A China vista da Europa - séculos XVI-XIX | Coleções da Biblioteca Nacional de Portugal

Page 1

EXPOSIÇÃO | Biblioteca Nacional de Portugal

A China vista daséculos Europa XVI-XIX

Coleções da Biblioteca Nacional de Portugal 29 nov. ’23 – 2 mar. ‘24





A China vista da Europa séculos XVI-XIX

Coleções da Biblioteca Nacional de Portugal

China as Seen from Europe 16th-19th Centuries

Collections of the National Library of Portugal

从欧洲看中国 十六至十九世纪地图展 葡萄牙国家图书馆馆藏


Exposição “A China Vista da Europa, séculos XVI-XIX. Coleções da BNP” FICHA TÉCNICA EXPOSIÇÃO CURADORES Alexandra Curvelo Angelo Cattaneo Rui Lourido DIREÇÃO Inês Cordeiro (Biblioteca Nacional de Portugal) Rui Lourido (Observatório da China) COORDENAÇÃO DA MONTAGEM - BNP Gina Rafael Maria João Araújo Alexandra Curvelo APOIO À COORDENAÇÃO Serviço de coleções de reservados Serviço de Coleções Complementares MONTAGEM E PRODUÇÃO DA EXPOSIÇÃO Maria João Araújo Miguel Castelo Branco Cristina Gouveia DESIGN GRÁFICO Sara Oliveira PARCERIA INSTITUCIONAL (ORDEM ALFABÉTICA) Jorge Welsh Works of Art Arquivo Nacional da Torre do Tombo Lee Shau Kee Library, The Hong Kong Biblioteca da Ajuda University of Science and Technology Biblioteca Pública de Évora Museu do CCCM Biblioteca Mediceia Laurenziana Museo Galileo, Florença Biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa Museu do Oriente Câmara Municipal de Lisboa Museu de Marinha ISEM – Istituto di Storia Museu Medeiros e Almeida dell’EuropaMediterranea – CNR – Consiglio Nazionale delle Ricerche Museu Nacional de Arte Antiga Fundação Jorge Alvares Subvertice James Ford Bell Library, University of UCCLA- União das Cidades Capitais de Língua Minnesota (EUA) Portuguesa COMUNICAÇÃO BNP- Carla Araújo UCCLA-Anabela Carvalho, Raquel Carvalho CML- Câmara municipal de Lisboa

FICHA TÉCNICA CATÁLOGO CURADORES Angelo Cattaneo Alexandra Curvelo Rui Lourido DIREÇÃO Inês Cordeiro (Biblioteca Nacional de Portugal) Rui Lourido (Observatório da China) TEXTOS Marco Caboara Angelo Cattaneo Rui Lourido TADUÇÃO PARA CHINÊS Lu Yang TRADUÇÃO INGLÊS Rosário Rosinha Angelo Cattaneo Teresa Curvelo EDIÇÃO E REVISÃO DE TEXTOS Angelo Cattaneo Alexandra Curvelo Rui Lourido Maria do Rosário Rosinha DESIGN GRÁFICO E PAGINAÇÃO Catarina Amaro da Costa CRÉDITOS FOTOGRÁFICOS CML - Comunicação e imagem DGPC BNP APOIO Caroline Cicarello Filomena Nascimento David Peralta IMPRESSÃO Imprensa Municipal | CM Lisboa ISBN: 978-989-35465-1-2 Depósito Legal nº 978-989-35465-1-2

EDIÇÃO: Observatório da China BNP

Lisboa, novembro, 2023


A China vista da Europa séculos XVI-XIX

Coleções da Biblioteca Nacional de Portugal

China as Seen from Europe 16th-19th Centuries

Collections of the National Library of Portugal

从欧洲看中国 十六至十九世纪地图展 葡萄牙国家图书馆馆藏 NÚCLEOS DA EXPOSIÇÃO:

EXHIBITION FOCUS

展览内容:

1. Do Cataio à China 2. A China marítima e interior 3. Macau, porta da China 4. Chinoiserie(s): a China no imaginário europeu

1. From Cathay to China 2. Maritime and inland China 3. Macau, gateway to China 4. Chinoiserie(s): China in the European imagination

1. 从契丹到中国 2. 中国沿海和内陆 3. 澳门,中国的门户 4. 中国风:

欧洲人想象中的中国


Introdução

A China vista da Europa: séculos XVI-XIX

Coleções da Biblioteca Nacional de Portugal O Observatório da China e a Biblioteca Nacional de Portugal, organizam com o apoio de centros de investigação e universidades de Portugal, de Itália e da China1, a exposição de cartografia e outras peças - A China vista da Europa: séculos XVI-XIX, Coleções da Biblioteca Nacional de Portugal, que se realiza nesta biblioteca, entre 29 de novembro de 2023 e 2 de março de 2024. Com esta exposição, os organizadores pretendem contribuir para um melhor conhecimento da história e do desenvolvimento do conhecimento geográfico e cartográfico, que permitiu estabelecer as relações mais longas e pacíficas de Portugal com a China. Pretendemos igualmente contribuir para a reflexão da importância dos laços culturais e civilizacionais para o necessário aprofundamento, na atualidade, das pontes, sinergias e amizade entre Portugal/Europa e a China. A exposição inclui mapas, roteiros, obras literárias e objetos de Chinoiserie, que apresentam momentos relevantes da construção da imagem da China a partir da Europa dos séculos XVI a XIX, destacando a importância da cartografia de origem portuguesa. Para além de documentação da BNP, a exposição inclui também documentação relevante das Bibliotecas da Ajuda e Pública de Évora, e de museus nacionais (como o do Arte Antiga, Medeiros e Almeida, CCCM e da Fundação Oriente) ou internacionais (como o Museu Galileo, Florença, Biblioteca da Hong Kong University of Science e Technology e a Biblioteca da Universidade do Minnesota, James Ford Bell Library).

A China integra o imaginário europeu desde tempos recuados, como espaço onde se projetam mitos, sonhos, expectativas e receios. Este território imenso, que a Europa foi conhecendo durante a Idade Média, sobretudo por via das relações de alguns mercadores e missionários cristãos - Marco Polo, Giovanni da Montecorvino, Odorico da Pordenone -, é um espaço riquíssimo, que suscita curiosidade, mas que é longínquo e de difícil acesso. Foi a partir do início da primeira Idade Moderna, no quadro da expansão marítima portuguesa, que uma presença mais constante dos Europeus nos litorais chineses e do sudeste asiático, permitiu um conhecimento que se foi atualizando sobre o reino da China. Neste âmbito, devemos destacar o papel do jesuíta português Bento de Gois (1562-1607), que foi o primeiro a comprovar que, os antigos e famosos reinos, conhecidos no ocidente como Sérica (designação da antiguidade clássica para o pais produtor das sedas) e com as designações de Mangui e de Catai (designação mais difundida por Marco Polo, na Europa medieval) eram afinal um e o mesmo reino da China. Mas essa conclusão só foi possível após a sua longa (4 anos) e fatídica viagem, que se iniciou em Goa (Índia) e após atravessar seis mil quilómetros com penosas montanhas e desertos, acabou em Suzhou (término da Rota da Seda) onde veio a falecer2. A cartografia e a literatura de viagens portuguesas desempenharam neste domínio um papel relevante e com impacto em diferentes partes da Europa. Também Macau foi, a partir de c. 1557, um palco estratégico de uma presença


luso-asiática na China, como centro de saber, de comércio e da religião Cristã, que possibilitou a entrada dos Ocidentais no interior deste vasto espaço, particularmente dos Jesuítas. A partir de c. 1570, Fernão Vaz Dourado, Matteo Ricci, Michele Ruggieri, Luís Jorge de Barbuda, Abraham Ortelius, Jan Huygen van Linschoten, Joan Blaeu, Martino Martini S.J., apenas para citar alguns dos principais cartógrafos, integram nas suas obras fontes chinesas e constroem novas imagens, progressivamente mais completas, não apenas dos litorais, mas também do interior do território do império chinês.

2- incluímos duas mesas digitais e interativas, onde apresentamos imagens digitalizadas de alguma cartografia histórica significativa, que pela especificidade da peça ou pela sensibilidade do seu suporte, não puderam ser expostas nesta exposição. Pelo interesse histórico destas peças cartográficas, incluímos as suas imagens num anexo, no final deste catálogo.

Através da exposição e da leitura de material gráfico que inclui mapas e roteiros, obras literárias, assim como objetos artísticos e imagens digitais, esta exposição narra alguns dos momentos importantes da construção da imagem da China a partir da Europa entre os séculos XVI a XIX, desde a chegada dos Portugueses aos Mares da Ásia, até ao impacto desencadeado por este processo na Europa através do fenómeno da Chinoiserie e da forma como, por sua via, podemos percecionar a projeção da Europa através da construção de um imaginário chinês. A presente exposição conta ainda com dois outros espaços expositivos: 1- uma secção de exposição de algumas obras bibliográficas sobre a China, num espaço contíguo - Mezanino;

NOTA FINAL: Esta exposição enquadra-se no âmbito do projeto Portal Digital Macau/China: Fontes dos Séculos XVI e XIX, que tem vindo a ser desenvolvido desde 2016 pelo Observatório da China, em parceria com a BNP, com o patrocínio da Fundação Macau e o apoio da UCCLA. Disponibiliza atualmente uma coleção digital com cerca de 220 mil páginas, de acesso universal e gratuito. Pode ser consultada em: - https://www.observatoriodachina.org/biblioteca ; - https://purl.pt/26918/1/PT/index.html

Os Curadores: Angelo Cattaneo (Consiglio Nazionale delle Ricerche (CNR), Istituto di Storia dell’Europa Mediterranea (ISEM). Alexandra Curvelo, Instituto de História da Arte (IHA) e Professora do Departamento de História da Arte da NOVA FCSH. Rui Lourido, Historiador, Presidente do Observatório da China, membro da direção da WACS - Associação ~ 7 Mundial de Estudos Chineses da CASS

1

ver lista de parceiros e apoios institucionais, na Ficha Técnica na pág. 6 e no final deste catálogo, na página 107 - 109

2

Eduardo Brazão, Em demanda do Cataio: a viagem de Bento de Goes à China (1603-1607). Lisboa: Agência-Geral do Ultramar, 1969. Cornelius Wessels, Early Jesuit Travellers in Central Asia, 1603–1721. Asian Educational Services, 1924. Henry Yule et al., Cathay and the way thither: being a collection of medieval notices of China. London, Hakluyt Society, 1913


Introduction

China as seen from Europe: 16th-19th Centuries

Collections of the National Library of Portugal The Observatory for China and the National Library of Portugal, with the support of research centers and universities in Portugal, Italy and China1, are organizing the map and art exhibition - China Seen from Europe: 16th-19th Centuries, Collections of the National Library of Portugal, which will be held in that Library between November 29, 2023, and March 2, 2024. This exhibition aims to contribute to a better understanding of the history and development of geographical and cartographic knowledge, which allowed Portugal to establish the most extended relations between Europe and China. We also intend to contribute to reflecting on the importance of cultural and civilizational ties for the deepening of bridges, synergies and friendship between Portugal/Europe and China today. The exhibition includes maps, itineraries, literary works and Chinoiserie objects, which present relevant moments in the construction of the European image of China from the 16th to the 19th centuries, highlighting the importance of cartography. In addition to documentation from the BNP, the exhibition also includes relevant documentation from the Ajuda and Évora Public Libraries and national museums (such as the National Ancient Art Museum, Medeiros e Almeida Museum, 1

and Macau Scientific and Cultural Center and the Orient Foundation) and international museums (such as the Galileo Museum, Florence and the Library of the Hong Kong University of Science and Technology and the James Ford Library of the University of Minnesota). China has been part of the European imagination since Antiquity where myths, dreams, expectations and fears were projected. This immense territory, which Europe came to know during the Middle Ages, above all through the relations of some Christian merchants and missionaries - Marco Polo, Giovanni da Montecorvino, Odorico da Pordenone - is a vibrant space, which aroused curiosity, but which was distant and difficult to access. It was from the beginning of the Early Modern Age, in the context of the Portuguese maritime expansion, that a more constant presence of Europeans on the Chinese and Southeast Asian coasts enabled knowledge about the kingdom of China to be updated. In this context, we must highlight the role of the Portuguese Jesuit Bento de Gois (1562-1607), who was the first to prove that the ancient and famous kingdoms, known in the West as Sérica (a name from classical antiquity for the country that produced silks) and with the designations of Mangui and Cathay (a designation more

See the list of partners and institutional support at the end of this catalo, pages 107 - 109

Eduardo Brazão, Em demanda do Cataio: a viagem de Bento de Goes à China (1603-1607). Lisboa: Agência-Geral do Ultramar, 1969. Cornelius Wessels, Early Jesuit Travellers in Central Asia, 1603–1721. Asian Educational Services, 1924. Henry Yule et al., Cathay and the way thither: being a collection of medieval notices of China. London, Hakluyt Society, 1913

1


widely used by Marco Polo in medieval Europe) were one and the same kingdom of China. But this conclusion was only possible after his long (4 years) and fateful journey, which began in Goa (India) and, after crossing 6,000 kilometers with mountains and deserts, ended in Suzhou (the end of the Silk Road) where he died.1 Portuguese cartography and travel literature played an essential role in this area and impacted different parts of Europe. From c. 1557, Macau also became a strategic stage for a Portuguese-Asian presence in China as a center of knowledge, trade and the Christian religion, which made it possible for Westerners, in particular, the Jesuits, to enter the Chinese provinces. From around 1570 onwards, Fernão Vaz Dourado, Michele Ruggieri SJ, Matteo Ricci SJ, Luís Jorge de Barbuda, Abraham Ortelius, Jan Huygen van Linschoten, Joan Blaeu, Martino Martini SJ, to name a few of the main cartographers, integrated Chinese sources into their works and built new, progressively more complete images, not only of the coastlines but also of the interior of the territory of the Chinese empire. Through the analysis of visual documents, such as maps and itineraries, literary works, as well as objets d’art and digital images, this exhibition recounts some of the most

critical moments in the European construction of the image of China between the 16th and 19th centuries. It focuses on the arrival of the Portuguese in the Asian Seas and the impact it triggered in Europe through the phenomenon of Chinoiserie while also analyzing the self-projection of Europe through constructing a Chinese imaginary. This exhibition also has two other exhibition spaces: 1- an exhibition section of some bibliographical works about China, in an adjacent space - Mezzanine; 2- we included two digital multitouch interactive table-screens, where we presented digitized images of some significant historical cartography, which, due to the specificity of the piece or the sensitivity of its support, could not be displayed in this exhibition. Due to the historical interest of these cartographic pieces, we have included their images in an annex at the end of this catalogue.

FINAL NOTE This exhibition is part of the project Macau/China Digital Portal: Sources from the 16th and 19th Centuries, which has

been developed since 2016 by the China Observatory in partnership with the National Library of Portugal, sponsored by the Macau Foundation and supported by the Union of Portuguese-Speaking Capital Cities (UCCLA). It currently offers a digital collection of around 220,000 pages, which can be accessed universally and free of charge. It can be consulted at: - https://www.observatoriodachina.org/biblioteca ; - https://purl.pt/26918/1/PT/index.html The Curators: Angelo Cattaneo (CNR - National Research Council of Italy, ISEM - Institute of Mediterranean European History) Alexandra Curvelo, Department of Art History at NOVA-FCSH, Art History Institute (IHA) NOVA FCSH Rui Lourido, Historian, President of the China Observatory, member of the board of WACS - World Association of Chinese Studies of CASS - Chinese Academy of ~9 Social Sciences


从欧洲看中国 ——十六至十九世纪地图展 葡萄牙国家图书馆馆藏

中国观察和葡萄牙国家图书馆,在葡萄牙、意大 利和中国的多家研究中心和大学的支持下 1 ,举 办“从欧洲看中国——十六至十九世纪地图展” 。这次展览将于 2023 年 11 月 29 日至 2024 年 3 月 2 日在葡萄牙国家图书馆举行。 通过这次展览,主办方旨在帮助人们更好地了解 中国地理和地图知识发展的历史,这些知识使葡 萄牙与中国建立了欧洲最长且始终和平的关系。 我们亦希望帮助人们反思文化和文明联系的重要 性,因为有必要加强当今葡萄牙/欧洲与中国之 间的桥梁、合作和友谊。 这次展览展出地图、航海图、文学作品和中国风 物件等,展示了十六至十九世纪欧洲构建中国形 象的各个阶段,突出了葡萄牙制图学的重要性。 除了葡萄牙国家图书馆的文献外,展品还包括其 他相关文献和物品,分别来自阿茹达图书馆、埃 武拉公共图书馆、葡萄牙的博物馆和私人收藏( 如澳门科学文化中心和东方博物馆)、外国的博 物馆和私人收藏(如佛罗伦萨的伽利略博物馆和 香港科技大学)等。 中国自古以来就是欧洲想象的一部分,是一个投 射神话、梦想、期望和畏惧的空间。这片广阔的 土地是欧洲在中世纪时主要通过一些商人和基督

1

教传教士(马可波罗、若望·孟高维诺、鄂多立 克)而逐渐了解的,极为富饶,引起了人们的好 奇心,但它遥不可及且路途坎坷。 早在近代伊始,在葡萄牙海上扩张的背景下,欧 洲人在中国和东南亚沿海地区的活动日益频繁, 使得欧洲对中华帝国的了解不断更新。 在此背景下,我们应该强调葡萄牙耶稣会士鄂本 笃(1562-1607)的作用,他是第一个证明那些 在西方闻名的古代著名的王国,例如赛里斯(古 典时期丝绸生产国的名字)、满归以及契丹(通 过马可波罗在中世纪欧洲广泛流传的名字)其实 是一个王国,既中国。但是这个结论只有在他经 历了长途跋涉后(花了4年时间)才得出。他从 果阿(印度)出发,一路翻越高山、穿越沙漠, 艰苦行进六千公里后到达肃州(丝绸之路的源 头),最后在肃州离世2。2. 地图学和葡萄牙游记文学在这一领域发挥了重 要作用,也对欧洲不同地区产生了影响。澳门 从1557年起也成为葡萄牙-亚洲在中国的战略舞 台,是一个知识、商业和基督教中心,方便西方 人,尤其是耶稣会士,进入这片辽阔的国土内 部。 约从1580年起,费尔南·瓦斯·多拉多、利玛

在本手册后面有合作伙伴和支持机构名单

Eduardo Brazão, Em demanda do Cataio: a viagem de Bento de Goes à China (1603-1607). Lisboa: Agência-Geral do Ultramar, 1969. Cornelius Wessels, Early Jesuit Travellers in Central Asia, 1603–1721. Asian Educational Services, 1924. Henry Yule et al., Cathay and the way thither: being a collection of medieval notices of China. London, Hakluyt Society, 1913

2


窦、罗明坚、路易斯·乔尔治·巴布达、亚伯拉 罕·奥特柳斯、扬·哈伊根·范林斯霍滕、琼· 布劳、卫匡国(仅举几位主要地图制作师的名 字)将中国文献整合到他们的作品中并构建了新 的地图。这些新地图越来越完整,不仅包含了沿 海,也包含了中华帝国的内陆。 本次展览提供机会让观众阅览地图、航海图、文 学作品、实物和数字图像等图形材料,讲述十六 世纪至十九世纪欧洲构建中国形象的一些重要时 刻,从葡萄牙人到达亚洲海域,直到在欧洲刮 起中国风所引发的影响。借助这一方式,我们可 以通过塑造一个想象中国的过程来感知欧洲的投 射。

结束语: 本次展览是“澳门/中国数字门户网站:十六至 十九世纪文献项目”的一部分。该项目自2016 年 起由中国观察与葡萄牙国家图书馆合作开发,由 澳门基金会赞助,并得到葡萄牙语国家首都城市 联盟的支持。目前拥有约 22万页的数字馆藏, 对所有人开放,免费登录。 - https://www.observatoriodachina.org/biblioteca ; - https://purl.pt/26918/1/PT/index.html

策展人: Angelo Cattaneo,国家研究委员会地中海欧洲历 史研究院 Alexandra Curvelo,娅丽珊德拉·库尔维乐,里斯 本新大学社会人文科学学院艺术史研究院主任及 艺术史系教授 Rui Lourido,鲁伊·洛里多,历史学家、中国观察 主席、中国社会科学院世界汉学研究会领导委员 会成员 ~ 11



1

Do Cataio à China From Cathay to China 从契丹到中国


Do Cataio à China

Angelo Cattaneo (Consiglio Nazionale delle Ricerche, Roma)

O Mapeamento da Rota da Seda

14 ~

Até ao dealbar do século XVI, quando as embarcações portuguesas começaram a zarpar dos portos de Goa e Malaca com o objectivo explícito de chegar a Mango e Cathaio – Sul e Norte da China, respectivamente – por via marítima, os territórios orientais e as costas da Ásia eram concebidos como lugares integrantes e ao mesmo tempo pontos de chegada e de partida de complexas rotas de caravanas e de vias fluviais que cruzavam o oikoumene eurasiano, tendo como fulcro a Ásia Central. São escassos os testemunhos cartográficos ocidentais antigos que representam este complexo sistema de caravanas e de rotas fluviais, que, a partir do século II aC, estabeleceu a ligação do oikumene ocidental (a parte habitada, habitável, conhecida e cognoscível da terra1) com o Tianxia chines (o espaço cultural e político controlado ou influenciado pela cultura chinesa). Analisaremos alguns exemplos singulares que ilustram momentos emblemáticos da história milenar – cartográfica e literária – da “Rota da Seda” (“Seidenstraße”), conceito e definição cunhados em 1877 pelo geógrafo alemão Ferdinand von Richthofen (1833-1905) 2, para se referir à complexa faixa de itinerários terrestres, marítimos e fluviais mediados por populações nómadas da Ásia Central desde a antiguidade com vista ao comércio entre o oikoumene greco-romano e o Tianxia chines, tendo como fundo os contextos históricos que os informaram. O primeiro destes artefactos, denominado Tabula Peutingeriana, revela a percepção romana das vias que conduziam a leste, transcendendo em muito a considerável 1 2

Sobre o conceito de oikoumene, ver Sommer 2014, pp. 175–97. Waugh 2007.

extensão da rede rodoviária do próprio império romano, por volta do século IV. Essas vias leste-oeste desenvolveram-se na antiguidade tardia e na época medieval e conduziram a um comércio crescente de mercadorias, como sejam especiarias, sedas e cavalos, e bem assim ao tráfego de conhecimentos e de ideias. Os relatos de viajantes da Rota da Seda foram reformulando gradualmente a visão cristã ocidental do Oriente. Entre eles, destaca-se Le devisement dou monde de Marco Polo. Os Polo venezianos operaram entre o Mar Negro e a Pérsia no século XIII. Seguindo a Rota da Seda, o pai, Niccolò, e o tio, Maffeo, de Marco Polo (1254–ca. 1324) chegaram a Khanbaliq, actual Pequim, a capital recentemente fundada de um vasto território dominado durante cerca de um século pela dinastia do Grande Khan Kublai (1215–1294), neto de Genghis Khan (1162–1227). Kublai pediu aos Polo que servissem de embaixadores junto do Papa, transmitindo o pedido de envio de uma missão à corte mongol que trouxesse pregadores e testemunhos físicos do mundo cristão. Pouco tempo após o regresso a Veneza, os Polo empreenderam nova viagem à corte do Grande Khan. Levaram consigo o jovem Marco, que talvez durante a viagem aprendeu persa, uma das línguas da burocracia mongol-chinesa, o que permitiu que Marco Polo visitasse muitas cidades do império na qualidade de funcionário da corte. Os relatos de viagens registados no célebre Livro das Maravilhas do Mundo (Il Milione) de Marco Polo foram escritos após o seu regresso a Veneza, provavelmente durante a sua prisão em Génova em 1298, e em colaboração com o poeta Rustichello da Pisa (activo na segunda metade do século XIII–1298). Essa obra foi publicada em manuscrito por volta de 1300, tendo obtido uma ampla circulação em várias línguas europeias: em 1502 foi impressa em Lisboa uma edição portuguesa por Valentim Fernandes. (Fig. 4) Oferecia um esboço de uma nova geografia económica e política abrangente da Ásia, descrita como uma densa rede de cidades e rotas comerciais terrestres, fluviais e

marítimas. Ao seguirem essas rotas, as regiões mediterrânicas e a Europa cristã estabeleceram ligações com as regiões mais remotas da Ásia através da Ásia Central, do Mar Vermelho, do Golfo Pérsico e da bacia do Oceano Índico. As fronteiras universais estenderam-se para leste, até ao rico reino insular de Cipangu, o actual Japão, que o livro de Marco Polo descreveu pela primeira vez para um público ocidental3. Ao longo de cerca de 80 anos, as descrições literárias veiculadas por Marco Polo foram também integradas nos mappae mundi, o que é claramente demonstrado num documento de 1375, o famoso Atlas Catalan da Bibliothèque nationale de France (Département des Manuscrits, Espagnol 30), uma coleção de mapas iluminados encadernados em forma de livro, destinada ao rei de França, em que o cartógrafo judeu Abraham Cresques (1325-1387) visualiza um dos momentos vitais da Rota da Seda, quando, sob a Pax Mongolica, missionários, viajantes mercadores, cristãos (como Marco Polo e a sua família) e muçulmanos (como Ibn Battuta) chegaram a Karakorum (a antiga capital dos mongóis) e em seguida a Dadu 大都 (conhecida no Ocidente como Khān bālīq, q, a nova capital do Império Mongol estabelecida por Kublai Khan por volta de 1272; a actual Pequim) ao longo das rotas de caravanas do Mediterrâneo. Meio século mais tarde, por volta de 1450, Fra Mauro, um cosmógrafo activo em Veneza na primeira metade do século XV, desenhou a maior e mais complexa representação ocidental de Catai e Mango com base em Marco Polo e nos relatos dos missionários franciscanos, em particular Odorico de Pordenone (c. 1280/1285–1331). Muito embora referisse que na sua época a Rota da Seda se tornara intransitável, Fra Mauro mencionava uma rota marítima alternativa que teria permitido navegar do Mediterrâneo ao Mare Indicum (o Oceano Índico) e ao Oceanus Cathaicus e Sericus (o Mar da China) seguindo um percurso único e muito extenso, circum-navegando África. Estes 3

Cattaneo 2022.


documentos, apesar das suas características específicas, interligam-se graças à compreensão do Catai e Mango como partes do antigo oikoumene (Fig. 1 e Fig. 2).4 Cerca de 40 anos mais tarde, Henricus Martellus Germanus, um cartógrafo alemão activo em Florença no final do século XV, constituiu um ponto de viragem na compreensão ocidental do mundo conhecido. Martellus posicionou Cathay e Mango para lá dos 180 graus de longitude do oikoumene ptolomaico, reconhecendo-os, portanto, como novas terras desconhecidas dos antigos. A característica fundamental dos planisférios de Martellus, em confronto com a estrutura dos antigos mapas-mundo ptolomaicos, consiste na expansão do mundo para os 220 graus de longitude. O alargamento de mais de 40 graus para leste, em relação aos 180 graus de longitude de Ptolomeu, deveu-se essencialmente à conceptualização e representação das viagens de Marco Polo na Ásia como uma expansão para além do oikoumene dos antigos. No manuscrito autógrafo do Insularium illustratum, conservado em Florença, na Biblioteca Medicea Laurenziana, uma linha meridiana, desenhada por Martellus a 180 graus de longitude leste, marca a fronteira do antigo oikoumene.5 . Para além dessa linha, na parte oriental do planisfério, Martellus amplia a forma cartográfica ptolomaica e substitui os topónimos da Geografia por outros claramente extraídos de Il Milione por Marco Polo: “Cahaio”, “Quinsai”, “Provincia Mangi”, “Provincia Ciamba” e a legenda concisa “Hic dominat Cham Maior Tartarorum imperator” (Aqui reina o Grande Khan, imperador dos Tártaros). Desta forma, Catai e Mangi passaram a ser pensadas como terras que os antigos não conheciam e que foram descobertas pelo Ocidente cristão a partir do século XIII. Acresce que Martellus representou a costa africana até ao sul do Cabo da Boa Esperança, demonstrando a circum-navegabilidade Cattaneo 2011, pp. 185-225. 5 Florença, Biblioteca Medicea Laurenziana, Plut. XXIX 25, ff. 66v–67r. Ver Cattaneo 2022.

de África e o desembocar do Oceano Índico no Oceano Atlântico; daí resultaram as viagens marítimas do século XV. Por volta de 1490, Martellus incluiu, quase simultaneamente, informações decorrentes da navegação portuguesa de Diogo Cão ao longo da costa africana até ao rio Congo (1482–1483 e 1485–1486) e de Bartolomeu Dias até ao Cabo das Tormentas (1487–1488), chamado Cabo da Boa Esperança após o regresso de Dias a Lisboa. Está registado neste planisfério como “cavo de esperanza” (Cabo da Esperança) e quase transborda do espaço gráfico do mapa.6

As Navegações Portuguesas e a Cartografia Costeira da China A chegada da frota de Vasco da Gama a Calecute, na costa ocidental da Índia, em 1498, com a ajuda de pilotos marítimos muçulmanos, e o seu regresso a Portugal no ano seguinte, abriram aos portugueses as rotas das bacias do Sudeste Asiático e o lucrativo comércio de especiarias que, antes das navegações portuguesas, chegava aos mercados europeus por via de caravanas e de rotas marítimas através da Ásia Central e do Egipto, graças à mediação de mercadores italianos, designadamente de Veneza e Génova. A partir daí, a exploração marítima dos vastos mares asiáticos foi extremamente rápida: em 1503, navios portugueses chegaram a Ceilão; em 1509, a Malaca, uma cidade portuária estratégica que seria conquistada dois anos mais tarde, em 1511, sob o comando do governador Afonso de Albuquerque; em 1512, foram enviadas expedições às Ilhas Maluku, Ilhas Banda, Sião e Pegu; em 1513, Jorge Álvares aportou à ilha de Tamão, na costa sul da China. Em 1515 chegaram a Timor os primeiros mercadores portugueses e, em 1516, deu-se a exploração da costa da Baía de Bengala.7 A partir das zonas litorais do Hindustão, os capitães

portugueses estabeleceram contactos com os principais centros do comércio marítimo asiático, ao longo de rotas que ligaram o sul da China, o Sudeste Asiático e o Oceano Índico durante séculos, recorrendo muitas vezes a pilotos, marinheiros, comerciantes e a conhecimentos náuticos locais, em especial javaneses.8 Se as primeiras tentativas de comércio, levadas a cabo por Jorge Álvares e Daniel Perestrelo em Cantão entre 1513 e 1515, sugeriram possibilidades de lucros consideráveis graças à venda de especiarias e à compra de seda e pérolas, como descrito na Suma oriental9 de Tomé Pires, as tentativas subsequentes do capitão-mor Fernão Peres de Andrade em 1515 e, mais tarde, em 1520, de seu irmão Simão de Andrade, no sentido de estabelecer relações diplomáticas entre os portugueses – chamados de “Folangji” pelos chineses – com a corte Ming falharam. As complexas práticas diplomáticas da Corte Imperial, entre Nanjing e Pequim, foram subestimadas, incompreendidas e desatendidas pelos portugueses: os compassos vertiginosos de acção militar e mercantil que marcaram a presença portuguesa nos mares do Sudeste Asiático colidiram com a natureza ritualística da administração e da corte imperiais. Confrontaram-se não só com dificuldades de tradução linguística, mas sobretudo de tradução cultural: a assimetria entre as reduzidas e limitadas delegações portuguesas e o aparato imperial Ming, bem como relatos de práticas violentas por parte dos portugueses, em particular de Simão de Andrade, conduziram à rejeição de qualquer acordo diplomático pela corte Ming10, o que provocou um impasse nas relações oficiais, que só veio a ser resolvido quatro décadas mais tarde, com a fundação de Macau.11 No entanto, mau grado a exclusão das relações oficiais com Cantão de Cantão durante essas quatro décadas, os portugue- ~ 15 ses conseguiram manter uma actividade comercial, Sousa 2013. Pires 1944, vol. 1, pp. 119-124. 10 Ng 2017, pp. 101-146 (em especial pp. 104-112). 11 Ver o terceiro núcleo deste catálogo. 8 9

4

6 7

Cattaneo 2022. Thomaz 1994; Subrahmanyam 2012, pp. 11-31.


com o apoio de redes comerciais não oficiais altamente lucrativas ao longo da costa chinesa a norte de Cantão, nas províncias de Guangdong, Fujian e Zhejiang, bem como em Guanxi, a sul de Cantão. Essas atividades encontram reflexo na cartografia náutica portuguesa que, pela primeira vez no Ocidente, cartografou os perfis costeiros e insulares do Sudeste Asiático, incluindo os perfis costeiros chineses. A cartografia do Sudeste Asiático de Gaspar Viegas (Florença, Bib. Riccardiana, Ms 1813 e Arquivos do Estado, Cod. naut. 11) de 1537, o famoso códice “Vallard” da Huntington Library em San Marino, Califórnia (HM 29) de cerca de 1540, o mapa do “Mare Chinorum” (O Mar dos Chineses) parte de um atlas náutico de Diogo Homem, da British Library (Add. Ms. 5415-A) e do chamado Livro de Marinharia de João de Lisboa, que inclui um atlas náutico de 20 mapas, preservados em Lisboa, no Arquivo Nacional da Torre do Tombo (Colecção Cartográfica 166) (Fig. 5)], ambos de 1560, são exemplos significativos desta notável produção que inclui dezenas de documentos cartográficos, conservados fora de Portugal na sua quase totalidade.12 A fim de evitar anacronismos, é fundamental realçar a dimensão “relacional” emergente da cartografia náutica portuguesa do Sudeste Asiático. Nessa fase, entre cerca de 1512–15, quando Francisco Rodrigues traçou linhas costeiras nas proximidades de Cantão, através de uma reconfiguração de cartografia javanesa, e cerca de 1570–80, quando Fernão Vaz Dourado, entre Goa e Lisboa, elaborou os seus famosos atlas que integram o conhecimento náutico global reunido ao longo de meio século numa intermediação entre o Império Português e o Império Espanhol, o objetivo não era “mapear a China” (ou a Índia ou o Japão), mas antes incorporar as 16 ~ linhas costeiras chinesas na complexa geografia insular e marítima do Sudeste Asiático.13 Nesta notável produção

cartográfica, de tipo náutico, as costas da China foram traçadas através da estrutura geométrica das rosas-dosventos e, nalguns casos, também integradas numa grelha astronómica de latitudes, no quadro das rotas que ligavam os postos avançados e as fortalezas portuguesas no Oceano Índico, a península da Indochina, as chamadas “Ilhas das Especiarias”, as costas chinesas, as Filipinas e, a partir de 1570, também o arquipélago japonês. Uma análise do atlas náutico manuscrito de Vaz Dourado, um dos documentos mais importantes da exposição, é reveladora. Ao integrar os dez mapas médios que compõem o hemisfério oriental dos seus atlas marítimos14 – desde a costa portuguesa e africana até ao Oceano Pacífico a leste – o mundo de Vaz Dourado desdobra-se como uma longa linha costeira, com dois grandes aglomerados de arquipélagos em torno de Madagáscar e da Insulíndia, isto é, o Sudeste Asiático Marítimo, incluindo as chamadas Ilhas das Especiarias. No seu conjunto, oferecem um exemplo nítido da epistemologia política da visão dos comerciantes europeus: o olhar e a mente seguem os perfis costeiros e difundem-se pelos mares. O décimo terceiro e o décimo quarto mapas de Dourado são particularmente importantes para compreender o lugar da China na rede político-económica portuguesa ligada ao Estado da Índia. O primeiro diz: “Nesta folha esta lamcado do cabo de Comorim ate Iapam e ate Maluco com toda a terra ao norte”, enquanto o segundo relata: “Nesta folha esta lamcado de Pegu ate a costa que descubrio o Magalhais com toda a costa da Iava” 15). (Fig. 6 e Fig. 7)] A partir de meados do século XVI, os esforços cartográficos de mercadores e cartógrafos portugueses visaram essencialmente a inserção da China nas redes comerciais articuladas do Sudeste Asiático, e não o “mapeamento da China” completamente anacrónico. Nos seis atlas manuscritos existentes atribuídos a Vaz Dourado há ligeiras variações quer quanto ao número quer quanto à cobertura geográfica. Ver Garcia 2014, pp. 62-76. 15 Fernão de Magalhães (c. 1480-1521). 14

Para uma visão geral, ver Portugaliae Monumenta Cartographica 1960 (2ª ed. 1987). 13 Para uma análise teórica alargada, ver Cattaneo 2021. 12

Os Missionários e o Mapeamento da China É indubitável que, desde o início da missão da China, por volta de 1580, existia em Macau uma certa cumplicidade entre mercadores e missionários. Embora totalmente ou, pelo menos, em grande parte dependentes dos navios portugueses, da infra-estrutura logística reticular do Estado da Índia e do apoio financeiro da Coroa portuguesa através do Padroado, os missionários, em particular os Jesuítas, tinham necessidades, visão e percepção dos territórios distintas das dos mercadores e soldados portugueses. Havia, em suma, uma diferença estrutural: se, para as comunidades mercantis, a cidade de Macau era um ponto de chegada, para os missionários era um ponto de partida, donde se dirigiram rumo aos vastos territórios da China Ming. Os dois primeiros missionários a penetrar no interior da China por volta de 1580, os jesuítas Michele Ruggieri (1543-1607) e Matteo Ricci (1552-1610), que fundaram a primeira missão na China continental, em Zhaoqing, cidade não muito longe de Cantão, na época capital da Província de Guandong, cultivavam um enorme interesse estratégico pela cartografia e desenvolveram importantes projectos cartográficos. Em 1602, enquanto estava em Pequim, Ricci (15521610) e o astrónomo e matemático 李之藻 Li Zhizao (1565-1630), imprimiram em xilogravuras o monumental 坤輿萬國全圖 Kunyu wanguo quantu (Mapa completo das inúmeras nações do mundo).16 Este planisfério oval, composto por seis painéis, mede no seu conjunto c. 200 × 400 cm: é o mais famoso dos ‘mapas de Ricci’ e o único preservado (cinco cópias e um fragmento), exibe um diagrama geocêntrico no canto superior direito. (Fig. 48) O Kunyu wanguo quantu resulta de várias revisões do primeiro mapa-mundo desenhado por Ricci com texto chinês e impresso por xilogravuras entre 1584 e 1585 em Zhaoqing e intitulado 與地山海全 16

D’Elia 1938, pp. 73–93; Day 1995. Para a re-edição do planisfério, traduzida em italiano: Mignini 2013.


圖 Yudi shanhai quantu (Mapa completo das montanhas e do mar da Terra). O próprio Kunyu wanguo quantu foi posteriormente reimpresso e também copiado por diversas vezes sob forma manuscrita por estudiosos chineses, japoneses e coreanos. Circulou, nomeadamente, de forma assinalável no Japão, tanto em cópias manuscritas como impressas, constituindo uma das principais fontes dos biombos nanban japoneses de conteúdo cartográfico, como seja um magnífico biombo atualmente guardado na Biblioteca Lee da Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong, em exibição em formato digital. (Fig. 15)

Ao regressar a Itália em 1590, oficialmente encarregado por Valignano de promover uma embaixada papal à China – o que se veio a revelar impossível – mas que também o retirou da missão, talvez em desacordo com a política missionária de Ricci, Michele Ruggieri elaborou um extraordinário atlas manuscrito da China, preservado na Biblioteca dos Arquivos do Estado de Roma (Manuscritos, ms. 493). Essa obra teve como fonte directa os mapas do Kuang-yu-tu (literalmente ‘Mapa Terrestre Ampliado’), uma coleção de mapas das províncias da China da era Ming, provavelmente numa edição compilada entre 1566-1579. Além desta fonte cartográfica, Ruggieri também associou outras fontes geográficas, acrescentando informações que não constam do Kuang-yu-tu. A obra compilada entre o final do século XVI e o início do século XVII é o único registo ocidental do Império Ming durante o reinado do imperador Wanli (1563-1620).17

Compagnia di Giesù e Christianità nella Cina (Sobre a entrada da Companhia de Jesus e do Cristianismo na China). Após a morte de Ricci em Pequim em 1610, esta obra acabou por ser trazida para Roma por Nicolas Trigault S.J, apesar de constituir uma das principais fontes de Trigault para De Christiana expedipee apud Sinas sinas suscepta ab Societate Jesu. Ex P. Matthaei Riccii eiusdem Societatis commentariis Libri V (Augsburg, 1615).18 (Fig. 9) Em Della entrata, o mapa 與地山海全圖 Yudi shanhai quantu, projectado em 1585, foi descrito por Ricci como “o melhor e mais útil trabalho que poderia ser feito naquela época a fim de persuadir a China a dar crédito às coisas da nossa sagrada fé”.19 A partir desta descrição torna-se evidente que o significado dos grandes planisférios impressos desenhados por Ricci transcendia o respectivo conteúdo geográfico e científico susceptíveis de serem (mal)interpretados em termos da respectiva importância segundo os paradigmas actuais. As palavras usadas por Ricci para descrever os esforços desenvolvidos pelos missionários na área da cartografia exigem uma nova reflexão sobre o significado pedagógico-espiritual cristão da cosmografia que porventura possa explicar melhor a obra de Ricci e dos seus confrades europeus e chineses.

Matteo Ricci descreveu as suas vicissitudes e o complexo embate com a civilização e o povo chinês num manuscrito, redigido em italiano, intitulado Della entrata della 17

Ruggieri 1993. A datação das fontes chinesas assenta na análise comparativa conduzida por Song Limin e Maria Luisa Giorgi de dois exemplares do Kuang-yu-tu existentes na Biblioteca Yenching de Harvard e na Biblioteca da Universidade de Xangai, cfr. Ibid., “Nota all’identificazione dei toponimi delle carte del Ruggieri, p. 121.

~ 17 Ricci – Trigault 1615. A obra manuscrita de Ricci permaneceu esquecida durante quatro séculos até ser encontrada por Pietro Tacchi Venturi, SJ, no Archivum Romanum Societatis Iesu em 1909 e publicada em 1911. Ver Tacchi Venuturi 1911. A obra foi re-publicada duas vezes: D’Elia 1942 e Ricci 2000. 19 D’Elia 1942, vol. 1, 208. 18


From Cathay to China

se east-west pathways developed in late antiquity and the medieval period and carried an expanding trade in commodities such as spices, silks, and horses, as well as knowledge and ideas.

the Indian Ocean basin. The world’s boundaries stretched eastward to the rich island kingdom of Cipangu, modern-day Japan, which Marco Polo’s book described for the first time for a Western audience.3

Mapping the Silk Road

The accounts of Silk Road travellers gradually reshaped the Western Christian vision of the East. Among them, Marco Polo’s Le devisement dou monde stands out. The Venitian Polos operated between the Black Sea and Persia in the 13th century. Following the Silk Road, the father and uncle of Marco Polo (1254-ca. 1324) reached Khanbaliq, modern-day Beijing, the recently founded capital of a vast territory dominated for approximately a century by the dynasty of the Great Khan Kublai (12151294), grandson of Genghis Khan (1162-1227). Kublai asked the Polos to serve as ambassadors to the Pope, conveying a request to send a mission to the Mongol court that would bring preachers and physical evidence of the Christian world. The Polos returned to Venice but soon journeyed back to the Great Khan’s court. They took with them the young Marco, who may have already spoken Persian, one of the languages of the MongolChinese bureaucracy. This enabled Marco Polo to visit many cities of the empire as a court functionary. The travel accounts recorded in Marco Polo’s celebrated Book of the Marvels of the World (Il Milione) were written after his return to Venice, probably during his imprisonment in Genoa in 1298, and in collaboration with the poet Rustichello da Pisa (active second half 13th cent.-1298). Their book was published in manuscript around 1300 and enjoyed a wide circulation in several European languages: in 1502 a Portuguese edition was printed in Lisbon by Valentim Fernandes (Fig. 4)]. It offered an outline of a comprehensive economic and political geography of Asia, described as a dense network of cities and overland, river, and maritime trade routes. By following these routes, the Mediterranean regions and Christian Europe were linked with the remotest parts of Asia through Central Asia, the Red Sea, the Persian Gulf and

Over the course of about 80 years, the literary descriptions conveyed by Marco Polo, were also integrated into mappae mundi. This is demonstrated vividly in a document from the end of the 14th century, the famous Catalan Atlas of the Bibliothèque nationale de France. It visualizes one of the most vital moments of the Silk Road, when, under the Pax Mongolica, missionaries, merchant travellers, Christians (such as Marco Polo and hi family), and Muslims (such as Ibn Battuta) reached Karakorum (the ancient capital of the Mongols) and then to Dadu 大都 (known in the West as Khān bālīq, the new capital of the Mongol Empire established by Kublai Khan around 1272; today’s Beijing) along the caravan routes from the Mediterranean.

Angelo Cattaneo (National Research Council, Rome)

Until the beginning of the 16th century, when Portuguese vessels began departing from the ports of Goa and Malacca with the explicit objective of reaching Mango and Cathaio – South and North China, respectively –by sea, the eastern territories and coastlines of Asia were conceived as places that integrated, and at the same time were the points of both arrival and departure of complex caravan and river routes that crossed the Eurasian oikoumene, with a fulcrum in Central Asia. There are only a few ancient Western cartographic testimonies that represent this complex system of caravan and river routes, which from the 2nd century BCE connected the Western oikumene (the inhabited, inhabitable, known and knowable part of the earth1) with the Chinese Tianxia (the cultural and political space controlled or influenced by China). We will consider some unique examples that illustrate emblematic moments in the millennial history – cartographic and literary – of the “Silk Road” (“Seidenstraße”), a concept and definition coined in 1877 by the German geographer Ferdinand von Richthofen (18331905) 2, to refer to the complex band of terrestrial, maritime, and fluvial itineraries mediated by nomad populations of central Asia since antiquity for commerce between the Greco-Roman oikoumene and the Chinese Tianxia, set against the historical contexts that informed them. The first of these artefacts, called the Tabula Peutingeriana, shows the Roman perception of the roads leading to the east, well beyond the very extensive road network of the Roman empire itself, towards the 4th century. The1 2

On the concept of oikoumene, see Sommer 2014, 175–97. Waugh 2007.

Half a century later, around 1450, Fra Mauro, a cosmographer active in Venice in the first half of the fifteenth century, designed the largest and most complex western representation of Cathay and Mango on the basis of Marco Polo and the reports of the Franciscan missionaries, in particular Odoric of Pordenone (c. 1280/1285-1331). While remarking that in his own times the Silk Road had become impossible to travel, Fra Mauro mentioned an alternative maritime route that would have made it possible to sail from the Mediterranean to the Mare Indicum (the Indian Ocean) and the Oceanus Cathaicus and Sericus (the China Sea) in a single immense journey, circumnavigating Africa. These documents, despite their specific features, are united by their understanding of Cathay and Mango as parts of the ancient oikoumene (Fig. 1 and Fig. 2)].4 Circa 40 years later, Henricus Martellus Germanus, a German cartographer active in Florence at the end of 3 4

Cattaneo 2022. Cattaneo 2011, pp. 185-225.


the fifteenth century, marked a turning point in Western understandings of the known world. Martellus positioned Cathay and Mango beyond the 180 degrees longitude of the Ptolemaic oikoumene, therefore recognizing them as new lands unknown to the ancients. The fundamental characteristic of Martellus’ planispheres in comparison to the structure of the ancient Ptolemaic world maps is their widening of the world to 220 degrees of longitude. The enlargement of over 40 degrees to the east, with respect to the 180 degrees of longitude of Ptolemy, depended most of all on the conceptualization and representation of Marco Polo’s travels in Asia as an expansion beyond the oikoumene of the ancients. In the autograph manuscript of the Insularium illustratum, held in Florence at the Biblioteca Medicea Laurenziana, a meridian line, designed by Martellus at 180 degrees longitude East, marks the border of the ancient oikoumene.5 (Fig. 45). Beyond it, in the eastern part of the world map, Martellus enlarges the Ptolemaic cartographic form and replaces the toponyms of the Geography with others clearly drawn from Il Milione by Marco Polo: “Cahaio,” “Quinsai,” “Provincia Mangi,” “Provincia Ciamba” and the short legend “Hic dominat Cham Maior Tartarorum imperator” (the Great Khan, emperor of the Tatars, reigns here). In this way, Cathay and Mangi came to be thought of as lands that the ancients had not known and that were discovered by the Christian West since the 13th century. In addition, Martellus represented the African coast as far south as the Cape of Good Hope, demonstrating Africa’s circumnavigability and the opening of the Indian Ocean into the Atlantic Ocean; this was the result of the 15th-century sea voyages. Around 1490, Martellus included, almost simultaneously, information derived from the Portuguese navigation of Diogo Cão along the African coast to the Congo River (1482-1483 and 1485-1486) and of Bartolomeu Dias up to Cabo das Tormentas (1487-1488), called Cabo da Boa Esperan5

Florence, Biblioteca Medicea Laurenziana, Plut. XXIX 25, ff. 66v–67r. See Cattaneo 2022.

ça after Dias’s return to Lisbon. It is recorded on this planisphere as “cavo de esperanza” (Cape of Hope) and almost overflows from the graphic space of the map.6

Portuguese Navigations and the Coastal Mapping of China The arrival of Vasco da Gama’s fleet in Calicut, on the western coast of India, in 1498, with the help of Muslim sea pilots, and his return to Portugal the following year, opened up for the Portuguese the routes to the basins of Southeast Asia and the lucrative spice trades that, prior to Portuguese sailings, reached European markets via caravan and sea routes through Central Asia and Egypt, through the mediation of Italian merchants, particularly from Venice and Genoa. Thereafter, maritime exploration of the vast Asian seas was extremely rapid: in 1503 Portuguese ships reached Ceylon; in 1509 Malacca, a strategic port city that would be conquered two years later, in 1511, under the command of Governor Afonso de Albuquerque; in 1512 expeditions were sent to the Maluku Islands, the Banda Islands, Siam and Pegu; in 1513 a Portuguese fleet, commanded by Jorge Álvares, reached the southern coast of China. In 1515 the first Portuguese merchants arrived in Timor, and in 1516 the coast of the Bay of Bengal was explored.7 Starting from the coasts of Hindustan, Portuguese captains made contact with the main hubs of Asian maritime trade, along routes that had linked southern China, Southeast Asia, and the Indian Ocean for centuries, often making use of pilots, sailors, traders, and local nautical knowledge, particularly Javanese.8 If the first attempts to engage in trade, carried out by Jorge Álvares and Daniel Perestrelo in Canton between 1513 and 1515 hinted at great possibilities for gains, Cattaneo 2022. Thomaz 1994; Subrahmanyam 2012, pp. 11-31. 8 Sousa 2013.

selling spices and buying silk and pearls, as described in Tomé Pires’ Suma oriental,9 subsequent attempts by capitão-mor Fernão Peres de Andrade in 1515 and, later, in 1520, by his brother Simão de Andrade, to establish diplomatic relations between the Portuguese – called “Folangji” by the Chinese – with the Ming court failed. The complex diplomatic practices of the Imperial Court, between Nanjing and Beijing, were underestimated, misunderstood and disregarded by the Portuguese: the very rapid times of military and mercantile action that had marked the Portuguese presence in the seas of Southeast Asia clashed with the ritualistic nature of the imperial administration and court. Not only were there difficulties of linguistic translation, but above all of cultural translation: the asymmetry between the tiny and approximate Portuguese delegations and the Ming imperial apparatuses, as well as reports of violent practices by the Portuguese, in particular by Simão de Andrade, led to the rejection of any diplomatic agreement by the Ming court.10 This caused a stalemate in official relations, which was not resolved until four decades later, with the founding of Macau.11 However, despite their expulsion from the Canton region during these four decades, the Portuguese were able to continue trading, relying on highly profitable unofficial trading networks along the Chinese coast north of Canton, in Guangdong, Fujian and Zhejiang provinces, as well as in Guanxi, south of Canton. These activities are reflected in Portuguese nautical cartography, which, for the first time in the West, charted the coastal and island profiles of Southeast Asia, including Chinese coastal profiles. Gaspar Viegas’s cartography of Southeast Asia (Florence, Bib. Riccardiana, Ms 1813 and State Archives, Cod. naut. 11) from 1537, the famous “Vallard” codex from the Huntington Li- ~ 19 brary in San Marino, California (HM 29) from about 1540, the map showing the “Mare Chinorum,” (The Pires 1944, vol. 1, pp. 119-124. Ng 2017, pp. 101-146 (in part. 104-112). 11 For which we refer to the third part of the catalog.

6

9

7

10


Sea of the Chinese) part of a nautical atlas by Diogo Homem, from the British Library (Add. Ms. 5415-A) and the so-called Livro de Marinharia de João de Lisboa, which includes a nautical atlas of 20 maps, preserved in Lisbon, at the Arquivo Nacional da Torre do Tombo (Colecção Cartográfica 166), both from 1560, are significant examples of this conspicuous production that includes dozens of cartographic documents, almost all of which are preserved outside Portugal.12 (Fig. 5) To avoid anachronisms, it is essential, to highlight the “relational” dimension emerging from Portuguese nautical cartography of Southeast Asia. In this phase, between about 1512-15, when Francisco Rodrigues sketched out coastlines in the vicinity of Canton, through a reconfiguration of Javanese cartography, and about 1570-80, when Fernão Vaz Dourado, between Goa and Lisbon, prepared his famous atlases that integrated global nautical knowledge aggregated over the course of half a century at the interface between the Portuguese Empire and the Spanish Empire, the goal was not to “map China,” (or India or Japan) but to incorporate Chinese coastlines into the complex island and maritime geography of Southeast Asia.13 In this conspicuous cartographic production, of a nautical type, the coasts of China, were plotted through the geometric structure of the wind roses and in some cases also integrated into an astronomical grid of latitudes, in the framework of the routes that linked Portuguese outposts and fortresses in the Indian Ocean, the Indochinese peninsula, the so-called “Spice Islands”, the Chinese coasts, the Philippines and, from 1570 onward, also the Japanese archipelago. An examination of Vaz Dourado’s manuscript nautical atlas, one of the most important documents in the exhi20 ~ bition, is revealing. By joining together the average ten maps that compose the eastern hemisphere of his maFor an overview, refer to Portugaliae Monumenta Cartographica 1960 (second ed. 1987). 13 For an expanded theorethical analysis, see Cattaneo 2021. 12

rine atlases14 – from the Portuguese and African coast to the Pacific Ocean to the East – Vaz Dourado’s world unfolds like a long coastline, with two major clusters of archipelagos around Madagascar and Insulindia, that is Maritime South-East Asia, including the so-called Spice Islands. All together, they provide a clear example of the European merchants’ political epistemology of vision: the gaze and the mind follow the coastal profiles and spread over the seas. Dourado’s thirteenth map and fourteenth map are particularly important to understand China’s place in the Portuguese political-economical network connected to the Estado da Índia. The former reads: “Nesta folha esta lamcado do cabo de Comorim ate Iapam e ate Maluco com toda a terra ao norte”, while the latter recites: “Nesta folha esta lamcado de Pegu ate a costa que descubrio o Magalhais com toda a costa da Iava” 15 with the entire coast of Java) (Fig. 6 e Fig. 7) Since the mid-sixteenth century, the cartographic efforts by Portuguese merchants and cartographers were mainly directed to insert China into the articulated commercial networks of South-East Asia, and not toward the fully anachronistic “mapping of China”.

Missionaries and the Mapping of China Undoubtedly, since the beginning of the mission of China around 1580, there was contiguity in Macao between merchants and missionaries. Although fully or, at the least, largely dependent on the Portuguese ships, the reticular logistical infrastructure of the Estado da Índia, and the financial support of the Portuguese Crown through the Padroado, missionaries, in particular the Jesuits, had different needs, vision and perception of the In the six extant manuscript atlases attributed to Vaz Dourado, both their number and geographic coverage change slightly. See Garcia 2014 = João Garcia, “Comparison of Fernão vaz Dourado’s 1571 Atlas with his atlases dating from 1570, 1575 and c. 1576,” in João Garcia (ed.), Atlas universal de Fernão Vaz Dourado 1571, Barcelona, Moleiro, 2014, pp. 62-76. 15 Fernão de Magalhães (c. 1480-1521). 14

territories with respect to Portuguese merchants and soldiers. There was all in all a structural difference: if for the merchant communities, the city of Macau was a landing point, for the missionaries it was a starting point, from which to move into the vast territories of Ming China. The first two missionaries to enter inland China around 1580, the Jesuit Michele Ruggieri (1543-1607) and Matteo Ricci (1552-1610), who founded the first mission in continental China, in Zhaoqing, a city not far from Canton, at that time the capital of the Province of Guandong, were strategically very interested in cartography and developed important cartographic projects. In 1602, while in Beijing, Ricci (1552-1610) and the astronomer and mahematician 李之藻 Li Zhizao (1565– 1630), printed with woodblocks the monumental 坤 輿萬國全圖 Kunyu wanguo quantu (Complete map of the myriad nations of the world).16 This oval planisphere, comprising six panels, measures all together c. 200 × 400 cm: it is the most famous of the ‘Ricci’s maps’ and the only one to have been preserved (four copies and a fragment), displays a geocentric diagram in the upper right corner (Fig. 48). The Kunyu wanguo quantu was derived from several revisions of the first map of the world designed for Ricci with Chinese text and printed with woodblocks between 1584 and 1585 in Zhaoqing and entitled 與地山海全圖 Yudi shanhai quantu (Complete map of the mountains and sea of the earth). The Kunyu wanguo quantu itself was later reprinted and also copied several times in manuscript form by Chinese, Japanese and Korean scholars. In particular, it circulated pervasively in Japan, in both manuscript and printed copies and became one of the principal sources of Japanese world map nanban folding screens, such as a magnificent folding screen currently held at the Lee Library of Hong Kong University of Science and Technology, on display in digital format. (Fig. 15) 16

D’Elia 1938, pp. 73–93; Day 1995. For the most re-edition of the planisphere, translated into Italian: Mignini 2013.


Upon his return to Italy in 1590, ordered by Valignano, officially, to promote a papal embassy to China – which turned out to be impossible – but also to remove him from the mission, perhaps at odds with Ricci’s missionary policy, Michele Ruggieri drew an extraordinary manuscript atlas of China, preserved in the Library of the State Archives in Rome (Manuscripts, ms. 493). The work had as its direct source the maps of the Kuang-yutu (literally ‘Enlarged Terrestrial Map’), a Ming-era collection of maps of the provinces of China, probably in an edition compiled between 1566-1579. In addition to this cartographic source, Ruggieri also joined other geographical sources, adding further information not found in the Kuang-yu-tu. The work compiled between the late 16th and early 17th centuries is the only Western record of the Ming Empire during the reign of Emperor Wanli (1563-1620).17

In Della entrata, the 與地山海全圖 Yudi shanhai quantu, designed in 1585, was described by Ricci as ‘the best and most useful work that could be done in that time, to persuade China to give credit to the things of our holy faith.’20 From this description it becomes clear that the meaning of the large printed planispheres designed by Ricci went beyond the geographical and scientific contents which might be (mis)understood as their main significance in today’s paradigms. The words used by Ricci to describe missionary cartographic endeavors call for a fresh reconsideration of the Christian educational and spiritual significance of cosmography that can perhaps better explain the work of Ricci and his European and Chinese confrères.

Matteo Ricci described his vicissitudes and the complex encounter with the Chinese civilization and people in a manuscript, written in Italian, entitled Della entrata della Compagnia di Giesù e Christianità nella Cina (On the entrance of the Society of Jesus and Christianity into China). After Ricci’s death in Beijing in 1610, this work was eventually brought to Rome by Nicolas Trigault S.J, and despite serving as one of the major sources of Trigault’s De Christiana expeditione apud Sinas sinas suscepta ab Societate Jesu. Ex P. Matthaei Riccii eiusdem Societatis commentariis Libri V (Augsburg, 1615),1819 (Fig. 9). Ruggieri 1993. The dating of the Chinese sources is based on the comparative examination conducted by Song Limin and Maria Luisa Giorgi on two examplars of the Kuang-yu-tu that are held at the Harvard Yenching Library and the Shanghai University Library, cfr. Ibid., “Nota all’identificazione dei toponimi delle carte del Ruggieri, p. 121. 18 Ricci – Trigault 1615. 19 Ricci’s manuscript work remained forgotten for four centuries until Pietro Tacchi Venturi, SJ, discovered it in the Archivum Romanum Societatis Iesu (Jesuit Roman Archive) in 1909 and published it in 1911. See Tacchi Venuturi 1911. The work was later republished twice. See D’Elia 1942 and Ricci 2000. 17

~ 21

20

D’Elia 1942, vol. 1, 208.


> Fig.1

Pormenor do Sudeste Asiático, com o “Mangi” e o “Cataio”, nomeadamente a China, que Fra Mauro retirado Devisement du monde de Marco Polo. Mapa do Mundo de Fra Mauro. Veneza, c. 1450. Veneza, Biblioteca Nazionale Marciana, Inv. 106173. Extraído da edição digital do Museo Galileo <https://mostre.museogalileo.it/framauro/en/>.



24 ~ Fig.2

Mapa do Mundo de Fra Mauro. Veneza, c. 1450, outro detalhe do Cataio. Veneza, Biblioteca Nazionale Marciana, Inv. 106173. Extraído da edição digital do Museo Galileo <https://mostre.museogalileo.it/framauro/en/>.


~ 25 Fig. 3

Mappemonde dressée en 1459, par Fra Mauro, cosmographe vénetien, par ordre d’Alphonse V Roi De Portugal publiée pour la première fois de la grandeur de l’original avec toutes les légendes par le Vicomte de Santarem.. Gravura, Paris, 1854. Biblioteca Nacional de Portugal, C.C. 770 R. E C.C. 771 R.


> Fig. 6

Carta da costa da China, no contexto marítimo do sudeste asiático, entre a Índia Oriental e o Japão no Atlas, Fernão Vaz Dourado. Manuscrito, 1571. Biblioteca Nacional de Portugal, IL. 171.

26 ~ Fig. 4 - Marco paulo. Ho liuro de nycolao veneto. Ho

trallado da carta de huu[m] enoues das ditas terras. Lyxboa: per valentim fernãdez,1502. Biblioteca Nacional de Portugal, RES. 431 V.

Fig. 5 - Carta portuguesa do Extremo Oriente desde o Golfo de Sião ao Japão, no Livro de Marinharia de João de Lisboa, com um Atlas Universal, de 20 cartas. Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Colecção Cartográfica, n.º 166.




< Fig. 7 - Detalhe com Cantão do anterior

Mapa do sudeste asiático, entre a Índia oriental e o Japão de Fernão Vaz Dourado.

Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Colecção Cartográfica, n.º 166.

Fig. 8 - Historia de las cosas mas notables, ritos y costumbres del

gran reyno dela china, sabidas assi por los libros delos mesmos chinas, como por relacion de religiosos, y otras personas que han estado enel dicho reyno... / hecha y ordenada por el muy reuerendo padre maestro fray Iuan Gonçalez de Mendoça. Biblioteca Nacional de Portugal, Res. 843.

Fig. 9 - Matteo Ricci, Nicolas Trigault, De christiana

expeditione apud Sinas suscepta ab Societate Jesu... Augustae Vind[elicum] [Augsburg] apud Christoph Mangium, 1615. Biblioteca Nacional de Portugal, RES. 3479 V.

~ 29 Fig. 10 - Palácio suburbano oferecido aos padres jesuítas

pelo imperador da China, em Nicolas Trigault

De christiana expeditione apud Sinas suscepta ab Societate Jesu...Augustae Vind[elicum] [Augsburg] apud Christoph Mangium, 1615. Biblioteca Nacional de Portugal, RES. 3479 V.



< Fig. 11

Astrolábio ‘Aveiro’ Portugal, c. 1575 Diâmetro 19,7 cm Museu da Marinha, Inv. MM 05255

~ 31 Fig. 12

Kendi China, época Wanli (1573-1620) | Porcelana Alt. 23,5 cm x Diâmetro base 10 cm x Diâmetro boca 4 cm Museu Medeiros e Almeida, Inv. FMA 830



2

A China marítima e interior Maritime and inland China 中国沿海和内陆


A China marítima e interior Marco Caboara

(Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong) Até aos finais do século XVI, a imagem que o Ocidente tinha da China resultava da informação das cartas náuticas portuguesas e espanholas, que ofereciam uma nova perceção da costa leste da Ásia até aos 30º de latitude norte, com as zonas em branco na Costa Norte e parte interior do país preenchidas por Marco Polo, gradualmente integradas com mapas e textos chineses adquiridos e parcialmente interpretados através de estudiosos e mercadores portugueses e espanhóis. Por exemplo, João de Barros, na sua Terceira Década da Ásia (Lisboa, 1563), refere ter usado traduções de livros e mapas chineses, entre os quais uma cosmografia com “mapas que mostravam a configuração da terra e um comentário sobre o assunto sob a forma de um itinerário”, preparados para ele por um criado chinês culto.

34 ~

Esta é a representação oferecida pelo mapa especial da Ásia publicado em 1561 por Giacomo Gastaldi para acompanhar/ilustrar a obra Navigazioni e viaggi de Giovanni Ramusio. Por esta altura já se conhecia o nome de muitas províncias interiores bem como o de cidades importantes do novo império Ming; o Grande Khan (Canato) Tártaro tinha desaparecido. O país recebe o nome de China, se bem que ainda se utilizem os termos já antiquados Catai e Mangi (Catai para o território norte e Mangi para sul) referidos por Marco Polo. A China, como país diferenciado governado pela dinastia Ming, com a sua organização em províncias e estendendo-se da ilha de Hainan e Cantão no sul até à Grande Muralha e Pequim (Beijing) a norte, aparece em mapas ocidentais por volta de 1580, apoiados tam-

bém em mapas de fontes mais fidedignas e mais bem compreendidos impressos em Antuérpia e Roma. De acordo com o estudo mais abrangente (Caboara 2022), os mapas da China impressos na Europa no decorrer dos 150 anos posteriores podem ser relacionados com dez protótipos elaborados na Europa com base em material chinês obtido em três grandes vagas. A primeira vaga (1580-1590) ocorreu após a unificação de Portugal e Espanha e a súbita possibilidade de acesso a fontes portuguesas sobre a China, até então bem guardadas, ao mesmo tempo que as missões Jesuítas se estabeleciam no país. O primeiro mapa de Ortelius circulou nos países europeus com pequenas, mas influentes variações, claramente reconhecíveis. A segunda vaga (1640-1650) seguiu-se à queda da dinastia Ming (1368-1644) e com o regresso à Europa de missionários jesuítas, como Martino Martini e Michał Boym, que trouxeram atlas e mapas chineses que traduziram para latim convertendo-os em mapas ocidentais. O facto de estes mapas terem sido publicados passado pouco tempo, no todo (os de Martini) ou em parte (os de Boym), e terem tido grande circulação, deveuse também à nova abertura da Igreja Católica quanto à impressão e disseminação de informação através de editores protestantes baseados em Amesterdão (Stolzenberg 2019, 20). Os oitenta anos que se seguiram correspondem, embora não com exatidão cronológica, ao que Paul Hazard definiu como “a crise da tomada de consciência da Europa”. Esses anos são igualmente conhecidos como a “idade de ouro” da “República das Letras” – a circulação de mapas e informação sobre a China alastrou pelos países e confissões religiosas da Europa. A terceira vaga verificou-se nos anos de 1730, com a publicação, em Paris, da adaptação francesa dos atlas de pesquisas que tinham tido a colaboração dos jesuítas durante os vinte anos anteriores.

Selecionámos, de cada uma das vagas, 3 mapas cuja influência foi mais alargada, e mais dois mapas que, por motivos diferentes, têm um significado especial. O primeiro mapa da China impresso na Europa foi publicado em 1548 por Abraham Ortelius, em Antuérpia, na oficina de (Christophe) Plantin; ( Hong Kong HKUSTL, G7820 1592 .O78). (Fig. 14). O mapa baseava-se num protótipo, entretando perdido, do cartógrafo português Luiz/Luís Jorge de Barbuda. Intitulado “Chinae olim Sinarum regionis, nova descriptio” [Um novo mapa da China, antes chamada região de Sinae], foi o mais disseminado e influente retrato da China no Ocidente durante quase 70 anos. Provavelmente, Barbuda utilizou várias fontes, incluindo o mapa de (Bartolomeu) Velho, de 1561, textos portugueses sobre a China bem como mapas chineses enviados de Macau e Manila. O mapa de Barbuda, tal como foi publicado por Ortelius, é orientado na horizontal, com o norte à direita e o sul à esquerda, possivelmente para obter uma composição visual e para o adaptar ao formato do atlas. A costa sul da China é apresentada de forma pormenorizada, mostrando faixas costeiras recortadas, rios, ilhas e topónimos de influência portuguesa, como, por exemplo, Macau. A costa norte é menos pormenorizada, com menos topónimos. O interior é delimitado por cordilheiras, e a Grande Muralha descrita como fazendo parte de uma barreira que, com as extensas cadeias montanhosas, cercam todo o país. O mapa de Barbuda é o primeiro a registar o nome das quinze províncias da China dos Ming, embora as localizações não sejam totalmente precisas. Nas regiões do interior aparecem topónimos chineses, provavelmente obtidos a partir de informadores ou de mapas chineses. O mapa apresenta ainda um sistema hidrográfico imaginativo, com numerosos rios e as suas nascentes em grandes lagos. Na província de SANCII (Shaanxi), na fronteira oeste da China, o mapa mostra um lago com uma legenda a


descrever a inundação que ocorreu em 1557 (na verdade, em 1556). A inundação relaciona-se com o sismo de Jiajing, ainda hoje o sismo mais mortífero de que há registo, não só na China como em todo o mundo, causando a morte de cerca de 830 000 pessoas. Numa vasta área centrada à volta de Shanxi e Shaanxi, as cidades foram arrasadas, a água saía de solo plano (fissuras?) e muitos locais foram consumidos por incêndios (Geiss 1988, 478). A primeira versão do mapa não inclui o termo “Islas Philippinas” (Ilhas Filipinas), adicionado mais tarde, em 1587. Abraham Ortelius, o editor do mapa, conseguiu obtê-lo para o seu Theatrum orbis terrarum, o primeiro atlas moderno, com a ajuda do espanhol Benedictus Arias Montanus, um estudioso da Bíblia e orientalista. Montanus obteve o mapa de Luiz/Luís Jorge de Barbuda, que fazia parte de uma operação de espionagem relacionada com o embaixador de Espanha em Portugal e um cosmógrafo e espião italiano conhecido como Juan Bautista Gesio (Deswarte-Rosa 1987). Ortelius continuou à procura de mapas da China mais fidedignos junto de fontes portuguesas e romanas. Em 1592, por exemplo, tentou obter um grande mapa da China baseado no trabalho de Michele Ruggieri da tipografia Stamperia orientale medicea, mas não há registo de que o tenha recebido. Se bem que não tenhamos registo de que Ortelius tenha obtido o mapa de Ruggieri, temos um mapa da China impresso, associado a Ruggieri, publicado nos anos de 1580 ou início da década de 1590, numa folha solta de que só existem duas cópias, uma no Arquivos dos Jesuítas e outra na Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong. “Sinarum Regni Aliorumque Regnorum et jnsularum Illi Adjacentium Descriptio” (G7400 1590 .S54) – “Um Mapa do Reino da China e de outros reinos e ilhas próximos” é o título do mapa (Fig. 16). Este mapa oferece um manancial de informação textual e pormenores gráficos que até então não constavam em

anteriores mapas ocidentais sobre a China. Inclui também três legendas, A, B e C, e uma cartela (cartuxo egípcio) com informações sobre o Império Ming e as suas províncias. A legenda A descreve um lago lendário em Sichuan que seria a fonte/nascente de todos os rios chineses. A legenda B refere-se à Grande Muralha. A legenda C vem corrigir a ideia de que a Coreia era uma ilha, afirmando que é, na verdade, uma península. A cartela fornece coordenadas geográficas do Império Chinês, particularidades acerca das suas 15 províncias e os respetivos nomes, e explica os níveis hierárquicos da estrutura administrativa do país. Pela primeira vez, o público europeu pode ver as divisões das províncias Ming com seus nomes corretos e as suas capitais. Estas capitais provinciais são descritas/retratadas como cidades de estilo europeu, com uma pequena igreja representando a igreja dos Jesuítas em Zhaoqing (Caboara 2020). Michele Ruggieri, que nasceu em 1543, em Spinazzola, na Itália, desempenhou um papel relevante nas missões dos Jesuítas na China. Em 1578 embarcou para a Ásia e chegou a Macau em 1579. Regressou à Europa em 1588 como Procurador da missão Jesuíta na China, continuando a trabalhar no atlas manuscrito em Roma, mas o seu trabalho recebeu menos reconhecimento do que o do seu companheiro missionário, (Matteo) Ricci (Catto 2017). O mapa e o relatório associado a Ruggieri faziam parte de um esforço para persuadir superiores eclesiásticos, monarcas e nobres católicos a financiar a missão na China.

acessível a um público mais alargado a história das explorações inglesas e de outras nações, em particular as viagens da Companhia das Índias Orientais. O mapa chinês usado por Purchas foi obtido através do Comandante John Saris, que o adquiriu a um comerciante chinês em Bantam, Java, e o trouxe para Londres (Batchelor 2014, 135-139). De acordo com a descrição de Purchas, o mapa teria aproximadamente 121,92 cm x 152,4 cm, com uma parte significativa preenchida por texto escrito em caracteres chineses. Para completar a informação que faltava, Purchas apoiou-se em relatos dos jesuítas e notas escritas de Thomas Cavendish, “o qual, na sua viagem pelo Globo, trouxe certas referências retiradas do Mapa da China, perto das quais navegou, e parece que através de alguém versado na língua da China e na de Portugal, conseguiu que as interpretassem” (Batchelor 2014, 66103).

O nosso terceiro mapa é o único impresso na Europa neste período no qual é claramente visível um modelo da China já identificado. Este mapa, com o simples título de “O Mapa da China”, foi publicado no 3º volume do “Hakluytus posthumus”, de Samuel Purchas, em Londres, em 1625 (Hong Kong HKUSTL, G7820 1625 .P87). (Fig. 22). Purchas, que não fez grandes viagens, ficou famoso pela sua compilação de relatos de viajantes. O seu objetivo era tornar

~ 35

Kraków MNK, 416 III BCZK Saf. Laboratory Stock National Museum in Krakow


O mapa utilizado por Purchas é uma impressão por blocos de madeira, datado de 1605, atualmente conservado na Biblioteca Czartoryski, em Cracóvia, provavelmente levado para a Polónia pelo Conde Jan Potocki no final da sua missão na China. O mapa foi impresso em Fuzhou, em 1605, em seis folhas. Mede 127 x 102 cm, tem o título Beizhi Huang Ming yitong xingshi fenye chuchu quanlan 備志皇明 一統形 勢分野出處全覽 (Vista completa/total da topografia, referências astrais e o registo completo das origens das personagens do Grande Estado Imperial Ming) (Brook 2020, 108). O mapa de Purchas retrata a China e parte da Coreia como uma península. Refere o nome de oito cidades, incluindo as capitais Beijing (Pequim) e Nanjing (Nanquim), bem como Nanchang, Hangzhou, Suzhou, Macao/Macau, Nanxiong e Nan’an. Outros centros urbanos são representados por pequenos quadrados ou círculos, indicando a respetiva importância. O Rio Amarelo é referido como “Flumen flavum”, o Yangtzé/ Iansequião como “Flumen Jangsu”. A Grande Muralha é descrita como uma extensa fortificação muralhada. Para lá da Grande Muralha, a noroeste, ficam os reinos tártaros de Qara Khitai (Catai Negro) e Chalish. Purchas admitiu que tinha mantido um símbolo/elemento gráfico, uma larga faixa negra, no canto noroeste do mapa da sua fonte chinesa, mas não tinha a certeza se representava desertos ou montanhas. Mais tarde, a cartografia confirmou que se tratava de desertos. O mapa inclui ainda três retratos, um de Matteo Ricci e dois outros, “Uma pintura de um homem chinês” e “Uma pintura de uma mulher chinesa”. 36 ~ O mapa de Purchas diferencia-se de outros mapas por

ter sido uma aquisição fortuita de um modelo chinês e não se harmoniza com as três vagas de desenvolvimento cartográfico que marcaram os outros mapas. O mapa de Martino Martini, pelo contrário, não apenas fazia parte da segunda vaga, mas foi de facto o mais

influente mapa da China em todo esse período (Hong Kong HKUSTL, G2306.S1 M3 1655 map 1). (Fig. 23) Martino Martini (1614-1661), missionário jesuíta italiano, viajou até à China em 1642 e voltou para Roma em 1651, trazendo vários mapas das províncias chinesas, que traduziu para Latim. Na viagem de regresso à Europa, foi capturado pelos holandeses, mas estes, reconhecendo a importância dos mapas, permitiram-lhe que continuasse a viagem até à Holanda sem confiscar o seu “tesouro” de cinquenta livros e mapas. Logo que chegou à Europa, Martini começou a fazer palestras públicas sobre a invasão dos Manchus e sobre a geografia da China (Golvers 2016). Em 1654, publicou “De bello tartarico historia” (História da Guerra dos Tártaros) na oficina de impressão dos herdeiros de Plantin, em Antuérpia, cidade maioritariamente católica, mas o seu Atlas da China foi impresso por Joan Blaeu, impressor protestante baseado em Amesterdão, e cartógrafo oficial da Companhia Holandesa das Índias Orientais (VOC)1. Apesar de ser arriscado um sacerdote católico publicar um atlas num editor protestante, a oficina de Blaeu possuía uma rede de distribuição robusta, o que assegurava que as obras que publicavam facilmente chegavam a um vasto público. Os seus impressores e artistas especializados eram hábeis no desenho de mapas e na gravação de elementos decorativos. Com o apoio de Blaeu, Martini publicou, com êxito, um trabalho exaustivo/abrangente que incluía texto e mapas de cada uma das províncias da China, um mapa geral da China e um mapa do Japão O mapa geral da China de Martini, o Imperii Sinarum Nova Descriptio (Novo mapa do Império da China), é, na verdade, um mapa da Ásia Oriental, e abrange ainda a Coreia e o Japão, pondo fim ao debate que há décadas dividia os cartógrafos europeus sobre se Hokaido seria uma ilha ou um continente, e se seria parte da Ásia ou da América do Norte. O mapa fornece uma representação precisa da subdivisão das províncias chinesas para além 1

Vereenigde Oostindische Compagnie

do curso dos rios e das cadeias montanhosas. Com os mapas provinciais mais pormenorizados e o texto extremamente esclarecedor baseado em fontes chinesas com dados sobre a demografia, a economia e o poder militar de cada província, este mapa disponibiliza de forma impressionante informação pormenorizada e precisa que se manteve como referência principal sobre a geografia chinesa até 1735 (Castelnovi 2012).

(Paris BNF, GE DD 2987 (7144 B)

O derradeiro e mais inovador sucesso do Ocidente quanto à cartografia da China consistiu numa série de mapas gerais e regionais da China publicada em Paris em 1735 por Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville. O trabalho de d’Anville teve como base os esforços feitos previamente por jesuítas franceses enviados por Luís XIV à corte do Imperador Kangxi em 1685. Este grupo de jesuítas, composto por astrónomos, topógrafos e cartógrafos, era conhecido como os “Mathématiciens du Roi”, os matemáticos do Rei, título conferido pela Real Academia de Ciências de Paris. Jean-Baptiste Du Halde, padre jesuíta conhecido pela sua coleção de cartas de missionários, planeava publicar um tratado abrangente baseado na valiosa informação geográfica e cultural sobre a China recolhida pelos jesuítas. Du Halde confiou o trabalho de cartografia a


Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville, jovem e talentoso geógrafo já admitido como geógrafo do Rei aos vinte e dois anos. A obra de Du Halde, “Description géographique, historique, chronologique, politique, et physique de l’empire de la Chine et de la Tartarie chinoise” (Descrição geográfica, histórica, cronológica, política e física do império da China e da Tartária chinesa), incluía quarenta e um mapas feitos por D’Anville. Cada uma das províncias do império chinês estava representada, para além de mapas da Manchúria, da Mongólia, do Tibete e da Coreia. D’Anville reproduziu fielmente os mapas existentes e dedicou especial atenção aos três mapas gerais: um da China, um da Tartária chinesa e um mapa mais geral que englobava a China, a Tartária chinesa e o Tibete (Cams 2017). D’Anville pretendia situar a China, no mapa mais geral, no contexto mais vasto da Ásia. O mapa traduzia uma nova perspetiva da China, realçando as suas relações com países vizinhos e apresentando um mapa da Sinosfera. Entre outros pormenores importantes, incluía o mar Cáspio, o estuário do Saghalien Oula (rio Amur) e a Ilha Sacalina. Na parte inferior do mapa encontravam-se duas grandes cartelas. Uma delas retratava uma cena de caça com quatro escalas, incluindo unidades de medidas chinesas. Na outra, via-se o Imperador Chinês sentado num trono, acompanhado por sacerdotes jesuítas e uma escolta de cavaleiros armados, a inspecionar uma povoação agrícola com cabras e construções de onde saía fumo. Inicialmente, o mapa mais geral não fazia parte do contrato entre Du Halde e d’Anville, o qual só especificava três mapas gerais da China, Tartária Chinesa e Tibete. No entanto, foi posteriormente adicionado e, para sublinhar a sua importância, inserido no livro em primeiro lugar. O mapa foi reeditado na Holanda em 1737, publicado na cidade de Haia, com uma fonte/tipo de letra diferente e apresentado como um atlas.

~ 37


Maritime and Inland China Marco Caboara (Hong Kong University of Science and Technology) Before the late 16th century the image of China in the West was a combination based on Portuguese and Spanish nautical charts, which provided a new image of coastal East Asia up to 30° north, with the voids filled by Marco Polo for the Northern Coast and Inland part of the country, gradually integrated with Chinese maps and texts acquired and partially interpreted via Portuguese and Spanish scholars and traders. For example, in his Third Decade of Asia (Lisbon, 1563), Joāo de Barros mentions using translations of Chinese books and maps, among them a cosmography with “maps showing the configuration of the land, and a commentary thereon in the form of an itinerary,” that were prepared for him by a cultured Chinese servant. This is the image given by the special map of Asia published in 1561 by Giacomo Gastaldi to accompany Ramusio’s Navigazioni e viaggi. Many names of the inland provinces as well as some of the main cities of the new Ming empire were now known; the Great Khan of the Tatars has disappeared. The name China is given to the country, but Marco Polo’s outdated Cathay and Mangi are also still there. China as distinct country ruled by the Ming dynasty, with its provincial organization and extending from Hainan island and Canton in the South to the Great 38 ~ Wall and Beijing in the North, appears in Western maps in the 1580s, with the additional help of better sourced and understood maps printed in Antwerp and Rome. According to the most comprehensive study (Caboara 2022), the maps of China printed in Europe for the next 150 years can be connected to ten prototypes, which

were elaborated in Europe based on Chinese material in three main waves. The first wave (1580-1590) followed upon the unification of Portugal and Spain and the sudden openness of previously well-guarded Portuguese sources about China; together with the simultaneous take-off of the Jesuit mission in China. The first map by Ortelius kept being circulated across European countries with minor, though influential, and clearly recognizable variations. A second wave (1640-1650) arrived with the fall of the Ming dynasty (1368-1644) and the travel back to Europe of Jesuit missionaries such as Martino Martini and Michał Boym, who brought with them Chinese atlases and maps which they translated into Latin and converted into Western maps. That these maps were soon published, in whole (Martini) or in part (Boym), and circulated widely was also due to a new openness of the Catholic Church towards printing and dissemination of information via the Protestant publishers based in Amsterdam (Stolzenberg 2019, 20). The eighty years that followed correspond, albeit not with chronological precision, to what Paul Hazard has defined as “the crisis of European consciousness”. It is also known as the “golden age” of the “Republic of Letters” – a Europe-wide circulation of maps and information about China across countries and religious confessions. The third wave came in the 1730s, with the publication in Paris of the French adaptation of the Chinese survey atlases on which the Jesuits had collaborated in the previous twenty years. We will select 3 maps from each wave whose influence has been most widespread, together with two more who are, for different reasons, of special significance. The first map of China printed in Europe was published in 1584 by Abraham Ortelius in Antwerp by Plantin. (Fig. 14). It was based on a lost prototype by the Portuguese cartographer Luiz Jorge de Barbuda. Titled “Chi-

nae olim Sinarum regionis, nova descriptio” [A new map of China, once called the region of the Sinae], it became the most widespread and influential Western portrayal of China for almost 70 years. Barbuda likely drew on various sources, including the detailed 1561 map by Velho, Portuguese writings on China, as well as Chinese maps sent from Macao and Manila. Barbuda’s map, as published by Ortelius, is horizontally oriented, with north to the right and south to the left, possibly for visual composition and to fit the atlas format. The southern coast of China is depicted with detail, featuring jagged coastlines, rivers, islands, and Portuguese-influenced toponyms like Macao. The northern coast is less understood, with fewer toponyms. The mainland is bounded by mountain ranges, and the Great Wall is described as part of a barrier joined with long mountain chains enclosing the whole country. The Barbuda map is the first to record the names of the fifteen provinces of Ming China, although their locations are not entirely accurate. Chinese toponyms are given in the interior regions, likely collected from Chinese informants or maps. The map also portrays a fanciful hydrographic system, depicting numerous rivers and their sources in large lakes. In the province of SANCII (Shaanxi) on the western border of China, the map shows a lake with a legend describing a flood that occurred in 1557 (actually in 1556). The flood was related to the Jiajing earthquake, which remains to this day the deadliest on record, not just in China but in the world, killing approximately 830,000 people. Across a wide area centred around Shanxi and Shaanxi, cities were levelled, water came out of flat ground and several places were destroyed by fire (Geiss 1988, 478). The first state of the map does not include the name “Islas Philippinas” (the Philippine Islands), but it was later added in 1587.


Abraham Ortelius, the editor of the map, obtained it for his Theatrum orbis terrarum, the first modern atlas, with the assistance of Benedictus Arias Montanus, a Spanish biblical scholar and orientalist. Montanus obtained the map from Luiz Jorge de Barbuda, who was part of an intelligence operation connected with the Spanish ambassador in Portugal and an Italian cosmographer and spy known as Juan Bautista Gesio (Deswarte-Rosa 1987). Ortelius continued to seek more reliable maps of China from Portuguese and Roman sources. For example, in 1592, he attempted to obtain a large map of China based on the work of Michele Ruggieri from the Stamperia orientale medicea, but there is no record of him receiving it. While we have no record of Ortelius obtaining Ruggieri’s map, we do have a printed map of China associated with Ruggieri and published in the 1580s or early 1590s on a loose sheet, which remains in only two copies, one at the Jesuit Archives and one in the Hong Kong University of Science and Technology (HKUSTL, G7400 1590 .S54). (Fig. 16). The map is titled Sinarum Regni Aliorumque Regnorum et jnsularum Illi Adjacentium Descriptio (A Map of the Kingdom of China and the other kingdoms and islands neighboring it). The map provides rich textual information alongside graphical details not seen in previous Western maps of China. It includes three captions labeled A, B, and C, along with a cartouche containing information about the Ming Empire and its provinces. Caption A describes a legendary lake in Sichuan believed to be the source of Chinese rivers. Caption B refers to the Great Wall, while Caption C corrects the misconception that Korea is an island, stating that it is actually a peninsula. The cartouche provides geographical coordinates of the Chinese Empire, details about its 15 provinces and their names, and explains the hierarchical levels within the administrative structure. For the first time, a European audience could see the divisions of the Ming provinces

with their correct names and capitals. The provincial capitals are depicted as European-style cities, with a small church representing the Jesuit church in Zhaoqing (Caboara 2020). Michele Ruggieri, born in 1543 in Spinazzola, Italy, played a significant role in the Jesuit mission in China. He sailed to Asia in 1578 and arrived in Macao in 1579. He later returned to Europe in 1588 as the Procurator for the Jesuit mission in China. Ruggieri continued working on his manuscript atlas in Rome but received less recognition compared to his companion missionary Ricci (Catto 2017). The map and report associated with Ruggieri were part of an effort to persuade ecclesiastical superiors, Catholic sovereigns, and nobles to support the mission in China.

China and Portugall, had the same interpreted to him” (Batchelor 2014, 66-103). The map Purchas used is a woodblock print from 1605, currently held at the Czartoryski Library in Krakow, which was likely brought to Poland by Count Jan Potocki after his mission to China. The map was printed in 1605 in Fuzhou in six sheets. It measures 127 x 102 cm and its title is Beizhi Huang Ming yitong xingshi fenye chuchu quanlan 備志皇明 一統形勢分野出處全 覽 (Complete view of the topography, astral correspondences, and origins of personages of the imperial Ming Great State, recorded in its entirety) (Brook 2020, 108).

Our third map is the only one printed in Europe in this period for which a Chinese model is clearly visible and has been actually identified. The map in question, simply titled “The Map of China”, was published in volume 3 of Samuel Purchas’s “Hakluytus posthumus” in London in 1625. (Fig. 22). Purchas, who had never traveled extensively, gained fame through his compilation of travelers’ reports. He aimed to make the history of English and other nations’ exploration, particularly the voyages of the East India Company, accessible to a wider audience. The Chinese map used by Purchas was obtained from Captain John Saris, who acquired it from an unnamed Chinese merchant in Bantam, Java, and brought it to London in 1614 (Batchelor 2014, 135-139). Purchas described the map’s dimensions as approximately 4 feet by 5 feet, with a significant portion occupied by text written in Chinese characters. To fill in the missing information, Purchas relied on Jesuit reports and notes taken by Thomas Cavendish, “who in his voyage about the Globe, brought home certayne references taken out of the Map of China, neere which hee sayled, and it seemes by some skilfull of the Languages both of

Kraków MNK, 416 III BCZK Saf. Laboratory Stock National Museum in Krakow

The Purchas map depicts China and part of Korea as a peninsula. It names eight cities, including the capitals Beijing and Nanjing, as well as Nanchang, Hangzhou,

~ 39


Suzhou, Macao, Nanxiong, and Nan’an. Other urban centers are represented by small squares or circles, indicating their significance. The Yellow River is labeled as “Flumen flavum,” while the Yangtze is named “Flumen Jangsu.” The Great Wall is depicted as a long, walled fortification. Beyond the Great Wall, in the northwest, are the Tartar kingdoms of Qara Khitai (Black Cathay) and Chalish. Purchas admitted that he retained a graphic symbol, a wide black stripe, in the northwestern corner of the map from his Chinese source but was unsure whether it represented deserts or mountains. It was later confirmed by cartographers that it indicated deserts. The map also includes three portraits, one of Matteo Ricci and two labeled “A Picture of a Chinese man” and “Picture of a Chinese woman.” The Purchas map stands apart from other maps as it was a fortuitous acquisition of a Chinese model and does not align with the three waves of cartographic development affecting the other maps. The map by Martino Martini, instead, did not just belong to the second wave, but actually was the most influential map of China in this whole period (Fig. 23). Martino Martini (1614-1661) was an Italian Jesuit missionary who traveled to China in 1642 and returned to Rome in 1651, bringing along several maps of the Chinese provinces that he translated into Latin. During his voyage back to Europe, he was captured by the Dutch, but they recognized the value of the maps and allowed him to proceed to the Netherlands without confiscating his “treasure” of fifty books and maps. Martini commenced public lectures on the Manchu invasion and 40 ~ the geography of China as soon as he arrived in Europe (Golvers 2016). In 1654 Martini published his work “De bello tartarico historia” (History of the Tartar War) with Plantin’s heirs in Catholic Anwerp, but published his Atlas of China with the Amsterdam-based protestant publisher Joan Blaeu, who was the official cartographer

of the Dutch East India Company (VOC). Even though it was daring for a Catholic priest to publish an atlas with a Protestant publisher, Blaeu’s publishing house had a robust distribution network, ensuring that works published with them reached a wide market easily. Skilled printers and artists within the publishing house were adept at drawing maps and engraving decorative elements. With Blaeu’s assistance, Martini successfully printed a comprehensive work that included text and maps for each province of China, as well as a general map of China and a map of Japan. Martini’s general map of China, titled Imperii Sinarum Nova Descriptio (New map of the Empire of China), is actually a map of East Asia, covering also Korea and Japan, settling the decades-old debate among European cartographers whether Hokkaido was an island or a continent, and whether it was part of Asia or rather North America. It gives precise representation of the subdivision of Chinese provinces as well as the courses of rivers and mountain ranges. In conjunction with the more detailed provincial maps and the extremely rich text based on Chinese sources with data on the demographics, economy, and military strength of each province, it provided incredibly detailed and accurate information remaining the primary reference for Chinese geography until 1735 (Castelnovi 2012). The latest and most innovative achievement of Western mapping of China was the series of general and regional maps of China published in Paris in 1735 by Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville. D’Anville’s work was built upon the earlier efforts of French Jesuits who were sent to the court of Emperor Kangxi by Louis XIV in 1685, a group of astronomers, surveyors and cartographers known as the “Mathématiciens du Roi” (the King’s mathematicians), a title assigned to them by the Académie royale des sciences in Paris.

(Paris BNF, GE DD 2987 (7144 B)

Jean-Baptiste Du Halde, a Jesuit father known for his collection of letters from missionaries, planned to publish a comprehensive treatise based on the valuable geographical and cultural information about China gathered by the Jesuits. Du Halde entrusted the cartographic work to Jean-Baptiste Bourguignon d’Anville, a young and talented geographer who had already received recognition as the King’s Geographer at the age of twenty-two. Du Halde’s work, titled “Description géographique, historique, chronologique, politique, et physique de l’empire de la Chine et de la Tartarie chinoise,” included forty-one maps by D’Anville. Each province of the Chinese Empire was represented, along with maps of Manchuria, Mongolia, Tibet, and Korea. D’Anville faithfully copied existing maps and devoted special attention to three general maps: one of China, one of Chinese Tartary and Tibet, and a most general map that encompassed China, Chinese Tartary, and Tibet (Cams 2017). In the most general map, D’Anville aimed to place China within the broader Asian context. The map represented a new perspective on China, highlighting its relationships with neighboring countries and presenting a map of the Sinosphere. Notable features included the


Caspian Sea, the estuary of the Saghalien Oula (Amur River), and Sakhalin Island. The lower part of the map featured two large cartouches. One depicted a hunting scene with four scales, including the Chinese units of measurement. The other showed the Chinese Emperor seated on a throne, accompanied by Jesuit priests and an armed mounted escort, surveying an agrarian settlement with goats and buildings emitting smoke. The most general map was not initially part of the contract between Du Halde and d’Anville, which only specified three general maps of China, Chinese Tartary and Tibet. However, it was added later and placed at the beginning of the book to emphasize its significance. The map was reissued in a Dutch edition in 1737, published in The Hague, featuring a different copperplate and presented as an atlas.

~ 41


42 ~ Fig. 13 - Arnold Langren, Exacta & accurata delineatio cúm orarium maritimarum túm etiam locorum terrestrium quae in regionibus China, Cauchinchina, Camboja... Antuérpia? 1595. Biblioteca Nacional de Portugal, C.C. 804 V.1595.


~ 43 Fig. 14

CHINAE, olim Sinarum regionis, nova descriptio. acutore Ludovico Georgio (Nova descrição da China, antes chamada Região dos Sini), in Abraham Ortelius, Theatro de la tierra universal…, 1588. Biblioteca Nacional de Portugal, C.A. 155 V.


44 ~

> Fig. 15

Biombo cartográfico manuscrito baseado no planisfério de Matteo Ricci, Kunyu wanguo quantu ( Mapa completo das inúmeras nações do mundo) impresso em Pequim em 1602, sec. XVII-XVIII. Hong Kong University of Science and Technology, G7820 1602.R5 1680er. (exemplar exposto em versão digital)


~ 45


46 ~ Fig. 16

Sinarum Regni alioru[m]q[ue] regnoru[m] et insularu[m] illi adiacentium descriptio (Um Mapa do Reino da China e de outros reinos e ilhas proximos) Roma? 1590? Hong Kong University of Science and Technology, G7400 1590 .S54. (exemplar exposto em versão digital)


~ 47 Fig. 17

Terra das Conxas, Carta marítima manuscrita de grande grupo insular dos mares da China, séc. XVI-XVII. Biblioteca Nacional de Portugal, D. 90


48 ~ Fig. 18

China, no L’Atlas ou Méditations Cosmographiques, Gerard Mercator, Jodocus Hondius, Duisburg, Typis Aeneis, 1609. Biblioteca Nacional de Portugal, C.A. 135 V.


~ 49 Fig. 19

Mapa topográfico da Região de Macau e Cantão. Sem autor, escala e data (de cerca de 1644-46). Anexo ao manuscrito da autoria de Jorge Pinto de Azevedo, 1646. Biblioteca da Ajuda, MS. 54-XI-21.9.


50 ~


< Fig.19A

Detalhe de Macau no mapa topográfico Sem autor, escala e data (de cerca de 1644-46). Anexo ao manuscrito da autoria de Jorge Pinto de Azevedo, 1646. Biblioteca da Ajuda, MS. 54-XI-21.9.

~ 51 Fig. 20

Detalhe da cidade de Cantão/ Guangzhou, no Mapa da província de Cantão/ Guangdong. Sem escala e data (de cerca de 1644-46). Biblioteca da Ajuda, MS. 54-XI-21.9.


52 ~ Fig. 21

Detalhe da cidade de Anção, no mapa da província de Cantão/ Guangdong. c.1644-46. Sem escala e data (de cerca de 1644-46). Biblioteca da Ajuda, MS. 54-XI-21.9.


~ 53 Fig. 22

The Map of China - 皇明一统方輿備覧 (Huang Ming yitong fangyu beilan - Descrição geográfica exaustiva do império unificado sob a venerável Dinastia Ming). Purchas, Samuel - Hakluytus posthumus or Purchas his Pilgrime (1625-1626). Biblioteca Nacional de Portugal, D.S. XVII – 37- 41.


54 ~ Fig. 23

Imperii Sinarum nova descriptio (Nova descrição do Império dos Chineses), no Atlas nuevo de la extrema Asia, o descripcion geographica del Imperio de los Chinas por el Martino Martinio de la Compañia de Iesu. Amsterdam, Juan Blaeu, 1659. Biblioteca Nacional de Portugal, C.A. 35 A.


~ 55 Fig. 24

Pecheli sive Peking. Imperii Sinarum província prima (Pecheli, ou seja, Pequim. Primeira província do Império dos Chineses), no Novus atlas sinensis, Martino Martini. Amsterdam, Joan Blaeu, 1655-1659. Biblioteca Nacional de Portugal, C.A. 70 A.


Fig. 25

Carta particolare del mare di Cocincina parte Australe della China. La longitudine comincia da l’Isola de Pico 56 ~ d’Asores, d’Asia Carta VII (Mapa particular do mar de Cocinchina na parte austral da

China. A longitude começa na Ilha do Pico nos Açores, Mapa VII da Ásia), Robert Dudley, Dell’Arcano del Mare... Firenze, nella Stamperia di Francesco Onofri, 1647. Biblioteca Nacional de Portugal, RES. 3147 A.

Fig. 26

George Matthaus Seutter, Opulentissimum sinarum Imperium juxta recentissimam delineationem in suas provincias disterminatarum

(Um mapa do riquíssimo império da China, dividido de acordo com uma divisão recente nas suas províncias), gravura, Augsburg, ca 1740. Biblioteca Nacional de Portugal, C.C. 1470 A.


~ 57 Fig.27

Globo Terrestre Réplica a partir do original construído pelos jesuítas Manuel Dias e Niccolò Longobardi, 1623 (original na British Library, Londres). Fundação Jorge Álvares. Em depósito do Museu de Macau do Centro Científico e Cultural de Macau.



3

Macau, porta da China Macau, gateway to China 澳门,中国的门户


Macau, porta da China

ticos e preciosos, como o âmbar cinzento, diretamente solicitados para serviço da corte imperial, mas também o acesso privilegiado a grande quantidade de prata que chegava à China, através do comércio das rotas portuguesas de Macau ao Japão e a Manila (proveniente das novas minas da América do Sul-Nova Espanha).

Rui Lourido, Historiador, Presidente do Observatório da China

Para compreender o papel fundamental de Macau como porta civilizacional de ligação entre Portugal (a Europa, o Ocidente) e a China, bem como a sobrevivência de Macau como cidade luso-chinesa ao longo de muitos séculos, deveremos considerar a interação de três principais tipos de fatores: económicos, geográficos e políticos.

É a intensidade do relacionamento dos mercadores portugueses de Macau com a comunidade chinesa e com as suas autoridades chinesas que permite o desenvolvimento de uma próspera cidade de traçado europeu, como se pode constatar nas duas plantas de Macau abaixo apresentadas. A primeira é uma planta integrada no Atlas Miscelânea com trabalhos do cartógrafo Manuel Godinho de Erédia.

Macau foi pacífica e estrategicamente fundada, cerca de 1557, junto ao antigo término da Rota Marítima da Seda, a cidade de Guangzhou (Cantão), o que conjugado com a política isolacionista da dinastia Ming, durante o século XVI, e de proibição do comércio marítimo dos chineses, permitiu aos Portugueses de Macau serem os intermediários no comércio entre a China e o estrangeiro. Militar e politicamente os portugueses não representaram uma ameaça para a China, visto aceitarem ser integrados e obedecerem a uma dupla suserania política, quer de Portugal, quer do governo Chinês. O fator demográfico, com os portugueses (Reinois) a representarem sempre uma minoria da população, também contribuiu para não ser encarada como ameaçadora face à China. A instalação definitiva da comunidade mercantil portuguesa em Macau (em meados do século XVI) resultou de um longo processo, pacífico e negocial, entre as autoridades portuguesas e as autoridades chinesas da capital provincial de Cantão. Macau aceitou pagar renda pelo terreno da cidade (o chamado “Foro do chão”) e, sempre que exigido pelas autoridades chinesas, as autoridades de Macau tinham ainda 60 ~ de prestar contas ao governo provincial de Cantão. Macau aceitou a instalação de um tribunal chinês, que tinha a jurisdição sobre os habitantes chineses de Macau, e uma alfândega com mandarins chineses que cobravam uma taxa mercantil a todo o comércio marítimo estrangeiro, segundo o volume das embarcações aportadas a Macau.

Segundo o estudo de Francisco Roque de Oliveira e de Jin Guo Ping, “Mapas de Macau dos Séculos XVI e XVII, Inventário, Descrição e Análise Comparativa de Espécimes Cartográficos Europeus e Chineses”1, é possível que esta planta de Macau seja a mais antiga de Macau. Simultaneamente, podemos verificar que já está desenhada a localização de uma comunidade chinesa, na península de Macau, identificada como cidade China.

Planta de Macau, inserido no Atlas Miscelânea com trabalhos do cartógrafo Manuel Godinho de Erédia, manuscrito de c.1615 - c.1622

Os Portugueses em Macau representavam, assim, uma mais-valia económico-política para as autoridades regionais de Cantão, que se fortaleceram economicamente face às outras autoridades regionais (nomeadamente as outras províncias litorais), ao serem durante muito tempo o único porto legal para o comércio com o estrangeiro. Assim, o governador de Cantão passou a ter algum ascendente político sobre os outros mandarins, ao estar em melhor posição para oferecer alguns produtos exó-

As imagens seguintes são dois detalhes do mapa topográfico de Macau e de parte da província de Cantão (sem data e sem nome de autor, mas que pode ser datado de c. 1644-1646, na Biblioteca da Ajuda, Lisboa, Portugal). (Fig.19). É um mapa muito interessante porque inclue elementos técnicos das diferentes tradições cartográficas de Portugal e da China. Na representação de Macau, abaixo apresentada, vê-se claramente a estrutura urbana tipicamente europeia, com as edificações a seguirem as linhas de relevo do terreno. O que contrasta claramente com o tipo de representação de Cantão, que apresenta a típica organização espacial ortogonal das cidades chinesas. Este é um mapa muito interessante por integrar elementos técnicos de distintas tradições cartográficas, a europeia e a 1

Revista Cultura, nº 17, Macau, 2006


(Guangzhou) e do seu litoral desde a Ilha de Ainão até ao Rio do Sal. Mas as suas propostas militares aventureiras, inseridas em algumas das próprias legendas, revelam um conhecimento geopolítico deficiente da China, por parte do grupo português, que ordenou a feitura do mapa. A corte de Portugal não aprovou essas propostas irrealistas e aventureiras. O primeiro estudo detalhado deste mapa foi publicado por nós, naUniversidade da Califórnia, em 19942. Um manuscrito da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, revela terem sido 980 reis a quantia paga pela sua venda à Biblioteca Real (Ajuda). Macau desempenhou o papel de centro de aprendizagem exclusivo de portugueses e europeus sobre a civilização Chinesa até ao século XIX. Daqui partiam os mercadores para as duas feiras anuais de Cantão e regressavam com os navios carregados para abastecer as rotas do Japão, de Manila e Ásia de Sudeste e da Índia em direção a África, ao Brasil e a todo o Ocidente. A cidade de Macau

Macau foi a porta de entrada obrigatória para todos os religiosos europeus que queriam entrar na China. O que deveriam fazer sob o Padroado Português do Oriente3 e devendo desenvolver o seu conhecimento da língua e civilização chinesas, para mais tarde darem seguimento às suas missões evangelizadoras na China. O colégio de São Paulo de Macau teve, neste domínio, um papel de relevo com o ensino do Mandarim. Os jesuítas como Mateus Ricci e Michele Ruggieri, entre muitos outros, destacaram-se ao colocarem a sua préMapa de cerca de 1644-46, da Biblioteca da Ajuda, Anexo ao MS. 54-XI-21.9, da autoria de Jorge Pinto de Azevedo, escrito em 1646. Publicado por Rui D’Ávila Lourido, “A Portuguese Seventeenth Century Map of the South China Coast”, in «Santa Barbara Portuguese Studies», (Journal of the Center of Portuguese studies, University of California). Volume I, pp. 240-271, Santa Barbara, 1994. 3 O Padroado foi um acordo oficial entre o Vaticano (Santa Sé) e o Reino de Portugal, através do qual passou a competir à estrutura católica portuguesa toda a atividade religiosa no espaço geográfico controlado por Portugal no chamado Estado Português da Índia, que englobava a China e o Japão e desta forma superintendia controlar a entrada de todos os missionários na China. 2

A cidade de Cantão (Guangzhou)

chinesa. A importância deste mapa resulta de ele ser uma das primeiras fontes cartográficas portuguesas conhecidas, com um tão rico manancial de informação detalhada, sobre parte significativa do interior da província de Cantão

via formação científica ao serviço de gabinetes científicos da corte imperial chinesa. Sob encomenda do imperador da China, Ricci foi o primeiro ocidental a publicar (1602) um planisfério com a China no centro do espaço cartografado e com inscrições em língua chinesa. O mapa cobre cinco continentes e quatro oceanos, Europa (Ou Luo Ba), África (Li Wei Ya), América do Sul e do Norte (Nan Bei Ya Mou Li Jia), Ásia (Ya Xi Ya) e Antártida (Mo Wa La Ni Jia); Atlântico (Da Xi Yang), Oceano Pacífico (Da Dong Yang), Oceano Índico (Xiao Xi Yang) e Oceano Ártico (Bing Hai). O impacto do seu efeito estético foi tão grande que foi copiado sobre o biombo que se apresenta na figura nº.15. Esta imagem foi cedida pela Biblioteca (Lee Shau Kee) da Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong, no âmbito da parceria da presente exposição “A China vista da Europa”. Michele Ruggieri, por sua vez, desenhou o mapa “Sinarum Regni alioru[m]q[ue] regnoru[m] et insularu[m] illi adiacentium descriptio” (1590?)(fig. 16). Este mapa da China mostra também a Península Malaia, o norte de Bornéu, as Filipinas, a Península Coreana e o Japão. Suas interessantes características incluem a Grande Muralha, uma representação precisa do curso do Rio Amarelo, delineamentos das 15 províncias e uma tabela mostrando as diferentes divisões administrativas e regionais em cada província. É interessante verificar que a primeira missão e igreja jesuíta na China, estabelecida em Zhaoqing, em Guangdong, por Ricci e Ruggieri, é mostrada de perfil e anotada em latim “ecclesia patrum societatis”. Esta imagem foi, igualmente, cedida pela Biblioteca (Lee Shau Kee) da Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong, no âmbito da parceria da presente exposição “A China vista da Europa”. Os jesuítas, Manuel Dias e Niccolò Langobardi construí- ~ 61 ram o primeiro Globo Terrestre, com representação da China e legendas em chinês, no ano de 1623, cujo original se encontra na British Library, de Londres. Demonstrando a interpenetração de conhecimentos e técnicas europeias e chinesas, apresentamos nesta exposição e neste catálogo na


(fig. 27), a reprodução do primeiro globo terrestre construído por europeus na China. Esta é uma réplica mandada fazer pela Fundação Jorge Álvares. Em depósito do Museu de Macau, do Centro Científico e Cultural de Macau. O Observatório astronómico da corte imperial, em Beijing, foi um centro de investigação onde muitos missionários europeus desenvolveram uma atividade científica, reconhecida como importante pelas autoridades chinesas. Um dos grandes sucessos foi estabelecer a correta relação entre o Calendário Lunar e o Calendário Solar, realizada com a reforma do Calendário Chinês, executada pelo Alemão P. Adam Schall von Bell, em 1630. A contribuição dos jesuítas para o desenvolvimento da ciência, no âmbito do Tribunal da Matemática, e do Departamento de Astronomia, era reconhecida pela corte imperial, que lhes encomendou, em 1709, o levantamento cartográfico do Império do Meio, concluído em 1718. A qualidade científica dos Jesuítas europeus, nomeadamente dos portugueses, colocou-os frequentemente à frente do Departamento de Astronomia, tendo sido presidentes, o primeiro Félix da Rocha e o último D. Caetano Pires, de 1645 a 1838. Os jesuítas portugueses pontuaram, igualmente, no Tribunal da Matemática, entre os quais Tomás Pereira (de 1688 a 1694) e André Pereira, este como vice-presidente de 1728 a 1742, tendo assegurado com brilhantismo a continuação do trabalho de Adam Schall e Ferdinand Verbiest.

Como se ligou a cidade de Macau à China, à Europa e ao Ocidente A procura de uma rota marítima que ligasse diretamente 62 ~ a Europa à China, apesar de todos os riscos e dos medos inerentes (exacerbados pela mentalidade medieval), teve como motivação principal aceder às preciosas mercadorias orientais e chinesas (nomeadamente as especiarias, as sedas e as porcelanas), de forma continuada e estável e a preços mais acessíveis, ultrapassando os impedimentos das rotas

terrestres da Ásia Central, nomeadamente os ligados às turbulências político-militares e religiosas que, frequentemente, agitavam os territórios atravessados pelas caravanas. A tradicional Rota Marítima ligava o Mediterrâneo ao Oceano Índico, através do Mar Vermelho ou do Golfo Pérsico. Contudo, a descoberta e abertura da rota contornando o Sul de África (Cabo de Boa Esperança) pelos portugueses, não só é mais rápida como elimina os inúmeros agentes intermédios (Árabes e Indianos aos quais a anterior rota marítima se via obrigada a recorrer). Por outro lado, a tradicional rota marítima da seda incluía algumas partes do seu percurso por terra firme, cujo transbordo encarecia os fretes, além do aumento das probabilidades de dano, ou de extravio das mercadorias. Porém, o comércio dos portugueses, para além da centralização, monopólio e militarização temporária que exerceu, não inovou o essencial do antigo sistema de comércio no Índico, visto que os Portugueses se integraram, em geral, nas redes regionais tradicionais asiáticas e transacionaram os seus típicos produtos. Só temporariamente conseguiram atrair para a rede portuguesa grande parte do fluxo mercantil do Índico, desviando-o do circuito do médio Oriente e das suas antigas ligações ao Mediterrâneo. Em relação à China integraram-se no tradicional modelo chinês de comércio tributário e de acomodação de estrangeiros no seu território. Os navios, na sua longa viagem de Lisboa até Macau, iam transacionando parte dos produtos comprados nos portos anteriores em que tocaram, trocando-os pelo do próximo porto. As mercadorias, que navegavam diretamente de Lisboa à China e da China a Lisboa, eram muito especiais, mas representavam uma pequena parte da carga. O ouro e prata eram os principais produtos com que os Portugueses podiam comprar a pimenta Indiana, as sedas e as porcelanas chinesas. Na Ásia de Sudeste podiam comprar especiarias em troca de panos de algodão. Com a Época Moderna, e a globalização à escala mundial das redes mercantis, foi possível relacionar diretamente a Europa à China, e ligá-las regularmente, pela primeira vez,

à América e à Austrália, bem como intensificar a sua ligação ao continente africano. Esta circulação de pessoas e mercadorias, entre territórios e culturas tão díspares, teve um impacto multilateral nas respetivas sociedades. Assim, não só se transferiram produtos como as sedas e as porcelanas, como as respetivas e sofisticadas técnicas de produção. Os Europeus transferiram, por seu lado, desde novas técnicas de construção naval, de astronomia e cartografia, bem como técnicas inerentes à revolução industrial. Os hábitos alimentares no Ocidente modificaram-se, nomeadamente com a introdução das especiarias e do chá. No Oriente passou-se a utilizar, entre outras plantas, a batata e o milho de origem americana e plantas africanas. Os hábitos sociais, como a maneira de vestir, ainda hoje refletem o elevado prestígio das refinadas sedas. A simples comemoração de um ato festivo passou, no Ocidente, a ser assinalado e complementado com alegres fogos de artifício (de cuja origem chinesa já perdemos a memória). No campo das mentalidades a interinfluência foi ainda mais intensa, desde a difusão de uma nova estética na Europa (à maneira da China – a Chinoiserie) ao incremento da divulgação do Budismo, Islamismo, Nestorianismo e Cristianismo a novos espaços. As rotas da seda foram um cadinho de interpenetração de novos modelos sociais e político-filosóficos, como a conceção chinesa de centralismo estatal baseado numa elite letrada de funcionários estatais, que influenciou a própria filosofia iluminista europeia, bem como o ideário liberal e libertário europeu influenciou a elite asiática. A rutura conceptual com os mitos medievais, herdados em grande parte pela Europa da Idade Moderna, é progressiva e acompanhou o evoluir do conhecimento acumulado pela experiência que as viagens oceânicas portuguesas e europeias representaram. A cartografia portuguesa e a de inspiração portuguesa é disso um bom reflexo. Os mapas de Padrão Real, que iam sendo atualizados na corte em Lisboa, iam dando a conhecer, com progressivo maior de-


talhe e correção do respetivo traçado anterior, uma superfície terrestre cada vez mais completa e adaptada à realidade, confirmada diretamente pelos navios portugueses. A importância estratégica das informações atualizadas contidas nestes mapas de Padrão Real, afixados na Casa da Guiné e da Mina, em Lisboa, levava a que os espiões de potências concorrentes a Portugal tentassem entrar na sua posse. Foi o que se passou com o mapa conhecido por “Cantino”, que foi copiado por um desenhador que, clandestinamente, o copiou e vendeu a Alberto Cantino, agente do Duque de Ferrara, que o enviou para Itália. O seu original conserva-se, atualmente, na Biblioteca Estense, em Módena, na Itália, incluímos a sua imagem na mesa digital presente nesta exposição. Para o nosso estudo, a relevância do planisfério “Cantino” reside no facto de pela primeira vez aparecer registada, num mapa europeu, a Costa da China (ainda que de traçado muito artificial, pois só em 1513 os portugueses aportam, pessoalmente, ao litoral chinês) com informação de produtos mercantis que se podiam importar destas paragens. É também a primeira vez que aparece representada a parte até então conhecida do Brasil. A abertura da rota marítima, entre Lisboa e a China, via Cabo da Boa Esperança, Índia, Malaca e Japão, teve profundas consequências civilizacionais: quer na vertente económica, abrindo caminho à concentração europeia de capitais à escala de uma economia mundo; quer na transferência e interinfluência de saberes, tecnologias, culturas e mentalidades, sem esquecer a intensificação de fenómenos de miscigenação de povos, contribuindo para as sociedades e o mundo multiétnico, multicultural e multipolar de hoje. Como nota conclusiva do papel de Macau como porta da China para o Ocidente, poderemos referir que a participação portuguesa na rota Marítima da Seda desenvolveu elementos de continuidade com as tradições marítimas anteriores e elementos inovadores. Nos elementos de continuidade destacamos: a integração nas tradicionais redes inter-regionais asiáticas, nomeadamente na intensificação

Planifério nautico manuscrito dito ‘de Cantino’, sem autor, 1502. Biblioteca Estense (Modena, Itália), C.G.A.2. (exemplar exposto em versão digital)

do tráfego na antiga rota marítima, bem como na comercialização das suas típicas mercadorias; a integração no tradicional modelo chinês de comércio tributário e de acomodação de estrangeiros no seu território. Como principais elementos inovadores destacamos: a abertura revolucionária da rota exclusivamente marítima do Atlântico ao Índico e Pacífico; a fundação pacífica e negociada da Cidade Luso-Chinesa Macau; a atuação pragmática do todo poderoso Senado de Macau, com clara compreensão estratégica da correlação de forças locais (autoridades chinesas/ portuguesas); a abertura da rota Macau-Manila (América); e finalmente o monopólio temporário das rotas mais ricas da época (Japão, Manila e China). Numa perspetiva global, as repercussões civilizacionais da aproximação da China ao Ocidente, através de Macau e das Rotas da Seda, foram fundamentais para a humanidade! Elas foram muito mais que itinerários de comércio ou

transferências económicas, pelo seu contributo para um mundo multicultural e multiétnico, ligando o Ocidente ao Oriente. Colocaram em ligação a mais diversificada rede de comunidades (das redes urbanas às rurais) de mercadores a militares, de religiosos a letrados. Elas incrementaram o cosmopolitismo das grandes cidades chinesas, e das ocidentais. As Rotas da Seda foram um conjunto de itinerários físicos, quer terrestres quer marítimos, que permitiram a circulação não só dos seres humanos e seus animais, não apenas dos produtos materiais, como as exóticas e valiosas mercadorias, mas igualmente de um conjunto de conhecimentos (como os cartográficos) e valores culturais no mais lato sentido do termo: ~ 63 de ideários filosóficos a religiosos, científicos e tecnológicos, de linguísticos a musicais, bem como do vestuário à alimentação. Naturalmente esta interinfluência foi biunívoca, com o Oriente e o Ocidente a interagiram de forma marcante.


Macau, the door for China

wers, namely other coastal provinces. In those circumstances, the governor of Canton acquired a degree of political predominance over the other mandarins, as he was in a better position to offer some of the exotic and precious products, such as the grey amber, or ambergris, directly required by the imperial court, but also had a privileged access to significant quantities of silver from the new mines of South America – New Spain, entering China through the Portuguese trade routes from Macau to Japan and Manila.

Rui Lourido, Historiador, Presidente do Observatório da China To understand the fundamental role of Macau as a civilizational bridge between Portugal (Europe, the West) and China, and the survival of Macau as a PortugueseChinese town through many centuries, we must look into the interaction of three main kinds of factors, e.g., economical, geographical and political.

The depth of the relationship of Portuguese merchants of Macau with the Chinese communities and authorities allowed the development of a prosperous town of European layout, as depicted in the following two plants of Macau. The first plant is included in the Miscellaneous Atlas with works by cartographer Manuel Godinho de Erédia.

Macau was peacefully and strategically founded, around 1557, near the city of Guangzhou (Canton), the old terminus of the Maritime Silk Road. This circumstance, allied to the isolationist policy of the Ming dynasty through the XVI century, and the prohibition of maritime trade imposed on the Chinese, allowed the Portuguese of Macau to act as intermediates in the trade between China and foreign countries. From the military and political standpoint, the Portuguese were not a threat to China, as they accepted to be integrated and to adhere to a double political suzerainty – the authority of both Portugal and the Chinese government. The fact that the Portuguese (Reinois) were always a minority among the Chinese population, was another reason not to consider their presence as a risk. The definitive settlement of the trade community in Macau, around the middle of the XVI century, was the outcome of a long and peaceful period of negotiations between Portuguese authorities and Chinese authorities from the provincial capital of Canton. Macau accepted 64 ~ to pay a rent for the use of the land (Foro do chão) and, whenever requested by the Chinese authorities, to report to the provincial government of Canton. Macau accepted the installation of a Chinese court with jurisdiction over the Chinese residents/inhabitants of Macau, plus a

According a paper by Francisco Roque de Oliveira and Jin Guo Ping, “Map of Macau from the XVI and XVII centuries, Inventory, Description and Comparative Analysis of European and Chinese Cartographic Specimens”1, this plant of Macau may be the oldest map of the city. Simultaneously, we can see the location of a Chinese community in the Macau peninsula, identified as China city. Plant of the city of Macau included in the Miscellaneous Atlas with works by cartographer Manuel Godinho de Erédia, manuscript dated c. 1615 – c. 1622

customs service led by Chinese mandarins where taxes were collected on all foreign maritime trade, according to the volume of the ships docking at Macau. In fact, the Portuguese in Macau represented an economic and political added value to the Canton regional authorities, enabling them, as the only province with a legal port open to trade with foreign countries, to reinforce their economic standing versus other regional po-

The following imagens are two details of the Topographic map of the Macau and part of Canton province (without data or author, but can be dated c. 1644-1646, in the Biblioteca da Ajuda, Lisbon, Portugal) (fig. 19), and is a very interesting map because it merges technical elements of the different cartographic traditions from Portugal and China. In the next representation of Macau, we can see clearly the typically European urban layout with buildings following the relief lines of the land. The representation of Macau contrasts with the representation in the same 1

Revista Cultura, nº 17, Macau, 2006


guese cartographic sources, with a rich source of detailed information about a significant part of the interior of the province of Canton (Guangzhou) and its coastline from the Island of Hainan to the Rio do Sal. But the adventurous military suggestions, included in some of the legends, reveal that the Portuguese group that commissioned the map had a poor geopolitical knowledge of China. The Portuguese court did not approve those unrealistic and reckless proposals. The first in-depth study of this map was published by the University of California, in 1994.2 A manuscript in the General Library of the University of Coimbra reveals that it was purchased by the Royal Library (Ajuda Palace) by 980 reais.

The city of Macau

Exclusive to Portuguese and other Europeans, Macau was a learning center on the Chinese civilization until the XIX century. From Macau, traders sailed to the two annual trade fairs of Canton and returned with their ships full of merchandise to supply the routes to Japan, Manila, Southeast Asia, India heading to Africa to Brazil and everywhere in the West. Macau was the mandatory entryway for all members of the European clergy who, under the auspices of the “Padroado Português do Oriente”3, wanted to enter in China and improve their knowledge of Chinese language and civilization in order to advance their evangelical mission in China. In this regard, Saint Paul’s College played an important role teaching Mandarin language. Several Jesuit priests, such as Matteo Ricci and Michele Ruggieri, stood out by making their previous scientific Map dated c. 1644-1646, Library of the Palace of Ajuda, annexed to MS. 54-XI-21.9, authored by Jorge Pinto de Azevedo, dated 1646. Published by Rui D’Ávila Lourido, “A Portuguese Seventeenth Century Map of the South China Coast”, in “Santa Barbara Portuguese Studies”, (Journal of the Center of Portuguese Studies, University of California), Vol. I, pp.240-271, Santa Barbara, 1994. 3 The Padroado was an official arrangement between the Vatican (Holy See) and the Kingdom of Portugal. It was the Portuguese catholic structure to control the entrance of all the missionaries in China 2

The city of Canton (Guangzhou)

map, of the city of Guangzhou with the layout of Chinese usual orthogonal spatial urban structure. It is important because it is one of the first known Portu-

knowledge available to the scientific institutions of the Chinese imperial court. Ricci was the first westerner to publish (1602), upon request of the Chinese emperor, a planisphere, with China in the center of the portrayed area and inscriptions in Chinese. Ricci’s map depicts five continents and four oceans, Europe (Ou Luo Ba), Africa (Li Wei Ya), South and North America (Nan Bei Ya Mou Li Jia), Asia (Ya Xi Ya) and Antarctica (Mo Wa La Ni Jia); Atlantic Ocean (Da Xi Yang), Pacific Ocean (Da Dong Yang), Indian Ocean (Xiao Xi Yang) and Arctic Ocean (Bing Hai). Its aesthetical impact was such that it was reproduced in the screen shown below, a courtesy of the Hong Kong University of Science and Technology (Lee Shau Kee) within the scope of the partnership of the exposition “A China vista da Europa, séculos XVI ao XIX” – The China seen from Europe, from the sixteenth to the nineteenth century. (fig.48) Michele Ruggieri’s map “Sinarum Regni alioru[m]q[ue] regnoru[m] et insularu[m] illi adiacentium descriptio” (1590?). It depicts also the Malaysian peninsula, the north of Borneo, the Phillipines, the Corean peninsula and Japan. Interesting features include the Great Wall, the exact course of the Yellow River, the edges of the 15 provinces and also an table with the several administrative and regional divisions of each province. Interestingly, the first Jesuit mission and church in China, established in Zhaoqing, Guangdong, by Ricci and Ruggieri, is shown in profile with a latin notation “ecclesia patrum societatis”. This image is also shown by courtesy of the Hong Kong University of Science and Technology (Lee Shau Kee) within the scope of the partnership of the present exposition - The China seen from Europe. See the image of Michele Ruggieri’s map (fig.16).

Demonstrating the interpenetration of European and ~ 65 Chinese knowledge and techniques, we present the reproduction of the first terrestrial globe built by Europeans in China. The original terrestrial Globe built by Jesuit priests Manuel Dias e Niccolò Longobardi during


1623, is kept in the British Library, London). The reproduction of this globe in the present exhibition, was ordered during the beginning of the 21 century by the Jorge Álvares Foundation. (fig.27) The observatory of astronomy of the imperial court, in Beijing, was an research center where many European missionaries developed scientific studies recognized as important by the Chinese authorities. One of their great achievements was the establishment of the correct relationship between the lunar and the solar calendars, after the reform of the Chinese calendar carried out by German Jesuit missionary Adam Schall von Bell in 1630. Recognizing the contribution of the Jesuits in the development of science in the context of the Mathematics and Astronomy bureaus, the imperial court commissioned them, in 1709, the topographical survey of the Middle Empire, which was concluded in 1718. The scientific standing of European Jesuits, namely the Portuguese Jesuits, placed them frequently as heads of the astronomy bureau, Félix da Rocha being the first and D. Caetano Pires the last of the Portuguese presidents of the bureau, from 1645 to 1838. Portuguese Jesuits scored equally in the Mathematic bureau. Among them were Tomás Pereira (from 1688 to 1694) and André Pereira, vice-president from 1728 to 1742, who lead with great success the continuation of the work started by Adam Schall and Ferdinand Verbiest. How the city of Macau - China forged a link to Europe and to the Western World The quest for a maritime route linking directly Europe to China, despite all the risks and fears inherent to and 66 ~ heightened by the mentality of the medieval period, was mainly spurred by the possibility of access, in a steady and uninterrupted manner and at lower prices, to the precious oriental and Chinese products (namely spices, silk and porcelain). This objective entailed the bypassing of obstacles posed by the land routes of Central Asia,

such as the military, political and religious turbulence frequently erupting in the way of the caravans. The traditional Maritime Route linked the Mediterranean Sea to the Indian Ocean by way of the Red Sea or the Persian Gulf. Instead, the route around the south of Africa (cape of Good Hope) discovered and open by the Portuguese is not only shorter, but it also overrides the several intermediate agents (Arabs and Indians to whom merchants of the previous maritime route had to resort). Besides, that route included some parts that had to be made by land. The trans-shipment raised the price of the freights and increased the probability of damage or loss of merchandise. Nevertheless, the Portuguese trade, beyond a (temporary/ short-lived) centralization, monopoly and (temporary) military control, did not innovate the old trade system in the Indian Ocean, since, in general, they acted according the traditional regional Asiatic networks and traded their typical goods. For a while, they managed to steer to the Portuguese network a large share of the trade flow in the Indian Ocean, deflecting it from the Middle East circuit and its old connections to the Mediterranean Sea. The Portuguese adapted to the Chinese tax trade system and the rules regarding the accommodation of foreigners in Chinese territory. On their long voyage from Lisbon to Macau, merchant ships traded goods acquired in previous ports of call for new products in the following ports. Merchandise routed directly from Lisbon to China and from China to Lisbon was very special but accounted for only a small part of the cargo. Gold and silver were used to buy Indian pepper, and Chinese silk and porcelain. In Southeast Asia, they bought spices with cotton fabrics. The Modern Period and the worldwide spread of trading routes enabled a direct connection between Europe and China and, for the first time, a regular liaison to America and Australia, and to strengthen their relationship with Africa.

The movement of people and goods between such dissimilar territories and cultures had a multilateral impact on their respective societies. Thus, from China, not only were products such as silk and porcelain transferred, but also the sophisticated production techniques of those goods. The Europeans, for their part, transferred new techniques, from modern shipbuilding techniques, to astronomy and cartography, to the innovations inherent to the industrial revolution. Eating patterns in the West changed, particularly with the introduction of spices and tea. In the East, people started to include in their meals, products like potatoes and corn, among other, of American and African origin. Nowadays, social habits, such as the way of dressing, still reflect the high prestige of refined silks. The simple celebration of a popular festivity event began to be marked and complemented in the West with joyful fireworks (its Chinese origin being all but forgotten). In the field of mentalities, the interinfluence was even more intense, from the spread in Europe of a new aesthetical concept (the Chinoiserie – in the Chinese manner) to the advancement and diffusion of Buddhism, Islamism, Nestorianism and Christianity. The Silk Roads were a melting pot for the interpenetration of new social, political and philosophical models, such as the Chinese conception of a centralized state based on a literate elite of state officials, which influenced European Enlightenment philosophy itself; reciprocally, European liberal and libertarian ideas influenced the Asian elite. The conceptual break from medieval myths, largely inherited by Europe in the Modern Period, was progressive and followed the evolution and accumulation of knowledge brought by the experience born from Portuguese and European oceanic voyages. Portuguese cartography and its influence are a solid example of the previous assertion. The maps of “Padrão Real”, or Royal Registers, updated within the Portuguese court, depicted, always with greater detail and precision than in the previous


maps, a land area more complete and faithfull, proven by Portuguese sea voyages. The strategical importance of the updated information in these maps of “Padrão Real”, affixed in the Casa da Guiné and Mina, in Lisbon, were a coveted target for spies working for competing countries. In one case, the map known as “Cantino”, was secretly copied by a scribe and sold to Alberto Cantino, an agent of the Duke of Ferrara, who then sent it to Italy, copy displayed in digital version. The original map is kept in the Biblioteca Estense (Estense Library), in Modena, Italy. To our investigation, the Cantino planisphere relevance derives from the fact that, for the first time, a European map shows the coastline of China (albeit a very artificial line, as the Portuguese landed on Chinese shores only in 1513) and additionally provides a list of goods that could be obtained from those places. It is also the first depiction of the small part of Brazil known at that time. The Cantino Planisphere, 1502, unknown author. Biblioteca Estense (Estense Library), Modena, Italy. The opening of the continuous maritime route between Lisbon and China, via the Cape of Good Hope, India, Malacca and Japan, had profound civilizational consequences: on the economic side, it paved the way for the European concentration of capital on the scale of a world economy; also the transfer and inter-influence of knowledge, technologies, cultures and mentalities, added to the intensification of phenomena of miscegenation, giving birth to the multi-ethnic, multicultural and multipolar societies of today’s world. To conclude our notes regarding the role of Macau as the door from China to the West, we should mention that the participation of Portugal in the opening of the Maritime Silk Road not only provided continuity to features from the old maritime traditions but introduced innovative aspects. As for the first, we should refer: integration into traditional Asian inter-regional networks, namely the intensification of trade in the old maritime

Manuscript nautical chart, called ‘del Cantino’, without author, 1502. Estense Library (Modena, Italy), C.G.A.2. (copy displayed in digital version)

route, as well as the marketing of typical goods; integration in the traditional Chinese system of tax trade and accommodation of foreigners in its territory. The main innovative elements include: the revolutionary opening of the exclusively maritime route from the Atlantic to the Indian and the Pacific Oceans; the founding of the Luso-Chinese City of Macau; the pragmatic action of the all-powerful Senate of Macau, and their clear and strategic understanding of the correlation of local forces (Chinese/Portuguese authorities); the opening of the Macau-Manila route (America); and, finally, the temporary monopoly of the richest routes at the time (Japan, Manila and China). From a global perspective, the civilizational repercussions of the rapprochement between China and the West through Macau and the Silk Routes were funda-

mental for humanity! They were much more than just trade itineraries or economic transfers, due to their contribution to a multicultural and multi-ethnic world, linking the West to the East. They connected the most diverse network of communities, from urban to rural networks, from merchants to the military, from religious people to scholars. They increased the cosmopolitanism of the large Chinese and Western cities. The Silk Roads were a set of physical itineraries, whether by land or by sea, that allowed the circulation not only of peoples and their herds, not only of material products, such as exotic and valuable goods, but also of a set of skills (such as in ~ 67 cartography) and cultural values in the broadest sense of the term: from philosophical to religious, scientific and technological, linguistic to musical, clothing to food. This interinfluence was reciprocal and the interaction between East and West was remarkable.


68 ~ Fig. 28

Pedro Barreto de Resende, Planta de Macau, no Livro das Plantas de todas as fortalezas, cidades e povoações do estado Da Índia Oriental de António Bocarro, manuscrito, 1636. Biblioteca Pública e Arquivo Distrital de Évora, COD. CXV/2-1.


~ 69

Fig. 29

Macau em António de Mariz Carneiro, Descripçam da fortaleza de Sofala, e das mais da India com huma rellaçam das religiões todas q[ue] há no mesmo Estado... 1639. Biblioteca Nacional de Portugal, il. 149.


70 ~ Fig. 30

Planta de Macau, in Livro da Plantaforma das fortalezas da Índia. E. facsimile. Lisboa: Inapa, 1999. Planta nº 74, fol. 119. Biblioteca da Fortaleza de S. Julião da Barra, Lisboa, Cota nº1805.


~ 71 Fig. 31

Barthélemy Lauvergne, Pagode chinoise a Macao Gravura aguarelada, Paris, Arthus-Bertrand, ca 1845. Biblioteca Nacional de Portugal, E. 1347


72 ~ Fig. 32

Planta da Península de Macau, reduzida e desenhada por António Heitor, gravura. Sociedade de Geografia de Lisboa, 1889. Biblioteca Nacional de Portugal, C.C. 113


~ 73 Fig. 33

Fachada do templo Ma-Kok (Templo A-Ma em Macau). Postal a cores. Macau, circa 1835. Biblioteca Nacional de Portugal, P.I. 9194 P.


74 ~ Fig. 34

Vista da Praia Grande de Macau Autor desconhecido. Óleo sobre tela. Alt. 50 cm x Lar. 82,5 cm Museu do Oriente, Inv. FO/0713

> Fig. 35

Leque mandarim com representação da Praia Grande em Macau, China. Século XIX. Madeira lacada e papel. Centro Científico e Cultural de Macau, Inv. 1008.


~ 75



4

Chinoiserie(s): a China no imaginário europeu Chinoiserie(s): China in the European imaginary 中国风:欧洲人想象中的中国


Chinoiserie(s): A China no imaginário europeu Rui Lourido, Historiador, Presidente do Observatório da China A perceção de cada povo sobre os restantes é um processo de construção histórica, condicionada por múltiplos fatores, segundo o tipo de relacionamento direto ou indireto, que em determinada Época histórica esses povos conseguiram, ou não, estabelecer entre si. A História não é linear e permite estudar os diferentes ciclos que caracterizam os relacionamentos, económicos, políticos e culturais, que estruturam as mentalidades e as ideias que cada povo constrói sobre outro povo e as respetivas civilizações. O facto de Portugal e dos jesuítas terem estabelecido, desde muito cedo, relações amistosas com a elite letrada chinesa, permitiu que tivéssemos, construído e disseminado uma ideia muito positiva da China por toda a Europa, por África e pela América do Sul (Brasil). Desde o século XVI, Portugal conseguiu negociar a sua presença permanente em Macau com base em interesses comuns das autoridades portuguesas e chinesas, no respeito pelas regras chinesas de pagamento do arrendamento do território (o chamado “Forro do Chão”) e no reconhecimento da Administração Judicial Chinesa em Macau (que cobrou impostos aduaneiros sobre os navios até ao século XIX). Com a correspondência de mercadores e de jesuítas, e com as descrições de viagens de Portugal para na China, 78 ~ a cultura chinesa começa a fluir de forma constante às cortes europeias, expandindo-se progressivamente da aristocracia à próspera burguesia e à intelectualidade. Quando estudamos a importação pelos portugueses, através de Macau, de produtos decorativos e utilitários da China, concluímos que a mesma teve uma importan-

te repercussão para uma nova moda artística europeia, de influência oriental, que viria a propagar-se a partir de Portugal, no século XVI, para se expandir pela Europa nos séculos XVII, XVIII e XIX, tendo ficado conhecida para a História, genericamente, como Chinoiserie. A importância desta corrente artística advém de se constituir “como um meio alternativo de expressão e pertence-lhe o mérito de prenunciar o Rococó, pelo espaço concedido à fantasia, a subversão dos valores solenes e enfáticos do Barroco”1. O impacto da chinoiserie foi maior nos países que mantinham um menor contacto direto com a China e o Extremo Oriente, como a França, Itália e Alemanha. Na Europa a reduzida oferta de preciosos produtos decorativos e utilitários chineses, face a uma procura elevada por parte das elites, propicia a produção, pela arte ocidental, de produtos artísticos inspirados pelos modelos chineses e orientais. Estes produtos artísticos europeus, ao gosto chinês e oriental, só muito raramente assumem a perfeição e sofisticação dos originais chineses, mas ajudam a criar um estado de espírito e um ambiente que as elites europeias aristocrática e burguesa tentam recriar em algumas das suas salas e palácios (decorados com frescos, peças de porcelana – as famosas baixelas Companhia das Índias, lacas, biombos, e mobiliário chinês ou de inspiração chinesa).

sala quinhentista do Paço de Santos (atualmente Embaixada de França, como se vê na foto abaixo).

Teto com 261 peças de porcelana, dinastia Ming, séculos XVI e XVII Palácio de Santos, Embaixada de França, Lisboa Foto de Kenton Thatcher

Portugal, no século XVI, foi precursor desta ambiência oriental e chinesa no espaço doméstico – o surgimento de espaços e salas dominadas pela decoração chinesa ou de estilo oriental que, mais tarde, nos séculos XVIII e XIX alastrariam por toda a Europa. Em Lisboa é exemplo notável do século XVII, pelo valor histórico e estético, o teto de madeira esculpida de forma magistral, para encaixar individualmente as centenas de peças de porcelana, de dimensões muito variadas, que ainda cobre o teto de uma 1

António Pimentel, “A Chinoiserie ou história curiosa de um estado de espírito” in Do Neolítico ao Último Imperador. A Perspectiva de um coleccionador de Macau, Queluz, Instituto do Património Arquitectónico e Arqueológico, 1994, p. 57

Detalhe do teto do palácio de Santos, porcelanas da Dinastia Ming


Quanto ao espaço público, os princípios de estruturação são uma reação ao classicismo, pretendendo implantar percursos não geométricos, mas serpenteantes, de caris naturalista nos jardins, os quais passam a ter coretos e quiosques em forma de pagodes. Em França, no parque de Versailles, ficou famoso o Trianon de porcelana, da autoria do francês Le Vaux, de 1670, tendo a envolvê-lo um jardim de influência chinesa. Em Inglaterra, ficou famoso o jardim botânico de Kew, nas proximidades de Londres, mandado construir, em 1759, pela Princesa Dowager ao arquiteto William Chamberts. A publicação, em 1762, dos planos deste jardim com vistas do seu pagode e outras construções exóticas, propagou na Europa a moda dos jardins à chinesa ou anglo-chineses. A designação de Chinoiserie, tradicionalmente utilizada para referir somente as imitações e os trabalhos sob influência Oriental produzidos por artistas e artesãos Ocidentais dos séculos XVII-XVIII, parece-nos muito limitada (ainda que tenham sido fundamentais), como os trabalhos de Antoine Watteau. A Chinoiserie foi posteriormente consagrada com François Boucher, Vernansal, Pillement, Le Prince, os quais ampliaram a designação de Chinoiserie a outros domínios artísticos, nomeadamente a arquitetura e a arte sacra, sobre os modelos de desenho e pintura de interiores de J.B. Pillement, ver a tese de mestrado de Álvaro da Mota2. De forma genérica, os especialistas têm considerado a Chinoiserie como tendo 4 períodos, que teriam começado cerca de 1650 e se estenderiam até cerca de 1800. Um primeiro período (1650/1715) seria caracterizado pela adoção direta de elementos chineses, sem os modificar. Predomínio das lacas e das porcelanas. Um segundo período (1715/30), caracterizado pelo abandono do modelo original e aplicação criativa para dar um cunho oriental à obra de arte. Mais expressivo na Alemanha e mais insípido em França. Um terceiro período 2

Álvaro Samuel Guimarães da Mota, Gravuras de chinoiserie de Jean-Baptiste Pillement, 2vols, 1997

(1730/50), onde aumenta a distância entre o modelo original chinês e o produto exótico agora recriado. São a alma desta Chinoiserie as artes decorativas e a pintura de Watteau e de Fragonard. Na Europa, os desenhos de Daniel Marot (1661-1752), encomendados pela fábrica de Delft, tiveram uma rápida difusão. O quarto período (1750/1800) influenciaria especialmente espaços livres, como os jardins, agora de características mais “naturalistas”, evitando as linhas geométricas. Esta periodização revela-se claramente limitada e incompleta, na medida em que não engloba o período inicial de interinfluência, consubstanciada pelos contactos diretos e permanentes dos portugueses com o Oriente e a China, desde finais do Século XV (tendo como marco a primeira viagem de Vasco da Gama à Índia em 1498), consolidada com a chegada dos portugueses à China, em 1513, e com o estabelecimento de Macau, em 1557. 3 Este período de contactos dos portugueses com o Oriente deveria ser subdividido em 2: antes e depois da fundação de Macau: Antes de Macau, é possível identificar 2 períodos de intensidade e influência diferentes: O 1º período, de 1498 a 1513 (respetivamente a data da chegada à Índia, e a da chegada à China) e o 2º período, de 1513 a 1557. Ambos os períodos são caracterizados por contactos não permanentes, maioritariamente comerciais e fraco conhecimento da cultura Chinesa. O período após a fundação de Macau, caracteriza-se por um conhecimento mais aprofundado e por uma paulati3

Rui d’Ávila Lourido, “Chinese fashion crossed the oceans in the wake of the Portuguese trade with China, during the late Ming and early Qing dynasties”, in Face to Face: the transcendence of the arts in China and beyond, Historical perspectives, pp. 355-369, edição do Centro de Investigação e Estudos em Belas Artes (CIEBA), Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, com o patrocínio do Observatório da China, 2014

na assimilação de muitos elementos da cultura chinesa, pelos Portugueses de Macau. Tem sido tradicionalmente considerado que a Chinoiserie teve em Portugal um reduzido e tardio impacto. Contudo, essa é uma noção redutora e insatisfatória, dado Portugal ter sido o único país Ocidental a manter uma contínua relação com a China, do século XVI ao século XX. Portugal, devido ao seu acesso direto e exclusivo à China, foi o maior intermediário e exportador para o Ocidente dos produtos preciosos chineses, e dos seus modelos culturais. Basta referir a fabricação em Lisboa, no bairro de Santos-o-Velho, de faiança “à feição de porcelana da China”, como está documentalmente registado em 1572. Em 1580, no mesmo bairro, encontram-se registadas várias olarias a produzir faiança azul e branco e outras surgem em Coimbra e mais tarde em Vila Nova de Gaia. Sabemos que, desde as últimas décadas do século XVI, estas olarias exportavam faiança azul e branco para o Norte da Europa e para os territórios ocupados pelos portugueses e europeus, na África e na América. Em Portugal, os grupos sociais privilegiados e os grupos sociais com acesso direto às expedições marítimas foram os primeiros, de toda a Europa, a importar da China as porcelanas e o chá entre outros produtos preciosos. As descrições de viagens e as cartas dos jesuítas, residentes em Macau e na China, foram um importante elemento de difusão do gosto chinês. Por outro lado, o acesso aos produtos decorativos de luxo chineses era mais fácil para a aristocracia, diminuindo a sua motivação para encomendar a artesãos portugueses cópias dos originais chineses, preferindo encomendar os originais diretamente em Macau. Em meados do século XVIII, o aumento da procura de mobiliário ricamente trabalha- ~ 79 do, de inspiração chinesa e oriental, deu origem a uma abundante criação nacional (dando um colorido decorativo maior que o Barroco criara). Surgem em Portugal artífices como Francisco Vieira, Alexandre Jean Noel e Joaquim Rafael.


A Chinoiserie é uma designação algo imprecisa e ambígua, ao abranger uma grande amplitude temporal (do século XVI ao XIX), uma diversidade de estilos artísticos (nomeadamente do Barroco ao Rococó e Rocaille) e uma multiplicidade de influências geográficas (nomeadamente da China, Japão, Índia e Pérsia), mas talvez aí resida a sua riqueza simbólica e a sua fraqueza como instrumento operativo. Segundo a Larousse du XXe Siècle4, a Chinoiserie abrange o « Petit object de luxe et de fantasie, venu de Chine ou exécute dans le goût chinois », o que legitima o alargamento da noção de Chinoiserie à influência chinesa na Europa, decorrente do comércio português de importação de produtos chineses para Lisboa e dos primeiros contactos diretos dos Portugueses com os chineses, no século XVI. Oliver Impey considera, igualmente, limitado utilizar o termo Chinoiserie para cobrir unicamente o RococóChinoiserie do século XVIII e apresenta, como marco inicial da Chinoiserie, o final do século XVI/princípio do XVII. Impey estende o marco final à influência na Arte Deco, de meados do século XX5. Neste contexto, a importação de objetos decorativos e utilitários teve um grande impacto nas mentalidades europeias, favoreceu a influência de modelos orientais e a perceção europeia das civilizações orientais, e em particular da China, na sociedade e na moda europeia. Este movimento, ou estado de espírito, orientalizante, o Orientalismo, foi utilizado por alguns europeus do século XVIII, em especial pelos iluministas (como Montesquieu, 1689-1755, Voltaire, 1694-1778, G. W. Leibniz, 1646-1716 e Adam Smith, 1723-1790), como um ins80 ~ trumento de crítica da sociedade europeia de então. Estes fizeram a apologia do modelo político e socioeconómico 4 5

Enciclopédia sob direção de Paul Augé, tomo 12, 1929 Oliver Impey, Chinoiserie, The Impact of Oriental Styles on Western Art and Decoration, London, Oxford Univerty Press, 1977, p.12

da China projetando nesta, as suas próprias visões e propostas racionalistas de cunho europeu, que pretendiam ver triunfar a nível universal. António Hespanha refere que “o que está verdadeiramente na base deste Orientalismo não é tanto um fascínio por um mundo diferente, mas antes uma paixão por si mesmo. ... Começando por ser um humanismo universalista, o iluminismo acaba na criação do racismo moderno, baseado na desigualdade intelectual e civilizacional” é assim, mais forte que o racismo anterior, baseado na religião. Com o final do século XVIII e inícios do século XIX “a China passou de exemplo a contra exemplo e que se comece a falar mais do carácter artificial, servil, imobilista e supersticioso das suas instituições do que do seu cunho natural e racional”6. A anterior visão pró-chinesa passa a ser denunciada como imprópria e deformada. Os elementos chineses que haviam sido profusamente utilizados nos estilos europeus, do barroco ao rococó, passaram a ser evitados no neoclassicismo e seu programa “naturalista”, por serem agora acusados do grave pecado de “artificialismo”7. Contudo, a influência estética chinesa (na perceção inglesa) continuará a fazer-se sentir no desenho dos jardins da elite europeia que caminham, a passos largos, para o Romantismo, bem como no ambiente sumptuoso e requintado (dado pelas sofisticadas sedas, porcelanas e outras peças decorativas chinesas) dos salões de certos palácios da burguesia e da aristocracia europeia. As lacas revelavam uma sofisticação nas técnicas produtivas e no efeito decorativo, pelo que eram amplamente encomendadas, como podemos verificar pelos dois exemplares abaixo, respetivamente uma vista de Macau e uma vista de Cantão.8 Hespanha, O Orientalismo em Portugal Séculos XVI ao XX, edições Inapa, Porto, 1999, p. 17 7 António Pimentel, “Chinoiserie”, Dicionário de Arte Barroca em Portugal, 1987 8 Curvelo, Alexandra (coord.), Biombo Lacado, Instituto Português de Conservação e Restauro, Lisboa, 2004. 6

Painel com vista de Macau,

China, dinastia Qing (1644-1911), 1ª metade do século XVIII. Madeira lacada a preto e ouro A. 59 cm x L. 85,7 cm (incluindo moldura). Colecção particular.

Painel com vista de Cantão.

China, dinastia Qing (1644-1911), 1ª metade do século XVIII. Madeira lacada a preto e ouro A. 55 cm x L. 85 cm (incluindo moldura). Colecção particular.


A evolução da visão do Oriente (a visão do outro) foi naturalmente enformada ao longo dos séculos pelo contexto cultural, social e político do observador. No caso de um observador contemporâneo e europeu, a sua visão é influenciada pela enquadramento ideológico-político e social pós-colonial. É hoje consensual, entre os estudos de interculturalidade, considerar os textos históricos que descrevem o “Outro”, mais esclarecedores sobre o autor (observador) do que sobre a realidade do “Outro” (sujeito observado). O Orientalismo foi, igualmente, utilizado como instrumento ideológico-político de sectores da elite europeia, no contexto da sua própria sociedade, de forma a reforçar a sua posição social dominante9. A nível diplomático serviu aos estados europeus e suas cortes para sublinhar a sua grandeza e feitos heroicos, no confronto com os outros que, inicialmente, não tinham acesso direto à China ou ao Oriente. Os Portugueses foram pioneiros no estabelecimento de redes marítimas comercias com a China, no séc. XVI, mas importa sublinhar que a influência chinesa sobre o Ocidente remonta à antiguidade, através de impérios como o Romano, Mongol e o Muçulmano.

9

Sobre o Orientalismo, ver António Manuel Hespanha, “O Orientalismo em Portugal”, in O Orientalismo em Portugal, [Séculos XV-XX], Porto, ed. da CNCDP: Ciclo de Exposições: Memórias do Oriente, 1999, pp. 15-37; ver igualmente J.J. Clarke, Oriental Enlightment, the encounter between Asian and Western thought, Routledge, 1995, pp.43-53; Diogo Ramada Curto, “Representações de Goa. Descrições e relatos de viagem”, in Histórias de Goa, ed. de Joaquim Pais de Brito, Rosa Maria Perez, Museu Nacional de Etnologia, pp. 45-86, Lisboa, 1997; Diogo Ramada Curto desenvolve para o caso do império português do clássico de: Edward Said, Orientalism. Western conceptions of the Orient, New York, Vintage Books, 1978; Thierry Hentsch, L’Orient Imaginaire. La vision politique occidentale de l’Est méditerranéen, Paris, Minuit, 1988; Pierre Martino, L’Orient dans la littérature française au XVIIe et au XVIIIe Siècles, Hachette, Paris, 1906.

~ 81


Chinoiserie(s): China in the European Imaginary Rui Lourido, Historiador, Presidente do Observatório da China The idea one people has regarding all other peoples is a historical construct conditioned by multiple factors according to the kind of relationship, either direct or indirect, that in some historic period those peoples established, or not, among them. History is not a linear process and thus allows us to study the diverse cycles of relationships – economic, political and cultural – that form the mentalities and ideas each people build about other peoples and their civilizations. The fact that Portugal and the Jesuits established, from a very early age, friendly relations with the Chinese literate elite, allowed us to build and disseminate a very positive idea of China which in that time the Portuguese spread through Europe, Africa and South America (Brazil). Portugal managed to negotiate, since the XVI century, its permanent presence in Macau based in the common interests of Portuguese and Chinese authorities and the respect for Chinese rules, such as the payment of a rent for the use of the territory (Foro de Chão) and the jurisdiction of the Chinese Judicial Administration over Macau (collecting customs taxes from ships until the XIX century). Thanks to the letters written by merchants and Jesuits and the reports describing the voyages from Portugal to China, Chinese culture started to flow 82 ~ in a steady manner to the European courts, then to the aristocracy and the wealthy bourgeoisie and the intellectual elite. On examining the imports of decorative and utility goods from China made by the Portuguese through Macau, there is no doubt that such imports played a con-

siderable part in the genesis of a new artistic trend, of eastern influence, that would expand from Portugal, in the XVI century, to Europe during the XVII, XVIII and XIX centuries and would become known generically as Chinoiserie. The importance of this new trend in the art world derives from the fact that it signified “an alternative way of expression and a precursor of Rococo given the license it allowed to fantasy, to the subversion of the solemn and pompous canons of the Baroque period”1. The impact of chinoiserie was greater in countries with less direct contact with China and Far East Asia, such as France, Italy and Germany. In Europe, the deficient supply of Chinese precious decorative products and utilities unable to satisfy the strong /growing demand for those goods by the elites gave rise to the production, by European craftsman, of artistic objects inspired by Chinese and Oriental pieces. Those western “objets d’art”, drawing from Chinese and Asian artistic pieces, only rarely reach the perfection and sophistication of the Chinese originals, but, nevertheless, they helped to shape a state of mind and an atmosphere that European aristocracy and bourgeoisie try to recreate in some of their rooms and palaces, decorated with frescoes, porcelains, such as the famous “Baixelas Companhia das Índias” (porcelain vessels, such as tableware), lacquered objects, screens and Chinese or Chinese inspired furniture) . Portugal, in the 16th century, was a precursor to this oriental and Chinese ambiance in the domestic and public spaces – the emergence of Chinese or oriental-style decoration that, later, in the 17, 18th and 19th centuries, would spread throughout Europe. In Lisbon, a notable example of the 17th century, due to its historical and aesthetic value, is the masterfully carved wooden 1

António Pimentel, “A Chinoiserie ou história curiosa de um estado de espírito” in Do Neolítico ao Último Imperador. A Perspectiva de um coleccionador de Macau, Queluz, Instituto do Património Arquitectónico e Arqueológico, 1994, p. 57

ceiling, to individually fit the 261 pieces of porcelain from the Ming dynasty, from the XVI e XVII centuries, of very different dimensions, which still covers the ceiling of a 17th century room in the Santos’s palace, in Lisbon, currently the French Embassy (as can be seen in the photos inserted, on the previous pages, in the Portuguese version of this article). As for the public space, the structuring principles reflect a reaction to classicism, implementing non-geometric, but winding, naturalistic pathways in public gardens, to which are added gazebos and kiosks in the shape of pagodas. One famous example was the Trianon de porcelaine, at Versailles, in France, designed by the Frenchman Le Vaux (1670), surrounded by a garden of chinese influence. Another instance are the famous Kew botanical gardens, near London, founded in 1759 by the Princess Dowager, Augusta, and built by architect William Chamberts. The publication, in 1762, of plans for this garden, with views of its pagoda and other exotic buildings, spread the fashion for Chinese or Anglo-Chinese gardens in Europe. The term Chinoiserie, traditionally used to refer only to the imitations and works of Eastern influence produced by Western artists and artisans from the 17th to 18th centuries, such as the works of Antoine Watteau, seems very limited (even though they were fundamental). Chinoiserie was later established by François Boucher, Vernansal, Pillement, Le Prince, who extended the meaning of Chinoiserie to other artistic domains, namely architecture and sacred art, based on J.B. Pillement’s interior designs and painting models (see Álvaro da Mota’s master’s thesis2). Generally speaking, experts have considered Chinoiserie to have 4 periods, beginning around 1650 and lasting until around 1800. A first period (1650/1715) would 2

Álvaro Samuel Guimarães da Mota, Gravuras de chinoiserie de Jean-Baptiste Pillement, 2vols, 1997


be characterized by the direct adoption of Chinese elements, without modifying them. Predominance of lacquers and porcelain. A second period (1715/30), characterized by the abandonment of the original model and use of creativity to ascribe an oriental flavor to artworks. More expressive in Germany and more subdued in France. A third period (1730/50), where the distance between the original Chinese model and the exotic objects now recreated increases. The soul of this Chinoiserie lies in the fine arts, as paintings by Watteau and Fragonard. In Europe, the drawings of Daniel Marot (16611752), commissioned by the Delft factory, were quickly disseminated. The fourth period (1750/1800) would see a clear influence in open spaces, such as gardens, now with more “naturalistic” characteristics, avoiding geometric lines. This periodization seems clearly limited and incomplete, as it does not encompass the initial period of inter-influence, embodied by the direct and permanent contacts of the Portuguese with the East and China since the end of the 15th century (the first voyage of Vasco da Gama to India, in 1498, considered a landmark), consolidated with the arrival of the Portuguese in China, in 1513, and the establishment of Macau, in 15573. This period of Portuguese contact with the East should be subdivided into 2: before and after the founding of Macau: Before Macau, it is possible to identify 2 periods of different intensity and influence: The 1st period, from 1498 to 1513 (respectively the date of arrival in India, and the date of arrival in China) and 3

Rui d’Ávila Lourido, “Chinese fashion crossed the oceans in the wake of the Portuguese trade with China, during the late Ming and early Qing dynasties”, in Face to Face: the transcendence of the arts in China and beyond, Historical perspectives, pp. 355-369, edição do Centro de Investigação e Estudos em Belas Artes (CIEBA), Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, with the patronage of the Observatório da China, 2014

the 2nd period, from 1513 to 1557. Both periods are characterized by non-permanent contacts, mostly commercial, and poor knowledge of the Chinese culture. The period after the founding of Macau is characterized by deeper knowledge and a gradual assimilation of many elements of Chinese culture by the Portuguese of Macau. Traditionally, it has been considered that Chinoiserie had a limited and late impact in Portugal. However, this is an oversimplified and unsatisfactory notion, given that Portugal was the only Western country to maintain a continuous relationship with China, from the 16th to the 20th century. Portugal, due to its direct and exclusive access to China, was the largest intermediary and exporter of precious Chinese products and cultural models to the West. Suffice it to mention the manufacture, in Lisbon, in the neighborhood of Santos-o-Velho, of “faiança” faience “in the style of Chinese porcelain”, as documented in 1572. In 1580, in the same neighborhood, several potteries were registered that produced blue and white faience; new potteries appears also in Coimbra and later in Vila Nova de Gaia. We know that, since the last decades of the 16th century, these potteries exported blue and white faience to Northern Europe and to the territories occupied by the Portuguese and Europeans, in Africa and America. In Portugal, the privileged social groups and the social groups with direct access to maritime expeditions were the first, in all of Europe, to import silks, porcelains and tea, among other precious products, from China. Travel descriptions and letters from Jesuits, residing in Macau and China, were an important element in spreading Chinese taste. On the other hand, direct access to Chinese luxury decorative pieces was easier for the aristocracy, reducing their motivation to order copies of Chinese originals from Portuguese handicrafts workers, preferring originals directly import from Macau. In the mid-18th century, the increased demand for richly

crafted furniture of Chinese and Oriental inspiration, gave rise to a large national creative production (offering greater decorative variety than the Baroque had created). Francisco Vieira, Alexandre Jean Noel and Joaquim Rafael are some of the craftsmen who rose to be known in Portugal. Chinoiserie is a somewhat imprecise and ambiguous designation, as it covers a extended period of time (from the 16th to the 19th century), a diversity of artistic styles (from Baroque to Rococo and Rocaille) and a multiplicity of geographical influences (such as China, Japan, India and Persia), but perhaps there lies its symbolic richness and its weakness as an operative instrument. According to Larousse du XXe Siècle4, Chinoiserie encompasses the «Petit object de luxe et de fantasie, venu de Chine ou exécute dans le goût chinois». This definition validates the expansion of the concept of Chinoiserie to Chinese influence in Europe, resulting from Portuguese trade import of Chinese products to Lisbon and the first direct contacts between the Portuguese and the Chinese, in the 16th century. To Oliver Impey, the use of the term Chinoiserie to cover only the Rococo-Chinoiserie of the 18th century is also a limitation, suggesting, as the starting point for Chinoiserie, the end of the 16th/early 17th centuries. Impey extends the final milestone to the influence on mid-twentieth-century Art Deco5. In this context, the import of decorative and utilitarian objects had a great impact on European mentalities, favoring the influence of Eastern models and the European perception of Eastern civilizations, and in particular China, on European society and fashion. This ~ 83 orientalizing movement, or state of mind, Orientalism, 4 5

Enciclopédia sob direção de Paul Augé, tomo 12, 1929 Oliver Impey, Chinoiserie, The Impact of Oriental Styles on Western Art and Decoration, London, Oxford Univerty Press, 1977, p.12


was used by some 18th century writers and intellectual Europeans, especially during the Enlightenment (namely Montesquieu, 1689-1755, Voltaire, 1694-1778, G. W. Leibniz, 1646-1716 and Adam Smith, 17231790), as an instrument of criticism of European society at the time. They supported China’s political and socioeconomic model, projecting onto it their own European rationalist visions and proposals, which they hoped would prevail at a universal level. António Hespanha states that “what is truly at the basis of this Orientalism is not so much a fascination with a different world, but rather a passion for oneself. ... Starting as a universalist humanism, the Enlightenment culminated in the creation of modern racism, based on intellectual and civilizational inequality”, deeper than previous forms of racism, based on religion. By the end of the 18th century and the beginning of the 19th century, “China went from example to counter-example and we began to talk more about the artificial, servile, immobile and superstitious nature of its institutions than about its natural and rational nature”6. The previous pro-Chinese vision is now denounced as inappropriate and distorted. The Chinese elements that had been profusely used in European styles, from Baroque to Rococo, began to be avoided in neoclassicism and its “naturalist” program, as such styles were now accused of the serious sin of “artificialism”7. However, the Chinese aesthetic influence (in the English perception) will persist in the design of the gardens of the European elite, steadily moving towards Romanticism, as well as in the sumptuous and elegant environment (provided by sophisticated silks, porcelains and other Chinese decorative pieces) of the halls in some palaces of the European bourgeoisie and aristocracy. The lacquered objects and furniture revealed sophistication Hespanha, O Orientalismo em Portugal Séculos XVI ao XX, edições Inapa, Porto, 1999, p. 17 7 António Pimentel, “Chinoiserie”, Dicionário de Arte Barroca em Portugal, 1987 6

in their production techniques and decorative effect, which is why they were widely commissioned, as we can see from the images (on the previous pages, in the Portuguese version of this text) of the two examples, respectively a view of Macau and a view of Canton, from the Collection of Jorge Welsh.8 The evolution of the Western view of the Eastern part of the world (the view of the “Other”) was shaped over the centuries by the cultural, social and political context of the observer. In the case of a contemporary and European observer, his vision is influenced by the postcolonial ideological, political and social framework. It is now accepted, in most intercultural studies, to consider historical texts that describe the “Other” as more illuminating about the author (observer) than about the reality of the “Other” (observed subject). Orientalism was also used as an ideological and political instrument by sectors of the European elite, in the context of their own society, to reinforce their predominant social position9. At a diplomatic level, it served European states and their courts to highlight their high standing and heroic achievements when compared to those who, initially, did not have direct access to China or the East. 8

Curvelo, Alexandra (coord.), Biombo Lacado, Instituto Português de Conservação e Restauro, Lisboa, 2004.

9

About Orientalism, see António Manuel Hespanha, “O Orientalismo em Portugal”, in O Orientalismo em Portugal, [Séculos XV-XX], Porto, ed. da CNCDP: Ciclo de Exposições: Memórias do Oriente, 1999, pp. 15-37; also see the J.J. Clarke, Oriental Enlightment, the encounter between Asian and Western thought, Routledge, 1995, pp.43-53; Diogo Ramada Curto, “Representações de Goa. Descrições e relatos de viagem”, in Histórias de Goa, ed. de Joaquim Pais de Brito, Rosa Maria Perez, Museu Nacional de Etnologia, pp. 45-86, Lisboa, 1997; Diogo Ramada Curto develops for the case of the Portuguese empire in the classic: Edward Said, Orientalism. Western conceptions of the Orient, New York, Vintage Books, 1978; Thierry Hentsch, L’Orient Imaginaire. La vision politique occidentale de l’Est méditerranéen, Paris, Minuit, 1988; Pierre Martino, L’Orient dans la littérature française au XVIIe et au XVIIIe Siècles, Hachette, Paris, 1906.

The Portuguese were pioneers in establishing maritime trade networks with China in the 16th century, but it is important to emphasize that Chinese influence on the West dates back to Antiquity, through, among other routes, the Roman, Mongol and Muslim empires.


~ 85 Fig. 36

Missionário jesuíta em Histoire des ordres monastiques, religieux et militaires, et des congregations seculieres de l'un & l'autre sexe, qui ont été établies jusque'à present. Paris, Nicolas Gosselin, Jean Baptiste Coignard, 1714-1719, 211 gravuras. Biblioteca Nacional de Portugal, E.A. 559 V. - Caixa 3.


86 ~

Fig. 37 - Missionário jesuita em Histoire des ordres monastiques,

religieux et militaires, et des congregations seculieres de l'un & l'autre sexe, qui ont été établies jusque'à present. Ilustrações] [Paris : Nicolas Gosselin: Jean Baptiste Coignard, 1714-1719]. 211 gravuras : buril e água-forte, p&b 25x19l. Biblioteca Nacional de Portugal, E.A. 559 V. - Caixa 3.

Fig. 38

Imperatriz da China em Raccolta di 120 stampe [sic.], che rappresentano, Figure, ed Abiti di varie Nazioni, secondo gli Originali, e le Descrizioni dei piú celebri recenti Viaggiatori, e degli Scopritori di Paesi nuovi . Biblioteca Nacional de Portugal, E.A. 50 A.

Fig. 39

Rei e a Rainha da China em Alain Manesson-Mallet, Description de l’univers contenant les differents systemes du Monde, les cartes generales & particulieres de la geographie ancienne & moderne... Paris, chez Denys Thierry, 1683. Biblioteca Nacional de Portugal, C.A. 653 P.


Fig. 40

Vista da Torre de Porcelana em Alain Manesson-Mallet, Description de l'univers: contenant les differents systemes du Monde, les cartes generales & particulieres de la geographie ancienne & moderne, les plans & les profils des principales villes & des autres lieux plus considerables de la Terre, avec les portraits des souverains qui y commandent, leurs blasons, titres & livrées, et les moeurs, religions, gouvernemens & divers habillemens de chaque nation A Paris, chez Denys Thierry, 1683. Biblioteca Nacional de Portugal, C.A. 653 P.

Fig. 40 A

Habillemens d’Hommes & des Femmes de diverses Provinces de la Chine... em Henri Abraham Chatelain, Atlas historique, ou nouvelle introduction a l’histoire, à la chronologie & à la geographie ancienne & moderne... Tomo 5. Amsterdam, Chez l’Honoré & Châtelain, 1719. Biblioteca Nacional de Portugal, C.A. 324 A.

~ 87


88 ~

>

Fig. 41

Kendi China, período Wanli (1573-1620), 1590-1600 Porcelana decorada a azul-cobalto sob o vidrado Alt. 17 cm x Lar. 14,5 cm Jorge Welsh, Ref. 11634


<

Fig. 42

Par de ‘nodding heads’ China, dinastia Qing (1644-1911), final do século XVIII - início do século XIX Barro não cozido pintado com esmaltes polícromos Figura masculina - Alt. 35 cm (Alt. 42.5 cm com base) Figura feminina - Alt. 36 cm (Alt. 43.5 cm com base) Jorge Welsh, Ref. 10777

~ 89


90 ~ Fig. 43

Pintura em vidro invertida China, dinastia Qing (1644-1911) Dimensões: com moldura - Alt. 80 cm x Lar. 69 cm; sem moldura - Alt. 69 cm x L. 59 cm Jorge Welsh, Ref. 9036


~ 91 Fig. 44

Relógio John Monkhouse, c. de 177- Dimensões: Alt. 2,60 cm x Lar. 49 cm x Fundo 25 cm Biblioteca Nacional de Portugal © Créditos Fotográficos: Américo Simas | CMLisboa


92 ~ Fig. 45

Prato Faiança / Rodada e pintada. Século XVII. A 6,1; Diâm. 36,7 cm. Col. Museu Nacional de Arte Antiga © Créditos Fotográficos: Carlos Monteiro, Direção-Geral do Património Cultural / Arquivo de Documentação Fotográfica (DGPC/ADF)


BIBLIOGRAFIA


BIBLIOGRAFIA Amaro, Ana Maria, Das Cabanas de Palha às Torres de Betão –Assim Cresceu Macau, Lisboa, Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas/Livros do Oriente, 1998.

Carvalho, Pedro Moura (ed.), The World of Lacquer, 2000 Years of History, exhibition catalogue, Lisbon, Calouste Gulbenkian Museum, 2001

Barreto, Luís Filipe, Cartografia de Macau. Séculos XVI e XVII, Lisboa, Missão de Macau em Lisboa, 1997.

Castelnovi, Michele, Il Primo Atlante Dell’Impero Di Mezzo: Il Contributo Di Martino Martini Alla Conoscenza Geografica Della Cina. Miscellanea/ Approfondimenti. Trento: Centro studi Marino Martini per le relazioni culturali Europa-Cina, 2012.

Batchelor, Robert K., London: The Selden Map and the Making of a Global City, 1549-1689. Chicago: The University of Chicago Press, 2014. Boxer, Charles R., Obra Completa de Charles Ralph Boxer, vol. 1, Estudos para a História de Macau. Séculos XVI a XVIII, t. 1, Lisboa, Fundação Oriente, 1991. Brook, Timothy. Quantu: Zhongguo Yu Ouzhou Zhi Jian de Dituxue Hudong 全圖:中國與歐洲之間的地圖學互動 = Completing the Map of the World: Cartographic Interaction between China and Europe. Institute of Modern History, Academia Sinica Lecture Series 中央研究院近代歷史演講集 5. Taipei: Institute of Modern History, Academia Sinica, 2020. Caboara, Marco, “The First Printed Missionary Map of China: Sinarum Regni Aliorumque Regnorum et Insularum Illi Adiacentium Descriptio (1585/1588).” Journal of the International Map Collectors’ Society 162 (September): 6–21, 2020. Caboara, Marco, Regnum Chinae: The Printed Western Maps of China to 1735. Leiden: Brill. 2020. Cams, Mario, Companions in Geography: East-West Collaboration in the Mapping of Qing China (c.1685-1735). East and West: Culture, Diplomacy and Interactions 1. Leiden; Boston: Brill. 2017. Carita, Rui, O Lyvro de Plantaforma das fortalezas da Índia da Biblioteca da Fortaleza de São Julião da Barra. 1999. Carneiro, António de Mariz, Descrição da Fortaleza de Sofala 94 ~ e das mais da Índia – Reprodução do cód. iluminado 149 da Biblioteca Nacional, nota introdutória e legendas de Pedro Dias, Lisboa, Fundação Oriente, 1990. Carvalho, Pedro Moura (ed.), The World of Lacquer, 2000 Years of History, exhibition catalogue, Lisbon, Calouste Gulbenkian Museum, 2001

Cattaneo, Angelo, Fra Mauro’s Mappa mundi and FifteenthCentury Venice. Turnhout, Brepols, 2011. Cattaneo, Angelo, “Spatial and Linguistic Patterns in Early Modern Global History. Iberian and Dutch Merchants, Jesuit Missionaries, Buddhist Monks and Neo-Confucian Scholars and Their Interactions in Japan,” in Curvelo, Alexandra; Cattaneo, Angelo (eds). Interactions Between Rivals: The Christian Mission and Buddhist Sects in Japan (c.1549-c.1647). Berlim: Peter Lang Verlag, 2021, pp. 277-318, 2021. Cattaneo, Angelo, “European Manuscript Maps of East Asia and China from Marco Polo to the Sixteenth Century. In: Caboara, Marco. Regum Chinae. The Printed Western Maps of China. Leiden - Boston: Brill, 2022, pp. 64-78, 2022. Cattaneo, Angelo, Tradurre il mondo: Le missioni, il portoghese e nuovi spazi di lingue connessenella prima età moderna, Bulzoni Editore, Roma, 2022. Catto, Michela, “Ruggeri, Pompilio.” In Dizionario Biografico Degli Italiani. Roma: Istituto della Enciclopedia italiana, 2017. Online https://www.treccani.it/enciclopedia/pompilio-in-religione-michele-nome-cinese-luo-mingjian-ruggeri_%28Dizionario-Biografico%29/ (consulted October 3, 2023).

Curvelo, Alexandra (Coord. Editoral). O exótico nunca está em casa? A China na faiança e azulejo portugueses, séculos XVII-XVIII / The exotic is never at home? The presence of China in the Portuguese faience and azulejo (17th-18th centuries). Lisboa: Direcção-Geral do Património Cultural, 2013. [Catálogo de Exposição] Curvelo, Alexandra, “As imagens no Atlas de 1571 de Fernão Vaz Dourado: uma leitura iconográfica”. João Carlos Garcia (Ed.) Atlas Universal de Fernão Vaz Dourado. Barcelona: Moleiro Editor, S.A., 2014, pp-156.170. (ISBN: 978-8496400-85-6) Curvelo, Alexandra, “Arte e Cartografia na acção missionária e evangelizadora dos Jesuítas na China e Japão (Séculos XVI-XVII)”. Jorge M. dos Santos Alves (Coord.), Portugal e a China. Conferências nos Encontros de História Luso-Chinesa. Lisboa: Fundação Oriente, 2001, pp.89-103. (ISBN: 972-785-033-2) Curvelo, Alexandra, “The strange power of objects. Art and the Maritime European Expansion” in The RA Collection of Cross-Cultural Works of Art, Jorge Welsh and Luísa Vinhais publisher, London, pp. 10-48, 2022 Day, John D., ‘The Search for the Origins of the Chinese Manuscript of Matteo Ricci’s Maps’, Imago Mundi, 47 (1995), pp. 94–117, 1995. D’Elia Pasquale M., documenti originali concernenti Matteo Ricci e la storia delle prime relazioni tra l’Europa e la Cina (1579-1615), 3 vols. Ed. e commentati de Pasquale M. d’Elia sotto il patrocinio della Reale accademia d’Italia. Rome, Libreria dello Stato, 1942-1949, 1942.

Conner, Patrick, ‘Images of Macao’, The Magazine Antiques, vol. CLV, no. 3, March 1999

D’Elia, Pasquale M., Il mappamondo cinese del P. Matteo Ricci S.I. (Terza edizione, Pechino, 1602), conservato presso la Biblioteca Vaticana … Città del Vaticano: Biblioteca Apostolica Vaticana, 1938.

Cortesāo Armando & Teixeira da Mota, Avelino. A.T., Portugaliae Monumenta Cartographica, 6 volumes. Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1960 (2a ed. 1987).

D’Elia, Pasquale M., ‘Recent Discoveries and New Studies (1938–60) on the World Map in Chinese of Father Matteo Ricci S.I.’, Monumenta Serica, 20, 1961, pp. 82–164; 1961.

Curvelo, Alexandra, Biombo Lacado, Instituto Português de Conservação e Restauro, Lisboa, 2004.

Deswarte-Rosa, Sylvie, “De l’emblematique à l’espionnage: Autour de D. Juan de Borja, Ambassadeur Espagnol Au Por-


tugal.” In As Relações Artísticas Entre Portugal e Espanha Na Época Dos Descobrimentos, edited by Dias Pedro, 147–83. Coimbra: Livraria Minerva, 1987.

Jin Guo Ping & Wu Zhiliang, “A Deusa A-Má e os nomes de Macau”. Disponível em: http://www.portugalweb, pp. 290295., 2022.

Dias, Pedro, Arte de Portugal no Mundo, vol. 13, Extremo Oriente, Lisboa, Público, 2009.

Jorge Welsh (ed.), A Time and A Place. Views and Perspectives on Chinese Export Art, exhibition catalogue, Lisbon/ London, Jorge Welsh Research & Publishing, 2016.

Francisco Roque de Oliveira, ‘Cartografia Antiga da Cidade de Macau, c. 1600-1700: Confronto entre Modelos de Representação Europeus e Chineses’ Scripta Nova - Revista Electrónica de Geografía y Ciencias sociales, Universidad de Barcelona, vol. X, núm. 218 (53), 2006, http://www. ub.edu/geocrit/sn/sn-218- 53.htm Dias, Pedro, De Goa a Pangim. Memórias Tangíveis da Capital do Estado Português da Índia, Lisbon, Santander Totta, 2005.

Jorge Welsh (ed.), European Scenes on Chinese Art / Cenas Europeias na Arte Chinesa, exhibition catalogue, London/ Lisbon, Jorge Welsh Books, 2005. Kammerer, Albert, La Découverte de la Chine par les Portugais au XVIème Siècle et la Cartographie des Portulans, Leyden, E. J. Brill, 1944.

Dias, Pedro, Arte de Portugal no Mundo, vol. 13, Extremo Oriente, Público, Lisboa, 2009

Ljungstedt, Anders, Um Esboço Histórico do Estabelecimento dos Portugueses e da Igreja Católica Romana e das Missões na China & Descrição da Cidade de Cantão, Macau, Leal Senado de Macau, 1999.

Foss, Theodore N., “Uma Interpretação Ocidental da China – Cartografia Jesuíta”, in Revista de Cultura, 21 (II série), pp. 129-151, 1994.

Lourido, Rui d’Ávila, “A Portuguese Seventeenth-Century Map of the South China Coast”, in Santa Barbara Portuguese Studies, pp. 240-271, 1, 1994.

Frèches, José, ‘Une vue de Macao vers la fin du XVIIe siècle’, Arts Asiatiques, vol. 26, pp. 265-70, 1973.

Lourido, Rui d’Ávila, “The impact of the Silk trade: Macau - Manila, from the beginning to 1640”, inThe Silk Roads: Highways of Culture and Commerce, ed. da UNESCO e da Berghahn Books, New York – Oxford, 2000. Originally published by UNESCO, Paris, 1998.

Garcia, Joāo Carlos, “Comparison of Fernão Vaz Dourado’s 1571 Atlas with his atlases dating from 1570, 1575 and c. 1576,” in Garcia, Joāo Carlos (ed.), Atlas universal de Fernão Vaz Dourado 1571, Barcelona, Moleiro, 2014, pp. 62-76, 2014. Geiss, James, “The Chia-Ching Reign, 1522–1566.” In The Cambridge History of China, edited by Frederick W. Mote and Denis Twitchett, 440–510. Cambridge: Cambridge University Press. 1988. Golvers, Noël, “Martino Martini in the Low Countries (1st Half of 1654).” In Martino Martini Man of Dialogue: Proceedings of the International Conference “Martino Martini (1614-1661), Man of Dialogue” Held in Trento on October, 15-17, 2014 for the 400th Anniversary of Martini’s Birth, 113–35. Trento: Trento Università degli Studi di Trento, 2016.

Lourido, Rui d’Ávila, “Os europeus e a feira de Cantão durante os finais da Dinastia Ming”, in «Revista de Estúdios Portuguese», Durham, University of New Hampshire (USA), vol. 9, números 1 e 2, pp. 140-169, 2001. Lourido, Rui d’Ávila, “In silk waves vanished the American ethereal Silver and gold: Macau-Manila trade during the late Ming and early Qing period”, in Macao – Philippines, Historical Relation, Conference Proceedings, Macau, Universidade de Macau, CEPESA, 2005. Lourido, Rui d’Ávila, 2005: “Macau e o comércio asiático na visão setecentista de Francisco Inocêncio de Sousa Coutinho” in Revista de Cultura, Edição Internacional, ed. Instituto Cultural do Governo da R.A.E.M, Macau, 2005.

Lourido, Rui d’Ávila, De Portugal à China, Ciclo de Conferências, Coordenação e 2 textos de Rui Lourido, ed. da Câmara Municipal de Lisboa e do Observatório da China, Lisboa, Dezembro de 2009. Lourido, Rui d’Ávila, Paradigma do Encontro: Percepções Portuguesas e Chinesas sobre Macau/ China e o Brasil”, Rui Lourido e Jin Guo Ping and Wu Zhiliang, in Literatura e Lusofonia: Anais do II Encontro de Escritores de Língua Portuguesa, em Natal, 2011, ed UCCLA, 2013. Lourido, Rui d’Ávila, Atlas da China de / Atlas of China of / Michele Ruggieri, Coordenação de Jin Guoping, (Rui Lourido, como investigador e tradutor), edição do Instituto Cultural do Governo da Região Administrativa Especial de Macau, 2013. Lourido, Rui d’Ávila, “Chinese fashion crossed the oceans in the wake of the Portuguese trade with China, during the late Ming and early Qing dynasties”, in Face to Face: the transcendence of the arts in China and beyond. Historical perspectives, pp. 355-369, edição do Centro de Investigação e Estudos em Belas Artes (CIEBA), Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, com o patrocínio do Observatório da China, 2014. Messinger, Sylvie, e Bianchini, Marie-Claude e Ramos, António (coord.), Do Tejo aos Mares da China. Uma epopeia Portuguesa, exhibition catalogue, Queluz e Paris, Palácio Nacional de Queluz e Musée National des Arts Asiatiques-Guimet, 1992. Mignini, Filippo (ed.), La cartografia di Matteo Ricci. Roma: Libreria dello Stato, Istituto Poligrafico e Zecca dello Stato, 2013. Ng Chin-keong, Boundaries and Beyond: China’s Maritime Southeast in Late Imperial Times. NUS Press, 2017. Oliveira, Fernando Correia de, 500 anos de contactos luso-chi~ 95 neses, Fundação Oriente Lisboa, 1998 Oliveira, Francisco Roque de, “A Construção do Conhecimento Europeu sobre a China, c. 1500 - c. 1630”. Impressos e Manuscritos que Revelaram o Mundo Chinês à Europa Culta, Barcelona, Universidade Autónoma de Barcelona, pp. 1344-1348, 2003.


Oliveira, Francisco Roque de, “Cartografia Antiga da Cidade de Macau, c. 1600-1700: Confronto entre Modelos de Representação Europeus e Chineses” Scripta Nova - Revista Electrónica de Geografía y Ciencias sociales, Universidade de Barcelona, vol. X, núm. 218 (53), 2006. Pereira, Fernando António Baptista (coord.), Os Fundamentos da Amizade. Cinco Séculos de Relações Culturais e Artísticas Luso-Chinesas – Catálogo da Exposição, Macau, Centro Científico e Cultural de Macau, 1999. Pinto, Paulo Jorge de Sousa, A China pelos olhos de Malaca - A Suma Oriental e o conhecimento europeu do Extremo Oriente. In Roberto Carneiro e Guilherme d´Oliveira Martins, coord. – China e Portugal: Cinco Centúrias de Relacionamento: Uma Leitura Académica. Lisboa, 11-20, 2014. Pinto, Maria Helena Mendes, ‘Screen depicts Macao and Canton’, Boletim da Fundação Oriente, vol. 12, Abril 1997. Pires, Tomé, The Suma Oriental of Tomé Pires. An account of The East, from the Red Sea to Japan, written in Malacca and India in 1512-1515. The Book of Francisco Rodrigues. Rutter of a voyage in the Red Sea, nautical rules almanack and maps, written and drawn in the East before 1515, 2 volumes. Traduzido do Português. Editado por Armando Cortesão. London: Hakluyt Society, 1944. Porter, Jonathan, Macau: the Imaginary City. Culture and Society, 1557 to the Present, Boulder, Westview Press, 2000.

96 ~

Society of Jesus from the commentaries of Fr. Matteo Ricci of the same Society, in five books: dedicated to Pope Paul V. In which the customs, laws, and principles of the Chinese kingdom and the most difficult first beginnings of the new Church there are accurately and with great fidelity described authored by Fr. Nicolas Trigault, Flemish, of the same Society). Augsburg, 1615. Ruggieri, M., Atlante della Cina di Michele Ruggieri S.I., a cura di Eugenio Lo Sardo, Roma, Istituto poligrafico e Zecca dello Stato, 1993. Santos, A. Varela, Portugal na porcelana da China: 500 anos de comércio, Lisboa, Artemágica, 2007 Sezon Museum of Art, Via Orientalis - Portugaru to Namban Bunka ten (Via Orientalis – Exhibition of Portuguese and Namban Culture), Tokyo, 1993. Silveira, Luís (ed.), Ensaio de Iconografia das Cidades Portuguesas do Ultramar, vol. 3, Lisboa, Junta de Investigações do Ultramar, s.d., 1956 Sommer, Michael, “OIKOYMENH: Longue durée perspectives on ancient Mediterranean ‘globality’”, in Globalisation and the Roman World. World History, Connectivity and Material Culture. edited by Martin Pitts and Miguel John Versluys. Cambridge: Cambridge University Press 2014, pp. 175197. 2014.

Ptak, Roderich, Ming Maritime Trade to Southeast Asia, 1368-1567: Visions of a “System. In Claude Guillot et al., ed. From the Mediterranean to the China Sea. Wiesbaden: Harrassowitz Verlag, 157-191, 1998.

Sousa, Ivo Carneiro de, “The First Portuguese Maps of China in Francisco Rodrigues’ Book and Atlas (c.1512)”, Revista de Cultura (Janeiro de 2013), online publication: https://www. academia.edu/25566903/The_First_Portuguese_Maps_of_ China_in_Francisco_Rodrigues_Book_and_Atlas_c_1512_

Ricci, Matteo, Della entrata della compagnia di Giesu e Christianita nella Cina, ed. Piero Corradini. Macerata: Quodlibet, 2000.

Stolzenberg, Daniel, “The Holy Office in the Republic of Letters: Roman Censorship, Dutch Atlases, and the European Information Order, circa 1660.” Isis 110 (1): 1–23, 2019.

Ricci, Trigault, De Christiana expeditione apud sinas suscepta ab Societate Jesu. Ex P. Matthaei Riccii eiusdem Societatis commentariis Libri V: Ad S.D.N. Paulum V. In Quibus Sinensis Regni mores, leges, atque instituta, & novae illius Ecclesiae difficillima primordia accurate & summa fide describuntur (The Christian Expedition among the Chinese undertaken by the

Subrahmanyam, Sanjay, The Portuguese Empire in Asia, 15001700: A Political and Economic History. Wiley-Blackwell, 2012. Tacchi Venuturi, Pietro, ed., Opere storiche del Padre Matteo Ricci, S.I., vol. 1, Commentarj della Cina. Macerata: Giorgetti, 1911.

Thomaz, Luís Filipe Ferreira Reis, De Ceuta a Timor. Lisboa, Difel, 1994. Waugh, Daniel, “Richthofen’s «Silk Roads»: Toward the Archaeology of a Concept”, The Silk Road 5.1, (2007), pp. 1–10, 2007. Wu Zhiliang, Segredos da Sobrevivência. História Política de Macau, Macau, Associação de Educação de Adultos de Macau, 1999.


ANEXOS MAPAS DO “ANEXO CARTOGRÁFICO DIGITAL”



Fig. 45 - Henricus Martellus Germanus, Planisfério ptolemaico, revisto e alargado. Manuscrito sobre pergaminho, em latim e vernáculo florentino, 30 x 47 cm. In Insularium illustratum (Livro ilustrado das ilhas), Florença, c. 1492.

Fig. 45 - Henricus Martellus Germanus, Ptolemaic planisphere, revised and expanded. Manuscript on parchment, in Latin and Florentine vernacular, 30 x 47 cm. In Insularium illustratum (Illustrated book of islands), Florence, c. 1492.

Florença, Biblioteca Medicea Laurenziana, Pluteo 29 25, ff. 66v-67r

Florence, Biblioteca Medicea Laurenziana, Pluteo 29 25, ff. 66v-67r

O planisfério ptolomaico alargado de Henricus Martellus Germanus foi desenhado em Florença por volta de 1490, actualizando a Geografia de Ptolomeu à luz das navegações portuguesas de Diogo Cão e Bartolomeu Dias ao longo da costa africana. Pela primeira vez, a África aparece como circunavegável. As terras situadas para além de 180°, o limite do mundo conhecido segundo Ptolomeu, marcadas por um meridiano, são representadas como terras desconhecidas dos antigos e às quais Martellus dá nomes derivados de Marco Polo, chamando-lhes Cathay e Mangi, e aludindo ao Grande Khan e à capital Khanbaliq, a atual Pequim (Angelo Cattaneo).

The expanded Ptolemaic planisphere of Henricus Martellus Germanus was drawn in Florence around 1490, updating Ptolemy’ Geography in light of the Portuguese navigations of Diogo Cão ~ 99 and Bartolomeu Dias along the African coast. For the first time, Africa appears circumnavigable. Lands positioned beyond 180°, the limit of the known world according to Ptolemy, marked by a meridian, are depicted as lands unknown to the ancients and which Martellus derives from Marco Polo, calling them Cathay and Mangi and alluding to the Great Khan and the capital ciy of Khanbaliq, today’s Beijing (Angelo Cattaneo).


Fig. 46 - Planisfério náutico de origem portuguesa, denominado “del Cantino”, manuscrito sobre pergaminho, 220 x 105 cm, Lisboa, 1502.

Fig. 46 - Nautical planisphere of Portuguese origin, called “del Cantino,” manuscript on parchment, written in Portuguese, 220 x 105 cm, Lisbon, 1502.

Modena, Biblioteca Estense Universitaria, C.G.A.2

Modena, Biblioteca Estense Universitaria, C.G.A.2

O planisfério náutico conhecido como “Carta del Cantino” foi encomendado, provavelmente de forma sub-reptícia, a cartógrafos portugueses não identificados por Alberto Cantino, agente do Duque Ercole I d’Este, em Lisboa, em 1502. De Lisboa, foi enviado para Génova, depois para Roma, e finalmente para a corte dos Este em Ferrara. O mapa é atualizado com as mais recentes descobertas geográficas portuguesas e espanholas: mostra a África circum-navegável; as costas das Caraíbas e, 100 ~ pela primeira vez, as do Brasil, destacando também a “raya”, ou seja, a linha que divide os espaços marítimos e territoriais portugueses dos espanhóis definida pelo Tratado de Tordesilhas em 1494. Além disso, o subcontinente indiano aparece, pela primeira vez, corretamente delineado como uma península de forma triangular. As costas orientais da Ásia, completamente conjecturais e quase desprovidas de aparatos textuais e topónimos, desenvolvem-se de sul para norte e as suas possibilidades comerciais são realçadas, fazendo eco de Marco Polo, (Angelo Cattaneo).

The nautical planisphere known as the “Cantino chart” was commissioned from unidentified Portuguese cartographers, probably surreptitiously, by Alberto Cantino, agent of Duke Ercole I d’Este, in Lisbon in 1502. From Lisbon it was sent to Genoa, then to Rome and later to the Este court in Ferrara. The map is updated with the most recent Portuguese and Spanish geographic discoveries: it shows circumnavigable Africa; the Caribbean coasts and, for the first time, the Brazilian coasts, also highlighting the “raya,” i.e., the line that divided Portuguese maritime and territorial spaces from Spanish ones, defined by the Treaty of Tordesillas in 1494. In addition, the Indian subcontinent appears for the first time correctly delineated as a triangular-shaped peninsula. The eastern coasts of Asia, completely conjectural and almost devoid of textual apparatus and toponyms, are developed from south to north and their commercial possibilities are emphasized, as echoing Marco Polo, (Angelo Cattaneo).


Fig. 47 - Lopo Homem, Planisfério náutico manuscrito, com os meridianos de Tordesilhas e Saragoça, manuscrito sobre pergaminho,, 223,7 x 142,5 cm, 1554

Fig. 47 - Lopo Homem, Manuscript nautical planisphere, with the meridians of Tordesillas and

Florença, Museo Galileo, Inv. 946

Florence, Museo Galileo, Inv. 946

O planisfério representa o mundo conhecido em meados do século XVI. A China é identificada como “Sina Regio”. A oeste, a Argentina é mostrada e indicada como “Terra Argentea”. O mapa apresenta a data e a assinatura do cartógrafo português Lopo Homem no canto inferior direito: “Lopo home cosmographo caualeiro fidaldo, delrei nosso sñor me fes e lixboa Era de. 1554 Annos,” (Angelo Cattaneo).

The planisphere represents the known world in the mid-sixteenth century. China is identified as “Sina Regio.” To the west, Argentina is shown and referred to as “Terra Argentea.” The map bears, at lower right, the date and signature of Portuguese cartographer Lopo Homem: : “Lopo home cosmographo caualeiro fidaldo, delrei nosso sñor me fes e lixboa Era de. 1554 Annos”, (Angelo Cattaneo).

Zaragoza. Parchment, 223.7 x 142.5 cm, 1554

~ 101


Fig. 48 - Matteo Ricci, Li Zhizao, Wentao Zhang (impressor), Kunyu Wanguo Quantu (Mapa dos Dez Mil Países da Terra), xilogravuras (impressão em bloco de madeira) em seis painéis de papel chinês (feito com fibra de bambu), cada painel c. 60,83 cm x c. 182 cm, tamanho total c. 365 x 182, Pequim, 1602. Bibliotecas da Universidade do Minnesota, James Ford Bell Library, Bell Call # 1602 xRi

O Kunyu Wanguo Quantu (Mapa dos Dez Mil Países da Terra) é o mais antigo mapa existente, em chinês, que mostra a China num cenário global, incluindo as Américas e uma conjetural “Terra australis”. No planisfério, Ricci colocou a Europa na parte mais à esquerda do mapa, quase no limite, de modo a que a China, chamada “Reino do Meio” pelos chineses, ficasse mais próxima da parte central do mapa. O padre jesuíta Matteo Ricci (1553-1610) chegou à China em 1583 e, com o jesuíta Michele Ruggieri, estabeleceu a primeira missão cristã. Em 1597, Ricci foi nomeado Superior ou diretor de todo o esforço missionário jesuíta na China. Ricci considerava que os mapas eram cruciais para estabelecer relações culturais: o seu mapa-mundo é uma verdadeira colaboração entre os estudiosos europeus da missão jesuíta e os estudiosos e artesãos chineses da corte imperial. Zhizao Li (1565-1630), um matemático, astrónomo e geógrafo chinês, que trabalhou no projeto com Ricci, poderá ter gravado o mapa. Foi impresso por Zhang Wentao de Hangzhou, possivelmente um impressor oficial da corte Ming. Descrições vívidas dos continentes, cartas lunares e tabelas científicas que documentam 102 ~ o movimento dos planetas adornam o mapa, uma representação única das relações culturais e científicas entre o Oriente e o Ocidente. Este mapa de Ricci em exposição encontra-se na James Ford Bell Library da Universidade do Minnesota e é um dos raros exemplos completos conhecidos da impressão de 1602, (Angelo Cattaneo).


Fig. 47 - Matteo Ricci, Li Zhizao, Wentao Zhang (printer), Kunyu Wanguo Quantu (Map of the Ten Thousand Countries of the Earth), xylograph (wood block print) on six panels of Chinese paper (made with bamboo fiber), each panel c. 60,83 cm x c. 182 cm, total size c. 365 x 182, Beijing, 1602. University of Minnesota Libraries, James Ford Bell Library, Bell Call # 1602 xRi

The Kunyu Wanguo Quantu (Map of the Ten Thousand Countries of the Earth) is the oldest extant surviving map in Chinese to display China into a global setting, including the Americas and a conjectural, southern “Terra australis”. In the planisphere, Ricci placed Europe in the leftmost part of the map, almost on the edge, so that China, called the “Middle Kingdom” by the Chinese, was closer to the central part of the map. A Jesuit priest, Matteo Ricci (1553-1610) arrived in China in 1583 and, with fellow Jesuit Michele Ruggieri, established the first Christian mission. In 1597, Ricci was named Superior or head of the entire Jesuit missionary effort in China. Ricci thought that maps were crucial to establish good cultural relationships. His world map is a true collaboration between the European scholars of the Jesuit mission and the Chinese scholars and artisans of the imperial court. Zhizao Li (1565-1630), a Chinese mathematician, astronomer and geographer, who worked on the project with Ricci, may have engraved the map. It was printed by Zhang Wentao of Hangzhou, possibly an official printer of the Ming court. Vivid descriptions of the continents, lunar charts, and scien- ~ 103 tific tables documenting the movement of the planets adorn the map, a unique representation of East-West cultural and scientific relationships. This Ricci map on display is held at the James Ford Bell Library at the University of Minnesota and is among the six known complete examples of the 1602 printing, (Angelo Cattaneo).



ORGANIZADORES | ORGANIZERS | 主办方 Biblioteca Nacional de Portugal | National Library of Portugal | 葡萄牙国家图书馆 Observatório da China | Observatory for China | 中国观察

ENTIDADES COLABORADORAS E EMPRESTADORAS | COLLABORATING AND LENDING ENTITIES | 支持机构 Câmara Municipal de Lisboa | City Council of Lisbon | 里斯本市议会 UCCLA: União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa UCCLA, Union of Cities Capitals of Portuguese Language | 葡萄牙语国家首都城市联盟 Arquivo Nacional da Torre do Tombo | National Archive of Torre do Tombo Biblioteca da Ajuda |Ajuda Library Biblioteca Mediceia Laurenziana | Mediceia Library Biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa | Library of the Geographical Society of Lisbon Consiglio Nazionale delle Ricerche (CNR), Istituto di Storia dell’Europa Mediterranea (ISEM) | 国家研究委员会 (CNR)地中海欧洲历史研究院(ISEM Departamento e Instituto de História da Arte da NOVA-FCSH Art Historical Department and Institute of the New University of Lisbon- FCSH| 里斯本新大学社会人文科学学院艺术史研究院及艺术史系 Fundação Jorge Álvares | Jorge ÁlvaresFoundation Hong Kong University of Science and Technology | 香港科技大学 James Ford Bell Library, University of Minnesota (EUA) Jorge Welsh, Works of Art |乔治·威尔士,中国瓷器及中国风物品收藏家 Lee Shau Kee Library, The Hong Kong University of Science and Technology Museu do CCCM - Centro Científico e Cultural de Maca | Museum of the CCCM - Macau Scientific and Cultural Center | 澳门科学文化中心博物馆 Museo Galileo, Florença| Galileo Museum, Florence | 佛罗伦萨伽利略博物馆 Museu deMarinha | Navy Museum Museu Medeiros e Almeida | Museum Medeiros e Almeida Museu Nacional de Arte Antiga | Portuguese National Museum of Ancient Arts Museu do Oriente | Orient Museum Sub-vértice



APOIOS INSTITUCIONAIS | INSTITUCIONAL SUPPORT | 支持机构 Ministério da Cultura de Portugal | Portuguese Ministry of Culture | 葡萄牙文化部 Academia de Ciências Sociais da China | Chinese Academy of Social Science | 中国社会科学院 Embaixada da China em Portugal | Embassy of China in Potugal | 中国驻葡萄牙大使馆 Embaixada de Portugal na China | Portuguese Embassy in China | 葡萄牙驻中国大使馆 Center for Macaology, Jinan University, Guangzhou | Center for Macau Studies in the Jinan University | 暨南大学澳门研究院 União das Associações de Cooperação e Amizade Portugal-China | Union of Portugal-China Cooperation and Friendship Associations | 葡中友好合作协会联盟 Associação de Cooperação Portugal-Grande Baía | 葡萄牙大湾区合作协会; CCPC-PME -Câmara de Comércio das PME Portugal-China | 葡中中小企业商会 CCDPC -Câmara da Cooperação e Desenvolvimento Portugal-China | 葡萄牙-中国合作发展协会 Centro de Investigação Internacional | 国际研究中心 ICODEPO -Instituto para Cooperação e Desenvolvimento Portugal-Oriente | 葡萄牙-东方合作发展学会 LCP -Liga dos Chineses em PortugaL | 葡萄牙华人华侨联合会 ZWY-Associação Portuguesa dos Amigos da Cultura Chinesa | 葡萄牙中华文化之友协会 Associação de Comerciantes e Industriais Luso-Chinesesa





Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.