Manual de
BOAS PRÁTICAS
Textos | Ana Lúcia Santos Silva, Joana Antunes, Judite Peixoto, Flávia Alves Joana Vieira da Silva, Nuno Garrido, Bruno Ferreira, Marlene Matos Coordenação e revisão | Ana Lúcia Santos Silva Conselheira científica (Psicologia) | Marlene Matos Design | Flávia Alves Unidade de Educação Ambiental da Sociedade Portuguesa de Vida Selvagem © 2016
Manual de
BOAS PRÁTICAS
PREFÁCIO Nas nossas sociedades a família é percecionada, geralmente, como o lar permanente e durável, como uma espécie de universo social distinto onde as relações entre os seus membros estão imbuídas das noções de confiança, lealdade, reciprocidade, intimidade e sentimento. Tais representações não só se revestem de um profundo simbolismo, como se tornam parte integrante da nossa estrutura de pensamento, formando uma matriz de referência e de ação. São igualmente reveladoras de um conjunto de pressupostos normativos e ideológicos que ocultam ou desviam a nossa atenção das dimensões mais problemáticas da família levando-nos, muitas vezes, à negação de que a família é para muitas pessoas um lugar de opressão, violência e de infelicidade. O despertar da consciência pública e da comunidade científica para a violência infligida na família data da década de 60 do século passado. Assim, para além de designar os tipos mais básicos e frequentes de violência sobre as mulheres, o conceito de violência doméstica integra, de igual modo, o abuso de crianças e de idosos possuindo, portanto, uma dimensão intergeracional (Dias, 2010:91). Mas este conceito foi sofrendo, ao longo do século XX, um processo de extensão, de tal forma que ele integra igualmente os abusos infligidos contra pais, irmãos, homens e outros familiares. Atualmente, a violência doméstica é cada vez mais encarada como uma violação dos Direitos Humanos, assumindo a configuração de um verdadeiro problema público nas sociedades contemporâneas. A sua abordagem tem vindo a beneficiar da pesquisa realizada pela comunidade de cientistas, mas também da intervenção de um conjunto de profissionais provenientes de campos disciplinares distintos, revelando, desta forma, que a própria sociedade está mais desperta e intolerante face à violência infligida no seio da família sobre os seus membros. O Projeto de intervenção agora publicado mostra-nos uma abordagem inovadora na procura de respostas essenciais para uma intervenção multidisciplinar e holística no âmbito das vítimas de violência doméstica. Concilia perspetivas ecológicas e ambientais, destacando-se a relevância da Psicologia Ambiental na articulação entre Natureza e bem-estar humano nas suas múltiplas componentes. Focado na construção participada de novos caminhos para a inclusão, o Projeto socorre-se de uma metodologia sustentada em abordagens teóricas (ex.: psicopatologia do desenvolvimento, perspetiva bioecológica de Brofenbrenner) que visam a diminuição dos fatores de risco e o desenvolvimento de competências entre as vítimas para lidarem, adaptativamente, com vivências adversas. É também um bom exemplo de cooperação entre entidades de distintas áreas de atuação. O Projeto CarryOn mostra, por fim, que a metodologia de desenvolvimento holístico que pôs em prática se revela como uma estratégia de intervenção fundamental, na medida em que através da Natureza e seus recursos promove programas de saúde e bem-estar essenciais para o empoderamento das vítimas de violência doméstica. É, pois, fundamental garantir que a comunidade de cientistas e profissionais particularmente interessada na problemática da violência doméstica se reveja nos resultados apresentados neste Projeto e participe, amplamente, no desenho e prossecução de mais tentativas de intervenção socioambiental que potenciem novos caminhos para uma vida sem violência.
ISABEL DIAS Professora Associada com Agregação da Faculdade de Letras do Departamento de Sociologia da Universidade do Porto
AGRADECIMENTOS O Projeto CarryOn foi possível devido ao apoio do Programa Cidadania Ativa, financiado pelo Mecanismo Financeiro do Espaço Económico Europeu (EEA Grants) e gerido, em Portugal, pela Fundação Calouste Gulbenkian. Agradecemos, em especial, ao Dr. Luís Madureira Pires e ao Dr. Miguel Faria pelo apoio na gestão do Projeto. Aos parceiros do Projeto CarryOn – Câmara Municipal de Braga, Escola de Psicologia da Universidade do Minho e Gabinete de Ação Social Cristã de Barcelos – por todo o empenho e apoio prestados, tanto na candidatura como na execução do Projeto. A todas as instituições pertencentes ao Quadro de Cooperação e profissionais que as integram, sem os quais não teria sido possível desenvolver com sucesso as ações de intervenção previstas. Aos profissionais de atividades “corpo e mente”, em especial à Marta Morais e Ivone Apolinário, cuja dedicação tornou cada atividade realizada um momento de felicidade para todos os que participaram. Aos profissionais de catering que nos providenciaram momentos deliciosos e se esforçaram por conseguir cumprir as necessidades especiais, e muitas vezes de última hora, do Projeto. Gostaríamos de deixar um agradecimento especial à Marília Gonçalves pela dedicação. À Doutora Ana Mesquita pela importante contribuição no processo de avaliação da eficácia da Metodologia de Desenvolvimento Holístico CarryOn e ao Doutor César Oliveira pelo apoio prestado.
A Equipa CarryOn gostaria de dedicar este manual, com especial carinho, às extraordinárias mulheres que, apesar da adversidade patente na sua vida, continuam a ser exemplos de força e esperança e que enriqueceram cada dia de atividades com sorrisos e importantes aprendizagens de vida. Para elas, a nossa mais sincera gratidão e desejos de que as alegrias partilhadas ao longo deste Projeto permaneçam nas suas vidas e que a Natureza seja sempre uma inspiração mesmo nos momentos mais difíceis.
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INTRODUÇÃO
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ECOLOGIA E OS SERVIÇOS DOS ECOSSISTEMAS
10 PSICOLOGIA E A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 12
AVALIAÇÃO E A METODOLOGIA CARRYON
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PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO HOLÍSTICO
24 ANEXOS
Apresentação do Manual
29 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Este manual constitui um recurso de apoio à implementação da Metodologia de Desenvolvimento Holístico desenvolvida no Projeto CarryOn, sendo especialmente direcionado para profissionais das áreas do ambiente e da intervenção social que pretendam implementar atividades promotoras do bem-estar humano com base nos serviços dos ecossistemas. Apesar de fortemente direcionado para profissionais, este manual contém informação que poderá ser consultada e aplicada por todos aqueles que desejam recorrer à Natureza como um recurso de apoio para o desenvolvimento de diversas atividades, sejam elas de cariz profissional (ex.: ações pedagógicas, intervenção social, conservação da Natureza) ou social (ex.: atividades familiares e comunitárias, voluntariado).
Para um conhecimento alargado e uma compreensão integrada da metodologia de intervenção desenvolvida no âmbito do Projeto CarryOn, a informação apresentada neste manual deverá ser complementada com o Manual de Formação: carryon.socpvs.org/recursos.
ÍNDICE 11
ENQUADRAMENTO TEÓRICO
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METODOLOGIA DE IMPLEMENTAÇÃO
33 RESULTADOS DAS ATIVIDADES DE INTERVENÇÃO 42 CONSIDERAÇÕES FINAIS E PERSPETIVAS FUTURAS 44 ANEXOS 49 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ENQUADRAMENTO TEÓRICO
Em 2001, a pedido do Secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, começou a ser preparado o Millennium Ecosystem Assessment (MA, 2005). Este relatório tinha como principais objetivos avaliar as consequências das alterações nos ecossistemas no bem-estar humano e as bases científicas para as ações necessárias potenciadoras da conservação e do uso sustentável desses mesmos ecossistemas, assim como a sua contribuição para o bem-estar humano. Além de ter providenciado informação relevante acerca do estado dos ecossistemas, o MA popularizou o conceito “serviços dos ecossistemas”, salientando não só a importância de serviços como a provisão, regulação ou suporte, mas também dos serviços culturais que constituem os benefícios não materiais obtidos a partir dos ecossistemas (FIGURA 1).
FIGURA 1 | As quatro categorias dos Serviços dos Ecossistemas. (adaptado de MA, 2005)
Os benefícios dos serviços culturais dos ecossistemas, fruto de uma interação milenar entre o Homem e a Natureza, estão patentes nas nossas vidas não só como fatores naturais mas também como legados (passados e atuais), sociais, tecnológicos e culturais. Os cenários onde é possível estabelecer contacto com o meio natural são vários e enquadram-se em diferentes contextos: jardins domésticos, parques urbanos, áreas protegidas, praias, entre outros, que assumem tipologias diferenciadas (formais, informais, públicos, privados). Assim, o elo estabelecido entre cada pessoa e a Natureza torna-se fluído, mutável e sujeito à especificidade do contexto em que se insere. Após a publicação do MA, a relevância dada pela comunidade científica a questões de investigação relacionadas com o papel dos serviços culturais dos ecossistemas (SCE) no bem-estar humano aumentou significativamente. Atualmente, existem já diversas pesquisas, no âmbito de disciplinas como a Ecologia, Psicologia, Biologia e Psiquiatria, que comprovam os efeitos destes serviços no bem-estar humano, a diversos níveis (ex.: Matsuoka & Kaplan, 2008; Kuo & Taylor, 2004; MacKerron & Mourato, 2013; Sandifer, Sutton-Grier, & Ward, 2015). A investigação também demonstra que os benefícios dos SCE provêm de diferentes tipologias de interação com a Natureza, incluindo uma participação ativa e interação direta com esta (ex.: sessões de atividade física, jogos na Natureza, etc.) (Batt-Rawden & Tellnes, 2011; Hinds, 2011), a exposição diária a elementos naturais (ex.: jardim doméstico), entre outros (Jackisch, 2012).
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Os benefícios dos SCE, transversais a toda a população humana, têm-se mostrado de extrema importância também no que concerne à saúde mental, sendo particularmente visíveis os seguintes efeitos:
EMOCIONAIS
sobressaindo a Natureza como ímpeto e fonte de emoções e sensações positivas, tais como a felicidade, a diversão, a satisfação com a vida, a esperança, a liberdade, e como alavanca para o humor positivo (ex.: Maravilla, 2012; Peckham, 2011; Sonntag-Öström, 2014; Ture, 2008; van den Berg & van den Berg, 2010)
PSICOLÓGICOS
influindo positivamente na autoestima, na valorização pessoal, na autoconfiança e na perceção de autoeficácia (ex.: Aragon, 2013; Tierney, 2012)
COGNITIVOS
incluindo o aumento da capacidade de atenção/concentração e de focalização na tarefa o que, consequentemente, melhora a capacidade de compreender, gerir e resolver problemas (ex.: Peckham et al., 2013; Tierney, 2012)
RELAXANTES E RESTAURADORES
verificando-se uma redução a nível dos indicadores fisiológicos de stress e de fadiga mental, tais como o cortisol, a pressão arterial e o ritmo cardíaco (ex.: Andresson, 2014; Batt-Rawden &Tellnes, 2011; Bwika, 2011)
SOCIAIS
que ocorrem devido ao facto de a Natureza constituir um contexto privilegiado para a socialização, partilha e planeamento/organização social, englobando um maior envolvimento social e comunitário, um aumento dos comportamentos prossociais e o desenvolvimento do sentimento de pertença e inclusão social (ex.: Ashwell, 2010; Hassell, 2012; Starling & Nelson-Zlupko, 2011)
Por entre crises sociais, económicas e ambientais, o papel da Natureza como fonte de vida e elo de coesão intemporal entre indivíduos e sociedades humanas é novamente reforçado, num esforço pelo desenvolvimento de um modo de vida sustentável em todas as suas dimensões. Nesta busca pela sustentabilidade plena, a Educação Ambiental (EA) assume um papel de destaque, sendo um dos principais pilares na formação de sociedades e indivíduos capacitados e com vontade para intervir de forma proativa na promoção de sociedades justas, igualitárias e saudáveis, exercendo uma cidadania plena e ambientalmente consciente. “A educação é um meio indispensável para propiciar, a todas as mulheres e homens do mundo, a capacidade de conduzirem as suas próprias vidas, exercitarem a escolha e a responsabilidade pessoal e aprenderem através de uma vida sem restrições geográficas, políticas, culturais, religiosas, linguísticas ou de género.” “A reorientação da educação como um todo em direção à sustentabilidade envolve todos os níveis de educação formal, não-formal e informal, em todas as nações. O conceito de sustentabilidade não se restringe ao ambiente físico, mas também abrange as questões da pobreza, população, segurança alimentar, democracia, direitos humanos e paz.”
Conferência Internacional sobre Meio Ambiente e Sociedade: Educação e Consciência Pública para a Sustentabilidade(UNESCO, Tessalónica, Grécia, 1997)
A Educação Ambiental (EA) assume assim um carácter transversal e multidisciplinar, não se resumindo a questões estritamente ecológicas, mas incorporando um âmbito de ação muito mais amplo, onde se compreende o Ambiente como tudo o que nos rodeia, incluindo o meio natural, mas também o meio social onde o ser humano se desenvolve e as relações que estabelece ao longo da sua vida. Neste percurso de promoção de um mundo ecologicamente saudável, a EA encara também como fundamental o desenvolvimento plena de direitos, onde cada cidadão seja capaz de se relacionar de forma positiva e mutuamente construtiva não só com os restantes cidadãos, mas também consigo mesmo e com o meio natural que o rodeia. Apesar da importância da EA e dos esforços já feitos ao longo de várias décadas, a sua integração na sociedade, de forma transversal e contínua, não atingiu ainda os níveis necessários e desejados. Esta dificuldade em posicionar a EA como uma ferramenta de formação multidisciplinar e presente de forma contínua no processo formativo de todos os cidadãos é um dos principais fatores que tem contribuído para uma eficácia reduzida da EA na promoção de sociedades sustentáveis. Reflexo desta situação é a grave degradação ambiental em que o planeta se encontra, que periga a qualidade de vida e a sobrevivência a longo-prazo de todos nós. Salvar o Planeta não significa somente salvar animais estranhos que vivem em terras distantes. Significa salvar cada vida, independentemente da espécie ou local que habita, que nele ocorre, incluindo a nossa, a das nossas famílias e de todos quantos terão ainda a oportunidade de nascer no terceiro planeta a contar do sol, o nosso Planeta Azul. Compreendendo o impacto da Natureza em todas as dimensões da nossa vivência e o potencial da EA enquanto agente de intervenção social, a Unidade de Educação Ambiental (UEA) da Sociedade Portuguesa de Vida Selvagem desenhou um Projeto que reuniu duas áreas do saber – Ecologia e Psicologia – para desenvolver e implementar uma metodologia inovadora de intervenção social. Este Projeto – Projeto CarryOn – Serviços dos ecossistemas e o seu papel nos processos de apoio a vítimas de violência doméstica – enquadrou os serviços culturais dos ecossistemas na estruturação de uma metodologia holística de promoção de bem-estar. Não obstante o facto de integrar uma metodologia de intervenção passível de ser aplicada a diversos públicosalvo, o Projeto CarryOn focou-se num público específico e particularmente vulnerável: as vítimas de violência doméstica. A violência doméstica (VD) constitui um flagelo social que tem vindo a assumir dimensões preocupantes. Um estudo da Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia (2014), onde foram entrevistadas 42 000 1 mulheres , com idades compreendidas entre 18 e 74 anos, de 28 Estados-Membros da União Europeia, concluiu que 1 em cada 3 mulheres foi vítima de violência doméstica. Este fenómeno assume uma natureza multifacetada, englobando vários tipos e formas de violência (física, psicológica, económico-financeira, social, sexual) e complexas dinâmicas abusivas de instauração e manutenção do poder e controlo do agressor sobre a vítima (ex.: intimidação, ameaça, controlo, isolamento, instrumentalização dos/as filhos/as), que tendem a escalar em termos de frequência, severidade e perigosidade (Matos & Machado, 2011).
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Uma vez que o público-alvo do Projeto CarryOn foi constituído por mulheres e filhos/as, vítimas de violência doméstica, a informação patente ao longo deste manual está mais vinculada a este público.
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O impacto da VD, amplamente documentado na literatura, não se faz sentir somente na esfera individual (ex.: diminuição da qualidade de vida e do bem-estar físico, emocional, psicológico e social), mas também na esfera social e económica (ex.: despesas relacionadas com a saúde, segurança social, absentismo laboral, polícia, justiça e serviços de atendimento dirigidos a vítimas, agressores e suas famílias) (Matos & Machado, 2011). De facto, a exposição grave e continuada a situações de VD pode afetar de forma transversal as várias dimensões da vida das vítimas, incluindo, além das já referidas, as suas competências parentais e a qualidade da relação com os/as seus/suas filhos/as.
A existência de uma rede de apoio social e de recursos pessoais, familiares, sociocomunitários e institucionais, disponíveis e eficazes, constituem-se como os principais fatores capazes de mediar o impacto da vitimação. A complexidade e o impacto decorrente deste fenómeno levam a que, não raras vezes, a vítima necessite de apoio especializado. Este apoio, pontual ou continuado, pode ser desenvolvido a vários níveis – individual, grupo ou comunitário – e segundo diferentes modelos e estratégias de intervenção. A intervenção em grupo, estratégia de eleição no Projeto CarryOn, para além de trazer grande pragmatismo à abordagem dos problemas experienciados pelos/as participantes, facilita a otimização e/ou consolidação dos resultados obtidos a nível individual, sobretudo no que concerne às competências pessoais, relacionais e sociais (Matos & Machado, 2011). Os grupos podem ser de autoajuda, ajuda mútua, psicoeducativos ou terapêuticos, abertos ou fechados, de duração limitada ou não. É importante salientar que, para além das vítimas diretas de VD, também as crianças e jovens, muitas vezes vítimas indiretas e silenciosas deste flagelo, puderam beneficiar do apoio diferenciado providenciado pelo Projeto CarryOn. Em Portugal, onde em 2014 foram registadas 27 317 participações às autoridades por violência doméstica (Ministério da Administração Interna, 2015), existem dois tipos diferenciados de apoio/atendimento a este tipo de situações, nomeadamente: • Atendimento de 1ª linha, do qual fazem parte instituições e entidades psicossociais com serviço de atendimento aberto à comunidade. Caso seja necessário, estas entidades providenciam o encaminhamento de vítimas para as entidades pertencentes à rede integrada e especializada na VD (atendimento de 2ª linha); • Atendimento de 2ª linha, onde se enquadram os núcleos de atendimento, centros de atendimento ou instituições especializadas no acompanhamento de vítimas de VD. Neste âmbito, pode ser disponibilizado um apoio multidisciplinar de carácter jurídico, social e psicológico, pontual ou continuado. Paralelamente, existe um conjunto de projetos de intervenção social que amplificam o espectro de ação da rede basilar de apoio na VD, robustecendo e otimizando o processo de restabelecimento psicossocial das vítimas. O Projeto CarryOn constitui um exemplo de um projeto que, sob uma perspetiva inovadora e complementar, providencia uma resposta multidisciplinar e holística, centrada na promoção do bem-estar de mulheres e filhos/as, afetados por esta problemática. Além do impacto no bem-estar, este Projeto pretendeu também potenciar novos caminhos para a inclusão plena da Educação Ambiental na sociedade, reforçando o seu carácter integrador e transversal. Além de integrar as perspetivas ecológicas e ambientais previamente descritas, o desenvolvimento da metodologia de intervenção deste Projeto – Metodologia de Desenvolvimento Holístico CarryOn – baseou-se também na Psicologia Ambiental, que se centra na interface entre o ambiente físico (Natureza) e o bem-estar humano (o afeto, a cognição e o comportamento humano) (Bechtel & Churchman, 2002; Gifford, 2007; Stokols & Altman, 1987, citados por De Young, 2013), e que privilegia a interdependência entre as qualidades físicas e cénicas dos contextos ambientais (estrutura espacial, qualidade ambiental, entre outros) e o comportamento humano (Campos-de-Carvalho, 1993). Tendo em conta que o Projeto CarryOn se focou nas vítimas de violência doméstica, a concetualização da metodologia implementada baseou-se em abordagens teóricas relacionadas com o desenvolvimento e a adversidade, tais como a psicopatologia do desenvolvimento e a perspetiva bioecológica de Brofenbrenner (Bronfenbrenner, 1996). Com base nestas abordagens, esta metodologia preconiza a diminuição de fatores de risco e o aumento de fatores protetores quer individuais, quer sociais, a fim de promover a capacidade destas mulheres e filhos/as para lidar adaptativamente com experiências de vida adversas. Assim, dada a abrangência e a interdisciplinaridade da intervenção, esta metodologia conflui numa mescla de disciplinas que se auxiliam e complementam entre si na compreensão dos processos interacionais entre ambiente, comportamento e desenvolvimento humano, e no planeamento e implementação de estratégias de promoção da saúde, bem-estar e da qualidade de vida. A Metodologia de Desenvolvimento Holístico CarryOn consiste, assim, num programa de promoção da saúde e bem-estar, através da Natureza e dos seus recursos, enquanto contexto e estratégia de intervenção, respetivamente.
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METODOLOGIA
DE IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO CARRYON A implementação do Projeto CarryOn compreendeu 5 componentes distintas:
CONSTITUIÇÃO DE UM QUADRO DE COOPERAÇÃO SELEÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DOS/AS PARTICIPANTES PLANO DE COMUNICAÇÃO PLANO DE AVALIAÇÃO INTERVENÇÃO
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CONSTITUIÇÃO DE UM QUADRO DE COOPERAÇÃO
Coming together is a beginning; keeping together is progress; working together is success. (Henry Ford)
A primeira componente de implementação do Projeto CarryOn consistiu no estabelecimento de um Quadro de Cooperação (QC) constituído por entidades com ação nas áreas da Ecologia (ex.: promoção de atividades em áreas naturais, educação ambiental, comércio e formação de produtos naturais) e Psicologia (ex.: investigação e intervenção em VD, apoio social). Estas entidades constituíram um importante pilar para o desenvolvimento das restantes componentes, estimulando a participação dos principais beneficiários deste Projeto, dando também importantes contributos no apoio ao desenvolvimento de atividades e na avaliação da metodologia (ex.: vantagens e desvantagens, pontos fracos e fortes, perspetivas futuras, etc.), ao longo de sessões de formação e de networking. Atualmente, o Quadro de Cooperação do Projeto CarryOn integra 27 entidades de diversas tipologias (ANEXO 1) e áreas de ação, nomeadamente: entidades de gestão local (câmaras municipais), forças de segurança, empresas, estabelecimentos de ensino, entidades de apoio à vítima, à família e à criança em risco, Organizações Não Governamentais, das áreas social e ambiental, e entidades de cariz cultural.
SELEÇÃO
E CARACTERIZAÇÃO DOS/AS PARTICIPANTES
Every human being is an artist, a freedom being, called to participate in transforming and reshaping the conditions, thinking and structures that shape and inform our lives. (Joseph Beuys)
As ações de intervenção do Projeto CarryOn tiveram dois públicos-alvo distintos: • mulheres vítimas de violência doméstica (integradas em processos de acompanhamento) e seus/suas filhos/as (grupo P1); • técnicos/as das entidades do Quadro de Cooperação (grupo P2), intervenientes em sessões de networking e processos formativos.
PARTICIPANTES P1 Critérios de amostragem e seleção
Os/as participantes P1 foram selecionados de acordo com um processo intencional de amostragem por conveniência. De forma a adequar as experiências individuais e as necessidades pessoais dos/as participantes aos objetivos da intervenção proposta, bem como a garantir o rigor e a objetividade metodológica para efeitos de avaliação de eficácia, foram definidos um conjunto de critérios de seleção (critérios de inclusão e critérios de exclusão), sistematizados na FIGURA 2. Considerou-se também pertinente a inclusão dos/as filhos/as das mulheres vítimas de violência doméstica, no sentido de contribuir para a melhoria da qualidade e fortalecimento da relação materno-filial, muitas vezes fragilizada pela situação de violência. Os critérios de seleção definidos para o efeito encontram-se na FIGURA 3.
Procedimentos de amostragem, seleção e caracterização
Inicialmente, foram estabelecidos contactos com as entidades do Quadro de Cooperação do Projeto CarryOn especializadas no acompanhamento psicológico e/ou psicossocial a vítimas de violência doméstica (mulheres e/ou filhos/as), localizadas no Norte do país. Competiu aos/às técnicos/as dessas entidades a sinalização e encaminhamento das participantes que preenchiam os critérios de seleção previamente definidos, bem como o preenchimento complementar de uma checklist de risco (adapt.V-DASH;Richards,2010;SARA,PV;Almeida&Soeiro,2010 por Equipa CarryOn, 2015) e/ou a administração do Inventário
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2008), caso demonstrassem disponibilidade para o efeito. Posteriormente, coube às psicólogas do Projeto CarryOn, a realização de atendimentos presenciais às (ou junto das) participantes adultas. Nesse contexto, para além de informação central sobre o Projeto CarryOn, foram formalizados os consentimentos informados para a participação, bem como realizada uma entrevista semiestruturada, cujos tópicos incidiam sobre: I. Dados demográficos e socioeconómicos; II. Funcionamento social e comunitário; III. Funcionamento individual e ajustamento; e IV. Funcionamento familiar e maternal. Foi ainda aplicado o Inventário de Sintomas Psicopatológicos (BSI; Canavarro, 2007), a fim de avaliar o (des)ajustamento psicológico das vítimas adultas e o IVC (Machado et al., 2008). Com base nos pressupostos elencados, 140 participantes (75 mulheres e 65 filhos/as) foram encaminhados/as para o Projeto CarryOn pelos/as técnicos/as de acompanhamento. Não obstante, apenas as participantes adultas foram propostas para o processo de caracterização e de avaliação da eficácia2. Após a triagem inicial, efetuada pelas entidades de encaminhamento, e os atendimentos individuais junto das vítimas adultas, foram integrados no processo de caracterização 101 participantes (53 mulheres e 48 filhos/as).
Instrumentos de recolha de dados de caracterização
FIGURA 2 | Critérios de seleção das mulheres vítimas de VD.
Risco de Violência Doméstica Para a avaliação do risco de VD foi construída uma checklist (adapt. V-DASH; Richards, 2010; SARA: PV; Almeida & Soeiro, 2010 por Equipa CarryOn, 2015), em que constavam os fatores de risco de vitimação por violência doméstica, comummente apontados pela literatura da especialidade, quer numa perspetiva de reiteração, quer de perigosidade (escalada de violência). Essa checklist foi adaptada de instrumentos amplamente recomendados e validados na avaliação e gestão do risco de VD, designadamente o modelo DASH - Domestic Abuse, Stalking and Harassment and Honour Based Violence (Richards, 2010) e o SARA: PV Spousal Assault Risk Assessment: Police Version (Almeida & Soeiro, 2010), tendo sido possível avaliar o nível de risco das vítimas de VD aquando da adesão ao Projeto (baixo, moderado ou elevado). Comportamentos de vitimação na intimidade Para caracterizar a vitimação na intimidade, recorreu-se ao Inventário de Violência Conjugal (IVC; Machado et al., 2008), um instrumento que permite avaliar a prevalência de atos de violência física e emocional perpetrados e recebidos por parte de parceiros íntimos e a frequência com que estes ocorrem, em relacionamentos passados ou atuais. Para o presente Projeto, considerou-se apenas os comportamentos abusivos experienciados pelas mulheres vítimas de violência doméstica. Assim, em relação a cada um dos comportamentos elencados, cada participante deveria indicar: “se o seu atual parceiro já o adotou em relação a si” ou “se um parceiro já o adotou em relação a si”, bem como a respetiva frequência (“nunca”, “uma única vez” ou “mais do que uma vez”).
FIGURA 3 | Critérios de seleção dos/as filhos/as.
Perturbação emocional De modo a caraterizar o estado emocional das participantes, foi aplicado o Inventário Breve de Sintomas (BSI; Derogatis, 1993), traduzido e adaptado à população portuguesa por Canavarro (1999). De forma global, o instrumento avalia sintomas psicopatológicos perante nove dimensões de sintomatologia e três índices globais que constituem “avaliações sumárias de perturbação mental” (Canavarro, 2007, p. 305). Os índices globais são: o índice geral de sintomas (IGS), que representa a intensidade do mal-estar experienciado; o índice de sintomas positivos (ISP), que indica a média da intensidade de todos os sintomas; e o total de sintomas positivos (TSP), que representa o total de queixas sintomáticas apresentadas. No âmbito deste Projeto, usaramse os três índices globais (em particular o ISP, pelo seu valor discriminativo) e as nove dimensões do instrumento, no sentido de avaliar o nível de sintomatologia psicopatológica apresentado e de compreender a natureza dos sintomas experienciados. Condição socioeconómica O nível socioeconómico do contexto familiar das vítimas adultas foi calculado com base na ponderação de três dos cinco critérios elencados pela Escala de Graffar (1956): 1) a profissão; 2) o nível de instrução; e 3) as fontes de rendimento familiar. Esta avaliação permitiu cinco níveis de classificação social: 1) alto; 2) médio-alto; 3) médio; 4) médio-baixo; e 5) baixo (Graffar, 1956).
PARTICIPANTES P2 O grupo de participantes P2 do Projeto CarryOn foi constituído por uma amostra de conveniência de técnicos/as das entidades que aderiram ao QC e que, assim, beneficiaram das atividades de intervenção. Para a integração de participantes no grupo P2, todas as entidades do QC foram prévia e devidamente informadas sobre a possibilidade dos seus profissionais poderem beneficiar gratuitamente de formação sobre a problemática da Violência Doméstica e sobre os Serviços de Ecossistemas e, simultaneamente, desenvolver competências e estratégias de intervenção inovadoras, holísticas e multidisciplinares. Os/as técnicos/as interessados/as formalizaram a sua participação na formação mediante uma inscrição online. Foram realizadas duas edições de Formação no âmbito da Metodologia de Desenvolvimento Holístico CarryOn, para um total de 48 técnicos/as (Edição I = 26; Edição II = 22), de 16 entidades distintas, pertencentes ao QC.
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Questões relativas à necessidade de obtenção de autorização de ambos os progenitores para o envolvimento dos/as filhos/as em procedimentos avaliativos (cf. questões de particular importância art.º 1906 do Código Civil) ditaram a não inclusão dos mesmos na avaliação, ainda que a participação no Projeto CarryOn não tenha ficado comprometida.
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PLANO
DE COMUNICAÇÃO If you talk to a man in a language he understands, that goes to his head. If you talk to him in his language, that goes to his heart. (Nelson Mandela)
A estratégia de comunicação do Projeto CarryOn incidiu sobre três pontos essenciais: 1) divulgar e sensibilizar os públicos-alvo e restante comunidade para as temáticas abordadas; 2) acompanhar e envolver os intervenientes nas ações desenvolvidas e 3) avaliar e partilhar os resultados com a comunidade.
DIVULGAR E SENSIBILIZAR A criação de uma imagem gráfica própria foi uma componente determinante para a identidade e reconhecimento do Projeto CarryOn. Para tal, foram desenvolvidos um logotipo e um slogan associados à principal mensagem a transmitir, nomeadamente a Natureza e o bem-estar. A Camomila foi o elemento natural escolhido para simbolizar o Projeto, uma vez que é uma planta aromática e medicinal largamente conhecida pelo seu efeito calmante e tranquilizador. A mensagem transmitida pela Camomila foi reforçada pelo slogan “natural.mente.felizes”. A imagem gráfica foi adotada em todos os instrumentos de comunicação usados para divulgação do Projeto, nomeadamente: website, página de Facebook, flyers, cartazes, roll-ups e newsletters mensais. Adicionalmente, foi elaborado um vídeo promocional para disseminação e divulgação das temáticas e ações do Projeto. Tratando-se de um Projeto de intervenção social que visava a participação de um público vulnerável, foi necessário realçar as questões de privacidade e confidencialidade dos/as participantes, estruturando uma comunicação assertiva e eticamente responsável. No decurso do Projeto, foram utilizados meios audiovisuais para fins de registo e divulgação, salvaguardando-se sempre a proteção da identidade pessoal de cada participante. De modo a conferir um carácter de unidade e de pertença ao Projeto, foi entregue a cada participante uma t-shirt e um boné, com o logotipo do Projeto, para serem utilizados em todas as atividades subsequentes.
ACOMPANHAR E ENVOLVER
A articulação entre as entidades do Quadro de Cooperação e o Projeto CarryOn foi efetuada através de reuniões regulares e de participações em eventos e iniciativas diversas. Uma das iniciativas de sensibilização desenvolvidas foi no âmbito da Violência do Namoro. Esta iniciativa, denominada
de “O Amor é Mágico! Por entre virtudes, descobrir o amor!”, contou com a colaboração de professores e alunos do Curso Profissional de Artes do Espetáculo da Escola Secundária de Alberto Sampaio (ESAS) e do Mosteiro de S. Martinho de Tibães. Foram realizadas diversas ações, incluindo: • Sessões de sensibilização para alunos e professores sobre relações igualitárias e saudáveis baseadas nas sete virtudes: Prudência, Fortaleza, Justiça, Temperança, Fé, Esperança e Caridade. As sessões foram dinamizadas com base em representações de casos de estudo (role play), debates sobre as virtudes, atitudes e valores essenciais que devem estar presentes nas relações de amizade e de intimidade; • Sessões públicas (ex.: tertúlias) abertas a toda a comunidade; • Peça de teatro “Bem-Me-Quer Mal-Me-Quer”, protagonizada pelos alunos e professores da ESAS, sobre as temáticas em estudo e sessões preparatórias da mesma. Os recursos produzidos, incluindo o Manual de Formação, que permitem um maior conhecimento sobre as temáticas centrais do Projeto, foram disponibilizados online, de modo a estarem acessíveis para toda a população. A divulgação nos media foi também um elemento importante para a disseminação da mensagem e objetivos do Projeto, bem como da metodologia de intervenção desenvolvida. Além de presente em várias notícias impressas, em publicações como o Destak, Diário do Minho e Correio do Minho, o Projeto CarryOn também foi alvo de reportagens televisivas (Porto Canal e RTP2 – Programa Biosfera).
AVALIAR E PARTILHAR
A publicação de testemunhos das participantes, neste Manual e nas plataformas online do Projeto, constitui um dos elementos de avaliação e partilha, essenciais para o reconhecimento público do próprio Projeto, permitindo conhecer a perceção das participantes acerca das atividades realizadas. A divulgação nos media e as entrevistas das participantes foram também marcos importantes para a disseminação da mensagem e dos objetivos do Projeto. O seminário final do Projeto é um evento determinante para a consolidação do processo de disseminação de informação relativa não só ao próprio Projeto, incluindo a avaliação da sua eficácia, mas também acerca das principais temáticas: Violência Doméstica, Serviços dos Ecossistemas e Bem-estar. Aberto à participação por parte de toda a população, este evento permite conciliar momentos de exposição teórica, com debates e atividades práticas, constituindo uma ponte de diálogo entre todos os intervenientes (equipa técnica do Projeto CarryOn, entidade promotora, entidades parceiras, membros do QC, comunidade académica e população em geral).
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PLANO
DE AVALIAÇÃO Our mind is capable of passing beyond the dividing line we have drawn for it. Beyond the pairs of opposites of which the world consists, other, new insights begin. (Herman Hesse)
PARTICIPANTES P1 De forma contínua e transversal, foi implementado um Plano de Avaliação, a fim de aferir a eficácia das metodologias aplicadas e a otimizá-las sempre que necessário. Esta avaliação conjugou metodologias quantitativas e qualitativas, de modo a recolher informação à qual não acederíamos mediante a utilização isolada de um dos métodos (Sells, Smith, & Sprenkle, 1995). Se os métodos quantitativos têm um valioso papel na identificação de variáveis e áreas de mudança, as abordagens de caráter qualitativo permitem compreender os processos subjacentes à mudança e os significados atribuídos à mesma pelos seus intervenientes (idem).
Objetivos
O Projeto CarryOn, através da Metodologia de Desenvolvimento Holístico, procurou otimizar o restabelecimento psicossocial de vítimas de VD em processos formais de acompanhamento, contribuindo para o seu empoderamento e capacitação individual, bem como para o seu bem-estar físico e psicológico através do recurso aos serviços dos ecossistemas (SE). Objetivos Específicos 1 | Promover o bem-estar biopsicossocial e do estado de saúde geral; 2 | Melhorar a perceção de qualidade de vida e a autoestima; 3 | Reduzir sintomas clínicos de desajustamento (ex.: depressivos e ansiosos); 4 | Fomentar a capacidade de recorrer a estratégias de coping mais adaptativas, para lidar com o impacto físico, psicológico e social de acontecimentos de vida desestruturantes ou stressantes, como a experiência de VD; 5 | Contribuir para a redução da perceção de isolamento social e de vulnerabilidade individual; 6 | Promover o apoio emocional e social; 7 | Contribuir para a otimização e satisfação com a rede de apoio social informal; 8 | Fortalecer a relação mãe-filho/a; 9 | Potenciar a adoção de hábitos de vida mais saudáveis e sustentáveis; 10 | Sensibilizar para a importância da conservação e preservação da Natureza, reforçando o elo emocional entre o ser humano e o meio natural.
Estes objetivos tornaram indispensável a realização de procedimentos de avaliação da eficácia da intervenção implementada, de modo a ser possível responder à seguinte questão: “Será que a intervenção de carácter holístico, com recurso aos serviços culturais dos ecossistemas, contribui para o bem-estar (físico, psicológico e social) de vítimas de violência doméstica?”.
Design da avaliação e instrumentos aplicados
De modo a avaliar o impacto e as mudanças decorrentes da intervenção realizada, utilizou-se um design quasiexperimental e intrassujeitos, com dois momentos de avaliação – pré e pós-teste –, aos quatro grupos de participantes do Projeto, ao nível das componentes de funcionamento fisiológico e psicológico. Foi ainda realizada uma avaliação contínua (ao longo do processo de intervenção) e final, ambas de cariz qualitativo. Avaliação quantitativa Relativamente ao pré e pós-teste psicológico, o estudo de avaliação da eficácia do Programa de Desenvolvimento Holístico CarryOn no bem-estar das participantes centrouse em dimensões como a qualidade de vida, o ajustamento psicológico, a autoestima, o apoio social, a relação maternofilial e a relação com o meio natural. Para o efeito, e após autorização expressa dos autores, foram utilizados instrumentos quantitativos de autorrelato, empiricamente aferidos e validados para a população portuguesa (com exceção da Nature Relatedness Scale; Nisbet, Zelenski, & Murphy, 2009), designadamente: • WHOQOL-BREF (World Health Organization Quality of Life; Skevington, Lotfy & O’Connell, 2004; versão portuguesa de Canavarro et al., 2007): avalia a qualidade de vida de indivíduos adultos nos seus diferentes domínios (físico, psicológico, relações sociais e meio ambiente) e ao nível geral (QV Geral); • Outcome Questionnaire (OQ-45.2; Lambert & Burlingame, 1996; versão portuguesa de Machado & Fassnacht, 2014): avalia três dimensões do funcionamento individual: 1) desconforto subjetivo (funcionamento intrapsíquico), 2) relações interpessoais, e 3) desempenho do papel social; • Rosenberg Self-Esteem Scale (RSES; Rosenberg, 1965; versão portuguesa de Santos, 2008): avalia a ponderação positiva ou negativa que os indivíduos fazem sobre as suas características pessoais;
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• A Escala de Satisfação com o Suporte Social (ESSS; Ribeiro, 1999): avalia o grau de satisfação dos indivíduos com o suporte social recebido, incluindo a satisfação com os amigos, satisfação com a família, intimidade e atividades sociais; • A Escala de Percepção Materna do Comportamento de Vinculação da Criança (PCV-M; Dias, Soares, & Freire, 2002): avalia a perceção materna da segurança da vinculação do filho em idade escolar, em 4 subescalas: as dificuldades de autorregulação emocional, o comportamento base-segura, a partilha de afeto e a desejabilidade social; • Nature Relatedness Scale (NRS; Nisbet, Zelenski, & Murphy, 2009, traduzida por Equipa CarryOn, 2015): avalia a ligação subjetiva e emocional do indivíduo à Natureza. De modo reforçar os resultados obtidos pelos instrumentos anteriormente listados, foi também analisada a presença (concentração) na saliva, de duas hormonas: cortisol e oxitocina3. O cortisol, commumente conhecido como a “hormona do stress”, é uma hormona produzida pelas glândulas suprarrenais, cujos níveis variam ao longo do dia, tendendo a ser maiores durante a manhã e diminuindo ao longo do dia (situação que se pode inverter em quem, por exemplo, desenvolve a sua atividade profissional no período noturno). Níveis elevados de cortisol podem ter impactos negativos na saúde física e psicológica do ser humano, podendo causar lapsos de memória e dificuldades na aprendizagem, perda de massa muscular, baixo crescimento, menstruações irregulares, entre outros sintomas (Lupien et al., 1998). Níveis reduzidos de cortisol podem também contribuir para situações adversas como sintomas de depressão, cansaço ou fraqueza. A oxitocina, conhecida como a “hormona do amor”, produzida no hipotálamo e segredada pela glândula pituitária, é considerada um importante facilitador da vida e da continuidade da nossa espécie. Desempenha importantes funções no parto, na amamentação e no aumento da probabilidade de fecundação. Esta hormona exerce também múltiplos efeitos psicológicos, influenciando as emoções e o comportamento social, promovendo a confiança, empatia, sensação de relaxamento e estabilidade psicológica (Samuel, Hayton, Gold, Feeley, Carter & Zelkowitz, 2015). Avaliação qualitativa De modo a recolher informação de cariz qualitativo sobre as experiências subjetivas, perceções e satisfação das participantes com as atividades de desenvolvimento holístico realizadas, assim como identificar as mudanças progressivas ocorridas no seu bem-estar entre o primeiro e o sexto dia de intervenção, foi implementada uma avaliação contínua de cariz qualitativo. Para esse efeito, foi desenvolvido um instrumento de registo diário da experiência pessoal de participação em cada um dos seis dias do Programa de Desenvolvimento Holístico (social, físico, afetivo-emocional, espiritual, cognitivo e cultural) – o “Diário da Natureza”.
As folhas de registo deste Diário foram preenchidas pelas participantes adultas, no final de cada dia de atividades, numa espécie de momento de reflexão que durava entre 10 a 30 minutos e que era orientado por 4 tópicos: “Hoje aprendi que...”; “Hoje senti que….”; “O que mais gostei foi….”; “O que menos gostei foi…”. Disponibilizava-se, ainda, uma folha em branco para cada participante documentar, de forma escrita ou desenhada, a sua representação subjetiva do dia. No final do programa de intervenção, as respetivas folhas foram agrupadas e foi criado, de forma personalizada por cada participante, o “Diário da Natureza”. A metodologia escrita foi triangulada com estratégias verbais (ex.: questionamento direto/intencional, diálogo informal), implementadas por diferentes técnicos/as, de modo a aceder a múltiplas fontes de informação sobre a evidência de eficácia das atividades de intervenção no bem-estar dos/as participantes. Por fim, realizou-se a avaliação final do impacto do Projeto CarryOn no bem-estar das participantes adultas através do “Cantinho das Memórias”. Este instrumento, de cariz qualitativo, procurou aceder à experiência subjetiva sobre o Projeto CarryOn, questionando as participantes sobre o “dia e momento valorados como mais significativos”, o “significado atribuído ao Projeto” e as mudanças sentidas. As verbalizações foram gravadas em suporte audiovisual e fielmente documentadas por escrito em documento eletrónico.
Tratamento estatístico dos dados quantitativos
Os resultados dos testes psicológicos foram analisados usando o programa estatístico IBM® SPSS® Statistics (Statistical Package for Social Sciences, 22.0). No tratamento estatístico dos dados recorreu-se à estatística descritiva, estatística inferencial, especificamente testes de diferenças.
Procedimento de análise dos dados qualitativos: Análise de Conteúdo Temática
Os dados relativos ao “Diário da Natureza” e ao “Cantinho das Memórias” foram objeto de análise de conteúdo temática. Com este procedimento procurou-se responder à seguinte questão: "Qual o impacto do Projeto Carryon no bem-estar subjetivo (ex.: satisfação com a vida, felicidade, afeto positivo) e psicológico das participantes (ex.: funcionamento individual, fortalecimento pessoal, resiliência)?". Os resultados foram validados interna e externamente (ex.: intencionalidade no processo de amostragem, análise comparativa constante, exaustividade, recurso a cocodificador, acordo inter-codificadores).
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A amostragem destes indicadores foi recolhida, por via salivar, duas vezes por dia (manhã e tarde), em três momentos do processo de intervenção: um primeiro momento antes do início do programa de atividades, para obtenção dos níveis basais, e os outros dois momentos nos 2º e 6º dias de atividades. Os dados recolhidos foram, posteriormente, objeto de análise laboratorial para verificação das concentrações presentes de ambas as hormonas.
PARTICIPANTES P2 O grupo de participantes P2 (técnicos/as de entidades pertencentes ao Quadro de Cooperação) beneficiaram de formação no âmbito da Metodologia de Desenvolvimento Holístico CarryOn, desenvolvida e implementada pela equipa do Projeto. Paralelamente ao decorrer da formação, foi implementado um plano de avaliação que permitiu aferir, por um lado, as conceções e as práticas dos/as técnicos/as no que concerne à utilização da Natureza como recurso de intervenção e, por outro lado, a satisfação com o programa formativo ministrado. Adicionalmente, a técnicos/as com um papel interventivo no encaminhamento de participantes P1, foi também aplicado um questionário, de modo a aprofundar as suas perspetivas acerca do Projeto CarryOn e da sua metodologia, incluindo a eficácia da mesma na promoção do bem-estar dos/as participantes P1 por si encaminhados.
Avaliação dos comportamentos/conceções e da satisfação da formação
No âmbito da formação foram aplicados dois questionários de autorrelato: um de avaliação da satisfação com o programa formativo e outro de análise dos comportamentos e conceções dos/as técnicos/as-formandos/as sobre a intervenção preconizada pelo Projeto CarryOn. O primeiro incluía itens distribuídos por 4 tópicos – Organização | Temática | Formadores | Apreciação Global – com respostas baseadas numa escala tipo Likert. O segundo, aplicado nos momentos pré e pós-formação, encontrava-se estruturado em duas partes: Parte A – Comportamentos (“Já realizei”; “Nunca realizei”; Pretendo realizar”; “Talvez realize”; Não pretendo realizar”) e Parte B – Conceções sobre a Metodologia de Desenvolvimento Holístico através de questões semiabertas.
Avaliação da perceção da eficácia do Projeto
A fim de avaliar a perceção dos/as técnicos/as sobre o Projeto CarryOn e a eficácia da metodologia aplicada, realizaram-se, no período final do Projeto, questionários junto de profissionais que tiveram um papel ativo no processo de encaminhamento e acompanhamento dos/as participantes do Projeto CarryOn. Este debruçou-se sobre a perspetiva destes profissionais relativamente ao Projeto CarryOn e ao seu impacto e eficácia, tanto ao nível do bemestar das participantes P1, por si encaminhados, como também ao nível das conceções e práticas dos/as próprios /as técnicos/as. Os dados provenientes do questionário foram objeto de uma análise de conteúdo temática, de cariz indutivo.
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INTERVENÇÃO There is already considerable anecdotal, theoretical and empirical evidence that contact with nature is a real asset in the promotion of health for people.Such contact with nature should therefore implicitly be highly valued as part of public health strategies. (Burls)
PARTICIPANTES P1 Programa de Desenvolvimento Holístico: Descrição
A implementação do Programa de Desenvolvimento Holístico previu o fortalecimento, desenvolvimento e a capacitação individual, mediante a potenciação de características e competências individuais de cada um, numa lógica de intervenção em grupo. Perspetivando o ser humano de forma sistémica e integrada, este Programa almejou promover o bem-estar biopsicossocial dos/as participantes com experiências de vida adversas. Para esse fim, a metodologia inerente a este Programa partiu de duas premissas centrais: • O contacto com a Natureza e o papel dos serviços de ecossistemas no desenvolvimento e bem-estar humano; • A existência de uma forte ligação entre o ser humano e a Natureza, que se reflete a nível emocional, sociocultural, económico e biológico, levando a que seja possível estabelecer várias analogias entre processos que ocorrem na Natureza e etapas e competências que potenciam o desenvolvimento humano. O Programa recorreu a um conjunto de estratégias de intervenção integradas em três domínios:
ESTRATÉGIAS REFLEXIVAS
Dinâmicas em que se pretende promover a capacidade de reflexão e introspeção, com recurso a metáforas e analogias relativas a processos que ocorrem na Natureza;
ESTRATÉGIAS DE ATIVIDADE FÍSICO-MOTORA
Atividades cujo principal objetivo é contribuir para a melhoria da condição física, para a sensação de bem-estar e fomento da adoção de estilos de vida saudáveis;
ESTRATÉGIAS DE TREINO DE COMPETÊNCIAS
Dinâmicas que têm como finalidade promover competências pessoais, relacionais e sociais.
De forma a operacionalizar estas estratégias, o Programa englobou diferentes tipos de atividades categorizadas como:
Experimentais | atividades que implicam experiências de descoberta e exploração do mundo;
Lúdico-pedagógicas | jogos didáticos que aumentam o conhecimento e aptidões em determinados domínios;
Artísticas | exercícios que implicam movimento, tais como música e dança, e atividades que implicam trabalhos manuais, tais como expressão plástica; Narrativas | atividades dialógicas / discursivas que implicam a observação, reflexão e argumentação face a diferentes temáticas; Terapêuticas | atividades com fins terapêuticos e de promoção do bem-estar.
Consoante a tipologia de atividades, foram implementados diferentes métodos de dinamização: ativo, expositivo, interrogativo e demonstrativo. Este Programa operacionalizou todas estas atividades num conjunto organizado, coerente e integrado de dinâmicas de grupo, coordenadas entre si, que dão lugar ao programa de desenvolvimento holístico em contextos naturais ou naturalizados. O Programa de Desenvolvimento Holístico decorreu ao longo de 6 dias temáticos, ou seja, cada dia assumiu um foco específico numa dimensão do desenvolvimento humano: social, físico, afetivo-emocional, espiritual, cognitivo e cultural. Não obstante esse enfoque diário, as várias dimensões do desenvolvimento foram trabalhadas transversalmente em todos os dias, tendo em conta a conceção prévia da intervenção holística sobre individuo. O Programa de Desenvolvimento Holístico foi implementado junto de quatro grupos de mulheres vítimas de violência doméstica e filhos/as, ao longo de seis dias (cada dia com uma duração média de oito horas), entre maio e novembro de 2015. Cada grupo de intervenção era composto aproximadamente por 25 participantes, sendo caracterizado como um grupo fechado, ou seja, não era permitida a entrada de participantes ao longo do processo de implementação. A intervenção foi dinamizada por elementos da equipa CarryOn, biólogos e psicólogos. Além da equipa, o programa contou ainda com a colaboração de profissionais de sinergia corpo-mente, responsáveis pela realização das atividades de Fitness, Ki-move e Yoga do Riso. Resta acrescentar que durante este processo de implementação dos grupos, os princípios éticos e de confidencialidade foram assegurados, não só ao nível dos pedidos de autorização às devidas entidades de regulamentação ética (ex.: Comissão de Proteção de Dados), como também ao nível do contacto dos profissionais com os/as participantes (ex.: formalização de declaração de sigilo e confidencialidade relativamente às informações pessoais sobre as mulheres e filhos/as, como também acerca de questões afetas às atividades).
O programa de atividades diário foi elaborado de acordo com os seguintes parâmetros: • objetivos de cada dimensão; • disponibilidade de materiais e recursos necessários à concretização das atividades; • disponibilidade do(s) espaço(s) selecionado(s); • tempo previsto para a concretização das atividades; • condições climatéricas; • mobilidade, capacidade e destreza física dos/as participantes. A nível de recomendações práticas e logísticas, salientam-se as seguintes: • providenciar seguro de acidentes pessoais para todos/as os/as participantes; • elaborar um Plano Geral de Segurança (ANEXO 2), que deve ser cumprido por todos/as os/as técnicos/as envolvidos no Projeto; • conhecer previamente os espaços e identificar locais de acessibilidade como WCs, zonas de refeição e eventuais zonas de risco que possam requerer cuidados redobrados; • consultar, antecipadamente, as informações meteorológicas para os locais de realização das atividades previstas; • providenciar um kit de primeiros socorros, que deverá estar presente em todas as atividades; • articular com a empresa de transportes, com a menor brevidade possível (promoção da confidencialidade), sobre os trajetos, os locais das atividades e os locais de partida e recolha dos/as participantes; • articular com a empresa de catering para a preparação de menus variados e adequados ao programa e ao esforço físico previsto para cada dia (ex.: no dia da dimensão física, deve ser providenciada mais água e alimentos energéticos; no dia da dimensão cultural pode ser providenciado um almoço em formato piquenique). É também necessário precaver possíveis restrições/intolerâncias alimentares dos/as participantes; • sempre que possível produzir recursos duráveis, que permitam posterior reutilização; • atividades que impliquem manuseamento de espécies de fauna e flora deverão realizadas por técnicos/ as devidamente credenciados (autorizados) pelo Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF). Salienta-se que existem áreas naturais que, para a realização de atividades, também requerem pedido de autorização; • aconselha-se a preparação de soluções alternativas para o plano de cada dia (ex.: diferentes opções de espaços, atividades, trajetos de viagem, entre outros), uma vez que é essencial antever possíveis constrangimentos, especialmente no que diz respeito às condições climatéricas, acesso aos espaços selecionados e disponibilidade dos/as participantes.
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Antes de cada dia de atividades, é sempre necessário transmitir aos/às participantes, algumas recomendações: • usar vestuário e calçado adequado e confortável (ex.: em dias de sol, salientar chapéu, boné e protetor solar); • aconselhar que cada participante leve a sua própria água (caso necessite de uma quantidade superior à disponibilizada pelo Projeto); • assegurar que se alerta os/as participantes que careçam de medicação específica para a trazerem nos dias de atividades; • recomendar que tragam sempre consigo o Cartão de Cidadão.
Desenvolvimento Social
Dimensões e objetivos Cada dia de desenvolvimento holístico apresenta objetivos específicos destinados a cada dimensão (FIGURA 5).
Desenvolvimento Físico
Estrutura e implementação Ao longo do programa, o grupo P1 participou em diversas oficinas que permitiram não só o desenvolvimento de competências mas também consolidação de conhecimentos sobre, por exemplo, conservação da Natureza, ecologia, plantas aromáticas e medicinais e Natureza e bem-estar. A fim de reforçar o seu caráter contínuo e consistente, este programa apresentou a mesma estrutura inicial e final, o que proporcionou aos/às participantes um sentido de organização e previsibilidade sobre os acontecimentos . Este plano inicial e final de briefing e debriefing teve como finalidade quer o auto, quer o heteroconhecimento do grupo (FIGURA 4). Os seis dias do Programa Holístico foram estruturados de acordo com os objetivos apresentados para cada dimensão, compreendendo atividades de diferentes tipologias (FIGURA 6). Tendo a Natureza como recurso vital e almejando encorajar a aplicação, por parte dos/as participantes, de várias das atividades realizadas e conhecimentos adquiridos, optou-se por recorrer a materiais e recursos de fácil obtenção e baixo custo. Salienta-se que o modelo sugerido não é estanque, podendo haver adaptações no que concerne às atividades e os timings propostos. Concentração nos locais de encontro Viagem Briefing Atividades Almoço Atividades
//conceber o grupo como um espaço de direitos e deveres (ex.: necessidade de cumprir regras) //perspetivar o grupo (relação com os outros) como um espaço de partilha, de entreajuda e de aprendizagem mútua //reduzir o isolamento social, promovendo o sentido de pertença e coesão social //aumentar a repertório de competências pessoais, relacionais e sociais //desenvolver relações interpessoais saudáveis e igualitárias
//promover a sensação de bem-estar físico e satisfação global, perspetivando a natureza como um contexto sereno e de relaxamento //atenuar a psicossintomatologia depressiva (ex.: pensamento negativos, cefaleias, insónias) //reduzir os níveis de stress, aliviando os sentimentos de ansiedade e agitação //estimular a adoção de hábitos de vida mais saudáveis e sustentáveis
Desenvolvimento Afetivo-emocional
//promover o autoconhecimento e a autoperceção como pilares para o cresicmento pessoal //promover a valorização pessoal e a autoestima, mobilizando as vozes da competência e potenciando as qualidades do “Eu” //reforçar o vínculo materno-filial, promovendo interações lúdicas e afetivas entre mãe e filho
Desenvolvimento Espiritual
//promover a capacidade de introspeção e de autorreflexão //promover a paz interior //reforçar a ligação à natureza
Desenvolvimento Cognitivo
//promover as capacidades de atenção/concentração e de memória //fomentar a capacidade de comunicação e de linguagem //reforçar a capacidade de resolução de problemas e de tomada de decisão //aumentar e promover conhecimentos ao nível dos SE
Desenvolvimento Cultural
Chegada aos locais de encontro
//fomentar a adoção hábitos de recreação e lazer, promotores de bem-estar //fortalecer o sentimento de identidade sócio-cultural //promover a inclusão de expressões culturais nas vivências diárias
FIGURA 4 | Estrutura base de um dia de atividades.
FIGURA 5 | Dimensões e objetivos dos seis dias de Desenvolvimento Holístico.
Debriefing Viagem
DIA 1 PSICOLOGIA E A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA (VD) Boas vindas e Apresentação do Projeto CarryOn Dinâmica inicial Conceito e Enquadramento Legal da VD Dinâmicas e fatores de instauração e manutenção da VD Da legitimação à conceção da VD Discursos sociais sobre a VD A realidade da VD em Portugal Indicadores de Risco Custos económicos e sociais da VD Consequências e Impacto nas vítimas Papel do profissional na intervenção com vítimas de VD Considerações finais e encerramento da sessão
DIA 2 ECOLOGIA E OS SERVIÇOS DOS ECOSSISTEMAS
FIGURA 6 | Exemplos de atividades desenvolvidas nos seis dias de Desenvolvimento Holístico (as atividades a azul encontram-se descritas no ANEXO 3).
PARTICIPANTES P2 Atividades de Intervenção P2 Formação sobre a Metodologia de Desenvolvimento Holístico CarryOn Para o grupo P2 foram propostas e desenvolvidas atividades de intervenção que consistiram na preparação e implementação de ações de formação, bem como na elaboração de respetivo manual didático de apoio (Manual de Formação). No total, foram realizadas duas edições de formação no âmbito da Metodologia de Desenvolvimento Holístico CarryOn. Atendendo aos níveis diferenciados de conhecimento e às áreas de atuação distintas entre os/as técnicos/as das entidades do QC, optou-se pela estruturação da formação em 4 módulos temáticos complementares (FIGURA 7), de cariz teórico-prático, ministrados ao longo de 4 dias, num total de 20h (4 dias
Briefing inicial e dinâmica introdutória Um olhar sobre o mundo natural: a fauna e a flora Serviços dos Ecossistemas A importância da Educação Ambiental Experiências laboratoriais Considerações finais e encerramento da sessão
DIA 3 METODOLOGIA CARRYON E AVALIAÇÃO Briefing inicial e dinâmica O pilar teórico da Metodologia de Desenvolvimento Holístico Estímulos visuais da Natureza Evidência científica (Serviços dos Ecossistemas para a promoção do bem-estar) Metodologia de Desenvolvimento Holístico CarryOn Atividades da Metodologia de Desenvolvimento holístico Avaliação da Eficácia Considerações finais e encerramento da sessão
DIA 4 DIA DE CAMPO - ATIVIDADES NA NATUREZA Briefing inicial e dinâmica introdutória Apresentação dos Trabalhos de Grupos Atividades experimentais Atividades de Corpo e Mente Avaliação da formação Considerações finais e encerramento da formação FIGURA 7 | Contéudos programáticos dos quatro dias de Formação sobre a Metodologia de Desenvolvimento Holístico CarryOn.
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RESULTADOS
DAS ATIVIDADES DE INTERVENÇÃO
UMA PERSPETIVA GLOBAL PARTICIPANTES P1 PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO HOLÍSTICO CARRYON
Caracterização – principais aspetos As participantes adultas que beneficiaram das atividades de intervenção realizadas tinham idades compreendidas entre os 21 e os 66 anos; os filhos e filhas apresentaram idades entre os 3 e os 16 anos, sendo 22 do sexo feminino e 26 do sexo masculino. Até à data da recolha dos dados, a maior parte das vítimas adultas encontrava-se fora da relação de intimidade abusiva (71,4%), sendo que 55,1% se encontravam separadas e/ ou divorciadas. Analisado o estado civil à data das ofensas, verificou-se que a maioria das mulheres (98%) mantinha uma relação de casamento ou de união de facto com o agressor. No que concerne ao risco de revitimação, de acordo com a análise efetuada pelos/as técnicos/as de encaminhamento e pelas psicólogas do Projeto CarryOn (cf. Checklist de Risco), mais de metade das vítimas (51%) apresentava um nível de risco moderado. Da aplicação do BSI para avaliação de sintomatologia psicopatológica, observou-se que 77,6% das vítimas evidenciavam sintomatologia psicopatológica, sendo a somatização (65,3%), ideação paranoide (65,3%), depressão (55,1%), sensibilidade interpessoal (53,1%) e psicoticismo (53,1%) as formas mais incidentes.
A participação no Projeto CarryOn proporcionou múltiplos benefícios às participantes tendo-se verificado, no geral, uma melhoria do seu bem-estar integral, quer ao nível do seu bem-estar subjetivo aquando dos dias de atividades (ex.: emoções positivas, satisfação), quer ao nível do seu ajustamento emocional e psicológico pós-intervenção (ex.: autoaceitação, relações sociais positivas, crescimento pessoal, autodeterminação, autonomia, competência, capacitação, empoderamento, sentido de vida). O impacto positivo do Programa de Desenvolvimento Holístico CarryOn encontra-se patente em diversos testemunhos das participantes, que refletem também as múltiplas dimensões em que se verificaram melhorias relevantes.
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BEM-ESTAR EMOCIONAL “Senti-me bem e feliz” “Sentimo-nos felizes e ao mesmo tempo jovens! É uma maravilha!” “É uma segurança, uma liberdade, porque eu aqui sinto-me criança. Sinto-me muito bem!” “Fez-me sentir muito bem, em paz” "Sensações de liberdade, de alegria e de amor à natureza"
Emoções e sentimentos positivos
"Uma pessoa esquece-se do que deixa do dia-a-dia. Fez-me muito bem à cabeça” “A minha mente está tranquila. Aqui esqueço tudo, não penso em nada” “Esqueci tudo o que tinha para trás de mal e lembrei-me das coisas boas!” “…deixamos a tristeza em casa, não pensamos em tristezas”
Ausência de tudo/ esquecimento/ abstração/ distanciamento
“Todos eles [os contextos] tinham um bocadinho a ver comigo, porque eu gosto destes sítios da Natureza, da água, do mar, tudo que está relacionado com a Natureza...e eu gosto” “Gostei muito da barragem, da Natureza. Tudo fazia parte do meu ser” “Gostei muito da montanha porque fez-me lembrar a minha aldeia, quando era pequena. Foi um dia que me recordou bastante a minha infância”
Sentido de identificação/ compatibilidade
“A Natureza traz-nos muita paz e tranquilidade" “A Natureza é o melhor para esquecer tudo de mau na vida”
Efeito terapêutico
SATISFAÇÃO "Gostei de tudo! Gostei da companhia, do Projeto que foi uma maravilha” “Gostei de tudo. Adorei todos os pormenores, todos os sítios que foram mesmo escolhidos a dedo. Adorei todos os bocadinhos, todas as horas, todos os minutos que foram cá passados convosco”
Satisfação com a experiência vivenciada
CRIAÇÃO E/OU FORTALECIMENTO DA REDE DE APOIO SOCIAL "A união entre todos. Sentíamos como uma família” “E estávamos um pouco de costas viradas (duas participantes)... E eu pedi para pôr uma música para dançarmos juntas... e aí reaproximamo-nos”
Relações interpessoais mais positivas
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AUTOESTIMA “Andava mais em baixo. Agora sinto a minha autoestima diferente. Ui, não tem nada a ver, muito, muito diferente. Sinto-me muito melhor, sem dúvida, mesmo"
Autoestima
“Mudou, mudou muito! Foi uma ajuda muito grande, especialmente ao nível espiritual, dentro de nós! Eu sinto e senti que tudo isso me ajudou a ponderar e a encarar certas situações de outra forma” “Estes dias foram importantes para eu me conhecer um bocadinho mais! E ver que não tinha alcançado/superado certas coisas que eu pensei que tinha e ao contrário ver que outras estavam mais fortes do que o que pensava. Portanto, fez-me refletir"
Capacidade de autorreflexão e autoconhecimento
“Acho que me senti mais segura, acho que me valorizei mais” “Sou uma pessoa importante para a minha vida”
Autoconfiança e autoaceitação
“Aprendi que primeiro tenho que respirar e só depois responder a algumas coisas” “Andava bastante nervosa, agora não! Agora estou muito mais calma, muito mais ponderada”
Capacidade aumentada de autorregulação
“Eu aprendi bastante e hoje, no fim destas sessões todas, eu já consigo, manobrar a minha vida de forma diferente. Foi também importante para lidar com o meu marido, porque temos dois filhos e temos ainda muita em coisa em comum que não podemos deixar de parte”
Perceção aumentada de mestria e capacidade de coping
LIGAÇÃO À NATUREZA “Fiz coisas que nunca tinha feito” “Conheci sítios novos “ "Vi coisas que nunca tinha visto” “Aprendi muitas coisas” ”Enriqueci os conhecimentos” “Aprendi a dar mais valor à Natureza” “Aprendi a respeitar a Natureza” “Somos parte da Natureza”
Aprendizagens e descobertas Valorização e reforço da ligação à Natureza
AUMENTO DA QUALIDADE DE VIDA "Todas as pessoas que me acompanharam me deram muita força, mas neste Projeto senti uma Força mais consistente! Sinto-me outra pessoa, outra mulher, totalmente diferente! Eu, por exemplo, uma coisa que eu nunca consegui fazer até agora era conduzir. Eu já não conduzia há cerca de 15 anos e depois de ter o meu enfarte então aí é que deixei mesmo de conduzir. Depois disto tudo eu não sei onde fui buscar estas forças, mas fui buscá-las a vocês, a todas as pessoas que me ajudaram, a todas as atividades que tive... hoje eu já conduzo e já pego no meu carro sem medo!"
Aumento da perceção de qualidade de vida
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EMPODERAMENTO, SENTIDO DE VIDA E CRESCIMENTO PESSOAL “Neste Projeto senti uma Força mais consistente! Sinto-me outra pessoa, outra mulher, totalmente diferente! Eu, por exemplo, uma coisa que eu nunca consegui fazer até agora era conduzir; Este Projeto foi isto que me deu: Foi a Força para eu ser uma nova Mulher”
Empoderamento
“Penso mais na minha vida, que eu tenho que vivê-la da melhor maneira” "Sinto-me mais calma e segura da minha vida e de que vale a pena viver”
Sentido de vida
"Fez-me bem. Já deixei a minha medicação, é o meu relaxante" "Estou muito melhor em tudo.... saúde, psiquiatria, tudo! Nunca pensei ultrapassar isto”
Crescimento pessoal
RELAÇÃO MATERNO-FILIAL “A aproximação à minha filha, foi muito bom, acho que foi o melhor que trouxe foi isso: a ligação entre mim e a minha filha. Fazia falta isso entre nós as duas" “Na minha relação com a minha filha também mudou muita coisa...Sinto-a mais perto de mim”
Fortalecimento da relação materno-filial
BEM-ESTAR DOS/AS FILHOS/AS “Em termos de socialização fez-lhe muito bem” “Ela anda mais ativa” “O problema que eu tive com o pai dele afetou-o um bocadinho mais a ele e este Projeto para ele também o ajudou bastante...a libertar-se mais... ajudou-o muito”
Mudanças positivas no bem-estar dos/as filhos/as
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PARTICIPANTES P2 FORMAÇÃO SOBRE A METODOLOGIA DE DESENVOLVIMENTO HOLÍSTICO CARRYON
Caracterização – principais aspetos Os/as 48 técnicos/as que integraram o grupo P2 tinham idades compreendidas entre os 23 e os 57 anos, sendo maioritariamente do sexo feminino (83%) e pertencentes a diversas áreas de atuação, designadamente Psicologia (n=15), Sociologia (n=7), Educação/Serviço Educativo (n=6), Serviço/Intervenção Social (n=14), Criminologia (n=2), Direito (n=1), Ecologia (n=1) e Forças de Segurança (n=2).
No que concerne ao Questionário de Avaliação da Satisfação da Formação, os/as técnicos/as-formandos/as reportaram uma valoração positiva das duas edições formativas realizadas, patente num valor médio de pontuação de 4,5 (Edição I) e de 4,7 (Edição II) (num mínimo possível de 1 e máximo de 5). De entre os aspetos assinalados como particularmente satisfatórios, em ambas as edições, destacaram-se: a Relevância e Importância da Temática; o seu Caráter Inovador; a Qualidade Técnica e Pedagógica dos Formadores; e o Cumprimento de Objetivos. O questionário de caracterização, aplicado nos momentos pré e pós-formação, permitiu perceber que a maioria dos/as técnicos/as nunca havia implementado ações com alguns dos pressupostos de intervenção do Projeto CarryOn (ex.: natureza como recurso terapêutico, promoção do bem-estar através do contacto direto com a natureza). Não obstante, todos/as os/as formandos/as reconheceram vantagens associadas à utilização de uma metodologia holística de intervenção baseada na natureza. A não perceção imediata das mais-valias inerentes a esta metodologia inovadora por parte de técnicos/as ou possíveis beneficiários/as, assim como a exposição pública (contexto outdoor e formato grupo), foram assumidos como os elementos de maior desafio ou exigência prática. Acresce dizer que a totalidade dos/as formandos/as validou, em ambos os momentos formativos, a aplicabilidade da Metodologia de Desenvolvimento Holístico CarryOn a diferentes públicos-alvo (ex.: jovens com comportamentos desviantes, toxicodependentes, crianças, idosos, homens vítimas de VD e com dependências, vítimas de pós-stress traumático, técnicos/as de apoio na prevenção do burnout, crianças em risco, famílias multiproblemáticas). A generalidade dos/as formandos/as assumiu ainda, principalmente no pós-formação, os contributos desta metodologia para a sua prática profissional, por esta representar uma nova abordagem e prática de intervenção e pela oportunidade de enriquecimento das suas competências técnicas (ex.: raciocínio analógico, criatividade, dinâmicas de grupo).
PERSPETIVAS DOS/AS TÉCNICOS/AS DE APOIO PSICOSSOCIAL SOBRE O PROJETO CARRYON Principais fatores motivadores da adesão ao Quadro de Cooperação do Projeto: • inovação da metodologia de intervenção proposta (baseada na Natureza); • perceção das potencialidades/ganhos na intervenção com vítimas de violência doméstica; • ampliação e a otimização das respostas no apoio a vítimas de VD; • perspetiva de intervenção em rede. Facilitadores à participação das vítimas: • tipologia do contexto de intervenção (contexto natural/natureza); • dimensão social do Projeto (formato grupo); • logística assegurada pelo Projeto (ex.: transporte, alimentação); • sensibilização prévia pelos/as técnicos/as de referência/acompanhamento junto das vítimas; • componente experiencial disponibilizada aos/às participantes (ex.: tipo de atividades, dinâmicas de grupo). Principais barreiras à participação das vítimas: • receio de retaliação por parte dos agressores, das vítimas que se mantinham na relação de intimidade abusiva (face à sua ausência); • impossibilidade dos/as filhos/as estarem presentes (ex.: visitas ao pai); • questões laborais (ex.. trabalho ao fim-de-semana). Benefícios do Projeto CarryOn para as vítimas:
Nível social
“aumento da rede de apoio informal” (T4) | “…competências sociais e relacionais melhoradas” (T5) "Foi desenvolvido o sentimento de pertença, diminuindo a sensação de isolamento” (T8) “Perceciono que sentiram uma união no grupo e que fizeram amizades…” (T1)
Nível afetivoemocional
“As experiências com o CarryOn eram descritas como tranquilizantes, relaxantes, divertidas e momentos pessoais para o desenvolvimento do eu” (T4) “Maior expressividade emocional e sentimento de que não foram "caso único" no que se refere às situações de VD experienciadas” (T5) “Melhoria do humor” (T6) | “Felicidade e à-vontade” (T1) | “Olhar para si, aumentar a sua autoestima e amor-próprio” (T9) | “Mais confiantes e mais felizes” (T8)
Nível cognitivo
“Proporcionar-se momentos positivos sem se culpabilizar" (T4) “Autoconceito positivo e aumento do sentido de eficácia pessoal. Desconstrução de crenças erradas acerca da violência que promovem o isolamento e a culpabilização da vítima” (T5) ”Estimulação cognitiva no desenvolvimento de algumas atividades, que as "obrigava" a pensar, a ter autonomia e responsabilidade nas decisões…” (T8)
Nível comportamental
“Sinto-as mais livres” (T1) “Interesse na procura de atividades ligadas ao meio ambiente e à interação social (por exemplo, inscrição em aulas de zumba)” (T5) “Mais firmeza na mudança/separação” (T6) “Comportamento mais virado para o seu bem-estar” (T9)
Nível do ajustamento psicológico
"Diminuição dos níveis de stress” (T4) “Integração da história de vitimação vivida como algo do passado” (T5) “Evidência de maior bem-estar, maior tranquilidade e mais alegria” (T8)
Nível da relação materno-filial
“Oportunidade de reforço da vinculação mãe-filho e mudança nos hábitos familiares (procura de atividades mais ao ar livre nos fins de semana)” (T5) “Melhoria dos laços afetivos com os filhos” (T6) | “…tempo de qualidade passado em conjunto” (T8) “…relação mais coesa” (T9)
Benefícios do Projeto CarryOn para os/as técnicos/as: Validação da natureza como recurso complementar de intervenção e como estratégia de otimização de resultados terapêuticos; Alargamento do foco da intervenção para incluir a promoção do bem-estar através da “utilização de recursos naturais” (T7), de “atividades de contacto com a natureza, de cariz sensorial e espiritual” (T2) e do "aumento do número de tpc's, nos processos terapêuticos, que envolvem o contacto com a natureza" (T4).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS E PERSPETIVAS FUTURAS O papel da Natureza na vida do ser humano é, indiscutivelmente, essencial e amplo, refletindo-se em todas as dimensões da nossa vivência. Fonte de vida, a natureza encontra-se patente em cada passo que damos enquanto espécie e indivíduo. Apesar de envolto num mundo artificial, o ser humano continua a depender da natureza, sendo parte integrante da mesma. À medida que nos fomos esquecendo desta dependência e destruindo o nosso próprio lar, vemo-nos cada vez mais necessitados de tudo quanto a natureza tem para oferecer. Os problemas ecológicos crescentes exigem mudanças reais a uma escala global, mas não são os únicos a fazê-lo. De facto, paralelamente à crise ecológica, as crises económica e social têm tido impactos nefastos. Amplamente interligadas, estas crises não podem ser vistas de forma isolada, tanto no que concerne à sua génese, como aos caminhos para a sua resolução. Não será uma visão a levar-nos a superar este período conturbado, mas sim uma multiplicidade de visões, de novos caminhos e possibilidades que se erguem através de pontes de entendimento e cooperação. Em Portugal, o desenvolvimento de programas de bem-estar com base no recurso aos serviços dos ecossistemas, especialmente quando direcionados para grupos sociais vulneráveis, não é uma prática comum. Neste âmbito, o Projeto CarryOn constitui um importante marco no que concerne ao desenvolvimento e implementação de uma metodologia estruturada, e devidamente validada, baseada no potencial terapêutico e salutogénico da Natureza para a promoção do bem-estar humano em todas as suas dimensões. Apesar de exigente, a implementação do Projeto CarryOn foi deveras gratificante para toda a sua equipa técnica, tendo sido possível alcançar resultados para além do esperado. De facto, todos/as os/as participantes, incluindo as mulheres vítimas de violência doméstica que beneficiaram da intervenção e técnicos/as das entidades do QC, atestaram as mais-valias da Metodologia CarryOn. Este Projeto exigiu uma forte dedicação de todos envolvidos e uma elevada capacidade de adaptação e superação de obstáculos. Estas exigências estiveram principalmente ligados ao facto de o Projeto apresentar uma abordagem e prática de intervenção inovadora, de incluir maioritariamente atividades outdoor e de ser direcionado para um público com características e necessidades muito específicas. O caráter inovador da metodologia de intervenção proposta no âmbito do Projeto CarryOn levou a que adesão inicial ao mesmo não fosse a expectável. No entanto, os esforços de divulgação e promoção realizados tanto pela equipa técnica, como pelas entidades parceiras permitiram superar esse obstáculo inicial. Após o estabelecimento de pontes de comunicação, que permitiram o esclarecimento da metodologia a implementar, entre o Projeto CarryOn e diversas entidades contactadas para integração do Quadro de Cooperação, verificou-se uma maior recetividade por parte das mesmas.
De modo a minimizar o impacto do desconhecimento da metodologia de intervenção proposta junto das possíveis participantes (mulheres vítimas de violência doméstica), foram igualmente realizadas sessões de apresentação do Projeto CarryOn nas várias instituições encaminhadoras de participantes. Estas sessões permitiram esclarecer questões, informar em detalhe como decorreriam as atividades e consolidar a participação nas mesmas. Durante estas sessões foi também possível mitigar a dificuldade em conciliar a disponibilidade das diversas participantes. Além da unanimidade em relação à mais-valia da metodologia implementada, os/as participantes foram também unânimes em salientar que gostariam que o programa tivesse uma duração mais prolongada. A curta duração da intervenção (cada grupo de participantes completou um programa de 6 dias de atividades) foi a principal razão pela qual se esperava que o Projeto CarryOn apresentasse resultados positivos, ainda que não tão significativos, como os que foram alcançados. No entanto, as extraordinárias capacidades da Natureza, aliadas a uma dedicação e esforços contínuos por parte de todos/as os/as envolvidos/as, permitiram suplantar as expectativas. Estes mostraram de forma inequívoca o impacto positivo da natureza nos/as participantes, validando o papel de relevo dos serviços dos ecossistemas no seu bem-estar físico, psicológico e social. Consideramos, no entanto, que a duração da intervenção, apesar de ter permitido melhorias significativas ao nível do bem-estar global dos/as participantes, foi demasiado breve para consolidar as mudanças alcançadas a curto-prazo. Uma duração mais prolongada poderia, no entanto, ter condicionado ou até mesmo comprometido, num primeiro momento, a adesão de técnicos/as e mulheres vítimas de VD a um projeto tão inovador como o CarryOn. Ao longo do Projeto, a vontade de continuar a participar e de poder ter acesso a programas mais longos foi crescente, advindo não só de um maior conhecimento da metodologia, mas também da verificação dos impactos positivos da mesma. Por conseguinte, cremos que, nesta fase, a implementação de um programa de intervenção mais duradouro traria claras vantagens no que concerne à adesão de participantes e à eficácia a longo-prazo da intervenção. Os resultados atingidos na avaliação de eficácia, assim como as convicções pessoais dos/as participantes, vieram reforçar duas necessidades futuras: • Continuação da implementação da Metodologia CarryOn de Desenvolvimento Holístico, como ferramenta paralela às respostas e processos formais de apoio a grupos vulneráveis; • Implementação de programas de prevenção da síndrome de burnout, especialmente direcionados para profissionais que estejam sujeitos a elevados níveis de stress profissional e, por conseguinte, em risco de exaustão ou colapso emocional. Com o Projeto CarryOn, espera-se dar um contributo determinante para a integração, no processo de apoio a grupos vulneráveis, de ações que contemplem o contacto com a Natureza e o usufruto pleno dos benefícios dos serviços culturais dos ecossistemas, permitindo que a Educação Ambiental transponha barreiras à sua integração na sociedade, reforçando o seu importante papel na formação contínua e promoção da qualidade de vida de todos os cidadãos.
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ANEXOS
1 | ENTIDADES DO QUADRO DE COOPERAÇÃO 2 | PLANO GERAL DE SEGURANÇA 3 | DESCRIÇÃO DE ATIVIDADES Jogo dos Valores Sons da Natureza À descoberta dos Tesouros da Natureza A força do mar Cuidar de mim Diário da Natureza
ANEXO 1 | ENTIDADES DO QUADRO DE COOPERAÇÃO
Associação Famílias | CAFAP Centro de Apoio Familiar e Aconselhamento Parental cafapfamilias.blogspot.pt Associação Juvenil SYnergia synergia.pt Associação Portuguesa de Apoio à Vítima APAV GAV BRAGA apav.pt Associação Projecto Criar projectocriar.blogspot.pt Associação Rio Neiva Defesa do Ambiente e promoção de actividades desportivas e ambientais rioneiva.com
Comissão e Protecção de Crianças e Jovens de Amares cm-amares.pt/cpcj Comissão e Protecção de Crianças e Jovens de Esposende cm-esposende.pt Comissão e Protecção de Crianças e Jovens de Fafe cpcjfafe.com.sapo.pt Comissão e Protecção de Crianças e Jovens de Ponte De Lima cm-pontedelima.pt Comissão e Protecção de Crianças e Jovens da Póvoa de Lanhoso mun-planhoso.pt Cruz Vermelha Portuguesa | Delegação de Braga braga.cruzvermelha.pt
Câmara Municipal de Cabeceiras de Basto cabeceirasdebasto.pt
Direção Regional da Cultura do Norte Mosteiro de São Martinho de Tibães culturanorte.pt | mosteirodetibaes.org
Câmara Municipal de Esposende cm-esposende.pt
Escola Secundária Alberto Sampaio esas.pt
Câmara Municipal de Guimarães cm-guimaraes.pt
FNAJ | Federação Nacional das Associações Juvenis fnaj.pt
Câmara Municipal da Póvoa de Lanhoso mun-planhoso.pt
GAF | Gabinete de Atendimento à Família gaf.pt
Câmara Municipal de Viana do Castelo cm-viana-castelo.pt
GNR – Guarda Nacional Republicana Comando Territorial de Braga gnr.pt
Câmara Municipal de Vila Verde cm-vilaverde.pt Cáritas arquidiocesana de Braga – Cáritas Portuguesa caritas.pt/braga Clube de Escalada de Braga shore8.wix.com/clubeescaladabraga
Natural Concepts Lda naturalconcepts.pt PSI-ON Associação para a Educação, Desenvolvimento e Intervenção nas Comunidades psi-on.org SOPRO – Solidariedade e Promoção ONGD sopro.org.pt
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ANEXO 2 | PLANO GERAL DE SEGURANÇA PLANO GERAL DE SEGURANÇA MEDIDAS DE PROTEÇÃO DOS PARTICIPANTES
Garantir a segurança do grupo é uma importante responsabilidade dos dinamizadores. Os agressores podem descobrir a localização do grupo e aparecer nos respetivos locais (NVCV, 2009). Um plano de segurança não garante por si só a segurança de ninguém. Todavia, quando devidamente interiorizado e articulado, pode ser a diferença entre a existência, ou não, de graves consequências ou mesmo entre a vida e a morte.
OBJETIVOS GERAIS: •
Promover a proteção e o bem-estar dos participantes;
•
Identificar passos simples que promovam a segurança das vítimas, i. e., delinear um conjunto de medidas realizáveis nas condições reais, prevendo ao máximo as situações de risco;
•
Antecipar e controlar as situações de risco;
•
Evitar as situações que podem dar origem a uma situação de emergência (ex.: inclusão de vítimas de elevado risco; atividades realizadas na área de residência das vítimas; informar previamente as vítimas dos locais das atividades); .
Assim, sugerimos que sejam levados em linha de conta os tópicos que se seguem: 1.
Nunca publicitar os locais das atividades ou dar informação prévia aos participantes sobre os mesmos
2.
Conhecer previamente os espaços onde decorrerão as atividades, identificando as suas potencialidades e as suas vulnerabilidades, em termos de proteção das vítimas;
3. Informar previamente as autoridades competentes dos locais, dias e hora, em que os participantes serão recolhidos e onde serão realizadas as atividades; 4.
Dispor um ou dois elementos da equipa para, de forma pronta e consertada, agir nas situações de emergência (ex.: entrar em contacto com as autoridades; retirar a(s) vítima(s) do local das atividades);
5.
Informar as vítimas de alguns procedimentos que deverão adotar em situações de risco ou para prevenir as mesmas (ex.: fazerem-se acompanhar até ao ponto de recolha; cuidados nas telecomunicações ou nas comunicações entre si);
6. O autocarro, se possível, deverá estacionar um pouco longe do local das atividades; 7.
Manter o Plano de Segurança Geral sempre atualizado e continuadamente avaliado.
SOCIEDADE PORTUGUESA DE VIDA SELVAGEM
ANEXO 3 | DESCRIÇÃO DE ATIVIDADES 1 | JOGO DOS VALORES Incentivar os/às participantes a explorarem a área, procurando cartões representativos de valores e/ou comportamentos que devem sempre ser integrados nas interações do grupo. Após a descoberta de todos os cartões, solicitar aos/às participantes que pendurem o seu cartão numa árvore. De seguida, dispostos em círculo, os/às participantes devem iniciar uma reflexão sobre o valor e/ou comportamento que cada um encontrou.
3 | À DESCOBERTA DOS TESOUROS DA NATUREZA Desenvolvimento de diversas atividades durante um percurso na Natureza. Sabedoria das árvores | propor aos/às participantes, que se organizem em grupos de dois, ficando um dos elementos de olhos vendados, enquanto o outro serve de guia. Os/as participantes vendados devem ser guiados pelo seu par até à proximidade de uma árvore, sem que a mesma seja identificada. Com um dos sentidos limitado, o elemento de olhos vendados deve tocar, abraçar, cheirar uma árvore, sentir o aroma, a textura e dimensão do tronco, o som do vento no interior do mesmo e outras características que considere importantes. Seguidamente, o participante é guiado de volta ao ponto inicial e é-lhe removida a venda dos olhos, para que possa encontrar a “sua” árvore. Repetir a dinâmica com os outros elementos dos pares. No final, dispor o grupo em círculo e solicitar aos/às participantes que identifiquem a “sua” árvore, refletindo sobre a importância das características individuais e das especificidades de cada um. De seguida, conduzir um debate semiestruturado, partindo da constituição das plantas: raiz, tronco, folhas, flores, frutos.
TIPOLOGIA DA ATIVIDADE | Experimental e narrativa TIPOLOGIA DA ATIVIDADE | Lúdico-pedagógica e narrativa
MATERIAL/RECURSOS 15 vendas para os olhos
MATERIAL/RECURSOS 25 cartões: cada cartão deverá conter um valor e/ou um comportamento (ex.: respeito, amizade, entre outros.)
REFLEXÃO/DEBATE Tal como árvores, cada indivíduo tem o seu papel na sociedade, diferentes mecanismos e estratégias de defesa. Deve-se traçar analogias entre a constituição das plantas com as fases da vida de um indivíduo: passado, presente e futuro (ex.: ligação das raízes ao passado, às origens “as minhas raízes levam-me à cidade de...”.; ligação do tronco ao presente, “atualmente, a minha profissão é..”.; ligação dos frutos ao futuro, “os/as meus/minhas filhos/as são os meus frutos”, etc.).
REFLEXÃO/DEBATE Importância que os valores e comportamentos apresentados têm no quotidiano, enquanto indivíduos ativos da sociedade, e como devem orientar a conduta de cada um enquanto elemento do grupo CarryOn Recomendações específicas Montagem prévia da atividade
2 | SONS DA NATUREZA Atividade preparada por técnicos/as especializados/as em atividades de corpo e mente. Este/a deve associar os alongamentos e a respiração diafragmática a elementos e/ou sons da natureza (ex.: “estiquem-se e cresçam até atingirem as copas das árvores”).
TIPOLOGIA DA ATIVIDADE | Lúdico-pedagógica REFLEXÃO/DEBATE Os alongamentos permitem uma maior flexibilidade dos músculos, preparando-os e “aquecendo-os” antes de uma atividade física, eliminando a tensão muscular. Esta atividade permite restabelecer o equilíbrio e a homeostasia física dos/as participantes, proporcionando uma sensação de relaxamento e bem-estar integral.
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4 | A FORÇA DO MAR Iniciar um debate semiestruturado sobre o que representa para cada participante o mar (ex.: bem-estar, tranquilidade, força, medo, receio, brutalidade, tristeza, felicidade). A partir da simbologia deste elemento natural, com a orientação do técnico, cada participante deverá refletir sobre os seus desejos e receios. De seguida, deverá escolher um seixo e escrever nele o seu maior receio e/ou desejo face ao futuro a curto ou a longo-prazo. Quando já todos/as os/as participantes tiverem terminado o registo, participantes e técnicos/as deverão dirigirse para junto do mar e em conjunto efetuar o lançamento dos seixos ao mar.
TIPOLOGIA DA ATIVIDADE | Terapêutica e experimental REFLEXÃO/DEBATE O recurso à cosmética natural permite que os/as participantes, neste caos através de material de fácil obtenção e de baixo custo, aprendam novas técnicas de cuidar do seu corpo. Hábitos de vida mais saudáveis promovem indivíduos mais equilibrados e felizes. O recurso a elementos naturais pode permitir soluções de higiene e cosmética mais fáceis, rápidas e eficazes para toda a família, proporcionando uma poupança económica e evitando o desperdício desnecessário de embalagens, raramente reutilizadas. Cuidar da saúde e do bem-estar individual deve ser encarado como uma prioridade. É importante referir que a presença dos/as filhos/as nesta atividade promove a relação mãe-filho e a entreajuda, proporcionando também momentos familiares de bem-estar e relaxamento.
6 | DIÁRIO DA NATUREZA Entregar a cada participante as folhas de registo que foram utilizadas ao longo dos dias de atividades, aquando do momento da Arca de Emoções. Seguidamente, desafiar os/às participantes a transformar essas folhas de registo num diário personalizado com materiais naturais.
TIPOLOGIA DA ATIVIDADE | Artística TIPOLOGIA DA ATIVIDADE | Narrativa MATERIAL/RECURSOS Seixos da praia e canetas de filtro REFLEXÃO/DEBATE Cada indivíduo possui um conjunto de experiências passadas que fazem de si um ser humano idiossincrático e especial. Todavia, a vida enquanto continuum de vivências, pode ser perspetivada a partir do momento presente. No momento de lançamento do receio e/ ou desejo ao mar, deverá explorar-se a sensação de libertação, de esperança ou distanciamento face ao receio e/ou desejo “entregue” ao mar. Recomendações específicas Deverá ser realizada sem a presença dos/as filhos/ as, no sentido de permitir a total abstração do que as rodeia e de conduzir a um momento de introspeção e paz interior. Assim, simultaneamente a esta atividade, deve ser desenvolvida uma só com os/as filhos/as, num local próximo mas que permita que ambas as atividades decorram de forma independente.
5 | CUIDAR DE MIM Iniciar a atividade com uma pequena explicação sobre a cosmética natural, vantagens e desvantagens da sua prática, custos e especificidades. Dispor o grupo em círculo, junto de uma bancada ou mesa. Explicar que vão ser efetuadas duas atividades práticas (elaboração de produtos de cosmética natural, ex.: bálsamo labial de mel, máscara facial de argila) que podem reproduzir em casa. Esta atividade deverá ser desenvolvida por técnicos/as especializados/as em Cosmética Natural.
MATERIAL/RECURSOS Elementos naturais (ex.: folhas, galhos de árvores, sementes), marcadores, lápis de cera, cola, cartolinas, materiais decorativos e as folhas de registo dos dias anteriores REFLEXÃO/DEBATE Oportunidade de exploração de competências artísticas e que permite também relembrar as experiências e emoções vivencidadas ao longo dos dias de atividades. Acerca do Momento: Arca de emoções No final de cada dia, entregar, a cada participante, folhas de registo, para que possam completar as seguintes frases: “Hoje, aprendi que...”; “Hoje, senti que...”; “O que mais gostei foi...” e “O que menos gostei foi...”.
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