UALGZINE / Doutoramentos
pais que foram entrevistados mas não participaram no programa), de maneira a confirmar que as mudanças ocorridas foram efetivamente por terem participado nas sessões do programa e não por outro motivo”, esclarece. Adriana Correia relembra que “o sentimento e envolvimento dos pais que participaram foi muito gratificante para todos: para nós (formadores), para os pais (participantes) e também para os filhos, que viram os seus pais lidar com as situações de forma diferente.” As relações de apoio que se criaram foram-se mantendo e, passados dois anos, ainda existe contacto entre os grupos – presencialmente, nas ruas, e nos grupos criados nas redes sociais. Por isso, recorda, “para além da demonstração efetiva dos resultados, em estudos científicos, podemos vivenciar ainda presentemente alguns dos benefícios do programa, como é o exemplo da preservação desta rede de apoio que foi estabelecida entre nós e os pais”. O FAF surgiu, assim, como resposta a uma demanda individual de Adriana Correia, mas acima de tudo como forma de colmatar uma necessidade que viu e sentiu na comunidade da Boavista. Apesar de ser comum o aplicar o castigo físico às crianças, a parentalidade positiva assumia
práticas com valores muito próximos dos da comunidade e das famílias cabo-verdianas. Na sua investigação, a doutoranda pode concluir que “os pais facilmente se identificaram, mas culturalmente ninguém lhes havia dito e demonstrado que outras práticas parentais (que não o castigo físico) também são corretas e eficazes”. Em consequência do trabalho desenvolvido, clarifica:
além de experimentarem estas novas práticas parentais, de verificarem que resultavam e que os fazia sentirem-se bem, esta forma mais positiva de educar passou a ser aceite e defendida até fora do grupo, junto dos olhares das avós ou de tias que defendem que uma palmada é que resolve. Para Adriana Correia, a importância desta formação traduz-se num apoio prestado diretamente pelos formadores aos pais e muito fomentado nas relações, seja no grupo (entre os pais), no seio da família (dos pais aos filhos), seja na comunidade, partilhando e mostrando novos conhecimentos e formas mais positivas de tratar as crianças, as situações familiares e
em geral. “É uma diferença concretizada em pequenos gestos, que são treinados em grupo e implementados em casa, que se estendem de uma forma geral na educação das crianças. É uma mudança individual, com muitos benefícios para os próprios, pais e filhos, mas também para a comunidade e para as gerações futuras”, concretiza. Sobre o conhecimento produzido nas universidades e a sua aplicabilidade na sociedade, Adriana defende que “o conhecimento produzido por este tipo de investigações é fundamental para que organismos governamentais tenham ferramentas e respostas efetivas para as necessidades das famílias e da comunidade. A defesa e o apoio à implementação deste tipo de programas, que beneficiam as famílias, através do desenvolvimento da parentalidade positiva, deveria inclusivamente fazer parte da responsabilidade social que muitas empresas têm a preocupação de desenvolver”. Em conclusão, Adriana Correia defende que, na sua opinião, “não é só um título que faz um bom profissional, mas também não é possível ser-se um bom profissional sem conhecimento e formação contínua”.
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