Jornal ufg n77

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JORNAL ANO X – Nº 77 ABRIL 2016

na Educação? Confira a opinião de especialistas sobre a adoção das organizações sociais na gestão de escolas e suas

análises sobre o complexo cenário da educação brasileira. p.10 e 11

Pesquisas mostram que a Lobeira tem grande potencial para as indústrias alimentícia e farmacêutica p. 8

Reportagem esclarece mitos e verdades sobre hábitos e características do mosquito Aedes aegypti p. 9

Análises das Pró-reitorias de Pesquisa e de Pós-graduação evidenciam perfil da produção científica na UFG p. 13


JORNAL

EDITORIAL

A educação na agenda Michele Martins* Em diferentes abordagens, a educação foi o principal tema desta edição. A adoção de Organizações Sociais (OSs) para gerenciar escolas, a aplicação da Lei 13.146/2015 sobre a Inclusão da Pessoa com Deficiência, a análise da produtividade científica dos docentes da Universidade e o reconhecimento da excelência de cursos de graduação na UFG são alguns dos assuntos que selecionamos para os nossos leitores. O destaque ficou com a reportagem sobre o projeto de Organizações Sociais na rede estadual de ensino do Estado de Goiás. Buscamos dados e avaliações sobre o problema do montante de recursos destinados ao financiamento do ensino público no país e a especificidade da gestão da educação. É bom lembrarmos que, de acordo com dados do Education at a Glance – Panorama da Educação 2013, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil investe de três a cinco vezes menos que outros países que oferecem boas condições de oferta educacional. A adoção das OSs mobilizou movimentos de estudantes que encabeçaram as principais manifestações contrárias à proposta do governo. Manifesta-

ções estas que foram marcadas por uma postura de embate direto com o Estado. Esta postura de engajamento dos jovens e a forma como eles se relacionam com o mundo real é o que motiva o cientista social português, José Machado Pais, a eleger a juventude como tema de pesquisa em sua carreira. “Eles estão na vanguarda de uma revolução no mundo da comunicação”, declarou o estudioso. Na entrevista desta edição, José Machado Pais esclarece alguns pontos sobre a relação dos jovens frente a uma pluralidade de fontes de informação e sua percepção da realidade que os cercam.

Outro assunto de interesse para a comunidade acadêmica é a matéria “Docente e pesquisador: profissões que se cruzam”, sobre o perfil da produção científica e da pesquisa realizada na UFG. A partir da análise de dados foi possível conhecer como é feita a produção científica na UFG e o perfil do docente pesquisador, abrindo assim, caminhos para pensar, em um futuro próximo, em políticas para o aumento da quantidade e qualidade dessa produção. E é também o que o Jornal UFG espera: que a discussão desses assuntos, dentro e fora da universidade, gere melhorias na educação brasileira. Boa leitura! *Coordenadora de Imprensa da Ascom

COMUNIDADE PERGUNTA Arquivo Pesssoal

Universidade

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Kaito Campos de Novais, 21 anos, estudante de Jornalismo na Faculdade de Informação e Comunicação (FIC)

A UFG possui uma coordenação de transferência e inovação tecnológica. Mas, o que é transferência tecnológica? É transferir tecnologias da universidade para a sociedade. A UFG reúne uma grande quantidade de conhecimento científico e tecnológico e tem estrutura e competências em pesquisas que estão permanentemente produzindo novas descobertas e desenvolvimento em diferentes campos do saber. Trata-se de tecnologias que têm utilidade para governos, empresas e demais atores sociais. Transferir a tecnologia é fazer com que ela chegue até estas organizações com potencial para utilizá-la na solução de problemas, no desenvolvimento de novos produtos ou aprimoramento de processos.

Existem diferentes formas de transferência. Licenciamento de tecnologias patenteadas,

Independente da forma de transferência utilizada, existem procedimentos que devem ser seguidos para garantir que as partes envolvidas – a universidade de um lado e a organização parceira do outro – alcancem os seus respectivos objetivos com o processo. A Coordenação de Transferência e Inovação Tecnológica (CTIT) pode ajudar pesquisadores, empresas e outros interessados no esclarecimento e formalização destes procedimentos. A CTIT é responsável pelas ações de propriedade intelectual, transferência de tecnologia, empreendedorismo e inovação na UFG. Nosso papel é facilitar e fazer com que essas relações aconteçam em maior número possível. Neste contexto, a Coordenação executa ações de promoção do empreendedorismo e da inovação, registro de patentes, softwares e desenho industrial derivados das tecnologias desenvolvidas por pesquisadores da UFG, bem como a negociação de termos de cooperação técnica e acordos de transferência de tecnologia e de pesquisa e desenvolvimento entre a UFG, empresas e órgão públicos. Camila Caetano

Por exemplo, tecnologias da universidade podem ser importantes para que um governo municipal resolva algum entrave em seu sistema de saúde ou para que uma empresa melhore o processo de produção de um determinado produto. No primeiro caso, o resultado é um serviço de maior qualidade para o cidadão. No segundo, um processo produtivo que utilize menos recursos e gere menos resíduos poluentes. Transferir tecnologias é, dessa forma, proporcionar que o conhecimento produzido na universidade se transforme, inicialmente nas organizações que as recebem, em soluções e inovações e, no segundo momento, em mais desenvolvimento econômico e social.

projetos colaborativos com empresas, prestação de serviços, cursos, consultorias e apoio à criação de empresas tecnológicas são algumas delas. Esta última modalidade, o apoio à criação de empresas, é uma modalidade cada vez mais valorizada pelas universidades por permitir que as tecnologias sejam utilizadas por empreendedores da região, muitos deles egressos da instituição, que instalam suas empresas em áreas geográficas próximas da universidade e geram renda e emprego local.

Cândido Borges, Coordenador de Transferência e Inovação Tecnológica da UFG

Publicação da Assessoria de Comunicação Universidade Federal de Goiás ANO X – Nº 77 – ABRIL DE 2016 – Universidade – Reitor: Orlando Afonso Valle do Amaral; Vice-reitor: Manoel Rodrigues Chaves; Pró-reitor de Graduação: Luiz Mello de Almeida Neto; Pró-reitor de Pós-Graduação: José Alexandre Felizola Diniz Filho; Pró-reitora de Pesquisa e Inovação: Maria Clorinda Soares Fioravanti; Pró-reitora de Extensão e Cultura: Giselle Ferreira Ottoni Cândido; Pró-reitor de Administração e Finanças: Carlito Lariucci; Pró-reitor de Desenvolvimento Institucional e Recursos Humanos: Geci José Pereira da Silva; Pró-reitor de Assuntos da Comunidade Universitária: Elson Ferreira de Morais. – Jornal UFG – Coordenadora de Imprensa: Michele Martins; Editora: Kharen Stecca; Editora-assistente: Angélica Queiroz; Conselho editorial: Angelita Pereira de Lima, Cleomar Rocha, Estael de Lima Gonçalves (Jataí), Luís Maurício Bini, Pablo Fabião Lisboa, Reinaldo Gonçalves Nogueira, Silvana Coleta Santos Pereira, Thiago Jabur (Catalão) e Weberson Dias (Cidade de Goiás); Suplente: Mariana Pires de Campos Telles; Projeto gráfico e editoração: Reuben Lago e Lucas Botelho; Fotografia: Carlos Siqueira; Reportagem: Angélica Queiroz, Luiz Felipe Fernandes e Serena Veloso; Revisão: Fabiene Batista e Bruna Tavares; Bolsistas: Adriana Silva e Victor Martins (Fotografia); Impressão: Centro Editorial e Gráfico (Cegraf ) da UFG; Tiragem: 7.000 exemplares

ASCOM Reitoria da UFG – Câmpus Samambaia Caixa Postal: 131 – CEP 74001-970 Goiânia – GO Tel.: (62) 3521-1310 /3521-1311 www.ufg.br – www.ascom.ufg.br jornalismo.ascom@ufg.br @ufg_oficial

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uma juventude mais escolarizada, se comparada com as gerações anteriores. Os jovens com maior escolaridade, atuando em profissões liberais, tenderão a combinar capacidades profissionais e técnicas, relacionadas com as novas tecnologias de informação. Eles já fazem parte de uma nova categoria socioprofissional – os chamados jovens profitécnicos. Eles valorizam a flexibilidade e a qualidade do trabalho, o ganho que significa não dependerem de horários rígidos. Esta rebeldia e inconformismo constituem um traço cultural que não se pode desprezar, associado a valores pós-materialistas, onde a valorização da segurança do emprego dá espaço à valorização da realização profissional e pessoal e aos valores da autonomia. Mas estes precários de elite, como Guy Standing os designa, coexistirão com os precários por exclusão. As bolsas de miséria continuarão a existir. Vivemos no Brasil um movimento de ocupação das escolas por jovens estudantes numa tentativa de mostrar a discordância com as ações do governo. É possível dizer se houve mudança no perfil de engajamento dos jovens hoje?

Jovens conectados buscam maior participação política Angélica Queiroz

J

osé Machado Pais é cientista social, investigador e coordenador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. Desde a década de 80, analisa a juventude e é uma das maiores referências mundiais na área. O especialista esteve na UFG em janeiro, onde ministrou conferência sobre pesquisa com jovens e conversou com o Jornal UFG. Quando o assunto juventude começou a chamar a sua atenção?

Quando era jovem sempre tive apetência por observar o que se passava à minha volta. Tocava viola ritmo em um conjunto musical, o Song’s Boys, que animava bailes em coletividades frequentadas por jovens. No palco, como os acordes musicais saíam automatizados, minha atenção dirigia-se para o salão de dança. Eu observava os rituais de aproximação, as estratégias de sedução, o movimento dos corpos que se aproximavam ou repeliam, carícias fugidas ao controle zeloso de algumas mães e tias, trocas comprometedoras de olhares. Creio que aí começou a nascer o meu interesse pelos enredos interacionistas que dão vida ao mundo das culturas juvenis. O interesse por pesquisar jovens a sério veio posteriormente, nos anos 80, quando já era pesquisador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. Mas nunca perdi a tentação de olhar para as culturas juvenis na lógica de descoberta proposta por Paulo Freire, a chamada curiosidade espontânea. Como o senhor avalia a diferença entre as demandas da juventude no Brasil e na Europa?

Tomando dados do Primeiro Inquérito Ibero-Americano de Juventudes, de 2013, constatamos que os jovens portugueses são os que mais se preocupam com problemas de emprego e economia, justamente por efeito da depressão econômica que o país tem vivido. Em contrapartida, os jovens brasileiros revelam maior preocupação em relação aos problemas da delinquência, da violência e das drogas. No entanto, a atual crise econômica no Brasil pode gerar uma maior conscientização dos jovens brasileiros em relação aos problemas econômicos do país. A precariedade de emprego poderá agravar-se, mostrando uma realidade que é estrutural no continente sul-americano.

Houve uma mudança de comportamento da juventude com o uso exacerbado da tecnologia. A escola tem conseguido acompanhar essa evolução? As novas tecnologias de comunicação e informação, orientadas para o ensino, constituem um recurso pedagógico com imensas potencialidades. No entanto, se não forem usadas com critério, essas novas tecnologias podem induzir consumos alienantes, acríticos e superficiais. Muitos jovens se limitam a surfar na crista das ondas de informação. A abundância inesgotável de informação e entretenimento que a Internet proporciona leva muitos jovens a viverem numa ordem social que privilegia o aleatório, o fragmentário. No entanto, temos outros jovens que se servem das novas tecnologias para afirmarem sua cidadania, por exemplo, por meio da constituição de blogs, gerando novas formas de participação cívica. Eles estão na vanguarda de uma revolução no mundo da comunicação. A escola não deve estar alheia a essas realidades, devendo atuar como uma plataforma capaz de dar o nó a uma pluralidade de fontes de informação, de percursos de aquisição de conhecimentos. Só desse modo seremos capazes de assegurar uma educação realista e para a realidade, isto é, não divorciada da vida.

Estamos perante manifestações que mostram o claro desejo por parte de alguns jovens em participarem de uma realidade e um destino comum que lhes diz respeito

Avaliando o perfil da juventude atual é possível dizer qual o perfil de adultos teremos em alguns anos? Se não houver uma virada inesperada nas políticas educacionais orientadas para uma maior democratização no acesso ao ensino, teremos futuramente

Segundo o Inquérito Ibero-Americano de Juventudes, os jovens brasileiros são os mais insatisfeitos em relação ao funcionamento da democracia. Esta é uma das possíveis explicações para o surgimento de novas formas de mobilização juvenil. O movimento de ocupação das escolas, assim como o crescente envolvimento dos jovens em outros recentes movimentos sociais traduz um desejo de participação que não exclui o voto democrático, mas vai muito além do simples voto. O acesso às novas tecnologias de comunicação é outra variável relevante para explicar o envolvimento dos jovens nestes movimentos. Elas oferecem aos jovens um maior acesso à informação e oportunidades de ação, promovendo a partilha e o debate de ideias, criando um sentimento subjetivo de empoderamento. Estamos perante manifestações que mostram o claro desejo por parte de alguns jovens em participarem de uma realidade e um destino comum que lhes diz respeito. Eles reivindicam ter uma palavra sobre ações políticas que mexem com suas vidas. Estamos perante novas formas de exercício da cidadania que desafiam os marcos de participação política convencional e institucionalizada. Em Ganchos, tachos e biscates. Jovens, trabalho e futuro, o senhor realizou uma série de entrevistas com jovens com histórias de vida diferentes para conhecer suas dificuldades de emprego e sobrevivência. Como foi essa experiência?

Foi uma experiência de aprendizagem. Aprendi que as trajetórias de vida dos jovens se encontram numa verdadeira encruzilhada de destinos que lhes provoca, por vezes, um sentimento de enorme confusão e perda. Às vezes imagino jovens desempregados como passageiros que afluem a uma estação rodoviária fantasma, onde não se sabe a que horas chega o ônibus, nem qual o seu destino. Surgem, depois, funcionários solícitos vendendo títulos de transporte e promessas de que o ônibus está chegando. Assim, se encontram alguns jovens à espera de emprego: com títulos acadêmicos, ansiosos por embarcar, mas sem saberem quando chega o transporte e para onde ele vai. Nestas estações-fantasma, a espera é uma temporalidade que alimenta o desespero. Outros querem embarcar, mas encontram-se desprovidos de título de transporte. Talvez imaginem apanhar carona de alguém. Outros jovens se adaptam às condições de imprevisibilidade e aleatoriedade que pautam suas trajetórias de vida. A própria precariedade de emprego é vista, por alguns, como uma oportunidade de se adquirir experiência. Há ainda os que se envolvem em atividades de substituição ao estatuto de desemprego, descobrindo a sua “verdadeira vocação” em profissões artísticas, semi-artísticas ou criativas, para além dos que, com sucesso, montam o seu pequeno negócio. Outros se veem em situações de exclusão social.

Entrevista José Machado Pais

Victor Martins

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Universidade

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UFG tem novo sistema de acesso à internet Rede sem fio pode ser usada por estudantes, professores e servidores por meio do login único Luiz Felipe Fernandes

U

m novo sistema de acesso à internet sem fio (Wi-Fi) está sendo gradativamente implantado pelo Centro de Recursos Computacionais (Cercomp) em toda a Universidade Federal de Goiás (UFG). A Eduroam (Education roaming) proporciona conexão segura e gratuita com nome de acesso (login) e senha únicos. Com isso, o acesso à internet será automático em computadores e dispositivos móveis (tablets e smartphones) em todos os locais em que o sistema estiver implantado.

A rede Eduroam pode ser acessada por estudantes, professores e servidores da UFG, por meio do login único obtido no Portal UFGNet, seguido de @ufg.br. A senha é a mesma usada para acessar o Portal (confira o passo a passo). Como se trata de um serviço desenvolvido pela comunidade internacional com finalidade educativa e de pesquisa, a conexão pode ser feita em qualquer lugar do mundo onde a rede esteja disponível. O diretor do Cercomp, professor Cedric Luiz de Carvalho, ressalta que a nova rede é muito mais confiável e segura. Ele explica que a implantação está sendo feita à medida que os

equipamentos são adquiridos. “Unidades que têm recursos próprios podem adquirir os equipamentos apropriados, segundo especificação feita pelo Cercomp”, acrescenta.

A estudante de Artes Visuais Greice Aguiar costuma acessar a rede Eduroam em sua unidade acadêmica, na Biblioteca Central e em alguns pontos do Câmpus Colemar Natal e Silva, na Praça Universitária. “É muito útil e ficou até melhor agora que tem só uma senha”. Ela avalia que a perspectiva de universalizar o sistema em toda a UFG é ainda mais positiva, já que não seria necessário ir a pontos específicos para conectar à internet. Instituições de 60 países já aderiram ao sistema. No Brasil, a Eduroam foi lançada em 2012 e disponibilizada para a UFG por meio da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa, uma Organização Social ligada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Com o objetivo de promover o desenvolvimento tecnológico e apoiar a pesquisa de tecnologias de informação e de comunicação, a RNP fornece às instituições públicas de pesquisa e de ensino superior e tecnológico infraestrutura de redes avançadas que viabiliza e facilita a pesquisa colaborativa em diversas áreas do conhecimento.

Como conectar? 1. No Portal UFGNet (www.ufgnet.ufg.br), no ícone “Criar Login Único”, faça o cadastro para obter um login e uma senha. O cadastro está disponível para estudantes, professores e servidores da UFG. Servidores terceirizados devem procurar o Departamento do Pessoal, no prédio da Reitoria, para saber se já estão cadastrados como colaboradores, o que possibilita a criação do login único. 2. O segundo passo é configurar o aparelho de acordo com o sistema operacional. Android - No menu configurações entre na opção Wi-Fi e selecione a rede Eduroam. - Na janela de configurações preencha os dados da seguinte forma: Método de EAP: PEAP Autenticação de fase de 2: MSCHAPV2 Certificação de CA: (Não especificado) Certificados de usuário: (Não especificado) Identidade: “login único”@ufg.br Identidade anônima: não preencher Senha: a mesma criada no Portal UFGNet - O Cercomp não oferece suporte para iOS, portanto não há homologação com relação a esse sistema. Entretanto, a Eduroam também pode ser acessada pelos dispositivos da Apple, da mesma forma que os do Android.

Locais de cobertura Algumas unidades já possibilitam o acesso pela Eduroam em algumas de suas dependências, mas o objetivo é ampliar o acesso a toda UFG. REGIONAL GOIÂNIA Câmpus Samambaia Escola de Música e Artes Cênicas (Emac) Faculdade de Artes Visuais (FAV) Centro de Cultura e Eventos Prof. Ricardo Freua Bufáiçal Faculdade de Letras (Cine UFG) Instituto de Física (IF) Instituto de Química (IQ) Escola de Veterinária e Zootecnia (EVZ) Faculdade de História (FH) Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada a Educação (Cepae) Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos (EA) Instituto de Estudos Sócio-Ambientais (Iesa) Instituto de Ciências Biológicas (ICB I, III e IV) Centro de Aulas Aroeira Faculdade de Educação Física e Dança (FEFD) Centro de Convivência (CC) Biblioteca Central (BC) Casa do Estudante Universitário V (CEU-V) Reitoria Câmpus Colemar Natal e Silva Centro de Aulas D Centro Cultural UFG Departamento de Desenvolvimento de Recursos Humanos (DDRH) Escola de Engenharia Elétrica, Mecânica e de Computação (EMC) Faculdade de Direito (FD) Biblioteca Seccional Campus I (BSCAMI) Centro de Recursos Computacionais (Cercomp) REGIONAL JATAÍ Câmpus Jatobá Prédio da Biomedicina e Enfermagem Biblioteca Seccional Regional Jataí Unidade Jatobá (BSREJ Jatobá) Prédio Engenharia Florestal Prédio das Ciências Biológicas e da Saúde Prédio das Exatas Prédio da Fisioterapia Bloco IV Bloco V Gabinete dos professores I Administração Prédio das Humanas Bloco de Professores II Câmpus Riachuelo Biblioteca Seccional Regional Jataí Unidade Riachuelo (BSREJ Riachuelo) Casarão REGIONAL CATALÃO Bloco Didático I Bloco Didático II Biblioteca Seccional da Regional Catalão (BSRC) Edifício de Pesquisa e Pós-graduação (Bloco L) Prédio Administrativo Auditório Paulo de Bastos Perillo REGIONAL GOIÁS Unidade Acadêmica Especial de Ciências Sociais Aplicadas

Con fi a p a ra o p a s sso so d o C n o s i te erco mp


Adriana Silva

Resultados obtidos no Enade atestam qualidade da formação oferecida pela UFG

Estudante de Arquitetura, Bruno Portilho Neves ressalta importância do comprometimento do aluno com os estudos Luiz Felipe Fernandes

T

odos os anos, acadêmicos da Universidade Federal de Goiás (UFG) se destacam no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), contribuindo para que vários cursos de graduação obtenham conceito igual ou maior que três (numa escala de um a cinco). O último resultado divulgado pelo Ministério da Educação (MEC), relativo às provas realizadas no fim de 2014, mostra que, dos cursos avaliados naquele ano, 42 tiveram desempenho positivo. Cinco deles receberam o conceito máximo. São eles: Arquitetura e Urbanismo, Física (bacharelado), Ciências da Computação (bacharelado), Engenharia Civil e Engenharia Mecânica, todos em Goiânia.

O Enade, promovido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), mede o desempenho dos estudantes em relação aos conteúdos programáticos previstos nas diretrizes curriculares do respectivo curso de graduação e as habilidades e as competências em sua formação. Ele integra o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes) e todos os anos o MEC define quais cursos serão avaliados. Os coordenadores dos cursos da UFG mais bem avaliados no Enade são unânimes em dizer que o resultado positivo é consequência de uma série de fatores: estudantes empenhados e professores qualificados, além de pesquisas e projetos que contribuem para o aprendizado. “Procuramos formar um profissional mais completo, tecnicamente competente, mas que também tenha capacidade crítica, equilibrando a prática e a teoria”, explica o coordenador de Arquitetura e Urbanismo, Bráulio Romeiro. Ele ressalta que, apesar de ser um curso recente, a primeira turma formou-se em 2013, desde o início já havia um grupo de pesquisa organiza-

do. Há dois anos também foi estruturado um programa de pós-graduação que passou a oferecer o mestrado, que já está formando suas primeiras turmas. Prestes a encarar o mercado de trabalho na área de Arquitetura, o estudante Bruno Portilho Neves, 22, garante que, apesar da apreensão de passar do mundo acadêmico para o profissional, se sente preparado. “A Universidade e os professores da UFG se empenham muito para que o ensino seja passado da melhor forma possível, para que o aluno realmente aprenda, e isso é muito importante”. Ele considera que o comprometimento do aluno é essencial. Durante o curso, Bruno Neves participou de dois projetos de pesquisa – um deles premiado pela UFG – e, junto com outros colegas, ficou em segundo lugar em um concurso nacional de projetos estudantis.

Comprometimento

“Os estudantes foram muito comprometidos com a nossa instituição em relação à participação no Enade, o que mostra que, além da formação técnica, também estão tendo uma formação pessoal e profissional importante”, destaca o professor Felipe Pamplona Mariano, que coordenou o curso de Engenharia Mecânica até fevereiro deste ano. A graduação começou a ser oferecida pela UFG em 2009.

Mesmo com as dificuldades do início, o coordenador afirma que projetos como o Engenharia nas Escolas e o Espaço das Profissões motivam os alunos. O próximo passo é propor a abertura de um programa de pós-graduação. Felipe Mariano acrescenta que o resultado do Enade também reflete os procedimentos adotados em sala: “As aulas são expositivas, o material didático são livros e textos específicos das disciplinas e os métodos de avaliação são as provas e os projetos”.

Além da qualificação do corpo docente, a coordenadora de Ciências da Computação, Taciana Novo Kudo, ressalta que o projeto pedagógico do curso está consolidado e compreende os principais aspectos cobrados pelo Enade. Ela pontua outras iniciativas, como monitoria para acompanhar os alunos nas disciplinas com maior índice de retenção e a participação ativa dos estudantes na Maratona Brasileira de Programação. Ela acredita que o fato de o curso de Ciências da Computação ser de período integral e exigir bastante envolvimento, os estudantes acabam se comprometendo com o aprendizado: “O próprio curso exige dedicação aos estudos para que o aluno chegue à fase concluinte”, ressalta.

Também é assim com outro curso nota máxima no Enade – o bacharelado em Física. Trata-se de um curso difícil, tradicionalmente com pouco número de concluintes. “O nível de exigência do curso é alto e apesar de todos os esforços dos professores no sentido de maximizar o aprendizado dos alunos, eles precisam de um alto nível de dedicação e comprometimento com o curso, senão não conseguem chegar até o fim”, explica o professor Herbert Georg, coordenador do curso à época da realização do Enade de 2014. Segundo Herbert Georg, os principais fatores que explicam o conceito atingido pelos estudantes são a qualidade e o engajamento do corpo docente.

Todos os 49 professores do Instituto de Física da UFG são doutores, 17 são bolsistas de produtividade em pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a maior parte está envolvida com pesquisa e pós-graduação. “São professores preocupados em preparar suas aulas com esmero e que buscam constantemente maneiras de aprimorá-las”, acrescenta o professor.

Acima da média

Outro dado positivo é o que mostra que mais da metade dos cursos da UFG avaliados no último Enade obtiveram resultados maiores que a média nacional. Estudantes de 37 graduações, quase 57% do total, conseguiram notas superiores à média dos respectivos cursos avaliados nas demais instituições de ensino superior. Foram 23 em Goiânia, oito em Jataí e seis em Catalão. O bom desempenho dos estudantes da UFG também foi atestado em cursos avaliados em anos anteriores. Em 2013, obtiveram conceito cinco no Enade os cursos de Medicina e Enfermagem, ambos em Goiânia. Em 2012, a nota máxima foi obtida pelos acadêmicos dos cursos de Direito (Goiânia e Cidade de Goiás), Administração (Goiânia e Catalão), Publicidade e Propaganda e Ciências Contábeis (ambos de Goiânia).

O Enade é componente curricular obrigatório registrado no histórico escolar. Até 2014, estudantes ingressantes e concluintes faziam a prova. No ano passado participaram apenas os que estavam concluindo sua formação. Confira os cursos da UFG que obtiveram conceito cinco nos últimos anos:

2010

Enfermagem Medicina Farmácia Nutrição * todos na Regional Goiânia

2011

Ciências Sociais (bacharelado) – Goiânia Ciências Sociais (licenciatura) – Goiânia Ciências da Computação (bacharelado) – Goiânia Filosofia (bacharelado) – Goiânia Química (licenciatura) – Catalão

2012

Administração – Goiânia Administração – Catalão Ciências Contábeis Direito – Goiânia Direito – Cidade de Goiás Publicidade e Propaganda – Goiânia

2013

Enfermagem Medicina * todos na Regional Goiânia

2014

Arquitetura e Urbanismo Ciências da Computação (bacharelado) Engenharia Civil Engenharia Mecânica Física (bacharelado) * todos na Regional Goiânia

Universidade

Alunos nota 10

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Mesa-redonda

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Estatuto da Pessoa com Deficiência em debate Ascom, Rádio Universitária e TV UFG

Em janeiro deste ano entrou em vigor a Lei 13.146/2015, que dispõe sobre a Inclusão da Pessoa com Deficiência. Também conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência, esta lei pretende assegurar e promover os direitos e as liberdades fundamentais da pessoa com deficiência, visando sua inclusão social e cidadania. Os artigos que mais têm gerado discussão referem-se à educação. De acordo com a Lei, a educação constitui direito da pessoa com deficiência, assegurando sistema educacional inclusivo em todos os níveis de aprendizado, ao longo de toda a vida. Pela nova lei, as escolas particulares também devem receber alunos com qualquer grau de deficiência e oferecer a eles recursos de acessibilidade que eliminem as barreiras e promovam a inclusão plena, sem cobrar nada a mais por isso.

Para conversar sobre essa polêmica, convidamos a mãe da Valentina, uma jovem com Síndrome de Down, Joyce Rodrigues; o Presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de Goiás (Sinepe), Krishnaaor Ávila; e o titular da Secretaria de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social do Ministério da Ciência e Tecnologia e ex-reitor da UFG, Edward Madureira Brasil. Você pode participar das próximas mesas-redondas enviando sugestões de temas e convidados pelo telefone: 3521-1311 ou jornalismo.ascom@ufg.br

Confira os vídeos do Programa Conexões no QR Code ao lado.

O que vocês acham da ideia de alunos com qualquer grau de deficiência estarem em salas de aula regulares? Isso é um ganho para a educação dessas crianças? Joyce Rodrigues – Com certeza, a socialização deve acontecer naturalmente. A inclusão tem que acontecer na sociedade e a escola, como um espaço da sociedade, não pode ser diferente. As necessidades pedagógicas específicas devem ser atendidas, mas dentro de um planejamento. Penso que isso traz uma qualidade melhor para todo cidadão. Um cidadão que respeita a lei de inclusão é aquele que teve uma formação e conscientização nesse sentido. E isso é bom para todo mundo. Krishnaaor Ávila – É extremamente importante que o portador de deficiência tenha a oportunidade de conviver com o aluno, digamos, sem nenhuma deficiência. Essa convivência é salutar e contribui para a melhoria da aquisição do conhecimento do portador de deficiência. A observação é que, nesse caso, é necessário que a escola esteja dotada tanto de aparelhos quanto de recursos humanos para prestar um excelente serviço a fim de que não haja nenhuma falha nesse procedimento.

Edward Madureira – Acho que avançamos muito com a aprovação de uma lei que prevê esses direitos, é um sinal de uma nova política em relação às pessoas com deficiência, de um novo marco legal e pedagógico. É claro que isso é um desafio para todos. Na época em que eu estava à frente da UFG, tivemos essa experiência com a chegada de alunos com vários tipos de deficiência. Isso é um desafio para a universidade, para a instituição de ensino, para o professor, para a família, para os estudantes e, claro, isso oportuniza um crescimento mútuo. Todos os desafios trazem dificuldades, mas precisamos entender que o país fez uma opção. E que bom que fez, que bom que aderiu à convenção internacional do cuidado das pessoas com deficiência. Temos muito que discutir e aprimorar, mas é um avanço.

As escolas estão preparadas para receber esses alunos? A UFG está?

Edward Madureira – Como isso é muito novo, temos muito o que avançar. Desde a adequação de determinados espaços em relação à acessibilidade, as tecnologias que avançam a cada momento e precisam ser atualizadas e a contratação de profissionais, que é sempre uma dificuldade. A UFG avançou com a consolidação do Núcleo de Acessibilidade, que vem se aprimorando. É um caminho. Um caminho que gostaríamos que percorréssemos mais rápido. Fazendo um paralelo, sonhamos com uma universidade sem reserva de vagas, sem cotas, mas para isso temos que ter uma educação básica de qualidade em todas as escolas, sejam públicas ou privadas. Da mesma forma sonhamos com um país onde não precisemos mais falar de inclusão, onde ela passe a ser uma rotina na vida das pessoas e não tenhamos que ter cuidados especiais, que isso seja absolutamente incorporado por todos. Mas estamos ainda distantes disso e

tenho certeza de que com essa discussão avançaremos um pouco mais.

Krishnaaor Ávila – Eu peço licença para tecer um comentário a respeito da Lei: a lei é excelente, extremamente importante, talvez tardia, porém sem ter sido precedida de um estudo em relação ao tema. O Brasil ainda está devendo o conhecimento sobre a real situação da pessoa portadora de necessidades. Não temos um levantamento específico sobre todos os portadores de necessidades especiais no país. Temos um levantamento da Organização Mundial de Saúde, de 1999, que situa entre os países em desenvolvimento, cerca de 10% da população portadora de algum tipo de deficiência – 50% de deficientes mentais, 20% de deficientes físicos, 15% de deficientes auditivos, 5% de deficientes visuais e 10% de deficiências múltiplas. O Brasil não tem esse levantamento específico. Isso sem falar que temos inúmeras variações dentro da própria deficiência. A Constituição Federal, ao estabelecer a oportunidade da educação privada atuar também na educação, pelo Artigo 209 da Constituição, abriu a oportunidade de que fosse livre à iniciativa privada atuar na educação pública atendendo a apenas dois requisitos: autorização do poder público e obediência às normas nacionais da educação previstas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB). Pois bem: quando as escolas se estabeleceram, sob o crivo dessa lei, criaram o seu projeto político-pedagógico sob as normas da educação nacional. Essas escolas tinham a oportunidade de optar por qual tipo de educação gostariam de atuar. A maioria não se habilitou para receber alunos portadores de deficiência porque o Artigo 208 da Constituição estabelece que é função primordial do estado atender ao portador de deficiência.

Joyce Rodrigues

A ciência está ai, os estudos, as pesquisas, as prateleiras estão cheias de teses e dissertações sobre inclusão e ela não está acontecendo

Demoraria muito para as escolas se adaptarem a essa nova realidade? Krishnaaor Ávila – Temos enormes problemas. Primeiro, não temos profissionais habilitados suficientes para atender essa demanda. Segundo, a escola a partir de janeiro já é obrigada, porque a lei assim determina, a receber aluno com qualquer tipo de necessidade especial. A escola não está preparada para isso, não tem como se planejar e, como não pode cobrar, não pôde prever na sua planilha de custos o que seria necessário. A escola não pode se negar, mas


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Fotos: Carlos Siqueira

Krishnaaor Ávila

A finalidade dessa ação é mostrar à sociedade e ao nosso legislativo que a função de custear o atendimento ao portador de necessidade especial é previsão constitucional do estado... e não pode delegar a escola privada a obrigação de fazê-lo

É difícil encontrar uma escola, seja pública ou privada, apropriada para lidar com as dificuldades e potencialidades desse aluno com necessidades especiais? Joyce Rodrigues – É uma realidade cruel, na verdade. É muito difícil, diversas questões são levantadas: desde as claramente colocadas até as que são veladas. Eu vejo que a inclusão deveria ser natural e se hoje as escolas têm essa deficiência, é fruto da sociedade que também está deficiente. Falta mudarmos o nosso ponto de vista. Em Belo Horizonte (MG), eu conheci uma socióloga que tem um centro de reabilitação e encaminha muitos jovens com Síndrome de Down e outras necessidades pedagógicas específicas para o mercado de trabalho. Vamos pensar no caso de uma indústria, por exemplo, que tem máquinas que produzem um barulho ensurdecedor. A lei trabalhista ampara o trabalhador para que os seus turnos sejam com determinados intervalos de tempo a fim de não afetar a audição. Se o trabalhador é um deficiente auditivo, por exemplo, ele pode atuar naquela função sem ser considerado deficiente. Então, se mudarmos

o ponto de vista, ele tem um potencial a mais. Quem tem Síndrome de Down tem uma tendência natural a ser perfeccionista, metódico, e esse encaminhamento para o mercado de trabalho em gráficas, por exemplo, é tranquilo. A questão é oportunidade. A sociedade como um todo está atrasada. Se há quinze anos se estuda uma lei, imagino que haja um lobby terrível contrário a isso, porque já deveria existir a muito tempo, pois as pessoas estão na sociedade. Há uma variedade muito grande, mas há também possibilidades muito grandes. A ciência está ai, os estudos, as pesquisas, as prateleiras estão cheias de teses e dissertações sobre inclusão e ela não está acontecendo.

Edward Madureira – Na Universidade há um esforço muito grande, especialmente do nosso Núcleo de Acessibilidade, apesar de que muitas vezes também nos faltam os meios, sejam recursos materiais ou humanos. É um processo que absolutamente não acontece de uma hora para a outra. Eu entendo a apreensão do Sinepe, mas a nossa experiência mostra que esse é um processo gradativo de muita aprendizagem. Aos poucos isso será absorvido. Seremos melhores com o tempo. Lembro-me do Lucas, um aluno de Ciências da Computação, com perda total da visão, que eu tive o privilégio de acompanhar no dia da prova de vestibular. Os professores leitores já se impressionaram com ele naquela ocasião. Ele passou pela Universidade, eu tive o privilégio de entregar o diploma para ele e depois eu o encontrei como servidor do Ministério Público Federal. É um exemplo de superação e de que todo o esforço, dificuldade e atenção dos professores em lidar com um aluno 100% sem visão, foram recompensadores. O Ministério da Ciência e Tecnologia, especificamente a pasta em que eu estou à frente, trabalha com tecnologia assistiva. O Brasil tem hoje mais de 50 núcleos de tecnologia assistiva nas mais diferentes instituições onde estão sendo desenvolvidas coisas maravilhosas para melhorar a vida dessas pessoas. Se nós conseguimos fazer a academia dialogar com a empresa e transformar todas essas tecnologias em produtos, certamente esses produtos, que hoje são importados, podem ser em breve produzidos aqui, desenvolvidos pelos nossos pesquisadores e cientistas. Precisamos fazer esse diálogo entre empresas e universidades, porque as soluções estão nas prateleiras, nos laboratórios. Vi coisas fantásticas sendo produzidas e sou muito otimista. A inclusão será um processo natural na nossa sociedade.

A Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino entrou com uma ação direta de inconstitucionalidade contra a lei da inclusão plena. Mas, como as escolas particulares estão cumprindo a lei?

Krishnaaor Ávila – Apenas para que fique claro, a Confederação e também todas as escolas particulares do Brasil, não são, em absoluto, contra a Lei da Inclusão. Pelo contrário, nós somos favoráveis a todo tipo de iniciativa que vise à inclusão e esperamos chegar nesse patamar em que a inclusão seja um processo natural. Essa ação é contra o Parágrafo I, que atribui à escola deliberadamente que assuma qualquer tipo de portador de necessidade especial, que não recuse a matrícula e que, sob suas expensas, mantenha toda a atividade de assistência necessária a esse portador. Ou seja, ela não poderá cobrar absolutamente nada além da mensalidade normal. Se houvesse uma oportunidade de planejamento, se a escola pudesse prever que tipo de portador de necessidade ela iria ter que matricular no ano seguinte, poderia entrar na sua planilha e o custo adicional poderia ser distribuído aos demais alunos. Mas nem isso é possível porque o planejamento é feito em setembro/

outubro de cada ano e a escola não sabe a priori que tipo de aluno terá que receber. O estado não pode avançar no direito da empresa privada, que é a escola particular, como outra atividade econômica qualquer. A finalidade dessa ação é mostrar à sociedade e ao nosso legislativo que a função de custear o atendimento ao portador de necessidade especial é previsão constitucional do Estado que precisa se aparelhar mais e não pode delegar à escola privada a obrigação de fazê-lo. A escola vive da mensalidade. Se ela não pode cobrar a mensalidade, ela não tem como prestar o serviço. Além do mais, ela não é especializada para isso, não se constituiu inicialmente com essa finalidade. Temos no Brasil em torno de 45 mil estabelecimentos de ensino particulares. Desses, aproximadamente 10% se prepararam para isso desde o início de suas atividades, ou seja, quando fizeram seus projetos político-pedagógicos eles já previam e queriam até atender esse tipo de necessidade, mas não é o caso da grande maioria, que quando fez seu projeto o fez para o atendimento de necessidades sem a contratação de profissional especializado, como está sendo exigido agora.

Edward Madureira

Da mesma forma sonhamos com um país onde não precisemos mais falar de inclusão, onde ela passe a ser uma rotina na vida das pessoas e não tenhamos que ter cuidados especiais, que isso seja absolutamente incorporado por todos Essa pode ser uma nova oportunidade para esses alunos, com novos lugares de inserção e educação para quem precisa de atenção especial? Joyce Rodrigues – Um decreto é um decreto, não faz sair de dentro das pessoas a sinceridade, a vocação. Ficamos, realmente, no meio disso. Particularmente, acho que o estatuto enquanto um avanço e amadurecimento da sociedade como um todo é positivo, mas ele não inova, porque a realidade que temos é que o sistema educacional como ele existe, exclui, a partir do momento que se compara e que se avalia com notas, num sistema que é igual, em que a competição é estimulada. Há muito que se pensar. Hoje existem mais de 100 projetos que buscam alternativas para a educação, onde as pessoas possam realmente aprender sendo felizes, no seu tempo, e conseguindo que essa situação não seja tão massacrante. Na verdade, seria mais inteligente da nossa parte se pensássemos em formar todos esses cidadãos para produzir.

Mesa-redonda

ela não sabe qual tipo de deficiência ela terá que atender e não está aparelhada para isso. Essa é uma preocupação muito grande, porque entregar um portador de deficiência a uma instituição que não está devidamente aparelhada para recebê-lo, ao invés de beneficiá-lo, poderá prejudicá-lo. A lei, que já vinha sido debatida há quase 15 anos no Congresso Nacional, é excelente. No entanto, a restrição que se faz se relaciona com o fato de agora, no limiar, no momento da aprovação, o parágrafo I do Artigo 28 é inserido, obrigando a escola privada a receber qualquer tipo de portador de deficiência sem nenhuma cobrança adicional. Como a escola poderá atender a essa necessidade se ela não está qualificada para isso? Esse é o grande problema. A única restrição que fazemos à lei é exatamente essa: o governo tirar uma obrigação que é sua, prevista constitucionalmente, e delegar à iniciativa privada que não está preparada.


Pesquisa

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Lobeira de praga à matéria-prima

Pesquisadores da UFG estudam potencial negligenciado da espécie

Luiz Felipe Fernandes

U

ma planta muito comum no Cerrado goiano, altamente resistente e que dá frutos o ano inteiro, têm se revelado uma matéria-prima em potencial para as indústrias alimentícia e farmacêutica. Pesquisas do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) e da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Goiás (UFG) mostram que a Lobeira, considerada uma praga pelos agricultores, pode produzir açúcar e etanol, aumentar a eficácia de medicamentos e até atuar no controle da glicose no organismo.

O nome é uma referência ao loboguará, que se alimenta do fruto. Na tradição rural, a lobeira é usada para fazer chás e xaropes caseiros para auxiliar no tratamento de asma e resfriado, mas passou a ser negligenciada ao se tornar um problema na hora de transformar áreas nativas em pasto ou plantação, principalmente por ter raízes muito profundas e sobreviver ao período de seca e até a queimadas.

Fotos: Carlos Siqueira

Ao observar que a lobeira, mesmo com uma polpa pouco saborosa, não tem componentes tóxicos, a professora do ICB, Kátia Fernandes, passou a estudá-la. A primeira aplicação prática foi um espessante para a produção de um tipo de requeijão light. A partir daí vieram outras descobertas com possibilidades de aplicação ainda mais animadoras.

AÇÚCARES – Inicialmente, a lobeira foi utilizada para a extração da pectina, um tipo de açúcar usado para fazer doces e geleias. “As fontes desse polissacarídeo são, normalmente, bagaço de maçã e de laranja. Na lobeira, encontramos uma grande quantidade de pectina, então ela poderia ser usada no Centro-Oeste como alternativa para a produção desse composto”, explica a professora Kátia Fernandes.

Também foi extraído amido com um potencial maior de produção de glicose, que pode ser usado como adoçante – uma alternativa regional ao açúcar da cana e do milho. Além disso, o amido da lobeira pode ser usado como revestimento de empanados de frango por possuir propriedades ditas filmogênicas, que permitem revestir o alimento e mantê-lo crocante mesmo depois do processo de congelamento e descongelamento. MEDICAMENTOS – Testes in vitro indicam que a pectina extraída da lobeira possui elevada capacidade mucoadesiva, uma característica de grande interesse para a indústria farmacêutica, já que pode resultar em medicamentos mais eficazes para o tra-

tamento de diferentes doenças. O professor da Faculdade de Farmácia, Ricardo Neves Marreto, explica que essa propriedade permite que um material se fixe nas diferentes mucosas do corpo. “A adesão faz com o que um comprimido, por exemplo, permaneça mais tempo em determinado local, o que pode trazer benefícios para a terapia, como o aumento na absorção do fármaco”. Nas pesquisas também foram feitas modificações químicas na estrutura da pectina, ampliando ainda mais a capacidade mucoadesiva desse material, o que pode favorecer a exploração racional e sustentável desse recurso natural do Cerrado. ETANOL – Da glicose extraída da lobeira também foi possível produzir etanol. “Usando um micro-organismo específico para fazer a fermentação, foi produzido 10% de etanol, que é um nível alto, já que a média de conversão é de 8% a 9%”, esclarece a professora. Além de uma fonte sustentável de combustível, esse etanol pode ser utilizado para fazer licor, cachaça e outros produtos da indústria de bebidas.

REDUÇÃO DA GLICOSE – Estudos com ratos diabéticos revelam que a lobeira também tem ação hipoglicemiante (redução dos níveis de glicose no sangue), confirmando o hábito de populações tradicionais que usam o fruto para auxiliar no tratamento da doença. Embora os mecanismos dessa ação ainda sejam desconhecidos, a professora do ICB, Elizabeth Ferreira Mendes, esclarece que é provável que essa redução da glicose contribua para a melhora da função renal que foi observada nas cobaias com diabetes. “Estamos em busca das substâncias da lobeira que possuem

ações farmacológicas responsáveis pelas suas ações”. ISOPOR – Depois da extração da pectina e do amido, a fibra que sobra nesse processo de decomposição da lobeira tem potencial para a fabricação de isopor. Como é uma fibra vegetal, esse seria um produto biodegradável. As pesquisas estão sendo feitas pela professora Suzana Mali, da Universidade Estadual de Londrina (UEL), com a colaboração da UFG. Os primeiros resultados mostram que as bandejas de isopor feitas com o material são resistentes. Agora, os pesquisadores testam o quanto a inclusão dessa fibra pode reduzir o tempo de degradação do isopor. A expectativa é de que o impacto ambiental seja bem menor.

Método simplificado

Diante do potencial da lobeira no ramo de alimentos, a professora Kátia Fernandes ressalta que o objetivo das pesquisas é desenvolver mecanismos acessíveis de extração e de produção e elaborar um manual para comunidades rurais e cooperativas de produtores de doces, geleias e embutidos. “A ideia é que, com essa metodologia, qualquer agricultor consiga fazer os produtos a partir da lobeira, sem que seja necessária uma grande estrutura”.

No livro Plantas Medicinais no Domínio dos Cerrados, Valéria Rodrigues e Douglas Carvalho registram o modo tradicional de preparo de chás e tônicos produzidos com folhas de lobeira em água fervente para o tratamento de reumatismo, asma, gripes e resfriados. Segundo a professora Elizabeth Ferreira Mendes, as pesquisas comprovam que a lobeira tem sido usada de forma correta pela população rural. “No entanto, a cultura antiga vem se perdendo e a lobeira vem sendo tratada como praga e exterminada por competir com as gramíneas na pastagem”, lamenta.


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Foco no mosquito Conhecer os hábitos e características do Aedes aegypti pode ser uma arma a mais no combate à sua proliferação Serena Veloso

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engue, Zika, Chikungunya… Cada nova descoberta de doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti gera novas preocupações sobre como evitar os males transmitidos pelo vetor. No entanto, o que realmente precisamos saber sobre o mosquito? Como podemos diferenciá-lo do pernilongo comum? Quais medidas de prevenção são confiáveis? O Jornal UFG consultou especialistas da Universidade para saber um pouco mais sobre os principais hábitos e os mitos e as verdades nas formas de combate ao Aedes aegypti.

Estudioso da espécie há mais de 20 anos, o pesquisador do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP/UFG), Ionizete Garcia, aponta como principais dificuldades para a eliminação do mosquito o próprio comportamento biológico em seu ciclo de vida e a resistência de seus ovos. “O Aedes aegypti programa a saída de seus ovos ao longo do período de um ano e meio”, afirma o professor. Ionizete Garcia explica que os ovos do Aedes aegytpi de uma mesma postura se desenvolvem para a fase larval com uma variação no período de eclosão. Enquanto em alguns a transformação pode ocorrer em poucos dias, em outros, os ovos podem ficar incubados por até 479 dias. Esse é um dos comportamentos que o diferencia do pernilongo comum (o Culex), cujos ovos da fêmea são depositados diretamente na água e todos se transformam simultaneamente em larvas. Apesar da necessi-

dade dos reservatórios de água para a maturação, os ovos do Aedes, após serem depositados nas paredes dos criadouros próximos à superfície da água, podem resistir a longos períodos de ressecamento, até que as condições ambientais estejam favoráveis para a passagem ao próximo estágio. A umidade do ar acima de 80% e a temperatura a partir dos 28ºC são fatores ideais para o desenvolvimento dos ovos, por isso é no verão que costumam ocorrer novas epidemias.

Alimentação

Que o Aedes aegypti gosta de se alimentar do sangue dos humanos isso todo mundo já sabe. Mas por que a preferência? Os receptores do mosquito são atraídos pelo gás carbônico, além de certos odores exalados pelo corpo, oriundos de substâncias contidas no suor, como o ácido lático. Além disso, a pesquisadora do IPTSP, Heloisa Helena Garcia, explica que as proteínas adquiridas no sangue humano são necessárias à maturação dos ovários das fêmeas.

Por isso, ao encontrar sua vítima, o mosquito não descansa enquanto não picá-la, optando por áreas expostas como o tornozelo. A pesquisadora destaca a importância de barrar o contato com o vetor, por meio de medidas como telas nas janelas e portas das casas, local onde ocorre 90% das infecções por doenças transmitidas pelo mosquito. “Se conseguirmos barrar o acesso das fêmeas ao alimento, a produção de ovos vai diminuir e o número de adultos também”, destaca.

Laboratório da UFG cria jogo Para contribuir na campanha de combate ao mosquito, o Laboratório de Tecnologia da Informação e Mídias Educacionais (LabTIME) desenvolveu o Agente Aedes, um jogo cujo objetivo é evitar uma epidemia de Dengue, Zika e Chikungunya. O game é um labirinto que tem como cenário uma cidade. O agente, que no caso é o jogador, precisa percorrer as ruas dessa cidade e destruir os focos de proliferação do mosquito. O desafio é reduzir o número de focos usando as tecnologias de combate. O agente perderá o jogo se toda a população em cena for contaminada. A intenção, segundo o coordenador do LabTIME, Gilson Oliveira Barreto, é que o jogo seja divulgado nas escolas. Confira e jogue aqui

- Zumbido: baixo; - Hábitos: diurnos; - Tamanho: 5 a 7 milímetros; - Criadouros: água límpa ou semi-poluída; - Coloração: escura, com listras prateadas nas patas; - Tempo de vida: 30 a 45 dias; - Duração do ciclo de desenvolvimento: 8 a 12 dias; - Quantidade de ovos por ciclo: 100 a 150; - É atraído pelo gás carbônico e odores exalados pelo corpo humano.

Mitos e verdades sobre o Aedes aegypti Na hora de colocar em prática as estratégias para combater o mosquito, soluções caseiras têm circulado na internet como medidas alternativas. No entanto, entre os especialistas, na luta contra o Aedes aegypti o mais importante é impedir a proliferação do mosquito. Mas será que as soluções caseiras também funcionam? Confira alguns mitos e verdades: Ventilador ou ar-condicionado matam o mosquito? Apesar de espantar o mosquito, o ventilador não mata nem impede que ele pique em partes do corpo desprotegidas do vento. No caso específico do ar-condicionado, a temperatura abaixo de 15ºC inibe a ação do mosquito. Entretanto, ele pode voltar a atacar quando o aparelho estiver desligado. Os repelentes são eficazes na prevenção de picadas? A Organização Mundial da Saúde (OMS) indica o uso de repelentes à base de Icaridina, que têm ação prolongada de proteção por 10 horas e podem ser aplicados em crianças acima de dois anos de idade. Outros repelentes apresentam eficácia temporária, por isso não são recomendados. Aplicar borra de café na água impede o desenvolvimento das larvas? Tornar a água poluída pode atrapalhar o ciclo de vida das larvas, mas não as combatem. A aplicação de água sanitária e eliminação dos criadouros são medidas mais eficazes.

O mosquito só voa até dois metros de altura do chão? O Aedes aegypti pode atingir altitudes maiores que dois metros, chegando às caixas d’água ou ainda nos andares mais altos dos prédios pelo elevador. Os inseticidas também protegem? E os inseticidas elétricos? Os inseticidas têm efeito sobre o Aedes aegypti, no entanto, sua ação no ar é rápida e se sedimenta rapidamente no solo. Já a proteção de inseticidas elétricos é limitada a uma curta distância. No entanto, as substâncias químicas presentes nos produtos podem ser nocivas à saúde. Tomar inhame ou vitamina B ajuda a afastar o mosquito? Não há comprovações científicas para a utilização do inhame como medida de proteção. Já a ingestão de vitamina B, não é eficaz, pois seu efeito varia de acordo com cada organismo. A UFG tem apoiado o Governo Federal em ações de combate ao Aedes aegytpi. Saiba mais:


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Carlos Siqueira

Educação

entrevista à TV UFG, garantiu que “o modelo proposto pelo Estado vai permitir que professores e diretores se dediquem à atividade mais nobre da educação, que é o processo de ensino e aprendizagem”. Segundo ela, hoje o diretor passa até 90% do tempo cuidando da parte burocrática e da manutenção da escola. A professora aposentada da Faculdade de Educação da UFG e professora da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Mirza Seabra, tem acompanhado o processo e não acredita nessa possibilidade: “A especificidade da gestão escolar não permite que a gestão administrativa ocorra em separado da gestão pedagógica. Ambas ocorrem num movimento único, de ajustes frequentes nos quais a atividade fim, que é o ensino pelo professor e a aprendizagem dos alunos, tem como suporte os processos administrativos, que são atividade meio, maneira de contribuir para o sucesso da escola”.

Gestão das escolas públicas em perspectiva

Recursos insuficientes

Kharen Stecca

E

m 2015, o governo do estado de Goiás trouxe a público a proposta de implementação de organizações sociais (OSs) nas escolas estaduais. No final do ano, o projeto começou a ser divulgado, convocando a comunidade a tirar suas dúvidas sobre ele. Assim que se tornou público, surgiram vários questionamentos, como a não participação da sociedade na construção daquele projeto, a legalidade do processo, a competência das OSs sem experiência prévia de gerir escolas e a manutenção da carreira de professores efetivos, junto a um quadro de celetistas, entre outros.

Organizações Sociais, pela Lei federal nº 9.637/1998, são “pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, cujas atividades são dirigidas ao ensino, à pesquisa científica, ao desenvolvimento tecnológico, à proteção e preservação do meio ambiente, à cultura e à saúde”. A característica mais marcante da gestão por OSs é que a gestão do setor continua como atribuição do setor público e cabe às OSs a gerência do serviço, em nome do público, tendo o contrato de gestão como elemento normatizador da relação. Segundo Nelson Barbosa, gestor governamental na Secretaria de Estado de Gestão e Planejamento (Segplan), que realizou sua tese de doutorado em Saúde Pública na USP, tendo como tema as OSs no setor da saúde, uma área que convive há certo tempo com a presença das organizações

sociais, o contrato determina um conjunto de direitos e deveres entre as partes, estabelecendo, entre outras coisas, os objetivos e metas a serem alcançados.

Defensor do trabalho das OSs, Nelson Barbosa destaca um ponto muito importante: “A regra em São Paulo, por exemplo, exige que as OSs na área de saúde devem ter pelo menos cinco anos de experiência comprovada na administração de serviços de saúde para serem habilitadas. Este é um critério importante para qualificar o processo de habilitação. Obviamente, se o estado adota a expertise na área como regra para a classificação das OSs e qualifica entidades com reconhecida capacidade técnica na área, não pode se furtar ao diálogo e à incorporação das contribuições das OSs nos temas relativos ao ensino-aprendizagem, mas não pode e nem deve delegar decisão neste campo para OSs”. Este é um dos pontos em que os movimentos de estudantes, professores e entidades que são contra o projeto de OSs na educação têm debatido. O Ministério Público de Goiás entrou com uma ação civil pública na qual são apontadas irregularidades quanto ao cumprimento, pelas OSs, de requisitos exigidos pelo edital relativos à notória capacida-

de profissional e a idoneidade dos dirigentes das organizações (Lei 15.503/2005 que aponta requisitos para qualificação das OSs em Goiás). No documento do Ministéiro Público, a cada uma das organizações sociais que se habilitaram são apontados argumentos que confrontam a possibilidade de adequação a estes itens.

Mas a discussão vai além da capacidade técnica. Mesmo que as organizações sociais atuem, como proposto nos documentos base do chamamento de seleção da Organização Social da Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esporte (Seduce), no âmbito administrativo, deixando a cargo do diretor os assuntos que dizem respeito ao ensino-aprendizagem, ainda assim existe a discussão de até que ponto é possível dissociar a área administrativa da área pedagógica nas escolas. A secretária de Educação, Cultura e Esporte do Estado de Goiás, Raquel Teixeira, em

No edital que convoca as OSs, o Estado define que os gastos por aluno devem estar em torno de R$ 250 a 350 reais e que um dos critérios para a escolha da OSs será a proposta de menor custo por aluno. O próprio edital informa que a Rede Estadual gasta hoje mais do que isso por aluno (R$ 388,90). A secretária da Seduce, Raquel Teixeira, explica que a intenção é fazer mais e melhor com os mesmos recursos gastos hoje com a educação. Para Mirza Seabra, “melhorar a escola com esses valores é para mágicos e não para enfrentar a realidade que se apresenta, que requer mais recursos”. Ela ainda completa que “as pessoas mais capacitadas para essa gestão são as que conhecem a realidade das escolas estaduais e não empresas de fora”. O ex-professor da Faculdade de Administração, Ciências Contábeis e Economia da UFG, atualmente na Universidade Federal do Paraná, Thiago Alves, estuda gestão educacional e também concorda que o valor não é suficiente: “O Brasil tem uma trajetó-

* US$ ppp: “A paridade do poder de compra

(PPC) - em inglês, purchasing power parity (PPP) - é um método alternativo à taxa de câmbio, para comparações internacionais, mede quanto determinada moeda poderia comprar se não fosse influenciada pelo mercado ou política econômica, considerando diferenças de rendimentos e de custo de vida.”

Reuben Lago

Projeto de Organizações Sociais na educação propõe soluções que não abarcam a complexidade da educação brasileira, dizem especialistas


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Para ele, o retrato atual do sistema é fruto desse não investimento: prédios ruins, falta de equipamento e material didático, turmas grandes, falta de atendimento em determinadas fases, como na educação infantil, e baixa atratividade para a profissão docente. Ele explica que a proposta das OSs só reverbera no Brasil porque, devido a essa trajetória histórica, a escola pública se tornou sinônimo de escola ruim, o que fez com que a classe média migrasse para a rede privada, o que não ocorre em outros países, que defendem a educação básica pública. Dados do Education at a Glance – Panorama da Educação 2013 –, um anuário educacional da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), mostram que o Brasil investe muito menos que outros países que oferecem boas condições de oferta educacional (3, 4 ou 5 vezes menos).

Thiago Alves acredita que “se a estratégia de mudar a gestão para as OSs não vai colocar mais recursos no sistema, um problema estrutural da educação não será resolvido. Não há milagres. Na melhor das hipóteses haverá uma pequena melhoria de eficiência naquilo que é possível (material de escritório, conta de luz, número de funcionários), mas não vai resolver o fundamental que é o salário do professor, o número de alunos por turma, a duração da jornada de aula (tempo integral) e todos os demais aspectos que custam muito dinheiro e

impactam, segundo diversos estudos, nos resultados educacionais”. O professor também coloca outro temor: “por causa da gestão de custos na lógica empresarial, os alunos podem começar a ser empurrados para fora da escola (sob a forma de pequenas negativas de vaga ou empurra-empurra entre as escolas) e pode haver aumento no número de alunos por turma (para contratar menos professores)”.

E o que é preciso fazer então?

Para o professor Thiago Alves, é preciso dar condições de trabalho para os professores. Ele enumera quais são essas condições: (a) formação inicial e continuada; (b) vínculo empregatício não precarizado (direitos dos trabalhadores); (c) plano de carreira (para retê-lo e estimulá-lo a permanecer na carreira); (d) jornada adequada de trabalho (com parte em sala de aula e parte para planejamento fora de sala, ambas remuneradas e cumpridas na escola); (e) número adequado de alunos por turma (em cada faixa etária dos alunos); (f) infraestrutura física da escola adequada (prédio, equipamentos, material didático, acústica, limpeza, etc...); e (g) remuneração adequada (pelo menos equivalente a outros profissionais de nível superior). E quanto seria essa remuneração? Segundo o professor, com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD/2013), em Goiás, um professor com formação em nível superior (graduação) recebia em média R$ 2.694, enquanto os demais profissionais de nível superior em Goiás recebiam R$ 3.359 (25% a mais) e os demais profissionais de nível superior no Brasil recebiam R$ 4.273 (59% a mais). Para Thiago Alves, enquanto esses requisitos mínimos

não forem garantidos, continuaremos atacando questões menores, sem garantir o essencial que é um processo de ensino-aprendizagem efetivo. “A questão é que estes itens requerem mais dinheiro para a educação. E com as OS não teremos mais dinheiro para resolver questões que só maior aporte de recursos pode sanar”, conclui o professor.

Charter Schools

Como o projeto de OSs na educação não existe no Brasil, as comparações locais não são possíveis. Em diversos debates têm sido citado o exemplo das Charter Schools, como modelos em que organizações sociais deram certo na educação. Para Thiago Alves, essa não é uma comparação possível: “A rede de charters nos EUA atende uma porcentagem muito pequena do número de matrículas na educação básica – apenas 2% do total de matrículas, segundo Handbook of Research in Education Finance and Policy. Além disso, muitos estudos mostram que não há o que comprove que elas são melhores que a rede pública americana e alguns até provam o contrário.

“As charters surgem como uma questão que é valorizada na democracia americana, algo como ‘liberdade de iniciativa’. Elas surgem, muitas vezes, quando um grupo de professores e pais querem uma escola independente em determinado local, por acharem que assim é melhor para seus filhos”, mas não são uma estratégia do poder público, são demandas isoladas da sociedade. Ele considera que não é interesse dos EUA deixar a educação, algo estratégico, nas mãos de entes privados. Já na iniciativa goiana, ele vê uma estratégia de “empurrar” para a sociedade a gestão das escolas. Outra questão levantada por ele é cultural: a relação entre público e privado existente no Brasil. “Há longa história de patrimonialismo. Isso não pode ser colocado como algo menor. A dificuldade de regular, fiscalizar e punir desvios na relação entre o público e privado, tem que ser colocada em questão. Nos EUA há corrupção, mas os mecanismos de regulação do privado pelo público, os instrumentos para identificar e punir desvios são muito mais céleres e aperfeiçoados”.

Escolas Charters comparadas com as escolas públicas, em 15 estados americanos (2403 Charters)

IGUAL ou PIOR em 10 dos 15 estados americanos Fonte: CREDO 2009 (Center for Research on Educacion Outcomes)

Educação

ria histórica de subfinanciamento na educação. Sempre investimos o que a Constituição determina ou deixamos a cargo da ‘boa vontade’ de cada gestor público a destinação de determinado percentual das receitas para a educação. Nunca investimos o necessário em educação básica na rede pública”.


Universidade

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Parque Tecnológico Samambaia avança com novas obras Edifício principal, Farmatec e Citego são os projetos aprovados

Angélica Queiroz

N Divulgação

os últimos anos, os governos federal e estadual têm buscado estratégias para incentivar o desenvolvimento científico e tecnológico no país. Entre elas, está o investimento na criação de parques tecnológicos, modelo de arranjo que vem se consolidando também em Goiás. Na UFG, a concretização do Parque Tecnológico Samambaia (PTS), que começou em 2013 com a inauguração do Centro Regional para o Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (CRTI), dá outro importante passo para sua consolidação com a aprovação de recursos para a construção de três novos prédios, com obras que devem começar ainda esse ano. 1 Farmatec 2 Edifício sede 3 Citego 4 CRTI

Além do CRTI, o Parque Tecnológico Samambaia conta com financiamento aprovado para a construção do primeiro prédio específico do Parque, que será o seu Edifício Sede. Também já foram obtidos recursos para a construção do Laboratório de Tecnologia Farmacêutica (Farmatec). Além disso, está em fase final

de avaliação a solicitação de recursos para a construção do Centro de Inovação Tecnológica e Empreendedorismo para o Estado de Goiás (Citego). De acordo com o diretor do CRTI, Jesiel Freitas Carvalho, a excelência já alcançada (ver box) foi fundamental para aprovação dos novos projetos. O Citego vai abrigar empresas incubadas e empresas graduadas com potencial de crescimento, além de locais chamados de Makerspaces, para desenvolvimento de projetos inovadores, e espaços institucionais para empreendedorismo e inovação. O custo dessa edificação é da ordem de R$ 4 milhões e, segundo o Presidente da Comissão de Implantação do PTS, professor Edward Madureira Brasil, deve contar com o apoio do Fundo de Desenvolvimento do Centro-Oeste (FDCO), com expectativa de que o prédio comece a ser construído ainda nesse semestre e passe a funcionar até o final do ano. “O sistema de construção previsto para o edifício do Citego é a construção modular, por isso ele pode ser construído rapidamente”, explica o Coordenador de Transferência e Inovação Tecnológica da UFG, Cândido Borges.

O projeto do Parque Tecnológico Samambaia prevê a instalação de cinco centros temáticos de pesquisa, formados por um ou mais prédios, contemplando mais de um laboratório com previsão de áreas de uso compartilhado. O primeiro centro a ser construído no Parque será o Centro de Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação em Fármacos, cujo principal laboratório, o Farmatec, conta com recursos captados, junto ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e FAPEG, para sua construção e compra de equipamentos. Já o edifício sede do Parque, que abrigará a equipe de gestão do espaço, a futura Agência de Inovação da UFG, uma filial da Incubadora de Empresas da UFG (Proine) e laboratórios de empresas, tem os recursos para sua construção assegurados por meio da FINEP e da FAPEG. A licitação para construção do edifício está prevista para junho de 2016, o que deve possibilitar o início de suas operações em 2018.

Mais recursos

O Presidente da Comissão de Implantação do PTS explica que, apesar das verbas estarem aprovadas, o trabalho de captação continua porque serão necessários recursos para diferentes atividades. Uma delas é o investimento em infraestrutura – sistema viário, energia, água, comunicação, etc. Segundo Edward Madureira, para o iní-

cio do funcionamento do PTS, o que já foi feito é suficiente, entretanto, para o crescimento do parque serão necessários novos investimentos que devem ser buscados nos setores públicos federal, estadual e municipal.

O professor afirma ainda que estão sendo desenvolvidas ações no sentido de captar recursos para a construção de mais prédios para abrigar empresas e, também, centros tecnológicos para o atendimento das demandas das empresas do Estado. Edward Madureira explica que o PTS será mantido com a cobrança de serviços, condomínio, aportes de agências de fomento à pesquisa, como FAPEG, além de outras formas de captação de recursos.

O Parque

O Parque Tecnológico Samambaia está localizado na entrada do Câmpus Samambaia da UFG, em uma área com dimensão de 17,9 hectares. O baixo índice de inovação das empresas da região e o pequeno número de empresas de base tecnológica em Goiás resultaram na opção por um parque tecnológico mais generalista. Coordenador de Transferência e Inovação Tecnológica da UFG, Cândido Borges explica que o projeto inicial mudou. “No novo projeto existem lotes para laboratórios de pesquisa, desenvolvimento e inovação de empresas e da universidade, como o Farmatec e outros que tiverem vocação de desenvolvimento tecnológico”, detalha. Segundo Jesiel Carvalho, os centros aplicados vão servir para estimular e acelerar o processo de integração entre universidade e empresas. “O parque deve cumprir mais a função de indutor do que propriamente um local que possa abrigar um grande número de empresas”, explica o diretor do CRTI.

Segundo o Presidente da Comissão de Implantação, o PTS vem cumprir uma missão importantíssima na UFG. “Nos últimos tempos a UFG avançou extraordinariamente no que diz respeito à qualificação do seu quadro de profes-

sores e de técnicos e também em sua infraestrutura de pesquisa. Nesse contexto, a UFG se credencia a contribuir efetivamente com a solução de inúmeros problemas da sociedade nos mais distintos campos da ciência. Dessa forma, o PTS se constituirá no espaço no qual sociedade e academia se encontrarão para buscar soluções para essas questões”, afirma. Para Edward Madureira, o avanço da tecnologia e a inovação acontecem em espaços onde academia, empresas e governo se aliam no sentido de alavancar esse desenvolvimento. “Tenho convicção de que o PTS contribuirá efetivamente para o avanço tecnológico de nosso Estado e do país, além de contribuir para a fixação do nosso maior patrimônio, os estudantes que buscam as nossas instituições de ensino para se formar e qualificar, e que encontrarão espaço para serem absorvidos pelas empresas e instituições de pesquisa instaladas no PTS e em outros empreendimentos que surgirão na região”, completa.

Transferência de tecnologia e inovação na UFG

Todos as atividades e estruturas relacionadas ao empreendedorismo, transferência de tecnologia e inovação da UFG estão vinculadas à Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação. A Pró-Reitora, Maria Clorinda Fioravanti, acredita que a expansão e consolidação do PTS acontece no momento ideal, uma vez que o novo Marco Legal de Ciência, Tecnologia e Inovação (Lei 13.243/2016), recentemente aprovado, estimula o desenvolvimento científico, a pesquisa, a capacitação científica e tecnológica e a inovação. “As universidades federais precisam estar preparadas para responder a estas novas demandas”, afirma Maria Clorinda. Segundo a pró-reitora, o pleno funcionamento do PTS representará um salto expressivo na capacidade da UFG em atender aos novos desafios, especialmente aqueles apontados pela Constituição Federal.

CRTI Em plena atividade, o Centro Regional para o Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (CRTI) tem realizado serviços tecnológicos e procedimentos analíticos para várias empresas do Estado nos setores de agronegócios, indústria farmacêutica, indústria mineral e empresas públicas. Além disso, o Centro tem atendido a demandas analíticas de pesquisadores de várias instituições de Goiás e de outros estados. De acordo com Jesiel Carvalho, a implantação e o funcionamento do CRTI representaram um salto significativo na infraestrutura de pesquisa científica e tecnológica no Estado, à disposição de todas as instituições de pesquisa, empresas e governos. “Os pesquisadores de todas as instituições têm acesso, de forma isonômica, à infraestrutura instrumental implantada. As empresas podem demandar serviços tecnológicos e procedimentos analíticos diversos, podendo contar com pessoal especializado para dar respostas às suas demandas tecnológicas”, explica. Mais informações no site do CRTI


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Análise mostra quadro geral da produção científica e da pesquisa na UFG Angélica Queiroz

A

Ilustrações: Freepik

s carreiras de pesquisador e docente são complementares. Essa é a opinião da professora do Instituto de Ciências Biológicas da UFG, Célia Maria Soares, uma das com maior produção científica na Universidade. Ela afirma que no momento em que o professor se dedica também à pesquisa, aprimora seu conhecimento, resultando na melhoria da qualidade do ensino. Carlos Estrela, docente da Faculdade de Odontologia da UFG, também entre os cinco que mais produzem na instituição, concorda. Para ele, a aliança entre ensino e pesquisa deve ser a base do ensino de qualidade.

De 2011 a 2013, a produção docente média da UFG foi de 1,43 artigo por ano Segundo Carlos Estrela, a participação na graduação sinaliza, em muitos momentos, a necessidade de pesquisa aplicada aos problemas diários, encontrados nas atividades de ensino e na vivência clínica, o que traz motivação e interação positiva com os discentes da iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorandos. “O foco, a determinação, o equilíbrio e o correto emprego dos recursos disponíveis são aspectos favoráveis considerando as habilidades de ser, ao mesmo tempo, professor e pesquisador”, ressalta. Para Célia Maria Soares, o maior desafio é a produção de trabalhos de qualidade, o que pode ser medido pelo índice de impacto dos periódicos nos quais se publica e pela inserção do pesquisador no sistema de bolsas de produtividade em pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Na tentativa de desenhar um quadro geral da produção científica e da pesquisa na UFG, as Pró-Reitorias de Pós-Graduação e de Pesquisa e Inovação, PRPG e PRPI, fizeram análises que agora estão ajudando a gestão na elaboração de estratégias. Foram avaliados dados dos anos de 2011 a 2013, obtidos no

CV Lattes do CNPq de quase 1.500 docentes efetivos da UFG, com doutorado, além de dados da base própria da UFG, obtidos no Sistema de Cadastro de Atividade Docente (SICAD), que permite a agregação e a complementação do cadastro de todas as atividades institucionais que compõem o Relatório de Atividades Docente (RADOC). Os resultados da análise foram publicados sob a forma de artigo no periódico Journal of Informetrics, no início de 2016. O Pró-Reitor de Pós-Graduação da UFG, José Alexandre Diniz, explica que a ideia geral do trabalho foi avaliar os fatores relacionados à produção científica dos docentes da UFG, usando uma série de modelos estatísticos complexos. Para o Pró-Reitor há várias conclusões importantes no artigo, em termos de fatores que explicam a produção científica, com padrões gerais comuns para todas as áreas do conhecimento. Nos diversos modelos foi possível mostrar que existe muita variação relacionada ao esforço individual dos pesquisadores, segundo José Alexandre, que considera que a análise também detectou padrões muito interessantes, que podem nortear uma série de ações institucionais.

Para Maria Clorinda, uma reflexão importante, baseada no número de CV Lattes registrado na base CNPq é que, ao considerar os doutores, 47% são mulheres e 53% homens, enquanto no mestrado a porcentagem inverte e o número de mulheres – 54% – é maior que o de homens – 46%. Maria Clorinda acredita que há ainda outro aspecto a ser analisado: o número de bolsistas de produtividade em pesquisa do CNPq, destinada a pesquisadores que se destaquem entre seus pares, valorizando sua produção científica. Em 2016, na UFG, o maior quantitativo dos bolsistas ainda é do sexo masculino – 64%.

Benefício Mútuo

A análise mostrou que a produção antes do doutorado foi um dos fatores mais relevantes para explicar a produção científica entre 2011 e 2013. José Alexandre afirma que os dados provaram a importância da formação do docente no âmbito de grupos de pesquisa consolidados. “Isso pode também ter implicações importantes na definição da política institucional relativa aos concursos na UFG”, afirma ele, que destaca que as orientações de discentes, de iniciação científica ao doutorado, também estão positivamente relacionadas à produção científica.

Diferença entre os sexos Segundo a Pró-Reitora de Pesquisa e Inovação, Maria Clorinda Fioravanti, os resultados da análise indicaram que, na UFG, o gênero não foi fator discriminador na produção científica, apesar de uma leve tendência de a produção ser ligeiramente maior entre os homens. A Pró-Reitora salienta que existe um passivo histórico na ciência em relação as mulheres. “Só recentemente elas vêm ocupando espaços que antes eram assumidos prioritariamente por homens”, lembra.

Docentes com mais produção não ministram menos aula, ou vice-versa

Pesquisa

Docente e pesquisador: profissões que se cruzam

Apenas 19% dos artigos foram publicados em periódicos A1(periódico internacional de alto impacto) Projetos com financiamento resultam em produção de mais artigos A1

e docentes com menos produção possuem mais aulas na graduação. “Isso é esperado, já que a maior parte da pesquisa na UFG, assim como em todo o Brasil, é desenvolvida no contexto dos programas de pós-graduação”, comenta José Alexandre. Segundo ele, as informações evidenciam também que, em equilíbrio, há uma ligeira tendência de que os docentes mais produtivos ministrem mais aulas.

Segundo os Pró-Reitores de Pós-Graduação e de Pesquisa e Inovação, buscou-se com as análises e reflexões, encontrar estratégias que estimulem o envolvimento de todos os docentes da UFG com as diferentes atividades de pesquisa, condição basilar da qualidade do ensino. “Vale lembrar que os produtos científicos representam o ‘efeito colateral benéfico’ do processo de formação de recursos humanos, papel central da Universidade”, conclui Maria Clorinda.

Poucos pesquisadores publicaram muito, enquanto grande parte publicou pouco; Docentes formados em grupos mais produtivos tendem a ser mais produtivos ao longo de suas carreiras;

Para José Alexandre, os resultados das análises confirmam que docentes mais produtivos tem envolvimento mutuamente benéfico com a graduação, ao contrário da falácia que tenta contrapor pesquisa e graduação. “Este resultado também sugere que maior investimento no número de bolsas de iniciação científica pode ser altamente benéfico para a produção científica na UFG”, afirma.

No trabalho também ficou evidente que docentes com mais produção não ministram menos aula, ou vice-versa. Segundo os dados analisados, docentes com mais produção científica tendem a ministrar mais aulas na pós-graduação

Bolsistas de iniciação científica produzem mais artigos; A UFG conta com 152 bolsistas de produtividade em pesquisa do CNPq (54 mulheres e 98 homens), sendo 34 no extrato superior (PQ 1); A UFG tem 12 bolsistas de produtividade em desenvolvimento tecnológico e extensão inovadora (2 mulheres e 10 homens).

Veja o artigo completo publicado no Journal of Informetrics


Regionais

14 Regional Catalão

Estudante relata experiência no VER-SUS Nayanna Ferreira já participou de duas imersões do projeto

Angélica Queiroz

A estudante, que foi selecionada para seis vivências e escolheu Uberaba e Brasília, descreve as experiências como “diferentes de tudo que já tinha vivenciado na Universidade”. Para ela, as vivências proporcionaram a sensa-

Para Nayanna Ferreira, o VER-SUS apresentou um SUS que ela já conhecia a mais de 26 anos como usuária e também como futura trabalhadora. “Possibilitou-me observar a relevância do controle e da participação social e a importância deste conhecimento extra universidade para minha formação”, afirma.

Regional Goiás

Primeiro estudante transexual ingressa no curso de Filosofia

Weberson Dias

Depois de conquistar o direito ao uso do nome social, Nicolas Dias sonha com a cirurgia de mudança de sexo

O estudante participa de grupos de apoio a pessoas trans de todo o país Weberson Dias Pela primeira vez a Regional Goiás vai receber um aluno transexual. O estudante, Nicolas Augusto Oliveira Dias, 22, foi aprovado para o curso de licenciatura em Filosofia na Regional Goiás e solicitou a utilização do nome social durante a matrícula. O estudante diz que o sentimento é de satisfação por escrever parte de sua história na UFG.

“Sinto-me honrado em representar não só os homens, como também as mulheres trans, que lutam todos os dias para terem direitos, respeito, inclusão e visibilidade na sociedade. Espero que eu seja o primeiro de muitos que ainda conseguirão realizar o ‘sonho’ de ingressar em uma universidade federal e ser tão bem recepcionado como fui”, assegurou o estudante, que afirma ter sido bem recebido na instituição. “A todo momento me trataram no pronome masculino e utilizando meu nome social”. A diretora da Regional Goiás, professora e militante na área de gênero e sexualidade, Maria Meire de Carvalho, vê com bons olhos a chegada de um aluno transgênero e assegura que vai fazer um acompanhamento contínuo durante todo o percurso do estudante na Regional, inclusive com a garantia institucional do nome social. “Um pequeno número de transgêneros consegue chegar ao Ensino Superior, porque ainda nas primeiras fases dos ensinos fundamental e médio, momento em que eles estão se empoderando, nem sempre a instituição escolar consegue fazer o acompanhamento, ocorrendo a evasão”, lembrou.

A experiência mais marcante para a estudante foi quando ela ouviu o relato de uma trabalhadora em Uberaba, com

mais de 20 anos de serviço, que falou sobre o que a motivava. “Ela disse que estava lá por eles e para eles, por amor. Confesso que meus olhos se encheram de lágrimas. Eu tive a certeza que estava no local certo, na hora certa e com a profissional certa para reviver os meus sonhos de caloura, de ser uma enfermeira humanizadora, que saiba gerenciar e que nunca se esqueça de que a essência do trabalho na saúde é o cuidado e o amor”, relembra. Saiba mais sobre o VER-SUS:

Arquivo Pessoal

O

Vivências e Estágios na Realidade do Sistema Único de Saúde (VER-SUS) é um projeto do Ministério da Saúde para a formação de trabalhadores para o SUS. O programa possibilita a estudantes de todo o país imersões teóricas, práticas e vivenciais dentro do SUS, permitindo que o participante sinta na prática os desafios e potencialidades do sistema. Diversos alunos dos cursos da área de saúde da UFG já fizeram parte do projeto. A estudante do 8º período de Enfermagem da Regional Catalão, Nayanna Cristina Ferreira, participou de duas dessas vivências e contou ao Jornal UFG um pouco sobre elas.

ção que era hora de colocar em prática tudo que a Universidade já tinha oferecido. “Foi gratificante aprender, mas também ensinar um pouco de tudo aquilo que eu já sabia. Por diversas vezes, me posicionava no lugar daquele trabalhador e perguntava ‘e se fosse eu?’”, relata. Por esse motivo, a aluna convidou alguns colegas da UFG e de outras universidades, que agora aguardam o lançamento do novo edital do programa VER-SUS, para concorrer com a proposta de realizar uma edição do projeto na Estrada de Ferro em Catalão, almejando apresentar e fortalecer o SUS em sua região.

Nayanna Ferreira acredita que o maior aprendizado das imersões foi conhecer a importância do trabalho em equipe. “Tive a oportunidade de conviver com estudantes de diversos cursos, professores, trabalhadores e movimentos sociais, todos com o mesmo objetivo, de lutar pelo SUS, que passa por constantes ameaças midiáticas”, detalha. Para ela, o momento é de engajamento, não mais pela conquista da saúde como direito, mas pela sua permanência.

Para estudante, apoio da professora Normalene de Oliveira, que ela descreve como sua incentivadora, foi fundamental para sua participação no projeto

Para o Coordenador de Graduação da Regional Goiás, Álison Cleiton de Araújo, a matrícula de estudantes transexuais traz para a Universidade novos saberes e vivências. “A presença deles reforça a concepção de uma universidade plural, democrática e pautada no respeito pela diversidade, além de demonstrar os avanços políticos no reconhecimento da identidade de gênero e na garantia de um direito conquistado pelos segmentos sociais que lutam e ‘sabem a dor e a delícia de ser o que é’”, declara. A chefe da Unidade Acadêmica Especial de Ciências Humanas, professora Geovanna Ramos, também vê a inclusão de estudantes trans na UFG como um importante passo. “Demonstra que a universidade está cada vez mais democratizada”, analisa.

Perfil

Nicolas Augusto nasceu mulher, mas não se reconhecia dentro do corpo feminino, sofrendo preconceito e dificuldades no processo de reconhecimento, apesar do apoio familiar. “Desde criança sempre me senti diferente dos outros, pois nunca me vi como menina. Na minha cabeça eu era um garoto, sempre me portei como tal. Não sentia ser aquilo que me falavam que era, mas durante 20 anos preferi guardar isso só para mim”, lembra. Medo e confusão fizeram parte do processo de aceitação pessoal do estudante. “Eu travava uma luta comigo mesmo por não me aceitar como era. Tinha medo do que poderia acontecer, da rejeição. Com muita luta, aos poucos fui me conhecendo, me aceitando e me entendendo. Há dois anos procurei aju-

da psicológica. Hoje tenho certeza do que sou. A maior barreira para aceitação, ou, pelo menos, o respeito, é a falta de informação”, relata Nicolas, que participa de grupos de apoio a homens e mulheres trans de todo o Brasil e, desde 2015, tenta ingressar no Projeto Transexualismo (TX), do Hospital das Clínicas da UFG para tentar a sonhada cirurgia de mudança de sexo.

Nome Social

Na UFG, o uso do nome social – modo como a pessoa é reconhecida, identificada e denominada na sua comunidade – passou a ser regulamentado e garantido à transexuais e travestis por resolução do Conselho Universitário (Consuni), em maio de 2014. A decisão assegura a possibilidade de uso e de inclusão do nome social nos registros oficiais e acadêmicos a servidores, estudantes e usuários da UFG, cujos nomes de registro civil não reflitam sua identidade de gênero.

Para o coordenador de Inclusão e Permanência da UFG, professor Jean Baptista, a aprovação no Consuni por unanimidade comprova a maturidade que a discussão alcançou na Universidade. Segundo ele, a UFG tem hoje 14 estudantes que utilizam o nome social, cada uma com uma história diferenciada. “Vejo a inclusão de pessoas trans na Universidade como um passo importante para o reconhecimento e promoção da diversidade no interior da UFG e fora dela”, destacou o coordenador, acrescentando que, até 2015, a UFG já formou duas transexuais mulheres.


15 CAMINHOS DA PESQUISA

Arquivo Pessoal

Conheça o Pibiti

Nelson Roberto Antoniosi Filho, Eliana Martins Lima e Laerte Guimarães Ferreira*

Um novo marco legal para a ciência, tecnologia e inovação Não é possível simplificar a compreensão do processo de pesquisa, desenvolvimento e inovação. Trata-se de uma atividade que demanda criatividade e envolvimento integral do pesquisador em assuntos que fogem de sua formação acadêmica. No Brasil, a PD&I tem sido freada por impedimentos que não deveriam existir há décadas. Talvez por isso estejamos ansiosos e otimistas quanto ao novo Marco Legal de Ciência, Tecnologia e Inovação, publicado em janeiro de 2016, na forma da Lei 13.243, após longa tramitação. O Marco Legal flexibiliza a Lei de Licitações, facilita a importação de insumos, cria mecanismos para maior interação entre laboratórios e pesquisadores e abre a possibilidade dos servidores e estudantes das IES galgarem maiores proventos, viabilizando e simplificando dispositivos regulatórios que podem contribuir com o desenvolvimento das atividades de pesquisa e transferência de conhecimento. Na prática, diversos aspectos dependem de mudanças estruturais e muito do que foi aprovado depende ainda de regulamentação.

Historicamente, a produção de ciência e tecnologia no Brasil concentra-se nas universidades e enquanto as relações entre universidades e empresas não se estreitarem, com a consequente formação de mestres e doutores ligados ao setor empresarial, será ilusório pensar em inovação na indústria nacional, que também precisa experimentar os benefícios de possuir profissionais de tão alto nível. Neste contexto, a nova lei traz mecanismos que facilitam e intermediam a aproximação entre as comunidades acadêmica e empresarial. É importante atestar que a parceria entre empresas e universidades, apesar de ser uma prática ainda restrita, já alavanca consideráveis recursos financeiros, inclusive para a UFG, que vêm sendo aplicados na formação de alunos e na sustentação de outras atividades de pesquisa com maior dificuldade na captação de recursos. Assim, a parceria entre universidade-empresa, longe de ser uma atividade cujo fim seja a privatização das instituições públicas, é hoje mais uma das formas de sustentação de muitos setores das IES, cabendo a cada um destes atores não perder o foco de

sua missão principal e avançar em parcerias e cooperações que tragam benefícios para ambas as partes.

No momento em que o país passa por uma crise econômica de proporções e impactos ainda desconhecidos, precisamos compreender que esse modelo de captação de recursos será cada vez mais importante, para a universidade, que recebe investimentos, e para as empresas, que crescem em tecnologia. Em um momento em que profissionais pleiteiam maiores valores para suas bolsas e salários, a maior captação de recursos permitirá que possam galgar melhores rendimentos pela percepção de bolsas de estímulo à inovação no ambiente produtivo, destinadas à formação, à capacitação de recursos humanos e à agregação de especialistas que contribuam para a execução de projetos de pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação, e para as atividades de extensão tecnológica, de proteção da propriedade intelectual e de transferência de tecnologia. Outro importante aspecto de desburocratização atingido pelo novo marco legal diz respeito às importações de materiais permanentes e consumíveis. Quem atua em pesquisa e já precisou importar algum item sabe que isso é uma missão quase impossível. Ouvindo o anseio da comunidade científica, o novo marco legal desburocratiza o processo de importação, faltando agora a UFG adaptar à nova realidade seus sistemas informatizados de solicitação de compras e acompanhamento de processos. Assim, o novo marco legal aproxima academia e indústria, possibilitando que inovações sejam disponibilizadas à sociedade. Respeitando a missão principal e limites institucionais de cada um, abre a perspectiva de avançarmos em parcerias e cooperações que tragam benefícios para universidades, centros de pesquisa, terceiro setor e empresas públicas e privadas. * Professores do Instituto de Química , da Faculdade de Farmácia e do Instituto de Estudos Socioambientais da UFG O Jornal UFG não endossa as opiniões dos artigos, de inteira responsabilidade de seus autores.

Criado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (Pibiti) tem como objetivos contribuir para a formação e inserção de estudantes em atividades de pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação e formar recursos humanos que se dedicarão ao fortalecimento da capacidade inovadora das empresas no país, além de cidadãos plenos, com condições de participar de forma criativa e empreendedora em suas comunidades. O bolsista do programa, orientado por pesquisador qualificado, recebe bolsa por 12 meses, a partir do mês de agosto de cada ano.

A dinâmica do Pibiti é bem parecida com a do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic),

a diferença está no conteúdo do projeto de pesquisa que deve ter viés de tecnologia, inovação ou tecnologia social. Coordenador de Transferência e Inovação Tecnológica da UFG, Cândido Borges, explica que, quando comparado ao Programa Pibic, são especificidades do Pibiti: - Pesquisas que estejam chegando ao fim de seu processo de desenvolvimento, mais perto da transferência para possíveis usuários;

- Ênfase no desenvolvimento de tecnologias, produtos ou processos;

- Possíveis aplicações por empresas, governos ou organizações do terceiro setor das tecnologias desenvolvidas; - Parcerias com empresas, governos ou organizações do terceiro setor na execução do projeto.

Universidade

ARTIGO


Extensão

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Fotos: Guilherme Ghisoni

No ensaio “Não entre aqui quem não souber geometria”, Guilherme busca mostrar que a tridimensionalidade da imagem fotográfica (a ideia de um “ver dentro da foto”) é uma ilusão, ao tornar visíveis as relações de proporção da composição de modo bidimensional.

O ensaio “Aqui e lugar nenhum” procura contrastar, em uma mesma imagem, a perspectiva egocêntrica da fotografia (que simula a perspectiva pela qual vemos o mundo) e a alocêntrica (com imagens do espaço nas quais não há determinações como, aqui, ali, perto e longe).

Luz, câmera, reflexão!

Projeto de extensão estuda relações entre fotografia e filosofia e consolida grupo da UFG como uma das referências nacionais na área Angélica Queiroz

F

otografia e Filosofia. Áreas distintas? Não para o professor da Faculdade de Filosofia da UFG (Fafil), Guilherme Ghisoni e diversos pesquisadores pelo mundo, para os quais as duas ciências estão sempre interligadas. Tentando entender que tipo de relação o homem tem com o mundo por meio das fotografias e acreditando que essa compreensão exige um conhecimento filosófico, desde a década de 90, Guilherme Ghisoni se dedica a análises que relacionam as duas áreas. Há três anos, criou o Grupo de Estudos de Filosofia da Fotografia, que hoje funciona como projeto de extensão e já está se tornando referência nacional nas pesquisas de Filosofia da Fotografia. Guilherme Ghisoni diz que foi a Fotografia que o levou a estudar Filosofia, mas que o oposto também pode ocorrer, pois acredita tratar-se de uma via de mão dupla. “O caminho pode começar da fotografia para o inquérito filosófico sobre o estatuto da imagem, ou o contrário, pode-se começar com uma perspectiva filosófica e, a partir

Confira mais fotos no blog

A proposta do ensaio “Epoché” é a suspensão do juízo acerca da existência do mundo exterior retratado e a consideração dos elementos da composição, como aparecem à consciência. Para isso, Guilherme manipula diretamente os negativos fotográficos, sobrepondo cores e formas aos elementos da composição.

dela, pensar que foto é possível produzir”, explica. Quando chegou à UFG, o professor relata que notou a necessidade de oferecer uma ponte de ligação entre a produção acadêmica filosófica e os interessados em fotografia, tanto do ponto de vista acadêmico quanto do artístico. Foi dessa observação que surgiu a ideia do projeto. O grupo, que já tem mais de 20 participantes e realiza encontros semanais, tem a participação de alunos de várias unidades da UFG, além de pessoas da comunidade, possibilitando o diálogo entre diferentes áreas do saber. Para o futuro, Guilherme Ghisoni afirma que planeja viabilizar a instalação de um laboratório de pesquisa de filosofia da fotografia na UFG, com equipamentos adequados, que possam auxiliar os integrantes do grupo em seus projetos e pesquisas. Segundo o professor, Goiânia ainda não possui uma estrutura consolidada que possa absorver o potencial local e o grupo pretende contribuir para preencher essa lacuna, possibilitando resultados acadêmicos e práticos como a organização de exposições e publicação de foto livros.

No ensaio fotográfico “Paisagens Imaginárias”, Guilherme constrói um espaço visual próprio da imagem fotográfica, distanciando-a do espaço físico da escultura, ao conceber paisagens nas quais não conseguiríamos aplicar as leis da física ou percorrer com nossos corpos.

Esta fotografia explora visualmente o problema da identidade pessoal através do tempo, mostrando que a unidade do sujeito é uma construção que conecta o eu em diferentes momentos. Ela é parte do ensaio “Observações Filosóficas”, no qual Guilherme aborda em -+1234890= cada foto um problema filosófico ou distinção conceitual.


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