JORNAL ANO XI – Nº 85 MARÇO 2017
Ingrid Costa
Para além da punição Com uma das maiores populações carcerárias do mundo e crises ocorrendo em presídios de todo o país é preciso pensar em políticas públicas que inovem os caminhos para a segurança. Confira como especialistas da UFG veem o panorama da segurança brasileira p. 12 e 13
Em entrevista, professor da Faculdade de Ciências Sociais fala sobre democracia na América Latina p. 3
Mesa-redonda discute métodos de contraceptivos alternativos ao uso de hormônios p. 6 e 7
Aplicativo funciona como “olho eletrônico” e garante mais autonomia para pessoas com deficiência visual p. 8
Universidade
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JORNAL
EDITORIAL
Prender é a solução? Luiz Felipe Fernandes*
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emorou para que o poder público se atentasse para a gravidade do que ocorria nos presídios do Norte e Nordeste brasileiros no começo deste ano. Também demorou para que os veículos de comunicação noticiassem uma tragédia anunciada, que culminou com a morte de 134 detentos. Mas, ainda mais demorado, é um debate honesto e comprometido – acompanhado de políticas públicas eficientes e de longo prazo – sobre a questão penitenciária no Brasil.
Discussões como essa fazem com que este veículo de comunicação da UFG cumpra uma de suas principais vocações: a de aprofundar os temas contemporâneos à luz do conhecimento científico produzido na própria instituição. É o que também pode ser conferido na mesa-redonda desta edição, que discute a utilização da pílula anticoncepcional pelas mulheres e os questionamentos sobre efeitos e méto-
Como esta primeira edição de 2017 do Jornal UFG coincide com o início do ano letivo na Regional Goiânia, aproveitamos para dar as boas vindas aos novos estudantes, convidando-os a conhecer um pouco da produção acadêmica e das atividades desenvolvidas na instituição da qual agora fazem parte. Esperamos que nossas informações e discussões contribuam para enriquecer essa nova fase. Aos demais estudantes, servidores e professores da UFG, da capital e das regionais no interior, desejamos também uma boa leitura! *Coordenador de Jornalismo da Ascom Servidora da UFG desde 2009, Patrícia da Veiga assina a matéria de capa desta edição. Patrícia volta às páginas do Jornal UFG depois de passar um período na URFJ, onde cursou doutorado em Comunicação
Carlos Siqueira
A primeira edição de 2017 do Jornal UFG traz as constatações de pesquisadores da Universidade sobre as políticas de encarceramento e de combate à criminalidade adotadas atualmente no Brasil. A repórter Patrícia da Veiga entrevistou especialistas nas áreas da Sociologia e do Direito, que analisaram as deficiências dos modelos que privilegiam a punição e a chamada guerra às drogas – elementos que apenas contribuem para reproduzir a violência.
dos alternativos. Já na seção de entrevista, a análise é sobre os rumos da democracia na América Latina.
COMUNIDADE PERGUNTA Como será o processo de transformação das regionais em universidades? Pergunta enviada via “Fale Conosco” A transformação das Regionais Catalão e Jataí em universidades federais será o resultado de um processo que já passou pelos seguintes passos: primeiro, a própria comunidade junto com políticos goianos levou adiante a reivindicação da criação das novas instituições a partir do desmembramento de unidades da UFG nessas duas cidades; em segundo lugar, a reivindicação ganhou o apoio da Presidência da República, ainda no mandato de Dilma Rousseff,
que preparou projetos de lei para cada uma das instituições (no caso o PL 5271/2016 de Catalão e PL 5275/2016 para Jataí). No momento, os processos estão tramitando nas Comissões da Câmara dos Deputados e, após aprovação nas comissões, deverá ser levado para aprovação em plenário. Depois de ser aprovado na Câmara, ainda precisa ser aprovado no plenário do Senado e sancionado pela Presidência da República. Acredita-se que toda essa tramitação ocorra em 2017. A evolução dos projetos pode ser acompanhada no site da Câmara dos Deputados (www.camara.gov.br) pelo ano e número do projeto. Manoel Rodrigues Chaves é vice-reitor da UFG
Publicação da Assessoria de Comunicação Universidade Federal de Goiás ANO XI – Nº 85 – MARÇO DE 2017 Reitor: Orlando Afonso Valle do Amaral; Vice-reitor: Manoel Rodrigues Chaves; Pró-reitor de Graduação: Luiz Mello de Almeida Neto; Pró-reitor de Pós-Graduação: Jesiel Freitas Carvalho; Pró-reitora de Pesquisa e Inovação: Maria Clorinda Soares Fioravanti; Pró-reitora de Extensão e Cultura: Giselle Ferreira Ottoni Cândido; Pró-reitor de Administração e Finanças: Carlito Lariucci; Pró-reitor de Desenvolvimento Institucional e Recursos Humanos: Geci José Pereira da Silva; Pró-reitor de Assuntos da Comunidade Universitária: Elson Ferreira de Morais. – Jornal UFG – Coordenador de Jornalismo: Luiz Felipe Fernandes; Editora: Kharen Stecca; Editora-assistente: Angélica Queiroz; Conselho editorial: Angelita Pereira de Lima, Cleomar Rocha, Estael de Lima Gonçalves (Jataí), Luís Maurício Bini, Pablo Fabião Lisboa, Reinaldo Gonçalves Nogueira, Silvana Coleta Santos Pereira, Thiago Jabur (Catalão) e Weberson Dias (Cidade de Goiás); Suplente: Mariana Pires de Campos Telles; Projeto gráfico e editoração: Reuben Lago; Fotografia: Carlos Siqueira; Reportagem: Angélica Queiroz, Camila Godoy e Patrícia da Veiga; Revisão: Fabiene Batista e Bruna Tavares; Bolsistas: Adriana Silva e Ana Fortunato (Fotografia), Luciana Gomides e Vinicius Paiva (Jornalismo); Impressão: Centro Editorial e Gráfico (Cegraf ) da UFG; Tiragem: 6.000 exemplares
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Arquivo pessoal
Confira o currículo lattes
A democracia brasileira está se deteriorando Patrícia da Veiga
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Brasil já foi reconhecido por cientistas políticos como uma das democracias latinoamericanas com mais “qualidade” no que diz respeito aos mecanismos de representação e à garantia de direitos. No entanto, atualmente, essa constatação tem sido questionada. Acostumado a monitorar governos e a acompanhar processos políticos no continente, o professor Carlos Ugo Santander Joo, da Faculdade de Ciências Sociais (FCS), enxerga uma fase de retrocessos no país, sobretudo depois do impedimento da presidenta eleita Dilma Rousseff. Ele conversou com o Jornal UFG sobre golpe, regime de exceção, autogestão e política representativa na América Latina. Confira!
A América Latina superou os governos autoritários do século XX?
Os governos autoritários não são os mesmos do século XX, ainda que o exercício do poder político muitas vezes seja questionado por seu caráter autoritário. Por exemplo: é possível ser eleito por métodos democráticos, mas governar por critérios considerados autoritários. As atuais democracias, para evitar um déficit de legitimidade, têm um desafio que deveria apontar para a superação do déficit de suas qualidades, as mesmas que afetam a política como um todo, tanto no campo da representação das instituições, da gestão pública, da relação entre os poderes como da necessidade de afirmação da cidadania. Por outra parte, alguns governos de países latino-americanos têm sido questionados pelas formas não democráticas de se manterem no poder (Venezuela, Nicarágua), outros por esticarem o conceito objetivo das normas (Brasil) ou aproveitando vazios constitucionais (Paraguai, Honduras), ao substituir o presidente.
dade dos cidadãos. Em termos de procedimento, é possível observar o pleno respeito à aplicação das normas (estado de direito), os diversos mecanismos de controle político interinstitucional ou rendição de contas, a competência partidária e a participação. Em termos de conteúdo, é possível identificar em que medida os cidadãos gozam de mínimos associados à liberdade e igualdade. No que é referente ao resultado, o mesmo está vinculado à satisfação dos cidadãos com a democracia e suas instituições. No índice de qualidade da democracia elaborado por Leonardo Morlino, que comparou 14 democracias latino-americanas, o Brasil ocupava o quarto lugar, não obstante, os episódios sobre a destituição da presidenta Dilma Rousseff e os seus subsequentes desdobramentos colocam o Brasil em um franco retrocesso, no qual a democracia e suas instituições vêm se deteriorando rapidamente. Por outra parte, um regime de exceção implica a suspensão ou restrição das garantias e direitos constitucionais, o regime de exceção também pode ser aplicado em circunstâncias em que o presidente eleito democraticamente decide repentinamente interromper a ordem constitucional vigente (exemplo: Fujimori, 1992). É importante diferenciar o regime de exceção de golpe de Estado, dado que o primeiro é a forma de como se exerce o poder e o segundo é o método de como se assume o poder. O golpe de Estado é a forma repentina na qual um grupo interrompe a continuidade no poder do presidente que sustenta seu mandato com base na ordem constitucional vigente. O golpe de Estado é contrário à legitimidade democrática, dado que esta se sustenta com base no sufrágio.
Há conexão entre o impedimento da presidenta eleita Dilma Rousseff, em 2016, e os processos que destituíram os presidentes Fernando Lugo, do Paraguai, em 2012, Quais são os indicadores de que um país e Manuel Zelaya, de Honduras, em 2009? vive em plena democracia? Por outro lado, o que caracteriza um Estado de exce- A semelhança entre estes casos fundamenta-se na ção? Em que estágio se encontra o Brasil? intolerância das elites políticas e econômicas para Medir quão democrático é um país é um desafio de constante renovação. Os estudos sobre a democracia na América Latina se fundamentaram no contexto pós-transições, mas após instalada a democracia no continente surge a preocupação de observar em que medida a democracia dos países aponta para a objetivação da liberdade e igual-
com a institucionalidade democrática. A diferença é que, no caso brasileiro, o grau de conservadorismo vem abrindo passo a movimentos radicais de direita, os mesmos que contribuem a erodir os cimentos da democracia, como é o caso do pedido de intervenção militar ou contra os avanços em matéria social e o não reconhecimento de direitos fundamentais de minorias.
O cenário é mais heterogêneo quando comparamos, mas sem dúvida há uma tendência aparentemente majoritária de “virada à direita” – o que mostra como a ideologia, em alguns países, pode percorrer pendularmente de um campo a outro em contextos específicos. Na década de 80, após o fracasso dos governos autoritários, abriram-se expectativas com a democracia, mas a combinação com a crise econômica herdada com governos populistas levaram alguns países ao recuo de partidos considerados reformistas (Venezuela, Brasil, Peru, Argentina, Colômbia, Bolívia). Na década de 1990, os governos de direita impuseram políticas neoliberais impopulares e isso levou o cidadão ao descontentamento. O fracasso das políticas neoliberais deu abertura em alguns países da América Latina, na entrada da primeira década do século XXI, para que partidos de esquerda pudessem efetivar reformas mais consistentes no campo social. Alguns países optaram por caminhos para superar o enrijecimento institucional (Bolívia, Equador, Venezuela), promovendo a participação para legitimar reformas. Enquanto em outros países esse enrijecimento foi o maior obstáculo (Brasil e Argentina), tendo efeitos negativos na própria representação política da esquerda. No Uruguai e no Chile se mantêm governos de esquerda moderada, enquanto que países como México e Peru encontram-se estagnados insistindo em governos de corte direitista, sem garantir avanços consistentes no campo social.
A Bolívia recentemente aprovou o primeiro governo indígena e autogestionário do continente, baseado na Constituição vigente no país. Que leitura podemos fazer dessa via?
A experiência boliviana só enriquece a dinâmica democrática latino-americana, pois além de ser um país que tem se voltado para uma política de inclusão social significativa, tem apresentado uma reconhecida criatividade no âmbito de suas instituições. Ter reconhecido a diversidade étnica como parte da gestão e distribuição política do poder tem alimentado não só a identidade e o reconhecimento de direitos de povos historicamente marginalizados, como também a possibilidade de pensar novos modos de gestão no âmbito da política de distribuição de recursos para as populações carentes ou mais distantes em termos geográficos. A leitura que devemos fazer é que, em países em desenvolvimento, as instituições devem ser entendidas como um meio e não como um fim, estas devem ser adaptadas às necessidades e demandas da população. No caso da Bolívia, só em médio prazo poderemos observar e avaliar seus resultados. No curto prazo, observa-se que tem gerado mais espaços de cooperação que de conflito.
Em 2017, haverá eleições presidenciais no Equador e na Venezuela. Em 2018, será a vez do Uruguai. O que devemos esperar?
Toda eleição deve ter no mínimo um grau importante de incerteza quanto aos resultados de quem concorre no processo. O maior desafio para a democracia equatoriana e venezuelana é resolver o problema da continuidade, nestes dois países a equação não foi resolvida dada à forte presença da figura presidencial. O Equador tem produzido indicadores sociais no que se refere à pobreza e educação, mas há ainda um grande desafio de garantir direitos sociais. Já na Venezuela, a vida tem se deteriorado de forma significativa e é um país polarizado. O Uruguai é um país com menos contrastes sociais e com instituições que garantem e preservam direitos. Nessa perspectiva, no Uruguai não haverá grandes mudanças que possam alterar significativamente o cotidiano das pessoas. Em todo caso, o cenário será igualmente complexo tanto para os governos de esquerda como para os de centro-direita na América Latina (Peru, México, Colômbia, Paraguai).
Entrevista Carlos Ugo Santander Joo
Muito se diz sobre a “virada à direita” da política latino-americana. O que isso significa para a democracia no continente?
Cepae oferece aulas de luta olímpica
Fotos: Camila Godoy
Esporte
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Aberto à comunidade, projeto de extensão aposta na popularização da modalidade esportiva e na construção de valores
Angélica Queiroz
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uta Olímpica ou Wrestling são os nomes mais comuns de dois estilos de lutas (livre e greco-romana) que são disputadas nas Olimpíadas, desde os primeiros jogos da Era Moderna, realizados em Atenas no ano de 1896. A modalidade é uma das mais antigas de que se tem registro, mas o Brasil nunca ganhou nenhuma medalha durante toda história dos Jogos Olímpicos, principalmente porque o esporte ainda é pouco conhecido no país. Visando popularizar o esporte, um projeto de extensão do Centro de Ensino e Pesquisa Aplicado à Educação (Cepae) oferece aulas da modalidade desde a iniciação esportiva até o alto rendimento para interessados de 7 a 17 anos. Cerca de 50 alunos treinam no Cepae, com aulas duas vezes na semana. O projeto é gratuito tanto para os alunos como para os membros da comunidade externa. É preciso a autorização dos pais e um atestado médico para a realização da modalidade. As matrículas estão abertas desde fevereiro na secretaria do Cepae.
Segundo o responsável pelo projeto, professor Pitias Lobo, a iniciativa surgiu de uma demanda de tematização da luta na escola por parte das aulas de Educação Física. O Cepae aproveitou a vinda de dois reconhecidos professores de Cuba – Aleyo Morales e Luis Henrique Marin – para desenvolver a iniciativa da Luta Olímpica da Escolinha na Caixa Econômica Federal. A partir
dessa parceria, foi estabelecido um convênio com a Confederação Brasileira de Wrestling e suas federações, que disponibilizou um tapete olímpico para a prática do esporte no Cepae.
Para Pitias Lobo, a luta tem uma contribuição positiva com conteúdo e valores a serem desenvolvidos e treinamento das capacidades físicas gerais, como mobilidade, força, agilidade, resistência aeróbia e anaeróbia e flexibilidade. Além disso, segundo ele, o esporte também desenvolve as capacidades emocionais ligadas à potencialização da autoestima e do equilíbrio emocional, das capacidades valorativas, como a transparência das ações, o respeito ao oponente e ao outro em qualquer situação de vitória e/ ou derrota e das capacidades cognitivas, como o raciocínio rápido e equilibrado. “A luta tem em sua origem a própria condição dos seres humanos em disputas política, territoriais, econômicas e sociais em sua trajetória”, destaca.
I Festival de Lutas
Em dezembro, o projeto promoveu seu I Festival de Lutas. O professor Pitias Lobo explica que a ideia surgiu em decorrência do desenvolvimento da prática da luta pelas crianças iniciantes do projeto e para motivar e divulgar a luta em toda a comunidade. “Agregamos a iniciação ao alto rendimento com a vinda do Campeonato Goiano de Wrestling e do II Open Goiás de Wrestling”, detalha.
Regras principais e objetivos
O objetivo principal nos dois estilos é encostar e manter as costas do adversário no tapete. Quando isso ocorre, o lutador que impôs o “encostamento” ao adversário ganha a luta. A vitória também pode ocorrer por “superioridade técnica”, quando um lutador fica com 8 ou 10 pontos de vantagem, dependendo da modalidade, em relação ao seu adversário. Se a luta terminar, sem que nenhuma das situações anteriores ocorra, vence o lutador que somar mais pontos;
Não são permitidos: joelhadas, cotoveladas, puxar o cabelo, atingir os olhos, estrangulamentos, entre outros de caráter violento ou desleal;
Cada luta é disputada em dois tempos de três minutos, com intervalo 30 segundos entre os tempos;
Os pontos são concedidos pelos árbitros de acordo com os golpes e movimentos realizados pelos lutadores;
A luta deve ocorrer apenas na área do círculo azul escuro do tapete. Quando os lutadores vão para a área laranja o árbitro interrompe a luta, que recomeça no centro do círculo azul.
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Programa de mestrado profissional oferecido pelo Cepae tem se destaca por discutir a formação docente e as investigações multidisciplinares voltadas para a sala de aula Angélica Queiroz
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egundo a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o mestrado profissional é uma modalidade de pós-graduação stricto sensu para atender as demandas de capacitação de profissionais. O mestrado profissional em ensino é uma nova área da Capes e o programa da UFG tem despertado crescente interesse da comunidade nos últimos anos. O processo seletivo, de 2016, para iniciar a quinta turma em 2017, teve 358 inscritos e ofereceu 40 vagas, todas preenchidas. Atualmente o programa conta com 28 doutores em seu quadro de docentes permanentes e colaboradores e exige, para a conclusão do curso, uma dissertação defendida publicamente, que apresente aprofundamento teórico e um produto educacional, resultantes da pesquisa e validados pela banca examinadora.
Saiba mais no site do PPGEEB
“Trata-se de um mestrado cuja abordagem metodológica favorece consideravelmente a atuação do professor em sala de aula”, afirma a coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ensino na Educação Básica do Cepae (PPGEEB), Gene Maria Vieira. Segundo a professora, o curso tem como propósito qualificar profissionais que atuam no ensino básico. “O intuito é que esses profissionais possam construir sua reflexão crítica
pautando-se em sua prática e, consequentemente, contribuir com ações que visem impactar o sistema educacional no qual estão envolvidos”, explica. Para ela o curso contribui para que a prática e a teoria percorram juntas uma distância menor entre a academia, onde se forma professores e pesquisadores, e a escola, onde esses profissionais devem atuar.
Pós-graduação
Educação Básica também é assunto para pós-graduação O curso de Mestrado em Ensino na Educação Básica pertence ao Programa de PósGraduação do Cepae. A necessidade da escola de expandir o seu campo de atuação foi o principal fator para que sua equipe idealizasse o oferecimento de um curso em nível de pós-graduação strictu sensu. Em 2008, com o Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), a ideia do PPGEEB se consolidou e, entre os anos de 2008 e 2012, foi criada e mantida uma Comissão de Estruturação do Mestrado do Cepae, composta por seus próprios docentes e técnicos administrativos. Durante esse período, também foram feitas consultas à equipe de Avaliação da Capes que, ao final, indicou a recém criada área de ensino como sendo a mais apropriada para receber e julgar a submissão da proposta, que foi aprovada pela Capes em 2012. Este ano o Programa passará por sua primeira avaliação da Capes.
Atuação em sala de aula
Licenciado em Matemática, Josino Lucindo Mendes Júnior, 47 anos, que concluiu o mestrado profissional do PPGEEB, descreve a experiência como incrível. “Tive a oportunidade de entender o papel de um pesquisador na formação social de uma população e de contribuir para a melhoria do ensino e aprendizagem de pessoas com deficiência visual através da minha dissertação e do produto educacional gerado”, detalha. Josino realizou uma pesquisa com a finalidade de descortinar aspectos referentes ao universo de ensino e aprendizagem de alunos com baixa visão. Tal inserção ocorreu com visitas que oportunizaram aos alunos com deficiência visual e ao professor de matemática recursos didáticos e metodologia de ensino que lhes proporcionaram uma melhor qualidade de ensino e aprendizagem de con-
Banca de defesa da mestranda Fernanda Cinthya Oliveira Silva, no auditório do Cepae ceitos matemáticos. “A partir dessa abordagem pedagógica na dissertação tive um considerável favorecimento na minha atuação como professor dentro da sala de aula”, explica.
Graduada em Pedagogia e Fonoaudiologia e trabalhando na Rede Municipal de Educação de Goiânia, Andréa Hayasaki Vieira, 45 anos, ingressou no mestrado no ano de 2014 e finalizou em fevereiro de 2016. Ela relata que sua experiência foi enriquecedora e que ela aprendeu muito com os professores, colegas e orientadora. Ela também acre-
dita que a abordagem metodológica favoreceu a sua atuação como professora, além de ajudar outros profissionais, pois ela pesquisou sobre a formação de professores no atendimento educacional especializado. Apesar das dificuldades de conciliar trabalho e estudo, Andréa considera que o mestrado valeu muito a pena para a sua carreira. “Muitos pensam que o mestrado profissional é fácil e não dão muito valor, porém discordo, pois a maioria das aulas foram ótimas, com discussões importantes e leituras que favoreceram a aprendizagem”, afirma.
Arquivo pessoal
Fotos: Ana Fortunato
Toalha foi resultado de uma atividade desenvolvida por Andréa Hayasaki entre professores e alunos
Secretário do Programa, Wederson Carlos, coordenadora atual do PPGEEB, Gene Maria, e primeira coordenadora, Deise Nanci
Mesa-redonda
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Nem só de hormônios se faz a contracepção Ascom, TV UFG e Rádio Universitária
O surgimento da pílula anticoncepcional, na década de 1960, foi celebrado como símbolo da liberdade sexual feminina. Era, para as mulheres, a possibilidade de tomada de decisão sobre seus corpos. No Brasil, o anticoncepcional é hoje o método contraceptivo mais popular, utilizado por 38% das mulheres que se previnem. Ele pode ser adquirido facilmente, sem a necessidade de receita médica, e é um dos que apresenta uma das menores taxas de falha.
Para discutir o assunto, esta edição da mesa-redonda convidou a ginecologista e professora da Faculdade de Medicina da UFG e membro da Comissão Nacional Especializada em Anticoncepção da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, Marta Finotti; a ginecologista e especialista em medicina integrativa, Lívia Carneiro; e a farmacêutica, Nathania Rodrigues Santiago. Assista ao programa Conexões e veja, no Facebook, o bloco extra com as perguntas do público
Marta Finotti – A pílula é um método contraceptivo muito seguro. Ela revolucionou a contracepção desde a década de 1960, quando surgiu no mercado, e trouxe um empoderamento muito grande para a mulher no sentido dela poder planejar suas gestações, e continua sendo o método mais usado. O que acontece é que alguns efeitos colaterais da pílula ganharam um destaque muito grande na mídia e isso assustou muitas pacientes. O problema é que muitas mulheres estão abandonando o método, muitas vezes sem a devida orientação de usar outro método contraceptivo, tendo consequências muito mais sérias do que as do próprio uso da pílula. Lívia Carneiro – Os benefícios são relativos a uma contracepção realmente eficaz, segura e por um tempo prolongado. Mas existem os efeitos colaterais, visto que há mulheres que têm incompatibilidade e dificuldades. O que eu acho importante é a oferta de modalidades contraceptivas. As mulheres hoje estão mais exigentes e, nos últimos 20 anos, a prescrição da pílula entrou muito cedo na vida das mulheres. Algumas meninas com 12, 13 anos de idade começaram a tomar porque estavam manifestando as primeiras acnes, que são comuns nesse momento da vida e que podem ser autoresolutivas. E essa menina-moça já começa a fazer uso da pílula sem interrupção. Aí você vai encontrá-la aos 20 anos, no início de sua vida sexual, e ela vai te dizer que já toma pílula há cinco, seis anos. Eu acho que existem distúrbios na prescrição e acompanhamento para orientar a interrupção até aguardar o início da vida sexual. Isso ainda não está definido e as mulheres de 30 anos, quando constatam que já fazem uso da pílula há 15 anos, se assustam e começam a pensar na sua futura fertilidade. Nathania Rodrigues – A pílula é o método mais utilizado desde a década de 1960. Com a aprovação pelo FDA (agência federal dos EUA que regulamenta e fiscaliza alimentos e remédios) da primeira pílula anticoncepcional, o seu uso aumentou nas décadas de 1980 e 1990. O aprimoramento da indústria farmacêutica melhorou os efeitos colaterais, com a diminuição da quantidade hormonal, sem diminuir a eficácia do método. Como farmacêutica, posso dizer que realmente todo método tem efeito colateral e que isso também depende do organismo de cada paciente. A questão da mídia vem mesmo assustando um pouco as mulheres, não só em relação à pílula, como também em relação a outros métodos e sobre qual o melhor para se escolher. A melhor forma de se decidir a respeito disso é procurando um profissional ginecologista para ter todas as orientações, fazer os exames e tirar todas as dúvidas.
Lívia Carneiro – Eu percebo que a mulher está querendo um pouco mais. A mulher quer mais das pesquisas, mais objetividade para definir realmente o período ovulatório e fazer com que ela possa usar métodos menos invasivos. Então vemos que essa nova geração chega com uma postura em relação à alimentação totalmente diferente, muita gente não quer comer carne, muitas pessoas preocupadas com o meio ambiente, com a questão da água... Dessa forma, essas mulheres vão sabendo que a pílula acaba sendo também uma poluição. E, assim, essa menina chega ao consultório dizendo que não quer usar pílula porque quer cuidar do meio ambiente e também do seu corpo. É a mesma questão do coletor menstrual. As mulheres estão deixando os absorventes e buscando um método que não vá poluir. Essa preocupação é muito nova e no consultório o médico tem que estar realmente preparado para esse diálogo, porque essa jovem está chegando com uma bagagem de conhecimento grande, que faz com que ela queira conhecer outros métodos que não sejam hormonais.
Nathania Rodrigues – A mulher quer ter um maior empoderamento e entender mais a respeito de si e do que está acontecendo com o seu corpo. É muito interessante acompanhar esses grupos e ver tantas mulheres tendo essa preocupação com elas. Antigamente as mulheres, talvez até por uma questão cultural, não tinham tanta informação sobre métodos contraceptivos. Hoje vemos que isso está mudando. Muitas vezes a mulher vê uma amiga buscando saber mais e acaba seguindo esse exemplo.
Fotos: Carlos Siqueira
Mas toda história tem dois lados e, atualmente, a opção tem sido cada vez mais questionada. É crescente o número de mulheres que, após anos de uso contínuo, estão decidindo largar a pílula e conhecer seus corpos. A contracepção tem sido encarada também como uma questão de empoderamento. Em consultórios médicos e grupos de discussão na internet, o debate sobre os efeitos colaterais da pílula e o fato de a responsabilidade de evitar a contracepção recair apenas à mulher, tem dividido opiniões.
Nos últimos anos tem crescido o interesse sobre os impactos do uso contínuo de anticoncepcionais. Quais são os principais efeitos colaterais das pílulas e até onde vale a pena lidar com eles?
No Facebook, o grupo “Adeus Hormônios: Contracepção Não-Hormonal”, reúne mais de 100 mil mulheres de todo o Brasil que trocam experiências sobre métodos contraceptivos, sexo e seus corpos. Além disso, convocam parceiros a participar da contracepção. Como enxergam essa mudança de comportamento gerada pelas redes sociais?
Marta Finotti
A paciente tem que ser bem orientada. Ela não precisa do nosso medo, ela precisa do nosso conhecimento Marta Finotti – Essa preocupação já chegou aos consultórios com força total porque a mídia tem uma penetração muito grande, e esses grupos falando sobre tromboembolismo deixam as pacientes muito inseguras de usar o método contraceptivo. E é função do ginecologista orientar. Apesar de o uso da pílula ser um risco para o desenvolvimento dessa doença, já que o uso do contraceptivo aumenta de três a seis vezes o risco do tromboembolismo venoso, mesmo assim, o risco absoluto é muito baixo. Existem condições de avaliarmos no
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Lívia Carneiro
Costumo dizer que o método contraceptivo mais adequado é aquele que a mulher escolhe, que ela tem afinidade
A ideia de parar de tomar a pílula não costuma ser bem recebida por amigos, familiares, parceiros e ginecologistas. Por quê? Marta Finotti – O receio é o de ela não passar para um método contraceptivo eficaz em seguida. Às vezes a mulher para com a pílula e, nesse intervalo para escolher outro método, pode engravidar. E aí é uma gravidez não planejada, com todas as suas consequências. É por causa disso a nossa preocupação. Quando a mulher quer escolher outro método, ela tem que escolher outro método que seja eficaz e fazer uma transição segura para esse método. Lívia Carneiro – Eu acho que causa ainda certo incômodo a mulher que deseja saber um pouco mais sobre o Dispositivo Intrauterino (DIU) ou o diafragma, que são métodos que, quando bem conduzidos e manejados, podem ter bom resultado. Tenho experiências interessantes indicando diafragma e preservativo masculino, que eu chamo de dupla proteção. Casais jovens, que não querem fazer uso de anticoncepcional, estão optando por manter o preservativo masculino – que
tem uma função primordial, que é a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, como o HIV, e que deveria ser mantido em todas as relações.
A tendência é que as mulheres passem a se informar cada vez mais sobre outros métodos, como DIU e diafragma. Quando esses métodos são indicados? Lívia Carneiro – Quando oriento o diafragma, oriento essa dupla proteção e acho que, quando o casal jovem assume isso, tem realmente um compromisso, garantindo a eficácia. O diafragma, que hoje no Brasil é considerado um método anacrônico, pouco difundido, no meu consultório tem sido bastante procurado. Costumo dizer que o método contraceptivo mais adequado é aquele que a mulher escolhe, que ela tem afinidade. Algumas mulheres gostam de perceber seus ciclos, gostam de perceber o momento da ovulação, gostam de ser regidas pela própria fisiologia. Então essa mulher vai preferir realmente um método que não seja hormonal. Outras não valorizam esse aspecto. Mas para aquela mulher que quer manter sua fisiologia, acredito que o DIU e o diafragma são dois métodos interessantes, lembrando sempre da importância do preservativo masculino quando falamos em contracepção. Já a escolha entre o DIU e o diafragma cai um pouco na perspectiva do que a mulher quer, até porque existe a opção do DIU de cobre e o DIU medicado, que tem hormônios. O de cobre é bem eficaz, já está no mercado há muito tempo e pesquisas mostram que a eficácia é a longo prazo – até dez anos – e semelhante à laqueadura. Além disso, o DIU é acessível e ofertado na rede pública. E o diafragma é mais difícil. Já tivemos muito na rede pública, mas por ele não ser frequentemente incorporado aos serviços de planejamento familiar, está cada vez mais difícil encontrar. Eu acho que, no caso do diafragma, falta mídia, divulgação. Mas penso que isso está começando a mudar com a popularização do coletor menstrual, porque a mulher está conhecendo mais seu corpo. Se ela pode colocar um plástico na vagina para colher o fluxo menstrual, por que não pode fazer um tampão para vedar o colo do útero e não tornar permitida a passagem do espermatozoide? Essa é a forma de atuação do diafragma. Quando a mulher aprende a inserir um coletor menstrual, facilmente ela vai inserir o diafragma. Acho que isso vai mudar a aceitação do diafragma. Nathania Rodrigues – Muitas vezes o profissional farmacêutico é procurado nas drogarias para sanar dúvidas e fazer esse encaminhamento da mulher para uma orientação a respeito de outros métodos. Eu, particularmente, gosto bastante de métodos como o DIU e o diafragma, acho que são métodos bem favoráveis, especialmente para as mulheres que sofrem com o efeito da pílula e até para sanar alguns problemas que diminuem a efetividade da mesma, como o esquecimento na correria do dia a dia e a importância de a mulher tomar a pílula no
mesmo horário todos os dias, além da interação com outros medicamentos, como corticoides e antibióticos, que muitas mulheres não fazem ideia. Então, acredito ser muito importante oferecer outras alternativas para essas mulheres. No entanto, o que acontece é que em muitos locais elas não conseguem esse tipo de orientação e pode ocorrer a gravidez indesejada justamente por isso.
Nathania Rodrigues
A mulher quer ter um maior empoderamento e entender mais a respeito de si e do que está acontecendo com o seu corpo Marta Finotti – As mulheres têm que ter as opções, o ginecologista tem que apresentar todas e ela é quem tem que decidir qual é a opção que mais se adequa a ela. Eu sou extremamente favorável aos métodos de longa duração porque eles não dependem de uma ação diária da paciente, como tomar a pílula todo dia no mesmo horário ou usar o diafragma a cada relação. Um método como o DIU medicado com progesterona, que dura cinco anos e é extremamente eficaz, seguro e com poucos riscos, inclusive para o lado do tromboembolismo, conta com benefícios extracontraceptivos. A resistência de certos profissionais em inserir o DIU em mulheres mais jovens que ainda não tiveram filhos é baseada em tabus relativos ao DIU antigo, quando se acreditava que o dispositivo aumentava a infecção e o risco de infertilidade. Mas isso já caiu por terra e podemos usar o DIU inclusive em adolescentes, desde que não existam contraindicações, que são poucas. O fato de não ter tido filhos não é uma contraindicação ao uso de nenhum tipo de DIU, a mulher pode usar com segurança. O importante é que sejam ofertadas à mulher todos os métodos e ela possa decidir o que é mais adequado para o casal.
Mesa-redonda
consultório as pacientes que têm maior risco, que têm algum fator predisponente, que são tabagistas ou que são obesas, mas precisamos lembrar que a gravidez e, principalmente, o puerpério, oferecem riscos muito maiores de ter trombose. Então a paciente tem que ser bem orientada. Ela não precisa do nosso medo, ela precisa do nosso conhecimento.
8 Pesquisa
Redes Neurais
Mais autonomia no cotidiano de pessoas com deficiência visual Aplicativo desenvolvido por pesquisadores da UFG funciona como “olho eletrônico” e descreve situações em tempo real Vinicius Paiva e Angélica Queiroz
Saiba mais no site
O olho eletrônico funciona a partir dos comandos de voz “veja” ou “o que tem aqui?”, que acionam a câmera do dispositivo que fotografa a situação e, em seguida, detalha especificamente, por meio de áudio, o ambiente em que o usuário se encontra. O aplicativo tem três funcionalidades específicas: a descrição de ambientes, o direcionamento sensorial do trânsito no qual a câmera capta objetos em movimento e obstáculos gerando um efeito sonoro no fone de ouvido e a leitura de textos com voz sintética a partir da câmera do celular. O projeto tem um site, no qual qualquer pessoa pode realizar um teste e entender como o software funciona.
Veja como funciona o aplicativo no vídeo
O pesquisador e professor do Instituto de Informática da UFG, Anderson Soares, um dos idealizadores do projeto, explica que “a ideia é que o aplicativo colabore com os mecanismos de acessibilidade já existentes, permitindo que o usuário se localize com total autonomia, sem precisar de outro indivíduo”. Atualmente, o projeto está em fase experimental inicial e de demonstração de viabilidade.
A expectativa, segundo o pesquisador, é que o aplicativo esteja disponível para download até o final deste ano, mas seu funcionamento dependerá de conexão com a internet. Já para 2019, o objetivo é a criação de um equipamento totalmente autônomo: um óculos eletrônico com as mesmas funcionalidades, mas que não faça uso de banda larga, para regiões onde o acesso móvel de internet ainda não é uma realidade – 90% das pessoas com deficiência virtual vivem em países pobres.
Se você deseja ser um dos patrocinadores do projeto, entre em contato com o professor Anderson pelo e-mail <anderson@inf.ufg.br>. As doações e financiamentos são intermediadas e gerenciadas por fundações de amparo à pesquisa das universidades participantes. Atualmente o projeto está sediado na UFG, com apoio do Instituto Federal de Goiás (IFG), Fasam, Senai e do Instituto de Inteligência Artificial Aplicada.
Fotos: Divulgação
A solução foi inspirada no projeto be my eyes, da Noruega, em que a pessoa com limitação visual registra um vídeo ou uma foto com o celular e envia para um colaborador com visão para descrever a cena. Nesse contexto, o aluno de doutorado e também professor da UFG, Otávio Calaça Xavier, pensou na ideia de substituir o colaborador por uma inteligência artificial para auxiliar as pessoas que possuem esse tipo de necessidade. Posteriormente, uniram-se ao projeto o professor da Faculdade Senai, Francisco Calaça Xavier, o aluno de doutorado da UFG, Bruno Moraes Rocha, e o professor da Faculdade Sul Americana (Fasam), Leonardo Antônio Alves.
Em seguida, a segunda rede detecta os objetos presentes na imagem que foi tirada pela câmera, acionando a terceira rede que relaciona os objetos detectados construindo uma semântica de entendimento da cena
Anderson Soares explica que o treinamento das redes neurais é longo, desafiador e demanda infraestrutura de alto custo, mas que, uma vez que elas estejam treinadas, o uso das redes neurais artificiais profundas é simples e barato. O projeto utilizou, até o momento, equipamentos adquiridos com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg). No entanto, uma vez demonstrada a viabilidade do uso da tecnologia, novos investimento serão necessários para acelerar a disponibilização da solução de modo universal.
TV UFG
E
m todo o mundo, mais de 200 milhões de pessoas possuem alguma deficiência visual, e, destas, 39 milhões são cegas. No Brasil, 3,5% da população declara ter algum tipo de deficiência visual, sendo esta alegadamente a deficiência mais comum entre os brasileiros. Com a finalidade de facilitar o cotidiano e gerar autonomia de locomoção e localização para essas pessoas, pesquisadores da UFG desenvolveram um aplicativo que descreve ambientes para pessoas cegas utilizando a câmera de smartphones: o Deep Vision – Olho Eletrônico.
O Deep Vision faz parte de uma vertente da inteligência artificial conhecida como “aprendizagem profunda”, do inglês Deep Learning, que promove o entendimento de grandes bases de dados, como por exemplo, as imagens. O aplicativo utiliza quatro redes neurais com aproximadamente 400 milhões de parâmetros que fazem o reconhecimento das imagens. A primeira rede é responsável por fazer o reconhecimento da voz do usuário, acionando a câmera para a captura da foto eletrônica.
e produzindo um texto descritivo. O pesquisador aponta que, por fim, a última rede neural é acionada para a geração de voz sintética, tanto em inglês quanto em português, para descrever a situação em que o usuário se encontra.
9 Comportamento
Confira dicas de mangás sugeridas pelos entrevistados
Sonhador
Otakus na universidade É crescente o interesse de estudantes por produtos da cultura pop japonesa. Na maioria dos casos a paixão vem da infância Patrícia da Veiga
Lucas Miranda, discente da licenciatura em Artes Visuais, é um deles. Aos sete anos, começou a assistir aos desenhos animados Naruto e Dragon Ball Z pela televisão. Dali passou para a leitura das histórias em quadrinhos e, na adolescência, começou a fazer seus próprios desenhos. “Prestando atenção nos traços japoneses, vi que havia muita ênfase nos olhos. Na medida em que fui estudando, constatei que essa
Mia Brandão, do bacharelado, descobriu que gostava de desenhar aos oito anos, quando reproduziu as figuras de um jogo de cartas dos Cavaleiros do Zodíaco. O brinquedo veio das telas, que havia saído do papel, que voltou para a imaginação da estudante. “Hoje, meu trabalho tem outras influências, mas dá para ver claramente os traços do mangá”, define. Mia apurou seu olhar e, aos 20 anos, vem tornando-o mais seletivo. “Tenho visto histórias muito repetitivas e cada vez menos desenhistas originais”, critica.
Ana Fortunato
Histórico É a partir da década de 1990 que a cultura pop nipônica se espraia com força pelo ocidente. A internet facilita tal processo e a indústria cultural japonesa investe na internacionalização de seus produtos. Porém, conforme explica o professor da FAV Edgar Franco, ocorre também uma identificação de crianças e adolescentes com estruturas narrativas que apresentam personagens mais complexos e sensíveis do que os super-heróis estadu-
Cosplay “Animencontro” é uma reunião onde fãs de mangás e animes aproveitam para encarnar as personagens favoritas. Para isso, elas se vestem, se maquiam e conversam como se fossem parte da história que gostam de acompanhar. Essa prática é também conhecida como costume play, cosplay. Acostumada a frequentar tais eventos, Veramar Martins estudou sua própria performance e depois construiu sua personagem. A decisão lhe rendeu um TCC no bacharelado em Artes Visuais e uma dissertação no mestrado em Cultura Visual. Como resultado desse processo, a artista plástica criou uma história em diferentes plataformas (mangá, cosplay, perfil no Facebook, site) e levou o público não somente a interagir, mas a construir junto tal narrativa. Aos 31 anos, ela fala como fã e mais ainda como pesquisadora. “O que me interessa nesses estudos da cultura pop japonesa é identificar como uma cultura tão distante geograficamente pode influenciar e agregar elementos visuais e comportamentais na construção da identidade brasileira – principalmente a de nossos jovens”, pontua.
Fotos: Arquivo Pesoal
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o japonês, a palavra otaku pode ser traduzida como “casa”. Porém, o cotidiano lhe rendeu outros significados: pessoa “fechada em um casulo”, isolada do mundo e dedicada a um hobby; ou, especificamente, alguém fã de qualquer elemento da cultura pop nipônica, tais como histórias em quadrinhos – mangás –, suas formas animadas – animes –, jogos ou música. Considerando esse último sentido do termo, é possível afirmar que na Faculdade de Artes Visuais (FAV) há uma porção de otakus. Eles levam tão a sério a paixão que querem aliá-la aos estudos e à profissão.
era a principal característica das personagens”, aponta. Hoje, aos 21, Lucas quer aprofundar o tema em seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Adorando Neto, de 25 anos, é colega de Lucas na licenciatura e tem trajetória semelhante. Depois de transformar a paixão da infância em profissão, quer ensinar utilizando quadrinhos. “Pretendo estudar a aplicação de mangás nos conteúdos escolares. Também gostaria de observar se há identificação dos alunos com essa abordagem”, descreve. Em janeiro, eles ministraram juntos uma oficina de mangá no Centro Cultural UFG.
“Não me considero um otaku. Sou, sim, um sonhador”, diz Abraão Reis, 21, estudante de Design de Modas. Ele nasceu e viveu na zona rural até os 14 anos. Sua principal diversão na infância eram os animes exibidos na TV aberta e os mangás que vez ou outra adquiria. Ao mudar-se para Goiânia, decidiu estudar ao máximo o assunto. Mergulhou em um mundo de fantasias e ressignificou a própria vida. Não é exagero. Abraão extraiu das histórias o caráter reflexivo que comumente as acompanha e passou a tirar lições disso. “Descobri que devemos encarar nossos ‘fantasmas’ e que o que nos dizem ser um erro pode, na verdade, ser o melhor de nós, o nosso acerto. É por isso que em tudo o que faço deixo meus sentimentos”, comenta. Foi com toda essa sensibilidade que seu caminho pelas artes e pela moda começou a ser trilhado. Em um dos trabalhos feitos para a faculdade, Abraão investigou formas, cores e texturas e, em seguida, produziu croquis inspirados na cultura pop japonesa. “Para o designer Yohji Yamamoto, a roupa é uma extensão do corpo, é uma segunda pele. Essa ideia foi o eixo da minha coleção”, explica.
nidenses. Há ainda uma diversidade maior de tipos físicos e orientações sexuais. As personagens femininas, por sua vez, são tão ou mais valorizadas do que as masculinas – o que não acontece nos quadrinhos ocidentais. “A verdade é que os mangás e animes trabalham incrivelmente bem com a noção de arquétipos e, mesmo em seus delirantes universos de fantasia, tratam de problemas muito comuns a todos os adolescentes e jovens adultos do mundo ocidental. Essa é a razão de seu sucesso estrondoso”, analisa.
Pesquisa
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Bambu viabiliza tratamento natural de esgoto
Disponível em quase todos os lugares do mundo, o bambu é uma gramínea de caules lenhificados que permite usu frequente, pois a extração correta de colmos faz com que a planta dê vida a novos brotos. Resistente, o vegetal ainda se difere de outras plantas por não carregar a típica característica da desfolhação, ganhando novas folhas no outono e na primavera que substituirão as antigas. Em todo o mundo, estima-se que existam mais de 1,5 mil tipos da planta e, por aqui, o objetivo é que a UFG tenha 200 espécies em sua coleção.
Projeto da UFG propõe novas perspectivas para o uso sustentável e alternativo do vegetal Resíduos saem da indústria e de residências
Reuben Lago/Freepik
Parte líquida passa pelas raízes do bambu
O bambu utilizado para o tratamento tem diversos usos, como fabricação de móveis e artesanato e lenha
É retirada a parte sólida em fossas sépticas
Vinícius Paiva
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Intitulado Sistema de Zonas de Raízes, o procedimento direciona os resíduos líquidos passando pelas raízes fasciculadas (conjunto de raízes finas que partem de um único ponto) do vegetal, que absorvem matéria orgânica e minerais, devolvendo o esgoto tratado ao meio ambiente. Nesse processo, as plantas também absorvem água e a liberam para a atmosfera. Segundo o coordenador da pesquisa, professor Rogério Almeida, se a quantidade de esgoto aplicada for inferior à capacidade das plantas em absorvê-la, não haverá mais efluente. “Assim, a eficiência de tratamento será de 100%, eliminando o risco de contaminação ambiental, pois mesmo após tratamento, o potencial de contaminação do esgoto ainda existe”, explica.
Rogério Almeida afirma que, com o método, o custo para o tratamento dos resíduos seria menor porque não são necessárias extensas redes hidráulicas para conduzirem o material, que pode ser tratado no mesmo local de sua produção em sistemas descentralizados de tratamento. Outra vantagem reside no fato do esgoto ser tratado subterraneamente, diminuindo também o mau cheiro proveniente das estações de tratamento que assola diversos bairros. Além disso, as estações constituiriam uma miniplantação, que tornariam o local um ambiente paisagístico com a beleza e a união dos bambus. “Também está sendo estudado o potencial do bambu em remover do esgoto os hormônios provenientes dos anticoncepcionais femininos, pois o sistema tradicional não remove”, afirma o professor.
tas vivas de bambu em sua estrutura básica, contribuindo para o meio ambiente de forma sustentável, criativa e aconchegante. O professor destaca ainda que a Universidade possui plantadas em sua área uma floresta com três espécies de bambus gigantes e uma coleção que já conta com mais de 80 espécies. “Nós não ficaremos somente nessa coleção, pois fizemos a multiplicação das mudas e as distribuímos em oito pontos diferentes do estado”, completa o professor.
Sancionada em 8 de setembro de 2011, a Lei nº 12.484 apodera uma política nacional de incentivo ao manejo sustentado e ao cultivo do bambu, objetivando o desenvolvimento da planta no Brasil por meio de ações governamentais e privadas. Como em Goiás não existe uma lei local que discirna questões parecidas com a lei nacional, Rogério Almeida ressalta a importância da criação de uma lei pensando a partir da realidade do estado. “O plantio e cultivo do bambu estão se tornando um interesse estadual. Com a liberação de verba tanto por empresas privadas quando pelo estado, se tornará mais fácil a disseminação do bambu no território goiano”.
Carlos Siqueira
o Brasil, o bambu é utilizado principalmente em móveis como estantes e sofás, peças artesanais de decoração, como vasos e cestas, e também em algumas construções arquitetônicas, incluindo pontes, áreas cobertas e até mesmo casas. Aproveitando a durabilidade, resistência e versatilidade do bambu, pesquisadores da Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos da UFG têm avaliado uma nova forma de utilização da planta: o tratamento de esgoto.
Lei
Água limpa vai para o lençol freático
Alternativas
Rogério Almeida acrescenta que, como o tratamento do esgoto gera muita biomassa, os bambus poderiam ser usados na construção de peças artesanais para manuseio e/ ou decoração, incentivando o trabalho e gerando renda para os artesãos locais. Também está sendo formado nas dependências da UFG um auditório constituído por plan-
Rogério de Almeida é o responsável pelo projeto que explora o potencial produtivo do bambu
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TV UFG
Nem tudo vai para o lixo
Cascas e sementes do tomate podem virar cápsulas de nutracêuticos, veículos para fármacos, suplementos alimentares, barras de cereais e madeira Angélica Queiroz
A Saiba mais no site do Lames
ssim como em nossas casas, as indústrias também geram lixo, mas em grande escala. Esses resíduos exigem tratamento especial para não provocarem danos ao meio ambiente. Uma alternativa é a inserção dessas sobras no processo produtivo ou utilização para outras finalidades. Na fabricação de atomatados, por exemplo, sobram, ao final do processo, casca e semente. Mas pesquisadores do Laboratório de Métodos de Extração e Separação (Lames), do Instituto de Química da UFG, encontraram uma forma de aproveitar o que sobra e estão utilizando a casca e a semente do tomate para produzir cápsulas de nutracêuticos, veículos para fármacos, suplementos alimentares, barras de cereais e madeira. Os restos de atomatados são normalmente utilizados para alimentar bo-
vinos, com alto custo de transporte para a indústria. Os novos produtos desenvolvidos dão às cascas e sementes do tomate uma destinação mais adequada, diminuindo os gastos da empresa, e sendo uma opção mais sustentável. A pesquisa executada pelo doutorando em Química, Lucas Oliveira Gomes, e coordenada pelo professor do Instituto de Química, Nelson Antoniosi, visa reaproveitar resíduos de atomatados de uma grande indústria alimentícia. O trabalho foi considerado o segundo melhor das Américas pelo Prêmio Novos Talentos para o Alimento Sustentável, iniciativa do Fórum do Futuro.
Como?
No laboratório, os resíduos da fábrica de atomatados chegam em forma pastosa e passam por um processo que separa a casca da semente. “Esse
material passa por um processo de centrifugação e peneiramento. A pele do tomate fica retida nas peneiras e a semente passa para a parte inferior do recipiente. A partir desse processo, os dois materiais vão para uma estufa de secagem com circulação de ar forçada”, detalha Lucas Oliveira Gomes.
Da casca se extrai o licopeno, pigmento antioxidante que dá a cor avermelhada ao tomate e que tem papel fundamental na prevenção do câncer. Tal extrato é utilizado para a produção de cápsulas de nutracêuticos, pois o licopeno tem ação na prevenção do câncer de próstata, além de poder ser empregado como veículo para medicamentos lipossolúveis. Da semente se extrai um óleo bastante requisitado pela indústria de cosméticos para a fabricação de hidratantes. Após esse processo de extração, os pesquisadores da UFG descobriram um novo destino para os restos de casca isenta de pigmento e para os restos de sementes isentas de óleo: suplementos alimentares, barras de cereais e madeira. Tanto a semente, isenta de óleo e rica em proteínas, quanto a casca do tomate, isenta de pigmentos, estão sendo utilizadas no Lames para a produção da barra de cereais. A casca não apresenta odor e é rica em
A mesma casca de tomate que dá origem à barra de cereais, quando misturada às resinas e submetida a compactação, também produz madeira, dos tipos MDP (madeira de média densidade particulada) ou MDF (madeira de média densidade com fibras), que pode ser utilizada na indústria moveleira e de construção civil. Segundo os pesquisadores, essa madeira tem resistência maior que o compensado comum porque a fibra do tomate faz com que a resina se molde bem, não deixando espaços para penetração de ar e água. “Além de ser muito mais resistente que o compensado comum, a alternativa evita a derrubada de árvores para produção de madeiras não tão nobres”, ressalta Nelson Antoniosi.
Produção
Além de poupar o meio ambiente do descarte indevido, as alternativas encontradas pelo Lames também atribuem valor comercial àquilo que até então era tratado como lixo. Os produtos já foram patenteados. Junto com a empresa que produz os atomatados, o Lames submeteu o projeto a um programa da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES). O projeto foi aprovado entre os dez melhores em mais de 450 inscritos e contemplado com R$10 milhões, que devem ser destinados para a abertura de uma empresa para produzir os produtos patenteados. Segundo Nelson Antoniosi, os produtos devem chegar ao mercado em breve, estampando em suas embalagens os logotipos da UFG, da Finep e do BNDES. Fotos: Ana Fortunato
Pesquisadores da UFG produzem suplementos alimentares, barras de cereais e madeira a partir de restos do tomate
Pesquisa
fibras, sendo utilizada em substituição à aveia que, além de ser de alto custo, contém traços de glúten, para o qual algumas pessoas são alérgicas. Segundo Nelson Antoniosi, a barra de cereal feita dos resíduos tem grande apelo pelo mercado de suplementos alimentares: “A barra não tem gosto de tomate, pode ser consumida por aqueles que são alérgicos ao glúten, além de ser um produto de grande apelo para a área fitness, já que é bastante enriquecida em fibras e proteínas”. O produto já foi submetido a testes de degustação e aprovado pelos participantes.
Sociedade
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ONU BR
pessoas foram torturadas e assassinadas. Na mídia, a primeira justificativa dada para a barbárie foi o conflito entre facções criminosas que gerenciam o tráfico de drogas no Brasil, grupos que desde outubro de 2016 sinalizavam ruptura em seus acordos. Simplista, o argumento chegou a ser endossado por gestores públicos, que tentaram se isentar da responsabilidade. “Não havia nenhum santo”, afirmou José Melo, governador do Amazonas, em entrevista concedida à rádio CBN no dia 3 de janeiro, referindo-se aos 54 mortos no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj).
Outra concepção de segurança é urgente Pesquisadores da UFG sinalizam para a necessidade de se pensar políticas públicas para além da punição, do encarceramento em massa e da “guerra às drogas” Patrícia da Veiga
Uma expressão dessa questão saltou aos olhos da opinião pública logo nos primeiros dias de 2017, quando noticiadas rebeliões seguidas de massacres em presídios do Amazonas, de Roraima e do Rio Grande do Norte. Na ocasião, 134
Consenso entre os pesquisadores entrevistados pelo Jornal UFG é a urgência de outra concepção de segurança. Uma que considere os direitos fundamentais da pessoa humana (direito à vida, à dignidade, à
TV UFG
Confira o levantamento completo
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Brasil possui a quarta maior população carcerária do mundo, conforme o Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen), atrás apenas de Estados Unidos, China e Rússia. Em dezembro de 2014, quando da última atualização desses dados, 622.202 pessoas estavam detidas em um sistema cujo déficit de vagas já passava dos 230 mil. Ou seja, em cada espaço planejado para custodiar 10 pessoas havia 16 – quase o dobro. Entre os presos, mais de 40% eram provisórios, 55% tinham entre 18 e 29 anos, 61,6% eram negros e 75% estudaram até o Ensino
Fundamental. Na lista dos crimes mais cometidos estavam: tráfico de drogas (28%), roubo (25%), furto (13%) e homicídio (10%). Esses números indicam um problema antigo no país, porém distante da resolução: o encarceramento em massa de jovens negros, pobres e periféricos está diretamente associado a uma política de guerra às drogas e a uma mentalidade punitivista.
Mas a questão não é essa. “A sociedade sempre se negou a discutir o problema penitenciário. E se nos aprofundamos no tema, notamos que o surgimento das facções criminosas é resultado, justamente, do abandono”, explica Guilherme Borges, doutorando do Programa de Pós-Graduação em Sociologia (PPGS) e pesquisador do Núcleo de Estudos sobre Criminalidade e Violência (Necrivi) da UFG. Abandono, sobretudo, por parte do Estado, que jamais planejou políticas públicas para a população carcerária ou mesmo para a área da segurança. “As medidas são sempre paliativas, tomadas no calor de algum acontecimento aterrorizante”, acrescenta a professora da Faculdade de Direito (FD) Bartira Macedo de Miranda Santos, que desenvolve pesquisa sobre o tema. Um exemplo que pode ser dado nesse sentido é a autorização do presidente em exercício Michel Temer, formalizada via Decreto n° 17 de 17 de janeiro, do uso das Forças Armadas nos presídios para garantir “a lei e a ordem” e detectar “armas, aparelhos de telefonia móvel, drogas e outros materiais ilícitos ou proibidos”.
Complexo Prisional Odenir Guimarães em Aparecida de Goiânia é a maior penitenciária de Goiás
liberdade individual, civil e política) e que se permita pensar na recuperação de infratores ao invés de promover sua eliminação da sociedade. “Uma política bem estruturada não depende somente dos agentes de segurança. Passa, sim, pela possibilidade de pessoas presas terem acesso a uma escola de qualidade, possibilidade de ingresso no mercado de trabalho etc.”, define Tarihan Chaveiro Martins, advogado criminalista, ex-presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil/Seção Goiás e também pesquisador do Necrivi. Se não for assim, a brutalidade dentro e fora das prisões é certa. “Vamos continuar produzindo e reproduzindo violência, que vai voltar para a sociedade”, opina Tarihan. Em sua prática profissional, ele lidou com situações extremas que o sensibilizaram a ponto de convencê-lo de que, em um mundo ideal, o cárcere deveria ser abolido. “A experiência da prisão é complicada, ainda mais como as nossas, verdadeiros calabouços”, critica. A palavra calabouço não é exagerada. Como mostram os números do Infopen, o perfil do preso brasileiro tem uma face étnico-racial, de classe e geográfica que convoca para o debate a autocrítica, sobretudo, em relação ao pensamento escravocrata brasileiro.
Não existe um perfil que possa ser atribuído a quem comete crimes. Existe, sim, um perfil do preso, uma vez que o Estado seleciona quem entrará no sistema prisional
Decreto
Guilherme Borges “Não existe um perfil que possa ser atribuído a quem comete crimes. Existe, sim, um perfil do preso, uma vez que o Estado seleciona quem entrará no sistema prisional”, acrescenta Guilherme, que em sua pesquisa de mestrado, buscou compreender a dinâmica do comércio de drogas ilícitas na Grande Goiânia. Se 28% das pessoas presas, de acordo com o Infopen, foram enquadradas pelo Artigo 33 da Lei n° 11.343/06, a Lei de Tóxicos, é preciso falar sobre o “combate às drogas” e sua relação com o encarceramento em massa. “Quem vai preso é quem vende no varejo e fica nas ruas, nas esquinas, nos pontos. Nisso, um traficante de classe média, por exemplo, dificilmente é pego, pois atua por redes de conhecidos, não tem necessidade de ser visto, vende à vista, não fica devendo”, explica.
Confira a dissertação
Lei
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O pesquisador acompanhou a rotina de pessoas que comercializam drogas ilícitas nos municípios de Goiânia, Senador Canedo, Goianira e Aparecida de Goiânia, dentro e fora dos presídios. Para entender não somente como funciona o tráfico na Região Metropolitana, mas também como os agentes desse comércio enxergam a si próprios, ele percorreu o caminho desses sujeitos, ouviu suas histórias, acompanhou suas rotinas, os entrevistou, escutou também a polícia e buscou informações em prontuários, inquéritos, boletins da Secretaria de Segurança Pública, além das notícias de jornais. Ao final desse trajeto, ele concluiu que, ao contrário da conjuntura nacional, em Goiás, o tráfico é fragmentado, composto por vários grupos pequenos e limitados, o que torna mais complexa a disputa territorial. Nisso, vários arranjos compõem a atividade, mas a sociedade não consegue captá-los, muito, por assumir no cotidiano uma postura meramente acusatória. “Na legislação, a diferença entre consumir e traficar é muito tênue e não há uma resposta quanto à periculosidade real de quem porta e/ou consome drogas”, argumenta.
Segundo Guilherme, tal postura acusatória, presente na Justiça, nos discursos da mídia e na opinião pública, atribui uma identidade a “determinados tipos sociais que estejam portando drogas”. Os próprios sujeitos estudados confirmam isso e
Carol Garcia
Sociedade
Drogas
criam para si uma série de elementos de diferenciação, na tentativa de escaparem do rótulo de traficantes e/ou bandidos. “Em outras palavras, a guerra às drogas esconde uma política perversa e seletivista que vitimiza milhares de pessoas todos os anos e tem abarrotado os presídios, entretanto, nem o comércio de drogas e nem os homicídios diminuíram, o que nos permite dizer do seu total fracasso enquanto política de segurança pública”, escreve o pesquisador em sua dissertação.
Tanto ele quanto Tarihan defendem uma revisão do código penal no que diz respeito à criminalização das drogas. “A organização do crime deriva do punitivismo, que é lucrativo, faz a droga ficar mais cara. Com isso, as pessoas aproveitam para disputar território, o que favorece a corrupção. Em países onde a descriminalização das drogas aconteceu, os resultados foram positivos para a população. Aumentou a arrecadação, diminuiu a punição e a violência” , comenta Tarihan.
As medidas são sempre paliativas, tomadas no calor de algum acontecimento aterrorizante Bartira Macedo
Defesa Social Revisão na legislação, previsão de penas alternativas para crimes que não atentam diretamente contra a vida e uma mentalidade social que não esteja ancorada no punitivismo podem representar avanços no que diz respeito ao sistema criminal. No entanto, como desde o início da reportagem se está falando em concepção, vale a pergunta: é possível compreender as raízes desse punitivismo? Para a professora Bartira, há um pensamento dominante que considera pessoas infratoras como “inimigas a serem eliminadas” e esse é o cerne do problema. Em uma pesquisa realizada em seu pós-doutorado, ela observou no conteúdo de outras investigações sobre o tema a predominância das ideias da Defesa Social, identificando nesse arcabouço um perigo.
Trata-se de uma corrente da política criminal que prega, como forma de “proteger” a sociedade, a supressão dos direitos dos presos e a pena por tempo indeterminado. Popularizada e levada ao extremo no início do século XX, a Defesa Social justificou a prática em estados autoritários e forneceu subsídios, por exemplo, para o direito nazista – que punia antes mesmo de julgar. Conforme a pesquisadora, a ideia de que “bandido bom é bandido morto” é bastante ilustrativa para se pensar
Uma política bem estruturada não depende somente dos agentes de segurança. Passa, sim, pela possibilidade de pessoas presas terem acesso a uma escola de qualidade, possibilidade de ingresso no mercado de trabalho etc Tarihan Chaveiro Martins a questão. Embora seu discurso seja bem recebido por 57% da população brasileira – conforme aponta o 10° Anuário da Segurança Pública –, ele produz mais violência e deve ser revisto. “É uma afirmação que legitima não apenas a truculência e a arbitrariedade da polícia e demais órgãos da persecução penal, como Ministério Público e Judiciário, mas também as políticas de extermínio e matança da população mais vulnerável socialmente, principalmente os jovens negros, que representam dois terços das vítimas da violência letal no Brasil”, afirma Bartira.
Com esse trabalho, o objetivo de Bartira foi ir além da crítica à violência estatal e ao que sustenta o atual sistema de segurança pública e justiça criminal vigente. “Interessava-me compreender se na ciência atual há conhecimento produzido pelo qual se possa dizer que é possível reduzir a violência por meio de políticas públicas e afirmação da cidadania”, escreve a professora, na introdução de seu trabalho. Sua constatação foi de que há um caminho longo a ser trilhado nesse sentido, o que a motivou para seguir com a pesquisa no Mestrado Profissional em Direito e Políticas Públicas, que abre sua primeira turma em 2017.
Anuário
Regional Goiás incentiva intercâmbio de estudantes Conheça as expectativas e experiências de quem vai ou já foi estudar fora do país Weberson Dias
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iajar para o exterior, conhecer novos lugares e culturas, se relacionar com mais pessoas e adquirir outros conhecimentos. Estes têm sido sonhos de jovens universitários de todo o país. Na Regional Goiás da UFG, a Coordenação de Assuntos Internacionais (CAI) tem transformado muitos sonhos em realidade e já possibilitou a mobilidade de vários estudantes para países como Colômbia, Portugal e Canadá.
Claudinei foi para o Canadá
O coordenador de Assuntos Internacionais da Regional Goiás, professor Lucas Felício, destaca a possibilidade de trocas de conhecimento durante o intercâmbio. “O aluno leva uma bagagem adquirida em seu curso e, no retorno, traz conhecimento da outra universidade que teve contato e novas experiências”, ressalta. Com o apoio da também professora da Regional, Camila Sant’Anna, Felício planeja seminários de socialização com os intercambistas para 2017. “É importante que os intercambistas, ao voltarem para Goiás, compartilhem as vivências durante o período de mobilidade. A ideia é divulgar as possibilidades de intercâmbio e aproximar as instituições de ensino superior em um diálogo mútuo entre a Regional e as universidades do exterior, expandindo as fronteiras de ensino e pesquisa a partir desta interlocução”, adianta o coordenador. Uma das preocupações da direção tem sido garantir recursos para que os estudantes da Regional Goiás tenham oportunidades iguais aos das outras regionais. “Nossa Regional, embora seja a menor da UFG, não
Daniel foi para Portugal
Joel dos Santos foi para Portugal
Laura foi para Colômbia
Ana Carolina foi para Argentina
fica aquém nos programas de intercâmbio e de outros projetos. A direção tem lutado para incluir estudantes em todas as propostas existentes. Sabemos que o intercâmbio é algo para a vida toda e que vai marcar a história daquele ou daquela estudante”, afirma a diretora da Regional, Maria Meire de Carvalho.
Experiências
que, para integrá-los, a universidade organizou muitas atividades específicas para os intercambistas. Ana Carolina Moraes também foi intercambista pela Regional Goiás em 2016. A estudante de Direito esteve na Universidad Nacional de Córdoba, na Argentina, entre março e julho de 2016, com bolsa pela Asociación de Universidades Grupo Montevideo (AUGM). “Cursei duas disciplinas e o próprio ensino nas universidades é diferente. Aqui somos críticos, lá são dogmáticos, embora as aulas sejam carregadas de debate político, visto que os argentinos são muito nacionalistas”, lembra, destacando que foi bem recebida em todos os espaços da universidade. A estudante aproveitou o intercâmbio para fazer aulas de tango e um curso intermediário de Espanhol.
Em 2017, o primeiro intercambista será o estudante de Serviço Social Joel dos Santos Lima, único inscrito e selecionado da Regional pela Mobilidade Internacional no Instituto Politécnico de Bragança (IPB), em Portugal. No próximo mês, o estudante segue para a capital portuguesa e só retorna em julho deste ano. “Estou bastante ansioso e maravilhado para ter uma experiência no exterior e conhecer uma nova cultura. Por isso, sou a favor de políticas que viabilizem oportunidades de novas experiências para os estudantes”, admite. A intenção é ser exemplo para os próximos estudantes. “Espero representar a Regional, pois jamais teria esta oportunidade sem a UFG. Sei que grandes conquistas me esperam”, assegurou, expondo a demanda de um Centro de Línguas na Regional.
Intercambista pioneiro
Outra estudante que retornou recentemente de uma experiência fora do Brasil foi Laura Mendonça Chaveiro. A aluna de Direito estudou de agosto a novembro de 2016 na Universidade de Ibagué, na Colômbia, por meio do Programa Bracol. Laura relata que manter contato com outra cultura e outro ensino jurídico é mais que uma experiência acadêmica, é antes de tudo humana. No grupo de oito intercambistas do mundo todo, somente Laura era brasileira. Ela conta
Outra possibilidade
O estudante de Educação do Campo, Daniel Gabriel Borges, foi contemplado para cursar disciplinas no IPB em Portugal, entre setembro de 2016 e fevereiro de 2017. Daniel avalia como válida a experiência de aprendizagem no país lusitano e considera Bragança, apesar de pequena, uma cidade universitária. “Aqui, o melhor de tudo é que a maioria das atividades culturais é gratuita para estudantes, então fui muito ao teatro e aos museus. Está sendo algo ímpar em minha história de vida, me possibilitou novas experiências, enriquecimento cultural e acadêmico”, registra.
Fotos: Arquivos pessoais
Universidade
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Marcos foi para o Canadá
Ex-estudante de Direito da Regional, o advogado Marcos Paulo Alves de Assunção foi o primeiro intercambista da Regional Goiás. Quando estudante, Marcos Paulo foi um dos contemplados em um intercâmbio para o Canadá, com bolsa de estudos pelo Programa Líderes Emergentes nas Américas (ELAP), para cursar o primeiro semestre de 2014 na Saint Mary’s University, em Halifax, Nova Escócia. Pioneiro do intercâmbio na Regional, Marcos disse que os canadenses pensam além de suas fronteiras e o fizeram sentir-se em casa. “Me senti parte integrante de uma sociedade que, para nós brasileiros, seria uma utopia, haja vista a preocupação com o próximo, com a coletividade e com o bem comum”, comenta. Marcos relembra também que morou em um prédio residencial dentro da própria universidade, teve contato com muitos estrangeiros e as aulas naquele país eram divididas entre teoria e resolução de conflitos internacionais. “Graças à oportunidade que tive, e ao Canadá, hoje me sinto um cidadão global. Tenho certeza que, em longo prazo, quero trabalhar na área do Direito Internacional”, destaca. As possibilidades de intercâmbio são diversas, tanto as promovidas pela UFG ou outras instituições de mobilidade acadêmica quanto as com recursos próprios do intercambista. É o caso do estudante do curso de Direito/Pronera Claudinei Francisco Marques, que embarcou este mês para Vancouver, no Canadá, para estudar inglês na International House por seis meses. “Só de estar aqui tudo muda na minha vida profissional. Cheguei há poucos dias e já aprendi muito. A cultura, a rotina, a língua. Tudo é muito diferente! Cada pessoa que abordo para conversar, aprendo um pouco mais. Além disso, as pessoas aqui são muito educadas e atenciosas”, finaliza, reconhecendo que o conhecimento será um diferencial futuro para o currículo.
15 CAMINHOS DA PESQUISA
A boa conduta acadêmica levada a sério na UFG Acompanhe a página da autora
Tatiana Duque Martins – Presidente do Comitê de Integridade Acadêmica da UFG
A Adriana Silva
pesar da curta história do Comitê de Integridade Acadêmica da UFG (CIA), as facilidades que o grupo tem encontrado para pôr em prática suas atividades de informação, educação e prevenção à má conduta acadêmica são de impressionar. O interesse que os programas de pós-graduação da Universidade demonstraram ter sobre a prevenção de más condutas nas atividades acadêmicas e sua busca por informação, culminou em diversas palestras e aulas inaugurais ministradas pelo grupo do CIA em vários programas de pós-graduação. Principalmente o envolvimento dos estudantes e seu ávido interesse por informação alimentaram a vontade dos membros do CIA em buscar mais. Devido a isso e, também, com o apoio de pessoas da equipe das Pró-reitoria sde Pesquisa e Pós-graduação (PRPI e PRPG), em novembro de 2016 foi realizado na UFG o IV Encontro Brasileiro de Integridade na Pesquisa, Ciência e Ética na Publicação (BRISPE).
* Maria Ferreira
Um novo olhar para a aposentadoria
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or todo período de trabalho, somos condicionados a um estilo mais “seguro” de trabalhar, que é ser um assalariado, com uma rotina, registro em carteira. E que, em um belo dia irá se libertar desse trabalho rotineiro, gozar a vida, viajar, desfrutar do lazer, aproveitar o tempo com a família, com a conquista da aposentadoria. Porém, muitas pessoas e instituições não se preparam para essa nova fase da vida, para a chegada da aposentadoria, para vivenciar o que chamamos de desengajamento da vida do trabalho. Essa preparação para a aposentadoria precisa iniciar na juventude, com projetos palpáveis e reais, facilitando assim a execução dos mesmos, preparando para o momento em que deixa de trabalhar para colher os frutos do plantio. E a qualidade e quantidade desses frutos dependem, exclusivamente, do que foi plantado ao longo dos anos. Quando se é autônomo, também se faz necessário um ajuste para a de busca de alternativas de viver bem o trabalho ao se aposentar, dando continuidade àquilo que conquistou ou criou, passando o bastão para seus sucessores. Há pessoas que sonham com a aposentadoria... e por que não? Depois de tantos anos de trabalho, ter uma vida sem preocupações, horários, chefe, trânsito, preparo de aulas, alunos malcriados, excesso de trabalho... Difícil ou fácil aposentarse? Depende da pessoa, do tipo de trabalho que exerce, do ambiente, dos colegas, da valorização. No começo vem a euforia. Depois, ficamos meio perdidos, pelo próprio hábito do trabalho, do convívio com as pessoas, da sequência de ações já tão bem conhecidas. Depois, há o sentimento do vazio, pois produzir é algo que dá sentido à vida. Há pessoas que se aposentam e inventam mil coisas para fazer, quando o salário disponibiliza, fazendo tudo que não tinham tempo antes: aprender uma língua estrangeira, aulas de violão, hobbies, etc. Outras conseguem um novo trabalho: vender passagens e pacotes turísticos, abrir uma livraria, uma floricultura, fazer trabalhos manuais para vender, fazer bolos para adoçar a vida, etc. Aposentadoria é um processo, no qual o trabalhador volta para casa e vai conviver com a família; é a separação dos colegas e, ainda, ter seu salário rebaixado, sem os incentivos que lhe proporcionavam uma melhor qualidade de vida. Estes fatores
devem ser analisados antes de qualquer decisão, pois o ato de aposentar é um passo largo e definitivo. Verificar se seu lar está receptível com sua volta. Se suas finanças serão suficientes para uma vida digna, sem comprometer saúde, lazer e outros. No aspecto psicológico – se não vai sentir um vazio por estar fora do convívio social. Estes fatores devem ser lidos e experimentados juntamente com profissionais capacitados, para que juntos, concluam o melhor futuro. Concluindo que é chegada a hora do término do trabalho formal, aposente-se e volte para casa, onde terá um milhão de tarefas lhe esperando: uma família, uma comunidade, um corpo exigindo um rejuvenescimento, entre outros.
Ao pensar em aposentadoria, não tome decisões precipitadas, pois uma vez assinada, o processo é irreversível. As grandes organizações já estão projetando bons programas de preparação para a aposentadoria dos seus servidores. Nestes programas, devem constar temas que visem o apoio junto à família, à sociedade, nutrição, exercício físico, lazer, apoio psicológico, orientação financeira, trabalho voluntário e ainda a valorização do profissional como pessoa. O rompimento com as relações de trabalho tem impacto indiscutível, ainda que varie de pessoa para pessoa. A aposentadoria implica bem mais que um simples término de carreira. A interrupção das atividades praticadas durante anos, o rompimento dos vínculos e a troca de horários cotidianos representam imposições de mudança no mundo pessoal e social. Essa mudança vai depender da forma como cada sujeito pretende organizar sua vida pessoal, com propostas de rotina para sua nova vida. Não importa se você aposenta ou continua no trabalho, o importante é estar de bem consigo, pois a vida é só uma e devemos buscar a felicidade sempre. * Maria Ferreira de Souza Vieira é servidora técnico-administrativa em assuntos educacionais da Faculdade de Odontologia O Jornal UFG não endossa as opiniões dos artigos, de inteira responsabilidade de seus autores.
Embora o tratamento das más condutas acadêmicas no Brasil seja ainda incipiente e casuístico, o fato de o BRISPE existir e se propor, a cada edição, a conscientizar pesquisadores e estudantes de seu papel enquanto cientistas, produtores e transmissores do conhecimento e de seu dever para com a sociedade, indica uma urgência nas ações de prevenção às más condutas e um amadurecimento do pensamento ético e moral da comunidade científica brasileira. Diferentemente do que se preconceitua, ações de prevenção à má conduta acadêmica não implicam em desconfiar da honestidade empregada nos trabalhos científicos e artísticos, mas sim em garantir a lisura das produções acadêmicas, como resultado que são, de metodologias desenvolvidas para a observação rigorosa dos fenômenos e para a análise isenta e criteriosa dos dados coletados, aplicados por pessoas íntegras e comprometidas com o saber, características inatas dos profissionais da academia. O que de mais relevante este encontro trouxe foi o debate sobre as relações entre mentores e aprendizes, orientadores e orientados, autores e colegas revisores, pesquisadores e agências de fomento. Essas relações são fundamentais para a execução do trabalho científico e acadêmico. Compreender os obstáculos que existem para o bom relacionamento em todas as fases do desenvolvimento laboral pode ser o que falta à comunidade científica brasileira para marcar de vez seu espaço na ciência internacional.
Não é por acaso que o CIA tem concentrado suas primeiras ações na conscientização dos futuros cientistas formados na UFG. Todo produto científico, cultural e artístico produzido na Universidade está fadado à eternidade. A publicação não é o fim de um trabalho, é seu início, seu nascimento no rol do conhecimento. Se, com ações de informação e educação, a UFG for capaz de formar em seus acadêmicos o mais apurado senso de honestidade e dedicação, então estará garantindo um futuro brilhante para sua contribuição à sociedade: produtos íntegros, honestos, fruto de mentes brilhantes e dedicadas ao saber, sem a contaminação do “levar vantagem”, do “jeitinho” que tem sido o estigma de nosso povo lutador e capaz e que não quer fazer jus a essa fama. Com esse objetivo, a edição IV do BRISPE foi realizada na UFG. Como meio inspirador e renovador do sentimento de responsabilidade que a instituição tem para com a comunidade e para com sua produção. As ações do CIA continuam! Em março o Comitê será responsável por ministrar uma disciplina disponível para todos os cursos de pós-graduação da Universidade: Integridade Acadêmica. Informe-se no site da PRPI e na coordenação de seu curso.
Opinião
ARTIGO
Projeto une literatura, artes e ciências no ensino de Física Fenômenos físicos são ensinados por meio do show Física no Palco, que possibilita o entendimento e o interesse pelo fazer científico Fábio Gaio
E
nsinar física de maneira divertida, diferente dos métodos tradicionais, melhorando o aprendizado e estimulando a curiosidade. Essa é a proposta do projeto A narrativa literária: construindo saberes em Física, que atua nas séries iniciais do ensino fundamental, por meio de estratégias e metodologias de ensino para trabalhar certos conceitos de física. O projeto visa buscar a interação entre literatura, artes e ciências por meio da narrativa literária, com a utilização de fábulas e mitos e da expressão artística. Através do show Física no Palco, uma espécie de aula-espetáculo que percorre escolas de Catalão e cidades próximas, o conceito físico da luz e a formação de imagens é ensinado de maneira diferente e divertida na educação infantil, propiciando, além do aprendizado, a difusão e a popularização da ciência. As atividades contemplam ainda ações para pessoas com deficiência visual, por meio de maquetes tatéis-visuais. De acordo com a professora do Instituto de Física e Química da Regional Catalão da UFG e coordenadora do projeto, Ana Rita Pereira, no início da escolarização básica, as crianças entram em contanto com a Física na disciplina de Ciências, em geral estudando as formas de energia (luz, calor, eletricidade e som), os processos de transformação de energia, trocas de calor, mudanças de estado físico da água, características (forma, materiais, utilidade) e funcionamento dos diversos objetos. A curiosidade típica das crianças, segundo a professora, desperta o interesse e a motivação para aprender os conteúdos de Ciências. “Assim, é importante que os conceitos dos fenômenos físicos sejam ensinados corretamente, o que pode contribuir para estimular no estudante a curiosidade científica ao longo de sua vida escolar”, avalia.
Ao longo dos anos, o projeto tem se consolidado e, em 2016, foi contemplado com recursos de custeio e capital no valor de mais de R$ 44 mil, por meio do edital CNPq/ Instituto Tim, que selecionou projetos sobre a temática da luz desenvolvidos para o público infantil. O valor permitirá a continuidade das atividades em 2017. O bom resultado dos trabalhos também pôde ser confirmado durante o XXII Simpósio Nacional de Ensino de Física, realizado em São Carlos (SP) entre os dias 23 a 27 de janeiro deste ano. A equipe da Experimentoteca e do show Física no Palco teve a oportunidade de apresentar dois artigos científicos e apresentações orais e ministrou uma oficina para os participantes do evento. O Física no Palco é uma das ações que vem sendo desenvolvida pela Experimentoteca de Física, criada em 2007, com o objetivo de elaborar e realizar atividades que motivem as pessoas a entender e se interessar em fazer ciência, oferecendo oportunidade a todos os visitantes de explorar, conhecer e transformar seu mundo de forma atrativa e divertida e, ainda, possibilitar um incremento na formação dos futuros professores de Física. O laboratório, voltado para a popularização da Física e de ciências afins, funciona no Bloco K da Regional Catalão e pode ser visitado por estudantes de escolas públicas e particulares, professores e comunidade em geral. As visitas podem ser agendadas pelo e-mail <experimentotecaufg@gmail.com> ou pelo telefone (64) 3441-5322.
Fotos: Divulgação
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