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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS FACULDADE DE BIBLIOTECONOMIA
MIRIAM ALVES DE OLIVEIRA
PRESERVAÇÃO E CONSERVAÇÃO DE OBRAS RARAS Análise comparativa dos acervos da Biblioteca Central Prof. Dr. Clodoaldo Beckmann, Biblioteca Fran Pacheco, Biblioteca Pública Arthur Vianna e Biblioteca Domingos Soares Ferreira Penna
Belém 2013
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MIRIAM ALVES DE OLIVEIRA
PRESERVAÇÃO E CONSERVAÇÃO DE OBRAS RARAS Análise comparativa dos acervos da Biblioteca Central Prof. Dr. Clodoaldo Beckmann, Biblioteca Fran Pacheco, Biblioteca Pública Arthur Vianna e Biblioteca Domingos Soares Ferreira Penna
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do grau de Bacharel em Biblioteconomia, Faculdade de Biblioteconomia, Universidade Federal do Pará, sob a orientação da Profª- M.Sc. Maurila Bentes de Mello e Silva.
Belém 2013
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
O48p
Oliveira, Miriam Alves de Preservação e conservação de obras raras: análise comparativa dos acervos da Biblioteca Central Profº Dr. Clodoaldo Beckmann, Biblioteca Fran Pacheco, Biblioteca Pública Artur Vianna e Biblioteca Domingos Soares Ferreira Penna / Miriam Alves de Oliveira. – 2013 57 f. : il. ; 30 cm. Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Universidade Federal do Pará, Instituto de Ciências Sociais Aplicadas, Faculdade de Biblioteconomia, Belém, 2013. Orientadora: Maurila Bentes de Mello e Silva. 1. Preservação – Obras raras. 2. Conservação – Obras raras. 3. Acondicionamento de obras raras - Condições ambientais. I. Silva, Maurila Bentes de Mello e, orient. II. Título. CDD 22. ed. 025.84
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MIRIAM ALVES DE OLIVEIRA
PRESERVAÇÃO E CONSERVAÇÃO DE OBRAS RARAS: análise comparativa dos acervos da Biblioteca Central Profº Dr. Clodoaldo Beckmann, Biblioteca Fran Pacheco, Biblioteca Pública Artur Vianna e Biblioteca Domingos Soares Ferreira Penna
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção de grau de Bacharel em Biblioteconomia, Faculdade de Biblioteconomia, Universidade Federal do Pará.
BANCA EXAMINADORA:
____________________________________ Profa.M.Sc. Maurila Bentes de Mello e Silva Orientadora – FABIB/UFPA
____________________________________ Prof. M.Sc. Telma Sobrinho Examinador interno – FABIB/UFPA
____________________________________ Prof. M.Sc. Kátia Martins Examinador interno – FABIB/UFPA Aprovado em: 14/08/2013
Conceito: Excelente
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Dedico esse trabalho aos meus pais, Vigica Alves de Oliveira e Natanael Pereira da Silva, pelos anos de luta e dedicação para que eu tivesse um futuro melhor.
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AGRADECIMENTOS
Agradeço, primeiramente, a Deus, por ter me dado forças para trilhar um caminho de glórias e vitórias, com dificuldades, mas com resultado positivo ao final. Aos meus pais, por me incentivarem a estudar e pelas dificuldades que passaram para eu chegar até aqui. Aos meus irmãos, sobrinhos e todos os que torcem pelas minhas conquistas. À Universidade Federal do Pará. À direção da Faculdade de Biblioteconomia, que sempre me auxiliou quando precisei. Aos meus professores e ex-professores que fizeram parte da minha formação, em especial os professores: Elizângela Silva, Márcio Couto e Eduardo. À minha orientadora Maurila Bentes, pela paciência e compreensão durante todo esse tempo que permanecemos juntas, lutando para que esse trabalho saísse com a melhor qualidade possível, e ainda pelas suas palavras de incentivo. Agradeço também à Denise e Lucila, bibliotecárias do Setor de Obras raras da Biblioteca Central Prof. Dr. Clodoaldo Beckmann (UFPA), à Nazaré, da Biblioteca Fran Pacheco (GRÊMIO), à bibliotecária Ediza Moraes, do setor de obras raras da Biblioteca Pública Arthur Vianna, e à Berenice Bacelar, da Biblioteca Domingos Soares Ferreira Penna (Emílio Goeldi). Às minhas amigas Vivian, Mary Elisa, Betamar, Daniele, Rosineli, Shirley e Maria, que sempre me incentivaram e me ajudaram em momentos difíceis; essa vitória é também um pouco de vocês, que amo tanto. Aos amigos que fiz na UFPA e pelos momentos que passamos juntos durante todos esses anos, em especial a Kellen, Luciana, Larisse, Fernanda, Wangela, e Robson. Aos meus amigos da turma de 2009 noturno. Aos amigos que conquistei por onde estagiei, entre eles Yacyra, Douglas e Shirlene. Aos meus amigos do SESC-Boulevard, aos meus chefes que me receberam com cordialidade e gentileza e contribuíram, direta ou indiretamente, no meu aprendizado em especial José Maria Vilhena, Cleonice (SESC), Ruthane, Rosângela e Ana Santos (NAEA/UFPA), Socorro (TRT8), Rosilda e Dilma (Renato Chaves), muito obrigado por tudo. Aos meus amigos do SESC-Boulevard. Agradeço aos amigos que fiz no NAEA. Ao Albano, por ter me auxiliado na tradução do meu resumo e à Roseany, pela revisão textual. Enfim, a todos que contribuíram, direta ou indiretamente, para a minha formação acadêmica.
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“Os livros raros podem recriar o passado ou criar um novo cenário”.
Jeorgina Rodrigues
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RESUMO
Trata da preservação e conservação de obras raras, ressaltando a importância destas como fonte de informação, pesquisa e conhecimento para as próximas gerações. Objetiva analisar o ambiente e a maneira como são acondicionadas as obras raras das Bibliotecas: Arthur Vianna, Fran Pacheco (Grêmio Literário Português), Prof. Dr. Clodoaldo Beckmann (UFPA) e Domingos Soares Ferreira Penna (Museu Goeldi). Demonstra a importância em guardar adequadamente uma obra rara, a fim de prolongar a vida útil dos livros. Mostra a relevância em preservar uma obra rara, levando em consideração as peculiaridades que esse documento possui. Elenca os critérios de raridade usados como base para selecionar essas obras, mostrando os pontos positivos e negativos encontrados nas instituições pesquisadas. Constata a necessidade em educar os usuários para que os mesmos não causem danos aos acervos. Identifica o motivo pela falta de política de preservação de obras raras nas Bibliotecas estudadas. Adota a pesquisa descritiva com enfoque qualitativo como metodologia, que além de trabalhar com dados colhidos da própria realidade, observa, registra, analisa e correlaciona os fatos. Utiliza para coleta de dados a entrevista baseada em questionário elaborado com perguntas abertas e fechadas. Aponta também a digitalização como meio de preservação dos livros raros. Ratifica a falta de controle da temperatura e umidade como principal motivo para a proliferação dos agentes internos e externos.
Palavras-chave: Obra rara. Preservação de documentos. Conservação de documentos. Digitalização de documentos. Agentes nocivos.
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ABSTRACT
This work talks about the preservation and conservation of rare books. It shows the importance of rare books as a source of information, research and knowledge to the next generations. It aims to analyze the environment and how the rare books are packaged in the libraries: Arthur Vianna, Fran Pacheco (Portuguese Literary Society), Prof. Dr. Clodoaldo Beckmann (UFPA), and Domingos Soares Penna (Goeldi Museum). It demonstrates the importance of preserve a rare book properly in order to prolong the life of books. It shows the relevance of preserving a rare book, taking into account the peculiarities that this document has. It lists the criteria of rarity used as the basis for selecting these works. It shows strengths and weaknesses found in the institutions surveyed. It notes the need to educate users so that they do not cause damage to the collections, and it identifies the reason for the lack of policy of preserving rare books in libraries studied. The methodology used is descriptive research that besides working with data gathered from the reality, notes, records, analyzes and correlates the facts. To this end, we opted for a qualitative approach. In the technique of data collection was used as an instrument to interview based on questionnaire with open and closed questions. The work points scanning as a means of preservation of rare books, and it points out the lack of control of temperature and humidity as the main reason for the proliferation of internal and external.
Keywords: Work rare. Preservation of documents. Conservation of documents. Scanning documents. Harmful agents.
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LISTA DE FOTOGRAFIAS
Fotografia 1-
Os Lusíadas, de Camões........................................................................
16
Fotografia 2-
A Divina comédia, de Dante Alighieri..................................................
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Fotografia 3-
Acervo de obras raras da Biblioteca Clodoaldo Beckmann..................
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Fotografia 4-
“Etiqueta” vertical.................................................................................
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Fotografia 5-
Organização de obras raras....................................................................
35
Fotografia 6-
Acondicionamento de obras raras da Biblioteca Fran Pacheco.............
40
Fotografia 7-
Sala de consulta......................................................................................
42
Fotografia 8-
Acervo digital de obras raras.................................................................
45
Fotografia 9-
Livro raro digital....................................................................................
45
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SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO..................................................................................................
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OBRAS RARAS.................................................................................................
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2.1
Critérios de raridade.......................................................................................... 19
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PRESERVAÇÃO E CONSERVAÇÃO DE OBRAS RARAS......................
3.1
Agentes nocivos................................................................................................... 25
3.1.1
Agentes físicos, químicos e biológicos................................................................
26
4
METODOLOGIA..............................................................................................
32
4.1
Biblioteca Central Prof. Dr. Clodoaldo Beckman........................................... 32
4.1.1
Setor de obras raras..............................................................................................
33
4.1.1.1
Condições do ambiente........................................................................................
35
4.1.1.2
Equipamentos e mobiliário................................................................................... 37
4.1.1.3
Regras de uso.......................................................................................................
4.1.1.4
Recursos humanos................................................................................................ 38
4.2
Biblioteca Fran Pacheco....................................................................................
38
4.2.1
Setor de obras raras..............................................................................................
39
4.2.1.1
Condições do ambiente........................................................................................
40
4.2.1.2
Equipamentos e mobiliário................................................................................... 41
4.2.1.3
Regras de uso.......................................................................................................
4.2.1.4
Recursos humanos................................................................................................ 42
4.3
Biblioteca Pública Arthur Viana......................................................................
43
4.3.1
Setor de obras raras..............................................................................................
43
4.3.1.1
Condições do ambiente........................................................................................
44
4.3.1.2
Equipamentos e imobiliário.................................................................................
46
4.3.1.3
Regras de uso.......................................................................................................
46
4.3.1.4
Recursos humanos................................................................................................ 46
4.4
Biblioteca Domingos Soares Ferreira Penna...................................................
47
4.4.1
Setor de obras raras..............................................................................................
47
4.4.1.1
Condições do ambiente........................................................................................
48
4.4.1.2
Equipamentos e imobiliário.................................................................................
49
4.4.1.3
Regras de uso.......................................................................................................
49
4.4.1.4
Recursos humanos................................................................................................ 50
5
ANÁLISE DOS DADOS.................................................................................... 51
22
37
42
12
6
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................
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REFERÊNCIAS.................................................................................................
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APÊNDICE A– QUESTIONÁRIO.................................................................
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1 INTRODUÇÃO
O trabalho retrata a importância da obra rara como fonte de pesquisa e informação, além da relevância em preservar os acervos raros. As obras raras são fontes de informação que possuem particularidades que as tornam importantes devido ao seu valor histórico, cultural ou comercial. São repletas de informações importantíssimas, assim como ricas de detalhes em sua confecção retratando uma época, um período, portanto, precisam ser preservadas, a fim de resguardar a história da Humanidade. Muitos desses livros se encontram em estado de desgaste muito grande, por isso é necessário o uso métodos e técnicas de preservação que devem ser adotados pelas instituições a que pertencem. Desde a Antiguidade, há uma preocupação em preservar as obras e documentos. A técnica utilizava ervas para afastar os agentes que degradavam os suportes de escrita da época. Atualmente, o conceito de preservação é muito discutido, porém pouco praticado. Em se tratando de obras raras, o que se vê são ambientes com condições inadequadas para o seu acondicionamento, situação encontrada em algumas das bibliotecas pesquisadas. Foi constatada a falta de empenho tanto dos gestores, quanto dos funcionários em manter o ambiente dentro dos padrões ideais estabelecidos por pesquisadores da área de preservação e conservação de documentos. Quanto à digitalização, deve ser vista pelas instituições como meio, também, de preservação e não apenas de disseminação da informação, o que foi constatado pela pesquisa feita nas bibliotecas. O objetivo da pesquisa foi o de analisar o ambiente e a maneira como são acondicionadas as obras raras das Bibliotecas Arthur Vianna, Fran Pacheco, Clodoaldo Beckmann e Domingos Soares Ferreira Penna, assim como demonstrar a importância em guardá-las adequadamente, mostrando a relevância em preservá-las, além de elencar os critérios de raridade. Como metodologia, foi utilizada a pesquisa qualitativa, e na técnica de coleta de dados optou-se pelo questionário. O capítulo 2 retrata a importância das Obras raras, além de elencar os critérios de raridade adotados na seleção das mesmas. O capítulo 3 trata da preservação e conservação dos documentos e aponta também os agentes responsáveis por degradar os livros e documentos. Mostra, porém, as medidas que podem ser adotadas para evitar o ataque dos agentes nocivos e a proliferação dos mesmos.
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Já o capítulo 4 descreve a metodologia e analisa os ambientes dos acervos raros das Bibliotecas Central Prof. Dr. Clodoaldo Beckmann, da Fran Pacheco, Biblioteca Pública Arthur Vianna e Domingos Soares Ferreira Penna. No capítulo 5, é evidenciada a análise dos acervos raros, apontando os resultados obtidos após a pesquisa. Avalia quais as Bibliotecas que se encontram em melhores condições ambientais e as que estão em piores condições para acondicionar as obras raras. Por fim, o capítulo 6 mostra as considerações finais da pesquisa, sugerindo medidas que podem ser adotadas para melhorar as condições ambientais desses acervos.
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2 OBRAS RARAS
As obras raras são documentos que possuem inúmeras particularidades que as diferenciam das outras obras, seja pelo seu valor histórico, cultural ou comercial. De acordo com Pinheiro (1985, p. 19), os acervos de obras raras são “acervos de idéias que influenciaram os homens que fizeram a nossa história”. O livro raro, além de ser detentor de informações a respeito dos descobrimentos e conhecimentos do homem através da historia, serve também como objeto de desejo de muitos colecionadores, pesquisadores e bibliófilos. O livro, independentemente de ser raro ou não, sempre foi um veículo de informação na história humana. Carteri (2005) diz que “o livro é um documento disseminador de informações tanto de caráter científico e intelectual como artístico e cultural enquanto suporte”. O termo raro foi definido por Ferreira (2001, p. 581) como: “de que há pouco; não abundante; pouco frequente”. Quando se fala em obras raras, o que nos vem à mente é algo com valor acima do habitual. Nesse aspecto, Sant'Ana (2001, p. 2) complementa dizendo que “uma obra rara seria portanto qualquer publicação incomum, difícil de achar, e com um valor maior do que os livros disponíveis no mercado”. Já para Pinheiro (2001, p. 31), o livro raro não é tão fácil conceituar devido a dois precedentes: 1 é impossível predeterminar as características de um livro raro, porque cada livro é um universo restrito de manifestações culturais, originais e acrescentadas e 2 é difícil discernir sobre características postas em evidência, quando se tenta provar a raridade de um livro – os argumentos são frágeis baseados no “inquestionável” pressuposto da antiguidade.
Santa’Ana (2001, p. 2), ao falar em obra rara, afirma que é inevitável a associação aos livros “mas pode incluir também os periódicos, mapas, folhas volantes, cartões-postais e outros materiais impressos”. Essa visibilidade se deve ao destaque que sempre foi dado ao livro. Anteriormente, era tratado mais como obra de arte do que como produção intelectual, mas hoje mostra valores que vão além da beleza estética. Essa referência se dava devido a ricos detalhes e requintes tipográficos utilizados nas ilustrações e nas luxuosas encadernações dos livros, atraindo colecionadores e bibliófilos, como mostram as fotografias 1 e 2.
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Fotografia 1 - Os Lusíadas, de Camões.
Fonte: Acervo pessoal da autora, 2013.
Fotografia 2 - A Divina comédia, de Dante Alighieri.
Fonte: Acervo pessoal da autora, 2013.
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Litton (1975, p. 104) ressalta que a beleza tipográfica “deve-se ao constante trabalho de alguns tipógrafos e editores, [...] seu desenvolvimento é obra de uns poucos impressores [...] que merecem especial menção”. Ele afirma que o primeiro desenhista de tipos de que se tem conhecimento, e também considerado por alguns especialistas como o maior tipógrafo da história, foi Nicolau Jenson, pois seu trabalho é visto como exemplo de beleza e simetria, chegando a ser considerado uma obra-prima, pela perfeição que o mesmo destinava às suas tipografias. Litton (1975, p. 105) destaca Aldo Manucio como o responsável por “criar novos tipos, introduziu a utilização de motivos ornamentais, reduziu o formato dos livros, utilizou ouro na impressão e decoração das encadernações”. Além desses, há outros grandes impressores responsáveis por verdadeiras obras de arte, como Estienne, Garamond, Plantin, Caslon, Barskeville, Didot, Bodoni, Morris, nomes importantes na história da tipografia, responsáveis por embelezar muitos livros considerados raros. Para colecionadores e bibliófilos, a estética e o estado de preservação do livro são diferenciais muito importantes no momento da aquisição de uma obra considerada como verdadeira obra de arte. Para McMurtrie (1965, p. xi), “o livro é um produto de um meio específico”. Portanto, pode-se considerar que a evolução do livro está diretamente ligada à evolução Humana. Desta forma, Sant’Ana (2001, p. 2) afirma que “o livro seria um representante factual da história do conhecimento, ou seja, um documento verdadeiro do desenvolvimento cultural e social da humanidade”. Além dos ricos detalhes serem levados em conta na aquisição de um documento denominado raro, é o conteúdo que o diferencia, em especial, nas instituições de ensino e pesquisa, haja vista que os acervos de livros raros se formam por meio de doações. Geralmente os livros são selecionados de acordo com a importância do seu conteúdo, tendo o período histórico como um ponto importante no critério de raridade. Porém, isso não desmerece a beleza tipográfica de um documento, muito pelo contrário, aumenta ainda mais sua raridade. É difícil imaginar uma atividade que retrate tantos aspectos de uma época quanto a publicação de livros. O livro existe para dar expressão literária aos valores culturais e ideológicos. Seu aspecto gráfico é o encontro da estética com a tecnologia disponível. (FROES, 1995, p. 13).
O livro, independentemente da sua época e do material utilizado na sua fabricação, é de suma importância no desenvolvimento humano, pois é responsável por levar o conhecimento e disseminar a informação às novas gerações. É notória a evolução do homem a partir da escrita, do papel, do livro e da imprensa.
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Com a invenção da imprensa por volta de 1450, surgiram os livros que chamamos de incunábulos. Nesta época o livro alcançou difusão e abriu novos caminhos à arte, à indústria e com o progresso da encadernação, o livro deixa de ser privilégio dos monges, reis, príncipes e comerciantes prósperos e passou a atuar na difusão do conhecimento. (GONÇALVES, 2008, p. 17).
O papel surgiu na China por volta de 213 a.C. e era fabricado a partir de trapos de tecidos usados, incluindo a seda, por isso foi chamado de papel de seda, pois este substituiu a seda que era utilizada na fabricação dos livros, tornando o processo muito caro. A seda, porém, ficou sendo utilizada somente na produção de livros de luxo. As primeiras impressões são chamadas de incunábulos e vão até o ano de 1500. O termo incunábulo significa berço e vem do latim incunabulum; esse tipo de livro era similar ao manuscrito, sendo diferenciado no que diz respeito à encadernação. Nesse sentido, Froes (1995, p. 17) destaca que “quanto à encadernação, os incunábulos são revestidos com placas de madeira recobertas de tecidos valiosos ou peles estampadas com ferro frio, ou seja, sem colorido ou douração”. Entretanto, a encadernação dos livros da Igreja era diferente, pois eram incrustrados com pedras preciosas, pérolas e pintados de esmalte, ostentando riqueza, poder e status. A princípio, os incunábulos eram encontrados no formato in folio, e mais tarde em in 4º. As caraterísticas dos incunábulos são elencadas a seguir pelo Plano Nacional de Recuperação de Obras Raras (PLANOR).
Ausência de página de rosto; incipit; explicit; colofão; caracteres góticos; textos compactos; largo uso de abreviaturas; iluminuras; xilogravuras; texto em duas colunas; não paginados, às vezes folheados; emprego de glosas; registros; assinaturas; reclamos; grandes formatos (in-fólio); texto em latim; livros litúrgicos, literatura antiga e obras jurídicas; papel de trapo, grosso, desigual e de cor amarelada. (BIBLIOTECA NACIONAL, 2006).
Os incunábulos são livros com formato grande, por isso, sua organização na estante é no sentido horizontal com a finalidade de evitar que os documentos sejam danificados devido ao seu peso e tamanho. Os livros adquiriram o conceito de raro dado as suas inúmeras particularidades, que podem ser de conteúdo, estética, tipo de material, assinatura de pessoa importante etc. Durante muitos anos, o livro foi sinônimo de status e poder. Isso se devia aos detalhes que revestia o mesmo; em alguns, esse revestimento era feito em fios de ouro e/ou prata. Nesse aspecto, Moraes (2005, p. 71) afirma que “há livros que se tornam procurados unicamente por causa das ilustrações”. Um exemplo bem típico é “o caso dos Baisers, coleção
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de poesia sem valor de Dorat, [...] é muito valiosa, exclusivamente porque foi ilustrada por Eisen e Marillier”. É considerado um dos mais belos livros ilustrados do século XVIII. Os detalhes e o tipo de material utilizado tornavam o preço das obras muito elevado e por isso, somente uma minoria tinha acesso a esses livros, entre eles os reis, a nobreza e o Clero (Igreja Católica), que possuía muitos livros com muitas iluminuras, em especial, com imagens relacionando o céu e o inferno, utilizados para doutrinar seus fieis, haja vista que a grande maioria não sabia ler, daí a necessidade das ilustrações. Litton (1975) comenta que os manuscritos e os códices eram adornados com margens, letras iniciais e ornamentação denominada miniatura que vem do latim miniare ou iluminare. A cor utilizada nessas ilustrações era o vermelho do mínio. Essas cores aderiam perfeitamente ao pergaminho. Pouco a pouco, outras cores foram introduzidas, primeiramente o azul claro, depois o amarelo, o verde, o negro e o branco. Para manuscritos luxuosos, usava-se o ouro e a prata, além de dar ao pergaminho uma coloração púrpura, produzindo um efeito rico e glamuroso. As iluminuras mais comuns são as letras maiúsculas iniciais, também foram ornamentadas as margens das primeiras páginas e outras importantes do texto. De acordo com Litton (1975, p. 33), “um dos mais antigos exemplos de iluminura é o livro dos mortos, uma espécie de salvo-conduto para acompanhar a alma em sua travessia pelo inferno”. A princípio, a arte de embelezar os documentos era usada como atrativo, porém com o aperfeiçoamento da técnica tornou-se um negócio lucrativo. O manuscrito considerado por especialistas no assunto como o mais belo do mundo e também o trabalho com maior nível de perfeição estética é o livro de Kells, proveniente dos mosteiros da Irlanda.
2.2 Critérios de raridade
As obras raras são documentos repletos de informações importantes, quer sejam em relação a conteúdo, quer sejam em relação a sua confecção. O termo obra rara nos leva a pensar em livro velho e/ou antigo, porém, nem tudo que é velho é raro. Um livro não é valioso porque é antigo e, provavelmente, raro. Existem milhões de livros antigos que nada valem porque não interessam a ninguém. Toda biblioteca [...] está cheia de livros antigos, que, se fossem postos à venda, não valeriam mais que o seu peso como papel velho. O valor de um livro nada tem a ver com a sua idade. A procura é que torna um livro valioso. O que o torna procurado é ser desejado por muita gente, e o que o faz desejado é um conjunto de fatores, de particularidades inerentes a cada obra. (MORAES, 2005, p. 67).
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Partindo desse princípio, é possível ter livros produzidos recentemente com características que os tornam raros. Entretanto, na sua grande maioria, os acervos de obras raras são formados por documentos de séculos anteriores ao nosso. Preocupada com o tratamento e o destino que era dado aos livros antigos, Pinheiro (1989, p. 29) elaborou uma proposta metodológica de critérios de raridade elencando cinco pontos importantes, com a finalidade de preservar os documentos que possuem características raras. São eles: 1 Limite histórico Todo período que caracteriza uma fase histórica, bem como a produção artesanal do livro do século XV até antes de 1801 e o início da produção de impressos em qualquer lugar, assim como os primeiros incunábulos brasileiros a partir da criação da imprensa Régia. 2 Aspectos bibliológicos São os aspectos que envolvem os volumes produzidos artesanalmente em qualquer período levando em consideração a beleza tipográfica; o tipo de material utilizado como: papel de linho, pergaminho, marca d'agua, tintas, encadernações originais luxuosas e as edições de luxo, bem como as ilustrações produzidas artesanalmente como as xilogravuras, água-forte, aquarela etc. 3 Valor cultural Podemos incluir as edições esgotadas, limitadas até 300 exemplares, especiais e facsimilares personalizados, bem como obras de tipógrafos, impressores, desenhistas, editores, pintores e gravadores renomados, além das edições de clássicos. 4 Pesquisa bibliográfica As fontes de informação bibliográficas que apontam os caracteres da obra como: unicidade e rareza, preciosidade, celebridade e curiosidade. As fontes comerciais que adotam o preço como indicador de “raridade”, após avaliação detalhada de cada unidade bibliográfica. 5 Características do exemplar São elementos inseridos no documento após sua publicação como marca de propriedade (ex-libris, super-libris, assinaturas indicando a quem a obra pertenceu e marcas de fogo), assim como marcas de artífices/comerciantes renomados e/ou considerados no mercado livreiro (encadernadores, restauradores, livreiros etc.).
Os critérios sugeridos pela autora estabelecem parâmetros básicos no auxílio à preservação das obras raras, que podem ser adotados e/ou alterados. Vale ressaltar que o que é raro em um país também deve ser em qualquer parte do mundo, pois o local pode e não deve desmerecer a qualidade de raridade internacional de um documento, pois o mesmo agrega valores sociais e importância histórica. Silva e Freire (2006) afirmam que o livro raro possui “um valor inquestionável para a construção de novos conhecimentos, tendo em vista que a ciência é feita a partir de conhecimentos acumulados. As informações presentes no livro são responsáveis pelas transformações às quais as sociedades são submetidas”. Cada biblioteca deve possuir sua própria política para determinar seus próprios critérios de raridade, evitando assim a perda de documentos locais considerados importantes.
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Nesse aspecto, Nardino e Caregnato (2005, p. 386) afirmam que “uma obra considerada rara em determinada instituição, pode não o ser em outra”. Como exemplo, obras editadas no período inicial da imprensa no Rio Grande do Sul poderão ser consideradas raras na maioria das bibliotecas do Estado, entretanto, poderá ser desconsiderada no restante do País. Isso se deve porque não existe raridade absoluta. Os critérios mencionados anteriormente auxiliam na seleção e na preservação das obras raras, diminuindo e/ou evitando a perda das mesmas.
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3 PRESERVAÇÃO E CONSERVAÇÃO DE OBRAS RARAS
A preservação das obras raras faz-se necessária tanto em relação ao conteúdo, quanto à encadernação, pois são documentos que servem como fonte de pesquisa. Os acervos raros podem, ainda, ser usados como fonte de pesquisa para gerar novas informações, pois informações antigas, transportadas para uma nova geração e inseridas no cotidiano de uma realidade existente no presente, servem de base para a criação de informações futuras (RODRIGUES; PANCICH, 2008, p. 116).
Esses documentos precisam ser tratados com o máximo de cuidado para que tenham sua vida útil prolongada. Os suportes de escrita possuem componentes que atraem agentes nocivos, em especial o papel, por isso, é importante que as instituições adotem uma política de preservação do acervo, com a finalidade de evitar e/ou retardar a deterioração dos documentos da biblioteca. Nos documentos raros os cuidados precisam ser redobrados, haja vista que os suportes por si só ficam em estado delicado e a preservação se faz necessária, além da conservação e/ou restauração. É importante estabelecer as definições de preservação, conservação e restauração de acordo com o dicionário Houaiss (2009, p. 528, 1546, 1655). Conservação – “conjunto de medidas permanente para impedir que se deteriorem com o tempo objetos de valor, como monumentos, livros, obras de arte etc.”. Preservação – “é um conjunto de ações que garante a manutenção das características próprias de um ambiente”. Restauração – “conserto de coisas desgastadas pelo uso”. São reparos feitos em documentos em estado de deterioração ou danificados, a fim de reverter ou estabilizar esse processo. Em Biblioteconomia e áreas afins os conceitos de preservação, conservação e restauração são adaptados para dar suporte à preservação de documentos. Nesse aspecto, Cassares (2000, p. 12) define: Conservação – “é um conjunto de ações estabilizadoras que visam desacelerar o processo de degradação de documentos ou objetos por meio de controle ambiental e de tratamentos específicos (higienização, reparos e acondicionamento)”. Preservação – “é um conjunto de medidas e estratégias de ordem administrativa, política e operacional que contribuem direta ou indiretamente para a preservação da integridade dos materiais”.
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Restauração – “um conjunto de medidas que objetivam a estabilização ou a reversão de danos físicos ou químicos adquiridos pelo documento ao longo do tempo e do uso, intervindo de modo a não comprometer sua integridade e seu caráter histórico”. Os acervos sofrem com constantes agressões protagonizadas pelos usuários e pelas condições ambientais. É necessário que a instituição que possua um acervo raro tenha uma política de preservação, conservação e restauração de documentos, com a finalidade de prolongar ao máximo o tempo de utilidade dos documentos existentes no acervo. Em sua grande maioria, os acervos raros são constituídos por documentos produzidos em papel, o suporte de escrita que requer maiores cuidados pela sua fragilidade. Nardino e Caregnato (2005, p. 389) afirmam que a “a fragilidade do papel surge como preocupação na preservação do conteúdo da obra rara, pois diversos fatores ameaçam a integridade da informação impressa”. Levando em consideração a sensibilidade dos documentos e pensando na sua preservação para fins de conhecimento e pesquisa, muitas bibliotecas estão adotando a digitalização e/ou a microfilmagem, como meio de preservar as obras raras. Assim, é possível proteger os originais do desgaste causado pelo uso, além de preservar a informação e torná-la disponível a todos. A reprodução digital dos livros favorece a disseminação e o acesso à informação, mas assim como os documentos impressos, os eletrônicos também precisam de condições ambientais controladas com o propósito de reduzir o ataque dos agentes biológicos e também o manuseio correto que auxilia na preservação e conservação das obras.
Ao mesmo tempo em que o documento eletrônico propicia a preservação da obra rara, poupando-a dos riscos do manuseio, é ele também extremamente frágil diante da rápida obsolescência tecnológica. O uso isolado do processo de digitalização como medida de preservação para acervos bibliográficos ainda não está consolidado em função da instabilidade do ambiente digital. Assim como o documento impresso, o documento eletrônico também está ameaçado diante de condições inadequadas de armazenamento, fatores ambientais negativos, desgaste causado pela ação de agentes biológicos, além das ameaças oferecidas pelo próprio homem (NARDINO; CAREGNATO, 2005, p. 397).
Avaliando os problemas enfrentados pelos documentos digitais, é importante que existam mecanismos capazes de oferecer garantias e preservar os documentos, haja vista que esses suportes vão ficando obsoletos com o passar do tempo. É aconselhável sempre fazer a migração para novos suportes, pois não são recomendadas muitas digitalizações dos livros raros, isso se deve em especial às condições físicas que os mesmos se encontram.
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A digitalização é um processo que não descaracteriza os documentos; nesse sentido, Nardino e Caregnato (2005, p. 383) afirmam que “através do processo de digitalização, o livro ganha novas formas de acesso sem deixar de ser o livro”. Com o avanço das novas tecnologias e o surgimento de novos suportes da informação, faz-se necessária a adaptação às necessidades dos usuários, que a cada dia procuram por maior comodidade e agilidade na busca pela informação. Com os avanços tecnológicos e com a digitalização dos documentos, tornou-se inevitável o surgimento das bibliotecas digitais com a finalidade de reunir esses documentos e prepará-los para que a informação fosse disseminada, reduzindo o tempo gasto pelos usuários que não precisariam se dirigir até a biblioteca, pois o documento encontra-se on-line, eliminando, portanto, a distância entre o pesquisador e o documento. Com a digitalização dos documentos e a disponibilização on-line, é possível ter acesso às obras raras sem precisar entrar em contato diretamente com o original, resguardando-o, para ser consultado apenas quando for estritamente necessário. Com esse mecanismo, o pesquisador não é impedido de consultar um documento que se encontra em outro local, basta somente que tenha acesso à Internet. Márdero Arellano (1998, p. 28) afirma que a partir dos documentos eletrônicos e o surgimento das bibliotecas digitais de obras raras, várias facilidades são oferecidas aos usuários, que vão do acesso ilimitado à economia de espaço, porém, “a maior vantagem que a biblioteca digital trouxe sobre as formas de conversão dos textos antigos é pelo fato dela prover um novo tipo de preservação dos materiais raros e frágeis, além do uso simultâneo de vários usuários e a economia no espaço físico”. Essa facilidade de manipulação da informação no ambiente digital favorece cada dia mais a criação desse tipo de biblioteca que agrega as funções de uma biblioteca tradicional a novas funções, como a preservação das informações em mídias digitais. Entretanto, o descarte dessas obras não é permitido, pois as obras digitais não substituem as originais. O documento digital serve também como método de prevenção contra as doenças decorrentes de fungos e bactérias encontrados em livros antigos quando não há uma higienização periódica. Com os documentos digitais, os usuários não possuem contato direto com eles, por isso não oferecem riscos nem aos pesquisadores e nem aos livros, pois a disponibilização do documento virtual atualmente é o grande diferencial, já que permite o acesso remoto de qualquer lugar, possibilitando a informação a qualquer pessoa, em qualquer lugar, sem a necessidade de deixá-lo acondicionado no espaço físico da biblioteca.
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Ao preservar os documentos raros, procura-se preservar também a memória da sociedade, procurando, portanto, manter viva a história de uma época que ficou registrada e documentada. Sendo assim, Silva (2010) infere que “o acervo de obras raras é um valioso objeto de estudo para a pesquisa científica, principalmente na área de humanidades, por ser um registro autêntico da evolução da humanidade”. É por meio das obras, hoje consideradas raras, que o conhecimento da Sociedade se consolidou, em especial após o surgimento do papel. Por isso, não é de se estranhar que a maioria dessas obras encontra-se nesse tipo de suporte. Nardino e Caregnato (2005, p. 388) afirmam que “se tratando de coleções de obras raras, a preocupação com a preservação deve ser redobrada em função do inestimável valor econômico e cultural, além da preciosidade e unicidade dos exemplares [...]”. Portanto, para preservar as informações existentes nas obras raras é necessário que existam medidas protetivas capazes de combater os agentes nocivos responsáveis pela deterioração dos documentos. Beck (1985) entende que a guarda inadequada dos documentos contribui bastante para a deterioração das informações existentes tanto nos impressos quanto nos eletrônicos, pois o meio digital não exclui cuidados como preservação, conservação e higienização.
3.1 Agentes nocivos
São os responsáveis pelos danos causados ao material, como exemplo pode-se citar: os agentes internos ou intrínsecos e os externos ou extrínsecos. Os agentes intrínsecos estão diretamente ligados à composição do papel, ou seja, são os materiais componentes do papel, como: o tipo de fibra, colagem e os resíduos químicos. Já o papel produzido a partir de trapos oferece maior resistência às agressões provenientes dos agentes internos, pois a qualidade do papel é superior ao papel proveniente da celulose, (BECK, 1985). Os agentes extrínsecos estão relacionados aos agentes físicos (iluminação, temperatura, umidade e os desastres). Beck (1985) aponta que, os agentes químicos estão relacionados à poluição ambiental, à poeira e aos produtos utilizados tanto na limpeza, quanto na desinfestação dos ambientes, enquanto que os agentes biológicos estão associados à falta de higiene, às altas temperaturas e à umidade. Como exemplos, os micro-organismos (bactérias e fungos), os insetos (traças, baratas, cupins, brocas, piolhos), os roedores e o homem.
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3.1.1 Agentes físicos, químicos e biológicos
Os acervos raros têm maior propensão a perder um documento se não possuírem condições ambientais adequadas. A proteção dada aos livros raros é de suma importância, pois são as práticas de preservação que possibilitarão a durabilidade das obras. Algumas medidas de preservação preventiva devem ser adotadas a fim de evitar o surgimento e/ou o ataque dos insetos responsáveis pela degradação dos documentos. Beck (1985, p. 25) afirma que é importante adotar “a aplicação de um programa gradual de preservação iniciado pelo controle preventivo de agentes patogênicos, através da higiene sistêmica do acervo e dos depósitos, detectando e eliminando possíveis infestações e danos diversos”. Os agentes causadores da degradação dos documentos são físicos, químicos e biológicos. Dentre os físicos, destacam-se a iluminação, a temperatura, a umidade e os desastres. Um dos agressores do papel que merece destaque é a iluminação, pois tanto a natural quanto a artificial não devem incidir diretamente sobre o papel, devido a emissão de raios infravermelho e ultravioleta (UV), nocivos ao papel. De acordo com Costa (2003), “a ação da radiação ultravioleta sobre o papel é irreversível e prolonga-se mesmo terminado o período de irradiação, contribuindo para a oxidação da celulose”. Stocker (2008) afirma que “a agressão provocada pela luz atinge diretamente a coloração das tintas, além de contribuir para que o papel se torne amarelado”. Portanto, é importante que haja um rigoroso controle da iluminação no acervo. Esse controle é feito especialmente com o uso de um luxímetro ou fotômetro, responsáveis por registrar o nível de iluminação e do raio ultravioleta no ambiente. Greenfield (1988, p. 50), estabelece que a iluminação no acervo fique “abaixo de 200 lux e a radiação UV abaixo de 75 lux”. Para reduzir os danos causados pela luz natural, devem-se tomar algumas medidas básicas capazes de bloquear a entrada da luz do sol como: a instalação de persianas ou aplicação de películas nas janelas, como infere Cassares (2000). Para a luz artificial, como a luz fluorescente, é possível reduzir os danos causados pelos raios ultravioletas utilizando nas lâmpadas a manga de filtro UV. Esse filtro não se torna oneroso, pois com o passar do tempo não perde a sua eficiência. Para os acervos que ainda usam a luz incandescente, alguns cuidados devem ser observados: a luz não deve ser ligada muito próxima aos documentos, pois o calor excessivo os prejudica. Essas luzes foram substituídas pelas fluorescentes devido à economia. Em locais onde não existe proteção contra os raios ultravioleta, Luccas e Seripierri (1995, p. 6) recomendam que “as luzes no acervo
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raro devem ficar desligadas, sendo ligadas somente no momento de procurar um documento, porém se for estritamente necessário que as luzes permaneçam ligadas, as mesmas devem ser ligadas alternadamente nesse ambiente”. Esse mecanismo reduz a incidência dos raios nocivos aos documentos, auxiliando na preservação e conservação da massa documental. A temperatura e a umidade relativa do ar são responsáveis pelo surgimento e proliferação dos micro-organismos, como fungos e bactérias, além de acelerar as reações provenientes dos agentes químicos. Nos acervos raros, a temperatura considerada adequada deve ficar entre os 16ºC e 21ºC. Partindo desse princípio, Greenfield (1988) sugere que a melhor temperatura para os livros é a que fica próxima aos 16ºC. Outro aspecto que demanda preocupação é a umidade relativa do ar, que deve ficar em torno de 45% a 60%. no geral os documentos precisam de uma temperatura estável entre 16ºC e 18ºC e uma umidade relativa do ar entre 40% e 50%. Desta forma pode-se ter a certeza de que nem o papel, nem a encadernação ficarão demasiadamente úmidos, correndo o risco de ativar os esporos de fungos ou, ao contrário, demasiado secos e frágeis. (BRITISH LIBRARY, 2003, p. 92).
Manter a temperatura e a umidade sob controle é essencial para a preservação e conservação dos acervos raros, pois com essas medidas reduz-se bastante a proliferação dos agentes nocivos ao papel, em especial dos micro-organismos. Costa (2003) aponta a alta umidade e a elevada temperatura como responsáveis por acelerar as reações químicas provenientes da poluição ambiental, portanto, devem ser mantidas dentro dos padrões estabelecidos para reduzir a deterioração dos documentos. O aparelho utilizado para monitorar a temperatura e a umidade relativa do ar é o termo higrômetro. Em ambiente muito úmido, o ar condicionado e o desumidificador devem ficar ligados simultaneamente, isso se aplica geralmente nas regiões onde a umidade fica acima de 65%, já nas regiões com umidade relativa do ar abaixo de 40% é necessária a utilização de umidificador. Esses equipamentos devem ficar ligados sem interrupção, pois a oscilação brusca da temperatura é prejudicial aos livros. Cassares (2000, p. 15) afirma que “as flutuações de temperatura e umidade relativa do ar são muito mais nocivas do que os índices superiores aos considerados ideais”. Os desastres, por sua vez, são responsáveis por perdas incalculáveis durante toda a trajetória da Humanidade. É importante que a prevenção contra os desastres seja pensada no momento da construção da biblioteca, evitando e/ou reduzindo os estragos causados pelos desastres naturais ou pelos possíveis incidentes que possam ocorrer na biblioteca. Costa (2003) revela que os desastres mais comuns são os incêndios e as inundações. No ambiente do acervo deve existir medida de segurança, como um detector de fumaça, a fim
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de alertar um possível incêndio, proporcionando o controle do mesmo, antes que tome proporções devastadoras. Quando um livro é queimado, os danos são irreparáveis, inclusive nos que o fogo não afeta, pois a fuligem se espalha e mancha os documentos. Porém, o maior problema está na utilização de água no combate ao incêndio, o que ocasiona um estrago maior ainda, porque os documentos molhados aumentam de volume, ocasionando deformações nas encadernações, apodrecimento do material utilizado na construção do documento, além da proliferação de fungos e bactérias. Os agentes químicos são a poluição ambiental e a poeira. A poluição ambiental também se mostra prejudicial aos documentos devido aos poluentes provenientes da poluição do ar como: as partículas de poeira, as substâncias químicas e os gases. Essas partículas tornam-se mais prejudiciais quando combinadas com a alta umidade e temperatura, assim como a falta de higienização periódica. Nesse sentido, Costa (2003) afirma que “a providência mais elementar para a conservação dos acervos é reduzir a umidade relativa e a temperatura”. Existem, porém, outras medidas que contribuem na preservação da massa documental, como, por exemplo, o uso de filtro para ar condicionado, que auxilia na retenção das substâncias químicas provenientes do ambiente externo. Também é importante a adoção de medidas de segurança para fazer a limpeza do ambiente. Gomes, Nogueira e Abrunhosa (2006), recomendam a utilização de produtos neutros, trinchas, aspiradores de pó, tecido de algodão na limpeza dos livros, das estantes e dos demais materiais existentes no acervo raro. Beck (1985, p. 12) afirma que “a falta de higiene do acervo acarreta depósitos de poeira que contém os resíduos de poluição, os quais, combinados com a umidade do ar, formam substâncias agressivas ao papel”. Essas medidas além de manter o ambiente livre da poeira, mantêm os documentos livres de fungos e bactérias. A poeira, assim como os agentes poluentes mencionados anteriormente, produz uma série de danos aos livros, que pode ser identificada a partir das páginas amareladas, nas quais os ácaros se instalam e servem de alimentos para outros agentes, a exemplo do piolho. Para evitar essas agressões ao acervo, o ambiente deve passar por limpezas periódicas, como já citado anteriormente. Os agentes biológicos são: os micro-organismos (fungos e bactérias), os insetos (traças, baratas, cupins, brocas e piolhos de livros), os roedores e o homem. Os micro-organismos são seres microscópicos responsáveis por diminuir em grande parte, a vida útil do material bibliográfico. Para isso, basta encontrar as condições ambientais propícias. De acordo com Beck (1985, p. 19), os micro-organismos “preferem [...]
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temperatura acima de 25º e umidade relativa acima de 60%”. Entre os micro-organismos mais comuns estão os fungos e as bactérias. A presença dos mesmos pode ser identificada por manchas amareladas de várias tonalidades, além da deterioração da estrutura das obras. O surgimento dos fungos está relacionado também às precárias condições de higienização do ambiente, como infere Cassares (2000). Os fungos oferecem riscos aos documentos e à saúde dos usuários e funcionários, podendo até causar a morte do ser humano. As traças de livros são conhecidas como traças prateadas ou Silver fish (peixe de prata), pertencente à família Lepismitidae e à ordem das Thysanura. (LUCCAS; SERIPIERRI, 1995). São insetos que se alimentam da celulose e dos componentes utilizado na fabricação do papel (amido, proteína e cola). Esses insetos possuem hábitos diurnos e noturnos, porém durante o dia procuram lugares sombrios para se esconderem. As traças são mais ativas durante a noite, o que não impede o ataque aos livros durante o dia. De acordo com Costa (2003), as traças destroem “couros, papéis e fotografia [...], se instalando e se desenvolvendo em locais escuros e especialmente úmidos”. Para evitar a proliferação das traças, medidas preventivas como limpeza regular do ambiente devem ser adotadas, assim como o controle da temperatura e da umidade. Outro inseto que deve ser mencionado é a barata, que possui hábitos noturnos e se esconde em frestas, ralos, esgotos, lixos etc. Nas bibliotecas, ela ataca os papéis, tecidos, buscando alimentos, como o amido, geralmente presente na cola utilizada nos documentos. A presença de barata é identificada no livro quando este apresenta as extremidades roídas e manchas ocasionadas pelas fezes. “As baratas se reproduzem no próprio local e se tornam infestação muito rapidamente se não for combatida”, como afirma Cassares (2000, p. 19). Para minimizar o surgimento desses insetos nas bibliotecas, alguns cuidados devem ser tomados como: manter o ambiente sempre limpo, ralos e esgotos fechados à noite, aberturas e frestas devem ser vedadas. Para exterminar as baratas, utilizam-se inseticidas, dedetização e iscas. Essas últimas são as mais indicadas, por não oferecerem risco ao acervo. Os cupins são insetos bastante temidos quando se trata de móveis feitos de madeira. Nas bibliotecas que possuem estantes de madeira, os cupins atacam não somente as estantes, mas também os livros. O ataque é capaz de causar danos irreparáveis não somente ao acervo, como também à estrutura da biblioteca, haja vista que a presença dos cupins é detectada geralmente quando os prejuízos são enormes. Em ambientes que utilizam madeira é necessário que haja uma constante inspeção, principalmente quando não é dado o tratamento adequado à madeira antes de usá-la.
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De acordo com Luccas e Seripierri (1995), as melhores madeiras para evitar o ataque dos cupins são: a peroba-do-campo, peroba-rosa e jacarandá. Para eliminar as colônias dos cupins, utiliza-se inseticida injetado com seringa. Para o tratamento da madeira deve-se lixar e aplicar quinze demãos de cupinicida e querosene e posteriormente aplica-se o verniz. Antes dos livros serem organizados nas estantes, os mesmos devem passar por um rigoroso trabalho de higienização. Outro mecanismo bastante eficiente é o tratamento do solo ao redor do edifício que deve ser feito por uma firma especializada. Beck (1985, p. 22, 23) enfatiza que “o melhor momento para a limpeza e desinfestação do ambiente é quando os cupins estão nas fases de larvas e pupas, tornando-se extremamente destruidores. Esse período vai de fevereiro a julho”. Há também as brocas, que são insetos que atacam a celulose, a cola e também o couro utilizado na encadernação dos livros, em especial de livros raros. O ataque das brocas pode ser identificado por uma fina poeira encontrada nas estantes e nos livros assim como os orifícios ocasionados pelas mesmas. Segundo Beck (1985, p. 21), “as brocas ou carunchos adaptam-se a todos os tipos de climas, mas são particularmente ativos nas regiões tropicais”. Em condições favoráveis, as brocas causam estragos irreparáveis em qualquer material à base de celulose, por isso, é muito importante que esses insetos sejam identificados e exterminados urgentemente. Para evitar a proliferação das brocas, os acervos devem ser vistoriados regularmente, a higienização deve ser permanente, além do controle da temperatura e umidade. “Para combatê-la, torna-se necessário conhecer sua natureza e comportamento, já que as brocas têm ciclo de vida em quatro fases, e a que mais ataca o acervo é a fase de larva” (CASSARES, 2000, p. 19). A desinfestação deve ser feita por profissionais especializados. Ainda no elenco dos agentes biológicos estão os psocópteros, comumente chamados de piolho de livro. De acordo com Costa (2003), “os piolhos são pequenos insetos de cor amarela avermelhada, são frequentemente encontrados entre as folhas [dos livros]”. Esses insetos não atacam diretamente os livros, mas os fungos, causando prejuízos às bibliotecas que não possuem limpeza periódica. O método mais eficaz para combater os piolhos é a higienização periódica do ambiente, assim como para todos os agentes que degradam o papel, o controle da temperatura e umidade também é recomendado. Os roedores são animais capazes de se adaptar às condições climáticas e alimentam-se de restos de comida deixados no ambiente. Entre os roedores que costumam atacar as bibliotecas estão os ratos e os camundongos, que se instalam por falta de higiene e acúmulo de lixo. Portanto, não é permitido ingerir alimentos no ambiente, o lixo deve ser retirado
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diariamente e as entradas devem ser vedadas como método profilático. No combate à infestação desses animais, Cassares (2000, p. 19) recomenda “as iscas [...] definidas por especialistas em zoonoses. O produto deve ser eficiente, desde que não provoque a morte dos roedores no recinto”. O homem, direta ou indiretamente, é considerado o maior agressor dos livros, juntamente com os agentes físicos e biológicos. Costa (2003) afirma que “o simples uso normal é o suficiente para degradar este material. A acidez e a gordura do suor das mãos, em contato com o papel produzem acidez e manchas.” Os maus hábitos e a falta de educação também estão entre as agressões que o ser humano proporciona ao livro, assim como o manuseio incorreto e o acondicionamento inadequado. Quando se trata do ser humano, a profilaxia é a educação, assim os maus tratos aos livros podem ser reduzidos e/ou evitados, contribuindo, porém, para a preservação e conservação dos mesmos. De acordo com Rodrigues (2007, p. 14), os maus tratos mais comuns são “rasgar, riscar, dobrar, escrever, marcar, colocar clipes, grampos metálicos e colar fitas.” Essas atitudes não são feitas por mal, em geral, é falta de conhecimento sobre a agressão que essas atitudes provocam. Quando se trata de acervo raro, algumas dessas atitudes, como colar uma página de um livro ou passar uma fita durex em uma capa que está solta, são adotadas para tentar impedir que os documentos se extraviem e por não saber que aquela atitude pode causar danos irreparáveis a esses documentos.
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4 METODOLOGIA
No trabalho foi utilizada a pesquisa bibliográfica para dar suporte teórico. Utilizou-se também a pesquisa descritiva, que além de trabalhar com dados colhidos da própria realidade, observa, registra, analisa e correlaciona os fatos. Para tal, optou-se pela abordagem qualitativa. Na técnica de coleta de dados, utilizou-se como instrumento a entrevista baseada em questionário elaborado com perguntas abertas e fechadas. A princípio, construiu-se o questionário pensando em utilizar apenas este instrumento, mas em decorrência de várias dificuldades de acesso aos responsáveis pelos setores de obras raras das bibliotecas pesquisadas, decidiu-se aplicá-lo associado à entrevista. Como se trata de uma análise comparativa, foi feita visita na Biblioteca Prof. Dr. Clodoaldo Beckmann, Biblioteca Fran Pacheco, Biblioteca Pública Arthur Vianna e Biblioteca Domingos Soares Ferreira Penna, analisando-se o ambiente destes locais de pesquisa a fim de verificar se apresentam condições adequadas para o acondicionamento das obras raras, protegendo-os contra os ataques de agentes químicos, físicos e biológicos, pois com os cuidados adequados é possível prolongar a vida útil das obras raras.
4.1 Biblioteca Central Prof. Dr. Clodoaldo Beckmann
A Biblioteca Central da Universidade Federal do Pará (UFPA) foi inaugurada em 19 de dezembro de 1962, tendo como seu primeiro diretor o Prof. Dr. Clodoaldo Beckmann, que sob a ordem do então Reitor José da Silveira Neto foi para o Rio de Janeiro em 1961, para estudar durante um ano as técnicas biblioteconômicas no Instituto Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação (IBBD). Beckmann (2007, p. 29) afirma que ao voltar do Rio de Janeiro, “encontrou um considerável acervo de obras de referência e coleções completas de periódicos científicos ou culturais, adquiridos graças à visão prospectiva de Silveira”. O acervo era composto de aproximadamente 20000 volumes a espera de tratamento técnico. A primeira sede da Biblioteca funcionou até 1969 na Avenida Governador José Malcher, 1327, e posteriormente em um prédio na Rua José Bonifácio, onde ficou até ser transferida definitivamente para o campus no Guamá em 1972. A Biblioteca Central está subordinada à Reitoria e tem a missão de prover e distribuir a informação, além de complementar a formação profissional e dar apoio às atividades de ensino, pesquisa e extensão. De acordo com Beckmann (2007, p. 32), “[...] a biblioteca é a
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pedra angular para a realização de suas atividades-fim e que sem ela a instituição universitária tende para o zero em produção científica e cultural”.
4.1.1 Setor de Obras Raras
O acervo é formado por coleções de obras doadas por personalidades paraenses que participaram da construção da Universidade Federal do Pará ou por familiares de pessoas de renome que viveram e/ou fizeram história no Pará. Os livros são classificados por assunto, adotando a Classificação Decimal de Dewey (CDD), enquanto que a disponibilização das obras nas estantes se dá por meio do século que abrange o período do século XVII ao XX, devidamente identificadas nas prateleiras como mostra a fotografia 3. As obras raras são inseridas na base de dados e identificadas pelas iniciais OR, para diferenciá-las das obras comuns.
Fotografia 3 - Acervo de obras raras da Biblioteca Clodoaldo Beckmann.
Fonte: Acervo pessoal da autora, 2013.
Quando se trata de obras raras, alguns materiais utilizados devem ser diferenciados dos demais, como é o caso das etiquetas, que não podem ser autocolantes porque causam danos irreversíveis ao material, em especial à encadernação. As “etiquetas” utilizadas nesse setor possuem formato retangular, em papel comum, nas quais constam a classificação do livro juntamente com o ano de sua publicação. O papel utilizado em sua fabricação não é
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adequado devido a sua acidez, alterando, portanto, o PH do papel, contribuindo para a deterioração do livro. O papel mais indicado, principalmente em obras raras, é o alcalino (básico), que não altera ou altera o mínimo possível esse PH. As “etiquetas” conhecidas como filipetas, as quais são inseridas na parte superior do livro, deixando visível a parte que contém o número de chamada. Vale ressaltar que os livros são provenientes de doação, por isso existem etiquetas autocolantes nos livros no sentido horizontal. É melhor que as mesmas permaneçam no livro, pois a tentativa de retirá-las danifica muito mais os livros. As fotografias 4 e 5 ratificam a informação :
Fotografia 4 - “Etiqueta” vertical.
Fonte: Acervo pessoal da autora, 2013.
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Fotografia 5 - Organização de obras raras.
Fonte: Acervo pessoal da autora, 2013.
De acordo com a bibliotecária responsável pelo Setor de Obras Raras, a Biblioteca Central Clodoaldo Beckmann possui aproximadamente 2000 exemplares identificados após uma criteriosa seleção. Entretanto, não tem um profissional especializado em obras raras. O que existe são bibliotecários que adotam critérios pré-estabelecidos pela Instituição para selecionar as obras, que são: limite histórico, destacado como o principal na seleção das obras, aspectos bibliológicos, valor cultural, pesquisa bibliográfica e características do exemplar.
4.1.1.1 Condições do ambiente
O ambiente no qual se encontram as obras raras está com a temperatura e umidade fora dos padrões aceitáveis para a sua preservação, como identificado anteriormente. Cassares (2000) observa que a temperatura e a umidade devem se manter em torno de 16ºC a 22ºC e 45% a 60% respectivamente. Pesquisas relatam que essas obras sofrem menos agressões quando não há oscilação de temperatura. Em clima úmido, como o da nossa região, o mais aconselhável é que o ar condicionado e o desumidificador permaneçam ligados sem interrupção. O problema da temperatura se deve ao fato do único aparelho de ar condicionado se encontrar com defeito. O ideal seria que existisse mais de um aparelho de ar condicionado,
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a fim de sanar esse problema. Não existe, porém, desumidificador para o controle da umidade, ou seja, se tratando de preservação e conservação, o ambiente não se encontra dentro dos padrões considerados ideais para acondicionar as obras raras. Nessas condições, a proliferação dos micro-organismos, como fungos e bactérias, é inevitável, o que contribui também para que outros agentes agressores do papel apareçam. Além do que, não existe ventilação no setor, motivo pelo qual o ambiente se torna mais quente. É muito difícil permanecer no local onde estão os livros, enquanto que a parte destinada à consulta encontra-se com uma boa climatização. Ao entrar no acervo, a sensação é de estar entrando em uma “estufa”. Dessa maneira, até a limpeza básica do espaço fica comprometida, pois é humanamente impossível passar muito tempo no local. Quando
o
ar
condicionado
está
funcionando,
o
mesmo
fica
desligado
aproximadamente doze horas por dia, a justificativa é o risco de curto-circuito proveniente do superaquecimento do equipamento. Essas oscilações de longos períodos devem ser evitadas, pois causam danos aos materiais maiores do que quando ficam em temperatura ambiente. A sugestão para esse problema é utilizar um de doze em doze horas de forma que a temperatura fique estável nesse local, associada às devidas regras de segurança contra incêndio. A iluminação utilizada é a fluorescente, adotada pela economia que a mesma proporciona, porém não é utilizada nenhuma medida de proteção, como o uso da manga de filtros contra os raios ultravioleta provenientes desse tipo de iluminação. Esse tipo de filtro é considerado viável por sua eficiência e durabilidade. Para os acervos raros, a iluminação mais recomendada é a do tipo incandescente, pois possui menor concentração de raios ultravioletas. Como esse tipo de luz produz mais calor, algumas medidas devem ser adotadas para que os livros não sofram ressecamento devido ao calor excessivo. Dentre essas medidas está: evitar que as luzes fiquem muito próximas aos livros e a alternância das luzes acesas no acervo. Não existe também higienização periódica do acervo, o que existe é uma limpeza básica (superficial) que minimiza as agressões provocadas pelo acúmulo de poeira. De acordo com uma das bibliotecárias responsáveis pelo local, a falta de verba é o principal motivo para que esses problemas ocorram. Percebe-se, porém, que a falta de especialização voltada para a área de preservação e conservação de obras raras é um problema sério nas instituições pesquisadas, pois, os responsáveis pelos acervos possuem pouco conhecimento sobre os equipamentos utilizados para auxiliar na preservação dos livros, como exemplo, pode-se citar o uso de manga de filtro nas lâmpadas, impedindo a incidência dos raios ultravioleta (UV), informação ainda desconhecida por muitos profissionais.
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Uma das bibliotecárias responsáveis pelo acervo informou ainda que existe um projeto de preservação, conservação, restauração e digitalização dos livros raros, aprovado recentemente o qual será realizado em várias etapas que vai desde a reforma física do espaço, a instalação do setor de higienização, além da digitalização do acervo raro e o armazenamento em um banco de dados. Esse projeto visa melhorar as condições ambientais da Biblioteca, contribuindo para a preservação e conservação das obras raras.
4.1.1.2 Equipamentos e mobiliário
O setor possui um aparelho de ar condicionado que se encontra com defeito, como mencionado anteriormente, além de mesas e cadeiras para o usuário fazer as pesquisas. Há ainda um cofre no qual se encontram os manuscritos. Por ser fechado, a concentração de fungos é muito alta. As estantes de aço utilizadas para organizar as obras são as mais indicadas, pois evitam a proliferação de insetos que se alimentam da madeira (cupins e brocas).
4.1.1.3 Regras de uso
O acesso ao acervo é restrito. Tem consulta local, sob a supervisão das bibliotecárias responsáveis pelo setor. O empréstimo das obras não é permitido, nem fotocopiá-las, porém é permitido fotografar as partes que interessam ao usuário. Para consultar as obras, o usuário deve usar máscaras e luvas evitando o contato direto com o livro a fim de proteger não só o livro como a si mesmo. A segurança do acervo é considerada frágil, pois não há câmera de monitoramento e nem dispositivos antifurtos no setor. A alternativa adotada pelas bibliotecárias é a supervisão discreta enquanto o usuário consulta as obras. O funcionamento do setor se dá de maneira diferenciada em relação à Biblioteca a qual pertence, sendo somente de segunda a sexta-feira, das oito horas às quatorze horas para o público, enquanto que a Biblioteca funciona das sete horas e trinta minutos às vinte horas de segunda a sexta-feira, e aos sábados, de oito horas às doze horas. Esse horário de funcionamento, provavelmente, reduz a frequência dos usuários. O ideal seria que o setor funcionasse no mesmo horário da Biblioteca. Para tentar sanar essa lacuna no atendimento, a digitalização seria a sugestão na disseminação da informação, além do usuário não precisar ir à Biblioteca no momento em que não estivesse funcionando, bastando apenas solicitar as
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partes do livro que lhe interessasse, solicitando o envio por e-mail, se as mesmas não estiverem disponíveis na Internet, uma vez que a pesquisa das obras já é feita na base de dados da Biblioteca.
4.1.1.4 Recursos humanos
Existem duas bibliotecárias responsáveis pelo setor de obras raras. Ambas possuem especialização, sendo uma em arquivo e a outra em administração de bibliotecas. Nenhuma possui curso específico em obras raras nem tampouco em preservação, conservação e restauração de documentos. Não tem historiador para auxiliar na seleção das obras. A parceria com esse profissional seria de suma importância para que a seleção das obras raras fosse mais precisa, dado seu conhecimento histórico.
4.2 Biblioteca Fran Pacheco
A Biblioteca do Grêmio Literário e Recreativo Português foi inaugurada em 1867 e leva o nome do grande benemérito da instituição, o cônsul português, em Belém, Fran Pacheco. De acordo com Brito (1994, p. 26), “a Biblioteca do Grêmio era frequentada pelos intelectuais paraenses, quando foram criados os primeiros cursos universitários no Estado”. Possui um acervo de aproximadamente 40.000 volumes, entre estes, muitas obras raras e/ou antigas e valiosas. A Biblioteca possui livros raros referentes ao poeta português Luís de Camões, assim como obras sobre a História de Portugal, em luxuosas encadernações, pertencente a uma edição comemorativa, de autoria de Damião Peres, como infere Brito (1994). A princípio, a Biblioteca Fran Pacheco recebia livros da Livraria Clássica de Belém, enquanto que a grande maioria era proveniente da Livraria Antônio Maria Pereira, sediada em Lisboa, já que a representação livreira na cidade de Belém ainda era insignificante. Vale ressaltar, porém, que muitos membros do Grêmio contribuíram para o enriquecimento da Biblioteca. Todavia, a maior aquisição da Biblioteca é a Coleção Camiliana, composta de 1.165 volumes, proveniente da doação de um grupo de associados, em 1929. Essa coleção fica em um armário devidamente identificada pelo nome de Coleção Camiliana. De acordo com Brito (1994), a catalogação se deu em duas etapas: a primeira foi iniciada em 1967 e interrompida dois anos depois; a segunda, em 1983, quando a diretoria se uniu à Universidade Federal do Pará, com a colaboração da bibliotecária da Biblioteca Fran
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Pacheco. Dessa cooperação, resultou, além da catalogação, a recuperação e um difícil, mas importante, trabalho de limpeza das obras.
4.2.1 Setor de Obras Raras
O acervo é formado, basicamente, por doações feitas pelos sócios do Grêmio Literário Português. Os critérios de raridade adotados pela bibliotecária para selecionar as obras raras é especialmente o limite histórico, sendo considerados raros todos os livros que datam dos séculos XVI a XVIII. Pinheiro (1989, p. 29) ressalta que existem outros critérios, como: “aspectos bibliológicos, valor cultural, pesquisa bibliográfica e características do exemplar”. A preferência pelo limite histórico oferece bastante fragilidade, pois nem tudo que é antigo é raro, e vice-versa. A falta de profissionais especializados em acervos raros contribui para que muitas obras raras sejam confundidas com obras antigas, e vice-versa; portanto, seria de grande importância o trabalho de um historiador, juntamente com o bibliotecário responsável pelo setor de obras raras, no qual ajudaria bastante a reduzir esses equívocos. Essa parceria já existe na Biblioteca Pública Arthur Vianna, onde o historiador encontrou livros raros no acervo de obras antigas; esses erros são bastante comuns quando se trata de obras raras. A bibliotecária, dentro de suas possibilidades, tenta manter a seleção das obras, mas a falta de especialização específica prejudica bastante esta operação. Para auxiliar nesta tarefa, as instituições públicas ou privadas, como no caso do Grêmio, deveriam adotar os critérios de raridade elaborados e utilizados pela Biblioteca Nacional. Adotando esses critérios, novos livros raros seriam inseridos no setor destinado a essas obras, assim como ampliar a abrangência de limite histórico, pois, existem muitos documentos que por suas características, em outras instituições, estariam no setor de obras raras. Impressiona a quantidade de volumes existente na Biblioteca Fran Pacheco e quando feito um comparativo com o que de fato é considerado raro pela instituição, percebe-se uma discrepância muito grande que precisa ser analisada, com a finalidade de confirmar, ou não, a quantidade de obras raras ou antigas existentes na Biblioteca. As obras ficam acondicionadas em armários fechados. A classificação utilizada é a Classificação Decimal de Dewey. A identificação é feita a partir da ordem cronológica existente em um tipo de “etiqueta” vertical que é inserida na parte superior do livro, na qual constam as informações de localização do documento, bem como ano de sua publicação, como mostra a fotografia 6.
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Fotografia 6 - Acondicionamento de obras raras da Biblioteca Fran Pacheco.
Fonte: Acervo pessoal da autora, 2013.
A Biblioteca possui também um vasto acervo de obras antigas e/ou valiosas, em sua grande maioria do século XIX, que por não pertencerem ao período pré-estabelecido para a seleção de obras raras da instituição, ocupam espaço no acervo geral. Para organizar as obras, a instituição utiliza armários em madeira de lei, devidamente tratada para evitar o surgimento de insetos, além de ser feita limpeza periódica do mobiliário. Ao questionar sobre porque não é usada a estante de aço, a bibliotecária respondeu que a madeira utilizada não oferece riscos, por ser de boa qualidade, além da estética da biblioteca, pois o tipo de acondicionamento chama bastante atenção de visitantes e pesquisadores, ou seja, torna-se um atrativo a mais. Falou também que os armários permanecem fechados, portanto, a incidência de poeira é menor, haja vista que a mesma abre as portas todos os dias para ventilar o ambiente. As obras ficam em armários, nos quais constam a área ou a coleção identificada na própria madeira.
4.2.1.1 Condições do ambiente
O ambiente possui ar condicionado e desumidificador, responsáveis pelo controle da temperatura e da umidade, respectivamente, deixando o ambiente em condições ideais para manter o acervo livre dos ataques dos agentes agressores do papel. O acervo sofre com
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constantes oscilações de temperatura e umidade, pois o ar condicionado e o desumidificador ficam ligados em torno de oito horas diárias, de segunda-feira a sexta-feira. A justificativa dada para que os mesmos permaneçam desligados é o risco de curto-circuito, podendo ocasionar incêndio, já que o prédio não dispõe de dispositivo de alerta contra incêndio. Quanto à iluminação, a Biblioteca adota a iluminação natural e a artificial, a última do tipo fluorescente. Esta não possui mangas de filtro contra os raios ultravioleta, além de não existir nenhum equipamento capaz de avaliar o nível de iluminação no ambiente. A opção pela luz fluorescente é devido à economia de energia que a mesma proporciona. Outro ponto importante é que apesar das janelas serem abertas todos os dias para que haja ventilação no acervo, a luz natural não incide diretamente nos livros, estando em acordo com a literatura pesquisada. A Biblioteca não possui uma política de preservação de documentos. O ponto principal apontado para que não exista esse tipo de política é o financeiro, pois a Biblioteca é mantida apenas pela instituição à qual pertence. Quanto à higienização, a mesma possui limpeza periódica promovida pela bibliotecária. Essa iniciativa procura manter o ambiente livre de poeira e dos agentes responsáveis pela deterioração dos documentos, auxiliando na sua preservação, pois como já mencionado, o acúmulo de poeira contribui para a proliferação de fungos e bactérias. A percepção da bibliotecária em manter o ambiente arejado e limpo prolonga a vida útil do acervo, ponto importante apontado por diversos autores e não é oneroso para a instituição. Apesar do ambiente não se encontrar nos padrões ideais considerados pelos estudiosos da área, o acervo encontra-se em bom estado de preservação e conservação.
4.2.1.2 Equipamentos e mobiliário
Os equipamentos que fazem parte do acervo são: ar condicionado e desumidificador. Desde o surgimento da Biblioteca, as obras são armazenadas em armários, fabricados em madeira de lei, modelo copiado na época das Bibliotecas de Portugal. Complementando o mobiliário, há mesas que são utilizadas para fazer pequenos reparos e limpeza das obras. Na área reservada para consulta existem mesas, cadeiras e poltronas, oferecendo maior comodidade aos usuários.
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4.2.1.3 Regras de uso
Para manusear os documentos raros, são utilizadas luvas e máscaras. Não é permitida a entrada de alimento e água no ambiente. A consulta do documento é local, sob a supervisão de funcionários que acompanham os usuários à distância, não interferindo em suas pesquisas. Não é permitido fotocopiar as obras raras, a fim de evitar as agressões protagonizadas por essa prática tão comum nos dias atuais. Entretanto, os usuários podem fotografar e/ou copiar as partes que lhe interessam, como é possível identificar na fotografia 7. Fotografia 7 - Sala de consulta.
Fonte: Acervo pessoal da autora, 2013.
4.2.1.4 Recursos humanos
Existe apenas uma pessoa responsável pelo setor de Obras raras, que é a bibliotecária responsável pela Biblioteca. É graduada em Biblioteconomia, mas não possui nenhuma formação específica em acervo raro ou em preservação de documentos. Entretanto, como mencionado anteriormente, a mesma procura preservar o acervo da melhor maneira possível, utilizando-se da conservação preventiva ao adotar a higienização periódica do acervo.
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4.3 Biblioteca Pública Arthur Vianna
A Biblioteca Pública Arthur Vianna foi fundada em 25 de março de 1871, graças ao então Presidente da Província do Pará, Sr. Joaquim Pires Machado Portella, que escreveu cartas para os Presidentes de outras capitais das Províncias, bem como para os interiores tanto da Província do Pará quanto de outras Províncias, nas quais solicitava doações de livros ou verbas para a compra de livros para constituir o acervo da Biblioteca. Seu apelo foi acatado. Foi realizada uma festa solene para a inauguração da Biblioteca, instalada no térreo do Liceu Paraense, hoje Colégio Paes de Carvalho. Em 1986, a mesma foi transferida para a Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves, onde funciona atualmente. (FUNDAÇÃO CULTURAL DO PARÁ, 2013). A seção de Obras Raras apoia as atividades de ensino, pesquisa e extensão, tendo como principal objetivo a organização, armazenamento, preservação e disseminação das informações. A catalogação e a classificação das obras utilizam os padrões nacionais e internacionais. O acervo é constituído por obras dos séculos XVII, XVIII, XIX e XX.
4.3.1 Setor de Obras Raras
O acervo raro é composto por documentos provenientes de doações feitas por membros da sociedade paraense. É formado por livros impressos, manuscritos e periódicos nacionais e amazônicos. Os critérios adotados pela instituição para classificar as obras raras são: limite histórico, aspectos bibliológicos (independentemente da época), valor cultural, pesquisa bibliográfica e a característica do exemplar, como aponta Pinheiro (1989). A classificação utilizada é a Classificação Decimal Universal (CDU) e a identificação é feita por um tipo de “etiqueta” de papel não alcalino com o formato de um “T,” inserida na parte superior dos livros com o número de chamada. O papel usado nas etiquetas não é aconselhável, pois a acidez altera o PH dos livros. Porém, apesar de não ser o ideal, é melhor do que as etiquetas autocolantes, que deixam marcas irreversíveis, o que é visível nas obras raras existentes na Biblioteca e também fácil de constatar nas outras instituições pesquisadas. Esse setor é responsável não somente pelas obras raras em si, mas também pelo acervo antigo e pelas coleções especiais que, em geral, levam o nome do doador da coleção.
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4.3.1.1 Condições do ambiente
No ambiente das obras raras existe aparelho de ar condicionado e desumidificador, os quais são responsáveis pelo controle da temperatura e da umidade, respectivamente, porém, os mesmos ficam ligados das oito às dezenove horas, e com isso, o acervo sofre com a oscilação diária de temperatura e umidade. Um possível curto-circuito e a economia de energia são os principais motivos informados pela bibliotecária para que os aparelhos fiquem desligados por aproximadamente 13 horas. O setor possui iluminação artificial do tipo fluorescente, mas sem proteção contra os raios ultravioleta e não tem equipamento para avaliar o nível de iluminação. A utilização da luz fluorescente se deve à economia de energia que a mesma proporciona. Apesar da Biblioteca não ter uma política completa de preservação e/ou conservação de documentos, a mesma adota algumas medidas capazes de preservar o acervo raro. Uma delas é a utilização de invólucros produzidos em papel não alcalino nos quais os livros e os periódicos são embalados. Infelizmente, esse papel não é ideal devido à acidez. O ideal seria usar o papel alcalino, que não prejudica os livros. Outra medida adotada é a digitalização dos livros raros a fim de preservar as obras, evitando assim seu manuseio. Porém, essa informação não é disponibilizada na Internet e a solicitação de partes do documento é feita em um formulário, que após pagamento de R$ 2,00 (dois reais) por folha, o usuário recebe o documento por e-mail ou no próprio setor de Obras Raras. A justificativa dada pela bibliotecária para a não disponibilização do documento online é a preocupação com os direitos autorais e a possível redução da frequência dos usuários à Biblioteca. Ela utiliza as novas tecnologias para preservar os documentos, e para oferecer melhores serviços aos seus usuários. As fotografias 8 e 9 mostram algumas obras raras existentes na Biblioteca.
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Fotografia 8 - Acervo digital de obras raras.
Fonte: Biblioteca PĂşblica Arthur Vianna, 2013.
Fotografia 9 - Livro raro digital.
Fonte: Biblioteca PĂşblica Arthur Vianna, 2013.
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Quanto à falta de higienização periódica do acervo, de acordo com a bibliotecária, é decorrente da falta de verba, de equipamento próprio e de pessoal especializado para esse trabalho. Porém, existem medidas que não precisam de verba para serem executadas, basta somente um pouco de atitude e boa vontade. Mesmo não possuindo suporte para uma higienização completa, dentro dos padrões de preservação e conservação de documentos, a bibliotecária do Grêmio mantém o acervo sempre limpo. Ainda que seja apenas uma limpeza superficial, essa medida auxilia na conservação dos livros. Devido à falta de preservação, muitos documentos encontram-se bastante danificados e precisam ser restaurados.
4.3.1.2 Equipamentos e mobiliário
O setor possui ar condicionado e desumidificador, como já mencionado. Há uma sala reservada chamada de “cofre”, no qual são guardadas as obras raras e o acesso a mesma é feito somente por profissionais responsáveis pelo setor. As estantes tradicionais estão sendo substituídas por estantes deslizantes, para que haja um melhor aproveitamento do espaço, que é pequeno e constantemente estão sendo inseridas novas obras, em geral, provenientes do acervo de livros antigos.
4.3.1.3 Regras de uso
O acesso às obras raras é restrito e o contato com as mesmas precisa do uso de equipamentos básicos de segurança, como luvas e máscaras. A consulta é local e na presença do funcionário e/ou bibliotecário. O empréstimo não é permitido, assim como fotocopiar, porém o usuário pode fotografar as partes que necessitar para sua pesquisa. Atualmente, podem ser feitas a digitalização e a impressão para o usuário. As câmeras de monitoramento auxiliam na segurança e preservação do acervo. Vale ressaltar que nenhuma das bibliotecas pesquisadas mencionou o uso de antifurtos como medida de segurança.
4.3.1.4 Recursos humanos
Há seis pessoas responsáveis pelo setor de Obras Raras, sendo quatro profissionais graduados em Biblioteconomia, um historiador responsável pela seleção das obras raras e dois assistentes de administração. Nenhum possui formação específica em obras raras ou em
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preservação de documentos. Porém, vale ressaltar que com a chegada do historiador, a seleção das obras ficou mais detalhada, dado o conhecimento que o mesmo possui.
4.4 Biblioteca Domingos Soares Ferreira Penna
O Museu Paraense Emílio Goeldi foi fundado em 1866, pelo naturalista brasileiro Domingos Soares Ferreira Penna, com o nome de Associação Filomática e ficou à direção do mesmo até 1894. A partir desse ano, o Museu ficou sob a direção do suíço Emílio Goeldi até 1897, período em que a entidade viveu uma grande fase. Foi somente em 1900 que o então governador Paes de Carvalho mudou o nome de Associação Filomática para Museu Paraense Emílio Goeldi, prestando homenagem ao então diretor Emílio Goeldi. O Museu tem como finalidade a pesquisa da fauna, da flora e do homem amazônico (MUSEU..., 1986). A Biblioteca foi fundada em 1894, por Emílio Goeldi, levando o nome do seu idealizador Domingos Soares Ferreira Penna, sendo originada a partir de uma biblioteca já existente, especializada em História Natural, Geografia, Etnografia e Arqueologia. O objetivo dessa Biblioteca é “gerenciar, preservar e disseminar informações e documentos sobre a área de atuação do Museu Paraense Emílio Goeldi e sobre a Amazônia” (MUSEU..., 1986, p. 2).
4.4.1 Setor de Obras Raras
A coleção de obras raras da Biblioteca Domingos Soares Ferreira Penna é formada por doações feitas por instituições nacionais e internacionais, pessoas ilustres, príncipes e pelo próprio Emílio Goeldi. Os critérios adotados pela instituição para classificar as obras raras são: limite histórico, valor cultural, valor nacional, regional e institucional, aspectos bibliológicos, pesquisa bibliográfica e característica do exemplar. A classificação adotada é a Classificação Decimal de Dewey (CDD) e a organização nas estantes é feita por assunto e a identificação de maneira convencional, com etiquetas autocolantes na lombada dos livros. Apesar do tipo de etiqueta causar danos às obras raras e não ser a mais recomendada, a bibliotecária justifica dizendo que assim os pesquisadores podem ter maior autonomia, já que os mesmos são o público-alvo da Biblioteca. Eles usam essas obras como fonte de informação, buscando confirmar ou confrontar suas descobertas em pesquisas voltadas para a área amazônica. O acervo raro é formado por obras do século XVI ao século XX. Existem aproximadamente 3000 exemplares, sendo que 276 são in-fólios. As obras em sua grande
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maioria são voltadas para o estudo da Amazônia, em especial, nas áreas de Botânica, Zoologia, Arqueologia, Ciências da Terra, Ecologia e Antropologia. A Biblioteca funciona de segunda a sexta-feira, das oito às 17 horas. O espaço destinado ao acervo de obras raras é bastante pequeno, por isso as estantes convencionais foram substituídas por estantes deslizantes com a finalidade de economizar espaço. Essa medida não interfere na qualidade do atendimento.
4.4.1.1 Condições do ambiente
O ambiente das obras raras encontra-se em condições ideais, de acordo com estudos realizados tanto em temperatura e umidade quanto em iluminação e higienização. Para isso, adota a política de preservação e conservação preventiva, considerada mais viável, pois evita que os documentos se deteriorem a ponto de precisar de restauro, que dependendo do tipo de material usado para fabricar o papel, podem sofrer danos irreparáveis e perder suas características que, em muitos casos, é o que os tornam raros, além da restauração ser um trabalho bastante oneroso para a instituição e deve ser feita por especialistas em obras raras. Portanto, é importante adotar essas medidas que retardam as agressões sofridas pelos documentos. Quando se trata de iluminação, a preferência é pela luz fluorescente, por se tratar de luz fria e econômica, porém é adotada a medida de proteção como as mangas de filtro para lâmpadas, bloqueando os raios ultravioleta causadores de danos permanentes aos livros. A temperatura e a umidade são mantidas sob controle por meio do uso de ar condicionado e desumidificador, que ficam ligados 24 horas ininterruptamente. Essa medida é a mais recomendada pelos estudiosos em preservação de documentos, pois o controle da temperatura e umidade reduz consideravelmente a infestação de micro-organismos, insetos e roedores nos acervos, haja vista que os mesmos precisam de condições favoráveis para sua proliferação, como infere Beck (1985). A política de preservação e conservação adotada pela Biblioteca é a conservação preventiva, para evitar que os documentos sejam danificados pela ação do tempo e pelo mau uso. Uma das medidas preventivas é manter o ambiente livre de sujeiras, por isso a higienização do acervo é realizada periodicamente começando pelo que se encontra em piores condições de higiene, porém não existe um período para que a limpeza seja feita, ocorrendo de acordo com a necessidade do acervo. Não é permitida a entrada de nenhum tipo de
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alimento e/ou bebida. O ambiente é aspirado regularmente para evitar o acúmulo de poeira tanto no espaço físico quanto nos livros. Atualmente, o acervo de obras raras está sendo digitalizado, com a finalidade de preservá-lo e ampliar o alcance dos seus usuários, levando em consideração os direitos autorais e/ou as normas da instituição.
4.4.1.2. Equipamentos e mobiliário
Os equipamentos utilizados no acervo são ar condicionado e desumidificador, responsáveis por manter a temperatura e a umidade controlada como mencionado anteriormente. O mobiliário é constituído por mesas para pesquisas, bem como estantes deslizantes usadas para acondicionar as obras raras.
4.4.1.3 Regras de uso
O acesso ao acervo de obras raras é restrito, assim como nas outras bibliotecas pesquisadas. Para maior segurança, as portas são mantidas fechadas com chaves na sala de consulta e na sala que dá acesso direto ao acervo. O acervo só é aberto quando há solicitação para consulta das obras. Para fazer as pesquisas, os usuários/pesquisadores usam equipamentos de proteção como luvas e máscaras para evitar o contato direto com a obra. Antes de entregar o documento ao usuário, a bibliotecária faz uma limpeza básica com uma flanela para retirar a poeira existente nos livros. Após o uso, o livro recebe o mesmo tratamento com o objetivo de secar qualquer umidade que possa ter sido transferida ao livro no momento da consulta, além de ser feita uma pequena vistoria para identificar qualquer dano que possa ter sido causado ao material consultado. Dentre as bibliotecas estudadas, a do Museu Goeldi possui um diferencial, que é o empréstimo de obras raras para os pesquisadores, que assinam um termo de compromisso para retirar o documento. Se precisar renovar o empréstimo, o documento deve passar pela Biblioteca para ser vistoriado pela bibliotecária. Vale ressaltar que esse empréstimo só é permitido para os pesquisadores da instituição, sendo terminantemente proibido a qualquer outra pessoa.
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4.4.1.4.Recursos humanos
O acervo possui somente um profissional responsável por manter as obras limpas e livres dos micro-organismos, insetos e roedores, além do fator humano. A bibliotecária possui curso de especialização em documentos raros, antigos e valiosos, promovido pela Biblioteca Nacional. Ela tem consciência que a conservação preventiva é a mais eficiente, porque possibilita a detecção dos agentes deterioradores do documento no início e, com isso, há chance de exterminar os mesmos antes que causem danos irreparáveis aos documentos.
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5 ANÁLISE DE DADOS
A pesquisa realizada nas Bibliotecas Prof. Dr. Clodoaldo Beckmann, Fran Pacheco, Biblioteca Pública Arthur Vianna e Domingos Soares Ferreira Penna, constatou que quando o acervo tem a temperatura e a umidade controladas, sem grandes oscilações, os documentos ficam protegidos contra os ataques dos agentes físicos, químicos e biológicos. Porém, nem todas as Bibliotecas pesquisadas mantêm esse controle. Foram constatados altos índices de temperatura e umidade na Biblioteca Prof. Dr. Clodoaldo Beckmann, pois o acervo não possui ar condicionado e desumidificador, equipamentos utilizados para manter a temperatura e a umidade controladas, deixando o ambiente em condições inadequadas para o acondicionamento das obras raras. Dessa maneira, o ambiente contribui para a proliferação de microorganismos e insetos, acelerando a deterioração das obras ali existentes, fato corroborado por Beck (1985, p.12) ao afirmar que “a ação conjunta dos dois fatores, calor e umidade, gera graves problemas de condensação de umidade [...], bem como o crescimento de micro-organismos e insetos que devastam coleções de documentos e livros”. Na Biblioteca Fran Pacheco e na Biblioteca Pública Arthur Vianna existe a preocupação em manter a temperatura e a umidade sob controle. Entretanto, esses equipamentos ficam ligados somente durante o horário de funcionamento das instituições, acarretando danos aos documentos em decorrência das oscilações da temperatura e umidade. Já na Domingos Soares Ferreira Penna o controle é rigoroso, uma vez que, tanto o ar condicionado quanto o desumidificador ficam ligados ininterruptamente, oferecendo condições adequadas para o armazenamento das obras. A iluminação adotada na Biblioteca Clodoaldo Beckmann, na Arthur Vianna e Domingos Soares Ferreira Penna é a fluorescente devido à economia que a mesma propicia, justificativa dada pelas bibliotecárias entrevistadas. Dentre essas bibliotecas, somente a Biblioteca Domingos Soares Ferreira Penna utiliza mangas de filtro nas lâmpadas para bloquear os raios ultravioleta (UV), a fim de proteger os livros das agressões causadas por esses raios. A Fran Pacheco, por sua vez, utiliza tanto a iluminação natural quanto a artificial, simultaneamente, e não possui medidas de proteção contra os raios UV para a luz fluorescente. No que diz respeito à natural, a bibliotecária toma cuidado para que a mesma não incida nos documentos. A aeração torna-se importante quando não há climatização do ambiente, adotando-a como medida para reduzir a proliferação dos micro-organismos. Vale observar que “nas
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regiões de clima tropical a climatização é a forma mais segura de conservação”, como infere Beck (1985, p. 27). De acordo com a pesquisa, somente a Biblioteca Fran Pacheco adota essa medida para que haja circulação do ar, eliminando, portanto, o cheiro de “mofo” encontrado ao abrir o setor, deixando assim o ambiente agradável aos usuários, haja vista que a climatização do ambiente não é ininterrupta, ocorrendo oscilação de temperatura e umidade. Enquanto que nos setores que adotam a climatização 24 horas, a aeração mostra-se desnecessária, já que não existe oscilação da temperatura e da umidade. As instituições pesquisadas não possuem uma higienização completa feita por profissionais especializados e com equipamentos adequados utilizados nessa prática. O que existe é somente uma limpeza básica, feita pelas bibliotecárias, juntamente com funcionários responsáveis pela limpeza das instituições. Porém, essa limpeza ajuda a reduzir a proliferação dos micro-organismos e dos insetos responsáveis por danificar os livros. Cassares (2000, p. 26) afirma que “a sujidade não é inócua e quando conjugada às condições ambientais inadequadas, provoca reações de destruição de todos os suportes num acervo. Portanto, a higienização das coleções deve ser um hábito de rotina na manutenção de bibliotecas ou arquivos”. Detectou-se também a opção pelas estantes de aço, na maioria das bibliotecas em questão, já que, de acordo com a literatura, é o melhor mobiliário para armazenar documentos, pois esse tipo de material não atrai insetos, micro-organismos e roedores. Contudo, a Fran Pacheco adota armários fabricados em madeira de lei, existente desde a sua criação e mantidos devidamente tratados para evitar a incidência dos agentes biológicos, em especial os cupins e as brocas que atacam e destroem tanto o mobiliário quanto o acervo. Quanto ao acesso do público ao acervo raro, todas as instituições pesquisadas adotam o acesso restrito, evitando assim, furtos e danos aos livros. Em geral, o público-alvo desse tipo de acervo são os estudiosos e/ou pesquisadores. A consulta é local, não sendo permitido o empréstimo, com exceção da Biblioteca Domingos Soares Ferreira Penna, que o permite aos pesquisadores da instituição a qual pertence, ou seja, aos pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi. A fotocópia não é permitida em nenhuma das bibliotecas citadas. Outro ponto que vale a pena destacar é o quadro de funcionários nesses setores, que geralmente é bastante reduzido, com exceção da Biblioteca Pública Arthur Vianna, que possui seis profissionais (quatro bibliotecários, um historiador e um assistente administrativo), e da Biblioteca Central Prof. Dr. Clodoaldo Beckmann, que conta com duas bibliotecárias. As demais possuem apenas uma bibliotecária. Vale ressaltar que somente a bibliotecária da
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Biblioteca Domingos Soares Ferreira Penna possui especialização em documentos raros, antigos e valiosos, realizada na Biblioteca Nacional, sediada no Rio de Janeiro. A pesquisa demostra que quando há controle da temperatura e da umidade, a higienização periódica é eficiente, além do controle dos raios ultravioletas, as obras sofrem menos agressões tanto internas quanto externas, porém é preciso que haja interesse tanto dos gestores quanto dos profissionais responsáveis por esses ambientes em tentar mantê-los livres dos agentes físicos, químicos e biológicos. Os dados apontaram que na maioria das instituições pesquisadas existe muito trabalho para atingir os padrões considerados ideais para preservação das obras raras, isso se deve a vários fatores, entre eles, a falta de verba destacada pelas bibliotecárias das instituições pesquisadas. Apesar de o fator financeiro ter sido o grande vilão para não haver um projeto permanente de preservação e conservação de documentos, há medidas paliativas que o funcionário pode adotar para manter o ambiente livre da poeira e do ácaro, como é o caso das bibliotecárias da Biblioteca Fran Pacheco e da Domingos Soares Ferreira Penna, que adotam a limpeza periódica das obras e das estantes, mesmo não havendo um projeto de preservação e conservação de obras raras, mantido pela instituição. Essa iniciativa mantém o acervo em boas condições de uso e auxilia na preservação das obras. Em âmbito geral, a pesquisa constatou que a biblioteca que se encontra em melhores condições para o acondicionamento das obras raras é a Domingos Soares Ferreira Penna, enquanto que a Biblioteca Central Prof. Dr. Clodoaldo Beckmann é a que se encontra em piores condições para o armazenamento desse tipo de obra.
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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise de dados constatou nas Bibliotecas em estudo uma diferença muito grande em relação às condições ambientais que interferem diretamente na preservação e conservação das obras raras. A Biblioteca Dr. Clodoaldo Beckmann não possui ar condicionado e nem desumidificador, a iluminação é a do tipo fluorescente, sem proteção contra os raios ultravioleta (UV), enquanto que na Fran Pacheco, na Biblioteca Pública Arthur Vianna e na Domingos Soares Ferreira Penna os equipamentos que controlam a temperatura e a umidade estão funcionando regularmente, porém, somente na última mencionada, esses equipamentos permanecem ligados 24 horas, não havendo, portanto, oscilação desses fatores. A iluminação e a limpeza também são mantidas nas instituições pesquisadas e, mais uma vez, somente na Domingos Soares Ferreira Penna existe o uso de proteção contra os raios UV. Vale ressaltar que nenhuma das Bibliotecas possui higienização adequada dentro dos padrões, como mostrou a análise da pesquisa, mas existe limpeza periódica dos acervos, para evitar a proliferação de agentes que deterioram o papel. Observa-se também que nenhuma das bibliotecas aqui estudadas possui aparelhos para medir a iluminação, a temperatura e a umidade. Outro ponto encontrado que se torna importante comentar é o horário de funcionamento desses setores. Na Biblioteca Prof. Dr. Clodoaldo Beckmann e na Fran Pacheco o horário é das oito horas às 14 horas, enquanto que na Domingos Soares Ferreira Penna esse horário vai até às 17 horas. Na Biblioteca Pública Arthur Vianna é de oito e meia até às 19 horas. Seria interessante fazer um teste com o horário estendido até às 16 horas, pelo menos, para saber a frequência do público e posteriormente decidir o horário de funcionamento, levando em consideração o efetivo de funcionários. Nesses aspectos, percebe-se claramente a falta de políticas de preservação e conservação. O que existe são medidas que reduzem bastante as agressões sofridas pelos documentos. Dentre as Bibliotecas, a que mais se aproxima das condições ideais é a Biblioteca Domingos Soares Ferreira Penna e a que está em piores condições ambientais é a Biblioteca Dr. Clodoaldo Beckmann, devido aos problemas já mencionados. Levando-se em consideração os padrões de preservação e conservação, o ambiente se encontra em condições inadequadas para o acondicionamento das obras e/ou de qualquer documento responsável por guardar informações. Ainda a respeito de preservação, o Museu Paraense Emílio Goeldi, contratou uma empresa que está digitalizando o acervo de obras raras. A Biblioteca Pública Arthur Vianna
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também iniciou o processo de digitalização do acervo raro, que, a princípio, é somente para atender aos usuários que solicitam determinado documento. Já a Fran Pacheco e a Clodoaldo Beckmann, não possuem ainda esse trabalho; a falta de verba é considerado o motivo para que esse trabalho não exista, segundo informação da bibliotecária da Fran Pacheco. Na Clodoaldo Beckmann, esse trabalho faz parte de um projeto que ainda não está sendo executado. Para reduzir os gastos com o processo de digitalização, as Bibliotecas poderiam fazer parcerias e compartilhar as obras raras digitais existentes em seus acervos, a fim de evitar a duplicação das mesmas e contribuindo também para a preservação dos originais. É importante que haja troca de informação entre essas instituições, para que as mesmas compartilhem novos conhecimentos e informações acerca da preservação e conservação de documentos, além da troca de informações a respeito do que está sendo feito entre as mesmas, para oferecerem melhores serviços e produtos aos seus usuários. Outro ponto importante é promover a educação dos usuários e funcionários, adotando cartilha, folder e manuais que contenham informações básicas sobre preservação de documentos, evitando assim os danos causados pelo manuseio e acondicionamento incorreto. O que se percebe é que funcionários responsáveis por acervos raros não gostam de se indispor com os gestores das instituições, que sempre dizem que falta verba para investir em melhorias nas bibliotecas, assim como na preservação e conservação de obras raras. A pesquisa averiguou os motivos pelos quais esses ambientes não têm atenção adequada para o acondicionamento desses documentos, de suma importância para a construção da humanidade. Na grande maioria, é falta de interesse e conhecimento dos gestores quanto à importância desses documentos como fonte de pesquisa e informação para a comunidade acadêmica local, nacional e/ou mundial.
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REFERÊNCIAS
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APÊNDICE A- QUESTIONÁRIO
O questionário tem por objetivo coletar dados para o Trabalho Conclusão de Curso em Biblioteconomia da Universidade Federal do Pará, da discente Miriam Alves de Oliveira, tendo como tema: PRESERVAÇÃO E CONSERVAÇÃO DE OBRAS RARAS: análise dos acervos da Biblioteca Central da UFPA, Grêmio Literário Português e Biblioteca Pública Artur Vianna. Discente Miriam Alves Sob a orientação da Profª MSC Maurila Bentes. As informações serão usadas com finalidade acadêmica
1 Como foi formado o acervo de obras raras da biblioteca? Doação Compra Permuta
2 Como é feita a identificação das obras nas estantes? ___________________________________________________________________________ _______________________________________________________________
3 Existe uma política de preservação e/ou conservação do acervo? Sim. Quais?________________________________________________________ ____________________________________________________________________ Não. Por quê?_____________________________________________________ ______________________________________________________________________
4 Existe higienização periódica do acervo? Sim Não. Por quê?_______________________________________________________ ______________________________________________________________________
5 O ambiente possui...
60
Ar condicionado
Umidificador
Termômetro
Desumidificador
Estabilizador
Higrômetro
No caso da biblioteca possuir mais de um aparelho, especificar, por aparelho, por quantas horas fica ligado. ___________________
6 Qual o tipo de iluminação utilizada? Natural Artificial. Incandescente ou fluorescente?_________________________
7 O acervo possui medidas de proteção contra os raios ultravioleta? Sim Não. Por quê?_____________________________________________________
8 Como é feita a segurança do acervo de obras raras? Câmeras de monitoramento
Dispositivo antifurto
Outros. Quais?_____________________________________________________
9 O acesso ao público é Livre
Restrito
10 Quantos profissionais são responsáveis pelo acervo?_______. Quantos possuem formação específica?_________. Qual?______________________________________