JORNAL
Carlos Siqueira
ANO X – Nº 76 MARÇO 2016
Confira nesta edição histórias de estudantes de graduação com mais de 60 anos que contribuem para que a UFG seja um espaço diverso e democrático p. 8 e 9
Mesa-redonda discute os possíveis caminhos para o enfrentamento da violência contra a mulher p. 6 e 7
Em Jataí, estudantes constroem parque infantil sustentável e vencem Olimpíada de Empreendendorismo p. 12
Professora da Regional Goiás, que já viajou cinco vezes pela ONG Médicos Sem Fronteiras, conta sua experiência p. 14
JORNAL
EDITORIAL
As experiências que podem ser compartilhadas Michele Martins*
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om esta edição, a equipe do Jornal UFG dá as boas vindas à comunidade acadêmica no início de mais um ano letivo. Escolhemos para a capa da primeira edição do ano, uma matéria sobre comportamento que mostra as histórias de alguns estudantes da instituição, cuja maturidade e as experiências de vida enriquecem as relações no convívio acadêmico.
Os universitários com mais de 60 anos ainda estão em número reduzido na UFG: são apenas 38 em um universo de mais de quatro mil estudantes, cuja faixa etária está em torno dos 20 anos. No entanto, muitos jovens irão compartilhar o mesmo processo de aprendizagem com esses senhores e senhoras que são exemplos de força de vontade. Esta é uma realidade que evidencia uma nova característica da nossa sociedade: com o aumento da qualidade e da expectativa de vida da população, temos hoje pessoas muito ativas e produtivas, mesmo depois dos 60 anos. Isto significa que temas que contemplem a qualidade de vida da pessoa idosa ganharão cada vez mais importância, inclusive nos estudos desenvolvidos na Universidade. Outro tema em destaque aqui é o da violência contra a mulher. Fizemos questão de abordá-lo no mês de março, marcado pelo dia Internacional da Mulher. Este assunto entrou na pauta do Jornal UFG com a produção de uma mesa-redonda, em conjunto com a TV UFG e a Rádio Universitária, reunindo importantes mulheres que hoje estão envolvidas com o enfrentamento deste problema. Um problema urgente e que, infelizmente, ainda permanece negligenciado pelos cidadãos e pelos agentes públicos, na medida em que, no atendimento à vítima de violência, encontramos mulheres e crianças que ainda são submetidas à situações constrangedoras e de sofrimento. Esperamos que o nosso trabalho nestes veículos de comunicação da UFG fortaleça, de alguma forma, o processo de educação e de sensibilização da sociedade quanto à
necessidade de empoderamento das mulheres para a superação das diferenças de gênero e da violência.
O conteúdo desta mesa-redonda está disponível na versão impressa e digital, para ser conferido, discutido e compartilhado, e pautar o debate público, evidenciando uma realidade bastante complexa, cuja transformação depende da superação de muitos obstáculos. Vale a pena conferir a matéria sobre a experiência da professora dos cursos de Filosofia e Serviço Social da UFG Regional Goiás, Ionara Rabelo, que esteve em missão auxiliando a organização internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF). Com a oportunidade, ela estudou as metodologias humanitárias internacionais para a intervenção junto às crianças e mulheres em situação de violência. Outras experiências vivenciadas pela comunidade acadêmica das Regionais também são destaque na edição. Como no caso dos cinco estudantes empreendedores da Regional Jataí que idealizaram a construção do Parque Infantil Sustentável. Os estudantes tiveram a iniciativa de mobilizar vários parceiros e conseguiram entregar à população uma solução para o problema do descarte inadequado de pneus usados e da falta de espaços de lazer na cidade. Por este trabalho, o projeto dos estudantes foi um dos vencedores da 2ª Olimpíada de Empreendedorismo Universitário da UFG. Da Regional Catalão, destaca-se o trabalho do Núcleo de Tecnologia Assistiva (Nena) com o desenvolvimento de próteses de baixo custo para amputados, que são produzidas com peças confeccionadas com plástico biodegradável (PLA) em impressora 3D. Uma iniciativa que se propõe a apresentar soluções às pessoas de baixa renda. Divulgar temas de interesse público é o compromisso das equipes de comunicação da UFG. Desejamos uma ótima leitura destes e outros assuntos sobre a vida acadêmica da UFG! *Coordenadora de Imprensa da Ascom
COMUNIDADE PERGUNTA Arquivo Pesssoal
Opinião
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Wendy Sara Silva, estudante do curso de Enfermagem da Regional Catalão
A faculdade possui alojamento para quem quer ingressar na Universidade?
Para pleitear uma vaga é preciso apresentar uma série de documentos relacionados nos editais de bolsas estudantis, disponíveis no site da Procom/
Estão sendo disponibilizadas, no edital 2016, o mínimo de 40 vagas para a Regional Jataí, 17 para a Regional Goiás e cinco para a Regional Catalão. Em Goiânia, há cinco vagas em Casas do Estudante e 150 bolsas moradia. À medida que os estudantes concluem o curso, as vagas disponíveis são repassadas para outros estudantes classificados e não contemplados com as bolsas na primeira lista de divulgação. Carlos Siqueira
A UFG possui o projeto de moradia estudantil, coordenado pela Pró-reitoria de Assuntos da Comunidade Universitária (Procom/UFG). O projeto visa atender estudantes que não residem nas cidades sede das Regionais em que cursa a graduação (Catalão, Jataí, Goiânia e Goiás). No caso de Goiânia, para os que não residem na capital ou em cidades do entorno (Grande Goiânia), o projeto oferece vagas nas casas de estudantes ou bolsas moradia, no valor de R$ 250,00. No interior não existem casas do estudante e são oferecidas as bolsas moradia no valor de R$ 240,00.
UFG <www.procom.ufg.br>. O estudante precisa comprovar que não possui condições próprias e familiares de se manter, incluindo pagamento de aluguel. As inscrições para 2016 vão até 20 de maio e o resultado será divulgado no dia 6 de junho. Além disso, toda terça-feira ocorre na Coordenação de Serviço Social (CSS) da Procom, em Goiânia, às 14 horas, uma reunião do Projeto de Moradia, aberta a todos os interessados em pleitear uma vaga.
Elson Morais, Próreitor de Assuntos da Comunidade Universitária
Publicação da Assessoria de Comunicação Universidade Federal de Goiás ANO X – Nº 76 – MARÇO DE 2016 – Universidade – Reitor: Orlando Afonso Valle do Amaral; Vice-reitor: Manoel Rodrigues Chaves; Pró-reitor de Graduação: Luiz Mello de Almeida Neto; Pró-reitor de Pós-Graduação: José Alexandre Felizola Diniz Filho; Pró-reitora de Pesquisa e Inovação: Maria Clorinda Soares Fioravanti; Pró-reitora de Extensão e Cultura: Giselle Ferreira Ottoni Cândido; Pró-reitor de Administração e Finanças: Carlito Lariucci; Pró-reitor de Desenvolvimento Institucional e Recursos Humanos: Geci José Pereira da Silva; Pró-reitor de Assuntos da Comunidade Universitária: Elson Ferreira de Morais. – Jornal UFG – Coordenadora de Imprensa: Michele Martins; Editora: Kharen Stecca; Editora-assistente: Angélica Queiroz; Conselho editorial: Angelita Pereira de Lima, Cleomar Rocha, Estael de Lima Gonçalves (Jataí), Luís Maurício Bini, Pablo Fabião Lisboa, Reinaldo Gonçalves Nogueira, Silvana Coleta Santos Pereira, Thiago Jabur (Catalão) e Weberson Dias (Cidade de Goiás); Suplente: Mariana Pires de Campos Telles; Projeto gráfico e editoração: Reuben Lago; Fotografia: Carlos Siqueira; Reportagem: Angélica Queiroz, Luiz Felipe Fernandes e Serena Veloso; Revisão: Fabiene Batista e Bruna Tavares; Estagiários: Wanessa Olímpio (Jornalismo); Bolsistas: Anna Carolina Mendes (Jornalismo); Adriana Silva, Camila Caetano e Victor Martins (Fotografia); Impressão: Centro Editorial e Gráfico (Cegraf ) da UFG; Tiragem: 7.000 exemplares ASCOM Reitoria da UFG – Câmpus Samambaia Caixa Postal: 131 – CEP 74001-970 Goiânia – GO Tel.: (62) 3521-1310 /3521-1311 www.ufg.br – www.ascom.ufg.br jornalismo.ascom@ufg.br @ufg_oficial
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Camila Caetano
Qual o papel da imprensa nesta perspectiva?
Compartilhamento de saberes retoma essência da comunicação
A comunicação jornalística precisa apresentar as diferentes vozes e visões da sociedade. É esse o fundamento da comunicação pública quando falamos no viés jornalístico. No entanto, há uma tendência no jornalismo, e isso é comprovado cientificamente, de as vozes oficiais terem a primazia ao falar quanto à descrição da realidade. Cerca de 70% das notícias que chegam hoje nas redações proveem de assessorias de comunicação. Os estudiosos dizem que há uma predominância da fonte oficial, o primeiro a falar, quem a emissora geralmente procura. A partir dessa visão da fonte oficial é que são construídas as falas das demais vozes, não necessariamente são daqueles que ocupam posições dominantes na sociedade. A importância da comunicação pública por meio do jornalismo é justamente dar primazia a esses outros atores que hoje estão excluídos, mas têm o que falar, têm reivindicações, têm visão de mundo.
A senhora concorda que o exercício da comunicação pública ultrapassa o conceito esde as incipientes práticas da comunica- de meio e chega a ser fim, no sentido de ção pública nas praças da antiga Grécia, sua contribuir para a democratização do país?
Silvânia Lima
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função é a mesma: dar voz aos diversos segmentos sociais na discussão de temas de interesse público. Desvirtuada ao longo da história, a comunicação pública parece ter condições nos tempos atuais, com o apoio da tecnologia, não só de reaver sua verdadeira função, mas de promover o empoderamento. Maria da Graça Miranda de França Monteiro, professora da Universidade de Brasília (UnB), convidada a participar do Seminário de Comunicação Pública e Cidadania, realizado na UFG no final de 2015, falou sobre a nova perspectiva da comunicação pública, onde ela é praticada no Brasil, bem como o papel dos profissionais e dos órgãos públicos nesse contexto.
Como você define hoje a comunicação pública?
A comunicação pública é aquela que se dá no espaço público e, além da mídia e das redes sociais, nas ruas, praças, sobre assuntos de interesse público e que visam o empoderamento. Mas não é o empoderamento, por exemplo, do professor que dá a disciplina para o aluno, porque ele, como professor, sabe mais do que o aluno. É claro que ele tem uma trajetória diferenciada, mas o aluno traz experiências, expectativas, vivências cotidianas próprias e o professor tem de estar atento a isso. É aí que está o empoderamento: em uma visão de troca, que resgata a essência do termo comunicação, que é o compartilhamento de experiências, de saberes, de conhecimentos.
Onde mais está a comunicação pública?
Há três dimensões em que se vê, atualmente, a prática da comunicação pública. No âmbito governamental, a encontramos nos portais de transparência e nas emissoras públicas de TV e de rádio, ou nas agências de notícias. A segunda dimensão são os movimentos sociais, que têm usado a comuni-
Concordo plenamente. Eu trabalhei muitos anos no Ministério das Comunicações e acompanhei bem de perto essa legislação, essa noção de comunicação pública como complemento da comunicação privada, dos grandes detentores dos meios de comunicação, das emissoras de rádio e televisão. Sem dúvida alguma, mais do que um meio, a comunicação pública é um fim, para mostrar o que não é mostrado normalmente. Ao trazer a público realidades diferentes do que estamos acostumados a ver, ou o que nos é divulgado pelas grandes emissoras, a comunicação pública está permitindo ao cidadão comum fazer escolhas, decidir seu próprio destino. E, ao fazer essas escolhas, temos a comunicação pública como um fim, e não como um meio.
Então, ela deveria estar embutida nas políticas públicas?
Sim, e mais do que isso. Existe uma política de comunicação do país? No Brasil, que eu saiba,
Alfabetizar é a essência da comunicação pública, sem imposição sobre um conhecimento ou uma visão de mundo, mas de reconhecimento do outro como uma fonte de saber e de compartilhamento de conhecimentos.
não existe. Existe legislação de telecomunicação, que permite, por exemplo, as rádios piratas estarem legalizadas como rádios comunitárias. A inclusão da comunicação pública no conteúdo das políticas públicas contribui para tornar visíveis e oficializadas as iniciativas que não são oficiais. Isso é essencial para institucionalizar a comunicação pública.
Ao trazer a público realidades diferentes do que estamos acostumados a ver, ou o que nos é divulgado pelas grandes emissoras, a comunicação pública está permitindo ao cidadão comum fazer escolhas, decidir seu próprio destino. Os órgãos públicos, tanto em nível municipal, estadual ou federal, não deveriam manter uma rede de comunicação entre si? Sem dúvida, deveria haver encontros periódicos entre os comunicadores do sistema de governo para, não só manter atualizados os gestores de comunicação pública, como difundir as melhores práticas; informativos que circulem entre todos os profissionais de comunicação que trabalham em órgãos públicos, para saber o que cada órgão faz. Em alguns órgãos, há profissionais que se sentem totalmente isolados. Penso que deveria existir uma rede de comunicadores públicos, em nível governamental, que fizesse essas trocas de experiência.
Qual o papel da universidade na formação de profissionais que vão exercer a comunicação pública?
Sobre a formação dos profissionais, a tarefa é árdua porque a nova geração de estudantes que chega às universidades, particularmente na área de comunicação, é muito impaciente e não está habituada a ler. É uma geração imediatista, que muda de ideia muito rapidamente, se mobiliza e se desmobiliza com muita facilidade. Critica muito, mas é pouco receptiva à crítica. É uma geração que tem muita informação, mas não reflexão ou um posicionamento crítico a respeito das informações. As universidades passam por esse desafio de criar essa reflexão crítica sobre a realidade e a proposta de soluções para futuros profissionais.
Como você define o perfil do profissional que quer trabalhar na área?
Em geral o comunicador tem que saber escrever, saber falar em público e dominar as técnicas atualmente existentes no mercado. Para a comunicação pública, além disso, ele tem que, principalmente, gostar de gente, saber ouvir, respeitar o outro e ter a capacidade de sentar em uma mesa e negociar, até conseguir chegar a um consenso com o outro – seu interlocutor, que pensa diferente ou tem uma posição hierárquica diferente. É articulação e o foco é o coletivo. Nesse ambiente de comunicação pública, é preciso saber que o diferente faz parte da realidade, discutir com quem pensa de forma diferente, ouvir a argumentação do outro, explicitar o seu argumento e, juntos, chegarem a uma negociação com foco na sociedade.
Entrevista Graça Monteiro
cação pública para se mobilizarem, para conversarem entre eles e com a sociedade, pressionando-a em prol de seus direitos. A terceira vertente, menos conhecida, é a comunicação pública da ciência, que, além da divulgação institucional sobre o que fazem os institutos de pesquisa e as instituições de educação superior, objetiva alfabetizar cientificamente o público leigo. Alfabetizar é a essência da comunicação pública, sem imposição sobre um conhecimento ou uma visão de mundo, mas de reconhecimento do outro como uma fonte de saber e de compartilhamento de conhecimentos.
Pesquisa
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Mãos que ganham vida Com o objetivo de atender demanda social, Núcleo de Tecnologia Assistiva desenvolve próteses para amputados a baixo custo em impressora 3D Wanessa Olímpio
U
m projeto de pesquisa desenvolvido na Regional Catalão da Universidade Federal de Goiás (UFG) produz próteses de mão em impressora 3D. A iniciativa do Núcleo de Tecnologia Assistiva (NENA), confecciona dispositivos com plástico biodegradável (PLA) que tem em sua composição derivados do milho. Para que sejam confortáveis e se adaptem ao corpo do usuário, é utilizado um scanner 3D para ajustar a prótese ao corpo de quem irá recebê-la. A primeira pessoa a testar as próteses será o aluno de mestrado em Modelagem e Otimização do Departamento de Matemática da Regional Catalão da UFG, Sémebber Lino. O mestrando é portador da Síndrome de Moebius, que causa paralisia nos nervos faciais e provoca uma sé-
Próteses desenvolvidas pelo projeto visam atender pessoas de baixa renda que possuem algum membro do corpo amputado rie de más formações anatômicas, afetando os membros inferiores e superiores. “Conheci o projeto de confecção das próteses robóticas de baixo custo em minha primeira visita ao laboratório de Robótica da UFG, a convite do professor Marcelo Stoppa, que de certa forma, despertou minha curiosidade sobre o tema”, explicou Sémebber Lino, que logo depois foi convidado para participar como voluntário e testar um protótipo de prótese que será construído sob medida.
Por ser o primeiro a utilizar as próteses, há uma grande expectativa referente aos resultados. “Espero melhorar a minha qualidade de vida e de trabalho, ganhando assim, novos movimentos na mão direita com o auxílio da prótese. Espero também melhorar a vida de muitas outras pessoas portadoras de necessidades especiais que ainda não
dispõem de recursos financeiros suficientes para aquisição de uma prótese comercial”, enfatizou.
Iniciativa
Coordenador do projeto, o professor Marcelo Stoppa, explica que a iniciativa visa atender pessoas de baixa renda, que possuem algum membro do corpo amputado, e que dificilmente têm condições de pagar por uma prótese, que pode chegar a custar mais de R$ 100 mil. “Me preparando para o Pós-doutorado em 2013, escrevi um projeto de estudo e desenvolvimento de próteses biônicas de mão a baixo custo. A ideia era produzir próteses de mão para amputados, mas de forma acessível. Enviei o projeto a um edital do CNPq voltado para Núcleos de Tecnologia Assistiva. Felizmente o projeto foi aprovado e recebemos o financiamento que permitiu implantarmos o NENA”, explicou o pesquisador.
Fotos: NENA
No NENA são produzidos dois tipos de próteses, as mecânicas, com as quais os movimentos são realizados mecanicamente pelo próprio corpo do usuário e as eletromecânicas e definitivas, controladas eletronicamente. “As primeiras são indicadas para crianças que precisam trocar de prótese conforme vão crescendo, de acordo com sua idade. As eletromecânicas são para adultos, que poderão utilizálas de forma definitiva. Entretanto, as próteses mecânicas também podem ser modeladas para uso de adultos, e servir para casos onde a pessoa tem apenas alguns dedos amputados, ou seja, é mais adaptável”, informou Marcelo Stoppa.
Em impressoras 3D, dispositivos são confeccionados em plástico biodegradável
Há uma preocupação com relação à adaptação das próteses ao corpo, pois a maioria dos usuários as abandonam devido aos desconfortos causados pelas mesmas. “Procuramos desenvolver projetos que sejam confortáveis e funcionais”, complementou o pesquisador. Para a fabricação também é utilizado um filamento chamado ABS, que é derivado do petróleo. Segundo o coordenador do projeto, os filamentos são derretidos e depositados em camadas muitos finas, com até 0,1 mm de altura, para construir
as peças, camada por camada. “Recentemente compramos outra impressora 3D que imprime com filamentos flexíveis, com a intenção de construir próteses de textura mais confortável, semelhante à maciez da pele, como um tipo de borracha”, explicou Marcelo Stoppa.
Ampliando o projeto
Também foi desenvolvido um aplicativo para smartphones e tablets que permite controlar a prótese. Já é possível que ela seja comandada por voz ou por ícones na tela destes aparelhos. Ainda não foi iniciado o atendimento aos usuários, pois, além de existir aspectos a serem investigados, é preciso mais pessoas com qualificação para trabalhar na confecção das próteses, ou seja, que saibam operar as impressoras e o scanner 3D, tenham conhecimento de eletrônica, desenhem em 3D e gostem de trabalhos manuais, conforme explicou o professor Marcelo Stoppa. O projeto desenvolvido desde 2013, atualmente busca parcerias. “Para atender a demanda que sabemos ser grande, é preciso que haja o auxílio de empresas e da sociedade civil organizada. O primeiro passo foi dado. O nosso desejo é auxiliar as pessoas, mas para isso precisamos de ajuda para que o projeto continue”, afirma o coordenador do projeto. “Desejamos, num futuro próximo, acoplar as próteses ao usuário de modo que os movimentos dos músculos restantes do braço sejam capazes de comandar o movimento”.
Outras iniciativas
Dentro do NENA há outras iniciativas que buscam favorecer pessoas com deficiência, como o desenvolvimento de cadeiras de rodas mais baratas feitas de tubos de PVC e móveis adaptados para deficientes. Todos os projetos voltados para a assistência de pessoas são de baixo custo, para conseguir atender mais usuários. “A essência dos nossos projetos é auxiliar e procurar soluções de baixo custo para ampliar o número de pessoas atendidas”, conclui Stoppa.
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Serviços ambientais e técnicas de produção sustentável são temas de material distribuído em escolas Anna Carolina Mendes
N
o Nordeste de Mato Grosso há uma região de municípios predominantemente rurais conhecida como Vale dos Esquecidos que abarca, entre outros, os municípios de Novo Santo Antônio, Serra Nova Dourada, Alto Boa Vista e Bom Jesus do Araguaia. O local é uma zona de fronteira agrícola e, por isso, a região sofre com conflitos de terra e falta de governança, com disputas agrárias e indígenas. Para auxiliar essa comunidade foi criado o projeto de extensão O Futuro de Nossas Florestas. Coordenado pela Organização NãoGovernamental Aliança da Terra em parceria com o Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada a Educação da UFG (Cepae), o projeto elaborou materiais didáticos, como livros e vídeos, para educação ambiental de crianças dessas comunidades. O projeto também contou com a parceria da Fundação Monsanto, que disponibilizou os recursos necessários para a sua realização. Para a professora do Cepae e coordenadora do projeto, Flávia Pereira Lima, a maioria dos programas educacionais realizados em comunidades agrícolas são pontuais e pouco expressivos. “Nós queríamos um projeto de duração razoável em que realmente conseguíssemos construir alguma coisa na comunidade”, afirmou. A
proposta do projeto foi levar conhecimento científico sobre a conservação da natureza para estudantes do primeiro ao nono ano do ensino fundamental, sob um viés relativamente novo na Ecologia, surgido nos anos 70, o dos Serviços Ambientais. “Os Serviços Ambientais consistem naquilo que ganhamos da natureza sem ela cobrar nada em troca”, informou a coordenadora. Um exemplo é a polinização feita pelas abelhas e pássaros e, também, o controle biológico.
Ações
O primeiro passo foi entrar em contato com as prefeituras dos municípios para estabelecer uma parceria. Após a parceria, a equipe formada pela professora Flávia Lima, pelo ecólogo Eduardo Pacífico (doutorando no curso de Ciências Ambientais da UFG) e pela bióloga Elisa Pereira (doutoranda no curso de Ecologia e Evolução da UFG), ambos da Aliança da Terra, iam até as comunidades para informar as escolas sobre o projeto, que também contou com o apoio de Géssica Ferreira, graduanda em Ecologia e Análise Ambiental e bolsista do Programa de Bolsas de Extensão e Cultura (Probec) da UFG.
Uma ação importante realizada pela equipe foi a capacitação de 236 profissionais das escolas que, por meio
de um curso puderam debater as melhores formas de levar o material didático para os alunos. “O livro do professor tinha propostas de como usar o material nas aulas, mas sempre ressaltávamos que os professores deveriam ir além, adaptando o conteúdo às suas realidades”, explicou Flávia Lima. Após o curso de formação dos professores, todos os alunos receberam dois livros contendo informações, por
e um membro da equipe era responsável por acompanhar o processo. Ao final de seis meses, a equipe retornava ao município a fim de avaliar os resultados obtidos pelo projeto. A bióloga Elisa Pereira acredita que o passo mais importante é que a comunidade escolar continue realizando as ações de educação ambiental mesmo após o projeto finalizado. “O projeto deixa de ser nosso e passa a ser deles”, afirmou.
Extensão
Projeto leva educação ambiental para comunidades rurais
Aproximadamente 2.400 alunos receberam os dois livros do projeto meio de textos ilustrados, sobre serviços ambientais, formas sustentáveis de cultivar a terra, manejo de culturas e boas práticas agrícolas. O material chegou às mãos de 2.400 alunos dos municípios inseridos no programa. A participação de todos os professores dos quatro municípios superou as expectativas da equipe e permitiu que atividades fossem realizadas em todas as turmas do ensino fundamental. O diferencial do projeto educacional em relação aos outros é o monitoramento feito pela equipe. “Eu acredito que grande parte da efetividade e participação dos professores se deu pela nossa presença”, explica Flávia Lima. Os professores eram auxiliados nas atividades propostas para os alunos
Prêmio Na área de Humanidades, o projeto O Futuro de Nossas Florestas recebeu o Troféu von Martius de Sustentabilidade, da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha. Também ficou em segundo lugar na premiação do Congresso Ecogerma, da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). “Quando recebemos o prêmio, voltamos para as cidades e passamos em todas as salas para mostrar o troféu, que passou de mão em mão”, contou Flávia Lima. Para Elisa Pereira, a maior conquista do projeto é ter um feedback positivo dos professores e alunos, revelando que toda a comunidade escolar entendeu e se interessou pelo programa. Fotos: Aliança da Terra
Trecho da cartilha que explica de forma lúdica sobre os serviços ambientais
Mesa-redonda
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Pelo fim da violência contra a mulher Ascom, Rádio Universitária e TV UFG
No primeiro semestre de 2015, a Central de Atendimento à Mulher – o Ligue 180 –, disque-denúncia da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, recebeu mais de 32 mil ligações. Uma média de 179 telefonemas por dia relatando algum tipo de violência. Esse é apenas um dado sobre um problema urgente e muitas vezes negligenciado: a violência contra a mulher. Recentemente vimos diversas manifestações femininas nas ruas pelos direitos das mulheres e pelo fim da violência contra elas. Nas redes sociais não foi diferente. Grupos de diversas áreas lançaram movimentos que ficaram conhecidos não só na web, mas na mídia, o que fez com que muitas mulheres começassem a denunciar a violência, que é um dos passos para mudar o quadro no país. Mas sabemos que há um longo caminho a percorrer.
Para discutir formas de enfrentar tão grave questão, a mesaredonda desta edição, mês do Dia Internacional da Mulher, convidou a presidente do Centro de Valorização da Mulher (Cevam), Maria Cecília Machado, a presidente do Conselho Estadual da Mulher (Conem), Flávia Fernandes, e a pesquisadora e coordenadora de Ações Afirmativas da UFG, Luciene Dias. Você pode participar das próximas mesas-redondas enviando sugestões de temas e convidados pelo telefone: 3521-1311 ou jornalismo.ascom@ufg.br
Confira os vídeos do Programa Conexões no QR Code ao lado.
As denúncias têm aumentado a cada dia. Isso significa que a violência contra a mulher aumentou ou que as mulheres têm tido mais coragem? Flávia Fernandes – Acredito que as duas coisas: tanto a violência não paralisou ou diminuiu quanto existe hoje um maior número de denúncias, em razão de uma série de fatores, inclusive a abordagem do assunto no Enem. Percebemos que houve um crescimento de denúncias após a prova que pediu esse tema na redação e trouxe esse debate para algumas esferas da sociedade onde ele ainda não existia, como entre os jovens. Além disso, temos algumas campanhas, que são poucas, mas existem, e algumas novelas que debatem o tema também. Sendo assim, o que realmente tem acontecido é que as denúncias têm aumentado, mas a violência está longe de diminuir.
Maria Cecília Machado – Vale ressaltar que os números de denúncias que temos ainda não são números que condizem com a realidade, porque muitas mulheres se sentem inibidas, com medo, e não denunciam. Muitas vezes, essa mulher procura o Cevam, outro mecanismo para sair desse círculo. Então, mesmo com esses números exorbitantes que vemos no Ligue 180, existe um número ainda maior de mulheres que não denunciam. É muito importante que elas denunciem.
Luciene Dias – Na verdade isso só mostra que a realidade é complexa, porque temos vários fatores interferindo no que vai ou não mobilizar essas mulheres para a denúncia. As campanhas publicitárias, as iniciativas governamentais e não governamentais também são muito importantes nesse processo de conscientização, mas tem outra coisa fundamental: fortalecer o processo de educação que permita que essas mulheres passem a se reconhecer como agentes de construção de uma sociedade que respeite as diferenças de gênero, as especificidades femininas e que não tolere a violência contra a mulher como um padrão de comportamento social. O grande salto que temos que dar é investir no processo de educação para garantir cidadãs que se reconheçam enquanto agentes de construção de uma sociedade melhor, mais igualitária, no sentindo de equidade mesmo, de ter a sua diferença respeitada no espaço social.
O tema da redação do Enem “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira” gerou muita discussão, como se fosse um assunto tabu, que não pudesse ser discutido. Por quê? Luciene Dias – Porque são séculos de invisibilização desse tema. Portanto, quando ele vem para a superfície de discussão, é muito recorrente que as pessoas se espantem. “Alguma coisa está acontecendo”, “como é que esse assunto vem à luz, assim?”. Todo mundo reage.
Maria Cecília Machado – Enquanto não tivermos uma educação transparente, onde esse trabalho de conscientização dos nossos jovens sobre a violência doméstica e o quanto ela é prejudicial à família seja feito, estaremos sempre trabalhando com esse grupo de mulheres que, muitas vezes, prefere sofrer que denegrir a imagem da
família. Então nós precisamos de um trabalho de “formiguinha”, que vá às escolas, aos centros comunitários, à imprensa, que tire esse tabu da violência, que faça com que as mulheres deixem de ter medo de falar que são vítimas e deixem de se calar por preocupação com que os outros vão falar ou o que vão fazer a ela. Outra coisa muito séria: “como vou denunciar o homem que eu gosto?”, “o pai dos meus filhos?”. Precisamos de uma conscientização muito grande dos nossos jovens. Por isso, o Enem trazer esse tema foi fundamental, porque hoje o assunto está sendo bem discutido e temos visto jovens querendo trabalhar no combate à violência.
Flávia Fernandes – O Conselho Estadual da Mulher está lançando dois projetos: Conem vai à Escola e Conem vai à Faculdade. É uma experiência que eu trouxe da Ordem dos Advogados do Brasil, onde eu fui coordenadora por dois anos do OAB vai à Escola, programa que nos trouxe um feedback excelente. Nos projetos do Conselho vamos falar especificamente sobre a questão de gênero e questões correlatas à violência doméstica. Já estamos fazendo o encaminhamento de um projeto com a Secretaria Estadual de Educação e com algumas universidades para levar esses projetos. É fundamental que essa violência seja eliminada na base porque sabemos que, infelizmente, coibir ela no topo é muito difícil. Temos que mostrar para os jovens, formadores de opinião, crianças e adolescentes, que é fundamental que eles cresçam sem o preconceito de que mulher é objeto ou é propriedade e cientes que não é possível viver em uma sociedade onde há violência dentro do ambiente que deveria ser o mais seguro, o lar. Maria Cecília Machado – Nesse momento, muitas vezes vocês vão encontrar obstáculos. Algumas escolas particulares não aceitam falar na Lei Maria da Penha, em violência contra a mulher, porque pode gerar um conflito familiar. A criança que é vítima, se não souber encarar, ou vai chorar, ou vai sair da sala, ou contar para a mãe, e aquilo ali vai fazer com que a criança fique vítima dentro da escola. Já encontramos escola que não permite falar de violência contra a mulher, um tema que hoje machuca, que deixa a nossa alma muitas vezes sem saber o que fazer, principalmente com o que eu vejo dentro do Cevam.
Nos últimos meses vimos proliferar nas redes sociais campanhas como o #meuprimeiroassédio e #meuamigosecreto. Essas campanhas são mesmo capazes de mobilizar a sociedade? E as vítimas? Luciene Dias – Grandes pesquisadoras que pensam o feminismo e em estratégias de combate à violência contra a mulher, defendem que na verdade temos que tentar criar redes de solidariedade. Essas novas plataformas, como Twitter e Facebook, redes sociais em geral, contribuem para que essas mulheres estabeleçam efetivamente essas redes de solidariedade. Na campanha #meuprimeiroassédio, por exemplo, você via descrições acerca do primeiro assédio, desde uma pré-adolescente, estudante, passando por uma empregada doméstica, até atrizes globais. Ou seja, todas elas colocando numa mesma plataforma uma experiência que as unia, infelizmente experiências de violência. Neste caso, as redes sociais cumprem o seu principal papel na sociedade, de fortalecer essas redes de solidariedade. Porque o desafio do Brasil, como país, no processo de combate à violência contra a mulher, é imenso. Um estudo feito pela OMS, por exemplo, entre 2006, ano em que foi sancionada a Lei Maria da Penha, até 2013, com 85 países, o Brasil figura em 5º lugar na violência contra a mulher. Ou seja, é um país muito misógino, um país que violenta muito suas mulheres. Se lançarmos mão dos instrumentos que temos para fortalecer nossas redes de solidariedade, de repente conseguimos iniciar a cura, iniciar o tratamento por nós
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Fotos: Carlos Siqueira
Maria Cecília Machado – Goiás ocupa o terceiro lugar no Brasil em violência contra a mulher. E, onde estão as políticas públicas? Onde e o que estamos fazendo? Sei que existem pessoas tentando criar mecanismos para que possamos trabalhar em conjunto, em rede. Porque quando falamos de mulher, a rede arrebenta. Precisamos criar políticas. Eu costumo falar que somos as poderosas, e estamos sofrendo violência, uma violência que machuca as almas. Às vezes me emociono quando falo de violência doméstica porque eu vejo chegar ao Cevam a fragilidade de uma mãe, com quatro crianças, fugindo de outra cidade, depois de passar horas num posto de gasolina, procurando alguém para trazê-la. Temos que prestar socorro a todo o Estado de Goiás porque somos a única casa abrigo que socorre mulheres em situação de violência doméstica, passando por problemas de negligência dos nossos governantes. Vemos mulheres chegarem fragilizadas, mas acobertando seus filhos, que são os maiores prejudicados, porque a criança vítima vai somatizar isso e, no futuro, se isso não for bem trabalhado, essas crianças podem se tornar futuras agressoras. Então, precisamos de um fortalecimento e eu tenho muita esperança no Conem para somar nessa rede.
Maria Cecília Machado
Sei que existem pessoas tentando criar mecanismos para que possamos trabalhar em conjunto, em rede. Porque quando falamos de mulher, a rede arrebenta
Flávia Fernandes – Estamos juntos realmente e estamos lutando para implementar vários projetos. Nós vivemos num mundo tecnológico onde as coisas acontecem muito rápido. Hoje você publica uma hashtag, marca um ator de Hollywood e ele pode ver, o que antigamente era inimaginável. A rapidez na comunicação nos permite ver em tempo real o que alguém publicou lá do outro lado do mundo. Já existem aplicativos que você pode fazer uma denúncia e ela chega imediatamente onde deveria chegar. São mecanismos que devem sim ser usados em favor dessa luta que travamos, que é uma luta um tanto quanto complicada. Então, nós, que somos ditas as feministas, somos tidas em muitos ambientes como persona non grata porque realmente batemos
de frente, cobramos o direito da mulher, não de ser melhor que o homem, não de travar uma luta de forças, mas de ser respeitada, tão respeitada quanto o homem. É nesse sentido que nós juntamos forças e o Conem, o Cevam, e tantas outras entidades lutam, de forma quase que sozinha, contando apenas uns com os outros. Lutamos pelo empoderamento da mulher e que ela não ganhe 20%, 30% a menos do que o homem no mesmo ambiente de trabalho e exercendo a mesma função. Não vamos deixar a mulher desamparada e enquanto pudermos, vamos lutar.
Como vocês avaliam a fase pós-denúncia: exame, depoimento, acolhida? Esse processo faz com que a mulher desista de continuar?
Maria Cecília Machado – A maioria das mulheres encontra um obstáculo muito grande que começa com quem vai buscá-la, que é a polícia. No caminho até a delegacia, muitos policiais já desestimulam as mulheres com frases como: “ruim com ele, pior sem” ou “desiste, isso não dá em nada”, que fazem com que a mulher, que já tem medo, se enfraqueça. Assim, muitas vezes a mulher volta para casa, apanha de novo, sofre violência de novo. Um trabalho muito grande tem sido feito dentro das delegacias para que quem faz esse trabalho possa fortalecer a mulher no caminhar até a delegacia, ao chegar lá, que ela se sinta protegida, sinta que algo será feito, que sejam dados os encaminhamentos para as medidas protetivas. Mesmo assim ainda existe um obstáculo muito grande e
Luciene Dias
Se lançarmos mão dos instrumentos que temos para fortalecer nossas redes de solidariedade, de repente conseguimos iniciar a cura...
todos nós sabemos disso: quando há o estupro. Ao chegar no Instituto Médico Legal, já discriminada como a mulher que foi estuprada – suja, machucada, passando por vergonha, desamparada –, ainda espera horas e, depois de tudo isso, para aonde ir? O que fazer? E os filhos que ficaram para trás? Mas nós temos trabalhado nas delegacias para que as coisas melhorem. O ideal seria que existisse uma equipe multidisciplinar dentro da própria delegacia, onde esses exames pudessem ser feitos, onde a mulher não se sentisse discriminada. E a mulher que apanhou e tem que ouvir: “só esse cortinho? Lava, passa um álcool. Denuncia não, desiste disso”. E as crianças, às vezes, vão junto, sem comer, sofrendo. Então há um dificultador muito grande.
Luciene Dias – Muito grande mesmo. E na construção dessa verdadeira cartografia da violência
contra a mulher, não podemos esquecer nesse processo final as diferenças que nos marcam. Se a realidade é muito difícil para uma mulher branca de classe média, ela se agrava consideravelmente quando nós estamos falando de uma mulher negra, que ocupa lugares muito bem determinados dentro da sociedade, quando nós estamos falando da mulher indígena, da mulher do campo, da mulher transexual, da mulher travesti... Mulheres diversas chegam nesses espaços com as suas especificidades e são rotuladas a partir de uma única definição. As diferenças com que essas mulher vão lidar com a violência não são consideradas no momento do tratamento. Não considerando essas especificidades, você ignora completamente que é a diferença que vai marcar a nossa existência no mundo. É a partir da minha negritude, a partir da minha transexualidade, do meu pertencimento étnico-racial, da minha localização geográfica, é que eu vou me comportar como mulher, é que eu vou denunciar, é que eu vou chegar ao hospital e solicitar atendimento. Portanto, o cuidado tem que estar sustentado no respeito a essas especificidades. Flávia Fernandes – Levando para o lado legal, temos duas leis excelentes, uma complementando a outra. A Lei Maria da Penha, que veio com algumas inovações como, por exemplo, a mulher não poder simplesmente retirar a queixa. Ela tem que esperar todo o procedimento, até que, na presença de um juiz, ela diga o motivo pelo qual ela não quer dar continuidade a aquele processo. Existe a lei, mas não vemos ela ser efetivamente aplicada. É muito diferente. A lei é muito bonita
Flávia Fernandes
...não é possível viver em uma sociedade onde há violência dentro do ambiente que deveria ser o mais seguro, o lar quando ela diz, por exemplo, que o homem não vai pagar mais cesta básica e serviço comunitário ou quando diz que com uma medida protetiva o homem vai se afastar do lar ou da mulher e vai ainda prestar alimentos. E temos outra lei que complementa a Maria da Penha, que é a Lei do Feminicídio, que transforma o assassinato de mulheres em crime hediondo, crime tipificado com mais rigor. O que ainda falta é instruir as mulheres sobre os seus direitos, o que me parece que não é muito querido pelas autoridades, porque existem muitas formas de se fazer isso. Quando vamos às escolas e universidades, não queremos apenas mostrar que violência é crime, mostramos também as nuances, a responsabilização disso. Maria Cecília Machado – Por nome, a Lei Maria da Penha é a lei mais conhecida. É preciso colocá-la em prática!
Mesa-redonda
mesmos, nos transformando em pessoas capazes de interferir na elaboração de políticas públicas, porque a violência contra a mulher no Brasil é uma questão de política. Enquanto os poderes instituídos, em todas as esferas, não compreenderem que é fundamental elaborar políticas que inibam e depois que combatam essa violência, teremos esse quadro que envergonha o país.
Universidade
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Maturidade em sala de aula Estudantes da UFG com mais de 60 anos superam dificuldades e provam que não há limites para a busca do conhecimento
sar da carga horária reduzida. Sobre a relação com os colegas e os professores, não tem do que reclamar.
Questionada sobre a dificuldade do curso, Raimunda não hesita: “põe dificuldade nisso! Principalmente Ciência Política”. Ainda assim, considera que Ciências Sociais é um curso “que faz pensar”. Prestes a realizar o grande sonho de se formar em uma faculdade, Raimunda não tem dúvidas de que o esforço valeu a pena. “Hoje eu vejo o mundo de outra forma”.
Da matemática às artes
Fotos: Carlos Siqueira
O que Filosofia, Arte e Matemática podem ter em comum? A resposta será dada em breve, no Trabalho de Conclusão de Curso de Maria Nélia Gomes, aluna de Artes Visuais, habilitação em Artes Plásticas. Este é o último ano de curso, mas não será a primeira vez que a estudante de 66 anos irá concluir uma graduação pela UFG.
Dividida entre as tarefas domésticas e os livros, Raimunda Rocha conseguiu ser aprovada para o curso de Ciências Sociais da UFG Luiz Felipe Fernandes
O sonho de uma federal
E
Era só terminar a faxina da casa que Raimunda corria para ler um texto. Louça da pia lavada e lá estava ela estudando páginas e mais páginas de material didático. Foi assim, entre um afazer e outro, que em 2009, Raimunda Alves da Rocha conseguiu aprovação no vestibular para Ciências Sociais na UFG. Aos 72 anos, está no sétimo período do curso.
ntre os milhares de adolescentes e jovens que ingressam a cada início de ano na Universidade Federal de Goiás (UFG), estão estudantes que provam que a idade não é obstáculo para cursar o ensino superior. O longo período longe dos bancos escolares e a necessidade de conciliar os estudos com as responsabilidades de uma vida adulta podem fazer da graduação um desafio ainda maior para esses alunos.
A UFG possui hoje 38 estudantes de graduação com mais de 60 anos em todas as suas regionais – 24 em Goiânia, oito em Catalão, três em Jataí e três na Cidade de Goiás –, em cursos das mais variadas áreas do conhecimento. No Sistema de Seleção Unificada (SiSU) de 2016, 49 pessoas com mais de 45 anos foram aprovadas em cursos de graduação da UFG. A partir de agora vão conviver com os mais de 4 mil jovens de 18 a 20 anos que representam a maioria dos novos alunos.
O Jornal UFG conversou com alguns desses acadêmicos que, com a experiência de vida, contribuem para que a Universidade se estabeleça como espaço diverso e democrático. Em meio a diferentes trajetórias, a rotina de estudos diários, apesar de mais difícil, guarda motivos nobres: o sonho de se formar em uma faculdade, de explorar novas áreas ou de simplesmente continuar aprendendo.
Maria Nélia terminou o ensino médio em 1971. Os 20 anos seguintes foram dedicados ao lar, como mãe e esposa. Sempre atenta à educação dos filhos, quando o mais velho foi prestar vestibular, achou que também pudesse estar preparada. A confirmação veio com a aprovação no vestibular para o curso de Matemática, no qual se graduou.
Já a arte a fascinava desde a infância e, depois de adulta, dedicou-se por
Na época, como achava que “ia jogar dinheiro fora”, falou para a filha fazer a inscrição no curso menos concorrido. “Meu objetivo era testar minha capacidade de passar no vestibular de uma faculdade federal, porque eu me achava muito incapaz”. Qual não foi a surpresa ao descobrir, após ser aprovada, que o curso de Ciências Sociais não havia sido o de menor concorrência. Raimunda terminou o ensino fundamental em 1967. Mãe de três filhos, o retorno à escola só se daria 22 anos depois, mesmo assim para fazer apenas o primeiro ano do ensino médio, interrompido com a chegada das netas. Em 2004, fez supletivo para concluir o segundo e o terceiro ano. Chegou a prestar vestibular para Letras em 2005, tendo sido aprovada apenas na primeira fase.
Mesmo com o apoio da família, Raimunda sentiu o peso dos primeiros períodos da graduação. Para se dedicar aos estudos, precisou abrir mão do trabalho como massoterapeuta, para o qual voltou algum tempo depois, ape-
Paulo Roberto e José Hidasi: depois da aposentadoria, o desafio de mais uma graduação
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Nada que atrapalhe mais uma realização pessoal e profissional de quem é orgulho e exemplo para os sete filhos. “Cursar mais uma faculdade me tirou da ociosidade. Sinto-me útil mesmo depois da aposentadoria”. Com o diploma de Odontologia, José Hidasi pensa em ter um consultório. Questionado sobre o que vem a seguir, a resposta não poderia ser outra: “quem sabe uma especialização?”.
Em busca de respostas
Com quatro graduações, José Hidasi está na reta final do curso de Odontologia conta própria a aulas de pintura, dominando várias técnicas. Maria Nélia então decidiu fazer uma pós-graduação em Filosofia da Arte. “Foi aí que entendi que Matemática, Filosofia e Arte poderiam formar uma triangulação, pois elas se completam e têm muito em comum”. Em 2011, foi aprovada para o curso de Artes Visuais da UFG como portadora de diploma. Maria Nélia diz que só o apoio da família não basta. “É preciso ter muita garra, força de vontade e perseverança para fazer o que gosta, pois tive que dividir meu tempo entre a faculdade, a família e o trabalho, e, recentemente, com as netinhas”. Ela confessa ter tido medo quanto à aceitação dos colegas, mas garante que foi recebida com muito carinho. “Sinto-me tão à vontade que parece que tenho a mesma idade dos colegas, e o mesmo se refere aos professores, alguns deles com a idade dos meus filhos. Sinto-me em casa!”.
Maria Nélia não tem pretensões de ser uma artista plástica reconhecida, mas diz que a ideia de fazer o curso foi uma maneira de procurar conhecer o mundo das artes de maneira aprofundada. “O curso corresponde a todas as minhas expectativas, tanto na teoria como na prática. É tudo o que eu procurava em termos de realização”.
O colecionador de diplomas Nutrição, Medicina, Direito e Biologia. Estes são apenas os diplomas de graduação que José Hidasi Filho coleciona. Soma-se a isso três especializações, um mestrado e, atualmente, aos 62 anos de idade, mais um curso superior: Odontologia na UFG.
Os motivos que o levaram a cursar tantas faculdades são os mais diferentes – e inusitados – possíveis. Ainda adolescente, escolheu Nutrição por causa das moças bonitas que frequentavam o curso. Medicina veio com a vocação. Direito, pela proximidade com o ex-sogro, que era procurador de Justiça. E Biologia pela influência natural do pai, José Hidasi, fundador do Museu de Ornitologia e referência na área. Com uma vida acadêmica e profissional tão movimentada, era natural que há alguns anos, prestes a se aposentar, José Hidasi Filho se questionasse: “e agora?”. Na contramão do ócio e interessado em aprender mais sobre saúde bucal, em 2010 concorreu a uma vaga para Odontologia como portador de diploma. Está no último período do curso.
Estudante assíduo e interessado, ele reconhece as limitações da idade. “O
As Ciências Biológicas já não respondiam a todos os questionamentos levantados por Paulo Roberto Marra. Ele se formou em História Natural em 1971 e, em 2001, mesmo tendo enfrentado um infarto, concluiu o mestrado em Biologia pela UFG. Vinte anos depois de obter o título de mestre, decidiu ir em busca do estudo do pensamento filosófico e entrou para o curso de Filosofia da UFG como portador de diploma. Aos 69 anos Paulo Roberto está na reta final de mais uma graduação e não é à toa que destaca o esforço pessoal como uma de suas principais características. “Senti dificuldade no primeiro período, depois fui me adaptando e, atualmente, tenho mais
facilidade em relação aos conteúdos”. Para ele, a experiência ajuda na hora de assimilar uma leitura mais densa.
Paulo Roberto conta que a convivência com os colegas é harmônica e que alguns até procuram saber sobre sua trajetória profissional e a decisão de cursar Filosofia. A relação com os professores também é tranquila. “Alguns me consideram um colega”, afirma. E mesmo com a proximidade da conclusão do curso, os bancos acadêmicos permanecem em seus planos. Futuramente, pensa em concorrer ao mestrado em Filosofia da UFG e, assim, continuar os estudos na área.
Experiência enriquecedora
As experiências de vida levadas para a sala de aula são um diferencial quando o aprendizado envolve estudantes adultos e idosos. Segundo o professor Carlos Cardoso Silva, da Faculdade de Educação da UFG, é preciso trabalhar metodologias que valorizem essas experiências individuais – uma forma de superar as dificuldades cognitivas e até mesmo o receio que esses estudantes têm de não conseguir aprender por causa da idade. O professor avalia que a inserção de idosos no meio acadêmico, além de promover participação social, escolarização e profissionalização, representa realização e valorização pessoal, ainda que não atuem no mercado de trabalho. “A convivência com idosos é muito significativa no sentido humano, pois são pessoas que têm muita experiência e enriquecem o grupo”.
A busca pelo pensamento filosófico levou Paulo Roberto de volta à Universidade
Formas de ingresso na UFG SiSU – O ingresso na UFG de estudantes com mais de 60 anos segue o mesmo procedimento dos demais: o candidato usa a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para se candidatar a uma vaga pelo Sistema de Seleção Unificada (SiSU).
Para Raimunda Rocha, a graduação é uma experiência transformadora
Portador de diploma – O Conselho de Ensino, Pesquisa, Extensão e Cultura (Cepec-UFG) vai discutir mudanças no Processo de Preenchimento de Vagas Remanescentes. A proposta de resolução da Câmara Superior de Graduação altera as regras atuais e prevê a utilização das notas do Enem para estudantes concorrerem a vagas como portadores de diploma.
Universidade
ritmo de aprendizado é outro”, admite. José Hidasi diz que, em sala de aula, o choque de gerações é inevitável, embora procure compreender os colegas mais novos. “Existe um receio natural por causa da idade. São fases de vida diferentes. Para eles, sou um estranho no ninho”, brinca.
Pesquisa
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Maior tolerância entre humanos e vida selvagem
Angélica Queiroz
A
população humana em todo o mundo já ultrapassou a marca de sete bilhões de habitantes. A expansão urbana, o desmatamento e a modernização dos meios de locomoção têm feito com que seres humanos e animais silvestres tenham cada vez mais contato. O problema é que por serem frequentemente vistos como potenciais predadores, a simples presença dos humanos pode gerar mudanças fisiológicas e comportamentais em animais silvestres, tais como o aumento do estresse e redução de suas atividades. Por exemplo, alterações no comportamento antipredatório dos animais silvestres, como a fuga, pode desencadear efeitos a nível populacional. Preocupados em entender como as populações naturais estão respondendo comportamentalmente à
Reuben Lago
Trabalho é o primeiro modelo baseado em evidências para predizer as espécies de animais mais sensíveis ao crescimento populacional humano
crescente presença humana, pesquisadores da UFG em parceria com pesquisadores estrangeiros, desenvolveram o primeiro modelo baseado em evidências para predizer as espécies potencialmente mais suscetíveis à expansão humana, seja em áreas urbanas e suburbanas, ou em áreas naturais e reservas. O estudo concluiu que a maioria das populações de aves, mamíferos e lagartos residentes em áreas onde há maior distúrbio humano são as populações mais tolerantes à presença humana.
res estrangeiros, Shinichi Nakagawa (Universidade de New South Wales, Austrália) e Daniel T. Blumstein (Universidade da Califórnia, EUA).
Revisão sistemática
Para desenvolver o modelo, os pesquisadores realizaram uma revisão sistemática da literatura e uma síntese quantitativa das evidências acumuladas. A partir de 75 estudos realizados ao redor do mundo com mais de 200 espécies de animais – entre elas, aves, mamíferos e lagartos –, eles investigaram se as populações de animais de áreas onde há frequente presença humana estão tolerando ou se sensibilizando aos humanos. “Trabalhos recentes têm demonstrado que populações de aves da Europa e Austrália que são menos tolerantes à presença humana estão em declínio, enquanto as populações mais tolerantes estão aumentando de tamanho”, detalha Diogo Samia.
O trabalho, publicado na Nature Communications, uma das revistas científicas de maior prestígio no mundo, é fruto de um capítulo da dissertação de mestrado de Diogo Samia, mestre pelo Programa de Pós-graduação em Ecologia e Evolução da UFG. Contribuíram com o trabalho os professores da UFG, Fausto Nomura e Thiago Fernando Rangel, e os pesquisado-
Os resultados desse estudo podem ajudar a identificar as espécies potencialmente mais vulneráveis a expansão urbana e, por isso, podemos direcionar os esforços de conservação sobre essas espécies
O pesquisador explica que a tolerância das espécies foi avaliada a partir da diferença entre as distâncias nas quais os animais permitem a aproximação humana num local com alta e baixa presença humana, por exemplo, em uma cidade e em uma área
rural. “Para o grupo taxonômico melhor representado, as aves, pudemos investigar quais eram as características morfológicas, de história natural e de história de vida das espécies mais tolerantes ou intolerantes à presença humana”, relata Diogo Samia.
Segundo o estudo, as populações de aves de áreas urbanas e suburbanas são as mais tolerantes dentre as populações estudadas. Além disso, os pesquisadores concluíram que espécies de aves maiores são mais tolerantes que espécies menores. “Os resultados desse estudo podem ajudar a identificar as espécies potencialmente mais vulneráveis a expansão urbana e, por isso, podemos direcionar os esforços de conservação sobre essas espécies”, ressalta Diogo Samia. Segundo ele, a pesquisa esclareceu ainda que tamanho da ninhada, dieta e abertura do habitat são características importantes para explicar o grau de tolerância ou intolerância das espécies frente à presença humana. Confira na íntegra (em inglês) o artigo publicado na Nature Comunnications
COMBATA OS MOSQUITOS PERIODICAMENTE. 1
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Mantenha bem tampados tonéis e barris de água.
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Troque a água dos vasos de plantas aquáticas e lave-os com escova, água e sabão, uma vez por semana.
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Coloque o lixo em sacos plásticos e mantenha a lixeira bem fechada.
DISQUE SAÚDE
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Coloque areia dentro de todos os cacos que possam acumular água.
Feche bem os sacos de lixo e deixe-os fora do alcance de animais.
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Não deixe água acumulada em folhas secas e tampas de garrafa.
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Mantenha as garrafas com a boca virada para baixo, evitando o acúmulo de água.
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Os vasos sanitários fora de uso ou de uso eventual devem ser tampados e verificados semanalmente.
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Lave semanalmente, por Mantenha a caixa-dʼágua Remova folhas, galhos e dentro, com escovas e sabão, bem fechada. Coloque também tudo que possa impedir os tanques utilizados para uma tela no ladrão a água de correr pelas calhas. armazenar água. da caixa-dʼágua.
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AR COMO DENUNCI UITO? SQ O OS FOCOS DO M
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Não deixe água acumulada sobre a laje.
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Pneus devem ser acondicionados em locais cobertos.
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Encha os pratinhos devasos de planta com areia, até a borda.
Outra opção para os pratinhos de vasos de planta é lavá-los com escova, água e sabão, uma vez por semana.
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Faça sempre a manutenção de piscinas ou fontes, utilizando os produtos químicos apropriados.
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Limpe sempre a bandeja Lonas usadas para cobrir do ar-condicionado para evitar objetos ou entulhos devem ser o acúmulo de água. bem esticadas para evitar poças d´água.
TUDO QUE ACUMULE ÁGUA É FOCO DE MOSQUITO. ATENÇÃO.
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Se o ralo não for de abrir e fechar, coloque uma tela fina para impedir o acesso do mosquito à água.
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Os fantasmas da guerrilha Investigação mostra que clima de repressão da Guerrilha do Araguaia ainda assombra população do sul do Pará Silvânia Lima
A
busca pela compreensão de um dado fenômeno social, considerando-se os fatores e elementos com os quais interage e o influenciam, é o principal objetivo da pesquisa em Ciências Humanas. O esforço para decifrar o objeto de estudo geralmente se dá por meio de uma área temática e suas teorias. Mas é a determinação do pesquisador no exaustivo trabalho de investigação e de interpretação dos fatos que atribui o valor e o sucesso da sua abordagem.
O estudo do professor Romualdo Pessoa Campos Filho, do Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa) da UFG, mostra que a partir da Guerrilha (1975-2000) a luta pela terra naquela região foi impregnada pela ideologia da Lei de Segurança Nacional. As estratégias militares passaram a ter como objetivo influenciar nos conflitos, identificando e reforçando as estruturas dos sindicatos. “O refinamento de estratégias sutis de infiltração e o processo de violência instalado, a partir da atuação do Serviço Nacional de Inteligência (SNI), com
Fotos: Arquivo Pessoal
O combate a um grupo de guerrilheiros movido pelo ideal político de promover a resistência no campo, às margens do Rio Araguaia, entre Marabá e Xambioá, sul do Pará, em plena repressão militar, ocorrido há 43 anos, ainda atrai a atenção de historiadores. Primeiramente, pela verdadeira estrutura de guerra com o uso de extrema violência para deter um grupo pequeno de jovens guerrilheiros – em sua maioria, universitários e profissionais graduados, sem nenhuma experiência com armas, mas resistentes à ação militar ostensiva. Posteriormente, pela continuidade da opressão na região, mesmo com o fim da Guerrilha, que nem chegou a acontecer.
Conhecida pelos conflitos de terras, a região do sul do Pará tem sido palco de tensões continuadas entre forças opressoras e de resistência desde o militarismo – com destaque para o período da Constituinte (1987/88) – e não é à toa que nasce ali um dos núcleos de criação da União Democrática Ruralista (UDR/1986). Registros sinalizam o aumento de práticas criminosas, incluindo assassinatos de camponeses e até de lideranças eclesiásticas, sob o fomento da prática da pistolagem e da falsificação de documentos. À época, próximo dali, eclodiu ainda o advento de Serra Pelada, maior garimpo a céu aberto do mundo. No entanto, o que esses fatos têm em comum com a desconstrução da Guerrilha do Araguaia?
Algumas das lideranças populares assassinadas no sul do Pará
destaque para a Guerra de Perdidos, que resultou na morte de um policial, um agente do Incra e na prisão de 30 camponeses, entre 1975 e 1976, já depois da Guerrilha, não seriam possíveis se não houvesse o amparo do estado”, afirma o professor.
Além da bibliografia e das dezenas de viagens in loco, a investigação dos fatos e a caracterização geográfica da região foram possíveis por meio das cerca de 50 entrevistas feitas com pessoas da região. O trabalho que resultou no doutorado em Geografia, com viés em Geopolítica, foi orientado pela professora Celene Cunha Monteiro Antunes Barreira, do Iesa.
Curió
“É muito traumático o pós-guerra. Famílias vitimadas, pessoas desaparecidas, e as forças opressivas continuando a agir, mantendo vigilância permanente, a fim de evitar que houvesse desdobramentos do movimento de resistência. Passei a perceber que o que aconteceu pós-guerrilha, para a população local foi pior pelo terror vivido. Todo aquele aparato para destruir a Guerrilha permaneceu na região para eliminar vestígios e garantir a ‘ordem’, sob o comando de um indivíduo, Sebastião Rodrigues de Moura, o major Sebastião Curió. Não imaginava incluir Serra Pelada na pesquisa, que fica a 150 km da região da Guerrilha, no entanto, chamou-me a atenção o fato do Curió ter sido interventor em Serra Pelada. Observei que a estrutura montada por ele não era só para controle do ouro, mas também pelo mesmo motivo de sua permanência na região da Guerrilha, o de impedir uma possível organização dos garimpeiros”, constata Romualdo Campos Filho. Conhecido por sua natureza fria e perversa, e pelo poder de persuasão, Curió era do centro de informação do Exército, elemento de um poder real, mas não institucionalizado. Com o apoio de três centenas de agentes do Serviço Nacional de Investigação (SNI), Curió comandava uma espécie de quartel general em Serra Pelada. “Sempre que tinha um conflito, ele era o primeiro que ia para resolver a questão, um verdadeiro coronel. Delegado prendia, Curió mandava soltar. Dessa forma, acabou sendo eleito deputado federal, em 1982”.
A construção do trabalho científico em ciências humanas não se dá de forma efêmera e ao acaso. Geralmente o pesquisador segue uma linha de conhecimento, eleita no início de sua formação, e isso conduz ao aprimoramento de sua linha de pesquisa. Outro aspecto importante do estudo continuado é o potencial de gerar diversos trabalhos científicos. Motivo pelo qual esse estudo ganhou força.
Enquanto historiador, aquele fato histórico ainda sem fechamento continuava a atrair a atenção de Romualdo Campos Filho, que há 20 anos, concluía o mestrado dedicado ao estudo da Guerrilha do Araguaia, que resultou na publicação do seu primeiro livro. Anos depois, foi convidado pelo Ministério da Justiça e da Defesa e pelo Ministério dos Direitos Humanos, a integrar o Grupo de Trabalho do Araguaia (GTA), formado por antropólogos, arqueólogos, historiadores e familiares das vítimas, para dar respostas ao desfecho do fato ocorrido no sul do Pará, entre os anos 72 e 74. O GTA contou com o apoio do Exército e teve, como base, levantamentos já listados pelo Grupo de Trabalho do Tocantins, mantido pelas famílias atingidas. O alto nível do grupo, a facilidade de acesso a documentos, inclusive de Guarda Nacional, e o olhar diferenciado para novos fatos investigados levaram Romualdo Campos a redirecionar seu doutorado, já em andamento. Ao retornar à região do conflito, o pesquisador constatou a força da repressão ainda presente, perpetuando sérias consequências para a população. Sendo assim, o pós-guerrilha passa a ser o objeto de sua pesquisa. A tese, defendida há dois anos, também foi transformada no livro Araguaia – depois da guerrilha, outra guerra, da Editora Anita Garibaldi. Romualdo Campos Filho é membro da Comissão de Altos Estudos do Memórias Reveladas – Centro de Referência das Lutas Políticas do Brasil (1964-1985), vinculado ao Arquivo Nacional. Na UFG, o professor está ligado ao Laboratório de Estudos e Pesquisas das Dinâmicas Territoriais (Laboter), ao Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre o Capital e ao Núcleo de Estudos Geopolíticos.
Mapa de localização dos municípios em área de conflito
Pesquisa
Formação continuada
Estudantes da Regional Jataí constroem parque Com a ajuda de voluntários, ideia foi colocada em prática em apenas uma semana e, além de alternativa para as crianças, foi também solução para problema ambiental Angélica Queiroz
M
esas, quadra de futebol, túnel, amarelinha, balanço, pisadas, burrinhos, girafas, vasos decorativos, bicicletário, tudo feito com pneu reaproveitado – 190 pneus de trator, carros, camionetas, carreta, motocicletas e bicicletas. Esse é o Parque Infantil Sustentável, trabalho idealizado e executado por cinco estudantes da Regional Jataí e um dos vencedores da 2ª Olimpíada de Empreendedorismo Universitário da UFG, realizada pelas incubadoras de empresas da UFG das regionais Goiânia, Jataí e Catalão. Os estudantes fazem parte da empresa júnior do curso de Psicologia da Regional Jataí, a HUMANIZA Consultoria Júnior em Gestão de Pessoas, e a ideia de construir um parque surgiu em uma conversa entre os estudantes que decidiram se inscrever na Olimpíada. Enquanto pensavam no projeto, eles assistiram a uma reportagem da TV local que informava sobre um depósito de pneus da prefeitura que estava servindo de criadouro para o mosquito da dengue. Decidiram, então, unir as duas coisas. “Ficamos mais apaixonados em resolver o problema, que na verdade eram dois: fazer um parque para crianças que não tinham um local público para brincar e amenizar o problema dos pneus do depósito da cidade”, detalha a estudante de Psicologia da Regional Jataí, Jéssika Marcolino Silva.
Fotos: HUMANIZA
Extensão
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Da teoria à prática
Os estudantes contaram com a ajuda de voluntários para colocar a ideia em prática e finalizar o projeto em uma semana. Durante a implantação, 48 pessoas estiveram envolvidas diretamente com a construção física e mais de 40 empresas, órgãos públicos e pessoas físicas foram parceiros para a arrecadação dos materiais e recursos necessários para a construção do parque. “Cada membro da equipe teve uma função primordial para que o parque se solidificasse dentro de uma semana”, destaca Maria Clara Assis. Segundo outra integrante do grupo, Aline Carvalho, a escolha do local foi um desafio, mas o grupo conseguiu identificar a Praça Adauto Assis, na intersecção entre três comunidades que possuem grande número de crianças e não tinham espaços destinados ao lazer e à recreação, com uma área verde e onde já havia uma academia e iluminação pública, o que facilitaria a implantação do projeto. No dia da inauguração mais de 150 pessoas estiveram presentes. “Pais e crianças mostraram-se satisfeitos com a opção de lazer ofertada e afirmaram nunca terem visto um local tão seguro, criativo, sustentável e útil no bairro. Poder ver todos esses benefícios para a natureza, para as crianças, para a comunidade, para os voluntários e para a equipe é o nosso maior resultado”, comemora Danyelle Rodrigues.
Os estudantes Marcos Alves dos Santos (Ciências da Computação) e Maria Clara Assis Soares, Jéssika Marcolino Silva, Danyelle Rodrigues de Souza, Aline Carvalho Costa (Psicologia) idealizaram o parque feito com pneus
O parque é fixo e foi projetado com ajuda de três arquitetos e um estudante de arquitetura. “Ficou um trabalho bastante cuidadoso e seguro”, destaca Jéssika Marcolino. Agora a prefeitura da cidade é a responsável pela manutenção e segurança do parque que, de acordo com a aluna, é um local bastante visitado pela comunidade, que aprovou a ideia. “O que fica de aprendizado é que vemos que é possível fazer uma grande mudança para uma comunidade em pouco tempo. E se todos tirassem uma semana em prol de um projeto social?”, provoca a estudante de Psicologia.
Replicação
De acordo com os membros do grupo, vários integrantes de outras co-
munidades, de escolas e até outras cidades já procuraram a equipe para tirar dúvidas, visando implantar parques semelhantes em outros locais. “A equipe se prontificou a auxiliar no que for necessário para a replicação do projeto”, afirma Jéssika Marcolino.
Para o grupo, o interesse se deve, principalmente, ao fácil acesso à matéria-prima (pneus) e por conta da simplicidade dos brinquedos, que podem ser implantados desde o quintal de uma casa até em uma praça, como no caso do projeto. “Os pneus são resíduos sólidos que levam cerca de 600 anos para se degradarem. A equipe obteve sucesso ao atender ao quesito sustentabilidade, retirando esses materiais da natureza e transformando em brinquedos duradouros”, destaca Danyelle Rodrigues.
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Atlas propõe uso sustentável de madeiras Pesquisadores mapearam a ocorrência de 364 espécies nativas em municípios de Goiás, Mato Grosso e Distrito Federal, das quais 34 integraram o material Serena Veloso
O
Cerrado é o bioma que possui 5% da biodiversidade de todo o planeta. Junto com a região da Amazônia, conserva espécies que podem ser utilizadas como matériaprima para produtos diversos. Dentre os recursos, a madeira é amplamente utilizada para diversos fins, como para construção civil, a produção de móveis e de carvão mineral. Entretanto, a exploração convencional da madeira disponível nestes biomas, legal ou ilegal, tem gerado grandes impactos ambientais.
Só na Amazônia, a derrubada de árvores e a transformação em madeira serrada para a construção civil produzem entre 6,5 e 24,9 toneladas de dióxido de carbono (CO²) por metro cúbico. Já no Cerrado, devido aos desmatamentos provocados principalmente pela agricultura e pela retirada de madeira para a produção de carvão, restam apenas 20% de sua cobertura vegetal original. Em ambos os casos, a extração ilegal estaria relacionada aos problemas vivenciados nos biomas.
De acordo com o coordenador do projeto e professor da Escola de Agronomia da UFG, Carlos Roberto Sette Júnior, a ideia inicial era suprir a carência de informações sobre espécies tanto do Cerrado quanto da Transição com a Amazônia com uso potencial como matéria-prima. Para o professor, o conhecimento sobre os recursos provenientes das florestas contribui para a definição do uso correto de cada espécie, segundo características que demonstram a qualidade dessas madeiras para determinadas finalidades. “Há espécies que são pouco conhecidas comercialmente e a ideia é que o projeto proponha usos madeireiros sustentáveis, por meio do manejo dos recursos florestais”, explica o coordenador.
Dentre as espécies pesquisadas, o Carvoeiro, comum no Cerrado e que, devido as suas características energéticas, pode ser empregado como matéria-prima para produção de energia, como o carvão. Já a sucupira preta e a tanibuca são árvores que possuem maior afinidade para usos na construção civil. Até o pequizeiro pode ser aproveitado para esses fins. “Além de possuir um fruto que utilizamos na culinária, a madeira do pequizeiro tem características interessantes do ponto de vista do uso sólido para pisos, estruturas de telhado e na construção civil de maneira geral”, sugere Carlos Sette.
O coordenador do projeto avalia que a identificação dessas espécies, além de possibilitar a construção de conhecimentos sobre usos sustentáveis da madeira desses dois biomas, também pode ser ferramenta eficaz para contribuir no trabalho de monitoramento e fiscalização das áreas onde são retiradas espécies madeireiras, sobretudo aquelas extraídas ilegalmente. Segundo Carlos Sette, poucos laboratórios no país são capacitados para fazer esse tipo de identificação, ferramenta necessária aos órgãos fiscalizadores para realizar apreensões efetivas a partir do reconhecimento de espécies cuja retirada é proibida. “Descrevemos algumas espécies e demos condições para que órgãos como o Ibama ou a Polícia Federal, ao apreender uma carga de madeira transportada nas rodovias, possam olhar para aquela madeira e chegar a uma definição de gênero e espécie”, comenta. O documento do Atlas está disponível para download gratuito no site do LQMBio
Características da madeira
Entre as informações reunidas no Atlas consta, por exemplo, a descrição de características aparentes como a de alguns tecidos celulares, cor e textura, além de propriedades físicas, anatômicas e energéticas como a densidade aparente, dimensões celulares, teores de carbono e a presença de materiais voláteis e cinzas na composição. Também foram
Fotos: Atlas Espécies do Cerrado
Por isso, a exploração sustentável ainda é um desafio a ser enfrentado para reduzir os impactos nesses ambientes. Conscientes da situação dos biomas, pesquisadores e técnicos da Escola de Agronomia da Universidade Federal de Goiás (UFG), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (USP) e da Rede de Sementes do Cerrado se reuniram em um projeto para identificar e determinar a qualidade de espécies do Cerrado e transição com a Amazônia para o
manejo florestal sustentável. O resultado da iniciativa é um atlas inédito, que reúne informações sobre 34 espécies madeireiras dos dois biomas. O projeto teve início há dois anos e meio, com coordenação do Laboratório de Qualidade de Madeira e Bioenergia da UFG (LQMBio) e parceria da Embrapa Agrossilvipastoril de Sinop, no Mato Grosso, e do Jardim Botânico de Brasília.
Alguns dos parâmetros utilizados para essa caracterização foram o dimensionamento da espessura, o diâmetro, a largura e o comprimento das fibras das árvores. Carlos Sette afirma que, apesar da utilização de técnicas sustentáveis para retirada de material para análise a partir de uma amostragem não destrutiva, ou seja, sem o corte das árvores, a quantidade de informações reunidas não permite definir certamente a destinação de uso de cada espécie pesquisada, mas dá um direcionamento para possíveis utilizações.
Fiscalização
Material extraído das espécies foi encaminhado para o LQMBio, onde foram feitas análises da qualidade da madeira
Pesquisadores e técnicos da UFG, USP e Rede de Sementes do Cerrado participaram do projeto
Conhecimento de espécies alternativas pode contribuir na exploração sustentável A falta de planejamento para exploração dos recursos naturais da floresta sem que haja o manejo apropriado das áreas nativas é uma das causas dos desmatamentos nos biomas da Amazônia e do Cerrado e do desenvolvimento de uma cadeia produtiva sem a priorização da sustentabilidade. Segundo estimativa do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), entre 43% e 80% da produção madeireira amazônica é considerada ilegal. Além da extração ilegal, o consumo intensivo de determinadas espécies tradicionais, preteridas para a produção de materiais diversos, como é o caso do mogno, bastante procurado para fa-
bricação de móveis, é uma das ameaças na preservação das florestas.
A mudança no perfil de exploração da madeira, com a inclusão na cadeia produtiva de espécies alternativas que possuem propriedades semelhantes às tradicionais, é apontada atualmente como uma saída para reduzir a predação de algumas espécies nativas e para tornar o uso da matéria-prima sustentável. Segundo Carlos Sette, os dados disponíveis no atlas contribuem para compreender o comportamento das espécies madeireiras e demonstram a diversidade contida nos dois biomas com potencial para serem incorporadas ao projeto de extração sustentável.
Pesquisa
levantadas informações sobre os locais de ocorrência das espécies.
14 Regionais
Professora relata experiência na ONG Médicos Sem Fronteiras Ionara Rabelo, da Regional Goiás, já atuou cinco vezes junto à organização e esteve na África, Oriente Médio e América do Sul
Weberson Dias
A
psicóloga e professora dos cursos de Filosofia e Serviço Social da UFG Regional Goiás, Ionara Rabelo, retornou no início deste ano da viagem a Turquia e Síria, países onde esteve em missão auxiliando a organização internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF). Essa é a quinta viagem que a professora faz pela entidade a países nos quais a crise humanitária já é uma realidade. Ionara Rabelo, que já esteve no Oriente Médio, Turquia, Síria e Libéria, relata que o trabalho voluntário é algo que modifica a percepção do mundo.
O trabalho voluntário, de acordo com Ionara Rabelo, é algo que modifica a percepção do mundo e o maior desafio é se perceber fazendo parte da história e ajudando a alterar sua escrita, talvez para construir em conjunto um mundo melhor. “Quando estamos lá, como profissionais, cuidamos pensando no outro. Nosso compromisso é de construirmos juntos. A ‘Médicos Sem Fronteiras’ me ajudou a ampliar minha perspectiva de compromisso social, de imaginar que o mundo pode ser melhor e que eu contribuo com uma pequena parte, não importa em que ponto do mundo eu esteja”, afirma.
Fotos: Arquivo Pessoal
Segundo a professora, fazer parte da UFG Regional Goiás é um estímulo para estudar as metodologias humanitárias internacionais para a intervenção junto às crianças e mulheres em situação de violência. Segundo ela, a Universidade autoriza sempre que ela faz o pedido de afastamento
para outro país e, na volta, ela pode então produzir reflexões teóricas por meio de artigos científicos ou capítulos de livros. “Vinculado com a produção do saber, compartilho minhas experiências com os alunos e crio novas perspectivas de trabalho junto a eles”, detalha.
No trabalho, a professora sempre tenta desenvolver metodologias novas, que envolvem sobreviventes de países em conflito ou vítimas de violência
Médicos Sem Fronteiras A organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) foi criada em 1971, na França, por jovens médicos e jornalistas, que atuaram como voluntários no fim dos anos 60 em Biafra, na Nigéria. No Brasil, a Médicos Sem Fronteiras (MSF) chegou em 1991. A entidade é independente e comprometida em levar ajuda às pessoas que mais precisam.
Para saber mais acesse o site da ONG
Para Ionara Rabelo, cada país é uma nova e diferente experiência, sempre com algo a aprender
A menina e a boneca O atendimento ao longo de vários meses de uma menina síria de quatro anos de idade foi uma das experiências mais marcantes para Ionara Rabelo. A professora recorda-se que, durante a guerra e sem energia elétrica, a casa da criança pegou fogo e ela perdeu sua irmã gêmea. Só restou ela, a mãe, a irmã de cinco anos, o pai e o avô. No mesmo incêndio, a criança teve 90% do corpo queimado e seus ossos dos pés ficaram totalmente deformados, tamanha a gravidade das queimaduras.
“Por muitos meses, a criança ficou internada, passando a ter medo da equipe médica e horror a hospitais. Por causa disso, quando chegamos ao país, tivemos que prepará-la para a próxima cirurgia. Com o auxílio da mãe, consegui construir o vínculo de confiança com a menina. Entre as estratégias adotadas por mim estavam a ludoterapia e as massinhas de modelar, sempre com apoio da mãe e da irmã um pouco mais velha que ela. Sentávamos juntas no chão e brincávamos durante as sessões, geralmente brincadeiras que envolviam cuidados”, relata. Nessas sessões a professora descobriu que a criança destruía todos os presentes novos que ganhava, como forma de voltar para a casa incendiada. “Ela também se mostrava irritada o tempo todo,
não se alimentava nem dormia direito, sempre chorava antes do banho, não deixava ninguém tirar a meia dos pés e não permitia que ninguém os lavasse”, completa Ionara Rabelo.
A professora explica que a menina sofria muito quando tinha que fazer exames e passar por consultas. “Foram várias sessões até que pudesse aceitar novas brincadeiras, novos ambientes, uma nova perspectiva de vida. Foi em uma dessas sessões que trabalhei o cuidado dela com a boneca, brincávamos que a boneca iria precisar de uma cirurgia no pé. Na preparação para a cirurgia a mãe nos explicava como a boneca poderia se sentir mais segura. Pusemos o hijab (véu que cobre a cabeça das muçulmanas) na boneca, enfaixamos a perna, colocamos talas feitas de lápis de cor e, em uma folha, desenhei o Raio-X e brincamos que iríamos fazer a cirurgia na boneca. Ao voltar para casa, orientei a criança que ela e a irmã mais velha deveriam criar brincadeiras, mas que a boneca não poderia sair da cama por dois dias, até voltar para a sessão. Com isso, a pequena síria começou a se preparar para o longo processo de recuperação cirúrgica que ela teria que enfrentar, aprendeu a confiar na equipe médica e a dar limites de como tocá-la”, relata a professora. “Isso é fantástico, emociono-me só de lembrar”, conclui.
15 CAMINHOS DA PESQUISA
Programa de Bolsas de Licenciatura apresenta novidades Mudanças no edital aproximam o Prolicen dos demais projetos de iniciação científica da UFG, mas mantêm sua identidade Victor Martins
Angélica Queiroz
Ravi Passos, Mateus Sperandio, Lina Lopes, Cleomar Rocha e Hugo Nascimento*
Perspectivas interativas contemporâneas
S
eja no caixa eletrônico de um banco, no smartphone ou na utilização das chaves de um novo modelo de automóvel, a vida contemporânea está cada vez mais mediada por dispositivos interativos. Nos últimos trinta anos, observou-se a migração de um mundo repleto de objetos manipuláveis para objetos e informações orientados pela interatividade, orquestrados pelas tecnologias das interfaces. Visão computacional, sensores de gestos e movimentos, interfaces gráficas e resoluções em ultra alta definição fazem parte do arsenal tecnológico que o início do século XXI estabeleceu como sua marca. A miniaturização dos componentes eletrônicos, a redução dos custos de fabricação e a computação nas nuvens são forças propulsoras deste fenômeno que, aliado à Internet das Coisas, repensam as funcionalidades dos objetos do mundo ao alcance do usuário por meio de pequenos dispositivos pervasivamente presentes no cotidiano das pessoas. São câmeras e sensores atentos e ávidos por ações desencadeadas por usuários. Os sistemas computacionais são os gerentes desse tempo, tendo as interfaces como elementos fundantes da experiência neste modelo. Em telas, dispositivos e gadgets, o futuro é desvelado em cada nova concepção de objetos comunicantes.
Compreendendo e atuando neste novo contexto sociocultural, o Media Lab produz e discute o nosso tempo. Isso é feito com a participação de pesquisadores renomados e envolvendo estudantes de iniciação científica do ensino médio e da graduação, da especialização, do mestrado, do doutorado e do pós-doutorado. Em maio de 2016, o Media Lab organizará mais uma edição do Simpósio Internacional, abrindo suas portas e mentes para um exercício denso de mapear a área, prospectar futuros e abraçar o mundo. Saiba mais: Media Lab/UFG: www.medialab.ufg.br SIIMI 2016: siimi2016.medialab.ufg.br
* Integrantes da equipe do Laboratório de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação em Mídias Interativas da UFG (Media Lab/UFG) O Jornal UFG não endossa as opiniões emitidas nos artigos, por serem de inteira responsabilidade de seus autores.
O novo edital, publicado em dezembro de 2015, apresenta mudanças que aproximam o Prolicen de outros programas de iniciação científica na UFG, especialmente no que tange ao
Coordenadora de Licenciatura e Educação Básica da UFG, Miriam Fábia Alves explica que, com as adequações, o Prolicen é incluído no Programa Institucional de Iniciação Científica e torna-se semelhante ao Pibic/Pivic, mantendo sua identidade como programa que visa à inserção dos estudantes da licenciatura na pesquisa, mas também na produção de conhecimento sobre a educação básica, locus de atuação dos futuros licenciados. Assim, “o Prolicen integra a iniciação científica da UFG, mantendo seus objetivos e identidade”, observa.
O Programa Na UFG, o Prolicen representa um esforço institucional na política de formação inicial de professores, uma vez que financia 65 bolsas para os estudantes das licenciaturas. Em conjunto com outras iniciativas do Governo Federal, como o Programa de Iniciação à Docência (Pibid) que visa introduzir o licenciando no contexto de sala de aula, participando de projetos pedagógicos em escolas da rede pública de ensino, o Prolicen atua diretamente na qualidade da formação ofertada nas licenciaturas, pois incentiva a participação de estudantes, por meio de concessão de bolsas, em pesquisas envolvendo a educação básica.
Reuben Lago
Em função disso, os próprios museus, instituições tradicionalmente empenhadas no resgate histórico, têm se transformado. O Museu do Futuro, em Linz, na Áustria, o Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, e ainda, o recém inaugurado Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, são exemplos de uma nova proposta expográfica não mais baseada na apresentação de um passado, mas de uma experiência com este passado por meio de dispositivos interativos. E a relação não é conduzida pelo olhar, como ocorria até então. O espectador é convidado a estabelecer conexões com novas camadas de informação. Mesmo que o conteúdo museográfico seja o passado, ele é projetado em moldes contemporâneos. Há, ainda, as experiências que não se calam na visualização de peças antigas ou únicas, mas que vislumbram nosso tempo e até o futuro.
Nesta mesma direção a UFG se instrumentaliza, a partir do Media Lab, na construção deste conceito contemporâneo de sociedade interativa e conectada, com o olhar à frente, para onde se vislumbra o devir. Com uma série de projetos que vão desde a economia criativa até a nova concepção do projeto museográfico do Museu Casa de Cora Coralina, na Cidade de Goiás, a equipe multidisciplinar de pesquisadores do Media Lab protagoniza a reinvenção do modus operandi da sociedade contemporânea. O Museu Casa de Cora Coralina receberá, a partir de abril, projeções e ambientes interativos como parte de uma reformulação de seu conceito: uma experiência com a poesia de Cora. Cinco ambientes serão reformulados, ampliando a base sensível da visita e incorporando a poesia como base essencial para compreender a poetisa goiana. A casa não é mais somente para ser vista, ela será poetizada e entregue à experiência com seu material mais rico: a poesia.
A identidade do Programa de Bolsas de Licenciatura (Prolicen) foi debatida no ano de 2015 na UFG, envolvendo o Comitê Assessor do Prolicen, a Pró-reitoria de Graduação (Prograd) e a Pró-reitoria de Pesquisa e Inovação (PRPI). Em vigor desde 1980, o programa vinha perdendo prestígio entre os estudantes da licenciatura, o que motivou as discussões visando, principalmente, recolocar o Programa em seu lugar de iniciação científica, uma vez que ele financia pesquisas que tenham vinculação com a educação básica.
processo de avaliação e seleção dos projetos contemplados com bolsa. Desta forma, espera-se que o Prolicen possa despertar o interesse de professores e estudantes das licenciaturas e ampliar o alcance do Programa em todas as Regionais da UFG.
Universidade
ARTIGO
Fotos: Adriana Silva
Extensão
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Xeque-mate pedagógico Apesar da pouca divulgação, esporte incentiva o raciocínio lógico e a concentração de estudantes
Anna Carolina Mendes
M
elhorar o raciocínio lógico e desenvolver habilidades do aluno na resolução de problemas sob pressão, além de aprimorar a agilidade de pensamento. Foi pensando nisso que o diretor da Faculdade de Direito da UFG, professor Pedro Sérgio dos Santos, resolveu criar na unidade a disciplina Introdução ao Xadrez. Ministrada pelo próprio diretor, a disciplina é oferta-
da como núcleo livre, possibilitando que alunos de outras unidades acadêmicas também possam cursá-la. Segundo Pedro Sérgio dos Santos, a interdisciplinaridade do jogo é um dos ganhos, pois os estudantes poderão aprender noções de táticas e estratégias que os ajudarão a pensar de forma crítica e elaborar formas diferentes de resolução de conflitos em seus futuros profissionais. “Nosso objetivo não é a formação
de jogadores em alto nível, mas introduzir o xadrez na vida do aluno que não conhece nada do universo desse jogo”, esclarece Pedro Sérgio dos Santos. Na disciplina, os alunos aprendem sobre o desenvolvimento do jogo ao longo da história e a relação entre o xadrez e outras áreas do conhecimento, como História, Artes, Cinema e Psicologia. “A meta no final do curso é deixar o aluno apto a jogar e se inserir nesse mundo”, explica. Para o professor, o Brasil, ainda que timidamente, tem introduzido o xadrez nos ensinos fundamental e médio como ferramenta pedagógica, aumentando a capacidade de concentração e o raciocínio dos alunos.
Federação de Xadrez
Criada em 1981, a Federação de Xadrez do Estado de Goiás divulga o xadrez no Estado, realizando parcerias com o meio escolar e acadêmico, ao promover campeonatos do jogo. “Estamos preocupados com o fomento da atividade. Incentivamos
o xadrez desde a escola até a universidade”, explica Renato Genovesi, vice-presidente da Federação. Ele acredita que o xadrez é um agente facilitador no meio educacional, aumentando a capacidade de raciocínio e de aprendizagem. Mesmo com as dificuldades de divulgação do esporte, Renato Genovesi acredita que a Federação tenha conseguido incentivar o xadrez em Goiás. “Temos conseguido divulgar e promover o xadrez no ambiente escolar”, afirma.
Simultânea
Uma das parcerias realizadas entre a Federação e a Faculdade de Direito resultou na I Simultânea de Xadrez, em dezembro de 2015. O evento teve a participação do mestre internacional de xadrez Leandro Perdomo, que jogou partidas simultâneas com 16 pessoas. A estudante de nutrição na UFG, Sulanne Oliveira, joga xadrez desde a adolescência e quis testar suas habilidades na Simultânea. “Eu não tenho com quem praticar o xadrez, espero que tenham outros torneios”.
Falta divulgação
Xadrez é capaz de auxiliar os estudantes a terem uma resposta rápida à resolução de conflitos
Praticado no mundo todo, o esporte ainda possui pouca divulgação no Brasil, o que faz com que os benefícios do xadrez não sejam aproveitados de forma eficaz. “Nos Estados Unidos temos inserção do xadrez de forma muito intensa nas universidades, inclusive em cursos de pós-graduação, lato sensu e stricto sensu”, informa Pedro Sérgio dos Santos. Para Leandro Perdomo, o xadrez carece de divulgação específica na mídia, que costuma deixar a importância pedagógica do esporte de lado. “Mesmo que o xadrez seja muito praticado no mundo todo, ele não aparece tanto como outros esportes”, lamenta.