intitula-se Diana Vreeland - Empress of Fashion. e estará disponível no próximo 2 de Abril. Mr Massoud, welcome to the team! Resolvemos também fazer as malas e visitar (uma vez mais) o País Basco, era o momento ideal de trazer à luz um artigo escrito à já algum tempo sobre Cristobal Balenciaga. As ultimas notas foram escritas em Getaria, a terra natal deste criador inenarrável na qualidade da sua obra, de expor uma retrospectiva da sua vida e de testemunhar as (acertadas) escolhas que a Maison actualmente vive com a entrada de um jovem e talentoso Mr Wang ao leme da direcção criativa. E voltamos ao tema base, à ideia para o numero 2 da TWISSST, que mais que retratar a frescura do imediato, o que retratamos é a evolução dos tempos, pequenas pinceladas na história da sociedade por actores tão díspares como interessantes. Fechamos a edição criando a TWISSST com maior número de paginas até ao momento,um histórico de 300.000 paginas vistas em 17 países, realizadas por uma equipa tão jovem quanto os protagonistas que lhe dão cor a cada página. E seguimos com tanto para contar... seguimos com a mesma ilusão que no primeiro dia, prestando a atenção necessária aos condicionalismos e às conjunturas, talvez seja a negação ou o espontaneidade aportada pela filosofia deste último número , o que é certo...é que viemos para ficar!

Norberto Lopes Cabaço Editor in Chief & Creative Director


Fotografia de Sonny Vendevelde AW 2013 Burberry Prorsum Backstage , Milan


Fotografia de Sonny Vendevelde AW 2013 Gucci Backstage, Milan



Fotografia de Sonny Vendevelde AW 2013 Prada Backstage, Milan



Image courtesy of leica

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A fotografia como linguagem e como meio de expressão artística, como catalisadora de emoções e de sentimentos é um canal de comunicação universal, sem idioma, linguagem própria ou barreiras geográficas que a delimitem. É portanto global, universal, como o mundo em que vivemos. A fotografia foi e é um dos movimentos mais imediatos e também perenes de retratar a história, o imediato que perdura no tempo é um antagonismo que poucas vezes resulta tão perfeitamente. No numero 2 da TWISSST, editamos o trabalho de dois fotógrafos que têem o Mundo como inspiração , a frescura e a espontaneidade como “modus operandi” e a disponibilidade e humildade ao nivel de grandes humanistas. Mr Sonny Vendevelde traz-nos os backstage das semanas de moda masculinas de Paris e Milão e Mr Kris Schimtz assina a capa da Twissst e aporta a frescura de quem conhece o mundo da Moda desde várias perspectivas.

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THE MASTER BEHIND CURTAINS Mr Sonny Vendevelde

“Sonny?ahhhSonny is the best and he is so funny! Sonny is Unique” Este é um dos comentários que seguramente irão ouvir se fizerem a pergunta por alguma passarela internacional. Sonny Vendevelde é um nome já tatuado na lista de acreditados sazonais nas mais internacionais e exclusivas semanas de moda mundiais. Presença assídua em Paris, Milão, ou Nova Iorque, e colaborador de meios tão transcendentes como o portal style.com, Sonny tem retratado a espontaneidade e talvez o lado menos exposto e mais divertido da industria da Moda - o backstage! E é da mão deste extraordinário artista, que aceitou colaborar com a TWISSST, que a TWISSST vai divulgar a semana de moda masculina O/I 2013 apresentada ha apenas algumas semanas em Paris e Milão.

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Paris & Milan backstages AW 2013 Menswear Collections


Photography by Sonny Vendevelde AW 2013 Jil Sander Backstage, Milan

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Photography by Sonny Vendevelde AW 2013 Prada Backstage, Milan

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A paixão de Mr. Vandevelde pela fotografia iniciou-se aos 7 anos quando recebeu a primeira câmara fotográfica. Desde então e até à entrada na universidade, decorreu um período de aprendizagem e de aperfeiçoamento da técnica com base na experiência repetida uma e o outra vez com familiares e amigos. Na universidade esteve apenas alguns meses, o espirito aventureiro e imediato não se coadunava com uma aprendizagem paulatina a médio prazo.

Photography by Sonny Vendevelde AW 2013 Prada Backstage, Milan

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Photography by Sonny Vendevelde AW 2013 Bottega Veneta Backstage, Milan

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Trota mundos empedernido, fez as malas e deixou Sidney, tomou rumo em direcção às montanhas e começou a desenvolver trabalhos fotográficos e fotojornalismo na área dos desportos de inverno. Mas uma vez superado o reto , Mr. Vendevelde estava preparado para mais um desafio e regressa a Sidney onde toma contato com a fotografia de moda. E foi aqui que descobriu o toque pessoal que podia aportar à comum fotografia de moda, uma visão distinta do rigor por vezes hermético que encontramos sobre uma passarela.

Photography by Sonny Vendevelde AW 2013 Versace Backstage, Milan

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E assim fez, e quando no ano 98 tomou contato com o trabalho de uma referencia mundial como é o caso de Elaine Constantine, Mr. Vendelve soube que era o momento de voltar a dar as costas a Sidney por uma melhor posicionada e mais acessível Europa. Desde esse momento, Sonny tem dotado o mundo de uma visão jovial e descontraída da fotografia de moda, uma visão tão pessoal como genuína, a visão de um fotografo surfista empedernido e que já deu a volta ao mundo por duas vezes. É portanto excepcional e imensamente gratificante para a Twissst poder contar com o trabalho de Mr. Vendevelde para documentar alguns dos melhores momentos da semana de moda masculina de Paris e Milão. Mr Vendevelde, TWISSST <3 you!

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Photography by Sonny Vendevelde AW 2013 Valentino Backstage, Paris

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Fotografia deSonny Vendevelde AW 2013 Versace Backstage, Milan


Fotografia de Sonny Vendevelde AW 2013 Lanvin Backstage, Paris


Fotografia de Sonny Vendevelde AW 2013 Etro Backstage, Milan


Fotografia de Sonny Vendevelde AW 2013 Z Zegna Backstage, Milan


Fotografia de Sonny Vendevelde AW 2013 Thom Browne Backstage, Paris



Schmitz, MR Kris Schmitz


Fotografias: Mr. Kris Schmitz Texto: Norberto Lopes


Belga de nascimento, Mr. Schmitz é um fotógrafo em ascensão, ávido de luz e de cor , de reflexos e de sombras, em busca do clique perfeito. É destas personagens com as quais nos resulta fácil relacionar-nos, um espirito livre, descontraído, jovial e próximo , perceptível inclusive numa conferencia web quando estamos a milhares de quilómetros de distancia. Resultava perfeito para esta edição.



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Mr. Schmitz esteve quase sempre relacionado com a industria da moda, primeiramente como modelo e depois associado a casas como Versace ou Ralph Lauren, a nível da gestão das marcas. Mas foi devido a uma verdadeira casualidade que a fotografia passou de ser um hobby praticado com devoção a uma actividade profissional a tempo inteiro.


Auto-retrato de Mr. Kris Schmitz


A pedido de um amigo que necessitava umas fotografias para entregar numa agência de forma urgente, Mr. Schmitz disponibilizou-se para fazer o trabalho. Bastaram apenas alguns dias para que fosse Mr. Schmitz o contactado pela agência em virtude do trabalho fotográfico, o que marcou o inicio da sua carreira profissional como fotografo. Foi talvez esse espirito livre que ditou sentença e que não hesitou em deixar a gestão dos negócios da moda para abraçar a fotografia como expressão artística.

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Desde há cerca de dois anos Mr. Schmitz dedica-se à fotografia, e confessa-se absorvido por um trabalho que lhe retorna um prazer imenso. Naturalmente um trabalho quando é feito com alma o resultado é perceptível. Assim o consideramos, e quisemos brindar esta entrega com o convite para que assinasse a capa do #2 da TWISSST, e primeiro número do ano 2013, renovando os votos de abraçar dentro de um mesmo meio, novas promessas e artistas consagrados em cada uma dos seus universos artísticos. Welcome Mr. Schmitz!



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Fotografia de Sonny Vendevelde AW 2013 Versace Backstage, Milan


Fotografia de Sonny Vendevelde AW 2013 Versace Backstage, Milan


Fotografia de Sonny Vendevelde AW 2013 Juun J Backstage, Paris


Fotografia de Sonny Vendevelde AW 2013 Givenchy Backstage, Paris


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BALENCIAGA APRÈS BALENCIAGA Texto: Norberto Lopes Cabaço

Distinguir a um criador de moda como um dos mais relevantes do século XX, é um mérito ao alcance de poucos, ainda assim à quem de Cristobal Balenciaga, seguramente um dos mais completos criadores de todos os tempos. Manter um legado vivo no tempo que cumpra com a história e que dignifique um trabalho que mudou a sociologia da indumentária parece uma tarefa tão complexa como criativamente desgastante. Nicholas Ghesquière, um verdadeiro “tastemaker” esteve à frente da “Maison” Balenciaga durante 15 anos, e soube despertar um gigante adormecido. Após se ter conhecido a decisão de que Ghesquière abandonaria a direcção criativa de Belenciaga, um novo novo nome surgiu para assumir o comando da Maison Balenciaga: - Alexander Wang. Muitos apontam a que a decisão é mais estratégica que criativa: - a visão imensamente mais comercial de Wang - pelas suas raízes e influencias asiáticas - e porque Wang encarna o papel de uma “rock star”, com as after-party mais “cool” da semana de moda de Nova Iorque,e que, obrigatoriamente trasladará esse “mood” à casa francesa, aportando uma onda de frescura, vitalidade e, claro está, vendas, e isso significa “cash-flow”, rentabilidade de dois dígitos e a expansão/consolidação a mercados emergentes, por exemplo, a China. Teoricamente tudo isto faz algum sentido, mas na prática, a Wang espera-lhe um verdadeiro desafio pela frente, talvez o maior que até ao momento se lhe apresentou. De igual forma que Slimane não convenceu com a apresentação da primeira colecção para a SAINT LAURENT, Wang provém de uma cultura de Moda muito dispare à história da casa Balenciaga, na verdade, nas antípodas do que Balenciaga alguma vez professou. Se Wang representa o futuro, Cristobal Balenciaga redefiniu o passado e cimentou os pilares da modernidade.

Alexander Wang

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Nascido em Getaria (Guipuskoa, Espanha), a 21 de Janeiro de 1895,em pleno apogeu da “Belle Epoque”, oriundo de uma família humilde, Cristobal Balenciaga foi criado entre alfinetes, e foi pela mão da mãe, costureira estival da Marquesa de Casa Torres, que o acesso aos faustos e exclusivos vestidos e a um mundo de refinamento se tornou uma realidade. Com apenas 10 anos, Cristobal, ao cruzar-se com a Marquesa de Casa Torres, perguntou-lhe se lhe permitia copiar o vestido que trazia essa tarde. A Marquesa acedeu e reuniu o material necessário para o efeito, telas e rendas. Cristobal, não só copiou o vestido, melhorou o modelo e a Marquesa de Casa Torres soube que o talento de aquele menino era algo mais grande que o pequena cidade que o vira crescer, procurou a orientação que Cristobal necessitava e enviou-o a estudar as artes do oficio a San Sebastian. Com apenas 12 anos inicia um largo período de formação em alguns dos melhores estabelecimentos da época, e com apenas 18 anos é nomeado chefe de produção na secção de senhora Grandes Armazéns Au Louvre.

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Cristobal Balenciaga

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É aqui que o primeiro contacto profissional com Paris acontece, com os tecidos e os cortes, os volumes e as formas e é aqui que o imaginário de Cristobal Balenciaga ganha asas. Um ano mais tarde, em 1914, Cristobal Balenciada, sob a tutela de Marquesa de Casa Torres, viaja a Bordeaux para ampliar conhecimentos e aprofundar as técnicas de alfaiataria. Em 1917 abre a primeira casa de Moda denominada C. Balenciaga, surgem uma serie de associações e não é até 1924 que Cristobal Balenciaga se estabelece a solo no numero 2 da Avenida da Liberdade, em San Sebastian. Por essa altura algumas das mais influentes senhoras da época contam com Balenciaga para a criação do seu guarda-roupa, como a Rainha Maria Cristina,ou a Infanta Isabel Alfonsa entre outras personalidades da nobreza e da alta burguesia espanhola

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Mas a história sempre esteve presente,e condicionou, tanto a vida como a obra de Balenciaga Em 1931 e com a proclamação da Segunda Republica, a clientela de Balenciaga passou por uma reorganização de prioridades, e a Alta Costura, pelo menos nas quantidades que Balenciaga estava acostumado a trabalhar, não fazia parte do novo cardápio, e em 1936 com início da Guerra Civil espanhola, Balenciaga abandona o país e cessa temporalmente a actividade dos distintos ateliers em Espanha para se sediar em Paris, onde a consagração não tardou em chegar. Um ano mais tarde , em Julho de 1937, apresenta, no número 10 da emblemática Avenue George V em Paris, a sua primeira colecção “Haute Couture” e desde então tanto a crítica como os criadores da época nutriam já um respeito e uma expectação pelo trabalho de Monsieur Balenciaga. Foi em 1939 com uma colecção inspirada no Segundo Império Francês, que Paris testemunhou a capacidade de construção de Balenciaga,a mesma que em menos de uma década modificava a história da indumentária

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Nos primeiros anos da década de 40 a obra de Balenciaga comportava traços visíveis da cultura espanhola, os bordados ricos e faustos adornavam os espectaculares vestidos de noite. A partir do ano 47 até à década de 60 a sua aportação ao mundo da Moda foi mais além do puramente criativo para modificar e criar uma nova silhueta que ainda hoje vemos aplicadas na moda contemporânea . No ano 47, no mesmo ano em que Christian Dior, dava a conhecer o “New Look”, um retorno romântico às técnicas de construção do século XIX, Balenciaga, apresentava a linha “tonneau”, uma linha pura nas formas e nos volumes. Balenciaga tinha encontrado o que viria a ser o seu objecto de estudo e a sua inenarrável contribuição à cultura social do século XX. A liberação da mulher através das formas.

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Durante toda a década de 50 Balenciaga estruturou a industria da Moda, as suas inovações técnicas não tiveram predecessor, Balenciaga apresentava uma desconhecida “Couture” Inteligente, cómoda e que elevava a mulher a um estado praticamente intocável.

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No ano 51 continua na sua continua procura pela perfeição, apresenta o look semi-entalhado, dois anos mais tarde as saias balão, o vestido túnica no ano 55 e no ano 57 o vestido saco e o vestido baby-doll. Este processo de experimentação com as formas alcançou o expoente máximo na década de 60 quando Monsieur Balenciaga detinha já uma maestria não só no corte e na construção das formas, mas também no domínio das potencialidades de cada tecido. A harmonia e a perfeição entre o tecido e o corpo da mulher era o único resultado possível numa peça com assinatura Balenciaga. Profundamente respeitado pelos fabricantes e distribuidores de Texteis, Monsieur Balenciaga solicitava a criação de novos e originais tecidos que respondessem às necessidades do seu inovador e rigoroso processo criativo Hoje em dias devemos a este processo de melhora constante , o gazar e o super gazar, com os quais trabalhou em obras tão complexas como extraordinárias.

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A década de 60 foi também uma década de mudanças profundas, de mudanças socio-culturais profundas. Foi a década dos jovens e das mulheres, da emancipação da mulher e da entrada a mulher ao mercado laboral. A demanda que a sociedade requeria era distinta às respostas que Balenciaga criava. O boom do Prêt-a-Porter e a “nova” sociedade foi o ultimo e derradeiro momento histórico que Cristobal Balenciaga decidiu assumir. Em 1968 e depois de mais de 50 anos a tornar a moda em Arte, Balenciaga resolve encerrar todas os ateliers , Paris, Madrid, Barcelona e San Sebastian assistem a como o Mestre da Alta Costura decide não abraçar os novos tempos. A era do Prêt-a-Porter tinham começado e Balenciaga não lhe proferia amor algum. À pergunta, como seria o Prêt-a porter de Balenciaga?, a resposta seria, seguramente excepcional. Aplicar o conhecimento de Balenciaga a nível do corte e dos tecidos a um padrão em escala, com o nível de detalhe, rigor e exigência já conhecidos teriam criado um novo ciclone na moda.

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Mas não foi assim, talvez seria o inicio de uma nova era em Balenciaga, mas a historia já tinha levado Balenciaga a iniciar ciclos uma e outra vez, retirar-se no momento de maior rigor e perfeição foi seguramente a decisão mais difícil que tenha tomado. Fiel a uma conduta discreta e reservada , em toda a sua carreira jamais deu uma conferencia de imprensa, jamais saiu ao final de um desfile, toda a sua vida foi dedicada as suas clientes,à moda e à arte.

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Não será estranho que fosse considerado por Mademoiselle Chanel como “ o único entre nos que é um verdadeiro “coutourier”, e que para as suas clientes,as mais poderosas e influentes da época, que durante décadas jamais usaram uma peça de roupa que não fosse Balenciaga, primeiro estava o Monsieur Balenciaga e depois o senhor seu esposo! Estes eram os vínculos que o Prêt-a-Porter jamais poderia conseguir e este foi o motivo pelo qual Balenciaga lhe deu as costas. O legado que nos deixou foi mais grande que o homem que o assinou. Balenciaga é hoje uma “Maison” de vanguarda, o trabalho que Nicholas Ghesquière desenvolveu durante mais de 15 anos esteve à altura do rigor técnico e inovação sempre requeridos por Monsieur Cristobal Balenciaga. Agora é o momento de Wang, de escrever um pedaço da historia num livro que só conheceu a excelência. Um jovem criador de moda nascido na California, e que dois anos apenas após ter iniciado a sua formação na Parsons, trocou os estudos pelo lançamento da sua marca. O sonho americano, um “self made man” abraça agora uma das mais antigas e respeitadas marcas de Moda. O desafio é enorme, as expectativas também, que Wang consiga uma Balenciaga para os dias de hoje de hoje, só o futuro o dirá.

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Fotografia de Sonny Vendevelde AW 2013 Valentino Backstage, Paris


Fotografia de Sonny Vendevelde AW 2013 Fendi Backstage, Milan


Fotografia de Sonny Vendevelde AW 2013 Raf Simons Backstage, Paris


Fotografia de Sonny Vendevelde AW 2013 Prada Backstage, Milan


Fotografia: Johan Simons / 4.48 psychosis © Julian Röder / Münchner Kammerspiele


O realismo trágico no teatro de

Sarah Kane

Quando Sarah Kanepôs fim à sua vida tinha apenas 28 anos, autora de algumas obras de

teatro e com um futuro como dramaturga reconhecido pela crítica e por um dos expoentes máximo do teatro contemporâneo, HaroldPinter; Esse que lhe chegou a manuscrever uma carta para o seu domicilio de Londres , para felicita-la sobre a estreia de uma das suas obras. No entanto, de igual forma que para John Keats, também para Kane o reconhecimento pleno, a glória, chegaria apenas a titulo póstumo. Texto: Eleonora Maggioni Traducção: Carlotta Branco


Sarah Kane tentou mais de que uma vez deixar atrás o mundo, esse

mundo no qual nunca se sentiu realmente confortável, mas havia sempre alguém que a impedia. Até que a 20 de Fevereiro de 1999 decidiu enforcar-se numa casa de banho do King’sCollege. Não tinha ninguém por perto. Embebidas de angústia, energia e violência, as suas obras transformaram-se no testemunho de uma vida, a da sua vida, transformaram-se na chave ,capaz de decifrar o tormento e a angústia da sua curta, mas intensa vida. No estilo da sua obra encontramos influência dos grandes clássicos como Seneca, Shakespeare e Elliot, de quem colhe a prosa poética e o amor pela tragédia, para depois os misturar com referências mais modernas como Beckett, Pinter e Artaud de quem se aproxima no que diz respeito a temas recorrentes como a violência, o vazio, a sexualidade e a inconstância da vida humana. É visível também a influência do cinema “splatter” de Tarantino mas, acima de tudo, eram o início dos anos 90, Sarah Kane era uma jovem Inglesa de vinte anos, de pais evangélicos, que não admitiam uma filha lésbica na família, educada na rígida e puritana Inglaterra de Thatcher. Época em que a sociedade inglesa estava cega, no que à capacidade de compreensão e à revolta que Kane transmitianas suas obras, , uma prosa dramática que descreve os medos da vida quotidiana.

Fotografia: Johan Simons / 4.48 psychosis © Julian Röder / Münchner Kammerspiele

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Fotografia: Johan Simons / 4.48 psychosis © Julian Röder / Münchner Kammerspiele

Estreia-se no teatro em 1994 quando, ainda estudante de Arte na

Universidade de Bristol, escreve o seu primeiro texto – “Sick” – uma trilogia centralizada em temas como a bulimia e a sexualidade. Em 1995, estreia em Londres “Blasted”, obra que desencadeia um grande escândalo entre o público e a crítica, que a define literalmente como “a disgusting piece of shit”. Ainda assim, alguns representantes do teatro inglés, como Pinter, Edward Bold e Caryl Churchill, entram em dua defesa, afirmando que Kane representa um dos maiores talentos literários britânicos da época. Seguramente o público inglês não estava preparado para acolher uma obra tão avassaladora, que não hesitava em representar episódios de violência em palco e que graças a uma surreal encenação interligou a violência doméstica com a realidade da guerra na ex-Jugoslávia. As centenas de espectadores que puderam assistir à única exibição, antes que fora retirada do palco, não entenderam a mensagem escondida por detrás dos actos de violência; a tentativa de dar visibilidade aos problemas da sociedade britânica. “Blasted” convida à reflexão sobre a brutalidade da sociedade actual, cheia de ódio, mas ao mesmo tempo oferece uma mensagem de esperança para que essa mesma sociedade seja modificada.

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Fotografia: Johan Simons / 4.48 psychosis © Julian Röder / Münchner Kammerspiele


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boicote da imprensa não conseguiu parar o turbilhão criativo de Kane que, um ano depois, voltou aos palcos com uma comédia também na qualidade de encenadora: “Phaedra’s love”, uma adaptação moderna do mito grego de Eurípides. Fala-nos de uma história impossível, de uma mulher que ama sem ser correspondida; desenrola-se entre guerras, falsidades, violência e paixão. A obra esteve em cena no Gate Theatre de Londres; numa encenação em que os actores se movem entre o público sentado no chão e ondeno palco se assiste a um jogo de poder, que mistura religião e sexualidade; os diálogos são rápidos, o mito e a lenda convertem-se no quotidiano. Kane distorce o mito voluntariamente, transformando Phaedra num símbolo da feminilidade destruída pela sensibilidade masculina sexista e distante, apenas atenta à voracidade da carne. O suicídio de Phaedra transforma-se num acto de amor de uma mulher desesperada, mas é vivido também como única via de escape, de liberdade; inclusive, na obra faz proclamar a Hipólito que “uma ocasião assim não acontece a qualquer, de forma alguma é para desprezar”. Phaedra, Hipólito e Strophe vivem para o excesso e para a transgressão, sendo eles mesmos a origem e a razão de todos os acontecimentos que conduzem ao trágico final.


E

m 1998 Sarah Kane volta ao RoyalTheatre. A nova peça teatral chama-se “Cleansed”e a encenação contribui para a fuga do realismo. “Cleansed” desenvolve-se em diferentes espaços reconstruídos de um campus universitário que, pouco a pouco, se transforma num campo de concentração: o quarto branco (o hospital psiquiátrico), o quarto vermelho (o ginásio) e o quarto preto (o balneário). O estilo revela-se cada vez mais cru e a violência transforma-se num ritual inspirado na crueldade do teatro de Artaud, onde cada forma de linguagem é colocada ao mesmo nível para alcançar um teatro integrado. Três meses depois durante o Festival de Edimburgo, apresenta-se outra obra de Kane, ainda que de incógnito pelas nefastas críticas de “Blasted”. “Crave”, escrita em Nova York com o objectivo de abandonar o tipo de diálogos dos seus anteriores dramas e para concentrar-se numa experimentação mais poética. Sarah Kane inspira-se em “TheWaste Land” de T.S. Elliot, utiliza vários idiomas estrangeiros para dar textura às quatro personagens, identificados só pela letra do alfabeto. Também nesta obra aparecem os elementos principais da dramaturgia com trágicas histórias de vida, cheias de sofrimento, violência e sexualidade. Em Junho de 2000, quase um ano após a morte da autora, estreia no RoyalTheatre de Londres a obra póstuma “4:48 Phychosis”, um monólogo escrito pouco antes do seu suicídio. Trata-se de um monólogo intercalado por diálogos entre uma paciente e o seu psiquiatra, de um “stream of counsciousness” de pensamentos, por vezes desconexos entre si, em que uma mulher fechada num hospital psiquiátrico conta a sua vida, os seus desamores e medos, por vezes sem conexão lógica devido aos efeitos dos psico - fármacos inerentes ao seu estado mental. As 4 e 48 são, segundo as estatísticas, a hora em que se realizam a maioria dos suicídios;o efeito dos fármacos termina e se supõe que seja o instante de maior lucidez para alcançar plena consciência, o momento em que afloram os mais profundos sentimentos do próprio Eu. A decisão da protagonista deste drama é claramente a autodestruição. Estamos perante um monólogo trágico, ainda que não faltam momentos de ironias, tal como na vida de Sarah Kane que, apesar de tudo, amou, sorriu, sonhou como qualquer outra jovem mulher e que, em tão pouco tempo, conseguiu deixar uma marca inconfundível no panorama teatral britânico.

Fotografia: Tommaso Tacchino / Blasted

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Fotografia: Rebecca Marriott / Cleansed

O

que foi a sua vida, tal qual um espelho partido, está reflectido no teatro que nos deixou, uma biografia triste mas, ainda assim, vital. A voz da rua, o desmembramento da família, o grito de dor, ou a violência do quotidiano entram, graças a Sarah Kane, nos cinzentos lares londrinos provocando fissuras à sua solidez. Sarah Kane foi uma mulher corajosa, que soube relatar os horrores da vida, retratando a sua, sendo quiçá personagem e seguramente, testemunha deles.

Fotografia: Tommaso Tacchino / Blasted


Fotografia de Sonny Vendevelde AW 2013 Umit Benan Backstage, Milan


Fotografia de Sonny Vendevelde AW 2013 Miharayasuhiro Backstage, Paris


Fotografia de Sonny Vendevelde AW 2013 Henrik Vibskov Backstage, Paris


Fotografia de Sonny Vendevelde AW 2013 Neil Barrett Backstage, Milan


Fotografia de Sonny Vendevelde AW 2013 Lanvin Backstage, Paris


Fotografia de Sonny Vendevelde AW 2013 Louis Vuitton Backstage, Paris


Fotografia de Sonny Vendevelde AW 2013 Raf Simons Backstage, Paris


Fotografia de Sonny Vendevelde AW 2013 Fendi Backstage, Milan


Fotografia de Sonny Vendevelde AW 2013 Jil Sander Backstage, Milan


Thom Mayne A meditada imaginação do Arquitecto do sec. XXI Texto: Mauro Parisi Tradução: Carlota Branco

Cooper Union Foto: Alexandra Knospe

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Parece que antes da inauguração do New Cooper Union Academic Building de New York, nas vedações da obra, apareceu um graffiti exclamando “ALIENS PLEASE PARK SPACECRAFT ELSEWHERE!” e que o próprio Thom Mayne lhe tirou uma fotografia para posteriormente apresentar em distintas conferências. Seja verdade, ou um rumor sussurrado com o intuito de divulgar e curiosa estética do edifício, facto é que, não é comum ficar indiferente perante o trabalho de Thom Mayne, o arquitecto, Californiano por adopção, premio Pritkzer 2005.

Cooper Union Interior

O duplo revestimento em alumínio micro-perfurado e vidro que cobre uma superfície encurvada e se sobre-eleva face ao plano da via, faz destacar a profunda magnitude da fresta que atravessa toda a fachada principal do edifício, sede dos três históricos colégios de Arte, Arquitectura e Engenharia da Cooper Union Foundation; o interior do edifício não é menos impressionante graças a uma sinu-

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osa escada, que domina em perspectiva os 9 andares da estrutura, tornando-se uma “praça vertical em ascensão”. A realização do New Cooper Building foi aplaudida efusivamente pelo mundo da arquitectura internacional, a quem não pouparam comparações com os edifícios icónicos da “Big Apple”, como o Empire State Building, o Chrysler Building ou o Museo Guggenheim.


Mayne nasceu e cresceu profissionalmente na

Califórnia dos anos 70, absorveu e transportou para o campo arquitectónico todas as inquietudes e exigências da geração “hippie”, pós 1968, e das mobilizações civis (inclusive, viveu durante um período numa comunidade focada na implementação da Economia Democratica…) Colaborou na fundação do Southern California Institute for Architecture (SCI-Arc), em 1972, para fomentar e aumentar a abordagem às questões sociais dos futuros arquitectos e urbanistas, e desde então converteu-se numa das mais brilhantes figuras académicas da arquitectura na Califórnia. Os primeiros projectos, ideados claramente no meio ambiente, caracterizaram-se por serem residências privadas onde o impacto ambiental fora mínimo. E toda esta atenção ao meio circundante foi, também, o fio condutor das suas obras na Morphosis Associates, criada em 1975 e conhecida pelas suas construções, por defeito em harmonia com o meio natural em que se erguem sem abdicar da construção arquitectónica como momento de expressão artística única e irrepetível. Como Mayne confirmou em numerosas entrevistas, nunca se interessou e nunca se envolverá em projectos puramente comerciais como a construção de urbanizações ou centros comerciais, por não lhe suscitar nenhum tipo de interesse, assim como, também nunca participará na construção de prisões, por não partilhar a ideia que reside por detrás.

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Diamond Ranch High School1informedmindstravel

Sobre o programa do governo norte americano pelo Design de Excelência na Administração (U.S. General Service Administration Design Excellence Program), a Morphosis realizou vários projectos entre os quais se destacam, sem dúvidas, a Diamond Ranch High School de Pomana (Califórnia), o Federal Building de São Francisco, o Caltrans District 7 Headquarter de Los Angeles e o Cahill Center of Astronomy and Astrophysics of Institute fo Technology. Em cada uma destes edifícios, assim como no Graduate House da Univerdidade de Toronto, torna-se patente a importância que Mayne outorga às formas e à sensação escultural que os seus edifícios têm que transmitir.

Caltrans District 7 HQ Foto: Jeff Gonot

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Cahill Center for Astronomy Foto: Ken McCown

A fresta no citado Cooper Union Building, o número cívico 100 que parece surgir da fachada do Caltrans Headquarter, assim como a letra “O” do final da palavra Toronto no Graduate House da Universidade canadense, que parece querer escapar-se do edifício e que lhe vale a alcunha na gíria local de o “Great O”, são simples provas da importância que Mayne atribui aos elementos, justamente decorativos, capazes de associar uma personalidade claramente identificável às suas criações, sem recorrer à vulgar repetição do estilo arquitectónico, lamentavelmente comum em alguns dos mais reconhecidos arquitectos internacionais dos últimos anos.

Toronto University Graduate House Foto: Bryan Chang

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Essa atenção ao detalhe é acompanhada de um forte interesse que a marca outorga às soluções de sustentabilidade meio ambiental nas suas construções e, onde, as novas tecnologias e materiais são determinante; em todas as suas obras, o duplo revestimento permite regular as variações de temperatura (no edifício Caltrans, por exemplo, as janelas movem-se automaticamente segundo a luz do dia).

Perot Museum SMU

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Depois do prémio Pritzker, em 2005, os projectos assinados por Mayne cresceram exponencialmente em número e em extensão geográfica, ultrapassa os limítrofes geográficos norte-americanos. Recentemente finalizaram os trabalhos do Museu Perot, em Dallas, um interessante espaço dedicado à divulgação cientifica e à interacção constante com o público, pensado para que a curiosidade seja estimulada, tal como o fluxo incessante ao longo da visita ao complexo, uma vez que, está pensado para que o visitante passe uma e outra vez pelo átrio central e se conecte visualmente com o exterior. O edifício principal é um grande cubo que parece flutuar sobre um pedestal de madeira, em que se reconstruíram dois espaços naturais característicos do Texas, um bosque com árvores nativas e um terraço com deserto, que se interligam através de um espaço rochoso. Esta constitui a entrada ao museu e se transformará com o tempo, segundo as exigências da natureza e do conhecimento humano, graças aos estímulos e aos avances científicos.

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Vigo AVE Railstation Project

Actualmente estão em fase de construção três pro-

jectos que seguramente farão crescer a popularidade de Mayne, também, neste lado do Atlântico; em Vigo, Espanha, está em fase de construção a estação de alta velocidade com o objectivo de transformar toda a área de chegadas, de comboios e autocarros, num verdadeiro coração metropolitano para a cidade; em Itália, cerca de Milão, decorre a construção da nova sede do colosso energético ENI, que se caracterizará pelo diálogo permanente entre a praça ajardinada e as sinuosas estruturas do edifício que se desenvolvem, em diferentes níveis, ao longo da sua extensão; e em Paris, na Défense, está prestes a iniciar-se as obras da Tour Phare, o arranha-céus que reúne todas as condições para se transformar no novo ícone da capital francesa das próximas décadas. Todos estes projectos têm o inconfundível selo da Morphosis Associates e de Thom Mayne; reúne a procura contínua pela adaptação do design ao propósito a que se destina, com a responsabilidade pelo menor impacto ambiental, face ao uso das mais inovadoras técnicas de construção e da escolha de materiais, sem que por isso, perca o carácter “artístico” que cada projecto têm de transmitir.

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Sede ENI, Milán

“Cada local é diferente e, portanto, cada projecto é único, não depende de regionalismos, nem da história, senão do programa em si e das condições particulares deste. A boa arquitectura é uma conexão entre a arte e as ideias, e a sua combinação com a realidade prática, sociocultural. A arquitectura responde à actividade humana, a concretiza e a torna mais, ou menos, permanente.” – Thom Mayne Isto é, construir como um serviço à comunidade a quem está destinada a obra, e não como testemunho do próprio ego.

Tour Phare, Project- Paris

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Fotografia de Sonny Vendevelde AW 2013 Gucci Backstage, Milan


Fotografia de Sonny Vendevelde AW 2013 Z Zegna Backstage, Milan


Fotografia de

Fotografia de Sonny Vendevelde AW 2013 Z Zegna Backstage, Milan


Fotografia de Sonny Vendevelde AW 2013 Miharayasuhiro Backstage, Paris


Fotografia de Sonny Vendevelde AW 2013 Valentino Backstage, Paris


WILFREDO

LAM la vanguardia caribeña Texto: José Manuel Delgado Ortiz tradução: Elís Porfirio

Ë comum ouvir que a mistura de raças proporciona riqueza em todos os sentidos. Beleza física, maior capacidade de adaptação, tolerância e fascínio. Wilfredo Lam, possuía todas estas “virtudes”, além de um intelecto criativo incansável e em constante evolução, é, o mestiço entre os mestiços. Filho de pai de origem cantonesa e de mãe com descendência africana, Wilfredo nasceu em 1902 numa modesta propriedade em Cuba, a diversidade cultural e religiosa em que foi criado, desde cedo influenciou a sua vida, e como não, a sua obra. Vivia em Havana, onde recebia aulas de pintura e escultura. Em 1923, com apenas 21 anos viaja para Espanha pela primeira vez, destino que, como a muitos, serve de ponte para a Europa. Em 1938 instala-se em Paris; talvez na Paris mais inovadora de sempre e onde provavelmente desenvolve a etapa mais experimental da sua carreira. É a sua época mais feliz, vive na França de Picasso e de Braque, entre outros, onde não se concebe uma sociedade sem arte.


“La vieja del rosario”

Aproveitou a sua residência nas margens do Sena para conhecer os maestros espanhóis do Barroco no Louvre. Chama-o à atenção a espiritualidade religiosa criada como a luz que nasce das trevas. O que nós conhecemos como “escuridão barroca”, Lam interpreta-o como “a luz que prevalece nas sombras”, uma característica presente nas suas obras posteriores. “ La vieja del rosario” é, por tanto, uma mistura excepcional de duas correntes. Por um lado o Barroco espanhol, nebu-

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loso e muito religioso, e por outro o desenho e a cor de um insular Gauguin. A singularidade da obra de Lam proporciona misturas assombrosas, únicas e ao mesmo tempo de extrema qualidade. O uso da cor denota o domínio da mesma, bem como um reconhecimento explícito ao muralista mexicano Orozco, uma das suas fontes de inspiração mais relevante de acordo ao próprio Lam


“Descanso de la modelo”

“Nature Morte”

Os anos trinta são uma década especialmente difícil para Lam, na sua estadia em Espanha durante a guerra, surge um momento pessoal muito duro, que reproduziu em reflexos de dor nas pinturas de retratos póstumos da sua mulher e filho desaparecidos. No entanto, do ponto de vista criativo, foi o mais frutífero. Torna-se uma esponja artística, absorve cada gota de génio que o rodeia e a transforma, como em “ Nature morte” e em “El descanso de la modelo”, ambos de 1938, onde se pode intuir com quem e onde tomava café. A obra de Lam evolui paralelamente com a sua vida. É excepcional observar a capacidade de aprendizagem e criatividade de Wilfredo. Aprende e acrescenta valor, facto que produz uma riqueza única na história da arte. O Lam mestiço, mestiça a sua obra Pode-se considerar que Lam é um artista capaz de convergir diferentes correntes artísticas numa mesma obra e obter um resultado final harmonioso e belo. Bebe a arte antiga, e usa-a como base para as suas obras. Mas, não é na realidade isso que se fez durante toda a história da arte? A resposta é obvia, nada nasce do nada, uma vez que o nada já é algo. Entenda-se a miscigenação como a integração. Lam converteu-se num maestro do simbolismo graças aos seus amplos conhecimento da cultura africana, europeia, asiática e sobre tudo da cultura insular da uma Cuba mística e misteriosa. Reúne as misturas de forma soberba na sua obra-prima…, bem-vindos à “la Jungla”.

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“La jungla” 1943 Todo o artista é precedido pela sua obra mais reconhecida, pela sua obra mais apreciada e mais representativa. “La Jungla” (1943) é isto tudo e muito mais. Representa também a vida, desde o começo até ao agora, é um aglomerado de experiencias pictóricas e vitais que juntas fluem de forma primorosa.

É um aglomerado de figuras de cariz mitológico relacionadas com cultos ancestrais próximos da “santeria”. Representa a selva da sua infância, presente nos seus sonhos e pesadelos.

Pode-se dizer que, simultaneamente “La Jungla” são todos e não é nenhum, é a síntese dos movimentos de vanguarda na Representa nas suas figuras antropomórficas os medos e Europa desde Cezanne, mas representado do ponto de vista inquietudes da sua infância e madurez, e as desgraças e la- centro americano mais puro, o de la Lam. Mais tribal, mais muralista, mais transgressor, mais simples mentos de seu passado. A nível artístico, “La Jungla” é filha de seu tempo, porém e mais sedutor. não se lhe outorga claras referência a alguém, ou a qualquer movimento contemporâneo. É uma obra única e inclassificável.

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“Le tiers monde (el tercer mundo)” 1965-1966

A selva implacável que tudo rodeia. A vida, a cultura, a religião, em definitivo o ser humano. Única e imparável, onde o homem se refugia e ao mesmo tempo a teme e a desconhece. Onde os mitos se desenvolvem poderosamente. A Selva de ali e aqui, de cimento e de erva, majestosa e avassaladora. Definitivamente o lugar que todos tememos, amamos e no qual vivemos.

Porquê não dizer que Wilfredo Lam era um génio, comparável a Matisse, no uso da cor, a Miró, no conhecimento dos símbolos, a Gauguin, no traço, e a Picasso, em Longevidade, Lam era um e todos em simultâneo. Homem comprometido, revolucionário e patriota, pleno de estas e outra virtudes que deixei no tinteiro. Dentro do âmbito cultural, considero firmemente que nos encontramos perante uma figura capital do século passado, mas... é realWilfredo Lam continuou a criar, chegou ao limite do abs- mente conhecido fora do âmbito artístico? tracto e entrou no surrealismo, até ao fim de seus dias, con- Desde logo que há cinquenta anos atrás esta pergunta teria finado a uma cadeira de rodas com um pincel na mão de- uma clara resposta, mas... e hoje? pois do último traço, por volta do ano 1982.

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Fotografia de Sonny Vendevelde AW 2013 Henrik Vibskov Backstage, Paris


Fotografia de Sonny Vendevelde AW 2013 Prada Backstage, Milan


Fotografia de Sonny Vendevelde AW 2013 Emporio Armani Backstage, Milan


Fotografia de Sonny Vendevelde AW 2013 Etro Backstage, Milan


Nesta ocasião seleccionamos dois destinos muito distintos entre si, seguramente porque em cada um de nós convivem experiências e vivências muito pessoais e porque somos formados por egos opostos. Viajamos a Nova Iorque, ao vibrante bairro de Williamsburg e carregamos energias no País Basco, a norte de Espanha. Se por um lado nos misturamos no efervescente bairro das ideias de Brooklyn por outro assistimos à reconversão do passado industrial numa proposta de vanguarda arquitectónica em Bilbao. Procurámos embebernos da corrente alternativa de”Billyburg” em cada esquina das suas ruas, apurando os sentidos nas galerias e contagiando-nos de um amor à arte de viver de acordo ao que se acredita profundamente de igual forma a que nos deixámos flutuar ao ritmo do compasso das ondas de uma urbana e cosmopolita praia na costa basca. Seguramente são realidades opostas, mas na génese do viajante está a eterna e efémera procura do que não se conhece, e do que não se experimentou. Williamsburg e o País Basco, são já, missão cumprida!

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Image courtesy of MATC

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Fotografia de Sonny Vendevelde AW 2013 Kris Van Assche Backstage, Paris




WILLIAMSBURG, O SEGREDO MAIS COMENTADO DE NEW YORK



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Fotografia de Sonny Vendevelde AW 2013 Umit Benan Backstage, Milan


Fotografia de Sonny Vendevelde AW 2013 Louis Vuitton Backstage, Paris


Williamsburg torna-se um bairro da moda, abrem teatros, espaços culturais, os artistas do momento querem expor seus trabalhos no bairro, os músicos sabem que viver e tocar ali é um cartão-de-visita, mais útil que um bom single. E está feito. Tudo o que se cria, se faz, ou se diz, em Williamsburg é moda. E se quiseres estar na moda, tens de te mudar para ali. Mas esta é uma faca de dois gumes, tanto assim é que os mais hipsters – os que deixam de ouvir uma banda musical quando a Mtv começa a passar os seus vídeos frequentam. E enquanto isso, o custo dos arrendamentos começa a subir e muitos “radical-chic” de Manhattan que seguem a moda do momento, aterram de malas e bagagens numa tentativa de fazer parte do “Cool Group”.

No bairro de Fort Greene, ao lado Williamsburg, é um símbolo de Brooklyn



O segredo...é ser rápidos e visitar Williamsburg antes que se transforme numa nova e secundária Manhattan. E para os que já se decidiram, recomendamos alguns dos locais mais curiosos da nossa Billyburg:

Arte Tempo dedicado: 1 día Williamsburg é o berço do novo movimento Nova Iorquino e a Bedford Avenue é o ponto nevrálgico das galerias de arte. É por ali que nos últimos anos nasceram mais de trinta galerias de arte. Os seus segredos revelamse ao caminharmos pelo bairro, a arquitectura não convencional combinada com o industrial e o moderno poderemos encontrar alguma obra de Bansky, o mestre contemporâneo da Street Art.

Artista - Elbow-toe

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Pierogi(177 N 9th St), é uma das galerias mais antigas de Williamsburg, fundada nos anos 90, é um espaço gerido por artistas, que alberga muitos trabalhos e nomes, inicialmente desconhecidos, que se revelaram no panorama artístico nova iorquino.


Música O Music Hall de Williamsburg (66, North 6th Street), converteu-se num eixo de referência não Pelo bairro cresceram bandas ícones da cena indíe contemporânea, como Pains of Being Pure of Hearts, Veronica Falls and Cult. consultem o cartaz, assistir a um dos concertos é um “must go”. Williamsburg é toda uma experiência, pequenos bares espalhados um pouco por todo o lado, assistir a uma performance de algum grupo, que embora desconhecido, possa vir a surgir nas rádios, uma vez regressados a casa e eventualmente vir a comentar, um par de anos mais tarde, durante um jantar de amigos: “ uma noite assisti a um concerto destes num bar em Brooklyn, quando ainda ninguém os conhecia, excepcional!”. Uma boa eleição seria o Pete Candy Store grupos emergentes, ou assistir a espectáculos de Burlesque. Se passarem por Williamsburg durante o Verão, poderão coincidir com algum evento musical no

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Vintage lojas de segunda mão, a procura é tanta que fez nascer no bairro ruas completas de lojas que vendem rigorosamente roupa, vinilos, livros e objectos do mais disparatado, de segunda mão. Com tanta oferta, o mais difícil será escolher. Inclusivamente para quem não seja fã de mercados de segunda mão é fundamental, para conhecer realmente o espírito de Wiliamsburg e o estilo dos seus moradores e vizinhos, fazer uma visita ao Arts and Fleas Market (70 N 7th Street), um mercado criado no interior de um antigo armazém, que está aberto Se preferirem peças de maior qualidade e mais autênticas, uma das lojas vintage mais conhecida do bairro é a 10 Ft. Single (285 N 6th street). Este loft gigante oferece opções para homem primeira, com ofertas para todos os tipos de bolsos, abrange na sua maioria peças dos anos 80 e 90, enquanto que na parte traseira chegamos a encontrar peças dos caros.

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Momentos de Lazer O Brooklin Brewery, na rua 11 (79 N 11th St), é uma “destilaria” onde se produz a conhecida cerveja que detém o mesmo nome. Existem 8 tipos diferentes de cerveja de barril e ao Sábado organizam-se visitas guiadas. Com mais de vinte ano, a cervejaria é ponto de encontro do

Outro bar que deve visitar-se, é sem dúvida o 2 Barcade (388, Union Ave). O sítio não tem muitas pretensões, ainda que, é irresistível pela sua selecção de mais de trinta cervejas artesanais e pela disposição de seus vídeos jogos, originais dos anos 80, à entrada do bar. O discreto (359, Metropolitan Ave.), com o seu telhado vermelho, alberga um estilo vintage, parquet e sofás que convidam à conversa. Aqui, além de uma amplia selecção de cervejas a provar acompanhadas de um prato de embutidos e queijos, pode-se desfrutar do pátio traseiro para tomar o último cocktail da noite. Ainda para os que querem provar a sensação de um bar de província, uma opção interessante é The Gutter (200 N 14th Street). Este bar, um velho armazém, alberga uma sala de bowling deee oito pistas, com marcadores originais dos anos 20. E se continua com vontade de experimentar a vida nocturna do bairro, há que deslocar-se até Bedford Street, a rua principal da zona, ali se concentram, à volta da paragem de metro, da

Mas o melhor que se pode fazer, num bairro tão dinâmico e cheio de ofertas como Williamsburg, é deixar o mapa-guia no hotel, para se deixar envolver pelo decadente fascínio que emana e perder-se pelas suas ruas, entrar num dos seus locais mais escondidos, ou entrar numa qualquer pequena loja vintage da esquina, para poder compreender porque é que este bairro é, desde há cinco anos, o pólo de atracção para muitos dos nova iorquinos.

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Fotografia de Sonny Vendevelde AW 2013 Neil Barrett Backstage, Milan


Fotografia de Sonny Vendevelde AW 2013 Ermenegildo Zegna Backstage, Milan


Euskadi ...Noblesse oblige! Texto: Mauro Parisi Tradução: Elis Porfirio

San Sebastián - Francisco Silva Rivera


Quando, de Madrid com destino ao Norte, se atravessam os Montes Obarenes parece que entramos, incluso visualmente, noutro país; tratasse muito mais do que atravessar uma simples e pequena cordilheira. Se por um lado se deixa atrás a vastidão estéril e, por vezes, monótona dos planaltos castelhanos, por outro, somos acolhidos numa vegetação exuberante e de perfis montanhosos. O nosso destino é, desta vez, o País Basco espanhol – Euskadi na língua basca – e mais especificamente a costa, que desde a capital moral e económica, Bilbao, nos conduz até à burguesa – aristocrata e refinada cidade de San Sebastián, passando por cidades e aldeias carregadas de personalidade e encanto como Getaria, terra natal de Cristobal Balenciaga e Zarautz, internacionalmente conhecida pelas suas majestosas ondas e a sua tradição no surf.


Guggenheim - Felix Van de Gein

Bilbao encontra-se ancorada nas margens do rio Nervión. Quem ainda conserva na memória a imagem de uma cidade industrial, com seus altos-fornos e seu ambiente cinza, facilmente se surpreende ao ver a mudança dramática que a capital do País Basco tem sofrido nos últimos anos. Hoje em dia é sem dúvida uma das cidades mais vanguardistas da Europa, focada no design e na modernidade (foi finalista na competição pela Capital Mundial do Design 2014, que acabou por ser atribuído à Cidade do Cabo). Qualquer passeio pelas suas ruas o comprova, ao testemunhar a beleza conferida pelos seus novos atributos arquitectónicas. O ponto de inflexão da sua regeneração urbanística foi sem lugar a reservas o Museo Guggenheim de Gehry que, em 1997, conseguiu ser o foco dos olhos do mundo e que actualmente é sua insígnia; o museu encontra-se na margem esquerda do rio Nervión, a zona da cidade que mais transformação presenciou. Onde antes havia estaleiros, fábricas,e chaminés industriais, hoje encontramos museus, hotéis e escritórios de design, apartamentos exclusivos assinados por arquitectos de reconhecimento internacional; Norman Foster, Gehry, Calatrava, ou Isozaki são alguns dos nomes que deixaram um testemunho na Bilbao do séc. XXI.

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Departamento de Sanidad del Gobierno Vasco Javier Gutierrez Marcos


Para os que ainda não conhecem, recomendamos, a não perder, a última novidade arquitectónica da cidade, o Alhóndiga; um espaço multifuncional de cultura e ócio, construído sobre um antigo armazém de vinhos e licores, assinado pelo francês Philippe Starck; o exterior, o qual se manteve fiel ao estilo tradicional das fábricas do princípio do séc. XX, esconde um interior “high tech” de vigas de aço e feixes de luz.

Piscina. La Alhóndiga. Bilbao -Saül Gordillo

Mas Bilbao, não é só modernidade arquitectónica; deixando atrás a antiga zona periférica de Abando e Indautxu, seguindo no sentido oposto ao caminho do rio Nervión, chegamos ao centro histórico, “Siete Calles”, uma sequência de ruas estreitas, que nos guiam o curioso olhar pelas inúmeras lojas do bairro e pelo primor dos tradicionais pintxos bascos das suas tabernas. Na verdade, um dos costumes mais enraizados dos “bilbaínos” é “ir de poteo”, entrando de bar em bar, provando os diferentes “pintxos” acompanhados por um copo de Txacoli, o vinho branco típico daquelas terras.

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Iglesia San Anton Lorena Fernandez

A atmosfera que se respira ao caminhar por esta zona da cidade é realmente encantadora; aconselhamos a não perder, um dos recantos mais cativantes da velha Bilbao, a igreja gótica de San Antón, debruçada sobre a margem da ria de Bilbao, com a ponte homónima como plano de fundo; junta à igreja está o “Mercado de la Ribera”, o maior mercado coberto da Europa, construído nos anos 20, em estilo racionalista, três andares albergam os mais frescos dos produtos alimentícios do mar e terras bascas; um lugar sagrado para os muitos amantes da cozinha da cidade. Do outro lado da ria, encontra-se o bairro de “Bilbao la Vieja”, em tempos marginal, é hoje em dia o bairro boémio, escolhido por vários artistas para albergarem seus estúdios e onde se concentram os restaurantes mais inovadores da cidade. Outro recanto para ver na grande Bilbao é o município de Getxo, elegante centro costeiro, onde se podem admirar as residências de verão da burguesia industrial de Bilbao e desfrutar de um banho nas águas do oceano; de regresso à cidade, se escolhermos mover-nos de metro – que percorre toda a margem da ria bilbaína – podemos apreciar uma das maravilhas industriais da zona: a ponte de suspensão de Portugalete. Construída no fim do séc. XIX, em aço, liga o município de Portugalete com Getxo, que através de uma cabine suspensa permite, em intervalos regulares, o movimento de carros e pedestres de uma margem à outra.

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Bilboa - Felix Van de Gein


Getaria - Eitbcom

Deixando Bilbao e deslocando-nos em direcção a Este, encontramos uma aldeia que merece uma paragem na nossa viagem: Getaria. Está incrustada num cume rochoso de um promontório da costa, a meio caminho entre Bilbao e San Sebastián. O seu centro histórico é constituído por quatro vielas paralelas dominadas pela igreja de San Salvador, o santo guardião do porto pesqueiro que se encontra mais abaixo e se caracteriza pela sua permanente actividade. Hoje em dia a aldeia ganhou um outro elemento mais do que merecedor de uma pequena pausa; desde há 2 anos que está aberto ao público o Museo Balenciaga que, no “Palacio de los Marqueses de Casa Torres”, oferece uma detalhada exposição das espectaculares criações de um filho da terra, destinado à fama eterna, o designer Cristóbal Balenciaga.

Zarautz eitbcom

A muito poucos kilómetros de Getaria, e interligadas por um passeio pedonal que percorre um dos lado da marginal junto ao mar, muito frequentado em dias de Verão, está a outra etapa da nossa viagem pela costa basca: Zarautz. Trata-se de uma pequena aldeia de cara ao mar e que, graças às suas ondas, é hoje um centro de renome da prática de surf a nível internacional, e vê a sua população triplicar no Verão, só para usufruto da praia mais longa de todo o País Basco.

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San Sebastian Bahia Concha - Urugallu

E, logo ali está ela, assomada ao oceano, apoiada na margem do Atlântico e na areia branca da “Bahía de la Concha”, como que a querer aproveitar o reflexo do mar para se ver ao espelho, San Sebastián, conserva ainda intacta a atmosfera do seu período de ouro, no fim do séc. XIX, quando a família real espanhola a escolheu como lugar de descanso no Verão, transformando-

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-a no refúgio de férias da nobreza e da alta burguesia europeia. Desse período ficou o passeio marítimo que percorre a sua grande baia, as largas avenidas, os elegantes palacetes e jardins, que caracterizam a nova cidade e a confronta com o forte e verdadeiro carácter do centro histórico, junto aos pés do monte Urgull, símbolo da cidade juntamente com a vizinha

ilha de Santa Clara. San Sebastián, ou Donostia na língua basca, é uma cidade para passear a seu ritmo, caminhando ao longo dos seus passeios marítimos, para poder apreciar e valorizar o estilo de vida elegante e relaxado de seus habitantes.


Peine del Viento - Wheylona

Existem lugares, que mais que outros, Do outro lado da cidade, deixando a permanecem gravados na nossa me- baia para trás, mas olhando para a semória e San Sebastián não é excepção. gunda das suas três praias urbana, a Zurriola, encontra-se a foz do rio UruO conjunto de esculturas do artista mea, que é atravessado pela Ponte da basco Chillida, conhecido como “Peine Reina Cristina e pelo edifício Kursal, del Viento”, num extremo da Bahia de na linha de fundo. la Concha, ao final da praia de Ondar- É neste edifício, projectado por Rafael reta, é sem dúvida um desses lugares; Moneo, de estrutura compacta e lisa, três enormes esculturas de aço, de 10 que rompe com o ambiente Art Noutoneladas de peso cada, incrustadas na veau que o envolve, que se realiza em rocha e amarradas pelas ondas do oce- cada Setembro o festival de cinema, o ano, são ponto de encontro de imensas acontecimento mais importante da sévisitas face à atmosfera e às sensações tima arte em Espanha e que reúne reque o lugar emana. alizadores e actores de todo o mundo,

que contribuem para a imagem cosmopolita e sofisticada de que a cidade tanto se orgulha. Em ambas as pequenas margens do rio surgem alguns dos mais imponentes e bonitos edifícios da cidade; é aqui onde a atmosfera francesa de San Sebastián alcança o seu clímax e onde passear, ou deslocar-se de bicicleta, pelas suas ruas numa fresca tarde de primavera é um dos mais próximos sinónimos da palavra serenidade que podemos testemunhar.

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Fotografia de Sonny Vendevelde AW 2013 Dior Homme Backstage, Paris


Fotografia de Sonny Vendevelde AW 2013 Ferragamo Backstage, Milan


CALENDARIO

CULTURAL

Textos: Jose Manuel Delgado Ortiz, Giulia Chiaravallotti, Simon Lorenzin, Ruth Gaillard

Design of the year 2013

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(20 Março - 7 Julho 2013, Museu do Design, Londres, Reino Unido) A 17 de Abril de 2013, registar esta data nas vossas agendas, será anunciado o nome do premiado melhor designer de 2013. Enquanto isso, em Londres, as obras de todos os nomeados poderão ser apreciadas a partir de 20 de Março; muitos países e nomes conhecidos estão na lista composta por secções como, Digital, Moda, Mobiliário, Produto, Transportes, Arquitectura e Design Gráfico. Na secção de Arquitectura encontramos nomes desde Zaha Hadid a David Kohn, com o seu projecto “A room in London”; sobre o qual escrevemos em anteriores edições da Twissst; passando por Piano e o seu recém inaugurado arranha-céus londinense, “The Sharp”, e por Farshid Moussavi com o seu Museu de arte Contemporâneo em Cleveland. Já a secção de Moda, conta com a presença de verdadeiros perfeccionistas da estética, de Proenza Schouler, ou Prada, a Louis Vuitton, passando por Comme des Garçons, ou Giles Deacon. O que torna esta exposição obrigatória é a sua interdisciplinaridade; por permitir aos amantes de cada um dos ramos de abordagem do Design a aproximação às suas referências e pela oportunidade de dar a conhecer o mundo do design em todo o seu conceito.


“ VAN GOGH, RÈVE JAPONAISE” (3 Outubro 2012 - 17 Março 2013, PINACOTHÈQUE, 8 Rue Vignon, París, França). Através de mais de 40 obras, a Pinacoteca reúne em duas exposições diferentes, embora convergentes, os trabalhos de Vincent Van Gogh e do artista japonês Utagawa Hiroshige (1797-1858). Podemos apreciar a obra do artista holandês e por sua vez compara-la com a obra do maestro do país do Sol nascente. Em resposta à eventual pergunta sobre quais as similitudes, ou sobre o porquê de se parecerem tanto, talvez não corramos riscos se afirmarmos que se deve ao fascínio de Van Gogh pela pintura japonesa do princípio do séc. XIX, liderada pelos aclamados “Ukiyo - e”. Mas o melhor será confirmar por si mesmo. Os afortunados visitantes poderão usufruir da clara visão sobre as similitudes entre os dois maestros, por um lado tão afastados geograficamente e, pelo outro, tão próximos na composição. E, se é que existem, desafiamo-lo a encontrar as 7 diferenças!

“MAX ERNST” (23 Janeiro 2013 - 5 Maio 2013, Albertina Museum, Viena, Áustria) O museu Albertina apresenta a primeira retrospectiva da Áustria de Max Ernst. Numa selecção de 180 pinturas, colagens e esculturas, veremos obras relacionadas com todos os períodos do artista, interligando a sua vida e obra a um contexto biográfico e artístico ímpar. Max Ernst encontra-se entre as principais figuras da história da arte do séc. XX. Pioneiro do surrealismo e dinamizador de técnicas muito utilizadas hoje em dia, como o “collage”, o “fottage”, o “grattage”, a “décalcomanie” ou a “l’oscillation”. Ernst foi portador de um carácter inquieto que sempre o impeliu a lutar pela liberdade e esta retrospectiva assim o revela.

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Pabellón de ARTE ISLÁMICO Louvre, Paris França. O Louvre estreia o seu novo departamento de Arte Islâmica – o maior da Europa, da sua natureza – com uma colecção de 3000 artefactos que datam do séc. VII, e reúne peças com origens que vão desde Espanha até à Índia. A intenção de celebrar “o rosto da civilização”, o projecto de 100 milhões de Euros, grande parte financiada por mecenas de todo o mundo islâmico, foi inaugurada pelo presidente François Hollande antes da sua abertura oficial a 22 de Setembro. Trata-se de uma exposição permanente, pelo que qualquer passagem por Paris justifica esta visita, uma das mais importantes colecções do mundo.

Pavilhão Portugal, 55ª Exposição Internacional de Arte (01 Junho – 24 Novembro 2013, Veneza, Italia)

O pavilhão de Portugal na próxima Bienal de Artes Plásticas de Veneza foi apresentado pela sua autora, a artista Joana Vasconcelos, nos estaleiros do Seixal. Trata-se de um pequeno navio revestido de azulejos que retrata a cidade de Lisboa, vista desde o Tejo e antes do terramoto de 1755. Uma imagem concedida pelo Museu do Azulejo de Lisboa. Na parte superior haverá espaços para a realização de eventos, concertos, debates e conferências, enquanto o interior é forrado, de adornos têxteis, a querer lembrar um “ambiente uterino”. O objectivo é que o pavilhão português seja um verdadeiro navio e que a partir de 1 de Junho, uma vez chegado a Veneza, navegue por três trajectos diferentes nas águas do canal; o principal ligará a sua localização oficial, na zona nobre da Bienal, com a Punta della Dogana. E nos dias do festival de cinema, se adicionará o percurso até ao cais do Lido.

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“Tesori del patrimonio culturale albanese” (24 Janeiro – 7 Abril 2013, Palazzo Madama, Turín, Itália) Com uma organização a cargo do Instituto dos Monumentos e o Instituto de Arqueologia da Albânia, a exposição reúne obras desde a pré-história ao período bizantino, especificamente até ao ano de 1600. Dos clássicos elementos arqueológicos aos elementos artístico-decorativos, o objectivo da exposição é dar-nos a conhecer os profundos laços culturais e comerciais que a Albânia manteve com o mundo helénico -romano e com o império comercial veneziano. E, para quem pouco o conhece, trata-se de uma excelente oportunidade para quebrar a discreta popularidade deste povo europeu.

“Novecento. L’arte in Italia tra le due guerre” (2 Fevereiro - 16 Junho 2013, Museo San Domenico, Forli, Italia). Nunca o séc. XX esteve tão em voga como hoje em dia. Desta vez o foco centra-se na arte italiana entre o período das duas guerras mundiais. A devastação do primeiro conflito e a instauração do regime fascista, desenrolou no mundo das artes a procura de uma “reviravolta”. Isto significou a recuperação dos cânones clássicos da expressão artística e a exaltação de temáticas como a maternidade, o mito, a terra e o amor pela tradição. É o período de Carlo Carrào Giorgio De Chirico; podem-se apreciar também nesta exposição as pinturas de Severini, Casorati, Balla, Renato Guttuso e as esculturas de Martini, Manzù, entre outros. A ideia da exposição é oferecer uma ampla visão da Itália desse período histórico, pelo que obriga a recorrer a testemunhos que vão além das artes plásticas, como a exibição de cartazes publicitários, mobiliário e objectos de decoração da época, ou inclusivamente a mostra de projectos e plantas originais de diversas obras urbanística que se realizaram sob o pretexto de “racionalizar” os centros históricos.

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“L´Europe de Rubens”

(22 Maio – 23 Setembro, Louvre-Lens, França). Será, até à data, a exposição mais importante, na recém-estreada sucursal do Louvre, na cidade de Lens. A exposição percorrerá 170 obras do mestre, pertencentes à colecção do Louvre, de entre outras. Rubens representa o espírito mais europeísta em tempos de crise. Durante a sua vida trabalhou para a corte francesa, inglesa e espanhola, além de ter realizado também trabalhos para a nobreza alemã e italiana. Uma conquista para um artista da época e algo único em toda a história da arte. Certo, será dizer, que se trata de uma excelente opção para dar a conhecer um novo museu.

“Paul Klee. Maestro de la Bauhaus”

(22 Março – 30 Junho 2013, Fundación Juan March, Madrid, España). A exposição, em colaboração com o centro Paul Klee de Berna, incidirá no período artístico em que o pintor leccionou na vanguardista escola de artes alemã Bauhaus (1921-1931). Reúne 137 obras do artista que dialogam e se interligam com seus objectos e espaço, que vão além da pintura, com o objectivo de oferecer ao visitante uma ideia mais contextualizada do artista e da sua época; entre outros, poderemos encontrar dispostos cadernos de reflexões e de leitura, e até o seu herbário. Organizada em cinco secções temáticas: cor, ritmo, natureza, construção e movimento, ajuda a entender o desenvolvimento da sua filosofia artística, onde o essencial não residia na forma definitiva das coisas mas sim, no processo intermédio; “o fluxo é mais importante que a estática”. Esta foi também a temática da sua actividade docente. A não perder!

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Fotografia de Sonny Vendevelde AW 2013 Thom Browne Backstage, Paris


Fotografia de Sonny Vendevelde AW 2013 Ermenegildo Zegna Backstage, Milan


Fotografia de Sonny Vendevelde AW 2013 Thom Browne Backstage, Paris


Fotografia de Sonny Vendevelde AW 2013 Dior Homme Backstage, Paris



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