Revista Sampa Digital Edição 27 Maio 2020

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Rainhas, guerreiras, super mulheres, todas essas qualidades podem ser atribuídas a essa figura singular, chamada mãe. São plurais sem deixarem de ser singulares, tem muitos rostos, formas, jeitos, mas apesar de diferentes, todas transbordam amores que ultrapassam qualquer barreira. Assim como na vida, no mundo do samba, as mães estão presente em diversos espaços. Baianas, componentes da velha guarda, passistas, presidentes, rainhas de bateria, entre tantas outras, estão sempre desempenhando com muito empenho suas funções, zelando os seus protegidos e sua comunidade com muito afeto. Seria impossível em apenas uma edição homenagear todas as mães do carnaval, mas esperamos que todas se sintam representadas com as histórias que vamos contar. Vamos exaltá-las, queridas mamães do samba! Pois vocês dividem os seus corações entre seus filhos, família e o carnaval. Mesmo quando seus rebentos são presidentes, carnavalescos, coreógrafos, mestres-sala, porta-bandeiras, ritmistas, rainhas, musas, harmonias, comissão de frente, entre tantos outros, lá estão elas, vestindo a camisa e abraçando os sonhos, entrando de “cabeça” para vê-los felizes. O Dia das Mães só existe para nos relembrar o quanto elas são importantes em nossas vidas, mas devemos celebrá-lo todos os dias. Nossa edição de maio é uma singela homenagem para exaltar estas mulheres tão especiais. Feliz dia das mães!

Expediente

Presidente:

Eduardo de Paula • MTB 13898 - SP

Editora Chefe:

Fabi Faria

Editor Fotográfico:

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Editora Executiva:

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Editores:

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Editores de mídias sociais:

Derlys Acosta • Rita Lutfi

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Alessandra Amorim • Heloisa Passos • Jefferson Branco • Odirley Isidoro • Vany Franco

Colaboradores:

Daniel Miranda • Julia Bispo • Mayara Santos • Simone Canuto (RJ) • Ubiratan Miranda

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Dayse Pacífico • Elson Santos • Ismael Toledo • Marcelo Messina

Marketing & Comercial:

Heloisa Passos

Relações Públicas:

Alessandra Amorim • Flavia Azevedo (RJ) • Fátima Beaux • Miriam Barros

Depto Social:

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Conselho Administrativo:

Cassius de Paula • Jefferson de Paula • Natacha Dandara • Thiago de Paula

Diagramação:

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Capa:

Lucinda de Oliveira Marcelino

Foto:

Elson Santos

Texto:

Heloisa Passos

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Esta edição é dedicada pelas responsáveis por nossa existência, estes seres que podem ser consideradas o ponto inicial da humanidade. São abençoadas em ter o poder de trazer pessoas ao mundo, formá-las dentro do seu ventre e entregá-las ao mundo para trilhar o seu próprio caminho.

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Os Bambas da Sampa Conheça quem faz com todo carinho e qualidade o conteúdo editorial da Sampa para você leitor.

Alessandra Amorim

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Fabi Faria

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Dayse Pacífico

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Flávia Azevedo

Jéssica Souza

Júlia Bispo

Lucas Torres

Marcelo Messina

Mayara Santos

Miriam Barros

Odirley Isidoro

Rita Lutfi

Ubiratan Miranda

Vany Franco

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Sumário

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Conheça a história de Lucinda de Oliveira Marcelino a “Tia Lucinda” como é chamada carinhosamente

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O reinado da rainha de bateria gestante

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Mãe e filho: uma união embalada pelos carnavais

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Mães, o Ventre da Vida

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O coração de uma mãe ao pulsar pelas baterias de seus filhos

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A Flor de Salinas: Dona Saúde, a Mãe de Todos Pavilhões

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M

ãe de Deus, Mãe do .........Céu, Mãe da Terra... Bênção Mainha, Bênça Mãe, Abênça Mamãe Oi Mãe! Manheeee.... Mãeee quero colo Mãe de Leite, Mãe que cuida, cria, adota. Mãe do Lar, Mãedrasta, Pãe “Minha mãe é demais” “Mamãe como você é linda” “Te amo Mãezinha” Somos todos “uns filhos da mãe” e coisa melhor não existe! Texto: Eduardo de Paula


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os 82 anos, dona de uma saúde.e disposi .......ção de dar inveja a qualquer adolescente é a personagem desta história. Paulistana, nasceu sob o signo de escorpião, católica e devota de São Benedito. Atualmente é “Madrinha da Ala das Baianas” da Escola de Samba Império de Casa Verde. .. Escorpianos são pessoas sedutoras e muito confiantes, demonstram-se aptas e competentes em suas atividades propondo-se a mudanças e adaptações para poder bem realizá-las. E assim também é Dona Lucinda, de um coração enorme, generosa e agora “global” como todos os amigos a chamam, por ter aparecido na TV após o desfile de carnaval e por participar de vários eventos, “fiquei famosa” ela diz com um sorriso no rosto. Se ela gosta? A família conta que ela ama, e que não pode ver uma câmera que já quer tirar fotos, conta também que o marido quando vivo falava “você ainda vai aparecer na TV fazendo novela”!.......................... COMO TUDO COMEÇOU Na década de 60, quando as escolas de samba de São Paulo desfilavam na Av. São João, ela não perdia um desfile se quer, assistia a todos. Não havia nenhuma estrutura, e o desfile era assistido em pé, o que separava a plateia das pessoas que desfilavam era apenas uma corda. Mas qual o problema? Nenhum, diz que ficava ali do começo ao fim, vendo toda aquela festa passando bem em frente de seus olhos. Nesta mesma época já frequentava bailes e a quadra da Unidos do Peruche com seu marido e filhos. Nos anos 70, os desfiles passaram a ser na Av. Tiradentes com arquibancadas e com “um pouco” mais de conforto, pois havia lugar para sentar. Mas Dona Lucinda não pensava em conforto e muito menos pensava em ficar sentada, queria mais era ficar em pé mesmo, observando todas aquelas fantasias, as danças, o som das baterias e cantando os sambas… Ah o samba!

Mas ela nunca pensou em desfilar, o negócio dela era apenas frequentar a quadra e assistir aos desfiles. Então, como gostava de estar no meio de toda aquela festa, se propôs a ajudar e a cuidar dos adereços, das fantasias e estava sempre à disposição para ajudar no que fosse necessário, no barracão. Em meados de 1994, junto ao seu marido começaram a ir na Escola de Samba Império de Casa Verde que acabara de ser inaugurada e era muito perto de sua casa. Frequentava com toda a sua família, diz: “A escola é um ambiente muito familiar, não tem bagunça”......................................... Quando chegou na escola, conheceu Dona Lúcia Galvão, Dona Odete e Dona Neusa, que logo a convidaram para se juntar ao time para montar o departamento social da escola, onde ficou por alguns anos. Já em 1997, participou do curso de harmonia e ficou na ala por um ano. No ano seguinte, foi convidada a fazer parte da Ala das Baianas, que prontamente aceitou, pois sentiu que naquele momento estava preparada para desfilar em uma ala, e não mais atuar como coadjuvante............................................... Em 2018, ela recebeu uma homenagem por ser a mais antiga da Ala e recebeu a faixa de Madrinha da Ala das Baianas, título que ela carrega consigo até hoje com muito orgulho. Ela conta que sua preparação para o carnaval é igual a de todo o componente. “Não é porque eu tenho mais idade e sou a mais antiga que tenho folga não”. Sua filha Luzia é apoio da Ala das Baianas, a bisneta Victória já trilha o caminho da bisavó desde cedo. Aos 14 anos foi eleita Rainha Infantil pela ASSASP e hoje integra a Ala das Tigresas na escola.

Nos anos 90, o Sr. Manolo, dono da churrascaria onde Lucinda trabalhava no Parque Peruche, montou uma ala na escola de samba Unidos do Peruche e a convidou para participar, pois já sabia desse amor que ela tinha pelos desfiles e pelo samba.

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A sua função no dia do desfile é ajudar as “baianas” a se vestirem, se alimentarem e ajudar a todas na ala, e completa - “Como sou a Madrinha, venho na frente com a Bá que é a coordenadora”. Agora com essa pandemia ela está um pouco triste e desanimada, porque não pode ver as amigas e não está frequentando a quadra. Mas disse que sempre liga para as “baianas” para saber como elas estão e não perder o contato. E diz, “Para mim que já tenho idade preciso ter um divertimento, por isso frequento a escola de samba”. Conta ainda que tem muito orgulho de sua história no samba, e que tem por todas as paredes de sua casa vários diplomas e homenagens, como o Prêmio Tia Edwiges recebido na Unidos do Peruche, Voto de Júbilo e Congratulações recebido pela Câmara Municipal de São Paulo por sua atuação comunitária no bairro do Imirim/SP, participação da Solenidade em comemoração à mulher Negra Latino Americana e Caribenha convidada pelo Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra do Estado de São Paulo, entre outros....................................................................................................................................................................... FESTA DE SÃO BENEDITO (O Santo Africano) O ano era 1941, no bairro da Casa Verde em São Paulo, onde abrigava muitas famílias negras que compraram terrenos no local. Uma época, em que os alugueis do centro da cidade ficaram muito caros, “empurrando” as pessoas para a periferia. Nesta mesma época, foi fundada a Irmandade de São Benedito, a mãe de Dona Lucinda era uma das coordenadoras.

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Ela conta que depois da missa, eles serviam café para as pessoas em uma serraria ao lado da igreja e que também serviam almoço. Só que o almoço era servido em sua casa e na dos demais fundadores, pois a logística era mais fácil. Depois da reza, as pessoas faziam seus pratos e iam comer no quintal e até mesmo na calçada pois a quantidade de gente era grande. Com o passar do tempo, sua mãe faleceu e ela continuou. Conta que em algumas das casas o pessoal aproveitava após o almoço para fazer um samba, e isso acabou virando uma tradição. A cada ano a festividade e a quantidade de pessoas aumentava mais. Foi quando Dona Lucinda e seu marido resolveram fechar a rua para poder atender todas as pessoas. Contavam com a ajuda de amigos e parentes, faziam todo ano contato com a prefeitura para poder realizar com segurança a festa. Todos ajudavam como podiam, uns cozinhavam, outros conseguiam mesas e cadeiras, outros faziam o samba e assim a cada ano a festa ia se tornando popular. Tudo ia bem, mas passado alguns anos, veio a crise, as coisas começaram a ficar mais difíceis, as pessoas não conseguiam mais ajudar, e para poder fazer a festa sozinha não teria como. Chegado 2020, ela conta que estava bastante triste pois não iria conseguir fazer a festa, pois não tinha como fazer na rua por causa de autorizações da prefeitura, poucas pessoas para ajudar nesta parte burocrática, etc. Como hoje ela faz parte da Império de Casa Verde, ela e sua filha Luzia, tiveram a ideia de pedir a quadra para o presidente da escola para que realizassem a festa, com toda a infraestrutura que a quadra possui e com segurança para as pessoas. Ela me conta que o presidente prontamente cedeu a quadra sem nenhuma objeção para que ela pudesse fazer a festa para todos, e diz, “Foi uma felicidade, só tenho a agradecer por tudo”! Por fim, Dona Lucinda e Luzia sua filha, fazem questão de registrar, que hoje a festa só existe porque seus familiares e amigos colaboram para realizar tudo com muito amor e carinho, e deixam sua gratidão a todos. Dona Lucinda é um exemplo de mulher guerreira, que nunca se acomodou com os reveses da vida, a mesma mãe do carnaval é também a mãe que alimenta na Festa de São Benedito. Que ele a abençoe sempre e que lhe dê saúde e força por muitos anos para continuar sua jornada.

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Aos 5 meses de gestação, Gabriela Lelis desfilou a frente da bateria da Imperador do Ipiranga, esbanjando saúde e disposição atravessou a passarela do samba carregando a sua filha Aretha em seu ventre. A Rainha da escola da Vila Carioca é mamãe de primeira viagem e não tirou o samba do pé mesmo após descobrir a sua gravidez. “Quando descobri que estava grávida os ensaios já estavam acontecendo. Fique muito animada e pouco preocupada como ia fazer para ensaiar, mas em nenhum momento eu pensei em desistir.” A publicitária de 27 anos, já ocupou diversos cargos no mundo do samba. Começou sua história em 2012 na escola Império de Casa Verde onde foi passista e posteriormente musa da agremiação. Em 2017, Gabi Lelis participou do concurso Musa do Carnaval de São Paulo do programa do Caldeirão do Hulk, onde conquistou o segundo lugar. No ano seguinte alcançou a posição mais alta da corte do carnaval paulistano. Após deixar seu posto de rainha do carnaval, Gabi assumiu a frente da bateria da Imperador do Ipiranga em 2019. Apesar de ter muito orgulho do seu caminho e todas as suas conquistas, para ela nenhum desses títulos é mais importante que o título de mãe.


“No final deu tudo certo. Foi Mágico! Uma das experiências mais incríveis que eu já vivi. Fiquei muito emocionada com o carinho e o cuidado comigo e com a minha pequena. A agremiação é muito família e o meu sentimento pela comunidade é de gratidão.” Comenta, a musa MÃE E RAINHA No momento, Gabi está grávida de 29 semanas. Aretha está prevista para chegar ao mundo em meados de julho. Depois que sua bebê nascer, a musa que continua como rainha de bateria, pensa para o próximo ano em dar uma pausa rápida em seu reinado. Promete levar a filha desde cedo para a quadra, pretende passar sua experiência e o amor pelo samba. Afinal, filho de peixe, peixinho é. “Vou dar toda atenção para a minha princesa e quando estiver maiorzinha poderá sambar ao meu lado e seguir os passos da mamãe”, finaliza.


Em 2020, a Mancha Verde trouxe para o desfile no Anhembi o jovem Nicolas e sua mãe, Silvia Grecco, que ficou conhecida por narrar os jogos do Palmeiras para o filho cego e autista. A cumplicidade entre os dois foi alvo de reportagens e homenagens durante o meio esportivo no ano de 2019. Mas acredite, essa é uma história comum, e ao mesmo tempo única. O elo entre mães e filhos podem ser encontradas no futebol, na gastronomia, na música, na dança e no carnaval. Este é o caso de Miriam Pena, 59, mãe do Bruno, 29, que juntos desfilam há mais de dez anos no carnaval de São Paulo. Entre enredos, baterias, passistas e vitórias, a cumplicidade entre os dois mostra que o amor de carnaval é mais profundo e menos passageiro. AMOR PASSANDO GERAÇÃO

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Criada pelos pais e pela avó, a dona de casa Miriam, desde cedo gostava de pular carnaval. Em época de folia, a mãe a acompanhava em bailes e bloquinhos de rua, na época, famosos na Avenida São João. Foi casada por seis anos e dessa relação nasceu Bruno, que como Miriam gosta de explicar “meu maior companheiro no samba”. O carnaval foi passado de mãe para filho. Desde que começaram a desfilar, não pararam um ano sequer. Miriam enxergava a evolução do filho nos desfiles e isso a completava.

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“Ver meu filho se tornar ritmista mesmo tendo uma patologia de fragilidade óssea é algo que vai ficar sempre marcado para mim”, revela. “Mas outras coisas também me marcaram, como esse ano ele fazer a abertura do segundo ensaio técnico da Peruche, cantando com Léo Reis e Leandro Alegria.” A AVENIDA É NOSSA SEGUNDA CASA Moradores do tradicional bairro da Vila Prudente, Zona Leste de São Paulo, o primeiro desfile de Mirian e Bruno foi pela Gaviões da Fiel. Corintiano roxo, Bruno aguardava todos os anos o desfile da agremiação pela televisão e sonhava em participa um dia. “Eu tinha alguns problemas de saúde na infância que me impediam de ir”, relembra Bruno. “Com 17 anos, uma vizinha nossa disse que iríamos participar do desfile. O filho dela tocava na Gaviões e ela entrou em contato com o diretor da escola. Desfilamos em uma área específica para cadeirantes”, conta. Além da Fiel, mãe e filho ainda desfilaram pela Camisa 12, Leandro de Itaquera, Tatuapé, Imperador do Ipiranga, Império, Mocidade Alegre, Tom Maior e Unidos do Peruche. Por passar por tantos sambas fica difícil escolher um. “Impossível citar o meu favorito, todos me marcaram de alguma forma” diz Miriam. “Mas vou mencionar o desfile da Tom Maior em 2016 (vice-campeã do grupo de acesso) e a do Peruche em 2020 (que tinha como enredo ‘Ubuntu – Por um novo mundo’)”.................................”

“Fomos com o serviço de van, lá ficamos na pista, mas a chuva estava forte, tinha muito mato na pista e o local escuro. Foi difícil se locomover com a cadeira de rodas e a estrutura também não ajudava muito”, comenta Bruno. Mas no ano do centenário do Corinthians, Bruno afirma que apesar das dificuldades do dia, valeu a pena participar desse momento. Embora, salienta que é preciso fazer diversas melhorias de acessibilidade nos sambódromos. “Principalmente o banheiro do Anhembi. Só que Interlagos estava com toda a estrutura precária”, relata. OS SONHOS DA MÃE Miriam não pensa muito ao responder sobre o que daria de presente ao filho. “Um videogame novo”, pois faz parte da diversão dele. Esta não é a única coisa que a dona de casa quer: “Eu mudaria os preconceitos que parte da sociedade tem com os portadores de necessidades especiais. Meu filho passa por isso e é muito ruim”, completa Miriam. A mãe sabe que seu filho é um presente de Deus e uma missão de amor na terra. “Não devemos medir esforços pela alegria dos nossos filhos especiais, que para mim, nada mais é do que uma benção de Deus”, finaliza.

O MAIOR PERCALÇO DA AVENIDA Sem pestanejar, Bruno comenta que foi o de 2010. Aquele ano ambos estavam desfilando pela Camisa 12, na época pertencente ao grupo especial de bairros, e o desfile ocorreu em Interlagos. Além de morar longe do local, ainda estava chovendo.

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Que linda homenagem, DragĂľes!


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oderia ser apenas mais um grande desfile na história da escola, poderia! Afinal, eram Onze anos de existência e usando um termo bem antigo, ela era uma nova Coqueluche. A Dragões da Real chegava ao Grupo Especial e como um filho decidiu acarinhar a mais nobre dama, o ventre mais nobre, as Mães! “É ela, a Mãe Natureza O ventre da vida Sua essência é o amor!” O desfile foi conduzido através da voz do Intérprete Daniel Collete e a Bateria era comandada pelo Mestre Carlinhos. Toda responsabilidade nesta homenagem, ficou nos traços do talentoso Eduardo Caetano, que transformou cada pedaço da escola em um carinho na alma. “Oh mãe, a sua luta é minha inspiração Venceu batalhas, me deu proteção O seu olhar me viu nascer, crescer, viver E ser quem sou”......................................... Claro, que para um bom desfile é necessário um samba a sua altura, e a composição de Dico Baloeiro, Eduardo Leão, Ricardo "Rigolon", Rico e Wagner Rodrigues embalou e engrandeceu e apaixonou toda comunidade................................... Na abertura do desfile, um brinde a nossos olhos, mostrando a beleza esplendorosa da Mãe Primavera, concedendo ao nosso solo, flores, plantas, animais e nos abençoando com sua rica e divina fonte de vida. Abordou com capricho, a zelosa senhora que reina sobre os lares e conduz a vida de uma família, a Rainha. Nos colocou dentro da ótica, das nobres senhoras que buscam incessantemente os seus filhos desaparecidos....................................

No caminho da religiosidade nos apresentou as Mães Pretas que alimentavam como ama de leite, cultuou a riqueza ancestral daquela que cuida e guia o nosso “Ori” nas religiões de matrizes africana. As magistrais damas que doam sua vida pelo filho especial e que precisa de atenção, que literalmente ganham asas de anjo por tal sensibilidade, as mulheres que doam o amor aos seus filhos. A alegria e a descontração das hilárias damas que trazem o sorriso no rosto de quem as vê, fora ressaltado com humor. Cada retalho costurado nesta passarela, não foram capazes de mostrar literalmente o tamanho valor de vocês, até por que é impossível mensurar isso em apenas 65 minutos de desfile............ Mas ver o orgulho nos rostos de cada ritmista ao reverenciar suas mães em pequenos atos e gestos, transformou este desfile em um cortejo de amor. Todos os caprichos e cuidados foram descritos ala pós ala, em cada alegoria, uma forma de devolver o amor que fora despejado sobre cada um de nós. Palavras são poucas para descrever tal desfile, talvez nem as imagens desta página reflita tamanho sentimento. Mas desejamos através deste texto, enaltecer as mães e como o samba dizia… Quem é que não te ama nessa passarela?

“Pois sua voz vai sempre me educar Em suas mãos vou melhorar O tempo nunca vai nos separar”

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resente no mundo samba há mais de 30 anos, mãe de cinco filhos, Dona Luísa Cristina Eugenia ou só Cristina, como gosta de ser chamada, é uma presença marcante na história do carnaval paulistano. Sua trajetória começou na década de 1990 quando seu Marido, Mestre Neno comandou a bateria da escola Camisa Verde e Branco. Sempre braço direito do esposo, ela o acompanhava em todos os momentos dos ensaios técnicos até a hora do desfile. Mesmo quando seu segundo filho era bebê de colo e mamava no peito, ela não aguentou a ansiedade para ver o marido brilhando com a bateria furiosa na avenida Tiradentes. “O Fernando ainda mamava no peito, mas eu precisava estar lá com ele. Não me contive e deixei ele com a minha avó, tirei leite para ele ficar tranquilo, então fui para avenida”, comentou DE GERAÇÃO EM GERAÇÃO Seus filhos trilharam o mesmo caminho do pai, espelhados em Mestre Neno, desde crianças, Fernando Neninho e Luís Felipe, começaram precocemente e de forma natural a estar dentro da bateria e vivenciar esse universo. Anos mais tarde Fernando deu seus primeiros passos como mestre de uma escola da Vila Albertina enquanto Felipe iniciava como ritmista. No carnaval 2020, seu filho Fernando “Mestre Neninho”, regeu a bateria da Vila Madalena, Pérola Negra, enquanto Luís Felipe “Mestre Lipe” esteve à frente da Camisa 12. Cristina se desdobrou para estar com os dois filhos durante este momento tão importante. Acompanhou a passagem das duas baterias ao lado dos mestres dando o suporte para que eles chegassem até a dispersão.


“Geralmente venho de apoio ao lado deles, segurando a garrafinha de água, o palito, o que for preciso. Transmitindo calma e força que eles precisam para chegar até o fim da avenida. Além disso, fico a disposição para resolver qualquer problema que surja na hora. Não só deles, mas de qualquer pessoa que precise, diretores de bateria, ritmistas... Eu só não entendo de instrumento, mas fora isso eu faço qualquer coisa” PARA O FUTURO Cristina afirma que assim como fez com seu marido vai fazer com seus filhos. Ela preza muito pela união familiar. O samba não é só a paixão da família como é um dos elos que os mantem firmes e fortes. O seu desejo é que família continue assim, todo mundo junto e misturado no samba. “Eu vou sempre assim. Enquanto Deus me der força e saúde eu vou acompanhá-los e ajudar no que eu puder. O que eles precisarem de mim, eu vou fazer por eles”, finaliza.

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atizada com o nome de Maria da Saúde ......David, chegou a São Paulo ainda nova, de origem mineira, ela quietinha foi costurando boa parte da sua vida. De uma loja de material esportivo, a paixão por uniformes a conduziu as máquinas de costura, rapidamente seu talento começou a se auto lapidar e cativou o brilho nos olhos de muitas pessoas. Cuidadosa, talentosa e regrada, assim ela fez daquela paixão seu ofício. Transformou a maravilhosa paleta de cores em sua fiel companheira, agulha e linha se tornaram suas confidentes, assim por mais de 30 carnavais, ela emocionou a todos com seu talento. Do Bordado de um uniforme a um pedido especial: Um Pavilhão de Escola de Samba. Assim quis o destino, que uma jovem mineira, moldasse milhares de corações. Logo, ela se tornou referência nesta área e aquele trabalho acanhado começou a ganhar inúmeros fãs. A “Jovem Flor” da Cidade de Salinas, ganha representatividade no meio de tantos nomes de peso na construção histórica do festejo de momo..........................

Católica fervorosa, todo ano ia visitar a Basílica de Aparecida para celebrar a vida e pedir a bênção a todos que ao seu lado caminhavam. Zelosa, foi pilar principal para moldar os passos de suas três filhas (Catia, Kerli e Carla) e com êxito ela conseguiu. Deixou um legado que hoje seguissem seus passos, seus cortes, seus traços... No dia 20 de julho de 2019, o céu cravejado de estrelas pediu licença para que uma bordadeira do tempo pudesse assim junto deles abrilhantar. Ela partiu e deixou um pedaço de todos nós com saudade de sua alegria e seu sorriso, ela partiu mais deixou, no coração de todos nós, um pouco de seu talento e brilho. Ela partiu mais deixou, uma marca, uma bela e maravilhosa história dentro de nosso carnaval.

Apaixonada por futebol, fez da sua alma em verde e branco, as cores da Sociedade Esportiva Palmeiras, um dos seus grandes amores. Com o nascimento da Escola de Samba Mancha Verde, ela realizou mais um sonho, uniu a sua paixão pelo campo ao amor pelo samba. Nunca hesitou em depositar carinho e paixão a cada traço, risco ou bordado, fez com que parte de sua alegria fosse depositada em centenas de pavilhões. Seu talento consagrado, levou o seu nome e seu trabalho há vários Carnavais pelo mundo, seu talento viajou para bem longe de nosso país. A vitalidade de uma menina, dentro do corpo de uma mulher com o passar dos anos se fazia mais presente. Lutou bravamente para manter sua família e seus filhos em um bom caminho, ensinando a cada um, uma boa parcela de seu trabalho.................... Depositando nos corações de quem frequentava sua casa, uma colher de chá do seu amor. Ela era assim, simpática e feliz, por saber que estava construindo algo maior do que sua história de vida, algo que ficaria preso a milhares de pessoas. Ela se seduziu com a amorosidade que o Carnaval despeja na vida de cada apaixonado.

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