UALGZINE / Doutoramentos
O doutoramento, por sua vez, trazia consigo um universo de possibilidades: “O meio académico era um estímulo, com problemas novos, interessantes e diferentes todos os dias”. Simultaneamente representava uma forma de escapar à escassez de oportunidades na sua área de trabalho. Durante três anos, “e muitos cabelos brancos”, como confessa, entre risos, Rui Hugman dedicou-se exclusivamente à investigação e ao desenvolvimento de modelos numéricos “que permitissem, de forma pragmática e cientificamente defensível, funcionar como apoio no processo de tomada de decisões no mundo real”.
Rui Hugman desenvolveu um conjunto de modelos numéricos para a gestão de aquíferos costeiros no Algarve.
Os frutos do seu trabalho, esses, viriam a brotar logo após o término do doutoramento e a contribuição para evitar o Day Zero, na Cidade do Cabo. É nessa altura que John Doherty, considerado um dos grandes ícones na área da modelação hidrogeológica, o convida a trabalhar com ele na Austrália, naquela que Rui Hugman classifica como “uma proposta irrecusável”. Atualmente, a trabalhar na Flinders University, em Adelaide, o investigador, natural do Reino Unido, prossegue na mesma linha de investigação, agora integrado na “GMDSI - Groundwater Modeling Decision Support Initiative”, uma iniciativa que consiste em selecionar
casos de estudo reais, em vários países do mundo, para realizar trabalhos de modelação que virão a ser usados como exemplos de teste da tecnologia de ponta a ser desenvolvida na área.
Até porque, como nos conta, “a forma como estes modelos são aplicados na indústria é arcaica, estando 20 ou 30 anos atrás das capacidades da tecnologia que temos ao nosso dispor”. Tendo como objetivo demonstrar ser possível usar as metodologias e tecnologias para acelerar a sua aplicação na indústria, Rui Hugman considera que tudo isto contribuirá, no futuro, para uma gestão dos recursos hídricos mais informada. Aos 36 anos, e depois de ter passado por várias empresas, o investigador inglês trabalha hoje naquela que é considerada pelos especialistas na área como a “primeira divisão” da modelação matemática de aquíferos. Pese embora o seu sucesso académico e profissional, não deixa de notar “um grande desfasamento entre o que se faz nas universidades e o que realmente faz falta para o meio empresarial”, considerando essencial “reduzir as barreiras à adoção de metodologias e as tecnologias de ponta, aplicando-as na resolução de problemas do mundo real”. Praticante de escalada desportiva, atividade que ocupa grande parte dos seus tempos livres, no que toca à valorização dos doutorados, Rui Hugman considera que, em Portugal, há, ainda, muitas montanhas a conquistar: “Pergunto-me o que mudou? Que eu veja, pouco ou nada”. No entanto, no que diz respeito à ‘herança’ deixada pelo doutoramento desenvolvido na Universidade do Algarve, Rui Hugman é perentório em afirmar que esta etapa o ensinou “a pensar de forma crítica e independente”, contribuindo não apenas para o seu percurso profissional, mas também para modelar as suas capacidades e o seu conhecimento.
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CIÊNCIAS DO MAR, DA TERRA E DO AMBIENTE