Sobre a importância da linha de investigação que agora desenvolve, o investigador esclarece que “desde 1873 até à atualidade são publicadas obras que trazem à luz romances, recolhidos por todo o território brasileiro, que foram transmitidos oralmente pelo povo, mas que carecem de uma sistematização diacrónica no caso brasileiro”. Essa sistematização e historiografia, que segundo o investigador, está muito bem estudada no caso português é ainda uma brecha no Brasil. Também a relação entre a Tradição Oral Portuguesa e a brasileira serão um dos pontos centrais do seu trabalho uma vez que, como explica Bruno Belmonte, “os romances desembarcaram no Brasil na cabeça e na bagagem cultural dos portugueses que para lá emigraram, seja na primeira onda, ainda no século XVI, seja já no século XVIII com a chegada de açorianos e madeirenses”. No entanto, “para compreender a profundidade do fenómeno e a relação específica entre as ondas migratórias e os modelos textuais vigentes, seria necessário um estudo comparativo baseado na metodologia da geografia folclórica e o primeiro passo consiste precisamente na organização do arquivo do registo de versões”.
Com mais três anos de trabalho pela frente, Bruno Belmonte que acredita que um dos contributos primários da academia deve ser o de “ensinar a aprender e estar em constante renovação na produção do conhecimento”, confessa que uma das principais motivações de um estudante de doutoramento é:
a oportunidade de conhecer e ouvir grandes investigadores, de debater e aprender com professores e colegas e conhecer novas linguagens e ferramentas. Para o investigador brasileiro, o doutoramento em Estudos do Património tem sido também uma oportunidade para aprofundar conhecimentos num campo em expansão: o das Humanidades Digitais. Integrado na equipa do projeto Romanceiro.pt, Bruno Belmonte encontrou no meio digital uma ferramenta potenciadora que lhe tem permitido pensar o seu trabalho de outras perspetivas. Tendo trabalhado no meio corporativo, o doutorando da Universidade do Algarve considera ser cada vez mais importante que empresas e universidades dialoguem no processo de produção e disseminação do conhecimento. No que diz respeito ao Património Cultural Imaterial, Bruno Belmonte aponta caminhos nos quais a investigação pode ser útil ao meio empresarial: “podemos contribuir em campos como a responsabilidade social, a cidadania e a minimização do impacto cultural ao se levar em conta aspetos caros à comunidade em que está inserida, tais como as tradições, celebrações, procissões, ofícios e demais saberes das comunidades envolventes”. Para o investigador, confesso admirador de paisagens, histórias, culinária e tradições ibéricas, o doutoramento é a viagem que lhe falta completar.
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UALGZINE / Doutoramentos
a sua intenção: “Eu já trabalhava com Património Imaterial e tinha interesse em seguir nesta área. Pretendia também conciliar com alguma tradição patrimonial que fosse relevante para o contexto brasileiro. Conhecer este projeto encaixou-se perfeitamente na minha ambição”.