Jornal
UFG
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Básica
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UFG BRASIL
CORREIOS
PUBLICAÇÃO DA ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS – ANO IX – Nº 70 – MARÇO 2015
Universidade mais acessível
Fotos: Laís Brito
Divulgação
Carlos Siqueira
Letícia Antoniosi
Preocupação com a acessibilidade dentro da instituição tem permitido maior acesso de estudantes à formação acadêmica e integração com a comunidade. Páginas 3, 4 e 5
Crise de abastecimento de água em debate pág. 6 e 7
Pesquisa ajuda mães e bebês na Troca de experiências entre fase de amamentação pág. 12 Brasil e Moçambique pág. 8 e 9
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Jornal UFG
EDITORIAL
UFG e a acessibilidade
OPINIÃO
Goiânia, março 2015
CAMINHOS DA PESQUISA
Kharen Stecca*
J
á faz algum tempo que nossas redes sociais e canais de atendimento têm recebido perguntas sobre as condições de acessibilidade oferecidas pela UFG aos alunos com deficiência, bem como a existência de cotas para acesso a universidade, no entanto, a nossa resposta nem sempre é satisfatória para as pessoas que nos procuram. A UFG tem, sim, diversas iniciativas com relação ao assunto. Temos os Núcleos de Acessibilidade, que agora trabalham de forma integrada nas regionais da Universidade e que auxiliam pessoas que têm algum tipo de deficiência, sejam alunos, professores ou técnicos-administrativos. Temos reserva de vagas para portadores de deficiência nos concursos da UFG, conforme estabelecido por lei federal e, possuímos também, vagas reservadas para alunos surdos que têm a oportunidade de cursar Letras Libras por meio do Programa UFGInclui. No entanto, estamos cientes que o caminho ainda é longo e as expectativas das pessoas que precisam desse apoio, enorme. A UFG ainda não possui, por exemplo, reserva de vagas para estudantes em outros cursos ou com outras deficiências e, além disso, sabemos que é preciso melhorar muitos pontos da acessibilidade física na universidade, mas o principal obstáculo não é a estrutura, mas, sim, o preconceito. É preciso que o tema deixe de ser temido pela comunidade universitária. Nesta edição, o Jornal UFG traz uma reportagem e uma entrevista sobre o tema, levantando os principais desafios e procura saber como a universidade vem construindo caminhos para auxiliar as pessoas com deficiência. Há também outros temas relevantes nesta edição. A mesa-redonda, realizada em parceria com a TV UFG, discute o problema da gestão dos recursos hídricos no país e em Goiás. Entre os questionamentos levantados estão a falta de ações para evitar problemas como o desmatamento e o uso dos recursos hídricos para o agronegócio, além da necessidade de educar a população para a nova realidade hídrica do país. Em outra reportagem, o Jornal UFG apresenta uma pesquisa da Faculdade de Enfermagem que pode contribuir muito para um tema de saúde pública: a amamentação. Mesmo com diversas campanhas e a crescente conscientização, o Brasil ainda tem uma baixa taxa de amamentação. Entre os problemas que podem atrapalhar o processo estão o trauma mamilar, devido à dificuldade inicial de estabelecer a amamentação. A pesquisa analisa o uso da concha de amamentação (um pequeno disco acrílico que protege o mamilo do contato com as roupas) e o próprio leite materno como tratamento do trauma mamilar. Começamos o ano trazendo ao debate temas desenvolvidos na universidade e que possam contribuir para o crescimento de nossa sociedade. Dessa forma, reiteramos mais uma vez, que estamos abertos a sugestões de assuntos que possam contribuir para essas discussões. Participe da construção do Jornal UFG! * Coordenadora de Imprensa da Ascom
Jornal
UFG
Publicação da Assessoria de Comunicação Universidade Federal de Goiás ANO IX – Nº 70 – MARÇO DE 2015 www.jornalufgonline.ufg.br ASCOM – Reitoria da UFG – Câmpus Samambaia C.P.: 131 – CEP 74001-970 – Goiânia – GO Tel.: (62) 3521-1310 /3521-1311 www.ufg.br – jornalismo.ascom@ufg.br – www.ascom.ufg.br
Universidade – Reitor: Orlando Afonso Valle do Amaral; Vice-reitor: Manuel Rodrigues Chaves; Próreitor de Graduação: Luiz Mello de Almeida Neto; Pró-reitor de Pós-Graduação: José Alexandre Felizola Diniz Filho; Pró-reitora de Pesquisa e Inovação: Maria Clorinda Soares Fioravanti; Pró-reitora de Extensão e Cultura: Giselle Ferreira Ottoni Cândido; Pró-reitor de Administração e Finanças: Carlito Lariucci; Pró-reitor de Desenvolvimento Institucional e Recursos Humanos: Geci José Pereira da Silva; Pró-reitor de Assuntos da Comunidade Universitária: Elson Ferreira de Morais. Jornal UFG – Coordenadora de Imprensa e editora-geral: Kharen Stecca; Editora: Michele Martins; Conselho editorial: Angelita Pereira de Lima, Cleomar Rocha, Luís Maurício Bini, Pablo Fabião Lisboa, Reinaldo Gonçalves Nogueira e Silvana Coleta Santos Pereira; Suplente: Mariana Pires de Campos Telles; Projeto gráfico e editoração eletrônica: Reuben Lago; Fotografia: Carlos Siqueira e Júlia Mariano; Reportagem: Angélica Queiroz, Serena Veloso e Silvânia de Cássia Lima; Revisão: Letícia Braz, Fabiene Batista e Bruna Tavares; Estagiários: Thaíssa Veiga; Bolsistas: Alex Maia, Caroline Almeida (Jornalismo) e Laís Brito (Fotografia); Impressão: Centro Editorial e Gráfico (Cegraf) da UFG; Tiragem: 10.000 exemplares
ENTREVISTA Jorge Antônio Monteiro de Lima
O diálogo como forma de acesso mútuo Silvânia Lima
A
opção por ajudar pessoas com dificuldades levou o analista e psicólogo clínico, Jorge Antônio Monteiro de Lima, a pesquisar sobre deficiências, saúde mental e diferenças sociais. Por meio do Programa de PósGraduação em Antropologia, da Faculdade de Ciências Sociais (FCS) da UFG, em 2014, Jorge Antônio de Lima concluiu o mestrado, com a dissertação Um estudo sobre deficientes na UFG, na linha de pesquisa “Corpo, representações e demarcadores sociais da diferença”. Sob orientação da professora da FCS, Maria Luiza Rodrigues Souza, a abordagem buscou conhecer a construção da imagem da pessoa com deficiência, os aspectos da vida, do trabalho, da educação e sua interação com a sociedade. Jorge Antônio de Lima é deficiente visual e há anos se dedica à reabilitação de deficientes. Ele tem contribuído para a estruturação de serviços públicos de referência em saúde e criou a Fundação Olhos da Alma Sã, que presta atendimento psicológico a pessoas com deficiência em comunidades carentes. Durante sua vida acadêmica, o pesquisador verificou a enorme carência de estudos na área e o equívoco dos estereótipos nos poucos existentes. Os resultados de sua pesquisa têm ajudado o Núcleo de Acessibilidade (NA) da UFG em suas ações. Jorge Antônio de Lima falou sobre o assunto ao Jornal UFG.
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Carlos Siqueira
Jornal UFG
Como é tratada a temática Deficiência na sociedade?
Poderia dizer que as deficiências são um tema temido, e até polêmico, por gerar extrema reflexão sobre nossa atitude perante a vida e o próximo. Não é raro encontrar material que fale do deficiente a partir de um estereótipo criado socialmente. Esse esteriótipo se torna elemento de comunicação, discurso social e política de Estado, influenciando, inclusive, áreas de estudo. Evidenciei isso na pesquisa. Os materiais são escassos e, além disso, falam do deficiente sem proximidade, sem diálogo com ele.
Quais foram as principais conclusões de sua pesquisa?
A pesquisa apontou vários problemas na maneira como lidamos com a educação e a socialização dentro de um cenário de diferenças constitutivas da sociedade. Dos temas evidenciados, em primeiro lugar, está o preconceito, que foi constatado em 98% das entrevistas, ressaltando as dificuldades encontradas pela pessoa com deficiência para socializar, estudar e ter seu direito como cidadão assistido. O deficiente é rotulado como incapaz, vivencia enorme burocracia, é ignorado, tachado de preguiçoso e visto como algo incômodo. Vários professores entrevistados, falam da falta de treinamento, que não saberiam lidar com um aluno deficiente e suas demandas. Entre
“... falta mais diálogo e respeito com o deficiente, para saber o que ele realmente necessita e transformar isso em ação”
“A pessoa deficiente não é vista como sujeito ou pessoa, mas como um elemento cosntitutivo da diferença” os 24 entrevistados na pesquisa, 22 disseram claramente que não existe diferença entre o que vivem os deficientes na Universidade ou em outros ambientes sociais
Comente mais sobre a estereotipia em torno do deficiente.
A pessoa deficiente não é vista como sujeito ou pessoa, mas como um elemento constitutivo da diferença. Isso foi evidente na pesquisa. Não observamos o indivíduo diferente em sua capacidade, mas o rotulamos por sua aparência, diferença pela ruptura dos padrões estéticos e corporais. Isso precisa ser questionado, por desdobrar toda uma construção social e de discursos, práticas, políticas setoriais e públicas. Existe um imaginário construído muito arraigado, que é necessário discutir e desconstruir para compreender a necessidade e a realidade da pessoa com deficiência. Esse não é um problema específico de uma comunidade, como a universitária, e, sim, de toda a sociedade.
Como você percebe a acessibilidade na universidade?
A acessibilidade é uma temática extremamente nova na
universidade e, lamentavelmente, em toda a sociedade brasileira. O deficiente no Brasil ainda não tem o status de pessoa, cidadão, e sua realidade é complicada em quase todas as instituições. Hoje, temos uma evasão dos estudantes deficientes das salas de aula, que é superior a 40%. Na UFG, essa evasão é de aproximadamente 26%, o que é bem alta. Há poucos alunos em cursos de pós-graduação. Para estudar, o deficiente deve ter mais força de vontade, persistência e dedicação do que um aluno convencional. O trabalho existente para melhorar a acessibilidade na UFG está em sua fase inicial. O apoio ainda é precário. Entretanto, existem pessoas propondo mudanças. Há muito empenho do Núcleo de Acessibilidade, que vem criando propostas juntamente à administração da Universidade. Existem muitas barreiras atitudinais e arquitetônicas, mas o pior é a falta de mais diálogo e respeito com o deficiente, para saber o que ele realmente necessita e transformar isso em ação específica dentro da instituição. Há universidades mais dedicadas a essa discussão e enfrentamento, como a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), mas, de fato, não diria que temos um exemplo a ser seguido, mas um problema a ser solucionado.
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Jornal UFG
COMUNIDADE
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Acessibilidade ao nosso alcance As demandas das pessoas com deficiência constituem tema importante no meio acadêmico. O desafio de promover acessibilidade requer o envolvimento de toda a comunidade.
Júlia Mariano
Silvânia Lima
D
e acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE/Censo 2010), o Brasil tem 45,6 milhões de pessoas – cerca de 24% da população – com algum tipo de deficiência, sendo mais frequente a deficiência visual, que ocorre em 35 milhões de pessoas. Para além da questão humanitária, o dado evidencia a necessidade de ações voltadas a esse segmento, a fim de melhor aproveitar seu potencial e promover cidadania. A solução para questões de acessibilidade passa pelas universidades, onde o assunto é vasto. Primeiramente, essas instituições se preocupam com a própria gestão da acessibilidade, por meio da promoção de ações de inclusão e permanência do deficiente. Do ponto de vista acadêmico, é de se esperar também que nelas sejam fomentadas o debate e a pesquisa a respeito das questões pertinentes à qualidade de vida dessa parcela da população. Há alguns anos o tema Acessibilidade está presente no cotidiano da Universidade Federal de Goiás (UFG). Com o aumento de pessoas com necessidades especiais – atualmente 220, entre servidores docentes e técnico-administrativos e estudantes –, a instituição se mobiliza, promovendo o desenvolvimento de tecnologias e buscando avançar em sua Política de Acessibilidade. Nesse sentido, algumas ações importantes já estão sendo efetivadas. Desde 2009, diversas obras e reformas para tornar acessíveis os espaços físicos da universidade vêm sendo realizadas de acordo com a disponibilidade de recursos. A universidade tem o Programa de Acessibilidade Arquitetônica, Curricular, Comunicacional, Informacional e Atitudinal, que garante ampla presença do tema na instituição. Depois da criação dos Núcleos de Acessibilidade (NA), de Tecnologia Assistiva (NTA) e da realização do I Seminário sobre Acessibilidade, estão sendo implantados o Laboratório de Acessibilidade Informacional (LAI), na Biblioteca Central, e o Sistema Integrado de Núcleos de Acessibilidade (Sinace).
A Roda de Conversa é um espaço criado pelo Núcleo de Acessibilidade da Regional Goiânia para pessoas da comunidade universitária com deficiência, no intuito de mantê-las participantes e informadas sobre as ações de seu interesse na UFG
Carlos Siqueira
Um processo em construção “Queremos ser referência nas discussões e práticas de acessibilidade, inclusive com ações institucionais e curriculares”, disse o reitor da UFG, Orlando Afonso Valle do Amaral, ao afirmar que a universidade avançou nos últimos anos, mas ainda há muito para crescer nesse aspecto. A realidade das pessoas com deficiência na universidade evidencia as dificuldades para obter uma formação superior. O estudante de Ciências da Computação, Eduardo Cardoso Lourenzo, portador de baixa visão, tem dificuldades com a leitura de conteúdos extensos e exposições no quadro-giz. “Tive ajuda do Núcleo de Acessibilidade com um notebook, o que ampliou as minhas possibilidades de estudo”. Eduardo Cardoso ressalta a importância da adaptação, da atenção e da comunicação eficiente, nem sempre a contento por parte de servidores técnicos e docentes. O estudante já tentou ingressar no mercado de trabalho sem sucesso: “A visão dos empresários é de que pessoas com deficiência têm baixo rendimento, o que me leva a pensar em uma formação de mais alto nível”.
Espaço físico
Reitor Orlando Amaral reafirmou o compromisso institucional com as pessoas com deficiência durante o I Seminário de Acessibilidade da UFG
As ações de acessibilidade relacionadas aos espaços físicos talvez sejam as mais visíveis. Obras e adequações vêm sendo efetuadas em todas as Regionais da UFG, de acordo com a disponibilidade de recursos. Desde 2006, já foram gastos em torno de R$ 5,8 milhões, tornando as instalações da UFG mais acessíveis a partir da construção de 57 elevadores, 1.169 salas de aula, 505 banheiros, 121 rampas e 4.282 metros lineares de piso tátil.
Preconceito e competência Limitação em alguma área não significa falta de outras habilidades, que ao serem exercidas por uma pessoa com deficiência também não significa superdotação. A maior das barreiras no campo da acessibilidade ainda é o preconceito. Falta informação, conhecimento sobre como tratar a pessoa com deficiência e até solidariedade. Mas, a inserção cada vez maior dessas pessoas, que se desdobram nas instituições de ensino e no mercado de trabalho, tem revelado um público dedicado e competente. Ampliar espaços de discussão e de interação contribui para o combate ao preconceito.
Bolsa de pós-graduação e Sicad Entre as últimas novidades do meio acadêmico, está a oferta de bolsas de mestrado para indígenas, quilombolas e pessoas com deficiências. No primeiro edital do Programa Afirmativo Institucional de Bolsas de Pós-Graduação (set/2014), duas pessoas foram contempladas com bolsas de R$ 1.500,00. A discussão sobre cotas na pós-graduação para pretos, pardos e indígenas está na pauta dos conselhos superiores (Cepec e Consuni) para 2015. Outra novidade é a pontuação junto ao Sistema de Atividades Docentes (Sicad) para orientadores de estudantes com deficiência, transtornos globais e altas habilidades/superdotação em projetos de ensino. Mais informações podem ser encontradas na Resolução do Conselho Universitário (Consuni Nº.33/2014).
Jornal UFG
COMUNIDADE
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Núcleos integrados por sistema
Conheça alguns dos símbolos convencionados para representar deficiências: Pessoa com deficiência Deficiência intelectual Deficiência intelectual Deficiência visual Deficiência auditiva Braile Libras
to do Sinace reafirma sua função como órgão central articulador da política de acessibilidade no âmbito das atividades de ensino, pesquisa, extensão e gestão na UFG. Em fevereiro, o professor Régis Henrique dos Reis Silva passou a coordenação do Sinace a Vanessa Helena Santana Dalla Déa. Sinace
Uma estrutura administrativa que cuide da organização de ações institucionais, a fim de garantir a inclusão e a permanência de pessoas com necessidades especiais à vida acadêmica, eliminando barreiras atitudinais, pedagógicas, arquitetônicas e de comunicação. Esse é objetivo dos Núcleos de Acessibilidade (NA) da UFG, criados em cada Regional, que implementam trabalho estruturado e sistematizado frente às necessidades das pessoas tanto com deficiência física, visual, auditiva ou intelectual quanto com altas habilidades/superdotação. O diretor do NA, Régis Henrique dos Reis Silva, cita que isso envolve o combate ao preconceito, a garantia do direito de ir e vir e a disponibilidade de meios para o sucesso acadêmico. Os desafios postos para a instituição passam pela integração das unidades, órgãos e setores da universidade em torno do tema acessibilidade; pela garantia do acesso físico em todas as Regionais; pela acessibilidade na web e pelo atendimento de demandas específicas. O NA articula a consolidação dos núcleos de acessibilidade das Regionais da UFG e do Sistema dos Núcleos de Acessibilidade (Sinace) – aprovado recentemente pelo Conselho Universitário (Resolução - 43/2014) – que irá integrá-los. O regimen-
Professores Serigne Ababacar, Wanderlei Balbino da Costa, Vanessa Santana e Cleomar Rocha, respectivamente coordenadores dos Núcleos de Acessibilidade das Regionais Catalão, Jataí e Goiânia e do Núcleo de Tecnologia Assistiva da UFG.
Contato dos núcleos de acessibilidade da UFG: NA Regional Catalão Tel: (64)3441-5346 E-mail: acessibilidadecatalaoufg@gmail.com
NA Regional Goiás Tel: (62)3371-2900 E-mail: acessibilidadegoiasufg@gmail.com
NA Regional Goiânia Tel: (62)3521-1700 E-mail: acessibilidadeufg@gmail.com
NA Regional Jataí Tel: (64)3606-8127 E-mail: acessibilidadejataiufg@gmail.com
Produtos como cadeira de roda computadorizada, sensores cerebrais e sensores de músculo podem ser criados nas universidades, fruto de tecnologia local para as necessidades do público presente. O desenvolvimento de projetos que promovam melhor condição de vida às pessoas com deficiência, inclusive o acesso às novas mídias digitais, é o principal objetivo da chamada tecnologia assistiva. A UFG está inserida no grupo pioneiro dos Núcleos de Tecnologia Assistiva (NTA) contemplado com edital do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI/2014), e possui R$ 300 mil para estruturação do seu NTA. “A tecnologia tem auxiliado para que a dependência das pessoas com deficiência seja amenizada ou eliminada. Há um universo para ser construído, e a universidade é um local privilegiado para que faça surgir uma nova consciência, novos produtos e nova uma postura quanto a isso”, disse o coordenador do NTA/UFG, Cleomar Rocha, da Faculdade de Artes Visuais (FAV). Com foco nas mídias interativas, Cleomar Rocha explica que o trabalho do NTA é voltado às demandas internas de usabilidade e acessibilidade dos sistemas computacionais, para deficientes físicos e visuais. Profissionais de Design, Ciência da Computação, Engenharia e Educação integram a equipe, aberta a pesquisadores de outras áreas.
Laís Brito
Ciência a serviço da inclusão
Biblioteca acessível: Pessoas com deficiência contam com o auxílio de equipamentos como impressora Braile, scanner digitalizador, leitor em áudio de textos impressos e leitora de áudio books, na Biblioteca Central, onde uma equipe se empenha na implantação do Laboratório de Acessibilidade Informacional.
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MESA-REDONDA
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Crise de abastecimento de água agora é preocupação nacional Fotos: Júlia Mariano
8.800 processos para serem analisados sobre irrigação, abastecimento público, bombeamento e uso de águas subterrâneas. Em 2014, até meados de novembro, já foram 9.100 processos que chegaram à secretaria para solicitar a outorga do uso da água, e temos apenas 20 pessoas para analisar todos os processos. É uma demanda muito grande. Precisamos até gerenciar conflitos porque todos têm direito à água. A secretaria tem uma base de dados, programas, softwares e uma equipe técnica muito boa que acompanha diariamente essa disponibilidade hídrica.
A
pesar de a água ser abundante no planeta, aos poucos, esse recurso tornou-se cada vez mais escasso nas grandes cidades. Para especialistas, uma combinação de fatores humanos e de ordem natural configuram a atual crise de abastecimento de água potável no Brasil. Essa realidade ganhou proporções preocupantes e agora, tardiamente, é assunto diário nas rodas de conversas e na imprensa. Para discutir sobre a série de fatores que nos conduziram a essa situação, o Jornal UFG e o Programa Conexões da TV UFG convidaram a gerente de outorga da Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Goiás (Semarh), Ana Carolina Seibt, o professor do Instituto de Estudos Socioambientais da UFG, Maximiliano Bayer, e o professor de Direito Ambiental da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-Goiás), Péricles Antunes. Confira o programa completo em www.youtube. com/TVUFGcanal14
Existe uma diferença entre os conceitos: água e recursos hídricos? Ana Carolina Seibt – A água é o líquido essencial à vida. Falamos em recurso hídrico quando a água é dotada de um valor econômico, então, quando ela passa a ser utilizada num processo produtivo ou como algum insumo de atividades de consumo, ela ganha um valor econômico. Quais são os principais pontos que caracterizariam a crise de recursos hídricos? Ana Carolina Seibt – É fato que está ocorrendo uma crise hídrica no país. Isso é perceptível nas notícias dos telejornais e ocorre tanto pelo uso excessivo e indiscriminado de água potável, quanto pela falta de preservação das nossas nascentes e matas ciliares. Existe um conjunto de fatores que colaboram para essa crise hídrica e não podemos atribuir apenas à falta de chuva. O que falta é a consciência da população com relação ao uso da água.
Maximiliano Bayer – É necessário frisar que temos observado essa situação há anos, cujas consequências vêm se alastrando e que em algum momento impactaria mais do que estávamos preparados. Até pouco tempo falávamos que o Brasil, com apenas 15% de recursos hídricos superficiais existentes no mundo, estava em uma situação muito confortável de abastecimento, mas não é exatamente assim. Diante desta contingência, há vários fatores que estão nos impactando de uma maneira mais forte. Por mais que a mídia esteja centrando o noticiário em São Paulo, temos problemas em outros Estados, como Goiás. Eu desenvolvo estudos que estão revelando resultados pessimistas com relação aos nossos recursos hídricos. Péricles Antunes – A conurbação, a urbanização rápida dos centros urbanos e a exploração dos recursos naturais de fato não começaram ontem. A gestão da
água no Brasil, em termos de legislação, é muito recente e a pressão sobre os recursos naturais é grande. Há desmatamento, faltam boas práticas agronômicas e tudo isso acaba gerando consequências que só percebemos hoje, mas que tiveram início com a ocupação do Brasil pelos portugueses. Qual é a situação no Estado de Goiás? Ana Carolina Seibt – Em Goiás temos regiões mais críticas, como no Sudoeste do Estado, em Cristalina, onde existe bastante irrigação. A Semarh monitora diariamente os mananciais dessa região para termos o controle da disponibilidade de água que existe para cada irrigante e demais usos, porque temos de garantir o uso múltiplo das águas. O nosso Estado é muito rico em água, mas está acontecendo uma expansão muito rápida da agricultura. Em 2013, a gerência de outorga da Semarh recebeu em torno de
Como funciona o sistema de outorga? Ana Carolina Seibt – A outorga é a autorização de uso dos recursos hídricos. Tira outorga todo o usuário que for fazer qualquer alteração no corpo hídrico ou de vazão, referente a abastecimento público, irrigação, bombeamento, barramento, perfuração de poço artesiano e lançamento de esgotos. A pessoa pode tirar outorga on line para perfuração de mini poço e cisterna quando utilizarem até um litro por segundo ou uma acumulação de 5.000 m³. Estamos querendo implantar também, como meta para 2015, o enquadramento dos corpos hídricos para fazer a outorga de lançamento de efluentes. Isso é previsto pela Lei 9.433, porém nós ainda não conseguimos essa realização porque, primeiramente é preciso implantar o Plano Estadual de Recursos Hídricos. O que as pesquisas apontam sobre essa situação em Goiás? Maximiliano Bayer – Há várias situações pontuais que apresentam um nível crítico, as quais não esperávamos ter de lidar. Em Cristalina, no Sudoeste de
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Goiás, e em Catalão, dos córregos que abasteciam a região, três a quatro ficaram absolutamente secos. Estamos trabalhando com alguns projetos no Vale do Paranã, Nordeste do Estado, onde há problemas graves a tal ponto que fizeram com que o prefeito contratasse caminhões pipas porque a população está ficando sem água. Esse quadro está se estendendo e abarcando boa parte do país. Temos projetos em algumas cidades do interior, como Jaraguá, que há pelo menos dez anos os córregos estão sendo poluídos pelas indústrias têxteis. O problema no Vale do Paranã é a exploração intensiva dos aquíferos do lado baiano da Chapada dos Veadeiros. Esses aquíferos são os que abastecem todo o Vale do Paranã. Se cortamos esse recurso hídrico, possivelmente estaremos eliminando a única fonte de importância econômica dessa região. Portanto, é uma situação que está afetando regionalmente a economia goiana e com o passar dos anos será muito pior. Podemos chegar à situação que acompanhamos hoje em São Paulo? Péricles Antunes – Se não forem tomadas medidas para a solução do problema, com certeza as situações críticas aumentarão. O problema está aí e parte da solução depende da aplicação da legislação, mas, sobretudo, do investimento em educação. Educação não só no sentido de conhecer as leis, mas para a compreensão de que os recursos são finitos e o mau uso gera a sua finitude. Maximiliano Bayer – Temos conhecimento suficiente para enfrentar alguns desses conflitos e poder lograr alguma solução, no entanto, essas possíveis soluções muitas vezes esbarram nos “tempos políticos”. Eles precisam de bons resultados em prol do desenvolvimento econômico e, lamentavelmente, os recursos hídricos não funcionam na mesma velocidade. Com relação ao Plano Nacional de Recursos Hídricos de 1997, quais foram os avanços registrados até
hoje? Existe a necessidade de novas regulamentações? Péricles Antunes – O Código de Águas é a primeira legislação do Brasil sobre o assunto, e data de 1934. Depois veio a Lei 9.433 de 1997, que instituiu o Gerenciamento Nacional de Recursos Hídricos, inspirada em uma lei europeia, especificamente, francesa. Agora está sendo elaborado o Plano Estadual de Recursos Hídricos do Estado, previsto na lei de 1997. Podíamos ter feito isso antes? Sim. Os Comitês de Bacias existem, mas são insuficientes para o tamanho do Estado. Eu sei que a fiscalização do órgão estadual ainda é carente para cobrir todo o Estado, porém, é preciso que haja a fiscalização do órgão responsável e a educação.
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âmbito estadual ou local. É uma política de mão dupla. Maximiliano Bayer – Percebemos as preocupações dos órgãos públicos responsáveis em dar algumas respostas sobre essa situação, mas surgem algumas dúvidas, alguém se preocupou em fazer um inventário do volume de recursos hídricos que temos? No Estado de Goiás temos 400 estações de coleta de dados, 300 delas estão fora de serviço e os dados vindos das estações que estão em funcionamento não são contínuos. Há dados da década de 1980 e 1990, mas não temos uma boa base de dados desses registros. Não temos estações em trabalho contínuo, não temos profissionais capacitados
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vazão para abastecer nosso banco de dados e conferir se realmente o que está armazenado no nosso software é compatível com o que levantamos em campo. Reconhecemos que faltam alguns dados, mas temos bastante auxílio em relação a isso e, em breve, estaremos com o nosso banco de dados bem alimentado e ainda será implantado o novo sistema de outorga que representará uma modernização na coleta de dados. Como têm funcionado os comitês das bacias hidrográficas? Ana Carolina Seibt – Os comitês das bacia hidrográficas auxiliam o trabalho da Semarh, principalmente quanto às outorgas. Infelizmente temos uma
Ana Carolina Seibt
Péricles Antunes
Maximiliano Bayer
Nesse aspecto, estamos andando atrás da legislação e nem com a simples aplicação da legislação vigente, estamos conseguindo fazer com eficiência.
para fazer isso, mas temos uma série de problemas. Se não temos certeza da quantidade de água, como vamos fazer a distribuição?
quantidade mínima de comitês. Eles são importantes e os consideramos um parlamento das águas, pois auxiliam em determinados assuntos, principalmente regionais. Então eles nos passam essas informações, explicam sobre a realidade local e facilitam o gerenciamento do consumo múltiplo e dos próprios conflitos.
Como pode ser avaliado o Plano Estadual de Recursos Hídricos? Péricles Antunes – Eu tive um contato superficial com o plano, mas sei que houve uma sequência de audiências que possibilitou a participação da sociedade civil na elaboração do plano, o que já é um avanço, pois é necessário que ele exista, mas temos de pensá-lo como uma etapa de adequação ao Plano Nacional de Águas. Observo que as políticas de preservação ambiental têm de ser elaboradas de forma macro, mas, também, micro. Há muito desmatamento na Amazônia, mas isso não tira a necessidade de atuarmos em
Falta mesmo essa base de dados pra começar um trabalho? Ana Carolina Seibt – Realmente, temos poucas estações de dados instaladas no Estado, porém elas são bem monitoradas pela própria Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação (SECTEC) e pelo Instituto Mauro Borges, que nos auxiliam quanto aos dados que necessitamos. Para auxiliar sobre os dados de vazão, que é o que o professor estava falando, na gerência de outorga existe um equipamento de medição e temos outros molinetes para o caso da vazão ser menor. Sempre que vamos a campo para fazer alguma fiscalização, também medimos a
Há muita orientação sobre o uso racional da água, só que direcionadas para o consumidor unitário, como não lavar calçadas com água potável. Existe a intenção de promover a mesma campanha de racionalização voltada para o setor industrial e comercial do país? Maximiliano Bayer – A intenção existe, no entanto, cabem mais normativas e uma pressão maior sobre alguns complexos
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industriais que precisam se adaptar às novas situações. Por outro lado, o Brasil nos últimos tempos adquiriu um perfil econômico que está baseado praticamente na exportação de commodities agrícolas. Lamentavelmente é muito difícil mudar esse padrão econômico, mas, sem dúvida, as indústrias devem adaptar-se a essa nova situação. Podemos, em muitos casos, determinar porcentagens elevadíssimas de perdas do volume de recursos hídricos. Até mesmo na distribuição feita pela Saneago dentro da área metropolitana de Goiânia, perdemos quase 50% do volume de água potável por causa de vazamentos e de conexões clandestinas. Sabemos que são volumes importantes e que, com uma boa gestão, podemos ficar menos tensos com a situação. Péricles Antunes – Em um Estado agropastoril como Goiás, a agricultura consome 60% da água potável. O viés econômico às vezes é esquecido, vivemos em um sistema mundial capitalista no qual a fixação dos preços das commodities agrícolas não é feita pelo Brasil. Mas a água que perdemos, assim como a perda do solo superficial fértil, é algo tão absurdo que devia ser uma questão de segurança nacional. Essa perda ambiental não entra na composição do custo das commodities, porque a fixação do preço não é nossa e, sim, do mercado internacional. Mudar uma situação mundial é muito difícil, mas podemos começar a discutir e criar mecanismos que podem ressarcir essas perdas que não aparecem no preço final dos produtos agrícolas. Ana Carolina Seibt – Outra coisa que está ocorrendo com frequência em Goiás são as instalações de pequenas centrais hidrelétricas. Está havendo um aumento desse número de empreendimentos e a energia gerada por elas não fica dentro do Estado ou do município onde são instaladas. Eles estão utilizando recursos naturais da nossa localidade, mas os benefícios não ficam aqui.
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PESQUISA
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Troca de experiências en
Projeto visa fortalecer o laço de cooperação científica e acadêmica ent Angélica Queiroz
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nhambane é uma cidade moçambicana turística, famosa por suas belezas naturais, mas desigual e extremamente pobre. Atentos a essa realidade, pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Geografia do Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa/UFG) estão realizando, em parceria com a Universidade Eduardo Mondlane, de Moçambique, o projeto Sementes crioulas, quintais agroecológicos e cooperação popular: troca de saberes e experiências de economia criativa do Cerrado brasileiro e Savanas em Inhambane/Moçambique. Financiado pela Capes, o trabalho tem como objetivo principal a troca de experiências entre o Cerrado brasileiro e a Savana moçambicana, dois biomas que estão sofrendo os impactos da agricultura extensiva e utilização de agrotóxicos. Além disso, a iniciativa visa consolidar parceria entre a UFG e a Universidade Eduardo Mondlane, propiciando, assim, novas pesquisas e mobilidade de multiplicadores, estudantes e pesquisadores.
Fome e desperdício O trabalho de cooperação espera estimular a produção de alimentos a partir do manejo agroecológico, dispensando as sementes transgênicas, os pacotes de agrotóxicos das grandes empresas e ajudando os camponeses locais a encontrarem mercados consumidores para seus alimentos.
“O turismo em Inhambane é elitista e não tem ligação com a produção local. Tudo é importado e praticamente não existe mercado interno. Em um país que passa fome às vezes ocorre desperdício”, relata o coordenador do projeto e professor do Iesa, Eguimar Felício Chaveiro. O professor afirma que espera, com o projeto, contribuir para que os camponeses tenham mais condições de produzir alimentos saudáveis, valorizando a cultura e os conhecimentos locais e buscando mercados consumidores como forma de apoiar a economia solidária. Segundo Eguimar Chaveiro, o projeto visa ainda animar a troca de saberes e experiências dos professores da UFG sobre o cerrado brasileiro comparado às savanas de Moçambique. “O modelo atual de uso do cerrado gerou impactos ambientais graves e concentração de renda. Queremos ajudar Moçambique a fazer diferente, compondo um olhar conjunto e animando a produção científica de lá”, explica. De acordo com o professor do Iesa, uma das intenções da equipe da UFG é motivar a universidade moçambicana a intervir por meio da pesquisa na criação de alternativas para o desenvolvimento local. “Vamos propor, com base na experiência que possuímos no Brasil Central com populações tradicionais camponesas e quilombolas, com as sementes crioulas e os quintais agroecológicos, intervenções para potencializar a integração entre turismo e produção local sobre mediação da universidade”, detalha.
Projeto estimula o uso de sementes crioulas entre agricultores locais
Projeto tenta substituir o turismo em detrimento à produção de alimen
“Uma lição de vida” Em agosto de 2014, duas bolsistas da UFG estiveram em Inhambane/Moçambique: a doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia, Ana Carolina Marques, e a graduanda em Jornalismo, Palloma Biasi. O plano de trabalho das bolsistas envolveu a troca de saberes com as comunidades e a coprodução de um documentário com camponesas, já que em Moçambique a agricultura é desempenhada, em sua maioria, por mulheres. Segundo Ana Carolina Marques, a riqueza cultural do país é contagiante. Moçambique tem mais de 100 línguas locais, praias belíssimas, técnicas vernáculas seculares de construção civil, culinária original e uma grande diversidade religiosa. A bolsista, que também ministrou a disciplina de Turismo Rural na Escola Superior de Hotelaria e Turismo da Universidade Eduardo Mondlane, afirma que essa foi uma oportunidade ímpar, tanto no âmbito pessoal, quanto no acadêmico.
“Uma nação como essa, de tal geografia, história, economia, política, línguas, crenças, rituais e valores nos dá uma lição de vida. Primeiramente, por representar a diversidade tão cara a esse modelo civilizatório que predomina mundialmente; segundo, por causar em seus visitantes o incômodo questionamento sobre o sentido e a sustentabilidade desse mesmo modelo ocidental de desenvolvimento que alimentamos diariamente”, reflete. Ana Carolina Marques relata que os primeiros dias em Moçambique, junto à equipe brasileira composta por nove pesquisadores, entre professores e estudantes, voltaram-se à realização da pesquisa exploratória que já está gerando artigos e relatórios de pesquisa. “Percorremos vilas, aldeias rurais, cidades, entre elas a capital Maputo e frequentamos feiras, escolas rurais, associação de agricultores, praias e estabelecimentos turísticos”, lembra. Nessa etapa do projeto, a equipe da UFG também realizou oficinas, minicursos e um estágio de vivência com uma agricultora e feirante do município de Inhambane, dona Albertina, experiência que
Jornal UFG
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ntre Brasil e Moçambique
tre os dois países e auxiliar os camponeses da cidade turística Inhambane
Fotos: Missão Exploratória AULP
“Algo impressionante, reluzente e comovedor é a força da mulher moçambicana. Além de parir muitos filhos, de trabalhar na terra, colher, vender, cuidar das prendas domésticas, ela cuida da vida espiritual. Os deuses por lá não são de brincadeira. Eles são sentinelas da luz e da sombra. As mulheres suam o cheiro da terra e exalam o perfume da vida.” (Eguimar Felício Chaveiro)
nos com o manejo agroecológico para favorecer a economia local
Momento de confraternização entre brasileiros e moçambicanos em Inhambane resultou no documentário O mundo da machamba: produção e gênero em Inhambane/Moçambique, disponível em breve. “Em Inhambane todos falam do Brasil, dos Estados Unidos e da Europa. Os carros vem do Japão, a maionese da África do Sul, o frango é brasileiro, o café é português
e o biscoito é chinês. E nós, brasileiros, o que conhecemos da África? Safari e pobreza. Assim como o Brasil se resume a futebol e carnaval. Queremos contribuir para um Brasil melhor informado, sensível aos problemas do mundo e, sobretudo, um Moçambique melhor”, completa a doutoranda.
Em Moçambique, as mulheres são as maiores responsáveis pela agricultura
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SAÚDE
Amamentação:
“A dificuldade não está no corpo, está na mente” Especialista explica que dificuldades enfrentadas por muitas mães são de origem psicológica e que a amamentação exclusiva de leite materno ainda não atinge 40% no País
Angélica Queiroz
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Organização Mundial da Saúde (OMS) preconiza que todos os bebês sejam amamentados exclusivamente com leite materno até os seis meses de vida. Graças às campanhas feitas pelo Ministério da Saúde (MS), muitas pessoas sabem dessa recomendação. No entanto, o que parece simples e é mostrado sempre de forma bonita, como um ato de amor, é um sofrimento para muitas mães, especialmente para as de primeira viagem. Elas sofrem e se sentem inseguras, rodeadas de inúmeras informações e “conselhos”,
nem sempre verdadeiros. Sebastião Leite Pinto, pediatra e professor da Faculdade de Medicina (FM) da Universidade Federal de Goiás (UFG), é especialista no assunto e conversou com o Jornal UFG sobre a importância do apoio às mães nesse momento tão delicado. Segundo ele, grande parte dos problemas enfrentados pelas mães que não conseguem amamentar é de origem psicológica. “Se houve a gestação, a mãe produz leite. A maioria tem leite, mas a sensação e o medo de não conseguirem alimentar seus filhos são fatores que afetam a amamentação. A dificul-
dade não está no corpo, está na mente”, afirmou. O pediatra explica que existe um hormônio chamado ocitocina ou oxitocina, responsável por estimular a liberação do leite materno e que o medo, a depressão, o estresse e outros fatores podem bloquear a produção desse hormônio. Por isso, algumas mães acreditam não ter leite, o que, na maioria dos casos, não é verdade. A não fabricação do leite pode ocorrer apenas em casos raros, quando, por alguma deficiência, o organismo da mãe não tem prolactina, hormônio responsável pela produção do leite.
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10 motivos para amamentar 1. O leite materno é o melhor e o mais completo alimento para o seu filho.
2. Até os 6 meses de vida
o bebê não precisa de outro alimento.
3. A criança que mama no
peito cresce e se desenvolve melhor.
4. A digestão do leite
materno é mais fácil. Isso diminui as chances do bebê sofrer enjoos e cólicas.
5. O leite materno previne infecções, obesidade, colesterol alto e diabetes.
6. Bebês que se alimentam apenas com leite materno nos primeiros 6 meses de vida estão menos susceptíveis a alergias.
Fotos: Carlos Siqueira
7. O leite materno é de
graça, está sempre pronto e na temperatura ideal.
8. A amamentação previne hemorragias internas no pós-parto.
9. Amamentar reduz os
riscos de câncer de mama e ovário.
10. Amamentar é um ato de Mamaço para incentivar o aleitamento materno foi um dos destaques do 3º Congresso Brasileiro de Enfermagem Neonatal
amor e carinho, tanto para a mãe quanto para o bebê.
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SAÚDE
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“A pessoa que dá ‘conselhos’ acha que está ajudando, mas só atrapalha” Ser magra, ter seios pequenos, ter alguém na família que não conseguiu amamentar ou ter prótese de silicone não são fatores que influenciam diretamente na amamentação, mas muitas pessoas dizem o contrário. Para Sebastião Leite, esses mitos acabam atrapalhando. “O silicone, por exemplo, se bem colocado, não influencia na amamentação. Porém, há aquelas que acreditam que a mãe com prótese não consegue amamentar. Se a mãe colocar na cabeça que
não dará conta, não dará mesmo”, esclareceu. Para o professor da Faculdade de Medicina, as mães precisam de apoio da família, dos amigos e da sociedade para conseguirem alimentar o bebê até os seis meses exclusivamente com leite materno. “Muitos colocam várias coisas na cabeça da mãe. A pessoa que dá conselhos acha que está ajudando, mas só atrapalha”, advertiu Sebastião Leite. O pediatra ressalta que não há segredos, além
da tranquilidade e uma dieta saudável. Segundo ele, alguns alimentos, como o milho, podem auxiliar a produção do leite, mas não é necessário mudar a dieta. “A mãe deve comer e se hidratar normalmente, até ficar saciada”, ensinou. Além disso, o médico lembra que conselhos populares, como o de passar bucha no seio antes de amamentar, não são recomendados: “Durante a gravidez, a recomendação é não passar nada na auréola, nem no mamilo”.
“ Se houve a gestação, a mãe produz leite. A maioria das mães tem leite, mas a sensação e o medo de não conseguirem alimentar seus filhos afetam a amamentação. ”
Amamentação exclusiva até os seis meses ainda é menor que 40% Bebês amamentados exclusivamente com leite materno ficam menos doentes e são mais bem nutridos do que aqueles que ingerem qualquer outro tipo de alimento. O leite materno ajuda a proteger o bebê contra diversas doenças, como infecções no ouvido e no pulmão. Nenhum outro alimento oferece tal proteção. Além disso, a amamentação diminui os riscos de câncer de mama e de ovário na mãe. Por todos esses motivos, outros alimentos, inclusive a água, não são necessários antes do sexto mês de vida. No entanto, mesmo as mães que não têm dificuldades na hora da amamentação acabam introduzindo outros alimentos na dieta do bebê antes do período, o que,
além de desnecessário, pode ser um risco para a criança. As taxas de aleitamento exclusivo no Brasil até os seis meses, apesar de crescerem ano a ano, ainda não ultrapassam os 40%. Segundo Sebastião Leite, esse número se deve, principalmente, às facilidades para a mãe, à falta de apoio por parte das empresas e à pressão das pessoas. “Quando está calor, por exemplo, as pessoas falam que o bebê está com sede e a mãe acaba dando água. Isso não é necessário. O leite materno supre todas as necessidades do bebê até os seis meses”, ressaltou o médico. Ele explica que, nesse caso, o problema não é a água, mas a introdução da mamadeira. “Ocorre o que
chamamos de confusão de bico, porque o processo de sucção no peito é mais difícil e, muitas vezes, o bebê não consegue mais mamar na mãe”, disse. Por esse motivo, o pediatra aconselha as mães que precisem por algum motivo dar outro líquido aos bebês a utilizarem uma colher ou copo, evitando que a criança se confunda. De acordo com Sebastião Leite, a criação de salas de amamentação nas empresas pode ajudar as mães que trabalham, mas muitas companhias ainda não “compraram” a ideia. Se a empresa não oferece local adequado, a mulher pode fazer a ordenha sozinha, basta utilizar um frasco limpo e manter o leite na geladeira ou caixa térmica.
O médico Sebastião Leite orienta mães, como Camila Susana Santos Silva, a serem doadoras no Banco de Leite da Maternidade Nascer Cidadão
Doação pode salvar vidas A garçonete Camila Susana Santos Silva, mãe da pequena Gabriele, é uma exceção: seu leite sobra. Por isso, ela resolveu ajudar outras mães, tornando-se doadora do Banco de Leite Humano da Maternidade Nascer Cidadão, um dos dois existentes na capital (o outro fica no Hospital Materno Infantil e há ainda um posto de coleta na Maternidade Dona Íris). “Tenho muito leite e é bom doar, porque, além de ajudar, não desperdiça”, relatou Camila Susana. Sebastião Leite, diretor do Banco de Leite da Nascer Cidadão, explica que as doadoras são poucas e que essas mulheres precisam passar por avaliação médica para ver se o leite é mesmo excedente. Ele lembra que o leite é pasteurizado no Banco e perde nutrientes, mas ainda assim é mais adequado ao organismo do bebê do que o leite de outros animais. O médico, no entanto, conta que não há quantidade suficiente de leite para mandar para as casas e ajudar mães com dificuldade. “Só temos leite para o uso no próprio Banco e nas UTIs neonatais da cidade”, detalhou. Segundo ele, quando uma mãe procura o Banco de Leite, os profissionais tentam orientá-la para que ela fique tranquila e consiga dar leite ao seu bebê. BANCOS DE LEITE EM GOIÂNIA Maternidade Nascer Cidadão Avenida Oriente, s/n, Jardim Curitiba III Goiânia - GO Tel.: 62-3595-5833
Hospital Materno Infantil de Goiania Rua R-7, s/n, Setor Oeste - Goiânia - GO Tel.: 62-3956-2921
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Jornal UFG
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Trabalho de professora da Faculdade de Enfermagem foi vencedor do Prêmio Capes de Tese 2014 Angélica Queiroz
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esde que trabalhou como enfermeira de saúde da família em Belo Horizonte - MG, uma pergunta inquietava a professora da Faculdade de Enfermagem (FEN) da UFG, Flaviana Vieira: “Qual o melhor tratamento para as lesões do mamilo durante a amamentação?” A resposta poderia embasar cientificamente a assistência prestada pelos profissionais de saúde envolvidos nessa área. O questionamento direcionou o tema da pesquisa de doutorado, que foi vencedora do Prêmio Capes de Tese 2014. O trabalho foi orientado pela professora Maria Márcia Bachion e coorientado pela professora Dálete Delalibera Correa de Faria Mota, do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFG. Flaviana Vieira conta que percebeu, enquanto professora, pesquisadora e enfermeira, que algo precisava ser feito para ajudar
as mães e seus bebês na fase de amamentação, especialmente nos primeiros dias pós-parto. “A maioria das mulheres tem desejo de amamentar, mas existem eventos que as levam ao desmame precoce, sendo um dos principais o trauma mamilar, causado principalmente, pela técnica incorreta de amamentação”, relatou. A professora então resolveu pesquisar uma forma de reduzir o tempo de cicatrização da mama com um tratamento de baixo custo. “Muitas mulheres acreditam que a lesão é normal, mas não é. A mãe começa a sentir dor e isso faz com que ela protele as mamadas e introduza outros alimentos que não o leite materno, fator de risco para o desmame”, detalhou. Flaviana Vieira acompanhou 100 mulheres nos seus domicílios nos primeiros 10 dias pós-parto e, por sorteio, indicou a lanolina (pomada natural obtida a partir da cera de lã bru-
Fotos: Carlos Siqueira
Leite materno combinado à concha é mais efetivo para tratamento de trauma mamilar Flaviana Vieira explica o uso da concha durante o 3º Congresso Brasileiro de Enfermagem Neonatal
FEN, o objetivo agora é disseminar esse conhecimento, para que ele se torne um embasamento científico à prática clínica dos profissionais envolvidos com a área da amamentação, ajudando mães e bebês na satisfação com a amamentação e favorecendo o aleitamento materno exclusivo. Por isso, Flaviana Vieira, por meio de projetos de extensão, publicações de
ta) para um grupo e o leite materno combinado ao uso da concha para amamentação ao outro. O objetivo era comparar qual dos dois tratamentos era o melhor. De acordo com os resultados desse ensaio clínico, o leite materno combinado à concha se mostrou mais efetivo e acessível à redução da dor e da cicatrização do trauma mamilar. Para a professora da
Dicas para a amamentação correta O lábio inferior fica virado para fora e o queixo toca a mama da mãe Espere o bebê abrir bem a boca, como se fosse bocejar
As bochechas devem ficar arredondadas, nunca encovadas
As conchas são utilizadas por baixo do sutiã para proteger os mamilos e coletar o leite que estiver vazando
O bebê deve abocanhar a maior parte da aréola e não só o bico do seio
artigos científicos e consultorias, tem capacitado profissionais e alunos para auxiliar as mães no tratamento da dor e do trauma mamilar tão frequentes e que causam tanto sofrimento. Além disso, a professora espera que o protocolo desenvolvido para o acompanhamento domiciliar, nos primeiros dias de pós-parto, seja implementado como uma política pública de saúde.
O bebê faz um movimento de ordenha e toda a musculatura da face se movimenta
O corpo do bebê deve estar totalmente virado para a mãe
Jornal UFG
EM TEMPO
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Trote não é brincadeira
Capacitação 2015 Servidores já podem se inscrever pelo site www.ddrh.ufg.br nos cursos oferecidos pelo Departamento de Desenvolvimento de Recursos Humanos. Confira as datas limite para inscrições:
A UFG realiza uma campanha permanente de conscientização dos estudantes veteranos para recepcionar os calouros. Em 2015, a Universidade preparou uma campanha contra o trote violento e incentivou o trote solidário com doação de sangue e de alimentos. Na UFG, a resolução ECU Nº 002/96 proíbe manifestações a título de “trote”, por estudantes vinculados à Universidade. Tal resolução prevê penalidades como advertência, repreensão, suspensão e até desligamento da instituição para os envolvidos em casos de violência, humilhação e constrangimento. Denúncias de trote violento podem ser realizadas na Ouvidoria da UFG. Embora não sejam de sua responsabilidade, as comemorações realizadas fora da área da universidade também são preocupantes e, por isso, a Pró-reitoria de Graduação recomenda aos veteranos e calouros que não cometam atos de violência.
Regional Goiânia Câmpus Colemar Natal e Silva Gerenciador de Conteúdo Web-Weby *Inscrições até 16/03 Modelagem e Análise de Processos Organizacionais *Inscrições até 24/03 Sindicância e PAD Processo Administrativo Disciplinar *Inscrições até 31/03 Introdução à Estatística *Inscrições até 23/04 Seminário de Integração Institucional - 2015/1 * Inscrições até 27/04
Regional Goiânia Câmpus Samambaia
SERVIÇOS UFG
Fotos: Carlos Siqueira
Diversos órgãos da Universidade oferecem serviços de apoio à formação acadêmica e de saúde, que estão disponíveis tanto à comunidade interna quanto externa da instituição. Confira abaixo alguns desses serviços.
Declaração de Imposto de Renda passo-a passo *Inscrições até: 24/03 Palestra sobre Imposto de Renda 2015 *Inscrições até: 25/03
Farmácia Universitária
A Farmácia Universitária consolidouse na oferta de medicamentos produzidos de acordo com a legislação sanitária vigente e dispõe de uma ampla linha de medicamentos alopáticos, homeopáticos e Florais de Bach. Na Farmácia Universitária também é possível encontrar cosméticos como: cremes hidratantes, loções calmantes, cremes anti-idade e protetores solares. É possível solicitar o orçamento de sua receita pelo site www. farmaciauniversitaria.farmacia.ufg.br. Endereço: Faculdade de Odontologia da UFG, nº 294, Praça Universitária, Goiânia Telefone: 3209-6191
Centro de Saúde
Realização de consultas, curativos, suturas, acompanhamento em casos de dengue, administração de medicamentos no pronto atendimento, coleta de material para exames, grupos terapêuticos, glicemia capilar, aferição de pressão arterial e avaliação antropométrica estão entre os serviços oferecidos no Centro de Saúde, que também faz o encaminhamento para consultas especializadas, internação, cirurgias, emissão do cartão SUS e vale-exame. Endereço: Avenida Pau Brasil, n° 2, próximo à Faculdade de Educação Física e Dança (FEFD) - Câmpus Samambaia. Telefone: 3521-1868
Centro de Línguas
Oferece cursos de línguas estrangeiras, língua portuguesa e libras para os estudantes da comunidade universitária, servidores docentes e técnico-administrativos da UFG, e comunidade sem vínculo com a instituição. O único pré-requisito é estar cursando ou já ter concluído o Ensino Médio. Os valores de matrícula variam de R$204,00 a R$408,00, dependendo do tipo de vínculo com a UFG. Endereço: Faculdade de Letras Sala 28 - Câmpus Samambaia Telefones: (62) 3521-1412 ou (62) 3521-1135
Gerenciador de Conteúdo Web-Weby *Inscrições até 06/04 Programa de Capacitação para Técnicos de Laboratório *Inscrições até 10/04
Regional Jataí Direito Administrativo - Câmpus Riachuelo * Inscrições até 02/04
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VIDA ACADÊMICA
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Caroline Almeida
Jornal UFG
Integrantes da equipe Doutores da Bola na cabine da Rádio Universitária, no Estádio Serra Dourada, durante transmissão de partida do Campeonato Brasileiro
Esporte nas ondas da Rádio Universitária Programa de transmissões esportivas feito por estudantes está no ar há 14 anos Alex Maia
H
á 14 anos, um grupo formado pela então estudante do curso de Jornalismo, Ana Lúcia Jardim, pelo professor da Faculdade de Informação e Comunicação, Nilton Rocha e dois técnicos de áudio da Rádio Universitária, Wilmar Ferraz e Aurelivaldo Ferreira, o Loró, reuniu-se na sala de redação da emissora para discutir sobre o trabalho de conclusão de curso da graduanda, que buscava algo inovador na atividade jornalística. Inspiradas no extinto programa “Acadêmicos do Esporte”, formado por estudantes na UFG, do início dos anos 1990, a estudante idealizou uma transmissão esportiva com apresentador, narrador, comentaristas, repórteres e plantonista. Em setembro do ano 2000, surgia o programa “Doutores da Bola”. Passaram-se os anos e o programa continua no ar, atualmente, com uma equipe de 13 estudantes. Foram cerca de 920 transmissões realizadas desde sua criação e até hoje, o programa, que no início, se dedicava também a transmissões de campeonatos amadores de futebol de Goiânia, se dedica exclusivamente aos campeonatos profissionais, como os Campeonatos Goiano e Brasileiro das Séries A, B, C e D,
além dos amistosos que a Seleção Brasileira realiza. Das coberturas já realizadas pelo programa, o integrante Willian Rommel guarda com carinho uma em especial. “Tive muitos momentos bons, mas esse ano fizemos uma transmissão de um jogo de futebol entre Anapolina e Rio Branco, time do Acre. Éramos a única rádio de Goiânia a transmitir o jogo”, comentou. Além dessa partida, os integrantes também se orgulham de ter marcado presença no amistoso da Seleção Brasileira contra a Seleção do Panamá que ocorreu em maio deste ano no estádio Serra Dourada. Os estudantes eram uma das poucas equipes de comunicação da capital a transmitir a partida direto do estádio.
Diferencial – As transmissões laboratoriais, exclusivamente esportivas, têm mostrado ao ouvinte uma forma ousada, diferente da encontrada no segmento goiano atual. Neila Siqueira tem o hábito de ouvir futebol pelo rádio e há dois anos acompanha o Doutores da Bola. Segundo ela, a “imparcialidade” difere a transmissão da Rádio Universitária das outras. “O Doutores é neutro, nas outras rádios não é assim. Os meninos analisam o jogo de forma mais branda. Não tem aquela paixão pelo futebol local”. Com a participação de novos estudantes a cada semestre letivo, o programa promove alternância nas funções da transmissão, da seguinte maneira: quanto maior a experiência do estudante dentro do programa,
maior a sua responsabilidade. Os novatos ficam na Rádio Universitária atualizando os ouvintes sobre os jogos da rodada. Assim que conquistam confiança e conhecimentos técnicos, o novo integrante passa a atuar no estádio, com reportagens ou comentários. À medida que vai adquirindo prática nessas funções, ele poderá assumir cargos que exigem maior experiência, como apresentação e narração. Formação – O laboratório se notabiliza por ser um espaço único de experimentação de novas ideias, o que acaba preenchendo uma lacuna na própria grade do curso de Jornalismo. Hoje, na formação desses estudantes, não há disciplinas de jornalismo especializado na área de esporte. O professor e orienta-
Como acompanhar o Doutores da Bola? Sintonize 870 AM no seu rádio ou acesse o site www.radio.ufg.br aos sábados e domingos, às 16:00, e às quartas-feiras, às 22:00 Curta a Fan Page no Facebook e fique por dentro das transmissões em horários alternativos: www.facebook.com/doutoresdabola870 Não pode ouvir a transmissão? Acompanhe o lance a lance pelo Twitter: @DoutoresDaBola
dor do projeto, Ricardo Pavan, ressalta como este tipo de atividade é importante no cenário atual. “Nas faculdades do Brasil, o Jornalismo Esportivo ainda é primitivo. Temos poucas disciplinas nas universidades. Por isso, o ‘Doutores da Bola’ é importante”, defendeu. O programa destaca-se no meio do radiojornalismo pelos resultados alcançados. Ele é visto como um celeiro de talentos e tem abastecido o mercado radiofônico com profissionais mais preparados. A ouvinte Neila Siqueira compara a transmissão do “Doutores da Bola” com transmissões de rádios comerciais: “Eu vejo que o foco do programa é a informação. Quem não acompanha o dia a dia dos clubes não fica perdido quando ouve a transmissão. Tudo que aconteceu durante a semana nos clubes de futebol é abordado durante o jogo”. O professor Ricardo Pavan resume o que significa o laboratório para a formação dos estudantes: “É algo a mais que temos em relação aos outros cursos. No radiojornalismo, esportivo ou não, o amadorismo não é mais tolerado”. Para Willian Rommel, com o programa os estudantes aprendem sobre o improviso: “É um laboratório que te prepara para o mercado, por meio do treino e da repetição. Todos saem prontos para trabalhar”.
Jornal UFG
UNIVERSIDADE
Carlos Siqueira
ARTIGO Ardiley Torres Avelar*
No dia a dia, a palavra luz denota a claridade (luz visível) percebida pelos nossos olhos quando olhamos diretamente para o Sol, para uma lâmpada fluorescente acesa ou para a chama de um fogão. Entretanto, a palavra Luz refere-se também, de forma menos técnica, a todas as radiações eletromagnéticas, cujo espectro compreende as ondas de rádio e TV, as microondas, o infravermelho, a luz visível, o ultravioleta, o raio-x e os raios gamas. Este último – uso mais abrangente do termo Luz – é que está sendo comemorado neste ano. Se o século XX foi a era da eletrônica, com certeza o século XXI será a da fotônica. Desde a invenção do laser e das fibras ópticas até detectores de alta sensibilidade, esse ramo da ciência e tecnologia tem impactado a forma como a humanidade se comunica: a internet e a revolução social acarretada por ela devem-se a transmissão de dados, codificados por luz laser, em alta velocidade por meio de fibras ópticas. Por outro lado, a civilização tornou-se sinônimo de cidades iluminadas, nos levando hoje a gastar 20% de toda energia produzida no mundo com iluminação: projeta-se que a luz produzida pelo LED branco revolucionará e minimizará esse problema de consumo de energia. Coincidentemente, comemoramos neste ano várias datas importantes para a ciência da luz: mil anos do trabalho de óptica de Ibn AlHaytham; 200 da teoria ondulatória de Fresnel; 150 da teoria eletromagnética de Maxwell; 110 das teorias do efeito fotoelétrico e da teoria da relatividade especial, e 100 da teoria geral da relatividade, todas de Einstein; 50 anos da descoberta da radiação cósmica de fundo, por Penzias e Wilson, e a transmissão de dados por fibra óptica realizada por Kao. Cada uma dessas descobertas surpreendentes transformou radicalmente a nossa visão de mundo... Vivemos hoje em uma sociedade que se conecta à velocidade da luz. UFG
* Professor do Instituto de Física da
Como fazer transferência de outras instituições de ensino superior (IES) para a UFG? Celina Borges das Neves, por meio do Fale Conosco Alexia Ferraz
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COMUNIDADE PERGUNTA
Jogando luz sobre a Luz
em exageros podemos dizer que sem Luz não há vida. É por meio dela que a energia proveniente do Sol, propagando-se por meio do vácuo, chega à Terra para desencadear os fenômenos climáticos e alimentar os processos biológicos, como a fotossíntese. Desde os primórdios, a humanidade tem utilizado a luz e questionado sua natureza. A luz do Sol, da Lua, das estrelas e das fogueiras foram usadas para medição do tempo, orientação geográfica, proteção ou por motivos religiosos. Sua natureza foi sucessivamente considerada divina, elementar, corpuscular, ondulatória, ondulatória-corpuscular e, atualmente, quântica. Este ano tem tudo para ser iluminado! Pelo menos, de acordo com a resolução da Assembleia Geral da ONU, aprovada em 20 de dezembro de 2013, em que 2015 foi proclamado como o Ano Internacional da Luz e Tecnologia à Base de Luz. A decisão tem como objetivo principal conscientizar a comunidade internacional sobre a importância da Luz e a relevância de suas aplicações tecnológicas, que impactaram, impactam e impactarão, o desenvolvimento da humanidade, da sociedade e do cotidiano do cidadão. O tema Luz, por descrever um fenômeno basilar e intrinsecamente relacionado à dinâmica do planeta, da vida e dos seres humanos, é providencial e oferece oportunidade singular para repercutir nos campos da educação e da pesquisa em diversos tópicos atuais, como: sustentabilidade, preservação, energias limpas renováveis, alterações climáticas globais, saúde e medicina, comunicação e agricultura. No Brasil, as atividades que marcarão esse ano serão comandadas pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) em parceria com a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), sendo que a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia discutirá o tema: “Luz, ciência e vida”. As atividades planejadas pela SBPC envolvem, entre outras, a criação de exposição de circulação nacional e estadual, realização de teatro científico e concursos de fotografia e curtas sobre o tema Luz.
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Goiânia, março 2015
Valquíria da Rocha Santos Veloso, diretora do Centro de Gestão Acadêmica O ingresso por transferência na UFG é regulamentado pela Resolução CEPEC Nº.1160/2013, correspondente ao Preenchimento de Vagas Disponíveis nos cursos de graduação oferecidos pela Universidade. O Processo Seletivo de Preenchimento de Vagas Disponíveis, que oferta vagas para transferência, ocorre uma vez ao ano e o edital é publicado sempre no segundo semestre, no site do Centro de Seleção (www.cs.ufg.br). Este processo consiste em provas regulamentadas por edital, bem como os critérios de desempate. A transferência facultativa para a UFG destina-se a candidatos regularmente matriculados ou com matrícula trancada em outra IES, no semestre anterior à entrada na UFG, para o mesmo curso ou curso afim, dentro do mesmo grupo de cursos de ingressos da UFG. Exemplo: Se um candidato cursa Educação Física em uma Universidade X, ele poderá optar pela transferência para um curso que pertença ao Grupo 3, composto pelos cursos da área de Humanas como Educação Física, Letras, Direito ou Museologia. Ressalta-se que o candidato aprovado para vaga de transferência deverá apresentar no momento da matrícula, o histórico escolar atualizado, comprovando, no mínimo sete disciplinas cursadas com aprovação ou aproveitadas, acompanhado dos programas das disciplinas. Vale lembrar que a solicitação está condicionada à oferta de vaga no curso pretendido e na opção de solicitação.
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Jornal UFG
ENTREVISTA
Goiânia, março 2015
Laís Brito
Reitor fala do desafio de crescer em meio às incertezas do novo ano
E
m entrevista ao Jornal UFG, o reitor Orlando Afonso Valle do Amaral avalia o primeiro ano de mandato e levanta os principais desafios que terão de ser enfrentados nos próximos três anos. Da segurança ao corte de despesas no orçamento, muitas serão as limitações em 2015. Mas também já é possível avaliar diversas ações positivas do primeiro ano de mandato como a implantação do novo Estatuto da UFG e a adesão integral ao SiSU. Confira na íntegra em: www.jornalufgonline.ufg.br Como o senhor avalia o primeiro ano como reitor da UFG? Em 2014, primeiro ano de nossa gestão, realizamos, com a efetiva participação da comunidade universitária, importantes ações. Os desafios para qualquer equipe que esteja à frente de uma instituição da complexidade e relevância da UFG são sempre muito grandes e exigem o melhor de cada um de nós em termos de capacidade de gestão, abertura para o diálogo, dedicação e compromisso. Trabalhando em sintonia com o vice-reitor, professor Manoel Chaves, com os novos pró-reitores, e toda equipe à frente dos demais órgãos administrativos da UFG vinculados à Reitoria, procuramos honrar os compromissos assumidos com a comunidade universitária. Entre os maiores desafios estiveram a discussão, aprovação e implantação do novo Estatuto e a discussão do novo Regimento da UFG, que ainda está em curso. Essas mudanças implicam em uma reestruturação da universidade, de forma a abarcar a consolidação de seu perfil multicâmpus. Essa implantação acena com grandes possibilidades, sobretudo para as regionais do interior, que terão mais autonomia e maior representatividade nas instâncias colegiadas da universidade. Demos início em 2014 às atividades acadêmicas no novo câmpus da UFG, em Aparecida de Goiânia, com o início das atividades do curso de Engenharia de Produção e a abertura de vagas para os cursos de Engenharia de Transportes e de Geologia, a serem
iniciados em 2015. Estamos funcionando provisoriamente nas instalações da Universidade Estadual de Goiás, uma vez que estamos somente agora finalizando o processo de licitação da primeira obra naquele câmpus. Iniciaremos, possivelmente em 2016, as atividades da regional da UFG em Cidade Ocidental, no entorno de Brasília, com a abertura de novos cursos e o início da construção de um prédio para abrigar salas de aulas e laboratórios, em área de 500.000 m2 já doada à UFG. Demos início às atividades do curso de Medicina em Jataí, com o oferecimento de 30 vagas em 2014 e ampliação para 60 vagas a partir de 2015. Recebemos a autorização do Ministério da Educação para iniciar, em 2016, as atividades do curso de Medicina em Catalão, com 50 vagas. No contexto do programa de fortalecimento das ações de inclusão na UFG, foi criada pelo Consuni a Coordenação de Ações Afirmativas (CAAF) e aprovada, por unanimidade, uma resolução que assegura a servidores, estudantes e usuários da UFG, cujo nome de registro civil não reflita a sua identidade de gênero, a possibilidade de uso e de inclusão do seu nome social nos registros acadêmicos. A criação da CAAF, discutida com vários grupos organizados na UFG ainda durante nossa campanha como candidatos à Reitoria da UFG, veio como resposta às importantes demandas da nossa comunidade, que foram e serão amplificadas em função da Lei de Cotas e dos programas de inclusão adotados pela UFG. Em 2014 também houve a adesão integral ao SiSU. Já é possível avaliar essa mudança? Embora sejamos muito otimistas em relação a essa decisão, não possuímos ainda dados objetivos para realizar uma avaliação mais criteriosa. Ressalte-se, no entanto, o expressivo número de candidatos que escolheu, em primeira e segunda opção, a UFG como a universidade na qual gostariam de se matricular. Foram mais de 70 mil inscritos em 1ª opção e mais de 70 mil em 2ª opção.
Nas estatísticas do MEC, isso nos coloca como a 6a universidade mais procurada no Brasil, à frente de várias universidades que são, inclusive, maiores que a nossa. Esse dado é um claro indicador do prestígio da UFG em Goiás e no Brasil. Com a conclusão do processo de matrículas teremos condições de aprofundar a análise e avaliar com mais dados a decisão de adesão integral ao SISU. 2015 começou em todo o país como um ano de instabilidade. Diante disso, já há uma perspectiva de como ficarão as obras e projetos em andamento? Pelas declarações do governo, 2015, e talvez 2016, serão anos de ajustes, sobretudo na área econômica. A arrecadação não foi a esperada no ano anterior e a economia ainda não deu sinais claros de recuperação. A nova equipe econômica do governo anunciou um possível corte de 30% no orçamento dos ministérios e isso afeta também o Ministério da Educação. Se esse corte se concretizar, ele trará graves dificuldades para a universidade. Esse cenário implicará na adoção de medidas de contenção de despesas e de otimização na aplicação dos recursos orçamentários. É preciso que a comunidade como um todo esteja consciente dessa situação, circunstancial e passageira em minha avaliação, e nos ajude a encontrar caminhos que nos permitam realizar os necessários ajustes, sem com isso comprometer o que é essencial para o desenvolvimento das atividades acadêmicas. Mesmo com as preocupações que temos como gestores e como cidadãos, continuamos muito otimistas em relação ao futuro da UFG, do sistema de universidades federais e do país como um todo. Vale lembrar que, em seu discurso de posse, a Presidente Dilma Roussef, explicitou o lema do seu segundo mandato, como sendo: Brasil, pátria educadora. Se é esse o lema, o Governo vai perseguir a meta de investir para que o país, de fato, tenha a educação que precisa e merece ter. E o papel das universidades é fundamental nesse processo. Janeiro começou com o tema da segurança no câmpus, que ganhou grande repercussão na imprensa. Como a UFG está enfrentando essa questão e como a comunidade pode participar na busca de soluções? Nossa postura é de enfrentar essa discussão com muita tranquilidade, com a participação de toda a comunidade. A UFG faz parte de um contexto social não sendo, portanto, uma ilha. Em Goiânia as estatísticas de criminalidade apontam para um acirramento da situação de violência. Desde o ano passado, estamos debatendo a segurança dentro da Universidade, com membros da equipe, especialistas e pesquisadores, para entendermos melhor a situação e pensarmos, coletivamente, em uma política institucional. Os câmpus da UFG são espaços abertos, no interior dos quais circulam milhares de estudantes, professores e técnico-administrativos bem como um grande número de pessoas da comunidade externa, que procuram diversos serviços e atividades oferecidas pela UFG (bancos, correios, shows, etc). Nosso desafio é preservar essa salutar característica da instituição e, ao mesmo tempo, garantir a segurança de todos que aqui estão. Para fazer isso, temos de combinar uma série de ações, de forma a tornar nosso ambiente mais saudável e mais seguro. A melhoria da iluminação e o monitoramento por meio de câmeras, fazem parte do leque de ações já adotadas. A maioria dos prédios já conta com equipamentos de vigilância eletrônica, em auxílio ao trabalhos do pessoal da nossa segurança. Nós estamos debatendo esse tema no Conselho Universitário e tomaremos uma série de outras iniciativas, de forma a envolver a comunidade na discussão. Contaremos, naturalmente, com a participação das entidades representativas dos três segmentos da comunidade, Sint-ifesgo, Adufg e DCE, porque essa não deve ser uma preocupação da gestão apenas, mas da comunidade como um todo.