Jornal ufg 78 online

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JORNAL ANO X – Nº 78 MAIO 2016

Universidade

cada vez mais diversa

Carlos Siqueira

Em 2016, a UFG teve o maior número de estudantes ingressos pelo Programa UFGInclui, registrando agora mais de 60 indígenas e de 100 quilombolas. P. 8 e 9

Na entrevista, ex-reitor da UnB fala sobre autonomia e democratização nas universidades públicas p. 3

Mesa-redonda discute o SUS, sistema que, mesmo sendo exemplo mundial, ainda recebe muitas críticas p. 6 e 7

Estudantes de Jataí criam startup que utiliza realidade virtual para criar ambientes virtuais imersivos p. 16


JORNAL

EDITORIAL

Um direito a ser defendido no cotidiano Michele Martins*

A

autonomia nas universidades é uma prerrogativa inerente às esferas intelectual, política, administrativa, financeira, entre outras. Apesar de estar resguardada pela Constituição Federal, pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e pelo Estatuto das Instituições de Ensino Superior, as universidades se encontram, frequentemente, em embates para garantir, na prática, o exercício deste direito. Um destes embates mais recentes ocorreu no mês de abril, quando órgãos e autarquias federais no Estado receberam do Ministério Público Federal, por meio da Procuradoria da República em Goiás, uma notificação com recomendações para que não realize, utilize, nem permita, em suas dependências físicas, qualquer ato de natureza político-partidária, favorável ou contrário ao processo de impeachment. A discussão deste fato não se restringiu à comunidade acadêmica e ganhou repercussão nacional específica. Entre os principais argumentos contrários à notificação, estão o do Conselho Universitário da UFG (Consuni), reforçando que “o cenário de instabilidade política requer que a Universidade se antecipe, dialogue, investigue e realize debates públicos em busca de respostas para os problemas sociais, evitando a construção de saber enviesado e distante da sociedade”. Outras entidades como a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), também se posicionaram defendendo que “a missão acadêmica da universidade, em todo o mundo, pressupõe liberdade de ensinar e de aprender, de pesquisar e de divulgar conhecimentos como instituição responsável por formação, pesquisa e inovação em permanente diálogo com a sociedade”.

Considerando a importância de repercutir o debate sobre a autonomia universitária, o Jornal UFG reproduz nesta edição um fragmento do Ciclo de Debates 2016, promovido pelas entidades representativas dos professores (Adufg), dos técnicos-administrativos (Sint-Ifesgo) e dos estudantes de pós-graduação (APG). Confira na entrevista com José Geraldo de Souza Júnior, ex-reitor da Universidade de Brasília (UnB), como a questão da autonomia universitária é contextualizada historicamente e a sua crítica à situação das universidades frente à instabilidade política e às amarrações burocráticas em sua relação com o Estado.

Outros assuntos em destaque nesta edição são a inclusão, a pluralidade e a diversidade, que devem fazer parte do ambiente universitário. A partir de uma série de debates na comunidade acadêmica foi implementado na UFG, em 2009, o Programa UFGInclui. Ao longo dos anos, este programa contribuiu para que a política de inclusão e de ações afirmativas da Universidade fosse reconhecida como referência nacional. O programa UFGInclui ganhou fôlego com a adoção de estratégias de divulgação e sensibilização das comunidades e proporcionou o ingresso, em 2016, de 84 indígenas e quilombolas, mais que o dobro de 2015.

No mês em que estão sendo realizadas as colações de grau, trazemos também uma reportagem sobre as cerimônias, que agora garantem acessibilidade e protocolo especial para atender diferentes necessidades, como os estrangeiros e os com mobilidade reduzida. O Jornal UFG conversou com alguns desses estudantes que relatam o quão especial é concluir um curso após enfrentar todos os obstáculos impostos por uma deficiência ou por ter de deixar seu país. Até o fim de maio terão sido realizados 15 eventos em Goiânia, cinco em Catalão, cinco em Jataí e dois em Goiás.

Outro debate de grande interesse público é sobre os serviços prestados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Na mesa-redonda, especialistas reconhecem que existiram muitas conquistas nesses quase 30 anos, mas ainda identificam problemas e desafios para a manutenção do sistema. O SUS é hoje um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo e abrange desde o atendimento ambulatorial até o transplante de órgãos, oferecendo acesso gratuito a toda a população do país. Contudo, o grande gargalo do sistema é o financiamento, considerado insuficiente, com o aporte de apenas 30% das necessidades para que se possa oferecer um serviço com a qualidade adequada. Trazemos ainda como assunto o armazenamento de arquivos digitais. O professor do curso de Arquivologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Daniel Flores, que esteve na UFG, fala sobre a legislação e as alternativas para garantir a segurança e a transparência nesse processo. Mais uma vez, o Jornal UFG reafirma a sua missão de contribuir para ampliar o debate de temas importantes para a Universidade e para a sociedade. Boa leitura! *Coordenadora de Imprensa da Ascom

COMUNIDADE PERGUNTA Arquivo Pesssoal

Universidade

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Marco Tulio Guimarães, estudante do 1º período de Geologia no Câmpus Aparecida

Como está a construção do Câmpus de Aparecida de Goiânia?

O início da obra se deu, efetivamente, em junho

A obra está com o ritmo adequado ao cronograma de desembolso da UFG. Até o momento foi executado o movimento de terra, as fundações e parte da estrutura de concreto armado – até o segundo pavimento do edifício. Carlos Siqueira

A obra do edifício do Câmpus de Aparecida de Goiânia está em construção. Com área de 7.300 m2, distribuída em seis pavimentos, ela abrigará um conjunto de salas de aulas, laboratórios, administração, gabinetes de professores e área de apoio aos cursos existentes.

de 2015. Houve um atraso inicial por falta de rede de energia elétrica provisória para a ligação dos equipamentos utilizados no canteiro de obras. A previsão contratual de execução da obra é de 720 dias, ou seja, até julho de 2017 deverá ser concluída.

Marco Antônio Oliveira, diretor do Centro de Gestão do Espaço Físico (Cegef – UFG)

Publicação da Assessoria de Comunicação Universidade Federal de Goiás ANO X – Nº 78 – MAIO DE 2016 – Universidade – Reitor: Orlando Afonso Valle do Amaral; Vice-reitor: Manoel Rodrigues Chaves; Pró-reitor de Graduação: Luiz Mello de Almeida Neto; Pró-reitor de Pós-Graduação: José Alexandre Felizola Diniz Filho; Pró-reitora de Pesquisa e Inovação: Maria Clorinda Soares Fioravanti; Pró-reitora de Extensão e Cultura: Giselle Ferreira Ottoni Cândido; Pró-reitor de Administração e Finanças: Carlito Lariucci; Pró-reitor de Desenvolvimento Institucional e Recursos Humanos: Geci José Pereira da Silva; Pró-reitor de Assuntos da Comunidade Universitária: Elson Ferreira de Morais. – Jornal UFG – Coordenadora de Imprensa: Michele Martins; Editora: Kharen Stecca; Editora-assistente: Angélica Queiroz; Conselho editorial: Angelita Pereira de Lima, Cleomar Rocha, Estael de Lima Gonçalves (Jataí), Luís Maurício Bini, Pablo Fabião Lisboa, Reinaldo Gonçalves Nogueira, Silvana Coleta Santos Pereira, Thiago Jabur (Catalão) e Weberson Dias (Cidade de Goiás); Suplente: Mariana Pires de Campos Telles; Projeto gráfico e editoração: Reuben Lago e Lucas Botelho; Fotografia: Carlos Siqueira; Reportagem: Angélica Queiroz e Luiz Felipe Fernandes Revisão: Fabiene Batista e Bruna Tavares; Bolsistas: Adriana Silva, Victor Martins e Camila Caetano (Fotografia); Estagiários: Wanessa Olimpio Impressão: Centro Editorial e Gráfico (Cegraf ) da UFG; Tiragem: 7.000 exemplares

ASCOM Reitoria da UFG – Câmpus Samambaia Caixa Postal: 131 – CEP 74001-970 Goiânia – GO Tel.: (62) 3521-1310 /3521-1311 www.ufg.br – www.ascom.ufg.br jornalismo.ascom@ufg.br @ufg_oficial


3 Fábio Alves - Adufg

A dificuldade principal gira em torno das tensões políticas que, na atualidade, evidenciam uma transitividade. Outro aspecto é que o exercício de criação de normas de autogestão gera um conflito com o direito. A certa altura, Darci Ribeiro disse: – Fracassei… Temos uma história de aparentes fracassos, mas nossa cultura é patrimonialista, sexista, racista, não reconhece a complexidade. É preciso relativizar. Quem quiser conhecer mais sobre o assunto, recomendo o Observatório de Edgard Morin, que acompanha as universidades no mundo.

O caminho para a construção da autonomia é longo e tortuoso porque a emancipação não é um dom, é uma tarefa

Emancipação da universidade:

um sonho possível? Silvânia Lima

A

s universidades surgiram como instituições autônomas, muito antes da organização dos Estados. Com o surgimento deles, as universidades passam a viver uma discussão histórica sobre o seu papel emancipador, de um lado e do outro, a necessidade do controle estatal. O tema “Autonomia e democratização universitária nas IFEs” esteve em foco na UFG, recentemente, inaugurando o Ciclo de Debates 2016, promovido pelas entidades representativas dos professores (Adufg), dos técnicos-administrativos (Sint-Ifesgo) e dos estudantes de pós-graduação (APG). A questão foi contextualizada historicamente por José Geraldo de Souza Júnior, ex-reitor da Universidade de Brasília (UnB), que criticou a situação das universidades na atualidade, subjugadas à instabilidade política e às amarrações burocráticas em sua relação com o Estado, abrindo o debate.

Defina o que é autonomia institucional e o seu significado para a universidade.

Histórica, política e juridicamente, a autonomia tem como núcleo conceitual o exercício do autogoverno e da autorregulação, ou seja, a capacidade de estabelecer e gerir suas normas de funcionamento. A autonomia das universidades

... a universidade é plural, laica e, sobretudo, crítica. Contestadora, ela refuta os modelos existentes, exercitando também em si própria a crítica

é uma memória de sua origem institucional, anterior à formação do Estado. Assim, surgiram elas, propriamente autônomas. Ocorre que, contemporaneamente, o exercício da autonomia é relativizado por causa do poder político estatal a que está subordinada a universidade. As universidades precisam dessa capacidade de gestão, de modo que possam definir seus próprios programas e papéis institucionais.

Temos uma história de aparentes fracassos, mas nossa cultura é patrimonialista, sexista, racista, não reconhece a complexidade

Como o tema está contemplado na proposta de Lei Orgânica da Andifes para as universidades? Participei da discussão da lei orgânica, especificamente sobre a implementação do orçamento. Tentamos estabelecer uma agenda tópica para a autonomia: gestão de projetos, modo de administração dos recursos, ressignificação das fundações de apoio. É a universidade se organizando a partir dos fins que quer cumprir, esse é um modo orgânico de gestão.

Além da liberdade para exercer sua função crítica, que outros aspectos a autonomia pode favorecer nessas instituições?

Por exemplo, a respeito dos contratos, hoje sujeitos às restrições dos processos de licitação. A padronização e a homogeneização dificultam o exercício emancipatório. É preciso flexibilizar, ou criar formas para que a universidade possa atuar, dentro da lei, mas que permitam qualificar melhor as contratações. A escolha democrática dos dirigentes é outra questão, o processo de eleição tem sido uma boa experiência, que poderá avançar para o reconhecimento de uma escolha realmente democrática, com a participação de toda a comunidade universitária. Outro aspecto importante são as auditorias presentes nas universidades, que atuam como uma espécie de poder, vinculadas a outra instância superior, com uma posição muito restrita. As universidades querem caminhar para ter sua própria auditoria.

Por que as universidades passaram a ser cerceadas dessa condição vital ao Qual é a perspectiva para que a universeu pleno exercício? sidade retome sua autonomia? São características do Estado o monopólio e a jurisdição. O sistema estatal é carregado por ideologias, programas e orientações partidárias, entre outros interesses. Por sua vez, a universidade é plural, laica e, sobretudo, crítica. Contextadora, ela refuta os modelos existentes, exercitando também em si própria a crítica. Com isso, às vezes, ela entra em contradição com as diretrizes impostas pelo Estado. Ou seja, na prática política, esses valores acabam se confrontando com a disposição de poder que se nucleou no Estado, definhando as práticas democráticas nessas instituições. Mas, para que cumpra seu papel, a universidade precisa dispor de autonomia.

O caminho para a construção da autonomia é longo e tortuoso porque a emancipação não é um dom, é uma tarefa. Não obedece a voluntarismos carismático-autoritários e só faz sentido se pautar-se em plataformas coletivas correspondentes a projetos de sociedade.

Confira mais sobre o Ciclo de Debates 2016 no link

Entrevista José Geraldo de Souza Júnior

Quais são as barreiras para a autonomia universitária nos tempos atuais?


<máquinasnocomando> Terceira onda do desenvolvimento da internet se caracteriza por objetos inteligentes e conectados

Freepick

Universidade

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Wanessa Olimpio

V

ivemos cada vez mais conectados a aparelhos tecnológicos, smartphones, tablets e computadores. A relação homem-máquina já se tornou rotina e muitos não conseguem mais se separar de seus dispositivos. Porém, os dispositivos também estão interagindo entre si, sem a mediação de uma pessoa. Dessa forma, já é possível se imaginar vivendo em um ambiente com objetos que se comunicam uns com os outros ou que, só de te observar, reajam e façam alguma coisa por você. Na UFG, diversos pesquisadores desenvolvem estudos nessa área, chamada de Internet das Coisas.

“A Internet das Coisas é um conceito utilizado para designar determinados objetos que podem cumprir o papel de emissores e receptores de informações com base em uma série de padrões de interface. São máquinas que se comunicam e são incorporadas em uma série de produtos”, explica o professor Cleomar Rocha, coordenador do Laboratório de Pesquisa, Inovação e Desenvolvimento em Mídias Interativas (Media Lab). Segundo ele, atualmente há uma quantidade de máquinas online que supera o número de pessoas. Por isso “a rede não é somente dos humanos, mas é uma rede que estabelece uma série de

relações, inclusive homem e máquina, máquina e máquina e homem e homem mediado por máquina”.

Céu na terra

Imagine uma geladeira que avalie os produtos que estão acabando e, a partir de alguns comandos pré-selecionados, faça uma lista de compras. Ou ainda, se esse eletrodoméstico avaliasse as possibilidades de refeições que poderão ser feitas com os ingredientes encontrados. Para que isso ocorra é necessário que a transmissão de informações se efetive plenamente. No âmbito da pesquisa, no Brasil, há um único espaço que proporciona a avaliação de programas que comandam esses objetos. O professor do Instituto de Informática (INF) da UFG, Bruno Silvestre, é um dos coordenadores adjuntos do projeto TestBed: Céu na Terra, um ambiente para teste de aplicações para redes de sensores sem fio.

A iniciativa, que é a primeira do tipo no país, funciona em um auditório na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), através de uma parceira entre essa universidade, a UFG e a Pontifícia Universidade do Rio de Janeiro (PUC-Rio). O espaço funciona como um laboratório para que pesquisadores de outras instituições testem estudos. O Céu na Terra possui um portal em que um pesquisador que se interesse em testar o seu estudo se cadastra. Após o cadastro, o usuário coloca o algoritmo responsável pelo desenvolvimento do programa. De qualquer local em que essa pessoa esteja, o programa é testado no auditório no Rio de Janeiro e tem seu resultado divulgado. O professor Bruno Silvestre explica que o projeto não é 100% perfeito, mas é melhor do que o uso do simulador. “Fizemos uma interface web

O aluno de Ciências da Computação da UFG, Douglas Veronez, foi um dos estagiários que trabalhou durante dois anos no projeto Céu na Terra. “A ideia era criar um ambiente de teste, que compõe uma rede de pequenos sensores sem fio com a capacidade de se comunicar uns com os outros. O problema é que nem todo mundo tem como comprar esses equipamentos para testar as aplicações. Então o meu objetivo era desenvolver aplicações para poder testar na infraestrutura que íamos oferecer”, explicou o estudante.

Douglas Veronez ressalta que a participação no projeto foi muito importante para a sua formação acadêmica. “A experiência faz aumentar a habilidade de resolver problemas e melhora a expressão escrita, porque você tem que escrever bastante. Ensinar como a pessoa usa a aplicação, o TestBed. É fundamental para a vida do cientista e do profissional”. O TestBed: Céu na terra já está em andamento há quatro anos e é financiado pela Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), organização social que provê internet em todas as universidades públicas e em algumas da rede privada no Brasil.

Carlos Siqueira

CEGRAF oferece serviço de serigrafia

de tal forma que o pesquisador possa subir o código e selecionar o que ele quer usar e depois fazer o pedido para rodar o experimento. Em seguida, ele coleta os dados e pode analisar realmente se algo melhorou ou piorou”. Segundo o pesquisador, o auditório é programado como uma “casa inteligente”, por exemplo, onde cada aparelho assume o papel de um objeto, como uma lâmpada, ar-condicionado, rádio ou televisão. O projeto é voltado para o ensino e para a pesquisa. “Você pede ao aluno que ligue um rádio e ele faz com que ligue, acendendo uma luz para mostrar que ligou ou desligou”, detalha o pesquisador.

Unidades e órgãos podem solicitar materiais como camisetas, bottons e adesivos que são produzidos na própria Universidade

Kharen Stecca

O

Centro Editorial e Gráfico (Cegraf/UFG) oferece desde 2015 um novo serviço: a serigrafia. Este é um processo de impressão no qual a tinta é vazada pela pressão de um rodo, por meio de uma tela preparada. O processo pode ser utilizado em diversos materiais como papel, plástico e tecido. Entre os produtos que podem, agora, ser produzidos dentro da UFG estão: canecas personalizadas, camisetas, jalecos, coletes, sacolas, bottons, adesivos de papel e plástico e carimbos. Outro produto que

também pode ser produzido são os banners. Por enquanto, segundo o diretor do Cegraf, Antón Corbacho, estão imprimindo o tamanho típico de apresentação de pôsteres para eventos. O diretor do Cegraf explica que há muitas vantagens em realizar esses serviços dentro da Universidade. A primeira é o custo, bem mais barato que no mercado, já que a gráfica não tem fins lucrativos; a segunda é a preservação de uma arte gráfica tradicional, evitando que a mesma desapareça; e a terceira vantagem é a qualidade pois, por não visar o lucro, é possível buscar materiais de

Processo pode ser utilizado em materiais como papel, plástico e tecido boa qualidade e, mesmo assim, não onerar o orçamento do produto.

Para solicitar os serviços é preciso que os projetos sejam registrados e possuam recursos via Funape, projetos de pesquisa ou extensão. O Cegraf atende também demandas de

alunos, órgãos e unidades internos da UFG, conforme disponibilidade de orçamento próprio.

Mais informações podem ser obtidas no telefone <62-3521-1355> ou no e-mail <serigrafia.cegraf@ gmail.com>.


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Cerimônias garantem acessibilidade e protocolo especial para atender diferentes necessidades Luiz Felipe Fernandes

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sse ano a Universidade Federal de Goiás (UFG) é responsável por 27 cerimônias de colação de grau dos estudantes que concluíram seus cursos no segundo semestre de 2015. Até o fim de maio serão realizados 15 eventos em Goiânia, cinco em Catalão, cinco em Jataí e dois em Goiás. Entre os milhares de novos profissionais das mais diversas áreas de conhecimento, estão aqueles para os quais a conquista do diploma de graduação têm um significado ainda mais especial: os que tiveram de vencer os obstáculos impostos por ambientes hostis às diversidades daqueles que convivem com alguma deficiência e os que deixaram seus países de origem para estudar no Brasil. Além da realização pessoal, a presença destes formandos reforça o papel da Universidade como espaço de inclusão e diversidade. Na Regional Goiânia, o Centro de Eventos Professor Ricardo Freua Bufáiçal, no Câmpus Samambaia, garante a acessibilidade de pessoas com mobilidade reduzida com rampas de acesso aos camarins e ao palco. Além disso, a Fundação Rádio e Televisão Educativa e Cultural (RTVE) monta uma estrutura de transmissão simultânea dos

intérpretes em Língua Brasileira de Sinais (Libras). Na colação de grau do curso de Letras (que inclui a habilitação em Libras) o juramento também é feito oralmente e por sinais.

Na reta final do curso de licenciatura em Ciências Biológicas, em 2015, Sara Marina Laviola sofreu um acidente de moto que a deixou tetraplégica. No retorno aos estudos ela teve o apoio do Núcleo de Acessibilidade da UFG e da coordenação do curso para superar os obstáculos que surgiram. Sara conta que as principais dificuldades estão nas barreiras arquitetônicas, que dificultam a locomoção, e atitudinais, que atribuem a pessoas com deficiência a imagem de dependência ou baixa capacidade intelectual. Com a colação de grau, Sara diz que seus planos estão sendo reconstruídos. “Pretendo ingressar em um mestrado e, quem sabe, retornar à Universidade como docente”.

Exceção

Concluinte do curso de Direito da UFG, Raquel Robles de Souza lamenta o baixo número de pessoas com deficiência no Ensino

Cerimônia democrática

Benvinda e Morgan, da África, levaram bandeiras de seus países para a colação Superior. Ela possui uma deficiência de origem genética e progressiva denominada distrofia muscular do tipo cinturas e, por isso, se locomove com cadeira de rodas. Apesar de não ter enfrentado problemas no acesso à Universidade, Raquel tem consciência de que é uma exceção. “O Censo de 2010 do IBGE apontou que, naquele ano, apenas 6,7% das pessoas com deficiência possuíam o ensino superior completo. Esse é um dado que merece uma maior reflexão. É um sinal de que as pessoas com deficiência são segregadas da sociedade e não possuem as mesmas oportunidades de participação, como de conseguirem ingressar em uma universidade pública”. Sem contar o preconceito que, segundo a bacharel, é vivenciado cotidianamente. “É impossível, ou ao menos extremamente improvável, uma pessoa com deficiência frequentar um espaço todo pensado para pessoas sem deficiências sem lidar com discriminações. De uma forma geral, as pessoas sem deficiências já possuem grande dificuldade em lidar em pé de igualdade com uma pessoa com deficiência sem se sentirem superiores a elas. Acrescente-se a isso uma estrutura arquitetônica que impossibilite um cadeirante de frequentar e utilizar todos os ambientes disponibilizados para os demais alunos e é claro que haverá preconceitos”. Raquel foi aprovada na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) antes mesmo de colar grau. Agora, pretende passar em um concurso que possibilite ganhar prática jurídica, já que alguns cargos disputados por bacharéis em Direito exigem três anos de experiência na área. Sua maior meta,

Fotos: Carlos Siqueira

Desde 2008 as colações de grau da UFG são realizadas em espaço próprio, oferecendo toda a estrutura necessária, sem cobrança de taxa e garantindo o direito do estudante de participar da cerimônia. Os eventos são totalmente planejados e executados pela equipe de Relações Públicas da Assessoria de Comunicação (Ascom). O procedimento está previsto na Resolução 1.309/2014 do Conselho de Ensino, Pesquisa, Extensão e Cultura (Cepec). A organização se encarrega de todas as etapas do evento, desde o fornecimento gratuito de convites, ensaio e cerimonial até a cobertura fotográfica, de filmagem e disponibilização das imagens, também sem custo.

Universidade

Diversidade nas colações de grau

Morgan Tshipamba, da República Democrática do Congo, comemorou a conquista com amigos da comunidade africana

entretanto, é trabalhar em algum projeto em prol das pessoas com deficiência. “É a coletividade a qual pertenço, trata-se de quem eu sou e de quem eu quero ver um crescimento cultural e social”, ressalta.

Do mundo para a UFG

As colações de grau da UFG também garantem protocolo diferenciado quando há concluintes estrangeiros. Caso haja interesse, o formando pode levar a bandeira de seu país e encaminhar ao cerimonial o hino, cuja execução é incluída no roteiro da cerimônia. Na colação de grau do curso de Engenharia Elétrica, no dia 14 de abril, foi executado o hino da República Democrática do Congo em referência ao concluinte Morgan Tshipamba. Com o sonho de estudar no Brasil acalentado desde o Ensino Médio, ele chegou do país africano em 2008 e, no ano seguinte, começou a estudar na UFG.

Morgan sabia da dificuldade que teria para aprender Português (a língua oficial da República Democrática do Congo é o Francês), mas o clima seco de Goiânia também surpreendeu. “Saí de uma cidade onde chove oito meses por ano”, conta. Infelizmente, ele também teve de lidar com o preconceito. “É uma realidade daqui, mas que nunca me desanimou a alcançar o que vim buscar”. Em compensação, Morgan afirma ter feito bons amigos e destaca a estrutura e a qualidade de ensino da UFG que o permitiram se tornar engenheiro eletricista. “Deixar a casa e vir para cá me fez crescer bastante, hoje tenho uma visão diferente e bem mais ampla do mundo”. Selecionado para o mestrado, Morgan ficará mais dois anos em Goiânia. Concluinte do curso de Letras-Inglês, a angolana Aida Rafael se diverte ao falar das diferenças culturais e geográficas entre seu país e o Brasil, começando pelo clima quente, passando pelo hábito de comer arroz e feijão todo dia, a diferença no sotaque português e até o costume de dividir a conta. “Na Angola, quem convida paga a conta”, explica. Assim como Morgan, ela veio para a UFG por meio do Programa de Estudantes-Convênio de Graduação (PEC-G), destinado a estudantes de países em desenvolvimento com os quais o Brasil mantém acordos educacionais e culturais. Antes de voltar para Angola, Aida vai tentar o mestrado. “Avalio a experiência como super positiva, agregou demais a minha vida como pessoa e como estudante. Estudar em uma faculdade federal e com professores totalmente capacitados e prontos a ajudar não tem preço, é simplesmente incrível”, relata.


Mesa-redonda

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SUS Ascom, Rádio Universitária e TV UFG

A Constituição Federal Brasileira de 1988 determina que é dever do Estado garantir saúde a toda a população e instituiu, como forma de efetivar o mandamento, o Sistema Único de Saúde (SUS) para atender a mais de 180 mil brasileiros. O SUS é um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo e abrange desde o atendimento ambulatorial até o transplante de órgãos, oferecendo acesso gratuito a toda a população do país.

Financiado com recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, o sistema segue cinco princípios básicos: universalidade, integralidade, equidade, descentralização e participação social. Fazem parte do SUS os centros e postos de saúde, hospitais – incluindo os universitários, laboratórios, hemocentros, bancos de sangue, além de fundações e institutos de pesquisa, como a Fundação Oswaldo Cruz e o Instituto Vital Brazil. O setor privado participa de forma complementar, por meio de contratos e convênios de prestação de serviço.

Nesses quase 30 anos foram muitas conquistas, problemas e desafios enfrentados na implantação e manutenção do sistema. Para debater o assunto e ajudar a entender porque, apesar de ser exemplo para o mundo, o SUS é tão criticado, a mesa-redonda desta edição convidou a Superintendente de Educação em Saúde e Trabalho para o SUS, da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás, Irani Ribeiro de Moura, o professor do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública da UFG (IPTSP), Elias Rassi Neto, e a Presidente do Conselho SUS Municipal de Saúde de Goiânia, Irmã Joana Dalva Mendes.

realidade, desafios e perspectivas O SUS é um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo e tem como um dos preceitos básicos a universalização, ou seja, qualquer cidadão brasileiro pode usufruir dele. O Brasil acertou ao criar um sistema tão amplo ou deveria ter adotado um sistema mais segmentado para ter condições de ofertar um serviço de melhor qualidade? Irani Ribeiro – Defendemos a implantação do SUS no Brasil. Essa foi uma conquista de toda a população, um sistema com o benefício de ser universal, atendendo toda a população brasileira com integralidade da assistência, ou seja, desde a imunização até o transplante. Costumo dizer que o SUS não veio para os pobres, ele veio para a população brasileira. É o nosso plano de saúde. Ele, com suas características de universalidade, integralidade da assistência, controle social permanente na discussão do processo e equidade, é perfeito em sua constituição. Temos, sim, dificuldades em sua operacionalização, mas isso é outra discussão. No nosso país temos poucas pessoas que não usam o SUS. Na imunização, por exemplo, as pessoas procuram as unidades de saúde para se vacinarem. No caso de transplante e alta complexidade, mesmo as pessoas que tem seus planos de saúde, procuram o SUS. Então, precisamos é que, cada vez mais, discutamos e consigamos entender o que é necessário para fazer o SUS acontecer.

Elias Rassi – Embora tenhamos conquistado um sistema de saúde universalizado, o fato é que no Brasil ele persiste como segmentado. Desde antes da Constituição de 1988 já existia uma clara divisão e uma ocupação do espaço de assistência à saúde de forma privada. Algumas atribuições do SUS são desenvolvidas de forma universalizada, como a parte de imunização, a parte de vigilância sanitária e epidemiológica e alguns segmentos de alto custo como os transplantes e o tratamento de câncer. Mas por outro lado, nos segmentos de especialidade ou internações hospitalares, por exemplo, as atribuições estão divididas com o setor privado, principalmente nos estados do Sul, Sudeste e do próprio Centro-Oeste. Hoje, em Goiânia, 60% das internações hospitalares são feitas no setor privado e pagas pelo SUS. A par disso temos um setor de saúde suplementar em evidente crescimento nos últimos 20 anos e que hoje atende cerca de 50 milhões de brasileiros. Essa dualidade entre “assistência para ricos” e “assistência universalizada” certamente é um problema ainda muito difícil de ser superado. Irmã Joana Dalva – O sistema é universal no sentido que quem acaba pagando a conta é o SUS, dentro da proposta de saúde como dever do estado e direito de todos. O que precisa melhorar é que o sistema seja realmente público, que o investimento público seja feito de tal forma a ser efetivamente utilizado não por meio de terceiros, porque é isso que cria essa divisão de “saúde para rico” e “saúde para pobre”. Com esse modelo, o SUS acaba gastando muito mais do que o retorno que ele tem. Hoje entendemos que, em Goiânia, por exemplo, os planos de saúde são tão bons quanto o SUS no atendimento. As pessoas têm a mania de chamar a imprensa cada vez que não conseguem atendimento especializado no espaço público, mas não o fazem

quando não conseguem marcar no plano de saúde, que muitas vezes marca para daqui a seis meses. No SUS, algumas vezes, você até consegue atendimento com maior rapidez, mas não reconhece. Aprendemos a mostrar as falhas e não valorizar os benefícios. Desde a imunização até o transplante, é possível conseguir atendimento pelo SUS. A questão é aplicar de forma mais correta e efetiva.

Irani Ribeiro

Costumo dizer que o SUS não veio para os pobres, ele veio para a população brasileira. É o nosso plano de saúde

O SUS é muito criticado. O sistema tem mesmo muitas falhas? Onde estão os principais problemas: no financiamento ou na gestão? Elias Rassi – Nós temos problemas em diversas áreas. Eu, muitas vezes até na contramão do que pensam muitos colegas, entendo que um dos nossos maiores problemas é a legislação, uma legislação restritiva que judicializa a assistência à saúde e massacra os profissionais que trabalham na gestão. Em Goiânia, por exemplo, desde a criação da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), todos os secretários, sem exceção, são processados pelo Ministério Público. Eu, que fui secretário por dois anos, saí de lá com mais de 50 processos no Conselho Regional de Medicina, mais de 200 processos no Tribunal de Contas dos Municípios, mais de 30 ações criminais, uma enormidade de ações civis e sou multado em mais de 30 milhões de reais, incluindo a construção da Maternidade Dona Íris, que o Tribunal de Contas pleiteia que eu restitua os recursos gastos naquela maternidade que já realizou quase 20 mil partos. A complexidade legislativa impede que as decisões sejam tomadas nos termos da Constituição, ou seja, com base no interesse da sociedade. Quando entrei na SMS em 2011, tínhamos, de uma frota de quase 500 veículos, mais de 200 parados nas oficinas, sem possibilidade de conserto, por restrições legais – ou leis ou normas adotadas pelos conselhos de contas. Eu diria que esse tipo de emaranhado impede que exista uma agilidade maior, embora tenhamos uma margem importante para a reconstrução da normatização legal. Por outro lado, o financiamento é absurdamente insuficiente, ou seja, o que se dispõe hoje no SUS é 30% das necessidades para que se possa oferecer um serviço com a qualidade adequada. Os profissionais da área de saúde são heróis por conseguirem,


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Irmã Joana Dalva – Concordo e penso ainda que a forma que os gestores, especialmente das unidades, são colocados, a politicagem, a influência dos vereadores em quem vai ser dessa ou daquela unidade, é muito prejudicial ao sistema de saúde. Também as licitações, que são intermináveis ou não conseguem dar continuidade a uma obra. É necessária a aplicação dos recursos de forma adequada e também mais interesse dos governantes em aprovar legislações que contribuam para mudar a forma com que o recurso é aplicado. A população precisa conhecer melhor como o sistema funciona e a atenção básica precisa atuar de forma mais adequada para que não existam tantas ocorrências de processos judiciais. São muitas questões, mas essa do financiamento é uma das principais, porque o recurso é insuficiente.

Fotos: Carlos Siqueira

Irani Ribeiro – Consideramos também que o maior gargalo do sistema é o financiamento. Receber um sistema subfinanciado traz muitas dificuldades para que a população tenha o atendimento que merece. Hoje os repasses não estão acontecendo da maneira correta. Então, os estados e, principalmente, os municípios, estão sofrendo muito com essa falta de recurso. Os municípios estão aplicando em torno de 22% de suas receitas brutas. O Estado de Goiás, em 2015, aplicou 12,7%. E o governo federal está repassando em torno de 6% dos 10% que deveria repassar. E quem sofre com isso é a população. Se a assistência e os medicamentos não chegam, as filas aumentam. Apesar de preconizarmos que os gestores façam uma boa gestão desse pouco recurso com maior eficiência, acompanhamento e fiscalização, muito ainda fica a desejar no atendimento, desde a atenção primária, passando pela média e alta complexidade.

Elias Rassi

Acredito que a médio e longo prazo pagaremos um preço alto por essa transferência da gestão para organizações sociais em Goiás, embora elas tenham oferecido uma resposta satisfatória num curto período

A introdução das organizações sociais na gestão de unidades públicas de saúde pode ser uma solução? Irmã Joana Dalva – Eu não acredito que possamos dizer que as organizações sociais sejam mais eficientes que a gestão pública por vários motivos. Entre eles, porque elas colocam-se sem fins lucrativos e eu não entendo como uma organização que não tem fins lucrativos vai gerir um recurso público sem receber nada. Fico me perguntando do que é que eles sobrevivem. Se precisamos terceirizar e pagar alguém para gerir, por que não podemos utilizar aquele recurso para contribuir para melhorias na saúde? A gestão direta só precisa ser corrigida. A legislação precisa ser modificada e adequada para que as coisas possam acontecer com maior agilidade. Não é contratando um terceiro para administrar o recurso que ele vai ser aplicado mais eficientemente. Podemos ter uma excelente administração direta, com ótima gestão de recursos, sem precisar terceirizar o serviço. Já vimos um exemplo no Rio de Janeiro de como o recurso foi mal gerido e desviado do seu propósito de maneira até desavergonhada. Portanto, não acredito que todas as organizações sociais são iguais, porém não vejo a necessidade delas quando se pode aplicar a gestão direta, eficiente, com pessoas que tem total competência e capacidade para isso. Dessa forma, como controle social somos terminantemente contra a gestão por meio de organizações sociais. Elias Rassi – Olhando para a situação de Goiás, especificamente, as relações entre a Secretaria Estadual de Saúde e as organizações sociais que hoje administram o Hospital de Doenças Tropicais, o Hospital Geral de Goiânia e toda a rede de hospitais públicos estaduais de Goiás, penso que, muito embora essa alternativa tenha oferecido uma resposta interessante para algumas questões de manutenção da rede hospitalar e algumas emergências no campo predial e das instalações e equipamentos, existem alternativas infinitamente melhores que as organizações sociais. No geral, é necessário e absolutamente reconhecido que hospitais, unidades hospitalares e mesmo unidades ambulatoriais de um porte maior não conseguem funcionar sem um alto grau de autonomia gerencial, que é absolutamente necessária dentro do contexto de um hospital. Não é possível que uma torneira de um banheiro estrague de manhã e só seja possível consertá-la na tarde de um ano depois. É necessário que esse conserto se dê imediatamente para todas as instalações. Eu acredito e entendo que é possível fazer isso via administração direta e pública, embora possa ser um percurso um pouco mais trabalhoso. No Brasil não existe tradição de organizações sociais, elas foram montadas, organizadas, instaladas e implantadas objetivamente para participação nesse processo de administração da rede hospitalar e mantém uma natureza privada. De uma maneira geral, a atenção à saúde tem um conflito conceitual e ideológico com o setor privado. Trabalhos importantes realizados no mundo, inclusive um do vencedor do Nobel de Economia que analisou o sistema de saúde norte-americano, chegou à conclusão de que saúde não pode ser atribuição de organizações lucrativas, ela deve estar vinculada a formas de organização não lucrativas. Acredito que a médio e longo prazo pagaremos um preço alto por essa transferência da gestão para organizações sociais em Goiás, embora elas tenham oferecido uma resposta satisfatória num curto período.

Irani Ribeiro – Eu posso avaliar porque também fui Secretária de Estado da Saúde e, enquanto secretária, eu era 24 horas diretora dos hospitais. Hoje eu vejo que, com esse novo modelo de gestão, o secretário pode trabalhar questões maiores para todo o estado, não se restringindo

a diretor de hospital. Com essa mudança do modelo de gestão dos hospitais e com a implantação de um sistema de informática que dá a todo o momento informações para tomada de decisões, a probabilidade de acerto é muito maior, o avanço é muito maior. Hoje temos um secretário liberado dessa gestão dos hospitais e que tem essas informações através do Conecta SUS para tomada de decisões, para melhorar e ser parceiro dos municípios, pois, nesse momento, o estado tem que fazer esse permeio entre o governo federal e o municipal. Os municípios recebem muito pouco e não estão conseguindo realizar os atendimentos, sendo assim, o estado tem que apoiar, complementar, capacitar e ajudar. Pelo lado da gestão, as organizações sociais deram oportunidade para a saúde pública melhorar em Goiás.

Irmã Joana Dalva

A população precisa conhecer melhor como o sistema funciona e a atenção básica precisa atuar de forma mais adequada para que não existam tantas ocorrências de processos judiciais Irmã Joana Dalva – Realmente penso que é importante considerar um pouco mais a questão da gestão ser mais eficiente no lado público, porque, na verdade, o fato de o secretário ser quase o gestor do hospital, talvez seja um erro na forma de tratar com os gestores dos hospitais. É preciso melhorar essa forma de trabalhar a gestão direta para que ela possa ser eficiente.

Você pode participar das próximas mesas-redondas enviando sugestões de temas e convidados pelo telefone: 3521-1311 ou jornalismo.ascom@ufg.br

Confira os vídeos do Programa Conexões no QR Code ao lado.

Mesa-redonda

com esses parcos recursos, oferecer um serviço muito importante, fundamental, principalmente se comparado com períodos anteriores. Não se pode fazer uma leitura do sistema de saúde hoje fora de uma comparação de como isso era anteriormente.


Universidade

8

UFGInclui recebe maior número de estudantes desde sua criação Em 2016, a Universidade recebeu 84 indígenas e quilombolas, mais que o dobro de 2015 Angélica Queiroz

C

riado para democratizar o acesso à Universidade, o Programa UFGInclui tem crescido a cada ano. Em 2016, recebeu 84 estudantes indígenas e quilombolas, nas regionais Goiânia, Goiás, Catalão e Jataí, o maior número desde a sua criação, em 2009. Em 2015, foram 35. O UFGInclui prevê uma vaga extra em cada curso de graduação onde houver demanda indígena e quilombola, quando oriundos de escola pública, a partir da pontuação obtida pelo Exame Nacional de Ensino Médio (Enem), bem como 15 vagas para candidatos surdos na graduação Letras Libras.

Coordenador de Inclusão e Permanência da Prograd/UFG e do UFGInclui, o professor Jean Baptista ressalta que esse foi o maior processo seletivo do programa, com 145 quilombolas e 75 indígenas inscritos. Para ele, esse crescimento se deve, principalmente, ao projeto “UFG nas comunidades”, com oficinas que esclarecem como ingressar na UFG, com envolvimento de professores e alunos. “Quando vamos às comunidades percebemos que muita gente ainda não sabe da existência do UFGInclui”, observa. Outro fator, segundo Jean Baptista, é a ajuda dos estudantes veteranos que viram porta-vozes do programa em suas comunidades e fora delas. “Eles viram multiplicadores e assumem o protagonismo do UFGInclui”, completa.

universidades brasileiras, têm direito a uma bolsa de 900 reais, paga, desde 2010, pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Por desconhecer o auxílio, muitos estudantes demoram a requerer o direito e, por isso, além de todas as outras dificuldades de adaptação a uma nova cultura, a evasão foi muito grande nos primeiros anos de UFGInclui.

a mudar essa realidade. As demandas levantadas pelo grupo são repassadas à Coordenação de Inclusão e Permanência (CIP), que tem desenvolvido várias ações para garantir não só o acesso, mas também a continuidade desses estudantes na Universidade, em interlocução permanente com a Pró-reitoria de Assuntos da Comunidade Universitária (Procom).

De acordo com Jean Baptista, a criação da União de Estudantes Indígenas e Quilombolas da UFG, que realiza reuniões mensais, revelou a complexa situação em que alguns desses estudantes estavam e começou a ajudar

sores, conselhos diretores e semanas pedagógicas, para tentar contribuir na formação de profissionais mais preparados para lidar com as especificidades dos alunos do UFGInclui. “Existe preconceito e, inclusive, profissionais que ainda são contra o programa. Mas a UFG é, acima de tudo, uma instituição de educação. Nosso papel é educar também a essas pessoas”, detalha Jean Baptista.

Além de estar presente no ato da matrícula para informar aos estudantes sobre seus direitos e identificar casos que mais precisam de acompanhamento, a CIP realiza mediações em cursos de formação de novos profes-

Na busca de atender a essas demandas, a Prograd criou, em 2014, o Espaço de Inclusão e Permanência, onde funciona também a coordenação, situado no segundo andar do

50

Dados UFGInclui 2009 a 2016/1 Quilombolas Indígenas

34

Permanência ainda é desafio

Apesar da possibilidade de acesso, os estudantes ainda vivem muitas dificuldades para permanecer na Universidade. Uma das razões é a desinformação sobre seus direitos. Todos os indígenas e quilombolas que ingressam na UFG, assim como nas demais

14 4

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2009

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3

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2010

2011

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2012

14

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16

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2014

2015

Gráficos: Reuben Lago

Pró-reitor de Graduação da UFG, Luiz Mello de Almeida Neto ressalta que a Universidade deve ser um espaço de diversidade e pluralidade. “A recepção desses estudantes é a expressão do compromisso da UFG com esses grupos que, tradicionalmente, foram excluídos e tiveram seus saberes e sua cultura também excluídos do universo acadêmico”, afirma. Para Luiz Mello, o UFGInclui colabora para a valorização de outros saberes, considerando não só o que esses estudantes têm a aprender, mas também o que eles têm a ensinar. “É um exercício riquíssimo para os outros alunos se estes forem abertos a aprender uma nova cultura”, ressalta.

Permanência foi pauta prioritária no Seminário de Avaliação do UFGInclui, de 2015, que reuniu professores, pesquisadores, estudan

2016


9 Universidade

42

UFGInclui 2016/1 Quilombolas Indígenas

27

Regional Goiânia

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Regional Jataí

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2

Regional Goiás

2

Fotos: Camila Caetano

4

1

Regional Catalão

Programas de acompanhamento, rodas de conversa, núcleos livres, tutorias e mentorias visam garantir a inclusão e permanência dos alunos do UFGInclui pela linguagem, que não é a mesma da comunidade. Por esse motivo, o estudante elogia o trabalho da CIP e o Espaço de Inclusão e Permanência que, segundo ele, é o lugar mais diverso da UFG. “Nós ainda precisamos de muita coisa e aqui nossas lutas se encontram e achamos forças para lutar juntos”.

“Um lugar para se sentir à vontade na Universidade”

ntes e demais interessados no acesso e permanência de indígenas, quilombolas e surdos na UFG

Estudantes “em casa”

O indígena Maykon Pepjaca Krikati, estudante do 3º período de Ciências Biológicas, ingressou na Universidade pelo UFGInclui. Ele veio da Aldeia São José, no Território Krikati, Sudoeste do Maranhão. O estudante conta que, quando chegou à Goiânia, se sentiu como um estranho no novo mundo e teve muitas dificuldades na cidade grande, onde, segundo ele, tudo é diferente. “Achava que não ia me dar bem com outras pessoas, mas encontrei gente disposta a ajudar. Senti-me acolhido. No Espaço todos são iguais e todos são ouvidos”, relata. Segundo ele, a equipe da CIP o ajudou muito com o suporte acadêmico, além de

orientações relativas à solicitação de moradia estudantil e bolsa alimentação junto à Procom.

Um dos cerca de 50 membros da União de Estudantes Indígenas e Quilombolas da UFG, o estudante quilombola José Henrique Cavalcanti, que cursa Relações Internacionais, afirma que a Universidade ainda tem muitas formas de exclusão, a começar

Ingressante pelo sistema de cotas, Jean Carlos Rodrigues estuda Nutrição e narra diversos casos de preconceito vivenciados na Universidade. “Existe um racismo ‘sutil’ quando somos abordados por seguranças por sermos negros. Temos que empode-

Histórico

Antes da aprovação da Lei de Reserva de Vagas (Lei 12.711/2012), que garante a reserva de 50% das matrículas por curso e turno nas instituições federais de ensino superior para alunos que cursaram o Ensino Médio integralmente em escolas públicas, estudantes de baixa renda e pretos, pardos e indígenas o Programa UFGInclui já beneficiava estudantes de escolas públicas, negros, quilombolas e indígenas. A partir do vestibular de 2013, o UFGInclui se adequou à lei e passou a abranger apenas quilombolas e indígenas de escolas públicas, além de estudantes surdos no curso de Libras. Os demais estudantes que cursaram o Ensino Médio em escolas públicas e querem optar pelas cotas, agora são incluídos na Lei de Reserva de Vagas. Adriana Silva

Centro de Convivência, no Câmpus Samambaia. No espaço, há atendimento psicopedagógico, monitorias e, principalmente, acolhimento aos estudantes do UFGInclui, aos cotistas pretos e pardos, aos vinculados ao Programa de Estudantes-Convênio de Graduação (PEC-G) e qualquer estudante que necessite de orientação e suporte acadêmico para superar suas dificuldades de aprendizado e de integração ao ambiente universitário da UFG. “O espaço é para todos, mas com ênfase na inclusão”, destaca Jean Baptista.

Saturnina da Costa, 27 anos, é estudante do PEC-G e cursa Ecologia e Análise Ambiental. Ela, que veio de Guiné-Bissau, também relata muita exclusão, preconceito por parte de colegas, técnicos da UFG e até professores. “Já sofri muito, mas agora não admito mais. Nem comigo, nem com ninguém. Sinto-me orgulhosa do que sou dentro da UFG, por tudo o que conquistei aqui e porque muita coisa está mudando”, afirma. Ela também diz que encontrou no Espaço de Inclusão e Permanência um lugar para se sentir à vontade na Universidade, interagir com outros grupos e fazer amigos. “Esse Espaço foi a melhor coisa que aconteceu na UFG. Quem estiver se sentindo só na Universidade, pode vir para cá que vai encontrar carinho”, conclui.

rar mais pessoas na Universidade e aprender a não deixar para lá”, ressalta. O estudante já participou de algumas monitorias no Espaço de Inclusão e Permanência e elogia o aspecto humanizado do local. “As monitorias servem para deixar a situação um pouco mais igual. Muitos professores esperam que todos tenham conhecimento nivelado. Vim de escola pública. Infelizmente não é assim”, relata. Jean Carlos reivindica a criação de um espaço parecido no Câmpus Colemar Natal e Silva, onde estuda, e nas regionais. “Nem todos tem condições de vir aqui para o Câmpus Samambaia e ficam sem ter a quem recorrer”, explica.

Espaço de Inclusão e Permanência oferece atendimento psicopedagógico, monitorias e acolhimento aos estudantes


10 Documentação

Na UFG, o Centro de Informação, Documentação e Arquivo (Cidarq) é o órgão responsável pelo planejamento e desenvolvimento da gestão técnica da informação e de documentos de valor administrativo, acadêmico ou histórico. Em fevereiro deste ano, servidores da Universidade, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás (IFG) e do Instituto Federal Goiano (IFGoiano) foram apresentados ao Sistema Eletrônico de Informações (SEI). A plataforma tem sido implantada em órgãos federais com o objetivo de promover eficiência e economia na gestão pública.

Fim do papel? Armazenar documentos em plataformas digitais já é uma realidade, mas ainda é preciso garantir segurança e transparência

Luiz Felipe Fernandes

No entanto, a mesma perspectiva que dá um tom futurista a esse ambiente tecnológico, permite fazer projeções apocalípticas. Sem os recursos arquivísticos apropriados, os dados armazenados em formato digital não ficam totalmente protegidos, o que permite adulterações e apropriações indevidas, com consequências e prejuízos incalculáveis para a vida de qualquer cidadão.

O professor do curso de Arquivologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Daniel Flores, esclarece que simplesmente abolir o papel e inserir meios digitais de armazenamento não resolve o problema. “Estamos falando de registros de pessoas, da humanidade, e isso tem que ser seguro, tem que ser confiável. Tudo o que acreditávamos no suporte analógico temos que acreditar no ambiente digital”. O professor explica que a única maneira de garantir a segurança no armazenamento é implantar uma cadeia de custódia, composta por um sistema de gestão, um repositório e uma plataforma de acesso. “Não é simplesmente colocar senha, firewall, antivírus ou encriptar. Não é um simples banco de dados ou um storage na sala-cofre mais protegida do mundo”, alerta. Trata-se, segundo ele, da adoção de um sistema que assegure confiança e autenticidade

Se as alternativas que usamos no dia a dia parecem longe de oferecer essa garantia, Daniel Flores dá uma boa notícia: já existem ferramentas seguras de armazenamento digital e, o melhor, disponíveis gratuitamente em software livre. Uma delas é o ICA-AtoM, plataforma de acesso que permite que uma instituição disponibilize informações online de seu acervo, desenvolvida pelo Conselho Internacional de Arquivo. Outro recurso de preservação digital é o Archivematica, que armazena documentos de acordo com os padrões de preservação arquivística.

Para Daniel Flores, o próximo passo é fazer com que as instituições conheçam e adotem esses sistemas. “Temos que ter uma política de formação e de conscientização muito grande”, enfatiza o professor da UFSM. Atualmente, há experiências bem-sucedidas no Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro, na Câmara dos Deputados, na Universidade de Brasília (UnB) e na UFSM. Se por um lado gestores e servidores públicos devem ter consciência de que lidam com registros e documentos importantes e que são fonte de prova, por outro o cidadão deve ter a garantia de que seus dados estão bem resguardados.

Legislação

A preservação de documentos digitais vai além de uma demanda interna para a organização de órgãos e instituições e da necessidade de proteger dados sigilosos ou que não podem ser passíveis de alteração. Ela vai ao encontro de um arcabouço legal criado para que todo cidadão tenha acesso às informações que a administração pública, em qualquer esfera, é obrigada a fornecer. A Lei de Acesso à Informação (Lei 12.527/2011) assegura

a gestão transparente, por meio do fornecimento de documentos íntegros e autênticos.

Daniel Flores explica que a legislação institui a transparência ativa, por meio da difusão de informações, em substituição à transparência passiva, limitada a permitir o acesso a esses dados. E já que há uma obrigação legal, com previsão de penalidades em caso de descumprimento, as instituições devem estar preparadas para atender às demandas. O professor dá um exemplo: se uma pessoa solicita a um órgão público a foto de determinado evento ou a imagem do site daquela instituição de anos anteriores, a lei determina que isso seja fornecido. “Caso não seja possível, significa que a instituição não emanou uma política de preservação digital ou o que está sendo armazenado foi perdido, eliminado, talvez por equívoco, por falta de recursos ou talvez intencionalmente”.

Documento autenticado x documento autêntico

Como é um processo em andamento, a implantação de sistemas de preservação digital ainda convive com mitos e equívocos. Um deles é a confusão entre autenticação e documento autêntico. É comum a sensação de segurança transmitida por um documento que foi autenticado, seja pela assinatura de um funcionário ou com assinatura digital. Segundo o professor Daniel Flores, esse procedimento é uma mera declaração de autenticidade, o que não significa que o documento em si seja verdadeiro, autêntico. “Um documento autêntico nasceu e foi controlado arquivisticamente para não ter corrupções. Não é um servidor que está declarando, existe uma política arquivística em cima daquele documento, uma política de gestão e de controle que não permite que qualquer pessoa o altere

Jessica Peixoto

P

arece o sonho de qualquer gestor público: salas e departamentos livres da papelada que abarrota pastas, arquivos e estantes. Toda a documentação em papel substituída por arquivos em formato digital, disponíveis de forma rápida e prática. Um cenário que, dada a realidade da maioria das repartições públicas brasileiras, parece distante, mas que, segundo estudiosos, já estamos vivendo. É o que eles chamam de sexto marco dos arquivos, um estágio em que não haverá mais documentos em suporte analógico.

dos objetos digitais desde o momento em que entram no repositório.

Nos locais onde foi adotado houve significativa redução dos gastos com papel e aluguel de impressoras, além da diminuição de até 90% no tempo médio de tramitação de documentos. A implantação do SEI é uma das medidas a serem adotadas para cumprir a determinação de um decreto do Ministério do Planejamento, que prevê o uso do meio eletrônico para a realização do processo administrativo na administração pública federal para assegurar transparência, segurança e economia, além de facilitar o acesso do cidadão.

quando quiser”, explica. Um sistema confiável é capaz de registrar qualquer adulteração, evitando a fraude. Nesse sentido, uma assinatura que declare a autenticidade de um documento vira mero componente. Outro equívoco cometido em boa parte dos órgãos públicos é o tratamento dispensado ao material audiovisual. Daniel Flores esclarece que o entendimento atual é o de que fotografias e vídeos são tão fonte de prova quanto qualquer outro documento. Portanto, destruir a ata de um colegiado, por exemplo, é passível de punição da mesma forma que destruir a fotografia do registro de um evento. A lei que dispõe sobre a Política Nacional de Arquivos Públicos e Privados (Lei 8.159/1991) prevê, em seu artigo 25, punição para quem destruir documentos de valor permanente ou considerado como de interesse público e social. Em recente resolução, o Conselho Nacional de Arquivos (Conarq) também estabeleceu regras para a inclusão dos documentos audiovisuais nos programas de gestão arquivística, visando sua preservação e acesso. Todo esse material precisa ser avaliado, descrito e classificado, além de estar acessível à população.


11 Pesquisa

Estratégia para a mobilidade urbana Iniciativa pretende auxiliar gestores no planejamento e nas intervenções na malha viária

Com base de dados do fluxo de veículos o software gera uma versão da malha viária e simula o tráfego daquele local Wanessa Olímpio

O

número de carros nas grandes cidades só vem aumentando, no entanto, a maioria das ruas e avenidas não foram projetadas para comportar grande fluxo de veículos, criando, dessa forma, a necessidade de que o poder público faça intervenções em algumas áreas. Para facilitar esses projetos de modificação no trânsito, pesquisas desenvolvidas na UFG, por meio de uma parceria entre pesquisadores dos Institutos de Informática (INF) e de Matemática e Estatística (IME) resultaram em um software para planejamento do tráfego urbano. O sistema poderá ser utilizado por gestores públicos e engenheiros de trânsito para melhor reestruturar e planejar as vias.

Os programas de computador para planejamento de tráfego existentes no mercado são produzidos por países norte-americanos ou europeus e foram projetados para lidar com um sistema de trânsito mais organizado que o nosso, onde o fluxo pesado de carros, por exemplo, está apenas em ruas preferenciais, o que não ocorre no Brasil. “O nosso software permite uma modelagem de cenários que são incomuns para os chamados países desenvolvidos, mas bastante comuns em países como o Brasil e a América Latina. Sentimos que nossa modelagem seria útil para as cidades brasileiras e para outras cidades do mundo, com características similares às nossas. Em princípio, ele poderia ser aproveitado para uma visão mais realista, que leve em consideração aspectos normalmente excluídos pelos softwares comerciais”, explica o professor do IME, Bryon Hall. O doutorando em Ciências da Com-

putação e professor do INF, Wanderley de Souza Alencar, entrou no projeto em 2011. Ele explica que a sua tese será concluída neste primeiro semestre letivo de 2016, gerando, consequentemente, uma nova funcionalidade a ser inserida no PetGyn. O tema da tese é um problema conhecido por Alocação de Tráfego. Wanderley de Souza esclarece que a alocação de tráfego se baseia na coleta de informações sobre o tráfego de uma região específica, como as demandas de deslocamento e as características das vias. “Assim, pretende-se determinar uma ‘distribuição ótima’ de veículos nas vias, fazendo com que todos os usuários realizem caminhos mais curtos ou mais rápidos para cumprir seus trajetos entre dois pontos desta rede viária, por exemplo: entre sua casa e seu trabalho, ou do seu trabalho para a escola de seu filho. No entanto, é preciso identificar os problemas para melhorar as viagens que os usuários fazem diariamente”, enfatiza Wanderley.

Fotos: Carlos Siqueira

O acesso ao PetGyn é via internet e de forma colaborativa.“Gestores e engenheiros de tráfego podem entrar na sua localidade e trabalhar no projeto de uma malha viária, mesmo remotamente localizados. Esse é outro diferencial dessa ferramenta”, ressalta Hugo Nascimento. O professor Bryon Hall do IME também enfatiza essa versatilidade: “Não há uma limitação geográfica e, com os dados definidos, fazemos a simulação do transporte urbano de uma determinada região, seja em Goiânia, na Sibéria ou onde for”.

Particularidades brasileiras

Adriana Cristina

O projeto iniciou-se em 2007 e resultou no programa PetGyn, cujo nome faz referência ao Problema de Equilíbrio de Tráfego em Goiânia. O lançamento do projeto foi marcado para maio. O software baseia-se em dados do fluxo de veículos, que são coletados pelas próprias agências de trânsito das cidades, a fim de avaliar o impacto de intervenções nas vias e, assim, identificar

projetos que aumentem a fluidez do trânsito. “Uma possibilidade é utilizar o software para investigar o que aconteceria, por exemplo, se aumentássemos a velocidade máxima de uma rua de 60 para 80 km/h, ou se fechássemos uma avenida”, explica o professor do INF, Hugo do Nascimento. Uma das vantagens do programa é exatamente a possibilidade de avaliar as intervenções antes de implementá-las. Com o PetGyn é possível gerar uma versão da malha viária com a intervenção desejada e simular o que vai acontecer com o tráfego, tornando mais fácil tomar uma decisão de acordo com o resultado obtido, afirma o pesquisador.

Programa é mais adequado que os modelos existentes no mercado para a realidade das cidades brasileiras

A vantagem do programa é poder avaliar o efeito das intervenções de trânsito antes de implementá-las

Pesquisadores do INF e do IME trabalharam juntos no desenvolvimento do software


Reuben Lago

Pesquisa

12

De olho nos passos Pesquisadores da UFG estudam método de reconhecimento de pessoas pelo caminhar, uma alternativa aos procedimentos tradicionais de biometria Wanessa Olímpio

I

magine a possibilidade de ser reconhecido, não pela face, voz ou por amostras de DNA, mas pelo modo de caminhar. Esse é o objetivo dos pesquisadores do Instituto de Informática (INF) da Universidade Federal de Goiás (UFG). Eles estão elaborando um estudo que, a partir de vídeos de pessoas caminhando, utilizam visão computacional para comparar características peculiares da marcha das pessoas. O estudo poderá ser instrumento para a identificação de criminosos, cujas imagens sejam registradas por câmeras de segurança.

A pesquisa está em desenvolvimento desde 2014, no Programa de Pós-Graduação de Ciências da Computação do INF. Este é o objeto de estudo da dissertação do estudante Weder Mendes. Segundo ele, para que a identificação ocorra, é necessário destacar a silhueta do pedestre do restante do vídeo, onde são observadas características estáticas e dinâmicas. “As estáticas são características que não mudam durante o filme, por exemplo a altura da pessoa, tamanho da perna, do braço. As dinâmicas podem ser os ângulos dos passos, o movimento entre as articulações”, explicou o mestrando em Ciências da Computação.

Biometria

De acordo com o professor do INF e um dos orientadores do estudo, Gustavo Teodoro Laureano, “a ideia de

reconhecer pessoas pelo modo de andar, pela marcha, não é nova. Já é estudada há muito tempo, só que existem problemas envolvidos nisso. O reconhecimento de pessoas pelo andar é uma alternativa de outros métodos de reconhecimento biométrico”. Segundo o professor, existem algumas características que são únicas em cada indivíduo e por isso fornecem dados biométricos. “A impressão digital, por exemplo, já é bem difundida. Entretanto, existe o reconhecimento de face, formato das mãos, da íris dos olhos, no entanto, a maioria dessas metodologias de reconhecimento biométrico necessita da cooperação do avaliado”, explica o professor. Um método bem parecido com o reconhecimento pelo caminhar, que também utiliza imagens, é o reconhecimento da face. Porém, a técnica “exige uma câmera com maior resolução para captar as minúcias da face. Já o reconhecimento pela marcha pode ser feito a partir de uma imagem da pessoa à distância, com uma câmera de baixa qualidade, sem que se saiba que está sendo filmada”. Existem muitos sistemas que reconhecem a face, “mas os bandidos também se aperfeiçoam, o que acontece é que eles têm usado máscaras, perucas, capacetes e derivados para que não sejam reconhecidos. No entanto, qualquer estabelecimento tem uma câmera de segurança com gravação”, acrescentou o professor do INF e também orientador da pesquisa, Anderson Soares. Por isso é mais simples recolher imagens de suspeitos caminhando, ressalta o pesquisador.

Pesquisadores do INF utilizam biometria para comparar características peculiares do caminhar de cada pessoa Apesar de ser um método importante de reconhecimento, há algumas ressalvas à proposta. Se a pessoa analisada estiver com algum problema de saúde, embriagada, carregando algum objeto ou ciente que está sendo filmada, o modo de andar pode se alterar, o que dificulta a identificação.

Perspectivas

Espera-se que futuramente o próprio ambiente em que a pessoa trafegue possa fornecer informações biométricas. “Para abrir uma porta, necessariamente precisamos entrar em contato com a maçaneta, porque não ter um sensor ali? A pessoa está andando em uma sala e está sendo visualizada por várias câmeras que podem captar não somente a face, mas também o

modo como a pessoa anda, inclusive de uma forma tridimensional. No futuro, imaginamos que existam esses ambientes preparados e que essa junção de técnicas de reconhecimento de pessoas com a fusão de dados nos leve ao reconhecimento com maior nível de acurácia”, explica Gustavo Teodoro.

Por enquanto o projeto analisa imagens de pessoas andando no sentido horizontal do vídeo. Além de identificar pessoas em multidões, “pretendemos estender esse projeto a outro nível, fazer reconhecimento de pessoas que andam em outras direções”, afirmou o professor do INF, Gustavo Teodoro. Os estudos estão sendo realizados com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg) e com apoio da Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior (Capes).


13

Fotos: Carlos Siqueira

Projeto de extensão divulga trabalhos científicos em escolas municipais e estaduais de Goiânia

Entusiasmo e surpresa

Rosália Amorim conta que, entre os principais desafios do projeto, está o de transformar a linguagem científica dos trabalhos a serem divulgados em uma linguagem acessível, que permita a compreensão dos estudantes. Por esse motivo, a equipe de bolsistas e voluntários é composta por acadêmicos de áreas distintas do conhecimento. Assim, um ajuda o outro. “É muito importante termos discentes de outras áreas para nos ajudar a traduzir o tema, porque este aluno que não domina o assunto pode suscitar algumas dúvidas compartilhadas pelos escolares. Assim, um aprende com o outro”, explica a professora.

Muitas vezes, os professores das escolas também ajudam a equipe do projeto a escolher o assunto que se encaixe no perfil da turma naquele momento, aumentando a receptividade por parte dos alunos que, de acordo com a professora, têm acolhido a equipe do projeto com entusiasmo e surpresa, participando das ações com muito interesse. Rosália Amorim conta que, ao final das apresentações nas escolas, são aplicados questionários para avaliar as atividades. Ainda em fase de análise, tais questionários já mostraram o que, segundo a professora, ela já imaginava: “A academia é muito científica e ainda está muito distante da sociedade”.

Todos os bolsistas que trabalham no projeto são ex-alunos de escola pública. Rosália Amorim explica que essa é uma característica importante, porque esses bolsistas dão seus depoimentos, mostrando que o acesso à universidade é para todos. “Outro objetivo embutido nesse projeto é mostrar que a universidade é algo possível para todos eles. Nossa equipe sai das escolas e deixa aquela sementinha, deixa os alunos cheios de planos. Isso é o mais gratificante”, relata.

De acordo com a coordenadora do projeto, grande parte dos estudantes de escolas públicas não tem noção do que é produzido dentro das universidades, mas fica bastante interessada quando têm acesso a esse conhecimento. Com o sucesso das intervenções nas escolas, o trabalho continua. Quando a equipe concluir as apresentações da primeira coletânea, os trabalhos selecionados na 2ª edição do prêmio, publicados em nova coletânea, passarão a integrar o projeto.

Graças ao projeto, estudantes de escolas públicas tem oportunidade de conhecer o que é produzido dentro das universidades Angélica Queiroz

P

opularizar o conhecimento produzido na universidade e mostrar aos estudantes que a academia não é algo distante de suas vidas. Esses são os principais objetivos do Socializar, projeto de extensão da UFG, apoiado pelo PROEXT/ MEC-SESU, em parceria com a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência em Goiás (SBPC/ GO), a ONG Cultura Cidade e Arte, e as secretarias municipal e estadual de educação. O projeto leva até as escolas públicas da capital trabalhos de iniciação científica, monografias, dissertações e teses de diferentes áreas do conhecimento.

Coordenadora do Socializar, a professora do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFG, Rosália Santos Amorim Jesuíno, que há alguns anos trabalha com outros projetos que também levam informações às escolas públicas, conta que a ideia surgiu em 2014, quando ela fez parte da comissão de organização do 1° Prêmio de Popularização da Ciência da SBPC/ GO juntamente com outros professores da UFG e de outras instituições de ensino. Os 24 trabalhos selecionados pelo Prêmio foram publicados em coletânea, distribuída nas escolas públicas do Estado com o objetivo de divulgar aos alunos um pouco do que é produzido nas universidades goianas. No entanto, para Rosália Amorim, que sempre se incomodou com a distância entre a academia e a so-

ciedade, isso ainda não era suficiente e uma dúvida a inquietava: “Como fazer para que esse livro seja realmente lido e não fique apenas parado nas bibliotecas?”. A resposta encontrada pela professora foi a criação do projeto que, como o próprio nome diz, socializa o conhecimento. Assim, com a ajuda de bolsistas, a professora escolhe alguns trabalhos e, com o consentimento dos autores, prepara apresentações e expõe nas escolas.

Bolsistas que trabalham no projeto são ex-alunos de escola pública e de diferentes áreas do conhecimento

Socializar divulga trabalhos selecionados no Prêmio de Popularização da Ciência da SBPC/ GO

Extensão

Diminuindo a distância entre academia e sociedade

Um aprende com o outro


Regional Catalão

Projeto propõe uso de sucatas para ensino de Física em sala de aula

Divulgação

Universidade

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Para pesquisador, inovação desperta maior interesse dos alunos pela disciplina

Angélica Queiroz

A

ideia de reaproveitar sucatas é antiga. Muitos profissionais de escolas técnicas do curso de eletrônica têm por hábito este procedimento. No entanto, essa prática ainda não é muito utilizada como forma de ensino de Física nas escolas. Atento a isso e, pensando em uma estratégia para despertar maior interesse dos alunos pelas aulas teóricas, Espedito Rodrigues desenvolveu em seu mestrado no Programa de Pós-Graduação em Ensino de Física na Regional Catalão uma proposta de utilização de sucatas para o ensino do tópico sobre semicondutores no Ensino Médio. A

proposta, que possibilita o reuso de quase todo tipo de sucata eletrônica para produção de outros equipamentos, foi testada pelo professor com um grupo de alunos do terceiro ano de uma escola pública de Uberlândia. Espedito Rodrigues lembra que o desenvolvimento tecnológico apresenta, a todo o momento, mais e mais inovações e os jovens acompanham este crescimento com muita habilidade. “Daí pensei: por que não ministrar um treinamento prático relacionado a estas tecnologias, permitindo ao aluno a compreensão de seu funcionamento?”, relata. Assim, a proposta de inserir o estudo de semicondutores no Ensino

Projeto propõe uso de sucatas eletrônicas em sala da aula como alternativa para despertar o interesse dos alunos por Física Médio surgiu como uma possível solução para o desinteresse dos alunos, possibilitando aulas práticas com manipulação de ferramentas de produção e montagem, concebendo um novo produto, com uma ou várias aplicações.

De acordo com o pesquisador, os estudantes que testaram o método, aprovaram. “Todos eles se mostraram realmente muito dispostos a aprender

Fotos: Weberson Dias

Regional Goiás

sobre semicondutores, pois o tema está ligado à eletrônica, que é um assunto que chama a atenção de jovens”, afirma Espedito Rodrigues. Ainda não há planos de implantação do método em escolas, mas segundo o autor do trabalho, a proposta está disponível a todos que queiram fazer algo novo em suas aulas, saindo um pouco do tradicional para o mundo das tecnologias com as quais todos lidam.

Arquitetura e Urbanismo com foco na função social O curso oferta, a cada ano, 30 vagas para ingresso de alunos através da nota do Enem e deve formar profissionais que também possam atuar no interior do Brasil

Weberson Dias

C

om foco nas questões urbanísticas e o ingresso a partir das notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), Arquitetura e Urbanismo é o mais novo curso de graduação da Regional Goiás. Formulado com uma proposta inovadora, o curso busca um diálogo constante com as demais áreas do conhecimento e o egresso pode atuar nas demandas do

Jefferson Nakashima é orientado pela professora Luciana Helena

mercado, da sociedade civil organizada e da Administração Pública, em especial, levando em consideração as dinâmicas das cidades médias e pequenas. “Pensamos a Arquitetura e Urbanismo enquanto um direito de toda a população e desejamos proporcionar aos acadêmicos uma formação sólida de profissionais que estejam preocupados com uma mudança social e estejam a serviço da população”, afirma o coordenador do curso, João Paulo Huguenin, mestre em Urbanismo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O ingresso sem prova de habilidade específica e o foco na função social norteiam a criação do curso de Arquitetura e Urbanismo da regional, tornando-o diferenciado. O professor cita a Lei 11.888, de 24 de dezembro de 2008, que assegura às famílias de baixa renda assistência técnica pública e gratuita para o projeto e a construção de habitação de interesse social. “Estamos formando profissionais arquitetos urbanistas para que possam atender a demanda do interior do país”, ressaltou João Paulo Huguenin, assegurando que, atualmente, estão em elaboração os laboratórios de desenho técnico, conforto ambiental, informática aplicada e modelos e maquetes.

Curso foi formulado com proposta inovadora e busca diálogo constante com demais áreas do conhecimento

Do Norte para o Centro-Oeste Natural de Ji-Paraná, cidade a cerca de 370 km de Porto Velho, capital de Rondônia, Jefferson Nakashima, de 22 anos, não pensou duas vezes quando passou para o curso. Ele contou que há três anos tentava o vestibular para Medicina e na primeira vez que tentou para Arquitetura, conseguiu êxito com apoio familiar. “Hoje sou apaixonado pelo curso e vejo que, com uma formação profissional qualificada, posso ampliar as oportunidades de crescimento, aumentar as chances de ingressar no mercado de trabalho e ampliar o campo de atuação”, destacou.

Curso

O curso de Arquitetura e Urbanismo da Regional Goiás oferta anualmente um total de 30 vagas. A formação se dá após 10 períodos, ou seja, cinco anos de curso. Atualmente, um total de 26 alunos concluíram o

segundo semestre do curso e fazem parte da primeira turma. A segunda turma vai ingressar com as notas do Enem de 2015, no primeiro semestre de 2016, previsto para começar no dia 23 de maio. Para a diretora da Regional Goiás da UFG, Maria Meire de Carvalho, o curso na cidade representa uma conquista da população, a partir das intervenções sociais, pensando as mudanças, repensando a urbanização e propondo o reordenamento do espaço urbano. “O curso sela a pactuação para a consolidação da Regional Goiás. Embora seja pensado a nível nacional, no contexto local, a Cidade de Goias é patrimônio cultural da humanidade e possui uma arquitetura diferenciada”, destacou ela, acrescentando que o curso tratará também das questões referentes à cultura. “O coordenador do curso já foi procurado pela Prefeitura para que envolva os docentes e discentes em contribuições na elaboração do Plano Diretor da Cidade de Goiás”, arrematou.


15 CAMINHOS DA PESQUISA

Victor Martins

Como não ter um artigo negado pelo editor?

Tatiana Duque Martins*

Más condutas Acadêmicas e o Papel do CIA Plágio, falsificações e fabricação de dados, são reconhecidamente as atitudes que mais degeneram a credibilidade de qualquer ciência. Não é por acaso que acadêmicos, cientistas e artistas sempre demonstram preocupação e zelo ao produzir ou avaliar obras, frutos da produção intelectual. No entanto, o fato de não haver diretrizes que tornem possíveis a identificação, a prevenção e o tratamento dessas chamadas más condutas acadêmicas, de modo a evitar injustiças ou omissões, é o que tem afligido a comunidade acadêmica.

É recente a preocupação brasileira em se debater o assunto em prol da criação de diretrizes, normativas e leis que garantam mecanismos de tratamentos hegemônicos para a identificação de más condutas. Desde o II Brazilian Meeting on Research Integrity, Science and Publication Ethics (BRISPE), universidades, agências de fomento e institutos de pesquisa brasileiros vêm trabalhando para promover a integridade nas atividades de pesquisa, ensino e extensão e assegurar a credibilidade da ciência brasileira.

Neste contexto, a UFG não poderia se abster de uma posição e de ser uma das universidades pioneiras na prevenção à má conduta acadêmica. Em resposta a um anseio antigo, mas que tomou corpo na inquietude da administração das Pró-Reitorias de Pesquisa e Inovação e de Pós-Graduação, o Comitê de Integridade Acadêmica (CIA-UFG) foi criado em julho de 2015. Composto por representantes de todas as áreas do conhecimento, das Pró-Reitorias de Graduação, Pós-Graduação e de Pesquisa e Inovação de todas as regionais e dos comitês de ética da UFG, o CIA-UFG conta com 26 membros e tem papel preventivo, educativo e regulatório das más condutas acadêmicas. Em suas atividades, preza pela observação às diretrizes de integridade acadêmica da UFG, tendo foco na autoria acadêmica, em que exige dos autores a responsabilidade por suas contribuições, bem como assegura seu direito à autoria; na exigência de uma conduta responsável de toda a comunidade; na prevenção de conflitos de interesses, incentivando o bom entendimento entre os envolvidos em uma contribuição acadêmica e na promoção da justa distinção entre má conduta e equívo-

co acadêmico assegurando o sigilo de todo o processo de averiguação até sua conclusão.

O CIA também tem atuado na prevenção às más condutas por meio de aulas inaugurais de programas de pós-graduação e palestras em eventos, em que os princípios norteadores das boas práticas acadêmicas são apresentados aos estudantes, de modo que, por meio deste primeiro contato, neles se desenvolvam o senso crítico e a preocupação com a observação às boas condutas durante toda a sua formação profissional. Os próximos passos incluem a intensificação das ações educativas, para que abranjam também as realidades dos docentes e servidores da Universidade. Este ano, workshops e eventos serão promovidos em todas as regionais da UFG para tornar a comunidade acadêmica consciente de que o desenvolvimento acadêmico somente é alcançado com a observação às condutas íntegras de trabalho. Já em novembro de 2016, a UFG terá o importante papel de sediar o IV BRISPE em que, pela primeira vez, além do debate sobre políticas e abordagens no combate à má conduta, estudos desenvolvidos por pesquisadores e estudantes serão apresentados à comunidade. Há muito mais sobre más condutas acadêmicas e a atuação do CIA-UFG a ser descoberto. Divulgação sobre atividades de prevenção às más condutas acadêmicas e formas de promoção à integridade acadêmica podem ser encontradas em <http://prpri.ufg.br> ou por meio de contato com qualquer um de seus membros.

Também neste espaço do Jornal UFG, notícias, textos de opinião, informações sobre as ações do CIA e sobre as práticas incentivadas pela Universidade serão periodicamente publicados, de modo que dúvidas sobre a garantia da integridade acadêmica sejam apreciadas e venham a contribuir para o desenvolvimento da UFG, mantendo sua credibilidade e qualidade sempre inabaláveis. * Presidente da CIA/UFG

O Jornal UFG não endossa as opiniões dos artigos, de inteira responsabilidade de seus autores.

N

esta edição, a coluna Caminhos da Pesquisa traz dicas do pesquisador Vantencir Zucolotto, da Universidade de São Paulo (USP), sobre como construir um artigo científico de impacto. O especialista esteve em Goiânia durante XXIII Curso de Editoração Científica, promovido pela Associação Brasileira de Editores Científicos (Abec), ocasião em que falou sobre como construir um bom artigo científico, que ele considera como um gênero literário específico.

• É preciso definir a que tipo de periódico está escrevendo – altamente especializado ou menos específico – e adequar sua linguagem a esse veículo; • Seja claro e conciso – use o mínimo de palavras possível;

• Se o artigo é em inglês, faça as suas anotações em inglês e escreva em inglês. Não escreva em português e depois traduza a versão final;

• Atenção para não cometer plágio: faça citações usando suas próprias palavras, não parafraseie textos de outros autores e não parafraseie seus próprios artigos anteriores. Todas as informações e ideias devem ter referência, incluindo o seu próprio trabalho.

Por que publicar?

É um dos passos mais importantes da vida de um cientista. Se ninguém sabe ou pode ser beneficiado pelo seu trabalho, qual o sentido do trabalho?

O que publicar? Ideias.

Quando publicar?

Quando as questões/problemas/ hipóteses iniciais forem respondidas/resolvidas/testadas e isso representar algum avanço para a sua área de pesquisa.

O maior inimigo de um cientista é a zona de conforto. Nessa situação o cientista pode fazer qualquer coisa, mas ciência não faz mais Vantencir Zucolotto

O pesquisador disponibiliza vídeoaulas gratuitas

Universidade

ARTIGO


Inovação

Tecnologia e realidade unidas

Startup criada por estudantes da Regional Jataí permite criar ambientes virtuais imersivos em 3D e em 360 graus Angélica Queiroz

A

falta de certeza durante a execução de um projeto pode causar muitas dores de cabeça após o término de uma obra. Como alternativa para o problema, estudantes do curso de Ciências da Computação da Regional Jataí, criaram a Arqtech, uma startup que utiliza a realidade virtual e a realidade aumentada para propiciar uma melhor noção espacial durante a visualização de um imóvel. Com óculos personalizados que custam menos de 40 reais, e um smartphone, o aplicativo elaborado pelos estudantes permite a criação de ambientes virtuais imersivos de qualquer imóvel antes que ele seja construído. A Arqtech também possibilita a criação de maquetes em 3D de altíssima qualidade, que podem ser vistas a partir de qualquer smartphone, e a visualização de ambientes internos em 360 graus. Segundo um dos idealizadores da ideia, o estudante Giancarlo Fleuri, que idealizou a startup junto com o irmão, Gabriel Fleury, o problema

que estimulou a criação da Arqtech surgiu após diversas reclamações de amigos arquitetos e engenheiros sobre a falta de noção espacial do cliente ao visualizar plantas tradicionais em 2D no papel. “Além disso, o mesmo acontecia do lado das incorporadoras e corretores imobiliários que perdiam vendas por causa da dúvida do cliente ao visualizar uma maquete ou folder tradicional, tendo que recorrer ao decorado, que além de caro, exige o deslocamento por parte do cliente e um esforço considerável por parte do corretor”, detalha.

O projeto foi iniciado em 2014 e teve sua primeira aparição para o público na 2ª Olimpíada de Empreendedorismo Universitário da UFG, quando venceu em primeiro lugar na categoria Negócios. Como prêmio, os estudantes ganharam uma viagem para a Campus Party Brasil 2016 e utilizaram a oportunidade para inscrever o projeto na maratona de negócios, onde conquistaram o segundo lugar na categoria Economia Criativa, concorrendo com startups de todo país em um evento internacional.

Realidade virtual também pode ajudar crianças com Dislexia e Discalculia Além de soluções para empreendimentos imobiliários, a startup possui experiência na criação de soluções de realidade virtual para as áreas da saúde e de jogos digitais. Desde o início de 2015, Giancarlo Fleuri também está desenvolvendo, para seu Trabalho de Conclusão de Curso, o primeiro jogo do mundo para ajudar no aprendizado de crianças com Dislexia e Discalculia utilizando a realidade virtual. O jogo traz ao ambiente virtual exercícios tradicionais, com papel e caneta, readaptados para o formato de jogo de realidade virtual. “Dessa forma, ele aumenta o nível de concentração ao colocar o usuário em um ambiente imersivo em 3D e 360 graus, provê estímulos multissensoriais e o motiva ao utilizar conceitos de jogos sérios e a própria realidade virtual. Afinal, o que é mais divertido? Papel e caneta ou os óculos de realidade virtual?”, explica Giancarlo Fleuri.

Fotos: Arqtech

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O estudante esteve no mês de março na IEEE Virtual Reality 2016, uma conferência internacional de realidade virtual em Greenville, nos Estados Unidos, onde apresentou a versão demo do projeto. Nos próximos meses serão feitos os ajustes finais da interface e, em seguida, o estudante pretende fazer testes em humanos.


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