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UFG
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PUBLICAÇÃO DA ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS – ANO IX – Nº 68 – OUTUBRO DE 2014
Confira nesta edição, matérias sobre projetos e ações produzidos dentro da Universidade que refletem o tema do 11º Congresso de Ensino, Pesquisa e Extensão
Professora da Faculdade de Farmácia recebe prêmio nacional para mulheres cientistas p. 4
Mesa-redonda: prevenção é a melhor forma de combate ao vírus da Aids p. 6 e 7
UFG BRASIL
CORREIOS
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Jornal UFG
EDITORIAL
Inclusão na Universidade
DESTAQUE
Goiânia, outubro de 2014
CAMINHOS DA PESQUISA Revistas científicas: acesso e tendências Importância e impacto do periódico científico
Kharen Stecca*
A
Universidade Federal de Goiás vive um intenso processo de mudanças no que se refere à inclusão social. Motivada pelo Programa UFGInclui e pelo Sistema de Reserva de Vagas criado pela n. Lei 12.711/2012, a Universidade passou a receber, a partir de 2008, estudantes que não tinham as mesmas condições de acesso à graduação: negros, quilombolas, indígenas e estudantes de escolas públicas. Em 2015, 50% das vagas na graduação já serão direcionadas a essas pessoas. Embora o maior impacto tenha ocorrido na graduação com o ingresso desses estudantes, a UFG busca estudar mais alternativas para tornar a universidade acessível, trabalhando questões como acessibilidade de portadores de deficiência, gênero, acesso à pós-graduação, entre outros temas. Diante desse novo panorama, nada mais apropriado do que o tema escolhido para o Congresso de Ensino, Pesquisa e Extensão de 2014 (Conpeex): “Conhecimento, Inclusão Social e Desenvolvimento”. Com muitas novidades, como o trabalho de coleta seletiva, organizado pela Incubadora Social, e o Espaço da Saúde, organizado no Araguaia Shopping, o evento abordará discussões com diversos pesquisadores objetivando envolver a comunidade acadêmica e também externa, dando um retorno sobre o que é produzido na UFG com relação à pesquisa, ensino e extensão. Para marcar também esse tema, o Jornal UFG traz nesta edição uma matéria que destaca a pesquisa de uma professora da Faculdade de Farmácia que foi uma das vencedoras no Prêmio Nacional para Mulheres na Ciência 2014, organizado pela Unesco e pela empresa L´Oreal. A pesquisa busca encontrar novas alternativas farmacológicas para combater a leishmaniose, uma das doenças consideradas negligenciadas no mundo. Embora as mulheres já sejam a maioria na graduação, estejam em grande número na pós-graduação e tenham crescido em participação nas pesquisas, elas ainda são minoria neste setor. Um prêmio como esse ressalta a importância da inserção feminina na área de pesquisa. Outro destaque do Jornal UFG é para a discussão da Aids no Brasil. Com a diminuição da repercussão da doença, aumentou o contágio pelo vírus HIV. Embora hoje o tratamento seja garantido, muitas pessoas sequer sabem que estão contaminadas. E para essas pessoas, o preconceito e as dificuldades ainda existem, portanto, alertar a população para a importância de se prevenir e também de se tratar torna-se imprescindível. Esperamos que o Jornal UFG de outubro traga elementos para a discussão da inclusão social não só na universidade, mas em toda a sociedade. Boa leitura!
O periódico é um importante espaço de divulgação de trabalhos técnicos e constitui-se em uma espécie de documento. Entre as formas de divulgação de Ciência e Tecnologia, a revista científica é uma das mais procuradas. Esse tipo de veículo confere credibilidade a programas de pós-graduação e instituições de pesquisa. Respaldadas por instituições sérias e seguras, as revistas científicas integram e são integradas em diversos bancos de dados, as chamadas bases indexadoras, num excelente exemplo de
convergência de redes de informação, frequentemente atualizadas e expandidas. Quanto mais bases publicarem a revista, mais credibilidade e visibilidade ela terá. Maior peso possuem as bases indexadoras internacionais. Assim, há uma tendência das revistas publicarem também em outra língua. A rede mundial de computadores torna mais acessível essas publicações, praticamente todas são encontradas na internet, e há uma tendência a desaparecer as versões impressas, normalmente encontradas nas bibliotecas.
Como publicar Cada periódico científico tem suas regras quanto à especificidade, periodicidade, artigos externos, critérios de qualidade da informação etc. Os trabalhos são rigorosamente avaliados por um conselho científico, especialmente em relação à política de periódico. As publicações contam ainda com pareceristas de outras instituições, nacionais e internacionais.
Revistas científicas da UFG Atualmente, 25 revistas científicas ligadas a programas de pesquisa e pósgraduação da UFG estão cadastradas no seu Portal de Periódicos (www.revistas.ufg. br). Há outras em fase de estruturação. Desde 2003, essas publicações contam com a colaboração do Programa de Apoio às Publicações Periódicas Científicas da UFG (Proapupec). Este ano, o edital do programa destinou R$210 mil, variando entre R$ 9 mil e R$ 15 mil para cada revista contemplada. Na próxima edição, saiba mais sobre a qualidade e os fatores de impacto das revistas científicas na atualidade.
*Coordenadora de imprensa da Ascom
Jornal
UFG
Publicação da Assessoria de Comunicação Universidade Federal de Goiás ANO IX – Nº 68 – OUTUBRO DE 2014 www.jornalufgonline.ufg.br ASCOM – Reitoria da UFG – Câmpus Samambaia C.P.: 131 – CEP 74001-970 – Goiânia – GO Tel.: (62) 3521-1310 /3521-1311 www.ufg.br – jornalismo.ascom@ufg.br – www.ascom.ufg.br
Universidade – Reitor: Orlando Afonso Valle do Amaral; Vice-reitor: Manuel Rodrigues Chaves; Próreitor de Graduação: Luiz Mello de Almeida Neto; Pró-reitor de Pós-Graduação: José Alexandre Felizola Diniz Filho; Pró-reitora de Pesquisa e Inovação: Maria Clorinda Soares Fiarovanti; Pró-reitora de Extensão e Cultura: Giselle Ferreira Ottoni Cândido; Pró-reitor de Administração e Finanças: Carlito Lariucci; Pró-reitor de Desenvolvimento Institucional e Recursos Humanos: Geci José Pereira da Silva; Pró-reitor de Assuntos da Comunidade Universitária: Elson Ferreira de Morais. Jornal UFG – Coordenadora de Imprensa e editora-geral: Kharen Stecca; Editora: Michele Martins; Conselho editorial: Angelita Pereira de Lima, Cleomar Rocha, Luís Maurício Bini, Pablo Fabião Lisboa, Reinaldo Gonçalves Nogueira e Silvana Coleta Santos Pereira; Suplente: Mariana Pires de Campos Telles; Projeto gráfico e editoração eletrônica: Reuben Lago; Fotografia: Carlos Siqueira; Reportagem: Camila Godoy, Serena Veloso e Silvânia de Cássia Lima; Colaboração: Renan Vinicius Aranha; Revisão: Cristiane Fernandes, Letícia Braz e Vanda Ambrosia; Estagiários: Dúnia Esper, Thaíssa Veiga e Warlos Morais; Bolsistas: Adriana Cristina, Águita Araújo e Letícia Antoniosi; Impressão: Centro Editorial e Gráfico (Cegraf) da UFG; Tiragem: 10.000 exemplares
Jornal UFG
ENTREVISTA
Goiânia, outubro de 2014
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Claci Fátima Weirich Rosso
Divulgação científica e integração Carlos Siqueira
Michele Martins
O
Congresso de Ensino, Pesquisa e Extensão (Conpeex) da Universidade Federal de Goiás chega à sua 11ª edição, reafirmando sua importância para a divulgação científica e a integração entre comunidade e Universidade. Com a participação de cerca de 6.500 inscritos, a programação oferecerá conferência de abertura, mesas-redondas, palestras, apresentações de trabalho, oficinas, minicursos e programação cultural. As atividades serão matutinas, vespertinas e noturnas. Confira o que a coordenadora geral de Extensão da Pró-reitoria de Extensão e Cultura (Proec), Claci Fátima Weirich Rosso destaca sobre as novidades do evento.
Quais serão as novidades e os principais destaques programados para o Conpeex 2014? Nesta 11ª edição do Conpeex, teremos um diferencial na operacionalização do evento, que será a descentralização para a Regional Jataí. As Regionais de Catalão e Goiás irão participar juntamente com a Regional Goiânia. O evento terá um tema central único e parte da programação científica será comum para as Regionais. A conferência de abertura será transmitida via videoconferência para a Regional Jataí e as demais atividades científicas e culturais serão realizadas conforme as especificidades de cada Regional. Em Goiânia teremos, no dia 4 de novembro, em período integral, a realização de uma série de atendimentos no “Espaço da Saúde”, que será montado no estacionamento do Araguaia Shopping. Haverá serviços de vacinação, exames rápidos, distribuição de preservativos, avaliações bucais e outros serviços de saúde, com a participação das Ligas da Saúde, de núcleos de estudos e de pesquisas, em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia e a Secretaria de Saúde do Estado de Goiás. A coordenação desta atividade será realizada pelo professor Marcos André de Matos da Faculdade de Enfermagem (FEN). O Espaço Planetário Móvel que estará instalado no Centro de Eventos Professor Ricardo Freua Bufaiçal, durante os três dias, também será uma novidade nesta edição. Dentro da programação cultural, a XI Mostra Cultural do Conpeex, a II Mostra Artística Bosque Auguste Saint’Hillaire e a I Mostra Cultural do Conpeex na Regional Jataí acontecerão como parte das atividades do evento. As atividades culturais têm o objetivo de divulgar os trabalhos artísticos e culturais dos estudantes, servidores técnico-administrativos, docentes da UFG e comunidade externa. Além disso, visam proporcionar a aproximação das comunidades acadêmicas e externa por meio de expressões artísticas, diálogos e troca de experiências que democratizam o acesso aos bens culturais e ao conhecimento científico.
O tema deste ano será: “Conhecimento, Inclusão Social e Desenvolvimento”. Qual o objetivo dos organizadores com a escolha desse tema? A escolha do tema teve como importante “referência” as temáticas recomendadas pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), mas também pelo fato de que o conhecimento e o desenvolvimento científico e tecnológico devem ser promovidos na perspectiva dos princípios da inclusão social, assim como os avanços científicos e tecnológicos devem incentivar a troca de experiências nos diversos campos da pesquisa, do ensino e da extensão.
A comunidade externa à UFG também pode participar do evento? Sim, é muito importante que a comunidade externa participe do Conpeex. A apresentação de trabalhos destina-se a docentes, discentes e técnico-administrativos da UFG, mas as atividades estarão acessíveis para todos. A comunidade externa poderá se inscrever, antecipadamente ou no local, na modalidade de “Participação sem apresentação de trabalhos” e nos minicursos, que são oferecidos principalmente para atender a comunidade externa, considerando que são ações de Extensão e Cultura.
“É muito importante que a comunidade externa participe do Conpeex” E quanto à importância desse evento para a UFG? O Conpeex é o principal evento acadêmico da UFG, realizado anualmente pela administração superior e para divulgar a produção acadêmico-científica-cultural da instituição, envolvendo principalmente as Pró-Reitorias de Graduação, Pós-Graduação, Pesquisa e Inovação, e Extensão e Cultura. Conta com o apoio das Pró-Reitorias de Administração e Finanças, Assuntos da Comunidade e Desenvolvimento Institucional e Recursos Humanos. Têm como importante desafio promover a divulgação e o intercâmbio da produção científica e cultural na perspectiva da pesquisa, ensino e extensão na UFG, assim como promover a discussão de temáticas que subsidiem novos projetos e ampliem a formação acadêmica e cultural dos participantes do Conpeex 2014.
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SOCIEDADE
Jornal UFG
Goiânia, outubro de 2014
Professora da Faculdade de Farmácia recebe prêmio nacional para mulheres cientistas Serena Veloso
A
leishmaniose é um conjunto de doenças causadas por protozoários do gênero Leishmania e transmitidas ao homem por meio da picada do mosquito-palha. É uma das seis doenças infecciosas de maior impacto no mundo. A cada ano, são reportados dois milhões de novos casos mundialmente, incluindo a população brasileira, que é afetada em todos os estados. Apesar de existir tratamento, os poucos medicamentos disponíveis no mercado não são totalmente eficazes para alguns tipos da doença, além do alto custo e dos efeitos colaterais. Alguns pesquisadores têm se dedicado a encontrar novas alternativas farmacológicas para combater a leishmaniose. É o caso da pesquisa da professora da Faculdade de Farmácia (FF) da UFG e coordenadora do Laboratório de Planejamento de Fármacos e Modelagem Molecular (LabMol), Carolina Horta Andrade, que chamou a atenção da comunidade científica nacional e tornou-se uma das sete vencedoras do Prêmio para Mulheres na Ciência 2014. Há aproximadamente quatro anos, a professora coordena um projeto na área de Química Medicinal com o intuito de descobrir novos compostos para a produção de medicamentos eficazes e de baixo custo, para o tratamento da leishmaniose visceral, forma mais perigosa da doença. A premiação, oferecida pela empresa L’Oréal em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e com a Academia Brasileira de Ciências (ABC), incentiva a participação de mulheres brasileiras no cenário científico nacional. Carolina Horta Andrade concorreu com outras 312 cientistas e foi a primeira pesquisadora de uma instituição goiana a
ser contemplada com a iniciativa, recebendo o valor de US$ 20 mil dólares para auxílio à pesquisa. A cerimônia de premiação ocorrerá no dia 21 de outubro, no Rio de Janeiro-RJ.
Carlos Siqueira
Carolina Horta Andrade foi reconhecida por sua pesquisa de novos fármacos para o tratamento da leishmaniose
Novos compostos no combate à doença Até então, a pesquisa identificou, durante simulações em programas de computador e experimentos in vitro, algumas moléculas promissoras para combater o parasita da doença. “Três novos compostos foram mais potentes do que o medicamento padrão utilizado para o tratamento da leishmaniose”, ressaltou a pesquisadora. Para buscar compostos potencialmente ativos, primeiramente, foi realizada a quimiogenômica, que consiste na extração das informações químicas dos genes do parasita. Por esse processo, identificaram-se duas proteínas essenciais à sua sobrevivência, sobre as quais novos medicamentos poderão atuar. Em seguida, foram utilizados softwares para simular a interação de milhares de moléculas com proteínas-alvo, sendo selecionadas aquelas que mostraram maior resposta contra o parasita. Atualmente, a pesquisa está em fase de melhoria de algumas das propriedades das moléculas para que os experimentos resultem num medicamento. O estudo irá averiguar ainda a ação dos compostos por meio de testes em animais.“Este prêmio é um grande estímulo para continuarmos a nossa pesquisa, devido à visibilidade que tem proporcionado não só no meio acadêmico, mas também nas indústrias, o que permitirá futuras parcerias”, enfatizou Carolina Horta Andrade. O projeto tem o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapeg) e do Conselho Nacional de
Pesquisadora utilizou programas de computador para simular interação de compostos em organismos infectados pela Leishmania, evitando testes excessivos em animais
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), com a colaboração de pesquisadores do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP) e do Instituto de Química (IQ) da UFG, além do Instituto Adolfo Lutz, de São Paulo.
Leishmaniose em números De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde, doze milhões de pessoas sofrem com a doença em todo o mundo. “A leishmaniose é endêmica em aproximadamente noventa países, a maioria deles subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, e em regiões de clima tropical”, explicou a professora. A doença é endêmica também no Brasil, sendo o Centro-Oeste a segunda região com maior número de casos de leishmaniose tegumentar americana, conforme levantamento do Ministério da Saúde. Segundo a pesquisadora, devido à falta de investimento das indústrias farmacêuticas, os medicamentos utilizados no tratamento da doença são antigos, desenvolvidos há mais de 50 anos, e causam efeitos colaterais nos pacientes. “A indústria farmacêutica praticamente
não tem interesse em buscar novos medicamentos para combater a doença porque ela atinge, principalmente, populações de baixa renda”, motivo pelo qual a doença é considerada negligenciada, esclareceu a professora. Carolina ressaltou ainda que o processo de de-
senvolvimento de um medicamento até a inserção dele no mercado, além de envolver mais de uma década de pesquisa, demanda altos custos de investimento da indústria farmacêutica, os quais podem variar de US$ 800 milhões a US$ 1 bilhão de dólares.
Mulheres estão cada vez mais presentes na ciência Um levantamento feito pelo Programa L’Oréal-ABC-Unesco para Mulheres na Ciência revelou que, em uma década, a participação feminina em pesquisas científicas aumentou em 12%. Ainda assim, o espaço destinado às mulheres na ciência continua restrito: somente 29% da comunidade científica mundial é composta por mulheres, apontou a pesquisa realizada em seis países: França, Estados Unidos, Alemanha, Japão, Reino Unido e Espanha. No Brasil, esse quadro tem se revertido com o aumento do acesso das mulheres às universidades, sendo elas dos cursos de graduação, segundo dados do Ministério da Educação (MEC), e, em boa parte, dos de pós-graduação. Só na UFG, 2.405 alunas estão matriculadas atualmente nos cursos de pós-graduação stricto sensu, o que corresponde a mais da metade dos ingressos, que atualmente somam 4.652. No entanto, quando se trata de incentivo à pesquisa nas universidades, a realidade é bem diferente. Grande parte dos contemplados com bolsas de produtividade em pesquisa e tecnologia do CNPq em Goiás é do sexo masculino. Na UFG, dos 145 bolsistas que coordenam pesquisas, 51 são mulheres, muitas delas ainda iniciantes como pesquisadoras. A pró-reitora de Inovação e Pesquisa (PRPI) da UFG, Maria Clorinda Soares Fioravanti, acredita que a maternidade é um dos principais fatores a interferir na carreira das pesquisadoras, que chegam ao auge do nível de produtividade após os 45 anos. Dentre o pequeno número de pesquisadoras da UFG com PQ 1 – conceito do CNPq para nível máximo de produtividade –, a professora Mariana Pires de Campos Telles, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFG, foi destaque no CNPq como uma das 22 jovens pesquisadoras do Brasil reconhecidas, com menos de 40 anos de idade.
Jornal UFG
COMUNIDADE
Goiânia, outubro de 2014
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Estudantes do UFGInclui participam de ações voltadas à inclusão e permanência Ingressantes na UFG pelo Programa UFGInclui participam de atividades e realizam pesquisas que visam debater e superar os desafios encontrados no ambiente acadêmico
Adriana Cristina
A
implementação do Programa UFGInclui, em 2009, contribuiu para a existência de um cenário mais plural dentro da universidade, por meio da geração de vagas para estudantes de escola pública, negros e uma vaga adicional para indígenas e quilombolas em cada curso de graduação. Atualmente, o Programa gera uma vaga extra em cada curso para estudantes indígenas e quilombolas, bem como quinze vagas para candidatos surdos no curso Letras-Libras. Contudo, os universitários que ingressaram na UFG por intermédio desse programa apontam desafios que ainda precisam ser superados para que consigam permanecer na instituição e concluir os cursos escolhidos. Tendo em vista esta realidade, estudantes do UFGInclui vêm desenvolvendo estudos e participando de atividades promovidas por órgãos da Universidade com o objetivo de ampliar os canais de reivindicação e afirmar sua presença na UFG. Mariza Fernandes dos Santos ingressou no curso de Jornalismo, Faculdade de Informação e Comunicação (FIC), pelo programa UFGInclui, em 2009. Ela realizou em 2013, para seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), Ações afirmativas no curso de Jornalismo da UFG, uma pesquisa a respeito das influências e repercussões ocasionadas pela inclusão de cotistas no curso de Jornalismo. De acordo com a jornalista, esse tema é relevante porque, durante sua graduação, ações sobre a conscientização referente à condição dos cotistas ou informações sobre programas de permanência não chegavam a seu alcance. A partir dessa pesquisa, foi realizado o Primeiro Colóquio de Jornalismo e Diferença da FIC, em setembro de 2013, com coordenação da professora Luciene Dias, no qual os estudantes que ingressaram pelo UFGInclui puderam expor problemas na estrutura do curso e apontar soluções como, por exemplo, disponibilizar tutores para auxiliar estudantes com dificuldades de gramática e produção textual. A jornalista explica que tais dificuldades são decorrentes, principalmente, da formação deficiente na escola pública. Agora, em sua pesquisa de mestrado, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Geografia, Mariza Fernandes pretende investigar como a condição de cotista alterou ou influenciou a trajetória de estudantes, na universidade e em outros espaços por eles percorridos, como família, casa, bairro e trabalho.
nho geral da equipe da Prograd, os resultados positivos devem-se à mobilização dos estudantes do UFGInclui, unidos pela busca de garantias por um ensino superior onde o direito à diferença seja assegurado”, disse Jean Baptista. Além da CIP, outras equipes foram montadas na gestão anterior e na atual com o objetivo de desenvolver ações relacionadas ao acolhimento dos estudantes da universidade (ver box).
O reitor Orlando Amaral participa da 4ª Roda de Conversas com estudantes indígenas e quilombolas
Inclusão e permanência – Em março deste ano, criou-se no âmbito da Prograd a Coordenação de Inclusão e Permanência (CIP), com o objetivo de promover ações voltadas à diminuição da evasão e da retenção de estudantes de graduação. “A função da coordenação é tratar o estudante de forma mais pessoal, muito além do número de matrícula, assegurando sua permanência acadêmica”, explicou o coordenador da CIP, Jean Baptista. Além de prestar atendimento cotidiano aos estudantes, algumas atividades da CIP já estão em andamento, como o projeto UFG nas Comunidades, que visita comunidades indígenas e quilombolas para difundir o Programa UFGInclui. Também foram criadas disciplinas de núcleo livre em Química, Matemática e Português em parceria com os professores Ana Canavarro, Bethânia Santos e André Marques. A principal estratégia de conexão da Prograd com os estudantes do UFGInclui está na sexta edição do projeto Rodas de Conversa, o qual ainda se realizará. Este consiste em reuniões mensais
Órgãos voltados ao acolhimento do estudante: •
Coordenadoria de Ações Afirmativas da Reitoria, coordenada por Luciene Dias; • Coordenação de Inclusão e Permanência da Prograd, coordenada por Jean Baptista; • Comissão Consultiva do UFGInclui da Prograd, coordenada por Renata Dias e Alex Ratts; • Núcleo de Acessibilidade da Prograd, coordenado por Régis Silva.
com o reitor, pró-reitores, professores, servidores, lideranças comunitárias e estudantes indígenas e quilombolas para discutir o ingresso e a permanência na UFG. Por meio destas e outras atividades, conseguiu-se garantir que os estudantes do UFGInclui estivessem informados sobre as políticas de permanência, bem como não se registrou nenhuma evasão de indígena ou quilombola ao longo de 2014. “Além do empe-
Foto: Divulgação
Águita Araújo
Pesquisas – Os encaminhamentos e sugestões que surgiram nas rodas de conversa servirão de auxílio para o desenvolvimento de outra pesquisa de TCC. A estudante quilombola do curso de Relações Públicas da FIC, Marta Quintiliano, está fazendo um estudo sobre as representações sociais de indígenas e quilombolas em relação às políticas de cotas da UFG, entre 2009 e 2013, com estudantes que participam desse grupo de reuniões. Marta Quintiliano afirma que, desde seu ingresso na universidade, tinha o interesse de produzir algo para dar visibilidade à sua comunidade, Vó Rita, da cidade de Trindade. Contudo, ela decidiu ampliar mais seu estudo. “Eu percebi que a questão era maior, não era só com o meu grupo. Os indígenas, por exemplo, expressavam preocupações semelhantes às nossas durante as reuniões. Nós entramos na universidade pensando em melhorar a realidade da comunidade”, explicou. A estudante está elaborando seu estudo com base em entrevistas e na análise das rodas de conversa para saber a opinião desses estudantes a respeito do processo de permanência na universidade. De acordo com Marta Quintiliano, sua pesquisa terá uma abordagem mais humanizada: “Irei problematizar os dados existentes, por exemplo, sobre a evasão desses estudantes, buscar causas e medidas que procurem melhorar”. A estudante acredita que, uma vez que ela integra uma comunidade quilombola, esse trabalho possibilitará que as próprias comunidades possam se expressar de forma diferenciada. “Esse fato trará mais pessoalidade à pesquisa e permitirá mais espontaneidade nas respostas dos entrevistados”.
Para mais informações procurar Espaço Afirmativa no piso superior do Centro de Convivência do Câmpus Samambaia. Telefone 3521-1714 Visita à Comunidade Kalunga Quilombola do Engenho 2 para divulgação do Programa UFGInclui
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Jornal UFG
Prevenção é a melhor forma de combate ao vírus da Aids TV UFG e ASCOM
A
Aids, doença que causou comoção na década de 1980, continua a ser um problema de saúde pública em todo o mundo. A prevenção ainda é a única forma de evitar a doença, mas ela continua crescendo em todas as classes sociais e faixas etárias da população. Para falar sobre como têm sido realizados a prevenção e o tratamento dos portadores do vírus HIV e pacientes com Aids, entrevistamos Sandra Brunini, professora da Faculdade de Enfermagem da UFG (FEN), Rosilda Marins Marinho, presidente da ONG Pela Vida, de Goiânia, e Edvan Miranda, coordenador de DST/Aids da Secretaria Estadual de Saúde.
MESA-REDONDA
Goiânia, outubro de 2014
Qual é o cenário atual da Aids no Brasil e no estado de Goiás? Quais são as estratégias do governo para prevenção e tratamento? Como vocês avaliam essas estratégias? Sandra Brunini – Essa epidemia existe há 30 anos, e ainda temos muitas dificuldades, questões a serem resolvidas e dúvidas a serem esclarecidas no meio científico, mas, principalmente, entre a população. Temos dúvidas até a respeito da diferença entre ser exposto ao vírus, ser um indivíduo infectado, e ser uma pessoa doente de Aids. Ainda não se sabe bem a diferença entre ter o HIV e ter Aids. E isso, de alguma forma, interfere no direcionamento das políticas de enfrentamento dessa importante epidemia. Ao contrário do que muitos imaginam e do que muitas vezes é divulgado na mídia, a Aids não está diminuindo. Tem-se a falsa impressão de que ela está diminuindo, de que não existe mais, de que não tem mais importância epidemiológica nem impacto na vida da população; mas nada disso é verdade. Rosilda Marins – A população relaxou muito e, em função disso, os dados têm mostrado aumento do número de casos de pessoas infectadas, e esses números vão aumentar ainda mais. A ONG Pela Vida iniciou um projeto de sete meses, que contou com a participação de outras ONGs e que consiste na aplicação de testes com fluidos orais para a obtenção de dados mais precisos. O que temos hoje, por meio desse projeto, são dados de pessoas em tratamento. E a política do Ministério da Saúde é fornecer remédio para todos, independentemente do tipo de carga viral: indetectável, baixa ou alta. Além disso, se o paciente tem o exame HIV positivo, ele é inserido no Sistema de Informações de Agravos de Notificação (Sinan). Com isso, será possível ter dados mais precisos e, de fato, teremos um cenário que mostrará a realidade, que, lamentavelmente, será assustadora. Então pode haver casos de subnotificação? Há pessoas que não têm ideia de que têm o vírus? Edvan Miranda – Sim, temos muitos casos não notificados. Porém, uma novidade que a população deve saber é que, a partir de junho deste ano, o Ministério da Saúde lançou uma Portaria na qual foram revistos os agravos de notificação compulsória, e, agora, o HIV faz parte desses agravos. No Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), que é nosso banco de dados, tínhamos apenas registros dos casos de Aids, mas, a partir de agora, esse sistema vai notificar também os casos de HIV. Isso vai contribuir para que tenhamos dados mais reais e precisos sobre essa epidemiologia. Uma vez notificadas de que estão com o vírus, as pessoas já iniciarão o tratamento, independente da carga viral. Uma das ações preventivas que o Ministério da Saúde está começando a adotar é o uso dos retrovirais. Antes eram feitos exames para ver a carga viral do paciente, e, de acordo com isso, é que se iniciava o tratamento. Mas a recomendação agora é entrar com a medicação a partir do momento em que se sabe portador do HIV. Isso para que a carga viral seja reduzida e diminuam, também, as possibilidades de transmissão do vírus, caso o portador tenha relações sexuais desprotegidas. Como estão os números no estado de Goiás? Edvan Miranda – Os dados acumulados em Goiás desde o início da epidemia, em 1984, até setembro de 2013, mostram 12.109 casos de Aids. Porém, registramos no Sinan uma média de 500 novos casos anuais. Sandra Brunini – É importante distinguir os casos de Aids dos casos de infecções. Até agora, o Brasil só trabalhava com a vigilância epidemiológica da Aids. No entanto, a Aids é a reta final do desenvolvimento de uma infecção. Do período em que a pessoa é exposta ao vírus e se infecta, até o momento em que ela desenvolve a Aids, seguindo o
curso natural da doença e não havendo nenhuma interferência natural ou terapêutica, pode levar de sete a dez anos. Monitorar a Aids é ter o retrato de uma situação iniciada de sete a dez anos atrás. Alguns países no mundo já fazem vigilância do HIV há quinze anos. Essa é a vigilância de segunda geração. Uma pessoa que já recebe o diagnóstico no estágio da Aids ainda pode voltar a ser saudável? Sandra Brunini – Sim, mas o prognóstico é mais reduzido do que quando o vírus é descoberto precocemente. Por isso, toda a importância do investimento em diagnóstico precoce. Rosilda Marins – Hoje, a maior causa de morte por Aids é o diagnóstico tardio. Isso mostra
Sandra Brunini como o diagnóstico é importante para a qualidade de vida das pessoas infectadas e também para a prevenção. A carga viral, a quantidade de vírus que a pessoa tem no sangue, se tratada, também reduz o risco de transmissão. O paciente que recebe esse tratamento, às vezes, não precisará tomar outros tipos de medicamento. A política atual é a de um só comprimido com três drogas para tais pacientes. Isso é um avanço. Essas pessoas farão exames pelo menos de seis em seis meses, serão acompanhadas e terão uma vida normal como qualquer outra pessoa com problemas crônicos, como a diabética. Nossos maiores problemas eram a falta de diagnóstico e o fato de as pessoas estarem se infectando como se a doença não existisse. Esses problemas sempre foram enfrentados tanto entre jovens quanto por indivíduos na terceira idade. Ainda existe grupo de risco? Edvan Miranda – Não usamos mais esse termo. Hoje o termo correto seria comportamento de risco, porque a contaminação pelo HIV permeia todas as classes sociais e faixas etárias, não existindo mais um grupo específico, como existiu no início da epidemia, quando os casos iniciaram em grupos de homossexuais. Hoje os dados evidenciam que o número de casos é maior entre heterossexuais do que entre homossexuais. Os mais vulneráveis à infecção são os profissionais do sexo e os usuários de álcool e outras drogas, mas não há mais grupos de risco. Inclusive, mulheres casadas estão apresentando o vírus. Às vezes o esposo tem relações extraconjugais, e a negociação do uso do preservativo pode denunciar problemas como a traição, e, por isso, acaba sendo menor o uso de preservativo entre casais. Em relação ao combate e à prevenção, como são desenvolvidas hoje as campanhas, os públicos-alvos? Em Goiás existem campanhas específicas? Edvan Miranda – Temos quatro campanhas pontuais executadas todos os anos. Iniciamos as ações de prevenção no período de carnaval,
Jornal UFG
Fotos: Júlia Mariano
distribuindo materiais informativos com o apoio das secretarias municipais de saúde. Também veiculamos campanhas na TV, rádio e redes sociais, e aumentamos a cota de distribuição de preservativos para dar suporte a essas ações. Temos ainda a campanha de férias, criada diante de uma necessidade do estado de Goiás. Antes, as ações eram pontuais, nos municípios ribeirinhos do Araguaia, por causa do concentrado fluxo de pessoas neste local nas férias de julho. Mas percebemos que outros municípios, como Caldas Novas e Pirenópolis, também recebem muitos turistas, e isso fez com que ampliássemos a campanha para todo o estado. A sífilis é outra doença relevante e preocupante em nossa sociedade, e, em outubro, temos a campanha de combate a essa doença. Preconizada pelo Ministério
Edvan Miranda da Saúde, a campanha acontece anualmente, em geral, no terceiro sábado de outubro. Também promovemos o Dia Mundial de luta contra a Aids, no dia 1º de dezembro. Fora essas quatro campanhas, realizamos ações de prevenção durante todo o ano em escolas, com a parceria da Secretaria de Estado da Educação. Entre essas ações, está o projeto Saúde e Prevenção nas Escolas, voltado para o trabalho com adolescentes que estão descobrindo sua sexualidade. É um momento oportuno para trabalhar a prevenção com essa população. Também damos suporte às secretarias municipais, a universidades e outras instituições, para prevenção e informação. Sandra Brunini – Essa parceria da secretaria com outros órgãos, como ONGs e universidades, tem sido profícua. A UFG tem desfrutado dessa parceria, tanto nas ações de extensão quanto de pesquisa. Como professora, venho contando com esse apoio e suporte da coordenação estadual no ensino, na pesquisa e na extensão. Um projeto recente surgiu da convivência com o jovem universitário, e ele será implementado ainda este ano na UFG, com o apoio da Pró-Reitoria de Graduação (Prograd). Temos um projeto de prevenção de DSTs na Faculdade de Enfermagem, com a implantação de dispensadores de preservativos na Universidade, cedidos pela coordenação (do DST/Aids da Secretaria Estadual de Saúde). O projeto prevê, além da distribuição dos preservativos, oficinas para vivenciar o uso deles. Essas ações serão ampliadas para toda a Universidade. Essa forma de prevenção em grupo, muitas vezes, não é possível em situação de risco. Rosilda Marins – Acho que perdemos bastante do começo da epidemia até agora. Houve mudanças, como a descentralização de recursos, mas a ONG Pela Vida não tem hoje nenhum projeto em parceria com o governo do estado, apenas com o Ministério da Saúde. Percebo um enfraquecimento das coordenações, em nível nacional. Quando o recurso chega, ele vai para a Assembleia, vai para edital, e isso demora quatro, cinco anos até que ele chegue a nós para ser trabalhado. O trâmite dos recursos tem sido complicado. E é uma política nacional: o governo tenta fazer com que a Aids seja
MESA-REDONDA
Goiânia, outubro de 2014
uma doença como qualquer outra, mas ela tem, sim, suas particularidades: ela não é uma doença sexualmente transmissível, como a sífilis. Existem estudos com vacinas. Estamos avançando com relação à cura? Sandra Brunini – A infecção por HIV não tem cura, isso é preciso ficar claro. O portador deve cuidar da sua saúde, como em outras doenças, mas ele sempre será portador do vírus. Contudo, o desenvolvimento da doença no indivíduo dependerá de como ele vai enfrentar o diagnóstico e conduzir o cuidado com sua saúde. Uma vez que não há cura, a pesquisa hoje procura investir em métodos de prevenção biomédica, como a fabricação de vacinas que impeçam a replicação viral e a infecção ou que possam retardar o processo de adoecimento. As vacinas são muito complexas. Seu desenvolvimento implica ensaios biomédicos. Seja a vacina, uma medicação específica ou as terapias combinadas, todas só podem ser utilizadas em seres humanos após o cumprimento de uma série de protocolos de ensaios clínicos. São várias fases, que começam com os testes em animais e vão até a última fase, que são os testes em humanos. Os protocolos são muito rígidos, e devem ser assim, para garantir segurança às pessoas que participam das pesquisas e à população-alvo desses testes. No momento não temos nenhuma vacina que esteja na fase 4, que é a fase de testes em pessoas. Ou seja: não há probabilidade de uma vacina chegar ao mercado antes de dez anos. Outros métodos conhecidos hoje são eficazes para reduzir a replicação viral no organismo. É com isso que se trabalha atualmente. Com o tempo, impede-se que o indivíduo desenvolva doenças chamadas oportunistas. Antigamente tínhamos uma medicação extremamente tóxica. O marco brasileiro dessa época foi o Cazuza. O AZT era a única medicação disponível no mundo. Hoje, trinta anos depois, temos um arsenal terapêutico importante, não tão grande como o dos antibióticos, por exemplo, mas com medicações que atuam em várias fases do ciclo viral. Como é a vida para um portador do vírus? É possível ter uma vida normal? Como é a disponibilização de medicamentos pelo SUS? Rosilda Marins – Hoje a vida é quase normal, em vista do que era no passado. Eu cheguei a tomar vinte e oito comprimidos por dia. Hoje tomo seis comprimidos específicos. Tomávamos muitos medicamentos, mas que produziam pouco efeito sobre a doença e muitos efeitos colaterais. Além disso, não havia uma disponibilidade satisfatória desses medicamentos. Hoje já temos os medicamentos e os serviços de referência disponíveis. Ainda é complicado, como a saúde em geral no país também é. Você tem de ir ao hospital, tem de ir ao serviço público, gastar horas para realizar a consulta e os exames. Ademais, tem de fazer caminhada, ter uma alimentação saudável e tomar remédios todos os dias. Você precisa lutar por uma vida com qualidade, mas é uma vida quase normal. Você tem a possibilidade de discutir com seu médico as melhores terapias, aceitá-las e se tratar. A aceitação é difícil? Rosilda Marins – Sim. O preconceito ainda é muito grande. Nem o portador aceita a doença, que dirá a população. E ele precisa tomar os remédios todos os dias. Mesmo a medicação de um comprimido só, tem efeitos colaterais. Mas se você fizer tudo isso, é possível ter uma vida quase normal. Claro que vêm outros agravantes, como o aumento do triglicérides, por exemplo. Sandra Brunini – Os efeitos colaterais já melhoraram muito. Os novos fármacos têm reduzido aqueles mais graves que antes existiam, como as alterações do metabolismo no organismo e em sua
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distribuição, os efeitos sistêmicos, neurológicos e dermatológicos e o envelhecimento precoce. Como lidar com o preconceito, principalmente, os que acabam de descobrir que tem o HIV? Edvan Miranda – Para a aceitação e o trabalho com o preconceito, contamos muito com as ONGs, que realizam reuniões e encontros para dar assistência e apoio a quem acaba de receber o diagnóstico do HIV. Quando o paciente não tem o apoio da família ou não tem coragem de contar para a família, nós o encaminhamos para as ONGs, que fazem esse trabalho de sensibilização e acolhimento, para que o paciente aceite a nova condição, aderindo à medicação. Ele começa a enxergar que não é o fim da vida, mas que precisará ter alguns cuidados. O portador do HIV pode ter uma vida quase normal, mas
Rosilda Marins sabemos dos efeitos colaterais. Conheço pessoas que vivem com o vírus há anos e são bem saudáveis, pois fazem adesão ao tratamento e praticam exercícios. Elas não possuem aquele aspecto magro do portador do HIV, como tinha o Cazuza. Sandra Brunini – Uma coisa é estar infectado e outra é evoluir para a doença. O diagnóstico precoce dá início ao tratamento precoce, o que impede a evolução da doença. Não deveríamos mais ter tantos casos de Aids como ainda temos. Aqui em Goiás, em um trabalho que fazemos há vários anos com pacientes do hospital de referência, percebemos que 60% dos indivíduos que são atendidos pela primeira vez já chegam com Aids, isso que precisamos combater. Com toda a tecnologia de testes que temos, como as pessoas só se descobrem portadoras do vírus quando já estão doentes? Desse jeito elas não vão usufruir dos benefícios da medicação. Rosilda Marins – Tivemos um caso de uma jovem de 25 anos que teve morte súbita, e, só cinco meses depois, foi descoberto que ela morrera de Aids. Falta de diagnóstico. É uma situação que vai se repetir muito se as pessoas não se sensibilizarem para a importância de fazer o exame. É difícil, mas é a melhor forma. Fugir é uma possibilidade de adoecer. É possível perceber sintomas? Sandra Brunini – Os sinais e sintomas são bastante conhecidos da população: diminuição de mais de 10% do peso sem dieta, queda de cabelo, febre, falta de apetite, manchas no corpo, tuberculose, pneumonia. Hoje, no Brasil, a tuberculose é a porta para a descoberta da Aids. E isso é absolutamente desnecessário tendo em vista tantos recursos de diagnóstico e tratamento. Porque a doença significa que o paciente estava há dez anos infectado pelo vírus, sem nenhuma intervenção. Hoje o Brasil tem uma política que oferece medicação independente da carga viral dos pacientes. Ou seja, se diagnosticado, ele não vai adoecer. E é isso que queremos. Rosilda Marins – Temos de procurar o serviço de saúde. Não devemos nos tratar em casa, nem nos automedicar. É importante ir ao serviço de saúde, relatar seu histórico, dizer se transou sem camisinha e pedir para fazer o exame.
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Jornal UFG
PESQUISA
Goiânia, outubro de 2014
Vítimas invisíveis da violência em busca do sonho americano Pesquisador, Júlio da Silveira Moreira, investigou a relação entre violência contra imigrantes brasileiros que tentam atravessar a fronteira do México com os Estados Unidos e crime organizado Serena Veloso
ciadores, que providenciam o visto, documentação ilegal, e fazem a passagem dos viajantes pelo México. Baseado no estudo de caso sobre a região de Governador Valadares, o pesquisador pôde avaliar que as emigrações se dão, principalmente, entre habitantes das áreas rurais, que enxergam possibilidade de mudanças na situação socioeconômica. Porém, as perspectivas não são correspondidas já que eles são submetidos à pesada carga de trabalho e não conseguem arrecadar o necessário para melhorar de vida.
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Na capela do Albergue Hermanos en el Camino, na cidade mexicana de Ixtepec, pessoas observam fotos de imigrantes desaparecidos
Guerra às drogas Segundo o pesquisador, a vigilância da fronteira entre México e Estados Unidos pelo governo norte-americano é extremamente severa e integra a própria política de guerra ao terror e de combate às drogas no país. Para combater o narcotráfico e, ao mesmo tempo, evitar a entrada de pessoas indocumentadas, ou seja, sem autorização ou visto, em seu território, foram criadas estratégias que envolvem a interferência política e militar no México. “Essa política se materializa no México por meio de acordos de cooperação estratégica e militar, um prolongamento do Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta) e outras iniciativas, como a Aliança para a Segurança e Prosperidade da América do Norte (Aspan)”, explicou. No entanto, ele afirma que tais restrições acabam por incentivar o desenvolvimento do narcotráfico: “Quanto mais proibições e restrições, mais o tráfico ganha poder, porque os traficantes começam a atuar no mercado ilegal. Assim, o preço da droga aumenta, mesmo sendo muito barato o custo de produção”. O governo mexicano, em 2006, também aderiu ao modelo norte-americano de guerra às drogas. Anos antes, o então presidente, Vicente Fox, havia aprovado um acordo de isenção de vistos entre Brasil e México para livre trânsito de empresários, o que teria causado um aumento no fluxo migratório de brasileiros para os Estados Unidos que viajavam
para a Cidade do México, de onde seguiam trajeto rumo à fronteira. Com o fim do acordo em 2006, os imigrantes encontraram grande dificuldade para se deslocarem diretamente da capital mexicana e traçaram nova rota pela fronteira entre Guatemala e México. Para fazer a rota, os viajantes adentravam o México de forma anônima – o que os tornava vulneráveis diante de situações de violência, roubo ou sequestro – possibilitando que as organizações criminosas estabelecessem novas formas de lucro. “O massacre de 2010 leva a uma interpenetração entre o problema do tráfico de drogas e o da migração, porque chega um momento em que esses cartéis lidam não só com o narcotráfico, mas também com o tráfico de pessoas”, apontou.
Estrangeiros sem direitos Apesar da grande demanda no mercado de trabalho dos Estados Unidos, o país investe fortemente em políticas para restrição da entrada de imigrantes, dificultando a concessão de vistos para trabalhadores brasileiros. Para explicar essa questão, Júlio Moreira utilizou a teoria do mercado de trabalho dual ou segmentado. A teoria verifica Fotos: Júlio Moreira
gosto de 2010: 72 imigrantes ilegais que tentavam atravessar a fronteira do México com os Estados Unidos foram assassinados em um rancho próximo à cidade de San Fernando, no Estado de Tamaulipas. As mortes foram causadas por integrantes de um cartel de drogas, que sequestraram os estrangeiros, oferecendo trabalho como matadores de aluguel e, devido à recusa, os assassinaram. A chacina, que ficou conhecida como Massacre de Tamaulipas, teve repercussão na imprensa mundial, que colocou em pauta as discussões sobre a migração de latino-americanos pela fronteira México-Estados Unidos e a relação com a violência promovida por organizações criminosas. Entre os mortos, quatro eram brasileiros, sendo dois da região de Governador Valadares, em Minas Gerais. O caso despertou o interesse do advogado e então doutorando do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFG, Júlio da Silveira Moreira, que passou a investigar os motivos pelos quais os brasileiros continuam se submetendo aos diversos perigos no trânsito ilegal para os Estados Unidos e, ainda, a relação entre a política migratória do país e a violência contra os imigrantes. A pesquisa resultou na tese Violência contra migrantes em trânsito no México, defendida no início do mês de agosto, sob orientação do professor e diretor da Faculdade de Ciências Sociais (FCS), Dijaci David de Oliveira. Durante um ano, entre 2012 e 2013, Júlio Moreira esteve no México, em doutorado sanduíche na Universidad Nacional Autónoma de México (Unam), realizando pesquisa dentro do Centro de Investigaciones sobre América del Norte, sob orientação da professora Adriana Estévez López. Lá, o pesquisador acompanhou de perto a realidade vivida por aqueles que tentam entrar nos Estados Unidos sem o visto. Já no Brasil, ele foi à região de Governador Valadares entrevistar as famílias dos dois jovens assassinados no Massacre de Tamaulipas.
que grande parte das atrações exercidas sobre a migração internacional, em que indivíduos de países menos desenvolvidos vão para países com maior desenvolvimento econômico, está relacionada ao mercado de trabalho secundário, que necessita de mão de obra flexível e menos qualificada. No caso dos Estados Unidos, enquanto o mercado de trabalho primário atrai em grande parte a população nacional, já que compreendem ocupações que exigem maior escolaridade e liderança, o secundário reserva vagas para pessoas indocumentadas de outros países. Os empregadores não oferecem para os trabalhos informais e menos qualificados salários altos, plano de carreira, nem direitos trabalhistas, o que retira as responsabilidades do governo com os imigrantes como cidadãos. Além disso, a intenção dos próprios migrantes é de retornar ao país de origem. “Eles precisam ser indocumentados para que eles não sejam sindicalizados, não tenham direitos”, constatou.
O sonho americano Em sua pesquisa, Júlio Moreira remonta o contexto de início dos fluxos migratórios do Brasil para os Estados Unidos a partir da década de 1980. Para ele, a questão econômica era – e ainda é – o principal motivo da saída de brasileiros do país que, devido à falta de perspectiva de emprego, sonhavam em trabalhar em países estrangeiros para acumular dinheiro e retornarem para suas famílias. Porém, uma vez que se estabelecem no país norte-americano também abrem possibilidades para que seus familiares se arrisquem na emigração. Júlio Moreira afirma que o fluxo migratório também é mantido pelas redes de agen-
Mães da Guatemala se reúnem em caravanas para procurarem filhos desaparecidos no trânsito migratório pelo México
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PESQUISA
Goiânia, outubro de 2014
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Pesquisadores do Laboratório de Nutrição Experimental realizaram ensaio clínico inédito para analisar o efeito do fruto em seres humanos
Carlos Siqueira
Estudo demonstra que consumo de amêndoa baru reduz a concentração de colesterol no sangue Águita Araújo
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prevenção de doenças cardiovasculares, como a arteriosclerose, agora tem uma nova aliada: a amêndoa de baru. Pesquisadores do Laboratório de Nutrição Experimental (Lanut) da Faculdade de Nutrição (Fanut) da UFG descobriram, por meio de uma pesquisa inédita, que indivíduos com alteração moderada nos níveis de colesterol total (hipercolesterolemia) podem se beneficiar do consumo de baru. A pesquisa, iniciada em 2013 e desenvolvida como parte de uma dissertação de mestrado da então estudante do Programa de Pós-Graduação em Nutrição e Saúde, Ana Paula Nunes Bento, foi publicada este ano no Nutrition, Metabolismand Cardiovascular Disease, periódico de referência mundial na área de nutrição e doenças cardiovasculares. Ana Paula Bento desenvolveu o estudo com a orientação da professora Maria Margareth Veloso Naves e coorientação das professoras Mara Reis Silva e Cristiane Cominetti. O objetivo do trabalho foi avaliar o efeito da inclusão de uma porção diária de amêndoa de baru na alimentação de pessoas moderadamente hipercolesterolêmicas. Foram avaliados o perfil lipídico e o estado oxidativo desses indivíduos. O método utilizado foi o crossover, no qual todos os voluntários da pesquisa são submetidos tanto ao tratamento testado (nesse caso, o baru) quanto ao tratamento com placebo (nesse caso, uma cápsula de amido de milho). Esse método permitiu a observação mais precisa do momento em que houve o processo de redução das concentrações lipídicas dos indivíduos, aumentando a força estatística dos resultados obtidos. Homens e mulheres com idade entre 21 e 57 anos compuseram o grupo de 20 indivíduos que participaram do estudo. Eles consumiram 20g, que equivale aproximadamente a 15 unidades de amêndoa de baru por dia, durante seis semanas. Ao final da suplementação, foi observada uma redução significativa, comparada ao período que o voluntário consumiu placebo, nas concentrações de colesterol total (-8,1%) e lipoproteínas de baixa densidade associadas ao colesterol, LDL - colesterol (-9,4%). De acordo com Ana Paula Bento, a suplementação da dieta de indivíduos moderadamente hipercolesterolêmicos com amêndoas de baru melhorou o perfil lipídico, isso indica que este alimento pode ser incluído em dietas para reduzir o risco de doenças cardiovasculares.
A descoberta da suplementação alimentar diária com a castanha relacionada à prevenção de doenças cardiovasculares pode contribuir também para a valorização da vegetação do bioma Cerrado
As vantagens do baru
Divulgação
A formação de placas de gordura na parede dos vasos sanguíneos é considerada um dos principais fatores para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, como a arteriosclerose. Segundo a nutricionista, Ana Paula Bento, o colesterol e os triglicerídeos compõem a categoria dos lipídios que, em níveis elevados na corrente sanguínea, contribuem mais para a ocorrência dessa doença. Ela esclarece que o baru atua justamente na redução desses lipídios. Esse efeito é atribuído à composição nutricional do alimento, com destaque para o conteúdo de ácidos graxos mono e poli-insaturados. Além disso, o fruto possui fibras e compostos bioativos, como os polifenóis, que possuem a propriedade de reduzir a absorção de gordura no intestino e atuar como antioxidantes, respectivamente, explica Ana Paula Bento. O efeito do consumo da amêndoa de baru na redução das concentrações de colesterol total e de LDL possui um diferencial em relação a outras oleginosas já pesquisadas. “A maior parte dos estudos feitos com oleaginosas, como castanha-do-pará, amêndoas, macadâmia e nozes, utilizou uma porção de 60g a 100g. No nosso estudo, utilizamos apenas 20g de amêndoa de baru, o que foi suficiente para obtermos um resultado satisfatório, ou seja, a porção utilizada foi de 3 a 5 vezes menor em comparação a outros estudos”, explica a nutricionista. Essa importante descoberta para a prevenção de doenças cardiodvasculares pode contribuir também para a valorização da vegetação do bioma Cerrado. Ana Paula Nunes explica que a árvore do baru costuma ser abatida para a comercialização da madeira. Uma vez que o fruto se torna um elemento importante para a alimentação, a espectativa da nutricionista é de que a exploração da madeira seja evitada.
Novas questões Cristiane Cominetti, Ana Paula Nunes Bento e Maria Margareth Veloso Naves, autoras do artigo no periódico Nutrition, Metabolismand Cardiovascular Disease
Os resultados do estudo realizado por pesquisadores do Lanut estimulam outras investigações, como a relação entre a dose consumida e a resposta no organismo; se o fruto pode beneficiar indivíduos
em diferentes fases e condições fisiológicas; o impacto sobre outros tipos de doença e desfechos clínicos, além de estudos com enfoque no impacto do alimento sobre a expressão de genes e a influência da genética no efeito do alimento no organismo. Segundo a professora Maria Margareth Veloso Naves, coordenadora do Lanut, análises prévias da composição da película que envolve o fruto, semelhante a do amendoim, porém mais espessa, indicam a presença de altas concentrações de compostos fenólicos, que possuem atividade antioxidante. Ela explica que é importante conduzir outras pesquisas para esclarecer os tipos de compostos fenólicos existentes na película do fruto e quais benefícios podem trazer para a saúde das pessoas.
Pesquisas da Fanut sobre o fruto Há sete anos, o grupo de pesquisa da professora Maria Margareth vem desenvolvendo estudos para identificar os benefícios do baru para a alimentação. Ao longo deste tempo, os pesquisadores já realizaram atividades como o levantamento completo dos componentes do fruto, como macronutrientes, composição mineral, perfil de ácidos graxos, qualidade proteica, compostos bioativos e capacidade antioxidante de frutos coletados em diferentes regiões do Cerrado. Em decorrência desses estudos, o grupo já publicou vários artigos em revistas de impacto internacional. Além dos estudos de caracterização química e nutricional, ensaios com modelos animais foram realizados para investigar o efeito do baru no perfil lipídico no sangue, tendo sido obtidos resultados positivos, o que motivou o estudo em seres humanos. De acordo com a professora Maria Margareth, o Lanut contribuiu fundamentalmente para a identificação e análise do potencial do fruto para consumo humano, em termos de qualidade proteica e lipídica, tendo em vista que constitui um laboratório próprio para experimentação com animais, com o objetivo de investigar o efeito dos alimentos ou seus componentes na saúde.
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Jornal UFG
VIDA ACADÊMICA
Licenciaturas no cen
Igor dos Santos Lima*
O
curso de Matemática está na UTI e precisa urgentemente de uma cirurgia de risco. Essa é a impressão que tenho desde que cheguei ao Câmpus Catalão da UFG em dezembro de 2012. E é sem medo que escrevo para relatar o problema e apontar algumas ações que estão sendo desenvolvidas na Regional Catalão, desde 2013, por docentes da instituição e pesquisadores externos, que acreditam em uma possível melhora em médio prazo. Desde que cheguei, coordeno o Seminário Semanal de Álgebra (SSA), que visa diminuir a evasão, o abandono, a desistência e a reprovação em disciplinas ligadas direta e indiretamente à Álgebra (disciplina com alto índice de reprovação e desistência). Dentro desse projeto, há o Workshop de Álgebra da UFG-CAC, evento gratuito que chegará em sua terceira edição no período de 20 a 23 de outubro. Para mais informações acesse o sítio www.ssa_mat. catalao.ufg.br/ Não é exagero pensar que, se a evasão e as vagas ociosas continuarem no ritmo atual, o curso de Matemática Licenciatura tende a acabar. Meu maior espanto é ao confrontar a realidade de discentes desse curso na Regional Catalão com a minha na UnB há quase uma década. Os tempos mudaram, mas a vontade de estudar deve permanecer. Tomei posse como docente na UFG recentemente e observo que falta nos estudantes maior motivação e apego com aquilo que se propõem a fazer e sobra deficiência na formação básica. É constante a desmotivação discente advinda, às vezes, justamente dessa falta de “base”. É evidente também a dificuldade deles em assuntos básicos que acaba tendo de ser contornada em âmbito de Ensino Superior, como ocorre na disciplina Elementos de Matemática, pré-requisito para Cálculo I. Estamos lidando com jovens e adultos que, de um modo geral, não têm perspectivas de continuarem os estudos após a graduação. Parte da responsabilidade é também da falta de reciclagem dos professores e do Projeto Pedagógico de Curso (PPC), que não atendem com maior êxito os alunos com dificuldades na formação e com sérios problemas de horários de estudo – o curso de Matemática Licenciatura é noturno (predominantemente) e muitos alunos trabalham durante o dia e outros tantos saem mais cedo das últimas aulas para não perderem o ônibus (coletivo). Sou consciente de que é necessário um levantamento maior para endossar o relatado neste texto. Porém, é o contato direto com os discentes que me motiva a realizar ações de melhoria para a Regional Catalão baseadas em projetos que deram certo em outras instituições de ensino, como os projetos de extensão Dominó de Lógica (Unesp) e Rei da Derivada (UnB- Gama), que já tem a autorização dos autores e serão implantados na Regional Catalão em 2014, e o curso de especialização em Matemática (IME-UFG), já apresentado ao Departamento de Matemática como pedido de implantação para 2015. Além desses, há o PET-MAT (UnB) e esse será realizado em parceria com o Centro Acadêmico de Matemática (CAMat), que está sendo criado pelos discentes. Ações como as citadas e também orientações de alunos em projetos de pesquisa ou iniciação científica são apenas a “cereja de um bolo”, que, sem dúvidas, é bem maior do que se pensa. Disciplinas como Raciocínio Matemático: técnicas de demonstração melhoram a formação dos discentes, principalmente os de Exatas. Outra sugestão que poderia amenizar esse “grito de socorro” seria designar um orientador acadêmico para cada aluno do curso. O III Workshop de Álgebra da UFG-CAC também contribui com isso, visto que o evento, em suma, é uma iniciativa singular de complementação didática e acadêmica, que auxilia na formação profissional do público-alvo (discente de diversos cursos e participantes do público externo à UFG) e daqueles envolvidos no projeto. Ao final do Workshop, espera-se que os alunos estejam mais motivados e que os problemas que forem desenvolvidos se transformem em artigos científicos e projetos de pesquisa.
*Professor do Departamento de Matemática da Regional Catalão - UFG
Pró-Reitoria de Graduação (Prograd) aposta em diálogo e bolsas para Angélica Queiroz
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m todo o país os cursos de licenciatura têm perdido prestígio social, o que resulta em alta evasão e vagas ociosas (ver matéria na edição de setembro do Jornal UFG). Na UFG essa realidade não é diferente. No entanto, a Universidade tem se empenhado para encontrar soluções que minimizem o problema. No centro da ação está o debate. Para a coordenadora de Licenciatura e Educação Básica da Prograd, Miriam Fábia Alves, mais do que tomar medidas internas, é preciso estimular uma mudança política e cultural que funcione como chave para que as licenciaturas voltem a ser atraentes. A UFG oferece hoje 57 licenciaturas com mais de sete mil alunos matriculados. Esses cursos conseguem formar aproximadamente 55% dos ingressantes, número pequeno, mas ainda significativo quando comparado aos do cenário nacional. Para a coordenadora de licenciaturas da Prograd, a situação das licenciaturas no país é preocupante, mas ela é otimista e acredita nas ações que a Universidade tem desenvolvido. O Programa Bolsas de Licenciatura (Prolicen), o Programa de Monitorias e o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid), projetos que aproximam a licenciatura e a educação básica, estão entre as apostas para diminuir a evasão. A Prograd, em parceria com os institutos e unidades acadêmicas, tem investido ainda em cursos de núcleo livre visando à permanência dos estudantes que ingressam com dificuldades básicas e acabam tendo problemas nas disciplinas mais complexas, como Cálculo (ver reportagem na página 12). Na opinião de Miriam Fábia, superando essas dificuldades, que muitas vezes desmotivam os alunos, a tendência é que a taxa de evasão nas licenciaturas diminua.
A maior aposta da coordenadora de licenciaturas é no debate. “Não temos outra saída, senão estimular o diálogo,” ressalta. Por isso, está sendo realizado mensalmente o Fórum de Licenciatura da UFG, um espaço para que os professores discutam, formulem e acompanhem a criação de uma política de licenciatura para a instituição. No dia 22 de setembro, a reunião do Fórum contou com a presença do professor Luiz Dourado, da Faculdade de Educação (FE). Segundo ele, que é membro da Comissão de Formação de Professores do Conselho Nacional de Educação (CNE), “é preciso pensar no conjunto de políticas de gestão da educação superior”. Para Luiz Dourado, a saída é discutir o projeto pedagógico dos cursos, sem dissociar a educação superior da educação básica. Quadro crítico – Professor da Faculdade de Artes Visuais (FAV) e membro do banco de avaliadores INEP/MEC, Cleomar Rocha, alerta para o fato de que muitos cursos de licenciatura estão sendo extintos no país. Segundo ele, as universidades particulares já fecharam ou estão fechando turmas e as instituições públicas têm problemas para atrair alunos. “Nas licenciaturas, as vagas é que disputam candidatos, e não o contrário,” afirma. A solução para melhorar a qualidade da educação em todos os níveis e em todo o país, de acordo com Cleomar Rocha, é encontrar caminhos para resgatar o interesse pela carreira docente. “A licenciatura é o coração de todo o processo,” assinala. Para ele, as licenciaturas deveriam ser os carros-chefes da Universidade. “O nosso papel não é apenas formar, mas mudar culturalmente o que está posto. Precisamos dialogar com os governos para reverter esse quadro. A Universidade não é uma ilha,” defende.
Leticia Antoniosi
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ARTIGO
Senti que o curso de Matemática da Regional Catalão pedia socorro
Goiânia, outubro de 2014
Durante Fórum de Licenciatura professor Luiz Dourado faz panorama sobre a carreira docente no Brasil
VIDA ACADÊMICA
tro do debate na UFG alunos de licenciatura como estímulo para a escolha da carreira docente
“Dá pra se fazer muito e acreditar no que se faz” Pedro Augusto Lino Silva Costa, 21, é estudante do 8º período de Letras da UFG na regional Goiânia e acredita que não poderia ter escolhido um curso melhor. “Eu, de fato, gosto de estar me formando professor. Quero ser professor mesmo. O curso de Letras e as licenciaturas em geral nos proporcionam um crescimento muito grande,” declara. O estudante concorda que tem ocorrido certo abandono da vontade de
ser professor. “Acho que conseguiram inculcar a ideia de que ser professor é menos digno porque se ganha menos. É uma situação muito difícil, mas é possível. Dá pra se fazer muito e acreditar no que se faz,” opina. Para o estudante de Letras, a UFG tem investido cada vez mais em pesquisa, e isso é um grande avanço. Ainda segundo Pedro, o Prolicen, do qual é bolsista, é de grande ajuda nesse incentivo.
Estudantes da Regional Catalão durante o I Workshop de Álgebra da UFG-CAC
“Os desafios estão aí para serem superados” Ricardo Gomes Assunção foi aluno de Matemática na UFG-Catalão e hoje é mestrando em Matemática pelo Mestrado Profissional em Matemática (PROFMAT) da mesma instituição e professor no Instituto Federal Goiano em Urutaí. Segundo ele, a desvalorização dos professores, o desinteresse dos alunos e as condições precárias de trabalho são os principais motivos para que a carreira do professor não seja atraente para o futuro estudante de ensino superior. “Eu, como professor de licenciatura, percebo claramente isso quando converso com meus alunos. Um trabalho de divulgação das licenciaturas e uma campanha de valorização dos professores devem ser feitos com urgência para garantir o futuro da profissão, que motiva todas as demais profissões”, alerta. Para Ricardo Assunção, é errado culpar as instituições de ensino superior por esse desinteresse pelas licenciaturas. “Tive e tenho um ótimo curso, com professores qualificados, com ótimos pro-
jetos de pesquisa e extensão, com uma política de estágio muito significativa e todo o apoio dos professores. Inclusive, fui bolsista do CNPq na época da graduação e hoje sou bolsista da CAPES. Claro que tive dificuldades também, mas onde elas não existem?,” detalha. Segundo ele, muitas vezes, falta investimento dos governos nas licenciaturas, e os administradores têm de ter jogo de cintura para exercer um bom trabalho. Mesmo com todos os problemas, ele tem orgulho da profissão que escolheu. “O fato é que hoje me considero um grande professor de matemática, e o que me deu todas as condições para exercer minha profissão foi o bom trabalho desenvolvido pelos professores do curso de matemática da regional Catalão. Inspirado na luta diária deles é que hoje tento desenvolver um trabalho com meus alunos, mostrando o quanto essa profissão é bonita. Cheia de desafios, mas os desafios estão aí para serem superados,” conclui.
Goiânia, outubro de 2014
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ARTIGO
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Jornal UFG
Thiago Porto de Almeida Freitas*
Curso de Matemática da Regional Catalão: vem somar você também!
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este espaço, conforme aprovado no Colegiado da Unidade Acadêmica Especial de Matemática e Tecnologia (IMTec), da Regional Catalão, apresentamos elementos que destacam o compromisso sério e responsável com que esta unidade conduziu e conduz o curso de licenciatura em Matemática ao longo de seus 26 anos de atuação no sudeste goiano. Esse foi o terceiro curso de graduação da Regional Catalão, tendo sido implantado em 1988, com o objetivo de garantir a formação de professores de Matemática para atuar nas escolas da região. Até o primeiro semestre de 2014, contribuiu com a formação inicial de 366 professores dessa disciplina, estando acima da média nacional no índice de egressos na licenciatura. Entre os profissionais aqui formados, vários atuam em diversas instituições de ensino de maneira compromissada. Aliás, parte significativa do corpo docente do IMTec consiste de ex-alunos do curso de Matemática. Desde que foi alcançada a autonomia na construção e no desenvolvimento do projeto pedagógico do curso de Matemática, por meio da atuação do Núcleo Docente Estruturante, são constantes as discussões sobre adequações no curso para atender a legislações e pela necessidade de inovação no processo de ensino e aprendizagem de Matemática. O curso de Matemática foi o embrião para a criação do IMTec, que vem se consolidando por meio da implantação de outros dois cursos de graduação (Matemática Industrial 2008 e Licenciatura em Matemática a Distância 2014) e dois programas de pós-graduação: Mestrado Profissional em Matemática (PROFMAT) 2012 e Mestrado em Modelagem e Otimização 2014. O PROFMAT visa à formação continuada de professores do ensino básico, e, no mínimo, 80% das vagas ofertadas destinam-se a este público. Além dos cursos de graduação e pós-graduação, o IMTec desenvolveu e continua desenvolvendo ações que promovem a melhoria do ensino e aprendizagem de Matemática, entre as quais podemos citar: cursos de especialização; Simpósio de Matemática e Matemática Industrial; curso Galileu; Jornal Math-Folha; Olimpíadas Brasileiras de Matemática da Escola Pública (OBMEP); Integrar – Escola e Matemática; Torneio de Jogos Matemáticos; Workshop de Álgebra; Seminário Semanal de Álgebra; Phi: Reforço Escolar em Matemática; Dominó da Lógica Matemática; A Informática Básica como Ferramenta Motivadora no Ensino de Matemática; o Programa de Iniciação à Docência (Pibid); e inúmeros projetos de pesquisa. Por meio dessas ações de extensão e pesquisa, o IMTec tem captado recursos para adequar sua infraestrutura e ofertar diversas bolsas aos estudantes, possibilitando-lhes maior vivência e dedicação às atividades acadêmicas. Promovendo uma política de qualificação de seus docentes, o IMTec facilita o afastamento deles para cursar doutorado e pós-doutorado em programas de excelência e incentiva-os à participação em eventos científicos. Iniciativas como estas se mostram importantes para fortalecer a interlocução com pesquisas recentes, especialmente, nas áreas de Matemática, Educação Matemática e Matemática Industrial. Ademais, os professores efetivos e em exercício possuem pelo menos a titulação de mestre. Enfim, o IMTec apoia a luta pela valorização do trabalho docente e se encontra aberto ao desenvolvimento de ações em prol do fortalecimento do ensino de Matemática. *Chefe da Unidade Acadêmica Especial de Matemática e Tecnologia, Regional Catalão- UFG
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UNIVERSIDADE
Goiânia, outubro de 2014
Disciplina é criada para superar deficiências na formação em Matemática Leticia Antoniosi
Oferecida como Núcleo Livre de Matemática Básica, a disciplina irá auxiliar alunos com dificuldades em Cálculo I
Teste realizado em agosto selecionou estudantes para cursar a nova disciplina Camila Godoy e Thaíssa Veiga
O
diretor do Instituto de Matemática e Estatística (IME), Maurício Pieterzack, realiza, desde o início do ano de 2013, estudos sobre aprovações e reprovações de alunos que cursam a disciplina de Cálculo I. Após a obtenção dos dados, foram detectadas falhas no aprendizado dos alunos, em especial, no que se refere aos conteúdos de matemática básica. “As disciplinas de Cálculo são mais difíceis, muitos alunos vêm com dificuldades dos ensinos básico e médio. Em geral, Cálculo I é a primeira disciplina que os alunos fazem, existe um grande choque, e é onde muitos desistem”, destaca o diretor do IME, Maurício Pieterzack.
No primeiro semestre de 2013 estavam matriculados na UFG 1.354 alunos em Cálculo I. O número de estudantes reprovados foi de 831, o equivalente a 61,37% Tendo conhecimento sobre as inúmeras reprovações, a Pró-Reitoria de Graduação (Prograd) e o IME criaram a disciplina de Matemática Bási-
ca, oferecida como Núcleo Livre com 64 horas. As aulas pretendem auxiliar alunos com dificuldades para que possam cursar posteriormente a disciplina de Cálculo I. Maurício Pieterzack decidiu avaliar os estudantes dessa disciplina e detectou dificuldades durante o processo de aprendizagem. A análise ocorreu mesmo antes de a média final dos cursos de graduação passar de 5,0 (cinco) para 6,0 (seis), com a aprovação do novo Regulamento Geral dos Cursos de Graduação (RGCG). Durante os levantamentos, o diretor notou que o número de reprovações iria aumentar quando a média subisse. “Fiz um estudo do que iria acontecer se a média fosse seis, antes mesmo de ela subir. A constatação foi de que 50% dos alunos que tinham sido aprovados em Cálculo I em 2013 teriam sido reprovados se a média fosse 6. A aprovação iria ficar por volta de 20% apenas”, relata o diretor. Os interessados em se matricular nessa disciplina passaram por uma prova, realizada no dia 11 de agosto. Segundo Maurício Pieterzack, 1.200 alunos foram notificados por e-mail por apresentarem mais dificuldade na disciplina de Cálculo I, porém apenas 390 se inscreveram e apenas 164 realizaram a prova. Dentre os alunos que realizaram a avaliação, estava a estudante do 3º período do curso de Engenharia de Computação, Ana Paula Rodrigues de Oliveira, que não considerou o teste difícil, mas acredita que as deficiências da formação dos alunos poderiam impedir que eles se lembrassem das matérias cobradas: “O que estamos estudando no curso é fácil saber, porque é visto todos os dias, mas se você tem problemas com
a matemática básica e empurra com a barriga ao longo dos anos, não consegue responder nem a questões simples”. Para Murilo Henrique Azevedo, estudante do 4º período do curso de Agronomia, a disciplina de Matemática Básica abrirá portas para quem não teve boa formação no ensino médio. Mas defendeu que, além das deficiências básicas, outros dois fatores são responsáveis pelo alto índice de reprovação na disciplina de Cálculo I: a didática dos professores e o empenho dos estudantes. “Se eu não me esforçar, nunca conseguirei ser aprovado. O teste de hoje me fez perceber que preciso me empenhar mais”, disse. A prova detecta se o aluno pode fazer a disciplina de Cálculo I ou se terá de passar antes pela Matemática Básica.
Núcleo Livre Cada turma de Matemática Básica tem como ementa: frações, equações do primeiro e do segundo graus, inequações, potências, representação geométrica, funções elementares (linear, potência, módulo, racionais, seno e cosseno). Os alunos têm o auxílio de monitores e devem cumprir exercícios e testes quinzenais com e sem consultas, além de avaliações em seminários para compor as notas das avaliações. A PROGRAD recomenda ainda que os alunos se matriculem em, no máximo, seis disciplinas por semestre a fim de que tenham tempo para resolver exercícios e frequentar a monitoria.
Jornal UFG
UNIVERSIDADE
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Goiânia, outubro de 2014
Momento de resgate das atividades esportivas Desde a criação da Coordenação de Esporte e Lazer na Procom, equipes da Universidade ganharam destaque em competições e, este ano, várias modalidades terão representantes na etapa nacional dos Jogos Universitários Carlos Siqueira
Centro de Esportes Câmpus Samambaia Localizado ao lado da Casa do Estudante 5 (CEU V) no Câmpus Samambaia, o Centro de Esportes Câmpus Samambaia, que foi inaugurado com festa no dia 25 de setembro de 2014, é mais um marco no resgate das atividades esportivas na Universidade. O local, com moderna academia e quadra poliesportiva, é um espaço para toda a comunidade acadêmica e funciona das 7 às 22 horas, com profissionais de Educação Física e monitores durante todo o período. O Centro de Esportes é administrado pela CEL/Procom, e as matrículas para a academia já estão abertas, assim como os agendamentos para o uso da quadra. De acordo com o coordenador da CEL, o Centro é uma necessidade antiga da UFG, que contava com poucos espaços destinados à prática esportiva. “O Câmpus Samambaia não tinha um espaço para a comunidade, e o Centro vem para suprir essa necessidade,” afirma. O local funciona como um espaço de integração com a comunidade, reservando-se horários para as práticas esportivas de lazer (as populares peladas) e para festivais esportivos com equipes formadas aleatoriamente. Outro importante projeto destacado pelo coordenador da CEL é a implantação de uma política de incentivo aos esportes que também contemplará os servidores da Universidade. “Eles vão poder frequentar o Centro antes ou depois do expediente e sair do sedentarismo”. Juracy esclarece que o espaço é para toda a comunidade universitária, não estando diretamente relacionado com a Faculdade de Educação Física e Dança. No entanto, em determinados horários, também poderá servir de apoio para as aulas práticas dos cursos de licenciatura e bacharelado em Educação Física. O coordenador destaca que já existem diversos projetos a serem desenvolvidos no local, como iniciação esportiva em várias modalidades e atividades específicas para portadores de necessidades especiais.
Espaço foi inaugurado no dia 25 de setembro e oferece práticas esportivas para toda a comunidade universitária
E
ste ano a cidade de Aracaju vai sediar a final dos Jogos Brasileiros Universitários (JUBs), e a UFG enviará para a competição representantes de várias modalidades. Cerca de sessenta pessoas farão parte da delegação goiana. Essa participação expressiva da Universidade na competição é resultado de um trabalho que vem sendo desenvolvido pela Coordenação de Esporte e Lazer, da Pró-Reitoria de Assuntos da Comunidade Universitária (CEL/PROCOM). Desde 2010, quando foi criada, a coordenação trabalha para o resgate das práticas esportivas na Universidade. O pró-reitor de assuntos comunitários, Elson Ferreira de Morais, lembra que a década de 1980 foi marcada por disputas esportivas acirradas dentro da Universidade, mas tais competições deixaram de ser realizadas na década de 1990. Para ele, colocar o esporte novamente em destaque na Universidade faz com que esse seja um momento especial, sobretudo, por conta das Olímpiadas de 2016 no Brasil. “Fico muito feliz de estar presenciando esse importante período para o esporte na Universidade. Acredito que esporte e lazer têm tudo a ver com assistência, que é o papel da PROCOM, e é por isso que estamos empenhados nesse trabalho”, afirma.
“Reconquistamos o lugar de grande Universidade do Centro-Oeste” Segundo o coordenador da CEL/PROCOM e professor da Faculdade de Educação Física e Dança (FEFD), Juracy da Silva Guimarães, a coordenação foi criada para atender às demandas esportivas que apareciam na Procom e instituir uma política de esporte e lazer para a UFG. Essa política está em construção e deve ser aprovada pelo Conselho Universitário em 2014. Por meio de pesquisas realizadas, a equipe da CEL percebeu que era preciso democratizar a prática esportiva na Universidade e ampliar o número de praticantes de esportes no âmbito da instituição e de participações em eventos oficiais. “Em 2010 fomos para os jogos universitários estaduais apenas com uma equipe de futsal feminino. Depois começamos a chamar todo mundo e, já em 2011, conquistamos o primeiro lugar geral na competição, porque tínhamos representantes em várias modalidades,” conta Juracy. Depois dessa vitória, criou-se outra necessidade: qualificar. A partir daí a coordenação começou também a fornecer materiais para treinamento e jogo e a contratar treinadores temporários para auxílio às equipes da UFG. Em seguida, utilizando um banco de dados com os contatos dos alunos, a CEL/PROCOM passou a divulgar as seletivas para os times e competições e a auxiliar na formação das equipes, o que antes ficava a cargo dos próprios alunos. “Assim reconquistamos o lugar de grande universidade do Centro-Oeste para a UFG, que até então estava apagada nas competições,” comemora o professor. Graças a essas ações, a UFG é hoje a terceira universidade federal mais bem colocada do país, atrás apenas da Universidade de Brasília e da Federal do Rio Grande do Norte. O estudante de Educação Física Danilo Tavares, 24, é um dos destaques da equipe de basquete da UFG, bicampeã goiana. Ele acredita que a coordenação tem um papel essencial para a melhor visibilidade dos esportes na universidade. “Esse apoio tem sido muito importante. Com certeza ajudou, por exemplo, no bom desempenho da nossa equipe,” observa.
Destaques da UFG nos Jogos Universitários Goianos Entre os dias 27 e 31 de agosto de 2014, a UFG participou dos Jogos Universitários Goianos, competição que foi seletiva para a etapa nacional em Aracaju. A Universidade destacou-se com equipes representativas em todas as modalidades coletivas e conquistou
as seguintes colocações: Campeã: basquetebol masculino e voleibol feminino; Vice-campeã: handebol e basquetebol femininos; Terceiro lugar: futsal, handebol e voleibol masculinos e futsal feminino.
Divulgação
Angélica Queiroz
Equipe tetracampeã de voleibol feminino está entre os destaques da UFG
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Jornal UFG
UNIVERSIDADE
Goiânia, outubro de 2014
Estudos avaliam processos organizacionais na universidade Modelagem de processos de negócios e mapeamento da qualidade de vida dos trabalhadores são os assuntos abordados pelos profissionais empenhados nesses processos
Saúde do servidor público
Águita Araújo
Por meio da pesquisa SIASS-UFG: Um caminho para a qualidade de vida dos trabalhadores das Ifes de Goiás, a gestora do Subsistema Integrado de Atenção à Saúde do Servidor (SIASS-UFG), Edinamar Aparecida Santos da Silva, demonstrou como este sistema pode se tornar um caminho para a promoção da saúde dos professores e servidores técnico-administrativos da UFG. No estudo, Edinamar Silva apresentou um histórico da quantidade de perícias e atestados médicos de curta duração emitidos pelo SIASS de 2009 a 2013. A servidora explica que esses dados só passaram a ser digitalizados em 2009, com a implantação do sistema Siape-Saúde, desenvolvido pelo Ministério do Planejamento. Isso tornou possível que as informações, uma vez levantadas, pudessem ser analisadas, favorecendo, assim, o desenvolvimento de futuros diagnósticos da saúde do trabalhador. “É por meio do diagnóstico de saúde, ou seja, da identificação do motivo pelo qual essas pessoas estão adoecendo, que teremos condições de planejar e propor as ações de promoção à saúde”, explica a gestora. Além disso, foi calculada no estudo, por meio do registro dos atestados e das perícias oficiais, a quantidade de dias de afastamento dos servidores. De acordo com Edinamar Silva, no ano de 2013, foram geradas 1.480 concessões de licenças, o que corresponde a 41.544 dias de afastamento de trabalho. A partir desses números, será possível, segundo a pesquisadora, fazer um dimensionamento de pessoal. Tendo em vista que algumas atividades da Universidade
Publicação dos trabalhos Ambos os trabalhos mencionados foram apresentados em setembro deste ano no Encontro Nacional de Dirigentes de Pessoal e Recursos Humanos das Instituições Federais de Ensino, que ocorreu na Universidade Federal do Amazonas (UFAM). O pró-reitor de Desenvolvimento Institucional de Recursos Humanos, Geci Pereira Silva, aponta que a exposição de tais trabalhos é importante para toda a comunidade acadêmica, uma vez que são estudos desenvolvidos pela UFG com o objetivo de trazer melhorias para os processos de trabalhos realizados na instituição e para a qualidade de vida dos trabalhadores vinculados a ela. Ele explica que o órgão procurou dar auxílio aos autores por meio do material necessário para se fazer o levantamento e o registro das informações.
Leticia Antoniosi
O
s servidores técnico-administrativos da UFG estão atentos às mudanças que ocorrem nesta universidade. Dispostos a aproveitar os benefícios decorrentes das alterações de sistemas de informação da instituição, eles estão realizando levantamentos e documentação das rotinas de trabalho e qualidade de vida dos servidores na tentativa de gerar diagnósticos que possibilitem um melhor aproveitamento de futuras ações para melhorar a gestão da Universidade. O estudo Modelagem de processos de negócios: uma abordagem ágil, desenvolvido pelos servidores Vinícius Sobreira Braga, da Pró-Reitoria de Desenvolvimento Institucional de Recursos Humanos (Prodirh), e Wilane Carlos da Silva, do Centro de Recursos Computacionais (Cercomp), foi elaborado em decorrência da implantação do Sistema Integrado de Gestão (SIG), em 2013, voltado para a área de formações gerenciais da Universidade. O estudo consiste no levantamento e sistematização do funcionamento interno das rotinas das áreas gerenciais da UFG, com a finalidade de obter informações sobre processos de recursos humanos e sobre gestão de ensino e de cursos acadêmicos. De acordo com o coordenador de planejamento e processos institucionais da Prodirh, Vinícius Sobreira Braga, um fator importante para o sucesso da implantação do novo sistema é a compreensão do modo atual de execução dos trabalhos na organização. “Esse novo sistema traz uma série de fluxos de trabalho que são diferentes dos atuais. Então, a gente precisa entender a Universidade para estimar as customizações necessárias para que o novo processo de trabalho responda às necessidades e às expectativas da instituição”, esclarece. Foram realizadas, até o momento, aproximadamente, 1.500 horas de trabalho, modelando-se 70% dos processos de gestão do ensino e 30% dos processos de gestão de recursos humanos. Como o objetivo do trabalho é, entre outros, a transparência e a formalização dos processos organizacionais da UFG, grande parte do material documentado está disponível para consulta no site http://portalsig.ufg.br Os autores do trabalho citado afirmam que os modelos produzidos contribuem para a institucionalização dos processos, que passam a ser conhecidos e formalizados, criando-se registros de movimentação de grande parte das rotinas gerenciais adotadas na Universidade, de forma a melhorar a interação entre os executores e usuários de determinado processo da instituição. Uma vez automatizados, estes processos podem diminuir o nível de intervenção manual e retrabalho. Além disso, “a maior visibilidade de certos problemas possibilita que, rapidamente, eles possam ser detectados e solucionados, e isso produz uma gama de melhoria muito grande na locação e diminuição dos recursos da Universidade”, explicou Wilane Carlos da Silva.
não podem ser executadas devido à ausência de determinados servidores, esse cálculo pode criar condições para se fazer um levantamento de quantos servidores são necessários para suprir essas lacunas em determinado local. O estudo contribui, portanto, para se traçar um perfil epidemiológico dos profissionais que recorrem ao SIASS e um mapeamento das necessidades dos servidores em relação à promoção da saúde. Além disso, colabora, como se afirma na conclusão, para “pensar politicamente a integração da equipe multiprofissional e o estímulo ao desenvolvimento de ações institucionais integradas e permanentes, de forma a consolidar a Política de Atenção à Saúde do Servidor Público”.
Os servidores Vinícius Sobreira Braga, da Pró-Reitoria de Desenvolvimento Institucional de Recursos Humanos (Prodirh), e Wilane Carlos da Silva, do Centro de Recursos Computacionais (Cercomp), autores do estudo
Jornal UFG
EM TEMPO
Goiânia, outubro de 2014
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COMUNIDADE PERGUNTA Por que a Funape não oferece mais o auxílio para participação de eventos para estudantes e servidores da UFG?
Reinaldo Gonçalves Nogueira, diretor executivo da Fundação de Apoio à Pesquisa (Funape) Até o ano de 2012 a Funape disponibilizava para alunos e servidores (professores e técnico-administrativos) da UFG um auxílio para participar de eventos, visando a divulgação da produção acadêmica. O auxílio era de R$ 600,00 para professor da instituição, R$ 450,00 para estudantes de pós-graduação e R$ 350,00 para graduação. Ao todo, no ano de 2012, foram gastos cerca de 117 mil reais. Por força do decreto n 7.423, de 31 de dezembro de 2010 aliada a uma queda na receita que tem ocorrido desde 2008, o Conselho Deliberativo da entidade aprovou a suspensão temporária do programa de auxílio para participação em eventos, em virtude da não reserva de caixa suficiente para custeio de apoios com recursos próprios da fundação. Os acadêmicos que necessitam de apoio em eventos podem procurar a Pró-reitoria de Assuntos da Comunidade Acadêmica (Procom). Mais informações pelo telefone: (62) 3209-6240.
Estudantes recebem apoio para participação em eventos A Pró-Reitoria de Assuntos da Comunidade Acadêmica (Procom) disponibiliza aos graduandos o Programa de Passagens para Estudantes, que oferece passagens terrestres para participação em atividades científicas, culturais e político-estudantis em âmbito nacional. Como viajar com o auxílio do programa? Havendo disponibilidade de recurso financeiro, cada estudante poderá solicitar até duas viagens por ano, com antecedência mínima de quinze dias em relação à data do evento. A Procom oferece auxílio a dois estudantes por curso e por evento. Os formulários (disponíveis em www. procom.ufg.br) deverão ser assinados pelo professor responsável e pelo diretor da unidade acadêmica. Para conseguir o benefício, o estudante deve estar regularmente matriculado e em dia com a prestação de contas à Procom. Também deve anexar à documentação o fôlder, prospecto ou ficha de inscrição no evento e o aceite do trabalho que será apresentado. Ao retornar, o estudante deverá socializar a experiência da viagem com os colegas por meio de participação em aula, seminário, encontro ou similar. Prestação de contas Deverá ser feita na Procom, no prazo de até cinco dias úteis da data de retorno da viagem, com a apresentação do bilhete das passagens (ida e volta) e cópia do certificado de participação ou declaração do evento. O formulário de avaliação, preenchido pelo professor responsável pela socialização, deverá ser entregue no máximo com trinta dias da data de retorno. A não prestação de contas implicará o bloqueio de futuros benefícios.
Estudantes alemãs conhecem o Centro-Oeste aprendizado da língua alemã, ela decidiu refazer o segundo grau e entrou para a universidade. Agora, no Brasil, como bolsista pelo Deutsch Akalimisch Austauch Dienst (DAAD), a brasileira busca ampliar seus conhecimentos sobre a região Centro-Oeste e os povos indígenas Javé-Carajá.
Fotos: Carlos Siqueira
Caroline Pires, jornalista da Assessoria de Comunicação da UFG
A UFG recebe, neste semestre, quatro estudantes da Universidade de Heidelberg, entre elas, uma brasileira. As estudantes (Sarah Grein, Sarah Kaminsky, Romja Guenther e Rose Alves) cursam Ciências Latino-Americanas, na Alemanha. As alemãs querem aprender sobre o Brasil, aperfeiçoar o português e adquirir amigos. Rose Alves, a brasileira, mora há oito anos na Alemanha. Atraída pelo
O convênio entre a UFG e a Universidade Católica de Eichstaett-Ingolstadt, denominado Ciências Humanas e Comunicação Intercultural, está em vigor há quatro anos. Trata-se de um acordo de mão dupla financiado, no Brasil, pela Capes e, na Alemanha, pelo DAAD, o departamento alemão de intercâmbios acadêmicos. Nesse período, cerca de trinta estudantes da UFG foram para a Alemanha, e vinte estudantes alemães foram recebidos em cursos da UFG. De acordo com o coordenador do convênio na UFG, professor da Faculdade de História, Sérgio Duarte, a troca de conhecimentos e a elaboração de projetos de pesquisa vêm se efetuando entre docentes das áreas de História, Geografia, Letras, Ciências Sociais, Comunicação e Filosofia.
Estudos comparativos atraem cabo-verdenses A UFG recebeu em 2014 quatro estudantes de graduação da Universidade de Cabo Verde: Erick Fernando Gomes, Keila de Jesus Andrade Correia, Mauro Alexandre Lopes Vieira e Patrícia Solange dos Reis. Até outubro, eles realizarão atividades de iniciação científica nas Faculdades de Ciências Sociais (FCS) e de Letras (FL). Com o objetivo de conhecer o imaginário dos brasileiros sobre a literatura cabo-verdiana por meio do estudo da crítica literária, são orientados na FL, pela professora Marilúcia Mendes Ramos. Na FCS, sob a orientação do professor Dijaci David de Oliveira, buscam analisar o uso da literatura na formação do ensino médio e do superior. “Há vários anos a UFG vem respondendo afirmativamente às chamadas da Capes referentes ao Programa de Incentivo à Formação Científica de Estudantes de Cabo Verde (PIFC), que, entre outros objetivos, pretende
contribuir para a inclusão tecnológica e científica dos países africanos de língua portuguesa”, disse a coordenadora de Assuntos Internacionais da UFG, Ofir Bergemann Aguiar. Quanto aos benefícios para a UFG, a coordenadora ressalta a diversificação geográfica e cultural no processo de internacionalização do ensino superior.
Assessor de educação espanhol informa sobre intercâmbios
Estudantes da UFG participaram, em 11 de setembro de 2014, da palestra “Estudar na Espanha”, proferida pelo conselheiro de educação da Embaixada da Espanha, José Suárez Inclán. Segundo o professor, são oferecidas diversas modalidades de bolsas para estrangeiros em graduação e pós-graduação. O estudante interessado em estudar na Espanha pode recorrer a quatorze programas disponibilizados pelas universidades
e por outras organizações que promovem a cooperação acadêmica do intercâmbio. José Suárez apresentou o país aos estudantes enfatizando as cidades onde são ofertadas as vagas e bolsas de intercâmbio e salientando a existência de cidades com características similares às do Brasil, tanto no clima quanto nas paisagens e riquezas naturais. Mais informações podem ser encontradas no site www.universidad.es/estudiar-en-espana
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EXTENSÃO
Goiânia, outubro de 2014
Fotos: Adriana Cristina
Jornal UFG
Museu Antropológico realiza restauração de obras sacras Equipe do Laboratório de Conservação e Restauro recupera nove pinturas de cavalete de igreja da cidade de Corumbá de Goiás
Michele Martins
P
or ser uma instituição de referência no Estado de Goiás em trabalhos de conservação e restauro de obras de elevado valor artístico e cultural, o Museu Antropológico da UFG, por meio do Laboratório de Conservação e Restauro, realizou a recuperação de nove pinturas de cavalete pertencentes à Igreja de Nossa Senhora da Penha de França, da cidade de Corumbá de Goiás. O serviço, finalizado em setembro, foi estabelecido por meio de contrato entre a empresa Marsou Engenharia Ltda. e acompanhado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Uma equipe formada pelas restauradoras Mônica Lima de Carvalho e Ana Cristina de Menezes Santoro, as estagiárias Daniela Barra e Werydianna Marques, as bolsistas voluntárias Andressa Lopes e Mariana Naves, todas do curso de Museologia da Faculdade de Ciências Sociais e, ainda, Edenize Santos Ribeiro estagiária do curso de Artes Visuais da Faculdade de Artes Visuais da UFG se dedicaram a esse trabalho.
Atenção e precisão são as principais características do trabalho de um restaurador
Trabalho minucioso – As telas ficaram por muito tempo em local inapropriado e foram expostas a fatores de degradação como alterações bruscas de temperatura e umidade, poeira e ataques por agentes biológicos. “Elas chegaram ao Laboratório muito danificadas, apresentavam rasgos e perda do tecido original, fungos e muita sujeira aderida”, informou a restauradora Mônica Lima de Carvalho. As obras passaram por diferentes procedimentos de conservação e restauro, como esclarece Mônica
de Carvalho: “não realizamos apenas procedimentos de conservação como a higienização e aplicação de uma camada de proteção nas telas. Intervimos nas lacunas de suporte e de policromia, sendo que, em algumas obras, tivemos de adotar o critério de remoção de repintura, o que caracteriza, de fato, uma intervenção de restauro”.
Estudantes de graduação ajudaram nos trabalhos e receberam formação complementar sobre a técnica de reentelamento
Um dos procedimentos realizados foi o de reentelamento (técnica que consiste em consolidar o tecido original fragilizado por acréscimo de um tecido novo devidamente tratado) que utilizou uma mesa térmica pertencente ao Centro Cultural da UFG (foto acima). Mônica de Carvalho informou que essa intervenção de restauro é indicada apenas quando a obra apresenta seu tecido comprometido pela falta de resistência e perdas de suporte. Caso contrário, deverá optar-se sempre por condutas que envolvam menor intervenção possível sobre a obra. Ana Cristina de Menezes disse ainda que o trabalho foi realizado por técnicas específicas, de acordo com normas internacionais de restauro, e que todo o procedimento também foi acompanhado por técnicos do Iphan. Ela apontou que a maior dificuldade é a responsabilidade de atender à expectativa de quem nos solicitou o trabalho no nível que estão esperando. Mais do que isso, é a responsabilidade com a obra de arte. Em todas as intervenções optamos pelo critério da reversibilidade. Contribuição acadêmica – De acordo com a diretora do Museu Antropológico, Dilamar Cândida Martins, esse trabalho colaborou para o
aperfeiçoamento profissional dos servidores do e viabilizou o surgimento de um projeto de extensão que permitiu a contratação de estagiários e bolsistas que receberam orientação de especialistas responsáveis pelo desenvolvimento das atividades. “É significativo mostrarmos que a UFG possui profissionais qualificados em uma área de carência na sociedade, como a área de conservação e restauro”, defendeu a diretora. Ela também destacou que o retorno acadêmico que ocorreu pelo estabelecimento do projeto de extensão foi muito significativo por agregar o trabalho de estudantes em todas as etapas do serviço prestado e que a estrutura do Laboratório foi melhorada. A partir do contrato estabelecido com a empresa Marsou Engenharia Ltda., foi possível adquirir uma Câmara de Desinfestação que a empresa doou para o Museu. Esse novo equipamento será fundamental para o Laboratório em trabalhos de restauração e conservação de acervos patrimoniais salvaguardados pelo órgão. “Vale lembrar que as disciplinas práticas dos estudantes do curso de Museologia também poderão usufruir do Laboratório de Conservação e Restauro posteriormente. Esse tipo de trabalho ajuda ao Museu Antropológico se equipar com recursos além dos que a Universidade pode adquirir”, declarou a diretora.
Patrimônio histórico e cultural O Centro Histórico de Corumbá foi tombado pelo Iphan, em 2000 e abrange casas e pontes, a Praça da Matriz, a Praça Antônio Félix Curado, a Praça Waldemar Gomes Teles, as ruas Comendador João José de Campos Curado, das Flores, Bernardo Élis e a Avenida Cônego Carlos Plangger. A cidade surgiu em 1731 em decorrência das atividades de mineração com habitantes de origem paulista e portuguesa, que se instalaram entre o rio Corumbá, o ribeirão Bagagem e a capela. Corumbá ficou situada em um ponto estratégico de passagem das rotas terrestres Goiás-Paracatu e Goiás-Bahia. Sua urbanização se consolidou ainda no século XVIII, resistindo à decadência da mineração e assumindo a função de entreposto comercial para o abastecimento da Província de Goiás. Tornou-se um município em 1902. Fonte: Arquivo Noronha Santos/Iphan e IBGE