Jornal do friburgo 5

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•••palavra da direção

U

princípios fizeram com que investisse na preservação ambiental, mantendo uma área de 500 mil metros quadrados na Serra do Japi para fins educacionais, desenvolvendo os mais diversos projetos e apresentando-os todos os anos, na Mostra Cultural e na Liverdade. Há 12 anos, também iniciou um trabalho de inclusão social, criando o EJA, escola noturna para Educação de Jovens e Adultos, estruturada na ação de voluntários. Dessa forma, alunos, pais, ex-alunos e tantos amigos e colaboradores partilham de seu conhecimento e experiências como professores. Devido a atividades como essa, assim como outras que desenvolve em diversas frentes, algumas em parceria com instituições como a Abrinq, neste 2010, o Friburgo foi transformado em uma associação sem fins lucrativos, a Associação A Natureza do Ensino, agora responsável pela gestão com qualidade da instituição e com liberdade para se estruturar e partir para grandes voos definidos em seus estatutos e em sua missão. O primeiro deles é a abertura, desde agosto, do Ensino Médio noturno, com bolsas integrais para alunos oriundos da rede pública.

Mas ainda há muito mais por vir. O Friburgo está aberto para a expressão em todos os sentidos: do aluno, dos pais, do professor; das manifestações para reivindicar a ampliação do conhecimento e das relações; da solidariedade a alunos que viveram contradições familiares ou sociais; ou àqueles que trouxeram defasagens na sua aprendizagem e puderam por aqui recuperar-se; expressão da oralidade, das manifestações corporais, da arte, das diferentes habilidades e competências; dos variados interesses vocacionais. A presente edição do Jornal do Friburgo contempla em suas entrevistas, reportagens e reflexões um pouco de todo esse processo e daquilo que está sendo feito para transformar esses sonhos em realidade no dia a

dia da instituição. Nas próximas páginas, você acompanhará o que de melhor aconteceu nesse período. Conhecerá o trabalho realizado por estudantes e professores; as atividades realizadas para preparar o aluno não somente para a universidade, mas também para a vida, como o Fórum de Profissões e a adoção de um novo método de ensino de inglês, que vem revolucionando as aulas; a participação de pais e de profissionais renomados em palestras e eventos realizados. Também conhecerá um pouco mais da vida de Luciano do Carmo, que foi nosso aluno, fundou e atualmente dirige a Editora Segmento, uma das mais importantes do Brasil na área de educação, em uma entrevista que dá início a uma série especial sobre ex-alunos.

EXPEDIENTE | C OLÉGIO F RIBURGO | www.colegiofriburgo.com.br | D IREÇÃO C IRO FIGUEIREDO A V . J OÃO D IAS , 242. S ÃO P AULO, SP. C EP 04724-000. T ELEFONE (11)2148-0150. D IRETORA P EDAGÓGICA E D E A SSUNTOS C OMUNITÁRIOS Iracy Garcia Rossi • C OORDENAÇÃO - E DUCAÇÃO I NFANTIL Rosimari Ussifati | E NSINO F UNDAMENTAL 1 Eni Spimpolo | E NSINO F UNDAMENTAL 2 Cintia Siqueira | E NSINO M ÉDIO Vera Márcia Barreto | P ERÍODO A MPLIADO Amélia Gaulez | D EPARTAMENTO DE C OMUNICAÇÃO Anahi Monteiro Rodrigues e Ana Morgado J ORNAL D O F RIBURGO é uma publicação do Colégio Friburgo editada por Ucha Editorial (11-3129-9964) E DIÇÃO E T EXTO FINAL Francisco Ucha (franciscoucha@gmail.com) R EDAÇÃO Sibele Oliveira e Marcos Stefano C OLABORAÇÃO Gabriel Araújo ( Fotografia ), Anahi Monteiro ( Revisão final ).

GERSON ROLDO

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Construtores de catedrais

GABRIEL ARAÚJO

ma história muito antiga conta que um certo viajante seguia por uma estrada quando encontrou um pedreiro. Curioso, perguntou ao homem o que estava fazendo. “Estou assentando tijolos”, respondeu. Continuando pelo caminho, avistou mais um pedreiro, que parecia fazer o mesmo serviço do primeiro. Ao ser questionado sobre o que fazia, este disse: “Estou erguendo uma parede”. Por fim, encontrou um terceiro pedreiro, trabalhando da mesma maneira que os outros, que lhe afirmou: “Eu estou construindo uma catedral”. Ampliar a visão, o conhecimento e fomentar relações devem ser o alvo de qualquer proposta educacional. Para manter sua missão de “O Friburgo promover a está aberto democracia, para a a solidarieexpressão dade e a responsabilidaem todos de a escola os sentidos: deve se voldo aluno, tar para os dos pais, do saberes que se internaliprofessor” zam, transformam-se em consciência social e fundamento intelectual e cultural. Essa é a proposta que tem pautado o trabalho do Friburgo desde sua fundação, há 50 anos. Em sua carta de princípios, o Colégio Friburgo se declara uma instituição responsável socialmente. Esses


•••projeto educacional

Texto Sibele Oliveira | Fotos Francisco Ucha

L IVERDADE

À

primeira vista, os alunos podiam ser confundidos com cientistas precoces ou artistas prodígios. Eram nítidas a habilidade e a sensibilidade com que manejavam os conteúdos e exibiam em suas criações. Ainda assim, um olhar mais atento revelava: os protagonistas da imensa oficina de conhecimento em que a escola foi transformada no sábado, 6 de novembro, ainda eram estudantes. Em cada sala, eles se revezavam para garantir que nenhum visitante saísse sem informações pertinentes para se manter em sintonia com o mundo globalizado. “A Liverdade é a manifestação da construção do conhecimento nas diversas áreas. E é aberta à comunidade porque entendemos que a educação em parceria com o seu entorno possibilita um trânsito sobre aspectos que estão sendo tratados por educandos e educadores. A escola educa, o contorno educa e essas trocas de aprendizagens e processos educativos permitem aos alunos sentirem-se sujeitos de transformação social”, disse José Carlos Martins da Silva, diretor do Friburgo, sobre a importância desse evento anual. Desde as crianças do 2º ano do Ensino Fundamental até os adolescentes do 2º ano do Ensino Médio, todos participaram da Liverdade. Neste ano, a abertura do evento aconteceu no dia 4 de novembro com um sarau de poesias recitadas pelos alunos do 5º ano, baseado na obra do poeta, crítico literário e ensaísta José Paulo Paes. Para entender melhor o universo do artista e suas inspirações literárias, os alu-

Conhecimento sem fronteiras Ao final de um ano de estudos, pesquisas e viagens, nossos alunos dividem seu aprendizado com parentes, amigos e toda a comunidade.

Na entrada da escola, borboletas e maquetes de construções famosas recebiam os visitantes da Liverdade. JORNAL DO FRIBURGO • 3


A Casa Branca, construída pela Nicole, do 5º A.

nos visitaram a casa onde ele viveu e, durante a apresentação, diante da presença da viúva “Tia Dora”, reproduziram o escritório do homenageado no palco do teatro do colégio, onde seu sobrinho-neto, João Pedro Favalli, que estuda no Friburgo, sentou-se em frente à máquina de escrever, da mesma forma que o tio-avô fazia ao escrever seus textos. O poema Convite foi a deixa para que declamassem também poesias de Cecília Meireles, Carlos Drummond de Andrade e Fernando Pessoa, entre outros poetas, tudo sob a supervisão do professor de teatro, Marcos Arilho. Outro trabalho dos 5º anos foi exposto no corredor de entrada da escola. Dentro do tema Poliedros nas Construções, os estudantes construíram réplicas caprichadas de construções monumentais, como a Casa Branca, o Big Ben, a Torre Eiffel, o Arco do Triunfo e as pirâmides do Egito. LEMBRANÇAS (BEM) PRESENTES A sala intitulada Investigando Memórias remetia ao passado ainda recente das turminhas do 2º ano. Na bancada, cestas abarrotadas de lembranças: roupas, sapatinhos que as crianças usavam quando eram bebês, brinquedos e presentes. Havia também um mural em forma de scrapbook salpica-

As histórias infantis ganharam interpretações realizadas pelos próprios alunos.

do de fotos que registravam momentos importantes dos alunos além de textos escritos por eles contando a origem de suas famílias. Uma das alunas, Sara Gronda, 7 anos, do 2º A, recebia os visitantes reproduzindo com graça e entusiasmo a história do livro Guilherme Augusto Araújo Fernandes, escrito pelo autor australiano Mem Fox, que foi o ponto de partida para o projeto. Nele, o personagem-título morava ao lado de um asilo e soube que a amiga de quem ele mais gostava, Dona Antônia, havia perdido a memória. Para ajudá-la, montou uma cesta com objetos que evocavam as próprias lembranças e a entregou para a velha senhora que, pouco a pouco, foi resgatando as memórias esquecidas. Mais do que recriar a história das crianças, o trabalho consistiu numa viagem de volta à ascendência de suas famílias. Num primeiro momento, os pequenos reconstituíram árvores genealógicas, localizaram os países de origem dos antepassados no mapa mundi e estudaram suas culturas. Mas, a exemplo do personagem do livro, a principal lição que eles levarão para suas vidas é o respeito às diferenças. “Os alunos compararam a diversidade cultural que existe no Brasil e em outros países e fizeram um trabalho sobre respeitar a origem do outro, enfocando os aspectos sociais e culturais”, explica Eni Spímpolo, coordenadora do Ensino Fundamental I.

APRENDENDO COM O FAZ DE CONTA Quem entrava na sala das turmas do 3º ano tinha a impressão de ser transportado ao mundo das famosas histórias que povoam o imaginário infantil. O cenário composto por elementos coloridos era um convite para os olhos e os textos ganhavam ainda mais charme contados pelos alunos. A proposta inicial era que eles lessem as fábulas, identificassem as virtudes e defeitos humanos que os escritores retratam nos animais, refletissem sobre a moral de cada texto e os recontassem com as próprias palavras. Mas, para a surpresa da professora, a maioria esbanjou criatividade e mudou o curso das histórias, que deram origem ao livro O Mundo das Fábulas, também ilustrado pela garotada. Em um círculo formado no centro da sala, os pequenos empolgavam a plateia ao redor pela desenvoltura com a qual defendiam suas releituras, colocando em prática conhecimentos gramaticais, de coerência e coesão dos textos. A fábula O Corvo e a Raposa é um dos exemplos da mobilidade de raci-

ocínio dos alunos. Em sua versão original, a ave segura um suculento pedaço de queijo no bico ao sobrevoar o alto de uma árvore, quando é desafiada pela raposa a entoar um canto mais belo que o dos rouxinóis. Ludibriado pela vaidade, o corvo topa o desafio e, sem querer, deixa o alimento cair para o animal que não podia voar. O estudante Kenzo Sakamoto, 8 anos, do 3º A, teve a ideia de inverter a situação. “Estou contando a fábula do corvo e da raposa um pouco diferente. A raposa sempre é bem esperta, mas a gente fez o corvo desconfiar e perceber o plano da raposa. A história toda mudou e a moral também, porque as pessoas espertas pensam que podem fazer as outras acreditarem em tudo o que elas falam e isso nem sempre acontece. Eu já conhecia algumas fábulas, mas a gente vai aprendendo mais nesse trabalho. Acho legal, porque a fábula fala de comportamento humano, só que com animais. Então eu também posso aprender com isso”, diz. Kenzo mudou a fábula com criatividade.

A sala Investigando Memórias: um passaporte para lembranças familiares, como a cestinha do Vinícius (à esquerda). 4 • JORNAL DO FRIBURGO


UM PASSEIO PELAS RAÍZES DO POVO BRASILEIRO Dando continuidade ao aprendizado do 2º ano, os alunos do 4º ano pesquisaram mais a fundo as peculiaridades da identidade cultural de diferentes países. Antes de embarcar neste imenso roteiro histórico, eles recortaram rostos de pessoas de jornais e revistas e os colaram nos estados brasileiros representados no mapa do país. As diferenças fisionômicas foram o gancho para estudarem a época do descobrimento, a miscigenação formada pela união de europeus, africanos e asiáticos, além da história do continente americano, incluindo civilizações extintas, como os povos pré-colombianos. Nesse processo de imersão, os estudantes foram ao Museu Afro Brasil e, com base no conhecimento adquirido, criaram um jogo de memórias para a apresentação do projeto A Formação do Povo Brasileiro. “Além de estabelecer diferenças e semelhanças entre a coletividade local e outras coletividades, de outros tempos e espaços locais, nacionais e mundiais, o tema permite analisar e compreender como as sociedades, em diferentes momentos históricos, conseguiram superar seus problemas cotidianos, de sobrevivência, buscando novos espaços”, afirma Eni Spímpolo. Enquanto parte dos alunos optou por disseminar informações de ma-

EM DEFESA DA VIDA

Sabores da Nossa História: comendo e aprendendo.

neira lúdica, por meio de jogos, outros recorreram ao paladar para transmitir o conteúdo. O cardápio da exposição Sabores da Nossa História incluía famosos pratos da gastronomia internacional, de países como Itália, Alemanha, Japão, Portugal e Espanha, entre outros. O aluno Klaus Doern, 10 anos, do 4º A, exibia o apfelstrudel (folhado de maçã, de origem austríaca) que trouxe de casa. “Achei legal participar. Aqui tem um monte de comidas diferentes de lugares diferentes”, delicia-se. Enquanto os convidados degustavam os alimentos, inebriados pelo banquete de aromas, os estudantes aproveitavam para situá-los geograficamente. POR UM CONSUMO MAIS RESPONSÁVEL Em tempos que sustentabilidade é a palavra de ordem em empresas, governos e meios de comunicação, as atenções ainda são mais voltadas para reduzir emissões de poluentes e dimiA aluna Sarah, do 5° A, apresenta sua casa sustentável. Bruna, da mesma série, (abaixo) aprendeu a economizar energia com o trabalho que realizou.

nuir a produção de lixo. Poucos se atêm ao desperdício no uso de energia, que já foi responsável por deixar o país às escuras em algumas ocasiões. Pensando nisso, os alunos dos 5º anos conduziram o projeto Sabendo Usar, Não Vai Faltar. Unindo conhecimentos de Física e Meio Ambiente, eles produziram maquetes de casas sustentáveis, iluminando-as com circuitos paralelos, alternativa que julgaram mais sustentável. “O objetivo foi acender quatro lâmpadas em quatro cômodos. Para isso, tivemos que montar a estrutura de uma casa normal. Foi legal aprender porque depois a gente pode usar isso para muitas coisas”, acredita Bruna Travassos, 10 anos, do 5º A. Soluções para reaproveitar matérias-primas que normalmente se acumulam no solo e demoram milhares de anos para se decompor também foram pensadas pela turma, como a confecção de lanternas feitas com garrafas pet.

Poluição, caça ilegal de animais, mananciais destruídos, lixo tóxico. Diariamente, os jornais trazem notícias sobre a destruição da natureza. Dada a urgência em conter hábitos nocivos à continuidade da vida, os alunos do 6º ano encabeçaram o projeto Preservar é Preciso. Para presenciar de perto exemplos de quem anda na contramão da devastação ambiental, os estudantes viajaram para Cananéia e Ilha do Cardoso com a finalidade de estudar o ecossistema local. Em três dias de viagem, eles acompanharam a rotina dos caiçaras, conheceram regras de respeito à biodiversidade instituídas na comunidade, como não usar grandes redes de pesca que colocam em perigo a vida dos peixes pequenos, recolheram lixo na praia e ainda viram ao vivo o que antes só conheciam por textos ou fotos, como mangues, restingas e costões rochosos. Com base nas experiências vivenciadas na Mata Atlântica e no exemplo de economia sustentável, os alunos montaram uma exposição com informações distribuídas em painéis e desenhos, e usaram as fotos tiradas para produzir um filme através do software movie maker, com o suporte do professor e coordenador de Informática Educacional, Eduardo Luiz Georges. “A gente viu de perto o ecossistema. Foi interessante porque pudemos sentir a textura do mangue e pegar o lixo jogado na praia. Aqui no Friburgo, eu já ouvia falar sobre preservação, mas lá a gente viu que precisa preservar ainda mais. Vimos que só tem 7% da Mata Atlântica preservada, comparado ao que era antes”, contextualiza Isabela Toledo, 11 anos, do 6º A. A experiência de conhecer ecosistemas mostrou a Isabella, do 7° ano, a urgência da preservação ambiental.

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BUSCANDO RESPOSTAS Pode parecer estranho recorrer a outras constelações para compreender o que acontece com quem está com os pés em terra firme. Mas não é. Os questionamentos dos alunos do 7º ano a respeito da origem da vida podem ser explicados, sim, pela forma que os planetas e demais corpos celestes se organizam no universo. Foi o que eles fizeram no projeto Origens, inicialmente com uma pesquisa de campo na Serra do Japi sobre os primórdios do município de Cabreúva e, em seguida, numa incursão mais profunda na cidade de Brotas, onde visitaram a Fundação Ceu (Centro de Estudos do Universo), cujo planetário possui o maior telescópio da América Latina. Lá, eles Luíza, também assistido 7º B ram a uma palestra a respeito do Stonehenge (complexo monolítico situado na planície de Salisbury, sul da Inglaterra). “O projeto é bem interessante porque aprendemos mais sobre a nossa origem. É bem legal mostrar para as outras pessoas o que aprendemos, com a teoria do Big Bang, ou de onde viemos e para onde vamos”, fala Luíza Bodra, 13 anos, do 7º B. Na sala que continha uma réplica do Stonehenge e da Rosa dos Ventos (espécie de bússola em formato de disco, orientada pelos pontos cardeais), cada aluno ficou responsável por apresentar um assunto. “Trabalhamos com a interdisciplinaridade e isso dá para eles o sentido de que o conhecimento não vem de uma só área, mas da contribuição de todas. Por outro lado,

Os alunos viram um Stonehenge dentro da sala de aula. 6 • JORNAL DO FRIBURGO

O 8° ano inovou ao apresentar uma impressionante árvore feita de papel dentro da sala.

poder explorar questões relacionadas ao grupo durante a convivência, como respeito e diversidade, faz com que eles cresçam e aprendam coisas diferentes, relacionadas de formas diferentes. Costumo dizer que a viagem é uma sala de aula 24 horas. Dá para continuar, mudar o percurso a partir dos interesses e das necessidades de aprofundamento do grupo. Isso é muito rico”, enfatiza Cíntia Siqueira, coordenadora do Ensino Fundamental II. QUEBRA DE RESISTÊNCIAS Uma árvore imensa reproduzindo os conteúdos aprendidos pelo 8º ano em suas ramificações estava no centro da sala para ilustrar o projeto Resistências. Mas o trabalho dos alunos começou bem antes, em uma visita ao Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira (Petar), mais precisamente nos interiores de algumas das doze cavernas da região. Fazendo uma alusão ao momento de vida dos adolescentes, que também enfrentam um período

de resistências, o mote da pesquisa foi “E você, está dentro ou fora da caverna?” Após estudarem os ciclos econômicos da região do Vale do Ribeira e o impacto da construção da barragem de Tijuco Alto no Quilombo de Ivaporunduva, os estudantes traçaram um paralelo com as resistências da comunidade quilombola à construção da barragem e com as próprias resistências. “Nesse trabalho, a gente aprendeu Bruno, do 8º B muitas coisas, algumas para a sala de aula e outras para a vida, como o que é ser um grupo, ser humilde, essas coisas”, conta Bruno Faria, 13 anos, do 8º B. Dentro do mesmo tema, os adolescentes produziram um trabalho em inglês sobre Martin Luther King, ativista político americano que atravessou a vida resistindo ao preconceito contra os negros. Inspirados pelo discurso I have a dream, eles montaram um painel com palavras em inglês que remetiam ao ilustre pronunciamento. “Para o trabalho, os alunos assistiram a um filme sobre o Martin Luther King e sua luta contra a segregação, e fizeram um webquest (pesquisa), cujas perguntas e respostas são encontradas em alguns sites da internet. Depois eles estudaram o discurso I have a dream e escreveram sobre o sonho deles”, descreve Angela Pedral, coordenadora de Inglês.

Habilidades em destaque O Período Ampliado também contribuiu para a grande exposição do Friburgo. As crianças do 2º ao 5º anos do Ensino Fundamental que participam do módulo Free English também produziram informações sobre a biodiversidade, mas de uma maneira bem descontraída, com jogos interativos, cartazes, tabuleiros e brincadeiras, além do sotaque diferente do idioma inglês. “Os alunos têm esse interesse porque estão numa escola preocupada com o meio ambiente. Eles querem cuidar desse bem e mostrar para os outros o que pensam. Por trás disso tudo, tem uma grande mensagem e eles incorporam muito bem o papel de cidadãos que tem prazer em participar de um evento dessa natureza numa escola dessa natureza”, resume Amélia Gaulez, coordenadora do Período Ampliado. Envolvidas nesse clima, as estudantes Manoela Arbex, 10 anos, e Marcela Araújo, 10 anos, ambas do 4º B, mostraram na bancada a reprodução artesanal das quatro estações do ano, citando os respectivos nomes em inglês. “A gente faz Free English para quando crescer, poder visitar vários países que falam inglês. Queremos aprender para comunicar com as outras pessoas”, as duas se empolgam, uma completando a fala da outra. Para encerrar a Liverdade, os alunos do curso de capoeira participaram do ritual de troca de cordas que simbolizam a passagem da graduação. As amigas Manoela e Marcela: intimidade com o inglês.


Laís, do 1°EM, se disse chocada com os problemas ambientais que viu.

ROTA DA SUSTENTABILIDADE Para fechar o ciclo escolar, nada melhor do que ver de perto uma região que represente os contrastes do mundo moderno, buscando em suas raízes históricas a explicação para sucessos e fracassos. Partindo dessa ideia, os alunos dos 1º e 2º anos do Ensino Médio aportaram em municípios do Vale do Paraíba como Bananal, que enriqueceu com as fazendas de café e hoje já não detém uma economia forte; passando por Volta Redonda, conhecida como a “cidade do aço” por sediar a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), a maior da América Latina; Aparecida do Norte, que vive em função da fé; São José dos Campos, que exporta tecnologia para todo o país; Parque Nacional do Itatiaia, pelo exemplo de preservação da biodiversidade e São Luiz do Paraitinga, cidade que foi destroçada pelas enchentes no início do ano. “Os alunos analisaram a questão da sustentabilidade e problematizaram os contrastes no eixo Rio-São Paulo”, conta Vera Márcia Barreto, coordenadora do Ensino Médio. Só os estudantes do 3º ano do Ensino Médio não participaram do projeto Das tropas de mulas ao trem bala: Como desvendar esse Vale?, pois estavam concentrados no preparo para o vestibular e o Enem. Ainda em campo, cada adolescente escreveu uma crônica sobre algum aspecto da viagem, trabalho que serviu, inclusive, como inspiração para elaborar o diálogo entre um barão de café e um morador atual das cidades do eixo cafeeiro, encenado na Liverdade. No evento, eles também fizeram uma mesa redonda discutindo esses contrastes e a sustentabilidade das estradas e cidades visitadas, além de reproduzirem todo o percurso da viagem em grandes painéis. “A gente procurou passar a ideia de preservação, colocando fotos tanto de coisas boas, como as paisagens do lugar, quanto de coisas ruins que estão acontecendo hoje em dia, como o desmatamento e a caça ile-

gal. Preservar não é tão simples quanto parece e precisamos pensar em um jeito de mudar essa situação. Tivemos a oportunidade de observar muita coisa lá (no parque), desde a fauna e flora que eles preservam até os ideais que eles prezam. E começamos a ter uma nova visão. Se tivéssemos pesquisado sobre o assunto na internet, estaríamos muito menos mobilizados do que estamos agora. Mexe com a gente ver o que estamos causando, principalmente quando vemos a dor e o desespero dos moradores de uma cidade como São Luiz do Paraitinga. É chocante”, reflete Laís Franco, 15 anos, do 1º EM. A diferença entre o 1º e 2º anos é que o 2º ano estudou a hidrografia das cidades e a turma também produziu uma monografia, cujos temas foram expostos em pôsteres na Liverdade. Entre assuntos atuais, como a aplicação da nanotecnologia na indústria cosmética, alguns trabalhos chamaram a atenção pela originalidade, como o produzido pela aluna Marina Coppola, 16 anos, 2º EM, intitulado Tatuagem: sua história, sua arte, apesar dos preconceitos. “No início, as pessoas não gostaram muito do tema, mas é importante porque diminui o preconceito que ainda é grande. Como estou querendo fazer a minha tatuagem, quis conhecer um pouco mais a respeito. E fazer uma monografia ainda no colégio é bem interessante. É como se fosse um treino para a faculdade”, conclui.

Júlia, do 9º B: Experiência agregadora.

PARA ENTENDER AS INCOERÊNCIAS DO MUNDO Não é uma tarefa simples compreender porque o moderno e o antigo se fundem, a riqueza e a pobreza se encontram, a beleza e o caos dividem o mesmo espaço. Encontrar essas respostas foi o objetivo do projeto Contradições, apresentado pelos alunos dos 9º anos. E se a ideia era escolher um assunto polêmico, a questão agrária caiu como uma luva. Com o intuito de entender o porquê de opiniões tão divididas a respeito dos sem-terra, os adolescentes viajaram para o município de Sumaré dispostos a ouvir a versão dos trabalhadores rurais assentados em fazendas da região e, posteriormente, formarem suas próprias convicções. “Foi uma experiência agregadora porque eu já tinha a minha

A arte de aprender ao ensinar Dividir o conhecimento com quem não desfruta de uma condição de vida privilegiada faz parte da cultura do Friburgo. Mas, no principal evento do colégio, foi fácil perceber que os alunos da turma de alfabetização de adultos tinham algo além dos conteúdos aprendidos na escola para apresentar: suas histórias de luta e superação. “Quando estudam, eles começam a ter consciência dos seus direitos e valores enquanto cidadãos. E percebem que fazem, sim, a diferença. É um trabalho também voltado para a questão da autoestima, porque eles chegam se achando ignorantes porque não conseguiram aprender na época certa. Mas nós valorizamos o conhecimento que eles trazem e também as vivências que eles compartilham conosco”, ressalta Iracy Rossi, diretora de assuntos comunitários. Para a Liverdade, os alunos do Alfa I pro-

duziram painéis e cartazes sobre a fauna brasileira, enquanto os dos Alfa II discutiram sobre suas origens e os do Alfa III escreveram um livro no gênero autobiográfico, traçando um paralelo entre suas origens e as diferentes etnias presentes no país. A babá Edna Pinheiro, 38 anos, matriculada no Alfa II, contou como a educação começou a fazer parte da sua história. “Estudei aqui seis anos atrás, mas, na época, não conseguia me concentrar e acabei desistindo. Agora voltei no Alfa II. Aprendo um pouquinho de cada vez, e gosto mais de Matemática porque entendo melhor. Às vezes eu começo ler em casa, fico nervosa porque a leitura começa a embaralhar e fecho o livro. Mas agora vou até o fim, se Deus quiser”, afirma. Seus sonhos para o futuro? Ela para, pensa e responde com firmeza. “Quem sabe fazer

opinião formada, mas depois ela foi sendo mais construída, com uma base maior. Tivemos palestras com o pessoal que mora lá e foi esclarecedor porque a mídia mostra muitas coisas, que às vezes são reais, mas outras, não. Vimos o que é verdade, e o lado deles também, porque até então eu só enxergava o lado da monocultura, do antimovimento”, constata Júlia Ferrari, 14 anos, do 9º B, que reproduziu o assentamento em maquetes feitas com serragem na Liverdade. Mas não foi preciso sair de São Paulo para encontrar contradições. Com câmeras fotográficas em punho, os alunos clicaram edifícios do centro antigo da capital. “Vimos muito as contradições de São Paulo. Prédios lindos, chiques e modernos e outros de portas fechadas, com mendigos e drogados do lado de fora”, destaca Júlia.

Edna e Thiago: emoção no aprender e ensinar.

uma faculdade? Eu gostaria de ser uma advogada”. Ao seu lado, um dos jovens que a ensinam, Thiago Alves, 23 anos, formado em Ciências da Computação, explica a motivação do seu trabalho voluntário. “É muito prazeroso, é como uma criança que está aprendendo a usar uma calculadora ou um computador pela primeira vez. Aprendo muito vendo as dificuldades deles e começo a encarar o mundo de uma forma di-

ferente porque vejo que as pessoas têm dificuldades diferentes e percebo que temos que ajudar uns aos outros, mesmo porque um dia, ela pode vir a me auxiliar com alguma coisa que eu não sei”, sintetiza ao ver lágrimas escorrerem pelo rosto de Edna. “Agradeço primeiramente Deus, todos os dias, e segundo aos voluntários que são maravilhosos, porque se não fossem eles, a gente não estaria aqui”, emociona-se a aluna. JORNAL DO FRIBURGO • 7


•••mostra de artes

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A arte no picadeiro Nossos artistas mirins dão vazão à criatividade e mostram como o talento floresce nas mais diversas técnicas. za foram apenas o ponto de partida para a produção dos trabalhos dos alunos do 6° ao 8° ano. “Fornecemos recursos aos alunos e proporcionamos um ambiente bem rico para que eles alcançassem esses resultados que estão expostos. E não há apenas o uso de técnicas que ensinamos nessas obras. Por trás de alguns trabalhos, existe uma crítica, há outros questionamentos”, diz Keka Stabel, professora de Artes do Período Ampliado e Ensino Fundamental I. Pela sala, foram espalhadas imagens e peças artísticas que demonstram a versatilidade criativa dos alunos. Muitos expuseram mais de uma obra, colocando as técnicas a serviço de seus gostos pessoais, como o aluno André Nobre, de 13 anos, 7º B, que fez uma guitarra no mosaico, tendo como inspiração o vídeogame Guitar Hero, além do emblema do seu time do coração, o Corinthians, no vitral, e um disco voador no bloco de concreto celular. Ao contrário dele, que encarou a atividade como diversão, sua mãe, a psicóloga Maria Teresa Santacreu, percebe claramente os benefícios do trabalho realizado pelo filho. “A arte para ele tem um efeito mais terapêutico do que intelectual. Ele fica mais tranquilo quando sai daqui”, atesta. Já a estudante Laura Martins, de 12 anos, colega de classe de André, deixou transparecer sua personalidade mais reflexiva ao desenhar um olho na caixa de madeira pirografada, esculpir

um vaso no bloco de concreto celular e uma paisagem florida no vitral. Embora os demais espaços tenham sido ocupados por trabalhos realizados por várias séries ao mesmo tempo, em cada sala havia a referência de um artista ou um mote a ser seguido. As obras de cada turma podiam ser diferenciadas pelos traçados, composições de cores, formas e materiais utilizados, mas todas tinham algo em comum: a inspiração vinda do circo, do humor e das brincadeiras infantis. Os

Vênera: ajudando os alunos a ter um olhar diferenciado sobre a arte.

Texto Sibele Oliveira | Fotos Francisco Ucha

A

frase do intérprete do palhaço mais famoso do cinema, Carlitos, traduzia a proposta da Mostra Cultural – Articulando 2010. “A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos.” O picadeiro do pequeno circo montado na entrada da escola e as citações de Charles Chaplin e de outros gênios do mundo das artes, como Paul Cèzanne, Ludwig van Beethoven e Fernando Pessoa, preparavam o espírito dos pais e convidados para apreciar a sensibilidade dos estudantes manifestada em diversas expressões artísticas. Entre os dias 18 e 23 de outubro, o evento transformou o Friburgo numa mistura de vernissage e teatro ao ar livre, que abrigou apresentações do 2º ano do Ensino Fundamental ao 2º ano do Ensino Médio. “O projeto foi pensado em julho. O nosso objetivo maior é que os alunos construam um olhar diferenciado sobre a arte e passem a ver sentido no que antes não viam, porque o mais importante não são as obras em si, mas o processo de construir um novo olhar em cima da bagagem que eles trazem”, analisa Vênera Matos, coordenadora do Núcleo de Artes. No primeiro dia, os alunos se sentaram na plateia do teatro do colégio para prestigiar o talento dos pais artistas. Pensando no circo como tema, os adultos formaram um elenco de atores e músicos para apresentar um sarau. Nos dias seguintes, no entanto, eles trocaram de posição com os filhos e assumiram o papel de espectadores. Os estilos dos pintores Pablo Picasso, Bondenzan e Aldir Mendes de Sou-


Atenta, a professora Flávia Beghin acompanha a apresentação de suas alunas, Izabella (ao lado), Laura e Isabella .

Com base num conhecimento mais profundo sobre a história da arte e seus conceitos, estudantes de séries mais avançadas imprimiram críticas sociais em suas expressões artísticas, usando a arte circense para mostrar o que acontece por trás das máscaras. Outros alunos simplesmente deixaram a sensibilidade aflorar, como a estudante Bruna Almeida, de 16 anos, do 2º ano do Ensino Médio noturno. “Foi muito gostoso produzir este trabalho. Em cada parte do painel que fazíamos, a criatividade foi fluindo, e a nossa forma de expressá-la também. Percebemos que história da arte tem vários sentidos, igual ao circo”, arremata.

Keka: Alguns alunos se utilizam da arte para questionar.

C IRCO DO A MPLIADO André mostra à sua mãe, Maria Teresa, o escudo de seu time, que ele pintou no vitral.

alunos mais novos exploraram o tema de forma lúdica, como as irmãs Carolina Pires, de 8 anos, 2º B e Melina Pires, 10 anos, do 4º A, mas no que depender da paixão que elas nutrem pela arte, o que hoje é brincadeira pode ganhar contornos profissionais no futuro. “Elas adoram essas atividades desde bem pequenas e percebo que, à medida que o tempo passa, elas ficam mais sensíveis e criativas. O meu marido, inclusive, montou em casa um pequeno ateliê para elas fazerem o que quiserem”, conta a administradora de empresas, Rita Pires, mãe das meninas.

Desde que os espetáculos da companhia Cirque du Soleil chegaram ao país, muitos brasileiros têm demonstrado mais interesse pelo circo, e no Friburgo não é diferente. É o segundo ano que a modalidade faz parte do Período Ampliado e, durante a Mostra Cultural, o tema do evento foi muito bem representado pelos alunos. Uma coreografia de jazz inspirada na peça teatral Os Saltimbancos foi apresentada por alunos do 4° ano e alunos do 6° ao 9° ano fizeram acrobacias com tecidos e liras em performances ao ar livre, usando, inclusive, as árvores como aparelhos para movimentos aéreos. “A proposta é superbacana porque a criança trabalha corpo e expressão através dos movimentos. Na mos-

Sophia, do 6° ano, mostra sua criação.

tra, resolvemos levar o circo até o público, sendo que normalmente as apresentações acontecem dentro do teatro”, afirma a professora Flávia Beghin. A instrutora de dança, Soraya Curi, compartilha da mesma opinião. “A experiência foi muito gratificante porque é um tema que também valoriza os animais e eles gostam muito. A criança que dança cria para si um mundo mais tranquilo porque a dança une expressões”, sintetiza.

S INFONIA INFANTIL

Ao invés de cantarem músicas de cantores famosos de sua geração, o coral de crianças do 2º e 3º anos do Ensino Fundamental entoou um pout-pourri de canções antigas e consagradas, composto por Splish Splash, História de um Homem Mau, Sebastiana, Da Maré e Chocolate. No pequeno círculo formado em torno do redondel, elas faziam gestos coreografados com as mãos enquanto acompanhavam o professor JORNAL DO FRIBURGO • 9


A mostra cultural do Friburgo apresentou trabalhos belíssimos e ambientes que reproduziam a magia do circo. E apresentações de música (ao lado, com o professor Irajá) e teatro (abaixo).

de Música, Irajá Menezes, ao violão. “Quando apresentamos uma música que conta uma boa história, mesmo que as crianças não entendam muito por que algumas composições são feitas para adultos, se conversamos sobre aquela história, elas passam a entender certos detalhes que antes desconheciam e acabam se envolvendo bastante. Se deixar, os pequenos saem cantando sem saber o significado. É aí que, como professor, posso usar palavras da cultura brasileira para ter boas conversas com eles. São letras bem feitas, sofisticadas, que têm todo um contexto e é importante eles saberem o que estão cantando”, avalia. Segundo o professor, é possível escolher esse tipo de repertório para crianças dessa faixa etária porque elas ainda não tiveram contato com o preconceito. “As maiores ficam mais preocupadas com o que o grupo acha, mas os pequenininhos são muito generosos. A ideia é que eles saibam que a música não existe só hoje em dia, que tem autores antigos e novos. Mas é preciso tomar um cuidado para não impor o nosso gosto. Eles têm o acesso à música de massa, que toca no rádio e na televisão, e eu apenas mostro

outras coisas, para ampliar esse leque”, finaliza Irajá. P OR TRÁS DOS PERSONAGENS

Ao longo da semana, alunos do 8º ano do Ensino Fundamental e 1º ano do Ensino Médio receberam muitos aplausos por suas atuações no Teatro Grande Otelo, do Friburgo. O que os convidados talvez não soubessem é que os alunos se envolveram em todos os detalhes do projeto, incluindo a definição do tema, redação do texto, roteiro, cenário e figurinos. Falar sobre os sete pecados capitais foi a escolha dos oitavos anos, que interpretaram a peça Eu

Alunas de Jazz do Período Ampliado, da Professora Soraya, apresentam Os Saltimbancos. 10 • JORNAL DO FRIBURGO

Peco, Tu Pecas, Nós Pecamos. Em tom de comédia, eles cativaram o público com improvisações e interação com a plateia. “O que marca este espetáculo é a experiência corporal, todos os movimentos são baseados em Rudolf Laban. É uma peça leve e gostosa que promo-

Marcos produziu com seus alunos, tanto peças leves como densas.

ve a reflexão que nem todo o pecado é tão pecado. Há uma cena em que o anjo do bem e anjo do mal discutem se os sete pecados são tão pecados assim”, descreve o professor Marcos Arilho. Ao término da performance, ele subiu ao palco e se uniu aos alunos para debater o assunto. A virtude de ouvir mais e falar menos foi o mote da peça Escutatória, baseada em texto de Rubem Alves, apresentada por alunos do 1º ano do Ensino Médio. Ao mesmo tempo em que o texto era lido, eles encenavam personagens de diferentes tribos regionais e urbanas. Após o ato final, professor e alunos fizeram uma espécie de coletiva para responder perguntas sobre o processo de criação. “Este foi um espetáculo mais denso, que emocionou bastante. Um texto extremamente filosófico, com uma linguagem bastante arrojada, de vanguarda. Nesse caso, eu interferi mais no figurino porque é uma linguagem um pouco mais ousada e os alunos do Ensino Médio gostam disso”, conclui Marcos.


Texto Sibele Oliveira

•••educação infantil

A

Os primeiros passos para o futuro Na Casinha Pequenina, as crianças aprendem a ser pequenos cidadãos conscientes e preparados para a vida

Preparar as crianças para o Ensino Fundamental, de forma que elas tenham facilidade para se adaptar às novas demandas escolares, é uma das principais preocupações. Tanto o módulo de Língua (oralidade e escrita) quanto o projeto de Natureza e Sociedade (ciências humanas e naturais) fornecem bases para aprendizados futuros, e o currículo é constantemente atualizado de acordo com a avaliação do processo. “A partir do momento em

GABRIEL ARAÚJO

Rosimari: “Fazer aula” em vez de “dar aula”.

que as formas de avaliar e os conteúdos são revisados, identificamos não só as crianças que sentem dificuldades, mas também as que precisam de um desafio maior porque estão em estágios diferenciados. Nosso objetivo é tornar as avaliações dos alunos cada vez mais específicas para saber do que eles são capazes e o que podemos aprofundar em termos de conhecimento”, completa Rosimari, que conta com a assessoria da educadora Rosângela Veliago na tarefa de revisão do currículo. Além das aulas diárias de Inglês que acontecem diariamente a partir do Simbólico I (ver Box), a novidade este ano ficou por conta do curso do Período Ampliado. Funciona como uma espécie de oficina de novos saberes, onde os alunos podem desenvolver o idioma e diferentes habilidades, como Culinária, Capoeira, Danças Brasileiras, Artes, Oficina de Música e de Circo. Algumas melhorias também foram feitas no sentido de deixar o ambiente mais seguro e encantador. Novos brinquedos foram adquiridos, as salas do Sensório Motor, o espaço da culinária, os banheiros e o Salão de Artes e Multiuso passaram por uma reforma, e o mobiliário ficou mais colorido. Em 2011, a biblioteca será ampliada e contará com uma variedade maior de livros. GABRIEL ARAÚJO

Casinha Pequenina é um lugar que transpira aconchego em cada centímetro. Em toda a sua extensão, a vida se encarrega de evocar os sentidos, seja nas verduras e legumes que crescem na horta, nas frutas das plantações, nas flores de cores vibrantes que exalam seu perfume, nos animais que correm e voam em seus cercados ou no carinho com o qual as crianças são tratadas pelas professoras e funcionários. Mas este espaço de mais de seis mil metros quadrados, premiado pela natureza, está longe de ser apenas um palco de atividades recreativas. A educação é levada muito a sério na escola e os pequenos, ao invés de receberem fórmulas prontas durante o aprendizado, são estimulados a apurar o olhar e o raciocínio para encontrarem soluções diferentes e criativas para desafios inspirados no cotidiano, sem deixar de lado o tom leve e descontraído da infância. Em outras palavras, eles aprendem literalmente brincando. Um exemplo de como essa metodologia funciona na prática aconteceu durante as eleições. Aproveitando o ensejo de que uma vaca Mini Jersey iria se juntar aos outros animais da escola, as professoras usaram a escolha do nome da vaquinha para fazer uma alusão ao processo eleitoral. As crianças contribuíram com sugestões para batizar o novo habitante, assinalaram sua preferência entre as várias opções de escolha na cédula e a depositaram na urna. Na atividade despretensiosa, elas entenderam como funciona o voto secreto e a contagem de votos. Até a Matemática perde o estigma de matéria chata e difícil na Casinha Pequenina. O conceito de “dar aula” é substituído por “fazer aula” e qualquer situação pode ser motivo para aplicar as operações, não importa se a intenção é dividir um bolo entre os colegas ou contar as figurinhas que serão coladas no álbum preferido. A área de Matemática vem sendo assessorada pela educadora Maria Teresa Martins Dias desde a Educação Infantil até o Ensino Médio. “Levantamos os conhecimentos prévios das crianças e proporcionamos vivências para que avancem na construção do conhecimento matemático. Dessa forma, o raciocínio é desenvolvido e a aprendizagem formal será sistematizada ao longo do Ensino Fundamental” explica Rosimari Ussifati, diretora.

JORNAL DO FRIBURGO • 11


GABRIEL ARAÚJO

GABRIEL ARAÚJO

R ESPEITO É BOM E AS CRIANÇAS GOSTAM

FRANCISCO UCHA

Numa época em que debates sobre valores humanos ganham destaque mundo afora como tentativa de frear a intolerância entre os homens e a destruição do planeta, aumenta a consciência de que as primeiras lições de cidadania devem ser transmitidas cedo, especialmente porque se sabe que a primeira infância (zero a seis anos) é o período decisivo de formação da personalidade e do caráter. E é exatamente por esses princípios que a educação é norteada na Casi- as partes do tronco que estavam saunha Pequenina, que abre cada vez mais dáveis foram usadas como matériaespaço para atividades relacionadas à prima para a produção de obras de responsabilidade socioambiental. As arte para presentear os pais. crianças exercitam a arte da convivência não só aprendendo a diferenciar B OM GOSTO NÃO TEM IDADE seus direitos e os dos colegas, mas tam- Muitos ainda nem foram alfabetizados, bém são incentivadas a pensar no bem- mas já descobriram um talento genuíestar coletivo, zelando pelas depen- no para as artes. Na aula de Música, por dências da escola como se estivessem exemplo, as crianças descobrem suas cuidando de seus próprios quartos. sonoridades e, após um breve aqueciO cuidado com a natureza é outro mento vocal, começam a entoar músiassunto que merece um capítulo espe- cas quase esquecidas de importantes cial. Enquanto muitos adultos perma- compositores brasileiros. “No segundo necem alheios ao impacto de suas semestre deste ano, trabalhamos o reações sobre o meio ambiente, os pe- pertório de Luiz Gonzaga. E eles amaquenos estudantes da Casinha adqui- ram. Em todo o projeto de música, perrem conhecimento de gente grande. cebo um resultado surpreendente. No primeiro semesQuando trago canções tre, os alunos do 1º infantis que fazem ano produziram um parte do folclore do trabalho intitulado Brasil, a aceitação é “Água no Planeta”, a muito grande porque partir de consultas tem todo um moviem textos informatimento, uma brasilidavos, artigos de revisde que é própria das tas e jornais. Depois crianças”, diz Glaucia de visitarem a nasMachado, professora cente do Rio Tietê, no de Música, destacanmunicípio de Salesódo, entre os benefícipolis, a turma voltou os das aulas, o estímucom a importância lo dos sentidos, da coda água na ponta da Glaucia Machado: as crianças ordenação motora, da língua, além de tra- gostam das canções que fazem parte rítmica e oral. zer na bagagem di- parte do folclore brasileiro. Na garganta da turmicas sobre como econha, cantigas, parlennomizar água, energia elétrica e pa- das e brincadeiras antigas também gapel, reduzir a produção de lixo e for- nham ritmo. “Todas as músicas que mas de reciclá-lo. eles vão aprender, ouvem primeiro de Atribuir novos significados para o olhos fechados, porque a memória auque aparentemente não tem mais va- ditiva anula a visual, que é mais forte, lor é outra lição ensinada na escola. aprendem a letra da música e só depois Foi o que aconteceu com uma das ár- eu introduzo a melodia”, conta. vores da Casinha Pequenina que estaMas a maratona cultural que os peva condenada, representando riscos quenos percorrem inclui outras manipara a segurança das crianças. Para festações artísticas, como a dança, as que elas não sentissem muito a perda, artes plásticas e cênicas. Vira e mexe 12 • JORNAL DO FRIBURGO

A CONCHEGANTE COMO O PRÓPRIO LAR

Aprendendo por etapas Antes mesmo de caminhar com desenvoltura, os bebês começam a aprender as primeiras lições na Casinha Pequenina. Enquanto a turminha do Sensório Motor (1 ano e 3 meses a 2 anos) é estimulada a exercitar os sentidos e a coordenação motora, os alunos do Simbólico I (2 a 3 anos) mergulham no mundo da imaginação. Já os maiores começam a tomar gosto pelo universo do conhecimento, como os estudantes do Simbólico II (3 a 4 anos), que demonstram interesse pela escrita e oralidade. A noção de grupo aparece no Intuitivo (4 a 5 anos) e, no 1º ano (6 a 7 anos), eles desembarcam de vez no mundo das letras e números.

artistas contemporâneos são convidados a desvendar suas técnicas na escola, como por exemplo, os representantes da Arte Naïf (autodidatas, que não possuem formação acadêmica), que estiveram na Casinha no 1º semestre. Eles também apreciam os espetáculos teatrais dos colegas mais velhos no Friburgo e se divertem com peças como Panos e Lendas, que assistiram este ano durante uma homenagem às mães. Na parte de danças, mais uma vez o resgate à cultura brasileira entra em ação. “É um trabalho de bastante exploração corporal e coordenação motora, um primeiro encontro com a Educação Física. Eles passam a reconhecer as partes do corpo e os movimentos que podem produzir. E a minha linha de trabalho procuro fazer sempre um link com a cultura popular”, relata Juliana Klein, professora de Corpo e Movimento.

Todos os dias, a cena se repete: os pais entram com os filhos na escola e, quando se despedem, dá para ouvir os primeiros gritinhos e ver os sorrisos que iluminam os rostos das crianças. Afinal, elas estão em sua “segunda casa” e sabem que irão passar o tempo todo aprendendo e se divertindo. E, como boas anfitriãs, de vez em quando recebem a visita da família, seja para prestar uma homenagem aos pais e mães, momento em que as duas gerações fazem um intercâmbio de brincadeiras e histórias. Isso também acontece quando convidam os avós para passarem algumas horas conhecendo suas rotinas. Em datas comemorativas e eventos, como a festa junina, por exemplo, os pequenos contam com a ajuda dos pais para a organização. A tarefa de separar as prendas fica por conta dos mais velhos, que muitas vezes voltam a ser crianças, e também participam dançando a quadrilha. É na Casinha Pequenina que os alunos do Intuitivo e 1º ano saboreiam a primeira sensação de independência. Uma vez por ano, são convidados a dormir na escola. Nesta noite especial, eles participam de gincanas, jantam com os amiguinhos e, ao invés de ouvirem uma história antes de dormir, assistem a um espetáculo teatral. Neste ano, as crianças deram boas risadas ao assistir ao teatro de fantoches. “A Casinha é um espaço mágico, muito agradável para as crianças e nós temos o prazer de constatar que quando chega o final do período, elas não querem ir embora da escola. E este princípio, de ter uma boa relação com o lugar onde se aprende, se estabelece relacionamentos e trocas, é um excelente começo para uma vida educacional de sucesso, de estudante dedicado a profissional competente no futuro”, conclui Rosimari.


•••educação infantil

Crianças que fazem arte No evento de encerramento do ano na Casinha, as crianças deram um show de sensibilidade artística

Texto Sibele Oliveira | Fotos Francisco Ucha

Dinossauros, consciência ecológica e imigração japonesa: a arte na Casinha foi diversificada.

Q

uem esteve na Mostra Cultural, percebeu que a Casinha Pequenina amanheceu mais florida do que de costume no dia 23 de outubro. O cenário ganhou um novo colorido devido às cores das obras inspiradas nos quadros do pintor francês Oscar-Claude Monet, mais especificamente em seus jardins. Telas pintadas com guache ou decoradas com colagens reproduziram os olhares infantis e transformaram o salão principal num grande ateliê. O evento Nos Jardins da Casinha reuniu produções artísticas de todas as turmas, além de exibir performances de circo e capoeira e expor trabalhos artesanais dos pais dos alunos. “As crianças fizeram pesquisas sobre a biografia de Monet e seu interesse pela arte. Expomos várias obras dele e algumas foram eleitas pelas turmas. Depois eles foram convidados a apreciá-las, perceber seus detalhes e refletir a respeito. Num terceiro momento, aplicaram

tudo isso à produção”, relata Rosimari Ussifati, diretora. Logo na entrada da escola, o som remetia a um passado longínquo. O espaço No tempo dos dinossauros mostrou os animais extintos reproduzidos em tamanho (quase) natural, identificados por reportagens que a turma do Simbólico II trouxe de casa, através de textos de livros ou pesquisas na internet. Já nas trilhas da área verde da Casinha, eles recitaram poesias, versos e parlendas em inglês, deixando os pais ainda mais orgulhosos. “A gente incentiva as crianças a se exporem em inglês nas situações do cotidiano. Todos os dias, em 45 minutos de aula, elas são estimuladas a declamar de dois a três versos de cantigas ou poesias. São momentos lúdicos diversos que os pais têm a oportunidade de ver na mostra. No final do semestre, irão gravar um CD, conta Fabiana Forrai, professora que acompanha os pequenos nos lyrics moments.

Outra atividade envolvendo o idioma inglês durante a mostra estava presente na sala do Período Ampliado, que ganhou o nome Os diferentes fazeres. De um lado, flores feitas com canudinhos sob a orientação das professoras do Free English lembravam a primavera e, de outro, um livro com fotos de atividades realizadas durante todo o ano ficou à disposição dos pais. Uma variedade de trabalhos artesanais produzidos com massinhas e colagens em diferentes formatos também encantou os visitantes. A imaginação das crianças foi colocada a serviço da cultura do país na exposição Lendas brasileiras, parte do projeto de linguagem que deu origem ao livro Recontos de Lendas brasileiras, contendo releituras das histórias de personagens como a Vitória-régia, o Boto Cor-de-rosa e Saci Pererê, entre outros. “Repertoriei as crianças com as lendas, desde o estilo até a estrutura. A primeira versão saiu delas e veio para JORNAL DO FRIBURGO • 13


O circo também foi tema na Casinha.

mim. Eu só fui uma escriba, só escrevi. Os textos passaram por algumas revisões até chegarem ao formato final, sem perder a autoria, a carinha da criança. Procurei organizar de modo que todos participassem, sem que ninguém se sobressaísse”, diz Alessandra Helena Silva, professora do Intuitivo. Enquanto isso, na sala do Simbólico I, os pequenos trabalharam o tema O circo através dos tempos e, junto com os pais, se caracterizaram de personagens circenses. No momento da visita, panfletos da campanha de doação de brinquedos para crianças carentes foram distribuídos.

A turminha do Sensório Motor também não ficou de fora. Na sala sinalizada É proibido ficar parado, adultos e crianças brincaram de sombras e se divertiram com bonecos confeccionados à semelhança dos alunos. O trabalho do 1º ano funcionou como uma espécie de passaporte para uma viagem imaginária ao outro lado do mundo. Alguns alunos chegaram vestidos com quimonos para apresentar a exposição No país do sol nascente. Na sala, havia os mais variados elementos da cultura japonesa, incluindo trajes típicos, objetos feitos com origami, bonecas de porcelana e réplicas de samurais. “O nosso maior objetivo é estimular essa vontade de

Alessandra: fui uma escriba das crianças.

conhecer a diversidade. Uma professora japonesa esteve aqui para mostrar como é a escola no Japão e a mãe de um aluno trouxe quimonos e ensinou as crianças a prepararem o temaki. Elas estudaram a religião, o esporte, a cultura, a localização geográfica, a culinária, as festas e até a emigração japonesa”, declara Rosana Moreira, professora. Para finalizar, houve apresentação do coral das turmas do Intuitivo e 1º ano e aulas abertas de Corpo e Movimento para pais e filhos participarem juntos. Com a inspiração do circo, o Simbólico I fez uma apresentação com bolinhas de malabares, e o Simbólico II exibiu a dança com tecidos. P RÁ NÃO DIZER QUE NÃO FALAMOS DE FLORES

Algumas flores que decoraram a Casinha Pequenina na Mostra Cultural foram o produto de uma aula de preservação do meio ambiente. A criançada recebeu a visita de Benito Cuzzuoh, um metalúrgico aposentado que ocupa seu tempo transformando “lixo” em arte. Com as orientações do voluntário, as professoras e turmas de Intuitivo e 1º ano aprenderam a fazer diferentes flores utilizando garrafas pet. “O senhor Benito faz oficina com crianças de escolas e favelas, transmitindo sempre o recado de que se pode fazer arte com o lixo. E, como a arte também está relacionada à questão social e de preservação ambiental, não é apenas uma expressão no sentido de manifestar beleza, mas é a beleza na atitude, no gesto em relação ao outro. Consequentemente, o resultado produzido nos alunos é uma mudança de postura”, sintetiza Rosimari. 14 • JORNAL DO FRIBURGO


•••Carreira

O segredo de meu sucesso Texto Sibele Oliveira | Foto Francisco Ucha

No Fórum de Profissões, pais falam sobre o dia a dia de seus trabalhos e ajudam os alunos na hora da escolha de suas carreiras.

Q

uando a época do vestibular se aproxima, a responsabilidade de escolher uma profissão começa a pesar sobre os ombros dos adolescentes. Chega a hora de responder à pergunta “O que você vai ser quando crescer?” e, neste momento, as dúvidas aumentam. Afinal, é o futuro que está em jogo e uma decisão equivocada pode resultar em frustração e perda de um precioso tempo. Foi pensando nisso que o Friburgo convidou alguns pais para contarem suas experiências no 1° Fórum de Profissões, que aconteceu no dia 11 de setembro. “Esse projeto tem como objetivo trazer o mercado de trabalho para perto do adolescente envolvendo os pais, até porque eles conhecem bem as angústias e os desejos dos filhos. Por outro lado, é uma oportunidade de mostrar um pouco da trajetória dos pais na escolha da carreira”, resume Vera Márcia Barreto, coordenadora do Ensino Médio. O especialista em psicologia educacional, Tiago Tamborini, abriu o evento falando sobre a importância da atitude no processo de escolha profissional. Em seguida, o público composto por alunos do 9º ano do Ensino Fundamental e de todo o Ensino Médio se dirigiu a uma das oito salas, onde os profissionais foram divididos de acordo com suas áreas de atuação. Após apresentarem seus currículos, detalharem o dia a dia de seus ofícios e discorrerem sobre o mercado de trabalho, eles se colocaram à disposição dos alunos para esclarecer as dúvidas. Mesmo quem já tinha decidido que faculdade faria tirou proveito do fórum. Como é o caso de Bia Buccolo, 17 anos, aluna do 3º ano do Ensino Médio. “As palestras reforçaram a minha certeza. A gente pôde falar com os profissionais

Paula Napolitano: damos as ferramentas para que os alunos façam suas escolhas.

abertamente e, para mim, ajudou bastante sentir como é a área de trabalho, como vai ser depois”, enfatiza a estudante que irá prestar vestibular para Publicidade e Propaganda na Universidade de São Paulo (USP) e na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). A experiência foi significativa também para os pais, que tiveram a oportunidade de ajudar os filhos e seus colegas fora do ambiente de casa. “A troca de experiências com os alunos e mesmo com os outros palestrantes foi fantástica. Fiquei até emocionada porque não tive isso na minha época. Vi a ansiedade no rosto deles e, pelas perguntas, percebi que eles ainda dão uma importância exagerada para a medicina. Na palestra, procurei mostrar a realidade dos médicos em São Paulo”, diz Mara Temer, médica clínica geral, que integrou a mesa redonda de saúde. Já Marisa Cesar, relações públicas pós-graduada em Marketing, destacou

Descoberta orientada Medicina, Direito, Engenharia... Foi o tempo em que as principais opções de carreira eram tão poucas que podiam ser contadas na palma das mãos. Hoje, os jovens podem escolher entre mais de 150 profissões, isso sem contar as 2.511 ocupações existentes. Diante desse vasto leque de opções, muitos tendem a se deixar seduzir por altos salários, cursos superiores que estão na moda ou pelos menos concorridos. Para evitar que seus alunos incorram nesses erros, o Friburgo inclui Orientação Profissional na grade curricular do 1º e 2º anos do Ensino Médio. “Trabalhamos com a metodologia Leo Fraiman, baseada em quatro módulos: autoconhecimento, escolha profissional, processo seletivo e vestibular e mercado de trabalho”, afirma Paula Napolitano, professora da disciplina. “Nosso objetivo é formar um cidadão crítico para o vestibular, partindo sempre da ideia de que não é necessariamente a profissão que ele vai levar para o resto da vida, porque isso é uma pressão gigantesca, mas por onde ele vai começar”. No final os alunos do 1º ano fazem um trabalho sobre as principais tendências de mercado, enquanto os do 2º ano produzem um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), baseado nas profissões que mais os atraem. O objetivo é ampliar a visão da prática desses ofícios. “Eles sempre me perguntam: ‘Devo fazer por dinheiro ou porque gosto?’ A gente frisa que eles têm que fazer o que gostam, buscar uma profissão que dê brilho nos olhos. Sempre falo para eles: ‘Pensem na matéria que vocês mais detestam, tendo ela oito ou dez horas todos os dias. Qual será o ânimo, o pique, a vontade que você vai ter para trabalhar?’ O que está faltando no mercado são profissionais qualificados e que gostam do que fazem. E nós damos as ferramentas para que eles sejam esses profissionais”, complementa Paula. Ao longo dos dois anos, os alunos ainda visitam empresas e universidades para terem um contato mais próximo com a teoria e prática do mundo corporativo.

a importância de galgar os primeiros passos da carreira ainda na universidade. “Orientei os adolescentes no aspecto de que é muito importante fazer estágio durante a faculdade, e tentar entrar no mercado nessa fase para ser efetivado ou ter um background para conseguir outro emprego”, aconselha. Na plateia da sala de comunicação, Tatyane Rodrigues, 15 anos, do 1º ano do EM, assistiu a palestra da mãe. “Com os pais palestrantes, fica até mais fácil o acesso dos adolescentes para tirar dúvidas depois”, pontua Marisa. Para finalizar o evento, a psicóloga Elizabeth Grecco falou sobre os anseios da “Geração Y” (nascida a partir da década de 80) e as adaptações que vem ocorrendo no mercado de trabalho para receber esse novo perfil de profissionais. Após o sucesso da primeira edição, duas outras estão programadas para 2011. “A participação dos alunos foi maciça, tivemos praticamente 95% de presença. Quanto aos pais contatados, apenas dois não aceitaram o convite por impedimentos profissionais. Todos foram extremamente cuidadosos na preparação do material de apresentação. O feedback foi muito positivo”, conclui Vera, informando que 176 estudantes estiveram presentes.

De olho no vestibular Com o objetivo de aumentar as chances dos alunos nos vestibulares mais concorridos, o Friburgo criou um reforço extra: um curso adicional de quatro módulos destinado aos estudantes do 3º ano do Ensino Médio, que podem optar por todas as matérias ou apenas as disciplinas de interesse. Estes cursos, oferecidos sem custo adicional no período vespertino, são específicos para revisão de quem deseja estudar para o Enem e para o vestibular da Fuvest. Outra iniciativa do colégio são os simulados para que os vestibulandos não sejam reféns do nervosismo na hora da prova. Ao todo, oito foram aplicados durante o ano. Bia Buccolo participa dos módulos e faz todos os simulados. “Minha preparação está sendo feita pelos módulos, de que participo desde o início do ano, e também estudo em casa. Os módulos são opcionais e, como as salas são pequenas, fica mais fácil entender as coisas. Ajuda bastante a relembrar matérias antigas. É como se fosse um cursinho. Os simulados também são importantes, principalmente pelo treino em ficar quatro, cinco horas sentada e concentrada, além ajudar a organizar o tempo para responder as questões. Fiz todos”, finaliza.

JORNAL DO FRIBURGO • 15


Texto e fotos Marcos Stefano

•••projetos sociais

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FRANCISCO UCHA

esde o mês de agosto, as noites estão mais movimentadas no Friburgo. Não por festas ou eventos especiais, mas pelas aulas. De segunda a sexta-feira, entre 18 e 22 horas, um animado grupo de jovens e adolescentes vem à escola para provar que as noites também existem para se estudar, aumentar a consciência em relação ao mundo e conseguir um futuro melhor. Dentro dos princípios de responsabilidade social que pautam a atuação da instituição, foram abertas as duas primeiras turmas do Ensino Médio, voltadas para alunos vindos de escolas públicas e que contam com bolsas integrais para terminarem seus estudos. As duas classes são do 2º ano do Ensino Médio e contam com 52 estudantes selecionados em parceria com a Ong Asam – Centro de Apoio ao Jovem. Todas as disciplinas são dadas pelos mesmos professores do período da manhã. “A única exigência que é feita a esses alunos é que aproveitem a oportunidade e tenham bom desempenho. Para não perderem as bolsas, eles não podem ser reprovados”, explica o professor José Carlos Martins da Silva, Diretor do Friburgo e um dos responsáveis pela transformação do projeto em realidade. Isso, porque o Friburgo já tinha há tempos o desejo de ter turmas do Ensino Médio no período noturno. “Essa era uma ideia antiga do professor Ciro Figueiredo, diretor-geral da escola. Fizemos várias exIracy Garcia Rossi perimentações, mas ainda não tínhamos conseguido uma maneira satisfatória de implementá-la”, conta José Carlos. A preocupação era reproduzir a mesma filosofia que permeia toda a educação oferecida pela escola também nas aulas da noite, ou seja, não apenas oferecendo conteúdo, mas transformando o estudante num sujeito responsável e consciente de seu papel na busca pelas mudanças sociais que o país necessita. A oportunidade apareceu em julho, quando a Associação Natureza do Ensino, a mantenedora da escola, procurou a Asam e firmou uma parceria com a entidade. “Essa foi também uma par16 • JORNAL DO FRIBURGO

Noites existem para se estudar

um desafio e tanto para todos, mas nos surpreendemos. Com esforço e interesse, esses alunos se superaram e estão obtendo resultados excelentes. Creio que esse investimento no futuro está sendo muito bem feito”, elogia a professora Iracy Garcia Rossi, Diretora Pedagógica e de Assuntos Comunitários do Friburgo. F ILOSOFIA DE ENSINO

derada pelos alunos do 4º ano do Ensino Fundamental que foram entregues para as crianças da ong Gotas de Flor com Amor. Os alunos do 8º ano desenvolveram também uma campanha para arrecadação de material escolar destinado às crianças da Instituição Lar São José. Na entrega, os alunos realizaram, com as crianças da instituição, uma manhã de atividades lúdicas e esportivas, e ofereceram um lanche especial preparado por eles. A campanha do 8º ano surgiu a partir da leitura do livro Capitães de Areia, de Jorge Amado, na aula de Português, explicou Iracy Garcia Rossi. Também realizada à noite, a Educação de Adultos atende todos os anos uma média de 70 interessados. São pessoas que, em geral, têm mais idade e menos tempo, mas querem aprender a ler e a escrever. Com o auxílio de professores voluntários, selecionados entre pais, conhecidos e até alunos do período matutino do Friburgo, a escola mantém três níveis de alfabetização, além do telecurso. As aulas são gratuitas e o material didático, subsidiado. “Nossa meta a partir de agora passa a ser ampliar esses programas, especialmente o Ensino Médio Noturno. Mas sem abrir mão da qualidade e filosofia que norteiam a educação do Friburgo”, acrescenta o professor José Carlos. Trabalhar no presente com os olhos voltados para o futuro não é nenhuma novidade no Friburgo. Mas a julgar pelos investimentos da escola, com essa proposta novos relacionamentos e horizontes estarão sempre se abrindo para os estudantes.

Este não é o primeiro projeto a mostrar a preocupação social da escola. Longe de ser um modismo, a responsabilidade Confirmando sua vocação social faz parte da proposta educacional do social, Friburgo inaugura as Friburgo. Além do Ensiduas primeiras turmas do no Médio noturno, o coEnsino Médio Noturno para légio ainda desenvolve alunos vindos de escolas há tempos outras ações como a Educação de Jopúblicas. Para os jovens é a vens e Adultos e os prooportunidade de transformar jetos Mediando Leitura sonhos em realidade e Campanhas sazonais. No Mediando Leitura, desenvolvido em parceria com a Fundação ceria pioneira para nós”, explica a pe- Abrinq, alunos do 7º ano do Fundadagoga Roseli Zanutto, da Asam. Fun- mental ao 3º ano do Ensino Médio fadada em 1991, a entidade já atendeu zem mediação de leitura em instituimais de 8 mil jovens e adolescentes a ções que trabalham com crianças em partir dos 15 anos de idade. Com apoio situação de risco. As campanhas são ree orientação, oferece um curso de três alizadas a partir de sugestões dos grumeses sobre práticas administrativas, pos-classe. Neste ano, aconteceu uma mercado de trabalho e reforço esco- campanha de doação de brinquedos lilar, encaminhando os adolescentes para empresas. A partir daí, em quatro dias da semana eles fazem estágio e em outro, voltam à ong para receber educação continuada. Atualmente, 620 alunos têm convênio com a instituição. “Nossa parte foi ver quem queria tentar uma vaga no Friburgo e encaminhá-los para lá. A escola fez o processo seletivo. Porém, continuamos acompanhando o desempenho escolar deles. Para o trabalho que realizamos é essencial ir bem nos estudos”, completa a pedagoga Roseli. Feita a seleção, ainda restava uma etapa ainda mais difícil. No Brasil, são notórias as discrepâncias entre o ensino público e o privado. Se o ingresso dos novos alunos fosse no começo do ano do ano letivo, já haveria dificuldades de adaptação, o que dizer da entrada se dar no meio do ano? “Sabíamos que seria A Coordenadora Vera Barreto e os alunos do Ensino Médio Noturno


•••destaques “Estou mais próximo dos meus sonhos”

“A correria vale a pena” Apesar de ter apenas 16 anos, Paula Jaine Nunes Barbosa Santos(ao lado) tem uma rotina bastante agitada. Sai de casa por volta das 7 horas da manhã e vai para a empresa em que trabalha como menor aprendiz em Recursos Humanos. De lá, desde agosto, segue para as aulas no Friburgo. E só chega à sua residência, no Jardim Eliana,

M UNDO CIBERNÉTICO Pelo segundo ano consecutivo, os alunos do Friburgo destacaram-se na Olimpíada Brasileira de Robótica, promovida pelo CNPQ, Unesp e Sociedade Brasileira de Computação, com apoio da Lego Education e diversas empresas. Concorrendo no nível 3, para alunos do 6º e 7º anos no Fundamental, e nível 4, voltado a estudantes do 8º e 9º anos, a galera do Friburgo faturou duas medalhas de ouro, três de prata e duas de bronze, com vencedores estaduais e nacionais. Antes disso, esses alunos, que fazem o curso de Robótica, oferecido pelo Friburgo no Período Ampliado, já haviam faturado certificados e troféu no 2º Torneio Juvenil de Robótica, realizado em junho no Instituto de Matemática e Estatística da USP. A competição foi dividida nas modalidades Dança, Resgate, Viagem ao Centro da Terra e Sumô de Robôs. Os alunos do Período Ampliado concorreram na categoria “Tema Livre” com o projeto “Parque de Diversões”. “A Robótica deve se tornar uma das dez maiores áreas de pesquisa na próxima década. É realmente muito importante participarmos de eventos científicos com tamanho destaque, até para estimular novas carreiras e identificar jovens talentos”, explica o professor Eduardo Luiz Georges, coordenador de Informática Educacional. FRANCISCO UCHA

Quando soube que fora aprovado e seria aluno do Friburgo, Nicolas Johnny Missias (foto abaixo), de 16 anos, recebeu a notícia como uma “nova porta que se abriu em sua vida”. No Grajaú, bairro que fica no extremo sul da cidade de São Paulo, ele mora com o pai, a mãe e um irmão. Como filho mais velho, tem responsabilidade de ajudar em casa. “Não tinha condições de pagar uma escola particular, mesmo assim estava focado em meu objetivo de fazer faculdade de publicidade e propaganda”, conta ele. Na Escola Estadual Pastor Emílio Warwick Kerr, onde estudava, ficou sabendo da Asam. Passou nas provas e na entrevista, fez o curso oferecido pela Ong e ingressou em uma empresa, trabalhando como auxiliar administrativo. Só não esperava que também fosse conseguir bolsa integral e mudar de escola. “Tudo aconteceu de forma rápida. Ainda estou processando o que houve e tentando me adaptar”, diz. Nicolas elogia a estrutura oferecida pelo Friburgo e acredita que, com força de vontade e esforço, terá um bom desempenho nos estudos. “Eu e meus colegas estamos cheios de vontade e dando nosso melhor para isso”, confirma o estudante do 2º B, confiante de que seu sonho ficou mais próximo de se realizar.

depois das 23 horas. Quando não consegue fazer os deveres ou estudar na escola, antes da aula, entra pela madrugada para dar conta das tarefas. Mesmo assim, parar ou desistir são termos que não existem em seu vocabulário. “Essa é uma oportunidade de ouro e não dá para perder”, resume. No fim de julho, quando ainda era aluna da Escola Estadual Maria Luiza de Andrade Martins Roque, ficou sabendo pela Asam da parceria com o Friburgo. Fez a prova e foi aprovada. “Quando me perguntaram se queria mesmo estudar aqui, não deixei nem terminarem a frase. ‘Quero, quero!’, disse, tão ansiosa que estava”, lembra Paula, entre risos. Desde o começo, ela já sabia que seria puxado. Mas não reclamou. “Aqui a organização é muito maior, aprendi o que é fazer lição de casa, temos uma boa biblioteca e, na minha turma, a galera é muito interessada. Tudo isso ajuda”, garante. A jovem apenas faz uma pausa quando conta que só não podem tropeçar no boletim. Ir mal nas aulas ou repetir de ano podem significar prejuízos enormes na formação estudantil e na vida profissional. Enquanto ainda faz planos para ingressar em um curso superior de Administração no futuro, Paula curte o novo momento. Conta que está fascinada com as atividades extra-classe da escola. “Fiz trabalhos para a Mostra de Artes e para a Liverdade. São eventos muito legais e diferentes”, elogia. Mas e dá tempo para tudo isso? “Ah, a gente dá um jeito”, explica. Mesmo que seja preciso avançar mais alguns minutos pelas madrugadas.

O S NO VOS CARAS- PINT AD AS NOV PINTAD ADAS Em 2010, o Friburgo retomou o trabalho de representação e constituição das assembleias de classe. Depois de eleger seus representantes, os líderes escolhidos pelas turmas reunem-se mensalmente com as Coordenações e com a Direção da escola. Divididos em segmentos – EFI, EFII e EM –, os líderes estudantis puderam apresentar suas reivindicações, discutir problemas e pensar conjuntamente em soluções. Além de permitir o desenvolvimento de um olhar crítico sobre as atividades educacionais, esse tipo de interação ainda potencializa o aparecimento de novas lideranças. “O exercício de cidadania gerado pela adoção deste sistema de assembleias é um ganho para todos”, afirma o diretor José Carlos Martins (ao lado).

C ONVIDADOS ESPECIAIS Foram diversos os palestrantes que marcaram o ano letivo do Friburgo. Na Semana do Meio Ambiente, a escola recebeu o empresário Ricardo Young, fundador do Instituto Ethos e ex-membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), ligado à Presidência da República. “O Ricardo é um homem ativo nas questões ambientais, políticas e econômicas e um amigo muito próximo, já que seus quatro filhos estudaram aqui”, apresentou o professor Ciro Figueiredo. Young frisou em sua explanação a importância de se pensar no futuro do planeta adotando um comportamento sustentável que garanta as condições de vida das próximas gerações. “Temos grandes oportunidades de desenvolvimento pessoal e tecnológico, mas temos a obrigação de repensar nossos atos, individualmente, e consumir de forma mais consciente”, ensinou ele. No fim de maio, quem esteve na escola foi a pedagoga Letícia Bechara, coordenadora da Trevisan Escola de Negócios. Ela falou com os alunos do Ensino Médio sobre temas como vestibular, faculdade, cursos e carreiras em alta. Com enfoque diferente para cada turma. “Os alunos do 1º ano devem definir quais carreiras seguir. Para isso, devem equilibrar sonhos, satisfação, habilidades e retorno financeiro. O 2º ano precisa conhecer melhor as carreiras mais promissoras, cursos disponíveis e mercado de trabalho, para tomar a decisão. Já no 3º ano, o pessoal já definiu o que quer fazer, mas aí vem uma questão crucial: como escolher a faculdade?”, resume ela, que ajudou a moçada com diversas dicas e orientações.

C OM LIMITES Percorrendo trilhas, fazendo rappel e aprendendo sobre o bioma local. Foi dessa maneira que os alunos do 8º ano encerraram o projeto Limites e Fronteiras no mês de maio. Para tanto, a turma esteve com os professores de Geografia e Educação Física na Serra do Japi, em Cabreúva, onde o Friburgo mantém uma enorme área de preservação ambiental. Além de identificar e fotografar o ambiente, os alunos participaram de jogos e puderam complementar os conceitos aprendidos em sala de aula. “Na verdade, experimentamos aqui uma preciosa extensão da sala de aula, unindo ensino, cooperação e descontração”, explica a professora Cintia Siqueira, coordenadora do Ensino Fundamental II.

JORNAL DO FRIBURGO • 17


•••entrevista

“O Friburgo se tornou referência de educação”

Texto e foto Marcos Stefano

Ex-aluno do colégio, Luciano do Carmo, fundador e diretor-geral da Editora Segmento, uma das mais importantes do país, fala sobre os tempos de escola e sobre seu trabalho

A

os 42 anos, o paulista Luciano do Carmo tem uma carreira meteórica. Depois de se formar em arquitetura, fez um estágio na Editora Abril e se apaixonou por revistas. A partir daí, decidiu unir dois de seus grandes interesses: publicações e Educação. Dessa forma, nasceu em 1993 a Editora Segmento, uma das mais conhecidas do país e da qual é fundador e diretor-geral. Porém, o que mais chama a atenção é onde começou tudo isso: no Colégio Friburgo, escola em que o empresário passou a maior parte de sua vida de estudante. “A escola foi meu grande referencial de educação, inclusive nos projetos que empreendi”, afirma ele. Casado e pai de dois filhos, um garoto de 7 anos e uma menina de 5, Luciano é o tipo de pessoa que valoriza muito as raízes. Tanto que até hoje, ele e sua turma encontram-se todos os anos para relembrar os tempos de colégio e atualizar a vida. Em meio a uma agenda muito corrida, ele tirou um tempinho para falar com o Jornal do Friburgo. Além da carreira, relembrou os tempos de escola, falou sobre seu trabalho atual e quem é longe do escritório. Inclusive, sobre futebol e música. Claro, também não deixou de dar pitacos sobre o assunto em que se tornou especialista: a Educação. “No Brasil, precisamos avançar muito e com velocidade para garantir formação cultural e intelectual para nossas crianças e jovens e irmos além da capacitação profissional, que é a diferença fundamental entre um país competitivo economicamente e uma nação verdadeiramente desenvolvida.”

18 • JORNAL DO FRIBURGO

Jornal do Friburgo – Quando você estudou no Friburgo?

Luciano do Carmo – Entrei em 1975 no Colégio Planalto, que foi absorvido alguns anos depois pelo Colégio Friburgo, que já existia desde 1960. Permaneci até o final de 1984. Foi um período ótimo e sempre gostei muito da escola, do espaço, dos professores e principalmente do ambiente amigá-

vel. Era, verdadeiramente, uma extensão da minha casa. Quais são suas melhores recordações dos tempos do colégio?

As melhores lembranças são sempre dos amigos que eu fiz no colégio. Foi uma turma muito unida. Tanto que, depois de 25 anos, ainda continuamos nos reunindo todos os anos. Alguns


•••destaques F AZENDO ARTE amigos que fiz naqueles tempos também são muito próximos e tenho contato frequente com eles. Continua acompanhando o colégio?

Como é natural, depois de formado, acabei me afastando totalmente do colégio. Mas, para minha surpresa, há algum tempo tivemos uma reunião e acabei me reencontrando com o professor Ciro Figueiredo. Foi ótimo retomar o contato e ver que a escola mantém a mesma filosofia de ensino.

produção de conteúdo, das pautas ao acabamento gráfico, passando pela identificação de onde está a notícia, reportagem, edição etc. Minha grande paixão são os projetos de novas publicações, o contato com um universo novo, novos leitores, novas linguagens. Ao trabalhar nesse segmento de publicações sobre educação, como você vê o ensino hoje no Brasil?

A educação no Brasil teve um avanço importante nos últimos 15 anos, principalmente no acesso ao ensino. A Depois que saiu do Friburgo, como foi universalização do acesso é fundasua formação e carreira? mental. Hoje, mais de 90% das crianDepois de terminar o colégio, estudei ças brasileiras estão na escola e, mais arquitetura por caurecentemente, a exsa de meu interesse pansão do Ensino por arte, mas acabei Superior privado, o “No Friburgo, me apaixonando Prouni e a criação aprendi muito por revistas durante de dezenas de unisobre solidariedade, um estágio na Editoversidades federais respeito e como a ra Abril, em 1987, incluíram milhões liberdade e a enquanto ainda era de jovens no Ensino responsabilidade estudante. O início Superior. Mas ainda da minha carreira é muito pouco e o são conceitos no mercado de reviscrescimento econôindissociáveis.” tas foi com artes mico brasileiro imgráficas. Trabalhei põe desafios ainda alguns anos em diversas revistas e maiores. Para mantermos os atuais ínunidades diferentes da Editora Abril: dices de crescimento temos de expanPlayboy, Capricho, fascículos, quadri- dir muito o ensino técnico e superior, nhos e revistas infantis. Tive um negó- pois a falta de mão-de-obra qualificacio de embalagens e, em 1993, fui um da é cada vez mais preocupante. Por dos fundadores da Editora Segmento, outro lado, apesar da universalização, onde eu trabalho até hoje. a qualidade da educação pública brasileira ainda é muito ruim. Estamos Pode falar um pouco sobre a Editora entre os piores no PISA, estudo que Segmento, tão conhecida por suas avalia a qualidade em 57 países. Será publicações especializadas? necessário avançarmos muito e com A Segmento é uma editora de revistas, muita velocidade para garantir formafundada por cinco pessoas há 17 anos, ção cultural e intelectual para nossas que hoje conta com cerca de 70 funci- crianças e jovens e irmos além da caonários. Publicamos aproximadamen- pacitação profissional, que é a difete 90 edições por ano, a maioria da rença fundamental entre um país área de Educação e na qual temos pu- competitivo economicamente e uma blicações voltadas para todos os pú- nação verdadeiramente desenvolvida. blicos: professores, pedagogos, donos de escolas, de faculdades e de univer- Fale um pouco sobre você: quem é o sidades, pais de alunos, secretários de Luciano do Carmo fora da editora? Educação, gestores públicos e estu- Nasci em São Paulo há 42 anos e semdantes de Ensino Médio, graduação e pre vivi aqui. Sou casado e tenho dois pós-graduação. Outra área em que filhos, um garotão de sete anos e uma ocupamos uma posição de liderança é menininha de cinco. Sou muito ativo e inquieto e estou sempre fazendo no setor de recursos humanos. uma porção de atividades ao mesmo Como é o trabalho que você desen- tempo. Toco guitarra desde os 15 anos volve na editora? e tenho um estúdio de ensaio e gravaComo diretor-geral, me envolvo em ção, que divido com um grupo de todas as áreas da empresa, mas minha amigos nas noites de sexta-feira, em predileção sempre será o processo de minha casa. É um lugar onde passo

boa parte de meu tempo livre. Sou faixa preta de karatê, esporte que pratico desde garoto. Apesar de já ter me envolvido bastante com o esporte, como atleta, árbitro e participando da organização de eventos da associação à qual sou filiado, ultimamente meu envolvimento não vai além de um treino ou dois por semana. Sou sãopaulino doente e como moro próximo ao estádio do tricolor vou sempre que posso assistir aos jogos. Em que esse tempo de Friburgo ajudou na formação de seu interesse profissional?

Além de ter tido uma ótima formação escolar, por conta de professores que souberam despertar em mim um desejo de entender melhor o mundo em que vivemos, aprendi muito sobre solidariedade, respeito e como a liberdade e a responsabilidade são conceitos indissociáveis. Em sua opinião, o que diferencia o Friburgo?

Passei quase toda minha vida escolar no Friburgo. A escola tornou-se meu grande referencial de educação, inclusive para os projetos que desenvolvi desde então. Mas acredito que um diferencial importante está no fato de que cada aluno era conhecido profundamente pelos professores e coordenadores, não sendo tratados como mais um entre tantos. Conheciam bem nossas qualidades e dificuldades, tanto do aspecto acadêmico, como também da personalidade de cada um. Sentia-me querido pela escola. Quando saí, fui para um colégio em que assistíamos algumas aulas com outros 80 alunos e éramos identificados por um número. Vivi uma experiência bastante diferente da que eu tinha e durante algum tempo tive dificuldade em lidar com isso. De tantos episódios e situações que vivenciou na escola, qual te marcou mais?

Uma experiência bastante marcante foi ter tido aula com minha mãe, que foi professora de História na escola. Foi interessante aprender desde cedo a lidar com a diferença entre a relação em casa e a relação que tinha com ela, publicamente, na escola. Acho que até hoje sou bastante reservado e mantenho um distanciamento entre minha vida pessoal e profissional por conta dessa experiência.

Música, Circo, Artes, Teatro e Dança. Foi essa a combinação oferecida aos alunos pelo Núcleo Cultural no Período Ampliado ao longo do ano. Durante um dos Intervalos Arte, o palco do Teatro Grande Otelo balançou depois da famosa frase: “Respeitável público”. Isso porque as professoras Keka e Vênera viraram simpáticas e atrapalhadas palhaças e a professora Flávia fez acrobacias embalada pela música da também professora Glaucia. Tudo coreografado pela professora de Jazz, Soraya. No final de junho, foi a vez dos alunos do Período Ampliado apresentarem seu trabalho aos pais. Os alunos do 4º ano declamaram poesias aprendidas na Oficina Literária; o pessoal da Prática de Conjunto apresentou um pocket show com quatro músicas e as turmas de Jazz mostraram sincronismo ao som de Michael Jackson, Beyonce, Selena Gómez e Britney Spears. “Tenho muito orgulho destas turmas do Ampliado que a cada dia mostram mais evolução”, elogiou Amélia Gaulez, coordenadora do Período Ampliado.

I NTER VALO OLÍMPICO NTERV Entre as muitas atividades que marcaram o ano do Intervalo Arte uma das que mais chamou a atenção foi a apresentação dos alunos do Fundamental I e II que fazem Ginástica Olímpica. No final de março, aparelhos e colchões foram parar no meio da quadra e os curiosos foram chamados a se aventurar enquanto a música I gotta feeling, da banda Black Eyed Peas, animava a todos. Outro intervalo que atraiu muita gente foi o da Capoeira, realizado também em março, quando uma breve oficina do esporte foi oferecida aos alunos, que gingaram ao som do berimbau.

C ONT ADORES DE HISTÓRIAS ONTADORES Sextas-feiras costumam ser dias especiais para os alunos que fazem parte do Projeto Mediando Leitura (PML). Neste ano, o pessoal trabalhou com os pequenos do Lar das Crianças da Congregação Israelita Paulista (CIP), intermediando e incentivando a leitura. No dia 9 de abril, foi a turma de crianças de 5 anos do Lar da CIP que esteve no Friburgo. Na escola, passaram uma tarde especial com o pessoal do PML, tomaram lanche e aproveitaram o acervo da Biblioteca Thiago de Mello.

W

Leia mais no Blog do Friburgo: www.colegiofriburgo.com.br

JORNAL DO FRIBURGO • 19


•••idioma GABRIEL ARAÚJO

Texto Marcos Stefano

Novo método de ensino usa o inglês para ensinar os mais diferentes conteúdos e garantir a fluência dos alunos na língua de Shakespeare

E

FRANCISCO UCHA

studar Matemática, Ciências, Geografia, Artes, História e Nu- aprendizado do idioma menos abstratrição para aprender inglês? to e – o que mais interessa aos alunos Pode parecer estranho à primeira vista, – bem mais dinâmico e interessante. mas essa proposta vem dando muito Tecnicamente, agora tanto a Casicerto na Casinha Pequenina e no Fri- nha quanto o Friburgo podem ser clasburgo. Desde o começo do ano, quan- sificados como semi-bilíngues. Podo as escolas adotaram rém, a ideia é fugir de o método Systemic, é qualquer tipo de rótupossível entrar nas salas lo que impeça novas de aula e encontrar os melhorias. “Não querealunos lendo textos somos transformar a escobre biodiversidade e la em semi ou em bilínconhecendo novas palague. Não é uma questão vras na língua de de jargão, mas de dar Shakespeare; particiconta de uma ferramenpando de uma aula de ta de comunicação que Educação Física e desfaça diferença na aprencobrindo o nome das Ciro: Uma ferramenta de dizagem no mundo diferentes partes do comunicação que faz diferença. moderno e globalizacorpo e os verbos de movimento no do”, defende o professor Ciro Figueireidioma bretão; ou ainda, fazendo cálcu- do, diretor-geral do Friburgo. E ele não los de quanto ganharam ou gastaram tem dúvidas: essas habilidades hoje enpara comprar e vender produtos, com sinadas serão cada vez mais requeridas aquela inconfundível sonoridade das dos alunos, assim como foi e está senpalavras britânicas. Uma receita perfei- do a informática. ta para um mundo globalizado em que já não basta aprender inglês e, sim, D E S A F I O aprender por meio do inglês. Falar outro idioma pode ser uma exiPor enquanto, a novidade pode ser gência do mundo moderno, ainda mais encontrada nas aulas da pré-escola e quando se trata do inglês, que já deixou no Fundamental I. Além de aumentar de ser extra há muito tempo e se tornou a carga horária de Inglês para os estu- essencial. Porém, entre a teoria e a prádantes desses anos, de forma que te- tica existe um caminho de difícil adapnham pelo menos uma hora de aula tação, capaz de assustar e deixar qualdo idioma por dia, ao usar o conteú- quer um de cabelos em pé. Até mesmo do das outras disciplinas, o novo mé- um professor. Com os docentes do Fritodo permite integrar a língua inglesa burgo não foi diferente, já que uma coisa à realidade das crianças, deixando o é ensinar o idioma e outra, ensinar ou-

20 • JORNAL DO FRIBURGO

tros conteúdos usando aquela língua. “Foi um desafio, mas creio que todos cresceram nesse processo. Agora, já estamos todos adaptados e muito empolgados”, diz a professora Eloisa Giovenazzi, que dá aulas para o 3º, 4º e 5º anos do Ensino Fundamental I. Para facilitar a assimilação da novidade pelos alunos até o Intervalo Arte foi usado. A moçada tanto do Fundamental I quanto do Fundamental II e do Ensino Médio requebrou com a mania mundial do Cha Cha Slide, uma dança coreografada por um grande número de pessoas sob a orientação de apenas uma, no caso, um professor do Núcleo de Inglês. Com mensagens no idioma bretão, o líder comandava os passos e a galera obedecia com movimentos sincronizados. Cool, poderia dizer alguém, mas nem seria necessário, afinal, assim como na dança, também nas aulas o estudante muitas vezes nem percebe que está aprendendo inglês. “O método é tão prático que, mesmo que não saibam o que significa uma palavra, acabam entendendo pelo contexto, graças ao conhecimento da situação”, conta a professora Eloisa. Exemplo disso, aconteceu na Casinha. As cores e frutas foram tema de uma aula do Simbólico I. Na hora de conhecer a laranja, além de usar termos em inglês, a criançada pode perceber a textura da fruta, experimentá-la e preparar um suco. Para os alunos do 1º ano do Fundamental I, do Friburgo, o inglês foi presença constante no reper-

tório do Coral e nos ensaios, feitos metade na língua de Camões, metade na de Shakespeare. Toda essa rotina faz com que o aprendizado seja natural. “Quando vamos para o pátio, ficamos surpresos ao ver os alunos usando o inglês para se comunicarem. Mesmo os mais tímidos ou que normalmente têm dificuldades com línguas estrangeiras”, garante a professora Ângela Pedral, coordenadora do Núcleo de Inglês da Casinha e do Friburgo. Ela explica que o Systemic foi escolhido justamente por se adaptar melhor ao tipo de ensino das escolas e não interferir em suas características. “O objetivo não é tanto o idioma. Ele é uma ferramenta para ensinar outros conteúdos. Veja o caso da aula sobre tamanho, proporção e conceitos matemáticos: os alunos usaram figuras, recortaram, colaram, jogaram e aprenderam termos e conceitos em inglês”, exemplifica. Na escola que valoriza não somente a natureza, mas a naturalidade da educação, a proposta é tornar a segunda língua uma presença natural entre os alunos. Bom mesmo para a criançada que, animada, já arrisca frases longas e mais elaboradas. Mesmo com os pais, em casa. Já no ano que vem, elas deverão ter a companhia de seus colegas do 6º ano. A meta do Friburgo é ampliar o método para todo o Fundamental II, uma série a cada ano. Sim, daqui para frente não serão apenas eles. Nós também poderemos.


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